Planeamento da Reabilitação de Áreas Urbana - Volume II - Leitura da Imagem Urbana

LEITURA DA IMAGEM URBANA

PLANEAMENTO DA REABILITAÇÃO DE AREAS URBANAS

II

LEITURA DA IMAGEM URBANA

LUZ VALENTE-PEREIRAEDIÇÃO DE AUTOR

ÍNDICEResumo - Résumé - Abstract

PREFÁCIO

Capítulo I - METODOLOGIAObjectivos ��7Método ��8

Capítulo II - LEITURA DA IMAGEM E PLANEAMENTO DA REABILITAÇÃO URBANAMetodologia de Planeamento - Quadro Resumo ��12Metodologia de Planeamento - Parte I - Quadro Resumo ��13

Capítulo III - PREPARAÇÃO PARA A LEITURA E ESTUDOS COMPLEMENTARES A Área como Parte do Contexto Urbano ��15Morfologia da Paisagem ��16História da Evolução do Tecido Urbano ��17Caracterização Sócio/Económica da População ��18A Área e a sua Envolvente ��19Guião de Leitura da Imagem de uma Área Urbana ��25

Método de Leitura �� 25Registo da leitura �� 26

Capítulo IV - LEITURA, INTERPRETAÇÃO E AVALIAÇÃO DA IMAGEM DE UMA ÁREA URBANAConstituição e Estrutura Morfotipológica ��28

As Bases de Formação do Tecido Urbano �� 28A Ocupação do Solo �� 29A Malha Urbana �� 30O Espaço Urbano �� 40O Edificado �� 55

Caracterização Geral dos Edifícios �� 57Tipologia dos Edifícios e dos Fogos �� 62O Património Histórico e Artístico �� 67

Constituição e Estrutura Activa ��69Habitação, Equipamentos, Administração Pública e Actividades Económicas �� 72Trânsito, Transportes, Estacionamento, Cargas e Descargas, Circulação de Peões �� 75Estar Urbano �� 78

Constituição e Estrutura Social ��83Constituição e Estrutura Significativa ��88Síntese da Constituição e Estrutura Urbanas ��92Mobiliário Urbano, “Lettering”, Vegetação e Animais ��94Carácter Urbano ��98Dinâmica Urbana ��102Resultados da Leitura da Imagem ��105

BIBLIOGRAFIA

Resumo - Résumé - Abstract

Leitura da Imagem UrbanaDescreve-se um método de leitura da imagem de uma Área Urbana que permite iniciar o conhecimento desta, com o objectivo de proceder à sua avaliação global e crítica, ao diagnóstico dos problemas e potencialidades que apresenta, e à elaboração de propostas de intervenção que efectivem a sua reabilitação física e o desenvolvimento socio-económico e cultural da comunidade nela territorializada.

O método que se apresenta desenvolve o passo inicial duma metodologia de planeamento da reabilitação de áreas urbanas apresentado no ebook já publicado “Reabilitação Urbana Volume I - Conceitos Gerais e Metodologia de Planeamento” da mesma autora.

Lecture de l’Image UrbaineOn présente une méthode de lecture de l’image d’un morceau de ville lequel permet d’obtenir un début de connaissance globale et critique du tissu urbain en question, proceder au diagnostique des problémes et des potentialités et a l’élaboration des hypothéses d’intervention pour le réhabiliter et appuyer le développement socio-économique et culturelle de la communauté qu’y est instalée.

La méthode qu’on décrit développe la partie initiale d’une méthodologie de planification de la réhabilitation urbaine publiée dans le ebook “Reabilitação Urbana - Volume I - Conceitos Gerais e Metodologia de Planeamento” de la même auteur.

The Reading of the Urban ImageIt describes a method for reading the image of an Urban Area that allows you to start the knowledge of this, with the aim of carrying out its overall assessment and criticism, the diagnosis of problems and opportunities that presents and preparing proposals for intervention which achieve their physical rehabilitation and socio-economic development and the community’s cultural territorialised therein.

This method developes the initial step of a methodology for planning the rehabilitation of urban areas. That methodology is described in the ebook ever published “Reabilitação Urbana -Volume I - Conceitos Gerais e Metodologia de Planeamento” by the same author.

PREFÁCIO

Nesta publicação apresenta-se um método de leitura da imagem de uma Área Urbana o qual se considerou adequado para iniciar o conhecimento desta com o objectivo de realizar a sua avaliação global e crítica, proceder

ao diagnóstico preliminar dos seus problemas e potencialidades e elaborar hipóteses de intervenção que efectivem a sua reabilitação física e ambiental e o desenvolvimento da comunidade nela territorializada (Valente Pereira, 1991).

O método de leitura, que seguidamente se expõe, é um processo expedito de formar uma ideia global das características da Área urbana a reabilitar, dos seus problemas e potencialidades, de exercitar a procura de soluções a apresentar para discussão com os diferentes agentes sociais e de prever os meios e recursos necessários para organizar os estudos e as acções que permitirão iniciar e prosseguir as tarefas de reabilitação da Área e de organização da sua gestão corrente.

O trabalho resultante da leitura deverá ser apresentado aos políticos e técnicos municipais e aos outros agentes formais, para debate e decisão antes da sua discussão alargada e pública.

A realização da leitura da imagem da Área é ainda fundamental para definir e orientar, integrando-os, os estudos sectoriais necessários para obter um conhecimento mais objectivo e aprofundado, estudos que se irão desenvolvendo ao longo do processo de planeamento conforme as exigências de informação que se forem manifestando (Valente Pereira, 1986).

Procura-se essencialmente, através do presente estudo, transmitir um conjunto de perspectivas e propostas sobre a forma que consideramos mais abrangente e expedita de “agarrar” uma parte da cidade para entender a sua presença viva e em transformação, para ser estimulado a avaliá-la, a interrogar-se sobre o que nela responde ou não a exigências dos modos e do meio de vida e, por esta via, provocar e alimentar a construção de hipóteses de intervenção.

Pretende-se não ignorar a complexidade do meio urbano e encontrar um método de trabalho que permita captá-lo a traços largos, entendê-lo nos seus aspectos essenciais e criar a familiaridade necessária com o meio no qual se irá trabalhar.

As sínteses a realizar deverão traduzir esse entendimento da Área, o qual facilita a elaboração criativa e integrada de propostas.

O registo das particularidades e dos pormenores característicos da Área reforça a possibilidade de construir e expressar soluções de reabilitação que respeitem e valorizem o carácter do tecido urbano em análise.

O desenvolvimento do planeamento da reabilitação duma Área Urbana é um processo complexo e que exige ter em conta uma intrincada trama de procedimentos; a utilização de conhecimentos, métodos e fontes de informação diversificados; a comunicação, concertação e acção de múltiplos agentes sociais.

Tal facto determina que seja necessário obter, desde início, uma compreensão da Área e das suas possibilidades de transformação, global e acessível aos diversos intervenientes, para servir de base comum a partir da qual se organizarão e desenvolverão os diversos estudos e acções que irão ajustando, corrigindo e aprofundando o conhecimento inicial resultante da leitura da Área.

Considerou-se assim fundamental definir as questões que permitem captar e avaliar as características estruturais e mais significativas e as particularidades duma Área Urbana, assim como ilustrar o modo de as tratar e relacionar para informar e interpretar os diversos conteúdos que a constituem. Estes servem para construir as bases do estudo e da intervenção ancorando-as na especificidade da realidade observada, ultrapassando ideias feitas e soluções estandardizadas e fazendo nascer, das próprias condições e características locais, as hipóteses de transformação e os modos de as concretizar.

O método proposto pretende-se aberto, ou seja, as diferentes categorias de análise indicadas são-no a título de exemplo, dado que se admite a formulação de categorias mais detalhadas ou mais abrangentes dependendo, quer da dimensão, complexidade e outras características da Área em estudo, quer do entendimento que os técnicos responsáveis tenham dos elementos que definem o tecido urbano.

Tendo em vista o enquadramento da leitura da imagem na Metodologia de Planeamento da Reabilitação de Áreas

Urbanas, que desenvolvemos anteriormente (Valente Pereira 1991) e apresentamos no 1º volume desta série(1), incluímos, no presente estudo, quadros resumo da referida metodologia e ainda a indicação dos estudos necessários para preparar e apoiar a leitura da imagem, os quais são descritos no Capítulos III desta publicação. Destaca-se ainda, no citado Capítulo, as questões relativas às relações da Área com a sua envolvente. O estudo deste aspecto permite superar uma postura que, mesmo involuntariamente, tende a encarar a área delimitada como um universo confinado em si próprio e autónomo, com as consequentes distorções, quer a nível da interpretação da realidade presente, quer das propostas de intervenção.

A oportunidade que nos foi dada pela Câmara Municipal de Loures de participar no Plano de Salvaguarda do Núcleo Antigo de Sacavém(2) desde início e a nível de consultoria à coordenação do Plano, pôs à prova a aplicabilidade do método num caso real.

A colaboração de dois bolseiros da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT) permitiu realizar estudos sectoriais nos domínios da arquitectura paisagística(3) e da sociologia(4) para apoio à leitura da imagem e aprofundamento dos respectivos temas.

NOTA - As fichas seleccionadas para exemplificar a leitura da imagem urbana foram elaboradas com base na documentação que me foi entregue pela equipa do Plano de Salvaguarda do Núcleo Antigo de Sacavém, durante a elaboração do referido plano o qual se apoiou, na sua fase inicial, na metodologia de leitura da imagem que apresentamos. Acrescentámos alguns exemplos da leitura, realizada no LNEC, das áreas delimitadas na Madragoa/Lapa e Benfica (Lisboa) para evidenciar como pode ser diversa a interpretação da referida leitura. Esperamos, deste modo, permitir aos leitores uma melhor compreensão do significado e alcance das propostas de leitura apresentadas.

(1) VALENTE-PEREIRA, L - “Planeamento da Reabilitação de Áreas Urbanas - Volume I - Questões Gerais e Metodo-logia ” Academia.edu 2012(2) Plano de Salvaguarda do Núcleo Antigo de Sacavém, coordenado pela Arquitecta Maria João Gonçalves, Divisão de Planeamento Urbanístico, Câmara Municipal de Loures, 1989-1993. (3) FERREIRA, Maria. Isabel. CAETANO - Contribuição da Análise Paisagística para o Planeamento da Reabilitação de Áreas Urbanas - Estudo de Caso - Madragoa/Lapa e Benfica. Lisboa, LNEC, 1991. Planeamento do Desenvolvimento Sócio-Urbanístico de Áreas Urbanas

• 1ª Parte- Contribuição da Análise Paisagística no Planeamento do Desenvolvimento Sócio-Urbanístico de Áreas Urbanas. Lisboa, LNEC, 1989. • 2ª Parte- Índices de Qualidade Ambiental. Lisboa, LNEC,1990.

(4) ANTUNES, A.A. ROSA - Contribuição para a Definição das Necessidades Sociais a Nível do Quotidiano numa Área Urbana,

• 1ª Parte -Práticas Sociais Quotidianas e Apropriação Social do Espaço, Lisboa, LNEC, 1989• 2ª Parte - Utilização e Apropriação de Áreas Urbanas, Lisboa, LNEC, 1990

Capítulo I - METODOLOGIA

Objectivos

A leitura da imagem de uma Área Urbana(1) é um método de conhecimento do meio urbano a esta escala, e tem por objectivo proceder à sua avaliação e à elaboração criativa de soluções para reabilitá-lo desenvolvendo social,

económica e culturalmente a população nele territorializada e qualificando o seu espaço.

Através da referida leitura procura-se obter, de forma expedita, directa e individualizada, um retrato global, interpretativo e crítico da Área que permita identificar as ideias de cidade que expressa, os problemas que a afectam, as potencialidades que oferece e delinear objectivos, políticas, estratégias e hipóteses de intervenção para a reabilitar e orientar a sua transformação.

É preocupação básica desta forma de aproximação ao conhecimento duma Área assimilá-la no seu conjunto e dinâmica, entendê-la presente e viva, interpretá-la e avaliá-la e obter, a partir dela, sugestões quanto às soluções e acções necessárias para realizar a sua qualificação e desenvolvimento sócio-urbanístico.

Observa-se a imagem urbana para:

• Identificar os aspectos que a caracterizam como meio urbano específico;

• Perceber como se relacionam entre si e como traduzem os processos de formação e transformação urbanos, espaciais e dos modos de vida;

• Apreender o que nela representa qualidade urbana e carácter próprios;

• Identificar onde é necessário intervir para resolver que problemas e que características e dinâmicas a própria Área possui para construir as soluções e acções de transformação.

A leitura da imagem da Área Urbana deve permitir realizar o esboço rápido e significativo da situação presente e da sua dinâmica e criar a perspectiva crítica que suscita a construção simultânea de orientações e propostas de acções de reabilitação e transformação urbanas.

É uma leitura personalizada, que se escora essencialmente na experiência já adquirida pelo técnico (como tal e como urbanita) e que é indispensável para que este forme a sua própria percepção da Área, se integre na realidade tal como se apresenta, seja sensibilizado e penetrado por ela, esclareça a sua capacidade de perceber e avaliar o que vê, de construir as suas próprias convicções estimuladoras da definição das acções de intervenção.

A subjectividade, não exaustividade e rapidez da observação fazem com que esta fique sujeita a erros, que podem ser grosseiros, levante questões sem resposta ou de resposta precária. Consideramos que, face às vantagens enunciadas, estes defeitos são menores e facilmente superáveis no prosseguimento do trabalho e através da utilização de informação e métodos de análise mais rigorosos.(2)

Percepcionar e interrogar a realidade em presença tem por finalidade, para além de interpretá-la e avaliá-la, procurar encontrar respostas adequadas para o que deve ser feito para reabilitar e orientar a transformação da Área Urbana.

Conhecimento e avaliação, diagnóstico e proposta são partes integrantes da leitura da Área, provocando-se mutuamente para melhor esclarecimento e maior capacidade de resposta aos objectivos da observação.

(1) - O método seguido baseia-se no proposto por ALLAN B. JACOBS e LESLIE GOULD e que se encontra descrito no documento “Observing and Interpreting the Urban Environement. Case Study: Naglee Park, San José California”. Institut of Urban and Regional Development. University of California, Berkeley, WP372, 1982. (2) - No método de leitura que serviu de base para o desenvolvimento do nosso trabalho, A. B. JACOBS considera que os riscos de erro são reduzidos através:

• Da multiplicação do número de observadores e do confronto e discussão dos resultados individuais da observação; • Do teste dos resultados obtidos por meio do manuseamento de informação estatística e outra entretanto reunida; • Da discussão dos resultados com interlocutores conhecedores da realidade observada.

Todo o ciclo do estudo deve ser percorrido na decorrência desta, exercitando a capacidade propositiva em paralelo com a de análise, interpretação e avaliação.

Pretende-se, através deste exercício inicial, para além de obter uma compreensão global da Área e das suas possibilidades de transformação que sirva de base comum de discussão e construção do processo de planeamento da sua reabilitação, superar as dificuldades dos métodos correntes de análise que remetem para fase posterior a construção das soluções, desligando estas daquela.

A base comum de informação que a leitura proporciona terá de ser compreensível para os diversos agentes sociais formais e informais implicados e permitir proceder à integração dos seus conhecimentos e exigências sem perder mas, pelo contrário, corrigindo e reforçando uma visão comum da Área e dos objectivos e caminhos da sua reabilitação.

Em resumo, ao realizar a leitura da imagem da Área procura-se:

• Obter um retrato global, interpretativo e crítico da Área através da definição das suas características estruturais e mais significativas;

• Definir e localizar os problemas e as potencialidades existentes na Área;

• Captar o carácter urbano da Área e os elementos que o exprimem;

• Perceber a dinâmica de transformação em curso na Área;

• Estabelecer, à medida da interpretação e avaliação dos resultados da leitura da imagem, hipóteses relativas a objectivos, políticas, estratégias, soluções e acções de intervenção para a sua reabilitação.

O trabalho resultante da referida leitura serve de base comum para iniciar as discussões e os estudos que aprofundarão o conhecimento da Área e estabelecerão o processo de planeamento/acção da sua reabilitação. É, consequentemente, uma informação essencial para integrar os diferentes contributos disciplinares e para iniciar, de forma participada e concertada entre os diferentes agentes sociais, o processo de intervenção.

Método

A leitura da imagem faz-se por observação directa. Para a efectivar é necessário percorrer a Área Urbana, ver e, simultâneamente, interrogar o que se vê, procurar relacionar, interpretar e avaliar as observações (formar uma

opinião sobre “o que está bem e o que está mal”) e cartografá-las.

Durante a leitura devem ainda registar-se os comentários e as questões sugeridas pela observação, fixar os aspectos que se considera que interessaria modificar (problemas) e aqueles que, por serem muito característicos ou exemplares são de conservar e podem, inclusive, contribuir para construir as propostas de intervenção (potencialidades).

É importante tomar nota das questões que será necessário esclarecer em estudos posteriores por suscitarem dúvidas ou necessitarem de confirmação ou aprofundamento.

A observação realiza-se interpretando a configuração espacial da Área Urbana, a sua estrutura e carácter, os modos de uso e de apropriação territorial pela população e pelas actividades, os ambientes e as imagens gerais resultantes.

Conjuntos de observações devem ser encadeados de modo a percepcionar a estrutura social do espaço e dos usos nele; as características morfotipológicas da Área e as ligações que esta estabelece com a envolvente; os processos de formação e ocupação do tecido urbano; a dinâmica recente de transformação da área e as tendências de evolução que revela; os modelos e os valores urbanos que lhes estão subjacentes; os problemas e as suas possíveis soluções; as potencialidades e a sua exploração.

Quem, onde, como, o quê, quando, para quem e para quê; está bem ou está mal, são as interrogações a formular a propósito das observações que se vão realizando e que estimulam a capacidade de ver e de interpretar o que se vê, de dar globalidade e inteligibilidade à leitura, de identificar e integrar as diferentes componentes do sistema urbano, de exercitar a imaginação criadora necessária à concepção de soluções.

Da leitura da imagem da Área deve resultar a percepção, em traços largos, da sua estrutura urbana, das características sociais, espaciais e de uso, dos modos de apropriação do espaço pelas pessoas e pelas actividades.

As características da Área Urbana definem-na como lugar de vida urbana, diferente de qualquer outro e diferenciado nas suas partes, com forma e história próprias, com a diversidade das actividades e das interações sociais que lhe dão vida. Interessa identificar as invariantes da Área que lhe têm proporcionado uma permanência como lugar, o seu carácter ou a ausência duma presença própria, de regras estruturadoras que a ordenem e lhe imprimam personalidade.

Como foi afirmado nos objectivos da leitura procura-se obter “um retrato global, interpretativo e crítico da área”, “o esboço rápido, e significativo da situação presente e da sua dinâmica” para a “elaboração criativa de soluções de reabilitação e de orientação da transformação da Área”. Estes objectivos só são alcançáveis se, na observação, se valorizar a análise morfológica(1) sem deixar de a informar com os conteúdos sociais, culturais e funcionais presentes e percepcionáveis.

A análise morfológica exige ainda perceber as características funcionais e sociais que organizaram as formas representativas do passado e que permanecem, eventualmente desadaptadas aos novos conteúdos, e as dinâmicas de transformação visíveis nas alterações físicas e do ambiente provocadas por novos usos, diferente estatuto social dos utilizadores e novos valores culturais.

A informação resultante da leitura deve ser cartografada, legendada e ilustrada (através de fotografias, esquissos ou de registos em vídeo) de forma a traduzir, com clareza e no espaço, os resultados do exercício de observação.

A questão do registo da informação é extremamente importante dado que denota e exprime os elementos fundamentais percepcionados que traduzem o urbano naquele local e que são a base da concepção dos projectos de intervenção.

O exercício de leitura da imagem urbana, realizado nestes moldes, faz corresponder observação e concepção (na medida em que a linguagem que explicita a observação é análoga à que elabora a concepção das propostas de intervenção) e liga a análise e a síntese das características da Área com a construção das hipóteses de solução (dado que interpretar e avaliar o existente pressupõe construir relações aglutinadoras, formular ideias que traduzem o que se pensa ser uma “boa cidade” e visualizá-las nos espaços em análise).

Para atingir este objectivo recomenda-se que, para cada aspecto destacado para análise se proceda de modo a, para além de identificar as suas características, poder efectivar a sua avaliação indicando os problemas e as potencialidades que tais características revelam e as propostas de intervenção que se considera poderem resolver os problemas e valorizar as potencialidades identificadas. Estas propostas são apenas hipóteses decorrentes da questão analisada e pode verificar-se, na sequência do estudo, que não são adequadas devido, por exemplo, à prioridade de resolução doutros aspectos cuja solução seja incompatível com aquelas. A importância da sua formulação reside no registo das propostas à medida que vão surgindo para, nas sínteses finais, serem compatibilizadas e seleccionadas ou reelaboradas, e no facto de obrigar ao exercício da constante ligação entre análise, diagnóstico e elaboração de propostas.

É ainda útil, como afirmámos, registar, na sequência da análise, os estudos que interessaria desenvolver, em fase posterior do trabalho, para melhor esclarecimento das questões tratadas e os temas de discussão alargada a assinalar, dada a sua importância para estabelecer opções fundamentais relativas ao conceito de cidade orientador das soluções a propor (por exemplo, o lugar do automóvel no espaço público versus importância do peão; opções relativas à estrutura espacial dos usos do solo, ao grau de conservação/recuperação do edificado, ao interesse de introduzir novas construções de traça actual em tecido antigo).

