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PLANEJAMENTO DE ATIVIDADES REPETITIVAS EM OBRAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL UTILIZANDO A TÉCNICA DA LINHA DE BALANÇO E PROGRAMAS DE GERENCIAMENTO DE PROJETOS: UM ESTUDO DE CASO CARLOS LUCIANO SANTANA VARGAS - [email protected] UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA - UEPG LEANDRO MARTINEZ VARGAS - [email protected] UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ - UTFPR Resumo: A TÉCNICA DA LINHA DE BALANÇO LDB É CONHECIDA E APLICADA EM TODO O MUNDO PARA PROGRAMAR ATIVIDADES REPETITIVAS EM VÁRIOS SEGMENTOS INDUSTRIAIS. NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO, A LDB, CONTINUA SENDO POUCO UTILIZADA. NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA E ARQUITETURA, A TÉCNICA NÃO É DISSEMINADA ADEQUADAMENTE. A RAZÃO DISSO TALVEZ SEJA POR NÃO EXISTIR UM SOFTWARE CAPAZ DE VIABILIZAR O SEU USO COMPATÍVEL COM OS RECURSOS TECNOLÓGICOS CORRENTES NO SETOR. ESTE TRABALHO TEM A PRETENSÃO DE DAR UMA PEQUENA CONTRIBUIÇÃO PARA INCENTIVAR O USO DA LDB DENTRO DO CONTEXTO DOS MODELOS MAIS CONDIZENTES COM A REALIDADE DOS CANTEIROS. NO BRASIL, O CENÁRIO ESTÁ AMPLAMENTE FAVORÁVEL, TENDO EM VISTA OS VULTOSOS VOLUMES DE INVESTIMENTOS GOVERNAMENTAIS PARA OS PROGRAMAS HABITACIONAIS, QUE SE CONSTITUEM EM ÓTIMOS LABORATÓRIOS PARA A ACADEMIA. ASSIM É PROPOSTO A UTILIZAÇÃO DA LDB COM O USO DE UM PROGRAMA DE COMPUTADOR POPULAR NO MEIO DA INDÚSTRIA E DE ALGUMAS ADAPTAÇÕES NA FORMA COM QUE SÃO FEITAS AS ENTRADAS DE INFORMAÇÕES PARA O PLANEJAMENTO DE ATIVIDADES REPETITIVAS, LEVANDO EM CONSIDERAÇÃO O EFEITO DA APRENDIZAGEM NA EXECUÇÃO DESSES SERVIÇOS. Palavras-chaves: LINHA DE BALANÇO; EFEITO APRENDIZAGEM; PLANEJAMENTO DE CONSTRUÇÕES. Área: 1 - GESTÃO DA PRODUÇÃO Sub-Área: 1.2 - PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO

PLANEJAMENTO DE ATIVIDADES REPETITIVAS EM OBRAS DE ...uepg.br/denge/civil/XIX_SIMPEP_Art_34 (1).pdf · AT THE CONSTRUCTION INDUSTRY, ... derivada do cronograma de barras (Gráfico

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PLANEJAMENTO DE ATIVIDADES REPETITIVAS

EM OBRAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL UTILIZANDO

A TÉCNICA DA LINHA DE BALANÇO E

PROGRAMAS DE GERENCIAMENTO DE

PROJETOS: UM ESTUDO DE CASO

CARLOS LUCIANO SANTANA VARGAS - [email protected]

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA - UEPG

LEANDRO MARTINEZ VARGAS - [email protected]

