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Paul Tillich e sua Teologia da Cultura Glauber Souza Araújo 1 RESUMO O artigo tem como objetivo analisar a obra Teologia da Cultura de Paul Tillich. O autor passa pelos temas centrais da obra, apresenta sua es- trutura e principais ideias, e sintetiza a opinião de Tillich ao discutir os elementos centrais do livro. Palavras-chave: teologia da cultura, Paul Tillich Paul Tillich and his Theology of Culture ABSTRACT The task of this paper is to analyse the book Theology of Culture of Paul Tillich. The author analyses the main topics of the book, presents its structures and important ideas, giving a brief statement that presents the main points of the book through the discussion. Keywords: theology of culture, Paul Tillich Muito tem-se escrito sobre o método da correlação de Paul Tillich (1886-1965) e sua “teologia da cultura” na língua portuguesa. Estudos já foram feitos utilizando sua teologia, comparando-a com demonstrações culturais e expressões artísticas. Pode-se levantar o questionamento: “Por que mais um trabalho sobre teologia e cultura?” Poderíamos dizer que a relevância deste trabalho é de apresentar uma compreensão da teologia tillichiana à partir de seu livro recentemente traduzido Teo- 1 Mestrando em Ciências da Religião, UMESP

Paul Tillich e a Teologia Da Cultura

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  • Paul Tillich e sua Teologia da Cultura

    Glauber Souza Arajo1

    RESUMOO artigo tem como objetivo analisar a obra Teologia da Cultura de Paul Tillich. O autor passa pelos temas centrais da obra, apresenta sua es-trutura e principais ideias, e sintetiza a opinio de Tillich ao discutir os elementos centrais do livro. Palavras-chave: teologia da cultura, Paul Tillich

    Paul Tillich and his Theology of Culture

    ABSTRACTThe task of this paper is to analyse the book Theology of Culture of Paul Tillich. The author analyses the main topics of the book, presents its structures and important ideas, giving a brief statement that presents the main points of the book through the discussion. Keywords: theology of culture, Paul Tillich

    Muito tem-se escrito sobre o mtodo da correlao de Paul Tillich (1886-1965) e sua teologia da cultura na lngua portuguesa. Estudos j foram feitos utilizando sua teologia, comparando-a com demonstraes culturais e expresses artsticas. Pode-se levantar o questionamento: Por que mais um trabalho sobre teologia e cultura? Poderamos dizer que a relevncia deste trabalho de apresentar uma compreenso da teologia tillichiana partir de seu livro recentemente traduzido Teo-

    1 Mestrando em Cincias da Religio, UMESP

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    logia da Cultura pela Fonte Editorial em 2009. At o ano passado, a comunidade teolgica brasileira tinha acesso a este material apenas na lngua inglesa e espanhol ou atravs de suas idias expostas em outros livros que j tinham sido traduzidos para nossa lngua. Para tanto, pretendemos nos aproximar do telogo da cultura partir desta obra.

    Tillich procura, em Teologia da Cultura, diminuir a distncia existente entre a f e a cultura, mostrando que o fsico e o material profundamente afetado pela espiritualidade humana. Para se entender a cultura, necessrio perceber a teologia que percorre por debaixo da superfcie das expresses humanas. Deus pode ser encontrado atravs da correlao da mensagem crist e a situao existencial, o aspecto simblico da linguagem religiosa que evita a apropriao, o dogmatis-mo e a idolatria, e o princpio protestante, que define a justia como incondicionalidade (TILLICH, 2009, p. 23). Apresentar esta dimenso da realidade humana sempre foi sua preocupao. Isto pode ser visto pela sua vasta publicao sobre o assunto, que, acabou sendo reunida e publicada em 1959 na obra Theology of Culture.

    Devido o fato desta obra ser uma compilao de diferentes artigos escritos durante o perodo de 1940 a 1957, a seqencia de seu pensa-mento pode ser difcil de captar. o objetivo deste presente estudo, portanto, identificar a linha de pensamento que costura todos os textos reunidos nesta obra.

