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Apostila Didática 2020 FILOSOFIA

Percurso - Enem - Filosofia 2019 - Final

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Apostila Didática 2020

FILOSOFIA

Page 2: Percurso - Enem - Filosofia 2019 - Final

Pressupostos e decorrências

Capítulo 1 - A Síntese Filosófica:

Capítulo 2 - Filosofia Medieval à Filosofia Moderna

Capítulo 3 - Exercícios

236

246

268

FILOSOFIA

Page 3: Percurso - Enem - Filosofia 2019 - Final

TRODUÇÃO À FILOSOFIA

236

CAPÍTULO 1

Filosofia | Curso Enem 2019

Síntese Filosófica: Pressupostos e decorrências

O que é então a liberdade? Nascer é ao mesmo tempo nascer no mundo e nascer do mundo. O mundo está já constituído, mas também não está nunca comple-tamente constituído. Sob o primeiro aspecto, somos solicitados, sob o segundo somos abertos a uma infi-nidade de possíveis. Mas esta análise ainda é abstrata, pois existimos sob os dois aspectos ao mesmo tempo. Portanto, nunca há determinismo e nunca há escolha absoluta, nunca sou coisa e nunca sou consciência nua.[...].

MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes. 1999. p. 608.

CAPÍTULO 1 A Síntese Filosófica:Pressupostos e decorrências

1. Natureza e CulturaDeterminismo e liberdade

a) No mundo animal, o determinismo rege a vida. Não há pos-sibilidade de liberdade, uma vez que o instinto natural conduz a vida dos animais.Dessa forma, o ser humano, em sua natu-reza animal, encontra-se também preso a determinismos: tem um corpo sujeito às leis da física e da química; é um ser vivo que pode ser compreendido pela biologia; é um ser que tem necessidades, determinismos constitutivos de sua natureza. Não há como negar os determinismos, ignorá-los, viver se eles.

b) O voo do pássaro, apesar de parecer liberdade, é expressão de uma lei natural à qual ele está preso. Ele não pode não voar. Há uma programação genética no mundo animal que nos faz afirmar o determinismo, a ausência de liberdade, a ausência da capacidade de consciência e distanciamento reflexivo.

c) Em contrapartida, o ser humano, situado no universo da cultura, vai além dos determinismo; ele é também consciência dos determinismos. Isso significa que, ao tomar consciência da necessidade de certas ações, ele tem o poder ou a capa-cidade de um relativo distanciamento crítico desse impulso físico.

d) Embora livre, a liberdade humana é sempre condicionada pelos limites da cultura. Assim, não há liberdade humana ab-soluta. Toda liberdade é situada.

e) Portanto, o mundo animal é um mundo fechado, inscrito na determinação biológica. Em contrapartida, o ser huma-no vive no universo infinito e aberto da cultura, sempre em transformação, pela mediação da linguagem simbólica, pela mediação do trabalho, da ciência, da tecnologia, da educação, da arte, da religião etc.

2. O Mito (primeira forma de conhecimento e de consciência)a) O mito primitivo é uma narrativa sobre a e sobre a origem dos deuses (teogonia) e origem das coisas ( cosmogonia), que se encontra nos deuses.

b) É uma forma autônoma de pensamento, fruto da imaginação e da intuição.

c) A origem do mito está sempre vinculado a consciência coletiva.

d) É um saber fundamentado na fé e não é um saber racionalmente demonstrativo

e) Entre as funções do mito consta: apaziguar o espírito inquieto e gerar coesão social no grupo que compartilha o mito

LEIA O FRAGMENTO:

LEIA O FRAGMENTO:

O mito se opõe ao logos como a fantasia à razão, como a palavra que narra à palavra que demonstra. Logos e mito são duas metades da linguagem, duas funções igualmente fundamentais da vida do espírito. O logos, sendo uma argumentação, pretende convencer. O lo-gos é verdadeiro, no caso de ser justo e conforme à “lógica”; é falso quando dissimula alguma burla secre-ta (sofisma). Mas o mito tem por finalidade apenas a si mesmo. Acredita-se ou não nele, conforme a própria vontade, mediante ato de fé, caso pareça “belo” ou verossímil, ou simplesmente porque se quer acreditar. O mito, assim, atrai em torno de si toda a parcela do irracional existente no pensamento humano; por sua própria natureza, é aparentado à arte, em todas as suas criações.

GRIMAL,Pierre. A mitologia grega. 3ª ed. Tradução Carlos Coutinho. São Paulo: Brasiliense, 1982.p. 8-9.

Na Grécia, antes da invenção do alfabeto, a consciência co-mum pensava que as Musas eram responsáveis por inspirar os poetas com o dom da palavra, com o dom do encantamento. Esses poetas eram os Aedos, e sua missão era compor can-ções. Ao som da lira ou da cítara, transmitiam em forma de musica e canto, as tradições, as crenças, cultivando nos ouvin-tes a memória

Page 4: Percurso - Enem - Filosofia 2019 - Final

TRODUÇÃO À FILOSOFIA237

CAPÍTULO 1Síntese Filosófica: Pressupostos e decorrências

Curso Enem 2019 | Filosofia

4. Do Naturalismo ao Humanismo: Os Sofistas e Sócratesa) Os Sofistas e a oratória: O ensino da virtude ( Protágo-

ras, Hipías, Górgias)

CONTEXTO: Durante o século V a.C, o problema antropo-lógico vai tomando corpo, sobrepondo-se, progressivamente, ao cosmológico. O novo contexto urbano e comercial,que ca-racterizava Atenas, estava fazendo a transição da aristocracia para a democracia.

Ora esse novo individuo político que estava nascendo devia de ser educado. Na educação desse novo homem e ci-dadão, a grande virtude estará vinculada à excelência da ora-tória, técnica ensinada pelos sofistas, mediante pagamento.

A virtude é a habilidade da oratória capaz de destruir ou derrubar o argumento alheio, sem a necessidade de ter com-promisso com a verdade. Mesmo porque o lema sofista, pro-clamado por Protágoras, era: “ O homem é a medida de todas as coisas...” (PLATÃO, Teeteto, 152a2-4). Em decorrência desse lema pressuposto, temos o humanismo e o relativismo

A erística é essa habilidade que busca a vitória na argu-mentação, a qualquer preço, servindo-se de diferentes técni-cas de manipulação da palavra como, por exemplo, servir-se de falácias, de ambiguidades verbais ou de silêncios como estratégias persuasivas.

LEIA O FRAGMENTO

Os sofistas, com efeito, operaram verdadeira revolu-ção espiritual (deslocando o eixo da reflexão filosófica

3. Do Mito ao Logos: O Nascimento da Consciência FilosóficaDa tragédia grega

A Tragédia narra a origem da polis, das leis e da política demo-crática. Encontramos, assim, no palco o fim da aristocracia e o começo da democracia, representada pelo coro dos cidadãos. A tragédia apresenta também o conflito entre a lei da família e a lei da cidade, muito bem ilustrado na Antígona de Sófocles.

No palco teatral, encontraremos deuses e personagens aris-tocráticos, definidos pelos seus valores característicos, exem-plificados na beleza física, coragem na guerra, na astúcia, na esperteza e nos laços de sangue.

A passagem do mito ao logos na Grécia antiga aconteceu de modo lento e gradativo. Vários são os elementos que foram fundamental para essa passagem refere-se às atividades co-merciais e marítima. As permanentes viagens proporcionaram as trocas, não só de produtos materiais, mas acima de tudo de conhecimentos, de informações são exemplos. Além disso, a invenção da escrita, do calendário, da moeda, todos esses elementos ajudaram na complexificação da mente humana e na aprendizagem do pensamento abstrato, condição funda-mental para o nascimento da filosofia.

OS FILÓSOFOS NATURALISTAS: (Pré-socráticos)

Superando a consciência mítica, os primeiros filósofos aban-donaram a cosmogonia e se concentraram na cosmologia; ou seja, buscaram a origem da natureza em algum elemento pri-mordial da própria natureza: o arché, o elemento primordial que teria dado origem a tudo. No quadro a seguir, o elemento primordial, o arcké, identificado e seu respectivo filósofo.

LEIA O FRAGMENTO

TALES = ÁGUA XENÓFANES: A TERRA (uma cobinação de ága e terra)

ANAXIMANDO= o apeíron ( indeterminado, ilimitado

HERÁCLITO: o fogo em permanente devir, sob a regulamentação do lógos

ANAXÍMENES= o ar PARMÊNIDES: o Ser imutável

PITÁGORAS: o número ,a harmonia dos números

EMPÉDOCLES: a origem está nas quatro raízes: terra, fogo, água e ar agregando-se pelo amor e desagregando-se pelo ódio

: DEMÓCRITO: O átomo

PHILO+ SOPHIA: Duas expressões gregas: Philo: amigo, amante, e Sophia: sabedoria. Philosophia é atitude e forma de saber relacionada à sabedoria. Filósofo é aquele que busca a sabedoria. Da mesma forma como o amado procura a amada, nunca a possuindo, a Filosofia busca a verdade, lutando con-tra toda forma de dogmatismo.

A Filosofia não é a revelação feita ao ignorante por quem sabe tudo, mas o diálogo entre iguais que se fazem cúmplices em sua mútua submissão à força da razão e não à razão da força.

SAVATER, Fernando. As perguntas da vida. Tradução de Mônica Stahel. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 02 (Frafmento).

A atititude filosófica nasce como problematização do senso comum, como um saber reflexivo, critico e radical, que buscas as raízes mais profundas do saber de modo processual. Dessa forma, contra posturas dogmáticas e autoritárias, a filosofia parte da dúvida, conforme o fragmento.

“Não menos que saber, duvidar me agrada.” afirma Dante. [...] A verdade e a razão são comuns a todos e não pertencem mais a quem as diz primeiro do que ao que as diz depois. Não é mais segundo Platão, do que segundo eu mesmo, que tal coisa se enuncia, desde que a compreendamos. [...]

MONTAIGNE, Michel de. Ensaios. Livro I. Cap. XXVI. Tradução de. Sérgio Milliet. São Paulo: Novas cultural, 1991. P. 75-83 (Os

pensadores)

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

238 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 1 Síntese Filosófica: Pressupostos e decorrências

da physis e do cosmo para o homem e àquilo que con-cerne à vida do homem, como membro de uma socie-dade) e, portanto, centrando seus interesses sobre a ética, a política, a retórica, a arte, a língua, a religião e a educação, ou seja, sobre aquilo que hoje chamamos a cultura do homem. Portanto, é exato afirmar que, com os Sofistas, inicia-se o período humanista da Filosofia antiga.

REALE, G., ANTISERI, D. Historia da Filosofia: Filosofia pagã antiga. Trad. Ivo Storniolo. Vol 1. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2004. p. 127-128.

(Fragmento)

ele a sentença e prefere a morte em vez de renunciar à missão de levar as pessoas ao autoconhecimento e à evolução moral e espiritual, superando formas medíocres de vida humana.

c) Concepção de ser humano no pensamento socrático--platônico

Na alegoria do cocheiro, Platão afirma a tripartição da alma humana. Afirma que há uma carruagem conduzida por um cocheiro e puxada por dois cavalos, um bom e dócil e outro furioso e indisciplinado. A parte racional da alma é o condu-tor; a parte emocional é o cavalo obediente. Tanto o condutor ( alma racional) quanto o bom cavalo (emoção, alma irascível) sofrem muito e precisam de muito esforço para controlar o rebelde ( paixão, alma concupiscível, ) permitindo, assim, a atuação conjunta. Para chegar ao conhecimento, portanto, é preciso que a razão conduza a vontade e os sentidos em busca do que há de mais nobre: a contemplação da verdadeira reali-dade: o Bem supremo. O bem, ideia principal entre todas, leva à verdade, à beleza e à justiça.

LEIA O FRAGMENTO

b) A busca dialética da verdade, em Sócrates

Lema de Socrátes (470/469-399 a.C): “Conhece-te a ti mesno” ( humanismo).

Objetivo: conduzir as pessoas ao auto-conheicmento e à bus-ca das verdades essenciais: desenvolver a essência humana: a razão. Sócrates via o seu magistério como uma missão e tarefa que seu deus interior (daimon) lhe ordenara executar para o bem da cidade. Assim, o ato de filosofar e buscar a verdade é um serviço à pólis.

Sócrates tinha por hábito ficar na àgora, na praça pública, dialogando com as pessoas, estimulando-as ao autoconhe-cimento. Quando ele percebia uma injustiça, sua voz interior não se calava. Essa interior era o seu daimon, seu demônio, ou seja, seu espírito inquieto, sua consciência que o interpelava a falar, a se manifestar. Essa consciência somente se manifesta-va para impedir a pratica de ações injustas.

Método da de maiêutica: começa pela parte considerada destrutiva, chamada ironia. Por meio de geniais perguntas e problematizações desconstruía as certezas que, até então, interlocutor julgava saber. Nada mais restava ao interlocutor, senão confessar a própria ignorância. A partir desse momento inicia-se o processo de indução em busca da construção da verdade essencial, que estará o conceito.

Pratica de vida socrática: voltada para o tema da educação da alma, que possibilitará ao homem aprender a controlar as paixões cegas que o arrastam em sentido contrário ao que a meditação e o diálogo nos proporcionam. Em decorrência, a tarefa primordial e suprema do educador é ensinar aos ho-mens a cuidarem da própria alma.

O pressuposto de Sócrates, que nos ajuda a entender seu pen-samento, diz: Conhecer é ser, conhecer é saber. Assim, quem sabe o que é a justiça, pratica a justiça. Se alguém pratica a injustiça, deve-se ao fato de ele estar na ignorância. Razão por que Sócrates investe na educação da alma. Nesse ponto, o ra-cionalismo de Platão já se afasta, uma vez que passa a consi-derar a vontade como um elemeno motivador importante da ação.

O conceito de virtude aparece com auto-domínio, governo da razão sobre as paixões. Com efeito, o elemento decisivo aqui é a ciência ou o conhecimento, pois sem ele não será possível a virtude, a liberdade, a justiça e outros valores morais.

A coerência de vida de Sócrates o levou à prisão e à condena-ção à morte. Mesmo tendo oportunidades de fugir da prisão,

Portanto, não compete à razão governar, uma vez que é sábia e tem o encargo de velar pela alma toda, e não compete à cólera ser sua súdita e aliada? [...]. E estas duas partes, assim criadas, instruídas e educadas de verdade no que lhes respeita,dominarão o elemento concupiscível (que, em cada pessoa, constitui a maior parte da alma e é, por natureza, a mais insaciável de ri-quezas) e hão de vigiá-lo, com receio que ele, enchen-do-se dos chamados prazeres físicos, se torne grande e forte, e não execute a sua tarefa, mas tente escravizar e dominar uma parte que não compete à sua classe e subverta toda a vida do conjunto”.

PLATÃO. A República. Trad. Maria Pereira. 8 ed. Lisboa: Calouste Gulbenkian,1996. [441e - 442a ].

5. O conhecimento e a Política, em PlatãoPlatão (427-347a.C.), no livro VII de “A república”, elabora a Ale-goria da Caverna para ilustrar seu pensamento, explicando a evolução no processo de conhecimento e a diferença entre a verdadeira realidade e o âmbito das incompletas projeções que dela são feitas, as sombras.

Antes de tudo,a Alegoria da Caverna, como o próprio Platão adverte, diz respeito à educação ou à falta dela. Platão procu-ra, a partir do ensino do método dialético, mostrar que deve-mos separar luz e sombra. Na caminhada em direção à ideia, ao conhecimento verdadeiro, Platão distingue graus ou níveis evolutivos de conhecimento. No âmbito sensível, encontra-mos a crença e a opinião(doxa); no âmbito intermediário, en-contramos raciocínio, que é o caminho capaz de proporcionar a saída da caverna. E, no último nível, encontramos a intuição intelectiva, que capta a essência, a ideia. As ideias são a verda-deira realidade e conhecê-las é ter conhecimento verdadeiro.

Em termos políticos, a alegoria da caverna passa a mensagem de que é papel do filósofo governar a cidade. Assim a melhor forma de governo defendida por Platão é a sophocraica, o go-

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA239

CAPÍTULO 1Síntese Filosófica: Pressupostos e decorrências

Curso Enem 2019 | Filosofia

verno de uma elite de sábios. E a pior forma de governo, a mais cor-rompida, seria a democracia, pois o povo não apresenta ciência política.

Para Platão, a alma humana é tripartida. Há três almas diferen-tes e cada uma delas teria uma função social.

ALMA CLASSES SOCIAIS VIRTUDES

Concupiscível,

apetitiva carnal. (aspecto mais elementar)

Camponeses, artesãos, comerciantes:

produzem os bens

Para essa classe social, que é expressão do elemento mais baixo de nossa alma

tripartida, a virtude solicitada é a temperança. Essa virtude é conquistada através da força de vontade que governa sobre as paixões cegas, e consegue sua

submissão.

Irascível ( colérica, volitiva)

Homens assemelhados

Soldados, guardas vigilantes na defesa do bem da cidade;

Devem lutar contra os impulsos de uns que pretendem acumular muita riqueza,

gerando excessiva pobreza em outros.

Para essa classe social, que é expressão do elemento intermediário de nossa

alma tripartida,

A virtude solicitada é a da coragem, da fortaleza em agir contra os impulsos primários, cuja tendência é sempre a desorganização, o excesso ou a falta,

formas viciadas de viver.

Racional

Elemento mais nobre. Faculdade do pensamento

Os Filósofos são os governantes da cidade

Para essa classe social, expressão do elemento supremo e imortal de nossa

alma, a virtude solicitada é a Sabedoria prática, a prudência decorrente da

verdadeira ciência, da contemplação do Bem ideal, da Verdade, do Belo.

A Justiça nada mais é do que a harmonia que se estabelece entre essas três virtudes. A justiça perfeita se realiza quando cada cidadão e cada classe social desempenham da melhor forma as funções que lhe são próprias por natureza ou por lei.

A CRITICA PLATÔNICA À POESIA.

Platão denuncia a poesia como imitação, afirmando que sua beleza é apenas aparente, com ritmo e harmonia que seduzem e trazem desequilíbrios no espírito. “Parece-me que o poeta, por meio de palavras e frases, sabe colorir devidamente cada uma das artes, sem entender delas mais do que saber imitá-las”. (A República, 601a)

Com o racionalismo grego, especialmente no pensamento socrático-platônico, acentua-se, portanto, o aspecto irracional da poesia. Dessa forma, além de ela não colaborar na busca filosófica pela verdade, coloca-se em sua contramão.

Assim, no Livro X de A República, encontramos a reflexão de Platão que destaca os motivos de a poesia não poder ser usada como instrumento de educação política dos cidadãos e, muito menos, de busca pela verdade. Não se trata, simplesmente, de banir a poesia da cidade. Ela pode apresentar dimensões positivas. O que não se deve mais aceitar é o status ou o lugar que ela ainda vem tendo na cidade. Platão afirma esse papel de formadora do cidadão e de busca da verdade cabe à filosofia, que, portanto, deverá retirar a poesia desse âmbito.

O que há de detestável nos poetas, para Platão, é o fato de eles imitarem tudo, fingirem ser qualquer coisa, qualquer ser. Esse tipo de poeta não será aceito na cidade ideal de Platão. Contudo, se o poeta for um imitador somente de homens bons e nobres, ele poderá permanecer, pois nesse caso, ele exerce um papel positivo

6. A Filosofia de aristótelesO desejo da Felicidade, fim absoluto.

O conjunto das ações humanas e o conjunto dos fins particu-lares para os quais elas tendem subordinam-se a um "fim últi-mo", que é "bem supremo", que todos os homens concordam em chamar "felicidade".

Os fins são vários e nós escolhemos alguns dentre eles [...]. Segue-se que nem todos os fins são absolutos; mas o sumo bem é claramente algo de absoluto. Por-tanto, só existe um fim absoluto [...] Ora, nós chama-mos de absoluto aquilo que merece ser buscado por si mesmo, e não com vistas em outra coisa; por isso, chamamos de absoluto incondicional aquilo que é sempre desejável em si mesmo e nunca no interesse de outra coisa. Ora, esse é o conceito que preeminen-temente fazemos da felicidade. [...] A felicidade é, por-tanto, algo absoluto e autossuficiente, sendo também a finalidade da ação.

ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco. Trad. Leonel Vallandro e Gerd Bornheim. São Paulo: Nova Cultural. 1991. p. 1-7 .livro I. (Os

Pensadores). (Fragmento).

O individuo humano como ser político:

O homem é, por sua natureza, como dissemos desde o começo, ao falarmos do governo doméstico e do dos escravos, um animal feito para a sociedade civil. Assim, mesmo que não tivéssemos necessidade uns dos ou-tros, não deixaríamos de desejar viver juntos. Na ver-dade, o interesse comum também nos une, pois cada

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

240 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 1 Síntese Filosófica: Pressupostos e decorrências

É pois manifesto que a ciência a adquirir é a das causas primeiras (pois dizemos que conhecemos cada coisa somente quando julgamos conhecer a sua primeira causa); ora, causa diz-se em quatro sentidos: no pri-meiro, entendemos por causa a substância e a essên-cia (o “porquê” reconduz-se pois à noção última, e o primeiro “porquê” é causa e princípio); a segunda cau-sa é a matéria e o sujeito; a terceira é a de onde vem o início do movimento; a quarta causa, que se opõe à precedente, é o “fim para que” e o bem (porque este é, com efeito, o fim de toda a geração e movimento). 

Adaptado de: ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. De Vincenzo Cocco. São Paulo: Abril S. A. Cultural, 1984. p.16. (Coleção Os Pensadores.)

um aí encontra meios de viver melhor. Eis, portanto, o nosso fim principal, comum a todos e a cada um em particular. Reunimo-nos mesmo que seja só para pôr a vida em segurança.[...]. Mas não apenas para viver juntos, mas, sim, para bem viver juntos que se fez o Estado.

ARISTÓTELES. A política. Trad. Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p.53.livro II, cap.5. (Fragmento).

é um ser particular, mas o “ser enquanto ser”, sua substância, sua essência.

d) As quatro causas: da potência ao ato

Para Aristóteles, tudo o que existe é uma decorrência do movimento de passagem de potência para ato, um movimento que abarca quatro causas.

Leia o fragmento:

a) A Filosofia e o espanto admirativo em Aristóteles

A Filosofia nasce da admiração e do espanto. Sem essa experi-ência e atitude inicial não se desenvolve a capacidade proble-matizadora de quem busca conhecer radicalmente.

Para Aristóteles, os homens começam a filosofar a partir do es-panto (to thaumázein). É o espanto que está na raíz o conheci-mento. Ao espantar-se, a pessoa reconhece a própria ignorân-cia, ao mesmo tempo em que se coloca na dinâmica da busca.

b) Conhecimento e conversão ética, em Aristóteles

Considerando a profunda vinculação entre o saber teorético e a vida prática, uma vez atingido o conhecimento racional, poderá haver, por isso mesmo, um processo de conversão ética e moral. A mudança no ser e no fazer é oriunda do conhecimento, da compreensão das essências; pois, como alguém poderá ser justo se não souber o que é a justiça?

Dessa forma, as virtudes éticas decorrem de nosso cultivo cotidiano, de nosso hábito, de nossa prática. Ou seja, não são naturais. Embora não sejam naturais, elas são possíveis; pois, existe em nós a potencialidade para a virtude, como existe a potencialidade para a felicidade. Com efeito, as virtudes são expressão do governo da vida racional, por isso, as virtudes são conaturais com a felicidade, eudaimonia.

Considerando que o fim da vida humana está relacionado à sabedoria contemplativa, as virtudes dianoéticas (virtudes intelectuais) estão acima das virtudes éticas. A atividade da mente humana busca conhecer a essência das coisas, os princípios primeiros, a substância, aquilo que permanece, o imutável. Nessa dimensão racional há duas dimensões, uma teórica, outra prática. No âmbito da prática, a virtude por excelência é a phrónesis, a prudência. No âmbito da vida teorética, a virtude por excelência é a sophia, a sabedoria teórica.

Portanto, as virtudes dianoéticas nascem e se alimentam do estudo, da pesquisa, que tem por objetivo o conhecimento da verdade, que conduz à retidão de vida.

c) A metafísica e os campos do saber

O conhecimento verdadeiro é o conhecimento das causas. Este é o campo da metafísica, da razão intuitiva. Outras formas de saber não conseguem chegar a esse conhecimento, como é o caso da arte, do conhecimento científico, da sabedoria pratica e, mesmo, da sabedoria filosófica, que é razão demonstrativa.

A metafísica ou Filosofia primeira é a ciência teorética mais importante, pois fornece os princípios primeiros dos quais dependem os princípios das matemáticas e da física, que também são ciências teoréticas. O objeto de seu estudo não

A causa formal (a substancia ou a essência), a causa material (a matéria de algo);), causa eficiente (ação motora que inicia o movimento e transforma a matéria) e causa final (finalidade para que existe). Exemplificando, consideremos o mármore (matéria), que vai sendo trabalhado pelo escultor (eficiência) e transformado em estátua (forma) para ser colocada na praça pública (finalidade).

Para falar de um ser é preciso distinguir essência (substância) de acidente, atributo que o ser poderia ou não possuir. O que faz um homem ser homem? Aristóteles dirá que a essência, a substância do homem é a racionalidade, ao passo que carac-terísticas como jovem, alto, baixo, gordo ou magro são aciden-tes, pois mudam de ser para ser, mas não mudam o ser em si.

Além da distinção entre substância e acidente, Aristóteles faz uso da distinção entre matéria e forma. Todo ser é compos-to de matéria e forma. A matéria, pura passividade, contém a forma em potência. Esse olhar permite captar e expressar a dinamicidade da vida. Por isso, no ser individual é preciso dis-tinguir o que está atualmente e o que tende a ser (ou seja ato e potência): o grão é planta em potência e a planta, como ato, é a realização da potência. A mudança universal é passagem incessante da potência ao ato.

e) Mimesis e katharsis

Em Aristóteles a arte, como imitação, é também aprendiza-gem e abre a mente para progredir no caminho do conheci-mento. Dessa forma, a arte está um nível acima da experiência empírica, pois permite o ensino.

Na obra Poética, Aristóteles se refere à mímesis e à Katharsis (purgação, purificação) em sentido positivo. Vejamos

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA241

CAPÍTULO 1Síntese Filosófica: Pressupostos e decorrências

Curso Enem 2019 | Filosofia

horas, são? Para essas sentenças não se pode atribuir um valor lógico, não serão verdadeiras ou falsas. O mesmo caso se aplica às sentenças exclamativas, por exemplo: “Sucesso!”; “Prometo estudar mais!”. Igualmente, as sentenças imperativas não apresentam valor lógico, por exemplo: Acorde mais cedo!”; “Faça seu dever!”. Essas sentenças não podem ser reconhecidas como verdadeiras ou falsas.

b) Principio da identidade , da não contradição e do ter-ceiro excluído

Aristóteles captou as leis do ser e as constituiu em princípios lógicos fundamentais: os princípios de identidade, de não contradição e do terceiro excluído.

O princípio de identidade diz que um enunciado é idêntico a si mesmo. Ou seja, se ele é verdadeiro, ele é verdadeiro. Se ele é falso, é falso. Simbolicamente, x = x.

O princípio da não contradição diz que uma proposição não poder ser ao mesmo tempo verdadeira e falsa. Se x = x, então “x” não pode ser “não x”.

E, fi nalmente, o princípio do terceiro termo excluído; ou seja, ou “x” é verdadeiro, ou “x” é falso, não havendo espaço para um outro termo intermediário.

A estrutura e as formas de uma proposição categórica.

Quanto às formas lógicas, Aristóteles acreditava haver somente quatro (4) tipos de proposições categóricas:

1) UNIVERSAL AFIRMATIVA (A): Todo X é Y ( Ex. O brasileiro é latino-americano)

2) UNIVERSAL NEGATIVA (E) Nenhum X é Y ( ex. Nenhum ser humano é alado)

3) PARTICULAR AFIRMATIVA (I): Algum X é Y (Há brasileiras que são budistas)

4) PARTICULAR NEGATIVA (O): Algum X não é Y ( Nem todos os brasileiros são católicos)

c) Teoria do Silogismo

Considerando a lógica aristotélica, por silogismo entende-mos o processo argumentativo formado por duas premissas e uma conclusão.

d) Estrutura e tipos de argumento

Tradicionalmente dividimos os argumentos em dois tipos: de-dutivos e indutivos. Quanto à analogia, permanece como uma forma de indução. Vejamos:

Argumento dedutivo é aquele cuja validade ou invalidade de-pende exclusivamente de sua forma lógica. Assim, argumen-tos dedutivos validos são aqueles nos quais, considerada a verdade das premissas, é logicamente impossível a conclusão ser falsa. Nos argumentos dedutivos, a validade depende da forma do argumento.

É pois a tragédia imitação de um caráter elevado, com-pleta  e de certa extensão, em linguagem ornamenta-da e com as várias espécies de ornamento distribuí-das pelas diversas partes do drama,  imitação  que se efetua não por narrativa, mas mediante atores, e que suscitando o terror e a piedade, tem por efeito a puri-fi cação destas emoções. (ARISTÓTELES. Poética. Trad. Eudoro de Souza. São Paulo: Nova Cultural, 1991. cap. VI. p.205.

Para Aristóteles, a imitação é uma das dimensões que integra natureza humana. Na mímesis existe um aspecto positivo: o resgate de valores, de recriação de uma situação nobre. Por-tanto, há um aspecto de mediação simbólica que faz a imita-ção não ser somente passividade, mas criatividade, vinculada ao ato de conhecer.

No que tange à catarse, estamos diante de um efeito produzido pela tragédia na alma do público. Na conclusão da tragédia, as emoções do público passam por uma purifi cação, pela vivência da compaixão. Essas emoções adquirem tal força de catarse que podem ser comparados à arte da medicina, gerando um senti-mento de cura, de agradável alívio após fortes abalos emocio-nais. E isso pode ser favorável ao homem, no caminho evolutivo de seu espírito.

7. Noçoes de Lógica

a) Sentenças e proposições

As sentenças ou frases podem ser declarativas, inter-rogativas, exclamativas e imperativas. Contudo, so-mente as sentenças declarativas são proposições, pois têm valor de verdade, seja seu conteúdo verdadeiro ou falso.

Pode parecer estranho, mas uma sentença, mesmo sendo falsa tem um valor de verdade, pois há algo que está sendo declarado e, como tal, seu conteúdo poderá ser verdadeiro ou falso. Por exemplo, se alguém afi rmar que “o Estado de Ser-gipe é maior que o de Amazonas”, estaremos diante de uma proposição. Toda proposição tem valor lógico, podendo ser verdadeira ou falsa. Outros exemplos de proposições: “Belo Horizonte é a capital de Minas Gerais”; “Paraíba é um estado brasileiro que pertence à região centro-oeste”. Esta última pro-posição, embora seja falsa, tem valor de verdade; ou seja, ela necessariamente é verdadeira ou falsa. É isso que a torna uma proposição.

Assim, para que uma sentença seja proposição deve ser uma oração que tenha sujeito e predicado.Dessa forma, a proposição possui dois valores lógicos, verda-deiro ou falso. Por isso, a proposição é declarativa.

Contrariamente às sentenças declarativas, as sentenças interrogativas, exclamativas e imperativas não apresentam valor de verdade, não são nem verdadeiras nem falsas. Considere, por exemplo, sentenças interrogativas: “quem venceu a partida?”; “qual o nome do autor desse livro?; “que

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

242 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 1 Síntese Filosófica: Pressupostos e decorrências

Argumento dedutivo é aquele cuja validade ou invalidade depende exclusivamente de sua forma lógica. Assim, argu-mentos dedutivos validos são aqueles nos quais, considerada a verdade das premissas, é logicamente impossível a conclu-são ser falsa. Nos argumentos dedutivos, a validade depende da forma do argumento.

Por exemplo, o argumento que apresentar esta forma: todo “x” é “y”, todo “y” é “z”; logo, todo “x” é “z”, é um argumento váli-do, quaisquer que sejam os signifi cados atribuídos às letras ‘x’, ‘y’ e ‘z’. Além disso, toda atribuição de signifi cados que produ-za premissas verdadeiras vai, necessariamente, produzir tam-bém uma conclusão verdadeira.

Os três termos do silogismo. Considerando a lógica aristo-télica, no silogismo, há sempre três (3) termos. Considerando que as premissas não podem estar desconectadas,o elemento que as une funciona como dobradiça, e ele constitui o termo médio, unindo os outros dois termos, chamados de termos extremos, sendo um termo maior e outro termo menor.

Vejamos um exemplo de silogismo:

Nenhum peixe é mamífero;

ora, Baleia é mamífero;

logo, Baleia não é peixe.

Perceba que a conclusão deve sempre conter os termos me-nor (“Baleia”), que será o sujeito da conclusão, e o termo maior (“peixe”), que sempre será o predicado da conclusão. O termo médio (“mamífero”) jamais aparecerá na conclusão, pois sua função é ligar os extremos, portanto, deve estar somente nas premissas.

Argumento INDUTIVO. Nos argumentos indutivos, é possí-vel que a conclusão seja falsa, mesmo as premissas sendo ver-dadeiras. Assim, na indução, temos apenas a probabilidade de verdade da conclusão. Contudo, um bom argumento indutivo é aquele em que a conclusão, precedida de premissas verda-deiras, muito provavelmente também será verdadeira.

Graças à indução, as ciências experimentais progridem. Um cientista, na área biomédica, generaliza uma conclusão a par-tir de um número limitado de experimentos. Portanto, no ra-ciocínio indutivo, considerando o exemplo do medicamento feito a partir de casos particulares, não se pode afi rmar que em todas as circunstâncias que tal medicamento for aplicado os resultados serão sempre os esperados, conforme se tem ob-servado no passado.

Veja um exemplo de indução:

O cobre é condutor de eletricidade, o zinco é condutor de eletricidade, o ferro é condutor de eletricidade, o ouro é condutor de eletricidade. (Dados particulares sufi cientemente enumerados);

ora, cobre, zinco, ferro e ouro são metais; logo, os metais são condutores de eletricidade.

Como foi dito, no argumento indutivo, o conteúdo da con-clusão excede o das premissas, fornecendo-nos tão somente probabilidades.

e ) Regras fundamentais da inferência na lógica aristotélica.

Para podermos dizer se o raciocínio é válido e a con-clusão verdadeira ou falsa, a inferência do silogismo deve obedecer a regras fundamentais:

1ª- Um silogismo deve ter um termo maior, um menor e um médio e somente três, nem mais nem menos.2ª- O termo médio, que fi gura nas duas premissas e jamais na conclusão, deve aparecer como universal pelo menos uma vez, possibilitando, assim, a ligação do maior com o menor. Exemplifi cando: se eu disser que “os catarinenses são brasileiros” e “os mineiros são brasileiros”, torna-se inviável qualquer conclusão, uma vez que o termo médio (“brasileiros”) sempre fi gurou como parte e nunca como todo.3ª- Nenhum termo pode ser mais abrangente na con-clusão do que nas premissas. Disso resulta que uma das premissas deve ser sempre universal.4ª - Nenhuma conclusão se segue de duas premissas negativas, uma vez que o médio não terá ligado os ex-tremos.5ª - Nenhuma conclusão se segue de duas premissas particulares, pois o médio não fi gurou como universal pelo menos uma vez, não podendo ligar o maior com o menor.6ª - Sendo as duas premissas afi rmativas, a conclusão, obviamente, será afi rmativa.7ª - A conclusão sempre acompanha a parte mais fra-ca. Em outras palavras: se houver premissa particular, a conclusão será particular; se houver uma premissa negativa, a conclusão será negativa; se houver pre-missa particular negativa, a conclusão será particular negativa.

f) Noções de validade, verdade e correção.

Inicialmente, o que determina a validade do argumento é a sua forma. Assim, por exemplo, uma forma válida:

Todo “x” é “y”. Ora, “z” é “x”. Logo, “z” é “y”.

Podemos demonstrar a validade ou a invalidade de um argu-mento usando a ferramenta da teoria dos conjuntos. Quando, por exemplo, dizemos que todo “x” é “y”, estamos dizendo que o conjunto “x” está contido dentro do conjunto “y”, conforme a ilustração.

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7ª - A conclusão sempre acompanha a parte mais fraca. Em outras palavras: se houver premissa particular, a conclusão será particular; se houver uma premissa negativa, a conclusão será negativa; se houver premissa particular negativa, a conclusão será particular negativa.

f. Noções de validade, verdade e correção.

Inicialmente, o que determina a validade do argumento é a sua forma. Assim, por exemplo, uma forma válida:

Todo “x” é “y”. Ora, “z” é “x”. Logo, “z” é “y”.

Podemos demonstrar a validade ou a invalidade de um argumento usando a ferramenta da teoria dos conjuntos. Quando, por exemplo, dizemos que todo “x” é “y”, estamos dizendo que o conjunto “x” está contido dentro do conjunto “y”, conforme a ilustração.

Podemos perceber que, se é verdade que todo “x” é “y”, e todo “z” é “x, se torna impossível que “z” esteja fora de “y”.

Ex: Todo brasileiro (x) é sul-americano (y); ora, Betinho (z) é brasileiro; logo, Betinho é sul-americano.

Vejamos um exemplo de argumento inválido: Todo “x” é “y”. Ora, “z” é ”y”. Logo, “z” é “x”.

Aqui, percebemos que “y” é maior que “x”, portanto não é correto afirmar que todo “z” (que é também “y”) seja “x”. Assim, estamos diante de um argumento inválido, pois não haver, logicamente, uma conclusão falsa a partir de premissas verdadeiras.

Ex: Todo brasileiro é sul-americano; ora, Alberto é sul-americano; logo, Alberto é brasileiro.

g) As Falácias no processo argumentativo Conforme vimos, o objetivo de um argumento é apresentar as razões que sustentam a conclusão. Contudo, no cotidiano existem muitas formas de raciocínios nos quais as razões apresentadas não sustentam a conclusão. A falácia refere-se a tipo de raciocínio incorreto, embora tenha a aparência de correção. É conhecida também como sofisma (a expressão "sofisma" vem sendo usada no sentido pejorativo, decorrente da intenção de enganar o interlocutor). Existem as falácias formais (de forma) e as não formais (de conteúdo e não de forma) Nas falácias formais, o argumento não atende às regras do pensamento correto e válido. Veja o exemplo que parece correto, mas é inválido:

1. "Todos os homens são vertebrados; 2. ora, eu sou vertebrado; 3. logo, eu sou homem".

As falácias não formais ou informais são bastante comuns na vida diária. Muitas premissas, apesar de irrelevantes para a aceitação da conclusão são usadas com uma função psicológica, afetando as emoções, para efeito de convencimento. A tipologia de falácias não formais classifica ou diferencia as falácias por irrelevância, insuficiência e ambiguidade.

Y X

Podemos perceber que, se é verdade que todo “x” é “y”, e todo “z” é “x, se torna impossível que “z” esteja fora de “y”.

Ex: Todo brasileiro (x) é sul-americano (y); ora, Betinho (z) é brasileiro; logo, Betinho é sul-americano.

Vejamos um exemplo de argumento inválido: Todo “x” é “y”. Ora, “z” é ”y”. Logo, “z” é “x”.

Aqui, percebemos que “y” é maior que “x”, portanto não é cor-reto afi rmar que todo “z” (que é também “y”) seja “x”. Assim, estamos diante de um argumento inválido, pois não haver,

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA243

CAPÍTULO 1Síntese Filosófica: Pressupostos e decorrências

Curso Enem 2019 | Filosofia

logicamente, uma conclusão falsa a partir de premissas ver-dadeiras.

Ex: Todo brasileiro é sul-americano; ora, Alberto é sul-america-no; logo, Alberto é brasileiro.

g) As Falácias no processo argumentativo

Conforme vimos, o objetivo de um argumento é apresentar as razões que sustentam a conclusão. Contudo, no cotidia-no existem muitas formas de raciocínios nos quais as razões apresentadas não sustentam a conclusão. A falácia refere-se a tipo de raciocínio incorreto, embora tenha a aparência de correção. É conhecida também como sofisma (a expressão "sofisma" vem sendo usada no sentido pejorativo, decorrente da intenção de enganar o interlocutor).

Existem as falácias formais (de forma) e as não formais (de conteúdo e não de forma)

Nas falácias formais, o argumento não atende às regras do pensamento correto e válido.

Veja o exemplo que parece correto, mas é inválido:

1. "Todos os homens são vertebrados;

2. ora, eu sou vertebrado;

3. logo, eu sou homem".

As falácias não formais ou informais são bastante comuns na vida diária. Muitas premissas, apesar de irrelevantes para a aceitação da conclusão são usadas com uma função psico-lógica, afetando as emoções, para efeito de convencimento. A tipologia de falácias não formais classifica ou diferencia as falácias por irrelevância, insuficiência e ambiguidade.

FALÁCIAS DA IRRELEVANCIA. Nessas falácias, a conclusão não é sustentada pelas premissas, que são irrelevantes. Essa falácia é também conhecida como Ignoratio Elenchi.

a) Apelo à tradição (Argumentum ad antiquitatem)

Argumenta-se que algo é bom por ser antigo. “Porque sempre foi assim”.

Exemplo: O cristianismo é a religião verdadeira, pois existe há mais de dois mil anos”

b) Apelo à piedade, à emoção (argumentum ad misericor-diam)

Apela-se à misericórdia para convencer o interlocutor de que a conclusão sugerida deve ser acolhida como verdadeira.

Exemplo: Sr. Juiz, sou pai de família e trabalhador. Sou eu que sustento minha família. Tenho três filhos menores de idade, Minha esposa está doente. Por isso, senhor Juiz, a minha pri-são é injusta.

c) Apelo à ignorância ( argumentum ad ignorantiam)

Determinada afirmativa deverá ser acolhida como verdadei-ra, pois não há provas contrárias. Ou, inversamente, deve ser rejeitada como falsa, pois ninguém conseguiu provar sua ver-dade.

Exemplo: “A teoria da reencarnação é verdadeira, pois nin-guém conseguiu provar que a reencarnação não existe”. Ou, inversamente, “a teoria da encarnação é falsa, uma vez que ninguém conseguiu provar sua verdade

d) Apelo à força ( Argumentum ad baculum)

Trata-se de um raciocínio que se serve da intimidação. Usa-se a coerção psicológica sobre o interlocutor, para força-lo a acei-tar a conclusão como verdadeira.

Exemplo: “Se não votarem em Dilma, perderão o ‘Bolsa Família’ ”.

e) Contra a pessoa ( argumentum ad hominem)

Ataca-se a pessoa e não a tese. Busca-se desvalorizar a pessoa, para fazer com que a conclusão seja aceita.

Exemplo: a tua tese não tem nenhum valor, você ainda é uma criança. Ou ainda, Carlos diz que viu meu irmão cometer um crime. Mas, Carlos é um bêbado e viciado em drogas. Logo, o testemunho de Carlos é sem valor.

f) Apelo à autoridade ( Argumentum ad verecundiam)

Recorre-se a uma autoridade ou a uma personalidade famosa, mas cujo saber ou competência é irrelevante para a matéria em questão

Exemplo: Esse é o melhor creme hidrante. Gisele Bündchen anuncia esse produto na TV.

FALÁCIAS DA INSUFICÊNCIA. Nesses raciocínios argumenta-tivos, os dados levantados para que a conclusão seja aceita como verdadeira são insuficientes. Entre as principais falácias da insuficiência destacam-se:

a) Argumento circular ou petição de principio (Petitio principii)

É uma falácia de presunção. A inferência não é válida. A con-clusão que se pretende afirmar como verdadeira, já faz parte da premissa que se pressupõe como verdadeira.

Exemplo: Considera um diálogo entre dois personagens

A: Deus existe!

B: Como você sabe?

A: Por que a Bíblia afirma!

B: E por que a Bíblia estaria certa?

A: Por foi escrita sob inspiração de Deus!

b) Generalização apressada

A partir de um número muito limitado de dados, impõem uma conclusão que se pretende verdadeira.

Exemplo: Ontem, eu andava perdido pelo centro da cidade, um francês me ajudou. Ele me levou gratuitamente até meu endereço. Realmente, os franceses são muito gentis.

c) Falsa causa

Na falácia da falsa causa, atribui-se a causa a um fenômeno

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

244 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 1 Síntese Filosófica: Pressupostos e decorrências

que não foi a causareal. Algo que simplesmente acontece “de-pois”, passa a ser visto como consequência.

Exemplo: Depois da primeira guerra mundial, aconteceu a se-gunda guerra mundial. A falácia consiste em dizer que a se-gunda guerra foi consequência da primeira ou que a primeira guerra foi a causa da segunda guerra. Não há uma conexão necessária entre esses dois eventos separados por aproxima-damente 30 anos.

Um outro exemplo: O gato miou quando eu abri a porta. A falácia consiste e dizer: o gato miou porque eu abri a porta.

FALACIAS DA AMBIGUIDADE

a) Da Equivocidade. Consiste em usar, em uma argumenta-ção, termos com duplo sentido, o que impossibilita o argu-mento de ser correto, devido a ambiguidade introduzida. O fim da vida política é o bem comum, assim como o objetivo do direito é promover a justiça. Dessa forma, o fim de algo é seu objetivo, sua plenitude. Por isso, a morte, que é o fim da vida, consiste na plenitude da vida.

b) Do falso Dilema. Consiste em reduzir demasiadamente as opções possíveis.

Exemplo: “Ou és meu amigo ou és meu inimigo

8. As Escolas Helenísticas: O Cultivo da Vida Interior

a) A passagem da era clássica para a era helenística

As conquistas de Alexandre Magno (334-323 a.C) ocasionaram a destruição do antigo e consagrado contexto vital da cida-de-Estado, da Pólis grega e fez também desmoronar um pen-samento muito hegemônico, até então. Nasce a cosmópolis, a cidade universal. E com ela nasce uma nova Filosofia, uma nova maneira de se relacionar consigo, com o tempo, com os outros.

Longe do centro das decisões politicas e delas ausente, o pen-samento filosófico, nesse perído helenístico, volta-se para as questoes morais, questões focadasna interioridade da alma humana, para o problema da felicidade, da angústia da exis-tência, para o mistério do mal e da morte. Assim, a filosofia torna-se conforto e orientação moral.

Nesse contexto, nasce um acentuado individualismo, no qual as preocupações centrais giram em torno da interioridade de cada indivíduo. A Filosofia torna-se uma tentativa de res-ponder às angústias do indivíduo, em proporcionar à pessoa orientações para a sua salvação interior, para a busca da paz, da ataraxia, ou seja, da ausência de perturbações. Este será o espírito das grandes Filosofias da idade helenística: Cinismo, Epicurismo, Estoicismo, Pirronismo (Ceticismo).

b) Epicurismo: felicidade e prazer da vida oculta e moderada

Em Epicuro de Samos (341-270), encontramos uma ética vol-tada para a busca do prazer. Contudo, este não é entendido como o compreendemos a partir de um senso comum que

diz prazer pelo puro prazer, máximo de prazer.

O prazer é entendido como ausência de dor e de inquietação, a aponía e a ataraxía. Trata-se de uma ética que convida a uma vida marcada pela capacidade de resistir e suportar a dor, o medo e o sofrimento que estão sempre à nossa volta.

Epicuro, na Carta a Meneceu, aborda a maneira de como o ho-mem deve encarar a vida, à medida que procura a felicidade. Qualquer pessoa, em qualquer idade, pode buscar a felicida-de, dedicando-se à Filosofia. Basicamente, para ser feliz, o ho-mem necessitava de três coisas: liberdade, amizade e tempo para meditar.

Dessa forma, a filosofia é a arte da vida, pois possibilita co-nhecimento do mundo, e assim, mediante o conhecimento, busca libertar o homem dos grandes temores que ele tem a respeito da sua vida, da morte, do além-túmulo.

Verdadeiros e falsos prazeres

Os nossos prazeres são de três naturezas: primeiramente, os prazeres naturais e necessários: comer, beber e dormir, quando se tem necessidade. Em segundo lugar, os prazeres igualmen-te naturais, porém não necessários: beber vinhos, comer em pratos sofisticados, dormir em lençóis de seda. Essa dinâmica do desejo não tem fim; segui-la, sem discernimento, implica o fim da paz interior. Em terceiro lugar, Epicuro fala dos prazeres que não são nem naturais, nem necessários. refere-se apenas aos que criamos para nós mesmos e das quais nos tornamos escravos: o luxo e a riqueza. Dessa forma, Epicuro combate a vida devassa, e tem plena consciência do preço que se paga ao se pretender seguir as orientações do desejo: alienação da liberdade.

Com essa busca pela ataraxia, pela paz interior de uma vida tranquila, a máxima que o acompanha diz: “oculta a tua vida”. Dessa forma, percebemos uma resposta à nova situação polí-tica, na qual o homem deixa de ser cidadão e as preocupações giram em torno da individualidade. Nesse contexto, a política torna-se sinônimo e fonte de agitação. Enveredar na política é desperdiçar um precioso tempo que poderá ser investido no cuidado da própria alma. Dessa forma, em vez do tumulto da ágora, da praça pública das grandes e infindáveis discussões, Epicuro propõe o cultivo da amizade, pois não há felicidade sem amizade.

Nessa perspectiva, a valorização do prazer como algo natural e que deve ser buscado com moderação e equilíbrio, para pro-porcionar a paz interior, torna-se característica fundamental do epicurismo. A austeridade faz parte da vida feliz, mas não a supressão dos prazeres e desejos naturais.

b) Estoicismo: Obediência à lei natural

Zenão de Cítio (334-262 a.C) é considerado o fundador da es-cola estóica. O termo “estoicismo” tem sua origem da palavra grega “stoa”, que significa pórtico, local onde os membros da escola se reuniam.

