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0 Faculdade Redentor Pós-Graduação em Arqueologia Brasileira Divino de Oliveira Pesquisa arqueológica de campo: Métodos e técnicas utilizados pelo IAB, a experiência de um arqueólogo de campo. Belford Roxo 2013

Pesquisa Arqueológica de Campo Métodos e Técnicas Utilizados Pelo IAB, A Experiência de Um Arqueólogo de Campo

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Este artigo trata da pesquisa de campo em arqueologia e se baseia na experiência do autor em suas atividades durante décadas como arqueólogo no Instituto de Arqueologia Brasileira. As etapas da pesquisa de campo são abordadas de forma clara para que o leitor entenda o funcionamento da pesquisa de campo sem muita dificuldade. A metodologia e as técnicas aplicadas são definidas levando–se em conta as características do sítio arqueológico, sejam eles: abertos, em cavernas ou históricos, todos com suas especificidades. Os acertos e falhas de alguns métodos utilizados também são abordados neste texto, que não tem a pretensão de informar que esta é a metodologia mais correta, e sim, de apresentar ao leitor os acertos e erros comuns do cotidiano nesta atividade.

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    Faculdade Redentor

    Ps-Graduao em Arqueologia Brasileira

    Divino de Oliveira

    Pesquisa arqueolgica de campo:

    Mtodos e tcnicas utilizados pelo IAB, a experincia de um

    arquelogo de campo.

    Belford Roxo

    2013

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    Faculdade Redentor

    Ps-Graduao em Arqueologia Brasileira

    Divino de Oliveira

    Pesquisa arqueolgica de campo:

    Mtodos e tcnicas utilizados pelo IAB, a experincia de um

    arquelogo de campo.

    Trabalho de concluso de curso para obteno da certificao de especialista em arqueologia brasileira pela Faculdade Redentor, tendo como rea de concentrao a pesquisa arqueolgica de campo, orientador Dr. Ondemar Dias.

    Belford Roxo

    2013

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    INSTITUTO DE ARQUEOLOGIA BRASILEIRA / FACULDADE REDENTOR

    Ps Graduao em Arqueologia Brasileira

    Resumo

    Este artigo trata da pesquisa de campo em arqueologia e se baseia na experincia do autor em suas atividades durante dcadas como arquelogo no Instituto de Arqueologia Brasileira. As etapas da pesquisa de campo so abordadas de forma clara para que o leitor entenda o funcionamento da pesquisa de campo sem muita dificuldade. A metodologia e as tcnicas aplicadas so definidas levandose em conta as caractersticas do stio arqueolgico, sejam eles: abertos, em cavernas ou histricos, todos com suas especificidades. Os acertos e falhas de alguns mtodos utilizados tambm so abordados neste texto, que no tem a pretenso de informar que esta a metodologia mais correta, e sim, de apresentar ao leitor os acertos e erros comuns do cotidiano nesta atividade.

    Abstract

    This paper discusses field research in archeology and is based on the author's experience in its activities for decades as an archaeologist at the Institute of Archaeology Brazilian. The stages of fieldwork are addressed clearly to the reader to understand the functioning of field research without much difficulty. The methodology and techniques applied are defined taking into account the characteristics of the archaeological site, they are: open, in caves or historical, with all its specificities. The successes and failures of some methods used are also covered in this text, which does not pretend to inform you that this is the most accurate method, but rather to present the reader with the rights and wrongs in this common daily activity.

    Palavras chave: Arqueologia, pesquisa de campo, mtodos e tcnicas.

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    SUMRIO

    1 - Introduo ........................................................................................................................................ 6

    2 Metodologia as pesquisa de campo ........................................................................................... 7

    3 Etapas da pesquisa de campo .................................................................................................... 8

    4 Etapa I . Levantamento de campo .............................................................................................. 9

    5 Etapa ll . Prospeco intrusiva ou sondagem ......................................................................... 10

    5.1 Sondagem com boca de lobo ou trado ............................................................................. 11

    5.2 Sondagem com abertura de cortes ................................................................................... 12

    6 Etapa III . Salvamento ou Resgate ........................................................................................... 14

    6.1 Ferramentas e equipamentos ............................................................................................. 14

    6.2 - Setorizao ............................................................................................................................. 15

    6.3 - Escavaes ............................................................................................................................ 18

    6.4 Coleta de sedimento ............................................................................................................ 19

    6.5 - Escavaes em projetos de pesquisa acadmica ........................................................... 20

    6.6 - Escavaes em projetos de arqueologia de contrato ...................................................... 20

    6.7 Escavao em Stios fechados ou cavernas e abrigos .................................................. 20

    6.8 Escavao em Stios abertos em campo limpo ............................................................... 22

    6.9 - Escavao em Stios histricos ......................................................................................... 24

    7 Monitoramento ............................................................................................................................. 26

    8 Consideraes finais ................................................................................................................... 27

    9 - Referncias bibliogrficas ........................................................................................................... 27

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    Lista de figuras

    Figura 1 prospeco com uso de boca de lobo no stio Aldeia de Itaguau l ....................... 12

    Figura 2 corte teste aberto no sitio JB 695 com evidncia de estrutura ................................ 13

    Figura 3 setorizao em quadrantes ............................................................................................ 15

    Figura 4 setorizao em L ............................................................................................................. 16

    Figura 5 planta de setorizao do sitio Nazar ll - acervo IAB ............................................... 18

    Figura 6 coleta de sedimento no stio Aldeia de Itaguau I ..................................................... 19

    Figura 7 escavao no sitio Lapa da foice em Varzelndia (MG) na decada de 1980 ........ 22

    Figura 8 vista de rea escavada no sitio Aldeia de Itaguau I ................................................. 24

    Figura 9 evidenciao de estrutura histrica no stio JB 695 ................................................... 26

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    Pesquisa arqueolgica de campo:

    Mtodos e tcnicas utilizados pelo IAB, a experincia de um arquelogo de

    campo.

