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Papis Legislativos
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Papis Legislativos | n.1 | maio 2011
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Observatrio Poltico Sul-Americanohttp://observatorio.iesp.uerj.br
Ncleo de Estudos sobre o Congressohttp://necon.iesp.uerj.br/
Papel Legislativo 2011
(ano5, n.1, 2011)
Fabiano Santos
Mariana Borges
Marcelo Barata Ribeiro
O Congresso e o Governo Dilma
Papis Legislativos (ano 5, n.1, maio. 2011)
Introduo
O governo Dilma pode ser considerado como de continuidade ao governo Lula,
sobretudo no que tange composio de uma ampla e heterognea coalizo de
partidos no seu ministrio. Contudo, passados os 100 primeiros dias da nova
Presidente, algumas inovaes foram feitas, desde o aumento significativo do
nmero de mulheres no gabinete at a mudana no perfil de alguns ministrios
estratgicos no governo Lula para a poltica externa. No Congresso, o ambiente
tambm outro. Apesar da queda significativa da bancada dos partidos de
oposio e a sada de algumas de suas principais lideranas, como destacado naedio passada deste Papel, Dilma ter que lidar com o Congresso mais
fragmentado do recente perodo democrtico. Ao mesmo tempo, muitos so os
desafios que se colocam na agenda do governo e do Congresso, como a reforma
poltica, que est sendo discutida pelos Deputados e Senadores, a reforma
tributria, que uma das prioridades da Presidente, e a continuidade da poltica
externa que busca consolidar o papel do Brasil como importante ator
internacional.
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Neste Papel Legislativo o objetivo ser traar um panorama de como ser relao
Executivo-Legislativo atravs do perfil do primeiro gabinete de Dilma, do
Congresso e de suas comisses. Pretende-se tambm vislumbrar como e se as
mudanas introduzidas pelo novo gabinete da Presidente e a atual configurao
do Congresso influenciaro no andamento da agenda da poltica externa brasileira
e das principais pautas do Congresso.
1. O Gabinete Dilma e o aprendizado poltico do governo Lula
A fim de traar o perfil do primeiro gabinete de Dilma, faremos uma
comparao com os que foram formados por seus predecessores, sobretudo os
padres de governana que foram consolidados por FHC e Lula. Desde o fracasso
do governo Collor, que inicialmente montou seu gabinete com poucos ministros
endossados por partidos polticos, todos os presidentes utilizaram de sua
prerrogativa de nomearem livremente seus ministros de forma a consolidarem
sua base de apoio no Congresso. Apesar do poder discricionrio que o Presidente
detm, a distribuio proporcional de pastas de acordo com o peso no Congresso
dos diferentes partidos do gabinete demonstrou ser uma importante moeda de
troca do chefe do Executivo para disciplinar os partidos de sua base (Amorim
Neto, 2002). Segundo Zucco (2009), ao lado da ideologia e das emendas
oramentrias individuais, a distribuio de ministrios aos partidos um dos
fatores que determinam o comportamento parlamentar no Brasil.
O governo FHC teria inaugurado o padro de governana do presidencialismo
de coalizo brasileiro distribuindo de forma relativamente proporcional os
ministrios de acordo com a fora legislativa dos partidos que compunham o seu
gabinete. De acordo com Amorim Neto (2007), FHC, no primeiro gabinete de seu
segundo mandato, formou o gabinete mais proporcional at hoje com o ndice de
proporcionalidade (coalescncia)1 de 0,70. Para fins de comparao, conforme
demonstra a Figura 1, o menos proporcional at hoje foi o ltimo formado porItamar com um ndice de coalescncia de 0,22 (Amorim Neto, 2007). O gabinete
mais proporcional de Lula teve um ndice proporcionalidade de 0,64 (Amorim
Neto, 2007). Porm, na mdia, em seu primeiro mandato o ndice foi de 0,6
(Amorim Neto, 2007), e no seu segundo a mdia foi aproximadamente a mesma.
Os gabinetes de Lula foram menos proporcionais, conforme a Figura 1, que os de
FHC.
1 O ndice de coalescncia de Amorim Neto varia de 0 a 1 e mede a relao entre os ministriosocupados por um partido e sua contribuio base legislativa do governo. O valor 1, portanto,corresponde ao gabinete em que a porcentagem de pastas de cada partido corresponde exatamente sua fora na Cmara dos Deputados.
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Figura 1ndice de Coalescncia de Sarney a Dilma
| |
E E
0,2
0,6
Sarney
Fonte: Octavio Amorim (EPGE/FGV-Rio) eNcleo de Estudos sobreo Congresso (Necon/Iesp-Uerj). *O indicador mede a relao entreos ministrios ocupados por um partido e sua contribuio baselegislativa do governo -tambm chamado degrau de coalescncia.
