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PERFIL DO SETOR CERAMISTA DA MICRORREGIÃO DE IRECÊ-BA Meneses, F. P¹.; Marques, J. M¹.; Santos, S. A¹.; Machado, T.G².; Monteiro, F. M¹ , ³ ,4 . ¹IFBA Campus Irecê; ² IFBA Campus Jacobina; ³ IFRN; 4 PPGEM-UFRN Avenida Senador Salgado Filho, 1559, Tirol. Natal - RN I CEP 59015-000 E-mail: [email protected] RESUMO: Os produtos cerâmicos estão presentes no cotidiano da humanidade desde os primórdios da civilização. Usados para diversas funções, esses materiais podem ser encontrados em simples objetos como pratos e jarros, até em produtos de alta complexidade tecnológica como, por exemplo, componentes para equipamentos eletrônicos. Conhecer os diversos ramos desse setor é primordial para encontrar novas fontes de matéria prima e estabelecer parâmetros para poder melhorar seu processo produtivo e a qualidade do produto final. Por fim, o objetivo deste trabalho é diagnosticar os empreendimentos cerâmicos da região de Irecê-BA, levantando suas principais características econômicas e de gestão; e assim trazer informações construtivas para o setor ceramista dessa microrregião e divulgá-las na comunidade científica. Palavraschave: Irecê, Cerâmica, argila, fornos, microrregião. 1. INTRODUÇÃO Os materiais cerâmicos, metálicos, poliméricos e compósitos estão evoluindo paralelamente com a humanidade. Não é possível falar em evolução tecnológica na sociedade e não citar os materiais como protagonistas na melhoria da qualidade de vida das pessoas. Nos primórdios da civilização a argila era usada em algumas tarefas, sendo utilizadas para confecção de tintas com o objetivo de descrever as atividades diárias e outras tantas situações vividas. Outra utilização desse material foi na produção de artefatos para manusear e armazenar alimentos. Por ser de fácil moldagem a argila, outrora rígida, era umedecida e logo em seguida transformada em utensílios dos mais variados tipos para diferentes aplicações; apresentando um papel importante para o homem primitivo e no decorrer dos séculos até chegar os dias atuais. Desde os mais simples utensílios domésticos produzidos pelos “homens primitivos” até as mais sofisticadas peças para o setor industrial passaram-se 22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil 10350

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PERFIL DO SETOR CERAMISTA DA MICRORREGIÃO DE IRECÊ-BA

Meneses, F. P¹.; Marques, J. M¹.; Santos, S. A¹.; Machado, T.G².; Monteiro, F. M¹,³,4.

¹IFBA – Campus Irecê; ² IFBA – Campus Jacobina; ³ IFRN; 4PPGEM-UFRN

Avenida Senador Salgado Filho, 1559, Tirol. Natal - RN I CEP 59015-000 E-mail: [email protected]

RESUMO: Os produtos cerâmicos estão presentes no cotidiano da humanidade desde os primórdios da civilização. Usados para diversas funções, esses materiais podem ser encontrados em simples objetos como pratos e jarros, até em produtos de alta complexidade tecnológica como, por exemplo, componentes para equipamentos eletrônicos. Conhecer os diversos ramos desse setor é primordial para encontrar novas fontes de matéria prima e estabelecer parâmetros para poder melhorar seu processo produtivo e a qualidade do produto final. Por fim, o objetivo deste trabalho é diagnosticar os empreendimentos cerâmicos da região de Irecê-BA, levantando suas principais características econômicas e de gestão; e assim trazer informações construtivas para o setor ceramista dessa microrregião e divulgá-las na comunidade científica. Palavras–chave: Irecê, Cerâmica, argila, fornos, microrregião.

