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PERGUNTAS E RESPOSTAS V encidos os desafios da infância e da adolescência, chega a hora de enfrentar a vida adulta. Para quem convive com jovens autistas, pen- sar sobre essa fase pode ser difícil, mas faz parte do processo. Saiba mais sobre algumas questões que são motivos de dúvida quando se fala da vida adulta! Autistas podem se tornar independentes? Apesar de desafiador, é possível que mesmo autistas de alto comprometimento desenvolvam atividades de forma independente, respeitadas suas dimensões e situação. Segundo a supervisora do método ABA, Julia Sargi, aqueles sem comprometimento cognitivo podem tornar-se adultos com alto nível de in- dependência. Autistas com comprometimento cognitivo baixo ou barreiras de comunicação também podem ter uma vida mais autônoma. “Com a intervenção terapêutica correta, podem trabalhar, desenvolver hobbies, fazer suas pró- prias compras e ter autocuidado. A diferença é que nesses casos, o acompanhamento do profissional deve ser mais frequente e sistema- tizado para que o adulto possa desenvolver e realizar suas atividades”, explica. Quando se trata de graus mais severos, ainda é possível falar sobre independência. A supervisora explica que essa autonomia “pode permear, prioritariamente, atividades da vida diária dentro de casa e desenvolvimento de práticas de autocuidado”. TEXTO THAINá ZANFOLIN DESIGN ADRIANA OSHIRO As principais questões sobre o desenvolvimento dos autistas na vida adulta explicadas por especialistas Depois de GRANDE Podem morar sozinhos? De acordo com a psicóloga Marina Leal, autistas com baixo com- prometimento podem, sim, morar sozinhos, mas explica que estudos indicam que o número é baixo. “Tudo depende do nível de desenvolvi- mento e grau de dificuldade”, explica. Ainda de acordo com a especialista, muitos continuarão a morar com seus pais mesmo tendo emprego; já outros podem viver em residências terapêuticas, onde receberão o apoio necessário.

perguntas e respostas Depois de - Grupo Conduzir · dos autistas na vida adulta explicadas por especialistas Depois de grAnde Podem morar sozinhos? De acordo com a psicóloga Marina

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Page 1: perguntas e respostas Depois de - Grupo Conduzir · dos autistas na vida adulta explicadas por especialistas Depois de grAnde Podem morar sozinhos? De acordo com a psicóloga Marina

perguntas e respostas

Vencidos os desafios da infância e da adolescência, chega a hora de enfrentar a vida adulta. Para quem convive com jovens autistas, pen-

sar sobre essa fase pode ser difícil, mas faz parte do processo. Saiba mais sobre algumas questões que são motivos de dúvida quando se fala da vida adulta!

Autistas podem se tornar independentes?Apesar de desafiador, é possível que mesmo

autistas de alto comprometimento desenvolvam atividades de forma independente, respeitadas suas dimensões e situação.

Segundo a supervisora do método ABA, Julia Sargi, aqueles sem comprometimento cognitivo podem tornar-se adultos com alto nível de in-dependência. Autistas com comprometimento cognitivo baixo ou barreiras de comunicação também podem ter uma vida mais autônoma. “Com a intervenção terapêutica correta, podem trabalhar, desenvolver hobbies, fazer suas pró-prias compras e ter autocuidado. A diferença é que nesses casos, o acompanhamento do profissional deve ser mais frequente e sistema-tizado para que o adulto possa desenvolver e realizar suas atividades”, explica.

Quando se trata de graus mais severos, ainda é possível falar sobre independência. A supervisora explica que essa autonomia “pode permear, prioritariamente, atividades da vida diária dentro de casa e desenvolvimento de práticas de autocuidado”.

TexTo ThAiná ZAnfolin Design AdriAnA oshiro

As principais questões sobre o desenvolvimento dos autistas na vida adulta explicadas por especialistas

Depois de grAnde

Podem morar sozinhos?De acordo com a psicóloga Marina Leal, autistas com baixo com-

prometimento podem, sim, morar sozinhos, mas explica que estudos indicam que o número é baixo. “Tudo depende do nível de desenvolvi-mento e grau de dificuldade”, explica. Ainda de acordo com a especialista, muitos continuarão a morar com seus pais mesmo tendo emprego; já outros podem viver em residências terapêuticas, onde receberão o apoio necessário.

