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10 INTRODUÇÃO Este trabalho de conclusão de curso denominado Diferenças Raciais, Sociais e Culturaisaborda a questão do preconceito em relação ao que é dito e prescrito como „„diferente‟‟, fora do padrão imposto pela sociedade em relação ao que se tem como modelo estético de beleza. A pesquisa feita aqui pretende uma análise critica sobre os paradigmas, enfocando a forma como as pessoas percebem o mundo; se as diferenças realmente existem ou se estas se devem ao fato de como as pessoas se olham, se interpretam, se percebem. Estimulando assim o observador a visualizar sempre com outras perspectivas, não se deixando vulnerável a alienações como é o caso daqueles que, quando se deparam com indivíduos estigmatizados, imediatamente os aprisionam na masmorra do estereótipo, reduzindo assim toda a dimensão humana. Esta monografia contempla estudos sobre: O papel do desenho na sociedade; O movimento realista surgido em meados do século XIX, em oposição ao idealismo do romantismo, onde os artistas dessa época detinham uma preocupação com a injustiça social com a qual se deparavam; A técnica do retrato, seu surgimento e seu desenrolar até os dias de hoje; A história da beleza; A percepção quanto realidade e por fim, as Diferenças Raciais, Sociais e Culturais. Cujos retratos da série de desenhos que fiz representam diversos seres humanos vistos muitas vezes como seres inferiores devido à cor, raça, sexo ou mesmo a alguma deficiência. Indivíduos desprezados, rotulados de forma insensível e cruel. Vale ressaltar que há também a retratação de imagens divinas, levando o público receptor a se perguntar se o que eles veem nas pessoas é a presença de Deus e dos anjos ou se quando se deparam com estes indivíduos marcados procuram logo exaltar a diferença que estes possuem. Porém, nestes desenhos a beleza que há por trás de cada indivíduo será enaltecida, a fim de que todos vejam que o belo se faz presente em todos, o que muda é o modo como olhamos

Pinheiro; nayara kinsk da silva diferenças raciais, sociais e culturais um mode de ver o mundo

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INTRODUÇÃO

Este trabalho de conclusão de curso denominado “Diferenças Raciais,

Sociais e Culturais” aborda a questão do preconceito em relação ao que é dito e

prescrito como „„diferente‟‟, fora do padrão imposto pela sociedade em relação ao

que se tem como modelo estético de beleza.

A pesquisa feita aqui pretende uma análise critica sobre os paradigmas,

enfocando a forma como as pessoas percebem o mundo; se as diferenças

realmente existem ou se estas se devem ao fato de como as pessoas se olham,

se interpretam, se percebem. Estimulando assim o observador a visualizar

sempre com outras perspectivas, não se deixando vulnerável a alienações como

é o caso daqueles que, quando se deparam com indivíduos estigmatizados,

imediatamente os aprisionam na masmorra do estereótipo, reduzindo assim toda

a dimensão humana.

Esta monografia contempla estudos sobre:

O papel do desenho na sociedade;

O movimento realista surgido em meados do século XIX, em

oposição ao idealismo do romantismo, onde os artistas dessa época detinham

uma preocupação com a injustiça social com a qual se deparavam;

A técnica do retrato, seu surgimento e seu desenrolar até os dias de hoje;

A história da beleza;

A percepção quanto realidade e por fim, as Diferenças Raciais,

Sociais e Culturais. Cujos retratos da série de desenhos que fiz representam

diversos seres humanos vistos muitas vezes como seres inferiores devido à cor,

raça, sexo ou mesmo a alguma deficiência. Indivíduos desprezados, rotulados de

forma insensível e cruel.

Vale ressaltar que há também a retratação de imagens divinas, levando o

público receptor a se perguntar se o que eles veem nas pessoas é a presença de

Deus e dos anjos ou se quando se deparam com estes indivíduos marcados

procuram logo exaltar a diferença que estes possuem. Porém, nestes desenhos a

beleza que há por trás de cada indivíduo será enaltecida, a fim de que todos

vejam que o belo se faz presente em todos, o que muda é o modo como olhamos

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e julgamos o termo beleza. Cujo trabalho encontra-se estruturado em cinco

capítulos: No primeiro capítulo descrevo sobre a importância das artes na

sociedade; o Desenho; o Retrato, o Realismo e a Instalação. No segundo capítulo

trabalho com a questão da Beleza e suas formas. No terceiro, descrevo sobre a

Percepção e os paradigmas. No quarto capítulo, trato das Diferenças Raciais,

Sociais e Culturais. No quinto capítulo, por sua vez, desenvolvo os procedimentos

metodológicos e a seguir faço uma Análise Estética dos meus trabalhos.

E assim, tendo em vista todo o contexto que envolve este projeto, o

debate quanto ao preconceito se faz necessário, até que atitudes sejam tomadas

para que este pare de atingir tantas pessoas de forma injusta e cruel. Pois o

preconceito nada mais é que uma visão distorcida e mal formada de

determinados indivíduos.

Indivíduos estes que acabaram se esquecendo, ou mesmo ignorando a

presença de Deus na vida das pessoas e em suas próprias vidas. Gerando

problemas, como baixa auto-estima, depressão e anorexia (no caso, a síndrome

de Barbie) onde padrões, medidas de nariz, cor de olhos são definidos, como se

beleza fosse única, como se esta pudesse vir a ser padronizada.

Quanto à opção pela Linguagem do Desenho, esta decisão está

correlacionada a alguns fatores antigos. Um deles se deve ao fato de que sempre

me interessei por essa linguagem expressiva. Pelas inúmeras possibilidades em

que este proporciona ao desenhista, ao criador. Interesse esse sempre apoiado

pelos meus familiares, para que minhas produções apresentassem melhoras

significativas.

Durante minhas criações busquei sempre representar, transparecer em

cada obra realizada a essência da alma, o espírito que transborda em cada olhar,

em cada sorriso de um ser humano. O realismo sempre foi um desafio para mim.

Ao longo dos anos, me deparei com vários obstáculos em decorrência da

complexidade que é desenhar, principalmente por se tratar de desenhos realistas,

que apresentam uma complexidade maior inerente a este procedimento que visa

deixar o mais natural possível do ser humano através dos traços que nós

desenhistas fazemos.

E é esse desafio de poder elaborar uma imagem que retrate o mais fiel e

natural do ser humano, a sua essência, a sua alma transparecida em traços e

linhas que o compõem; a capacidade de levar conceitos e provocar intrigas

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relevantes para o bem da sociedade que despertou em mim o desejo de

desenvolver minha monografia baseada em desenho.

Quanto à temática „„Diferenças Raciais, Sociais e Culturais‟‟, a questão

que me suscitou foi a indignação quanto ao preconceito que existe perante as

raças, classes sociais, marcas, tradições e cicatrizes dos indivíduos.

A verdade é que este trabalho tem como foco o resgate dos valores

humanos, onde as diferenças são colocadas de lado; onde não há um

aprisionamento de conceitos que só perdem, desprezam, ignoram e afetam o

indivíduo; onde todos são iguais perante Deus.

Desta forma este trabalho apresenta em si um aspecto social, já que

busca trazer, melhorar, e desenvolver um sentimento mais humano, mais divino

que enobrece o caráter de um homem, naqueles é claro que conseguirem

adentrar no contexto da produção artística. Onde as diferenças não são

relevantes, pois estas apenas conduzem ao pensamento ignorante, onde o

estereótipo para alguns se mostra mais importante que o conteúdo psíquico,

moral de um indivíduo.

Buscando assim através dessa monografia a oportunidade de contribuir

para a possível quebra de paradigmas. Paradigmas estes, que são decorrentes

de pensamentos, concepções antigas que se desenvolveram e se fixaram na

mente de vários indivíduos, mostrando-se presentes até os dias de hoje.

Um bom exemplo de paradigma é o conceito de beleza, que hoje se

mostra diretamente correlacionada ao que o sistema impõe, mostra como belo.

Um ato errôneo, pois significar beleza com regras, medidas, padrões é o

mesmo que afirmar que o belo é único, e que esse único deve ser dito e prescrito

por alguém, já que a maioria dos indivíduos necessita de um vide-bula para saber

o que é belo e o que não é. Tal afirmação denota conscientemente ou não, que

grande parte da população é inapta a saberem e a dizerem o que realmente é

belo. Um grande paradoxo, já que gosto e estética variam de indivíduo para

indivíduo.

A verdade é que vejo neste trabalho de conclusão de curso um desafio de

criarmos algo em favor da sociedade, do bem comum das pessoas. Um meio

onde propagamos nossas idéias, crenças condizente ao que estudamos durante

todo o curso.

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Uma responsabilidade que nos é entregue quando estamos prestes a nos

formar não só como futuros artistas plásticos, mas como pessoas de valores e

princípios que não se fecharam no individualismo que a sociedade

contemporânea, globalizada traz como conseqüência direta de tal evolução. Mas,

como seres humanos possuidores de sabedoria divina para que quando nos

depararmos com alguns obstáculos sermos capazes de discernir de forma

inteligente, sábia e humana.

Portanto, posso dizer que a monografia se mostra como possibilidade de

realizar, baseados em estudos de campo, análise de fatos congruentes ao

contexto que é abordado, uma oportunidade de fazer, tomar uma atitude em prol

do bem maior. Onde questões do tipo – Até que ponto o conceito de beleza se faz

presente na vida das pessoas?- O que será preciso que façamos para que os

paradigmas sejam quebrados? - Até aonde será preciso que os homens cheguem

para ver que a luz de Deus emana sobre todas as pessoas?- me levaram a

produzir e a desenvolver este trabalho, a fim de que todos possam refletir e quem

sabe até, mudarem certos conceitos.

Nesse contexto objetiva-se com este trabalho contribuir na formação e no

desenvolvimento de mentalidades livres de preconceitos, com um trabalho que

expresse fielmente o tema proposto por meio do conhecimento profundo em

relação ao tema abordado que é „„Diferenças Raciais, Sociais e Culturais‟‟. E

deste modo trabalhar através de desenhos as diferenças físicas do ser humano,

desenvolvendo a autopercepção e a concepção do outro, buscando a valorização

das diferenças em uma sociedade crescentemente multicultural.

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CAPITULO l

SOCIEDADE EMINENTEMENTE VISUAL: DA PRÉ-HISTÓRIA AOS

DIAS DE HOJE.

1.1. DESENHO E SEU PAPEL PREPONDERANTE NA EVOLUÇÃO

HUMANA.

