41
I Mestrado Integrado em Medicina Dentária Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento Joana Filipa Pereira Teixeira A20188 ORIENTADOR: Professora Doutora Cristina Coelho Ano académico: 2017/2018 INSTITUTO UNIVERSITÁRIO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

I

Mestrado Integrado em Medicina Dentária

Pericoronarite:

etiologia,

complicações e

tratamento Joana Filipa Pereira Teixeira

A20188

ORIENTADOR: Professora Doutora Cristina Coelho

Ano académico: 2017/2018

INSTITUTO UNIVERSITÁRIO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

Page 2: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

II

Page 3: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

III

Page 4: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

IV

Page 5: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

V

Page 6: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

VI

Page 7: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

VII

Agradecimentos

Gostaria de agradecer em primeiro lugar aos meus pais por me terem proporcionado este

ensino de excelência, por me terem apoiado incondicionalmente e por acreditarem em

mim. Sem eles nada disto teria sido possível.

Ao meu irmão Pedro quero agradecer tudo o que sempre fez por mim, ter-me apoiado em

todo o meu percurso e por nunca me deixar desanimar.

A toda a minha família o meu obrigada.

A todos os meus amigos que estiveram comigo em todos os bons e maus momentos, que

acompanharam a minha mudança de curso, aos que mudaram de curso comigo, aqueles

que viveram as melhores experiências comigo, aos que acompanharam toda a minha vida

académica e pessoal, às meninas que viveram comigo, a todos aqueles que ficaram na

minha vida pela gratidão e amor que me deram: o meu obrigada.

Quero agradecer a todos os meus professores pelo que me ensinaram tanto a nível

profissional como pessoal, aos auxiliares da faculdade que sempre se prontificaram a

ajudar no que precisávamos.

Por fim, e não menos importante, gostaria de agradecer à minha orientadora, Professora

Doutora Cristina Coelho, por toda a dedicação e auxilio neste projeto.

Page 8: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

VIII

ÍNDICE GERAL

CAPÍTULO I- Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

1-INTRODUÇÃO ………………………………………………………………………………………………………………………1

2-OBJETIVO …………………………………………………………………………………………………………………………..3

3-METODOLOGIA ……………………………………………………………………………………………………………………4

4-DESENVOLVIMENTO …………………………………………………………………….............................................................5

4.1-As infeções odontogénicas …………………………………………………………………………………………………..5

4.2- Definição ………………………………………………………………………………………………………………………..5

4.3- Etiologia …………………………………………………………………………......................................................................6

4.4- Microflora normal da cavidade oral ………………………………………………………………………………………7

4.5- Microflora da Pericoronarite ……………………………………………………………………………………………….8

4.6- Anatomia do terceiro molar inferior ……………………………………………..............................................................9

4.7- Tipos de Pericoronarite ……………………………………………………………..............................................................11

4.7.1- Pericoronarite Aguda Congestiva ou Serosa …………………………………………………………………………12

4.7.2- Pericoronarite Supurativa Aguda ……………………………………………………………………………………….13

4.7.3- Pericoronarite Crónica …………………………………………………………………………………………………….14

4.8- Complicações - Manifestações clínicas comuns ……………………………………………………………………...14

4.9- Diagnóstico …………………………………………………………………………………………………………………….15

4.10- Tratamento ……………………………………………………………………......................................................................17

4.10.1- Terapia antimicrobiana ………………………………………………………….............................................................17

4.10.2- Terapia Cirúrgica …………………………………………………………………............................................................18

4.11- Prognóstico ……………………………………………………………………......................................................................19

4.12- A dor e a qualidade de vida ………………………………………………………...........................................................19

4.13- Terapia laser …………………………………………………………………………...........................................................20

5-CONCLUSÃO ………………………………………………………………………………...........................................................22

6-REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ………………………………………………………...........................................................23

Page 9: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

IX

CAPITULO II- Relatório das atividades práticas das disciplinas de Estágio supervisionadas

1-ESTÁGIO EM CLÍNICA GERAL DENTÁRIA ……………………………………………………………………………………25

2-ESTÁGIO EM CLÍNICA HOSPITALAR ………………………………………………………………………………………….25

3-ESTÁGIO EM SAÚDE ORAL E COMUNITÁRIA ………………………………………………………………………………26

Page 10: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

X

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1- Pericoronarite no terceiro molar inferior parcialmente erupcionado que origina uma inflamação nos tecidos adjacentes ao dente…………………………………………………………………………………………………6

Figura 2- Aspeto clínico característico de uma pericoronarite na forma serosa ……………………………………12

Figura 3- Pericoronarite supurada, mostrando inflamação com exsudado purulento por vezes presente, em torno do dente responsável……………………………………….………………………………………………………………13

Figura 4- Pericoronarite do tipo crónica……………………………………………………………………………………….14

Figura 5- Exame radiográfico – ortopantomografia demonstrando a incorreta posição do dente 48; posição propensa a uma infeção odontogénica………………………………………………………………………………………...16

Page 11: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

XI

Resumo

As infeções odontogénicas são uma das principais causas de procura, por parte de

um paciente, de uma consulta de Medicina Dentária. São normalmente o resultado de

diversas complicações, das quais podemos salientar a cárie, uma complicação de um

procedimento clínico dentário ou mesmo de uma pericoronarite. Esta complicação

infeciosa acarreta normalmente um conjunto de complicações como por exemplo, febre,

trismo, dor, mal-estar, dificuldade de deglutição, entre outros.

Para a realização deste Relatório Final de Estágio foi realizada uma pesquisa em

duas bases de dados creditadas, tendo originado na mesma a revisão de 24 artigos

científicos.

Verifica-se que o avanço da Medicina Dentária nas últimas décadas tem

proporcionado ao Médico Dentista um vasto leque de soluções para quando se depara

com um problema odontológico no consultório. O benefício da qualidade de vida do

doente passou a ter um papel fundamental na decisão face ao tratamento a adotar. O

tratamento da pericoronarite pode hoje ser realizado com diversos métodos, com

particular destaque para a laserterapia, dependendo do grau e do tipo de infeção do

paciente.

Palavras – chave: Pericoronarite; inflamação; etiologia; tratamento.

Page 12: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

XII

Abstract

Odontogenic infections are one of the main causes of a patient's search for a

Dental Medicine consultation. They are usually the result of several complications, of

which we can emphasize the caries, a complication of a clinical dental procedure or even

a pericoronaritis. This infectious complication usually entails a set of complications such

as fever, trismus, pain, malaise, difficulty in swallowing, among others.

