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Gestão de marcas de moda e identidade visual: critérios de escolha para tomada de decisão. São Paulo | 2017 Danilo Cid

Pesquisa ESPM · 2018-08-09 · !!! ! Cid, Danilo Corrêa da Costa GESTÃO DE MARCAS DE MODA E IDENTIDADE VISUAL: CRITÉRIOS DE ESCOLHA PARA TOMADA DE DECISÃO / Danilo Corrêa da

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Gestão de marcas de moda e identidade visual:critérios de escolha para tomada de decisão.

São Paulo | 2017

Danilo Cid

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ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING  PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM  

COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR  (MPCC)  

DANILO CID  

GESTÃO DE MARCAS DE MODA E IDENTIDADE VISUAL:

CRITÉRIOS DE ESCOLHA PARA TOMADA DE DECISÃO  

SÃO PAULO  Março 2017  

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DANILO CID

GESTÃO DE MARCAS DE MODA E IDENTIDADE VISUAL:

CRITÉRIOS DE ESCOLHA PARA TOMADA DE DECISÃO  

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Comportamento do Consumidor pela Escola de Propaganda e Marketing – ESPM. Orientador: Prof. Dr. Fabio Mariano Borges

SÃO PAULO  Março 2017  

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Cid, Danilo Corrêa da Costa GESTÃO DE MARCAS DE MODA E IDENTIDADE VISUAL:CRITÉRIOS DE ESCOLHA PARA TOMADA DE DECISÃO / Danilo Corrêada Costa Cid. - São Paulo, 2017. 214 p. : il., color.

Dissertação, Mestrado Profissional em Comportamento do Consumidor, SãoPaulo, 2017.

Orientador: Fabio Mariano Borges

1. Comportamento do consunidor. 2. Gestão de Marca. 3. Design. 4.Identidade Visual. 5. Moda. I. Borges, Fabio Mariano. II. Escola Superior dePropaganda e Marketing. III. Título.

Ficha catalográfica elaborada pelo autor por meio do Sistema de Geração Automático da BibliotecaESPM

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Para minha mãe Odirce e suas palavras.

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Agradecimentos

Ao professor Fabio Mariano Borges pela orientação e exemplo.

À Ana Lucia Lupinacci por incentivar e acreditar no meu potencial como pesquisador.

À Ana Couto pela parceria e inspiração diária há 18 anos.

À ESPM, instituição que molda a formação dos designers brasileiros.

Aos professores do MPCC que generosamente contribuíram para a trajetória desta pesquisa:

Vivian Iara Strehlau, George Bedinelli Rossi, Luciana Florêncio Almeida, Mateus Canniatti

Ponchio, Cristina Helena Pinto de Melo, Ricardo Zagallo Camargo e Thelma Valéria Rocha.

Aos profissionais exemplares que constroem a história das marcas de moda no Brasil:

Adriana Bozzon, Carlos Mach, Giovanni Bianco, Glória Marques, Raniery Aranha e

Roberto Rios.

À minha melhor irmã, Mariana Cid.

Por fim, agradeço àqueles que vivem diariamente o tema desta pesquisa:

Lilian Raco, Andre Vela, Cecília Costa, Claudia Weber, Cris Tavares, Cris Grether, Fernanda

Salgado, Hugo Rafael, Filipe Ozelin, Napoleon Fujisawa, Rafael Torres, Angelica Kley,

Bruna Poline, Thiago Thomé, Chris Lynn, Michel Farah, Gulherme Falcão e Zoy

Anastassakis – os designers da minha vida cujas visões singulares, paixão e talento são

minhas referências para o exercício da profissão.

Bruno Israel, Lais Cobra, Erika Pinheiro, Larissa Menocci, Leonardo Senra, Marina Riecken,

Natalia Gallucci, Renata Bokel, Isabella Mulholland e Renato Winnig – os profissionais que

me ensinam a enxergar o design por outro ângulo.

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Resumo

Marcas são ativos estratégicos para o sucesso de uma empresa ou produto. Sua identidade visual compreende os estímulos de toda sua interface física, que inclui logo, símbolo, cor, forma, tipografia, texturas, padronagens e imagem. É por meio da identidade visual que uma marca se insere em uma categoria de produtos, se distingue de seus concorrentes e expressa sua personalidade. Se, por um lado, muito se aprofundou nos últimos 30 anos sobre as dimensões conceituais de marca que sistematizam suas forças; por outro, pouco se progrediu na pesquisa dos elementos visuais que compõem sua identidade visual. O objetivo principal desta pesquisa é avançar na identificação de argumentos e variáveis para a escolha de uma identidade visual praticada no mercado, quais critérios podem ser apontados como chaves nessa tomada de decisão. Para tanto, o público escolhido para estudo foram os peritos contemporâneos da marca – designer e gestor de marca. Ademais, para uma comparação entre processos de tomada de decisão com similaridade de contexto, optou-se pelo recorte do mercado de vestuário e acessórios, também conhecido como mercado de moda. O procedimento metodológico deste trabalho é uma pesquisa qualitativa com entrevistas em profundidade com gestores de marca de moda. Todos esses gestores foram decisores nos processos de revitalização das seguintes marcas: Schutz, Farm, Rosa Chá, Regina Rios, Zinco e Ellus. Tanto para o mercado quanto para a academia, a pesquisa pretende contribuir para o avanço na formalização de critérios de sucesso e argumentos para a tomada de decisão de uma identidade visual.

Palavras-Chave: Comportamento do Consumidor, Gestor de marca, Design, Identidade Visual, Moda

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Abstract

Brands are strategic assets to guarantee a company’s or product’s success. Their visual identity comprehends the stimuli of its entire physical interface, which includes logo, symbol, color, shape, typography, textures, patterns, and image. It is through visual identity that a given brand takes place in a specific category of products, distinguishes itself from their competitors, and expresses its personality. For the past 30 years, there has been many discussions about the conceptual dimensions of brands that summarize their strengths. However, little has been researched about the visual elements that constitute their visual identity. The main objective of this research is to move forward in identifying arguments and variables for the choice of a certain visual identity practiced in the marketplace; as well as which criteria can be pointed as fundamental in these decision-making processes. To accomplish that, the chosen audience for this study is the contemporary brand experts – the designer and the brand manager. Furthermore, to draw a comparison between decision-making processes with context similarity, this research focus upon the marketplace of clothes and accessories, also known as the fashion market. The methodological procedure here is a qualitative research with in-depth interviews with fashion brands managers. All of them were decisive in the processes of revitalization of the following brands: Schutz, Farm, Rosa Chá, Regina Rios, Zinco, and Ellus. Both for the marketplace and the academy, this research intends to contribute in the formalization of success criteria and arguments for decision making when it comes to visual identity.

Keywords: Consumer Behavior, Brand Manager, Design, Visual Identity, Fashion

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Lista de figuras

Figura  1  –  Brand  System  .......................................................................................................................  24  Figura  2  –  Dimensões  de  Brand  Knowledge  .........................................................................................  25  Figura  3  –  Prisma  de  identidade  de  marca  ...........................................................................................  26  Figura  4  –  Os  ideais  de  identidade  de  marca  ........................................................................................  27  Figura  5  –  Modelo  de  sistematização  de  marca  ...................................................................................  29  Figura  6  –  Metodologia  de  plataforma  de  marca  .................................................................................  30  Figura  7  –  Elementos  que  formam  identidade  visual  ...........................................................................  32  Figura  8  –  Pontos  de  contato  da  Marca  ................................................................................................  34  Figura  9  –  Árvore  de  decisão  para  logos  ...............................................................................................  36  Figura  10  –  Topologia  das  marcas  ........................................................................................................  36  Figura  11  –  Topologia  das  Marcas  com  exemplos  de  vestuário  e  assessórios  .....................................  37  Figura  12  –  Cor:  Tiffany  ........................................................................................................................  38  Figura  13  –  Tipografia:  Uniqlo  ..............................................................................................................  39  Figura  14  –  Forma:  Adidas  ....................................................................................................................  39  Figura  15  –  Texturas  e  padrões:  Burberry  ............................................................................................  40  Figura  16  –  Imagem:  Lacoste  ................................................................................................................  41  Figura  17  –  Outros  elementos  da  identidade  visual:  Chanel  ................................................................  42  Figura  18  –  Outros  elementos  da  identidade  visual:  Repetto  ..............................................................  43  Figura  19  –  Outros  elementos  da  identidade  visual:  Alexander  McQueen  ..........................................  44  Figura  20  –  Cartazes,  da  esquerda  para  a  direita:  ................................................................................  47  Figura  21  –  Logo  e  aplicações  da  marca  do  4º  Centenário  da  cidade  do  Rio  de  Janeiro.  Aloísio  Magalhães,  1965  ..................................................................................................................................  52  Figura  22  –  Logo  Klabin.  Alexandre  Wollner  .........................................................................................  53  Figura  23  –  Escritórios  formais  de  design  no  país  e  postos  de  trabalho  ocupados  ..............................  56  Figura  24  –  Processo  de  criação  esquematizado  ..................................................................................  68  Figura  25  –  Proposta  de  valor  Zinco  (Essência  e  Pilares  de  Personalidade  e  Atributos)  ......................  74  Figura  26  –  Auditoria  Visual  de  Zinco  ...................................................................................................  76  Figura  27  –  Registro  do  benchmark  para  a  Zinco:  Moschino  e  Kate  Spade  ..........................................  77  Figura  28  –  Registro  de  estudos  selecionados  do  logo  Zinco  ...............................................................  78  Figura  29  –  Registro  de  prancha  de  apresentação  de  uma  das  opções  de  logo  Zinco  .........................  80  Figura  30  –  Logo  Zinco  escolhido  ..........................................................................................................  82  Figura  31  –  Desenvolvimento  do  sistema  de  identidade  visual  da  Zinco:  variações  de  cor,  paleta  de  cores,  padronagem  gráfica  e  uso  de  padronagem  com  imagem  .........................................................  82  Figura  32  –  Desenvolvimento  do  sistema  de  identidade  visual  da  Zinco:  padronagem  diagonal  secundária,  aplicação  do  sistema  em  capas  de  catálogo,  aplicação  promocional  do  sistema  (ZINCOAMO  e  ZINCOJEANS)  .................................................................................................................  83  Figura  33  –  Diagrama  de  processo  de  design  no  qual  a  necessidade  e  interesses  da  sociedade,  clientes  e  designer  culminam  em  sobreposição.  Charles  Eames,  1969  ................................................  84  Figura  34  –  Logo  Gap:  original  e  atualização  ........................................................................................  86  Figura  35  –  Peças  de  vestuário  e  acessórios  dominados  por  logos:  Chanel,  Kenzo,  Hermès.  Louis  Vuitton  e  Yves  Saint  Laurent  ................................................................................................................  87  

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Figura  36  –  Fachada,  catálogo  impresso,  material  de  ponto  de  venda,  detalhe  do  bolso  de  um  jeans,  detalhe  de  uma  bolsa  e  logo  Kate  Spade  (2012)  ..................................................................................  88  Figura  37  –  Revitalização  dos  logos  Refinery29  (2013)  e  Armani  Exchange  (2015).  À  esquerda,    o  original,  e  à  direita  o  logo  revitalizado  .................................................................................................  89  Figura  38  –  Estratégia  de  Impacto:  Louboutin  e  seu  sapato  com  sola  vermelha  .................................  92  Figura  39  –  Estratégia  de  Sistema:  Padronagem  Xadrez  da  Burberry  ..................................................  93  Figura  40  –  Estratégia  de  Sistema:  Padronagem  Chevron  da  Missoni  .................................................  94  Figura  41  –  Estratégia  de  Produto:  Osklen  ...........................................................................................  95  Figura  42  –  Estratégia  de  Produto:  Fendi  .............................................................................................  95  Figura  43  –  Prisma  de  idenidade  de  marca  com  elementos  da  identidade  visual  destacados  ...........  113  Figura  44  –  Prisma  de  idenidade  de  marca  para  Lacoste  12x12  .........................................................  113  Figura  45  –  Modelo  de  conhecimento  de  Marca  com  elementos  da  identidade  visual  destacados  Fonte:  Keller  (1993)  e  autoria  própria  ................................................................................................  115  Figura  46  –  Identidade  Visual  Schutz  ..................................................................................................  134  Figura  47  –  Identidade  Visual  Farm  ....................................................................................................  135  Figura  48  –  Identidade  Visual  Ellus  .....................................................................................................  136  Figura  49  –  Identidade  Visual  Rosa  Chá  ..............................................................................................  137  Figura  50  –  Identidade  Visual  Zinco  ....................................................................................................  138  Figura  51  –  Identidade  Visual  Regina  Rios  ..........................................................................................  139  Figura  52  –  Identidades  visuais:  original  e  revitalizada  ......................................................................  164  Figura  53  –  Loja  temporária  da  Schutz  a  esquerda  e  a  direita  a  loja  definitiva  ..................................  166  Figura  54  –  Marca  Zinco  e  variação  com  inserção  de  conteúdo  .........................................................  168  Figura  55  –  Variações  da  identidade  visual  da  Zinco  com  inserção  de  conteúdo  ..............................  169  Figura  56  -­‐  Pattern  Diamante  tradicional,  à  esquerda  e  à  direita  o  pattern  acompanhado  de  uma  ilustração  floral,  resultado  do  trabalho  de  direção  criativa  de  Alessandro  Michele  desde  2015  ......  181  Figura  57  –  Identidade  visual:  o  que,  como  e  para  quê  ......................................................................  196  Figura  58  –  Identidade  visual:  correlação  entre  critérios  ...................................................................  197  Figura  59  –  Identidade  visual  da  Zinco  testada  em  diferentes  meios:  ...............................................  202  

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Lista de quadros

Quadro  1  –  Interferências  na  comunicação  entre  gestor  de  marca  e  designer  ...................................  19  Quadro  2  –  Metodologia  de  plataforma  de  marca  ...............................................................................  31  Quadro  3  –  Registro  comparativo  de  concorrentes:  Rosa  Chá,  Farm,  Lez  a  Lez,  Colcci  e  Morena  Rosa  ..............................................................................................................................................................  76  Quadro  4  –  Aplicação  em  pontos  de  contato  .......................................................................................  79  Quadro  5  –  Defesa  conceitual  do  logo  escolhido  .................................................................................  81  Quadro  6  –  Modelo  indivíduo  +  marca  de  moda  ..................................................................................  91  Quadro  7  –  Autores,  conceitos  de  identidade  visual  e  critérios  .........................................................  102  Quadro  8  –  Critérios  e  autores  ...........................................................................................................  124  Quadro  9  –  Dados  sobre  gestores  ......................................................................................................  148  

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Lista de siglas e abreviações

AMA – American Marketing Association

ABEDESIGN – Associação Brasileira de Empresas de Design

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Sumário

Lista de figuras ................................................................................................... 8  

Lista de quadros ............................................................................................... 10  

1. Introdução ..................................................................................................... 14  

1.1  Relevância  do  estudo,  metodologia  e  contribuições  ................................................................................  18  

2. Gestão de marcas .......................................................................................... 21  

2.1.  Marcas  ...................................................................................................................................................  21  

2.2.  Sistematização  de  Marcas  ......................................................................................................................  23  

2.3  Identidade  Visual  de  Marca  ....................................................................................................................  31  

3. Peritos da construção ................................................................................... 45  

3.1.  O  designer  .............................................................................................................................................  45  

3.2  O  Gestor  de  Marca  ..................................................................................................................................  57  

4.  Processo  de  construção  de  uma  identidade  visual  .....................................................................................  67  

4.1  O  processo  de  criação  e  os  recursos  utilizados  pelo  designer  ...................................................................  67  

4.2  Etapas  de  um  projeto  de  Branding  e  Identidade  Visual  ...........................................................................  70  

4.3  Relação  entre  designer  e  gestor  de  marca  ...............................................................................................  83  

5. Moda e Identidade Visual ............................................................................ 86  

6. Procedimentos Metodológicos ..................................................................... 97  

6.1  Problema  de  Pesquisa  .............................................................................................................................  97  

6.2  Papel  do  Pesquisador  ............................................................................................................................  100  

6.3  Estratégia  de  pesquisa  ..........................................................................................................................  101  

7. Análise das entrevistas em profundidade ................................................ 147  

8. Considerações Finais .................................................................................. 189  

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9. Referências Bibliográficas ......................................................................... 209    

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1. Introdução

Se o leitor estiver conversando com alguém que vista um agasalho com três listras paralelas

certamente saberá qual a marca do agasalho em questão. Ou, se vir uma caixinha de joias

naquele azul turquesa, outra marca virá à cabeça. Para aqueles com mais interesse em moda, a

sola vermelha de um sapato, um trench coat com forro xadrez, ou as pérolas e a camélia

lembrarão claramente outras marcas. Todos esses elementos citados pertencem à identidade

visual das marcas Adidas, Tiffany, Louboutan, Burberry e Chanel, respectivamente. São

ícones de alto poder de reconhecimento dessas marcas ao mesmo tempo em que estabelecem

uma conexão com diversos valores que tais marcas pretendem expressar. Phillips [et al]

(2014) afirma que a identidade visual é capaz de influenciar diretamente as respostas de

consumidores às marcas. É a propósito desses elementos e suas implicações que este trabalho

foi desenvolvido.

É sabido que marcas são ativos estratégicos para o sucesso de uma empresa ou produto. É por

meio dos pontos de contato da marca, ou seja, suas manifestações físicas, que os seus

públicos identificam seu segmento ou categoria, criam associações com valores e com a

personalidade que a marca pretende projetar e podem distingui-la de seus concorrentes

(Zaichkowski, 2010). Para tanto, tais pontos de contato devem ser vestidos com a identidade

visual da marca e daí provoca-se o efeito descrito na abertura deste trabalho. É ela, portanto,

que estabelece correspondência física com conceitos abstratos de valores e personalidade.

Nos últimos 30 anos, muito se estudou sobre as dimensões conceituais da gestão de marca,

sistematizando seus elementos e forças. Ao longo deste período, conceitos investigados

emergiram como referência, entre eles, o Brand equity – o conjunto de associações mentais de

uma marca, que a ela podem acrescentar ou subtrair valor (Aaker, 1991 e Keller, 1993). É

neste contexto que o Branding aparece como disciplina relevante e recorrente entre as

empresas, justamente porque cuida da gestão estratégica da marca. Em outras palavras, o

Branding faz a gestão do Brand equity.

Se, por um lado, muito se aprofundou sobre tais dimensões conceituais; por outro, pouco se

avançou na pesquisa dos elementos visuais que compõem a identidade visual da marca.

Zaichkowski (2010) e Phillips [et al] (2014) reconhecem lacunas nos estudos acadêmicos

acerca desse campo. No entanto, observa-se no mercado que identidades visuais nascem com

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funções a cumprir. Um exemplo dessas funções é atender aos objetivos de uma estratégia de

negócio. Dentro desses objetivos, podemos apontar uma série de questões que precisam ser

respondidas: São identidades visuais criadas para performar em que mercado? Trata-se de

uma marca de moda acessível do interior do Brasil ou uma marca de moda exclusiva de uma

grande cidade? A interface com seu público se dará por meio de uma loja física própria ou

por meio digital? É uma identidade visual para uma marca entrante no mercado ou uma

atualização de marca já conhecida e com vínculos fortes com seus públicos? Todas essas

questões nos dão a dimensão de que trabalhar uma identidade visual é um processo que

responderá a questões de natureza racional (conhecimento de mercado e diretrizes de

estratégia de negócio) e emocional (qualidade dos vínculos já estabelecidos com seus

públicos e a personalidade que pretende expressar).

Como parte integrante da implantação da estratégia de uma empresa, a produção dessas

identidades visuais no mercado sofre pressão do ritmo de execução marcado pelo curto prazo,

orçamento restrito e expectativa de acerto comercial, e, assim, deixam lacunas para uma

reflexão mais atenta e cuidadosa sobre essa disciplina e o campo de estudo desta pesquisa.

Tais lacunas, portanto, são sinais que se acrescentam ao problema desta pesquisa. Mas a

questão principal é responder o seguinte: quais os critérios de escolha para a tomada de decisão de uma identidade visual? Para contribuir com a resposta a essa pergunta, objetivos

importantes se destacaram. O primeiro deles é identificar quais argumentos e variáveis são considerados nas práticas de mercado para a escolha de uma identidade visual. O

segundo é identificar quais atores desempenham papéis determinantes nesse processo. E

o terceiro é organizar os critérios identificados, com base nos modelos de sistematização de marca da literatura sobre este assunto.

Por se tratar de uma disciplina que se relaciona com diversos campos da indústria, propõe-se

um recorte em identidades visuais especificamente do setor de vestuário e acessórios,

popularmente e vulgarmente chamado de “mercado de moda”. Esse setor foi escolhido pelos

seguintes motivos:

• Trata-se de um mercado cuja identidade visual dialoga com o público final e, para esse

efeito, a marca adquire uma identidade ao mesmo tempo simbólica e material. Neste

aspecto, a identidade desempenha importante papel, ligado ao reconhecimento e

diferenciação perante a concorrência.

• É um mercado cujo produto tem natureza de alto engajamento emocional. Miller (2010)

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declara que “roupas fazem de nós o que pensamos ser”; assim, marcas de vestuário e

acessórios podem se tornar grandes expressões de nossa personalidade. Afinal, a

identidade visual colabora com a manifestação da personalidade.

• Marcas de vestuário têm sua identidade visual, que é vestida pelos seus usuários, e neste

aspecto, passam a ter uma relação estreita com o consumidor, sendo seu veículo de

expressão e mensagem na comunicação, além do modo pelo qual ele deseja ser percebido.

A identidade visual interage com uma diversa gama de produtos e se torna o estímulo que

constrói significado para o consumidor a ponto de ser não apenas adotada, mas ostentada

em vestimentas e acessórios.

• É um mercado com possibilidade ampla de pontos de contato com os quais a identidade

visual vai interagir com seus públicos. Exige, portanto, uma estruturação de um sistema

que performe do on-line ao off-line, em escalas de dimensão e limitações de materiais

distintos, e cumpra funções do alto impacto visual a aparições discretas.

Para cumprir o objetivo do trabalho, será eleita a seguinte rota de referencial teórico: gestão

de marca (dividida nos itens: marca, sistematização de marcas e identidade visual de marca),

peritos da construção (o designer e o gestor de marca), processos de construção de uma

identidade visual (que inclui um tópico sobre a relação entre o designer e o gestor de marca),

marcas de moda e identidade visual.

Em gestão de marca, o referencial teórico parte das definições de marca e dos seus modelos

de sistematização, como o Brand equity (Aaker, 1991 e Keller, 1993), e passa por modelos

práticos que encontramos no mercado, como o ideal de identidades de marca (Wheeler,

2009). Elencar essas bases de pesquisa é o ponto de partida para aprofundar o estudo de

identidades visuais e, portanto, o foco será destacar as referências que fazem às manifestações

físicas das marcas e ao papel que desempenham. Em seguida, serão tratadas as definições de

identidade visual, seu contexto e composição. Serão descritos os modelos de mapeamento de

identidade visual, partindo do logotipo e passando por todos os elementos visuais, como cor e

imagem. Outro objetivo nesse momento é precisar o que se define como identidade visual,

independentemente das variações do mercado e academia. Encontram-se no mercado

iniciativas de registro das sistematizações de identidade visual que serão abordadas nesta

etapa.

Em um segundo momento, aprofundar-se-á a reflexão sobre os peritos na construção das

identidades visuais. Segundo Giddens (1990), peritos são caracterizados por excelência

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técnica ou competência profissional que organiza áreas do ambiente material e social que

vivemos hoje. Em geral, em um processo de construção de uma identidade visual, a empresa

que possui a marca contrata um perito para a condução, criação e execução do projeto. Esse

processo envolve, no lado da contratante, um grupo de profissionais de expertises diversas,

que é liderado pelo gestor de marca, o responsável ou principal informante das decisões. No

lado da contratada, há o designer ou grupo de designers que pode formar uma agência.

Designer e gestor de marca são, portanto, os peritos contemporâneos da marca, atores-chave

no processo e, portanto, merecem sobre si um olhar mais atento.

O designer é o profissional responsável pela criação das identidades visuais (Phillips, 2014).

É ele que, no processo criativo de identidades visuais, cria os signos e formas que vão

expressar a marca e seus valores. Exterioriza, prioriza e hierarquiza os valores da marca por

meio de um desenho (Kapferer, 2004). Ele desponta como um perito para a criação dessas

identidades a partir século XX. Para situar seu surgimento e contexto, o referencial teórico vai

elencar tópicos sobre as circunstâncias do processo de formação do design e do design no

Brasil. Também passará por pioneiros na criação de identidade visual e mostrará um

panorama do cenário atual do design no Brasil por meio do diagnóstico da ABEDESIGN –

Associação Brasileira das Empresas de Design.

Já o gestor de marca, como vimos, representa o lado da empresa contratante. É a identidade

visual da empresa onde ele trabalha que está sendo criada. Entende-se por gestor de marca o

profissional que tem entre suas responsabilidades responder a demandas de negócio, mercado

e dos públicos da marca. É ele quem articula um briefing para a criação ou revitalização de

uma identidade visual, listando desafios e problemas a que uma agência de design terá que

responder na proposta de solução para o projeto. O gestor de marca é também quem,

efetivamente, aprova uma identidade visual e quem terá que gerir de acordo com o plano de

negócios da empresa. É importante destacar que uma identidade pode ser aprovada com

subsídio também de pesquisas de mercado. De qualquer forma, a pesquisa de mercado é

insumo para a decisão que, de fato, será tomada pelo gestor. Para entender o gestor de marca

como perito, o trabalho vai se inteirar também sobre sua trajetória e contexto, sobre as

responsabilidades que dele se esperam e desafios futuros apontados por Aaker (2014) para os

gestores de marca. Além disso, os gestores constituem o público entrevistado em

profundidade neste trabalho, contemplados mais detalhadamente na apresentação dos

procedimentos metodológicos.

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Em um momento posterior, o referencial vai se concentrar nos processos de construção de

uma identidade visual, abordando o fazer criativo do designer, que alia questões emocionais

(intuição e imaginação) a racionais (conhecimento e técnica), passando pelos atuais

fundamentos do design – afetados pela revolução tecnológica dos últimos 20 anos – e, por

fim, minudenciando um processo inteiro de criação de uma marca. Kapferer (2004) situa a

diferença entre uma criação e uma revitalização de identidade visual: enquanto o processo de

criação se preocupa em expressar valores e personalidade da marca, o processo de

revitalização se preocupa em expressar sua atualização através do tempo. Incluímos neste

tópico registros das relações que se estabelecem entre designer e gestor de marca num

processo de identidade visual. A busca por critérios de desempenho para essas identidades

performarem em seu mercado será outro item deste tópico. O mapeamento das condições e

fenômenos que as afetam é fundamental para entender a formatação de como as identidades

são criadas.

Por fim, o referencial estabelece uma relação entre identidade visual e marcas do mercado de

moda. O objetivo é enumerar e aprofundar particularidades e características do fazer de

identidades visuais neste mercado.

1.1 Relevância do estudo, metodologia e contribuições

É característica de um processo de criação de design lidar com aspectos racionais e

emocionais. É um campo cujo limite entre arte aplicada e técnica é difuso; daí a importância

de critérios e argumentos para a escolha de uma identidade visual.

Olins (2014) afirma que criação de marca é uma arena de disputa entre razão e emoção, rigor

e intuição, cabeça e coração. Ao desenvolver o conceito de campo de pesquisa, Bourdieu

(1983) explica que quem fala é tão importante quanto o que é dito. Eis a importância de

atentar-se para um estudo de conteúdo do discurso, mas também identificar e compreender a

relevância do papel ocupado pelo enunciador. Ao longo das últimas décadas, consultorias

vieram se especializando em Branding, construindo experiência, metodologia, conhecimento

e reputação nesta área, desenvolvendo autoridade. Em geral, elas possuem um grupo

multidisciplinar de profissionais que abrange pesquisa, redação, marketing, estratégia e

design para a construção de uma marca, sua personalidade, identidade visual e ferramentas de

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gestão. A consultoria Interbrand1, por exemplo, publica anualmente o ranking das marcas

mais valiosas do mundo. Ações de construção de autoridade e reputação como as da

Interbrand são recorrentes em diversas consultorias ou agências no mercado.

No entanto, como profissional da área desde 1998, identifico hiatos na condução de

discussões entre designers e gestores de marca no que diz respeito a aprovações dessas

identidades. Por vezes, por mais que estejam embasadas em pesquisas, teorias de design,

análise semiótica, entre outros, a decisão final de escolha de uma marca parece cair no âmbito

do gosto pessoal, no que é modismo entre os gestores da época e até na autoridade do cargo

de quem conduz a discussão.

Além disso, expressar valores de uma personalidade em estímulos visuais não é uma ciência

exata. É um caminho que sofre interferência de percepções distintas do grupo que conduz o

processo, tanto pelo lado do designer e da agência/consultoria quanto pelo lado do gestor de

marca e dos executivos decisores da empresa. A seguir, um esquema que elenca essas

interferências nos caminhos de comunicação com os dois atores – designer e gestor de marca

– no processo de criação de uma identidade visual:

Quadro  1  –  Interferências  na  comunicação  entre  gestor  de  marca  e  designer    Fonte:  autoria  própria  

O esquema acima nos dá uma ideia das interferências no canal desse processo. Num contexto

como esse, a busca por critérios e argumentos relevantes para avaliação dessas identidades

tem sido articulada de modo empírico no mercado. Diferenciação no segmento,

compatibilidade com os valores da marca, relevância para os públicos e potencial de

desenvolvimento consistente que performe bem nas diversas mídias aparecem como

referências de argumento no mercado. No entanto, não são sedimentados para além do que é

dito pelos profissionais da área. O desafio na condução dessas discussões é uma das

motivações desta proposta.

                                                                                                                         1Interbrand é uma consultoria de marca fundada em 1974 com uma rede de 29 escritórios em 22 países. Integra o Omnicom Group Inc e publica anualmente o ranking Best Global Brands e através de estratégia, criatividade e tecnologia acredita que marcas têm o poder de mudar o mundo.

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Para o mercado, pode-se contribuir para relacionar os fatores-chave de sucesso (que

dificilmente são expressos de maneira formal numa sala de reunião) que se procura numa

identidade visual. Para a academia, pode ser um avanço na formalização de critérios de

identidade visual, já que há um hiato na literatura especializada.

No processo de criação e tomada de decisão de uma identidade visual, o mercado é uma

variável que, por meio de suas especificidades e dinâmicas próprias, exerce impacto direto no

resultado do projeto. Em outras palavras, comparar processos de tomada de decisão das

identidades em setores distintos poderia enviesar a coleta e análise de dados desta pesquisa.

Por isso, o recorte escolhido é do segmento de vestuário e acessórios, como mencionado

previamente.

Com relação aos precedimentos metodológicos, a pesquisa de campo buscará a visão de

gestores de marca do mercado de moda. Como decisores e/ou informantes do processo dentro

da organização, e fazendo interfaces com os designers, os gestores são fonte de reflexão sobre

a tomada de decisão acerca das identidades visuais. São eles os responsáveis pela marca e,

por consequência, suas identidades visuais dentro da empresa.

No roteiro de pesquisa haverá uma série de critérios elencados na literatura para apresentar

aos gestores e ver como são usados na prática. A busca para estes critérios no referencial

teórico cumpriu duas etapas. Primeiro, de modo mais amplo, procuram-se autores que

abordam identidade visual e possíveis critérios de desempenho nos seus registros. Estes

critérios foram elencados. Como dito, modelos de sistematização de marca emergiram como

referência de conhecimento nos últimos 30 anos. Logo, a segunda etapa de pesquisa foi

elencar modelos de sistematização, aprofundar suas contribuições e mapear onde se alocam

os elementos da identidade visual para, em seguida, extrair possíveis critérios. Foi daí que

saiu o roteiro de pesquisa.

Os gestores são de marcas de trajetórias e posicionamentos diversos, mas todos do segmento

de moda e vestuário. As marcas estudadas serão Ellus, Rosa Chá, Regina Rios, Schutz e

Farm.

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2. Gestão de marcas

2.1. Marcas  

Marca é um nome, termo, sinal, símbolo ou desenho, ou uma combinação dos mesmos, que pretende identificar os bens e serviços de um vendedor ou grupo de vendedores e diferenciá-los daqueles dos concorrentes. (AMA | American Marketing Association2)

A American Marketing Association fornece uma definição objetiva do que seja uma marca.

No entanto, Keller (2006) afirma que há variedade de definições e nuances acerca do que se

determina como marca, analisada por uma série de perspectivas, da macroeconômica à

sociológica. Para este trabalho, interessa o que há em comum entre algumas das definições

que necessariamente passam por uma manifestação física da marca.

Legalmente, marca é um símbolo ou um conjunto de símbolos que certifica a origem de um

produto ou serviço e a distingue dos concorrentes. Historicamente, apareceu para proteger os

produtores de roubos – criadores de gado marcavam com ferro em brasa seu rebanho com um

símbolo que os identificavam como proprietários. Desta forma, ficaria visível a propriedade

se esse animal fosse roubado (Keller, 2006).

Dessa origem, pode-se observar que a função da marcação do gado em ferro em brasa atende

a algumas expectativas: difenciar um gado de gado de outro rebanho e, em seguida,

identificar o dono do gado, a propriedade. Diferenciação e propriedade são duas demandas

respondidas pela marcação, que possui signos visuais que disparam associações em quem as

observa e podem criar diferenciação e fazer referência a um proprietário.

Associações mentais como as descritas acima estão em concordância com uma definição

clássica de marca elaborada por Keller (1993) como o conjunto de associações mentais do

consumidor adicionadas à percepção de valor de um produto (como o gado descrito na

origem) ou serviço. Kotler (1991) corrobora essa definição, afirmando que marcas podem ser

definidas como um nome, sinal, símbolo ou design, ou a combinação deles, cujo objetivo é

identificar produtos e serviços de uma empresa e diferenciá-los dos concorrentes. Keller

(1998) avança no sentido e qualifica tais associações mentais ao afirmar que devem ser

únicas, fortes e positivas. De maneira simplificada, “uma marca é a intuição que uma pessoa

                                                                                                                         2 https://www.ama.org/resources/Pages/Dictionary.aspx?dLetter=B

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tem sobre um produto, serviço ou empresa” (Neumeier, 2008).

Dos itens elencados por Keller, Kotler e Neumeier extraem-se algumas reflexões: marcas

através de signos visuais articulados geram associações mentais. Tais associações mentais

podem ser qualificadas e criam “efeitos” como os de diferenciação e propriedade. Mais

adiante, avançaremos nos efeitos que uma marca pode ter ou a que tipo de demanda

respondem.

É importante apontar, neste momento, as condições para ser uma marca. As marcas muitas

vezes nascem no plano jurídico, mas efetivamente não são trabalhadas pelos líderes, não têm

notoriedade ou imagem e, por isso, não influenciam seus públicos. Para ser uma marca, deve-

se estar atrelada a um produto ou serviço que justifique seu lançamento e investimento no

mercado, que a distinga dos seus concorrentes, que proporcione solução e resolva um

problema de seus consumidores (Kapferer, 2004).

Marcas também são um fenômeno significativo por desempenharem uma série de funções.

Basicamente, marcas servem como sinalizadores das ofertas de uma empresa. Para

consumidores e clientes, elas simplificam a escolha, prometem uma qualidade particular,

podem reduzir riscos e aumentar confiança. Refletem uma experiência completa que

consumidores têm com seus produtos. São um ativo financeiro e mostram efetividade na

escolha de canais e campanhas e nos investimentos de marketing. Como se vê, tem impacto

no nível dos consumidores, nos produtos e no mercado financeiro (Kapferer, 2004). São

definições de óticas diferentes e não excludentes, mas que dão a dimensão do desafio de

defini-la.

Para Kapferer (2007), a marca com o objetivo de ganhar mercado e se tornar líder deve ser

capaz de expressar uma proposta de valor que seja atrativa, estar presente em pontos de

contato com os públicos, ser ativada por fatos e comportamentos compatíveis, ser comunicada

e distribuída. Para cumprir tais requisitos, há a busca por sistematizar sua relação de forças.

Interessa a esta pesquisa as manifestações físicas – o nome, símbolo, design ou combinação

deles (Kotler, 1991) – que compõem a identidade visual de uma marca. Por isso, destrinchar-

se-ão as funções de uma marca e como suas associações mentais se sistematizam.

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2.2. Sistematização de Marcas Quando o Brand equity se tornou o assunto mais discutido do final da década de 1980, talvez tenha parecido outro modismo administrativo que só duraria alguns anos. No entanto, todos os segmentos da economia, um após outro, se deram conta de que a conscientização de marca, a percepção de qualidade, a fidelidade do cliente e as fortes associações de marca bem como sua personalidade, são elementos necessários para competir no mercado. (Aaker, Joachimsthaler, 2000, 5)

Uma vez delineadas as definições de marca e suas funções, cabe elencar como se

sistematizam, isto é, que relação existe documentada sobre a formatação dessas dimensões da

marca.

A começar pela definição de Brand equity, Aaker (1991) define o termo como ativo ou

passivo que, ligado ao nome ou símbolo da marca, pode dela tirar ou subtrair valor. Está

implícito o ativo ou passivo como um conjunto de associações mentais que devem ser

sistematizadas para serem geridas. De maneira convergente, nas palavras de Keller (2006),

Brand equity é o valor acumulado pela atuação de tais associações mentais, que seria passível

de gestão. Brand equity se divide em: conscientização de marca – avaliação do quanto a

marca é conhecida; qualidade percebida – percepção criada a partir do uso dos serviços ou

produtos da marca; associações de marca – qualquer aspecto que vincule a marca ao cliente;

e fidelidade à marca – capacidade que a marca tem de manter seus clientes fiéis (Aaker,

1992).

Aaker (1992) define ainda cinco dimensões para sistematizar a gestão de marca, isto é,

dimensões que devem ser geridas para a melhor performance de uma marca. São elas: (1)

Brand Identity – como uma marca busca ser percebida; (2) Managing Brand Identity –

definição de posicionamento e um programa de execução que considera adaptação e

consistência; (3) Brand System – clareza e consistência, evitando sobreposições entre marcas

e submarcas; (4) Brand equity measurement – mede desempenho de múltiplas marcas em

seus mercados; e (5) Brand-nurturing organizational forms – define questões de Brand

System coordenando os diversos mercados, papéis, produtos e contexto.

Kapferer (2007) afirma que a capacidade de uma marca influenciar seus públicos está

diretamente relacionada às suas representações e o modo como se organiza num sistema de

associações mentais também chamado de imagem de marca (Brand Image). Ela abrange os

seguintes aspectos: território da marca (competência, serviços, produtos, know-how), nível de qualidade (baixo, médio, premium e luxo), qualidades próprias, qualidade ou benefício

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mais distintivo, público aspiracional da marca, personalidade da marca e sua imagem. O

que faz uma marca ter poder para influenciar é o conjunto dos estímulos vindos da

experiência dos seus públicos com produtos, serviços, comunicação e pontos de contato.

O Brand System (Kapferer, 2007) sistematiza a marca em três polos: Brand Concept –

proposta de valor –, Experiência de produto ou serviço e Brand Name and Symbols –

variantes semióticas. Isso mostra que uma marca só existe se um produto ou serviço também

existirem, e que sua diferenciação começa a ser construída pelo polo do Brand Concept.

Como os dois primeiros polos se conectam com o polo do Brand Name and Symbols, fica

evidente, então, a inter-relação entre os três polos e pode-se entender que tais manifestações

físicas (Brand Name and Symbols) são os atores que representam e significam os polos do

conceito (Brand Concept) e da experiência com produto e serviço. Essa “missão” das

manifestações físicas nos interessa neste trabalho, pois no processo de criação será a

dimensão racional de que o designer terá que dar conta, “razão, rigor e cabeça”, dita por Olins

(2014).

 

 Figura  1  –  Brand  System    Fonte:  Kapferer,  2007  

Os três modelos a seguir serão os referenciais teóricos principais para a condução da

pesquisa. Serão apresentados aqui e, posteriormente, no capítulo de Estratégia de Pesquisa,

eles serão analisados detalhadamente. Ei-los: Conhecimento de Marca ou Brand Knowledge,

de Keller, Prisma de identidade de marca, de Kaperer, e Ideais de marca, de Wheeler.

Keller (1993) introduz o termo Brand Knowledge, que se traduz como o lugar na memória em

que se localizam as associações à marca. O autor atesta que Brand Knowledge é composto de

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Brand Awareness – recall ou reconhecimento de marca – e Brand Image – grupo de

associações ligadas à marca na memória dos consumidores. No construto de dimensões de

Brand Knowledge, Keller estabelece variáveis e suas correlações que afetam a Brand Image.

Item da metodologia do autor, é importante entender que o Brand Image se desdobra em

Types of Brand Associations (atributos, benefícios e atitudes), Favorability of Brand

Associations, Strength of Brand Associations e Uniqueness of Brand Associations. No campo

dos atributos (dentro de Brand Associations), encontraremos o campo das imagens

relacionadas à marca.

Figura  2  –  Dimensões  de  Brand  Knowledge    Fonte:  Keller,  1993

Vale destacar aqui que Keller (1993) nas considerações finais aponta que estudos futuros

poderiam considerar mais explicitamente o papel de manifestações físicas de marca como

nome, símbolos e slogans, na construção de conhecimento de marca, bem como a maneira

como afetam Brand Awareness e a favorabilidade, força e singularidades das associações de

marca.

Com visão complementar, Keller e Lehmann (2006) ressaltam a importância dos intangíveis

de marca (Brand Intangibles) como foco de pesquisa. Os intangíveis de marca são os

caminhos e dimensões por meio das quais os gestores de marca diferenciam suas marcas para

os consumidores (Park et al, 1986); eles transcendem produtos físicos (Kotler e Keller, 2006)

e abrangem diferentes tipos de associações de marca.

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Kapferer (2007)3 define o Prisma de identidade de marca com seis aspectos divididos em

duas dimensões – emissor e receptor – e aspectos internos e externos. Os 6 aspectos são:

Fisicalidade, Personalidade, Relacionamento, Cultura, Autoimagem e Reflexão. As

manifestações físicas estão inseridas dentro da dimensão Physique, que é o aspecto mais

tangível da personalidade e define o que ela é e o que ela faz.

Figura  3  –  Prisma  de  identidade  de  marca    Fonte:  Kapferer,  2007

Ao percorrer os autores mencionados, identitifica-se uma visão macro que procura destrinchar

a relação de forças atuantes em uma marca. Em cada uma das abordagens, há um lugar para

as manifestações físicas. Vale trazer uma visão complementar a esses autores, com uma ótica

que objetiva simplificar a sistematização e ser um instrumento prático para CEOs e equipes

de gestão de marca.

Complementando a visão, recorro à abordagem de Alina Wheeler (2009), designer, consultora

e conferencista do mercado e profissional atuante na construção de marcas nos últimos 40

anos. As conclusões e orientações de Alina estão em uma publicação que contou com a

colaboração de mais de 250 profissionais do mercado, entitulada Design de Identidade de

Marca – Guia essencial para toda a equipe de gestão de marca. Alinhada com o ritmo do

mercado, ela adota uma abordagem direta e simplificada partindo de quatro questões-chaves:

Quem é você? Quem precisa saber? Como eles vão descobrir? Por que eles devem se                                                                                                                          3 A publicação de Kapferer de onde se extraíram as visões sobre o Prisma de identidade de marca data de 2007. A primeira publicação deste modelo, no entanto, data de 1992. https://www.slideshare.net/Zeynepkn/kapferer-brand-identity-prism

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importar? A partir daí, a designer reflete sobre os itens que acredita serem os ideais de uma

identidade de marca, que seriam variáveis de sucesso. São compostos por 9 dimensões:

visão (inspiração da marca pela visão de seu líder), significado (algo importante, uma grande

ideia, um conjunto bem definido de valores), autenticidade (clareza sobre quem se é e o que

se representa – mercado, posicionamento e proposta de valor), diferenciação (dentro de sua

categoria e perante todo o mercado), durabilidade (longevidade diante de um mundo com

fluxo constante de mudanças), coerência (consistência em cada manifestação da marca),

flexibilidade (evolutiva e prepara a empresa para mudanças e crescimento),

comprometimento (gerenciamento constante do seu patrimônio intangível) e valor (obtido

no fim do processo através de métricas como reconhecimento crescente, entre outras).

Figura  4  –  Os  ideais  de  identidade  de  marca    Fonte:  Wheeler,  2009

Na visão da designer, as manifestações visuais estão permeadas nesses ideais. No item

significado, por exemplo, o símbolo de uma marca é o grande veículo do significado. Já o

item autenticidade estabelece uma relação entre como saber quem se é pode convergir para

uma representação em um logo. Em coerência, estabelece-se que todos os pontos de contato

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com o cliente devem se encaixar visualmente como uma linha de base para se construir

confiança. Sistemas de identidades flexíveis e abertas e mudanças de mercado e inovações

estão dentro do item flexibilidade.

Como visto anteriormente, nas associações de marca – por Aaker –, nos modelos de Brand

Image – por Keller –, no Prisma de identidade de marca – por Kapferer– e, de maneira mais

tangível, nos ideais de identidade de marca – por Wheeler – estão contidas as manifestações

físicas da marca. Esmiuçar essas manifestações e o modo como se tornam uma identidade

visual é objeto do próximo tópico. Antes, porém, deve-se determinar a distinção entre

identidade de marca e identidade visual de marca.

Ao usar o termo marca, muitas vezes estamos nos referindo a um aspecto particular dela,

como nome, logo ou propriedade intelectual jurídica. Em gestão de marca, o termo é usado

para se referir ao sistema total – o valor inerente a produtos e serviços que são identificados

por um nome ou símbolo (Kapferer, 2007). A variação de nuances entre as terminologias

pode confundir o entendimento; para tanto, vamos às definições apropriadas para o presente

trabalho.

Identidade de marca é um conceito amplo e, embora a identidade visual seja parte

conformante dessa identidade, vale a distinção entre os termos. Kapferer (2007) afirma que

identidade de marca é o que define a marca como um ser coerente e único, com objetivos

específicos diferentes de outros. No caminho dessa identidade, a empresa deve passer pelas

respostas a perguntas como: Qual a visão e desejo da empresa? O que a torna diferente? A

que necessidades está satisfazendo? Quais valores sustenta? Qual o campo de sua

competência e o que a legitima? Que sinais fazem da marca reconhecível?

No mercado, muitas vezes a identidade de marca também é conhecida como personalidade de

marca. Personalidade e Identidade são conceitos que guardam semelhanças e, para

exemplificar, apresentaremos aqui a metodologia de sistematização de marcas do Itaú – que

ocupa o topo do ranking de marcas brasileiras mais valiosas, segundo pesquisa da consultoria

Interbrand 20154. Além disso, esta pesquisa apresentará a metodologia de personalidade de

marca da agência Ana Couto Branding – que tem mais de 20 anos de prática na construção de

marcas de diversas dimensões e segmentos. Veremos que perguntas relativamente

                                                                                                                         4 Segundo a Interbrand, a metodologia de avaliação de marcas, criada em 1988 em parceria com a London Business School, trata a marca como um ativo estratégico do negócio, capaz de gerar identificação, diferenciação e valor. A metodologia analisa as diferentes formas de influência da marca no desempenho da organização, de acordo com o impacto que exerce em consumidores (atuais e potenciais), funcionários, fornecedores e investidores. Disponível em: http://www.rankingmarcas.com.br/2015 Acesso em (01/03/2017)

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semelhantes são respondidas com terminologias diferentes, pois o mercado se preocupa em

sistematizar esses conceitos com o intuito de criar noções claras.

Figura  5  –  Modelo  de  sistematização  de  marca    Fonte:  Itaú,  2008  

Como mencionado no parágrafo anterior, a marca Itaú foi classificada em 2015 como a mais

valiosa do Brasil e seu principal gestor de marca, o diretor executivo Fernando Chacon, foi

eleito o mais influente profissional de marca do Brasil, no mesmo ano, pela M-list5. É digno

de apontamento o fato de uma marca que se projeta pela sua reputação elevar junto o gestor

de marca responsável por ela. Sobre gestor de marca, trataremos adiante, no item 3.2.

O Itaú curiosamente utiliza a imagem de uma engrenagem para sistematizar as forças que

constituem o “motor” da sua marca. Desta forma, observamos que tal como o Brand System

(Kapferer, 2007), há uma relação de interconexão entre os conceitos constituintes do sistema.

