79
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES MOLECULARES ENVOLVENDO Babesia, Ehrlichia e Hepatozoon EM CÃES SINTOMÁTICOS NA ÁREA METROPOLITANA DE GOIÂNIA, GOIÁS Sabrina Castilho Duarte Orientador: Prof. Dr. Guido Fontgalland C. Linhares GOIÂNIA 2010

PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES

MOLECULARES ENVOLVENDO Babesia, Ehrlichia e Hepatozoon EM

CÃES SINTOMÁTICOS NA ÁREA METROPOLITANA DE GOIÂNIA,

GOIÁS

Sabrina Castilho Duarte

Orientador: Prof. Dr. Guido Fontgalland C. Linhares

GOIÂNIA 2010

Page 2: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

ii

SABRINA CASTILHO DUARTE

PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES

MOLECULARES ENVOLVENDO Babesia, Ehrlichia e Hepatozoon EM

CÃES SINTOMÁTICOS NA ÁREA METROPOLITANA DE GOIÂNIA,

GOIÁS

Tese apresentada para obtenção do

grau de Doutor em Ciência Animal junto

à Escola de Veterinária da

Universidade Federal de Goiás

Área de Concentração:

Sanidade Animal, Higiene e Tecnologia de Alimentos

Linha de Pesquisa

Parasitos e doenças parasitárias dos animais

Orientador:

Prof. Dr. Guido Fontgalland Coelho Linhares – UFG

Comitê de Orientação:

Profa Dra Lígia Miranda Ferreira Borges – UFG

Prof. Dr. Cirano José Ulhoa - UFG

GOIÂNIA

2010

Page 3: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

iii

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

GPT/BC/UFG

D812p

Duarte, Sabrina Castilho.

Perfil do parasitismo sanguíneo por análises moleculares

envolvendo Babesia, Ehrlichia e Hepatozoon em cães

sintomáticos na área metropolitana de Goiânia, Goiás

[manuscrito] / Sabrina Castilho Duarte. - 2010. 79 f. : figs, tabs. Orientador: Prof. Dr. Guido Fontgalland Coelho Linhares. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Goiás, Escola de

Veterinária, 2010. Bibliografia.

1. Diagnóstico de Hemoparasitos – Goiás (Estado) 2. Babesia,

Ehrlichia e Hepatozoon 3. Babesiose canina – Parasitologia

I.Título

CDU: 619:576.89:636.7

Page 4: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

iv

Dedico este trabalho a minha família,

especialmente meu marido Alexandre e minhas filhas Alice e

Beatriz por viverem comigo a realização de sonhos pessoais e

profissionais.

Page 5: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

v

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus por ter me capacitado, proporcionado todas as oportunidades

e colocado em minha vida tantas pessoas e profissionais admiráveis;

Ao CNPq, por ceder bolsas de Doutorado aos programas de pós-graduação do País.

Ao programa de pós-graduação em Ciência Animal da EV/UFG por conceder-me a

bolsa, possibilitando minha dedicação integral a este projeto.

A Márcia Barnabé, faculdades Objetivo por me receber no corpo docente da

Universidade no início do doutorado quando ainda não havia bolsas disponíveis

possibilitando não apenas recursos financeiros como também crescimento

profissional e pessoal;

Ao laboratório de biologia molecular do ICB/UFG, em especial a Juliana Alves

Parente, pessoa tão querida, que realizou os sequenciamento dos isolados deste

estudo com muita disposição e competência. A professora Célia Soares por ceder

não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as

reações de seqüenciamento;

Aos funcionários da creche/UFG que cuidaram da minha pequena Alice com tanto

amor. Recém nascida ela cresceu com sorriso no rosto vivendo a dura rotina de um

bebê que nasceu ―no doutorado‖. No espaço da creche, Alice conseguiu superar os

momentos da minha ausência sempre muito feliz. Seu sorriso na minha chegada

ficará eternamente marcado em minha lembrança e foi sempre bálsamo para

qualquer cansaço;

À Minha família que se esforçou junto comigo por esta conquista. Amo e agradeço

imensamente minhas queridas filhas Alice e Beatriz; mesmo com excesso de

atividades conseguimos juntas vencer todas as dificuldades. Agradeço ao meu

marido amado Alexandre de Lima que entendeu amorosamente tanto tempo

dedicado a minha formação profissional me auxiliando em tudo que estava ao seu

alcance;

Page 6: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

vi

As minhas irmãs, especialmente a Herika C. D Fernandes que como uma mãe

socorria sempre, auxiliando com a Alice, com minhas ansiedades e momentos de

desanimo. Obrigada por ser tão presente em minha vida. A Danielha C. D. Jones por

juntamente com Rory Jones contribuir na correção dos textos em língua Inglesa;

A minha mãe Marina Leite Castilho Duarte (in memorian) por ter sido exemplo de

vida pra mim. Exemplo de conduta e atitude perante a vida como mãe, esposa e

profissional.

Ao meu eterno amigo e orientador Guido F. C. Linhares, que honra tê-lo como

orientador. Aprendi muito ao seu lado que nunca poupou esforços para ensinar,

sempre buscando a metodologia mais adequada, a informação mais segura, a

melhor forma de escrever, incansável na busca da excelência. Aprendi tudo que sei

de uma forma honrada e ética. Um dia sei que terei a oportunidade de orientar e

neste momento espero ser tão competente como ele.

A querida amiga Lígia M; F. Borges por ter sempre boas soluções e pela certeza de

apoio certo e confiável;

A minha amiga Carla C. B. Louly pela identificação dos carrapatos deste estudo, por

estar sempre por perto e pela certeza de ajuda segura.

Ao meu querido amigo, um pai para mim, professor Francisco Dias Filho pela torcida,

apoio diário. Agradeço pelas conversas que tanto enriqueceram;

As queridas professoras Valéria Sá Jaime e Maria Auxiliadora Andrade por serem

pessoas tão amáveis dispensando a todos carinho, auxílio e amizade. Agradeço por

terem auxiliado na correção deste trabalho mesmo tendo vários outros trabalhos a

serem corrigidos. Obrigada por terem atribuído importância e amor na correção desta

tese.

As professoras, membros da banca de qualificação, Rosangela Zacarias Machado,

Andrea Caetano da Silva, Lígia M. F. Borges e Valéria de Sá Jaime e aos

professores da banca de defesa professores: Carlos Luiz Massard, Abraão Garcia

Page 7: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

vii

Gomes e José Luiz Barros de Araújo especialmente pelas sugestões que tornaram

este trabalho mais completo, claro e objetivo.

À UFG, especialmente ao Departamento de Medicina Preventiva. Agradeço à todos

os funcionários pelo carinho de sempre;

Aos meus ―irmãos‖ de trabalho ―filhos‖ do mesmo orientador: Herika Xavier, Osvaldo

José da Silveira Neto, José Carlos Favaro Junior e Fabrício O. Pereira e aos ―primos‖

Alberto Elias Marques e Hilary Hidasi pela convivência saudável, pelo carinho de

sempre e tantos ótimos momentos que passamos juntos.

As minhas amigas de jornada Vanessa Silvestre, Marina Pacheco, Débora Melo,

Paula Rogério e a querida Lívia pelo apoio e amizade de sempre.

Finalizo agradecendo a Vida. Pelos bons momentos que nos alegram e pelos maus

momentos que nos transformam.

Page 8: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

viii

"Aquilo que você mais sabe ensinar, é o que você mais precisa aprender..." (RICHARD BACH)

Page 9: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

ix

Page 10: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

x

Page 11: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

xi

RESUMO GERAL

Nos gêneros Babesia, Ehrlichia e Hepatozoon são posicionadas as espécies de parasitos responsáveis pela babesiose, ehrlichiose e hepatozoonose respectivamente. Estes microrganismos têm em comum o fato de serem transmitidos por carrapatos vetores e causarem nos cães infectados sinais gerais como febre, anemia e icterícia acompanhados de infecções intracelulares. No estado de Goiás não haviam trabalhos com abordagem filogenética relativos a estes hemoparasitos. O objetivo geral do presente trabalho foi realizar análise molecular de isolados de Babesia, Ehrlichia e Hepatozoon obtidos de cães sintomáticos na cidade de Goiânia, Estado de Goiás, verificando assim qual a espécie e subespécie envolvida nas infecções. Para isto, foi realizado extração de DNA das amostras, seguido da realização de PCR com oligonucleotídeos genéricos. Após a PCR obteve-se fragmentos da região do 18S rRNA para as amostras de Babesia e Hepatozoon e do 16S rRNA para a pesquisa de espécies do gênero Ehrlichia. Os produtos de PCR obtidos foram purificados e utilizados para o sequenciamento. Foram seqüenciadas 35 amostras de Babesia spp. e destas 17 foram utilizadas para os estudos filogenéticos. Duas amostras de Hepatozoon spp. foram seqüenciadas e 17 amostras de Ehrlichia spp sendo que apenas cinco foram utilizadas para as análises. As análises de identidade realizadas com as amostras seqüenciadas permitiram a identificação de B. canis vogeli, Hepatozoon canis e Ehrlichia canis. Quando confrontadas com as espécies e subespécies de referência de outras regiões do Brasil e do mundo apresentaram estreita similaridade molecular, o que demonstra a baixa variabilidade entre as diferentes amostras de diferentes regiões geográficas. Pela análise feita utilizando-se o programa MEGA4 e subsequente construção de árvores filogenéticas as amostras deste estudo formaram grupos próprios sempre em associação com as amostras de referência para as respectivas espécies. Dessa forma foi possível concluir que as amostras de B. c. vogeli, H. canis e E. canis provenientes de cães da cidade de Goiânia-GO apresentam estreita similaridade com isolados de outras regiões do mundo.

Palavras chave: babesiose, hemoparasitos, ehrlichiose, filogenia, hepatozoonose, PCR.

Page 12: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

xii

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1: Considerações Gerais..................................................................

01

CAPÍTULO 2: ESTUDO FILOGENÉTICO DE Babesia spp. EM CÃES

10

CAPÍTULO 3: CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE Hepatozoon spp. PROVENIENTE DE CÃES SINTOMÁTICOS RESIDENTES EM AREA URBANA NA CIDADE DE GOIANIA GOIÁS, BRASIL.......................................

31

CAPÍTULO 4: CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE Ehrlichia canis PRESENTE EM CÃES DE GOIÂNIA-GO................

48

CAPÍTULO 5: Considerações Finais...................................................................

65

Page 13: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

1

CAPÍTULO 1

CONSIDERAÇÕES GERAIS

As hemoparasitoses de cães compõem um grupo de enfermidades de

grande importância na Medicina Veterinária, atingindo animais de diferentes

regiões do mundo. Seus vetores, os carrapatos, têm maior prevalência nas

regiões de clima tropical e subtropical. Na região Centro-Oeste do Brasil são

abundantes, o que favorece a ocorrência de altas taxas de incidência dessas

enfermidades e condiciona o caráter endêmico das mesmas na região (LOULY,

2007; LESCHNIK et al., 2008).

Em todo o mundo os cães domésticos são acometidos por

hemoparasitos, dentre eles os protozoários Babesia canis, Babesia gibsoni,

Theileria annae, e Hepatozoon canis, e as rickettssias Ehrlichia canis, Ehrlichia

ewingii, Ehrlichia chaffeensis, Anaplasma platys, Anaplasma phagocitophilum,

Neorickettsia sennetsu e Neorickettsia risticii (GREENE, 2006).

No Brasil, os hemoparasitos com maior casuística são B. canis, E. canis

e H. canis, os quais são transmitidos por carrapatos, sendo responsáveis por

doenças caracterizadas por febre, anemia e inapetência (RUBINI et al., 2009;

SANTOS et al., 2009).

A B. canis e a B. gibsoni são as espécies mundialmente mais

prevalentes em casos naturais de babesiose canina. De acordo com HOSKINS

(1991) B. canis é um parasito do grupo das ―grandes babesias‖, sendo encontrada

sob as formas de merozoítos e trofozoítos, ou ainda assumindo formas

indiferenciadas que correspondem às diferentes fases do processo de divisão

binária. Os merozoitos da B. canis, medem em torno de 2,4µm x 5,0µm quando

observados microscopicamente e se apresentam aos pares, de um a oito, no

interior das hemácias. B. gibsoni é um parasito pequeno, com tamanho de 1,0µm

x 3,2µm, normalmente encontrado em formas isoladas no interior das hemácias.

A primeira descrição relativa à babesiose foi feita por Victor Babes, na

Romênia, no final do século XIX, quando observou microrganismos no sangue de

bovinos importados da África, que apresentavam hemoglobinúria e febre alta. O

organismo observado foi denominado Haematococus bovis. No ano de 1893,

Page 14: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

2

Starcovicci reavaliou o parasito, denominando-o Babesia bovis em homenagem a

Babes (KUTTLER, 1988).

Neste mesmo ano, os pesquisadores Smith & Kilborne estudando o

agente da Febre do Texas, na América do Norte, diagnosticaram um agente

semelhante ao descrito por Babes, que posteriormente foi denominado Babesia

bigemina. Estes pesquisadores, pela primeira vez, estabeleceram a relação de

transmissão de um protozoário por carrapato, na ocasião, o Rhipicephalus

(Boophilus) annulatus. Assim, sucessivamente, foram descritas B. bovis, B.

bigemina, B. gibsoni, Babesia divergens, Babesia major, Babesia felis, Babesia

ovata, Babesia canis, entre outras (UILENBERG, 2006).

As babesioses têm importância mundialmente reconhecida, ora por

prejuízos econômicos nas criações de animais de produção, ora por causar

problemas de saúde a animais de companhia, e, em determinadas situações,

afetar também o homem. O maior número de casos registrados de babesiose em

humanos se deve a B. microti ocorrendo na América do Norte e B. divergens com

maior freqüência na Europa (KRAUSE et al., 2003).

E. canis, agente da Ehrlichiose Monocítica Canina, é uma bactéria

Gram-negativa que normalmente infecta as células mononucleares sanguíneas,

principalmente monócitos e linfócitos de cães, gatos e homem (DUMLER, et al.,

2007). São caracterizados como organismos pequenos, pleomórficos, cocóides

ou elipsoidais que ocorrem intracitoplasmaticamente de forma isolada ou

formando uma inclusão compacta (mórula) em leucócitos circulantes dos

hospedeiros vertebrados. As mórulas geralmente apresentam numerosos

organismos individuais (KRIEG & HOLT, 1984).

A primeira descrição de do gênero Ehrlichia foi feita em cães infestados

por carrapatos na Argélia, no ano de 1935, por Donatien & Lestoquard. A espécie

observada foi denominada Riquettsia canis, porém em 1945 o parasito foi

renomeado como Ehrlichia canis. Dentro do mesmo gênero foram observadas

posteriormente as espécies: Ehrlichia bovis, Ehrlichia ovina, Ehrlichia

phagocithophila, Ehrlichia sennetsu, Ehrlichia equi, Ehrlichia ewingii, Ehrlichia

ondiri, Ehrlichia platys, Ehrlichia risticii, E. chaffeensis e Ehrlichia muris (GREENE,

2006). A ehrlichiose por E. canis ganhou notoriedade no período da guerra do

Vietnam (1968-1970) quando grande número de cães foi acometido pelo parasito

Page 15: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

3

adoecendo com sinais hemorrágicos severos, resultando em altos índices de

letalidade e mortalidade (RISTIC & HOLLAND, 1993).

Esta enfermidade tem grande importância na clínica de pequenos

animais e saúde pública, já que é responsável por um grande número de casos

de morbidade e óbitos de cães, sendo capaz também de acometer seres

humanos (GREENE, 2006). As espécies responsáveis pela enfermidade em seres

humanos são: A. phagocytophilum, E. chaffeensis, E. ewingii, E. canis, e N.

sennetsu. No entanto DUMLER et al., (2007) considera que apenas as três

primeiras espécies citadas são suficientemente investigadas. No Brasil os

primeiros casos de ehrlichiose humana foram registrados por CALIC et al. (2004)

e COSTA et al. (2007) com diagnóstico sorológico positivo para E.chaffensis em

indivíduos com sintomas sugestivos de ehrlichiose no estado de Minas Gerais.

Com relação ao gênero Hepatozoon duas espécies são conhecidas

como causadoras de doença nos cães o Hepatozoon canis e o Hepatozoon

americanum. Estes agentes apresentam duas fases de desenvolvimento, uma na

corrente sanguínea e outra nos tecidos do hospedeiro vertebrado. Na fase

sanguínea é possível observar os gametócitos que possuem forma elipsóide e

medem aproximadamente 11x4μm, são envolvidos em uma membrana bem fina e

geralmente se situam no centro do neutrófilo, comprimindo seu núcleo lobulado

contra a membrana celular. A análise morfológica não possibilita a diferenciação

entre as espécies (WANER et al., 1994).

Na fase tecidual o primeiro ciclo esquizogônico do H. canis ocorre na

parede intestinal dos cães. Dois tipos de merontes são formados, um contendo

macromerozoítos que dão origem a novas formas esquizogônicas, e outro,

contendo micromerozoítos, que originam os gametócitos circulantes após

penetrarem nos leucócitos. Os merontes maduros possuem de dois a quatro

grandes macromerozoítos ou mais de 20 micromerozoítos. Em infecções por H.

canis os merontes são mais observados em órgãos parenquimatosos, sendo

raramente encontrados na musculatura. Já nas infecções por H. americanum, os

merontes são principalmente encontrados nos músculos (MASSARD, 1979,

BANETH et al., 2003).

A primeira espécie de Hepatozoon foi observada em 1905 por Bentley

na Índia ao examinar células polimorfonucleares de cães seguida da descrição de

Page 16: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

4

James no mesmo ano. A designação do nome Hepatozoon canis foi estabelecida

por Wenyon em 1910 (GREENE, 2006).

A hepatozoonose acomete cães e várias outras espécies de animais em

várias regiões do mundo, tendo sido descrita na Ásia, África, sul da Europa, e

Américas do Norte e Sul (EWING ET AL., 2000, SPOLIDORIO et al., 2009).

Estudos epidemiológicos no Brasil têm demonstrado taxas variadas de

prevalência em cães de vários estados, incluindo Rio de Janeiro, Espírito Santo,

Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo (MASSARD, 1979; MUNDIN et al.,

1992; O‘DWYER et al., 2001; RUBINI et al., 2005).

O diagnóstico clínico das hemoparasitoses é quase sempre inconclusivo

quanto à doença específica uma vez que os cães parasitados apresentam sinais

gerais como febre, anemia, inapetência e prostração geralmente associados a

presença de carrapatos fixados nos animais parasitados.

O diagnóstico laboratorial das hemoparasitoses pode ser realizado por

exames diretos e indiretos. O método direto é o mais utilizado na rotina

diagnóstica e baseia-se na observação microscópica do parasito em esfregaço

sanguíneo do animal em lâmina devidamente fixada e corada com preparações

tinturiais com base Romanovsky, como o Giemsa, Wright, Leishman, Rosenfeld

ou Panótico (KEER, 2003). Os métodos indiretos baseiam-se principalmente em

exames sorológicos para pesquisa de anticorpos.

O exame microscópico direto é o método convencional empregado para

detecção destes parasitos nos animais, entretanto, nem sempre é conclusivo para

a diferenciação entre espécies ou subespécies morfologicamente semelhantes.

Além disso em infecções de fase crônica onde a parasitemia é baixa, o exame

microscópico pode oferecer baixa sensibilidade. Assim sendo, a partir da década

de 1990, houve um incremento expressivo na adoção de técnicas de biologia

molecular para a detecção e identificação precisa das espécies ou subespécies

de hemoparasitos, especialmente em condições de baixa parasitemia ou em

situações onde a morfologia não é conclusiva (ZAHLER et al., 1998).

Entre as técnicas de biologia molecular a mais utilizada é a reação em

cadeia da polimerase (PCR). Esta é uma técnica que apresenta especificidade e

sensibilidade elevadas, sendo capaz de detectar fragmentos-alvo do agente em

amostras de sangue ou em outro tipo de amostra clínica, estando ou não os

Page 17: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

5

parasitos viáveis (LAUERMAN, 1998). A PCR é o método de diagnóstico mais

apropriado para a confirmação do diagnóstico de infecções na fase crônica da

enfermidade. Além disso, é capaz de identificar o agente envolvido na infecção

por espécie ou mesmo de subespécie (MARTIN et al., 2005).

