PINTO, Amancio C_Psicologia Experimental

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PINTO, Amancio C_Psicologia Experimental

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PSICOLOGIA EXPERIMENTALTEMAS E EXPERINCIASAMNCIO DA COSTA PINTOTtulo: Psicologia Experimental: Temas e Experincias Autor: Amncio da Costa Pinto EdioDepsito Legal: 41294/90 ISBN: 972-95353-0-2"O nosso propsito mostrar com que esprito trabalha a psicologia experimental, quais os mtodos que ela escolheu para aplicar num domnio em que muito no acreditaram - e no acreditam ainda - que a experimentao seja possvel e fecunda."Fraisse (1979/1984, p. 10)IntroduoA psicologia experimental refere-se em termos gerais a qualquer rea da psicologia que aplica o mtodo experimental. Em termos mais restritos, o objecto da psicologia experimental geralmente considerado como o estudo e o estabelecimento dos processos cognitivos bsicos e fundamentais. Na investigao dos processos cognitivos fundamentais foram excludos os estudos sobre diferenas individuais e grupais. As razes foram vrias. Por um lado os experimentalistas pressupem que, apesar das diferenas individuais, os processos fundamentais da cognio humana seriam semelhantes entre pessoas e raas. Por outro, a investigao experimental tem por objectivo fundamental determinar as "causas" ou antecedentes do comportamento humano, tarefa que no seria possvel realizar na investigao cientfica das diferenas individuais, onde quando muito se poderiam estabelecer padres de correlao entre respostas.A demarcao da psicologia experimentalA excluso das diferenas individuais do domnio da psicologia experimental nem sempre existiu porm. Durante os anos 20 e 30 do sculo XX houve um intenso debate sobre se se deveria incluir ou no no conceito de experincia os testes mentais e a medida das diferenas individuais. Por exemplo, Cattell (1926) publicou um artigo na revista Science intitulado "Algumas experincias psicolgicas" onde se referem "experincias" sobre testes mentais e medidas de diferenas individuais. Estes estudos "experimentais" so hoje classificados como estudos correlacionais. Por sua vez, Garrett (1930) tambm incluiu no seu livro "Experincias clebres em psicologia" estudos como "o desenvolvimento do teste de inteligncia de Binet", o desenvolvimento do "teste alfa do exrcito" e a medida das diferenas individuais de Calton. Ainda em 1937 no havia consenso sobre o que se deveria entender por experincia. Bentley (1937) num artigo sobre a natureza da experimentao em psicologia referiu oito significados diferentes para o termo "experincia".Actualmente considera-se que a demarcao da psicologia experimental em relao psicologia diferencial se ficou a dever interpretao do conceito de experincia proposta por Woodworth (1938) no clebre livro "Psicologia Experimental". Woodworth refere que uma experincia consiste na manipulao activa da varivel independente de forma a observar-se os seus efeitos na varivel dependente. Segundo Woodworth (1938) "a varivel independente dos experimenta listas antecedente em relao varivel dependente; uma causa (ou parte da causa) e a outra o efeito. O correlacionista estuda a interrelao entre diferentes efeitos", (ob. cit., pg. 3).Assim as causas do comportamento apenas poderiam ser determinadas pela manipulao activa da varivel independente. No planeamento de uma experincia o experimentador tenta controlar os factores da situao de forma a poder estabelecer relaes significativas entre antecedentes (factores da varivel independente) e censequentes (respostas do organismo expressas na varivel dependente).A reduo gradual das conotaes do conceito "experincia" que at aos anos 30 englobava qualquer tipo de investigao emprica passou a incluir, a partir da obra de Woodworth (1938), apenas as investigaes que activa e sistematicamente manipulassem os factores da varivel independente. A partir desta data, a maior parte dos investigadores, incluindo Skinner e Tolman, passaram a adoptar nas suas publicaes a linguagem de "varivel independente" e "varivel dependente" e a identificar a varivel independente como a "causa" do comportamento. Assim o mandamento novo do experimentalista passou a ser "Manipulars a varivel independente", Evans (1990).Temas centrais da psicologia experimentalA psicologia experimental consiste na aplicao do mtodo experimental a problemas relacionados com os processos cognitivos bsicos e fundamentais. Neste aspecto a psicologia cognitiva virtualmente sinnimo de psicologia experimental.* Entre os temas principais que a psicologia experimental inclui no seu mbito figuram a psicofsica, a ateno e percepo, a aprendizagem, a memria, a linguagem e actividade intelectual, a motivao e a personalidade. Desde a publicao do livro de Woodworth (1938), at aos tratados de psicologia experimental mais recentes tem-se verificado uma constncia aprecivel destes temas bsicos ao longo dos anos.A Tabela 0.1 inclui uma listagem dos temas de psicologia experimental que foram objecto de captulos prprios em sete obras publicadas nos ltimos 30 anos. Apesar destas obras terem um volume e extenso muito diferentes, possvel observar uma sobreposio bastante grande de temas comuns. Em geral, so obras que dedicam alguns captulos metodologia experimental e os restantes reviso da literatura nos domnios dos processos cognitivos fundamentais.* Inicialmente o ttulo deste livro era para ser "Psicologia Cognitiva: Temas e Experincias". A alterao pretende significar a minha homenagem a todos aqueles que iniciaram no ano lectivo de 1912-1913 na Umversidade de Coimbra e mantiveram desde ento a longa tradio da disciplina de "Psicologia Experimental" no curriculum umversitrio Portugus.Psicologia experimental e psicologia laboratorialSe a psicologia experimental se demarcou da psicologia diferencial, surge no entanto muitas vezes associada psicologia laboratorial. Houve alturas mesmo em que a psicologia experimental parecia ter ficado reduzida psicologia laboratorial. Esta reduo no entanto duplamente incorrecta. Por um lado a aplicao do mtodo experimental no estudo dos processos fundamentais da cognio humana pode, em certas circunstncias, efectuar-se fora do laboratrio, o que tem vindo a acontecer gradualmente em certos domnios. Por outro lado, reas da psicologia, como a psicologia do desenvolvimento, a psicologia diferencial e a psicologia social podem efectuarTabela 01: Descrio dos temas abordados em diversos livros que se intitularam de "Psicologia Experimental" e que foram publicados desde 1935 at 1989. (Pg. 10)investigao laboratorial sem que tais estudos possam ser catalogados de Psicologia experimental.Por exemplo, a determinao dos efeitos das diferenas de idade e sexo nos tempos de reaco pode implicar uma investigao laboratorial, mas os estudos a realizados so para todos os efeitos estudos respectivamente de desenvolvimento e diferenciais. Ao contrrio dos estudos experimentais, em que a distribuio dos sujeitos pelos grupos feita ao acaso, nestes estudos de desenvolvimento e diferenciais os sujeitos antes de entrarem no laboratrio pertencem j a grupos pr-definidos.Apesar de poder ser dispensvel num ou noutro caso o laboratrio fundamental em psicologia experimental. Primeiro no laboratrio que mais facilmente se pode determinar com preciso e depois manipular os factores da varivel independente, Por exemplo, se se quiser determinar os efeitos do tempo de exposio na aprendizagem e memria de uma lista de palavras e se a manipulao implicar valores de exposio de 500 milsimos de segundo, um segundo e cinco segundos respectivamente necessrio recorrer a equipamento que seja capaz de expor este tipo de material nos valores seleccionados.Com este tipo de objectivos foram inventados vrios aparelhos psicolgicos. O taquistoscpio um aparelho que permite apresentar diversos materiais visualmente durante perodos que variam de um milsimo de segundo a vrios segundos; O cilindro de memria permite apresentar listas de palavras a ritmos normalmente superiores a cerca de meio segundo; O adaptmetro de obscuridade de Piron apresenta um estmulo luminoso sob sete intensidades muito baixas, permitindo paralelamente estabelecer o tempo que demora a detectar cada um deles; o aparelho de desenho ao espelho, permite estudar os efeitos de transferncia de treino motor; o reaccimetro permite apresentar estmulos visuais e auditivos, alm de vrios tipos de estmulos dentro de cada modalidade, entre outros aparelhos.Segundo, o laboratrio permite ainda controlar os efeitos das variveis parasitas que o experimentador suspeita estarem relacionadas com os factores da varivel independente. Em experincias de percepo do brilho, por exemplo, a luminosidade do local onde as experincias so realizadas tem de ser controlada, possivelmente efectuando a experincia numa cmara escura onde se possa regular a intensidade da luz. Tambm deve ser controlada a luminosidade do local onde se realizam as experincias de tempos de reaco visuais e o rudo quando se tratar de experincias de tempos de reaco auditivos.O uso de cmaras escuras, cmaras insonoras, controladores da intensidade da luz so recursos habitualmente encontrados num laboratrio de psicologia. Alguns dos aparelhos anteriormente referidos permitem, alm da determinao e manipulao das condies da varivel independente, manter constantes outras variveis. Por exemplo, o reacc6metro permite manipular a cor dos estmulos, mantendo constante a respectiva durao, ou vice-versa.Terceiro o laboratrio inclui ainda equipamento que permite medir com preciso os resultados do comportamento de um sujeito ou organismo. Entre os aparelhos mais importantes deve naturalmente figurar uma meia dzia de bons cronmetros electrnicos capazes de medir o tempo em umdades de milsimos de segundo e com possibilidades de serem ligados por cabos elctricos a outros aparelhos. O reaccimetro um aparelho tpico do laboratrio de psicologia, permitindo fazer variar algumas caractersticas dos estmulos visuais e auditivos, manter constantes outros factores e ainda medir os tempos de reaco de um sujeito numa situao especfica em valores de centsimas ou