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7/13/2019 PAULO VISENTINI - A Revolução Vietnamita http://slidepdf.com/reader/full/paulo-visentini-a-revolucao-vietnamita 1/61 FUNDAÇÃO EDITORA DA UNESP P re sid en te do Cons e lh o Curadot Marcos Macari Diretor-Preside nt e José Castilho Marques Neto Editor-Executivo Iézio Hernani Bomfim Gutierre C on se lh o Editorial Acad ê mico Antonio Celso Ferreira Cláudio Antonio Rabello Coelho José Roberto Ernandes Luiz Gonzaga Marchezan Maria do Rosário Longo Mortatti Maria Encarnação Beltrão Sposito Mario Fernando Bolognesi Paulo César Corrêa Borges Roberto André Kr aenkel Sérgio Vicente Motta Editores-As sistentes Anderson Nobara Denise Katchuian Dognini Dida Bessana Paulo Fagundes Visentini A REVOLUÇÃO VIETNAMITA Da libertação nacional ao socialismo COLEÇÃO REVOLUÇOE S DO SlõCULO x x DIREÇÃO D E EM f L lA VIOTTI DA COSTA ~ editora unesp

PAULO VISENTINI - A Revolução Vietnamita

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  • 7/13/2019 PAULO VISENTINI - A Revoluo Vietnamita

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    FUNDAO EDITORA DA UNESPP re sid en te d o C on selh o Curadot

    Marcos MacariDiretor-President e

    Jos Castilho Marques NetoEditor-Executivo

    Izio Hernani Bomfim GutierreC on se lh o E dito ria l A ca dmico

    Antonio Celso FerreiraCludio Antonio Rabello Coelho

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    Paulo Csar Corra BorgesRoberto Andr KraenkelSrgio Vicente Motta

    Editores-AssistentesAnderson Nobara

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    Paulo Fagundes VisentiniA REVOLUO VIETNAMITADa libertao nacional ao socialismo

    COLEO REVOLUOES DO SlCULO xxDIREO DE EM fL lA VIOTTI DA COSTA

    ~editorau n e sp

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    2007 Edi to ra UNESP APRESENTAO DA COLEODireito s de publi cao reservados :Funda o Edi tora da UNESP (FEU )

    P ra a da S, 10801 001 -900 - So Paulo - SP

    T e .: ( Ox :x ll ) 32 42 -7 171F ax : (O x:x ll ) 3242 -7172www .edi toraunc sp .com.br

    fe u@ed itor a .uncsp .bro s c ul o X IX f O I O s cul o das rev olu es lib erais; o xx od as revolues s oc ia list as. Q ue no s r es er v ar o scul o XX I? H quem diga que a e ra das revolues e st encerr ad a, que o m itoda Revoluo que govern ou a v ida dos homens de sde o scul o

    X V II I j n o se rv e como gui a no pr es ent e. A t m esmo ent re pes -soas de esqu erd a, qu e tm sido atrav s do tempo os de fensoresda s idias rev ol ucionrias, ouve-se dizer que os movimento ssoci ai s v i er am subs titui r a s re volu es. D iante do mon op liod a v io l nc ia pelo s g ov ernos e do custo crescent e dos arm amen-tos b li cos , pa rece a m uito s se r quas e im possvel rep etir os feitosda era das barricadas .

    P or to da part e , no entant o, de Seatt le a Porto A le gre ouMurnbai , h sinais de que hoj e, como no p assado, h jovens qu eno esto di spos tos a a ceitar o mundo tal como se co nfigura emno ss os di as. M as quaisqu er que sejam as formas de lu tas es -colhidas, pr ec iso conh ec er as expe rinc ias revo lu cion ria s dopassado. C omo se tem dito e r epetido, quem no aprend e co mos erros do passad o e st fa dado a repeti -los . Ex is te, contudo,e nt re a s g er ae s m ais jov ens, um a pro fun da ignor ncia desse sacontecimento s to fun dam ent ais para a compree ns o do passa-d o e a c on stru o do futuro . Fo i co m essa idia em mente qu e aEditora UNESPdecid iu publicar esta coleo. Esp era mo s que osliv ros venham a se rvir de leitura co mpl em ent ar a os estu dant esda esc ola m di a, un iversitrios e ao pblico em ge ral.Os aut ores foram recrut ados ent re hi sto riadores, cient is-ta s sociais e jorn alistas, nort e-americanos e brasileiros , de pos i-es pol ti cas di ve rs as, cob ri ndo um es pectro que vai do centroa t a e sq ue rd a. Essa variedade de posies foi co nscientement ebuscada. O que perd emos, talv ez, em co nsis tncia, esperamos

    C lP - B ras il. Cata logao na fon teSindicato Nac ional do s Editor es de L ivr os, R I

    --_._-V 68 2rVisentini, Paulo Fagundcs, 1955-

    A revolu o vietnarnita: da liber tao naciona l ao sociali smo /Pau-lo F agundes V ise nt in i. - S o P a ul o: E d it or a CNES P, 20 08.

    (R evol u es do s cu lo 20)In c lu i bibliog rafiaISBN 978 -85 -7139- 809 -21. V ictna, G uerra do, 19 61-197 5. 2. Victn - H istria. 1. T tulo.

    11 . Sr ie.08-076 3. COD: 959.70 43coe: 94( 597 )

    Edi tora a fili ada:

    EU[EC I I ~ ; ~Il:i>SIIIII'llIli ~lgg~11Asociactn ck Edttortalcs Uni\ ~n;it r1;).s

    ~k \1IHr;,;1 Lattna y

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    ga nh ar na div ersidade de interp retaes qu e co nvidam ref lexoe ao di logo .

    Para ent ender as rev olu es no scul o XX, prec isoco loc - Ias no contexto dos movim ent os revo lucionrios qu e sedesencadearam a partir da segunda metade do scul o XVIl ,res ul tando na destruio final do Antigo Sistema Colonial e doAnt igo Regime. Apesar das profun das di fe renas, as rev oluespos teriores procuraram levar a ca bo um projet o de democ rac iaque se perdeu nas abstraes e contrad i es da Revo luo de1789 e se tornou o centro da s lu tas do povo a partir da . Defato, o s culo XIX assistiu a uma suce ss o de rev olues in spi -rada s na luta pela in de pend ncia das colni as ing lesas na Am-rica e na Re vol uo Francesa.

    Em 4 de julho de 1776, as treze colni as que vieram ini-cialment e a constituir os Estados Unidos da Amrica de claravamsua independ ncia e justificavam a ru ptura do Pac to Coloni al.E m palavras candentes c profundament e sub versiv as pa ra a po-ca , afirmavam a igualdade dos homen s e apr egoavam como seusdireitos inalien veis: o direito vida , libe rda de e busca dafe licid ade. Afirmavam que o poder dos gove rnan tes, ao s quaisca bi a a defes a daquele s di reitos, derivava dos governados. Por-tan to, cabia a estes derrubar o govern ant c qu and o ele deixas sede cumprir sua funo de def enso r dos di re itos e resva lass e parao despotismo.

    Esse s c on ce ito s re vo lucionr ios qu e ecoavam o Ilumini s-mo foram retomados com maior vi gor e amplitude treze anosma is ta rde, em 1789, na Frana. Se a Declara o de Independ n-cia das co lnia s a me ric an as ameaava o sistema co lonia l, a Revo -luo Fr anc esa v iria p r em ques to todo o A ntigo Re gim e, a or-dem social que o ampa ra v a, os pr iv ilg ios da ari stoc rac ia, o sistemade monoplio s, o absolutismo re al, o po der div ino dos reis.

    No por acaso , a Decla rao dos Dire itos do Hom em edo C idado, aprovada pela Assembl ia Naciona l da Frana, foiredig ida pelo marqus de La Fayette, franc s qu e participa rad as lu tas pela independncia das co lni as americanas. Este con-tara com a colaborao de Thomas Ieffe rso n, qu e se e ncont rav a

    na Frana, na ocasio como enviado do govern o american o. ADeclarao afirmava a igualdade dos homens perante a lei. Defi-nia com o seu s dir eito s inalienv eis a liberdade, a propriedade,a s egu rana e a res istncia opresso, se nd o a preserva o dessesdireitos o objet ivo de toda associa o poltica . Esta belec ia queningum poder ia se r privad o de sua pr opriedade, exceto emc aso s de e vid ente ne ces sidade pblica leg alm ente comprovada ,e desde que fosse pr vi a e justament e indeni zado. Afirm ava ain-da a soberania da nao e a sup remac ia da lei. Esta era definidacom o ex press o da vontade geral e dev eria ser ig ual par a todos .G arantia a liberdade de ex presso, de idias e de relig io , ficandoo in div duo respo ns vel pe los abu so s des sa liberdade, de ac ordocom a lei. Es tabelecia um impos to aplicv el a todos, proporcio-nalm ente aos meios de ca da um . C onferia aos cidados o di re itode, pessoalmente ou por in te rmdio de se us representante s, par-tic ip ar n a e la bo rao dos oramentos, ficand o os a gen tes pblicosobrig ados a prestar contas de sua administrao. Afirm ava aindaa separao dos poderes .

    E ssa s dec lara es, que def nem bem a ex tenso e os lim itesdo pensamento lib eral, re verb eraram em v rias partes da Eu -ropa e da Amric a, derruband o reg im es monrquicos absolu-tistas, implantand o sistemas lib era l-democr tico s de vrios ma-tizes, estabelec end o a igualdade de todos perant e a lei, ado tand oa div iso dos poderes (leg islativo , exe cuti vo e ju dicir io), forjan-do naci ona li dades e co ntribuindo par a a emancipao dos escra -os e a independncia das colni as latino-america nas .

    O desenvolviment o da indstria e do comrcio, a revolu-o nos m eios de transportes, os progressos tec nolg icos, o p ro -c esso d e u rb an izao, a fo rmao de uma nov a clas se social- oproletariado - e a ex pa ns o imperialista dos pases europe us na frica e na sia geravam des loc ament os , co nflitos soc iais e guer-ras em vrias partes do mundo. Por toda a parte os gru pos ex -cludos de fron tav am- se com nov as oligarq ui as qu e no atendiam s s ua s n ec ess id ades e no respondiam aos seus anse ias . Es te sextravasavam em lutas v isand o torn ar mais efetiva a pr omessademocr tica que a acumula o de riquezas e poder nas mos

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    de algun s, em d et ri me nto da maioria, demonstrara se r ca da vezmais fict c ia.

    A igualda de jurdica no en con tra va co rres pon dncia napr tica; a lib erdade sem a iguald ade transform ava-se em mito;os g overnos rep res entativo s represent av am apenas um a m inoria,pois a maioria do povo no tinh a representao de fat o. Umaps outro, os ideais p res ent es na Dec larao dos D ireitos doHomem foram revel ando seu ca rter ilu s rio. A resposta nose fez tar dar.

    Id ias socialistas, anarquistas, sindicalistas, comun ista s,ou sim pl esmen te reform istas apareceram como crticas ao mun -do criad o pelo capi talismo e pela lib era l-de moc rac ia. As prim ei-ra s den ncias ao no vo sistema surg iram contemporaneament e Rev olu o Fr ancesa. Nessa poca, as crticas fic aram re stritasa un s pouco s rev olucionrios mais radi cai s, como G rac chusBabeuf. No dec orrer da pr im eira metade do s cul o X IX co nde -naes da ord em social e polt ica criada a partir da Restau ra odos Bourbon na Frana fize ram -se ouv ir na s obr as dos cham a-dos socialistas utp icos, como Charles Fo urier (1772 -183 7) , oco nd e de Sa i nt - Simon (1760 -1825) , Pierre Ioseph Pr oud hon(1809 -186 5), o aba de La menn ais (1782 -1 85 4), tienn e C abet(1788 -185 6), Louis B lanc (181 2-1882 ), ent re out ro s. Na In gla-terra, K arl M arx (1818 -1 883) e se u com panheiro Friedric hEngels (1820-1 895) lanavam -s e na cr tica sistemtica ao capita-lismo e democr acia bu rguesa, e v iam na luta de classes o moto rda h ist ria e, no pr ol et ar iado, a fora capaz de promover a r evo -lu o social. Em 1848 , v inha lu z o M anifest o comun is ta, co n-clam and o os prolet rios do mundo a se unirem .

    Em 1864 , criava-se a Prim eira Internac ional do s Traba-lh adores. Trs ano s m ais tard e, Mar x publicava o prim ei rovo lum e de O cap ital. Enq uant o isso, sindicalistas, ref orm istas eco opera tiv istas de toda espc ie, com o Robert Owen, tentav amhum ani zar o capitalism o. Na Fr ana , o c on ti ngente de radi cai saum enta ra bas tant e, e pro postas radi cais come aram a mobilizarum maior nmero de pessoas entre as popula es urbanas. O sso cialista s, de rrotados em 1848, assum iram a liderana por um

    breve pero do na C omuna de Pa ris , em lR71, quando fo ramno vam ent e vencid os. Apesar de suas derrotas e ml tipl as di ver-gnc ias entre os militantes , o socia lismo foi ganh and o ad eptosem vrias partes do mundo. Em 1873, di ss olv ia-se a Pr im eiraInternac ional. M arx falec eu dez anos m ais tard e, m as sua obracontinuou a exercer pod er os a influncia. O seg un do volume deO capital saiu em 1885 , dois anos aps sua morte, e o terceiro,em 1894. Uma nova Internacional foi fundada em 188 9. O mo-vim ent o em favor de um a mud ana radi ca l ga nh ava um nme-ro cada vez maior de par ticipan tes, em v rias partes do mundo,culminando na Revolu o Russ a de 1917, qu e deu incio a um anov a era.

