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Santos, Fabrin & Bizzotto Advogados Associados EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SANTA MARIA – RS Processo n°: _________ ELISSANDRO CALLEGARO SPOHR, qualificado nos autos do processo em epígrafe, vem mui respeitosamente, por seus procuradores (instrumento de procuração em anexo), perante Vossa Excelência, nos autos da ação penal que lhe move o Ministério Público, apresentar RESPOSTA À ACUSAÇÃO, nos termos do art. 396, caput, do CPP, pelas razões que seguem: I – QUESTÕES PREJUDICIAIS Através da Denúncia o Ministério Público inicia a ação penal e delimita a pretensão punitiva, sendo certo que a lei subordine a validade formal da Denúncia ao cumprimento de certos requisitos. A Denúncia deve qualificar de forma suficiente o acusado e narrar de forma detalhada a conduta Rua General Gomes Carneiro, 436, sala 21 – Bairro Centro – Bento Gonçalves – RS www.santosadv.com.br – (54) 2621-5457

Peça 03 - Resposta à Acusação

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Resposta a acusação

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Santos, Fabrin & Bizzotto Advogados Associados

EXCELENTSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1 VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SANTA MARIA RS

Processo n: _________

ELISSANDRO CALLEGARO SPOHR, j qualificado nos autos do processo em epgrafe, vem mui respeitosamente, por seus procuradores (instrumento de procurao em anexo), perante Vossa Excelncia, nos autos da ao penal que lhe move o Ministrio Pblico, apresentar RESPOSTA ACUSAO, nos termos do art. 396, caput, do CPP, pelas razes que seguem:

I QUESTES PREJUDICIAIS

Atravs da Denncia o Ministrio Pblico inicia a ao penal e delimita a pretenso punitiva, sendo certo que a lei subordine a validade formal da Denncia ao cumprimento de certos requisitos. A Denncia deve qualificar de forma suficiente o acusado e narrar de forma detalhada a conduta imputada, pois uma acusao genrica, no s dificulta o trabalho da defesa, como tambm prejudica a tarefa do Magistrado de aplicar a Lei Penal. Para evitar esta prtica, o artigo 41 do Cdigo de Processo Penal, possui como requisitos essenciais da Denncia, a exposio do fato criminoso com todas as suas circunstncias, o que no ocorreu no caso em tela, pois da narrativa dos fatos no decorre logicamente a concluso condenatria. Pelo Exposto, imperioso que seja declarada Inepta a Denncia, rejeitando-a, com fulcro no artigo 395, inciso I, do Cdigo de Processo Penal.Ademais, as provas contra o acusado constantes do inqurito, no so suficientes para ensejar a persecuo penal.Nesta seara, oportuno lembrar as palavras do Ministro Romero Neto ao se referir ao processo penal:O processo criminal o que h de mais srio no mundo. Quero dizer: tudo nele deve ser claro como a luz, certo como a evidncia, positivo como qualquer grandeza algbrica; nada de suposto, nada de anfibiolgico, nada de amplivel acusao positivamente segura: banida a analogia, proscrito o paralelismo assente o processo exclusivamente sobre a preciso morfolgica legal, e esta outra preciso mais salutar ainda: a verdade sempre desativada de dvidas. (sic carrara apud" O Direito Penal Militar nos casos concretos - Min. Romero Neto).

Evidente que no se pode olvidar o carter instrumental do processo criminal que no um fim em si mesmo, mas sim o meio que o Estado tem para reprimir a delinquncia, razo pela qual deve ser utilizado pelo julgador com discernimento e parcimnia, atentando sempre para o requisito da necessidade e adequao das medidas cautelares.

II BREVE RELATO DOS FATOS E MRITO

No dia 27 de janeiro de 2013, por volta das 03h15min, na Rua dos Andradas, n 1.925, Bairro Centro, em Santa Maria, nas dependncias da boate Kiss, houve um incndio com a consequente morte de mais de 241 pessoas e mais de 600 pessoas feridas.O incndio teve sua origem com o acionamento de fogo de artifcio, denominado Sputnik e Chuva de Prata 6, por um dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, contratada para animar a festa de universitrios denominada Agromerados. Quando o fogo entrou em contato com a camada de espuma acstica que revestia a boate, a mesma incendiou, liberando gs txico que matou vrias vtimas por asfixia, sendo que outras morreram carbonizadas, e os feridos tiveram complicaes respiratrias e/ou queimaduras pelo corpo.Recaem sobre o denunciado, na qualidade de scio da boate Kiss, as acusaes de homicdio qualificado incurso 241 vezes nas sanes do art. 121, 2, incs. I e III, e tentativa de homicdio qualificado, no mnimo 636 vezes (n de sobreviventes identificados) incurso nas sanes do art. 121, 2, incs. I e III, na forma dos arts. 14, inc. II, 29, caput, e 70, primeira parte, todos do Cdigo Penal. O Ministrio Pblico em sua denncia, formulou a seguinte afirmao: (...) deram incio ao ato de matar as vtimas relacionadas no ANEXO I (nos 242 a 877, no mnimo), o que no se consumou por circunstncias alheias aos atos voluntrios que praticaram, pois as vtimas sobreviventes conseguiram sair ou foram retiradas com vida da boate, sendo submetidas, outras tantas, a tratamento mdico eficaz.

