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FACULDADE ALFREDO NASSER INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA PEDAGOGIA DESEJANTE: UMA VISÃO EROTIZADA DE EDUCAÇÃO Lorena Kelly Rosena de Melo APARECIDA DE GOIÂNIA 2010

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FACULDADE ALFREDO NASSER INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA

PEDAGOGIA DESEJANTE: UMA VISÃO EROTIZADA DE

EDUCAÇÃO

Lorena Kelly Rosena de Melo

APARECIDA DE GOIÂNIA 2010

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LORENA KELLY ROSENA DE MELO

PEDAGOGIA DESEJANTE: UMA VISÃO EROTIZADA DE

EDUCAÇÃO

Trabalho de Conclusão do Curso de Pedagogia, apresentado ao Instituto Superior de Educação da Faculdade Alfredo Nasser, sob orientação do Prof. Dr. Paulo Petronilio, como parte dos requisitos para a conclusão do curso de Pedagogia.

APARECIDA DE GOIÂNIA 2010

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

PEDAGOGIA DESEJANTE: UMA VISÃO EROTIZADA DE

EDUCAÇÃO

Aparecida de Goiânia, ____ de dezembro de 2010.

EXAMINADORES

Orientador – Prof. Dr. Paulo Petronílio – Nota: ______ / 70

Primeiro examinador – __________________________ – Nota: ______ / 70

Segundo examinador – __________________________ – Nota: ______ / 70

Média parcial – Avaliação da produção do trabalho: ______ / 70

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PEDAGOGIA DESEJANTE: UMA VISÃO EROTIZADA DE

EDUCAÇÃO

Lorena Kelly Rosena de Melo1

RESUMO: Propõe fazer uma abordagem epistemológica acerca da sexualidade na escola, tendo como reflexão as narrativas de alunos e suas vivências. Dessa maneira, uma Pedagogia desejante, cartografando e contornando por sua vez, uma visão erótica de educação. Se sabe pouco ou quase nada sobre o que a pedagogia tem enfrentado de forma complexa as questões relacionadas a gênero e sexualidade. Sabe-se que a sexualidade sempre foi um grande problema nas escolas, enfrentado a falta de preparo dos professores como pelos tabus da própria igreja que dificulta os diálogos abertos relacionados a essa problemática. A discussão envolve estudo de casos e problemas que a própria condição humana enfrenta no cotidiano e, ao mesmo tempo, estabelecem-se aproximações com as teorias filosóficas. Desse modo, tenta-se discutir a natureza filosófica da Pedagogia desejante tendo como horizonte filosófico a noção de Desejo abordada pelos pensadores contemporâneos Michel Foucault, Gilles Deleuze e Félix Guattari. Palavras-chave: Sexualidade. Pedagogia. Narrativas. Desejo. Erotismo.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como tema central a Educação Sexual, com intuito

de apresentar como está sendo abordada a sexualidade dentro das escolas, como a

sexualidade está presente na vida de todos os seres humanos, desde a infância até

a fase adulta. Mostra também a importância de trabalhar o sexual para evitar

preconceitos que surgem a cada dia, como problemas psicológicos que podem

surgir na vida adulta, decorrentes de traumas da infância.

A educação sexual pode contribuir com as crianças em seu desenvolvimento

psíquico e no conhecimento de seu corpo, pois trabalha tanto a forma corporal da

criança, quanto suas atitudes e conceitos de sexualidade.

Há necessidade de conhecer nosso corpo e o corpo das outras pessoas, por

isso é importante esse conhecimento sexual por parte das crianças.

1 Aluna do 8º período de Pedagogia da Faculdade Alfredo Nasser.

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Os adolescentes e jovens também necessitam desses conhecimentos, pois

estão se descobrindo e iniciando uma vida sexual ativa, por isso deve ter

informações necessárias para que possam evitar doenças e gravidez indesejadas e

até constrangimentos que causam traumas psicológicos.

Nesse artigo são analisados e conceituados autores como Foucault e

Bauman que trazem a sexualidade no contexto histórico. Através de um passeio,

desde o século XVI ao século XIX, verifica-se que até hoje a sexualidade é vista

como no passado, em alguns contextos. A discussão será feita através da apostila

Gênero e Diversidade na Escola, abrangendo o conceito da palavra sexualidade e

os direitos de cada indivíduo sobre suas escolhas sexuais. Considerando as

definições de Freud nas fases da criança, citadas também por Kupfer.

Deleuze e Guattari motram as pessoas como algo que se deseja, ou seja, o

corpo que é visto como uma máquina movida pelos desejos. Além desses autores,

recorreu-se à pesquisa com adolescentes e jovens de 17 a 21 anos de idade, que

apresentam seus conhecimentos e relatam experiências de suas vidas. Nesses

relatos, os pesquisados terão suas identidades preservadas e serão utilizados

pseudônimos.

A pesquisa foi realizada em forma de perguntas que eles respondiam

manuscritas conforme anexo, os pesquisadores expressaram seus conhecimentos e

pensamentos de forma anônima, para que tivessem liberdade ao expressar seus

pensamentos e relatos.

Desse modo coloca-se em discussão a sexualidade dos discentes que

necessitam de formação sexual, mas que são negadas pelos pais, professores,

escolas, sociedade e religiões. Observa-se que os jovens estão cada vez mais

influenciados pelos adultos que ditam as regras do que é certo e do que é errado,

todos têm direito de escolher sua opção sexual, mas na maioria da vezes essa

escolha é cruel e causa profundas dores.

A INCITAÇÃO DOS DISCURSOS

Foucault relata que no século XVII houve o início da repressão, ocorrido pela

sociedade burguesa, pois dominar o sexo foi uma censura. Nesse período o sexo

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podia ser chamado, mas não podia ser dito de forma que o nível de sua linguagem

foi reduzido e ele passou a ser controlado. Extinguiram-se vários modos de serem

pronunciados, além disso, ocorreram proibições que levou a sociedade a se reprimir,

e com isso a sociedade se calou. Nesse momento foram criadas as regras de

decência, onde o vocabulário tinha que ser autorizado ou até codificado. Em

algumas situações, com intuito de não parecer indecente, como não era possível

falar de sexo, as pessoas começaram a ficarem em silencio absoluto. Os pais já não

falavam mais com seus filhos, educadores não falavam com os educandos, entre

outros. Havia na sociedade discursos ilícitos sobre sexo ou eram modificadas as

palavras para que se tornassem mais descentes. Ao falar desse assunto, cada vez

mais a sociedade pregava o sexo como algo indecente e que só deveria ser feito

caso as pessoas fossem casadas na igreja, senão eram vistas como pervertidas na

sociedade.