Nesse sistema, observamos os conceitos de identidade de marca adaptados. Há um centro no

esquema, o Somos transformadores, que é rodeado por Energia e Inovação que, na

representação, movimenta o “motor” e articula as demais engrenagens: Excelência – no que a

                                                                                                                         5 M-list é uma publicação da agência de reputação e engajamento Gume (gumebr.com), que visa reunir o perfil dos principais profissionais de Marketing das 500 maiores empresas presentes no país.

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marca acredita –, Simples, Atenta e Dedicada e Próxima e Inclusiva – que são atributos

pretendidos pela entrega da marca.

Figura  6  –  Metodologia  de  plataforma  de  marca    Fonte:  Ana  Couto  Branding,  2015  

Na figura 6, observa-se o documento da agência Ana Couto Branding, que trata do conceito

de identidade como personalidade de marca por meio de uma analogia com uma pessoa. Para

a agência, o esquema que sistematiza os fundamentos e conceitos de uma marca se chama

plataforma de marca – representada pela imagem de um boneco. Partindo da premissa de que

“marcas são como pessoas”, este boneco tem um coração, um balão com uma fala, outro com

um pensamento e uma auréola. A metodologia se esquematiza da seguinte forma:

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Quadro  2  –  Metodologia  de  plataforma  de  marca    Fonte:  Ana  Couto  Branding,  2015  

Identifica-se e ambas metodologias, praticadas no mercado, pontos que entregam diferenciais,

valores que sustentam visão, campo de competência, entre outros. Logo podem ser entendidas

como variações do conceito de identidade de marca. Por decisão funcional e para facilitar a

leitura, utilizar-se-á o termo personalidade de marca para se referir à identidade de marca

(Kapferer, 2007). Assim, evitam-se confusões com o termo identidade visual de marca.

2.3 Identidade Visual de Marca  

Brand identity complements Brand equity and it forms an important part of the strategic management of brands. Identity elements include a well-known brand name, logo, font type, symbols, colour, shape, as well as unique product and benefit descriptions. These different elements can contribute to distinct consumer perceptions of various brands in the marketplace and help to differentiate brands from competitors. (Zaichkowsky, 2010, 548)

Apesar da literatura existente sobre o gerenciamento de Brand equity e seu fator decisivo no

desempenho de uma marca, pouco se aprofundou na relação da identidade visual de marca

com o Brand equity (Zaichkowsky, 2010 e Phillips, 2014).

Na citação acima, identidade de marca está definida como o conjunto de manifestações fisicas

da marca. Este é nosso objeto de estudo e chamaremos neste momento de indentidade visual

de marca.

No quadro a seguir, os elementos que formam a identidade visual de uma marca são

resumidos a partir de experiências do mercado e do que é elencado em literatura.

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Figura  7  –  Elementos  que  formam  identidade  visual    Fonte:  Wheeler,  2009  

A identidade visual de marca, portanto, compreende os estímulos de toda a interface visual

dos pontos de contato de uma marca com seus consumidores. Ela reúne elementos díspares e

os unifica em sistemas integrados (Wheeler, 2009). Ela é formada pelo design da marca

(logotipo e símbolo), cores, tipografia, formas, personagens, estilos e demais elementos de

imagem de marca (McQuarrie e Phillips 2008; Schroeder, 2004). Qualquer um desses

estímulos, se bem estruturados e geridos, podem ser associados à marca e contribuir para sua

identificação perante os concorrentes.

Uma marca é o propósito de uma empresa tangibilizado e visualizado, é sua verdade

sintetizada de uma forma desejável. A identidade é a expressão de um negócio e pode ser

flexível e evolutiva. (Campbell, 2015).

Wheeler (2009) define que identidade visual é tangível e faz apelo aos sentidos. É possível

vê-la, tocá-la, agarrá-la, ouvi-la e observá-la se mover. Ela torna grandes ideias em

significados mais acessíveis.

A partir daqui elenca-se uma série de definições e reflexões acerca de identidade visual.

Interessa-nos as diversas implicações apontadas pelos autores ao se referirem à identidade

visual de marca em seus diversos aspectos. Para todas as definições pontuamos elementos que

reflitam desempenho ou performance de uma identidade.

Da relação entre conceitual e visual, Kapferer (2007) atenta para o fato de que definir

identidade visual de marca antes de se conhecer sua personalidade de marca é inverter a

ordem do processo. As manifestações visuais da marca devem refletir seus valores mais

profundos. Segundo ele, precisa-se primeiro entender a identidade, a personalidade para,

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depois, trabalhar na sua expressão. Ele entende que marcas são sistemas vivos, que devem ter

alguns elementos fixos e outros que se adaptem de acordo com o passar do tempo ou

diversidade de públicos ou regiões em que atue. Deve ser dotada, portanto, de flexibilidade

sem ser limitadora, mas um elemento que conduza sua expressão.

Com relação a consumidores, Zaichkowsky (2010) afirma que identidade de marca tem

influência direta na maneira como percebem uma marca e seus atributos. São essas

percepções que formam as conexões emocionais com a marca e podem legitimar a qualidade

de um produto. ‘Products are produced in the factory, but brands are produced in the minds of

consumer’. A frase de Walter Landor citada por Zaichkovsky (2010) evidencia a importância

dos estímulos visuais que possibilitam essa memorização e associação com uma experiência,

com um produto ou serviço de uma marca. Marcas devem ser, portanto, reconhecidas.

Com relação ao espírito do nosso tempo, a relevância de identidade de marca e identidade

visual de marca está diretamente relacionada à época em que vivemos. Temos ampla

diversidade de escolha e cada vez menos tempo para fazer a escolha certa do produto ou

serviço. Nesse contexto, marcas devem transmitir certeza e confiança. Tornam-se, portanto,

atalhos que reduzem risco e tempo (Kapferer, 2007).

As marcas se comunicam de modo cada dia mais visual (Schroeder, 2004). Além disso,

comunicação por meio do visual – em propaganda, por exemplo – supera a verbal (McQuarrie

e Phillips, 2008). Hoje, a dimensão visual da marca desempenha importante papel em

múltiplas dimensões do processo – desde a criação do produto até sua promoção (Phillips,

2014).

No âmbito de um um mercado competitivo, conexões fortes e únicas com seu consumidor são

o que mantêm as marcas memoráveis e diferenciadas. Essa diferenciação pode ser obtida

por meio de um nome, logotipo, cor, forma, símbolo e embalagem proprietária (Zaichkowsky,

2010 e Walsh et al, 2010). De fato, tendo como veículo a identidade visual, a marca pode se

expressar de maneira coerente em uma série de pontos de contato.

Pontos de contato são, portanto, as interfaces físicas criadas dentro de seu sistema de

identidade visual por meio das quais a marca entra em contato com seus públicos. No

esquema a seguir, Wheeler (2009) relaciona os pontos de contato que expressam a

personalidade de uma marca. Além da identidade visual, sua identidade verbal, isto é, a

maneira com que se expressa em palavras, e seu tom de voz também são importantes

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elementos que expressam a personalidade em pontos de contato.

Figura  8  –  Pontos  de  contato  da  Marca    Fonte:  Wheeler,  2009

No campo da identidade, o nome de uma empresa desempenha uma função determinante, mas

não é suficiente para criar diferenciação. Embora seja fundamental uma boa pronúncia ao

redor do mundo, que espontaneamente evoque associações pertinentes, o que realmente torna

um nome uma marca é a diferenciação, intensidade e confiança atreladas a ele (Kapferer,

2007). Além disso, para criar diferenciação, uma empresa tem que lançar mão de logotipo,

símbolo, cor, forma e imagem (Zaichkowsky, 2010).

Um nome tem a capacidade de marcar o território legítimo de uma marca. Steve Jobs e Steve

Wozniac ao escolherem o nome Apple estavam demonstrando com precisão seus valores

internos: a recusa de idolatrar a ciência da computação, reconfigurando essa relação e

trazendo a ideia de que uma máquina deve ser desfrutada mais do que temida ou

reverenciada. (Kapferer, 2007)

A disciplina de criação de nomes – também chamada de Naming no mercado – é um processo

que, como a criação de identidades visuais, é dotado de complexidades e nuances próprias.

Consultorias de marca têm estruturado equipes específicas para a criação desses nomes.

Diferentemente do processo de criação de marca, que é mais flexível com relação a registros,

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o processo de nomes, uma vez registrado para uma determinada categoria, torna a empresa

protegida contra plágios etc. Um nome é determinante para uma identidade visual de uma

empresa, já que além de ser um estímulo que vai evocar percepções pretendidas pela

identidade de marca, é a palavra que vai ser “desenhada” pelas letras do logotipo. No

mercado, há uma etapa específica para o desenvolvimento desses nomes, e é geralmente entre

a etapa de criação da identidade de marca e a de sua identidade visual. Não haverá

aprofundamento sobre o contexto de nomeação, pois embora dê estrutura e sentido a um logo,

não é um objeto de trabalho do designer em si, tampouco faz parte da identidade visual (em

contraponto ao logotipo, que “desenha” o nome).

Outro tópico cuja distinção vale reforçar com precisão e cuidado é entre o que se entende por

marca e sua representação gráfica. Como mencionado anteriormente, o termo marca em

gestão de marca refere-se à totalidade de associações que se tem sobre um produto ou serviço.

Já a representação gráfica, no mercado, é chamada de logo ou logomarca. Para este trabalho,

elegemos o termo logo (Sinclair, 2014) para nos referirmos ao desenho da marca. De maneira

sintética, um logo é formado por logotipo e símbolo. Logotipo é o nome escrito em um

arranjo epecífico de letras. Símbolo é a forma sintética, pictórica e com significado que

complementa ou não um logotipo.

Sistemas de mapeamento de identidade visual

Great symbols – logos, the visual manifestation of the brand – tug at the heartstrings. That’s why national flags and religious symbols still have such an immense power. (Olins, 2014, 11)6

Para mapear o repertório de símbolos e logotipos existente, Zaichkowsky (2010) desenvolve

uma árvore de decisão estabelecendo estratégias formais diferentes para as categorias de

logotipos existentes, desde uma completamente tipográfica, como Sony, até uma figurativa

como Wella.

                                                                                                                         6 “Grandes símbolos – logos, a manifestação visual de uma marca – atingem o coração. É por esse motive que bandeiras nacionais e símbolos religiosos têm tanto poder”. (Tradução livre)

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Figura  9  –  Árvore  de  decisão  para  logos    Fonte:  Zaichkowsky,  2010  

Em visão complementar, Wheeler (2009) define a topologia de marcas e a divide em

categorias: marcas com palavras – logotipo que expressa uma empresa ou produto;

monogramas – uso de letras do nome redesenhadas como símbolo; emblemas – nome da

empresa conectato a um símbolo pictórico; marcas pictóricas – imagem literal fácil de

reconhecer; e marcas abstratas ou simbólicas – o símbolo transmite a ideia.

Figura  10  –  Topologia  das  marcas    Fonte:  Wheeler,  2009

A seguir, mostramos a aplicação da topologia de Alina no mercado de vestuário e assessórios:

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Figura  11  –  Topologia  das  Marcas  com  exemplos  de  vestuário  e  assessórios    Fonte:  criação  do  autor  a  partir  do  método  de  Wheeler  (2009)

Kapferer (2007) afirma que um símbolo serve como síntese de uma identidade de marca e

cumpre uma série de funções: ajuda no reconhecimento e identificaçãoo da marca, traz à tona

a garantia da marca, lhe dá durabilidade, ajuda a diferenciar e transfere a personalidade para a

marca.

Um logo de sucesso precisa ser reconhecível, despertar afeto, ter um significado e, para sua

criação, se utilizar de uma série de variáveis visuais. Deve transmitir a essência de algo com

poucos recursos, tais como: Naturalidade – capacidade de refletir objetos reconhecidos,

podendo ir da representatividade à abstração; Complexidade – número de recursos formais

utilizados para transmitir o conceito; e Harmonia – equilíbrio e simetria de formas que

provocam conforto visual (Henderson e Cote, 1998).

Além da representação gráfica (símbolo e logotipo), outros elementos compõem a identidade

visual de marca (Wheeler, 2009). Para comprovar cada uma dessas dimensões, foram

escolhidos exemplos de marcas do mercado de moda, em consonância com o objeto de estudo

desta pesquisa.

Cor – evoca emoções, expressa personalidade, possibilita diferenciação e facilita

reconhecimento. É o primeiro elemento de identificação de uma identidade e podem estar

hierarquizadas em cores principais e secundárias para dar apoio a necessidades de

comunicação. Na marca da joalheria americana Tiffany, o seu tom de azul é patenteado e

batizado de “Robin Egg Blue”.

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Figura  12  –  Cor:  Tiffany    Fonte:  www.tiffany.com.br

Tipografia – os caracteres tipográficos devem ser flexíveis e fáceis de usar. Uma imagem

integrada de uma empresa é impossível sem uma tipografia distinta, com uma personalidade

especial e legibilidade inerente. Ela dá apoio e hierarquiza a informação através de suas

características de peso e largura.

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Figura  13  –  Tipografia:  Uniqlo    Fonte:  www.uniqlo.com

Forma – algumas marcas podem ter formas icônicas tão fortes quanto seu logo, como é o

caso das listras da marca de vestuário e acessórios esportivos Adidas. Tais recursos criam

reconhecimento e coesão nos pontos de contato da marca.

Figura  14  –  Forma:  Adidas  Fonte:  www.adidas.com.br

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Texturas e padrões – grafismos e estampas de propriedade da marca, que cobrem superfícies

dos pontos de contato da marca e criam consistência e memorização sem necessidade de

repetir a aplicação de um logo. É o caso da padronagem xadrez da marca de luxo britânica

Burberry.

Figura  15  –  Texturas  e  padrões:  Burberry  Fonte:  br.burberry.com

Imagem – pode ser ilustrativa ou fotográfica e é capaz de transmitir grande parte de conteúdo

visual e estímulo sensorial. Trabalhada com uma direção de arte consistente e distinta, cria

grande impacto e memorização. A marca esportiva francesa Lacoste, ao trabalhar de forma

recorrente imagens de modelos em movimento, suspensos no ar, criam um comportamento

reconhecível pelos clientes ao se depararem com suas campanhas de comunicação.

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Figura  16  –  Imagem:  Lacoste    Fonte:  br.lacoste.com

Se pensarmos a diversidade de pontos de contato de uma marca de moda e o impacto que a

internet e as redes sociais têm na relação da marca com seus públicos, podemos assumir que

toda marca deve ter esses elementos visuais bem estruturados e coesos para que os públicos,

independentemente do ponto de contato com a marca – seja uma sacola, seja um ícone de

aplicativo ou uma loja –, tenham a correta memorização da identidade da marca.

Além dos elementos visuais que citamos aqui, identificamos o uso de outros elementos

visuais para criar território de memorização da marca. Não se classificam necessariamente

nas categorias acima, mas devem ser entendidos como um campo de possibilidade para a

marca se expressar e criar memorização com seus públicos. Destacam-se três objetos que

exemplificam o uso desses elementos:

A marca feminina de luxo francesa Chanel usa a camélia como elemento recorrente, e aparece

desde uma representação gráfica, como foto de uma camélia real, até sendo usada como

motivo para joalheria.

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Figura  17  –  Outros  elementos  da  identidade  visual:  Chanel    Fonte:  www.chanel.com

A marca de sapatilhas francesa Repetto faz uso recorrente de elementos associados ao

ambiente de uma bailarina: fitas de cetim, lâmpadas de iluminação de palco, indumentária de

bailarina, palcos e salas de dança.

O uso recorrente desses elementos associados diretamente ao ambiente da marca traz

resultados de atenção. A marca tem uma conta no Instagram com 40 mil seguidores, criada

por Paula Prado7. A imagem com mais likes é aquela que tem mais elementos que remetem à

marca: fita de cetim – com a palavra Love – sapatilha, indumentária de bailarina e as

lâmpadas.

                                                                                                                         7 Paula Padro é doutoranda em Marketing na universidade francesa Paris–Sorbonne. Estuda a relação de marcas e mídias sociais. Criou o perfil da Instagram da marca de sapatilhas francesa Repetto. www.instagram.com/repettoparis/

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Figura  18  –  Outros  elementos  da  identidade  visual:  Repetto    Fonte:  www.repetto.com  |  www.instagram.com/repettoparis  

Alexander McQueen é uma marca de moda que tem sua origem na contracultura das ruas de

Londres. É uma marca de luxo, mas com uma abordagem inconoclasta e confrontadora. Um

dos elementos que compõem sua identidade é um soco inglês, que tem sua função

desconstruída ao ser usado como joia e alça de bolsas. É um elemento identificador da

identidade de marca.

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Figura  19  –  Outros  elementos  da  identidade  visual:  Alexander  McQueen    Fonte:  www.alexandermcqueen.com/us/alexandermcqueen/online/women/bags  

Dois apontamentos podem ser destacados na conclusão desta etapa. O primeiro é que nas

reflexões dos autores, uma série de itens aparece para qualificar e refletir performance do que

se busca numa identidade visual: expressar uma personalidade, ser memorável, possibilitar

reconhecimento, facilitar e criar atalhos para comunicação com consumidores, ser diferencial,

ter consistência, evocar confiança, despertar afeto, ter um significado. Resumo aqui esses

itens pois os abordaremos na etapa de entrevistas mais a frente.

O segundo é que os modelos que mapeiam uma identidade visual no mercado estabelecem

foco nos elementos da identidade e suas variantes, mas não elencam critérios como os

apresentados no parágrafo acima, citato por diversos autores.

Após o entendimento de como se articula e se divide uma identidade visual, passamos à

análise dos peritos, que são atores no processo de construção dessas identidades.

 

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3. Peritos da construção  

And then, assuming for the moment that brands don’t die and that there will always be plenty of them around, who’s going to build and sustain them? And what will happen to the brand consultancy business? Will it increasingly rely on metrics, quantification and ‘scientific” research? What about flair and intuition in the creation and sustainability of brands? Will this disappear and be replaced by bland work created entirely out of ‘rigorous’ analysis? Put another way, Will be yet anoter another face-off between rational and emotional, rigour and intuition, head and heart? (Olins, 2014, 2)8

Dentre os atores principais do processo de criação de uma marca estão o lado do contratante e

da contratada, o cliente e o especialista, o gestor de marca e o designer. É preciso, então,

inclinar-se sobre o processo de formação desses peritos.  

3.1. O designer  

Para entender o designer como perito responsável pela criação de identidades visuais, se faz

necessária uma breve contextualização histórica do design, cujo recorte será os papéis

adotados pela disciplina no mundo e no Brasil.

Ainda hoje, há divergência sobre os limites da atividade e da propriedade do termo design.

Historicamente, o termo design gráfico foi primeiro usado em 1922, pelo designer William

Addison, ao descrever o ato de ordenar estrutura e dar forma visual à comunicação impressa.

(Meggs, 2009).

Segundo Cardoso (2005), design denota algum tipo de qualidade comercial ou de prestígio e,

por isso, é reivindicado por vários agrupamentos sociais: design moderno, design de

interiores, design italiano, hair design e web design. Para precisar o termo de maneira

sintética, design são as atividades projetuais relacionadas à produção e ao consumo em escala

industrial.

Já design gráfico, mais especificamente, é um conjunto de teorias e técnicas que ordena e

hierarquiza as informações, visando construir uma comunicação ou um sistema visual.

                                                                                                                         8 “Então, se assumirmos por um momento que marcas não morrem e que sempre haverão muitas ao nosso redor, quem vai construí-las e sustentá-las? E o que acontecerá com as consultorias de Branding? Elas vão contar cada vez mais com métrica, pesquisa quantificada e “científica”? E o faro e a intuição na construção e sustentação de marcas? Vão desaparecer e serem substituídas por um trabalho sem graça criado inteiramente à luz de uma análise “rigorosa”? Em outras palavras, ainda haverá confronto entre o racional e o emocional, o rigor e a intuição, a cabeça e o coração?”. (Tradução livre)

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(Strunk, 2012). Vale ressaltar que, ao longo dos anos, o mercado e “percalços linguísticos”

criaram derivados para o termo, como comunicação visual e programação visual, mas neste

trabalho, ele persiste como design gráfico (Cardoso, 2005).

Estabelecer o começo, ou mesmo definir a dimensão de uma atividade como o design, não é

um ato de precisão, mas de elencagem de vertentes. “O design da história é a história do

design”. A expressão do renomado designer britânico Ivan Chermayeff, nascido nos anos 30,

citado por Meggs (2009), nos dá uma dica de como esta disciplina se desempenha em relação

à história e como é complexa sua precisão.

Ao se referir à história do design, Meggs (2009) utiliza o termo zeitgeist que, sem tradução

para o português, significa o espírito do tempo, e faz referências às preferências culturais que

delimitam uma determinada era. Segundo ele, é justamente o design por sua característica

efêmera e imediata combinada com sua ligação com a vida política, social e econômica de

uma determinada cultura que vai expressar mais intimamente esse zeitgeist. De maneira

sintética, o design é um veículo que reflete diretamente seu tempo. Por isso, dar forma visual

a ideias e conceitos, armazenar conhecimento sob a forma gráfica e trazer ordem e clareza às

informações é uma busca desde os tempos pré-históricos. O papel de exercer essas funções ao

longo do tempo foi assumido por artistas, escribas e impressores (Meggs, 2009).

Independentemente de o termo estar cunhado ou não, essas funções que hoje constituem parte

do que o designer faz eram exercidas estabelecendo relações com diversos campos da

sociedade.

Há que se situar a Revolução Industrial com seu progresso tecnológico acelerado como um

elemento histórico que determina a gênese do design. Até então, a beleza das formas e

imagens produzidas pelas pessoas estava ligada à sua função na sociedade. Meggs (2009)

afirma que a inserção da máquina nos meios produtivos criou um abismo entre a vida material

das pessoas e suas necessidades espirituais e sensoriais. Segundo o autor, é por meio do

desenho (da arquitetura, design de produto, de moda, interior e gráfico) que se pode restaurar

esse abismo. Segundo ele, há uma necessidade crescente de reestabelecer valores humanos e

estéticos ao ambiente produzido pelo homem – afastados pelas máquinas. Ele vai mais além e

afirma que é o design que pode contribuir para a qualidade e o sentido da vida nos ambientes

urbanos.

É na virada do século XX que o potencial do desenho abstrato e sintético era explorado por

artistas na Escócia, Áustria e Alemanha. Ao se afastar do movimento art-nouveau e suas

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linhas orgânicas, procurava nesta síntese e abstração uma nova filosofia estética para tratar

das condições sociais, econômicas e culturais em transformação pelos avanços tecnológicos e

industriais. Abstração e síntese são buscas recorrentes na criação de identidades visuais ao

criar signos visuais para valores e conceitos abstratos. Como carregar de sentido elementos

formais mínimos é um desafio na criação de identidades visuais. Como contexto da época,

vale ser citada a influência do arquiteto norte-americano Frank Lloyd Wright (1867–1959)

sobre os artistas e designers europeus pela sua abordagem retilínea da organização espacial.

Trabalhos da escola de Glasgow, como o de Charles Rennie Mackintoch (1868-1928); da

Secessão de Viena, como o de Gustav Klimt (1862-1919); e da nova objetividade com o

arquiteto, artista e designer Peter Behrens (1868-1940) representam essa influência. Peter

Behrens é reconhecido também como o ‘primeiro designer industrial’ por seus projetos de

produtos industrializados, como postes e chaleiras. (Meggs, 2009).

Figura  20  –  Cartazes,  da  esquerda  para  a  direita:    Cartaz  para  The  Scotish  Musical  Review.  Charles  Rennie  Mackintosh,  1896.  Cartaz  para  a  primeira  exposição  da  Secessão  Vienense.  Gustav  Klimt,  1898.  Página  de  dedicatória  para  o  livro  Festes  des  Lebens  und  der  Kunst.  Peter  Behrens,  1900    Fonte:  Meggs,  2009  

Este breve recorte da gênese do design nos serve aqui como ilustração dos reflexos do espírito

do tempo. No cartaz The Scotish Musical Review (1896) de Mackintosh, pode-se identificar o

desempenho através do direcionamento de olhar para as áreas circulares da peça

proporcionadas pelo uso de cor e direcionamento dos pássaros. No cartaz para a primeira

exposição da Secessão Vienense (1898), de Klimt, há subversão do uso do espaço com um

grande vazio no centro. Segundo Meggs (2009), é um recurso sem precedente na história do

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design gráfico. Já na página de dedicatória para o livro Festes des Lebens und der Kunst

(1900), Behrens utiliza recursos inovadores ao propor uma reforma tipográfica no uso de

tipografias sem serifas9 e layouts estruturados em grids10. Destacam-se os termos

desempenho, subversão e recursos inovadores por serem temas de desempenho interessantes

no processo de criação de identidades visuais.

O processo de composição de forças que formatam o design na definição de hoje data do

período chamado Modernismo, que compreende os anos de 1910 a 1960, quando se nota o

engajamento na validação de doutrinas estéticas específicas, sobretudo pelas chamadas

vanguardas estéticas, e no autodenominado ‘movimento moderno’ na arte a na arquitetura.

Meggs (2009) destaca que no início do século XX, a vida social, política, cultural e

econômica sofreu uma série de reconfigurações: monarquias sendo substituídas por

democracia, socialismo e comunismo, avanços tecnólogicos e científicos, e transporte e

comunicação radicalmente alterados com as invenções do automóvel (1885), do avião (1895),

cinema (1896) e radio de transmissão sem fio (1895). Ademais, as duas grandes guerras

abalaram a estrutura e as tradições das instituições da civilização ocidental.

A escola alemã de design Bauhaus (1919-1933), rebatizada em 1926 como HFG –

Hochschule für Gestaltung (Escola Superior de Forma) – precisa ser pontuada aqui por sua

influência no design do século XX – por meio do seu ensino ou do seu fazer. No seu período

de funcionamento, em Weimar, ou a partir de 1925, em Dessau, está o desejo utópico da

criação de uma nova sociedade espiritual e a unidade de artistas e artesãos para a construção

do futuro. Com princípios formais que foram aplicados com inteligência ao design de móveis,

arquitetura funcional, equipamentos urbanos e tipografia, seus projetos influenciariam a vida

no século XX e a formação do design no Brasil. Com a continuidade de objetivos

educacionais da Bauhaus, a HFG é instalada na cidade de Ulm na Alemanha, em 1950. Um

dos pioneiros do design gráfico brasileiro, Alexandre Wollner estudou nessa escola (Stolarski,

2005). Mais adiante, será pontuado neste caminho o trabalho de Wollner por sua contribuição

na criação de identidades visuais.

Perdura na consciência nacional o mito de que o design brasileiro teve sua gênese por volta de 1960. Como todo mito, trata-se de uma falsidade histórica patente. Como todo bom mito de origens, trata-se também de uma verdade profunda, para além dos limites de nossas vãs metodologias. (Cardoso, 2005, 7)

                                                                                                                         9 Serifa: traço ou barra que remata cada haste de certas letras, de um ou de ambos os lados; cerifa, filete, rabisco, remate. 10 Grids: rede de linhas guias de um layout, em geral horizontais e verticais, com incrementos ritimados que ajudam o designer a alinhar elementos entre si. (Lupton 2008)

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Cardoso (2005) relata que no Brasil o termo ‘desenho industrial’ já é usado desde 1850,

quando batizou um curso noturno na Academia Imperial de Belas Artes. O autor articula as

datas fundamentais para marcar uma mudança de pardigma e delimitar o nascimento do

design no Brasil como conceito, profissão e ideologia: a abertura do Instituto de Arte

Contemporânea do Museu de Arte de São Paulo (IAC-Masp), em 1951, e a inauguração da

Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI), no Rio de Janeiro, em 1963. Sobre o IAC-

Masp, vale destacar que estava sob a orientação de Lina Bo Bardi e que o objetivo era a

formação de profissionais para a indústria paulista em expansão. Apesar de encerrar suas

atividades dois anos depois, o IAC–Masp lancou as bases para o ensino de design sob a

crença da difusão do ‘bom desenho’ para as massas (Longo, 2014).

É importante ressaltar que nos cem anos anteriores às datas citadas acima, já eram realizadas

atividades projetuais com alto grau de sofisticação tecnológica, complexidade conceitual e

valor econômico com vista à fabricação, distribuição e consumo de produtos industriais

(Cardoso, 2005). Logo, os anos de 1951 e 1963 marcam o nascimento do design como

conceito, profissão e ideologia apenas. Movimentos com características convergentes e

divergentes sobre a abordagem para o ensino de design no Rio de Janeiro e São Paulo são

fundamentais para o entendimento da formação do designer brasileiro hoje.

Anastassakis (2014) articula comparações de discursos de pesquisadores, designers e

arquitetos acerca da formação das vertentes de ensino de design no Brasil – especificamente

das vertentes carioca e paulista. No início dos anos 1960, um acelerado processo de

industrialização faz com que seja emergente a necessidade de criação de instituições que

formem profissionais para a indústria no país.

O Brasil moderno de Getúlio e da Petrobras, de JK e Brasília, de Assis Chateaubriand e do Masp, de Carlos Lacerda e da Esdi, pretendia-se um modelo de país – aquele “do futuro” –, concluindo a ruptura com o passado escravocrata iniciada pelo pensamento republicano positivista. (Cardoso, 2015, 10)

Um dos termos da distinção recortado por Anastasskis (2014) divide o lado paulista, que

segue a tradição italiana, na qual os designers são todos arquitetos, e o lado carioca, que segue

a visão alemã, na qual designers têm formação de designers.

Em São Paulo, o ensino de desenho industrial é inserido no curso de Arquitetura da FAU-

USP em 1962. Segundo a concepção da instituição, a arquitetura se aproxima do design num

contexto moderno, sendo parte integrante do seu ofício. É Pereira (2009), citado por

Anastassakis (2014), que define dois requisitos para a arquitetura moderna, segundo a FAU-

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USP. O primeiro é a utilização de máquina ou da indústria como um novo meio para

produção. O segundo é a proposição de alternativas para as questões colocadas pelas

sociedades urbanas de massa. Segundo essa visão, o entendimento do design como o estudo

do objeto e seu uso é reivindicado como atribuição profissional do arquiteto. João Batista

Vilanova Artigas, citado por Longo (2014), liderou a nova estrutura curricular de maior

alcance da FAU-USP. Nela, a visão da arquitetura sai do âmbito do próprio edifício, com a

inclusão de comunicação visual e desenho industrial, e, com isso, o arquiteto formado pela

FAU passava a enfrentar o “total do meio ambiente como temática”. Para precisar o termo,

comunicação visual é uma das variantes para design gráfico ou programação visual.

No Rio de Janeiro, Anastassakis (2014) recupera algumas narrativas do processo de criação

da ESDI que, ao destacar Souza Leite (2006), revela que o cenário de acentuado

desenvolvimento industrial do país exigia nova articulação de conteúdos e de prática

pedagógica. Além disso, contextualiza também a evolução da arte abstrata, especificamente

da arte concreta. Em outro ponto importante, destaca o contexto político da formação da

ESDI ao citar Nobre (2008), que afirma que a escola poderia servir a um plano abrangente de

reestruturação da economia brasileira, propondo sua inserção na relação de forças econômicas

internacionais, como se o design pudesse dar contorno a uma expressão da democracia. Por

isso, a ESDI foi defendida como projeto de interesse nacional pelo então governador do

estado da Guanabara, Carlos Lacerda. Ainda, segundo Anastassakis (2014), a história da

escola vem sendo problematizada por muitos trabalhos que voltam sua atenção para a sua

formatação, que se valeu do modelo proposto para a escola de Ulm em 1955 e que, em última

instância, refere-se ao da Bauhaus. Havia consonância entre a necessidade de buscar

“independência tecnológica, soberania produtiva e ideais de erradicação da pobreza local pela

estrada e viés da modernização” (Moraes, 2006). Por isso, o modelo racionalista adotado que

performou na Alemanha foi uma rica referência para o projeto da escola. É preciso ressaltar,

ainda, dois outros pontos relevantes sobre a história da escola. Primeiro, a postura crítica de

pesquisadores com relação ao modelo adotado de Ulm, que se concentra em uma idealização

do que é moderno e da universalidade de linguagem formal, e que não expôs reflexão sobre o

contexto do país, deixando de fora questões indentitárias e culturais. Segundo, e apesar do

primeiro ponto, o modelo adotado pela ESDI foi também seguido pelas instituições de ensino

que vieram depois. Essa descontextulização é o que Souza Leite (2006), citado por

Anastassakis (2014), chama de implante mal traçado do design do Brasil.

Observa-se, portanto, como fator de complexidade na implantação do design no país e na

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formação de seus profissionais a relação distinta e muitas vezes crítica entre os principais

eixos históricos de desenvolvimento do design no Brasil. De um lado, em São Paulo, uma

pespectiva abrangente inserida como um fazer do arquiteto “moderno”; do outro, no Rio de

Janeiro, uma perspectiva especializada em sintonia com as escolas alemãs, mas

descontextualizadas das questões locais.

No campo específico do design gráfico, onde se concentra a produção de identidades visuais,

vamos abordar duas referências desta disciplina, que, para além disso, foram atores deste

processo de formação do ensino de design: Aloísio Magalhães e Alexandre Wollner.

No dia 5 de novembro é comemorado o dia do designer. Não por acaso, esta é a data de

aniversário de Aloísio Magalhães. Moraes (2006), citado por Anastassakis (2014), afirma que

Aloísio foi um “personagem com visão de empreendimento, dinâmico e moderno, que

procurava inserir a memória do homem brasileiro no seu trabalho”. Logo, vale apontar que

Aloísio é um contraponto na questão da descontextualização local na implantação do design –

abordada como consequência do modelo adotado pela ESDI. Ele é um dos representantes que

trabalharam no desafio de trazer a cultura local para o design nacional. Em sua trajetória, foi

Secretário do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, criou o Centro de

Referência Cultural (CNRC), a Fundação Nacional Pró-Memória e foi nomeado Secretário de

Cultura do Ministério da Educação. Nascido em Recife, em 1927, conviveu com figuras da

elite política e intelectual da capital, como Gilberto Freyre; estudou museologia no Louvre;

participou do atelier de experiências gráficas “O Gráfico Amador”; e fez exposições como

pintor. Numa das suas viagens aos EUA, como expositor de suas pinturas, se aproxima do

design. Em 1960, abre no Rio de Janeiro seu escritório de design em sociedade com Artur

Lucio Pontual, arquiteto, e Luís Fernando Noronha, técnico em edificações; participa da

criação da ESDI, desfaz sociedade e renomeia o escritório para Aloísio Magalhães

Programação Visual e Industrial, onde realiza projetos de grande complexidade e impacto

(Anastassakis, 2014).

Aloísio nos interessa, particularmente, pelo seu papel na construção de identidades visuais

relevantes na história do design brasileiro, como a marca do 4º centenário da cidade do Rio de

Janeiro que, de maneira disruptiva para a época, era um símbolo que performava em diversos

pontos de contato distintos – de uma calçada a um biquíni –, além da criação de diversos

símbolos para instituições privadas e públicas, como a identidade visual da Petrobras e o

desenho das notas de cruzeiro novo. Política, cultura popular e erudita e arte estão na

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formação de Aloísio, que está tangível em seus projetos. Esse repertório atrelado a um

espírito empreendedor é característica-chave para a formação do designer atualmente.

“Espírito anticorriqueiro e inventivo” (Taborda e Souza Leite, 2003) é uma expressão de

Aloísio sobre a natureza do designer.

Figura  21  –  Logo  e  aplicações  da  marca  do  4º  Centenário  da  cidade  do  Rio  de  Janeiro.  Aloísio  Magalhães,  1965    Fonte:  Taborda  e  Souza  Leite,  2003  

Como abordado no item de identidade visual, a Marca mais valiosa do Brasil, segundo o

ranking da Interbrand 2015, é o Itaú, marca desenhada por Alexandre Wollner, que será

estudada nesta etapa do trabalho. Primeiramente, é enriquecedor mencionar um episódio do

confronto de visão entre o designer e o cliente na elaboração desta marca: Wollner desenhou

a marca Itaú em preto. O nome Itaú significa pedra preta. Na sua gestão, a marca caminhou

para uma evolução em que a representação do seu símbolo ganharia as cores azul (fundo) e

amarelo (logotipo). Wollner, em discordância com a decisão dos gestores da marca, deixou o

projeto.

Afora o caso, Stolarski (2005) afirma que Alexandre Wollner é referência profissional tanto

por seu pioneirismo quanto pelos eventos que testemunhou e participou. Sua trajetória

engloba o ingresso como aluno do Instituto de Arte Comtemporânea do Masp, a participação

de uma das primeiras turmas da escola HFG – Ulm; também foi fundador do primeiro

escritório de design do país com Geraldo de Barros, Rubens Martins e Walter Macedo, e

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fundador e professor do Instituto de Desenho Industrial do Museu de Arte Moderna do Rio de

Janeiro e da ESDI. Ainda segundo Stolarski (2005), Wollner é autor da parcela mais

representativa dos projetos de identidade visual do Brasil, sendo responsável pelos projetos de

identidade de empresas como Klabin, Hering, Eucatex e Itaú, entre muitas outras. Segundo o

autor, o debate acerca da produção de Wollner ainda patina sobre atributos superficiais, tais

como “limpo”, “sistêmico”, “idealizante”, “geométrico”, “repetitivo”, “datado” e “antigo”.

Por ora, nos é pertinente a revelação do autor acerca da carência de debates sobre identidades

visuais usando a obra de Wollner como exemplo. São os debates sobre identidades que estão

dentro de um processo de tomada de decisão. Exclusivamente sobre o atributo “geométrico”,

vale a reflexão de Stolarski, que aprofunda o entedimento: a abordagem geométrica de

Wollner segue os sistemas de modulação proporcional. Esse sistema defende a existência de

razões harmônicas na natureza e, se esse tipo de sistema consegue explicar a forma pela qual

todas as coisas se desenvolvem na natureza, seria o melhor veículo para irradiar as qualidades

de uma marca no universo. A modulação proporcional para Wollner é um caminho para a

sistematização de formas e coerência no resultado.

Logo adiante, vê-se um trabalho de resultado pragmático e sintético de Wollner para a

identidade visual da Klabin, representada aqui pelo seu logo. Nas palavras de Wollner

(Stolarski, 2005): “losango é o papel, as diagonais do ‘K’ são a embalagem, a haste do ‘K’

completa a letra e o verde são as flores”. Segundo ele, são os desenhos simples aqueles

aprovados assim que o cliente os vê. O registro do discurso de Wollner sobre os meios de

aprovação de uma identidade nos serve aqui como referência.

Figura  22  –  Logo  Klabin.  Alexandre  Wollner    Fonte:  Stolarski,  2005  

 

Para além do pioneirismo, Wollner e Aloísio nos interessam porque premissas como a

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flexibilidade de aplicação de marca do 4o centenário do Rio de Janeiro ou a síntese da marca

da Klabin são atributos que se encontram ainda no fazer de marcas hoje em dia, que serão

investigados no decorrer deste trabalho.

Saindo de dois dos pioneiros e indo para um panorama atual do mercado de design do Brasil,

recorre-se aos dados da Associação Brasileira das Empresas de Design (ABEDESIGN), que

em 2014 publicou o Diagnóstico do Design Brasileiro. Recortamos alguns dados desse

diagnóstico.

Existem aproximadamente 683 escritórios formais de design no Brasil. Desses, 183 estão em

SP, 96 em Porto Alegre, 93 no Rio de Janeiro e 91 em Curitiba. São 4.200 postos de trabalhos

ocupados nestas empresas. A área de design gráfico, na qual a identidade visual está incluída,

é a maior parcela de especialização desses escritórios, com cerca de 40%. Com relação à

educação em design, são 311 cursos de graduação e 267 instituições de ensino superior. No

ano de 2012, entraram nessas instituições 36,6 mil estudantes e saíram de lá formados 7.500

designers. Essa taxa representou um crescimento de 67% no ingresso de alunos nas

instituições e 47% de designers formados (esse número de aumento percentual contempla as

graduações em outras disciplinas do design, como design de moda e design de interior).

Ainda segundo a ABEDESIGN (2014), algumas tendências sociais e mercadológicas podem

ser apontadas como fatores que exercem impacto sobre a atuação do designer no mercado

atual. Recortam-se, então, algumas de especial interesse ao fazer de identidades visuais:

Amplitude e profundidade: em um mercado global e competitivo, espera-se que designers

aproveitem o conhecimento de um repertório de disciplinas como Ciências Sociais e

Humanas, Negócios, Inovação e Administração a fim de dominar o conteúdo que vão

comunicar.

Escopo expandido: os problemas de design estão encaixados dentro de sistemas sociais,

tecnológicos e econômicos, e são endereçados a pessoas de variados comportamentos e

experiências cognitivas físicas e culturais. É papel do designer gerenciar essas complexidades

para criar mensagens claras e relevantes para esses públicos.

Mensagens direcionadas a públicos específicos: há uma passagem de uma comunicação de

massa para uma direcionada a diversos públicos. O designer precisa estar atento às diferenças

e semelhanças entre as pessoas e pode ser um agente de reconciliação entre globalização e

identidade cultural. Essa tendência exige um melhor entendimento de uma variedade de

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culturas, valorização da pesquisa etnográfica, maior sensibilidade para as perspectivas

culturais e empatia.

Rompimento - uma “economia da atenção”: refere-se ao fato de que na era da informação

a atenção é um recurso escasso. Design aplicado à informação, comunicação e serviço

caminha para performar na pouca atenção de seus públicos. Há ainda a implementação de

sistemas de design num mercado que valoriza o curto prazo.

Da individualidade à conectividade: a sociedade em rede faz com que designers

implementem estratégias de conectividade, seja para trabalhar em rede com diversos

profissionais, seja para estabelecer processos criativos com contribuidores inesperados.

Assim, deverão desenvolver competência em mídias digitais e sociais inovadoras.

Resultados responsáveis com foco em sustentabilidade: o designer deve desenvolver

projetos centrados no ser humano e considerar a escassez e limitação de recursos e

sensibilidade às condições humanas. Design thinking, ou pensamento de design, é um termo

recorrente no mercado, que tem oferecido caminhos na pós-modernidadde para contextos

complexos vividos pelas organizações. O estudo aponta uma transição do design do “como

fazer” para o design do “o que fazer”.

Modelo de Cocriação: usuários e clientes passam a ser também cocriadores de projetos de

design. Aparece como referência emergente o design de serviços, em que o pensamento de

design é aplicado na construção de todo o desenho do funcionamento de um negócio.

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Figura  23  –  Escritórios  formais  de  design  no  país  e  postos  de  trabalho  ocupados    Fonte:  ABEDESIGN,  2014  

Destaca-se nesta etapa do projeto, pelos recortes históricos e de sua implantação no Brasil, o

design como uma disciplina que tem capacidade de expressar o espírito do tempo (zeitgeist)

e, por isso, sofre o impacto de mudanças de contexto que são reflexos de uma época. O

diagnóstico da ABEDESIGN contribui para dar contorno às questões contemporâneas da

profissão. Outro ponto de destaque do profissional formado e atuante é que ele é formado

principalmente por instituições cujas referências são os modelos que vieram da Bauhaus e da

FAU-USP. De um lado, uma abordagem universalista da implantação do ensino do design.

Do outro, uma abordagem em que o design é uma extensão do fazer do arquiteto. Ambos

modelos possuem pontos de oposição e de postura crítica entre si.

No âmbito prático dos pioneiros, inevitável refletir acerca das relações com clientes

apontadas por Wollner. No caso do Itaú, um momento de ruptura em que ele, como perito em

discordância da decisão da gestão da empresa, abandona o projeto. A que critério a inserção

de novas cores na marca do Itaú estaria respondento? Já no caso da Klabin a afirmação de que

as formas simples em que o cliente rapidamente percebe o significado são as com mais

chances de sucesso. Há sem dúvida um embate de forças e uma articulação de diálogo. Fica

aqui a indagação de que o desenho de um modelo que propõe determinados critérios para

balizar discussões e orientar decisões possa d harmonizar tal embate de forças.

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3.2 O Gestor de Marca

O gestor de marca é o outro ator fundamental na construção de uma identidade visual de

marca. Neste momento da pesquisa, vamos recortar itens do histórico deste profissional assim

como elementos-chaves que estão sob sua responsabilidade e que determinam sua

performance.

Mitchel (2012) resgata o ponto da gênese desse perito. Em 13 de maio de 1931, o então

gerente de propaganda da Procter & Gamble, Neil McElroy, escreveu um memorando para

seu chefe explicando por que precisaria contratar duas pessoas para melhorar performance no

seu trabalho. Nesse memorando, ele lista itens que são fundamentais não só para o seu

trabalho de propaganda, mas também para o que se delinearia como referência para o trabalho

do “Brand Man”, termo usado no memorando que é referência ao que se chama hoje de gestor

de marca. O memorando, além de bem recebido pelo seu gestor (e, sim, ele conseguiu os dois

novos integrantes para sua equipe), também chamou atenção do então presidente da P&G, R.

R. Deupret por compartilhar sua visão sobre marcas. Vale apontar que 17 anos depois,

McElroy se tornaria o presidente da P&G e, depois disso, faria gestão de outras marcas

importantes na sua carreira, como em 1957, quando foi Secretário de Defesa do Governo

Norte-Americano a convite do presidente Einsenhower. A marca em questão, que estava sob

a gestão de McElroy, era a NASA (Duffy, 2011).

No referido memorando, os itens apontados por McElroy como fundamentais para o gestor de

marca são (Mitchel, 2012):

• estudar cuidadosamente o despacho das marcas para as unidades;

• caso a marca for bem desenvolvida e estiver em ascensão, examinar cuidadosamente

os fatores e esforços que estão dando resultado e procurar aplicá-los nos demais

territórios;

• caso a marca não estiver desenvolvendo tão bem, estudar o histórico de propaganda e

promoção da marca; após descobrir pontos de melhoria, desenvolver plano de

implementação para ponto de venda em específico, detalhar o plano para gerente da

divisão, preparar ajuda para venda e todo o material necessário para a implementação

do plano, guardar histórico e registros e conduzir qualquer trabalho de campo que se

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faça necessário para determinar se o plano teve o resultado desejado;

• assumir toda a responsabilidade por tudo que for escrito e impresso pela marca e sobre

a marca;

• assumir toda a responsabilidade sobre os gastos com propaganda; e

• ver cada gerente distrital um número de vezes por ano para discutir possíveis falhas

nos planos de promoção para aquele território específico.

O memorando continua argumentando que, ao exercer essas funções, o gestor da marca tiraria

grande peso da responsabilidade sobre a marca dos gerentes de divisão e dos gerentes

distritais e, assim, eles poderiam centrar suas atenções nas políticas comerciais da empresa.

Se tomarmos o memorando como referência, torna-se explícita a relação de responsabilidade

em diversos níveis do gestor para a performance da marca. De fato, segundo Duffy (2011), a

maioria dos presidentes da P&G desde McElroy foram aqueles com grande sucesso e bem

ranqueados como gestores de marca. É relevante resgatar como ponto de reflexão o fato

abordado no capítulo de sistematização de marca, de que o Itaú é a marca mais valiosa do

Brasil (Interbrand, 2015) e que tem na sua gestão, Fernando Chacon, o profissional mais

influente do marketing (M-list, 2015). Por essa ótica, tais fatos estão atrelados às

performances do gestor e da marca.

Dando continuidade à relação entre as marcas e os gestores, Balmer e Gray (2003) ilustram os

elementos de gestão de marca e atores responsáveis. Marcas de empresa tendem a ter sua

personalidade e valores oriundos de seus fundadores, donos, gerência e colaboradores. Além

disso, são um elemento importante da estratégia da companhia e, por isso, são pauta da alta

gestão de uma empresa. Isso é fundamental para este estudo, uma vez que identidades visuais

para marcas são traduções visuais afetadas pelos valores do grupo gestor e seus

colaboradores. A tomada de decisão do gestor de marca não pode ser separada deste contexto,

tais forças e valores vão influenciar a conduta deste momento de aprovação.

Já está clara a relação de responsabilidade de um gestor por sua marca e pela distinção de

uma marca de produto e corporativa. Cabe, em seguida, aprofundar quais fatores um gestor

leva em conta na gestão de sua marca. Kapferer (2007) traz luz ao que chama de novas regras

de gestão de marcas. Segundo ele, sustentar diferenciais competitivos é cada vez mais difícil,

poucos fatores se mantêm como diferenciais de longo prazo e mesmo os que se mantém, cada

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vez têm ciclo de vida mais curto. A capacidade de mudar e se adaptar rapidamente aparece

como referência desses fatores e é adotada por marcas como Walmart, Starbucks, Apple e

Zara. Os 10 princípios estratégicos de gestão de marca são:

1. Capitalizar marcas estratégicas do portfólio, que devem ter uma visão e devem ser

direcionadas para ter relevância na vida dos consumidores.

