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BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. São Paulo. Malheiros. 2011. Cap. 3 ao 25 A Sociedade e o Estado Sociedade: Complexo de relações do homem com seus semelhantes. Mecanicista: IND > SOC : Grupo derivado de um acordo de vontades . Buscam mediante o vínculo associativo, um interesse comum, impossível de ser alcançado isoladamente. Organicista: SOC > IND : Conjunto de relações onde vários indivíduos vivem e atuam solidariamente em ordem a formar uma entidade nova e superior. Interpretação Organicista da Sociedade Os organicistas procedem da milenar filosofia grega. Aristóteles já falava do caráter social do homem ( ser político por natureza ). Grotius falava de um appetitus societatis como vocação inata do homem para a vida social. Se a sociedade é o valor primário ou fundamental, sua existência importa numa realidade nova e superior, subsistente por si mesmo, temos o organicismo. Se, ao contrário, o indivíduo é a unidade embriogênica, o sujeito da ordem social, a unidade que não criou nem há de criar realidade mais. Sociedade é mera soma de partes que não gera nenhuma realidade para subsistir acima dos indivíduos, temos o mecanicismo.

Paulo Bonavides

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BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. São Paulo. Malheiros. 2011. Cap. 3 ao 25

A Sociedade e o Estado

Sociedade: Complexo de relações do homem com seus semelhantes.

Mecanicista: IND > SOC : Grupo derivado de um acordo de vontades. Buscam

mediante o vínculo associativo, um interesse comum, impossível de ser alcançado

isoladamente.

Organicista: SOC > IND : Conjunto de relações onde vários indivíduos vivem e atuam

solidariamente em ordem a formar uma entidade nova e superior.

Interpretação Organicista da Sociedade

Os organicistas procedem da milenar filosofia grega. Aristóteles já falava do

caráter social do homem ( ser político por natureza ). Grotius falava de um appetitus

societatis como vocação inata do homem para a vida social.

Se a sociedade é o valor primário ou fundamental, sua existência importa numa

realidade nova e superior, subsistente por si mesmo, temos o organicismo.

Se, ao contrário, o indivíduo é a unidade embriogênica, o sujeito da ordem social,

a unidade que não criou nem há de criar realidade mais. Sociedade é mera soma de

partes que não gera nenhuma realidade para subsistir acima dos indivíduos, temos o

mecanicismo.

Para os organicistas arrastados a posições direitistas e antidemocráticas, o homem

jamais nasceu livre porque desde o berço, o princípio de autoridade o toma nos braços.

Faz os organicistas a apologia da autoridade. Estimam o social, vêem na sociedade o

fato permanente. Os indivíduos passam, a sociedade fica.

A Réplica mecanicista ao organismo social

Seydel “assim como a soma de 100 homens não dá 101, da mesma forma a adição

de 100 vontades não pode produzir a 101ª vontade”, no caso, a vontade social ou

vontade política.

A teoria mecânica é predominantemente filosófica e não sociológica. Das teses

contratualistas infere-se que a base da sociedade é o assentimento e não o princípio de

autoridade.

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Sociedade e Comunidade

Sociedade supõe, segundo Toennies, a ação conjunta e racional dos indivíduos no seio

da ordem jurídica e econômica; nela os homens, a respeito dos laços, permanecem

separados.

Comunidade é dotada de caráter irracional, primitivo, solidariedade inconsciente, feita

de afetos. Para Bobbio, comunidade é um grupo oriundo da própria natureza,

independente da vontade dos membros, a família por exemplo.

Na comunidade a vontade é essencial, substancial. Na sociedade, arbitrária. A

comunidade surgiu primeiro, a sociedade depois. Comunidade é matéria e substância.

Sociedade é forma e ordem.

Na sociedade há solidariedade mecânica, na Comunidade, orgânica. A comunidade é

um organismo, a Sociedade um contrato. No Interior da sociedade, convivem as formas

comunitárias.

A Sociedade e o Estado

Sociedade é um círculo mais amplo e o Estado um círculo mais restrito. A

sociedade vem primeiro; o Estado, depois. A sociedade é a realidade intermediária, mais

larga e externa, superior ao Estado, porém inferior ainda ao indivíduo enquanto medida

de valor.

Para Rousseau, Sociedade é o conjunto daqueles grupos fragmentários,

sociedades parciais, onde do conflito de interesses reinantes só se pode recolher à

vontade de todos, enquanto Estado vale como algo que se pode exprimir numa vontade

geral.

Conceito de sociedade tomou 3 colocações ao longo da história.

- Jurídico (privatista e publicístico) com Rousseau.

- Econômico com Ferguson, Smith, Max (existência de classe).

- Sociológico com Comte, Spencer e Toennier.

Os sociólogos reduzem o Estado a uma das formas de Sociedade caracterizada

pela especificidade do seu fim – promoção da ordem política, organização coercitiva

dos poderes sociais de decisão, etc.

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CONCEITO DE ESTADO

O Estado como ordem política da sociedade é conhecido desde a antiguidade, mas com

denominações diferentes (polis – gregos/ civitas – romanos). A Idade Média traz a ideia

de Estado sobretudo na reminiscência do território.

Acepção filosófica

Hegel – Estado como realidade da ideia moral, a substancia ética consciente de si

mesma.

Acepção jurídica

Estado é o sujeito da ordem jurídica na qual se realiza a comunidade de vida de um

povo.

Del Vecchio: Estado é o laço jurídico ou político ao passo que a sociedade é uma

pluralidade de laços

Bourdeau: O Estado se forma quando o poder assenta numa instituição e não num

homem.

Acepção sociológica

Oppenheimer: instituição social que um grupo vitorioso impôs a um grupo vencido,

com o único fim de organizar o domínio do primeiro sobre o segundo e resguardar-se

contra rebeliões e agressões estrangeira.

O pessimismo sociológico domina os espíritos. Influência Marxista: “Pela forma, esse

Estado é coação e pelo conteúdo exploração econômica”

Max Weber: “Todas as formações políticas são formações de força, de tal maneira que

se existissem somente agregações sociais sem meios coercitivos, já não haveria lugar

para o conceito de Estado.”

O Estado moderno, porém, racionalizou o emprego da violência, ao mesmo passo que o

fez legítimo.

Conceito Weber: Estado “comunidade humana que, dentro de um determinado

território, reivindica para si, de maneira bem sucedida, o monopólio da violência física

legítima”

O Estado se converte na única fonte do direito à violência. Seria a derradeira fonte de

toda legitimidade, tocante à utilização da força física ou material.

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Elementos constitutivos do Estado

- Ordem formal: há o poder político na sociedade, segundo Deguit, surge do domínio

dos mais fortes sobre os mais fracos.

- Ordem material: o elemento humano, ‘população, povo, nação’, isto é, em termos

‘demográficos, jurídicos e culturais’.

Para Bonavides, melhor é o de Jellinek: corporação de um povo, assentado num

determinado território e dotado de um poder originário de mando.

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População e Povo

Conceito de população

Todas as pessoas presentes no território do Estado em determinado momento,

inclusive estrangeiros e apátridas, fazem parte da população. Ou seja, população é um

dado essencialmente quantitativo, independe de qualquer laço jurídico ou poder estatal.

Diferencia-se da noção de povo, porque neste, o fundamental é o vínculo do

indivíduo ao Estado através da nacionalidade ou cidadania.

Do ponto de vista econômico, a população tanto pode significar engrandecimento,

como também causa de debilidade.

Fantasma Malthusiano

Para Malthus, a população crescia em proporção geométrica, enquanto os

alimentos aumentavam em regra aritmética. Ele afirmava que, quando essa diferença se

acentua demasiadamente, surgem as guerras, as epidemias.

Se aceitarmos o princípio Malthusiano, estamos aceitando as enfermidades sociais

como oriundas de um determinismo social, das leis da natureza, contra as quais nada

pode o homem em sociedade.

A crítica antimalthusiana diz que a ciência pode produzir com capacidade quase

infinita, os bens necessários à existência humana.

Conceito político de povo

Pode ser estabelecido do ponto de vista político, jurídico e sociológico. Cícero

dizia que povo é a reunião da multidão associada pelo consenso do direito e pela

comunhão da utilidade e não simplesmente o conjunto de homens agregados de

qualquer maneira.

No absolutismo, o povo fora objeto, com a democracia ele se transforma em

sujeito.

Povo é então o quadro humano sufragante, que se politizou, ou seja, o corpo

eleitoral.

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Conceito jurídico:

Povo exprime o conjunto de pessoas vinculadas de forma institucional e estável a

um determinado ordenamento jurídico, ou para Ranellet, “o conjunto de indivíduos que

pertencem ao Estado, isto é, o conjunto de cidadãos”.