milsimas de segundo; O dinamgrafo um aparelho que permite registar situaes de esforo e fadiga; O estesimetro permite medir a sensibilidade tctil; O esteremetro de Michotte permite medir a percepo da distncia em condies de viso monocular ou estereoscpia. J mais no mbito da psicofisiologia, o polgrafo um aparelho que permite registar diversas medidas orgnicas e psicofisiolgicas, como o ritmo cardaco, as ondas cerebrais e a conductibilidade da pele em funo do estado emocional (neste ltimo caso tambm o psicogalvanmetro); Para uma descrio mais pormenorizada destes aparelhos, veja-se Fraisse (1974).Actualmente alguns destes aparelhos so substitudos pelo computador, que atravs de programas desenvolvidos para o efeito, permite apresentar, quer visual quer auditivamente, uma enorme variedade de estmulos e simultaneamente registar com preciso as respostas dos sujeitos. O computador substituiu plenamente os cilindros de memria, que se tornaram peas de museu. No entanto tem sido mais difcil ao computador substituir plenamente o taquistoscpio, atendendo ao ritmo lento de renovao da imagem do cran do computador que da ordem dos 17 milsimos de segundo e respectivos mltiplos. No que se refere ao registo do tempo em valores de milsimos de segundo, os reaccimetros so ainda um recurso vlido num laboratrio de psicologia experimental.Os laboratrios de psicologia em PortugalEm termos de data de fundao os laboratrios de psicologia em Portugal tm uma longevidade bastante respeitvel. O primeiro laboratrio de psicologia experimental foi fundado na Faculdade de Letras de Coimbra no ano lectivo de 1912/1913 por Alves dos Santos (Gomes, 1990; Abreu, 1990) e o segundo em 1930 na Faculdade de Letras de Lisboa por Matos Romo (Abreu, 1990; Lima, 1949).No que se refere ao ensino umversitrio da psicologia em Portugal, a "psicologia experimental" foi juntamente com a disciplina de "psicologia" uma das duas disciplinas psicolgicas a serem leccionadas na Umversidade de Coimbra.* Na legislao de 1930 e 32 sobre a reforma das Faculdades de Letras, o ensino umversitrio da Psicologia voltou a ser contemplado com duas cadeiras, uma de "Psicologia geral" no 12 ano e outra de "psicologia experimental" no 42 ano da licenciatura em Cincias Histrico-Filosficas.Com a nova legislao de Outubro de 1957 e de Outubro de 1958, a Psicologia surge no plano de estudos da nova licenciatura em Filosofia com duas disciplinas, uma de "Introduo Psicologia" no 1 ano e outra de "Psicologia Experimental" no 2 ano, havendo duas aulas tericas e duas aulas prticas em cada uma das duas cadeiras. As aulas prticas eram para ser realizadas no laboratrio de psicologia. A legislao previa ainda um "Seminrio em Psicologia" no 5 ano para quem desejasse preparar tese de licenciatura em Psicologia.A histria da criao do primeiro laboratrio de psicologia na Umversidade de Coimbra est bem documentada, tendo sido recentemente objecto de duas contribuies importantes (Comes, 1990; Abreu, 1990). O mesmo no acontece com o ensino da Psicologia e a fundao do laboratrio de psicologia na Faculdade de Letras da Umversidade do Porto. Neste sentido gostaria de apontar algumas notas (veja-se, Borges e Pinto, 1987), que outros mais capazes e interessados por este assunto possam aproveitar para um estudo histrico posterior.* Segundo Comes (1990) "Quer este Decreto de 9 de Maio de 1911, quer um Decreto de 19 de Agosto de 1911, que aprova o Regulamento das Faculdades de Letras, ao ocuparem-se da distribuio das disciplinas pelos diferentes grupos, colocam no 62 grupo (Filosofia) a disciplina de Filosofia (...) e a disciplina de Psicologia Experimental". Por sua vez, o artigo 219 do Decreto de 19 de Agosto "que se ocupa dos trabalhos prticos a que os alunos eram obrigados, explicita-se que, entre as formas principais que esses trabalhos revestiriam, uma delas seriam os Exerccios de Psicologia Experimental", (ob. cit., p. 4).O laboratrio de psicologia na Faculdade de Letras da U. P. Na Umversidade do Porto o ensino da Psicologia surgiu com a reabertura da Faculdade de Letras em 1961. Durante os anos 60 a regncia das cadeiras de Psicologia foi assegurada por docentes do curso de Filosofia de que se destaca Maria Carmelita Sousa e do curso de Medicina nomeadamente Lus de Pina, Fernandes da Fonseca e Sofia Moreira. No incio dos anos 70 de referir a participao de Isolina Borges na leccionao das disciplinas de Psicologia do curso de Filosofia, sobretudo a de "Psicologia Experimental", Borges (1972).Para apoio das aulas prticas das disciplinas de Psicologia, principalmente a de "Psicologia Experimental" que fazia parte do 2 ano do curso, foi fundado um laboratrio de psicologia experimental na Faculdade de Letras da Umversidade do Porto. Da organizao deste laboratrio foi incumbida Maria Carmelita Sousa sob a superviso do ento professor catedrtico de Psiquiatria Doutor Lus de Pina. O estabelecimento do laboratrio decorreu em duas fases. Uma inicial durante o ano lectivo de 1964/1965 onde foram adquiridos principalmente testes de inteligncia, aptides e de personalidade e questionrios de interesses, alm de um ou outro aparelho.A segunda fase de instalao do laboratrio de psicologia ocorreu no ano lectivo de 1971/1972, onde foram adquiridos principalmente aparelhos de laboratrio e livros de psicologia. Ao laboratrio e biblioteca foi destinado na altura uma sala especfica. A biblioteca de Psicologia teria nessa altura volta de meio milhar de livros. Assinale-se a propsito que sem a colaborao e interesse manifestado pelo ento responsvel do curso de Filosofia, Professor Doutor Eduardo Soveral, a constituio do laboratrio de psicologia, da biblioteca, assim como a formao em psicologia de docentes interessados, no teriam sido possveis.O apetrechamento do Laboratrio de Psicologia era na altura bastante satisfatrio. Em termos de equipamento era constitudo por dois aparelhos de tempos de reaco (reaccimetros), um taquistoscpio de dois campos, um audimetro, vrios aparelhos de controle motor como o tremmetro em V e o teste de torneiro, aparelhos de discriminao e mistura de cores, o adaptrnetro de obscuridade de Piron, etc.Todo este equipamento foi graciosamente transferido do curso de Filosofia da Faculdade de Letras do Porto para o curso de Psicologia em Setembro de 1977, estando a maior parte dos aparelhos ainda a ser utilizado no apoio das aulas prticas da disciplina de "Percepo, Aprendizagem e Memria" no ano lectivo de 1990/91.O laboratrio de psicologia do curso de Psicologia da U. P. Desde o ano lectivo de 1977/78 o laboratrio de psicologia experimental do curso de Psicologia da Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao do Porto tem vindo a ser gradualmente enriquecido. Assim nos anos de 1978 e 1979 foi contemplado com um montante significativo das verbas de capital do oramento do curso de Psicologia, alm de um subsdio da Fundao Gulbenkian. Em Julho de 1981 o laboratrio foi ainda depositrio de todo o equipamento laboratorial do centro de psicologia da Fundao Gulbenkian, quando esta instituio decidiu encerrar o seu Centro de Oeiras. Para este apoio muito contribuiu na altura o Professor Doutor Machado Cruz, Presidente da Comisso Instaladora do Curso de Psicologia. Mais recentemente em 1987, o laboratrio voltou a ser beneficiado com uma verba do oramento do PIDAC atribuda Faculdade de Psicologia.Em termos de ensino, a disciplina de "Psicologia Experimental" fez parte do curriculum do curso de Psicologia da Umversidade do Porto desde a sua criao no ano lectivo de 1977/78 at ao ano lectivo de 1986/87, altura em que foi substituda pela criao de duas novas disciplinas de "Percepo, Aprendizagem e Memria" e "Linguagem e Cognio". Nos anos lectivos de 1977 a 1979 a regncia da disciplina de "Psicologia Experimental" contou com a colaborao de Ian Martin Clifton Everest, doutorado pela Umversidade de Cambridge.Alm das funes de apoio a algumas disciplinas do curso de Psicologia, o laboratrio de psicologia experimental apoiou nos anos 80 investigaes que conduziram a duas provas de doutoramento (Pinto, 1984; Castro, 1988) e trs provas de mestrado (Castro, 1983, Lencastre, 1988; Maia, 1990) por parte de docentes da Faculdade. Equipamento do laboratrio de psicologia experimental tem sido ainda usado por docentes da rea de psicologia social do curso de Psicologia, nomeadamente por parte de Flix F. M. Neto e Jos C. M. Marques e ainda por investigadores de outras instituies umversitrias, como o Instituto de Biomdicas Abel Salazar do Porto e da Umversidade Livre de Bruxelas.Em termos de apoio lectivo, o laboratrio tem desempenhado um papel de relevo, embora a contribuio possa ser ainda mais ampla no futuro. Em termos de produo cientfica realizada segundo uma metodologia experimental, o papel do laboratrio tem sido bastante mais modesto. Infelizmente tambm em Portugal a investigao experimental modesta. O que uma pena.A investigao experimental em Portugal tem um passado notvel, quer do ponto de vista de enquadramento legal quer do apoio umversitrio (Gomes, 1990; Abreu, 1990; Lima, 1949). Acrescente-se ainda que foi numa rea central da psicologia experimental, a memria humana, que Slvio Lima submeteu em 1928 a sua dissertao de Doutoramento Faculdade de Letras da Umversidade de Coimbra, o primeiro Doutoramento realizado em Portugal (Lima, 1928). Vrias explicaes para esta apatia tm sido formuladas.Abreu (1979, 1990) refere razes de dificuldade de constituio de equipas de investigao nestas reas e a existncia de uma atitude reverente por parte de alguns Portugueses por tudo quanto estrangeiro. Estas razes parecem-me apropriadas, mas penso que se deveria ter em conta tambm o facto de que grande parte da investigao anglo-saxnica ser de caractersticas experimentais, assim como a investigao Francesa (Fraisse, 1984), tendo estagiado nestes locais a maior parte dos investigadores Portugueses. Possivelmente a reverncia apenas tem assimilado os contedos em vez dos mtodos e paradigma.Talvez seja de acrescentar uma outra razo, relacionada com o carcter vincadamente profissionalizante dos actuais cursos de Psicologia em Portugal. Se este