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INF ORMÁTICA ESTADO DE MINAS Q U I N T A - F E I R A , 2 5 D E A G O S T O D E 2 0 1 1 3 Uso com critério dessas ferramentas é o ideal, mas nem sempre é o que ocorre na prática REPORTAGEM DE CAPA Nem tudo é tão quanto parece bonito Claro que os programas de edição e tra- tamento de imagens que surgiram com o desenvolvimento das tecnologias computa- cionais, como o Photoshop, são bastante in- teressantes e de grande ajuda, principal- mente para o mercado publicitário. O pro- blema deles é o exagero. “O pessoal, às ve- zes, coloca muito efeito e a montagem fica falsa”, diz Rafael Passos, da agência Stalo. Ele explica que a pele tem uma textura própria, que deve ser mantida. “Muitas vezes, o usuário começa a limpar as imperfeições e manchas e a pessoa passa a parecer uma bo- neca, o que é feio”, complementa. Nas agên- cias, são menos comuns os erros causados pelo exagero. Mas no meio doméstico... “Fica feio. Horrível mesmo”, opina o su- pervisor de vendas Marco Vieira, 29, que utili- za o Aperture – programa de gerenciamento e edição de imagens criado pela Apple – para trabalhar imagens no seu computador. “Mas sem errar a mão”, diz ele, ressaltando que usa filtro de luz, brilho, e quando faz retoque é pa- ra tirar pequenas marcas de espinhas, por exemplo. Para ele, nem toda fotografia preci- sa de alteração. Algumas, inclusive, quando recebem tratamento exagerado, se tornam ri- dículas. “Na hora que você vê a foto, até assus- ta.” Se quem está acostumado a usar esses programas fica assustado, imagine então quem vê. Na internet, não é difícil encontrar imagens de pessoas comuns e de celebrida- des em fotografias, digamos, exóticas. TRATAMENTO SEM CURA O coordenador de ensino da Escola de Imagem, Henrique Ribas, ao ressaltar a necessidade de critérios na ho- ra de usar os programas e aplicativos disponí- veis atualmente no mercado, destaca que o Photoshop é uma ferramenta de plástica vir- tual. Com ele é possível obter muitos resulta- dos interessantes, como aumentar seio, dimi- nuir cintura etc. “Mas se não souber como usar, aí teremos um problema”, explica. O uso com parcimônia é necessário, mas nem sempre encontrado na prática. Na web, as “pérolas” da fotografia trata- da podem ser encontradas em sites como o Photoshop Disasters (www.psdisasters.com) e o Pérolas do Photoshop (www.perolasdo- photoshop.blogspot.com). As cantoras Ma- donna e Beyoncé, além de modelos da grife Ralph Lauren e Victoria’s Secret, aparecem, nesses endereços, em imagens que foram modificadas sem obedecer à proporção. Nem todos, porém, parecem querer es- conder a passagem do tempo ou alterar imagens. “Fiquei com cara de político baba- ca”, disse Caetano Veloso, em entrevista na TV a Jô Soares, se referindo à foto em que aparece, com rugas suavizadas, ao lado de Gal Costa, na capa da revista Rolling Stone, de julho. (Colaborou Anderson Rocha) Na foto da embalagem, biscoito de cho- colate delicioso, com brilho, cremoso. Na prática, seco, pequeno e feio. O que fazer? Vale aí um processo, segundo informa Fernanda Paula Diniz, especialista em direito privado e professora da PUC Minas, explican- do que, de acordo com o artigo 37 do Código de Defesa do Consumidor, é proibida toda pu- blicidade enganosa ou abusiva, que altera ou omite informação sobre um produto. De ló- gica semelhante, imagens retocadas por pro- gramas de edição também podem ser alvo de processo. No início deste mês, no Reino Uni- do, fotografias da atriz Julia Roberts para a em- presa de cosméticos Lâncome, da L’Oreal, tra- tadas em computador, foram retiradas de circulação sob a alegação de que eram enga- nosas. No Brasil, o Projeto de Lei 6.853, do ano passado, está em análise na Câmara Federal. Pela “Lei do Photoshop”, toda imagem publi- citária manipulada deverá vir com uma ad- vertência. O projeto, do deputado Wladimir Costa (PMDB-PA), propõe que quem des- cumprir a determinação está sujeito a mul- ta de R$ 50 mil reais. Para Fernanda Diniz, a proposta é positiva. “Algumas fotografias induzem, por exemplo, a pessoa a correr atrás de uma magreza que, entre outras coisas, é prejudicial à saúde”, afir- ma. Ela reitera, porém, que alterações na ima- gem não são ilegais, desde que haja consenti- mento entre as partes. “Se em um contrato de pacote de fotografias para uma formatura a empresa contratada, por exemplo, usou recur- sos de Photoshop nas fotos e os efeitos resul- tantes dessa ação não agradaram, os contra- tantes têm o direito de recorrer ao juizado es- pecial. Isso porque tais alterações nas fotos fe- rem o direito de imagem, o que é ilícito e pas- sível de indenização”, complementa. MEMÓRIA Recurso moderno, invenção antiga Uma ferramenta de nome Camadas é o principal recurso que possibilita a alteração e criação de imagens no Photoshop. Com ela, de forma bem simplificada, um arquivo de imagem é dividido em diversas partes, que são modificadas individualmente. É dessa forma que se consegue alterar somente um pedaço da imagem, uma camisa, por exemplo, ou tirar uma pessoa de um lugar e colocar em outro. Mas engana-se quem acredita que ela é uma invenção recente. Assim como diversas outras ferramentas, o recurso de camadas veio do mundo real para os computadores. Ela foi desenvolvida por ilustradores e patenteada em 1914 pelo norte-americano Earl Hurd. Consistia, na época, em fazer desenhos sobre folhas de celuloide transparentes (acetato), que eram as camadas, possibilitando assim fazer alterações. Era considerada a grande contribuição para a animação tradicional até a chegada da computação gráfica. Caetano reclamou do tratamento dado à sua foto: “Fiquei com cara de político babaca” A beleza de Julia Roberts, na publicidade da Lancôme, pareceu enganosa aos ingleses LIDERANÇA ABSOLUTA Photoshop é nome do programa líder no mercado de edição de imagens bidimensionais, utilizado profissionalmente nas áreas de design, fotografia e publicidade. Com ele, é possível fazer alterações e tratar cores, texturas e formas de imagens em formato raster (bitmap)e vetoriais (imagem construída a partir de vetores matemáticos). A versão mais recente (CS5) corresponde à 12ª edição desde o lançamento, em 1999, pela Adobe. É disponível para sistemas Microsoft e Mac OS. www.adobe.com/products /photoshop.html REVISTA ROLLING STONE/DIVULGAÇÃO Para Rafael Passos, às vezes se mexe tanto em uma imagem, apela-se tanto aos efeitos, que fica uma montagem falsa EULER JUNIOR/EM/D.A PRESS Henrique Ribas destaca a necessidade de critérios ao usar programas e aplicativos de edição JACKSON ROMANELLI/EM/D.A PRESS Marco Vieira, que usa o software Aperture, não exagera nos efeitos porque acha feio uma foto com tantos retoques E o meu direito de imagem? LANCOME/DIVULGAÇÃO GUSTAVO BEZZI/ARQUIVO PESSOAL

