8
Luís Patriani [email protected] 46 PRÓXIMA VIAGEM CHAPADADIAMANTINA POR LUÍS PATRIANI FOTOS DE VALDEMIR CUNHA Diamante lapidado Já se foi o tempo em que a Chapada Diamantina, na Bahia, era destino só de bichos-grilos e mochileiros. Além das belezas naturais, a região brilha agora com outra preciosidade: o conforto 47 PRÓXIMA VIAGEM SEM STRESS Que tal, depois de visitar o Poço Azul, uma massagem no Hotel Canto das Águas?

CHAPADADiamaNTiNa - lpatriani.files.wordpress.com de esgotar o ar dos pulmões ou gastar em demasia a sola das botas. ... comida de vanguarda (na foto, Cozinha Aberta). e duas do século

Embed Size (px)

Citation preview

Luís Patriani [email protected]

46 P R Ó X I M A v i a g e m

CHAPADADiamaNTiNa

P O R L u í s P A t R I A n I

F O T O s D e v A L D e M I R C u n H A

Diamante lapidadoJá se foi o tempo em que a Chapada Diamantina,

na Bahia, era destino só de bichos-grilos e mochileiros. além das belezas naturais, a região brilha

agora com outra preciosidade: o conforto

47P R Ó X I M A v i a g e m

SEM STRESS Que tal, depois

de visitar o Poço Azul, uma

massagem no Hotel Canto das Águas?

48 P R Ó X I M A v i a g e m

CHAPADADiamaNTiNa

Ninguém precisa ser atleta de triatlo. a caminho da cidade de Lencóis, pare o carro: bastam 20 minutos de caminhada para chegar ao alto do morro do Pai inácio. e ganhar esta vista de presente

49P R Ó X I M A v i a g e m

O Morro do Pai Inácio tem 1 150 metros. Mas a maior parte

da subida é feita de automóvel

Ninguém precisa ser atleta de triatlo. a caminho da cidade de Lencóis, pare o carro: bastam 20 minutos de caminhada para chegar ao alto do morro do Pai inácio. e ganhar esta vista de presente

Luís Patriani [email protected]

50 P R Ó X I M A v i a g e m

CHAPADADiamaNTiNa

os baianos vinham à Chapada. No máximo, alguns gringos e paulistas davam as caras por aqui. Verão de 2009. A Chapada Diamantina é, agora, o Shangri-lá dos mochileiros e amantes do

trekking. Mas um tipo diferente de viajante já aparece por estas bandas. Ele não está em busca de diamantes (apesar de ainda haver extração de pequenas pedras), nem de comunidades alternativas (algumas ainda resistem aqui), tampouco das fortes emoções de caminhar no mato por várias horas, às vezes dias (veja quadro).

Esses novos forasteiros descobriram outra vocação para a chapada baiana. Claro que eles também vêm atrás de natureza, mas — eis aí o grande diferencial — querem usufruí-la com conforto. Nada de esgotar o ar dos pulmões ou gastar em demasia a sola das botas. Assim como não lhes parece nada animador perder sete horas percorrendo os 430 quilômetros de estradas esburacadas entre Salvador e Lençóis, a principal cidade da região. É por causa deles que,

a partir de abril, um avião bimotor da Trip Linhas Aéreas de 68 lugares passará a percorrer o trecho, uma vez por semana, em apenas 50 minutos.

O Vale do Capão, no distrito de Palmeiras, é um ótimo exemplo das transformações chapadianas, com o perdão do pobre neologismo. É certo que a pacata vila de Caetê-açu ainda se parece com uma versão baiana da hippie São Tomé das Letras, em Minas Gerais. Vide o fim de tarde: entre uma música do Bob Marley e outra do Raul Seixas, o visual do Morro Branco e de seu paredão psicodélico, alaranjado pelos raios do sol rebatidos nas nuvens, enlouquecem a galera. Alguns temperam a “viagem” com um pedaço da pizza integral de banana, feita com esmero pelo suíço Thomas, ou com o legítimo pastel de jaca

verde de dona Dalva.Mas o que dizer dos viajantes (agora, no

sentido literal da palavra) que admiraram a imponência do Morrão (outra atração do Capão) sentados confortavelmente na varanda envidraçada do restaurante Casa das Fadas, e, ainda por cima, brindando a excepcional vista com um bom vinho do Porto? O Monte Tabor, como a montanha também é conhecida, parece um bolo de chocolate dentro de uma vitrine. Escalar, aqui, só se for da entrada para o prato principal.