Mandatos
0,1
0,3
0,4
0,5
0,7
Collor Itamar FHC I FHC II Lula I Lula II Dilma
ndice de proporcionalidade dos gabinetes*
Mar/85-Fev/86
Fev/86-Mar/90
Mar/90-Out/90
Out/90-Jan/92
Jan/92-Abr/92
Abr/92-Out/92
Out/92-Jan/93
Jan/93-Mai/93
Mai/93-Set/93
Set/93-Jan/94
Jan/94-Dez/94
Jan/95-Abr/96
Abr/96-Dez/98
Jan/99-Mar/99
Mar/99-Out/01
Out/01-Mar/02
Mar/02-Dez/02
Jan/03-Jan/04
Jan/04-Jun/05
Jun/05-Ago/05
Ago/05-Set/05
Set/05-Abr/06
Abr/06-Dez/06
Jan/07-Abr/07
Abr/07-Ago/09
Ago/09-Mar/10
Mar/10-Dez/10
DesdeJan/11
Collor atrai PSDB, PTBe PL e tenta consertaro erro de um governo
minoritrio.
Sada do PTBmarca o"fim de festa" do
governo Itamar.
No incio do segundomandato, FHC montao ministrio mais
proporcional at hoje.
PFL abandona ogoverno, e tucanoschamam ministros sem
filiao partidria.
Lula incorpora oPMDB, mas lhed apenas duas
pastas no governo.
Aps a reeleio, Lulamantm patamarsemelhante de
distribuio aos aliados.
Volta do PR e do PRBao ministrio Lulaaumenta ndice de
proporcionalidade.
Taxa de 0,61 igual mdia dosgabinetes do segundo
mandato de Lula.
Principais acontecimentos
Mar/85 a Mar/90 Mar/90 a Out/92 Out/92 a Dez/94 Jan/95 a Dez/98 Jan/99 a Dez/02 Jan/03 a Dez/06 Jan/07 a Dez/10Desde
Jan/11
Fonte: Dados de Amorim Neto no Jornal Valor Econmico, Brasil, A6, 10 de maro de 2011.
Uma das razes para a menor proporcionalidade dos gabinetes de Lula a
grande concentrao de ministrios nas mos do PT, partido do Presidente.
Segundo Amorim Neto (2007, p. 57) das 30 pastas do primeiro ministrio de
Lula, 60% delas eram do PT, que, contudo, somava apenas 35% das cadeiras do
gabinete na Cmara dos Deputados. Mesmo o governo FHC sendo o mais
proporcional at ento, o PSDB, partido do Presidente na poca, chegou a estar40% sobrerrepresentado no primeiro gabinete do segundo mandato, segundo
Amorim Neto. Contudo, uma das explicaes dadas para a exacerbao dessa
tendncia com o PT o fato de que grande parte dos partidos que compuseram
os gabinetes de Lula, com exceo a partir de 2004 do PMDB, serem partidos
pequenos. Dessa forma, apenas um ministrio seria suficiente para equilibrar
com o seu peso no Legislativo (Amorim Neto, 2007).
FHC tambm contou com gabinetes menos fragmentados e heterogneos
quando comparado com os do primeiro governo de Lula2. Os gabinetes de FHC
foram compostos por, no mximo, 6 partidos. J no primeiro governo Lula, na
mdia, houve 7,6 partidos em cada gabinete, sendo que no quinto gabinete
houve 9 partidos. Tal variao refletiu a diferena nas bancadas no Legislativo
dos partidos de direita e de esquerda3 em cada governo. A bancada na Cmara
dos Deputados dos partidos de centro-direita (PSDB e DEM) e de centro (PMDB)
eram amplamente majoritrias nas legislaturas eleitas em 1994 e 1998, somaram2 Os dados referentes composio do gabinete dos governo FHC e do primeiro governo Lula so deAmorim Neto (2007).3 Veja a nota de roda p n. 7 e a figura n. 4 para a explicao sobre quais partidos so classificadoscomo de direita, de esquerda e de clientelistas e a evoluo das bancadas desses blocos.
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57,3 e 56% das cadeiras respectivamente. A ampla bancada de partidos
ideologicamente mais prximos ao presidente, permitiu que FHC dependesse
menos do apoio dos partidos menores e com perfil mais clientelista para obter a
maioria no Congresso.
J nos dois governos de Lula a bancada dos partidos de esquerda era menor
do que as dos partidos de direita e centro-direita durante o governo FHC. Com a
deciso inicial no primeiro gabinete de Lula de manter o partido de centro, o
PMDB, fora, ele ficou ainda mais dependente de compor com os partidos menores
e clientelistas e da cooperao do PSDB e PMDB, j que seu primeiro gabinete era
minoritrio (Santos, 2003). Mesmo com a vinda do PMDB em 2004, a soma da
bancada desse partido mais a dos de esquerda ainda era minoritria, da a
necessidade de Lula de compor com mais partidos e partidos ideologicamente
heterogneos.
A distribuio das pastas ministeriais entre os diferentes partidos da coalizo
governamental garantiu aos dois governos, na maior parte do tempo, uma
maioria no Legislativo. A no ser no perodo pr-eleitoral de fim de governo em
2002, a base dos partidos governistas durante FHC contou sempre com mais de
50% das cadeiras. No primeiro governo Lula, apenas o seu primeiro gabinete,
que ainda no contava com o PMDB, foi minoritrio na Cmara dos Deputados.