Da anlise superficial dos fatos ocorridos em confronto com esta concluso do MP, percebe-se facilmente uma discrepncia absurda, pois o fato de o acusado ter contratado uma banda que faz uso de fogos de artifcio no configura fato delituoso, tampouco o uso de fogos de artifcios em si, sendo que o desenrolar dos fatos que contriburam para a tragdia supramencionada, foram alheios vontade de todos os agentes envolvidos, pois ausente um dos elementos essenciais para uma acusao e eventual condenao to sria, qual seja a vontade do agente.Ainda, dizer que o fato de vtimas que conseguiram fugir, foi um fato alheio vontade dos acusados, beira a insanidade, em momento algum ficou sequer demonstrada a inteno de matar, bem como o dolo no estava presente.A inadequao de fogo de artifcio para uso em ambiente externo dentro da boate, no responsabilidade do contratante, j que, conforme a prpria denncia do Ministrio Pblico, foi necessria percia para atestar tal desconformidade, fugindo obrigao de um homem mdio que no trabalha com este artefato possuir tal conhecimento tcnico. Por este motivo clara a responsabilidade dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira pela imprudncia ao fazer uso de fogo inadequado, por ser mais barato.Quanto ao revestimento parcial das paredes e teto com espuma supostamente inadequada, este foi fruto de um Termo de Ajustamento de Conduta imposto pelo Ministrio Pblico em 2009; o TAC no descreveu qual o material apropriado a ser utilizado nesse caso, e em seguida instalao a boate foi liberada para operar normalmente pelo Promotor Responsvel sem fazer uma fiscalizao ou inspeo tcnica, o mnimo que se espera por parte deste rgo, pois se o mesmo imps o isolamento acstico, deveria ter pleno domnio da situao, acerca do que exigido e se o mesmo estava sendo cumprido ou no. Sobre as condies de segurana e evacuao do estabelecimento, notria a responsabilidade do poder pblico pela obrigao de fiscalizar a regularidade de todos os estabelecimentos instalados em sua circunscrio; o poder pblico que tem engenheiros tcnicos com notrio conhecimento da legislao municipal que regula os mais diversos tipos de edificaes de acordo com o seu uso e que tem a incumbncia de fiscalizar o cumprimento destas normas de segurana.A ordem aos funcionrios para que no deixassem os frequentadores da boate sarem sem pagar a conta a conduta mais lgica e natural por parte de um proprietrio de estabelecimento, estando em consonncia com o poder diretivo de qualquer empregador, afinal no se trata de uma instituio de caridade; no entanto, o bvio que esta seja dada antes do incio do evento, no durante nem no final do mesmo, sob pena de tornar-se ineficaz; ademais, tal ordem de cumprimento obrigatrio para os funcionrio em relao ao patro em situao normais, no cabvel distorcer o contedo da recomendao, imputando-a ao acusado como uma prtica dolosa e relativa tragdia ocorrida, pois a prpria denncia fala que a ordem foi prvia, e no estava impregnada de contedo insidioso similar interpretao dada pelo Ministrio Pblico, que insinua o seguinte: se a boate incendiar no deixem ningum sair sem pagar a conta, mesmo que morram.O treinamento obrigatrio para situaes de emergncia que os funcionrios da boate no possuam, pouco adiantaria na ocasio em que o fogo alastrou-se em uma velocidade recorde e na qual a fumaa era altamente txica, no poderiam fazer nada em tal circunstncia, ao menos que o treinamento fosse de bombeiro.Como descrito na denncia a festa era dos universitrios que trataram que mesma realizar-se-ia no estabelecimento do qual o acusado scio, ocorre que cabia aos universitrios fazer uma estimativa prvia do nmero de pessoas que compareceria ao evento para assim, realiza-lo em um estabelecimento com espao adequado.A acusao do denunciado pelas qualificadoras de meio cruel e motivo torpe, no merecem prosperar, pois o mesmo no teve participao direta no ato de incendiar a boate, perdendo-se a relao causa-efeito que o Ministrio pblico fez em relao espuma e fogo; quanto acusao de economia (...) com a utilizao de espuma inadequada como revestimento acstico e no investirem em segurana contra fogo..., conforme j relatado a primeira de responsabilidade do Ministrio Pblico com lastro no TAC cumprido pelo estabelecimento, e em relao segunda, responsvel o poder pblico que no fez seu trabalho de fiscalizao para o funcionamento do estabelecimento de forma adequada; ambas as situaes demandam conhecimento tcnico no exigvel do acusado. Por todo o exposto, nota-se a incontestvel ausncia de dolo (inteno/vontade de matar) e a consequente inocncia do denunciado em relao s acusaes de homicdio doloso duplamente qualificado consumado e tentado, pelo que deve ser sumariamente absolvido. Esta medida se impe face ausncia de um dos pressupostos essenciais para a pronncia, qual seja o nexo de causalidade entre as aes praticadas pelo acusado e os resultados produzidos (autoria).

III DOS PEDIDOS

Diante do exposto requer: a) Recebimento desta RESPOSTA ACUSAO;b) Rejeio da denncia quanto ao acusado ELISSANDRO CALLEGARO SPHOR em sede de retratao;c) Caso no seja este o entendimento de Vossa Excelncia pela rejeio da denncia, que seja o ru absolvido sumariamente pelo fundamento da negativa de autoria.d) Protesta pela produo de todos os meios de prova em direito admitidas;

Nestes termos,Pede e espera deferimento.

Santa Maria, 05 de abril de 2013.

Adriane Bizzotto RodriguesCristiane Maria FabrinSandro A. L. dos SantosAdvogada OAB/RS 15.890 Advogada OAB/RS 18.878 Advogado OAB/RS 19.580

Rol de at oito Testemunhas (nome, endereo completo, telefone)

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