A observação direita da imagem da Área deve ser feita separadamente por dois ou mais observadores. A multiplicação do número de observadores enriquece a leitura e a independência das respectivas observações e é fundamental para, através da comparação e discussão dos resultados, controlar os desvios resultantes de excessos de subjectividade e de falhas de observação.

A confrontação das leituras, realizadas pelos diferentes observadores, efectua um primeiro teste das observações realizadas e permite evidenciar e avaliar as “ideias de cidade” subjacentes a cada leitura.

(1) - A análise morfológica permite perceber a lógica de concepção e apropriação do tecido urbano, definir a sua estrutu-ra, as regularidades ou regras e as diferenças ou particularidades que apresenta, detectar as tipologias correntes e excep-cionais do edificado e do espaço urbano.

Caso surjam interpretações contraditórias elas serão corrigíveis observando de novo os aspectos que criaram divergências de interpretação, procurando acertá-los ou, caso não seja possível, ultrapassá-los utilizando outros métodos de conhecimento mais objectivos ou aceitando como real e enriquecedora a diversidade de opiniões.

As dúvidas, lacunas e imprecisões da leitura são colmatadas, ao longo do trabalho e à medida das necessidades, através da realização de estudos técnicos especializados.

A leitura da imagem urbana deve ser realizada por observadores que possuam um amplo conhecimento das questões urbanas e da sua expressão morfológica ao longo dos tempos de formação dos tecidos urbanos.

Embora interesse estimular a diversidade e originalidade de leitura dos diferentes observadores, para maior riqueza descritiva e interpretativa da Área, considera-se importante a elaboração prévia de um guião orientador da observação que, não sendo condicionante, permita esclarecer o que se pretende e estabeleça uma plataforma comum através da indicação das questões essenciais que a leitura terá de contemplar, para responder às necessidades do estudo, e o modo de proceder ao registo das observações.

O guião de leitura deve ser discutido pela equipa de planeamento da reabilitação da Área. A referida discussão permite, inclusive, adaptar perspectivas, objectivos do trabalho e a metodologia da sua abordagem ao caso em estudo e às preocupações da equipa.

A leitura da imagem da Área é um procedimento tanto mais necessário quanto maior e mais complexa esta for. Se a Área tiver dimensões reduzidas a leitura pode ser substituída por um levantamento sistemático das suas características. Neste caso é essencial proceder com maior detalhe à leitura da unidade territorial alargada e envolvente da Área para poder compreender e avaliar a sua estrutura urbana a qual só será legível se, na análise, se ultrapassarem os limites territoriais definidos para a intervenção de reabilitação. São questões que se têm de resolver caso a caso dependendo da maior ou menor autonomia morfológica da área de intervenção.

É essencial encontrar uma unidade de observação e análise que permita perceber a estrutura morfológica do tecido urbano e a sua lógica organizativa mesmo que para tal se tenha de alargar o território de observação para além do perímetro de intervenção estabelecido e até, eventualmente, propor novos limites para a área de planeamento da reabilitação.

Capítulo II - LEITURA DA IMAGEM E PLANEAMENTO DA REABILITAÇÃO URBANA

O método de leitura da imagem foi desenvolvido, como referimos na introdução, para instrumentar uma proposta de metodologia de planeamento da reabilitação de Áreas Urbanas que elaborámos e se encontra publicada.(1)

A leitura da imagem é, de acordo com o referido método, o primeiro passo a percorrer pela equipa técnica para conhecer e avaliar a Área Urbana e a sua dinâmica de transformação e construir as primeiras hipóteses de intervenção. É a fase essencial da preparação da equipa técnica para poder enfrentar o diálogo com os outros agentes sociais implicados na reabilitação e organizar o planeamento propriamente dito, o qual se realiza em termos de planeamento/acção, ou seja, planeando e intervindo, desenvolvendo os estudos técnicos detalhados à medida das tomadas de decisão quanto a prioridades, e para lhes dar cumprimento.

Para que o leitor possa conhecer as grandes linhas da metodologia apresentada, sem recorrer às referidas publicações, apresentamos, seguidamente, o quadro geral que resume as diferentes fases do método e o quadro referente à 1ª tarefa da respectiva 1ª fase, na qual se enquadra a leitura da imagem da Área, metodologia escolhida para caracterizar a Área. Esta informação permite formar um ideia da inserção da leitura da imagem na metodologia de planeamento proposta.

A leitura da imagem é um método que pode ser usado para cumprir outros objectivos como, por exemplo, o estudo preparatório da elaboração dum projecto de arquitectura ou de uma nova urbanização a integrar num tecido existente.

(1) - VALENTE-PEREIRA, L. - Metodologia de Planeamento da Reabilitação de Áreas Urbanas, Lisboa, LNEC, 1991Reabilitação Urbana - Volume I - Questões Gerais e Metodologia de Planeamento da Reabilitação., Ebook 2013

Metodologia de Planeamento - Quadro Resumo

Metodologia de Planeamento - Parte I - Quadro Resumo

Capítulo III - PREPARAÇÃO PARA A LEITURA E ESTUDOS COMPLEMENTARES

Antes de iniciar a leitura da imagem de uma Área Urbana, e para não correr o risco de a considerar como um território isolado, é necessário proceder a estudos e recolhas de dados que permitam conhecer a Área como parte

do contexto urbano e interpretar as características dessa pertença,.

Há informação sobre a Área que não se adquire através da leitura da imagem e que é indispensável, inclusive para preparar e interpretar a leitura da imagem. Referimos os estudos que permitam conhecer a morfologia geral da paisagem, a história da evolução do tecido urbano, a dinâmica de transformação urbana e a caracterização sócio-económica da população da Área.

Todo o tecido urbano é percorrido e lido de forma contínua, o que exige conhecer as relações da Área com a sua envolvente para não criar descontinuidades involuntárias, para “coser” tecidos e sequências de usos, percursos e imagens.

A observação da cartografia da Área e da sua Envolvente permite formar uma ideia das características topográficas e morfotipológicas gerais, das barreiras e das continuidades do tecido que marcam as relações entre as suas partes e com a envolvente. Estes dados são importantes para facilitar a orientação no terreno e para organizar e interpretar a leitura durante a observação. O conhecimento da toponímia, a verificar e a completar durante a leitura, auxilia a identificação dos locais. a que se referem as observações, e dos seus significados históricos.

A leitura da imagem deve ser feita por dois técnicos, se possível com conhecimento da Área, apoiados por um Guião de Leitura da Imagem da Área e que servirá de base comum de apoio.

Como complemento da leitura da imagem há ainda que realizar entrevistas com autarcas, técnicos e outros agentes sociais que conheçam bem a área e a sua dinâmica e possam dar informações que enriqueçam o seu conhecimento e tenham opiniões relativas às perspectivas da sua transformação. É ainda desejável desenvolver investigação jornalística para enriquecer a informação com a experiência vivida na área (cuja abordagem por métodos da antropologia nem sempre é viável, dado que é demorada e dispendiosa) e para despertar o interesse da opinião pública.

Os elementos da equipa de planeamento que não estão ocupados com a leitura da imagem deverão entretanto proceder às seguintes tarefas:

• Reunir o material que se encontre disponível sobre a Área incluindo as infraestruturas e os serviços urbanos existentes (serviços de limpeza, de reparação de ruas, manutenção da iluminação e das áreas verdes, bocas de incêndio e organização para combate a fogos, substituição e reparação de mobiliário urbano, ... ) e criar uma base de dados com interesse para planeamento e gestão.

• Obter o cadastro da Área. Se este não existir ter-se-à de proceder à sua elaboração e de procurar garantir a sua permanente actualização através da organização da gestão urbanística corrente da Área.

• Obter a cartografia e fotografias aéreas actualizados da Área, iniciar a recolha da cartografia produzida ao longo do tempo, quer da Área quer do Aglomerado Urbano, um primeiro levantamento da toponímia da Área e o registo das unidades administrativas a que pertence (freguesias, bairros fiscais, áreas de jurisdição da Polícia de Segurança Pública, dos Bombeiros, código postal, ... ). As escalas 1/25000 para o Aglomerado Urbano, e 1/10000 - 1/5000 para base de leitura da Área são, de uma maneira geral, adequadas.

• Proceder ao levantamento dos planos, programas e compromissos existentes, das acções e empreendimentos em curso e a realizar a curto prazo na área e dos agentes deles responsáveis. Esta informação tem o maior interesse para ajuizar da dinâmica de transformação a que a Área está sujeita.

• Desenvolver os estudos sectoriais que se considerem indispensáveis para testar e (ou) completar as informações obtidas na leitura.

A Área como Parte do Contexto Urbano

A caracterização da Área como parte do contexto a que pertence corresponde a uma tarefa que se desenvolve independentemente da leitura, sendo aprofundada ao longo do processo de planeamento e discutida com os níveis

superiores de planeamento de acordo com as exigências do desenrolar do próprio processo.

Por vezes, a resposta a alterações necessárias à reabilitação da Área cria necessidades de informação e intervenção que excedem o âmbito desta mas que, inclusive, podem ser suscitadas de baixo para cima (da Área para o Aglomerado Urbano) durante o processo de planeamento.

A informação que consideramos necessário obter, antes de iniciar a leitura e para caracterizar o contexto da Área, tem por finalidade perceber a situação da Área nele, o papel urbano que desempenha e virá a desempenhar como parte do todo em que está inserida.

Esta informação diz respeito a:

• Situação da Área no Aglomerado Urbano, no Município e na Região;

• Morfologia geral da paisagem do Aglomerado Urbano;

• Grandes etapas da evolução histórica da ocupação urbana do solo e da evolução demográfica e sócio-económica do Aglomerado, do Município e da Região

• Grandes eixos de acessibilidade urbana, municipal, e regional;

• Distribuição geral da população e dos usos do solo urbanos, municipais e regionais; centros urbanos principais e sua hierarquia;

• Áreas urbanas significativas, por razões de centralidade, históricas, turísticas, de prestígio social, de marginalidade... do Aglomerado, do Município e da Região;

• Orientações gerais relativas a objectivos, políticas, estratégias e propostas de planeamento do aglomerado urbano e das suas partes;

• Grandes projectos de urbanização e obras públicas a executar a curto e médio prazos, planos existentes e aprovados, condicionamentos e compromissos urbanos e outras indicações que identifiquem as grandes linhas da dinâmica de transformação em curso no contexto urbano e com repercussões na área.

Esta informação deve ser fornecida pelas instâncias de planeamento do Aglomerado Urbano, do Município e da Região. Nesta fase do trabalho apenas é necessário obtê-la em termos gerais e de forma a poder situar comparativamente as características da Área, interpretar os resultados da observação e estruturar hipóteses de intervenção adequadas às exigências e à dinâmica do contexto em que a Área se situa e que nela se irão reflectir.

Cartas e esquemas legendados e respectivos textos interpretativos registam as sínteses da informação compilada e a caracterização da Área delas decorrente.

Estas primeiras sínteses interpretativas do contexto são ainda muito úteis como base de orientação para organizar os estudos específicos a desenvolver, à medida das necessidades, para conhecimento mais aprofundado deste.

Cabe ainda referir que, dependendo da Área em estudo, será mais ou menos alargado o contexto que permite enquadrá-la e a importância dos estudos a desenvolver. O centro duma cidade capital, por exemplo, terá de ser pensado à luz das questões nacionais e internacionais, uma área residencial situada no interior do aglomerado, poderá dispensar a inserção a nível municipal.

Morfologia da Paisagem

Um bom entendimento da morfologia da paisagem da Área é essencial para interpretar e avaliar a estrutura da urbanização da Área, descortinar problemas morfológicos básicos e verificar como foram aproveitadas ou

desperdiçadas as potencialidades naturais.

Madragoa/Lapa (Lisboa)

Nesta fase inicial é essencial a participação da arquitectura paisagística como instrumento auxiliar da leitura e da sua interpretação e para estabelecer a ligação necessária, durante todo o processo, entre os técnicos da arquitectura dos sítios entre si e com os outros especialistas.

Da análise da morfologia da paisagem, cujo desenvolvimento se apresenta detalhadamente no trabalho realizado no âmbito dos estudos de caso(1) retivemos como necessária para apoio directo da leitura, a definição das plataformas de

(1) - FERREIRA, I. CAETANO - Contribuição da Análise Paisagística para o Planeamento da Reabilitação de Áreas Urbanas - Estudos de Caso: Madragoa / Lapa e Benfica. Lisboa, LNEC, 1991.

LINHAS DE FESTO E CENTROS DE DISTRIBUIÇÃO LINHAS DE TALVEGUE E CENTROS DE ENCONTRO

A B C D CENTROS DE DISTRIBUIÇÃO

1 2 3 4 5 6 CENTROS DE ENCONTRO

relevo, das linhas estruturantes da paisagem e dos declives, assim como a representação tridimensional do terreno, a qual permite obter uma visão abrangente deste.

A síntese destas informações conduz à definição das unidades morfológicas da paisagem e das suas formas de articulação, as quais permitem caracterizar e avaliar as potencialidades urbanas dos traços essenciais da morfologia geral da paisagem e orientar a interpretação e avaliação do seu modo de urbanização.

História da Evolução do Tecido Urbano

O estudo da história da evolução do tecido urbano é, como referimos em trabalho anterior(1), fundamental para a compreensão da morfologia urbana, para a interpretação do ritmo e do modo do seu desenvolvimento”.

Percebe-se assim o porquê de certos usos do solo e das suas formas de expressão (tipologia, morfologia), o grau de consolidação ou de transformação que a situação actual apresenta, as tendências de evolução e os elementos de fixação do tecido urbano, certas características da imagem urbana e do modo como a memória colectiva a assimila.

O conhecimento da evolução histórica é importante para julgar a persistência de certos usos, a aptidão das formas urbanas para se adaptarem à mudança, o sentido da evolução da apropriação social do território e para identificar as regras básicas de ordenamento do espaço (constantes espaciais mantidas ao longo da variação no tempo).

No referido trabalho indicam-se os temas a desenvolver no estudo da evolução histórica:

• Identificação das etapas de formação, preenchimento e crescimento do tecido urbano; transformação do seu parcelamento, traçado viário e edificação; caracterização morfológica fundamental e tipologias principais de cada etapa; acontecimentos marcantes, elementos, agentes e processos estruturadores dessa evolução;

(1) - VALENTE PEREIRA, L. - Método de Apoio Técnico à Acção de Desenvolvimento Sócio/urbanístico de Áreas Ur-banas de Intervenção., Lisboa, LNEC, 1986 - Vol. II,. (7 e 27 a 30).

LINHAS DE CUMEADA RESPEITADASLINHAS DE CUMEADA NÃO RESPEITADASLINHAS DE VALECENTROS DE DISTRIBUIÇÃOCENTROS DE ENCONTRO

URBANIZAÇÃO ANTERIOR AO TERRAMOTOPLANO POMBALSÉCULOS XVIII/XIXSÉCULOS XIX/XXANOS 20ANOS 30/40ANOS 60/70

• Características gerais e evolução do tecido social e da apropriação da Área, pela população e pelas actividades;

• Principais ideias e modelos de cidade que presidiram às diferentes fases de urbanização da Área.

A síntese a realizar deve ter como objectivo retratar etapas características sem se alongar na descrição de factos, e dar especial relevo ao entendimento do que é a Área na actualidade; dos processos que, ao actuarem nela, a formaram tal como se apresenta; do potencial urbano que revela; das regras próprias e constantes que definem o seu modo de permanecer e de mudar.

Perceber o papel que a Área foi desempenhando ao longo do tempo no Aglomerado Urbano e porquê, as formas que expressaram esse papel, as ideias chave que orientaram essa expressão, o tipo de população que sucessivamente se apropriou da Área e as características básicas do seu estatuto social e do seu modo de vida na relação com o espaço é um precioso auxiliar para a compreensão da realidade presente e construção da sua qualificação e desenvolvimento.

Para apoio imediato da leitura da imagem bastará indicar as grandes etapas de formação e desenvolvimento do tecido urbano, espacializando-as; as características morfológicas essenciais de cada etapa e os modelos de cidade que lhes estão subjacentes.

É importante ajuizar do grau de consolidação das diferentes partes do tecido indicando aquelas que, ao longo do tempo, foram mais sujeitas a pressões de transformação e são, consequentemente, as mais “vivas” ou “frágeis” e as que permaneceram mais ou menos intactas, as áreas mais “mortas” ou “sólidas”.

No prosseguimento do trabalho poderá ser necessário desenvolver estudos que permitam conhecer, em pormenor, a história dos edifícios, dos espaços, dos usos, valores e costumes da população.

Caracterização Sócio/Económica da População

O método de leitura da imagem dá, de forma imprecisa e sujeita a erros grosseiros, uma ideia das características sócio-económicas da população que reside na Área, que nela trabalha ou a frequenta por qualquer outro motivo.

Para controlar esta informação, torná-la mais precisa e fidedigna é necessário desenvolver, em paralelo, o estudo dos dados estatísticos disponíveis, os quais deverão ser analisados tendo por base de referência o quarteirão.

As características a destacar para realizar minimamente a caracterização económica e social da população residente dizem respeito à idade, composição das famílias e situação perante a actividade distinguindo activos e inactivos, categorias e ramos de actividade.

Este estudo terá de ser desenvolvido ao longo do trabalho, quer através da análise de informação estatística diversa (recenseamento eleitoral, dados oriundos dos sectores da saúde, segurança social, ensino, polícia, ... ) quer de inquéritos directos determinados de acordo com as necessidades de informação que surjam à medida da definição dos problemas de resolução prioritária.

A Área e a sua Envolvente

Madragoa/Lapa Benfica

Através desta leitura procura-se verificar como se percepciona a Área do seu exterior, em que medida se distingue ou se funde com a sua envolvente, que relações morfológicas e de uso estabelece com ela, como se caracterizam as suas fronteiras e qual a consistência formal que possuem, para poder concluir se é necessário intervir nestes aspectos e, caso o seja, construir propostas de intervenção.

Interessa consequentemente verificar:

• Como se apresenta a Área quando nos aproximamos dela vindos do seu exterior;

• Quais as relações morfológicas e de uso que estabelece com a envolvente, avaliando a sua qualidade e adequação; quais as formas de acesso ao seu interior e que consistência formal apresentam as suas fronteiras, ou seja, se estas delimitam ou não descontinuidades de tecido, inclusive para avaliar o interesse de acentuá-las ou esbatê-las através da intervenção de reabilitação, de fechar ou abrir a Área ao seu exterior, de reforçar bruscas mudanças de carácter urbano ou de as diluir através do tratamento dos espaços periféricos como áreas de transição.

É ainda necessário formar uma opinião sobre o modo como a Área se integra na paisagem urbana do aglomerado, qual a sua visibilidade quando observada do exterior mais ou menos longínquo, para poder concluir se há ou não necessidade de controlar a sua imagem, não apenas do ponto de vista interno da Área, mas também por via da sua contribuição para a imagem da cidade. Este é um aspecto importante para a qualificação da referida imagem e que não costuma merecer atenção ao proceder ao estudo da transformação de áreas urbanas.

A aproximação à Área faz-se:

• Realizando os percursos de entrada na Área existentes e observando o modo como a esta se expõe quando observada

do exterior: visão alargada sobre a Área ou impossibilidade de descortiná-la quando observada à distância;

• Percorrendo a linha de periferia e verificando as formas de acesso à Área: através de espaços confinados entre a edificação, marcando “portas de entrada”, ou através de espaços abertos formando “áreas de entrada”;

• Percorrendo o tecido de ligação da envolvente com a Área, ou seja, a faixa deste que delimita/distingue o interior da Área da sua envolvente;

• Observando as continuidades e descontinuidades morfológicas e de uso que ligam/separam a Área da sua envolvente;

• Observando a Área de pontos longínquos e analisando a sua contribuição para a imagem geral da cidade.

Este conjunto de observações deve permitir avaliar o modo como se apresentam as relações da Área com a sua envolvente, indicar as intervenções necessárias para resolver eventuais problemas morfológicos e de uso, corrigir desconexões formais e/ou funcionais que se verifiquem na fronteira e definir as medidas a tomar para valorizar a contribuição da Área para a imagem do Aglomerado Urbano. Esta questão, que geralmente não é analisada, tem a maior importância se a Área faz parte das perspectivas panorâmicas do Aglomerado Urbano contribuindo, consequentemente, para a composição da sua silhueta e cor.

O modo como a Área participa na imagem da cidade em que se integra terá de ser informado e discutido a nível do planeamento desta e pode ser um importante condicionamento da volumetria, da cor e doutras características da imagem da Área.

PLANO DE SALVAGUARDA DO NÚCLEO ANTIGO DE SACAVÉM1. LEITURA DA APROXIMAÇÃO À ÁREA

1.1 RELAÇÕES MORFOLÓGICAS E DE IMAGEM

ANÁLISE

As relações morfológicas e de imagem que se estabelecem com a zona envolvente são de dois tipos:

• A LESTE

– A Área encontra-se a uma cota mais elevada do que a envolvente cercada de edifícios muito altos que funcionam como barreira visual e por vezes física, criando descontinuidades.

– A passagem da Área para a envolvente faz-se por “portas”, pontos específicos hierarquizados de entrada/saída.

– O contraste de imagem entre um lado e o outro da fronteira é violento/agressivo.

