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Peter HandkeOrigem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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Peter HandkePeter Handke (Griffen, Caríntia, Austria, 6 de dezembro de 1942) é um escritor escritor austríaco. É também autor de teatro, romances , poesia , argumentista e realizador de cinema.
Índice
[esconder] 1 Biografia 2 Obras 3 Fontes
4 Ligações externas
[editar] Biografia
Peter Handke foi marcado pela experiência materna, a mãe ao falecer em 1970, escreveu a impressionante Desgraça . A sua mãe tinha ido viver para Berlim para casa dos sogros, durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1948, com o seu marido e filhos abandonou o sector. O seu marido, sem papéis instalou-se na sua casa natal na Áustria. Os seus dois irmãos morreram durante a Segunda Guerra Mundial em combate. A mãe adorava-os e transmitiu a Handke a sua admiração: os três eram de origem eslovena - a população mais pobre da Áustria, e a Caríntia é uma região fronteiriça e Handke aprendeu a esloveno, logo com gosto e por decisão própria. Mais tarde viajara por lá muito sobre aquela região (escreverá sobre aquele país e traduziu mesmo alguns autores eslovenos para alemão . Em 1961, iniciou os seus estudos de Direito em Graz, cidade onde se envolverá no grupo literário Das Forum Stadtpark. Publicou o seu primeiro romance em 1965, abandonando desta forma a universidade para abraçar a carreiraliterária. Handke viveu a seguir em Düsseldorf, Berlim, Paris, Salzburgo e nos Estados Unidos da América.
Hanke causou controvérsia pelas suas declarações anti-OTAN e a favor da Sérvia. Em Abril de 1999 voltou a reafirmar a sua oposição à política belicista da OTAN e aos ataques a Belgrado.Realizou filmes e foi roteirista para o filme de Wim Wenders Die Angst des Tormanns beim Elfmeter (A Angústia do guarda-redes antes do penalty).
[editar] Obras
De 1966 a 1987 De 1988 até à atualidade Die Hornissen, Roman, 1966 Der Jasager und der Neinsager 1966
uraufgeführt unter der Regie von Günther Büch, Theater Oberhausen
Weissagung und Selbstbezichtigung 1966 uraufgeführt unter der Regie von Günther Büch, Theater Oberhausen
Publikumsbeschimpfung und andere Sprechstücke, 1966, uraufgeführt unter der Regie von Claus Peymann
Begrüßung des Aufsichtsrates, 1967 Der Hausierer, 1967 Kaspar, 1967, uraufgeführt am 11.
Mai 1968 am Theater Oberhausen unter Regie von Günther Büch
Deutsche Gedichte, 1969 Die Innenwelt der Außenwelt der
Innenwelt, 1969 Prosa, Gedichte, Theaterstücke,
Hörspiele, Aufsätze, 1969 Das Mündel will Vormund sein,
Regie: Claus Peymann, Theater am Turm, 1969
Die Angst des Tormanns beim Elfmeter, 1970, verfilmt von Wim Wenders, ORF, WDR, 1972
Geschichten aus dem Wienerwald von Ödön von Horvath, Nacherzählung, 1970
Wind und Meer. Vier Hörspiele, 1970 Chronik der laufenden Ereignisse,
1971 Der Ritt über den Bodensee, 1971 Der kurze Brief zum langen Abschied ,
1972 Ich bin ein Bewohner des
Das Spiel vom Fragen oder Die Reise zum sonoren Land, 1989
Versuch über die Müdigkeit, 1989 Noch einmal für Thukydides, 1990 Versuch über die Jukebox, 1990 Shakespeare: Das Wintermärchen,
1991, Übersetzung Abschied des Träumers vom Neunten
Land, 1991 Versuch über den geglückten Tag. Ein
Wintertagtraum, 1991 Die Stunde, da wir nichts voneinander
wußten. Ein Schauspiel, 1992, Uraufführung unter der Regie von Claus Peymann, Wien, Burgtheater, 1992
Die Theaterstücke, 1992 Drei Versuche. Versuch über die
Müdigkeit. Versuch über die Jukebox. Versuch über den geglückten Tag, 1992
Langsam im Schatten. Gesammelte Verzettelungen 1980-1992, 1992
Die Kunst des Fragens, 1994 Mein Jahr in der Niemandsbucht. Ein
Märchen aus den neuen Zeiten, 1994 Eine winterliche Reise zu den Flüssen
Donau, Save, Morawa und Drina oder Gerechtigkeit für Serbien, 1996
Sommerlicher Nachtrag zu einer winterlichen Reise, 1996
Zurüstungen für die Unsterblichkeit. Königsdrama, Regie: Claus Peymann, Wien, Burgtheater, 1997
In einer dunklen Nacht ging ich aus
Elfenbeinturms, 1972 Stücke 1, 1972 Wunschloses Unglück , 1972 Die Unvernünftigen sterben aus ,
1973, Regie: Horst Zankl, Zürich: Theater am Neumarkt, 1974
Stücke 2, 1973 Als das Wünschen noch geholfen hat.