O Desenho vem sendo adotado desde os primórdios dos tempos como

meio de comunicação e linguagem, onde foram expressas as crenças dos povos

primitivos e suas verdades em registros encontrados em várias cavernas do

mundo, dentre elas a de Lauscaux na França e Altamira, na Espanha, conforme

figura abaixo (Fig.01).

Figura 01: Pintura rupestre, na gravura está representado um Bisonte.Disponível em: http://www.semed.pmcg.ms.gov.br/wiki/index.php/Artes_Visuais.

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Santaella (1998, p. 224) afirma que “Imagens têm sido meios de

expressão da cultura humana desde as pinturas pré-históricas das cavernas,

milênios antes do aparecimento do registro da palavra pela escrita”.

Um período fascinante foi o da Pré História, pois apesar de não ter sido

registrado por nenhum documento escrito, já que a época é anterior a escrita,

tudo o que sabemos dos homens que viveram nesta época está nos estudos, nos

resultados das pesquisas realizadas pelos antropólogos, historiadores que

reconstituíram a cultura do homem. Assim, com a evolução que se deu nas artes,

em especial no desenho até chegar á escrita alfabética, pode-se notar a sua

grande importância na história da humanidade.

O desenho, assim como a arte em geral apresentava um contexto mais

tribal religioso, ao qual acreditavam que o processo de desenhar possuísse alma

própria. Sendo mais um ritual do que um meio de expressão propriamente dita.

Pois tinham em mente que ao desenharem animais como rinocerontes, bisões

teriam facilidade na captura destes, onde estes animais tornariam submissos a

eles. Podendo ser comprovado algumas imagens nas grutas pré-históricas

(30.000-10.000 a.c) em lugares como as cavernas de Lauscaux e Les Trois

Freres na França, e em Altamira, na Espanha. Cuja linguagem feita por meio de

pinturas se deu em diversas fases, cada qual com sua finalidade.

No primeiro momento, surgem os grafismos que evidenciava o significado

por meio de desenhos de animais, denominada tal fase de pictograma.

A seguinte fase foi à ideográfica, onde as idéias foram retratadas e por

fim, passou-se aos fonogramas que representavam os sons com base nas

imagens. Sendo estas, de modo bem simplificado, as três etapas da evolução da

escrita por meio da imagem.

Mas o fenômeno da difusão de culturas através das imagens pode ser

vista em outros momentos. Um deles na Idade Média, onde usavam imagens nos

vitrais para que as pessoas pudessem conhecer e entender a História Bíblica, já

que a linguagem escrita era restrita aos monges e a nobreza. Porém, mais do que

este papel representativo, funcional que o desenho desenvolveu, com o tempo, a

estética, o belo também se fez presente nos motivos para realização dos

desenhos, das artes em geral, que a partir do século XV, o desenho passou a ser

o elemento principal na criação artística.

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Com a descoberta da perspectiva, o desenho tornou-se numa forma de

obter conhecimento. Ao qual se destacam artistas como: no século XV E XVI,

Leonardo da Vinci, Michelangelo, Rafael e Albrecht Dürer. Nos séculos XVII, XVIII

e XIX, Peter Rubens, Rembrandt, Francisco Goya, Giovanni Battista, Jacques

Louis Davi, Edgar Degas, Jean François Millet, Gustave Courbet e no século XX,

Willem de Kooning, Jean Dubuffet, Arshille Gorky, Paul Klee, dentre outros

artistas que aqui não foram citados, mas que com certeza possuem uma grande

importância na história das artes. Onde a busca de criar imagens harmônicas,

belas passou a ser constante nas retratações que os artistas se propunham a

fazer.

Portanto, se faz nítido o papel preponderante da imagem do desenho em

toda evolução humana e seu desempenho e alto prestígio em relação as suas

benfeitorias, dentre elas, obteve um papel de meio de comunicação entre os

seres humanos que utilizavam o desenho como linguagem, o objeto adorado e a

expressão rica em harmonia e detalhes.

É notória como a arte se desenvolveu e se expandiu principalmente no

Desenho, por ser um instrumento viável de comercialização. Já que se formos

analisar as coisas, veremos a priori que o desenho está inserido diretamente em

tudo que nos está ligado, correlacionado.

Um bom exemplo de expansão do desenho que pode vir a ser

comprovado só num comentário é a criação de marcas e logotipos, onde este

nada mais é que o cartão de visita para uma boa aceitação do produto no

mercado. Onde há de se convir que a sociedade contemporânea se mostre

eminentemente visual, onde a arte se tornou uma manifestação cultural

destacada, graças à possibilidade de interação e comunicação que a mesma

exerce entre o objeto emissor e o receptor, que no caso é o público em geral.

1.2. A IMPORTÂNCIA DO REGISTRO DE IMAGENS EM TODO O

CONTEXTO SÓCIO POLÍTICO E CULTURAL

A representação da figura humana se mostrou presente até na pré-

história, onde foram produzidas figuras antropomórficas. Por isso, não seria

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correto afirmar que o retrato, as representações se originaram no século XIV ou

XV. No Oriente próximo, no extremo oriente, nas civilizações mediterrâneas e nas

sociedades medievais a representação do homem esteve sempre presente na

arte.

O que diferenciou o gênero a partir do século XIV foi o surgimento de uma

individualidade. A retratística vinha se desenvolvendo com o abandono do

esquema medieval de usar uma figura convencional, de um homem ou uma

mulher, e colocar sob eles o nome dos retratados.

Para Gombrich (1999; p.215), o busto de Peter Parler, o Moço (realizado

em 1379-80), é provavelmente o primeiro auto-retrato (Fig.02). Para outros

autores, o primeiro seria o de Jan Van Eyck.

Figura 02: Peter Parler, moço. Fonte: Disponível em: www.cms.oliveira. sites.uol.com.br/holbein_gisze.jpg

O retrato já era um gênero independente no século XV e tornara- se a

possibilidade por excelência não só de representar a personalidade do modelo e o

seu nível social, mas também de sondar a sua alma através da expressão

pictórica.

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Os italianos, Leonardo da Vinci, Ticiano e Rafael foram também grandes

retratistas. Ainda na Itália Caravaggio e Velásquez, na Espanha representaram

figuras populares e retratos da corte.

Nos países baixos Jan Van Eyck produziu alguns dos retratos mais

citados pelos historiadores da arte; Franz Hals praticamente iniciou um novo

gênero, o retrato de grupos; Rubens realizou além de auto-retratos, retratos de

rainhas, reis e produziu grandes obras inspiradas em sua família; Rembrandt,

durante sua carreira produziu quase cem retratos e alguns de retratos de grupo

ao estilo Franz. Na Alemanha, Dürer, além de desenhista e gravador foi um

grande especialista neste gênero.

A partir do Quattrocento, algumas inovações técnicas e mudanças de

objetivos da arte levaram ao período chamado de Renascença, marcado pelo

desejo de conhecer a natureza e o entusiasmo pelo conhecimento científico. O

que durante o período medieval a Itália permaneceu atrasada em relação a

inovações técnicas, talvez este seja um dos motivos pelas quais Giotto tenha

causado tanto impacto.

Aproximadamente um século e meio depois, enquanto no sul os artistas

encontravam uma tradição de grandes mestres da pintura, no norte da Europa, a

Reforma Protestante era ainda a questão definidora do rumo das artes. Pois com

o desaparecimento de encomendas de retábulos e obras sacras no Norte, já que

eram consideradas heresias, a saída viria pela especialização.

A arte na Holanda, por exemplo, conseguiu um bom mercado nas pinturas

de paisagens. Na Alemanha, a Reforma ocasionou um período de decadência, o

retrato foi o principal gênero de destaque e mesmo assim, seu maior

representante estava do outro lado da Mancha, Hans Holbein, o Moço.

Muitos artistas setentrionais incorporaram algumas técnicas dos italianos

à tradição setentrional: a exemplo de Dürer, Holbein foi um artista que dominou as

duas tradições, especialmente a representação realista, sendo pelo olho

excepcional para captar os detalhes a sua maior qualidade.

Na pintura alemã, Albrecht Dürer e Hans Holbein representam escolas

diferentes. Eles são opostos em duas características: Dürer penetrava no íntimo

das pessoas, suas composições são possuidoras de algum sentimento que o

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perturba, elas expressam espiritualidade. Já Holbein era impassivo, circunspecto,

mantendo uma distância grave e digna (BECKET,1997).

Dürer admirava a tradição expressa por Bellini, de transformar idealidade

em realidade, enquanto que, Holbein estava mais ligado a tradição setentrional;

entretanto, ambos eram pintores de detalhes. Sendo Dürer o interior e Holbein o

exterior.

Segundo Beckett (ibid,1997, p.161), Holbein foi um dos artistas que pouco

recebeu as influências de Dürer.

O que para Baumgart (1999, p.226), Holbein destacava com muita

dignidade todos seus retratados. Pois para o artista não importava se seu cliente

era um rei, um cortesão ou um mercador, todos apresentavam a mesma

dignidade.

A verdade é que Hans Holbein foi brilhante em seus trabalhos, conferia

aos seus retratados as suas características faciais. Sendo lembrado pelos

historiadores da arte como o pintor renascentista, que viveu em um período de

conflitos. Ao qual, sua enorme série de retratos que produziu está em Basaléia e

na Inglaterra. Demonstrando seu grande profissionalismo.

Gombrich (1999, P. 376) esclarece que:

Nada há de espetacular nesses retratos de Holbein, nada especial para atrair o olhar, mas, quanto mais tempo o contemplamos mais parecem revelar-nos o espírito e a personalidade do retratado. Nem por um momento se duvida de que são, de fato, registros fiéis do que Holbein viu desenhado sem temor nem favor.

Tais afirmações denotam com clareza o modo peculiar e admirável a que

este artista se propôs a fazer e, por conseguinte fez, sendo considerado um

mestre para muitos historiadores.

1.3. A RETRATAÇÃO DAS VERDADES: A NECESSIDADE DA

BUSCA DO REAL.

O movimento Realista surgido na França, por volta dos anos de 1850 e

1900, estendeu-se por diversos países europeus. Aparecendo no momento em

que se deram as lutas sociais, na crescente industrialização das sociedades.

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O homem desta época convenceu-se de que precisava ser realista,

inclusive em criações artísticas, deixando de lado sua subjetividade.