    1 - Introduo

    Este artigo trata diretamente da pesquisa de campo em arqueologia e se

    baseia na experincia do autor em suas atividades durante dcadas como

    arquelogo no Instituto de Arqueologia Brasileira, e ainda em metodologias

    aplicadas por outras instituies de pesquisas arqueolgicas no Brasil.

    A metodologia executada pelo Instituto de arqueologia brasileira tem origem

    nos ensinamentos do professor e arquelogo Dr. Ondemar Dias, que no incio da

    dcada de 1960 recebeu o treinamento com a arqueloga francesa Annette

    Emperaire e o Casal de arquelogos americanos Beth Meggers e Clinford Evans. A

    fuso das perspectivas francesa e americana foi colocada em prtica por Dias em

    um curso de formao no IAB, onde os pesquisadores que se incluam na equipe

    desenvolviam juntos, as bases tericas e metodolgicas utilizadas at hoje. Entre os

    primeiros a desenvolverem esta metodologia esto: Lilia Cheuiche, Eliana Carvalho

    e posteriormente: Marcos Infante, Paulo Seda, Marcos Zimmerman, Cibele Viana,

    Glaucia Malerba, Cristiane Machado, este autor, entre outros.

    No artigo TEORIAS, METODOS, TCNICAS E AVANOS NA

    ARQUEOLOGIA BRASILEIRA, a autora Mrcia Angelina Alves faz a seguinte

    citao:

    Ondemar Dias Junior e equipe desenvolveram e desenvolvem pesquisas de

    campo abrangentes nos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais - iniciadas no

    desenvolvimento de programas e prospeces sistemticas que detectaram e

    mapearam a ocorrncia de stios a cu aberto, grutas e abrigos com a seleo de

    assentamentos a serem escavados ao nvel intensivo ALVES, 2002.

    Ainda neste mesmo artigo, a autora diz que As duas vertentes terico-

    metodolgicas - a etnografia/estruturalista francesa e a processualista norte

    americana, estruturaram a pesquisa arqueolgica pr-histrica no Brasil, em fins dos

    anos 50 e dcada de 60 (sculo XX), pois os seus paradigmas, conceitos e mtodos

    (de campo e laboratrio) foram adotados como modelos que determinaram os

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    objetos, objetivos e mtodos para a pesquisa emprica de campo e para a

    interpretao da cultura material. ALVES, 2002. Assim confirmando o histrico da

    metodologia adotada e reconhecida pela comunidade arqueolgica.

    No se trata de afirmar que este o mtodo mais correto, porem utilizado

    ao longo de dcadas e aceito vrios profissionais da rea de arqueologia, a maioria

    destes ex alunos do Professor Dias espalhados por todo o Brasil. A metodologia a

    ser utilizada bem como as tcnicas aplicadas geralmente so definidas levandose

    em conta as caractersticas do stio arqueolgico. Claro que sempre estamos

    aplicando a metodologia padro (americana), mas em alguns casos h necessidade

    de utilizarmos outras tcnicas derivadas da metodologia francesa adaptada para o

    sistema americano.

    No livro convite arqueologia(1989) Philip Rahtz discorre sobre a diferena

    entre os vrios tipos de arquelogos. Entre eles esto os denominados Coletores

    de dados que atuam diretamente na pesquisa de campo. Segundo Rahtz Estes

    so logicamente os mais conhecidos do pblico, j que esto sempre descobrindo

    algo de novo.

    As etapas da pesquisa de campo e as metodologias e tcnicas aplicadas

    comumente sero abordadas e discutidas em seus aspectos e peculiaridades ao

    longo deste artigo. Relatos de experincias em diferentes stios tambm sero

    complementos para levar ao leitor a maior quantidade de informaes possvel, de

    maneira clara e precisa.

    2 Metodologia as pesquisa de campo

    Ao falar sobre a metodologia de pesquisa de campo, no se pode deixar de

    observar que a pesquisa arqueolgica propriamente dita se divide basicamente em 3

    tcnicas diferentes. A primeira tcnica utilizada em stios fechados como cavernas

    ou abrigos. A segunda deve ser utilizada em stios em campo limpo, os chamados

    stios abertos. A terceira tcnica, seria uma apropriada para stios histricos, que

    muita das vezes requer um conhecimento mais tcnico, em funo da ocorrncia de

    estruturas e construes, que por ventura so encontradas nestes stios, como

    exemplo: igrejas e casares antigos.

  • 8

    Para uma pesquisa de campo perfeita, no se pode esquecer dos

    profissionais que nela se integram, principalmente os responsveis, diretamente

    envolvidos desde a elaborao do projeto, at o profissional de campo que vai

    executar as pesquisa. Tudo tem que funcionar como uma engrenagem, sem falhas

    nem erros dando a devida importncia a cada um dos profissionais envolvidos, seja

    ele o coordenador, ou o auxiliar de campo, pois uma pequena falha no trabalho pode

    destruir por completo as informaes da pesquisa.

    Alm do excelente trabalho dos coordenadores do projeto tanto administrativo

    quando executivo, tambm os auxiliares devem ser muito bem treinados, pois em

    uma escavao h necessidade das atividades serem sempre orientadas e

    acompanhadas pelo arquelogo de campo, pois cada detalhe de uma pesquisa, por

    simples que parea, pode trazer informaes importantes sobre a ocupao daquele

    stio.

    A responsabilidade do pesquisador de campo talvez seja a maior, pois no

    adianta elaborar um mega projeto de milhes de reais, se a equipe de campo no

    executa suas tarefas a contento e com responsabilidade. Cada detalhe em uma

    pesquisa importante, desde a montagem da equipe, fazer uma foto, observar o

    meio ambiente ao entorno do stio e o principal, a escavao propriamente dita.