Quem escalou muito — não paredes íngremes, mas diferentes estilos de vida — foi o soteropolitano Marcos Monteiro. Saído de Salvador para morar numa comunidade

a partir de abril, um avião comercial voará

de salvador a Lençóis. Já era tempo. Dispensará

as seis horas de penosa viagem pelas estradas esburacadas da Bahia

Mudança doS TEMpoSAs sandálias de couro cru ainda lembram os idos dos jagunços. Agora, são os tempos dorestaurante Cozinha Aberta, da Galeria Arte & Memória, da loja de decoração Mandalas Fotográficas e da piscina da pousada villa Lagoa das Cores.

IInício do século 19. Os naturalistas alemães Johann von Spix e Carl von Martius descobrem diamantes na região serrana do interior da Bahia. As autoridades brasileiras tentam esconder a informação, assim como haviam feito com o ouro. Mas, como formigas atrás do açucareiro, milhares de garimpeiros rumam com suas picaretas em direção às montanhas encravadas no meio do semiárido baiano. Não havia como contê-los.

31 de julho de 1992. A principal fonte de riqueza se esgotara há décadas na Chapada Diamantina, esvaziando cidades até então prósperas e opulentas. Alheios à história dos diamantes e à decadência da economia local, milhões de telespectadores assistem ao último capítulo da novela Pedra sobre Pedra. Lá estavam cenas externas gravadas em alguns dos lugares mais bonitos da Chapada.

A ficção de Aguinaldo Silva e uma reportagem do programa Globo Repórter foram um novo marco para estas primitivas escarpas e vales, forjados há 800 milhões de anos, quando o sertão ainda era mar. Assim como os garimpeiros do passado, muitos aventureiros voltaram seus olhos e seus pés para cá, contando anacrônicos hippies, consolidando a área de 38 mil quilômetros quadrados (equivalente a 7% do estado da Bahia) como um dos mais chamativos destinos de ecoturismo no Brasil. Antes da ajuda global, nem

51P R Ó X I M A v i a g e m

Luís Patriani [email protected]

52 P R Ó X I M A v i a g e m

CHAPADADiamaNTiNa

alternativa perto do Morrão, acabou montando há três anos a pousada de charme Villa Lagoa das Cores, a mais incrementada da Chapada. “Eu e a minha mulher notamos que muitos turistas queriam curtir o Capão, mas com comodidade. Mas por aqui só havia campings e pousadas muito simples.” Difícil é convencer os hóspedes a trocar a cômoda transpiração da sauna com vista panorâmica do vale pelo cansativo suor da trilha de duas horas que sobe até o topo da Cachoeira da Fumaça, a segunda maior do Brasil, com 340 metros de queda. Gosto, enfim, não se discute.

Para os hóspedes menos aventureiros, sair da piscina da Lagoa das Cores, só se for para fazer flutuação com máscara e snorkel no Poço Azul, no município de Andaraí. Ou, então, na Gruta da Pratinha, no distrito de Iraquara, onde está a maior concentração de cavernas do Nordeste (150 delas já foram catalogadas). Dá para seguir nadando até o fim da Pratinha, de lanterna em punho, acompanhado de perto por um guia num caiaque. A brincadeira pode durar horas. Antes mesmo do mergulho, o lago em frente à entrada da gruta já impressiona pela transparência da água, tão limpa que dá para enxergar os milhares de búzios que forram o leito. Dentro da água, o show fica por conta dos lambaris. Os cardumes nadam sincronizados em meio às plantas aquáticas e não dão a mínima importância para os mergulhadores. Já as tartarugas, também presentes na Pratinha, são menos exibidas. Seu balé submerso é mais reservado.

53P R Ó X I M A v i a g e m

Cachoeira é o que não falta por aqui. Na dúvida, escolha logo a mais bonita de todas: a do Buracão

RúSTIco E RoMânTIcoDepois de um belo mergulho na Cachoeira do Buracão, nada como um pouco de requinte para relaxar. nas imagens ao lado, a galeria Casa das Fadas, a suíte do Hotel de Lençóis e um detalhe do restaurante da Pousada villa Lagoa das Cores.

