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VITÓRIA, SÁBADO, 23 DE JULHO DE 2011 www.agazeta.com.br Pensar Os espanhóis vêm aí Entrelinhas COM “DIÁRIO DA QUEDA”, MICHEL LAUB PROVOCA SENTIMENTOS NOBRES NO LEITOR. Página 3 Biografia A VIDA DE EVA BRAUN, A MULHER QUE FOI LEAL A HITLER ATÉ A MORTE. Página 4 Música VINTE ANOS SEM HÉLIO MENDES, O GRANDE PIANISTA DO ESPÍRITO SANTO. Pág. 10 Artigo A INFLUÊNCIA PORTUGUESA NA HISTÓRIA E CULTURA DO ESPÍRITO SANTO. Página 12 MOSTRA TRAZ OBRAS DE GOYA, PICASSO, MIRÓ E DALÍ A VITÓRIA. Páginas 6, 7 e 8

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VITÓRIA, SÁBADO, 23 DE JULHO DE 2011

www.agazeta.com.brPensar

Os espanhóis vêm aí

EntrelinhasCOM “DIÁRIODA QUEDA”,MICHEL LAUBPROVOCASENTIMENTOSNOBRES NOLEITOR.Página 3

BiografiaA VIDA DEEVA BRAUN, AMULHER QUEFOI LEAL AHITLER ATÉ AMORTE.Página 4

MúsicaVINTEANOS SEMHÉLIO MENDES,O GRANDEPIANISTA DOESPÍRITO SANTO.Pág. 10

ArtigoA INFLUÊNCIAPORTUGUESANA HISTÓRIA ECULTURA DOESPÍRITO SANTO.Página 12

MOSTRA TRAZ OBRAS DE GOYA,PICASSO, MIRÓ E DALÍ A VITÓRIA. Páginas 6, 7 e 8

Documento:AGazeta_23_07_2011 1a. SABADO NEW_CP_Pensar_1.PS;Página:1;Formato:(274.11 x 381.00 mm);Chapa:Composto;Data:26 de Jul de 2011 13:20:15

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2PensarA GAZETAVITÓRIA,SÁBADO,23 DE JULHODE 2011

marque na agenda prateleiraquempensa

Caê Guimarãesé jornalista, poeta e escritor. Publicouquatro livros. www.caeguimaraes.com.br

Wilberth Salgueiroé professor da Ufes, pesquisador do CNPq eescritor. [email protected]

Simona Campusé historiadora e curadora de [email protected]

Nayara LimaÉ escritora e graduanda em Psicologia pelaUfes. www.nayaralima-versoeprosa.blogspot.com

Milena Paixãoé cachoeirense, poeta e professora de LínguaInglesa e Portuguesa. [email protected]

Andra Valladaresé advogada, cantora, compositora e poeta.www.poeticamentempv.blogspot.com

Cinthia Ferreira de Souzaé jornalista e professora Mestre em Psicologiapela Ufes. [email protected]

Fernando Duarteé músico, pesquisador e editor do sitewww.bandolim.net

Rita de Cássia MaiaémestreemEducaçãoedoutoraemCiê[email protected]

CorrespondênciaJornal A GAZETA, Rua Chafic Murad, Ilhade Monte Belo, Vitória - ES, CEP.29.053-315, fax: 3321-8642

O mal ronda a terraTony JudtUm dos mais importanteshistoriadores e pensadoresda atualidade disseca ogrande desconfortocoletivo da sociedade eargumenta que o homem

deve olhar para os erros do passadorecente com o objetivo de confrontar osmales sociais e assumir responsabilidadespelo mundo em que vive.

216 páginas. Objetiva. R$ 28, em média.

Agenda brasileiraAndré Botelho e LiliaMoritz SchwarczCinquenta profissionais dediversas áreas, entre eles oex-jogador de futebolTostão, o economista LuizCarlos Bresser-Pereira e a

antropóloga Manuela Carneiro da Cunha,contribuem com o debate sobre asprincipais questões nacionais.

584 páginas. Cia. das Letras. R$ 54, em média.

Tanta vidaAlejandro PalomasRevelação da nova safrade escritores espanhóis,Alejandro Palomasretrata neste romance asdores de cinco mulheresque tentam superar a

perda de Helena, que naufragou emmar aberto, deixando-as órfãs de simesmas.

252 páginas. Record. R$ 37, em média.

A filosofia na eratrágica dos gregosFriedrich NietzscheReedição em versão pocketda obra escrita entre 1873 e1874, na qual Nietzschereflete sobre o espíritofilosófico de seu tempo,sobre a ciência e o homem,

e reafirma que o maior legado dospré-socráticos é a liberdade de pensar por simesmo.

137 páginas. L&PM. R$ 10, em média.

Biblioteca Pública EstadualEncontro com o autorNa próxima terça, às 19h, o escritor Saulo Ribeiro participado projeto “Debate-papo com o autor”, na Biblioteca PúblicaEstadual, com mediação do poeta Wladimir Cazé.

Clube do Vinil no dialToca-discosApós cinco anos de atividades, o Clube Capixaba do Vinil chega aorádio. A estreia do programa “Toca-discos” está prevista parasetembro, aos sábados, das 16h às 18h, na Universitária FM.Apresentação de Carlos Rabello e direção técnica de Júlio Thomaz.

28de julhoMercado da MúsicaO projeto promovido pela Prefeitura de Vitória noMercado São Sebastião, em Jucutuquara, prossegue napróxima semana com apresentação do pianista Pedro deAlcântara, na quinta-feira, a partir das 20h. Entradafranca.

1ºde setembroCrônicasNesta data, a jornalista e escritoraManoela Ferrari lança em Vitória olivro “Entrelinhas”, na LivrariaSaraiva do Shopping Vitória, com apresença do “imortal” Arnaldo Niskier,que assina a quarta capa da obra.

José Roberto Santos Nevesé editor do caderno Pensar, novo espaço para adiscussão e reflexão cultural que circulasemanalmente, aos sábados.

jrneves@redegazetaPENSAR, AGORA E SEMPRE

Caros leitores, após quatro edições mensais, apresentamosa vocês o novo Caderno Pensar, devidamente repaginadodentro das mudanças gráficas e de formato de A GAZETA. E,para celebrar essa nova fase, temos uma novidade: o Pensara partir de hoje passa a ser semanal, com circulação sempreaos sábados. Assim, teremos mais espaço para publicar ascolaborações dos nossos especialistas em vários campos doconhecimento, da literatura à música, passando pelo cinema,artes plásticas, teatro, filosofia, psicologia, folclore, dança,design gráfico e outras expressões artísticas. Um elenco

afinado que traz para a nossas páginas uma visão crítica daprodução cultural e acadêmica contemporânea, com especialatenção também para a memória e a tradição. Nesta edição,a curadora de arte Simona Campus adianta o conteúdo damostra “Mestres Espanhóis”, que reunirá obras originais deGoya, Picasso, Miró e Dalí, a partir do dia 2 de agosto, noPalácio Anchieta. Temos, ainda, resenhas literárias, crítica dediscos, crônicas, poesias e uma reflexão sobre a influênciaportuguesa na cultura capixaba. Boa leitura! O Pensar foifeito para você, leitor que espera muito mais de um jornal.

