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INSTITUTO OBSERVATÓRIO SOCIAL Av. Mauro Ramos, 1624 - Centro Florianópolis/SC - Brasil - CEP:88020-302 Fone/Fax: (48) 3028-4400 E-mail: [email protected] Site: www.observatoriosocial.org.br
PERFIL DE EMPRESA
VERACEL ABRIL/2004
INSTITUTO OBSERVATORIO SOCIAL
PERFIL DE EMPRESA
VERACEL
FLORIANÓPOLIS
ABRIL/2004
ii
ii
INSTITUTO OBSERVATÓRIO SOCIAL
CONSELHO DIRETOR Presidente: Kjeld A. Jakobsen (CUT) João Vaccari Neto (Secretaria de Relações Internacionais, CUT) Rosane da Silva (Secretaria de Políticas Sindicais, CUT) Artur Henrique dos Santos (Secretaria de Organização, CUT) José Celestino Lourenço (Secretaria Nacional de Formação, CUT) Maria Ednalva B. de Lima (Secretaria da Mulher Trabalhadora, CUT) Gilda Almeida de Souza (Secretaria de Políticas Sociais, CUT) Antonio Carlos Spis (Secretaria de Comunicação) Wagner Firmino Santana (Dieese) Mara Luzia Feltes (Dieese) Francisco Mazzeu (Unitrabalho) Silvia Araújo (Unitrabalho) Tullo Vigevani (Cedec) Maria Inês Barreto (Cedec)
DIRETORIA EXECUTIVA Kjeld A. Jakobsen: Presidente Artur Henrique dos Santos (SNO/CUT) Ari Aloraldo do Nascimento (CUT) Carlos Roberto Horta (UNITRABALHO) Clemente Ganz Lúcio (DIEESE) Clóvis Scherer (Coordenador Técnico) Maria Inês Barreto (CEDEC) Maria Ednalva B. de Lima (SNMT/CUT) Odilon Luís Faccio (Coordenador de Desenvolvimento Institucional)
COORDENAÇÃO TÉCNICA Arthur Borges Filho: Coordenador Administrativo Clóvis Scherer: Coordenador Técnico Maria José H. Coelho: Coordenadora de Comunicação Odilon Luís Faccio: Coordenador de Desenvolvimento Institucional Pieter Sijbrandij: Coordenador de Projetos Ronaldo Baltar: Coordenador do Sistema de Informação
ELABORAÇÃO: Lílian Arruda COLABORAÇÃO:
OXFAM DO BRASIL FNV MONDIAAL (Holanda) DGB Bildungswerk (Alemanha)
Revisão gramatical e ortográfica: – Cláudia Barreto ABRIL/2004
iii
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................1
2 HISTÓRICO .............................................................................................................................3
3 PANORAMA DO SETOR .......................................................................................................4
4 ESTRUTURA DA EMPRESA.................................................................................................9
5 RESPONSABILIDADE SOCIAL .........................................................................................12
5.1 MEIO AMBIENTE...........................................................................................................12
5.2 AÇÃO SOCIAL ................................................................................................................13
5.3 SAÚDE E SEGURANÇA .................................................................................................15
5.4 RELAÇÃO COM OS FUNCIONÁRIOS ..........................................................................16
5.5 FORNECEDORES ..........................................................................................................17
REFERÊNCIAS ..............................................................................................................................18
iv
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Setor de papel e celulose. Evolução histórica da produção .........................................5
Tabela 2 – Saldo comercial do setor de papel e celulose (US$ milhões)........................................6
Tabela 3 – Setor de papel e celulose – classificação por receita líquida........................................6
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Veracel: iniciativas de ação social ..............................................................................15
Quadro 2 – Informações trabalhistas empresa Veracel - set. 2001 .............................................17
v
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
BRACELPA – Associação Brasileira de Papel e Celulose
CDL – Câmara dos Dirigentes Lojistas
CUT – Central Única dos Trabalhadores
EIB – Banco Europeu de Investimentos
FIEB – Federação das Indústrias do Estado da Bahia
INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial
OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OIT – Organização Internacional do Trabalho
VCP – Votorantim Celulose e Papel
1
1 INTRODUÇÃO
Perfil da Empresa é um relatório que procura caracterizar uma empresa em
relação à sua participação no mercado e na cadeia produtiva detalhando as unidades
que a compõem, informações sindicais, número de trabalhadores e quais os produtos
que são feitos em cada unidade. A fonte de pesquisa baseia-se principalmente em
dados secundários, coletados através de relatórios da própria empresa pesquisada,
declarações do sindicato, órgãos públicos e imprensa.