For the accomplishment of this Final Report of Internship, a research was carried

out in two databases credited, having originated, in the same, the revision of 24 scientific

articles.

It has been verified that the advance of the Dental Medicine in the last decades

has provided to the Dentist Physician a wide range of solutions for when it is faced with a

dental problem in the office. The benefit of the quality of life of the patient had a

fundamental role in the decision regarding the treatment to be adopted. The treatment of

pericoronaritis can now be performed with several methods, with particular emphasis on

laser therapy, depending on the degree and type of infection of the patient.

Key Words: Pericoronitis; inflammation; etiology; treatment.

Page 13: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 1 -

Capítulo I- Pericoronarite, complicações e tratamento

1- Introdução

As infeções odontogénicas são uma das principais causas de procura de uma

consulta de Medicina Dentária, afetando indivíduos de todas as idades e são responsáveis

pela maior parte de prescrições de antibióticos 1. Muitos pacientes só procuram um

Médico Dentista quando o problema envolve dor. Uma das causas mais comuns que

envolve dor é a erupção dos terceiros molares 2.

Ao longo da evolução da espécie Humana a mandíbula e os dentes sofreram

alterações na sua forma, adquirindo na atualidade uma dimensão mais reduzida o que

leva a que hoje em dia o terceiro molar inferior tenha menos espaço para completar a sua

erupção 3. Os terceiros molares inclusos estão associados a riscos de muitos distúrbios e

complicações das quais podemos salientar a cárie, reabsorção radicular, problemas

periodontais e pericoronarite 4.

A pericoronarite pode ser descrita como um processo infecioso relacionado com os

tecidos moles que rodeiam a coroa de um dente, total ou parcialmente erupcionado 5;

estando relacionada essencialmente com os terceiros molares inferiores devido à sua

anatomia3.

Considera-se que apenas cerca de 20% dos terceiros molares tenham espaço para

poderem alinhar e erupcionar corretamente na arcada dentária 6.

A pericoronarite é uma infeção com uma ocorrência maior no género feminino

com uma diferença estatisticamente significativa face ao género masculino 5.

Esta pode ser causada por um acidente mecânico ou por uma infeção. No caso de

ser causado por uma infeção é produzida a partir de elementos infeciosos que circulam no

sangue ou daqueles que já existem na cavidade oral; pode também ser causada por

alterações vasomotoras criadas pela evolução do gérmen, com a consequente infeção do

rebordo fibromucoso. Atualmente é admitido que o ponto de partida para esta infeção

está localizado no saco pericoronário, onde se forma uma cavidade virtual que pode

infetar quando colocada em contacto com agentes infeciosos, seja por penetração direta

no saco ou através do segundo molar 7.

Page 14: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 2 -

A etiologia desta infeção pode ter origem numa colonização bacteriana ativa no

tecido que cobre o dente total ou parcialmente incluso. Por baixo desta mucosa

permeável, existe um espaço escuro, húmido, quente, protegido 6 e retentivo a alimentos o

que induz a proliferação bacteriana 5.

A cavidade oral é um local complexo e heterogéneo onde existem diversas

espécies de microrganismos, sendo o género Staphylococcus mais frequentemente

encontrado na pericoronarite 6.

A pericoronarite pode ser organizada clinicamente em vários tipos, podendo ser

aguda (serosa ou supurativa) ou crónica. A dor geralmente é o principal sintoma nas

formas agudas, enquanto na forma crónica pode apresentar pouca sintomatologia 8. A

condição patológica geralmente é crónica, onde os sintomas têm uma duração de vários

dias a semanas, com o risco de recorrência em menos de 12 meses 9.

A pericoronarite pode incluir os seguintes sinais e sintomas: lesões localizadas

avermelhadas, edemaciadas e dolorosas ao toque. Pode ser acompanhada de um

exsudado purulento, trismo, linfadenopatias, febre e mal-estar geral 10.

Page 15: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 3 -

2- Objetivos

Os objetivos do presente trabalho de revisão bibliográfica são:

- Descrever o que é a pericoronarite e os diversos graus de severidade desta infeção

odontogénica;

- Focar os aspetos envolvidos na etiologia desta infeção;

- Referir os sinais e sintomas, bem como as complicações associadas;

- Indicar os métodos de diagnóstico e o prognóstico dos diferentes tipos de

pericoronarite;

- Os diferentes tratamentos a adotar, salientando aqueles que podem produzir uma

melhoria da qualidade de vida destes pacientes.

Page 16: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 4 -

3- Metodologia

A pesquisa bibliográfica para a realização deste Relatório Final de estágio foi realizada

recorrendo às bases de dados da PubMed e Scielo utilizando as palavras-chave

Pericoronitis; inflammation; etiology; treatment.

A pesquisa foi limitada temporalmente aos anos 2000 até ao ano de 2017. Desta pesquisa

resultaram 644 artigos, dos quais 597 foram eliminados por fugirem do tema. Assim,

resultaram 47 artigos onde 24 foram eliminados por não se encontrarem disponíveis na

íntegra ou por não serem relevantes para o estudo. Ficaram assim incluídos nesta revisão

bibliográfica narrativa um total de 23 artigos.

Page 17: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 5 -

4- Desenvolvimento

4.1- As infeções odontogénicas

A incidência e a gravidade das infeções odontogénicas tem diminuído nos últimos 70

anos, embora não possamos subestimar a sua mortalidade e morbilidade. Estas podem ter

diversos graus de gravidade, podendo ser bastante complexas e exigir cuidados de saúde

mais específicos. As infeções odontogénicas são geralmente o resultado de uma

pericoronarite, cárie com exposição pulpar, periodontite ou até mesmo, o resultado de

uma complicação durante um procedimento médico-dentário 1.

Um estudo prospetivo do ano de 2006 relatou que a doença de origem dentária mais

frequente que levou a uma infeção odontogénica foi a cárie (65%), seguida de

pericoronarite (22%) e a doença periodontal (22%); estas percentagens totalizam mais de

100% pois várias doenças estavam presentes em concomitância em alguns pacientes. O

dente mais frequentemente envolvido foi o terceiro molar inferior (68%), seguido de

outros dentes posteriores inferiores11.

A indicação mais comum para extração foi a pericoronarite12.

4.2- Definição

A pericoronarite pode ser definida como uma inflamação dos tecidos moles que

rodeiam a coroa de um dente erupcionado ou parcialmente erupcionado (figura 1). Este

termo é também usado em relação ao opérculo do terceiro molar mandibular, pois

raramente é diagnosticado noutro lugar 13. Geralmente o terceiro molar mandibular é o

dente mais afetado, sendo esta uma infeção polimicrobiana 14. É observada normalmente

em pacientes jovens, entre a segunda e a terceira décadas de vida 6. É considerado o

acidente mucoso mais frequente na cavidade oral 3.