– As relações morfológicas e de imagem são confusas e conflituosas, existindo contudo, uma fronteira bem marcada constituída por edifícios cujas características (excessiva altura, linguagem arquitectónica diferente e sem qualidade) os transformam em barreira e gerem ainda problemas de descontinuidade morfológica, “cerco” e “esmagamento”.

• A OESTE

– A Área encontra-se a uma cota mais baixa e está rodeada de áreas livres ainda não construídas (a Norte e a Sul) não existindo, contudo, em termos de imagem, essa percepção.

– Na ponta Leste a fronteira é estabelecida de novo por edifícios muito altos criando fortes descontinuidades a nível morfológico.

– As passagens à envolvente fazem-se de forma não perceptível, isto é, não existem pontos/sítios que possam considerar-se como entradas/saídas.

PROBLEMAS

• A LESTE - descontinuidades morfológicas (forma, escala, arquitectura e de imagem; ausência de elementos orientadores da relação visual e morfológica com a envolvente).

• A OESTE - algumas descontinuidades (forma, escala, arquitectura e visuais); não é perceptível a relação com os espaços livres existentes.

A Área Relações de Imagem (Corte E-O)

As Entradas na Área Relações de Imagem (Corte N-S)

POTENCIALIDADES

• A LESTE - a existência de situações de “porta” na ligação com a envolvente, que permitem uma intervenção urbana no sentido de afirmar esta qualidade.

• A OESTE - existência de espaços livres de construção.PROPOSTAS

• A LESTE intervir de forma a definir mais claramente as “portas” de ligação à envolvente.

• A OESTE - preservar os espaços livres de construção, criar áreas verdes que estabeleçam ligação directa com a Área, quer visual, quer em termos de uso, e valorizem a aproximação à Área.

• Na generalidade, e em toda a Área:

– acentuar a ligação com a envolvente através da localização de actividades económicas em continuidade;

– referenciar a Área através de elementos simples: por exemplo, estrutura verde perceptível, cuidar das vistas/percepção da Área, criar marcos referenciadores.


1.2 ESTUDO DAS ENTRADAS - TRAVESSA DO OLIVAL

ANÁLISE

• Este acesso - pela Travessa do Olival - parece ser pouco utilizado.

• É um percurso onde predominam edifícios recentes, desordenados, interrompidos à esquerda por um pequeno conjunto “entalado” de traseiras de construções precárias, antigas e de 1 piso.

• A rua curva à esquerda, só então deixando ver à nossa frente um troço do quarteirão da Framarte.

• Ausência de passeios.

PROBLEMAS

• Conflito peão/automóvel.

• Diferentes escalas e linguagens.

• Fraca presença da zona antiga.POTENCIALIDADES

• São importantes na definição do espaço: a curva à esquerda que secciona o percurso, o muro do Cemitério e o pequeno edifício da EPAL no início da rua, bem como o conjunto entalado das traseiras.

PROPOSTAS

• Demolição dos edifícios primitivos localizados à esquerda (barracas transformadas em casas de alvenaria) e redefinir o desenho urbano desta área.

• Cuidar da articulação com o tecido urbano envolvente.

• Criar espaço urbano público que estabeleça ligação com um possível circuito pedonal ligado ao aqueduto existente.


1.3 RELAÇÕES DE USO

Intensidade de Relações de Uso com a Envolvente

ANÁLISE

• Existem fortes e boas relações de uso com a envolvente, em particular a 3 níveis:

– Actividades económicas - que existem nos principais percursos de ligação às áreas envolventes, destacando-se como principal o eixo da Rua Direita que se prolonga para a envolvente pela Rua Maria Luísa Braamcamp.

– Circulação pedonal - em praticamente todas as ligações físicas com a envolvente e, principalmente, no sentido longitudinal de extremo a extremo da Área.

– Circulação automóvel - em trânsito de travessia incidindo em duas zonas da Área.

• As relações de uso mais intensas concentram-se em duas zonas da Área: Rua Direita e eixo central de espaços públicos não lineares.

• A forma como a Área estabelece relações com a envolvente e com a Vila em geral, confere-lhe um carácter central.PROBLEMAS

• A nível da circulação pedonal e automóvel existem problemas de conflito derivados da dimensão das vias, que não

são suficientemente amplas para permitirem ambas as actividades.

• Não existem relações de uso com a envolvente numa zona significativa, aquela em que a Área confina com terrenos livres.

• As ligações de uso com a envolvente a Norte, por via das actividades económicas, são as mais débeis.POTENCIALIDADES

• A existência de uma ligação de uso com a envolvente, que é forte na generalidade. O facto do eixo principal Rua Direita/Rua Maria Luísa Braamcamp fazer coincidir a circulação pedonal e as actividades económicas.

• A existência de um conjunto homogéneo e contínuo de 3 largos que são centrais, quer em relação à Área, quer em relação à Vila.

PROPOSTAS

• Manter, qualificar e reforçar o carácter central da Área em relação à envolvente.

• Limitar/reduzir a importância da circulação automóvel:

– limitar a travessia do centro pelo automóvel;

– reduzir a carga de circulação automóvel a Oeste.

• Qualificar e intensificar as ligações com as áreas envolventes através do tratamento dos espaços urbanos lineares.

• Direccionar e hierarquizar os circuitos de ligação com a envolvente através, nomeadamente, de definir:

– os pontos de entrada e saída;

– a pavimentação;

– a iluminação, recorrendo também à sua intensidade e cor.

• Definir a forma de tornar mais confortável a circulação pedonal.

• Reforçar as ligações de uso em termos de actividades económicas e, se possível, abrir por essa via novas frentes de ligação.

• Intervir nas áreas livres envolventes, criando uma estrutura verde equipada e que proporcione fortes ligações de uso à Área.

Guião de Leitura da Imagem de uma Área Urbana

Procura-se obter, de forma expedita(1), directa e personalizada, um retrato global, dinâmico e crítico da Área o qual permita formar uma ideia da sua constituição, estrutura, características e dinâmica de transformação, identificar

os problemas que a afectam, as potencialidades que oferece e delinear objectivos, políticas, estratégias e hipóteses de intervenção para a reabilitar e orientar a construção da sua transformação ao longo do tempo.

Antes de realizar a observação directa da Área considera-se necessário que os técnicos escolhidos para a referida tarefa conheçam as características gerais dos seguintes elementos:

• Situação e principais relações da Área com o conjunto urbano a que pertence (cidade/município/região), o que a caracteriza como parte do referido conjunto e a dinâmica de transformação a que está sujeita por via dessa pertença;

• As cartas topográficas da Área para perceber as características gerais da topografia do terreno, o tipo de organização e estrutura do tecido urbano (malha urbana, hierarquia viária, diferentes partes e eixos urbanos, tipologias urbanas e dos edifícios correntes e excepcionais, ... ), aspectos particularmente relevantes do seu tecido urbano e outras observações que se considerem de interesse extrair das cartas para orientar a leitura;

• A toponímia da Área;

• Os traços gerais da evolução histórica do tecido urbano da Área.

A realização de algumas entrevistas de rua e com interlocutores privilegiados, o registo de ruídos urbanos, ou outros tipos de obtenção de informação no local são excelentes auxiliares da leitura da imagem.

Cada observador deve criar a sua própria forma de abordar a Área procurando não perder de vista os objectivos que se pretendem alcançar e o tempo disponível.

Método de Leitura

A leitura da imagem faz-se através da observação directa da Área nos seus múltiplos aspectos. Propomos que se realizem os seguintes passos:

• Percorrer toda a Área (se possível de automóvel) e formar uma ideia geral da sua estrutura urbana, das partes e principais eixos que a definem, da distribuição espacial das actividades, dos tipos de população, de edificações e outras características gerais relevantes, e elaborar, seguidamente, uma carta que traduza a estrutura geral, as características muito relevantes detectadas e sirva para estabelecer um roteiro de observação;

• Observar a envolvente próxima da Área e o modo como se relaciona com esta, as formas de aproximação à Área e as características das fronteiras;

• Organizar, de acordo com a estrutura geral percepcionada, percursos a pé que permitam visitar detalhadamente a Área e realizá-los observando: as pessoas e as actividades nos espaço; o espaço público e semi-público, a sua configuração e expressão a três dimensões; o edificado, a sua expressão tipológica e a apropriação social do espaço;

• Interrogar e avaliar o que se vê à medida da observação, relacionar entre si as observações realizadas para poder definir, interpretar, cartografar e avaliar as características da Área no que se refere a:

– Morfologia geral da paisagem urbana;

(1) O tempo necessário para proceder à observação depende mais da complexidade do que da dimensão da Área e, prin-cipalmente, da experiência do observador. Considera-se, com base nos estudos de caso e outras aplicações realizadas, que um observador medianamente experiente dispende 4 a 8 semanas para efectuar as observações. Posteriores visitas são geralmente necessárias para esclarecer dúvidas e obter informações complementares, durante o registo e análise da informação obtida.

– Relações da Área com a sua envolvente - entradas e barreiras, continuidades e descontinuidades morfológicas, funcionais e de imagem do tecido urbano, perspectivas de aproximação, relações de uso, ... ;

– Constituição e estrutura da Área - as pessoas e as relações sociais, seus valores e significados urbanos; o tecido social e a sua distribuição no espaço; as actividades e os fluxos; organização, expressão, apropriação espacial e significado urbano das actividades e dos lugares; os espaços urbanos e a edificação, suas características morfotipológicas, organização e expressão; os acontecimentos urbanos. As partes, eixos, marcos urbanos e pormenores notáveis, o mobiliário urbano e o “Lettering”, espécies vegetais e animais presentes;

– Dinâmica de transformação da Área: forças demográficas e económicas em acção expressas através das modificações visíveis do edificado, do espaço urbano, dos equipamentos e infraestruturas, das actividades e do tipo de população;

– Significados e valores urbanos, características ambientais e elementos que definem o carácter da área.

Registo da leitura

É essencial que as observações feitas no local se traduzam em cartas anotadas de forma a referenciarem os espaços onde se verificam as características observadas, precisando os locais a que dizem respeito, sejam eles uma esquina

de rua, uma parte da Área, um conjunto de quarteirões, um edifício, uma rua, um trecho dela, ou qualquer outro local.

As anotações nas cartas devem traduzir com fidelidade a localização da observação realizada. Se os contornos espaciais forem imprecisos essa imprecisão deve ser indicada usando, por exemplo, o traço tracejado em vez do contínuo, a mancha em vez do contorno, etc.

Recomenda-se a anotação nas cartas das observações de forma sistemática e à medida da sua realização, para não haver perda de informação mesmo que pareça pouco relevante para os objectivos da leitura.

Ao realizar o trabalho de gabinete de registo da análise em fichas e de interpretação da observação é importante dispor, não só do conjunto dos registos das características da Área, mas das ideias que ocorreram durante a leitura relativas a problemas, potencialidades, soluções e temas de estudo que é necessário desenvolver de imediato por corresponderem a informações fundamentais para interpretar a leitura e que esta não consegue obter (por exemplo dados relativos a características da população, facilmente disponíveis nos censos; a carreiras de transportes públicos; informação relativa à evolução histórica da Área ... )

A documentação fotográfica, em vídeo ou esquissos deve também ficar claramente referenciada em cartas e organizada de modo a ser facilmente identificável e consultável durante o trabalho de gabinete.

Capítulo IV - LEITURA, INTERPRETAÇÃO E AVALIAÇÃO DA IMAGEM DE UMA ÁREA URBANA

A leitura da imagem, para que possa servir para transmitir, de forma adequada aos objectivos do trabalho, o conhecimento, interpretação e avaliação de uma Área Urbana, tem de se formular tendo por base um quadro

de análise que estabeleça as características que se considera traduzirem a realidade observada e a sua dinâmica de transformação.

Pretende-se um retrato a traços largos, diríamos quase caricatural, na medida em que uma boa caricatura define claramente o caricaturado com grande economia de meios e acentuando com nitidez os traços essenciais e os

pormenores significativos que o expressam.

A nossa proposta de quadro de análise diz respeito aos seguintes aspectos:

• Constituição e estrutura da Área, resultante da síntese de informação relativa a:

– Constituição e estrutura morfotipológica

– Constituição e estrutura activa

– Constituição e estrutura social

– Constituição e estrutura significativa.

• Mobiliário urbano e “lettering”, espécies vegetais e animais;

• Carácter urbano;

• Dinâmica urbana.

A síntese da informação que elucida estes itens permitirá conhecer, nos seus aspectos essenciais, a Área e a sua dinâmica de transformação e proceder à sua interpretação, detectando os problemas e as potencialidades principais da Área e obtendo assim a informação que contribui para a construção de hipóteses alternativas de solução dos primeiros e de exploração das segundas, ou seja, de definir acções que conduzam à reabilitação da Área.

Constituição e Estrutura Morfotipológica

Nesta rubrica pretende-se reunir a informação necessária para caracterizar e interpretar o espaço urbano a três dimensões (ou mesmo a quatro, ou seja, incluindo o tempo de percursos nele e consequências na sua percepção),

perceber como se constitui e organiza e que características o definem como elemento constitutivo da Área.

Para cumprir estes objectivos organizámos a informação de modo a poder conhecer, interpretar e avaliar:

• As bases de formação do tecido urbano.

• A ocupação do solo.

• A malha urbana.

• O espaço urbano.

• O edificado.

As Bases de Formação do Tecido Urbano

A passagem de um sítio rural a urbano realiza-se interpretando a paisagem rural à luz da ideia de cidade que presidiu à época em que a referida transformação se processou e segundo o correspondente modo de produção urbana.

Os elementos estruturadores do tecido urbano definem-se tendo por base a morfologia da paisagem do sítio e a evolução histórica da constituição do seu tecido marcando, reforçando ou desfazendo os traçados e a divisão da propriedade existentes de acordo com as sucessivas exigências das urbanizações e os conceitos de cidade que as informaram.

A avaliação do modo como se processou a urbanização e dos elementos que a marcam, da capacidade havida para dominar correctamente a morfologia da paisagem local e para “coser” as sucessivas intervenções é um passo essencial para orientar a definição das propostas a elaborar para manter e firmar a estrutura existente, para colmatá-la, ou para a definir, caso o tecido se apresente desestruturado ou desadaptado à morfologia do sítio.

A Ocupação do Solo

Referimos, nesta rubrica, a informação quantitativa que se achar conveniente para definir os índices gerais de ocupação do solo dos diferentes tipos de usos (solo edificado, espaço público e espaço privado exteriores) os quais

permitirão avaliar densidades e tipos de ocupação e disponibilidade de terrenos. Estes índices devem ser determinados por zonas que tenham características de homogeneidade morfológica, sobretudo se a Área apresentar partes muito diferenciadas, e avaliados comparando-os com os valores médios correspondentes do Aglomerado, com os valores recomendados a nível nacional e internacional e com os valores limite existentes na Área.

Caso se considere de interesse serão calculados, nesta fase, índices referidos a outros usos do solo e mais detalhados do que os indicados.

PLANO DE SALVAGUARDA DO NÚCLEO ANTIGO DE SACAVÉM

A Malha Urbana

A análise da malha urbana, ou seja, da geometria desenhada no solo pela sequência dos espaços públicos e privados (ocupados ou não pela edificação) é uma das características mais marcantes e permanentes do tecido urbano e

mais significativas das suas potencialidades de uso e expressão formal, da sua legibilidade e penetrabilidade.

A malha urbana denota a forma de entendimento do sítio, da sua topografia, potencial cénico e características climáticas, exigências de drenagem e ventilação, condicionamento ou elasticidade de adaptação a diferentes tipologias e formas de agrupamento da edificação; marca a interpretação que cada época teve/tem das exigências relativas à acessibilidade, dos modos de circulação e de estada urbanos, às necessidades de resolução da edificação e do espaço aberto privado e da hierarquia e significado dos lugares.

Para analisar, interpretar e avaliar a malha urbana considerou-se necessário observar:

• Os traçados e as suas orientações dominantes, reveladoras do posicionamento da malha no terreno, dos elementos de construção da sua geometria, das continuidades e descontinuidades do tecido;

• A geometria desenhada pela malha, que indica a diversidade ou homogeneidade do tecido, a sua configuração unitária ou por partes diferenciadas, a articulação ou desarticulação existente entre as partes, a hierarquia formal/posicional dos elementos que a constituem, os condicionamentos que afectam a definição da divisão da propriedade;

• A rede formada pelos espaços públicos lineares (espaços que se caracterizam pela marcada acentuação da dimensão do eixo correspondente ao comprimento, formando “espaços canais”). Esta rede define as possibilidades de irrigação do tecido, de mudanças de orientação de percursos e o tipo de acessibilidade criada. O modo como

os espaços públicos lineares se posicionam, relacionam e hierarquizam no interior da Área e se prolongam ou interrompem para além dela permite perceber a estrutura que traduz:

– O modo de urbanização do sítio em termos de acessibilidade interna e externa;

– A diferente atractividade quanto à localização das actividades;

A definição de zonas calmas e interiorizadas, de áreas abertas ao exterior e de pontos ou eixos de convergência interna;

– As sequências e interrupções de percurso das diferentes hierarquias viárias;

– A adaptabilidade que oferece à implantação de diferentes tipologias do edificado.

Através da análise desta característica é possível avaliar a coerência e adequação do traçado para cumprir uma implantação urbana clara, estruturada e adaptada à topografia e as suas potencialidades de uso.

• O traçado da rede pode apresentar-se desestruturado ou, embora revelando uma estrutura, definir acessibilidades e hierarquias que não se cumprem no terreno devido ao desenho das vias que o concretizam (caso de alguns traçados da Madragoa) ou apresentarem uma estrutura semi-destruída por intervenções que, fechadas na sua própria lógica, se esqueceram de cumprir a estrutura definida em anteriores ocupações rurais ou urbanas (caso de Benfica). A malha, conforme o seu traçado, pode proporcionar, ou não, uma larga gama de usos sem se alterar e sem os restringir.

• A estrutura de relacionamento dos espaços públicos não lineares (espaços que se caracterizam pela pouca diferença da dimensão entre os seus diversos eixos). A estrutura de relacionamento destes espaços denota como foram interpretadas:

– As exigências da estada pública,

– A concentração ou dispersão destes espaços no tecido,

– A sua hierarquização,

– A sua importância ou marginalização na definição ou reforço da estrutura da malha urbana,

– Os elementos ordenadores do seu posicionamento e desenvolvimento formal.

A análise desta estrutura permite proceder à avaliação do equilíbrio da distribuição dos espaços públicos não lineares no tecido e a necessidade, ou não, de criar, ampliar, eliminar ou definir a hierarquia deste tipo de espaços.

• A hierarquia dos espaços espaços públicos não lineares, espaços de estada. refere a sua importância não apenas relativamente à Área, mas para o conjunto da cidade, ou a nível nacional e mesmo internacional(1) e tem a ver essencialmente com a excelência do tratamento arquitectónico, sendo ainda importantes as questões históricas, de uso, dimensão e posicionamento no tecido.

• O objectivo desta análise engloba assim, não apenas uma perspectiva de uso local, mas ainda os aspectos de significado e forma no contexto urbano geral, se a Área em estudo, ou algum espaço nela, tiver importância a este nível.

• Para o adequado conhecimento e reforço da capacidade propositiva relativamente ao espaço urbano consideramos essencial dar aos espaços públicos não lineares (de estada) o mesmo relevo que tem sido dado aos espaços públicos lineares (de circulação) em termos do seu estudo e resolução, definindo inclusive, hierarquias estruturadoras do seu uso e significado.

A interpretação e avaliação da malha urbana é um passo essencial para a compreensão e avaliação da Área, para diagnosticar a consistência e as potencialidades dum tecido urbano, proceder à verificação da sua adequação ao terreno e construir soluções que corrijam desvios e deficiências do traçado existente ou, caso se verifique a inexistência duma estrutura ordenadora, proceder à sua criação dando coerência e legibilidade ao tecido urbano,

(1) - Refere-se como exemplo o Terreiro do Paço, (Lisboa) e a Praça de São Marcos, (Veneza) com clara importância a nível nacional e internacional respectivamente.

Madragoa/Lapa (Lisboa)

Benfica (Lisboa)

3. CONSTITUIÇÃO E ESTRUTURA MORFOTIPOLÓGICA

HIPÓTESES DE INTERVENÇÃO

a) Reforçar a estrutura de base da malha pré existente e definir elementos ordenadores tratando com especial atenção as áres da transição entre os tipos de malha e as de relação das urbanizações entre si e com a referida estrutura. Potenciar e clarificar as relações com a envolvente (N/NE e através do vale). Resolver o uso e a ocupação dos espaços intersticiais e expectantes.

b) Resolvwr os problemas de circulação e sobrepor uma malha verde que seja uma alternativa estruturante.

TEMAS DE DISCUSSÃO E ESTUDO

Tipos e funções actuais da malha urbana (esquema circulatório versus elemento orbanizador da edificação e do desenho urbano). Soluções que possibilitem a estruturação dum tecido urbano fragmentado.

A MALHA URBANA

Orientação do traçado, tipos de malha e sua articulaçãoBenfica)

CARACTERIZAÇÃO

A malha urbana desenvolve-se apoiada num eixo central orientado a E/W coincidente com o vale e no qual se apoiam perpendicularmemte desenvolvimentos lineares a N e a S. Esta estrutura encontra-se parcialmente destruida devido à implantação de urbanizações que se organizaram ignorando-a e ocupando grandes quarteirões abertos e irregulares, penetrados por vias de acesso local com impasses e onde os edifícios se dispõem como unidades autónomas. A desestruturação da malha acentua-se com a existência de grandes áreas que incluem quintas, terras expectantes, parques, conjuntos de edifícios isolados e um cemitério.