Fazem parte do povo tanto os que se encontram no território como fora deste,

mas preso a um determinado sistema de poder pelo vínculo de cidadania.

A cidadania (nacionalidade) é a prova de identidade que mostra o vínculo do

indivíduo com o Estado. É mediante essa relação que uma pessoa constitui fração ou

parte de um povo.

Estado de cidadania é a capacidade pública do indivíduo perante o Estado.

Três sistemas determinam a cidadania: Art. 12 CF

- Jus sanguinis: vínculo pessoal

-Jus soli: vínculo territorial

- Sistema misto

Conceito Sociológico

Desse ponto de vista, há equivalência do conceito de povo com o de nação. O

povo é compreendido como toda continuidade do elemento humano, projetado

historicamente no decurso de várias gerações e dotado de valores e aspirações comuns.

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A Nação

Hauriou: Um grupo humano no qual os indivíduos se sentem mutuamente unidos

por laços tanto materiais como espirituais; conscientes daquilo que os distingue dos

indivíduos componentes de outros grupos nacionais.

Aldo Bozz : Mesmo sentimento

Elementos formadores do conceito de nação:

Raça : O nacionalismo social de Hitler quis fundar todo o ideal nacional e resumir todo o

conceito de nação e nacionalidade em bases étnicas.Contudo, não existe a pretendida

pureza racial, logo, não é a raça elemento bastante para dar-nos os traços configurantes

do que seja uma nação.

Religião : A religião não pode ser elemento explicativo do conceito de Nação, porque

pode-se ter uma religião em várias nações, como também uma nação com várias

religiões. A religião tornou-se uma coisa individual, contempla consciência de cada um.

Língua : Também não seria a língua o agente determinante da nacionalidade, uma vez

que há Estados onde se falam vários idiomas.

Enfim, o que é Nação? É raça? Religião? O idioma?

É tudo isso, podendo ser algo mais ou algo menos que tudo isso. Exprime a

Nação o conceito de ordem moral, cultural e psicológica, onde somam aqueles fatores

antecedentes anunciados, podendo cada um deles entrar ou não em seu teor constitutivo.

A língua se sobrepõe aos demais, porque é instrumento de comunicação.

Conceito voluntarístico de Nação

A nação aparece como ato de vontade coletiva, inspirado em sentimentos

históricos, tanto nas lembranças felizes, quanto nas provações. A nação é um “plebiscito

de todos os dias”.

Para Hauriou, a nação é concebida como “grupo fechado”, oposto às demais

formações nacionais.

Conceito naturalístico de Nação

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Influenciado por concepções racistas, formou-se na Alemanha. Teorizavam

acerca de uma suposta hierarquia das raças humanas, onde colocaram na extremidade

mais alta os povos germânicos.

O “Volkstum”, povo-raça, resumia a nação, identificada no sangue e no solo,

sendo o “Fuehrer” a personificação da vontade nacional.Ele tem sempre razão.

Na verdade, o conceito naturalístico consistiu numa deformação patológica da

concepção de nação como “grupo fechado”

A Nação organizada como Estado

Com a politização, o grupo nacional busca seu coroamento no princípio da

autodeterminação, organizando-se sob a forma de ordenamento estatal. O Estado se

converte assim na “organização jurídica da Nação”.

Princípio das nacionalidades: Toda Nação tem o direito de tornar-se um Estado. No

entanto, como diz Biscaretti, a Nação pode subsistir fora de todo reconhecimento

jurídico, como também em contraste com a vontade dos estados. Exemplo de

anterioridade e exterioridade da existência nacional em relação ao Estado foi o da nação

judaica.

A doutrina da soberania nacional postula que a origem de todo poder é a nação,

única fonte capaz de legitimar o exercício da autoridade política.

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Do território do Estado

Conceito de Território

Constituindo a base geográfica do poder, Pergolesi definiu território como “a

parte do globo terrestre na qual se acha efetivamente fixado o elemento populacional,

com exclusão da soberania de qualquer outro Estado”.Outros autores definem apenas

como espaço dentro do qual o Estado exercita seu poder de império (soberania).

Donati afirma que o território não é elemento constitutivo do estado. Diz que é

condição necessária, porém exterior. Para justificar, diz que para o indivíduo, o solo é

indispensável pois necessita pôr os pés, porém não constitui parte do ser humano.

Mas a maioria dos autores afirma que o território faz partye do Estado, é elemento

constitutivo e essencial. Sem ele não existiria Estado. O território está para o Estado,

assim como o corpo para a pessoa humana.

Tribo nômade poderia constitui Estado?

Para Ansehuetz sim, desde que:

-Tenha intenção de ter como seu território o objeto de ocupação;

-Tenha capacidade para excluir a presença de outras tribos do seu espaço geográfico.

São partes do território a terra firme, com águas aí compreendidas, o mar territorial, o

subsolo, a plataforma continental e o espaço aéreo.

O problema do mar territorial

Compreende-se por mar territorial aquela faixa variável de águas que banham as

costas de um Estado e sobre os quais ele exerce direitos de soberania. Alcança certa

distância da costa, sujeito, porém a variações impostas por critérios nem sempre

uniformes. Calcula-se a partir da linha de baixa maré.

Fixá-las :

1ª - Limite visual

2ª - Critério defensivo (acaba onde finaliza o poder das armas)

A soberania sobre uma faixa amplíssima de mar adjacente proporcionaria

proteção aos interesses econômicos que o Estado precisa resguardar.

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A política latino-americana ampliou para 200 milhas o limite de seu mar

territorial, em oposição aos EUA e à União Soviética que apoiavam o limite daquele

mar de apenas 12 milhas.

Com respeito ao mar territorial, não se fixam limite específico, deixando a critério

de cada Estado, variando de 3 a 12 milhas.

Argumentos contrários as 200 milhas, afirmam que ia contra um princípio básico

de Direito Internacional, o da liberdade dos mares.

No Brasil é de 200 milhas e justificou “além do problema de ordem econômica,

representado pela necessidade de defesa do potencial biológico brasileiro, foi dada

especial ênfase ao aspecto político da questão”.Ressalva o direito de passagem inerente

para todos os navios.

Subsolo e plataforma continental

ONU: “Plataforma sujeita ao controle e jurisdição do Estado ribeirinho, mas

somente para fins de explorar e aproveitar seus recursos naturais”.

Os poderes do Estado ribeirinho sobre a plataforma continental importam numa

jurisdição limitada, não devendo confundir-se com a natureza e extensão dos poderes de

soberania do Estado sobre seu território propriamente dito ou mar territorial.

BRASIL: Integrada ao território nacional, a plataforma submarina na parte

correspondente a esse território. Plataforma: território submerso, com possibilidade de

exploração das riquezas ali encontradas.

O espaço aéreo

Para alguns juristas “a soberania do Estado sobre o espaço aéreo estende-se em

altitude até onde haja um interesse público que possa reclamar a ação ou proteção do

Estado”. Isso se dá porque não existe uma altitude exata reconhecida

internacionalmente.

O espaço cósmico

O princípio consagrado exclui a dominação do espaço cósmico pela soberania

estatal. Com essa área acontece algo semelhante ao entendimento acerca do alto-mar.

Exceções ao poder de império do Estado

Admitem-se duas exceções:

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Extraterritorialidade: Uma coisa que se encontra no território de um Estado é de direito

considerada como se estivesse situada no território de outro Estado. Ex: Navios de

guerra.

Imunidade dos agentes diplomáticos: Em termos de reciprocidade, encontram-se isentos

do poder de império do Estado em que venham a ser acreditados .Essa imunidade tem

caráter pessoal e serve para assegurar o bom desempenho de sua missão.

Concepção política do território

Os problemas que daí decorrem, giram ao redor de elementos pertinentes à

dimensão, à forma, relevo e limites cuja significação logo passa do âmbito geográfico

para a esfera política.

Concepção jurídica do território

Teoria do território-patrimônio: Em voga na Idade Média, não se distinguia

nitidamente o direito público do direito privado, confundindo-se o território com a

propriedade.

É importante destacar no direito de soberania do Estado sobre o território, o

“imperium” sendo soberania territorial, portanto tem caráter essencialmente político e

só compete ao Estado. Por sua vez, “dominium” como propriedade do Estado, com teor

jusprivatista. A teoria do território-patrimônio ignorava o imperium e o dominium como

conceitos diferentes, que provinham de fontes autônomas. Naquela concepção o poder

do estado sobre o território era da mesma natureza do direito do proprietário sobre o

imóvel.

