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PENAL LFG TEORIA DO CRIME – AULA 08 O Direito Penal se preocupa somente com os fatos. Princípio da exteriorização dos fatos: norteia o direito penal, o nosso ordenamento repudia o direito penal do autor. Reconhecemos o direito penal dos fatos. Os fatos podem ser humanos e da natureza . O direito penal é seletivo . Os fatos da natureza não importam ao direito penal. Os fatos humanos podem ser sociais e antissociais . Os fatos humanos sociais não interessam ao direito penal. Ex: casamento. Mas os antissociais interessam. Mas nem todos os fatos antissociais interessam ao DP. O DP é orientado pelo princípio da insignificância. Para o DP intervir exige um fato humano antissocial consistente numa conduta produtora de um resultado que se ajusta ao tipo penal (ajuste fato/norma). Quando o fato se ajusta a um tipo penal passamos a ter fato típico. Fato típico é o 1º substrato do crime. Consequência jurídica do crime (fato típico, ilícito e culpável): punibilidade . A punibilidade não faz parte do crime, é sua consequência jurídica. FATO TÍPICO Conceito: é o primeiro substrato (requisito) do crime, é fato humano antissocial (indesejado), consistente numa conduta produtora de um resultado com ajuste (formal e material) a um tipo penal. Elementos do fato típico : conduta, resultado, nexo causal e tipicidade. Obs: não confundir tipicidade com tipo penal. Tipicidade é adequação (operação de ajuste). Fato se amolda a um tipo penal, isso é tipicidade. Tipo penal é modelo de conduta proíbida. Elementos do tipo penal:

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PENAL LFG TEORIA DO CRIME – AULA 08O Direito Penal se preocupa somente com os fatos. Princípio da exteriorização dos fatos: norteia o direito penal, o nosso ordenamento repudia o direito penal do autor.Reconhecemos o direito penal dos fatos. Os fatos podem ser humanos e da natureza.O direito penal é seletivo. Os fatos da natureza não importam ao direito penal.Os fatos humanos podem ser sociais e antissociais.Os fatos humanos sociais não interessam ao direito penal. Ex: casamento. Mas os antissociais interessam.Mas nem todos os fatos antissociais interessam ao DP. O DP é orientado pelo princípio da insignificância.Para o DP intervir exige um fato humano antissocial consistente numa conduta produtora de um resultado que se ajusta ao tipo penal (ajuste fato/norma). Quando o fato se ajusta a um tipo penal passamos a ter fato típico. Fato típico é o 1º substrato do crime.Consequência jurídica do crime (fato típico, ilícito e culpável): punibilidade.A punibilidade não faz parte do crime, é sua consequência jurídica.

FATO TÍPICOConceito: é o primeiro substrato (requisito) do crime, é fato humano antissocial (indesejado), consistente numa conduta produtora de um resultado com ajuste (formal e material) a um tipo penal.

Elementos do fato típico: conduta, resultado, nexo causal e tipicidade.

Obs: não confundir tipicidade com tipo penal.Tipicidade é adequação (operação de ajuste). Fato se amolda a um tipo penal, isso é tipicidade.Tipo penal é modelo de conduta proíbida. Elementos do tipo penal: a) subjetivos: indicam a finalidade especial que animam o agente. Vai além do dolo. Ex: 299 do CP, além do dolo tem a finalidade especial.b) objetivos: dizem respeito ao fato em si mesmo.b.1) descritivos: sensíveis, perceptíveis pelos sentidos.b.2) normativos: exigem juízo de valor (não são perceptíveis pelos sentidos).Ex: o art. 121 do CP só tem elementos objetivos descritivos. Não tem elemento subjetivo nem normativo.Ex: o art. 154 do CP ‘justa causa’ é um elemento normativo.

c) científicos: transcende o mero elemento normativo. Não há um juízo de valor a ser concretizado, mas apenas o recorrer-se ao significado unívoco do termo de determinada ciência natural.

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Ex: art. 24 a 27 da lei 110105/05. O que é embrião? Clonagem humana? É o que a ciência da biologia diz.

CONDUTAO conceito de conduta varia conforme a teoria adotada.1. Teoria causalista (ou causal da ação): Conduta é ação humana voluntária causadora de modificação no mundo exterior.

Para esta teoria crime é fato típico, ilícito e culpável. Adotada por Von Liszt.Para esta teoria a culpabilidade é formada de: imputabilidade, dolo e culpa.Dolo e culpa são especíes (não elementos) de culpas.Obs: o dolo e a culpa estão na culpabilidade.Obs: esta teoria só reconhece como normal elementos objetivos descritivos do tipo. Ex: 121 do CP. Esse é um tipo normal. Não reconhece os elementos normativos e subjetivos. O dolo e culpa seriam analisados depois na culpabilidade.

Definir tipo normal e anormal de crime: essa classificação tem pertinência no causalismo somente.Tipo normal: é o composto somente de elementos objetivos descritivos. Ex: 121 do CP.Tipo anormal: é o composto de elementos objetivos normativos ou subjetivos. Ex: 154 e 299 do CP.

Críticas:1ª- conceituando conduta como ‘ação humana’. O conceito de conduta não abrange comportamento omissivos.2ª- Dolo e culpa na culpabilidade.3ª- Não admitir como normal elementos normativos e subjetivos do tipo.

2. Teoria Neokantista (tem base causalista)Crime é fato típico ilícito e culpável. Heinrich Rickert era um adepto.Na culpabilidade tem: imputabilidade, exigência de conduta diversa, dolo e culpa. Obs: dolo e culpa deixam de ser espécies e passam a ser elementos.

Conduta é o comportamento humano voluntário, causador de modificação no mundo exterior.Obs: ‘comportamento’ abrange ação omissiva e comissiva.Obs2: Dolo e culpa permanecem na culpabilidade como elementos.Obs3: admite elementos normativos e subjetivos no tipo.

Críticas:1ª- Partindo de premissas causalistas, ficou contraditória quando reconheceu normal elementos subjetivos e normativos no tipo.2ª- Dolo e culpa na culpabilidade.

3. Teoria Finalista (da ação)

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Crime é fato típico, ilícito e culpável. Hans Welzel é adepto.Culpabilidade é formada por: imputabilidade, exigibilidade de conduta diversa, potencial consciência da ilicitude.Não mais analisamos dolo e culpa na culpabilidade.

Conduta é o comportamento humano voluntário psiquicamente dirigido a um fim. Antes era: um fim ilícito. Mas logo tiraram o ilícito, pois não se conseguiria explicar o crime culposo.Obs: A finalidade está na conduta.Obs2: Dolo e culpa migram da culpabilidade para o fato típico.

Críticas:1ª- A expressão “psiquicamente dirigido a um fim” não explica, com segurança, os delitos omissivos puros (de mera conduta).2ª- Centralizou a teoria no desvalor da conduta ignorando o desvalor do resultado.

No Brasil nasce a teoria finalista dissidente, retirando a culpabilidade da estrutura do crime. Para esta teoria, crime é fato típico e ilícito. A culpabilidade: - Não é elemento (substrato) do crime;- É um juízo de censura;- Pressuposto de aplicação da pena.Renê Ariel Dotti é o criador da teoria.Crítica: admite a hipótese de haver crime (FT e Ilicitude) sem censura (culpabilidade).

4. Teoria social da açãoCrime é fato típico, ilícito e culpável com os mesmos elementos da teoria finalista. Mezger e Wessels são adeptos.

Conduta é o comportamento humano voluntário, psiquicamente dirigido a um fim, socialmente relevante.

Obs: dolo e culpa estão no fato típico.Obs2: dolo e culpa voltam a ser analisados no momento da censura.

Crítica: não há clareza no que significa ‘socialmente relevante’.

Todas as 4 teorias acima explicam o crime com base em estruturas jurídicas.

As teorias funcionalistas antes de explicarem o crime definem a missão do DP com base em estruturas sociológicas.O funcionalismo funcional nasceu na Alemanha (a partir de 1970) como forma de submeter a dogmática penal aos fins específicos do DP. Deve-se

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decidir primeiro a missão do DP, daí em diante deve-se construir o DP em cima dessa missão. Submeter a dogmática penal a missão do DP.

Teoria Funcionalista Moderada (Teleológica) – idealizador é o Claus RoxinMissão do DP para Roxin: o DP tem por finalidade proteger bens jurídicos indispensáveis ao homem.

Crime é fato típico, ilícito e REPROVABILIDADE.A reprovabilidade é constituída de: imputabilidade, exigibilidade de conduta diversa, potencial consciência da ilicitude e necessidade da pena.Para Roxin, a culpabilidade funcional é o limite da pena e também elemento da reprovabilidade,

Conduta é o comportamento humano voluntário causador de relevante e intolerável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado.Dolo e culpa permanecem no fato típico.

Crítica: 1ª- reprovabilidade como integrante do crime.2ª- culpabilidade funcional não tem definição.

Teoria funcionalista sistêmica (ou radical) – JakobsMissão do DP para Jakobs: o DP tem como finalidade resguardar o sistema (ele quer demonstrar que o direito é mais forte que a sua contravenção).Crime é fato típico, ilícito e culpabilidade.Na culpabilidade: imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigência de conduta diversa.

Conduta: é comportamento humano voluntário, violador do sistema frustrando as expectativas normativas.Obs: dolo e culpa no fato típico.Obs2: aquele que viola o sistema deve ser tratado como inimigo (DP do inimigo).

Direito Penal do inimigoCaracterísticas:1- antecipação da punibilidade com a tipificação de atos preparatórios;2- criação de tipos de mera conduta com grande intensidade;3- previsão de crimes de perigo abstrato com grande intensidade;4- flexibilização do princípio da legalidade (descrição vaga dos crimes e das penas para conseguir abranger mais condutas);5- inobservância do princípio da ofensividade e da exteriorização do fato;6- Preponderância do DP do autor;7- desproporcionalidade das penas.8- surgimento das chamadas “leis de luta ou de combate”. Ex brasileiro: lei dos crimes hediondos.

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9- endurecimento da execução penal. Ex: para muitos o RDD – regime disciplinar diferenciado.10- restrição de garantias penais e processuais.

Críticas: serve a Estados totalitários.

Hipóteses de ausência de condutaLembrando: da teoria causalista até a teoria funcional conduta é comportamento humano voluntário. Se o comportamento não for voluntário não haverá conduta. Voluntário é dominável pela vontade.

1ª) caso fortuito ou força maior.2ª) coação física irresistível. Obs: coação moral irresistível exclui a culpabilidade.3ª) movimentos reflexos. Obs: movimentos reflexos previsíveis não excluem a conduta.4ª) estados de inconsciência. Ex: sonambulismo.

Aula 9ESPÉCIES DE CONDUTA1) DOLO/CULPA/PRETERDOLO2) ERRO DE TIPO3) AÇÃO E OMISSÃO

Crime DOLOSOPrevisão legal: art. 18, I, CP.Conceito: dolo é a vontade livre e consciente dirigida a realizar ou aceitar realizar a conduta prevista no tipo penal incriminador.“livre” deve ser retirado deste conceito.A liberdade da vontade não é tema de dolo, mas de culpabilidade. Vontade não livre não exclui dolo, mas pode excluir a culpabilidade.

De acordo com a maioria, o dolo é elemento subjetivo implícito da conduta.Elementos do dolo:1- elemento intelectivo: consciência.2- elemento volitivo: vontade.

Diferença entre dolo e desejo: dolo não se confunde com desejo. No dolo, o agente quer o resultado delitivo como consequência de sua própria conduta. No desejo, o agente espera o resultado como consequência de um fato ou uma conduta para a qual não concorreu de qualquer modo.Desejo não é crime, punir desejo é direito penal do autor. Nosso direito penal é do fato.

Teorias do Dolo1ª) teoria da vontade: dolo é a vontade consciente de querer praticar uma infração penal.

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2ª) teoria da representação: fala-se em dolo sempre que o agente tiver a previsão do resultado como possível e, ainda assim, decide continuar agindo. Obs: abrange no conceito de dolo a culpa consciente. Ela confunde dolo com culpa consciente.3ª) teoria do consentimento ou assentimento: fala-se em dolo sempre que o agente tiver a previsão do resultado como possível e, ainda assim, decide continuar agindo assumindo o risco de produzir o resultado. É o dolo eventual.Esta veio para corrigir a segunda. Não mais abrange a culpa consciente.

O Brasil adotou a teoria da vontade e a teoria do consentimento ou assentimento no art. 18, I, CP.

Art. 18 - Diz-se o crime: I - doloso, quando o agente quis o resultado (teoria da vontade – dolo direto) ou assumiu o risco de produzi-lo (teoria do consentimento – dolo eventual);

Espécies de dolo1- Dolo normativo ou híbrido: adotado pela teoria Neokantista, essa espécie de dolo integra a culpabilidade, trazendo, a par dos elementos consciência e vontade, também a consciêncial atual da ilicitude. Este último elemento fazia o dolo ser normativo. O dolo tinha 3 elementos para a teoria neokantista: consciência, vontade e consciência atual da ilicitude.

2- Dolo natural ou neutro: adotado pela teoria Finalista, essa espécie de dolo compõe a conduta pressupondo consciência e vontade (despido de elemento normativo).

3- Dolo direto ou determinado: configura-se quando o agente prevê um determinado resultado, dirigindo sua conduta na busca de realizá-lo.

4- Dolo indireto ou indeterminado: o agente com sua conduta não busca resultado certo e determinado. Possui 2 espécies:a) Dolo alternativo.b) Dolo eventual.DOLO ALTERNATIVO DOLO EVENTUALO agente prevê uma pluralidade de resultados

O agente prevê uma pluralidade de resultados

O agente quer um ou outro, tanto faz.