A maior dependncia de Lula em compor com mais partidos em relao ao
FHC tambm pode ser verificada pela taxa de ministros sem filiao partidria,
que, segundo Amorim Neto (2007), costumam ser especialistas em alguma rea
da administrao pblica. Enquanto que na mdia dos dois governos FHC houve
37% de ministros apartidrios, no primeiro governo Lula tal mdia foi da apenas
18% (Amorim Neto, 2007). Outra varivel relacionada ao capital poltico dos
ministros de um gabinete a porcentagem deles que em algum momento de sua
carreira foram legisladores. Aqui tambm se verifica uma diferena entre ospadres de FHC e de Lula. Como de se esperar, j que no governo FHC houve
mais ministros sem vnculo partidrio, na mdia de seus dois mandatos apenas
33% deles tinham experincia legislativa, enquanto que no primeiro governo Lula
tal mdia foi bem maior, de 52% (Figueiredo, 2007).
O primeiro gabinete formado pela Presidente Dilma seguiu em linhas gerais o
mesmo padro do segundo governo Lula. Na Figura 2, h um resumo das
principais caractersticas desse gabinete. O ndice de proporcionalidade de 0,61,
o que relativamente mais proporcional do que a mdia do primeiro governo Lula
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e mais prximo da mdia do segundo governo Lula. A continuidade da formao
de um ministrio composto por polticos endossados pelos partidos na coalizo
tambm verificada pelo pequeno nmero de ministros sem filiao partidria,
apenas 17%, quase o mesmo percentual do primeiro governo Lula. tambm
alto o nmero de ministros que j passaram pelo Congresso como legisladores,
40%
Figura 2Dados principais do primeiro gabinete de Dilma
Partidos noGabinete
(n. de pastas)
%CadeirasGabinete
na CD
ndice deProporcionalidade
% Ministrosapartidrios
% Ministroslegisladores
%Ministras
PT (17), PMDB(6), PSB (2),
PCdoB (1), PDT(1), PP (1),
PR (1)
63,5 0,61 17 40 26
No primeiro governo Lula, a m incorporao do PMDB com apenas dois
ministrios, proporcionalmente muito inferior ao seu peso no Legislativo, foi
corrigida no segundo governo, quando se alocou mais pastas ao partido (Amorim
Neto & Coelho, 2008). No governo Dilma, o PMDB est representado em seis
ministrios, ainda que em dois deles - de Minas e Energia e da Defesa - aindicao no tenha sido do prprio partido4. Porm, a concentrao de pastas no
PT tambm continua; ele detm dezessete pastas, equivalente a 49% do total,
sendo que representa apenas 27% das cadeiras do gabinete na Cmara dos
Deputados.
A coalizo de governo de Dilma possui sete partidos cujas bancadas na
Cmara dos Deputados somam 63,5%, amplamente majoritria, portanto.
tambm menos fragmentada do que a do governo Lula. Alm disso, a sada do
PTB da base governista conferiu a esta uma maior homogeneidade ideolgica
relativamente ao governo anterior. Apesar disso, PP e PR, os outros partidos de
direita com perfil clientelista, ainda esto presentes no gabinete de Dilma. Eles
so, respectivamente, o terceiro e o quarto partido da coalizo no Legislativo,
ambos com quarenta e um deputados, sendo que cada um detm uma pasta. O
PSB, entretanto, que em cadeiras fica atrs do PP e PR, detm dois ministrios,
4 Artigo Jornal Folha de S. Paulo, disponvel em http://www1.folha.uol.com.br/poder/855582-conheca-os-ministros-do-governo-dilma-rousseff.shtml.
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em grande parte devido ao peso poltico que o partido conquistou ao controlar o
Executivo de seis Estados.
Dos trinta e cinco ministros5, nove deles estavam presentes no governo Lula,
quinze foram indicados por algum partido poltico da coalizo, doze por Dilma,cinco por Lula e dois deles, Aloizio Mercadante e Paulo Bernardo por Dilma e Lula.
Vinte e dois ministros, ou seja, 63% deles, so filiados a partidos de esquerda.
A grande inovao do gabinete de Dilma foi o percentual de ministras
mulheres. Lula, em seu primeiro governo, j havia superado seus antecessores
com 11% de seu gabinete sendo composto de mulheres (Amorim Neto, 2007).
Dilma nomeou nove mulheres, um percentual de 26%, bem acima de Lula.
interessante observar, contudo, que das nove ministras, cinco foram indicaes
diretas de Dilma, uma de Lula e apenas trs delas (Iriny Lopes, Ideli Salvatti e
Maria do Rosrio) foram indicadas por um partido, o PT. Nenhum outro partido da
coalizo indicou uma mulher para a composio do gabinete de Dilma.