Luís Patriani [email protected]

54 P R Ó X I M A v i a g e m

CHAPADADiamaNTiNa

A loja do Amarildo dos Santos, em Igatu, já chama atenção pela placa da entrada. “O ponto. Entre aqui e compre alguma coisa...”. Quem se levar pelo slogan pode até não comprar nada, mas vai sair sabendo tudo sobre Igatu e a Xuxa: Explica-se: Amarildo escreve livros com todos os dados estatísticos sobre a vila, como números de nascimentos, óbitos, automóveis, telefones etc. Quanto à Rainha dos Baixinhos, ele tem todas os discos dela e fotos e mais fotos. Só falta é marcar um encontro com a loira, seu maior sonho.

O censo e a Xuxa

embora haja hotéis com o maior conforto, ainda

existem figuras como seu Binha, que gosta

de dormir numa toca e de procurar diamantes,

quase sempre sem êxito

duaS cHapadaSDuas imagens da Chapada do século 21: sauna com vista para os vales (ao lado, na Villa Lagoa das Cores) ou restaurante com comida de vanguarda (na foto, Cozinha Aberta). e duas do século 19: a toca onde vive o garimpeiro seu Binha e o Centro preservado de Lençóis.

Tanto o Poço Azul quanto a Gruta da Pratinha ficam dentro da Fazenda da Pratinha, conhecida por aqui como Oásis do Sertão, dada a beleza da paisagem. Nos tempos da jagunçagem, há 100 anos, a propriedade também foi uma área de trégua. Seu antigo dono, o major Simpliciano Lima, era referência de ponderação e tido como o grande conciliador entre os belicosos coronéis sertanejos do início do século 20. Certa vez convenceu o coronel Horácio de Matos — o mais aguerrido caudilho do sertão baiano — a soltar o filho do fazendeiro Doca Medrada — que o coronel mandara sequestrar. Nem o temido Lampião se meteu a besta com Simpliciano, que, claro, também tinhas seus jagunços.

A Gruta da Lapa Doce, também no distrito de Iraquara, mas fora dos limites da fazenda, teria sido um bom esconderijo para os inimigos do poderoso coronel. Seus salões são imensos: chegam a ter

50 metros de altura por 300 de largura. Já sua extensão alcança dezenas e dezenas de quilômetros de pura escuridão. Até agora, 24 foram mapeados — mas são muito mais.

A boa ventilação e o piso plano ajudam a credenciar a gruta entre as melhores do mundo para o turismo. Mesmo no breu, crianças e idosos, devidamente conduzidos por um guia munido de um lampião, não encontram problemas para percorrer os 850 metros de caverna abertos à visitação. Uma vez lá dentro, qualquer um se diverte com o formato dos espeleotemas, formados há milhares de anos pela água que se infiltra com paciência na rocha calcária. Seja no teto (estalactites), seja no chão (estalagmites), as figuras esculpidas pelo tempo brincam com nossa imaginação. Uma delas lembra um mexicano devorado por um crocodilo; outra, o personagem Pateta, de Walt Disney.

Mas não são apenas as cavernas da Chapada Diamantina que intrigam quem chegar até aqui. Rodar de carro pela BR-242 — que liga Salvador a Brasília — é como circular num cinema a céu aberto com 360 graus de tela. A partir de certa altura da estrada, seguindo em direção a Lençóis, a Serra do Sincorá expõe lado a lado algumas de suas principais montanhas. São impressionantes os contornos recortados desses imensos paredões rochosos de milhões de anos. Lá estão o Morro Pai Inácio, Morrão, Morro Branco, Morro do Castelo e o Morro do Camelo. Este último assemelha-se ao animal até nas proporções da corcova. Já o Morrão confirma seu status de maior bolo do mundo. Nesse caso, o Morro do Pai Inácio, por sua vez, não é para ser apenas admirado. Não é difícil subir seus 1150 metros.

Basta ir de carro até a torre de telecomunicação próxima ao cume e seguir o resto a pé. Serão apenas 20 minutos de trilha. Lá em cima, a sensação é a de estar passeando num jardim rupestre suspenso. É preciso parabenizar o jardineiro (seja ele quem for). Ele fez um trabalho primoroso.

Há vários caminhos a seguir. Todos eles devidamente pavimentados de pedra, não pelo trabalho do homem, mas pela ação do tempo e do vento. Em cada canto você verá bromélias, orquídeas, begônias e quaresmeiras. Como se não bastassem os arranjos florais, a vista lá do alto dá vontade de sair voando.

