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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO II TRIBUNAL DO JÚRI DA CAPITAL ALEXANDRE ALVES NARDONI e ANNA CAROLINA TROTTA PEIXOTO JATOBÁ, já qualificado nos autos sob nº ...., que tramitam neste r. juízo, comparecem respeitosamente perante Vossa Excelência, por seu advogado infra-assinado, com escritório na Rua .... ...., onde recebe intimações e notificações, com base nos artigos 316 e seguintes do Código de Processo Penal, requerer a REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA pelas razões a seguir expostas: Excelência, esse r. juízo, aos 07/05/2008, decretou a prisão preventiva dos acusados, ora requerentes, por entender presentes os requisitos autorizadores para a medida extrema, contidos no art. 312 do CPP, ou seja, prova suficiente de autoria e materialidade delitiva. Restou ainda evidenciada na fundamentação da r. decisão, a necessidade da custódia como garantia de ordem pública, sob o aspecto da credibilidade da Justiça perante a sociedade, haja vista que o delito supostamente cometido pelos réus causou imensa comoção popular e repercussão midiática. Nas palavras do Nobre Magistrado a conduta dos acusados deixa transparecer que “se tratam de pessoas desprovidas de sensibilidade moral e sem um mínimo de compaixão humana”, e

Petição de Revogação de Prisão_Nardoni Com Complementações Jeferson

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EXCELENTSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO II TRIBUNAL DO JRI DA CAPITAL

ALEXANDRE ALVES NARDONI e ANNA CAROLINA TROTTA PEIXOTO JATOB, j qualificado nos autos sob n ...., que tramitam neste r. juzo, comparecem respeitosamente perante Vossa Excelncia, por seu advogado infra-assinado, com escritrio na Rua .... n ...., onde recebe intimaes e notificaes, com base nos artigos 316 e seguintes do Cdigo de Processo Penal, requerer a REVOGAO DA PRISO PREVENTIVApelas razes a seguir expostas:

Excelncia, esse r. juzo, aos 07/05/2008, decretou a priso preventiva dos acusados, ora requerentes, por entender presentes os requisitos autorizadores para a medida extrema, contidos no art. 312 do CPP, ou seja, prova suficiente de autoria e materialidade delitiva.

Restou ainda evidenciada na fundamentao da r. deciso, a necessidade da custdia como garantia de ordem pblica, sob o aspecto da credibilidade da Justia perante a sociedade, haja vista que o delito supostamente cometido pelos rus causou imensa comoo popular e repercusso miditica. Nas palavras do Nobre Magistrado a conduta dos acusados deixa transparecer que se tratam de pessoas desprovidas de sensibilidade moral e sem um mnimo de compaixo humana, e o crime imputado aos acusados acabou chamando a ateno e prendendo o interesse da opinio pblica o que, no entanto, no pode ser ignorado pelo poder judicirio.Contudo, Senhor Magistrado, data mxima vnia, a priso preventiva merece ser revogada, eis que ausentes os motivos para a subsistncia da cautela de urgncia na forma do art. 316 do CPP.Excelncia, narra a denncia que, no dia 29 de maro de 2008, por volta das 23 horas e 49 minutos,os rus, utilizando-se de recurso que impossibilitou a defesa da ofendida e objetivando garantir a ocultao de delitos anteriormente cometidos, causaram em Isabella de Oliveira Nardoni, mediante ao de agente contundente e asfixia mecnica, os ferimentos descritos no laudo de exame de corpo de delito de fls. 630/652, que por sua vez, ocasionaram a sua morte.No entanto, os requerentes, ora acusados, jamais praticaram tais atos contra a criana. Os fatos contidos na denncia no so verdadeiros, e sero devidamente provados por conta da instruo criminal. No obstante, deve-se ter em mente que, ao decretar a priso preventiva dos acusados, o Magistrado solenemente desconsiderou que os rus possuem endereo fixo no distrito da culpa; que Alexandre, como provedor da famlia, possui profisso definida e emprego fixo; que ambos os acusados no ostentam antecedentes criminais (consoante preceitua como requisito pra decretao da priso preventiva o inciso II, art. 313 do CPP); e que se apresentaram espontaneamente autoridade policial para cumprimento da ordem de priso temporria decretada anteriormente. Observe-se que a jurisprudncia ptria no admite a priso preventiva em casos tais:"A priso preventiva, pela sistemtica do nosso Direito Positivo, medida de exceo. S cabvel em situaes especiais. Aboliu-se seu carter obrigatrio. Assim, no havendo razes srias e objetivas para sua decretao e tratando-se de ru primrio, sem antecedentes criminais, com profisso definida e residente no foro do delito, no h motivos que a autorizem" (TACrimSP RT 528/315)Nota-se, ento, que imprescindvel a existncia de prova razovel perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado ( periculum libertatis ), tendo em vista que o risco de fuga no pode ser presumido, frente Presuno Inocncia. necessrio que haja fundamentao em circunstncias concretas um fato claro e determinado que indique a necessidade da medida cautelar.