A distribuio das pastas entre os partidos tambm permaneceu
essencialmente a mesma do segundo governo Lula6. A mudana que ocorreu foi
um rearranjo de pastas entre PT e PMDB. Este perdeu o controle dos Ministrios
da Sade e das Comunicaes, que foram os focos dos escndalos de corrupo
(FUNASA e Correios) no governo Lula, para o PT. Tais pastas passaram a serchefiadas, respectivamente, pelos ministros Alexandre Padilha e Paulo Bernardo,
ambos indicaes diretas de Dilma. Isto mostra que a Presidente quer
acompanhar mais de perto esses dois ministrios. O PMDB, por sua vez, tambm
perdeu o Ministrio da Integrao Regional para o PSB. Em contrapartida,
angariou os ministrios da Previdncia Social, Turismo e a Secretaria de Assuntos
Estratgicos. J o Ministrio da Cincia e Tecnologia (MCT) chefiado por Srgio
Rezende do PSB passou para Aloizio Mercadante do PT.
A montagem poltica do primeiro ministrio de Dilma seguiu, portanto, o
padro mais proporcional de diviso das pastas entre os partidos da coalizo que
houve durante o governo Lula. Com exceo do rearranjo de ministrios
considerados mais problemticos no perodo anterior e o maior nmero de
mulheres no governo, Dilma segue o padro de governana estabelecido por seu
antecessor. Apesar de continuar a maior concentrao de pastas no PT, h um
grande percentual de ministros polticos, ou seja, endossados por algum partido5 O nmero de 35 ministrios no engloba os titulares do Banco Central, Advocacia Geral da Unio eDefensoria Pblica da Unio, que possuem status de Ministros.6 Os dados referentes composio do gabinete do segundo governo Lula so de Amorim Neto &Coelho (2008).
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como forma de garantir o apoio do governo no Congresso. Portanto, diante da
distribuio mais proporcional dos ministrios entre os partidos, Dilma deve
conseguir o apoio da bancada governista no Legislativo para seus projetos.
Mesmo que muitos partidos da base ainda esperem a nomeao de seus
indicados para grande parte dos postos do segundo escalo.
2. O Congresso
No Congresso, Dilma possui uma base de governo consolidada, que vem
crescendo desde a primeira eleio de Lula, como se observa na Figura 3. Em
2003, a coalizo de Lula era minoritria tanto na Cmara dos Deputados quanto
no Senado. Em 2006, j tendo incorporado o PMDB, o governo ainda enfrentava
dificuldades para conseguir aprovar emendas constitucionais no Senado. Em
2011, Dilma conta com ampla maioria nas duas casas. O enfraquecimento da
oposio deu-se, sobretudo, em virtude da grande perda de cadeiras dos partidos
de centro-direita, como foi destacada no Papel Legislativo anterior.
Principalmente o DEM, que no Senado chegou a perder dois teros de seus
senadores e diminuir sua bancada em pelo menos 11 deputados com a criao
do novo partido do prefeito de So Paulo, o PSD, de Gilberto Kassab.
Figura 3Evoluo da base do governo na Cmara dos Deputados (2002-2011)
Na Figura 4, h a evoluo das bancadas de acordo com blocos de direita,
centro, esquerda e partidos clientelistas juntamente com os chamados nanicos7.
7 So considerados partidos de (i) direita e centro-direita: DEM e PSDB; (ii) centro: PMDB; (iii)esquerda e centro-esquerda: PT, PCdoB, PPS, PCdoB, PV, PDT, PSB e PSOL; (iv) clientelistas: PTB, PP
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Alm da queda acentuada da centro-direita e do crescimento contnuo da centro-
esquerda, o resultado das eleies de 2010 foi bastante favorvel para os
partidos com perfil mais clientelista. Eles aumentaram significativamente a sua
bancada. Principalmente o PR, que saiu de menos de 5% de cadeiras para 8% e
os micro partidos, que ao todo somam 8% das cadeiras da Cmara dos
Deputados. A soma da bancada dos partidos nanicos a maior desde 1994.
Figura 4Evoluo das bancadas segundo blocos na Cmara dos Deputados (1994-2011)
A reconfigurao dessas bancadas, sobretudo a acentuada queda da direita e
o crescimento dos nanicos, est refletida no aumento da volatilidade eleitoral8 -
Figura 5 - em relao ao ano de 2006. Apesar desse incremento, importante
frisar que a volatilidade eleitoral da Cmara dos Deputados est longe de indicar
que o sistema partidrio brasileiro tornou-se instvel. Como destaca Santos
(2008), o ndice de volatilidade brasileiro no est muito acima do que se
encontra em democracias desenvolvidas que apresentam, como o Brasil,representao proporcional. Os cinco maiores partidos representados na Cmara
continuam sendo, respectivamente, o PT, o PMDB, o PSDB, o PP e o DEM; com a
diferena que o PP agora maior do que o DEM e que o PT, como em 2002,
voltou a ser o maior partido. Contudo, com a criao do PSD e a sada de 11
e PR e micro partidos, que so todos aqueles que tiverem menos de 3% das cadeiras da Cmara dosDeputados e cujo perfil ideolgico no definido.8 O ndice de volatilidade eleitoral varia de 0 a 1, em que o valor 0 representa a situao em que cadapartido repete a votao que teve na eleio anterior, enquanto 1 significa que cada voto foi dado apartidos que no concorreram na eleio anterior.
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deputados do DEM, o PR deve se tornar o quinto maior partido na Cmara dos
Deputados.