Em contra partida, o sexo no século XVIII foi visto de forma inversa. Como era

proibido no século passado por sua indecência, nesse período foi criado uma

valorização e sendo cada vez mais descritivo, trazendo os relatos sobre o ato sexual

com detalhes íntimos e também o pensamento daquele momento.

Com a evolução da pastoral católica e do sacramento de confissão, a igreja

levou aos países católicos, a confissão como parte indispensável no dia-a-dia ou até

obrigatória para alguns indivíduos. Uma vez ao ano se confessavam, esse momento

de relato deverias ser completo, ou seja, que fossem ricos em detalhes,

especificando cada momento do ato sexual como a posição, pensamentos, gestos,

atitudes, toques, parceiros e o exato momento do prazer. Foram esses relatos que

trouxeram para a pastoral, a carne, como a origem dos pecados, pois causa a

satisfação do desejo, que atinge todos os homens.

Para Foucault (1988, p. 31):

Uma das grandes novidades nas técnicas de poder, no século XVIII, foi o surgimento da “população”, como problema econômico e político: população-riqueza, população mão-de-obra ou capacidade de trabalho, população em equilíbrio entre seu crescimento próprio e as fontes de que dispõe. Os governos percebem que não têm que lidar simplesmente com sujeitos, nem mesmo com um “povo”, porém com uma “população”, com seus fenômenos específicos e suas variáveis próprias: natalidade, morbidade, esperança de vida, fecundidade, estado de saúde, incidência das doenças, forma de alimento e de habitat.

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Em meados do século XVIII nasce uma visão política, técnica e econômica do

sexo, pois é nesse momento que o sexo começa a ser utilizado em pesquisas. Nos

estudos e até em análises de contabilidade, ele é visto politicamente como uma

novidade em técnicas de poder, pois através dele pode haver o surgimento da

população e o controle de natalidade da população. Nesse período surgem também

as discussões médicas, pedagógicas e outras a respeito do sexo. Passam então a

ter diálogos mais abertos, trazendo novidades, desenvolvimento de pensamentos e

são retirados dos sexos, o pensamento de proibição como era visto no século

passado. Mesmo com essa realidade, percebe-se que até os dias de hoje esse

modelo de “pecado” ainda não foi extinguindo totalmente da sociedade, pois por

mais que haja discussões, alguns indivíduos continuam com pensamentos

ultrapassados de sexualidade e desejo.

SOBRE A REDISTRIBUIÇÃO PÓS-MODERNA DO SEXO: A HISTÓRIA DA SEXUALIDADE

Segundo Bauman (1998) a Europa ocidental passou por várias mudanças,

que também ocorreram em vários outros países. Entre os séculos XVI e XVIII, sua

primeira mudança foi conseguir separar a vida pessoal com os estágios da

maturidade. Em segundo vem a divisão espacial e a supervisão de pessoas

especializadas para aqueles que são frágeis ou necessita de cuidados especiais e

por último, ter as famílias como o principal supervisor do amadurecimento desses

indivíduos, ou seja, as pessoas desde sua idade inicial eram vigiadas e ensinadas a

terem um comportamento adequado aos interesses adultos e políticos, as crianças

não brincavam e nem podiam expressar seus conhecimentos ou idéias.

Até o século XVI as crianças eram vistas como “adultos em miniaturas”,

sendo diferentes dos adultos apenas por seus ossos e músculos serem menores e

seus cérebros menos amadurecidos. Além disso, as crianças não tinham jogos e

nem brincadeiras diferentes de seus pais, elas dormiam no mesmo quarto e não

havia segredos entre os adultos e crianças, eles conversavam sem preocupar com

as palavras diante dos pequenos cidadãos. As crianças usavam roupas do mesmo

modelo dos adultos, as roupas eram largas e grandes, muitas vezes as roupas que

os pais ou irmãos mais velhos abandonavam, passavam a ser usadas pelos “adultos

em miniaturas”.

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No início do século XVII essa realidade passou a ser discutida e alterada

pelos adultos, começou das classes altas passando gradualmente para as classes

médias e baixas. As crianças passaram a ter seus próprios espaços, suas roupas

eram criadas especialmente para elas, as atividades eram diferenciadas de acordo

com a idade. Os ambientes das casas passaram a ser divididos, e em alguns

lugares era extremamente proibida a entrada de crianças, até certa idade. Nesse

período os menores eram vistos como indivíduos frágeis que necessitavam de

cuidados especiais, deveriam ser supervisionados por adultos a todo tempo, pois

eles poderiam se perder ou se tornar adultos precocemente. Os ambientes eram

projetados sob medidas, de acordo com a idade ou o tamanho das crianças.

No começo do século XIX as crianças eram o todo tempo supervisionadas por

adultos. Nas fábricas eram contratados capatazes para vigiar todo tempo seus

desvios de condutas e também educá-los, para que os menores não tivessem tempo

para as travessuras. Nessa época foram criadas as escolas paroquiais que

funcionavam durante o domingo, esse período era usado para passar informações e

instruir as crianças com outros conhecimentos. A igreja achava necessário para a

formação dos “pequenos”, para que em sua vida adulta pudessem permanecer e

tivessem os conceitos de acordo com a igreja.

Depois do século XVIII as famílias nobres passaram a contratar professores

particulares para seus filhos, e também foram criados academias e colégios internos

para essa burguesia. Devido à falta de contato com os pais, empobreceu o convívio

e o diálogo entre a família, nas classes baixas isso também ocorreu porque os pais

tinham que trabalhar o dia todo para tentar sustentar ou dar um lar para seus filhos.