    No in c io do sculo X X o ciclo das re volues liberaisparecia definitivamente encerrado. O processo revolucionrio,agora so b in spirao de socialistas e comuni stas , tr ansce nd ia asfron teiras da Eur opa e da Amrica para as sum ir car ter maisuniversal. Na frica , na sia, na Eur opa e na Amrica , o cam i-nh o seguid o pela Unio Sov it ica alarm ou algun s e se rviu dein spirao a out ros, pr ov ocando debates e co nf ron tos in tern ose e xt er nos que marcaram a h ist ria do scul o X X en volvendo atodos. A Revoluo C h ine sa, em 1949, e a C ubana, dez anosmais tarde, ampliaram o bl oc o soc ialista e forn ece ram nov osmod elos para revo lu cionrio s em v ria s pa rtes do mund o.

    Des de ento, m ilhares de pes soas pereceram nos confli to sentre o mundo ca pi talista e o mundo soc ialista. Em ambos oslados, a h istoriog rafia foi pr of und amen te afetada pelas paix espolticas susc ita das pela guerra fria e deturpada pela propagan-da. A gora, com o fim da guerra fria , o d es ap ar ecimento da Uni oSovi tica e a participa o da C h in a em institui es at rec en te-mente co nt ro ladas pelos pases capi ta listas, talvez seja poss velda r incio a um a reava lia o m ai s serena des se s ac on tec imentos.

    Es peramos que a leitura dos livros desta co le o se ja, paraos le it ores, o prim eiro passo numa longa cam inhada em busc ade um futuro, em que liberdade e iguald ade se jam compatv eise a democ racia se ja a sua expr esso.

    Em ilia V iotti da Costa

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    SUMRIO

    Lista de abreviaturas 15Introduo ]7

    J . Nacionalismo, comunismo e resistncia noV icrn colonial 21

    2. A revoluo an ri co lon ial (1945-1954) 393. Socialismo no Norte e guerr a civil

    no Sul (1954-1965) 53

    4. A guerra de libertaonacional (1965-1975) 715. Um socialismo cercado (1975-1991) 91

    6. Um socialismo reformado (l991-2007) 7Bibliografia 121

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    LISTA DE ABREVIATURAS

    A lto C omis sa ria do d as N a e s U nid as p ara R efu gia do s(Acnur)A se an F re e T ra de A rea (Afta)A sso ciao d e C oop erao E co n m ica d a sia d o P acfico(A si a Pa ci fi c Econom ic C oordination - Apec)A ss oc ia o d e N a e s d o S ud es te A si tico (A se an)C an L ao (P artid o d os T ra ba lh ad ore s e P ers on alismo )C e ntr al d e I nte lig nc ia N o rte -Ame ric an a (C IA )F rente d e U nid ade N acio nal do K am pu ch ea para a S alv aoN a cio na l ( FUNKSN)F rente K h m er Issarak (K h mer L iv re)F rente N acio nal d e L ib ertao d o V ietn do S ul (F NL)F rente P ath et L ao (P tria L ao )F rente U nida N acional por um C am bo ja In de pendente,N eu tro e C oo perati vo ( Fu nc ip ec )F un do Mo ne t rio In ter na cio na l (FM I)G o v ern o R ev olu cio n rio P ro vis r io d a R ep b lica d o V ie tn do Sul (G RP)Nova P ol tic a E co nm ic a (NEP)O rg an iz a o d as N a e s U nid as (ONU )O rg an iz a o d as N a e s U nid as p ara a A g ric ultu ra eA lim e nta o ( FAO)O rg an iz a o d o A tl ntic o N orte (O tan )O rg an izao d o T ratado da sia d o S ud este (O tase)

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    O rg an iz a o M u nd ia l d a S a de (O M S )O rg an iz a o M u nd ia l d o C om rc io (O M C )P artid o C om un is ta d a In do ch in a (P C l)P artid o C om un ista d o V ietn (P C V)P artid o C om un ista F ra nc s (P C F)P artid o d os T ra ba lh ad ore s d o V ie tn (L ao D o ng )P a rt id o Soci al is ta F r an c s ( SFIO )R ep b lic a D em o cr tic a d o V ie tn (R D V )V ietnam Q uoc D an D ang (V NQ D D) ou P artidoDemoc r ti co Na c ion al

    INTRODUO

    A g uerra e a rev olu o v ietn am itas re presen ta m u m d osma is s ig n if ic a ti v os a c on te c imen to s h is t r ic o s d a poc a c ont em -por nea. M ais do q ue um a descolonizao a cid en ta da , em s euc on ju nto trata-se d e u m p ac ien te trab alh o d e mobl izao po-p u la r p a ra a s uc e ss iv a r e si st n c ia a o f as ci smo do r eg ime d e V i ch y ,a o m ilita ris mo j ap on s , p ot nc ia c olo nia l fra nc esa , su pe r-potncia n orte-am ericana e para a transform ao social. Oconflito do V ietn foi tam bm um elem ento fundam ental nod esg aste d o im prio n orte -am erica no . A h ist ria d o V ie tn no sculo X X a h ist ria de um a luta anticolonial pela inde-p en d ncia n acio na l, d e u ma re vo lu o so cialista e d e v riasg u e rr as d e p ro j e o i nt er na c ion al . n ot ve l c om o u m p eq ue -n o p as p d e te r-se to rn ad o p i v d a p oltic a m u nd ia l e s ob re -v iv id o e m m e io s m a is c om p le xa s a lte ra es d as a lia n as.A s sim , o n om e V i et n f ic ou a ss oc ia do g u er ra , e sp ec ia l-m e nte v it ria c on tra a s up erp ot nc ia n orte -a m eric an a. M a s,a lm disso, o pa s tam bm destaq ue por ser um dos reg im ess o ci al is ta s q u e s ob re v iv e ram ao co la p so d a Un i o Sov i ti ca , s uaa lia da e p ro te to ra , c om u m P artid o C om un is ta a in da n o p od er.S eg uindo um m odelo sem elh ante ao da C hina, ao adotar ums oc ia lism o d e m e rc ad o D oi M o i , l og r ou , i g ua lmen te , d e se n -v olv er su a e co nom ia e to rn ar-s e u m T ig re A si tic o d e te rc eirag era o, m em bro a tiv o d a A sso cia o d e N a es d o S ud esteA si tic o (A se an ), c on viv en do e c oo pe ra nd o c om se us a ntig osin im ig os. F oi, a ssim , u m lo ng o ca min ho p ara o bter u ma in de-p en d nc ia v e rd ad ei ram en te s ob er an a, s er a ce it o n a c omu n id a-d e in tern acio na l e in icia r u ma ca min ha da seg ura ru mo ao d e-s envolv imen to econmico- soc ia l.

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    PAULO FAGUNDES VISENTINI A RfVOWAO VlETNAMITA

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    Ne ss e c ont ex to , e st e l iv r o bu sc a a p re se n ta r um pano ramah is t ri co c om ampla b as e f ac tu al, p ois m u it as a n lis es s ob re a sr ev o lu es s e c on ce ntr am em d is cu ss e s t e ric as . P o r m a is b -v ia s q u e s ej am , t od a v ia , n e ce ss ri o p re ci sa r a lg u n s c onc ei to s ,p ara d efin ir a re alid ad e p or tr s d os n om e s e m pre ga do s. O q ue n ec es s rio p ar a q u e um r eg im e s ej a c on sid er ad o s oc ia lis ta ?A te oria m arx ista fo i co lo cad a e m p r tica p or L en in , n a p ers-p ec tiv a s ov i tic a, q u e m a te ria liz ou a lg u ns p rin c pio s v ag o s d ao bra d e M a rx e E ng els, o s q ua is, n a v erd ad e, se d ed ic ara m p re -d om in an tem en te a e st ud ar o f un ci on am e nt o d o c ap ita lism o.S e gundo a e xpe ri n c ia h i st ri ca , um r eg ime s o ci al is ta d otip o m a rx is ta -le ni nis ta im p lic a a e xi st n ci a d e um p ar tid o n i-co q ue se confunde com o aparelh o esta tal e ex erce o podercom o g uia da sociedade e de seu processo de transio aoc om u nism o . A e co nom ia o rg an iz ad a s eg un do o p rin cp io d op la ne jam en to e co nm ic o c en tr aliz ad o ( em l ug ar d o m e rc ad o) ,c om a p ro prie da de c ole tiv a d os g ra nd es m e io s d e p ro du o e ae st at iz a o do s b a nc o s e do c omr ci o e x te ri or . A s oc ie d ad e t en -de a ser in co rp orad a em u m o rg an ism o nic o, co m a elim in a- o g ra du al d as d es ig u ald ad es e a u niv e rs al iz a o d e p ol ti ca ss oc ia is c omo e du ca o, s a d e, h ab it a o e empr eg o. E ss e p ro -c es so , em um q u ad ro d e te ns o e x tr em a , f oi m a te ria liz ad o p elo smecan ismos au to r it ri o s e r ep re s si vos, mas pa te rnal is ta s .O s oc ia li sm o d e o ri en ta o m a rx is ta lo g ro u, a o lo ng o d os c ulo :XX ,im p ul si on ar um c on ju nto d e r ev o lu es v ito rio sa se m s uc es siv as o nd as . A p rim eira d ela s te ve lu ga r n a e ste ira d aP rim e ira G u erra M u nd ia l, c om o triu nfo d a R ev olu o R us sa ea c on stru o d a U nio S ov itica. A seg un da , d eco rre nte d oa nt if as ci sm o e d os r es ul ta do s d a S eg u nd a G u e rr a Mu n dia l, a fe -t ou o L e ste E u ro pe u, t an to c om a s r ev o lu es p elo a lt o a p o ia -d as p or Mo sc ou , q u e c on st itu iri am a s D emoc ra ci as P o pu la re s,q u an to c om a s r e v o lu e s a u t noma s d a I ug o sl v ia e d a A l b n ia .A t er ce ir a, p a ra le lament e, t ev e c omo ep ic e nt ro a Re v ol u- o C hin esa, in ic iad a n a d c ad a d e 1 92 0, ca racte riza da p elaq u es t o c amp on es a. P o r lt im o , a d es co lo ni za o e o n ac io na -lism o d o T erceiro M u nd o p ro tag on iz aram o triu nfo d e alg u-

    m as rev olu es so cia lista s, c om o a cu ban a, a v ietna mita e asa fr ic an as d a d c ad a d e 1 97 0. N e ss e s en ti do , a R e vo lu o S o vi -tic a n o re pre se nto u a in sta ura o d o s oc ia lism o , e s im o in -c io d e u m p ro ce ss o d e tra nsi o d o c ap ita lism o a o s oc ia lism o .E ste, d a m esm a fo rm a q ue a p assa gem d o fe uda lism o ao ca pi-talism o, no ocorre nos m arcos do E stado nacional, m as nop la no i nt er na ci on a l, c om e st an c amen to s , r ec uos e d e sv io s p a ra ,p os te rio rm e nte , r etom ar s eu c ur so .

    A g ra de o a o CN P q, c uj a B o lsa d e P ro du tiv id ad e e m P es -q u is a tem -m e p erm itid o in v es tig a r a s r el a e s in te rn ac io na isd o T erc eiro M u nd o (d a q ua l este liv ro u m d os resu lta do s), ea o e stu da nte d o c urso d e g ra du a o e m R ela es In te rn ac io -n ais d a U F RG S e b olsista d e In ic ia o C ie ntfic a d o N cle o d eE s tr at g ia e Re la e s I nt er na c ion ai s, A l ex a nd re Fog a a Damo ,p ela c ola bo ra o n a p es qu is a p ar a o ltim o c ap tu lo d o liv ro . Ao br a b as eia -s e em te x to p ub lic ad o a nte ri orm en te , m o d if ic ad oe a tu ali za do , p ois e ste v e e sg o ta do p or mu ito s a no s.

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    1. NACIONALISMO, COMUNISMOE RESISTNClA NO VIETN COLONIAL

    o i m pe ria li sm o f ra nc s o cu po u a p en n su la i nd oc h in es an a se gu nd a m etad e d o s cu lo X IX . A re sist ncia trad icio nall og o f oi d er ro ta da e in via biliz ad a, te nd o in cio um conjuntod e a tiv id ad es c ap ita li st as mo d er no : a g ric ult ur a d e e x po rt a o ,imp la n ta o d e s er in g ai s, proletarizao de boa parte da m o-d e-o bra n ativ a, c on stru o d e in fra -e stru tu ra v i ria , u rb an i-z a o , a m p lia o d o e ns in o n o m bito d a c la sse m dia e in se r-o na econom ia m undia l. N a esteira desse processo, log osu rg iria u m m ov im en to n acio nalista m od ern o e, m esm o, so -c ia lis ta . P o r r az es g eo po ltica s, e ntre o utra s, o p as se v eriaenv olv ido no turbilh o d a S eg unda G uerra M undial e das re-v o lu es s oc ia li st as e d e l ib e rt a o n a ci on a l, em e sp ec ia l a c hi-ne sa. S i tuando-se n a fro nteira q ue nte d a G u erra F ria, lo go oV ie tn e s ua re vo lu o v iria m a o cu pa r p os i o in te rn ac io na ld e g ra nde impacto.o COLONIALISMO E AS ORIGENS DO NACIONALISMOE DO COMUNISMOA re gi o d a In do ch in a, l oc aliz ad a n o S u de st e A s i tic o,possui clim a tr op ic al e fo rm ad a p or V ietn , C am bo ja e L ao s.A tu alm en te (2 00 7) o L ao s p ossu i 2 30 m il k m2 e 6 m ilhes deh abitan tes, ao passo q ue o C am boja co nta com 180 m il k m2 eum a populao de 14 m ilh es. O V ietn tem um a rea de 330m il km 2 e p op ula o d e 8 4 m ilh es d e h ab ita nte s, e st an do 7 5%n as re as ru ra is . A d en sid ad e d e 2 50 h ab /km- des igua lmentedistribuda, ating indo m ais de 1.000 h ab/k m- nos d eltas e 10n as mon ta nh as. O crescim ento demo g r f ic o a in d a r el at iv a -m ente e lev ado, com 2% ao ano.