    Se alguma vez ouve-se o coordenador da pesquisa de campo dizer ao auxiliar

    que o que ele fizer esta bem feito, isto acontece porque ele tem confiana em seus

    auxiliares e no treinamento que lhes foi dado e no que esteja negligenciando o

    trabalho.

    importante que o coordenador confie no trabalho de seus subordinados e

    no treinamento que lhes deu, afinal se o auxiliar de campo fizer qualquer coisa

    errada porque o seu coordenador no soube ensinar corretamente as suas tarefas,

    mostrando assim uma deficincia do responsvel pela pesquisa de campo.

    3 Etapas da pesquisa de campo

    A anlise arqueolgica e sua interpretao dependem, sobretudo, da coleta

    sistemtica de espcimes em stios arqueolgicos e de sua respectiva

    documentao. EVANS E MEGGERS, 1965.

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    J nos anos de 1960, os precursores desta metodologia defendiam a

    importncia da pesquisa de campo, como muito bem descrito no Guia para a

    prospeco arqueolgica no Brasil dos referidos autores. Onde tambm observam

    que Cada stio arqueolgico uma pgina ou um captulo da histria da

    humanidade, e cada stio destrudo uma pgina ou um captulo arrancado do texto,

    deixando uma lacuna mais difcil de ser lida. Por isso a responsabilidade dos

    profissionais que atuam em prospeco e resgate to grande.

    A pesquisa arqueolgica se divide em vrias etapas, todas de extrema

    importncia, so elas: planejamento da pesquisa, pesquisa de campo, anlise em

    laboratrio, curadoria e mais recentemente, educao patrimonial.

    A pesquisa de campo geralmente dividida em quatro etapas, sendo estas:

    levantamento de campo ou caminhamento, prospeco, resgate ou salvamento e

    monitoramento. Em cada uma destas so reveladas informaes preciosas sobre o

    stio arqueolgico e a populao que o habitava. Uma noo importante que se deve

    ter a de que quando se regata um stio arqueolgico, este deixa de existir, assim a

    pesquisa deve ser rica em detalhes, pois no haver segunda chance de obter mais

    informaes aps o salvamento, apenas o estudo de seus artefatos.

    4 Etapa I. Levantamento de campo

    O primeiro passo para uma boa pesquisa de campo, a anlise do meio

    ambiente da rea a ser pesquisada, pois quando se faz um levantamento de campo

    deve-se observar alm dos possveis fragmentos arqueolgicos existentes em

    superfcie, tambm todo o histrico geogrfico e botnico da regio, pois muitas das

    vezes as reas de pesquisa sofreram interferncias antrpicas ou naturais diversas.

    Entre as mais comuns so as de arar a terra para plantio, retirada da camada

    ocupacional (terra preta) para ser utilizada como terra de emboo, cavas de antigas

    construes de grandes fazendas ou at mesmo pequenas taperas de plantadores

    de cana, mandioca, bananas etc. As modificaes naturais ficam por conta de

    enxurradas, inundaes e deslizamentos de terra que muitas das vezes soterram

    grandes reas baixas, mudando at mesmo o curso de crregos e rios.

    Alm destes fatores deve-se tambm observar a vegetao, o que chamamos

    de biologia histrica, quando observamos que muitas das plantas existentes no local

    no fazem parte daquele bioma, e sim, foram trazidas de outra regio. Isto mostra

  • 10

    geralmente uma ocupao mais recente no local ou uma ocupao de um grupo ou

    pessoa vinda de outra regio, trazendo uma nova cultura alimentar diferente. Pode-

    se citar como exemplo o bioma cerrado que apresenta uma vegetao tpica, fcil de

    ser identificada onde muitas das vezes observamos plantas exticas (que no so

    tpicas da regio) como: jabuticabeira, mangueiras, bananeiras e at mesmo o que

    conhecemos como agave ou pita, uma espcie muito utilizada na regio do cerrado

    e que at hoje se encontra disseminada por toda a parte mostrando que houve uma

    ocupao histrica. Tambm no podemos deixar de citar pitangueiras e palmeiras

    de inaj, baba de boi, babau etc. que tambm servem de referencial de possveis

    ocupaes pr-histricas.

    A observao da proximidade de crregos, rios e lagos existentes na regio,

    pode ser um referencial importante para localizao de antigas ocupaes, pois

    como se sabe, para se construir uma aldeia ou residncia ha necessidade de

    abastecimento de gua prximo a estes locais. Este referencial deve ser utilizado

    tanto para stios abertos quanto stios em cavernas.

    Em se tratando de um sitio em cavernas, durante o levantamento deve-se

    observar alm da geografia local e o cursos de gua, o tipo de formao rochosa da

    regio, pois as cavernas e abrigos so mais comuns em paredes calcrios que

    fornecem condies tpicas no s na formao de cavernas e abrigos, mas tambm

    oferecem mais segurana em se tratando de possveis desmoronamentos ou

    infiltraes de gua, pois o calcrio mais slido e possui pouca porosidade.

    5 Etapa ll . Prospeco intrusiva ou sondagem

    As sondagens servem para a confirmao da existncia de depsitos arqueolgicos

    aps a localizao de artefatos numa determinada superfcie ou quando so

    encontrados inclusos num corte.BICHO, 2006.

    Esta fase dos trabalhos de pesquisa arqueolgica, tambm considerada de

    extrema importncia, pois neste momento que se identifica o stio propriamente

    dito, onde ser observada a profundidade das camadas ocupacionais, a estratigrafia,

    o dimensionamento, estruturas e mostragem do tipo de material a ser coletado. Para

    executar estas sondagens no momento da prospeco, h dois tipos de tcnicas

  • 11

    utilizadas que vo definir a princpio a poligonal do stio, que muitas das vezes tende

    a aumentar ou diminuir, mas este processo s ser conhecido no momento do

    salvamento ou resgate do stio.

    geralmente nesta etapa que os stios so registrados em fichas e entregues

    ao IPHAN. So coletadas todas as informaes possveis para o registro do stio de

    acordo com a ficha de registro de stio do IPHAN, como por exemplo: nome a ser

    dado ao stio, tipo (se historio ou pr-histrico), localidade, Municpio e Estado,

    uma pequena descrio da formao do stio, as coordenadas em GPS de

    preferncia com o DATUN WGS 84, para facilitar a identificao e mapeamento via

    Google; nome, endereo e contatos do proprietrio da rea; medidas e uso atual da

    rea, unidade geomorfolgica, gua mais prxima e bacia do rio que banha a regio;

    uso atual do terreno; bioma onde ele esta inserido; forma e potencialidade e se o

    sitio corre risco de destruio ou no. Enfim toda e qualquer informao pertinente

    ao registro do sitio deve ser anotada para que estas informaes sejam utilizadas

    para futuras pesquisas no stio.

    tambm necessrio fazer a localizao por GPS nos pontos cardeais

    Norte/Sul/Leste/Oeste e Centro do stio, sendo a distncia entre estes pontos de

    acordo com a poligonal do sitio ou uma distncia mnima de 100 metros entre eles.