Pensar na webConfira galeria de fotos da mostra“Mestres Espanhóis”, faixas do CD“Conversa na Vila” e trechos de livroscomentados nesta edição nowww.agazeta.com.br.

Documento:AGazeta_23_07_2011 1a. SABADO NEW_CP_Pensar_1.PS;Página:2;Formato:(274.11 x 381.00 mm);Chapa:Composto;Data:26 de Jul de 2011 13:20:15

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3PensarA GAZETA

VITÓRIA,SÁBADO,

23 DE JULHODE 2011

entrelinhaspor CAÊ GUIMARÃES

A VELOCIDADETERRÍVEL DA QUEDA

Michel Laub retrata a viabilidade da existência humana em romance contundente

Certos livros – viradas asquatro ou cinco primei-ras páginas – provocamno leitor um profundoamor pela humanidade,ainda que, racionalmen-

te, esta desperte mais desprezo edesesperança do que sentimentoselevados e puros. Talvez o amor e asolidariedade sejam ainda mais no-bres e potentes quando o sentimos,ou a praticamos, com pessoas quenão fazem parte do nosso cotidiano.Nestes momentos, como em uma re-missão por toda crueldade destiladapor nossa espécie desde que des-cemos das árvores, é possível sentirque fazemos parte de um só corpo,irmanados, independentemente deraça, credo e demais semelhanças oudiferenças.

Parece ser essa a vocação de “Diário daqueda” (Companhia das Letras, 151 pá-ginas), de Michel Laub. A partir de umincidente acontecido em uma festapré-adolescente, o escritor gaúcho ra-dicado em São Paulo traça no ar umaparabólica pungente que passa pelo ca-nalha racismo brando praticado no Brasil,pelas diferenças socioeconômicas per-meando as relações humanas, pela im-possibilidade de diálogo no ventre deuma relação amorosa, pela degradaçãodo alcoolismo, pelo júbilo da memória e areconciliação com a figura paterna, tãoprenhe de simbolismos e antagonismos.

Família abastadaO narrador, adulto, navega por três

planos temporais, sempre na primei-ra pessoa. Nascido no Sul do país emuma abastada família judia, que lheproporcionou viagens à Disneylân-dia, videogame, videocassete, gui-tarra, patins e um uniforme da Nasa,entre outros ícones da década de 80,ele se depara com o diário do avô, aquem só conheceu por fotos. Naspáginas amareladas escritas à mão,descortina sua trajetória, desde Aus-chwitz até as margens do Guaíba. Emsua adolescência, vive a vergonhapor discriminar um aluno gói (nãojudeu) de origem humilde em umaescola israelita, até o ponto culmi-nante em que, no aniversário do me-nino, ele e seus colegas o machucamseriamente em uma brincadeira deabsoluto mau gosto. Na idade adulta,o personagem tenta salvar do nau-frágio iminente seu terceiro casa-mento, luta para se livrar do al-coolismo e se depara com a figura dopai, fragilizado por um problema de

saúde. Dos três planos saltam vér-tices que desembocam na necessi-dade de resgatar afetos perdidos.

Jogo de imagensCom toques autobiográficos, Laub

se desdobra na figura do narrador eelabora um sofisticado jogo de ima-gens e recursos estilísticos onde en-frenta as esfinges que o desafiam a serdecifradas. O gói desprezado e ma-chucado se torna seu único amigo e aomesmo tempo a chave para sua pas-sagem à vida adulta. O diário do avô ésurreal ao retratar de forma açuca-rada e perfeita a realidade áspera ecruel de um refugiado do nazismo. E afigura paterna precisa ser revista eresgatada no momento em que umadecisão pode mudar a vida do nar-rador e daqueles a quem ama.

“Diário da queda” foi selecionadopela Bolsa Funarte de Criação Li-terária e é o quinto romance do autorde 38 anos. Nele, convivem, à laMário Faustino no poema “Balada”,“tanta violência, mas tanta ternura”.Como em um Bildungsroman (ter-mo alemão usado para designar ro-mance de formação), Laub faz umacerto de contas com o passado emuma estrutura circular na qual ascenas emblemáticas são percorridasinsistentemente. Mas com novas co-res, detalhes e amplificações a cadavolta. E com movimento. Comouma queda que nunca cessa.

Laub faz umacerto de contascom o passado,em uma estruturacircular na qual ascenasemblemáticas sãopercorridasinsistentemente.

Diário da quedaMichel Laub. 152 páginas.Companhia das Letras. R$ 30,em média.

Documento:AGazeta_23_07_2011 1a. SABADO NEW_CP_Pensar_1.PS;Página:3;Formato:(274.11 x 381.00 mm);Chapa:Composto;Data:26 de Jul de 2011 13:20:15

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4PensarA GAZETAVITÓRIA,SÁBADO,23 DE JULHODE 2011

Biografia de Eva Braun revela o papel da amante de Hitler no massacre nazista, esclarecelendas sobre o casal e mostra que ela não era a jovem alienada que a história quis fixar

livrospor WILBERTH SALGUEIRO

A MULHER QUE FOIFIEL AO TIRANO

Eva Braun viveu disfarçada sob a capa de secretária do temível líder alemão

Eva Braun – A vidacom HitlerHeike B. Görtemaker.Companhia das Letras. 405páginas. R$ 40, em média

PERFIL

EVA BRAUNFoi durante muitos anos a companheira de Adolf Hitler

Nascimento: Munique, 6 defevereiro de 1912Formação: contabilidade,datilografia, economiadoméstica. Era apaixonada

por fotografia.Morte: Seguiu o ditador aocometer suicídio em 30 deabril de 1945, em Berlim, umdia após se casar com Hitler.

Imaginemos uma cena: Hitler ealguns de seus comparsas na-zistas, encurralados, em final deabril de 1945, escondem-se numbunker. A derrota é certa. OsAliados estão chegando. O Füh-

rer, para não ser apanhado vivo, sedecide pelo espetacular suicídio e leva,junto, a fiel e jovem companheira – EvaBraun. Deixa ordens, obedecidas, deterem os cadáveres carbonizados. Comesse chamariz, inicia-se a biografia“Eva Braun – a vida com Hitler”, deHeike B. Görtemaker, doutora em ger-manística e professora de História emBerlim, publicada este ano pela Com-panhia das Letras com volumosas 405páginas.