Teoria do território-objeto : Segundo essa corrente, o direito do Estado sobre o seu

território é direito especial, soberano. Toma-se território como coisa do ponto de vista

do direito público. Direito do Estado sobre a terra. Essa concepção do território-objeto

transferiu para o direito público o poder sobre coisas, que é pertinente a alguém, ao

contrário de imperium-poder sobre pessoas.

Considerando coisa o território do Estado, a soberania do Estado pode ser:

- Negativa: Importa na exclusão do poder de qualquer outro Estado sobre o mesmo

território.

-Positiva: Competência do Estado de empregar as terras para atender fins estatais.

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A doutrina do território objeto empresta caráter de direito das coisas às relações

do Estado com seu território.

Teoria do território-espaço: Importância fundamental pertence ao território.

Segundo essa doutrina, o território do Estado nada mais significa que “a extensão

espacial da soberania do Estado”. A relação do Estado com o território deixa de ser uma

relação jurídica, território não mais objeto do Estado. O poder do estado não é poder

sobre o território, mas poder no território.

Como a autoridade do Estado em relação ao território é de teor pessoal, não

falando aqui em “dominium”, poder sobre coisas, senão de “imperium”, poder sobre as

pessoas, o poder do Estado no território se faz de maneira exclusiva, quando Estado

soberano e unitário, ou na hipótese federativa, de Estado composto, em colaboração

com o Estado soberano.

O território é elemento essencial, constitutivo do Estado, parte de seu ser, de

modo que toda ofensa ao território é ofensa ao próprio Estado.

Críticas:

- Como explicar o direito do Estado de praticar certos atos fora de seu território

propriamente dito (alto-mar).

- Como justificar o poder de polícia ou a ação dos tribunais instalados no território de

potência estrangeira.

- Como conciliar a autoridade do estado-federal coexistindo com a dos estados

federados no mesmo perímetro.

Teoria do território-competência: Importância fundamental soberania territorial. Viam

no território um elemento determinante da validez da norma, sendo um meio de

localização da validez da norma jurídica. Essa teoria se desdobra em duas concepções

de território. A primeira mais restrita, fazendo do território a esfera de competência

local e a segunda mais ampla, em termos análogos da teoria do território-espaço.

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O Poder do Estado

Conceito de poder

Elemento essencial constitutivo do Estado, o poder é a energia básica que anima a

existência de uma comunidade humana, conservando-a unida, coesa e solidária.

Outros definem como “faculdade de tomar decisões em nome da coletividade”.

Com o poder se entrelaça a força e a competência, compreendida esta última

como a legitimidade oriunda do consentimento.

Poder repousa na força e será sempre um poder de fato.

Poder repousa menos na força do que na competência, menos na coerção do que

no consentimento dos governados, será um poder de direito. No Estado moderno houve

o processo de despersonalização de poder, a passagem de um poder de pessoa a um

poder de instituições.

Força: Capacidade material de comandar interna e externamente.

Poder: Organização ou disciplina jurídica da força

Autoridade: Traduz o poder quando ele se explica pelo consentimento tácito ou

expresso dos governados.

O poder com autoridade é o poder em sua plenitude Quanto menor a contestação

e maior o consentimento, mais estável se apresentará o ordenamento estatal, unindo a

força ao poder e o poder à autoridade.

Imperatividade e natureza integrativa do poder estatal

A sociedade abrange formas específicas de organização social, que vão desde as

sociedades religiosas até as sociedades recreativas.

O Estado é uma forma de sociedade que tem que conviver com outras que lhe é

anterior como a família.

Mas o traço essencial que separa o Estado, como organização de poder das demais

sociedades é o caráter inabdicável, obrigatório ou necessário, da participação de todo

indivíduo numa sociedade estatal.Nos dias atuais é inconcebível a vida fora do Estado.

Nas outras, a participação é voluntária.

No Estado há diferenciação entre governantes e governados. Os governantes

exercem o poder estatal através de leis que obrigam, não porque sejam “boas, justas ou

sábias”, mas simplesmente porque são leis, pautas de convivência.

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O portador do poder do estado, do ponto de vista jurídico não é uma pessoa física,

nem várias pessoas físicas, porém é indispensavelmente a pessoa jurídica, o Estado.

Capacidade de auto-organização

O caráter estatal de uma organização social decorre da circunstância de proceder de

um direito próprio.

Há Estado desde que o poder social esteja em condições de elaborar ou modificar

por direito próprio e originário, uma ordem constitucional.

Unidade e indivisibilidade do poder

Somente pode haver um único titular desse poder, que será sempre o Estado como

pessoa jurídica, ou poder social que em última instância se exprime pela vontade do

monarca, da classe ou do povo.

Cumpre distinguir a titularidade do poder estatal, do exercício desse poder.

Titulares do poder são aquelas pessoas cuja vontade se toma como vontade estatal. No

Estado democrático contemporâneo a titularidade do poder estatal pertence ao povo,

mas o seu exercício, aos órgãos através dos quais o poder se concretiza.

O poder do Estado na pessoa de seu titular é indivisível: a divisão só se faz quanto

ao exercício de poder. Distribuem-se através de três tipos fundamentais: a função

legislativa, a função judiciária e a função executiva, que são cometidas a órgãos ou

pessoas distintas, com o propósito de evitar a concentração de seu exercício numa única

pessoa.

Há somente a divisão das tarefas, na linguagem jurídica, divisão de competência e

não do poder do Estado propriamente dito.

Princípio de Legalidade e Legitimidade

Há autores que fazem desta, condição essencial de poder do Estado, já outros

afirmam que não pertence à caracterização do poder, nem traço de poder estatal.

Soberania : Possui duas fases

Soberania interna: Significa “imperium” que o Estado tem sobre o território e a

população, bem como superioridade do poder político frente aos demais poderes sociais.

Soberania externa: Manifestação independente do poder do Estado perante outros

Estados.

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Legalidade e Legitimidade do Poder Político

Princípio da legalidade

A legalidade nos sistemas políticos se exprime mediante a observância das leis.

Traduz a noção de que todo poder estatal deverá atuar sempre conforme regras jurídicas

vigentes, desde decretos e leis ordinárias até a constituição.

O conceito de legalidade se situa num domínio exclusivamente formal, técnico e

jurídico. Nasceu para atender ao ideal de estabelecer um governo da lei em substituição

do governo dos homens.

Princípio da legitimidade

A legitimidade levanta questionamento acerca da justificação e dos valores do

poder legal. A legitimidade é a legalidade acrescida de sua valoração.

No conceito de legitimidade entram as crenças de determinada época, há

manifestação do consentimento e da obediência.

Ex: A legalidade de um regime democrático é o seu enquadramento nos moldes de uma

constituição; sua legitimidade será o poder contido naquela constituição, exercendo-se

em conformidade com as crenças, valores e os princípios da ideologia dominante, no

caso a ideologia democrática.

Os fundamentos sociológicos da legitimidade

Para Vedel “chama-se princípio de legitimidade o fundamento do poder numa

determinada sociedade, a regra em virtude da qual se julga que um poder deve ou não

ser obedecido”, este nos leva à compreensão sociológica do termo.

Suscitando o problema da autoridade, em termos sociológicos distingue Max

Weber, três formas básicas de manifestação da legitimidade: a carismática, a tradicional

e a legal ou racional.

A legitimidade como representação de uma teoria dominante de poder.

Em certa época num certo país, há sempre uma teoria dominante do poder, à qual

adere a massa dos governados.

Page 16: Paulo Bonavides

O governo que impera no assentimento da população será do ponto de vista o

governo legítimo.

A legitimidade se torna uma noção puramente relativa e contingente, cujo

conteúdo depende das crenças efetivamente espalhadas num certo momento, em

determinado país.

Três formas básicas de manifestação da legitimidade:

A autoridade carismática : assenta sobre as “crenças” havidas em

profetas. Baseia-se na direta lealdade pessoal dos seguidores. Conserva

nas suas formas mais puras o caráter autoritário e imperativo.

A autoridade tradicional : se apóia na crença de que os ordenamentos e

os poderes de mando e direção comportam a virtude da santidade.Ex:

autoridade patriarcal.Presta-se obediência à pessoa por respeito, em

virtude da tradição de uma dignidade pessoal que se reputa sagrada.

Na autoridade legal, : temos o poder fundado no estatuto. Ex: autoridade

burocrática. O poder racional ou legal cria a noção de competência, o

poder tradicional a de privilégio e o carismático dilatam a legitimação até

onde alcance a missão do chefe.

O aspecto jurídico da legitimidade

A posse do poder legal em termos de legitimidade requer sempre uma presunção

de juridicidade e de preenchimento de cláusulas gerais.