    5.1 Sondagem com boca de lobo ou trado

    A sondagem mais comumente utilizada, principalmente na arqueologia de

    contrato, pela maioria dos pesquisadores que a chamada tradagem. Esta consiste

    em perfuraes feitas atravs de ferramentas do tipo trado ou cavadeiras boca de

    lobo. Alguns pesquisadores acreditam que este mtodo de tradagem em alguns

    casos no so eficientes, pois de acordo com experincia prpria, observa-se que

    muitas das vezes estas sondagens no mostram a realidade do stio em se tratando

    de identificao de estratigrafia e poligonal. Ao mesmo tempo corre-se o risco de

    quando aprofundar o trado ou cavadeira, no se ter uma viso clara do que est

    abaixo destas ferramentas, e com isso muito material pode ser totalmente destrudo,

    como exemplo uma urna ou at mesmo um esqueleto. Entretanto na arqueologia de

    contrato onde geralmente se trabalha com prazos apertados este mtodo faz com

    que o trabalho de prospeco seja mais rpido. Porem esta no deve substituir uma

    prospeco mais profunda.

  • 12

    Como exemplo de ineficincia no uso desta tcnica podemos citar o Sitio

    Mato dos ndios IV pesquisado pelo autor, que se encontrava no eixo das obras do

    Arco Metropolitano do Rio de Janeiro no Municpio de Japeri. Neste stio foram feitas

    418 tradagens com boca de lobo e com profundidade mdia de 1 metro, sendo que

    deste total em apenas 2 sondagens foram encontrados fragmentos de cermica

    indgena, na primeira sondagem foram coletados pouco mais de 5 cacos e na

    segunda sondagem foram coletados menos de 5 cacos, entretanto ao abrirmos um

    corte de 1,00X1,00m com profundidade mdia de 60 cm foram coletados mais de

    50 cacos, alm de nos mostrar a estratigrafia do sitio, coisa quase impossvel de se

    observar em uma tradagem onde o dimetro do furo no ultrapassa 20 cm, e ao

    mesmo tempo coloca em risco informaes importantes da pesquisa.

    Figura 1 prospeco com uso de boca de lobo no stio Aldeia de Itaguau l

    5.2 Sondagem com abertura de cortes

    A segunda tcnica que pode ser utilizada a sondagem por corte teste, esta

    apresenta resultados mais precisos, apesar de ser um pouco mais demorada. Nesta

    metodologia so abertos cortes com medidas de 1x1 ou 2x2 metros ou at mesmo

    uma trincheira para observar a estratigrafia, profundidade do stio e camadas

  • 13

    ocupacionais. Ainda possvel identificar caracterizar com segurana todo e

    qualquer tipo de material encontrado nestes cortes.

    Podemos citar como exemplo o trabalho realizado com esta tcnica no Stio

    dos Tardin, localizado no Municpio de Bom Jardim (RJ) que foi descoberto pelo

    autor durante os trabalhos realizados no projeto Anta-Simplcio-Rocha Leo,

    patrocinado por Furnas Centrais Eltricas. Neste sitio foram efetuados mais de dez

    cortes de 2x2 metros, onde foram encontradas e resgatadas 13 urnas funerrias da

    tradio UNA, sendo sete destas com restos esqueletais no seu interior. Na maioria

    das urnas observaram-se quebras ou rachaduras ocasionadas por ao de razes de

    rvores ou presso natural do solo, porem em nenhum momento observou-se

    fraturas ocasionadas por ferramentas tipo trado ou qualquer outra ferramenta

    pesada. E ainda a prospeco realizada no Programa de arqueologia JB 695 onde

    nos cortes teste de 2x2 metros foram identificadas estruturas em pedra entre outros

    vestgios (ver imagem).

    Figura 2 corte teste aberto no sitio JB 695 com evidncia de estrutura

  • 14

    Para cada tipo de stio existem as diferentes tcnicas de trabalho. Em muitos

    casos a metodologia pode ser a mesma, mas a tcnica deve sempre ser adotada de

    acordo com a especificidade do stio pesquisado.

    6 Etapa III . Salvamento ou Resgate

    De acordo com BICHO, 2006 A escavao arqueolgica...serve uma funo

    principal, ainda que possa ter dois objetivos distintos: a investigao e a

    minimizao de impactos patrimoniais.

    Com base no trabalho de sondagens tem incio as escavaes, que fazem parte da

    etapa de salvamento do stio, quando este est inserido em reas que sofrero

    impactos por obras futuras.

    6.1 Ferramentas e equipamentos

    Na prtica, o arquelogo deve escavar com as ferramentas mais eficientes

    que tiver ao seu dispor, sem que com isso se perca qualquer informao. Assim, e

    dando um exemplo hipottico, deve ser utilizada uma retro escavadeira para retirar

    as camadas sobrepostas aos nveis arqueolgicos...Contudo ao chegar ao nvel

    arqueolgico, se este estiver totalmente preservado o colherim ou instrumentos

    menores devem ser utilizados na escavao. BICHO, 2006.

    O equipamento necessrio para se realizar uma escavao pode ser dividido

    basicamente em dois grupos, o equipamento pesado e o equipamento de mo.