POTENCIALIDADES

O vale e as vias de atravessamento N/S marcam uma estrutura clara e adaptada ao terreno a qual deverá se explorada para organizar a malha. A existência de terrenos expectantes e de numerosos espaços intersticiais formalmente indefinidos poderá ser utilizada para “coser” tecidos e estruturar a malha urbana.

PROBLEMAS

Malha com for tes descont inuidades e indefinições apresentando-se retalhada. Falta de elementos estruturadores que “agarrem” as mudanças de tipo de malha. A estrutura central (eixo E/W e vias perpendiculares) apresenta-se interrompida e incompleta. A malha estabelece fracas relações com a envolvente dada a existência de barreiras (E e W), de grandes extensões de terreno com fraca ou nula penetrabilidade pública, de vias de trânsito intenso e e parcialmente sobe-elevadas. A ligação privilegiada que o vale estabelece com a periferia e centro de Lisboa está mal explorada

PLANO DE SALVAGUARDA DO NÚCLEO ANTIGO DE SACAVÉM 2. CONSTITUIÇÃO E ESTRUTURA MORFOTIPOLÓGICA

2.3 A MALHA URBANA A) ORIENTAÇÕES, TIPOS DE MALHA E SUA ARTICULAÇÃO

ANÁLISE

• Identificam-se 2 tipos de malha urbana: LINEAR e ORGÂNICA.

• Estas malhas articulam-se através de um eixo de espaços públicos formado pelo conjunto dos largos 5 de Outubro, Pedro José Gomes e 1º de Maio.

• A malha linear tem a orientação Nascente/Poente e a malha orgânica situa-se no quadrante Norte/Nascente/Sul.PROBLEMAS

• MALHA URBANA LINEAR nas zonas de fronteira, as relações morfológicas com a área envolvente estão mal definidas.

• MALHA URBANA ORGÂNICA cria circuitos labirínticos e sem sentido orientador e permite pouca legibilidade do espaço urbano; não é atractiva para a implantação de actividades económicas ou equipamentos pelos condicionamentos de legibilidade, dimensão e circulação que impõem; gera áreas residenciais com problemas de salubridade, iluminação e ventilação.

POTENCIALIDADES

• MALHA URBANA LINEAR tem um forte sentido orientador e hierarquizado, propicia boa legibilidade do espaço urbano, com boa acessibilidade, o que permite usos diferenciados em termos do edificado: actividades económicas, habitação, equipamentos.

• MALHA URBANA ORGÂNICA propicia diversidade de espaços públicos em termos de tipologia, dimensão e

MALHA ORGÂNICA MALHA LINEAR EIXO E ARTICULAÇÃO

diversidade de percursos.PROPOSTAS

• Conservar os tipos de malha e a sua articulação.

• Completar as áreas construídas (quarteirões a poente) para uma melhor definição da malha linear.

• Efectivar intervenções pontuais na malha orgânica para resolver problemas de salubridade.

PLANO DE SALVAGUARDA DO NÚCLEO ANTIGO DE SACAVÉM2. CONSTITUIÇÃO E ESTRUTURA MORFOTIPOLÓGICA

B) REDE DISTRIBUIDORA DOS ESPAÇOS LINEARES

A Área na malha de Sacavém Rede distribuidora dos espaços lineares

ANÁLISE

• A rede distribuidora dos espaços urbanos lineares foi analisada no contexto do aglomerado e segundo 4 categorias: as vias de ligação ao exterior, as vias de distribuição geral, as vias de acesso local e as vias pedonais.

• A Área é atravessada por vias de distribuição geral com ligação à rede viária exterior, com particular incidência nas zonas Centro e Poente.

• A zona central tem uma “cintura” de vias de acesso local cujo interior é servido por um conjunto de vias pedonais. Confirma-se a função central da Área em relação ao aglomerado urbano.

PROBLEMAS

• A acessibilidade advinda do facto da Área ser atravessada por importantes vias de distribuição geral com ligação ao exterior, não se cumpre no que diz respeito ao tráfego automóvel devido à sua excessiva carga em relação à estrutura/dimensão das vias.

• Excesso de tráfego automóvel. POTENCIALIDADES

• Função central da Área em relação ao aglomerado urbano.

• Boa acessibilidade e cobertura, pelo tipo variado de redes de distribuição: central, ligação ao exterior, local e pedonal.

• Existência de elevado número de percursos pedonais.

VIAS DE LIGAÇÃO AO EXTERIOR VIAS DE DISTRIBUIÇÃO GERAL VIAS DE ACESSO LOCAL VIAS PEDONAIS

PROPOSTAS

• Conservar e potenciar a rede de distribuição, a qualidade da sua estrutura, a qual permite a organização de percursos sequenciais através de espaços diferenciados

• .Manter a a estrutura sequencial.

• Qualificar a hierarquização existente.

• Ampliar o Largo 5 de Outubro e acentuar o seu papel na hierarquia da rede de distribuição salientando a sua função central e organizadora.


2.3 MALHA URBANA C) REDE DISTRIBUIDORA DOS ESPAÇOS NÃO LINEARES

ANÁLISE

• Hierarquicamente encontram-se 3 categorias: o conjunto central formado por 3 largos de maior dimensão dos quais sobressai o Largo 5 de Outubro, os alargamentos significativos de vias, ao longo do eixo longitudinal, e os pequenos largos e pequenos alargamentos significativas de vias, que incidem na malha orgânica.

• Existe ainda uma hierarquia clara dos espaços públicos urbanos não lineares:

– Zona central, de 1ª ordem (2) constituída por uma sucessão de largos a que corresponde um sub-grupo de hierarquias do seguinte modo: primeiro o Largo 5 de Outubro, segundo o Largo 1º de Maio e 3º, o Largo Pedro José Gomes Júnior.

– Zona Oeste, de 2ª ordem (1) constituída por uma sucessão de alargamentos de vias de importância sensivelmente equivalente onde o 1º da Rua Almirante de Reis assume papel mais significativo.

– Zona Leste, de 3ª ordem (3) constituída por um conjunto de pequenos largos cuja importância entre si é equivalente

PROBLEMA

• Não existem problemas quanto à rede de distribuição dos espaços públicos não lineares mas, à excepção dos localizados no núcleo orgânico (Nascente), todos os espaços são atravessados por tráfego automóvel de forma desordenada e frequência muito elevada.

POTENCIALIDADES

• Esta rede de distribuição encontra-se hierarquizada, organizada, estruturada, é suficiente e cobre toda a ÁreaPROPOSTAS

• Conservar e potenciar a rede de distribuição, a qualidade da sua estrutura, a qual permite a organização de

Espaços Públicos Não Lineares Organização dos Espaços Públicos

percursos sequenciais através de espaços diferenciados.

• Manter a estrutura sequencial.

• Qualificar a hierarquização existente.

• Ampliar o Largo 5 de Outubro e acentuar o seu papel como principal na hierarquia da rede salientando a sua função central e organizadora.


2.3. A MALHA URBANA - SÍNTESE

SÍNTESE

• Na Área é constituída por dois tipos de malha que se desenvolvem com orientação W/E, claramente identificáveis (orgânica e linear) e que se articulam através de um conjunto de 3 espaços públicos urbanos não lineares em sucessão, formando um eixo vertical NW/SE.

• É uma malha urbana bem irrigada por vias e espaços públicos não lineares, cujas redes de distribuição se apresentam hierarquizadas, completas e variadas.

PROPOSTA

• Manter os dois tipos de malha urbana e a sua articulação, a qual se faz através de espaços públicos urbanos não lineares;

• Preencher com construção a área Sul da zona urbana linear com o objectivo de rematar/construir quarteirões fechados tipo rectangular.

• Avaliar a possibilidade e o interesse de abrir uma via de sentido único nas traseiras a Sul dos quarteirões da malha urbana linear com o objectivo de rematar/constituir frentes de rua e manter a centralidade automóvel criando

MALHA URBANA LINEAR MALHA URBANA ORGÂNICA REDE DISTRIBUIDORA GERAL REDE DISTRIBUIDORA LOCAL ESPAÇOS URBANOS PÚBLICOS NÃO LINEARES REDE DE LIGAÇÃO AO EXTERIOR

alternativas à circulação viária existente.

• Reforçar e qualificar a articulação das malhas urbanas da Área com as malhas urbanas envolventes, de forma a acentuar o seu carácter de centro da cidade.

O Espaço Urbano

O conjunto dos espaços públicos organizam-se de forma sequencial irrigando o território. A sua estrutura de relacionamento, a malha urbana, denota o modo como se realizou a apropriação urbana do local e se estabeleceram

relações com o seu exterior alargado.

Para além da malha urbana, trama de sustentação e organização do tecido urbano constituída pelos espaços públicos, o espaço urbano inclui ainda espaços exteriores cuja definição formal/posicionamento no tecido os aponta como espaços semi-públicos e espaços privados. Estas designações referem, neste texto, características morfológicas e não o

estatuto da propriedade (que aliás não inclui espaços semi-públicos).

O espaço urbano privado é-o por via da sua inacessibilidade formal (fechado pela construção) enquanto o semi-público é como tal classificado porque, embora formalmente acessível, dado que a edificação não o fecha, o modo como o acesso se expressa formalmente cria dúvidas sobre a possibilidade de nele entrar incondicionalmente, denota a preocupação de o ligar a um grupo restrito de utilizadores, de o fechar/esconder de modo a dar-lhe uma certa privacidade que faz pressupor regras de utilização e apropriação particularizadas.

Espaços urbanos públicos, semi-públicos e privados, formam o espaço urbano, e constituem as categorias que organizam a análise do espaço urbano como objecto em si, como espaço arquitectónico, como forma concreta, individualizada e multidimensional definida para responder às necessidades de uso colectivo e individual no sentido lato de apropriação, fruição e representação.

Numa primeira aproximação procurar-se-à agrupar os espaços urbanos por características físicas marcantes das suas possibilidades de uso, e que apontam para a definição de diferentes tipologias.

Interessará agrupar os espaços públicos lineares segundo as características do seu perfil transversal a três dimensões, o qual indica o tipo de circulação que permite e aponta as características do espaço canal que define.

Os espaços públicos não lineares serão classificados segundo o tipo de pavimentação e a existência ou não de mobiliário urbano adequada à estada urbana, características que marcam intenções de utilização, e ainda os aspectos relacionados com a sua dimensão e hierarquia urbana. Destacar-se-ão ainda, relativamente aos espaços não pavimentados e mistos, diferentes designações que se relacionam com o seu arranjo paisagístico/utilização (jardim, parque, horta, terreno vago, ... )

A análise das actividades no espaço público permitirá concluir posteriormente da adaptação ou desadaptação deste àquelas e da consequente necessidade de intervenção num ou noutras para um bom equilíbrio urbano.

Quanto aos espaços semi-públicos exteriores, o levantamento realizado nos estudos de caso (Madragoa/Lapa e Benfica - Lisboa) permitiu identificar pátios e vilas, designações retiradas da toponímia e que apresentam grande diversidade formal e a característica comum de se situarem no interior dos quarteirões acedendo directamente da via pública através de espaços de entrada em corredor entalado na edificação. Estes espaços permitem o acesso público a edifícios que, de outro modo, seriam directamente inacessíveis, localizados como estão no interior dos quarteirões.

Os espaços privados exteriores deverão ser agrupados com idêntico objectivo: facilitar a compreensão da variedade de tipologias representadas para posterior avaliação da adequação das formas aos usos existentes e consequente necessidade de alterar umas ou outros caso haja desajustamentos importantes que devam ser corrigidos pela intervenção de reabilitação .

Nos estudos de caso referidos, os espaços privados exteriores são agrupáveis nos seguintes tipos: jardim/quintal, saguão, logradouro e “campus” que enquadram diversos edifícios de administração pública surgindo ainda em Benfica uma propriedade agrícola.

A definição tipológica dos espaços exteriores é um tema pouco estudado. As designações correntes que adoptámos apontam diferentes tipologias, com ambiguidades e imprecisões, e patenteiam a necessidade prática de referir a forma e uso dos lugares em termos tipológicos.

Dos estudos de caso realizados retirámos as classificações que indicámos e que consideramos auxiliarem a compreensão e avaliação morfológica da Área a que dizem respeito. Servem apenas de exemplificação. Em cada novo caso analisado terá de se determinar a classificação que melhor se ajusta ao tipo de tecido e aos objectivos do seu conhecimento e avaliação, procedendo às respectivas definições.

O espaço urbano tem, como nos referimos, de ser observado e analisado como espaço arquitectónico, ou seja, como espaço formalmente definido a três dimensões, como espaço interno delimitado pelo pavimento, fachadas ou cortinas verdes, montes, mar e céu, onde se processam actividades e comportamentos, que contem/realiza a vida urbana, que produz sensações e emoções e transmite significados.

Um dos aspectos essenciais da leitura da imagem urbana diz respeito à preocupação de observar e analisar o espaço urbano como objecto em si, habitado e com forma própria, e não apenas encarado como rede organizadora/distribuidora das actividades urbanas.

A sua configuração não deve ser a resultante do somatório das respostas espaciais definidas avulso por cada projecto dos edifícios e dos seus arranjos exteriores, mas constituir objecto próprio de desenho a nível do conjunto do tecido urbano, no sentido de proporcionar o estudo e a definição duma imagem coerente das sequências espaciais que percorrem a Área, que possa ser sujeita a discussão e que sirva de base de trabalho para os diferentes projectistas que a irão concretizar através dos seus projectos.

Na perspectiva da análise do espaço urbano como objecto arquitectónico há que elaborar uma ficha para registo da informação que se considere necessária para o caracterizar e avaliar tendo em vista definir e informar o projecto de reabilitação e qualificação urbanas a que deverá ser sujeito. É uma análise que exige proceder previamente à delimitação de trechos no contínuo urbano que o espaço público forma.

Essa delimitação deve ser feita de modo a definir:

• Os troços de espaços homogéneos, ou seja, aqueles que pela sua definição formal e de posicionamento, pela unidade, diversidade ou indefinição do seu carácter urbano deverão constituir unidades sujeitas às mesmas regras urbanísticas;

• Os troços de charneira que realizam ou deveriam realizar as ligações entre espaços de diferente carácter urbano e que podem exigir intervenção de projecto para que efectivem as referidas ligações;

• Os locais ou troços onde interessaria proceder a mudanças de carácter urbano para quebrar a monotonia, definir marcos urbanos ou/e criar elementos estruturadores duma imagem urbana amorfa ou incaracterística, realizar demolições para higienizar ou dar lugar a outros usos não contempláveis no tecido existente ...

A delimitação e caracterização de trechos no contínuo urbano formado pelo espaço público exprimem, de forma operacional para projecto: a leitura da imagem da Área, interpretando-a; revela a base dos critérios orientadores da sua conservação, estruturação e reconstrução e prepara a definição da imagem reabilitada/qualificada, ou seja, a concretização, no espaço de cada trecho definido, do programa e das normas urbanísticas que irão informar os projectos de intervenção física.

É, consequentemente, um trabalho que se deve realizar em fase final da leitura, análise e interpretação da imagem urbana mas que interessa preparar desde o início e completar, sucessivamente e de forma mais ou menos exaustiva e precisa, dependendo da amplitude e das prioridades de intervenção que se forem estabelecendo, de acordo com as decisões políticas, as disponibilidades financeiras e a capacidade de realização existentes.


2.4 OS ESPAÇOS URBANOS A) ESPAÇOS URBANOS PÚBLICOS LINEARES

ANÁLISE

• Da análise dos espaços urbanos lineares conclui-se a existência de 3 tipos em função do perfil e da relação entre estes e a altura dos edifícios que lhe definem a frente de rua e as actividades que permitem.

• Os locais de encontro e convívio verificam-se nos dois principais eixos da Área:

– RUAS - espaços lineares cuja relação entre o perfil e a altura dos edifícios confinantes é equilibrada e que, na sua generalidade, permitam a circulação automóvel, apenas num sentido, mas comprometendo o conforto da circulação pedonal;

– RUAS DE CONFRONTO - espaços lineares situados na periferia da Área e que destacamos por se verificar que a relação entre perfil e altura dos edifícios confinantes é desequilibrada, quer pela altura excessiva das construções, quer pela diferença de alturas entre as duas frentes de rua:

– TRAVESSAS - espaços lineares particularmente estreitos, que permitem apenas a circulação pedonal, e cujas alturas dos edifícios que os confinam são sensivelmente equilibradas.

• Os principais tipos de espaços públicos urbanos lineares organizam-se no tecido urbano de forma clara e, naturalmente, ligados aos tipos de malha urbana: as “travessas” incidem na malha orgânica, as “ruas” na malha linear e as “ruas de confronto” nos limites da Área, nas zonas de justaposição com a malha urbana moderna.

CONCLUSÕES

• É necessário intervir nas ruas de confronto de forma a equilibrar a imagem entre a envolvente e a Área.

• É necessário retirar a circulação automóvel de certas ruas, de forma a privilegiar a circulação pedonal.

• Não é possível dotar os espaços públicos urbanos lineares da Área com estrutura verde sob a forma da árvores.

• Nas ruas em que for necessário manter a circulação automóvel, não deverão ser executados passeios com lancil, mas sim adoptados diferentes tipos de pavimentação, valorizando sempre o conforto pedonal.

TRAVESSAS RUAS RUAS DE CONFRONTO


2.4 OS ESPAÇOS URBANOS A) ESPAÇOS URBANOS PÚBLICOS LINEARES

AS RUAS

ANÁLISE

• Espaços urbanos de circulação pedonal e de veículos.

• Espaços que propiciam a instalação de actividades económicas.

• Espaços equilibrados que propiciam conforto ao peão.PROBLEMAS

• De conflito peão/automóvel devido à dimensão do perfil.

• De desconforto devido à ausência de passeios.

• De limpeza (que é deficiente) e de recolha de lixo (que obriga à colocação de contentores).

• De iluminação pública insuficiente.

• De acesso de certo tipo de veículos: bombeiros, lixo e limpeza. POTENCIALIDADES

• Qualidade direccional.

• Qualidade formal de grande número de fachadas dos imóveis.

• Propicia actividades de passeio e encontro.

• Propicia a instalação de actividades económicas.

PROPOSTAS

• Retirar o trânsito automóvel ou limitá-lo a um só sentido.

• Arranjar pavimentação, sem passeios, e recorrer à diferenciação de materiais.

• Intervir no edificado potenciando a qualidade.


2.4. OS ESPAÇOS URBANOS A) ESPAÇOS URBANOS PÚBLICOS LINEARES

AS RUAS DE CONFRONTO

ANÁLISE

• São espaços cujos perfis estão muito desequilibrados, com frentes de rua também desequilibradas, quer em termos de volumes, quer de linguagem formal.

• Têm uma função de limite do Centro Antigo.

• Permite, de um modo geral, circulação pedonal e automóvel.

• Destacou-se este grupo de espaços públicos urbanos lineares das outras “ruas”, porque marcam a fronteira entre os dois tecidos urbanos - o “novo” e o “velho”.

PROBLEMAS

• Desequilíbrio volumétrico e formal entre os dois lados do espaço urbano.

• Intensidade excessiva do tráfego automóvel.

• Conflito peão/automóvel por reduzida dimensão do perfil ou ausência de passeios.

• Iluminação pública insuficiente.

• Desconforto para a circulação pedonal e actividades ligadas à estada.

POTENCIALIDADES

• Poderiam permitir estabelecer a transição entre o tecido antigo e o moderno caso não estivessem totalmente construídos.

PROPOSTAS

• Implementação do plano viário para ordenar e qualificar os usos e os espaços urbanos.

• Ordenar ou retirar o estacionamento nas vias.

• Criar passeios de dimensões confortáveis para o peão circular e estar.

• Introduzir estrutura verde quando o perfil dos espaços o permitir.


2.4 OS ESPAÇOS URBANOSB) ESPAÇOS URBANOS PÚBLICOS NÃO LINEARES

LARGO JOSÉ JOAQUIM RODRIGUES

CARACTERIZAÇÃO

• Pequeno espaço de forma bem definida e regular, situado numa cota superior à da via.

• Espaço quadrangular cerrado, com um único lado aberto a um espaço público linear que lhe é lateral e a que tem acesso por escada.

• Esta configuração e a relação que estabelece com o espaço público linear conferem-lhe um carácter semi-público.

• Não possui equipamento que promova e permita actividades de estada.

• TIPOLOGIA: espaço público urbano não linear.

• ACTIVIDADES: habitação, terciário (escritório), circulação automóvel (periférica) e pedonal (de travessia), estacionamento (periférico).

• PAVIMENTO: calçada à portuguesa.

• CORES DAS FACHADAS: branco e vermelho escuro.

• LETTERING: não definido, desordenado.

• PORMENORES: fontanário localizado no centro e rodeado de 4 canteiros, escadas de acesso aos edifícios, painel de azulejo.