    A REVOWAO VIETNAMITA

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    PAUl. lAGUNnES VISENTlNI

    A s tr s reg i es geo- h ist ricas q ue com pem o pas soBac Bo , ou Tonk in , com 120 m il km -, no norte , eng lobando odelta do rio V erm elho e as m ontanhas; o Trung Bo, ou Anam ,n o c en tr o, com 150 m il km -, um a zona along ada o nde predom i-na o planalto , m ontanhas e um a estre ita fa ix a de plancie lito-rnea; e o N am Bo, ou C och inch ina, no sul, cu jos 60 m il km 2so basicam ente com postos pelo delta do rio M ekong . A s en-ch entes dos rios V erm elh o e M ek on g elev am as guas em at 17m etros, sendo as do N orte m ais devastadoras.N a poca da d iv iso do V ietn, ap s os acordos de G ene-bra de 1954, a Repblica do V ietn (su l) ficou com 170 m il km 2e um a populao de 18 m ilh es de hab itantes , ao passo que R ep blica D em ocr tica d o V ietn (norte) couberam 160 m il k m2e 21 m ilhes de habitantes (populaes em 1970). O Sul, m e-nos povoado, tinha antes da d iv iso um a ag ricultura m ais for-te , ao passo que a m aior parte das poucas ind strias e a m ine-rao se localizav am no N orte .O p ov o v ie tn am ita , etn ic am en te, fru to da m estiagementre os im ig rantes ch ineses e os povos th ai, q ue habitavam a rea. A cultura ch inesa m esclou-se com a h indu na re g i o, s en -do a prim eira predom inante no V ietn (q ue em ch ins signifi-c a lite ra lm e nte e str an geiros do su l) e a segunda no Laos e noCambo ja . A migrao orig inou-se no sul da C h ina, dirigindo-se ao delta do rio V erm elho no sculo III a .c. O im prio ch insanexou o Estado do Narn- V iet, criado na reg io, um sculodepois, segu indo-se m ais de um m ilnio de dom inao sobre areg io. Em 938 o V ietn tornou-se um Estado independente edesencadeou um a expanso m ig rat ria rum o ao sul durante ossculos seguintes, ating indo o delta do M ekong , conquistadoao declinante Im prio K hm er. E sses sculos tam bm assistirama novas dom inaes ch inesas e m ongol, recuperao da inde-pendncia e fases de con flitos in ternos entre g rupos feudais.

    A introduo do budism o, que ating iu o apogeu no s-c ulo X l, e sta va re lac io na da a firm a o d a a risto cra cia f u n d i ria e suje io do cam pesinato. M ais tarde, com o forta leci-m ento do poder real centra lizado, o confucionism o com eou

    a ser adotado com o instrumento do monarca, do Estado e daadoo de um a d is cip li na , n ec es s ria s ob ras pb licas. Nosculo X V o Esta do , q ue re aliz av a o bras h id r ulic as, d is tr ib uaterras periodicam en te e cobrava um a renda inferior dosnobres.

    A partir de 1858, os franceses in iciaram a conquista eocupao g radativ a de toda a Indoch ina, com o pretex to dedefender os missionrios ca t lic os q ue an te rio rm en te atu av amna reg io. A pesar de a conq uista h av er-se com pletado em 1884,a r es is t n cia perduraria at 1898. Durante quarenta anos, en-quanto a monarquia cedia aos invasores e se acom odava emtroca da m anuteno de certo s priv ilg ios, a re sist nc ia p op u-lar foi in tensa. Em fins do sculo XlX ocorreu a cham ada Re-v olta do s L etrado s co ntra os franceses, re ativ ando o antigo na-c io na lismo v ie tn ar ni ta, ao passo que a corte de H u ficavasubm issa em um nich o co laboracionista .

    A s terras, esv aziadas pela guerra , eram confiscadas ed istrib ud as a e le me nto s co la bo ra cio nista s e a em pres as fran-ce sas, em um m ov im en to de concentrao de propriedade. O snobres e seu s ag en tes arrecadav am im postos para o s francesese s e e nc ar re gavam do poder no plano local, em quadro de r-pido decln io das c on di es m ateria is de v ida. A adm inistra-o colonial, por seu turno, c on str u a f er rov ias e rodovias parafacilitar a ex plorao econ mica, m as descuidava das neces-s rias obras h idrulicas. Apenas a construo da ferrov ia li-g ando H an i ao Yunan m obilizou 80 m il trabalhadores v ie tna-mitas, 25 m il dos quais m orreram duran te a realizao da ob ra.O s portos m odernos e as cidades com erciais (dom inadas pe-lo s ho a, de orig em ch inesa) suplantaram os dim inutos cen -t ro s a dmin is tr a ti v os .

    Uma cla sse p ro le t ria form ou-se bem antes da burgue-s ia c omp ra dor a: 53 m il trabalh avam em m inas, 86 m il, em f -b rica s e 8 0 m il, n os se rin gais . A pes ar d e p ro po rcio na lm en te p ou -co num erosos, e les se concentrav am em reg i es estra tg icas dopas . O utros tantos foram env iados, com o m o-de-obr a bara-ta , ao Laos, ao C arnbo ja , Nova C alednia e , at m esm o,

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    PAlILO FAGUNUES VISENTINI A RE V OLUA O VIHNAMITA

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    F ra n a. A p eq ue na -b urg ue sia d es em p en ha va p ap el b em m a isq u al if ic ad o q u e a bu rg u es ia , es ta ltim a im p ed id a d e se d es en -v olv er em razo das restri es im po stas pel a a dm in is tr a ocolonial. E m um quadro de desateno e du ca o, a s id i ase uro p ias m od ern as p en etra ram n o p as p or trad u es ch in e-s as . O Ja p o, d es de a v it ria sobre a Rssia cza rista e m 1 90 5,d eu c erto a le nto a os in te le ctu ais v ie tn am ita s, q ue s e v olta va mp ara esse p as em b usc a d e in sp ira o e ap oio p ol ti co , a pe sa rd e T q uio h av er a ce rta do m ecan ism os d e co lab ora o co m osfranceses.O s c amp o ne se s, p au pe riz ad os , i na ug uram a era das re-vo l ta s soc ia is. M a is ta rd e, o n ac io na lism o tra dic io na l fa ria s uatran sio ao m od ern o n acio nalism o rev olu cio n rio n as d c a-d as d e 1 92 0 e 1 930 , co m a crise q ue se seg ue P r ime i ra Gu e r raM u nd ia l, o im p ac to d a R ev olu o S oc ia lis ta ru ss a s ob re a si aco lo nia l e, fin alm en te, c om a g ra nd e d ep resso d a ec on om iac ap it ali sta m u n di al q u e s e s eg u e crise d e 1 92 9 e atin ge d ura-m ente o Vietn. D urante a Prim eira G uerra M undial, 50 m ilso ld ad os v ie tn am ita s e ig ua l n m e ro d e tra ba lh ad ore s c he ga ma s er mo b iliz ad o s p ela F ra n a. M a s a l uta p ol tic a ti nh a d if ic ul -d ad es em en co ntra r u m c am in ho ad eq uad o.

    O ponto de partida da lo ng a lu ta d e li be rt a o n ac io nale de rev oluo social foi o eng ajam en to m ilitan te de in te lec-t ua is p e q ue no-b urg ue se s (c la ss e m dia b aix a) e d e a lg un s o pe-r rios e cam poneses. N esse sentido, a biog rafia poltica deN guy en S inh C ung (o fu turo N guy en A i Q uoc e, d ep ois, H oC hi M inh ) e xempl ar. E nc on tr an do -s e c om o tra ba lh ad or n aF rana no fim da P rim eir a G u e rr a Mund ia l, seu nac iona li sm o i nf lu e nc ia d o p e lo s a c on te c imen to s po l tico s d a po ca . I ng re ss ana SFIO (o Partido Socia li sta F ra nc s) e acom panh a sua alaesq ue rd a n a fu nd a o d o P artid o C om un ista F ran c s (P C F).S u as d iv erg n cia s so bre a q ue st o c olo nia l le va m -n o a a fas ta r-se do PC F e transferir-se para M oscou, onde adere TerceiraInternacional, o u I nte rnac io na l C omu ni st a (Komintern ). Tor-na-se um jorna lista com bativo e um im portan te quadro daKomintern .

    O ano de 1930 o ponto de partida do m ov im ento deresistncia . Em feve r ei ro , t r opa s v ietn am ita s d o e xrc i to co lon i alfranc s am otin am -se n o T onk in (Bac Bo), m as a rebe lio e sm a g ad a, o br ig a nd o a s t ro pas a se ex ila rem no sul da C hina,onde em 1927 hav ia sido criado o V ie tn Q uoc D an D ang(V N Q D D), o u P artid o D em ocr tico N acio na l d o V ietn . M a so V N Q D D , c om s ua s t tic as d e a es e c om p l s te rro ris ta s a fa s-ta do s d as m a ssas, s ofre ria o s e fe ito s d a re pre ss o fra nc es a e s ee nfra qu ec eria d e m o do c on side rve l . S imu lt aneamente rebe-l i o, N g u y e n A i Qu o c (Ng u y en, o p atrio ta ) h av ia fu nd ad o o P ar-tid o C om un is ta d a In do ch in a (P C ), pe la f us o d e d iv er so s g ru -p os m a rx is ta s d o V ie tn (e m C a nt o, ta m bm n o s ul d a C h in a).O PC I, q u e a g ru pa v a i nte le ctu ais , o pe r ri os e p eq u en o-burgueses, tin ha s eu p rin cip al a po io s oc ia l e ntre o s c am p on e-s e s a s sa l ar iados e a gric ulto res sem te rra. N o v ero de 1930, oPC I o rg a niz ou um g ra nd e l ev a nte c amp on s n o n orte d o A na m,q ue fico u co nh ec id o co mo o s S ov ie tes d e N gh e T in h, e foi es-mag a do p e la L e g i o E s tr an g ei ra.' A d erro ta d o lev an te d em on s-tro u q ue o P C I m en osp re za ra a im po rt ncia d a q uesto n ac io -n al e s ob re va lo riz ara a lu ta d e c las s es , al m d e n o a te nta r p araa s p ec ulia rid ad es d a q ue st o c am p on es a. D ep ois d a d erro ta , o srevolucion r io s v ie tn am ita s s ou be ra m c orrig ir o s er ro s, c omo v is v el n a retom ada das lu tas no fim da dcada .O s m i lit an te s r ev o lu cio n r io s v ie tn am i ta s c on se gu ir amr ea li za r um a t ra ns i o s em g ra nd es c on fli to s e ntr e o c on fu cio-nism o e o m arx ism o ao long o das dcadas de 1920 e 1930, pe lotra balh o p oltic o co m as m assas . A s im p li ci dade , te nac id ad e eperspic cia dess es q u ad ro s se ro um dos fatores d e ci si v os n av it ria d a re vo lu o v ie tn am ita . A p re c ria fo rm a o te ric ad e st es e ra c ompensad a pela in teg ra o n o m o vim e nto p op ula r,re su lta nd o d a u m a d ia l tic a q ue a pre se nta va re su lta do s b emma is p o si ti v os do q ue as in term in v ei s d is c us s es t e ri ca s ( a1 Unidades militares do Exrcito fr ancs composta s de so ld ados estrangeiros,ge r al me nt e ave ntur ei ros ou renegados de se u pa s de or igem , q ue eram em-pr eg ad os n as co l ni as.