Os avanços na utilização das técnicas moleculares têm implicações

importantes em muitas áreas da parasitologia, possibilitando maior

esclarecimento, identificação precisa do parasito e novas abordagens no controle

do parasitismo. Estudos que proporcionam a caracterização genética dos

microrganismos têm fornecido informações a respeito de taxonomia e filogenia

auxiliando nos estudos de ecologia, genética de populações e epidemiologia. As

técnicas moleculares dessa forma são ferramentas que suprem as limitações das

técnicas convencionais de diagnóstico, identificação e diferenciação de

microrganismos (GASSER, 2006).

Para o desenvolvimento de estudos sobre caracterização genotípica de

microrganismos frequentemente é utilizado o sequenciamento genético,

preferencialmente de genes que mantêm alto grau de conservação dentro do

gênero avaliado e que apresentem sequências de nucleotídeos longas. Na

realização de estudos evolutivos sobre Babesia e Hepatozoon tem sido

frequentemente utilizadas sequências do gene 18S rRNA e, nos parasitos do

gênero Ehrlichia, o gene 16S rRNA (CARRET et al., 1999, ALLSOPP &

ALLSOPP, 2006).

DUMLER et al. (2001), com base em estudos genéticos envolvendo

genes de proteínas de superfície e genes de choque térmico groESL,

reorganizaram o gênero Ehrlichia. Na nova classificação as espécies E.

phagocitophila, E. platys e E. bovis passaram a pertencer ao gênero Anaplasma e

a serem denominadas Anaplasma phagocitophilum, A. platys e A. bovis,

respectivamente. As espécies E. risticii e E. sennetsu, que anteriormente

pertenciam ao gênero Ehrlichia, foram incluídas no gênero Neorickettsia. Esse

trabalho mostra a importância dos métodos baseados em técnicas de biologia

molecular, identificação e classificação taxonômica de microrganismos.

Outro exemplo sobre a aplicação de técnicas moleculares no estudo de

hemoparasitos é o estudo realizado por NEIMARK et al. (2001). Os autores, após

o seqüenciamento do gene 16S rRNA das espécies dos gêneros

Page 18: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

6

Haemobartonella e Eperythrozoon, realizaram análises das características

morfológicas, que permitiram a reclassificação das mesmas pela remoção da

ordem Rickettsiales para a classe Mollicutes. Dessa forma, os microrganismos

foram renomeados como Mycoplasma haemocanis, Mycoplasma haemofelis,

Candidatus Mycoplasma haemominutum e Mycoplasma haemosuis.

Os estudos genéticos realizados com auxílio de técnicas moleculares

possibilitam não apenas a reclassificação de microrganismos como também o

desenvolvimento de novas técnicas de diagnóstico oferecendo ferramentas mais

seguras e de rápida execução. As informações obtidas podem ser utilizadas em

estudos de resistência a drogas, análise do metabolismo de microrganismos

patogênicos, variantes antigênicos, desenvolvimento de vacinas e ainda oferecem

respaldo ao confronto de informações de diferentes regiões do mundo, validando

assim os estudos realizados (ALLSOPP & ALLSOPP, 2006; CARRET et al., 2009)

A realização de estudos dessa natureza é necessária e importante para

gerar maior conhecimento científico sobre os hemoparasitos, podendo não

apenas contribuir para o esclarecimento da epidemiologia das enfermidades por

eles causadas aos animais domésticos como também trazer informações que

possam elucidar os possíveis riscos relativos à saúde animal e humana.

O objetivo geral do trabalho foi realizar estudo filogenético de isolados

de Babesia, Ehrlichia e Hepatozoon obtidos de cães com sintomatologia

compatível com hemoparasitose canina na cidade de Goiânia, Estado de Goiás.

Referências Bibliográficas

1. ALLSOPP, M.T.E., ALLSOPP, B. Molecular sequence evidence for the reclassification of the some Babesia species. Annals of New York Academic of Sciences. n.1081. p.509-517, 2006.

2. BANETH, G.; MATHEW, J.S., SKHAP, V., MACINTIRE, D.K., BARTA, J.R., EWING, S.A. Canine hepatozoonosis: two disease syndromes caused by separate Hepatozoon spp. Trends in Parasitology. v. 19, n.01, 2003.

3. CALIC, S.B., GALVAO, M.A.M., BACELLAR, F., ROCHA, C.M.B.M., MAFRA, C.L., LEITE, R.C., WALKER, D.A. Human ehrlichiosis in Brazil: First suspect cases. Brazilian Journal of Infectious Diseases, v.8, p.259-262, 2004.

4. CARRET, C., WALAS, F., CAREY, B., GRANDE, N., PRECIGOUT, E.,

MOUBRI, K., SCHETTERS, T.P., GORENFLOT, A. Babesia canis canis,

Page 19: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

7

Babesia canis vogeli, Babesia canis rossi: differentiation of the three subspecies by a restriction fragment length polymorphism analysis on amplified small subunit ribosomal RNA genes. Journal of Eukaryotic Microbiology, v.46, p.298–303, 1999.

5. COSTA, J.R., REMBECK, K., RIBEIRO, M.F.B., BEELITZ, O., PFISTER, K., PASSOS, L.M.F. Sero prevalence and riisk indicators for canine ehrlichiosis in three rural areas of Brazil. The Veterinary Journal. v. 174, p.673-676, 2007.

6. DUMLER,J.S.; BARBET, A.F.; BEKKER, C.P.J.; DASCH, G.A.; PALMER, G.H.; RAY, S.C.; RIKIHISA, Y.; RURANGIRWA, F.R. Reorganization of genera in the families Rickettsiaceae and Anaplasmataceae in the order Rickettsiales: unification of some species of Ehrlichia with Anaplasma, Cowdria with Ehrlichia and Ehrlichia with Neorickettsia, descriptions of six new species combinations and designation of Ehrlichia equi and ‗HGE agent‖ as subjective synonyms of Ehrlichia phagocytophila. International Journal of Systematic and Evolotionary Microbiology, Stanford: High Wire Press, v. 51, p. 2145-2165, 2001.

7. DUMLER, J.S., MADIGAN, J.E., PUSTERLA, N., BAKKEN, J.S.

Ehrlichioses in humans: Epidemiology, clinical presentatio, diagnosis and treatament. Clinical Infectious Diseases. v.45, p. 45-51, 2007.

8. EWING S.A.; PANCIERA RJ.; MATHEW JS.; CUMMINGS CA.; KOCAN KM. American canine hepatozoonosis: an emerging disease in the New World. Annais of New York Academic Science, v.916, p.81-92, 2000.

9. GASSER, R.B. Molecular tools—advances, opportunities and prospects. Veterinary Parasitology, v. 136, p. 69–89, 2006.

10. GREENE, C.E. Infectious diseases of the dog and cat. Canada: Copyright Elsevier, 2006. p. 203-232.

11. HOSKINS, J.D. Veterinary clinics of North America. Philadelphia: Saunders Company, v.21, n.01, 1991. 201p.

12. KERR, M.G. Exames laboratoriais em medicina veterinária bioquímica

clinica e hematologia. São Paulo: Roca, 2003, 436p.

13. KRAUSE, P.J., MCKAY, K., GADBAW, J., CRISTIANSON, D., CLOSTER, L., LEPORE, T., TELFORD,S.R., SIKAND, V., RYAN, R., PERSING, D., RADOLF, J.D., SPIELMAN, A. Increasing health burden of human babesiosis in endemic sites. American journal of Tropical Medicine and Hygiene. v. 68, p. 431-436, 2003.

14. KRIEG, N.R., HOLT,J.G. Bergey’s Manual of Systematic Bacteriology. volume1. Estados Unidos: Williams & Wilkins, 1984, 963p.

Page 20: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

8

15. KUTTLER, K. L. World-wide impact of Babesiosis. In: RISTIC, M. Babesiosis of domestic animals and man. Boca Raton: CRC Press, 1988, p. 1-22.

16. LAUERMAN, L.H. Nucleic acid amplification assays for diagnosis of

animal diseases. Washington: Ed. Library of Congress Cataloging-in-Publication Data, 1998. 152 p.

17. LESCHNIK, M., KIRTZ, G., TICHY,A., LRIDINGER, E. Seasonal

occurrence of canine babesiosis is influenced by local climate conditions. International Journal of Medical Microbiology, v.298, S1, p.243-248, 2008.

18. LOULY, C. C. B., FONSECA, I. N., OLIVEIRA, V. F., LINHARES, G. F. C., MENEZES, L. BORGES, L. M. F. Dinâmica sazonal de Rhipicephalus sanguineus (Acari: Ixodidae) em cães de uma unidade da polícia de Goiânia, Goiás, Brasil. Ciência Animal Brasileira, v. 37, n.2, p. 464-469, 2007.

19. MARTIN, A.R., BROWN, G.K., DUNSTAN, R.H., ROBERTS, T.K. Anaplasma platys: an improved PCR for its detection in dogs. Experimental Parasitology. v. 109, p. 176-180, 2005.

20. MASSARD, C.A. Hepatozoon canis (JAMES, 1905) (Adeleida: Hepatozoidae) cães do Brasil, com uma revisão do gênero em membros da ordem carnívora. Rio de Janeiro, 1979. 121f. Dissertação (Mestrado em Parasitologia Veterinária) – Faculdade de Medicina Veterinária, Instituto de Biologia D.B.A. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Itaguaí, RJ.

21. MUNDIM, A.V.; JACOMINI, J.O.; MUNDIM, M.J.S.; ARAÚJO, S.F. Hepatozoon canis (James, 1905) em cães de Uberlândia, Minas Gerais. Relato de dois casos. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v.29, p.259-261, 1992.

22. NEIMARK H, JOHANSSON KE, RIKIHISA Y, TULLY JG. Proposal to transfer some members of the genera Haemobartonella and Eperythrozoon to the genus Mycoplasma with descriptions of ‗Candidatus Mycoplasma haemofelis‘, ‗Candidatus Mycoplasma haemomuris‘, ‗Candidatus Mycoplasma haemosuis‘ and ‗Candidatus Mycoplasma wenyonii‘. International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology. n.51, p.891-899, 2001.

23. O'DWYER, L.H.; MASSARD, C.L.; PEREIRA DE SOUZA, J.C. Hepatozoon canis infection associated with dog ticks of rural areas of Rio de Janeiro State, Brazil. Veterinary Parasitology, v.94, p.143-150, 2001.

24. RISTIC, M., HOLLAND, C.J. Canine Ehrlichiosis in Rickettsial and Chlamydial Diseases of Domestic Animals. RISTIC, M., WOLDEHIWET, Z. Oxford: England. 1993. 427p.

Page 21: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

9

25. RUBINI, A.S.; PADUAN, K.S.; CAVALCANTE, G.G.; RIBOLLA, P.E.M.;

O‘DWYER, L.H. Molecular identification and characterization of canine Hepatozoon species from Brazil. Parasitology Research, v.97, p.91-93, 2005.

26. RUBINI, A.S., PADUAN, K.S., MARTINS, T.F., LABRUNA, M.B., O‘DWYER, L.H. Acquisition and transmission of Hepatozoon canis (Apicomplexa: Hepatozoidae) by the tick Amblyomma ovale (Acari: Ixodidae). Veterinary Parasitology, n.164, p. 324-327, 2009.

27. SANTOS, F., COPPEDE, J.S., PEREIRA, A.L.A., OLIVEIRA, L.P., ROBERTO, P.G., BENEDETTI, R.B.R., ZUCOLOTO, L.B., LUCAS, F., SOBREIRA, L., MARINS, M. Molecular evaluation of the incidence of Ehrlichia canis, Anaplasma platys and Babesia spp. in dogs from Ribeirao Preto, Brazil. Veterinary Parasitology. n.179, p.145-148, 2009.

28. SPOLIDORIO, M.G., LABRUNA, M.B., ZAGO, A.M., DONATELE, D.M., CALIARI, K.M., YOSHINARI. Hepatozoon canis infecting dogs in the state of Spirito Santo, southeastern Brazil. Veterinary Parasitology, n.163, p.357-361, 2009.

29. UILENBERG, G. Babesia - a historical overview. Veterinary Parasitology, v.138, p.3-10. 2006.

30. WANER, T.; BANETH, G.; ZUCKERMAN, A.; NYSKA, A. Hepatozoon canis: Size measurement of gametocyte using image analysis technology. Comparative haematology international, v.4, p.177-179, 1994.

31. ZAHLER, M., SCHEIN, E., RINDER, H., GOTHE, R. Characteristic genotypes discriminate between Babesia canis isolates of differing vector specificity and pathogenicity to dogs. Parasitology Research, v.84, p.544–548, 1998.

Page 22: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

10

CAPÍTULO 2

ESTUDO FILOGENÉTICO DE Babesia spp EM CÃES.

SABRINA CASTILHO DUARTE1, JULIANA ALVES PARENTE2,

MARISTELA PEREIRA3, CÉLIA MARIA DE ALMEIDA SOARES3, GUIDO

FONTGALLAND COELHO LINHARES4

Laboratório de Doenças Parasitárias, Escola de Veterinária da UFG, Campus II Cx postal 131 CEP: 74001-970.

Goiânia – GO, Brasil. Telefone: (062) 3521-1595

email: [email protected]

1. Doutoranda em Ciência Animal-Sanidade Animal, UFG; 2. Doutora em Ciências Médicas pela UNB; 3. Professora do Instituto de Ciências Biológicas da UFG; 4. Professor Adjunto da Escola de Veterinária da UFG;

RESUMO O gênero Babesia é composto por protozoários que causam enfermidades denominadas babesioses. Clinicamente, cães infectados apresentam febre, anorexia, fraqueza, anemia hemolítica, icterícia, hemoglobinúria e choque, acompanhados por infecção intraeritrocitária. Os cães geralmente são acometidos por Babesia canis ou Babesia gibsoni, sendo a primeira classificada em subespécies B. c. canis, B. c. vogeli e B. c. rossi. No Brasil a principal espécie de Babesia que acomete cães domésticos é a B. canis vogeli. O objetivo desse trabalho foi realizar estudo filogenético de amostras de Babesia em cães na cidade de Goiânia, Goiás. Para o estudo, foram obtidas amostras de sangue de 890 cães atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Goiás, apresentando sinais clínicos compatíveis com a babesiose canina. Somente amostras que apresentavam parasitos intra-eritrocitários foram mantidas no estudo. Estas foram então submetidas a extração de DNA e amplificação de um fragmento do gene 18S rRNA pela PCR. Posteriormente foi feita purificação do produto de PCR para realização de sequenciamento. Foram sequenciadas 35 amostras e após o sequenciamento foi feita análise de qualidade de sequências e mantidas 17 amostras. A análise de similaridade fornecida pelo BLASTn demonstrou que todas as sequências deste estudo eram correspondentes a B. c. vogeli. Foi realizado o depósito das sequencias obtidas no GenBank como novas sequências para o gene 18S rRNA. Pela utilização do programa Mega4 foi possível verificar que as amostras de B. c. vogeli provenientes de cães da cidade de Goiânia apresentam alto grau de similaridade molecular com os isolados de referência para a mesma subespécie de outras regiões do Brasil e do mundo. Amostras de B. c. vogeli de cães da cidade de Goiânia formam grupo filogenético bem definido, juntamente com amostras de referência de B. c. vogeli de diferentes regiões geográficas.

Palavras chave: Babesiose canina, Babesia canis, caracterização molecular, dendogramas, filogenia

Page 23: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

11

ABSTRACT

The genus Babesia is represented by protozoans that cause diseases known as babesiosis. Naturally infected dogs may show signs fever, anorexia, weakness, hemotyc anemia, jaundice, hemoglobinuria and shock, in the presence of intraerythrocytic infection. Dogs are commonly affected by Babesia canis or Babesia gibsoni. B. canis is indeed divided into the subspecies B. c. canis, B. c. vogeli and B. c. rossi. Among these, B. c. vogeli is the main organism that occurs in domestic dogs in Brasil. The objetive of the present paper was to conduct a phylogenetic study on Babesia isolates from dogs of Goiânia, Goiás. For this purpose blood samples were obtained from 890 dogs referred to the Veterinary Hospital of the Federal University of Goiás, presenting clinical signs resembling canine babesiosis. Only samples showing intraerythrocytic parasites in blood smears with typical morphological features were maintained in the study. These samples were then submitted to DNA extraction process and amplification of a fragment of the 18S rRNA by PCR. Subsequently, the PCR products were purified and sequenced. Sequences were obtained from 35 samples but only 17 of these were kept after quality analysis procedure. Comparative similarity analysis inferred by BLASTn demonstrated that all sequences of this study were correspondent to B. c. vogeli. The sequences have been deposited in the GenBank database as new sequences of the 18S rRNA. Applying Mega4 software it was confirmed that the isolates of B. c. vogeli from dogs of Goiânia are strongly similar to other reference isolates of the same subspecies from other regions of Brasil and worldwide. It was concluded that the isolates of B. c. vogeli of this study are clusted in the same clade of the phylogenetic tree together with reference isolates from other geographic regions of the world.

Keywords: Babesia canis, canine Babesiosis, molecular characterization, phylogeny

1.0 INTRODUÇÃO

De acordo com KUTTLER (1988), duas espécies do gênero Babesia

têm os canídeos como hospedeiros naturais, a B. canis e a B. gibsoni, ambas

com ampla distribuição geográfica. A B. canis lato senso é classificada em

subespécies, denominadas Babesia canis canis, Babesia canis vogeli e Babesia

canis rossi, com base em estudos de especificidade pelo vetor e diferenças

antigênicas demonstradas nos experimentos de imunidade cruzada e testes

sorológicos (UILENBERG et al., 1989). Entretanto outros autores verificaram

diferenças genotípicas entre estes organismos e defendem este critério para a

classificação taxonômica dos mesmos em espécies distintas (ZAHLER et al.,

1998).

Page 24: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

12

Quanto à distribuição geográfica, B. canis tem diferentes ocorrências

considerando-se as subespécies descritas. Sabe-se que a B. c. rossi é de

ocorrência na África do Sul (UILENBERG et al., 1989) e Sudão (OYAMADA et al.,

2005), a B. c. canis é endêmica na Europa (UILENBERG et al., 1989; CACCIO et

al., 2002, CRIADO-FORNELLIO et al., 2003; FOLDVARI et al., 2005) e a B. c.

vogeli, é ocorrente no Norte da África, América do Norte (UILENBERG et al.,

1989), Europa (CACCIO et al., 2002, CRIADO-FORNELLIO et al., 2003), Austrália

(JEFFERIES et al., 2003, MARTIN et al., 2006), Sudão (OYAMADA et al., 2005),

Turquia (GULANBER et al., 2006) e América do Sul (PASSOS et al., 2005;

DUARTE et al., 2008). Já a B. gibsoni é predominantemente encontrada na Ásia,

África, América do Norte, Europa e Austrália com relato no Brasil (LOBETTI,

1998; CASAPULLA et al., 1998; KJEMTRUP et al., 2000; ANO et al., 2001;

INOKUMA et al., 2004, TRAPP et al., 2006).

No Brasil a principal espécie de Babesia que acomete cães domésticos

é a B. canis vogeli (PASSOS et al., 2005; DUARTE et al., 2008). Existem ainda

duas referências para a ocorrência de B. gibsoni no Brasil. A primeira descrição

foi feita por BRACCINI e colaboradores (1992), em um trabalho utilizando-se

esfregaço sanguíneo de cão importado presente no Rio Grande do Sul. Os

autores relataram a presença de B. gibsoni com base na referida amostra. O

segundo trabalho foi desenvolvido com técnicas de biologia molecular e foi

desenvolvido por TRAPP et al. (2006) no Paraná. Os autores sequenciaram

quatro isolados que apresentaram 100% de similaridade com B. gibsoni subtipo

Asia 1. Ambas espécies de Babesia podem ser transmitidas pelo R. sanguineus, o

qual apresenta ocorrência comum em cães no Brasil, principalmente nas áreas

urbanas (LABRUNA et al., 2001; FRANQUE et al., 2007).

O exame microscópico direto é o método convencional empregado para

detecção de Babesia nos animais, é um exame conclusivo para o diagnóstico de

fácil execução e baixo custo, entretanto, nem sempre é conclusivo para a

diferenciação entre espécies morfologicamente semelhantes, porém

geneticamente distintas como, por exemplo, B. microti e B. gibsoni (CARRET et

al., 1999). O mesmo é verificado quanto à discriminação entre as subespécies de

B. canis.

Page 25: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

13

Com os avanços recentes do conhecimento na área de biologia

molecular, cada vez mais são empregadas técnicas moleculares como

ferramentas indispensáveis para estudos sobre a sistemática (UILENBERG,

2006). As análises genéticas têm permitido a caracterização filogenética destes

organismos, resultando na emergência de grupos, assim como proposições de

novas posições taxonômicas para muitas espécies (KJEMTRUP & CONRAD,

2006).