Interligação com Espaços Urbanos e Entradas para o Edificado




Mobiliário Urbano

1 lâmpada de iluminação contentores de lixo, 1 poste de

electricidade pública,

Actividades de Travessia e Encontro

(pontos de encontro e convívio, eixos de circulação pedestre)

Actividades de Trânsito e Estacionamento

(localização/nº de lugares de estacionamento e eixos de circulação de

veículos)

Interligação com Espaços Urbanos e Entrada para o Edificado




NOTA HISTÓRICA

• O Largo J. J: Rodrigues é constituído a Norte e a Oeste pelos edifícios contíguos ao conjunto da Travessa das Prioras, não posterior ao século XVIII. Edifício em dois pisos com vãos uniformes tendo na fachada do corpo ocidental, virada a Sul, uma janela de sacada com varanda de ferro forjado. Edifício de beiral e moldura de pedra nos vãos. (1)

• A nascente situa-se o edifício de habitação operária datado de 1902 com galeria corrida nas traseiras, actualmente de betão e, primitivamente, de ferro forjado (ainda restam vestígios). (2).

• A Sul do Largo situa-se um armazém - anos 30/40 (3) - contíguo ao portal /século XIX) que dava acesso à antiga Quinta da Vitória (4).

• A poente da rua Trigueiros Martel e a Sul da Travessa das Prioras localiza-se um grande prédio recente de planta quadrada (5).



LARGO JOSÉ JOAQUIM RODRIGUESPROBLEMAS

• A via limítrofe tem um fluxo intenso de tráfego automóvel.

• A zona fronteira ao largo funciona como parqueamento automóvel dificultando o acesso pedonal.

• Ausência de mobiliário urbano para actividades de estar e de lazer.

• A iluminação pública é muito deficiente.

• Existem contentores de lixo muito próximos que provocam mau ambiente. POTENCIALIDADES

• Carácter semi-público que o diferencia dos outros espaços públicos urbanos não lineares.

• Aptidão para as actividades de estada e lazer públicos.

• Escala do conjunto edificado.

• Carácter rural do conjunto edificado.

• Edifício de habitação operária do princípio do século que constitui património de interesse.

PROPOSTAS

• Introduzir actividades de estar e de lazer através de: arranjo do espaço e equipamento urbano: árvores/sombra

• Melhorar a ligação com o espaço público fronteiro após organização da circulação automóvel mantendo o carácter semi-privado, mas não o muro existente.

• Reforçar a importância da Travessa das Prioras através da articulação com este espaço..

• Edificado:

– Manter a função residencial;

– Manter as actividades de carácter económico existentes;

– Equacionar nova utilização do espaço de taberna - possível discoteca:

– Manter a volumetria do edificado;

– Recuperar os edifícios.





2.4 OS ESPAÇOS URBANOSSÍNTESE


2.4 OS ESPAÇOS URBANOSC) ESPAÇOS URBANOS PRIVADOS EXTERIORES

ANÁLISE

• Encontram-se 3 tipos de espaços privados exteriores relacionados com o tipo de agrupamento de edifícios:

– SAGUÂO - espaços exíguos, fechados, localizados no interior de quarteirões de pequena dimensão.

– LOGRADOUROS ASSOCIADOS - localizados nas traseiras dos edifícios que constituem os quarteirões em banda ou/e no interior dos quarteirões de média dimensão.

– LOGRADOUROS ASSOCIADOS DE GRANDE DIMENSÃO - localizados em edifícios em banda (antigas quintas).

• É de referir a existência de uma cisterna árabe num logradouro situado nas traseiras da Igreja de Nª. Sª. da Saúde.PROBLEMAS

• Detectaram-se problemas diferenciados correspondendo às 3 tipologias encontradas:

– SAGUÃO - problemas de salubridade.

– LOGRADOUROS ASSOCIADOS - tendência para a sua ocupação com construções. Sobre ocupação da sua área e consequentes problemas de salubridade.

– LOGRADOUROS ASSOCIADOS DE GRANDE DIMENSÃO - em algumas situações verificou-se a sua ocupação na sequência de intervenções recentes no núcleo urbano.

• Ausência de levantamento cadastral.

1 2 3 ESPAÇOS PRIVADOS COLECTIVOS A ORGANIZAR A SAGUÃO

ESTRUTURAS ARQUEOLÓGICAS A INVESTIGAR B LOGRADOUROS ASSOCIADOS

LOCKS TO COMPLETE C LOGRADOUROS ASSOCIADOS DE GRANDE DIMENSÃO

ESTRUTURAS VERDES A CRIAR

POTENCIALIDADES

• A existência de logradouros de grande dimensão e a sua ligação a espaços abertos ainda não construídos, antigos terrenos agrícolas pertencentes a quintas.

• Existência de logradouros com dimensão que os torna passíveis de serem transformados em espaço colectivo privado.

PROPOSTAS

• Levantamento da ocupação dos logradouros.

• Estudo das estruturas arqueológicas na zona da torre medieval e sua envolvente.

• Estudo/avaliação da necessidade de libertar espaços exteriores privados mal ocupados com arrecadações, pombais, etc..

• Estudo dos espaços exteriores privados passíveis de serem tornados privados colectivos.

• Estudo da reutilização dos logradouros de grande dimensão para completar frentes não construídas e fechar quarteirões.

• Estudo da frente do recreio da Escola Preparatória.

• Elaborar a carta cadastral e criar mecanismos para a sua permanente actualização


2.4 OS ESPAÇOS URBANOSSÍNTESE

CONCLUSÕES

• A Área está bem irrigada com espaços públicos lineares que classificámos em 3 tipos: ruas, ruas de confronto e travessas. De um modo geral revelam problemas de conflito de circulações, têm pouca aptidão para trânsito automóvel e implantação de estruturas verdes, dada a dimensão dos seus perfis

• A Área tem uma boa cobertura e variedade de espaços urbanos públicos não lineares, bem hierarquizados e que apresentam 3 tipologias: largos, alargamentos significativos de vias e pequenos largos, com boas potencialidades para a instalação de actividades económicas e de estar, convívio e lazer urbanos.

• Os espaços exteriores privados existem também em 3 tipos: saguão e logradouros associados de pequena e média

dimensão. Têm problemas de ocupação física indevida, mas podem permitir a sua reconversão em espaços colectivos de uso privado ou semi-público.

PROPOSTAS

• Manter, na sua generalidade, o carácter dos espaços urbanos, bem como a sua hierarquia.

• Potenciar e qualificar os usos existentes bem como introduzir novos usos.

• Resolver incompatibilidades de uso (estada e circulação de peões).

• Qualificar os espaços urbanos através de pavimentação, introdução de mobiliário urbano, recuperação ou renovação das fachadas, renovação da iluminação pública, reordenamento e qualificação da publicidade.

BENFICA (LISBOA) - CONSTITUIÇÃO E ESTRUTURA MORFOTIPOLÓGICA

O Edificado

O edificado apresenta-se ao leitor da imagem urbana através das fachadas expostas, as quais constituem as “paredes” definidoras do espaço urbano analisado na rubrica anterior.

As fachadas são, nesta perspectiva, parte integrante do espaço urbano considerado como espaço arquitectónico multidimensional e não apenas, como o planeamento físico o considerava, espaço a duas dimensões, ordenador da circulação e da implantação do edificado ou deste sobrante para, na melhor das hipóteses, ser “ajardinado”.

Ao tratar especificamente o edificado na leitura da imagem urbana procura-se, com base na observação das fachadas, detectar as características gerais relativas à sua constituição e estado de conservação, para apontar os problemas e potencialidades que permitirão caracterizar as necessidades gerais de intervenção de reabilitação no edificado.

A possibilidade de realizar esta análise através da leitura urbana pressupõe que quem a efectua possui previamente os conhecimentos necessários para reconhecer, através da observação das fachadas e com uma margem de erro reduzida, as características gerais construtivas e tipológicas dos edifícios.

Exige, consequentemente, conhecimentos aprofundados da história da arquitectura e da construção, dado que cada época propõe soluções construtivas, organizativas e de expressão estética próprias, quer para a arquitectura corrente, quer para programas especiais e revela-as na expressão das fachadas, na resolução dos acessos, nas formas de agrupamento e de implantação dos edifícios e na sua volumetria.

A leitura da imagem do edificado como objecto próprio de análise e intervenção realiza-se de forma e identificar as características da Área no que se refere a:

• Épocas e tipos de edificação, estado de conservação e volumetria geral.

• Tipologias correntes e excepcionais dos edifícios, das formas de agrupamento dos edifícios e da agregação dos fogos nos edifícios de habitação.

• Património histórico e artístico.

A informação indicada é recolhida de modo a:

• Detectar e delimitar áreas degradadas e diferentes graus aparentes de degradação.

• Obter indicações relativas à variedade tipológica da edificação presente na Área e à sua distribuição espacial, de modo a definir zonas características segundo os tipos de edificações que as constituem.

• Identificar as tipologias dos edifícios presentes para interpretar o modo como o edificado contribui para a definição do uso e do carácter urbanos e orientar a escolha de edifícios representativos dessas variedades para proceder ao levantamento das características da sua organização espacial e construtiva. Esta informação interessa para esclarecer a capacidade de uso que oferecem, tendo em atenção as actuais exigências dos modos de vida e os problemas construtivos que será necessário encarar para a sua reabilitação e conservação, sem realizar o levantamento exaustivo do edificado, operação demorada, onerosa e de pouca utilidade nesta fase do trabalho que é de identificação e localização geral de problemas, tipos de soluções e estratégias de acção, para discussão geral e por grupos de interesses e para decisão política. No decorrer do trabalho e à medida da tomada de opções de intervenção e consequente estabelecimento de meios de estudo e acção serão definidos e realizados os levantamentos necessários para obter a informação rigorosa e detalhada do edificado e que permite proceder à elaboração dos projectos, reinventando soluções ou reconstituindo a traça primitiva.

• Obter elementos para definir os custos globais e a estratégia geral da reabilitação do edificado conforme o seu estado de conservação, a importância histórica, artística e cultural, os meios disponíveis e a perspectiva sobre a reabilitação que venha a ser adoptada. Esta deve ficar claramente esclarecida e fundamentada, indicando as opções relativas à importância que se atribui às exigências de reconstituição ou renovação, parcial ou integral, da edificação. A perspectiva a adoptar sobre o grau e os critérios de conservação do edificado deverá surgir como consequência de um debate fundamentado, o qual não tem sido realizado e que permitiria esclarecer até que ponto e porquê se deverá manter a imagem existente, ou reinterpretá-la e introduzir-lhe a expressão da actualidade interligando novo e antigo, ou criar uma nova imagem para o tecido existente.

Caracterização Geral dos Edifícios

A informação relativa ao edificado é recolhida de modo a distinguir e delimitar zonas constituídas na sua totalidade ou maioritariamente por edifícios da mesma época, ou que apresentem uma mistura idêntica de edifícios de

diversas épocas de construção, o que significa que foram sendo construídos e/ou reconstruídos ao longo dos mesmos períodos, assim como as zonas segundo o seu grau de degradação/conservação e as volumetrias dominantes.

A identificação, por áreas, dos conjuntos significativos de “misturas” de edifícios segundo as épocas de construção, ou dos conjuntos edificados no mesmo período e por vezes correspondendo a um único projecto, é um auxiliar precioso para apoiar a indicação, por áreas, das tipologias de edificação presentes e do estado de conservação/degradação previsível da construção.

A volumetria do edificado é também descrita em termos gerais distinguindo as características volumétricas por partes da Área, ou seja, indicando a dominância do número de pisos que diferencia umas das outras, acentuando a sua homogeneidade neste aspecto ou apontando as zonas que se caracterizam pela diversidade das volumetrias dos edifícios que as constituem.

Época de edificação, volumetria e estado de conservação são características que se relacionam permitindo definir partes distintas e homogéneas da Área sob uma multiplicidade de outros aspectos os quais conduzem à identificação dos problemas que as afectam e das soluções aplicáveis. É, portanto, uma análise da maior importância para interpretar a constituição e estrutura morfotipológicas da Área, definir e enquadrar os levantamentos e estudos necessários para conhecer detalhadamente os edifícios presentes, definir as exigências da sua reabilitação e as suas possibilidades de uso quando relacionados com a estrutura activa.


2.5 O EDIFICADO A) ÉPOCAS DE CONSTRUÇÃO

ANÁLISE

• O Núcleo Antigo tem a sua origem no século XVI.

• Na primeira época considerada: séculos XVI-XVII e XVII-XVIII, e que incide, sobretudo, no século XVII e sobre uma tradição construtiva que se prolonga pela 1ª metade do século XVIII, distinguem-se já o Largo 5 de Outubro por edifícios espalhados à sua volta que o estruturam e a Rua Direita pelos edifícios espalhados que restam. Existem também, deste período, edifícios na orla do Núcleo Verificam-se, na Rua Direita (Oeste, mais perto de Lisboa) os edifícios construídos pela aristocracia: as Quintas e a Rua Direita (Este, perto do Largo) e outras edificações mais simples. Os edifícios e vestígios mais antigos (Torre e outros vestígios medievais) estão situados no Largo e a Leste deste, dando-nos a entender o crescimento de Sacavém do Largo para a Rua Direita, num eixo Este/Oeste.

• Nos séculos XVIII (2ª metade) e XIX (1ª metade) na Rua Direita (Oeste) continuam a construir-se as Quintas (edifícios pertencentes à aristocracia) e edificam-se ou reedificam-se outras casas (Este). O Largo define-se melhor com a construção. e muito provavelmente reedificação de quase todo o quarteirão Oeste, mantendo os mesmos lotes anteriores. Aumentam as construções na orla do Núcleo (Centro Escolar Republicano, Rua António Ricardo, quarteirão do Mercado). No século XIX (2ª metade) constrói-se pontualmente a Rua Direita, provavelmente sobre outros edifícios mantendo, quase sempre, os lotes primitivos. Constroem-se edifícios isolados, espalhados pelo Núcleo, alguns de planta quadrada. A Igreja no Largo 5 de Outubro surge como reedificação de uma capela anterior.

• No século XIX (fins) e século XX (inícios) constroem-se os três grandes blocos de habitação operária. O Largo 5 de Outubro altera-se profundamente com a construção do maior dos blocos. Um pequeno edifício separa o Largo 5 de Outubro do Largo Pedro José Gomes Jr. São desta época construções pouco significativas na Rua Direita, a não ser no quarteirão onde está instalado o Gabinete do Plano (que poderia ter sido cortado por uma travessa ou pequeno largo). Existem outras construções em quarteirões situados na orla do Núcleo.

• No século XX (anos 20 e sobretudo 30) constrói-se pouco na Rua Direita e não se constrói nada no Largo. Altera-se profundamente o quarteirão a Leste do largo (quarteirão da Torre e do grande bloco em V) e o Largo do Terreirinho.

• No século XX (anos 40/50) e, basicamente, nos anos 60/70 edificam-se na Rua Direita grandes prédios recuados relativamente ao alinhamento da rua bem como no lado Oeste da Travessa de Almirante de Reis. Edifícios contínuos no Largo do Terreirinho acabam de o descaracterizar. Constrói-se praticamente todo o quarteirão da GNR (anos 40/50) e edifícios espalhados pelo Núcleo: exemplo, a Junta/Mercado e o edifício da loja de electrodomésticos).

CONCLUSÕES

• Quanto à análise da incidência das épocas de construção do edificado no tecido urbano verificamos que:

– a Área caracteriza-se, deste ponto de vista, pela diversidade das épocas de construção dos edifícios;

– a incidência das várias épocas de construção apresenta uma estrutura muito ténue dado que se misturam no tecido, embora seja significativa a presença das edificações da 2ª metade do século XVIII, XIX e XX;

– a Área tem sofrido intervenções ao longo dos tempos manifestando assim as potencialidades e dinâmica de um centro vivo.

POTENCIALIDADES

• A diversidade de edifícios de épocas de construção diferentes.

• Valor cultural do edificado.PROBLEMAS

• Diversidade de sistemas construtivos o que trará problemas para a reabilitação.

PROPOSTA

• Manter a diversidade existente

• Manter, se possível a técnica construtiva original de cada edifício.

PLANO DE SALVAGUARDA DO NÚCLEO ANTIGO DE SACAVÉMCONSTITUIÇÃO E ESTRUTURA MORFOTIPOLÓGICA

2.5 O EDIFICADO B) ESTADO DE CONSERVAÇÃO

ANÁLISE

• Dos 219 edifícios existentes 103 (47%) apresentam um estado de conservação exterior e interior considerado RAZOÁVEL, 70% estão em MAU estado e 46 (21%) apresentam um estado de conservação exterior e interior designado por BOM.

• O edificado é constituído por 525 fracções que incluem 392 (74,6%) alojamentos, 80 (15,2%) de comércios/lojas, 14 (2,6%) de restaurantes/bares, 13 (2,4%) de serviços/escritórios,4 (0,7%) de sociedades recreativas e 24 (4,5%) fracções designadas por diversas.

• Dos 392 alojamentos 123 (31,4%) apresentam um estado de conservação exterior e interior designado por MAU, 157 (40%) apresentam um estado RAZOÁVEL e 112 (28,4%) apresentam um estado de conservação exterior e interior BOM.

• O maior número de alojamentos em mau estado localiza-se no quarteirão 048 (26) e representa 23,2% dos alojamentos. É também neste quarteirão que se localiza o maior número de edifícios em mau estado (18) que representam 20%. No quarteirão 035 localiza-se o maior número de edifícios em estado razoável (52 - 33,1%), bem como o maior número bem como o maior número de edifícios em estado bom (33 - 32%).

• O quarteirão 035 possui 10 edifícios em bom estado (22%) percentagem relativamente alta. No quarteirão 042 localizam-se o maior número de alojamentos em bom estado, que representam 41,5% dos alojamentos classificados como bom.

CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO DE CONSERVAÇÃO DO EDIFICADO

• BOM - Não se verificam à partida anomalias estruturais (fissuração da estrutura, desagregação dos materiais,.e também não apresentam, ou apresentam em pequena percentagem, anomalias não estruturais (presença de humidades, degradação e envelhecimento dos materiais, fissuras nos rebocos,...)

• RAZOÁVEL - Não se verificam deficiências estruturais graves, mas apresentam uma grande percentagem de anomalias não estruturais.

• MAU - Apresenta graves deficiências a nível estrutural aliadas a grandes anomalias não estruturais.


2.5 O EDIFICADO C) VOLUMETRIA

ANÁLISE

• Na Área, os edifícios apresentam predominantemente uma volumetria de 2 pisos, a que se segue a de 1 piso.

• Existem edifícios de 3 pisos integrados no continuo construído.

• Os edifícios de 4 e mais pisos existem pontualmente introduzindo, em termos de imagem, descontinuidades com forte presença.

• Em termos de localização no tecido urbano verifica-se

– A presença de volumetrias de 1 piso na periferia da zona central.

– A concentração de volumetrias de 3 pisos, limítrofe ao conjunto central dos 3 espaços públicos urbanos não lineares.

– As volumetrias de 4 e mais pisos surgem nos extremos Este e Oeste bem como nos alargamentos significativos de vias ao longo do eixo central. De salientar o impacto da presença do edifício de 10 pisos a Oeste da Área, quer do interior, quer do exterior da Área.

– Todo o resto do tecido urbano apresenta um edificado com uma volumetria de 2 pisos.PROBLEMAS

• Existência de descontinuidade volumétrica do edificado.

• Existência de assimetrias volumétricas muito significativas quando considerados os perfis transversais dos conjuntos formados pelos edifícios e espaços públicos, principalmente no caso das ruas de confronto.

POTENCIALIDADES

• Possibilidade de aumento de volumetria com vista a resolver as descontinuidades e a tornar o conjunto do edificado e dos espaços urbanos mais harmonioso.

PROPOSTAS

• Permitir o aumento de pisos para harmonização e densificação.

• Definir os locais e regras de aumento da área edificada.

Tipologia dos Edifícios e dos Fogos

A identificação localizada da variedade tipológica dos edifícios da Área, auxiliada pela leitura realizada na alínea anterior permite conhecer e avaliar, em termos gerais, o edificado e orientar a escolha de edifícios representativos

da variedade de tipos presente para proceder ao levantamento detalhado das características da sua organização espacial e construtiva.

Esta informação tem, como afirmámos anteriormente, o interesse de esclarecer a capacidade de uso que os edifícios oferecem em relação às actuais exigências dos modos de vida, das actividades económicas e o tipo de problemas construtivos e de imagem que será necessário encarar para a sua reabilitação ou conservação, sem realizar o levantamento exaustivo de todo o edificado.

A identificação e caracterização por áreas, das formas de agrupamento dos edifícios é ainda uma importante informação para a caracterização morfotipológica da Área e para perspectivar o modo de realizar a reabilitação física.

A forma de agrupamento de fogos nos edifícios de habitação, de fácil percepção por observação dos acessos, alerta para as questões da partilha e gestão dos espaços semi-privados dos edifícios, das relações/confrontos de vizinhança que proporcionam, das possibilidades que oferecem de transformação tipológica por junção ou divisão dos fogos existentes conforme estes se apresentem excessivamente exíguos ou amplos, da irrigação do espaço urbano pela multiplicação de acessos ou do espaçamento destes, com repercussão na dispersão ou concentração das saídas e entradas e consequente diferenciação dos percursos de acesso.