Page 2: perguntas e respostas Depois de - Grupo Conduzir · dos autistas na vida adulta explicadas por especialistas Depois de grAnde Podem morar sozinhos? De acordo com a psicóloga Marina

Desafios Do Dia a Diaalgumas situações já são árduas por si só, mas podem parecer um “bicho de sete--cabeças” para quem vive dentro do espec-tro. por isso, Mari-na dá algumas dicas para enfrentar alguns momentos!entrevista de empre-go ou novo trabalho: procurar conhecer mais sobre o local da entrevista, sobre a empresa contratante, assistir a vídeos do local e/ou ver fotos. É importante saber sobre a cultura da empresa e, se neces-sário, trabalhar em terapia essa questão. eventos com muitas pessoas: antes do autista participar de uma ocasião assim, é recomendado que ele procure saber qual o tipo de evento, o lo-cal, preparar-se para saber se o ambiente é aberto ou fechado e o que esperam dele nesse evento.

Consultoria Julia sargi, supervisora do método aBa, psicóloga e analista do comportamento; Marina Peres fanin Leal, psicóloga ilustrações Hans-Joerg Nisch, Kate Babiy/shutterstock images

Completam todas as etapas da escolarização?Quando se fala em educação, uma das dú-

vidas que cercam os pais é sobre a conclusão dos estudos. Referente a pessoas com grau de comprometimento leve ou moderado, “de forma geral, é possível que indivíduos com diagnóstico de autismo possam completar todas as etapas de ensino. O que vai mudar é o nível de adaptação do currículo acadê-mico e o grau de mediação que a pessoa irá precisar para completá-las”, diz Julia. Além

disso, autistas leves podem até mesmo frequentar o ensino superior e técnico.

Para aqueles com grau mais alto, o foco do ensino deve ser diferente, não visando apenas a simples con-clusão do currículo, mas pensando no desenvolvimento de habilidades para rotina e comunicação, para que consigam ter uma vida produtiva

e funcional, com mais autonomia e qualidade de vida.

Podem ter uma vida profissional?

Na opinião das especialistas, é possível desenvolver uma vida profissional, principal-mente quando o lado social é incentivado desde cedo. Marina também lembra que autistas tendem, no geral, a ser bastante dedicados ao trabalho.

Além disso, as pessoas do espectro se enquadram na Lei de Inclusão (13.146/2015), tendo direito de assumirem cargos destina-dos a pessoas com deficiência e receberem suporte. Confira mais sobre na matéria da página 24!

a psicóloga e

supervisora do método aBa, Julia sargi, diz que o

mais importante é ter foco em desenvolver a independência e

autonomia da pessoa desde cedo. “por meio da independência, podemos fazer nossas escolhas, ter acesso ao que nos

é de direito enquanto indivíduos pertencentes a uma comunidade e

sermos capazes de cuidar de nós mesmos”, explica

Podem ter vida sexual ativa?“É possível, desde que seja orientado”,

salienta Marina. Segundo as especialistas, é importante entender que a vida sexual está muito relacionada com a capacidade de de-senvolver os relacionamentos afetivos, que é uma das maiores dificuldades dos autistas.

Marina também explica que é fundamental que eles “sejam instruídos da maneira mais explícita possível do que é ou não adequado, o que se pode ou não fazer”.

Precisam de acompanhamento para sempre?As profissionais explicam que o acom-

panhamento na vida adulta colabora para o desenvolvimento de habilidades que contri-buam para bem-estar, autonomia e relaciona-mentos, por exemplo. Como cada indivíduo apresenta diferentes necessidades, é preciso avaliar qual tipo de assistência ainda será fundamental. “É importante ressaltar que o Analista do Comportamento deverá estar sempre presente para direcionar os objetivos e o formato de ensino de repertórios que serão primordiais para o relacionamento social da pessoa”, diz Julia.