Page 18: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 6 -

4.3- Etiologia

A infeção é polimicrobiana, principalmente produzida por anaeróbios estritos e

produtores de beta lactamases 8.

A etiologia é produzida por um crescimento bacteriano ativo, num meio ideal que é o

espaço mole que cobre a coroa do molar, espaço esse que reúne as condições favoráveis à

proliferação bacteriana: espaço húmido, quente, escuro e propício a acúmulo de alimentos

6.

A pericoronarite afeta com maior frequência o terceiro molar inferior parcialmente

erupcionado, principalmente devido ao nicho ecológico favorável que se forma sobre a

mucosa que cobre o dente, que é suficientemente retentiva e profunda. Estes factos

constituem uma situação favorável para o estabelecimento e desenvolvimento de um

processo inflamatório de natureza recorrente 8.

A etiologia mais aceite para esta infeção é a invasão de microrganismos até ao

saco pericoronário que rodeia a coroa do dente retido onde existem condições favoráveis

ao crescimento bacteriano, que podem ser favorecidas pela irritação traumática. Este

acidente mecânico é produzido quando ocorre a erupção do terceiro molar superior que

na sua tentativa de articulação, traumatiza os tecidos do terceiro molar inferior durante

os movimentos mandibulares 3.

A pericoronarite pode ter origem num acidente traumático ou origem infeciosa 3.

Figura 1 – Pericoronarite típica; Terceiro molar inferior parcialmente erupcionado com inflamação.

Fonte: JLP Pérez, 2004

Page 19: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 7 -

A origem infeciosa, pode ser produzida a partir de agentes infeciosos que circulam

na corrente sanguínea ou daqueles que já existem na cavidade oral. Atualmente defende-

se que o ponto de partida desta infeção está no saco pericoronário (saco em volta da

coroa que forma uma cavidade que se pode infetar quando colocado em contacto com o

meio oral, diretamente ou através de penetração pelo segundo molar). Entre o dente

retido e o dente adjacente é criado um espaço quase fechado, protegido por uma bolsa ou

uma tampa mucosa que não tem tendência a retrair e onde os microrganismos se

multiplicarão 3.

A magnitude e a qualidade da resposta inflamatória local aos agentes patogénicos

colonizadores adjacentes a uma camada de células epiteliais gengivais, desencadeia a

produção de mediadores inflamatórios, do fluído crevicular gengival, principalmente de

células do sistema imunológico tais como os neutrófilos, linfócitos e monócitos 9.

Por origem traumática acontece quando o terceiro molar inferior (mais

frequentemente) ou outro dente retido, é encontrado coberto na sua porção coronária

pelo tecido fibromuscular adjacente, e o dente antagonista, durante a mastigação,

traumatiza com as suas cúspides esta fibromucosa, iniciando assim um processo

inflamatório, levando à infeção 3.

4.4- Microflora normal da Cavidade Oral

A cavidade oral possui um ambiente ecológico favorável ao estabelecimento de

múltiplos microrganismos, possuidora de uma variedade de géneros e espécies de

bactérias e fungos 3.

Num paciente saudável, a microflora é predominantemente de cocos Gram positivos,

em particular os do grupo de Streptococcus alfa e beta hemolíticos e não hemolíticos. As

espécies mais isoladas são Streptococcus viridans, Streptococcus mitis e Streptococcus

salivarius. Os microrganismos Gram positivos também incluem os do género Micrococcus

e várias espécies de Estreptococos anaeróbios. Além dos mencionados acima estão

presentes Staphylococcus aureus, Staphylococcus albus, espiroquetas de Vincent do

género Treponema e bacilos fusiformes. Os membros da microflora oral com ordem

seguinte em importância são os cocos de Gram negativo. Existem também espécies de

bactérias aeróbias e anaeróbias dos géneros Corynebacterium, Actinomyces, Lactobacillus,

Page 20: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 8 -

Rothia, Leptotrichia, Fusobacterium, Bacteroides, Veillonela e leveduras do género

Candida 3 .

Segundo Tomas D. Brock (2001) citado por EM López, YC Paulin, mencionado no seu

livro, a cavidade oral é uma das partes mais complexas e heterogéneas no nosso

organismo onde vivem microrganismos, dos quais predominam os anaeróbios e aeróbios,

estes últimos em menor número, que foram encontrados na microflora dentária 3.

4.5- Microflora da Pericoronarite

Hoje em dia é de conhecimento geral que os fatores de virulência dos microrganismos

que formam a placa bacteriana são as principais causas de doença periodontal e

pericoronarite. Na saúde, existe um equilíbrio entre esses fatores de virulência e o sistema

imunitário do hospedeiro, mas um desequilíbrio a favor dos fatores de virulência pode

levar à ocorrência de doença. O mecanismo de defesa contra a infeção pode ser local ou

sistémico, específico ou inespecífico, humoral ou celular. A patologia pode ser uma

consequência da resposta imune em doenças periodontais, e essas doenças fornecem um

modelo importante para a investigação do potencial patológico de infiltrados celulares

humanos 15.

A flora microbiana encontrada no terceiro molar inferior parcialmente erupcionado

pode ser significativamente diferente da microflora encontrada em outra parte da

cavidade oral e contém um vasto número de espécies altamente invasivas (Bacteroides) 3.

A pericoronarite é uma infeção polimicrobiana, a microbiota que se instala no tecido

infetado é constituída principalmente por microrganismos anaeróbios estritos (80%),

organismos microaerófilos e anaeróbios facultativos 8.

A bactéria Streptococcus alfa hemolítica é referenciada como o tipo de bactéria

predominante nesta infeção bem como as espécies pertencentes aos géneros

Propionibacterium e Actinomyces. O fator microbiológico mais relevante e significativo na

determinação do tratamento é a presença de bactérias produtoras de beta lactamases,

particularmente dos géneros Prevotella, Bacteroides e Fusobacterium, assim como outros

géneros Staphylococcus e Capnocytophaga. A presença deste tipo de bactérias pode levar

à falha do tratamento antimicrobiano. Antibióticos beta-lactâmicos são frequentemente

Page 21: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 9 -

utilizados para controlar os estágios agudos de pericoronarite e em geral para tratar

infeções causadas por microrganismos anaeróbios 8.

