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1
PERFIL NUTRICIONAL DE PACIENTES PORTADORES DE
SÍNDROME DE DOWN, PARALISIA CEREBRAL E RETARDO MENTAL
ATENDIDOS NO PAOPE DA UNIVALE, NO PERÍODO DE AGOSTO DE 2010
A SETEMBRO DE 2011
Bruna Dias Mendonça¹,
Fernanda Geórgia Werneck Mariano¹,
Laís de Jesus Vieira¹,
Larissa Latif Lucchesi Souto¹,
Vanessa Calazães Campos Lima¹,
Nízia Araújo Vieira Almeida².
RESUMO
O acompanhamento nutricional de pacientes com Paralisia Cerebral (PC), Síndrome de
Down (SD) e Retardo Mental (RM) é essencial desde os primeiros dias de vida por
apresentarem dificuldades motoras, dentre elas, dificuldades relacionadas à alimentação.
Muitas vezes, a falta de orientação acaba gerando uma alimentação inadequada,
prejudicando o desenvolvimento da criança. Este estudo teve por objetivo investigar o
perfil nutricional dos pacientes com PC, SD e RM atendidos no PAOPE, pela equipe da
nutrição no período de agosto de 2010 a setembro de 2011. Realizou-se um estudo
transversal, a partir da avaliação de prontuários de crianças, adolescentes e adultos
atendidos no PAOPE, da Universidade Vale do Rio Doce da cidade de Governador
Valadares - MG. Foram verificados as seguintes variáveis: tipo de patologia e sexo;
consistência da dieta; alimentos mais consumidos; peso, altura e idade. Do total de
pacientes atendidos no PAOPE (n=168), 23 foram atendidos pela nutrição. Destacou-se
o baixo peso entre os pacientes com PC (85,7%), sobrepeso e obesidade em SD (100%).
Em relação à consistência da dieta verificou-se que o tipo de dieta mais freqüente para
portadores de PC foi semi-pastosa e pastosa, sólida para SD e RM. Os alimentos mais
consumidos relatados pelos grupos foram cereais, carnes/leguminosas e leite e
derivados, para PC, SD e RM. Conhecer o estado nutricional dos pacientes é um valioso
instrumento para a determinação terapêutico clínica e dietética a ser empregada. A
reeducação alimentar deve ser gradual e contínua, portanto o acompanhamento de um
nutricionista durante o processo de incorporação de bons hábitos alimentares é essencial
à melhoria da saúde desses pacientes.
Palavras chaves: Pacientes especiais. Estado nutricional. Paralisia Cerebral. Síndrome
de Down. Retardo Mental.
¹ Acadêmicas do Curso de Nutrição, da Universidade vale do Rio Doce.
Email: [email protected]
² Orientadora Professora Mestre do Curso de Nutrição, da Universidade Vale do Rio Doce.
Email: [email protected]
2
INTRODUÇÃO
Pacientes com necessidades
especiais estão cada vez mais presentes
na prática diária do profissional da
saúde, exigindo maior qualificação
deste profissional além de adequação
ergonômica dos locais de atendimento.
A equipe de saúde trabalha de
forma integrada, empregando várias
técnicas de abordagem e estratégias
clínicas e ambulatoriais com vistas aos
pacientes especiais, que são assistidos,
juntamente com seus familiares, em
suas relações psicossociais, econômicas
e culturais, buscando minimizar as
inúmeras dificuldades apresentadas por
estes clientes.
A Universidade Vale do Rio
Doce (UNIVALE) possui um setor
destinado ao atendimento de indivíduos
com necessidades especiais do
município de Governador Valadares e
sua região, o PAOPE (Pólo Integrado de
Assistência Odontológica ao Paciente
Especial) possui uma equipe
multiprofissional em que integram
odontólogos, enfermeira,
fonoaudióloga, médico, nutricionista,
psicólogo, assistente social, terapeuta
ocupacional, fisioterapeuta e
acadêmicos dos cursos de saúde
(odontologia, enfermagem, nutrição e
psicologia) que assistem pacientes
portadores de deficiência mental “pura”
ou associada a outras patologias, sendo
as de maiores prevalências os casos com
Síndrome de Down (SD), Paralisia
Cerebral (PC) e Retardo Mental (RM).
Descoberta em 1959, a SD foi
identificada pela primeira vez por John
Langdon Haydon Down e em 1866, foi
nomeada Síndrome de Down,
caracterizando-a não como uma doença,
mas sim um acidente genético que
ocorre por ocasião na formação do bebê
no início da gravidez (SIMÕES, 2010
apud MOREIRA E GUSMÃO, 2002).