Pode-se observar que neste movimento houve alterações de

pensamentos, do ideal e do belo para o objetivo e real. Ao qual, não bastava

apenas mostrar a face idealizadora como para eles realistas fizeram os

românticos era preciso mostrar o que nunca foi mostrado: o cotidiano das

pessoas, as injustiças sociais, dentre outros motivos. Sendo possível ver o

enorme interesse dos realistas em descrever a realidade e que, ao apontarem as

falhas, os erros cometidos pelas pessoas, com isso viam que poderiam mudar

certas visões distorcidas de alguns indivíduos. Destacando assim como

características a veracidade, a descrição dos fatos, o gosto pelos detalhes, a

linguagem próxima a realidade e a denúncia de fatos injustos neste movimento

das artes.

Para Eça (apud Pereira, 2000), só uma arte que evidenciasse a realidade

como ela é, mesmo que isso implicasse entrar em campos sórdidos, poderia fazer

um diagnóstico do meio social, com vista á sua cura. Assim reagiria contra o

espirito da arte pela arte, visando mostrar os problemas morais e assim contribuir

para aperfeiçoar a Humanidade. Com este cientismo Eça já situava o Realismo na

sua posição extrema de Naturalismo.

Pode-se ver que o movimento realista reflete as profundas

transformações políticas, econômicas, sociais e culturais da segunda metade do

século XIX.

O Capitalismo, por sua vez, aumenta a massa operária urbana, e

consequentemente, cria uma massa de pessoas marginalizadas que são

exploradas e sujeitas a condições precárias e subumanas de trabalho.

Com isso a arte passou a ser um meio de transmissão, denunciando

assim uma ordem social ao qual consideravam injusta e manifestando, em seus

desenhos, em suas pinturas, um protesto contra os opressores a favor dos

oprimidos.

A palavra Realismo na verdade, designa uma maneira de interpretar a

realidade, caracterizando-se pela objetividade e pelo interesse em abordar temas

relacionados a sociedade.

Um grande expoente das artes plásticas é Gustave Courbet (1819-1877).

Para ele a beleza está na verdade. Uma de suas obras mais ambiciosa é „‟O

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Atelier do Artista”, tendo como subtítulo: - Alegoria Real, Histórica, Moral e Física

que resume um período de sete anos da minha vida artística”. Nesta tela, Courbet

realiza um novo tipo de alegoria, uma “alegoria realista”, uma síntese simbólica da

sociedade de sua época, com todas as camadas sociais representadas na tela.

Figura 03: Atelier do Artista. Disponível em: http://oglobo.globo.com/blogs/arquivos_upload/2007/08/129_2345- atelie.JPG

Mas é importante lembrar que o Realismo se estende por outros países

também, como Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos. Na Inglaterra é expresso

principalmente pela Irmandade Pré-Rafaelita que, para esse grupo a arte, a partir

de Rafael, passou a desvalorizar a verdade, em busca de uma beleza idealizada.

Deveriam portanto, voltar á época anterior ao mestre renascentista.

A irmandade tem como característica um forte apelo religioso,

pretendendo exaltar Deus através de suas pinturas sinceras.

Sendo a obra “A Anunciação”, de Dante Rossetti (pintor,ilustrador e poeta

inglês de origem italiana), muito importante nesta escola. Já que fundou

juntamente com John Everett Millais, William Holman Hunt, no ano de 1848 a

Irmandade Pré-Rafaelita.

Na Alemanha, destacam-se Adolph Von Menzel(1815-1905), Wilhelm

Leibl(1844-1900), com sua obra mais conhecida, „‟Três Mulheres numa igreja de

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Vila‟‟. Cuja obra apresenta como influência mestres alemães do passado como

Albrecht Dürer e nos Estados Unidos, Winslow Homer(1836-1910), com cenas da

vida e das paisagens americanas.

Ressaltamos também o pintor estadunidense Thomas Eakins, que foi um

pintor realista americano destacado do século XIX. Cujas pinturas retratam cenas

e pessoas observadas na vida ao seu redor. Introduzindo um currículo inovador,

incluindo um estudo meticuloso de anatomia e dissecação, bem como perspectiva

cientifíca, o que revolucionou o ensino de Arte na América. Porém, devido a

insistência em observar modelos nus em suas aulas de Desenho, perdeu seu

posto de Professor na Academia de Belas Artes da Pensilvânia. Entretanto os

beneficios não eram vistos na sociedade, que ao contrário de melhorar a condição

social do povo, só veio a piorar.

Com a Revolução de 1948 na França, uma tensão foi desencadeada

entre republicanos e socialistas. Pois o congresso considerava o pagamento dos

funcionários um pesado fardo para o país, o que com isso resultou na demissão

de muitos operários e sem a esperança de sobreviver, a população oprimida lutou

contra as forças armadas do governo, ocasionando em muitas mortes. Ao qual,

destes movimentos muitos artistas foram adeptos. Entretanto, foram perseguidos.

Um dos artistas que sofreu a perseguição foi Jean François Millet.

No âmbito cultural, surgiram várias efervescências de idéias, acarretando

numa série de correntes filosóficas e cientifícas. Entre elas o Positivismo1 de

Auguste Comte, para o qual o único conhecimento válido é o provido das

ciências. O que tal filosofia nega que a explicação dos fenômenos naturais, assim

como sociais provenha de um só princípio. A visão positiva dos fatos abondona a

consideração das causas dos fenômenos( Natureza ou Deus) e pesquisa suas

leis como relações abstratas entre fenômenos observáveis.

Uma outra corrente foi o Determinismo2 de Hippolyte Taine. Uma doutrina

que alega que todos os acontecimentos, incluindo vontades e escolhas humanas

1 Positivismo é uma doutrina filosófica, sociológica e política. Surgiu como desenvolvimento

sociológico do Iluminismo, das crises social e moral do fim da Idade Média e do nascimento da sociedade industrial.Propõe à existência humana valores completamente humanos, afastando radicalmente a teologia e a metafísica.(ABBAGNAMO, Nicola. Dicionário de Filosofia). 2 Determinismo é a doutrina que afirma serem todos os acontecimentos, inclusive vontades e

escolhas humanas, causados por acontecimentos anteriores, ou seja, o homem é fruto direto do meio, logo, destituído de liberdade total de decidir e de influir nos fenômenos em que toma parte, existe liberdade , mas esta liberdade condicionada a natureza do evento em um determinado instante.(ABBAGNAMO, Nicola. Dicionário de Filosofia).

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são causadas por acontecimentos anteriores. Ou seja, o homem é fruto do meio,

logo, destituído de liberdade total de decidir e de influir nos fenômenos em que

toma parte, existe liberdade, mas condicionada a natureza do evento em um

determinado instante. Os mundos, físico e biológico são portanto, regidos pelo

determinismo.

E diante dessas inúmeras mudanças de idéias, os artistas sentiram a

necessidade de criarem uma arte sintonizada com a nova realidade. Exagerando

na ênfase de seus trabalhos a fim de evidenciarem, denunciarem, protestarem

certos aspectos sociais que julgavam injustos.

1.3.1. PRINCIPAIS PINTORES

1.3.1.1. Gustave Courbet

Jean Desiré Gustave Courbet nasceu em Ornans, na França, em 10 de

junho de 1819. Foi considerado o criador do realismo social na pintura, pois

procurou retratar em suas pinturas temas referentes ao cotidiano, principalmente

os das classes populares. Em suas obras manifesta sua simpatia aos

trabalhadores e homens mais pobres da sociedade no século XIX. Cuja frase dita

por ele mesmo demonstra bem isso: - „‟Sou democrata, republicano, socialista,

amigo da verdade e verdadeiro‟‟. Esta busca da verdade é colocada nas telas

pelas suas pinceladas.

As obras de Courbet se aproximam do realismo tenebroso espanhol do

barroco, com uma profusão de ocres, pretos e marrons que podem ser

observadas principalmente na obra „‟O Atelier do Artista‟‟, na qual manifestou sua

desaprovação em relação à sociedade.

1.3.1.2. Jeans François Millet

Jean François Millet nasceu no dia 4 de outubro de 1814. É conhecido

como precursor do Realismo, pelas suas representações de trabalhadores rurais

em suas produções. Junto com Courbet, Millet foi um dos principais

representantes do realismo europeu surgido em meados do século XIX. Suas

obras sobre camponeses foram consideradas sentimentais para alguns,

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exageradamente piegas para outros, mas a verdade é que as obras de Millet em

nenhum momento suscitaram indiferença.

O pintor manifestava a integração do homem com a natureza, algumas

vezes seus temas traziam um pouco mais de sentimentalismos que outros.

Exemplo disso é sua famosa tela „‟Angelus’’ (1857-1859) (Fig.04), hoje no Museu

do Louvre. É o quadro mais famoso do pintor francês Jean-François Millet e o que

melhor exprime seu compromisso com o realismo.

Figura 04: Jean Millet - Angelus Disponível em http:// oglobo.globo.com/.../01/129_2458-Angelus.jpg

Nesta obra, Millet retrata dois camponeses orando, dando graças a Deus

pela colheita obtida através do suor e do esforço de muitos dias. Nesta famosa

pintura, um homem e uma mulher em pé, em uma postura de reverência, na Hora

do Angelus. Ele de cabeça baixa, segurando o chapéu, ela levantando as mãos

ao peito num sinal de devoção.

O Angelus é uma prática religiosa, realizada em devoção à Imaculada

Conceição, repetida três vezes ao dia, de manhã, ao meio dia e ao entardecer. A

oração é constituída de três textos que descrevem o mistério da Encarnação,

respondidos com uma Ave Maria e uma oração final.

Uma das suas características são pinturas retratando a vida no campo,

paisagens bucólicas, num clima de introspecção.

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25

1.4. IRMANDADE PRÉ RAFAELITA: O RETORNO À BELEZA.

A Irmandade Pré-Rafaelita, também denominada Fraternidade Pré-

Rafaelita, foi um grupo artístico fundado na Inglaterra em 1848. Grupo formado

por Dante Gabriel Rosseti, John Everett Millais e William Holman Hunt.

O grupo almejava reformar a arte britânica mediante a recuperação dos

modelos dos pintores florentinos do Quattrocento.

Este grupo surge como reação à arte acadêmica inglesa. Inseridos no

espírito revivalista romântico da época, os pré-rafaelitas desejavam devolver à

arte sua pureza que consideravam existir na Idade Média, no Gótico e no início do

Renascimento, antes de Rafael Sanzio.