tendncia foi importante e mesmo necessria na dcada de 80 a fim de melhor facilitar o enquadramento profissional dos licenciados em Psicologia, parece-me que a manter-se nos anos 90 poder causar uma desvalorizao permanente da investigao fundamental, dificultando ainda mais a constituio de grupos de investigao nas reas da psicologia experimental.Organizao e objectivos do livroEste livro constitudo por 12 estudos realizados nas aulas prticas das disciplinas de "Psicologia Experimental", "Percepo, Aprendizagem e Memria" e "Psicologia dos Processos Cognitivos" desde 1985 at 1990 seguindo uma metodologia experimental. So quase todos replicaes de investigaes notveis nas reas dos tempos de reaco, psicofsica, percepo, aprendizagem verbal e memria humanas, alm dos processos de repetio e formao de imagens.Poder-se-ia afirmar que a organizao do livro integra-se grosso modo num modelo que considera o ser humano como um processador de informao. O modelo de processamento de informao, de que o computador a referncia tecnolgica mais exemplar, um entre vrios modelos propostos pelos investigadores para melhor interpretar e explicar a cognio humana. Outros modelos j foram propostos como a tbua de cera e a gaiola, sistemas hidrulicos e telefnicos. Neisser (1982) referiu que cada poca tem o seu modelo de mente baseada na tecnologia em vigor e Silva (1968) sublinhou que "no domnio das metforas antropomrficas h muito por onde escolher", ob. cit., p. 33.A associao entre mente e computador, enquanto sistemas de processamento de informao, pode ser til se for situada nos seus devidos limites at porque em termos metafricos so mais as diferenas do que as semelhanas (e.g., Abreu, 1978). O importante na metfora mente-computador a similaridade da funo, em vez da similaridade do equipamento ou estrutura. Em termos fsicos h muito menos caractersticas comuns entre o baco e o computador do que entre o computador e outras mquinas. No entanto tanto o baco como o computador tm uma funo comum importante. So mquinas de somar.Assim na metfora mente-computador o importante tem sido ressaltar as eventuais funes comuns. No computador a informao recebida codificada, armazenada, comparada e recuperada. Por sua vez, estas funes apresentam similaridades notveis com os processos de percepo, aprendizagem e memria. Para mais informaes, veja-se Abreu (1978); Massaro (1989); Sternberg (1969).A realizao destes 12 estudos teve o duplo objectivo de introduzir os alunos num tema central da psicologia cognitiva experimental e ainda tornar explcito os diferentes procedimentos de manipulao das variveis independentes, o controle das variveis parasitas e o processo de registo das variveis dependentes. Os estudos 1 a 4 referem-se percepo de estmulos visuais e auditivos e rapidez da resposta do sujeito em funo da complexidade da tarefa realizar; O 5 estudo aborda a natureza da codificao sensorial auditiva; O 6 analisa a amplitude e extenso da memria imediata; O 7 examina o esquecimento na memria a curto prazo; 0 8 investiga as relaes entre memria a curto prazo e memria a longo prazo; o 11 e o 12 abordam importantes efeitos da memria a longo prazo e finalmente os estudos 9 e 10 focam os processos cognitivos de repetio e formao de imagens e a sua relevncia na reteno humana.Cada um dos 12 estudos inicia-se com uma Introduo que pretende ser to extensa e actualizada quanto possvel sobre os estudos realizados em cada rea. A seco de Mtodo descreve os procedimentos experimentais seguidos com suficiente pormenor para poderem voltar a ser replicados por outros investigadores. Neste sentido incluiu-se um Apndice a cada estudo, onde os materiais instrues e outros elementos relevantes so descritos. Nas seces dos Resultados e Discusso, os dados obtidos so descritos, analisados estatisticamente e interpretados. Na Bibliografia so referidas as obras citadas, alm de outras que pela sua importncia ou actualidade merecem ser recomendadas.A maior parte do vocabulrio ingls relacionado com os temas de percepo, aprendizagem e memria e situados num modelo de processamento de informao foram traduzidos tendo em considerao a terminologia adoptada por investigadores Portugueses que publicaram estudos nestes reas (e.g., Abreu, 1978; Simes, 1982; Raposo, 1983). A fixao dos termos no porm consensual, havendo grandes vantagens num trabalho futuro a realizar neste domnio.Este livro destina-se a todos os interessados nos temas da aprendizagem verbal e memria humanas, especialmente queles que na docncia de temas de Psicologia Experimental e Psicologia Cognitiva necessitam de efectuar uma experincia de demonstrao. Neste sentido esta obra pretende inserir-se, embora num outro tempo e contexto, na tradio das publicaes de Stevens, Herrnstein e Reynolds (1965), Snellgrove (1971), Fraisse (1974), entre outros.Esta obra o resultado de cerca de cinco anos de trabalho e resume muito do, esforo que eu e os meus colaboradores mais directos dedicaram ao planeamento, preparao dos materiais, montagem das experincias e anlise dos resultados. De entre os colaboradores gostaria de referir a Dra. Teresa Leal que trabalhou de 1985 a 1988 e o Dr. Pedro Albuquerque a partir de 1988. Ao Dr. Pedro gostaria ainda de agradecer o trabalho de leitura final e as sugestes propostas, muitas das quais foram tidas em considerao. Ao Centro de Psicologia da Umversidade do Porto (INIC), de que sou membro, gostaria de agradecer o apoio financeiro concedido.Finalmente gostaria de agradecer aos meus alunos e ex-alunos que, atravs da participao atenta e diligente nas experincias aqui descritas, demonstraram algumas das mais importantes regularidades do comportamento e da mente humana. A todos eles dedicado este livro.Porto, 11 de Janeiro de 1991BibliografiaAbreu, M. V. (1978). Nem sensao nem reflexo: Notas breves sobre o esquema ciberntico do comportamento. Revista Portuguesa de Pedagogia, 12, 263-279. Abreu, M. V. (1978). Tarefa fechada e tarefa aberta: Motivao, aprendizagem e execuo selectivas. Coimbra: Almedina. Abreu, M. V. (1979). Relembrando "O problema da recognio" de Slvio Lima mestre da atitude crtica e do mtodo experimental. Biblos, 55, XLIII-XLVIII. Abreu, M. V. (1990). 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Assim em cada estudo experimental pretendeu-se verificar; (1) Os efeitos da modalidade sensorial nos TR simples; (2) O efeito da frequncia sonora nos TR de discriminao; (3) O efeito do tipo de resposta motora nos TR de escolha; (4)O efeito da apresentao de varias alternativas nos TR de escolha. Os resultados obtidos esto em grande parte de acordo com investigaes similares realizadas. Assim os TR simples auditivos foram mais rpidos em mdia 31 ms do que os TR visuais; No houve diferenas nos TR de discriminao aos sons graves e agudos seleccionados; Nos TR de escolha as respostas com a mo foram mais rpidas do que com o p em mdia 60 ms; Os resultados indicaram ainda que o tempo de reaco aumenta logaritmicamente com o nmero de alternativas apresentadas. Em concluso os TR obtidos nas diversas tarefas so comparados e discutidos de acordo com os modelos apresentados.IntroduoO tempo de reaco (TR) uma das variveis dependentes mais importantes na investigao psicolgica, tendo sido objecto de estudo desde o comeo da histria da psicologia. O tempo de reaco geralmente definido como o intervalo de tempo que decorre entre o aparecimento de um estmulo e o incio de uma resposta voluntria.O tempo de reaco surge ainda associado ao tempo de movimento (TM) e tempo de resposta (TRP). Tempo de movimento o tempo que demora a completar uma resposta, depois de iniciada. Tempo de resposta o perodo de tempo que decorre entre a apresentao do estmulo e o final da resposta ao mesmo. Considere-se por exemplo a corrida olmpica dos 100 metros. O TR seria o perodo que decorre entre o instante em que a pistola dispara e a separao do p do atleta do encaixe em que repousa; O TM seria a corrida at meta e o TRP seria o tempo total desde o momento do tiro da pistola at ao cortar a linha da meta.Os tempos de reaco podem ainda ser classificados em TR simples (TRS), TR de discriminao (TRD) e TR de escolha (TRE). Nos TRS h aplicao de um nico estmulo, para o qual existe uma resposta pr-definida, sendo a nica incerteza da situao o facto do sujeito no saber quando ser aplicado o estmulo. Exemplo de uma tarefa poder ser premir um boto logo que surja uma luz vermelha.O TRD implica a apresentao de dois ou mais estmulos a que o sujeito responde apenas a um deles, ignorando os outros. Uma tarefa ilustrativa seria premir um boto se a luz fosse vermelha; no reagir, se a luz for de outra cor. Nos TRE so apresentados dois ou mais estmulos diferentes, cada um com a sua resposta especfica. Por exemplo, premir o boto A se a luz for vermelha ou premir o boto B se a luz for verde.O problema dos TR foi pela primeira vez equacionado pelo astrnomo prussiano Bessel em 1823 quando soube que no observatrio de Greenwich o astrnomo Maskelyne tinha despedido o seu assistente por este Ter assinalado a passagem de uma estrela sobre um fio de cabelo na objectiva do telescpio 0,8 segundos mais tarde do que ele prprio. Bessel sugeriu que a diferena entre Maskelyne e o seu assistente no teria sido devida a indolncia ou a qualquer erro propositado, mas talvez a diferenas naturais entre as pessoas. Neste sentido Bessel desenvolveu equaes pessoais de forma a transformar os registos das observaes de um astrnomo nas de outro.Actualmente considera-se que os primeiros trabalhos sistemticos sobre TR foram realizados pelo fisiologista austraco Helmholtz (1821-1894) que props um paradigma para o estudo da conduo neurosensorial em sujeitos humanos por alturas de 1850. Helmholtz; realizou uma experincia em que aplicou a um sujeito uma corrente elctrica fraca no cotovelo ou no pulso. O sujeito devia apertar uma tecla logo que sentisse o choque. Helmholtz usou o mtodo de subtraco a fim de determinar o valor do TR. Assim medindo a diferena de tempo entre a resposta estimulao na mo e estimulao no cotovelo, Helmholtz calculou a velocidade de conduo dos nervos sensoriais chegando concluso de