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ - UTFPR

Resumo: A TÉCNICA DA LINHA DE BALANÇO – LDB É CONHECIDA E APLICADA

EM TODO O MUNDO PARA PROGRAMAR ATIVIDADES REPETITIVAS

EM VÁRIOS SEGMENTOS INDUSTRIAIS. NA INDÚSTRIA DA

CONSTRUÇÃO, A LDB, CONTINUA SENDO POUCO UTILIZADA. NOS

CURSOS DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA E ARQUITETURA, A

TÉCNICA NÃO É DISSEMINADA ADEQUADAMENTE. A RAZÃO DISSO

TALVEZ SEJA POR NÃO EXISTIR UM SOFTWARE CAPAZ DE VIABILIZAR

O SEU USO COMPATÍVEL COM OS RECURSOS TECNOLÓGICOS

CORRENTES NO SETOR. ESTE TRABALHO TEM A PRETENSÃO DE DAR

UMA PEQUENA CONTRIBUIÇÃO PARA INCENTIVAR O USO DA LDB

DENTRO DO CONTEXTO DOS MODELOS MAIS CONDIZENTES COM A

REALIDADE DOS CANTEIROS. NO BRASIL, O CENÁRIO ESTÁ

AMPLAMENTE FAVORÁVEL, TENDO EM VISTA OS VULTOSOS

VOLUMES DE INVESTIMENTOS GOVERNAMENTAIS PARA OS

PROGRAMAS HABITACIONAIS, QUE SE CONSTITUEM EM ÓTIMOS

LABORATÓRIOS PARA A ACADEMIA. ASSIM É PROPOSTO A

UTILIZAÇÃO DA LDB COM O USO DE UM PROGRAMA DE

COMPUTADOR POPULAR NO MEIO DA INDÚSTRIA E DE ALGUMAS

ADAPTAÇÕES NA FORMA COM QUE SÃO FEITAS AS ENTRADAS DE

INFORMAÇÕES PARA O PLANEJAMENTO DE ATIVIDADES

REPETITIVAS, LEVANDO EM CONSIDERAÇÃO O EFEITO DA

APRENDIZAGEM NA EXECUÇÃO DESSES SERVIÇOS.

Palavras-chaves: LINHA DE BALANÇO; EFEITO APRENDIZAGEM;

PLANEJAMENTO DE CONSTRUÇÕES.

Área: 1 - GESTÃO DA PRODUÇÃO

Sub-Área: 1.2 - PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO

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PLANNING REPETITIVE ACTIVITIES FOR CIVIL

CONSTRUCTION WORKS USING THE BALANCE

LINE TECHNIQUE AND PROJECT MANAGEMENT

PROGRAM: A CASE STUDY.

Abstract: THE BALANCE LINE TECHNIQUE– LDB IS KNOWN AND APPLIED IN

ALL OVER THE WORLD TO PROGRAM REPETITIVE ACTIVITIES IN

SEVERAL INDUSTRIAL SEGMENTS. AT THE CONSTRUCTION INDUSTRY,

THE LDB, CONTINUES BEING LITTLE USED. IN THE GRADUATION

COURSES IN ENGGINEERING AND ARCHITECTURE, THE TECHNIQUE

IS NOT DISSEMINATED APPROPRIATELY. THE REASON OF THIS

OCCURS BY THE FACT THAT THERE IS NOT SOFTWARE THAT IS ABLE

TO ENABLE ITS USE COMPATIBLE WITH THE CURRENT

TECHNOLOGICAL RESOURCES. THIS PAPER HAS THE PRETENSION OF

GIVING A LITTLE CONTRIBUTION TO ENCOURAGE THE USE OF THE

LDB INSIDE OF THE CONTEXT OF THE MODELS MOST CONSISTENT

WITH THE REALITY OF THE BEDS. IN BRAZIL, THE SCENARIO IS

WIDELY FAVORABLE, HAVING IN VIEW OF SUBSTANTIAL VOLUMES

OF GOVERNMENT INVESTMENTS TO HABITATION PROGRAMS THAT

ARE CONSTITUTED IN EXCELLENT LABORATORIES TO THE ACADEMY.

THUS IS PROPOSED THE UTILIZATION OF THE LDB WITH THE USE OF

A POPULAR COMPUTER PROGRAM IN THE INDUSTRIAL

ENVIRONMENT AND OF SOME ADAPTATIONS IN THE WAY THAT THE

ENTRIES OF INFORMATION ARE DONE TO THE PLANNING OF

REPETITIVE ACTIVITIES, TAKING INTO ACCOUNT THE LEARNING

EFFECT IN THE PERFORMANCE OF THESE SERVICES.

Keyword: LINE OF BALANCE TECHNIQUE; LEARNING EFFECT; CONSTRUCTION

PLANNING.