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    PAUI.O FAGUNDES VISENTINI A RE VO l.U C> V IEl NAMITA

    maioria d as q uais p rod uzi a m ais ca lor que lu z) e p ub licaesde g r an de s tr ata do s p elos doutores do m a rx ismo a ca dmicoeuropeu.O p r p rio f un da dor do PC l hav ia exp e ri en c ia d o p e ssoal -m ente a arrog nci a in te l ec tua l e a lim itao social dos in telec-tuais d e e sq u er da , q u ando se enco ntr av a na Frana, U m mritoindiscutvel dos quadros foi extrair do m arx ismo e da expe-ri ncia sov i tica o que era es sen cia l, re tom ar o n acion alism oem seus asp e ct os r ev o lucio nrios, in te gra nd o-o s e a plican do-os s condi es d o p as. S ou be ram encontrar um ponto din-m ico de e qu ilb rio e ntre ortodox ia e c ri at iv id a de , e a p re n de-ram a viv er no nv el do povo, que era a razo e a fora dare vo lu o v ie tn am it a.

    to da s as p os sibilidades abertas por sua legalidade, tev e o cuida-d o d e p reserv ar a estrutura c lan de stin a. L uto u pela ampl ia od os esp a os democr ti co s e do m o vim en to o pe rri o (estev e te sta das g re ves de 1937 no Nor te e no Sul). M as em 1937 ac r is e econmica volta a s e in te ns if ic ar e o J apo in vade a C h in a(o s j ap oneses j h av iam ocupado a M a nc h ria em 1931), alas-trando a guerra asi ti ca.N a C onferncia de Mun ique, em 1 938 , os gover nos co n-serv adores de Londres e de Pari s cederam s presses d e H itlerp ara a nexa r p arte da Tchecos lo v quia . A valiando corretam enteMunique como evento que conduziria guerra, o Partido re-s ol ve u p a ssar parte de se us quad ro s c la nd es tin idade, preven-do um a intensif icao futu ra da represso, pois j estava ha-vendo um endurecim ento do governo contra a esquerda e omovimen to sindical. Tudo es ta va preparado para passar aounderground de um momento pa ra o o utro .A a ss inatu ra do Pacto de No-Agresso ent re a A lem a-n ha n az is ta e a U nio Sov it ica em 23 de agosto de 1939 , ap so fra casso das conv er sa es anglo -franco-sov iti cas, a in vasoda P o l n i a por Hi t le r em 1 de setembro e a entra da da Fran an a g u er ra der am ao g over no de D alad ier m ais u m pre tex to paraintensifica r a lu ta contra as in st it u i e s democ r tic as da III R e-p bl ic a e o mov im ento oper rio. Em 25 d e se tembro, o PC fr an-cs fo i p roscr ito . A persegui o d e se n ca d ea da co ntra a es quer-da se est endeu s co l nias, E nq ua nto re prim ia as organizaesesquerdistas e nac ionalis tas in do ch in es as , o governador-g eralC a tr ou x ampl ia va as for as p ol ic ia is e c ria v a campos de co n-centrao para a oposi o. A in da q ue v rios militan tes houves -sem sido detidos, o conjunto d o p art ido passou clandestini-d ad e d e fo rm a organizada. A nov a o rg a ni za o lev ou o PC I atransformar a F rente D emocr t ic a l ndoch i ne sa em Frente Na-ci on a l Un ida Anti im per ialista I ndoch in e sa . A ssim , a polti ca dealianas passou a v is ar, prim ordialmente, s tare fas de li bert a- o n ac io nal.A derr ota da Fra na pela A le ma nh a levou ocupao doNorte e do O es te da m etr pole pela W e hrm ach t, ao pas so que

    A RES IS TB N C lA A N T IFA SC ISTAE A N TIC O LON lAL (1939-1945)A e clo s o d a S eg un da G u er ra Mu n dial in flu en cia dec is i-v amente o m ov im ento de li bert ao v iet nam it a, c o lo c ando-od ian te d e u ma situao nova. Is so s e dev e tanto s r epe r cussesin ternas do contex to in te rn acio nal quanto, em seguida , aoenvolv im en to d ire to d a colnia (e de toda a r eg i o) n o c on flit om u nd ia l. A c on ju ntu ra q ue se abre obrig a o PC I da lndochinaa um a clandestinidade ex tr em amente dura , m as lh e perm ite ,ao m e sm o te mp o, e xp lo ra r as contradi es do aparelho colo-nia l, r es u lt an te s d o e n fraquec imento da m et r pol e f ra n ce sa, doca r ter fa sc is ta d o re gim e de V ichy e da p re se n a j ap on es a n opas, q ue se torn ou po nto estratg ico para a e xp an so n ip nic ana rea. A ssim , a p ol tica da es querda vietnam ita m ate rializa-se p ela fo rm ao d e amp la f re nte antiimperia lis ta , q ue se in se-ri r em um conflito m aio r, d e d im ens e s m u nd ia is , im p rimin-do g rande dinam ism o ao dos re volu ci on r io s, a pe sa r doslimitados recursos.O PC indochin s hav ia ap rovei tado ao m ximo as opor-tunidades propiciadas pela ascenso ao pod er d a F ren te Popu-la r na F ra n a ( in te gr ad a p elos p artid os S oci al is ta , Rad ical -So-ci al is ta e Comun is ta), em 1936 e 1937. Me smo v ale nd o-se de

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    A OLU

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    PAULO FAGUNOES VISENTINI

    n o S ul e ra im pla nta do o re gim e fas cista e c orp ora tiv o d e V ic hy ,lid era do p elo m are ch al P ta in e a po ia do p ela Ig re ja C at lic a,p elo s p artid os d e d ire ita e p ela m aio ria d a b urg ue sia fra nc esa .O g ov ern o, q ue d om in av a o im p rio c olo nia l, fo ra o rg an iz ad op elo s m esm os h om en s q ue h av ia m p re pa ra do a d erro ta fran ce -sa, p ara instau rar um a ditad ura con serv ado ra com o apo io d eu ma in vas o es tran ge ira (L av al, R ey na ud , W e yg an d, P ta in eo u tr os ). P a ra le lam en te , a s it ua o d o s c omun is ta s v ie tn am i ta se xilad os n o su l d a C h in a e sta va se to rn an do c ad a v ez m ais d if-cil. V N QD D p ro curou co mp ensar sua perda de in flu ncia n oin te rio r d o V ie tn , a po ian do -se n o K u om in ta ng (o s n ac io na -lista s c hin ese s d e C h an g K a i-C h ek ) p ara co rtar a s b ase s ex te r-n as de apo io d o P artid o C om un ista ln do ch in s (ap esar de, n aC hina, hav er um a aliana do K uom in tang com o PC ch ins deM ao Z edong - ou M ao T s-tung ).P a ra le lam en te , a s it ua o i nt er na ci on al a g ra v a-se. O Ja-po , q ue em 1939 hav ia ocupado o litoral su l da C hina at afro nteira com a lnd och ina, decide tirar prov eito da fraq uezad o c olo nia lis m o f ra nc s . Em 1 940 , T qu io in stig a a T ail nd ia aatacar a col nia francesa pelo C am boja e, em seg uida (22 desetem bro ), eles p r prios atacam o n orte d o V ietn cru zand o afro nteira e m L an g S on e d ese mb arca nd o p r xim o a H a ip ho ng .D e po is d e a lg un s c om b ate s, o a lm ir an te D e co ux (c om a nd an tem ilita r d a ln do ch in a, d e c on vic es fa sc is ta s) d ec id e re cu ar ed eix ar o cam inh o liv re p ara o E xrcito n ip nico n a reg io deB ac S on oA pr ov eita nd o-s e d a ir ru p o j ap on es a, o s g ru po s f as -c is ta s p r -j ap on es es d o V ie tn , a gr up ad os n a o rg an iz a o p o-ltic a D ai V ie t, su ble va m-se c on tra o s fran ce se s. M as T q uion o Ih es p re sta n en hu ma a ju da , e e le s t m d e b usc ar re f gio n ap arte su l d a C h in a c on tro la da p elo s n ac io nalistas.C om o v az io cria do p elo c olap so d a ad min istra o c olo -n ia l n a re a s ete ntrio na l d o T on ki n, e clo di u um le va nt e p op ula rlid era do p elo c om it lo ca l d o PC in do ch in s . A s ub le va o c au -so u p erp le xid ad e e ntre o s fra nc ese s e o s ja po nes es, q ue c heg a-ram rap idam ente a um com prom isso m tuo e esm agaram ar eb eli o. A p es ar d a d err ota , o le va nte d e B ac S on d eix ou e str u-

    tu ra s uf ic ie nte e im p or ta nt e e xp er i nc ia p ar a fu tu ra c ria o d efo r as g ue rrilh eira s, a l m d e re pe rc utir p or to do o p as . N o su ld a In do ch in a, o d escon tentam ento da po pu lao con tra o re-c ru tam en to c om p uls r io e a s r eq uis i e s a lim e nta re s n o C am -boja e na C och inch ina (ou N am Bo), que v isavam reforaro E xrcito colo nial na g uerra con tra a T ail nd ia, enco rajo u on cleo d irig en te d o P C n o S ul a c oo rd en ar u m le van te p op ula r.D ese nc ad ea do e m fin s d e n ov em bro d e 1 940 , e le afe to up rin cip alm en te a s re gi es ru ra is d o S ul. A re pre ss o fra nc esafo i b ru ta l, in clu in do b om ba rd eio s a reo s, q ue im a d e ald eia s em a ss ac re s in dis cr im in ad os . O e sm a gam en to d o le va nte d eix ouu m sa ld o d e m ilh are s d e m orto s. L on ga s filas d e p risio ne iro slig ado s p or um aram e q ue Ih es atrav essav a as m os ou a b arri-g a fo ra m c on du zid as n o lito ra l e jo ga da s a o m ar. E m ja ne iro d e19 41 , ho uv e, tam bm , o lev ante de u ma u nid ade da po lcia ci-v il, de tend ncia nacio nalista, q ue foi rap idam en te isolad o es uf oc ad o p el os f ra n ce se s.

    Q u e c on se q n cia s d eix ar am e ss es a co nte cim e nto s p arao m ov im en to de lib ertao q ue se esb oav a? E m prim eiro lu -g a r, f ic a v a pe rc ept v el g ra a s d isp osi o d a p op ula o p ara aluta a ex istncia de um a base soci al mob il iz ve l. Em s eg u nd o ,a s d efic i nc ia s o rg an iz ativ as em e sc ala n ac io na l e a fa lta d e r e-c ur so s (s ob re tu do a rm a s) f ic ar am p ate nte s. Em te rc eir o lu ga r,a e xis t nc ia d e um a c on ju ntu ra p ol tic o- dip lom tic a p ro p cia eo recebim ento d e alg um tip o de apo io ex tern o afig urav am -sec om o u ma c on di o n ec ess ria p ara a e xp an s o d o m ov im en -to q ue , se m isso , n o u ltra pa ssa ria o m bito lo ca l e d efe nsiv o.M as a guerra m undial ainda estava no in cio. A lm disso , ap erm is s o d a a dm in istra o D ec ou x p ara a in sta la o d os ja -p on ese s n a ln do ch in a to rn av a q ue stio n ve l o p ro te to ra dofrancs.

    A o cup ao m ilitar japo nesa no V ietn e n o L aos seten-trio nais p re oc up a o K u om in ta ng , q ue d ec id e a po iar a c ria ode um m ovim ento de g uerrilh as antijapons. O bv iam enteC h an g K a i-C h ek p re fe ria o s n acio nalista s d o V ie tn Q u oc D anD ang , m as estes careciam de im plan tao den tro do pas, en -8 9

    P U O FAGU.\JDE-S VISENTlNl A REVOLUO VIETNAMITA

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    c ont ra v am - se d iv id id o s po r i nt erm in v ei s r iv a li da d es i nt er na s,alm d e se re m ex trem am en te c orru pto s, d esv ia nd o a m aio rp ar te d os r ec urs os e nt re gu es a o p ar ti do (o q u e, a li s, c ar ac te ri-z av a o p r prio K u om in ta ng e m re la o a juda nor te-amer ica-n a; p are ce ta mb m s er a re gra d e g ov ern os e m o vim e nto s p ol-t icos conse rv adores ne s sa s it uao).D essa fo rm a, o g ov ern o d e C h un gk in g (cap ital d os n a-c io na lis ta s c hin es es ) fo i fo r ad o a a po ia r u m a fre nte q ue ta m-b m in clu sse o P C I. A fin al, j h av iam ace rtad o u ma alian aco m o P C ch in s c on tra o Jap o , a brin do u ma trg ua n a g ue r-r a c iv il d es de 1 93 6 ( o bv iam en te a a lia n a f oi m a rc ad a p ela d es -c on fia n a re cp ro ca , a trito s e p ela p re ca u o d o K u om in ta nge m g ua rd ar s ua s fo r as p ara a re tom ad a d a g ue rra c iv il c on trao s c om u nis ta s, a p s a d erro ta d o Ja p o).E m fe ve re iro d e 1 941 , Ng uy en A i Q u o c p as sa d a C h in a a oV i etn e r et om a c on ta to c om o s g ru po s c omu nis ta s e sta be le ci-dos na dcada de 1930 e com a estru tura rem anescente do le-v an te d e B ac S on oE m m aio , c ria da a L ig a p ara a In de pe nd n -c ia d o V i etn ( V ie tn Do c L a pDon g M i nh o u, a br ev ia dam en te ,

    V i e t M i n h . A f re n te a n ti impe ri al is ta v i nc u la -s e a d iv e rs as o rg a -n iz a es popu la re s e n t o c ri ad a s ( de c ampon es es , mu lh e re s, j o-v e ns , c ri an as , v e lh o s, o p er ri os e m i li ta re s) , a lm de e st ru tu ra rm i l cia s d e a uto de fe sa e la n ar um j or na l d es tin ad o a os c amp o -n es es , em lin g ua g em e a rg um en ta o s im p le s, im p re ss o c om le -t ra s g r an d es p a ra f ac il it ar a l ei tu ra l uz d e l amp i e s.D e fu nd am en ta l im p ort nc ia fo i a a titu de a do ta da p arac om a s m in oria s tn ic as, q ue a de rira m a o m o vim e nto e fo rn e-c era m im p orta nte s q ua dro s d e lid era n a. O s d iv ers os g ru po s,fo rm a do s d e s uc es siv as m ig ra es , v iv ia m e m m u nd os e sta n-q ues, e seu s lim ite s p od ia m ser d em arca do s e m c urv as d e n -v eis : o s v ie tn am ita s (K in hs) v iv ia m n o d elta d o rio V e rm elh oe n as p la n cie s lito r ne as; m ais p ara o in te rio r, o s T ha ys; n asc ol in as , o s Z a os ; e n os v al es e le v ad os e monta nh as , o s Me o s. A sr eg i es h ab ita da s p ela s m i no ria s e ram e str at g ic as , c omo s an -tu rio s, p ara g ue rrilh as e c orre do r d e c om u nic a o c om o s uld a C h in a.