2. Posicionar variantes e submarcas sob a chancela das marcas estratégicas a fim de

nutri-las.

3. Agir como líder, ser apaixonado e elevar o nível da categoria.

4. Sustentar todas as marcas com um fluxo constante de inovações em linha com seu

posicionamento.

5. Criar conexões diretas com o consumidor final, em especial em mercados em que a

marca do trade seja a concorrente.

6. Entregar serviços personalizados.

7. Recompensar envolvimento de clientes para fazer deles promotores ativos da marca.

8. Encorajar comunidades para compartilhar os valores da marca.

9. Globalizar a marca e seus produtos com rapidez.

10. Ser ético. Consumidores se tornaram mais críticos sobre o tamanho e valores de uma

companhia.

Para Kapferer (2007), então, a atuação de um gestor abrange diversos níveis na administração

de uma marca, com constante análise de resultados em cima de uma rota traçada de objetivos,

bem como possíveis readequações de rota em cima dessa estratégia.

Mitchel (2012) aponta que o papel do gestor de marca mudou consideravelmente nos últimos

anos: “O papel de um gestor de marca tem mudado consideravelmente; os gestores de hoje

têm a prática mais parecida com a de editores de revista” (Mitchell, 2012, 28)11. Isso se dá em

função, principalmente, de quarto fenômenos: o poder crescente dos varejistas, a

globalização, a importância da experiência do consumidor com a marca e o advento das

                                                                                                                         11 Tradução livre para “The role of the brand manager has changed beyond recognition; today’s practitioners are more akin to magazine editors”.

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mídias sociais nos últimos 20 anos.

Varejistas abrem seu espaço para que marcas duelem pela preferência do consumidor. No seu

campo de interesse está o aumento total das vendas, não importando se esta ou aquela marca

venderá mais. Para tanto, demandam dos gestores de marca estratégias de marketing

reformuladas que criem o aumento nas vendas.

A globalização de determinadas marcas também afeta o trabalho do gestor. Segundo o autor,

existem duas dimensões de atuação do gestor: gestor de marcas globais e de marcas locais.

Marcas globais têm gestões centralizadas e o papel do gestor é traçar e executar planos no

âmbito global. Já os gestores de marca locais atuam de modo complementar e devem adaptar

esses planos para realidades e especificidades de seus mercados.

A crescente importância da experiência do consumidor é outro fenômeno que o Mitchel

(2012) aponta. O foco na experiência do consumidor propõe uma abordagem mais holística

de marca. Na prática, isso significa uma extensão de escopo de atuação de um gestor. Se antes

seu traballho priorizava produto e comunicação, agora ele passa a se responsabilizar por todo

ponto de contato da marca com seus públicos – on-line e off-line. Segundo o autor, tal fato

dispersaria a autoridade do gestor de marca, já que não seria possível controlar todos esses

pontos. E assim, para gerir uma marca, ele precisa gerenciar também toda comunicação

interna e engajamento dos colaboradores da marca para que cada interação do consumidor

com uma equipe de venda ou um atendimento on-line esteja entregando uma experiência

coesa.

Traz-se à baila o que o autor chama de explosão das mídas sociais. Julie Bramham – citada

por Mitchel (2012) –, que em 2003 era gestora da marca Smirnoff na Diageo, evidencia o

impacto dessas mídias no trabalho do gestor. Há cerca de 10 anos, um gestor produzia um

filme comercial e dois anúncios impressos em um ano; hoje um gestor de marca se comunica

com um milhão de pessoas duas vezes ao dia via redes sociais e com feedback instantâneo.

Deve ser tarefa do gestor, portanto, criar conteúdo para que sua marca dialogue com os

públicos nas redes sociais, além de gerenciar os feedbacks. Agilidade e domínio das mídias

sociais como canal para a marcas são competências necessárias para o exercício da gestão nos

dias de hoje.

Por fim, Mitchel (2012) conclui que se por um lado, os meios para se entender os

consumidores de uma marca ganharam complexidade e mudaram nos últimos anos, por outro,

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o objetivo de gerar Brand equity continua o mesmo.

Ora, se este objetivo continua o mesmo, nada mais coerente que acessar um signitificativo

definidor de Brand equity para entender quais são os principais desafios que devem ser pauta

do gestor de marca. Aaker (2014) estabelece 10 desafios que os construtores de marca

deverão enfrentar nas próximas décadas.

1. Tratar marcas como ativos12. A pressão constante de obter resultados de curto prazo

e a fragemtação da mídia deixarão as organizações tentadas a concentrarem-se em

iniciativas táticas e mensuráveis.

2. Ter uma visão instigante que precisa ser diferenciada e relevante para os clientes,

viável de implementar, funcionar em um mercado dinâmico, adaptável a diferentes

contextos, e ser comunicada.

3. Criar novas subcategorias. Desenvolver inovações que definam subcategorias e

ergam barreiras que impeçam a concorrência de conquistar relevância é uma das

únicas maneiras de crescer.

4. Gerar construção de marca revolucionária. Ideias e execuções excepcionais serão

fundamentais para se destacar na multidão e dar vida à visão de uma marca.

5. Produzir comunicações integradas de marketing que deem conta da complexidade

das mídias e do dinamismo do mercado atual.

6. Definir uma estratégia digital para uma arena complexa, dinâmica e com

mentalidade diferente que exige novas capacidades, iniciativas criativas e maneiras de

trabalhar, além de novas modalidades de marketing.

7. Contruir a marca internamente. Os funcionários devem ser os primeiros a

entenderem a visão e se importarem com ela.

8. Manter a relevância da marca. Detectar e reagir a três ameaças para marca: menos

clientes comprando, motivos emergentes para não comprar e perda de energia.

9. Criar uma estratégia de portfólio de marcas que produza sinergia e clareza. As

marcas precisam de funções definidas no portfólio e uma visão que as apoie.

                                                                                                                         12 Ser tratada como ativo é não ser tratada de maneira tática, ligada apenas à comunicação, mas ter uma visão alinhada à estratégia de negócios atuais e futuras que ofereçam diretrizes para oferta, programas de marketing etc. (Aaker, 2014)

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10. Alavancar ativos de marca que possibilitem crescimento. A marca deve se estender

verticalmente ou para outras categorias de produto para ganhar valor e se fortalecer.

Kapferer (2007) e Aaker (2014) nos trazem um panorama de itens que traduzem a

complexidade de funções e desafios com os quais os gestores de marca precisam lidar no

exercício de sua atividade, marcada pela construção de valor de longo prazo, pressão por

resultado de curto prazo, implementação de inovações, impacto de novas disciplinas e

modalidades de trabalho e pela diversidade crescente de mídias e contextos, sobretudo no

âmbito de sua estratégia digital. Os gestores de marca devem, então, manter a marca relevante

num contexto de mudanças constantes e ritmo cada vez mais acelerado.  

Nesta etapa, sob uma análise teórica, esta pesquisa passou pelas definições dos elementos de

uma identidade visual. Mas como transpor essa teoria? Como fazer a gestão desses itens no

mercado? Para registrar estratégias e tomadas de decisão sobre uma identidade visual na

prática e a partir da visão de um gestor, acessa-se aqui o caso da Coca-Cola – terceira marca

mais valiosa do mundo, segundo o ranking da Best Global Brands 2016, que neste ano passou

por um processo de revisão de elementos da identidade visual.

More than ever, we recognize people want their Coca-Cola in different ways, but whichever one they want, they want a Coca-Cola brand with great taste and uplifting refreshment. Through the ‘One Brand’ strategy we will move away from multiple brand campaigns, to one single iconic brand campaign that celebrates both the product and the brand.13

Marcos de Quinto, Chief Marketing Officer da The Coca-Cola Company aborda a estratégia

“One Brand” no depoimento acima. Em teoria, Kapferer (2007) assinala o entendimento de

que marcas devem evoluir. Segundo o ranking Best Global Brands da consultoria Interbrand,

a Coca-Cola é a terceira marca mais valiosa do mundo e vale cerca de U$ 73 bilhões, e de

2015 para cá teve um decréscimo de 7% no seu valor. Cristiana Grether14, diretora de design

do time global de Coca-Cola liderou o processo de revitalização da identidade visual. No seu

depoimento15, algumas reflexões sobre o One brand strategy a começar pela mudança de

estratégia que unifica esforços em uma marca forte:

A motivação foi a mudança de estratégia. Na estratégia anterior, a Coca Cola vermelha era a que todo mundo mais conhecia. Além dela, oferecemos opções, submarcas de Coca Cola com

                                                                                                                         13 “Mais do que nunca, reconhecemos que as pessoas querem suas Coca-colas de jeitos diferentes. Mas seja qual for o jeito, elas querem uma marca Coca-Cola com uma bebida deliciosa e inspiradora. Por meio da estratégia ‘one brand’, conseguimos sair de múltiplas campanhas para uma única e icônica campanha da marca, que celebre tanto o produto quanto a própria marca”. (Tradução livre) (http://interbrand.com/best-brands/best-global-brands/2016/ranking/cocacola/) 14 Cristiana Grether é formada em design gráfico e trabalha há 4 anos na Coca-Cola Company, exercendo o cargo de design do time global e responsável pela marca Coca-Cola. 15 Para enriquecer o ponto de vista de gestores de marca no referencial, foi feita uma entrevista com Cristiana Grether. O objetivo principal foi colher percepções sobre a tomada de decisão no processo de revitalização da identidade visual de Coca-Cola. A entrevista foi feita por skype em janeiro de 2016. Cristiana estava no escritório da Coca-Cola em Atlanta, EUA.

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menos algum ingrediente, como a Zero e a Diet. Eram marcas individuais, cada uma tinha uma grana de marca a ser investida de jeito diferente. Poderia não ter nada a ver uma coisa com a outra, mas eram primas. Agora isso mudou, o marketing budget está todo unificado, é uma marca só. A Coca Cola na estratégia de marca única, não tem perfil de consumidores diferentes, há apenas distinção entre as variantes, mas não são marcas, apenas variações da mesma Coca-Cola.

Além disso, Cristiana revela que uma submarca estava canibalizando a outra por excesso de

distinção, outra motivação para o trabalho de fortalecer apenas uma marca:

A maior fortaleza da Coca Cola meio que começou a trabalhar contra a gente. De um lado a gente estava construindo uma Coca Cola que tem zero caloria e ela é toda preta, aí ela quase vira a melhor opção e a Coca Cola vermelha vira a opção açucarada. Uma estava contra a outra. Outro ponto é que se você fosse um apaixonado pela marca Coca Cola e se um dia você quisesse tomar uma bebida que não tivesse nenhuma caloria, a gente estava exigindo que você, no subconsciente, abandonasse a marca que você ama para ir tomar outra porque elas não eram próximas. Agora a minha marca é a Coca Cola, a única opção. Hoje eu vou tomar uma Coca Cola com açúcar, amanhã eu vou tomar uma Coca Cola adoçada com stévia, amanhã eu vou tomar uma Coca Cola com creme, mas, a sua marca é a Coca Cola, não é a Coca Cola Zero ou a Coca Cola Diet.

E a identidade visual do período pré-revitalização contribuía para gerar essa separação entre

as variações de Coca-Cola, se configurando como marcas distintas – sobretudo por causa das

grandes áreas de cor diferentes. Em síntese, num ponto de contato onde várias marcas se

fazem presentes, a distinção entre as variações de Coca-Cola por meio de suas cores

diferentes dispersava a força da marca.

A parte gráfica ajudou a separá-las e aí começamos a perceber que ao chegar no supermercado não era um mar de vermelho, era uma fileira de vermelho, uma fileira de verde, uma prata e uma preto, então até as coisas básicas a gente começou a perder.

A seguir, uma imagem do projeto pré-revitalização à esquerda e o revitalizado à direita, com

a intenção de tornar mais evidente o efeito de “fileiras” de cores distintas no ponto de venda a

que Cristiana Grether se refere. Pode-se ainda ver a presença mais consistente do vermelho

nas opções revitalizadas à direita.

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Cristiana compartilha também reflexões, critérios e dados do processo do projeto.

Foi laborioso para caramba, trabalhamos com 6 agências do mundo todo desde 2014, foram muitas discussões, opinião de 1 milhão de pessoas. Testa, volta, pilota, volta, mas eu acho que o que permitiu que esse projeto acontecesse foram as premissas. As premissas estratégicas imutáveis, uma delas era: você tem que olhar e ver uma lata vermelha, não uma lata preta ou uma lata preta com um pouquinho de vermelho, tinha que ter uma lata vermelha. Outra premissa era se desfazer de outros logos, o logo é o spacerian script16 e o resto (Zero, Diet etc.) seriam apenas descritivos. Além disso, a identidade precisava funcionar entre 300 ou 500 do que a gente chama de SKUs – que são as variações de embalagem, as latas diversas, as garrafas diversas etc. Por isso o sistema precisava ser flexível.

Tem-se como premissas, portanto, elevar o reconhecimento da marca Coca-Cola fortalecendo

o uso do vermelho e criar um sistema que seja flexível para se adaptar às chamadas SKUs. A

seguir, ela destaca aspectos das decisões de elementos da identidade visual.

Além do predomínio do vermelho, escolhemos usar como elemento principal o disco vermelho17 com o spacerian script em branco. E isso era imutável. Partindo desta estrutura, adaptamos a aplicação em cada embalagem de modo que o círculo possa variar de lugar conforme funcione melhor em termos de visibilidade no espaço de cada embalagem. Mas sempre mantendo a maior parte da embalagem vermelha e o logotipo em branco.

Para as variações, mantivemos as cores que já eram conhecidas trabalhando junto com o red disc. Na lata, por exemplo, teve uma observação tática que foi nossa salvação ao observar as aeromoças nos voos, que escolhem sabores das latas nos carrinhos olhando de cima. Então, para as variantes, a cor que identifica deveria estar no topo, junto com o descritivo Zero, Diet etc. O que motivou o uso desses elementos foi a flexibilidade e funcionalidade para todos os tamanhos de embalagem. Primeiro percebe-se que é Coca-Cola e depois a variação.

O caso de Coca-Cola pertence a um segmento diferente do mercado de vestuários e

assessórios – mercado recorte desta pesquisa. No entanto, é possível pontuar itens que                                                                                                                          16 Specerian Script é o nome do proprietário logotipo de inspiração caligráfica da Coca-Cola. 17 Red Disc ou Disco vermelho é um elemento da identidade visual da Coca-Cola reconhecido.

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abrangem a prática de um gestor de marca e tangibilizam as complexidades da função,

abordadas anteriormente. Ademais, ilustram um dos desafios da gestão de marca

apontados por Aaker (2014), que é manter a relevância da marca em um contexto em

que é necessário detectar e reagir às três ameaças para marca: menos clientes comprando,

motivos emergentes para não comprar e perda de energia. Por fim, estes itens nos dão

pistas de como um gestor de marca deve lidar com a identidade visual. Não obstante, não

se pode perder de vista seu papel de gestora de marca com formação em design.

Assim, temos alguns pontos que podem ser destacados do depoimento de Cristiana:

• Gestor de marca participando e executando uma mudança de estratégia de

marca: fortalecer a marca Coca-Cola

• Definidor de premissas para desenvolvimento do projeto: neste caso,

protagonismo do vermelho, eliminação das demais marcas.

• Interlocução com agências diversas como demandante e aprovante: neste caso,

articulação de diversas agências de Branding, design e pesquisa em países

diferentes durante os dois anos do projeto.

• Direcionamento e validação de processos criativos: alternativas para uso de

vermelho, transformação das submarcas Zero e Diet em descritivos com menor

peso, uso do Red Disc, entre outros.

• Responsabilidade sobre dispositivos que promovem o reconhecimento de

marca: aqui a revisão da identidade visual da marca.

• Responsabilidade sobre testes de performance e flexibilidade das alternativas

criadas pelas agências: buscar um sistema de identidade flexível para funcionar

na diversidade de SKUs.

Há de se pensar ainda outras responsabilidades neste processo:

• Conduzir aprovações em diversos níveis no organograma da companhia

navegando pelas relações de poder.

• Monitorar implementação e performance da identidade visual revitalizada.

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Nesta etapa, passamos por itens que formam o histórico do gestor de marca como perito,

pelas variáveis que gerencia e por complexidades do seu papel atual. Este recorte é

importante, pois nos dá o panorama das relações de força que estão em jogo no seu dia a dia.

Com o caso de Coca-Cola registrado aqui foi possível verificar as complexidades de contexto

e atuação da prática de um gestor de marca.

Na etapa de pesquisa de campo, será estudado como os contextos e questões específicas do

mercado exercem impacto sobre as decisões dos gestores de marca de moda em processos de

revitalização de identidade visual.

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4. Processo de construção de uma identidade visual

Para minudenciar o processo de criação de uma identidade visual, traremos três norteadores: o

processo de criação e os recursos utilizados pelo designer, o registro decupado de cada etapa

de desenvolvimento de um projeto de Branding – que compreende a criação de uma

identidade visual – e, por fim, referências das relações que se estabelecem entre designer e

gestor de marca. Para o registro de cada etapa de desenvolvimento de um projeto de

Branding, vamos acessar documentos do mercado de autoria da agência Ana Couto

Branding18, apenas para ilustrar como tem se dado esta prática no mercado.

4.1 O processo de criação e os recursos utilizados pelo designer

O design se preocupa com a criação do novo, ou com a mudança de uma situação insatisfatória para uma mais adequada. Assim, o design lida com a resposta para novas condições de vida, a descoberta de novas possibilidades, o desenvolvimento de novas soluções e a invenção de novas realidades. (Pombo, Tschimmel, 2005, 64)

A criação e a sistematização das identidades visuais são responsabilidades de empresas

especializadas em Design (Phillips, 2014).

Pombo e Tschimmel (2005) ratificam que no processo de criação, o designer lida com

aspectos racionais e emocionais. As autoras utilizam a dicotomia sapiens-demens de Foucault

(1980) no conceito: homo sapiens para conectar com o lado racional e homo demens para o

lado emocional no processo de criação do designer. Assim, associa-se o lado racional a conhecimento, técnica, projeto, processo e planejamento, e os aspectos emocionais à

imaginação, ideia, intuição, loucura e acaso. O resultado de um projeto de design pode se

tornar algo inovador quando mais próximo do demens, ou se tornar uma solução se estiver

mais próximo do sapiens.

                                                                                                                         18 Ana Couto Branding é uma agência de Branding fundada em 1993, com a proposta de trabalhar o Design como ferramenta para construir marcas fortes. Sua CEO, Ana Couto, é designer formada pela PUC-Rio, concluiu o mestrado em Visual Communication no Pratt Institute, em Nova York, com outstanding merit, antes de se especializar em Branding na Kellogg School of Management. Em 2015, formou-se no curso OPM (Owner/President Management Program), na Harvard University.

Há mais de 20 anos, Ana se envolve direta e indiretamente em todos os projetos do escritório, que conta com mais de 50 profissionais multidisciplinares, com diferentes backgrounds. A agência é referência em Branding no Brasil e constrói valor de Marca para clientes como BASF, Beach Park, Buscapé Company, Caixa Seguradora, Frescatto, Itaú Unibanco, P&G, Rio Galeão, Rosa Chá, Somos Educação, Teleperformance, entre outros.

O trabalho da agência se estende a diversas publicações internacionais em livros especializados, e seu reconhecimento também é refletido em prêmios como Wave Festival (2011); IDEA Brasil (2011, 2013 e 2014); Profissional do Ano de Comunicação – Design, pela Associação Brasileira de Propaganda (2013), entre outros. A CEO da agência também foi jurada da categoria Design no Festival de Publicidade de Cannes (2015).

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Figura  24  –  Processo  de  criação  esquematizado    Fonte:  criação  do  autor  a  partir  de  Pombo  e  Tchimmel,  2005

Eis uma referência com valor para nossa reflexão, pois esquematiza forças que estão atuando

no processo de criação e estabelece quais itens compõem o lado emocional e quais compõem

o lado racional do processo de um projeto. Estrutura, ainda, solução e inovação dentro do

processo, duas palavras recorrentes do mercado no que concerne à idealização de um projeto.

Na criação de um projeto, o designer trabalha com uma série de dimensões: cor, texturas,

padrões, movimento, linha, plano, ponto de vista, luz, distância e enquadramento (Dondis,

1973). A prática do design sofreu uma revolução nos anos 90 com a introdução de

computadores e softwares de desenho. Os designers se viram numa luta por equilíbrio entre

habilidades técnicas e pensamento visual crítico. Consequentemente, passados os anos,

surgiram novos fundamentos para o design gráfico, conservando princípios já estabelecidos

com outros influenciados pela tecnologia (Lupton e Phillips, 2008):

• Ponto, linha e plano – alicerces do design a partir dos quais se criam diagramas, ícones,

texturas; qualquer desenho ou diagrama se utiliza desses princípios para mapear e

conectar dados.

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• Ritmo e equilíbrio – enquanto o equilíbrio é uma baliza da forma ancorando e ativando

elementos no espaço, o ritmo cria um padrão forte que dá a direção visual, pontuada por

mudanças e variações.

• Escala – pode ser uma escala objetiva, em que de fato se faz referência às dimensões de

um objeto, exatas ou subjetivas, alterando percepções e proporções para criar impacto e

destaque, como uma letra que sai dos limites de uma página ou um imenso campo branco

com um pequeno ponto preto.

• Textura – é o grão tátil das superfícies e substâncias, que podem ser tanto reais quanto

óticas e emuladas para transmitir sensações.

• Cor – pode descrever uma atmosfera, descrever a realidade ou codificar informação;

serve para conectar, ressaltar e esconder.

• Figura e fundo – uma imagem é sempre vista em relação ao que a rodeia. É uma relação

de negativo e positivo que está presente em todas as facetas do design.

• Enquadramento – recortes, contornos, margens e legendas são recursos essenciais do

design gráfico e servem para separar a informação do entorno.

• Hierarquia – controla a transmissão e o impacto da informação e se exprime pela cor e

por variações de escala, entre outros.

• Camadas – são componentes simultâneos e sobrepostos de uma imagem ou sequência.

São intuitivas e universais e se tornaram cruciais para o modo como lemos e produzimos

imagens.

• Transparência – utlilizada para construir imagens densas e sedimentadas, construídas

com véus de cores e texturas.

• Modularidade – o módulo é um elemento fixo (como um pixel, por exemplo) contido

dentro de um sistema ou estrutura maior. O módulo é um limite que pode ser trabalhado

dentro de um sistema para uma infinidade de resultados.

• Grid – conjunto de linhas geralmente verticais e horizontais que estruturam um layout;

oferece um ponto de partida racional para cada decisão de composição de conteúdo e

espaço em branco.

• Padronagem – gama de desenhos estruturados por pontos, faixas e grids. A partir de um

único elemento em diferentes arranjos, o designer pode criar infinitas variações em torno

de uma lógica central.

• Diagrama – é a representação gráfica de uma estrutura, situação ou processo, e pode

descrever desde anatomia de criaturas até hierarquias de corporações e um fluxo de ideias.

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• Tempo e Movimento – o movimento é um tipo de mudança, e qualquer mudança

acontece de acordo com um tempo. São preocupações de todo trabalho de design. Uma

palavra que se move opera tanto espacialmente quanto temporalmente.

• Regras e Acaso – criam um arcabouço para o design sem determinar um resultado final.

Podem ser reproduzidas e disseminadas. Os designers produzem regras tanto em códigos

de computador quanto em linguagem natural. Regras podem ser exploradas para gerar

resultados inesperados – o acaso – e essa relação tem sido explorada no design.

4.2 Etapas de um projeto de Branding e Identidade Visual  

Para registrar a prática da criação de uma identidade visual do mercado, acessamos o

processo de Branding da marca Zinco, do Grupo Morena Rosa, de autoria da agência Ana

Couto Branding. O objetivo é contextualizar as motivações para se iniciar um processo de

revitalização por meio da contratação da agência e apontar as etapas na prática da criação de

uma identidade visual no mercado. É importante registrar também o modelo de aprovação das

sucessivas etapas que serão descritas a partir de então.

O projeto de revitalização da marca Zinco se originou de uma “crise” de personalidade

baseada, entre outras coisas, na herança de ter sido uma marca masculina e na crença do

grupo criativo responsável pela Zinco de que isso não era bom. Zinco é uma marca do

Morena Rosa Group, criada em 1997 com o intuito de ser uma marca jeans masculina. Uma

das vantagens estratégicas do Morena Rosa Group é gerir marcas cujo foco de venda são

cidades com menos de 100 mil habitantes. Com eficiente canal de distribuição e

representantes de venda, eles escapam da saturação e concorrência das grandes cidades e hoje

são um dos maiores grupos de moda do país. Além da Zinco, o grupo tem as marcas Morena

Rosa, Maria Valentina, Leboh e Joy. O ponto de venda principal das marcas do grupo são as

multimarcas. Lá, como o espaço das marcas é padronizado, a identidade visual da marca

precisa ter alta performance para ser memorável. Em 2012, a marca deixou de vender

produtos masculinos e se concentrou exclusivamente no mercado feminino. Além disso, todo

o time de criação foi renovado. O objetivo do projeto de Branding foi restruturar a

personalidade da Zinco perante as demais marcas do grupo e de sua concorrência.

Trata-se de um processo de revitalização de marca. Revitalização é um termo utilizado para

processos em que a marca passa por uma remodelagem a partir de intenções estratégicas de

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negócio. Retomando Kapferer (2004), é um processo que se preocupa em expressar uma

atualização da identidade visual através do tempo. As razões e necessidades de uma

revitalização podem ser diversas, por exemplo, mudança na estratégia de negócio em que se

faça necessária uma alteração de seu significado; busca por maior performance em meios

digitais em que elementos visuais precisam ser revistos; construção de maior diferenciação

dos concerrentes considerando a inserção de novos elementos na identidade da marca. Uma

revitalização parte, portanto, de uma marca existente. Ela pode ser um processo de resultado

mais próximo à marca atual, como num caso de atualização visual, ou até um processo de

resultado completamente distinto da marca vigente. A Zinco se enquadra neste último caso. O

outro modelo que se encontra no mercado é o de criação de marca, no qual toda estratégia é

construída e a marca é inédita, ou seja, não existia antes do processo.

Para chegar até a contratação da agência, o grupo de marketing do Grupo Morena Rosa

pesquisou e se aprofundou em casos de revitalização de marca no mercado de moda. A marca

referência foi a Rosa Chá – marca de moda feminina do grupo Restoque –, concorrente da

Zinco nos seus pontos de venda. Outros dois fatores contribuíram para a contratação. O

primeiro foi o fato do portfólio da agência conter outras marcas do mercado de moda, além da

Rosa Chá, como Loungerie – do segmento Loungewear do grupo Brasif, Vila Romana – do

segmento de moda masculina e Arezzo&Co – marca da holding do grupo de calçados

formados por Arezzo, Schutz, Anacapri e Alexandre Birman. O segundo ponto foi o fato da

Tarpon Investimentos fazer parte do grupo de investidores da Morena Rosa. A agência já

havia feito uma série de trabalhos para marcas investidas pela Tarpon, tais como Abril

Educação, Dental Cremer e a própria Arezzo&Co. Usa-se no mercado credenciais como essas

para definir o parceiro mais adequado para determinado desafio da empresa.

Após a contratação, a agência propõe que se forme um comitê de marca, que será composto

por diversas áreas da empresa que possam contribuir para a construção da nova marca e que

deve ser liderado pelo gestor de marca. Podem estar aí áreas de marketing, comunicação,

comercial, produto, pesquisa, recursos humanos, dentre outros. E o nível dos executivos é

sênior, desde CEOs até gerentes. Este método representa um primeiro importante passo que

vai responder ao desafio apontado por Aaker (2014) sobre a construção de uma marca

internamente. O objetivo aqui é que estes membros do comitê se tornem os primeiros

embaixadores da nova marca. O comitê de marca se reúne uma vez em cada etapa para

validar o andamento do projeto e, assim, poder avançar para a etapa subsequente.

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Em um projeto de seis etapas, por exemplo, que pode incluir Diagnóstico de Branding,

Plataforma de Marca, Naming, Design do Logo, Identidade Visual e Verbal e Guia de

Branding, o comitê se reunirá em cada etapa citada até a aprovação do projeto. Etapas podem

ser refeitas se não forem aprovadas pelo comitê. Em outras palavras, o design de um logo, por

exemplo, pode ser apresentado duas vezes, caso na primeira apresentação não tenha sido

escolhida nenhuma opção. Cada etapa dura aproximadamente quatro semanas; dessa forma,

temos um projeto de Branding dessa dimensão concluído em torno de 6 a 8 meses. Os

métodos utilizados pela empresa têm por objetivo deixar o processo mais eficaz, uma vez que

cada etapa é decidida em conjunto com os executivos do comitê. Além disso, de acordo com a

agência, o processo permite um alinhamento de visões em diversos níveis para se tomar uma

decisão, e os executivos terminam o processo de Branding como coautores do projeto, o que

os torna melhores disseminadores das decisões estratégicas tomadas no comitê, possibilitando

uma implantação mais eficiente do projeto. Tão importante quanto o resultado da estratégia,

do conteúdo e do design do projeto é o aprendizado e engajamento do grupo do comitê, que

será responsável pela implantação e execução no dia a dia.

Apresenta-se aqui o detalhamento das sequintes etapas:

1 Diagnóstico de Branding

2 Plataforma de Marca

3 Naming ou Nomeação

4 Design da Marca

5 Sistema de identidade Visual

O ponto de partida do processo é uma etapa denominada Diagnóstico de Branding. Eis o

detalhamento de cada fase:

1 Diagnóstico de Branding

É uma radiografia da marca. É a primeira etapa do projeto e tem como objetivo triangular as

visões interna, externa e de mercado da empresa acerca de estratégia de negócio, estratégia de

marca e estratégia de comunicação. A visão interna traz as percepções de executivos e

colaboradores da empresa, já a visão externa traz a ótica dos stakeholders da empresa, como

clientes e consumidores, enquanto a visão de mercado analisa tendências, concorrentes e

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benchmarks. Benchmarks são empresas que servem de referência para a prática da empresa

que será estudada. Desta fase são criadas diretrizes estratégicas que vão estruturar as fases

subsequentes. Diretrizes estratégicas podem direcionar dimensões distintas dos desafios

encontrados no diagnóstico, desde definição de proposta de valor, posicionamento, mercado

em que a empresa se insere, públicos a que ela se destina, cultura que guiará a conduta de

todos os colaboradores até recomendações para comunicação e todas as dimensões visuais e

pontos de contatos da marca. O grande desafio de projetos de branding está também na sua

correta implementação. O aprendizado decorrente de uma fase aprofundada de diagnóstico

promove um alinhamento de lideranças que é fundamental para uma etapa de implementação.

2 Plataforma de Marca

É o documento que esquematiza a personalidade da marca – que ilustramos no item 2.2

Sistematização de Marca – e a principal ferramenta para gerir uma Marca, pois sistematiza a

identidade de marca – Kapferer (2007). A plataforma é composta pelos seguintes elementos:

Cultura corporativa: conjunto de conceitos que norteam o trabalho dos colaboradores da

empresa. A Cultura Corporativa se manifesta por meio de Visão, Missão, Valores e Atitudes.

• Visão: aonde a empresa quer chegar. É uma meta desafiadora e ambiciosa que guia os

colaboradores para atingir os objetivos da empresa.

• Missão: como chegaremos lá. É o motivo pelo qual a empresa existe, a sua razão de ser. O

que e como fazer para alcançar sua Visão.

• Valores: princípios éticos que guiam as ações dos colaboradores e fundamentam uma

Cultura Corporativa que alcance a Visão da empresa.

• Atitudes: os Valores na prática do dia a dia.

Proposta de Valor: é o coração da marca, expressa sua personalidade para todos os públicos

de relacionamento, composta por Essência, Pilares de Personalidade e Atributos e Discurso da

Marca.

• Essência: é a ideia central da marca, a intenção mais importante que lhe dá vida e define

sua personalidade. Ela procura transmitir o que a empresa tem de único e inspira

colaboradores.

• Pilares de Personalidade e Atributos: base para a construção da Essência. Ao lado dos

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Atributos, eles respondem quatro questões cruciais que definem a personalidade da

Marca: 1. Qual é a forma de fazer negócios da empresa? 2. Qual é a relevância da oferta

da empresa para seus clientes? 3. Qual a emoção que a empresa desperta em seus

colaboradores? 4. Como a empresa se inspira e se relaciona com a sociedade?

• Discurso da Marca: manifesto que expressa a personalidade da marca, reforçando sua

Essência e seus Pilares e Atributos para todos os seus públicos de relacionamento.

Posicionamento: define o público que compra a marca, seu mercado de atuação e reforça as

vantagens competitivas que nos fazem únicos (diferenciais), além das credenciais para

cumprir o que prometemos. Também responde a quatro perguntas essenciais.

• Público: Quem compra essa marca?

• Mercado de Referência: Qual é o mercado em que o cliente insere a Marca?

• Diferenciais: Quais são as vantagens competitivas e diferenciais da Marca dentro desse

mercado?

• Credenciais: Por que o cliente acredita que a Marca tem credenciais para cumprir o que

promete?

Propósito: é uma declaração de como a marca pode colaborar para um mundo melhor.

Figura  25  –  Proposta  de  valor  Zinco  (Essência  e  Pilares  de  Personalidade  e  Atributos)    Fonte:  Ana  Couto  Branding,  2015  

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3 Naming ou nomeação

É nesta etapa que se dá a nomeação da empresa, quando necessário. De acordo com a

agência, um nome deve responder às diretrizes estratégicas de negócio e expressar sua

essência e personalidade. O nome é a base da identidade de uma marca e deve ser de fácil

pronúncia, funcionar nos idiomas que regem o mercado da marca e estar disponível para

registro nas classes e territórios definidos, assim como no endereço digital.

Nas fases seguintes começa o processo de identidade visual. Na metodologia da agência, as

fases se dividem em design de marca e Universo Visual.

4 Design da Marca

O logo é a maior síntese visual da empresa e deve ter relevância para os públicos e potencial

para se desdobrar numa identidade visual proprietária que dê consistência a todos os materiais

de comunicação. Ele deve refletir a Proposta de Valor e buscar um desenho distinto e

memorável. Funcionalmente, o logo deve performar em todas as mídias e em diferentes

tamanhos. O registro do processo de criação da marca Zinco, compartilhado pela consultoria,

abrange as seguintes etapas de criação:

1. Start. O começo da etapa criativa, com retomada das diretrizes estratégicas do

Diagnóstico e da Plataforma da Marca. Estão nesta etapa também a auditoria visual da

empresa – que analisa uma seleção de pontos de contato apontando boas práticas e

problemas (figura 26) –, o quadro comparativo da concorrência – que tabula a

concorrência comparando diversas dimensões da identidade visual, como logo, cores e

imagem (quadro 3) – e benchmark visual – que é uma referência de prática com

resultado relevante para a criação da identidade (figura 27).

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Figura  26  –  Auditoria  Visual  de  Zinco    Fonte:  Ana  Couto  Branding,  2015  

 

Quadro  3  –  Registro  comparativo  de  concorrentes:  Rosa  Chá,  Farm,  Lez  a  Lez,  Colcci  e  Morena  Rosa    Fonte:  Ana  Couto  Branding,  2015

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Figura  27  –  Registro  do  benchmark  para  a  Zinco:  Moschino  e  Kate  Spade    Fonte:  Ana  Couto  Branding,  2015

2. Vivenciar. Nesta etapa, o time criativo visita os pontos de venda, fábricas e

escritórios; também observa o entorno e como o consumidor interage com o produto

ou serviço e faz registros fotográficos.

3. Conceituar. O time criativo cria conceitos visuais que podem ser caminhos para

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traduzir visualmente a personalidade da marca. Ele busca referências em forma de

imagens, vídeos, ilustrações, ambientes e sintetiza tudo em painéis semânticos. O

objetivo aqui é traçar rotas conceituais para a fase de desenho que virá na sequência.

4. Desenhar. Começam aqui os desenhos de logo, que podem ser estudos à mão ou

com ferramentas digitais. O que importa é a variedade de diferentes partidos de

desenhos que expressam as rotas conceituais definidas na fase anterior. Esses

desenhos iniciais vão passando por filtros do time criativo até que se selecionem

partidos para serem aprofundados e refinados.

No quadro a seguir, observam-se desenhos de uma primeira etapa, e no quadro seguinte,

desenhos selecionados.

Figura  28  –  Registro  de  estudos  selecionados  do  logo  Zinco    Fonte:  Ana  Couto  Branding,  2015  

5. Refinar. As marcas selecionadas passam por ajustes de detalhes, pesos, pontas e

pequenos erros. A seguir, os itens de checagem desta etapa:

- Funcionar em preto e branco. Checagem de que a forma funciona mesmo sem cor.

- Funcionar em tamanhos reduzidos. É necessário para pontos de contato com limitação de espaço, como cartões pessoais e ícones de aplicativos.

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- Ter cores que considere as variações e modelos de composição de cor distintos, como RGB, CMYK e PANTONE®19

- Funcionar nos pontos de contato relevantes para a marca, com eficácia de visibilidade e reprodução.

6. Apresentar. A etapa seguinte é a apresentação para o cliente no comitê de marca.

Para essa apresentação, as marcas selecionadas são agrupadas em um conjunto de

imagens de diversas simulações de pontos de contato. Tais recursos indicam

capacidade de performance da opção do logo e de sua identidade visual.

No quadro abaixo temos a apresentação e as aplicações em pontos de contato de uma das

opções de logo apresentada ao cliente. Nesta apresentação, as opções de ponto de contato

selecionadas foram veículo, divisores de fluxo, anúncio em revista e painel na ambientação

do aeroporto.

Quadro  4  –  Aplicação  em  pontos  de  contato    Fonte:  Ana  Couto  Branding,  2015  

                                                                                                                         19 RGB: Red Green Blue CMYK: cyan, magent, yellow, black Pantone: Pantone Inc. é uma empresa sediada em Carlstadt, estado de Nova Jérsei, Estados Unidos. É mundialmente conhecida por seu sistema de cor, amplamente utilizado na indústria gráfica.

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Figura  29  –  Registro  de  prancha  de  apresentação  de  uma  das  opções  de  logo  Zinco    Fonte:  Ana  Couto  Branding,  2015

No quadro abaixo, verifica-se a defesa conceitual da opção de logo escolhida pelo comitê, na

possibilidade de trazer humor e irreverência como tradução da essência de ser uma marca fora

do eixo. Na marca Zinco, o fora do eixo representa alguns pontos da estratégia. Para os

públicos, a ideia do fora do eixo está associada ao humor e à possibilidade de questionar

padrões de moda; além disso, significa estar fora do eixo Rio-São Paulo, já que se localiza na

cidade paranaense de Cianorte. Outra possibilidade se concretiza, ainda, na diretriz de não

fazer escolhar óbvias e lançar novos profissionais das mais diversas disciplinas para

contribuir com a marca – escolhas originais e fora do eixo comum.

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Quadro  5  –  Defesa  conceitual  do  logo  escolhido    Fonte:  Ana  Couto  Branding,  2015  

Esta opção procura expressar uma personalidade por meio de algumas variáveis: o elemento

inicial, também usado como símbolo, é formado por um “eixo” ou exclamação (que pode

lembrar um botão ou costura) representado pelo “I” posicionado acima do “O” da palavra

Zinco. Essa sobreposição divide a palavra em duas linhas: ZIN e logo abaixo CO. Usando o O

como ponto central, é possível reescrever a palavra de cima para baixo, como se tivesse

“rotacionada” num eixo. Esta subversão de criar um logotipo que tem repetição de palavras e

inversão de leitura pode ser associada a estar fora do eixo, em uma atitude que pode ser

interpretada por irreverência e originalidade. O sistema conta ainda com a possibilidade de

substituição das letras do logotipo por ícones e ilustrações diversas que podem comunicar

conteúdos específicos da marca e apontam para um sistema que. por variar de significados,

está aberto ao diálogo20.

Após a aprovação da opção de marca pelo comitê, começa a etapa de sistematização da

identidade visual e verbal21. Concentra-se aqui na sistematização da identidade visual. Nas

figuras a seguir, o logo escolhido pelo comitê e uma seleção de variações, desenvolvimento

                                                                                                                         20 Esta defesa foi colhida de documentos preparados pela Ana Couto Branding para o Morena Rosa Group em 2015. 21 Identidade Verbal (ou universo verbal): fase em que se estruturam as diretrizes verbais da marca e que abrange o tom de voz, território de palavras e o que pode e não pode na comunicação. O objetivo é refletir a personalidade definida na plataforma de marca por meio de textos e palavras.

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de sistema de identidade visual e de aplicações em pontos de contato:

Figura  30  –  Logo  Zinco  escolhido  Fonte:  Ana  Couto  Branding,  2015  

 

Figura  31  –  Desenvolvimento  do  sistema  de  identidade  visual  da  Zinco:  variações  de  cor,  paleta  de  cores,  padronagem  gráfica  e  uso  de  padronagem  com  imagem    Fonte:  Ana  Couto  Branding,  2015  

 

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Figura  32  –  Desenvolvimento  do  sistema  de  identidade  visual  da  Zinco:  padronagem  diagonal  secundária,  aplicação  do  sistema  em  capas  de  catálogo,  aplicação  promocional  do  sistema  (ZINCOAMO  e  ZINCOJEANS)    Fonte:  Ana  Couto  Branding,  2015  

Observou-se os registros em imagem do processo de sistematização da identidade aprovada e

as decisões sobre uma seleção de expressões visuais da marca: quais as cores padrão da marca

e como se hierarquizam, que tipo de padronagem proprietária foi criada e como elas

interagem com imagens, e como a estrutura visual da marca pode comportar conteúdos

diversos. Esses itens, ao lado de outras diretrizes, são registrados em um documento para uso

do gestor de marca e sua equipe.

4.3 Relação entre designer e gestor de marca

O designer propriamente dito produz para um público amplo. Tem um talento de ordem intuitiva. Como é um artista que se interessa por formas, tem que complementar suas habilidades natas com tecnologia e ciência, pois deve alcançar equilíbrio entre intuição e a técnica. Se for só técnico, vira engenheiro; não pode ser só intuitivo porque senão é artista. Vai precisar de um ferramental técnico, de uma linguagem, de uma tecnologia, e terá que saber falar, comunicar-se, explicar o conceito para cliente, justificar determinadas escolhas e caminhos. (Wollner, 2003, 20)

O depoimento de Wollner é de importante contribuição para a pesquisa, pois explicita a

relevância de competências na área da linguagem, fala e comunicação para que conceitos por

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trás de uma identidade visual sejam comunicados e defendidos de forma eficaz durante uma

apresentação para um cliente. Segundo ele, a eficácia da escolha e implantação de um projeto

de design com uma identidade visual está ligada a outras forças além da capacidade criativa,

intuitiva e técnica do designer. O relacionamento com o gestor da marca ou cliente é peça

central neste sucesso. No registro do processo de Branding da marca Zinco identifica-se um

método de ordenação de processo por meio da formação de um comitê de marca. Buscamos

nesta etapa apontar outras referências para a dinâmica dessa relação.

Charles Eames (1969) desenha um diagrama para a exposição “O que é Design?”, que define

as três forças que representam interesse no processo de criação do designer: sociedade, cliente

e designer. O último atua na sobreposição entre essas três forças. Abaixo, registro o desenho

desse diagrama.

 

Figura  33  –  Diagrama  de  processo  de  design  no  qual  a  necessidade  e  interesses  da  sociedade,  clientes  e  designer  culminam  em  sobreposição.  Charles  Eames,  1969    

(Tradução  livre)  

1. se  esta  área  representa  os  interesses  e  preocupações  do  escritório  de  design  

2. e  esta  área  é  o  genuíno  interesse  do  cliente  

3. e  estas  são  as  preocupações  da  sociedade  como  um  todo  

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4. então,  é  nesta  área  de  sobreposição  de  interesses  e  preocupações  que  o  designer  pode  trabalhar  com  emoção  e  entusiasmo  

Nota:  essas  áreas  não  são  estáticas  –  elas  podem  crescer  e  se  desenvolver,  com  uma  influenciando  as  outras  Nota:  colocando  mais  de  um  cliente  no  modelo,  constrói-­‐se  o  relacionamento  de  forma  positiva  e  construtiva  Fonte:  Armstrong,  2015  

 

De acordo com o diagrama, ficam explícitos os campos de interesse com áreas distintas entre

seus elementos: designer, cliente e sociedade. Embora com grande área de distinção, há uma

área de sobreposição desses interesses, um território mais produtivo para o encaminhamento

do projeto e, portanto, a condução do projeto deveria procurar essa área de interesses comuns.

Rand (1987) descreve como notável a dicotomia entre o designer e o empresário. Se por um

lado, o designer é independente, por outro, ele precisa do empresário para se colocar contra a

burocracia e caprichos do mercado. A qualidade do resultado do projeto de design varia

proporcionalmente à distância que há entre o designer e os dirigentes do topo da empresa:

quanto mais estreita for essa relação, maior a probabilidade de um design expressivo. A

reflexão do autor acerca dessa relação é decorrência de sua grande experiência na área de

identidades visuais desde a década de 50 do século XX.

Do depoimento de Rand (Amrstrong, 2015), duas variáveis são relevantes para este estudo:

além das variáveis estratégicas, de conteúdo e de design em um projeto de identidade visual,

há a variável relacionamento, que possibilita uma boa interlocução entre designer e gestor de

marca/cliente e, como consequência desta primeira, há a variável de acesso aos dirigentes do

topo da empresa, que possibilita tomada de decisão, mobilização de colaboradores e

implementação de projeto. Se Kapferer (2007) afirma que marcas tendem a refletir valores e

particularidades de seus fundadores e donos, logo a criação de identidades visuais necessita

de seu engajamento e participação e, portanto, é válida a importância da construção de um

relacionamento que possibilite acesso aos dirigentes do topo da empresa, como estabelecido

por Rand (1987).

Retomando a questão de pesquisa do projeto, que é a indentificação de quais argumentos e

variáveis são levados em conta na escolha de uma identidade visual, passamos, nesta etapa,

pelo processo criativo e os recursos utilizados pelo designer, pelo detalhamento de um

processo de Branding com foco na etapa de identidade visual com documentos de mercado e

por referências de mapeamento de forças na relação entre designer e cliente/gestor de marca.

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5. Moda e Identidade Visual

Feeling powerless to affect real change in this country? You shouldn’t be: After consumer protest, the much-reviled new Gap logo has been replaced with its staid blue-boxed predecessor. (Jones, 2010)22

Em 2010, a empresa norte-americana de moda Gap revitalizou seu logo. Após bombardeio de

críticas pelo público em geral, a empresa voltou atrás da decisão em apenas uma semana e

manteve o logo original. Críticas em torno da falta de personalidade e expressividade do logo

atualizado revelam a natureza emocional com que as pessoas podem se relacionar com o logo

e a identidade visual de uma empresa, em especial no mercado de moda, e como essa relação

pode afetar os rumos da marca (Jones, 2010). O caso da Gap foi escolhido para abrir essa

etapa do trabalho por unir identidade visual e mercado de moda.

Figura  34  –  Logo  Gap:  original  e  atualização    Fonte:  Jones,  2010  

Identidades visuais são criadas para diversos campos da indústria. Para este estudo, porém,

recortamos especificamente um mercado para que a amostra de entrevistados estivesse

inserida em um mesmo ambiente e entrasse em contato com questões semelhantes. Comparar

um processo de criação de mercados muito distintos poderia enviezar uma comparação. O

mercado de moda foi escolhido de acordo com alguns critérios: ser uma marca que se

relaciona com público final, natureza do produto de alto engajamento emocional, identidade

                                                                                                                         22 “Sentindo-se impotente para fazer mudanças reais nesse mundo? Não deveria. Depois do protesto dos consumidores, o supercriticado novo logo da GAP foi substituído pelo seu predecessor, em caixa azul” (tradução livre) http://newsfeed.time.com/2010/10/12/haters-gonna-win-gap-returns-to-old-logo/

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visual que pode ser “vestida”, possibilidade ampla de pontos de contato e por se verificar

atualizações dessas identidades visuais no mercado.