O agente quer um resultado, aceitando produzir o outro resultado.

Ex: o agente previu 121 e 129. Mas tanto faz o resultado que ocorrerá.

Ex: o agente previu 121 e 129. Dirige a conduta querendo lesão, mas aceita produzir o resultado morte.

A diferença entre elas está na intensidade da vontade.

5. Dolo cumulativo: o agente pretende alcançar 2 ou mais resultados em sequência. É o caso de progressão criminosa.

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6. Dolo de 1º grau e de 2º grauDolo de 1º grau é a mesma coisa que o dolo direto.

Dolo de 2º grau ou dolo de consequências necessárias: o agente, para alcançar o resultado desejado, utiliza meios que acabam, obrigatoriamente, gerando efeitos colaterais. O agente não deseja imediatamente os efeitos colaterais, mas tem por certa sua ocorrência, caso se concretize o resultado pretendido. Com relação aos efeitos colaterais, o dolo é de 2º grau.Ex: agente quer matar derek, mas vai utilizar uma bomba em um avião. Ele vai matar não apenas o derek, mas todos.

DOLO DE 2º GRAU DOLO EVENTUALO resultado paralelo é certo e necessário

O resultado paralelo é incerto (eventual) e desnecessário

As consequências secundárias são inerentes ao meio escolhido.

O resultado paralelo não é inerente ao meio escolhido.

Os resultados paralelos serão imputados ao agente à título de dolo.

7. Dolo de dano: a vontade do agente é causar efetiva lesão ao bem jurídico tutelado.Dolo de perigo: o agente atua com a intenção de expor à risco o bem jurídico tutelado.Ex: art. 132.O dolo de dano ou de perigo pode resultar num ou noutro tipo penal.

9. Dolo genérico: o agente tem vontade de realizar a vontade descrita no tipo penal sem um fim específico. Dolo genérico é chamado apenas de dolo hoje em dia.Dolo específico: o agente tem vontade de realizar a conduta descrita no tipo penal visando um fim específico. Ex: 299 do CP. Hoje nós chamamos dolo específico de elemento subjetivo do tipo.Esta classificação está em desuso, está ultrapassada.

10. Dolo Geral (ou erro sucessivo) – será visto na próxima aula.

11. Dolo de ímpeto: dolo repentino. É uma circunstância atenuante.

Dolo de propósito: dolo refletido. Influencia na aplicação da pena.

De acordo com a doutrina finalista, o inimputável tem dolo, consciência e vontade dentro de seu precário mundo valorativo.E pratica fato típico e ilícito, sendo excluída a culpabilidade.

CRIME CULPOSOPrevisão legal: art. 18, II, CP.

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Crime culposo: consiste numa conduta voluntária que realiza um fato ilícito não querido pelo agente, mas que foi por ele previsto (culpa consciente) ou lhe era previsível (culpa inconsciente) e que podia ser evitado se o agente atuasse com o devido cuidado.O art. 33, II, do CPMilitar dá um ótimo conceito de crime culposo.

De acordo com a maioria, a culpa é elemento normativo psicológico da conduta nos delitos culposos.

Elementos do crime culposo:1- conduta (ação ou omissão) humana voluntária. Obs: a vontade do agente limita-se a realização da conduta e não a produção do resultado.2- violação de um dever de cuidado objetivo. O agente atua em desacordo com o que esperado pela lei e pela sociedade. Se agisse com prudência e discernimento o resultado não aconteceria.A violação desse dever pode acontecer de várias formas – modalidades de culpa:a) imprudência: é a afoitada;b) negligência: falta de precaução;c) imperícia: falta de aptidão técnica para exercício de arte, ofício ou profissão.O MP deve apontar a modalidade de culpa. Deve dizer se foi imprudência, negligência e imperícia.Se o MP denunciar com base na imprudência e na instrução perceber-se que na verdade houve imperícia, o que deve ser feito? O MP deve aditar a peça para que o réu se defenda com base na imperícia, pois antes ele estava se defendendo da imprudência que lhe foi imputada.

Imprudência, negligência e imperícia faz parte do direito penal da negligência. Quem age com imprudência também age com negligência e quem age com imperícia também age com negligência, ou seja, falta de precaução. Tem autores que nem divide nas 3 modalidades, chama tudo de negligência.

3- Resultado involuntário (resultado não querido ou não aceito pelo agente).Em regra, o crime culposo é material (tem resultado naturalístico).Excepcionalmente, o crime do art. 38 da lei 11343 é um exemplo de crime culposo sem resultado naturalístico. Na modalidade prescrever, não se exige que o paciente tome o remédio para que o crime fique consumado, basta a prescrição pelo médico.

4- Nexo entre conduta e resultado.5- Previsibilidade: possibilidade de conhecer o perigo.Não se confunde com previsão, pois nesta o perigo é conhecido, o agente previu o perigo.

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Crime com previsibilidade é culpa inconsciente.Crime com previsão é culpa consciente.

6- Tipicidade: art. 18, pu do CP, se o legislador quiser punir tal fato com crime culposo deve expressamente previr no tipo que pode ser praticado por culpa.

A previsibilidade subjetiva, isto é, sob o prisma subjetivo do autor do fato, levando em consideração seus dotes intelectuais, sociais e culturais, não é elemento da culpa, mas será considerado pelo juiz no juízo da culpabilidade (na exigência de conduta diversa).

Espécies de culpa:1- Culpa consciente: o agente prevê o resultado, mas espera que ele não ocorra, supondo poder evitá-lo com sua habilidade. É culpa com previsão.2- Culpa inconsciente: o agente não prevê o resultado, que, entretanto, era previsível. Culpa com previsibilidade.

3- Culpa própria: o agente não quer e não assume o risco de produzir o resultado. Esta espécie é gênero da culpa consciente e da culpa inconsciente.

4- Culpa imprópria, culpa por extensão, culpa por assimilação ou equiparação: é aquela em que o agente por erro evitável, fantasia certa situação de fato, supondo estar agindo acobertado por uma excludente de ilicitude (descriminante putativa). Em razão disso, provoca intencionalmente um resultado ilícito. Apesar de a ação ser dolosa, o agente responde por culpa, por razões de política criminal (art. 20, §1 do CP). A estrutura do crime é dolosa, porém, ele é punido como se culposo fosse.É a única modalidade de culpa em que se admite tentativa.

Culpa presumida ou in re ipsa: tratava-se de modalidade de culpa admitida pela legislação penal antes do CP de 1940. Consistia na simples inobservância de uma disposição regulamentar. Hoje a culpa não mais se presume, devendo ser comprovada.

CONSCIÊNCIA VONTADEDOLO DIRETO Previsão Quer o resultadoDOLO EVENTUAL Previsão O agente aceita o resultadoCULPA CONSCIENTE

Previsão O agente supõe poder evitar o resultado.

CULPA INCONSCIENTE

Não tem previsão, mas poderia ter previsto (previsibilidade).

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No direito penal não existe compensação de culpas.Para o STF, racha é dolo eventual.STF: embriaguez ao volante é culpa consciente.

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Crime preterdolosoPrevisão legal: art. 19 do CP.*CRIMES AGRAVADOS PELO RESULTADO:1- Crime doloso agravado dolosamente. Ex: homicídio qualificado.

2- Crime doloso agravado culposamente. Ex: lesão corporal seguida de morte. Somente este é o crime preterdoloso. Preterdoloso: dolo no antecedente e culpa no consequente. É uma espécie de crime agravado pelo resultado

3- Crime culposo agravado dolosamente. Ex: homicídio culposo majorado pela omissão de socorro. 121, §4 CP.

4- Crime culposo agravado culposamente. Ex: incêndio culposo agravado pela morte culposa.

No crime preterdoloso, o agente pratica o crime distinto do que havia projetado cometer, advindo resultado mais grave, decorrência de culpa. Cuida-se de espécie de crime agravado pelo resultado, havendo concurso de dolo e culpa no mesmo fato (dolo na conduta e culpa no resultado). É uma figura híbrida.Elementos do preterdolo:1- Conduta dolosa visando determinado resultado;2- Resultado culposo mais grave do que o evento projetado;3- Nexo causal entre conduta e resultado.

Obs: se o resultado mais grave advém de caso fortuito ou força maior não se aplica a qualificadora (evitando-se a responsabilidade penal objetiva).

Aula 10ERRO DE TIPOErro de tipo: é o erro do agente que recai sobre os requisitos constitutivos do tipo penal (art. 20, CP). O agente não tem consciência ou não tem plena consciência da sua conduta. O agente não sabe ou não sabe exatamente o que faz.Ex1: quem subtrai ferro-velho supondo ser sucata abandonada (coisa sem dono) não comete o crime de furto porque está equivocado quanto a “elementar coisa alheia móvel”.Ex2: quem vende a um adolescente “cola de sapateiro” pensando, em face de sua aparência física, que se trata de pessoa maior de 18 anos, não responderá pelo crime do art. 243 do ECA, pois não tinha consciência de que a vítima era menor de 18 anos.

Diferença entre erro de tipo e erro de fato.Erro de fato: É o erro do agente que recai puramente sobre a situação fática (elementos objetivos). Ex: matar homem achando que era cachorro.Erro de tipo: É o erro que recai:

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a) sobre os requisitos ou elementos fáticos descritivos do tipo (elementos objetivos) (é o antigo erro de fato);b) sobre os requisitos jurídico-normativos do tipo (isso no passado era chamado de erro de direito). Ex: coisa alheia.

No erro de tipo, hoje, é abrangido o erro de fato e o erro de direito.Não se fala mais em erro de fato e erro de direito.

Erro de tipo e erro de proibiçãoErro de tipo: há falsa percepção da realidade que circunda o agente. O agente não sabe o que faz ou não sabe completamente o que faz.Erro de proibição: o agente percebe a realidade, equivocando-se sobre a regra de conduta. O agente sabe o que faz, mas ignora (desconhece) a proibição da conduta. Ex: “A” se apropria de coisa achada imaginando: “achado não é roubado”. Isso é apropriação de coisa achada. O agente não sabia que era proibido pela conduta.

Espécies de erro de tipo:1- Erro de tipo essencial: é o erro que recai sobre elementares objetivas (antigo erro de fato) ou normativas (antigo erro de direito) dados relevantes do tipo penal. Se alertado do erro, o agente deixaria de agir ilicitamente. Art. 20 do CP.Ex: “A” vai caçar. No local próprio para a caça, “A” vê um arbusto se mexendo e atira contra o arbusto imaginando que lá se escondia um animal, mas depois ele descobre que lá havia uma pessoa.

O erro de tipo essencial pode ser: inevitável ou evitável.Erro de tipo essencial:a) inevitável: Exclui o dolo e exclui a culpa. O agente não tem consciência do que faz. Consciência é um dos elementos do dolo.Exclui culpa porque o resultado é imprevisível.

b) evitável: Exclui o dolo, porém pune a culpa, se previsto crime culposo para a conduta. Exclui o dolo porque o agente não tinha consciência. Porém não se exclui a culpa porque o resultado era previsível.

Obs: no erro de tipo essencial sempre se exclui o dolo.

Como diferenciar erro evitável de erro inevitável:1ª corrente: se o homem médio (de diligência mediana) pudesse evitar o erro, o erro é evitável. Ainda prevalece a 1ª corrente.2ª corrente: deve ser analisado o rol de circunstâncias do caso em concreto. A idade e o grau de instrução do agente podem interferir na evitabilidade do erro. Corrente minoritária moderna.

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2- Erro de tipo acidental: recai sobre dados irrelevantes do tipo. Se alertado, o agente corrige e continua agindo ilicitamente.Ex: furtar sal achando ser açúcar.

Há várias espécies de erro de tipo acidental:a) erro de tipo acidental sobre a pessoa: o agente representa equivocadamente a pessoa que busca atacar com a conduta criminosa. Previsto no art. 20, §3 do CP.Obs: não há erro na execução, mas apenas na representação da pessoa.Ex: “A” espera seu pai abrir a porta para matá-lo, pensando ser seu pai entrando em casa “A” atira, porém, atinge irmão de seu pai.Aqui a execução foi perfeita, o agente se enganou quanto à pessoa.Consequências para o erro de tipo acidental sobre a pessoa: não exclui dolo nem culpa, não isenta o agente de pena.O agente responde pelo crime considerando as qualidades da vítima PRETENDIDA.

b) erro de tipo acidental sobre o objeto: O agente equivocadamente busca resultado sobre um objeto, mas o obtém sobre objeto não querido. Não tem previsão legal. Ex: “A” quer subtrair um relógio, porém o furta imaginando ser de ouro, mas era relógio falso. Consequências do erro acidental sobre o objeto: não exclui o dolo nem a culpa, não isenta o agente de penal, ou seja, o agente responde pelo crime considerando o objeto EFETIVAMENTE ATACADO. O agente NÃO responde considerando o objeto querido, mas sim o efetivamente atacado por sua conduta.Obs: para Zaffaroni deve ser aplicado o princípio do in dubio pro reo, ou seja, considera-se o objeto que gerar consequências mais favoráveis ao réu.

Pode até mesmo ser aplicado o princípio da insignificância em conformidade com o objeto atacado.

c) erro de tipo acidental sobre erro na execução ou aberratio ictus: o agente, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, atinge pessoa diversa da pretendida. Previsto no art. 73 do CP. Não há erro de representação, mas de execução. O agente representa corretamente a vítima, mas erra na execução da conduta.Ex: “A”, errando a pontaria, querendo matar seu pai, acaba matando um amigo que estava ao lado da vítima pretendida.