que apenas uma pequena parte do tempo de reaco era gasto ao longo dos nervos perifricos, sendo o restante tempo processada no crebro.Historicamente o interesse pela "equao pessoal" ou diferenas individuais passou da astronomia fisiologia e desta psicologia, neste caso por intermdio dos estudos do investigador holands Donders (1818-1889). Donders num artigo intitulado "Sobre a velocidade dos processos mentais", publicado em 1868, descreve vrias experincias de TR procurando medir processos muito mais complexos do que o tempo de transmisso nervosa, mas empregando o princpio de subtraco de Helmholtz.O mtodo subtractivo de Donders Donders efectuou vrias experincias de TR com o objectivo de medir a durao dos processos que ocorreriam entre a apresentao de um estmulo e a activao de uma resposta voluntria. Donders pensou existirem 12 eventos mentais relacionados com a situao de TR simples, mas actualmente os investigadores reduziram-nas a trs: Durao do estmulo, tempo de deciso, tempo de resposta motora. Donders, incapaz de descobrir um mtodo que permitisse medir separadamente cada um dos componentes da reaco A, props acrescentar uma ou mais fases na sequncia de processamento mental de forma a obter, atravs de subtraces sucessivas, a medida de durao das fases acrescentadas.Neste sentido Donders props duas novas situaes, denominadas reaco B e C. Na reaco B so apresentados dois estmulos diferentes e o sujeito deve responder a cada estmulo com uma resposta especfica. uma tarefa tpica de TR de escolha. Donders props que a reaco B inclua todas as fases da reaco A, mais duas novas fases, o tempo de discriminao dos estmulos ( X ou Y?), mais o tempo de escolha motora (se X tenho de pressionar o boto C, se for Y o boto D). Deste modo subtraindo o valor da reaco A ao valor da reaco B, poder-se-ia obter o valor de durao das duas novas fases includas na reaco B.A fim de determinar a durao de cada uma destas duas fases Donders desenvolveu a reaco C, actualmente conhecida por tarefa de tempos de discriminao. Na reaco C apresentado aos sujeitos dois estmulos, por ex., X e Y, tendo os sujeitos de produzir umaresposta especfica, por ex., C, apenas quando surgir o estmulo X Se surgir o estmulo Y o sujeito no deve produzir qualquer resposta. Segundo Donders a reaco C inclui todas as fases da reaco B, menos o tempo de escolha motora, j que o sujeito no gasta tempo adecidir sobre qual a resposta a dar. Neste sentido, subtraindo o valor do tempo na reaco C ao valor do tempo da reaco B, obter-se-ia o valor do tempo de escolha motora. Por outro lado, subtraindo o valor do tempo obtido na reaco C ao valor obtido na reaco A, obter-se-ia o valor do tempo de discriminao. Veja-se Quadro 1.1. Quadro 1.1: Descrio dos processos mentais envolvidos nas reaces de tipo A, B e C segundo Donders. (Pg. 25)O mtodo subtractivo de Donders foi rapidamente adoptado pelos laboratrios de psicologia da poca, mas os resultados cedo se revelaram desanimadores. Por um lado verificou-se que os valores da reaco C eram s vezes inferiores aos valores da reaco B, um caso que no deveria ocorrer devido ao nmero superior de fases envolvidas na reaco B. Por outro lado, Wundt argumentou que a reaco C envolvia de facto uma escolha motora - uma escolha entre produzir ou no uma resposta. Neste sentido Wundt props acrescentar uma nova tarefa, a reaco D. Na reaco D eram apresentados vrios estmulos, tendo o sujeito de responder a todos com uma nica resposta, mas depois de reconhecer cada estmulo. A reaco D era semelhante reaco B de Donders no sentido em que eram apresentados vrios estmulos e reaco A no sentido em que uma nica resposta era dada a todos os estmulos apresentados. A diferena entre D e A exprimiria o tempo de discriminao dos estmulos apresentados, na medida em que os sujeitos eram instrudos a responder s depois de terem reconhecido cada estmulo apresentado.Esta soluo no se revelou satisfatria na medida em que os valores da reaco D eram s vezes to rpidos como os da reaco A e outras vezes to demorados como a reaco B. Na impossibilidade de se resolverem estas inconsistncias o mtodo subtractivo foi abandonado como processo de medida de durao das operaes mentais. Cerca de 100 anos aps os estudos pioneiros de Donders, Sternberg (1969) retomou o estudo sobre a cronometria das operaes mentais, tendo desenvolvido um modelo diferente de investigao dos TR, conhecido por mtodo'aditivo. Este mtodo ser referido adiante na concluso.Apesar do fracasso do mtodo subtractivo de Donders os TR continuaram a ser usados em diversas tarefas de investigao psicolgica como uma das variveis dependentes mais importantes. Para o efeito muito contribuiu a inveno do cronoscpio de Hipp nos comeos de 1860, um instrumento mecnico capaz de medir umdades de tempo na ordem de milsimos de segundo (0,001 segundo) e com uma margem de erro muito pequena na ordem de 1% (Woodworth e Schlosberg, 1954). Alm das medies precisas que o cronoscpio de Hipp permitia, este instrumento teve o condo de servir como uma das melhores armas de defesa da cientificidade das investigaes psicolgicas face aos estudos das cincias consagradas da poca.Factores que afectam os tempos de reaco De acordo com Chocholle (1969) os TR seriam afectados por diversos factores, que podem ser classificados como referentes (1) natureza dos estmulos, (2) s caractersticas do sujeito e (3) ao ambiente de realizao da tarefa.1. Factores relativos ao estmulo: Intensidade do estmulo: Os TR variam de maneira aprecivel com a intensidade do estmulo verificando-se geralmente que, na ausncia de outros factores e dentro de certos limites, os TR variam inversamente com a intensidade do estmulo. Isto significa, por exemplo, que uma luz brilhante elicita uma resposta mais rpida do que uma luz tnue. Porque que tal acontece, se a velocidade de conduo nervosa uma caracterstica fsica de um determinado neurnio? Uma explicao possvel teria em considerao o nmero e natureza dos neurnios estimulados. Provavelmente uma luz fraca excitaria um nmero menor de neurnios ou um tipo de neurnios mais lentos, enquanto que uma luz forte activaria neurnios de conduo de impulsos rpidos.Modalidade sensorial: O tempo para reagir a um estmulo especfico de cada modalidade sensorial. A modalidade sensorial um factor fundamental na determinao dos tempos de reaco, mas a comparao entre as diferentes modalidades difcil na medida em que est dependente da intensidade com que aplicado o estmulo. De acordo com uma pesquisa de Baker (1960), que descreve os valores dos TR simples registados at altura na literatura psicolgica, os valores mais provveis para as diversas modalidades seriam por ordem dos mais rpidos: presso, 112 - 118 ms; audio, 120 - 140; Viso, 130 - 160; Frio, 150 - 170; calor, 170 - 180; cheiro, 190 - 220, sabor, 280 - 310; dor, 350 - 450 ms.A amplitude destes valores deve ser considerada apenas para os valores mais rpidos, j que os TR mdios para a audio so frequentemente mais da ordem dos 160 ms e os da viso da ordem dos 195 ms. Em geral os TR visuais so mais longos cerca de 20% em relao aos TR auditivos.Segundo Davis (1957) as diferenas entre estas duas modalidades sero devidas a atrasos no processamento fotoqumico que transforma a luz em energia elctrica. Enquanto que os sinais auditivos atingem o crtex cerebral 8 a 9 ms aps a estimulao, os sinais visuais apenas atingem a respectiva zona cerebral 20 a 40 ms depois. A esta diferena talvez se possa acrescentar uma outra resultante dos mecanismos cerebrais de processamento e programao da informao para as diferentes modalidades. No que se refere velocidade de transmisso eferente pouco provvel que haja diferenas na medida em que so utilizados os mesmos msculos para produzir a resposta. Em geral os sujeitos mais rpidos numa modalidade sensorial tambm o so noutra.Pr-aviso e perodo de preparao: O pr-aviso o sinal que precede o estmulo e serve para advertir o sujeito sobre o seu incio. O pr-aviso uma prtica frequente no campo do desporto, provavelmente porque prepara os atletas para maximizar o seu estado de prontido na resposta a dar. Existe um intervalo de tempo ptimo para o perodo de preparao que antecede a recepo do estmulo. Se este perodo for demasiado longo o estado de ateno mxima do sujeito no pode ser mantido durante muito tempo e assim o praviso deixa de ter efeito. Se o perodo for demasiado curto o sujeito tenta calcular o final do perodo e assim o pr-aviso no ter grande utilidade. H assim um intervalo ptimo entre o pr-aviso e o incio da estimulao que se situa entre 1 e 3 segundos.O valor ptimo do pr-aviso para um determinado TR depende do pr-aviso precedente, assim como dos valores de pr-aviso seleccionados para a sequncia de obteno dos TR. Sage (1977, p. 243) cita um estudo de Rothstein (1973) onde se verificou que os TR mais rpidos so obtidos com o pr-aviso de 3 segundos, quando valores de 1, 2 e 3 segundos foram apresentados aleatoriamente numa sequncia de ensaios. Por outro lado o TR de um ensaio afectado pelo valor do pr-aviso do ensaio precedente. Assim o TR mais rpido num ensaio com pr-aviso longo, se o ensaio precedente tiver tido um pr-aviso curto do que na situao inversa.De notar que o valor do pr-aviso no deve ser constante. Se for constante, o sujeito pode calcular aps alguns ensaios o incio da apresentao do estmulo e o valor do TR fica reduzido a zero.Efeito do intervalo de tempo entre estmulos sucessivos: Existe um intervalo ptimo entre dois estmulos sucessivos. Se o intervalo de tempo for muito breve o sujeito responde ao acaso ao segundo estmulo, s vezes antecipa-se, e outras no chega a responder. Se o intervalo for muito grande o sujeito pode cansar-se de esperar.Os estudos sobre estmulos sucessivos proporcionaram a descoberta de um fenmeno denominado o perodo refractrio psicolgico (PRP). Este fenmeno foi inicialmente descrito por Telford (1931), aps descobrir que o TR ao segundo de dois estmulos apresentados sucessivamente era muito mais longo se o intervalo entre os estmulos fosse inferior a 500 ms. Se o intervalo entre estmulos fosse superior a 500 ms o TR era mais rpido. Telford sugeriu que o