No mercado de moda, a identidade visual se relaciona com o público final, ou seja, é uma

identidade para uma marca que tem consumidores como clientes. É por meio dos elementos

da identidade visual que seus públicos podem reconhecer e identificar as marcas perante a

concorrência.

Além disso, abordamos um mercado cuja natureza do produto é de alto engajamento

emocional, como vimos no caso da Gap. Se nas palavras de Miller (2010) “roupas fazem de

nós o que pensamos ser”, marcas de moda podem se tornar grandes expressões de nossa

personalidade. Por isso, deve haver todo o cuidado com a estruturação do sistema de

identidade visual que expresse personalidade e estilo com relevância para seus públicos e com

o Brand equity conquistado ao longo de sua história.

O mercado de moda tem ainda uma particularidade que pode ser reflexo do engajamento

emocional: sua identidade visual pode ser “vestida”. É um segmento em que ostentar uma

marca em uma indumentária ou acessório não é visto apenas como “propaganda” da marca,

mas sim como meio de expressão de personalidade e estilo, uma associação direta com os

valores e personalidade expressos pela marca. Na imagem abaixo, exemplos da chamada

“logomania”, tendência recorrente em moda, seja para ostentar, seja para criticar ou tomar

posse da personalidade de uma marca através de seu logo.

Figura   35   –   Peças   de   vestuário   e   acessórios   dominados   por   logos:   Chanel,   Kenzo,  Hermès.   Louis   Vuitton   e   Yves   Saint  Laurent    Fonte:  www.wsj.com/articles/the-­‐return-­‐of-­‐the-­‐fashion-­‐logo-­‐1384554629?tesla=y  

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Outro ponto a se destacar sobre o mercado de moda é a possibilidade ampla de pontos de

contato da identidade visual com seus públicos com espectro de necessidades distintas – o que

exige alta estruturação do sistema. Na sistematização de uma identidade visual de moda

haverá aplicações de grandes dimensões – como uma fachada de loja; aplicações de alto

desempenho de visualização – como uma sacola; de alta performance – como em meios

digitais; de grande flexibilidade e funcionalidade – da forma sutil de um forro de casaco em

tecido ou destaque de uma ferragem de fivela de cinto. Para exemplificar essas variações,

seguem abaixo referências de aplicações em pontos de contato da marca Kate Spade,

revitalizada em 2012, que tem como símbolo o naipe de espadas.

 

Figura  36  –  Fachada,  catálogo  impresso,  material  de  ponto  de  venda,  detalhe  do  bolso  de  um  jeans,  detalhe  de  uma  bolsa  e  logo  Kate  Spade  (2012)    Fonte:  www.katespade-­‐aholic.com/2011/01/kate-­‐spade-­‐has-­‐introduced-­‐new-­‐logo.html  

Por fim, justificamos o recorte no mercado de moda por identificar atualização e

reinterpretação de identidades visuais, o que reflete um mercado dinâmico e com

necessidades e estratégias que mudam. Abaixo, alguns exemplos de atualização recente,

retirados de um site especializado em revitalizações de marcas e de suas identidades visuais,

chamado Underconsideration.

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Figura  37  –  Revitalização  dos  logos  Refinery29  (2013)  e  Armani  Exchange  (2015).  À  esquerda,    o  original,  e  à  direita  o  logo  revitalizado    Fonte:  www.underconsideration.com/brandnew/archives/industry/fashion/  

A relação que consumidores estabelece com marcas de moda e sua identidade visual é

ocasionada pela relação com seus produtos. Miller (2010) registra diferentes relações íntimas

entre as pessoas e sua indumentária: “De forma típica, procuramos nas lojas algo que seja

original, mas não vistoso demais; modesto, porém não enfadonho porque (...) é assim que

somos, não é?” (Miller, 2010). Em Trinidad, pessoas a utilizam para refletir o que são naquele

momento; na Índia, a mulher que usa sari tem sobre si a expectativa de mudar de aparência

conforme a ocasião; em Madrid, a indumentária corrobora o ideal cosmológico de centro da

civilização e em Londres, é uma fonte de ansiedade pela expressão individual. Miller, assim,

se posiciona numa linha de pensamento que traz o estudo da indumentária não somente como

um fenômeno semiótico de definição de gênero, papel ou classe social, mas sim, com uma

abordagem etnográfica mais profunda, pois “ela precisa evocar o mundo tátil, emocional e

íntimo dos sentimentos”. Em síntese, as roupas não são superficiais, elas fazem de nós o que

pensamos ser. Há de se pensar, então, que uma marca de moda – cujos produtos e estilo de

vida que projeta representam algo tão fundamental na constituição da personalidade de uma

pessoa – tem um comportamento específico e identificável também.

Retomando o caso da Gap, nota-se a força de resposta de consumidores a respeito de uma

tomada de decisão da empresa, no caso, a mudança do logo. Nos últimos 30 anos, há que se

pontuar a evolução no processo de informação e formação do consumidor contemporâneo –

que teve seus direitos incluídos definitivamente na agenda internacional (Borges, 2012).

Como reflexo deste processo, as empresas buscam satisfação e respeito ao consumidor na sua

estratégia de marketing. Buscam ainda essa satisfação como uma vantagem competitiva – já

que é cada vez mais acirrada a concorrência e mais vasta as opções de escolha do

consumidor. Há o entendimento de que a conquista da fidelidade do consumidor é um

investimento que, em médio e longo prazo, afetará positivamente a lucratividade. Mais que

isso, com o acesso aos meios digitais – internet (e, posteriormente, redes sociais) e computa-

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dores (e, posteriormente, smartphones e tablets) –, multiplicou-se o poder de resposta de um

consumidor insatisfeito com uma marca. Logo, toda atenção voltou-se também para evitar

esses danos.

Outro tonus importante do comportamento das pessoas hoje foi previsto por Toffler (1970) e

dizia que ao contrário de outras épocas, o homem do futuro não será definido por sua classe

social, mas pelas aderências e pela transição por estilos de vida diferentes, na transição de um

subculto efêmero para outro. Esta é a mobilidade social do futuro – com um aumento do

índice de transitoriedade, rodízio de coisas, lugares, pessoas, relacionamentos empresariais e

informações. Se a transitoriedade é inevitável, projetar um estilo de vida compatível com o

que se é pode ser a chave para um consumidor convidar uma marca para entrar na sua vida.

Ademais, a moda em si tem como princícpio o culto à novidade, mudança e renovação

(Taschner, 1996). Neste sentido, este homem do futuro com sua transitoriedade parece

encontrar na moda um dispositivo compatível com sua expressão mutante.

É importante notar, portanto, especificamente no mercado de moda, a marca como um

fenômeno que além de representar um produto, expressa emoções, tem um comportamento e

projeta um estilo de vida com o qual as pessoas podem se identificar. Segundo Ismail e

Spinelli (2011), marcas de moda transmitem sua personalidade diretamente através das roupas

e indiretamente através de comunicação e design das lojas. E a identidade visual, por meio de

logo, formas, cores, tipografia, imagens e outros, estabelece elementos visuais que

identificam a personalidade do estilo de vida que a marca quer projetar.

Consumers love their fashion brand because of the passion it inspires in them. They want to be

well dressed and well groomed also they want to be informed with the latest styles. Basically,

fashion brands are looking to capture and appeal young consumers’ markets who desire to

express themselves using fashion23. (Ismail e Spinelli, 2011, 388)

Fashion Branding tem sido objeto de estudos há décadas. Entre os temas abordados ao longo

desses anos estão a vantagem competitiva no varejo de moda (Lewis e Hawksley, 1990),

fatores de influência para compra de marca própria (Veloutsou et al, 2004) e alianças

estratégicas no setor de moda (Wigley, 2005). Se a identidade visual de marcas de moda atua

em diversas dimensões e expressa sua personalidade conforme abordado nos critérios de

                                                                                                                         23 “Consumidores amam suas marcas de moda pela paixão que elas inspiram. Eles querem estar bem-vestidos e arrumados, mas também querem saber dos estilos mais recentes. Basicamente, marcas de moda procuram conquistar os mercados com consumidores mais jovens que desejam se expressar através da moda” (tradução livre).

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escolha do mercado no começo desta etapa, cabe aqui o registro de práticas do mercado que

se ocupam em estabelecer relações entre identidade visual e marcas de moda.

A relação entre uma pessoa e uma marca de moda é expressa da forma diagramada no

esquema adiante, segundo a agência Ana Couto Branding. O indivído tem desejos e anseios

de como quer ser percebido no seu processo de aderência a determinado estilo de vida, como

vimos em Toffler (1970). A marca, por outro lado, projeta uma personalidade com atributos

próprios para expressar um estilo de vida. O indivíduo, ao usar determinada marca de moda,

‘pegaria emprestado’ dela atributos de personalidade que querem para sua imagem, tornando-

se assim um indivíduo projetado pela marca.

 

Quadro  6  –  Modelo  indivíduo  +  marca  de  moda    Fonte:  Ana  Couto  Branding,  2013

Ainda segundo a agência, em marcas de moda a identidade visual deve fazer mais que

sinalizar peças, ela deve interagir com cada ponto de contato de forma flexível e diferenciada,

podendo ser mais ou menos reconhecível, dependendo da estratégia. Para registrar

comportamentos distintos de uma identidade visual em seus pontos de contato encontrados no

mercado, a agência dividiu tais comportamentos em três estratégias: Estratégia de Impacto,

Estratégia de Sistema e Estratégia de Produto (Ana Couto Branding, 2013).

Estratégia de Impacto é baseada em um elemento da identidade visual que deve ter destaque

perante os demais elementos e que deve ter alta distinção perante a concorrência. Tal

elemento é trabalhado com consistência para que crie reconhecimento. É a estratégia utilizada

por marcas como a Tiffany com o seu azul-turquesa proprietário (denominado Robin egg

blue), que é o principal elemento visual de sua identidade. A estratégia da Tiffany, portanto, é

baseada na construção de uma cor. Outra marca que utiliza essa mesma técnica é marca de

sapatos Louboutin, que utiliza o vermelho na sola de todos os seus produtos. Este recurso cria

rápida identificação e foi patenteado. A marca também atribui significado a este recurso, já

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que a sola vermelha faz uma referência aos nobres do século XVIII, que pintavam a sola dos

seus sapatos de vermelho para criar distinção em relação à burguesia.

Figura  12  –  Estratégia  de  Impacto:  Tiffany&Co  com  pontos  de  contato  dominados  por  seu  azul  Fonte:  www.tiffany.com.br  

Figura  38  –  Estratégia  de  Impacto:  Louboutin  e  seu  sapato  com  sola  vermelha    Fonte:  www.christianlouboutin.com

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Estratégia de Sistema utiliza um padrão de formas e cores que pode ter sua visibilidade

equalizada de acordo com o objetivo de uso. Dentro desta estratégia está a padronagem

xadrez da marca Burberry. De inspiração escocesa, o xadrez começou a ser usado em 1967.

Desde então, sua aplicação legitima um produto Burberry e seu reconhecimento hoje é maior

do que o próprio logo da marca. Com o passar do tempo, as aplicações em pontos de contato

ganharam variação, podendo ser mais próximas do original ou com alterações em escala e

cores para ganhar flexibilidade em linhas de produtos diversas.

Figura  39  –  Estratégia  de  Sistema:  Padronagem  Xadrez  da  Burberry    Fonte:  br.burberry.com

Fundada em 1953, a marca italiana Missoni também está classificada dentro desta estratégia.

É conhecida por seus icônicos produtos em tricô estampados com seu chevron – um

ziguezague de listras em cores vibrantes e contrastadas. É o elemento mais reconhecido da

marca que se sistematiza em variações conforme o produto.

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Figura  40  –  Estratégia  de  Sistema:  Padronagem  Chevron  da  Missoni    Fonte:  www.missoni.com

Já a Estratégia de Produto cria elementos reconhecidos e funcionais para serem aplicados

em produtos e pode não ter vínculo tão marcante com o símbolo e o logotipo da marca, mas

podem ter siginificado relacionado à história ou personalidade da marca e devem ter

aplicação recorrente em produtos para criar reconhecimento. É o caso da camélia da Chanel,

que apresentamos na etapa de identidade visual. É um recurso que se insere dentro da

estratégia de produto. A marca carioca Osklen utiliza o recurso de três ilhoses de metal em

diversos tipos de produtos como casacos, tênis e bolsas. Criam um elemento de identificação

e se inserem dentro dessa estratégia. A marca de luxo italiana Fendi criou uma série de

artifícios como olhos e pelúcias para uma de suas linhas de acessórios. Isso cria um resultado

distintivo e proprietário, pois seus produtos lembram monstrinhos.

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Figura  41  –  Estratégia  de  Produto:  Osklen    Fonte:  Osklen  

 

Figura  42  –  Estratégia  de  Produto:  Fendi    Fonte:  Fendi

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Conclui-se a etapa de referencial teórico com o registro das particularidades de identidades

visuais para o mercado de moda. A produção de identidades visuais para o tal mercado

compartilha das mesmas pressões de tempo que a produção de identidades visuais em geral e,

portanto, espera-se um olhar mais atento acerca dessa produção e dos argumentos e variáveis

que são levados em conta no seu processo de tomada de decisão. Na etapa a seguir,

contemplar-se-ão os procedimentos metodológicos do estudo.

 

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6. Procedimentos Metodológicos

Neste capítulo serão detalhados o método, a técnica, a abordagem e o universo da população-

alvo das investigações definidas para esta etapa da pesquisa, assim como a razão das escolhas

feitas.

Um importante ponto para a abertura desta etapa é a opção por um método qualitativo de

pesquisa. Segundo Creswell (2007), a técnica qualitativa é aquela em que o pesquisador pode

basear a construção de conhecimento na ótica construtivista, ou seja, ótica em que as teorias e

padrões são desenvolvidos a partir de significados múltiplos das experiências individuais, dos

significados sociais e historicamente construídos. O pesquisador, então, aborda processos de

interação entre as pessoas, contextos específicos em que vivem e trabalham para entender seu

ambiente histórico e cultural. O objetivo da pesquisa é basear-se o máximo possível nas

visões que os participantes do estudo têm da situação estudada, de modo a construir

significado a partir da soma do que dizem com o que fazem no seu ambiente. Além disso, os

pesquisadores reconhecem a influência de sua própria formação na interpretação dos dados.

6.1 Problema de Pesquisa

Ferreira (2015) recomenda que um problema de pesquisa deva preencher uma lacuna em

estudos em desenvolvimento. Dentro da abordagem qualitativa, o problema de pesquisa

proposto tem como questão central a identificação de argumentos e variáveis que são levados

em conta para a escolha de uma identidade visual no mercado de moda pelos gestores de

marca. De acordo com que critérios é escolhida uma identidade visual no mercado de moda?

Há alguma base teórica nessa tomada de decisão? Quais as percepções dos gestores de marca

ao tomarem tal decisão.

O ponto de partida é o fenômeno da marca. Viu-se nas etapas de referencial teórico que nos

últimos 30 anos muito se estudou sobre as dimensões conceituais da gestão de marca e sobre

como se sistematizam seus elementos e forças. Contudo, Zaichkowski (2010) e Phillips [et al]

(2014) reconhecem uma lacuna nos estudos acadêmicos acerca das dimensões visuais da

marca. Eis aqui o problema desta pesquisa: contribuir para o entendimento das razões de

ocorrência dessa lacuna nos estudos em desenvolvimento sobre as dimensões visuais da

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marca. Para tanto, o referencial avançou na busca de registros acadêmicos e de mercado que

estabeleçam correlações entre tais dimensões conceituais e visuais. É a identidade visual da

marca que cria uma correspondência física com suas dimensões conceituais. Este

levantamento busca extrair dos referenciais teóricos possíveis critérios de sucesso de uma

identidade visual. E a partir daí ir a campo.

A busca por identificar argumentos e variáveis que são levados em conta na tomada de

decisão para a escolha de uma identidade visual visa contribuir para registros dessa

correlação. Tais argumentos e variáveis podem apontar caminhos sobre fatores-chaves de

sucesso para uma identidade visual, mas cujo registro mais atento e cuidadoso é impedido

pela pressão de tempo do mercado.

Para correlacionar o problema de pesquisa com o referencial teórico seguimos os seguintes

passos na estratégia de pesquisa:

a. Reflexão de autores sobre identidade visual – como resultado de uma seleção

abrangente de autores que abordam identidade visual em seus artigos, reunir o que de

descrito existe como critérios de desempenho.

b. Seleção e mapeamento de identidade visual em modelos que sistematizam marca –

para a seleção dos modelos, foram adotados alguns critérios que: 1 – considerassem o

consumidor ou os públicos da marca para articular o sistema. 2 – abordassem, em algum

ponto do modelo, ainda que de forma não aprofundada, a identidade visual da marca. 3 –

tivessem sido publicados em num período próximo.24 4 – fossem modelos citados em

estudos. Assim, o modelo de Conhecimento de Marca (Keller, 1993), o Prisma de

identidade de marca (Kapferer, 2007) foram os selecionados. Já que se reconhece na

literatura a lacuna do estudo das dimensões visuais de uma identidade visual, buscou-se

um modelo que estruturasse a marca no mercado e que considerasse suas dimensões

visuais, os ideais de identidade de marca (Wheeler, 2009)

c. Definição de critérios de desempenho para etapa de pesquisa de campo – a partir do

mapeamento e contraposição dos modelos, extrair possíveis critérios de desempenho e

levá-los a campo.

Como um estudo empírico e teórico, optou-se por entrevistas exploratórias em profundidade

para comparar o que há na literatura acerca de critérios de desempenho de identidade visual e                                                                                                                          24 Retoma-se aqui a nota: a publicação de Kapferer de onde se extraíram as visões sobre o Prisma de identidade de marca data de 2007. A primeira publicação deste modelo, no entanto, data de 1992. https://www.slideshare.net/Zeynepkn/kapferer-brand-identity-prism

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o que se pratica no mercado. Lima (2008) afirma que é necessário definir justificadamente as

unidades sociais a serem exploradas no estudo. Como definição de campo específico para o

estudo, foi eleito o mercado de vestuário e acessórios, o mercado de moda. O público que se

pretende estudar são os gestores de marca de moda. A seleção seguiu a pré-condição de que

estes gestores tivessem passado por algum processo de revitalização de marca nos últimos 10

anos. Escolheram-se os gestores de marca que foram líderes do processo de Branding e

principais informantes da tomada de decisão sobre a identidade visual da marca. São eles:

Zinco _ Gestor: Raniery Aranha Regina Rios_ Gestor: Roberto Rios

Rosa Chá_ Gestor: Glória Marques

Farm_ Gestor: Carlos Mach Ellus_ Gestor: Adriana Bozzon

Schutz_ Gestor: Giovanni Bianco.

É fundamental registrar a dinâmica de movimento de profissionais no mercado. Dos gestores

escolhidos, Raniery Aranha e Glória Marques estão em outras empresas no momento da

entrevista. Além disso, registra-se que Giovanni Bianco – que além de marcas de luxo como

Versace e Dolce & Gabanna, tem entre seus clientes artistas emblemáticos como Madonna –

atua de forma híbrida como gestor e agência da Arezzo e Schutz há mais de 10 anos. Para

enriquecer o espectro sobre a visão do gestor de marca e das práticas de mercado, fez-se

contato com um perito reconhecido e atuante no mercado, Ana Couto – CEO e diretora de

criação da Ana Couto Branding.

As entrevistas aconteceram entre maio e dezembro de 2016 nas cidades Rio de Janeiro e São

Paulo nos escritórios das marcas. Em uma entrevista em profundidade, que tem como

resultado materiais de natureza verbal, a credibilidade vai depender em grande parte da

sistematização do registro (Lima, 2008). Foram também registradas em video de forma

presencial com equipe de produção. As exceções ficam por conta de Giovanni Bianco cuja

entrevista foi feita e gravada via Skype do seu escritório em Nova York, e de Raniery Aranha

que fez a entrevista no escritório da Ana Couto Branding. Glória Marques já não estava na

Rosa Chá, mas recebeu-nos para a entrevista na loja da sua marca atual, a Sardina.

Lima (2008) atenta para o fato de que o mérito da entrevista como técnica de coleta de dados

está relacionado, entre outros fatores, à profundidade e riqueza de detalhes da coleta e à

reunião em primeira mão de dados atuais que ainda não foram objetos de descrição,

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interpretação e publicação. Destaca ainda que a entrevista não estruturada pode explorar

amplamente a questão sem impor limites e rigidez na comunicação entre pesquisador e

entrevistado. Optou-se neste trabalho pela modalidade de entrevista focalizada, onde o

entrevistado pode se expressar livremente sobre o assunto investigado, tendo como orientação

um roteiro oculto que pode sofrer variações conforme o encaminhamento da entrevista.

6.2 Papel do Pesquisador

No tópico Papel do Pesquisador, Creswell (2007) recomenda comentário sobre alguns

aspectos. São eles: informações sobre experiências passadas do pesquisador nesse contexto e

sobre suas conexões com os participantes e os locais pesquisados, e ainda os passos dados

para que fossem obtidos permissão e acesso aos participantes como também as questões

éticas ligadas a tal decisão.

Com relação à experiência do pesquisador, é importante o registro da minha formação como

designer na Escola Superior de Desenho Industrial, concluída em 1999. Desde 1998

integrando o time da Ana Couto Branding, adquiri experiência em diversas etapas de um

projeto de Branding, com responsabilidade específica na criação e liderança das etapas de

identidade visual. A reflexão acerca desse processo de trabalho, em especial na relação dos

elementos visuais com a estratégia pretendida e na tomada de decisão por parte do gestor da

empresa, motivou esse aprofundamento e olhar mais cauteloso do estudo. O interesse de

contribuir para a formação de conhecimento e de profissionais da área levou-me à carreira de

professor. Desde 2007, ministro aulas de Branding com foco em identidade visual na Miami

AD School | ESPM, e desde 2009, sou professor da disciplina Design Estratégico na

graduação em Design, também da ESPM.

No que concerne o acesso aos ambientes e aos participantes que serão estudados como caso,

muitos deles conheci em decorrência da minha função na Ana Couto Branding e, em alguns

casos, de maneira direta ou indireta, atuei na criação da marca e na interlocução do

relacionamento com seus respectivos gestores. Esse relacionamento construído tanto na

condução dos projetos como na reputação de mercado permitiu acesso, confiança e

investimento de tempo para um olhar mais cuidadoso do processo. Para aqueles gestores em

que se deu o processo de revitalização de marca tendo como agência a Ana Couto Branding,

todos os convites para entrevista aconteceram após a fase de aprovação da marca.

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Previamente, foram definidas três etapas para extração, da literatura, dos critérios de

desempenho de uma identidade visual. A seguir, esta estratégia de pesquisa será detalhada:

6.3 Estratégia de pesquisa  

a. Reflexão dos autores sobre identidade visual

Antes de mais nada, é importante registrar que preferiu-se discutir os autores principais da

pesquisa neste capítulo, junto à metodologia e antes dos resultados, a fim de facilitar o

entendimento do leitor, uma vez que são esses os conceitos teóricos principais que serão

testados e investigados nas entrevistas.

Na tabela a seguir foram resumidos conceitos explorados por Campbell (2015), Wheeler

(2009), Kapferer (2007), Zaichkowsky (2010), McQuarrie e Phillips (2008) e Walsh et al

(2010) a respeito de identidade visual. Esses conceitos foram selecionados como referencial

teórico por trazerem à tona – ainda que não sistematizados – critérios de desempenho para

uma identidade visual. A tabela foi dividida em autores, conceitos sobre identidade visual e os

critérios de desempenho.

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Autores Conceitos sobre identidade visual Critérios de desempenho

Campbell (2015)

Uma marca é o propósito de uma empresa tornado tangível e visualizado. A identidade é a expressão de um negócio e pode ser flexível e evolutiva.

Expressão do negócio Flexível Evolutiva

Wheeler (2009)

A identidade visual é tangível e faz apelo aos sentidos. É possível vê-la, tocá-la, agarrá-la, ouvi-la e observá-la se mover. Ela torna grandes ideias e significados mais acessíveis.

Apelo aos sentidos Expressão de uma idéia

Kapferer (2007)

A definição da identidade visual de marca antes de se conhecer sua personalidade é inverter a ordem do processo. As manifestações visuais da marca devem refletir seus valores mais profundos.

Expressão de valores

Kapferer (2007)

Marcas são sistemas vivos que devem ter alguns elementos fixos e outros que se adaptem de acordo com o passar do tempo ou diversidade de públicos ou regiões onde atuem. Não devem ser, portanto, um limitador, mas um elemento que conduza sua expressão.

Um sistema vivo Flexível

Zaichkowsky (2010)

Influência direta na maneira como se percebe uma marca e seus atributos. São essas percepções que formam as conexões emocionais com a marca e podem legitimar a qualidade de um produto.  

Conexão com consumidores Geração de memória Expressão de uma personalidade

Kapferer (2007)

Ampla diversidade de escolha e cada vez menos tempo para fazer a escolha certa do produto ou serviço. Nesse contexto, marcas devem transmitir certeza e confiança. Tornam-se, portanto, atalhos que reduzem risco e tempo.

Atalhos para certeza a e confiança Redução de risco e tempo Reconhecimento de marca  

McQuarrie e Phillips (2014)

A comunicação por meio do visual – em propaganda, por exemplo – supera a verbal. Hoje, a dimensão visual da marca desempenha importante papel em múltiplas dimensões do processo – desde a criação do produto até sua promoção.

Importante papel desde a criação do produto à sua promoção  

Zaichkowsky (2010)

Expressão de maneira coerente com uma série de pontos de contato.  

Coerência  

 

Quadro  7  –  Autores,  conceitos  de  identidade  visual  e  critérios    Fonte:  autoria  própria  

Após análise das ideias registradas pelos autores, percebeu-se que os critérios respondiam a

demandas distintas em relação a uma identidade visual de marca. Procurou-se, assim, agrupar

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com uma lógica os possíveis critérios. O objetivo destes grupos é elencar a que estes critérios

respondem e facilitar as etapas subsequentes. Assim, a partir da análise foram feitas três

questões:

1. O que uma identidade deve fazer? O que seria o critério primordial para uma

identidade visual? Que critérios seriam o ponto de partida?

2. Como esta identidade deve ser? O que qualifica de que modo, de qual maneira, uma

identidade visual deve ser?

3. Para que se faz uma identidade visual? A que fim ela se orienta? Quais seus objetivos

principais?

Tendo isso em vista, conseguimos pontuar alguns itens para a construção de uma lista de

critérios. A identidade visual se insere dentro de manifestações físicas da marca e Kapferer

(2007), Wheeler (2009), Campbell (2015) e Zaichkowsky (2010) destacam a capacidade de a

identidade visual expressar algo não tangível – o negócio, uma personalidade, uma ideia

ou valores – da marca. Eis, portanto, um primeiro critério: a capacidade de expressar ou de

comunicar uma série de elementos não tangíveis para os seus públicos de relacionamento.

Pelo grau de convergência entre os autores a propósito deste critério, pode-se levantar a

hipótese de que este seria um primeiro objetivo a cumprir por uma identidade, um critério que

responde à pergunta: O que uma identidade visual deve fazer? Sem esta capacidade, todo

arcabouço conceitual e estratégico de uma marca não seria visível. Além disso, esta

capacidade está relacionada ao reflexo das características do que foi pensado dentro da

empresa, num movimento de dentro para fora. Da estratégia em direção ao seu público. Este

primeiro critério então seria a capacidade de expressar algo não tangível, seja este algo o

negócio, a personalidade, valores ou ideia da empresa.

Outros critérios apontados nas afirmações poderiam ser inseridos num grupo cujo ponto em

comum são os aspectos funcionais de desempenho da identidade visual, respondendo à

pergunta Como uma identidade visual deve ser? Como ela é no âmbito do mercado perante os

concorrentes, Zaichkowsky (2010) e Walsh et al (2010) destacam a diferenciação. Como ela

é ainda no âmbito da evolução ou adaptação do negócio, Kapferer (2007) e Campbell (2015)

estão em concordância de que uma identidade visual deve ser flexível para responder a esta

demanda – é o que Kapferer chama de marca como um sistema vivo. Com relação à

performance nas diferentes etapas da gestão de uma marca, McQuarrie e Phillips (2014)

afirmam que uma identidade visual bem estruturada performa da criação do produto à sua

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promoção. Nestas reflexões, flexibilidade aparece como critério que atende a demandas

distintas, mas que considerará as complexidades específicas do negócio e sua adaptação ou

evolução. Além de diferenciação e flexibilidade no âmbito da execução e desenvolvimento da

marca, Zaichkowski (2010) atentará para a importância da coerência de uma identidade

visual mesmo que se desdobre em todos os pontos de contato, como se cada ponto deste

devesse ser coerente com o outro. Então, Como uma identidade visual deve ser?

Diferenciada, flexível e coerente.

Por fim, num quarto grupo, podem ser destacados os critérios que resultam dos efeitos do

bom desempenho de uma identidade visual nos seus públicos, o objetivo final e desejado

numa estratégia de identidade visual. Responde, portanto, à pergunta Para que se faz uma

identidade visual? Aqui entram as seguintes afirmações: criar apelo aos sentidos (Wheeler,

2009) para se conectar com o consumidor (Zaichkowski, 2010); além de atalhos para

certeza e confiança (Kapferer, 2007), gerar memorização (Zaichkowski, 2010) e, por

consequência, reconhecimento de marca (Kapferer, 2007). Para efeito de síntese, esse grupo

poderia ser nomeado como reconhecimento de marca.

Estas capacidades destacadas aqui poderiam ser agrupadas em um conjunto que tem por

objetivo a sensibilização dos públicos da marca. É o que contribui para tornar a marca

relevante para consumidores.

Após a primeira triagem ficamos com os seguintes grupos de critérios:

1. O que uma identidade visual deve fazer?

Expressa valores não tangíveis (personalidade, valores, ideia, negócio)

2. Como uma identidade visual deve ser? Diferenciada, flexível e coerente.

3. Para que se faz uma identidade visual?

Relevância para consumidores e reconhecimento de marca.

Esses critérios serão insumos para a etapa a seguir em que serão detalhados três modelos de

sistematização de marca.

b. Seleção e mapeamento de identidade visual em modelos que sistematizam marca

Após investigar as definições de diversos autores sobre identidade visual de marca e suas

implicações, decidiu-se examinar modelos publicados de sistematização de marca. Isso

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porque, segundo o recorte do pesquisador, a triagem anterior justapôs ideias de autores

diferentes. Entretanto, no caso de modelos de sistematização de marca, eles possuem forças

que já estão correlacionadas e com implicações definidas pelos autores. Além disso, foram

testadas e publicadas de fato como um modelo de referência.

Nesta etapa, portanto, lançar um olhar mais atento sobre esses sistemas tem dois objetivos:

mapear a localização das manifestações visuais da marca onde se alocam os elementos da

identidade visual e, em seguida, tal qual realizado nos itens anteriores, procurar extrair das

definições possibilidades de critérios para o desempenho de uma identidade visual.

Os modelos escolhidos foram o Conhecimento de marca (Keller, 1993) e Prisma de

identidade de marca (Kapferer, 2007). A escolha dos modelos de Kapferer e Keller para esta

pesquisa se justifica por ambos considerarem a relação entre a marca e seus consumidores em

seus sistemas. Além disso, eles alocam as manifestações físicas da marca (onde se localiza a

identidade visual) em algum ponto do modelo. Em adição a esses pontos, ambos foram

publicados num espaço de 3 anos – Keller em 1993 e Kapferer em 1996, ou seja, são

referenciais contemporâneos. Segue-se o aprofundamento dos modelos.

Keller e o modelo de Conhecimento de marca (Brand Knowledege)

O Brand equity pode ser conceituado pela perspectiva do consumidor: o que determinado

consumidor conhece sobre a marca, se ela lhe é familiar e se ela lhe provoca associações

favoráveis e fortes. Este conhecimento vai impactar nas estratégias de marketing (Keller,

1993), daí a relevância do modelo de Conhecimento de marca desenvolvido por Keller que

sistematiza a estrutura e o conteúdo deste conhecimento.

Brand Knowledge ou Conhecimento de marca, portanto, se traduz como o lugar na

memória do consumidor em que se localizam as associações com a marca. Numa abordagem

que parte da memória, o autor informa que Conhecimento de marca é composto de

Consciência de marca (Brand Awarness) – que se divide em Recall e Reconhecimento de

marca – e Imagem de marca (Brand Image) – um grupo de associações ligadas à marca na

memória dos consumidores que se desdobra em quatro itens relacionados a Associações de

marca: Tipos, Favorabilidade, Força e Unicidade. Na figura abaixo, veremos o modelo

completo e, a seguir, sua descrição item a item.

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Figura  2  –  Dimensões  de  Conhecimento  de  marca  (Brand  Knowledge)  Fonte:  Keller,  1993  

Consciência de marca (Brand Awareness) – componente da rede associativa de memória.

Diz respeito à força do espaço ocupado pela marca na nossa memória. A consciência de

marca é importante no processo de tomada de decisão do consumidor por três razões: ser

importante que um consumidor pense numa marca ao pensar numa categoria, afetar o

processo de decisão quando estiver diante de uma série de marcas de uma cetogoria e

influenciar a formação e a força das associações de marca e imagem de marca. A consciência

é, portanto, uma pré-condição para o desenvolvimento de outras relações com determinada

marca. Por fim, nos tornamos conscientes de uma marca através da medição de seu recall

(recordação) e de seu reconhecimento.

Recall ou recordação de marca – relaciona-se com a habilidade do consumidor de recuperar

uma marca em sua memória quanto está exposto a uma categoria de produto. Diz respeito à

capacidade da correta “geração” da marca a partir da memória.

Reconhecimento de marca – é a força de identificação de uma marca que o consumidor já

tenha visto ou ouvido anteriormente. Desempenha, por exemplo, importante papel na compra

de um produto em uma loja, pois o reconhecimento pode direcionar o olhar de um

consumidor numa gôndola.

Imagem de Marca – é reconhecida como um importante conceito de marca e há variações na

sua definição. Keller (1993) afirmaé que a imagem de marca é o conjunto de percepções de

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uma marca refletidas nas associações armazenadas na memória. Tais associações contêm o

significado de uma marca para as pessoas. Por isso, no modelo proposto por Keller, a imagem

de marca é dividida em associações de marca. O nível de abstração e qualidade destas

associações afetará a favorabilidade, força e unicidade descritos a seguir:

Favorabilidade de associações de marca – associações diferem quanto ao grau de

favorabilidade com que são avaliadas. Em geral, o sucesso de um programa de

marketing vai estar refletido na criação de associações de marca favoráveis, ou seja,

consumidores acreditam que determinado produto tem atributos e benefícios que

satisfazem suas necessidades e, por isso, uma atitude favorável é formada.

Força de associações de marca – associações podem ser caracterizadas pela força

com que estão conectadas à memória. Esta força varia pela quantidade de vezes que

uma pessoa pensa sobre a marca e pela qualidade deste pensamento; depende de como

essa informação sobre a marca entra na memória do consumidor e a forma como ela é

armazenada.

Unicidade de associações de marca – as mesmas associações de marca podem estar

presentes em mais de um concorrente. A habilidade de criar associações únicas

derivadas de um posicionamento de marca construindo uma vantagem competitiva

sustentável determina o quão única pode ser a associação de uma marca. Por isso,

programas de marketing tendem a destacar diferenciais de uma marca.

Além desses itens, Imagem de marca se divide ainda nos tipos de associação de marca:

Tipos de associações de marca – as associações de marca podem adquirir formas

diferentes e variam quanto ao seu nível de abstração. Dividem-se em três categorias

principais. São elas: Benefícios, Atitudes e Atributos.

Benefícios – são os valores pessoais que consumidores conectam com os

atributos do produto ou serviço da marca, o que consumidores pensam que

determinado produto pode fazer por eles. Os benefícios podem ser funcionais,

experienciais ou simbólicos:

Benefícios funcionais – vantagens mais intrínsecas ao produto ou

serviço e, em geral, relacionadas a motivações básicas como

necessidades psicológicas e de segurança.

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Benefícios experienciais – aqueles que consumidor experimenta

sensorialmente ao usar o produto ou serviço. Esses benefícios atendem

a necessidades sensoriais de prazer, variedade e estímulo cognitivo.

Benefícios simbólicos – vantagens extrínsecas ao produto ou serviço,

em geral, relacionadas à aprovação social, expressão pessoal e

autoestima.

Atitudes – avaliação geral de uma marca pelo consumidor, é a base para o seu

comportamento. Dentre os diversos modelos de Atitudes, um dos mais

amplamente aceitos é que atitudes são conseqüência de uma função dos

benefícios e atributos associados à marca. Daí a correlação entre os três tipos

de associação de marca descritos aqui.

Atributos – características descritivas de um produto ou serviço. O que um

consumidor pensa de um produto ou serviço que envolve ter, comprar e

consumir esse produto. Podem-se dividir em atributos relacionados ou não

relacionados ao produto.

Atributos relacionados ao produto – ingredientes necessários para

que o produto ou serviço performe sua função. Em outras palavras,

refere-se aos componentes físicos ou requisitos do serviço.

Atributos não relacionados ao produto – aspectos externos ao

produto relacionados à sua compra ou ao seu consumo. Há quatro

principais atributos nesta categoria:

Preço – passo necessário no processo de compra, que pode

interferir na crença de consumidores acerca da categoria e valor

do produto.

Embalagem – parte do processo de compra, fundamental ponto

de contato da marca no processo de identificação, diferenciação

e escolha de um consumidor.

Imagem de uso – situação registrada em imagem que

determina como o produto é usado, em que ocasião, horário,

atividade o produto é usado e como isso pode formar atributos

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109    

   

para a personalidade da marca.

Imagem de usuário – quem, que tipo de pessoa, usa o produto

ou serviço. Aqui há variação entre fatores demográficos

(gênero, raça, idade, renda) e fatores psicográficos (carreira,

meio ambiente, política etc.).

Kapferer e o Prisma de identidade de marca

Passando para uma abordagem que, tal qual Keller no Conhecimento de marca, considera a

percepção dos públicos, Kapferer (2007) afirma que a capacidade de uma marca influenciar

seus públicos está diretamente relacionada às suas representações e ao modo como se

organizam num sistema de associações mentais. Tais associações são chamadas Imagem de

marca (Brand Image – conceito também trabalhado por Keller). Este conceito de Imagem de

marca comporta aos seguintes aspectos: território da marca (competência, serviços,

produtos, know-how), nível de qualidade (baixo, médio, premium e luxo), qualidades

próprias, qualidade ou benefício mais distintivo, público aspiracional da marca, personalidade da marca e sua imagem. O que faz uma marca ter poder para influenciar é o

conjunto dos estímulos vindos da experiência dos seus públicos com produtos, serviços,

comunicação e pontos de contato. Nas definições de Kapeferer, há uma série de

convergências com a visão de Keller. Para chegar a essas convergências, o Prisma de

identidade de marca será aprofundado.

Para Kapferer, uma marca para se manter forte deve ser fiel à sua identidade de marca. Só

assim ela será durável, realista e transmitirá sinais coesos, terá produtos apropriados e poderá

ser realista. Na sua abordagem de identidade de marca, o autor remete à escola construtivista

da teoria da comunicação em que o emissor ao se comunicar constrói uma representação sua,

uma representação do receptor e outra representação da relação de comunicação que se

estabelece entre ambos. A partir do traçado dessas relações, ele cria a representação de um

hexágono, ou o Prisma de identidade de marca.

O Prisma de identidade de marca tem, portanto, seis dimensões para a marca expressar seu

significado: Fisicalidade, Personalidade, Cultura, Relacionamento, Reflexo e Autoimagem. E

dois eixos em que essas faces se organizam: no eixo vertical, o emissor e o receptor; no eixo

horizontal, a externalização e a internalização. Vejamos, a seguir, a descrição de cada face

do prisma:

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Figura  3  –  Prisma  de  identidade  de  marca  Fonte:  Kapferer,  2007    

 

Fisicalidade – espinha dorsal da marca em seu aspecto físico. O que ela é? O que faz?

Que cara tem? Como se representa fisicamente através de seus produtos, ambientes,

lojas, site. Grande parte dos elementos da identidade visual se insere aqui.

Personalidade – traços de personalidade humana que são relevantes para a marca e

como eles estão presentes na maneira da marca agir e falar de seus produtos e

serviços. Em outras palavras, a personalidade define quem a marca seria se ela fosse

uma pessoa.

Cultura – conjunto de valores que inspiram a marca, direcionam e governam o

comportamento dela. Por exemplo, para a marca Apple, o estado da Califórnia como

selo de origem dos produtos vai sempre representar um traço da cultura da marca. Ser

Designed in California25, para além da origem, é uma representação do traço cultural

da empresa.

Relacionamento – marcas estão no ponto crucial das transações e trocas entre as

pessoas. A marca em si pode delinear o relacionamento. Esta face do prisma de

relacionamento define o modo de conduta com que empresas identificam a marca. A

face do relacionamento é particularmente estratégica no setor de serviços.

                                                                                                                         25 O estado da California sempre simbolizará a “nova fronteira” para os Americanos. E isto se relaciona com a aspiração da marca de mudar a sociedade. Daí o valor cultural do Designed in California que se encontra em escrito em seus produtos. É um traço cultural da marca.

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Autoimagem – marcas falam com a autoimagem de consumidores. Ter determinado

produto de uma marca pode definir como consumidores se relacionam consigo

mesmos. Ao comprar um Porsche, por exemplo, muitos donos querem provar a si

mesmo que possuem habilidade para ter tal carro. Autoimagem pode revelar quem é e

o que sente.

Reflexão – a marca é a reflexão de um consumidor. Nesta face está delineado o

público aspiracional projetado pela marca, ou seja, quem seus consumidores gostariam

de ser ao usarem determinado produto de uma marca. Consumidores usam marcas

para construir sua identidade. Assim, todas as marcas devem fazer gestão desta

reflexão para continuar relevante para seus públicos.

No quadro a seguir, retomam-se os elementos que formam a identidade visual de uma marca.

Figura  12  –  Elementos  que  formam  identidade  visual  Fonte:  Wheeler,  2009  

Posta a definição de identidade visual de marca, segue-se o mapeamento nos modelos, a

começar pelo prisma de Kapferer. Pela definição, na face superior esquerda (emissor e

externalização) está a Fisicalidade. É nela que a maioria dos elementos da identidade visual

se encontra (símbolo, logotipo, cores, formas e tipografia), pois são estes elementos que vão

tornar a marca real. Kapferer (2007), como abordado na etapa anterior da pesquisa, considera

que manifestações visuais da marca devem refletir seus valores mais profundos e, portanto,

precisa-se primeiro entender a identidade para, depois, trabalhar sua expressão. Em

Fisicalidade, Kapferer traz à tona a informação de que características como a fidelidade aos

seus símbolos e ícones é um caminho para diferenciação e autenticidade, e cita o exemplo da

icônica garrafa de coca-cola que se mantém ao longo dos anos e não se mistura com a estética

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das demais garrafas pet.

Então, voltando para o seu modelo no Prisma de identidade de marca, nota-se que a parte

superior está no campo do emissor da comunicação (a Marca) e a parte inferior no campo do

receptor (Pessoas). Além disso, o lado direito tem as faces internas da relação e na esquerda

as faces externas. Ora, se Personalidade está no lado direito do prisma e Fisicalidade em

linha no lado esquerdo, e se os elementos da identidade visual estão dentro de Fisicalidade,

pode-se concluir que a identidade visual é uma das tangibilizações físicas de sua

Personalidade. É a identidade visual que expressa a personalidade da marca. Ou seja, uma é

reflexo da outra. Em concordância com o que aqui se chamou de critério primordial para uma

identidade visual: expressar algo – personalidade, valor, ideia e negócio.

A face Cultura em si não traz explícitos os aspectos físicos, mas existe um impacto direto

entre a cultura de uma empresa e algumas formas de expressão. Além do exemplo da Apple,

citado anteriormente, a Mercedes é outro caso em que cultura impacta aspectos físicos. A

cultura germânica é a base da construção da Mercedes. Precisão, estabilidade e ordem estão

nas características sensoriais de seus produtos, o que pode ser exemplificado na estável estrela

de três pontas posta como “mira” precisamente à frente de seus veículos.

O mesmo efeito impactante pode ser observado na face que reflete a cultura, o

relacionamento que define a conduta da identidade, que pode sublinhar tanto a ideia de amor

como na marca Yves Saint Laurent, quanto algo grandioso que flerta com o desejo de brilhar

como um deus, exemplo da marca Dior (Kapferer, 2007)

Como apontado, um dos elementos formadores da identidade visual é a imagem que, segundo

o modelo do autor, está relacionada à face Reflexão e terá uma relação de proximidade maior

com o consumidor (a reflexão está próxima ao receptor no Prisma de identidade de marca).

Assim, a imagem a seguir ilustra esse mapeamento, relacionando os elementos da identidade

visual de marca com as faces de Fisicalidade e Reflexão do prisma.

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Figura  43  –  Prisma  de  idenidade  de  marca  com  elementos  da  identidade  visual  destacados  Fonte:  Kapferer  (2007)  e  autoria  própria

Na aplicação prática proposta por Kapferer (2007) para a marca Lacoste, especificamente seu

produto 12x12, está clara a presença de elementos da identidade visual. Na face Fisicalidade

tem-se o símbolo do crocodilo e as cores. Na face imagem, são evidentes as diretrizes para a

imagem de alguém não conspícuo e que, de fato, tem classe.

 

Figura  44  –  Prisma  de  idenidade  de  marca  para  Lacoste  12x12    Fonte:  Kapferer  (2007)  e  autoria  própria

Já na abordagem do Conhecimento de marca de Keller, as dimensões visuais podem ser

encontradas nos benefícios experienciais que se relacionam com o que o consumidor

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experimenta sensorialmente quando usa determinado produto ou serviço que promove

estímulo cognitivo. Ora, se os elementos visuais de uma marca são os agentes que podem

estimular sentidos como visão e tato (Wheeler, 2009), entenderemos que a identidade visual

possui elementos inseridos neste benefício. De fato, percebe-se aqui que a definição de

benefícios experienciais de Keller encontra interseção com a face Fisicalidade do Prisma de

identidade de marca de Kapferer. Ambos abrangem grande parte dos elementos da identidade

visual.

Ainda no modelo de Keller encontram-se dentro de atributos não relacionados ao produto alguns elementos que abrangem as manifestações físicas de uma Marca. Dentre eles está a

Embalagem, que é parte fundamental do ponto de contato da marca no processo de

identificação, diferenciação e escolha de um consumidor. A embalagem tangibiliza a interface

e o envelopamento do produto e pode carregar todos os elementos formadores da identidade

visual26.

Outros dois atributos não relacionados ao produto que carregam elementos da identidade

visual de marca são Imagem de uso – em que a situação registrada em imagem determina

como o produto é usado – e Imagem de usuário – quem, que tipo de pessoa usa o produto ou

serviço. Estes dois itens se inserem na dimensão imagem da identidade visual de marca.

Numa comparação com o Prisma de identidade de marca de Kapferer, podemos inferir que

tanto Imagem de uso quanto Imagem de usuário poderia estar contida na face Reflexão do

prisma. Todos vão retratar a imagem, seja do usuário, seja do uso. Assim, a imagem abaixo

ilustra esse mapeamento relacionando os elementos da identidade visual de marca aos

benefícios experienciais e os atributos não relacionados no produto – Embalagem, Imagem de

uso e Imagem de usuário.

                                                                                                                         26 Lança-se a reflexão se o termo Embalagem poderia ser substituído por interface física para outros tipos de Marca que não necessariamente tenha uma embalagem numa gôndola. O papel da embalagem poderia ser exercido por outro ponto de contato como um website ou um cartaz neste modelo? Esta reflexão pode ser pauta para outro ensaio. Aqui, basta o entendimento de que embalagem é parte formadora do modelo de conhecimento de marca e é uma manifestação física da identidade visual.

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Figura  45  –  Modelo  de  conhecimento  de  Marca  com  elementos  da  identidade  visual  destacados  Fonte:  Keller  (1993)  e  autoria  própria

Voltando para a sala de reunião, no momento em que um gestor de marca precisa tomar uma

decisão sobre uma identidade visual, pode-se inferir que a decisão seja tomada de acordo com

um sistema que promova o conhecimento de marca por parte dos consumidores. Além disso,

a identidade visual tem que ter alta performance numa interação com o consumidor, ou seja,

precisa funcionar para o Prisma de identidade de marca, daí a relevância dos dois modelos

para esta pesquisa. Mas, como extraímos destes modelos critérios de avaliação de identidades

visuais?