2.5 O EDIFICADOH ) AGRUPAMENTO DE EDIFÍCIOS

Quarteirões de Pequena Dimensão Quarteirões de Média Dimensão Edifícios em Banda

PROBLEMAS

• Detectaram-se problemas diferenciados correspondendo às 3 tipologias encontradas:

– QUARTEIRÕES DE PEQUENA DIMENSÃO - inexistência de logradouros, dimensão demasiado reduzida de alguns lotes conduzindo a problemas relacionados com condições de habitabilidade e ocupação inadequada do edificado

– QUARTEIRÕES DE MÉDIA DIMENSÃO - a intensificação da transformação da Área e a dimensão reduzida de alguns lotes conduziu a sobre-ocupação dos espaços de logradouros e consequentes problemas de salubridade. Também há frequente ocupação inadequada do edificado;

– EDIFÍCIOS EM BANDA - em algumas situações verifica-se a destruição dos espaços de logradouro

relacionada com intervenções recentes - Rua José Augusto Braamcamp/Rua Almirante de Reis a Norte.POTENCIALIDADES

• Quanto aos QUARTEIRÕES DE PEQUENA DIMENSÃO:

– O carácter que imprimem ao espaço público;

– A possibilidade de serem transformados em quarteirões fechados;

– A dimensão do quarteirão possibilita a intervenção global.

• Quanto aos QUARTEIRÕES DE MÉDIA DIMENSÃO:

– A existência de logradouros que poderão proporcionar intervenções no sentido da sua transformação em espaços abertos privados para utilização daquelas comunidades;

– A dimensão dos lotes proporciona uma boa relação com o espaço público

• Quanto aos EDIFÍCIOS EM BANDA:

– A existência de logradouros de maior dimensão;

– As ligações com os espaços abertos ainda não construídos, antigos terrenos agrícolas pertencentes a quintas os quais permitem rematar a malha urbana.

PROPOSTAS

• 1 - Quarteirão Norte do Largo 5 de Outubro - Propõe-se a sua reformulação com emparcelamento de modo a construir um edifício de 3 pisos (rés do chão, comércio e serviços e/ou habitação) e criar um espaço público de continuidade do Largo 5 de Outubro. Como alternativa terá de ser avaliada a reconstrução do edifício da Travessa da Oliveirinha com reformulação das construções adjacentes.

• 2 - Quarteirão Poente do Largo 5 de Outubro - propõe-se a abertura de uma travessa pelo interior do logradouro de modo a estabelecer a ligação com a Rua João de Deus e Travessa Almirante de Reis.

• 3 - Quarteirão Sul da Rua José Augusto Braamcamp, gaveto com a José Pedro Lourenço - propõe-se remate do quarteirão com constituição de frentes de ruas e reformulação do seu espaço interior.

• 4 - Quarteirão de Gaveto das Ruas José Augusto Braamcamp e Trigueiros Martel - propõe-se o emparcelamento e abertura de passagem para estabelecer ligação com a praceta a tardoz.


2.5 O EDIFICADOG ) AGRUPAMENTO DE FOGOS

• O sistema tradicional do agrupamento de fogos no Núcleo Antigo de Sacavém caracteriza-se pelo seu carácter rural, edifícios unifamiliares, por vezes casas com pequeno pátio murado, térreas ou com loja e sobrado de carácter urbano primitivo: alinhadas ao longo das vias esboçando quarteirões em banda (1). Cada edifício corresponde a um fogo ou a 2 (ficando 1 por piso). Trata-se de uma arquitectura popular de tradição construtiva anterior ao terramoto.

• Edifícios de cariz pequeno burguês (urbano). Também na sua maior parte unifamiliares. No piso térreo situa-se a loja para comércio e no piso superior a habitação. São maioritariamente da 2ª metade do séc. XIX e inícios do séc. XX. Cada edifício deste tipo corresponde a 1 fogo. Exemplos: o edifício da mercearia (Rua Direita) e o edifício do Gabinete do Plano (2).

• Edifícios (blocos) de habitação operária com galeria ou pátio corrido por detrás permitindo o acesso aos fogos: módulos de reduzidas dimensões, construídos para agrupar grande número de famílias. São contemporâneos de muitas vilas operárias existentes em Sacavém, mas fora do Núcleo Antigo. Existe também o edifício de habitação operária em banda cujo acesso aos módulos exíguos se faz por caixa de escada (3 no bloco) com fogos de um e outro lado (esquerdo e direito) (3). são também edifícios de finais do séc. XIX - inícios do séc. xx.

• O prédio de habitação - séc. XIX (2ª metade) com vários pisos, caixa de escada dividindo os fogos em esquerdo e direito. Cada piso possui 2 fogos.

• Nos anos 30 do séc.XX inicia-se a modalidade de 4 fogos por piso (ex: edifício “modernista” da Rua Direita) (5). Até aos prédios de rendimento dos anos 6O/70 de 5 ou mais pisos com vários fogos por piso (6).

• Quintas, palacetes e edifícios antigos com qualidade arquitectónica, construídos por uma família e pessoal ao seu serviço (actualmente, dividido em vários fogos). São exemplo: o Palácio Braancamp, a Quinta do Alexandre, o Quarteirão do Sr. Matos, o edifício do Externato Vila-Clara ou o conjunto das Prioras.

O Património Histórico e Artístico

A observação das fachadas permite proceder a uma primeira identificação das edificações com interesse a nível da própria Área, a que se deve juntar a listagem do património classificado por ter valor nacional ou municipal.

A cartografia do património, distinguindo os diferentes níveis de interesse deste, dá uma medida significativa da importância da Área sob este ponto de vista e é um auxiliar importante para definir os critérios de intervenção quanto às exigências de conservação/reconstituição e possibilidades de renovação/substituição dos edifícios segundo as diferentes partes da Área.

A avaliação patrimonial, para poder contribuir para a definição das orientações relativas aos critérios de reabilitação das diferentes partes da Área, deverá abranger os edifícios, os elementos e pormenores dos edifícios e ainda os quarteirões,

sítios, espaços públicos delimitados, espécies vegetais, áreas verdes, e mobiliário urbano.

O estudo e avaliação da Área sob o ponto de vista histórico, artístico e cultural, que se deverá desenvolver desde o início do trabalho, deverá ser aprofundado à medida das decisões de intervenção e de modo a detalhar a informação sobre o património necessária à execução da sua reabilitação e à gestão urbanística corrente.

A discussão alargada do valor do património da Área fixará a perspectiva sobre a sua conservação ou renovação e a decisão sobre o seu uso.

Constituição e Estrutura Activa

A leitura das actividades da Área é espacializada de modo a permitir perceber como estas se apropriam do espaço, que estrutura activa definem nele, que tipos de actividades se encontram presentes e como se misturam entre si ou

se especializam por locais.

É ainda importante assinalar o tipo de unidades funcionais presentes (pequenas, médias ou grandes unidades) e verificar:

• Se ocupam os r/c, se estendem aos primeiros andares ou à totalidade dos edifícios.

• O tipo de clientela a que se dirigem.

• A área de influência que têm.

• A antiguidade ou modernidade do sistema de funcionamento que revelam.

A estrutura activa deve incluir não apenas as actividades económicas, mas todas as actividades do quotidiano, incluindo o habitar, as que se reúnem nos equipamentos (estudar, tratar da saúde, cuidar dos idosos e das crianças, actividades culturais) e as que se desenvolvem no espaço público sejam de circulação ou de estada.

A verificação simultânea do conjunto das actividades presentes permite definir:

• As áreas ou eixos de animação e de sossego ou de desinteresse pelo espaço urbano.

• Avaliar a boa ou defeituosa irrigação do tecido;

• A pressão excessiva relativamente às características espaciais ou a desertificação dos espaços existentes;

• A multi ou mono funcionalidade das diferentes partes e eixos da Área.

A avaliação da estrutura activa deve ser feita relativamente às características do tecido existente, às necessidades dos residentes, às exigências de funcionamento das actividades instaladas e ainda às do Aglomerado Urbano para serviço da população em geral, concluindo da necessidade ou não de proceder à introdução, expansão ou reconversão de actividades, precisando os locais onde é necessário intervir para adequado funcionamento de todo o tecido, respeitando as suas características e proporcionando à população a resolução do seu quotidiano num ambiente seguro e com vida urbana.

São conhecidos os profundos desequilíbrios que se verificam na implantação das actividades, os quais provocam a existência de dormitórios e, no pólo oposto, de áreas de implantação quase exclusiva de actividades económicas com os conhecidos e graves inconvenientes quer locais, quer afectando vastas áreas circundantes por via dos fluxos de circulação, da acumulação de estacionamentos e do desequilíbrio de utilização relativamente ao dia e à noite, aos dias da semana e do fim de semana.

Foi referido, aquando do estudo da inserção da Área no Aglomerado Urbano, que uma das questões a considerar diz respeito às previsões ou decisões relativas à implantação de actividades à escala do Aglomerado Urbano para conhecer as transformações que a Área em estudo tenderá a sofrer por via delas.

Na avaliação da estrutura activa da Área é essencial ter em conta e discutir o impacto resultante das referidas decisões, que poderão introduzir profundas alterações na constituição e estrutura, não só das actividades existentes mas, e em consequência, das diferentes características urbanas em geral.

É essencial, para realizar o controlo da qualidade do espaço e dos modos de vida, dominar a localização das actividades orientando-as para locais onde não só tenham boas condições de funcionamento como venham a contribuir para a valorização do funcionamento e do ambiente urbanos.

O estabelecimento de critérios claros de localização das actividades e a criação de condições para os fazer respeitar é condição básica do equilíbrio e qualidade urbanos e um dos factores que definem os modos de vida e a sua organização no espaço/tempo dos quotidianos urbanos.

O controlo da localização das actividades é dificultado pelas diferenças de valor fundiário que provoca, pelas vantagens de funcionamento e de imagem oferecidos pela sua concentração, pela ausência de planeamento de pormenor que cubra o território e contenha informação suficientemente detalhada sobre os usos do solo e contemple os mecanismos para a sua discussão e avaliação permanentes permitindo, inclusive por essa via, flexibilidade de aplicação sem prejuízo da firmeza dos objectivos de qualidade urbana a alcançar.

A referida discussão e avaliação alimentaria, em simultâneo, a sucessiva consciencialização/resolução dos problemas ligados aos modos de vida e à sua dependência da orientação do desenvolvimento económico e do funcionamento das estruturas do poder a ele ligadas.

Conhecer, interpretar, avaliar e proceder à discussão alargada da constituição e estrutura da localização das actividades no território à escala local é um importante contributo para esclarecer e poder resolver uma questão essencial da qualidade da vida urbana.

A existência duma política de solos que contrarie os efeitos perniciosos do funcionamento do mercado, apoiada por um planeamento de pormenor e um marketing efectivos; a criação de incentivos, penalizações e de uma fiscalização eficaz; o desenvolvimento de fundamentação que elucide as vantagens das localizações propostas para as actividades, consciencialize a opinião pública e a oriente para discutir e controlar a distribuição dos usos do solo de forma favorável a um funcionamento urbano harmonioso são medidas que contribuiriam para regular esta questão essencial.

A organização dos comerciantes e dos proprietários locais, para o acompanhamento das suas dificuldades e exigências de transformação, a procura de soluções vantajosas do ponto de vista dos usos e que sejam, simultâneamente, viáveis e economicamente rentáveis, podem contribuir positivamente para manter o equilíbrio dos usos e promover o desenvolvimento local.

Para proceder à leitura e interpretação da estrutura activa definiram-se os seguintes grupos de actividades:

• Habitação, equipamentos, administração pública e actividades económicas, distinguindo-se nestas o comércio, os serviços e a indústria;

• Trânsito, transportes, estacionamento, cargas e descargas e circulação de peões;

• Estar, lazer, convívio, cultura, troca e expressão da marginalidade no espaço urbano.

A observação das actividades deve realizar-se de dia e de noite, durante a semana e fins de semana dado haver, conforme estes períodos, alterações significativas no funcionamento destas, com importantes repercussões no uso do espaço urbano e do edificado.

A síntese da informação obtida apresenta a constituição e estrutura activa da Área. A sua interpretação e avaliação permitem detectar os problemas e as potencialidades dos usos urbanos existentes, elaborar propostas de intervenção e proceder à definição das estratégias de regulação e negociação dos usos do espaço. Estas estratégias têm de ter em consideração as necessidades da população residente, de localização de actividades a nível do Aglomerado Urbano e de funcionamento das próprias actividades.

A participação dos agentes sociais, em geral e por grupos de interesse, na organização das actividades urbanas, na apropriação e reabilitação dos espaços é, como temos afirmado, um factor determinante das estratégias de estudo e acção neste domínio.

Embora a instalação ou desaparecimento das actividades económicas não dependa das competências públicas, é essencial considerar como tarefa do planeamento local o acompanhamento, dinamização e apoio às actividades urbanas.

Habitação, Equipamentos, Administração Pública e Actividades Económicas

A espacialização das actividades faz-se distinguindo-as por áreas, eixos ou outras configurações que traduzam a sua “arrumação” no território. Dado que as actividades se misturam diversamente no espaço, as indicações relativas

ao seu “zonamento” referem a presença exclusiva ou dominante das actividades em análise e a sua concentração ou dispersão nas zonas/eixos assinalados.

Teremos assim, no que diz respeito à habitação, áreas exclusivamente residenciais, de habitação e outras actividades e sem habitação.

No que se refere a equipamentos, e na perspectiva de destacar as características com interesse para formar uma ideia concreta e operacional da Área, fomos conduzidos, nos estudos de caso realizados para teste do método, a assinalar os equipamentos por tipos e conforme se inseriam de forma dispersa ou contínua no tecido ou se localizavam no interior de grandes lotes, assim como a nomear os equipamentos cuja abrangência excedia notoriamente o âmbito da Área.

Quanto às actividades económicas, a indicação da sua espacialização deve distinguir o comércio, os serviços e a indústria assinalando actividades específicas que se considere de interesse destacar, (por exemplo, um hipermercado, importante centro comercial, ... ) e a indicação relativa ao facto de se apresentarem de forma concentrada ou dispersa nas áreas assinaladas.

Quanto à administração pública destacar-se-ão as instalações segundo a sua pertença a serviços centrais ou locais.

A síntese desta informação corresponde a uma carta onde se marca a presença e a disposição deste conjunto de actividades no território da Área e que permita formar uma ideia sobre as características da Área quanto a:

• Possíveis faltas ou excessos de actividades.

• Mono ou poli-funcionalidade.

• Grau e modo de irrigação do tecido pelas actividades.

• Situação das manchas e eixos de concentração de actividades.

• Continuidades descontinuidades que se estabelecem relativamente à envolvente.

A avaliação feita permite identificar os problemas, as potencialidades e definir os locais e as actividades cujo estudo é prioritário para o aprofundamento da informação levantada, e que interessaria desencadear de imediato dada a importância dos usos na definição e qualidade do meio urbano, a sua complexidade, e a desadequação do método de leitura da imagem para obter informações para além duma primeira ideia sobre o tipo de actividades presentes e o modo como se apropriam do território.

PLANO DE SALVAGUARDA DO NÚCLEO ANTIGO DE SACAVÉM3 CONSTITUIÇÃO E ESTRUTURA ACTIVA

3.1 HABITAÇÃO, EQUIPAMENTOS, ACTIVIDADES ECONÓMICAS A) HABITAÇÃO

PROBLEMAS

• Conclui-se que se reside na Área com poucas condições de habitabilidade devido ao estado de conservação dos edifícios e alojamentos, a dimensão dos fogos e a falta de equipamento base.

• Residir nesta área tem também problemas de qualidade ambiental devido aos níveis da poluição causada pelas indústrias implantadas na área envolvente.

• Os edifícios e os fogos estão, na generalidade, em estado razoável, embora com forte presença de degradação. Existe um significativo número de fogos vagos (25).

PROPOSTAS

• Manter as tipologias T1 e T2 para fixar e atrair população jovem, bem como não propiciar a expulsão da população idosa.

• Introduzir tipologias T3 e T4 por via de ampliações do edificado e junção de pequenas tipologias, a fim de propiciar quer a permanência de famílias já instaladas, quer a fixação de outras que se pretende atrair.

DIAGRAMAS INTERPRETATIVOS MAIOR INTENSIDADE DA ACTIVIDADE HABITAÇÃO PROPOSTA DE ACTIVIDADE RESIDENCIAL MENOR INTENSIDADE DA ACTIVIDADE HABITAÇÃO

• Dotar os fogos de boas condições de habitabilidade.

• Manter a função residencial em toda a Área e reservar exclusivamente para esta actividade, e numa primeira fase, a área da malha orgânica.


3.1 HABITAÇÃO, EQUIPAMENTOS, ACTIVIDADES ECONÓMICAS E) SÍNTESE

SÍNTESE

• A função habitar distribui-se por todo o tecido urbano da Área, com maior incidência na sua periferia e com poucas condições de habitabilidade de um modo geral.

• Os equipamentos existentes são de âmbito local predominando as sociedades recreativas e desportivas, cujas estruturas estão sub-aproveitadas. É na Área que se sediam a Junta de Freguesia e a G.N.R.

• As actividades económicas incidem nos principais eixos da Área, são diversificadas e têm forte presença. Servem todo o aglomerado e áreas limítrofes.

PROPOSTAS

• Manter a função residencial com as tipologias existentes (T1 e T2) e introduzir tipologias T3 e T4, dotando todos os fogos com boas condições de habitabilidade.

• Introduzir equipamentos de forte carácter central, em particular os de natureza cultural com funcionamento diurno e nocturno.

• Revitalizar os equipamentos existentes.

• Manter e aumentar a atractividade da Área aumentando, diversificando e qualificando as actividades económicas, quer em serviço, quer em espaço e preservando, se possível, o comércio tradicional,

• Criar a expansão das actividades económicas de forma tentacular pelo aglomerado urbano.

• Manter a localização da Junta de Freguesia, avaliando a sua expansão, e encontrar uma alternativa de localização para o posto da G.N.R.

EDIFÍCIOS A RECONVERTER EM EQUIPAMENTO

EQUIPAMENTOS COLECTIVOS A REVITALIZAR

FRENTES COMERCIAIS

Trânsito, Transportes, Estacionamento, Cargas e Descargas, Circulação de Peões

A leitura destas actividades orienta-se pelas preocupações já expostas ao descrever, em geral, a caracterização da constituição e estrutura activas. e prossegue idênticos objectivos. Relativamente aos locais de circulação a

espacialização faz-se destacando:

• Os sentidos do trânsito para os transportes públicos e privados.

• As carreiras e terminais dos transportes públicos existentes.

• Os pontos e eixos de maior intensidade de tráfego e de conflito relativos à circulação do automóvel e deste com o peão.

• As soluções espaciais para realização das cargas e descargas, os locais onde estas são proibidas e as áreas e/ou eixos onde não apresentam problemas.

• O estacionamento indicando, por áreas, as soluções e as anomalias gerais encontradas, assim como outras questões que se venham a observar através da leitura, e que se considerem com importância para equacionar as actividades referidas nesta rubrica.

Uma carta de síntese prepara a identificação dos problemas e das potencialidades da Área, relativamente a estas actividades, e as correspondentes hipóteses de solução.

Os estudos especializados que terão de ser desenvolvidos para melhor informação e para estruturar as soluções, excedem geralmente o âmbito territorial e as competências de intervenção em áreas urbanas, sobretudo se há importantes transformações a realizar. É no entanto fundamental proceder a uma análise que informe sobre as necessidades

específicas da Área e procurar as formas da sua satisfação.

O trânsito, os transportes e as infraestruturas são das questões que mais evidenciam a necessidade de relacionar escalas de intervenção e de firmar compromissos entre os agentes sociais actuando aos diferentes níveis.


3.2 TRÂNSITO E TRANSPORTES PÚBLICOS, ESTACIONAMENTO, CARGAS E DESCARGAS

SÍNTESE

• Toda a Área tem circulação automóvel, desde que os perfis das vias o permitam, o que gera permanentes conflitos entre automóveis e peões.

• Actualmente não circulam transportes públicos na Área, o que se verificou até 1990/91, com ligações a Moscavide e Unhos e com localização de uma paragem no Largo 1º de Maio. A retirada desta carreira reflectiu-se na diminuição de circulação pedonal de travessia, que veio a gerar uma quebra nas actividades económicas.

ESTACIONAMENTO A CRIAR POR VIA DE NOVOS EMPREENDIMENTOS ESTACIONAMENTO SUBSOLO VIAS TRÂNSITO AUTOMÓVEL CIRCULAÇÃO EXCLUSIVAMENTE PEDONAL

CARGAS E DESCARGAS

TP TRANSPORTES PÚBLICOS

• O estacionamento, no total de 213 lugares, incide em todo o tipo de espaço urbano com consequências fortemente negativas para todas as actividades a ele ligadas, porque é conflitual com actividades de estar e lazer urbanos e com a circulação pedonal, dada a dimensão dos perfis das vias e a dimensão dos restantes espaços públicos.

• As cargas e descargas praticam-se em qualquer sítio e a qualquer hora.

• Os pavimentos da Área encontram-se, na generalidade, em mau estado, os perfis dos arruamentos são estreitos e há grande insuficiência de passeios.

PROPOSTAS

• Retirar o trânsito automóvel da Área mantendo apenas 3 vias com circulação motorizada.

• Reduzir o sentido e circulação na zona Oeste criando uma rotunda de circulação do trânsito local e ligação ao exterior na E.N.10, resultante das novas ligações geradas pelo novo nó da CRIL.

• Retirar o estacionamento da superfície da Área reordenando as bolsas existentes na envolvente, criando 2 parques de estacionamento subterrâneo (no Largo 5 de Outubro e frente ao Palácio Barroco).

• Procurar que os novos empreendimentos, a localizar na envolvente da Área, criem áreas de estacionamento para serviço da mesma.