Figura 5Evoluo do ndice de volatilidade eleitoral na Cmara dos Deputados
(1994-2011)
Fonte: 1986-2006 Santos (2008)
O pequeno aumento da volatilidade, contudo, trouxe uma maior
fragmentao. Ao todo, em 2011, vinte e um partidos tem assento na Cmara
dos Deputados. O nmero efetivo de partidos passou de 9,3 (Anastasia & Melo,
2009) para 10,5. Se na Cmara eleita em 2006 os quatro maiores partidos
somavam 59,1% das cadeiras (Anastasia & Melo, 2009), em 2011, eles somam
apenas 51,1%. Apenas PT e PMDB elegeram entre 12 e 17% de deputados,
enquanto que trs partidos (PSDB, PP e DEM) detm entre 8 e 12% das cadeiras
e oito deles entre 2 e 5% das cadeiras. No Senado, a fragmentao tambm
aumentou, indo o nmero efetivo de partidos em 2006 de 6,3 (Anastasia & Melo,
2000) para 7,75 em 2011.
Mesmo com o aumento da fragmentao no Congresso Nacional, Dilma
montou um gabinete com menos partidos do que a mdia dos dois governos de
Lula. Com o aumento da bancada de esquerda e a forte queda dos partidos de
centro-direita na oposio, Dilma conseguiu poupar a distribuio poltica de
alguns ministrios. Ainda assim ela conta no Congresso com o apoio de partidos
no representados no gabinete, como o caso do PTB e de outros nanicos, PRB,PMN, PSC, PTdoB, PRTB, PRP, PTC e PSL, que, como se viu, em conjunto somam
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uma bancada considervel. A oposio vai diminuir ainda mais com a
formalizao do novo partido, o PSD, que abriga polticos que estavam
insatisfeitos com sua condio de oposio. Nesse contexto, de se esperar uma
oposio com dificuldades de exercer seu papel de fiscalizador do governo.
provvel que os confrontos com o governo no Legislativo ocorram, sobretudo,
dentro da sua prpria base, como foi o caso da alta taxa de infidelidade do PDT
na votao do novo salrio mnimo.
Na prxima seo, analisaremos a distribuio das comisses entre os
partidos. Sendo as comisses um dos principais instrumentos que a oposio tem
para fiscalizar o governo, a sua estruturao vital para vislumbrar os mbitos
possveis da sua atuao.
3. Os Ministrios e as Comisses do Congresso
As comisses exercem um papel fundamental na atividade legislativa,
sobretudo em relao sua funo de fiscalizar o Executivo. Para que tal papel
seja exercido em sua plenitude, o ideal que para cada Ministrio haja uma
correspondente comisso tanto na Cmara dos Deputados quanto no Senado.
desejvel tambm que os membros dessas comisses tenham alguma
experincia prvia no assunto para assim poderem bem exercer a funo de
controle e de agenda em determinado assunto.
buscando verificar em que medida o atual Congresso estruturou os
mecanismos de controle frente ao Executivo que essa seo ir analisar a
correspondncia entre os Ministrios e as comisses da Cmara e do Senado.
Como se pode observar na Figura 6, da mesma forma como verificou Anastasia &
Melo (2009) para a Legislatura eleita em 2006, h um nmero muito maior de
ministrios do que comisses permanentes no atual Congresso eleito.
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Figura 6Distribuio Partidria dos Ministrios e Comisses da Cmara dos Deputados e
SenadoMinistrios/Secretarias Comisso Permanentes Cmara dos
DeputadosComisses Permanentes Senado
Agricultura, Pecuria eAbastecimento
(PMDB)
Agricultura, Pecuria, Abastecimento eDesenvolvimento Rural
(DEM)
Agricultura e Reforma Agrria(PDT)
Cidades(PP)
Desenvolvimento Urbano(PMDB)
-----
Cincia e Tecnologia(PT)
Cincia e Tecnologia, Comunicao eInformtica
(PSDB)
Cincia, Tecnologia, Inovao,Comunicao e Informao
(PMDB)
Comunicaes(PT)
Cincia e Tecnologia, Comunicao eInformtica
(PSDB)
Cincia, Tecnologia, Inovao,Comunicao e Informao
(PMDB)Cultura(S.F.P)
Educao e Cultura(PT)
Educao, Cultura e Esporte(PMDB)
Defesa(PMDB)
Relaes Exteriores e de Defesa Nacional(PSDB)
Relaes Exteriores e Defesa Nacional(PTB)
Desenvolvimento Agrrio(PT)
Agricultura, Pecuria, Abastecimento eDesenvolvimento Rural
(DEM)
Agricultura e Reforma Agrria(PDT)
Desenvolvimento Social eCombate Fome
(PT)
Seguridade Social e Famlia
(PMDB)
Assuntos Sociais
(DEM)Desenvolvimento, Indstria
e Comrcio Exterior(PT)
Desenvolvimento Econmico, Indstria eComrcio
(PR)
Assuntos Econmicos(PT)
Educao(PT)
Educao e Cultura(PT)
Educao, Cultura e Esporte(PMDB)
Esporte(PCdoB)
Turismo e Desporto(PSB)
Educao, Cultura e Esporte(PMDB)
Fazenda(PT)
Finanas e Tributao(PT)
Fiscalizao Financeira e Controle(PSC)
Assuntos Econmicos(PT)
