Planejamento Eco-Semiotico de Ensino de Língua

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Desde a obra clássica de Wilkins “Planejamento Nocional” (que divide os planejamentos em gramatical, situacional e nocional) diferentes tipos de planejamento com diferentes concepções de linguagem ganharam proeminência. Neste artigo, proponho um planejamento semiótico-ecológico de ensino de línguas baseado na teoria da complexidade concebendo a linguagem como sistema complexo. O planejamento proposto aqui se fundamenta na não-linearidade do ensino de língua que potencialmente pode unir diferentes tipos de planejamento para a emergência da dinamicidade em sala de aula.

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  • Revista Contexturas, n. 23, p. 39 - 61, 2014. ISSN: 0104-7485

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    PLANEJAMENTO SEMITICO-ECOLGICO DE ENSINO DE

    LNGUAS

    Elaine Ferreira do Vale BORGES

    UEPG Universidade Estadual de Ponta Grossa

    RESUMO

    Desde a obra clssica de Wilkins Planejamento Nocional (que divide os planejamentos em gramatical, situacional e nocional) diferentes tipos de

    planejamento com diferentes concepes de linguagem ganharam proeminncia.

    Neste artigo, proponho um planejamento semitico-ecolgico de ensino de lnguas

    baseado na teoria da complexidade concebendo a linguagem como sistema complexo.

    O planejamento proposto aqui se fundamenta na no-linearidade do ensino de lngua

    que potencialmente pode unir diferentes tipos de planejamento para a emergncia da

    dinamicidade em sala de aula.

    Palavras-chave: teoria da complexidade; sistema complexo; planejamento.

    ABSTRACT

    Since Wilkins classical work Notional Syllabus (which divides the syllabus into grammar, situational and notional) different types of syllabuses with different

    language conceptions have gained prominence. In this paper I propose an eco-

    semiotic syllabus to language teaching based on complexity theory conceiving

    language as a complex system. The syllabus proposed here is based on the non-

    linearity of language teaching that can potentially unite different types of syllabuses

    for the emergency of the dynamicity in the classroom.

    Keywords: complexity theory; complex system; syllabus.

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    Introduo

    Desde o impacto da obra clssica de Wilkins (1976), Planejamento

    Nocional, que divide os planejamentos de ensino de lngua em gramatical,

    situacional e nocional, muito se tem discutido sobre tipos de planejamentos e

    suas fundamentaes terico-metodolgicas particulares para diferentes

    contextos educacionais (CANALE & SWAN, 1980; ROSS, 1981; SWAN,

    1985; PRABHU, 1987; REILLY, 1988; HOWATT 1988; NUNAN, 1988 e

    1989; LONG & CROOKES, 1992; HAMER, 2001; DUBLIN & OLSHTAIN,

    2000; LITTLEWOOD, 2007; BORGES, 2009; RICHARDS & RENANDYA,

    2010; FINNEY, 2010 para citar apenas algumas obras). Com o advento da teoria da complexidade e da perspectiva ecolgica

    nos estudos da linguagem (van LIER, 1997 e 2000; LARSEN-FREEMAN,

    1997; LARSEN-FREEMAN & CAMERON, 2008; PAIVA & BORGES,

    2009), essa discusso, no meu entendimento, vem tomando um novo e

    importante rumo, tendo em vista que planejamentos com diferentes

    concepes de linguagem1 para diferentes situaes de ensino no se

    sustentaria mais dentro da viso contempornea de linguagem e de aquisio

    de segunda lngua (ASL) como sistema adaptativo complexo (LARSEN-

    FREEMAN & CAMERON, 2008; ELLIS & LARSEN-FREEMAN, 2009),

    dado o multifacetamento inerente e emergente da/na sala de aula.

    Inserido na perspectiva da teoria da complexidade, este trabalho visa

    apresentar e discutir um planejamento semitico-ecolgico de ensino de

    lnguas cujas caractersticas so de um sistema adaptativo complexo

    (LARSEN-FREEMAN, 1997; LARSEN-FREEMAN & CAMERON, 2008),

    dentro de uma perspectiva ecolgica de ensino de lnguas (van LIER, 1997 e

    2000). Para tanto, este artigo est divido em quatro sees, a saber: tipos de

    planejamentos no ensino de lnguas, teoria da complexidade e viso

    sistmica, planejamento semitico-ecolgico de ensino de lnguas e

    consideraes finais. Na primeira seo, fao uma exposio de quatro tipos

    de planejamento historicamente fortalecidos e amplamente utilizados na rea

    de ensino de lnguas: gramatical, situacional, nocional e procedimental; bem

    como apresento as diferenas e similaridades entre os termos currculo e

    planejamento na rea. Na segunda seo, discuto a insero da teoria da

    complexidade e da viso sistmica nos estudos da linguagem e,

    consequentemente, no contexto da Lingustica Aplicada. Na terceira seo,

    apresento (sem esgotar a discusso) o planejamento semitico-ecolgico de

    ensino de lnguas propriamente dito, baseando-me fortemente na perspectiva

    1 Neste trabalho no fao distino entre lngua estrangeira e segunda lngua, bem como entre

    aprendizagem e aquisio.