Segundo Bauman (1998, p. 180-181)

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Os discursos médicos e educacional do século XIX também construíram, entre outras noções, o fenômeno da sexualidade infantil, a ser convertido mais tarde, ex post facto, na pedra angular da psicanálise. O papel central, nessa articulação, foi desempenhado pelo pânico criado em torno da propensão da criança a se masturbar – considera simultaneamente uma inclinação natural e uma doença, um vício impossível de se erradicar e um perigo com incalculável potencial de dano. Era tarefa dos pais e professores defender as crianças desse perigo, mas com o fim de tornar a proteção eficaz, era necessário abrir os olhos da criança para o problema, espreitar sua presença em toda mudança de comportamento, todo gesto de expressão facial, submeter toda a ordem das vidas das crianças à necessidade de tornar impossível a mórbida pratica, interpretar todos os direitos e deveres da criança com referencia a sua inclinação. Em torna da luta interminável contra a ameaça da masturbação, foi construído um sistema completo de fiscalização e vigilância dos pais, medica e pedagógica.

O autor do livro “O mal-estar da Pós-Modernidade” apresenta a “História da

sexualidade” de Foucault, abordando o sexo como a principal manifestação para os

mecanismos do poder e do controle social, nas discussões do século XIX, entre

médicos e educadores, foi colocado em pauta a sexualidade infantil, com o tema

central a “masturbação”, que era vista como uma doença ou uma tendência natural.

Pais e professores passaram a vigiar e policiar as crianças desse perigo ou um vício

a ser desenvolvido, nesse período foram criados vários deveres e direitos, por isso

as crianças passavam por etapas antes de acontecer qualquer desejo.

Automaticamente já havia vários mecanismos de defesas para a tentação. Havia

corretivos e discursos intermináveis para tentar derrotar o “vício” que ameaçava a

vida infantil, eles eram estimulados e obrigados a terem uma postura de acordo com

os pensamentos e concepções dos adultos. Para que não houvesse esse tipo de

situação inadequada naquela época, as crianças eram obrigadas e estimulas a

pensar que o toque nas partes íntimas era algo errado e um pecado imperdoável,

por isso elas eram sempre vigiadas e reprimidas

SEXUALIDADE

A sexualidade parte de um pressuposto, onde todas as pessoas possuem

direitos sexuais, atribui aos seres humanos, a autonomia e a liberdade de fazer suas

escolhas sexuais, como exercer suas opções sem passar por discriminações e

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violências oriundas de outras pessoas. Cada ser humano tem o direito de ter suas

opções sexuais, independente da sociedade, igreja e família pregam como verdade.

De acordo com Gênero e Diversidade na Escola (2009, p. 121):

Sexualidade refere-se às elaborações culturais sobre os prazeres e os intercâmbios sociais e corporais que compreendem desde o erotismo, o desejo e o afeto até as noções relativas à saúde, à reprodução, ao uso de tecnologias e ao exercício do poder na sociedade. As definições atuais da sexualidade abarcam, nas ciências sociais, significados, idéias, desejos, sensações, emoções, experiências, condutas, proibições, modelos e fantasias que são configuradas de modos diversos em diferentes contextos sociais e períodos históricos. Trata-se, portanto, de um conceito dinâmico que vai evoluindo e que está sujeito a diversos usos, múltiplas e contraditórias interpretações, e que se encontra sujeito a debates e a disputas políticas.

Ao contrário do que se pensa sobre o tema da sexualidade, que é visto

apenas como instintos que são dominados pela natureza, ou até por impulsos, a ela

pode se referir com vários sentidos. Como prazer e afeto vivenciados pelo corpo,

mas também como um processo que parte de formação cultural, histórica e até

social. Todos nascem com capacidades biológicas, mas todo o resto se constrói com

o passar da vida e suas opções vão se diferenciando de acordo com cada

construção de conhecimento ou opções. Essa construção de conhecimento pode ser

gerada em vários lugares, podendo ser em escolas, nas famílias, na televisão, na

sociedade, em conversas informais e formais, cada um desses lugares influencia na

formação, desenvolvendo assim a concepção de cada indivíduo sobre a sua

orientação sexual.

A palavra sexualidade é bastante utilizada para se referir as capacidades

associadas ao sexo, neste contexto é importante conceituar a palavra sexo, que é

atribuída em vários significados. Pode se referir a uma “pratica”, que seria o mesmo

que manter relações sexuais com outra pessoa ou “fazer sexo”. Ao mesmo tempo,

pode se referir à atributos fisiológicos, órgãos e as capacidades reprodutivas que

podem ser diferenciadas com o feminino e o masculino, distinção entre pessoas etc.

Também há características específicas atribuídas nas atitudes, comportamentos e

no corpo de cada pessoa.

Na sociedade atual há vários tipos de orientações sexuais, onde os mais

conhecidos são: heterossexualidade (atração afetiva sexual e erótica por pessoas de

sexo aposto), homossexualidade (afetiva, sexual e erótica por pessoas do mesmo

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gênero) e bissexualidade (atração afetiva, sexual e erótica tanto por pessoas no

mesmo gênero quanto pelo gênero oposto).

A maioria das famílias, religiões e a sociedades pregam que as pessoas

devem se relacionar com pessoas de sexo oposto, e os demais tipos de orientações

sexuais passam por algo “errado” ou “ilegal”, mas cabe lembrar que toda pessoa tem

o direito de ter sua sexualidade respeitada sem sofrer discriminações ou qualquer

tipo de agressão. Mas será que a sociedade está respeitando o direito sexual das

pessoas? Como essas pessoas são tratadas e vistas na sociedade? Essas

perguntas servem para mostrar o que realmente acontece, pois as pessoas não

estão sendo tratadas de acordo com seus direitos, muitas vezes elas passam por

discriminações e agressões, apenas porque não têm a mesma opção sexual do que

a maioria da sociedade.

A sexualidade se encontra presente e instalada na vida infantil desde o

nascimento dos seres humanos, sendo que ela parte do prazer pelo próprio corpo,

ou seja, a criança se desenvolve em várias fazes, onde o principal objeto de desejo

é seu corpo. Esse período de desenvolvimento é longo e complexo até chegar a

uma fase adulta, e é nesse período que o indivíduo passa a ter prazer pelo outro e

suas funções de reprodução são desenvolvidas. Isso ocorre tanto com os homens,

quanto com as mulheres, a cada experiência nova, as pessoas vão adquirindo seus

conhecimentos e desenvolvendo seu lado sexual.