    Seu trabalho construdo em trs partes. A primeira procura apre-sentar algumas consideraes bsicas teologia da cultura. Questes filosficas e algumas aplicaes so ali apresentadas preparando o ter-reno para a segunda parte. Em seguida, Tillich passa a aplicar seus conceitos s diferentes expresses culturais como smbolos, estilo ar-tstico, psicologia, cincia, moralidade e educao. Por fim, Tillich procura fazer certas comparaes culturais como entre a americana, a alem, a russa e a judaica.

    Consideraes bsicas

    Em sua obra, Tillich comea considerando questes que podem ser levantadas por telogos e cientistas. Seria a religio um mero ele-mento criativo do esprito humano ou um dom da revelao divina(p.

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    39)? Responder tal pergunta acarretaria a descontinuao de um dos dois lados. Tanto os telogos como os cientistas crticos, contrrios crena de que a religio seja um dos aspectos do esprito humano, definem a religio como relao humana com seres divinos, cuja exis-tncia afirmada pelos telogos crticos e negada pelos cientistas (p. 41). Diante deste duelo, a religio procurou seu lugar em outras reas: na tica, no conhecimento cognitivo, na criatividade artstica, e nos sentimentos. Nesta peregrinao em busca de um santurio para se alojar,

    de repente, a religio percebe que no precisa de nada disso. D-se conta de que j possui seu lugar prprio em todos os lugares, principalmente nas profundezas das funes da vida espiritual humana. A religio a dimenso da profundidade em todas elas. o aspecto dessa profundidade na totalidade do esprito humano (p. 44).

    Tal profundidade se revela na preocupao suprema (ultimate concern) manifesta nas funes criativas do esprito humano. Neste contexto, a religio a substncia, o fundamento e a profundidade da vida espiritual dos seres humanos (p. 45). Tal preocupao se manifesta socialmente, expressando-se em cada esfera da existncia humana. Ela expressa-se nas criaes bsicas de todas culturas, na linguagem, e permeia a vida e a sociedade(p. 232).

    Mas antes que telogos e cientistas aparecessem na histria, h outra luta ocorrendo: entre o tempo e o espao. J que existir significa ser finito ou ser no tempo ou no espao(p.69), qualquer viso religio-sa afetada por estes elementos. As culturas politestas so aquelas determinadas pelo espao. Suas divindades estavam ligadas lugares, territrios, espaos. Por sua vez, as culturas monotestas seguem um Deus incondicionado e ilimitado pelo espao (p. 71). O domnio do espao apresenta-se como uma tragdia, moldando a filosofia e a arte segundo sua tirania. O mais extraordinrio smbolo encontrado pela filosofia grega para representar o ser imutvel foi a esfera ou o crculo, a mais perfeita representao do espao (p. 73). Tal representao pode ser confirmada nos deuses gregos que se prendem ao espao e na filosofia aristotlica, incapaz de perceber o dinamismo do tempo. No existe filosofia da histria no pensamento grego, e quando tratada, no

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    xNotesobre religio, independe qual

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    passa de longa seo do movimento circular do cosmo, do nascimento morte, de um mundo substituindo outro. O tempo devorado pelo espao nessa tragdia cosmolgica (p. 73). J que a histria circular, no h nada de novo e a salvao no se apresenta. Ela deve estar alm do tempo pois este est sob o domnio do espao.

    Tal domnio quebrado com o surgimento da mensagem prof-tica. Abrao recebe a ordem de sair de sua terra (deuses do espao) pois Deus no seria identificado com um local especfico. Esta separao representada pelos profetas. Quanto maior for a separao entre Deus e o espao, maior ser sua glria. Apesar da identificao do cristianismo com o espao atravs da igreja e do sacerdcio, o protesto protestante renovou a negao proftica dos deuses do espao (p. 76). Sob tal perspectiva, Deus o Deus do tempo, da histria. Ele pode superar o crculo trgico do espao e proporcionar algo novo: a nova criatura. O profetismo tambm proporciona uma s justia, pois seu Deus um s. Tal viso relembra a Igreja do constante perigo de se transformar em Igreja nacional, ou de deixar de combater a injustia, a vontade de poder e a arrogncia racial ou nacional (p. 79).