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    ecolgica de van Lier (1997 e 2000). Por ltimo, nas consideraes finais,

    remoto algumas questes enfatizadas no artigo reiterando a necessidade de um

    olhar sistmico e de uma perspectiva ecolgica na produo e

    desenvolvimento do planejamento de ensino de lnguas.

    1. Tipos de planejamentos no ensino de lnguas

    No contexto de ensino de lnguas, planejamento um subconjunto do

    currculo2 e/ou programa de estudos. Conforme Nunan (1989), o currculo

    refere-se tanto a programas oferecidos por uma instituio educacional (mais

    amplo), como a programas especficos de estudos (mais restrito). No sentido

    mais restrito, segundo Finney (2010, p. 70), o currculo um sinnimo do

    termo planejamento, enquanto uma especificao do contedo e da ordenao do o que para ser ensinado assim podemos dizer currculo baseado na gramtica e/ou currculos comunicativos. J no sentido mais amplo, o currculo se refere a todos os aspectos do planejamento, implementao e avaliao de um programa educacional, ou seja, o porqu, o

    como, e o quo bem, juntamente com o que do processo de ensino e

    aprendizagem (FINNEY, 2010, p. 70). Dessa forma, o planejamento (geralmente preparado por um instrutor e/ou professor) est relacionado

    seleo e classificao de contedos que so parte constitutiva de um

    programa maior de estudos, um currculo.

    Nessa mesma linha de raciocnio, Dublin & Olshtain (2000, p. 34-35),

    definem currculo como um documento que contem uma ampla descrio de metas gerais provenientes de uma filosofia educacional-cultural geral, que

    aplica temas transversais em conjunto com uma orientao terica da

    linguagem e da aprendizagem de lngua3. Ainda, enfatizam que um

    currculo geralmente tambm um reflexo de tendncias nacional e poltica. Associado concepo filosfica, Finney (2010) baseando-se na obra de Skilbeck (1982) divide o currculo em trs grandes modelos que subentendem diferentes tradies educacionais: humanismo clssico

    (currculos baseados em contedos), reconstrucionismo (currculos baseados

    em objetivos) e progressivismo (currculos baseados em processos/

    procedimentos).

    J o planejamento, para Dublin & Olshtain (2000, p. 34), uma

    proposio operacional mais detalhada sobre elementos de ensino e de aprendizagem que traduz a filosofia do currculo em uma srie de passos

    2 Planejamento e currculo, respectivamente, syllabus e curriculum em ingls. 3 Esta e outras tradues neste artigo so de minha inteira responsabilidade.

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    planejados, apontando objetivos mais definidos em cada nvel. A Figura 1, abaixo, ilustra a relao entre o currculo e o(s) planejamento(s), adaptada dos

    autores citados.

    Agora, focando apenas nos planejamentos, Dublin & Olshtain (2000)

    discutem sobre quatro grandes tipos: estrutural-gramatical, situacional,

    semntico-nocional e funcional. Richards & Renandya (2010), por outro lado,

    apontam serem seis os modelos de planejamento no ensino de lnguas, quais

    sejam: gramatical, situacional, nocional-funcional, lexical, baseado em tarefas

    e procedimental. Antes, porm, em obras clssicas que lanaram o

    planejamento nocional, Wilkins (1979, 1976 e 1972) fez uma classificao de

    apenas trs tipos: gramatical, situacional e nocional. Depois, na dcada de

    1980, surge o planejamento procedimental (PRABHU, 1987; LONG &

    CROOKES, 1992) j citado acima por Richards & Renandya (2010).