1. INTRODUÇÃO

Os materiais cerâmicos, metálicos, poliméricos e compósitos estão

evoluindo paralelamente com a humanidade. Não é possível falar em evolução

tecnológica na sociedade e não citar os materiais como protagonistas na

melhoria da qualidade de vida das pessoas. Nos primórdios da civilização a

argila era usada em algumas tarefas, sendo utilizadas para confecção de tintas

com o objetivo de descrever as atividades diárias e outras tantas situações

vividas. Outra utilização desse material foi na produção de artefatos para

manusear e armazenar alimentos. Por ser de fácil moldagem a argila, outrora

rígida, era umedecida e logo em seguida transformada em utensílios dos mais

variados tipos para diferentes aplicações; apresentando um papel importante

para o homem primitivo e no decorrer dos séculos até chegar os dias atuais.

Desde os mais simples utensílios domésticos produzidos pelos “homens

primitivos” até as mais sofisticadas peças para o setor industrial passaram-se

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séculos de inovação, modificação e transformação com o único objetivo de

melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Os materiais cerâmicos são assim divididos: cerâmica tradicional, cerâmica

de revestimento, louças de mesa e sanitárias e cerâmica avançada. O setor de

cerâmica tradicional encontra-se subdividido em cerâmica vermelha e cerâmica

branca. Define-se como Cerâmica Vermelha os materiais utilizados pelo setor

da Construção Civil cuja coloração é vermelha, devido à presença,

principalmente, do elemento ferro em sua composição; tendo como principais

exemplos os blocos, telhas, lajotas e tubos. (1) O faturamento do setor no ano

de 2013 compreendeu um montante de R$ 21 bilhões com uma produção de

71 bilhões de peças. (2)

O setor de cerâmica vermelha é importantíssimo para a economia brasileira.

Entre os setores que trazem desenvolvimento ou são considerados como

termômetros do desenvolvimento econômico de uma nação tem-se o setor

macroeconômico da Construção Civil, onde os produtos de cerâmica vermelha

são diretamente aplicados. Para se ilustrar a importância econômica desse

setor para o Brasil, ainda no ano de 2012 a receita desse setor compreendeu

um valor de R$ 336,6 bilhões. (3)

Os empreendimentos produtores de cerâmica vermelha são protagonistas

para potencializar uma parcela significativa do PIB brasileiro. Esse setor é

composto por cerca de 6000 (seis mil) indústrias cerâmicas espalhadas pelo

Brasil. (1) Nesse caso não se têm citado os milhares de olarias que trabalham

de forma artesanal pelos rincões do Brasil. Portanto, é perceptível que esse

setor ainda encontra-se carente de investimento em ciência e tecnologia para

melhorar a produção. A pulverização desses empreendimentos no território

nacional dificulta a construção de dados estatísticos. A maioria dos polos

cerâmicos do país organiza-se em APL’s (Arranjos Produtivos Locais). Com

isso existe a possibilidade dos órgãos do setor privado e governamental (2)

conhecer, diagnosticar e buscar formas de incentivo tecnológico para esses

empreendimentos; sendo um dos passos fundamentais para melhorar a

qualidade final dos produtos. Consequentemente o resultado final será mais

emprego e renda para região onde cada empreendimento está localizado.

A microrregião de Irecê está localizada no Estado da Bahia,

especificamente na zona fisiográfica da chapada diamantina setentrional.

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Composta por 19 municípios, a sua área geográfica abrange o polígono das

secas. O município mais desenvolvido e que também nomeia a microrregião é

Irecê.

A microrregião de Irecê possui uma população de 373 mil habitantes. A

economia da região é composta principalmente pelo agronegócio, comércio,

agricultura familiar e criações de caprinos e ovinos. No que se refere ao

agronegócio na microrregião, vale destacar que o município de Irecê já foi

conhecido como capital mundial do feijão. Todavia, atualmente toda

microrregião sofre com a estiagem prolongada, causando inúmeras perdas

financeiras e consequentemente agravando a desigualdade social. Por outro

lado, percebe-se que devido ao crescimento do Brasil dos últimos anos, o

município de Irecê encontra-se em uma ebulição econômica e demográfica,

mesmo sendo afetado por um quadro climático desfavorável. Apesar da

microrregião de Irecê ser rica em recursos minerais, não existe nenhum

levantamento sobre suas potencialidades ceramistas. Além disso, não é

possível identificar estudos sobre argilas vermelhas e cauliníticas da

microrregião ou qualquer levantamento sobre suas jazidas de matéria prima.