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Caderno de Informática do Estado de Minas sobre o uso do Photoshop. Reportagem: Anderson Rocha

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INFORMÁTICA

E S T A D O D E M I N A S ● Q U I N T A - F E I R A , 2 5 D E A G O S T O D E 2 0 1 1

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Uso com critério dessas ferramentas é o ideal, mas nem sempre é o que ocorre na prática

❚ REPORTAGEM DE CAPA

Nem tudo é tão

quanto parecebonito

Claro que os programas de edição e tra-tamento de imagens que surgiram com odesenvolvimento das tecnologias computa-cionais, como o Photoshop, são bastante in-teressantes e de grande ajuda, principal-mente para o mercado publicitário. O pro-blema deles é o exagero. “O pessoal, às ve-zes, coloca muito efeito e a montagem ficafalsa”, diz Rafael Passos, da agência Stalo. Eleexplica que a pele tem uma textura própria,que deve ser mantida. “Muitas vezes, ousuário começa a limpar as imperfeições emanchas e a pessoa passa a parecer uma bo-neca, o que é feio”, complementa. Nas agên-cias, são menos comuns os erros causadospelo exagero. Mas no meio doméstico...

“Fica feio. Horrível mesmo”, opina o su-pervisor de vendas Marco Vieira, 29, que utili-za o Aperture – programa de gerenciamentoe edição de imagens criado pela Apple – paratrabalhar imagens no seu computador. “Massem errar a mão”, diz ele, ressaltando que usafiltrodeluz,brilho, equandofazretoqueépa-ra tirar pequenas marcas de espinhas, porexemplo. Para ele, nem toda fotografia preci-sa de alteração. Algumas, inclusive, quandorecebemtratamentoexagerado,setornamri-dículas. “Nahoraquevocêvêafoto,atéassus-ta.” Se quem está acostumado a usar essesprogramas fica assustado, imagine entãoquem vê. Na internet, não é difícil encontrarimagens de pessoas comuns e de celebrida-des em fotografias, digamos, exóticas.

TRATAMENTO SEM CURA O coordenador deensino da Escola de Imagem, Henrique Ribas,ao ressaltar a necessidade de critérios na ho-ra de usar os programas e aplicativos disponí-veis atualmente no mercado, destaca que oPhotoshop é uma ferramenta de plástica vir-tual. Com ele é possível obter muitos resulta-dos interessantes, como aumentar seio, dimi-nuir cintura etc. “Mas se não souber comousar, aí teremos um problema”, explica. Ouso com parcimônia é necessário, mas nemsempre encontrado na prática.