A microbiota localizada na parte distal do dente é considerada a principal causa de

infeção. A identificação das espécies colonizadoras é fundamental para efetuar um

correto regime de tratamento. Dependendo das técnicas utilizadas para a identificação foi

realizado um estudo por Metin S. et al em 2014, que refere que os principais

microorganismos detetados em pacientes com pericoronarite do terceiro molar inferior,

utilizando a técnica de reação em cadeia de polimerase em tempo real (RT-PCR) foram

Aggregatibacter actinomycetem-comitans (Aa), Campylobacter rectus (Cr), Fusobacterium

nucleatum (Fn), Porphyromonas gingivalis (Pg), Prevotella intermédia (Pi) e Tannerella

forsythia (TF). Esta última tem um papel importante no desenvolvimento dos sintomas da

pericoronarite 14.

4.6- Anatomia do terceiro molar inferior

A anatomia das estruturas maxilofaciais pode influenciar a propagação de uma

infeção odontogénica. Uma vez que o terceiro molar mandibular incluso é uma das causas

mais frequentes de uma infeção odontogénica, é importante entender a anatomia dessa

impactação dentária 16.

O terceiro molar está localizado num espaço limitado e apresenta os maiores

problemas de erupção. Então, é importante salientar as suas estruturas e relações

anatómicas 16.

A prevalência de disseminação de infeção depende da posição vertical na

ortopantomografia. Um terceiro molar completamente incluso é propenso com maior

frequência a uma infeção odontogénica face aos molares que têm uma correta posição na

arcada, ou seja, erupcionado 16.

A posição do segundo molar inferior limita o espaço para o terceiro molar inferior

poder ter uma posição vertical correta na arcada 3.

Por baixo, tem relação íntima com o nervo alveolar inferior, podendo por vezes as

raízes do dente atravessá-lo 3.

Por distal, tem relação direta com o ramo ascendente da mandíbula, um obstáculo

ósseo que impede uma boa posição na arcada 3.

Page 22: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 10 -

Por cima, é coberto por uma membrana mucosa, móvel e extensível. Esta mucosa

é extensível e não se retrai, o que torna1 possível distender-se e formar atrás do segundo

molar inferior um tipo de saco, onde os agentes infeciosos se podem multiplicar, portanto,

criar uma infeção localizada 3.

Por fora encontra-se o córtex externo, osso e lâmina compacta, sem estruturas

vasculares e nervosas 3.

Por dentro está o córtex interno, placa óssea fina e às vezes perfurada pelas

raízes, que separa o dente da região sublingual e do nervo alveolar 3.

Possui também relação íntima com as inserções musculares: por fora encontram-

se as fibras do masséter e por cima, na região alveolar, ao nível do sulco vestibular,

encontram-se as fibras do bucinador. No interior está relacionado com as inserções

pterigóides internas e posteriores do músculo milo-hioideo. Por cima e por distal estão as

fibras inferiores do músculo temporal 3.

A impactação parcial ou submucosa é referenciada como um fator de risco

significativo para pericoronarite aguda em terceiros molares mandibulares inclusos.

Quanto à posição vertical em radiografias panorâmicas, a pericoronarite ocorre

frequentemente quando o plano oclusal do dente em questão está situado ao mesmo

nível do plano oclusal ou entre o plano oclusal e a linha cervical do segundo molar,

respetivamente 16.

De acordo com um estudo sobre impactação de terceiros molares inferiores, a

prevalência de uma impactação submucosa é de 47%, impactação parcial 37% e uma

completa impactação ocorre em 18% 16.

Page 23: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 11 -

4.7- Tipos de Pericoronarite

Quando a capacidade de defesa do nosso organismo não consegue controlar a

agressão da infeção, a pericoronarite exacerba, podendo apresentar diversas formas:

pericoronarite aguda congestiva ou serosa, pericoronarite aguda supurativa e

pericoronarite crónica 6, consequência da evolução não tratada das duas formas

anteriores 8.

Os aspetos histopatológicos da pericoronarite não apresentam diferenças face àqueles

que ocorrem em qualquer processo inflamatório. O infiltrado inflamatório que se observa

está de acordo com o tipo de inflamação que o paciente tem, se for agudo com

predominância de neutrófilos, se for crónico com grande quantidade de células

mononucleares, linfócitos, células plasmáticas e macrófagos. Muitas vezes é observado

também uma redução do epitélio do órgão de esmalte que, por inflamação, sofre

alterações tais como hiperplasia ou ulceração 6.

Nos casos de pericoronarite aguda é possível observar uma gengiva retromolar

eritematosa, trígono eritematoso, marcado na sua superfície pelas cúspides dos molares

opostos, resultado do impacto da oclusão na mastigação, contribuindo assim para

intensificar a inflamação com o trauma gengival contínuo. As formas crónicas apresentam

pouca sintomatologia, apresentando desconforto leve mas constante 8.

Page 24: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 12 -

4.7.1- Pericoronarite Aguda Congestiva ou Serosa

Caracterizada por dores acentuadas durante a mastigação que podem ser

irradiadas para a faringe ou para o ramo ascendente da mandíbula, a mucosa eritematosa

atrás do molar, cobre uma parte da coroa do molar e às vezes sofre pressão pela cúspide

do molar antagonista. À palpação pode causar dor e sangramento, podendo palpar-se

uma adenopatia simples na cadeia ganglionar submandibular, que está localizada abaixo

do ângulo mandibular nos terceiros molares.

A evolução deste tipo de pericoronarite (Figura 2) é variável. Espontaneamente é

atenuada sob o efeito de um tratamento; inicialmente a dor desaparece, seguidamente,

mais lentamente, aparecem outros sinais inflamatórios locais. A pericoronarite pode

recidivar até que a coroa seja completamente formada e erupcionada, mas em toda a fase

da infeção esta pode transformar-se em pericoronarite supurativa aguda 3.

Figura 2 - Aspeto clínico característico de uma pericoronarite na forma serosa

Fonte: JLP Pérez, 2004

Page 25: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 13 -

4.7.2- Pericoronarite Supurativa Aguda

Esta forma de pericoronarite, tem como características dores mais intensas que

irradiam para a região das amígdalas e ouvido. Quando a região retromolar fica

edemaciada (Figura 3), e o eritema se difunde para a faringe e para o palato mole,

aparece o trismo (limitação da abertura da boca) e ocorre disfagia. É considerada uma

infeção mais grave, a palpação é mais dolorosa e a pressão em cima da mucosa que

recobre o dente provoca a saída de uma pequena quantidade de pus e há presença de

adenopatia na cadeia ganglionar submandibular dolorosa à palpação 3.