Outro questionamento importante é sobre o comércio da cerâmica tradicional

da região, que praticamente desconhece suas potencialidades e seus produtos.

Por fim, o objetivo desse trabalho acadêmico é diagnosticar os

empreendimentos cerâmicos da região de Irecê, levantando suas principais

características econômicas e de gestão e assim trazer informações

construtivas para o setor ceramista da microrregião; além da divulgação na

comunidade acadêmica como forma de contribuir para o desenvolvimento local

e regional. (3)

2. MATERIAL E MÉTODOS Todo o embasamento para construção do artigo foi realizado através de

visitas e entrevistas com os responsáveis pelos empreendimentos cerâmicos,

objetivando-se a construção do perfil das indústrias cerâmicas da microrregião

de Irecê; fazendo parte integrante de projeto desenvolvido em parceria com a

Fapesb (Fundação de amparo à Pesquisa do Estado da Bahia) através do

programa PIBIC-EM (direcionado ao ensino médio) no Instituto Federal da

Bahia - IFBA.

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O primeiro passo foi realizar uma pesquisa informal com os empresários do

ramo de varejo da Construção Civil, solicitando informações sobre os

fornecedores. A partir desse ponto diagnosticou-se a existência de indústrias

cerâmicas nos municípios de Xique-Xique, Barra, Morro do Chapéu e Ibititá.

Com exceção de Barra, os demais municípios fazem parte da microrregião de

Irecê. Em seguida foram realizadas visitas aos municípios citados em busca

dos empreendimentos cerâmicos. Em cada município realizou-se duas visitas

técnicas, aplicando-se questionários para obtenção das principais informações

dos empreendimentos.

A cidade de Xique-Xique fica a 548 km de Salvador, capital do Estado da

Bahia. É uma cidade ribeirinha fundada nas margens do rio São Francisco.

Sua economia é fundamentada na pesca, na agricultura, na criação de

caprinos e ovinos, em serviços e também na produção de cerâmica vermelha.

Em Xique-Xique encontra-se um polo cerâmico com sete indústrias, além das

olarias que existem de forma não oficial em torno do rio. É o município polo

nesse setor na microrregião. Apenas uma cerâmica não foi visitada por

questões de localização e outra se indispôs a fornecer as informações

solicitadas.

O município de Barra possui características similares ao de Xique-Xique,

principalmente na economia. Com cerca de 13 mil habitantes, a cidade é

construída nas margens do rio São Francisco e localiza-se a uma distância de

200 km do município de Irecê. Em Barra realizou-se uma visita a uma indústria

cerâmica, apesar de possuir duas. Além disso, existe a produção de

artesanatos (jarros, pratos, peças decorativas entre outros produtos) fabricados

por uma associação local. Também são confeccionadas imagens sacras por

um “santeiro/artesão” da localidade. Nas margens do rio São Francisco, com a

chegada da estiagem, são produzidos blocos maciços em olarias improvisadas.

Nesse período o rio deixa de ocupar longas extensões de terras que agora se

tornam microempresas para construir de forma rudimentar esses produtos.

Outro município que visitado para diagnosticar as indústrias cerâmicas

locais foi Morro do Chapéu. No distrito de Fedegosos, existe uma cerâmica

produtora de materiais cerâmicos de coloração branca. É o único

empreendimento daquela região.

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A cerca de 30 km de Irecê encontra-se o município de Ibititá. Nessa cidade

existe uma indústria cerâmica produtora de blocos de cerâmica vermelha. Além

disso, a cidade possui em torno de quinze olarias de produção de blocos

maciços.