Quais eram a ideias centrais defendidas por Zenão e pelos es-toicos? Acima de tudo, defendiam a indiferença e o autocon-trole, na aceitação dos acontecimentos da vida. Assim, para

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA245

CAPÍTULO 1Síntese Filosófica: Pressupostos e decorrências

Curso Enem 2019 | Filosofia

os estoicos, o ideal de vida é viver de acordo com a natureza, uma vez que ela é um todo solidário, dirigido por uma razão universal.

Em decorrência, Zenão aconselha a indiferença (apathea) em relação a tudo que é externo ao ser, não no sentido de insen-sibilidade, mas, no sentido de compreender que há uma força maior do que nós que regula as coisas. O homem sábio obe-dece à lei natural reconhecendo-se como uma peça na grande ordem e propósito do universo.

Em decorrência dessa aceitação do curso dos acontecimentos, encontramos no estoicismo uma ética fortemente marcada pelo caráter fatalista e determinista. Há uma forte noção de destino; contudo, não se trata de um destino cego.

Há um belo e famoso exemplo que traduz bem o pensamento estóico: considere aguém se afogando. Você tentará fazer de tudo para salvar a pessoa em afogamento. Caso você não con-siga salvá-la era porque a razão que governa o mundo assim o estabeleceu. Por isso, não cabe o desespero. Eis o sentido de indiferença. Mesmo não entendendo, há uma lógica que conduz o mundo. É preciso aprender a aceitar.

Leia o fragmento:

“Ouvirás muitos dizerem: ‘Aos cinquenta anos me refugiarei no ócio, aos sessenta estarei livre de meus encargos’. E quem garantirá que tudo irá conforme planejas? Não te envergonhas de reservar para ti ape-nas as sobras da vida e destinar à meditação somente a idade que já não serve para mais nada? Quão tarde começas a viver, quando já é hora de deixar de fazê-lo. Que negligência tão louca a dos mortais, de adiar para o quinquagésimo ou sexagésimo ano os prudentes ju-ízos, e a partir deste ponto, ao qual poucos chegaram, querer começar a viver!”

(SÊNECA. Sobre a brevidade da vida. Trad. William Li. São Paulo: Nova Cultural, 1993. III, 5). (Fragmento).

Metodo: suspensão de juízo

Diante disso, parece que o caminho mais seguro é evitar deci-dir entre o certo e o errado. O melhor é aprender a caminhar com a multiplicidade de olhares, que procedem das diversas experiências particulares. Isso implica a aprendizagem do di-álogo.

O método da suspensão de juízo é,portanto, um combate ao dogmatismo, à qualquer tentativa impositiva, que se preten-da portadora da verdade da realidade. Essa forma cética de caminhar traz grandes contribuições para a vida democrática, devido à forma como a pluralidade é concebida.

As formas de perceber o real estão condicionadas pelas vi-vências do sujeito. A situação na qual cada observador está mergulhado faz com que sua leitura seja diferente, própria, es-pecífi ca. Por exemplo: “Um mesmo vinho pode parecer doce a um e a outro parecer azedo, dependendo do alimento que um ou outro ingeriu em instante imediatamente anterior”.

Em busca da ataraxia, da imperturbabilidade de alma.

Partindo do pressuposto de que conhecer é interpretar, pre-tender um conhecimento certo, seguro e defi nitivo torna-se fonte de perturbação, uma vez que as conclusões serão sem-pre provisórias e remeterão a novas leituras, em novos con-textos. Na contramão dessa instabilidade, os céticos buscam a serenidade.

O grande objetivo da vida dos céticos é alcançar o estado de paz interior, de ataraxia, de imperturbabilidade. Ora, somente o método da suspensão de juízo será capaz de proporcionar esse fi m almejado. Contudo, é necessário lembrar que a sus-pensão de juízo não signifi ca ausência de percepção, nem mesmo ausência de manifestação da percepção. Ao contrário, é justamente a manifestação e o reconhecimento da percep-ção como uma percepção, sempre particular. Nesse sentido, o cético não dogmatiza.

Qualquer afi rmativa categórica será evitada pelos céticos, por trazer a pretensão de verdade. Assim, as afi rmativas céticas, normalmente, vem precedidas pela expressão: “a mim parece” ou “parece”. Estamos diante de um relativismo.

Assim, entre os absolutos do saber dogmático e da ignorância, os céticos localizam-se no meio do caminho, reconhecendo a inapreensibilidade do mundo, ao confessarem a fragilidade e o limite da razão humana. Por isso, o silêncio prudente é ex-pressão de virtude para os céticos.

Para os céticos, o objetivo da vida é a felicidade, alcançável através de uma vida tranquila e pacífi ca, sem grandes crenças e sem fanatismo no que quer que seja. Dessa forma, podemos ver no ceticismo uma maneira de viver, um esforço constante para adquirir a maior possível independência dos aconteci-mentos do mundo, de fazer a felicidade depender o menos possível de eventos externos, sujeitos aos acasos da vida.

c) O Ceticismo: Conhecimento e suspensão de juízo

O ceticismo fi losófi co nasce não propriamente como um siste-ma fi losófi co, mas como método para encontrar a serenidade e a tranquilidade de alma. Seu fundador foi Pirro, que viveu entre 360-270 a.C. Na sequência desse pensamento, criou-se um estilo de vida, uma tradição.

Sob a ótica do conhecimento, o ceticismo nos faz ver que o ato de conhecer é sempre subjetivo. Por isso, afi rma que co-nhecer é interpretar, é perceber. Em decorrência disso, muitas serão as leituras que o real poderá receber, inclusive contradi-tórias. Portanto, essas leituras não são a verdade do real, mas, atribuições subjetivas, frutos da relatividade do olhar de cada sujeito que se volta para o real.

Assim, cada indivíduo apresenta uma percepção. E o que te-remos? Razões equivalentes; ou seja, nenhuma delas deve pretender ser mais verdadeira do que outra, uma vez que são pontos de vista, que são vistas de um ponto particular.

Por isso, um dos primeiros postulados do ceticismo é a afi rma-tiva de que não parece ser possível um conhecimento seguro de como o mundo seja precisamente.

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Curso Enem 2019 | Filosofia

TRODUÇÃO À FILOSOFIA

246 Filosofia | Curso Enem 2019 |

Da Filosofia Medieval: À Filosofia Moderna CAPÍTULO 2

Filosofia Medieval àFilosofia Moderna

CAPÍTULO 2

9. Filosofia medieval: da Fé e da Razão, A Filosofia cristã dos primeiros séculos, elaborada pelos padres da Igreja, é denominada Patrística. Inicialmente, essa Filosofia tinha uma preocupação apologética, ou seja, de defesa do cristianismo contra os ataques dos chamados “pagãos” e defesa contra as heresias. Foi devido a essa necessidade de esclarecer os seus pressupostos, que o Cristianismo recorre à Filosofia, à argumentação racional, nos moldes da Filosofia grega clássica, buscando dar consistência lógica à sua doutrina.

a) Concepção cristão de ser humano

Em suma, a antropologia cristã concebe o homem como sendo criado à imagem do Deus criador, originariamente em comunhão com a Graça de Deus. Contudo, o mau uso do li-vre-arbítrio e a pretensão do ser humano em querer para si a ciência do bem e do mal, que são atributos exclusivos da Divindade, levaram-no a pecar. Como fruto ou decorrência do pecado, o homem encontra-se decaído, impotente, expulso da comunhão divina. Encontra-se em uma condição histórica de afastamento da Graça, no que consiste sua miserabilidade efraqueza. Nada conseguirá por suas próprias forças. Somen-te mediante a Graça de Deus conseguirá o resgate e a salva-ção. Daí a expressão: “Se Deus quiser! ”

b) Santo Agostinho: A questão do mal

Parra Aurélio Agostinho (354- 430), se Deus criador é amor e tudo criou por amor, de onde vem o mal? Eis a grande ques-tão. Após ter caído vítima do maniqueísmo com suas expli-cações dualistas, Agostinho vai encontrar em Plotino, as luzes para resolver essa questão que o aflige. De acordo com Ploti-no, o mal não é um ser, mas uma deficiência e privação do ser.

A questão do mal recebeu, em Agostinho, três diferentes abordagens:

Sob o ponto de vista metafísico, não existe o mal no cosmo. Não existe uma entidade má no mundo. O que existe são seres em diferentes graus em relação a Deus, uns maiores, outros menores, até os ínfimos. Na verdade, tudo é momento articulado de uma grande harmonia cósmica.

Sob o ponto de vista moral, o mal é o pecado. E o pecado tem relação direta com a vontade corrompida, a má vontade. Naturalmente ou originariamente, a vontade tenderia para o Bem supremo, Deus. Contudo, dada a existência de muitos bens criados e finitos, a vontade se desvia de sua direção e se subverte preferindo bens finitos e inferiores aos bens supremos. Trata-se, portanto, de uma escolha incorreta. Dessa forma, o mal moral é uma aversão a Deus e uma conversão às criaturas. O mal se expressa no mau uso desse bem. Por isso, Agostinho nos diz: “O bem que está em mim é obra tua, é teu dom; o mal em mim é meu pecado”.

Sob o ponto de vista físico, a maioria dos nossos males, como as doenças, sofrimentos e tormentos físicos e espirituais e a própria morte são consequência do mal moral, decorrência do pecado. Nossa natureza primeira e originária é de seres feitos para a comunhão com Deus. O pecado não faz parte dessa natureza. O pecado é uma ruptura que criamos como o nosso livre-arbítrio.

Assim, o mal, sendo amor a si (soberba), tanto individualmente quanto comunitariamente, é sempre uma corrupção ou da medida, ou da forma, ou da ordem natural. Nenhuma natureza é má. O mal se manifesta como desvio e carência do bem.

c) Fé e razão.

Em termos de conhecimento, o pressuposto do qual se partia era o de que a verdade se encontrava em Deus. Deus era a fonte da verdade. Por isso, a condição para ter acesso à verda-de era a fé, dom de Deus. Para a razão humana, Deus é misté-rio insondável. A razão não consegue, de forma autônoma e independente, conhecer e compreender a verdade de Deus. Assim, o entendimento das verdades eternas pressupõe a fé. Esse pressuposto vem expresso na afirmativa do profeta Isaí-as, que diz: “Se não crerdes, não entendereis”.

Assim, a Graça divina eleva a inteligência e lhe dá forças para buscar razões, argumentos que auxiliem na compreensão e na divulgação da verdade acolhida na fé. É isso que vem expresso na afirmativa de Agostinho, que traz a fé como princípio e fim do conhecimento: “crer para compreender, e compreender para crer”.

Dessa forma, na relação entre fé e razão aparece, inicialmente, a superioridade da fé em relação à razão. Essa superioridade transparece na afirmativa agostiniana: “Creio tudo o que en-tendo, mas nem tudo que creio também entendo. Tudo o que compreendo conheço, mas nem tudo que creio conheço”.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA247Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 2Da Filosofia Medieval: À Filosofia Moderna

Essa superioridade da fé em relação aos poderes da razão vem também muito bem expressa no pensamento do maior filósofo e teólogo medieval, Tomás de Aquino (1221-1274), que afirma:

Há algumas verdades que superam todo o poder da razão humana, como por exemplo, a verdade de que Deus é uno e trino. Outras verdades podem ser pensa-das pela razão natural, como por exemplo, as verdades de que Deus existe, de que Deus é uno, e outras mais.

AQUINO, Tomás de.Súmula contra os gentios. Trad. Luiz João Baraúna. São Paulo: abril cultural, 1973, p.70.(Os pensadores).

Considerando a centralidade da teologia como ciência da fé, partindo da fé, a razão se eleva; partindo da teologia, a Filosofia se aprimora. Por isso, fé e razão apresentam profunda complementaridade, embora as verdades da fé transcendam em muito os poderes de compreensão da razão humana. Contudo, a nossa natureza racional deverá sempre buscar maior compreensão do Mistério que acolhemos na fé.

A relação de complementaridade entre razão e fé não pode admitir a contradição. Quem melhor expressará essa ideia da não contradição é Tomás de Aquino, recordando que na raiz dessas formas de conhecimento encontra-se a mesma fonte: Deus, incapaz de contradição uma vez que é a fonte da razão e da fé, e Ele não pode contradizer-se. Vejamos este fragmento:

Se é verdade que a verdade da fé cristã ultrapassa as capacidades da razão humana, nem por isso os prin-cípios inatos naturalmente à razão podem estar em contradição com esta verdade sobrenatural. É um fato que esses princípios naturalmente inatos à razão são absolutamente verdadeiros[...], tampouco é permiti-do considerar falso aquilo que cremos pela fé, e que Deus confirmou de maneira tão evidente. [...]. Se Deus infundisse em nós conhecimentos contrários, a nossa inteligência seria com isso mesmo impedida de co-nhecer a verdade. Deus não pode fazer tais coisas.

TOMÁS DE AQUINO. Súmula contra os gentios. Trad. Luiz João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 2000 p. 143-144 (Os pensadores).

(Fragmento)

10. A Filosofia Renascentista: da Autonomia e da SoberaniaO período humanista-renascentista transcorreu durante duz-entos anos, ocupando os anos 1400 e 1500. Assim, a Rena-scença tem raízes na Idade Média e frutos na modernidade. Ela é preparada no final da idade média e ela prepara a rev-olução científica que acontecerá na modernidade. Portanto, não falaremos nem em ruptura com a idade média nem dire-mos que a Renascença seja modernidade.

a) O ideal da vida ativa

Se na Idade Média o teocentrismo gerava um ideal de vida mais voltado para a contemplação dos ideais celestes, divinos e eternos, o humanismo renascentista resgata o ideal da vida

ativa, uma vez que joga sobre o ser humano a responsabili-dade pelo seu destino e transfere a vida dos grandes centros monásticos, de vida ascética, para o chão da história, da luta por construir uma cultura verdadeiramente humana.

Por isso, em decorrência, reina a ideia de história, de movi-mento, de transitoriedade, superando a visão estamental que caracterizava a idade média. Portanto, há uma revolução es-piritual, no sentido de haver uma profunda mudança na men-talidade. Esse fenômeno que se inicia na Renascença recebe o nome de Secularização da consciência, que se manifestará em todos os âmbitos da vida. Na política, como veremos, esse fenômeno será chamado de laicização, que expressa a au-tonomia da política em relação às orientações da religião ou da ética cristã.

b) A dignidade humana fundada na liberdade e na autono-mia

Pico della Mirandola (1463-1494) é o pensador renascentista que melhor reflete sobre as temáticas da liberdade e da dignidade humana

Leia o fragmento no qual Pico de Mirandola imagina a fala de Deus ao ser humano no ato da criação

“A ti, ó Adão, não te temos dado, nem um lugar deter-minado, nem um aspecto próprio, nem qualquer prer-rogativa só tua, para que obtenhas e conserves o lugar, o aspecto e as prerrogativas que desejares, segundo tua vontade e teus motivos. A natureza limitada dos outros está contida dentro das leis por nós prescritas. Mas tu determinarás a tua sem estar constrito por ne-nhuma barreira, conforme teu arbítrio, a cujo poder eu te entreguei. Coloquei-te no meio do mundo para que, daí, tu percebesses tudo o que existe no mundo. Não te fiz celeste nem terreno, mortal nem imortal, para que, como livre e soberano artífice, tu mesmo te esculpisses e te plasmasses na forma que tivesses escolhido. Tu poderás degenerar nas coisas inferiores, que são brutas, e poderás, segundo o teu querer, rege-nerar-te nas coisas superiores, que são divinas”. [...]. No homem, o Pai infundiu todo tipo de sementes, de tal sorte que tivesse toda e qualquer variedade de vida. As que cada um cultivasse, essas cresceriam e produzi-riam nele os seus frutos.

MIRANDOLA, Pico Della. A dignidade humana. Trad. Luis Feracine. São Paulo: Ed. Escala, s/d. nº26. p. 39-42.

c) a importância da experiência para o conhecimento

Leonardo da Vinci (1452-1519) é o representante por excelên-cia da Renascença, no que tange ao tema do conhecimento. Em Leonardo já aparece a ideia que será um dos fundamen-tos da revolução científica do século XVII, a concepção de que a linguagem do mundo é a matemática. Em sua visão, há uma ordem e uma mecânica necessárias em toda a criação, que derivam do criador. E o ser humano, como criatura feita à imagem e semelhança do Criador, é ser inteligente, que tem as potencialidades para decifrar a lógica e as leis de funciona-mento da criação.

Dessa forma, por meio da experiência e da razão, o homem tem a missão de desvendar a lógica do mundo, estudar sua

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

248 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 2

Curso Enem 2019 | Filosofia

Da Filosofia Medieval: À Filosofia Moderna

linguagem matemática. Portanto, a autoridade não mais será uma figura humana, mas o argumento fundamentado na ex-periência. Com essa visão, o espírito renascentista prepara e lança as raízes da ciência moderna.

d) Consciência de mundo infinito.

Giordano Bruno (1548-1600) comunga com a visão coperni-cana de universo, que inaugura na história do pensamento a visão heliocêntrica, superando o paradigma ptolomaico ou geocêntrico, até então hegemônico. Sua visão de mundo o coloca na contramão da visão cristã. Sua defesa da infinitude do universo será elemento que atrairá contra si todo o dogma-tismo cristão da época.

Para Giordano, embora haja um princípio supremo, causa de todas as coisas, esse elemento primordial não poderá jamais ser conhecido. Contudo, esse princípio animador do mundo está presente em todas as coisas. Sendo o mundo é infinito, infinito é o movimento, eterna é a mutação de todas as coisas. Nada morre, tudo se transforma. O movimento do ser provoca novas formas de ser.

10.1. O ceticismo, em Montaigne

Nesse contexto, Montaigne representa o espírito crítico, inclu-sive da razão em sua avaliação dos costumes, tradições e ins-tituições. Michel Montaigne (1533-1592) é conhecido por nós através da leitura de sua obra prima: Os ensaios. Através da ironia, do ceticismo e da perspicácia, Montaigne vai afirman-do a subjetividade e a relatividade das expressões culturais.

Reconhecendo o limite da razão e a pluralidade dos costumes humanos, Montaigne denuncia as atitudes dogmáticas dos que se pretendem portadores da verdade, do certo e do erra-do. É preciso reconhecer a relatividade de cada olhar e, nela, a parcialidade da verdade, sempre situada historicamente. A grande dificuldade dos humanos é conseguir ver o diferente como portador de uma dignidade que lhe é própria e não jul-gá-lo a partir de nosso pretenso olhar de verdade.

10.2. Autonomia da Política, em Maquiavel.

O pensamento político de Nicolau Maquiavel (1469-1527), situado na Renascença, inaugura a política moderna, pois seu pensamento afasta-se da forma de fazer política que era predominante até então. Ora, a política que se praticava era atrelada à dimensão religiosa, vinculada à ética cristã. Por isso, é correto afirmar que Maquiavel inaugura a autonomia da po-lítica.

Dessa forma, o pensamento político passa a não ter mais ne-nhuma outra referência ou critério de ação que não seja a própria política. Não se aceita mais a ingerência do idealismo cristão com sua ética prescritiva, que estabelecia, a priori, o certo e o errado.

Leia o fragmento:

ver, que quem se preocupar com o que se deveria fa-zer em vez do que se faz aprende antes a ruína própria do que o modo de se preservar [...]. Assim é necessário a um Príncipe, para se manter, que aprenda a poder ser mau e que se valha ou deixe de valer-se disso se-gundo a necessidade.

MAQUIAVEL.N. O príncipe.Trad. Livio Xavier. São Paulo: Folha de São Paulo, 2010. Cap. XV. p. 36.

“Todavia, como é meu intento escrever coisa útil para os que se interessarem, pareceu-me mais conveniente procurar a verdade pelo efeito das coisas do que pelo que delas se possa imaginar. [...]. Vai tanta diferença entre o como se vive e o modo por que se deveria vi-

Dessa forma, será o olhar atento à circunstancia que irá ditar a natureza das ações. A analogia de “remédios amargos para males amargos” traduz bem a possibilidade dessa necessida-de na ação política de um Príncipe.

Nesse realismo político, toda escolha do Príncipe deve subme-ter-se ao critério da funcionalidade, tendo em vista a eficácia do seu governo, a estabilidade do Estado, na preservação da ordem e da paz social. Assim, Maquiavel reforça a concepção de soberania do poder do Estado e nunca da pessoa do prín-cipe.

A virtude política

Com base nessa reflexões, já poderemos inferir que a virtude do Príncipe nada tem a ver com a virtude cristã. Ao contrário, terá que ser marcada por uma habilidade política muito espe-cial, a competência de saber adaptar-se a cada situação e agir em conformidade, para o bem do povo, para a ordem social. Assim, a virtude é uma forma de astúcia política, que impli-ca saber separar o que vale na esfera privada, nas convicções pessoais e o que vale na esfera pública.

10.3. A utopia política, em Thomas Morus

Thomas Morus (1478-1535) é o autor de uma das mais conhe-cidas obras da Renascença: a Utopia.. O grande sucesso do escrito Utopia nos revela um profundo desejo do ser humano por uma nova sociedade, por aquilo que efetivamente deve-ria existir e que ainda não tem lugar na história. O espírito da Renascença solicita uma nova sociedade, sem os vícios da Inglaterra do século XVI: desigualdade, miséria, concentração de renda etc.

10. 4. A soberania política em Jean Bodin

Jean Bodin (1529-1596), escritor cristão e jurista, maior teórico do absolutismo. Situa-se entre os excessos do realismo polí-tico de Maquiavel e do utopismo de Thomas Morus. Em seu escrito seis livros sobre a república, defende a necessidade de uma forte soberania para a existência do Estado, que mante-rá os membros sociais unidos num só corpo. E por soberania entende o fato de o Estado não estar sujeito ao comando de outrem, ao fato de ele poder promulgar leis para outros cum-prirem.

Bodin é considerado o teórico da soberania. Considerando o conceito de soberania como “poder supremo”, verificamos que, na escala dos poderes, o poder inferior é subordinado ao superior, que, por sua vez se subordina a outro poder superior, o summa potestas, que é o poder soberano. Dessa forma, onde há um poder soberano encontramos um Estado. É o que po-demos verificar na definição do próprio Bodin: “por soberania se entende o poder absoluto e perpétuo de uma República [que é próprio do Estado]” (Livro I, cap.VIII)

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA249Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 2Da Filosofia Medieval: À Filosofia Moderna

O adjetivo absoluto refere-se a incondicionado, que não tem outros limites senão os da lei divina e da lei natural.Dessa for-ma, entre as características da soberania se encontra o fato de ela ser absoluta, perpétua e indivisível. As únicas limitações desse poder absoluto são a lei divina e a lei natural.

O adjetivo perpétuo refere-se ao fato de que a soberania não se identifica com a figura histórica do príncipe, que é governo que passa. A soberania não é transitória, não se transmite. Ela pertence ao Estado, que permanece. Em outras palavras, afir-ma-se a permanência ou a continuidade da República.

10. 5. O direito natural e o direito positivo

Em princípios de 1600, a cultura ocidental acompanha a for-mação da teoria do direito natural. Os principais represen-tantes fundadores são Albérico Gentili (1552-1608) e Hugo Grotius (1583- 1645). De acordo com o jusnaturalismo, Deus, no ato da criação, inscreveu nas criaturas a sua lei. Assim, a lei natural foi instituída por Deus, no coração de suas criaturas. Os homens, através do uso de sua razão, podem conhecer os princípios dessa lei. Assim, natureza e razão são os fundamen-tos do direito natural.

Sendo o direito natural de ordem divina, ele traz a marca da universalidade e da imutabilidade, pois a perfeição divina nele deixou a sua marca. Entre os direitos naturais, destacam-se os direitos à vida, à felicidade, à propriedade, à liberdade, à dig-nidade. Com esse reconhecimento, estabelece-se a natural igualdade de todos os homens. Todos os homens tem os mes-mo direitos. São Iguais e são livres. Ora, essas são as precondi-ções fundamentais para haver um possível pacto ou contrato entre os homens. Assim, o jusnaturalismo está na base do con-tratualismo moderno.

11. A FILOSOFIA MODERNA: TEMA DO CONHECIMENTOFalar em modernidade implica ter referência obrigatória ao conhecido “século das luzes”. Esse movimento intelectual do século XVIII exalta a capacidade humana de conhecer e de agir. Afirma-se a maioridade do ser humano, o que implica dizer que o ser humano passou do estágio da heteronomia moral para a autonomia ética e moral.

Na infância da humanidade, caracterizada pelo pensamento teocêntrico, a obediência à autoridade era característica sem-pre presente. Agora, na modernidade, o critério de autoridade passa a ser a experiência conjugada com o argumento racio-nal.

A partir da idade moderna, a ética e política se tornam laicas, secularizadas. Em outras palavras, o fundamento dos valores e das ações humanas não se encontra mais em Deus, mas no próprio ser humano, considerado sujeito da história. Por isso, as justificativas da ação humana e da norma moral se funda-mentam não mais em explicações religiosas, mas na lei natu-ral, no interesse e na razão humana.

a) O homem indivíduo e senhor da natureza.

A nova visão de homem, que nasce a partir da Renascença, está fortemente marcada pelo desejo de emancipação da es-fera religiosa e eclesial. Esse projeto de emancipação se faz

presente em praticamente todos os âmbitos. Em conformida-de com esse ideal, rompe-se com qualquer ideia de depen-dência ou existência alienada. O objetivo é assumir-se como sujeito e senhor de seu próprio destino.

Enquanto o humanismo renascentista, acentuando o papel da experiência e da razão, busca conhecer o mundo natural, o an-tropocentrismo moderno, ao fazer do homem senhor da na-tureza, subjuga as outras formas de vida ao senhorio humano.

b) A liberdade: o espírito do homem moderno

O espírito do homem moderno, encarnado e expresso no ilu-minismo, é identificado pelo desejo de liberdade, entendido inicialmente libertação de todas as formas de alienação às quais o homem vinha submetido. O projeto do iluminismo, ao ser processo de esclarecimento e lustração, caminha nes-sa direção. Deseja devolver o homem a si mesmo, fazê-lo ser senhor de si.

Para tanto, a marca maior será a busca por libertação. Importa não estar mais vinculado a nada que prenda ou limita o ser hu-mano, desde uma esfera exterior. A modernidade será, assim, marcada por grandes revoluções e utopias, em diferentes âm-bitos da vida humana: nas questões relacionadas ao mundo do trabalho, nas relações de gênero, nas questões religiosas etc.

A partir dessa ideia de liberdade como libertação, nasce uma nova ideia de liberdade no contexto do contratualismo mo-derno, na qual o ser humano buscará, ele próprio, construir limites e vínculos para as suas relações. Portanto, nasce a ideia de liberdade política.

c) A revolução científica do século XVII

No âmbito do conhecimento, a modernidade realiza uma ver-dadeira revolução espiritual. Nasce uma nova visão de mundo, de universo, de ciência, de metodologia científica. Emblemati-camente, encontramos a imagem newtoniana do universo-re-lógio. O universo moderno, diferentemente do mundo medie-val, é aberto e infinito, regido por leis e escrito em linguagem matemática, decifrável pela razão humana.

A natureza revolucionária do pensamento científico moderno pode ser percebido na radicalidade das mudanças. Se, ante-riormente, havia a perspectiva metafísica, especulativa, dog-mática, religiosa e mítica, agora a perspectiva é física, empí-rica, experimental, marcada pela dúvida e pela incerteza. Por isso, em vez de verdades impostas de cima para baixo, o que importa é uma determinada metodologia de trabalho, muito mais indutiva. Obviamente, haverá muitas hipóteses que se-rão estabelecidas e que deverá ser comprovada por uma me-todologia aberta a todos, pública e acessível.

Dessa forma, verificaremos que a ciência moderna se desvin-cula da fé, e caminha com um método que permite progres-sos e avanços nas ciências e no conhecimento das leis que regem o universo e os fenômenos. Esse realismo na ciência, que supera o idealismo da fé cristã medieval encontramos, exemplarmente, em Galileu Galilei (1564-1642) para o qual a ciência tem por objetivo captar e descrever a realidade, seu funcionamento.

Galileu defende e estabelece a autonomia do método cientí-fico em sua busca descritiva de realidades objetivas e mensu-

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

250 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 2

Curso Enem 2019 | Filosofia

Da Filosofia Medieval: À Filosofia Moderna

ráveis, uma vez que o próprio livro da natureza está escrito em linguagem matemática. Assim, a visão moderna de ciência substitui o essencialismo grego e o idealismo medieval pelo mecanicismo, pelo estudo da mecânica do universo.

O texto a seguir, de Alexandre Koyré, ilustra de maneira bri-lhante o que foi a revolução científica do século XVII, a come-çar pelo título.

Leia os fragmentos:

Admite-se de maneira geral que o século XVII sofreu e realizou uma radicalíssima revolução espiritual de que a ciência moderna é ao mesmo tempo a raiz e o fruto. Alguns historiadores viram seu aspecto mais caracte-rístico na secularização da consciência, seu afastamen-to de metas transcendentes para objetivos imanentes, ou seja, a substituição da preocupação pelo outro mundo e pela outra vida pela preocupação com esta vida e este mundo. Para outros autores, sua caracterís-tica mais assinalada foi a descoberta, pela consciência humana, de sua subjetividade essencial e, por conse-guinte, a substituição do objetivismo dos medievos e dos antigos pelo subjetivismo dos modernos; outros ainda creem que o aspecto mais destacado daquela revolução terá sido a mudança de relação entre teoria e práxis, o velho ideal da vida contemplativa cedendo lugar ao da vita activa. Enquanto o homem medieval e o antigo visavam à pura contemplação da natureza e do ser, o moderno deseja a dominação e a subjugação. [...]

Pode-se dizer, aproximadamente, que essa revolução científica e filosófica [...] causou a destruição do cos-mo, ou seja, o desaparecimento dos conceitos válidos, filosófica e cientificamente, da concepção do mundo como um todo finito, fechado e ordenado hierarquica-mente (um todo no qual a hierarquia de valor determi-nava a hierarquia e a estrutura do ser, erguendo-se da terra escura, pesada e imperfeita para a perfeição cada vez mais exaltada das estrelas e das esferas celestes), e a sua substituição por um universo indefinido e até mesmo infinito que é mantido coeso pela identidade de seus componentes e leis fundamentais, e no qual todos esses componentes são colocados no mesmo nível do ser. Isto, por seu turno, implica o abandono, pelo pensamento científico, de todas as considerações baseadas em conceitos de valor, como perfeição, har-monia, significado e objetivo, e, finalmente, a comple-ta desvalorização do ser, o divórcio do mundo do valor e do mundo dos fatos.

KOYRÉ, Alexandre. Do mundo fechado ao universo infinito. RJ/SP, Forense: 1979. p 13-14.

11.1.O racionalismo de René Descartes

René Descartes (1596-1650) é considerado o pai da Filosofia moderna. Em suas obras “Discursos do Método” e “Meditações metafísicas” aborda o problema do conhecimento. Em linhas gerais, podemos dizer que o programa da Filosofia de Descar-tes consiste em estabelecer e desenvolver o uso disciplinado da razão livre e autônoma, na busca pela verdade do real.

Partindo da racionalidade como atributo humano fundamen-tal, Descartes vincula o erro ao sensível, às percepções e suas

linguagens. Para o racionalismo, a percepção sensível é confu-sa e fonte de erros, de obscuridade e visões provisórias e parti-culares. Ora, a consciência dos erros originados das sensações, faz Descartes buscar um método que lhe possibilite chegar a verdades indubitáveis, que resistam a qualquer dúvida.

Vejamos o fragmento a seguir que ilustra esse procedimento:

Se vós tivésseis um cesto de maçãs dentre as quais vá-rias estivessem podres, contaminando assim as restan-tes, o que fazer senão esvaziá-lo todo e, tomando cada maça uma a uma, recolocar as boas no cesto e jogar fora as más? (Descartes. Sétimas objeções)

Descartes objetiva, inicialmente, chegar a uma primeira ver-dade que não possa ser posta em dúvida. Propõe-se encontrar uma certeza básica, imune às dúvidas céticas sobre a possibi-lidade de ciência em geral. Embora não fosse cético, conside-rava o ceticismo muito importante, devido às questões que colocava sobre a possibilidade de um conhecimento seguro.

Descartes estabelece a dúvida como seu método. Assim, sua argumentação começa com a dúvida metódica, mediante a qual coloca em questão todo o conhecimento adquirido da tradição, toda a ciência clássica, todas as opiniões, tidas como certas até então.

Após se ver mergulhado em dúvidas, nasce a intuição funda-mental de Descartes: percebe-se duvidando, com certeza e clareza. E ao duvidar encontra-se pensando. A consciência de que está pensando vem expressa no cogito ergo sum: “penso, logo existo”. Um coisa que pensa, existe, pelo menos enquan-to pensa. Descartes encontra, assim, a certeza primeira. E diz:

“Por intuição entendo não o inconstante testemunho dos sentidos ou o ilusório juízo de uma imaginação que compõe mal o seu objeto, mas uma conceituação da mente pura e atenta, tão óbvia e distinta, sobre a qual não resta absolutamente qualquer dúvida”.

Portanto, o objetivo para Descartes é encontrar um funda-mento seguro para o saber. O caminho (método) tem objetivo fundamental oferecer procedimentos através dos quais o in-telecto possa afastar-se tantos dos juízos precipitados quanto das prevenções, ou seja, das opiniões pré-fabricadas a que aderimos acriticamente, nas quais evitamos a responsabilida-de de um juízo livre e racional. Dessa forma, a razão deverá constantemente examinar-se a si mesma durante o processo de busca da verdade.

Para tanto, faz-se fundamental encontrar o caminho seguro:

“Entendo por Método regras certas e fáceis, graças às quais todos os que as observem exatamente jamais tomarão como verdadeiro aquilo que é falso e chega-rão, sem se cansar com esforços inúteis e aumentando progressivamente sua Ciência, ao conhecimento ver-dadeiro de tudo o que lhes é possível esperar”. (Descar-tes, Discurso do Método)

Em sua obra Regras para a direção do espírito, composta de 21 regras, René Descartes descreve o seu método, que ele mes-mo sintetiza em seu Discurso do Método, mediante quatro pre-ceitos fundamentais na busca do conhecimento verdadeiro:

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA251Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 2Da Filosofia Medieval: À Filosofia Moderna

1º. Jamais acolher alguma coisa como verdadeira sem a co-nhecê-la como tal.

2º. Dividir cada uma das dificuldades em tantas partes quan-tas forem necessárias para melhor resolvê-las.

3º. Ordenar os pensamentos, começando pelos mais simples e fáceis de conhecer, para progressivamente ir subindo, de-grau por degrau, até o conhecimento mais complexo.

4º. Proceder a constantes e completas enumerações e revi-sões, para ter a certeza de não haver omitido nada.

A partir desses preceitos, podemos perceber que a evidência é critério decisivo de verdade para Descartes. Sem a clareza e a distinção não há verdade racional. Encontrar verdades claras e distintas, ou seja, evidentes, será um trabalho árduo e discipli-nado, uma vez que é possível duvidar de tudo, considerando a relatividade e provisoriedade das opiniões, crenças e dos cos-tumes das pessoas e dos povos.

Assim, o racionalismo parte do pressuposto da existência de uma verdade universal, acessível mediante atividade intra-mental, superando as ilusões e os enganos provenientes do âmbito sensível.

11.2. O empirismo de David Hume

O empirismo é a doutrina filosófica moderna que se opõe ao racionalismo e que afirma que o conhecimento procede prin-cipalmente da experiência. Os principais representantes são filósofos ingleses que viveram entre os séculos XVI e XVIII. Os principais representantes são Thomas Hobbes, John Locke, George Berkeley e David Hume. Para compreender o pen-samento empirista, vamos abordar o pensamento de David Hume (1711-1776), no qual o empirismo alcançou a sua maior expressão.

Para o empirismo, nosso conhecimento começa sempre com a experiência dos sentidos, ou seja, com as nossas sensações. Os nossos sentidos são excitados pelos objetos exteriores com os quais entramos em relação: vemos cores, sentimos sabores, ouvimos sons,etc. As sensações formam percepções. Por exemplo: a percepção mental de uma rosa é formada pe-las sensações da cor, do perfume, da maciez.

Assim, todos os conteúdos da mente humana são percepções. E toda percepção passa por dois momentos: ela é primeira-mente sentida (de modo vivo) como impressão e é pensada (de modo mais fraco) como ideia. Assim, a impressão é origi-nária e a ideia é dependente. As impressões simples sempre precedem às ideias correspondentes, ao passo que o contrário nunca se dá. Por exemplo, nós não podemos perceber uma cor ou experimentar uma sensação simplesmente pensan-do-as. As impressões são a causa das ideias. Dessa forma, o primeiro princípio diz que todas as ideias simples provêm de suas correspondentes impressões. Esse princípio, diz Hume, acaba coma questão das ideias inatas. Por isso, o segundo princípio (que nada mais é do que consequência do primeiro) diz: para provar a validade de cada ideia sobre a qual se discu-te é necessário apresentar a sua relativa impressão.

No fragmento a seguir, Hume elabora a sua reflexão sobre a origem das ideias. Vamos considerar a reflexão:

Nada, à primeira vista, pode parecer mais ilimitado que o pensamento humano, que não apenas escapa a todo poder e autoridade dos homens, mas está livre até mesmo dos limites da natureza e da realidade. (...) Mas, embora nosso pensamento pareça possuir essa liberdade ilimitada, um exame mais cuidadoso nos mostrará que ele está, na verdade, confinado a limites bastante estreitos, e que todo esse poder criador da mente consiste meramente na capacidade de compor, transpor, aumentar ou diminuir os materiais que os sentidos e a experiência nos fornecem. Quando pen-samos em uma montanha de ouro, estamos apenas juntando duas ideias consistentes, ouro e montanha, com as quais estávamos anteriormente familiarizados. (...) Em suma, todos os materiais do pensamento são derivados da sensação externa ou interna, e à mente e à vontade compete apenas misturar e compor esses materiais. Ou, para expressar-me em linguagem filo-sófica, todas as nossas ideias, ou percepções mais tê-nues, são cópias de nossas impressões, ou percepções mais vívidas.

HUME, David. Investigações sobre o entendimento humano. Seção 2: da origem das ideias. Trad. Oscar de A. Marques. Editora UNESP.

1999

Sendo cada ideia cópia de uma impressão e sendo a impres-são necessariamente particular, segue-se que também as ideias devem ser determinadas do mesmo modo, individual e particular.

David Hume critica essa ideia de universalidade e de neces-sidade. Essa crítica o leva a problematizar a noção de relação necessária entre causa e efeito. Causa e efeito, diz Hume, são duas ideias bem distintas entre si, no sentido de que nenhuma análise da ideia de causa pode nos fazer descobrir a priori o efeito que dela deriva. Não é possível à mente encontrar o efeito da pretensa causa, dado que o efeito é totalmente di-verso da causa e, consequentemente, não pode nunca ser descoberto nela. Sendo assim, o fundamento de todas as nos-sas conclusões sobre causa e efeito é a experiência.

11.3. O método científico e a nova ciência em Francis Bacon

Francis Bacon (1561-1626) é o filósofo da era industrial e cien-tífica. Seu pensamento nos mostra o quanto o saber é poder. Saber é poder de conhecimento das causas. Saber é poder de intervenção, manipulação e exploração. Por isso, deve ser su-perada a visão de uma ciência que não tenha vínculos com a vida prática. Isso se verifica em sua veemente crítica à meta-física medieval, apresentada como estéril, sem contribuições para a vida concreta dos seres humanos.

No fragmento a seguir ele faz uma critica ao empirismo e ao racionalismo

Leia o fragmento que segue:

Os que se dedicaram às ciências foram ou empíricos ou dogmáticos. Os empíricos, à maneira das formigas, acumulam e usam as provisões; os racionalistas, à ma-neira das aranhas, de si mesmos extraem o que lhes

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

252 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 2

Curso Enem 2019 | Filosofia

Da Filosofia Medieval: À Filosofia Moderna

serve para a teia. A abelha representa a posição inter-mediária: recolhe a matéria prima das flores do jardim e do campo e com seus próprios recursos a transforma e digere. Não é diferente o labor da verdadeira Filoso-fia, que se nãoserve unicamente das forças da mente, nem tampouco se limita ao material fornecido pela história natural ou pelas artes mecânicas, conservado intato na memória. Mas ele deve ser modificado e ela-borado pelo intelecto. Por isso muito se deve esperar da aliança estreita e sólida (ainda não levada a cabo) entre essas duas faculdades, a experimental e a racio-nal.

BACON, Francis. Novum organum, XCV. Tradução José A. Reis de Andrade. São Paulo: Abril cultural, 1979 (Os pensadores).

No fragmento a seguir, ele faz referencia ao método da nova ciência:

Nem a mão nua, nem o intelecto abandonado a si mesmo têm poder. Os resultados são alcançados com instrumentos e com auxílios e destes tem necessidade não menos o intelecto do que a mão. Como os instru-mentos ampliam e regem o movimento da mão, tam-bém os instrumentos da mente guiam ou mantêm o intelecto.A ciência e o poder humano coincidem, por-que a ignorância da causa faz com que falte o efeito. A natureza, com efeito, não se vence a não ser obede-cendo a ela, e o que na teoria tem valor de causa, na operação tem valor de regra. (...)

Ao intelecto dos homens, portanto, não devemos acrescentar asas, mas chumbo e pesos a fim de impe-di-lo de saltar e voar. Isso até agora não foi feito; quan-do isso for feito se poderão nutrir mais altas esperan-ças sobre o destino das ciências1.

BACON, Francis. Novum organum. Tradução José A. Reis de Andrade. São Paulo: Abril cultural, 1979 (Os pensadores).

Em decorrência dessa visão, Bacon passa a denunciar todas as formas de preconceitos, buscando sua eliminação e a purifica-ção do saber científico dessas formas degenerativas de saber. Bacon denomina esses preconceitos de ídolos, ilusões huma-nas que impedem a humanidade de caminhar na direção do conhecimento verdadeiro.

A partir dessa constatação, o trabalho no qual ele se concentra é na denúncia e no combate dessas ilusões, com o objetivo de libertar o intelecto da influencia desses ídolos. Dessa forma, passada a primeira fase da limpeza e da purificação, o trabalho será o de apresentar as regras do método verdadeiramente científico, marcado pela indução, conciliando as experiências particulares com a formulação da teoria geral.

O primeiro desses ídolos refere-se aos ídolos da tribo. O gênero humano (tribo), ao se dirigir para a natureza, faz uma leitura inadequada dessa natureza, movida pela pretensão de cap-tar a essência das coisas. Na verdade, a subjetividade humana projeta sobre as coisas uma visão carregada de afeto, de von-tades e interesses que estabelecem como verdade essencial uma visão subjetiva e fugaz, muitas vezes distorcida do real.

Assim, os ídolos da tribo se referem à ingenuidade humana de considerar a opinião oriunda dos sentidos como certeza de captar a verdade dos fenômenos.

A segunda série desses ídolos é denominada ídolos da caver-na, pois considera as ilusões ou sombras que guiam os indiví-duos particulares. Essa série de ídolos está inspirada na Alego-ria da Caverna, de Platão. Nessa alusão os primeiros estágios do conhecimento que caracteriza o senso comum são a opi-nião e a crença de que sua opinião corresponde à verdade es-sencial. Ora, o que caracteriza essa caverna é a diversidade de opiniões fugazes. Isso jamais poderá significar conhecimento verdadeiro.

Em terceiro lugar, Bacon se refere aos ídolos do foro (do merca-do). Com essa expressão ele faz referencia à feira, ao mercado, às palavras ou discursos que arrastam as pessoas para pro-fundas discordâncias e as desviam da verdade. Nesse sentido cabe recordar o provérbio: “uma mentira repetida inúmeras vezes acaba sendo aceita como verdade”.

Finalmente, Bacon refere-se aos ídolos do teatro, que são tão somente uma representação, e não significam a realidade. Com essa caracterização, Bacon critica as fábulas criadas no passado, pelos sofistas, pelos empíricos e pelos dogmáticos, todos marcados pela absoluta falta de comprovação científi-ca.

O verdadeiro método indutivo, que supera o método aristo-télico, consiste em, primeiramente, extrair e fazer surgir os axiomas da experiência e, em seguida, deduzir e derivar no-vos experimentos dos axiomas. A indução proposta por Bacon é uma indução por eliminação, somente esta seria capaz de captar a natureza, a forma ou a essência dos fenômenos.

11.4. Nem empirismo nem racionalismo: O Racionalismo Critico em Kant

Immanuel Kant (1724-1804), em seu texto “O que é a ilustra-ção”, demonstra todo o otimismo iluminista acerca das possi-bilidades de o homem, através de sua razão, passar a construir o próprio destino, guiando a própria vida com autonomia, su-perando a velha dependência em relação às crenças, opiniões e decisões alheias.

Partindo do pressuposto antropológico de que os constituin-tes fundamentais do ser humano são a razão e a liberdade, a Filosofia kantiana buscará devolver o homem a si mesmo, devolvê-lo a si naquela dimensão de universalidade que o constitui. Por isso, as quatro grandes questões que orientarão a Filosofia de Kant são: o que posso saber? como devo agir? o que posso esperar? o que é o ser humano?

No texto a seguir, Kant expressa o seu projeto de buscar a emancipação do espírito humano, a caminhada da menori-dade para a maioridade. É um texto clássico. Seguem alguns fragmentos do texto.

Resposta à pergunta: que é ilustração?   Esclarecimento é a saída do homem da condição de menoridade auto-imposta. Menoridade é a incapaci-dade de servir-se de seu entendimento sem a direção de um outro. Essa menoridade é auto-imposta quan-

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA253Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 2Da Filosofia Medieval: À Filosofia Moderna

do a causa da mesma reside na carência não de en-tendimento, mas de decisão e coragem em fazer uso de seu próprio entendimento sem orientação alheia. Sapere aude! Tenha a coragem de servir-te de teu pró-prio entendimento. Este é o mote do Esclarecimento.

Preguiça e covardia são as causas que explicam por que uma grande parte dos seres humanos, mesmo após a natureza tê-los declarado livres da orientação alheia (naturaliter maiorennes), ainda permanecem, com gosto e por toda a vida, na condição de meno-ridade.

Se for perguntado: vivemos agora em uma época es-clarecida? A resposta é: não, vivemos em uma época de Esclarecimento. Falta ainda muito para que os ho-mens em geral, nas condições atuais, estejam habili-tados a servir-se bem de seu próprio entendimento das questões religiosas sem o auxílio da compreensão alheia. Porém temos claros indícios de que agora o campo lhes foi aberto para se desenvolverem livre-mente e que gradualmente tornam-se menores os obstáculos ao esclarecimento geral e à saída de sua menoridade auto-imposta.(...)

KANT, Resposta à pergunta: “O que é Esclarecimento”? Trad. Danilo Marcondes.

In: MARCONDES, Danilo. Textos básicos de Ética. De Platão a Foucault. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007. P.95-100.

“A revolução copernicana”

No âmbito do conhecimento, Kant realizou uma verdadeira “revolução copernicana” ao atribuir ao sujeito um papel de-terminante no ato de conhecer. O ato de conhecer já não mais se concebe como uma adequação do sujeito a uma realida-de exterior; mas, ao contrário, de uma construção mental do próprio sujeito, a partir da realidade exterior. Ao chamar esse mudança de visão como revolução copernicana, Kant faz refe-rência à mudança de paradigma que Copérnico realizou na ci-ência, ao substituir o modelo geocêntrico pelo heliocêntrico.

Nem empirismo, nem racionalismo: Criticismo ou raciona-lismo crítico

A Filosofia de Kant recebeu o nome de criticismo, pois entre seus grandes objetivos constava submeter a razão a uma grande e profunda crítica, na busca de um conhecimento bem fundamentado, descartando como conhecimentos seguros aqueles que não apresentavam base científica. Nessa lógica, Kant estabelece que o conhecimento seguro deriva da experi-ência e caminha para os juízos universais. Ou seja, ele faz uma síntese entre o empirismo e o racionalismo, articulando essas duas visões que eram vistas como antagônicas, contrárias, ir-reconciliáveis.

Nessa síntese entre empirismo e racionalismo, que eram vis-tos como antagônicos e separados, Kant afirma que a matéria de nosso conhecimento vem da experiência, do mundo exte-rior, por meio de nossos sentidos. Nesse sentido, o ponto de partida do conhecimento está na experiência, no a posteriori. Contudo, essas informações vem de uma forma desconexa, pois na experiência não existem as noções de causa e efeito,

por exemplo, que poderiam servir para organizar essas dados.

Assim, é preciso recorrer a algo que existe em nos de forma apriori, anterior a qualquer experiência, que possibilita a pró-pria experiência e a organiza. Com efeito, existem em nós for-mas de sensibilidade e formas do entendimento. Por meio das formas da sensibilidade temos acesso ao mundo exterior e pe-las formas do entendimento construímos conceitos, a partir desse contato sensível com o mundo.

A coisa em si e o fenômeno

Dessa forma, Kant distingue o mundo dos fenômenos (realida-de de nossa experiência) do mundo do númeno,(realidade em si), que podemos pensar, mas não conhecer, pois o que conhe-cemos não é o real, “a coisa-em si”, mas sempre o real em rela-ção com o sujeito do conhecimento, ou seja, o real enquanto objeto. Por isso, Kant afirma , em sua Analítica transcendental, que “ não podemos pensar nenhum objeto senão mediante categorias e não podemos conhecer nenhum objeto pensado senão mediante intuições que correspondam àqueles concei-tos”.Com efeito,“a intuição sem conceitos é cega, os conceitos sem intuição são vazios”.