A SD apresenta um erro na distribuição
dos cromossomos, ao invés de ocorrer
46 cromossomos em cada célula (23 da
mãe e 23 do pai, que formam 23 pares),
o indivíduo apresenta 47 cromossomos.
O elemento extra fica unido ao par
número 21, por isso o nome trissomia
21, sendo a incidência da SD de 1 a
cada 700 a 800 nascimentos (SIMÕES,
2010 apud, NASCIMENTO, 2004).
Os indivíduos que apresentam
SD possuem características peculiares
no desenvolvimento físico e intelectual
como baixa estatura, retardo mental,
3
fenda inclinada dos olhos, dobras
epicantais, pequena cavidade oral, ponta
nasal achatadas, mãos curtas e largas,
dedos e pés curtos, largos e grossos,
hiperextensibilidade ou
hiperflexibilidade das articulações e
hipotonia (KRAUSE, 2010).
A Paralisia Cerebral (PC) se
caracteriza como uma desordem do
tônus, do movimento e da postura de
caráter não progressivo devido a uma
lesão que afeta o cérebro, durante a
maturação do Sistema Nervoso Central
(SNC). Esta lesão provoca uma
debilitação na coordenação da ação
muscular com resultante incapacidade
da criança em manter posturas e realizar
movimentos normais (VIVONE et. al.
2007 apud BARBOSA, 2003).
A incidência da PC varia em
diferentes estudos, mas a taxa mais
comumente encontrada é de 2 a 3 a cada
1000 nascidos vivos. Qualquer agente
capaz de lesar o encéfalo da concepção
à primeira infância é considerado como
causa da PC. Podem ser citados os
fatores Pré-Natais (infecções,
toxoplasmose, desnutrição materna),
perinatais (anóxia, hemorragia
intracraniais) e Pós-Natais (traumas
cerebrais e meningites) (KRAUSE,
2010).
A PC pode ser de diversos tipos,
sendo classificadas de acordo com os
sinais neurológicos ligados ao tônus
muscular e com os padrões e posturas
motoras anormais: tetraparético,
diparético, hemiparético, atetóide e
misto (CARAM, 2010).
A deficiência intelectual ou
mental, ou ainda Retardo Mental (RM)
é conhecida por problemas com origem
no cérebro e que causam baixa
produção de conhecimento, dificuldade
de aprendizagem e um baixo nível
intelectual. Entre as causas mais
comuns deste transtorno estão os fatores
de ordem genética, as complicações
ocorridas ao longo da gestação ou
durante o parto e os pós-natais. O
grande enigma que se coloca diante dos
pesquisadores é como detectar ainda na
vida intra uterina estas características
(SANTANA, 2009).
O diagnóstico de RM é definido
com base em três critérios: início do
quadro clínico antes de 18 anos de
idade; função intelectual
significativamente abaixo da média,
demonstrada por um quociente de
inteligência (QI) igual ou menor que 70;
e deficiência nas habilidades adaptativas
em pelo menos duas das seguintes
áreas: comunicação, auto cuidados,
4
habilidades sociais/interpessoais, auto-
orientação, rendimento escolar,
trabalho, lazer, saúde e segurança. Sua
incidência afeta 2,5 a 3% da população
(VASCONCELOS, 2004).
Embora seja possível identificar
a maior parte dos casos de deficiência
mental na infância, infelizmente este
distúrbio só é percebido em muitas
crianças quando elas começam a
frequentar a escola. Isso acontece
porque esta patologia é encontrada em
vários graus, desde os mais leves,
passando pelos moderados, até os mais
graves (VASCONCELOS, 2004).
O acompanhamento nutricional
de pacientes com SD, PC e RM é
essencial desde os primeiros dias de
vida por apresentarem dificuldades
motoras, dentre elas, dificuldades
relacionadas à alimentação. Muitas
vezes pela falta de orientação, as mães
e/ou cuidadores acabam proporcionando
uma alimentação inadequada
prejudicando o desenvolvimento da
criança (MOURA et. al. 2009).
Desta forma, percebendo a
importância da nutrição para estes
pacientes, o presente estudo propôs
investigar o perfil nutricional dos
pacientes com PC, SD e RM atendidos
no PAOPE, pela equipe da nutrição no
período de agosto de 2010 a setembro
de 2011, visando um maior
conhecimento da clientela atendida para
proposição de intervenções mais
adequadas.