Integrao Nacional(PSB)
Amaznia, Integrao Nacional e deDesenvolvimento regional
(PP)
Desenvolvimento Regional e Turismo(PP)
Justia(PT)
Constituio e Justia e de Cidadania(PT)
Constituio, Justia e Cidadania(PMDB)
Meio Ambiente(S.F.P)
Meio Ambiente e DesenvolvimentoSustentvel(PDT)
Meio Ambiente, Defesa do Consumidor eFiscalizao e Controle(PSB)
Minas e Energia(PMDB)
Minas e Energia(PT)
Servios de Infraestrutura(PSDB)
Planejamento, Oramento eGesto(PT)
Desenvolvimento Econmico, Indstria eComrcio
(PR)
Assuntos Econmicos(PT)
Previdncia Social(PMDB)
Seguridade Social e Famlia(PMDB)
Assuntos Sociais(DEM)
Relaes Exteriores(S.F.P)
Relaes Exteriores e de Defesa Nacional(PSDB)
Relaes Exteriores e Defesa Nacional(PTB)
Sade(PT)
Seguridade Social e Famlia(PMDB)
Assuntos Sociais(DEM)
Trabalho e Emprego(PDT)
Trabalho, de Administrao e ServioPblico(PTB)
Assuntos Sociais(DEM)
Transportes
(PR)
Viao e Transportes
(PMDB)
Servios de Infraestrutura
(PSDB)Turismo(PMDB)
Turismo e Desporto(PSB)
Desenvolvimento Regional e Turismo(PP)
Polticas para as mulheres(PT)
Direitos Humanos e Minorias(PCdoB)
Direitos Humanos e Legislao Participativa(PT)
Pesca e Aquicultura(PT)
Agricultura, Pecuria, Abastecimento eDesenvolvimento Rural
(DEM)
Agricultura e Reforma Agrria(PDT)
Especial de DireitosHumanos
(PT)
Direitos Humanos e Minorias(PCdoB)
Direitos Humanos e Legislao Participativa(PT)
Poltica de Promoo deIgualdade Racial
(PT)
Direitos Humanos e Minorias(PCdoB)
Direitos Humanos e Legislao Participativa(PT)
Especial de Portos(PSB)
Viao e Transportes(PMDB)
Servios de Infraestrutura(PSDB)
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Com exceo das pastas no relacionadas a temas substantivos (Casa Civil,
Relaes Institucionais, Secretaria Geral, Assuntos Estratgicos, Comunicaes
Sociais e Gabinete de Segurana Institucional), so 29 o nmero de ministrios
que so fiscalizados pelas Comisses. Na Cmara dos Deputados, h 20
comisses permanentes e, atualmente, 6 comisses temporrias. Das
permanentes, duas delas no se relacionam diretamente a nenhum ministrio
(Defesa do Consumidor e Legislao Participativa), fazendo com que haja na
mdia 1,6 ministrio por Comisso Permanente na Cmara dos Deputados. No
Senado, esse nmero ainda maior; com apenas 11 comisses permanentes, h
2,6 ministrios por comisso. O grande nmero de ministrios a ser
acompanhado por cada comisso dificulta o controle e a fiscalizao que os
parlamentares devem exercer. Porm, deve-se ressaltar, que dentro de cada
comisso h subcomisses, as quais, atualmente, so 30 apenas no Senado. Hinclusive um projeto de resoluo do Senador Walter Pinheiro (PT/BA) para que
se limite a duas as subcomisses possveis dentro de cada comisso.
De acordo com Santos & Almeida (2005), a teoria informacional indica que
um ator poltico moderadamente contrrio a uma proposio legislativa ser mais
informativo do que um extremamente contrrio, favorvel ou neutro. Levando
esse raciocnio para as comisses, a seleo de presidentes das comisses de
legisladores da oposio poderia sugerir agentes polticos com maior capacidade
de fiscalizarem o governo. Contudo, apenas 30% das comisses da Cmara dos
Deputados so controladas por partidos da oposio, enquanto que no Senado tal
percentual de 18%. Como se pode observar na Figura 6, so presididos por
deputados oposicionistas as seguintes comisses: Relaes Exteriores, Segurana
Pblica e Combate ao Crime Organizado, Cincia e Tecnologia e a de Agricultura e
Pecuria. J no Senado, so controladas pela oposio as comisses de Assuntos
Sociais e a de Servios de Infraestrutura.
Mesmo que o governo conte com a maioria em todas as comisses e consigaaprovar seus projetos, nelas que a oposio pode oferecer mais resistncia ao
governo, sobretudo naquelas por ela controladas. Esse foi o caso da Comisso de
Relaes Exteriores do Senado (CRE) presidida pelo senador Eduardo Azeredo do
PSDB durante o segundo mandado do governo Lula. No obstante o governo ter
aprovado a maioria de seus projetos, ele enfrentou grande resistncia da
oposio para aprovar importantes matrias, sobretudo porque o governo no
contava com a maioria absoluta na Casa. Atualmente a CRE presidida pelo
Senador Fernando Collor de Melo do PTB, partido que no faz parte dacomposio do gabinete de Dilma, mas apoiou o governo em todas as votaes
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at agora e provavelmente deve ser beneficiado nos cargos de segundo escalo.