Em seus estudos sobre as possibilidades e limites da razão humana, Kant concluiu que é impossível conhecer as coisas tais como elas são em si mesmas (noumenon), mas apenas podemos conhecer a forma como a nós aparecem isto é, o fe-nômeno, a aparência. E mais. Ao referirmo-nos a realidades metafísicas, tais como existência de Deus e imortalidade da alma nada podemos afirmar. É o limite da razão.

Contudo, a originalidade de Kant está em afirmar que o co-nhecimento não é reflexo do objeto exterior, mas é constru-ção do espírito humano. Assim, conhecer não é adequar-se a algo que exista fora, no exterior; ao contrário, conhecer é construir significado.

A vida racional e a ética do dever

Em Kant, a razão humana é razão legisladora, razão que elabo-ra normas universais que servirão de guia para a vida humana em sociedade. Sendo os homens racionais, uma ação ou deci-são com base na razão é passível de universalidade. As normas morais têm, portanto, sua origem na razão.

Para a construção dessas leis morais, Kant parte de um pres-suposto estranho para muitos: todos nós nascemos com um dom natural relacionado com a capacidade de distinguir o certo do errado. Desta forma, há em todo ser humano uma lei moral universal e inata capaz de orientar a ação de todos os homens; isto é, valendo para todos e em todas as situações. Assim ele formula o seu imperativo categórico: “age apenas segundo aquelas máximas através das quais possas, ao mes-mo tempo, querer que elas se transformem em lei geral”.

Essa norma moral é universal e está acima de qualquer con-teúdo concreto. Com base nesse imperativo, por exemplo, o ser humano irá decidir a melhor ação em cada situação partic-ular. Trata-se de uma ética formalista e não conteudista. Ela não fornece os conteúdos morais, apenas o imperativo cate-górico, que deve servir como orientação na escolha desses conteúdos. Dessa forma, a orientação básica para a conduta humana encontra-se no princípio do imperativo categórico: “age de tal modo que a máxima de tua ação possa sempre

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

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CAPÍTULO 2

Curso Enem 2019 | Filosofia

Da Filosofia Medieval: À Filosofia Moderna

valer como principio universal de conduta”; “age sempre de tal modo que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na do outro, como fim e não apenas como meio”.

Isso significa que, quando fazemos algo, devemos estar cer-tos de que gostaríamos que todas as outras pessoas, diante da mesma situação, agissem como nós. O que Kant quer dizer com seu imperativo categórico é que a nossa ação deve ser tal que possa ser universalizada, realizada por todos sem prejuí-zo para a humanidade. Se não puder ser universalizada, essa ação não será moralmente correta e só poderá ser realizada como exceção, nunca como regra. Considerando a sua concepção de homem como ser racional e livre, a ética kantiana parte da autonomia da razão humana. E essa autonomia da razão para legislar supõe a liberdade e o dever. Contudo, o dever de realizar a liberdade não é estra-nho ao ser humano. O imperativo se impõe como dever, mas a exigência não é heterônoma, externa e irrefletida, e sim livre-mente querida e assumida pela pessoa que se assume sujeito da história, sujeito de auto-determinação na determinação do mundo.

Formalmente, Kant distingue o campo da moral do campo jurídico. Com efeito, a moralidade vem marcada pelo dever interior e o campo jurídico traz a marca da obrigação externa. Dessa forma, o direito se situa no mundo das relações exter-nas e práticas entre os homens, pertencendo ao campo das relações intersubjetivas. A moralidade parece ter um valor em si mesmo, pois expressa um dever puro, tendo sua origem na razão, de forma a priori e não a posteriori. Em outras palavras, a moralidade indica um dever de forma categórica; ou seja, ordena categoricamente, e não hipoteticamente.

12. Filosofia Moderna: Tema da Político 12.1 Thomas Hobbes: Estado natural e con-trato social

Thomas Hobbes (1588-1679) parte do pressuposto da natu-reza individualista, egoísta e violenta do ser humano. Em de-corrência dessa natureza não poderá haver paz e segurança enquanto perdurar esse estado natural. Deixar os homens entregues a si é o mesmo que perpetuar a insegurança e o medo. Não há garantias de estabilidade econômica e bem es-tar social, uma vez que cada homem encontra no outro o seu rival, o inimigo, o lobo devorador. Essas disputas provocarão a guerra de todos contra todos.

Contudo, no estado natural, não há espaço para o bem e o mal objetivos e, portanto, para os valores morais. Com efeito, para Hobbes, o bem é aquilo ao qual tendemos e o mal aquilo do qual fugimos. Mas, como alguns homens desejam algumas coisas e outros desejam outras e como alguns fogem de algu-mas coisas e outros não, daí decorre que bem e mal é algo re-lativo; relativo à pessoa, ao local, ao tempo e às circunstâncias.

Naturalmente, a condição em que os homens se encontram é uma condição de guerra de todos contra todos. Cada qual tende a se apropriar de tudo aquilo que necessita para a sua própria sobrevivência e conservação. E, como cada qual tem direito sobre tudo, não havendo limite imposto pela natureza,

nasce, então, a predominância de uns sobre outros. E é nesse contexto que Hobbes usa a frase de Plauto homo homini lupus, o homem é o lobo do homem, no sentido de pura constatação estrutural, indicando uma situação, e não um pessimismo mo-ral, à qual deve-se dar um remédio. Por isso, em decorrência, o Estado não é natural, mas artificial.

No fragmento a seguir, Hobbes descreve a natureza do pacto entre os súditos.

Quando alguém transfere seu direito, ou a ele renun-cia, fá-lo em consideração a outro direito que recipro-camente lhe foi transferido, ou a qualquer outro bem que daí espera. Pois é um ato voluntário, e o objetivo de todos os atos voluntários dos homens é algum bem para si mesmos. (...) A transferência mútua de direitos é aquilo a que se chama contrato.(...). Quando se faz um pacto em que ninguém cumpre imediatamente sua parte, e uns confiam nos outros, na condição de simples natureza ( que é uma condição de guerra de todos os homens contra todos os homens), a menor suspeita razoável torna nulo esse pacto. Mas se hou-ver um poder comum situado acima dos contratantes, com direito e força suficiente para impor seu consenti-mento, ele não é nulo1.

Em si mesmas, essas leis não bastam para constituir a socie-dade, já que também é preciso um poder que obrigue os ho-mens a respeitá-las: "sem a espada que lhes imponha o res-peito", os acordos não servem para atingir o objetivo a que se propõem.

Por conseguinte, segundo Hobbes, é preciso que todos os ho-mens transfiram a um único homem (ou a uma assembleia) o poder de os governar. Mas é preciso atender bem a um por-menor: esse "pacto social" não é firmado pelos súditos com o soberano, mas sim pelos indivudos entre si O soberano fica fora do pacto, permanecendo como o único a manter todos os direitos originários. O poder do soberano (ou da assembleia) é indivisível e absoluto.

12.2. John Locke: Estado natural e Contrato social

Diferentemente de Hobbes, John Locke (1636-1704) não des-creve o estado natural como um estado de guerra de todos contra todos. O estado de natureza é o estado em que os ho-mens se encontram naturalmente. Esse estado é o de uma perfeita liberdade de agir, de dispor de sua pessoa e de suas propriedades, dentro dos limites da lei natural.

Sobre a lei natural, é interessante observar os princípios que a definem: liberdade, disposição da pessoa e propriedade. A liberdade do homem é a liberdade em relação a todo poder terrestre superior, sob a única condição da autopreservação. Essa liberdade é a condição de tudo. Locke parece ver nela a essência da vida: ninguém pode atacar a liberdade do outro. Assim como a vida, a liberdade é também inalienável. Nin-guém tem o direito de fazer-se escravo, como também nin-guém tem o direito de querer morrer. Cada um tem o direito e o dever de defender o seu direito natural. Por isso, no estado natural, cada homem tem o direito de punir o agressor e de ser o executor da lei natural, que autoriza a autodefesa e soli-cita a autoconservação.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA255Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 2Da Filosofia Medieval: À Filosofia Moderna

Desta forma, o estado natural é um estado de liberdade e de igualdade: cada indivíduo, dotado das mesmas faculdades por Deus, tem tanto poder quanto um outro e está submeti-do apenas à lei natural, que lhe ordena conservar-se e, tanto quanto possível, preservar a humanidade. Essa preservação implica a subsistência e a propriedade. Contudo, devido ao fato de, no estado natural, cada homem ser seu próprio juiz e agir em defesa de seus interesses e direitos naturais, torna--se pouco provável, nesse estado originário, uma vida social harmônica.

Vejamos o texto no qual Locke refl ete sobre essa sua visão de estado natural. Esse texto integra o capítulo XI: Dos fi ns da so-ciedade política e do governo

assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gê-nero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: "defendei-vos de ouvir impostor, estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e a terra não pertence a ninguém!"2

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos das desigualdades entre os homens. Trad. Lourdes

Santos Machado. São Paulo: Nova Cultural, 1991. p 259.

Se o homem é tão livre no estado de natureza como se tem dito, se ele é o senhor absoluto de sua própria pessoa e de seus bens, igual aos maiores e súdito de ninguém, porque renunciaria a sua liberdade, a este império, para sujeitar-se à dominação e ao controle de qualquer outro poder. A resposta é evidente: ainda que no estado de natureza ele tenha tantos direitos, o gozo deles é muito precário e constantemente expos-to às invasões dos outros (...)

Por isso, o objetivo capital e principal da união dos ho-mens em comunidades e de sua submissão a gover-nos é a preservação de sua propriedade. O estado de natureza é carente de muitas condições.

Em primeiro lugar, ele carece de uma lei estabelecida, fi xada, conhecida, aceita e reconhecida pelo consenti-mento geral, para ser o padrão do certo e do errado e também a medida comum para decidir todas as con-trovérsias entre os homens (...)

Em segundo lugar, falta no estado de natureza um juiz conhecido e imparcial, com autoridade para dirimir to-das as diferenças segundo a lei estabelecida (...)

Em terceiro lugar, no estado de natureza, frequente-mente, falta poder para apoiar e manter a sentença quando ela é justa, assim como para impor sua devida execução.

LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo. 4ª ed. Trad. Magda Lopes e Marisa Lobo da Costa. Petrópolis: Vozes, 2006. P.156-157.

12.3. Rousseau: O estado de natureza e o Contrato social

Defensor da vida natural, Rousseau (1712-1778) levantou a hipótese do homem natural originalmente íntegro, biologica-mente sadio e moralmente justo. Dessa forma, a maldade e a injustiça não são naturais no homem, mas derivadas da ordem social. Ou seja, a sociedade da propriedade privada corrom-peu as inclinações naturais do ser humano. O homem é visto originariamente como um “bom selvagem”, no qual os instin-tos e a paixão precedem a razão.

Em seu Discurso sobre a desigualdade, Rousseau responde:

"O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o pri-meiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu e encontrou pessoas sufi cientemente simples para acredita-lo. Quantos crimes, guerras e

Assim, a desigualdade nasce com a propriedade privada. E com a propriedade nascem a hostilidade entre os homens, a escravidão e a miséria. Imputando à razão moderna e ao "pro-gresso" os maiores problemas, Rousseau realiza uma radical antítese entre natureza e cultura, entre estado primitivo e es-tado civil, na sua confi guração sócio-econômica.

Para Rousseau, o grande desafi o é recuperar a saúde integral do ser humano, para tanto propõe como caminhos a articula-ção da lei com a educação. Assim, não basta somente um con-trato social é preciso também que os indivíduos sejam educa-dos sob a perspectiva da vida comunitária. Será essa ênfase na supremacia da comunidade sobre o individuo que marcará a diferença de Rousseau em relação a Locke e a Hobbes.

Em sua primeira natureza, o homem é marcado pela dimen-são impulsiva e individualista. Por meio do contrato social, ele passará por uma radical mudança. Vejamos o fragmento a se-guir, no qual Rousseau descreve e caracteriza essa mudança.

Escreve Rousseau:

A passagem do estado de natureza para o estado civil determina ao homem uma mudança muito notável, substituindo na sua conduta o instinto pela justiça e dando às suas ações a moralidade que antes lhes falta-va. É só então que, tomando a voz do dever o lugar do impulso físico, e o direito o lugar do apetite, o homem, até aí levando em consideração apenas a sua pessoa, vê-se forçado a agir baseando-se em outros princípios e a consultar a razão antes de ouvir suas inclinações. Embora nesse estado se prive de muitas vantagens que frui da natureza, ganha outras de igual monta: suas faculdades se exercem e se desenvolvem, suas ideias se alargam, seus sentimentos se enobrecem, toda a sua alma se eleva a tal ponto, que, se os abu-sos dessa nova condição não o degradassem frequen-temente a uma condição inferior àquela donde saiu, deveria sem cessar bendizer o instante feliz que dela o arrancou para sempre e fez, de um animal estúpido e limitado, um ser inteligente e um homem.

ROUSSEAU. Contrato social. Livro I. Cap. VIII. São Paulo: Nova

cultural, 1991. Trad. Lourdes S. Machado, pp 33-36.

Assim, a soberania pertence ao corpo político. Dessa forma, cada indivíduo é membro do soberano. Onde existe o corpo não há necessidade de qualquer justifi cativa ou garantia, pois o corpo não poderá agir contra si mesmo. Por essa razão, diz Rousseau:

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

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CAPÍTULO 2

Curso Enem 2019 | Filosofia

Da Filosofia Medieval: À Filosofia Moderna

necessitam, igualmente, de guias. A uns ó preciso obri-gar a conformar a vontade à razão, e ao outro, ensinar a conhecer o que quer. Então, das luzes públicas resul-ta a união do entendimento e da vontade no corpo social, daí o perfeito concurso das partes e, enfi m, a maior força do todo. Eis donde nasce a necessidade de um Legislador3.

ROUSSEAU, J.J. Do contrato social. São Paulo: Nova cultural, 1991. Trad. Lourdes S. Machado. São Paulo: Nova cultural, 1991. p..43-56.

O soberano, sendo formado tão-só pelos particulares que o compõem, não visa nem pode visar a interes-se contrário ao deles, e, consequentemente, o poder soberano não necessita de qualquer garantia em face de seus súditos, por ser impossível ao corpo desejar prejudicar a todos os seus membros. [...].O que o homem perde pelo contrato social é a liberda-de natural e um direito ilimitado a tudo quanto aven-tura e pode alcançar. O que com ele ganha é a liberda-de civil e a propriedade de tudo o que possui

ROUSSEAU. Contrato social. Livro I. Cap. VIII. São Paulo: Nova cultural, 1991. Trad. Lourdes S. Machado, pp 33-36)

Rousseau afi rma que a soberania pertence à vontade ge-ral, que não é a mesma coisa que vontrade de todos ou da maioria. A vontade geral não é numérica ou quantitativa, ela é qualitativa. A vontade geral é a conformidade com o que a lei expressa.

Creio poder fi xar como princípio incontestável que só a vontade geral pode dirigir as forças do Estado segun-do o fi m de sua instituição, que é o bem comum.[...]. O vínculo social decorre daquilo que há de comum nes-ses interesses diferentes: se não houvesse algum pon-to no qual concordam todos os interesses, a sociedade não poderia existir. Assim, o motor do corpo social é a vontade geral que busca o interesse comum.

A vontade geral é sempre certa e tende sempre à uti-lidade pública. (...) Há comumente muita diferença entre a vontade de todos e a vontade geral. Esta se prende somente ao interesse comum; a outra, ao inte-resse privado e não passa de uma soma das vontades particulares. (...). Deve-se compreender, nesse sentido, que, menos do que o número de votos, aquilo que ge-neraliza a vontade é o interesse comum que os une, pois nessa instituição cada um necessariamente se submete às condições que impõe aos outros. (...)

O pacto social estabelece entre os cidadãos tal igual-dade, que eles se comprometem todos nas mesmas condições e devem todos gozar dos mesmos direitos. Igualmente, devido à natureza do pacto, todo ato de soberania, isto é, todo ato autêntico da vontade geral obriga ou favorece igualmente todos os cidadãos, de modo que o soberano conhece unicamente o corpo da nação e não distingue nenhum que a compõe. Que será, pois, propriamente, um ato de soberania? Não é uma convenção entre o superior e o inferior, mas uma convenção do corpo com cada um de seus membros: convenção legítima, por ter como base o contrato so-cial; equitativa, por ser comum a todos; útil, por não poder ter outro objetivo que não o bem geral, e só-lida, por ter como garantia a força pública e o poder supremo. Enquanto os súditos só estiverem submeti-dos a tais convenções, não obedecem a ninguém, mas somente à própria vontade. (...)

O povo, por si, sempre quer o bem, mas por si nem sempre o encontra. A vontade geral é sempre certa, mas o julgamento que a orienta nem sempre é escla-recido.(...) Os particulares discernem o bem que rejei-tam; o público quer o bem que não discernem. Todos

12.4. Três espécies de governo, em Montesquieu.

O pensamento político de Montesquieu (1689- 1755) está centrado na refl exão sobre as leis humanas e as instituições sociais. Foi um destacado pensador no combate ao absolutis-mo. Nessa lógica, escreveu sobre a necessidade de separação dos três poderes. Portanto, em Montesquieu encontramos a idealização de um Estado regido pela separação entre os po-deres executivo, legislativo e Judiciário.

No texto a seguir, Montesquieu faz um comparativo entre as formas republicana, monárquica e despótica. Nessa compa-ração, faz uma distinção das diferentes formas de soberania e das formas que sustentam o poder. Nessa abordagem, faz a distinção entre a força, a lei e a virtude.

Trata-se de um texto clássico, que merece a atenção de nosso olhar.

Existem três espécies de governo: o republicano, o monárquico e o despótico. O governo republicano é aquele em que o povo, em sua totalidade ou uma parte dele, possui o poder soberano; o monárquico é aquele em que só um governa, mas com base em leis fi xas e imutáveis; ao passo que o despótico é aquele em que também um só governa, mas sem leis e sem regras, decidindo de tudo com base em sua vontade e ao seu bel-prazer.

Para um governo monárquico ou para um despótico não é preciso muita probidade para manter-se ou sus-tentar-se. A força das leis em um, o braço do príncipe sempre levantado no outro, regulam ou regem todas as coisas. Mas em um estado popular é preciso uma mola a mais, que não é outra coisa senão a virtude.

O que eu disse é confi rmado pelo curso inteiro da his-tória, e é igualmente bem conforme a natureza das coisas. É claro, com efeito, que em uma monarquia, na qual quem faz executar as leis julga a si próprio como estando acima delas, se tem necessidade de virtude em medida menor do que em um governo popular, no qual quem faz executar as leis sente que ele pró-prio está a elas submetido, e carregar á seu peso. (...). Os políticos gregos, que viviam em um governo po-pular, reconheciam na virtude a única força capaz de sustentá-lo.

Os políticos de hoje nos falam apenas de manufatu-ras, de comércio, de fi nanças, de riquezas, até de luxo. Quando vem a faltar esta virtude, entra a ambição nos

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA257Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 2Da Filosofia Medieval: À Filosofia Moderna

corações prontos para recebê-la, e a avidez em todos. Os desejos mudam de objeto: aquilo que antes se amava, não é mais amado; antes se era livre com as leis, agora se quer sê-lo contra elas. Cada cidadão pa-rece um escravo fugido da casa do patrão. O que antes era máxima, agora é chamado rigor; o que antes era regra, agora estorvo; o que antes era proteção, ago-ra temor. É a frugalidade que agora chama-se avidez, não o desejo de possuir. Antes os bens dos indivíduos formavam o tesouro público; agora o tesouro público torna-se patrimônio dos indivíduos. A república é um corpo morto, cuja força é constituída apenas pelo po-der de alguns cidadãos e pela licença de todos.(...).

Assim como em uma república é necessária a virtude, e na monarquia a honra, também no governo despó-tico é preciso o medo: a virtude não é necessária e a honra seria perigosa. O poder imenso do príncipe pas-sa inteiramente para as mãos daqueles aos quais ele o confi a. Pessoas capazes de ter grande estima de si mesmas poderiam então fazer revoluções. Portanto, o medo deve abater todas as coragens, apagar também o mais fraco senso de ambição.

MONTESQUIEU,C.L. O espírito das leis. Livro terceiro. São Paulo: Abril cultural, 1973.

13. Filosofi a Contemporanea: A Condição Humana

O existencialismo e a afi rmação daliberdade

Após a primeira guerra mundial, em meio a profundas crises políticas, inicia-se uma refl exão sobre a identidade humana, especialmente a partir dos sentimentos de melancolia e de angústia. Na dinamarca, o pensamento de Sören A. Kierke-gaard (1813- 1855) desloca a refl exão do idealismo para a existência humana concreta, para o campo das decisões hu-manas no cotidiano da existência.

Nasce a Filosofi a da existência, conhecida como existencialis-mo. Para o existencialismo, o ser humano é o único responsá-vel pelo destino dos humanos. Não cabe nenhum recurso à deuses, à possíveis divindades que comandem a vida humana.

As consequencias das duas grandes guerras jogaram por ter-ra os ideais humanitários e a ideia de um progresso linear e infi nito. As utopias que mobilizavam os seres humanos foram corroídas pelo sentimento de fracasso, pessimismo e desilu-são.

Martin Heidegger (1889 – 1976) ocupa-se, prioritariamente do problema do sentido da existência humana. Sua abordagem busca uma existência humana autêntica, na qual o ser huma-no mergulha em sua interioridade e confre sentido à sua vida, com a consciênica de que é um ser para a morte e deve viver, cotidianamente, a angustia que resulta da obrigadoriedade de assumir a sua vida, que é palco de risco e incerteza

Jean Paul Sartre (1905-1980) torna-se a expressão mais con-sagrada do existencialismo. Seu principal postulado ou con-vicção fi losófi ca é a liberdade humana, na qual o indivíduo constrói a própria essência, determina a direção de sua ex-isência. A sua obra"O Ser e o Nada" tornou-se a referência fun-damental da teoria existencialista. Porém, Sartre apresentou o seu existencialismo de uma forma muito mais clara e breve em "O Existencialismo é um Humanismo", que foi uma confe-rência ministrada em Paris em 1945.

Para o existencialismo, o que defi ne inicialmente a existência humana é a sua indeterminação. Diferentemente dos demais seres, o homem encontra-se lançado no mundo, com a cons-ciência de que sua vida está por fazer. Essa abertura da exis-tência humana difere do mundo fechado que caracteriza o reino animal, inscrito no reino do determinismo. Ora, onde há liberdade, há imprevisibilidade. Portanto, a existência humana escapa e transcende aos poderes da previsibilidade científi ca.

A partir dessa imprevisibilidade que decorre da liberdade, não há espaço para pensarmos em destino prévio para a existên-cia humana. A impulsividade e a paixão humana costumam infl uenciar profundamente na projeção que os indivíduos dão à sua vida. Com efeito, infi nitas ou múltiplas são as possibi-lidades que marcam a vida humana. Assim, existir é incerto, impreciso.

Leia o fagmento:

(...) Se Deus não existe, há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser defi nido por qualquer conceito, e que este ser é o homem ou, como diz Heidegger, a re-alidade humana. Que signifi cará aqui o dizer-se que a existência precede a essência? Signifi ca que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e só depois se defi ne. O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é defi nível, é porque primeira-mente não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fi zer. Assim, não há natureza hu-mana, visto que não há Deus para a conceber.

O homem é, não apenas como ele se concebe, mas como ele quer que seja, como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após este impulso para a existência; o homem não é mais que o que ele faz. Tal é o primeiro principio do existencialismo. É também a isso que se chama a subjetividade, e o que nos censuram sob este mesmo nome. Mas o que queremos dizer nós com isso, senão que o homem tem uma dignidade maior do que uma pedra ou uma mesa? Porque o que nós queremos dizer é que o ho-mem primeiro existe, ou seja, que o homem, antes de mais nada, é o que se lança para um futuro, e o que é consciente de se projetar no futuro. (...)

Mas se verdadeiramente a existência precede a essên-cia, o homem é responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o de pôr todo homem no domínio do que ele é de lhe atribuir a total responsabilidade da sua existência. E, quando dize-mos que o homem é responsável por si próprio, não queremos dizer que o homem é responsável pela sua restrita individualidade, mas que é responsável por to-dos os homens.

SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. Col. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 11-12.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

258 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 2

Curso Enem 2019 | Filosofia

Da Filosofia Medieval: À Filosofia Moderna

Em conformidade com essa refl exão de Jean Paul Sartre, não pode haver uma natureza humana igual, uma vez que a liberdade é o jeito humano de caminhar, através do qual cada um projeta a sua existência de forma imprevisível. Por isso, diz Sartre: “O homem é o futuro do homem”, pessoal e coletivamente.

13.2 O estruturalismo e os limites da liberdade

O estruturalismo é um método de análise que apresenta um modelo explicativo da realidade e dos comportamentos sociais. Esse modelo são as estruturas, que sinalizam para elementos interconectados, defendendo a impossibilidade de ações isoladas. Considerando a imagem de uma estrutura, podemos pensar nos elementos não visíveis, que garantem a sustentação do edifício, no interior do qual acontecem as relações..Na Filosofi a e na refl exão sobre a história dos sistemas, Michel Foucault (1926-1984) é o nome mais lembrado e seu pensa-mento é o mais estudado.

Assim, o estruturalismo parte do pressuposto de que o ser humano está inserido em uma rede de relações que condicio-nam o seu comportamento. Há uma lógica social que ante-cede o indivíduo e é mais forte que sua vontade individual. Dessa forma, cada individuo desempenha papéis nesse teci-do, tem seu lugar e dele se espera algo.

Em decorrência, questiona-se a absoluta liberdade defendida pelo existencialismo de Jean Paul Sartre. Para o estruturalis-mo, não se pode falar em autonomia individual, no sentido de sujeito que age independentemente do meio social. Com efei-to, a ação individual é um refl exo ou uma reprodução de uma estrutura que é coletiva. Obviamente, que isso não acontece de forma explícita, mas disfarçada, alimentando, inclusive, o sentimento de liberdade e de autonomia individual.

Dessa forma, para explicar uma realidade ou um comporta-mento é preciso considerar a estrutura que se encontra escon-dida, não aparente. Existe, portanto, na estrutura, uma força impessoal que comanda e determina os comportamentos individuais.

13.3 A microfísica do poder, o controle social, em Foucault.

Michel Foucault (1926-1984) é um dos representantes mais destacados do estruturalismo contemporâneo na Filosofi a.

Roberto Machado ao fazer a introdução à obra Microfísica do poder, de Foucault, assim sintetiza seu pensamento:

aqueles que se encontram dele alijados. Rigorosamen-te falando, o poder não existe; existem sim práticas ou relações de poder. O que signifi ca dizer que o poder é algo que se exerce, que se efetua, que funciona. E que funciona como uma maquinaria, como uma máquina social, que não está situada em um lugar privilegiado ou exclusivo, mas se dissemina por toda estrutura so-cial. Não é um objeto, uma coisa, mas uma relação.

MACHADO R. in. FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: edições

Graal, 1979, p. XIV (introdução)

Os poderes não estão localizados em nenhum ponto específi co da estrutura social. Funcionam como uma rede de dispositivios ou mecanismos a que nada ou ninguém escapa, a que não existe exterior possível, li-mites ou fronteiras. Daí a importante e polêmica ideia de que o poder não é algo que se detém como uma coisa, como uma propriedade, que se possui ou não. Mão existe de um lado os que têm o poder e de outro

Essa força relacional oculta, não personalizada, atua em todos os âmbitos produzindo um ser humano domesticado ou do-cilizado. Assim, o poder difuso realiza um controle difuso. Um exemplo no qual podemos fazer ou perceber a aplicação des-sa ideia encontra-se na estrutura das fábricas ou dos presídios, nos quais se encontra ou uma torre ou vidros transparentes, por meio dos quais a absoluta vigilância se exerce, nela o vi-giado acaba interiorizando o olhar do vigia.

Sobre o poder como rede que atravessa todo o corpo social, Foucault assim expressa:

Se o poder fosse somente repressivo, se não fi zesse outra coisa a não ser dizer não você acredita que seria obedecido? O que faz com que o poder se mantenha e que seja aceito é simplesmente que ele não pesa só como força que diz não, mas que de fato ele permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discursoDeve-se considera-lo como uma rede produ-tiva que atravessa todo o corpo social muito mais do que uma instancia negativa que tem por função repri-mir.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: edições Graal, 1979, p. 8.

Em sua obra “Vigiar e punir”, Foucault nos mostra como o Esta-do moderno exerce seu poder de monitoramento, de controle e punição, por meio de um complexo aparato, que inclui esco-las, igrejas, instituições de trabalho, prisões etc. Assim, o que existe na verdade são infi nitos mecanismos de saber e poder que perpassam todo o tecido social, gerando e modifi cando condutas nos indivíduos.

13.4. A fenomenologia e a intencionalida-de da consciência

A fenomenologia pode ser considerada tanto um método quanto uma fi losofi a. A refeência histórica inicial é Franz Brentano, em fi ns do do século XIX. Um dos expoentes da fe-nomenologia é fi lósofo Edmund Husserl. O que distingue a fe-nomenologia de Hussel é a permanente tentativa de superar as perspectivas reducionistas do empirismo e do idealismo, como também da dicotomia ou do dualismo entre o sujeito e o objeto. Na crítica ao empirismo, afi rma que ele conduz ao ceticismo. Na crítica ao idealismo, afi rma que ele reduz o co-nhecimento à pura psicologia, à algo intramental.

A tese ou o postulado da fenomenologia afi rma que toda consciência é intencional, ou seja, o objeto só existe para um

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA259Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 2Da Filosofia Medieval: À Filosofia Moderna

sujeito que lhe dá significado.  Para a fenomenologia, a cons-ciência é sempre consciência de alguma coisa; portanto, não há uma realidade pura. O que existe é uma consciência que se volta para o objeto ( não dicotomia), para uma realidade en-quanto percebida.  Portanto, é a partir da intencionalidade da consciência, do movimento da consciência que se volta para algo ou alguém, que devemos entender como se produz o conhecimento. 

13.5. O homem como paixão e vontade de potência em Nietzsche

A partir da leitura da obra de Shopenhauer, O mundo como vontade e representação, Nietzsche (1844-1900) desenvolve uma reflexão antropológica na qual encontra profunda iden-tificação pessoal. Em conformidade com essa visão, a vida é impulso passional. Em decorrência não é possível pensar em previsibilidade humana, pois a paixão é irracional, sem lógica.

Com esses pressupostos, Nietzsche se coloca em posição dia-metralmente oposta aos racionalismo grego, especialmente o pensamento socrático-platônico, que concebe o homem como essencialmente racional. Por isso, o projeto de Nietzs-che passa pelo resgate de valores e ideais de vida anteriores ao racionalismo grego. Esses valores e ideais ele encontra na Tragédia grega, período no qual a excelência humana estava vinculada á força, à astucia. A areté ou virtude tinha matriz aris-tocrática. Buscava-se a superação, destacar-se em relação aos comuns.

Nessa visão, buscava-se a harmonia entre humanidade e na-tureza. Os símbolos dessa harmonia são retirados de duas di-vindades ligadas à arte: a integração das forças de Dionísio e de Apolo, da embriagues e da ordem, da paixão e da raciona-lidade. Essa forças opostas que se integram e passam a atuar juntas formam a tragédia ática, esse ideal de vida e de pensa-mento defendido por Nietzsche.

Há uma característica que sobressai na visão de mundo es-pecifica da Tragédia grega, sob a perspectiva do dionisíaco, que Nietzsche considera: o “pessimismo da força”, entendido não em sentido negativo, mas como uma tendência em con-centrar-se na dimensão problemática da existência, que luta contra o destino e no final encontra-se vencida pelo destino.

O resgate dessa dimensão, na qual o homem luta contra o destino, está vinculada à concepção de homem como ser de paixão, movido por uma vontade de potência,de superação, de energia vital, energia criadora, que se propõe uma finalida-de e a persegue.

No texto Da utilidade e desvantagem da história para a vida, Nietzsche desafia o homem para que acorde, deixe de ser massa disforme e assume sua história e a refaça. Essa luta con-tra o destino vem expressa na existência legítima do homem que se propõe como fim.

Vejamos alguns fragmentos:

pode talvez, conservar instintos ou mesmo despertá--los. [...]. Não levar sua geração ao túmulo, mas fundar uma nova geração ___ é isso que os impele incansavel-mente para diante: esse eles mesmos nasceram como retardatários ___ há um modo de viver que faz esque-cer isso ___, as gerações vindouras só os conhecerão como primícias. [...].

Para que está aí o “mundo”, para que está aí a “huma-nidade” ___ isso por enquanto não deve nos afligir, a não ser que queiramos fazer uma piada: pois o atrevi-mento do pequeno verme humano é o que há de mais jocoso e de mais hilariante sobre o palco terrestre; mas, para que tú, indivíduo, estás aí? ___ Isso te pergun-to, e se ninguém te pode dizê-lo, tenta apenas uma vez legitimar o sentido de tua existência como que a posteriori, propondo tú a ti mesmo um fim, um alvo, um “para quê”, um alto e nobre “para quê”. Morre por ele ___não conheço nenhuma finalidade melhor para a vida do que morrer pelo grandioso e pelo impossível.

NIETSCHE, F. Considerações extemporâneas. Tradução e notas de Rubens Rodrigues T. Filho. São Paulo: Nova Cultural, 1991. p .28-34 (

os pensadores)

A história só pode ser suportada por personalidades fortes, as fracas elas extingue totalmente. [...].Somente quando a história suporta ser transformada em obra de arte e, portanto, tornar-se pura forma artística, ela

Portanto, o convite à vida autêntica ou existência legítima im-plica radical crítica à moral tradicional do senso comum, mar-cado pela predominância da alienação, da superficialidade ou da massificação cultural. Assumir-se como super-homem é deixar fluir a potencialidade humana que existe em cada um.

Com efeito, a repressão racionalista cristã deforma a consci-ência, trazendo sentimentos de culpa e de pecado onde ha-via a vivência da espontaneidade humana. Essa repressão à alegria da vida, provocada pelo ideal ascético do racionalismo fará com que Nietzsche denomine essa cultura de geração de homens decaídos, fracos.

Tendo com referência a obra “a genealogia da moral”, de Niet-zsche, podemos identificar o ponto central de critica: o estilo racionalista de vida moral foi erguido como finalidade repres-sora e não para garantir o exercício da liberdade,uma vez que impôs, com os nomes de virtude e dever, tudo o que oprime a natureza humana. Assim, Em termos morais, seu objetivo será o nascimento do super-homem, do homem que esteja acima dos valores culturais, que diz sim à vida. Esse novo homem é marcado pelo poder de criação e pela vontade e afirmação da potência humana.

Assumir-se como paixão e impulso criador implica reconhecer o eterno movimento de volta sobre si e a permanente tarefa e desafio que é ser homem e humanizar-se. No fragmento a seguir, Nietzsche aborda a tema da fugacidade e do eterno retorno. Vamos nos concentrar nesse trecho.

No texto a seguir, Nietzsche constrói a sua crítica ao ideal as-cético. Vamos mergulhar nessa crítica.

Uma vida ascética é uma autocontradição; aqui domi-na um ressentimento raro, o de um insaciado instinto e vontade de potência, que gostaria de se tornar senhor, não sobre algo na vida, mas sobre a própria vida, suas mais profundas, mas fortes, mais básicas condições;

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

260 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 2

Curso Enem 2019 | Filosofia

Da Filosofia Medieval: À Filosofia Moderna

aqui, é feito um ensaio de usar a força para estancar as fontes da força; aqui se dirige o olhar, verde e maligno, contra o próprio prosperar fisiológico, em particular, contra a expressão, a beleza, a alegria. [...]. Uma auto-contradição tal como parece apresentar-se no asceta, “vida contra a vida”, é ... simplesmente insensatez. [...] O homem prefere ainda querer o nada, a não querer.

NIETSCHE, F. Para a genealogia da moral. Tradução e notas de Rubens Rodrigues T. Filho. São Paulo: Nova Cultural, 1991. p .94 ( os

pensadores)

14. Filosofia Contemporanea: Tema do Conhecimento

14.1. O Positivismo: A ciência como única forma de conhecimento

a) O otimismo técnico-científico

A revolução industrial mudou radicalmente o modo de vida na Europa. E os entusiasmos se cristalizaram em torno da ideia de progresso humano e social irrefreável, uma vez que, de agora em diante, possuíam os instrumentos para a solução de todos os problemas. Esses instrumentos eram, na concep-ção de época, a ciência e suas aplicações na indústria, bem como o livre intercâmbio e a educação.

Assim, a era do positivismo é época perpassada por um oti-mismo geral, que brota da certeza de progresso ilimitado, rumo a condições de bem estar generalizado em uma socie-dade pacífica e prenhe de solidariedade humana. Dessa for-ma, o processo de industrialização e o desenvolvimento da ciência e da tecnologia constituem os pilares do meio socio-cultural que o positivismo interpreta, exalta e favorece.

Nesse contexto, o positivismo reivindica o primado da ciên-cia, afirmando que conhecemos somente aquilo que as ci-ências nos dão a conhecer, pois o único método de conheci-mento é o das ciências naturais, capazes de captar e descrever a verdade do objeto.

Por isso, em decorrência, o positivismo combate toda forma de idealismo, uma vez que a referencia deve ser o fato físico, empírico, positivo e não as especulações metafísicas.

b) Os três estágios da humanidade

Esse pensamento positivo ou físico caracteriza o estágio adulto da humanidade. Para Auguste Comte (1798-1857), o ser humano passa por três estágios: todo homem é teólogo, na infância; é metafísico, em sua juventude; e é físico em sua maturidade. Com a lei dos três estágios, Comte quer mostrar o caminho da humanidade. Nessa forma evolutiva, o estágio atual, para Comte, é o estágio positivo, no qual os métodos teológicos e metafísicos não são mais empregados. Histori-

camente, ao estágio teológico corresponde a supremacia do poder militar (feudalismo); ao estágio metafísico corresponde o idealismo juvenil (que começa com a Reforma Protestante e termina com a Revolução Francesa); e, finalmente, ao estágio positivo corresponde a sociedade industrial, a era da ciência e da tecnologia.

O verdadeiro conhecimento, que consiste na atividade cientí-fica, descarta qualquer busca por causas últimas, metafísicas. O foco está no estudo das relações existentes entre os fatos, que são observáveis pelo método científico. Em conformida-de com o pressuposto do positivismo, existe uma verdade no objeto, ou seja, existe uma lógica, uma mecânica observável no funcionamento do objeto. Em decorrência disso, torna-se possível estabelecer uma previsibilidade na dinâmica da rea-lidade. Em outras palavras, o homem adulto, que é o homem da ciência e da tecnologia, superou as visões supersticiosas, as crenças e as idealizações do mundo juvenil e se agarra ao mundo físico.

O lema “ordem e progresso”, expressão de Augusto Comte, é um retrato da Filosofia positivista, que acredita no poder da razão científica e técnica em trazer progresso linear e infinito, bem como a ordem e o bem-estar à sociedade. Trata-se de uma expressão que é filha de um otimismo filosófico-científi-co, no qual reina o espírito da Revolução Industrial

Em suma, numa tentativa de caracterização geral do positivis-mo, Augusto Comte, na obra Discurso sobre o espírito positivo, caracteriza o positivismo como a Filosofia compromissada em primeiro lugar com a realidade, mediante pesquisas veri-ficáveis através da experiência, abandonando os mistérios in-sondáveis das causas primeiras e últimas. Em segundo lugar, o positivismo tem um olhar focado na utilidade; ou seja, o co-nhecimento deve servir para o amadurecimento e aperfeiço-amento da espécie humana, abandonando as especulações estéreis e vazias da metafísica. Em terceiro lugar, na condição de um saber científico, o positivismo tem compromisso com a verdade e com a certeza, abandonando as eternas dúvidas da especulação meramente mental. Em quarto lugar, focalizan-do no valor do método científico, o positivismo tem um com-promisso com a precisão, a organização e a previsibilidade. E finalmente, compromisso com o aperfeiçoamento científico, que deverá caminhar para cada vez maior expressão da ver-dade da realidade.

14.2 A crítica de Nietzsche ao positivismo: Conhecer é interpretar.

A centralidade no sujeito como ser de paixão, no pensamen-to de Nietzsche, repercute no campo do conhecimento. Para Nietzsche, conhecer é interpretar, atribuir sentido. Esse pres-suposto nos faz reconhecer a ausência de sentido literal nas coisas. Dito de outra forma, os fatos são absurdos, ou estúpi-dos; ou seja, eles não carregam em si um sentido. O sentido depende do olhar do sujeito que os interpreta.

A partir dessa concepção, o que será a verdade? Que signifi-cado terá o conceito? Será o conceito expressão da realidade ou será apenas a fixação momentânea, subjetiva, histórica e cultural de um sentido ou significado? Haverá verdades atem-porais e universais?

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA261Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 2Da Filosofia Medieval: À Filosofia Moderna

Uma ciência não é meramente um “corpo de fatos”. Será, no mínimo, uma coleção, e como tal depende dos interesses do colecionador, de um ponto de vis-ta. Em ciência, esse ponto de vista é determinado por uma teoria científi ca; isto é, escolhemos dentre a infi -nita variedade de fatos e dentre a infi nita variedade de aspectos dos fatos aqueles fatos e aspectos que são interessantes porque ligados a alguma teoria científi -ca mais ou menos preconcebida4.

POPPER. Karl.A sociedade aberta e seus inimigos. Tomo 2. 3ª edição. São Paulo: Itatiaia, 1998. p.267.

As decorrências que se impõe a partir do pressuposto de que conhecer é interpretar nos levam a reconhecer, com Nietzs-che, que a afi rmação da verdade é o estabelecimento de um ponto de vista particular. Aqui se coloca toda a critica que Nietzsche realiza ao racionalismo cristão, uma vez que essa vi-são impõe verdades e dogmas, estabelece certezas absolutas, verdades eternas.

Ora, para Nietzsche todo conceito é uma construção históri-ca, situada temporalmente. Por isso, diante das afi rmativas de verdade universal, Nietzsche constrói o seu método, a gene-alogia, com o intui de desmascarar ou de descobrir a origem histórica dos conceitos. Com esse método, Nietsche almeja alcançar aquilo que foi omitido, excluído, abafado ou negli-genciado na construção de um conceito, pois o conceito é a igualação do não igual.

Vejamos essa ideia no trecho a seguir:

existir, estabelece: de dizer a verdade, isto é, de usar metáforas usuais, portanto, expresso moralmente: da obrigação de mentir segundo uma convenção sólida, mentir em rebanho, em um estilo obrigatório para to-dos. Ora, o homem esquece sem dúvida que é assim que se passa com ele: mente, da maneira designada, inconscientemente e segundo hábitos seculares - e justamente por essa inconsciência, justamente por esse esquecimento, chega ao sentimento da verdade

Nietzsche. Sobre a verdade e a mentira. São Paulo: Nova cultural, 1991. p. 35.

"Todo conceito nasce por igualação do não igual. As-sim como é certo que nunca uma folha é inteiramen-te igual a uma outra, é certo que o conceito de folha formado é formado por arbitrários abandonos dessas diferenças individuais, por um esquecer-se do que é distintivo, e desperta então a representação, como se na natureza além das folhas houvesse algo que fosse "folha", uma espécie de folha primordial, segundo a qual todas as folhas fossem tecidas, desenhadas, re-cortadas, coloridas, frisadas, pintadas, mas por mãos inábeis, de tal modo que nenhum exemplar tivesse saído correto e fi dedigno como cópia fi el da forma primordial. [...]. A desconsideração do individual e efe-tivo nos dá o conceito, assim como também nos dá a forma, enquanto que a natureza não conhece formas nem conceitos, portanto também não conhece espé-cies, mas somente um X, para nós inacessível e inde-fi nível. Pois mesmo nossa oposição entre indivíduo e espécie é antropomórfi ca e não provém da essência das coisas.

Nietzsche. Sobre a verdade e a mentira. São Paulo: Nova cultural, 1991. p. 34.

A partir desse fragmento, podemos perceber que o real deixa de ser racional, ou seja, não mais possui um sentido, uma ló-gica, uma verdade inerente. O conceito que estabelece a ver-dade da coisa é claramente uma construção humana, um pro-jeto que escolhe e rejeita elementos para formar uma visão.

Dessa forma, existe grande oposição entre a vida real e a ver-dade que o racionalismo impõe.Vejamos essa ideia da verda-de como ilusão, metáfora e metonímia no trecho a seguir

O que é a verdade, portanto? Um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfi smos, enfi m, uma soma de relações humanas, que foram enfatiza-das poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: as verdades são ilusões, das quais se esqueceu o que são, metáforas que se tornaram gastas e sem forma sensível, moedas que perderam sua efígie e agora só entram em considera-ção como metal, não mais como moedas...Até agora só ouvimos falar da obrigação que a sociedade, para

Nietzsche deixa bem claro que a verdade é um sentimento e um juízo, uma crença subjetiva. Aos estabelecer um desses ju-ízos como padrão universal nasce o sentimento de verdade que, em realidade, é uma ilusão, ou seja, é algo que deve ser concebido como transitório, fugaz, pois a verdade é fi lha do tempo.

Assim como para o sofi sta Protágoras, também para Nietzs-che, o homem deve ser a medida de todas as coisas, deve criar novos valores e pô-los em prática. Isso requer uma nova ati-tude diante da história, não mais monumental ou antiquária, características de quem se prende ao passado, mas crítica, característica de um homem emancipado, que age como um juiz. Dessa, Nietsche combate as posturas dogmáticas e faz uma grande convocação á atitude crítica dos seres humanos, na qual a soberania e a maturidade se manifestem.

Renunciando a toda metafísica, Nietzsche propõe como mé-todo a genealogia, pois reconhece que tpda moral, que todo costume, tudo o que defendemos como verdade ou menti-ra certo ou errado, teve um começo em algum momento da história e das culturas. Com esse método, seria possível diag-nosticar esse momento, desnaturalizando aquela fala que diz: “sempre foi assim”. Na verdade, tudo é construção histórica e cultural, situada no tempo.

14.3 Karl Popper e critica ao Positivismo

a) A impossibilidade da neutralidade científi ca

Karl Popper (1902-1994) no fragmento a seguir critica a pre-tensão positivista em afi rmar a neutralidade da ciência.

A partir disso, podemos afi rmar que essa habilidade do cien-tista foi construída por meio de muitas vivências pessoais, que alimentaram princípios, valores, ideologias, inquietações. Essa carga subjetiva acompanha o cientista em suas atividades.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

262 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 2

Curso Enem 2019 | Filosofia

Da Filosofia Medieval: À Filosofia Moderna

A partir desse dado, podemos construir uma refl exão sobre a impossibilidade de neutralidade cientifi ca, uma vez que a ci-ência, sendo atividade humana, é movida pelo poder da ima-ginação, por interesses e escolhas prévias, estando sempre in-serida em um contexto histórico e cultural que a condiciona, como um modelo imaginado dentro do qual se move.

Por isso, talvez o melhor não seja dizer que a ciência come-ça pela observação, pois muitos observam e nada segue. Se, porém, houver a problematização do observado, inicia-se um movimento da consciência que busca por conhecimentos mais profundos. Afi nal, para elaborar uma hipótese, o indiví-duo que age como cientista teve que alçar elevadíssimos voos com a sua imaginação. Por isso, Rubem Alves afi rma que “um cientista sem imaginação é como um pássaro sem asas” 4.

ΩKarl Popper reconhece que não é possível afi rmar, com fundamento, a neutralidade da ciência, uma vez que é uma atividade humana movida por interesses, escolhas e recortes que obedecem a objetivos previamente estabelecidos. Assim, é impossível um pesquisador estar isento das infl uencias da cultura, de seus próprios pressupostos que direcionam suas problematizações. Por isso, a atividade de pesquisa é condi-cionada pelo contexto histórico e cultural, social e pessoal. Por isso, Popper afi rma que a ciência não é simplesmente um corpo de fatos, de dados brutos, mas sempre também uma aproximação interessada à realidade externa. Isso impossibili-ta a neutralidade da atividade científi ca.

b) O princípio da falseabilidade, em Karl Popper.

Essa refl exão deixa claro que a pesquisa científi ca inicia pelos problemas e não por puras observações. A partir da elabora-ção de hipóteses, muitas conclusões se fazem possíveis. Se houver confi rmação ou corroboração, diremos que, no mo-mento histórico presente, a hipótese permanece válida, con-fi rmada. Mas o caminho de testes continuará e poderão nas-cer conclusões que nos obrigarão a dizer que essa hipótese ou teoria elaborada se tornou problemática e não mais responde adequadamente, e se encontra no caminho de sua falseação.

Para que uma teoria seja, então, científi ca ela deve poder ser verifi cada e suas consequências confi rmadas ou falseadas. Por exemplo, será que existe alguma madeira que não boia na água? Muitos experimentos serão feitos, no intuito de falsear a teoria. Dessa pesquisa, sabemos que ébano é madeira que não boiou e não boia na água.

A partir disso, Popper afi rma que uma teoria poderá se apro-ximar mais da verdade do que outra. Isso coloca a questão da preferência de uma teoria sobre outra, uma vez que a seguinte teoria corrigiu um erro da anterior. Com efeito, o progresso na atividade cientifi ca está relacionado com a superação de teo-rias anteriores. Por isso, para Karl Popper, o cientista deve ter presente o objetivo de superar ou falsear uma teoria, em bus-ca de uma nova teoria mais complexa que corrija a anterior e proporcione evoluções e progressos nos caminhos da ciência.