O livro traz três capítulos centrais,mostrando “O encontro” do casal, ain-da em 1929, os “Mundos opostos” querepresentavam (Hitler, o super-ho-mem; Eva, a mulher submissa) e “Aqueda” da Alemanha. Há um obsessivoe meritório gesto de comprovar tudo oque se afirma, de que resultam es-pantosas 76 páginas com, exatamente,967 notas. Há, ainda, um utilíssimoíndice onomástico, onde o leitor podepinçar a presença eventual de nomescomo Paul Klee, Richard Wagner, Tho-mas Mann e Friedrich Hölderlin, ecomo Bonaparte, Franco e Stálin, maspode, sobretudo, acompanhar a pre-sença imperial de todo o staff na-cional-socialista: Goebbels, Hess, Gö-ring, Himmler, Speer, Ribbentrop edemais filiados à tropa hitlerista. Tudoisso entre dezenas de fotos, devida-mente legendadas, de tais celebrida-des, construções e, claro, do casal –inclusive com algumas imagens deAdolf rindo.

A dimensão de EvaE a biografada – Eva Braun? O es-

forço de Görtemaker, a biógrafa, éreavaliar o lugar e a dimensão da vidade Eva tendo como pano de fundo avida de Hitler. Não se trata de dar a Evao papel de protagonista, mas de dar aver o valor de uma personagem se-cundária numa trama trágica que en-volveu e envolve milhões de pessoas emtodo o mundo. Ficamos sabendo, en-tão, que, aos 17 anos, quando conheceuo quarentão Hitler, Eva era funcionária

da Photohaus Hoffmann, cujo dono,Heinrich Hoffmann, filiado ao NSDAP(Partido Nacional-Socialista dos Tra-balhadores Alemães) desde 1920, eraamigo íntimo de Hitler e se tornou ofotógrafo oficial do governo nazista, epor isso enriquecendo, literalmente, eàs escâncaras.

Eva Braun, parece, educou-se con-forme a tradição da época: contabi-lidade, datilografia, economia domés-tica. A partir de seu caso com o déspotaantissemita, passou a ser figura am-bígua na corte, exercendo alguns pou-cos poderes no entorno do amante, aomesmo tempo em que era escondida dopovo ou disfarçada sob a capa de se-cretária do temível líder alemão. Afinal,conforme um dos muitos depoimentosdo livro, Hitler teria dito nos anos 1930:“Eu tenho outra noiva: a Alemanha!Sou casado com o povo alemão, comseu destino! Não, não posso casar, nãoestou autorizado!”. Talvez isso expliquetambém a explícita ausência de afetoentre ambos, quando em público; àalcova do casal a biografia não teveacesso, para decepção do leitor curiosode cenas eróticas.

Ódio e genocídiosO interesse maior de “Eva Braun – a

vida com Hitler” é, sem dúvida, a “vidade Hitler”: os discursos inflamados nascervejarias, a prisão em 1923, o ódiocrescente aos judeus, a ascensão pla-nejada, a tomada do poder, a eclosão daguerra, os genocídios, a “solução final”,as traições internas, a derrocada alemã,os últimos dias, os suicídios (tambémGoebbels e a mulher Magda se ma-taram, levando juntos os seis filhos).

A biografia de Görtemaker, em mol-des clássicos, não se quer sensacio-nalista. Ao contrário, procura escla-recer contradições, mistérios e lendasque pairam sobre os bastidores da vidado casal. O livro mostra que Eva não eraa jovem alienada que a história quisfixar, mas, sem demonizá-la, mostraque ela representou bem o papel demulher do obcecado e carismático Füh-rer – à maneira da maioria esmagadorada população alemã: fiel até o fim. Apóso fim, aparecem versões, revisões, ar-rependimentos; e cadáveres, tes-temunhos, biografias. Feito essa.

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VITÓRIA,SÁBADO,

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Conversa na VilaTuri Collura. 10 faixas. Em CD.Independente (Lei Vila VelhaCultura & Arte). Quanto: R$20, em média.www.turicollura.com.br

falando de músicapor JOSÉ ROBERTO SANTOS NEVES

OLHAR ITALIANOSOBRE NOEL

Em 2002, quando chegou aoBrasil, mais precisamentea Vitória, o pianista TuriCollura passou a acom-panhar as rodas de sambada cidade como ouvinte e

ficou fascinado com o que viu eouviu. Nesses encontros regados acavaco, pandeiro e tamborim – maiso chope gelado, por favor – o músicoitaliano conheceu a rica trajetória dogênero, desde os compositores daÉpoca de Ouro até a geração quefloresceu na virada dos anos 60 paraos 70, como Paulinho da Viola eMartinho da Vila. Um desses autorescélebres chamou especialmente asua atenção: um certo Noel Rosa(1910-1937), dono de raro refina-mento melódico e harmônico, alémda habilidade para construir a crô-nica do Brasil de sua época comaudácia e ironia fina.

Quase uma década depois, o re-sultado desse olhar estrangeiro so-bre a obra do filho mais ilustre deVila Isabel se traduz no saborosodisco “Conversa na Vila”, no qual opianista atualiza 10 canções de NoelRosa sem perder de vista a iden-tidade de sambas que fascinam ge-rações há mais de 70 anos.

Esse difícil equilíbrio entre moder-nidade e tradição é o principal trunfode “Conversa na Vila”. Atento às nuan-ces de Noel, Turi Collura se deu aoluxo de renovar os arranjos e levadasrítmicas, mas manteve intactas a me-lodia e a divisão vocal. Assim, pro-duziu um álbum sofisticado, homo-gêneo, cujas faixas seduzem o ouvintea cada audição e o convidam a des-cobrir cada vez mais os seus detalhes –que não são poucos.

Direto na fontePara percorrer essa viagem ao sam-

ba da década de 1930, Turi foi diretona fonte e optou por gravar o disco noRio de Janeiro, cercado de gente ta-lentosa como o produtor Paulo Ma-laguti Pauleira e os músicos DomingosTeixeira (violão e violão de sete cor-das), Márcio Hulk (cavaco), Zé LuizMaia (baixo), Joana Queiroz (cla-rinete), Andrea Ernest Dias (flauta) eEdu Szajnbrum (percussão). Nos vo-cais, brilha o timbre suave de Neu-sinha Escorel, digno da Belle Époque,como destaca Rogério Coimbra notexto distribuído à imprensa. Há, ain-da, as participações de Marcello Es-corel, João Schmid e do grupo vocal

Arranco de Varsóvia.A ousadia do disco se estende à

seleção de repertório, que não se li-mita aos standards. Como tudo oque Noel compôs é maravilhoso, es-colher as músicas deve ter sido umparto. Mas Turi acerta ao incluir osclássicos – “Cidade mulher”, “Filoso-fia” (com André Filho) e “Fita ama-rela” – e também canções menos ba-daladas como “Quem ri melhor”,“Mentir” e “Cem mil réis” (com Va-dico). Todas foram cuidadosamenterearranjadas. “Cidade mulher”, lan-çada por Orlando Silva em 1936, ga-nhou acento de rhythm and blues nasestrofes voltando ao ritmo de mar-chinha no refrão; “Seja breve” virousamba-rap com banho de irreverênciado Arranco de Varsóvia; e “Fita ama-rela”, sucesso no carnaval de 1933 navoz de Francisco Alves e Mário Reis,alterna o pandeiro funkeado com acélula original do samba numa fusãoharmoniosa capaz de agradar ao maisradical dos puristas.