Na web, as “pérolas” da fotografia trata-da podem ser encontradas em sites como oPhotoshop Disasters (www.psdisasters.com)e o Pérolas do Photoshop (www.perolasdo-photoshop.blogspot.com). As cantoras Ma-donna e Beyoncé, além de modelos da grifeRalph Lauren e Victoria’s Secret, aparecem,nesses endereços, em imagens que forammodificadas sem obedecer à proporção.

Nem todos, porém, parecem querer es-conder a passagem do tempo ou alterarimagens. “Fiquei com cara de político baba-ca”, disse Caetano Veloso, em entrevista naTV a Jô Soares, se referindo à foto em queaparece, com rugas suavizadas, ao lado deGal Costa, na capa da revista Rolling Stone,de julho. (Colaborou Anderson Rocha)

Na foto da embalagem, biscoito de cho-colate delicioso, com brilho, cremoso. Naprática, seco, pequeno e feio. O que fazer?

Vale aí um processo, segundo informaFernanda Paula Diniz, especialista em direitoprivado e professora da PUC Minas, explican-do que, de acordo com o artigo 37 do CódigodeDefesadoConsumidor,éproibidatodapu-blicidade enganosa ou abusiva, que altera ouomite informação sobre um produto. De ló-gica semelhante, imagens retocadas por pro-gramasdeediçãotambémpodemseralvodeprocesso. No início deste mês, no Reino Uni-do,fotografiasdaatrizJuliaRobertsparaaem-presade cosméticos Lâncome, da L’Oreal, tra-tadas em computador, foram retiradas decirculação sob a alegação de que eram enga-nosas. No Brasil, o Projeto de Lei 6.853, do anopassado, está em análise na Câmara Federal.Pela “Lei do Photoshop”, toda imagem publi-citária manipulada deverá vir com uma ad-vertência. O projeto, do deputado WladimirCosta (PMDB-PA), propõe que quem des-cumprir a determinação está sujeito a mul-ta de R$ 50 mil reais.

ParaFernandaDiniz,apropostaépositiva.“Algumas fotografias induzem, por exemplo,a pessoa a correr atrás de uma magreza que,entre outras coisas, é prejudicial à saúde”, afir-ma. Ela reitera, porém, que alterações na ima-gem não são ilegais, desde que haja consenti-mentoentreaspartes.“Seemumcontratodepacote de fotografias para uma formatura aempresacontratada,porexemplo,usourecur-sos de Photoshop nas fotos e os efeitos resul-tantes dessa ação não agradaram, os contra-tantes têm o direito de recorrer ao juizado es-pecial. Isso porque tais alterações nas fotos fe-rem o direito de imagem, o que é ilícito e pas-sível de indenização”, complementa.

MEMÓRIA

Recurso moderno,invenção antigaUma ferramenta de nome Camadas é oprincipal recurso que possibilita a alteraçãoe criação de imagens no Photoshop. Comela, de forma bem simplificada, um arquivode imagem é dividido em diversas partes,que são modificadas individualmente. Édessa forma que se consegue alterarsomente um pedaço da imagem, umacamisa, por exemplo, ou tirar uma pessoade um lugar e colocar em outro. Masengana-se quem acredita que ela é umainvenção recente. Assim como diversasoutras ferramentas, o recurso de camadasveio do mundo real para os computadores.Ela foi desenvolvida por ilustradores epatenteada em 1914 pelo norte-americanoEarl Hurd. Consistia, na época, em fazerdesenhos sobre folhas de celuloidetransparentes (acetato), que eram ascamadas, possibilitando assim fazeralterações. Era considerada a grandecontribuição para a animação tradicionalaté a chegada da computação gráfica.

Caetano reclamou do tratamento dado à suafoto: “Fiquei com cara de político babaca”

A beleza de Julia Roberts, na publicidade daLancôme, pareceu enganosa aos ingleses

LIDERANÇAABSOLUTA

Photoshop é nome do programalíder no mercado de edição de

imagens bidimensionais, utilizadoprofissionalmente nas áreas de

design, fotografia e publicidade.Com ele, é possível fazer alteraçõese tratar cores, texturas e formas de

imagens em formato raster(bitmap)e vetoriais (imagemconstruída a partir de vetoresmatemáticos). A versão mais

recente (CS5) corresponde à 12ªedição desde o lançamento, em

1999, pela Adobe. É disponívelpara sistemas Microsoft e Mac OS.

www.adobe.com/products/photoshop.html

REVISTA ROLLING STONE/DIVULGAÇÃO

Para Rafael Passos, às vezes se mexe tanto em uma imagem, apela-se tanto aos efeitos, que fica uma montagem falsa

EULER JUNIOR/EM/D.A PRESS

Henrique Ribas destaca a necessidade de critérios ao usar programas e aplicativos de edição

JACKSON ROMANELLI/EM/D.A PRESS

Marco Vieira,

que usa o

software

Aperture, não

exagera nos

efeitos porque

acha feio

uma foto

com tantos

retoques

E o meu direitode imagem?

LANCOME/DIVULGAÇÃO

GUSTAVO BEZZI/ARQUIVO PESSOAL