Mapa da Empresa, por sua vez, é um relatório sobre o comportamento sócio-
trabalhista de uma empresa, produzido a partir de fontes de dados secundários, do
perfil da empresa, e também, através de informações coletadas diretamente com os
sindicatos que atuam na base das unidades observadas. Visa caracterizar a empresa,
suas atividades produtivas e econômicas, bem como apresentar um quadro indicativo
de possíveis problemas em relação aos direitos fundamentais do trabalho e ao meio
ambiente.
Relatório Geral de Observação é produzido a partir de dados secundários, de
levantamento de dados e observação direta na empresa, com participação dos
sindicatos e trabalhadores de cada unidade analisada. O relatório apresenta
detalhadamente os dados da observação. Propõe avaliar tanto o cumprimento dos
direitos fundamentais do trabalho em cada unidade da empresa – tendo como
referência as Convenções da OIT que tratam dos temas liberdade sindical, negociação
coletiva, trabalho forçado, trabalho infantil, discriminação de gênero e raça, saúde e
segurança – quanto o comportamento dessa empresa em relação ao meio ambiente
através de indicadores fundamentados em parâmetros nacionais e internacionais.
2
Relatório Executivo de Observação é produzido a partir do Relatório Geral
de Observação, ressaltando de forma mais sintética a avaliação do cumprimento dos
direitos fundamentais do trabalho e meio ambiente, bem como os principais dados
encontrados em relação aos temas liberdade sindical, negociação coletiva, trabalho
forçado, trabalho infantil, discriminação de gênero e raça, saúde e segurança e meio
ambiente.
3
2 HISTÓRICO
A Veracel iniciou suas atividades em 1991; a Empresa, então denominada
Veracruz, era uma subsidiária do grupo Odebrecht. De acordo com o que o projeto
inicial previa, a Empresa recebeu mais dois sócios: a Aracruz Celulose e a escandinava
Stora Enso, a segunda maior produtora de papel do mundo.
A associação com a Stora deu-se em 1997, e em 1998 a Empresa mudou sua
Razão Social para Veracel. Em 1999 a sueca Stora funde-se com a finlandesa Enso. A
Aracruz ingressa em 2000 na sociedade, de onde, em 2003, a Odebrecht retira-se.
4
3 PANORAMA DO SETOR
O ramo de papel e celulose no Brasil ocupa a 7a posição na produção de
celulose e 12a posição na fabricação de papel. Em 2002 o setor contabilizava 220
empresas, 100 mil empregos diretos, 1,4 milhão hectares de florestas plantadas de
pinus e eucalipto e 1,5 milhão de hectares de florestas nativas preservadas. O
faturamento do setor foi de R$ 16,8 bilhões. De janeiro a agosto de 2003, segundo
dados da Bracelpa (Associação Brasileira de Papel e Celulose), as exportações de
papel aumentaram 15,4%. No ano, a produção total de papel e celulose teve uma
expansão estimada em 15% sobre 2002. O lucro estimado foi R$ 4,17 bilhões.1
No Brasil a expansão do setor foi beneficiada pelo clima favorável ao
crescimento das árvores. As empresas brasileiras, porém, estão longe de ter o
desempenho financeiro de concorrentes internacionais: a Aracruz, por exemplo,
empresa brasileira de maior faturamento (R$ 3 bilhões) é pequena perto da norte-
americana International Paper (faturamento de US$ 25 bilhões) e da escandinava Stora
Enso (faturamento EURO 13 bilhões).