Um dos motivos pelas quais se deu o nome de Irmandade Pré-Rafaelita

se deve ao fato desses artistas se inspirarem na arte anterior do mestre Rafael

(1483-1520), muito criticado por eles. Já que eles consideravam Rafael, o

responsável pela insinceridade da arte diante da natureza. Propondo como

solução para o artificialismo da arte acadêmica a retomada do tempo em que os

artistas eram os artífices sinceros a obra de Deus.

Embora se tratasse de um grupo que tinha o mesmo objetivo, este não se

revelou homogêneo, podendo notar duas ramificações dentro do movimento: Por

um lado artistas como Hunt e Millais se dedicavam aos temas referentes à

sociedade, utilizando para isso uma representação realista.

Por outro lado, Rossetti e Edward Burne, irão se ligar mais em temas

medievais inspiradas em Dante Alighieri. O artista neste movimento busca a

beleza poética, a representação além da realidade visível, trabalhando com a

matéria da alma e a espiritualidade.

A pintura com base no desenho gera imagens ricas em pormenores

fotográficos e detalhes, onde o traçado fluido busca realçar os aspectos estéticos,

independente de sua semelhança ou não com a realidade.

Este foi um movimento que teve extrema importância para a Arte Nova e

o Simbolismo, onde muitos serão influenciados pelo estilo linear dos Pré-rafaelitas

como é o caso de William Morris. Sendo o defensor inicial e patrono da

Irmandade Pré-Rafaelita, John Ruskin, que a partir de 1851, seus escritos irão

Page 17: Pinheiro; nayara kinsk da silva   diferenças raciais, sociais e culturais um mode de ver o mundo

26

surtir nas idéias medievalistas do grupo. Valendo ressaltar que o pensamento de

Ruskin se aproxima com o do Romantismo, que enfatiza o subjetivo em

contraponto com a razão.

1.4.1 UM DOS PRINCIPAIS PINTORES: DANTE GABRIEL ROSSETI

Gabriel Charles Dante Rosseti, pintor e poeta inglês, nasceu em Londres

no dia 12 de maio do ano de 1828. Estudou no King`s College e na Royal

Academy, onde conheceu pintores como John Everett Millais e Holman Hunt, com

quem fundou a Irmandade Pré-Rafaelista, em 1848.

Era atraído pelo dramático e sobrenatural. Suas primeiras telas datam de

1849, como Ecce Ancillla Domoni (“Eis aqui a escrava do senhor”), onde retrata a

anunciação do anjo à Maria. Sua pintura teve várias fases, nas quais a beleza

humana, a expressão abstrata e a riqueza do colorido eram os elementos

principais. Foi sem dúvida o mais inspirado dos Pré-Rafaelistas, com sua visão do

mundo medieval, o qual pintou com grande intensidade. Uma obra muito

interessante é A Noiva (Fig.05), que apresenta uma beleza angelical e ao mesmo

tempo realista.

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27

Figura 05: A Noiva - Dante Gabriel Rossetti Disponível em: http://i164.photobucket.com/albums/u4/lemorydown/Dan...

Mas quando sua esposa, Elisabeth Siddal - 1829-1862 outra famosa

pintora Pré-Rafaelita da época, morre, com apenas 31 anos, Rossetti vira uma

espécie de "pintor mecânico" e a sua obra já não continha mais a vida e o vigor

de antes.

Os últimos anos de sua vida foram marcados por uma forte depressão e

suas pinturas eram turvas e como um sonho. Duas das mais conhecidas são "O

Sonho de Dante" e "Proserpina". Foi viver em Birchington, onde ficou em total

reclusão, com mania de perseguição e morreu em 10 de abril de 1882.

1.5. INSTALAÇÃO: A INTERAÇÃO DO HOMEM (PÚBLICO) X OBRA COMO PARTE FUNDAMENTAL DE TODA A AMBIENTAÇÃO.

A instalação tem sido objeto de indagação e controvérsia no contexto do

debate crítico inclusive no que concerne a sua delimitação.

Do ponto de vista da produção artística, a instalação pode ser vista como

uma estratégia para a discussão dos limites e parâmetros nas quais se assenta a

própria noção de obra de arte, especialmente no que concerne ao modo como o

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28

objetivo físico relaciona-se às noções de unicidade e autonomia, em geral e em

particular, frente às condutas do espectador e ao sítio no qual a obra é exposta.

A instalação, enfocada através do modo como se incorpora e apropria-se

do espaço de exposição pode ser alinhada às correntes que problematizam a

noção canônica da obra de arte, sob vários aspectos, seja o da unicidade da obra,

seja o da autonomia frente à localização e às condutas do espectador.

O enfoque adotado para a análise das instalações é norteado, por sua

vez, pela questão do espaço.

No cenário artístico, diz a Doutora Ana Albani da UFRS:

A instalação impõe-se pela recorrência e pelo debate que suscita em contraponto à relativa escassez de pesquisas sistemáticas veiculadas por parte da história e da crítica de arte, especialmente no meio acadêmico brasileiro e regional, em particular. (2005, p.10)

Para as instalações, suas condições de existência e sua identidade são

relativas à montagem e ao procedimento de instalar. Quem instala, instala alguma

coisa, de algum modo, em algum lugar, por algum tempo. Pois uma instalação é

concebida levando-se em conta um dado sítio de destinação sob vários aspectos

de ordem física, materiais, objetivos, históricos e culturais, mesmo que nem todos

possuam a mesma ênfase e proporção.

Uma obra que se configura como instalação é o resultado dos processos

artísticos, poéticos inerentes à produção de cada artista, que poderá ser

produzida em partes, concebida em projeto ou como conceito de longos anos.

Quanto a este trabalho de conclusão de curso, a realização da

ambientação, dos elementos postos apresenta em si um aspecto contemporâneo

por se tratar de uma Instalação Artística. Cujo trabalho visa à participação, a

interatividade das pessoas em torno à obra. Pois elas estão correlacionadas com

os retratos que foram produzidos, sendo refletida nos espelhos que ali estão

colocados, como parte fundamental da obra, pois sem a participação das

pessoas, a obra não se fecha.

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29

CAPITULO II

BELEZA E SUAS FORMAS

O termo Beleza é aplicado bastante para designar, qualificar objetos,

adjetivar fenômenos. Onde cotidianamente dizemos bela uma ação, uma atitude,

uma construção, uma casa. Associações estas são tão desiguais que uma

definição exata do significado da palavra Beleza.

Segundo Arguillol e outros:

Ainda no caso de que nos contentássemos com a explicação ocidental desta noção, nos encontraríamos diante de um dédalo3 com tantas derivações e, ao mesmo tempo, com tantos becos sem saída, que qualquer afirmação não poderia ser entendida muito mais do que como uma hipótese ou, no máximo, como uma aventurada aproximação.(1997, p.13)

A tradição dos países do Ocidente usava o vocábulo belo como derivação

do bellum latino que, por sua vez, pretendia ser a tradução do conceito grego

kalós. Porém, kalós apresenta consideráveis problemas. Os filósofos, que ao

longo dos últimos séculos tentaram discernir a intencionalidade estética da antiga

cultura grega procuraram estabelecer os contextos em que kalós era colocado.

Mas o resultado não foi muito esclarecedor, pois há muitas complicações

quanto a qualificar a beleza dos deuses e da natureza humana. Tanto que há

diversas definições quanto ao termo beleza. Por exemplo, para o poeta grego

Hesíodo, beleza vincula-se á descrição física de determinadas mulheres e menor

medida, de alguns homens. Entretanto, para Homero, beleza está vinculada com

a dignidade humana e com a grandeza de ânimo.

A verdade é que a questão da beleza foi e é um dos temas mais

debatidos em toda a história da humanidade. Por isso, distinguir beleza do belo se

faz necessário, já que normalmente se alude o conceito de beleza ao belo.

E conscientes ou não, nos guiamos para o conceito do belo toda vez em

que falamos de uma paisagem, de uma pintura, de um desenho ou mesmo de

uma escultura.

3 Dédalo s.m/ adj.¹ : Neste trabalho, entender-se-á o adjetivo como um lugar em que os caminhos

estão dispostos de modo que é fácil perder-se neles

Page 21: Pinheiro; nayara kinsk da silva   diferenças raciais, sociais e culturais um mode de ver o mundo

30

O belo na verdade, é uma percepção subjetiva que afeta nossa emoção e

que nos passa para um estado anímico4 diferente. Diante do belo, a beleza é sua

essência.

Segundo as teorias estritamente materialistas, tanto primitivas como

modernas, negam-se que há um modo de falar da beleza como uma matriz

comum, mas que dá unicamente para falar do que reconhecemos como algo belo.

Pois para elas não existem a bondade, o amor, a verdade, como algo concreto,

definível. Mas sim, o bondoso, o amoroso e o verdadeiro. Já que é algo que

sentimos, algo subjetivo.

Para os defensores desta posição o belo é produto da sensação, que vem

depois das especulações sobre a beleza.

Embora esta pudesse ser a explicação menos complexa e conflitante,

grande parte das civilizações não a adotou como suas. Normalmente os homens

relacionaram a procura de um substrato do belo ao desejo de transcendência. E

esse substrato, a beleza, se vinculou aos anseios de eternidade, divindade, de

perfeição que os homens atribuíram em motivos essenciais de suas crenças.

O que para Arguillol e outros (id, p.14), para muitas culturas a beleza foi

relacionada com a essência do divino cujos reflexos só esporadicamente

entrevêem os homens. A beleza é então uma aspiração sagrada, pertencendo ao

campo mágico e religioso. As obras humanas realizadas, como as pirâmides

egípcias, as catedrais tem como papel a elevação artística ou moral, a uma

beleza que lhes aproxima para a divindade.

Habitualmente se pensa em belo como algo recebido do exterior para o

interior. Tratando-se de uma visão impressionista.

A realidade externa nos alcança provocando em nós alguns sentimentos

que qualificamos de diversas maneiras: prazer, gozo, melancolia, alegria. Um

fluxo que vai de fora para dentro, do exterior para o interior.

O belo se faz claro, quando por diversas maneiras, restringimos o campo

desta contemplação e escolhemos voluntária ou involuntariamente, um motivo de

impacto. Por assim dizer o belo interiorizou-se em nós. Mas a complexidade do

fenômeno estético implica outra visão expressionista do problema. O homem não

4 Anímico adj.: Neste trabalho entender-se-á este adjetivo como da alma ou a ela relativo

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31

só vê, olha; não só ouve, fala; não só capta, exprime. Não só admira o criado,

mas também, por sua vez, cria.