Leia o fragmento:

O método da ciência reside na procura de fatos que possam refutar a teoria. É a isso que chamamos com-provar uma teoria __ ver se podemos ou não encontrar brechas nela. Mas embora os fatos sejam coligidos com vista à teoria, e a confi rmem enquanto a teoria

se mantiver de pé em face dessas comprovações, são eles mais do que simplesmente uma espécie de repe-tição vazia de uma teoria preconcebida. Apenas con-fi rmarão a teoria se forem os resultados de tentativas mal sucedidas para derrubar suas predições e, portan-to, uma testemunha que fale em seu favor. Sustento, assim, que é a possibilidade de derrubá-la, ou sua fal-sifi cabilidade, o que constitui a possibilidade de pô-la a prova e, portanto, de comprovar o caráter científi co de uma teoria; e o fato de que todas as provas de uma teoria são tentativas de desmentir as predições que se deduzem com sua ajuda fornece a chave do méto-do científi co. Essa concepção do método científi co é confi rmada pela história da ciência, que mostra que as teorias científi cas são muitas vezes derrubadas por experimentações e que a derrubada da teoria é, na verdade, o veículo do progresso científi co.

POPPER, Karl. A sociedade aberta e seus inimigos. Tomo 2. 3ª edição. São Paulo: Itatiaia, 1998. p.267-268

c) Os limites da indução

Sendo a indução um procedimento generalizante, a sua con-clusão fornece apenas probabilidades, e não certezas, pois o conteúdo da conclusão excede em muito o conteúdo das pre-missas. Ora, a indução é o procedimento normal das ciências experimentais. Por isso, Karl Popper critica a pretensão de ver-dade contida no caminho indutivo das ciências.

É comum dizer-se “indutiva” uma inferência, caso ela conduza de enunciados singulares (...), tais como des-crições dos resultados de observações ou experimen-tos, para enunciados universais, tais como hipóteses ou teorias. Ora, está longe de ser óbvio de um ponto de vista lógico, haver justifi cativa no inferir enuncia-dos universais de enunciados singulares, independen-temente de quão numerosos sejam estes; com efeito, qualquer conclusão colhida desse modo sempre pode revelar-se falsa; independentemente de quantos cis-nes brancos possamos observar, isso não justifi ca a conclusão de que todos os cisnes são brancos.

POPPER, Karl. Lógica da pesquisa científi ca. Tradução de Leonidas He-genberg e Octanny Silveira da Mota, São Paulo: EDUSP, 1985. p. 27

14.4. A teoria dos paradigmas, em Thomas Kuhn

Todo modelo é uma construção mental, fruto da imaginação humana. Por isso, é uma aposta.Thomas Kuhn (1922- 1996), físico americano, em seu livro: “A estrutura das revoluções científi cas”, afi rma que a comunidade científi ca se forma, or-ganiza-se e caminha através da construção de certos mode-los, chamados paradigmas, que são sistemas historicamente adequados para responder aos problemas que a ciência en-contra no dia a dia de seus estudos sobre o mundo.

Leia o fragmento:

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA263Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 2Da Filosofia Medieval: À Filosofia Moderna

ência volta à normalidade. Essa passagem de um paradigma a outro mediada pela crise é que recebe o nome de Revolução Científi ca.

Essa passagem de um paradigma a outro representa progres-so científi co? Thomas Kuhn responde que essas mudanças não representam necessariamente um avanço ou progresso, uma vez que nos falta a ciência da direção fi nal. Não sabemos para onde caminha a ciência. Assim não temos o horizonte à luz do qual possamos afi rmar que determinada mudança sig-nifi cou progresso. Apenas podemos dizer que estávamos ali e agora encontramo-nos aqui.

14.5 O materialismo histórico e dialético em Karl Marx

a) Contra a política liberal: a dimensão política do ser humano

Com o pensamento de Marx (1818-1883), estamos diante do processo de desmascaramento da política liberal. O liberalis-mo acentuava uma concepção individualista de homem. Nes-sa visão, o homem era indivíduo portador de direitos naturais, entre os quais o direito à propriedade privada. Nessa con-cepção, o pressuposto subjacente é a de que a propriedade privada é um direito natural, socialmente útil e moralmente legítimo, uma vez que estimula o trabalho concorrencial e competitivo, combatendo o vício da preguiça e estimulando o crescimento social.

Contudo, Marx parte de outro pressuposto. O homem é es-sencialmente ser histórico e social, marcado pela produção de sua existência em sociedade. Por isso, o homem não pode ser entendido de forma abstrata e isolada. Marx e Engels, em A ideologia Alemã escrevem: “nós conhecemos somente uma única ciência: a ciência da história”; ou seja, as relações históri-cas que acontecem entre os homens determinam a forma de pensamento e as instituições sociais e políticas do povo.

b) O materialismo histórico e dialético

Para Marx, o nosso jeito de ser e pensar é determinado pelas relações sociais de produção. Isso signifi ca o termo materia-lismo. Nele, a consciência humana é determinada a pensar as ideias oriundas das condições materiais. Materialismo se opõe a idealismo. No caso, Marx passa a se opor ao idealismo de Hegel, que considera que são as ideias que movem o mun-do. Para Marx, Hegel é pensador utópico e ideológico, pois interpreta o mundo de cabeça para baixo.

Na condição de seres sociais, somos decorrência da práxis, da ação, dos confl itos históricos. Isto é, a matéria nos defi ne. O materialismo é histórico, pois a sociedade e a política não são de instituição divina nem naturalmente dadas. Ao contrário, nascem e dependem da ação concreta dos seres humanos si-tuados no tempo, fazendo história. O materialismo histórico pretende-se explicativo da história das sociedades humanas, em todas as épocas, através dos fatos materiais, essencial-mente econômicos e técnicos. A sociedade é comparada a um edifício no qual as fundações, a infraestrutura, seriam repre-sentadas pelas forças econômicas, enquanto o edifício em si, a superestrutura, representaria as ideias, costumes, instituições (políticas, religiosas, jurídicas, etc.).

Considero “paradigmas” as realizações científi cas uni-versalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência. [...].O estudo dos paradigmas, muitos dos quais bem mais especializados do que os indicados acima [astronomia “Ptolomaica” (ou “copernicana) “dinâmica aristotélica (ou “newtoniana”), óptica corpuscular” ou (“óptica on-dulatória)] é o que prepara basicamente o estudante para ser membro de uma comunidade científi ca deter-minada na qual atuará mais tarde.

KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções Científi cas. São Paulo: Editora Perspectiva. 2ª ed. 1978. p. 13.30

Durante o seu percurso histórico, a ciência já construiu e supe-rou inúmeros modelos. O mais conhecido é aquele que ainda hoje reina no senso comum, presente em nossa linguagem cotidiana quando falamos em “pôr do sol”. Esse paradigma, que acredita no movimento do sol em torno da Terra, é conhe-cido como ptolomaico, pois foi Ptolomeu (90-168), cientista grego, que o estruturou a partir do sistema de mundo criado por Aristóteles ( 384-322 a.C).

Esse modelo, que respondeu muito bem a todas as ques-tões ou problemas que a ciência formulava em sua pesquisa compreensiva do mundo, tornou-se inadequado e inefi cien-te a partir dos novos estudos feitos na renascença. Os novos questionamentos feitos pela ciência, que não foram respon-didos adequadamente, deram origem à crise do paradigma tradicional. A partir dessa crise, novo paradigma começa a ser formulado.

A partir de Nicolau Copérnico (1473-1543) formula-se o para-digma heliocêntrico, que foi reformulado por Johannes Kepler (1571-1630). Esses cientistas, astrônomos e matemáticos con-solidaram uma revolução científi ca. Por revolução científi ca entendemos, conforme Thomas Kuhn, a passagem de um pa-radigma para outro.

Entre os muitos paradigmas já assumidos historicamente pela comunidade científi ca encontram-se o paradigma ptolomai-co ou geocêntrico, superado pelo paradigma copernicano ou heliocêntrico; o paradigma criacionista superado pelo para-digma evolucionista; o paradigma que defi nia o ser humano como essencialmente racional, problematizado pelo paradig-ma psicanalítico que coloca a primazia no inconsciente.

Essa passagem de um paradigma a outro constitui o que Kuhn chama de Revolução Científi ca. Como acontece essa revolu-ção? Inicialmente, estamos diante daquilo que Kuhn nomeia “ciência normal”, ou seja, a ciência que caminha normalmente no interior de um paradigma consolidado e aceito pela comu-nidade científi ca. Todos os questionamentos que essa comu-nidade faz são feitos no interior desse paradigma e satisfato-riamente respondidos por esse mesmo paradigma.

Contudo, chega o momento histórico no qual novos questio-namentos surgem e o paradigma tradicional não consegue mais responder adequadamente aos novos questionamentos. Nasce a crise do paradigma. Durante essa crise do paradigma instaura-se a ciência extraordinária, dividida entre diferentes concepções. Somente a partir do momento em que um novo paradigma se consolida na comunidade científi ca é que a ci-

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

264 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 2

Curso Enem 2019 | Filosofia

Da Filosofia Medieval: À Filosofia Moderna

Assim, a base da sociedade é a produção econômica. Sobre esta base econômica se ergue uma superestrutura, um estado e as ideias econômicas, sociais, políticas, morais, fi losófi cas e artísticas.

c) A dimensão dialética da história: as luta dos contrários

Partindo do pressuposto de que as ações humanas se desen-volvem mediante o confl ito de classes, temos que a história não é retilínea, um progresso linear e contínuo, uma sequ-ência determinada de causa e efeitos, mas dialética. Assim, a história é processual, marcada por transformações sociais de-terminadas pelas contradições entre os meios de produção e as forças produtivas. A luta dos contrários move a história. Por isso, a história é uma permanente dialética das forças entre poderosos e fracos, opressores e oprimidos; a história da hu-manidade é constituída por uma permanente luta de classes, como deixa bem claro a primeira frase do primeiro capítulo d’O Manifesto Comunista: “A história de toda sociedade passada é a história da luta de classes”. Dessa forma, percebemos que as classes são os produtos das relações econômicas de cada era. Assim, apesar das diversidades aparentes, escravidão, ser-vidão e capitalismo seriam essencialmente etapas sucessivas de um processo único que caminha para o comunismo como etapa fi nal desse processo.

d) Capitalismo: Trabalho e alienação

Marx tentou demonstrar que no capitalismo sempre haveria injustiça social, no qual a riqueza é resultante de um processo de exploração sobre o trabalhador. O capitalismo, de acordo com Marx, é selvagem, considerando que o operário produz para o seu patrão, produz riqueza e colhe pobreza. Dessa for-ma, o capitalismo se apresenta necessariamente como um re-gime econômico de exploração e degradação da vida, sendo a mais-valia a lei fundamental do sistema.

Considerando que o trabalho, que deveria ser condição de liberdade,torna-se fonte de opressão, Marx condena a forma capitalista de organizar o trabalho, degenerando-o. Nele, o fruto do trabalho não pertence ao trabalhador, e este per-manece preso ao patrão.Dessa forma, o trabalho aliena o operário. Vale lembrar aqui o sentido da expressão aliena-ção. Etimologicamente, originada do latim alienare, alienus, alienação signifi ca tornar-se preso, alheio a si, estranho a si, pertencente a um outro. Assim, a alienação do trabalho acon-tece na medida em que se manifesta como produção de um objeto que é alheio ao sujeito criador. Dessa forma, o operário se nega (é negado) no objeto criado. É o processo de obje-tifi cação, coisifi cação ou reifi cação. Por isso, o trabalho que é alienado permanece alienado até que o valor nele incorpora-do pela força de trabalho seja apropriado integralmente pelo trabalhador. Havendo essa apropriação do valor incorporado ao objeto, graças à força de trabalho do sujeito-produtor, pro-move-se a negação da negação. Ora, se a negação é alienação, a negação da negação é a desalienação, a libertação. 

e) A práxis revolucionária

Considerando a realidade de luta de classes e a divisão social do trabalho, a práxis humana se dará nessas condições histó-ricas dadas. E considerando que a consciência é determinada pelas condições materiais em que vive, é preciso discernir a realidade para perceber se as ideias veiculadas são represen-tação da realidade ou ideologia, inversão da realidade.

Considerando que o capitalismo gerou o trabalhador des-possuído, ausente de todas as posses e propriedades, trans-formando-o em “livre vendedor de sua força de trabalho”, expropriado, submetido às regras do modelo capitalista de exploração, a única saída para os trabalhadores conquistarem a sua dignidade humana fundamental será a revolução, uma vez que a burguesia detém todos os recursos materiais e in-telectuais, jurídicos, políticos e militares para a manutenção dessa estrutura econômica a seu serviço.

Por isso, a emancipação histórica dos trabalhadores será tare-fa e realização dos próprios trabalhadores. Será a práxis revo-lucionária da atual classe trabalhadora que criará a sociedade comunista, sem propriedade privada dos meios de produção, sem poder estatal, verdadeiramente livre e igualitária. Com esse projeto, Marx resgata o valor do trabalho humano, como práxis humana criadora da dignidade pessoal e coletiva.

14.6 Totalitarismo e manipulação ideológica

O século XX contemplou, durante as décadas de 20, 30 e 40, uma experiência política sem precedentes: o totalitarismo. A partir de meados do séc. XX compreendeu-se o totalitarismo como o regime do partido único, opressor, absoluto, sistema político no qual as atividades do ser humano estão submetidas ao Estado.

Dentre as características que identifi cam um estado totalitário podemos reconhecer, inicialmente, a exaltação do Estado, decorrente da crítica ao liberalismo e à concepção individualista, conforme a fala de Mussolini: “Tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado”. O Estado coincide com a totalidade da atividade humana, isto é, nada resta de privacidade, tudo, desde a vida familiar até o lazer, passando pela vida intelectual é vigiada pela ideologia ofi cial. Dessa forma, o Estado concentra e detém os meios de comunicação e as técnicas de propaganda política.

Em decorrência disso, o sistema totalitário é um processo de vigilância, fi scalização e espionagem, quer seja pela polícia militar, quer seja pela atmosfera generalizada de delação, pelo difuso sentimento de nacionalismo e paixão política. Devido ao poder da ideologia ofi cial, existe uma coesão social, um sentimento de unidade, que consegue evitar ou minimizar as tentativas de dissidência.

Vejamos alguns fragmentos do discurso da servidão voluntária, proferido por Etiéne de la Boétie (1530-1575). Esse fi lósofo e humanista renascentista, amigo pessoal de Michel Montaigne, faz uma refl exão sobre a voluntária servidão de todo um povo a um tirano. Ele se pergunta sobre as razões dessa servidão. De onde um só tirano tira força e poder para submeter cidades inteira a si? Esse discurso realiza uma apologia e um hino à liberdade, defendida como valor maior da vida.

Acompanhemos o fragmento de Etiene de La Boetie, referindo-se à servidão voluntária.

No momento, gostaria apenas que me fi zessem com-preender como é possível que tantos homens, tantas cidades, tantas nações às vezes suportem tudo de um tirano só, que tem apenas o poderia que lhe dão, que

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA265Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 2Da Filosofia Medieval: À Filosofia Moderna

a) A dialética negativa

Em parceria com Max Horkheimer (1895-1973), Theodor Wiesengrund Adorno (1903-1969)escreve a conhecida obra “Dialética do Iluminismo”, analisando a contemporânea socie-dade tecnológica.

Adorno e Horkheimer concebem “iluminismo” não somente como a era das luzes e o seu movimento de pensamento, mas, fundamentalmente, como o próprio caminho que a razão vai traçando na cultura ocidental. Esse caminho traz a marca da exploração, da manipulação, da técnica que tudo busca domi-nar. Ora, o que esperar como decorrência dessa lógica explo-radora e destrutiva? Qual é fi m que se aproxima? Com efeito, o iluminismo tem uma tendência suicida, embora seu projeto inicial não tenha sido esse.

Se, inicialmente, queria libertar os homens, o iluminismo tor-nou os homens reféns, escravos de uma razão técnica, mani-puladora, que tudo reduz a objeto. Assim, a razão fi losófi ca transforma-se em razão instrumental. Já não é mais razão que fundamenta, que propõe, que critica, que discute a fi nalidade das ações humanas e da própria destinação da vida humana. Torna-se razão instrumental, uma vez que se reduz à fabrica-ção de instrumentos e meios adequados à realização dos fi ns previamente estabelecidos e controlados pelo sistema, atra-vés da indústria cultural.

Com a anestesia da razão fi losófi ca e o império da razão ins-trumental, o homem contemporâneo vive em uma sociedade totalmente administrada. Quanto mais aumenta a produtivi-dade econômica, mais aumenta a concentração da renda e a formação de grupos econômicos, diante dos quais o indiví-duo torna-se insignifi cante, um “zero econômico”, apesar do melhor nível de acesso a coisas que jamais teve. Quanto mais o sistema abastece o indivíduo de coisas, mais esse indivíduo desaparece. Quanto maior o número de bens fornecidos, mais a massa se torna impotente e manipulável, dirigível.

b) O eclipse da razão.

Para Max Horkheimer (1895-1973), a cultura industrial moder-na corrompeu a razão de sua fi nalidade primordial. A razão encontra-se viciada, sem a autonomia que lhe é própria, redu-zida à serva da administração. É a decadência do pensamento que perpetua a mesmice, no reinado do capital e do controle do trabalho.

Por isso, Horkheimer chega a afi rmar, em 1939, que o fascismo é a verdade da sociedade moderna. Estabelece uma identifi -cação entre capitalismo e fascismo, sendo as leis econômicas, leis do mercado e do lucro, “pura lei do poder”. E o comunismo, também, não passa de capitalismo de Estado, uma variante do Estado totalitário, uma vez que os homens permanecem reduzidos a objetos manipulados por uma administração cen-tral. Para que esse reino do controle se perpetue foi necessária progressiva repressão.

Que razão pode nascer da (des)humana vontade e necessi-dade de subjugar e dominar a natureza? Certamente uma razão doente. No contexto de um projeto de dominação e exploração, a razão humana, presa e refém do progresso in-fi nito e linear, coloca-se à serviço da destruição da vida e da instrumentalização do ser humano. Ironicamente, o progres-

não tem o poder de prejudicá-los senão enquanto aceitam suportá-lo, e que não poderia fazer-lhes mal algum se não preferissem, a contradizê-lo, suportar tudo dele. [...]Se dois, três, quatro cedem a um, é estranho, porém possível: talvez se pudesse dizer, com razão: é falta de fi bra. Mas se cem, se mil deixam-se oprimir por um só dir-se-ia ainda  que é covardia, que não ousam atacá--lo, que por desprezo ou desdém não querem resistir a ele? [...] Oh! não é só covardia, ela não chega a isso – assim como a valentia não exige que um só homem escale uma fortaleza, ataque um exército, conquis-te um reino! Que vício monstruoso então é esse que a palavra covardia não pode representar, para o qual toda expressão, que a natureza desaprova e a língua se recusa a nomear? [...]. Parece-me que os homens desdenham unicamente a liberdade, porque, se a de-sejassem, tê-la iam; como se se recusassem a fazer esta conquista preciosa porque ela é demasiado fácil.

LA BOÉTIE, Etiéne de. Discurso da servidão voluntária.

A organização totalitária é conseguida mediante o culto à fi gura do guia, do duce ou führer (aquele que conduz), que garante a centralização administrativa e a realização da unanimidade do Estado. Aliada ao culto da personalidade, acontece a exaltação da disciplina. Essas características aparecem no lema fascista: “Crer, obedecer e combater”.

A paixão política que existe nas massas movidas pela ideolo-gia distingue o sistema totalitário de uma manifestação políti-ca meramente autoritária, que se impõe sobre uma população normalmente marcada pela apatia política.

14.7. A escola de Frankfurt e a crise da razão moderna A escola de Frankfurt surgiu a partir do Instituto de Pesqui-sa Social fundado em Frankfurt, em de 1923. Em 1931, Max Horkheimer assume a direção do Instituto e com ele a Escola de Frankfurt passou a ser conhecida como “teoria critica da sociedade”.

Devido à perseguição nazista, os componentes da escola de Frankfurt foram forçados a abandonar a Alemanha. Encon-tram-se em Nova York.Terminada a segunda guerra mundial, os fi lósofos representantes dessa escola seguiram por diferen-tes rumos: alguns permanecem permaneceram nos Estados Unidos, outros voltam para a Alemanha. Adorno, Horkheimer e Pollock voltaram para Frankfurt, fazendo renascer em 1950, o “Instituto de pesquisa social”.

O contexto das refl exões dessa escola são a sociedade em seu mais alto desenvolvimento tecnológico. Nessa sociedade tecnologia avançada, na era conhecida como pós Auschwitz, pós holocausto dos judeus. Como pretender certezas e pre-cisões em um mundo marcado pelos contrastes, incertezas e imprevisibilidades? Nesse contexto de absurdos, nasce o pressuposto que acompanha as refl exões desses pensadores: a falta de sentido da historia, a não identifi cação entre o real e o racional; ou seja, a realidade não tem uma lógica. Em suma, esse pressuposto pode ser sintetizado na expressão “dialética negativa”.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

266 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 2

Curso Enem 2019 | Filosofia

Da Filosofia Medieval: À Filosofia Moderna

so, que nasceu para realizar a humanidade, está destruindo precisamente seu objetivo primeiro, o homem e sua emanci-pação. Nesse contexto, os fi ns foram substituídos pelos meios, e a razão tornou-se instrumento para atingir fi ns, dos quais a razão está alienada, uma vez que o indivíduo perde a autono-mia racional.

E a grande pergunta e o grande desafi o que Horkheimer lan-ça é: que serviço a razão poderia prestar ao que atualmente se chama de “razão”? Seguramente, diz, a “denúncia do que é comumente chamado de razão”.

No texto a seguir, Horkheimer e Adorno criticam o iluminismo pela essência técnica de seu saber, que tudo reduz a objeto de exploração e manipulação.

Esse espírito vem sendo cultivado pelo liberalismo em todos os âmbitos da vida. Qualquer eventual cooperação que possa existir acontece motivada por interesses individuais envolvi-dos. Assim, na ação estratégica, não se dá ouvidos à argumen-tação do outro.

Nesse espírito de época, vivemos o desmoronamento das grandes narrativas, de cosmovisões metafísicas e religiosas. Há uma infi nidade de discursos individuais. Uma das maiores decorrências disso, para Habermas, verifi ca-se no horizonte das motivações pessoais. Estamos vivendo uma profunda cri-se na formação da vontade e na motivação racional e política dos indivíduos. Instaurou-se uma crise em vários âmbitos da vida.

Sob esse contexto ideológico, Habermas busca recuperar a dimensão emancipatória da razão moderna. Habermas parte do pressuposto de que a racionalidade humana apresenta a capacidade para deliberar e agir em função de interesses ra-cionais e coletivos. Mas essa capacidade precisa ser cultivada, aprendida.

Segundo Habermas, o maior desafi o para os homens na socie-dade contemporânea é a passagem da ação estratégia para a ação comunicativa. E por ação comunicativa entende as ações orientadas para o entendimento mútuo, superando a ênfase individualista da razão moderna. Ora, isso pressupõe aprendi-zagem de uma nova habilidade, a do diálogo, da discussão, do debate público, em busca de consensos.

Dessa forma, na ação comunicativa o foco está nos melhores objetivos a serem buscados coletivamente. As ações passarão a ser coordenadas. Nisso, verdadeiramente, resgata-se a de-mocracia. Uma democracia deliberativa, na qual os cidadãos participam de forma crítica e argumentativa. Com o diálogo, acontecerá a construção dos consensos, não havendo neces-sidade para estratégias de repressão e censura, pois o enten-dimento mútuo, com base em uma razão livre e crítica, será sufi ciente para estabelecer os contornos da vida social.

Habermas se mostra bem sensível ao pluralismo do mundo contemporâneo, que apresenta diferentes estilos de vida, to-dos igualmente legítimos e que deverão ter o espaço aberto à participação na construção dos consensos, que fortalecerão suas identidades pessoais, a partir do reconhecimento. Nesse encontro plural a questão motivadora do diálogo será: “o que é bom para todos por igual”? Nesse recorte moral, objetiva-se o que seja justo.

Desde sempre o iluminismo, no sentido mais abran-gente de um pensar que faz progressos, perseguiu o objetivo de livrar os homens do medo e de fazer deles senhores. Mas, completamente iluminada, a terra res-plandece sob o signo do infortúnio triunfal. O progra-ma do iluminismo era o de livrar o mundo do feitiço. Sua pretensão, a de dissolver os mitos e anular a ima-ginação, por meio do saber. [...]

O entendimento, que venceu a superstição, deve ter voz de comando sobre a natureza desenfeitiçada. Na escravização da criatura ou na capacidade de oposi-ção voluntária aos senhores do mundo, o saber que é poder não conhece limites.

Horkheimer e Adorno. São Paulo: Nova Cultural, 1991, p.3-5

14.8. Ética do discurso: da ação estratégica à ação Comunicativa

Jürgen Habermas é fi lósofo e sociólogo alemão, nascido em Düsseldorf em 18 de junho de 1929. Seu pensamento integra a tradição da teoria crítica, ligada à Escola de Frankfurt, especialmente em sintonia com Theodor Adorno e Herbert Marcuse. Da sociologia, herdou de Max Weber, especialmente, a infl uência em sua refl exão sobre racionalização da sociedade moderna.

Na dinâmica da refl exão da Escola de Frankfurt, seu pensa-mento situa-se sobre o tema das relações humanas, da ética e da política em sociedades afetadas pelo capitalismo avan-çado, com sensibilidade especial para o tema da democracia, de onde brota a sua refl exão sobre a ação humana orientada para o entendimento mútuo, para a construção de consensos universais.

Recordando a crítica da Escola de Frankfurt, a razão fi losófi ca, originalmente crítica, foi transformada, por meio do iluminis-mo moderno, em razão instrumental, técnica, manipulatória, a serviço dos interesses do capital, refém de um modelo econô-mico capitalista. Nesse âmbito impera a ação estratégica, em uma sociedade profundamente individualista, na qual cada indivíduo é estimulado a realizar os seus projetos individuais, por meio de estratégias que infl uenciem ou manipulem ou-tros indivíduos.

Todas as pessoas eventualmente concernidas chega-rem à convicção de que, em relação a uma matéria que precisa de regulamentação, um determinado modo de agir é igualmente bom para todos, elas considera-rão obrigatória essa práxis. O consenso alcançado no discurso tem, para os envolvidos, algo de relativamen-te defi nitivo. Ele não estabelece nenhum fato, mas ‘fundamenta’ uma norma, que não ‘consiste’ em outra coisa senão ‘merecer’ um reconhecimento intersubje-tivo – e os envolvidos partem da ideia de que podem estabelecer exatamente isso nas condições aproxima-tivamente ideais de um discurso racional

HABERMAS, Jürgen. Verdade e Justifi cação: ensaios fi losófi cos. Trad. Milton Camargo Mota. São Paulo: Loyola, 2004. pp. 291.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA267Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 2Da Filosofia Medieval: À Filosofia Moderna

Ao se concentrar nas dimensões da construção de consensos, reconhecemos que a ótica ou a ética de Habermas apresenta matriz universalista. Nessa ética, inicialmente, não existe um conteúdo defi nido. O mais importante, é que ela deve ser uma ética aberta, ou seja, acessível a qualquer pessoa interessada em participar publicamente das discussões, em busca das me-lhores decisões, e não somente de soluções simplistas e ime-diatistas. Por isso, essa ética não é conteudista, mas formalista, um ethos, um jeito de ser e de viver no qual as soluções são buscadas de forma colegiada e racional.

Por Discurso, Habermas entende a “forma de comunicação ca-racterizada pela argumentação”, na qual se considera a valides das pretensões de cada membro participante da discussão. Por isso, os discursos conduzem ao entendimento, uma vez que são marcados pela refl exividade.

Para que a ética do discurso tenha efetividade, para que fun-cione na prática, torna-se necessário um enorme investimen-to em educação política e uma profunda aprendizagem da razão comunicativa, argumentativa por todos os indivíduos. Além disso, é preciso que a instituições sociais e políticas se-jam também marcadas por essa racionalidade.

É sobre esse aspecto que Habermas insiste:

Toda a moral universalista assenta em formas de vida correspondentes. É necessário que exista certa har-monia entre esta moral universalista e as práticas de socialização e educação, que se constroem no con-trole da consciência fortemente interiorizado e que promovem identidades individuais relativamente abs-tratas. Uma moral universalista necessita também de uma certa harmonia com aquelas instituições políticas e sociais, nas quais já estão incorporadas concepções jurídicas e morais pós-convencionais.

HABERMAS, Jürgen. Comentários à ética do discurso. Lisboa: Instituto Piaget, 1999, p. 27. ( Fragmento).

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

268 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Filosofia

Exercícios

EXERCÍCIOS

1. Leia o fragmento a seguir:

No senso comum, costumamos ouvir expressões como: “gos-taria de ser livre feito um pássaro” ou “feliz é a borboleta que voa para onde quer”. Contudo, o voo livre de uma borboleta ou de um pássaro é uma ilusão, uma vez que se encontram determinados pelo instinto de sobrevivência típico de sua es-pécie. Não há liberdade quando o instinto governa. A liber-dade acontece à medida que reina a consciência, atributos exclusivamente humanos.

MEIER, Celito. Filosofia: por uma inteligência da complexidade. Belo Horizonte: PAX Editora, 2010. p.55-56

No âmbito das ciências humanas e sociais, cultura é compre-endida como o jeito de viver, o conjunto de costumes, tradi-ções e valores que identifica e, portanto, diferencia os grupos sociais que se formam no distanciamento sem ruptura da vida natural. Dessa forma, a cultura se transforma em uma espécie de segunda natureza para os homens.

Considerando a relação natureza e cultura, os elementos constitutivos dessa relação estabelecem que

a) o mundo natural, por não apresentar leis, convenções e pactos é o reino da liberdade fundamental, vivida sem restrições.

b) o universo da cultura apresenta determinismos que im-pedem a realização da liberdade, uma vez que limitam os seres humanos ao meio sociocultural.

c) o mundo natural apresenta limites aos animais, que não existem para os seres humanos, por estes serem absolu-tamente livres.

d) a cultura é compreendida como o singular jeito humano de viver, que se constrói na ruptura com o reino animal.

e) o que distingue a cultura da natureza é o universo da li-berdade e da consciência, atributos que fazem da cultura a segunda natureza dos homens.

2. Leia o fragmento que segue.

O homem é o resultado do meio cultural em que foi sociali-zado. Ele é um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquiridos pelas numerosas gerações que o antecederam. A manipulação ade-quada e criativa desse patrimônio cultural permite as inova-ções e as invenções. Estas não são, pois, o produto da ação isolada de um gênio, mas o resultado do esforço de toda uma comunidade. (...)

LARAIA, R.B . Cultura: Um conceito antropológico. RJ: Jorge Zahar ed. 2009. P.45

A distinção e a relação entre natureza e cultura devem-se, essencialmente, ao fato de

a) a cultura nascer devido a ação genial de alguns indiví-duos dotados de capacidades naturais distintivas e supe-riores.

b) a natureza animal ser o reino da liberdade e da esponta-neidade e a cultura ser o espaço que inviabiliza as liber-dades humanas.

c) a natureza humana trazer inscrita a cultura como evolu-ção natural, o que impossibilita a existência de indivíduos à margem da cultura.

d) a cultura ser processo e resultado acumulativo de huma-nização do animal homem, possibilitando e expressando conquistas materiais e espirituais.

e) a cultura, tanto quanto a herança genética, determinar o comportamento do homem, uma vez que os homens são simultaneamente natureza e cultura.

3. (Uel 2015) Leia os textos a seguir.

Sim bem primeiro nasceu Caos, depois também Terra de am-plo seio, de todos sede irresvalável sempre.

HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. 3.ed. Trad. de Jaa Torrano. São Paulo:

Iluminuras, 1995. p.91. 

Segundo a mitologia ioruba, no início dos tempos havia dois mundos: Orum, espaço sagrado dos orixás, e Aiyê, que seria dos homens, feito apenas de caos e água. Por ordem de Olo-rum, o deus supremo, o orixá Oduduá veio à Terra trazendo uma cabaça com ingredientes especiais, entre eles a terra es-cura que jogaria sobre o oceano para garantir morada e sus-tento aos homens.

“A Criação do Mundo”. SuperInteressante. jul. 2008. Disponível em: <http://su-

per.abril.com.br/religiao/criacaomundo-447670.shtm>. Acesso em: 1 abr. 2014. 

No começo do tempo, tudo era caos, e este caos tinha a for-ma de um ovo de galinha. Dentro do ovo estavam Yin e Yang, as duas forças opostas que compõem o universo. Yin e Yang são escuridão e luz, feminino e masculino, frio e calor, seco e molhado.

PHILIP, N. O Livro Ilustrado dos Mitos: contos e lendas do mundo. Ilustrado por

Nilesh Mistry. Trad. de Felipe Lindoso. São Paulo: Marco Zero, 1996. p.22.

Com base nos textos e nos conhecimentos sobre a passagem do mito para o logos na filosofia, considere as afirmativas a seguir.

I. As diversas narrativas míticas da origem do mundo, dos se-res e das coisas são genealogias que concebem o nascimento ordenado dos seres; são discursos que buscam o princípio que causa e ordena tudo que existe.

II. Os mitos representam um relato de algo fabuloso que afir-mam ter ocorrido em um passado remoto e impreciso, em ge-ral grandes feitos apresentados como fundamento e começo da história de dada comunidade.

III. Para Platão, a narrativa mitológica foi considerada, em cer-ta medida, um modo de expressar determinadas verdades que fogem ao raciocínio, sendo, com frequência, algo mais do que uma opinião provável ao exprimir o vir-a-ser.

IV. Quando tomado como um relato alegórico, o mito é redu-zido a um conto fictício desprovido de qualquer correspon-dência com algum tipo de acontecimento, em que inexiste relação entre o real e o narrado.

Assinale a alternativa correta. 

a) Somente as afirmativas I e II são corretas. 

b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. 

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA269Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 3Exercícios

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. 

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. 

e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. 

4. (Uel 2015) Leia o texto a seguir e responda à próxima ques-tão.

De onde vem o mundo? De onde vem o universo? Tudo o que existe tem que ter um começo. Portanto, em algum momento, o universo também tinha de ter surgido a partir de uma outra coisa. Mas, se o universo de repente tivesse surgido de alguma outra coisa, então essa outra coisa também devia ter surgido de alguma outra coisa algum dia. Sofia entendeu que só tinha transferido o problema de lugar. Afinal de contas, algum dia, alguma coisa tinha de ter surgido do nada. Existe uma subs-tância básica a partir da qual tudo é feito? A grande questão para os primeiros filósofos não era saber como tudo surgiu do nada. O que os instigava era saber como a água podia se transformar em peixes vivos, ou como a terra sem vida podia se transformar em árvores frondosas ou flores multicoloridas.

Adaptado de: GAARDER, J. O Mundo de Sofia. Trad. de João Azenha Jr. São Pau-

lo: Companhia das Letras, 1995. p.43-44. 

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o surgi-mento da filosofia, assinale a alternativa correta. 

a) Os pensadores pré-socráticos explicavam os fenômenos e as transformações da natureza e porque a vida é como é, tendo como limitador e princípio de verdade irrefutá-vel as histórias contadas acerca do mundo dos deuses. 

b) Os primeiros filósofos da natureza tinham a convicção de que havia alguma substância básica, uma causa oculta, que estava por trás de todas as transformações na natu-reza e, a partir da observação, buscavam descobrir leis naturais que fossem eternas. 

c) Os teóricos da natureza que desenvolveram seus siste-mas de pensamento por volta do século VI a.C. partiram da ideia unânime de que a água era o princípio original do mundo por sua enorme capacidade de transformação. 

d) A filosofia da natureza nascente adotou a imagem homé-rica do mundo e reforçou o antropomorfismo do mundo dos deuses em detrimento de uma explicação natural e regular acerca dos primeiros princípios que originam to-das as coisas. 

e) Para os pensadores jônicos da natureza, Tales, Anaxíme-nes e Heráclito, há um princípio originário único deno-minado o ilimitado, que é a reprodução da aparência sensível que os olhos humanos podem observar no nas-cimento e na degeneração das coisas. 

5. (Ueg 2013)

O ser humano, desde sua origem, em sua existência cotidiana, faz afirmações, nega, deseja, recusa e aprova coisas e pessoas, elaborando juízos de fato e de valor por meio dos quais procu-ra orientar seu comportamento teórico e prático. Entretanto, houve um momento em sua evolução histórico-social em que o ser humano começa a conferir um caráter filosófico às suas indagações e perplexidades, questionando racionalmente suas crenças, valores e escolhas. Nesse sentido, pode-se afir-mar que a filosofia

a) é algo inerente ao ser humano desde sua origem e que, por meio da elaboração dos sentimentos, das percep-ções e dos anseios humanos, procura consolidar nossas crenças e opiniões. 

b) existe desde que existe o ser humano, não havendo um local ou uma época específica para seu nascimento, o que nos autoriza a afirmar que mesmo a mentalidade mítica é também filosófica e exige o trabalho da razão. 

c) inicia sua investigação quando aceitamos os dogmas e as certezas cotidianas que nos são impostos pela tradição e pela sociedade, visando educar o ser humano como cidadão. 

d) surge quando o ser humano começa a exigir provas e justificações racionais que validam ou invalidam suas crenças, seus valores e suas práticas, em detrimento da verdade revelada pela codificação mítica.

6. (Ueg 2013)

O surgimento da filosofia entre os gregos (Séc. VII a.C.) é mar-cado por um crescente processo de racionalização da vida na cidade, em que o ser humano abandona a verdade revelada pela codificação mítica e passa a exigir uma explicação ra-cional para a compreensão do mundo humano e do mundo natural. Dentre os legados da filosofia grega para o Ocidente, destaca-se: 

a) a concepção política expressa em A República, de Platão, segundo a qual os mais fortes devem governar sob um regime político oligárquico. 

b) a criação de instituições universitárias como a Academia, de Platão, e o Liceu, de Aristóteles

c) A filosofia, tal como surgiu na Grécia, deixou-nos como legado a recusa de uma fé inabalável na razão humana e a crença de que sempre devemos acreditar nos senti-mentos. 

d) a recusa em apresentar explicações preestabelecidas me-diante a exigência de que, para cada fato, ação ou discur-so, seja encontrado um fundamento racional.

7. (Unb 2012)

No início do século XX, estudiosos esforçaram-se em mostrar a continuidade, na Grécia Antiga, entre mito e filosofia, opon-do-se a teses anteriores, que advogavam a descontinuidade entre ambos. 

A continuidade entre mito e filosofia, no entanto, não foi en-tendida univocamente. Alguns estudiosos, como Cornford e Jaeger, consideraram que as perguntas acerca da origem do mundo e das coisas haviam sido respondidas pelos mitos e pela filosofia nascente, dado que os primeiros filósofos ha-viam suprimido os aspectos antropomórficos e fantásticos dos mitos. Ainda no século XX, Vernant, mesmo aceitando cer-ta continuidade entre mito e filosofia, criticou seus predeces-sores, ao rejeitar a ideia de que a filosofia apenas afirmava, de outra maneira, o mesmo que o mito. Assim, a discussão sobre a especificidade da filosofia em relação ao mito foi retomada. 

Considerando o breve histórico acima, concernente à relação entre o mito e a filosofia nascente, assinale a opção que ex-

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

270 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Filosofia

Exercícios

pressa, de forma mais adequada, essa relação na Grécia An-tiga. 

a) O mito é a expressão mais acabada da religiosidade arcai-ca, e a filosofia corresponde ao advento da razão liberada da religiosidade. 

b) O mito é uma narrativa em que a origem do mundo é apresentada imaginativamente, e a filosofia caracteriza--se como explicação racional que retoma questões pre-sentes no mito. 

c) O mito fundamenta-se no rito, é infantil, pré-lógico e ir-racional, e a filosofia, também fundamentada no rito, cor-responde ao surgimento da razão na Grécia Antiga.

d) O mito descreve nascimentos sucessivos, incluída a ori-gem do ser, e a filosofia descreve a origem do ser a partir do dilema insuperável entre caos e medida. 

8. (Unicentro 2012)

A passagem do Mito ao Logos na Grécia antiga foi fruto de um amadurecimento lento e processual. Por muito tempo, essas duas maneiras de explicação do real conviveram sem que se traçasse um corte temporal mais preciso. Com base nessa afir-mativa, é correto afirmar: 

a) O modo de vida fechado do povo grego facilitou a passa-gem do Mito ao Logos. 

b) A passagem do Mito ao Logos, na Grécia, foi responsabi-lidade dos tiranos de Siracusa. 

c) A economia grega estava baseada na industrialização, e isso facilitou a passagem do Mito ao Logos. 

d) O povo grego antigo, nas viagens, se encontrava com outros povos com as mesmas preocupações e culturas, o que contribuiu para a passagem do Mito ao Logos. 

e) A atividade comercial e as constantes viagens oportuni-zaram a troca de informações/conhecimentos, a obser-vação/assimilação dos modos de vida de outros povos, contribuindo, assim, de modo decisivo, para a construção da passagem do Mito ao Logos. 

9. (Unesp 2012)

Aedo e adivinho têm em comum um mesmo dom de “vidên-cia”, privilégio que tiveram de pagar pelo preço dos seus olhos. Cegos para a luz, eles veem o invisível. O deus que os inspira mostra-lhes, em uma espécie de revelação, as realidades que escapam ao olhar humano. Sua visão particular age sobre as partes do tempo inacessíveis às criaturas mortais: o que acon-teceu outrora, o que ainda não é. 

(Jean-Pierre Vernant. Mito e pensamento entre os gregos, 1990.

O texto refere-se à cultura grega antiga e menciona, entre ou-tros aspectos, 

a) o papel exercido pelos poetas, responsáveis pela trans-missão oral das tradições, dos mitos e da memória. 

b) a prática da feitiçaria, estimulada especialmente nos perí-odos de seca ou de infertilidade da terra. 

c) o caráter monoteísta da sociedade, que impedia a difu-são dos cultos aos deuses da tradição clássica. 

d) a forma como a história era escrita e lida entre os povos da península balcânica. 

e) o esforço de diferenciar as cidades-estados e reforçar o isolamento e a autonomia em que viviam. 

10. (Ifsp 2011) Comparando-se mito e filosofia, é correto afir-mar o seguinte: 

a) A autoridade do mito depende da confiança inspirada pelo narrador, ao passo que a autoridade da filosofia re-pousa na razão humana, sendo independente da pessoa do filósofo. 

b) Tanto o mito quanto a filosofia se ocupam da explicação de realidades passadas a partir da interação entre for-ças naturais personalizadas, criando um discurso que se aproxima do da história e se opõe ao da ciência. 

c) Enquanto a função do mito é fornecer uma explicação parcial da realidade, limitando-se ao universo da cultura grega, a filosofia tem um caráter universal, buscando res-postas para as inquietações de todos os homens. 

d) Mito e filosofia dedicam-se à busca pelas verdades abso-lutas e são, em essência, faces distintas do mesmo pro-cesso de conhecimento que culminou com o desenvolvi-mento do pensamento científico. 

e) A filosofia é a negação do mito, pois não aceita contra-dições ou fabulações, admitindo apenas explicações que possam ser comprovadas pela observação direta ou pela experiência. 

11. Leia os trechos a seguir

Trecho 1

O mito é um sistema de comunicação, é uma mensagem. Eis por que não poderia ser um objeto, um conceito, ou uma ideia: ele é um modo de significação, uma forma... já que o mito é uma fala, tudo pode constituir um mito, desde que seja suscetível de ser julgado por um discurso. O mito não se defi-ne pelo objeto de sua mensagem, mas pela maneira como a profere: o mito tem limites formais, mas não substanciais.

BARTHES, Roland. Mitologias. Trad. Rita Buongermino e Pedro de Souza. 10. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. p.131.

Trecho 2

Lévi-Strauss mostrou que o Mito não é uma narrativa histórica, mas a representação generalizada de fatos que recorrem com uniformidade na vida dos homens: nascimento e morte, luta contra a fome e as forças da natureza, derrota e vitória, rela-cionamento entre os sexos. Por isso o Mito nunca reproduz a situação real, mas opõe-se a ela, no sentido de que a represen-tação é embelezada, corrigida e aperfeiçoada, expressando assim as aspirações a que a situação real dá origem.

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Tradução de Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes,

2007. P.786.

A partir da leitura desses trechos, o que melhor define o mito é o fato de que

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA271Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 3Exercícios

a) o mito pode estar presente em todos os conteúdos, uma vez que o que define o mito é a forma da abordagem.

b) a forma mítica de pensar e de falar é específica da infân-cia do ser humano; por isso, o ideal é a forma científica de ver o mundo.

c) a narrativa mítica retrata uma realidade histórica sobre a qual o ser humano sente profundo desconforto e da qual busca superação.

d) o mito é um discurso pronunciado com o objetivo de convencer sobre a presença de seres sobrenaturais no governo da vida humana.

e) a abordagem mítica denuncia os abusos e as pretensões da razão em querer explicar a totalidade da vida, sem alu-são às dimensões da emoção.

12. Leia o fragmento que segue

O mito é uma forma autônoma de pensamento e de vida. Nesse sentido, a validade e a função do mito não são secun-dárias e subordinadas em relação ao conhecimento racional, mas originárias e primárias, situando-se num plano diferen-te do plano do intelecto, porém dotado de igual dignidade.

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins fontes, 2007.

Com base nesse fragmento e em outras informações, o mito é uma forma de conhecimento que é

a) emotiva e pré-reflexiva, de natureza inferior ao conheci-mento filosófico.

b) argumentativa, buscando convencer a razão sobre a exis-tência de divindades.

c) intuitiva e particular, com o qual cada indivíduo organiza a sua vida subjetivamente.

d) específica dos homens primitivos, pois ainda não existia o saber científico.

e) poética e imaginativa, que nasce da insegurança humana e do desejo de sentido.

13. (UEL 2003) 

“Tales foi o iniciador da filosofia da physis, pois foi o primeiro a afirmar a existência de um princípio originário único, causa de todas as coisas que existem, sustentando que esse prin-cípio é a água. Essa proposta é importantíssima… podendo com boa dose de razão ser qualificada como a primeira pro-posta filosófica daquilo que se costuma chamar civilização ocidental.”

(REALE, Giovanni. História da filosofia: Antigüidade e Idade Média. São Paulo: Paulus, 1990. p. 29.)

A filosofia surgiu na Grécia, no século VI a.C. Seus primeiros filósofos foram os chamados pré-socráticos. De acordo com o texto, assinale a alternativa que expressa o principal proble-ma por eles investigado.

a) A ética, enquanto investigação racional do agir humano.

b) A estética, enquanto estudo sobre o belo na arte.

c) A epistemologia, como avaliação dos procedimentos científicos.

d) A cosmologia, como investigação acerca da origem e da ordem do mundo.

e) A filosofia política, enquanto análise do Estado e sua le-gislação.

14. (Ueg 2015)

A cultura grega marca a origem da civilização ocidental e ain-da hoje podemos observar sua influência nas ciências, nas ar-tes, na política e na ética. Dentre os legados da cultura grega para o Ocidente, destaca-se a ideia de que 

a) a natureza opera obedecendo a leis e princípios necessá-rios e universais que podem ser plenamente conhecidos pelo nosso pensamento. 

b) nosso pensamento também opera obedecendo a emo-ções e sentimentos alheios à razão, mas que nos ajudam a distinguir o verdadeiro do falso. 

c) as práticas humanas, a ação moral, política, as técnicas e as artes dependem do destino, o que negaria a existência de uma vontade livre. 

d) as ações humanas escapam ao controle da razão, uma vez que agimos obedecendo aos instintos como mostra hoje a psicanálise. 

15. (Uncisal 2012) 

O período pré-socrático é o ponto inicial das reflexões filo-sóficas. Suas discussões se prendem a Cosmologia, sendo a determinação da physis (princípio eterno e imutável que se encontra na origem da natureza e de suas transformações) ponto crucial de toda formulação filosófica. Em tal contexto, Demócrito afirma ser a realidade percebida pelos sentidos ilusória. Ele defende que os sentidos apenas capturam uma realidade superficial, mutável e transitória que acreditamos ser verdadeira. Mesmo que os sentidos apreendam “as muta-ções das coisas, no fundo, os elementos primordiais que cons-tituem essa realidade jamais se alteram.” Assim, a realidade é uma coisa e o real outra.

Para Demócrito a physis é composta:

a) pelas quatro raízes: úmido, seco, o quente e o frio

b) pela água

c) pelo fogo

d) pelo ilimitado

e) pelos átomos

16. (Uff 2010) 

“Nada do que foi será/ De novo do jeito que já foi um dia/ Tudo passa/ Tudo sempre passará/ A vida vem em ondas/ Como um mar/ Num indo e vindo infinito/ Tudo que se vê não é/ Igual ao que a gente/ Viu há um segundo/ Tudo muda o tempo todo/ No mundo/ Não adianta fugir/ Nem men-tir/ Pra si mesmo agora/ Há tanta vida lá fora/ Aqui dentro sempre/ Como uma onda no mar/ Como uma onda no mar/ Como uma onda no mar” (Lulu Santos e Nelson Motta).

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

272 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Filosofia

Exercícios

A letra dessa canção de Lulu Santos lembra ideias do filósofo grego Heráclito, que viveu no século VI a.C. e que usava uma linguagem poética para exprimir seu pensamento. Ele é o au-tor de uma frase famosa: “Não se entra duas vezes no mesmo rio”. Dentre as sentenças de Heráclito a seguir citadas, marque aquela em que o sentido da canção de Lulu Santos mais se aproxima:

a) A morte é tudo que vemos despertos, e tudo que vemos dormindo é sono.

b) O homem tolo gosta de se empolgar a cada palavra.

c) Ao se entrar num mesmo rio, as águas que fluem são outras.

d) Muita instrução não ensina a ter inteligência.

e) O povo deve lutar pela lei como defende as muralhas da sua cidade.