A evolução é semelhante à da forma congestiva ou serosa, podendo reverter, mas

é raro. As recidivas são separadas por períodos de acalmia variáveis, onde existe redução

da dor, e a transição para a forma crónica é frequente, embora a pericoronarite seja um

ponto de partida para uma complicação infeciosa mais grave: celular, mucosa, ganglionar

ou óssea 3.

Esta infeção pode ser agravada se estender à área do pilar anterior, espaços

pterigomandibulares, parafaríngeos, espaço submandibular, espaço bucal, espaço

infratemporal e temporal profundo, e pode também causar infeções profundas como a

osteomielite 3.

Figura 3- Pericoronarite supurada, mostrando por vezes inflamação evidente e pode ter presente pus em torno do dente responsável

Fonte: JLG Pérez, 2004

Page 26: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 14 -

4.7.3- Pericoronarite crónica

O sintoma mais atenuado é a dor retromolar intermitente. Às vezes é

acompanhada de trismo leve e temporário, pode ocorrer com ausência absoluta de

sintomas ou podem ser pouco marcados, tais como: halitose, faringite, gengivite,

adenopatia crónica ou abcessos unilaterais periamigdalínos 3.

O dente é coberto por uma mucosa eritematosa e edematosa sensível à pressão,

que, por vezes, deixa sair uma ou duas gotas de pus na superfície. Um sinal muito comum

de pericoronarite crónica é a faringite unilateral ser intermitente e recidivante. Se a coroa

do molar for exposta, a pericoronarite repete-se ou evolui rapidamente. É mais raro na

maxila pois os dentes têm menos dificuldades evolutivas, também são menos severas pois

a posição dos dentes possibilita uma melhor drenagem da infeção, o que limita os perigos

das complicações 3.

4.8- Complicações e Manifestações clínicas comuns

A sintomatologia deste processo infecioso abrange uma ampla gama de sinais e

sintomas clínicos, que às vezes se resolvem espontaneamente até um novo início, ou pelo

contrário, devido à sua intensidade, requerem uma poderosa cobertura analgésica que

controle a fase sintomática aguda 8.

A patologia que inclui o terceiro molar inclui numerosas complicações de

diferentes categorias, tais como complicações nervosas, mecânicas, tumorais, entre

Figura 4- Pericoronarite do tipo crónica

Fonte: JLP Pérez, 2004

Page 27: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 15 -

outras. Em particular, a patologia que acompanha a erupção do terceiro molar constitui

um dos processos mais limitadores para o paciente e de grande complexidade para a

parte clínica, podendo passar em poucas horas de uma infeção local a complicações

graves com comprometimento vital devido à relação íntima com estruturas cervicofaciais,

tendo em consideração a sua proximidade com estruturas respiratórias e de deglutição 8.

A pericoronarite tem manifestações clínicas comuns, independentemente da

apresentação clínica. É uma infeção que se observa na adolescência até ao inicio da idade

adulta, dos 20 aos 30 anos de idade e aparece mais frequentemente no terceiro molar

inferior. É característica a dor penetrante, o tecido pericoronário ruborizado e edemaciado,

podendo a inflamação estender-se aos tecidos adjacentes. Nesta situação, pode originar

amigdalite e abcesso peritonsilar ou faríngeo, pode haver a presença de pus, pode originar

dificuldade ao mastigar, está presente o trismo (limitação da abertura da boca), halitose,

disfagia, sensação de mal-estar associada a febre, hipertermia ou calafrios e

linfadenopatia cervical, mais frequente na cadeia submandibular, com nódulos linfáticos

dolorosos e endurecidos 3.

4.9- Diagnóstico

O diagnóstico da pericoronarite engloba um conjunto de passos, tais como:

Preparação da história clínica

Exame clínico

Exploração dos sintomas

Culturas e antibiograma

Imagiologia (raio-X periapicais e oclusais, maxilar obliquo lateral e panorâmico)

O raio-X não oferece um diagnóstico preciso de pericoronarite uma vez que este meio

auxiliar de diagnóstico não oferece informação sobre tecidos inflamados, mas permite

obter uma informação sobre a posição do dente (Figura 5), a forma da coroa e das raízes

e as suas relações anatómicas. Por isso, este meio de diagnóstico permite concluir que a

pericoronarite ocorre com maior frequência em terceiros molares com posição vertical e

com inclinação distal, perto ou no plano de oclusão e, ocasionalmente, com cárie na face

mesial 3.

Page 28: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 16 -

Uma vez realizado o diagnóstico é necessário estabelecer o prognóstico do dente,

avaliar as possibilidades de erupção na arcada dentária, possibilidade de recidiva da

infeção e as complicações, entre outros 3.

Figura 5 Exame radiográfico - ortopantomografia. Podemos observar a incorreta posição do dente 48; posição propensa a uma infeção odontogénica

Fonte: T Renton, 2016

Page 29: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 17 -

4.10- Tratamento

A flora microbiana da pericoronarite constitui um reservatório potencial de

microrganismos para a região orofaríngea. A identificação desta microflora e o

conhecimento da sua suscetibilidade aos antibióticos é essencial para adaptar o

tratamento 17.

4.10.1- Terapia farmacológica

Princípios base para a escolha do antibiótico:

Conhecimento da microflora normal da cavidade oral

Tipo de virulência do agente agressor

Resistência do hospedeiro

Dosagem do antimicrobiano contra o(s) organismo(s) responsável(eis) pela infeção

Presença de doenças congénitas ou adquiridas 3.

Segundo um estudo de Blakey et al (2012), citado por S Bradshaw, referia que a

remoção de terceiros molares de pacientes com pericoronarite pareceu ser efetiva na

alteração do biofilme, reduzindo a contagem de patogéneos anaeróbios para os níveis de

indivíduos controlo 18.

Medidas sintomatológicas: a forma congestiva aguda é a única suscetível a um

tratamento conservador puramente sintomático. É usado como fármaco de eleição o

Ibuprofeno em doses de 600 mg a cada oito horas, no mínimo durante 5 dias, não pondo

de parte a hipótese de uso de Paracetamol e o Dipiridamol, se o efeito do antinflamatório

não esteróide (AINE) for insuficiente 8.

Medidas antimicrobianas: há uma controvérsia quanto ao uso de antibióticos no

tratamento da pericoronarite. O seu uso é justificado em duas circunstâncias: profilaxia

pré-operatória ou para controlo da infeção 8.

Os casos de profilaxia pré-operatória acontecem quando se espera que a intervenção

represente um risco elevado de infeção pós-operatória, quer devido às características

Page 30: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 18 -

inerentes ao paciente (idade, doenças sistémicas contaminantes, imunossupressão, etc),

quer pelas características do terceiro molar (inclusões profundas onde se presume que

serão realizadas osteotomias extensas, terceiros molares com recidiva de infeção, etc).