Vamos retomar um modelo de contraponto do mercado. O modelo de ideais de identidade

de marca (Wheeler, 2009) pode ser aqui um contraponto por estar alinhado com o ritmo do

mercado em uma abordagem direta e simplificada. A designer reflete sobre os itens que

seriam variáveis de sucesso das melhores identidades.

Ela estabelece num primeiro momento aqueles que seriam os critérios funcionais: ser

audaciosa, memorável e adequada; permitir reconhecimento imediato, proporcionar uma

imagem consistente da marca, poder ser protegida judicialmente, ter valor duradouro, ter

sucesso em várias mídias e escalas e funcionar tanto em preto e branco quanto em cores.

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Figura  4  –  Os  ideais  de  identidade  de  marca  Fonte:  Wheeler,  2009  

Definimos, então, os ideais de identidade de marca compostos por nove dimensões:

1. Visão – fundamento e inspiração que guiam a marca extraída dos sonhos e desafios do

seu líder. Este tem não só capacidade de enxergar o que outros não enxergam, mas

também tenacidade para realizar aquilo em que acreditam.

2. Significado – representação de algo importante, uma grande ideia, um conjunto bem

definido de valores. O maior e mais rápido veículo do Significado são os símbolos de

marcas. Esta dimensão possui certas implicações que impulsionam a criatividade e

dão uma estrutura lógica a todos os elementos de uma identidade: o modo como uma

ideia compartilhada por todos os gestores produz consenso, e deve ter a capacidade de

evoluir com o tempo à medida que uma empresa se desenvolva.

3. Autenticidade – clareza sobre quem e o que se representa (mercado, posicionamento

e proposta de valor) é o melhor ponto de partida para o desenvolvimento de uma

identidade. A expressão da marca deve ser fiel à missão, história, cultura,

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personalidade e valores da empresa. Na figura abaixo, a trajetória de se saber quem é

como ponto de partida que culminará no logo de uma empresa.

Figura  5  –  Os  ideais  de  identidade  de  marca:  Autenticidade  Fonte:  Wheeler,  2009  

4. Diferenciação – distinção dentro de sua categoria e perante todo o mercado. Por que

razão um consumidor deveria escolher uma marca e não outra. Além de serem

diferenciadas, as marcas devem facilitar a vida dos clientes no entendimento dessa

diferenciação.

5. Durabilidade – longevidade num mundo com fluxo constante de mudanças. Marcas

familiares e fáceis de reconhecer darão segurança aos clientes. É preciso o

comprometimento com o patrimônio de uma ideia central durante um bom tempo e

que tenha capacidade de transcender mudanças.

6. Coerência – capacidade de garantir que todas as manifestações e experiências que um

cliente tenha com determinada marca se encaixem perfeitamente. Deve ser

consistente, mas sem limitar cada manifestação da marca; o objetivo aqui é cada ponto

de contato remeter à marca só para construir confiança e promover fidelidade. A

coerência é conquistada a partir de alguns itens: voz única que evolui a partir de uma

ideia central dinâmica; estratégia empresarial com alinhamento entre todos os pontos

de contato da marca; sistema de identidade cuja aparência e sentido (através de uma

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arquitetura de marca coesa, cores, tipografias e formatos de design) sejam unificados

visual e estruturalmente e que promovam reconhecimento e apoio aos atributos

pretendidos pela marca; qualidade uniforme entre os pontos de contato e execução

dotada de clareza e simplicidade.

7. Flexibilidade – condição para inovação. Marcas abertas a mudanças precisam ter

sistemas de identidades flexíveis para que aproveitem novas oportunidades do

mercado. Deve permitir flexibilidade de uso (funcionar do site à fatura, por exemplo)

em um sistema que acolherá a evolução dos métodos e das estratégias. Além disso,

deve ter uma arquitetura de marca que comporte novas iniciativas e produtos e seja

capaz de se manter atual, relevante e fácil de reconhecer. Neste último item, Wheeler

abordará o equilíbrio cuidadoso entre controle e criatividade, que possibilita a

manutenção do padrão de identidade mesmo com a elasticidade exigida por novas

iniciativas que ampliem a atuação da marca.

8. Comprometimento – gerenciamento constante do seu patrimônio intangível. A

construção, a proteção e o aperfeiçoamento da marca exigem disciplina e vontade para

assegurar sua integridade e relevância. Aqui a gestão e todos os colaboradores devem

trabalhar compartilhando os mesmos princípios com ferramentas de gestão de marcas

adequadas.

9. Valor – a criação de valor é o objetivo da maioria das organizações e é obtido no fim

do processo através de métricas. De modo amplo, o modelo de negócio atual exige

que as marcas sejam socialmente responsáveis e ecologicamente conscientes e

lucrativas. Todas as manifestações da marca devem estar em linha com este modelo de

negócio e defender seus valores.

Na visão da designer, as manifestações visuais estão permeadas por esses ideais. Como dito

no item Significado, por exemplo, o símbolo de uma marca é o grande veículo do significado.

Já o item Autenticidade vai estabelecer uma relação entre como saber e quem se é, podendo

assim convergir para uma representação em um logo. A Diferenciação é conquistada também

por elementos visualmente distintos. Em Coerência, estabelece-se que todos os pontos de

contato com o cliente devem se encaixar visualmente como uma linha de base para se

construir confiança. Sistemas de identidades flexíveis e abertas e mudanças de mercado e

inovações estão dentro do item Flexibilidade.

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Figura  4  –  Os  ideais  de  identidade  de  marca  com  dimensões  visuais  destacadas  Fonte:  Wheeler,  2009  

c. Definição de critérios de desempenho para a etapa de pesquisa de campo.

Posto o aprofundamento dos modelos, podemos extrair as seguintes definições sobre os

critérios:

1. Uma identidade visual deve expressar o não tangível de uma marca como sua

personalidade. Isso de acordo com a análise em que se observa a fisicalidade como

reflexo da personalidade em Kapferer (2007). Em complementaridade extrai-se de

Keller (1993) que a identidade visual, em especial na sua dimensão imagem, é capaz

de gerar atributos que remetem a uma personalidade, como “jovem”, “colorida”,

“gentil”. A identidade inserida na faceta de fisicalidade deve, portanto, ter coerência

com seus traços de personalidade e expressá-la nas suas formas, cores e signos.

Kapferer (2007) afirma ainda que o símbolo é o elemento síntese da identidade visual,

que transfere uma personalidade para a marca. Corrobora-se, portanto, a hipótese

levantada na etapa de pesquisa anterior em que se juntando com a Kapferer (2007),

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também Wheeler (2009), Campbell (2015) e Zaichkowsky (2010) destacam a

capacidade da identidade visual expressar algo não tangível – o negócio, uma

personalidade, uma idéia ou valores – da marca. Aqui agrupamos um item que

responde à pergunta: O que uma identidade visual deve fazer?

2. Dentro do grupo que responde à pergunda Como uma identidade visual deve ser?

estão discriminados os critétios diferenciada, flexivel e coerente.

o Keller (1993) diz que o critério diferenciação alavanca o Brand Equity nos

públicos de uma marca. A diferenciação também é destacada como um dos

Ideais de marca em Wheeler (2009) e um dos objetivos de uma identidade

visual para Kapferer (2007). Kapferer diz ainda que o símbolo colabora com a

diferenciação de uma a marca. Além de diferenciadas, as associações de marca

devem partir de uma natureza singular para que sejam distintas. Singularidade

para Keller (1993) é um dos principais vetores de medida das associações de

marca que impactam a memorização da sua imagem. Nesta etapa em que

Keller elabora as medições de Brand Equity, ele aborda singularidade como

caminho para diferenciação em seus públicos. Para um Brand Equity forte,

consumidores devem poder diferenciar associações de uma marca perante os

concorrentes e também devem saber listar os itens singulares da marca. A

identidade visual na interface com os consumidores deve ser capaz de

responder tanto à diferenciação quanto à singularidade.

o Tanto ao abordar a evolução ou a adaptação do negócio quanto ao abordar a

performance nas diferentes etapas e dimensões da gestão de uma marca,

Kapferer (2007), Campbell (2015), McQuarrie e Phillips (2014) concordam

que uma identidade visual deve ser flexível – o que Kapferer chama de marca

como um sistema vivo. Em concordância numa abordagem de mercado,

Wheeler (2009) vai afirmar que sistemas de identidades precisam ser flexíveis

e abertos a mudanças de mercado e inovações.

o Zaichkowski (2010) atenta para a importância da coerência de uma identidade

visual ao se desdobrar em todos os pontos de contato, como se cada ponto da

identidade devesse ser coerente com o outro. Kapferer (2007) considera a

emissão de sinais coerentes como dever das marcas. Coerência também é um

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dos ideais de identidade de marca para Wheeler (2009), definida por ele como

consistência em cada manifestação da marca, o objetivo aqui é cada ponto de

contato remeter a apenas uma marca. Com o quê, Keller (1993) está em

concordância: a favorabilidade, ou força de uma associação de marca, pode ser

afetada por outras associações na memória da mesma marca. A congruência vai ser definida pelo quanto de conteúdo e significado se compartilha entre

uma associação e outra. Exemplo de congruência seria uma associação gerada

a partir de um website e outra gerada a partir de uma embalagem da mesma

marca. Este nível de congruência e de integração entre os elementos da

identidade vai afetar a facilidade com que uma associação de marca existente

pode ser recuperada da memória (ao olhar um agasalho esportivo com três

listras, rapidamente lembra-se da marca Adidas). Além disso, afetam a

facilidade com que outras associações consistentes se conectam com as já

existentes (igualmente ao olhar uma embalagem de perfume com três listras,

logo vem à lembrança Adidas, e o agasalho etc.). Neste item, então, tem-se

congruência, coerência e consistência como critérios a serem buscados.

Persistindo ainda na pergunta Como uma identidade visual deve ser? observe-se que além de

diferenciação, flexibilidade e coerência, outros conceitos aparecem como possíveis critérios

nos modelos estudados.

o Kapferer (2007) dirá que no processo de reconhecimento da marca, um

símbolo ajuda a identificar e dar significado. Wheeler (2009) amplia o alcance

do conceito significado ao afirmar que ele representa algo importante, uma

grande ideia, um conjunto bem definido de valores. E concorda que o maior e

mais rápido veículo do significado são os símbolos de marcas. Ter significado

pode, portanto, ser apontado como mais um critério.

o Wheeler (2009) aponta autenticidade como um dos Ideais de marca em que

importa saber quem se é, e o que se representa. Destaca que um logo, como a

maior síntese de uma identidade, deve ser diretamente derivado desse saber. É

deste modo, que marcas podem ser genuínas. Kapferer (2007) não usa o termo

autenticidade mas converge para a idéia de que para ter sucesso uma marca

deve ser verdadeira em sua identidade e deve emitir sinais realistas com sua

natureza. Fica aqui o registro de autenticidade como critério, segundo estes

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122    

   

autores.

o Kapferer (2007) diz que um símbolo (parte integrante de uma identidade

visual) é como um sinal permanente que dá durabilidadde a uma marca e

permite que uma empresa possa capitalizá-la com significados. Wheeler

(2009) elenca durabilidade como um dos ideais de uma identidade de marca e

que o reconhecimento e familiaridade derivado da durabilidade dará segurança

a consumidores. Segundo ele, a capacidade de transcender a mudanças do

mercado e de ser fiel a uma idéia central é que trará durabilidade. Tem-se aqui

a durabilidade como mais um critério.

Para que se faz uma identidade visual?

o Nos modelos estudados de sistematização, em várias dimensões os autores

abordam o impacto de forças no comportamento do consumidor:

§ O elemento imagem da identidade visual de uma marca deve refletir o

conjunto aspiracional do seu consumidor, ao mesmo tempo em que

ambienta e orienta a ocasião do uso do produto ou serviço. Isto pode

ser observado na correspondência entre a face autoimagem e a face

reflexão do Prisma de identidade de marca (Kapferer, 2007). Este

aspiracional do consumidor também pode ser observado nas Imagens

de uso e usuário do modelo de conhecimento de marca (Keller, 1993).

§ Num outro ponto do seu modelo, Keller (1993) conclui que benefícios

experienciais são relacionados à forma como um consumidor se sente

ao usar determinado produto ou serviço. Esses benefícios atendem às

necessidades experienciais do consumidor, como prazer sensorial e

estímulos cognitivos. Estão dentro dos benefícios experienciais os

elementos da identidade visual. O que Wheeler (2009) aborda quando

afirma que a identidade visual é tangível e faz apelo aos sentidos. Sim,

é possível vê-la, tocá-la, agarrá-la, ouvi-la e observá-la se mover.

§ Keller (1993) traz ainda a capacidade de algumas marcas promoverem

benefícios simbólicos para quem as usa: sentimento de exclusividade,

de validação social e de prestígio, entre outros. Ao usar um sapato

Louboutin com sua característica sola vermelha, tais elementos de

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validação social e prestígio estão presentes e impactam a

autopercepção dos consumidores. Logo, elementos visuais são ícones

que precisam ter potencial de identificação que criem relevância para

os consumidores.

Ao trazer esses itens, conclui-se que a identidade visual através de seus elementos, como

imagem, cor e demais recursos sensoriais, deve criar relevância e identificação com seu

consumidor. Este critério encontra concordância em Zaichkowski (2010), que diz que a

identidade visual influencia na maneira como as pessoas percebem a marca e seus atributos e

cria conexões emocionais. Isto é, são interfaces que através do estímulo aos sentidos podem

tornar a marca relevante. Por tudo isso, relevância para consumidores é um item que reflete a

finalidade da identidade visual e, por isso, agrupa-se aqui como resposta à pergunta para que

se faz uma identidade visual?

É preciso levar em consideração o fato de que como a identidade é composta por uma série de

forças e dimensões, sua medição é mais uma consequência da reação dos consumidores do

que algo que se controle facilmente num processo de decisão. Se compararmos com a

diferenciação – outro critério esmiuçado aqui –, constatar-se-á que ela pode ser aferida de

maneira mais objetiva – trata-se de uma identidade diferente das demais marcas do mercado?

Sim ou não caberiam como resposta aqui. Relevância, no entanto, é provável que exija

prática, uso e pesquisas com consumidores. Na etapa de pesquisa de campo essas

complexidades acerca deste critério serão abordadas.

o Como um último critério, pode-se destacar o Reconhecimento de marca. Keller

(1993) vai tratar reconhecimento de marca como um dos itens que medem

consciência de marca dentro de Brand Awareness e define o reconhecimento a

partir de algum estímulo previamente visto. Afirma também que a base de um bom

reconhecimento é a familiaridade. Em concordância, Wheeler (2009) aponta ser

memorável como um critério funcional. Kapferer (2007) acrescenta que no meio

de tantas opções, as marcas devem ser reconhecidas como atalhos que promovem

confiança e certeza, dessa forma reduzindo o risco e o tempo de compra.

Reconhecimento de marca, portanto, é um ultimo critério que responde à pergunta:

Para que se faz uma identidade visual?

Assim, no quadro abaixo, temos a síntese dos critérios extraídos dos modelos de marca, que

serão a base da etapa seguinte, a pesquisa de campo:

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Critérios Autores

O que uma identidade visual deve fazer?

1. Expressar o não tangível da marca

(negócio, personalidade, ideia, valores)

Keller (1993), Kapferer (2007), Wheeler (2009),

Campbell (2015), Zaichkowsky (2010)

Como uma identidade visual deve ser?

2. Dierenciada

Keller (1993), Kapferer (2007) e Wheeler (2009)

3. Singular Keller (1993)

4. Flexível Kapferer (2007), Campbell (2015), McQuarrie e

Phillips (2014) e Wheeler (2009)

5. Coerente, consistente, congruente Keller (1993), Kapferer (2008), Wheeler (2009) e

Zaichkowsky (2010)

6. Ter significado Kapferer (2007) e Wheeler (2009)

7. Autêntica Kapferer (2007) e Wheeler (2009)

8. Durável Kapferer (2007) e Wheeler (2009)

Para que se faz uma identidade visual?

9. Relevância para consumidores Keller (1993), Kapferer (2007), Wheeler (2009),

Zaichkowsky (2010)

10. Reconhecimento de marca Keller (1993), Kapferer (2007), Wheeler (2009),

Zaichkowsky (2010)  

Quadro  8  –  Critérios  e  autores    Fonte:  autoria  própria  

6.4 Pesquisa de campo

Para dar o contexto dos entrevistados, apresentam-se aqui os respectivos perfis e trajetórias

profissionais, as experiências que marcaram suas trajetórias biográficas, o percurso

profissional até entrar no mercado de moda e como se tornaram gestores das marcas que

passaram por um processo de revitalização. A seguir, serão apresentados os perfis das marcas

que são/foram geridas, a saber: Schutz, Ellus, Rosa Chá, Regina Rios, Zinco, Farm. Vamos

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comparar visões e percepções acerca de tópicos relativos ao fazer e ao mercado de moda até

chegarmos ao processo de revitalização da marca em si.

6.4.1 Perfis dos entrevistados

1) Giovanni Bianco

Giovanni trabalha com design e direção de arte desde 1994. Carioca e engenheiro civil de

formação, Giovanni sempre se interessou por arte, por isso, frequentava o Parque Lage, no

Rio de Janeiro. Foi no contato com uma amiga designer (Ana Couto, também entrevistada

para esta pesquisa) que se aproximou da área. Teve um escritório com Ana e depois foi morar

na Itália para ampliar conhecimento e trabalhar na área. Conheceu Stefano Dolce e Domenico

Gabbana no começo de carreira e fez alguns trabalhos emblemáticos. Com essa aproximação,

começou a se especializar e estudar o mundo da moda.

“Eu me apaixonei pela moda, comecei a estudar com foco na moda, comecei a estudar sozinho mesmo com a cara e a coragem, comecei a ler tudo, ver tudo, comecei a me interessar por aquele mundo e descobri que para poder ser bom naquilo, eu tinha que recuperar anos daquilo que eu não sabia – qual a diferença entre Armani e Versace”.

Também teve um escritório chamado Bianco e Cuco com a designer Suzana Cuco. Hoje é o

diretor criativo do seu próprio escritório, o GB65. Com escritórios em São Paulo e Nova

Iorque, seu trabalho abrange marcas relevantes no mundo da moda internacional, como Dolce

& Gabanna, Miu Miu, Versace, Tory Burch, Zegna, entre outras. De seu repertório tabém

fazem parte trabalhos importantes com design para música, com clientes como Madonna,

Marisa Monte e, recentemente, Anitta. Desde 2000 é parceiro do Grupo Arezzo, onde

trabalha com as seguintes marcas do grupo: Arezzo, Schutz, Anacapri e Alexandre Birman.

Sua relação com o grupo é tão estreita que ele é um dos decisores dos movimentoss das

marcas. Em 2009, conduziu a revitalização da marca Schutz – que abordaremos na entrevista.

Em 2010, como director de de criação da Ana Couto Branding, trabalhei em conjunto com

Giovanni na marca Arezzo&CO, do mesmo grupo supracitado. O contato para entrevista

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aconteceu na quarta-feira, dia 16 de novembro e foi agendada via Skype para o dia 22 do

mesmo mês. A entrevista foi realizada entre reuniões do Giovanni, em Nova Iorque.

2) Adriana Bozzon

Dos 45 anos da marca Ellus, que serão completados em 2017, Adriana trabalha com a marca

há 30. Enquanto estudava desenho industrial na FAAP, o seu primeiro contato com a Ellus se

deu numa viagem.

“No final dos anos 80, estava fazendo desenho industrial aqui na FAAP, resolvi trancar e ir morar em Londres, era o final do movimento Punk (...) com aqueles caras moicanos e tal. Aí eu comecei a ficar apaixonada pelo universo da moda, olhar aquele comportamento, lá eu conheci a turma da Ellus viajando para pesquisa (...)”

Moda ainda não era um curso formalizado no Brasil, mas a identificação com a turma da

marca a fez procurar sua primeira experiência de trabalho lá. Como integrante da equipe de

estilo e, posteriormente, como diretora de criação, Adriana participou e conduziu a Ellus

pelos anos 80, 90, 2000 e 2010. Fez campanhas com personagens ícones da moda

reconhecidos pelo mercado, a saber, Cindy Crawford, Kate Moss, Alex Wek e Mila Jovovich,

sempre reforçando a personalidade ousada, contemporânea, urbana e jeans da marca que hoje

é uma das mais longevas da história da moda brasileira. Desde 2008, a Ellus foi a primeira

marca a integrar o portfólio da Inbrands27 e é uma de suas marcas mais importantes.

Como diretor de criação da Ana Couto Branding, conheci Adriana por causa de um projeto de

Branding de uma multimarca para a Inbrands, em 2013. O primeiro contato para entrevista

aconteceu no dia 16 de novembro de 2016, com agendamento para o dia 23 do mesmo mês.

Adriana me recebeu no seu escritório na Inbrands, numa tarde, após testar uma das iniciativas

que cuida na agência e durante a preparação do livro dos 45 anos da Ellus.

                                                                                                                         27 A Inbrands se define como a empresa líder na consolidação e na gestão de marcas de moda e lifestyle no Brasil. Operam no segmento do varejo brasileiro que, apesar de alguma evolução recente, ainda consideramos fragmentado, informal e pouco profissionalizado. Foi fundada em 2007 por Nelson Alvarenga Filho (o fundador da Ellus) e Americo Fernando Rodrigues Breia. Hoje possui no seu portfólio as marcas Ellus, Ellus Kids, Ellus Second Floor, Richards, Selaria Richards, Alexandre Herchcovitch, VR, VRK, Salinas, Mandi, Bobstore, GStar Raw e Tommy Hilfiger. (http://www.inbrands.com.br/inbrands).

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3) Glória Marques

 

Quando fazia faculdade de administração no Rio de Janeiro, no final dos anos 80, Gloria

Marques começou a trabalhar como vendedora da marca Company. Já em 92, entrava para a

equipe de estilo da Richards28 – marca carioca de vestuário e assessórios fundada em 1974

por Ricardo Ferreira.

“Apesar de eu não ter começado como a Richards começou, eu me lembro que quando eu entrava na loja, até como cliente antes de trabalhar lá, eu queria levar a loja para casa, só que eu só podia levar o produto, eu não podia levar a loja, mas o pedacinho que eu levava traduzia tudo aquilo ali. Então, eu passei todo este tempo que eu fiquei lá entendendo que isto era o mais importante e que era uma causa, não era fazer uma camisa ou uma blusa”.

Glória trabalhou 20 anos na Richards desenhando o estilo masculino e definindo o estilo da

linha feminina da Richards, que nasceu em 2002.

Em 2012, ela se muda para São Paulo, contratada pela Restoque para criar o estilo de uma

marca mais jovem e feminina do grupo. A marca seria batizada de Rosa Chá. O público

conhecia a Rosa Chá como a marca de biquínis brasileiros e sofisticados liderados por Amir

Slama. No entanto, a marca tinha encerrado suas operações em 2010. Em 2012, o grupo da

Restoque compra o nome e contrata Gloria como diretora de estilo para recriar a marca e sua

história. Com o projeto de rebranding da Rosa Chá e coleção avançados, ela acaba deixando a

Restoque para começar uma marca sua. Em 2014, inspirada no seu jeito de ser e no

Mediterrâneo, Gloria lança a Sardina, marca de vestuário e assessórios femininos e para a

casa.

Como diretor de criação da Ana Couto Branding, conheci Gloria quando a agência foi

contratada para trabalhar na revitalização da marca Rosa Chá. O primeiro contato de

                                                                                                                         28 Richards significa "sabor de férias no cotidiano". Em 1974, a Richards lançou no Brasil um novo conceito de roupas, associado a um estilo de vida original, informal e requintado. Fez de suas lojas pequenos oásis, onde é possível fazer uma pausa, refletir e ouvir música, diante de roupas levemente desorganizadas. Apostou que as pessoas escolheriam produtos que combinassem com seu estilo de vida e representassem experiências desejáveis. “A Richards é uma marca genuinamente carioca, nasceu em Ipanema, de forma despretensiosa, em 1974”.

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entrevista com ela aconteceu em 22 de novembro de 2016 e a entrevista foi realizada no Rio

de Janeiro, na loja Sardina, três dias depois.

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4) Roberto Rios

Aos 17 anos, em 1985, Roberto Rios começa a trabalhar com o pai em uma loja de calçados

recém-adquirida, a Tardelli – uma loja mista, com calçados masculinos, femininos e infantis.

Os primeiros 10 anos da empresa aconteceram durante períodos de inflação – época em que,

segundo Roberto, a empresa se desnevolvia apesar de não terem tanto conhecimento de

gestão e administração. Movido por vontade de crescer e trabalhar de forma mais

profissional, ele busca uma formação em propaganda e marketing. Com o aprendizado

derivado de dificuldades financeiras futuras, contato com diversas marcas mais bem

estruturadas, experimentações em localização de loja e modelo de atendimento e, ainda, o

desenvolvimento de diversas opções de planos de negócio para o futuro da marca nasceu a

marca Regina Rios – batizada com o nome da sua esposa.

“Nós sabíamos que o custo de shopping era outro, então fizemos outra marca, mas com a mesma experiência que foi a Regina Rios. Uma marca que também trazia um custo-beneficio bacana, também voltada a quem trabalhava, então, não era um sapato para noite e sim um sapato clássico com custo-beneficio muito bom, aí nós entramos no shopping ABC”.

Hoje Regina Rios possui 10 lojas no estado de São Paulo. Em busca de uma personalidade

mais estruturada e de uma perceção mais precisa do seu público, Roberto buscou em 2013

uma agência de Branding para um projeto de reposicionamento.

Como diretor de criação da Ana Couto Branding, conheci Roberto quando a agência foi

contratada para trabalhar na revitalização da Regina Rios – projeto concluído em 2015 e

implementado em 2016. O primeiro contato para entrevista aconteceu em 20 de novembro de

2016 e a entrevista foi realizada – e filmada – no dia 7 de dezembro do mesmo ano, no

escritório da Regina Rios em São Paulo.

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5) Raniery Aranha

Nascido em Anápolis, no interior de Goiás, Raniery é bacharel em administração na

Universidade de Brasília e possui MBA na Kellogg School of Management29. Passou por

empresas de telecomunicações como Brasil Telecom e Oi em diversas posições nas áreas de

Canais, Cliente e Marketing. Com 9 anos de idade, trabalhava na metalúrgica do pai e com 12

anos tinha uma equipe de 6 pessoas. Por que começou tão cedo?

“Porque eu queria comprar uma bicicleta. Eu morava com a minha mãe e eles eram separados, aí eu pedi uma bicicleta para o meu pai, na época eu tinha 8 anos. Meu pai disse que não, e já que eu não morava com ele, ele propôs de trabalhar com ele para comprar a bicicleta. Essa decisão foi importante porque me deu maturidade”.

Durante um processo de recrutamento de alunos do MBA, entrou em contato com a Tarpon

Investimentos30 – fundo de investimento – que após bem-sucedidos investimentos na Arezzo

e Hering acabava de entrar como grupo investidor no Morena Rosa Group. Na Tarpon, passou

por um projeto de tecnologia que visava otimizar os investimentos em marketing. Após sua

formação e através da Tarpon entrou no Morena Rosa Group como diretor do comercial do

mercado nacional e importação e relacionamento com o cliente. Em dezembro de 2014,

assumiu a direção de uma das marcas do grupo, a Zinco, onde era responsável pelo estilo,

jeans, malha, design das estampas, comercial e marketing – que envolvia moda, design

gráfico e desenvolvimento de produto.

Havia um incômodo do grupo que cuidava da Zinco com o nome da marca. Para Raniery,

lembrava metais da metalúrgica do pai, e a isso ele atribuía o mal posicionamento da marca.

Assim, dentro do seu plano, contratou uma agência de Branding – Ana Couto Branding – para

o reposicionamento da marca.

                                                                                                                         29 Baseada em Evanston, perto de Chicago, a Kellogg School of Management é reconhecida por MBAs nas áreas de Administração, Branding, entre outras especializações. www.kellogg.northwestern.edu/ 30 Tarpon é um fundo de investimento com mais de 37 investimentos concluídos desde 2002. Se definem como investitores ativos na construção e gestão de um legado empresarial de alta performance. http://www.tarponinvest.com.br/

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No fim de 2015, momento de conclusão do projeto, Raniery deixa o Morena Rosa Group para

um trabalho na Fundação Lemann31 como gestor da revista Nova Escola.

Conheci Raniery como diretor de criação da Ana Couto Branding. O desenvolvimento do

projeto de Branding se deu concomitantemente ao desenvolvimento da etapa de qualificação

desta pesquisa. Por isso, os registros originados desta entrevistam ilustram o capítulo 4.2. A

entrevista aconteceu em março de 2016, após a saída do Raniery do Morena Rosa Group, no

escritório da Ana Couto Branding.

                                                                                                                         31 Fundada em 2002 pelo empresário Jorge Paulo Lemann, a Fundação Lemann é uma organização familiar sem fins lucrativos. Desenvolvem e apoiam projetos inovadores em educação, realizam pesquisas para embasar políticas públicas no setor, oferecem formação para profissionais da educação e para o aprimoramento de lideranças em diversas áreas. http://www.fundacaolemann.org.br/

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6) Carlos Mach

Carlos é formado em comunicação pela Facha e trabalha na Farm há 13 anos. Antes de

integrar a equipe da Farm, prestava serviços de comunicação para marcas de moda. Por conta

disso, tinha como hábito visitar e observar lojas de marca de moda. Numa dessas visitas, foi

com amigas na Farm – marca que considerava bem construída e que “jamais precisaria dos

serviços dele” –, onde se depara com uma vitrine que considerava ter elementos desconexos e

dissonantes do que entendia da marca: “Uma vitrine de uma coleção com elementos de circo,

mas com roupas que lembravam hip hop”. Encontrou uma oportunidade e entrou em contato

com a Katia Barros, fundadora da marca. Numa reunião 5 meses depois do primeiro contato,

Carlos passou por uma prova de fogo:

“Katia disse: ‘agora a gente está criando essa coleção de inverno que vai se chamar Lado B e a gente vai fazer as roupas do lado contrário’ e perguntou o que eu achava. Disse que ela estava fazendo uma coisa muito distante do universo da Farm, eu acho que a Farm é hit do Lado A e que não iria ter tanta empatia. Eu sugeri: ‘por que não fala do Rio de Janeiro no inverno? Acho que a Farm é uma marca que representa tanto o Rio, e falar do Rio no inverno pode trazer a consciência de que esta marca é do Rio e que ela gosta de falar do Rio’. Aí ela na mesma hora terminou a conversa comigo e falou com o estilista que a coleção seria inverno no Rio de Janeiro e não seria mais Lado B! O povo a achou ela louca, mas realmente ela entendeu aquilo que eu estava conversando com ela”.

Intrínsica na sugestão de Carlos estava a coerência com o que percebia vir da personalidade

da marca. A marca, então, tinha 8 lojas e começava a entrar num processo de estruturação,

que passou a ser liderado por Carlos após sua entrada na marca e que envolveu formalização

da personalidade, identidade visual, arquitetura de lojas, vitrinismo, comunicação e estilo.

Hoje, a Farm tem 70 lojas e é referência de marca quando se fala em moda no Brasil.

A revitalização da identidade visual da Farm aconteceu em 2008 e foi motivada pela

percepção de um descompasso entre onde a marca estava conceitualmente e visualmente na

sua representação mais sintética – o logotipo e símbolo – tanto em termos de significado

quanto de execução e funcionalidade.

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Farm, pela sua reputação em construção de marca, sempre esteve entre as eleitas para esta

pesquisa. Por rede de contatos da agência Ana Couto Branding, consegui acesso a Ticiana

Abreu – head de marketing da Farm – que me indicou o Carlos – head de Branding – que, por

coincidência, eu já conhecia. O primeiro contato aconteceu no dia 15 de dezembro de 2016 e

a entrevista foi realizada no dia 23 de janeiro de 2017 via Skype.

Definidos os gestores de marca, esta pesquisa buscou uma visão complementar que representa

outro lado da relação de um processo de revitalização de uma identidade. Como designer e

referência do mercado de Branding, Ana Couto foi escolhida.

Formada em Design pela PUC-Rio, com mestrado em Visual Communication no Pratt

Institute, em Nova York, Ana Couto se especializou em Branding na Kellogg School of

Management e também se formou no curso OPM (Owner/President Management Program)

na Harvard University. Fundou a Ana Couto Branding32 em 1993, com a proposta de trabalhar

o Design como ferramenta para construir marcas fortes. Desde então, envolve-se direta e

indiretamente em todos os projetos do escritório, que conta com mais de 70 profissionais

multidisciplinares. Tem clientes de segmentos e dimensões distintas, entre eles BASF, Beach

Park, Buscapé Company, Caixa Seguradora, Frescatto, Itaú Unibanco, P&G, Rio Galeão,

Somos Educação, Teleperformance. No segmento de moda, trabalhou com clientes como

Arezzo&CO, Rosa Chá e Loungerie. Seu reconhecimento no mercado se deu também pelo

reconhecimento como Profissional do Ano de Comunicação – Design, pela Associação

Brasileira de Propaganda (2013), e por ter sido escolhida jurada na categoria Design no

Festival de Publicidade de Cannes (2015). Em 2015, inaugurou a Laje33, plataforma de

inovação e centro de aprendizagem baseado em três pilares de conhecimento: Branding,

Design Thinking e Inovação.

 

                                                                                                                         32 Ana Couto Branding: http://.anacouto.com.br 33 Laje: http://laje-ac.com.br

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6.4.2 As marcas revitalizadas

Schutz (2009)

Figura  46  –  Identidade  Visual  Schutz    Fonte:  internet  

A Schutz foi fundada por Alexandre Birman em 1995, inicialmente como uma marca de

calçados voltados para esporte e aventura. Alexandre é filho de Anderson Birman, que

fundou a Arezzo nos anos 70. Hoje a Arezzo&Co – marca do grupo – é líder no setor de

calçados, bolsas e acessórios femininos no Brasil, tem 44 anos de história e comercializa

atualmente mais de 10 milhões de pares de calçados por ano, além de bolsas e acessórios.

Possui cinco marcas – Arezzo, Schutz, Anacapri, Alexandre Birman e Fiever. A necessidade

de um reposcionamento da marca Schutz e sua revitalização surgiu em 2008, com a

oportunidade de atender um público feminino mais jovem e ousado. Nas palavras do próprio

grupo, a Schutz foi reposicionada “para refletir o espírito da mulher jovem contemporânea

que causa efeito, é irreverente e tem estilo próprio. Convida a ousar, buscar o diferente,

desafiar o que é consenso”.

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Farm (2008)

Figura  47  –  Identidade  Visual  Farm    Fonte:  internet

A Farm nasceu como um estande numa feira carioca de moda – a Babilônia Feira Hype – em

1997. Nas palavras da marca: “aquele nosso cantinho se tornou a marca da garota carioca e,

quem diria, deu origem a um estilo de vida inspirador”. É reconhecida como uma marca de

moda feminina jovem, de estilo carioca, “uma continuação feliz e vibrante das nossas

meninas, uma tradução ao vivo, em cores e toda estampada de suas almas”. Nestes 20 anos de

trajetória, o negócio expandiu e a marca se estruturou. Foi neste processo de estruturação da

personalidade que o processo de revitalização da identidade ocorreu em 2008. Desde 2014, a

marca hoje faz parte do Grupo Soma34 junto com Animale, A.brand, Fyi, Fábula – marca

infantil da Farm – e, mais recentemente, a Foxton. Possui cerca de 70 lojas e já fez parceria

com marcas como Adidas e Pantone.

 

                                                                                                                         34 www.farmrio.com.br/br/institucional-grupo-soma

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Ellus (2012)

 

Figura  48  –  Identidade  Visual  Ellus    Fonte:  Ellus

A Ellus foi fundada em 1972 por Nelson Alvarenga numa garagem onde pitavam e bordavam

camisetas. Logo depois começaram a produzir jeans. Para produzir o efeito Stone Washed

(lavado com pedra) característico dos anos 70, o próprio time da Ellus colocava pedras em

uma máquina de lavar comum na garagem. A marca expandiu e se desenvolveu. Nos anos 90,

criou concursos de modelos – Ellus Look of the Year – em que modelos como Gisele

Bündchen e Isabeli Fontana ganharam projeção. Fez campanhas com ícones da moda

internacionais como Mila Jovovich (foto). Hoje é uma marca que se define como

contemporânea, urbana, paulista e ousada. Foi precursora na realização de desfiles em lugares

emblemáticos em São Paulo, como o Teatro Municipal, a Bienal, Praça das Artes e Estação

Julio Prestes. Hoje, tem mais duas marcas – a Ellus Kids e a Ellus Second Floor. O processo

de revitalização surgiu em 2012 com a necessidade de ganhar mais visibilidade em pontos de

contato como a loja. Possui 63 lojas no Brasil e faz parte do grupo Inbrands.

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Rosa Chá (2013)

 

Figura  49  –  Identidade  Visual  Rosa  Chá    Fonte:  Ana  Couto  Branding

Reconhecida por sua moda praia sofisticada e tropical, e liderada pelo designer Amir Slama, a

marca Rosa Chá teve suas operações encerradas em 2010. Entretanto, construiu ao longo de

sua trajetória reconhecimento e associações positivas. O grupo Restoque36, dono de marcas

como Le Lis Blanc, Bobô e John John, entre outras, tinha nos seus planos o lançamento de

uma marca complementar às demais do seu portfólio, que atendesse um público feminino

mais jovem, com uma moda de valor mais acessível. Ao invés de criar uma marca do zero, o

grupo decisor da empresa decidiu comprar o nome Rosa Chá e, com isso, recriar a marca de

acordo com a nova estratégia de negócio – saindo de moda praia sofisticada para moda jovem

acessível – e apostando no reconhecimento do nome. O projeto de Branding teve o objetivo

de reapresentar a Rosa Chá para o mercado com nova personalidade e reinventar sua

identidade visual. Hoje a marca Rosa Chá tem 17 lojas próprias.

                                                                                                                         36 A Restoque foi fundada em 1982 e a primeira marca do Grupo, lançada em 1988, foi a Le Lis Blanc. Hoje, além da Rosa Chá, conta no seu portfólio com as marcas Le Lis Blanc, Bo.Bô, John John, Individual e Base. Desde de 2008 é uma empresa de capital aberto. http://www.restoque.com.br/

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Zinco (2015)

 

Figura  50  –  Identidade  Visual  Zinco    Fonte:  Ana  Couto  Branding

O projeto de revitalização da marca Zinco se originou de uma “crise” de personalidade

baseada, entre outras coisas, na herança de ter sido uma marca masculina e na crença do

grupo criativo responsável pela Zinco de que isso não era bom. Zinco é uma marca do

Morena Rosa Group, criada em 1997 para ser uma marca jeans masculina. Uma das

vantagens estratégicas do Morena Rosa Group é gerir marcas cujo foco de venda são cidades

com menos de 100 mil habitantes. Com eficiente canal de distribuição e representantes de

venda, eles escapam da saturação e concorrência das grandes cidades e hoje são um dos

maiores grupos de moda do país. Além da Zinco, o grupo tem as marcas Morena Rosa, Maria

Valentina, Leboh e Joy. O principal ponto de venda das marcas do grupo são as multimarcas.

Lá, como o espaço das marcas é padronizado, a identidade visual da marca precisa ser muito

eficiente para ser memorável. Em 2012, a marca deixou de vender produtos masculinos e se

concentrou exclusivamente no mercado feminino. Para além disso, todo o time de criação foi

renovado. O objetivo do projeto de Branding foi reestruturar a personalidade da Zinco perante

as demais marcas do grupo e de sua concorrência.

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Regina Rios (2016)

Figura  51  –  Identidade  Visual  Regina  Rios  Fonte:  Ana  Couto  Branding

Regina Rios é uma marca de calçados e acessórios femininos fundada por Roberto e Regina

Rios em 2000, com o objetivo de suprir uma demanda de moda aliada à qualidade neste

mercado. Conta hoje com 13 lojas em sistema de franquias. Tem como maior referência de

concorrência a Arezzo, que possui 356 lojas no Brasil e tem sua posição de liderança

definida. A necessidade do projeto de revitalização da marca veio de uma busca por uma

personalidade mais clara, que adicionasse maior percepção de valor para seus produtos e

trouxesse mais distinção perante a concorrência. O projeto compreendeu fases de revisão da

personalidade e da identidade visual.

 

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140    

   

6.4.3 Roteiro de entrevista

O roteiro de entrevistas foi elaborado de modo semiestruturado, com questões abertas,

partindo de uma exploração mais ampla da trajetória do entrevistado e suas experiências e

motivações até convergir para o processo de revitalização e finalizar com a apresentação e

reflexão sobre os critérios de desempenho da literatura. Em concordância com Lima (2008),

trata-se de um roteiro oculto previamente estruturado. A parte inicial foi dividida em

biografia profissional, relação da atividade profissional com moda e relação da atividade

profissional com a gestão da marca. Na sequência, o roteiro direciona para uma

contextualização da marca com a qual trabalha e a avaliação do processo de revitalização de

marca. Por fim, estão os critérios do referencial teórico, incluindo um exercício de pontuação

dos critérios segundo a ótica dos entrevistados.  

O roteiro tem anexado um resumo do que se encontra de definição em literatura de cada

critério de desempenho. Alguns dos critérios de desempenho selecionados, contudo, possuem

interpretação subjetiva quando não aparados por uma definição mais precisa. Por opção,

procurou-se explorar o entendimento ou dúvida de maneira espontânea num primeiro

momento. E quando necessário, o anexo foi utilizado para precisar a definição.  

Outro ponto a ser mencionado é que os itens de cada parte do roteiro foram estabelecidos com

uma referência a ser seguida, mas não como uma obrigatoriedade. De acordo com a narrativa

e motivação do discurso do entrevistado, os itens de cada etapa do roteiro foram utilizados

com um menu de possibilidades para o momento da entrevista. Dentro desta premissa, o

roteiro seguiu os temas dos blocos principais e algumas questões foram sempre perseguidas,

por exemplo, o que determina o sucesso de uma marca hoje em dia, o que há de espcífico na

gestão de marca de moda, quais as razões para aprovação de uma identidade visual e as

reflexões acerca dos critérios de sucesso. Abaixo, a apresentação do roteiro completo:

 

Biografia profissional

Formação

Trajetória: empresas e cargos anteriores

O que/como a experiência anterior impacta na gestão atual?

O que foi muito bom no processo da trajetória?

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O que foi ruim no processo da trajetória?

Melhores experiências/com quais mais aprendeu

Piores experiências/o que aprendeu que tem que fazer diferente

Agora me fale um pouco sobre sua formação.

Onde estudou, o que estudou?

O que te interessa no seu campo. O que te motiva a aprender?

O que te interessa e motiva?

Relação da atividade profissional com moda

Como é gerenciar moda hoje?

O que mudou?

Quais os novos desafios?

Como era antes? Melhor, pior?

Como aconteceu e acontece o encontro entre marca e moda?

E como isso se dá no cenário mundial e nacional?

Como enxega o futuro da gestão da moda? O que nos espera?

Cite as principais transformações

E os principais pontos de atenção hoje.

Relação da atividade profissional com a gestão da marca

Quais os desafios no gerenciamento de uma marca de moda?

O que tem de diferente da gestão de marca de outras categorias?

Qual é o papel do gestor de marca/marketing/produto.

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O quão a gestão de marca de moda no brasil é profissionalizada?

Quem decide? Como decide?

Turn over destes profissionais numa empresa de moda?

O que é marca para você?

Qual o papel da marca? No negócio? Nos públicos (interno, consumidor, formador de opnião

etc.)?

O que determina o sucesso de uma marca?

O que uma marca tem que ter hoje em dia para dar certo?

Marca com a qual trabalha

Por favor, fale um pouco sobre sua função e área em que atua/atuou

Qual a sua história com a marca?

Como a marca começou? Conte-me um pouco sobre essa marca.

Fale um pouco sobre o modelo de operação: perfil de lojas, ponto etc.

Como definiria a sua personalidade?

Quais são os objetivos e metas na sua função aqui?

Que papel a marca tem no seu trabalho? Como você a usa?

Em que ela te ajuda?

Avaliação do processo de revitalização da marca

Qual o ponto inicial? Como percebeu a demanda?

O que não estava bem?

Por que o caminho de melhora foi uma revitalização?

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143    

   

Qual a formação do profissional para isso ou como a experiência ou formação dele contribuiu

para as decisões?

Quais os entraves, as dúvidas, as angústias, os embates enfrentados?

As brigas/conflitos na empresa

Como ele se prepara? Quais as inspirações ou bases técnicas – leitura, cursos, guru,

coaching...?

Como foi o processo em detalhes:

Contatratação de agência (como se dá)

Discussão e acompanhamento do processo: quem são os envolvidos, mudanças e dilemas no

decorrer

Como foi a decisão? Critérios utilizados? Pessoas envolvidas? O que mais pesou?

E o desempenho da versão escolhida?

Pontos fortes e de melhoria.

Como você analisa visualmente?

Fale um pouco sobre cor, forma, textura, imagens etc.

Quando você pensa em identidade visual de marca, que elementos você destacaria?

Qual o papel desses elementos?

Como se relacionam com as coleções?

E com a comunicação?

Com o meio digital?

Com lojas?

Como foi a criação/revitalização da identidade visual da marca?

Quais eram os objetivos?

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O que esta marca tinha que cumprir?

O que ela deveria evitar?

Por que escolheu essa identidade visual?

Que critérios seguiu para essa tomada de decisão?

Pensando o papel de uma identidade visual e seus objetivos como gestor de marca, o que

você acredita que são características visuais de uma identidade visual de sucesso?

E como você hierarquizaria estas características?

Critérios do referencial teórico

Testar as características enunciadas pelos teóricos utilizados.

Avaliar importância. Explorar razões.

Avaliar o quanto usou este critério na decisão de revitalização. Explorar razões.

Apontar os três mais impactantes na aprovação. Explorar razões.

Apontar o mais impactante na aprovação. Explorar razões.

Se você tivesse que medir a importância dessas características de 1 a 5 (sendo 5 mais

importante e 1 menos importante), como seria? Elencamos, em teoria, algumas

características:

Reconhecimento de marca

Expressar a personalidade que se quer construir

Autenticidade

Significado

Diferenciação

Singularidade

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Criar relevância e identificação com os consumidores

Coesão, coerência e consistência no desenvolvimento

Flexibilidade

Durabilidade

Encerramento

Encerrando, o que muda nas identidades visuais do futuro na sua visão?

Há mais algo sobre o tema que gostaria de contribuir?

Atributos:

1. Reconhecimento de marca – é a força de identificação de uma marca que o consumidor

tenha visto ou ouvido anteriormente. Desempenha importante papel numa compra de um

produto em uma loja, por exemplo, pois o reconhecimento pode direcionar o olhar de um

consumidor numa gôndola.

2. Expressar à personalidade que se quer construir – pode ser descrita como os traços de

personalidade humana que são relevantes para marca e, como tal, estão presentes na maneira

da marca agir e falar de seus produtos e serviços. Em outras palavras, a personalidade define

quem a marca seria se ela fosse uma pessoa.

3. Autenticidade – estabelece uma relação entre como saber quem se é pode convergir para

uma representação visual.

4. Significado – ter um significado claro e reconhecível.

5. Diferenciação – dentro de sua categoria e perante o mercado

6. Singularidade – expressa uma personalidade singular

7. Criar relevância e identificação com os consumidores – identidade visual de uma marca

deve refletir o aspiracional do seu consumidor ao mesmo tempo em que ambienta e orienta a

ocasião do uso do produto ou serviço.

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8. Coesão, coerência e consistência no desenvolvimento – Experienciamos uma marca ao

nos relacionarmos com seu produto ou com seu serviço. Assim, tanto a embalagem de um

produto como todos os seus benefícios experienciais devem estar vestidos dos elementos da

identidade visual de forma coesa para que se crie memorização.

9. Flexibilidade – Sistemas de identidades flexíveis e abertas a mudanças de mercado,

inserções de conteúdo e inovações

10. Durabilidade – longevidade diante de um mundo em fluxo constante de mudanças.

Após a conclusão das entrevistas, segue-se a etapa da análise de entrevista em profundidade.

Com caráter exploratório, a análise buscou o entendimento dos entrevistados a partir de

pontos-chaves do objetivo do estudo, de modo que ampliem o registro dos conhecimentos e

práticas do mercado acerca do problema de pesquisa. Como orientado por Lima (2008), a

análise procurou identificar a opnião dos entrevistados sobre os fatos explorados e suas

justificativas, além de identificar e interpretar suas ações para entender suas condutas nos

fatos da investigação que foi realizada.