Nesse processo de desenvolvimento psicossexual, a criança, em seus

primeiros anos de vida, tem a função sexual ligada com sua sobrevivência, onde o

prazer está em seu corpo, ela fica ironizada, ou seja, as excitações estão ligadas à

alguma parte do corpo. Freud apresenta esse desenvolvimento sexual nas seguintes

fases: oral (erotização feita pela boca: amamentação, sucção), anal (erotização feita

pelo ânus: defecar e manipular as fezes), fálica (erotização feita pelos órgãos

genitais), latência (diminuição das atividades sexuais, intervalo até a puberdade) e

genital (momento em que o desejo não está ligado no próprio corpo, mas no do

outro).

Durante a fase fálica existe o “complexo de Édipo”, momento em que o

indivíduo estrutura sua personalidade, esse período ocorre entre 3 e 5 anos de

idade. No complexo de Édipo o menino se apaixona pela mãe (objeto de desejo), já

o pai passa a ser um rival que o impede de ter o seu objeto de desejo (mãe).

Quando a criança tenta ter a mãe só para ela, passa a se comportar como o pai,

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internalizando as regras e as normas sociais impostas e representadas pela

autoridade paterna. Depois desse período, por ter medo de perder o amor do pai, a

criança desiste da mãe, isto é, a troca pelas possibilidades do mundo social e

cultural, ela percebe que pode participar da sociedade, pois já tem as regras básicas

da sociedade internalizadas em seu ser. Com as meninas acontece da mesma

forma, sendo que, as figuras de identificação e desejo, são invertidas. Já quando

elas entram na fase genital, há o desejo pelo outro, ou seja, a pessoa necessita de

outra pessoa para satisfazer seus desejos, é quando o corpo deseja o corpo de

outra pessoa, momento que acontece às relações sexuais ou os contatos íntimos

entre duas pessoas do mesmo sexo ou de sexo diferentes.

Na concepção de Kupfer (2007, p. 39):

Entenda-se bem o que Freud quer dizer com sexual. Em seu pensamento, sexual não se confunde com genital. A sexualidade genital refere-se precisamente à cópula com o objetivo de procriar ou de obter prazer orgástico. Mas a sexualidade é mais ampla que a sexualidade genital. Inclui as preliminares do ato sexual, as perversões, as experiências sensuais da criança vividas em relação ao seu próprio corpo ou em contato com o corpo da mãe. A amamentação, nesse sentido, é entendida já como uma experiência sexual, geradora de prazer para a criança que suga e até mesmo para a mãe que amamenta. Não se veja ai qualquer sinal de perversão no sentido usual do termo, e sim um exercício prazeroso que o contato corporal proporcionada.

Toda criança tem necessidades sexuais, sendo que desde o início da vida

os indivíduos passam por experiências e vivências de cada período de sua vida.

Freud apresenta a vida sexual das pessoas como algo natural que é necessário para

o desenvolvimento psíquico e corporal, além disso, ele orienta que a criança deve

passar por uma educação sexual que é uma aprendizagem sobre seu próprio corpo

e até dos seus prazeres, mas sem se referir aos prazeres genitais que são

desenvolvidos apenas na puberdade.

Através da educação, a criança adquire noções de pecados e vergonha,

pois esses pensamentos, quando não são bem desenvolvidos, no futuro, podem

trazer problemas mentais ou constrangimentos entre os indivíduos. As crianças

devem receber informações ou uma educação sexual assim que elas demonstrem

interesses pelo assunto, pois essas respostas são decorrentes de alguma

experiência que já foi vivenciada ou pensada por elas, através disso, as crianças

passam a dominar e interpretar esses conhecimentos.

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AS MÁQUINAS DESEJANTES

Os autores do livro “O Anti-Édipo” iniciam o texto com “maquinas desejantes”,

onde expressa seus conhecimentos dizendo que os seres humanos são máquinas

de máquinas, pois possuem vários órgãos que são ligados uns aos outros, que se

transformam no ser vivo, mas se um para, automaticamente todo o corpo falece.

Para Deleuze e Guattari (1976, p. 15):

Isto funciona em toda parte, às vezes sem parar, às vezes descontinuo. Isto respira, isto esquenta, isto come. Isto caga, isto fode. Que erro ter dito o isto. Em toda parte são máquinas, de maneira alguma metaforicamente; máquinas de máquinas, com seus acoplamentos, suas conexões. Uma máquina-órgão é ligada em uma máquina-fonte: uma emite um fluxo que a outra corta. O seio é uma máquina que produz leite, e a boca, uma máquina acoplada nela.

Assim como as máquinas que necessitam de todas as peças para funcionar,

o corpo demonstra que a todo o momento há um fluxo que ao passar do tempo é

cortado, como o leite que é sugado no peito da mãe. Quando a criança o suga, ele

vai cortando até paralisar totalmente, também é quando a menstruação nas

mulheres durante um período de 3 a 8 dias, ao passar esse período, o corpo corta

esse fluxo. São máquinas desejantes ou máquinas produtoras, pois o corpo sempre

está desejando algo, seja a criança que deseja sugar o peito de sua mãe, e ao

mesmo tempo a mãe que produz o leite para saciar a fome da criança, como uma

pessoa adulta que deseja ter relações sexuais com outra, e ao mesmo tempo, esse

momento pode ocasionar uma fecundação. Nesse sentido se percebe que a todo o

momento o desejo toma conta das pessoas, não apenas nos atos sexuais, mas no

falar, no comer, no tato, no fode, no caga e etc.

O desejo esta presente na vida infantil e adulta, a todo o momento há um

desejo, seja no momento de fome, quando ao comer algo, satisfaz completamente

esse sentimento, ou quando o corpo passar pelo prazer orgástico, momento em que

o corpo perde suas forças com prazeroso ato sexual.

Para Deleuze e Guattari (1976, p. 20):

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Sem dúvida, cada máquina-órgão interpreta o mundo inteiro segundo seu próprio fluxo, segundo a energia que flui dela: o olho interpreta tudo em termo de ver – o falar, o escutar, o cagar, o foder... Mas sempre uma conexão se estabelece com uma outra máquina, num transversal onde a primeira corta o fluxo da outra, ou vê seu fluxo cortado pela outra.