ERRO SOBRE A PESSOA ERRO NA EXECUÇÃORepresentação equivocada da vítima Representação correta da vítimaExecução perfeita Execução falha

Consequências do erro de tipo acidental sobre o erro na execução: não exclui dolo nem culpa, não isenta o agente de pena.

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Conclusão: o agente responde pelo crime considerando as qualidades da vítima pretendida (mesma coisa do art. 20, §3, CP).

Obs: se atingida também a pessoa visada, aplica-se o concurso formal de crimes.Obs2: sempre que o agente assumir o risco de causar o 2º ou mais resultados será dolo eventual e responderá dolosamente por todos os resultados.

Situações possíveis e suas soluções:1º- Tício quer matar “A”, mas por erro na execução, acabo matando “B”. O agente responde por homicídio doloso considerando as qualidades de “A”.

2º- Mévio quer matar Carlos, mas por erro na execução, acaba matando Carlos e Roberto. O agente responde por homicídio doloso de Carlos e homicídio culposo de Roberto em concurso formal de crimes.

3º- Tício quer matar “A” com arma, mas acabou causando ferimentos em “A” e matou “B” que estava ao lado de “A”.O agente responde por tentativa de homicídio por “A” e homicídio culposo de “B” em concurso formal.

4º- Tício quer matar “A” com arma, mas acaba matando “A” e causando ferimentos em “B” que estava ao lado de “A”.O agente responde por homicídio doloso por “A” e lesão corporal (leve, grave ou gravíssima, a depender do caso concreto) CULPOSA em relação a “B”.Espécies de aberratio ictus:a) por acidente: não há erro no golpe, mas desvio na execução. Ex: colocar bomba no carro para explodir quando “A” ligar o motor. No entanto, no dia, quem liga o motor é seu empregado “B”. Não houve erro nos meios de execução, mas apenas acidente.Ex2: mulher coloca veneno na marmita do marido, mas o filho é quem acaba comendo. Houve acidente.

b) erro no uso dos instrumentos de execução: há erro no golpe, falha no uso do instrumento. Ex: falha na pontaria.

O agente quer matar o policial federal José, mas por erro na execução acaba matando o policial civil Mário, que estava ao lado de José. Quem será o competente para julgar a causa? O erro sobre a pessoa ou o erro na execução não tem relevância para efeito de determinação de competência. Nesse caso, não vale a qualidade da pessoa que o agente pretendia atingir, mas sim a pessoa efetivamente lesada. Erro é matéria de direito penal, mas para o processo penal considera-se a pessoa atingida.

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d) erro de tipo acidental sobre resultado diverso do pretendido ou aberratio criminis: o agente, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, provoca lesão jurídica em bem jurídico diverso do pretendido. Previsão legal, art. 74 do CP. Obs: se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a regra do concurso formal.

Ex: agente atira uma pedra para danificar o veículo de “A”, mas por falha na pontaria, acaba acertando o motorista que veio a falecer.Resultado pretendido: é o dano no veículo.Resultado produzido: morte do motorista.Então, o agente responderá por homicídio culposo do motorista.

Ex2: agente quer matar motorista com pedrada, mas por erro danifica o veículo.Resultado pretendido: morte do motorista.Resultado produzido: dano no veículo.Então, pela letra da lei, o agente responderia por dano culposo, mas isso não é previsto em lei. Todavia, alerta Zaffaroni que não se aplica o art. 74 do CP se o resultado produzido é menos grave (bem jurídico menos valioso) que o resultado pretendido, sob pena de prevalecer a impunidade. Nesse caso, o agente responde pela tentativa do resultado pretendido não alcançado.Consequências no erro acidental de tipo resultado diverso do pretendido: o agente responde pelo resultado produzido (diverso do pretendido) à título de culpa.

Art. 73 do CP – Aberratio ictus Art. 74 do CP – Aberratio criminisHá erro na execução Há erro na execuçãoO agente atinge o mesmo bem jurídico visado.

O agente atinge bem jurídico diverso do pretendido.

O resultado provocado é o mesmo que o pretendido, mas atinge pessoa diversa.

O resultado provado é diverso do pretendido.

Relação pessoa vs pessoa. Relação coisa vs pessoa, por exemplo.

e) erro de tipo acidental sobre o nexo causal: Não há previsão legal.Erro sobre o nexo causal, espécies:1º- Erro sobre o nexo causal em sentido estrito: o agente, mediante um só ato, provoca o resultado pretendido, porém com outro nexo de causalidade.Ex: empurro a vítima de um penhasco para morrer afogada, porém na queda bate a cabeça numa pedra e morre de traumatismo craniano.

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2º- Dolo geral ou erro sucessivo: o agente, mediante conduta desenvolvida em 2 ou mais atos, provoca o resultado pretendido, porém com outro nexo de causalidade.Ex: Depois de atirar contra a vítima e imaginá-la morta, jogo seu corpo no mar, imaginando estar morta, porém a vítima morre afogada. 2 atos: atirar contra a vítima e jogar o corpo no mar.

Consequências do erro sobre o nexo causal: não exclui dolo nem culpa, não isenta o agente de pena. O agente responde pelo resultado produzido (mas com qual nexo causal? Há 3 correntes).1ª corrente: considera-se o nexo pretendido.2ª corrente: considera-se o nexo ocorrido (real). O agente, de modo geral, aceita qualquer meio para atingir o fim. Essa corrente prevalece.3ª corrente: considera-se o nexo mais favorável ao réu.

3- Erro de tipo determinado por terceiro (terceira espécie de erro de tipo): previsão no art. 20, §2 do CP.Obs: no erro de tipo, o agente erra por conta própria. Já no art. 20, §2º do CP, o agente erra induzido por terceiro.Ex: o médico quer matar o paciente e troca a ampola e induz a enfermeira a erro de modo a ministrar a substância letal na vítima, e esta acaba morrendo.Consequências do erro de tipo determinado por terceiro:- Provocador: quem determina dolosamente o erro de outrem, responde por dolo. Mas quem determina culposamente o erro de outrem, responde por culpa. O provocador é o autor mediato.- Provocado: se teve erro inevitável exclui o dolo e a culpa. Mas se teve erro evitável exclui o dolo, mas pune-se a culpa.

Aula 11

DO ERROErro de tipo: é a falsa percepção da realidade. O agente não sabe ou não sabe exatamente o que faz. Ex: pego um guarda-chuva achando que era o meu.Erro de tipo se divide em: essencial e acidental.Erro de tipo essencial recai sobre dados essenciais do tipo. Pode ser inevitável e evitável.

Erro de tipo acidental recai sobre dados secundários ou periféricos do tipo. Possui 5 espécies:a) erro de tipo acidental sobre o objeto.b) erro de tipo acidental sobre a pessoa.c) erro de tipo acidental na execução (ou aberratio ictus).d) erro de tipo acidental no resultado diverso do pretendido (ou aberratio criminis).e) erro de tipo acidental sobre o nexo causal (aberratio causae).Delitos aberrantes: c, d, e.

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Erro de proibição: o agente percebe a realidade, mas desconhece a proibição da sua conduta. O agente sabe o que faz, mas desconhece a sua ilicitude.

Erro de subsunção: trata-se de erro que recai sobre interpretações jurídicas. O agente interpreta equivocadamente o sentido jurídico do seu comportamento.Ex: o agente não sabe que cheque é documento público por equiparação. O agente não sabe que jurado é funcionário público para fins penais.Não se confunde com erro de tipo, pois não há falsa percepção da realidade; não se confunde com erro de proibição, pois o agente sabe da ilicitude de seu comportamento.Previsão legal: não tem (criação doutrinária).

Consequências: não exclui dolo, nem culpa, não isenta o agente de pena. Pode somente gerar uma atenuante.Tem doutrina entendendo que o erro de subsunção é espécie de erro de proibição, irrelevante por cuidar de erro que afeta tão somente a punibilidade da conduta.

Erro de tipo e delito putativo por erro de tipoERRO DE TIPO DELITO PUTATIVO POR ERRO DE

TIPOO agente não sabe o que faz (falsa percepção da realidade).

O agente não sabe o que faz (falsa percepção da realidade).

O agente imagina estar agindo licitamente.Ex: atirar num arbusto achando ser um animal, mas era ser humano.

O agente imagina estar agindo ILICITAMENTE. Ex: atira contra pessoa morta, que imaginava estar viva.

O agente ignora a presença de uma elementar. (no exemplo: “alguém”).

O agente desconhece a ausência da elementar. (no exemplo: “alguém”).

Exclui dolo e culpa quando inevitável.Pune a culpa quando evitável.

Natureza jurídica: espécie de crime impossível.

CRIME COMISSIVO E OMISSIVO

CRIME COMISSIVO: o agente viola um tipo proibitivo fazendo o que a lei proíbe.

Tipo proibitivo: o direito penal protege bens jurídicos proibindo algumas condutas desvaliosas.

Ação: é a conduta (fazer) desvaliosa proibida pela norma. Ex: matar alguém.

CRIME OMISSIVO: o agente viola um tipo mandamental não fazendo o que a lei determina.

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Tipo mandamental: o direito penal protege bens jurídicos determinando a realização de condutas valiosas.Omissão: é uma conduta valiosa não realizada pelo agente, contrariando a determinação da norma.A norma mandamental pode decorrer:a) do próprio tipo penal: a omissão está descrita no tipo incriminador. Ex: omissão de socorro, art. 135 do CP. Omissão própria (ou pura)b) de uma cláusula geral: descreve a omissão penalmente relevante. Art. 13, §2º do CP. Omissão imprópria (ou impura ou comissivo por omissão). Relevância penal da omissão nos crimes omissivos impróprios: inação do agente + poder de agir + dever jurídico de agir.

OMISSÃO PRÓPRIA OMISSÃO IMPRÓPRIAO agente tem dever genérico de agir.

O agente tem dever jurídico de evitar o resultado.

O dever genérico atinge a todos indistintamente.

Atinge somente os agentes garantidores (art. 13, §2 CP).

A omissão está descrita no tipo. O agente responde por crime comissivo como se tivesse provocado o resultado.

São crimes de mera conduta. São crimes materiais.Não admitem tentativa. Admitem tentativa.São sempre dolosos. Podem ser culposos ou dolosos.

Ex: “A” não socorre “B”, quando este precisava, e “B” morre.Se “A” não era garantidor, nos termos do art. 13, §2 do CP, responderá por omissão de socorro. No entanto, se era garantidor, responderá pelo resultado morte como se o tivesse provocado por ação (dolosa ou culposa). Trata-se da omissão imprópria.

Erro mandamental: é o erro do agente que recai sobre uma norma mandamental, ou seja, norma que manda agir. É uma espécie de erro de tipo. O agente não sabia que tinha o dever legal de impedir o resultado.

Crime de conduta mista: trata-se de delito que possui conduta antecedente por ação e conduta subsequente por omissão.Ex: art. 169, p.u., II do CP. Achado não é roubado, mas achado e não devolver é apropriação de coisa achada. É também exemplo de um crime a prazo.

RESULTADO (ou EVENTO)É elemento do fato típico.Espécies de resultado:1) Resultado naturalístico (ou material): da conduta resulta alteração física no mundo exterior.2) Resultado normativo (ou jurídico): da conduta resulta relevante lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado.

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Classificação do crime quanto ao resultado naturalístico:a) Crime material: o tipo penal descreve CONDUTA + RESULTADO NATURALÍSTICO. O resultado naturalístico é indispensável para a consumação. Ex: 121 do CP. b) Crime formal (ou consumação antecipada): o tipo penal também descreve CONDUTA + RESULTADO NATURALÍSTICO. Porém, o resultado naturalístico é dispensável, pois o crime se consuma apenas com a conduta. Se ocorre o resultado naturalístico será mero exaurimento.

c) Crime de mera conduta: o tipo penal descreve somente CONDUTA. Então, consuma-se somente com a conduta.Ex: 150 do CP.

Todo crime há resultado normativo (ou jurídico). Mas nem todo crime tem resultado naturalístico.O crime se tentado, mesmo em qualquer tipo de crime, nunca haverá resultado naturalístico.

Classificação do crime quanto ao resultado normativo:a) Crime de dano ou de lesão: a consumação exige efetiva lesão ao bem tutelado.

b) Crime de perigo: a consumação se dá com a exposição de perigo a um bem jurídico. Subdivide-se em:b.1) Crime de perigo abstrato: o perigo é absolutamente presumido por lei. Isso é constitucional? Existem 2 correntes:1ª- Crime de perigo abstrato viola o princípio da lesividade ou ofensividade.2ª- O crime de perigo abstrato revela maior zelo do Estado em proteger adequadamente certos interesses.

b.2) Crime de perigo concreto: o perigo deve ser comprovado.c) Crimes de perigo individual: atingem uma pessoa ou um número determinado de pessoas. Ex: contágio venéreo (art. 130 CP).d) Crimes de perigo comum ou coletivo: atingem um número indeterminado de pessoas. Ex: explosão criminosa (251 do CP).e) Crime de perigo atual: perigo está ocorrendo, como no abandono de incapaz (art. 133 do CP).f) crimes de perigo iminente: o perigo está prestes a ocorrer.g) Crimes de perigo futuro ou mediato: a situação de perigo decorrente da conduta se projeta para o futuro. Ex: porte ilegal de arma de fogo permitido ou restrito (lei 10826, art. 14 e 16).