No ano de 2002 o segmento de reflorestamento empregou cerca de 30 mil
pessoas em uma área plantada de 1,4 milhão de hectares. No segmento de celulose o
setor produziu cerca de 8 milhões de toneladas, sendo que 7 milhões delas foram
exportadas gerando US$ 1,2 bilhão de divisas. No segmento de papel, por sua vez,
foram produzidos 7,7 milhões de toneladas, 1,4 milhão exportado gerando US$ 0,9
milhão de divisas. No segmento de reciclagem, 70% das unidades produtivas são
recicladoras, a taxa de recuperação é de 47% produzindo 2,8 milhões de toneladas.2
1 BRACELPA. Programa de investimentos no setor 2003-2002. Disponível em:
<http://www.bracelpa.org.br/prog_investimento/Prog0312.pdf> Acesso em: 03 mar. 2004 2 BRACELPA. Programa de investimentos no setor 2003-2002. Disponível em:
<http://www.bracelpa.org.br/prog_investimento/Prog0312.pdf> Acesso em: 03 mar. 2004.
5
TABELA 1 – SETOR DE PAPEL E CELULOSE. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PRODUÇÃO ANO CELULOSE (milhões
ton.) PAPEL
(milhões ton.) RECICLAGEM-CONSUMO DE
APARAS E PAPÉIS USADOS (mil ton.)
REFLORESTAMENTO (mil ha)
1998 6,68 6,58 2,29 115,75 1999 7.21 6,95 2,42 103,04 2000 7,46 7,20 2,61 121,10 2001 7,41 7,44 2,78 154,96 2002 8,02 7,77 3,02 150,92
Variação 1998/2002 20,06% 18,08% 31,88% 30,38% FONTE: BRACELPA
O segmento de reciclagem produziu o número mais significativo do setor entre 1998 e
2002, quando houve uma variação de 31,88% no consumo de aparas e papéis usados. No
mesmo período, a produção de celulose cresceu 20,06% e a de papel 18,08%. O crescimento
da produção de papel reciclado deve-se, provavelmente, a uma mudança de cultura por parte
das empresas, com a criação de produtos ambientalmente sustentáveis.
O ramo de papel e celulose participou da balança comercial brasileira no ano de 2002
com um saldo de quase US$ 1,5 bilhão. As exportações de papel e celulose chegaram a US$
2,1 bilhões.
6
TABELA 2 – SALDO COMERCIAL DO SETOR E PAPEL E CELULOSE (US$ MILHÕES) EXPORTAÇÃO IMPORTAÇÃO ANO
Celulose Papel Total Celulose Papel Total SALDO
DO SETOR
1998 1.049 930 1.979 176 883 1.059 920 1999 1.244 901 2.145 188 641 829 1.316 2000 1.602 941 2.543 237 732 969 1.574 2001 1.248 943 2.191 183 589 772 1.419 2002 1.161 894 2.055 172 422 594 1.461
FONTE: BRACELPA
O setor está desenvolvendo um programa que prevê investimentos de US$
6,6 bilhões entre 2003 e 2006. O objetivo do programa é ampliar a área florestal,
modernizar e aumentar a capacidade produtiva. A meta é, através do incremento das
exportações, obter um faturamento de US$ 3,8 bilhões, 30,9% superior aos US$ 2,8
bilhões do ano de 2000. Outra meta é aumentar a produção de celulose passando dos 8
milhões de toneladas produzidos em 2002 para 11,2 milhões de toneladas/ano.3
TABELA 3 – SETOR DE PAPEL E CELULOSE – CLASSIFICAÇÃO POR RECEITA LÍQUIDA
POSIÇÃO EMPRESA RECEITA LÍQUIDA (R$ milhões). 1 Klabin 2.519,3 2 VCP 1.743,9 3 Aracruz Celulose 1.987,4 4 Suzano 1216,9 5 Cenibra 985,5 6 Bahia Sul 928,0 7 International Paper 858,0 8 Ripasa 811,0 9 Santher 478,5 10 Klabin Kimberly 413,6
Média setorial 673,6 FONTE: Valor Econômico. 1000 maiores empresas 2003
Os setores de siderurgia e papel e celulose têm uma característica em
comum: são altamente endividados em dólares por terem feito investimentos para
aumentar a capacidade produtiva. No ramo de papel e celulose as empresas mais
endividadas são a Klabin e a Aracruz. Em 2002 a Klabin teve um prejuízo de R$ 218
milhões; no primeiro semestre de 2003, depois de fazer duros reajustes, como venda
3 GLOBAL 21.Disponível em: < http://www.global21.com.br/informessetoriais/setor.asp?cod=9 > Acesso em:
03 mar. 2004).