O corpo sempre está desejando algo, o órgão apresenta seus desejos em

formas de fluxo, seja na baba que escorre da boca ou no fluxo de esperma, sempre

a algo que faz escorrer, outro que escorre e outro que corta, o desejo e os órgãos

não param de fluir. Dessa forma é possível fazer um paralelo do desejo com a

criança, pois tudo que a criança pega ele quer colocar na boca, pois é através desse

contato oral que ela descobre e ao mesmo tempo tenta eliminar o desejo que ela

sente, não um desejo sexual, mas um desejo de conhecimento. Isso acontece tanto

com as crianças, quanto com os adultos, a todo o momento estão em busca de algo

novo, algo que estimule o prazer e o desejo, seja no trabalho, na escola, nas

famílias e em outros lugares, são nesses contatos e pensamentos que o ser humano

se transforma em máquinas-desejantes.

O REGIME DOS PRAZERES

Segundo Foucault, o ato sexual é muito cauteloso ao ser pronunciado, é que

pode ter muitos perigos, mas não é por isso que se pode definir como algo a ser

seguido por normas ou atos pré-definidos, sendo que cada indivíduo têm seu regime

sexual e também suas preocupações, proibições e conceitos.

Os indivíduos não devem ser proibidos de praticar sexo, no entanto, todos

têm um conjunto de equilíbrio no qual exige condições determinadas ou

preocupações para que esse ato aconteça, cada pessoa interpreta o sexo ou o

desejo de forma diferente.

Para Foucault (1985, p. 128):

O ato sexual [...] a alma deve esta tranqüila e completamente isenta seja de dor, seja de inquietações acompanhadas de fadigas, seja de qualquer outra afecção; é preciso que o corpo esteja são e não deteriorado sob nenhum ponto a vista.

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A procriação exige cautelas e precauções a serem tomadas. Esse momento

deve acontecer quando o corpo e a alma estão em sintonias. Para que o embrião

seja conservado do útero da mulher, os indivíduos devem ser preparados para essa

fecundação, onde o sêmen deverá fecundar o óvulo para que se torne um embrião.

O autor relata que os homens devem passar a ter menos relação sexual para

o semên fique mais forte para ter impulso para chegar ao óvulo, já nas mulheres, ele

indica que o momento certo para a fecundação é quando a menstruação está quase

cessando, pois nesse momento já foram retidas todas as impurezas do corpo, o

útero esta úmido, pronto para receber o embrião.

A mulher deve se manter em repouso durante sua gravidez, sem ter muitas

relações sexuais, pois no ato sexual o corpo fica em movimentos constantes o que

pode gerar um feto fraco, pois nesse momento o feto precisa de alimentos leves,

que a mãe esteja calma e com sua saúde boa. Essas informações sobre a

fecundação e seu modo de ser efetuado vem como uma preparação de decência,

onde é ensinado como as pessoas devem ter suas relações sexuais e como se

portar diante desse fato.

A idade do sujeito é considerada na prática sexual, se o indivíduo for idoso ele

não consegue repor as energias perdidas nesse ato. Se o sujeito for jovem, ele pode

parar o processo de desenvolvimento de seu corpo. Além disso os jovens, ao terem

relações sexuais muito cedo, podem adquirir doenças incuráveis, mas ao mesmo

tempo, não pode se dizer o momento exato para começar a vida sexual, pois cada

corpo tem um tempo para seu desenvolvimento, por isso é indicado que essa

relações sejam o mais tarde possível.

Os homens começam a puberdade em torno dos 14 anos, sendo que nesse

momento de formação não é indicado essa prática, pois seus órgãos genitais estão

em formação, nas meninas acontece por volta dos 18 anos quando o corpo em

média, está totalmente formado. Mas por elas se casarem muito cedo, esse ato

sexual acontece antes da idade sugerida, ou seja, precocemente, pode gerar

gravidez de riscos ou até fetos com alto índice de abortos ou crianças com

deficiências.

O momento favorável para a prática sexual é quando o corpo está em

condições saudáveis para o ato. O autor compartilha que os momentos mais

indicados são antes de dormir, depois de ter feito uma boa refeição, mas sem

exageros, na hora do banho, em momentos que o corpo está realmente preparado

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para o ato sexual. Se o corpo não está bem alimentado, ele não consegue repor as

energias perdidas e por outro lado se o estômago está com comida pesada, esse

momento de prazer se torna algo desagradável. Contudo, o momento ideal para se

adquirir uma gravidez, seria antes de dormir, pois no momento do sono a mulher

repousa e o sêmen é acolhido em seu sistema reprodutor, onde pode se

desenvolver com mais facilidade.

O corpo deve ser bem alimentado e receber exercícios físicos constantes,

pois ajuda na temperatura, que deve esta úmida e quente para que o ato sexual seja

mais agradável. Deste modo é necessária a prática de exercícios físicos, como

caminhadas, passeios a cavalos e acima de tudo, ter uma alimentação adequada,

sem exageros, ingerindo apenas o necessário. O corpo pede atenção e equilíbrio

para que possa realizar um ato sexual prazeroso e saudável, é importante também

que as pessoas se conheçam melhor, ou seja, saiba com funciona seu corpo, quais

são as dificuldades físicas e seus desejos, para que haja satisfação no lado erótico

de cada uma das pessoas.

A VOZ DA ESCOLA: NARRATIVAS DISCENTES

Esses relatos foram retirados de pesquisa em campo efetuada no CESAM

(Centro Salesiano do Menor) que acolhe jovens e adolescentes para os inserirem no

mercado de trabalho, tem também intuito de formar cidadãos. A pesquisa foi

desenvolvida pela acadêmica Lorena Kelly Rosena de Melo, sob a orientação do Dr.

Paulo Petronílio, com objetivo de demonstrar a realidade dos jovens, sobre seus

pensamentos e suas reflexões em relação ao tema sexualidade, nos documentos

que estão em anexo, jovens e adolescentes tiveram suas identidades preservadas,

usou-se pseudônimo quando se referia aos pesquisados, a pesquisa foi realizada

através de questionário manuscrito.