    Religio , conforme Tillich afirma, preocupao suprema com aquilo que nos preocupa em ltima anlise. F, ento, o estado em que somos tomados pela preocupao suprema, e Deus seu nome e contedo (p.81). Tal conceito possui trs conseqncias. A primeira de que, desta forma, a religio passa a ser entendida a partir de uma compreenso existencial, e no terica. A reivindicao do cristianismo se relaciona ao evento no qual ela se baseia o Novo Ser e desta forma est sempre sujeita ao julgamento que ela mesma pronuncia. A segunda o desaparecimento da separao entre o sagrado e o secular. J que estar preocupado com o supremo abarca todos os cantos da vida, no existe mais tal distino. A preocupao suprema consagra todas as demais preocupaes. Tal diviso levantada pelo homem na verdade indicao da alienao presente em nossa natureza. A terceira afeta a relao entre religio e cultura. A religio, considerada preocupao suprema, a substncia que d sentido cultura, e a cultura, por sua vez, a totalidade das formas que expressam as preocupaes bsicas da religio (p. 83). Neste contexto, encontramos sua clebre citao: Religio a substancia da cultura e a cultura a forma da religio.

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    xNotea segunda consequncia da afirmao que abre o pargrafo.

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    No existe mais dualismo entre os dois. O ato religioso formado cul-turalmente. Para apoiar tal unio, Tillich demonstra que a vida espiritual se concretiza atravs da linguagem, sendo esta uma criao cultural, ela no caiu do cu. Por sua vez, no existe criao cultural que no expresse a preocupao suprema... Sua expresso imediata o estilo da cultura (p. 83-84).

    Ao aplicarmos tal conceito cultura contempornea Tillich, percebem-se dois elementos. O primeiro a sociedade industrial, que torna o ser humano um objeto entre outros, parte da engrenagem da mquina universal. O homem se sente vazio, sem sentido, desumanizado e alienado. O segundo o esprito de protesto encontrado na anlise existencialista do destino humano. Este protesto feito pela sociedade a partir dela mesmo. Sendo que a religio a preocupao suprema, esta tem como dever responder questo do sentido da existncia. O exis-tencialismo no pode dar tal resposta (p. 90). Ao cumprir esta funo, a igreja assume seu papel proftico, revelando os poderes demonacos presentes nas estruturas da sociedade.

    Aplicaes concretas

    Em seu papel proftico, a religio faz uso de smbolos, sendo estes expresses culturais que indicam uma realidade alm deles. O smbolo, apesar de no ser o que simbolizado, participa de seu poder e sentido. Ele permite a abertura de nveis da realidade que, de outra forma, per-maneceriam ocultos e no poderiam ser percebidos (p. 100). Ele abre os nveis mais profundos da realidade e da alma humana. Um exemplo dado por Tillich a histria do nascimento virginal de Jesus. Tal evento nunca teria acontecido, mas serve para explicar a presena do Esprito Santo em Jesus de Nazar (p. 110). Por participar do poder e sentido da realidade, o smbolo no pode ser trocado por outro. Ele nasce do inconsciente coletivo, e continua at que a situao em que foi criado deixa de existir. Aqui existe um perigo, pois os smbolos religiosos so smbolos do sagrado: eles no so o sagrado. Tais smbolos tornam-se demonacos quando so elevados ao status do sagrado imaginando-se incondicionais e absolutos (p. 104). Nenhuma doutrina ou rito pode ser absoluto.

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    Tillich tambm discute a relao entre o estilo artstico e a religio. No que haja um estilo melhor do que o outro para retratar o sagrado. Analisando o estilo de diferentes artes, Tillich chega a con-cluso de que cada estilo indica a auto-interpretao do ser humano em resposta questo do significado ltimo da vida (p. 115). Em cada expresso artstica, possvel identificar a preocupao suprema, pois o absoluto no se restringe a formas particulares de coisas ou experincias.