Por outro lado, a extração complexa dos terceiros molares engloba uma cirurgia

contaminada pois a boca é um meio sético onde coexistem mais de 500 espécies

bacterianas. Nestes casos, é de interesse, do ponto de vista da otimização do efeito do

antibiótico, que ele atinja níveis séricos máximos durante o tempo de intervenção nos

casos mencionados. O profissional deve ser portador de um vasto conhecimento das

características farmacocinéticas e farmacodinâmicas dos antibióticos que prescreve para

ajustar as doses do mesmo para que esse efeito seja alcançado 8.

Em casos de controlo de infeção na pericoronarite supurativa em fase aguda, quando

por algum motivo, não é possível proceder à exodontia do molar a cirurgia deve ser adiada

até que o estágio agudo da infeção tenha sido controlado. Neste caso o uso de

amoxicilina + ácido clavulânico numa dose de 875mg/ 125 mg a cada 12 horas, durante 7

dias seria o indicado 3,8.

4.10.2- Terapia Cirúrgica

Medidas cirúrgicas: com a exceção dos terceiros molares em posição anatómica

favorável que causaram um ou dois episódios de pericoronarite leve, transitória e

congestiva, os dentes que causam patologia infeciosa mais severa e com repetições

frequentes têm indicação de exodontia. A pericoronarite é hoje em dia a causa mais

frequente para a extração de terceiros molares inclusos e os pacientes com infeções

recorrentes são os que mais beneficiam deste procedimento na sua qualidade de vida 8.

O tratamento cirúrgico é o mais utilizado nos molares inclusos 19. No entanto,

quando o terceiro molar estiver localizado na posição vertical pode optar-se pela remoção

do saco ou opérculo com bisturi ou eletrocirurgia. Nos casos em que a posição do dente é

paranormal, deve optar-se pela sua exérese.

Recentemente, o equipamento laser computadorizado tem sido utilizado no

tratamento cirúrgico da pericoronarite. O uso do laser de CO2 permite a cirurgia de tecidos

moles na cavidade oral com um menor número de complicações pós-operatórias. O

Page 31: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 19 -

critério do parâmetro ótimo na exposição ao laser depende do estado do processo

inflamatório e este método acelera o tratamento da pericoronarite e diminui o uso de

fármacos 3.

4.11- Prognóstico

O prognóstico destes pacientes é favorável porque, uma vez submetidos a tratamento

(cirúrgico ou medicamentoso) a sua saúde é restaurada e pode continuar com a sua vida

normal 3.

No entanto, a extração de terceiros molares inferiores inclusos ou parcialmente

inclusos, que estejam com relação íntima com o nervo alveolar inferior pode resultar

numa lesão do nervo temporária ou permanente 20.

4.12- A dor e a Qualidade de vida

Geralmente, os médicos dentistas associam a pericoronarite que afeta os terceiros

molares inferiores, com dor. Para aqueles que sofrem de dor, este é o sintoma que muitas

vezes os leva a procurar uma forma de tratamento. Como a dor resulta de uma resposta

inflamatória imunológica de um indivíduo para combater bactérias anaeróbias que

colonizam o biofilme que não podem ser eliminadas pelo terceiro molar sintomático, a

pericoronarite é denominada de doença periodontal sintomática 21.

Muitas vezes a inflamação não é acompanhada só de dor, no entanto esta é a maior

condicionante à qualidade e normalidade de vida num paciente afetado com esta doença

inflamatória 21.

O uso de medidas mais centradas no paciente em medicina dentária aumenta e as

avaliações da qualidade de vida relacionadas com a saúde oral têm sido utilizadas em

pesquisas de saúde oral e em ensaios clínicos. Essas avaliações desempenham um papel

importante na prática clínica em termos de identificação de necessidades, seleção de

terapias e acompanhamento do processo do paciente 22.

Page 32: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 20 -

O impacto da pericoronarite sintomática na qualidade de vida pode ser

substancial, porém, ainda existem escassos dados para corroborar esta relação 23.

4.13- Terapia Laser

O objetivo do tratamento da pericoronarite é a eliminação dos sinais e sintomas

agudos da inflamação o mais cedo possível. Como os tratamentos não invasivos são de

interesse na medicina dentária, as propriedades terapêuticas da terapia a laser de baixa

intensidade (LLLT) podem transformá-lo numa ferramenta benéfica para acelerar a

cicatrização de feridas e a diminuição das queixas dos pacientes, como complemento ao

tratamento convencional 22.

O LLLT foi descrito pela primeira vez por Mester et al., citado por U Sezer, e tem sido

utilizado para várias indicações na área da medicina dentária. É definido como laser de

bioestimulação com baixo consumo de energia, não dando origem a um aumento na

temperatura do tecido da área tratada acima da temperatura corporal. Os seus usos são

vários, dentro dos quais se destacam a prevenção do edema e do trismo após a remoção

de terceiros molares inclusos, a redução da dor após um tratamento, proporciona uma

cura periodontal mais favorável, entre outros. Embora o LLLT tenha propriedades

antinflamatórias e antimicrobianas, o seu efeito na pericoronarite aguda ainda é

controverso pois tem poucos dados publicados sobre os seus efeitos 22.

Foi realizado um estudo com um grupo que totalizava 80 pacientes distribuídos por

quatro grupos diferentes, com vinte pacientes em cada um, colocados aleatoriamente em

cada um dos grupos de LLLT e um grupo placebo. Todos os pacientes estavam sob um

regime de tratamento padrão (STR) que contemplava desbridamento e irrigação da

superfície coronária. Receberam medicação padrão de 1000mg de amoxicilina (12h em 12h

durante 7 dias), 500 mg de acetaminofeno (8h-8h durante 5 dias) e bochecho duas vezes

ao dia durante 10 dias com clorohexidina 0,12% 22.

No primeiro grupo o STR mais um curso único de LLLT foi aplicado por 10 segundos a

uma distância de 1cm usando o laser Nd: YAG de 1064 nm. No segundo grupo o STR mais

um curso único de LLLT foi aplicado na região a tratar por 10 segundos a uma distância

Page 33: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 21 -

de 1cm usando o laser diodo 808 nm. No terceiro grupo os pacientes receberam o STR

mais um único curso de LLLT usando o laser diodo 660 nm de um modo contínuo por 60

segundos. A potência de entrada e saída dos lasers foi a mesma, sendo todos eles

calibrados periodicamente. No grupo controlo, os pacientes receberam o STR mais um

único curso de terapia com placebo sem irradiação laser ativa. Todos os tratamentos

foram realizados pelo mesmo médico dentista que utilizou uma técnica padronizada para

todos os pacientes. Neste estudo foi avaliado o grau de abertura da boca, nível de dor e

QHQoL, desde o momento do exame inicial e 24h e 7 dias após a aplicação do laser 22.