    Entre os equipamentos pesados esto: ps, enxadas, picaretas, cavadeiras

    retas, carrinhos de mo entre outros. E entre os equipamentos leves esto os

    colherins, pincis, trenas, vassouras, prumos, nveis e material de escritrio em

    geral.

    Alm desses equipamentos existem aqueles adaptados ao uso nesta

    atividade, como palitos de churrasco, utenslios de dentista, entre outros. No se

    pode esquecer do material de registro do qual fazem parte os aparelhos de GPS,

    micro computadores (notebook), cmeras fotogrficas e filmadoras.

    Na verdade a deciso sobre o equipamento est ligada diretamente a

    metodologia de escavao e suas tcnicas que sero vistas posteriormente.

  • 15

    6.2 - Setorizao

    O mtodo tradicional implica a constituio de uma quadricula, formando

    unidades com a mesma dimenso, geralmente quadradas e com um ou dois metros

    de lado. BICHO, 2006.

    Na metodologia aplicada em atividades cotidianas as quadriculas podem ter

    dimenses de at 5 metros de lado em stios de grandes dimenses e estas no

    precisam ser escavadas em sua totalidade.

    Nesta etapa tambm se observa que, de acordo com o stio, a tcnica de

    setorizao tambm pode mudar; por exemplo, em um stio localizado em uma

    caverna ou em uma rea de campo aberto a setorizao normalmente feita de

    acordo com a posio dos pontos cardeais Norte/sul/leste/oeste traando as linhas a

    partir de um marco zero e utilizando as linhas alfanumricas, como por exemplo

    linhas 0,1,2,3, Norte e linhas A,B,C, cruzando esta a 90 e chegando ao nome do

    setor tipo Setor NA1, Setor NB1; Setor NA2, Setor NB2 e assim sucessivamente (ver

    figura 1).

    0

    N

    S

    1

    2

    3

    4

    5

    6

    1

    2

    3

    4

    5

    A B C D E FABCDEF LO

    NC2

    LB1SC1

    OB4

    Figura 3 setorizao em quadrantes

  • 16

    Quanto aos stios localizados em reas onde se tem um referencial que possa

    servir de marco zero e tambm uma delimitao por parede, muro, cerca ou estrada,

    utiliza-se um destes pontos ou marcos para iniciar a setorizao.

    Como exemplo: quando se tem um muro que esteja delimitando a rea,

    utiliza-se este para lanar a linha numrica ou alfabeta, e a partir do marco zero

    traam-se duas linhas perpendiculares formando um L. A partir deste marco inicia-se

    a setorizao que segue os padres parecidos com os das coordenadas dos pontos

    cardeais. Com a linha numrica em 1,2,3 e a alfabeta em A,B,C e assim

    sucessivamente cruzando estas linha e dando nome aos Setores tipo A0, A1, B1,

    A2,B2 at chegar ao final da poligonal do stio.

    Figura 4 setorizao em L

    Em alguns casos a setorizao ultrapassa o limite do alfabeto, faltando letras

    para completar a poligonal do sitio, neste caso sugere-se que utilize o sistema de

    repetio das letras tipo AA, AB, AC... para que a setorizao continue at o final da

    poligonal e toda rea fique setorizada para melhor compreenso do trabalho.

  • 17

    Em relao aos stios histricos, neste caso podemos utilizar os dois sistemas

    de setorizao citados acima, principalmente quando se trata de stios abertos sem

    estruturas, queles onde s se encontra fragmentos de loua, cermica, ferro etc.

    Mas quando um sitio ainda com estruturas aparentes, sugere-se utilizar a tambm

    a setorizao padro, mas tambm por reas, identificadas por cmodos (terreiro,

    curral, senzalas, engenhos etc.) facilitando assim uma maior compreenso do

    espao e utilizao de cada rea. necessrio lembrar que neste caso h

    necessidades de descrever rea por rea, incluindo se possvel nas descries o

    modelo construtivo do telhado, paredes, pisos etc. para que seja possvel reconstruir

    historicamente o stio.

    Na execuo da setorizao o estaqueamento consiste na colocao de

    estacas (geralmente de madeira) com aproximadamente 30 cm de altura, de

    preferncia pintadas de vermelho e branco para sobressair. Estas so dispostas em

    linha reta a partir do marco zero a cada 2 ou 5 metros geralmente, de acordo com a

    extenso do stio. Este processo deve ser executado at o final da poligonal, sendo

    esta etapa repetida tanto na linha alfabetada quanto na linha numerada. Em seguida

    as estacas devem ser interligadas com barbante, definindo visualmente os setores.

    Aps esta ao deve ser produzido um mapa de setorizao para que o

    arquelogo possa registrar todas as intervenes realizadas na rea. Croquis com

    detalhes de setores onde ocorram estruturas ou artefatos importantes tambm

    devem ser produzidos, pois facilitam bastante na hora de contextualizar as

    informaes.

    Esta etapa extremamente importante para referenciar a localizao de

    estruturas e artefatos em relao a rea do stio e demais reas.

  • 18

    Figura 5 planta de setorizao do sitio Nazar ll - acervo IAB

    6.3 - Escavaes

    O Mtodo de escavao adotado pelo Instituto de Arqueologia Brasileira, que

    vem sendo aplicado por mais de 5 dcadas, consiste em iniciar logo aps a

    setorizao da rea do stio o processo de escavao propriamente dito. De acordo

    com a superfcie da rea necessrio fazer a limpeza desta atravs de capina ou

    retirada manual do mato, se houver, e em seguida iniciar a escavao em nveis

    artificiais com espessura de 10 cm, at chegar ao nvel final onde no se encontra

    mais nenhum vestgio arqueolgico (camada estril). necessrio sempre observar

    a camada ocupacional de forma a no deixar passar nenhuma informao, como por

    exemplo: buraco de estacas, colorao do solo, composio do solo, e tambm

    anotar qualquer tipo de perturbao (razes e bioturbaes), pois muitas das vezes

    ocorrem alteraes na camada que esta sendo escavada que podem no serem

    percebidas.