Do nosso interior à realidade externa também decorre o fluxo do belo.

Desde a interioridade humana, espírito, alma, mente conforme as diversas

denominações a que esta foi nomeada, emergem sentimentos, idéias e atitudes.

A Criatividade e singularmente, a Criatividade artística, é o resultado da

extroversão desta beleza interior materializada em atos, obras ou mesmo

construções.

Artistas tão atentos ao modelo da realidade eram os do Renascimento

que não consentiam menor importância ao modelo interior. Leonardo da Vinci e

Rafael Sanzio insistiam em conjugar ambos. Leon Battista Alberti preferia os

projetos vislumbrados na sua mente às edificações efetivamente realizadas.

Portanto, a sensibilidade estética se move em uma dupla direção, de

maneira que o homem é capaz de notar a beleza exterior e interior, seja

captando-as, seja exprimindo-as, reconhecer no belo suas formas concretas.

De certo modo, a reflexão estética foi um fracasso. As representações do

belo não puderam ser definidas, a não ser, mediante critérios subjetivistas e as

teorias da beleza desembocaram necessariamente em especulações metafísicas.

A beleza uniu-se ao desinteresse, ao prazer, a perfeição abstrata, a

sabedoria, as forças imutáveis, a um mundo de idéias pré-existentes a nossa

realidade.

Arguillol e outros (1997, p. 16) afirmam que:

As modernas concepções antropológicas e etnológicas demonstraram com crescente autoridade, que as mais remotas manifestações artísticas ou pré-artísticas, não só implicam conotações mágicas e religiosas como ajudam a intencionalidade criativa.(ibid,p.16)

Sendo assim, há nas pinturas rupestres não só a consciência mágica,

mas também, uma consciência estética.

A plausibilidade deste fato não é em nenhum modo paradoxal, pois se a

beleza é intuição, obrigatoriamente a consciência estética tem que responder a

uma espontaneidade. A natureza se forma assim, na fonte primeira e mais geral

da beleza. O espetáculo do Universo, com seus mistérios e seu conhecimento

lentamente desvelado com seus enigmas e suas sugestões, oferece a cena

adequada para a mais instintiva atração estética.

Page 23: Pinheiro; nayara kinsk da silva   diferenças raciais, sociais e culturais um mode de ver o mundo

32

A contemplação dos Cosmos, com as conseqüências de prazer e temor,

de serenidade e inquietude, que nasce, devia ter desenvolvido no homem

primitivo a capacidade estética. A Contemplação sucedeu a ânsia de absorção e,

como conseqüência, de representação.

Símbolos, sinais e desenhos dos tempos pré-históricos dão fé disso e

uma das primeiras doutrinas estético-cosmológicas da Europa, o pitagorismo,

defendia a exigência de considerar os Cosmos como a origem primordial e única

da beleza.

Em termos gerais, nem as grandes culturas orientais e nem a tradição

ocidental desmentiu a identidade entre a beleza e a natureza, fosse essa

imanente ou criada por uma força transcendente, fosse infinita ou limitada.

Tanto no mundo das criaturas como nos seres humanos, é possível

suscitar em cada um de nós um sentimento de beleza. Sejam elas, plantas,

animais ou homens. Outro tanto se pode dizer de atitudes, comportamentos e

personalidades. Em todos esses casos intuímos a beleza.

Genericamente é possível afirmar, portanto que a atração pela natureza –

entendida esta em toda sua complexidade: desde os astros aos homens e suas

condutas, um caráter fundamental do caráter inato da consciência estética.

Embora não entendemos os cânones envoltos da beleza, o sentido do estético

está presente no mundo das crianças.

Os sentidos dos homens dão consistência à capacidade imitativa do

homem e lhes permitem interiorizar as imagens. Mas sua resposta não é uma

mera devolução, o homem reelabora o relatório material de imagens e sente por

sua vez, o impulso de exteriorizar-se. A sua resposta é precisamente a

criatividade humana.

A relação entre a arte e a beleza é conflitante. Para alguns, como para o

historiador e filósofo G. Collingwood, não há nenhuma solidez em dita relação: os

campos de ambas são perfeitamente independentes.

Para outros em compensação, não existe dúvida de que o papel da arte é

a representação material da beleza.

Tudo depende da forma e do alcance da nossa noção de beleza. Se esta

é vista com um sentido restritivo, como algo que implica perfeição, harmonia, é

evidente que o fenômeno artístico tem uma relação muito indireta com ela.

Page 24: Pinheiro; nayara kinsk da silva   diferenças raciais, sociais e culturais um mode de ver o mundo

33

No primeiro caso pode dizer que a beleza interessa ao espírito humano

de diversas maneiras, e que só esporadicamente a arte é uma delas. No segundo

caso, pode-se raciocinar que a arte historicamente conhecida e inclusive os

modos artísticos mais arcaicos, entranham geralmente numa intenção de beleza.

A arte antes do Renascimento era conseqüência de outros propósitos

(religiosos, domésticos, ornamentais, glorificadores) independentemente de que,

com posterioridade, tenham sido apreciados como belos. A arte provocaria então,

a emoção da „‟beleza‟‟ mas, a exceção da renascentista e pós-renascentista, não

se proporia expressá-la.

Agora se diante desta definição restritiva de beleza defendemos aquela

outra aludida, pela qual são feitos estritamente dependente da natureza e do

conjunto de suas modificações.

A beleza não é então uma categoria normalizada que se qualifica

intelectualmente, mas uma expressão essencial da natureza, dos cosmos. Como

conseqüência o fenômeno artístico desde suas formas mais meditadas, radicaria

nas sucessivas cristalizações daquela conexão.

Portanto, a afirmação tão habitual de que a arte tem como objetivo a

beleza, só tem significado se esta última é compreendida em um sentido de

universalidade.

A consciência estética é um conceito ambivalente. Em algumas situações

é empregado para ilustrar a relação do homem com a beleza; em outras, a do

homem com a arte.

Se a reflexão sobre a beleza e a reflexão sobre a arte se consideram

quase inconciliáveis é óbvio que deve se escolher entre a aplicação a uma à

outra. Se pelo contrário, reconhece à indiscutível sobreposição de ambas as

reflexões, como parece inevitável, é necessário fazer uma particularização teórica

que é, ao mesmo tempo, metodológica.

O homem adquire consciência estética da beleza de um modo universal,

espontâneo e intuitivo, independente de suas tradições, culturas e civilizações; os

graus e modos desta aquisição são obviamente diferentes, mas ela forma parte

de sua própria condição natural. E em outro plano, o homem tem consciência

estética da arte, formas do belo criada por ele mesmo, de um modo particular nas

quais estão presentes seus contextos intelectuais, culturais e sociais.

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34

Ao longo deste estudo o uso do conceito consciência estética deve ser

entendido na confrontação e no mútuo apoio de ambas as dimensões.

2.1. PADRÕES DE BELEZA: CONCEPÇÃO DO BELO

À medida que a beleza ganha uma grande importância na vida de uma

pessoa, mas a insatisfação se torna presente, ocasionando muitas vezes num

impacto negativo em relação à auto-estima. Sendo a beleza resultado da

interligação de diversos fatores biológicos, sociais, culturais e históricos.

Uma pesquisa desenvolvida na Universidade de Flinders, na Austrália,

envolveu 332 estudantes universitários e teve como temática as diferenças

sexuais com respeito à satisfação com o próprio peso. Embora as mulheres

apresentassem menor peso quanto à altura, elas eram bem insatisfeitas com seu

corpo, não correspondendo na maioria delas a impressão subjetiva com a

realidade. Pois quanto mais acima do peso ideal, mais baixa era sua auto-estima.

Entretanto, nos homens, peso real e subjetivo estavam positivamente

correlacionados com a auto-estima. Ou seja, quanto maior era o homem, maior

sua auto-estima, deixando transparecer uma auto-estima rebaixada aos homens

abaixo do peso diz. O que tais resultados são congruentes com os perfis ideais

traçados para a mulher (tipo mignon) e para o homem (tipo corpulento).

(QUEIROZ,2000)

Diante das insatisfações, muitas mulheres buscando a perfeição,

recorrem ao uso de medicamentos, correndo o risco de alguma patologia. Um

distúrbio muito característico em mulheres é a bulimia. Essa patologia leva a

pessoa a ingerir grandes quantidades de alimentos, para depois, sentindo-se

culpada, vomitar ou usar diuréticos e laxantes, podendo resultar em desequilíbrios

fisiológicos e conduzir, em alguns casos, até ao óbito. Para que se tenha noção

da gravidade estima-se que 30% das estudantes possuíam este distúrbio em

algum grau. Patologia igualmente séria é a anorexia nervosa, distúrbio alimentar

característico de mulheres, que respondem por 90% a 95% dos casos

registrados. O portador deste distúrbio come tão pouco que muitas vezes,

apresenta uma aparência esquelética, sem admitir que esteja realmente magro.

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35

No Brasil, país em que o preconceito racial é difuso e dissimulado, os

traços físicos de africanos são bem desvalorizados. Uma expressão muito comum

e que denota tal desqualificação é a expressão „‟ que cabelo ruim‟‟.

O ideal de beleza pressupõe integridade física. Deformidades corporais

contrariam o ideal estético estabelecido, podendo converter-se em estigmas e,

eventualmente marginalizar seus portadores. Entretanto, tais deformidades são

vistas não apenas como imperfeições, mas como também traços negativos de

caráter para algumas culturas.

O que nos leva a perceber que os processos culturais são, em grande

parte, responsáveis pela definição de padrões estéticos e da própria beleza

corporal. Sendo óbvio que, constituindo intervenções da cultura sobre o corpo e

por condicionarem a percepção que dele se tem, esses padrões, bem como a

concepção de beleza muda conforme os diferentes contextos culturais que se

sucedem no tempo e no espaço em que se vive.

Os índios brasileiros, por exemplo, tem uma visão diferente em relação ao

conceito de beleza. Pois para os índios Bororos, a beleza está diretamente ligada

com virtudes sociais, tais como bondade, generosidade, integridade e respeito.

Onde as pinturas e os adornos são vistos como remédios e também, como

qualidades e virtudes para o corpo.

O que para Campos (apud Queiroz, 1999, p.160)), entre os índios

Bororo, os adornos labiais dos bebês do sexo masculino são vistos como

recursos poderosos para fortalecê-los e fazê-los crescer, enquanto que algumas

pinturas do corpo e do rosto tem função de protegê-los contra doenças e também,

maus espíritos.