    Como j foi dito, podemos encontrar a preocupao suprema no protesto realizado pela anlise existencialista da existncia humana. Tillich defende que o existencialismo surgiu devido derrocada da tradio religiosa sob o impacto do iluminismo, da revoluo social e do liberalismo burgus (p. 155). Ao estudar a lista dos filsofos existencia-listas apresentados por Tillich tais como Schelling, Feuerbach, Marx, Nietzsche, Brgson, Dilthey, Jaspers e Heidegger entre outros pode-se observar que muitos no pertenceriam lista de filsofos existencialistas elaborada por historiadores deste movimento filosfico. Tillich procura mostrar que todos eles podem ser considerados existencialistas pois possuem algum trao comum, isto , todos possuem o mesmo inimigo: o sistema racional de pensamento e vida. Tal sistema aparenta destruir a liberdade individual, a deciso pessoal, e a comunidade orgnica, corroendo as foras da vida e separando as pessoas e o mundo da fonte criativa e do mistrio supremo da existncia (p. 154).

    A preocupao suprema tambm pode ser notada na psicanli-se, ou na psicologia profunda como o chama Tillich. Diante de uma sociedade racionalista e industrial, o ser humano experiencia doenas psicossomticas falta de sentido, solido e sentimento de vazio. A prpria existncia da psicologia profunda uma evidncia da alienao humana. O desenvolvimento da psicologia profunda ajudou a teologia a redescobrir seu imenso material da psicologia profunda existente na literatura religiosa, ajudando assim a redescobrir o significado da palavra pecado. Com o auxlio da psicologia, pecado entendido como a alienao universal, separao do nosso ser essencial (p. 173). A psicologia tambm ajudou a teologia a redescobrir as estruturas demonacas determinantes de nossa conscincia e de nossas decises. Atravs da psicologia profunda, a confisso de pecados existente no

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    catolicismo e perdida pelo protestantismo, reapresentada como uma possibilidade de aconselhamento e graa, ajudando as pessoas a superar a separao entre essncia e existncia (p. 174).

    Diante de tais consideraes, Tillich procura tambm realizar um dilogo com Albert Einstein, respondendo aos quatro argumentos que Einstein utilizou para atacar a idia do Deus pessoal. Tillich afirma que o conceito de Einstein do Deus Pessoal, e de sua interferncia nos eventos e seres naturais, como se fosse mero objeto entre outros, faz de Deus um ser entre os demais seres, talvez superior, mas no obstante, um ser. Tais questes precisam ser criticadas inteligentemente (p. 180). Para ele, o Deus Pessoal um smbolo religioso indispensvel para a religio viva. Trata-se de smbolo, pois, e no de objeto. Jamais de-ver ser interpretado objetivamente. um smbolo ao lado de outros, indicando que nosso centro pessoal apreendido pela manifestao do fundamento e do abismo do ser, sempre inacessveis (p. 182).

    Tillich tambm discute a importncia da tica tenoma. Segundo ele, cada ser humano possui moralidade. Mas h um tipo de moralidade que opressora, referida como moralismo. Possumos um compor-tamento moral, que procura obedecer a um sistema de regras morais. Muitas vezes, este sistema de regras morais imposto de forma radical sobre as pessoas. Tal imposio deveria ser rejeitada. Para Tillich, a melhor moralidade aquela que internalizada, que funciona automati-camente. Ela flui de dentro para fora: ela se torna natural. de risco (p. 191), produzindo uma justia transformadora, criativa, realizando-se no amor. Amor aqui no mera emoo, mas um princpio de vida. Ele rene e une o ser alienado. Ele cria o desejo de nos reunirmos conosco mesmos (p. 195).

    O tipo de educao empregada por instituies tambm pode contribuir na busca de respostas para as perguntas existenciais do ho-mem. Segundo Tillich, existe trs tipos de educao: a tcnica, hu-manista e indutiva. A educao tcnica aquela que se preocupa em preparar o estudante para usar os instrumentos na sua rea de atuao. A humanista a que se preocupa em desenvolver as potencialidades humanas, individuais e sociais. A indutiva, por sua vez, procura envol-ver a pessoa nas tradies, smbolos e exigncias de um determinado grupo, seja ele famlia, igreja ou nao. Diferentes pocas da histria

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    tem visto cada um destes tipos de educao predominar. Devido seg-mentao que acontece atualmente na vida do ser humano, escolas com carter religioso enfrentam problemas com sua educao indutiva. Elas procuram dar respostas a perguntas que os alunos nunca fizeram. necessrio saber fazer as perguntas existenciais que se encontram vivas no corao e na mente dos estudantes para ento lhes mostrar como os smbolos se tornam respostas s questes implcitas na existncia humana (p. 205). Assim fazendo, estas escolas estariam incluindo o princpio da educao humanista, a correlao entre pergunta e resposta, o radicalismo da questo, a abertura a todas as possibilidades huma-nas, e a oferta de oportunidades para que os alunos se desenvolvam em liberdade (p. 205). Tillich adverte, no entanto, que o educador ao transmitir os smbolos, tambm deveria instruir na sua interpretao, para que no se perca seu poder. Compete-lhes abrir os nveis sub-conscientes dos alunos para o supremo mistrio do ser (p. 207).