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7. Análise das entrevistas em profundidade  

Aqui começa o diálogo entre os depoimentos dos entrevistados sobre os temas levantados. Os

temas dividem esta etapa e as visões de cada entrevistado serão comparadas e articuladas em

cada tema.

Os temas serão: perfil de formação dos gestores, definição de marca, definição do que há de

específico em gestão de marca de moda, o que faz o sucesso de uma marca, razões pelas quais

começaram o processo de revitalização da identidade visual, razões da tomada de decisão da

revitalização.

Após a análise dos temas, o mesmo método de comparação e articulação de visões é usado

para a análise dos critérios extraídos do referencial teórico: expressar personalidade,

diferenciação, significado, autenticidade, consistência/coerência, flexibilidade, durabilidade,

relevência para consumidores e reconhecimento de marca.

Perfil de formação dos gestores

O primeiro item aqui é a formação que levou cada um dos entrevistados ao cargo de decisor

chave de questões relativas à marca. Na tabela, informações sobre formação de cada gestor e

duração do período que estão ou estiveram em cada marca.

Gestores Formação Marca Anos na marca Estavam na marca na época da entrevista

Giovanni Bianco Graduação Engenharia Schutz 10 anos Sim

Adriana Bozzon Graduação Design Pós-graduação Negócios

Ellus 30 anos Sim

Glória Marques Graduacão Administração

Rosa Chá 1 ano Não

Roberto Rios Graduação Propaganda e Marketing

MBA Varejo

Regina Rios 17 anos Sim

Raniery Aranha

Graduação Administração

MBA Negócios

Zinco 2 anos Não

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Carlos Mach

Graduação Comunicação Farm 13 anos Sim

 

Quadro  9  –  Dados  sobre  gestores    Fonte:  autoria  própria  

Na prática do mercado vê-se que não há uma formação balizada para o exercício de tal cargo.

Engenharia, Administração, Design, Comunicação e Propaganda e Marrketing aparecem

como cursos de graduação. Cursos de especialização e MBA em Negócios e Varejo aparecem

como campos de estudo complementares. Carlos e Adriana mencionaram durante a entrevista

o interesse e necessidade de complementar a prática por uma nova etapa de estudo

acadêmico37. Adriana menciona Branding. Um item a se registrar aqui é que o ritmo de

mercado influencia a busca de conhecimento pela experimentação e prática, pela garra e

motivação própria, em detrimento de uma busca acadêmica mais longa e profunda.

Nenhum dos entrevistados se graduou em moda, apesar de ser o mercado em que atuam.

Além disso, alguns dos profissionais entrevistados são responsáveis também pelo estilo, o que

orientaria uma formação no campo da moda. Adriana e Glória trazem em seus depoimentos

que a formação em moda não existia quando começaram a trabalhar na área: “Nessa época

(anos 80) ainda não existia faculdade de moda, era uma época em que as pessoas vinham ou

de design ou de arquitetura ou parte de artes plásticas” (Adriana). Glória, que começa a

trabalhar no fim dos anos 80, está em concordância com Adriana e avança na dicotomia entre

o ritmo do mercado e a formação acadêmica.

“Quando eu comecei a trabalhar não tinha nenhuma faculdade de moda, era desenho industrial, diferente do que é hoje. E hoje eu penso por que eu não fiz design. Fiz alguns cursos de desenho, mas eu comecei a aprender muito na prática mesmo. A minha formação foi muito na prática, masis do que ter uma formação acadêmica. Acho que depois que eu comecei a trabalhar, parece que eu não tinha mais tempo para isso”.

Com o passar do tempo, a relação com a academia volta na formação de sua equipe, como

registrado no depoimento de Adriana.

“Começaram as faculdades de moda e eu acabei fazendo algumas parcerias com algumas faculdades, principalmente com a Santa Marcelina, que na época tinha um trabalho um pouco mais elaborado, um trabalho um pouco mais artístico, um trabalho um pouco mais criativo. Então eu fiz trabalhos muito tempo com eles e acabei fazendo uma equipe vinda da faculdade. Então, esses jovens vinham, eram os melhores TCC, eu via quais era os melhores trabalhos e chamava para vir trabalhar aqui”

                                                                                                                         37 Neste item o entrevistador quase virou “entrevistado” já que se tratava de um mestrando em comportamento do consumidor.

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149    

   

O conhecimento em moda que vem da prática e de pesquisas de motivação próprias também

está nos depoimentos de Giovanni, que aponta que se especializar em moda foi algo de

motivação própria, assim como no caso de Carlos, que sempre gostou de moda e numa

postura investigativa colecionava itens das marcas de moda que admirava. Essas

características culminaram no desenvolvimento de um trabalho de comunicação orientado

para moda antes de ingressar na Farm. No escopo de trabalho desses dois profissionais não

está a direção de estilo e moda da marca. A ênfase do trabalho de ambos está no Branding,

design e comunicação da marca.

“Lá fora você acaba se especializando em áreas, (...) se você é bom em imagens visuais e moda, você vai trabalhar com a moda, então isso que rolou. Eu me apaixonei pela moda, comecei a estudar com foco na moda, comecei a estudar sozinho mesmo com a cara e coragem, comecei a ler tudo, ver tudo, comecei a me interessar por aquele mundo que eu descobri para poder ser bom naquilo”. (Giovanni)

“Eu sempre tive essa coisa do porquê das coisas, de ficar perguntando muito o porquê disso o porquê daquilo, e eu sempre tive isso e acho que era uma coisa importante, para mim, e eu acho que tem um outro lance também, eu sempre gostei muito de moda e sempre acompanhei muitas marcas de moda, então quando eu gostava muito de uma marca, eu colecionava absolutamente tudo daquela marca, eu ficava prestando atenção em todos os detalhes, em tudo o que eles faziam e como tudo era legal, e como aquilo podia ser costurado ou amarrado”. (Carlos)

Raniery, como líder da marca Zinco, tinha entre suas funções a responsabilidade sobre estilo e

moda, mas em sua equipe havia apenas uma profissional especializada na area38, assim como

Roberto Rios, que sempre enfatizou sua área de atuação nas estratégias de negócio, gestão e

administrativas. De fato, Roberto afirma que no seu histórico como gestor da Regina Rios

“uma empresa pequena tem que se estar envolvido em tudo, inclusive na venda, então eu

fazia venda na loja, (…) eu fazia todas as funções, inclusive vender”.

Não serão aprofundadas nesta dissertação as implicações das divergências de visão de gestão

e formação. O ponto de reflexão aqui é que se estabelecem três perfis distintos cumprindo

função semelhante na gestão de uma marca, especificamente como líderes no processo de

revitalização de identidade visual.

O primeiro grupo poderia ser composto por Adriana e Glória – as gestoras estilistas –, que

comportam no seu escopo direto assinar as coleções e o estilo da marca. O segundo grupo

poderia ser formado por Giovanni e Carlos – os gestores criativos –, cujo escopo tem ênfase

em comunicação, design e Branding. Como terceiro grupo, temos o grupo formado por

Raniery e Roberto – os gestores administrativos –, que têm um viés com ênfase em

                                                                                                                         38 De fato, ao longo do processo de marca, os dois faziam parte do comitê de marca e traziam visões complementares e por vezes contrárias para o processo. No item 4.2 Etapas de um projeto de branding define-se comitê de marca como o grupo formado por profissionais de diferrentes áreas da empresa que aprova cada etapa do projeto.

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150    

   

desenvolvimento do negócio de modo amplo, mas que não desenvolvem estilo e coleção,

apenas os aprovam.

Definições de Marca

Um dos pontos de partida da etapa de referencial teórico foi a definição de marca como um

conjunto de associações mentais do consumidor adicionadas à percepção de valor de um

produto ou serviço (Keller, 1993) que são representadas por um um nome, sinal, símbolo ou

design, ou a combinação deles, cujo objetivo é identificar produtos e serviços de uma empresa

e diferenciá-los dos concorrentes (Kotler, 1991). Quando confrontados com uma pergunta

direta “O que é marca para você?” não houve intenção de aferir o alinhamento do

conhecimento de cada entrevistado com o que há em literatura, mas sim entender o que de

maneira direta se prioriza ou, pelo menos, o que aparece primeiro como resposta a essa

questão.

Nas respostas temos um conjunto de depoimentos que procuram expressar de fato algo

intangível, que vai além de uma expressão gráfica. Raniery e Adriana fazem associações com

representações da alma e do corpo.

“Marca é alma, espírito. E como espírito é tudo. Se levar para o lado mais espiritualizado, você tem a empresa que é este prédio e marca é a alma que está habitando aqui dentro. É bem isso, então é tudo”. (Raniery)

“A marca para mim é o coração do nosso negócio, a marca é o que a gente é no todo. A força do nosso negócio é marca”. (Adriana)

No desenvolvimento dessa conceituação, Glória expressa a marca como um conjunto de itens

atrelados a uma história cujo papel seria criar identificação com determinado grupo de

pessoas e uni-las: “É uma identidade. Uma característica, conjunto de coisas. Marca é

história. Junta pessoas que têm afinidade. Acho que o papel é juntar uma tribo que se

identifica” (Glória).

Em concordância, Roberto traz à tona que a clareza de uma marca é capaz de transmitir

mensagens para o consumidor e não pode haver dúvidas sobre essas definições.

“Eu acho que marca é você criar uma identificação muito grande, é transmitir uma coisa muito clara para o consumidor. É você olhar a marca e ter o entendimento da marca, o que ela é, para que ela é, porque ela é. Se você tiver dúvida nisso, acho que o papel da marca não vai estar bem feito”. (Roberto Rios)

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Nos depoimentos dos entrevistados fica a reflexão de que a marca representa e abraça

questões conceituais (história, “espírito”, algo intangível), que como na associação de Raniery

seria o que está além da matéria na comparação que faz entre o prédio e o que lá habita. E

pela expressão da marca, os públicos podem entender e se relacionar com ela.

Outro ponto de reflexão que aparecerá também mais adiante é que em todo pensamento

expresso sobre marcas, a tendência dos entrevistados é expressar dimensões conceituais. Os

estímulos visuais vão aparecer principalmente quando estimulados.

O que há de específico em gestão de marca de moda?

Um primeiro item que se destaca dos depoimentos dos entrevistados nesta etapa é o caráter

cíclico da moda. Tendências em produtos e estilo podem desaparecer numa estação e voltar

em outra. Esse caráter da moda está alinhado com o seu princípio, como abordado na etapa de

identidade visual: o culto à novidade, renovação e mudança (Taschner, 1996). Tem-se aqui

um paradoxo entre mudar e gerir uma marca que necessita de certo grau de durabilidade

(Wheeler, 2009 e Kapferer, 2007).

O que Giovanni e Adriana apontam em trechos dos seus depoimentos – “Moda trabalha com

uma coisa que é muito efêmera, muda muito” (Giovanni) e “acho que principalmente essa

coisa dos ciclos, que meio que vão e voltam” (Adriana) – Raniery trará uma pista de que há

na gestão de moda um exercício contínuo que procura responder à mudança ao efêmero:

“Há dois lados nesta história, o lado mais vanguarda da moda vai trazer o que a galera não está nem esperando. Isto até é forte hoje, mas pela questão do ciclo, há um outro lado, que é meio que adivinhar quando tal coisa vai voltar”. (Raniery)

Aqui vale destacar que as equipes de criação e estilo em moda costumam viajar para desfiles

e feiras, sobretudo em capitais da moda como Nova York, Paris e Londres, para tentar

“adivinhar” o que voltará como tendência ou o que é apontado como novidade. Guardadas as

particularidades de cada processo de criação de marca, tais viagens, no geral, são feitas a cada

temporada. Este é um dos dispositivos de formação de repertório e captura de

comportamentos para elaboraçãoo das coleções. A ligação entre moda e comportamento é um

dos itens apontados também por Roberto:

“E moda está muito ligada a comportamento. Você entender o comportamento da consumidora e acompanhar. Não é só entender, ele não é fixo, é mutante, ele se movimenta muito rápido, tanto em relação à moda quanto em relação ao comportamento de consumo mesmo. Então, você entender isso, acompanhar isso, não é um desafio fácil. Em termos de moda com o

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advento do fast fashion39, ficou muito complexo, porque você precisa entender o que precisa lançar a cada dois meses. E isto é sempre um risco”. (Roberto).

As características de rapidez de resposta ao comportamento do consumidor estabelecidas pelo

fast fashion, segundo o depoimento de Roberto, fizeram com que seu modelo de negócio

tivesse que se adaptar neste sentido. Tal rapidez exigida pelo ritmo do mercado é apontada

como risco em termos de desenvolvimento de produto. Adriana aborda o ritmo do mercado,

especificamente destacando o comportamento de consumidores que procuram produtos mais

descartáveis e que, por consequência, tornaria também as marcas descartáveis, criando um

desafio a mais para a construção de uma marca durável. Não se pode, neste momento, perder

de vista que se trata de uma gestora que está a frente da Ellus há 30 anos e que na gestão

preocupa-se tanto com métricas trimestrais quanto com a construção de marca ao longo de

diversos trimestres:

“Eu acho que tem essa indústria meio rápida, da cópia, que atrapalhou muito o mercado de certa forma. Então hoje talvez seja mais difícil a construção de uma marca e a demora é maior em função de que as pessoas procuram muito mais por coisas descartáveis e talvez mais imediatista, isto é um problema. Passar estas etapas e chegar a uma marca consolidada, tem que vencer várias barreiras para não estar no dia a dia se banalizando e virar mais uma marca descartável”. (Adriana)

Se rapidez, imediatismo e descartabilidade são traços específicos deste recorte de marcas de

moda apontados pelos entrevistados, adcionam-se a eles alguns traços que procuram retratar a

natureza da relação entre consumidores e produtos de moda: “Eu acho que o impulso é a parte

não racional da moda, a parte não racional da compra e eu acho isso incrível” (Raniery). O

não racional está também no depoimento de Giovanni:

“Você não consegue dizer para aquela pessoa: compra aquela bolsa que você vai ficar mais magra, ou mais bonita, a moda promove todo um fetiche que mexe com a percepção de um produto que não tem uma necessidade real. Você não precisa ter dez calças, mas se acabou o shampoo você precisa comprar outro shampoo, se acabou a fruta, você compra outra fruta para comer. Mas, só vai precisar comprar outro sapato quando ele arrebentar. Porém o sapato você compra emotivamente, você compra porque quer pertencer a alguma coisa da moda, e você quer estar na moda, você quer estar bonito, você quer se enfeitiçar. Como estas qualidades não tem explicações ou necessidades reais, a comunicação é totalmente diferente e mais difícil de fazer”. (Giovanni).

Ao passar por este depoimento, retoma-se Toffler (1970), que destaca a transitorialidade do

homem do fututo com relação a estilos de vida diferentes entre um subculto efêmero e outro.

Esta seria a mobilidade social do futuro – com um aumento do índice de transitoriedade,

rodízio de coisas, lugares, pessoas, relacionamentos empresariais e informações. Os traços de

comportamento do consumidor com relação à moda apontados pelos depoimentos parecem

                                                                                                                         39 Fast Fashion é um modelo de negócio dentro da indústria da moda que tem como principais características a resposta rápida ao mercado em termos de desenvolvimento de produtos, produção e distribuição e o investimento em design de produtos que estão em tendências atualizadas de moda e que vão de encontro aos desejos de consumidores (Cachon e Swinney 2011)

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traduzir uma busca por um pertencimento efêmemero a alguma tribo projetada pela marca.

Esse pertencimento impulsivo, porém descartável, é convergente com a visão de homem do

futuro de Toffler.

Se modismo e ciclo parecem elementos recorrentes, Glória tomará outra rota para conduzir

sua abordagem como gestora da marca:

“Uma coisa engraçada é que eu nem gosto de moda, e nem sei se deveria falar isto, mas, eu já falei algumas vezes e eu acho importante falar. O meu prazer é construir. Eu gosto de construir um produto, construir uma história, um estilo, eu gosto de juntar coisas. Quando eu falo que não gosto de moda, é do modismo que está todo mundo usando. Eu não gosto de entrar nesta onda. Eu gosto de usar o que é confortável, que tem cor, que tenha materiais que sejam gostosos de usar e tenha formas confortáveis. (...) Eu não ando com pessoas de moda, eu não participo de eventos de moda. Se você me perguntar o que está na moda eu não sei dizer. Eu acredito muito mais em você usar o que você gosta independentemente de estar na moda, que eu acho que está na moda. A moda um dia te encontra. Cada um tem a sua moda. Quando uma mãe de uma amiga minha perguntava o que era tendência eu não sabia o que dizer. Porque assim, eu fui a museu, fui ao restaurante, fiquei comendo, vi as pessoas andando na rua, eu via o céu, mas, eu esquecia de olhar a vitrine”. (Glória)

Talvez não seguir e se manter fiel aos fundamentos de sua marca parece um caminho para a

moda um dia te encontrar. Nesta estratégia de marca, Glória atenta para a coerência

necessária em todos os pontos de contato e trata a venda como uma consequência de saber

quem se é.

“O espaço é um ponto de atenção, o cuidado que você vai ter com o cliente é um ponto de atenção, qualidade é um ponto de atenção. Qualidade de produto, atendimento, limpeza. A escolha que você faz, coerente com a história que você tem para contar. A escolha da cor, por exemplo, eu não tenho preto. E você não vai ficar pensando só na venda, é obvio que eu dependo da venda, mas eu penso se o que eu estou vendendo tem coerência com o que eu acredito, a venda é uma consequência. Parece utopia isto, mas não é. Óbvio que você não vai fazer uma modelagem só para o seu corpo, tem que fazer umas modelagens diferentes. Se você for olhar para fora e depois olhar para dentro só porque um determinado produto vende, então, você está fadada ao fracasso. Eu acho que a venda é uma consequência”. (Glória)

Não obstante, abordará também que não pode excluir desejos latentes de suas consumidoras:

“Está todo mundo querendo usar, blusa bufante. E aí você vai fazer tudo colado? Você precisa entender o que está acontecendo. Eu prefiro falar de comportamento do que de moda, eu observo o que as pessoas estão usando”. (Glória)

Carlos vai enfatizar e aprofundar a construção de marca de moda a partir de um estilo

aprofundado e dizer que este aprofundamento é a chave para o sucesso desta construção, que

não deve ser colado de referências externas, mas sim ser detalhado e desenvolvido num

movimento de dentro para fora.

“Eu acho que as pessoas não têm noção da profundidade que é trabalhar com uma coisa que representa um estilo, não é um estilo de vida, é um estilo. Eu acho que uma marca de moda, precisa saber que um estilo não é só imagem da marca, é você saber como esta imagem vai ser traduzida numa pessoa que tem um corte de cabelo, tem uma tatuagem, tem um tom de pele, que mistura várias coisas, é muito único. Se você não aprofunda isso, na moral da história,

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quando a gente está com pessoas interessantes, o que chama muito atenção da gente é o estilo da pessoa, que não necessariamente é uma roupa, é tudo que ela é. O gesto dela, o tom de voz, o jeito que ela prende o cabelo, e eu acho que é muito profundo, o que faz uma pessoa é tudo isto, ou se a gente pegar uma pessoa interessante e vasculhar a vida dela, a gente vai ver que para ela ser aquilo, tem um repertório de família, tem um repertório dela mesmo, para ela conseguir botar tudo para fora, foi um processo, foi uma coisa que não foi copiou-colou. Então eu acho que essa compreensão do humano em uma marca de moda fica muito mais profundo, e eu acho que o estilo é a manifestação dessa profundidade. Então acaba que se uma marca não trabalha com moda, talvez esta profundidade não tenha lugar”. (Carlos)

Ana enfatiza que a criação de um território proprietário e coerente com a marca ao longo do

tempo funciona como peça fundamental da gestão de marca em moda e parte de grandes

exemplos do mercado.

“Eu acho que segmento de moda é diferente porque tem essa coisa da constante evolução, e esta mudança é um desafio para a gestão de marca. Grandes marcas de moda que foram compradas, porém continuam fortes porque tinham um DNA, uma história e um território visual e associativo muito forte. Se não se atentar para a construção de um território de marca muito claro, a estratégia fica muito no produto e não em equities de marca, o que deixa a marca frágil. Este é o grande divisor de águas de marca, especialmente em moda; as marcas que conseguem evoluir, porque entenderam o seu DNA, o que elas trazem para o mundo. (...) Marcas de moda têm que construir um território, porque o logo só é muito pouco, ele é uma parte do território. E este território deve ter propriedade e consistência. Coca Cola, por exemplo, está há 100 anos trazendo felicidade com diferenciação e relevância para as pessoas, a cada dia buscando isso na vida das pessoas. E se transformando também, falando de água, de suco, sendo consistente com sua cultura e com seu visual – onda, o vermelho, tudo é muito presente e proprietário. E aí você compara com algumas marcas de moda cujas campanhas não têm território nenhum e ficam muito parecidas”. (Ana)

Aaker (2014) destaca, como um dos itens de desafios de gestão, que as marcas devem ser

tratadas como ativos, isto é, devem ter visão alinhada à estratégia de negócios atuais e

futuros e que ofereçam diretrizes para oferta, programas de marketing, entre outros. Isso,

apesar da pressão de produzir resultados financeiros de curto prazo. No escopo da gestão de

marca, de uma forma geral, tem o exercício de articular questões que podem ser

contraditórias. Partindo deste princípio e da análise dos depoimentos dos entrevistados, tem-

se uma série de questões desse tipo.

Com relação à estratégia de marca, tal qual apontado por Aaker (2014), os gestores precisam

pensar em durabilidade e longo prazo para que a marca se consolide. No entanto, essa

estratégia precisa comportar as dinâmicas de ciclo de tendências e produtos da natureza da

moda.

Tratando-se da natureza das definições de moda, por um lado o seu princípio definidor é a

novidade e a renovação (Taschner, 1996); por outro, a prática dos gestores vai mostrar que a

novidade precisa estar em sintonia com o que os consumidores esperam, num exercício de

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“adivinhar” o que vai vender.

Em se tratando da natureza do produto, se de um lado moda não lida com itens de necessidade

básica, do outro ficou claro que o lado emocional, “irracional” e impulsivo da compra são

dispositivos levados em conta no desenvolvimento das estratégias de marca e comunicação.

Vale atentar para o fato de que explorar o lado emocional, da impulsividade e da

irracionalidade da compra não deve ser entendido meramente como algo que compense o fato

de moda não ser um item básico. Outrossim, como levantado por Miller (2010), se “roupas

fazem de nós o que pensamos ser” e, como tal, expressam nossa personalidade, é justo que

elementos como os descritos sejam itens importantes na estratégia de comunicação, pois são

produtos ligados a representações do que queremos ser.

Frente à concorrência, o desenvolvimento de uma marca durável deve buscar produtos

próprios que criem um território claro, já que as cópias rápidas de produtos, estampas, estilos

e promoções podem embaçar esses territórios40.

Em termos de construção de personalidade e estilo, os gestores apontam que é fundamental na

moda um desenvolvimento profundo dessas instâncias, que devem estar atentas aos desejos

de seus consumidores. Talvez a boa personalidade seja aquela que conheça tanto seus

consumidores que organicamente já antecipe seus desejos.

Por fim, no que diz respeito à execução da estratégia de marca, todos os pontos de contato –

do atendimento à embalagem – devem estar cuidadosamente coerentes para se passar uma

imagem clara. O fast fashion impõe que a gestão de pontos de contato seja feita cada vez mais

rapidamente.

Avançando nas complexidades sobre a gestão de marca de moda, o próximo tema abordará

especificamente os processos e definições de sucesso de uma marca.

O que faz o sucesso de uma marca?

“Não tem. Hoje em dia é a coisa mais complicada, várias pessoas me perguntam isto. O que faria uma marca fazer sucesso? É tão difícil a resposta, é uma maneira tão complicada você determinar o que pode ser sucesso, o que faria para ter sucesso. Antigamente era fácil, você tinha o produto certo na hora certa, com o preço certo, para o público certo, hoje é

                                                                                                                         40 No depoimento de Adriana vê-se que o segmento da moda está se articulando para reagir ao fenômeno das cópias: “Está tendo uma mudança de calendário na moda, tanto lá fora quanto aqui que, a princípio, Nova Iorque aderiu e o Brasil vai aderir também, que são os desfiles agora serem no formato see now, buy now, então a partir desta próxima estação o São Paulo Fashion Week, que vai acontecer em março, está desenhado para as marcas fazerem o desfile e a roupa estar nas lojas no dia seguinte para o consumidor final.”

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inexplicável, muita coisa inexplicável, eu realmente não sei, e é até um perigo dar a minha opinião porque não existe uma fórmula”. (Giovanni)

Neste trecho do discurso do Giovanni fica tangível a complexidade para elaborar a resposta

da questão. Na etapa que se aprofundou sobre o gestor de marca é possível identificar as

diversas variáveis que um gestor deve equalizar no seu fazer. O poder crescente dos

varejistas, a globalização, a importância da experiência do consumidor com a marca e o

advento das mídias sociais nos últimos 20 anos (Mitchel, 2012) são apontados como fatores

da evolução da complexidade do exercício da gestão. Adcionalmente, no item anterior viu-se

o que os gestores apontam como aspectos específicos da gestão de marca de moda, como os

ciclos de tendências e produtos, o efêmero, o entendimento do comportamento do

consumidor. Com este pano de fundo, torna-se natural a hesitação nessa resposta.

Devemos atentar ainda para o fato de que tais dados não são coletados, mas sim produzidos

da interação entre entrevistador e entrevistado (Jaime, 2016), e são influenciados pelo

contexto atual de cada entrevistado, suas reflexões e as questões mais críticas daquele

momento. Adriana, após reconhecer a complexidade da pergunta, indicará pistas do que faz

uma marca ter sucesso:

“Eu acho que o desejo das pessoas pela marca, a notoriedade da marca, você vai para o Amazonas e vê que as pessoas conhecem o sucesso da sua marca. (…) É uma pergunta bem desafiadora. Ela tem que ter personalidade, ela tem que ter identidade, isso é o fundamental, ela tem que ter muita coerência”. (Adriana)

Ter notoriedade e ser desejada aparecem como itens iniciais da reflexão de Adriana. Se

analisarmos o discurso sob a luz dos critérios de desempenho definidos nesta pesquisa, pode-

se entender notoriedade como atributo inserido no reconhecimento de marca. Keller (1993)

mede conhecimento de marca também pela identificação correta de estímulo prévio e que um

bom reconhecimento se dá através de estímulos familiares, ao passo que Kapferer (2007)

abordará como atalho que promove certeza e confiança. O desejo por uma marca é outro item

abordado. Pode-se entender, dentro de um critério que é consequência da gestão de variáveis

diversas, que é a relevância para consumidores. Outro ponto abordado no discurso de Adriana

é que a marca possua uma identidade ou personalidade, o que é apontado aqui como critério

base do desempenho de uma identidade visual. Por fim, ela ressalta a coerência,

especificamente, com a qual tal personalidade se expressa em todos os pontos de contato.

Coerência atrelada à consistência também é um dos critérios previamente definidos. Este item

aparece também nas reflexões de Glória:

“O foco, a crença, é ter coerência. A palavra coerência eu acho incrível. A coerência da menina que está aqui, a Duda, a coerência de quem está aqui, a coerência na escolha, a

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coerência em tudo. (...) Eu acho que o mais forte é você ter coerência com o que você está fazendo”. (Glória)

Ao refletir sobre coerência, Glória destaca a sua vendedora que, no momento da entrevista,

arrumava uma arara na loja de sua marca atual, a Sardina. Partindo da premissa de que uma

vendedora é um ponto de contato, Glória confirma a visão de que ter coerência com sua

personalidade está atrelado às corretas decisões de como são desenvolvidos todos os pontos

de contato. Sua vendedora reflete a personalidade da Sardina. Sobre coerência e consistência

em pontos de contato, Glória fornece mais pistas de como esta gestão se dá:

“Ousadia eu acho importante. Quando eu comecei a fotografar a Sardina para criar uma identidade visual com a cara de mulher, eu queria que ela tivesse cabelo curto. No Brasil as pessoas têm um apego ao cabelo porque o cabelo curto criava uma personalidade e uma ousadia”.

(...)

“Então, por exemplo, quando você vai fazer uma newsletter, eu penso pra caramba e questiono o porquê a cliente abriria a minha, ela recebe várias, ela tem que abrir porque ela viu uma coisa que não tem em lugar nenhum, mas não é um produto para ela comprar, é uma sensação, ou é uma sensação de olhar o mar, por exemplo, eu fiz uma newsletter que no mês de novembro e dezembro eu vou ficar aberto em horários maiores, o fundo é o fundo do mar. Eu poderia colocar um fundo branco, escrever de azul e mandar. Eu passei a mensagem, mas eu queria passar mais do que a mensagem, que quando ela abrisse aquilo ali, ela tivesse outra sensação, e outro dia recebi uma mensagem de uma cliente ‘nossa eu adorei o fundo’, e eu pensei ‘caramba, ela viu’”. (Glória)

A decisão sobre o corte de cabelo da modelo e da imagem de fundo da comunicação (e do

estilo e jeito da vendedora, como mencionado anteriormente) formam o conjunto de estímulos

que tangibilizam a personalidade de sua marca. Roberto indica que a base para um

desenvolvimento coerente é conhecimento e clareza que se tem das definições iniciais dela

como estratégia de negócio e desenvolvimento de uma personalidade compatível:

“Eu acho que o sucesso de uma marca depende muito do conhecimento que você tem dela, depende da gestão que você faz da marca, de você entender o motivo da existência dela, qual o papel dela, se não tiver esse conhecimento, eu acho que a marca fica muito falha”. (Roberto)

Keller (1993) chama de congruência essa capacidade de conteúdos e significados serem

compartilhados entre uma associação de marca e outra. Em um ponto de contato e outro. No

começo de suas elaborações profissionais por volta dos anos 2000 sobre gestão de marca,

Carlos também cita esta coerência como uma das inspirações maiores para seu trabalho de

hoje:

“E aí na Zapping41, uma coleção que Marcelo Sommer42 fez inspirada no universo de fábrica, e aí eu cheguei dentro da loja em São Paulo e estava tocando uma música que tinha uma

                                                                                                                         41 Zapping é uma arca jovem de street wear criada nos anos 90 por Renato Kherlakian, também criador da Zoomp. Encerrou suas operações em 2009. http://costanzawho.com.br/historia-da-moda/a-historia-da-zoomp/

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sonoridade bem industrial, e tinha um papel de seda que o adesivo era um band aid e que com uma cara mais industrial, eu acho que aquele adesivo de papel de seda com band Aid que me deu um estalo na cabeça”. (Carlos)

Consistência aparece de forma recorrente aqui através do cuidado de cada detalhe, de cada

ponto de contato para o entendimento de um todo na construção de significados e como

caminho para diferenciação. Não obstante, Carlos é direto ao responder à pergunta sobre o

que faz o sucesso de uma marca:

“A autenticidade é o fator-chave. É ser você, é buscar o processo em uma marca e você ter esse desejo de construir uma coisa que fale de você, que seja uma expressão única que você reconheça que aquilo ali não é uma colagem de coisas já vistas. Eu acho que é um processo de desenvolvimento interno, mas que vai passar por este filtro da autenticidade, que vai filtrar o que ela acredita, como ela quer fazer as coisas, como ela sente e fala para o mundo, então é uma construção que vem de dentro”. (Carlos)

No discurso de Roberto e Carlos, autenticidade será filtro da criação da personalidade e do

desenvolvimento de produtos, lojas e pontos de contato em geral, e para ter sucesso, precisará

de uma gestão coerente e de pontos de contado com tal personalidade e que forme um

conjunto de expressões consistentes entre si.

“Eu acho que é a consistência com este propósito que a marca quer ter. Consistência. Eu acho lindo quando eu vejo uma empresa com consistência do inicio ao fim, cada detalhe. (…) A consistência e adaptabilidade também, (...) é muito importante se adaptar e evoluir”. (Raniery)

Atrelado ao trabalho de gestão coerente de expressões da marca, Raniery vai assumir que a

adaptabilidade e evolução são itens-chave para o sucesso de uma marca. Não se pode perder

de vista que o caráter evolutivo é abordado também por Kapferer (2007). Então, para além de

ser coerente, o sucesso da marca dependerá também de um grau de flexibilidade para se

adaptar a movimentos do mercado e até evoluir no momento certo. Glória aborda ainda que o

sucesso se dá também através de controles e indicadores de negócio, mas que se não tiver

uma história para contar, tais controles não serão o bastante:

“Óbvio que você tem que ter os controles, mas eu não queria entrar neste ponto, por exemplo, eu não tenho uma estrutura completa, eu tenho uma equipe bem reduzida. A gestão financeira, o comercial, os números, eu tenho mais dificuldades. Isso é importante como base, mas, não adianta você ter isso se você não em uma história para contar, você vai ser mais um. Hoje o mundo está barulhento”. (Glória)

Já Ana aponta que para uma marca ter sucesso, ela precisa ter um território visual bem

estruturado que se desenvolveu com relevância para os públicos e com coerência com a

personalidade ao longo do tempo.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           42 Marcelo Sommer é um estilista brasileiro reconhecido por seu trabalho autoral, atua profissionalmente no mercado de moda desde os dezoito anos, trabalhou para marcas como Zoomp, Zapping, Fórum, Calvin Klein, Vila Romana, TNG, Sumemo, FYI (braço jovem do grupo Animale ) e Cavalera. http://www.marcelosommer.com.br/read-me/

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“Na Chanel, o listrado, a corrente, a calça alta, é um território incrível. Na Gucci, a alça de bambu, o listrado vermelho e verde. Todas as marcas de sucesso têm um território visual, que vai do produto à imagem, e os caras bons que entram para fazer a direção criativa desta marca são os que buscam o resgate dessa história”. (Ana)

Como fim desta etapa, Giovanni aborda a ética e postura ao desenvolver o trabalho.

“Agora eu acredito que quando você faz qualquer coisa, mas isso ai é uma filosofia de velho, eu acredito no amor, eu acredito no respeito, eu acredito que quando você trabalha, quando você rala e que se você está fazendo aquilo de maneira correta é 50%. Se você está fazendo aquilo de maneira que tem uma verdade, já é 50%, e 50% já é coisa pra caramba, o resto vai virar consequência”. (Giovanni)

No depoimento de Giovanni, além de itens como respeito e amor ao realizar o trabalho,

aparece a questão de realizar algo com verdade. E aqui pode estar latente também o conceito

de autenticidade abordado anteriormente.

Deixando as complexidades naturais diante de uma pergunta que busca os fatores de suscesso

de uma marca hoje em dia, temos algums conceitos emergentes e que estão em linha com a

pesquisa de referencial teórico:

• Ter uma personalidade bem definida e que tenha um certo grau de autenticidade. Só

assim a marca conseguirá se diferenciar dos concorrentes.  

• Para se diferenciar, os pontos de contato devem ser coerentes e dotados de

significados. São estes pontos de contato que vão contar a história da marca.  

• Por outro lado, a marca precisa ter flexibilidade para se adaptar a movimentos do

mercado e à evolução do negócio.  

• Por fim, esta marca deve ser reconhecida e desejada por seus consumidores. E

desejado aqui faz referência a um conceito que tangencia a relevância – um dos

critérios apontados no referencial teórico.  

Razões para começarem um processo de revitalização

Kapferer (2007) observa que quando uma marca já não representa mais detemrinada

estratégia ou personalidade, ela deve evoluir. O grau de evolução vai depender do tamanho

deste descompasso. Dentre as marcas revitalizadas, vamos traçar uma escala de mais

proximidade com a atual e com a mais distante, a começar pela Ellus, que não houve

mudança de estratégia ou de público. A marca buscava uma simplificação de leitura e maior

visibilidade principalmente no ponto de venda:

“Primeiro, a gente começou na fachada da loja, pois queríamos ter um logo com melhor visibilidade. Estava um pouco confusa a nossa assinatura na loja. Então, começou com a

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visibilidade e limpeza. E agora é mais moderno, mais atual, mais simplificado, e aí para amarrar para todas as mídias, então, site, internet, tudo”. (Adriana)

O ponto de venda, a loja, foi o elemento inicial para o teste da nova assinatura no caso da

Ellus e a partir daí a marca foi sendo testada nas demais mídias. Também com uma

abordagem evolutiva, mas com um pouco mais de distância, temos o processo de

revitalização da identidadae visual da Farm. De fato, a revitalização da identidade visual

estava dentro de um plano de estruturação de tangíveis de marca como arquitetura de loja,

comunicação, imagem etc. Todo o processo se preocupava em expressar o desenvolvimento

da personalidade.

“A identidade é um processo e foi depois da personificação, quando a gente começou a definir o que era a cara da Farm para tudo que a gente fazia, começou a parte da identidade, a gente começou a fazer a identidade de embalagem, a identidade de comunicação gráfica, a identidade de arquitetura, a identidade de visual merchandising, a gente começou a fazer isso logo depois da personificação. Então, as coisas estavam sempre sendo feitas com uma linha de raciocínio e com uma consciência de que aquilo era a cara da marca. (...) Naquele momento do projeto de arquitetura era quase como se a Farm estivesse deixando de ser uma loja para ser uma marca, um processo de profissionalização, e acho que a arquitetura trouxe muito isso para a marca. Evoluímos, construímos uma coisa que é nossa e a concorrência não vai poder pegar, pois, enquanto ela estava comprando o produto de pronta entrega, a gente estava com uma coisa feita e personalizada para a marca. A arquitetura sem merchandising não tem, uma complementa muito a outra, principalmente marca de moda, e aí veio o desenvolvimento de identidade de vitrine, e as vitrines eram sempre brancas, toda a história que a gente contava era sempre com textura branca e a gente ficou bastante tempo com essa imagem. Se a gente fosse falar de uma coisa hippie seria tudo branco, palha branca, se fosse falar de alguma coisa da praia seria, talvez, um coqueiro branco. Acho que foi a minha maior contribuição, neste processo, reforçar o reconhecimento da identidade da marca. E eu sou o guardião disso, fico sempre lembrando que o formato da embalagem é envelope, e que o formato da sacola é triangular, e a partir daí é um processo de evolução, mas nada se joga fora”.

Um importante item a ser destacado aqui no processo de estruturação da personalidade da

Farm é o cuidado de conceituação com cada item para refletir esta personalidade. Ademais,

outro item é a decisão de criar e produzir pontos proprietários da Farm que não só

expressassem a personalidade, mas que também gerassem uma diferenciação e dificultassem

a aproximação de outros concorrentes. Até que neste processo de passagem de “loja para

marca” surgiu o momento de revitalização da marca (símbolo e logotipo). Segundo Carlos, a

identidade já estava dissonante com o que a marca vinha fazendo.

“A gente sentiu que estava em um lugar onde a logomarca não estava. A logomarca antes era uma flor com 5 pétalas e uma bola, parecia o metrô de Londres, no miolo tinha um retângulo e Farm no meio. Ela era uma coisa muito tosca para a marca que já era, ela não estava acompanhando o estado da marca, e na nossa cabeça, todas as vezes que a gente botava aquilo, incomodava. Foi em 2008 ou 2009, mais ou menos junto com a inauguração da loja de Ipanema, e a gente fez a evolução da logomarca, lapidou a logomarca que antes era grosseira”. (Carlos)

Se na Ellus a razão para se começar o processo de revitalização foi a falta de visibilidade na

loja e na Farm foi equalizar a identidade visual com o que já estava sendo desenvolvido a

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partir da formalização da personalidade da marca, na Schutz o processo partiu de uma nova

oportunidade de negócio e público para a marca. Não por acaso, o projeto apresenta

distanciamento maior da versão anterior. Razões mais profundas que envolvem negócio e

publico parecem originar projetos mais distantes da versão pré-revitalização.

Na Schutz, a oportunidade era de reposicionar a marca de forma a ter mais aderência com um

público pretentido, que era diferente dos já atendidos pelas demais marcas do grupo. Uma

estratégia de negócio da Arezzo&CO43, que busca criar uma estratégia de portfólio de marcas

que produza sinergia e clareza (Aaker, 2014).

“A Schutz estava parada no tempo, era uma marca que precisava de um confronto. Ela teria a chance de ser levantada como um todo. A gente refez a marca toda, a linha de produtos toda, com uma filosofia nova. Qual era a diferença entre ela e Arezzo, que é do mesmo grupo, qual o público da Schutz. Então, era um era um pensamento geral. (...) A gente tinha muita clareza de quem era a Arezzo, a outra parte do grupo, então sobrava um outro tipo de consumidor que o grupo queria, e tinha fome no mercado, que era um pouco mais jovem, e que gostam de informação de moda. Então foi isso que buscamos, pois havia um buraco no mercado que a Arezzo não atendia”.

Na visão da estratégia da Arezzo&CO, a oportunidade foi evoluir a Schutz para que fosse

aderente a outro público. No trecho de seu depoimento abaixo, Giovanni define este público:

“No caso da Schutz que a gente definiu esta tipologia de um grupo de garotas jovens que adoram uma boate, que adoram moda, que gostam de sair, que gostam de estar gatas, forever. Uma it girl44. Apesar de precisar deixar um espaço para receber uma menina mais romântica que possa usar uma sapatilha e não um salto super alto, a caracte-rística mais importante naquele momento de reposicionamento era chamar a atenção para esta gata, essa menina que sai para arrasar”. (Giovanni)

Com um novo posicionamento com foco nessa It girl, o processo de revitalização avançou

para além do logotipo e a marca ganhou uma série de recursos visuais como ícones

proprietários, um novo tipo de loja e um novo tom de comunicação.

Já Regina Rios estava em busca de formalizar uma personalidade que pudesse elevar sua

percepção de valor e trocar os endereços mais populares para lojas de shopping.

“A gente acreditava que tinha que ir para o shopping onde a gente conseguiria ter mais valor agregado, a gente quis entender como é esta marca, qual a elasticidade dela, se ela podia ter relevância para o público AB. Já estávamos nos desfazendo dos pontos de ruas e pontos populares e a marca conseguiu transitar muito bem. A gente já estava reposicionando ela com este objetivo, só que um pouco no feeling, e a gente sabia que precisava de ajuda, aí eu fiz

                                                                                                                         43 Arezzo&Co é líder no setor de calçados, bolsas e acessórios femininos no Brasil. Tem 44 anos de história e comercializa atualmente mais de 10 milhões de pares de calçados por ano, além de bolsas e acessórios. Possui cinco marcas - Arezzo, Schutz, Anacapri, Alexandre Birman e Fiever. http://www.arezzoco.com.br/ 44 It girl é um termo atualmente usado para definir um grupos de garotas alçadas à condição de celebridades por causa de seu estilo de vida. São admiradas pelas meninas e desejadas pelos rapazes. É bonita, jovem e tem acesso às últimas tendências em moda. https://en.oxforddictionaries.com/definition/it_girl http://www.urbandictionary.com/define

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algumas pesquisas, alguns levantamentos, fiz um curso de Branding na ESPM, entendi melhor o que era Branding e vi que era isso que a marca precisava”. (Roberto Rios)

No caso da Regina Rios, então, a razão estava intimamente ligada aos objetivos de negócio da

gestão e o objetivo era definir mais claramente uma personalidade que pudesse comportar os

novos pontos de venda e trouxesse maior percepção de valor para suas linhas de produtos.

Num outro grupo formado por Zinco e Rosa Chá, estão marcas que mudaram de forma mais

radical e que, de certa forma, construíram um território distinto do que haviam construído.

Para a Zinco, o processo de revitalização foi consequência de uma série de correções que

estavam sendo feitas na estratégia de negócio da marca. Raniery em seu depoimento retoma a

trajetória da marca até o momento da sua gestão:

“A Zinco começou como marca de uniformes em 1997, depois virou uma marca masculina, camisaria e depois lançou a linha feminina. Ela foi super bipolar, trocou de posicionamento varias vezes. Mais tarde, a marca masculina parou de dar certo e eles descontinuaram. Quando eu passei a gerí-la, a marca estava num momento muito ruim de mercado e minha prioridade era acertar mix para aumentar pedido médio. Era a forma que eu acreditava que pudesse fazer a Zinco crescer. Era um momento em que o lojista não estava disposto a ficar experimentando marcas45”.

As indefinições e falta de clareza com relação à personalidade da marca criavam percepções

negativas do grupo que a geria, incluindo-se aí até o próprio nome da marca. Num grupo

cujas principais marcas têm nomes femininos (Morena Rosa e Maria Valentina), o nome de

um metal parecia ser fonte de desconforto de todo o grupo.

“O projeto começou porque havia um incômodo grande do grupo que cuidava da marca com o nome. Para mim, especificamente, Zinco lembrava os metais que colocava lá na metalúrgica que eu trabalhava com meu pai. Achávamos que isso era o ponto pela Zinco não ser bem posicionada”. (Raniery)

O processo de revitalização foi originado a partir de questões profundas e estruturais, dentre

elas, a definição de uma personalidade, mudança de linhas de produto, entendimento do papel

da Zinco dentro do portfólio de marcas do Morena Rosa Group e até um desconforto com o

nome da marca e toda a sua simbologia.

Apesar da profundidade das questões no caso da Zinco, o processo que se distanciou mais da

marca anterior foi o da Rosa Chá. Se na Ellus, Farm, Schutz e Regina Rios havia, em graus

significativamente diferentes, a premissa de algo evolutivo, a Rosa Chá tinha por condição

um grande rompimento com a marca anterior. Como dito anteriormente, o grupo Restoque,

                                                                                                                         45 Vale lembrar o modelo de negócio da Zinco: o seu principal ponto de venda são multimarcas em cidades com menos de 100 mil habitants. O primeiro cliente da Zinco são os donos e compradores destas multimarcas. Em geral buscam marcas de alto reconhecimento que serao mais desejadas pelos seus públicos. A compra das peças da Zinco na ocasião era feita a reboque de outras marcas do grupo, com perceções mais claras e fortes, como Morena Rosa e Maria Valentina. Na negociação de pacotes dos produtos destas outras marcas, comprava-se peças da Zinco também. O ponto levantado pelo Raniery do lojista não querer ficar experimentando marcas é que eles não gostam de investir em marcas e produtos que não vendam na sua loja.

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dono de marcas como Le Lis Blanc, Bobô e John John, entre outras, tinha nos seus planos o

lançamento de uma marca complementar às demais do seu portfólio, que atendesse um

público feminino mais jovem, com uma moda de valor mais acessível.

“A Rosa Chá era uma marca que já existia e foi comprada. O nome, não a história que ela tinha. E eu acreditava que mesmo que ela tivesse uma nova história para contar, ela precisava trazer alguma coisa do que ela tinha sido, então quando a gente fazia as reflexões lá no trabalho, até muito da Ana46 e tal, era para entender onde a gente podia fazer a conexão, se ela ia ter uma história completamente diferente. Era uma história de praia e ela ia virar uma história que tinha todos os produtos e com roupas para outra idade”. (Glória)

Glória e seu time na Restoque se questionaram sobre as razões de se comprar um nome, já

que o negócio mudaria completamente. Ao invés de criar uma marca do zero, o grupo decisor

da empresa resolveu comprar o nome Rosa Chá e, com isso, recriar a marca de acordo com a

nova estratégia de negócio – saindo de moda praia sofisticada para moda jovem acessível –,

apostando no reconhecimento do nome. Comprou-se, então, o reconhecimento que a marca já

tinha, a porta de entrada para a cabeça das consumidoras. No discurso de Glória, fica clara a

preocupação entre romper, mas ainda assim fazer algum tipo de conexão para recontar a

história da marca.

Entende-se como conclusão deste item que razões para se começar um processo de

revitalização de marca podem ser as mais diversas – das mais profundas até as meramente

funcionais. As marcas geridas pelos entrevistados proporcionaram uma grande diversidade de

razões que, estruturando em ordem de complexidade, teremos:

1. Ellus – mudança de logotipo para buscar melhor visibilidade.

2. Farm – mudança de logotipo e símbolo para acompanhoar a estruturação de toda a

personalidade e o desenvolvimento coerente de todos os pontos de contato.

3. Schutz e Regina Rios – evolução da personalidade, mudança de público e de toda

identidade visual; mudança no ponto de venda, evolução de linha de produtos e

comunicação.

4. Zinco – mais do que evoluir a personalidade como o item acima, criar uma nova e, ao

longo do processo, se definir como uma nova categoria, a marca jeans do Morena

Rosa Group.