METODOLOGIA
O presente trabalho de
delineamento transversal avaliou
prontuários de crianças, adolescentes e
adultos atendidos no PAOPE, da
Universidade Vale do Rio Doce da
cidade de Governador Valadares - MG,
no período de agosto de 2010 a
setembro de 2011.
A primeira ação dos
pesquisadores foi à elaboração de uma
carta solicitando a coordenadora do
setor autorização para a realização das
avaliações dos prontuários (ANEXO 1).
Verificou-se nos prontuários
selecionados as seguintes variáveis: tipo
de patologia (PC, SD e RM); sexo;
consistência da dieta (líquida, pastosa,
semi-sólida e sólida); alimentos mais
consumidos; peso, altura, idade (em
meses) e data da consulta para
classificação do estado nutricional.
5
Na avaliação do estado
nutricional dos portadores de SD,
utilizou-se as curvas propostas por
Cronk et al, e recomendada pelo Center
for Disease Control and Prevention
(CDC). Estas curvas foram elaboradas a
partir de dados da população americana
para avaliação dos portadores de
Síndrome de Down quanto a peso e
comprimento/ estatura de crianças e
adolescentes de 1 mês a 18 anos
(CRONK et. al., 1988).
Na avaliação de portadores de
PC e RM utilizou-se referencial
antropométrico publicado pela
Organização Mundial da Saúde (WHO,
2007), pelos índices antropométricos
IMC/I (Índice de Massa Corporal por
Idade) A/I (Altura por Idade. Para os
adultos, foi considerado o IMC e os
pontos de corte propostos pela OMS
(Organização Mundial de Saúde), a
saber: < 18,5: Baixo peso; 18,5 – 24,9:
Adequado; 24,9 – 29.9: Sobrepeso, 30 –
34,9: Obesidade Grau I; 35 – 39,9:
Obesidade Grau II; > 40: Obesidade
Grau III (WHO, 1995).
Na avaliação dietética, a
freqüência alimentar referida pelo
responsável do paciente foi avaliada em
função dos grupos de alimentos, de
acordo com o Guia Alimentar para a
População Brasileira (BRASIL, 2005).
Para a avaliação dietética, foi
considerado o consumo diário ou mais
de três vezes por semana.
RESULTADOS
No período de agosto de 2010 a
setembro de 2011, foram atendidos pelo
PAOPE 168 pacientes portadores de
diversas patologias: 53 (31,55%) com
PC, 21 (12,5%) com SD, 35 (20,83%)
com RM e 59 (35,12%) com outras
patologias.
Dos pacientes com PC (n=53),
26,42% (n=14) foram atendidos pela
equipe de nutrição, sendo 8 do sexo
masculino e 6 do sexo feminino.
Verificou-se que todos do sexo
masculino apresentaram baixo peso
(BP) e no sexo feminino, quatro com
baixo peso (BP), um com eutrofia (E) e
um com sobrepeso (SO) (TABELA 1).
Dos pacientes com SD, quatro
tiveram atendimento nutricional: 3 do
sexo masculino e 1 feminino. Todos do
sexo masculino apresentaram obesidade
6
(O) e a paciente sobrepeso (SO)
(TABELA 1).
Dos pacientes portadores de
RM, cinco foram atendidos pela equipe
de nutrição: um do sexo masculino e
quatro femininos. O paciente apresentou
sobrepeso (SO) e as do sexo feminino
duas apresentaram baixo peso (BP),
uma eutrofia e uma classificada como
obesa (O) (TABELA 1).
PC SD RM
SEXO F SEXO M SEXO F SEXO M SEXO F SEXO M
BP 04 08 - - 02 -
E 01 - - - 01 -
SO 01 - 01 - - 01
O - - - 03 01 -
TOTAL 06 08 01 03 04 01
TABELA 1 – Estado Nutricional dos pacientes portadores de PC, SD e RM atendidos pela equipe de
nutrição no PAOPE, no período se agosto de 2010 a setembro de 2011.
Fontes: Dados da pesquisa
Do total de pacientes que foram
avaliados pela nutrição, verificou-se que
91,3% apresentaram alguma alteração
nutricional: déficit ou excesso de peso.
Em relação à consistência da
dieta, verificou-se que os pacientes
portadores de PC 35,71% (n=5)
consumiam dieta do tipo semi-pastosa,
42,86% (n=6) do tipo pastosa e 21,43%
(n=3) sólida. Já os pacientes portadores
de SD 100% (n=4) consumiam dieta do
tipo sólida. Os portadores de RM, 20%
(n=1) consumiam dieta do tipo pastosa e
80% (n=4) do tipo sólida (GRÁFICO
1).