NEXO DE CAUSALIDADE (ou RELAÇÃO DE CAUSALIDADE)É elemento do fato típico.Conceito: vínculo entre conduta e resultado. O estudo da causalidade busca concluir se o resultado, como um fato, ocorreu da conduta e se pode ser atribuído, objetivamente, ao sujeito ativo, inserindo-se na sua esfera de

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autoria por ter sido o agente do comportamente. Busca-se saber se a conduta do agente provocou o resultado.Previsão legal: art. 13, caput do CP.O art. 13, caput, do CP, adotou a causalidade simples, generalizando as condições, é dizer, todas as causas concorrentes se põem no mesmo nível de importância, equivalendo-se em seu valor (teoria da equivalência dos antecedentes causais ou conditio sine qua non).Causa: toda conduta pretérita sem a qual o resultado não ocorreria como e quando ocorreu.Como saber se a conduta foi determinante para o resultado? R: aplica-se a teoria da eliminação hipotética dos antecedentes causais.No campo mental da suposição ou da cogitação, o aplicador deve proceder a eliminação da conduta para concluir pela persistência ou desaparecimento do resultado. Persistindo o resultado, a conduta não é causa; se desaparecer o resultado, então, será causa.

Causas do resultado? Aplica-se a causalidade simples (com a teoria da eliminação hipotética dos antecedentes causais).Obs: essa fórmula pode resultar numa regressão infinita. E tudo pode ser considerado causa.A teoria da equivalência é muito extensa, permitindo o regresso ao infinito na investigação do que seja causa. Numa morte por envenenamento, por exemplo, o fabricante do veneno pode ser considerado causa; os pais do homicida podem ser considerados causa. Entretanto, para evitar a responsabilidade de certas condutas antecedentes que contribuíram para o resultado, a doutrina clássica analisa o dolo e a culpa como limites da responsabilidade.Responsabilidade pela infração pressupõe: imputação objetiva do evento (causa) + imputação subjetiva (dolo e culpa).

Concausa: é a pluralidade de causas concorrendo para o mesmo evento. Ex: “A” atira (causa 1) em “B”, sendo que este morre por causa do acidente ocorrido com a ambulância (causa 2).

Concausas:1- Absolutamente independentes: A causa efetiva não se origina, direta ou indiretamente, da causa concorrente.Podem ser:a) Preexistente: a causa efetiva antecede a causa concorrente. Ex: “A” às 19h deu veneno para a vítima. 20h “B” dispara contra a vítima. Às 21h morreu em razão do veneno. O veneno é a causa efetiva. O disparo é a causa concorrente. A causa efetiva se originou da causa concorrente? Não. “A” teria morrido mesmo que “B” não tivesse atirado na vítima.Eliminando-se o disparo, a vítima morreria do mesmo modo. Então, o disparo não é causa da morte.Conclusão: “B” responderá por tentativa de homicídio.

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b) Concomitante: a causa efetiva e a causa concorrente são simultâneas. Ex: Fulano às 19h dá veneno para a vítima e Beltrano também às 19h assalta e atira contra a vítima, que morre às 19h30min em razão dos disparos.O veneno foi causa concorrente. O disparo foi a causa efetiva.A causa efetiva não se origina da causa concorrente.Eliminando a causa concorrente, o resultado ocorreria do mesmo modo. O veneno não é causa do resultado.Conclusão: Fulano responde por tentativa de homicídio.

c) Supervenientes: a causa efetiva é posterior a causa concorrente. Ex: Fulano às 19h dá veneno para vítima, porém às 20h ocorre a queda do lustre na cabeça da vítima, que morre às 21h por traumatismo craniano.A causa efetiva é a queda do lustre. O envenenamento é causa concorrente.A queda do lustre se originou do veneno? Não. A causa efetiva não se origina da causa concorrente.Eliminando o veneno, o resultado persiste. Logo, o veneno não foi causa do resultado.Conclusão: Fulano responderá por tentativa de homicídio.

Obs: na concausa absolutamente independente o resultado não será imputado a causa concorrente, respondendo o seu agente por tentativa. Se é absolutamente independente a concausa SEMPRE o agente responderá por tentativa.

2- Relativamente independentes: a causa efetiva do evento se origina, direta ou indiretamente, da causa concorrente.a) Preexistente:Ex: Fulano desfere facadas com intenção de matar em Beltrano (portador de hemofilia), que vem a falecer em consequência dos ferimentos aliado a seu estado.A hemofilia é causa efetiva. As facadas são causas concorrentes.A causa efetiva se origina da causa concorrente. Eliminando-se o golpe de faca, o resultado desaparece. Então, o golpe de faca é causa do resultado.Conclusão: Fulano responde por homicídio consumado. Responde por crime consumado.Tem jurisprudência exigindo que Fulano conheça a condição particular de Beltrano, evitando responsabilidade penal objetiva.

b) Concomitante:Ex: Fulano atira na vítima às 19h, e às 19h, em razão do disparo, a vítima sofre um ataque cardíaco e morre.A causa efetiva se origina da causa concorrente. Eliminando-se o disparo, o resultado desaparece.O disparo é causa da morte.Conclusão: fulano responde por homicídio consumado. Responde por crime consumado.

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c) SupervenienteSomente aqui não se aplica o art. 13, caput, do CP, mas sim o art. 13, §1 do CP.Obs: de acordo com o art. 13, §1 do CP existem 2 espécies de concausas relativamente independente superveniente:1ª- Que por si só produz o resultado: o resultado sai da linha de desdobramento causal normal da conduta concorrente (evento imprevisível para a conduta concorrente). A conduta concorrente não é idônea para produzir o resultado.Ex: Fulano atira na vítima, ela vai para o hospital, e este pega fogo ou desaba seu teto. É um evento imprevisível para quem atirou.Fulano responderá por tentativa.

2ª- Que não produz por si só o resultado: o resultado está na linha de desdobramento causal normal da conduta concorrente (evento previsível para a conduta concorrente). A conduta concorrente é idônea para produzir o resultado.Ex: Fulano atira na vítima para matar, porém ela morre em decorrência do erro médico.Tem prevalecido que o erro médico não por si só produz o resultado. A conduta concorrente responde por crime consumado.O tiro é conduta idônea a produzir o resultado, pois erro médico é previsível para quem atira na vítima.O agente responde por crime consumado.A infecção hospitalar é desdobramento da conduta do agente, então responderá por crime consumado.

O art. 13 caput se aplica às concausas absolutamente independentes (todas) e relativamente independentes preexistentes e concomitantes a causalidade simples. Causa é a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.A concausa relativamente independente superveniente é adotada pelo art. 13, §1 do CP – causalidade adequada. Somente haverá imputação do evento se, do conjunto das causas, fosse a conduta do agente, consoante as regras de experiência comum, a mais adequada a produção do resultado ocorrente.

TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVATeoria da equivalência Teoria da imputação objetivaImputação objetiva do resultado: Contenta-se com o simples nexo causal, ou seja, relação de causa/efeito.

Imputação objetiva do resultado: nexo causal + nexo normativo.Nexo normativo:a) é a criação ou incremento de um risco não permitido;b) realização do risco no resultado;c) resultado dentro do alcance do tipo.

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Imputação subjetiva do resultado: dolo e culpa.

Imputação subjetiva do resultado: dolo e culpa.

Imputação objetiva e subjetiva = responsabilidade penal.

Imputação objetiva e subjetiva = responsabilidade penal.

A teoria da imputação objetiva se insurge (vai contra, revolta-se) contra o regresso ao infinito da causalidade simples. Ela veio para enriquecer a causalidade acrescentando o nexo normativo.Nexo normativo: a) é a criação ou incremento de um risco não permitido. Não há possibilidade de imputação se o autor modifica um curso causal de modo que o perigo já existente para a vítima seja diminuído. Ex: Fulano, percebendo que Beltrano vai ser atropelado, empurra o amigo que cai e fratura o braço.Para a teoria da equivalência, Fulano praticou lesão corporal dolosa, porém agiu em estado de necessidade de terceiro.Para a teoria da imputação objetiva, Fulano sequer é causa da lesão em Beltrano, pois diminuiu o risco para a vítima.

b) realização do risco no resultado: resultado na linha de desdobramento causal normal da conduta. O resultado não é atribuído ao autor como realização do risco de lesão do bem jurídico nos casos de substituição de um risco por outro e em algumas hipóteses de contribuição da vítima para o resultado.Ex: erro médico para salvar vítima de disparo com intenção de morte.Imputação objetiva:1- Se o resultado é produto exclusivo da falha médica: médico responde por homicídio culposo; o atirador responde por tentativa de homicídio.2- Se o resultado é produto combinado de ambos os riscos (tiro + falha médica): médico responde por homicídio culposo; o atirador responde por homicídio consumado.

c) resultado dentro do alcance do tipo: abrangência do resultado pelo tipo penal.Ex: Fulano atira em Beltrano. Ao ser socorrido, Beltrano morre em razão de um acidente entre a ambulância que o transportava e outro veículo.Pela teoria da equivalência, há 2 correntes:1ª Corrente: o acidente é concausa relativamente independente superveniente que por si só provocou a morte. O atirador responderá por homicídio tentado.2ª Corrente: o acidente é concausa relativamente independente superveniente que não por si só provocou a morte. O atirador responde por homicídio consumado.

Pela teoria da imputação objetiva, não é objetivo do tipo do art. 121 do CP prevenir as mortes causadas por acidentes de veículos que não esteja sob o

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domínio direto ou indireto do autor. O atirador responderá por homicídio tentado.

Ex: fábrica de automóvel, e esse automóvel causa um acidente.O fabricante do automóvel é causa do acidente, se não tivesse criado o carro, não teria acidente. Porém não será responsabilizado porque não tem dolo ou culpa – Teoria da causalidade.Para a teoria da imputação objetiva, fabricante é causa do acidente. Mas e o nexo normativo? Esse risco é permitido pela sociedade (criação de carros). Então não tem nexo normativo, e não é causa do acidente.Essa teoria deveria ser chamada de teoria da não imputação objetiva, pois é o que se busca.

Relação de causalidade nos crimes omissivosTemos 2 espécies de crimes omissivos: puros e impuros.

Nexo causal nos crimes omissivos própriosEx: Fulano percebe Beltrano em perigo e não socorre (art. 135 do CP). Omissão sem resultado naturalístico (o tipo não descreve o resultado naturalístico). No crime omissivo próprio, há somente a omissão de um dever de agir, dispensando a relação de causalidade (trata-se de delito de mera conduta, sem resultado naturalístico).

Nexo causal nos crimes omissivos imprópriosEx: Fulana, dolosamente, deixa de alimentar a filha de tenra idade, que vem a falecer. Temos omissão e um resultado naturalístico. Não há nexo causal. No crime omissivo impróprio o dever de agir é para evitar um resultado concreto. Estamos diante de um crime de resultado material, exigindo, consequentemente, um nexo entre a omissão e o resultado.Esse nexo, no entanto, não é naturalístico (do nada, nada surge). Na verdade, o vínculo é jurídico (nexo de não impedimento ou não evitação). Inação = omissão.OMISSÃO PRÓPRIA OMISSÃO IMPRÓPRIAO agente tem dever genérico de agir.

O agente tem dever jurídico de evitar o resultado.

O dever genérico atinge a todos indistintamente.

Atinge somente os agentes garantidores (art. 13, §2 CP).

A omissão está descrita no tipo. O agente responde por crime comissivo como se tivesse provocado o resultado.

São crimes de mera conduta. São crimes materiais.Não admitem tentativa. Admitem tentativa.São sempre dolosos. Podem ser culposos ou dolosos.Omissão Omissão + resultado naturalístico

Imputação objetiva nasceu no direito civil.

TIPICIDADE PENAL

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DOUTRINA CLÁSSICA DOUTRINA MODERNATipicidade penal = tipicidade formal (perfeito ajuste do fato ao tipo penal)

Tipicidade penal = tipicidade formal + tipicidade material (relevância da lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico).O princípio da insignificância exclui a tipicidade material (e consequentemente o fato típico).

Tipicidade penal: tipicidade formal + tipicidade conglobante (tipicidade material e atos antinormativos).Atos antinormativos: atos não determinados ou não incentivados por lei. Tipicidade conglobante: trata-se de um corretivo da tipicidade penal. Tem como requisitos a tipicidade material (relevância da lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico) e antinormatividade do ato (ato não determinado ou não incentivado por lei).Consequência: o estrito cumprimento de um dever legal e o exercício regular de direito incentivado deixam de excluir a ilicitude para excluir a tipicidade (e consequentemente o fato típico).

Obs: A legítima defesa e o estado de necessidade não migram para a tipicidade pois não são determinados ou incentivados por lei, mas apenas permitidos.

Tipicidade formal, espécies:1- Adequação-típica direta ou imediata: ocorre quando há somente 1 dispositivo para fazer o ajuste fato/tipo penal.Ex: tipo penal 121 do CP.Fato: “A” matou “B”.Ocorreu o ajuste imediato.

2- Adequação-típica indireta ou mediata: é imprescindível mais de 1 dispositivo para fazer a adequação típica.Ex: Tipo penal: art. 121 do CP.Fato: “A” tentou matar “B”.O 121 só pune o matar alguém, e não o tentar matar alguém.Deve-se usar o art. 14, II do CP para poder fazer o ajuste.Ex: tipo penal: 121 do CP.Fato: “A” induziu “B” a matar “C”.Quanto ao “B” houve ajuste direto. Mas quanto ao “A” é necessário aplicar o art. 29 do CP junto com o 121, é o ajuste indireto.

Como se chamam as normas auxiliares na tipicidade indireta ou mediata? São normas de extensão.O art. 14, II do CP é uma norma de extensão temporal (amplia o tipo para alcançar fatos incompletos).O art. 29 do CP é uma norma de extensão pessoal (amplia o tipo para alcançar partícipes).