5. Rosa Chá – todos os itens mudaram, só permanecendo o nome.

A figura abaixo procura ilustrar a comparação entre as marcas originais e as revitalizadas.                                                                                                                          46 Ana Couto Branding

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Observa-se a tendência de maior distância visual das marcas originais, conforme as razões se

tornam mais profundas e diversas.

Figura  52  –  Identidades  visuais:  original  e  revitalizada  Fonte:  autoria  própria  

Tomada de decisão

Nesta etapa elencam-se as razões e critérios explícitos ou latentes identificados nos discursos

dos entrevistados para o processo de tomada de decisão da revitalização da identidade visual.

A intuição emerge como fator nos primeiros depoimentos destacados. Este caminho intuitivo

será respaldado por um sucesso na prática, que pode ser por um desempenho eficiente nas

aplicações em pontos de contato e/ou pelas respostas de clientes.

“Eu trabalho muito mais com a intuição e menos de forma racional, as vezes eu não sei explicar o porquê do vermelho e preto. E tem profissionais que explicam que o vermelho representa a dor, o amor, para mim isso é bullshit, para mim o mais importante é se deu certo, se der errado aí eu começo me preocupar. Se hoje ainda está dando certo, eu sigo a minha intuição, e digo que isto serve para todo mundo, mas a moda tem essa coisa”. (Giovanni)

O depoimento de Giovanni evidencia a validação da intuição pela prática e destaca ainda o

fato de ser algo da economia da criação da moda: trabalhar com intuição e testar. Adriana

explicita a validação pelo desempenho em diversos pontos de contato. Tal experimentação é

parte do ofício da gestão de marca na Ellus.

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“Foi muito intuitivo, parte do nosso dia a dia de trabalho, aplicação no produto, assinatura de bordado, assinatura de metal em parte de acessório, então teve este trabalho encarado como um todo”. (Adriana)

A intuição, contudo, parece ser balizada por aspectos bem concretos. No caso da Schutz, uma

baliza foi expressar uma personalidade mais jovem e casual. Outra baliza é o

desenvolvimento do conceito da identidade visual em todos os pontos de contato. A partir de

um viés prático, testar elementos que a diferenciem.

“Ela podia ser uma marca mais jovem, é um produto que deveria ter uma coisa mais casual, não dava para ser uma coisa mais chique, pois tem aquela coisa do preço também, e precisa ser uma loja, com uma distribuição grande, então eu queria uma coisa que ficasse mais pop, então foi na intuição, na verdade. Eu acho que quando você pensa demais o negócio sai muito burocrático. (...) A gente fez alguns estudos e aí você precisa aplicar os materiais que você precisa fazer. Eu me lembro do caso da Schutz, que ela começou com uma loja temporária e deu tão certo que a gente escreveu o nome grande da rua, e a gente escreveu o nome e decidimos que toda loja teria a Schutz como o nome da rua onde estava e que aquilo ia fazer parte do Branding, e deu certo”. (Giovanni)

No discurso do Giovanni, a loja com distribuição grande e a intenção de algo mais casual

“não chique” culminou numa abordagem mais pop. Com alto impacto por meio de limpeza de

formas, letras em negrito, contraste de cor e o uso de preto e vermelho em grandes áreas

brancas. No desenvolvimento da identidade há que se destacar o letreiro da loja, onde a marca

Schutz ganha a companhia do endereço onde está localizada. No começo, uma intenção de

expressar oportunidade – “aqui na Oscar Freire 304 a loja da Schutz por tempo limitado” – se

transforma em um traço de comportamento visual e diferenciação da própria marca. A seguir,

na imagem à direita, o teste da pop store e, à esquerda, a Schutz com o elemento do endereço

incorporado à identidade definitiva.

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Figura  53  –  Loja  temporária  da  Schutz  a  esquerda  e  a  direita  a  loja  definitiva    Fonte:  internet  

Temos aqui o encontro da intuição do processo de criação balizada por premissas estratégicas

claras e o mercado como laboratório desta criação. Retomando os critérios retirados da teoria,

o processo da Schutz, portanto, tem como razão de escolha a expressão da nova personalidade

e seus significados e coerência testados nos pontos de contato. Enquanto a revisão da

identidade visual Ellus, mencionada no item anterior, foi balizada pela busca de mais

visibilidade, testada em fachada de loja e produtos. Todos os exercícios de teste em produtos

e no mercado parecem experimentos que equalizam flexibilidade e coerência de linguagem

visual.

O processo de revitalização da identidade da Farm foi evolutivo e procurava elevar a

expressão visual da marca para o patamar de desenvolvimento de personalidade que já se

contrava.

“A gente lapidou a logomarca, antes ela era grosseira e ela ficou polida. Tiramos o Farm de dentro da Flor, soltou ele da flor e a partir daí usamos a Farm de outro jeito. A flor ganhou um risco embaixo – que é o mar, é a natureza, é a montanha. E eu acho que tem muito a ver com o Rio, essa coisa de curva, me deu uma visão bem do tipo o sol descendo no mar. E como ela é uma marca feminina, flor dá muito o tom da história. No universo da Farm, a flor tem uma importância enorme e não é só na logomarca, mas, para tudo. Tudo é muito cheio de flor, é muita natureza e a flor acaba sendo uma representação muito feminina dentro da natureza, assim como a borboleta que é muito forte dentro da criação”. (Carlos)

No discurso de Carlos está presente a busca de significados de símbolo (a “flor–sol” se pondo

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no “mar-montanha”) e logotipo (Farm) a partir da definição da personalidade. Além do

significado, a marca ganhou flexibilidade de aplicação na relação entre o logotipo e o símbolo

também. A partir de então, a posição entre eles poderia mudar de acordo com as necessidades

das mídias onde fossem aplicados. “Com a opção aprovada ficamos mais livres pois,

conseguimos colocar o Farm em cima, pode estar com a logo do lado, pode estar embaixo. E

a gente começou a ter mais fluidez” (Carlos). Um outro ponto relevante é o fato da marca ter

sido lançada sem uma marcação rígida de transição, uma troca “orgânica”. A intenção era

fazer um processo de troca discreto e que as consumidoras nem percebessem a mudança,

quase como se a marca da Farm sempre tivesse sido esta – já que significava tão fortemente a

personalidade que ao longo dos anos foi sendo desenvolvida.

“E a gente fez todo esse processo de forma muito legal porque a gente não comunicou, a gente não fez um boom, mas a gente não fez nenhuma celebração da nova marca, justamente porque a gente não queria um julgamento da coisa, na época tinham lojas com a marca antiga e outras a nova, a gente foi fazendo de forma bem orgânica, e foi muito interessante porque ninguém estranhou, é como se a marca sempre fosse aquela. A gente fez uma evolução e as pessoas continuaram reconhecendo como Farm, e foi tudo muito mais fácil”. (Carlos)

A construção de um novo significado que recontasse a história da Rosa Chá também foi uma

das principais razões da escolha da nova marca: “Eu acho que tem o lado muito feminino da

Rosa, eu acho que ela reforça essa sansação do nome no ícone – da Rosa e do Chá e da xícara

– eu acho que ela foi escolhida por isso”.

No depoimento de Glória aparece como argumento para a tomada de decisão a expressão de

uma personalidade com significado. A junção e comunicabilidade da idéia de uma rosa-xícara

atraiu a decisão para esta opção. Não se pode perder de vista que a Rosa Chá buscava recontar

sua história para um novo público e com um novo portfólio de produtos. A abordagem de

significado claro pôde ser uma alternativa eficiente para cumprir a função de contar uma nova

história. Neste caso, os significados distanciam a marca de sua versão anterior. A estratégia

foi reforçada por mudança de cor, tipografia e imagem.

Já no processo de revitalização da Zinco47, Raniery aponta primeiro a oportunidade de criar

uma marca com uma nova personalidade mais bem-humorada:

“Havia dentro do grupo (Morena Rosa) a oportunidade de ter uma marca mais irreverente, que falasse das coisas, que não fosse muda. Acho muito legal quando as marcas falam. Na

                                                                                                                         47 Apesar do incômodo da equipe da marca com o nome Zinco principalmente ser muito masculino, o nome não foi trocado. Este ponto foi discutido e a decisão de se manter o nome seguiu alguns critérios: 1 – pesquisa com clientes mostravam que o nome não era um incomodo. 2 – a marca se transformou na marca jeans do grupo e, como tal, a categoria de marcas jeans foi aprofundada. Viu-se que marcas jeans desempenham muito bem em vendas com nomes que não precisam ser femininos, como Diesel e Seven. 3 – o nome masculino no meio de tantos nomes mais femininos (como Rosa Chá ou Morena Rosa) seria mais um elemento de diferenciação para a marca. 4 – numa marca que se propunha a ser fora do eixo e ter humor caberia um nome menos comum.

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personalidade apareceu isso de ser fora do eixo48. Que tem humor, fala que não vai ter as referências óbvias. Não tem uma marca neste segmento com humor. Que questiona numa boa. E dá para ser mais autoral. Isso também foi importante para o grupo que cuida da marca”. (Raniery)

Além de expressar personalidade, Raniery aponta alguns critérios para a escolha da opção:

“Bom, primeiro isso de ter uma leitura dupla. Você pode ler Zinco dos dois lados, de cima para baixo. É uma maneira inteligente de ser fora do eixo. Depois me chamou atenção esta capacidade de ela mudar interagindo com outros conteúdos. Desenhos, palavras. ZincoSale, ZincoAmo, ZincoMar. Parece que a marca vai poder falar sobre diversas coisas que acontecem no mundo. Fora que ela tem uma cara mais moderna, é mais bold”.

Para a Zinco, Fora do eixo é a síntese da personalidade, e a leitura dupla apontada no início

do recorte do depoimento surge como uma interpretação desta síntese da personalidade, é o

ponto de partida para a tomada de decisão. Ela dá significado à personalidade. Raniery

também aborda no seu argumento a flexibilidade do sistema que interage com conteúdos.

Esses conteúdos se inserem no aspecto diagramático do sistema visual da marca: pode-se

escrever ZincoSale e ZincoAmo para uma ocasião de promoção, como mostram as figuras

abaixo. Tais interações de conteúdo com a identidade seriam propícias ainda a peças de

comunicação para meio digital, como posts em redes sociais, que cumpririam o papel de criar

reconhecimento para a marca e veicular conteúdos de forma rápida.

Figura  54  –  Marca  Zinco  e  variação  com  inserção  de  conteúdo    Fonte:  Ana  Couto  Branding,  2015  

                                                                                                                         48 Na estratégia da marca Zinco, o fora do eixo representa alguns pontos da estratégia. Para os públicos, a ideia do fora do eixo vai falar da possibilidade de ter humor e de questionar padrões de moda. Além disso, significa estar fora do eixo Rio-São Paulo já que se localiza na cidade de Cianorte, no Paraná.

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Figura  55  –  Variações  da  identidade  visual  da  Zinco  com  inserção  de  conteúdo  Fonte:  Ana  Couto  Branding  

No caso da Zinco, não se pode perder de vista que um dos fatores que compõem a sua

estratégia de distribuição é estar presente em cidades com menos de 100 mil habitantes.

Nessas cidades, os pontos de venda da marca são as lojas multimarcas, ou seja, aquelas que

vendem diversas marcas, inclusive as próprias concorrentes da Zinco. Marcas que muitas

vezes têm lojas próprias e grande investimento em comunicação, como Farm, Rosa Chá e

Colcci. Por isso, um sistema de significado claro, flexível para comportar conteúdos diversos

e que crie uma imagem coerente e consistente tornam-se relevantes. Numa arara, espaços de

comunicação diminutos fazem com que a identidade visual tenha que comunicar de forma

rápida e eficiente. Em outras palavras, as peças de vestuário competem entre si às vezes nas

mesmas araras. Saber qual a marca de cada uma rapidamente pode ser um elemento que ajude

na tomada de decisão. Performam, como dito por Kapferer (2007), como atalhos que

promovem confiança num meio com diversas opções. Raniery, no depoimento a seguir, nos

dá outros elementos que influenciaram a tomada de decisão.

“Ficamos na dúvida entre esta e outra. Uma que tinha um símbolo “contém zinco”. Estava bem resolvida nas aplicações. Mas a que escolhemos, tinha esta capacidade de conversar com as pessoas por aportar conteúdos. Ela parecia mais diferente do que estamos acostumados”. (Raniery)

O sistema da identidade aprovada que possibilita comportar conteúdos diversos foi percebido

como item que proporciona diferenciação para a marca e certo grau de novidade, na

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percepção do entrevistado. A expectativa por algo não visto neste mercado pode contribuir

para sua singularidade. A representação do endereço nas lojas da Schutz, o diálogo com

conteúdo no sistema de identidade da Zinco e a “rosa-xícara” da Rosa Chá surgem como

veículos que formam essa singularidade. Vale lembrar aqui que Singularidade49 (Keller,

1993) é um dos principais vetores de medida das associações de marca e exercem impacto

sobre a memorização da sua imagem.

Roberto Rios revela outro item interessante da tomada de decisão. Assim como na Zinco,

havia um comitê de marca no processo de decisão. O grupo tendia para uma opção, mas na

percepção de Roberto tal opção romperia demais com o que eram as associações que tinha

com a marca Regina Rios. Tal qual no processo de Zinco, o ponto de partida era uma essência

de marca cujos atributos principais era ser Chic e Descontraída.

“(...) fiquei um pouco incomodado porque eu achei que estava muito distante do que era a história da Regina Rios. (...) Eu fui aceitando e minha equipe gostou muito, mas fiquei incomodado. Eu achava que não era isso, mas eu não conseguia expressar de que forma poderia mudar. Era muita mudança e acho que isso é muito complexo, é muito difícil de você romper várias barreiras, romper muito com a percepção. E aí você fica entre ‘será que eu estou sendo muito resistente ou isso não tem mesmo a ver?’. Então, acaba ficando nesta incerteza”.

É válida a refçexão sobre alguns itens expostos na fala de Roberto. O grupo do comitê traz

suas subjetividades para um momento de decisão de uma marca. Chic e descontraída pode ter

expressões e entendimentos diferentes dependendo do repertório de cada um. Essa

subjetividade vai dialogar com a condução dos peritos – neste caso, a agência de Branding –

sobre como articulam e embasam a defesa de um caminho. Talvez pela ausência de um

dispositivo teórico que oriente sua decisão, o gestor de marca, então, é influenciado tanto

pelas percepções do seu grupo como pelo método da agência. No entanto, como principal

aprovante neste caso, o gestor tem autoridade para recuar e tomar outra decisão de acordo

com sua intuição.

“Aí voltando para a marca, me concentrando nela, olhando muito, cheguei à conclusão de que não era isso e que não estava confortável. E consegui me expressar que queria mais delicadeza e feminilidade na marca e era isso que a marca tinha como link do que havia sido construído até então. (...) quando veio a marca com a flor, foi unânime, todo mundo gostou desta, e aí a minha equipe começou a olhar e entender por que eu mesmo estava na dúvida antes e que a (nova) marca escolhida realmente tinha a ver com a Regina Rios, a gente não vai ter um descolamento tão grande, vai ser uma adaptação mais fácil. Eu tinha que fazer uma mudança gradual e uma mudança da qual o consumidor não sentisse o rompimento. (...) A partir disso, para mim ficou mais claro o que a Regina Rios era, então olhando para a marca ficou mais fácil de construir a Regina Rios”.

Neste processo, portanto, a partir da decisão do Roberto, novas opções foram desenvolvidas                                                                                                                          49 Do Original Uniqueness of Brand Associations, é um dos vetores que impactam a Imagem de marca. Uniqueness foi traduzido aqui como Singularidade.  

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numa abordadegem mais feminina e delicada do conceito Chic e descontraída. O vetor

principal da aprovação desta nova abordagem foi expressar na sua visão algo que a marca já

seria: o feminino e o delicado.

Como conclusões parciais destes itens, levanta-se a hipótese de que critérios não são variáveis

independentes que atuam de forma isolada ou que não se correlacionam com algum outro:

Na Rosa Chá, Farm e Regina Rios, por exemplo, a expressão de personalidade se dá por

meio de um significado claro (a xícara-rosa, a flor pôr-do-sol e a flor gestual e delicada,

respectivamente50). Na Zinco, ter um sistema dotado de flexibilidade parece ser o caminho

para criar diferenciação.

Diferenciação só é possível com algum grau de singularidade (os conteúdos do sistema da

Zinco, o endereço expresso no letreiro e atrelado à marca na Schutz). Diferenciação vai ser

resultado ainda de uma coerência com a expressão da personalidade entre os pontos de

contato (a marca da Farm ficou incoerente com seus pontos de contato e, por isso, foi

revitalizada).

Na etapa de considerações finais serão aprofundadas as relações entre os critérios.

Análise dos critérios de desempenho extraídos do referencial teórico

Como visto no item anterior, critérios de escolha emergiram do discurso de cada entrevistado

ao compartilharem como foi o processo de tomada de decisão da revitalização da identidade.

Após esta etapa, os entrevistados refletiram sobre cada critério separadamente. O objetivo

desta etapa é aferir o nível de entendimento e importância que os entrevistados dão para cada

critério. Além disso, que reflexões diferentes eles trazem para cada item. A seleção dos

trechos de depoimentos para esta etapa seguiu o critério de compor um painel de reflexões

complementares ou distintas. Para depoimentos muito convergentes, foi selecionado um

recorte de cada entrevistado.

Um primeiro ponto para esta abertura é que durante todas as entrevistas, por mais que o

pesquisador indicasse que o recorte era sobre identidade visual da marca, a reflexão sobre os

critérios levavam os entrevistados a articular prioritariamente as questões conceituais ao invés

das visuais. Uma reflexão mais atenta sobre as manifestações físicas em geral necessitava de

estímulo específico. Não obstante, as questões visuais sempre permearam – ainda que por

                                                                                                                         50 Coincidência ou não, o elemento flor aparece de três formas diferentes como simbologia no resultado dos processos de revitalização.

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vezes de maneira coadjuvante – todas as reflexões sobre os critérios. Talvez seja mais fácil

falar da personalidade, da loja ou produto do que da identidade visual que permeia e expressa

estes itens.

1. Expressar personalidade

Vale retomar aqui que como definido, este critério abrange a capacidade da identidade visual

expressar algo não tangível – o negócio, uma personalidade, uma ideia ou valores – da

marca. E que previamente agrupou-se no O que uma identidade visual deve fazer?

A expressão de algo não tangível como uma personalidade não gerou dúvida do sentido e

esteve sempre no mais algo grau de importância. Os entrevistados destacam na reflexão itens

diferentes sobre a personalidade.

Giovanni atrela a definição desta personalidade à definição de um público da marca: “Eu acho

que você precisa sim criar essa personalidade, se relacionar com ela e definir quem é o seu

público”. Já Roberto vai atentar para a construção de uma comunicação fiel a essa

personalidade: “Se você constrói uma marca e a comunicação dela não está extremamente fiel

ao que você é, ela não se sustenta, ela não está alinhada e, em alguma coisa errada, em algum

ponto ela vai deslizar”. Glória destaca que a personalidade da marca é construída por meio de

uma história: “Na Richards, o Ricardo falava que nunca quis construir uma marca, mas a

marca foi construída porque ele contou uma história”. Definição de público, fidelidade a

quem se é, e a construção consequente de uma história aparecem como elementos atrelados à

personalidade.

De maneira complementar, Carlos chamará atenção para o fato da personalidade poder ser

ampliada para alguns tipos de personalidade. E essa ampliação vai depender do nível de

maturidade da marca.

“É expressar a personalidade, e o que eu acho bem interessante é que para algumas marcas funciona mais de uma personalidade. E aí amplia um pouco mais, acho que fica mais livre. A minha marca (Farm) pode ser cinco pessoas e isso está mais livre”.

Conclui-se, então, com o entendimento de que o primeiro passo para avaliar qualquer

identidade visual de marca é se perguntar se o que foi elencado como não tangível da marca

encontra expressão na identidade visual em análise.

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2. Diferenciação

Retomando o referencial teórico sobre diferenciação, Keller (1993) diz que este critério

alavanca o Brand equity nos públicos de uma marca. A diferenciação em si é um dos Ideais

de marca em Wheeler (2009) e um dos objetivos de uma identidade visual para Kapferer

(2007). O ponto aqui é que a diferenciação é um dispositivo que serve de “localizador” da

marca na cabeça dos consumidores. Se o leitor pensar em uma marca de joias azul turquesa,

provavelmente o nome Tiffany vem à cabeça. O azul característico é diferente dos demais e,

por isso, promove esse rápido reconhecimento.

Voltando ao depoimento dos entrevistados, o primeiro ponto a se destacar é a existência de

um padrão para entender diferenciação além da identidade visual da marca. Neste sentido, um

certo grau de diferenciação é bom. “Se você não for diferente, você vai ser genérico, igual ao

teu vizinho” (Giovanni). Mas por outro lado, o compromisso, ou obrigação, de ser diferente

em produtos, por exemplo, é apontado como uma preocupação. “O que eu acho mais chato

desta história toda é o compromisso com o diferente” (Glória). E complementa: “Não acho

um compromisso (de ser diferente) fundamental. Eu acho que você tem que ter coerência com

o que você quer ser”. A diferenciação pela diferenciação em si, isolada de outros critérios

(como a coerência, citada por Glória), parece ter menos valor aqui.

Neste sentido, Roberto apresenta uma pista: o produto em si não precisa ser tão diferenciado,

pois tal diferenciação pode ser conquistada com outros dispositivos.

“Você pode conseguir fazer um produto mais próximo dos concorrentes, mas, com uma comunicação única sua. Você pode vender uma commodity de uma forma única. Você pode criar uma história em cima de um produto que não seja tão diferenciado. Com relação à marca, a diferenciação é total e fundamental”. (Roberto).

Mesmo que o produto em si não seja tão diferenciado, a comunicação é um dispositivo que

pode criar associações mais diferenciadas. No que diz respeito à marca, a diferenciação é

apontada aqui como fundamental. Carlos faz uma reflexão aprofundada estabelecendo relação

entre a diferenciação e os códigos de determinado segmento de atuação:

“Na diferenciação tem um ponto fundamental que é entender o segmento que você trabalha, quais são os códigos daquela cultura em que você está inserido. Se todo mundo coloca banner na vitrine, porque eu vou ser mais um a colocar banner na vitrine? Por que eu não coloco no teto? Então você precisa entender o contexto da diferenciação”.

“Acho interessante pensar a diferenciação antes de tudo, que para mim acaba entrando no posicionamento. Se eu vou trabalhar numa marca com posicionamento moderno e jovem, então eu preciso entender o que fazem marcas modernas e jovens e pensar uma diferenciação. E esta diferenciação deve trabalhar junto com minha personalidade e autenticidade. É quase um “não estar cego” para as coisas. Se começar um trabalho sem essa noção do que se pratica

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no segmento, como a gente está muito conectado ao inconsciente coletivo, você pode achar que está arrasando e aí, quando você coloca o bloco na rua, tem um monte de gente fazendo coisas parecidas. E aí diferenciação acaba não existindo”. (Carlos)

Há esse aspecto relevante no depoimento de Carlos, que é articular diferenciação a partir do

entendimento e do distanciamento dos códigos praticados no segmento em que se atua. Se

existem práticas comuns aos competidores, que se repensem tais práticas. Se determinado

gestor estiver trabalhando na construção da personalidade de uma marca “jovem” e

“moderna” (como disse o entrevistado), é provável que ele escolha elementos que, de maneira

geral, estejam no entendimento do que é ser jovem e moderno para que seus consumidores

também reconheçam a marca como tal. Conclui-se, então que pode haver um exercício de

equalizar os elementos visuais da marca para que se aproximem ou se distanciem dos códigos

dos mercado, para que pareçam mais ou menos como pertencentes a determinado segmento

do mercado. É provável que a estratégia determine esse grau de diferenciação.

Outro item relevante é que a diferenciação deve ser compatível com a personalidade e a

autenticidade da marca, em concordância com a declaração de Glória, que considerou mais

importante ser coerente com quem se é. A diferenciação deve ser, portanto, coerente com

itens como personalidade e autenticidade.

A atenção ao que se pratica no mercado será importante também para evitar o efeito

“inconsciente coletivo” em que, segundo o entrevistado, ideias e execuções tendem a ser

semelhantes. Não se pode perder de vista que Meggs (2009) utiliza o termo zeitgeist (espírito

do tempo) para se referir à história do design, fazendo referência às preferências culturais que

delimitam uma determinada era. O inconsciente coletivo pode estar, neste contexto,

relacionado ao zeitgeist. Se a tendência é que o design reflita as preferências culturais de uma

época, a diferenciação pode ser um elemento que atue para que as construções de marca

ocupem territórios diferentes na cabeça dos consumidores.

3. Significado

Retomando o que há na literatura sobre significado, lembramos que Kapferer (2007) dirá que

no processo de reconhecimento da marca, um símbolo ajuda na identificação e na transmissão

do significado. Wheeler (2009) amplia o alcance do conceito ao afirmar que ele representa

algo importante, uma grande ideia, um conjunto bem definido de valores, e concorda que o

maior e mais rápido veículo do significado são os símbolos de marcas.

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Giovanni analisa o critério de modo amplo, como se o significado transmitido pelos conjuntos

dos pontos de contato da marca devesse ser entendido pelo público:

“É importantíssimo, isto eu daria a nota máxima. Tem que ter um recado claro: eu vou lá e lá eu estou encontrando a minha turma. Tem que estar claro que aquele meio de comunicação está te levando àquele mundo. Eu não posso ter dúvida de que eu quero estar ali”. (Giovanni)

Roberto aponta que a dissonância no significado fez com que se repensasse a aprovação da

identidade visual na Regina Rios. Para ele, a personalidade da marca tem que estar

representada por elementos visuais de significado claro, que transmitam a personalidade que

se pretende:

“Precisamos olhar para a marca para entender quem ela é. Por isso eu demorei tanto para chegar nisso51. Eu às vezes com dificuldade de falar quem a marca era, eu não conseguia linkar com a identidade visual. Eu só fiquei confortável quando eu vi que a identidade tinha a ver com aquilo que eu estava construindo. Com aquilo que o produto era, com o consumidor que a gente queria, nota máxima aqui com certeza”. (Roberto)

Carlos admitirá a importância de um significado claro, mas acrescenta à discussão a

preocupação de significados óbvios demais, que não deem margem para a interpretação e a

subjetividade:

“Eu tenho achado que significado tem muitas interpretações. Acho importante você ter um, mas não precisa necessariamente ser muito explicado. Por exemplo, a marca da Farm tem uma representação fácil do que é a Farm: o sol, o mar, e coisa e tal. Porém, eu tenho achado que as marcas deveriam ir além do arroz com feijão e ter também significados que não sejam tão óbvios. Eu tenho gostado mais de um certo grau de subjetividade”.

“Ao invés de você fechar, você abrir. Eu vejo muito isto, que a gente está num mundo que está abrindo e marcas estão querendo fechar, e eu acho que marcas vão se conectar mais com as pessoas abrindo o campo de significado do que fechando. Um trabalho de marca não pode acabar ficando muito engessado”.

Na conclusão deste item, segundo os entrevistados, pode-se destacar que como no referencial

teórico, significado claro é importante tanto para transmitir o que a personalidade da marca é

quanto para que seus públicos entendam quem ela é. Não obstante, pode haver espaço para

um campo de significação que, embora claro, não se feche em elementos óbvios e não dê

margem para um certo grau de subjetividade.

4. Autenticidade

Retomando os referenciais teóricos relacionados à sistematização de marcas, Wheeler (2009)

aponta autenticidade como um dos Ideais de marca em que importa saber quem se é e o que

                                                                                                                         51Roberto se refere ao processo de revitalização da Regina Rios, quando uma opção havia sido aprovada em consenso. Após um período reflexivo, Roberto tomou outra decisão e pediu que a agência criasse uma outra rodada de marcas que enfatizasse o lado delicado e feminino da marca.

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se representa. Além disso, destaca que um logo, como a maior síntese de uma identidade,

deve ser diretamente derivado desse saber; desse modo, marcas podem ser genuínas. Kapferer

(2007) não usa o termo autenticidade, mas converge para a ideia de que para ter sucesso, uma

marca deve ser verdadeira em sua identidade e deve emitir sinais realistas com sua natureza.

Adriana aponta a falta de autenticidade como fraqueza de algumas marcas:

“Vejo algumas marcas e empresas que têm essa fraqueza. Ao lançar uma campanha de um produto, contrata o melhor fotógrafo, o melhor Stylist, o que resulta em uma imagem mega de moda, mega atualizada com tudo o que está acontecendo. Só que quando você vai analisar o produto e a marca, ela não é nada daquilo que está na página do anúncio da revista. Marcas têm que ser de verdade, precisam ter autenticidade”. (Adriana)

Em concordância, Roberto reafirma que um fator fundamental para criar uma marca é a

autenticidade. E chama de me too52 marcas que imitam ou se assemelham a outras.

“Você só é uma marca se você for autêntico. Se você criar uma marca me too, você estará no mínimo em segundo lugar. (…) então você tem que criar uma história sua, autêntica, verdadeira, eu daria nota máxima”. (Roberto Rios)

Enquanto Glória dá pistas do caminho para ser autêntico: “é mais verdadeiro você contar uma

história que existe do que você contar uma história inventada”, Adriana e Roberto trazem a

reflexão para a busca de algo verdadeiro da marca e apontam os riscos de se criar

manifestações dissonantes com o que a marca é, apenas para parecer alinhado com tendências

ou produtos de sucesso do mercado. Giovanni faz um contraponto e destaca que o Brasil não

é consolidado como polo de tendências em moda e que, por isso, há um limite para essa

autenticidade.

“Autenticidade num país como Brasil é uma palavra dura, pois você tem que ter jogo de cintura. Você tem que ser autêntico, mas, ao mesmo tempo se você botar um abacaxi gigante porque você quer ser autêntico, não vão comprar. Principalmente neste país onde a gente ainda vive do que lá fora está sendo desejado. A gente ainda não é tão provedor da tendência como lá fora, então é complicado ser autêntico”. (Giovanni)

Quando lhe foi perguntado o que faz uma marca ter sucesso hoje em dia, Carlos respondeu

objetivamente53. Retomam-se e aprofundam-se suas reflexões aqui:

“A autenticidade é o fator chave. É ser você, é ter o desejo de construir algo que reflita quem você é. Que seja uma expressão única e não uma colagem de coisas já vistas. Embora haja influência externa, faz parte de um processo interno. Como se internamente a marca filtrasse o que ela acredita, como ela quer fazer as coisas, como ela sente e fala para o mundo. (...) E eu estou com uma frase na cabeça que é “a jornada da autenticidade”, uma era em que a gente está entrando, onde o importante é trabalhar a partir da folha em branco, na busca de encontrar o original da marca. Acho que é o que as marcas deveriam buscar. (...) Autenticidade é muito relevante. Hoje em dia, a gente é muito bombardeado de imagem e referências, porém pouca coisa autêntica. E aí quando aparece uma referência autêntica, acontece um processo quase

                                                                                                                         52Uma marca ou produto me too é aquele projetado para ser similar a alguma marca ou produto de sucesso de uma outra empresa. ictionary.cambridge.org/us/dictionary/english/me-too 53Ver item O que faz o sucesso de uma marca?

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predatório. Por exemplo, a moda está muito um saco, aí vem o Alessandro da Gucci54 e faz algo muito autêntico, e é como se o cara tivesse jogado uma bomba no mercado. E aí todo mundo vai e devora, pega tudo o que o cara jogou e come um pedacinho”. (Carlos)

A autenticidade seria ainda mais fácil de atingir se partisse de algo verdadeiro, como na

afirmação de Glória. Ana afirma que esta verdade é uma construção coerente com o que a

marca promete na sua personalidade e DNA. E que isso deve ser coerente ao longo do tempo.

“O que é ser autêntica? Para mim, ser autêntica é entregar a promessa. Ela pode até ter inventado uma história, mas não pode ser fake. (...) se ela tem uma promessa que vem sendo entregue no passado, ela deve ser super autêntica. (...) Autêntica é saber quem se é e ser coerente com sua verdade, com seu DNA”. (Ana)

No depoimento dos entrevistados, a autenticidade está relacionada primordialmente ao

autoconhecimento da marca vinculado, portanto, à sua história e à estruturação de sua

personalidade. A autenticidade como ponto de partida evitaria a prática de cópia de outras

marcas e/ou emulação de comportamentos, estilos e tendências que não sejam coerentes com

a própria marca. Embora Giovanni pondere que em alguns casos seja importante que a

autenticidade não impeça iniciativas táticas de seguir determinadas tendência, Carlos, ao

propor a “jornada da autenticidade”, estabelece que autenticidade pode ser um fator ainda de

diferenciação perante o bombardeamento de informações a que consumidores são expostos.

Autenticidade, então, se relaciona com outros critérios extraídos dos modelos, segundo o

depoimento dos entrevistados. Resumindo, ela pode ser:

• atributo para desenvolvimento de uma personalidade;

• filtro que estabelece coerência com a história e a personalidade da marca;

• fator de diferenciação perante marcas concorrentes e quantidade de informações que

consumidores recebem.

5. Singularidade

Nos referenciais teóricos, diferenciação e singularidade se relacionam. Singularidade para

Keller (1993) é um dos principais vetores que medem as associações que impactam a

memorização da imagem da marca. Quando Keller elabora as medições de Brand equity, ele

aborda singularidade como o caminho da diferenciação para os públicos da marca. Segundo

ele, para um Brand equity forte, consumidores devem poder não só diferenciar associações de                                                                                                                          54Alessandro Michele é diretor criativo da Gucci – marca de moda de luxo italiana – desde 2015. Promoveu uma mudança no estilo da marca trazendo uma abordagem apontada pela revista Vogue como ousada, curiosa, além de um pouco misteriosa e excêntrica. http://www.vogue.com/article/gucci-alessandro-michele-creative-director-profile

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uma marca perante os seus concorrentes, como também saber listar os itens singulares da

marca. A identidade visual na interface com os consumidores deve ser capaz de responder

tanto pela diferenciação quanto pela singularidade.

À primeira vista, os conceitos de singularidade e diferenciação se confundiam para alguns

entrevistados: “Eu me confundo um pouco com diferenciação e singularidade” (Roberto).

“Antes de a gente começar… qual a diferença entre singularidade e autenticidade?” (Carlos).

Alguns itens devem ser esclarecidos neste momento:

(1) Na estratégia de pesquisa, optou-se por traduzir para o português todos os modelos e

conceitos. No modelo de Keller (1993), o conceito no original é Uniqueness. Singularidade é

a tradução mais clara do conceito.

(2) A definição prévia dos critérios para as entrevistas não se preocupou em eliminar

conceitos convergentes ou tangentes. A estratégia foi ampliar o máximo possível os aspectos

ligados ao desempenho das identidades visuais, mesmo que gerasse algum tipo de confusão.

Nesses casos, foi recorrente o uso de suporte teórico para estabelecer diferença entre os

conceitos quando os entrevistados perguntavam detalhes sobre eles.

(3) Foi utilizado um suporte teórico sintético para esclarecer as definições dos entrevistados55,

como o que se retoma a seguir:

• Autenticidade – saber quem se é e expressar visualmente.

• Diferenciação – diferente na categoria e perante o mercado.

• Singularidade – expressa a personalidade por meio de características visuais

singulares.

Após a confusão inicial, singularidade foi um dos itens que menos gerou discussão, talvez

por ter sido o 6º critério a ser avaliado, logo depois de autenticidade (3º) e diferenciação (5º).

Pode ser que, por conta deste fato, os entrevistados já considerassem que haviam dado conta

do seu sentido ao falar dos outros dois. Não obstante, foi comum o uso de outros critérios nas

reflexões sobre singularidade.

“Se ela tiver personalidade, autenticidade, ser verdadeira, será singular”. (Adriana)

“Eu acho que quanto mais você construir uma marca singular, que faça sentido, mais forte ela vai ser, mais personalidade ela vai ter. Eu acho que a busca em tudo isso é fazer uma marca

                                                                                                                         55Vide roteiro completo de entrevista.

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que faça muito sentido, que tenha muita coerência e que seja única. A gente tentou construir isso”. (Roberto)

“Singularidade, também acho fundamental e, para mim, fica mais perto de autenticidade do que de diferenciação, eu acho que ela fica depois de significado para mim”. (Carlos)

Além disso, da mesma forma que diferenciação, houve uma relativização do quanto uma

marca pode ser singular.

“Você tem que ter uma voz singular no mercado. Pode ser um pouco contraditório que, ao mesmo tempo que você tem que ser singular (…), você não possa esquecer mais uma vez a tendência”. (Giovanni)

Do ponto de vista da marca, ela deve ter uma voz singular; no entanto, os produtos não

podem perder de vista a tendência, o que é apontoado por Giovanni como contradição56. Ana

vai além e diz que singularidade é uma grande exigência e que é um processo complexo de

conquistar.

“Eu acho que é difícil você ter essa uniqueness, e ela pode até ser diferenciada no estudo do mercado, mas o que acontece é que determinadas marcas não estão competindo dentro do seu mercado direto, elas estão competindo com outros mercados. A Amazon hoje compete em qual mercado? A Uber compete com quem? Não é só com taxista. Para mim, é muito difícil da gente ser único. Você é único quando junta uma série de coisas e aí você se diferencia. Ser singular, ser único. Eu acho que é difícil, mas a diferenciação é possível, é um composto de muitas variáveis”. (Ana)

Na reflexão de Ana, as fronteiras mais flexíveis entre mercados dificultam a singularidade, e

acrescenta que a busca deveria ser de diferenciação em uma série de itens na gestão da marca.

Fica claro novamente o vínculo entre singularidade e diferenciação.

6. Coerência, consistência e congruência

Neste critério agruparam-se três conceitos, pois todos apareceram no referencial teórico com

sentidos convergentes. Retomando o referencial teórico, Zaichkowski (2010) atenta para a

importância da coerência em uma identidade visual ao se desdobrarem todos os pontos de

contato. Kapferer (2007) considera a emissão de sinais coerentes como dever das marcas.

Coerência também é um dos ideais de identidade da marca para Wheeler (2009), definida por

ele como consistência em cada manifestação da marca. Para Keller (1993), há congruência de associações de marcas e ele mede quanto de conteúdo e significado se compartilha entre

uma associação e outra.

Antes de avançar, optou-se aqui por registrar trechos das definições das três palavras (Houaiss

                                                                                                                         56Preocupação semelhante, foi apontada por Giovanni no item Autenticidade, onde há, tal qual em singularidade, uma contradição de que estes elementos devem ser equilibrados como a possibilidade também de seguir tendências.

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2001) onde fica evidente a inter-relação de sentido entre elas, já que uma pode ser usada

como sinônimo da outra:

Coerência: ligação, nexo ou harmonia entre dois fatos ou duas idéias; relação harmônica, conexão (…); congruência, harmonia de uma coisa com o fim a que se destina.

Congurência: coincidência ou correspondência de caráter ou qualidades; conformidade, concordância, harmonia, relação harmônica das partes de um todo; coerência.

Consistência: característica de um corpo encarado do ponto de vista da homogeneidade, coerência, firmeza, compacidade, aderência, resistência, densidade, viscosidade etc. dos seus elementos constituintes; e estado ou caráter do que é coerente, do que tem solidez, veracidade, credibilidade, estabilidade, realidade.

Nas três definições, confirma-se a convergência de definições. Coerência, por exemplo,

aparece nas definições de congruência e consistência. Não obstante, percebe-se em coerência

e congruência uma natureza mais conceitual e abstrata no campo dos fatos, ideias, caráter e

qualidade. Já consistência tem uma origem mais física “corpo encarado do ponto de vista da

homogeneidade”. Por isso, dividem-se nestas duas linhas – coerência e consistência – os

depoimentos dos entrevistados.

Numa reflexão final de sua entrevista, fazendo uma relação entre estratégia de marca e

comunicação com produtos, Adriana reforça coerência como talvez o critério mais importante

de todos:

“Uma coisa que eu não sei como escrever aí, talvez, é a coerência do produto com a marca e com a comunicação. Uma marca contrata uma agência para fazer uma campanha, o marketing e o posicionamento, só que aquela marca não tem o produto. Então a agência usa uma linguagem mega contemporânea, com imagem nova e com aderência a tudo que está acontecendo, mas se o produto não acompanha e tem um shape antigo, talvez uma visibilidade errada, uma matéria-prima fora de moda, então fica muito incoerente. Vejo estes erros acontecerem”. (Adriana)

Carlos destaca que marcas devem evoluir de modo coerente e dá exemplos do trabalho que

vem sendo feito na Gucci. Neste caso, segundo ele, há coerência ao se renovar a linha de

produtos a partir de elementos reconhecidos da Gucci como o pattern de logos que combina

um olhar sensível a tendências do mercado.

“Eu sempre falo que, no trabalho de posicionamento de marca, devemos usar a palavra evolução e não mudança. Eu acho que toda marca tem uma essência e é muito difícil quando a marca não tem coerência e consistência com essa essência no seu desenvolvimento. É, como no exemplo da Gucci, a revitalização de elementos da linguagem visual que o Alessandro Michelle tem feito. Uma das coisas bem icônicas da marca é um pattern da logo para bolsa, para sapato, para carteira. E aí o cara pegou este pattern e fez bolsa, fez carteira, mas de um jeito que olha para o mundo agora [imagem abaixo]. Não fez algo do tipo tradicional. Mas, se ele dissesse ‘a partir de hoje o pattern é tradicional demais, ele não vai mais ser usado, vamos negar o pattern’, estaria negando algo muito forte dentro da marca, que está na cabeça das pessoas. E seria um erro. E em moda, uma marca de moda perde reputação em duas semanas”. (Carlos)

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Figura   566   -­‐  Pattern   Diamante   tradicional,   à   esquerda   e   à   direita   o   pattern   acompanhado   de   uma   ilustração   floral57,  resultado  do  trabalho  de  direção  criativa  de  Alessandro  Michele  desde  2015  

Destacam-se dos exemplos de coerência levantados por Carlos e Adriana que é preciso

valorizar o que a marca é e os seus elementos visuais e associativos já construídos, inclusive

no desenvolvimento de produtos. E a comunicação deve ser feita de forma compatível com o

que a marca é sem emular uma realidade dissonante demais com sua personalidade e produto.

Sobre o item consistência, Raniery destaca o cuidado com cada detalhe da marca: “Eu acho

lindo quando eu vejo uma empresa com consistência do início ao fim, em cada detalhe”. Já

Roberto assinala o alinhamento entre pontos de contato para que não haja descompasso na

mensagem transmitida: “Se não estiver tudo alinhado, vai gritar em outro lugar”.

“(...) A gente fala de coerência, mas é preciso ter consistência o tempo todo também. Eu acho que a força da consistência é a associação direta com a marca, você olhar uma listra e já lembrar qual é a marca. Eu fico pensando no logo da Nike, todo mundo já conhece e não precisa descrever. Talvez um dia eu tenha a Sardina só com um peixinho e as pessoas irão identificar”. (Glória)

Em seu depoimento, Glória relaciona consistência com o reconhecimento da marca. Se

houver consistência entre pontos de contato, mais fortemente a marca será reconhecida; o que

é confirmado por Keller (1993) ao assinalar que a congruência de conteúdos entre uma

                                                                                                                         57 No resultado de uma nova padronagem, que Carlos aponta como uma boa evolução na Gucci, é interessante notar que tanto o pattern “diamante” como a estampa floral - seus elementos reconhecidos do território visual da Gucci - foram combinados nesta coleção. http://www.guccimuseo.com/en/gucci-archive/logomania http://www.guccimuseo.com/en/gucci-archive/flora

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associação de marca e outra contribuirá para o conhecimento da marca por parte do

consumidor.

“Por que este adesivo do papel de seda não pode falar sobre a marca? Por que o papel de seda, a embalagem, a sacola, o cartão da loja, o site não podem falar sobre a marca? E aí eu comecei a desenvolver este trabalho onde tudo o que sai daqui tem que comunicar o que é a marca (...). Até se eu puder encontrar um prego proprietário para a Farm, vai ser melhor do que eu pegar um prego genérico”. (Carlos)

Para Carlos, na Farm, para além de ser consistente, há a estratégia de personalizar os mais

diversos itens – da fachada da loja ao “prego” – com o objetivo de criar um território

proprietário em todos os pontos de contato. Há de se pensar que, se todos os elementos são

proprietários da marca, o seu uso consistente criará mais reconhecimento e diferenciação,

uma vez que tais elementos são exclusivos. Tem-se aqui uma relação entre consistência,

reconhecimento de marca e diferenciação.

“Eu acho que tem que ter um resultado... consistência... mas não pode ser engessado porque a marca precisa evoluir. Você precisa saber muito bem o que você é, e evoluir muito rápido, pois quem evolui muito rápido sem saber quem é pode virar algo esquizofrênico. Quem é muito consistente, mas sem evolução, pode ficar preso. E marca precisa de uma evolução constante. Então, consistência e evolução precisam ser equilibradas. O conceito de manual de marca que prende a marca não funciona mais hoje em dia. O que funciona é o guia de marca que, para além de pode e não pode, guia a marca num processo de evolução, um fio condutor para a marca se desenvolver”. (Ana)

Ana retoma a ideia de evolução da marca tal qual Kapferer (2007) e alerta que consistência é

importante e necessária, mas não pode impedir que a marca evolua. Faz o contraponto entre

um manual de marca, que é algo rígido, e um guia de marca que conduz a identidade visual da

marca e permite evolução. Aqui a consistência vai dialogar, portanto, com o próximo critério

extraído do referencial teórico, a flexibilidade.

7. Flexibilidade

De fato, os aspectos evolutivos da marca apontados por Carlos e Ana em consistência e

coerência estão considerados no item flexibilidade no referencial teórico. Ao abordar a

evolução ou a adaptação do negócio e a performance nas diferentes etapas e dimensões da

gestão de uma marca, Kapferer (2007), Campbell (2015), McQuarrie e Phillips (2014)

concordam que uma identidade visual deve ser flexível – daí que Kapferer considera marca

como um sistema vivo. Em concordância, numa abordagem de mercado, Wheeler (2009) vai

afirmar que sistemas de identidades precisam ser flexíveis e abertos a mudanças de mercado e

inovações.

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Para os entrevistados, flexibilidade da identidade visual atuará em dimensões distintas do

desenvolvimento de uma marca. Por exemplo, flexibilidade do sistema de identidade visual

de modo que ela seja capaz de absorver conteúdos diversos:

“Ficou a dúvida entre esta opção e outra59. Mas esta, pela capacidade de conversar com as pessoas por causa do conteúdo foi a que escolhemos. Ela parecia mais diferente daquilo com que estamos acostumados”. (Raniery)

Flexibilidade para ser reconhecida em linhas de produtos com processos de produção e

materiais distintos:

“Existem linhas de produtos diferentes, tem a assinatura do boné, a assinatura de um sapato. As pessoas querem um sapato da marca, a pessoa precisa saber que o scarpin é da Ellus. Então, tem que funcionar aí um trabalho de melhoria da personalização dos produtos. A gente agora está lançando uma linha de óculos e tem que ter a assinatura da marca”. (Adriana)

Flexibilidade para se expressar em mídias distintas no contexto, ocasião e limitações:

“A flexibilidade é muito importante porque você tem várias formas de se comunicar. Se você tem um número de elementos como a flor nas suas diversas formas, as várias cores e as várias ilustrações que criamos facilitam a comunicação. Senão, ela fica engessada e repetitiva. Você precisa se comunicar de várias formas, mas com consistência”. (Roberto)

Flexibilidade para se adaptar a tendências do mercado, evoluir e revigorar a marca:

“A gente vai mudando conforme a dança. A gente mantém um padrão consistente, mas por vezes é importante ir um pouco contra para não envelhecer e se adaptar”. (Giovanni)

“Na Richard’s às vezes a gente ficava em dúvida de mudar por causa do tamanho da marca e de compromissos comerciais. Também porque tínhamos feito tanta coisa certa e a gente ficava na dúvida de experimentar uma coisa diferente. Mas acabávamos experimentando desde que com um contexto adequado. Ousadia eu acho importante. Muda aspectos da marca, mexe um pouco na percepção, mas ela continua a mesma na essência”. (Glória)

“Eu acho que flexibilidade para mim é maturidade. É você estar aberto para inovar, mudar e repensar, mas ter a segurança de que você vai saber conduzir este processo de um jeito que faz sentido, que aí eu acho que tem a ver com coerência e consistência”. (Carlos)

Em síntese, flexibilidade vai dialogar com duas dimensões principais. A primeira é o fato de

se desenvolver com alta performance nas mídias, produtos e nos novos recursos dos pontos de

contato da marca. A outra é o fato de evoluir com o mercado e de se adaptar a tendências: ser

um sistema vivo (Kapferer, 2007). Outro ponto importante é que a flexibilidade deve se

relacionar com a coerência. As duas forças devem ser equilibradas.