Foi justamente a falta de tal consciência que na hora da conspiração nazista,

entregou a ordem jurídica da Alemanha à ditadura.

A doutrina mais recente distribui quanto ao problema da legalidade e legitimidade

dos governos nas seguintes posições:

1. A legalidade é questão de forma; a legitimidade, questão de fundo, relativo à

consonância do poder com a opinião jurídica.

2. A legitimidade é noção ideológica, a legalidade noção jurídica. ”Um governo é legal,

consequentemente, legítimo, sob o aspecto do direito, desde que se estabeleça de modo

regular, conforme as regras da ordem estatutária nacional”.

A legitimidade no exercício do poder

Trata-se de indicar o fundamento da legitimidade do governo, manifestado como

um dado histórico e relativo, modificáveis conforme a época ou o país.

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Na idade Média a crença suporte da legitimidade foi Deus, a religião. Nos dias

atuais vem sendo o povo, a democracia.

Todo governo é legal e legítimo ao mesmo tempo?

Os governos que nascem das situações revolucionárias, dos golpes de Estado, são

governos ilegais, mas eventualmente legítimos, se abraçados pelo sentimento nacional,

a legitimidade fundará então como o tempo a nova legalidade.

Page 18: Paulo Bonavides

A Soberania

A Antiguidade desconhecia a soberania em suas formas de organização política.

A soberania surge apenas com o advento do Estado moderno.

A soberania não é mais tratada como um dado essencial constitutivo do Estado.

Há Estados soberanos e Estados não soberanos. Do ponto de vista externo, a soberania é

apenas qualidade do poder.

Do ponto de vista interno, porém, é visto como essência do ordenamento estatal.

A soberania interna fixa a noção de predomínio que o ordenamento estatal exerce num

certo território e numa determinada população sobre os demais ordenamentos sociais.

Vontade suprema e soberania suprema potestas. Onde houver Estado, haverá pois

soberania.

Crise contemporânea: Dificuldade de conciliar a noção de soberania do Estado

com a ordem internacional. Soberania do Estado sacrifício maior ou menor do

ordenamento internacional e vice-versa

Traços característicos da soberania

A soberania é una e indivisível, não se delega, é irrevogável e perpétua. Estes são

os pontos que Bodin fez de soberania no século XVII. Ele fala do caráter incontrastável

da soberania, por motivos históricos, já que sua formação vinha precedida do

antagonismo da Idade Média entre poder espiritual e o poder temporal.

Bodin assenta a doutrina desse poder supremo, tendo em vista, sobretudo suas

implicações nas relações com outros Estados. Hobbes teoriza sobre o poder soberano

para legitimar internamente a supremacia do monarca sobre os súditos.

O titular do direito de soberania: Doutrinas teocráticas e doutrinas democráticas

Há distinção entre a soberania do Estado e a soberania no Estado.

Na soberania do Estado busca-se a preeminência do grupo político – o Estado,

sobre os demais grupos sociais internos ou externos. A soberania no Estado fala dos

elementos característicos de poder estatal que o distingue dos demais poderes e

instituições sociais.

Page 19: Paulo Bonavides

A Soberania no Estado concentra na determinação da autoridade suprema no

interior do Estado, na verificação hierárquica dos órgãos da comunidade política e na

justificação da autoridade conferida ao sujeito ou titular do poder supremo.

O problema de legitimar a soberania na pessoa de seu titular e explicar a origem

do poder soberano tem criado várias doutrinas: doutrinas teocráticas e doutrinas

democráticas.

As doutrinas teocráticas

1. Natureza divina dos governantes

Faz dos governantes deuses vivos. Os monarcas como titulares do poder soberano são

seres divinos, objeto de culto e veneração.

2. Investidura divina

Embora se conserve o grau mais alto de eminência, não se supõem fora da condição

humana. Eles são delegados diretos e imediatos de Deus, recebendo deste a investidura

para o exercício de um poder.

3. Investidura providencial

Admite apenas a origem divina do poder, tornando cada vez mais branda a intervenção

da divindade em matéria política, cuja legitimidade se resume na observância

escrupulosa do bem comum. Quebrou-se assim a rigidez das implicações autocráticas

decorrentes das teorias monárquicas do direito divino e tornou-se possível conciliar os

princípios teológicos da soberania com os postulados democráticos pertinentes à sede e

ao exercício do poder político.

As doutrinas democráticas

1. Soberania popular

Não postula necessariamente uma forma republicana de governo. A soberania popular é

tão somente a soma das distintas frações de soberania pertencentes a cada indivíduo.

Funda o processo democrático sobre a igualdade política dos cidadãos e o sufrágio

universal.

2. Soberania nacional

A nação surge nessa concepção como depositária única e exclusiva da autoridade

soberana. Aquela imagem do indivíduo titular de uma fração da soberania, com milhões

de soberanos em cada coletividade, cede lugar à concepção de uma pessoa

privilegiadamente soberana: a Nação. Povo e Nação formam uma só entidade,

Page 20: Paulo Bonavides

compreendidos organicamente como um ser novo, dotado de vontade própria, superior

às vontades individuais que a compõem.

O ESTADO UNITÁRIO

Das formas de Estado, a forma unitária é a mais simples, a mais homogênea. A

ordem jurídica, política e administrativa se acham aí conjugadas em perfeita unidade

orgânica, referidas a um só povo, um só território, um só titular do poder público de

império

No Estado unitário poder constituinte e poder constituído se exprimem por meio

de instituições que representam um bloco único

O unitarismo do poder é uma das principais características dos ordenamentos

estatais. É assim contemporaneamente e foi assim quando se deu a aparição do Estado

moderno, cujo aspecto centralizador e tendência unitarista ressalta desde logo em

presença da vontade política soberana.

O Estado centralizador cede e decai historicamente quando prepara as

modalidades descentralizadoras e até mesmo federativas; quando as concepções mais

democráticas e menos autoritárias do poder abalam todo o eixo do autoritarismo estatal,

contrapondo a supremacia individual à hegemonia do ordenamento político, separam o

Estado da pessoa do soberano. Graças a isso, acaba o Estado por objetivar-se

socialmente como produto do consenso das vontades individuais.

Os Estados unitários tiveram sua formação do consórcio político de vários

Estados, cuja primitiva autonomia se perdeu em decorrência da exacerbação política do

sentimento nacional unificador de distintos povos.

O Estado unitário centralizado e as formas de centralização

• Centralização política

A centralização política em determinado Estado se exprime pela unidade do

sistema jurídico, comportando o país um só direito e uma só lei, sem coexistência de

ordenamentos menores. Aqui não há o ordenamento geral superpondo-se a

ordenamentos particulares, que criem também sistemas jurídicos próprios, como no

Estado federal. Unidade e exclusividade da ordem política e jurídica, são notas

dominantes da centralização política, na medida em que esta caracteriza o Estado

unitário

Page 21: Paulo Bonavides

• Centralização administrativa

A centralização administrativa segundo Prélot, constitui verdadeira condição de

reforço dessa modalidade de Estado,cuja unidade política fica assim vantajosamente

complementada.

No Estado unitário, a centralização administrativa conduz a uma aplicação da lei

ou a uma gestão dos serviços, através de agentes do poder “independente do meio que

as leis regem ou do grupo a quem interessam os serviços”

• Centralização territorial e centralização material

Distingue Dabin duas formas de centralização: a centralização territorial e a

centralização material. Com a primeira, o poder do Estado se estende a porções cada vez

mais largas do território; com a segunda, observa-se dilatação da competência do Estado

a assuntos ou interesses que dantes gravitavam na órbita de poderes menores e

particulares, providos de certa autonomia.

• Centralização concentrada

Temos centralização concentrada quando as ordens emanadas de cima, do centro

de decisão política, circulam para baixo, através dos canais administrativos, até as

coletividades inferiores, onde os agentes do poder atuam como meros instrumentos de

execução e controle, em obediência estrita às ordens recebidas. Cabe aí aos servidores

do Estado o papel de cumpridores de decisões, que não são suas, mas se fazem tão-

somente por seu intermédio.

• Centralização desconcentrada

A centralização desconcentrada importa no reconhecimento de pequena parcela

de competência aos agentes do Estado, que se investem de um poder de decisão cujo

exercício lhes pertence; poder,todavia, parcial, delegado pela autoridade superior, à qual

continuam presos por todos os laços de dependência hierárquica.

A essa autoridade exerce tão-somente uma parcela de poder público delegado e

não autônomo; funciona como órgão do poder central e não como titular de direito

próprio. Não possuem nenhum poder inicial próprio, mas de prerrogativas delegadas,

conferidas pelo poder central único.