17. Leia o fragmento a seguir.

“Não menos que saber, duvidar me agrada.” afirma Dante. [...] A verdade e a razão são comuns a todos e não pertencem mais a quem as diz primeiro do que ao que as diz depois. Não é mais segundo Platão, do que segundo eu mesmo, que tal coisa se enuncia, desde que a compreendamos. [...] O provei-to de nosso estudo está em nos tornarmos melhores e mais avisados. É a inteligência que vê e ouve; é a inteligência que tudo aproveita, tudo dispõe, age, domina e reina. Tudo o mais é cego, surdo e sem alma. Certamente tornaremos a criança servil e tímida se não lhe dermos a oportunidade de fazer algo por si. [...] saber de cor não é saber: é conservar o que se entre-gou à memória para guardar. Do que sabemos efetivamente, dispomos sem olhar para o modelo, sem voltar os olhos para o livro.

MONTAIGNE, Michel de. Ensaios. Livro I. Cap. XXVI. Tradução de. Sérgio Milliet.

São Paulo: Novas cultural, 1991. P. 75-83 (Os pensadores)

Com base nesse fragmento e em outras informações, a filoso-fia deve ser compreendida como

a) saber que parte da dúvida e estabelece verdade univer-sais e perenes e as transmite aos humanos comuns.

b) herança cultural que encontra no recurso à autoridade uma das estratégias e critérios de conhecimento seguro.

c) atitude de diálogo de busca coletiva da verdade, uma vez que a razão é atributo comum a todos os homens e deve ser o guia da vida humana.

d) estudo sistemático sobre realidades essenciais e abstra-tas, desvinculado do viver cotidiano.

e) Inteligência diferente, capaz de reter as informações de forma privilegiada, distinguindo, por isso, os filósofos do comum dos mortais.

18. A filosofia é uma forma de conhecimento, um saber e uma atitude que tem em sua origem experiências humanas marca-das pela admiração ou indignação, pela problematização ou negação do saber culturalmente recebido, sendo, portanto,

uma forma de conhecimento que nasce como crítica do senso comum.

A partir disso, sobre o senso comum, infere-se que ele é uma forma de conhecimento que consiste em ser

a) atitude cética, fundamentada no princípio da dúvida uni-versal.

b) herança cultural, assimilada de forma mecânica e espon-tânea.

c) postura prática, amante da filosofia e da busca pela ver-dade.

d) saber marcado pelo bom senso, pois traz a sabedoria po-pular.

e) saber compartilhado, que não admite preconceitos e dis-criminações.

19. (...) Mas a arte, a ciência e a filosofia exigem mais: traçam planos sobre o caos. Essas três disciplinas não são como as religiões, que invocam dinastias de deuses, ou a epifania [ma-nifestação] de um Deus único, para pintar sobre o guarda-sol um firmamento, como as figuras de uma Urdoxa [crença origi-nária, certeza da crença] de onde derivariam nossas opiniões. A filosofia, a ciência e a arte querem que rasguemos o firma-mento e que mergulhemos no caos. Só o venceremos a este preço.

DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. O que é Filosofia? Rio de Janeiro, ed. 34, 1992. p. 259-261

Com base nesse fragmento e em outras informações, a filo-sofia é

a) atitude e saber que transforma fato em problema, con-siderando a passividade do senso comum inimiga da fi-losofia.

b) saber equiparado à arte e religião, uma vez que busca a paz de espírito longe dos conflitos cotidianos.

c) alimento para o espírito científico, por considerar a ciên-cia a única forma segura de conhecimento verdadeiro.

d) inimiga do caos, uma vez que a natureza da filosofia bus-ca certezas e não suporta a desordem do caos.

e) forma de conhecimento que tem por principal objetivo romper o firmamento, uma vez que a identidade filosófi-ca está na negação.

20. A opinião corrente é a de que a filosofia nada tem a dizer e carece de qualquer utilidade prática. [...] A oposição se traduz em fórmulas como: a filosofia é demasiado complexa; não a compreendo; está além do meu alcance; não tenho vocação para ela; e, portanto, não me diz respeito. Ora, isso equiva-le a dizer: é inútil o interesse por questões fundamentais da vida; cabe abster-se de pensar no plano geral para mergulhar, através de trabalho consciencioso [cuidadoso], num capítulo qualquer da atividade prática ou intelectual; quanto ao resto, basta ter “opiniões” e contentar-se com elas. Um instinto vital, ignorado de si mesmo, odeia a filosofia. Ela é perigosa. Se eu a compreendesse, teria de alterar minha vida. Adquiriria outro estado de espírito, veria as coisas a uma claridade insólita [não habitual, estranha], teria de rever meus juízos. [...] O problema

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA273Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 3Exercícios

crucial é o seguinte: a filosofia aspira à verdade total, que o mundo não quer. A filosofia é, portanto, perturbadora da paz.

(Karl JASPERS. Introdução ao pensamento filosófico. São Paulo: Cultrix, 1993)

Relacionando esse fragmento com a Alegoria da Caverna, de Platão, reconhecemos a singularidade da presença da filoso-fia, uma vez que

a) apresenta uma natureza muito elevada e inacessível à maioria dos mortais, sendo ciência de iniciados.

b) busca o impossível, um mundo metafísico, que transcen-de toda cotidianidade da vida, razão pela qual desperta o “estranhamento” do comum dos mortais.

c) é problematizadora do senso comum, buscando romper e superar a esfera das opiniões para concentrar-se no uni-verso reflexivo, em busca das ideias claras.

d) reforça o senso comum que, apesar de ser profundamen-te criticado, apresenta uma complexidade de saber, ca-paz de fornecer abrangente leitura da realidade.

e) traz a marca da crítica, sendo a sua essência marcada pela negatividade, mediante a constante procura por ruptu-ras.

21. No convite à comunidade acadêmica a participar da I Jornada de Filosofia Política da UnB, entre os dias 29 a 31 de outubro de 2013, na Universidade de Brasília – DF consta a seguinte reflexão:

“Há um intenso debate que vem ocorrendo no Brasil e no mundo em torno da articulação entre o pensamento e a vida, a política e a justiça, entre a teoria e a prática. O fato desses te-mas figurarem como importantes pontos de pauta na agenda nacional e internacional de nossa contemporaneidade revela o grande interesse da sociedade civil e da academia em discu-tir não só a filosofia como atividade formuladora de conceitos abstratos ou metafísicos, mas sobretudo em que medida o pensamento filosófico pode contribuir para a crítica e para a transformação da sociedade. O tema do engajamento consti-tui aspecto essencial para a filosofia política, que possui uma vocação eminentemente prática. O cenário atual mundial, e sobretudo, o brasileiro, apresentam um mosaico de proble-mas que exigem reflexão e uma intervenção filosófica. O pro-blema da desigualdade, do combate à miséria, do pluralismo cultural, da tolerância, da efetivação dos direitos humanos e da participação popular – noção reclamada publicamente por diversas manifestações no Brasil ocorridas recentemente são alguns exemplos”.

Disponível em https://www.facebook.com/jornada.unb. Acesso em 01/02/2019.

Com base nessa reflexão a natureza da filosofia vem apresen-tada como saber e atitude

a) eminentemente teórica e prática, na qual a teoria está em função da justificação das práticas sociais.

b) essencialmente política, que deve se traduzir-se na re-flexão filosófica de significativas questões sociais e no engajamento politico.

c) essencialmente destinado a formular conceitos abstratos e metafísicos, seguindo a tradição de sua presença na his-toria do pensamento ocidental.

d) que não deve ser instrumentalizado ou usado para pro-jetos políticos e partidários, pois isso desviaria o pensa-mento filosófico de seu objetivo principal.

e) que articula os âmbitos da teoria com a prática, na qual a prática é o campo no qual as clássicas teorias são tes-tadas.

22. “Talvez alguém diga: “ Sócrates, será que você não pode ir embora, nos deixar em paz e ficar quieto, calado?” Ora, eis a coisa mais difícil de convencer alguns de vocês. Pois, se eu dis-ser que tal conduta seria desobediência ao deus e que por isso não posso ficar quieto, vocês acharão que estou zombando e não acreditarão. E se disser que falar diariamente da virtude e das outras coisas sobre as quais me ouvem falar e questio-nar a mim e a outros é o bem maior do homem e que a vida que não se questiona não vale a pena viver, vão me acreditar menos ainda.(...) Porque se pensam que condenando homens à morte evitam a reprovação dos seus atos errôneos, estão enganados. Essa escapatória de modo algum é possível nem honrosa; a saída mais fácil e digna não é eliminar os outros, mas tornar-se bom ao máximo. E com essa profecia para os que me condenaram, retiro-me.

Platão, “Apologia de Sócrates”. In: MARCONDES, Danilo. Textos básicos de filoso-fia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 3.ed. Zahar: Rio de Janeiro, 2000.

Com base no fragmento acima, e em outras informações, considerando a reflexão realizada por Sócrates,

a) a presença da filosofia na ágora, na praça pública, é estí-mulo para a paz espiritual, o conforto da alma em tempos de inquietude.

b) a virtude é o ideal de vida e se torna objeto de ensino da filosofia socrática e consiste na aprendizagem da arte da oratória, da persuasão.

c) os motivos da condenação de Sócrates à morte referem--se à leviandade e futilidade de seu estilo de vida, escân-dalo para os cidadãos gregos.

d) a voz da consciência e guia da vida de sócrates é o daimo-nion, seu deus interior, que se manifestava para impedir a prática de uma ação injusta.

e) o foco da atuação filosófica consiste na atividade con-templativa, no afastamento das atividades políticas e no mergulho na vida interior.

23. O ingresso da massa na atividade política, causa originá-ria e característica da democracia, é um pressuposto histórico necessário para se colocarem conscientemente os problemas eternos que com tanta profundidade o pensamento grego se colocou naquela fase da sua evolução e legou à posteridade.

(W. Jaeger, Paidéia. São Paulo: Martins fontes, 2001.p. 337.)

“O homem é a medida de todas as coisas, daquelas que são por aquilo que são e daquelas que não são por aquilo que não são". (Protágoras)

A partir desses fragmentos e considerando outros conheci-mentos, a presença dos sofistas na emergente democracia grega significou

a) O início da formação do cidadão para a vida na pólis, me-diante discussões e diálogos sobre temas éticos e políti-

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

274 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Filosofia

Exercícios

cos, buscando definir as primeiras verdades e princípios universais.

b) A permanência da virtude política vinculada à aristocra-cia, de matriz guerreira, em conformidade com a qual o ateniense é considerado naturalmente virtuoso.

c) O nascimento do humanismo e do relativismo, relaciona-dos à formação da habilidade da oratória e da retórica persuasiva.

d) A retomada do naturalismo, afirmando que as cidades, as leis sociais devem ser construídas com base na ordem e nas leis naturais.

e) O ensino da virtude concebida como habilidade de au-todomínio, de domínio sobre as paixões desordenadas.

24. (ENEM 2017) Uma conversação de tal natureza transfor-ma o ouvinte; o contato de Sócrates paralisa e embaraça; leva a refletir sobre si mesmo, a imprimir à atenção uma direção incomum: os temperamentais, como Alcibíades, sabem que encontrarão junto dele todo o bem de que são capazes, mas fogem porque receiam essa influência poderosa, que os leva a se censurarem. É sobretudo a esses jovens, muitos quase crianças, que ele tenta imprimir sua orientação.

BRÉHIER, E. História da filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1977.

O texto evidencia características do modo de vida socrático, que se baseava na:

a) contemplação da tradição mítica.

b) sustentação do método dialético.

c) relativização do saber verdadeiro.

d) valorização da argumentação retórica.

e) investigação dos fundamentos da natureza.

25. (UNCISAL 2011) Na Grécia Antiga, o filósofo Sócrates fi-cou famoso por interpelar os transeuntes e fazer perguntas aos que se achavam conhecedores de determinado assunto. Mas durante o diálogo, Sócrates colocava o interlocutor em situação delicada, levando-o a reconhecer sua própria igno-rância. Em virtude de sua atuação, Sócrates acabou sendo condenado à morte sob a acusação de corromper a juventu-de, desobedecer às leis da cidade e desrespeitar certos valores religiosos. Considerando essas informações sobre a vida de Sócrates, assim como a forma pela qual seu pensamento foi transmitido, pode-se afirmar que sua filosofia

a) transmitia conhecimentos exclusivamente sob a forma escrita entre a população ateniense.

b) transmitia conhecimentos de natureza científica.

c) baseava-se em uma contemplação passiva da realidade.

d) ficou consagrada sob a forma de diálogos, posteriormen-te redigidos pelo filósofo Platão.

e) procurava transmitir às pessoas conhecimentos de natu-reza mitológica.

26. (UNICAMP 2013) A Sabedoria de Sócrates, filósofo ate-niense que viveu no século V a.C., encontra o seu ponto de

partida na afirmação “sei que nada sei”, registrada na obra Apologia de Sócrates. A frase foi uma resposta aos que afir-mavam que ele era o mais sábio dos homens. Após interrogar artesãos, políticos e poetas, Sócrates chegou à conclusão de que ele se diferenciava dos demais por reconhecer a sua pró-pria ignorância.

O “sei que nada sei” é um ponto de partida para a Filosofia, pois

a) aquele que se reconhece como ignorante torna-se mais sábio por querer adquirir conhecimentos

b) é um exercício de humildade diante da cultura dos sábios do passado, uma vez que a função da Filosofia era repro-duzir os ensinamentos dos filósofos gregos.

c) a dúvida é uma condição para o aprendizado e a Filosofia é o saber que estabelece verdades dogmáticas a partir de métodos rigorosos.

d) é uma forma de declarar ignorância e permanecer dis-tante dos problemas concretos, preocupando-se apenas com causas abstratas.

27. (UNIMONTES 2011) Lembremos a figura de Sócrates. Dizem que era um homem feio, mas, quando falava, exercia estranho fascínio. Podemos atribuir a Sócrates duas maneiras de se chegar ao conhecimento.

Essas duas maneiras são denominadas de

a) doxa e ironia.

b) Ironia e maiêutica.

c) maiêutica e doxa.

d) maiêutica e episteme.

28. (UEA 2013) O sofista é um diálogo de Platão do qual par-ticipam Sócrates, um estrangeiro e outros personagens. Logo no início do diálogo, Sócrates pergunta ao estrangeiro, a que método ele gostaria de recorrer para definir o que é um sofista. Sócrates: – Mas dize-nos [se] preferes desenvol-ver toda a tese que queres demonstrar, numa lon-ga exposição ou empregar o método interrogativo? Estrangeiro: – Com um parceiro assim agradável e dócil, Sócra-tes, o método mais fácil é esse mesmo; com um interlocutor. Do contrário, valeria mais a pena argumentar apenas para si mesmo.

(Platão. O sofista, 1970. Adaptado.)

É correto afirmar que o interlocutor de Sócrates escolheu, do ponto de vista metodológico, adotar

a) A maiêutica, que pressupõe a contradição dos argumen-tos.

b) a dialética, que une numa síntese final as teses dos con-tendores.

c) o empirismo, que acredita ser possível chegar ao saber por meio dos sentidos.

d) o apriorismo, que funda a eficácia da razão humana na prova de existência de Deus.

e) o dualismo, que resulta no ceticismo sobre a possibilida-de do saber humano.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA275Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 3Exercícios

29. (UFU 2012) Leia o trecho abaixo, que se encontra na Apo-logia de Sócrates de Platão e traz algumas das concepções filosóficas defendidas pelo seu mestre. Com efeito, senhores, temer a morte é o mesmo que se supor sábio quem não o é, porque é supor que sabe o que não sabe. Ninguém sabe o que é a morte, nem se, porventura, será para o homem o maior dos bens; todos a temem, como se soubessem ser ela o maior dos males. A ignorância mais condenável não é essa de supor saber o que não se sabe?

Platão, “A Apologia de Sócrates”, 29 a-b, In. HADOT, P. O que é a Filosofia Anti-ga? São Paulo: Ed. Loyola, 1999, p. 61.

Com base no trecho acima e na filosofia de Sócrates, assinale a alternativa INCORRETA.

a) Sócrates prefere a morte a ter que renunciar a sua missão, qual seja: buscar, por meio da filosofia, a verdade, para além da mera aparência do saber.

b) Sócrates leva o seu interlocutor a examinar-se, fazendo-o tomar consciência das contradições que traz consigo.

c) Para Sócrates, pior do que a morte é admitir aos outros que nada se sabe. Deve-se evitar a ignorância a todo cus-to, ainda que defendendo uma opinião não devidamente examinada.

d) Para Sócrates, o verdadeiro sábio é aquele que, coloca-do diante da própria ignorância, admite que nada sabe. Admitir o não-saber, quando não se sabe, define o sábio, segundo a concepção socrática.

30. (UNIOESTE 2010) O Oráculo de Delfos teria declarado que Sócrates (470-399 a.C.) era o mais sábio dos homens. Essa profecia marcou decisivamente a concepção socrática de Filo-sofia, pois sua verdade não era óbvia: “Logo ele, sem qualquer especialização, ele que estava ciente de sua ignorância? Logo ele, numa cidade [Atenas] repleta de artistas, oradores, políti-cos, artesãos? Sócrates parece ter meditado bastante tempo, buscando o significado das palavras da pitonisa. Afinal con-cluiu que sua sabedoria só poderia ser aquela de saber que nada sabia, essa consciência da ignorância sobre as coisas que era sinal e começo da autoconsciência.”

(J. A. M. Pessanha)

Sobre a filosofia de Sócrates, é INCORRETO afirmar que

a) a filosofia de Sócrates consiste em buscar a verdade, acei-tando as opiniões contraditórias dos homens; quanto mais importante era a posição social de um homem, mais verdadeira era sua opinião.

b) a sabedoria de Sócrates está em saber que nada sabe, en-quanto os homens em geral estão impregnados de pre-conceitos e noções incorretas, e não se dão conta disso.

c) o reconhecimento da própria ignorância é o primeiro passo para a sabedoria, pois, assim, podemos nos livrar dos preconceitos e abrir caminho para a verdade.

d) após muito questionar os valores e as certezas vigentes, Sócrates foi acusado de não respeitar os deuses oficiais (impiedade) e corromper a juventude; foi julgado e con-denado à morte por ingestão de cicuta.

e) o caminho socrático para a sabedoria deve ser trilhado pelo próprio indivíduo, que deve por ele mesmo reco-

nhecer seus preconceitos e opiniões, rejeitá-los e, através da razão, atingir a verdade imutável.

31. (UFU 2010) Em um importante trecho da sua obra Me-tafísica, Aristóteles se refere a Sócrates nos seguintes termos: Sócrates ocupava-se de questões éticas e não da natureza em sua totalidade, mas buscava o universal no âmbito daquelas questões, tendo sido o primeiro a fixar a atenção nas defini-ções.

(Aristóteles. Metafísica, A6, 987b 1-3. Tradução de Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 2002.)

Com base na filosofia de Sócrates e no trecho supracitado, assinale a alternativa correta.

a) Sócrates era, na verdade, um filósofo da natureza. Para ele, a investigação filosófica é a busca pela “Arché”, pelo princípio supremo do Cosmos. Por isso, o método socrá-tico era idêntico aos utilizados pelos filósofos que o ante-cederam (Pré-socráticos).

b) O método socrático era empregado simplesmente para ridicularizar os homens, colocando-os diante da própria ignorância. Para Sócrates, conceitos universais são ina-tingíveis para o homem; por isso, para ele, as definições são sempre relativas e subjetivas, algo que ele confirmou com a máxima “o Homem é a medida de todas as coisas”.

c) Sócrates desejava melhorar os seus concidadãos por meio da investigação filosófica. Para ele, isso implica não buscar “o que é”, mas aperfeiçoar “o que parece ser”. Por isso, diz o filósofo, o fundamento da vida moral é, em úl-tima instância, o egoísmo, ou seja, o que é o bem para o indivíduo num dado momento de sua existência.

d) O método utilizado por Sócrates consistia em um exer-cício dialético, cujo objetivo era livrar o seu interlocutor do erro e do preconceito − com o prévio reconhecimento da própria ignorância −, e levá-lo a formular conceitos de validade universal (definições).

32. (UFU 2013) Marque a alternativa que expressa correta-mente o pensamento de Sócrates.

a) O fim último do método dialético socrático era a refuta-ção do seu interlocutor. Assim sendo, é legítimo afirmar que o reconhecimento da própria ignorância equivale à constatação de que a verdade é relativa a cada indivíduo.

b) Sócrates é considerado um divisor de águas na Filosofia graças a sua teoria ética sobre a imobilidade do Ser. Por isso, sua missão sempre foi a investigação de um funda-mento absoluto da moral.

c) Sócrates estabelece uma ligação muito estreita entre o conhecimento da virtude e a ação humana, a ponto de sustentar que aquele que conhece o que é o correto não pode agir erroneamente, visto que o erro de conduta é fruto da ignorância sobre a verdade.

d) Sócrates fazia uso de um método refutativo de investiga-ção, o que significa que seu principal intento era levar o interlocutor à contradição, independentemente se o últi-mo estivesse ou não com a razão

33. (Uepa 2015) A massa popular é assimilável por natureza a um animal escravo de suas paixões e de seus interesses pas-sageiros, sensível à lisonja, inconstante em seus amores e seus

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

276 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Filosofia

Exercícios

ódios; confiar-lhe o poder é aceitar a tirania de um ser incapaz da menor reflexão e do menor rigor. Quanto às pretensas dis-cussões na Assembleia, são apenas disputas contrapondo opi-niões subjetivas, inconsistentes, cujas contradições e lacunas traduzem bastante bem o seu caráter insuficiente. 

(Citado por: CHATELET, F. História das Ideias Políticas. Rio de Janeiro: Zahar, 1997, p. 17)

Os argumentos de Platão, filósofo grego da antiguidade, evi-denciam uma forte crítica à:

a) oligarquia   

b) república   

c) democracia   

d) monarquia   

e) plutocracia

34. (Uel 2015) 

A arte de imitar está bem longe da verdade, e se executa tudo, ao que parece, é pelo facto de atingir apenas uma pequena porção de cada coisa, que não passa de uma aparição.

PLATÃO. A República. Trad. de Maria Helena R Pereira. Lisboa: Calouste Gul-benkian, 1993. p.457.

O imitar é congênito no homem e os homens se comprazem no imitado.

ARISTÓTELES. Poética. Trad. De Eudoro de Souza. São Paulo: Nova Cultural, 1991. p.203.

Com base nos textos, nos conhecimentos sobre estética e a questão da mímesis em Platão e Aristóteles, assinale a alter-nativa correta.

a) Para Platão, a obra do artista é cópia de coisas fenomêni-cas, um exemplo particular e, por isso, algo inadequado e inferior, tanto em relação aos objetos representados quanto às ideias universais que os pressupõem.   

b) Para Platão, as obras produzidas pelos poetas, pintores e escultores representam perfeitamente a verdade e a es-sência do plano inteligível, sendo a atividade do artista um fazer nobre, imprescindível para o engrandecimento da pólis e da filosofia.   

c) Na compreensão de Aristóteles, a arte se restringe à re-produção de objetos existentes, o que veda o poder do artista de invenção do real e impossibilita a função cari-catural que a arte poderia assumir ao apresentar os mo-delos de maneira distorcida.   

d) Aristóteles concebe a mímesis artística como uma ativi-dade que reproduz passivamente a aparência das coisas, o que impede ao artista a possibilidade de recriação das coisas segundo uma nova dimensão.   

e) Aristóteles se opõe à concepção de que a arte é imitação e entende que a música, o teatro e a poesia são incapazes de provocar um efeito benéfico e purificador no espec-tador.  

35. (Uel 2015) Leia o texto a seguir.

É pois manifesto que a ciência a adquirir é a das causas primei-ras (pois dizemos que conhecemos cada coisa somente quan-

do julgamos conhecer a sua primeira causa); ora, causa diz-se em quatro sentidos: no primeiro, entendemos por causa a substância e a essência (o “porquê” reconduz-se pois à noção última, e o primeiro “porquê” é causa e princípio); a segunda causa é a matéria e o sujeito; a terceira é a de onde vem o iní-cio do movimento; a quarta causa, que se opõe à precedente, é o “fim para que” e o bem (porque este é, com efeito, o fim de toda a geração e movimento). 

ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. Vincenzo C. São Paulo: Abril S. A. Cultural, 1984. p.16.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, assi-nale a alternativa que indica, corretamente, a ordem em que Aristóteles apresentou as causas primeiras.

a) Causa final, causa eficiente, causa material e causa formal.   

b) Causa formal, causa material, causa final e causa eficiente.   

c) Causa formal, causa material, causa eficiente e causa final.   

d) Causa material, causa formal, causa eficiente e causa final.   

e) Causa material, causa formal, causa final e causa eficiente.   

36. (Uel 2013) Tudo isso ela [Diotima] me ensinava, quando sobre as questões de amor [eros] discorria, e uma vez ela me perguntou: – que pensas, ó Sócrates, ser o motivo desse amor e desse desejo? A natureza mortal procura, na medida do pos-sível, ser sempre e ficar imortal. E ela só pode assim, através da geração, porque sempre deixa um outro ser novo em lugar do velho; pois é nisso que se diz que cada espécie animal vive e é a mesma. É em virtude da imortalidade que a todo ser esse zelo e esse amor acompanham.

(Adaptado de: PLATÃO. O Banquete. 4.ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p.38-39.) 

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o amor em Pla-tão, assinale a alternativa correta.

a) A aspiração humana de procriação, inspirada por Eros, restringe-se ao corpo e à busca da beleza física. 

b) O eros limita-se a provocar os instintos irrefletidos e vul-gares, uma vez que atende à mera satisfação dos apetites sensuais. 

c) O eros físico representa a vontade de conservação da es-pécie, e o espiritual, a ânsia de eternização por obras que perdurarão na memória. 

d) O ser humano é idêntico e constante nas diversas fases da vida, por isso sua identidade iguala-se à dos deuses.

e) Os seres humanos, como criação dos deuses, seguem a lei dos seres infinitos, o que lhes permite eternidade. 

37. (Ufu 2012) Em primeiro lugar, é claro que, com a expres-são “ser segundo a potência e o ato”, indicam-se dois modos de ser muito diferentes e, em certo sentido, opostos. Aristóte-les, de fato, chama o ser da potência até mesmo de não-ser, no sentido de que, com relação ao ser-em-ato, o ser-em-potência é não-ser-em-ato.

REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. Vol. II. Trad. de Henrique Cláudio.de Lima Vaz e Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 1994, p. 349.

A partir da leitura do trecho acima e em conformidade com a Teoria do Ato e Potência de Aristóteles, assinale a alternativa correta.

Page 44: Percurso - Enem - Filosofia 2019 - Final

TRODUÇÃO À FILOSOFIA277Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 3Exercícios

a) Para Aristóteles, ser-em-ato é o ser em sua capacidade de se transformar em algo diferente dele mesmo, como, por exemplo, o mármore (ser-em-ato) em relação à estátua (ser-em-potência). 

b) Segundo Aristóteles, a teoria do ato e potência explica o movimento percebido no mundo sensível. Tudo o que possui matéria possui potencialidade (capacidade de as-sumir ou receber uma forma diferente de si), que tende a se atualizar (assumindo ou recebendo aquela forma). 

c) Para Aristóteles, a bem da verdade, existe apenas o ser--em-ato. Isto ocorre porque o movimento verificado no mundo material é apenas ilusório, e o que existe é sem-pre imutável e imóvel. 

d) Segundo Aristóteles, o ato é próprio do mundo sensível (das coisas materiais) e a potência se encontra tão-so-mente no mundo inteligível, apreendido apenas com o intelecto. 

38. (Uncisal 2012) No contexto da Filosofia Clássica, Platão e Aristóteles possuem lugar de destaque. Suas concepções, que se opõem, mas não se excluem, são amplamente estu-dadas e debatidas devido à influência que exerceram, e ainda exercem, sobre o pensamento ocidental. Todavia é necessá-rio salientar que o produto dos seus pensamentos se insere em uma longa tradição filosófica que remonta a Parmênides e Heráclito e que influenciou, direta ou indiretamente, entre outros, os racionalistas, empiristas, Kant e Hegel.

Observando o cerne da filosofia de Platão, assinale nas opções abaixo aquela que se identifica corretamente com suas con-cepções.

a) A dicotomia aristotélica (mundo sensível X mundo inte-ligível) se opõe radicalmente as concepções de caráter empírico defendidas por Platão. 

b) A filosofia platônica é marcada pelo materialismo e prag-matismo, afastando-se do misticismo e de conceitos transcendentais. 

c) Segundo Platão a verdade é obtida a partir da observa-ção das coisas, por meio da valorização do conhecimento sensível. 

d) Para Platão, a realidade material e o conhecimento sensí-vel são ilusórios. 

e) As concepções platônicas negam veementemente a vali-dade do Inatismo. 

39. (Uel 2011) Para esclarecer o que seja a imitação, na rela-ção entre poesia e o Ser, no Livro X de A República, Platão par-te da hipótese das ideias, as quais designam a unidade na plu-ralidade, operada pelo pensamento. Ele toma como exemplo o carpinteiro que, por sua arte, cria uma mesa, tendo presente a ideia de mesa, como modelo. Entretanto, o que ele produz é a mesa e não a sua ideia. O poeta pertence à mesma categoria: cria um mundo de mera aparência.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria das ideias de Platão, é correto afirmar:

a) Deus é o criador último da ideia, e o artífice, enquanto co-participante da criação divina, alcança a verdadeira

causa das coisas a partir do reflexo da ideia ou do simu-lacro que produz. 

b) A participação das coisas às ideias permite admitir as re-alidades sensíveis como as causas verdadeiras acessíveis à razão. 

c) Os poetas são imitadores de simulacros e por intermé-dio da imitação não alcançam o conhecimento das ideias como verdadeiras causas de todas as coisas. 

d) As coisas belas se explicam por seus elementos físicos, como a cor e a figura, e na materialidade deles encon-tram sua verdade: a beleza em si e por si. 

e) A alma humana possui a mesma natureza das coisas sensíveis, razão pela qual se torna capaz de conhecê-las como tais na percepção de sua aparência.

40. (Uenp 2011) Platão foi um dos filósofos que mais influen-ciaram a cultura ocidental. Para ele, a filosofia tem um fim prá-tico e é capaz de resolver os grandes problemas da vida. Con-sidera a alma humana prisioneira do corpo, vivendo como se fosse um peregrino em busca do caminho de casa. Para tanto, deveria transpor os limites do corpo e contemplar o inteligí-vel. Assinale a alternativa correta.

a) A teoria das ideias não pode ser considerada uma chave de leitura aplicável a todo pensamento platônico. 

b) Como Sócrates, Platão desenvolveu uma ética racionalis-ta que desconsiderava a vontade como elemento funda-mental entre os motivadores da ação. Ele acreditava que o conhecimento do bem era suficiente para motivar a conduta de acordo com essa ideia (agir bem). 

c) Platão propõe um modelo de organização política da so-ciedade que pode ser considerado estamental e antide-mocrático. Para ele, o governo não deveria se pautar pelo princípio da maioria. As almas têm natureza diversa, de acordo com sua composição, isso faz com que os homens devam ser distribuídos de acordo com essa natureza, di-vididos em grupos encarregados do governo, do contro-le e do abastecimento da polis. 

d) Platão chamava o conhecimento da verdade de doxa e o contrapõe a uma outra forma de conhecimento (inferior) denominada episteme. 

e) Para Platão, a essência das coisas é dada a partir da análi-se de suas causas material e final. 

41. (Uel 2011) Platão, em A República, tem como objetivo principal investigar a natureza da justiça, inerente à alma, que, por sua vez, manifesta-se como protótipo do Estado ideal. Os fundamentos do pensamento ético-político de Platão decor-rem de uma correlação estrutural com constituição tripartite da alma humana. Assim, concebe uma organização social ide-al que permite assegurar a justiça. Com base neste contexto, o foco da crítica às narrativas poéticas, nos livros II e III, recai sobre a cidade e o tema fundamental da educação dos gover-nantes. No Livro X, na perspectiva da defesa de seu projeto éti-co-político para a cidade fundamentada em um logos crítico e reflexivo que redimensiona o papel da poesia, o foco desta crítica se desloca para o indivíduo ressaltando a relação com a alma, compreendida em três partes separadas, segundo Pla-tão: a racional, a apetitiva e a irascível.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

278 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Filosofia

Exercícios

Com base no texto e na crítica de Platão ao caráter mimético das narrativas poéticas e sua relação com a alma humana, é correto afirmar:

a) A parte racional da alma humana, considerada superior e responsável pela capacidade de pensar, é elevada pela natureza mimética da poesia à contemplação do Bem. 

b) O uso da mímesis nas narrativas poéticas para controlar e dominar a parte irascível da alma é considerado exce-lente prática propedêutica na formação ética do cidadão. 

c) A poesia imitativa, reconhecida como fonte de raciona-lidade e sabedoria, deve ser incorporada ao Estado ideal que se pretende fundar. 

d) O elemento mimético cultivado pela poesia é justamente aquele que estimula, na alma humana, os elementos irra-cionais: os instintos e as paixões. 

e) A reflexividade crítica presente nos elementos miméticos das narrativas poéticas permite ao indivíduo alcançar a visão das coisas como realmente são. 

42. (Uel 2012)

No ethos (ética), está presente a razão profunda da physis (natureza) que se manifesta no finalismo do bem. Por outro lado, ele rompe a sucessão do mesmo que caracteriza a physis como domínio da necessidade, com o advento do diferente no espaço da liberdade aberto pela práxis. Embora, enquanto autodeterminação da práxis, o ethos se eleve sobre a physis, ele reinstaura, de alguma maneira, a necessidade de a nature-za fixar-se na constância do hábito.

VAZ, Henrique C. Lima. Escritos de Filosofia II. Ética e Cultura. 3ª edição. São Paulo: Loyola. Coleção Filosofia - 8, 2000, p.11-12.)

Com base no texto, é correto afirmar que a noção de physis, tal como empregada por Aristóteles, compreende:

a) A disposição da ação humana, que ordena a natureza. 

b) A finalidade ordenadora, que é inerente à própria natu-reza. 

c) A ordem da natureza, que determina o hábito das ações humanas. 

d) A origem da virtude articulada, segundo a necessidade da natureza. 

e) A razão matemática, que assegura ordem à natureza. 

43. (Ufpa 2012)

Tendemos a concordar que a distribuição isonômica do que cabe a cada um no estado de direito é o que permite, do pon-to de vista formal e legal, dar estabilidade às várias modalida-des de organizações instituídas no interior de uma socieda-de. Isso leva Aristóteles a afirmar que a justiça é “uma virtude completa, porém não em absoluto e sim em relação ao nosso próximo”

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 332.

De acordo com essa caracterização, é correto dizer que a fun-ção própria e universal atribuída à justiça, no estado de direi-to, é

a) conceber e aplicar, de forma incondicional, ideias racio-nais com poder normativo positivo e irrestrito. 

b) instituir um ideal de liberdade moral que não existiria se não fossem os mecanismos contidos nos sistemas jurídi-cos. 

c) determinar, para as relações sociais, critérios legais tão universais e independentes que possam valer por si mes-mos. 

d) promover, por meio de leis gerais, a reciprocidade entre as necessidades do Estado e as de cada cidadão indivi-dualmente.

e) estabelecer a regência na relação mútua entre os ho-mens, na medida em que isso seja possível por meio de leis.

44. “A dialética é a única que, rejeitando sucessivamente as hipóteses, se eleva até o princípio mesmo para assegurar so-lidamente suas conclusões, a única sobre a qual é verdadeiro dizer que retira pouco a pouco o olho do lamaçal grosseiro em que está escondido e o eleva para o alto” (Platão, República, livro 7).

“Aquele que conhece a arte de interrogar e de responder, tu o chamas de outro modo que dialético?” (Platão, Crátilo)

Considerando o pensamento socrático-platônico, o conceito de dialética

a) traduz a arte de perguntar e de responder, sendo expres-são do relativismo que caracteriza a postura sofística.

b) evidencia o reconhecimento da multiplicidade de leitu-ras do real, o que conduz o investigador à suspensão do juízo acerca do que seja a essência do real

c) revela a impossibilidade de um conhecimento seguro, uma vez que tudo nessa vida é processo, mudanças sem fim.

d) expressa o método que rejeita novas hipóteses, uma vez que parte, de forma dedutiva, das verdades eternas.

e) é compreendido como método de divisão e técnica da mais alta investigação em busca da intuição da verdade de uma realidade.

45. Leia o fragmento a seguir, extraído de um diálogo entre Sócrates e Glauco.

SOCRATES ___ Agora imagina a maneira como segue o estado de nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de ca-verna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoços acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante de-les, pois as correntes os impedem de voltar a cabeça.[...].

PLATÃO. A República. Livro VII. Tradução Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova cul-tural, 2000. p.225

A partir desse fragmento do diálogo, considerando a alegoria

da caverna, de Platão,

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA279Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 3Exercícios

a) a caverna pode ser vista como símbolo do senso comum, realidade que o filósofo deverá sempre ignorar em seu caminhar.

b) a educação da alma do homem implica reviravolta e pu-rificação do olhar, que caminha da doxa à episteme, das opiniões em busca das ideias claras

c) a ignorância que caracteriza a realidade sensível, repre-sentada pela vida no interior da caverna, impossibilita a saída da ignorância.

d) a saída da caverna somente é possível mediante uma educação democrática, na qual todos tem acesso às mes-mas condições de chegar à felicidade politica.

e) o objetivo da filosofia é alcançar a contemplação das ideias. Ao realizar esse objetivo, o filósofo, finalmente, desvincula-se do comum dos mortais.

46. Leia os fragmentos a seguir

Os fins são vários e nós escolhemos alguns dentre eles [...] se-gue-se que nem todos os fins são absolutos; mas o sumo bem é claramente algo de absoluto. Portanto, só existe um fim ab-soluto [...]. Ora, nós chamamos de absoluto aquilo que merece ser buscado por si mesmo, e não com vistas em outra coisa; por isso chamamos de absoluto incondicional aquilo que é sempre desejável em si mesmo e nunca no interesse de outra coisa. Ora, esse é o conceito que preeminentemente fazemos da felicidade. [...]. Para o homem a vida conforme a razão é a melhor e a mais aprazível, pois que a razão, mais que qualquer outra coisa, é o homem. Donde se conclui que essa vida é tam-bém a mais feliz.

(ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, Livro I).

Estranho seria fazer do homem sumamente feliz um solitário, pois ninguém escolheria a posse do mundo sob a condição de viver só, já que o homem é um ser político e está em sua natureza o viver em sociedade.

(ARISTOTELES, Ética a Nicômaco. Livro V. 2)

Com base nesses fragmentos e em outras informações sobre o pensamento aristotélico, o conceito da felicidade se traduz como

a) dimensão particular e subjetiva, uma vez que os homens são movidos por seus interesses particulares.

b) fim último da vida, que pode receber diferentes formas, dependendo das orientações das paixões humanas que se encaminham para a honra, o sucesso ou a fama.

c) fim último conatural à virtude e fim último da vida, que não se subordina a nada, na qual o homem vive em con-formidade com as orientações da alma racional.

d) fim último, voltado à vida contemplativa e espiritual, re-servada aos homens livres, sem relação com as condições materiais da existência.

e) princípio afetivo que guia a vida humana, em conformi-dade com os desejos e as paixões que trazem bem estar físico e prosperidade.

47. Nossa investigação concerne à substância, já que os prin-cípios e causas que buscamos são as substâncias. [...] Eviden-cia-se, assim, por força da explicação dada acima que há uma substância que é eterna, imóvel, e independente das coisas sensíveis.

ARISTÓTELES, Metafísica. Trad. Edson Bini. Livro XII. 2ª ed. São Paulo: Edipro, 2012, p. 297ss

Em suas reflexões sobre ato e potência, Aristóteles afirma que

a) a substância consiste na forma de um objeto que sempre está em movimento de nova formação.

b) o ato puro é algo que não existe em lugar algum, não sendo possível pertencendo a qualquer ser.

c) em todo indivíduo humano existem muitas potencias que necessariamente se tornarão atos.

d) no horizonte final de nossas realizações, está o desafio de nos tornarmos ato puro.

e) a potência é uma possibilidade que está inscrita no ser, cuja atualização depende de cultivo.

48. É por força de seu maravilhamento que os seres huma-nos começam agora a filosofar e, originalmente, começaram a filosofar; maravilhando-se primeiramente ante perplexidades óbvias e, em seguida, por um processo gradual [...]. Ora, aque-le que se maravilha e está perplexo sente que é ignorante [...]. Portanto, se foi para escapar à ignorância que se estudou Filo-sofia, é evidente que se buscou a ciência por amor ao conheci-mento, e não visando qualquer utilidade prática.

ARISTÓTELES, Metafísica. Trad. Edson Bini. Livro I. 2ª Ed. São Paulo: Edipro, 2012, p. 44-46

Considerando essa reflexão, em conformidade com o pensa-mento de Aristóteles, afirma-se:

a) A busca por conhecimento verdadeiro tem por objetivo essencial a solução de algum problema prático.

b) A capacidade de maravilhar-se ou de ficar espantado diante de algo está na raiz da Filosofia.

c) A utilidade da filosofia consiste na elaboração de estraté-gias para destruir o argumento alheio.

d) A ignorância é a ausência de conhecimento e a consciên-cia dessa ausência está na contramão da filosofia.

e) A filosofia, devido ao encantamento, atribui aos deuses o destino das vidas humanas.

49. De acordo com Aristóteles, as proposições podem assumir quatro (4) formas lógicas: Particular afirmativa, particular ne-gativa, universal afirmativa, universal negativa. Algumas são subcontrárias e outras são contrárias. Assinale a alternativa na qual a segunda parte da sentença nega a primeira parte da sentença, sendo-lhe contrária.

a) Os brasileiros são passionais. Não, alguns brasileiros são passionais.

b) Nenhum europeu dança carnaval. Não, alguns europeus não dançam carnaval.

c) Alguns estudantes são estudiosos. Alguns estudantes não são estudiosos.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

280 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Filosofia

Exercícios

d) Todos os menores infratores da lei não vão para a cadeira. Nenhum menor infrator da lei vai para a cadeia.

e) Todos os matemáticos entendem de economia. Alguns matemáticos não entendem de economia.

50. O quadrado das oposições é um instrumento lógico que nos auxilia a negar corretamente as proposições. Assinale a alternativa abaixo na qual quadrado das oposições está cor-retamente colocado.

a) Todo europeu é disciplinado. OPOSIÇÃO: Nenhum euro-peu é disciplinado.

b) Todo religioso é fanático. OPOSIÇAO: Algum religioso é fanático

c) Nenhum brasileiro é budista. OPOSIÇÃO: Todo brasileiro é budista

d) Todo brasileiro é corrupto. OPOSIÇÃO: Algum brasileiro é não corrupto

e) Há aves que não voam. OPOSIÇÃO: Há aves que voam

51. Na argumentação lógica, as ideias são estruturadas de for-ma correta. E desse encadeamento lógico surgem a conclusão, que é sustentada pelas proposições anteriores, denominadas premissas. Classicamente, existem duas formas de argumen-tação: a dedução e a indução. Na dedução, a articulação das premissas consideradas verdadeiras conduz necessariamente à verdade da conclusão.

Com base nisso, assinale a alternativa que apresenta um ar-gumento dedutivo

a) Alguns irlandeses são protestantes; ora alguns protestan-tes jejuam. Logo alguns irlandeses jejuam.

b) Estudantes estudam 8 horas por dia. Bárbara é estudante. Portanto, Bárbara estuda 8 horas por dia.

c) Felipe é muito bom em Matemática e tem excelente ren-dimento em física. André é muito bom em Matemática. Logo, ela deverá ter excelente rendimento em Física.

d) O cobre é um ótimo condutor de eletricidade; o ferro é ótimo condutor de eletricidade. O ouro é excelente con-dutor de eletricidade. Ora, cobre, ferro e ouro são metais. Logo, os metais são excelentes condutores de eletricida-de.

e) Este livro de Hermann Hesse é excelente, gostei muito. Vou ler este outro livro aqui, que é do mesmo autor. Com certeza, vou gostar.

52. Nos raciocínios lógicos, as premissas podem ser verdadei-ras e a conclusão também ser verdadeira. Contudo, esse mes-mo raciocínio pode ser inválido, uma vez que não respeitou as regras da lógica. Assinale o raciocínio que em termos lógicos é argumento dedutivo válido.

a) O fanatismo é a expressão de cegueira racional. Pedro é fanático. Portanto, Pedro é racionalmente cego.

b) A filosofia transforma fato em problema. Platão transfor-ma fato em problema. Logo, Platão é filósofo.

c) A ciência usa o método empírico. Galileu usa o método empírico. Portanto, Galileu é cientista.

d) Bárbara, Débora e Rachel são estudantes de direito e amam filosofia. Zé Ramalho estuda direito, logo, deve amar filosofia.

e) Ontem encontrei treze idosos e todos afirmavam comer diariamente bastante proteína para a firmeza de seus músculos. Amanhã, encontrarei mais treze idosos. Segu-ramente, eles também deverão me informar que comem bastante proteína, diariamente.

53. A forma lógica que torna os argumentos válidos ou invá-lidos independe da verdade das premissas e da conclusão. Enquanto validade ou invalidade se referem aos argumentos, verdade ou falsidade se referem às sentenças. Dessa forma, podemos tanto encontrar argumentos válidos com conclusão falsa, quanto argumentos inválidos com conclusão verdadei-ra.

Uma das alternativas a seguir apresenta um argumento inváli-do, que pode ser verificado na alternativa que diz:

a) Etnocêntrica é a atitude de quem julga sua etnia superior a de outro. Peter julga sua cultura americana superior à cultura dos índios. Peter apresenta atitude etnocêntrica.

b) O ceticismo recusa a afirmação de uma verdade única e universal, sendo relativistas. Sexto Empírico é cético. Por-tanto, ele é relativista.

c) Nenhum sindicalista da CUT vai votar contra o a greve. André é sindicalista que não pertence à CUT. Logo, André vai votar contra a greve.

d) Todo comportamento humano é simbólico. Priscilla é hu-mana. Portanto, seu comportamento é simbólico

e) A programação genética caracteriza o comportamento dos animais. E onde já programação genética há deter-minismo. Portanto, um pássaro não é livre, pois segue o determinismo.

54. No pensamento lógico existe o raciocínio dedutivo, indu-tivo e por analogia. Considerando essa tipologia, infere-se de modo correto que

a) Na forma indutiva de argumentar, parte-se de uma tese geral e concluir-se, em afirmativas universais

b) Na argumentação dedutiva, tendo sido estabelecida a verdade das premissas, segue-se de modo lógico a ver-dade da conclusão.

c) Na argumentação dedutiva, não existe a possibilidade de haver argumento inválido.

d) No argumento indutiva, não há argumentos válidos, uma vez que as conclusões são apenas prováveis.

e) A comparação entre alternativas particulares sem con-clusão universal denomina-se dedução.

55. É preciso perceber que é a forma lógica que torna os argu-mentos válidos ou inválidos, independentemente da verdade das premissas e da conclusão. Enquanto validade ou invalida-de se referem aos argumentos, verdade ou falsidade se refe-rem às sentenças. Por isso, não basta a validade de um argu-mento para que tenhamos a verdade na conclusão de uma

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA281Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 3Exercícios

sentença. Dessa forma, podemos tanto encontrar argumentos válidos com conclusão falsa, quanto argumentos inválidos com conclusão verdadeira.

MEIER, Celito. Filosofia: Por uma inteligência da complexidade. Belo Horizonte: PAX Editora, 2010.

Nessa questão você deve avaliar a validade ou a invalidade lógica de um argumento. Uma das alternativas a seguir apre-senta um argumento válido, que pode ser verificado na alter-nativa que diz:

a) Nenhum deputado do PV vai votar contra a reforma po-lítica. Simão é deputado que não pertence ao PV. Logo, Simão vai votar contra a reforma política.

b) Todo brasileiro adora carnaval. Obama não é brasileiro, portanto, não adora carnaval.

c) Alguns alunos passaram na prova do ENEM. Logo, alguns alunos não passaram na prova do ENEM.

d) Todo brasileiro é torcedor do Flamengo; ora, Fidel Castro é brasileiro; logo, Fidel castro é torcedor do flamengo.

e) Algum latino-americano é argentino; ora, algum argenti-no é obeso; logo, algum latino latino-americano é obeso.

56. Nesta questão, existem argumentos válidos e inválidos. Assinale a alternativa que traz um argumento inválido.

a) Todas as baleias são mamíferos. Todos os mamíferos têm pulmões. Portanto, todas as baleias têm pulmões.

b) Todas as aranhas têm seis pernas. Todos os seres de seis pernas têm asas. Portanto, todas as aranhas têm asas

c) Se eu possuísse o ouro de Serra Pelada, seria muito rico. Não possuo o ouro de Serra Pelada. Portanto, não sou muito rico.

d) Nenhum vegetariano come carne. Magalhães é vegeta-riano. Portanto, Magalhães não come carne.

e) Países democráticos apresentam elevado nível de edu-cação. O Brasil é um país democrático. Brasil apresenta elevado nível de educação

57. Nesta questão, existem argumentos dedutivos e induti-vos. Assinale a alternativa que traz raciocínio construído com argumentação indutiva.

a) Mineiros gostam de pão de queijo. JK é mineiro. Portan-to, JK gosta de pão de queijo.

b) Ouve-se falar muito que os cariocas passam mais tempo na praia e nos bares bebendo do que no seu trabalho. Fe-lipe viveu 20 anos no Rio de Janeiro. Portanto, não deve ser uma boa ideia contratá-lo para esse cargo, pois exige muita dedicação, disciplina e amor ao trabalho.

c) Nenhum vegetariano come carne. Magalhães é vegeta-riano. Portanto, Magalhães não come carne.

d) Todo metal é condutor de eletricidade; ora, algum condu-tor de eletricidade é líquido; logo; algum metal é líquido

e) Todo gremista é sulista; ora, todo sulista é brasileiro. Logo, todo gremista é brasileiro.