7
de ativos, acumulou lucro de R$ 1 bilhão.4
Com efeito, o setor de papel e celulose passou por um processo de
concentração nos últimos anos. De forma geral, o mercado brasileiro vivenciou um
processo de concentração de sua empresa a partir de 1994. Para o setor de papel e
celulose, juntamente com o de siderurgia, o petroquímico e o de mineração, as
empresas têm procurado a fusão, pois suas indústrias necessitam de grandes
investimentos iniciais e têm um retorno de longo prazo. No ramo de papel e celulose a
Aracruz ampliou sua capacidade de produção na unidade do Espírito Santo, comprou a
parte do grupo Odebrecht na Veracel e adquiriu a Riocell. A Klabin vendeu a Riocell e
outros negócios para reduzir seu endividamento e concentrou-se no mercado de
embalagens. A Suzano comprou a parte da Vale do Rio Doce na Bahia Sul e o grupo
Votorantim entrou na Aracruz, adquirindo ações que tinham sido da Souza Cruz e
estavam com a mineradora sul-africana Anglo American.5
O ano de 2003 foi, nesse sentido, um ano lucrativo para as empresas de papel
e celulose. Os fabricantes do setor obtiveram um aumento de 922% na lucratividade do
setor. Essa cifra é baseada nos balanços de empresas de capital aberto: Aracruz, Bahia
Sul, Klabin, Suzano e Votorantim Celulose e Papel (VCP). O lucro líquido dessas
empresas passou de R$ 363 milhões para R$ 3,71 bilhões ao ano. A receita líquida
também cresceu: passou de 9,04 bilhões em 2002 para R$ 11,43 bilhões no ano
passado, com alta de 26%. Esse resultado deveu-se à alta dos preços internacionais da
celulose (US$ 470 para US$ 510 a tonelada) e, também, uma variação cambial
positiva fez com que o dólar no ano de 2003 ficasse com valor médio 5% mais alto6.
4 LUCRO das empresas abertas dobra em 2002. Folha de São Paulo, 08 nov. 2003 5 INDÚSTRIA de papel vive fase de concentração. Valor Econômico. 08 ago. 2003 6 FABRICANTES de celulose e papel têm aumento de 922% de lucro em 2003. Valor Econômico, 19 fev. 2004
8
De acordo com o setor, o grande problema a ser enfrentado pela indústria de
papel e celulose brasileira é a falta de matéria-prima, ou seja, madeira de florestas
plantadas. A escassez pode ocorrer a partir de 2004, pois a produção de madeira está
em cerca de 125 milhões de metros cúbicos e o consumo é de 135 milhões de metros
cúbicos. O país precisaria plantar, em dez anos, 600 mil hectares, mas de 1998 a 2003
foram plantados apenas 200 mil hectares7.
7 SETOR prevê falta de madeira em 2004. Gazeta Mercantil. 09 jul. 2003, p. A-9.
9
4 ESTRUTURA DA EMPRESA
A Veracel é uma empresa de celulose que, atualmente, conta com a
associação de 2 outras: a Aracruz e a Stora Enso, cada uma com 50% de participação
acionária.8
A Aracruz, uma das sócias, produz 2,4 milhões de toneladas ao ano, o
faturamento no ano de 2003 chegou em cerca de R$ 3 bilhões. A sueco-finlandesa
Stora Enso possui mundialmente 30 indústrias, produz 30 milhões de toneladas ao ano,
é a segunda produtora de celulose do mundo, descontando a produção para alimentar
as próprias unidades.