Vantagens e desvantagens da centralização

Page 22: Paulo Bonavides

Da centralização resultam vantagens, que o Estado unitário aufere tanto no campo

político como principalmente no campo administrativo.

Vantagens:

a) a extensão de uma só ordem jurídica, política e administrativa a todo o país;

b) o considerável fortalecimento da autoridade, que tanto se implanta como se

mantém com mais facilidade onde ocorre a unidade do poder;

c) o reforço que daí decorre para o princípio da unidade nacional;

d) as facilidades conducentes à organização de um corpo burocrático único, com

menos dispêndio para os cofres públicos e mais eficácia e racionalização para os

serviços prestados;

e) a impessoalidade e imparcialidade que se observam, tocante ao exercício das

prerrogativas de governo.

Desvantagens:

A ameaça que faz pesar sobre a autonomia criadora das coletividades particulares,

ao desaparecerem os grupos intermediários, cava-se um fosso entre o indivíduo e o

Estado.

A excessiva centralização sobrecarrega o poder central de responsabilidades

administrativas de menos importância que os agentes do poder público numa esfera

local estariam capacitados a realizar.

Retarda a decisão de assuntos administrativos, que, na esfera das comunidades

interessadas, encontrariam rápida ou instantânea solução.

O Estado unitário descentralizado: a descentralização administrativa

Há descentralização administrativa quando se admitem órgãos locais de decisão

sujeitos a autoridades que a própria circunscrição venham a instituir, com o propósito de

resolver ou ordenar matéria de seu respectivo interesse.

O poder central apenas transmite determinada parcela de poderes às coletividades

territoriais, conservando, porém intacta e permanente a tutela sobre os quadros locais de

competência. Traço, por conseguinte definidor da descentralização administrativa vem a

ser essa ausência precisa de autonomia ou independência.

Não se institui aqui, um poder originário de arbítrio, visto que assim, ao invés de

administrativa, se converteria em política tal modalidade de descentralização. Do Estado

unitário teríamos passado já ao Estado federal. Significa, a descentralização

administrativa tão-somente o exercício de prerrogativas por parte de grupos que não

Page 23: Paulo Bonavides

cortam todavia os laços de dependência que os prendem ao poder central, quanto à

atividade exercida.

O Estado unitário descentralizado e o Estado federal

A descentralização cada vez mais assinalada em determinados Estado unitários

dotados de competência legislativa e doutra parte os progressivos movimentos

centralizadores que se observam contemporaneamente em todas as formas conhecidas

de Estado federal,vêm acarretando consideráveis dificuldades doutrinárias à fixação dos

critérios distintivos entre o Estado unitário descentralizado e o Estado federal de

tendências centralizadoras.

Temos que o melhor critério ainda é a dependência dos órgãos descentralizados

quanto ao Estado unitário e a independência desses mesmos órgãos, em se tratando de

Estado federal.

Nas regiões dotadas de competência legislativas, ali a competência a rigor não

equivale a autonomia política,visto que as faculdades legislativas da região exprimem

tão-somente os princípios de uma mesma ordem jurídica, não ocorrendo nenhuma lesão,

quebra ou secessão do ordenamento estatal. No Estado-membro da Federação, ao

contrário, ocorre dualidade efetiva de poderes políticos, de sistemas jurídicos

distintos,autônomos e correlatos.

Charles Durand : “no Estado unitário descentralizado a lei ordinária basta para

fixar e modificar o regime jurídico das coletividades internas”, ao passo que “no Estado

federal, cabe esse papel não à lei ordinária, mas a uma constituição rígida, a qual, posto

que não seja intangível, é todavia muito mais difícil de modificar que a lei ordinária”

Page 24: Paulo Bonavides

O ESTADO FEDERAL

Disse Jellinek tratar-se de “Estado soberano, formado por uma pluralidade de

Estados, no qual o poder do Estado emana dos Estados-membros, ligados numa unidade

estatal”.

O Estado federal como Federação

Karl Strupp distinguiu a união de direito constitucional das uniões de direito

internacional. O Estado federal pertence à primeira categoria. A lei constitucional e não

o tratado é que nos fornece o critério dessa modalidade de união de Estados.

A antigüidade a rigor não conheceu o fenômeno federativo com os característicos

usualmente ostentados no Estado moderno. A Federação propriamente dita não a

conheceu nem praticaram os antigos, visto que a mesma, tanto quanto o sistema

representativo ou a separação de poderes, é das poucas idéias novas que a moderna

ciência política inseriu nos três últimos séculos de desenvolvimento.

A distinção entre Federação e Confederação

Vários foram os critérios. Propunham uns a firmeza, solidez da relação entre os

Estados, alcançando essa relação seu grau mais alto na Federação e seu ponto mais

baixo na Confederação.

Outros se volveriam para a consideração da indissolubilidade do laço federativo,

face a possibilidade jurídica da secessão dos Estados,admissível em se tratando de

organização confederativa.

Demais, houve quem visse como expressão distintiva das duas formas de união de

Estados a ausência de um poder político único da Confederação, ao contrário do que se

dá na Federação, detentora de poder soberano no círculo das relações internacionais.

Enfim, quis-se tomar por critério básico o fato de a atividade unitária da

Confederação projetar-se em sentido externo e não em sentido interno.

No Estado federal deparam-se vários Estados que se associam com vistas a uma

integração harmônica de seus destinos. Não possuem esses Estados soberania externa e

Page 25: Paulo Bonavides

do ponto de vista da soberania interna se acham em parte sujeitos a um poder único, que

é o poder federal, e em parte conservam sua independência, movendo-se livremente na

esfera da competência constitucional que lhes for atribuída para efeito de auto-

organização.

Como dispõem dessa capacidade de auto-organização, que implica o poder de

fundar uma ordem constitucional própria, os Estados-membros se convertem em

organizações políticas incontestavelmente portadoras de caráter estatal.

A lei da participação e a lei da autonomia

Mediante a lei de participação, tomam os Estados-membros parte no processo de

elaboração da vontade política válida para toda a organização federal, intervêm com voz

ativa nas deliberações de conjunto, contribuem para formar as peças do aparelho

institucional da Federação.

Através da lei da autonomia manifesta-se com toda a clareza o caráter estatal das

unidades federadas. Podem estas livremente estatuir uma ordem constitucional própria,

estabelecer a competência dos três poderes que habitualmente integram o Estado

(executivo, legislativo e judiciário) e exercer desembaraçadamente todos aqueles

poderes que decorrem da natureza mesma do sistema federativo, desde que tudo se faça

na estrita observância dos princípios básicos da Constituição federal.

A participação e a autonomia são processos que se inserem na ampla moldura da

Federação, envolvidos pelas garantias e pela certeza do ordenamento constitucional

superior. Tanto a participação como a autonomia existem em função das regras

constitucionais supremas, que permitem ver na Federação, como viu Tocqueville no

século XIX, duas sociedades distintas, “encaixadas uma na outra”, a saber, o Estado

federal e os Estados federados harmonicamente superpostos e conexos.

O Estado federal em si mesmo frente aos Estados-membros

Há Estado federal quando um poder constituinte, plenamente soberano, dispõe na

Constituição federal os lineamentos básicos da organização federal, traça ali o raio de

competência do Estado federal, dá forma às suas instituições e estatui órgãos

legislativos com ampla competência para elaborar regras jurídicas de amplitude

nacional, cujos destinatários diretos e imediatos não são os Estados-membros, mas as

pessoas que vivem nestes, cidadãos sujeitos à observância tanto das leis específicas dos

Estados-membros a que pertencem, como da legislação federal.

Page 26: Paulo Bonavides

A Constituição confere também ao Estado federal competência para o exercício de

atribuições administrativas mediante sistemas que variam segundo o modelo da

organização federal: no Brasil e nos Estados Unidos, por via executiva direta.

Por último, dispõe o Estado federal de um terceiro poder próprio — o poder

judiciário, com seus tribunais e sobretudo com uma Corte de justiça federal, de caráter

supremo, destinada a dirimir os litígios da Federação com os Estados-membros e destes

entre si.

O lado unitário da organização federal

O Estado federal, sede da soberania, aparece por único sujeito de direito na ordem

internacional, toda a vez que se trate de atos que impliquem exteriorização originária da

vontade soberana. É esse grau na qualidade de um poder que se move com absoluta

independência, o traço mais visível com que distinguir o Estado federal das

coletividades estatais associadas.

Dotados de autonomia, os Estados-membros não possuem, todavia aquele traço de

superioridade,aquele grau máximo que faz privilegiado o poder do Estado federal, que o

qualifica, pela razão mesma de ser um poder soberano.