Com os pés firmes no chão, há muito que caminhar, ver e sentir em Lençóis, a antiga capital do diamante. Seu casario colonial do século 19, suas ladeiras de paralelepípedos, as histórias dos moradores mais velhos. Tudo nesta cidade de 10 mil habitantes remete ao passado. A não ser por alguns requintes contemporâneos. O conceito slow food, por exemplo. O movimento gastronômico nascido há duas décadas na Itália como resposta ao fast food, já aterrissou em Lençóis, no ótimo restaurante Cozinha Aberta, de cardápio multicultural. E, convenhamos, de slow food os baianos entendem.

Ninguém vem a Lençóis sem percorrer a Rua das Pedras. Ela deixou para trás o comércio de pedras preciosas (daí o nome) para se transformar

55P R Ó X I M A v i a g e m

Luís Patriani [email protected]

56 P R Ó X I M A v i a g e m

CHAPADADiamaNTiNa

e bom você saber: a alguns dos lugares mais bonitos da Chapada só se chega a pé ou de bike. esta ainda é uma das capitais da aventura no país

É possível conhecer a Chapada inteira de bicicleta. Mas prepare-se: são cinco dias pedalando

57P R Ó X I M A v i a g e m

Muitas atrações da Chapada Diamantina são fáceis de conhecer. Outras tantas exigem fôlego e disposição para alcançá-las, seja a pé, seja de bicicleta. O que para alguns significa um legítimo programa de índio, para outros é puro deleite. Selecionamos as principais trilhas da Chapada, considerada a meca do trekking no Brasil.

trilha Capão–AndaraíO caminho para o Vale do Pati é para muitos a trilha mais bonita do Brasil. Ela começa no povoado do Bomba, no sul do Vale do Capão, sobe a Serra do Candombá, segue pelos Gerais do Vieira (uma planície a 1 200 metros de altura) e termina do outro lado da Serra do Sincorá, na cidade de Andaraí. O percurso tem 70 quilômetros, dura cinco dias e os pernoites são em casas de moradores.

trilha Capão–GuinéÉ uma alternativa mais tranquila ao trekking Capão–Andaraí. Até os Gerais do Vieira, as trilhas são idênticas. Depois o caminho faz um desvio e segue entre paredões imensos até chegar ao povoado do Guiné. O percurso tem 16 quilômetros e dura oito horas (em média).

travessia norte–sul do parque nacionalEsta longa travessia percorre de norte a sul os 110 quilômetros de extensão do Parque Nacional da Chapada Diamantina. Ela começa no Morro do Pai Inácio, passa pelo Capão, Gerais do Vieira, Mucugê (com direito a descida do Rio Preto em canoas canadenses) e termina nas cachoeiras da Fumacinha e do Buracão. Duração de dez dias. Os pernoites são em barracas, casas de moradores e pousadas.

Cachoeira da Fumaça por baixoA Cachoeira da Fumaça é uma das grandes atrações da Chapada. Quem quiser conhecê-la por baixo, para ficar aos pés dos 340 metros de queda, há duas opções de trilha: a primeira vai pelo leito do Rio Capivara (25 km); a segunda cruza a Serra do Veneno e segue pelo mesmo rio (20 km). Duram três dias, com pernoite em barracas.

Bike no sul da ChapadaO percurso de cinco dias e 180 quilômetros é feito de bicicleta. Alguns trechos contam com carro de apoio. Os caminhos são: cidade de Ibicoara até a Cachoeira do Buracão; Mucugê a Palmeiras; e a desconhecida cidade de Rio das Contas (no extremo sul), até o Pico das Almas, o terceiro mais alto do Nordeste, com 1960 metros. Pernoite em pousadas.

Os roteiros descritos são operados pelas seguintes agências: Venturas & Aventuras, % (11) 3872-0362, www.venturas.com.br; CiaEco Turismo, % (11) 5571-2525, www.ciaeco.tur.br; Freeway, % (11) 5088-0999, www.freeway.tur.br; e Terra Chapada Expedições, % (75) 3334-1428, www.terrachapada.com.br.

Para quem não gosta de ficar parado

e bom você saber: a alguns dos lugares mais bonitos da Chapada só se chega a pé ou de bike. esta ainda é uma das capitais da aventura no país

MuITaS vIagEnSA Chapada Diamantina ocupa 7% do território baiano, ou 38 mil quilômetros quadrados. É impossível conhecê-la numa única viagem. Quem vem, fica mesmo é com vontade de voltar.