Com o resultado dos relatórios aplicados nos empreendimentos ceramistas,

obteve-se o perfil desse setor na microrregião. O que resultará em uma

provável fonte de estudo para construção de melhorias tecnológicas para o

setor.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesse capítulo têm-se os resultados da pesquisa distribuída por

município. O primeiro é o município de Xique-Xique, logo em seguida Barra,

Ibititá e Morro do Chapéu.

- Município de Xique-Xique

Com sete cerâmicas distribuídas no seu território, Xique-Xique consolida-

se como um polo ceramista com potencial econômico e com excelente

oportunidade de expansão. A predominância da linha de produção são os

blocos e lajotas. Apenas uma cerâmica produz telhas e blocos. O processo de

secagem das peças é natural. Nenhuma cerâmica da região de Xique-Xique

possui algum tipo de processo para acelerar essa etapa da produção. Os

números apresentados foram coletados através das entrevistas com os seus

responsáveis. No Quadro 1 encontra-se de forma descritiva o perfil de

produção dos empreendimentos desse município.

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Quadro1 – Perfil das Cerâmicas do município de Xique-Xique.

Ao observar o Quadro nota-se que existe uma produção considerável no

polo ceramista de Xique-Xique. Outro dado importante na pesquisa foi o

percentual de perdas em cada queima, ficando em torno de no máximo 5% das

peças produzidas. Um dos equipamentos mais importantes que se encontram

nas indústrias cerâmicas são os fornos, pois a energia gasta no processo de

queima corresponde, em média, a 50% do valor total do investimento para a

produção de peças cerâmicas. As cerâmicas do município de Xique-Xique

possuem fornos, na maioria, do tipo Paulistinha. Na Figura 1 encontra-se um

dos fornos pertencente às cerâmicas do município de Xique-Xique.

Figura 1 – Forno encontrado nas cerâmicas de Xique-Xique.

Fonte: Arquivo Pessoal.

Outros exemplos de fornos que também são encontrados nessas

indústrias, são os do tipo Sedan, Cearense e Túnel. No Quadro 2 tem-se a

discrição de cada cerâmica em relação aos fornos e também a disponibilidade

NOMES DAS CERÂMICAS

PRODUTOS FABRICADOS

QUANTIDADE DE PEÇAS POR MÊS

CASA NOVA Blocos -

CARVALHO Blocos e lajotas 500.000

CAMPINENSE Blocos 400.000

XIQUE-XIQUE Blocos, Lajotas e telhas 600.000

TELHA FORTE Blocos 300.000

- TOTAL 2.100.000

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de tecnologia para diminuir o impacto ambiental causado pela queima de lenha.

Apenas uma cerâmica descreveu seu projeto para diminuir os poluentes da

atmosfera. Nesse caso, através de dispositivos, a fumaça causada pela

queima da lenha antes de sair pela chaminé é levada para outra câmara onde

se joga água para diminuir sua quantidade de material particulado em

suspensão.

Quadro 2 – Tipos de fornos e impacto ambiental.

NOMES DAS CERÂMICAS

TIPO DE FORNO QUANTIDADE TECNLOGIA PARA DIMUIR O IMPACTO

AMBIENTAL?

CASA NOVA PAULISTINHA 2 -

CARVALHO SEDAN E CEARENSE 2 -

CAMPINENSE PAULISTINHA 2 -

XIQUE XIQUE PAULISTINHA 2 SIM

TELHA FORTE PAULISTINHA E TÚNEL

4 -

Na maioria dos fornos em cada queima eram produzidos em torno de 30

mil peças. Outros aspectos foram investigados nas cerâmicas de Xique-Xique.