A par da unidade de poder externo, ordinariamente exclusivo, possui o Estado

federal também unidade relativa a todo o espaço geográfico sobre o qual assenta seu

sistema de organização jurídica. Mas do ponto de vista interno, há, paralelamente

distribuídas pela área geográfica da Federação, diversas unidades de poder, que são os

Estados-membros, servidos de elementos constitutivos, como território e povo, os quais

tomados conglobadamente vêm a formar um só território, e um só povo: o território e o

povo do Estado federal, sujeitos, pelo aspecto nacional, à jurisdição única do poder

central.

O lado unitário da organização federal, resumido por consequência na

determinação da nacionalidade, na existência de órgãos federais capazes de atuar sobre

toda a coletividade estatal, e no território, que, tomado de conjunto só conhece, em

matéria de competência federal, um único poder: o da Federação que sobre o mesmo

incide soberanamente.

A supremacia jurídica do Estado federal sobre os Estados federados

Fica patente naqueles preceitos da Constituição federal que ordinariamente

impõem limites aos ordenamentos políticos dos Estados-membros, em matéria

Page 27: Paulo Bonavides

constitucional, pertinentes à forma de governo, às relações entre os poderes, à ideologia,

à competência legislativa, à solução dos litígios na esfera judiciária, etc. Superioridade

marcante da organização do Estado federal sobre a organização dos Estados federados.

A Constituição Federal é o cimento jurídico dessa supremacia imposta através das

regras limitativas do ordenamento político das unidades componentes.

Em suma, a supremacia do Estado federal sobre o Estado federado se manifesta

mediante os três pontos fundamentais já enumerados: observância obrigatória de certos

princípios básicos ou mínimos da organização federal pelos Estados-membros, adoção

de um sistema de competência pela Constituição Federal, que as reparte no seio da

ordem federativa e, por último, instituição de um tribunal supremo, guardião da

Constituição Federal.

Os Estados-membros como unidades constitutivas do sistema federativo

Na Federação, os Estados federados, dispondo do poder constituinte, decorrente

de sua condição mesma de Estado, podem livremente erigir um ordenamento

constitucional autônomo e alterá-lo a seu talante, desde que a criação originária da

ordem constitucional e sua eventual reforma subseqüente se façam com inteira

obediência às disposições da Constituição Federal.

Aqui os Estados-membros estão mais a dar do que a receber. Fixa-se com esse

aspecto a importância capital da participação do Estado na Federação, acentuando-se aí

por excelência outro ângulo verdadeiramente federativo do sistema — o ângulo da

participação — o qual se acrescenta ao já examinado da livre competência dos Estados-

membros de estatuírem acerca de matéria que a Constituição Federal porventura lhes

haja reservado. Tanto é que a federação é uma sociedade entre iguais que o numero de

senadores é o mesmo para todos, independente de sua população.

O sistema de duas Câmaras, da essência da ordem federativa,testemunha

precisamente uma técnica vertical de separação de poderes. Um ramo do poder

legislativo, o Senado, exprime a vontade dos Estados, mas o poder político soberano se

manifesta também através da segunda casa legislativa: a Câmara de Deputados ou Casa

de Representantes por onde se filtra a vontade dos cidadãos, vontade democrática,

vontade popular, que expressa, na produção da ordem jurídica, o sentimento nacional

unificado

Page 28: Paulo Bonavides

AS FORMAS DE GOVERNO

As formas de governo são determinantes da organização e funcionamento do

poder estatal, mediante alguns critérios:

•Número de titulares do poder soberano (visão aristotélica)

•Separação dos poderes, com rigoroso estabelecimento ou fixação de suas respectivas

relações (Montesquieu).

•Princípios essenciais que animam a prática governamentista e consequente exercício

limitado ou absoluto do pode estatal

Aristóteles classificou as formas de governos como puras e impuras. Assim,

Governo Puro seria quando o titular da soberania, quer seja um, alguns ou todos,

exercesse o poder soberano, tendo invariavelmente em vista o interesse comum.

Governo Impuro é aquele em que prevalece o interesse pessoal, particular dos

governantes contra o interesse da coletividade; é quando as originais formas de governo

degeneram-se totalmente, visto que o interesse pessoal sobrepõe-se ao interesse da

sociedade. Seguindo a classificação de Aristóteles:

I - Formas Puras de Governo:

a. Monarquia: Governo de um só. O Sistema Monárquico atende à exigência unitária na

organização de poder político, exprimindo uma forma de governo na qual se faz mister

o respeito das leis.

b. Aristocracia: Governo de alguns, o governo dos capazes, dos melhores. Acepção de

força em sentido de qualidade, isto é, força da cultura, da inteligência, dos melhores,

dos que lideram o governo. É a seleção dos capazes.

c. Democracia: governo que deve atender, na sociedade, aos reclamos de conservação e

observância dos princípios de liberdade e de igualdade.

II - Formas Impuras de Governo:

Page 29: Paulo Bonavides

a. Tirania: Monarquia degenerada – governo de um só que vota o desprezo da ordem

publica.

b. Oligarquia, Plutocracia ou Despotismo: Aristocracia degenerada – governo do

dinheiro, da riqueza desonesta, dos interesses econômicos anti-sociais.

c. Demagogia: Democracia degenerada – governo das multidões rudes, ignaras,

despóticas.

Formas Mistas de Governo: O Governo misto consiste na redução dos poderes da

monarquia, da aristocracia e da democracia, mediante determinadas instituições

políticas, como um Senado Aristotélico ou uma Câmara Democrática.

Classificação de Maquiavel:

“Todos os Estados todos os domínios que exerceram ou exercem poder sobre os

homens, foram e são ou Repúblicas ou Monarquias” (em O Príncipe). Classifica as

formas de Governos em termos dualistas. São:

a. Repúblicas: (poder plural, compreende Aristocracia e Democracia) governo

republicano é todo governo eletivo e temporário.

b. Monarquia: (poder singular) governo em que o gestor público instaura-se por

hereditariedade e mantêm-se no governo vitaliciamente.

Quanto à possibilidade de ação dos monarcas, as Monarquias podem ser:

Ilimitadas: Monarquias Absolutistas por ausência de normas.

Limitadas: Nos termos da lei, por estamentos, constituições e parlamentos.

Estamentos: quando o monarca atribui competências legislativas ou judiciárias a

outrem, descentralizando de si o poder. Os estamentos são os chamados “braços”.

Constituições: lei máxima do Estado, Lei soberana.

Parlamento: é o legislativo – poder ser: DITATORIAL OU DIRETORIAL.

Câmara Baixa BICAMERAL

Monarquias Presidencialistas: quem rege o Governo é o Rei e quem rege o

Estado é o presidente.

Repúblicas:

A) República Aristocrática: Representativas de uma classe – Sufrágio restrito com a

intenção de excluir parcela da população (restringe ou exclui a maioria da população).

B) República Democrática:

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Direta – Governa a totalidade dos cidadãos, deliberando em assembléias populares,

como faziam os gregos no antigo Estado ateniense.

Indireta – É a mesma coisa do representativo.

Semi-direta – A alienação política da vontade popular faz-se apenas parcialmente. O

povo não se cinge apenas de eleger, mas também de estatuir, através de referendo (o

projeto de lei é submetido ao sufrágio do povo – o referendo pode ser consultivo ou

arbitral), plebiscito, iniciativa popular, direito de revogação (recall e Abberufungsrecht)

e pelo veto.

OBS: BRASIL/ elege os representantes de forma direta, mas o governo é indireto, pois

o povo eleitor não governa, mas é representado.

Montesquieu: Distingui a natureza e o princípio de cada governo. Natureza exprime-se

naquilo que faz o governo ser o que é e Princípio naquilo que o faz atuar, que o anima

para o exercício do poder.

a) Monarquia: regime das distinções, separações, variações e dos equilíbrios sociais.

Sua Natureza é o governo de um só e o Princípio é o sentimento da honra, no amor das

distinções, no culto das prerrogativas.

b) República: compreende a Democracia e a Aristocracia. Democracia (Natureza: a

soberania reside na mão do povo / Princípio: amor da pátria, igualdade e compreensão

dos deveres cívicos.) Aristocracia (Natureza: a soberania pertence a alguns/ Princípio:

moderação dos governantes.)

c) Despotismos: Natureza: ignorância ou transgressão da lei/ Princípio: medo,

desconfiança, insegurança, governo ilegítimo.

Classificação de Bluntschli:

Formas Fundamentais de Governo: Monarquia, Aristocracia, Democracia e Ideocracia

ou Teocracia.

Formas Secundárias de Governo: Governos Despóticos ou servis, Semi-livres e Livres.