Pode se notar que na estética do índio, o conceito de beleza é mais

espiritualizado, bem diferente do conceito concebido e vivenciado por uma grande

maioria.

Já, os negros brasileiros e norte-americanos, sobretudo os do sexo

feminino, costumam considerar belos cabelos lisos, talvez isto seja devido à

influência do ideal de beleza estabelecido pela população branca.

Enfim, nota-se que em cada cultura há uma forma de se conceber,

perceber o conceito de Beleza, onde estes se distinguem de tempos em tempos e

de pessoas para pessoas.

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36

CAPITULO III

PERCEPÇÃO

3.1. O MUNDO DAS ILUSÕES

Em psicologia, neurociência e ciências cognitivas, percepção é a função

cerebral que atribui significado a estímulos sensoriais, a partir de histórico de

vivências passadas. Através da percepção um indivíduo organiza e interpreta as

suas impressões sensoriais para atribuir significado ao seu meio. Consiste na

aquisição, interpretação, seleção e organização das informações obtidas pelos

sentidos.

A percepção pode ser estudada do ponto de vista estritamente biológico

ou fisiológico, envolvendo estímulos elétricos evocados pelos estímulos nos

órgãos dos sentidos. Do ponto de vista psicológico ou cognitivo, a percepção

envolve também os processos mentais, a memória e outros aspectos que podem

influenciar na interpretação dos dados percebidos.

Segundo Santaella (1998), os órgãos sensoriais funcionam

conseqüentemente, como janelas abertas para o exterior.

A percepção visual é pensamento visual. O conjunto das operações

cognitivas – do pensamento – não só é privilégio dos processos mentais, são

também, ingredientes essenciais da própria percepção. São elas: a exploração

ativa, seleção, simplificação, abstração, análise, síntese, complemento, correção,

comparação. Para os empiristas a sensação e percepção dependem das coisas

exteriores. São causadas por estímulos externos que agem sobre nossos

sentidos e sobre o nosso sistema nervoso. Na psicologia, o estudo da percepção

é de extrema importância porque o comportamento das pessoas é baseado na

interpretação que fazem da realidade e não na realidade em si. Por isso, a

percepção do mundo é diferente para cada um de nós, cada pessoa percebe um

objeto ou uma situação de acordo com os aspectos que têm especial importância

para si (ARNHEIM,1998).

Muitos psicólogos cognitivos e filósofos de diversas escolas sustentam a

tese de que, ao transitar pelo mundo, as pessoas criam um modelo mental de

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37

como o mundo funciona (paradigma). Ou seja, elas sentem o mundo real, mas o

mapa sensorial que isso provoca na mente é provisório, da mesma forma que

uma hipótese científica é provisória até ser comprovada ou refutada ou novas

informações serem acrescentadas ao modelo.

À medida que adquirimos novas informações, nossa percepção se altera.

Diversos experimentos com percepção visual demonstram que é possível notar a

mudança na percepção ao adquirir novas informações.

As ilusões de óptica e alguns jogos, como o dos sete erros se baseiam

nesse fato. Algumas imagens ambíguas são exemplares ao permitirem ver

objetos diferentes de acordo com a interpretação que se faz. Em uma "imagem

mutável", não é o estímulo visual que muda, mas apenas a interpretação que se

faz desse estímulo.

Assim como um objeto pode dar margem a múltiplas percepções,

também pode ocorrer de um objeto não gerar percepção nenhuma: Se o objeto

percebido não tem embasamento na realidade de uma pessoa, ela pode,

literalmente, não percebê-lo.

3.2. FATORES QUE INFLUENCIAM A PERCEPÇÃO

O processo que a percepção passa tem início com a observação, que faz

com que percebemos alguns elementos em desfavor dos outros. Deste modo são

vários os fatores que influenciam a atenção e que se encontram agrupadas em

duas categorias diz Lair Ribeiro (2002, p.63):

Fatores Externos, que são a intensidade, o contraste, o movimento e

a incongruência. No caso da intensidade, um bom exemplo é a sirene. No

contraste, o semáforo; no movimento, o modo como as crianças reagem mais

rápido a brinquedos com movimentos, e por fim, a Incongruência, ao qual

prestamos mais atenção a coisas absurdas do que as normais.

Fatores Internos, que são a Motivação e a Experiência. No caso, a

motivação pode ser exemplificada por um caso muito simples. Normalmente

prestamos mais atenção àquilo que nos motiva, que nos dá prazer. E quanto á

experiência, prestamos mais atenção àquilo que conhecemos, que sabemos. Por

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38

exemplo, um filme mexicano não é bem visto no Japão, pois são estilos

diferentes, não muito conhecidos no país.

3.3. ILUSÕES

Para Lair Ribeiro (ibidem, p.28), a primeira e talvez a maior das ilusões

seja pensar que „‟ o que vemos é‟‟. Analisando a figura abaixo (Fig.06), pergunto

qual das imagens apresenta maior silhueta?

Figura 06: Fonte: livro “O Sucesso não ocorre por acaso” -

RIBEIRO, Lair.

Aparentemente é a imagem de número 4, embora ambas sejam iguais. A

diferença está na interpretação feita pelo cérebro. O que difere uma figura da

outra é apenas uma ilusão, e é essa ilusão que provoca avaliações diferentes de

um mesmo fenômeno visual. Pois nós podemos interpretar qualquer

acontecimento como bom ou ruim, dependendo do nosso ponto de vista, da

nossa visão de mundo.

Muitas vezes ouvimos frases do tipo:- Eu sei que ele é mau, porque

conheço esse tipo de pessoa. Mas devemos ter cuidado com este tipo de

pensamento. Pois um pensamento como este pode ter sido evocado devido á

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39

alguma impressão que tivemos em nossa infância que foi evocada no hoje.

Exemplificando: - Uma pessoa de bigode brigou com seu pai quando criança,

passado se os tempos, quando ela se depara com um senhor de bigode, logo

poderá formar uma concepção negativa desse homem inconsciente ou

conscientemente falando.

O segundo problema de ilusão é pensar que „‟o que é sempre é‟‟.

Na imagem a seguir (Fig.07), pode se ver quadrados pretos entre faixas

brancas. Entre estes quadrados pretos é possível, de vez em quando ver

quadrados cinzentos. Um bom exemplo disso é dizer: „‟Conheço tal pessoa há

anos e ela não pode ter mudado‟‟.

Figura 07: Fonte: livro “O Sucesso não ocorre por acaso” -

RIBEIRO, Lair.

Essa é uma afirmação que devemos evitar. Ninguém continua o mesmo.

As pessoas mudam, o mundo muda.

O terceiro problema da ilusão é pensar que „‟o que sempre é, é tudo que

é‟‟. Na figura 08, se vê um caminhão cheio de pneus, impossibilitado de seguir

viagem justamente pelo imprevisto de um pneu furado. Ter este tipo de imprevisto

está longe de ser uma circunstância engraçada, mas o cérebro junta os dois e cria

o humor.

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Figura 08: Fonte: livro “O Sucesso não ocorre por acaso” -

RIBEIRO, Lair.

Ribeiro (1993, p. 19) esclarece que: “Se compararmos o cérebro humano

com os computadores, veremos que não é o hardware (o equipamento) que faz

um indivíduo mais inteligente que o outro, mas sim o software (o programa que

ele usa)”.

Pois a cada momento nosso cérebro cria a nossa realidade. Sendo a

maior parte de nossa realidade algo que criamos em nossa mente, a partir de um

terceiro componente que não é visível. Esse componente vem de nossa

programação cerebral, que por sua vez, depende da nossa criação e do que nos

foi incutido.

A verdade é que vemos as coisas não como são, mas como nós somos e

se obtenho coisas boas é porque provavelmente estou doando coisas boas, pois

há uma reciprocidade nos fatos. Como afirma Ribeiro (1993, p.50), „‟se meu

cérebro armazenar desgraças é isso que vou enxergar no mundo. Se eu tiver

amor é o que receberei. O ódio irá para quem tem ódio‟‟.

No momento em que se muda suas crenças, seus valores, o mundo muda

com você.

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Certa vez perguntaram a um dos grandes filósofos americanos William

James (apud Ribeiro, p.51), qual a descoberta mais importante para o

desenvolvimento humano nos últimos cem anos e sua resposta foi a seguinte: -

Até agora pensava-se que para agir era preciso sentir. Sabe-se hoje que se

começarmos a agir, o sentimento aparecerá”. Dr. James resumia essa descoberta

com a seguinte frase: - O passarinho não canta porque está feliz, ele está feliz

porque canta. Pois o comportamento muda o sentimento e o sentimento muda o

pensamento.

3.4. HEMISFÉRIO DIREITO E ESQUERDO: AS DIFERENTES

FORMAS DE COMPREENSÃO DE MUNDO.

Os hemisférios direito e esquerdo apresentam funções diferentes

processam informações diferentes e , assim se complementam, expandindo

assim novas possibilidades de compreensão. Um indivíduo com o hemisfério

esquerdo mais desenvolvido, por exemplo, tem grande capacidade para

matemática, pois é mais lógico e analítico. Enquanto que o do hemisfério direito é

mais criativo, receptivo e visual. Um exemplo de diferença entre percepção é o da

figura abaixo:

Figura 09: Fonte: livro “O Sucesso não ocorre por acaso” - RIBEIRO, Lair.

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42

Nela, as pessoas que desenvolveram mais o hemisfério direito

conseguirão ver um sentido no nada. Enxergarão provavelmente um maestro e

seu concerto. As do esquerdo, ao contrário, verão provavelmente um monte de

rabiscos. Já que são mais matemáticos, e os do direito, mais criativos, artísticos.

E assim como no hemisfério direito e esquerdo processam diversas

informações e se completam quando unidos, os homens poderiam tomá-lo como

exemplo, vendo que quando unidas as diferenças, elas se completam.

Do mesmo modo como o segredo do sucesso está no equilíbrio dos

hemisférios, o segredo da boa convivência está em aceitar as diferenças que o

outro possui, para a formação de novos indivíduos e novos saberes.

3.5. PARADIGMA: UM OLHAR, UM CONCEITO, UMA

RESSIGNIFICAÇÃO DOS FATOS.

Imagine uma caixa de giz. Se perguntar para algumas pessoas o que

vêem, algumas dirão: - uma caixa, outras giz. Embora, ambas estejam referindo-

se a mesma coisa, ao mesmo objeto, as respostas são diferentes, porque todos

são diferentes e por conseqüência percebem as coisas de modo diferente,

peculiar.