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O art. 13, §2 do CP é uma norma de extensão causal (amplia o tipo para alcançar garantidores).

Aula 13Ilicitude ou antijuridicidade? Há doutrina dizendo que os termos são sinônimos.Obs: o CP somente reconhece ilícito.Em todas teorias, a ilicitude é requisito do crime.Ilicitude: entende-se a relação de contrariedade entre o fato típico e o ordenamento jurídico como um todo, se não existir qualquer exceção determinando, incentivando ou permitindo a conduta típica (que apesar de típica, será lícita).

Obs: o conceito de ilicitude muda para os adeptos da tipicidade conglobante, entendendo-se a relação de contrariedade entre o fato típico e o ordenamento jurídico como um todo, se não existir qualquer exceção permitindo a conduta típica. As condutas determinadas ou incentivadas por lei não são típicas para a tipicidade conglobante.

Antijuridicidade formal: contrariedade do fato típico a todo o ordenamento jurídico. Para a doutrina moderna, antijuridicidade formal é ilicitude.Antijuridicidade material: relevância da lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico. Para a doutrina moderna, a antijuridicidade material é tipicidade material.Não se usa mais essa classificação.

O princípio da insignificância exclui qual requisito do crime?R: exclui a tipicidade material (a antiga antijuridicidade material), consequentemente o fato típico.

RELAÇÃO TIPICIDADE x ILICITUDE1) Teoria da autonomia (ou teoria da absoluta independência): a tipicidade não tem qualquer relação com a ilicitude. Beling é um adepto.2) Teoria da indiciariedade (ou teoria da “ratio cognoscendi”): se há fato típico, presume-se, relativamente, a ilicitude. Se há fato típico, há indícios de ilicitude. O Brasil adotou esta teoria.Consequência: o ônus da prova da existência da descriminante (exclui a ilicitude) é da defesa. Mayer é um adepto.

3) Teoria da absoluta dependência (ou “ratio essendi”): a ilicitude é a essência da tipicidade (o fato somente será típico se também for ilícito). Cria o tipo total do injusto. Mezger é um adepto.

4) Teoria dos elementos negativos do tipo: para essa teoria, o tipo penal é composto de:

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a) elementos positivos: são elementares do tipo, que devem ocorrer para que o fato seja típico. São elementos explícitos.b) elementos negativos: são elementos que não devem ocorrer para que o fato seja típico. São elementos implícitos.Ex: 121 do CP. Matar alguém são os elementos positivos, devem ocorrer para que o fato seja típico. Os elementos negativos de QUALQUER TIPO são o E.N., L.D., ECDL e ERD. São as excludentes de ilicitude, que estão implícitas em todos os tipos penais.

Prevalece que o Brasil adotou a teoria da indiciariedade (ou da ratio cognoscendi). Então, se o MP comprova que uma pessoa praticou um fato típico, presume-se que não agiu em legítima defesa. O ônus da prova da legítima defesa é do réu. Sendo o ônus da prova do réu, não se aplica a máxima do “in dubio pro reo”, ou seja, na dúvida o juiz condena.

Art. 386 do CPP:Antes:O juiz absolve o réu se comprovada circunstância que exclua o crime. Na dúvida, condena o réu. A jurisprudência dizia: na dúvida razoável (fundada) o juiz deve absolver. Não é qualquer dúvida que deveria condenar.Depois:O juiz absolve o réu se comprovada circunstância que exclua o crime ou se houver dúvida fundada sobre a existência de circunstância que exclua o crime. Art. 386, VI do CPP.O juiz condena na hipótese de dúvida simples (ou não fundada).Conclusão: foi temperada a teoria da indiciariedade.

CAUSAS DE EXCLUSÃO DA ILICITUDESão chamadas de descriminantes ou de justificantes.

Temos causas de exclusão:LEGAIS SUPRALEGAISCP- art. 23 e 128 (aborto permitido- causa especial de exclusão da ilicitude).Lei 9609/98.CF/88- apesar de divergente, temos doutrina ensinando que a imunidade parlamentar exclui a ilicitude (mas não é o que prevalece). Mas exclui na verdade a tipicidade.

- Consentimento do ofendido

ESTADO DE NECESSIDADEPrevisão legal: art. 23, I e 24 do CP.Conceito: considera-se em estado de necessidade quem pratica fato típico, sacrificando um bem jurídico, para salvar de perigo atual direito próprio ou de terceiro, cujo sacrifício, nas circunstâncias não era razoável exigir-se. Se

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há 2 bens em perigo, o Estado permite (não incentiva nem determina) que seja sacrificado um deles, pois, diante do caso concreto, a tutela penal não pode salvaguardar a ambos.Requisitos:1º- O perigo deve ser atual.2º- Que a situação de perigo não tenha sido causada voluntariamente pelo agente. 3º- Salvar direito próprio ou alheio.4º- Inexistência do dever legal de enfrentar o perigo.5º- Inevitabilidade do comportamento lesivo.6º- Inexigibilidade de sacrifício do direito ameaçado.7º- Conhecimento da situação de fato justificante (requisito subjetivo).

1º- O perigo deve ser atual. O perigo atual pode decorrer de:a) fato da natureza;b) comportamento humano;c) comportamento de um animal.O perigo atual não tem destinatário certo, ao contrário da legítima defesa.

Abrange o perigo iminente?Primeira corrente: em que pese o silêncio da lei, o perigo iminente (próximo) deve ser abrangido. Não posso ser obrigado a esperar o perigo iminente se tornar perigo real.Segunda corrente: diante do silêncio da lei, o perigo iminente não foi adotado (circunstância distante para permitir ao agente sacrificar bens jurídicos alheios). Esta corrente prevalece.

Obs: se o perigo é imaginário, temos o estado de necessidade putativo (não exclui a ilicitude).

2º- Que a situação de perigo não tenha sido causada voluntariamente pelo agente. Se o agente causa a situação de perigo com o dolo, não poderá alegar estado de necessidade. Mas e se causada com culpa? Temos 2 correntes:Primeira corrente: somente o causador doloso do perigo não pode alegar estado de necessidade. Essa corrente prevalece. O causador de perigo de forma culposa pode alegar estado de necessidade.Segunda corrente: o causador doloso ou culposo do perigo não pode alegar estado de necessidade. Fudamenta sua conclusão no art. 13, §2º, ‘c’ do CP (dever jurídico de evitar o resultado).

3º- Salvar direito próprio ou alheio.Salvar direito próprio é estado de necessidade próprio.Salvar direito alheio é estado de necessidade de terceiro.

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O E.N. de terceiro depende de autorização ou ratificação da pessoa cujo bem jurídico está em perigo? Temos 2 correntes:Primeira corrente: o E.N. de terceiro dispensa autorização ou ratificação. Essa corrente prevalece.Segunda corrente: o E.N. de terceiro somente dispensa autorização ou ratificação se o bem jurídico em perigo for indisponível. Mas para bem jurídico disponível exige autorização ou ratificação.

4º- Inexistência do dever legal de enfrentar o perigo.Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.Ex: no incêndio, o bombeiro deve enfrentar o perigo, mas também não deve se sacrificar em uma causa perdida.Ex: “A” contrata um segurança para protegê-la, mas ele no momento do perigo mata “A” e se salva. Nesse caso não poderá alegar estado de necessidade.

Dever legal abrange dever contratual?Primeira corrente: dever legal não abrange o dever contratual, mas somente o dever imposto por lei (art. 13, §2º, ‘a’ do CP). Logo, quem tem dever contratual pode alegar estado de necessidade. Somente prevista na alínea ‘a’.Segunda corrente: dever legal abrange o dever contratual (art. 13, §2 – todas as hipóteses). Então, quem tem dever contratual não pode alegar estado de necessidade. No concurso e na exposição de motivos, foi adotada esta corrente.

5º- Inevitabilidade do comportamento lesivo.O comportamento lesivo deve ser absolutamente inevitável para salvar o direito próprio ou de terceiro. Não basta ser o meio mais cômodo, tem que ser o meio absolutamente necessário.

6º- Inexigibilidade de sacrifício do direito ameaçado.É a proporcionalidade entre o bem protegido e o bem sacrificado.Temos 2 teorias discutindo esse assunto:1ª- Teoria diferenciadora: ela subdivide o estado de necessidade:a) E.N. justificante: que exclui a ilicitude. Ocorre quando o bem protegido vale mais (vida) do que o bem sacrificado (patrimônio).Sacrificou patrimônio para salvar vida.

b) E.N. exculpante: que exclui a culpabilidade. Ocorre quando o bem protegido vale igual ou menos do que o bem sacrificado.Sacrificou uma vida para salvar outra vida; ou então, sacrificou patrimônio para salvar a vida; ou sacrificou patrimônio para salvar outro patrimônio.

2ª- Teoria unitária:

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E.N. justificante: que exclui a ilicitude. Ocorre quando o bem protegido vale igual ou mais do que o bem sacrificado.Sacrificou patrimônio para salvar a vida; ou sacrificou uma vida para salvar outra vida; ou sacrificou patrimônio para salvar outro patrimônio.E quando sacrifica uma vida para salvar patrimônio? É uma causa de diminuição de pena. É um caso de desproporcionalidade, ou seja, a vida (que vale mais) foi sacrificada para salvar patrimônio (que vale menos).O CP no art. 24, §2 adotou a teoria unitária.

7º- Conhecimento da situação de fato justificante (requisito subjetivo).A ação do estado de necessidade deve ser objetivamente necessária e subjetivamente conduzida pela vontade de salvamento.

Cabe estado de necessidade em crime habitual ou permanente?R: exigindo a lei como requisito a inevitabilidade do comportamento lesivo, não se tem admitido estado de necessidade nos crimes habituais ou permanentes.

Classificação do estado de necessidade:1- Quanto à titularidade:a) E.N. próprio;b) E.N. de terceiro.

2- Quanto ao elemento subjetivo do agente:a) E.N. real: existe efetivamente a situação de perigo.b) E.N. putativo: o agente age em face de perigo imaginário. Não exclui a ilicitude, mas sim a culpabilidade.

3- Quanto ao terceiro que sofre a ofensa:a) E.N. defensivo: o agente sacrifica bem jurídico do próprio causador do perigo.b) E.N. agressivo: o agente sacrifica bem jurídico de pessoa que não concorreu para o perigo.

LEGÍTIMA DEFESAPrevisão legal: art. 23, II e art. 25 do CP.Conceito: art. 25 do CP.

ESTADO DE NECESSIDADE LEGÍTIMA DEFESAHá conflito entre vários bens jurídicos diante de uma situação de perigo.

Há ameaça ou ataque a um bem jurídico.

O perigo decorre de fato da natureza, comportamento humano ou comportamento animal.

Trata-se de agressão humana.

O perigo não tem destinatário certo. A agressão humana é dirigida a outra pessoa.

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Os interesses em conflito são legítimos.

Os interesses do agressor são ilegítimos.

É possível E.N. vs E.N.Ex: 2 náufragos disputando único colete salva vidas.

Não é possível LD vs LD, pois o agressor age de forma ilegítima. LD simultânea não é possível, mas somente LD sucessiva.É possível LD vs LD putativa.É possível LD putativa vs LD putativa.

Requisitos:1º- Agressão injusta2ª- Agressão atual (presente) ou iminente (prestes a acontecer)3º- Reação moderada usando meios necessários4º Salvar direito próprio ou de terceiro5º- Conhecimento da situação de fato justificante (requisito subjetivo)

1º- Agressão injusta

É uma conduta humana que ataca ou coloca em perigo bens jurídicos alheios. Tem destinatário certo e determinado.Obs: a agressão pode ser ação ou omissão.Ex de agressão por omissão: agente penitenciário diante do alvará de soltura, por vingança, se nega libertar o preso, que comporta legítima defesa.O ataque de um animal enseja LD ou EN ? Depende. Se o ataque foi espontâneo: perigo atual, será EN.Se o ataque foi provocado por seu dono: agressão injusta, será LD.

A agressão deve ser injusta, independente da consciência da ilicitude por parte do agressor. Assim, quem se defende de agressão atual e injusta praticada por inimputável, age em legítima defesa.

Obs: a obrigação de procurar uma cômoda fuga do local (“commodus discessus”) somente está presente no estado de necessidade.Para Roxin, não se concede a ninguém um direito ilimitado de legítima defesa face a agressão de um inimputável, de modo que a excludente não se aplica a todas as situações (agressão praticada por criança contra adulto).

Alguns autores resolvem o impasse aplicando, no caso de agressões de inimputáveis, o “commodus discessus”. O agente deve evitar o contra-ataque contra o inimputável.

Obs: a injusta agressão não precisa ser típica. Ex: LD contra furto de uso, que é uma agressão injusta, mas é atípica.Ex: LD contra furto insignificante.

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Aula 142ª- Agressão atual (presente) ou iminente (prestes a acontecer)Se a agressão for passada, a reação será vingança, e não legítima defesa.Se a agressão for futura, nós teremos mera suposição, e não legítima defesa.

Obs: agressão futura, porém certa, permite legítima defesa?R: neste caso, a antecipação da repulsa caracteriza a legítima defesa antecipada. Porém, a legítima defesa antecipada não exclui a ilicitude, mas somente a culpabilidade pela inexigibilidade de conduta diversa.

3º- Reação moderada usando meios necessáriosMeio necessário é o menos lesivo dentre os meios a disposição do agente e capaz de repelir a injusta agressão.Encontrado o meio necessário, deve-se usá-lo de forma moderada (reação moderada).

4º Salvar direito próprio ou de terceiroSe salvar direito próprio será LD própria; se de terceiro será LD de terceiro.