Gruta AzulPratinhaLapa

Doce

Pai Inácio

Morrão

Poço do Diabo

Areal Mosquito

Lençóis

Poço AzulAndataí

Igatu

MucugêPoço Encantado

Buracão

Ibicoara

Fumaça

Vale do Capão

PalmeirasBR 242

Aeroporto

Morro

Cidade

Cachoeira

Gruta

Brasília

Salvador

Limites do

parque

Luís Patriani [email protected]

58 P R Ó X I M A v i a g e m

CHAPADADiamaNTiNa

No fim do século 19, a extração do diamante

encheu a Chapada de riqueza. Hoje,

seu maior tesouro são as inesgotáveis

belezas naturais

no ponto mais agitado da cidade, com bares, restaurantes, lojinhas e gente do mundo inteiro. E o que pensar do Hotel Canto das Águas? A dúvida fica entre espiar as corredeiras do Rio Lençóis, antigo ponto de garimpo, deitar nas tendas de massagem ao lado da piscina ou entregar-se à hidromassagem com vista panorâmica da suíte superior. Eis a Chapada Diamantina do século 21.

O município de Ibicoara, no sul da Chapada, não tem passado glorioso nem uma boa infra voltada ao turismo. Mas abriga dentro de sua jurisdição a Cachoeira do Buracão, considerada a mais bonita da área. Ela nem é tão alta (são só 85 metros), mas se esconde dentro de um estranho buraco semicircular ao qual se chega cuzando um desfiladeiro de 60 metros de altura. Depois de conhecer uma cachoeira muito curiosa, que tal ser apresentado a um vilarejo com características para lá de especiais?

Seu nome é Igatu. Fica no meio das montanhas, suas casas são todas de pedra e há ruínas espalhadas por todos os lados. Quase abandonada na década de 70, chegou a ter mais de 4 mil habitantes no auge do ciclo do diamante, entre o final do século 19 e o começo do século 20. Naquela época, as pedras eram achadas no cascalho a poucos metros de profundidade. A cidade tinha então orquestra filarmônica, lojas com produtos importados e até cinema. Para ter uma idéia da riqueza dos moradores, saiba que a igreja foi erguida em 1854 com o dinheiro de um único garimpeiro, como pagamento de promessa. Boa parte dos tempos áureos de Igatu vem sendo resgatada pelo trabalho do artista plástico Marcos Zacariades. À frente do centro cultural da vila, ele fez um inventário patrimonial, colhendo fotos, objetos de uso cotidiano, partituras e instrumentos usados no garimpo. Uma fração do acervo está exposta entre algumas ruínas na Galeria Arte & Memória. A montagem feita por Marcos impressiona pelo cuidado

extremo. No momento, 371 moradores vivem em Igatu. Um dos mais folclóricos é “seu Binha”, 73 anos. Sua vida confunde-se com a história do vilarejo. Ele morou até os 9 anos numa toca junto com a família, no garimpo do Come Gente. Depois se mudou para uma casa, mas nunca deixou de garimpar, mesmo após o declínio na extração. E não é que o seu Binha arrumou outra toca? Vez ou outra ele passa a noite dentro dela para não ter de enfrentar a chuva depois de horas atrás do cristal — que, agora, insiste em não aparecer. Seu Binha já não procura com a convicção de antes. Mas não consegue parar com o velho hábito que está tão enraizado em seu cotidiano quanto os diamantes incrustados na terra da Chapada Diamantina há 200 anos. Para ele, a Chapada ainda está longe de chegar ao século 21.

uM dIa pERFEIToPara começar, um delicioso café-da-manhã na Pousada do Alcino. Depois, um mergulho na Gruta da Pratinha. À noite, uma volta pela animada Rua das Pedras, em Lençóis.

59P R Ó X I M A v i a g e m

Luís Patriani [email protected]

60 P R Ó X I M A v i a g e m

CHAPADADiamaNTiNa

AGenDADevIAGeM ➔Para ligar, disque antes 75

F I C A R

Os preços das diárias

correspondem ao período de alta

temporada. Na baixa estação, eles

sofrem, em média, um desconto

de 15 por cento.

LENçóIS

■ Canto das Águas

Av. Senhor dos Passos, 1,

% 3334-1154, www.lencois.com.br

O melhor hotel de Lençóis fica

às margens do rio homônimo.