    V o N g uy en G i ap , e x-p ro fe sso r d e H ist ria , fo i o p rin ci-p al r es po ns v el p ela e la bo ra o d e um a e str at g ia m i li ta r e umd os g ra nd es a rt ic ul ad or es d a v it ri a d a r ev o lu o v ie tn am i ta .E ntre ta nto , N g uy en A i Q u oc d av a p rio rid ad e a bs olu ta a o fa to rp ol ti co , a o q u al d ev ia s ub or din ar -s e a lu ta a rm a da . A o c on tr -rio d o P C c hin s , q ue p oss ua e xc ele nte in stru m en to m ilita r elim ita da in fra -e stru tu ra p oltic a, o V ie t M in h tin ha tim a e s-tr utu ra d e m i li ta nt es , m a s p ou co s m il ita re s.A s sim , o p ar ti do e nv io u q u ad ro s p oli tic am e nte s lid os Ac ad em ia M i li ta r d e Wh ampo a ( cr ia da p elo s s ov i tic os em 1 92 7e ag ora co ntrolad a p elo K u om in tan g), n o su l d a C h in a, p ara ap r epa r ao da lu ta a rmada em escal a c ien t fi c a .Yenan ,ba se dosc omu n is ta s c hin es es , f ic av a mu ito lo ng e . O s m i lit an te s s ou be -r am ap rov ei ta r o e n si no t c n ic o s em s e d e ix a r c on tam in a r i de o -l og ic amen te p e lo s n a ci on a li st as c h in e se s. Uma v e z a d es tr ad o s,o s q u ad ro s a br iram e sc ola sm v e is n os s an tu r io s d o V i et M i nh ,p a ra f ormar q u ad ro s l oc a is . G i ap t ra d uz iu A g u er ra d e g u er ri l h a sc on tr a o J ap o de C hu T eh , e redig iu com Pham V an D ong Oc o m i s s r io p o l t ic o . De ss a f orm a, a in da q u e c on ta nd o c om me io sp re c r io s , f ormar am - se q u a dr os d e n v e l s at is fa t r io .E ntre me nte s, a s itu a o to rn a-s e a in da m ais d if cil n os eg un do s em e stre d e 1 941 e n o p rim e iro d e 1 942 . En tre s ete m -b ro d e 1 941 e fev ereiro d e 1 942 , o s fra nceses lan am g ra nd eo fe nsiv a co ntra o s sa ntu rio s d o V ie t M in h n o N orte. D ep oisd e se is m es es d e re sis t nc ia , o s g ue rrilh eiro s d iv id em -se e mp eq u en os g ru po s. A lg u ns re cu am p ar a a f ro nt eir a c hi ne sa , p a rase re org an iz ar, a o p as so q ue a m a io ria fu nd e-se n a p op ula o ed ed ic a- se s a tiv id ad es d e p ro pa g an da e o rg a niz a o p ol tic a.O m ov im en to o per rio resiste d ura nte to do o in vern o sem sed esag reg ar, e nq uan to n a p lan cie a e qu ip e d e T ro un g C h in hm a ntm a e str utu ra c la nd es tin a e ntr e o s c amp on es es . P ar a e vi -tar u m iso la men to d o m ov im en to , G ia p o rg an iz a co lu nas q uem arch am p ara o S ul, d esen ca dean do a p ro pa gan da arm ad a ,q ue v is av a m o stra r su a fo r a, m as s c om b ate r o in im ig o q ua n-d o o brig ad o. T al p oltic a e le va va o m o ra l d o p ov o e c ria va p ro -b le m as p ara o in im ig o.

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    P AUL F AGUNDES VISENTlNl A REVOLUAO VIHNAMITAE m d ez em bro d e 1 941 , a g uerra am plia-se co m o ataq ueja po n s a os n orte -a m eric an os n o P ac fic o e s c ol nia s e uro -p ia s n o S u de st e A s i tic o. O V i etn to rn a- se p on to e str at g ic opara a ex panso japonesa rum o ao S ul. O C om it C entra l doPC I la n a o d oc um e nt o A Guer ra do P ac f ic o e a s ta re fa s im ed ia -

    tas do part ido, em q u e p ro p e p ar tic ip a o a tiv a n a a li an a c on -tra o E ix o, a o la do d os A lia do s, lu ta nd o p ara le la m en te p ela in -d ep en d n ci a n ac io na l. N g u ye n A i Qu o c v ai a C h u ng k in g b us ca rr ec on h ec im e nto e a ux lio d o K u om in ta ng e d os n o rte -am er ic a-n os, b em c om o e stre ita r v n cu lo s c om o P C c hin s . M a s p re sopor catorze m eses p or C hang K ai-C hek , q ue , na tentativ a dea mp lia r s eu c on tro le s ob re a re sis t ncia , re ag ru pa o s e xila do sv ie tn am ita s n a lig a D o ng M in h H o i, q ue e xc lu i o s c om u nista s.A p artir d e 1 942 , o s fra nc es es in ic ia m g ra nd es re qu is i- e s s is tem t ic as d e P ad dy ( va rie da de d e a rr oz d a r eg i o) , a lmd os p es ad os im po st os j c ob ra do s r eg u la rm e nte . I ss o v a i g er arg ra nd e d es nu tr i o , q u e e nf ra q ue ce r a p op ula o, c au sa nd o am orte d e 2 m ilh es d e c am po neses d iretam en te pela fo me, n oin vern o d e 1 943-44, e m esp ecia l n o T on kin e A nam (o u B ac B oe T ru ng B o). A lm d isso , o s c am po neses so o brig ad os a u sarp ar te d os c amp os p ar a c ult ur as in du st ria is , c omo a j uta , o am en -doim e o rc in o, d im in uin do a in da m ais a p ro du o d e a lim e n-to s. O s j ap on es es , q u e a g or a h av iam o cu pa do m i lita rm e nte to daa In do ch in a (e m bo ra c on se rv an do a a dm in is tra o e a s tro pa sf ra nc es as ), e xig em d a a dm i ni st ra o c olo ni al a e nt re ga m e ns alde enorm es som as em dinh eiro. T udo isso se destinav a a ali-m en tar o esfo ro d e g ue rra d e T q uio .P ara le la me nte , o V ie t M i nh p ro cu ro u o rg an iz ar m e lh oro s s an tu rio s q ue a in da p os su a , p ara d ar re f gio p op ula o,e sto ca r a rr oz , a br ir c ur so s d e a lf ab eti za o, in te ns if ic ar a p re -p ar a o d e p es so al p ar a a a uto de fe sa d as a ld ei as e la n ar a s b as esd e u m a a dm in istra o p ara le la . A d ure za c ria da p ela e xp lo ra - o e co n m ic a ta m bm re pe rc utiu n as c id ad es , o nd e, d e m ar-o a junh o de 1943, e clo di ram v ria s g re ve s d e o pe r ri os e f un -c ion r io s , c u jo s s al r io s e ram r ap id amen te d e sv a lo ri za dos p e lain fl a o .S imu l taneamen t e ocorr ia in ten sa mob i li zao e s tudan -

    til. A p ar d a rep re ss o p olicia l a e ss es m o vim e nto s, o s f ra n ce -s es , q u e j h av ia m s ub stitu d o o le m a d a R ev olu o F ra nc es a _L i b er t , gal it , f ra te rn it - p elo lem a d ir ei t is ta - Patrie, famille,travaii- , c ri ar am nume ro s as o rg a n iz a e s f as c is ta s ( associaesc at lic as d e j ov en s, e stu d an te s e f un cio n rio s) e in tr od uz ir amo s g ru po s d e e sc ote iros. C riaram editoras co m p ublica esan tima rx i st a s, a s tr o lg i c as , c i n ci as o c ul ta s , c ont os f an t s ti -cos , po l ic ia is e p o rn og ra fi a. P ar a a b ur gu es ia n ac io na l, r om a n-ce s p essim istas e d e u m ro man tism o alien ad o. F om en tara mta mb m d iv erg n cia s c on tra a m in oria c hin es a.O s ja po nese s, p or se u tu rn o, d esen vo lv eram a d em ag o-g ia em torn o de tem as com o a G rande sia '; com unidade dec ultu ra e ra a e c ria o d e u m a z on a d e c o-p ro sp erid ad e a si -ti ca ': P ar ale lam en te , f om e nt av am o d io a os b ra nc os '; e st im u -la va m o in te rc m b io e ntre b ud is ta s ja po ne se s e v ie tn am ita s, eo en sin o d e ja po n s. O V ie t M in h co ntra-atac ou , p ub lic an doas Tes es s ob re a cultu ra do V ie tn , e m q ue re ba tia o s p rin cp io s( fr an ce se s e j ap on es es ) e p ro cu ra v a g a nh ar a p eq u en a- bu rg u e-s ia e a b urg ue sia n ac io na l p ara a c au sa d a lib erta o n ac io na l.N o inv erno de 1 943-1 94 4, o s f ra nces es lan am a seg un -da g rande ofensiv a contra as bases de apoio do V iet M inh ,m u ita s d as q u ais s o o cu pa da s. H g ra nd e e d es or de na do a fl ux od e m ilitan tes e c am po neses p ara o s p on to s q ue resistiram n asm on ta nh as, o nd e a falta d e re cu rso s to rn av a-se m aio r. C o n-c lu d a a o fe ns iv a, a s b as es p ro cu ram o rg an iz ar d es ta cam en to sd e g ue rrilh eiro s e m tem po in teg ra l, m iss es d e assalto a p os-to s is ola do s e e x ec u o d e in fo rm a nt es . P ar a e v it ar a fl ux o c a -tico d e sim patiza nte s s p ou ca s z on as, su bstitu em n os d ocu -

    m en to s o term o in su rreio p or desencadeam ento daguerrilha, d e fo rm a q ue se d istrib usse o m ov im en to p or to doo t e rr it rio. Procuram , a in da , re tom ar a rota para o Sul'; en-q ua nto re to ma m q uad ro s q ue se h av iam d isp ersa do d uran te ao f ens iv a f rancesa.E m m aro de 1944, A i Q uoc, recm -libertado e ag oracom o nom e de H o C hi M inh (H o , a qu ele q ue ilu m in a), au-torizado a levar o V ie t M inh para a lig a D ong M inh H oi, por

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    PAULO FAGUNDF_S VlSFNTlNl A REVOLUAO VIETNAMITA

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    c au sa d a in ca pa ci da de p ol tic o-m ili ta r d os n ac io na li sta s. M e -d ia nte tra ba lh o p ac ie nte e h b il, H o tra nsfo rm a a lig a e m a g n-cia do V iet M inh , m as sem afrontar C hang K ai-C hek, que de-s eja a ta ca r fu tu ra me nte o s ja po ne se s n o V ie tn .N o incio de 1 944, o P CI estab elece co ntato com co mu-n is ta s a lem e s e s oc ia l- democ ra ta s a us tr a co s q ue in te gra vam aL eg i o E str an ge ir a F ra nc es a e a a dm in is tra o c ol on ia l e c riamn o T on kin (B ac B o) o G r up o S oc ia l-C omu nis ta . T am bm m an -tm contatos com a esq uerda francesa e com os g aullistas naIn do ch in a. E m re un i o c om re pre se nta nte s d ess es g ru po s e mnovem bro de 1944, o P CI alerta para a im inncia de um con-fro nto e ntre j ap on es es e fra nc ese s, p elo ru mo q ue a g ue rra to -m av a; ficou acertado q ue os grupos lutariam para reduzir are qu is i o d o P ad dy , d ar fu ga a os p re so s p oltico s e p assa r a r-m as a o V ie t M in h, v isa nd o c om ba te r o s ja po ne se s.E m junh o de 1944, fundado o Partido D em ocr ticoV ie tn am ita , c on gre ga nd o in te le ctu ais e se to re s d a p eq ue na -b ur gu es ia e d a b ur gu es ia n ac io na l, s ob i nf lu n cia d o V ie t M i nh(ao q ual adere) e dos rum os da g uerra. N o m s seguin te, umre pre se nta nte d e D e G a ulle s alta d e p ra -q ue da s n a ln do ch in ae entra em con tato co m os fran ceses, o rd en and o q ue ataq uemo s j ap on es es . M a s e le s n o o f az em , limit an do -s e a e la bo ra r umplano de recuo para o Laos e de desencadeam ento de g uerri-lh as n a re ta gu ard a j ap on es a, c as o o s f ra nc es es f os sem a ta ca do s.O bv ia me nte , o s m ilita res e o s a dm in is trad ore s e sta va mco mpro metido s com o s jap on eses, tin ham sid o co locad os emse us p osto s p or V ic hy e c on he cia m o p erig o re pre se nta do p eloV iet M inh para o colonialism o francs bem m elhor que D eG aulle. T an to assim q ue em ou tu bro as tro pas fran cesas de-sen cad eiam a terceira razia co ntra as bases d o m ov im en to d elibertao n o N orte, po r o rd em d os japo neses. U m a v ez esg o-tado o m peto d a ofen siv a, G iap cria a B rig ada de P ro pag an dado E xrcito de L ibertao, contando com elem entos de boafo rm a o m ilita r. O p eq ue no g ru po p ossu a a pe na s d ez en ov efu zis e c ato rz e mo sq u et es , o s q ua is u sa vam muni o p ro du zi-d a a rte sa na lm en te p elo s m o ntan he se s. D ep ois d e u ma c erim -

    n ia n a flo re sta , e m q ue a b an de ira d o V ie t M i nh (v erm elh a c omum a estrela do urad a) faz sua apario , o s an drajo so s g uerri-lh eir os a ta ca ram c om s uc es so a lg un s p os to s m ilit are s.O s ja po nes es, p or se u tu rn o, d ep ois d e so fre r v ria s d er-ro tas no P acfico e perder a m aio r p arte d e su a esq uadra, am -pliaram em fins de 1944 suas zonas ocupadas no sul da C hinapara garantir com unicao terrestre (ferrov i ria) com aln do ch in a e , p o r e sta , c om s ua s fo r as e m to do o S ud este A si -tic o. A In do ch in a to rn a-se , a ssim , p e a-c ha ve n a e stra t gia d omi li ta r ismo n ipn i co .A REVOLUO DE AGOSTO E A PRIMEIRAINDEPEND~NCIA (1945)