No questionário realizado havia questões que estimulavam os alunos a

demonstrar seus conhecimentos sobre sexualidade e compartilhar suas opiniões

sobre o tema. O conteúdo aborda a família, a escola e a sociedade, que se encontra

cada vez mais aberta a diálogos sexuais voltados para o lado físico e se

esquecendo do lado emocional e psíquico dos indivíduos. Mesmo tendo o lado físico

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mais explícito, nota-se que ainda hoje é preservado o lado emocional como é citada

no seu entendimento de sexualidade pela Bruna, 20;

Um ato de amor, onde duas pessoas se relacionam no mais íntimo, sexo não é só prazer, é mais do que isso, existe carinho, compreensão, diálogo, respeito, enfim, o sexo foi Deus quem criou para que o casal tenha intimidade própria e que possa alimentar o prazer de ambos. [...] hoje em dia sexo não é mais um ato de amor, e sim só de prazer, então em minha opinião as mulheres hoje são muito insensíveis pelos homens e isso não é culpa delas, é porque o homem só quer satisfazer o seu prazer, e tem mulheres mais ousadas e liberais, que fazem existir esse instrumento para os homens, por isso que o sexo está tão explícito de hoje em dia.

A autora desse trecho relata o sexo como algo íntimo, que muitas vezes se

perde e suas intenções ficam como algo da carne e só do prazer. Em seu relato há

presença de religião, como é esclarecida por Foucault que apresenta que o sexo foi

utilizado pela igreja entre os séculos XVI e VXII como algo proibido e errado. Se as

pessoas não estivem casadas com a bênção de Deus, isso mostra que até hoje no

século XXI, as pessoas ainda possuem pensamentos daquela época. Eles estão

enraizados na sociedade, pois algumas pensam que sexo é algo relevante numa

relação e outras vêem como algo prazeroso que tem só a ver com a carne e

prazeres físicos. Para algumas pessoas, o sexo é sentimento e deve estar presente

apenas entre duas pessoas, onde uma deve ser fiel à outra.

As pessoas se esquecem que o sexo é também o corpo, a mulher, o homem,

a criança, o desejo, o prazer, o erótico, o desconhecido, entre outros, todos têm que

perceber que sexo não tem uma definição específica e que ele é algo necessário na

vida das pessoas. Desde quando uma criança nasce ela já tem um sexo, ela tem

desejos, seja no sugar do peito da mãe, seja no toque de amor de seus pais, ou

seja, a todo o momento ela é rodeada de desejos, vontades e prazeres. Cabe dizer

que todos estão em busca de saciar seus desejos, seja ele de amor, de sexo, de

toque ou qualquer outro sentimento ou até de conhecimento de algo novo ou do

desconhecido.

Lucas, 20, diz que: “Para mim sexualidade é aprender a conhecer meu corpo,

me conhecer melhor e saber conhecer as reações do meu corpo.” Quantas pessoas

não sabem que seu corpo pede prazer e está sempre em busca de satisfazer os

desejos: conhecer o corpo, poder se tocar no mais íntimo, tentar descobrir o que o

corpo tem para oferecer.

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Quantas vezes crianças se tocam e um adulto ao ver a cena briga com a

criança e a inibe de se tocar. A criança, desde pequena, é orientada a pensar que o

toque, o sexo, o prazer é um pecado, por isso as crianças passam a se portar como

as pessoas dos séculos passados. Hoje nossa realidade pede conhecimento e

esclarecimentos sobre esse assunto que é apresentado como polêmico, pois já vem

de uma cultura bastante conturbada e modificada. Cabe lembrar que a sexualidade

é instinto humano, que é ativado a partir da concepção de uma nova vida, tanto é

que a vida nasce de um ato sexual, não só no seres humanos, mas também nos

animais sexuados. A criança não vê o sexo como um ato orgástico, ela vê com o

prazer do toque, do conhecer o corpo, do falar sobre as diferenças entre homem e

mulher e vários outros pensamentos.

Nas percepções dos pesquisados percebe-se que apesar da sociedade estar

se esforçando para melhorar os conhecimentos dos indivíduos sobre sexualidade,

ainda há uma resistência muito grande de abordar o tema na família, na escola e na

sociedade. Em muitas famílias já há diálogos abertos com os filhos, mas em sua

maioria, esse assunto ainda não é aceito, pois é um pensamento de pecado e algo

errado, como é proposto até hoje em algumas religiões e sociedades. Nas escolas

esse tema é abordado em palestras, mas é esquecido dentro da sala de aula. Os

professores não se sentem preparados para abordar esse tema, sendo que,

principalmente os adolescentes, precisam desse conhecimento. Somente nas aulas

de biologia esse tema é discutido e na maioria das vezes é tão superficial que os

alunos não conseguem assimilar no dia a dia, além disso, o tema é voltado apenas

para prevenção e mudanças do corpo na adolescência.

Esses conteúdos auxiliam a vida dos jovens, contudo eles precisam mais do

que lhes é oferecido, eles necessitam se conhecer e se descobrir mediante sua

orientação sexual, às vezes, não aceita na sociedade por discriminações ou

preconceitos por suas escolhas. Como já foi exposto, todas as pessoas têm direito

de fazer sua escolha sexual, seja ela homossexual, heterossexual ou bissexual.

Todos devem respeitar a diversidade que está em toda a sociedade, seja ela em

forma de sexo feminino ou masculino, raça ou cor, opção sexual ou até religião,

todos devem ser respeitados.

Quando foi perguntado se os jovens sentem falta de diálogos sobre

sexualidade nos livros didáticos, em casa, na escola elas responderam:

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Sim, porque quando perdi minha virgindade eu era muito nova e sei que se eu tivesse um pouco mais de sabedoria desse assunto não tinha feito essa burrada na minha vida. (Eduarda, 19) Sinto falta nos livros didáticos, que deve ser por causa da censura, mas em casa e com os professores e amigos não falta diálogos. (Augusto, 21)

Nesses relatos percebe-se que a escola deixa uma abertura dentro do

assunto da sexualidade, pois eles reclamam dos livros e da falta de abertura de

diálogos com professores e pais. É necessário deixar claro que alguns professores

discutem o tema, mas a sua maioria se recusa a conversar sobre o assunto, pois

declaram que não estão preparados para discuti-lo.