5º- Conhecimento da situação de fato justificante (requisito subjetivo)O agente deve ter conhecimento de que está na situação de legítima defesa.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Ex: Fulano, ao se defender da injusta agressão de Beltrano, por erro na execução, atinge Cicrano. Quais as consequências para fulano?Temos 3 posições:1ª- Hungria: o caso deve ser tratado como erro na execução.2ª- Aníbal Bruno: caracteriza estado de necessidade, pois a repulsa não atingiu o agressor.3ª- Noronha: caracteriza legítima defesa porque considera-se a vítima virtual, e não a vítima real. Adotar esta corrente, apesar de não haver posição que prevaleça.

Legítima defesa, classificação doutrinária:1- Legítima defesa sucessiva: ocorre na repulsa contra o excesso abusivo do agente. Temos 2 legítimas defesas, uma depois da outra.Ocorre quando o agente passa a agir com excesso na sua legítima defesa, autorizando então ao agressor passar a se defender do excesso injusto do agente.Obs: a legítima defesa simultânea é proibida. O agente agressor não pode se valer da LD quando o atacado passa a se defender.

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2- Legítima defesa putativa: o agente supõe encontrar-se em situação de defesa, fantasiando uma agressão injusta. Porém, não exclui a ilicitude.

3- Legítima defesa subjetiva: logo depois de cessada a agressão que justificou a reação, o agente, por erro plenamente justificável, supõe persistir a agressão inicial e, por isso, acaba excedendo-se em sua reação.

L.D. PUTATIVA L.D. SUBJETIVANão existe agressão injusta, ela é fantasiada, imaginada pelo agente.

Num primeiro momento, existe a agressão injusta. Mas depois ela cessa e o agente imagina que ela continua.

É possível LD contra EN ? R: não é possível LD contra EN, pois quem age em EN não pratica agressão injusta.

ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGALPrevisão legal: art. 23, III do CP.Conceito: os AGENTES PÚBLICOS, no desempenho de suas atividades, muitas vezes devem agir interferindo na esfera privada dos cidadãos, exatamente para assegurar o cumprimento da lei em sentido amplo. Essa intervenção redunda em agressão a bens jurídicos, como a liberdade, a integridade física e até mesmo a própria vida.Dentro dos limites aceitáveis, tal intervenção é justificada pelo estrito cumprimento do dever legal.Ex: art. 301 do CPP (flagrante compulsório ou obrigatório).

Estrito cumprimento de um dever legal: trata-se de descriminante em branco, em que o conteúdo da norma permissiva se deduz de outra norma jurídica (fenômeno que se assemelha a norma penal em branco).

Obs: também se exige do agente o conhecimento da situação fática descriminante. Deve o agente saber que age com amparo na lei.

Não ocorre estrito cumprimento do dever legal na hipótese de policial matar criminoso em fuga. De acordo com o STJ, a lei proíbe a autoridade, aos seus agentes e a quem quer que seja defechar tiros contra pessoas em fuga. Entretanto, presentes os pressupostos da LD, esta poderá ser aplicada.

Obs: adotada a teoria da tipicidade conglobante, o ECDL deixa de excluir a ilicitude e passa a excluir a própria tipicidade.

EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITOArt. 23, III, in fine do CP.Conceito: compreende ações do CIDADÃO COMUM autorizadas pela existência de direito definido em lei e condicionadas à regularidade do exercício desse direito.

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ECDL ERDAtos dos agentes públicos no desempenho de suas funções.

Ações do cidadão comum autorizadas por lei.

2 espécies de ERD, hoje, destacam-se na doutrina:1ª- ERD “pro magistratu”: são situações em que o Estado não pode estar presente para evitar lesão a um bem jurídico ou recompor a ordem pública. Daí o Estado autoriza que o cidadão o faça.Ex: flagrante permitido ou facultativo. Art. 301 CPP. O particular exerce um direito ao prender alguém em flagrante delito. Já para o poder público é estrito cumprimento de um dever legal.Ex: retenção de bagagens de pessoa que não paga a conta do hotel.Ex: desforço imediato.

2ª- Direito de castigo: exercício da educação, do poder familiar.

Requisitos do ERD:1- impossibilidade de recurso útil aos meios coercitivos normais.2- Proporcionalidade.3- Conhecimento da situação de fato justificante.

Trata-se de descriminante em branco, em que o conteúdo da norma permissiva se deduz de outra norma jurídica (fenômeno que se assemelha a norma penal em branco).

Obs: adotada a teoria da tipicidade conglobante, o ERD deixa de excluir a ilicitude e passa a excluir a própria tipicidade.

Ofendículos: são aparatos pré-ordenados para defesa do patrimônio. Ex: lança no muro, cerca elétrica, animais.Natureza jurídica dos ofendículos: 4 correntes.1ª- diz que é ERD.2ª- diz que é LD.3ª- enquanto não acionado para repelir injusta agressão, será ERD. Quando acionado configura LD. Essa prevalece.4ª- essa corrente diferencia ofendículo de defesa mecânica predisposta. O ofendículo é um aparato vísivel e configura ERD, enquanto a defesa mecânica predisposta seria aparato oculto e configura LD.

Obs: se o uso dos ofendículos se traduz como um direito do cidadão em defender seu patrimônio, tal direito, como todos os demais, deve ser utilizado com prudência e consciência, para que não sejam ultrapassadas as raias do razoável.

Se adotada a tipicidade conglobante, enquanto não acionado o ofendículo será fato atípico.Se adotada a teoria da imputação objetiva, enquanto não acionado o ofendículo será fato atípico por não criar risco não permitido.

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EXCESSO NAS JUSTIFICANTESArt. 23, p.u. do CP. Espécies:1º- Excesso voluntário (excesso doloso)O agente voluntariamente excede no meio utilizado e/ou no uso do meio para repelir a injusta agressão.Consequência: o agente responderá pelo crime doloso que causou com o excesso.Obs: se o agente se excede sem consciência da ilicitude, isso é erro de proibição.

2º- Excesso involuntárioO agente involuntariamente excede no meio utilizado e/ou no uso do meio para repelir a injusta agressão.Diferença do excesso evitável do excesso inevitável.EXCESSO EVITÁVEL EXCESSO INEVITÁVELEstaremos diante do excesso culposo.

Excesso impunível.

O agente responde à título de culpa. Não há dolo ou culpa.

3º- Excesso exculpanteDerivado da perturbação de ânimo do agente, medo ou susto.Consequência: o agente não responde pelo excesso. É hipótese de inexigibilidade de conduta diversa.

4º- Excesso extensivoExcesso que ocorre depois de cessada a injusta agressão. A agressão cessou, mas a reação persiste.Pode ser:a) excesso extensivo voluntário:b) excesso extensivo involuntário:

5º- Excesso intensivoO excesso ocorre enquanto persiste a agressão (a agressão ainda não cessou).Diferença entre excesso extensivo e excesso intensivo.EXCESSO EXTENSIVO EXCESSO INTENSIVOO excesso pressupõe agressão injusta cessada.

O excesso pressupõe agressão injusta em curso.

Excesso intensivo pode ser:a) voluntário.b) involuntário.

CONSENTIMENTO DO OFENDIDOServe como causa supralegal de exclusão de ilicitude. Requisitos:1ª- O não consentimento da vítima não pode integrar o tipo penal.

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Obs: se dissentimento (não consentimento) é elementar do tipo, o consentimento do ofendido exclui a própria tipicidade.

2º- O ofendido deve ser pessoa capaz.3º- O consentimento deve ser válido.4º- O bem jurídico deve ser disponível.5º- Bem próprio. Não pode ser para bem alheio.6º- O consentimento deve ser dado antes ou durante a execução.

E se o consentimento for dado após a execução da lesão ao bem jurídico?R: o consentimento posterior não exclui a ilicitude, mas pode servir como renúncia ou perdão do ofendido extinguindo a punibilidade nos crimes de ação penal privada.

7º- O consentimento deve ser expresso (tem doutrina admitindo consentimento tácito).8º- Saber que age com o consentimento do ofendido.

DESCRIMINANTES PUTATIVASDescriminante significa causa de exclusão da ilicitude. Putativa significa imaginária.Conceito: são excludentes de ilicitude que aparentam estar presentes em uma determinada situação, quando, na realilidade, não estão.Apesar de as descriminantes excluirem a ilicitude, quando associadas à situação de putatividade não excluem a ilicitude .As descriminantes putativas se dividem em 2 espécies:1ª- O agente pode imaginar-se na situação justificante em razão de erro quanto à existência ou limites da descriminante.Ex: Fulano, professor, acreditava estar autorizado a castigar fisicamente seus alunos.Ex: Beltrano, agredido com um tapa, acreditava poder reagir com um disparo de arma de fogo.

Consequência: deve ser tratado como erro de proibição indireto ou erro de permissão.

Obs: nesta espécie de descriminante putativa, o agente não erra quanto a situação de fato, ele sabe o que faz, mas não sabia que não era permitido reagir dessa forma.

2ª- O agente pode enganar-se quanto aos pressupostos fáticos do evento.Ex: Fulano, imaginando agressão iminente por parte de Beltrano, seu inimigo declarado, desfere 2 tiros contra o Beltrano, percebendo que este impunhava um celular, e não uma arma.

Deve ser tratado como erro de tipo ou erro de proibição? Temos 2 correntes:

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1ª- de acordo com a teoria limitada da culpabilidade, descriminante putativa sobre situação de fato é igual a erro de tipo. Ou seja, se inevitável (exclui dolo ou culpa) ou se evitável (exclui dolo, pune pela culpa, se possível).

2ª- de acordo com a teoria extremada da culpabilidade, a decriminante putativa sobre situação de fato é igual a erro de proibição.Se inevitável (isenta o agente de pena) ou se evitável (diminui a pena).

O CP adotou a teoria limitada ou a teoria extremada?CP, art. 20, §1. Prevalece que o Brasil adotou a teoria limitada, tratando a descriminante putativa sobre situação de fato como erro de tipo (erro de tipo permissivo). Fundamentos:a) a expressão “isento de pena” também abrange a exclusão de dolo ou culpa;b) essa espécie de descriminante putativa é prevista no art. 20, §1, que trata do erro de tipo.c) a exposição de motivos da reforma de 1984 expressamente anuncia que o CP adota a teoria limitada.

Obs: existe doutrina afirmando que o Brasil adotou a teoria extremada sui generis, quando o erro for evitável não diminui a pena, mas pune a culpa. Mas não é o que prevalece.

CULPABILIDADE1ª Corrente: De acordo com a teoria bipartite, a culpabilidade não integra o crime. Objetivamente, para a existência do crime, é dispensável a culpabilidade. O crime existe com os requisitos fato típico e ilicitude. Mas o crime somente será ligado ao agente se este for culpável. A culpabilidade é um juízo de reprovação, é mero pressuposto de aplicação da pena.Sempre que estivermos diante de causas de exclusão do fato típico e da ilicitude, a lei diz: que não há crime. Mas quando estiver diante de causas de exclusão da culpabilidade, a lei fala em: isento de pena, ou seja, o crime existe. A culpabilidade não é indispensável para haver crime.2ª Corrente: para a teoria tripartite, a culpabilidade é o terceiro substrato (elemento) do crime. Juízo de reprovação, extraído da análise como sujeito ativo se posicionou diante do episódio. A teoria tripartida não admite crime sem reprovação. Ou é crime e é reprovável ou não é crime e não é reprovável. Não pode existir crime sem reprovação.

Teorias da culpabilidade

1ª- Teoria psicológica: tem base causalista. Espécies de culpabilidade:a) dolo: querer e aceitar.b) culpa: negligência.Somente tem 1 elemento a culpabilidade: imputabilidade.

2ª- Teoria psicologica normativa: tem base neokantista.Obs: a culpabilidade, aqui, não tem espécies. Dolo e culpa deixam de ser

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espécies para serem elementos.Elementos: imputabilidade, exigibilidade de conduta diversa, dolo e culpa.Dolo: consciência, vontade e consciência atual da ilicitude (este último é o elemento normativo). Este dolo é o que chamamos de dolo normativo.

3ª- Teoria normativa pura: tem base finalista.Dolo e culpa migram para o fato típico. O dolo é natural, ou seja, é constituído apenas de consciência e vontade.

Elementos da culpabilidade: imputabilidade, potencial (antes era atual) consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa.

Obs: dentro da teoria normativa pura, temos 2 correntes (teorias limitada e extremada da culpabilidade) que discutem a natureza jurídica das descriminantes putativas sobre pressupostos fáticos, prevalecendo a limitada.

A culpabilidade é do fato ou do autor?1ª Corrente: adotando-se o direito penal do fato, a culpabilidade somente pode ser do fato. Essa prevalece.

2ª Corrente: a culpabilidade é do autor, sem significar com isso que o direito penal é do autor (o direito penal permanece do fato).

IMPUTABILIDADEConceito: é o conjunto de condições pessoais que conferem ao sujeito ativo a capacidade de discernimento e compreensão, para entender seus atos e determinar-se conforme esse entendimento. É capacidade de imputação.

D. CIVIL D. PENALCapaz ImputávelIncapaz InimputávelObs: nem todo capaz na esfera civil é imputável na esfera penal.Ex: menor casado, é capaz civilmente, porém é inimputável penalmente.

Sem definir o que seja imputabilidadade (conceito positivo), enumera o CP as hipóteses de inimputabilidade (conceito negativo). Define algo dizendo o que não é. Ex: Fulano não é mulher. Logo, é homem.