    Figura 1. A relao currculo-planejamento (adaptada de Dublin & Olshtain,

    2000)

    Os planejamentos, segundo Wilkins (1976) e Long & Crookes (1992),

    podem ser classificados como do tipo sinttico ou do tipo analtico. O

    primeiro, do tipo sinttico, pelo seu foco no como a lngua ser ensinada,

    segmenta a lngua em seus itens lingusticos, apresentando um item de cada

    vez; ou seja, diferentes partes da lngua so ensinadas separadamente e passo a passo, assim a aquisio [entendida como] um processo de gradual

    acumulao das partes at a construo da estrutura total da lngua (WILKINS, 1976, p. 2). J o segundo, do tipo analtico, por ser

    CURRICULUM

    filosofia

    educacional-cultural

    SYLLABUS ANvel 1

    natureza da

    linguagem

    concepo

    terica da

    concepo

    aprendizagem

    de lngua

    natureza daterica da

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    intervencionista, se fundamenta nas operaes requeridas do aprendiz na

    aquisio da lngua; ou seja, organizado em funo dos propsitos pelos quais as pessoas esto aprendendo a lngua e dos tipos de desempenho que so

    necessrios para alcanarem esses propsitos (WILKINS, 1976, p. 13). Para as discusses neste artigo, considerarei quatro tipos de

    planejamento: gramatical, situacional, nocional e procedimental, focando

    principalmente nas obras de Wilkins (1976), Prabhu (1987) e Long & Crookes

    (1992). Ainda no que se refere aos planejamentos, h uma nomenclatura

    diversificada na rea que associa diferentes nomes para um mesmo tipo de

    planejamento, como se pode verificar a partir da reviso da literatura descrita

    a seguir:

    (1) planejamento gramatical (WILKINS, 1976, CANALE & SWAN, 1980; HAMER, 2001; RICHARDS & RENANDYA, 2010; FINNEY, 2010) ou

    planejamento estrutural/lexical/formal (SWAN, 1985; REILLY, 1988;

    HAMER, 2001; FINNEY, 2010) ou planejamento estrutural-gramatical

    (DUBLIN & OLSHTAIN, 2000) do tipo sinttico (WILKINS, 1976; LONG & CROOKES, 1992);

    (2) planejamento situacional (WILKINS, 1976; CANALE & SWAN, 1980; REILLY, 1988; DUBLIN & OLSHTAIN, 2000; HAMER, 2001;

    RICHARDS & RENANDYA, 2010) ou planejamento baseado em

    habilidades (REILLY, 1988) do tipo sinttico (WILKINS, 1976; LONG & CROOKES, 1992);

    (3) planejamento nocional-funcional (WILKINS, 1976; ROSS, 1981; HOWATT 1988; REILLY, 1988; RICHARDS & RENANDYA, 2010;

    FINNEY, 2010), planejamento semntico (SWAN, 1985) ou

    planejamento baseado em contedo (REILLY, 1988) ou planejamento

    semntico-nocional e/ou planejamento funcional (DUBLIN &

    OLSHTAIN, 2000; HAMER, 2001) do tipo analtico (WILKINS, 1976; LONG & CROOKES, 1992);

    (4) planejamento baseado em tarefas (REILLY 1988; LONG & CROOKES, 1992; RICHARDS & RENANDYA, 2010) ou planejamento

    procedimental (PRABHU, 1987; LONG & CROOKES, 1992;

    RICHARDS & RENANDYA, 2010; FINNEY, 2010) do tipo analtico (WILKINS, 1976; LONG & CROOKES, 1992).

    O planejamento gramatical ainda o mais usado no ensino de lngua.

    Nesse tipo de planejamento, de acordo com Wilkins (1962, p. 1), parte-se do

    princpio de que mais fcil para os estudantes aprenderem a lngua se eles

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    so expostos a uma parte do sistema gramatical de cada vez sendo esse um pensamento que ainda perdura no imaginrio dos professores de lnguas.

    Todavia, criticas so feitas a esse tipo de planejamento por falhar em

    proporcionar os subsdios necessrios para o desenvolvimento da competncia

    comunicativa, uma das condies bsica dos outros planejamentos citados

    aqui. Mtodos de ensino de lngua classificados de estruturais, ou seja, que

    focam apenas na lngua, como o da gramtica e traduo e o audiolingual, so

    os mais relacionados a esse tipo de planejamento.

    O planejamento situacional, segundo Wilkins (1976), deve prever as

    situaes de necessidades de uso e aplicao da lngua-alvo do e pelo aprendiz

    e ensin-la de forma que o aprendiz possa desenvolver-se lingustica e

    comunicativamente nessas situaes especficas. O ensino baseado em tipos

    particulares de situaes, no entanto, pode negligenciar as necessidades de

    alguns aprendizes em detrimentos de outros, se tivermos um grupo muito

    heterogneo, por exemplo; sendo imperativo, no uso desse tipo de

    planejamento, o trabalho com grupos de aprendizes com os mesmos tipos de

    objetivos para a aquisio de lngua como o caso do ensino de lnguas para fins especficos (HUTCHINSON & WATERS, 1987; RAMOS, 2005;

    BORGES, 2011 e 2009). Contextualmente, o planejamento situacional, aqui

    discutido, no deve ser confundido com o mtodo situacional ou com o que

    Richards & Rogers (2001) denominam de ensino situacional de lngua.