A LETRAATÉ AMANHÃAté amanhã se Deus quiserse não chover eu volto pra te veroh, mulher!de ti gosto mais que outra qualquernão vou por gostoo destino é quem quer

Adeus é pra quem deixa a vidaé sempre na certa em que eu jogotrês palavras vou gritar pordespedida:“até amanhã! até já! até logo!”

O mundo é um samba em que eudançosem nunca sair do meu trilhovou cantando o teu nome semdescansopois do meu samba tu és oestribilho

Em se tratando de uma biografia tãorica como a de Noel, poder-se-ia gastarlaudas e mais laudas contando his-tórias de cada personagem e situaçãoque inspiraram suas criações. O samba“Até amanhã”, por exemplo, foi escritoem 1932 para uma mulher por quem ocompositor se apaixonou durante umaexcursão ao Rio Grande do Sul comFrancisco Alves, Mário Reis, Nonô ePeri Cunha. A letra, transcrita ao lado,é um retrato genial de como Noelcantava seus casos amorosos com hu-mor sardônico.

“Conversa na Vila” termina com TuriCollura solitário, ao piano, perpas-sando a linda melodia de “Últimodesejo”, derradeira canção que Noelfez para a dançarina Ceci, sua grandepaixão e musa inspiradora. E assim,sem vocais ou acompanhamento, noestúdio silencioso e escuro, o pianistapôde ter a certeza de que seu ho-menageado, de fato, não pertencia àcategoria dos simples mortais.Noel era um gênio.

O pianista Turi Colluragrava sambas do Poeta

da Vila, em discosofisticado no qualequilibra tradição e

modernidade

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8PensarA GAZETAVITÓRIA,SÁBADO,23 DE JULHODE 2011

Os mestres e as obras da mostra

Francisco Goya Y LucientesFuendetodos. (1746-1828).Pintor e gravador conhecidocomo “Goya, o Turbulento”. Amostra terá 18 gravuras da série“Os Disparates”, tambémconhecida como “Os Provérbios”,produzida entre 1815 e 1823.

Pablo PicassoMálaga.(1881-1973). Um dosartistas mais versáteis de todo omundo. A exposição inclui 12obras com o tema “Le CocuMagnifique” (1968), 26 obrascom o tema “Tauromaquia”(1959) e dois frontispícios.

Joan MiróBarcelona.(1893-1983).Importante escultor e pintorsurrealista catalão. A mostraapresentará 21 de suaslitografias com o tema “AsMaravilhas com Variações”,de 1975.

Salvador DalíFigueres.(1904-1989). Pintorcatalão conhecido pelo seutrabalho surrealista. Fazemparte da mostra 21 placas como tema “Fausto” de Goethe(1969), gravadas com atécnica de ponta seca.

+ artigo de capapor SIMONA CAMPUS

ELES DERAM CORES AOS SONHOS

Miró, como Picasso, é ao mesmotempo pintor, escultor, ceramista,

gravador; como Picasso tem um talentoinato para o desenho, ele experimentao prazer totalmente espontâneo para ogesto da mão que marca o papel, e dotalento vem o desejo constante de ex-perimentar. Originário de Barcelona,Miró ama profundamente a paisagem ea cultura catalã, mas desde os anos 20passou longos períodos em Paris ondeconheceu não só Picasso, que havia semudado para a capital francesa, mastodos os jovens expoentes da Vanguar-da Europeia, empenhados em destruiras regras tradicionais.

Ele dedica-se à gravura desde 1930,com as primeiras litografias para o seuamigo Tristan Tzara, fundador do Da-daísmo; em seguida, à xilogravura eserigrafia, à água-forte e água-tinta, pontaseca, buril. Miró deu cor aos sonhos, ele éum surrealista e do Surrealismo partilha,principalmente, a necessidade de criaruma fusão entre a expressão literária e aexpressão figurativa. Ele está convencidode que a poesia e a pintura são in-separáveis. Da colaboração com escri-tores, editores, estampadores nascemprestigiosos livros de artista que são ca-racterizados pela originalidade e exu-berância. Em 1975, são gravadas as li-tografias bem coloridas das “Maravillascon variaciones acrósticas en el jardín deMiró”, nascidas do trabalho comparti-lhado de Miró e Rafael Alberti, outropintor, membro da Geração de 27 que naEspanha havia criado uma linguagemnova e livre para a poesia.

Dalí também é um catalão que setorna cidadão do mundo, um surrea-lista, o mais excêntrico, provocativo,contraditório e paradoxal entre os sur-realistas. Como ele gosta de ressaltar,ele ama tudo o que é dourado e ex-

cessivo, tem uma paixão desenfreadapelo luxo e o dinheiro, até se re-conhecer no anagrama feroz criadocom seu nome, “Avida Dollars”.

Colega, em sua juventude, de FedericoGarcía Lorca e Luis Buñuel, ele usa suaimaginação energética também no ci-nema, no teatro, na fotografia e nasperformances. Escreve autobiografiasegocêntricas, mas sabe lidar com sen-sibilidade com o estudo da grande li-teratura. Ele também trabalha com mui-tos livros de arte e em 1969 dá início a umdiálogo, importante, com o “Fausto” deJohann Wolfgang Goethe, talvez o textomais representativo da literatura alemãque ocupou o seu autor para toda a vida.Dalí lê a tragédia na versão francesa porGerard Nerval e obtém ideias para 21placas gravadas com a técnica de pontaseca, usando uma pedra de rubi.

O Fausto é um filósofo, jurista, mé-dico e teólogo, não tem paz ou alegria eevoca a magia. É um homem temerário,chega a um pacto com o diabo paraperseguir seu desejo de conhecimento eexperiência. O Dalí, talvez, foi fas-cinado por esse desejo, e revisitando ascenas do drama, ele nos dá desenhos derara elegância. Por esse desejo, pro-vavelmente, a arte continua a fascinar ahumanidade.