Os quartos vêm equipados com

TV, ar-condicionado e o barulho

das corredeiras, onde antes eram

lavados os diamantes. Destaque

para a suíte superior, com cama

super-king, TV LCD, banheira

de hidromassagem e diária de

R$ 860. Os quartos standard

custam a partir de R$ 207.

■ Alcino estalagem Atelier

Rua Tomba Surrão, 139, % 3334-

1171, www.alcinoestalagem.com

A pousada se equivale as outras

recomendadas em Lençóis. Mas

seu café-da-manhã é inigualável.

O desjejum, inclusive, é servido

Quarto da Pousada dos 4 Cantos, situada bem no centro da cidade

para pessoas de fora por R$ 25.

O banquete matinal é composto

por frutas, pães, tortas, bolos,

geléias, tapiocas, manteiga

com folhas de manjericão

e por aí vai. Alcino, o proprietário,

também vende porcelanas

pintadas por ele mesmo.

Diárias a partir de R$ 90.

■ vila serrano

Rua Alto do Bonfim, 08, % 3334-

1486, www.vilaserrano.com.br

A fachada de parte dos 11

apartamentos é réplica das casas

coloniais de Lençóis, assim como

a entrada do spa, onde são feitas

massagens e banhos de aroma

(R$ 60). Diárias a partir de R$ 180.

■ Hotel de Lençóis

Rua Altina Alves, 747, % 3334-

1102, www.hoteldelencois.com

O hotel fica numa área de

50 mil metros quadrados

onde existia uma antiga fazenda

de gado. Do passado, restaram

uma roda d’água e um museu

com objetos do século 19.

Hoje oferece um ótimo

restaurante e quartos confortáveis.

O melhor de todos é o

“Terraço Romântico”, com cama

king-size e vista da cidade.

Diárias a partir de R$ 250.

VALE DO CAPãO

■ villa Lagoa das Cores

Rua da Lagoa, % 3344-1114, www.

pousadalagoadascores.com.br

É a mais sofisticada da

Chapada. Alguns hóspedes

nem saem da pousada,

de tão mal-acostumados

com mimos como ofurô,

sauna com vista para o

Morro Branco, chá servido no

quarto à noite e sabonetes e

travesseiros de ervas aromáticas

feitos no ateliê da pousada,

além de um excelente restaurante.

Diária a partir de R$ 161.

IGATu

Pousada Pedras de Igatu

Rua São Sebastião, s/nº,

% 3335-2281

A melhor pousada de Igatu. Tem

sauna, piscina natural e uma

varanda (onde são servidas as

refeições) com vista para o vale.

Os quartos são simples, mas

confortáveis. Diárias a R$ 90.

interessados es A B O R e A R

LENçóIS

■ Cozinha Aberta

Av. Rui Barbosa, 42, % 3334-1321,

A paulista Débora trouxe

o conceito slow food (que

prega uma alimentação

mais consciente) para a

Chapada. Entenda o que é isso

experimentando uma carne-de-

sol com purê de banana-da-terra,

farofa de castanha-do-pará

e quiabo (R$ 23).

Travesseiros de ervas aromáticas, ofurô, camas king-size: eis o que oferecem as novas pousadas da Chapada

CHAPADA

Tão famoso como o Morro do Pai Inácio, o Poço Encantado (foto) sempre foi um dos grandes atrativos da Chapada Diamantina. Sobretudo no inverno, quando um feixe de luz solar penetra por uma fresta na gruta e invade o lago de 55 metros de profundidade, dando às águas um incrível tonalidade azul. Se você já está babando de vontade para conhecê-la, saiba que a caverna está há 15 meses lacrada pelo Ibama. A interdição aconteceu porque o proprietário do sítio onde ela se encontra fez degraus de tijolo e cimento em seu interior. A explicação dele foi de que a escada — nada ecológica — evitaria acidentes entre os turistas. O órgão ambiental promete enviar em fevereiro um arquiteto para sugerir correções e liberar o lugar o mais rápido possível.

As acomodações da vila serrano fazem você se sentir no tempo dos diamantes

VIC

TOR

AN

DRA

DE encanto lacrado

61P R Ó X I M A v i a g e m

C O M O v I A J A M O s

“O fotógrafo Valdemir Cunha e eu viajamos com o apoio da Venturas & Aventuras, uma das

agências especializadas na Chapada Diamantina. Sempre leve um guia para fazer os passeios.