Gedichte, Aufsätze, Texte, Fotos, 1974 Der Rand der Wörter. Erzählungen,
Gedichte, Stücke, 1975 Die Stunde der wahren Empfindung,
1975 Falsche Bewegung, 1975 Die linkshändige Frau, 1976, verfilmt
1977 Das Ende des Flanierens. Gedichte,
1977 Das Gewicht der Welt. Ein Journal,
1977 Langsame Heimkehr, 1979 Die Lehre der Sainte-Victoire, 1980 Über die Dörfer, 1981 Kindergeschichte , 1981 Die Geschichte des Bleistifts, 1982 Der Chinese des Schmerzes , 1983 Phantasien der Wiederholung, 1983 Die Wiederholung, 1986 Der Himmel über Berlin , mit Wim
Wenders, 1987 Die Abwesenheit. Ein Märchen, 1987,
verfilmt in der Regie des Autors 1992 Gedichte, 1987 Nachmittag eines Schriftstellers, 1987
meinem stillen Haus, 1997 Am Felsfenster morgens. Und andere
Ortszeiten 1982 - 1987, 1998 Ein Wortland. Eine Reise durch
Kärnten, Slowenien, Friaul, Istrien und Dalmatien mit Liesl Ponger, 1998
Die Fahrt im Einbaum oder Das Stück zum Film vom Krieg, 1999, Uraufführung am Wiener Burgtheater
Lucie im Wald mit den Dingsda. Mit 11 Skizzen des Autors, 1999
Unter Tränen fragend. Nachträgliche Aufzeichnungen von zwei Jugoslawien-Durchquerungen im Krieg, März und April 1999, 2000
Der Bildverlust oder Durch die Sierra de Gredos, 2002
Mündliches und Schriftliches. Zu Büchern, Bildern und Filmen 1992-2000, 2002
Rund um das Große Tribunal, 2003 Untertagblues. Ein Stationendrama,
2003 Warum eine Küche? (frz./dt.), 2003 Sophokles: Ödipus auf Kolonos, 2003,
Übersetzung Don Juan (erzählt von ihm selbst),
2004 Die Tablas von Daimiel, 2005 Gestern unterwegs. Aufzeichnungen
November 1987 bis Juli 1990, 2005 Spuren der Verirrten, 2006 Kali. Eine Vorwintergeschichte, 2007 Leben ohne Poesie. Gedichte, 2007 Meine Ortstafeln. Meine Zeittafeln.
Essays 1967-2007, 2007 Die morawische Nacht. Erzählung,
2008 Bis dass der Tag euch scheidet oder
Eine Frage des Lichts, Lesung in Salzburg 2008
Versuch über die Müdigkeit, 2008
Peter Handke(Escritor austríaco)6-12-1942, Griffen, Kärnten
Após interromper seus estudos de direito, Handke chamou a atenção do mundo literário em 1966 devido a sua saída intempestiva do Grupo 47, em sinal de protesto contra a concepção limitada da literatura, acusando os autores contemporâneos de "impotência para a descrição". Opunha-lhes seu próprio programa de reconstrução estética da literatura e um novo reconhecimento da capacidade de provocação da linguagem. Essa posição ficou
claramente ilustrada nas suas peças teatrais Insultos ao Público (1966) e Kaspar (1968), nas quais se mostrava partidário do intimismo (nova subjetividade). Handke manifestou-se igualmente provocador em obras como Uma Viagem aos Rios Danúbio, Save, Morávia e Drina: Justiça para a Sérvia (1966), um livro controverso de viagens em que o autor tenta formular uma imagem oposta à que os repórteres de guerra ocidentais apresentam, em geral hostil aos sérvios. Outras de suas obras mais importantes são a coletânea de contos intitulada A Angústia do Goleiro Diante do Pênalti (1970), com versão cinematográfica de Wim Wenders de 1971, com o nome de O Medo do Goleiro Diante do Pênalti; A Mulher Canhota (1976), transposto para o cinema pelo próprio Handke em 1977; A Tarde de Um Escritor (1987); A Ausência (1987); e a peça de teatro A Hora em Que Não Sabíamos Nada Uns dos Outros (1992).