Na busca incessante por conhecimento e prazer, surrealistas Joan Miró e SalvadorDalí promoveram uma fusão entre arte e literatura, produzindo pinturas imortais

DIVULGAÇÃO>

No destaque, à esquerda, litografia de Miró da série “As Maravilhas comVariações”; acima, obra de Salvador Dalí inspirada no “Fausto” de Goethe

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9PensarA GAZETA

VITÓRIA,SÁBADO,

23 DE JULHODE 2011

AMAMENTAÇÃO

poesias

S.O.S. PLANETANDRA VALLADARESDesmatamento,empreendimentodo sedentopelo enriquecimento.Procedimentoque em seu avançamentocausa o abafamento,o global-aquecimento,faz cinzentoo firmamentoe pestilentoo vento.

No momento,ainda há tempopara o arrependimento.Cancelamentodo arruinamentoe financiamentodo reflorestamento.Fique atento!Quem tem sentimentonão deixa um mundo lazarentoao seu rebento.

Nada é tão belo que não possasucumbirAnte o jugo da impiedosa poluição.Turvando o céu, pesando o ar,matando rios,Uma chaga purulenta espalha adestruição.Rezem crianças, pelo fim dessemartírio!Este planeta de cuidados necessita.Zelem pelo que resta: um sopro devida...A natureza estende a mão e agoniza.

Gentil é aquele que respeita,Escuta e se faz pensante.No aguardo do melhor momento,Trava a luta por seu semelhante.Inventa sonhos e os persegue,Liberta a alma da ganância, do ouro,E exerce sua função maisimportante...Zelando pelo que há de maiornobreza,Ama e protege sua mãe: a natureza.

Acróstico dedicado ao casal deambientalistas José Claudio Ribeiroda Silva e Maria do Espírito Santoda Silva, brutalmente assassinadosno último dia 24/05, porcoincidência, no mesmo dia em quefoi aprovado pela Câmara dosDeputados o novo Código FlorestalBrasileiro.

crônicas

QUASE UMACARTA AO LEITORpor NAYARA LIMAEu não vou te falar nada, vou ficar emsilêncio, feito conchas perdidas no panode areia da ilha que se chama saudade.Não, eu não vou te falar nada, porque édiante do nada que posso te oferecer, eentão te ofereço o universo. O que há nalua, entre areias e nadas, é o espaço quecoube à sedenta criação. Perceba: tudo écriação. O mundo e eu e você e asestrelas e todas as frutas e todos ossonhos. Nascer foi efeito da criação e domistério advindo dela.

Toda criação é senhora do mistério aque alguns chamam de Deus. Entãopedimos pela xícara de café quando atarde floresce em ventos na primavera,ou amanhecemos exaustos só de terque amanhecer, ou – ainda – decidimospor ir atrás do caminho escolhido. Ora,pois que o caminho também é criação,não vejo outro modo de caminhar que

não seja criando e me doando às artesque com alma e suor são criadas. Diaapós dia. A arte não é a esperança parao mundo, às vezes tão dolorido. Tam-pouco para a vida, que às vezes é omundo doendo nas mãos. Não, a arteestá um pouco além. Ela é a voz, oquadro e o corpo soltos no meio dofuracão. Eu vou te dizer que o que euaprendi não foi muito além de entendera importância de contar as estrelas como meu pai ou a de contar navios com aminha mãe. Viver é um luxo inacabado,é o sal na ponta da língua ou as ondasna ponta dos pés.

Se lembrarmos de que entre navios eestrelas não há nada que não seja cria-ção, talvez fique mais leve viver. Talvezaceitemos até mesmo a morte, comoaceitamos o fim de uma grande peçateatral, aplaudindo-a de pé. Deixemos

ao mundo o que de melhor nós fomos,porque entre camarins e calçadas somosos atores de nosso século, autores denossos dias, músicos de nossos sentidos,arquitetos de nosso corpo, crianças denossos pais, pais de nossas crianças. Atênue linha que separa amor e ódio, vidae morte, faz com que sejamos os ma-labaristas de nossos próprios desejos.Não vou te falar nada. Escute estesilêncio: eu estou aqui e eu vou morrer.Mas não antes de contemplar a belezaabsurda da respiração que acontece semsaber, não antes de me perder por maisvezes até que se encontre a surpresaescondida, não antes de chorar umpouco mais para emudecer os lábios eumedecer a alma, não antes de desfilarno carnaval entre confetes e pandeiros,não antes de escutar meus filhos ama-nhecendo nos dias.

Porque, se tudo é mesmo criação,não somos mais que o ventre da exis-tência. Como a personagem fiel quesou à vida, hei de aplaudi-la enquantohouver tempo.

Hei de vivê-la, enquanto estiverviva.

O CÂNONE E AS LUZESpor MILENA PAIXÃO

Fernando, que não é Fernando Silva deGaleano, mas também conta das suasverdades, disse-me uma vez que “Li-teratura é quando o texto brilha”. Acheimesmo uma coisa inegável. Dia desses,sentados ao redor de uma mesa eu eoutros alunos de olhar interrogante, es-cutando quatro professores-doutores dis-cutir com o respaldo de filósofos fran-ceses e alemães o que atribui “litera-riedade” a um texto, tive vontade dejogar sobre a madeira fria essa frase, eexpor o mistério sem matá-lo. Não o fiz,a aula terminou sem um consenso, etodos fomos a casa com mais um teóricorecomendado e a pergunta não-respon-dida. Desconfio de que a resposta é difícilquando se tenta explicar arrepios, vís-ceras e luzes queimando por baixo dapele. Deixando de lado o que implica apalavra “mestre”, sei que até hoje só li oque quis. Impossível haver sido maisamadora, mais passional. E mais feliz,fechando sem culpa todos os livros que

me enfastiavam. Fechei Dante e José deAlencar. Também fechei Thackeray, eUmberto Eco, em ato admirável de pro-funda empatia, admitiu recentementeter feito o mesmo. Eco, aliás, nuncacheguei a abrir, tendo só conhecido suafaceta de crítico literário, além dessehumano leitor que mostrou ser. Mas achoque, então, ele me compreenderia.

Porque, em contrapartida, existemlivros que eu passo a vida abrindo. Éassim como se eu fosse solo fértil pracertas sementes. Se é que me brota olivro na carne, rego-o, converso com ele,nunca mais se vai de mim. Brota emflores, travo com ele certa sazonalidadeprimaveril. Nélida Piñon por exemplo.Sustenta esses olhinhos puxados quesorriem francos junto com os lábios. Nãoimaginava neles nenhum traço de me-lancolia irremediável querendo ser re-solvida. Fiquei desconfiada. O resultadofoi que demorei a abrir um livro deNélida, por culpa dos seus olhos. Quan-

do, finalmente, me dispus, li-a dizer que“Eleusis tinha o hábito de morrer”.Quem quis morrer fui eu, do êxtaseconhecido de pegar-me com literaturaque me faça ver as luzes e tudo mais.Gosto tanto quando as entrelinhas sãosulcos profundos.