Alm disso, o governo, atualmente, detm maioria absoluta no Senado. Nesse
sentido, de se esperar que um dos principais focos de resistncia da oposio
deixe de ser, no Senado, a CRE e passe para as comisses de Infraestrutura e
Assuntos Sociais. Sobretudo para a Comisso de Infraestrutura, porque nela
que so discutidos alguns dos projetos prioritrios de governo Dilma, como o
Programa de Acelerao do Crescimento (PAC) e as obras para as Olimpadas e
Copa do Mundo que sero sediadas no Brasil.
Um ltimo fator importante para medir a qualidade dos trabalhos das
comisses o grau de expertise sobre polticas pblicas de seus membros. De
acordo com Santos (2002), como a reeleio para a Cmara no prioridade dos
deputados, h um padro muito instvel de nomeaes para as comisses, o que
no permite aos seus integrantes especializarem-se em determinadas temticas
durante seus mandatos. Diante dessa falta de especializao adquirida pela
experincia legislativa, ainda segundo o autor, a forma dos lderes partidrios
aferirem o grau de especializao de um deputado em um tema relacionado a
uma comisso verificar sua prvia experincia profissional. E conforme
demonstra Santos (2002), as nomeaes dos membros das comisses pelos
lderes partidrios para as duas principais comisses da Cmara dos Deputados, a
de Constituio e Justia e a de Finanas e Tributao, esto positivamente
correlacionadas com a especializao profissional prvia dos parlamentares.
Com o intuito de verificar em que medida os membros das comisses da nova
legislatura contam com parlamentares com alguma prvia expertise, analisamos
o perfil biogrfico dos presidentes de todas as comisses da Cmara dos
Deputados. A sua grande maioria, 70% deles, no est em seu primeiro mandato
como Deputado Federal e, portanto, j detm alguma experincia parlamentar.
Alm disso, dos vinte presidentes de comisses, oito tem sua especializao
profissional prvia relacionada com o tema da comisso que presidem, ou seja,40% deles podem ser considerados especialistas. Isso demonstra que, apesar da
alta taxa de renovao da Cmara dos Deputados, os lderes partidrios,
responsveis pelas nomeaes dos membros das comisses, buscam garantir a
qualidade dos trabalhos legislativos nomeando parlamentares cuja especializao
profissional esteja relacionada aos temas das comisses.
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4. A Agenda do Governo no Congresso, as grandes reformas e a poltica
externa
Em sua mensagem ao Congresso, Dilma destacou que entre as prioridades de
seu governo, alm da luta pela erradicao da misria, esto a reforma tributriae a reforma poltica. Contudo, a Presidente preferiu deixar nas mos do
Congresso a iniciativa para a reforma poltica, enquanto que ainda no
apresentou nenhuma proposta para a reforma tributria. Dilma ainda citou em
sua mensagem outras prioridades, como a desonerao dos investimos e dos
bens de consumo popular que podem ser includos na reforma tributria - e a
criao de novos marcos legais para as agncias reguladoras, para a distribuio
dos royalties do pr-sal e para a reforma universitria.
Mesmo sem ter ainda apresentado nenhum projeto de reforma tributria, a
Presidente anunciou em maro que ir fati-la para facilitar a sua aprovao. No
Congresso, a opinio dos partidos do governo e da oposio j se divide.
Enquanto o lder do PSDB na Cmara, o deputado Duarte Nogueira (SP) destaca
como prioridade a desonerao da folha de pagamentos, o ex-presidente da
comisso de Finanas e Tributao, Pedro Eugnio (PT/SP), d nfase
diminuio do carter regressivo do atual sistema. O nico consenso que parece
existir entre governo e oposio sobre a necessidade de simplificao do
sistema. Contudo, se a simplificao vier pela unificao dos impostos em um
nico, no h convergncia entre os parlamentares. Como ocorreu na tentativa
de reforma em 2008, a perspectiva de unificao dos impostos existe traz o
temor de que as receitas concentrem-se na Unio e de que alguns estados
possam ser prejudicados com a nova repartio de receitas, no sendo
devidamente ressarcidos pela Unio. Como sabido, na reforma tributria, alm
das divergncias entre os partidos, a questo da distribuio entre os entes
federados tambm tem que ser levada em considerao.
Enquanto o governo no apresenta nenhum projeto, o Congresso j comea a
se movimentar em torno da questo. Na Cmara, foi criada no fim de abril uma
subcomisso especial para tratar da Reforma Tributria a pedido do atual
presidente da comisso de Finanas e Tributao, Deputado Cludio Puty (PT/PA),
que afirmou ser a prioridade da comisso a reforma. No Senado, por iniciativa do
Senador Aloysio Nunes (PSDB/SP), foi criada uma Subcomisso Permanente para
Avaliao do Sistema Tributrio Nacional, que tambm est discutindo a reforma
tributria.