Os jovens estão clamando por informações que muitas vezes não chegam até

eles, a escola e a sociedade precisam desenvolver projetos que contribuam com a

formação e desenvolvimento sexual das crianças e adolescentes, para que os

problemas sejam sanados, tais como: gravidez precoce, doenças sexualmente

transmissíveis e até distúrbios psicológicos relacionados com a sexualidade.

Quando são perguntados com quem eles tiram as dúvidas sobre sexo e

relações sexuais eles respondem da seguinte forma:

Com minha amiga de igreja, ela é casada. Às vezes com meu namorado, ele é evangélico e eu também. (Carol, 21) Simplesmente não tiro, tenho vergonha. (Lara, 21) Através de conversa com pessoas mais experientes e também lendo, pesquisando. (Junio, 17)

Os adolescentes e jovens relatam suas experiências de quando querem tirar

dúvidas sobre sexo, eles demonstram falta de informação, insegurança e vergonha

de falar sobre esse assunto. Muitos deles já têm uma opinião formada sobre o

assunto, as pessoas religiosas abordam o tema como algo que só deve ser efetuado

depois do casamento, pois é visto como pecado ou errado para sua religião e

concepção de vida. Elas afirmam com no século XVI que esses atos são

pecaminosos e que devem acontecer apenas com uma pessoa, mas será que isso é

a forma correta de ensinar sobre sexualidade?

As dúvidas devem ser retiradas com familiares, professores, livros, internet

etc., mas a sociedade ainda não está preparada para essa mudança, pois muitos

ainda sobrevivem com pensamentos ultrapassados. Desde criança deve haver

discussão sobre o tocar no corpo, o desejo que está sempre presente, isso não deve

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significar chegar numa sala de Educação Infantil e falar de relações sexuais, como

acontece e como são praticadas. Devem ser abordados temas de acordo com a

faixa etária de cada grupo de pessoas, há medida em que a criança cresce, ela

começa a fazer perguntas. Muitas são respondidas com mentiras, como por exemplo

o mito da cegonha que é dito ate hoje, diz que quando uma criança nasce é a

cegonha que veio trazê-la. Se a criança esta perguntando é porque ela está

desejando descobrir e se conhecer melhor, sua vida, sua realidade, as crianças

precisam desse momento para desenvolver suas idéias e amadurecer de acordo

com suas capacidades.

A educação sexual contribui com a criança em seu psíquico e físico, pois é

preciso trabalhar tanto a forma corporal da criança, quanto suas atitudes e conceitos

de sexualidade. Ela não deve ver a sexualidade como algo proibido ou um pecado,

como alguns pais vêem. Nas crianças há uma necessidade de saber e conhecer o

seu corpo e das outras pessoas, por isso é importante o conhecimento sexual na

vida das crianças e adolescentes

A pergunta: “Na sua escola, seus professores têm falado de sexualidade?

Como eles falam?:

Normalmente falam de sobre a prevenção, como evitar doenças e gravidez. (Malu, 17) Sim, através de palestras, aonde eles tentam nos passar os cuidados necessários. (Lucas, 20) Não, só quando tem palestras e mesmo assim, são raras ate mesmo uma por ano. (Lara, 21) Não, na escola em que estudo não costuma falar sobre isso. (“Junio”, 17)

Em algumas escolas são feitas palestra sobre sexualidade e alguns

professores dão aberturas para que seus alunos perguntem sobre o assunto, mas

essa discussão é feita poucas vezes. Para o desenvolvimento adequado do jovem e

do adolescente, é necessário dar uma importância maior para esse tema, não basta

apenas falar de gravidez, ou de como prevenir as DST (Doenças Sexualmente

Transmissíveis), eles precisam ter um momento de troca de experiências, como

cada um vê sua sexualidade, como está a visão de cada um sobre os atos sexuais,

presentes da suas vidas. Deve-se falar sobre o aborto, sobre a prostituição, sobre o

desejo que todos sentem, sobre os tipos de orientações sexuais, sobre o corpo e

suas necessidade biológicas, sobre as mudanças do corpo durante a puberdade e

as mudanças que ocorrem na vida adulta e o psicológico de cada indivíduo nessa

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fase de desenvolvimento. A escola deve estar presente na vida do educando,

tentado sempre apresentar conteúdos novos e lúdicos, para melhor entendimento e

desenvolvimento de cada estudante, para que a formação seja completa e

adequada, trazendo conteúdos dinâmicos, polêmicos e básicos da educação.

A educação sexual deve ser trabalhada em todas as disciplinas, e que os

educadores devem trabalhar perspectivas nas áreas de historias, biologia, artística e

outras com seus alunos, trazendo debates, jogos, oficinas, literatura e vários outros

tipos de recursos para esse tema transversal. Deve-se tentar reter os preconceitos

para que não gerem discriminações e para que haja uma prevenção de problemas

futuros como doenças ou até problemas psicológicos com alunos, devido à

descriminação.

Esses conteúdos devem ser trabalhados desde a Educação Infantil, até o

Ensino Médio abordando cada conteúdo de acordo com a necessidade de cada

idade, compartilhando que a vida sexual parte de vários sentidos, tendo em si, a

afetividade, o prazer, a vida social, a cultura, a família, o seu biológico e outros.

Necessariamente a escola não é o único local onde os educandos aprendem

sobre sexualidade, porém é um lugar onde todos podem dialogar abertamente sobre

o tema, eles podem confrontar e discutir suas idéias para que sistematizem seus

conhecimentos. É através da educação sexual que são prevenidas doenças

transmitidas sexualmente, gravidezes precoces e até distúrbios psíquicos dos

indivíduos em suas fases infantil, adolescente e adulta.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo procurou apresentar as questões sobre sexualidade que há muito

tempo são discutidas, mas que não são exercidas corretamente pela sociedade, pois

são vistas apenas em adultos e se esquecem que a sexualidade está presente antes

do nascimento, ou seja, no momento da fecundação já existe o ato sexual. As

crianças têm sua sexualidade, mas de forma não erotizado, apenas em forma de

desejos de conhecer o seu corpo e de outras pessoas.

Na realidade, a igreja está ligada à questões sociais de sexualidade, pois

ensina que as crianças não deve se tocar, pois isso pode se tornar algo pecaminoso.