Por isso é muito importante que saibamos que nem sempre o que conta é

o que acontece, mas sim o modo como percebemos e reagimos diante o fato. Pra

exemplificar, descrevo um caso muito simples: - Uma mãe leva a sala de aula um

bebê. Os que não gostam de crianças dirão: Como essa mãe ousa trazer uma

criança para a sala. Será que não sabe que o bebê vai atrapalhar a turma toda.

Agora, quanto àquelas que gostam, provavelmente dirão: Olha quem veio. Que

lindo que está seu bebê!

Duas percepções diferentes, mas de uma mesma realidade. O bebê, por

exemplo, não criou um ambiente diferente, a interpretação que é diferente.

Do mesmo modo, a vida nos apresenta várias situações, às vezes de

alegria e outras de tristeza. Mas a maneira como aproveitamos cada momento

depende de nós mesmos.

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43

E essa possibilidade de mudar, alterar nosso modo de visualizar as

coisas, é quebrar paradigmas. Pois o paradigma nada mais é que a forma como

percebemos o mundo.

O que segundo Adam Smith (apud Ribeiro, p.112), “o paradigma nos

explica como é o mundo e nos ajuda a predizer seu comportamento”.

No Alasca, por exemplo, na primeira noite um visitante teria que dormir

com a esposa do anfitrião nativo. A recusa era considerada uma afronta para os

nativos do Alasca. Já nos países árabes, entretanto, olhar para um rosto de uma

mulher é crime.

Aí podemos nos perguntar, qual destas atitudes está correta? - Depende

do nosso paradigma.

Em 1979, por exemplo, os suíços detinham de 90% do faturamento de

relógios do mundo. Um dos técnicos de uma das maiores empresas de relógios

da Suíça apresentou ao seu chefe um modelo novo de relógio, o relógio

eletrônico.

Mas o chefe não apreciou a idéia, dizendo que aquilo não era um relógio,

pois não tinha nem cordas, nem molas.

Os japoneses e os norte-americanos, porém, tomaram conta do mercado

com a produção do relógio eletrônico resultando na redução dos 90% para 15%

em apenas três anos, onde 50 mil funcionários perderam seus respectivos

empregos.

Deste fato, pode-se compreender que, quando o paradigma muda, o

conhecimento anterior vai à zero. Por isso, mudar é tão difícil e no momento que

compreendermos como interpretar paradigmas, poderemos mudar a percepção

de mundo.

Pois como afirma Thomas Kuhn (apud Ribeiro, p.117), “quando os

paradigmas mudam, o mundo muda com eles. E uma vez que se mudam os

paradigmas, as possibilidades se multiplicam”.

O problema é que muitas vezes as pessoas vivem de acordo com seus

paradigmas, mas não sabem que eles existem, como um peixe dentro d‟água que

só percebe que está dentro dela quando os tiram de lá.

Através dá apresentação deste trabalho, o leitor tem a sua disposição

muitas informações e orientações que permite ao mesmo a construção de novos

conhecimentos, mas somente ele pode decidir a maneira como usará esse

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44

conhecimento. Lembrando que, segundo Harvey Cox (apud Ribeiro, p.104), “Não

decidir é uma decisão”. Estando nas mãos de cada ser humano a possibilidade de

criar um ambiente harmonioso, justo para consigo e para com os outros, ou

continuar esperando, depositando em alguém ou em algo, que as coisas mudem,

ou mesmo, que o mundo mude.

Deste modo, pode-se perceber que a beleza também está em nossos

olhos, no modo como olhamos e percebemos tudo.

Uma frase que ajuda-nos a compreender isso é a de Rodin: “A beleza

está em toda parte. Não é ela que falta aos nossos olhos, mas nossos olhos que

falham ao não percebê-la”. (RODIN, 1999, p.92)

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45

CAPITULO lV

DIFERENÇAS RACIAIS, SOCIAIS E CULTURAIS

4.1. A QUEBRA DOS PARADIGMAS E DAS ALIENAÇÕES FRENTE

ÀS DIFERENÇAS.

A percepção é uma relação do sujeito com o mundo exterior e não uma

reação fisicofisiológico (empiristas) e nem uma idéia formulada pelo sujeito

(intelectualistas).

O que segundo DONDIS apud Pereira, “a relação dá sentido ao percebido

e aquele que percebe - um não existe sem o outro. Uma experiência é dotada de

significação. O percebido é dotado de sentido, faz parte do nosso mundo e de

nossas vivências”.

Assim, as diferenças que são vistas e apontadas, decorrem de como as

percebemos. Muitas vezes o preconceito que assola a mente do indivíduo, refere-

se a algo, a uma circunstância em que ele se deparou com tal „‟diferença‟‟, mas

que infelizmente não foi muito agradável. Tal acontecimento muitas vezes é

generalizado.

Um bom exemplo de tal preconceito é quando algumas pessoas utilizam

de linguagem comum para se referir à raça negra, de forma ofensiva e pejorativa

como: tizil, neguinho, cabelo ruim, criolo, tição, etc., que denotam claramente uma

suposta feiúra dos negros.

Outra qualificação simplista e preconceituosa é a de que todo índio é

preguiçoso. Mas dizer isso é o mesmo que ignorar a cultura deste povo, que

depende unicamente da natureza como forma de sobrevivência (caça, pesca e

frutos).

Essas atitudes levam a pessoa a se tornar insegura em relação ao seu

próprio corpo e a maneira como ele aparece, ou se parece, para os outros em

sociedade, inclusive para aqueles que lhe são próximos. Ou seja, essas práticas

sociais geram uma deficiência de amor próprio e de autoconfiança.

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Essa é uma realidade triste, que gera grandes problemas na vida destas

pessoas estigmatizadas, como depressão, trauma e outros mais. O que talvez

fosse preciso que as pessoas se conscientizassem mais do problema que acerca

o „‟sentir-se diferente‟‟.

Embora para muitos possa parecer irrelevante levantar tais hipóteses,

sentir se diferente, menos que os outros é algo angustiante, triste e com toda

certeza, é algo que influencia na construção do auto-conceito do individuo. Por

isso, o uso de rótulos deve ser encarado como algo inadmissível. Como se dá na

passagem bíblica:

„‟Não julgueis e não sereis julgados, porque do mesmo modo que julgardes, sereis vós também julgados e, com a medida com que tiverdes medido também vós sereis medido‟‟ (Mateus, 7,1-2)

Provavelmente, se esta passagem da Bíblia fizesse presente nas atitudes

de certos indivíduos, o preconceito provavelmente não existiria. Pois este nada

mais é que o prévio julgamento de algo ou alguém e o estereótipo é um alvo típico

de muitos destes preconceitos que assolam a mente de um ser humano.

Queiroz (2000, p.162), ressalta que:

Nós civilizados desmembramos o todo formato por um corpo dotado de alma e reiteramos a materialidade sobre a espiritualidade do corpo, propiciando a construção de estigmas e preconceitos. E juntos com este processo selvagem de extrapolação de imagens estereotipadas, desvalorizamos os velhos, por melhores que sejam, e discriminamos portadores de marcas físicas associadas ao mundo dos oprimidos e diferentes. Ao mesmo tempo movem-se as modas e vogas, alienando de si mesmos e tornando infelizes todos que sem os recursos

necessários, se vêem fora do padrão.

Tal explicação denota claramente o processo que o preconceito passa até

tornar-se conceito. A verdade é que podemos decidir olhar as pessoas com

indiferença, ou com amor. Onde estas „‟diferenças‟‟ não passam de meros

detalhes quando o assunto é o respeito mútuo e para que este exista em nossas

sociedades, se faz necessário que observemos mais o interior de cada ser

humano; que não caiamos no erro de julgar aquilo que nem conhecemos; buscar

algo de belo nos indivíduos, mesmo que estes na primeira impressão demonstrem

ou mostrem o contrário; enfim, atribuir uma definição, uma visão mais bela,

humana e divina à palavra Beleza.

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É importante que deixemos a luz entrar e guiar nossos olhos, para então

aceitarmos as diferenças. Já que nenhum indivíduo é igual ao outro. As

diferenças existem e é necessário que saibamos conviver com elas.

Ademais, vale ressaltar que a própria Constituição Federal do Brasil, em

seu artigo 5º “caput”, nos remete ao aspecto da igualdade entre os homens.

“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-

se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Brasil a inviolabilidade do

direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, à propriedade, (...).”

Desta maneira, é possível afirmar que o tratamento diferenciado é

prejudicial ao ser humano. Diferenciações não se justificam, tão somente

traduzem preconceitos irracionais.

Portanto, é essencial que não sejamos alienados pela sociedade, que muitas

vezes só corrompe o homem e destrói o que nele há de mais belo, que é sua

alma.

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CAPITULO V

OS CAMINHOS METODOLÓGICOS PERCORRIDOS

5.1. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Através do tema abordado que usa como linguagem expressiva o

Desenho, definiu-se um segmento de contextos que envolvem o papel da arte, do

desenho especificamente e, da problematização que o preconceito assola na

sociedade.

Onde foram estudadas, analisadas e, discutidas neste suporte teórico

itens que situam este trabalho como:

Desenho;

Retratos;

Realismo;

Instalação;

Beleza;

Percepção;

Diferenças Raciais, Sociais e Culturais

No início utilizei para os esboços, estudos das composições, o papel

Canson A4, o sfuminho n°3 e o lápis Crayon. Mas com o tempo comecei a

desenvolver os meus trabalhos no papel Mi Teintes A2 n°340, com o lápis

Charcoal e com o sfuminho n°5. Vale lembrar que foram utilizados também

algodão, cotonete e limpa-tipo. Através destes materiais obtive um melhor

resultado das minhas produções, onde foram necessários inúmeros estudos até

que eu conseguisse deixar o desenho mais natural, realista possível.

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5.1. ANÁLISE ESTÉTICA

A obra é chamada “Que todos sejam um” e para melhor compreensão da

obra faz se necessário analisá-la num todo, não nas partes. Deste modo, a idéia

de que as diferenças quando unidas só completam é enfatizada ainda mais com o

modo como é instalado as obras.