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1. Introdução

Pouca ou nenhuma importância é dada ao efeito aprendizagem por ocasião do

planejamento de atividades repetitivas na construção civil, o que pode ser extremamente

danoso ao se considerar sua influência nos prazos, produtividade e qualidade das obras.

Atualmente, com a grande quantidade de obras que envolvem a programação de tarefas

organizadas em seqüências repetitivas, muito semelhantes aos processos de fabricação em

linha, como por exemplo, conjuntos habitacionais, edifícios com múltiplos pavimentos,

canalizações etc., é cada vez mais necessário conhecer de que forma as características

implícitas nos processos produtivos dessas construções, caso sejam consideradas, possam

melhorar o desempenho em termos de produtividade e qualidade.

O objetivo deste trabalho é apresentar uma alternativa para a programação de

atividades repetitivas com a técnica da Linha de Balanço e com o uso de programas de

gerenciamento de projetos que leve em consideração o efeito da aprendizagem, continuidade,

concentração etc. A utilização de um software com grande aceitação no mercado poderá

facilitar a incorporação desses efeitos combinados, desde que a alternativa proposta seja

razoavelmente amigável, para a programação e reprogramação, fornecendo informações sem

a necessidade de expertise em linguagem de programação. O método proposto alia o uso de

softwares populares com uma teoria do efeito aprendizagem já consolidada sobre o

comportamento dos recursos humanos, quando do desempenho de tarefas que se repetem.

Com uma breve revisão dos conceitos da técnica da linha de balanço, de um modelo

matemático que explica o efeito aprendizagem em tarefas repetitivas e a adoção de uma

técnica de simulação da linha de balanço em software de gerenciamento, realizou-se um

estudo de caso para desenvolver o planejamento da construção de um condomínio horizontal

com a execução de 90 casas populares.

2. Planejamento de obras com a técnica da Linha de Balanço

A técnica da Linha de Balanço foi introduzida na década de 40 do século passado pela

Goodyear e pela Marinha Americana para planejar e controlar atividades repetitivas em

processos de desenvolvimento de novos produtos e armas, recebendo o nome genérico de

LOB (Line of Balance Technique). Posteriormente, a LOB foi amplamente utilizada na

indústria de manufatura, recebendo variadas nomenclaturas, tais como: LSM Linear

Scheduling Method; VP Velocity Diagrams; CPT Construction Planning Technique; VPM

Vertical Producion Method; e muitos outros.

Segundo Ardit et al. (2001), embora a técnica LOB tenha sido bastante utilizada nos

Estados Unidos na indústria de manufaturas para planejar e controlar a produção em sistemas

produtivos lineares, ela foi pouco explorada pelo ramo da construção em razão da grande

popularidade das técnicas de programação em redes, tais como CPM - Critical Path Method.

Para esse autor, pouco importou o fato da LOB ter sido criada antes das técnicas de redes,

pois ela somente foi empregada em planejamento de projetos de redes de captação de água,

revestimento de rodovias e outros.

No setor da construção civil a técnica foi adaptada para programar a construção de

conjuntos habitacionais, principalmente na Europa onde havia necessidade da otimização na

construção de moradias nas cidades devastadas pela guerra. No Brasil, nas décadas de 70 e

80, a técnica foi utilizada também no planejamento de conjuntos habitacionais populares.

Atualmente, os esforços de pesquisa estão direcionados para a utilização da Linha de Balanço

– LdB na programação de edifícios altos. Para Mendes JR (1999), a designação correta para a

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técnica deveria ser Linha de Balanceamento, pois traduziria mais fielmente os princípios do

método quando de sua criação pela indústria bélica e manufatureira.