A quantidade de funcionários, o tempo de funcionamento do empreendimento,

a origem da matéria prima utilizada e a existência de ensaios tecnológicos para

caracterização da matéria prima (análise química, índice de plasticidade, limite

de liquidez, dentre outros), bem como do produto final obtido. A quantidade de

funcionários foi descrita como todos os empregos diretos e indiretos envolvidos

com as diversas etapas de produção de cada cerâmica. No Quadro 3 se tem

essas informações.

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Quadro 3 – Fornos e tecnologias utilizadas para diminuir o impacto ambiental.

NOMES DAS CERÂMICAS

QUANTIDADE DE FUNCIONÁRIOS

TEMPO DE FUNDAÇÃO

ORIGEM DA MATÉRIA PRIMA

ENSAIOS TECNOLÓGICOS

CASA NOVA 09 4 anos Xique-Xique NÃO

CARVALHO 15 15 anos Xique-Xique SIM

CAMPINENSE 25 14 anos Xique-Xique NÃO

XIQUE-XIQUE 20 20 anos Xique Xique NÃO

TELHA FORTE 38 10 anos Xique-Xique SIM

Ao analisar o Quadro 3 nota-se que as indústrias cerâmicas do município

de Xique-Xique já encontram-se no mercado em um período de tempo

razoável, tendo em média 13 anos de fundação. O que demonstra uma

viabilidade real dessa atividade na região. Além disso, outro ponto abordado

nas entrevistas com os empresários foi o uso de métodos tecnológicos.

Conforme resultado já explicitado, apenas duas cerâmicas fazem testes iniciais

na matéria prima. É bem verdade que as propriedades da argila podem se

modificar de uma jazida para outra, ou até mesmo em porções do material da

mesma jazida. Uma das dificuldades para se trabalhar com cerâmica estrutura

é a falta de uma composição unificada da matéria prima. Um ponto importante

foi destacado pelos proprietários das empresas: a matéria prima da região é de

boa qualidade. Conforme já se relatou, o percentual de perdas da produção é

cerca de 5%. Nas cerâmicas de Xique-Xique praticamente trabalha-se apenas

com um tipo de argila. Dificilmente se utiliza dois ou três tipos para compor a

massa cerâmica. Portanto, testes periódicos seriam necessários para

efetivação de um acompanhamento tecnológico. Ensaios no produto final

obtido não vêm sendo realizado por essas empresas, garantindo a qualidade

final dos mesmos, além de atender as especificações normativas de qualidade

nos produtos cerâmicos. Na Figura 2, têm-se os blocos produzidos no

município de Xique-Xique.

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Figura 2 – Blocos cerâmicos do Município de Xique-Xique.

Fonte: Arquivo Pessoal.

- Município de Barra Apesar de não fazer parte oficialmente da microrregião de Irecê, o

município de Barra possui uma ligação comercial bem acentuada com os

demais municípios que compõem a microrregião. Na cidade existem duas

cerâmicas e ambas produzem blocos e lajotas. Não se diferenciam muito das

cerâmicas de Xique-Xique. Ao contrário dos demais municípios que possuem

empreendimentos no setor ceramista, em Barra existem a produção de

artesanatos utilizando cerâmica vermelha. A Associação Comunitária Nossa

Senhora de Fátima, formada por moradores da localidade, fabricam peças

variadas utilizando a argila extraída dos arredores e margens do rio São

Francisco. Seus produtos variam de um simples bibelô até jarros e estátuas,

todos produzidos por homens e mulheres. As peças são destinadas ao

comércio local, da microrregião e de Salvador (Capital do Estado da Bahia). O

principal problema relatado pelas artesãs é a falta de tecnologia. Os fornos são

bastante simples e o percentual de perdas na produção, dependendo da

matéria prima utilizada, chega aos 80% por queima. Nas figuras 3 e 4

encontram-se os principais produtos fabricados pela associação de artesãs de

Barra.

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Figura 03 – Peças artesanais do Município de Barra antes da queima.

Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura 04 – Peças Artesanais do Município de Barra após a queima.