    Nesses dois ltimos contextos, o termo situacional se refere ao uso concreto de objetos, figuras, objetos educativos, que juntos com aes e gestos podem

    ser usados para demonstrar os significados dos novos itens da lngua"

    (RICHARDS & ROGERS, 2001, p. 43). Salimbene (1983, p. 3) esclarece,

    ainda, que o mtodo situacional "usa contextos significativos para apresentar

    estruturas gramaticais", fazendo parte de um planejamento gramatical e

    utilizando uma metodologia baseada no desenvolvimento de hbitos; j o

    "planejamento situacional considera a lngua num contexto social e baseado

    em predies da situao em que o aprendiz provvel de operar atravs da

    lngua estrangeira" contexto identificado atravs da anlise de necessidades. O planejamento nocional, por sua vez, objetiva o ensino da lngua

    para a comunicao para fins gerais, preocupando-se, assim, com o

    desenvolvimento da capacidade do aprendiz para se comunicar efetivamente

    em todos os contextos de interao da lngua que se deseja adquirir,

    independente da situao de uso. Esse tipo de planejamento, segundo Wilkins

    (1972, p. 1), deve considerar o contedo provvel de enunciao e a partir dele determinar quais as formas de linguagem seria mais valioso para o

    aluno. Nesse panorama, deve-se trabalhar com categorias nocionais que podem ser organizadas, ainda conforme o autor, em duas sees, a saber: 1)

    categorias semntico-gramatical: tempo, quantidade, espao, matria, caso e

    deixis; 2) categorias de funes comunicativas: modalidade, avaliao moral e

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    disciplina, persuaso, argumento, questionamento racional e exposio,

    emoes pessoais, relaes emocionais e relaes interpessoal. A chamada

    abordagem comunicativa de ensino de lngua (WIDDOWSON, 1972;

    ALMEIDA FILHO, 1998; BORGES, 2012, 2011 e 2009) a mais utilizada

    nesse tipo de planejamento.

    Finalmente, o planejamento procedimental, segundo Prabhu (1987, p.

    89-90), estruturado pela metodologia do professor (e no pelo contedo),

    sendo que essa metodologia deve ser baseada em tarefas (pr-tarefa, tarefa e

    ps-tarefa), visando focar na ateno dos aprendizes no raciocnio e no

    significado da lngua que se deseja aprender. Ainda de acordo com o autor,

    alguns planejamentos de ensino de lnguas so compreendidos como um

    "constructo operacional", ou seja, se preocupam com o "processo de ensino";

    outros, tidos como um "constructo iluminativo", se interessam apenas pelo

    "produto da aprendizagem". A diferena do planejamento procedimental em

    relao a outros, segundo o autor, que os planejamentos gramaticais, por

    exemplo, so notadamente um constructo operacional, e os planejamentos

    baseados em contedo (do tipo nocional/ funcional) so compreendidos como

    "um constructo iluminativo que tambm usado como um constructo

    operacional". O planejamento procedimental um "constructo operacional

    que deliberadamente diferente do constructo iluminativo". O termo

    iluminativo, nesse contexto, se refere "especificao do que para ser

    aprendido em termos de um modelo conceitual que objetiva proporcionar uma

    compreenso (da o termo iluminativo) da natureza da rea do assunto em

    questo". Pelo foco em tarefas, esse planejamento tambm denominada de

    baseado em tarefas4 e, de acordo com Long & Crookes (1992, p. 27), se

    distingue dos demais planejamentos

    pelo fato de que partes de sua base lgica deriva do que

    conhecido sobre a aprendizagem humana em geral e

    sobre a aprendizagem de segunda lngua em particular,

    em detrimento, como o caso nos planejamentos lexical,

    estrutural, nocional, funcional e relacional, do foco na

    anlise da lngua e da linguagem em uso (...) [ainda]

    rejeita elementos lingusticos (como palavras, estruturas,

    noes ou funes) como unidade de anlise, optando, ao

    contrrio, por alguns conceitos de tarefa.