organismo aps reagir ao primeiro estmulo necessitaria de um perodo de "descanso", durante o qual estaria refractrio produo de qualquer resposta.Nas dcadas recentes o PRP tem sido explicado de acordo com o modelo de processamento de informao. Neste sentido o crebro actuaria como um canal nico de processamento de informao para tarefas que requeriam ateno consciente. Assim o segundo estmulo (E2) teria de ser armazenado, enquanto o canal estaria ocupado aprocessar o primeiro estmulo (E1) Quando o El tivesse sido processado, terminaria ento o perodo de espera do E2, iniciando-se somente ento o processamento deste estmulo. Em resumo o PRP seria devido ao facto do crebro ser um sistema de processamento com capacidade limitada de forma que a informao referente ao E2 teria de ser transitoriamente armazenada at que o processador central se encontrasse livre.Estudos efectuados revelaram ainda que o PRP no s imune aos efeitos da prtica, persistindo mesmo aps cerca de trs meses de ensaios, mas tambm ocorre com a apresentao dos estmulos em modalidades diferentes. O PRP verifica-se mesmo que o El seja apresentado visualmente e o E2 auditivamente. Isto parece provar que o PRP depende fundamentalmente da capacidade central de processamento e no da velocidade de conduo nervosa.Nmero de estmulos e probabilidade do seu aparecimento: A variao dos TR proporcional ao nmero de estmulos e ao nmero de respostas dentro das quais a escolha feita. Em geral o TR de escolha aumenta com o nmero de respostas a escolher. No entanto um aumento no nmero de respostas no produz sempre um aumento correspondente nos TR, porque os TR aumentam mais rapidamente com um pequeno nmero de alternativas do que com um grande nmero. Hick (1952) traduziu esta relao numa equao que ficou conhecida por lei de Hick.A lei de Hick determina que o TR = C log2N, em que C traduz o valor da constante pessoal dos sujeitos e N se refere ao nmero de estmulos apresentados. Esta relao uma funo logartmica do nmero de escolhas a efectuar pelo sujeito.Hyman (1953) investigou outras situaes em que as alternativas de resposta no so equiprovveis, obtendo provas sobre a aplicao geral da teoria de informao situao de TR de escolha. Hick e Hyman desenvolveram equaes para determinar os valores dos TR mdios em funo do nmero de estmulos, quer no caso de serem equiprovveis (lei de Hick), quer no (lei de Hick-Hyman).Durao do estmulo: A durao ptima de um estmulo para se obterem os TR mais baixos seria da ordem dos 25 a 64 ms.Figura 1.1: Ilustrao de uma situao de alta (a) e baixa (b) compatibilidade entre estmulo e resposta. (Pg. 30)Compatibilidade entre estmulo e resposta: A compatibilidade entre estmulo e resposta permite avaliar se a resposta a ser produzida a mais "natural" para o estmulo que a provocou. Uma alta compatibilidade entre estmulo e resposta permite uma resposta muito rpida por parte do sujeito, o que no acontece quando a compatibilidade menor. A Figura 1.1 apresenta uma ilustrao de duas situaes de compatibilidade diferentes. Em (a) quando o estmulo 1 surge o sujeito responde com A, 2 com B, 3 com C e 4 com D. Em (b) as respostas aos estmulos 1, 2, 3 e 4 tambm so dadas com A, B, C e D, no entanto a relao espacial entre estmulos e respostas menos "natural" do que em (a). Poder-se-ia ainda estabelecer uma compatibilidade bastante mais baixa se as respostas aos estmulos 1, 2, 3 e 4 fossem respectivamente 1-13, 2-D, 3-A e 4-C.A baixa compatibilidade entre estmulo e resposta pode ter efeitos perniciosos. Alguns destes efeitos podero estar relacionados com a ocorrncia de desastres no incio da histria da aviao devido disposio no alinhada das zonas de perigo inseridas nos diferentes mostradores da cabine de pilotagem (Kendler, 1963/1972, p. 1212). Veja-se ainda Marteniuk, 1976, p. 116-120, Fitts e Posner, 1967, p. 21-25.Prtica: 0 treino faz diminuir progressivamente os tempos de reaco, mas somente aps um nmero considervel de ensaios. Sage (1977, p. 251) cita um estudo de Henry (1952) onde se verificou que um perodo de treino de 50 ensaios no fez diminuir significativamente os TR relativamente a uma outra condio sem ensaios de treino. Todavia quando o nmero de ensaios aumenta, a prtica passa a surtir efeito nos TR. Numa experincia de TR de discriminao com uma tarefa de 1023 alternativas Seibel (1963) verificou que o valor dos TR passaram de cerca de 1,5 segundos no incio da experincia para cerca de 0,4 seg. ao fim de 75000 respostas dadas aps vrios meses. Apesar dos resultados deste estudo se enquadrarem numa funo logartmica linear para os valores dos dois eixos, Seibel verificou que por volta das 30.000 respostas os resultados pareciam atingir um patamar com aumentos insignificantes no valor dos tempos de reaco.Num estudo com caractersticas ecolgicas, Crossman (1959) verificou que trabalhadores que manipulavam uma mquina de fazer cigarros e cujo nvel de prtica variava de 1 a 7 anos tinham tempos de realizao cada vez mais baixos. Os ganhos de produo que aumentaram linearmente nos primeiros 4 anos, atingiram depois um patamar ao longo do qual os aumentos se revelaram insignificantes.Estes e outros estudos revelam que o desempenho melhora no decurso de longos perodos de tempo. No entanto o ritmo de aperfeioamento vai-se reduzindo com a prtica at que surge um momento em que o valor praticamente nulo.O desempenho dos sujeitos no melhora inevitavelmente com a prtica. Outros factores como o conhecimento dos resultados, a oportumdade de aperfeioamento e a motivao dos sujeitos devem ser tidos em conta ainda.2. Factores relativos aos sujeito: Idade e sexo: Sage (1977, p. 249) refere que os TR diminuem regularmente entre a infncia e a juventude, situando-se de um modo geral os valores mais rpidos entre os 18 e os 25 anos. A partir desta fase os TR voltam a aumentar regularmente com a idade, verificando-se um aumento acelerado a partir dos 60 anos. possvel que os vrios processos degenerativos que ocorrem no sistema nervoso durante a velhice possam explicar em parte um menor grau de eficincia. Este padro de resultados foi confirmado recentemente por Wilkinson e Allison (1989). Estes investigadores obtiveram valores de TR simples para 5325 sujeitos numa tarefa com uma durao de um minuto durante a visita que os sujeitos efectuaram a uma exposio sobre material de sade.Os TR variam ainda conforme o sexo sendo mais rpidos para o sexo masculino do que para o sexo feminino e, segundo Sage (1977), este padro manter-se-ia ao longo da vida de uma pessoa. As diferenas de sexo seriam maiores na juventude e meia idade relativamente infncia e velhice.Traos de personalidade: Os TR parecem ser sensivelmente menores para indivduos extrovertidos em relao aos introvertidos. Tem-se verificado tambm diferenas entre os sujeitos emotivos e no emotivos, irritveis e no irritveis, tmidos e no tmidos.Inteligncia e memria: Os tempos de reaco, particularmente os de escolha variam na razo inversa do QI. Segundo Scott (1940), os TR simples e de escolha seriam menores em crianas com QI mais elevado. No entanto Farnsworth, Seashore e Tinker (1927) e Lanier (1934) no encontraram nenhuma relao entre os TR e o QI.A influncia do valor de QI sobre os TR uma questo que se mantm em aberto, mas provvel que as diferenas observadas resultem de situaes em que a tarefa a realizar seja bastante complexa. possvel ainda que tais diferenas se devam ao desejo dos sujeitos mais inteligentes em responder correctamente ou da menor participao por parte dos sujeitos "menos" inteligentes.O efeito da memria a interferir seria sobretudo em experincias de TR de discriminao ou de escolhas mltiplas.Factores emocionais: Os TR aumentam sob o efeito de estmulos inesperados ou destinados a produzir medo. Apenas alguns investigadores observaram a influncia da ansiedade sobre os TR e a sua variabilidade.Ateno e vigilncia dos sujeitos: A ateno do sujeito facilita a resposta, enquanto o relaxamento fazem aumentar os TR e a sua variabilidade. Por vezes, o prolongamento do efeito distractivo pode fazer retomar os TR ao seu valor habitual, pois os sujeitos acabam por dominar a situao.Fadiga e insnia: Os TR so mais longos quando os sujeitos esto cansados. Segundo alguns investigadores as insnias prolongadas parecem no ter nenhum efeito; para outros, no entanto, a insnia afecta indirectamente as TR atravs da fadiga e da hiperexcitabilidade do sujeito.Variaes ao longo do dia: Para Klertman, Titelbaum e Feiveson (1935) os TR diminuem de manh e aumentam depois do meio-dia, segundo as variaes da temperatura interna do corpo.Aco de drogas: Observou-se que o lcool aumenta os TR, no entanto os estudos divergem quanto ao efeito do caf e tabaco. A morfina, o pentobarbital podem ser aceleradores, retardadores ou no ter nenhum efeito, dependendo dos casos. Verificou-se ainda que uma ausncia prolongada de vitamina B aumenta o valor dos TR. Parece concluir-se que o efeito destas e de outras substncias varia com os sujeitos, com as quantidades ingeridas e com o grau de habituao.Instrues: Os TR podem aumentar ou diminuir se as instrues ministradas ao sujeito forem num sentido ou noutro. Habitualmente os sujeitos so instrudos a reagirem "o mais rapidamente possvel" nas tarefas de TR simples, enquanto que nas tarefas e TR de discriminao e de escolha so aconselhados a faz-lo tambm, mas de forma a evitar erros.3. Factores relativos ao ambiente Estes factores so particularmente difceis de estudar, quando o ambiente sensorial e o estmulo ao qual o sujeito deve responder so da mesma natureza. A intensidade luminosa pode influenciar os TR (principalmente os visuais) assim como o odor, os rudos e o teor de xido de carbono. No entanto a temperatura, pelo menos dentro de certos limites, no parece influenciar os TR.Existem algumas divergncias acerca da influncia da altitude e da presso atmosfrica nos TR, j que os resultados obtidos no so muito consistentes sobre este efeito.Aspectos metodolgicos em experincias de tempos de reacoEm experincias de TR observam-se frequentemente valores anmalos; s vezes os valores so demasiado baixos, da ordem dos 5 a 8 milsimos de segundo, outras