•Formas de Governo segundo o critério de Separação dos Poderes:

I – Governo Parlamentar: funda-se na igualdade e colaboração entre os executivo e

legislativo. Surge no compromisso liberal entre a monarquia (absolutista) e a

aristocracia burguesa da revolução industrial.

II – Governo Presidencial: resulta num sistema de separação rígida dos três poderes:

Executivo, Legislativo e Judiciário.

Page 31: Paulo Bonavides

III – Governo Convencional: Sistema de preponderância da assembléia representativa.

A crise da concepção governativa e as duas modalidades básicas de governo:

I – Governos pelo Consentimento: Governos limitados, livres e da liberdade.

II – Governos pela Coação: Governos absolutos, totalitários e da ditadura.

SISTEMA DE GOVERNO

Relação estabelecida entre os poderes/ funções jurídicas do Estado mais

notadamente entre executivo e legislativo.

• Sistema Presidencialista: Três aspectos principais se destacam na fisionomia do

presidencialismo:

a) Historicamente, é o sistema que perfilhou de forma clássica o principio da separação

dos poderes, que tanta fama e glória granjeou para o nome de Montesquieu na idade

áurea do Estado Liberal. O principio valia como esteio Maximo das garantias

constitucionais da liberdade. A Constituição americana o recolheu, tomando-o, por base

de todo o edifício político. Da separação rígida passou-se com o tempo para a separação

menos rigorosa, branda, atenuada, à medida que o velho dogma evolveu, conservando-

se sempre e invariavelmente entre os traços dominantes de todo o sistema presidencial.

b) A seguir, vamos deparar no presidencialismo a forma de governo onde todo o poder

executivo se concentra ao redor da pessoa do Presidente, que o exerce inteiramente fora

de qualquer responsabilidade política perante o poder legislativo. Via de regra, essa

irresponsabilidade política do Presidente se estende ao seu ministério, instrumento da

imediata confiança presidencial, e demissível ad nutum do Presidente, sem nenhuma

dependência política do Congresso.

c) Enfim, o Presidente da República deve derivar seus poderes da própria Nação;

raramente do Congresso, por via indireta.

- Sistema de Independência

- Chefia de governo unipessoal

- Irresponsabilidade política

- Estabelecimento de competências constitucionais// Principio da Separação dos Poderes

- Aplicação indistinta às formas de Governo: República e Monarquia.

3) Sistema Parlamentar:

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- Relação de interdependência: estabilidade nua (nenhuma), depende da confiança

partidária.

- Chefia de Governo distinta da chefia de Estado: “Cargo de confiança”

- Executivo colegiado (oriundo do Legislativo): a população elege o partido que indica

o 1º ministro.

- Questionada aplicação do princípio da separação dos poderes.

4) Sistema Diretorial: Executivo Colegiado (“braços”)

- Inexistência de Independência para o órgão executivo /autorizado para as missões que

o legislativo atribuir.

- Instalado em regimes em transição

Parlamento - é quem governa;

Estamento - são "braços"; o monarca outorga competências, descentralizando a gestão

do governo para legislar, julgar...

Estado unitário - tem só um no comando e uma única norma jurídica.

Sistema diretorial

- Inexistência de independência para o órgão executivo / autorizado;

- Instalado em regimes de transição.

MANDATO

É dos legisladores, do Presidente, governadores e prefeitos. O povo o outorga para ser

exercido por determinado tempo, podendo eles serem destituídos a qualquer tempo.

Um primeiro ministro não possui mandato. Este é do presidente.

- TIPOS:

a) Representativo - Aplica-se o sistema presidencialista. A doutrina é a da duplicidade.

O cargo é exercido por mandato. Uma vez investido no cargo, o governante passa a

fazê-lo de forma dissociada do povo, por vontade própria.

b) Imperativo - Não se aplica ao sistema presidencial. É próprio para o sistema

parlamentar, para chefe de Executivo. A vontade do representante deve corresponder à

vontade de quem o elegeu.

- IMPLICAÇÕES DA APLICAÇÃO DO MANDATO

A teoria política conhece duas formas principais de mandato: o mandato representativo

e o mandato imperativo. Ao mandato, prense-se o acolhimento político ou

Page 33: Paulo Bonavides

constitucional das duas doutrinas básicas da soberania: a doutrina da soberania nacional

e a doutrina da soberania popular.Com a democracia liberal (doutrina da soberania

nacional) o mandato foi rigorosamente representativo e com a democracia social

(doutrina da soberania popular), permanece formal e nominalmente representativo, mas

com considerável alteração.

Tipos:

1 – Representativo: (presidente) Teoria da Duplicidade, em que o representante é

independente em suas decisões que objetivam o bem comum.// O corpo eleitoral, de si

mesmo já restrito pelo sufrágio limitado, não delega nenhum poder, não funciona como

mandante, não possui nenhuma vontade soberana, atua como mero instrumento de

designação, visto que mandante é a nação, soberana a vontade nacional, da qual o

representante é intérprete, sem nenhum laço de sujeição ao eleitor. Suas características

são: generalidade, liberdade, irrevogabilidade (recall – EUA; Abberufungsrecht –

Suíça), independência.

2 – Imperativo Unicidade: Teoria da Identidade, em que o mandatário está sujeito a

vontade do mandante, o eleitor.// indicação de alguém que defina, eleja. // não se aplica

em presidencialismo.

Implicações da Aplicação:

Presidencial – Representativo (logo, não há responsabilidade política)

Parlamentar – Imperativo (responsabilidade política)

Se o sistema é presidencial, o mandato é representativo e não há responsabilidade

política. O governante só é afastado do cargo por crime penal ou de improbidade

administrativa.

No parlamentar, o mandato é imperativo e há responsabilidade política. Se o dirigente

não agradar, os representantes do povo não devem apoiar a recondução dele ao cargo.

Page 34: Paulo Bonavides

SISTEMAS ELEITORAIS

Apuração de votos

SISTEMA ELEITORAL MAJORITÁRIO

É o mais antigo. O primeiro Estado a convocar o povo para eleições foi a Inglaterra.

Através desse sistema, divide-se o território em tantas circunscrições quanto for o

número de cargos a serem ocupados. No Brasil, são 27 as circunscrições (unidades

federativas).

Implicação:

- Divisão do território em vagas a serem ocupadas.

Maioria simples – pode ser obtida em escrutínio de 1º turno;

Maioria absoluta (qualificada) – pode ser obtida em escrutínio de 2º turno.

Cargos aplicáveis (Brasil):

- Executivos - municípios, Estados, União.

- Senadores – também eleitos pelo voto majoritário. Cada unidade federativa indica três

senadores.

Fatores positivos:

- Representação da maioria racial – A opinião pública ou conduz, reconduz ou na

próxima eleição tira o representante do cargo.

- Facilidade na indicação dos eleitos

- Governos estáveis (salvo no sistema proporcional) – se o critério for majoritário, o

partido só poderá se considerar realmente vitorioso numa eleição se tiver conseguido a

maioria das cadeiras no Legislativo.

O governo geralmente tende a ser estável, mas se não tiver feito a maioria, corre risco

de enfrentar entraves, porque há divergências ideológicas entre os partidos.

Page 35: Paulo Bonavides

- Polarização de dois partidos no segundo turno – com o bipartidarismo, os partidos

perdedores no primeiro turno procuram se coligar com os finalistas. Com isto, quem

vencer a eleição não terá apenas o seu partido para governar.

Fatores negativos:

-Fortalecimento dos partidos – como os governos eleitos dependem da maioria no

Legislativo, isto fortalece os partidos, que ficam com poder de negociação.

- Impossibilidade da representação das minorias – A minoria derrotada tem de esperar

pelas próximas eleições. Neste sistema (majoritário) os pequenos podem concorrer

sozinhos.

- Falta de representatividade – Se um candidato for eleito no primeiro turno, por

exemplo, com apenas 25% dos voto (rejeição é de 75%), fica sem representatividade

para governar.

SISTEMA PROPORCIONAL

Permite que estejam representadas as minorias e os pequenos partidos após a

eleição, uma vez que todos têm condições de se eleger.

Implicação:

- Quociente fixo – o Estado determina a quantidade de votos (quem vota, como o povo

vota, quem é o candidato...) e o povo, através do comparecimento às urnas, fixa a

quantidade de vagas.

No Brasil, o quociente eleitoral é definido pela fórmula “(votos válidos + votos brancos)

/ vagas”. Isto significa que o fator preponderante é o comparecimento às urnas.

- Quociente variável – a legitimação do candidato vem do número de votos válidos e

brancos. Não se sabe quantos votos serão necessários, pois o Estado não fixa. A fórmula

é a mesma de cima.