Neste estudo os autores puderam constatar que apenas o laser diodo de comprimento de

onda 808 nm e o laser Nd: YAG de 1064 nm foram eficazes para a bioestimulação, levando

a uma melhoria no trismo e no aumento da qualidade de vida na pericoronarite aguda. O

laser diodo 660nm não foi eficaz na melhoria de qualquer dos sintomas avaliados. Dentro

das limitações deste estudo foi demonstrado que o laser Nd: YAG de 1064nm possui

efeitos bioestimuladores, melhorando assim a qualidade de vida e sendo este um

candidato a ser usado para o tratamento da pericoronarite de laser de baixa intensidade.

No entanto são necessários mais estudos para comprovar a sua eficácia 22.

Page 34: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 22 -

5- CONCLUSÃO

A pericoronarite é uma infeção polimicrobiana que afeta essencialmente os

terceiros molares inferiores, total ou parcialmente erupcionados, afetando essencialmente

jovens entre a segunda e a terceira décadas de vida.

Esta infeção pode ter uma etiologia multifatorial, podendo ter origem traumática

ou infeciosa.

Tem como complicações mal-estar geral, febre, dor, trismo, entre outros.

Hoje em dia, com os avanços da medicina dentária, já é conhecida uma vasta

gama de tratamentos que visam eliminar a patologia ou melhorar a qualidade de vida do

paciente. Para além de uma terapia convencional farmacológica, com o uso de

antinflamatórios, antibióticos (como medida pré-operatória ou como controlo da infeção)

e analgésicos, estão também indicadas medidas cirúrgicas.

Nas mais recentes aplicações terapêuticas para o tratamento e melhoria da

qualidade de vida dos pacientes com pericoronarite, destacam-se os lasers diodo de

comprimento de onda 808nm e o laser Nd: YAG de 1064nm.

Page 35: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 23 -

6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1- I Velasco, R Soto. Principios para el tratamento de infecciones odontogénicas com distintos niveles de complejidad. Rev Chilena Cirurg. 2012 Dec; 64(6):586-98.

2- T Renton, NHF Wilson. Problems with erupting wisdom teeth: signs, symptom sand management. Br J GenPract. 2016 Aug;

3- EM López, YC Paulin. Pericoronaritis: Criterius Actuales. Revisión Bibliográfica. RevCubana Estomatol. 2001; 38(3):192-204.

4- R Wang , Y Cai , YF Zhao , JH Zhao. Osteomyelitis of the condyle secondary to pericoronitis of a third molar: a case and literature review. Aust Dental J. 2014; 59:372-4.

5- CM Smitmans, YI Alorcón, J Moreno, CD Condal. Epidemiología y Tratamiento de la Pericoronaritis Aguda en el Hospital Barros Luco Trudeau, Santiago, Chile. Int J Odontostomat. 2010; 4(3):241-4.

6- FM Hernández, JM Abreu, MDM Ibarra, MRG Valdés. Aplicación del Oleozónen el tratamiento de las pericoronaritis. RevMédElectrón. 2011; 33(1).

7- BRP Barrero, CD Garbey, CP Estrada, AF Mustelier, BG Cardero. Pericoronaritis aguda en adolescentes y adultos jóvenes de un consultório estomatológico del município venezolano de Valencia. Medisan. 2011; 15(11):1548.

8- JLG Pérez. Infecciones del cordal. Med Oral Patol Oral Cir Bucal. 2004; 120-5. 9- S Gelesko, GH Blakey, M Partrick, Jr Hill DL, et. al. Comparison of Periodontal

Inflammatory Disease in Young Adults With and Without Pericoronitis Involving Mandibular Third Molars. J Oral Maxillofac Surg. 2009 Jan;67(1):134-9.

10- American Academy of Periodontology. Parameter On Acute Periodontal Diseases. J Periodontol. 2000 May;71(5):863-6.

11- TR Flynn, RM Shanti, MH Levi, AK Adamo, RA Kraut, N Trieger. Severe Odontogenic Infections, Part 1: Prospective Report. J Oral MaxillofacSurg. 2006; 64: 1093-103.

12- P Gopee, E Rikhotso. Impacted mandibular third molars: the efficacy of prophylactic antibiotics and chlorhexidine mouth wash in preventing postoperative infections. SADJ. 2017; 72(5):213-18.

13- MO Folayan, EO Ozeigbe, N Onyejaeka, NM Chukwumah, T Oyedele. Non-third molar related pericoronitis in a sub-urban Nigeria population of children. Nig J ClinicPract. 2014; 17:18-22.

14- M Sencimen, I Saygun, A Gulses, V Bal, GH Acikel, A Kubar. Evaluation of periodontal pathogens of the mandibular third molar pericoronitis byusing real time PCR. Int Dental J. 2014;

15- R Orbak, E Dayi. Flow-cytometric analysis of T-lymphocyte subsets after different treatment methods in patients with pericoronitis. J Oral MaxillofacSurg. 2003; 61:201-5.

16- A Ohshima, Y Ariji, M Goto, M Izumi, M Naitoh, K Kurita et al. Anatomical considerations for the spread of odontogenic infection originating from the

Page 36: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 24 -

pericoronitis of impacted mandibular third molar: Computed tomographic analyses. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral RadiolEndod. 2004; 98:589-97.

17- JL Sixou, C Magaud, A Jolivet-Gougeon, M Cormier, M Bonnaure-Mallet. Microbiology of mandibular third molar pericoronitis: Incidence of β-lactamase-producing bacteria. Oral SurgMed Oral Pathol Oral RadiolEndod. 2003; 95:655-9.

18- S Bradshaw, J Faulk, GH Blakey, C Phillips, JA Phero, RP White. Quality of life Out comes After Third Molar Removal in Subjects ,With Minor Symptoms of Pericoronitis. J Oral Maxillo fac Surg. 2012; 70:2494-500.

19- JLL Junior, E Dias-Ribeiro, J Ferreira-Rocha, R Soares, FWG Costa, S Fan, E Sant’ana. Comparison of Buccal Infiltration of 4% Articaine With 1:100000 and 1:200000 Epinephrine for Extraction of Maxillary Third Molars With Pericoronitis: A pilot study. Am Dent Soc Anest. 2013; 60:42-5.