vezes demasiado elevados e da ordem do triplo ou mais da mdia obtida.No caso dos TR simples auditivos, valores inferiores a 90-100 ms surgem quase sempre por antecipao e ocorrem devido ao facto do sujeito adivinhar com certa probabilidade o momento do aparecimento do estmulo. Por norma valores de TR simples inferiores a 100 ms so ignorados na determinao da mdia sendo substitudos pelo valor de um ensaio a acrescentar ao nmero previamente fixado. Nas experincias de TR de discriminao e de escolha rarssmo verificarem-se valores inferiores a 100 ms. Se porventura ocorrerem o procedimento a seguir idntico ao anterior.A presena de valores extremamente elevados numa experincia de TR requer mais cuidado, j que o seu valor afecta consideravelmente a determinao da mdia. Segundo os sujeitos tais valores extremos ocorreriam devido a "falhas de ateno momentnea". Os investigadores tm proposto vrios procedimentos para corrigir a distribuio obtida, sendo de destacar os seguintes. (1) Omitir todos os valores extremos que ultrapassem um critrio pr-fixado, normalmente o triplo do desvio padro (DP) para a mdia obtida. Assim se a mdia for 207 ms e o DP 38 ms, o triplo do DP seria 114 ms, de forma que valores extremos superiores a 207+114=321 ms seriam excludos. (2) Um procedimento alternativo seria usar o teste de Dixon, que um mtodo estatstico para determinar a probabilidade de que um valor anmalo provm ou no de uma outra distribuio de TR. No teste estatstico de Dixon calcula-se primeiramente a diferena entre o valor mais extremo e o valor extremo imediatamente inferior e em seguida compara-se esta diferena com a diferena total dos valores obtidos.(3) Substituio do valor extremo pelo valor extremo imediatamente inferior. (4) Uso da mediana em vez da mdia, j que a mediana no to sensvel a valores extremos.Na impossibilidade de se usar o segundo critrio, o procedimento mais aconselhvel seria aplicar o critrio de omitir todos os valores que ultrapassem o triplo do DP e substitu-los por novos ensaios.As experincias a seguir descritas pretendem ilustrar procedimentos experimentais de obteno dos vrios tipos de TR, como sejam os TR simples, os TR de discriminao e os TR de escolha. Pretendeu-se ainda em cada tipo de experincias manipular um ou mais factores, referidos anteriormente, e que se julgam susceptveis de influenciar os TR.1 Experincia:Os efeitos da modalidade visual e auditiva nos TR simplesA primeira experincia teve por objectivo comprovar se o efeito da modalidade sensorial (visual e auditiva) afectaria ou no os tempos de reaco.Mtodo Sujeitos: A amostra foi constituda por 42 alunos do 2 ano da Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao da Umversidade do Porto, inscritos na cadeira de Percepo, Aprendizagem e Memria no ano lectivo de 1989/90. A grande maioria dos sujeitos pertenciam ao grupo etrio dos 18-21 anos, sendo 36 do sexo feminino e seis do sexo masculino.Material e equipamento: A medida dos TR foi obtida a partir de dois reaccimetros das firmas Bettendorff de Bruxelas e Dufour de Paris. Os valores dos TR eram expressos em umdades de centsimos de segundo. Foram ainda elaboradas folhas de resposta e instrues escritas, cuja descrio se encontra em apndice a este captulo.Planeamento: A varivel independente manipulada nesta experincia foi a modalidade sensorial com duas condies: Visual e Auditiva. A varivel dependente registada foi o TR simples. Todos os sujeitos realizaram a experincia nas condies visual e auditiva de modo que o planeamento foi intra-sujeitos. A distribuio dos sujeitos por cada condio da varivel independente seguiu o mtodo de contrabalanceamento. Os sujeitos mpares efectuavam a tarefa na ordem visual-auditivo e os sujeitos pares na ordem auditivo-visual.Procedimento: Os sujeitos foram instrudos a premir o boto de resposta do reaccimetro o mais rapidamente possvel logo que percebessem o estmulo (som ou luz) utilizando para isso o polegar da mo preferida. Os sujeitos foram ainda instrudos a manter o dedo sempre em contacto com o boto de resposta. A fim de se familiarizar os sujeitos com o reaccimetro efectuaram-se cinco ensaios de treino antes da aplicao dos 20 ensaios experimentais, sendo este um procedimento comum para as duas modalidades.As instrues foram apresentadas oralmente a partir de um texto escrito por um experimentador que tambm registava os resultados.Apresentao e anlise dos resultadosOs resultados foram registados em centsimos de segundo e depois convertidos em milsimos de segundo. Os valores anmalos no foram substitudos. Uma ilustrao da distribuio dos valores de TR simples visuais para cada sujeito da experincia efectuada est exposta na Figura 1.2. Esta Figura indica no s os valores mdios obtidos para cada um dos sujeitos nos 20 ensaios, mas tambm o ndice de disperso dos valores em torno da mdia. Para os 42 sujeitos as mdias situaram-se entre 186 ms para o sujeito 2 e 320 ms para o sujeito 7. Por sua vez o valor de disperso mnimo foi de 18 ms para o sujeito 36 e de 66 ms para o sujeito 30.Quadro 1.2: Mdias e desvios padres para os TR simples na modalidade visual e auditiva obtidos ao longo de 4 anos lectivos para diferentes amostras de sujeitos. Os valores esto expressos em milsimos de segundo. (Pg. 36)Os valores de tendncia central dos TR visuais e auditivos esto expressos no Quadro 1.2. Neste Quadro esto ainda expostos os valores dos TR obtidos em anos lectivos anteriores em condies experimentais semelhantes. Como se verificaram diferenas mdias ,entre as duas modalidades sensoriais, aplicou-se o teste t-Student ara amostras emparelhadas, a fim de se verificar se as diferenas observadas eram ou no estatisticamente significativas. O teste t-Student revelou uma diferena significativa t (41) = 8.5, p < 0.001.A anlise dos resultados revela que os sujeitos no reagem da mesma maneira a estmulos visuais e auditivos, sendo os TR simples auditivos inferiores aos TR simples visuais.Figura 1.2: Tempos de reaco simples visuais para os 42 sujeitos da experincia efectuada. Os pontos e as barras verticais indicam respectivamente os valores das mdias e uma umdade de desvio padro. (pg. 37)2 Experincia:O efeito sonoro da frequncia sonora no TR de discriminaoA segunda experincia foi planeada com o objectivo de investigar se os sujeitos discriminavam mais rapidamente um som grave de um som agudo.Mtodo Sujeitos: A amostra foi constituda por 44 alunos, tendo a quase totalidade deles participado na experincia anterior. Oito estudantes eram do sexo masculino e trinta e seis do sexo feminino.Material e equipamento: O aparelho que apresentou os estmulos sonoros e mediu os TR de discriminao foi o reaccimetro da firma Dufour de Paris.Planeamento: A varivel independente manipulada foi a frequncia sonora, com duas condies: Som de baixa frequncia (som grave) e som de alta frequncia (som agudo). A varivel dependente registada foi o tempo de reaco de discriminao. O planeamento foi inter-sujeitos tendo-se seleccionado aleatoriamente dois grupos de sujeitos em cada aula prtica.Procedimento: A tarefa consistia na apresentao de dois sons, um grave e outro agudo, numa ordem ao acaso. Na condio grave a tarefa do sujeito era reagir o mais rapidamente possvel ao som grave, mas sem produzir erros, e ignorar o som agudo. Na condio agudo o sujeito reagia ao som agudo e ignorava o som grave.O experimentador registava os TR e os erros do sujeito, entendendo-se por erro uma reaco ao estmulo que deveria ser ignorado. Foram realizados 25 ensaios, sendo 5 de treino e 20 experimentais.Apresentao e anlise dos resultados A distribuio dos valores de TR de discriminao para cada sujeito da experincia no som agudo est exposta na Figura 1.3. Os valores anmalos no foram substitudos. Esta Figura indica os valores mdios de cada um dos 23 sujeitos nos 20 ensaios, assim como o ndice de disperso dos valores em torno da mdia. Para os 23 sujeitos as mdias situaram-se entre 247 ms para o sujeito 1 e 453 ms para o sujeito 22. Por sua vez o valor de disperso mnimo foi de 51 ms para o sujeito 1 e de 116 ms para o sujeito 5.Os valores de tendncia central dos TR de discriminao esto expressos no Quadro 1.3. Neste Quadro esto ainda expostos os valores dos TR obtidos em anos lectivos anteriores em condies experimentais semelhantes.A mdia geral obtida em 21 sujeitos para o estmulo grave foi de 364 ms com um desvio padro de 57 ms e para o estmulo agudo a mdia foi de 332 ms com um desvio padro de 53 ms, tendo participado 23 sujeitos. Tendo-se observado diferenas de mdias nos TR ao som grave e agudo aplicou-se o teste t-Student para amostras independentes a fim de se verificar se tais diferenas eram ou no estatisticamente significativas. Do resultado obtido t (42) = 1,9,p 0,06 conclui-se que as diferenas de mdias no so significativas.Quadro 1.3: Mdias e desvios padres em para os TR de discriminao obtidos ao longo de 4 anos lectivos para diferentes amostras de sujeitos. Os valores esto expressos em milsimos de segundo. (pg. 39)Estes resultados revelam que a manipulao da frequncia sonora nas condies seleccionadas no produziu diferenas significativas nos TR de discriminao.Figura 1.3. TR de discriminao para os 23 sujeitos da experincia efectuada. Os pontos e as barras verticais indicam respectivamente os valores das mdias e uma umdade de desvio padro. (pg. 39)Os resultados de TR de discriminao a sons graves e agudos observados ao longo de 4 anos lectivos e expostos no Quadro 1.3. no se mostraram muito consistentes. Geralmente os TR so mais longos ao som grave do que ao som agudo, no entanto a tendncia contrria tambm foi observada. Devido ausncia de uma tendncia nos resultados e s diferenas mnimas entre as mdias gerais talvez se possa concluir que os TR a sons graves no sero diferentes dos TR a sons agudos.3 Experincia:Os efeitos da resposta motora nos TR de escolhaA terceira experincia teve por objectivo estudar os TR de escolha a estmulos visuais de cor verde e vermelha, fazendo-se variar o tipo de resposta motora, mo e p.Mtodo Sujeitos: A amostra foi constituda por 44 sujeitos tendo a maior parte deles realizado as experincias anteriores. Seis