8. Durabilidade

Retomando o referencial teórico de durabilidade, Kapferer (2007) diz que um símbolo (parte

integrante de uma identidade visual) é como um sinal permanente que dá durabilidade a uma                                                                                                                          59sobre a identidade visual aprovada na Zinco

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marca e permite que uma empresa possa capitalizá-la com significados. Wheeler (2009)

elenca durabilidade como um dos ideais de uma identidade de marca e que o reconhecimento

e familiaridade derivado da durabilidade dará segurança a consumidores. Segundo ela, a

capacidade de transcender a mudanças do mercado e de ser fiel a uma ideia central é que trará

durabilidade.

Nos depoimentos, um dos caminhos para conquistar durabilidade é pensar a identidade para

além de modismos momentâneos numa construção, pensando no longo prazo. A durabilidade

esteve presente nas reflexões de Adriana sobre a revitalização da marca Ellus: “Pensamos a

marca nova para durar, ser simples, clean, limpa, contemporânea. Ela veio para ficar”. Por

isso, aspectos formais mais sintéticos e limpos tornam a identidade mais durável. É no que

Giovanni acredita também, quando faz uma distinção entre critérios para um “branding

institucional” e uma comunicação mais temporal:

“Hoje em dia, por causa das mudanças, cada dia eu acredito mais na coisa institucional. Eu sempre falo para os meus designers que maneira melhor de resolver um projeto é pensar se daqui há 15, 20 anos ainda estaremos gostando disso. E aí se você tem dúvida é porque aquilo é ruim, aquilo vai morrer. Algumas coisas são temporárias, estilos temporários se usam em coisas que vão “morrer” como um convite, uma comunicação. Para o branding institucional, dever ser bom daqui há 15 anos. É um guarda-chuva, é a marca da empresa, aí deve durar”. (Giovanni)

Roberto faz um contraponto entre a questão da mudança em moda e a durabilidade da marca:

“Você trabalha com moda, mas a marca não pode ser moda, ela deve ser consistente e duradoura. Pode sofrer algumas alterações com o tempo porque o consumidor muda, mas o significado dela, a essência dela, tem que ser duradoura”. (Roberto).

Glória e Carlos admitem a importância de marcas duráveis, mas pontuam que a marca deve

ousar para não envelhecer e estabelecer períodos de evolução:

“Durável sim. Mas você precisa de ousadia, senão envelhece. Para você ir para frente, você tem que ousar, senão você para e fica chato”. (Glória)

“Durabilidade com certeza é fundamental, eu acho muito importante fazer coisas por muito tempo. Para se materializar uma identidade, precisamos ser consistentes com uma coisa, por muito tempo comunicando esta identidade. Eu gosto de pensar num ciclo de 7 anos, eu acho que 7 anos é um tempo legal para pensar em evoluir uma coisa, acho que faz sentido”. (Carlos)

Em concordância, Ana pondera que marca é construção de significado e diferenciação de

longo prazo, por isso deve ser durável. No entanto, alerta que durabilidade deve ser analisada

dentro de um contexto e período, e que marcas devem se adaptar aos movimentos do

mercado:

“Marca não é consumo rápido, marca tem que construir significado, tem que construir diferenciação. Marca modinha não dá e gasta dinheiro à toa. Durabilidade sem envelhecer

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dentro do contexto é muito importante, é entender que sua qualidade diferenciada te leva a jogar o próximo jogo. Dentro do contexto, durável é importante, mas é uma palavra com que se tem que tomar cuidado porque adaptabilidade é fundamental também”. (Ana)

Na conclusão deste ítem tem-se um paradoxo. De um lado, precisa-se ser fiel a uma ideia

central e, a partir daí, o reconhecimento e a familiaridade, derivados da durabilidade, darão

segurança a consumidores (Wheeler). Assim, os entrevistados buscam identidades duráveis

no conceito e no visual. Por outro, no entanto, a durabilidade dará lugar à flexibilidade em

algum momento do processo de desenvolvimento da marca para se adaptar a diferentes

questões e contextos do mercado. Pode-se pensar que a adaptação deverá acontecer para que a

marca se mantenha relevante, como apontado por Aaker (2014) nos 10 desafios que os

gestores de marca deverão enfrentar nas próximas décadas. Segundo ele, para se manter a

relevância da marca, devem-se detectar três ameaças e a elas reagir: menos clientes

comprando, motivos emergentes para não comprar e perda de energia da marca. É

conveniente encerrar este item com relevância, pois este é o tema do critério a seguir.

9. Relevância para consumidores

Como abordado no item de referencial teórico, itens dos modelos estudados como imagem de

uso e usuário, benefícios experienciais e simbólicos (Keller, 1993 e Kapferer, 2007)

apontavam para o fato de que a identidade visual através de seus elementos como imagem,

cor, e demais recursos sensoriais deve criar relevância e identificação com seu consumidor.

Zaichkowski (2010) diz que a identidade visual influencia na maneira como as pessoas

percebem a marca e seus atributos e ainda cria conexões emocionais. Ou seja, são interfaces

que através do estímulo aos sentidos podem tornar a marca relevante. A partir desse

referencial, entende-se que relevância para consumidores é um item que reflete a finalidade

da identidade visual e, por isso, como dito, agrupa-se aqui como resposta à pergunta para que

se faz uma identidade visual?

Um ponto de reflexão apontado no referencial teórico é que a relevância é composta por uma

série de forças e dimensões, sua medição é mais uma consequência da reação dos

consumidores do que algo que se controle facilmente num processo de decisão da identidade

visual. Aferir relevância, portanto, é provável que exija prática e uso de pesquisas com

consumidores.

Dito isso, a seguir temos as reflexões dos entrevistados sobre este critério. A começar por um

registro de Carlos sobre a trajetória da Farm, no qual revela que a relevância para as clientes

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era tanta que elas mesmas trabalharam a marca nos seus primeiros anos:

“Eu acho que a Kátia Barros tinha um foco mais na cliente do que na marca, ela tinha uma sintonia muito forte com a cliente a ponto de as pessoas que trabalhavam na marca eram as clientes. Então estava tudo muito concentrado e dava certo porque ainda era uma estrutura pequena”. (Carlos)

Outro tópico interessante desse tema é que o entendimento foi claro e Adriana, Raniery,

Roberto e Glória deram respostas diretas de como os consumidores são importantes sem

maiores implicações. Como visto, o processo de revitalização da Schutz teve como objetivo

atrair um novo tipo de público, pois logo Giovanni destaca a importância deste critério: “Criar

relevância e identificação para os consumidores é totalmente importante porque o consumidor

precisa ficar preso a você e achar que você tem o melhor produto para ele sempre”.

Carlos avalia que os consumidores não devem ser vistos de maneira fechada, mas de forma

mais aberta, ligada a comportamento e estilo de vida. Além disso, diz que o consumidor é

mais participativo, informado e exigente, e que marcas devem ter coisas a dizer. Esta

característica participativa do consumidor é definida por Cova (2009) como o consumidor

criativo e colaborativo, que se configura com mais força a partir dos anos 2010.

“Criar relevância e identificação com os consumidores é muito importante, mas eu acho que as marcas pensam muito no consumidor de maneira fechada e os consumidores estão abrindo. Deve-se ter mais compreensão do comportamento, de uma energia e de estilo de vida do que se fechar num perfil de consumidor, tipo tal, classe tal, idade tal, região tal. Hoje a Farm não trabalha com público-alvo, tipo o público-alvo é qualquer pessoa que se identifica com essa energia. Eu não acho contemporâneo você pensar que a minha marca é para menina da Zona Sul, carioca, de 18 anos e que faz faculdade, porque na real não é, na real é um público mais amplo”. (...)

“E eu acho que o consumidor está buscando mais a identidade com a expressão da marca, ele está valorizando a autenticidade porque ele faz do jeito dele o que ele quiser, então se ele encontra uma marca que tem autoestima, que peita alguma coisa, vai ser muito mais fácil para ele se relacionar com essa marca. Não vou gastar com uma marca que não tem nada para me dizer. Então eu procuro uma marca que tenha alguma coisa para me dizer e eu faço do meu jeito”. (Carlos)

Em concordância, Ana traz à tona que o fator escassez de tempo faz com que as marcas

tenham que ser relevantes para que os consumidores lembrem dela e se relacionem:

“As pessoas têm menos tempo, você não fica no shopping andando de um lado para o outro entrando e saindo de loja, “eu vou comprar aquele produto porque eu me identifico com aquela loja”. Então cada vez mais a conexão entre o consumidor e a marca é fundamental, é esta a conexão que me faz ir à loja. Você escolhe as lojas que estão falando para você de uma forma relevante e vão te trazer alguma coisa”.

No encerramento deste item, identifica-se a unanimidade de se fazer algo relevante para o

consumidor, que vai partir de um entendimento contemporâneo de comportamento e estilo de

vida deste consumidor. Além disso, a relevância estará muito ligada à autenticidade da visão e

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personalidade da marca, à forma como a marca estabelece um diálogo com esses

consumidores e ao tipo de conteúdo que transmite. Caberá à identidade visual dar coerência a

esse diálogo.

Outro item importante é que apesar de o consumidor ser parte fundamental da maioria das

estratégias de revitalização das marcas, em nenhum dos casos desta pesquisa foi feita uma

pesquisa científica e técnica com consumidores para captar suas percepções sobre a

identidade visual revitalizada escolhida. Não obstante, muitos ajustes dos projetos ocorreram

na implementação e nos testes práticos de implementação.

10. Reconhecimento de marca

Reconhecimento de marca, também é um critério que responde à pergunta: Para que se faz

uma identidade visual? No referencial teórico, Keller (1993) vai tratar do reconhecimento de

marca como um dos itens que medem consciência de marca dentro de Brand Awareness e

define o reconhecimento a partir de algum estímulo previamente visto. Afirma também que a

base de um bom reconhecimento é a familiaridade. Em concordância, Wheeler (2009) aponta

ser memorável como um critério funcional. Kapferer (2007) acrescenta que no meio de tantas

opções, as marcas devem ser reconhecidas como atalhos que promovem confiança e certeza,

dessa forma reduzindo o risco e o tempo de compra.

Este foi um critério de visões convergente entre os entrevistados. Adriana e Roberto destacam

que uma identidade visual deve ter fácil identificação perante outras e ser memorável:

“Para fácil identificação este critério é fundamental. Você olhar e já memorizar, e isto é uma coisa que a gente estava precisando organizar melhor, por isso o processo de revitalização, porque eu acho bem importante essa marca ser reconhecida perante outras”. (Adriana)

“Se você está construindo uma marca, ela precisa ser reconhecida, a Nike na hora que você bate o olho você reconhece, já sabe tudo sobre ela, não precisa estar escrito Nike. O símbolo dela não precisa de mais nada”. (Roberto)

Em processos de revitalização, Giovanni e Ana ponderam o quanto se deve preservar o que a

marca já tem construído e que promove reconhecimento:

“Dependendo da história da marca eu pensaria muito no quanto ela deve mudar, você teria que pensar o que vale a pena salvar para fazer a revitalização daquela marca. No caso da Schutz, não valia a pena guardar muito do que era, o projeto foi direcionado à personalidade que se pretendia construir”. (Giovanni)

“Se é uma marca forte, é super importante manter o reconhecimento. Se é uma marca forte que tem relevância que está cumprindo o seu papel é fundamental você continuar conectado com ela. Se é uma marca fraca e que se desconectou com seu público aí é melhor você apagar (...)

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Reconhecimento é super importante na evolução dela. (...) O quanto uma marca vai mudar é uma questão estratégica que pode ir do zero ao rompimento total com o que a marca é hoje, depende da estratégia de negócio”. (Ana)

Ana aprofunda que a construção de um território visual e associativo que promove

reconhecimento é um dos trunfos de marcas valorizadas e duráveis:

“Marcas como Chanel ou Burberry já tinham construído um território de marca muito proprietário e sistematizado antes de serem compradas por grupos ou mudarem de gestão. Se vê na Chanel uma quantidade imensa de territórios de marca bem construídos desde a época da Coco Chanel: a personalidade, a visão de mundo, a Camélia, as pérolas, o preto, a listra, isso tudo é que faz as mulheres ganharem muito em termos de personalidade quando usam Chanel. Grandes grupos compraram a marca e estes territórios se perpetuaram, se reinventam, se recriaram. Mas, acima de tudo, este território se mantém e evolui com a marca. E isto eu acho que é o grande trunfo, por mais que marcas como a Chanel passem por diferentes criadores, eles entendem que aquela história deve ser respeitada e evoluir com muita propriedade, entendendo o momento do mercado”. (Ana)

Segundo os entrevistados, reconhecimento de marca é o grande critério a ser perseguido e

avaliado em caso de revitalização. Para ser reconhecida, uma marca deve ter uma identidade

visual com um território claro, com significado coerente com sua personalidade e relevante

para seus públicos, e deve ser trabalhada com consistência ao longo do tempo.

Adicionalmente, esses elementos devem ser respeitados e se são reconhecidos pelos públicos,

têm grande valor para a marca. Logo, num processo de revitalização o grau de mudança deve

ser avaliado para não perder reconhecimento. É o caso dos processos de revitalização da Ellus

e Farm. Por outro lado, quando a estratégia de negócios muda muito, as alterações ou a

construção de um novo território podem ter um grau maior de distinção, como no caso da

Rosa Chá e Zinco.

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8. Considerações Finais  

“O que caminha no sentido da não revelação e o que pode ser objetivado e virar uma

contribuição desta pesquisa?” Essa reflexão, feita pelo professor Ricardo Zagallo durante uma

das etapas do desenvolvimento desta pesquisa, reverberou ao longo das etapas subsequentes

de análise das entrevistas. Afinal, a pergunta da pesquisa sempre esteve relacionada à

revelação. Em específico: avançar na identificação de argumentos e variáveis para a escolha

de uma identidade visual a ser praticada no mercado e, em seguida, apontar os critérios que

podem ser considerados chaves nesta tomada de decisão.

Assim, as considerações finais estão divididas em duas partes. Na primeira, o que caminha no

sentido da não revelação, da não sistematização, suas causas e consequências. Na segunda, o

que, não obstante, pode ser pistas para uma sistematização que orientaria gestores e designers.

Não revelação e não sistematização

Se a não revelação e a não sistematização são consequências, quais seriam suas causas? A

falta de um suporte teórico consolidado e difundido? A lógica de mercado, em que decisões

são tomadas por meio de discursos competentes? O estágio de desenvolvimento e

amadurecimento do mercado de moda? Ou o processo de criação do design, que lida com

aspectos racionais e emocionais e que, com isso, dificultaria uma avaliação mais objetiva dos

critérios para a tomada de decisão?

Ausência de Suportes Teóricos

A começar pelos suportes teóricos. Nos referenciais, a pesquisa encontrou lacuna no campo

de estudo de identidades visuais (Zaichkowsky, 2010 Phillips et al, 2014). No mercado, ao

longo das entrevistas em profundidade, a pesquisa encontrou certo grau de hesitação dos

gestores ao abordar especificamente o assunto identidade visual. Além da hesitação, a

intuição foi a explicação para muitas das decisões, já que testes empíricos validaram uma

série de decisões nos processos de revitalização da identidade visual sob gestão dos

entrevistados. Tal hesitação foi sentida por uma constante gravitação entre abordar aspectos

conceituais e visuais na condução das respostas. Gravitavam entre falar da marca de uma

maneira ampla e de seus aspectos visuais60. Tal hesitação foi sentida também por certo grau

de indefinição sobre a escolha do que seriam os termos mais apropriados para determinado                                                                                                                          60 Não se pode perder de vista que a entrevista é um diálogo entre um gestor, que cuida de aspectos diversos da marca, e um pesquisador, que tem formação em design com trajetória em construção de identidades visuais.

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tópico. O suporte teórico, especificamente sobre critérios para a tomada de decisão, não foi

mencionado – o que justifica as lacunas do referencial teórico. Uma hipótese para a não

revelação ou não sistematização é que na ausência de suporte teórico, a intuição e o empírico

conduzem o desenvolvimento dos processos de identidade visual.

É importante destacar que a metodologia de agências de Branding e design foi mencionada

como orientadora das decisões em alguns casos, o que nos leva para o segundo tópico: a

lógica de mercado dos discursos competentes.

Lógica dos Discursos Competentes

Quadro  1  –  Interferências  na  comunicação  entre  gestor  de  marca  e  designer  Fonte:  autoria  própria  

Retomando a figura acima, que procura pontuar interferências na comunicação entre gestor de

marca e designer no momento da tomada de decisão, tem-se de um lado o designer com sua

capacidade de expressão visual e, do outro, o gestor com o seu repertório. Entre ambos, um

campo de autoridade e argumentação.

Agências de Branding e design desenvolvem metodologias que orientam e conduzem

processos de criação diversos, entre eles o desenvolvimento da revitalização de uma

identidade visual. De maneira ampla, conduzem estudos específicos, recorrem a referenciais

teóricos, articulam defesas e argumentações e apresentam cases de sucesso de sua trajetória.

Além disso, difundem sua metodologia no mercado por meios diversos: eventos, redes

sociais, cursos de graduação, pós-graduação, MBAs, entre outros. Assim, a agência causa

impacto na formação de profissionais que podem vir a exercer a função de gestores de marca.

Desenvolvem, ainda, estudos que se tornam referência no mercado61. Tais aspectos da

dinâmica das agências refletem uma busca de desenvolvimento do método e de indicadores

                                                                                                                         61Alguns exemplos: Ranking das Marcas mais valiosas da consultoria Interbrand http://interbrand.com/best-brands/best-global-brands/2016/ranking/ TIP – transparência, inspiração e propósito da agência Ana Couto Branding – http://www.anacouto.com.br/tip/

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que também corroboram para o desenvolvimento de autoridade. São aspectos que validam seu

discurso competente e influenciarão uma tomada de decisão no diálogo com um gestor, por

exemplo.

Agências, no entanto, são concorrentes entre si, logo suas metodologias e terminologias

também o são. Não são unificadas. “Não sei o que significa identidade visual para você, mas

para mim (...)” (Carlos). O trecho do depoimento de Carlos nos dá uma pista de certa

característica do mercado em que termos e nomenclaturas distintos podem abordar assuntos

semelhantes e vice-versa. Tal agência chama de identidade, outra pode chamar de

personalidade. O que é visão para uma pode ser missão para outra. E assim segue.

Gestores, por outro lado, ao longo de sua trajetória e formação entram em contato com

diversas dessas metodologias das agências. Além disso, muitas empresas onde trabalham

desenvolvem sua própria terminologia, sem perder de vista que o repertório do gestor é

impactado por seus próprios colegas de empresa – que, por sua vez, ao longo de suas

trajetórias e formações particulares foram impactados por metodologias diversas.

Deste item pode-se inferir que a imprecisão de termos praticada pelo mercado corrobora para

a hesitação dos gestores sobre termos específicos, o que foi notado nas entrevistas. Além

disso, pode-se inferir que um gestor ao contratar uma agência contrata também a autoridade

de discursos competentes que pode contribuir para desenrolar um processo dentro da própria

empresa, cujos tomadores de decisão têm formação e repertórios distintos. A agência, por sua

vez, utiliza a autoridade do discurso competente como dispositivo para influenciar decisões.

Estágio de desenvolvimento e amadurecimento do mercado de moda

Segundo Aaker (1991), Brand equity se tornou o assunto mais discutido entre os gestores no

final dos anos 80, época em que profissionais como Roberto, Adriana e Glória já estavam

atuantes no mercado. O depoimento deles é marcado pelo fato de que começaram a

desenvolver seus trabalhos antes da estruturação de uma faculdade voltada para a moda e/ou

antes de uma preocupação mais estruturada com marca, por exemplo. Roberto afirma que a

profissionalização do mercado de moda se acentuou com a chegada de grupos estrangeiros ao

mercado e pelo advento de fundos de investimento comprando marcas e estruturando sua

gestão. Dentre as marcas desta pesquisa, Zinco faz parte do Morena Rosa Group, que possui

investimento da Tarpon Investimentos; Rosa Chá faz parte do grupo Restoque; Schutz é uma

das marcas da Arezzo&CO; Ellus faz parte da Inbrands; e Farm faz parte do Grupo Soma. A

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formação desses grupos que estruturam a gestão se deu nos últimos 10 anos. Logo, todos se

encontram em processo de evolução de práticas de gestão, dentre eles a gestão de marcas.

Além disso, uma das tônicas da dinâmica deste mercado é a troca de profissionais. Dos seis

gestores entrevistados, dois já não se encontravam mais na marca que revitalizaram.

Daqui se conclui que tanto o processo de consolidação das práticas de gestão em marcas de

moda quanto a troca de profissionais – dentre eles os próprios gestores – pode contribuir para

uma dificuldade de registro de processos e práticas. Histórias de superação, dificuldade e

aprendizado na prática, orientadas por motivações próprias, estão no depoimento da maioria

dos entrevistados. Trata-se da técnica “da garra” e da prática. É desse repertório do gestor e

de seu grupo, vindo deste contexto, que se formam os orientadores da tomada de decisão.

Há de se registrar, neste momento, o papel das agências como o perito que sistematiza e

documenta processos e diretrizes para as marcas, e que ainda serve como orientação para

novos gestores e profissionais que entrem nas marcas em um cenário de troca de

profissionais.

Design: aspectos racionais e emocionais

O depoimento de Olins (2014) é particularmente emblemático, pois informa que deve haver

lugar para intuição, emoção e coração para além do rigor, cérebro e racionalidade.

And then, assuming for the moment that brands don’t die and that there will always be plenty of them around, who’s going to build and sustain them? And what will happen to the brand consultancy business? Will it increasingly rely on metrics, quantification and ‘scientific” research? What about flair and intuition in the creation and sustainability of brands? Will this disappear and be replaced by bland work created entirely out of ‘rigorous’ analysis? Put another way, Will be yet another face-off between rational and emotional, rigour and intuition, head and heart? (Olins, 2014, 2)62

Em concordância, Pombo e Tschmmel (2005) registram o processo de design a partir da

dualidade homo sapiens-demens (Foucaut, 1980) em que se mapeiam também os dois lados

de um processo de design.

                                                                                                                         62 “Então, se assumirmos por um momento que marcas não morrem e que sempre haverão muitas ao nosso redor, quem vai construí-las e sustentá-las? E o que acontecerá com as consultorias de Branding? Elas vão contar cada vez mais com métrica, pesquisa quantificada e “científica”? E o faro e a intuição na construção e sustentação de marcas? Vão desaparecer e serem substituídas por um trabalho sem graça criado inteiramente à luz de uma análise “rigorosa”? Em outras palavras, ainda haverá confronto entre o racional e o emocional, o rigor e a intuição, a cabeça e o coração?” (tradução livre)

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Figura  24  –  Processo  de  criação  esquematizado  Fonte:  Criação  do  autor  a  partir  de  Pombo  e  Tchimmel,  2005.  

Partindo das palavras de Olins, a natureza dos processos de design, portanto, já incorpora a

intuição e o coração como variáveis emocionais da equação de desenvolvimento de um

projeto. Na prática, Giovanni dá um depoimento exemplar deste contexto ao explicitar o

papel da intuição:

“Eu acho que quando você pensa demais, o negócio sai muito burocrático. O que é legal do nosso trabalho é que não tem muita explicação (...) do por que eu fiz aquilo, não. Há uma intuição grande e, na prática, a princípio, deu certo”. (Giovanni)

Tais características podem dificultar uma abordagem mais objetiva de avaliação de um

processo de design e seus resultados. Por consequência, são fatores que implicam uma não

revelação ou uma não sistematização mais precisa de critérios para a tomada de decisão.

Tem-se aqui um painel de elementos que contribuem para a não revelação ou para dificultar a

sistematização. Em síntese: a falta de um suporte teórico, a lógica de discursos competentes, o

estágio de desenvolvimento do mercado de moda e a natureza emocional e racional de um

processo de design. É importante notar que tais fatores se correlacionam. A falta de suporte

teórico pode ser tanto um dos fatores que causa uma lógica de discursos competentes, como o

contrário. Da mesma forma, a natureza emocional e racional do processo de design pode ser

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uma das causas da falta de suporte teórico e da lógica do mercado. Ao mesmo tempo, não se

pode negligenciar a dinâmica e a prática de um mercado em desenvolvimento, como o de

moda, que se somam a estes outros fatores.

O que se pode sistematizar?

Na etapa de análise das entrevistas, refletiu-se item a item sobre os critérios elencados dos

referenciais teóricos. Não se pretende aqui fechar um modelo definitivo para que gestores e

designers usem para a condução da sua tomada de decisão. O que se deseja é contribuir de

três formas:

• Nomear e dar um campo de definição para termos que qualificam o desempenho de

uma identidade visual, os critérios.

• Localizar os critérios em uma narrativa que facilite o entendimento e o diálogo entre

designers e gestores.

• Estabelecer correlações entre critérios que fortaleçam a discussão e orientem

avaliações.

Voltando aos critérios. Por liberalidade, procurou-se na etapa de formulação do roteiro das

entrevistas não filtrar termos vindos dos referenciais que fossem parecidos. Buscou-se, assim,

a percepção dos entrevistados numa visão ampla de critérios para a tomada de decisão.

Retomam-se aqui os critérios:

 

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Critérios

O que uma identidade visual faz?

1. Expressar o não tangível da marca (negócio, personalidade, ideia, valores)

Como uma identidade visual deve ser?

2. Dierenciada

3. Singular

4. Flexível

5. Coerente, consistente, congruente

6. Ter significado

7. Autêntica

8. Durável

Para que se faz uma identidade visual?

9. Relevância para consumidores

10. Reconhecimento de marca

 

Quadro  5  –  Critérios    Fonte:  autoria  própria  

Por se tratar de dez critérios, agruparam-se conjuntos de acordo com sua relação com a

identidade visual da marca. As questões norteadoras: A que demanda de desempenho da

identidade visual tais critérios estariam respondendo? Esta estratégia foi inspirada nos

modelos estudados? O Prisma de identidade de marca de Kapferer (2007) e o modelo de

Conhecimento de marca de Keller (1993) estabelecem posições e relação entre seus itens e,

desta forma, conseguem ser mais claros nas suas definições e desenvolvimento.

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Assim, na análise dos critérios, um deles se mostrou mais amplo e poderia responder a O que

uma identidade visual faz? Outros poderiam estar agrupados em conjuntos que responderiam

a Como uma identidade visual deve ser? ou Para que se faz uma identidade visual? também

tendo como referência Kapferer (2007)63. Tais grupos poderiam estar ordenados como etapas

entre dois polos: o emissor e o receptor da informação. No âmbito desta pesquisa: a Marca

(em específico a sua Identidade Visual) e as Pessoas (representada aqui por Stakeholders)64.

 

Figura  577  –  Identidade  visual:  o  que,  como  e  para  quê    Fonte:  autoria  própria  

Voltando-se para uma sala de reunião, no momento em que se começa um diálogo sobre as

percepções de uma marca apresentada, as três perguntas podem ser uma pista de como se

orientariam as discussões. Avalia-se o que a identidade visual deve fazer para, em seguida

avaliar como ele deve ser e, ainda, para quê; tendo sempre como referência quem será

impactado pela identidade, as Pessoas.

Os dez critérios já haviam sido previamente organizados nestes grupos. Mas como se

relacionam? Se os três conjuntos foram definidos como etapas, qual seria a recomendação de

sequência? A partir daqui se esquematiza uma ordenação.

                                                                                                                         63Kapferer no Prisma de identidade de marca posiciona os conceitos entre um emissor e um receptor da informação. 64A opção por Stakeholder se deu por um entendimento amplo de que uma identidade visual não impacta somente os consumidores, mas colaboradores, parceiros, formadores e opinião entre outros.

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Figura  588  –  Identidade  visual:  correlação  entre  critérios  Fonte:  autoria  própria  

1. Expressar o não tangível da marca

O primeiro item elencado como critério e que responde à pergunta O que uma identidade

visual deve fazer? é Expressar o não tangível. A noção de que a identidade deveria

expressar este algo não tangível foi unânime entre os entrevistados e encontrou respaldo em

Keller (1993), Kapferer (2007), Wheeler (2009), Campbell (2015) e Zaichkowsky (2010). Ao

longo do referencial e da análise das entrevistas concluiu-se que este não tangível pode ser a

natureza do negócio, uma personalidade que quer se construir, a história da marca, valores ou

visão da empresa. Em síntese, expressar conceitos abstratos da marca. Na estratégia da marca

Zinco, a identidade visual precisava expressar humor, por exemplo.

Neste sentido, ao avaliar uma identidade visual, pode-se propor como primeira pergunta:

O que queremos transmitir em termos de personalidade (e/ou história e/ou natureza de

negócio e/ou valores e/ou visão) da marca está expresso na identidade visual?

2. Autenticidade

Respondida esta pergunta, entra-se na etapa de Como uma identidade visual deve ser? Um

dos itens que gerou mais reflexão por parte dos entrevistados foi a autenticidade, exatamente

por qualificar o não tangível da marca. Na figura XX, aparece como item seguinte a este. Por

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definição nos referenciais teóricos (Wheeler, 2009 e Kapferer, 2007), autenticidade se

relaciona ao autoconhecimento da marca, sua história, sua natureza e do que promete. Um

logo (símbolo + logotipo) deveria ser a maior síntese dessa autenticidade.

Nas entrevistas, a autenticidade foi considerada como um dos principais fatores de sucesso de

uma marca, de maneira geral. Além disso, foi destacado como atributo no desenvolvimento

da personalidade, filtro para coerência e fator de diferenciação. Para que a marca não seja

“uma colagem de coisas já vistas” (Carlos), ou seja uma marca “me too” (Roberto).

Nesses conjuntos de definições teóricas e reflexões dos entrevistados sobre autenticidade, o

limite do que pode ser atribuído em específico à identidade visual (e não à marca de uma

maneira ampla) é impreciso. No entanto, o conjunto dos elementos da identidade visual deve

estar permeado de características que reflitam o que foi apontado como estratégico para a

estratégia da marca.

Utiliza-se aqui também o exemplo da Zinco para ilustrar o ponto. Humor era um dos atributos

de personalidade a se expressar. O modo de expressar humor é que deveria ser autêntico.

Neste caso, o que é autêntico para a Zinco é o humor dos memes65 do cotidiano e daqueles

que brincam com o que é clichê na moda.

Assim, outra pergunta poderia ser feita para avaliar: Esta identidade visual está

expressando o que somos de uma maneira autêntica – compatível com nossa natureza de

negócio, nossa história, nossa personalidade?

A partir da autenticidade, abrem-se cinco critérios que respondem à pergunta de como deve

ser um identidade visual: significado, diferenciação, coerência, flexibilidade e durabilidade. O

bom desempenho destes critérios terá como consequência o reconhecimento de marca – item

seguinte (Vide figura 48).

3. Significado

Um Significado claro que é capaz de comunicar com os públicos da marca foi apontado

como importante para os entrevistados. Para Wheeler (2009), os símbolos são os grandes

veículos do significado e Kapferer (2007) afirma que o significado contribui para o

                                                                                                                         65 Memes são elementos da cultura popular que encontram ampla repercussão nos ambientes virtuais. (http://www.museudememes.com.br/o-que-sao-memes/)

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reconhecimento da marca. Em síntese, pessoas memorizam mais facilmente simbologias que

entendem.

Voltando ao exemplo da Zinco, a identidade foi estruturada com a busca por alguns

significados: as letras invertidas pretendem transmitir uma atmosfera de brincadeira, a

possibilidade de substituir letras por ícones irreverentes e claros (como a “boca com a língua

para fora” e o “arco-íris”) ampliam o campo de significado e reforçam essa atmosfera de

brincadeira.

Assim, uma pergunta subsequente para avaliar uma identidade visual seria: Essa identidade

possui significado claro para nossos públicos?

4. Diferenciação

Diferenciação nos referenciais teóricos é abordada como item que alavanca o Brand equity

(Keller, 1993), é um dos Ideais de marca (Wheeler, 2009) e deve ser um dos objetivos de uma

identidade visual (Kapferer, 2007). Nas entrevistas, observa-se que muitas vezes pela

necessidade de seguir tendências, os produtos em si não serão tão diferenciados, porém há um

entendimento de que se devem entender os códigos de práticas de determinado segmento e

articular ações ou pontos de diferenciação perante os concorrentes. A diferenciação deve estar

compatível com a personalidade que se quer expressar e com o que é autêntico da marca. Daí

fica clara a conexão entre expressar algo não tangível, autenticidade e diferenciação,

apresentada na figura 48.

Nos referenciais teóricos, diferenciação e singularidade aparecem de modo encadeado:

quando Keller (1993) elabora as medições de Brand equity, aborda singularidade como

caminho para diferenciação para os públicos da marca. Segundo ele, para um Brand equity

forte, consumidores devem poder não só diferenciar associações de uma marca perante os

seus concorrentes, como também saber listar os itens singulares da marca.

Nas entrevistas, outro conceito – a singularidade – criou dúvidas, em especial com o conceito

de autenticidade e diferenciação. Além disso, em virtude da quantidade de marcas que

existem hoje, uma singularidade plena foi apontada como fator complexo a ser atingido. E

que seria mais factível conquistar diferenciação no seu mercado. Por isso, para uma

simplificação de critérios, singularidade será suprimido como critério. Como nas definições

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200    

   

de diferenciação, aparece a ideia de singularidade, mas será utilizada apenas diferenciação na

lista de critérios finais.

No case da Zinco, nenhum dos concorrentes apresentou uma personalidade irreverente. As

cores azul, vermelho e branco foram escolhidas como principais por não serem usadas pelos

concorrentes. As simbologias divertidas e a possibilidade de acoplar conteúdos à marca foram

decisões que buscavam a diferenciação.

A pergunta a se fazer neste item seria: Esta identidade visual possui recursos que a

diferenciam das demais do mercado?

5. Coerência

Este critério foi apresentado como um conjunto de três conceitos: coerência, consistência e

congruência. No referencial teórico, Zaichkowski (2010) atenta para a importância da

coerência de uma identidade visual ao se desdobrar em todos os pontos de contato. Kapferer

(2007) considera a emissão de sinais coerentes como dever das marcas. Coerência também é

um dos ideais de identidade de marca para Wheeler (2009), definida por ele como

consistência em cada manifestação da marca. Para Keller (1993) congruência de associações

de marca se mede pelo quanto de conteúdo e significado se compartilha entre uma associação

e outra. Como se vê, os três termos possuem convergência de significado. Pela sua maior

abrangência de significado, coerência será usada como termo do critério.

Nas entrevistas, identificam-se dois significados principais do termo. O primeiro é a coerência

com campo conceitual da marca, com idéias e características que a marca pretende transmitir.

Sob a ótica dos critérios elencados aqui: coerência com o conceito não tangível que se quer

expressar e com o que lhe é autêntico. O segundo significado é a coerência entre as

dimensões físicas da marca, ou seja, os pontos de contato da marca devem ser coerentes entre

si. Por isso, a conexão na figura 48, entre autenticidade e coerência, e desta para o

reconhecimento de marca.

Há duas perguntas para o critério: O sistema de identidade visual é coerente com a

personalidade (ou outro não tangível) e o que é autêntico para a marca? Proporciona

pontos de contatos coerentes entre si?

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6. Flexibilidade

De certa forma, este critério faz um contraponto com o anterior, a coerência. Trata-se da

flexibilidade. Ao abordar a evolução ou a adaptação do negócio e a performance nas

diferentes etapas e dimensões da gestão de uma marca, Kapferer (2007), Campbell (2015),

McQuarrie e Phillips (2014) concordam que uma identidade visual deve ser flexível – o que

Kapferer chama de marca como um sistema vivo. Em concordância, numa abordagem de

mercado, Wheeler (2009) vai afirmar que sistemas de identidades precisam ser flexíveis e

abertos a mudanças de mercado e inovações.

De fato, nas entrevistas, uma identidade visual flexível vai cumprir uma série de demandas

apontadas pelos gestores: de se expressar em mídias de contexto e limitações técnicas

distintas, de ser capaz de absorver conteúdos diversos, de ser reconhecida em linhas de

produtos com processos de produção e materiais distintos, de ser capaz de se adaptar e evoluir

com o mercado.

Se coerência em excesso deixa o sistema muito rígido, flexibilidade em excesso dissipa a

força das associações da marca. Os dois critérios, portanto, precisam ser equilibrados para que

haja o reconhecimento de marca.

No caso de Zinco, as variações do sistema de identidade visual permitem dialogar com a

mídia pela qual ela se expressa. Os elementos foram testados para o meio digital e meios

físicos em níveis de impacto de comunicação distintos, considerando suas limitações técnicas

e o contexto em que o consumidor interage com os pontos de contato. Além disso, foram

projetados para incorporar diferentes conteúdos e contextos no processo de evolução e

adaptação da marca. Tais conteúdos podem ser promoções e características de coleções ou

adaptações de posicionamento exigidas pelo mercado. No desenho abaixo, expressões da

marca nos diferentes meios.

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Figura  599  –  Identidade  visual  da  Zinco  testada  em  diferentes  meios:    1  –  digital  //  2  –  impresso  em  papel  //  3  –  impresso  em  tecido  //  4  –  com  imagens  fotográficas  //  5  –  em  costura,  bordado  e  ferragem  Fonte:  Ana  Couto  Branding,  2015  

A pergunta para este critério seria: O sistema de identidade visual é flexível para

performar em mídias distintas? Além disso, ele é capaz de incorporar contextos diversos

no processo de evolução da marca?

7. Durabilidade

Durabilidade é mais um critério que provoca reconhecimento de marca. Nos referenciais

teóricos, Kapferer (2007) diz que um símbolo (parte integrante de uma identidade visual) é

como um sinal permanente que dá durabilidade a uma marca e permite que uma empresa

possa capitalizá-la com significados. Já Wheeler (2009) trata a durabilidade como um dos

ideais de uma identidade de marca, cujo reconhecimento e familiaridade derivados da

durabilidade darão segurança aos consumidores, bem como a capacidade de transcender a

mudanças do mercado e de ser fiel a uma ideia central.

Os entrevistados entendem que um sistema de identidade visual de marca deve ser planejado

para durar. Embora a moda tenha como premissa a renovação, o sistema de identidade visual

deve se manter para que os consumidores consigam reconhecer a marca ao longo de sua

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trajetória. A prática está, portanto, em concordância com a teoria.

Por outro lado, os entrevistados apontam que, atualmente, as marcas têm que se adaptar e

evoluir em ciclos que podem levar de sete a quinze anos. Não se trata aqui de marcar uma

data de validade, mas sim de se ter o entendimento de que a durabilidade de uma identidade

visual vai sofrer ação de outras forças, como necessidade de adaptação a demandas do

mercado e tecnologia, contidas, como se viu anteriormente, no critério flexibilidade. Conclui-

se, então, que durabilidade e flexibilidade66 são forças que podem se opor no exercício de

gestão de marca e, dependendo da demanda da estratégia da marca, tanto uma quanto outra

podem ser priorizadas.

No case de Zinco, as decisões de escolha de logotipo com tipografias simples e padronagens

que podem variar de intensidade se deu porque são elementos que possibilitam a identidade

visual transcender modismos e se adaptar.

Assim, a pergunta para este critério seria: O conjunto do sistema de identidade visual é

durável? Manterá sua performance transcendendo modismos?

Os dois critérios seguintes respondem à pergunta Para que se faz uma identidade visual?

8. Reconhecimento de marca

Na figura 48, o bom desempenho dos cinco critérios (significado, diferenciação, coerência,

flexibilidade e durabilidade) impactam diretamente no reconhecimento de marca. Trata-se,

portanto, de um critério composto por uma série de variáveis, entre elas, como se vê alguns

dos critérios elencados na pesquisa.

No referencial teórico, Keller (1993) vai tratar reconhecimento de marca como um dos itens

que medem consciência de marca dentro de Brand Awareness e define o reconhecimento a

partir de algum estímulo previamente visto. Afirma também que a base de um bom

reconhecimento é a familiaridade. Kapferer (2007) acrescenta que no meio de tantas opções,

as marcas devem ser reconhecidas como atalhos que promovem confiança e certeza, dessa

forma, reduzindo o risco e o tempo de compra.

                                                                                                                         66flexibilidade dialoga tanto com coerência quanto com a durabilidade.

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204    

   

Os entrevistados apontam a importância do rápido reconhecimento ao se entrar em contato

com uma marca. E que o território visual é um patrimônio que deve ser construído e que

precisa ser bem avaliado em um processo de revitalização. Refletiu-se ainda que as grandes

marcas de moda são aquelas que têm um território visual bem estruturado e reconhecido ao

longo dos anos e que evolui respeitando esses territórios.

Assim, pelo referencial teórico e entrevistas, uma identidade visual promoverá

reconhecimento de marca se for coerente com o que lhe é autêntico, se tiver clareza de

significado, se for diferenciada das demais identidades do mercado, se for flexível para se

adaptar às demandas de mercado e aos seus pontos de contato e que, no conjunto, sejam

coerentes entre si e, por fim, durar tempo suficiente no mercado para que as pessoas a

reconheçam.

A pergunta para esse critério seria: O conjunto dos itens que analisamos desta identidade

visual até agora promoverá reconhecimento de marca para os consumidores?

9. Relevância para consumidores

Previamente, elencou-se relevância para consumidores como um item que reflete a finalidade

de se fazer uma identidade visual. Como abordado no referencial teórico, itens dos modelos

estudados como imagem de uso e usuário, benefícios experienciais e simbólicos (Keller, 1993

e Kapferer, 2007) indicavam que a identidade visual através de seus elementos como imagem,

cor e demais recursos sensoriais deve criar relevância e identificação com seu consumidor.

Zaichkowski (2010) diz que a identidade visual influencia a maneira como as pessoas

percebem a marca e seus atributos e cria conexões emocionais. Ou seja, são interfaces que

através do estímulo aos sentidos podem tornar a marca relevante.

É importante atentar para o fato de que a relevância de uma marca se dá a partir de um

conjunto de associações que abrangem todos os pontos de contato e meios que extrapolam o

campo da identidade visual. Redes sociais e relação com imprensa, por exemplo, impactam

diretamente a relevância de uma marca. As conclusões para este item vão se concentrar no

âmbito da identidade visual.

Previamente, viu-se também que relevância é composta por uma série de forças e dimensões,

sua medição é mais uma consequência da reação dos consumidores do que algo que se

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controle facilmente num processo de decisão da identidade visual. Para aferir relevância,

portanto, é provável que se exija prática e uso de pesquisas com consumidores. No caso da

Schutz, por exemplo, a loja temporária foi utilizada como laboratório de experimento e

validação da nova identidade da marca.

Um comentário importante deste item é que na amostra pesquisada, todos os gestores

reconhecem a importância de que uma revitalização é feita para os públicos da marca, em

especial para os consumidores. Nenhum dos processos, entretanto, contou com o consumidor

para a decisão. Ainda que peritos (as agências) ou a gestão de redes sociais aproximem a

percepção do consumidor do trabalho de gestão, não se utilizou de processos científicos para

capturar suas percepções. A decisão partiu de uma visão dos gestores e equipe sobre os

consumidores. Segundo a amostra da pesquisa, portanto, gestores de marca não

sistematizaram a participação do consumidor em processos como o de revitalização de uma

identidade visual.

Por fim, este critério poderia ser analisado após a reflexão dos demais, como uma validação

do conjunto da obra sob a ótica do consumidor (ou stakeholders de uma maneira geral). A

pergunta, portanto, seria: Esta identidade visual no seu conjunto será relevante para

nossos consumidores?

O quadro de critérios de escolha de uma identidade visual

O quadro a seguir é o produto conceitual desta pesquisa e a síntese do cruzamento da teoria

de sistematização de marca com a prática extraída da profundidade das entrevistas com

gestores de marca. O quadro resume e organiza os nove critérios nos três grupos: O que uma

identidade visual deve provocar? Como uma identidade visual deve ser? E para que se busca

uma identidade visual? Além disso, com o intuito de facilitar a prática, sugere perguntas a

serem feitas para a avaliação de cada um dos critérios elencados.

Voltando para a sala de reunião, a finalidade do quadro é orientar a discussão no momento de

decidir e escolher uma identidade visual.

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Critérios Perguntas

O que uma identidade visual deve fazer?

1. Expressar o não tangível da marca

(negócio, personalidade, ideia, valores)

O que queremos transmitir em termos de personalidade (e/ou história e/ou natureza de negócio e/ou valores e/ou visão) da marca está expresso na identidade visual?

Como uma identidade visual deve ser?

2. Autêntica Esta identidade visual está expressando o que somos de maneira autêntica – compatível com nossa natureza de negócio, nossa história, nossa personalidade?

3. Ter significado Esta identidade possui significado claro para nossos públicos?

4. Diferenciada Esta identidade visual possui recursos que a diferenciam das demais do mercado?

5. Coerente O sistema de identidade visual é coerente com a personalidade e o que é autêntico para a marca? Proporciona pontos de contatos coerentes entre si?

6. Flexível O sistema de identidade visual é flexível para performar em mídias distintas? Ele considera incorporar contextos diversos no processo de evolução da marca?

7. Durável O conjunto do sistema de identidade visual é durável? Manterá sua performance transcendendo modismos?

Para que se faz uma identidade visual?

9. Reconhecimento de marca O conjunto dos itens que analisamos desta identidade visual até agora promoverá reconhecimento de marca para os consumidores?

10. Relevância para consumidores Esta identidade visual no seu conjunto será relevante para nossos consumidores?

Quadro  6  –  quadro  de  critérios  de  escolha  de  uma  identidade  visual  Fonte:  autoria  própria  

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Limitações e sugestões para estudos futuros

Como destacado nas consideracões finais, a principal contribuição deste estudo de gestão de

marca de moda e identidade visual é avançar nos espaços onde a literatura teórica encontra

lacunas. Para tanto, cruzaram-se definições de uma série de autores sobre o desempenho de

uma identidade visual, tendo como base principal os modelos teóricos de Keller (1993),

Kapferer (2007) e Wheeler (2009). Tais modelos são abrangentes do ponto de vista de marca,

ou seja, consideram uma série de fatores para além de uma identidade visual. Por isso, num

viés do estudo, coube ao olhar do pesquisador a estratégia de esmiuçar onde caberia a

identidade visual em toda a conceituacão dos referidos estudos.

A pesquisa também tem dois recortes para se retomar neste momento. O primeiro é o fato de

ser um estudo cujo recorte é o mercado de moda com sua dinâmica, contexto e estágio de

desenvolvimento de gestão próprios. Portanto, não se pode afirmar que as considerações do

estudo se aplicariam para outros segmentos. Dito isso, tais considerações podem servir de

referência para estudo de outros mercados. O outro fato é que se optou na pesquisa de campo

por uma amostra de marcas que passaram por um processo de revitalizacão de identidade

visual de marca. Logo, as considerações aqui apresentadas podem não se aplicar em um

processo de criação de identidade visual de marca. Contudo, tal como o item anterior, as

considerações do estudo podem servir de referência para o avanço no estudo de criação de

identidade visual de marca.

Com relação aos nove critérios finais do estudo, mapeados nos três grupos, observa-se que

possuem complexidades e abrangência bem distintas. Tem-se critérios mais objetivos como

diferenciação e significado e outros mais amplos e complexos como relevância para

consumidores. Um possível avanço de estudos futuros seria caminhar para deixá-los mais

objetivos e práticos do ponto de vista gerencial.

Ainda sob o ponto de vista gerencial, pode-se avançar no estudo de operacionalização dos

critérios. Tanto para uma etapa de escolha como para uma etapa de implementação da nova

identidade visual, que ações podem orientar a prática dos gestores a partir dos critérios de

desempenho? Por exemplo, que itens devem ser levados em conta na prática para que uma

identidade visual seja flexível e coerente ao mesmo tempo? Que ações devem ser feitas para

que uma identidade visual seja durável ao longo do tempo? Este avanço no estudo pode

contribuir para a prática dos gestores de marca.

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Por fim, como os critérios podem evoluir a partir do olhar do público final. Se cruzarmos

teoria com visão dos gestores neste estudo, como ele poderia ser validado pelos públicos da

marca? Como consumidores, colaboradores, formadores de opinião, imprensa e demais

stakeholders percebem e reconhecem tais critérios de desempenho de uma identidade visual

como importantes no seu processo de escolha de uma marca?

   

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