Ainda assim, me sobra a perguntamais incisiva que me tenho feito desdeque iniciei um mestrado em Literatura:a de se existe mesmo esse cânone quenão nos exime da culpa de não o haverlido. Por enquanto vou concordandocom Eco: “há mais livros no mundo doque horas para lê-los”. Subverto-me noato de ler somente literatura que meirrompa pelos poros. Acrescento à ver-dade de Fernando Gomes (que, nãosendo Silva, ainda sim cultiva o bomhábito de contar) o fato de que aliteratura é quando o texto, além debrilhar, suscita claridades ardentes den-tro da gente. Entendimentos. Quiçá umdiálogo entre funduras irmãs.

Momento mágicoEntre dar e receberAmor liquefeito.

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memóriapor CINTHIA FERREIRA DE SOUZA

O PIANO CAPIXABATEM NOME

Cinco discos marcantesHélio Mendes e seuConjunto.Traz gravação de “Trem dasonze”, de Adoniran Barbosa.

Sabor de juventude.Repertório inclui“Ponteio”, de Edu Lobo eCapinam.

Hélio Mendes e seuConjunto.Destaque para“Yesterday”, dos Beatles.

Hélio Mendes e seu TrioVagalume na bossa.Incursão do quarteto nabossa nova.

Week-end emGuarapari.Recebeu o prêmio Estáciode Sá em 1963.

O pianista Hélio Mendes, que morreu há 20 anos, obteve projeção nacional na décadade 60 e gravou oito discos; hoje, sua música permanece viva em sebos e na internet

Era 29 de dezembro de1963. Teatro Municipal doRio de Janeiro. Na noite degala na Cidade Maravilho-sa foram premiados e ho-menageados os artistas

mais importantes daquele ano. A me-dalha e o diploma Estácio de Sá,prêmio criado pelo jornalista e críticoClaribalte Passos, do influente jornal“Correio da Manhã”, eram entreguesàqueles que se destacaram na músicapopular brasileira.

Entre os premiados como o grupoOs Cariocas, pelos arranjos vocais;Jorge Ben como cantor revelação;Elis Regina, cantora revelação; eHebe Camargo nos seus tempos decantora, estava lá também um con-junto capixaba sob a liderança domaestro e pianista Hélio Mendes. “Oelepê “Week-end no Rio”, produzidopela gravadora Musiplay, concedeuao Conjunto o Prêmio Estácio de Sána categoria Conjunto Revelação. Oconjunto foi fotografado na Praia doFlamengo, tendo o Pão de Açúcar aofundo. O êxito do disco deu sequên-cia à série “Week-end em Guara-pari”. Nele foi gravada pela primeiravez a valsa “Guarapari”, de PedroCaetano.

O pianista premiado que conquis-tou o Rio de Janeiro nasceu em Al-fredo Chaves no dia 23 de julho de1925. Mudou-se para Vitória aos 17anos e com essa idade começou atocar na orquestra do maestro ClóvisCruz, músico de alto conceito, pai docompositor e maestro Carlos Cruz,radicado no Rio de Janeiro. Sob ainfluência de suas duas irmãs Hely eRosilda, também pianistas, Héliopraticava diariamente usando o pia-no delas. Foi assim que aprendeu aharmonia dos sons e a música passoua fazer parte da sua vida.

Trio VagalumeNa década de 1950, Hélio Mendes

criou o Trio Vagalume com a in-fluência do jazz. O trio era formadona verdade por quatro músicos: Edí-lio no baixo, Betinho na bateria,Maurício de Oliveira na guitarra eHélio no piano. Foram três anos desucesso. Mas o sonho do pianista erair mais longe através da sua música

e, em 1958, surgiu o conjunto deHélio Mendes, cuja formação seguiuo padrão do jazz, com cinco a oitomúsicos, e o repertório era a bossanova, a MPB e os sucessos inter-nacionais da época. Fizeram partedo conjunto Moacir Barros (saxo-fone), Cícero Ferreira (trompete evocal), Marinho Carlos (acordeão),Betinho (bateria), Dézinho (guitar-ra), Edílio (contrabaixo) e Paulo Ney(guitarra).

O conjunto era um dos mais re-quisitados para se apresentar nosgrandes bailes e festas do Estado edo Brasil. Durante as apresentaçõeshavia a participação de convidados eartistas famosos que divulgavam o

nome de Hélio Mendes. O disco doConjunto circulou em outros paísescomo no Paraguai, no Chile e naArgentina. O Conjunto Hélio Men-des durou 18 anos e gravou 7 LPs eum compacto duplo.

Este ano completam-se 20 anos deseu falecimento. Sua música e seusLPs permanecem vivos na memória enos ouvidos das pessoas. Ainda hojeseus discos são tocados nas rádioscapixaba e carioca, encontramos osvinis em sebos e até a internet des-cobriu o pianista que levou a músicacapixaba para o cenário nacional einternacional. Essa é a eterna lem-brança do maior pianista do Es-pírito Santo.

O conjunto de HélioMendes era um dosmais requisitadospara se apresentarem festas doEstado e do Brasil

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VITÓRIA,SÁBADO,

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Instituto Jacob do Bandolim, respon-sável pelo rico arquivo do músico,editou um trabalho semelhante ao daChoro Music, com acompanhamentosfeitos pelo Época de Ouro, retiradosdas fitas das gravações originais deJacob do Bandolim.

É certo que o choro é um estilo queultrapassa o papel e valoriza os im-provisos e ornamentos criados espon-taneamente, mas a edição de materialdidático de qualidade é essencial paraa sobrevivência de qualquer música.Partituras, discos, métodos e escolasespecializadas em choro ainda nãosão uma regra, mas aos poucos vemosuma valorização deste patrimô-nio cultural tão importante.

músicapor FERNANDO DUARTE

CHORO SE APRENDECOM OS MESTRES

Até poucos anos atrás, omúsico que queria se de-dicar ao choro precisavade duas características:muita paciência e resis-tência a alergia para en-

carar horas de sebo e papel velho. Aprocura por partituras era uma quaseuma busca mitológica por um artefatosagrado, mas alguns lançamentos vêmmudando esse panorama e ajudando aconsolidar a permanência do gênero.

Sendo, por definição, instrumen-tal, o choro sempre exigiu de seusintérpretes familiaridade com a mú-sica escrita. É certo que muitos (prin-cipalmente os acompanhadores) to-cavam “de ouvido”, mas até a metadedo século XX era comum os solistasterem seu caderno manuscrito derepertório onde anotavam músicasque eles mesmos passavam para apauta ou copiavam de outros ca-dernos. Publicações antigas lançadaspor editoras de partituras ou gra-vadoras tentavam satisfazer a de-manda, mas usualmente traziammuitos erros de transcrição e prin-cipalmente de harmonia.