Sistemas (ou critérios) de imputabilidade:1º- Sistema biológico: leva-se em conta apenas o desenvolvimento mental do agente.Obs: não importa a capacidade de entendimento e autodeterminação do agente no momento da conduta, ou seja, isso não é levado em consideração. Por esse sistema, todos os loucos são inimputáveis, não importa a capacidade de entendimento e autodeterminação do agente no momento da conduta.

2º- Sistema psicológico: leva-se em conta a capacidade de entendimento e autodeterminação do agente no momento da conduta.

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Obs: não importa o desenvolvimento mental do agente.Não precisa ser louco para ser inimputável.

3º- Sistema biopsicológico: leva em conta o desenvolvimento mental do agente e a sua capacidade de entendimento e autodeterminação no momento da conduta. Esse sistema conjuga os 2 sistemas anteriores.Não basta ser louco para ser inimputável.

Hipóteses de inimputabilidade:

1- Inimputabilidade em razão de anomalia psíquica. Previsão legal: art. 26, caput, CP.Critério biológico do art.: “por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado”.Critério psicológico do art.: “ao tempo da ação era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”.

Então, foi adotado nesse artigo o critério biopsicológico.

O que se entende por doença mental?Doença mental: deve ser tomada em sua maior amplitude e abrangência, isto é, qualquer enfermidade que venha a debilitar as funções psíquicas.Haverá IP, denúncia, processo, absolvição e medida de segurança. Essa absolvição é imprópria. Art. 397, II do CPP. Essa hipótese é excepcional, pois mesmo não havendo crime, não poderá o juiz absolver sumariamente o inimputável, deverá haver devido processo legal, pois o acusado está sujeito a medida de segurança (espécie de sanção penal).A absolvição imprópria não interrompe a prescrição, nem serve como título executivo judicial.

Obs: o art. 26, p.u. não traz hipótese de inimputabilidade. Mas sim caso de responsabilidade penal diminuída (semi-imputável).O juiz analisará se é melhor CONDENAR e diminuir a pena ou substituí-la por medida de segurança. Esta condenação INTERROMPE a prescrição e serve como título executivo judicial.

A semi-imputabilidade é compatível com agravantes subjetivas, causas de aumento subjetivas e qualificadoras subjetivas (ligadas ao estado anímico, ou seja, ao motivo)? Temos 2 correntes:1ª- É compatível, pois a semi-imputabilidade não interfere no dolo. Essa prevalece.2ª- A semi-imputabilidade é incompatível com as circunstâncias subjetivas.

2- Inimputabilidade em razão da menoridadePrevisão: art. 27, CP e 227 da CF.Adotou-se o sistema biológico. Presumimos de forma absoluta o desenvolvimento mental incompleto do agente. Não importa a capacidade

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de entender ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. O agente somente responderá pelo ECA.

A idade para determinar a menoridade segue postulado científico ou política criminal?R: o art. 27 do CP e 227 da CF segue critérios de política criminal, e não de postulados científicos. Art. 5º, §5º da CADH – essa convenção não diz quem é o menor, cada país decidirá essa questão.

Menor de 18 anos pode ser processado e julgado perante o T.P.I.?R: art. 26 do Estatuto de Roma, o menor de 18 anos não poderá ser julgado pelo TPI.

3- Inimputabilidade em razão de embriaguez proveniente de caso fortuito ou força maiorCaso fortuito: o agente ignora o caráter inebriante da substância que ingere.Força maior: o agente é obrigado a ingerir a substância ou nele injetam a força a substância.

Previsão legal: art. 28, §1 do CP.Adotou-se o sistema biopsicológico.Embriaguez: é a intoxicação aguda e transitória causada pelo álcool (ou substância de efeitos análogos), podendo progredir de uma ligeira excitação até o estado de paralisia e coma.EMBRIAGUEZ ACIDENTAL

EMBRIAGUEZ ACIDENTAL

EMBRIAGUEZ PATOLÓGICA

EMBRIAGUEZ PREORDENADA

Por caso fortuito ou força maior.

-Voluntária: o agente quer se embriagar (mas não quer cometer crimes).- Culposa: por negligência o agente se embriaga.

É a embriaguez doentia.

O agente se embriaga para cometer o crime.

Embriaguez completa: exclui capacidade de autodeterminação e de entendimento.Se incompleta: reduz capacidade de autodeterminação e de entendimento.

Pode ser completa e incompleta.

Pode ser completa e incompleta.

Pode ser completa e incompleta.

Consequências:Se completa:

Consequências: Não exclui nem

Consequências:Se for completa,

Consequências: sempre será

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exclui a imputabilidade.Se incompleta: reduz a pena.

reduz a pena. será tratada como no art. 26, caput do CP.Se for incompleta, será tratada como no art. 26, p.u. do CP.

agravante de pena (art. 61, II, ‘L’ do CP), mesmo se completa ou incompleta.

Teoria da “actio libera in causa”: o ato transitório revestido de inconsciência decorre de ato antecedente que foi livre na vontade, transferindo-se para esse momento anterior a constatação da imputabilidade e da vontade.Ex: Fulano, completamente embrigado, dirigindo o seu carro, atropella e mata pedestre.

Ato antecedente livre na vontade

Ato transitório inconsciente

Momento da ingestão da substância. Momento do atropelamento. O agente não tem capacidade de entendimento e de autodeterminação.

A actio libera in causa analisa o momento anterior ao acidente, ou seja, analisa o ato antecedente livre na vontade. Analisa-se a imputabilidade e vontade no momento da embriaguez, e não do resultado.5 hipóteses podem acontecer:1ª- Imputável ao se embriagar + querer o resultado. Será caso de homicídio (dolo direto).2ª- Imputável ao se embriagar + aceitou o resultado. Será caso de homicídio (dolo eventual).3ª- Imputável ao se embriagar + acreditou poder evitar. Será caso de homicídio (culpa consciente).4ª- Imputável ao se embriagar + resultado previsível. Será caso de homicídio (culpa inconsciente).5ª- Imputável ao se embriagar + resultado era imprevisível. Temos fato atípico. Ex: apesar de o agente estar embrigadado, um mendigo dormia embaixo do carro do agente, o resultado era imprevisível.

Na aplicação da teoria da actio libera in causa transfere-se para o momento em que o agente era livre não apenas a constatação da sua imputabilidade, mas também da sua voluntariedade, evitando-se o risco de uma responsabilidade penal objetiva.

Emoção ou paixão não exclui a imputabilidade.Emoção é o estado súbito e passageiro. A emoção pode interferir na pena (pode ser atenuante ou privilégio).Paixão é o sentimento crônico e duradouro. A paixão, a depender do grau, pode ser considerada doença (aplicar-se-á o art. 26 do CP).

A imputabilidade tem como causas de exclusão:

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a) anomalia psíquica;b) menoridade;c) embriaguez acidental.

Índio não integrado é inimputável?R: o índio não integrado não é necessariamente inimputável, o que não significa que é culpável, podendo estar ausente a potencial consciência da ilicitude ou a exigibilidade de conduta diversa, que excluirá a culpabilidade.

POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDEConceito: é a possibilidade de o agente conhecer o caráter ilícito da sua conduta. Em outros termos, é a capacidade de o agente saber que age contrariando o direito.

Hipótese de exclusão da potencial consciência da ilicitude: erro de proibição (art. 21).ERRO DE TIPO ERRO DE PROIBIÇÃOO agente não sabe exatamente o que faz.

O agente sabe exatamente o que faz, mas desconhece a sua ilicitude.

É possível desconhecer a lei, conhecendo (ou sendo possível conhecer) a ilicitude do comportamento? SIM. 3 situações para ilustrar:1- O agente desconhece a lei e a ilicitude do seu comportamento. Ex: fabricar açúcar em casa sem autorização, que é crime. Temos aqui o desconhecimento da lei + erro de proibição.2- O agente conhece a lei, mas ignora a ilicitude do comportamento. Ex: marido não quer fazer sexo e marido acha que o casamento o dá o direito de fazer sexo de qualquer forma e estupra sua esposa, achando que estava autorizado. Temos que o agente conhece a lei + erro de proibição.

3- O agente desconhece a lei, mas tem consciência da ilicitude.Desconhecimento da lei + sem erro de proibição.

Erro de proibição, consequências:Erro inevitável: isenta o agente de pena (exclui a culpabilidade).Erro evitável: não isenta o agente de pena (reduz a pena, de 1/6 a 1/3).

TEORIA PSICOLÓGICA NORMATIVA

TEORIA NORMATIVA PURA

Culpabilidade: imputabilidade, exigibilidade de conduta diversa, culpa e dolo (consciência, vontade e consciência atual da ilicitude).

Culpabilidade: imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa.

Qual a repercussão prática de a teoria psicológica (consciência atual da ilicitude) passar a ser adotada a teoria normativa pura (potencial consciência da ilicitude) ?

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R: de acordo com a teoria psicológica normativa, o erro de proibição, evitável ou inevitável, exclui a culpabilidade, se não existir consciência atual da ilicitude. Já de acordo com a teoria normativa pura, somente o erro de proibição inevitável exclui a potencial consciência da ilicitude. Tratando-se de erro evitável, a potencial consciência existe, não eliminando a culpabilidade.

EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSAConceito: o agente diante das circunstâncias de fato tivesse possibilidade de realizar outra conduta de acordo com o ordenamento jurídico.Hipóteses de inexigibilidade de conduta diversa:1- Coação irresistível: art. 22, 1ª parte, CP.Requisitos para a coação irresistível:a) coação moral.Obs: a coação física exclui a conduta (fato típico).b) deve ser irresistível.Obs: se resistível, não exclui a culpabilidade, mas pode atenuar a pena.

Consequências: somente é púnivel o autor da coação.

Ex: João pratica coação moral irresistível em face de Vinícius, obrigando o coagido matar André.Que crime praticou Vinícius? Nenhum, por inexigibilidade de conduta diversa.Que crime praticou João? Homicídio, como autor mediato, + tortura (art. 1º, I, ‘b’ da lei 9455). Em concurso material.

2- Obediência hierárquica: art. 22, 2ª parte, CP.Requisitos:a) Ordem de superior hierárquico: é a manifestação de vontade do titular de uma função pública a um funcionário que lhe é subordinado, no sentido de que realize uma conduta positiva ou negativa. Somente na relação de subordinação pública.Não pode ser doméstica, privada, familiar e etc.

b) Ordem não manifestamente ilegal.Obs: deve ser entendida segundo as circunstâncias do fato e as condições de inteligência e cultura do subordinado.

Consequências: somente é punível o autor da ordem.

ORDEM ILEGAL ORDEM LEGAL ORDEM NÃO CLARAMENTE ILEGAL

Superior e subordinado serão penalmente responsabilizados. Ex: soldados do carandiru.

Superior e subordinado estão no Estrito Cumprimento de D.L.

Superior comete crime (autor mediato).Subordinado não comete crime, isento de pena.

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CULPABILIDADE: ELEMENTOS CAUSAS DE EXCLUSÃO (DIRIMENTES)

Imputabilidade – rol taxativo a) Anomalia psíquica.b) Menoridade.c) Embriaguez acidental completa.

Potencial consciência da ilicitude – hipótese taxativa

Erro de proibição inevitável.

Exigibilidade de conduta diversa – rol exemplificativo. Não tem como o legislador prever todas as hipóteses de Exig. De C. Div.Conclusão: existem causas supralegais de exclusão da exigibilidade de cond. diversa (exclui a culpabilidade).

a) Coação moral irresistível.b) Obediência hierárquica.

Causas supralegais de exclusão da exigibilidade de conduta diversa, 2 exemplos, existem muitos:1- Cláusula de consciência: nos termos da cláusula de consciência, é isento de pena aquele que, por motivo de consciência ou crença, pratica um injusto penal, desde que não ofenda direitos fundamentais.Ex: pessoa que não quis depor numa sala que tinha uma imagem de santo, daí o MP entendeu que houve desacato e falso testemunho, daí o tribunal trancou a ação penal por causa de exclusão supralegal de exigibilidade de conduta diversa.

2- Desobediência civil: é um fato que objetiva, em última instância, mudar o ordenamento sendo, no final das contas, mais inovador do que destruidor. Tem como requisitos:a) proteção de direitos fundamentais;b) que o dano causado não seja relevante.Ex: MST.

PUNIBILIDADEPunibilidade é a consequência jurídica do crime.Punibilidade é o direito que tem o Estado de aplicar a pena cominada no preceito incriminador contra quem praticou conduta criminosa causando dano ou perigo de dano ao bem jurídico tutelado.Obs: a punibilidade não é requisito do crime, mas sua consequência jurídica.

Hipóteses de extinção da punibilidade (107 do CP). Existem hipóteses de extinção da punibilidade fora do art. 107 do CP? SIM.Então, o rol do art. 107 do CP é exemplificativo. Ex: 312, §3 do CP. Art. 74, 76 e 89 da lei 9099/95.

CAUSA SUPRA LEGAL DE EXCLUSÃO, EXEMPLOS:FATO TÍPICO ILICITUDE CULPABILIDADE PUNIBILIDADEPrincípio da Consentimento Desobediência civil Súmula 554 do

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insignificância. do ofendido. e cláusula de consciência.

STF.

PRESCRIÇÃOPrescrição é a perda, em fase do decurso do tempo, do direito de o Estado punir ou executar uma pena já imposta.Fundamentos da prescrição: o tempo faz desaparecer o interesse social de punir.A prescrição é uma garantia fundamental do cidadão, protegendo o indivíduo contra a eternização do poder punitivo do Estado.Logo, os crimes, ordinariamente, por mais graves que sejam, prescrevem. Excepcionalmente, a CF traz 2 hipóteses de imprescritibilidade: racismo e as ações de grupos armados contra a ordem constitucional e o Estado democrático.