ZAHLER et al. (2000), por meio de análises do 18S rRNA, fizeram

caracterização genotípica de um pequeno piroplasma, isolado de cão com

babesiose clínica adquirida na Espanha, mais próxima filogeneticamente às

espécies Babesia microti, Babesia rodhaini e Theileria equi, quando comparada à

Babesia gibsoni. A este novo patógeno os autores atribuíram o nome de Theileria

annae. Posteriormente, CAMACHO et al. (2001) verificaram que a ocorrência

desta nova espécie era frequente no noroeste da Espanha.

Com esta metodologia, foi também confirmada a presença incomum de

T. equi em amostras de sangue de cães assintomáticos na Espanha (CRIADO-

FORNELIO et al., 2004) e a ocorrência de uma nova espécie de Babesia em cães

(nome científico não atribuído), pertencente ao grupo das grandes babesias,

porém filogeneticamente distinta das demais já conhecidas. Em relação à B.

gibsoni, estudos recentes demonstraram a existência de, pelo menos três

espécies filogeneticas distintas (BIRKENHEUER et al., 2004).

O pleomorfismo observado em diferentes espécies de Babesia nos

hospedeiros vertebrados, confrontado com os resultados de estudos de biologia

molecular, tem gerado controvérsias quanto à classificação com base morfológica

adotada anteriormente para a diferenciação entre espécies. Supõe-se atualmente

que algumas espécies de Babesia são menos específicas do que se acreditava e

é provável que as espécies sejam capazes de infectar um maior número de

hospedeiros do que anteriormente registrado (KJEMTRUP et al, 2006; GRAY,

2006; HASELBARTH et al., 2007, HUNFELD et al., 2008).

Dessa forma os estudos com base genética vêm se tornando

fundamentais ao conhecimento da história evolutiva dos organismos, de forma a

possibilitar a reconstrução da filogenia dos grupos. Assim, com a combinação dos

métodos moleculares e tradicionais é possível reconstruir modelos mais precisos

Page 26: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

14

que reflitam de forma correta as relações entre os organismos do gênero Babesia

(UILENBERG, 2006).

O objetivo desse trabalho foi realizar estudo filogenético de amostras de

babesia em cães apresentando quadros clínicos compatíveis com babesiose

canina oriundos da cidade de Goiânia, Estado de Goiás.

2.0 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Local e período de coleta das amostras

As atividades foram executadas na Universidade Federal de Goiás

(UFG) entre janeiro a agosto de 2008 distribuídas, conforme as fases de

desenvolvimento, no Hospital Veterinário (HV), no Laboratório de Diagnóstico de

Doenças Parasitárias (LDDP) da Escola de Veterinária (EV) e no Laboratório de

Biologia Molecular (LBM) do Instituto de Ciências Biológicas (ICB).

2.2 Seleção das amostras

Para o estudo, foram obtidas amostras de sangue, colhidas com EDTA

(Anticoagulante Universal, Doles), de 890 cães sintomáticos atendidos no Hospital

Veterinário da Universidade Federal de Goiás, apresentando sinais clínicos

compatíveis com a babesiose canina. Foram consideradas como amostras

positivas as que apresentavam parasitos intra-eritrocitários com características

morfológicas típicas de babesídeos, conforme parâmetros descritos por HOSKINS

(1991). A identificação morfológica foi realizada pelo exame microscópico de

esfregaços sanguíneos delgados, corados pelo Giemsa.

2.3 Extrações de DNA

As amostras de sangue, correspondentes aos esfregaços sanguíneos

positivos, foram submetidas ao processo de extração de DNA, empregando-se kit

comercial (GFX-Genomic Blood DNA Purification Kit®, Amersham Biosciences).

Os procedimentos para a extração foram realizados de acordo com as instruções

do fabricante, adotando-se o protocolo indicado para a extração a partir do

volume de 200 µL de sangue. Os eluatos obtidos no final das extrações foram

armazenados a -20 oC para posteriormente serem utilizados nas reações de PCR.

Page 27: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

15

2.4 Oligonucleotídeos utilizados para amplificação do fragmento do 18S rRNA

Foram selecionados oligonucleotídeos gênero-específicos (Babesia

spp.) com o objetivo de se obter produtos da amplificação de uma sequência alvo

do gene 18S rRNA por PCR. Inicialmente, foram selecionadas sequências

depositadas em banco de dados GenBank (http://www.ncbi.nlm.nih.gov)

codificantes para as seguintes espécies e subespécies do gênero Babesia, com

seus respectivos números de acesso: B. canis vogeli (AY072925), B. canis canis

(AY072926), B. canis rossi (L19079), B. gibsoni (AF231350), B. bovis (L31922), B.

bigemina (X59604) e B. equi (Z15105).

Em seguida, as sequências foram submetidas ao alinhamento múltiplo

de Clustal W (THOMPSON et al., 1999), através do software Megalign

(LaserGene, DNAStar, Inc.). O par de oligonucleotídeos gênero-específico foi

selecionado a partir de regiões conservadas do gene, de acordo com critérios

técnicos recomendados por LISBY (1999) e UNIVERSITY OF NEBRASKA (2007).

Após a seleção, os oligonucleotídeos foram submetidos à avaliação de

similaridade com as sequências do GenBank, utilizando-se o algoritmo BLASTN®

(Basic Local Alignment Search Tool Nucleotides) (ALTSCHUL et al., 1990). As

sequências que apresentaram a identidade esperada para o gênero foram

sintetizadas (Prodimol – IDT), sob as designações Bab7 (sense) e Bab9 (anti-

sense).

2.5 Reações de PCR

As amostras de DNA total, extraídas dos respectivos amostras de

Babesia spp., foram submetidas ao processo de amplificação enzimática para a

obtenção de fragmentos-alvo gênero-específicos, por PCR.

Os ensaios de PCR foram realizados em volume de 50 µL com as

seguintes concentrações de reagentes: 1x de Tampão para PCR (PCR buffer

10X, Invitrogen), 2,0 mM de Cloreto de Magnésio (MgCl2) (Invitrogen); 0,2 mM de

dNTP (Amersham Biosciences); 10 pM do oligonucleotídeo sense (Bab7); 10 pM

do oligonucleotídeo antisense (Bab9); 1,25U de Taq DNA polimerase (Taq DNA

Polymerase 5 U/µL, Invitrogen) e 5 µL do DNA genômico extraído da amostra

conforme descrito anteriormente. O processo de amplificação foi realizado em

Page 28: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

16

termociclador (Mastercycler Personal, Eppdendorf) programado para um ciclo

inicial de 94 oC por 2 min., seguido de 35 ciclos repetidos de 94 oC por 30 seg.,

56º por 30 seg. e 72 oC por 1 min. A programação era finalizada com 2 min. a

72oC para maximizar o processo de extensão.

Como controle positivo representativo do gênero Babesia nas reações

de PCR, foi utilizada amostra de DNA genômico de referência para B. canis vogeli

obtida no LDDP/EV/UFG, de acordo com DUARTE et al. (2008).

Os produtos de amplificação (10 µL) foram submetidos à eletroforese a

90 volts, durante 60 min, em gel de agarose 1,5% (Agarose NA – Amersham

Biosciences) e tampão TBE 1x. Como marcador de massa molecular foi

empregado o DNA Ladder 100 pb (Invitrogen).

Após as corridas, os géis foram corados por imersão em solução de

brometo de etídio (0,4 µg/mL) por 10 min. A visualização foi feita em aparelho

transiluminador de UV (Electronic UV Transilluminator, Ultra-Lum), em ambiente

escuro e a documentação fotográfica dos resultados das eletroforeses foi

efetivada em equipamento fotodocumentador de géis (Vilber Lourmat).

2.6 Purificações e sequenciamento das amostras

Para a obtenção dos fragmentos puros de DNA, os produtos de PCR

foram extraídos e purificados utilizando-se o kit comercial (QIAquick Gel

Extraction Kit Protocol, Qiagen), conforme recomendações do fabricante. Após a

identificação, as amostras foram refrigeradas e imediatamente encaminhadas

para a realização do sequenciamento.

Os produtos de PCR purificados, obtidos com as reações gênero

específicas empregando-se os oligonucleotídeos Bab7 e Bab9, foram submetidos

ao sequenciamento automático utilizando-se sequenciador automático

MegaBACE1000 (GE Healthcare). Para este processo foi utilizado o método da

incorporação de dideoxi (ddNTP), empregando-se o DYEnamic ET dye

terminator kit MegaBACE (GE Healthcare ). As sequências obtidas foram

analisadas pelo programa Phred e somente aquelas que apresentaram índice

igual ou superior a 20 foram mantidas no estudo.

Page 29: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

17

2.7 Análise de similaridade

As sequências correspondentes aos produtos de PCR obtidos com os

oligonucleotídeos Bab7 e Bab9 dos isolados regionais foram submetidas ao

BLASTN para confirmação da identidade das sequências e, em seguida

analisadas quanto à porcentagem de identidade, empregando-se o método de

múltipla progressão de Clustal W (THOMPSON et al., 1999) por meio do

programa MEGA4 (Molecular Evolutionary Genetics Analysis – Software Version

4; TAMURA et al., 2007). A análise de identidade foi, ainda, realizada

comparando-se os isolados obtidos neste estudo com as sequências de

referência para espécies ou subespécies depositadas no GenBank.

2.8 Análises filogenéticas

Para o estudo filogenético foi construído dendograma incluindo as

sequências parciais do gene 18S rRNA dos diferentes isolados regionais obtidos

neste estudo e as seguintes sequências de referência para outras espécies de

piroplasmas, de diferentes regiões geográficas, com seus respectivos números de

acesso no GenBank: B. c. vogeli (Egito: AY371297, Austrália: AY102163, Japão:

AB083374, Brasil: AY371196, Venezuela: DQ297390, Argentina: EU362993,

EUA: AY371198 França: AY072925, Espanha: AY150061, Turquia: AM183215);

B. canis rossi: L19079 e DQ111760, B. canis canis: AY072926 e AY611729, B.

canis presentii: AY649326; B. gibsoni Asia-1 e Asia 2: AF175300 e AF175301, T.

annae: AF188001; B. equi: DQ287951, B. microti: U09833, B. conradae:

AF158072, Theileria annulata: EU083801 e Plasmodium falciparum: M19172. A

sequência do 18S rRNA de P. falciparum foi incluída na árvore como um

organismo filogeneticamente mais distante para utilização como espécie raiz na

construção da árvore filogenética.

A árvore filogenética foi construída pelo método neighbor-joining, com

bootstrap de 1.000 replicatas e parâmetros de distância evolutiva ajustados pela

substituição Kimura 2-parâmetros, a partir do alinhamento das sequências pelo

método Clustal-N. Para esta finalidade foi utilizado o programa MEGA4 para a

construção da árvore (http://www.megasoftware.net).

Page 30: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

18

3.0 RESULTADOS

3.1 Amostras obtidas

No período de realização do estudo foram obtidos 35 amostras com

características morfológicas típicas de piroplasmas, os quais foram identificados

pela demonstração de formas parasitárias intra-eritrocitárias correspondentes a

trofozoítos e/ou merozoítos de babesídeos, avaliados ao exame microscópico dos

esfregaços sanguíneos, conforme HOSKINS (1991).

3.2 Determinação da especificidade analítica dos oligonucleotídeos

A partir do alinhamento realizado com as sequências do gene 18S rRNA,

foram desenhados os oligonucleotídeos Bab7 sense, gênero-específico, contendo

21 nucleotídeos, localizado em uma região conservada, das posições 619-639 do

alinhamento e o Bab9 antisense, gênero-específico, de 22 oligonucleotídeos,

localizado em uma região conservada, das posições 1091-1112. Análises de

similaridade realizadas pelo programa BLASTN confirmaram a especificidade

para os oligonucleotídeos Bab7 e Bab9 ao nível do gênero Babesia. A

temperatura de anelamento (Ta) para estes oligonucleotídeos foi calculada em

56ºC. A seqüência dos iniciadores consta no Quadro 1.

QUADRO 1 - Iniciadores selecionados para a amplificação de fragmentos gênero-

específicos de sequências localizadas no gene 18S de Babesia sp, pela PCR.

Especificidade analítica

Oligo Sequências Posição no alinhamento

Ta (°C)

Babesia sp. Bab7 5´-GGC TAC CAC ATC TAA GGA AG-3´ 619-639 55

Babesia sp. Bab9 5´-CTA AGA ATT TCA CCT CTG ACA G-3´ 1091-1112 57

Ta = temperatura de anelamento.

Page 31: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

19

3.3 Amplificação do 18S rRNA

Empregando-se o par de oligonucleotídeos Bab7/Bab9, foram obtidos

produtos de amplificação das 35 amostras de piroplasmas, com tamanho de 490

pb do gene 18S rRNA de Babesia sp. (Figura 1).

As amostras que apresentaram bandas de baixa intensidade foram

desprezadas por serem considerados produtos de menor qualidade para o

sequenciamento. As demais amostras mantidas no estudo (n= 29) geraram

bandas nítidas do tamanho correspondente ao fragmento esperado, sem

amplificações inespecíficas.

Figura 1: Eletroforese dos produtos de PCR de 490 pb amplificados a partir do DNA de Babesia sp. das amostras obtidos de cães procedentes da cidade de Goiânia, Goiás. 1- controle positivo; linhas 2 a 8: amostras B. canis GO 1 a 07; linha 09: controle negativo.

3.4 Sequências e caracterização molecular das amostras de Babesia sp.

Após o sequenciamento dos 35 produtos de PCR purificados, 17

amostras apresentaram sequências de tamanhos de 269 nucleotídeos e valores

de Phred igual ou superior a 20. Estas foram então utilizadas nas análises

filogenéticas. Com base na análise de similaridade fornecida pelo algoritmo

BLASTn foi verificado que todas as sequências deste estudo (n=17) eram

correspondentes a Babesia canis vogeli. As amostras obtidas neste estudo foram

490pb

Page 32: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

20

então depositados no GenBank como novas sequências para o gene 18S rRNA

sob os números GU386266, GU386267, GU386268, GU386269, GU386270,

GU386271, GU386272, GU386273, GU386274, GU386275, GU386276,

GU386277, GU386278, GU386279, GU386280, GU386281 e GU386282.

Todas as sequências, com exceção do isolado B. c. vogeli GO 04,

apresentaram 100% de identidade entre as mesmas. O isolado B. c. vogeli GO 04

foi 99,60% similar aos demais, sendo que a diferença se evidenciou por apenas

uma substituição (de A por G) na posição 128 do alinhamento (Quadro 2).

As amostras B. c. vogeli GO 01 a 03 e 05 a 17 apresentaram 100% de

identidade com os isolados provenientes da Austrália, Brasil, Japão e Venezuela.

Ainda nesta mesma análise as sequências da África do Sul, da Argentina, dos

Estados Unidos (EUA) e da França apresentaram 99,60% de identidade,

demonstrando apenas uma substituição de nucleotídeo. Nas demais sequências,

apesar de manterem alta percentagem de identidade (99,20%) foram verificadas

duas substituições (Quadro2).

No Quadro 2 são apresentados os dados referentes ao polimorfismo dos

nucleotídeos, entre as sequências parciais do gene 18S rRNA das amostras

obtidos neste estudo e outras 10 amostras representativas da subespécie B. c.

vogeli de outras regiões geográficas. Considerando-se que as sequências de

todos as amostras regionais deste estudo, com exceção da B. c. vogeli GO 04,

eram 100% idênticas, optou-se por incluir apenas a sequência B. c. vogeli 01 no

Quadro 2.

Page 33: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

21

Quadro 2 - Comparação das sequências do gene 18S rRNA de B. canis vogeli provenientes de Goiânia–GO, Brasil, com outras sequências de diferentes regiões geográficas, tendo como base a numeração das posições polimórficas do fragmento de 271 pb do genótipo B. c. vogeli GO 01.

Genotipos/amostras Acesso

GenBank Identidade

a (%)

Polimorfismo na posição dos nucleotídeos 31 128 142 175 212

B. c. vogeli GO 01 GU386266 - A A T T T

B. c. vogeli GO 04

África do Sul

GU386269

AF548006

99,60

99,60

G*

G*

Argentina EU362993 99,60 C* • • • •

Austrália AY102163 100,00 • • • • •

Brasil AY371196 100,00 • • • • •

Egito AY371197 99,20 • • C* C* •

Espanha AY150061 99,20 C* • • • A*

EUA AY371198 99,60 C* • • • •

França AY072925 99,60 C* • • • •

Japão AB083374 100,00 • • • • •

Turquia AM183215 99,20 • • C* C* •

Venezuela DQ297390 100,00 • • • • •

(•): indica nucleotídeo conservado, (*): indica substituição, a: porcentagem de identidade da sequência de 269 pb

alinhada pelo ClustalW.

3.5 Análise filogenética das amostras de Babesia sp.

A árvore filogenética gerada pelo confronto entre as sequências

parciais do gene 18S rRNA das amostras regionais B. c. vogeli GO 01 e B. c.

vogeli GO 04 com as sequências correspondentes de referência para outras

espécies de piroplasmas, incluídas nesta análise, revelou que: (1) as espécies de

piroplasmas ficaram divididas em dois ―clados‖ distintos. O primeiro (bootstrap =

99%) foi formado pelas espécies e/ou subespécies: B. c. vogeli, B. c. canis, B.

gibsoni e B. c. rossi. O outro ―clado‖ (bootstrap = 74%) foi composto pelas

espécies B. microti, B. conradae e os theilerídeos T. annae, T. equi e T. annulata;

(2) as amostras B. c. vogeli GO 01 e GO 04 formaram agrupamento bem definido

juntamente com as cepas de referência para B. c. vogeli de outras regiões

geográficas incluídas nesta análise molecular. Esta relação filogenética foi

sustentada pelo alto índice de bootstrap para o algoritmo neighbor-joining (Figura

2); (3) o isolado B. c. vogeli GO 04 se caracterizou como um ramo (branch) ligado

à cepa B. c. vogeli da África do Sul (bootstrap = 64%); (4) B. canis presentii e B. c.

canis foram as espécies de babesídeos que apresentaram relação filogenética

mais distante as amostras B. c. vogeli GO 01 e B. c. vogeli GO 04 (bootstrap =

85%), seguidos por B. gibsoni (bootstrap = 99%) e B. c. rossi (bootstrap = 99%);

Page 34: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

22

(5) B. conradae, T. equi, T. annulata, B. microti e T. annae formaram um ―clado‖

independente do grupo dos babesídeos, demonstrando assim maior distância

filogenética em relação as amostras deste estudo.

O resultado obtido nessa análise filogenética para o isolado B. c. vogeli

GO 01 deve ser considerado como válido também para as amostras 02, 03, e de

05 a 17, uma vez que os mesmos são 100% idênticos, como foi demonstrado

anteriormente na análise de porcentagem de similaridade e polimorfismo das

amostras.

B. c. vogeli Espanha (AY150061)

B. c. vogeli EUA (AY371198)

B. c. vogeli Argentina (EU362993)

B. c. vogeli Franca (AY072925)

B. c. vogeli Brasil (AY371196)

B. c. vogeli Australia (AY102163)

B. c. vogeli Egito (AY371197)

B. c. vogeli Turquia (AM183215)

B. c. vogeli Venezuela (DQ297390)

B. c. vogeli GO 01 (GU386266)

B. c. vogeli Japao (AB083374)

B. c. vogeli Africa do Sul (AF548006)

B. c. vogeli GO 04 (GU386269)

B. canis subsp. presentii (AY649326)

B. c. canis (AY072926)

B. c. canis (AY611729)

B. gibsoni Asia-1 (AF175300)

B. gibsoni Asia-2 (AF175301)

B. c. rossi (DQ111760)

B. c. rossi (L19079)

Babesia equi (DQ287951)

Theileria annulata (EU083801)

B. conradae (AF158702)

B. microti (U09833)

T. annae (AF188001)

Plasmodium falciparum (M19172)

98

89

50

74

99

99

99

68

85

92

64

63

64

87

Figura 2: Árvore filogenética construída a partir de fragmentos parciais do gene

18S rRNA de amostras regionais de Babesia sp. e sequências de referência

obtidas no GenBank (www.nvbi.nlm.nih.gov) pelo método neighbor-joining com

bootstrap = 1000. Os números de acesso das sequências estão listados na figura.