O destaque da nova safra de livrosde partitura de choro é a série daChoro music. Cobrindo dos primór-dios do gênero aos gênios indiscu-tíveis, as edições trazem as partituras(nas transposições mais usuais), umdisco com as músicas e os acom-panhamentos e informações sobre ocompositor abordado e o choro, emportuguês e inglês. A grande novidadesão as faixas sem o solo principal,apenas com a base rítmica, para que omúsico possa solar com o acompa-nhamento do grupo. Esse tipo dematerial, comum em publicações dejazz há mais de 40 anos, ainda é raropara a música brasileira.

SongbooksE a Choro Music não está sozinha.

Graças a revisões preciosistas e re-lançamentos cuidadosos, opções maisconfiáveis de antigos álbuns come-çaram a aparecer no mercado, di-vidindo as prateleiras com novo ma-terial. A editora Lumiar, famosa porseus songbooks de MPB, lançou umimportante livro de choro. Também o

AGÊNCIA ESTADO

Livros trazem partituras, gravações e informações sobre o gênero centenário que moldou aformação da música brasileira, cobrindo dos primórdios do estilo aos gênios indiscutíveis

Para ler, ouvir e tocar

Choro Music (Global Choro Music).Série de livros dedicados a compositores comoJoaquim Callado, Ernesto Nazareth, Pixinguinha,Severino Araújo, Zequinha de Abreu e outros. Comdestaque para as bases para estudo.www.choromusic.com.br

Choro (Lumiar).O destaque do trabalho é a transcrição das linhasde baixo, usualmente executadas pelo violão desete cordas e fundamentais para a caracterização

do choro. Organizado por Mário Sève, RogérioSouza e Dininho. www.lumiar.com.br

Tocando com Jacob (Instituto Jacob doBandolim).Dois discos inteiros do mestre Jacob empartituras cuidadosamente editadas (incluindoalguns improvisos e variações) e discos com asgravações originais e acompanhamentos.www.jacobdobandolim.com.br

Pixinguinha e Benedito Lacerda – Duetos(Irmãos Vitale).Coordenado pelo saxofonista Mário Sève e oflautista David Ganc, o livro traz a transcriçãodos duetos gravados pela famosa dupla.Acompanha CD com músicas e basesoriginais. www.vitale.com.br

Nos CDs que acompanham as obras, é possível tentar reproduzir o virtuosismo de Jacob do Bandolim (1918-1969)

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artigopor RITA DE CÁSSIA MAIA

A INFLUÊNCIA PORTUGUESANO ESPÍRITO SANTOA presença da cultura lusitana no Estado vai além da língua; ela está nos nossosvalores, no modo de pensar e de sentir, aponta especialista em Educação e Literatura

A Biblioteca Pública Estadual promove, até o fim deste mês, uma série de palestras e mesas-redondas sobre o legado de Portugal nas artes, na história e na economia

Da educação e dacultura comoprincípio e comofundamentodepende o nossodesenvolvimento

No dia 13 de julho próximopassado, foram lembradosos 150 anos de nascimentode Muniz Freire, presiden-te do Estado do EspíritoSanto de 1892 a 1896 e de

1900 a 1904, que legou a gerações decapixabas um exemplo de lucidez e com-petência na gestão pública, condição mes-ma de possibilidade para o desenvol-vimento de um Estado e de uma nação.Sabe-se, ou pelo menos sabem os his-toriadores, a importância administrativa epolítica desse intelectual para o desen-volvimento socioeconômico e cultural doEspírito Santo, cujos destinos têm sedefinido a partir de suas riquezas e con-quistas sempre relacionadas à vocaçãomarítima e às relações com os países dealém-mar. Não por acaso esta data coin-cide com a escolha do tema da me-sa-redonda “A vocação do Espírito Santopara as exportações”, que teve lugar dedestaque na extensa programação cul-tural de julho da Biblioteca Pública doEspírito Santo (BPES).

A que alude este tema e qual suarelação com o conceito de biblioteca ede cultura, perguntariam alguns. Ouainda: em que contexto cultural seinscreve esta homenagem a Muniz Frei-re, já tão esquecido de todos nós,capixabas, com a discussão sobre odesenvolvimento e as relações comer-ciais internacionais no Espírito Santoassociada ao tema d’A Presença Por-tuguesa no Espírito Santo, leitmotiv(motivo condutor) da programação?

Este tema nos sugere, além de suaperspectiva histórica e econômica, naanálise do historiador e professor Es-

tilaque Ferreira e do economista e pes-quisador Orlando Caliman, a intrínsecarelação com nossas origens, como tãobem apresentada em noite anterior poroutro historiador zeloso de nosso legadoportuguês, Fernando Achiamé. Resul-tado de amplas e bem fundamentadaspesquisas, a reflexão de ambos os pes-quisadores aponta para o isolamento aque sempre esteve relegado o EspíritoSanto e seu esforço histórico para pro-mover e consolidar o desenvolvimentoque só teve início, ainda assim de formaincipiente, na passagem do século XIXpara o século XX. Ressalta ainda o des-caso crônico do poder, em nível nacional,que sempre ignorou a existência doEspírito Santo.

IdentidadeAtentos para o nosso passado e nossa

história, cientes de nossa identidade ecom o olhar no horizonte de nossaspossibilidades neste célere século XXIcuja moeda corrente é o conhecimento,nos arriscamos a afirmar que da edu-cação e da cultura como princípio ecomo fundamento depende o nossodesenvolvimento.

Nesse espírito da influência lusitanaa marcar não apenas nossas origens enossa história, mas principalmente aalma e o jeito com que contemplamos omar e o distante país de nossos an-tepassados, revelam escritores e poetassua riqueza e a extensão de seus do-mínios não propriamente na dimensãoterritorial, mas na literatura escrita na“inculta e bela flor do Lácio”.

Das 6.912 línguas faladas no mundo, a

língua portuguesa está em sexto lugar.Camões, um dos maiores poetas da hu-manidade, ao escrever seu poema épicocom precisão científica e com o poder depensar em verso, plasma a língua por-tuguesa literária, eternizando-a em suaplasticidade e sonoridade. E na esteiradessa tradição navegam outros tantosrepresentativos nomes dessa grande li-teratura, do passado e do presente: Fer-nando Pessoa e seus heterônimos, SáCarneiro, José Saramago, Herberto Hél-der, o angolano Walter Hugo Mãe, dentreoutros contemporâneos da melhor es-tirpe. Em terras capixabas, leiam-se essasreferências plenas de beleza nostálgica eperegrina na obra fundamental de Gui-lherme Santos Neves e do cronista eromancista Luiz Guilherme Santos Ne-ves, para citar alguns.

Trata-se, pois, da relação, repito, denossa capacidade de expansão e cres-cimento com nossas tradições e nossosvalores, com nosso modo de pensar e desentir, com a língua com que apren-demos a existir, com a herança des-bravadora e corajosa de nossos an-cestrais portugueses, cuja presença noEspírito Santo merece nosso reconhe-cimento, justamente quando a BPES, aquinta biblioteca pública criada nopaís, e criada por um filho de por-tuguês, comemora seus 156 anos!