Fonte: Arquivo Pessoal.

Outra fonte de renda no setor ceramista que é desenvolvido na região é a

fabricação de blocos maciços nas margens do rio São Francisco no período de

estiagem, quando o volume de água no rio encontra-se reduzido. Verificamos a

existência de duas olarias fixas, porém essas olarias de produção artesanal

podem ser dezenas em toda extensão do rio São Francisco. São criadas

informalmente e produzem para o consumo do município e de outros lugarejos

da região.

O processo para produção dos blocos é bem simples. Inicialmente a

argila é retirada da jazida (na margem do rio), logo em seguida é amassada

com os pés, ou utiliza-se de instrumentos (enxadas ou pás) para auxiliar nessa

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etapa. O próximo passo é colocar nas fôrmas para obter o formato do bloco e

levá-los ao forno. A secagem das peças é realizada a céu aberto. Toda

produção é muito artesanal e rudimentar, chegando a serem produzidos cerca

de 500 blocos por dia. É evidente que essa produção depende das intempéries

do tempo. O tipo de forno utilizado é bem peculiar da região, sendo construído

por uma base de blocos maciços em formato circular e com a entrada de lenha

na parte inferior. Em geral suportam em torno de 200 a 500 peças por queima.

Os fornos utilizados pelos ribeirinhos para produção de blocos maciços

encontram-se retratados na Figura 5.

Figura 5 – Forno utilizado nas olarias da margem do rio São Francisco.

A produção de blocos maciços nas margens do rio São Francisco encontra-se na

Figura 6. Na imagem é possível visualizar o molde utilizado pelo responsável da

produção e atrás os blocos sendo secados ao ar livre.

Figura 06 – Molde dos blocos maciços e blocos na secagem natural.

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Fonte: Arquivo Pessoal.

- Município de Ibititá

O município de Ibititá encontra-se a aproximadamente 497 km de

Salvador. Sua economia é baseada na agricultura e nas criações de animas

(caprinos e ovinos). Nessa cidade encontra-se uma cerâmica produtora de

blocos e lajotas - Cerâmica Almeida. A cerâmica possui dois fornos, sendo um

do tipo Sedan e outro Cearense. A produção gira em torno de 200 mil

peças/mês. O mercado consumidor é a própria microrregião de Irecê. A

qualidade da matéria prima faz com que as perdas na produção cheguem ao

percentual de no máximo 5% por queima.

Além da cerâmica, existem em Ibititá cerca de quinze olarias informais

produtoras de blocos maciços. A produção é realizada a céu aberto e sem

necessidade de ter uma fonte de água constante próxima. São

empreendimentos, na sua maioria, de caráter familiar, criados para ajudar no

orçamento familiar. Conforme relato dos produtores, em média se produz

cerca de 200 blocos por dia. Contudo, esse número é pouco confiável tendo

em vista que existem variáveis que influenciam diretamente na produção

(intempéries do tempo, quantidade de funcionários, água disponível, entre

outras).

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Na Figura 7 encontram-se imagem dos produtos das olarias do

município de Ibititá.

Figura 7 – Blocos maciços empilhados para secagem natural em Ibititá.

Fonte: Arquivo Pessoal.

Enquanto nas olarias de Xique-Xique os blocos eram queimados em um

forno construído nas margens do rio, em Ibititá os blocos são empilhados de tal

forma que sua forma sirva também como estrutura para o forno. A Figura 8

percebe-se nitidamente essa estrutura fabricada para servir como forno.

Conforme relatos dos produtores, em no máximo oito horas, quatro mil blocos

são queimados.

Figura 8 – Blocos empilhados para queima nas olarias de Ibititá.

Fonte: Arquivo Pessoal.