    E m 9 de m aro d e 1 945 , o s jap on eses atacam os fran ce-se s e m to da a ln do ch in a, d erro ta nd o-o s c om ple ta me nte . A pe -n as a lg uma s c olu na s, c om p ou co s m ilh ar es d e s old ad os , c on se -guem fug ir para a C hina, p ilh ando as populaes queencontravam em seu cam inho. D e um dia para o outro, a ad-m in is tra o c olo nia l d es ap are cia . O a pe lo d o V ie t M in h p araum a alian a con tra o s j apo neses v o , em v irtud e d o cao s rei-nan te entre o s franceses. A d esero d e q uase to das as trop asa ux ilia re s e d e a lg um a s u nid ad es fr an ce sa s d eix a b oa q ua ntid a-de de arm as p ara o V iet M inh . N a m aioria das pris es h fug asde p r esos po l ti cos , que organ iza ram maquis ( guer ri lh a s ), a ma i sim p orta nte e m H u com andada pelo poeta Tho H uu e pelofu turo g en eral N gu yen C hi T an. E m S aig on , a estru tu ra clan -destina do PC I (liderada pelo dr. Ph am N goc T hach) am pliasu as a tiv id ad es n os s ub rb io s p ob re s, o nd e s ua in flu n cia e ragrande.

    U m a v ez e sm ag a d a a a dm in is tra o D ec ou x, o s ja po ne -ses p roclam aram a in depen d ncia d o V ietn, criand o um g o-v ern o c ola bo ra cio nis ta , te nd o B ao D ai c om o im p era do r e T ra nT ron g K im co mo prim eiro -m in istro . O p oder do g ov ern o erare strito , p ois se to re s-c ha ve d a e co nomia e o s in stru me nto s d ere pre ss o c on tin ua ra m n as m o s d o E x rc ito ja po n s, e s ua a u-toridade era parcial no Nam Bo e Bac Bo (C och inch ina e34 35

    PAULO lAGUNJ)E5 VI5F.NTlNI A REVOLUAO VIF.TNAMITA

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    T on kin ), j us ta me nte a s re gi es m ais im p orta nte s. N o B ac B o eT run g B o (A nam ), o n ov o g ov erno ap oiou -se n os recm -cria-dos P artid o do N ov o V ietn , Partido do G rande V ietn e nao rg a ni za o S e rv ir Nao ( todos g ru pos p r - ja p on es es ).N o N am B o, a lm d os v elh os g ru po s p r -n ip nico s e d asseitas p ol tic o- re lig io sa s C a o D a i e H o a H a o, s o c ria do s o P ar ti-d o da In dep en d ncia do V ietn , o P artid o d a R estau rao d oV ietn e o G rup o de D efesa N ip o- V i etn am ita. M as tu do isso s up erfic ia l. O p as u m v erd ad eiro b arril d e p lv ora p or e xp lo -d ir. O s cam po nese s fam in to s e os m aq uis V iet M in h ata cam o sd ep sit os d e P ad dy em d ez en as d e lo ca lid ad es . A s p r p ria s t ro -p as do g ov erno e m esm o ja po nesas so atacad as. H o C hi M in hp er ce be q ue a l ig a D o ng M i nh Ho i d es in te gr ar a- se n a p r tic a, e oV ie t M i nh a nic a fo r a c on tra o s j ap on ese s. E o c ola ps o d es te sn o d ev e d em o ra r, d ad a a p ro xim id ad e d os A lia do s e m c he ga r I ndoch in a . A s sim , amadu re ce a s it ua o r ev o lu c ion r ia .E m m eio ao q uad ro co mp lex o, co nfu so e em r pid a m u-tao, o V iet M inh c orre c on tra o tem po, en fren tan do u ma s-rie d e o bs t cu lo s. A a rtic ula o d o m o vim en to e ntre a s re gi esainda p re c ria . E m 1 5 d e m aio c ria do o E x rc ito d e L ib erta -o d o V ie tn , re su lta do d a fu s o d e to do s o s g ru po s d e g ue rri-l ha e m il ci as d e a uto de fe sa . D e se nc ad eia -s e a t t ic a d e i ns ur re i- es locais, com o m eio de organizar a insurreio geral.Amp liam -s e a s z on as lib er ta da s, e n el as o rg an iz am - se o s c o m i -t s p o p ula r e s r e v o l u c i o n r i o s b as es d a f ut ur a a dm in is tr a o p o-p u la r. A s o fe n si va s j ap one sa s c ont ra a s r eg i e s s o d e sb a ra ta d as .E m a go sto o s a co nte cim en to s s e p re cip ita m . O s E sta do sU nido s lan am d uas b om bas at micas so bre o Jap o , e a U nioS ov i tic a a ta ca o 1Q Exrcito nip nico no norte da C hina. T q u io i ni ci a n eg oci a es, en qu an to su as trop as n o V ietn co m-portam -se com o um a serpente decap it ad a . A l g un s g e ne ra is sop ela p az im ed ia ta , a o p ass o q ue o utro s p re fe re m c on tin ua r lu -ta nd o. Uma re un i o d o E sta do-Ma io r d eg en er a em t ir ot eio e ntr eo s c om a nd an te s ja po ne se s. N o d ia 1 6, d ec id em re co lh er-se a osq ua rtis, e e ntre gam a G u ard a C iv il, a S eg uran a C entral e aC ensu ra ao g ov ern o T ra n T ro ng Kim/Bao D ai. N o m esm o dia

    o V iet M in h cria u m g ov erno p rov is rio , p resid id o p or H o C hiM i nh , v en ce nd o a te nd n cia d ir ei tis ta d e a lg un s s eto re s d o P C I,q ue d ese ja va m fa ze r u m a c oa liz o c om o g ov ern o p r -ja po n s.A insurre io gera l do V iet M inh (desde 12 de ag osto)n o tiro u o de vido p ro veito d a situ ao d os jap on eses, so bre-tudo na apreenso de arm as e dom nio da econom ia. O g ov er-n o f an to c he c on tin ua d on o d a s itu a o n a m aio ria d as c id ad es ,e nq u an to o fi cia is f ra nc es es e e lem en to s n ac io na lis ta s a pr es en -tam -se em alg um as lo calid ad es p ara rec eb er a re nd i o j ap o-nesa (o que causa g rande inquieta o a os re vo lu cio n rio sv ietnam itas). N o dia 17 o g ov erno pr-japons org aniza umcomcio em H an i, durante o q ual oradores do V iet M inh (ar-m ados) tom am a palav ra e inflam am a m ultido com suas pa-la vra s d e o rd em . A s tro pa s g ov ern am en ta is a de re m manifes-ta o, e nq ua nto a b an de ira im pe ria l (a marela, com tr s listrasv erm elh as h or izontais) substituda pela do V ie t M inh (v er-m elha com um a estrela dourada no centro - ig ua l do Pa rt id odos Traba lh adores brasileiro) .O s ja po neses perm anecem nos q uartis, ag uardando orepatriam ento. E m H u se passa o m esm o no dia 23, q uando1 50 m il p es so as s ae m ru a em ap oio ao G o vern o P ro vis riode H o. E m S aig on, no dia 25, um conting ente ainda m aior d ei-x a os sub rbios e ocupa o centro da cidade. N o dia 30 de agos-to , o im perador B ao D ai abdica, decla ra nd o q ue p re fe ria se ru m sim ples cid ad o de u m E stad o indep en de nte q ue s ob er an od e u m a n a o s ub ju ga da (re ce be r u m c arg o d e c on se lh eirop ol tic o d o g ov ern o d e H o , e d ep ois s er exilado em H ong K ong ,com um a penso paga pelo V iet M inh ). N a m esm a data pro-c la ma da a R ep b lic a D em o cr tic a d o V ie tn (R D V ). N o d ia d ac ap itu lao fin al d o Jap o (2 d e setem bro), H o discursa emc om cio n a cidad e de H an i, pa ra m eio m ilh o d e p esso as.E ntretan to , a situ ao in tern acio nal to rna-se cad a v ezm ais d ifc il p ara o no vo g ov ern o. Por d ec is o d o A lto -c om an-d o A lia do , as tropas do K uom intang ocupam o N orte para re-c eb er a re nd i o ja po ne sa . A s tro pa s, fo rm ad as d e c am ponesesrecm-recrutados , d e p s d escalo s, v m so mar-se ao s fam in-

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    PAULO FAGUNflES V1SENTINI

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    tos v ietnam itas no auge da cheia do rio V erm elho) ao passoq ue os soldados do V iet M inh fazem sua entrada triunfal emH a n i) e m q ua dro q ue b em sim b oliz a a c on tra dit ria s itu a od o p a s. E n qu an to is so ) n o S ul ) f o r as b rit ni ca s d es emb ar came m S aig on , ta mb m a p re te xto d e re ce be r a re nd i o ja po ne sa .C omo s e n o b as ta ss e) n um e ro so s a ge nt es g au llis ta s, la n ad osd e p ra-q ued as n o Vietn , s o d etid os p elo V ie t M in h.N o c on te xt o a pa re ntem en te e uf ric o) m a s in tim am e nteso mb rio ) H o d ese ja e vitar a v olta d os fran ceses o u cair so brep ro te to ra do d os n ac io na lis ta s c hin es es . P ar a ta nt o) v ai p ro cu -rar ex plo rar as co ntrad i es e ntre os A lia dos e b usc ar o ap oioda U nio Sov itica e dos povos ch ins e franc s) o q ue um am arg em de m anobra m uito lim itada. A R evoluo de A gostoc on stitu a o p on to c ulm in an te d os T r s E nsa io s G e ra is: o a ss al-to rev olu cio n rio d e 1 930 -1 931 (o s S ov ietes de N gh e T in h) aascen so d o m ov im ento de m assa s d e 1 936 -39 e o m ov im en tod e lib erta o n ac io na l d e 1 939 -1 945 . M a s e sta e sta va lo ng e d es er a lu ta d efin itiv a d o p ov o v ie tn am ita .O triu nfo da ch am ad a Rev ol u o Na c ion al Democr ti-c a Popu la r fo i pos s v e l g r aa s a lia n a e ntr e o pe r rio s e c am -poneses) c ria o d e a mp la fre nte p oltic a n ac io na l e d e fo r asa rmad as popu la re s) e xp lo ra o d as c on tr ad i e s f ra nc o- ja -p on es as e c on ju ntu ra c ria da pela G u erra M un dial em u m sen -tid o am plo ) q ue fez d a F ran a o n ov o elo m ais fraco d o siste-m a im p eria lis ta . E sta e ra a p rim eira re vo lu o a ntic olo nia l d ein sp ira o m arx is ta a triu nfa r (a in da q ue u m a v it ria p ro vis -r ia ). O s p rin c pi os t tic o- es tr at gi co s c en tr ais d o mo v im e ntoen co ntrav am -se n as te ses d o V I C on gresso d a In te rn ac io nalC om unista (responsv el por v rias derrotas da esq uerda naE u ro pa ) q u e a firm av am q ue a r ev o lu o d emo cr tic o- bu rg u e-s a n as c ol n ia s d ev ia p rio riz ar a q u es t o n ac io na l. H o Ch i M i nh ,q ue fora um q uadro im portante da T erce ira In ternacional)m a nte ve -s e s en s ve l o rie nta o) a q u al c on sid er av a a pr op ri a-d a p ar a a re alid ad e v ie tn am ita .