Estar Urbano

A leitura das múltiplas actividades que se realizam no espaço público (lazer, convívio, actividades culturais e de troca) para além da circulação referida na alínea anterior, completa a informação correspondente às actividades

urbanas.

As referidas actividades deverão registar-se assinalando-as nos locais onde se desenvolvem. Esta informação é essencial para se perceber a variedade de oportunidades de relação social e de apropriação que o espaço urbano oferece, incluindo a relativa à população marginal, e aos locais escolhidos para a sua efectivação.

A importância que este conhecimento tem para o entendimento do espaço recomenda a elaboração de estudos específicos, de carácter sociológico e antropológico sobre o assunto.

Há ainda que registar as diferenças de uso nos períodos do dia e da noite, as variações semanais e sazonais e os eventos excepcionais ligados a festas, manifestações desportivas, culturais, religiosas, políticas e outras.

PLANO DE SALVAGUARDA DO NÚCLEO ANTIGO DE SACAVÉM3. CONSTITUIÇÃO E ESTRUTURA ACTIVA3.3 ESTAR URBANO, LAZER E CONVÍVIO

CARACTERIZAÇÃO

• Na Área verificam-se actividades de encontro, convívio, troca e recreio activo, não se praticando contudo actividades de estada urbana e de lazer.

• Os locais de encontro e convívio verificam-se nos dois principais eixos da Área:

– Rua J. A. Braamcamp/ Rua Almirante de Reis, antiga Rua Direita (eixo transversal);

– Largo 5 de Outubro/Largo Pedro G. Júnior/Largo 1º de Maio (eixo vertical).

• Estas actividades praticam-se sobretudo nos espaços urbanos não lineares (largos e alargamentos de espaços urbanos lineares).

• Estão fundamentalmente ligadas a dois tipos de actividades:

– Circulação automóvel e pedonal;

– Comércio e serviços alimentares.

• Na ausência de espaços públicos próprios, o recreio activo reduz-se ao praticado pela população infantil e verifica-se em zonas que oferecem mais segurança.

• Os locais de troca verificam-se em zonas de grande travessia pedonal incidindo no eixo vertical formado pelos três largos.

PROBLEMAS

• Estas actividades praticam-se de forma fortemente condicionada devido a

– Inexistência de espaços públicos preparados para o desenvolvimento destas actividades;

– Sobre ocupação do espaço público;

– Trânsito e estacionamento empurrando estas actividades para as zonas de passeios e limítrofes às frentes de rua.

– Inexistência de mobiliário urbano de suporte.POTENCIALIDADES

• A apetência por este tipo de actividades é muito elevada, quer pelas alternativas encontradas pelos residentes, quer

TROCA

RECREIO ACTIVO

ENCONTRO E CONVÍVIO

pelo número de locais onde se observam.

• Existência de significativo número de espaços públicos o que testemunha aptidões para o desenvolvimento deste tipo de actividades.

• Boa distribuição destes espaços pelo tecido urbano da Área.

PROPOSTAS

• Restituir os espaços públicos urbanos ao peão através da implementação do plano viário geral.

• Resolver primeiro o problema do estacionamento com a criação de parques.

• Arranjo destes espaços tendo em conta as actividades praticadas e as aptidões dos mesmos.

• Criação de locais de estada e recreio infantil.

• Introdução de outro tipo de actividades de natureza cultural.

• Incentivos à apropriação do espaço urbano (ver fins de semana sem trânsito).

• Criar capacidade de atracção que abranja o centro/Sacavém/ região.

ESTAR URBANO

ESTADA, ENCONTRO E CONVÍVIO LIGADO A SERVIÇOS DE RESTAURAÇÃO

ENCONTRO, CONVÍVIO, ESTADA, ESPECTÁCULOS, RECREIO

PLANO DE SALVAGUARDA DO NÚCLEO ANTIGO DE SACAVÉM3. CONSTITUIÇÃO E ESTRUTURA ACTIVA

3.4 SÍNTESE

SÍNTESE

O tipo e a forma como as actividades se organizam no tecido urbano criando zonas de incidência, concentração ou dispersão, e a sua diversidade permitem concluir:

• O centro da Área é constituído pelo conjunto dos 3 espaços urbanos não lineares - Largo 5 de Outubro, Largo Pedro José Gomes Júnior e Largo 1º de Maio - e pelo troço antigo da Rua Direita hoje chamado Rua Almirante de Reis e Rua Maria Luísa Braamcamp. Aqui se concentram as actividades económicas (comércio e serviços), a administração pública e alguns equipamentos. São estes espaços que também propiciam actividades ligadas ao encontro, convívio e recreio. A Poente e Nascente desta zona desenvolvem-se áreas de vocação mais residencial.

• Residir nesta Área, de um modo geral, é residir com poucas condições de habitabilidade dado o estado de conservação dos edifícios e alojamentos, pela dimensão dos fogos e a falta de equipamento de base.

• Verifica-se uma excessiva carga de tráfego automóvel e estacionamento, desadequados à capacidade de uso dos espaços públicos e que se traduz em permanente conflito peão-automóvel e na limitação das práticas ligadas à estada urbana É notória a apetência para a prática deste tipo de actividades que se praticam com intensidade mesmo sem qualquer suporte em termos de mobiliário urbano ou arranjo dos espaços públicos. As cargas e descargas fazem-se por toda a Área sem qualquer limitação de horário.

• Em termos de administração pública verificam-se carências - P.S.P., Cartório Notarial, etc.. A criação do futuro Centro Administrativo, na sequência da criação do Concelho de Sacavém, deve privilegiar as ligações.

• Em termos de transportes, até há pouco existiam 2 carreiras que atravessavam a Área no Largo 1º de Maio - ligações

Administração Pública Central LocalEquipamento Integrado em Edifício Especial Integrado no Edi�cado Actividades Económicas Locais de Encontro e Convívio

a Unhos e Moscavide - esta última tendo sido desviada, o que se considera incorrecto pois induzia circuitos pedonais de travessia da zona antiga.

PROPOSTAS

• Manter o carácter de centro que a Área tem relativamente ao aglomerado urbano de Sacavém.

• Cuidar que a futura expansão do centro (a Área) se faça de forma tentacular de modo a irrigar o tecido urbano de Sacavém e que a instalação de actividades económicas seja direccionada.

• Avaliar a possibilidade de instalação do futuro centro administrativo, que surgirá na sequência da possível criação do Concelho de Sacavém, no território da antiga “Fábrica de Louça” dada a localização desta na continuidade de um eixo estruturante da Área e da Vila e dada a sua proximidade a futuro interface intermodal.

• Manter a concentração de actividades económicas, de comércio e serviços, sem detrimento significativo da actividade residencial: os pisos térreos dos edifícios localizados nos dois principais eixo estruturantes da Área poderão ser ocupados com actividades económicas. Admite-se ainda no caso dos edifícios que poderão sofrer aumento de edificabilidade, e só a partir da volumetria de três pisos, a transformação do uso do primeiro piso para instalação de actividades económicas do tipo serviços, devendo sempre assegurar a ocupação residencial e procurar que nos pisos térreos se instalem actividades geradoras de animação e que evitem a desertificação nocturna.

• Fomentar a qualificação das actividades económicas.

• Implementar o Plano de Remodelação Viária com carácter de urgência.

• Fomentar a implantação de actividades de natureza cultural de iniciativa privada e pública.

• Intervir nos edifícios mais significativos da Área - Centro Escolar Republicano, Palácio Barroco, Quinta do Alexandre, Torre Medieval - afectando-os a novos usos de carácter cultural e de interesse local e regional.

• Proceder ao arranjo dos espaços públicos de modo a propiciar a prática das actividades ligadas à estada urbana.

• Manter a actividade residencial e as tipologias existentes dos fogos.

Constituição e Estrutura Social

Através da leitura da imagem da Área procura-se ainda formar um conhecimento espacializado das características da população instalada, ou vinda do exterior para utilizar a Área, em termos dos grupos sociais dominantes que a

constituem e onde se localizam.

As características que se procurarão identificar são as relativas à presença dos diferentes grupos sócio-económicas e etários, interessando ainda formar uma ideia sobre a existência de inactivos, de grupos de alto risco e de marginais.

Quanto mais estratificada e espacialmente segregada for a população mais claros e, portanto, menos sujeitos a erros serão os resultados da leitura da imagem. De qualquer modo serão necessariamente deficientes, apesar de apenas terem por finalidade introduzir os aspectos gerais mais importantes relativos à população para interpretar o espaço urbano em termos do uso, apropriação e sociabilidade existentes e apontar exigências de organização de intervenções de acção social.

Certa ou erradamente interpretadas, as características das pessoas e das suas relações com o espaço está implícita na leitura e avaliação do meio urbano e é uma base fundamental dessa avaliação. Consideramos portanto necessário fazer o esforço de leitura da geografia humana ligada aos usos percepcionados para verificar, inclusive, a relação entre certos tipos de qualidade, animação e pitoresco urbanos e a presença de grupos sociais específicos que geralmente a acção de reabilitação tende a transformar ou expulsar, se não de imediato, a médio prazo, mesmo que se procure evitá-lo.

Resumindo, a constituição e estrutura social da Área tem por base a informação espacializada, relativa à sua população (instalada no edificado e vinda do exterior) indicando os grupos sócio-económicas, etários, de activos e de inactivos, os grupos de risco e de marginais.

O interesse desta informação é, essencialmente, apoiar a interpretação, segundo os diferentes grupos sociais presentes, da apropriação da Área e da sociabilidade no espaço público, aspectos básicos para poder avaliar a qualidade urbana e definir a necessidade, a prioridade e o tipo de estudos sociológicos e antropológicos a desenvolver, seguidamente.

Pode ser útil, para adquirir sensibilidade quanto à paisagem humana da Área, proceder a uma recolha fotográfica dos

diferentes tipos de pessoas em presença e das suas actividades.

A realização de entrevistas com interlocutores que conheçam bem a população (Junta de Freguesia, Segurança Social, Saúde, Polícia, habitantes de longa data,... ) é importante nesta fase do trabalho.

PLANO DE SALVAGUARDA DO NÚCLEO ANTIGO DE SACAVÉM 4. CONSTITUIÇÃO E ESTRUTURA SOCIAL

4.2 EXPRESSÃO DA SOCIABILIDADE NO ESPAÇO

CARACTERIZAÇÃO

• É na Área que se passam e se realizam os acontecimentos sociais da comunidade mais importantes.

• É no Largo 5 de Outubro que se realizam as festas, os comícios e as sessões políticas, saem as procissões, se fazem os espectáculos, iniciativas de cariz cultural, etc. É um ponto de encontro e comércio, é o centro da Vila e da Área.

• É no conjunto dos três espaços urbanos não lineares (eixo vertical) e na zona de inserção com o eixo transversal (antiga Rua Direita e M. Luisa Braamcamp) que se verificam as várias expressões sociais assinaladas na carta.

• Em termos de manifestações sociais a Área comporta-se como uma vila com as suas festas - Semana do Alentejo,

Uso do Espaço á Noite

Apropriação Diurna do Espaço pelos Grupos Etários

MAIOR INTENSIDADE DE USO

ADULTOS JOVENS

IDOSOS

da Longa, Nossa Senhora da Saúde, que atestam a existência de comunidades imigradas de vários pontos do país e os hábitos de encontro e convívio ao fim do dia. As pessoas conhecem-se, cumprimentam-se, param e conversam. Dão-se bem ou mal com os vizinhos e expressam esse relacionamento.

• Há dias de maior movimento. 3ª e 6ª feiras e durante o dia, o princípio da manhã e o fim da tarde são os períodos de maior actividade - saída e chegada da população que trabalha fora.

Sociabilidade Diurna no Espaço - Actividades

• Os locais de encontro têm maior ou menor número de pessoas também conforme o período do dia. O uso dos espaços à noite está fundamentalmente ligado aos serviços de restauração, a algumas colectividades e a situações de marginalidade. Isto deve-se sobretudo à deficiente iluminação pública e ao pouco número de locais abertos à noite e à inexistência de actividades culturais de carácter permanente.

PROBLEMAS

• Todas as expressões de sociabilidade se praticam sem qualquer suporte do ponto de vista de mobiliário e conforto urbanos.

• Estacionamento e trânsito.

• Existência de marginalidadePOTENCIALIDADES

• A manutenção das tradições culturais das populações migradas.

• A existência de expressões diversificadas de sociabilidade, devido à dimensão da Área, à sua escala, às próprias condições de habitabilidade e também ao tipo de população instalada, sua origem e grupos etários predominantes:

ENCONTRO CONVÍVIO TROCA

Marginalidade no Espaço

MENDICIDADE DELINQUÊNCIA OUTRA MARGINALIDADE

idosos, reformados e do mesmo nível económico.

• O uso da Área por população não residente.

• A realização de festas.

• A existência de expressões diversificadas de sociabilidade, hoje remetidas para a população mais idosa, cuja origem remonta à época da industrialização ( séculos XIX/XX) e que se traduzia em actividades culturais, desportivas, recreativas, lúdicas com particular expressão em Associações Recreativas

• De salientar ainda a existência de uma forte solidariedade social expressa numa Cooperativa de Crédito e Consumo formada em 1900.

Dia do Espaço Público - 21 de Abril 1992

CARTAZES, ANÚNCIOS

FACHADA EM TELA

LOCAIS DE EXPOSIÇÃO

ESPLANADAS

VERDES E BANCOS DE JARDIM

LOCAL DA FESTA

TRAJECTO DA PROCISSÃO

Festas de Nª Srª da Saúde e Trajecto da procissão

• Localmente exista todo um conjunto de grupos e serviços que, pela sua actividade, contribuem para a prevenção e tentativa de resolução dos problemas sociais: associações ( Clube de Jovens, Casa da Juventude, Escuteiros...), igrejas, escolas, professores de ensino especial, professores, Projecto Vida, Centro Regional de Segurança Social, Centro de Saúde, Centro de Atendimento das Taipas, Centro de Emprego, Instituto de Reinserçao Social,Ninho, Centro de Estudos e Profilaxia da Droga, Hospitais. Instituto da Juventude, Instituto de Apoio à Criança.

PROPOSTAS

• Retirar o trânsito e arranjar o espaço público.

• Qualificar as iniciativas e festividades.

• Criar capacidade de atracção que abranja Sacavém e a região.

• Adequar as expressões de sociabilidade que se traduzem na existência de colectividades com fortes tradições, de forma a reassumirem um papel importante em Sacavém.

• Acções de apoio à Juventude.

• Acções de apoio às famílias em risco.

• Promoção de espaços de lazer e cultura.

• Revitalização de equipamentos sociais, culturais e de lazer.

Constituição e Estrutura Significativa

Analisada a Área segundo os principais elementos que a constituem ( as pessoas, as actividades e os espaços) pretende-se agora definir, interpretar e avaliar os seus aspectos significativos, ou seja, os que são especialmente registados

pela memória dos utilizadores ao recordar a Área e a tornam distinta de outras.

São significativos os aspectos que marcam as características através das quais os utilizadores descrevem a imagem, a apreciam e que:

• Permitem recordar e identificar os locais.

• Definem a legibilidade do tecido marcando pontos, eixos e áreas de referência.

• Simbolizam acontecimentos colectivos ou pessoais.

• Expressam o mapa mental da Área.

Uma leitura do tipo da proposta por Kevin Lynch, a recolha dos mapas elaborados para os turistas e para a população em geral, o estudo dos mapas mentais duma amostra significativa de utilizadores, o comentário ao levantamento de locais destacados como referências pelo observador e pela população e outros métodos permitem identificar a estrutura significativa da Área, mapificá-Ia, proceder à sua avaliação, identificar a amplitude geográfica que alcança (significado local ou para além das fronteiras da Área) e concluir da necessidade de qualificar a Área, caso se encontre desprovida de significados urbanos, ou estes tenham conotação negativa.

Nesta fase do trabalho, a estrutura significativa da Área exprime apenas a interpretação dos mapas elaborados para orientação/valorização turística da cidade, no que se refere à Área, e a marcação das áreas, percursos ou marcos

apercebidos como de especial interesse pelo(s) observador(es). Este exercício é essencial para que se proceda à síntese da imagem global observada, destacando as referências marcantes dessa memória e procurando as suas bases explicativas.

O registo da constituição e estrutura significativas é importante para decidir se é necessário realizar estudos especializados e, caso seja, para servir de base para a sua programação.

A referida estrutura e, duma maneira geral, os aspectos ligados aos significados urbanos permanecem mal conhecidos, apesar da sua importância para a adaptação e apropriação urbanas e consequente identificação, estima e orgulho da população relativamente ao seu território.

Consideramos da maior importância desenvolver esta linha de abordagem da leitura do meio urbano dadas as potencialidades que oferece para a sua apreciação qualitativa e para a construção de propostas de intervenção.

É ainda importante assinalar que a procura da identificação e fundamentação dos significados urbanos exige uma ampla participação da população e pode, por esta via e se bem explorada, ser um motor fundamental de interesse e entendimento do meio pela comunidade e de mobilização para assumir e realizar a reabilitação da Área

Como primeira orientação indicamos os seguintes temas a procurar elucidar:

• Sistema de legibilidade e orientação, eixos, pontos, percursos e áreas de referência.

• Marcos .

• Roteiros turísticos.

• Representações e marcas deixadas na imagem pela história dos quotidianos, passada e actual.

PLANO DE SALVAGUARDA DO NÚCLEO ANTIGO DE SACAVÉM5. CONSTITUIÇÃO E ESTRUTURA SIGNIFICATIVA

ANÁLISE

• Toda a Área é uma zona significativa referente ao aglomerado em que se insere (Sacavém).

• No seu interior encontram-se trechos urbanos e elementos significativos, isto é, áreas homogéneas constituídas por espaços públicos e edifícios que se distinguem entre si e elementos que se destacam pela sua importância funcional ou pela sua imagem..

• A Área apresenta 6 trechos urbanos (ver figura) que propiciam diferentes ambientes urbanos. Estas diferenças traduzem as características fundamentais da estrutura morfotipológica da Área podendo ser agrupadas em 4 grandes grupos: as áreas 1 e 2, correspondentes à malha linear e edificado agrupado em bandas e quarteirões de média dimensão estruturados pelo eixo da Rua Direita; a área 3 correspondente ao eixo central de espaços públicos urbanos não lineares e a sua envolvente edificada; a área 4 correspondente à zona de malha orgânica e edificado agrupado em quarteirões de pequena dimensão e as áreas 5 e 6 que correspondem a zonas limítrofes da Área e cuja imagem já traduz, claramente, a mescla entre edificações antigas e novas.

AS VIAS OS NÓS

OS PONTOS DE REFERÊNCIA

ELEMENTOS SIGNIFICATIVOS

TRECHOS URBANOS

POTENCIALIDADES

• Existência de uma imagem bastante clara e bem isolada do restante tecido envolvente-

PROPOSTAS

• Manter a diversidade de ambientes urbanos.

• Reforçar os eixos fundamentais E/O e N/S.

• Reforçar a unidade do conjunto dos 3 largos.

OS LIMITES

OS QUARTEIRÕES

1 - CAPELA DE Nº SRA DA SAÚDE

2 - COOPERATIVA SACAVONENSE

3 - MERCADO/JUNTA DE FREGUESIA

4 - PALÁCIO BARROCO5

5 - EDIFÍCIO MUITO ALTO

MALHA URBANA LINEAR

EIXO CENTRAL DE ESPAÇOS PÚBLICOS NÃO LINEARES

MALHA URBANA ORGÂNICA

ZONAS LIMÍTROFES DA ÁREA (ZONAS DE TRANSIÇÃO)

Síntese da Constituição e Estrutura Urbanas Com base nas análises efectuadas elabora-se a síntese dos aspectos fundamentais que se destacaram para caracterizar a estrutura da Área de modo a responder aos objectivos da leitura da imagem: definir em traços gerais o “retrato” actual da Área, interpretá-lo e avaliá-lo; identificar e localizar os problemas, as potencialidades e as características relevantes proporcionando a construção das hipóteses de intervenção que conduzirão à reabilitação da Área e orientarão a sua transformação e o desenvolvimento da população nela territorializada.

A reabilitação urbana é uma acção de mudança territorial e social, que não se limita só a “melhorar o que está”. Desencadeia movimentos imediatos ou a médio prazo de expulsão da população e de actividades, de entrada de novos usos e grupos sociais, de alteração da imagem urbana pela introdução de novos edifícios e espaços e/ou da valorização dos já existentes.

A reabilitação da Área pode produzir um esvaziamento que a transforme em museu urbano ou dar-lhe uma vida urbana revigorada ou até excessiva. Não intervir dá livre curso à degradação física e social, ou seja, a não intervenção provoca também transformações.

A avaliação da Área e a construção de hipóteses de intervenção pressupõe a resposta não determinística às questões relativas ao tipo de espaço urbano e aos modos de vida que se processam nele e aos que tenderão a realizar-se após as intervenções que se apresentam como hipóteses;

• Que população fixa e flutuante?

• Que actividades no espaço edificado e no espaço exterior?

• Que tipo de sociedade, de ambiente natural e edificado, de condicionamento ou liberdade perante as presenças herdadas que constituem a Área?

• Que definição espacial/formal dos domínios de apropriação pública e privada?

• Que exigências qualitativas e como concretamente se exprimem?

• Que mobilidade proporciona o espaço reabilitado e através de que meios de circulação? ...