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- Município de Morro do Chapéu

Situado na chapada diamantina, o município de Morro do Chapéu

encontra-se a 384 km da Capital Salvador. É conhecido pelas suas belezas

naturais e pelo clima tropical de altitude. Sua economia possui como base a

agropecuária, serviços e o ecoturismo; esse último ainda carente de

investimentos. No município de Morro do Chapéu encontra-se uma cerâmica

de característica peculiar para a região. Seus produtos são de cores que

passam do amarelo claro para o branco. É evidente que essa característica é

resultado da concentração de caulim na argila e outros óxidos presentes. A

cerâmica encontra-se localizada no distrito de Fedegosos, a 50 km da sede do

município. A produção é de blocos e telhas do tipo portuguesa. O forno

utilizado na cerâmica é do tipo Sedan. A quantidade de perdas em cada

queima gira em torno de 2 a 5%.

Na Figura 9 encontra-se o interior da cerâmica de Morro do Chapéu,

produtora de blocos e telhas de coloração amarelada.

Figura 9 – Produtos da Cerâmica de Morro do Chapéu.

Fonte: Arquivo Pessoal.

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CONCLUSÕES

Os empreendimentos ceramistas de caráter formal (indústrias cerâmicas)

localizados na região de Irecê são, na sua maioria, administrados por famílias.

São empresas já consolidadas no mercado da região. Com produção

relativamente alta, girando em mais de cem mil peças por mês. Quando se fala

nas olarias encontradas nas margens do rio São Francisco ou no município de

Ibititá, nota-se que sua produção é totalmente artesanal. Produzem em média

duzentas peças por dia. Geralmente são os próprios proprietários e os

membros da família que fabricam e vendem os blocos.

Conhecer a matéria prima é um passo importante para entender todo o

ciclo de produção da indústria cerâmica que, na microrregião de Irecê, possui

qualidade e características que merecem consideração pela baixa

porcentagem de perdas da produção. Também nota-se que o mercado

consumidor da região absorve os produtos cerâmicos produzidos, mas existem

lacunas econômicas que deveriam ser preenchidas. Ainda é possível encontrar

produtos trazidos de outras regiões da Bahia. A mão de obra qualificada é um

fator que deve ser considerado. Poucos profissionais possuem algum curso na

área dentro dos empreendimentos visitados, com exceção das olarias que não

possuem qualquer aspecto tecnológico.

A microrregião de Irecê ainda carece de informação básica sobre os

produtos cerâmicos. Isto é perceptível na visita às artesãs do município de

Barra.

Por fim, ao analisar todo o contexto da microrregião e as informações

expostas, nota-se que caso existissem investimentos em tecnologia, na mão de

obra e infraestrutura, o setor ceramista na microrregião teria plena condições

de produzir uma quantidade bem superior à atual, diversificação na produção e

certificação dos produtos obtidos. É necessário salientar, ainda, que faz-se

necessário um estudo mais amplo sobre a atual e futura fonte energética para

a queima cerâmica na microrregião de Irecê e na Bahia como um todo.

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AGRADECIMENTOS

Agrademos ao IFBA-Campus Irecê pela estrutura que foi ofertada. A

Fapesb pela bolsa de incentivo à pesquisa. Aos empresários que participaram

desse trabalho.

REFERÊNCIAS

(1) ABCERAM. Cerâmica no Brasil - Segmentos Cerâmicos: Cerâmica Vermelha.

Disponível em: <http://www.abceram.org.br/site/?area=34>. Acesso em: 28 jul. 2015.

(2) Ministério de Minas e Energia (MME) - Governo Federal. Anuário Estatístico do Setor

de Transformação de Não Metálicos. Brasília: Secretaria de Geologia Mineração e

Transformação Mineral, 2014. 20 v.

(3) IBGE. PAIC 2012: valor das obras da Indústria da Construção cresce 10,2% em

relação a 2011. 2014. Disponível em:

<http://saladeimprensa.ibge.gov.br/pt/noticias?view=noticia&id=1&busca=1&idnoticia=2

711>. Acesso em: 28 jul. 2015.

22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil

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