58. Assinale a alternativa que representa argumentação vá-lida

a) Todos os homens são vertebrados. Eu sou vertebrado. Logo, sou homem.

b) Todos os japoneses são asiáticos. Nakamori é asiático. Logo, Nakamori é japonês

c) Alunos brilhantes são disciplinados. Alberto é disciplina-do. Alberto é aluno brilhante.

d) Professores excelentes adotam pedagogia crítica. Rafael adota pedagogia crítica. Rafael é excelente professor.

e) Excelentes centros educativos educam para a autonomia. O Determinante é um excelente centro educativo. O De-terminante educa para a autonomia.

59. (Enem 2016)  Pirro afirmava que nada é nobre nem ver-gonhoso, justo ou injusto; e que, da mesma maneira, nada existe do ponto de vista da verdade; que os homens agem apenas segundo a lei e o costume, nada sendo mais isto do que aquilo. Ele levou uma vida de acordo com esta doutrina, nada procurando evitar e não se desviando do que quer que fosse, suportando tudo, carroças, por exemplo, precipícios, cães, nada deixando ao arbítrio dos sentidos. 

LAÉRCIO, D. Vidas e sentenças dos filósofos ilustres. Brasília: Editora UnB, 1988.

O ceticismo, conforme sugerido no texto, caracteriza-se por:

a) Desprezar quaisquer convenções e obrigações da socie-dade.   

b) Atingir o verdadeiro prazer como o princípio e o fim da vida feliz.   

c) Defender a indiferença e a impossibilidade de obter al-guma certeza.   

d) Aceitar o determinismo e ocupar-se com a esperança transcendente.   

e) Agir de forma virtuosa e sábia a fim de enaltecer o ho-mem bom e belo.    

60. (Enem 2014) Alguns dos desejos são naturais e necessá-rios; outros, naturais e não necessários; outros, nem naturais nem necessários, mas nascidos de vã opinião. Os desejos que não nos trazem dor se não satisfeitos não são necessários, mas o seu impulso pode ser facilmente desfeito, quando é difícil obter sua satisfação ou parecem geradores de dano.

EPICURO DE SAMOS. “Doutrinas principais”. In: SANSON, V. F. Textos de filosofia. Rio de Janeiro: Eduff, 1974.

No fragmento da obra filosófica de Epicuro, o homem tem como fim

a) alcançar o prazer moderado e a felicidade.   

b) valorizar os deveres e as obrigações sociais.   

c) aceitar o sofrimento e o rigorismo da vida com resigna-ção.   

d) refletir sobre os valores e as normas dadas pela divinda-de.   

e) defender a indiferença e a impossibilidade de se atingir o saber.   

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

282 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Filosofia

Exercícios

61. (Ufsm 2013) 

A economia verde contém os seguintes princípios para o con-sumo ético de produtos: a matéria-prima dos produtos deve ser proveniente de fontes limpas e não deve haver desperdí-cio dos produtos. O Estado, entretanto, não impõe, até o pre-sente momento, sanções àqueles cidadãos que não seguem esses princípios.

Considere as seguintes afirmações:

I. Esses princípios são juízos de fato.

II. Esses princípios são, atualmente, uma questão de moralida-de, mas não de legalidade.

III. A ética epicurista, a exemplo da economia verde, propõe uma vida mais moderada.

Está(ão) correta(s)

a) apenas I.   

b) apenas I e II.   

c) apenas III.   

d) apenas II e III.   

e) I, II e III.  

62. (Ufsj 2012)  Sobre a ética na Antiguidade, é CORRETO afirmar que

a) o ideal ético perseguido pelo estoicismo era um estado de plena serenidade para lidar com os sobressaltos da existência.   

b) os sofistas afirmavam a normatização e verdades univer-salmente válidas.   

c) Platão, na direção socrática, defendeu a necessidade de purificação da alma para se alcançar a ideia de bem.   

d) Sócrates repercutiu a ideia de uma ética intimista voltada para o bem individual, que, ao ser exercida, se espargiria por todos os homens.   

63. (Unisc 2012) Nas suas Meditações, o filósofo estoico Mar-co Aurélio escreveu:

“Na vida de um homem, sua duração é um ponto, sua essên-cia, um fluxo, seus sentidos, um turbilhão, todo o seu corpo, algo pronto a apodrecer, sua alma, inquietude, seu destino, obscuro, e sua fama, duvidosa. Em resumo, tudo o que é re-lativo ao corpo é como o fluxo de um rio, e, quanto á alma, sonhos e fluidos, a vida é uma luta, uma breve estadia numa terra estranha, e a reputação, esquecimento. O que pode, por-tanto, ter o poder de guiar nossos passos? Somente uma úni-ca coisa: a Filosofia. Ela consiste em abster-nos de contrariar e ofender o espírito divino que habita em nós, em transcender o prazer e a dor, não fazer nada sem propósito, evitar a falsidade e a dissimulação, não depender das ações dos outros, aceitar o que acontece, pois tudo provém de uma mesma fonte e, so-bretudo, aguardar a morte com calma e resignação, pois ela nada mais é que a dissolução dos elementos pelos quais são formados todos os seres vivos. Se não há nada de terrível para esses elementos em sua contínua transformação, por que, en-tão, temer as mudanças e a dissolução do todo?”

Considere as seguintes afirmativas sobre esse texto:

I. Marco Aurélio nos diz que a morte é um grande mal.

II. Segundo Marco Aurélio, devemos buscar a fama, a riqueza e o prazer.

III. Segundo Marco Aurélio, conseguindo fama, podemos transcender a finitude da vida humana.

IV. Para Marco Aurélio, a filosofia é valiosa porque nos permite compreender que a morte é parte de um processo da na-tureza e assim evita que nos angustiemos por ela.

V. Para Marco Aurélio, só a fé em Deus e em Cristo pode liber-tar o homem do temor da morte.

VI. Para Marco Aurélio, o homem participa de uma realidade divina.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas I e V estão corretas.   

b) Somente as afirmativas I, II e III estão corretas.   

c) Somente as afirmativas IV e VI estão corretas.   

d) Todas as afirmativas estão corretas.   

e) Somente a afirmativa IV está correta.   

64. (Uenp 2011) Julgue as afirmações sobre a filosofia hele-nista.

I. É o último período da filosofia antiga, quando a pólis grega desaparece em razão de invasões sucessivas, por persas e romanos, sendo substituída pela cosmópolis, categoria de referência que altera a percepção de mundo do grego, prin-cipalmente no tocante à dimensão política.

II. É um período constituído por grandes sistemas e doutrinas que apresentam explicações totalizantes da natureza, do homem, concentrando suas especulações no campo da fi-losofia prática, principalmente da ética.

III. Surgem nesse período a filosofia estoica, o epicurismo, o ceticismo e o neoplatonismo.

Estão corretas as afirmativas:

a) Todas elas.   

b) Apenas I e II.   

c) Apenas III.   

d) Apenas II e III.   

e) Apenas I.   

65. (Ufsj 2011) . Sobre o ceticismo, é CORRETO afirmar que

a) os céticos buscaram uma mediação entre “o ser” e o “po-der-ser”.   

b) o ceticismo relativo tem no subjetivismo e no relativis-mo doutrinas manifestamente apoiadas em seu princípio maior: toda interatividade possível.   

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA283Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 3Exercícios

c) Protágoras (séc. V a.C.), relativista, afirmou que “o Homem só entende a natureza porque o conhecimento emana dela e nela se instala”.   

d) Górgias (485-380 a.C.) e Pirro (365-275 a.C.) são aponta-dos como possíveis fundadores do ceticismo absoluto.   

66. (Ueg 2011)  Em meados do século IV a.C., Alexandre Magno assumiu o trono da Macedônia e iniciou uma série de conquistas e, a partir daí, construiu um vasto império que incluía, entre outros territórios, a Grécia. Essa dominação só teve fim com o desenvolvimento de outro império, o romano. Esse período ficou conhecido como helenístico e representou uma transformação radical na cultura grega. Nessa época, um pensador nascido em Élis, chamado Pirro, defendia os funda-mentos do ceticismo. Ele fundou uma escola filosófica que pregava a ideia de que:

a) seria impossível conhecer a verdade.   

b) seria inadmissível permanecer na mera opinião.   

c) os princípios morais devem ser inferidos da natureza.   

d) os princípios morais devem basear-se na busca pelo pra-zer. 

67. (Uenp 2010) Sobre as escolas éticas do período helenís-tico, da antiguidade clássica da Filosofia Grega, associe a pri-meira com a segunda coluna e assinale e alternativa correta.

I. epicurismo

II. estoicismo

III. ceticismo

IV. ecletismo

A - É uma moral hedonista. O fim supremo da vida é o prazer sensível; o critério único de moralidade é o sentimento. Os prazeres estéticos e intelectuais são como os mais altos prazeres.

B - Visa sempre um fim último ético-ascético, sem qualquer metafísica, mesmo negativa.

C - Se nada é verdadeiro, tudo vale unicamente.

D - A paixão é sempre substancialmente má, pois é movimento irracional, morbo e vício da alma.

a) I – A, II – B, III – C, IV – D   

b) I – A, II – B, III – D, IV – C   

c) I – A, II – D, III – C, IV – B   

d) I – A, II – D, III – B, IV – C   

e) I – D, II – A, III – B, IV – C   

68. Epicurismo, estoicismo, ceticismo e cinismo são escolas helenísticas, que desenvolvem uma reflexão em torno de te-mas éticos e morais, em contexto de destruição da pólis, em tempos de cosmopolítica. Confrontando a estoicismo com o epicurismo, o que especifica o pensamento estóico é:

a) A construção de conceitos, fundamentado no racionalis-mo

b) A indiferença e o autocontrole, na aceitação dos aconte-cimentos da vida

c) A busca por prazer, definido como o objetivo da vida hu-mana.

d) Submissão ao destino, que representa um designio dos deuses

e) Amor à convenções culturais e a paixão pela vida política

69. (Uff 2010)  “Filosofia” (Noel Rosa)

O mundo me condena, e ninguém tem pena Falando sempre mal do meu nome

Deixando de saber se eu vou morrer de sede Ou se vou morrer de fome Mas a filosofia hoje me auxilia A viver indiferente assim Nesta prontidão sem fim Vou fingindo que sou rico Pra ninguém zombar de mim Não me incomodo que você me diga Que a sociedade é minha inimiga Pois cantando neste mundo Vivo escravo do meu samba, muito embora vagabundo Quanto a você da aristocracia Que tem dinheiro, mas não compra alegria Há de viver eternamente sendo escrava dessa gente Que cultiva hipocrisia.

Assinale a sentença do filósofo grego Epicuro cujo sig-nificado é o mais próximo da letra da canção “Filosofia”, composta em 1933 por Noel Rosa, em parceria com André Filho.

a) É verdadeiro tanto o que vemos com os olhos como aqui-lo que apreendemos pela intuição mental.  

b) Para se explicar os fenômenos naturais, não se deve re-correr nunca à divindade, mas se deve deixá-la livre de todo encargo, em sua completa felicidade.   

c) As leis existem para os sábios, não para impedir que co-metam injustiças, mas para impedir que as sofram.

d) A natureza é a mesma para todos os seres, por isso ela não fez os seres humanos nobres ou ignóbeis, e, sim suas ações e intenções.

e) Para sermos felizes, o essencial é o que se passa em nosso interior, pois é deste que nós somos donos.  

70. Bayle, no seu “Dicionário histórico e crítico”,  atribui dois princípios ao pirronismo: "que a natureza absoluta e interior dos objetos nos é escondida e que somente podemos es-tar seguros de como eles [os objetos] nos parecem a certos respeitos" ("Pirro" txt, p. 734). O primeiro diz respeito à parte crítica do pirronismo, em que se denunciam as pretensões dogmáticas, enquanto o segundo apresenta sua parte positi-va. Para compreender adequadamente o ceticismo, é preciso entender sua atitude diante da pretensão filosófica de ter um conhecimento absoluto da natureza das coisas, bem como sua doutrina sobre o que é possível dizer sobre as coisas.

(SMITH, Plínio Junqueira. Bayle e o ceticismo antigo In: Krite-rion vol.48 no.115 Belo Horizonte  2007)

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

284 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Filosofia

Exercícios

A partir desse fragmento, sobre o ceticismo é correto afirmar que ele é a

a) doutrina científica que afirma serem as evidencias racio-nais extraíveis da atividade intramental, sem vínculo com a experiência.

b) doutrina do constante questionamento, especialmente no que se refere a questões metafísicas, dogmáticas e religiosas.

c) doutrina científica que combate o dogmatismo, afirman-do que a verdade absoluta existe somente no âmbito da experiência.

d) doutrina filosófica que renuncia à busca pela verdade e afirma que o princípio e o fim da vida é o prazer.

e) doutrina científica que persegue a essência dos fenôme-nos para alcançar a ataraxia, que resulta desse conheci-mento.

71. Deus não pode infundir no homem opiniões ou uma fé que vão contra os dados do conhecimento adquirido pela ra-zão natural. (...) Do exposto se infere: quaisquer que sejam os argumentos que se aleguem contra a fé cristã, não procedem retamente dos primeiros princípios inatos à natureza e conhe-cidos por si mesmos. Por conseguinte, não possuem valor de-monstrativo, não passando de razões de probabilidade. E não é difícil refutá-los.

Tomás de Aquino. Contra os gentios. São Paulo: Abril Cultural, 1973 p. 70 ( Col.

Os pensadores).

A partir desse trecho e de outras informações sobre a relação fé e razão, no pensamento de Tomás de Aquino, é correto afir-mar que

a) a razão, afetada pela fragilidade da condição humana, deve aceitar as verdades da fé, mesmo que irracionais e contraditórias.

b) a inteligência e a vontade do homem são instâncias ne-cessárias de suficientes para conferir livremente sentido à vida.

c) existe harmonia fundamental entre fé e razão, devendo a razão ser capaz de articular o conhecimento das rea-lidades criadas, objeto da revelação divina, de forma ar-gumentativa.

d) a fé se encontra subordinada à razão, que a potencializa para aproximar-se do Mistério, buscando sua compreen-são.

e) a razão deve renunciar à tentativa de justificar as verdade da fé cristã, uma vez que estas procedem diretamente de Deus.

72. (ENEM/1999) "(...) de modo particular, quero encorajar os crentes empenhados no campo da filosofia para que ilu-minem os diversos âmbitos da atividade humana, graças ao exercício de uma razão que se torna mais segura e perspicaz com o apoio que recebe da fé."

(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides et Ratio aos bispos da Igreja católica

sobre as relações entre fé e razão, 1998)

"As verdades da razão natural não contradizem as verdades da fé cristã."(Santo Tomás de Aquino )

Refletindo sobre os textos, pode-se concluir que:

a) a encíclica papal está em contradição com o pensamen-to de Santo Tomás de Aquino, refletindo a diferença de épocas.

b) a encíclica papal procura complementar Santo Tomás de Aquino, pois este colocava a natural acima da fé.

c) a Igreja medieval valorizava a razão mais do que a encícli-ca de João Paulo II.

d) o pensamento teológico teve sua importância na Idade Média, mas, em nossos dias, não tem relação com o pen-samento filosófico.

e) tanto a encíclica papal como a frase de Santo Tomás de Aquino procuram conciliar os pensamentos sobre fé e razão

73. Procurei o que era a maldade e não encontrei uma subs-tância, mas sim uma perversão da vontade desviada da subs-tância suprema __ de vós, ó Deus __ e tendendo para as coisas baixas: vontade que derrama as suas entranhas e se levanta com intumescência [vaidade, soberba] (...)

O corpo, devido ao peso, tende para o lugar que lhe é próprio, porque o peso não tende só para baixo, mas também para o lugar que lhe é próprio. Assim, o fogo encaminha-se para cima e a pedra para baixo. Movem-se segundo seu peso. Di-rigem-se para o lugar que lhes compete. O azeite derramado sobre a água aflora à superfície; a água vertida sobre o azeite submerge-se debaixo deste: movem-se segundo seu peso e dirigem-se para o lugar que lhes compete. As coisas que não estão no próprio lugar agitam-se, mas quando o encontram, ordenam-se e repousam. O meu amor é o meu peso. Para qualquer parte que vá, é ele quem me leva.

Agostinho, As confissões. Livro VII,16 e VIII, 9. Trad. J. Oliveira Santos e Ambró-sio Pina. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

Em conformidade com o pensamento patrístico de Agostinho, presente nos fragmentos acima, sua concepção de mal afirma que:a) metafisicamente, o mal é um mistério dentro do qual o

ser humano se move. Torna-se impossível aos homens afastarem-se desse âmbito

b) moralmente, o mal é uma criação da cultura, na qual os interesses individuais se sobrepõem às necessidades do corpo coletivo

c) fisicamente, o mal se identifica com a fragilidade e a morte, uma vez que os homens aspiram à vida eterna e a morte representa o fim desse ideal de vida

d) o mal consiste na falta, na desmedida, na inversão do amor, no apego às coisas terrenas, na perversão da von-tade desviada de sua vocação primeira.

e) a realização da vocação humana acontece no exercício do livre-arbítrio, sendo o mal a renúncia ao exercício do livre arbítrio.

74. Não obstante tudo isso [a criação do Universo, pelo Su-premo Arquiteto e Pai], ao término do seu labor, desejava o

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA285Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 3Exercícios

Artífice que existisse alguém capaz de compreender o sentido de tão grande obra, que amasse sua beleza e contemplasse a sua grandiosidade. (...) Tomou então o homem, essa obra de tipo indefinido e, tendo-o colocado no centro do universo, fa-lou-lhe nesses termos:

“A ti, ó Adão, não te temos dado, nem um lugar determinado, nem um aspecto próprio, nem qualquer prerrogativa só tua, para que obtenhas e conserves o lugar, o aspecto e as prerro-gativas que desejares, segundo tua vontade e teus motivos. A natureza limitada dos outros está contida dentro das leis por nós prescritas. Mas tu determinarás a tua sem estar constrito por nenhuma barreira, conforme teu arbítrio, a cujo poder eu te entreguei. Coloquei-te no meio do mundo para que, daí, tu percebesses tudo o que existe no mundo. Não te fiz celeste nem terreno, mortal nem imortal, para que, como livre e so-berano artífice, tu mesmo te esculpisses e te plasmasses na forma que tivesses escolhido. Tu poderás degenerar nas coisas inferiores, que são brutas, e poderás, segundo o teu querer, regenerar-te nas coisas superiores, que são divinas”. (...)

(MIRANDOLA , Pico Della. A dignidade humana. Trad. Luis Feracine. São Paulo:

Ed. Escala. pp. 39-42)

Com base nesse trecho renascentista, que resgata o humanis-mo, é possível afirmar que

a) a ciência divina, que tudo criou, estabeleceu para o ser humano um destino que ele deverá realizar, conciliando liberdade e obediência.

b) a dignidade humana, que difere o ser humano dos de-mais animais, está na liberdade da automodelação e au-todestinação.

c) a finitude ou a realidade limitada e mortal do ser huma-no é uma dimensão essencial, presente desde a criação do ser humano por Deus.

d) a graça divina, que acompanha o ser humano, impede a queda humana na degradação e degeneração.

e) o homem foi criado por Deus para a imortalidade. Mas, devido ao pecado, tornou-se mortal, como castigo pela sua transgressão.

75. Esse o homem novo do Renascimento: aquele que se li-berta da tradição pela dúvida e confirma seu valor através dos resultados de seus esforços; aquele que confia em suas expe-riências e em sua razão; o que confia no novo, pois assume sua realização dentro da temporalidade.

PESSANHA, José Américo Motta. Humanismo e pintura.

In: NOVAES, Adauto. Artepensamento. São Paulo: Companhia das Letras,1994.

P. 34

Com o Renascimento renascem os estudos científicos e o in-teresse pela vida social. A partir do fragmento acima, o que melhor caracteriza o renascimento é

a) o ideal da vida contemplativa, uma vez que a libertação da tradição cristã e medieval remete o homem para o ócio e a criação artística.

b) o saber que parte da dúvida e estabelece verdade uni-versais e dogmáticas, reforçando o principio da objetivi-dade.

c) o retorno à tradição grega, que encontra no recurso à au-toridade uma das estratégias e critérios de conhecimen-to seguro.

d) o resgate da experiência e a valorização da razão como critérios e guias no caminho do conhecimento verdadei-ro.

e) o estudo sistemático sobre realidades essenciais e meta-físicas, transcendendo as realidades temporais.

76. “Os que se dedicam à critica das ações humanas jamais se sentem tão embaraçados como quando procuram agrupar e harmonizar sob uma mesma luz todos os atos dos homens, pois estes se contradizem comumente e a tal ponto que não parecem provir de um mesmo indivíduo. (...). Nossa maneira habitual de fazer está em seguir os nossos impulsos instintivos para a direita ou para a esquerda, para cima ou para baixo, segundo as circunstâncias. Só pensamos no que queremos no próprio instante em que o queremos, e mudamos de vontade como muda de cor o camaleão”.

MONTAIGNE, M. Ensaios. Livro II. Cap. I. Trad. Sérgio Milliet. São Paulo: Nova cultural, 1991. P.157. (col. Os pensadores)

Em conformidade com o fragmento acima, sobre as condi-ções do agir humano, é coerente afirmar que

a) a obediência às metas previamente estabelecidas é o ca-minho para realizar a potencia racional que os homens carregam em si.

b) a dimensão racional do ser humano possibilita buscar e alcançar o nexo causal existente nas ações humanas.

c) existe no ser humano um principio racional comum a todos, capaz de ordenar e interpretar a lógica das ações humanas.

d) os homens, naturalmente, agem movidos por suas pai-xões e impulsos, dos quais derivam a imprevisibilidade e a inconstância de suas ações.

e) o ser humano, pelo fato de ser livre e consciente, torna-se responsável pelas consequências de seus atos, individual e coletivamente.

77. (ENEM 2010) O príncipe, portanto, não deve se incomo-dar com a reputação de cruel, se seu propósito é manter o povo unido e leal. De fato, com uns poucos exemplos duros poderá ser mais clemente do que outros que, por muita pie-dade, permitem os distúrbios que levem ao assassínio e ao roubo.

(MAQUIAVEL, N. O Príncipe. São Paulo: Martin Claret, 2009.)

No século XVI, Maquiavel escreveu O Príncipe, reflexão sobre a Monarquia e a função do governante. A manutenção da ordem social, segundo esse autor, baseava-se na

a) inércia do julgamento de crimes polêmicos.

b) bondade em relação ao comportamento dos mercená-rios.

c) compaixão quanto à condenação de transgressões reli-giosas.

d) neutralidade diante da condenação dos servos.

Page 53: Percurso - Enem - Filosofia 2019 - Final

TRODUÇÃO À FILOSOFIA

286 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Filosofia

Exercícios

e) conveniência entre o poder tirânico e a moral do prínci-pe.

78. (UNICAMP 2016).

Quanto seja louvável a um príncipe manter a fé, aparentar vir-tudes e viver com integridade, não com astúcia, todos o com-preendem; contudo, observa-se, pela experiência, em nossos tempos, que houve príncipes que fizeram grandes coisas, mas em pouca conta tiveram a palavra dada, e souberam, pela astúcia, transtornar a cabeça dos homens, superando, enfim, os que foram leais (...). Um príncipe prudente não pode nem deve guardar a palavra dada quando isso se lhe torne prejudi-cial e quando as causas que o determinaram cessem de existir.

(Maquiavel. O Príncipe. São Paulo: Nova Cultural, 1997, p. 73-85.)

A partir desse excerto da obra, publicada em 1513, é correto afirmar que:

a) O jogo das aparências e a lógica da força são algumas das principais artimanhas da política moderna explicitadas por Maquiavel

b) A prudência, para ser vista como uma virtude, não de-pende dos resultados, mas de estar de acordo com os princípios da fé.

c) Os princípios e não os resultados é que definem o julga-mento que as pessoas fazem do governante, por isso é louvável a integridade do príncipe.

d) A questão da manutenção do poder é o principal desafio ao príncipe e, por isso, ele não precisa cumprir a palavra dada, desde que autorizado pela Igreja.

79. (Enem 2013)

Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temi-do ou temido que amado. Responde-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque dos homens se pode dizer, duma maneira geral, que são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro, e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, ofe-recem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos, quando, como acima disse, o perigo está longe; mas quando ele chega, re-voltam-se.

( MAQUIAVEL, N. O príncipe. RJ: Bertrand, 1991.)

A partir da análise histórica do comportamento humano em suas relações sociais e políticas, Maquiavel define o homem como um ser:

a) munido de virtude, com disposição nata a praticar o bem a si e aos outros.

b) possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para alcan-çar êxito na política.

c) guiado por interesses, de modo que suas ações são im-previsíveis e inconstantes.

d) naturalmente racional, vivendo em um estado pré-social e portando seu direitos naturais.

e) sociável por natureza, mantendo relações pacíficas com seus pares.

80. (Enem 2012) Não ignoro a opinião antiga e muito difun-dida de que o que acontece no mundo é decidido por Deus e pelo acaso. Essa opinião é muito aceita em nossos dias, devido às grandes transformações ocorridas, e que ocorrem diaria-mente, as quais escapam à conjectura humana. Não obstante, para não ignorar inteiramente o nosso livre-arbítrio, creio que se pode aceitar que a sorte decida metade dos nossos atos, mas [o livre-arbítrio] nos permite o controle sobre a outra me-tade.

MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Brasília: EdUnB, 1979 (adaptado).

Em O Príncipe, Maquiavel refletiu sobre o exercício do poder em seu tempo. No trecho citado, o autor demonstra o vínculo entre o seu pensamento político e o humanismo renascentis-ta ao

a) valorizar a interferência divina nos acontecimentos defi-nidores do seu tempo

b) rejeitar a intervenção do acaso nos processos políticos

c) afirmar a confiança na razão autônoma como fundamen-to da ação humana.

d) romper com a tradição que valorizava o passado como fonte de aprendizagem.

e) redefinir a ação política com base na unidade entre fé e razão.

81. Admite-se de maneira geral que o século XVII sofreu e re-alizou uma radicalíssima revolução espiritual de que a ciência moderna é ao mesmo tempo a raiz e o fruto. Alguns historia-dores viram seu aspecto mais característico na secularização da consciência, seu afastamento de metas transcendentes para objetivos imanentes, ou seja, a substituição da preocu-pação pelo outro mundo e pela outra vida pela preocupação com esta vida e este mundo. Para outros autores, sua carac-terística mais assinalada foi a descoberta, pela consciência humana, de sua subjetividade essencial e, por conseguinte, a substituição do objetivismo dos medievos e dos antigos pelo subjetivismo dos modernos; outros ainda creem que o aspec-to mais destacado daquela revolução terá sido a mudança de relação entre teoria e práxis, o velho ideal da vida contempla-tiva cedendo lugar ao da vita activa. Enquanto o homem me-dieval e o antigo visavam à pura contemplação da natureza e do ser, o moderno deseja a dominação e a subjugação.

KOYRÉ, Alexandre. Do mundo fechado ao universo infinito. RJ/SP, Forense:

1979. p 13-14.

A partir desse fragmento, a melhor afirmativa para caracteri-zar o significado da revolução científica do século XVII refere--se ao fato de que ela

a) destruiu o princípio da dúvida e da incerteza, em nome de uma verdade que possa ser aplicada universalmente.

b) construiu a passagem para o objetivismo, no qual a ver-dade representa uma realidade objetiva, externa e ante-rior ao sujeito.

c) resgatou a preocupação com metas que transcendem o imediatismo do mundo presente, buscando conhecer as causas e as finalidades dos movimentos dos corpos.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA287Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 3Exercícios

d) implicou a passagem de uma visão objetivista de mundo hierarquizado e ordenado para uma noção de universo infinito, regido por leis passíveis de estudo.

e) realizou profunda crítica à mentalidade secularizada, uma vez que reconhece a importância da dimensão reli-giosa, ainda que privatizada.

82. ( Enem 2012)

TEXTO I Experimentei algumas vezes que os sentidos eram engano-sos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez.

DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

TEXTO II

Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma ideia esteja sendo empregada sem nenhum significado, precisare-mos apenas indagar: de que impressão deriva esta suposta ideia? E se for impossível atribuir-lhe qualquer impressão sen-sorial, isso servirá para confirmar nossa suspeita.

HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento. São Paulo: Unesp, 2004

(adaptado).

Nos textos, ambos os autores se posicionam sobre a natu-reza do conhecimento humano. A comparação dos frag-mentos permite assumir que Descartes e Hume

a) defendem os sentidos como critério originário para con-siderar um conhecimento legítimo.

b) entendem que é desnecessário suspeitar do significado de uma ideia na reflexão filosófica e crítica.

c) são legítimos representantes do criticismo quanto à gê-nese do com hecimento.

d) concordam que conhecimento humano é impossível em relação às ideias e aos sentidos.

e) atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos no processo de obtenção do conhecimento.

83. (Enem 2013) Os produtos e seu consumo constituem a meta declarada do empreendimento tecnológico. Essa meta foi proposta pela primeira vez no início da Modernidade, como expectativa de que o homem poderia dominar a natureza. No entanto, essa expectativa, convertida em programa anuncia-do por pensadores como Descartes e Bacon e impulsionado pelo Iluminismo, não surgiu “de um prazer de poder”, “de um mero imperialismo humano”, mas da aspiração de libertar o homem e de enriquecer sua vida, física e culturalmente.

 CUPANI, A. “A tecnologia como problema filosófico: três enfoques.” Scientiae

Studia. São Paulo, v. 2, n. 4, 2004

Autores da filosofia moderna, notadamente Descartes e Ba-con, e o projeto iluminista concebem a ciência como uma forma de saber que almeja libertar o homem das intempéries da natureza. Nesse contexto, a investigação científica consiste em 

a) A expor a essência da verdade e resolver definitivamente as disputas teóricas ainda existentes. 

b) oferecer a última palavra acerca das coisas que existem e ocupar o lugar que outrora foi da filosofia. 

c) ser a expressão da razão e servir de modelo para outras áreas do saber que almejam o progresso. 

d) explicitar as leis gerais que permitem interpretar a natu-reza e eliminar os discursos éticos e religiosos. 

e) explicar a dinâmica presente entre os fenômenos natu-rais e impor limites aos debates acadêmicos

84. Leia o fragmento a seguir

À primeira vista, nada pode parecer mais ilimitado do que o pensamento humano, que não apenas escapa a toda autori-dade e a todo poder do homem, mas também nem sempre é reprimido dentro dos limites da natureza e da realidade. (...)

Entretanto, embora nosso pensamento pareça possuir esta liberdade ilimitada, verificaremos, através de um exame mais minucioso, que ele está realmente confinado dentro de limi-tes muito reduzidos e que todo poder criador do espírito não ultrapassa a faculdade de combinar, de transpor, aumentar ou de diminuir os materiais que nos foram fornecidos pelos sen-tidos e pela experiência. (...)

Todos os materiais do pensamento derivam de nossas sensa-ções externas ou internas; mas a mistura e composição deles dependem do espírito e da vontade. (...) Todas as nossas ideias ou percepções mais fracas são cópias de nossas impressões ou percepções mais vivas.

HUME, David. “Investigação a cerca do entendimento humano”. Seção II. Da origem das ideias. Trad. Anoar Aiex. 5ª edição. São Paulo: Nova Cultural, 1992

(os pensadores) P.70

A partir desse fragmento e de outras informações, sobre o pensamento de David Hume é correto afirmar que:

a) O ato de conhecer somente é possível devido à existência das ideias inatas e das faculdades mentais preexistentes.

b) A afirmativa sobre a possibilidade de ideias universais é verdadeira, pois a experiência que as possibilita é uma realidade universalmente vivenciada.

c) O intelecto humano encontra-se limitado e inscrito no círculo da experiência; por isso, o conhecimento seguro vincula a ação da mente humana à experiência.

d) As experiências nos permitem captar o nexo causal e, em decorrência, proceder a generalizações na busca pela verdade.

e) As nossas ideias, que nascem das percepções, são mais vivas e fortes do que as sensações originárias.

85. Leia o fragmento a seguir

“É evidente a quem investiga o objeto do conhecimento hu-mano haver ideias atualmente impressas nos sentidos, ou percebidas considerando as paixões e operações do espírito, ou finalmente formuladas com auxílio da memória e da imagi-nação, compondo, dividindo ou simplesmente representando as originariamente apreendidas pelo modo acima referido.

Page 55: Percurso - Enem - Filosofia 2019 - Final

TRODUÇÃO À FILOSOFIA

288 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Filosofia

Exercícios

Pela vista tenho ideias de luzes e cores (...). Pelo tato percebo o áspero e o macio, o quente e o frio (...) O olfato fornece-me aromas, o paladar sabores, e o ouvido traz ao espírito os sons na variedade de tom e composição.[...].

Mas ao lado da infinita variedade de ideias ou objetos do co-nhecimento, há alguma coisa que os conhece ou percebe, e realiza diversas operações como querer, imaginar, recordar, a respeito deles.. Este percipiente, ser ativo, é o que chamo mente, espírito, alma, ou eu (...). Todos concordarão que nem os pensamentos, nem as paixões, nem as ideias formadas pela imaginação existem sem o espirito. (...) Que são os objetos mencionados (casas, montanhas, rios, todos os objetos sensí-veis) senão coisas percebidas pelos sentidos?

BERKELEY, George Tratado sobre os princípios do conhecimento humano. Trad. Antônio Sérgio. 5ªedição. São Paulo: Nova Cultural, 1992 (Os pensadores).

P.13.17

A partir do fragmento acima, é correto afirmar que

a) o conhecimento está diretamente vinculado à atividade intramental, à intuição intelectiva da realidade.

b) o pressuposto fundamental do conhecimento afirma que conhecer é captar a verdade e a essência presente dos objetos.

c) a existência objetiva dos objetos, independentemente da mente subjetiva, é a condição previa que possibilita as ideias universais.

d) o conhecimento possível encontra-se vinculado ao pres-suposto de que conhecer é perceber. Por isso, toda ideia é ideia de algo percebido.

e) a ideia que a mente pode ter dos objetos não depen-de da existência real dos objetos, pois conhecer é intuir mentalmente.

86. Leia o fragmento a seguir

Tomemos, por exemplo, esse pedaço de cera que acabo de tirar da colmeia; ele não perdeu ainda a doçura do mel que continha, retém ainda algo do odor das flores... sua cor, sua figura, sua grandeza são evidentes; é duro, é frio, tocamo-lo e, se nele batermos, produzirá algum som. (...). Mas eis que, enquanto falo, é aproximado do fogo: o que nele restava de sabor exala-se, o odor se esvai, sua cor se modifica, sua figu-ra se altera, sua grandeza aumenta, ele torna-se líquido, es-quenta-se... Embora nele batamos, nenhum som produzirá. A mesma cera permanece após essa modificação?

(DESCARTES, R. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 96. Coleção Os Pensadores).

A partir de uma perspectiva racionalista,

a) torna-se impossível uma radical separação entre forma e essência, de tal modo que a uma mudança na forma afeta também a essência.

b) o conhecimento verdadeiro é atividade intramental e, por isso, descarta qualquer procedimento com base na dúvida.

c) a aparência é tudo o que vemos, por isso, é preciso re-nunciar à pretensão de um conhecimento conceitual.

d) na proporção em que nos concentramos nas múltiplas formas das coisas, aproximamo-nos de um conhecimen-to sólido.

e) essencialmente, a mesma realidade permanece, pois as mudanças são acidentais e não afetam a substância do ser.

87. Leia o fragmento a seguir

O argumento do consenso universal, do qual se faz uso para demonstrar que existem princípios inatos, me parece uma demonstração do fato de que não existe nenhum princípio semelhante, posto que não existe princípio sobre o qual uni-versalmente os homens estejam de acordo.

(LOCKE, Ensaio sobre o Entendimento Humano).

Em verdade, todos os argumentos derivados da experiência se fundam na semelhança que constatamos em objetos na-turais e que nos induz a esperar efeitos semelhantes àqueles que temos visto resultar de tais objetos.

HUME, David. Investigação a cerca do entendimento humano. Seção IV. Dúvi-das céticas sobre as Operações do Entendimento. Trad. Anoar Aiex. 5ª edição.

São Paulo: Nova Cultural, 1992 (os pensadores) P. 80.

Na disputa com Renê Descartes, sobre a possibilidade de ideia inata e universal, John Locke e David Hume afirmam que:

a) o conhecimento, na visão epistemológica do empirismo, parte das percepções sensíveis para, finalmente, concen-trar-se na atividade intramental.

b) os conteúdos da mente humana são percepções, estimu-ladas e possibilitadas pelas ideias a priori.

c) as ideias universais são uma crença resultante do hábito da associação de ideias particulares originadas das sen-sações, sempre particulares.

d) o conhecimento fundado na experiência permite-nos fa-lar em verdades universais, uma vez que todos os huma-nos podem fazer as mesmas experiências.

e) A verdade é uma espécie de intuição, fruto da abstração mental. Por essa razão, é possível sempre de novo espe-rar o que já aconteceu.

88. (Ufsj 2011). Leia o fragmento a seguir

John Locke é apontado como pioneiro do materialismo mo-derno. Sobre o “materialismo moderno”, é CORRETO afirmar que: 

a) “Deriva as ‘ideias’ de que se constitui o conhecimento di-retamente das sensações que se marcaram na mente [...] não cabendo assim ao pensamento nada mais, [...] que combinar, comparar e analisar essas mesmas ideias”. 

b) “Todo o princípio do conhecimento material é sensorial, transponível, relativo e infinito”. 

c) “O valor da experiência sensível, como fator primário da elaboração cognitiva, está na possibilidade de conhecer a essência da natureza”. 

d) “O conhecimento deve ser introjetado a partir da experi-ência extrassensorial, peculiar a todo ser pensante”. 

Page 56: Percurso - Enem - Filosofia 2019 - Final

TRODUÇÃO À FILOSOFIA289Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 3Exercícios

89. Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verda-deiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto; de modo que me era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente desde os fun-damentos, se quisesse estabelecer algo de firme e de constan-te nas ciências. (...) Ora, não será necessário, para alcançar esse desígnio, provar que todas elas são falsas, o que talvez nunca levasse a cabo; mas, uma vez que a razão já me persuade de que não devo menos cuidadosamente impedir-me de dar cré-dito às coisas que não são inteiramente certas e indubitáveis, do que às que nos parecem manifestamente ser falsas, o me-nor motivo de dúvida que eu nelas encontrar bastará para me levar a rejeitar todas. E, para isso, não é necessário que exami-ne cada uma em particular, o que seria um trabalho infinito; mas, visto que a ruína dos alicerces carrega necessariamente consigo todo o resto do edifício, dedicar-me-ei inicialmente aos princípios sobre os quais todas as minhas antigas dúvidas estavam apoiadas.

Tudo o que recebi, até presentemente, como mais verdadeiro e seguro, aprendi-o dos sentidos ou pelos sentidos. Ora, expe-rimentei algumas vezes que esses sentidos eram enganosos, e que de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez.

( DESCARTES. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural. Os pensadores.)

A partir desse fragmento de Descartes, sobre a concepção e os procedimentos do racionalismo infere-se que:

a) No caminho das ciências torna-se impossível alcançar al-guma verdade que resista ao princípio da dúvida.

b) O erro está vinculado às intuições do intelecto, que mui-tas vezes estabelece sentenças sem vínculo com a reali-dade empírica.

c) O verdadeiro conhecimento encontra-se vinculado à tra-dição, pois já foi testado através dos tempos.

d) O princípio da dúvida, especialmente aplicado a tudo que se origina de nossas sensações, passa a ser o cami-nho privilegiado na busca por ideias claras e distintas.

e) Descartes defende uma postura empirista, para a qual fora da experiência concreta nenhuma verdade poderá ser definida como segura.

90. (Enem 2013)

TEXTO I 

Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus pri-meiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadei-ras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incer-to. Era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente a fim de estabelecer um saber fir-me e inabalável. 

DESCARTES, R. Meditações concernentes à Primeira Filosofia. São Paulo: Abril

Cultural, 1973 (adaptado). 

TEXTO II 

É o caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas por essa mesma dúvida.

 SILVA, F.L. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado).

A exposição e a análise do projeto cartesiano indicam que, para viabilizar a reconstrução radical do conhecimento, de-ve-se

a) retomar o método da tradição para edificar a ciência com legitimidade

b) questionar de forma ampla e profunda as antigas ideias e concepções.

c) investigar os conteúdos da consciência dos homens me-nos esclarecidos.

d) buscar uma via para eliminar da memória saberes anti-gos e ultrapassados.

e) encontrar ideias e pensamentos evidentes que dispen-sam ser questionados.

91. (ENEM 2014) É o caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que apare-cer a partir daí terá sido de alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que fo-ram anteriormente varridas por essa mesma dúvida.

(SILVA, F. l. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado).

Apesar de questionar os conceitos da tradição, a dúvida radi-cal da filosofia cartesiana tem caráter positivo por contribuir para o(a)

a) dissolução do saber científico.

b) recuperação dos antigos juízos.

c) exaltação do pensamento clássico.

d) surgimento do conhecimento inabalável.

e) fortalecimento dos preconceitos religiosos.

92. ( ENEM 2016) Nunca nos tornaremos matemáticos, por exemplo, embora nossa memória possua todas as demonstra-ções feitas por outros, se nosso espírito não for capaz de resol-ver toda espécie de problemas; não nos tornaríamos filósofos, por ter lido todos os raciocínios de Platão e Aristóteles, sem poder formular um juízo sólido sobre o que nos é proposto. Assim, de fato, pareceríamos ter aprendido, não ciências, mas histórias. (Descartes, R. Regras para a orientação do espírito)

Em sua busca pelo saber verdadeiro, o autor considera o co-nhecimento, de modo crítico, como resultado da:

a) Investigação de natureza empírica

Page 57: Percurso - Enem - Filosofia 2019 - Final

TRODUÇÃO À FILOSOFIA

290 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Filosofia

Exercícios

b) Retomada da tradição intellectual

c) Imposição de valores ortodoxos

d) Autonomia do sujeito pensante

e) Liberdade do agente moral

93. (Unesp 2018)  De um lado, dizem os materialistas, a men-te é um processo material ou físico, um produto do funciona-mento cerebral. De outro lado, de acordo com as visões não materialistas, a mente é algo diferente do cérebro, podendo existir além dele. Ambas as posições estão enraizadas em uma longa tradição filosófica, que remonta pelo menos à Grécia Antiga. Assim, enquanto Demócrito defendia a ideia de que tudo é composto de átomos e todo pensamento é causado por seus movimentos físicos, Platão insistia que o intelecto humano é imaterial e que a alma sobrevive à morte do corpo. 

(Alexander Moreira-Almeida e Saulo de F. Araujo. “O cérebro produz a mente?: um levantamento da opinião de psiquiatras”. www.archivespsy.com, 2015.)

A partir das informações e das relações presentes no texto, conclui-se que

a) a hipótese da independência da mente em relação ao cé-rebro teve origem no método científico.   

b) a dualidade entre mente e cérebro foi conceituada por Descartes como separação entre pensamento e exten-são.    

c) o pensamento de Santo Agostinho se baseou em hipóte-ses empiristas análogas às do materialismo.

d) os argumentos materialistas resgatam a metafísica pla-tônica, favorecendo hipóteses de natureza espiritualista.    

e) o progresso da neurociência estabeleceu provas objeti-vas para resolver um debate originalmente filosófico

94. (Ufsm 2015) O conhecimento é uma ferramenta essencial para a sobrevivência humana. Os principais filósofos moder-nos argumentaram que nosso conhecimento do mundo seria muito limitado se não pudéssemos ultrapassar as informações que a percepção sensível oferece. No período moderno, qual processo cognitivo foi ressaltado como fundamental, pois permitia obter conhecimento direto, novo e capaz de anteci-par acontecimentos do mundo físico e também do compor-tamento social?

a) Dedução.   

b) Indução.   

c) Memorização.   

d) Testemunho.

e) Oratória e retórica.

95. (Unicamp 2014) A dúvida é uma atitude que contribui para o surgimento do pensamento filosófico moderno. Neste comportamento, a verdade é atingida através da supressão provisória de todo conhecimento, que passa a ser considera-do como mera opinião. A dúvida metódica aguça o espírito crítico próprio da Filosofia. 

(Adaptado de Gerd A. Bornheim, Introdução ao filosofar. Porto Alegre: Editora Globo, 1970, p. 11.) 

A partir do texto, é correto afirmar que:

a) A Filosofia estabelece que opinião, conhecimento e ver-dade são conceitos equivalentes. 

b) A dúvida é necessária para o pensamento filosófico, por ser espontânea e dispensar o rigor metodológico. 

c) O espírito crítico é uma característica da Filosofia e surge quando opiniões e verdades são coincidentes.

d) A dúvida, o questionamento rigoroso e o espírito crítico são fundamentos do pensamento filosófico moderno

96. (Ufsj 2012) Ao analisar o cogito ergo sum – penso, logo existo, de René Descartes, conclui-se que 

a) o pensamento é algo mais certo que a própria matéria corporal. 

b) a subjetividade científica só pode ser pensada a partir da aceitação de uma relação empírica fundada em valores concretos. 

c) o eu cartesiano é uma ideia emblemática e representati-va da ética que insurgia já no século XVI.

d) Descartes consegue infirmar todos os sistemas científi-cos e filosóficos ao lançar a dúvida sistemático-indutiva respaldada pelas ideias iluministas e métodos incipientes da revolução científica.

97. (Ufsj 2011) Analise a seguinte afirmação:

“Uma prática pela qual conhecendo a força e as ações do fogo, da água, dos astros, dos céus e de todos os outros corpos que nos cercam, tão distintamente como conhecemos os diferen-tes misteres de nossos artesãos, pudéssemos aplicá-los pela mesma forma a todos os usos para os quais são próprios, e tor-nando-nos assim como senhores e possuidores do Universo”.

Essa afirmação refere-se 

a) à alusão de Descartes acerca do conhecimento que se configura como domínio do Homem sobre a realidade. 

b) à manipulação conceitual por meio da qual se originam todas as operações lógicas com a finalidade de alcançar o conhecimento. 

c) à famosa questão dos “universais” que agitou e, dada a posição central que ocupa, atualizou em boa parte, du-rante séculos, o melhor do pensamento filosófico.

d) ao objeto de que se ocupam os pensadores que levam em consideração o conhecimento, que deriva da meta-física aristotélica. 

98. (Ufu 2011) Na obra Discurso sobre o método, René Des-cartes propôs um novo método de investigação baseado em quatro regras fundamentais, inspiradas na geometria: evidên-cia, análise, síntese, controle.

Assinale a alternativa que contenha corretamente a descrição das regras de análise e síntese. 

a) A regra da análise orienta a enumerar todos os elementos analisados; a regra da síntese orienta decompor o proble-ma em seus elementos últimos, ou mais simples. 

Page 58: Percurso - Enem - Filosofia 2019 - Final

TRODUÇÃO À FILOSOFIA291Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 3Exercícios

b) A regra da análise orienta a decompor cada problema em seus elementos últimos ou mais simples; a regra da síntese orienta ir dos objetos mais simples aos mais com-plexos. 

c) A regra da análise orienta a remontar dos objetos mais simples até os mais complexos; a regra da síntese orienta prosseguir dos objetos mais complexos aos mais simples.

d) A regra da síntese orienta a acolher como verdadeiro apenas aquilo que é evidente; a regra da análise orienta descartar o que é evidente e só orientar-se, firmemente, pela opinião. 

99. (Uel 2011) O principal problema de Descartes pode ser formulado do seguinte modo: 

“Como poderemos garantir que o nosso conhecimento é absolutamente seguro?” Como o cético, ele parte da dúvida; mas, ao contrário do cético, não permanece nela. Na Medita-ção Terceira, Descartes afirma: “[...] engane-me quem puder, ainda assim jamais poderá fazer que eu nada seja enquanto eu pensar que sou algo; ou que algum dia seja verdade eu não tenha jamais existido, sendo verdade agora que eu existo [...]”

(DESCARTES. René. “Meditações Metafísicas”. Meditação Terceira, São Paulo: Nova Cultural, 1991. p. 182. Coleção Os Pensadores.)

Com base no enunciado e considerando o itinerário seguido por Descartes para fundamentar o conhecimento, é correto afirmar: 

a) Todas as coisas se equivalem, não podendo ser discer-níveis pelos sentidos nem pela razão, já que ambos são falhos e limitados, portanto o conhecimento seguro de-tém-se nas opiniões que se apresentam certas e indubi-táveis. 

b) O conhecimento seguro que resiste à dúvida apresenta--se como algo relativo, tanto ao sujeito como às próprias coisas que são percebidas de acordo com as circunstân-cias em que ocorrem os fenômenos observados. 

c) Pela dúvida metódica, reconhece-se a contingência do conhecimento, uma vez que somente as coisas percebi-das por meio da experiência sensível possuem existência real. 

d) A dúvida manifesta a infinita confusão de opiniões que se pode observar no debate perpétuo e universal sobre o conhecimento das coisas, sendo a existência de Deus a única certeza que se pode alcançar.

e) A condição necessária para alcançar o conhecimento se-guro consiste em submetê-lo sistematicamente a todas as possibilidades de erro, de modo que ele resista à dúvi-da mais obstinada. 