Mahdi (2004) confirma as opiniões de Ardit, Lutz e Hijazi (1993) e de Lutz, Halpin e

Wilson (1994), quando abordam as técnicas de planejamento de atividades repetitivas, de que

essas técnicas não se popularizaram, principalmente devido à ampla disponibilidade comercial

de software para programação usando os métodos CPM e PERT. No seu estudo, Mahdi

(2004) propõe o uso de planilha eletrônica, no caso, o MS Excel, para ajudar no agendamento

de recursos idênticos (repetitivos) em conjuntos habitacionais, apresentando soluções para a

estimativa de recursos (equipes e equipamentos). De forma semelhante, Mendes JR (1995 e

1996) adota planilhas eletrônicas e propõe a utilização de sistemas especialistas para o

detalhamento da técnica da linha de balanceamento.

A Técnica da Linha de Balanço é um método de programação essencialmente gráfico

derivada do cronograma de barras (Gráfico de Gantt), indicada para projetos com atividades

repetitivas e baseada no fato de que toda construção tem um ritmo natural e que qualquer

desvio nesse ritmo provoca perdas de recursos e tempo. As atividades são mostradas num

diagrama de espaço versus tempo. O eixo vertical representa as unidades de repetição a serem

executadas e na horizontal a duração das atividades. O comportamento das linhas resultantes

indica o ritmo de conclusão das unidades de repetição. O desejado é que o balanceamento seja

dado por ritmos constantes. Na figura 1, é mostrado os tempos considerados e as fórmulas

básicas no cálculo da LdB:

FIGURA 1 – Formulário básico da Linha de Balanço.

Sendo:

a) Unidade de repetição (n): a definição da unidade de repetição é uma decisão estratégica que depende de

vários fatores, tais como: tipo de obra, tipo de tecnologia a ser empregada, disponibilidade de mão-de-

obra e equipamentos, possibilidade de agregar atividades afins, etc.;

b) Duração Total (DT): a duração total do empreendimento pode ser oriunda de imposições políticas,

comerciais ou técnicas;

c) Tempo de Mobilização (tm): é o tempo necessário para executar os serviços preliminares não

repetitivos, tais como: fundações, pilotis e térreo;

d) Tempo de Base (tb): é o tempo necessário para a execução de uma unidade;

e) Tempo de Ritmo (tr): é tempo necessário para a execução de todas as unidades de repetição (menos a

primeira);

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f) Ritmo (R): é taxa de produção ou razão de execução definido em números unidades por tempo ou

tempo necessário para cada unidade de repetição;

g) Tempo para imprevistos: numa obra real é necessário considerar tempos para absorção de atrasos, como

por exemplo: chuvas, baixa produtividade, esperas por materiais, flexibilidade etc. Esses tempos podem

ser considerados diretamente no tempo de base ou ser acrescentado na duração total.

3. O efeito da aprendizagem nas atividades repetitivas

Lam, Lee e Hu (2001) observaram que a produtividade não é constante ao longo da

construção, variando nas diferentes fases e que, compreender os efeitos da aprendizagem e do

esquecimento contribui para a maior precisão do planejamento e controle das obras, reduzindo

o prazo da obra, custos e otimizando os recursos. No estudo realizado por esses

pesquisadores, a aplicação dos efeitos de aprendizagem e esquecimento combinado com a

técnica da linha de balanço, no planejamento de diferentes atividades, estabelecendo-se

esperas (buffer) controladas entre as tarefas reduziu os conflitos (risco de coincidência nas

atividades subseqüentes). Constataram também, ao considerar o efeito da aprendizagem e do

esquecimento no planejamento das atividades dos subempreiteiros de mão de obra, uma

melhor definição das datas de entrega dos materiais no canteiro com significativa redução do

tempo de estoque e de perdas, menor tempo de utilização de equipamentos alugados, assim

como, a possibilidade de programar o pagamento dos fornecedores de forma mais adequada

ao fluxo de caixa.

Heineck (1991) verificou a boa correlação do efeito aprendizagem na execução de

serviços de alvenaria, concluindo que a aprendizagem se faz presente nas atividades

repetitivas e deve ser levada em conta no planejamento e programação de obras. Os ganhos de

produtividade podem chegar a 50%, quando considerados a aprendizagem, a concentração e a

continuidade, características inerentes às atividades repetitivas.