A primeira vez que veio a Portugal, Peter Handke percorreu o país, de lés a lés, de mochila às costas. Agora, na sua primeira visita ‘oficial’, queixa-se de estar enclausurado num hotel de cinco estrelas em Cascais. Isto apesar da magnífica vista sobre o oceano. O pretexto foi o EFF, onde o escritor esteve a apresentar dois filmes que realizou e outros quantos que escreveu o argumento com e para Wim Wenders. De momento, já não tem asas para o cinema. Dedica-se de corpo e alma à escrita, o país onde decidiu morrer.
É autor de um dos mais belos guiões da história do cinema, As Asas do Desejo. Acredita em anjos?Peter Handke: Quando escrevi o texto para As Asas do Desejo não acreditava. Mas com a idade passei a acreditar. Acredito em anjos da guarda. Não sei se cada pessoa tem um. Mas sinto que algumas vezes sou protegido por um anjo, que me avisa quando estou a cair. Pede-me que preste atenção a coisas importantes. Ele diz-me: «Abranda, não andes sempre a correr».
Deve ser muito difícil trabalhar com Wim Wenders, num projecto tão pessoal, artístico e filosófico quanto As Asas do Desejo. Como aconteceu?Na verdade, a ideia não foi minha. Não escrevi o guião propriamente dito, apenas alguns textos, monólogos e situações. Ele adaptou-as ao filme. A história surgiu durante a montagem.
Mas acompanhou todo o processo?Apenas a parte final. De início, não assisti às filmagens. Estava na Áustria, e o Wim Wenders em Berlim. Eu escrevia diariamente. E enviava sonhos e monólogos pelo correio. Muitos deles não foram utilizados. Depois estive lá, em Berlim, durante a montagem. Insisti que a linguagem devia ser a coluna vertebral. Sem ela o filme não teria funcionado.
Trabalhou com Wim Wenders em outros filmes. Gostaria de voltar a fazê-lo?Sim. Mas estamos numa outra fase. O cinema dele já não é a mesma coisa. Tem outras preocupações. A verdade é que, hoje em dia, se tornou mais difícil o financiamento de um filme. E comigo como argumentista provavelmente não conseguiria recolher dinheiro nenhum.
Os seus guiões têm uma forte componente literária. Contudo, é comum pensar-se que os guiões são textos técnicos e frios com o objectivo funcional de proporcionar a realização de um filme. Acha que os guiões podem ser considerados literatura?É perigoso que um guião se torne literatura. Mas não consigo evitá-lo. Também há demasiada literatura nos guiões de Antonioni. Contudo, ao ver os filmes, apercebemo-nos que esta desaparece. Acho que não é assim tão problemático que o argumento tenha literatura. O realizador pode depois silenciá-la se achar conveniente. Foi o que fez Antonioni e Wim Wenders. Mas Movimento em Falso foi o único guião escrito mesmo para o Wim Wenders. Em A Angústia do Guarda-Redes no Momento do Penalty ele simplesmente adaptou o meu livro.
Os seus guiões são literários, mas os seus livros tendem a ser cinematográficos. Em quê que ficamos?É verdade que, por vezes, enquanto escrevo um romance digo a mim próprio: «Imagina-o como se fosse um filme». Tal ajuda-me a afastar-me, a ter outra perspectiva, a ver melhor. Sou o médico de mim próprio.
Quando lhe surge uma ideia, como é que sabe se vai resultar num guião, num romance ou numa peça de teatro?Sou um escritor, um contador de histórias. Quando estou a escrever sinto-me em casa. Sempre que fiz guiões não me senti em casa, obrigo-me a ser uma outra coisa, não sou um guionista por natureza. Quando estou a escrever prosa, sozinho, distante de tudo, sinto-me a mim próprio, sinto-me um operário.