A localização da Veracel engloba 9 municípios do sul da Bahia: Canavieiras,
Belmonte, Eunápolis, Guaratinga, Itabela, Itagimirim, Itapebi, Porto Seguro e Santa
Cruz Cabrália. A Empresa ocupa uma área total de 147 mil hectares: 70 mil hectares
de plantio de eucaliptos e o restante dedicado à conservação e reposição da Mata
Atlântica (9).
A Empresa recebeu do BNDES recursos de R$ 46 milhões para instalar o
Terminal Marítimo de Belmont no município de Belmont. O TMB destina o transporte
de madeira ao Portocel, em Barra do Riacho (ES). O terminal da Portocel, por sua vez,
recebeu investimentos de cerca de R$ 4 milhões para ser adaptado às novas
operações.10
Em maio de 2003 a Veracel iniciou a construção de uma nova fábrica, a
maior de celulose branqueada de eucalipto, em Eunápolis no sul da Bahia, um
investimento de US$ 1,25 bilhão. Desse total, US$ 300 milhões foram inicialmente
gastos pelo grupo em infraestrutura e no desenvolvimento da área florestal.11 Em
8 VERACEL. Disponível em: <http//www.veracel.com.br> Acesso em: 02 mar. 2004 9 VERACEL. Disponível em: <http//www.veracel.com.br> Acesso em: 02 mar. 2004. 10 VERACEL. Disponível em: <http://www.veracel.com.br/empreendimento/transporte.htm> Acesso em: 04
mar. 2004 11 NOVA fábrica de celulose investirá US$ 1,2 bi. Folha de São Paulo, 09 mar. 2003
10
dezembro de 2003 o BNDES aprovou um financiamento de R$ 1,45 bilhão para a
fábrica, cerca de 40% do investimento total do projeto. Foram fechados contratos
também com o Nordic Investment Bank (banco de investimentos dos países nórdicos)
e com o Banco Europeu de Investimentos (EIB). Essas duas instituições aportaram
US$ 150 milhões para o projeto da Veracel, sendo US$ 70 milhões do Nordic
Investment Bank e US$ 80 milhões do EIB.12
A previsão é de que a fábrica fature US$ 500 milhões anuais, integralmente
com exportações, e gere 2 mil empregos diretos quando estiver em plena atividade. No
pico de construção, a unidade deve ocupar pelo menos 12 mil pessoas, entre
trabalhadores temporários diretos e contratados indiretamente.13
O êxito da fábrica da Veracel na Bahia deve consolidar a posição da Aracruz
e da Stora Enso como as maiores produtoras mundiais de celulose. Os papéis da
Aracruz devem se valorizar, e o Brasil pode atrair muitas empresas de papel e celulose
em virtude do clima favorável para o plantio de florestas. Além disso, o mercado
mundial de celulose está menos restritivo para a celulose de fibra curta produzida pela
Aracruz.14 Com a fábrica da Veracel entrando em operação a partir de agosto de 2005,
a Aracruz, sua controladora, se tornará a maior exportadora mundial de celulose do
mercado, superando a líder americana Weyco. A Aracruz já é a maior exportadora
mundial de celulose de fibra curta de eucalipto, produz atualmente 2,4 milhões de
toneladas/ano, que passarão a três milhões anuais, somando-se à produção da Veracel
comercializada pela Aracruz.15
A Empresa afirma que é a maior empregadora da região e que sua presença
trouxe “um novo ciclo de desenvolvimento econômico e social”16. A Veracel conta
12 VERACEL faz acordos de empréstimos com BNDS e Europa. Valor Econômico, 17 dez. 2003 13 PROJETO de US$ 1 bilhão exige sistemas de saneamento e redes sanitárias de esgoto. Jornal da Mídia.