7
Gráfico 1 – Consistência da dieta consumida pelos portadores de PC, SD e RM.
Fonte: Dados da pesquisa.
Na avaliação dietética, conforme
informações da mãe e/ou responsável
pelo paciente verificou-se que os
alimentos mais consumidos pelos
portadores de PC foram: cereais,
carnes/leguminosas, leite e derivados;
os com SD foram cereais,
carnes/leguminosas e leite/derivados, e
os portadores de RM: os cereais,
carnes/leguminosas, leite e derivados.
Gráfico 2 – Frequência alimentar diária ou mais de três vezes por semana, dos portadores de PC, SD e
RM.
Fonte: Dados da pesquisa
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Líquida Semi-Pastosa Pastosa Sólida
PC
SD
RM
0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%
100%
PC
SD
RM
8
A idade dos pacientes atendidos
pela equipe de nutrição oscilou entre 04
e 16 anos (PC); 08 e 24 anos (SD) e 10
a 15 anos (RM).
DISCUSSÃO
O resultado, apresentado na
Tabela – 1 mostrou que os pacientes
portadores de PC apresentaram um alto
índice de baixo peso.
A dificuldade em alimentar
pacientes com problemas neurológicos é
comum. A gastrostomia pode ser
indicada quando a via oral é
inadequada, a criança apresenta baixo
peso ou quando é frequente a aspiração
e o estresse durante a alimentação
(CARAN, 2006).
Em estudo de STEVENSON
(1995), foi observado que 19% das
crianças tinham peso/altura abaixo do
percentil 50 para a idade. O autor
ressaltou que crianças com PC
normalmente têm deficiência no
crescimento, sendo importante seu
acompanhamento. Além disso, relatou
que crianças com PC desenvolvem
problemas nutricionais frequentes
necessitando de intervenção nutricional,
como inclusão de alimentos calóricos,
utilização de suplementos e o uso de
sondas.
Para os pacientes com SD foi
observado um maior índice de
obesidade. Portadores desta síndrome
apresentam maior probabilidade da
disfunção da tireóide, o hipotireoidismo,
que pode ser a causa de obesidade e
sobrepeso e também pela deficiência de
zinco mineral que participa como
cofator da deiodinase II, uma das
enzimas que regula a conversão de
tiroxina (T4) a triiodotironina (T3).
Ainda em consequência da taxa
metabólica basal ser mais lenta, é
presente a compulsão alimentar, a
dificuldade na mastigação e a hipotonia
geral dos músculos, incluindo aqueles
envolvidos na digestão que podem
contribuir para excesso de peso
(MARQUES et al, 2006 apud
MARREIRO, 2004). Por serem flácidos
tais músculos, a sensação de saciedade é
reduzida após uma refeição e os
portadores desta síndrome, tendem a
9
comer de forma compulsiva (MOURA
et al, 2009 apud FSDOWN, 2009).
Os estudos têm mostrado
elevada prevalência de obesidade nessa
população em relação à desnutrição
(MOURA et al, 2009 apud, MOREIRA,
2007). O excesso de peso em pacientes
portadores de SD contribui para o
agravamento de problemas cardíacos e
dificulta o desenvolvimento motor
(andar, correr, saltar), (MOURA et al,
2009 apud FSDOWN, 2009).
Pacientes com RM apresentaram
diversidade quanto à classificação do
estado nutricional. Os pacientes dessa
patologia apresentam baixo peso que
pode ser devido a dificuldades na
aceitação dos alimentos, em função da
introdução inadequada. Alguns
pacientes apresentaram sobrepeso e
obesidade por terem um distúrbio
alimentar compulsivo (ANTUNES et. al
2010).
Considerando o elevado
percentual de pacientes com alterações
nutricionais encontrados no presente
estudo (91,3%), verifica-se a
necessidade de uma participação mais
efetiva da equipe de Nutrição, para a
avaliação e acompanhamento
nutricional de um maior número de
pacientes atendidos pelo PAOPE.
Atualmente, a carga horária para o
atendimento nutricional é pequena,
mostrando-se insuficiente para a
demanda. É importante ressaltar que o
percentual encontrado pode estar
superestimado, em função de ser uma
clientela encaminhada por outros
profissionais da equipe, que
provavelmente verificaram alguma
alteração nutricional. Há necessidade,
portanto, de um estudo mais abrangente,
incluindo toda a clientela atendida.