Alm disso, a priso temporria anteriormente decretada em desfavor dos requerentes, como medida pr-processual, garantiu a coleta de todos os elementos de prova reputados como necessrios a fase investigativa, como oitiva de testemunhas e elaborao de laudos tcnico-periciais. Deste modo, no pode ser utilizado para justificar a severa medida o argumento de que h riscos de obstruo da instruo criminal por parte dos acusados, sobretudo quando j ficou evidente a sua inteno de colaborar com a Justia. Insta salientar que o prprio magistrado afastou a hiptese de risco de reincidncia dos rus no crime de homicdio. Por bvio, a segregao de urgncia tambm no se justifica pelo temor que os rus voltem a delinquir.Assim, restou amparar o decreto preventivo na frgil fundamentao da influncia da mdia e da opinio pblica sobre o caso. Ora, a gravidade que o delito representa perante a sociedade, por si s, no pode justificar a priso preventiva. Inadmissvel, nesse sentido, que o direito fundamental liberdade e a presuno de inocncia dos acusados sejam subestimados frente ao mero clamor social. Conforme lapidar lio de Paulo Rangel, em sua obra Direito Processual Penal, 17 edio, revista, ampliada e atualizada, Editora Lumen Juris, Rio de Janeiro 2010:Por ordem pblica: deve-se entender a paz, a tranquilidade social, que deve existir no seio da comunidade, com todas as pessoas vivendo em perfeita harmonia, sem que haja qualquer comportamento divorciado do modus vivendi em sociedade. Assim, se o indiciado ou acusado em liberdade continuar a praticar ilcitos penais, haver perturbao da ordem pblica, e a medida extrema necessria se estiverem presentes os demais requisitos legais.O clamor pblico, no sentido da comunidade local revoltar-se contra o acusado e querer linch-lo, no pode autorizar a priso preventiva. O Estado tem o dever de garantir a integridade fsica e mental do autor do fato-crime. Segregar, cautelarmente o indivduo, a fim de assegurar sua integridade fsica, transferir para o cerceamento de sua liberdade de locomoo a responsabilidade do Estado de manter a ordem e a paz no seio da sociedade reconhecendo a incompetnciados poderes constitudos de atingir os fins sociais a que se destinam.

Ademais, consoante lembra o doutrinador Aury Lopes Jr., ante a possibilidade de restrio de liberdade atravs da priso preventiva, imprescindvel um juzo srio, desapaixonado e, acima de tudo, calcado na prova existentes nos autos. A deciso que decreta a priso preventiva deve conter um primor de fundamentao, no bastando a invocao genrica dos fundamentos legais. (LOPES JR,Aury.Direito Processual Penal, Saraiva, 2014) No isso que se pode notar na deciso do juiz, fundamentada em ilaes calcadas por juzo de valor (utiliza-se expresses retiradas do senso comum popular a respeito do caso), sem ligao com a realidade ftica e probatria, ainda a ser materializada de forma efetiva e segura no decorrer do processo. Ora, a constitucionalidade da priso preventiva se baseia no seu carter instrumental, a servio do processo penal de conhecimento (instrumentalidade qualificada), e no no intuito de se fazer justia a partir de dedues prvias ao fim do devido processo legal.

Pelos motivos expostos, e assegurado pela lei, bem como pela doutrina e pela jurisprudncia, ingressaram os requerentes com a presente medida judicial, a fim de lhes ser assegurado o direito constitucional de liberdade.

Ante o exposto, requer digne-se Vossa Excelncia em revogar a priso preventiva, com a consequente expedio do alvar de soltura em favor dos acusados.

Nestes termos,Pede deferimento.

...., .... de .... de ....

_______________(advogado/OAB)