Espécies de prescrição:1- Prescrição da pretensão punitiva: ocorre antes do trânsito em julgado. Faz desaparecer todos os efeitos (penais e extrapenais) de eventual condenação.Esta espécie se subdivide em:a) P.P.P. propriamente dita ou em abstrato (art. 109);b) P.P.P. retroativa (art. 110, §1);c) P.P.P. superveniente ou intercorrente (110, §1);d) P.P.P. virtual ou antecipada ou por prognose ou em perspectiva (jurisprudência).

2- Prescrição da pretensão executória: ocorre depois do trânsito em julgado. Impede a execução da sanção. Os demais efeitos da condenação permanecem (penais ou extrapenais). Está prevista no art. 110, caput, do CP.

Tendo o Estado a tarefa de buscar a punição do agente, deve dizer quando essa punição já não mais o interessa. Eis a finalidade do art. 109 do CP. Sendo incerta a pena que será fixada pelo juiz na sentença, o prazo prescricional é resultado da pena máxima prevista abstratamente no tipo e a escala do art. 109 do CP.

Vamos estudar as espécies de P.P.P.:a) P.P.P. propriamente dita ou em abstrato: Lei 12234/10:ANTES DEPOISPrazo máximo continua com 20 anos.

Prazo máximo continua com 20 anos.

Prazo mínimo de 2 anos. Prazo mínimo de 3 anos.Lei retroativa se cometido o crime antes da nova lei.

Essa lei é prejudicial e, portanto, irretroativa para os crimes cometidos antes de sua vigência.

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P.P.P. propriamente dita leva em conta a pena MÁXIMA cominada abstratamente no tipo. Nesta espécie de prescrição, a pena ainda é incerta, razão pela qual trabalha-se com a “teoria da pior das hipóteses”, ou seja, com o máximo da pena.

Consideram-se as causas de aumento ou diminuição de pena? SIM. Obs:a) Tratando-se de pena variável, para encontrar a maior pena que poderia ser imposta ao agente, se for caso de aumento de pena, o aumento deverá ser ao máximo (tenta-se encontrar a maior pena para avaliar o prazo de prescrição máximo abstrato). Ex: 1/6 a 2/3. Deve-se aplicar os 2/3 que é o aumento máximo.

b) Tratando-se de pena variável, para encontrar a maior pena que poderia ser imposta ao agente, se for caso de diminuição de pena, a diminuição deverá ser mínima (tenta-se encontrar a maior pena para avaliar o prazo de prescrição máximo abstrato). Ex: 1/3 a 3/5. Deve-se aplicar a diminuição de 1/3 a pena.

Obs: não são consideradas as regras do concurso de crimes (formal ou material) para efeitos de prescrição. Art. 119. Ou seja, cada crime do concurso prescreverá ou não isoladamente, separadamente.

Consideram-se as agravantes e atenuantes de pena? NÃO, pois não tem patamar mínimo e máximo.Obs: a atenuante da menoridade e da senilidade, bem como a agravante da reincidência interferem no prazo prescricional.

Reconhecida a PPP propriamente dita, eis as suas consequências:1ª- desaparece para o Estado seu direito de punir, inviabilizando qualquer análise de mérito. Não há absolvição pela prescrição.Obs: nos termos do art. 397, IV do CPP, o juiz absolve sumariamente o réu quando presente causa de extinção da punibilidade.

2ª- Eventual sentença condenatória provisória (em que caiba recurso) é rescindida, não se operando qualquer efeito penal ou extrapenal.

3ª- o acusado não será responsabilizado pelas custas processuais.

4ª- Terá direito à restituição integral da fiança, se houver pago.

Quando se inicia a contagem da P.P.P. propriamente dita (ou seja, qual o termo inicial da PPP propriamente dita)? R: art. 111 do CP.Inciso I: a contagem se inicia do dia em que o crime se consumou.Inciso II: no caso de tentativa, a contagem se inicia do último ato executório.

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Inciso III: nos crimes permananentes em que a consumação se protrai no tempo, a contagem se inicia do dia em que cessou a permanência.Inciso IV: no crime de bigamia e falsificação de assentamento de registro civil, a contagem se inicia do dia em que o fato se tornou conhecido.Inciso V: nos crimes contra a dignidade sexual de menores de 18 anos previsto no CP ou legislação especial, a contagem se inicia no dia em que a vítima faz 18 anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal.O fundamento desse inciso é o art. 227, §4 da CF e geralmente a vítima menor de 18 anos nada fala nesse tempo sobre o crime e quando + de 18 anos quer dar a notícia do crime, mas esse crime já tinha prescrito, pois já tinha passado muito tempo. Então, hoje o crime sexual cometido contra menor de 18 anos não corre prescrição até a vítima completar 18 anos.O que se entende por “... salvo se proposta a ação penal”? há 2 correntes:1ª- Ação penal proposta = ação penal oferecida. Faz interpretação literal do dispositivo. Com o oferecimento da denúncia, o crime deixou de estar oculto.2ª- Ação penal proposta = ação penal recebida. Faz interpretação sistemática com o art. 117, I, do CP e teleológica com a finalidade de impedir a prescrição extraprocessual.

Qual o termo incial da contagem da prescrição no crime habital (v.g., curandeirismo)? R: de acordo com o STF, o prazo da prescrição começa a correr (inicia-se) da data da última das ações que constituem o fato típico. O STF aplica o art. 111, III do CP.

Sempre lembrar: no concurso de crimes, cada crime prescreve ou não separadamente.

O art. 117 do CP traz as causas interruptivas da prescrição. O prazo zera e começa a correr do zero.Art. 117 incisos I, II, III e IV são causas interruptivas da prescrição da pretensão punitiva.Art. 117 incisos V e VI são causas interruptivas da prescrição da pretensão executória.

Da combinação dos art. 111 e 117, I, II, III e IV conseguimos extrair os períodos prescricionais.

Períodos prescricionais fora do rito do júri:Tem PPP propriamente dita da data do fato até o recebimento; 1º período.Do recebimento até a publicação da sentença condenatória. 2º período.Da sentença condenatória até o acórdão condenatório. 3º período.

Interrompem a prescrição: o recebimento da inicial, a publicação da sentença condenatória e a publicação do acórdão condenatório.

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Obs: acórdão condenatório (reforma sentença absolutória) interrompe a prescrição. Art. 117, IV do CP.

Obs: acórdão meramente confirmatório (simplesmente confirma sentença condenatória) não interrompe a prescrição.E o acórdão que, apesar de confirmar a condenação, altera substancialmente a pena, dando provimento a recurso da acusação?R: de acordo com o STF, esse acórdão confirmatório que altera substancialmente a pena INTERROMPE a prescrição.

Períodos prescricionais no rito do júri1º: do fato ao recebimento da inicial.2º: do recebimento da inicial até a pronúncia.3º: da pronúncia até a sentença confirmatória da pronúncia.4º: da sentença confirmatória da pronúncia até a publicação da sentença ou acórdão condenatório.5º: do acórdão ou sentença condenatória até o trânsito em julgado.

Assim, interrompem a prescrição no rito do júri: o recebimento da inicial, a pronúncia, a sentença confirmatória da pronúncia, a publicação da condenação.

E se os jurados desclassificarem o crime para outro crime que não um doloso contra a vida? (ex: de homicídio -> para lesão corporal seguida de morte)R: Súm 191 do STJ. A pronúncia é causa interruptiva da prescrição, ainda que o tribunal do júri venha a desclassificar o crime.

Medidas socioeducativas prescrevem?R: Súm 338 do STJ: a prescrição penal é aplicável nas medidas sócio-educativas.

Exemplo: crime de furto simples, pena de 1 a 4 anos, a PPP em abstrato ou propriamente dita prescreve em 8 anos.Assim, PPPA de 8 anos do fato até o recebimento da inicial.PPPA de 8 anos do recebimento da inicial até a publicação da sentença condenatória.PPPA de 8 anos da publicação da sentença condenatória até o acórdão condenatório.Se passar de 8 anos numa dessas fases, ocorrerá a prescrição.

PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA RETROATIVAArt. 110, §1 do CP.Antes da sentença recorrível, não se sabe a quantidade da pena a ser fixada pelo juiz, razão pela qual o lapso prescricional regula-se pela pena máxima prevista em lei (teoria da pior das hipóteses).

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Contudo, fixada a pena, ainda que provisoriamente, transitando esta em julgado para a acusação ou sendo o recurso da acusação improvido, não mais existe razão para se levar em conta a pena máxima, já que, mesmo diante do recurso exclusivo da defesa, é proibida a reforma para pior. Surge um novo norte (pena recorrível efetivamente aplicada).

Leva em conta a pena aplicada na sentença.A PPPR será analisada da sentença condenatória até o recebimento da incial com a pena aplicada na sentença (aplicada com o 109).A partir da lei 12.234/10 não mais existe PPPR entre a data do fato e o recebimento da inicial.

PPPR características:1ª- pressupõe sentença ou acórdão penal condenatória.2ª- leva em conta a pena efetivamente imposta na sentença.3ª- pressupõe trânsito em julgado ou improvimento do recurso para a acusação no que se relaciona a pena aplicada.4ª- os prazos prescricionais são os mesmos do art. 109.5ª- conta-se a PPPR da publicação da sentença condenatória até o recebimento da inicial. Somente nesse período.6ª- tem as mesmas consequências da PPPA.

Exercício: crime de furto simples, pena de 1 a 4 anos, PPPA de 8 anos e condenação de 1 ano ao réu que transitou em julgado para o MP. Então, a PPPR será de 4 anos (1 ano c/c 109 do CP). Se passar 4 anos do recebimento da inicial até a sentença ocorreu a PPPR.

A acusação recorre contra a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Esse recurso da acusação impede a PPPR? (a acusação não recorreu da pena, mas sim da substituição)R: a doutrina moderna ensina que eventual recurso da acusação somente evita a PPPR se, buscando o aumento da pena, for provido o recurso.

PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA SUPERVENIENTE OU INTERCORRENTEPrevisão também no art. 110, §1 do CP.Não conta da sentença condenatória para trás, mas sim para frente. Esse tipo de prescrição é a mesma coisa da anterior, somente passando a contar da sentença condenatória para frente.

A PPPS tem as mesmas características da PPPR, com a peculiaridade de contar-se da data da publicação da sentença condenatória até o trânsito em definitivo. A PPPS também exige que haja trânsito em julgado ou recurso improvido para a acusação, caso contrário somente se aplicará a PPPA. Não pode haver PPPS ou PPPR se não houver trânsito em julgado ou recurso improvido para a acusação.

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Exercício: crime de furto simples, pena de 1 a 4 anos, com PPPA em 8 anos. Se houve trânsito em julgado ou recurso improvido para a acusação, daí sim pode-se olhar a pena em concreto e observar a PPPR e a PPPS.

Pode o juiz de 1º grau reconhecer a PPPR ou a PPPS? Que pressupõem sentença condenatória e trânsito em julgado ou recurso improvido para acusação.R: 1ª corrente: o juiz de 1º grau não pode reconhecê-las, uma vez que, ao proferir a sentença condenatória, esgotou sua atividade jurisdicional.2ª corrente: tratando-se de matéria de ordem pública (prescrição), o juiz de 1º grau pode reconhecê-las de ofício.

PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA VIRTUAL OU ANTECIPADA OU POR PROGNOSE OU EM PERSPECTIVANão tem previsão legal e os tribunais superiores não a admitem. Súm 438 do STJ.PPPV é o reconhecimento antecipado da prescrição da pretensão punitiva retroativa.Ex: furto simples, pena de 1 a 4 anos, réu primário + bons antecedentes. Já decorreu 5 anos o processo sem condenação. Então, o juiz considera que a pena ia ser de 1 ano (prescrição em 4 anos) e então reconhece antecipadamente a PPPR.

A prescrição virtual retrata um caso de falta de interesse de prosseguir com o processo, considerando a certa ocorrência da PPPR depois que o juiz condenar o acusado.

PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIAPrevista no art. 110, caput do CP.A PPE é prescrição de pena em concreto, que pressupõe sentença condenatória com trânsito em julgado para ambas as partes (decisão irrecorrível) e que se verifica dentro dos prazos estabelecidos pelo art. 109 do CP. Mas o início da contagem do prazo da PPE inicia-se com o trânsito em julgado para a acusação (112, I).

Obs1: do mesmo modo que a PPPA, PPPR e PPPS, a PPE incide sobre cada delito isoladamente se houver concurso de crimes (119 do CP).Obs2: a PPE somente extingue a pena aplicada, sem rescindir a sentença condenatória (que continua produzindo efeitos penais e extrapenais), ao contrário da PPPA, PPPR e PPPS.

PPPA, PPPR e PPPS PPERescinde eventual sentença condenatória (não operando efeitos penais e extrapenais).

Não rescinde condenação (continua a produzir efeitos penais e extrapenais).

Não gera reincidência. Gera reincidência.Não serve como título executivo. Serve como título executivo.

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Os prazos da pena em concreto em PPE também devem ser combinados com o art. 109 do CP. Termo inicial da PPE é o art. 112 do CP.Enquanto a pessoa está presa não corre a prescrição.

Se a pessoa fugir, o cômputo da prescrição se regula pena que resta aplicada com o 109 do CP. Art. 113 do CP.

Art. 115 do CP. Para o menor de 21 é na data do fato. Para o maior de 70 anos é na data da sentença.Esse artigo não foi alterado por outras leis.

Causa impeditiva = causa suspensiva.116, I -> questão prejudicial. Suspende-se a prescrição até o juízo cível resolver a questão prejudicial.