As trilhas são belas, mas podem ser traiçoeiras para quem não as conhece.”

Luís Patriani

na melhor pousada da Chapada, um restaurante à sua altura: o Arômata d’LagoaCOMO CHeGARDe carro, a partir de

Salvador, siga pela BR-342 até Feira de Santana e depois

pela BR-242 até Lençóis. De ônibus, a Viação Real Expresso faz a linha entre Salvador e Lençóis. A partir de abril, um avião da Trip fará vôos semanais entre Salvador e Lençóis.

MeLHOR ÉPOCANo verão, de dezembro a março, chove mais e as cachoeiras ficam mais cheias. Entre março e outubro, além de chover menos, é o período em que os raios do sol incidem nos poços Azul e Encantado.

PACOtesA Venturas & Aventuras, % (11) 3872-0362, www.venturas.com.br, tem vários pacotes para a Chapada. O roteiro de oito dias visita o Morro do Pai Inácio, Poço do Diabo, Gruta Azul, Pratinha e Lapa Doce (R$ 1 030, com aéreo saindo de Salvador). O pacote de oito dias da Americanas.com Viagens, % (11) 4003-4313, www.viagens.americanas.com.br, abrange um tour por Lençóis, Rio Serrano e Cachoeira da Primavera. Custa R$ 2 720, com aéreo a partir de São Paulo e ônibus até Lençóis.

InFORMAÇÕes tuRístICAsApoio ao visitante: % (75) 3334-1378.

Guia Prático

■ neco’s Bar e Restaurante

Pça. Maestro Clarindo Pacheco, 15,

% 3334-1179

A melhor comida caseira da

Chapada. Seu Neco e sua esposa

capricham tanto na hora de fazer

o godó de banana (refogado de

banana verde e carne-de-sol) e o

cortado de palma (um tipo de cacto),

que é preciso fazer reserva. R$ 15.

■ Roda d’Água Gourmet

Rua Altina Alves, 747, % 3334-1102

O restaurante do hotel de Lençóis

é eclético em seus pratos. O menu

vai desde a carne-de-sol com

purê de aipim (R$ 30) até o filé ao

molho de mostarda dijon (R$ 30)

e o frango thai (R$ 24).

VALE DO CAPãO

■ Arômata d’Lagoa

Rua da Lagoa, % 3344-1114, www.

pousadalagoadascores.com.br

A melhor pousada

da Chapada (Villa Lagoa das

Cores) tem um restaurante

à sua altura.

A cozinha contemporânea

à base de ervas e especiarias

é facilmente percebida em

pratos como salmão ao molho

de ervas (R$ 40) e filé picante

com pimentas pretas (R$ 35).

■ Casa das Fadas

Estrada Palmeiras–Capão, km 12,

% 3344-1166

Em pleno Vale do Capão está

um dos melhores restaurantes

da Chapada.

Se não bastassem os pratos da

culinária italiana, como scaloppine

ao creme de funghi com tagliatelle

(R$ 38), o lugar tem uma excelente

vista do Morrão.

C O M P R A R

LENçóIS

■ Mandalas Fotográficas

Rua 7 de Setembro, s/nº

O casal Ana e Wellington escolhe

um ponto específico de uma foto

da Chapada, amplia centenas de

vezes e cola o papel fotográfico

sobre uma superfície redonda

de madeira. O resultado são

mandalas de várias formas, cores

e preços (entre R$ 24 e R$ 295).

A loja também vende sandálias

indianas (R$ 120).

VALE DO CAPãO

■ Galeria da Casa das Fadas

Estrada Palmeiras–Capão, km 12,

% 3344-1166

Em um anexo do restaurante Casa

das Fadas funciona esta pequena

galeria com obras de artistas

plásticos locais. As peças vão

desde uma virgem de madeira

(R$ 38) até um trabalho em

argila cozida com massa

acrílica (R$ 450).

IGATu

■ Galeria Arte & Memória

Rua Luís dos Santos, s/s,

% 3335-2510

O artista plástico baiano

Marcos Zacariades montou

um museu entre as ruínas

das casas dos antigos

mineradores de Igatu, reunindo

objetos do rico passado do

vilarejo, além de obras suas

e de artistas baianos.

Luís Patriani [email protected]