Para Wong et al. (2010) não se pode ignorar que o desempenho de um empreiteiro

encontra respaldo em alguma curva de aprendizagem (THOMAS, 1986; EVERETT;

FARGHAL, 1994; FARGHAL; EVERETT, 1997). Os autores realizaram um estudo

envolvendo mais de cinqüenta projetos residenciais aprovados pelo poder público de Hong

Kong, utilizando cinco modelos de curva de aprendizagem. Os empreiteiros foram divididos

em grupos em função do grau de interesse ou da experiência prévia com o objetivo de

verificar as mudanças de atitudes por parte desses obreiros. Verificou-se a existência de

diferenças de comportamento na execução de tarefas repetitivas e que os operários em sua

maioria foram enquadrados na categoria de otimizadores, pois responderam positivamente

com mais e melhor desempenho. Uma minoria ficou indiferente, ou seja, não melhoraram o

seu desempenho nas atividades repetitivas. Assim, concluem de que não se pode desprezar o

efeito da aprendizagem no planejamento de atividades da construção.

Já nos estudos de Everett e Farghal (1994) e Couto e Teixeira (2005) sustentam a

teoria de melhoria de produtividade proporcionada pela aprendizagem em decorrência da

execução de trabalho repetitivo, corroborando, assim, com os modelos matemáticos das

curvas de aprendizagem.

4. Materiais e Métodos

4.1. Modelo matemático adotado

Na revisão da literatura sobre curvas de aprendizagem realizada por Leite (2002)

foram apresentadas as mais variadas formulações para explicar o fenômeno da aprendizagem

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em atividades repetitivas, pois esse tema tem sido objeto de interesse do sistema produtivo,

com o objetivo de melhor entender o que de fato ocorre nos processos e viabilizar formas de

se antecipar na fase de planejamento. Os trabalhos científicos referenciados por diversos

autores apresentam os modelos mais apropriados para cada situação. Neste trabalho optou-se

por adotar o modelo explorado na década de 30 do século passado pelo precursor nos estudos

sobre o efeito da aprendizagem nas atividades repetitivas, o Engenheiro Aeronáutico

americano T.S. Wrigth, apresentado a seguir:

CCx x = F. X= F. X-- nn

n = loglog SS

loglog 0,50,5

Fonte: Wright (1936)

sendo:

CX – tempo necessário para executar uma unidade qualquer (xésima);

F – tempo necessário para executar a primeira unidade;

X – é a unidade (xésima) que está sendo executada/planejada;

n – índice de aprendizagem (inclinação da curva);

S – taxa de aprendizagem (%)

4.2. Local do estudo – Condomínio de 90 casas

A obra objeto deste estudo de caso é uma adaptação de empreendimentos de

engenharia comuns em várias cidades brasileiras, devido ao recente aporte de recursos

federais para financiamento de moradias populares, como o Programa Minha Casa Minha

Vida, que pretende viabilizar, em parceria com os estados e municípios perto de um milhão de

novas residências, entre casas e apartamentos, para famílias com renda mensal de até dez

salários mínimos. Trata-se de um condomínio com 90 casas com 37 metros quadrados,

localizado no município de Ponta Grossa, construído de acordo com as exigências do referido

programa federal. Para alcançar os objetivos traçados, foram destacadas as atividades

repetitivas, conforme mostrado no quadro 1, a seguir:

Nº Código Atividades repetitivas Duração (dias)

1 F Fundação 2

2 A Alvenaria 4

3 C Cobertura 3

4 I Instalações 1

5 R Revestimento 7

6 P Piso 2

7 Ca Caixilho 2

8 Pi Pintura 4

QUADRO 1 – Atividades repetitivas da obra 90 casas. Fonte: autoria própria

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5. Resultados e discussão

Para verificar o tempo necessário para executar uma unidade de repetição,

considerando o efeito aprendizagem, foi elaborada uma planilha eletrônica com o formato

mostrado na tabela 1, a seguir:

TABELA 1 – Cálculo do efeito aprendizagem.

Tempo necessário

para realizar a

xésima tarefa

considerando o

efeito

aprendizagem

Tempo necessário

para realizar a

primeira tarefa

Unidade de

repetição

Inclinação da

curva logarítmica

considerando o

efeito

aprendizagem

Taxa de

aprendizagem

C F (tempo) X n S (%)

16 16 1 0,1520 90

14 2

14 3

13 4

13 5

12 6

. .