20- G Monaco, G Santis, G Pulpito, MRA Gatto, E Vignudelli, C Marchetti. What are the types and frequencies of complications associated with mandibular third molar coronectomy? A follow-up study. J Oral MaxillofacSurg. 2015;

21- CBL Magraw, B Golden, C Phillips, DT Tang, J Munson, BP Nelson, RP White Jr. Pain With Pericoronitis Affects Quality of Life. Am Assoc Oral Maxillo fac Surg. 2015; 73:7-12.

22- U Sezer, A Eltas, K Ustun, SZ Sxenyurt, K Erciyas, MH Aras. Effects of Low-Level Laser Therapy as an Adjunct to Standard Therapy in Acute Pericoronitis, and its Impact on Oral Health-Related Quality of Life. Photomed Laser Surg. 2012; 30(10):592-7.

23- M Mcnutt, M Partrick, DA Shugars, C Phillips, RP White. Impacto of symptomatic pericoronitis on health-related quality of life. J Oral Maxill of ac Surg. 2008; 66:2482-7.

Page 37: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 25 -

Capítulo II- Relatório das atividades práticas das disciplinas de estágio supervisionadas

1- Estágio em Clínica Geral Dentária

O Estágio em Clínica Geral Dentária foi realizado na Clínica Nova Saúde, no Instituto

Universitário de Ciências da Saúde em Gandra - Paredes, num período compreendido

entre 11 de Setembro de 2017 e 15 de Junho de 2018, perfazendo um total horário de 280

horas.

Este Estágio foi supervisionado pela Professora Doutora Filomena Salazar e pela

Professora Doutora Cristina Coelho onde foram aplicados os conhecimentos adquiridos no

decorrer dos 5 anos de curso, proporcionando as aptidões médico-dentárias necessárias

para o exercício da profissão.

Os atos clínicos realizados neste Estágio encontram-se na tabela 1.

2- Estágio em Clínica Hospitalar

O Estágio em Clínica Hospitalar foi realizado no Hospital Nossa Senhora da Conceição,

sediado em Valongo, num período entre 11 de Setembro de 2017 a 15 de Junho de 2018,

com carga semanal de 3 horas compreendidas entre as 14h e as 17h perfazendo um total

de 196 horas sob a supervisão da Professora Doutora Ana Azevedo.

Tabela 1: Número de atos clínicos realizados como operador e como assistente durante o Estágio em Clínica Geral Dentária

Acto Clínico Operador Assistente TOTAL

Dentisteria 6 8 14

Exodontia 3 4 7

Periodontologia 4 2 6

Endodontia 0 0 0

Outros 2 1 3

TOTAL 15 15 30

Page 38: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 26 -

Os atos Clínicos realizados neste estágio encontram-se na tabela 2.

3- Estágio em Saúde Oral e Comunitária

A unidade curricular de Estágio em Saúde Oral Comunitária contou com uma carga

horária semanal de 3,5 horas, compreendidas entre as 09H00 – 12:30h de terça-feira,

com uma duração total de 196 horas, sob a supervisão do Professor Doutor Paulo

Rompante.

Numa primeira fase do estágio foi realizado um plano de atividades, que visava a

motivação para a higiene oral, a definição do conceito de saúde oral e o esclarecimento

de dúvidas acerca das doenças e problemas relativos à cavidade oral. Estes objetivos

seriam alcançados através de sessões de esclarecimento junto dos grupos abrangidos

pelo Programa Nacional de Promoção de Saúde Oral (PNPSO).

Numa segunda fase do Estágio em Saúde Oral e Comunitária começou-se a

implementar o PNPSO junto das crianças inseridas no ensino pré-escolar e primeiro ciclo

Tabela 2: Número de atos clínicos realizados como operador e como assistente durante o Estágio Hospitalar

Acto Clínico Operador Assistente TOTAL

Dentisteria 22 23 45

Exodontia 11 16 27

Periodontologia 8 5 13

Endodontia 2 5 7

Outros 2 1 3

TOTAL 45 50 95

Page 39: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 27 -

do ensino básico, da Escola Básica da Bela, integrada no Agrupamento de Escolas de

Ermesinde, no concelho de Valongo.

Para além das atividades inseridas no PNPSO, realizou-se um levantamento de

dados epidemiológicos recorrendo a inquéritos fornecidos pela Organização Mundial de

Saúde num total de 100 crianças, com idades compreendidas entre os 3 e 9 anos.

Na tabela encontram-se as atividades realizadas ao longo deste estágio:

MÊS

DIA

LOCALIZAÇÃO ATIVIDADE

JANEIRO 30

EB1 BELA

-Aprovação do cronograma

-Verificar condições para realizar a

escovagem dentária

FEVEREIRO

6

EB1 BELA

REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES

-Apresentação de um PPT sobre cuidados

básicos de higiene oral com perguntas relativas à

apresentação

13 PAUSA LETIVA CARNAVAL

20

EB1 BELA

REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES

-Abordagem dinâmica com PPT para

educar e motivar para a higiene oral.

27

-Implementação e acompanhamento da

escovagem dentária em ambiente escolar.

-Levantamento de dados

epidemiológicos.

(17 alunos)

MARÇO

6

EB1 BELA

REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES

-Abordagem dinâmica com PPT para

educar e motivar à higiene oral.

REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES

-PPT com cuidados básicos de saúde oral

Page 40: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 28 -

MARÇO

13

EB1 BELA

e jogo didáctico.

- Levantamento de dados

epidemiológicos.

(16 alunos)

20

-Implementação e acompanhamento da

escovagem dentária em ambiente escolar.

-Levantamento de dados

epidemiológicos.

(21 alunos)

26

IUCS FÉRIAS DA PÁSCOA

ABRIL

6 IUCS FÉRIAS DA PÁSCOA

10

EB1 BELA

REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES

-PTT com cuidados básicos de higiene

oral e jogo didático.

17

-Acompanhamento da escovagem

dentária em ambiente escolar.

24

-PTT com cuidados básicos de higiene

oral e a importância do uso de fio dentário.

- Levantamento epidemiológico. (20

alunos)

MAIO

1

PAUSA

LETIVA

FERIADO

6 QUEIMA DAS FITAS

15

22

EB1 BELA

EB1 BELA

REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES

-Acompanhamento da escovagem

dentária em ambiente escolar.

-PTT com cuidados básicos de saúde oral

e motivação para a higiene oral.

- Levantamento epidemiológico (26

Page 41: Pericoronarite: etiologia, complicações e tratamento

- 29 -

alunos)

29

-Acompanhamento da escovagem

dentária em ambiente escolar.