Bahia, 08 mar. 2003. 14 UNIÃO DA Aracruz com a finlandesa Stora Enso traz perspectivas de ganho. Valor Econômico, 29 out. 2003 15 FERRARI, Lívia. A Veracel acerta nesta semana o reforço externo. Gazeta Mercantil, 17 dez. 2003, p. A-1 16 VERACEL. Relatório Anual 2002. P. 14.
11
com cerca de 1.000 empregados diretos e chega a 1.400, contando os diretos e
indiretos. Os funcionários têm uma média salarial de 2,8 salários-mínimos.
Na região, a Veracel tem outros vínculos econômicos além da produção de
papel e celulose: arrenda áreas não plantadas para pecuaristas, estimula o extrativismo
em suas áreas circunvizinhas à plantação, vende eucalipto para pequenas indústrias de
móveis e caixas de madeira.
12
5 RESPONSABILIDADE SOCIAL
De acordo com levantamento feito pelo Observatório Social, existem
pronunciamentos públicos da Empresa nos quais ela afirma que para ser um uma
empresa cidadã é necessário ter rígida postura ética e moral, com rigoroso
cumprimento das leis. Nesse sentido, obteve todas as certificações ambientais
necessárias e desenvolve um programa ambiental avançado para a preservação da
Mata Atlântica. Na visão da Empresa, responsabilidade social é o direcionamento das
ações em benefício da comunidade, sobretudo em uma região com carências e
desigualdades sociais.17
A produção de papel e celulose causa grandes impactos ambientais, a cultura
de eucalipto requer agrotóxicos nocivos à saúde e ao meio ambiente, bem como,
empobrece o solo em que é plantada. A inserção da monocultura de eucaliptos e pinus
não só desestabiliza o meio ambiente como interfere nas comunidades que vivem nas
localidades escolhidas para o plantio. É bom lembrar que o sul da Bahia é uma região
onde vivem comunidades dos índios pataxós, a plantação em larga escala de eucaliptos
deve interferir na cultura e no trabalho indígena. Assim sendo, a visão de
responsabilidade social da Veracel leva em conta a preservação do meio ambiente e o
diálogo com a comunidade local.
5.1 MEIO AMBIENTE
A Veracel desenvolve um projeto chamado Programa Mata Atlântica que,
segundo a Empresa, tem o objetivo de conservar, manejar e proteger mais de cerca de
70.000 hectares de remanescentes de Mata Atlântica dentro das propriedades da
Veracel. De acordo com a Veracel, 48% de sua área são de Mata Atlântica nativa. A
idéia é plantar as florestas de eucalipto nos lugares mais altos e deixar a mata nativa no 17 OBSERVATÓRIO SOCIAL. Políticas de responsabilidade social: Aracruz, Stora Enso,Veracel.
Florianópolis, mar. 2002. Não publicado.
13
vales (paisagem mosaico). Em 2003 a Empresa, através de seu SGA (Sistema de
Gestão Ambiental), recebeu certificação ISO 14001 para, em seguida, buscar a Ceflor
(Certificação florestal) chancelada pela ABNT, pelo INMETRO e pela Sociedade
Brasileira de Silvicultura.18
De acordo com a Empresa, foi desenvolvida uma tecnologia de recuperação
ambiental que está à disposição de entidades e dos proprietários rurais da região. O
programa desenvolveu diversos modelos de manejo e recuperação de florestas
adequados às diferentes situações encontradas na área. Um de seus principais pontos
de apoio é a coleta de 500 quilos/ano de sementes de espécies nativas e sua semeadura
num viveiro que produz, por ano, cerca de 250 mil mudas de 134 diferentes espécies.
A Veracel compromete-se a não plantar eucaliptos em áreas onde havia Mata
Atlântica.19
Nas propriedades da Veracel encontra-se a maior área privada de Mata
Atlântica do nordeste brasileiro. Localizada no município de Porto Seguro, foi
transformada em estação ecológica: a Estação Veracruz. Dispõe de 6.000 hectares de
Mata Atlântica, 80% de mata primária. A Estação foi reconhecida pelo Ibama como
RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural em novembro de 1998.