Em relação à consistência da
dieta consumida pelos portadores de
PC, SD e RM, mostradas no Gráfico 1,
observou-se que a dificuldade motora
básica das crianças com PC pode afetar
a função motora oral, influenciando no
desempenho das funções alimentares de
sucção, mastigação e deglutição,
desenvolvendo também alterações
articulatórias e respiratórias, entendida
como os aspectos motores e sensoriais
das estruturas da cavidade oral e da
faringe até a entrada do esôfago
(VIVONE et.al, 2007 apud CESA et.al
2004).
Os sintomas usualmente
observados nesses casos são
regurgitação, dificuldade de deglutir a
própria saliva, tosse no momento da
alimentação e instabilidade respiratória
10
ou apneia, dentre outros, que podem
gerar aversão para comer determinados
alimentos, levando a um maior tempo
despendido com a alimentação e a
necessidade de dieta especial, diferente
da utilizada pelo restante da família.
Estes sintomas acabam gerando uma
situação de tensão e ansiedade dos pais,
o que torna o ato de comer difícil,
cansativo e de pouco prazer (AURÉLIO
et. al. 2002). Tais situações justificam a
preferência dos pais e/ou cuidadores em
oferecer uma alimentação semi-pastosa
ou pastosa para os portadores de PC.
Para os pacientes portadores de
SD, Gráfico 1 verificou-se que todos se
alimentam por dietas sólidas. A
alimentação de portadores da Síndrome
de Down segue os princípios da
alimentação saudável. A dieta deve ser
fracionada ao longo do dia para que
sejam evitados os excessos em cada
refeição. Os pais devem proporcionar
um ambiente calmo e a criança deve
mastigar bem os alimentos e comer
devagar (VIEIRA et. al, 2009).
As refeições devem ser
equilibradas e planejadas de acordo com
as características específicas como peso,
estatura e após análise de exames
laboratoriais. Em geral, os pratos devem
ser atrativos e coloridos e deve-se
incentivar o consumo de frutas,
hortaliças e restringir a quantidade de
massas, doces e refrigerantes.
A dieta rica em fibras é indicada
não somente para controle da
quantidade ingerida (já que promove
saciedade) como também para auxiliar
no trânsito intestinal. Deve ser
acompanhada de líquidos,
especialmente água e sucos naturais
(VIEIRA et. al, 2009).
Verificou-se nos pacientes com
RM apresentam boa freqüência na
ingestão alimentar sendo parecida com
SD, ou seja, apresentaram uma
alimentação normal.
Problemas comuns encontrados
estão relacionados ao padrão alimentar,
como: mastigação inadequada e rápida,
nausear, comer compulsivamente,
cuspir e grande seletividade alimentar,
nesse caso, o desinteresse pelo
alimento, recusa em comer, pouco
apetite ou excesso de apetite
(BANDINI, 2009).
Em outros casos, como na
deficiência mental, sabe-se que parte
das crianças tem grandes chances de
desenvolver algum distúrbio de
deglutição, podendo evoluir para
11
desnutrição, desidratação, aspiração e
pneumonia (BANDINI, 2009).
De acordo com o Gráfico 2, os
portadores de PC apresentam consumo
alimentar frequente dos diversos grupos
de alimentos.
Não foi verificado na literatura
pesquisada, relatos de preferência dos
pais e/ou cuidadores de pacientes
portadores de PC por grupos específicos
de alimentos. Percebeu-se que seus
familiares preferem oferecer alimentos à
base de: cereais, leite/derivados,
seguidos de carne/leguminosas e
hortaliças.
Pacientes portadores de SD
apresentaram variabilidade em relação
aos grupos alimentares. Segundo a
percepção de grande parte das mães, a
compulsão alimentar caracterizada pela
ingestão de grande quantidade de
alimento por um curto período de tempo
está presente no cotidiano de seus
filhos. Fato importante a ser
considerado, pois a compulsão
alimentar é tida como um fator
etiológico da obesidade no período da
adolescência e vida adulta e por isso
merece a atenção dos estudiosos no
assunto (THEODORO et.al. 2009).
Em relação ao tipo de alimento,
os portadores de SD preferem massa,
seguida de carnes, salgadinhos,
refrigerante e legumes, com indicações
de chocolates por último frutas
(THEODORO et.al. 2009). No entanto
não foi possível afirmar a preferência
por doce/gordura nos pacientes
estudados, uma vez que essas
informações não foram relatadas pelos
pais e/ou cuidadores.