As questões que informam as diferentes “ideias ou conceitos de cidade” e que servirão de padrão avaliador do tecido existente e de orientação para a construção das propostas de intervenção dependem da aposta na:

• Heterogeneidade ou na homogeneidade social;

• Multi ou mono funcionalidade;

• Largueza ou no confinamento dos espaços;

• Privatização ou na passagem ao domínio público de áreas do espaço exterior;

• Conservação, elaboração criativa ou afirmação agressiva da expressão da actualidade na imagem urbana;

• Importância relativa do automóvel privado, dos transportes públicos e do peão.

A “cidade diversa” corresponde a um conceito de qualidade urbana obtida pela presença de diferentes padrões urbanos sucessiva e harmoniosamente conjugados no espaço.

Este conceito de “boa cidade” permite realizar uma reabilitação que respeite os diferentes trechos ou áreas urbanas construídos nas diversas épocas, mas exige o esforço de criar e de gerir uma oferta de residência socialmente diversificada em cada um dos diferentes tipos de tecido de modo a permitir o acerto entre as características urbanas deste e as preferências dos grupos da população que gostam e querem neles viver.

A liberdade de escolha do local de morada que existia, embora com condicionamentos, dada a diversidade de oportunidades sócio-económicas que cada zona urbana e mesmo cada edifício ofereciam, é um valor a recuperar ou esbarraremos, no que se refere à larga maioria da população, com o desajuste entre as suas preferências quanto tipo e localização do lugar de residência e o trecho de cidade onde teve de ir morar, com os consequentes desacertos e mal estar generalizado que tais desacertos provocam e com o consequente agravamento dos problemas de segregação social e o seu cortejo de dificuldades sociais e de organização espacial.

É importante, nesta fase, o exercício de construção de hipóteses de intervenção que concretizem, na área em estudo, os diferentes padrões de qualidade urbana considerados adequados, de modo a abrir o leque de oportunidades relativamente aos diferentes estratos populacionais, a não multiplicar guetos, a proporcionar um tecido naturalmente integrador pela diversidade de oportunidades que oferece.

É essencial que a síntese do conhecimento obtido sobre a Área transmita, de forma clara, a(s) “ideia(s)de cidade” que está(ão) nela expressa(s) e que a avaliação se faça explicitando quais são as “ideias de boa cidade” que se procuram aplicar em diferentes trechos do tecido, se a opção tomada for de diversificá-los.

A discussão das hipóteses de intervenção, que se realizará no seguimento do processo de planeamento da reabilitação da Área, terá assim bases concretas para se efectivar.

Os agentes sociais implicados no processo de reabilitação deverão aperceber-se dos diferentes padrões de vida/imagem urbana propostos em alternativa para realizar a reabilitação, ou não poderão participar conscientemente na avaliação crítica da cidade em presença, na definição e na construção das opções concretas de desenvolvimento social e de qualificação territorial.

Mobiliário Urbano, “Lettering”, Vegetação e Animais

A informação sobre o mobiliário urbano, o “lettering” e as espécies vegetais e animais existentes no espaço urbano da Área é importante para a formulação das normas a respeitar no projecto e no uso de espaços exteriores,

relativamente a estes aspectos e de forma diferenciada para os diferentes trechos urbanos..

Deverá proceder-se, consequentemente, ao levantamento e indicação da distribuição na Área destas existências e indicar:

• A sua caracterização quanto ao tipo de funções que desempenham;

• A variedade de tipos de desenho dos primeiros e de características dos segundos;

• O modo como se organizam por áreas ou misturados nos mesmos espaços.

Estas informações têm interesse para proceder à avaliação da sua eventual falta ou excesso, adequação funcional e qualidade formal.

A carga publicitária que nos invade, a sua agressividade crescente, o seu não enquadramento na imagem urbana e a geralmente enganadora informação que transmite exige uma reflexão que excede o âmbito da reabilitação duma área mas que seria importante conhecer, discutir e ensaiar tipos de respostas a este nível.

As actividades e o mobiliário do espaço urbano estão intimamente relacionados e deverão ser estudados em paralelo, quer para dar resposta a necessidades sentidas, quer para proporcionar a descoberta de novos usos do espaço.

Deverá atender-se, no que se refere ao mobiliário e ao lettering, a sua resposta aos seguintes aspectos:

• Iluminação;

• Actividades de estada, cultura e lazer;

• Capacidade de informação e orientação;

• Serviços à comunidade: transportes, telefone, limpeza urbana;

• Segurança.

Outra questão da maior importância para a qualidade urbana relaciona-se com a presença de espécie vegetais e animais, com o peso do “verde” relativamente ao construído, com as diferentes expressões e funções que a “vegetação urbana” pode tomar e desempenhar na qualificação ambiental e na aproximação do citadino à natureza, sem desfazer o carácter mineral que a cidade oferece e que é uma das suas características.

A falta de contacto com o meio “natural” é cada vez mais sentida e provoca os fenómenos das segundas casa, a multiplicação dos equipamentos turísticos e das saídas em massa da cidade em fins de semana, férias e feriados e mesmo o abandono da cidade por quem não necessita dela para resolver o seu quotidiano laboral.

A excelência da cidade está posta em causa, e a sua humanização apresenta-se como um problema de sobrevivência do ambiente, não só urbano mas também do rural, cada vez mais afectado pela invasão dos fugitivos urbanos temporários e sem a “cultura da terra”.

PLANO DE SALVAGUARDA DO NÚCLEO ANTIGO DE SACAVÉM7. MOBILIÁRIO URBANO E “LETTERING”

LOCALIZAÇÃO DAS FOTOGRAFIAS

ANÁLISE

• O mobiliário urbano existente na Área é constituído por:

– Candeeiros de iluminação pública;

– Contentores de lixo;

– Papeleiras;

– Sinais de trânsito;

– Marcos de correio;

– Marcos protectores.

• Verifica-se a existência do mais variado tipo de “lettering”.

• A Câmara Municipal de Loures tem um regulamento específico para a publicidade nas áreas delimitadas como Núcleos Antigos, contudo deverão ser estabelecidas regras mais integradas no âmbito do regulamento do presente Plano.

PROBLEMAS

• Grande carência em termos de mobiliário urbano.

• Deficiente iluminação pública - já executada a obra de reforço da rede na zona nascente da Área, faltando a zona poente.

• Existência de contentores de lixo e problemas na recolha dos resíduos sólidos.

• Excessiva carga publicitária e ausência de regras.

• Tendência para a colocação de toldos de forma desordenada.

PROPOSTAS

• Criação de uma linha de mobiliário adaptada às necessidades da Zona Antiga.

• Definição de “lettering”, tipo de suportes publicitários e de regras para a colocação de toldos.

• Lançamento de concurso limitado para o mobiliário urbano e “lettering”.

• Colocação de candeeiros adequados.

• Campanha de sensibilização dos comerciantes para criação de incentivos para substituir a publicidade.

• Criação de espaços comuns publicitários.

Carácter Urbano

Toda a intervenção urbana, como temos repetidamente afirmado, corresponde a uma transformação, a alterações físicas, sociais, ambientais e económicas, de maior ou menor amplitude e que procuram: conservar e melhorar o

existente, na medida em que se lhe reconhece qualidade, ou a alterá-lo por se verificar o incumprimento das exigências urbanas. Quer num caso quer noutro é necessário definir a expressão particular do lugar em presença.

Cada lugar tem a sua expressão própria, reconhecível e identificável por épocas, estilos urbanos, valores culturais e meios financeiros que presidiram à sua construção. O clima e a topografia, os modos de vida que servem e outros múltiplos factores conferem-lhe um dado carácter, acentuam essa expressão própria.

A intervenção de reabilitação, quer procure conservar o carácter da Área ou alterá-lo, exige identificar as características que particularmente o definem, como se exprimem, que soluções de desenho urbano, que programas, que dominâncias de cor e forma, que claro/escuro, que alinhamentos e recortes, que relações visuais entre espaços próximos entre si e longínquos se estabelecem.

Esta análise da imagem para identificar o carácter urbano é da maior importância para definir o tipo de soluções

urbanísticas que se ajustam ao existente e servir de base para a elaboração das normas de desenho urbano, ou seja, das indicações que o planeamento deve fornecer aos projectistas e promotores que irão interpretar e concretizar as ditas propostas: os projectos dos edifícios e espaços exteriores a “integrar” na Área cujo carácter se quer conservar ou dos que se têm de construir para imprimir, a um tecido urbano de má qualidade, ou amorfo, carácter próprio e com valor.

Integrar uma nova proposta num ambiente existente quer dizer o quê? Que características se têm de respeitar? Que fazer para que o novo não destoe nem agrida, antes potencie o tipo de qualidade da imagem existente? Que indicações o estudo da imagem pode dar para poder “agarrar um espaço”, para completá-lo, para lhe dar a forma/aparência urbana que o realiza como parte daquele sítio? Onde e como se exige a um novo projecto que se “apague” no conjunto edificado ou que tome a iniciativa de resolver uma imagem falhada ou amorfa? O que falha numa imagem urbana?

O estudo do carácter urbano duma Área, do todo ou da variedade e sequência das suas diferentes partes, conforme a respectiva imagem o imponha, deve procurar responder a este tipo de preocupações.

A leitura da imagem urbana, no sentido indicado, é uma tentativa que tem de ser feita a nível do planeamento como contribuição indispensável para o estudo e o controlo do desenho urbano, para dar conteúdo à arquitectura da cidade, para poder, como indicava Barnet, J., “desenhar a cidade sem desenhar os seus edifícios”, para interessar a arquitectura nesta escala de intervenção formal perdida nos planos de zonamento, na justaposição de urbanizações e de edifícios de autor cujo carácter é comandado, as mais das vezes, pelo objectivo de criar uma imagem que afirme publicamente e publicite este e os seus clientes.

Estas questões estão em aberto. Urge estudá-las para lhes dar conteúdo e poder estabelecer procedimentos adequados para a elaboração, discussão e aplicação de normas de controlo do desenho urbano e da paisagem em geral,

É necessário recriar uma cultura estética do ambiente genericamente interiorizada e guardar para situações especiais e para os marcos urbanos, as obras singulares, as afirmações de modernidade que desafiam a estética consensual, os choques de imagem por vezes tão necessários para a aprendizagem de novas linguagens.

Para obter informação sobre o carácter urbano ter-se-á de procurar analisar as seguintes questões:

• Tipo de soluções formais relativas a:

– Sequências de espaços públicos;

– Sequências de fachadas;

– Pormenores significativos.

• Paleta de cores.

• Ambiente humano.

• Ambiente das actividades instaladas e de circulação.

• Ambiente sonoro e luminoso.

• Vegetação e tipo de arranjos paisagísticos.

PLANO DE SALVAGUARDA DO NÚCLEO ANTIGO DE SACAVÉM8. CARÁCTER URBANO

ANÁLISE

• A Área tem um carácter bem definido que advém da sua estrutura urbana clara e organizada, acentuado pelo facto de se inserir num território que apresenta características opostas.

• É uma zona onde predomina a escala humana, as volumetrias baixas, que, do ponto de vista formal, apresenta uma dominância de fachadas planas com varandas de sacada no 1º piso e portas e janelas no rés do chão.

• Caracterizam-se ainda pela diversidade de cores e épocas de construção dos seus edifícios que, contudo, mantêm formalmente um carácter de urbe rural, o que significa pouca diversidade tipológica de fachadas e confere à Área uma homogeneidade de imagem.

• Do ponto de vista das actividades e dos aspectos sociais verifica-se também uma diversidade coincidente em toda a Área, o que lhe confere um carácter homogéneo

Dinâmica Urbana

As análises resultantes da leitura da imagem, que temos indicado anteriormente, destinam-se a registar, interpretar e avaliar a Área em termos do seu retrato no momento da observação. Não se exploraram, até este momento, os

aspectos reveladores da dinâmica de transformação em curso na Área.

A leitura da imagem permite percepcionar alterações recentemente efectuadas e as que se encontram em curso a nível do espaço urbano, do edificado, das actividades e do tipo de população instalada e flutuante, ou seja, obter indicações sobre a referida dinâmica.

Esta é essencial para avaliar se a Área se encontra em decadência, perda de vitalidade, ou se, pelo contrário, é atractiva e sujeita a pressões de renovação.

A verificação da existência e do tipo de obras de reparação ou substituição de imóveis e de arranjos exteriores, das características de modernidade ou de tradicionalidade das actividades de comércio e serviços instalados e em instalação, de contrastes sócio-económicas e etários observáveis na população permite obter uma ideia sobre a existência e sentido das transformações em curso na Área.

Esta informação, que deve ser espacializada, referencia a dinâmica existente ou inexistente, relativamente a toda a Área ou às suas partes.

Por esta via percebem-se eventuais tendências de transformação e avalia-se o desenvolvimento ou declínio da Área, as partes e eixos de estagnação e desenvolvimento.

É essencial completar esta informação com o levantamento, junto dos serviços municipais, dos pedidos de licenciamento existentes, dos projectos e obras em curso empreendidas por particulares e de responsabilidade pública e do movimento relativo à instalação de actividades comerciais, de serviços e escritórios e à perda ou aumento de residentes.

A informação produzida na imprensa através dos anúncios relativos a ofertas de compra e venda de fogos e de imóveis, trespasses de estabelecimentos, propostas de aluguer e outras informações como as que dizem respeito à variação do emprego, evolução dos preços dos terrenos e outros indicadores económicos são um importante contributo para conhecer e avaliar as tendências de transformação em curso.

A mapificação da informação obtida permite esclarecer a geografia das tendências de evolução urbana da Área, interpretar e avaliar as vantagens e inconvenientes dessa evolução e o interesse dos investidores pelas diferentes partes do tecido.

As hipótese de intervenção são assim definidas em termos do esforço que será necessário para dinamizar ou conter os agentes sociais em acção na Área e para avaliar o impacto a médio prazo, quer do processo de mudança em curso, quer das acções de reabilitação a empreender para o orientar.

PLANO DE SALVAGUARDA DO NÚCLEO ANTIGO DE SACAVÉM9. DINÂMICA URBANA

CARACTERIZAÇÃO

• A tendência geral da evolução da população residente, no que se refere à dinâmica de transformação, é de retrocesso, o que se explica pelo seu envelhecimento e a sua não substituição, devido às más condições de habitabilidade e à não transmissão de alugueres, o que implica a não permanência de jovens e, eventualmente, por estes preferirem procurar outros locais com melhor imagem urbana.

• Existem já sinais fracos de transformação e do despertar de uma dinâmica, por parte dos proprietários e investidores, no sentido da reabilitação dos edifícios existentes de:

– proprietários residentes;

– proprietários não residentes interessados na renovação quando possuem conjuntos de edifícios;

– investidores que estão a comprar, a transformar e a vender, e que manifestam interesse em continuar;

ACOMPANHAMENTO DE OBRAS DE BENIFICIAÇÃO, ELABORAÇÃO DE PROJECTOS, ATENDIMENTO DE QUEIXAS DOS INQUILINOS, CONTACTO COM PROPRIETÁRIOS

– investidores para novas construções nas franjas da Área (por exemplo, Quinta do Alexandre e Quinta das Poças, com habitação e comércio e serviços e comércio respectivamente).

• A população procura o apoio técnico do Gabinete do Plano para fazer obras ou obter informações sobre futuros apoios e sobre o que será o futuro desta zona.

• Em todas as situações de qualificação verifica-se que:

– os edifícios que têm sido alvo de beneficiações qualificam as condições de habitabilidade e o espaço público;

– as actividades económicas que se instalam qualificam os seus espaços, produtos e serviços, reflectindo-se no espaço público e induzindo outras actividades.

• Quanto às actividades económicas, e depois de um período de declínio até 1990, este sector é o mais vivo na Área, com maior dinamismo no sentido da transformação, crescimento e qualificação.

• Há actividades que desapareceram (o alfaiate, o velho café) e são substituídas por outras, já ligadas a novas necessidades e gostos (loja do pão).

• Há qualificação dos espaços com manutenção do mesmo tipo de actividades.

• Há a reabertura de velhos espaços fechados há muito, para instalação de novas actividades.

• É muito significativa a “pressão” para a transformação dos usos tradicionais em actividades económicas no sentido da terciarização. É localizada fundamentalmente, mas não só, nos principais eixos de actividade económica.

• Esta dinâmica de transformação ao nível do edificado vai gerar alterações em termos de população residente e utente:

– a que já se anuncia reflectir-se-á, sobretudo, na utente, visto que os empreendimentos são na periferia da Área;

– a Área é um importante ponto de encontro e uma zona de travessia em particular por não residentes;

– existem alguns casos de residentes que já manifestam tendência para sair da Área caso sejam compensados pelos proprietários;

– existem também situações de residentes que adquiriram os fogos onde habitam;

– a Área é atravessada por fluxos de jovens das Escolas Preparatória e Secundária, por fluxos dos utentes de transportes colectivos cujas paragens ficam na E.N.10 e por clientes das actividades económicas aqui instaladas

• Da análise das cartas verificamos::

– existem áreas de maior dinamismo como, por exemplo, a zona central constituída pelo eixo de espaços públicos não lineares e o princípio das Ruas Direita e Maria Luísa Braamcamp, e ainda a zona à volta do cruzamento das Ruas Trigueiros Martel, José Augusto Braamcamp e Travessa das Prioras;

– este dinamismo está ligado a actividades económicas - melhoramento dos espaços e trespasses, e a colectividades - obras de manutenção e beneficiação, e a habitação com predomínio para os proprietários.

• A fixação de um gabinete municipal gerou expectativas e alguma dinâmica junto da população residente, expectativa que tem sido alimentada através da prestação de um atendimento público da gestão urbanística, do acompanhamento de obras e da elaboração de projectos, e em colaboração com a Junta de Freguesia na organização e acompanhamento de pedidos de materiais;

• É necessário aproveitar e fomenta esta dinâmica suscitada através de incentivos:

– à reabilitação dos edifícios;

– à qualificação das actividades.

Resultados da Leitura da Imagem

O conhecimento e diagnóstico da Área, em termos do existente e da dinâmica própria de transformação, e o conjunto das hipóteses de intervenção formuladas, permitem preparar um documento de síntese que destaque as propostas

alternativas relativas a:

• Objectivos, políticas e estratégias gerais de reabilitação da Área;

• Hipóteses gerais de intervenção que as servem;

• Operações de reabilitação que organizam, em acções concretas, o cumprimento das hipótese de intervenção no que se refere ao curto e médio prazos.

É essencial, para a operacionalidade do trabalho realizado, que o produto final das análises efectuadas seja a definição de operações de reabilitação informadas de modo a:

• Possibilitar a elaboração de estimativas gerais de custos e de prazos de execução;

• Obter as bases que permitem desenvolver a programação dos respectivos projectos de execução;

• Definir os meios financeiros e organizativos a disponibilizar e a captar para as executar;

• Identificar os agentes sociais que serão implicados nas operações;

• Servir de base à discussão pública.

É ainda indispensável efectivar uma proposta, ou propostas alternativas, para a estrutura organizativa, técnica e de financiamento do processo de sustentação da reabilitação física e da dinâmica de desenvolvimento da Área. A acção de planeamento não pode reduzir-se, à aprovação dum plano que rapidamente se desactualiza e a uma gestão corrente que segue as antigas rotinas.

Relembramos que o trabalho da leitura da imagem, apesar de ser levado até à definição das operações de reabilitação, está longe de concluir a informação técnica para planeamento, dado que corresponde a uma primeira proposta técnica que serve para provocar e apoiar a discussão entre os diferentes agentes sociais formais e informais, fases que se seguem na proposta de metodologia de planeamento e que tem em vista o acerto de ideias e actuações entre eles,, assim como o estabelecimento de consensos e compromissos de realização e a verificação do interesse, capacidade e disponibilidade de meios de realização.

É importante mais uma vez acentuar que a leitura da imagem urbana, tal como a descrevemos, é um instrumento de preparação técnica da equipa para poder apoiar, do ponto de vista metodológico, técnico e organizativo o processo de planeamento/acção e não para o substituir oferecendo a solução definitiva e para todos os problemas, pressupostamente pronta a aplicar, apesar da não verificação da sua conformidade com as vontades e possibilidades dos agentes sociais ou, o que é mais corrente, listando recomendações sem a preocupação de verificar se são viáveis, sem apresentar as soluções e operações que as cumprem.

O planeamento ficaria assim esvaziado, e abdicaria da didáctica de desenvolvimento que o processo de planeamento continuado, solidificado no tempo e participado, efectiva.

A apresentação do estudo e das propostas deverá ser feita de forma não académica e guiada pela preocupação de tornar os seus conteúdos fácil e rapidamente compreensíveis aos agentes sociais .

A falta de tempo de que normalmente dispõem os referidos agentes e a sua não necessária preparação técnica exigem uma grande clareza e simplicidade de exposição, a rápida percepção do que se recomenda concretamente que se faça, com que custos, quando e através de que meios humanos, técnicos e logísticos.

As exigências de comunicação e discussão públicas do trabalho realizado reforçam a necessidade da sua clareza assim como da apresentação das formas concretas de operar que se propõem e da indicação das intervenções que se verificou poderem de facto ser cumpridas no curto prazo dado que existe vontade política, se avaliou a disponibilidade dos meios financeiros e se verificaram as capacidades técnica e de gestão para a sua realização.

Lisboa, Março 1989

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Planeamento da Reabilitação de Áreas Urbana - Volume II - Leitura da Imagem Urbana