    2. A REVOLUO ANTICOLONIAL (1945-1954)

    C om o fim d a S eg und a G u erra M un dia l) era p erc ep tv elo e nfra qu ec im en to d o c olo nia lism o e uro pe u. A s m e tr po le s)d ur am e nte a tin g id as p elo c on fl ito ) r ea liz aram g ra nd es e sf or o sp ara re ve rte r a situ a o ) c om b ate nd o a s fo r as n ac io na lis ta s er ev o lu c ion r ia s q u e h a v iam conh e ci do e norme d e se n vo lv imen tod ura nte a g ue rra . P ro cu ra ra m re cu pe ra r a s p os i e s p erd id as)em e sp ec ia l n a s ia ) o nd e a s r es is t nc ia s a ntij ap on es as h av iamsolapado as bases do colonialism o. N o caso da Indoch ina, op ro cesso foi ain da m ais p ro fu nd o) p ois a resist ncia ta mb mfo i d irig id a c on tra o fa sc is mo fra nc s .A p es ar d e a lg un s s uc es so s) a G r - Br eta nh a p er ce be u q u eo s is tema co lon ia l) ta l c om o e sta va e stru tu ra d o) tin ha se us d ia sc on ta do s. E p ro cu ro u a da pta r- se ) p re pa ra nd o in de pe nd n cia sf ormai s) q u e c ons er v ar am s eu s i nt er es se s ( ne o co lon ia li smo ) . J a H o la nd a e a F ra n a p re fe rira m re sta ura r a a ntig a situ a o p elafo r a) se m a te nta r p ara a p ro fu nd a tra ns fo rm a o o pe ra da c oma g ue rra . O s g ra nd es c on flito s n a In do n sia e a P rim e ira G u er-ra d a In do ch in a se r o d ec orr nc ia d a p oltic a c eg a) e ) p a rtic u-larm en te) a g uerra fran co -v ietn am ita resu lta r na d erro ta d ela rg as c on se q nc ia s p ar a o c olo nia lism o.A FRGIL REpBLICA DEMOCRTICA DO VIETNA in de pe nd n cia c on qu is ta da p elo V ie t M in h o co rre e mc on te xto m u ito d ifc il e c on tra dit rio . A fom e) a l m d o d eb ili-tam ento fsico da populao e dos 2 m ilhes de m ortos quec au so u) p ro vo co u fo rte m ig ra o p ara a s c id ad es) onde os ca-d v er es s e e sp alh av am p ela s c al ad as d e H a n i. enchen t e) s e -g uiu -s e u m a te rrv el s ec a) q ue fe z a um en ta r a e sc ass ez e a fom e

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    PWJ O FAGUNDES VIScNTINI A REVOWt,:AO VIETNAMITA

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    no N orte, onde estav am tam bm acantonadas as tropas chi-n es as ( 20 0 m so ld ados ) . E s ta s p rocu ra ram ref or a r o s n ac io -n ali sta s v ie tn am it as (VNQDD) , s eu s a li ad os n o p la no in te rn o.No p lano in te rn ac ional, a i nt er ve n o d e C h ang K a i-C h ekr es po nd e tam bm aos i nt er es se s p olt ic o s d o impe ri alism o nor-te -a meric an o p ara a re gi o. N o S ul, a s fo ra s b ritn ic as u til i-z am a s t ro pa s j ap on es as c omo p ol cia , l ib er tam e re arm am oss old ad os d a L e gi o E str an g ei ra F ra nc es a, p ro cu ra nd o s ol ap ar opoder do V iet M inh na C och inch ina. Em setem bro de 1945com earam a ocorrer os prim eiros ataq ues da L eg io a m ili-ta nte s e a a lg um a s a ld eia s, o nd e p erp etram v r io s m a ss acre s decamponeses. O s ang l o- fr an c es es r ep re s en ta v am a cont ra -o fe n -s iv a d o c olo ni al ism o e ur op eu .P ara o n ov o g ov ern o, tud o se e nc on tra va po r fazer, par-tindo do zero . H o, G iap e Pham V an D ong p roc ura ra m h ab il-m en te a tr as ar o co nf ro n to . P a ra t an to , d is so lv e ram forma lmen teo P C ind o c hin s (setem bro de 1 945 ), q ue m erg ulh ou na sem i-clandestinidade de um reg im e q ue, em ltim a instncia , erac on tr ol ad o p or e le p r p ri o. F orm alm e nt e, m a ntev e- se ap enas aA s so cia o l nd oc h in es a d e E stu do s Ma rx ista s. T al atitude de-v eu-se a um a ne cessida de t tica , pa ra um g overno de coaliz oc om o s n ac io na lis ta s (em d ec orr nc ia da pr ess o c hin esa e dan ec es sid ad e d e o bt er r el at iv o c on se ns o n ac io na l).O G o ve rn o P ro vis rio lan a alg um as m ed idas v isa nd os ac ia r a f om e d a p op ula o: c ultiv os eme rg en cia is a t em re asu rb an as ; d ir eito d e u tiliz a o d e ter r as d esocupadas ; d i st rib ui - o d as te rra s c om un s; a bo li o d o m a nd ari na to adm in is tr at i-v o e ju dic i ri o; r ed u o d as r en da s p ag a s p el os c am p on es es em

    25% . A reform a ag r ria ex t remamen te c au te lo sa , p ois o V ietM i nh t em i a a r ea o d os c on se rv a do res. A e str at gi a de H o p ri o-riza a inda a q ue sto na cion al, a e x pl or ao d as c on tra di e se nt re o s in im ig o s ( na ci on ai s e e st ra ng e ir os) e a acum ulao def or a s. A p es ar d as d if ic uld ad es d o mom en to , o V i et M i nh r ef or- ou sua o rg aniza o e a mpliou sua s b ase s sociais no cen tro esu l d o p as.

    A s e le i es d e ja neiro de 1946 do quase 90% dos vo to spara H o C h i M inh . N a A ss em b l ia C o ns tit ui nt e, o V i et M i nhe ntr eg a s et en ta l ug a re s ao s p ar tid os n ac io na li st as, a pe sa r d ae s ca s sa vo ta o d e st es. E ntrem en te s a F ra n a, a in da s em fo r ap ara re cu pe ra r sua ex -co l nia, pro cu ra g an ha r te mp o n eg o-ciando com o V iet M in h, m a s lh e n eg an do le gitim id ad e. P arao m ov im en to de libe rta o , a pre se nta va -se u ma q uest o deli -cada: com quem negociar? A C hina era um a nao v izinha,a po ia da p el os E st ad os U n id os , s up er po v oa da e em g u er ra civil.A F ra n a e nc on tr av a-s e e nfra qu ec i d a, m a s lo go te nta ria re cu-p er ar a s p os i es p er di da s. O espao de m anobra no m uitoamplo: e s timul ar a s r iv a li dades in te rn as d o K u om in ta ng e m a n-te r n eg oc ia es c om o s f ra nc es es. E ste s ne goc iam c om C h angK ai-C hek a dev oluo do N orte ocupado (at o paralelo 16),e m tro ca d a a nu la o d as C o nc es s es fr an ce sa s n a C h ina e dor ec on h ec im e nt o d e a lg u ns in te re ss es c h in es es n o V i etn .Paralelamente , um reg im ento fran c s oc upa S aig on e asp rinc ipa is c id ad es do N am B o (C och in ch ina ) e m 23 d e se te m-bro de 1946, e ou tras unidades av anam para o N orte lenta-m ente pelo lito ral. O V iet M inh abandona a s c id ad es (onded eix a e str utu ra s c la nd es tin as ) e s e re tira p ara a s flo re sta s e re -g ies p an tano sas. O g ene ral fra nc s L ecle rc pe rc eb e q ue esta um a v it ria a pa ren te , pois a s estradas a be rta s pelo s b l ind adosf ra nc es es s o f ec h ad as l og o a p s s ua p as sa g em . S ua s p ro po st asd e n eg o ci a o s o v e ta da s p elo a lm i ra nt e D 'A rg e nl ie u e o ut ro sp artid r io s d o c on fr on to d ire to , q ue c on ve nc em D e G a ulle .E nq ua nto a g ue rra j e st o co rre nd o n o S ul, o s fra nc es esc he ga m a um a cord o c om C h ang K a i-C he k. O s so ld ad os fran-ceses que hav iam fug ido para a C h ina em 1945 voltam aoTonkin, de onde os ch ineses d ev iam r et ir ar-se . E s te s a d ot ama tit ud e am bg u a, e st im u la nd o o s p ar ti dos n a ci on a li st as a d e r-rub ar o V iet M inh e to mar o p ode r. O s n ac iona lista s, ao s g r it o sd e a ba ix o o s t ra id or es p r -f ra nc es es , B a o D a i n o p od er, re cla -m am nos b astid ore s m ais c arg os no g ov erno . Q uan do os fra n-c es es c h eg am , o s c h in es es r eti ram-se sem a po ia r seu s a liad os,q ue fic am e m situa o d ifc il. H o ac eita a o cu pa o de Tonkin

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    PAULO IAGUNOcS VISENTTNI A REVOLUAQ VIEINAMIIA

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    pelo s franceses, e em troca estes rec onh ecem a Repb lic a De-m ocrti ca do V ietn (RDV ), liv re, m as sem autonom ia (Esta-do Associado U nio Fra ncesa , sem a C och in ch in a).F racassam em abril de 1946 as negocia es de Dalat, en-quanto a guerra prossegue no Sul e os incidentes multip li cam -se no Nor te . Em 1 d e j un ho a Frana cri a um gov ern o pro v i-s ri o na C ochinchina . H o e Pham V an Dong v o a Pari snegoc iar. F ica clara a dete rm ina o fr ancesa de reto rnar si-tu ao de 1939 . H o a proveit a para apr es ent ar-se ao povo fran-c s c omo um a esp c ie de G and h i v ie tna mita . E m H an i, os na-cionali stas pro curam sabotar a di p lom ac ia do V iet Minh , comum plano de atentado aos franceses n o d es file de 14 de julho.Descoberto o cornp l , G iap ataca os nacionali stas emH an i e no in terio r, d ispersand o-se. O confront o to ta l av iz i-nh ava-se . Q uando H o volta de Paris, decide recri ar as m il ciasloc ais, e struturar um a adm in is tr ao de clulas de ba se , e r eo r-gani zar e reapare lh ar o Exrcito (6 0 m il em fins de 19 46 ). Emrela o s reg ies ocupadas, o V iet M inh decid e co rt ar a co mu-nic ao ent re as cidades f ran cesas, bloquear a econom ia, is ol-Ias politicam ente e e stabelecer um cer co m i li ta r. H o caracteri zaa luta que se in ic ia: Se o tig re parar , o elefante o transpassarcom suas possan tes pr esa s. M as o tig re jam ais pa rar e o ele-fante m orrer de ex austo e hem orr ag ia .

    da recusa deste , os fran c es es b ombar dea ram H aiphong (23 deoutubro) , causa nd o 6 m il mortos, e desembarcaram.O V iet M inh preg a a resistncia , en tr incheira-se em H a-n i e e v ac ua a popul a o. A cidade cerc ada em dezem bro eresiste em um a lu ta de ca sa em c as a at f ev e reiro de 1947 , quan-do suas tropas reti ra m -se pelo ri o V erm elh o, bu rl and o o cerco.O s f ra n ce se s o cup am um a H an i desabi ta da e em ru n as, ond enas poucas paredes ainda em p l-se n s voltaremos. M uitascidades s o destr u das pel a p op u la o, que se re ti ra para o c am -po . noite , os g uer rilheiros to ca m piano nas e stra das (pro -du zem g ra ndes bu ra cos alternados em cada p ista ): 10 .700 qui-lmetros de rodov ias e 1.500 quilmetros d e fe rrov ias soinut ilizados pela resistn cia . Q uase todas as pontes do pa s fo -ra m de strudas . H o decla ra aos fr anceses: Voc s me mata rodez hom ens, enq uant o eu Ih es m atarei um . M as mesmo co mess a c on ta , vocs no podero agen ta r e eu vencerei':Em A resistncia vencer, em que Truoung C hinh compi -lou v rios artig os publicado s pela A ssoc iao Indochines a deEstudos M arx istas , enc on tra-se a t tica do V iet M inh para anov a g uerr a , in spi ra ndo-se na G uerra prolongada de M ao. Aprimeira fa se se ri a de fensiva , com combates de ret ardam ento edi sp er s o de for as pelo campo , passando depo is guer rilhageneralizada, a t ating ir um equ ilbr io. N a segunda etapa, osfr anceses des enca dea riam razias sist em tic as c ontra as zonas li-bertadas. A re ao seria a eclo so de guer ril has na retaguard ainimiga e a guerra de movimen to. A terc eira etapa seria m ar-ca da pe lo reagrupamento de foras, passando cont ra-o fensi -va geral, da g uerr a de mov im en to guerra de po si es. A e n-to p od er iam re tom ar as negociaes, ao passo que a ascens odo movim ento de libert ao em out ras coln ias poderia facili -tar a c on tra-of ensiva , ape sa r da in fer ior id ade .