Verificou-se nos pacientes com
RM que os mesmos apresentaram boa
frequência alimentar em todos os
grupos de alimentos. No entanto, de
acordo com BANDINI (2009),
geralmente o paciente com RM desde a
infância é bastante restritivo a variedade
de alimentos, o próprio cuidador acaba
deixando de estimular o consumo das
variedades, excluindo, às vezes, grupos
de alimentos do consumo diário,
comprometendo seu estado nutricional.
Outra observação relevante é sobre o
consumo excessivo dos alimentos
industrializados, como salgadinhos de
pacote e biscoitos recheados.
Aparentemente, o sabor desses
alimentos agrada muito os pacientes
com RM e seus cuidadores acabam
oferecendo freqüentemente.
12
O pequeno número de pacientes
atendidos pela nutrição se dá pelo curto
tempo de permanência da equipe no
setor, estando presentes 4 horas
semanais. Uma outra questão é a equipe
de nutrição atender somente pacientes
encaminhados por outros profissionais.
No entanto, perceber-se a
necessidade de um tempo maior de
permanência da equipe de nutrição para
alcançar um maior número de pacientes
atendidos, visto que a maioria dos
pacientes avaliados possui alterações
nutricionais.
CONCLUSÃO
Conhecer o estado nutricional
dos pacientes é um valioso instrumento
para a determinação terapêutico clínica
e dietética a ser empregada para a
correção do déficit observado.
Todo trabalho deve ser voltado a
atender as necessidades dos pacientes
com PC, SD e RM, ajustando à sua
realidade, sempre com o envolvimento e
comprometimento dos familiares ou
cuidadores. A rotina diária nem sempre
é fácil e mudar hábitos, como reduzir
quantidades, incorporar novos alimentos
ou preparações, alterar texturas e
sabores, geralmente demanda paciência
e dedicação, habilidades que devem ser
trabalhadas para o bem-estar e
manutenção do estado nutricional deles.
Uma nutrição adequada
proporcionará melhores condições de
saúde e evitará problemas futuros. A
incorporação de bons hábitos
alimentares deve ser gradual e contínua,
portanto a orientação de um
nutricionista é essencial durante o
processo de reeducação alimentar.
Para uma melhor intervenção
nutricional dos pacientes atendidos no
PAOPE é necessário maior tempo de
permanência da equipe de nutrição no
setor, incluindo todos os pacientes em
uma triagem nutricional, priorizando
aqueles com algum comprometimento
do estado nutricional. Dessa forma, os
cuidadores terão orientações
nutricionais adequadas e oportunas, de
forma à obtenção de uma alimentação
saudável, o que possibilitará uma maior
qualidade de vida para os pacientes
especiais.
13
NUTRITIONAL PROFILE OF PATIENTS WITH DOWN SYNDROME,
CEREBRAL PALSY AND MENTAL RETARDATION SERVED IN THE
PAOPE UNIVALE, DURING AUGUST 2010 TO SEPTEMBER 2011
ABSTRACT
The nutritional monitoring of patients with Cerebral Palsy (CP), Down Syndrome (DS)
and Mental Disorder (MD) is essential since the earliest days of life because they have
mobility problems, among them, problems related to food. Often the lack of orientation,
ends up contributing with an inadequate diet, damaging a child’s development. This
study claims to investigate the nutritional status of patients with CP, DS and MD seen at
PAOPE, the team of nutrition in the period from August 2010 to September 2011. It
was characterized by a cross-sectional study, based on the evaluation of medical records
of children, adolescents and adults treated at PAOPE, University of Vale do Rio Doce
of the city of Governador Valadares – MG. Verified: the type of pathology sex,
consistency of diet, foods consumed, weight, height and age. Of all patients treated at
PAOPE (n=168), 23 were treated by nutrition. Stood out among the low weight patients
with CP (85,7%), overweight and obesity in DS (100%). Regarding the consistency of
the diet was found that the most frequent type of diet for patients with CP was semi-
pasty and pasty, solid for DS and MD. The foods consumed were reported food to group
CP, to group DS were cereals, eat/vegetables and dairy products, group MD were
cereals. Meat/ vegetables and dairy products. Knowing the nutritional status of patients
is a valuable tool for determining clinical and therapeutic diet to be used. The dietary re-
education should be gradual and continuous, so tracking a nutritionist during the process
of incorporating good eating habits is essential to improving the health of these patients.
Keywords: Special patients. Nutritional status. Cerebral Palsy. Down Syndrome.
Mental Disorder.
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