    Em alguns casos observa-se que tais perturbaes muitas das vezes esto

    associadas a fogueiras, esqueletos ou urnas funerrias, pois geralmente eram feitos

    cortes profundos para enterra-los, s vezes em profundidade que ultrapassa 1 metro

    e deixam vestgios de movimentao de terra.

  • 19

    Ao chegar na camada estril, sugere-se fazer um corte de 1x1 metro ou uma

    tradagem com profundidade mnima de 50 cm para se ter a certeza absoluta de que

    no h nenhuma evidencia arqueolgica abaixo do ltimo nvel escavado, e assim

    dando por encerrado as escavaes neste corte ou setor.

    6.4 Coleta de sedimento

    Durante o processo de escavao, deve-se observar com clareza a colorao

    do solo, pois muitas das vezes no identificada adequadamente.Tambm

    preciso observar sempre o tipo de sedimento, principalmente aquele que est no

    entorno ou dentro de uma urna ou esqueleto. Geralmente necessrio realizar a

    coleta de amostras deste sedimento para anlise. Neste processo sugere-se que se

    utilize uma ferramenta limpa e armazenado em saco de papel para evitar fungos e a

    contaminao do material coletado.

    O mesmo processo de coleta de sedimento deve ser adotado para a coleta de

    C14 (carvo) e neste caso os cuidados de contaminao devem ser redobrados. No

    ato da coleta o ideal utilizar de preferncia uma ferramenta esterilizada, e a

    amostra colocada em saquinhos plsticos com lacre. O saco com o material deve

    ser envolvido com esparadrapo ou fita gomada e depois de identificado atravs de

    etiqueta. Este no pode receber a luz solar para tambm no suar e no haver

    contaminao por fungos.

    Figura 6 coleta de sedimento no stio Aldeia de Itaguau I

  • 20

    6.5 - Escavaes em projetos de pesquisa acadmica

    Normalmente em uma escavao de arqueologia acadmica, onde os

    trabalhos so feitos de forma lenta e delicada, coletando-se o mximo de

    informaes do sitio, podendo levar at mais de um ano de pesquisa, comum

    utilizar a setorizao de 2x2 metros quadrados ou trincheiras que podem ser feitas

    com a largura de 50 cm a 1 m de largura, com profundidade de acordo com o sitio.

    Ou at mesmo fazer o sistema de decapagem das camadas naturais, onde neste

    caso entraria a aplicao do mtodo francs para melhor compreenso da

    estratigrafia e evoluo ocupacional do stio.

    6.6 - Escavaes em projetos de arqueologia de contrato

    Quanto ao sistema de arqueologia de contrato, os trabalhos requerem os

    mesmo cuidados do sistema acadmico, porem o tempo limitado, atendendo a

    demanda do empreendedor. Nestes projetos passou-se a utilizar tambm o sistema

    de setorizao com setores amplos normalmente de 5x5 metro ou trincheiras

    facilitando e agilizando os trabalhos, mas no deixando interferir na qualidade da

    pesquisa. Neste caso, pode-se utilizar alm dos setores, a tcnica de cortes

    menores dentro dos setores. Por exemplo: setor A2 com medidas 5x5m - corte 1 de

    2x2m ou 1x1m, e assim sucessivamente at esgotar o setor. Pode-se ainda deixar

    blocos testemunhos ou passadios, realizando a coleta por mostragem. Ao escavar

    uma rea ampla, o tempo de trabalho ser bem maior que numa rea de 2x2 metros

    e nem sempre os vestgios arqueolgicos se encontram concentrados em um nico

    espao, sem contar que pode-se escavar vrios outros cortes de 2x2 metros em

    vrias partes do stio e obter uma mostragem mais efetiva.

    6.7 Escavao em Stios fechados ou cavernas e abrigos

    No caso de um stio localizado em caverna, as tcnicas de abordagem devem

    ser diferentes das demais, pois neste caso deve-se observar que o solo, na maioria

    de vezes se apresenta muito fino (pulverulento) e com camadas ocupacionais muito

    finas chegando 5 cm de espessura em mdia. Se o pesquisador no tiver cuidado e

    ateno ao se locomover ou escavar estes stios, corre o risco de misturar as

    camadas, fazendo com que as camadas superiores adentrem nas camadas

    inferiores e com isso as dataes ficam totalmente comprometidas, mostrando

    horizontes recentes em profundidades que no condizem com a realidade das

    camadas, e ao mesmo tempo perturbando por completo todo e qualquer outro

  • 21

    vestgio arqueolgico encontrado na caverna, fazendo com que o material que

    estava na superfcie seja empurrado para camadas mais profundas.

    No caso de uma escavao em um sitio arqueolgico em caverna, o

    equipamento ou ferramenta a ser utilizado deve sempre ser o mais leve possvel,

    para que se possa fazer a escavao de maneira bem suave sem perturbar o solo,

    por isso sugere-se a utilizao de pincis, pulverizadores, colher de pedreiro de bico

    fino e leve, peneiras de trama fina e de preferncia no utilizar calados pesados,

    sendo o ideal se trabalhar neste local usando nos ps apenas meias ou ainda se

    possvel, fazer pequenas passarelas para que os trabalhadores no pisoteiem as

    reas com camadas ocupacionais.

    Durante as escavaes em um stio arqueolgico localizado dentro de uma

    caverna, alm de todos os cuidados necessrios com a integridade do stio, deve-se

    sempre observar as possveis micro camadas com cerca de 2 cm de espessura que

    muitas das vezes so to finas que se confundem com as camadas mais espessas,

    sendo que estas micro camadas podem ter levado centenas de anos para se

    formarem. Muitas das vezes so encontrados materiais culturais que apresentam

    dataes que se diferem das demais, mostrando que naquela pequena camada de 5

    cm houve uma ocupao que viveu ou passou neste local h centenas de anos e

    por este motivo, h necessidade identificar esta pequenas camada ocupacionais,

    mesmo que se trate de uma camada sem muita expresso, o trabalho de muita

    ateno para no se perder informaes preciosas que por ventura possam existir

    nestas micro camadas.