Pois elas são desenhos de metades de pessoas que ao serem juntadas,

lado a lado, formam uma só pessoa, com o intuito de enfatizar a aceitação das

diferenças, se é que realmente elas existem. Dentre estas pessoas há também a

retratação de imagens angelicais a fim de enfatizar a presença divina na vida das

pessoas. Sendo utilizadas três partes da parede para a distribuição dos desenhos

e nos dois cantos foi reservado um espaço para a colocação dos espelhos que

fazem do espectador o membro fundamental na concretização da obra. Já que ele

não está ali como mero observador, mas como pessoa que diretamente está

ligado à produção artística e com o que a obra propõe dizer, “Que todos sejam

um”. Já na frente há duas imagens de olhos representando a percepção, a minha

percepção de mundo. Cabendo ao observador o entendimento que sobre ele está

a responsabilidade de fazer destas diferenças uma igualdade entre os homens.

Que por sua vez poderá decidir olhar as pessoas com diferenças ou aceitá-las

como elas realmente são.

Por início, para executar a minha idéia pensei nas inúmeras situações,

vivências que alguns seres humanos passam devido a sua cor, raça, sexo,

doença. No primeiro momento, na parte 1.1, retratei uma mulher com câncer, que

devido à quimioterapia perdeu todo seu cabelo. Mas com uma beleza única

marcada principalmente pelo olhar.

Nela usei bastante a técnica do sfumato e o limpa-tipo para deixar a

careca mais realista. E ao seu lado, um anjo da guarda velando por ela. Cujo anjo

aparece em todos os desenhos, mas apresentando diferentes fisionomias.

Ao fazer este anjo pensei muito em retratá-lo com um rosto delicado que

transpassasse através de seu olhar, carinho e amor. E é assim, que o faço, o

retrato. No caso, a técnica do sfumato torna-se essencial na realização destes

anjos. Pois eles estão entre nós, mas não são visíveis como nós seres humanos.

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50

Figura 10: Parte 1.1

Na parte 1.2 pensei nas pessoas que sofrem com as marcas de

cicatrizes, onde olhares preconceituosos são constantes. Até chegar a conclusão

desse desenho, fiz vários esboços e estudos para estar alcançando os detalhes

de cicatrizes mais parecidos possível. Essa mulher retratada foi baseada numa

paciente que sofreu queimaduras pelo rosto. Mas que mesmo com essas marcas,

sua beleza é maior, sobressaindo pelos seus olhos que se mostram tão vivos.

E o negro, seu brilho no olhar e seus traços marcantes da raça negra,

como o nariz e a boca mostram-se bem destacados, mas com uma sutileza e uma

beleza indescritível. Quanto ao anjo ele aparece ao centro como aquele que está

a cuidar de todos - A luz presente em nossas vidas.

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51

Figura 11: Parte 1.2

Na parte 1.3 retratei um homem da raça branca e uma mulher da raça

negra. Para a realização deste desenho, pensei muito até decidir colocar estas

duas raças juntas, que em toda a história da humanidade vêm apresentando

discriminações em face do outro. Um tipo de preconceito muito visto e assolado

na sociedade, nas mentalidades de alguns indivíduos que ainda ousam dizer que

uma raça é superior a outra. E ao colocar o anjo ao meio, enfatizo a idéia de que

Deus não faz distinções. Todos os seus anjos estão a postos para guiar e cuidar

de todos os seres humanos.

Figura 12: Parte 1.3

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52

Na parte 1.4 pensei muito nos paradigmas em torno do belo, onde

padrões de nariz, cor de olhos, formato de boca são definidos. Como se beleza

fosse única, como se esta pudesse vir a ser padronizada. Por isso, retratei uma

mulher com um rosto largo, fora um pouco dos padrões de beleza imposto pela

sociedade. Onde normalmente, mulheres que são símbolos de beleza possuem

um rosto, um nariz mais fino e os lábios grossos. Um bom exemplo de beleza que

descreve bem isso é a Modelo e atriz Angelina Joulie.

Porém, no meu desenho faço o contrário e mesmo não respeitando estas

“normas“ de beleza, ainda sim a mulher é bela. Quanto ao anjo, novamente ele

aparece olhando de forma carinhosa e atenta.

Figura 13: Parte 1.4

Na parte 2.1 trabalhei novamente com a questão dos padrões de beleza.

Por isso fiz uma mulher jovem, com um nariz grande e arredondado, com seus

fios de cabelo encaracolados e com uma marca, cicatriz no pescoço.

Embora não esteja dentre dos padrões de beleza, sua beleza é

indescritível. Seu olhar é forte, marcante e sua expressão facial é encantadora.

Quanto ao anjo, seu olhar é terno, de alegria. Novamente ele aparece

como quem está a cuidar, a velar.

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53

Figura 14: Parte 2.1

Na parte 2.2 retrato uma mulher, uma senhora idosa. Com suas marcas

de expressões do tempo bem enaltecidas. Neste desenho tento mostrar que a

beleza também está nessas marcas. Que a beleza está em toda a parte.

Quanto ao índio, através de seus traços marcantes, de seu olhar busco

enaltecer sua beleza. A fim de retratar a beleza que reside também nas

diferenças de idades, culturas e etnias. No centro, retrato um anjo da guarda que

dele emana raios de luz que alcançam ambos. Seu olhar é encantador, como se

em seus olhos ele tentasse dizer algo.

Figura 15: Parte 2.2

Na parte 2.3 retratei um senhor de idade já com algumas marcas de

expressões do tempo, mas com uma beleza única. Seus olhos, sua boca e seu

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54

pescoço é uma das partes que mais me encantei com este desenho. Quanto à

mulher ao lado, retrato-a com um rosto de formato quadrado, com um nariz fino,

respeitando algumas “normas” de beleza. Quanto ao anjo, ele aparece velando-

os, de forma carinhosa.

Figura 16: Parte 2.3

Na parte 2.4 retratei uma mulher com um rosto mais arredondado, com

suas bochechas levemente saltadas, mas com uma beleza única. Deste modo,

trabalho com a questão do preconceito em relação às pessoas que possuem um

rosto mais gordinho. Quanto a este anjo, eu adorei. Seu olhar, seu cabelo escuro,

sua boca e a luz que emana dele foi o que mais me encantou depois de fazê-lo.

Figura 17: Parte 2.4

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55

Na parte 3.1 retratei uma mestiça, nela trabalho com a questão do

preconceito em relação aos asiáticos. Com este desenho busco enaltecer a

beleza desta mulher asiática, que não se faz menos bela que as outras.

Quanto ao anjo retrato-o olhando de forma atenciosa e um tanto preocupada.

Figura 18: Parte 3.1

Na parte 3.2 fiz uma senhora de seus 30-40 anos, com expressões faciais

já definidas em torno da boca e dos olhos. Esse retrato desta mulher foi uma das

que mais encantei. Seus olhos, o formato do rosto, sua boca, seu nariz e as

pequenas marcas de expressões em volta dos olhos me encantaram quando

terminei de desenhá-la. E ao lado um homem de seus 25-35 anos, com um ar

intelectual e com um olhar terno. Ao centro, desenho um anjo que está a cuidar

dos dois. Este anjo foi um dos que mais me encantou. Há uma delicadeza nos

traços, um amor transparecido em seus olhos. Diria que a técnica do sfumato

muito contribuiu para o resultado esperado dos anjos.

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Figura 19: Parte 3.2

Na parte 3.3 retratei um homem negro, com seus traços bem definidos. O

nariz é um bem trabalhado, bem definido de acordo com os traços da raça negra.

Ao lado, retratei uma índia, sem os fios da sobrancelha. Mas com um

olhar marcante que sobressai no desenho. Quanto ao anjinho atrás, ele aparece

como quem está a cuidar, velar pelos dois. Sem distinção, pois para Deus todos

são iguais.

Figura 20: Parte 3.3

Na parte 3.4 retratei uma mulher com o HIV desenvolvido, mas com uma

beleza que sobressai mesmo diante as alterações de sua fisionomia, que agora

parece não muito saudável devido à perda de peso. Neste desenho trabalho com

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a questão do preconceito, do medo das pessoas em relação a estas pessoas

doentes. Pessoas como qualquer outra, que merecem respeito e amor.

O anjo ao lado se mostra presente, olhando por ela, velando-a. Isso

porque Deus não exclui, não discrimina nenhum de seus filhos. Todos para ele

merecem o seu amor.

Figura 21: Parte 3.4

Vale lembrar que em todos os anjos retratados há uma medalha que nela

está os 12 corações representando os 12 apóstolos de Jesus Cristo. O “M” de

Maria e a Cruz, representando o amor incondicional de Cristo por nós.

Quanto aos espelhos colocados no espaço destinado à obra, busquei o

melhor ângulo possível entre os cantos das paredes para que o espectador

pudesse ter a sensação de estar presente no contexto da produção artística e

como parte fundamental dela. E na frente, para enfatizar a percepção visual

desenhei dois olhos, a fim de deixar claro que este é um modo de ver o mundo.

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Figura 22: Percepção Visual “Meu modo de ver o Mundo”

Figura 23: “Que todos sejam um”

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

É com imensa alegria que concluo este meu trabalho, pois após estes

quatro anos de estudos posso por fim concretizar a idéia inicial que tenho como

verdade e transmitir a todos os observadores a importância de não se alienar

diante os fatos, de não se fechar aos preceitos ditos e prescritos pela sociedade.

E sobretudo, mostrar através das minhas produções a importância de se crer em

Deus.

O que se pode notar neste trabalho é uma exploração pelo Desenho, pela

técnica do retrato, do Realismo e pelos caminhos que a “criação” percorre até

chegar a uma série de obras de arte que representam tanto meu crescimento

pessoal, como artístico. E também, é notória a exploração pelo conhecimento do

termo Beleza, dos preconceitos em face às diferenças.

E ao abordar a temática “Diferenças Raciais, Sociais e Culturais. Um

modo de ver o mundo” consegui nela deixar um pouco de mim, do que penso e

como vejo e percebo estas diferenças. Onde estas são irrelevantes quando

pensamos na dimensão que o Ser Humano tem, o seu posicionamento como filho

de Deus.

No caso, as obras apresentam um maior valor quando unidas. Pois elas

dependem uma das outras para ficarem completas.

No início, muitas idéias foram surgindo. Mas com a teoria pude analisar

melhor estas idéias e ver quais realmente dariam certo.

Por isso, digo que os livros lidos foram de suma importância na

concretização dos meus trabalhos. Eles me possibilitaram ver uma gama de

informações, ampliando meus conhecimentos que só vieram a consolidar a minha

idéia, a minha criação.

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REFERÊNCIAS

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RODIN, Auguste. A Arte. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 1990.

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