Page 35: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

23

4.0 DISCUSSÃO

O exame parasitológico direto foi realizado como método de triagem com

o intuito único de confirmar a presença de babesídeos nas amostras de sangue

selecionadas para os estudos moleculares. O parâmetro morfológico se restringiu

à identificação das formas parasitárias típicas de piroplasmas, uma vez que a

morfologia pode ser inconclusiva para identificar a espécie de Babesia envolvida

na infecção, fato já mencionado por BIRKENHEUER et al. (2004), PASSOS et al.

(2005), ALLSOPP & ALLSOPP (2006) e DUARTE et al. (2008) e atribuído ao

pleomorfismo deste protozoário.

Os resultados alcançados com os testes de especificidade para os

oligonucleotídeos BAB7/BAB9 deram suporte para validar os ensaios de PCR

com os pares de oligonucleotídeos desenhados neste estudo como protocolos

confiáveis para amplificações gênero-específicas por PCR para o gênero Babesia

sp. Pela utilização destes oligonucleotídeos foi possível obter o fragmento

correspondente ao gene 18S rRNA com tamanho de fragmento de

aproximadamente 490pb.

A análise de similaridade entre as sequências das 17 amostras obtidas

neste estudo e as sequências disponibilizadas no GenBank revelaram

similaridade com o gene 18S rRNA de B. c. vogeli. Esta similaridade variou entre

99,2 a 100%. Dessa forma, os resultados confirmaram afiliação entre as amostras

obtidas e avaliadas neste estudo com as sequências de B. c. vogeli de outras

regiões do mundo o que pôde ser demonstrado também pela árvore filogenética

do tipo neighbor-joining.

As amostras deste estudo apresentaram estreita similaridade nas

comparações com isolados brasileiros e também com os provenientes de outras

regiões do mundo. Entende-se que novos genes devem ser pesquisados visando

uma abordagem que possa validar essa similaridade já que estudos envolvendo

outros organismos têm demonstrado variabilidade em isolados de diferentes

regiões do mundo (EIRAS, et al., 2008, BURLINI et al., 2009).

Os resultados aqui alcançados são equivalentes aos obtidos por

PASSOS et al. (2005) quanto a similaridade das amostras do Brasil e Japão.

Estudos conduzidos na Turquia por GULANBER et al (2006) comprovaram

também que o isolado B. c. vogeli daquele país apresenta 100% de similaridade

Page 36: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

24

aos isolados do Egito e 99% de similaridade aos isolados do Brasil, Japão, França

e Espanha, observando diferenças de uma a quatro substituições. Portanto, a

maioria dos estudos sobre filogenia de B. c. vogeli realizados no País e em outras

partes do mundo corrobora os resultados apresentados no presente estudo.

EIRAS et al. (2008) concluíram que os isolados de B. c. vogeli

argentinos são distantes dos isolados das regiões do Brasil e Venezuela. Porém,

estes autores consideraram insuficiente o número de amostras avaliadas em sua

pesquisa para obtenção de conclusões definitivas. Entretanto, neste estudo a

sequência Argentina EU362993 depositada no GenBank por EIRAS et al. (2008)

agrupou-se em um ―clado‖ com as cepas da Espanha, França e EUA e

demonstrou estreita proximidade filogenética com as cepas brasileiras. Ressalta-

se que como cepas brasileiras foram consideradas a cepa publicada por PASSOS

et al. (2005) e as amostras apresentadas neste trabalho.

No presente trabalho foi realizado sequenciamento de 17 amostras. A

análise simultânea destas amostras confirmou a alta similaridade observada entre

as amostras regionais e permitiu diferenciação entre as outras espécies de

babesídeos e theilerídeos confrontadas no estudo.

No Brasil há registros anteriores que comprovaram, por meio de

técnicas moleculares, a ocorrência de B. c. vogeli no País. PASSOS et al (2005)

demonstraram similaridade entre as sequências do gene 18S rRNA entre quatro

amostras oriundas do estado de Minas Gerais e uma amostra proveniente de um

cão do estado de São Paulo, com porcentagem de identidade entre 99,4 a 100%.

DE SÁ et al. (2006) realizaram a caracterização molecular de B. c. vogeli em

estudos com RFLP-PCR utilizando amostras do Rio de Janeiro e DUARTE et al.

(2008), identificaram B. c. vogeli ao realizarem diagnóstico molecular de 30

amostras da cidade de Goiânia-GO empregando ensaio de PCR subespécie-

específico. Os resultados das análises moleculares apresentados neste trabalho

representam uma contribuição para o conhecimento da etiologia e distribuição

geográfica da babesiose canina no País, uma vez que comprova, em estudo

independente, a presença de B. c. vogeli entre isolados brasileiros, assim como

documentado anteriormente para amostras de Minas Gerais, São Paulo, Rio de

Janeiro e Goiás.

Page 37: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

25

As subespécies B. c. canis, com distribuição geográfica conhecida na

Europa e B. canis rossi na África do Sul e Sudão (UILENBERG et al., 1989)

não foram identificadas entre as amostras deste trabalho, corroborando os

resultados obtidos por outros estudos realizados com isolados obtidos na América

do Sul (PASSOS et al., 2005; DUARTE et al., 2008).

TRAPP et al. (2006) encontraram, pela amplificação do gene SSU rRNA

e análise por sequenciamento, a espécie B. gibsoni, no Brasil, que até então só

havia sido relatada por identificação morfológica por BRACCINI et al., (1992). O

presente trabalho representa o primeiro estudo filogenético de amostras de

Babesia de origem canina desenvolvido no estado de Goiás. Nenhuma das

amostras caracterizadas no presente trabalho foi identificada como B. gibsoni, no

entanto, entende-se que há necessidade de realização de novas pesquisas, as

quais poderão avaliar um número maior de amostras oriundas do município de

Goiânia, assim como de outras regiões do estado de Goiás.

Além das espécies B. canis lato senso e B. gibsoni, reconhecidas

mundialmente como parasitos naturais dos canídeos (UILENBERG et al., 1989),

outros piroplasmas têm sido incriminados como agentes etiológicos de

hemoparasitoses em cães como T. annae (ZAHLER et al., 2000), B. microti

(ZAHLER et al., 2000, CAMACHO et al., 2001), B. conradae

(BIRKENHEUER et al., 2004) e T. equi (CRIADO-FORNELIO et al., 2004),

entretanto, nenhuma destas espécies foi identificada entre as amostras deste

trabalho.

A maioria dos estudos desenvolvidos no Brasil baseia-se em prevalência

sorológica, os quais evidenciam a ampla distribuição geográfica e a importância

da babesiose canina. No entanto, considerando-se a extensão territorial do País

os trabalhos de biologia molecular são ainda em pequeno número. Há, portanto, a

necessidade do incremento de pesquisas desta natureza, para contribuir com o

melhor conhecimento da identidade taxonômica precisa dos microrganismos

envolvidos nesta enfermidade, das diferentes regiões do País.

Page 38: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

26

5.0 CONCLUSÃO

O sequenciamento parcial de fragmentos do gene 18S rRNA e as

análises de similaridade confirmam a identidade molecular de Babesia canis

vogeli entre amostras obtidas de cães na cidade de Goiânia.

As amostras de B. c. vogeli provenientes de cães da cidade de Goiânia

apresentam alto grau de similaridade molecular e formam grupo filogenético bem

definido com as amostras de referência para a mesma subespécie de outras

regiões do Brasil e do mundo.

AGRADECIMENTOS: Esse trabalho contou com o suporte financeiro do CNPq.

6.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ALLSOPP, M.T.E., ALLSOPP, B. Molecular sequence evidence for the

reclassification of the some Babesia species. Annais of New York

Academic of Sciences. n.1081. p.509-517, 2006.

2. ALTSCHUL, S.F.; GISH, W.; MILLER, W.; MYERS, E.W.; LIPMAN, D.J.

Basic local alignment search toll. Journal of Molecular Biology, v.215,

n.3, p.403-410, 1990.

3. ANO, H; MAKIMURA, S.; HARASAWA, R. Detection of Babesia species from infected dog blood by polimerase chain reaction. Journal of Veterinary Medical Science, v.63, n.1, p.111-113, 2001.

4. BIRKENHEUER, A.J.; NEEL, J.; RUSLANDER, D.; LEVY, M.G.;

BREITSCHWERDT, E.B. Detection and molecular characterization of a novel large Babesia species in a dog. Veterinary Parasitology, v.124, p.151-160, 2004.

5. BRACCINI, G.L., CHAPLIN, E.L., STOBBE, N.S., ARAUJO, F.A.P., SANTOS, N.R. Protozoology and rickettsial findings of the laboratory of the veterinary faculty of the federal university of Rio Grande do Sul, Brazil, 1986 – 1990. Arquivos da Faculdade de Veterinária, UFRGS , Rio Grande do Sul, v.20, p.134–149, 1992.

6. BURLINI, L., TEIXEIRA, K.R.S., SZABÓ, M.P.J., FAMADAS, K.M. Molecular dissimilarities of Rhipicephalus sanguineus (Acari: Ixodidade) in Brazil and its relation with samples throught the world: is there a geographical pattern. Expermental & Applied Acarology, DOI: 10.1007/s10493-009-9321-8, 2009.

Page 39: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

27

7. CACCIO, S.M., ANTUNOVIC, B., MORETTI, A., MANGILI, A.,

MARINCULIC,A., BARIC, R.R., SLEMENDA, S.B., PIENIAZEK, N.J. Molecular characterization of Babesia canis canis and Babesia canis vogeli from naturally infected European dogs. Veterinary Parasitology, v.106, p.285–292, 2002.

8. CAMACHO, A.T.; PALLAS, E.; GESTAL, J.J.; GUITIÁN, F.J.; OLMEDA,

A.S.; GOETHERT, H.K.; TELFORD, S.R. Infection of dogs in north-west Spain with a Babesia microti-like agent. Veterinary Record, v.3, p. 552-555. 2001.

9. CARRET, C., WALAS, F., CAREY, B., GRANDE, N., PRECIGOUT, E.,

MOUBRI, K., SCHETTERS, T.P., GORENFLOT, A. Babesia canis canis, Babesia canis vogeli, Babesia canis rossi: differentiation of the three subspecies by a restriction fragment length polymorphism analysis on amplified small subunit ribosomal RNA genes. Journal of Eukaryotic Microbiology, v.46, p.298–303, 1999.

10. CASAPULLA, R.L. BALDI, V., AVALLONE, R., SANNINO, L., PAZZANESE., L., MIZZONI, V. Canine piroplasmosis due to Babesia gibsoni: clinical and morphological aspects. Veterinary Record, Londres, v.142, p.168–169, 1998.

11. CRIADO-FORNELIO, A., MARTINEZ-MARCOS, A., BULING-SARANA, A., BARBA-CARRETERO, J.C., Presence of Mycoplasma haemofelis, Mycoplasma hemominutum and piroplasmids in cats from southern Europe: a molecular study. Veterinary Microbiology. v.93, 307-317, 2003.

12. CRIADO-FORNELIO, A., GONZALES-DEL-RIO, M.A., BULING-SARANA,

A., BARBA-CARRETERO, J.C. The expanding universe of piroplasms. Veterinary Parasitology. v.119, 337-345, 2004.

13. DE SÁ, A.G; CERQUEIRA, A.M.F; O'DWYER, L.H; MACIEIRA, D.B;

ABREU, F.S; FERREIRA, R.F; PEREIRA, A.M; VELHO, P.B; ALMOSNY, N.R.P. Detection and Molecular Characterization of Babesia canis vogeli from naturally infected Brazilian dogs. Journal of Applied Research in Veterinary Medicine. v.4, n.2, 2006.

14. DUARTE, S.C, LINHARES, G.F.C, ROMANOWSKI, T.N, NETO, O.J.S.,

BORGES, L.M.F. Assessment of primers designed for the subspecies-specific discrimination among Babesia canis canis, Babesia canis vogeli and Babesia canis rossi by PCR assay. Veterinary Parasitology, v.152, p.16-20. 2008.

15. EIRAS, D.F., BASABE, J., MESPLET, M., SCHNITTGER, L. First molecular characterization of Babesia vogeli in two naturally infected dogs of Buenos Aires, Argentina. Veterinary Parasitology, n.157, p.294-298, 2008.

Page 40: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

28

16. FOLDVARI, G; HELL, E; FARKAS, R. Babesia canis canis in dogs from Hungary: detection by PCR and sequencing. Veterinary Parasitology, v.127, p.221-226, 2005.

17. FRANQUE, M.P., SANTOS, H., SILVA, G.V.O., TAJIRI, J.T., MASSARD, C.

Características biológicas de Boophilus microplus (Acari: Ixodidae) a partir de infestação experimental em cão. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v.16, n.4, p.238-242, 2007.

18. GOODGER, B.; WRIGHT, I.C. Pathogenesis of Babesiosis In RISTIC, M.

Babesiosis of domestic animals as man. Boca Raton: CRC Press, 1998, p.99–118.

19. GRAY, J.S. Identity of the causal agents of human Babesiosis in Europe.

International Journal of Medical Microbiology, Alemanha, v.296, p.131-136, 2006.

20. GÜLANBER, A., GORENFLOT, A., SCHETTERS, T.P.M., CARCY, B. First

molecular diagnosis of Babesia vogeli in domestic dogs from Turkey. Veterinary Parasitology, v.139, n.1-3, p.224-230, 2006.

21. HASELBARTH, K., TENTER, A.M., BRADE, V., KRIEGER, G., HUNFELD,

K.P. First case of human Babesiosis in Germany – clnical presentation and molecular characterization of the pathogen. International Journal of Medical Microbiology, Alemanha, v.297, p.197-204, 2007.

22. HOMER, M.J.; AGUILAR-DELFIN, I.; TELFORD III, S.R.; KRAUSE, P.J.;

PERSING, D.H. Babesiosis. Clinical Microbiology Reviews. v.13, n.3, p.451-469. 2000.

23. HOSKINS, J.D. Veterinary clinics of North America. Philadelphia:

Saunders Company, v.21, n.01, 1991. 201p.

24. HUNFELD, K.P., HILDEBRANDTH, A. GRAY, J.S. Babesiosis: recent insights into an ancient disease. International Journal for Parasitology, in press. 2008.

25. INOKUMA, H.; YOSHIZAKI, Y.; MATSUMOTO, K.; OKUDA, M.; ONISHI,

T.; NAKAGOME, K.; KOSUGI, R.; HIRAKAWA, M. Molecular survey of Babesia infection in dogs in Okinawa, Japan. Veterinary Parasitology, v.121, p.341-346. 2004.

26. JEFFERIES, R; RYAN, U. M; MUHINICKEL, C. J; IRWINT, P. J. Two

species of canine Babesia in Australia: detection and characterization by PCR. Journal of Parasitology, v.89, n.2, p. 409-412, 2003.

27. KJEMTRUP, A.M., KOCAN, A.A., WHITWORTH, L., MEINKOTH, J.,

BIRKENHEUER, A.J., CUMMINGS, J., BOUDREAUX, M.K., STOCKHAM, S.L., IRIZARRY-ROVIRA, A., CONRAD, P.A. There are least three

Page 41: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

29

genetically distinct small piroplasms from dogs. International Journal for Parasitology, v.30, n.14, p.1501-1505, 2000.

28. KJEMTRUP, A.M., WAINWRIGHT, K., MILLER, M., PENZHORN, B.L.,

CARRENO, R.A. Babesia conradae, sp. Nov., a small canine Babesia identified in California. Amsterdam, Veterinary Parasitology, n.138, 103-111, 2006.

29. KJEMTRUP, A.M., CONRAD, P. A review of the small canine piroplasmas from California Babesia conradae in the literature. Veterinary Parasitology. n.138, p.112-117, 2006.

30. KUTTLER, K. L. World-wide impact of Babesiosis. In: RISTIC, M.

Babesiosis of domestic animals and man. Boca Raton: CRC Press, 1988, p. 1-22.

31. LABRUNA, M.B; SOUZA, S.L.P; GUIMARÃES, J.S; PACHECO, R.C;

PINTER, A; GENNARI, S.M. Prevalência de carrapatos em cães de áreas rurais da região norte do Estado do Paraná. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte. v.53, n.5, p.553-556, 2001.

32. LOBETTI, R.G. Canine Babesiosis. Compedium on continuing education

for the practicing veterinarian. v.20, n.4, p.418-431, 1998.

33. LISBY, G. Application of nucleic acid amplification in clinical microbiology. Molecular Biotechnology, v. 12 n. 2, p. 75-99, 1999.

34. MARTIN, A. R; DUNSTAN, R.H; ROBERTS, T.K; BROWN, G.K. Babesia

canis vogeli: a novel PCR for its detection in dogs in Australia. Experimental Parasitology, v.112, p.63-65. 2006.

35. OYAMADA, M.; DAVOUST, B.; BONI, M.; DEREURE, J.; BUCHETON, B.;

HAMMAD, ª; ITAMOTO, K.; OKUDA, M.; INOKUMA, H. Detection of Babesia canis rossi, B. canis vogeli, and Hepatozoon canis in dogs in a village of Eastern Sudan by using a screening PCR and sequencing methodologies. Clinical and Diagnostic Laboratory Immunology, Washington, v.12, p.1343-1346. 2005.

36. PASSOS, L.M.F., GEIGER, S.M., RIBEIRO, M.F.B., PFISTER, K.,

ZAHLER-RINDER, M. First molecular detection of Babesia vogeli in dogs from Brazil. Veterinary Parasitology, v.127, p.81–85, 2005.

37. TAMURA K, DUDLEY J, NEI M, KUMAR S. MEGA4: Molecular

Evolutionary Genetics Analysis (MEGA) software version 4.0. Molecular Biology and Evolution v.24:p.1596-1599.2007.

Page 42: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

30

38. THOMPSON, J. D. et al. A comprehensive comparison of multiple sequence alignment programs. Nucleic Acids Research, v.27, n.13, p.2682-9260, 1999.

39. TRAPP, S.M., MESSICK, J.B., VIDOTTO, O., JOJIMA, F.S., MORAIS, H.S.A. Babesia gibsoni genotype Ásia in dogs from Brazil. Amsterdam, Veterinary Parasitology, v.141, p.177-180. 2006.

40. UILENBERG, G.; FRANSSEN, F.F.J.; PERIÉ, N.M. et al. Three groups of Babesia canis distinguished and a proposal for nomenclature. Veterinary Quarterly, v.1, p.33-40, 1989.

41. UILENBERG, G. Babesia - a historical overview. Veterinary Parasitology,

v.138, p.3-10. 2006.

42. UNIVERSITY OF NEBRASKA. Genetic sequence analysis facility - primer selection for PCR http://molbio.unmc.edu/courses/course-notes/chapter10.html. Acesso em: 12 de mai, 2007.

43. ZAHLER, M., SCHEIN, E., RINDER, H., GOTHE, R. Characteristic

genotypes discriminate between Babesia canis isolates of differing vector specificity and pathogenicity to dogs. Parasitology Research, v.84, p.544–548, 1998.

44. ZAHLER, M., SCHEIN, E., RINDER, H., GOTHE, R. Detection of a new

pathogenic Babesia microti-like species in dogs. Veterinary Parasitology, v.89, p.241-248. 2000.

Page 43: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

31

CAPÍTULO 3

CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE Hepatozoon spp. PROVENIENTE DE CÃES SINTOMÁTICOS RESIDENTES EM AREA URBANA NA CIDADE DE

GOIANIA GOIÁS, BRASIL

SABRINA CASTILHO DUARTE1, JULIANA ALVES PARENTE2,

OSVALDO JOSÉ DA SILVEIRA NETO3, CARLA CRISTINA BRAZ LOULY4,

CÉLIA MARIA DE ALMEIDA SOARES5; GUIDO FONTGALLAND COELHO

LINHARES5

Laboratório de Doenças Parasitárias, Escola de Veterinária da UFG, Campus II Cx postal 131 CEP: 74001-970.