sujeitos eram do sexo masculino e trinta e oito do sexo feminino.Equipamento e Material: O aparelho que apresentou os estmulos visuais de cor verde ou vermelha e mediu os TR de escolha foi o reaccimetro da firma Bettendorff de Bruxelas.Planeamento: A varivel independente manipulada foi o tipo de resposta motora: resposta manual e resposta com o p. A varivel dependente registada foi o TR de escolha. O planeamento foi intersujeitos. Um grupo respondia aos estmulos visuais com a mo e o outro grupo respondia com o p. A distribuio dos sujeitos pelos dois grupos foi feita de forma aleatria.Procedimento: A experincia foi preparada de modo a que fossem apresentados ao sujeito estmulos de cor vermelha e verde, de forma aleatria. Os sujeitos foram instrudos, no caso da resposta manual, a premirem o boto A com o indicador esquerdo se o verde fosse apresentado e o boto B com o indicador direito se se tratasse do vermelho. Para a resposta motora pedal, os sujeitos foram instrudos a responderem ao estmulo de cor verde pressionando o pedal esquerdo e ao estmulo, vermelho pressionando o pedal direito. Os sujeitos foram ainda instrudos a reagirem o mais rapidamente possvel, de forma a no darem erros. Foram realizados ao todo 25 ensaios, sendo os 5 primeiros de treino e os restantes experimentais.Quadro 1.4: Mdias e desvios padres (em ms) para os TR de escolha obtidos ao longo de anos lectivos para diferentes amostras de sujeitos. (pg. 41)Anlise e apresentao dos resultados A distribuio dos valores de TR de escolha para cada sujeito da experincia efectuada com a mo est exposta na Figura 1.4. Os valores anmalos no foram substitudos. Esta Figura indica os valores mdios de cada um dos 21 sujeitos nos 20 ensaios, assim como o ndice de disperso dos valores em torno da mdia. Para estes sujeitos as mdias situaram-se entre 370 ms para o sujeito 16 e 538 ms para o sujeito 17. Por sua vez o valor de disperso mnimo foi de 47 ms para o sujeito 6 e de 180 ms para o sujeito 8.Figura 1.4: TR de escolha de 21 sujeitos. Os pontos e as barras verticais indicam respectivamente os valores das mdias e uma umdade de desvio padro. (pg. 41)Os valores de tendncia central dos TR de escolha esto expressos no Quadro 1.4. Neste Quadro esto ainda expostos os valores dos TR obtidos em anos lectivos anteriores em condies experimentais semelhantes.Nos ensaios em que houve erros o valor do TR de escolha no foi registado. Na resposta manual a mdia foi de 438 ms e o desvio padro de 51 ms para 21 sujeitos. Na resposta com o p a mdia foi de 504 ms e o desvio padro de 74 ms para 23 sujeitos. A fim de se verificar se as diferenas entre mdias de respostas motoras eram ou no estatisticamente significativas utilizou-se o teste t-Student para amostras independentes. O valor obtido t (42) = 3,5, p < 0.005 indica que tais diferenas so estatisticamente significativas.Da anlise dos resultados pode-se concluir que os sujeitos da amostra apresentam TR diferentes quando respondem com a mo ou com o p, sendo as respostas manuais mais rpidas do que as respostas com o p. Esta tendncia foi tambm observada em anos lectivos anteriores conforme est expresso no Quadro 1. 4.Figura 1.5: Comparao entre TR simples (TRS), discriminao (TRD) e de escolha (TRE) de acordo com as condies das trs primeiras experincias. (pg. 42)Os resultados das trs experincias de TR simples, discriminao e de escolha indicaram que os TR aumentam com a complexidade da tarefa a realizar. Estes resultados esto de acordo com o modelo proposto por Donders e revelam que quanto mais complexa for uma tarefa maior a implicao de funes mentais superiores e consequentemente maior o tempo gasto na sua realizao. Uma ilustrao conjunta dos resultados das 6 condies experimentais manipuladas nas 3 experincias anteriores pode ser observada na Figura 1.5.4 Experincia:Efeitos do nmero de alternativas de resposta nos TR de escolhaO objectivo desta experincia foi determinar os valores dos TR para 2, 4 e 8 alternativas de escolha de resposta em tarefas que poderiam ser facilmente implementadas sem recurso a equipamento laboratorial.MtodoSujeitos: A amostra foi constituda por 46 sujeitos tendo a maioria participado nas experincias anteriores. Seis sujeitos eram do sexo masculino e quarenta do sexo feminino.Material: Nesta experincia o material utilizado foi um baralho de cartas de jogar a que se retiraram os ases, reis, valetes, damas e os dez, restando um total de 32 cartas. Usaram-se ainda cronmetros com registo do tempo em umdades de centsimos de segundo.Planeamento: Nesta experincia pretendeu-se observar os valores dos TR para duas, quatro e oito alternativas de distribuio de cartas. A varivel independente manipulada foi o nmero de alternativas com trs condies (2, 4 e 8 distribuies) e a varivel dependente registada foi o tempo de reaco dispendido na distribuio do baralho em duas, quatro e oito categorias.O planeamento desta experincia foi inter-sujeitos, j que cada sujeito apenas realizou uma das condies da experincia. A distribuio dos sujeitos pelas condies foi realizada de acordo com a tcnica de controle aleatria.A experincia incluiu duas fases: Na primeira fase os sujeitos distriburam as cartas do baralho de acordo com uma regra, por exemplo, par e mpar, para a condio "dois". Na segunda fase distribuam uma a uma as cartas do baralho em dois grupos iguais sem considerarem a existncia de qualquer regra distribuidora.O tempo para realizar a tarefa na primeira fase incluiria o tempo de deciso e o tempo de manipulao; O tempo para realizar a tarefa na segunda fase incluiria somente o tempo de manipulao. Subtraindo o tempo registado na segunda fase ao tempo registado na primeira fase obter-se-ia o tempo de deciso, valor que indicaria o tempo dispendido no processo de deciso no momento de distribuio das cartas pelo nmero de alternativas em causa.Procedimento: Cada sujeito realizou a experincia numa das trs condies consideradas e de acordo com as regras seguintes:Na condio de duas alternativas a regra de distribuio das cartas era par e impar independentemente da cor das cartas.Na condio de 4 alternativas a regra de distribuio inclua o nmero e a cor. Assim um grupo era formado por cartas pares de cor preta; o 2 grupo era formado por cartas pares de cor vermelha; o 3 grupo era formado por cartas mpares de cor preta e o 4 grupo por cartas mpares de cor vermelha.Na condio de 8 alternativas a regra de distribuio inclua o nmero e o naipe, formando-se 8 grupos: Os 4 primeiros grupos eram formados pelas cartas pares de cada naipe; Assim o l grupo - pares e copas; 2 grupo - pares e ouros; 3 grupo - pares e paus; 4 grupo - pares e espadas. Os 4 ltimos grupos eram formados pelas cartas mpares de cada naipe; Assim o 5 grupo - mpares e copas; o 6 - mpares e ouros; o 7 - mpares e paus; e o 8 - mpares e espadas.Cada situao experimental constou de um ensaio de treino seguido por trs ensaios experimentais. O tempo dispendido na realizao de cada tarefa foi medido desde o incio do sinal verbal trs, na srie 1, 2, "3" at distribuio da ltima carta do baralho. No fim de cada um dos quatro ensaios as cartas eram baralhadas pelo experimentador. Sempre que um erro surgisse e no fosse corrigido pelo sujeito durante a distribuio, o ensaio era repetido.Anlise e discusso dos resultadosOs tempos de deciso mdios para os trs tipos de distribuio foram: Duas distribuies, 3,1 segundos (2,1); Quatro distribuies, 28 segundos (7,2); Oito distribuies, 38,9 segundos (15,9). Entre parnteses esto os valores de desvio padro. A distribuio dos valores de cada sujeito e a funo de regresso obtida esto expostos na Figura 1.6. Como se pode observar nesta Figura os tempos de deciso aumentam medida que o nmero de alternativas aumenta numa progresso logartmica, sendo o ndice de correlao entre estas duas variveis de 0,93.A fim de se verificar se as diferenas entre as trs condies eram ou no estatisticamente significativas utilizou-se uma anlise de varincia umfactorial. Como as varincias no eram homogneas, os dados foram transformados usando-se para o efeito o procedimento da raiz quadrada, j que se notou uma certa constncia de proporo entre a varincia e a mdia. O resultado da anlise de varincia indicou que as diferenas entre as trs distribuies eram altamente significativas, F(2, 43) = 52,3, p < 0,001.Figura 1.6: Funo de regresso para os valores dos TR (deciso) obtidos para 2, 4 e 8 distribuies. O tempo de reaco est expresso em segundos. (pg. 45)Os resultados obtidos na Experincia 4 revelam que os TR vo aumentando medida que as tarefas se tornam mais complexas. Enquanto o critrio par-mpar apenas exigia uma deciso simples baseada num tipo de reconhecimento quase imediato, o critrio cor e nmero j implicava um raciocnio mais complexo, tendo a complexidade aumentado na situao nmero-naipe.Os resultados parecem confirmar a perspectiva de Donders segundo a qual quanto mais etapas forem necessrias para a resoluo duma tarefa maior ser o tempo dispendido pelo sujeito, tempo este que serve de indicador da complexidade dos processos mentais envolvidos. No entanto estes resultados no permitem determinar nem os processos mentais envolvidos nem a durao especfica de cada processo.Concluso: Modelos recentes de tempos de reacoViu-se anteriormente que o mtodo de Donders no conseguiu resolver o problema da determinao e durao dos processos mentais envolvidos nas tarefas de TR. Mesmo hoje este problema ainda no obteve uma resposta satisfatria. Saul Sternberg (1969) efectuou uma reinterpretao do estudo de Donders, propondo uma reposio da cronometria mental baseada num modelo diferente e que ficou conhecido pelo mtodo dos factores aditivos de Sternberg. Ao contrrio de Donders o mtodo dos factores aditivos de Sternberg no envolve a insero ou omisso de fases de processamento na tarefa a realizar, mas antes baseia-se na manipulao de variveis que afectam o tempo total requerido por cada fase.O mtodo de Sternberg permite indicar quantas fases de processamento existem, a durao eventual de uma fase ou a combinao de vrias fases e quais as variveis que afectam cada fase. A ilustrao do mtodo de Sternberg