Porque é que a determinada altura quis realizar os seus próprios filmes. Não se sentia satisfeito com o que faziam dos seus guiões?Não sei bem porque o fiz. Na altura, em que realizei The Abscence era bastante mais simples para um escritor fazer um filme. Para mim foi mesmo demasiado fácil. Hoje em dia não o faria. Os jovens realizadores precisam de dinheiro para as suas produções, e eu não quero competir com eles. Acho que esses sim, deviam ser apoiados, e não os escritores, como eu. Não seria justo, porque eu não dediquei nem tenciono dedicar a minha vida ao cinema. Para mim foi uma expedição a outro país. Eu era apenas um espectador de cinema. E um escritor transformar-se em
realizador é uma espécie de conto de fadas. Esse conto já não dá. O Paul Auster tentou fazer um filme, mas a experiência também resultou mal.
Não ficou contente com o resultado dos filmes que fez?Fiquei agradecido, mas não contente. Foi uma experiência muito profunda, apercebi-me de que podia trabalhar com outras pessoas, estar atento a tudo, e acreditei que poderia ser assim. Enquanto filmei, senti-me mais real do que enquanto escrevia. Mas quando o filme acabou, apercebi-me da farsa. Aquela não era a minha vida.
O austríaco Peter Handke, 67, escolheu como personagem para seu romance "A Perda da Imagem ou Através da Sierra de Gredos", que é lançado agora no Brasil, uma banqueira que decide fazer uma completa revisão de sua vida. O livro foi lançado em 2002 na Europa, bem antes do quase colapso econômico que deixou o sistema financeiro em xeque e arrasou a imagem de seus agentes. Pode, portanto, ser considerado uma espécie de curiosa antevisão de um mundo que precisava fazer um balanço de seus valores. Mas, como se trata do "enfant terrible" da literatura de língua alemã, um escritor de vanguarda que forçou uma revisão nos valores da geração que criou um novo realismo no pós-guerra, a obra de quase 600 páginas é escrita como parábola. Não há referências de cidades, o livro é atemporal. Trata-se de um dos trabalhos mais ousados de sua carreira. Eterno candidato ao Prêmio Nobel, o escritor, dramaturgo, poeta, roteirista e cineasta Peter Handke comenta em entrevista sua obra, porém não dá pistas sobre o espaço mítico e medieval que retrata nesse livro. Mas se disse um leitor da literatura medieval e, surpreendentemente, dos brasileiros Guimarães Rosa e Euclydes da Cunha. Handke fala das consequências da polêmica em que se envolveu durante o conflito nos Bálcãs, quando compareceu ao funeral de Slobodan Milosevic, então acusado de crimes de guerra. Mas evita comentar as comemorações pelos 20 anos da queda do Muro de Berlim. "Sou austríaco", disse.
Literatura: "Não escrever é muito importante para mim" - Peter Handke2009-11-11
Lisboa, 11 Nov (Lusa) - Romancista e dramaturgo, poeta na juventude, com uma passagem relativamente fugaz pelo cinema como cineasta e argumentista, o escritor austríaco Peter Handke considera-se, aos 66 anos, um prosador para quem "não escrever é muito importante".
Começou por estudar Direito, mas abandonou a universidade antes de terminar o curso e publicou aos 22 anos o primeiro romance, "Os Moscardos", em 1965. Assim iniciou uma prolífica carreira como escritor.Em Portugal, onde se encontra para participar na 3.ª edição do Estoril Film Festival - com exibição hoje às 19:30 do filme "A Mulher Canhota", que realizou a partir do seu romance homónimo - estão publicadas 13 obras suas, entre romances, como "Uma Breve Carta para um Longo Adeus" e "A Tarde de um Escritor", e várias peças de teatro.
Peter Handke: Kali, uma história antes do inverno
Em seu mais recente livro, 'Kali', o escritor austríaco Peter Handke encontra, entre as rupturas do mundo contemporâneo, lugar para o lirismo e a fábula.