5.2 AÇÃO SOCIAL
A Veracel obteve do BNDES um financiamento de R$ 2 milhões, somados a
R$ 500 mil desembolsados por ela própria para desenvolver projetos sociais. De
acordo com a Empresa, os programas sociais são discutidos com as lideranças
comunitárias e envolvem ações educativas e construção de infraestrutura local.20
18 VERACEL. Relatório Anual 2002. P. 15 19 VERACEL. Disponível em: http://www.veracel.com.br/programa_ambiental/programa_mata_atlantica.htm
Acesso em: 10 mar. 2004. 20 VERACEL. Disponível em: http://www.veracel.com.br/presenca_nas_comunidades/projetos_sociais.htm
Acesso em: 10 mar. 2004.
14
A Empresa criou o Instituto Veracel, que desenvolve os projetos
educacionais Ser Criança e Sementinha. Esses dois projetos, que são feitos em
parceria com as prefeituras e atendem cinco municípios da região, contam com a
assessoria da ONG CPCD - Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento, de Minas
Gerais. Receberam o nome genérico de Programa Veracel de Desenvolvimento Sócio-
Educativo Regional, e se apóiam nos recursos obtidos em financiamento do BNDES.21
21 VERACEL. Disponível em: <http://www.veracel.com.br/presenca_nas_comunidades/instituto_veracel.htm>
Acesso em 10 mar. 2004.
15
QUADRO 1 – VERACEL: INICIATIVAS DE AÇÃO SOCIAL • Construção de centro de saúde em Santa Cruz Cabrália; • Qualificação de 46 agentes comunitários de saúde em Guaratinga e Itapebi; • Ampliação e doação de equipamentos para posto de saúde em Itapebi; • Doação de 3.000 livros e de 12 estantes para a Faculdade de Pedagogia de Itabela; • Implantação do Parque Ecológico Antares, em Eunápolis, para educação ambiental e lazer; • Ampliação de escola no Núcleo Laranjeira, em Santa Cruz Cabrália; • Qualificação de 108 educadores sociais para atuar em projetos de educação complementar em quatro municípios; • Apoio a comunidades em programas de educação ambiental e cultural, e à comunidade indígena em programas de ecoturismo, cultura e qualidade de vida; • Ampliação e reforma da Vila Olímpica de Eunápolis, para projetos de educação complementar; • Construção de centro de convivência em Itagimirim para projetos de educação complementar; • Reforma de escola em Itapebi para projetos de educação complementar; • Construção de espaço para projetos de educação complementar em Santa Cruz Cabrália; • Adaptação de prédio em Itabela para educação complementar.
5.3 SAÚDE E SEGURANÇA
O ramo de papel e celulose enfrenta alguns problemas em relação à área de
saúde e segurança, como os altos níveis de agrotóxico usados na plantação e acidentes
de trabalho. A Aracruz, uma das sócias da Veracel, foi denunciada e está sendo
investigada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, pela morte
e mutilação de muitos trabalhadores.22
Quanto à Veracel, a Empresa deixa claro em seu relatório que tem “respeito
ao ser humano” e a prova disso é o recorde de 928 dias sem acidentes, ou 2,5 anos23.
Contudo, a Companhia não apresenta qualquer programa ou medidas de saúde e
segurança.
22 DEPUTADOS acionam governo e voltam ao ES para apurar acusações à Aracruz. Século Diário. Disponível
em: <http//www.seculodiario.com> Acesso em: 16 dez. 2003. 23 VERACEL. Relatório Anual 2002, p.15.