Cargos aplicáveis no Brasil:

Legislativos – municipais, estaduais e União (deputados federais).

Quem for concorrer depende do quociente eleitoral. Se este for, por exemplo, 5,

para 45 vagas, serão eleitos 9 candidatos. Se não obtiver o quociente necessário, o

candidato ficará na dependência das sobras de seu partido.

Fatores positivos:

- Todo voto possui igual parcela de eficácia e nenhum eleitor será representado por

alguém em quem não haja votado

Page 36: Paulo Bonavides

- Viabilidade de representação dos grupos minoritários - Eles se juntam e, dessa forma,

podem atingir o quociente eleitoral. Os pequenos, portanto, se fortalecem concorrendo

em grupos.

- Possibilidade de aparição (projeção) de pequenos partidos - Ex.: O Prona levou sete

das vagas na Câmara dos Deputados na última eleição proporcional.

Fatores negativos:

- Governos instáveis - Se para governar é preciso contar com a maioria, havendo

presença de todos os partidos no Legislativo não há garantia de estabilidade no

Executivo.

- Uniões esdrúxulas de partidos - as coligações geralmente não respeitam sua linha

ideológica.

- Não representação de interesses ideológicos - As minorias podem chegar ao cargo,

mas não conseguem representar sua ideologia política.

- Dúvida para o eleitor na ciência do eleito - há demora na apuração, por causa das

dificuldades nos cálculos.

O PROBLEMA DAS SOBRAS DE VOTOS

A representação proporcional pode apresentar um problema de “sobras” que

dificulta a determinação exata do número de candidatos eleitos. A determinação desse

número de faz mediante o emprego de dois sistemas:

a)O sistema de número Uniforme, também denominado quociente fixo ou número

único: teve origem em Baden, na Alemanha, e busca afiançar inteira igualdade entre os

eleitos, mediante este processo, a lei estabelece previamente um quociente fixo

(Alemanha = 60.000 votos para lista partidária eleger um deputado) pelo qual se

dividirá a totalidade dos sufrágios válidos recebidos por uma legenda. Esse quociente

varia de acordo com o crescimento populacional e com a participação eleitoral.

b)O sistema do quociente eleitoral: consiste na divisão do número de votos válidos na

circunscrições (quociente local) ou no país (quociente nacional) pelo nº de mandatos a

serem conferidos. Os partidos elegerão tantos representantes quantas vezes a totalidade

de seus sufrágios contenha o quociente eleitoral. No Brasil, os votos brancos são

computados também para efeito de determinação do quociente. QUOCIENTE

PARTIDÁRIO: total de votos da legenda capaz de eleger determinado número de

candidatos, conforme o quociente eleitoral. É obtido para cada partido através de uma

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operação em que se divide pelo quociente eleitoral o número de votos válidos dado sob

a mesma legenda.

►Dois métodos para solucionar o problemas das sobras:

i. Soma-se as sobras que o partido teve em todo o país. Um partido elegerá tantos

representantes quantas vezes a totalidade de seus restos contenha o número único ou

quociente fixo.

ii. Distribuição das sobras na esfera de cada circunscrição. Compreende três técnicas

mais usuais:

• A técnica das maiores sobras – atribuição dos lugares não preenchidos ao partido que

apresentar maiores sobras de votos não utilizados, favorecendo os Partidos Pequenos.

• A técnica da maior média – divisão sucessiva de quantidade de votos que cada partido

obteve pelo número de cadeiras por ele já conseguida, mais uma (a cadeira pendente),

favorece os partidos grandes.

• A técnica do divisor eleitoral – divisão sucessiva do número total de sufrágios que

cada partido recebeu, obtendo quocientes eleitorais em ordem decrescente. Dá a

conhecer o número exato de candidatos que cada legenda elegeu.

Sobras na circunscrição – Maiores Sobras (Partidos Pequenos); Maiores Médias

(Partidos Grandes).

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SUFRÁGIO

É diferente de voto. É o direito a voto. Quem fixa é o Estado, ao determinar a

parcela povo, que é a parte sufragante da população.

Sufrágio: é o direito ao voto dado ao povo, mediante o poder do Estado de

determinar quem é povo dentro do seu território. É o poder que se reconhece a certo

número de pessoas (o corpo dos cidadãos) de participar direta ou indiretamente na

soberania, isto é, da gerência da vida pública.

• DOUTRINA DA SOBERANIA NACIONAL: acolhem o sufrágio como uma função –

Sufrágio Restrito.

• DOUTRINA DA SOBERANIA POPULAR: inferem como um direito público

subjetivo – Sufrágio Universal.

Entendimento:

- O sufrágio representa direito ou dever?

Se representa direito, então há soberania popular. O Estado não pode impor sanção a

quem não vota.

Se representa dever, trata-se de um direito público subjetivo; É o Estado que limita; o

povo precisa votar para o Estado funcionar administrativamente.

Tipos:

a) Universal: (a todos) – há apenas requisitos qualificadores da vontade política.

Comporta limitações, porém a faculdade de participação não fica adstrita as condições

de riqueza, instrução, nascimento, raça, sexo.

Limitações ao Sufrágio Universal: nacionalidade, residência, idade, capacidade física ou

mental, facultativo para os analfabetos (grau de instrução), indignidade, alistamento e

serviço militar.

b) Restrito: limitado com a intenção de excluir parte da população (censitário,

masculinos, cultural). É quando o poder de participação se confere unicamente àqueles

Page 39: Paulo Bonavides

que preenchem determinados requisitos de riqueza ou instrução. Há autores que ainda

acrescentam os quesitos de nascimento ou origem.

Modalidades de sufrágio restrito: censitário (a riqueza), capacitário (a instrução),

aristocrático ou racial (classe social e raça)

OS PARTIDOS POLÍTICOS

Origem - Necessidade de que a vontade popular fosse representada por grupos. Ex.: os

metalúrgicos; torcedores do Flamengo.

A partir do séc. XVIII, só se entendia eleição democrática passando por partidos

políticos. Esse conceito veio a ser consolidado a partir de 1770 (Burki).

- Entendimento:

Partidos vêm de "partes" (da sociedade). Ex.: Nos Estados Unidos, há uma divisão, com

o Sul sendo republicano e conservador, e o Norte sendo democrata e liberal.

"É um corpo de pessoas (físicas, humanas, não jurídicas) unidas para promover,

mediante o esforço conjunto, o interesse nacional com base em alguns princípios

especiais (representação da vontade política e obtenção do poder político), ao redor dos

quais todos se acham de acordo".

Os partidos representam as ideologias políticas a que nos propomos.

- Evolução:

Liberais e conservadores => o arcabouço é o mesmo; o que muda é a ideologia.

No Brasil é livre a incorporação de partidos, sendo vedado ao Estado interferir nisso,

desde que atendidos os requisitos para tal.

Princípios comuns:

- Todo partido é uma organização coletiva

Tipos de partidos: a) de quadros - conservadores, primam pela qualificação dos filiados;

b) de massa - preocupam-se de convencer a opinião pública através de qualquer

quantidade. Geralmente são liberais (ex.: América Latina).

- Doutrina comum a todos os partidos (são as ideologias).

IMPUGNAÇÕES

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Como a nossa sociedade é de massa, os partidos não conseguem atingir a todos os

eleitores, privando-os de fazerem a escolha ideal.

- Partidos e facções - O tempo que os partidos gastam para a escolha de nomes faz

surgirem as facções internas. Essas forças se repelem no ambiente interno e quem acaba

perdendo com isso é o povo.

O partido é positivo, sadio para a sociedade. Já a facção é maléfica.

- O sonho do partido único - Uma vez alcançado o poder político, não é correto o

governante pensar em ter um partido único ao seu lado. Por mais honesto que seja, esse

tipo de partido não atende aos anseios da sociedade. O próprio nome já diz como ele

deve ser: partido = partes.

OS SISTEMAS DE PARTIDOS

- Sistema de partido único - a única ideologia é a do poder de governo. O princípio é um

só. O povo não tem uma outra opção de escolha. Ex.: A União Soviética na época do

partido comunismo.

- Sistema bipartidário - Não significa que é formado por apenas dois partidos. Enquanto

povo, é dispor de duas opções para decidir o voto. Ex.: A eleição em segundo turno para

prefeito de Maceió em 2004. Havia duas coligações (e não partidos) para a escolha do

eleitor. O sistema é bipartidário quando há duas ideologias possíveis na luta pelo poder

político.

- Sistema multipartidário - É aquele onde o Estado proíbe a formação de duas únicas

ideologias. É livre a fusão, incorporação de partidos (Art. 17 da Constituição). No

Brasil, são 43 os partidos políticos.