100. ( Uel 2010)

Mas há um enganador, não sei quem, sumamente poderoso, sumamente astucioso que, por indústria, sempre me engana. Não há dúvida, portanto, de que eu, eu sou, também, se me engana: que me engane o quanto possa, nunca poderá fazer, porém, que eu nada seja, enquanto eu pensar que sou algo. De sorte que, depois de ponderar e examinar cuidadosamen-te todas as coisas é preciso estabelecer, finalmente, que este

enunciado eu, eu sou, eu, eu existo é necessariamente verda-deiro, todas as vezes que é por mim proferido ou concebido na mente.

(DESCARTES, R. Meditações sobre Filosofia Primeira. Tradução, nota prévia e revisão de Fausto Castilho. Campinas: Unicamp, 2008, p. 25.)

Com base na tira e no texto, sobre o cogito cartesia-no, é correto afirmar: 

a) A existência decorre do ato de aparecer e se apresenta independente da essência constitutiva do ser. 

b) A existência é manifesta pelo ato de pensar que, ao tra-zer à mente a imagem da coisa pensada, assegura a sua realidade. 

c) A existência é concebida pelo ato originário e imagina-tivo do pensamento, o qual impede que a realidade seja mera ficção. 

d) a existência é a plenitude do ato de exteriorização dos objetos, cuja integridade é dada pela manifestação da sua aparência. 

e) A existência é a evidência revelada ao ser humano pelo ato próprio de pensar. 

101. (Uff 2012) “Logo que adquiri algumas noções gerais re-lativas à Física, julguei que não podia mantê-las ocultas, sem pecar grandemente contra a lei que nos obriga a procurar o bem geral de todos os homens. Pois elas me fizeram ver que é possível chegar a conhecimentos que sejam úteis à vida e as-sim nos tornar como que senhores e possuidores da natureza. O que é de desejar, não só para a invenção de uma infinidade de utensílios, que permitiriam gozar, sem qualquer custo, os frutos da terra e de todas as comodidades que nela se acham, mas principalmente também para a conservação da saúde, que é sem dúvida o primeiro bem e o fundamento de todos os outros bens desta vida.” (DESCARTES, Discurso do Método)

Assinale a alternativa que resume o pensamento de Descartes. 

a) O conhecimento deve ser mantido oculto para evitar que seja empregado para dominar a natureza. 

b) O conhecimento da natureza satisfaz apenas ao intelecto e não é capaz de alterar as condições da vida humana. 

c) Nosso intelecto é incapaz de conhecer a natureza. 

d) Devemos buscar o conhecimento exclusivamente pelo prazer de conhecer.

e) O conhecimento e o domínio da natureza devem ser empregados para satisfazer as necessidades humanas e aperfeiçoar nossa existência.

102. (Enem 2017) Uma pessoa vê-se forçada pela necessida-de a pedir dinheiro emprestado. Sabe muito bem que não po-derá pagar, mas vê também que não lhe emprestarão nada se não prometer firmemente pagar em prazo determinado. Sen-te a tentação de fazer a promessa; mas tem ainda consciência bastante para perguntar a si mesma: não é proibido e contrá-rio ao dever livrar-se de apuros desta maneira? Admitindo que se decida a fazê-lo, a sua máxima de ação seria: quando julgo estar em apuros de dinheiro, vou pedi-lo emprestado e pro-meto pagá-lo, embora saiba que tal nunca sucederá.

KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

292 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Filosofia

Exercícios

De acordo com a moral kantiana, a “falsa promessa de paga-mento” representada no texto

a) assegura que a ação seja aceita por todos a partir da livre discussão participativa.   

b) garante que os efeitos das ações não destruam a possibi-lidade da vida futura na terra.   

c) opõe-se ao princípio de que toda ação do homem possa valer como norma universal.   

d) materializa-se no entendimento de que os fins da ação humana podem justificar os meios.   

e) permite que a ação individual produza a mais ampla feli-cidade para as pessoas envolvidas.   

103. (Enem PPL 2016) Os ricos adquiriram uma obrigação relativamente à coisa pública, uma vez que devem sua exis-tência ao ato de submissão à sua proteção e zelo, o que neces-sitam para viver; o Estado então fundamenta o seu direito de contribuição do que é deles nessa obrigação, visando a ma-nutenção de seus concidadãos. Isso pode ser realizado pela imposição de um imposto sobre a propriedade ou a atividade comercial dos cidadãos, ou pelo estabelecimento de fundos e de uso dos juros obtidos a partir deles, não para suprir as necessidades do Estado (uma vez que este é rico), mas para suprir as necessidades do povo.

KANT, I. A metafísica dos costumes. Bauru: Edipro, 2003.

Segundo esse texto de Kant, o Estado

a) deve sustentar todas as pessoas que vivem sob seu po-der, a fim de que a distribuição seja paritária.   

b) está autorizado a cobrar impostos dos cidadãos ricos para suprir as necessidades dos cidadãos pobres.   

c) dispõe de poucos recursos e, por esse motivo, é obrigado a cobrar impostos idênticos dos seus membros.   

d) delega aos cidadãos o dever de suprir as necessidades do Estado, por causa do seu elevado custo de manutenção.   

e) tem a incumbência de proteger os ricos das imposições pecuniárias dos pobres, pois os ricos pagam mais tribu-tos.   

104. (Uel 2015) As leis morais juntamente com seus princí-pios não só se distinguem essencialmente, em todo o co-nhecimento prático, de tudo o mais onde haja um elemento empírico qualquer, mas toda a Filosofia moral repousa inteira-mente sobre a sua parte pura e, aplicada ao homem, não toma emprestado o mínimo que seja ao conhecimento do mesmo (Antropologia).

KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Trad. de Guido A. de Al-

meida. São Paulo: Discurso Editorial, 2009. p.73.

Com base no texto e na questão da liberdade e autonomia em Immanuel Kant, assinale a alternativa correta.

a) A fonte das ações morais pode ser encontrada através da análise psicológica da consciência moral, na qual se pes-quisa mais o que o homem é, do que o que ele deveria ser.   

b) O elemento determinante do caráter moral de uma ação está na inclinação da qual se origina, sendo as inclinações serenas moralmente mais perfeitas do que as passionais.   

c) O sentimento é o elemento determinante para a ação moral, e a razão, por sua vez, somente pode dar uma di-reção à presente inclinação, na medida em que fornece o meio para alcançar o que é desejado.   

d) O ponto de partida dos juízos morais encontra-se nos “propulsores” humanos naturais, os quais se direcionam ao bem próprio e ao bem do outro.   

e) O princípio supremo da moralidade deve assentar-se na razão prática pura, e as leis morais devem ser indepen-dentes de qualquer condição subjetiva da natureza hu-mana.   

105. (Ufsm 2015) A necessidade de conviver em grupo fez o homem desenvolver estratégias adaptativas diversas. Darwin, num estudo sobre a evolução e as emoções, mostrou que o reconhecimento de emoções primárias, como raiva e medo, teve um papel central na sobrevivência. Estudos antigos e recentes têm mostrado que a moralidade ou comportamen-to moral está associado a outros tipos de emoções, como a vergonha, a culpa, a compaixão e a empatia. Há, no entanto, teorias éticas que afirmam que as ações boas devem ser moti-vadas exclusivamente pelo dever e não por impulsos ou emo-ções. Essa teoria é a ética

a) deontológica ou kantiana.   

b) das virtudes.   

c) utilitarista.   

d) contratualista.   

e) teológica.   

106. (Unesp 2015) A fonte do conceito de autonomia da arte é o pensamento estético de Kant. Praticamente tudo o que fa-zemos na vida é o oposto da apreciação estética, pois pratica-mente tudo o que fazemos serve para alguma coisa, ainda que apenas para satisfazer um desejo. Enquanto objeto de apre-ciação estética, uma coisa não obedece a essa razão instru-mental: enquanto tal, ela não serve para nada, ela vale por si. As hierarquias que entram em jogo nas coisas que obedecem à razão instrumental, isto é, nas coisas de que nos servimos, não entram em jogo nas obras de arte tomadas enquanto tais. Sendo assim, a luta contra a autonomia da arte tem por fim submeter também a arte à razão instrumental, isto é, tem por fim recusar também à arte a dimensão em virtude da qual, sem servir para nada, ela vale por si. Trata-se, em suma, da luta pelo empobrecimento do mundo.

(Antônio Cícero. “A autonomia da arte”. Folha de São Paulo, 13.12.2008. Adap-

tado.)

De acordo com a análise do autor,

a) a racionalidade instrumental, sob o ponto de vista da filo-sofia de Kant, fornece os fundamentos para a apreciação estética.   

Page 60: Percurso - Enem - Filosofia 2019 - Final

TRODUÇÃO À FILOSOFIA293Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 3Exercícios

b) um mundo empobrecido seria aquele em que ocorre o esvaziamento do campo estético de suas qualidades in-trínsecas.   

c) a transformação da arte em espetáculo da indústria cul-tural é um critério adequado para a avaliação de sua con-dição autônoma.   

d) o critério mais adequado para a apreciação estética con-siste em sua validação pelo gosto médio do público con-sumidor.   

e) a autonomia dos diversos tipos de obra de arte está prio-ritariamente subordinada à sua valorização como produ-to no mercado.   

107. (Uel 2014) Kant, mesmo que restrito à cidade de Königs-berg, acompanhou os desdobramentos das Revoluções Ame-ricana e Francesa e foi levado a refletir sobre as convulsões da história mundial. Às incertezas da Europa plebeia, individua-lista e provinciana, contrapôs algumas certezas da razão capa-zes de restabelecer, ao menos no pensamento, a sociabilidade e a paz entre as nações com vista à constituição de uma fede-ração de povos – sociedade cosmopolita.

(Adaptado de: ANDRADE, R. C. “Kant: a liberdade, o indivíduo e a república”. In: WEFORT, F. C. (Org.). Clássicos da política. v.2. São Paulo: Ática, 2003. p.49-50.)

Com base nos conhecimentos sobre a Filosofia Política de Kant, assinale a alternativa correta. 

a) A incapacidade dos súditos de distinguir o útil do preju-dicial torna imperativo um governo paternal para indicar a felicidade. 

b) É chamado cidadão aquele que habita a cidade, sendo considerados cidadãos ativos também as mulheres e os empregados. 

c) No Estado, há uma igualdade irrestrita entre os membros da comunidade e o chefe de Estado. 

d) Os súditos de um Estado Civil devem possuir igualdade de ação em conformidade com a lei universal da liber-dade. 

e) Os súditos estão autorizados a transformar em violência o descontentamento e a oposição ao poder legislativo supremo.

108. (Enem 2012) Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a dire-ção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de enten-dimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimen-to. A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma condição estranha, continuem, no entan-to, de bom grado menores durante toda a vida.

KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? Petrópolis: Vozes, 1985 (adaptado).

Kant destaca no texto o conceito de Esclarecimento, funda-mental para a compreensão do contexto filosófico da Mo-

dernidade. Esclarecimento, no sentido empregado por Kant, representa 

a) a reivindicação de autonomia da capacidade racional como expressão da maioridade. 

b) o exercício da racionalidade como pressuposto menor diante das verdades eternas. 

c) a imposição de verdades matemáticas, com caráter obje-tivo, de forma heterônoma. 

d) a compreensão de verdades religiosas que libertam o ho-mem da falta de entendimento. 

e) a emancipação da subjetividade humana de ideologias produzidas pela própria razão. 

109. (Enem 2012) Um Estado é uma multidão de seres hu-manos submetida a leis de direito. Todo Estado encerra três poderes dentro de si, isto é, a vontade unida em geral consiste de três pessoas: o poder soberano (soberania) na pessoa do legislador; o poder executivo na pessoa do governante (em consonância com a lei) e o poder judiciário (para outorgar a cada um o que é seu de acordo com a lei) na pessoa do juiz. 

KANT, I. A metafísica dos costumes. Bauru: Edipro, 2003.

De acordo com o texto, em um Estado de direito 

a) a vontade do governante deve ser obedecida, pois é ele que tem o verdadeiro poder. 

b) a lei do legislador deve ser obedecida, pois ela é a repre-sentação da vontade geral. 

c) o Poder Judiciário, na pessoa do juiz, é soberano, pois é ele que outorga a cada um o que é seu. 

d) o Poder Executivo deve submeter-se ao Judiciário, pois depende dele para validar suas determinações. 

e) o Poder Legislativo deve submeter-se ao Executivo, na pessoa do governante, pois ele que é soberano. 

110. (Uel 2012)   O desenvolvimento não é um mecanismo cego que age por si. O padrão de progresso dominante des-creve a trajetória da sociedade contemporânea em busca dos fins tidos como desejáveis, fins que os modelos de produção e de consumo expressam. É preciso, portanto, rediscutir os sentidos. Nos marcos do que se entende predominantemente por desenvolvimento, aceita-se rever as quantidades (menos energia, menos água, mais eficiência, mais tecnologia), mas pouco as qualidades: que desenvolvimento, para que e para quem?

(LEROY, Jean Pierre. “Encruzilhadas do Desenvolvimento. O Impacto sobre o meio ambiente”. Le Monde Diplomatique Brasil. jul. 2008, p.9.)

Tendo como referência a relação entre desenvolvimento e progresso presente no texto, é correto afirmar que, em Kant, tal relação, contida no conceito de Aufklärung (Esclarecimen-to), expressa: 

a) A tematização do desenvolvimento sob a égide da lógica de produção capitalista. 

b) A segmentação do desenvolvimento tecnocientífico nas diversas especialidades. 

Page 61: Percurso - Enem - Filosofia 2019 - Final

TRODUÇÃO À FILOSOFIA

294 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Filosofia

Exercícios

c) A ampliação do uso público da razão para que se desen-volvam sujeitos autônomos. 

d) O desenvolvimento que se alcança no âmbito técnico e material das sociedades. 

e) O desenvolvimento dos pressupostos científicos na reso-lução dos problemas da filosofia prática. 

111. (Uncisal 2011) ( com alteração)

No século XVIII, o filósofo Emanuel Kant formulou as hipóteses de seu idealismo transcendental. Segundo Kant, todo conhe-cimento logicamente válido inicia-se pela experiência, mas é construído internamente por meio das formas a priori da sensibilidade (espaço e tempo) e pelas categorias lógicas do entendimento. Dessa maneira, para Kant, não é o objeto que possui uma verdade a ser conhecida pelo sujeito cognoscen-te, mas sim o sujeito que, ao conhecer o objeto, nele inscreve suas próprias coordenadas sensíveis e intelectuais. De acordo com a filosofia kantiana, pode-se afirmar que 

a) a mente humana é como uma “tabula rasa”, uma folha em branco que recebe todos os seus conteúdos da experi-ência. 

b) os conhecimentos são revelados por Deus para os ho-mens. 

c) todos os conhecimentos são inatos, não dependendo da experiência. 

d) a revolução kantiana consiste em reconhecer a primazia do objeto sobre o sujeito. 

e) para Kant, o centro do processo de conhecimento é o su-jeito, não o objeto. 

112. (Uel 2011) Na Primeira Secção da Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Kant analisa dois conceitos funda-mentais de sua teoria moral: o conceito de vontade boa e o de imperativo categórico. Esses dois conceitos traduzem as duas condições básicas do dever: o seu aspecto objetivo, a lei mo-ral, e o seu aspecto subjetivo, o acatamento da lei pela subje-tividade livre, como condição necessária e suficiente da ação.

(DUTRA, D. V. Kant e Habermas: a reformulação discursiva da moral kantiana. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. p. 29.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria moral kantiana, é correto afirmar:

a) A vontade boa, enquanto condição do dever, consiste em respeitar a lei moral, tendo como motivo da ação a sim-ples conformidade à lei. 

b) O imperativo categórico incorre na contingência de um querer arbitrário cuja intencionalidade determina subje-tivamente o valor moral da ação. 

c) Para que possa ser qualificada do ponto de vista moral, uma ação deve ter como condição necessária e suficiente uma vontade condicionada por interesses e inclinações sensíveis. 

d) A razão é capaz de guiar a vontade como meio para a satisfação de todas as necessidades e assim realizar seu verdadeiro destino prático: a felicidade. 

e) A razão, quando se torna livre das condições subjetivas que a coagem, é, em si, necessariamente conforme a von-tade e somente por ela suficientemente determinada. 

113. (Ufu 2013) Autonomia da vontade é aquela sua proprie-dade graças à qual ela é para si mesma a sua lei (independen-temente da natureza dos objetos do querer). O princípio da autonomia é, portanto: não escolher senão de modo a que as máximas da escolha estejam incluídas simultaneamente, no querer mesmo, como lei universal. 

KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradução de Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 1986, p. 85. 

De acordo com a doutrina ética de Kant: 

a) O Imperativo Categórico não se relaciona com a matéria da ação e com o que deve resultar dela, mas com a forma e o princípio de que ela mesma deriva. 

b) O Imperativo Categórico é um cânone que nos leva a agir por inclinação, vale dizer, tendo por objetivo a satisfação de paixões subjetivas. 

c) Inclinação é a independência da faculdade de apetição das sensações, que representa aspectos objetivos basea-dos em um julgamento universal. 

d) A boa vontade deve ser utilizada para satisfazer os dese-jos pessoais do homem. Trata-se de fundamento deter-minante do agir, para a satisfação das inclinações.

114. Portanto, tudo aquilo que é válido para um tempo de guerra, em que todo homem é inimigo de todo homem, o mesmo é válido também para o tempo durante o qual os ho-mens vivem sem outra segurança senão a que lhes pode ser oferecida por sua própria força e sua própria invenção. Numa tal situação não há espaço para a indústria, pois seu fruto é in-certo; consequentemente, não há cultivo da terra, nem nave-gação, nem uso das mercadorias que podem ser importadas pelo mar; não há construções confortáveis, nem instrumentos para mover e remover as coisas que precisam de grande força; não há conhecimento da face da Terra, nem cômputo do tem-po, nem artes, nem letras; não há sociedade; e o que é pior do que tudo, um constante temor e perigo de morte violenta. E a vida do homem é solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta. (...) Desta guerra de todos os homens contra todos os homens também isto é consequência: que nada pode ser in-justo. A noção de bem e mal, de justiça ou de injustiça, não podem aí ter lugar. Onde não há poder comum não há lei, e onde não há lei não há injustiça. [...] É esta pois a miserável condição em que o homem realmente se encontra por obra da simples natureza.

(Hobbes, O Leviatã. Capítulo XIII. Dos direitos dos soberanos por instituição. Trad. João Paulo M. e Maria Beatriz N.S . São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Os

pensadores).

A partir desse fragmento, a noção de estado de natureza, pre-sente no pensamento de Thomas Hobbes, expressa a ideia de que

a) a desconfiança que os homens alimentam uns dos ou-tros, impossibilitando toda forma de comércio, tem sua origem nas primeiras guerras civis.

b) a violência passa a existir a partir do momento em que os homens rompem o pacto livremente construído.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA295Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 3Exercícios

c) nenhuma ação humana, no estado natural, poderá ser definida como justa ou injusta, uma vez que nessa esfera inexiste a lei.

d) o individualismo dos homens não é natural, mas é atitu-de e espirito decorrentes da histórica competição entre os homens

e) o individualismo moderno, ao alimentar o espírito de competição, inibe a sociabilidade humana natural.

115. (Unioeste 2012) “Se o homem no estado de natureza é tão livre, conforme dissemos, se é senhor absoluto da sua própria pessoa e posses, igual ao maior e a ninguém sujeito, porque abrirá ele mão dessa liberdade, porque abandonará o seu império e sujeitar-se-á ao domínio e controle de qualquer outro poder? Ao que é óbvio responder que, embora no esta-do de natureza tenha tal direito, a fruição do mesmo é muito incerta e está constantemente exposta à invasão de terceiros porque, sendo todos reis tanto quanto ele, todo homem igual a ele, e na maior parte pouco observadores da equidade e da justiça, a fruição da propriedade que possui nesse estado é muito insegura, muito arriscada. Estas circunstâncias obri-gam-no a abandonar uma condição que, embora livre, está cheia de temores e perigos constantes; e não é sem razão que procura de boa vontade juntar-se em sociedade com outros que estão já unidos, ou pretendem unir-se, para a mútua con-servação da vida, da propriedade e dos bens a que chamo de 'propriedade'”.

Locke

Sobre o pensamento político de Locke e o texto acima, se-guem as seguintes afirmativas:

I. No estado de natureza, os homens usufruem plenamente, e com absoluta segurança, os direitos naturais. 

II. O objetivo principal da união dos homens em comunidade, colocando-se sob governo, é a preservação da “propriedade”. 

III. No estado de natureza, falta uma lei estabelecida, firmada, conhecida, recebida e aceita mediante consentimento, como padrão do justo e injusto e medida comum para resolver quaisquer controvérsias entre os homens. 

IV. Os homens entram em sociedade, abandonando a igual-dade, a liberdade e o poder executivo que tinham no estado de natureza, apenas com a intenção de melhor preservar a propriedade. 

V. No estado de natureza, há um juiz conhecido e imparcial para resolver quaisquer controvérsias entre os homens, de acordo com a lei estabelecida.

Das afirmativas feitas acima 

a) somente a afirmação I está correta. 

b) as afirmações I e III estão corretas. 

c) as afirmações II e V estão corretas. 

d) as afirmações IV e V estão corretas. 

e) as afirmações II, III e IV estão corretas. 

116. A primeira e a mais importante consequência decorren-te dos princípios até aqui estabelecidos é que só a vontade geral pode dirigir as forças do Estado de acordo com a fina-lidade de sua instituição, que é o bem comum, porque, se a oposição dos interesses particulares tornou necessário o es-tabelecimento das sociedades, foi o acordo desses mesmos interesses que o possibilitou. O que existe de comum nesses vários interesses forma o liame social e, se não houvesse um ponto em que todos os interesses concordassem, nenhuma sociedade poderia existir. Ora, somente com base nesse inte-resse comum é que a sociedade pode ser governada. Afirmo, pois, que a soberania, não sendo senão o exercício da vontade geral, jamais pode alienar-se e que o soberano, que nada é, se-não um ser coletivo, só pode ser representado por si mesmo. O poder pode transmitir-se; não porém, a vontade. (...)

A soberania é indivisível pela mesma razão que é inalienável, pois a vontade ou é geral, ou não o é, ou é a do corpo do povo, ou somente de uma parte. (...) Há comumente muita diferença entre a vontade de todos e a vontade geral. Esta se prende somente ao interesse comum; a outra, ao interesse privado e não passa da soma das vontades particulares.

ROUSSEAU, J. Jacques, Do contrato social. Livro segundo.Trad. Lourdes Santos Machado. 5ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991. P. 43-47. (Os pensadores)

A partir desse fragmento, em conformidade com Rousseau, o que caracteriza a noção de soberania é a ideia de que

a) a soberania indivisível e indestrutível exige dos súditos absoluta obediência às orientações do governante, que foi eleito para a defesa do bem comum.

b) o governo, seja ele democrático ou aristocrático, torna-se poder soberano, se for legitimamente instituído, aten-dendo a vontade de todos.

c) a soberania pertence à vontade de maioria, pois esse é o critério da verdadeira democracia.

d) a soberania deve ser transferida aos governantes, uma vez que o individualismo dos cidadãos caminha na con-tramão da vontade geral.

e) o contrato social proporciona ao corpo político poder de soberania inalienável, vontade soberana, que requer do governante a subordinação à vontade geral.

117. O povo, por si, quer sempre o bem, mas por si nem sem-pre o encontra. A vontade geral é sempre certa, mas o julga-mento que a orienta nem sempre é esclarecido. (...) Os parti-culares discernem o bem que rejeitam; o público quer o bem que não discerne. Todos necessitam, igualmente, de guias. A uns é preciso obrigar a conformar a vontade à razão, a outro, ensinar a conhecer o que quer. Então, das luzes públicas resul-ta a união do entendimento e da vontade no corpo social, daí o perfeito concurso das partes e, enfim, a maior força do todo. Eis donde nasce a necessidade de um Legislador.(...)

Aquele que ousa empreender a instituição de um povo deve sentir-se com capacidade para, por assim dizer, mudar a natu-reza humana, transformar cada ser indivíduo, que por si mes-mo é um todo perfeito e solitário, em parte de um todo maior, do qual de certo modo esse indivíduo recebe sua vida e seu ser; alterar a constituição do homem para fortificá-la, substi-tuir a existência física e independente, que todos nós recebe-mos da natureza, por uma existência parcial e moral.

Page 63: Percurso - Enem - Filosofia 2019 - Final

TRODUÇÃO À FILOSOFIA

296 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Filosofia

Exercícios

ROUSSEAU, J. Jacques, Do contrato social. Livro segundo.Trad. Lourdes Santos

Machado.

5ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991 (Os pensadores) P.56-57 )

A partir desse fragmento, que expressa a reflexão de Rousse-au, a ideia de governo da natureza humana expressa que

a) a principal função do legislador está em lutar contra a natureza individualista, irracional e amoral do individuo, adaptando-a para a vida coletiva.

b) a natureza humana no âmbito público, na esfera da co-letividade, dispensa a necessidade de um guia espiritual.

c) a vontade particular, embora normalmente não apresen-te o conhecimento do que seja o bem comum, caminha na direção da vontade geral.

d) o que deteriora a natureza humana é a natural competiti-vidade mesma, uma vez que o homem, originariamente bom, posteriormente degenerou-se no âmbito natural.

e) O perfil necessário ao legislador não se encontra entre os humanos. Por essa razão, o poder deve ser uma aristocra-cia intelectiva.

118. (Enem 2015)  A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito, que, embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isto em conjunto, a diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que um deles possa com base nela reclamar algum benefício a que outro não possa igualmente aspirar. 

HOBBES, T. Leviatã. São Paulo Martins Fontes, 2003

Para Hobbes, antes da constituição da sociedade civil, quando dois homens desejavam o mesmo objeto, eles

a) entravam em conflito.   

b) recorriam aos clérigos.   

c) consultavam os anciãos.   

d) apelavam aos governantes.   

e) exerciam a solidariedade. 

119. (Uema 2015) Para Thomas Hobbes, os seres humanos são livres em seu estado natural, competindo e lutando en-tre si, por terem relativamente a mesma força. Nesse estado, o conflito se perpetua através de gerações, criando um ambien-te de tensão e medo permanente. Para esse filósofo, a criação de uma sociedade submetida à Lei, na qual os seres humanos vivam em paz e deixem de guerrear entre si, pressupõe que todos renunciem à sua liberdade original. Nessa sociedade, a liberdade individual é delegada a um só dos homens que de-tém o poder inquestionável, o soberano. 

HOBBES, T . Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e

civil. Trad. João Paulo Monteiro; Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Editora

NOVA Cultural, 1997.

A teoria política de Thomas Hobbes teve papel fundamental na construção dos sistemas políticos contemporâneos que consolidou a (o)

a) Monarquia Paritária.   

b) Despotismo Soberano.   

c) Monarquia Republicana.   

d) Monarquia Absolutista.   

e) Despotismo Esclarecido.

120. (Pucpr 2015) 

“É do homem que devo falar, e a questão que examino me indica que vou falar a homens, pois não se propõem questões semelhantes quando se teme honrar a verdade. Defenderei, pois, com confiança a causa da humanidade perante os sábios que a isso me convidam e não ficarei descontente comigo mesmo se me tornar digno de meu assunto e de meus juízes”.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desi-gualdade entre os homens. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p.159.

A partir da teoria contratualista de Rousseau, assinale a alter-nativa que representa aquilo que o filósofo de Genebra pre-tende defender na obra.

a) Que a desigualdade social é permitida pela lei natural e, portanto, o Estado não é responsável pelo conflito social.   

b) Que a desigualdade social é autorizada pela lei natural, ou seja, que a natureza não se encontra submetida à lei.   

c) Que no estado natural existe apenas o direito de proprie-dade.   

d) Que a desigualdade moral ou política é uma continuida-de daquilo que já está presente no estado natural.   

e) Que há, na espécie humana, duas espécies de desigual-dade: a primeira, natural, e a segunda, moral ou política

121. (Unioeste 2013) 

“Através dos princípios de um direito natural preexistente ao Estado, de um Estado baseado no consenso, de subordinação do poder executivo ao poder legislativo, de um poder limita-do, de direito de resistência, Locke expôs as diretrizes funda-mentais do Estado liberal.”

 Bobbio.

Considerando o texto citado e o pensamento político de Lo-cke, seguem as afirmativas abaixo:

I. A passagem do estado de natureza para a sociedade políti-ca ou civil, segundo Locke, é realizada mediante um contrato social, através do qual os indivíduos singulares, livres e iguais dão seu consentimento para ingressar no estado civil.

II. O livre consentimento dos indivíduos para formar a socie-dade, a proteção dos direitos naturais pelo governo, a subor-dinação dos poderes, a limitação do poder e o direito à resis-tência são princípios fundamentais do liberalismo político de Locke.

III. A violação deliberada e sistemática dos direitos naturais e o uso contínuo da força sem amparo legal, segundo Locke, não são suficientes para conferir legitimidade ao direito de re-sistência, pois o exercício de tal direito causaria a dissolução do estado civil e, em consequência, o retorno ao estado de natureza.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA297Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 3Exercícios

IV. Os indivíduos consentem livremente, segundo Locke, em constituir a sociedade política com a finalidade de preservar e proteger, com o amparo da lei, do arbítrio e da força comum de um corpo político unitário, os seus inalienáveis direitos na-turais à vida, à liberdade e à propriedade.

V. Da dissolução do poder legislativo, que é o poder no qual “se unem os membros de uma comunidade para formar um corpo vivo e coerente”, decorre, como consequência, a disso-lução do estado de natureza.

Das afirmativas feitas acima

a) somente a afirmação I está correta.   

b) as afirmações I e III estão corretas.   

c) as afirmações III e IV estão corretas.   

d) as afirmação II e III estão corretas.   

e) as afirmações III e V estão incorretas.   

122. (Uel 2011)

Locke divide o poder do governo em três poderes, cada um dos quais origina um ramo de governo: o poder legislativo (que é o fundamental), o executivo (no qual é incluído o judi-ciário) e o federativo (que é o poder de declarar a guerra, con-certar a paz e estabelecer alianças com outras comunidades). Enquanto o governo continuar sendo expressão da vontade livre dos membros da sociedade, a rebelião não é permitida: é injusta a rebelião contra um governo legal. Mas a rebelião é aceita por Locke em caso de dissolução da sociedade e quan-do o governo deixa de cumprir sua função e se transforma em uma tirania.

(LOCKE, John. In: MORA, J. F. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola, 2001. V. III. p. 1770.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre John Locke, é correto afirmar:

I. O direito de rebelião é um direito natural e legítimo de todo cidadão sob a vigência da legalidade.II. O Estado deve cuidar do bem-estar material dos cidadãos sem tomar partido em questões de matéria religiosa.III. O poder legislativo ocupa papel preponderante.IV. Na estrutura de poder, dentro de certos limites, o Estado tem o poder de fazer as leis e obrigar que sejam cumpridas.Assinale a alternativa correta. 

a) Somente as afirmativas I e II são corretas. 

b) Somente as afirmativas I e III são corretas. 

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. 

d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. 

e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. 

123. (Ufu 2011).

 Os filósofos contratualistas elaboraram suas teorias sobre os fundamentos ou origens do poder do Estado a partir de alguns conceitos fundamentais tais como, a soberania, o es-tado de natureza, o estado civil, o estado de guerra, o pacto social etc. 

[...] O estado de guerra é um estado de inimizade e destruição [...] nisto temos a clara diferença entre o estado de natureza e o estado de guerra, muito embora certas pessoas os tenham confundido, eles estão tão distantes um do outro [...].

LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o Governo. São Paulo: Ed. Abril Cultural, 1978.

Leia o texto acima e assinale a alternativa correta. 

a) Para Locke, o estado de natureza é um estado de destrui-ção, inimizade, enfim uma guerra “de todos os homens contra todos os homens”. 

b) Segundo Locke, o estado de natureza se confunde com o estado de guerra. 

c) Segundo Locke, para compreendermos o poder político, é necessário distinguir o estado de guerra do estado de natureza. 

d) Uma das semelhanças entre Locke e Hobbes está no fato de ambos utilizarem o conceito de estado de natureza exatamente com o mesmo significado. 

124. (Uel 2010) Aquele que se alimentou com bolotas que colheu sob um carvalho, ou das maçãs que retirou das árvores na floresta, certamente se apropriou deles para si. Ninguém pode negar que a alimentação é sua. Pergunto então: Quando começaram a lhe pertencer? Quando os digeriu? Quando os comeu? Quando os cozinhou?

Quando os levou para casa? Ou quando os apanhou?

(LOCKE, J. Segundo Tratado Sobre o Governo Civil. 3 ed. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 98)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de John Locke, é correto afirmar que a propriedade:

I. Tem no trabalho a sua origem e fundamento, uma vez que ao acrescentar algo que é seu aos objetos da natureza o ho-mem os transforma em sua propriedade. 

II. A possibilidade que o homem tem de colher os frutos da terra, a exemplo das maçãs, confere a ele um direito sobre eles que gera a possibilidade de acúmulo ilimitado. 

III. Animais e frutos, quando disponíveis na natureza e sem a intervenção humana, pertencem a um direito comum de to-dos. 

IV. Nasce da sociedade como consequência da ação coletiva e solidária das comunidades organizadas com o propósito de formar e dar sustentação ao Estado

Assinale a alternativa correta. 

a) Somente as afirmativas I e II são corretas. 

b) Somente as afirmativas I e III são corretas. 

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. 

d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. 

e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. 

125. (Unioeste 2010) “Para bem compreender o poder políti-co e derivá-lo de sua origem, devemos considerar em que es-

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

298 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Filosofia

Exercícios

tado todos os homens se acham naturalmente, sendo este um estado de perfeita liberdade para ordenar-lhes as ações e re-gular-lhes as suas posses e as pessoas conforme acharem con-veniente, dentro dos limites da lei da natureza, sem pedir per-missão ou depender da vontade de qualquer outro homem. [...] Estado também de igualdade, no qual é recíproco qual-quer poder e jurisdição, ninguém tendo mais do que qualquer outro […]. Contudo, embora seja um estado de liberdade, não o é de licenciosidade; apesar de ter o homem naquele estado liberdade incontrolável de dispor da própria pessoa e posses, não tem a de destruir-se a si mesmo ou a qualquer criatura que esteja em sua posse, senão quando uso mais nobre do que a simples conservação o exija. O estado de natureza tem uma lei de natureza para governá-lo, que a todos obriga. [...] E para impedir a todos os homens que invadam os direitos dos outros e que mutuamente se molestem, e para que se obser-ve a lei da natureza, que importa na paz e na preservação de toda a Humanidade, põe-se, naquele estado, a execução da lei da natureza nas mãos de todos os homens, mediante a qual qualquer um tem o direito de castigar os transgressores dessa lei em tal grau que lhe impeça a violação, pois a lei da natureza seria vã, como quaisquer outras leis que digam respeito ao ho-mem neste mundo, se não houvesse alguém nesse estado de natureza que não tivesse poder para pôr em execução aquela lei e, por esse modo, preservasse o inocente e restringisse os ofensores.”

(Locke)

Considerando o texto citado, é correto afirmar, segundo a teo-ria política de Locke, que

a) o estado de natureza é um estado de perfeita concórdia e absoluta paz, tendo cada indivíduo poder ilimitado para realizar suas ações como bem lhe convier, sem nenhuma restrição de qualquer lei, seja ela natural ou civil. 

b) concebido como um estado de perfeita liberdade e de igualdade, o estado de natureza é um estado de absoluta licenciosidade, dado que, nele, o homem tem a liberdade incontrolável para dispor, a seu bel-prazer, de sua própria pessoa e de suas posses. 

c) pela ausência de um juiz imparcial, no estado de natureza todos têm igual direito de serem executores, a seu modo, da lei da natureza, o que o caracteriza como um estado de guerra generalizada e de violência permanente. 

d) no estado de natureza, pela ausência de um juiz impar-cial, todos e qualquer um, julgando em causa própria, têm o “direito de castigar os transgressores” da lei da natureza, de modo que este estado seja de relativa paz, concórdia e harmonia entre todos. 

e) no estado de natureza, todos os homens permanen-temente se agridem e transgridem os direitos civis dos outros.

126. O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é porque primeiramente não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza humana (...). Mas se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o de pôr

todo homem no domínio do que ele é de lhe atribuir a total responsabilidade da sua existência. E, quando dizemos que o homem é responsável por si próprio, não queremos dizer que o homem é responsável pela sua restrita individualidade, mas que é responsável por todos os homens.

(SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. São Paulo: Abril Cul-tural, 1973. p. 11-12)

Com base nesse fragmento e em outras reflexões sobre o existencialismo em Sartre, sobre o tema da condição humana infere-se

a) a angústia da existência, pois os seres humanos são mo-vidos por um profundo e permanente medo da morte violenta.

b) a essencial liberdade, dimensão inalienável, da qual nas-ce a responsabilidade moral pelas decorrências das ações humanas, pessoal e socialmente.

c) a inútil luta humana contra o destino, pois as forças exte-riores da cultura abafam a originalidade e a criatividade dos indivíduos.

d) nada define o homem, pois sua vida é uma incógnita, um mistério, que não apresenta uma base a partir da qual as ações humanas possam ser avaliadas.

e) a natureza humana difere da natureza animal uma vez que a primeira possui uma inteligência abstrata e meta-física

127. (Enem 2016) 

Ser ou não ser – eis a questão. Morrer – dormir – Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo! Os sonhos que hão de vir no sono da morte Quando tivermos escapado ao tumulto vital Nos obrigam a hesitar: e é essa a reflexão Que dá à desventura uma vida tão longa. 

SHAKESPEARE, W. Hamlet. Porto Alegre: L&PM, 2007.

Este solilóquio pode ser considerado um precursor do existen-cialismo ao enfatizar a tensão entre

a) consciência de si e angústia humana.   

b) inevitabilidade do destino e incerteza moral.   

c) tragicidade da personagem e ordem do mundo.   

d) racionalidade argumentativa e loucura iminente.   

e) dependência paterna e impossibilidade de ação.   

128. (Ufsj 2013) Na obra “O existencialismo é um humanis-mo”, Jean-Paul Sartre intenta 

a) desenvolver a ideia de que o existencialismo é definido pela livre escolha e valores inventados pelo sujeito a par-tir dos quais ele exerce a sua natureza humana essencial. 

b) mostrar o significado ético do existencialismo. 

c) criticar toda a discriminação imposta pelo cristianismo, através do discurso, à condição de ser inexorável, carac-terística natural dos homens. 

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA299Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 3Exercícios

d) delinear os aspectos da sensação e da imaginação huma-nas que só se fortalecem a partir do exercício da liber-dade

129. (Ufsj 2012) A angústia, para Jean-Paul Sartre, é 

a) tudo o que a influência de Shopenhauer determina em Sartre: a certeza da morte. O Homem pode ser livre para fazer suas escolhas, mas não tem como se livrar da decre-pitude e do fim. 

b) a nadificação de nossos projetos e a certeza de que a rela-ção Homem X natureza humana é circunstancial, objeti-va, e pode ser superada pelo simples ato de se fazer uma escolha. 

c) a certificação de que toda a experiência humana é ide-almente sensorial, objetivamente existencial e determi-nante para a vida e para a morte do Homem em si mesmo e em sua humanidade. 

d) consequência da responsabilidade que o Homem tem sobre aquilo que ele é, sobre a sua liberdade, sobre as escolhas que faz, tanto de si como do outro e da humani-dade, por extensão.

130. (Ifsp 2011) Ao defender as principais teses do Existen-cialismo, Jean-Paul Sartre afirma que o ser humano está con-denado a ser livre, a fazer escolhas e, portanto, a construir seu próprio destino. O pressuposto básico que sustenta essa argu-mentação de Sartre é: 

a) A suposição de que o homem possui uma natureza hu-mana, o que significa que cada homem é um exemplo particular de um conceito universal. 

b) A compreensão de que a vida humana é finita e de que o homem é, sobretudo, um ente que está no mundo para a morte. 

c) A ideia de que a existência precede a essência e, por isso, o ser humano não está predeterminado a nada. 

d) A convicção de que o homem está desamparado e é im-potente para mudar o seu destino individual. 

e) A ideia de que toda pessoa tem uma potencial a realizar, desde quando nasce, mas é livre para transformar ou não essa possibilidade em realidade. 

131. (Ufu 2011) Jean-Paul Sartre (1905 – 1980) encontrou um motivo de reflexão sobre a liberdade na obra de Dostoiévski Os irmãos Karamazov: “se Deus não existe, tudo é permitido”. A partir daí teceu considerações sobre esse tema e algumas consequências que dele podem ser derivadas. 

[...] tudo é permitido se Deus não existe e, por conseguinte, o homem está desamparado porque não encontra nele pró-prio nem fora dele nada a que se agarrar. Para começar, não encontra desculpas. [...] Estamos sós, sem desculpas. É o que posso expressar dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si mesmo, e como, no entanto, é livre, uma vez que foi lançado no mundo, é respon-sável por tudo o que faz. 

SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. São Paulo: Nova Cul-

tural, 1987, p. 9.

Com base em seus conhecimentos sobre a filosofia existencia-lista de Sartre e nas informações acima, assinale a alternativa correta. 

a) Porque entende que somos livres, Sartre defendeu uma filosofia não engajada, isto é, uma filosofia que não deve se importar com os acontecimentos sociais e políticos de seu tempo. 

b) Para Sartre, a angústia decorre da falta de fé em Deus e não do fato de sermos absolutamente livres ou como ele afirma “o homem está condenado a ser livre”. 

c) As ações humanas são o reflexo do equilíbrio entre o li-vre-arbítrio e os planos que Deus estabelece para cada pessoa, consistindo nisto a verdadeira liberdade. 

d) Para Sartre, as ações das pessoas dependem somente das escolhas e dos projetos que cada um faz livremente du-rante a vida e não da suposição da existência e, portanto, das ordens de Deus. 

132. (ENEM 2013) O edifício é circular. Os apartamentos dos prisioneiros ocupam a circunferência. Você pode chamá-los, se quiser, de celas. O apartamento do inspetor ocupa o centro; você pode chama-lo, se quiser, de alojamento do inspetor. A moral reformada; a saúde preservada; a indústria revigorada; a instrução difundida; os encargos públicos aliviados; a econo-mia assentada, como deve ser, sobre uma rocha; o nó górdio da Lei sobre os Pobres não contado, mas desfeito – tudo por uma simples ideia de arquitetura!

BENTHAM, J. O panóptico. Belo Horizonte: Autêntica, 2006

Essa é a proposta de um sistema conhecido como panóptico, um modelo que mostra o poder da disciplina nas sociedades contemporâneas, exercido preferencialmente por mecanis-mos

a) religiosos, que se constituem como um olho divino con-trolador que tudo vê.

b) ideológicos, que estabelecem limites pela alienação, im-pedindo a visão da dominação sofrida.

c) repressivos, que perpetuam as relações de dominação entre os homens por meio da tortura física.

d) sutis, que adestram os corpos no espaço tempo por meio do olhar como instrumento de controle.

e) consensuais, que pactuam acordos com base na compre-ensão dos benefícios gerais de se ter as próprias ações controladas.

133. (Unioeste 2016) Os estudos realizados por Michel Fou-cault (1926-1984) apresentam interfaces que corroboram para estudos em diversas áreas de conhecimento, entre as quais a Filosofia, Ciências Sociais, Pedagogia, Psiquiatria, Medicina e Direito. Em 1975, Foucault publicou a obra “Vigiar e Punir: história da violência das prisões”, na qual propunha uma nova concepção de poder, a qual abandonava alguns postulados que marcaram a posição tradicional da esquerda do período.

Sobre a concepção de poder foucaultiana, é CORRETO afirmar.

a) Só exerce poder quem o possui, por se tratar de um pri-vilégio adquirido pela classe dominante que detém o po-der econômico.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

300 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Filosofia

Exercícios

b) O poder está centralizado na figura do Estado e está loca-lizado no próprio aparelho de Estado, que é o instrumen-to privilegiado do poder.

c) Todo poder está subordinado a um modo de produção e a uma infraestrutura, pois o modo como a vida econômi-ca é organizada determina a política.

d) O poder tem como essência dividir os que possuem poder (classe dominante) daqueles que não têm poder (classe dos dominados).

e) O poder não remete diretamente a uma estrutura polí-tica, ao uso da força ou a uma classe dominante: as rela-ções de poder são móveis e só podem existir quando os sujeitos são livres e há possibilidade de resistência.

134. (PUC-PR 2008)

Michel Foucault, em Vigiar e Punir, apresenta duas imagens de disciplina: a disciplina-bloco e a disciplina-mecanismo. Para mostrar como esses dois modelos se desenvolveram, o autor destaca dois casos: o medieval da peste e o moderno do pa-nóptico.

Assinale, portanto, a alternativa INCORRETA:

a) A disciplina-bloco se refere à instituição fechada, total-mente voltada para funções negativas, proibitivas e im-peditivas.

b) A disciplina-mecanismo é um dispositivo funcional que visa otimizar e tornar mais rápido o exercício do poder, mediante o modelo panóptico.

c) A disciplina-mecanismo tem como estratégia a vigilância múltipla, inter-relacionada e contínua, pela qual o indi-víduo deve saber que é vigiado e, por consequência, o poder se exerce automaticamente.

d) É possível dizer que houve um processo de mudança da disciplina-bloco para a disciplina-mecanismo, passando pelas etapas de inversão funcional das disciplinas, rami-ficação dos mecanismos e estatização dos mecanismos disciplinares.

e) A disciplina-bloco se estabeleceu com o esquema mo-derno do panóptico, uma vez que a disciplina - mecanis-mo, desenvolvida no período medieval para resolver o problema da peste, estava em falência.

135. (ENEM 2010)  . A lei não nasce da natureza, junto das fontes frequentadas pelos primeiros pastores: a lei nasce das batalhas reais, das vitórias, dos massacres, das conquistas que têm sua data e seus heróis de horror: a lei nasce das cidades incendiadas, das terras devastadas; ela nasce com os famosos inocentes que agonizam no dia que está amanhecendo.

FOUCAULT. M. “Aula de 14 de janeiro de 1976” In. Em defesa da sociedade. São

Paulo: Martins Fontes. 1999

O filósofo Michel Foucault (séc. XX) inova ao pensar a política e a lei em relação ao poder e à organização social. Com base na reflexão de Foucault, a finalidade das leis na organização das sociedades modernas é

a) combater ações violentas na guerra entre as nações.

b) coagir e servir para refrear a agressividade humana.

c) criar limites entre a guerra e a paz praticadas entre os in-divíduos de uma mesma nação.

d) estabelecer princípios éticos que regulamentam as ações bélicas entre países inimigos.

e) organizar as relações de poder na sociedade e entre os Estados

136. “O homem é algo que deve ser superado. O que fizestes para superá-lo? Todos os seres, até hoje, criaram algo que ia além de si mesmos: e vós, ao contrário, quereis ser o refluxo dessa grande vaga, e voltar a ser animais em vez de superar o homem? O que é o macaco para o homem? Algo que faz rir, ou algo que provoca um doloroso senso de vergonha? A mesma coisa será o homem para o Super-Homem: um motivo de riso ou de dolorosa vergonha. (...) Suplico-vos, irmãos, sede fiéis à terra, e não acreditais naqueles que vos falam de esperanças extraterrenas! Eles são manipuladores de venenos, quer sai-bam-no ou não. (...) Pecar contra a terra, eis a coisa mais terrí-vel que se pode fazer hoje. (...) Outrora a alma olhava o corpo com desprezo e então nada era superior a esse desprezo; ela o queria magro, faminto, horrível. Pensava escapar assim dele e da Terra. Oh, aquela alma era ela mesma horrível, magra, fa-minta: e a sua alegria era a crueldade!” (NIETZSCHE, Friedrich. Assim

Falou Zaratustra)

A partir do fragmento e de outros conhecimentos, percebe-mos que Nietzsche alimenta uma ideia de super-homem que

a) é testemunha de uma loucura personificada, do despre-zo à virtude e à qualquer moralidade possível.

b) está para além do bem e do mal, acima das prescrições, dos ritos e das leis, pois apela para a realização da vonta-de de potência, para a imaginação criadora.

c) inaugura uma nova concepção de vida moral, na qual a humildade e a prudência são as virtudes maiores.

d) alimenta a perspectiva metafísica e teológica, a esperan-ça extraterrena como realização definitiva da essência humana.

e) Representa e realiza forte critica ao humanismo, pois en-carna profundo pessimismo antropológico.

137. (Ufsj 2012) Nietzsche identificou os deuses gregos Apo-lo e Dionísio, respectivamente, como 

a) complexidade e ingenuidade: extremos de um mesmo segmento moral, no qual se inserem as paixões humanas. 

b) movimento e niilismo: polos de tensão na existência hu-mana. 

c) alteridade e virtu: expressões dinâmicas de intervenção e subversão de toda moral humana. 

d) razão e desordem: dimensões complementares da reali-dade.