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A reforma poltica est sendo discutida em duas Comisses Especiais
diferentes, uma na Cmara dos Deputados e outra no Senado. A Presidente Dilma
em sua mensagem ao Congresso apenas afirmou ser necessria uma reforma que
fortalea o sentido dos partidos polticos no pas. Enquanto a comisso da Cmara
ainda est realizando audincias regionais por todo o pas visando escutar a
populao, no Senado, a Comisso Especial j aprovou diversos pontos que, se
forem ratificados posteriormente, implicaro em uma substancial mudana do
sistema poltico brasileiro.
Dentre as principais mudanas que foram aprovadas pela Comisso do
Senado est a mudana do sistema eleitoral proporcional para o sistema de lista
fechada. Contudo, tal mudana no foi unnime: dos vinte senadores da
Comisso, nove votaram pela lista fechada, sete pelo sistema do distrito e
quatro abstiveram-se. Outros pontos menos controversos aprovados so o fim
das coligaes partidrias para as eleies proporcionais, o financiamento pblico
das campanhas eleitorais, o estabelecimento de cotas para as mulheres (de 50%
caso seja aprovada a lista fechada) e uma clusula de desempenho de trs
representantes de diferentes estados para o partido possuir assento na Cmara
dos Deputados, entre outras modificaes. Alm disso, os Senadores tambm
aprovaram a realizao de um referendo para que a populao aprove as
mudanas. O texto da Comisso Especial ainda deve passar pela Comisso de
Constituio e Justia e depois seguir para o Plenrio e, se aprovado, para a
Cmara dos Deputados. Todavia, o sistema de lista fechada, que tem que ser
aprovado por emenda constitucional e, portanto, pela maioria absoluta do
Congresso, enfrenta ainda bastante resistncia de muitos parlamentares e
dificilmente deve ser ratificado, sobretudo diante da maior fragmentao
partidria atual. So mais favorveis lista fechada os parlamentares de
esquerda, principalmente do PT, cuja legenda a que conta com maior
identificao no eleitorado, mas que, como vimos acima, no atingem sozinhos a
maioria absoluta dos votos em nenhuma casa.
Finalmente, com relao poltica externa, incialmente Dilma deve contar
com menor resistncia da oposio. Alm de ter uma maioria folgada no Senado
e na Cmara dos Deputados e da CRE no ser presidida pela oposio, a
Presidente vem adotando uma postura mais rgida sobre o respeito aos direitos
humanos nos foros internacionais. Notadamente, houve uma mudana de
posicionamento do Brasil em relao ao Ir e aos direitos humanos com o voto
favorvel do Brasil na ONU instalao de um investigador independente dedireitos humanos para o Ir. H tambm os esforos da Presidente para uma
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maior aproximao comercial com os Estados Unidos e com a China, como ficou
claro com a visita do Presidente Barack Obama ao Brasil e com a ida de Dilma
China. Esses eram dois pontos que mais encontravam resistncia da oposio
durante o governo Lula: a postura do Brasil em relao aos direitos humanos no
Ir e a prioridade para as relaes comerciais Sul-Sul em detrimento das grandes
potncias, como os Estados Unidos. Contudo, no que tange poltica de
fortalecimento integrao regional, o governo ainda deve enfrentar resistncia
da oposio, como vem ocorrendo com a reviso do Tratado de Itaipu.
Apesar dessas mudanas, o eixo da poltica externa do governo Lula, com o
fortalecimento do Mercosul e da Unasul, a diversificao das parcerias e a busca
por um maior protagonismo do pas no cenrio mundial, continua no governo
Dilma, segundo o Ministro Antonio Patriota. Em audincia na CRE no dia 27 de
abril, ele destacou que a prioridade nas relaes exteriores no governo Dilma so
ainda os pases sul-americanos, tanto que o primeiro pas a ser visitado pela
Presidente foi a Argentina. O ministro tambm entusiasta da poltica de
abertura de novas embaixadas no exterior, especialmente nas regies antes
ignoradas como a frica e o Oriente Mdio. Segundo Patriota, isso seria uma
forma de sinalizar nos meios internacionais de deciso o crescente papel poltico
do Brasil.
E mesmo com o reposicionamento do Brasil acerca dos direitos humanos no
Ir, o governo Dilma continua mostrando autonomia em relao aos Estados
Unidos ao se abster de votao que chancelou o ataque Lbia. A continuidade da
poltica externa do governo Lula com Dilma ocorre apesar das mudanas que
ocorreram em trs dos quatro ministros que durante o governo Lula foram
responsveis pela sua formulao, a saber, o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, o
Ministro da Cincia e Tecnologia, Srgio Rezende, o Ministro das Relaes
Exteriores, Celso Amorim e o Ministro da Secretaria de Assuntos Estratgicos
(SAE), Samuel Pinheiro Guimares. Sobretudo, com a sada do ltimo da SAE e anomeao de Moreira Franco, a pasta perdeu a parceria que tinha na formulao
da poltica externa. Nos outros ministrios, Nelson Jobim permanece e tanto
Antonio Patriota quanto Aloizio Mercadante, no MCT, so comprometidos com o
fortalecimento da integrao regional buscada no governo Lula.
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