"Metamorfose. E então eu a vi, a que me importava desde o início da história, lá fora numa paisagem que não era de todo dissimilar da do quadro antigo, a não ser pelas árvores esparsas se mostrando sem folhas, estratificadas na amplitude da pastagem e da paisagem aquática. Ela estava lá a sós, circundada por um grande silêncio, como se acabasse de transpor um limiar, o limiar para o recôndito. Mesmo assim, continuava sendo o Ponto Morto, esse local que já se tornara mais ou menos familiar, com a mina de sal às costas dela, e agora os sinos da igreja à distância, sem edifício algum onde quer que fosse. Um céu como que amorfo; mas mirando mais de perto, uma nuvem única tomou forma. E em toda a ausência de caminhos, ao se contemplar aparecia algo como uma trilha, uma vereda ou pelo menos um fragmento disso, talvez meramente o rastro de um animal selvagem."
Narrativa de sutileza lírica
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Peter HandkeCom Kali – Eine Vorwintergeschichte (Kali, uma história antes do inverno), Peter Handke apresenta aos leitores sua mais enigmática narrativa. Com uma intensidade lírica rara na prosa contemporânea, o escritor austríaco mostra neste livro não apenas o domínio rítmico e
dramatúrgico que marca suas grandes obras, mas atinge um alto teor de concentração ao explorar as possibilidades de continuidade narrativa através de uma estrutura fragmentária.
O enredo básico, como sempre em Handke, é simples. Uma cantora retorna à sua região de nascença e resolve se estabelecer num povoado em torno de uma salina, onde encontra não apenas a criança desaparecida que estava sendo procurada por toda a população de "sobreviventes da Terceira Guerra", mas também o homem promete se tornar seu grande amor.
"Kali" se refere a "Kaliberg", mina de sal onde se ambienta a narrativa, cujo branco contrasta com a referência à divindade indiana Kali, deusa da morte e da renovação, caracterizada pela cor negra, entre outros atributos. E de fato, o forte contraste entre preto e branco também marca o suspense entre catástrofe insinuada e silêncio, entre a dramaticidade de tudo o que é descrito e a tranqüilidade do tom.
Babel contemporânea
Kali é um espaço textual de misturas e contrastes: epopéia medieval e música pop, conto de fadas com rupturas narrativas modernas, ironia romântica e discurso messiânico, investigação geológica e sublimidade poética. E neste compêndio de materiais heterogêneos e interferências diversas, uma história de amor se consuma no centro de uma mina de sal, espaço ainda intacto.
A misteriosa protagonista desta história tem o talento de reencontrar coisas, uma dessas pessoas "que se chama quando se perde uma lente de contato no cascalho". Isso também poderia se dizer do narrador, cujo olhar aguçado encontra na atualidade conflitos subliminares que parecem se manter aquém da percepção, mas minam o mundo contemporâneo com medo e isolamento.
Os personagens de Handke são sobreviventes de uma guerra que ainda se mantém latente, cada um deles "displaced person" por uma razão ou outra. "Os fugitivos de hoje se mantêm entre si. E entre si não significa entre todos os outros. É que eles provêm – de uma porta para outra, e isso dentro das casas – de regiões do mundo totalmente distintas, não entendem a língua do vizinho de porta e da língua local apenas umas frases feitas. (...) Estão em definitivo estado de choque. (...) E o choque não cede. São náufragos para todo o sempre."
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Kali talvez tenha sido o livro de Handke mais elogiado pela crítica após a publicação de seu grande "epos", Mein Jahr in der Niemandsbucht (Meu ano na enseada de ninguém, 1997). A tônica das resenhas é o lugar de destaque que o escritor austríaco mantém na literatura contemporânea de língua alemã e o alto grau de elaboração estética que já o tornou há muito tempo um clássico.
Peter Handke – Kali: Eine Vorwintergeschichte. Frankfurt/Meno: Suhrkamp Verlag, 2007; 161pp.
É também peculiar o sentimento da duraçãoem face de certas coisas pequenas,quanto mais simples mais impressionantes:daquela colherque me acompanhou em todas as mudanças de casa, daquela toalhapendurada nas casas de banho mais diversas,do bule e da cadeira de vergadurante anos guardados numa caveou arrumados em qualquer outro ladoe agora, finalmente, de novo no lugar,não no que era habitual, é certo,mas apesar disso, no seu lugar.
E finalmente:Feliz todo aquele que tem os seus locais da duração;porque, mesmo que para sempre seja forçado a partir de uma terra estranha,sem esperança de regressar ao seu próprio ambiente, não será jamais um expatriado