    Comparaes culturais

    Por fim, Tillich procura mostrar sua luta na superao do pro-vincianismo alemo. Durante o sculo XX, a teologia protestante encon-trava sua fonte de criatividade nas escolas alems de teologia. Telogos como Friedrich Schleiermacher, Ritschl, Adolf Harnack, Ernst Troelts-ch, Karl Barth se assentavam no centro das discusses teolgicas da poca. O mesmo no era diferente com a filosofia de Spinoza, Hegel, Goethe, Schopenhauer, Nietzsche e Marx. Onde os gregos terminaram, os alemes recomearam. Os filsofos alemes so sucessores dos fi-lsofos gregos (p. 215). Freud e Jung, quase sempre em solo alemo se destacavam tambm no campo da psicologia. Aqui se encontrava a grande tentativa da teologia de unir as idias crists com a mente moderna. Qualquer outra filosofia que no atendesse a esta expectativa era desprezada. No entanto, a segunda guerra mundial ajudou muito a minar este idealismo. A filosofia e a teologia eram caracteristicamen-te tericas, em contraste com o mtodo experimental-pragmtico da teologia americana que Tillich experimentou nos Estados Unidos. A nfase da teologia americana no pragmatismo se dava influncia cal-vinista no incio da histria americana, nfase na realizao do reino

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    de Deus na histria (p. 217). Tal teologia possui suas caractersticas, especialmente no campo da tica social, procurando tornar a mensagem da Igreja relevante no apenas para a relao do indivduo com Deus, mas tambm de Deus com o mundo (p. 220). Enquanto que a teologia europia procurava explicar o fundamento absoluto por meio de um sistema teolgico bem equilibrado, a teologia americana lutava para melhorar a vida das pessoas, desenvolver as condies sociais, e ajudar na criao do reino de Deus na terra, alem de torn-la cientificamente respeitvel (p. 221).

    Neste contexto, o ecumenismo passa a ser considerado como uma tentativa de abertura a vastos horizontes mundiais. A existncia de grande nmero de denominaes mostrava a qualquer um, existen-cialmente, a existncia de outras possibilidades de protestantismo alm da sua (p. 221). Tal contato com outras denominaes, e especialmente outras foras nocrists nos fora a reconhecer que Deus no est longe deles e que existe uma revelao universal (p. 223). Por isso, necessrio coragem. A nfase em vir-a-ser, processo, crescimento, pro-gresso etc. na filosofia americana, expressa a coragem de se arriscar, de falhar, de regredir e de se desapontar, como jamais se poderia encontrar na filosofia europia (p. 225). O contato com a forma americana de fazer teologia auxiliou Tillich na sua elaborao da teologia da cultura. Isto pode ser confirmado em sua tentativa de tornar sua teologia algo prtico e no apenas terico.

    Concluso

    A leitura da obra de Paul Tillich nos leva em uma curiosa via-gem percorrendo as diferentes reas do saber humano. Desde teologia at fsica, passando por psicologia, lingstica, educao e filosofia, podemos perceber que Tillich identifica em todas estas reas um ele-mento em comum: a busca pelo supremo. Tillich mostra a correlao entre a preocupao pelo supremo e as diferentes facetas da cultura. Este o elemento que une cada um dos textos reunidos nesta obra. Como apontado por alguns, Tillich no o nico nem o primeiro que procura realizar uma correlao entre teologia e as diversas reas do saber humano. Tal mtodo, no entanto, se tornou um fator marcante

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    na teologia de Tillich e uma grande contribuio teologia crist na tentativa de encontrar uma cura para o homem em sua alienao exis-tencial.