. .

9 44

9 45

Fonte: autoria própria.

A partir dos dados das planilhas, obtiveram-se os gráficos com as curvas de

aprendizagem, conforme mostrado no gráfico 1, a seguir. No caso, a atividade repetitiva é a

fundação das 90 unidades (casas). No planejamento ficou definido que o ritmo seria de uma

casa por dia, sendo que a atividade Fundação necessitaria de dois dias para ficar pronta,

exigindo, portanto, duas equipes atuando ao mesmo tempo, obtendo-se, 45 repetições,

previstas na tabela da figura 2. O prazo de execução inicial foi de 16 horas (2 dias), ou seja, o

tempo de base das duas primeiras unidades de repetição e de 9 horas o tempo de base final

(últimas duas casas). Assim, foi feito para todas as atividades repetitivas, sempre com a

adoção da taxa de aprendizagem de 90%, apropriada, segundo a maioria dos autores

referenciados neste artigo, como sendo ideal para a construção civil.

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8

0

2

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1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45

Tempo necessário para realizar a xésima tarefa considerando o efeito aprendizagem

(Fundações)

unidades de repetição (casas)

tem

po (h

oras

)

GRÁFICO 1 – Efeito aprendizagem na atividade: Fundações. Fonte: autoria própria

As informações constantes na tabela foram repassadas na tabela de entrada do

programa de gerenciamento utilizado, conforme se pode observar na figura 2, obtendo-se os

prazos de execução totais de cada uma das atividades repetitivas. Para isso, foi utilizado o

recurso de lançar as unidades de repetição em vez das atividades (tarefas) na tabela de

entrada, simulando, assim, a Técnica da Linha de Balanço em software de gerenciamento,

conforme proposto por Vargas e Coelho (1996).

FIGURA 2 – Linha de balanço da atividade: Fundações. Planilha do Microsoft Excel 2010. Fonte: Autoria

própria.

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Com a definição das durações totais das atividades repetitivas e com a utilização de

uma planilha eletrônica para o cálculo do ponto de balanço (Vargas e Heineck, 1997) foi

definido o balanceamento das atividades repetitivas dentro do projeto mãe – Condomínio 90

casas, conforme mostrado na tabela 2 e na figura 3, a seguir:

TABELA 2 – Cálculo do ponto de balanço.

Atividade Duração Base

inicial

Base

final Espera Balanço Predecessora

(D) (tbi1) (tbf2) (te) (X) (X)

adotado

1 Fundações 58,75 2,00 - 0 - - -

2 Alvenaria 65,88 4,00 2,50 0 -4,63 4,00 1

3 Cobertura 62,13 3,00 1,75 0 5,50 5,50 2

4 Instalações 52,63 1,00 0,50 0 10,0 10,00 3

5 Revestimento 70,5 7,00 4,88 0 -13,00 7,00 4

6 Piso 58,75 2,00 1,13 0 12,88 12,88 5

7 Caixilhos 58,75 2,00 1,13 0 1,13 2,00 6

8 Pintura 65,88 4,00 2,50 0 -4,63 4,00 7

Fonte: Autoria própria

FIGURA 3 – Linha de balanço do Condomínio de 90 casas. Planilha Microsoft Excel 2010. Fonte: Autoria

própria

Analisando os resultados obtidos e comparando com a programação sem que se

levasse em consideração o efeito aprendizagem nas atividades repetitivas, constatou-se que a

duração total do empreendimento (prazo de execução) sofreu uma redução de 14,74 dias, ou

seja, de 13,4% da duração prevista sem o efeito da aprendizagem. Embora essa redução no

prazo final seja significativa, é importante verificar o detalhamento em cada uma das

atividades. Com um olhar mais atento para os detalhes, pode se observar ganhos importantes

para a tomada de decisão em relação aos prazos de compras, entrega de materiais, definição

de áreas de estoque, montagem e desmontagem de sistemas de proteção e outras definições no

decorrer da obra.