E se sua política cultural tiver comodiretrizes a disseminação e o debate deideias, o estímulo à pesquisa e às prá-ticas leitoras e a abertura de suas portaspara tornar-se um lugar de convivên-cia, que sejamos todos bem-vindos nes-ta festa capixaba e portuguesa, comcerteza!

Documento:AGazeta_23_07_2011 1a. SABADO NEW_CP_Pensar_1.PS;Página:10;Formato:(274.11 x 381.00 mm);Chapa:Composto;Data:26 de Jul de 2011 13:20:15

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VITÓRIA,SÁBADO,

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O LEGADO DE QUATRO GRANDES ÍCONES DA ARTE MUNDIAL

artes plásticaspor SIMONA CAMPUS

OS SIGNOSDO GÊNIO

Historiadora e curadora de arte analisa o conteúdo da mostra “Mestres Espanhóis”, que reunirá obras gráficas originais de Goya, Picasso, Miró e Dalí, em agosto, no Palácio Anchieta

DIVULGAÇÃO

A gravura “Disparate feminino” está entre os 18 painéis de Francisco Goya apresentados na exposição: obras visionárias e enigmáticas, segundo a curadora Obra de Pablo Picasso que integra a mostra: artista praticou com a mesma habilidade pintura, escultura, cerâmica e gravura

Como Charles Baudelaire jáescreveu, Goya é "um artistasempre grande e às vezesassustador." Com certeza,Francisco Goya y Lucientes(1746-1828) foi filho do gê-

nio extraordinário de sua terra e comen-tarista genial da complexa época na qualeleviveuetrabalhou.Umaépocaque,entreo século XVIII e XIX, marcou o fim da velhaEuropa e o início do mundo moderno.Depois dele, no século seguinte, outrosartistas espanhóis foram surpreendentes ebrilhantes, intérpretes excepcionais da cul-tura figurativa do século XX: Pablo Picasso(1881-1973), Joan Miró (1893-1983), Sal-vador Dalí (1904-1989).

Aos pintores Goya, Picasso, Miró e Dalié dedicada uma exposição que reúne cincoséries de obras gráficas originais:obras-primas, imagens preciosas que es-creveram a história da gravura e da im-pressão de arte gráfica. A mostra “MestresEspanhóis” estará ao alcance dos capi-xabas entre os dias 02 de agosto e 02 deoutubro, no Palácio Anchieta, em Vitória.

Observador irônico e impiedoso da rea-lidade,GoyanasceuemFuendetodos,umaaldeia pobre e desolada na província deAragão.Ele tornou-sepintordacortequan-do tinha 40 anos, recebeu honras e sucessoe presenteou o mundo com pinturas imor-tais, como a “Maja vestida” e a “Majadesnuda”, obra condenada por obsceni-dade pela Inquisição. Em 1792, ele sofreude doença grave e perdeu totalmente aaudição do ouvido: na vida dele aflorarampesadelos e desespero. Enquanto se re-cuperava exorcizou a dor desenhando osálbunsdeSanlúcar edeMadride iniciandosua primeira coleção de gravuras. Outrascoleções seriam seguidas nas décadas pos-teriores até os “Disparates”, a série expostana mostra, composta de 18 painéis, con-forme a edição publicada em 1864, muitosanos após a morte do artista, pela Aca-demia de San Fernando. Nas gravuras,Goya usa a técnica de água-forte junto comágua-tinta: o processo, a ação corrosiva doácido nítrico (“água-forte”) sobre o metal,mantém-se um mistério.

Cada signo se faz teso, concentrado,poderoso; o branco e o preto são opostos, aluz vibra intensamente. Os “Disparates”,também conhecidos como “Proverbios” ou“Sueños”, são difíceis de interpretar. Sãoobras visionárias, enigmáticas: elas contêmtodos os temas da arte de Goya, aquelestrágicos e os grotescos, todos seus pen-samentos e suas obsessões, em uma sur-preendente combinação de racionalidade eincônscio que antecipa o século XX.

Picasso com certeza pensa não apenasem Goya quando nos anos 50 do século XXrealiza as 26 gravuras da “Tauromaquia”,um verdadeiro tributo ao mestre de Fuen-detodos, mas também se refere a toda ahistória e tradição da Espanha. Ele seconforma ao tratado sobre touradas escritopor José Delgado, por apelido, Pepe-Hillo,o famoso toureiro morto por um touro em1801 e já celebrado, na verdade, na Tau-

romaquia de Goya. Prodígio indiscutível e“força” da natureza e da inteligência, Pi-casso por muitos anos cria continuamenteobras revolucionárias, inventa o Cubismo,e incessantemente renova seu estilo: pra-tica com a mesma habilidade pintura,escultura, cerâmica, gravura. Sua produ-ção incluimaisdeduasmilobras impressase é uma maneira específica de comunicardentro de uma atividade imensa.

Picasso fez sua primeira gravura em1899, ele prefere as água-fortes e aslitografias. Suas “invenções” são poucoconvencionais, por exemplo, ele desenhana placa com tinta misturada com oaçúcar. Desta forma realiza a Tauromaquiae, nessas gravuras, o pó da arena, o solcegante, o cheiro de vida e morte semisturam. A segunda série de gravuras dePicasso expostas na mostra é “Le Cocu

Magnifique”. São 12 gravuras à água-fortee água-tinta de 1968, relacionadas com ahomônima comédia farsesca em três atospublicada em 1921 por Fernand Crom-melynck. A história é uma estranha his-tória de ciúmes: um homem acredita semfundamento que sua esposa seja infiel eacaba prostituindo-a com todos os ha-bitantes do país. O protagonista Bruno, o“magnífico chifrudo”, é esboçado por Pi-casso na forma de Minotauro e sua di-mensão mitológica é acompanhada poruma intensa carga erótica.

A mostra tem outras três obras dePicasso, que não pertencem às sériesmencionadas: uma gravura em linóleode 1954 em preto e branco, ligada àiconografia dos touros; e outras duas,respectivamente, uma gravura em li-nóleo e uma água-tinta com cenas debacanal em cores deslumbrantes. >

MOSTRA “MESTRES ESPANHÓIS”Data: 02 de agosto a 02 de outubroLocal: Palácio Anchieta - SalãoAfonso Brás, Praça João Clímaco,Cidade Alta, VitóriaHorário: Terça a sexta-feira, das 10hàs 18hSábados, domingos e feriados, das12h às 18hEntrada gratuitaInformações: (27) 3315-7071/www.premium.srv.br

SAIBA +

Documento:AGazeta_23_07_2011 1a. SABADO NEW_CP_Pensar_6-7.PS;Página:1;Formato:(548.22 x 382.06 mm);Chapa:Composto;Data:26 de Jul de 2011 13:14:33