Goiânia – GO, Brasil. Telefone: (062) 3521-1595 email: [email protected]

1. Doutoranda em Ciência Animal-Sanidade Animal, UFG; 2. Doutora em Ciências Médicas pela UNB; 3. Mestrando em Ciência Animal-Sanidade Animal, UFG;; 4. Pós doutoranda da UFG, PNPD CAPES; 5. Professora do Instituto de Ciências Biológicas da UFG; 6. Professor Adjunto da Escola de Veterinária da UFG;

RESUMO Existem mais de 300 espécies conhecidas no gênero de Hepatozoon que ocorrem em diferentes espécies de vertebrados. Entre estas apenas duas Hepatozoon canis e Hepatozoon americanum são conhecidas como causadoras de doença nos cães. Para o diagnóstico laboratorial diferentes métodos podem ser utilizados. O mais utilizado é o exame parasitológico direto, pela observação de formas parasitárias em esfregaços sanguíneos. O emprego de técnicas moleculares como a reação em cadeia de polimerase (PCR) tem sido intensificado nos últimos anos. O objetivo desse trabalho foi realizar estudo filogenético de amostras de Hepatozoon em cães de Goiânia, Goiás. Para o estudo, foram obtidas amostras de sangue de 40 cães sintomáticos atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Goiás. Utilizando-se o exame parasitológico direto dentre as amostras estudadas apenas duas foram positivas para Hepatozoon. Estas foram então submetidas a extração de DNA e a amplificação de um fragmento do gene 18S rRNA pela PCR. Ambas apresentaram resultados positivos na PCR. Posteriormente foi feita purificação dos dois produtos de PCR para realização de sequenciamento. As sequencias foram submetidas a análises de similaridade pelo algoritmo BLASTn que demonstrou a identidade das mesmas correspondentes a espécie Hepatozoon canis. Foi realizado então o depósito das sequencias no GenBank como novas sequências para o gene 18S rRNA. Pela utilização do programa Mega4 foi possível verificar que as amostras de H. canis provenientes de cães da cidade de Goiânia apresentam alto grau de similaridade molecular com os isolados de referência para a mesma espécie de outras regiões do Brasil e do mundo, formando grupo filogenético bem definido, juntamente com amostras de referência de diferentes regiões geográficas. Palavras chave: Canis familiaris, Epidemiologia molecular, filogenia, Hepatozoon canis, Hepatozoonose.

Page 44: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

32

ABSTRACT There are more than 300 species described in the genus Hepatozoon that occur in different vertebrates. Among these only Hepatozoon canis and Hepatozoon americanum are regarded to cause diseases in dogs known as canine hepatozoonosis. Different methods may be used for laboratory diagnosis. The most common is the direct parasitologic examination of parasites stages in blood smears. The use of molecular techniques such as the polymerase chain reaction (PCR) has been largely incresed in the last decade. The objective of this experiment was to realize a phylogenetic study on Babesia isolates from dogs of Goiânia, Goiás. Firstly, blood samples were obtained from 40 syntomatic dogs referred to the Veterinary Hospital of the Federal University of Goiás. Among these only two samples were positive for Hepatozoon spp. by the direct parasitologic method. These samples were then submitted to DNA extraction process and amplification of a fragment of the 18S rRNA by PCR. Both samples were PCR positive. Subsequently, the PCR products of each sample were purified and sequenced. The sequences obtained were then analysed for similarity by BLASTn algorithm which identified both sequences of this study as Hepatozoon canis. The sequences were deposited in the GenBank database as new sequences of the 18S rRNA. Applying Mega4 software it was confirmed that the these isolates of H. canis from dogs of Goiânia are similar to other reference isolates of the same species from other regions of Brasil and worldwide. It was concluded that the isolates of H. canis of this study are clusted in the same clade of the phylogenetic tree together with reference isolates from other geographic regions of the world. Keywords: Canis familiaris, Hepatozoon canis, hepatozoonosis, molecular epidemiology, phylogeny

1.0 INTRODUÇÃO

A primeira espécie relacionada ao gênero Hepatozoon foi observada em

1905 por Bentley na Índia ao examinar células polimorfonucleares de cães. No

mesmo ano, ainda na Índia, James observou o protozoário no citoplasma de

leucócitos de sangue periférico de seis cães e o classificou como Leucocytozoon

canis. Wenyon, em 1910, revendo as observações de Bentley e James, sugeriu

que o nome genérico Leucocytozoon fosse substituído por Hepatozoon

(GREENE, 2006).

Atualmente, são conhecidas mais de 300 espécies no gênero

Hepatozoon em diferentes vertebrados, incluindo anfíbios, répteis, marsupiais,

aves e mamíferos, tendo na sua transmissão diferentes vetores, entre eles

carrapatos, piolhos, mosquitos, flebótomos, mosca Tsé-tsé, pulgas, ácaros e

triatomíneos (METZGER et al., 2008). Duas espécies são reconhecidas como

Page 45: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

33

causadoras de doença nos cães, Hepatozoon canis e Hepatozoon americanum.

H. canis é um parasita que acomete cães em diversas regiões com maior

prevalência na África, Ásia e no sul da Europa; enquanto H. americanum é a

espécie que infecta cães no sul dos Estados Unidos (BANETH & SHKAP, 2003).

No Brasil, a hepatozoonose por H. canis foi reportada pela primeira vez

por MASSARD (1979) em cães da cidade do Rio de Janeiro. Posteriormente

relatos semelhantes foram registrados nos Estados de São Paulo (O‘DWYER et

al., 1997), Minas Gerais (MUNDIN et al., 1992), e Distrito Federal (PALUDO et al.,

2005).

O carrapato Rhipicephalus sanguineus é reconhecido como espécie

vetora de H. canis em várias partes do mundo. No entanto no Brasil apenas

Amblyomma ovale teve esta condição comprovada em estudos experimentais

(FORLANO et al., 2005; RUBINI et al., 2009).

A infecção nos cães por H. canis pode variar de subclínica, com baixa

parasitemia a uma doença grave com risco à vida do animal, principalmente em

filhotes ou animais imunossuprimidos (ELIAS & HOMANS, 1988; HERVAS et al.,

1995).

O método de diagnóstico de H. canis realizado rotineiramente se

fundamenta na identificação microscópica de gametócitos intra-leucocitários em

esfregaço de sangue periférico corados pelo Giemsa (IBRAHIM et al., 1989;

BANETH & WEIGLER, 1997). O gametócito deixa rapidamente o leucócito após

a colheita do sangue, principalmente pelo contato do sangue com o

anticoagulante EDTA, podendo dificultar o seu encontro nos esfregaços

sanguíneos (VINCENT-JOHNSON et al., 1997).

O desenvolvimento de novas técnicas de diagnóstico como a reação em

cadeia da polimerase (PCR) proporcionam avanço nas pesquisas em relação à

detecção e identificação das espécies de Hepatozoon de cães, assim como

também têm auxiliado na classificação taxonômica destes e de outros agentes

infecciosos. A PCR também auxilia na detecção de novas cepas ou variantes de

espécies e permite a detecção precoce de infecção (PERKINS & KELLER., 2001).

Os primeiros estudos envolvendo espécies de Hepatozoon e técnicas

moleculares começaram na década de 90. Espécies de Hepatozoon que infectam

serpentes foram geneticamente caracterizadas. Somente a partir do ano 2000

Page 46: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

34

iniciaram-se os estudos filogenéticos envolvendo a caracterização molecular de

espécies de Hepatozoon que acometem a espécie canina (BANETH et al., 2000;

MATHEW et al., 2000; INOKUMA et al., 2002).

No Brasil, diferentes estudos envolvendo análises moleculares têm

comprovado a presença de H. canis em infecções naturais em cães (FORLANO

et al., 2005; RUBINI et al., 2005, GARCIA DE SÁ et al., 2007; RUBINI et al., 2008;

SPOLIDORIO et al., 2009), gatos (PEREZ et al., 2004) e outros felídeos

selvagens (RUBINI et al., 2006, METZGER et al., 2008).

O objetivo deste trabalho foi realizar estudo sobre a frequência de cães

portadores de Hepatozoon sp. entre animais sintomáticos atendidos no Hospital

Veterinário da Universidade Federal de Goiás, procedentes da cidade de Goiânia,

Estado de Goiás; e fazer a caracterização molecular e análise filogenética das

amostras de Hepatozoon obtidos.

2.0 METODOLOGIA

2.1 Seleção das amostras

Foram selecionadas por conveniência 40 amostras provenientes de cães

com sinais clínicos sugestivos de hemoparasitose, atendidos para consulta no

Hospital Veterinário (HV) da Universidade Federal de Goiás (UFG) no período

entre janeiro e agosto de 2008. Os animais apresentavam histórico de infestação

por carrapatos, febre, palidez de mucosa, inapetência e prostração.

Destes animais foram colhidas amostras de sangue com anticoagulante

(Anticoagulante Universal, Doles) para a realização do exame parasitológico

direto, como método de triagem para a identificação de portadores de gametócitos

de Hepatozoon sp. A identificação morfológica foi realizada pelo exame

microscópico de esfregaços sanguíneos corados pelo Giemsa. Todas as

amostras, independente do encontro do parasito, foram utilizadas para as reações

de caracterização molecular.

Dos animais amostrados foram também colhidos exemplares de

carrapatos. Estes foram mantidos em álcool a 70% para posterior identificação

das espécies, conforme chave de identificação de BECHARA (2006).

Page 47: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

35

2.2 Extrações de DNA

Todas as 40 amostras incluídas no estudo foram submetidas ao

processo de extração de DNA, empregando-se ―kit” comercial (GFX-Genomic

Blood DNA Purification Kit®, Amersham Biosciences). Os procedimentos para a

extração foram realizados de acordo com as instruções do fabricante, adotando-

se o protocolo indicado para a extração a partir do volume de 100µL de sangue.

Os eluatos obtidos no final das extrações foram armazenados a -20 oC para

serem utilizados nas reações de PCR.

2.3 Reações de PCR

As amostras de DNA total, extraídas das alíquotas de sangue (n =40)

foram então submetidas ao processo de amplificação enzimática para a obtenção

de fragmentos-alvo do gene 18S rRNA. Para esta finalidade foram empregados

os oligonucleotídeos sense (5´-GGC TAC CAC ATC TAA GGA AG-3´) e antisense

(5´-CTA AGA ATT TCA CCT CTG ACA G-3´)

Os ensaios de PCR foram realizados em volume de 50 µL com as

seguintes concentrações de reagentes: 1X de Tampão para PCR (PCR buffer

10X, Invitrogen), 2,0 mM de Cloreto de Magnésio (MgCl2) (Invitrogen); 0,2 mM de

dNTP (Amersham Biosciences); 10 pM do oligonucleotídeo sense; 10 pM do

oligonucleotídeo antisense; 1,25U de Taq DNA polimerase (Taq DNA Polymerase

5 U/µL, Invitrogen) e 5 µL do DNA genômico extraído da amostra conforme

descrito anteriormente. O processo de amplificação foi realizado em termociclador

(Mastercycler Personal, Eppdendorf) programado para um ciclo inicial de 94 oC

por 2 min., seguido de 35 ciclos repetidos de 94 oC por 30 seg., 56º por 30 seg. e

72 oC por 1 min. A programação era finalizada com 2 min. a 72 oC para maximizar

o processo de extensão.

Como controle positivo para as reações de PCR, foi utilizada amostra de

DNA genômico de referência para Hepatozoon spp. obtida no Laboratório de

Diagnóstico de Doenças Parasitárias da Escola de Veterinária da UFG.

Os produtos de amplificação foram visualizados em gel de agarose

1,5% (Agarose NA – Amersham Biosciences) em tampão TBE 1x contendo 10 µL

Page 48: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

36

de amostra e submetidas à eletroforese a 90 volts, durante 60 min, com marcador

de massa molecular de 100 pb (DNA Ladder 100 bp Invitrogen).

Após as corridas, os géis foram corados por imersão em solução de

brometo de etídio (0,4 µg/mL) por 10 min. A visualização foi feita em

transiluminador de UV (Electronic UV Transilluminator, Ultra-Lum), e a

documentação fotográfica foi efetivada em equipamento fotodocumentador de

géis (Vilber Lourmat).

2.4 Purificações e sequenciamento das amostras

Foram purificados apenas os produtos de PCR que apresentaram

resultado positivo. As amostras positivas foram cortadas do gel após a

eletroforese, sob iluminação de UV, e purificados para a obtenção dos fragmentos

limpos, utilizando-se kit comercial (QIAquick Gel Extraction Kit Protocol, Qiagen).

Após a identificação, as amostras foram encaminhadas sob refrigeração para a

realização do sequenciamento.

O sequenciamento foi feito em seqüenciador automático

MegaBACE1000 (GE Healthcare). Para este processo foi utilizado o método da

incorporação de dideoxi (ddNTP), empregando-se o DYEnamic ET dye

terminator kit MegaBACE (GE Healthcare ). As sequências obtidas foram

analisadas pelo programa Phred para assegurar a qualidade do produto com

índice igual ou superior a 20.

2.5 Análise de similaridade

As sequências obtidas dos produtos de PCR avaliadas no presente

estudo foram submetidas a análise de similaridade pelo algorítmo BLASTn

(http://www.ncbi.nlm.nih.gov), confrontando com o banco de sequências do

GenBank. Em seguida as sequências das amostras foram analisadas quanto à

porcentagem de identidade, empregando-se o método de múltipla progressão de

Clustal W (THOMPSON et al., 1999) utilizando-se o programa MEGA4 (Molecular

Evolutionary Genetics Analysis – Software Version 4; TAMURA et al., 2007). A

mesma análise de identidade foi realizada comparando as amostras obtidas neste

estudo com as sequências de referência do GenBank para a espécie H. canis de

Page 49: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

37

diferentes regiões geográficas, e também com as sequências de H. americanum

(AF176836 e EU146062) e H. catesbianae (AF176837).

2.6 Análises filogenéticas

Para o estudo filogenético foi construído dendograma incluindo sequências

parciais do gene 18S rRNA, utilizadas como referência para diferentes amostras

regionais de Hepatozoon canis, confrontando-as com os amostras obtidas neste

estudo. As cepas de referência incluídas nesta análise e seus respectivos

números de acesso no GenBank foram H. canis: Brasil (FJ743476.1), Brasil

(DQ198378), Brasil (EF650846.1), Brasil (EU571737.1) Brasil (AY461376) e Brasil

(DQ071888). H. canis Croácia (FJ497022.1), H. canis Espanha (DQ439542.1), H.

canis França (EU622910.1), H. canis Israel (AF176835), H. canis Espanha

(AY150067). A sequência do 18S rRNA de P. vivax foi incluída na árvore como

um organismo filogeneticamente mais distante para enraizar a árvore.

Os alinhamentos foram realizados pelo método de Clustal W para

construir árvore filogenética do tipo Neighbor-Joining, com bootstrap de 1.000

replicatas e parâmetros de distância evolutiva ajustados pelo método de

substituição Kimura 2-parâmetros. Para esta finalidade foi utilizado o programa

MEGA4 visando à construção da árvore.

3.0 RESULTADOS

3.1 Amostras selecionadas pelo diagnóstico parasitológico direto

No período de realização do estudo foram colhidas amostras de sangue

de 40 cães apresentando sinais clínicos sugestivos de hemoparasitose. Dentre

estas, apenas duas foram positivas ao exame parasitológico direto. Observou-se

então a frequência de 5% de cães parasitados por Hepatozoon sp. entre os

animais com suspeita clínica atendidos no período determinado neste estudo.

A amostra número 01 foi obtida de um cão da raça Daschund, fêmea de

oito anos. O exame parasitológico apresentava gametócitos extra-celulares

(Figura 1a). A amostra de número 02 foi procedente de um cão sem raça definida

(SRD) macho de sete anos (Figura 1b). O exame parasitológico desta amostra

Page 50: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

38

apresentava gametócitos intra-leucocitários típicos de Hepatozoon sp. Os dois

animais apresentavam ao exame clínico sinais inespecíficos como: febre, palidez

de mucosa, inapetência e prostração.

A identificação dos exemplares de carrapatos foi realizada apenas nas

amostras oriundas dos cães incluídos no estudo. Dentre os dois cães deste

trabalho apenas o cão número um apresentava no momento da consulta

carrapatos fixados, os quais foram examinados e avaliados. A análise foi feita em

carrapatos adultos, machos e fêmeas e ninfas. Após avaliação por chave de

identificação os instares foram classificados como Rhiphicephalus sanguineus.

Figura 1: a: Gametócito de Hepatozoon sp. observadas no isolado de nº 01, um

cão da raça Daschund, fêmea de oito anos, procedente da cidade de Goiânia,

Goiás (1000x); b: Gametócito no interior do neutrófilo Hepatozoon sp. observado

no interior do neutrófilo do cão de nº 02, SRD, macho, sete anos, procedente da

cidade de Goiânia, Goiás (1000x).

3.2 Amostras selecionadas pela PCR

As 40 amostras foram submetidas a reações de PCR. As duas

amostras com resultado positivo nesta etapa foram correspondentes as amostras

positivas no exame parasitológico e geraram fragmentos-alvo de tamanho

previsto de aproximadamente 500 pb, do gene 18S rRNA de Hepatozoon spp.

a b

Page 51: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

39

Figura 1: Eletroforese dos produtos de PCR de 500 pb amplificados a partir do DNA de Hepatozoon sp. das amostras obtidas de cães sintomáticos, procedentes da cidade de Goiânia, Goiás. 1- marcador de 100 pb; Linha 2: controle positivo; linhas 3 e 4: amostras H. canis GO 1 e 02; linha 5: controle negativo. 3.3 Caracterização molecular das amostras

Após o sequenciamento dos produtos de PCR purificados, as duas

amostras foram submetidos a avaliação por BLASTn, e com base na análise de

similaridade fornecida por esta ferramenta, foi verificado que as amostras deste

estudo correspondiam a espécie H. canis. As amostras obtidas foram depositados

no GenBank como novas sequências para o gene 18S rRNA de Hepatozoon

canis sob os números GU386283 e GU386284.

As sequências foram então ajustadas para o mesmo comprimento de

191pb antes da realização do alinhamento múltiplo para a análise de similaridade

e polimorfismo dos nucleotídeos. Nesta avaliação as duas sequências designadas

H. canis GO 01 e H. canis GO 02 apresentaram 100% de similaridade entre si e

com os as amostras obtidas de cães das cidades brasileiras e dos países Croácia

e Espanha.

Dentre os isolados brasileiros de referência para o Brasil, apenas o

isolado brasileiro (EF650846) apresentou variação de nucleotídeos, com 98,95%

de similaridade. Esta diferença se evidenciou por duas substituições na posição

500pb

Page 52: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

40

89 e 176 do alinhamento. Também com 98,95% e duas substituições o isolado de

Israel apresentou variações nas posições 21 e 176 do alinhamento. Os isolados

Brasil (AY461376) e Espanha apresentaram 99,48% de similaridade comparada

aos demais isolados.

O isolado que demonstrou a maior variação foi o isolado da França com

três substituições nas posições 21, 30 e 176. Ainda assim manteve alta

similaridade, de 98,43%. No quadro 2 é possível demonstrar o resultado da

comparação proporcional do polimorfismo dos nucleotídeos.

A análise comparativa das amostras deste estudo com as amostras de

H. americanum e H. catesbianae revelou 96,8 % e 94,20 % de similaridade,

respectivamente.

Quadro 2 - Comparação das sequências do gene 18S rRNA de Hepatozoon canis provenientes de Goiânia – GO, Brasil, com outras sequências de diferentes regiões geográficas, tendo como base a numeração das posições polimórficas do genótipo Hepatozoon canis 01.

Genotipos/amostras Acesso

GenBank Identidade

a (%)

Polimorfismo na posição dos nucleotídeos 21 30 89 162 176

H. canis GO 01 GU386283 - G C T G G

H. canis GO 02

Brasil

GU386284

FJ743476

100,00

100,00

• •

• •

• •

• Brasil DQ198378 100,00 • • • • •

Brasil EF650846 98,95 • • A • A Brasil EU571737 100,00 • • • • • Brasil DQ071888 100,00 • • • • • Brasil AY461376 99,48 • • • A • Croácia FJ497022 100,00 • • • • • Espanha DQ439542 99,48 • • • A • Espanha AY150067 100,00 • • • • • Israel AF176835 98,95 A • • • A

França EU622910 98,43 A T • • A

(•) indica nucleotídeo conservado, e (*) indica substituição, a porcentagem de identidade da sequência de 191 pb

alinhada pelo ClustalW.