Na figura 4, é mostrado o desenho da Linha de Balanço, onde se pode ver claramente

que as atividades de ritmo mais lento contribuem mais para a extensão do prazo de execução,

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e que as atividades com ritmo mais acelerado tentam recuperar as demoras provocadas pelas

outras. Uma boa decisão aqui seria alocar mais equipes nas atividades alvenaria, revestimento

e pintura. No gráfico 2, derivado da linha de balanço é apresentada a agregação de recursos

(equipes) planejado para acontecer ao longo da obra e a curva S, que representa os recursos

acumuladamente.

casas 10 17 24 31 7 14 21 28 4 11 18 25 2 9 16 23 30 6 13 20 27908988878685848382818079787776757473727170696867666564636261605958575655545352515049484746454443424140393837363534333231302928272625242322212019181716151413121110987654321

10 17 24 31 7 14 21 28 4 11 18 25 2 9 16 23 30 6 13 20 27

jul/11 ago/11 set/11 out/11 nov/11

jul/11 ago/11 set/11 out/11 nov/11

FIGURA 4 – Desenho da Linha de Balanço da obra 90 casas. Fonte autoria própria.

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0

50

100

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200

250

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Curva S Agregação das equipes

semanas

Equipes

GRÁFICO 2 – Curva S dos recursos humanos (equipes). Fonte: Autoria própria.

6. Considerações finais

Embora seja uma técnica conhecida e aplicada, no ramo da indústria da construção, a

Linha de Balanço – LdB, como é tratada no Brasil, continua sendo pouco utilizada, nos cursos

de graduação, em razão de não ser disseminada, e por não existir um software capaz de

viabilizar o seu uso compatível com os recursos tecnológicos correntes no setor. O desafio

permanece para os pesquisadores da área e este trabalho teve a pretensão de dar uma pequena

contribuição para o avanço do conhecimento na área.

A compreensão de que diversos fenômenos podem afetar a produtividade na indústria

da construção civil e pesada, assim como em outros ramos da indústria, têm ocupado o tempo

e a mente dos pesquisadores, numa busca incessante de entendimentos que conduzam a

obtenção de métodos e ferramentas que os minimizem. Maior precisão nos prazos e custos irá

contribuir para menores taxas de abandono e/ou quebra de contratos, redução de conflitos e de

demandas judiciais, ou, ainda, fornecerão mais rapidamente e com maior grau de acerto os

parâmetros para resolver tais questões para efeito de indenizações de danos às partes.

O efeito da aprendizagem nas atividades repetitivas ocorre quer se queira ou não, pois

é da natureza humana aprender a fazer melhor e mais rápido. Não levar isto em consideração

pode não ser uma boa estratégia. Portanto, compreender como acontece a aprendizagem das

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tarefas no canteiro de obras irá viabilizar ações de antecipação amplamente desejáveis ao

processo de produção.

Obviamente, este estudo não pode ser considerado isoladamente, sem que outras

situações já bastante conhecidas sejam também verificadas. Alguns autores já apresentam

modelos matemáticos para o efeito esquecimento, provocado por interrupções das obras. Os

eventos naturais também influirão nas taxas de aprendizagem, assim como as condições dos

equipamentos, uso de tecnologia, ambiente e condições de segurança, programas de

incentivos financeiros para ganhos de produtividade e qualidade dos serviços.

Por fim, depreende-se existir, ainda, um campo vasto de estudo e que as experiências

do setor devam ser aproveitadas para que se possam formular modelos mais condizentes com

a realidade dos canteiros. O ramo está em franca ascensão e programas habitacionais são um

ótimo laboratório para a academia, a partir de estudos sérios e sistematizados, apresentar

soluções coerentes para os problemas inerentes ao setor, fazendo com que melhorias ocorram

no planejamento, gestão e processos do ramo da construção civil para os próximos anos,

assim como fornecer subsídios práticos para habilitar os estudantes em fase de qualificação

nos cursos de graduação em engenharia e arquitetura.

Referências

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International Journal of Project Management, n. 19, p. 265-277, 2001.

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87f Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de

Produção, UFSC, Florianópolis, 2002.

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