138. No século XIX, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche vis-lumbrou o advento do “super-homem” em reação ao que para ele era a crise cultural da época. Na década de 1930, foi criado nos Estados Unidos o Super-Homem, um dos mais conheci-

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA301Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 3Exercícios

dos personagens das histórias em quadrinhos.

a) A diferença entre os dois “super-homens” está no fato de Nietzsche defender que o super-homem

b) agiria de modo coerente com os valores pacifistas, repu-diando o uso da força física e da violência na consecução de seus objetivos.

c) expressaria os princípios morais do protestantismo, em contraposição ao materialismo presente no herói dos quadrinhos.

d) abdicar-se-ia das regras morais vigentes, desprezando as noções de “bem”, “mal”, “certo” e “errado”, típicas do cris-tianismo.

e) representaria os valores políticos e morais alemães, e não o individualismo pequeno burguês norte-americano.

139. Na filosofia de Friedrich Nietzsche, é fundamental enten-der a crítica que ele faz à metafísica. Nesse sentido, é CORRE-TO afirmar que essa crítica

a) tem o sentido, na tradição filosófica, de contentamento, plenitude.

b) é a inauguração de uma nova forma de pensar sem meta-física através do método genealógico.

c) é o discernimento proposto por Nietzsche para levar à supressão da tendência que o homem tem à individua-lidade radical.

d) pressupõe que nenhum homem, de posse de sua razão, tem como conceber uma metafísica qualquer, que não tenha recebido a chancela da observação.

140. “A existência humana não podia, pois, sistematizar-se plenamente, enquanto o regime teológico prevalecesse, porque nossos sentimentos e nossos atos imprimiam então a nossos pensamentos dois impulsos essencialmente inconcili-áveis. Seria, ademais, supérfluo apreciar aqui a inanidade ne-cessária [vaidade] da coordenação metafísica, que, a despeito de suas pretensões absolutas, nunca pôde retirar da teologia o domínio afetivo, sendo sempre menos própria a abarcar a vida ativa.”

COMTE, Augusto. Discurso sobre o conjunto do positivismo. São Paulo: Nova Cultural, 1991. p. 48.

A partir do fragmento acima e em conformidade com o positi-vismo de Augusto Comte,

a) o espírito metafísico é fundamental para a superação de um estágio para outro, em direção a uma sociedade emancipada de todo pragmatismo e cientificismo.

b) o verdadeiro conhecimento parte da interpretação do fato social, ocasionando diferentes formas de leituras do real, resultando na impossibilidade de neutralidade cien-tífica.

c) o verdadeiro homem, que superou as superstições, cren-ças e idealizações, desconfia também do saber científico, alimentando postura cética.

d) torna-se impossível qualquer pretensão de emancipação do espírito teológico, que está na base de toda forma de pensamento.

e) o estágio atual da humanidade é o estágio positivo, do método científico que capta a verdade do objeto e des-creve suas leis de funcionando.

141. (Ufrgs 2012) Tanto Augusto Comte quanto Karl Marx identificam imperfeições na sociedade industrial capitalista, embora cheguem a conclusões bem diferentes: para o posi-tivismo de Comte, os conflitos entre trabalhadores e empre-sários são fenômenos secundários, deficiências, cuja correção é relativamente fácil, enquanto, para Karl Marx, os conflitos entre proletários e burgueses são o fato mais importante das sociedades modernas. A respeito das concepções teóricas desses autores, é CORRETO afirmar: 

a) Comte pensava que a organização científica da socieda-de industrial levaria a atribuir a cada indivíduo um lugar proporcional à sua capacidade, realizando-se assim a jus-tiça social. 

b) Comte considera que a partir do momento em que os ho-mens pensam cientificamente, a atividade principal das coletividades passa a ser a luta de classes que leva neces-sariamente à resolução de todos os conflitos. 

c) Marx acredita que a história humana é feita de consensos e implica, por um lado, o antagonismo entre opressores e oprimidos; por outro lado, tende a uma polarização em dois blocos: burgueses e proletários. 

d) Para Karl Marx, o caráter contraditório do capitalismo manifesta-se no fato de que o crescimento dos meios de produção se traduz na elevação do nível de vida da maioria dos trabalhadores embora não elimine as desi-gualdades sociais. 

e) Tanto Augusto Comte quanto Karl Marx concordam que a sociedade capitalista industrial expressa a predominân-cia de um tipo de solidariedade, que classificam como or-gânica, cujas características se refletirão diretamente em suas instituições. 

142. (Unioeste 2012) A filosofia da História – o primeiro tema da filosofia de Augusto Comte – foi sistematizada pelo próprio Comte na célebre “Lei dos Três Estados” e tinha o objetivo de mostrar por que o pensamento positivista deve imperar entre os homens. Sobre a “Lei do Três Estados” formulada por Com-te, é correto afirmar que 

a) Augusto Comte demonstra com essa lei que todas as ci-ências e o espírito humano desenvolvem-se na seguinte ordem em três fases distintas ao longo da história: a posi-tiva, a teológica e a metafísica. 

b) na “Lei dos Três Estados” a argumentação desempenha um papel de primeiro plano no estado teológico. O es-tado teológico, na sua visão, corresponde a uma etapa posterior ao estado positivo. 

c) o estado teológico, segundo está formulada na “Lei dos Três Estados”, não tem o poder de tornar a sociedade mais coesa e nenhum papel na fundamentação da vida moral. 

d) o estado positivista apresenta-se na “Lei dos Três Estados” como o momento em que a observação prevalece sobre a imaginação e a argumentação, e na busca de leis imutá veis nos fenômenos observáveis. 

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

302 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Filosofia

Exercícios

e) para Comte, o estado metafísico não tem contato com o estado teológico, pois somente o estado metafísico pro-cura soluções absolutas e universais para os problemas do homem. 

143. Uma ciência não é meramente um “corpo de fatos”. Será, no mínimo, uma coleção, e como tal depende dos interesses do colecionador, de um ponto de vista. Em ciência, esse ponto de vista é determinado por uma teoria científica; isto é, esco-lhemos dentre a infinita variedade de fatos e dentre a infinita variedade de aspectos dos fatos aqueles fatos e aspectos que são interessantes porque ligados a alguma teoria científica mais ou menos preconcebida. [...] O método da ciência reside na procura de fatos que possam refutar a teoria.

Karl POPPER. A sociedade aberta e seus inimigos. Tomo 2. 3ª edição. São Paulo: Itatiaia, 1998. p.267-268.

Com base nesse fragmento e em outras informações sobre a concepção de Karl Popper, sobre a atividade científica é corre-to afirmar que ela é

a) a busca da verdade da realidade; portanto, tem caráter objetivo e imparcial; de onde deriva sua universalidade;

b) situada culturalmente e realizada a partir de interesses e ideologias pessoais e/ou coletivos, de onde deriva a rela-tividade de seus projetos e processos.

c) saber dos fatos que estão submetidos à relação causa-e-feito, captada pela pesquisa científica, de onde deriva sua neutralidade.

d) movida pelo princípio da falseabilidade, uma vez que não há compromisso com a verdade ou com o progresso em sua pesquisa.

e) procedimento dedutivo, pois parte de teorias que já exis-tem e busca as necessárias aplicações aos casos particu-lares.

144. “Considero “paradigmas” as realizações científicas univer-salmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência”. (...). A ciência normal, atividade na qual a maioria dos cientistas emprega inevitavelmente quase todo o seu tempo, é baseada no pressuposto de que a comunidade científica sabe como é o mundo. Grande parte do sucesso do empreendimento deriva da disposição da co-munidade para defender esse pressuposto __ com custos con-sideráveis, se necessário. Por exemplo, a ciência normal fre-quentemente suprime novidades fundamentais, porque estas subvertem necessariamente seus compromissos básicos. (...) São denominados de revoluções científicas os episódios ex-traordinários nos quais ocorre essa alteração de compromis-sos profissionais. As revoluções científicas são os complemen-tos desintegradores da tradição à qual a atividade da ciência normal está ligada. (...)

O estudo dos paradigmas, muitos dos quais bem mais espe-cializados do que os indicados acima [astronomia “Ptolomai-ca” (ou “copernicana) “dinâmica aristotélica (ou “newtoniana”), óptica corpuscular” ou (“óptica ondulatória)] é o que prepara basicamente o estudante para ser membro de uma comuni-dade científica determinada na qual atuará mais tarde.

Thomas KUHN. Estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Ed .erspectiva. 2ª ed. 1978 p.15-30

As grandes realizações das ciências encontram-se sempre circunscritas por um paradigma, seja ele já consolidado ou emergente. Infere-se disso que

a) a pesquisa científica passa de um paradigma a outro, sem demorar-se em crises, pois essas dificultam o caminhar das ciências.

b) a revolução na ciência e na humanidade, na passagem de um paradigma a outro, é sempre passagem para um estágio melhor e mais evoluído.

c) a ciência normal é a ciência que existe no período em que o paradigma se encontra vigente e consolidado, alimen-tando a confiança do cientista.

d) a revolução científica, concebida por Thomas Kuhn, ex-pressa o espírito e a atitude cientificista, movida pela cer-teza e neutralidade do saber cientifico.

e) a ciência extraordinária, que se desenvolve durante a cri-se do paradigma tradicional, desconfia do poder que as novas leituras possam trazer.

145. “Visto que qualquer descrição tem que ser parcial, a His-tória Natural típica omite com frequência de seus relatos imen-samente circunstanciais exatamente aqueles detalhes que cientistas posteriores considerarão fontes de iluminações im-portantes. (...) Não é de admirar que nos primeiros estágios do desenvolvimento de qualquer ciência, homens diferentes con-frontados com a mesma gama de fenômenos __ mas em geral não com os mesmos fenômenos particulares __ os descrevem e interpretem de maneiras diversas. É surpreendente (e talvez também único, dada a proporção em que ocorrem) que tais divergências iniciais possam em grande parte desaparecer nas áreas que chamamos ciência. As divergências realmente de-saparecem em grau considerável e então, aparentemente, de uma vez por todas. Além disso, em geral seu desaparecimento é causado pelo triunfo de uma das escolas pré-paradigmáticas, a qual, devido a suas próprias crenças e preconceitos caracte-rísticos, enfatizava apenas alguma parte especial do conjunto de informações demasiado numeroso e incoativo.”

Thomas S. Kuhn. Estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Editora Perspectiva. 2. ed.1978, p.36-37

A partir do fragmento acima, e considerando-se a reflexão de Thomas Kuhn, a estrutura da revolução cientifica afirma que

a) a crise do paradigma inaugura a ciência normal, pois esse passa a ser o novo perfil da ciência contemporânea.

b) a crise de paradigma que acontece na ciência deve-se, essencialmente, à inquietude da comunidade cientifica, que sempre tende a rejeitar paradigmas.

c) o elemento central da revolução científica é a reflexão sobre o destino final da evolução científica. A preocupa-ção central é com a direção para a qual a humanidade caminha.

d) o conhecimento é processo e produto sempre situado historicamente, tendendo, no campo científico, à forma-ção de um paradigma predominante.

e) no campo das ciências, não há espaço para as divergên-cias, devido ao caráter objetivo e universal que necessa-riamente perpassa todo o processo da pesquisa cientifi-ca.

Page 70: Percurso - Enem - Filosofia 2019 - Final

TRODUÇÃO À FILOSOFIA303Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 3Exercícios

146. Thomas Kuhn tomou como ponto de partida um estudo sobre a história da ciência. Ele desenvolveu sua teoria acerca da história da ciência entendendo-a na contramão da concep-ção positivista. Desse modo, considerando sua filosofia da ci-ência é correto afirmar que:

a) o progresso da ciência é linear, passando por estágios cada vez mais evoluídos

b) a ciência passa por revoluções, nas quais há uma quebra de paradigma.

c) a ciência normal é aquela que caminha em meio a crise de paradigma

d) a ciência, devido ao seu método, realiza um conhecimen-to puro, neutro e imparcial.

e) ciência e filosofia não se distinguem. São saberes que buscam o conhecimento.

147. Karl Popper é conhecido como filósofo que fez uma pro-funda critica ao positivismo de augusto Comte. Nessa crítica, Popper afirma que:

a) A atividade científica é neutra, uma vez que a subjetivida-de não interfere na pesquisa

b) A ciência é a única forma segura de conhecimento, por ter um método de capta a verdade

c) O progresso científico é possível, devido às aprendiza-gens como o processo de falseação

d) O caminho do conhecimento segue uma escala evolutiva linear.

e) O método da suspensão de juízo e da dúvida hiperbólica é o caminho para o conhecimento.

148. Kuhn é conhecido como o filósofo da revolução científi-ca. Isso se deve ao fato de ele afirmar que:

a) A verdade científica é sempre uma verdade dentro de um modelo, dentro de um paradigma em vigor

b) Não existe conhecimento científico verdadeiro

c) A humanidade caminha por estágios, começando pelo estágio metafísico até chegar no estágio físico

d) A revolução científica consiste em quebrar todos os para-digmas e deles se libertar

e) A verdade científica é possível se e somente se o conheci-mento ficar no nível da experiência

149. "Todo conceito nasce por igualação do não igual. Assim como é certo que nunca uma folha é inteiramente igual a uma outra, é certo que o conceito de folha formado é formado por arbitrários abandonos dessas diferenças individuais, por um esquecer-se do que é distintivo, e desperta então a represen-tação, como se na natureza além das folhas houvesse algo que fosse "folha", uma espécie de folha primordial, segundo a qual todas as folhas fossem tecidas, desenhadas, recortadas, colo-ridas, frisadas, pintadas, mas por mãos inábeis, de tal modo que nenhum exemplar tivesse saído correto e fidedigno como cópia fiel da forma primordial (...)

O que é a verdade, portanto? Um batalhão móvel de metá-foras, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retorica-mente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, pare-cem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: as verdades são ilusões, das quais se esqueceu o que são, metáforas que se tornaram gastas e sem forma sensível, moedas que perderam sua efígie e agora só entram em consideração como metal, não mais como moedas.”

Nietzsche. Sobre a verdade e a mentira. Col. Os pensadores. São Paulo: Nova cultural, 1991. p. 34-35

Com base nesse fragmento, considerando o tema do conheci-mento, o pensamento de Nietzsche afirma que

a) a verdade que devemos procurar somente é possível me-diante a construção conceitual. Dessa forma, todo esfor-ço metodológico deve estar a serviço dessa construção.

b) a verdade da história se revela progressivamente ao pes-quisador. Para captar essa verdade, é preciso uma notável abertura de espírito.

c) o conceito que expressa a verdade de uma realidade é uma decorrência das características objetivas dos obje-tos.

d) o conceito, sendo igualação do não igual, descarta as di-ferenças, as ilusões, e capta a essência do fenômeno.

e) as verdades, que a cultura cristã racionalista ocidental nos impõem, não passam de ilusões, uma vez que são visões singulares vinculadas a um tempo histórico par-ticular.

150. Uma aranha executa operações semelhantes às do tece-lão, e a abelha supera mais de um arquiteto ao construir a sua colmeia. Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor abe-lha é que ele figura na mente sua construção antes de transfor-má-la em realidade. No fim do processo de trabalho aparece um resultado que já existia antes idealmente na imaginação do trabalhador. Ele não transforma apenas o material sobre o qual opera; ele imprime ao material o projeto que tinha cons-cientemente em mira, o qual constitui a lei determinante do seu modo de operar e ao qual tem de subordinar sua vontade.

MARX, K. O capital: crítica da economia política. Trad. Reginaldo Sant’Anna.

5ª ed. Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 1980 Livro Primeiro. Vol. I. Pág. 202.

(Fragmento)

De acordo com essa reflexão de Karl Marx, infere-se que:

a) O que distingue a atividade humana das operações de uma abelha está no fato desta última ser marcada pela abstração.

b) O trabalho humana não consegue se livrar da alienação á qual sempre está submetido

c) As operações dos animais são trabalhos libres, uma vez que não sofrem das exigências da cultura

d) O trabalho humano tem a sua singularidade no fato de ser resultante de uma projeção mental.

e) tanto o trabalho de uma abelha quanto o trabalho do ser humano são frutos de projetos.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

304 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Filosofia

Exercícios

151. Consideramos até aqui a alienação, a espoliação do ope-rário, só sob um aspecto, o de sua relação com os produtos de seu trabalho. Ora, a alienação não aparece somente no resul-tado, mas também no ato da produção, no interior da própria atividade produtora. Como o operário não seria estranho ao produto de sua atividade se, no próprio ato de produção, não se tornasse estranho a si mesmo? (...) O trabalho alienado, o trabalho no qual o homem se espolia, é sacrifício de si, mor-tificação. Enfim, o operário ressente a natureza exterior do trabalho pelo fato de que não é seu bem próprio, mas o de outro, que não lhe pertence; que no trabalho o operário não pertence a si mesmo, mas a outro.

MARX, K. esboço de uma crítica da economia política. Tradução Constança Terezinha M. César. São Paulo: Paulus, 1997. p.250-251.

A partir desse trecho, considerando a reflexão de Karl Marx, a alienação é concebida como

a) resultado de um processo no qual o trabalhador é res-ponsável por sua situação degradante.

b) mal necessário, pois é o preço a pagar para conquistar melhor condição social e emancipação política.

c) resultado e processo no qual o trabalhador é vítima de um modelo econômico que o despersonaliza e coisifica.

d) conatural ao trabalho, uma vez que este é essencialmen-te contrário à natureza humana, que tende ao ócio.

e) vinculada à estrutura e à dinâmica do trabalho, pois a es-sência do trabalho consiste na luta contra a nossa natu-reza impulsiva.

152. Leia o trecho a seguir.

A consciência não pode nunca ser outra coisa senão o ser consciente e o ser dos homens é seu processo de vida real. E se, em toda ideologia, os homens e suas relações nos parecem postos de cabeça para baixo como numa câmera escura, este fenômeno decorre de seu processo de vida histórica, absolu-tamente como a inversão dos objetos na retina decorre de seu processo de vida diretamente física.

MARX,K; “Ideologia alemã” In: VV.AA. Os filósofos através dos textos. De Platão a Sartre. Tradução de Constança Terezinha M. César. São Paulo: Paulus, 1997.

P.253-254.

A partir desse fragmento e considerando o pensamento filo-sófico, econômico e político de Karl Marx, a ideologia é con-cebida como.

a) conjunto de valores e ideais decorrente da determinada prática do proletariado em sua luta contra a dominação

b) recurso estratégico da classe dominante para impedir a formação da consciência critica e a organização do pro-letariado.

c) componente da superestrutura, que é a dimensão deter-minante na formação da consciência critica dos cidadãos.

d) movimento ascendente, responsável pelo progressivo engajamento político, que alimenta o espírito revolucio-nário.

e) força política que possibilita a revolução do proletariado contra a alienação historicamente imposta pela classe dominante.

153. “A sociedade não pode mais viver sob o domínio da bur-guesia, vale dizer, a sua existência não é mais compatível com a sociedade. A condição essencial para a existência e do domí-nio da classe burguesa é a acumulação da riqueza em mãos privadas, a formação e o crescimento do capital; a condição do capital é o trabalho assalariado. O trabalho assalariado ba-seia-se exclusivamente na concorrência dos operários entre si.”

MARX, Karl e ENGELS, Friedrich O Manifesto do Partido Comunista

“Ao contrário da filosofia alemã que desce do céu à terra, é da terra ao céu que se sobe aqui. Dito de outro modo, não partimos do que os homens dizem, imaginam, representam, nem sequer do que são nas palavras, no pensamento, na ima-ginação e na representação de outro, para chegar em seguida aos homens em carne e osso; não, partimos dos homens em sua atividade real; é a partir de seu processo de vida real que representamos também o desenvolvimento dos reflexos e dos ecos ideológicos desse processo vital. E mesmo as fantas-magorias no cérebro humano são sublimações resultantes ne-cessariamente do processo de sua vida material que se pode constatar empiricamente e que repousa em bases materiais. Em consequência desse fato, a moral, a religião, a metafísica e todo o resto da ideologia, assim como as formas de consci-ência que lhe correspondem, perdem logo toda aparência de autonomia.”

MARX, Karl. Ideologia Alemã. VV.AA. Os filósofos através dos textos. De Platão a Sartre.

Trad. Constança Terezinha. São Paulo: Paulus, 1997. p.253.

Com base no fragmento acima e em outros conhecimentos, sobre o pensamento político e econômico de Karl Marx infe-re-se que

a) a ideologia pode servir a diferentes objetivos, pode ser-vir de instrumento tanto para a libertação quanto para a alienação do trabalhador.

b) a injustiça presente no capitalismo não se deve à sua es-trutura, mas à sua conjuntura que, alterada, poderá trazer vida justa para as pessoas.

c) o materialismo se apresenta como uma crítica ao idea-lismo, por este último apresentar uma visão de mundo universalista e desencarnada.

d) a consciência mantém uma nítida autonomia em relação às bases materiais da vida, uma vez que são as ideias que movem o mundo.

e) a religião tem forte dimensão ideológica, uma vez que traz acentuado poder de mobilização social e de liberta-ção.

154. (Enem 2013) Na produção social que os homens reali-zam, eles entram em determinadas relações indispensáveis e independentes de sua vontade; tais relações de produção correspondem a um estágio definido de desenvolvimento das suas forças materiais de produção. A totalidade dessas rela-ções constitui a estrutura econômica da sociedade – funda-mento real, sobre o qual se erguem as superestruturas política e jurídica, e ao qual correspondem determinadas formas de consciência social. 

MARX, K. Prefácio à Crítica da economia política. In. MARX, K. ENGELS F. Textos 3. São Paulo. Edições Sociais, 1977 (adaptado).

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA305Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 3Exercícios

Para o autor, a relação entre economia e política estabelecida no sistema capitalista faz com que

a) o proletariado seja contemplado pelo processo de mais--valia. 

b) o trabalho se constitua como o fundamento real da pro-dução material.

c) a consolidação das forças produtivas seja compatível com o progresso humano.

d) a autonomia da sociedade civil seja proporcional ao de-senvolvimento econômico.

e) a burguesia revolucione o processo social de formação da consciência de classe.

155. ( UFU, 2016) Marx e Engelsm se seu Manifesto do Par-tido Comunista, consideram que “a nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se por ter simplificado os antagonis-mos de classes. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametral-mente opostas: a burguesia e o proletariado.” Em vista disso, assinale a alternativa que define corretamente a burguesia e o proletariado.

a) Os burgueses utilizam o trabalho escravo para a produ-ção, e o proletariado é desprovido de liberdade para ven-der sua força de trabalho.

b) Os burgueses são proprietários que utilizam da manufa-tura do proletariado para a produção de mercadorias, e o proletariado impulsiona o desenvolvimento da manu-fatura.

c) Os burgueses são os grandes proprietários de terras, e o proletariado detém o poder social e econômico.

d) Os burgueses são os detentores dos meios de produção, e o proletariado vende sua força de trabalho

156. (UNICAMP, 2010)

A história de todas as sociedades tem sido a história das lutas de classe. Classe oprimida pelo despotismo feudal, a burgue-sia conquistou a soberania política no Estado moderno, no qual uma exploração aberta e direta substituiu a exploração velada por ilusões religiosas.

A estrutura econômica da sociedade condiciona suas formas jurídicas, políticas e religiosas, artísticas ou filosóficas. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, são as relações de produção que ela contrai que de-terminam a consciência.

(Adaptado de K. Marx e F. Engels. Obras escolhidas. São Paulo: Alfa-Ômega, s/d.

vol. 1. P. 21-23, 301-302)

As proposições dos enunciados acima podem ser associadas ao pensamento conhecido como

a) materialismo histórico, que compreende as sociedades humanas a partir de ideias universais independentes da realidade histórica e social.

b) materialismo histórico, que concebe a história a partir da luta de classes e da determinação das formas ideológicas pelas relações de produção.

c) socialismo utópico, que propõe a destruição do capitalis-mo por meio de uma revolução e a implantação de uma ditadura do proletariado.

d) socialismo utópico, que defende a reforma do capitalis-mo, com o fim da exploração econômica e a abolição do Estado por meio da ação direta.

157. “O poder corresponde à habilidade humana de não ape-nas agir, mas de agir em uníssono, em comum acordo. O po-der jamais é propriedade de um indivíduo; pertence ele a um grupo e existe apenas enquanto o grupo se mantiver unido. (...) Governo algum, exclusivamente baseado nos instrumento da violência, existiu jamais. Mesmo o governante totalitário, cujo principal instrumento de dominação é a tortura, precisa de uma base de poder __a polícia secreta e a sua rede de in-formações (...). Homens isolados sem outros que os apoiem nunca têm poder suficiente para fazer uso da violência de maneira bem-sucedida. (...) Assim, nas questões internas, a violência funciona como o último recurso do poder contra os criminosos ou rebeldes, isto é, contra indivíduos isolados que, pode-se dizer, recusam-se a ser dominados pelo consenso da maioria”.

ARENDT, Hannah. Da violência. Col. Pensamentos Políticos. Brasília: Ed. UnB, 1985.p.24.

Tendo como referência o fragmento de Hannah Arendt, o que caracteriza o poder é o fato de ele ser

a) capacidade natural do ser humano, verificada na superio-ridade de uns sobre outros.

b) realidade inerente à pessoa instituída de autoridade e que tem função de comando.

c) habilidade que brota do grupo e subsistir à medida que o grupo mantiver consensos.

d) ilegítimo ao usar da violência contra os indivíduos que atuam à margem da lei.

e) característica normalmente presente, mas não necessá-ria, para a existência de governo.

158. Há duas maneiras de subestimar, desdenhar e se equi-vocar no julgamento da importância do Holocausto para a sociologia como teoria da civilização, da modernidade, da civilização moderna. Uma é apresentar o Holocausto como algo que aconteceu aos judeus, como um evento da histó-ria judaica. Isso torna o Holocausto único, confortavelmente atípico e sociologicamente inconsequente. [...]. Outra manei-ra de apresentar o Holocausto [...] é como um caso extremo de uma ampla e conhecida categoria de fenômenos sociais, categoria seguramente abominável e repulsiva, mas com a qual podemos (e devemos) conviver. [...] Assim, o Holocaus-to é como mais um item (embora de destaque) numa ampla categoria que abarca muitos casos “semelhantes” de conflito, preconceito ou agressão.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e Holocausto. Trad. Marcus Penchel. Rio de janeiro: Zahar, 1998. p. 19-20.

O mundo dos campos da morte e a sociedade que engendra revelam o lado progressivamente mais obscuro da civilização judaico-cristã. Civilização significa escravidão, guerras, explo-ração e campos da morte. Também significa higiene médica, elevadas ideias religiosas, belas artes e requintada música. É

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

306 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Filosofia

Exercícios

um erro imaginar que civilização e crueldade selvagem sejam antíteses... Em nosso tempo as crueldades, como muitos ou-tros aspectos do nosso mundo, passaram a ser administradas de maneira muito mais efetiva que em qualquer época ante-rior. Não deixaram e não deixarão de existir. Tanto a criação como a destruição são aspectos inseparáveis do que chama-mos civilização.

RUBENSTEIN, Richard. “The Cunning of History”. Nova York: Harper, 1978, p. 91, 195. Citado em BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e Holocausto. Trad. Marcus

Penchel. Rio de janeiro: Zahar, 1998. p. 28.

A partir desses fragmentos, considerando o tema do totalita-rismo, sobre o fenômeno do holocausto infere-se que ele

a) é uma antítese da civilização moderna, um produto his-tórico sem lógica, um horror localizado no passado de nossa civilização.

b) é fruto coerente de um modelo de civilização tecnológi-ca, que mostra uma forma de realização da racionalidade moderna, de sua razão instrumental.

c) nasce do interior da própria cultura judaico-cristã que, diferente de outras culturas, tem uma história de perse-guição e morte.

d) é uma aberração, uma violência desprovida de sentido, uma vez que a civilização é a historia da humanização do homem.

e) nasce da natureza violenta do ser humano e se iguala a tantas outras formas cotidianas de violência e terror com as quais convivemos.

159. (Enem PPL 2015)  Falava-se, antes, de autonomia da produção significar que uma empresa, ao assegurar uma pro-dução, buscava também manipular a opinião pela via da pu-blicidade. Nesse caso, o fato gerador do consumo seria a pro-dução. Mas, atualmente, as empresas hegemônicas produzem o consumidor antes mesmo de produzirem os produtos. Um dado essencial do entendimento do consumo é que a produ-ção do consumidor, hoje, precede a produção dos bens e dos serviços.

 SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal.

Rio de Janeiro: Record, 2000 (adaptado).

O tipo de relação entre produção e consumo discutido no texto pressupõe o(a)

a) aumento do poder aquisitivo.   

b) estímulo à livre concorrência.   

c) criação de novas necessidades.   

d) formação de grandes estoques.   

e) implantação de linhas de montagem.   

160. (Fgv 2015)  A regulamentação dos meios de comuni-cação tem gerado controvérsias, trazendo à tona a discussão sobre o direito de liberdade de expressão. Recentemente, no Brasil, esse debate se desenvolveu em torno do Marco Civil da Internet, sancionado em 2014.

Relacione os princípios do Marco Civil da Internet às normas listadas.

I. Neutralidade

II. Privacidade

III. Liberdade de expressão

(     ) O sigilo e a inviolabilidade dos fluxos de comunicação e de conversas armazenadas devem ser garantidos.

(     ) A remoção de conteúdo, para impedir a censura, não fica a cargo do provedor, podendo ser feita mediante ordem judicial.

(     ) As fotos de indivíduos devem ser autorizadas por eles para serem veiculadas em anúncios na rede.

(     ) Os pacotes de dados que circulam pela rede devem ser tratados de forma isonômica, sem distinção por conte-údo, origem, destino ou serviço.

Assinale a opção que mostra a relação correta, de cima para baixo.

a) I, III, II e I.   

b) II, I, II e III.   

c) III, III, I e II.   

d) I, II, III e III.   

e) II, III, II e I

161. (Unesp 2014)

Não somente os tipos das canções de sucesso, os astros, as novelas ressurgem ciclicamente como invariantes fixos, mas o conteúdo específico do espetáculo só varia na aparência. O fracasso temporário do herói, que ele sabe suportar como bom esportista que é; a boa palmada que a namorada recebe da mão forte do astro, são, como todos os detalhes, clichês prontos para serem empregados arbitrariamente aqui e ali e completamente definidos pela finalidade que lhes cabe no esquema. Desde o começo do filme já se sabe como ele ter-mina, quem é recompensado, e, ao escutar a música ligeira, o ouvido treinado é perfeitamente capaz, desde os primeiros compassos, de adivinhar o desenvolvimento do tema e sente--se feliz quando ele tem lugar como previsto. O número médio de palavras é algo em que não se pode mexer. Sua produção é administrada por especialistas, e sua pequena diversidade permite reparti-las facilmente no escritório.

(Theodor W. Adorno e Max Horkheimer. “A indústria cultural como mistificação das massas”. In: Dialética do esclarecimento, 1947. Adaptado.)

O tema abordado pelo texto refere-se

a) ao conteúdo intelectualmente complexo das produções culturais de massa. 

b) à hegemonia da cultura americana nos meios de comu-nicação de massa.

c) ao monopólio da informação e da cultura por ministérios estatais.

d) ao aspecto positivo da democratização da cultura na so-ciedade de consumo.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA307Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 3Exercícios

e) aos procedimentos de transformação da cultura em meio de entretenimento.

162. As queixas acerca da tendência do gosto musical são, na prática, tão antigas quanto esta experiência ambivalente que o gênero humano fez no limiar da época histórica, a saber: a música constitui, ao mesmo tempo, a manifestação imediata do instinto humano e a instância própria para o seu apazigua-mento. [...]. A nova etapa da consciência musical das massas se define pela negação e rejeição do prazer no próprio prazer. [...]. O fascínio da canção da moda, do que é melodioso, e de todas as variantes da banalidade, exerce a sua influência des-de o período inicial da burguesia. [...]. A liquidação do indiví-duo constitui o sinal característico da nova época musical em que vivemos. [...]. Com efeito, a música atual, na sua totalida-de, é dominada pela característica de mercadoria: os últimos resíduos pré-capitalistas foram eliminados.

ADORNO, Theodor W “O fetichismo na música” In. Max Horkheimer e Theodor W. Adorno. Textos escolhidos. Trad. Zeljko Loparié... [et al.] 5ª ed. São Paulo:

Nova Cultural, p. 79-86. (Os pensadores)

A partir desse trecho, sobre o fenômeno da indústria cultural, infere-se que

a) a arte, no mercado dos capitais, recebeu um novo vigor, recobrando seu sentido de bela arte.

b) a gratuidade e o verdadeiro prazer artístico resistem à tendência econômica de manipular o universo da arte.

c) a música, na sociedade contemporânea, exerce a função de critica social, sendo expressão de arte engajada.

d) as manifestações de arte, na cultura capitalista, foram transformadas em mercadorias sem densidade, expres-sões de vida líquida.

e) a liquidação do individuo, presente na forma contempo-rânea da música, é mal necessário para o ressurgimento do individuo autêntico.

163. (Unesp 2013) Uma obra de arte pode denominar-se re-volucionária se, em virtude da transformação estética, repre-sentar, no destino exemplar dos indivíduos, a predominante ausência de liberdade, rompendo assim com a realidade so-cial mistificada e petrificada e abrindo os horizontes da liber-tação. Esta tese implica que a literatura não é revolucionária por ser escrita para a classe trabalhadora ou para a “revolução”. O potencial político da arte baseia-se apenas na sua própria dimensão estética. A sua relação com a práxis (ação política) é inexoravelmente indireta e frustrante. Quanto mais imedia-tamente política for a obra de arte, mais reduzidos são seus objetivos de transcendência e mudança. Nesse sentido, pode haver mais potencial subversivo na poesia de Baudelaire e Rimbaud que nas peças didáticas de Brecht.

(Herbert Marcuse. A dimensão estética, s/d.)

Segundo o filósofo, a dimensão estética da obra de arte carac-teriza-se por 

a) apresentar conteúdos ideológicos de caráter conserva-dor da ordem burguesa. 

b) comprometer-se com as necessidades de entretenimen-to dos consumidores culturais. 

c) subordinar-se aos imperativos políticos e materiais de transformação da sociedade

d) estabelecer uma relação de independência frente à con-juntura política imediata. 

e) contemplar as aspirações políticas das populações eco-nomicamente excluídas. 

164. A expressão “indústria cultural” visa substituir a expres-são “cultura de massa”, em voga, na época (1960). Para Adorno e Horkheimer, a expressão “cultura de massa” é fruto de um engodo, uma ideologia, uma inversão, de quem quer que apa-reça como se a massa fosse, espontaneamente, criando uma cultura. Ora, o que existe na prática é uma indústria que en-tope os indivíduos de imagens e necessidades artificiais que os reduzem a meros consumidores. Essa indústria cultural “integra verticalmente” os seus consumidores, determinando em larga escala o próprio consumo. Na condição de cúmpli-ce da ideologia capitalista e a seu serviço, a indústria cultural falsifica as relações entre os homens e destes com a natureza, frutificando num anti-iluminismo, uma vez que impede o de-senvolvimento das consciências, em nome do progresso e do domínio tecnológico. A indústria cultural impede a formação de pessoas autônomas, críticas, capazes de decisão conscien-te. Instaura-se um reino de mecanização, que vai do trabalho ao lazer, e o próprio ócio está em função do trabalho alienado. É preciso não trabalhar para poder ter mais forças e novamen-te se submeter ao trabalho mecanizado.

MEIER, Celito. Filosofia: por uma inteligência da complexidade. Belo Horizonte:

PAX Editora, 2010. P. 450-451

A partir da leitura desse fragmento sobre a indústria cultural infere-se que ela

a) sinaliza para o poder mobilizador da massa, capaz de criar cultura liberta das dominações e alienações.

b) “integra verticalmente” as pessoas, ou seja, possibilita aos cidadãos a ascensão social, com consequente melhoria na qualidade de vida.

c) resulta do modelo econômico capitalista que transforma os indivíduos em consumidores de necessidades artifi-cialmente criadas.

d) possibilita em larga escala o acesso aos bens básicos e fundamentais da vida, especialmente econômicos e cul-turais.

e) fomenta o consumo responsável e o tempo livre, sendo meio privilegiado para a reflexão filosófica.

165. (Uel 2011) Habermas distingue entre racionalidade instrumental e racionalidade comunicativa. A racionalidade comunicativa ocorre quando os seres humanos recorrem à linguagem com o intuito de alcançar o entendimento não coagido sobre algo, por exemplo, decidir sobre a maneira cor-reta de agir (ação moral). A racionalidade instrumental, por sua vez, ocorre quando os seres humanos utilizam as coisas do mundo, ou até mesmo outras pessoas, como meio para se alcançar um fim (raciocínio meio e fim).

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria da ação comunicativa de Habermas, é correto afirmar:

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

308 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Filosofia

Exercícios

a) Contar uma mentira para outra pessoa buscando obter algo que desejamos e que sabemos que não recebería-mos se disséssemos a verdade é um exemplo de raciona-lidade comunicativa. 

b) Realizar um debate entre os alunos de turma da faculda-de buscando decidir democraticamente a melhor manei-ra de arrecadar fundos para o baile de formatura é um exemplo de racionalidade instrumental. 

c) Um adolescente que diz para seu pai que vai dormir na casa de um amigo, mas, na verdade, vai para uma festa com amigos, é um exemplo de racionalidade comunica-tiva. 

d) Alguém que decide economizar dinheiro durante vários anos a fim de fazer uma viagem para os Estados Unidos da América é um exemplo de racionalidade instrumental. 

e) Um grupo de amigos que se reúne para decidir democra-ticamente o que irão fazer com o dinheiro que ganharam em um bolão da Mega Sena é um exemplo de racionali-dade instrumental. 

166. (Uel 2013)A utilização da Internet ampliou e fragmen tou, simultaneamente, os nexos de comunicação. Isto impac-ta no modo como o diálogo é construído entre os indivíduos numa sociedade democrática. 

(Adaptado de: HABERMAS, J. “O caos da esfera pública”. Folha de São Paulo, 13 ago. 2006, Caderno Mais!, p.4-5.) 

A partir dos conhecimentos sobre a ação comunicativa em Habermas, considere as afirmativas a seguir.

I. A manipulação das opiniões impede o consenso ao usar os interlocutores como meios e desconsiderar o ser humano como fim em si mesmo.II. A validade do que é decidido consensualmente assenta-se na negociação em que os interlocutores se instrumentalizam reciprocamente em prol de interesses particulares.III. Como regra do discurso que busca o entendimento, de-vem-se excluir os interlocutores que, de algum modo, são afe-tados pela norma em questão.IV. O projeto emancipatório dos indivíduos é construído a partir do diálogo e da argumentação que prima pelo enten-dimento mútuo.Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas. 

b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. 

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. 

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. 

e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. 

167. (Ueg 2012) “Uma moral racional se posiciona critica-mente em relação a todas as orientações da ação, sejam elas naturais, autoevidentes, institucionalizadas ou ancoradas em motivos através de padrões de socialização. No momento em que uma alternativa de ação e seu pano de fundo normativo são expostos ao olhar crítico dessa moral, entra em cena a pro-blematização. A moral da razão é especializada em questões de justiça e aborda em princípio tudo à luz forte e restrita da universalidade.” 

(HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. v. I. Trad. Flávio Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. p. 149.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a moral em Habermas, é correto afirmar:

a) A formação racional de normas de ação ocorre indepen-dentemente da efetivação de discursos e da autonomia pública. 

b) O discurso moral se estende a todas as normas de ações passíveis de serem justificadas sob o ponto de vista da razão. 

c) A validade universal das normas pauta-se no conteúdo dos valores, costumes e tradições praticados no interior das comunidades locais. 

d) A positivação da lei contida nos códigos, mesmo sem o consentimento da participação popular, garante a solu-ção moral de conflitos de ação. 

e) Os parâmetros de justiça para a avaliação crítica de nor-mas pautam-se no princípio do direito divino. 

168. (Uel 2012) Elaborada nos anos de 1980, em um contexto de preocupações com o meio ambiente e o risco nuclear, a Éti-ca do Discurso buscou reorientar as teorias deontológicas que a antecederam. Um exemplo está contido no texto a seguir.

De maior gravidade são as consequências que um conceito restrito de moral comporta para as questões da ética do meio ambiente. O modelo antropocêntrico parece trazer uma espé-cie de cegueira às teorias do tipo kantiano, no que diz respeito às questões da responsabilidade moral do homem pelo seu meio ambiente. 

(HABERMAS, Jürgen. Comentários à Ética do Discurso. Trad. de Gilda Lopes En-carnação. Lisboa: Instituto Piaget, 1999, p.212.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a Ética do Dis-curso, é correto afirmar que a ética

a) abrange as ações isoladas das pessoas visando adequar--se às mudanças climáticas e às catástrofes naturais. 

b) corresponde à maneira como o homem deseja construir e realizar plenamente a sua existência no planeta. 

c) compreende a atitude conservacionista que o sistema econômico adota em relação ao ambiente. 

d) implica a instrumentalização dos recursos tecnológicos em benefício da redução da poluição. 

e) refere-se à atitude de retorno do homem à vida natural, observando as leis da natureza e sua regularidade

169. (Uel 2012) Leia o texto a seguir. 

O ser humano, no decorrer da sua existência na face da terra e graças à sua capacidade racional, tem desenvolvido formas de explicação do que há no intuito de estabelecer um nexo de sentido entre os fenômenos e as experiências por ele vivencia-dos. Essas vivências, à medida que são passíveis de expressão através das construções simbólicas contidas na linguagem, apresentam um caráter eminentemente social. 

(HANSEN, Gilvan. Modernidade, Utopia e Trabalho. Londrina: Edições Cefil, 1999. p.13.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de Habermas, assinale a alternativa correta.

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA309Curso Enem 2019 | Filosofia

CAPÍTULO 3Exercícios

a) A linguagem, em razão de sua dimensão material, invia-biliza a (re)produção simbólica da sociedade. 

b) As construções simbólicas se valem do apreço instru-mental e do valor mercantil. 

c) A importância do simbólico na sociedade decorre de sua adequação aos parâmetros funcionais e técnicos. 

d) A dimensão simbólica da sociedade é inerente à forma como o homem assegura sentido à realidade. 

e) A forma de expressăo dos elementos simbólicos na arena social deve atender a uma utilidade prática.

170. (Uem 2011) Jürgen Habermas (1929) pertenceu inicial-mente à escola de Frankfurt, também conhecida como Teoria Crítica, antes de fazer seu próprio caminho de investigação filosófica.

Sobre o pensamento de Jürgen Habermas, assinale o que for correto.

a) Ao afastar-se da Escola de Frankfurt, Jürgen Habermas abandona, ao mesmo tempo, a teoria crítica da socieda-de e a crítica da razão instrumental. 

b) Ao contrário de Max Horkheimer, Theodor W. Adorno e Walter Benjamin, Jürgen Habermas continua fiel ao ma-terialismo histórico, ou seja, à ortodoxia marxista. 

c) A relação posta pela Filosofia positivista entre o objeto da investigação científica e o sujeito que investiga é, para Jürgen Habermas, o caminho a ser adotado por uma ra-cionalidade que deseja a emancipação humana. 

d) A racionalidade comunicativa, contida na Teoria da ação comunicativa de Jürgen Habermas, elabora-se na intera-ção intersubjetiva, mediatizada pela linguagem de sujei-tos que desejam alcançar, por meio do entendimento, um consenso autêntico.

171. (Uel 2011) Leia o texto a seguir. 

Na tradição liberal, a ênfase é posta no caráter impessoal das leis e na proteção das liberdades individuais, de tal modo que o processo democrático é compelido pelos (e está a serviço dos) direitos pessoais que garantem a cada indivíduo a liber-dade de buscar sua própria realização. Na tradição republica-na, a primazia é dada ao processo democrático enquanto tal, entendido como uma deliberação coletiva que conduz os ci-dadãos à procura do entendimento sobre o bem comum. 

(Adaptado de: ARAÚJO, L. B. L. Moral, direito e política. “Sobre a Teoria do

Discurso de” Habermas. In: OLIVEIRA, M.; AGUIAR, O. A.; SAHD, L. F. N. de A. e

S. (Orgs.). Filosofia Política Contemporânea. Petrópolis: Vozes, 2003. p. 214-235.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a filosofia po-lítica na teoria do discurso, é correto afirmar que Habermas

a) privilegia a ideia de Estado de direito em detrimento de uma democracia participativa. 

b) concede maior relevância à autonomia pública, opondo--se à autonomia privada. 

c) ignora tanto a autonomia privada quanto a pública, subs-tituindo-as pela utilidade das normas morais. 

d) enfatiza a compreensão individualista e instrumental do papel do cidadão na lógica privada do mercado. 

e) concilia, na mesma base, direitos humanos e soberania popular, reconhecendo-os como distintos, porém com-plementares. 

172. (Uel 2011) Leia o texto a seguir.

Em Técnica e Ciência como “ideologia”, Habermas apresenta uma reformulação do conceito weberiano de racionalização pela qual lança as bases conceptuais de sua teoria da socie-dade. Neste sentido, postula a distinção irredutível entre tra-balho ou agir instrumental e interação ou agir comunicativo, bem como a pertinência da conexão dialética entre essas categorias, das quais deriva a diferenciação entre o quadro institucional de uma sociedade e os subsistemas do agir ra-cional com respeito a fins. Segundo Habermas, uma análise mais pormenorizada da primeira parte da Ideologia Alemã revela que “Marx não explicita efetivamente a conexão entre interação e trabalho, mas sob o título nada específico da prá-xis social reduz um ao outro, a saber, a ação comunicativa à instrumental”.

(Adaptado: HABERMAS, J. Técnica e ciência como “ideologia”. Lisboa: Edições 70, 1994. p.41-42.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de Habermas, é correto afirmar:

a) O crescimento das forças produtivas e a eficiência admi-nistrativa conduzem à organização das relações sociais baseadas na comunicação livre de quaisquer formas de dominação. 

b) A liberação do potencial emancipatório do desenvolvi-mento da técnica e da ciência depende da prevenção das disfuncionalidades sistêmicas que entravam a reprodu-ção material da vida e suas respectivas formas interativas. 

c) O desenvolvimento da ciência e da técnica, enquanto for-ças produtivas, permite estabelecer uma nova forma de legitimação que, por sua vez, nega as estruturas da ação instrumental, assimilando-as à ação comunicativa. 

d) Com base na irredutibilidade entre trabalho e interação, a luta pela emancipação diz respeito tanto ao agir comu-nicativo, contra as restrições impostas pela dominação, quanto ao agir instrumental, contra as restrições mate-riais pela escassez econômica. 

e) A racionalização na dimensão da interação social subme-tida à racionalização na dimensão do trabalho na práxis social determina o caráter emancipatório do desenvol-vimento das forças produtivas e do bem-estar da vida humana. 

173. (Uel 2009)

A utilização de organismos geneticamente modificados, já presente em alimentos como soja e milho, remete para a questão dos limites éticos da pesquisa.

Tendo presente a obra de Jürgen Habermas, é correto afirmar.

a) O debate sobre as consequências éticas da ciência, es-pecialmente da biotecnologia, deve ocorrer a posteriori para não atrapalhar um possível progresso resultante das novas descobertas científicas. 

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TRODUÇÃO À FILOSOFIA

310 Filosofia | Curso Enem 2019

CAPÍTULO 3

Curso Enem 2019 | Filosofia

Exercícios

b) A pesquisa com seres humanos, sobretudo quando en-volve a possibilidade futura de intervenções terapêuticas e de aperfeiçoamento, requer que se faça uma clara dis-tinção entre eugenia positiva e negativa. 

c) Para que a ciência progrida e as pesquisas avancem na direção de novas descobertas, a ciência necessita estar sintonizada com o princípio da neutralidade científi ca. 

d) Diante da inserção dos laboratórios de pesquisa na lógi-ca de mercado, caso seja possível alterar geneticamente características dos bebês, caberá aos pais estabelecer li-mites éticos para as possibilidades oferecidas. 

e) O ritmo lento da produção legislativa frente à rapidez das novas descobertas científi cas torna sem sentido estabe-lecer limites ético-normativos para questões que envol-vem a ciência.

1 E 31 D 61 D 91 D

2 D 32 C 62 A 92 D

3 D 33 C 63 E 93 B

4 B 34 A 64 A 94 B

5 D 35 C 65 D 95 D

6 D 36 C 66 A 96 A

7 B 37 B 67 D 97 A

8 E 38 D 68 B 98 B

9 A 39 C 69 E 99 E

10 A 40 C 70 B 100 E

11 A 41 D 71 C 101 E

12 E 42 B 72 E 102 C

13 D 43 E 73 D 103 B

14 A 44 E 74 B 104 E

15 E 45 E 75 D 105 A

16 C 46 C 76 D 106 B

17 C 47 E 77 E 107 D

18 B 48 B 78 A 108 A

19 A 49 E 79 C 109 B

20 C 50 D 80 C 110 C

21 B 51 B 81 D 111 E

22 D 52 A 82 E 112 A

23 C 53 C 83 C 113 A

24 B 54 B 84 C 114 C

25 D 55 D 85 D 115 E

26 A 56 C 86 E 116 E

27 B 57 B 87 C 117 A

28 B 58 E 88 A 118 A

29 C 59 C 89 D 119 D

30 A 60 A 90 B 120 E

GABARITO

121 E 135 E 149 E 163 D

122 E 136 B 150 D 164 C

123 C 137 D 151 C 165 D

124 B 138 D 152 B 166 B

125 D 139 B 153 C 167 B

126 B 140 E 154 B 168 B

127 A 141 A 155 D 169 D

128 B 142 D 156 B 170 D

129 D 143 B 157 C 171 E

130 C 144 C 158 B 172 D

131 D 145 D 159 C 173 B

132 D 146 B 160 E

133 E 147 C 161 E

134 D 148 A 162 D