3.4 Análise filogenética das amostras de Hepatozoon sp.

A árvore filogenética gerada pelo confronto entre as sequências

parciais do gene 18S rRNA das amostras regionais H. canis GO 01 e H. canis GO

02 com as sequências correspondentes de referência para outras espécies do

gênero Hepatozoon incluídas nesta análise, revelou que: (1) as espécies de

Hepatozoon canis e H. americanum ficaram separadas em ―clados‖ diferentes.

As espécies de H. canis de origem brasileira se agruparam na mesma ―clado‖

Page 53: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

41

(bootstrap = 62%) demonstrando a alta similaridade entre elas. A ―clado” formada

pelas amostras de H. canis é sustentada pelo índice de bootstrap de 92%; (2) As

a de Goiânia analisados neste estudo se agruparam dentro da ―clado‖ composta

pelas cepas de referência de H. canis de outras regiões geográficas.

H. canis Brasil (AY461376)

H. canis Espanha (DQ439542.1)

H. canis Brazil (FJ743476.1)

H. canis Brazil (DQ071888.1)

H. canis GO 02 (GU386284)

H. canis GO 01 (GU386283)

H. canis Brasil (DQ198378)

H. canis Espanha (AY150067)

H. canis Croacia (FJ497022.1)

H. canis Brazil (EU571737.1)

H. canis Brazil (EF650846.1)

H. canis Franca (EU622910.1)

H. canis Israel (AF176835)

H. americanum (AF176836)

H. americanum (EU146062)

Plasmodium vivax (U93234)

74

63

92

62

Figura 1: Árvore filogenética construída a partir de fragmentos parciais do gene 18S rRNA de amostras regionais de Hepatozoon sp. e sequências de referência obtidas no GenBank (www.nvbi.nlm.nih.gov) pelo método neighbor-joining com bootstrap = 1000. Os números de acesso das sequências estão listados na figura.

4.0 DISCUSSÃO

A baixa porcentagem (5%) de animais positivos ao exame

parasitológico direto para H. canis, entre animais com sinais clínicos sugestivos

para a enfermidade, pode ser justificada pelo fato de que a hepatozoonose canina

não apresenta sinais reconhecidos como patognomônicos. Os sinais

considerados sugestivos podem ter como causa outra hemoparasitose ou mesmo

afecções de outra natureza. De acordo com BANETH & SHKAP, (2003) pode-se

suspeitar da doença quando os animais apresentarem febre, anorexia, perda de

peso, palidez de mucosas, corrimento ocular e fraqueza dos membros

posteriores. Os cães avaliados e incluídos neste trabalho apresentavam sinais

Page 54: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

42

clínicos inespecíficos, conforme já relatado por O‘DWYER & MASSARD, (2002).

Estes sinais são condizentes com a citação de GREENE (2006) o qual considera

que os sinais dessa enfermidade variam desde um achado hematológico

acidental em um cão aparentemente saudável a uma doença debilitante e com

risco de morte. Encontros de associação de H. canis em animais sintomáticos

também foram citados nos estados de São Paulo (GONDIM et al., 1998) e Brasília

(PALUDO et al., 2003), corroborando com os resultados obtidos neste estudo.

A hepatozoonose tem como transmissor reconhecido mundialmente o

carrapato Rhipicephalus sanguineus. Até o presente, este fato não teve

confirmações nos experimentos conduzidos no Brasil, embora tenham sido

identificados estes carrapatos em cães portadores de H. canis em diferentes

regiões do País. No momento apenas o Amblyomma ovale teve a condição de

vetor comprovada. No presente estudo foi identificada a presença apenas da

espécie R. sanguineus encontrada em um dos cães avaliados, nenhuma outra

espécie de carrapato foi identificada. Este fato não pode ser conclusivo quanto a

participação da espécie R. sanguineus na transmissão da hepatozoonose apesar

de existirem trabalhos como de FORLANO et al. (2005), BANETH et al. (2007) e

RUBINI et al. (2009) que apontam para esta condição.

Além dos sinais anteriormente mencionados, os dois cães avaliados

neste estudo apresentavam ao exame parasitológico direto gametócitos de

Hepatozoon sp. A presença de gametócitos livres como verificado neste estudo é

um fato já mencionado por outros estudos previamente publicados, como os

desenvolvidos por LAINSON et al. (2003) e LIMA & SILVA (2004) estudando

amostras de H. caimani proveniente de jacaré. VINCENT-JOHNSON et al. (1997)

afirmaram que o gametócito deixa rapidamente o leucócito após a colheita do

sangue, principalmente pelo contato do sangue com o anticoagulante. Tal

condição também pode explicar o encontro extracelular do parasita em uma das

amostras avaliadas.

Embora ofereça um diagnóstico seguro o exame parasitológico não

oferece confiabilidade na diferenciação das espécies de Hepatozoon. Este fato

tem motivado, o uso de técnicas de biologia molecular em estudos envolvendo a

etiologia e a epidemiologia da hepatozoonose canina. Vários autores como

INOKUMA et al.(2002); FORLANO et al. (2005); RUBINI et al. (2005), GARCIA

Page 55: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

43

DE SÁ et al. (2007); RUBINI et al. (2008); SPOLIDORIO et al. (2009) têm utilizado

a PCR para a identificação desses agentes. As reações de PCR realizadas nas

duas amostras obtidas no presente estudo confirmaram a presença de

Hepatozoon sp. nestas amostras.

A análise de similaridade entre as duas sequências regionais e as

sequências obtidas junto ao GenBank revelaram similaridade com o gene 18S

rRNA de H. canis. Até o momento todos os estudos realizados no Brasil com base

em métodos de biologia molecular foram semelhantes aos resultados analisados

no presente trabalho. Esta situação pode ser comprovada em relação aos

trabalhos publicados por RUBINI et al. (2005) e RUBINI et al. (2008) em São

Paulo; PALUDO et al. (2005) em Brasília; LASTA et al. (2009) no Rio Grande do

Sul, e SPOLIDORIO et al. (2009) no Espírito Santo em amostras obtidas de cães.

Outros estudos foram ainda desenvolvidos com amostras provenientes de felinos

e ainda assim a única espécie identificada foi H. canis (RUBINI et al., 2006;

METZER et al., 2008).

A análise de similaridade das amostras deste estudo em comparações

com outros isolados brasileiros foi de 100% na maioria dos confrontos realizados.

A variabilidade genética observada entre as amostras brasileiras de H. canis é

mínima. Resultados semelhantes foram relatados por RUBINI et al. (2005) e

LASTA et al. (2009).

Neste estudo realizou-se também uma comparação entre amostras de

H. canis regionais com um isolado de referência para H. americanum. A

similaridade verificada foi de 96,8%. INOKUMA et al. (2002), em estudo

semelhante também conduzido com duas amostras proveniente de cães,

encontraram 94% de similaridade comparando isolados do Japão com isolados de

Israel. O resultado obtido confirma a diferença genética entre as espécies H. canis

e H. americanum, embora pequena, anteriormente relatada por diferentes

trabalhos, tais como os desenvolvidos por VINCENT-JOHNSON et al. (1997),

BANETH et al. (2000) e MATHEW et al. (2000).

Considerando-se a ampla extensão territorial do Brasil e a escassez de

trabalhos nesta área, torna-se evidente a necessidade do incremento e estímulo

para novos trabalhos, envolvendo principalmente estudos sobre a epidemiologia,

Page 56: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

44

métodos de diagnóstico, caracterização molecular e filogenia em diferentes

amostras biológicas (METZER et al., 2009).

Este trabalho é o primeiro estudo de caracterização molecular de

Hepatozoon, desenvolvido no estado de Goiás. O estudo possibilitou a

identificação de Hepatozoon canis presente nos cães atendidos no HV da UFG.

Novos estudos se fazem necessários considerando-se a importância de se obter

dados sobre um número cada vez maior de isolados e a disponibilização de

informações de diferentes regiões do Brasil. Da mesma forma trabalhos

associando transmissão experimental e biologia molecular são necessários no

sentido de se obter informações a respeito das espécies e possíveis genogrupos

dentro do gênero Hepatozoon ocorrentes no País.

5.0 CONCLUSÃO

O estudo de caracterização molecular com base em métodos

filogenéticos confirma a ocorrência de Hepatozoon canis em cães com

manifestação clínica compatível com hepatozoonose na cidade de Goiânia, GO.

Os isolados de H. canis oriundos de cães da cidade de Goiânia são

filogeneticamente idênticos aos isolados do Brasil e também similares quando

comparados aos isolados de referência de outras regiões geográficas.

6.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. BANETH, G.; WEIGLER, B. Retrospective case-control study of

hepatozoonosis in dogs in Israel. Journal of Veterinary Internal Medicine, v.11,

p.365-370, 1997.

2. BANETH, G.; BARTA J. R.; SHKAP, V.; MACINTIRE, D.K.; VINCENT- JOHNSON, N. Genetic and antigenic evidence supports the separation of Hepatozoon canis and Hepatozoon americanum at the species level. Journal Clinical of Microbiology, v. 38, n. 3, p. 1298-301, 2000. 3. BANETH, G.; SHKAP, V. Monozoic cysts of Hepatozoon canis. Journal of Parasitology, v.89, p.379-381, 2003. 4. BANETH, G., SAMISH,M., SHKAP, V. LIFE CYCLE OF HEPATOZOON CANIS (APICOMPLEXA: ADELEORINA: HEPATOZOIDAE) IN THE TICK

Page 57: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

45

RHIPICEPHALUS SANGUINEUS AND DOMESTIC DOG (CANIS FAMILIARIS). Journal of Parasitology, n.93, p.283-299, 2007. 5. BECHARA, G.H. 2006. Imunopatologia da interação carrapato-hospedeiro. IN: Carrapatos de Importância médico-veterinária da região neotropical, um guia ilustrado para identificação das espécies; por Darci Moraes Barros-Battesti, Márcia Arzua e Gervásio Henrique Bechara. São Paulo, Vox/ICTTD-3/Butantan, 223ps. 6. ELIAS, E.; HOMANS, P.A. Hepatozoon canis infection in dogs: clinical and haematological findings treatment. The Journal of Small Animal Practice, v.29, p.55-62, 1988. 7. FORLANO, M.; SCOFIELD, A.; ELISEI, C.; FERNANDES, K.R.; EWING, S.A.; MASSARD, C.L. Diagnosis of Hepatozoon spp. In Amblyomma ovale and its experimental transmission in domestic dogs in Brazil. Veterinary Parasitology, v.25, p.1- 7, 2005. 8. GARCIA DE SÁ, A., CERQUEIRA, A.M.F., O‘DWYER, L.H., ABREU, F.S.A., FERREIRA, R.F., PEREIRA, A.M., VELHO, P.B., RUBINI, A.S., ALMOSNY, N.R.P. Detection of Hepatozoon spp. In naturally infected brazilian dogs by polimerase chain reaction. International Journal of Applied Research in Veterinary Medicine, v.5, n.2, p.49-51, 2007. 9. GONDIM, L.F.P.; KONAYAGAWA, A.; ALENCAR, N.X.; BIONDO, A.W.; TAKAHIRA, R.F. Canine hepatozoonosis in Brazil: description of eight naturally occurring cases. Veterinary Parasitology, v.74, p.319-323, 1998. 10. GREENE, C. E. Infectious diseases of The Dog and Cat, Hepatozoonosis. Canada: Saunders, 2006. Cap. 74, p.698-911. 11. HERVAS, J.; CARRASCO, L.; GOMEZ-VILLAMANDOS, J.C. Acute fatal hepatozoonosis in a puppy: histopathological and ultrastructural study. Veterinary Research, v.137, p.518-519, 1995. 12. IBRAHIM, N.D.G.; RAHAMATHULLA, P.M.; NJOKU, C.O. Neutrophil myeloperoxidade deficiency associated with canine hepatozoonosis. International Journal for Parasitology, v.19, p.915-918, 1989. 13. INOKUMA, H.; OKUDA, M.; OHNO, K.; SHIMODA, K.; ONISHI, T. Analysis of the 18S rRNA gene sequence of a Hepatozoon detected in two Japanese dogs. Veterinary Parasitology, v.106, p.265-271, 2002. 14. LAINSON, R.; PAPERNA, I.; NAIFF, R. D. Development of Hepatozoon caimani (Carini, 1909) Pessôa, De Biasi & De Souza, 1972 in the Caiman Caiman c. crocodilus, the Frog Rana catesbeiana and the Mosquito Culex fatigans. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v.98, n.1, p.103–113, 2003.

Page 58: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

46

15. LASTA, C.S., SANTOS, A.P.S., MELLO, F.P.S., LACERDA, L.A., MESSIK, J.B., GONZALEZ. Infecção por Hepatozoon canis em canino doméstico na região Sul do Brasil confirmada por técnicas moleculares. Ciência Rural. n.7, v.39, p.135-2140, 2009. 16. LIMA, E.S.S., SILVA, R.A.M.S. Aspectos morfológicos do parasita Hepatozoon caimani em Jacaré (Caiman crocodilua yacare) no Pantanal do Sul. Comunicado Técnico EMBRAPA, 2004. 17. MASSARD, C.A. Hepatozoon canis (JAMES, 1905) (Adeleida: Hepatozoidae) cães do Brasil, com uma revisão do gênero em membros da ordem carnívora. Rio de Janeiro, 1979. 121f. Dissertação (Mestrado em Parasitologia Veterinária) – Faculdade de Medicina Veterinária, Instituto de Biologia D.B.A. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Itaguaí, RJ. 18. MATHEW, J.S.; VAN DEN BUSSCHE, R.A.; EWING, S.A.; MALAYER, J.R.; LATHA, B.R. Phylogenetic relationships of Hepatozoon (Apicomplexa: Adeleorina) based on molecular, morphologic, and life-cycle characters. Journal of Parasitology, v.86, p.366-372, 2000. 19. METZER, B., PADUAN, K.S., RUBINI, A.S., OLIVEIRA, T.G., PEREIRA, C., O‘DWYER, L.H. The first report of Hepatozoon sp. (Apicomplexa: Hepatozoidae) in neotropical felids from Brazil. Veterinary Parasitology, Amsterdam, n.152, p.28-33. 2008. 20. MUNDIM, A.V.; JACOMINI, J.O.; MUNDIM, M.J.S.; ARAÚJO, S.F. Hepatozoon canis (James, 1905) em cães de Uberlândia, Minas Gerais. Relato de dois casos. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v.29, p.259-261, 1992. 21. O'DWYER, L.H.; GUIMARÃES, L.; MASSARD, C.L. Ocorrência de infecção múltipla por Babesia canis, Hepatozoon canis e Haemobartonella canis em um cão esplenectomizado. Revista Brasileira de Ciência Veterinária, v.4, p.83-84, 1997. 22. O'DWYER, L.H.; MASSARD, C.L. Hepatozoonose em pequenos animais domésticos e como zoonose. In: NADIA, R.P. (Ed). Hemoparasitoses em pequenos animais domésticos e como zoonoses. Rio de Janeiro: L.F. Livros de Veterinária, 2002. p.80-84. 23. PALUDO, G.R., DELL‘PORTO, A., CASTRO, A.R.C., MCMANUS,C., FRIEDMAN, H. Hepatozoon spp.: reporto f some cases in dogs in Brasilia, Brazil. Veterinary Parasitology, n.118, p.243-248, 2003. 24. PALUDO, G. R.; FRIEDMANN, H.; DELL‘PORTO, A.; WHITLEY, E. M.; BOURDEAUX, M. K.; BANETH, G. Hepatozoon spp.: pathological and partial 18S rRNA sequence analysis from three Brazilian dogs. Veterinary Parasitology, v.97, p.167-170, 2005.

Page 59: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

47

25. PEREZ, R.R., RUBINI, A.S., O‘DWYER, L.H. The first report of Hepatozoon spp. (Apicomplexa, Hepatozoidae) in domestic cats from São Paulo state, Brazil. Parasitology Research, n.94, p.83-85, 2004. 26. PERKINS, S.L.; KELLER, A.K. Phylogeny of nuclear small subunit rRNA genes of hemogregarines amplified with specific primers. Journal Parasitology, v.87, p.870- 876, 2001. 27. RUBINI, A.S.; PADUAN, K.S.; CAVALCANTE, G.G.; RIBOLLA, P.E.M.; O‘DWYER, L.H. Molecular identification and characterization of canine Hepatozoon species from Brazil. Parasitology Research, v.97, p.91-93, 2005. 28. RUBINI, A.S., PADUAN, K.S., PEREZ, R.R., RIBOLLA, P.E.M.R., O‘DWYER, L.H. Molecular characterization of feline Hepatozoon species from Brazil. Veterinary Parasitology, n.137, p.168-171, 2006. 29. RUBINI, A.S.; PADUAN, K.S.; LOPES, V. V.; O‘DWYER, L.H. Molecular and parasitologycal survey of Hepatozoon canis in dogs from rural area of Sao Paulo state, Brazil. species from Brazil. Parasitology Research, v. 102, n. 2, p 895-899, 2008. 30. RUBINI, A.S., PADUAN, K.S., MARTINS, T.F., LABRUNA, M.B., O‘DWYER, L.H. Acquisition and transmission of Hepatozoon canis (Apicomplexa: Hepatozoidae) by the tick Amblyomma ovale (Acari: Ixodidae). Veterinary Parasitology, n.164, p. 324-327, 2009. 31. SPOLIDORIO, M.G., LABRUNA, M.B., ZAGO, A.M., DONATELE, D.M., CALIARI, K.M., YOSHINARI. N.H. Hepatozoon canis infecting dogs in the state of Spirito Santo, southeastern Brazil. Veterinary Parasitology, n.163, p.357-361, 2009. 32. TAMURA K, DUDLEY J, NEI M, KUMAR S. MEGA4: Molecular Evolutionary Genetics Analysis (MEGA) software version 4.0. Molecular Biology and Evolution v.24:p.1596-1599.2007. 33. THOMPSON, J. D. et al. A comprehensive comparison of multiple sequence alignment programs. Nucleic Acids Research, v.27, n.13, p.2682-9260, 1999. 34. VICENT-JOHNSON, N.A.; LINDSAY, D.L.; LENZ, S.D.; BANETH, G.; SHKAP, V. A new Hepatozoon species from dogs: description of the causative agent of canine hepatozoonosis in North America. Journal of Parasitology, v.83, p.1165-1172, 1997.

Page 60: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

48

CAPÍTULO 4 CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE Ehrlichia canis PRESENTE EM CÃES

DE GOIÂNIA-GO.

SABRINA CASTILHO DUARTE1, JULIANA ALVES PARENTE2, CÉLIA

MARIA DE ALMEIDA SOARES3, GUIDO FONTGALLAND COELHO LINHARES4

Laboratório de Doenças Parasitárias, Escola de Veterinária da UFG, Campus II Cx postal 131 CEP: 74001-970.

Goiânia – GO, Brasil. Telefone: (062) 3521-1595

email: [email protected]

1. Doutoranda em Ciência Animal-Sanidade Animal, UFG; 2. Doutora em Ciências Médicas pela UNB; 3. Professora do Instituto de Ciências Biológicas da UFG; 4. Professor Adjunto da Escola de Veterinária da UFG;

RESUMO Ehrlichia canis é um parasito bacteriano intracelular obrigatório, agente da Ehrlichiose Monocítica Canina. Nas Américas a espécie de carrapato envolvida na transmissão é o Rhipicephalus sanguineus. O método de diagnóstico laboratorial de rotina é realizado pela demonstração direta das inclusões intraleucocitárias, a partir de preparações coradas de esfregaço sangüíneo ou do creme leucocitário. Mais recentemente a reação em cadeia da polimerase (PCR) introduzida como um método alternativo para aumentar a sensibilidade do diagnóstico, especialmente na fase crônica da enfermidade. O objetivo desse trabalho foi realizar estudo filogenético de amostras de Ehrlichia em cães na cidade de Goiânia, Goiás. Para o estudo, foram obtidas 40 amostras de sangue de cães sintomáticos atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Goiás. Todas as amostras foram utilizadas para extração de DNA seguida da PCR por oligonucleotídeos gênero-específicos e posteriormente espécie-específicos para o gene 16S rRNA. Posteriormente foi realizada purificação do produto de PCR espécie específico para realização de sequenciamento. Destas 17 apresentaram-se PCR positivas tanto nas reações para gênero quanto a espécie E. canis. Foram sequenciadas 17 amostras e após o sequenciamento foi feita análise de qualidade de sequências e mantidas cinco amostras. A análise de similaridade fornecida pelo BLASTn demonstrou que as mesmas eram correspondentes à espécie Ehrlichia canis. Foi realizado o depósito das sequencias obtidas no GenBank como novas sequências para o gene 16S rRNA. Pela utilização do programa Mega4 foi possível verificar que as amostras de E. canis provenientes de cães da cidade de Goiânia apresentam alto grau de similaridade molecular com os isolados de referência para a mesma subespécie de outras regiões do Brasil e do mundo. Amostras de E. canis de cães avaliados neste estudo formam grupo filogenético bem definido, juntamente com amostras de referência de E. canis de diferentes regiões geográficas.