16
5.4 RELAÇÃO COM OS FUNCIONÁRIOS
Em relação aos funcionários, a empresa afirma ser a maior empregadora
privada da região com cerca de 1000 empregados, afirma também pagar salários acima
da média em sua folha direta, além dos benefícios. Nas fazendas adquiridas pela
Veracel, segundo a empresa, trabalhavam apenas 227 pessoas sem vínculos
empregatícios formais e salário abaixo da média nacional. De acordo com a Veracel,
através da qualificação dada pela empresa, Senai e Setras (Secretaria do Estado da
Bahia) foi criada uma nova profissão na região: a de operador de máquinas Harvester e
Forwader para a colheita de eucaliptos.
Seria interessante frisar que as controladoras da Veracel, a Aracruz e a Stora
Enso são signatárias do Global Compact24. O Global Compact é uma iniciativa da
ONU no sentido de promover entre as empresas os valores fundamentais na áreas de
direitos humanos, trabalhe e meio ambiente. A Veracel, contudo, não é signatária do
acordo, bem como não dispõe de código conduta, não cita em seus documentos a
observância dos princípios básicos da OIT ou das diretrizes da OCDE.
Apesar de a empresa alegar que convida a CUT para o diálogo, o convite é
feito à central enquanto uma entidade representativa da comunidade, e não uma
entidade representativa dos trabalhadores. O convite para o diálogo é extensivo para
líderes comunitários e entidades não-governamentais. 25
24 THE GLOBAL COMPACT. Disponível em: <http//www.unglobalcompact.org. Acesso em: 10
mar. 2004 25 VERACEL. Diálogo é a base do relacionamento da Veracel com a sociedade. Disponível em:
<http://www.veracel.com.br/noticias/noticia15.htm> Acesso em: 11 mar. 2004.
17
QUADRO 2 – INFORMACÕES TRABALHISTAS EMPRESA VERACEL - SET. 2001
TIPO DE INFORMAÇÃO DADOS Número de empregados 1.026 Salários pagos anualmente (incluindo benefício e encargos)
R$ 7 milhões
Previsão de empregos na fábrica no pico da obra * 4.500 Previsão de empregos com a fábrica em operação 400
FONTE: VERACEL. Relatório Anual 2002. * Há dados que indicam que no pico da obra a previsão é de 12.000 empregados.
5.5 FORNECEDORES
Em janeiro de 2004 a Veracel fez uma parceria com a Federação das
Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), o Sebrae e a CDL (Câmara de Dirigentes
Lojistas) de Eunápolis. As entidades lançaram o Programa de Desenvolvimento de
Fornecedores da Veracel (PDFV). Segundo a Empresa, o objetivo do programa é
ampliar a participação de empresas baianas, especialmente aquelas localizadas nos
municípios e no entorno onde a Veracel se localiza, como fornecedoras de bens e
serviços para a indústria de celulose. Trata-se, segundo a Empresa, de capacitar e
promover os fornecedores locais, contribuindo para a redução dos custos para os
clientes e geração de emprego e renda da região.26
26 OBSERVATÓRIO SOCIAL. Políticas de responsabilidade social: Aracruz, Stora Enso, Veracel.
Florianópolis, mar. 2002. Não publicado.
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REFERÊNCIAS
JORNAIS:
FOLHA DE SÃO PAULO. São Paulo, 2003-2004.
JORNAL DA MÍDIA BAHIA. Salvador, 2003-2004.
GAZETA MERCANTIL. São Paulo, 2003-2004.
VALOR ECONÔMICO. São Paulo, 2003-2004.
PUBLICAÇÕES:
BRACELPA. Programa de investimentos no setor 2003-2002.
VERACEL. Relatório anual 2002.
RELATÓRIOS:
OBSERVATÓRIO SOCIAL. Políticas de responsabilidade social:
Aracruz, Stora Enso, Veracel. Florianópolis, mar. 2002. Não publicado.
PERIÓDICOS:
VALOR 1000. 1000 maiores empresas. São Paulo: Valor Econômico, ano 3,
n. 3, ago. 2003
SÍTIOS DA INTERNET:
www.bracelpa.org.br
www.global21.com.br
www.seculodiario.com
www.unglobalcompact.org
www.veracel.org.br