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E que os adultos só podem ter relações sexuais depois do casamento religioso, mas

cabe lembrar que a sociedade já se perdeu nesses pensamentos.

Os indivíduos estão cada vez mais indo busca de informações e discussões

sobre assuntos polêmicos, onde se encaixa perfeitamente a sexualidade. Existem

vários projetos que incentivam as relações sexuais, mas que ela seja praticada com

prevenção, nos postos de saúde há distribuição de anticoncepcionais e de

camisinhas para evitar as doenças transmitidas nas relações sexuais.

Muitas vezes as pessoas têm vergonha de buscar conhecimento ou esses

materiais preventivos por traumas causados na infância ou por terem uma cultura

que aponta esses atos, como algo errado. A sociedade, juntamente com a escola,

deve desenvolver projetos que alimentem o conhecimento e o desenvolvimento das

pessoas diante desse tema, para que seja erradicado de uma vez por todas, esse

modelo de preconceito e discriminação entre as pessoas.

Será que a sociedade não percebe que os seres humanos são estimulados a

fazer algo por seus desejos? E que estão sempre em busca de satisfazer seus

prazeres? A sexualidade é um processo contínuo de aprendizagem e de

conhecimento, começa na infância com o toque, com o brincar, com um olhar, com o

amor dos pais, depois vem o toque do outro, um beijo, uma relação amorosa, o sexo

só é finalizado no último momento da vida.

É importante mencionar que desde crianças, todos são ensinados que as

relações sexuais devem acontecer entre duas pessoas de sexos opostos e não

entre pessoas do mesmo sexo. Essa concepção é criada biologicamente por ter

homens e mulheres, ou por incorporarem uma identidade de gênero às pessoas, do

que é masculino e do que é feminino, e também pela sociedade em geral. Quanto a

interpretar o que é “certo” ou “errado” relacionado à heterossexualidade, será que a

pessoa que tem relações homossexuais está errada? Dentro desse contexto, há que

exercer o direito de escolha sexual que cada ser tem, onde esse direito fica? Será

que realmente os direitos estão sendo válidos? As pessoas estão respeitando as

opções sexuais? Essas perguntas incomodam muitas vezes e não são escutadas,

pois por mais que seja pregada a igualdade, ela não é praticada.

Nesse tema cuja controvérsia é muito grande, seja por uma pessoa ser

mulher, ou por ser negra, ou por ser lésbica, ou gay, só por causa da opção, não

significa que ela é melhor ou pior que as outras pessoas, são todos seres humanos.

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Esse estudo foi realizado com objetivo de se tentar compreender o motivo de

tamanha controvérsia dos direitos dos cidadãos, que atinge à todos que são vistos

como inferiores. Há que rever aqueles que são atingidos com discriminações,

preconceitos, e em algumas situações, até agressões físicas e psicológicas.

É nesse ponto que precisa de compreensão e desenvolvimentos de idéias

para erradicar esses pensamentos cruéis e mesquinhos. As pessoas devem ser

vistas não só como um corpo, mas como um ser que pensa, que age, e tem

sentimentos e que sofre todas essas agressões. Todos devem ser respeitados nos

seus direitos, desde cedo, deve haver uma compreensão do desejo, para que não

cheguem à vida adulta com déficits de conhecimento do próprio corpo e dos desejos

que cada pessoa possui, para que assim possamos ter uma sociedade mais justa e

mais fraterna.

ABSTACT: the study tries to do a approach epstemologic about sexuality in the school, having as reflection the narratives of pupils and its experiences. In this way, a desire Pedagogy, cataloguing and turning an erotic vision of education. It knows little or almost nothing, therefore as the Pedagogy has face-off complex form the questions about kin and sexuality. It knows that sexuality always was a big problem enfaced in the schools, not only the unknown of teachers, as well as for the taboos of the proper church that makes difficult opened dialogues about the problematic one. The quarrel involves study of cases and problems that the proper condition human being faces. Also it establishes approaches with philophisical theories. Thus it is tried to argue the philosophical nature of the desire Pedagogy having as philosophical horizon the notion of Desire for the thinking contemporanies Michel Foucault, Gilles Deleuze and Félix Guattari. KEY WORDS: Sexuality. Pedagogy. Narratives. Desire. Erotism.

REFERÊNCIAS BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da Pós-Modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998. (p. 177-189)

DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix. O Anti-Édipo: Capitalismo e Esquizofrenia. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda., 1976. FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: A vontade de saber. Tradução: Maria Tereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Alburquerque. Rio de Janeiro, Edições Graal, 1988. (p. 23-42)

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FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade 3: A o cuidado de si. Tradução: Maria Tereza da Costa Albuquerque e Revisor: José Augusto Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro, Edições Graal, 1985. (p. 127-135) Gênero e Diversidade na Escola: Formação de professor/ES em Gênero, Sexualidade, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais. Livro de conteúdo. Versão 2009. – Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: SPM, 2009. KUPFER, Maria Cristina Machado. Freud e a educação: O mestre do Impossível. 3. ed. São Paulo: Scipione, 2007. MICHALISZYN, Mario Sergio; TOMASINI, Ricardo. Pesquisa: Orientações e Normas para Elaboração de Projetos, Monografias e Artigos Científicos. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

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ANEXOS

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Goiânia, 14 de Outubro de 2010. À CESAM Departamento de Coordenação Pedagógica Ref: Solicitação de Pesquisa Venho por meio desta solicitar autorização para efetuar uma pesquisa nesta conceituada empresa, tendo em visto que estou cursando o 8ª Período de Pedagogia na Faculdade Alfredo Nasser (UNIFAN), e estou certa de que posso adquirir a devida experiência e ao mesmo tempo contribuir com o desenvolvimento do meu trabalho de conclusão de curso. Essa pesquisa será efetuada com os adolescentes e jovens, aonde eles terão suas identidades preservadas, pois usarei pseudônimos. Essa pesquisa será efetuada através de questionário escrito e elaborado pela acadêmica Lorena Kelly Rosena de Melo responsável pela pesquisa, sob a orientação do Professor Dr. Paulo Petronilio Correia. Desde de já agradeço. Atenciosamente, _________________________________________________ Lorena Kelly Rosena de Melo 62 9118-2470 / [email protected]