Palavras chave: Ehrlichiose monocítica canina, Pancitopenia tropical canina, filogenia, epidemiologia molecular, similaridades genéticas.

Page 61: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

49

ABSTRACT The obligate intracellular bacterial parasite known as Ehlichia canis is the etiological agent of the Canina Monocytic Erhlichiosis. The most frequent method applied for routine laboratory diagnosis is based on the direct detection of intraleucocytic inclusions in either blood smears or buffy coat preparations. More recently the polymerase chain reaction (PCR) has been introduced as an alternative tool to improve sensitivity of diagnosis, especially in chronic phases of the disease. The objective of the present work was to proceed a phylogenetic study on Ehrlichia isolates from dogs of Goiânia, Goiás. Blood samples were collected from 40 syntomatic dogs referred to the Veterinary Hospital of the Federal University of Goiás. All samples were processed for DNA extraction and PCR using both genus and species-specific oligonucleotides for the 16S rRNA gene. PCR reactions resulted positive for both genus and species assays for 17 out of 40 tested samples. The species-specific PCR products of the 17 samples were purified and sequenced but only 5 of these were considered for subsequently molecular studies due to quality analysis results of the sequences. These 5 sequences were then analysed for similarity by BLASTn algorithm in which they could be identified as Hepatozoon canis. The sequences were deposited in the GenBank database as new sequences of the 16S rRNA. Using Mega4 software it was confirmed that the these isolates of E. canis from dogs of Goiânia are highly similar to other reference isolates of the same species from other regions of Brasil and worldwide. The isolates of E. canis evaluated in this study are phylogenetically similar to those reference isolates from other geographic regions of the world. Keywords: Canine monocytic ehrlichiosis, Tropical canine pancitopenia, phylogeny, molecular epidemiology, genetic similarities, Ehrlichiosis. 1.0 INTRODUÇÃO

Ehrlichia canis é uma bactéria intracelular obrigatória, Gram negativa,

da ordem Rickettsiales, família Anaplasmataceae, agente etiológico da Ehrlichiose

Monocítica Canina (EMC) (DUMLER et al., 2001). Tem no seu principal

mecanismo de transmissão a participação de carrapatos vetores. Nas Américas a

espécie de carrapato envolvida é o Rhipicephalus sanguineus (DAGNONE et al.,

2001).

Os canídeos são suscetíveis a diferentes espécies de riquétsias da

família Anaplasmataceae como: E. canis; E. ewingii, E. chaffeensis; A. platys, A.

phagocitophilum, Neorickettsia sennetsu, N. risticii e N. helminthoeca (HEADLEY

ET AL., 2006). Entre estas, as espécies E. chaffeensis e A. phagocitophilum são

os principais agentes envolvidos nos casos de ehrlichiose em seres humanos

Page 62: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

50

(HOSKINS, 1991, GREENE, 2006). Embora E. ewingii, E. canis e N. sennetsu

também possam causar infecções humanos (DUMLER et al., 2007).

Alguns autores têm atribuído à E. canis um possível envolvimento em

infecções humanas na América do Sul, com alguns casos reportados na

Venezuela (PEREZ et al., 1996) Argentina (RIPOLI et al., 1999) e Brasil (CALIC et

al., 2004). Além da E. canis, a E ewingii também tem sido apontada como

responsável por casos humanos (BULLER et al., 1999), entretanto, a maior

importância das ehrlichiose humana é atribuída a infecções onde o agente

envolvido é a E. chaffeensis, responsável pelo maior número de casos,

principalmente nos EUA (DUMLER et al., 2007).

Em relação a distribuição geográfica a E. canis apresenta distribuição

mundial, já as infecções por E. ewingii estão restritas aos Estados Unidos. E.

chaffeensis é a principal causa da Ehrlichiose Monocítica Humana (EMH) nos

Estados Unidos, mas ocorre também em outras regiões da América do Norte,

Ásia e Europa (GREIG et al., 2006). No Brasil, estudos sorológicos demonstraram

a possível infecção em seres humanos (CALIC et al., 2004; COSTA et al., 2007).

Cães com ehrlichiose apresentam sinais clínicos inespecíficos, como

anemia, febre, secreção ocular, anorexia, depressão, perda de peso, poliartrite e

alterações hematológicas, como anemia arregenerativa e trombocitopenia

(DAGNONE et al., 2001).

O método de diagnóstico laboratorial de rotina é realizado pela

demonstração microscópica direta das inclusões intraleucocitárias, a partir de

preparações coradas de esfregaço sangüíneo ou do creme leucocitário (WOODY

& HOSKINS, 1991). Este exame é de rápida execução e de baixo custo,

entretanto nem sempre é eficaz, pela constante flutuação da parasitemia durante

o curso da enfermidade (ALVES et al., 2005).

Técnicas moleculares de diagnóstico, reconhecidamente mais

sensíveis, como a reação em cadeia da polimerase (PCR), têm sido recentemente

empregadas para o diagnóstico de E. canis visando oferecer um diagnóstico mais

seguro e que permita a diferenciação da espécie de Ehrlichia envolvida na

enfermidade (HARRUS et al., 1998; ALVES et al., 2005; MARTIN et al., 2005;

DUMLER et al., 2007).

Page 63: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

51

Para a caracterização molecular das espécies do gênero Ehrlichia tem

sido utilizada a análise filogenética de fragmentos do gene 16S rRNA amplificados

pela nested-PCR (MACHADO et al., 2006; CARVALHO et al., 2008; SANTOS et

al., 2009; OLIVEIRA et al., 2009) e pela PCR (PINYOOWONG et al., 2008).

No Brasil, ainda existem poucos estudos com abordagem filogenética e

de caracterização molecular, entretanto algumas pesquisas têm sido feitas

envolvendo agentes da família Anaplasmataceae por pesquisadores de diferentes

regiões do País. Na Bahia os estudos envolvendo a caracterização molecular de

E. canis foram conduzidos por CARVALHO et al. (2008) e no estado do Rio de

Janeiro MACIEIRA et al. (2005) realizaram estudo utilizando a PCR como método

de diagnóstico.

No estado de São Paulo AGUIAR et al. (2008) realizaram isolamento in

vitro de E. canis utilizando a cepa Jaboticabal DH82; SANTOS et al. (2009)

estudaram a incidência de E. canis nos cães de Ribeirão Preto e neste mesmo

ano OLIVEIRA et al. (2009) detectaram pela primeira vez E. ewingii em cães no

Brasil.

No estado do Paraná, DAGNONE et al. (2003) realizaram identificação

molecular de E. canis e HEADLEY et al. no ano de 2006 detectaram pela

primeira vez N. helminthoteca em cães desta região. LABRUNA et al. (2007)

utilizando amostras de Rondônia avaliou amostras sanguíneas provenientes de

carrapatos, seres humanos com histórico febril, cães e capivaras buscando

possíveis amostras de Ehrlichia spp. Nos cães foi detectado E. canis e nas

demais amostras nenhuma espécie de Ehrlichia foi detectada.

Nos diferentes estudos conduzidos mundialmente os genes mais

frequentemente utilizados relativos a filogenia de microrganismos do gênero

Ehrlichia estão o gene 16S rRNA, o gene que codifica a enzima citrato sintetase

(gltA), o gene groESL, genes que codificam proteínas de superfície. O gene 16S é

frequentemente utilizado porque apresenta baixas frequências de mutações,

sendo, altamente conservado entre populações de diferentes regiões geográficas

(DUMLER et al., 2001).

O objetivo desse trabalho foi obter amostras de Ehrlichia canis a partir

de amostras clínicas de cães da cidade de Goiânia, Estado de Goiás, e realizar a

Page 64: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

52

caracterização molecular dos mesmos. Para esta finalidade foi realizada análise

filogenética de fragmentos parciais do gene 16S rRNA.

2.0 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Amostragem e extrações de DNA.

Para a realização do estudo foram obtidas 40 amostras de sangue

colhidas de cães atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Federal de

Goiás (HV-UFG) no período de janeiro a agosto de 2008. Todas as amostras

foram colhidas de cães que apresentavam sinais clínicos compatíveis com

hemoparasitose no momento da consulta como: febre, palidez de mucosa,

inapetência, prostração, associados ou não à alterações da coagulação

sanguínea ou à infestação por carrapatos. As amostras de sangue foram colhidas

em tubo estéril contendo EDTA (Anticoagulante Universal, Doles). As amostras

foram aliquotadas em tubos do tipo Eppendorf de 1,5 mL e mantidas a -20 ºC para

posterior extração de DNA genômico. Para realização da extração foi utilizado kit

comercial (Ilustra Blood GenomicPrep Mini Spin Kit, GE - Healthcare) de acordo

com as instruções do fabricante para o volume inicial de 200mL de sangue.

Posteriormente, 5 µL do eluato obtido da extração de cada amostra foi utilizado

para realização das reações de PCR.

2.2 Oligonucleotídeos para amplificação do fragmento do gene 16S rRNA

Inicialmente foi selecionado um oligonucleotídeo sense gênero-

específico para o gene 16S rRNA de Ehrlichia spp. O oligonucleotídeo genérico

foi, portanto selecionado a partir de uma área conservada no alinhamento das

seguintes sequências de referência (GenBank - http://www.ncbi.nlm.nih.gov), com

seus respectivos números de acesso: E. canis (AF162860), E. canis Japão

(AF536827), E. ewingii (U96436), Anaplasma platys (AF1567844), E. chaffeensis

(U86665), Anaplasma phagocytophila (U02521), E. bovis (AF294789),

Neorickettsia risticii (M21290). O alinhamento das sequências foi realizado pelo

método de Clustal W (THOMPSON et al., 1999), empregando o programa

Megalign (LaserGene, DNAStar, Inc.).

Page 65: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

53

Após a seleção, o oligonucleotídeo foi avaliado quanto à similaridade

com as sequências do GenBank, utilizando-se o algoritmo BLAST-N® (Basic Local

Alignment Search Tool Nucleotides) (ALTSCHUL et al., 1990). Após a

confirmação da identidade para o gênero a sequência foi sintetizada (Prodimol –

IDT), sob a designação Ebr6. Esse oligonucleotídeo foi utilizado em combinação

com o oligonucleotídeo gênero específico Ebr5 (anti-sense), anteriormente

publicado por ALVES et al. (2005), visando a obtenção de fragmento-alvo gênero-

específico de aproximadamente 840pb pela PCR.

Para as reações de PCR espécie-específicas foram empregados os

oligonucleotídeos Ebr1 (sense) e Ebr5 (anti-sense) para a amplificação do

fragmento-alvo de 765pb do gene 16S rRNA de E. canis (ALVES et al., 2005)

(Quadro 1).

QUADRO 1 - Iniciadores utilizados para a amplificação de fragmentos gênero e espécie-específicos de Ehrlichia sp. pela PCR. Especificidade

analítica

Oligo

Sequências Ta

(°C)

Ehrlichia spp. Ebr6 5´-CGA ACG CTG GCG GCA AG-3´ 53

Ehrlichia spp.. *Ebr5 5´-GGA GTG CTT AAC GCG TTA G-3´ 53

E. canis *Ebr1 5´- CCT CTG GCT ATA GGA AAT TG -3´ 53

*Ebr 5 e Ebr1 descritos por ALVES et al., 2005. Ta = temperatura de anelamento.

2.3 Diagnóstico gênero e espécie-específico por PCR

Os eluatos obtidos com as extrações de DNA a partir do sangue dos

cães amostrados (n=40) foram utilizados para testes de triagem, empregando-se

ensaio de PCR gênero-específico com os oligonucleotídeos Ebr5 e Ebr6. Em

seguida, as amostras com resultados positivos nesta etapa foram submetidas a

novas reações de PCR empregando-se o par de oligonucleotídeos Ebr1 e Ebr5

para amplificação espécie-específica de E. canis, conforme descrito acima.

Os ensaios da PCR foram realizados em volume de 50 µL com as

seguintes concentrações de reagentes: 1X de Tampão para PCR (PCR buffer

10X, Invitrogen), 2,0 mM de Cloreto de Magnésio (MgCl2) (Invitrogen); 0,2 mM de

dNTP (Amersham Biosciences); 10 pM do oligonucleotídeo sense (Ebr6 para as

Page 66: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

54

reações Ehrlichia-específicas e Ebr1 para E. canis específicas); 10 pM do

oligonucleotídeo antisense (Ebr5); 1,25U de Taq DNA polimerase (Taq DNA

Polymerase 5 U/µL, Invitrogen) e 5 µL do DNA genômico extraído da amostra

conforme descrito anteriormente.

Como controle positivo para as reações da PCR, foi utilizada uma

amostra de DNA genômico de referência para E. canis obtida no Laboratório de

Diagnóstico de Doenças Parasitárias (LDDP) da Escola de Veterinária (EV) da

Universidade Federal de Goiás (UFG).

Os produtos de amplificação foram visualizados em gel de agarose

1,5% (Agarose NA – Amersham Biosciences) em tampão TBE 1x contendo 10 µL

de amostra, após à eletroforese a 90 volts, durante 60 min, com marcador de

massa molecular de 100 pb (DNA Ladder 100 bp Invitrogen).

Após as corridas, os géis foram corados por imersão em solução de

brometo de etídio (0,4 µg/mL) por 10 min. A visualização foi feita em

transiluminador de UV (Electronic UV Transilluminator, Ultra-Lum), e a

documentação fotográfica foi efetivada em equipamento fotodocumentador de

géis (Vilber Lourmat).

2.4 Purificação e sequenciamento das amostras

Os produtos da PCR E. canis-específicos (Ebr1/Ebr5-PCR) foram

cortados e removidos do gel de agarose sob iluminação de UV e imediatamente

submetidos ao processo de purificação empregando-se kit comercial (QIAquick

Gel Extraction Kit Protocol, Qiagen). Após a identificação as amostras foram

encaminhadas sob refrigeração para a realização do sequenciamento.

O sequenciamento foi realizado por seqüenciador automático

MegaBACE1000. Para este processo foi utilizado o método da incorporação de

dideoxi (ddNTP), empregando-se o DYEnamic ET dye terminator kit

MegaBACE (GE Healthcare ). As sequências obtidas foram analisadas pelo

programa estatístico Phred e somente aquelas com índice igual ou superior a 20

foram mantidas no estudo.

Page 67: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

55

2.5 Análises dos isolados pelo método de múltiplo alinhamento e testes de

similaridade

Para a determinação da identidade molecular as sequências dos

produtos da PCR espécie-específicos dos isolados regionais foram,

individualmente, submetidas a análise de similaridade pelo algoritmo BLASTn,

tendo com base o banco de sequências do GenBank (ALTSCHUL et al., 1990).

As mesmas sequências foram então analisadas comparativamente

quanto à porcentagem de identidade molecular, empregando-se o método de

múltipla progressão de Clustal W (THOMPSON et al., 1999) pelo o programa

MEGA4 (Molecular Evolutionary Genetics Analysis – Software Version 4;

TAMURA et al., 2007). A mesma análise de identidade foi realizada comparando-

se os isolados obtidos neste estudo com as sequências de referência (GenBank)

para E. canis de outras regiões geográficas.

2.6 Análises filogenéticas

O estudo filogenético foi realizado pela construção de dendograma que

incluía sequências distintas obtidas a partir dos isolados regionais e as seguintes

sequências de referência para outras riquétsias oriundas de diferentes regiões

geográficas, com seus respectivos números de acesso no GenBank: E. canis

Peru (DQ915970), E. canis Venezuela (AF373613), E. canis Brazil-CO2

(EF195135), E. canis China (EF162826), E. canis África do Sul (U54805), E. canis

Brazil-SP (DQ460714), E. canis Japão (AF536827), E. canis Espanha

(AY530806), E. canis EUA (M73226), E. ewingii (U96436), E. chaffeensis

(U23503, EU181144, DQ345720), A. phagocytophilum ( EU287434, GU111747),

A. platys (AF156784, DQ401045), N. risticii (AF380257), N. sennetsu (M73219) e

Brucella sp. (GU085225).

Os alinhamentos foram realizados pelo método de Clustal W para

construir árvore filogenética do tipo Neighbor-Joining, com bootstrap de 1.000

replicatas e parâmetros de distância evolutiva ajustados pelo método de

substituição Kimura 2-parâmetros. Para esta finalidade foi utilizado o programa

MEGA4.

Page 68: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

56

3.0 RESULTADOS

3.1 Detecção gênero e espécie-específica do gene 16S rRNA.

Pelos testes de triagem com o par de oligonucleotídeos Ebr6/Ebr5,

foram obtidos produtos de amplificação de 17 amostras, aplicado às 40 amostras

selecionadas, com tamanho de aproximadamente 840pb correspondente ao

fragmento-alvo previsto para o gene 16S rRNA de Ehrlichia sp.

As mesmas amostras (n=17) que apresentaram positividade neste

primeiro teste de PCR também foram positivas com o par de oligonucleotídeos

Ebr1 e Ebr5 gerando o produto espécie-específico de 765pb do gene 16S rRNA

de E. canis (Figura 1).

Figura 1: Eletroforese de produtos de amplificação espécie-específica de E. canis

por PCR, obtidos a partir de amostras provenientes de cães anêmicos,

procedentes da cidade de Goiânia, Goiás. 1- marcador de 100 pb; Linha 2:

controle positivo; linhas 3 e 5: isolados E. canis GO 01 e 07; linha4: amostra

negativa; linha 6: reação inespecífica; linha 7: poço sem amostra; linha 8: controle

negativo.

765pb

Page 69: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

57

3.2 Caracterização molecular dos isolados de Ehrlichia sp.

Após o sequenciamento dos produtos de PCR purificados foram

mantidas no estudo apenas as sequências que apresentavam valores de Phred

igual ou superior a 20 reduzindo assim o número de amostras para cinco. Após

este procedimento, as cinco sequências restantes destes isolados, submetidas à

avaliação de similaridade pelo BLASTn apresentaram porcentagem de identidade

de 100% para a maioria das sequências de referência para E. canis registradas

no GenBank. Os isolados obtidos neste estudo foram então depositados no

GenBank como novas sequências para o gene 16S rRNA de E. canis sob os

números GU386285, GU386286, GU386287, GU386288 e GU386289.

Em seguida as sequências destes isolados foram ajustadas para o

comprimento comum de 463pb, antes da realização do alinhamento múltiplo.

No Quadro 2 é apresentado o resultado da comparação proporcional do

polimorfismo dos nucleotídeos entre as sequências parciais do gene 16S rRNA

dos isolados deste estudo e as de outras nove amostras representativas da

espécie E. canis, de outras regiões geográficas.

Pela análise comparativa foi verificado que os isolado E. canis 01, 02, 03

e 05 eram 100% idênticas as provenientes do Brasil-CO2, China , Espanha,

Japão, Peru e Venezuela. A cepa dos EUA apresentou uma substituição na

posição 72 do alinhamento, taxa de similaridade em 99,78%. O isolado E. canis

GO 04 apresentou uma inserção de um nucleotídeo na posição 414 do

alinhamento, demonstrando 99,78% de similaridade.

Page 70: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

58

Quadro2: Comparação das sequências do gene 16S rRNA de E. canis

provenientes de Goiânia – GO, Brasil com outras sequências de diferentes

regiões geográficas.

Genotipos/isolados Acesso

GenBank Identidade

a (%) Polimorfismo na

posição dos nucleotídeos 72 228 414

E. canis GO 01 GU386285 - G C -

E. canis GO 02 GU386286 100,00 • • -

E. canis GO 03 GU386287 100,00 • • -

E. canis GO 04 GU386288 99,78 • • A

E. canis GO 05 GU386289 100,00 • • -

África do Sul U54805 100,00 • - -

Brasil CO2 EF195135 100,00 • • -

Brasil SP DQ460714 100,00 • • -

China AF162860 100,00 • • -

Espanha AY530806 100,00 • • -

EUA M73226 99,78 A • -

Japão AF536827 100,00 • • -

Peru DQ915970 100,00 • • -

Venezuela AF373613 100,00 • • -

(•) indica nucleotídeo conservado, (-) deleção, a A porcentagem de identidades da

sequência de 463 pb alinhada pelo ClustalW.