    Se tratando de pesquisa em um stio localizado em caverna, no se pode

    esquecer que, alm da pesquisa em solo, tambm deve-se observar nas paredes e

    paredes possveis pinturas ou pictografias rupestres, que muito comum nestes

    locais. Assim como tambm possveis marcas de fogo, que na maioria das vezes se

    confundem com marcas de quebra coquinhos, muito comuns em reas com

    formao de calcrio.

    Exemplos que podem ser citados onde foram aplicadas estas tcnicas foram

    o Sitio Lapa da Foice em Varzelndia (MG) (ver figura 7) e Stio do Gentio II em Una

    (MG), onde o autor deste artigo participou de vrias etapas de pesquisa nas

  • 22

    dcadas de 1970 e 1980. No stio do Gentio II foi resgatado um dos mais

    importantes exemplares arqueolgicos brasileiros, a mmia Acau.

    Figura 7 escavao no sitio Lapa da foice em Varzelndia (MG) na decada de 1980

    6.8 Escavao em Stios abertos em campo limpo

    A tcnica utilizada para o salvamento e resgate de um stio em campo aberto

    a mesma de um stio localizado em cavernas, a diferena est na tcnica a ser

    utilizada, que tem algumas especificidades.

    Aps a setorizao da rea, iniciam-se os trabalhos j com os setores

    marcados. Inicialmente deve ser feita a limpeza de superfcie. Neste caso as

    camadas ocupacionais tendem a ser mais compactas e espessas, variando entre 5 a

    15 cm incluindo a camada hmica. Neste caso muitas das vezes h a necessidade

    de se utilizar ferramentas mais pesadas do tipo: sacho, cavadeiras e enxadas.

    O processo de escavao o mesmo, Aps a limpeza da superfcie realiza-se

    a escavao em nveis artificiais a cada 10cm, coletando-se todo o material

    evidenciado, armazenando estes em sacos plsticos de acordo com a tipologia

    (loua, metal, vidro, cermica, etc.). Estes sacos devem ser identificados com

    etiquetas internas e externas que contenham informaes da procedncia destes

  • 23

    materiais. Alm disso, necessrio registrar tudo que aconteceu neste nvel em uma

    ficha chamada de ficha de nvel que servir de base de dados para o relatrio. Este

    procedimento adotado em todos em todos os tipos de sitio arqueolgico.

    A escavao em nveis artificiais oriunda da metodologia americana, porem

    segundo a metodologia francesa a escavao realizada em camadas naturais,

    seguindo a estratigrafia do terreno. A escavao deve ser feita at chegar camada

    estril que pode estar localizada a 50 cm ou a mais de 2 metros de profundidade.

    Durante todo o processo de escavao no se pode esquecer que, a cada

    nvel escavado, h necessidade de se fotografar todo o material encontrado in sito

    (sem retira-lo do local) de preferncia com quadro de fotografia identificando o stio,

    setor, nveis, data e etc.

    Tambm de extrema importncia o uso de uma escala pequena 1:1 para

    no ofuscar o material. Muitos profissionais usam uma seta como escala, registrando

    a orientao magntica, porem s h necessidade de registrar a orientao quando

    ocorrerem artefatos muito importantes como urnas e enterramentos, no mais deve

    ser usado apenas a escala, uma vez que a orientao de um fragmento de cermica

    no teria tanta importncia.

    Durante o processo de escavao dos nveis, interessante produzir um

    croqui de plano de topo, que normalmente inserido no verso das fichas de nvel. O

    plano de topo consiste em um quadrado com dimenses de 2,00 por 2,00

    subdividido em pequenas quadriculas onde so desenhados todos os artefatos

    encontrados no nvel, e suas dimenses.

    Outro fator de grande importncia durante uma escavao o registro das

    coordenadas GPS quando houver uma descoberta significativa ou quando os cortes

    ou setores estiverem distantes um do outro.

    Como exemplo de stios com estas caractersticas pesquisados pelo autor

    esto a maioria dos resgatados no programa de arqueologia do Arco Metropolitano

    do Rio de Janeiro, entre eles o Aldeia de Itaguau l (ver figura 8) e o Mato dos ndios

    IV.

  • 24

    Figura 8 vista de rea escavada no sitio Aldeia de Itaguau I

    6.9 - Escavao em Stios histricos

    A tcnica para escavaes de um stio histrico ainda com alvenaria, no

    difere muito das demais, a diferena que ao invs de setorizar o sitio, utiliza-se os

    limites dos prprios cmodos como setores para facilitar os trabalhos. Neste caso o

    norte deve ser referenciado, porem no ser utilizado como referncia principal. Na

    maioria das vezes quando da escavao de um stio histrico com alvenarias e que

    os cmodos esto identificados, basta trabalhar com o sistema de reas exemplo:

    Stio Fazenda dos Batatais, rea: Sala corte 1, rea: Quarto 1 corte 1,

    Todo o trabalho deve ser registrado em papel milimetrado para que no

    laboratrio a compreenso seja fcil. importante, quando possvel, descrever o

    modelo construtivo da construo desde o telhado at o piso includo as estruturas

    de fundao. Neste caso tambm sugere-se fazer a leitura das coordenadas de

    todos o cmodos, assim com a medida de cada um e o total geral da construo.

    No caso de uma escavao de um stio histrico j tenha sido parcialmente

    destrudo e no ocorram vestgios de paredes ou qualquer outro tipo de alvenaria

    aparente, sugere-se a setorizao padro e no decorrer dos trabalhos, se caso

    evidencie alguma estrutura, esta ser inserida no setor a qual ela aparece ou os

  • 25

    setores a qual segue e passa. Neste caso tambm identificando o modelo

    construtivo desta estrutura remanescente, seja um piso ou um fragmento de parede.