    A int ens if icao da guerra co n tra o Vie tn v incula-se aosaconteciment os france ses e int e rnac ionais. O ano de 1947 mar-ca a expul s o do Partido C omunista Franc s do gover no deco ali zo (a lg uns m inistros v o d ire to pa ra a priso) e a form a- o da Do utrina T rumam, intensificando a G uerra Fria com a

    A RECONQUISTA COLONIAl E A GUERRAFRANCO- VIETNAMITA (1946-1950)Os rev olu cionrios v ie tn am itas fiz eram todas as con c es -s es possveis para obter um a so lu o negociada para a in de-pend nc ia. Por m ais de um ano sup or taram sem rev idar umse m -nmero de provoca es e a gresses, a t que em fins deoutubro os francese s cort aram a export a o de arr oz para oNorte. Para ev ita r o cola pso do abastec imen to, o gov ern o daRDV ise nt ou os camponeses e o com rc io in terno de im pos-to s, fi cando com as receitas aduaneir as como nica fonte dere nda. Ento o s f ra nc eses ex ig ir am part icip a o ne ssa renda ,sem d vida par a e st ra ng u lar o g ov erno do V iet M inh . Diante

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    PAULO FAGUNJ1F.S V1SENT1Nl A REVOWO V1ETNAMnA

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    p ol t ic a d e Cont en o d o Comun ismo Containrnent . Essa pol -ti ca imp li co u uma p er se g ui o s e sq u er da s n os p a se s c ap it al is -ta s, p re ss o s ob re a s d em o cra cia s p op ula re s e ur op ia s a lia da sd a U n i o S ov i tic a (p re ss o d ip lom tic a, o fe rta s e co nm ic o-fin an ce iras e ap oio s fo ra s c on serv ad oras d esse s p ases) e ainterv eno m ilitar nos pases de periferia (q ue iniciaria nom esm o ano na G rcia e se estenderia at o V ietn).E m o utu bro d e 1 947 , o s fran cese s d ese nca deia m p od e-rosa ofensiv a contra as bases d o m ov im ento de libertao noN orte. O s p ra-q uedistas conq uistam o local do com and o doV iet M in h, q ue fo ge p ara a flo resta. G ia p d isp ersa su as tro pa sr eg u la re s, q u e d es en ca de iam uma g u er ri lh a i nt en sa n a r et ag u ar -d a d o E x rc ito c olo nial e co nse gu em e nfraq ue ce r a o fen siv a.E sta , ap esar d e co nstitu ir u m p od ero so g olp e, d esfec had a n ovazio. O s franceses so ob rig ados a es te nd er su as lin ha s, d is -p ers ar tr op as e , c om iss o, to rn aram -s e v uln er ve is . A re a c on -q uistad a era u ma zo na h ostil e ac id en tad a. A e strad a co lo nia l4, q ue c orta a re gi o, fic ou c on he cid a c om o a es tra da s an gre n-ta . E m abril de 1948, um com boio de cinq enta cam inhes destrudo.O s n orte -am erica no s to lera vam , e mb ora c ritica sse m, ap oltic a fr an ce sa n a ln do ch in a, p orq ue p re cis av am d o a po io d eParis para a criao de um a aliana m ilitar no A tlntico (aO rganizao do A tlntico N orte - O tan) e por causa das der-rotas do K uom intang na g uerra civ il ch inesa. E m 1947, os E s-tados U nidos contatam B ao D ai em H ong K ong e acon selh amo s fra nc es es a d es en vo lv er um a p oltic a m ais in te lig en te . E ste s,em v ir tu de d e s ua s c re sc en te s d if ic ul da de s, s o o br ig a do s a a ce i-tar a poltica de W ash ing ton, em troca de apoio financeiro emilitar.E m 19 48, B ao D ai tr az id o p ara r ec eb er a in de pe nd n -cia de todo o V ietn (incluindo a C och inch ina, q ue os france-ses h av iam re cu sad o R DV ). M as a F ra na d om in a a d ip lo ma-cia, o E xrcito e m an tm seus interesses econ mico s no nov oE sta do . B ao D ai a go ra in ve rtia su a m x im a, p referin do se r orei de um a nao subjug ada a um sim ples cidado do Im prio

    B rit nic o ... N o p la no in te rn o, a fa rs a e ra e vid en te , p ois B ao D aitinha to pouco poder como antes de 1939 com os m esm osfran cese s q ua nto co m o s ja po nese s d ura nte a S eg un da G u erraM un dia l. E ntretan to , isso n o q uer d iz er q ue o re i e o s fran ce-s es c are ce ss em d e a po io in te rn o o s p r p ri os f ra n ce se s u ti li za -ram essa in dep en d nc ia p ara p ro cu rar so la par as b ases d eapoio do V iet M inh ): m ais de m eio m ilh o de v ietnam itas ca-t lico s n o N orte , o s g ra nd es p ro prie t rio s d e terra , so ld ad os ea dm in is tra do re s fra nc es es o u a s eu s erv i o, a b ur gu es ia fr an ce -sa e os com erciantes v ietn am itas, alm do g rupo B in X uy en ed as s eita s re lig io sa s-milita re s H o a H a o e C a o D ai n o S ul a po ia -ram os franceses e o rei.O s H oa H ao eram um a seita budista reformada, cujon cleo b sico era constitud o por latifundirios do delta doM ek on g. O s C ao D ai e ram u ma co mb in a o ec l tica d e co nfu -c io nismo , b ud ismo e c ato lic is mo . C o ntr ola vam a s ro ta s c om er-ciais entre S aig on e C am boja. A mbo s tinh am seus pr priose x rc ito s ( qu e a po ia ram o s j ap on es es a nte rio rm en te ) e c on ta -v am aprox im adamente um m ilho de h abitantes. O que n ov o n a situ a o s o as lig a es d os n orte -a meric an os c om og ov ern o B ao D ai e, so bre tu do , o a po io a se u E xrcito . P or p re s-so de W ash ing ton, os poderes de B ao D ai so am pliados em1 949 , e e ste r ec eb e o r ec on he cim en to n orte -ame ric an o em 1 95 0.O V iet M inh reorg anizou a resist ncia nos d eltas, q uedurante o dia eram franceses, m as noite estes eram recolh i-d os s b as es m ilita re s. T am b m n as c id ad es d o S ul a re sis t nc iafo i refo ra da (o s re sta ura ntes fre q en ta do s p or fran ceses e mS aig on tiv er am d e in sta la r p ro te es c on tr a g ra na da s). A g ue r-ra popular tev e de lanar m o de grande engenhosidade. Om ilitan te co mu nista T ran g D an g N in h (ex -tip 6g rafo ) o rg an i-zou um a eficaz rede de transporte pelas m ontanhas, a p ouem larg as colunas de bicicletas carreg adas com 200 q uilos,em pu rr ad as em trilh as a be rta s p elo s c am p on es es .O e ng en he iro T ran D ai N in h e u m o pe r rio d esfig ura dop or um a ex ploso , N go G ia K ham , foram encarreg ados de fa-b ric ar a rm as p ar a a g ue rrilh a. O rg an iza ra m a d esm on ta gem d o

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    Pxut .o FAGUNDFS VrSENTINr A REVOWO VIETNAMITA

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    a te li C a ro n d e H a ip ho ng , q ua nd o d o a ta qu e fr an c s, e o tra ns -portaram por centenas de qu il metros a p ou em lom bo dea nim ais , a t a s m o nt an h as . L , em p le na f lo re st a, e le s c on se g ui -r am c op ia r o s d ois nic os o bu se s d o V ie tM in h, e m e se s d ep oisd estru ra m u m ta nq ue (m as e ss a fa a nh a foi p re ce did a de v -r io s f ra ca ss os e a cid en te s). D e po is d es en vo lv eram m o rte ir osc om p le to s e c an h es s em r ec uo .E m f in s d e 1 94 8, o E x r cito fr an c s (in te gr ad o tam b mp el a L e gi o E s tr an g eir a - r ep le ta d e f as ci st as r ef ug ia do s d a E u -r op a, p or s old ad os c olo nia is ra be s, a fric an os e tr op as d e B aoD a i) e nc on tr a- se l ite ra lm e nt e a to la do . T r s q u ar to s d o r io V e r-m elh o s o p erm an en te me nte c on tro la do s p elo V ie t M inh . N od elta d o M e kon g, o s fra nc ese s s c on se gu em e ntra r n a zo na d eju nc os , r eu ni nd o g ra nd es c on ti ng e nt es , e a g u er ril ha a tu av a a tp r xim o dos sub rbios de S aig on . N o in cio de 1949, caemv rio s po sto s fra nc es es n o N orte e , e m o utub ro , a v it ria c o-m unis ta n a R ev olu o C h in esa e a in sta ura o d a R ep blic aP op ula r d a C h in a te rm in am o is olam en to d os re vo lu cio n rio svie tnamitas .O s f ra nc es es e va cu am a pre ss ad am e nte a f ro nte ira , c on -cen trando-se em H an i, onde a v ida recm -recom eara. N oi n cio d e 1 95 0, c om a n do s g u er ri lh e ir os i nf il tr am - se n a c id ad ee d es tro em a vi es , d ep s ito s d e m u ni e s e tr an sf or ma do re se l tric os . E m S aig on s uc ed em -s e g re ve s e stu da ntis . C em m ilpessoas partic ipam dos funerais de um estudan te m orto emm anifestao contra B ao D ai. E m 19 de m aro , um prote stoc on tra a v isita d o a lm ira nte n orte -a me ric ano R ad ford tra ns-f orm a- se em i ns ur re i o . D e ze na s d e n ib us e a ut om v e is f ra n-c es es s o q ue im ad os n o c en tro da c id ad e.Ho d e ci de p a ss a r p a ra a t er ce ir a e ta p a , r ea g ru p an d o su asf or as e c on clam an do a p op ula o a r ep ara r a s e str ad as d a z on am o nta nh os a d o N o rte , in te ns if ic ar a s ab ota gem n as p la nc ie s,p re pa ra r a c on tra -o fe ns iv a e c ria r u m e x rc ito c la nd es tin o u r-b an o. N o s eg u nd o s em e st re d e 1 95 0, o s f ra nc es es s of rem g ra v esd erro ta s n as m on ta nh as, a p io r d ela s n a b ata lh a de C ao B an g, e

    re cu am p ara o d elta . M u ito s e stu da nte s, e ntu sia sm a do s p ela sp os sib ilid ad es a be rta s p elo e sta be le cim e nto d e u m r eg im e s o-c ia lis ta em s ua f ro nte ir a e p ela s d err ota s fr an ce sa s, p en sam emu m a v it ria r pid a. M a s e sta vam e qu iv oc ad os .A REVOLUO CHINESA, O VlET-MINH E A DERROTAFRANCESA (1950-1954)

    O in c io d a d c ad a d e 1 95 0 m a r ca a lte ra o s ig nif ic ativ an o c on te xto in te rn ac io na l e r eg io na l, c om re pe rc us s o d ir etan a g ue rra . A fu nd a o da R ep b lic a P opu la r d a C h ina re pre -sen ta um g olpe para a poltica de W a sh ing ton na sia , pois op as e ra p e a- ch av e n a e stra t gia n or te -am eric an a. A s itu a oo brig a-o s a o e nv olv im en to d ire to c om a re gi o. C om o d ese n-c ad ea me nto d a G u erra d a Coria, o s E st ad os U n id os in te rv mm ilita rm e nte em a po io a os s ul-c or ea no s, s alv an do -o s e am ea -ando os norte-coreanos e a pr pria C hina, q ue in terv m emdefesa d es te s .A s ia O r ie nt al to rn a- se p on to n ev r lg ic o d a Gu e rr a F ria .O K u om in ta ng re fu gia -se n a ilh a d e F orm osa , so b p ro te o d aM a rin ha n orte -am er ic an a. N a C o nfe r nc ia d e L on dre s s ob re a

    ln do ch in a ( ab ril d e 1 95 0), o s E sta do s U nid os d ec id em e nv ia rm ais din he iro e a rm as a os fra nc ese s, a lm de m iss es m ilita -r es , p ar a a d es tr ui o d o m o vim e nto d e lib erta o. E m d ez em -b ro d e 1 95 0, E s ta do s U n id os , F ra n a e o s Es ta do s A s so ci ad osln do ch in es es a ss in am a co rd o d e d ef es a m tu a. N o m e sm o a no ,a U nio Sov itica , a R ep blica Popu lar da C hina e os dem aispa s es s oc ia lista s re con he ce m a R ep b lic a D em oc r tic a d oVietn.N o n ov o c on te xto , o s f ra nc es es e nv iam l nd oc h in a s eume l h or e s tr at eg i st a, o g en er a l L a tt re d e T a ss ig n y , q ue e s ta b el ec eu ma m ode rn a lin ha fo rtific ada (q ue le va s eu no me ) e m to rn od o d elta d o rio V erm elh o, iso la nd o a zo na p ro du to ra d e a rro zd o p la na lto c on tro la do p elo V ie t M i nh . N o p rim e iro s em e str ed e 1 95 1, f ra ca ss am tr s o fe ns iv as d e G i ap a o d elta . P ar is e W a -s h in g to n exu lt am .

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    PAULO IAGUND F,S VISENTINI A REVOLUO VIETNAMITA

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    M as, ao t ran s fo rma r as peq ue na s b as es e m grandes for-tificaes fix as e g rupos mveis, Lat tre n o supera o dil em aenunciado por G iap em sua an lis e da nov a situ ao :(o corpo expedic ion rio fra nc s) se encontra di an te de um aco nt radi o: sem dispersa r suas tropas , er a-lh e im possvel ocu-par os terr it rio s in vadi dos; ao dispers-Ias, ele s c ol ocavam asi prpr ios em dificulda de. Suas un idades d i v id idas torna vam -se presas fc eis pa ra nos sas tropas , sua s foras m v eis se en-contravam