3.3 Análise filogenética dos isolados de Ehrlichia sp.

A árvore filogenética gerada pelo confronto entre as sequências

parciais do gene 16S rRNA dos isolados regionais E. canis GO 01 à E. canis GO

05 com as sequências de referência para outras espécies de riquétssias,

incluídas nesta análise, revelou que: as espécies do gênero Ehrlichia ficaram

divididas em dois ―clados‖ distintos. Um destes ―clados‖ foi formado pelas

espécies E. canis. O outro ―clado‖ foi composto pelas espécies E. chaffensis e E.

ewingii. Os isolados E.canis GO 01 à 05 formaram agrupamento bem definido

juntamente com as cepas de referência para E. canis de outras regiões

geográficas incluídas nesta análise molecular. O isolado de E. canis proveniente

dos EUA foi o mais distante filogeneticamente entre os isolados de E. canis

avaliados.

Page 71: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

59

E. canis GO 02 (GU386286)

E. canis GO 04 (GU386288)

E. canis Venezuela (AF373613)

E. canis Brasil-CO2 (EF195135)

E. canis Japao (AF536827)

E. canis GO 03 (GU386287)

E. canis GO 01 (GU386285)

E. canis Africa do Sul (U54805)

E. canis Espanha (AY530806)

E. canis China (AF162860)

E. canis Peru (DQ915970)

E. canis GO 05 (GU386289)

E. canis EUA (M73226)

E. ewingii (U96436)

E. chaffensis Brasil (DQ345720)

E. chaffensis (EU181144)

E. chaffensis (U23503)

A. phagocytophilum Brasil (EU287434)

A. phagocitophilum (GU111747)

A. platys (AF156784.1)

A. platys (DQ401045)

N. risticii (AF380257)

N. sennetsu (M73219)

Brucella (GU085225)

99

96

83

90

100

71

93

99

98

65

Figura 2: Árvore filogenética obtida pela utilização dos cinco nucleotídeos de

Ehrlichia canis provenientes de Goiânia-GO, amplificados pelos oligonucleotídeos

Ebr1/Ebr5 agrupadas pelo método neighbor-joining no programa Mega4.

4.0 DISCUSSÃO

O exame de PCR gênero-específico utilizado como triagem foi escolhido

para possibilitar a detecção de outras espécies do gênero Ehrlichia entre as

amostras do estudo. Após o exame espécie-específico, constatou-se que todas as

amostras eram da espécie E. canis, o que ficou comprovado pelos estudos de

caracterização molecular subseqüentes.

Os resultados obtidos pela leitura das árvores filogenéticas demonstram

alta similaridade entre as amostras regionais e amostras de diferentes regiões

geográficas. Os mesmos suportam estudo precedente que indica que as cepas de

Page 72: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

60

Ehrlichia de diferentes regiões geográficas são uniformes e que os estudos

desenvolvidos com base em um isolado são geralmente aplicáveis aos demais

(PINYOOWONG et al., 2008).

De acordo com DUMLER et al. (2001), o gene 16S rRNA é altamente

conservado com baixas freqüências de mutações. Este fato também foi

observado neste estudo, demonstrado pela alta similaridade entre a maioria dos

isolados regionais, tanto na comparação entre eles, como na comparação

realizada entre os diferentes isolados de regiões geográficas distantes

disponibilizados no GenBank. A alta similaridade das sequências de diferentes

regiões foi anteriormente observada por AGUIRRE et al. (2006); e PYNYWOONG

et al. (2008) e os resultados corroboram os resultados obtidos neste estudo.

No Brasil têm sido realizados estudos envolvendo biologia molecular na

busca de outras espécies do gênero Ehrlichia. Entre estes destacam-se os

primeiros diagnósticos com base em técnica molecular no País para E.

chaffeensis (MACHADO et al., 2006) e E. ewingii (OLIVEIRA et al., 2009). No

primeiro, a presença de E. chaffeensis foi confirmada em três animais silvestres

(Cervo do Pantanal - Blastocerus dichotomus) capturados no Mato Grosso do Sul,

pela técnica de nested-PCR. No estudo sete animais foram avaliados e três

destes apresentaram resultado positivo para o agente em exame da PCR. O

trabalho evidencia a primeiro relato da presença de E. chaffeensis por infecção

natural em animais do Brasil. A sequência obtida neste estudo foi incluída na

árvore filogenética do presente trabalho e a mesma formou um clado distinto

juntamente com outros dois isolados de E. chaffeensis, um proveniente de uma

amostra obtida de ser humano nos EUA (U23503), e outro isolado de carrapato

na Coréia (EU181144).

Considerando-se a extensão territorial do Estado, e o número de

amostras avaliadas é necessário o incremento de maior número de estudos desta

natureza, para contribuir com o melhor conhecimento da identidade taxonômica

dos microrganismos envolvidos nas infecções por Ehrlichia não apenas no estado

de Goiás, mas nas diferentes áreas do País.

No Brasil casos de ehrlichiose humana foram registrados por CALIC et

al. (2004) e COSTA et al. (2007) com diagnóstico sorológico positivo para

E.chaffeensis em indivíduos com sintomas sugestivos de ehrlichiose no estado de

Page 73: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

61

Minas Gerais, o que aponta para a necessidade e a importância do emprego de

métodos moleculares em estudos envolvendo este tema.

5.0 CONCLUSÕES

1) Análises de similaridade molecular e testes espécie-específicos de

PCR identificaram a espécie E. canis entre diferentes amostras clínicas

provenientes de cães no município de Goiânia.

2) A análise filogenética permitiu a conclusão de que os isolados de E.

canis provenientes da cidade de Goiânia – GO, apresentam estreita similaridade

com isolados de E. canis das demais regiões do Brasil e outras regiões do

mundo.

6.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. AGUIAR, D. M.; HAGIWARA, M. K.; LABRUNA, M. B. In vitro isolation and

molecular characterization of an Ehrlichia canis strain from São Paulo, Brazil. Brazilian Journal of Microbiology, v. 39, n. 3, p. 489-493, 2008.

2. AGUIRRE, E.; TESOURO, M. A., RUIZ, L., AMUSATEUGUI, I., SAINZ, A. Genetic characterization of Anaplasma (Ehrlichia) platys in dogs in Spain. Journal of Veterinary Medicine Series B. v. 53, n.4, p. 197-200. 2006.

3. ALTSCHUL, S.F., GISH, W., MILLER, W., MYERS, E.W., LIPMAN, D.J. Basic local alignment search tool. Journal Molecular Biology, v.215, n.3, p.403-410, 1990.

4. ALVES, L.M; LINHARES, G.F.C; CHAVES, N.S.T; MONTEIRO, L.C;

LINHARES, D.C.L. Avaliação de iniciadores e protocolo para o diagnóstico da pancitopenia tropical canina por PCR. Ciência Animal Brasileira, v. 6, n. 1, p. 49-54, 2005.

5. BULLER, R.S., ARENS, M., HMIEL, S.P., PADDOCK, C.D., SUMNER, J.W., RIKIHISA, Y., UNVER, GALDREAULT, K.E.E.N.E.R., MANIAN, F.A., LIDDELL, A.M., Schmulewitz, N., Storch, G.A. Ehrlichia ewingii recognized agent of human ehrlichiosis. New England Journal of medicine, v.341, p. 148–155, 1999.

6. CALIC, S.B., GALVAO, M.A.M., BACELLAR, F., ROCHA, C.M.B.M., MAFRA, C.L., LEITE, R.C., WALKER, D.A. Human ehrlichiosis in Brazil: First suspect cases. Brazilian Journal of Infectious Diseases, v.8, p.259-262, 2004.

Page 74: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

62

7. CARVALHO, F. S.; WENCESLAU, A. A.; CARLOS, R. S.; ALBUQUERQUE, G. R. Epidemiological and molecular study of Ehrlichia canis in dogs in Bahia, Brazil. Genetics and Molecular Research, v. 7, n. 3, p. 657-62, 2008.

8. COSTA, J.R., REMBECK, K., RIBEIRO, M.F.B., BEELITZ, O., PFISTER,

K., PASSOS, L.M.F. Sero prevalence and riisk indicators for canine ehrlichiosis in three rural areas of Brazil. The Veterinary Journal. v. 174, p.673-676, 2007.

9. DAGNONE, A.S., MORAIS, H. S.A., VIDOTTO, O. Ehrlichiose nos animais

e no homem. Semina: Ci. Agrárias, Londrina, v. 22, n.2, p. 191-201, 2001.

10. DAGNONE, A.S.; MORAIS, H.S.A.; VIDOTTO, M.C.; JOJIMA, F.S.; VIDOTTO, O. Ehrlichiosis in anemic, thrombocytopenic, or tick-infested dogs from a hospital population in south brazil. Veterinary Parasitology, v.117, p. 285-290, 2003.

11. DUMLER,J.S.; BARBET, A.F.; BEKKER, C.P.J.; DASCH, G.A.; PALMER,

G.H.; RAY, S.C.; RIKIHISA, Y.; RURANGIRWA, F.R. Reorganization of genera in the families Rickettsiaceae and Anaplasmataceae in the order Rickettsiales: unification of some species of Ehrlichia with Anaplasma, Cowdria with Ehrlichia and Ehrlichia with Neorickettsia, descriptions of six new species combinations and designation of Ehrlichia equi and ‗HGE agent‖ as subjective synonyms of Ehrlichia phagocytophila. International Journal of Systematic and Evolotionary Microbiology, Stanford: High Wire Press, v. 51, p. 2145-2165, 2001.

12. DUMLER, J.S., MADIGAN, J.E., PUSTERLA, N., BAKKEN, J.S.

Ehrlichioses in humans: Epidemiology, clinical presentation, diagnosis and treatament. Clinical Infectious Diseases. v.45, p. 45-51, 2007.

13. GREENE, C.E. Infectious Diseases of the dog and cat. Canada:

Copyright Elsevier, 2006. p. 203-232.

14. GREIG, B., BREITSCHWERDT, B., ARMSTRONG in GREENE, C.E. Infectious Diseases of the dog and cat. Canada: Copyright Elsevier, 2006. p. 203-232.

15. HARRUS, S., WANER, T., KEYSARY, A., AROCH, I., VOET, H., BARK, H.

Investigation of splenic functions in canine monocytic erlichiosis. Veterinary Immunology and Imunopathology, v.62, p. 15-27, 1998.

16. HEADLEY, S. A.; SCORPIO, D. G.; BARAT, N. C.; VIDOTTO, O.;

DUMLER, J. S. Neorickettsia helminthoeca in dog, Brazil. Emerging Infectious Diseases, v. 12, n. 8, p. 1303-1304, 2006.

17. HOSKINS, J.D. Veterinary clinics of North America. Philadelphia:

Saunders Company, 1991, v.21, n.01, p.201-203.

Page 75: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

63

18. LABRUNA, M. B.; MCBRIDE, J. W.; CAMARGO, L. M.; AGUIAR, D. M.;

YABSLEY, M. J.; DAVIDSON, W. R.; STROMDAHL, E. Y.; WILLIAMSON, P. C.; STICH, R. W.; LONG, S. W.; CAMARGO, E. P.; WALKER, D. H. A preliminary investigation of Ehrlichia species in ticks, humans, dogs, and capybaras from Brazil. Veterinary Parasitology, v. 143, n. 2, p. 189-95, 2007.

19. MACHADO, R.Z.; DUARTE, J.M.B.; DAGNONE, A.S.; SZABÓ, M.J.P. Detection of Ehrlichia chaffeensis in Brazilian marsh deer (Blastocerus dichotomus). Veterinary Parasitology, v.139, p.262-266, 2006.

20. MACIEIRA, D. B.; MESSICK, J. B.; CERQUEIRA, A. D. E, M.; FREIRE, I.

M.; LINHARES, G. F.; ALMEIDA, N. K.; ALMOSNY, N. R. Prevalence of Ehrlichia canis infection in thrombocytopenic dogs from Rio de Janeiro, Brazil. Veterinary Clinical Pathology, v. 34, p.44-48, 2005.

21. MARTIN, A.R., BROWN, G.K., DUNSTAN, R.H., ROBERTS, T.K.

Anaplasma platys: an improved PCR for its detection in dogs. Experimental Parasitology, v. 109, p. 176-180, 2005.

22. OLIVEIRA, L.; OLIVEIRA, K. A.; MOURÃO, L. C.; PESCATORE, A. M.; ALMEIDA, M. R.; CONCEIÇÃO, L. G.; GALVÃO, A.M.; MAFRA, C. First report of Ehrlichia ewingii detected by molecular investigation in dogs from Brazil. Clinical Microbiology and Infection, v.15, S2, p.55-56, 2009.

23. PEREZ, M., RIKIHISA, Y., WEN, B. Ehrlichia canis-like agent isolated from a man in Venezuela: antigenic and genetic characterization. Journal Clinical of Microbiology. v. 34, p. 2133–2139, 1996.

24. PINYOOWONG, D., JITTAPALAPONG, S., SUKSAWAT, F., STICH, R.W., THAMCHAIPENET, A. Molecular characterization of Thai Ehrlichia canis and Anaplasma platys strains detected in dogs. Infection, Genetics and Evolution, v.8, p.433–438, 2008.

25. RIPOLI, C.M., REMONDEGUI, C.E., ORDONEZ, G., ARAZAMENDI, R., FUSARO, H., HYMAN, M.J., PADDOCK, C.D., ZAKI, S.R., OLSON, J.G., SANTOS-BUCH, C.A. Evidence of rickettsial spotted fever and ehrlichial infections in a subtropical territory of Jujuy, Argentina. American Journal Tropical Medicine and Hygiene. v.61, p.350–354, 1999.

26. SANTOS F.; COPPEDE, J. S.; PEREIRA, A. L.; OLIVEIRA, L. P.; ROBERTO, P. G.; BENEDETTI, R. B.; ZUCOLOTO, L. B.; LUCAS, F.; SOBREIRA, L.; MARINS, M. Molecular evaluation of the incidence of Ehrlichia canis, Anaplasma platys and Babesia spp. in dogs from Ribeirão Preto, Brazil. Veterinary Journal, v. 179, n. 1, p. 145-148, 2009.

Page 76: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

64

27. TAMURA K, DUDLEY J, NEI M, KUMAR S. MEGA4: Molecular Evolutionary Genetics Analysis (MEGA) software version 4.0. Molecular Biology and Evolution v.24:p.1596-1599.2007.

28. THOMPSON, J. D. et al. A comprehensive comparison of multiple sequence alignment programs. Nucleic Acids Research, v.27, n.13, p.2682-9260, 1999.

29. WOODY, B.J.; HOSKINS, J.D. Ehrlichial disease of dogs. In: HOSKINS, J.D. Veterinary clinics of North America. Philadelphia: W.B. Saunders Company, 1991. p. 75-98.

Page 77: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

65

CAPÍTULO 5

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho é o primeiro estudo filogenético de Babesia, Ehrlichia e

Hepatozoon desenvolvido com amostras de origem canina no estado de Goiás.

Possibilitou a identificação das espécies de parasitos presentes nos animais

atendidos no HV da UFG da escola de veterinária durante o período de janeiro a

agosto de 2008 e a verificação de similaridade existente entre estas amostras e

cepas de outras regiões do mundo.

Anteriormente, a identificação dos hemoparasitos era realizada

unicamente com base na morfologia, pela avaliação dos parâmetros e formas

intracelulares observadas nos esfregaços sanguíneos de animais vertebrados

infectados. Este diagnóstico, juntamente com a avaliação da especificidade do

hospedeiro (vertebrado e invertebrado), forneceu meios para a classificação de

várias espécies e estes critérios foram os únicos adotados até recentemente.

Há pouco mais de 10 anos, os parâmetros de identificação passaram a

ser reavaliados e dessa forma, além dos dados já conhecidos, foram agregadas

informações moleculares que contribuíram para uma melhor compreensão da

filogenética dos hemoparasitos e a denominação de novas espécies, até o

momento desconhecidas. As ferramentas moleculares devem ser consideradas

como acessórias à microscopia direta, pois sua fundamental importância se dá

pela capacidade em detectar e identificar precisamente as espécies e

subespécies de hemoparasitos, especialmente em condições de baixa

parasitemia ou em situações onde a morfologia não é conclusiva.

No presente trabalho foram identificadas espécies de hemoparasitos que

coincidem com as espécies identificadas por outros trabalhos desenvolvidos no

Brasil. Na pesquisa dos agentes do gênero Babesia identificou-se a subespécie

B. canis vogeli. Na do gênero Hepatozoon a espécie H. canis e do gênero

Ehrlichia foi identificada a E. canis.

Com base em informações nas pesquisas relacionadas a hemoparasitos

desenvolvidas em diferentes regiões do mundo entende-se que a relação

parasito-hospedeiro parece ser menos restrita do que se acreditava em estudos

Page 78: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

66

anteriores e que espécies de hemoparasitos podem causar infecções em

diferentes hospedeiros, sejam animais domésticos, silvestres ou seres humanos.

Os resultados aqui obtidos proporcionaram conhecimentos importantes

para o esclarecimento da etiologia e epidemiologia dos agentes da babesiose,

ehrlichiose e hepatozoonose canina ocorrentes em cães da microrregião de

Goiânia-GO. As informações obtidas servirão de base para nortear novas

pesquisas científicas voltadas a estudos epidemiológicos, clínico-patológicos e

terapêuticos.

Considerando a ampla variedade de animais silvestres no Brasil que

podem servir como reservatórios para as riquétssias e prozoários que determinam

a infecção em seres humanos, os estudos relativos a estes agentes tornam-se

importantes na saúde pública.

Neste estudo não foram identificados agentes reconhecidos como

zoonóticos. Contudo, o desenvolvimento do trabalho propiciou a adoção e

aplicação de técnicas que podem agora ser utilizadas em futuras pesquisas com

este fim.

Conhecendo-se os reais agentes patogênicos e oferecendo informações

genéticas a respeito dos mesmos é possível classificar genes que propiciem a

infectividade do mesmo e criar métodos para silenciar genes que determinem sua

patogenicidade. Além disso, a disponibilidade de informações acerca das

hemoparasitoses na região de Goiânia pode ainda contribuir para o

esclarecimento dos reais agentes zoonóticos e possíveis riscos à saúde humana

no município.

As informações obtidas neste trabalho inserem o Estado de Goiás no

âmbito da pesquisa filogenética mundial, já que as sequências disponibilizadas no

banco de dados mundial, o GenBank, podem ser agora utilizadas por diferentes

pesquisadores em todo o mundo. Os dados gerados são de grande importância,

pois oferecem informações de isolados brasileiros que podem ser confrontados

com isolados de outras regiões do País. Até recentemente não havia informações

disponíveis de isolados brasileiros, sendo possível a realização de estudos

utilizando-se apenas isolados de outras regiões do mundo. Entende-se que estas

informações podem não ser suficientes, tanto pela grande extensão territorial do

Estado, quanto pelo grande número de animais suscetíveis aos patógenos

Page 79: PERFIL DO PARASITISMO SANGUÍNEO POR ANÁLISES … · A professora Célia Soares por ceder não apenas o laboratório e equipe como também todo material necessário as ... estar

67

avaliados, mas são fundamentais para gerar uma biblioteca de dados que

norteiem pesquisas futuras.

O trabalho colaborou para a disponibilização e adoção de técnicas

moleculares para fins de pesquisa e extensão no âmbito da Escola de Veterinária

da UFG, o que também possibilitará a transferência de tecnologia a alunos da

Universidade e parceiros de outras instituições.

A execução do projeto contribuiu ainda para o treinamento e capacitação

na técnica de seqüenciamento de amostras de DNA, técnica esta que tem

possibilitado avanços importantes no conhecimento científico sobre a natureza

dos microrganismos. Além disso, foi possível obter informações acerca da

construção de árvores filogenéticas, interpretação e processamento dos dados

fornecidos pelo sequenciador automático, aspecto fundamental, uma vez que o

processamento destes dados é o grande entrave no desenvolvimento de estudos

com esta finalidade.

Acredita-se que novos estudos se façam necessários, considerando-se a

importância de serem coletados dados sobre um número cada vez maior de

isolados e a disponibilização de informações de diferentes regiões do Brasil. Da

mesma forma trabalhos associando transmissão experimental e biologia

molecular são fundamentais no sentido de se obter informações a respeito das

espécies e possíveis genogrupos ocorrentes no Brasil.