    Em casos de stio histricos que no sejam residncia ou comrcio, como j

    foi executado por vrias vezes pela equipe do IAB como uma estrada ou muro de

    pedra ou qualquer outro tipo de construo indefinida, sugere-se que seja realizada

    uma caracterizao com a retirada de todo o mato ou entulho existente sobre as

    estruturas promovendo sua evidenciao, identificando-as para saber, o seu

    formato, funo, dimenses e principalmente o modelo construtivo. No caso de uma

    estrada, se o calamento de pedra posta, pedra seca, p de moleque ou

    macadame. Se no caso for uma construo do tipo: paredo de pedras, mureta

    pedra de proteo, bueiros ou pontes ou algo parecido, julga-se necessrio utilizar

    todos os procedimentos adotados para a identificao dos mesmos, fazendo a

    caracterizao com a limpeza e capina, registro em desenho e fotografia,

    identificao atravs de GPS, metragem de comprimento e largura e principalmente

    o modelo construtivo deste patrimnio.

    Quando se identifica estruturas em subsolo faz se necessrio escavar junto a

    estas, abrindo um ou mais cortes ou trincheiras para verificar a profundidade destas.

    No basta apenas fazer a caracterizao superficial, deve-se aprofundar as

    pesquisas para se ter uma leitura completa do que aconteceu no local e qual seria o

    uso desta construo.

    Como exemplo de aplicao destas tcnicas em stios pesquisados pelo autor

    esto a Igreja da S e JB 695 (RJ) (ver figura 9), Stio do Jambeiro em Paracatu

    (MG) e Stio Runas da Serra do Piloto em Mangaratiba (RJ).

  • 26

    Figura 9 evidenciao de estrutura histrica no stio JB 695

    7 Monitoramento

    Aps as etapas de levantamento, prospeco e salvamento os trabalhos de

    campo no que chamamos de arqueologia de contrato no terminam, pois os stios

    encontrados nas reas diretamente impactadas devem ser resgatados se possvel

    em sua totalidade e artefatos remanescentes podem surgir nesta etapa, que se

    chama de monitoramento arqueolgico.

    O monitoramento consiste num acompanhamento das atividades de

    movimentao de terra em reas de stios j resgatados ou outras com grande

    potencial arqueolgico onde ocorra supresso vegetal. Nestas a possibilidade de

    ocorrncia de novos stios e grande. reas das jazidas ou reas de bota fora devem

    ser monitoradas mesmo que distam da rea diretamente afetada.

    Esta etapa requer um bom profissional, de preferncia um Arquelogo ou em

    um tcnico com conhecimento profundo em arqueologia. Este deve ter o

    conhecimento sobre a rea a ser monitorada para que o empreendedor que por

    ventura venha ultrapassar os seus limites autorizados, seja orientado a seguir

    apenas o que foi liberado pelos rgos fiscalizadores.

  • 27

    Durante o processo de monitoramento todas as reas com escavaes,

    perfuraes ou qualquer outro movimento de terra, deve ser pesquisada. O

    profissional no deve nunca achar que o trabalho foi encerrado, pois no menor

    descuido, uma lmina de mquina pode destruir um stio inteiro. A ateno e a

    dedicao neste caso so primordiais para a execuo deste trabalho, por isso o

    profissional, alm da experincia tambm tem que ter perseverana e vontade.

    8 Consideraes finais

    Diante do que foi apresentado neste trabalho, pode-se concluir que a

    metodologia desenvolvida pelo professor Ondemar Dias nos idos de 1960 e

    disseminada atravs de seus alunos e seguidores utilizada ate os dias atuais, com

    seus devidos aperfeioamentos. Verifica-se tambm que a pesquisa arqueolgica

    no simplesmente restrita a ida a campo fazer escavaes, para realiza-la com

    sucesso necessrio uma boa equipe, formando uma s engrenagem para que tudo

    funcione corretamente, desde a elaborao do projeto at o resultado final, incluindo

    os trabalhos em laboratrio e as publicaes. necessrio antes de tudo analisar a

    rea do sitio, para que se possa definir a metodologia e as tcnicas a serem

    aplicadas na pesquisa. O stio arqueolgico quem vai nos dizer o melhor

    procedimento a ser tomado.

    Seria possvel citar vrios exemplos de stios arqueolgicos que

    apresentaram condies adversas, nos obrigando a adotar tcnicas diferentes

    daquela inicialmente programada para ser aplicada nas escavaes, fazendo com

    que mudssemos radicalmente o projeto inicial de salvamento para que o resultado

    fosse alcanado. Entretanto acredita-se que os exemplos citados possam oferecer

    ao menos um embasamento para novos pesquisadores.

    Espera-se que este artigo, baseado nos conhecimentos adquiridos de outros

    pesquisadores e experimentos cotidianos e na vida profissional do autor, possa de

    alguma maneira contribuir para a divulgao da pesquisa arqueolgica de campo,

    que na verdade, uma das mais importantes etapas da pesquisa arqueolgica.

    9 - Referncias bibliogrficas

    RAHTZ,PHILIP convite a arqueologia / Philip Rahtz; traduo de Luiz Orlando Coutinho Lemos Rio de Janeiro: Imago Ed., 1989. EVANS e MEGGERS Guia para Prospeco Arqueolgica no Brasil guia n2 Conselho Nacional de Pesquisas da Amaznia, Museu Paraense Emilio Goeldi, Belm PA, 1965

  • 28

    BICHO, N. Ferreira; Manual de Arqueologia Pre-histrica, Edies 70, 525p,2006. Relatrios de campo programa de arqueologia do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro , IAB , 2012. ALVES, M.A. Artigo TEORIAS, METODOS, TCNICAS E AVANOS NA ARQUEOLOGIA BRASILEIRA Revista Caninde, Xing ,N 2 , 2002 disponvel em www.max.org.br/biblioteca/Revista/Caninde.../P9-51 - acessado em 20/04/2013.