pode ser efectuada a partir da tarefa de sondagem de memria por ele inventada. Apresenta-se aos sujeitos uma matriz de itens (por ex., consoantes), cujo nmero varia geralmente entre um e seis durante cerca de 2 segundos. Em seguida apresentada uma consoante, chamada consoante-sonda, que em metade dos ensaios fez parte do conjunto apresentado e na outra metade no fez. A tarefa do sujeito consiste numa reaco rpida, pressionando um boto "sim" se a consoante-sonda fez parte do conjunto anteriormente apresentado, ou no boto "no", se no tiver sido includa.Segundo Sternberg (1969, 1975) existiriam 4 fases entre a apresentao do estmulo-sonda e o registo da resposta: (1) Codificao do estmulo-sonda; (2) Comparao serial entre o estmulo e o conjunto apresentado; (3) Deciso binria sobre a presena ou ausncia; (4) Traduo e organizao das respostas. Estas fases esto indicadas na Figura 1.7. Cada uma destas fases de processamento comearia somente aps a fase anterior ter acabado, de modo que o processamento seria aditivo e serial.Sternberg no acrescenta ou omite fases como fez Donders, antes selecciona e manipula variveis independentes que possam afectar especificamente cada uma das fases, fazendo variar portanto o tempo de reaco. A fase (1) de codificao do estmulo-sonda poder ser manipulada a partir da maior qualidade ou degradao do estmulo; A fase (2) de comparao serial seria analisada a partir do nmero de estmulos seleccionados, 1, 2, ..., 6; A fase (3) seria analisada atravs da pertena ou no do estmulo-sonda ao conjunto apresentado; A fase (4) de traduo e organizao da resposta seria manipulada a partir da probabilidade diferenciada de produo de uma resposta positiva e negativa e do grau de compatibilidade da resposta.Figura 1.7: As fases de processamento cognitivo propostas por Sternberg para analisar a tarefa de sondagem de itens na memria. (Pg. 47)Segundo Sternberg a manipulao especfica destas variveis independentes permitiria determinar a durao de cada fase. A determinao da durao da fase 2 seria estabelecida a partir do valor do declive* da funo de respostas positivas e negativas.* O declive de uma funo linear representa o aumento de grandeza na varivel Y (TR) por cada aumento na varivel X (N de consoantes do conjunto apresentado)Estudos efectuados revelaram que este valor se situaria volta dos 40 ms por item. Mantendo constante o conjunto de itens da fase 2, o valor do declive indicaria ainda o grau de qualidade ou de degradao do estmulo. Para uma ilustrao, veja-se a Figura 1.8.O valor de interseco das funes no eixo dos Y indicaria as diferenas do tipo de resposta que seriam cerca de 50 ms mais rpidas para respostas positivas do que negativas. Mantendo constantes os valores das fases anteriores, o valor da interseco da funo exprimiria ainda o grau de probabilidade da resposta da 4 fase.O mtodo dos factores aditivos de Sternberg no permite medir o valor de durao de cada uma das 4 fases apresentadas na Figura 1.7. Permite no entanto influenciar a grandeza de processamento de cada fase, atravs da manipulao de variveis especficas, e determinar o valor do TR que afectado pela varivel em causa.Figura 1.8: TR previstos em funo do nmero de itens apresentados na tarefa. de sondagem de memria de Sternberg (1969) para respostas positivas e negativas com indicaes do declive (y) e interseco (i). (Pg. 48)O mtodo de Sternberg parte do pressuposto de que se duas variveis independentes interagem, estas variveis afectariam a durao do mesmo processo. Se, pelo contrrio, forem aditivas, as variveis afectariam as duraes de fases diferentes. Por exemplo, se as variveis qualidade do estmulo-sonda e probabilidade de resposta interagissem entre si, provavelmente ambas afectariam a fase 1 ou a fase 4; se fossem aditivas, isto , no interagissem, uma afectaria a fase um e a outra a fase quatro, ou vice-versa.Recentemente Taylor (1976) e McClelland (1979) contestaram o pressuposto de aditividade do modelo de Sternberg, propondo um modelo de cascata em que o processamento de uma fase teria incio antes de estar concludo o processamento da fase anterior. Embora a descrio do modelo de cascata ultrapasse os objectivos deste estudo, refira-se que o modelo aditivo de Sternberg considerado mais parcimonioso e capaz de explicar satisfatoriamente um nmero bastante elevado de estudos experimentais, Miller (1988).Bibliografia citada e recomendadaBaker, L. M. (1960). General experimental psychology: Na introduction to principles. New York: Oxford Umversity Press. Broadbent, D. E. (1958). Perception and commumcation. 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H 5 ensaios de treino seguidos de 20 ensaios experimentais.TR de escolha (Cartas, 2 alternativas): Deste baralho foram retirados os reis, valetes, damas, ases e 10 tendo ficado 32 cartas. A sua tarefa consiste em distribuir uma a uma o mais rapidamente possvel as 32 cartas em dois grupos: Cartas de n mpar (3, 5, 7 e 9) e cartas de n par (2, 4, 6, 8). H um ensaio de treino e 3 ensaios experimentais. Comece quando ouvir trs, na sequncia "1, 2, 3".TR de escolha (Cartas, 4 alternativas): Deste baralho foram retirados os reis, valetes, damas, ases e 10 tendo ficado 32 cartas. A sua tarefa consiste em distribuir uma a uma o mais rapidamente possvel as 32 cartas em quatro grupos: Cartas de cor vermelha e n mpar (3, 5, 7 e 9 de copas e ouros); Cartas de cor preta e n mpar (3, 5, 7 e 9 de paus e espadas); Cartas de cor vermelha e n par (2,4, 6 e 8 de copas e ouros); Cartas de cor preta e n par (2, 4, 6 e 8 de paus e espadas). H um ensaio de treino e 3 ensaios experimentais. Comece quando ouvir trs, na sequncia "1, 2, 3".TR de escolha (Cartas, 8 alternativas): Deste baralho foram retirados os reis, valetes, damas, ases e 10 tendo ficado 32 cartas. A sua tarefa consiste em distribuir uma a uma o mais rapidamente possvel as 32 cartas em oito grupos: Par - copas; Par - ouros; Par - paus; Par - espadas; mpar - copas; mpar - ouros; mpar - paus; mpar - espadas. H um ensaio de treino e 3 ensaios experimentais. Comece quando ouvir trs, na sequncia " 1, 2, 3".Tempo de Movimento (Cartas, 2, 4, 8 alternativas): A sua tarefa consiste em distribuir uma a uma o mais rapidamente possvel estas 32 cartas em dois (ou quatro ou oito) grupos, independentemente do nmero, cor ou naipe. Comece quando ouvir trs, na sequncia "1, 2, 3".Quadro (pg. 53)2Determinao dos Limiares Absoluto e Diferencial Segundo a Metodologia da Psicofsica ClssicaA psicofsica clssica estuda um conjunto de procedimentos metodolgicos a fim de se determinar com preciso a relao entre uma grandeza fsica e a correspondente grandeza psicolgica, conhecida por sensao. Esta relao apresenta um valor mnimo, o limiar absoluto, e umdades de medida, expressas pelos limiares diferenciais respectivos. Este estudo teve por objectivo por um lado efectuar uma breve descrio da psicofsica clssica tendo em considerao as contribuies de Weber, Fechner e mais recentemente Stevens e outros investigadores contemporneos, e por outro apresentar dois estudos empricos de obteno dos limiares absoluto e diferencial. Assim na 1 experincia pretendeu-se determinar o valor do limiar absoluto de audibilidade mnima para cinco frequncias sonoras. Na 2 experincia procurou-se determinar o valor do limiar diferencial numa tarefa de discriminao do brilho. Ambos os limiares foram obtidos de acordo com o mtodo dos limites. Na concluso so feitas algumas observaes sobre as limitaes da psicofisica clssica, chamando-se, particularmente a ateno para factores, como a atitude e motivao dos sujeitos e o respectivo papel na determinao dos limiares.IntroduoA psicofsica a rea da percepo que pretende determinar a relao funcional entre uma grandeza fsica e a correspondente grandeza percebida ou subjectiva. Como no h uma relao linear entre os aumentos da estimulao fsica e os aumentos correspondentes s representaes subjectivas necessrio estabelecer mtodos prprios para determinar as relaes funcionais entre os domnios fsicos e os domnios psicolgicos. Os mtodos psicofsicos foram inventados com este objectivo e envolvem procedimentos que fazem variar as dimenses fsicas do estmulo e, ao mesmo tempo, registam o modo como o sujeito percebe essas variaes.Weber (1795-1878) foi um pioneiro neste domnio, tendo realizado estudos que o levaram a concluir que a intensidade de excitao necessria para distinguir uma primeira sensao duma segunda est relacionada com a sensao inicial. Tal relao constante e susceptvel de determinao. Se a intensidade aumenta pouco a pouco, a sensao inicial permanece imutvel a princpio. Para que o sujeito perceba o aumento, isto , para que experimente uma sensao diferente, necessrio que o estmulo apresente uma grandeza maior ou menor, mas proporcional intensidade de excitao inicial de acordo com a frmula seguinte: (Verificar frmula - Pg. 55)?I= K Iem que ?I representa a mudana na grandeza do estmulo para se produzir uma diferena apenas notvel; 1 a grandeza fsica do estmulo e K uma constante. Para melhor se compreender esta relao, imagine-se o exemplo seguinte. Se se colocar em cada uma das mos um pacote de acar de 10 gramas e formos progressivamente aumentando a quantidade de acar numa das mos, talvez a certa altura se comece a discriminar uma diferena de peso, quando esta for igual ou superior a trs gramas. O intervalo aumenta proporcionalmente no caso de se colocar um quilograma de acar. Neste caso a diferena s ser notada quando numa das mos se atingir o peso de 1300 gramas. O Quadro 2.1 ilustra esta relao de constncia que se verifica para diferentes valores do estmulo inicial.A lei de Weber (ou constncia de Weber como frequentemente tambm conhecida) estabelece que a diferena mnima perceptvel (DMP) entre dois estmulos uma proporo entre tais estmulos e independente da grandeza de cada um deles. Assim a DMP em relao a dois estmulos de uma dada intensidade no uma grandeza absoluta, mas uma grandeza relativa em relao ao estmulo inicial. Esta diferena, em termos de intensidade, uma proporo do estmulo inicial, de modo que varia sempre com esse estmulo. Alm da percepo do peso, a constante de