    A abordagem comunicacional de ensino de lngua (PRABHU, 1987;

    BORGES 2012 e 2009) ou tambm conhecida como abordagem baseada em

    tarefas a mais recomendada na utilizao de um planejamento

    4 Cujo conceito, longe de ser do censo comum como simples atividade, que se aprenda a

    lngua por meio de tarefas (LITTLEWOOD, 2007).

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    procedimental.

    Historicamente, no panorama de ensino de lnguas, o planejamento

    gramatical faz parte do movimento gramatical, que antecede o movimento

    comunicativo; j os planejamentos situacional, nocional e procedimental

    fazem parte do movimento comunicativo (BORGES, 2009)5, tanto que Finney

    (2010) classifica esses trs ltimos como planejamentos comunicativos. Finney (2010) relaciona, ainda, o planejamento gramatical tradio

    filosfica educacional do humanismo clssico, o planejamento nocional-

    funcional ao reconstrucionismo e o planejamento procedimental ao

    progressismo6. O interessante da discusso sobre os planejamentos e

    currculos em Finney a apresentao de um quarto modelo de currculo que

    a autora denomina de mixed-focus curriculum, baseado em uma quarta tradio filosfica educacional chamada de novo pragmatismo que seria uma mistura das trs citadas anteriormente; o que mostra uma tendncia

    contempornea de no se privilegiar apenas um tipo de planejamento em

    detrimento dos demais, pois nenhum planejamento sozinho daria conta da

    complexidade do ensino e da aprendizagem de lnguas.

    2. Teoria da complexidade e a viso sistmica

    A teoria da complexidade (TC) est cada vez mais presente no

    desenvolvimento de pesquisas no campo de estudos da linguagem, desde

    estudos pioneiros na rea como os de Larsen-Freeman (1997), Larsen-

    Freeman & Cameron (2008) e Ellis & Larsen-Freman (2009). As duas ltimas

    obras, por exemplo, destacam uma coletnea de trabalhos de diferentes

    autores em distintos aspectos de pesquisa sobre a linguagem no contexto da

    complexidade. No Brasil no tem sido diferente, obras como as de Paiva &

    Nascimento (2009) e o volume 13 temtico sobre a complexidade da Revista

    Brasileira de Lingustica Aplicada (RBLA), no ano de 2013, igualmente

    mostram o aumento e o potencial de discusses nesse panorama.

    A contribuio dessa rea de investigao (que se origina na fsica

    moderna, na biologia e na qumica, essencialmente) trouxe para o contexto da

    Lingustica Aplicada (e de outras cincias sociais), conceitos importantes

    como a noo contempornea de linguagem como sistema adaptativo

    5 Veja a tese de Borges (2009) para uma viso da diviso dos movimentos no ensino de lngua. 6 Finney (2010) no cita o planejamento situacional, mas fica implcito, em minha

    interpretao, que esse tipo de planejamento se considerarmos que corresponde ao ensino especfico de lngua e, portanto, centrado no aprendiz (cf. Borges 2009) fica entre o reconstrucionismo e o progressismo.

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    complexo (SAC) entre outros que sero discutidos neste trabalho. Todavia, como sempre enfatiza Diane Larsen-Freman, deve-se ter muito cuidado ao

    deslocar conceitos de uma cincia para outra, motivo pelo qual se refora uma

    transposio em sentido metafrico. Compartilhando dessa preocupao,

    pode-se recorrer, ainda, aos jogos de linguagem em Wittgenstein (1991[1953])

    que imprimem significado natureza das sentenas lingusticas e aos

    conceitos utilizados em diferentes campos do conhecimento, tornando a

    linguagem dinmica, autnoma aos fatos e dependente da significao do uso

    em um determinado contexto.

    A TC, que, na verdade, um complexo de teorias, surge da anlise e

    estudo (inter/ transdisciplinar) de sistemas complexos (aqueles que possuem

    mais de trs elementos que os constituem numa inter-relao no linearmente

    determinada), cujo olhar do pesquisador no pode estar limitado pela

    simplificao e linearidade na emergncia dos fenmenos cientficos. Tal

    teoria fundamenta-se, constituindo-se propriamente, no emaranhado da

    conexo em rede entre as diferentes teorias que compem o conhecimento

    humano dos processos de desenvolvimento ontogentico (evoluo do

    indivduo), filogentico (evoluo da espcie) e da emergncia e composio

    dos fenmenos fsicos. A teoria geral dos sistemas (do bilogo Ludwing Von

    Bertalanffy), uma das teorias inseridas na teoria da complexidade, enfatiza, j

    em meados da dcada de 1920, a necessidade do ponto de vista sistmico

    numa variedade de campos cientficos e tecnolgicos. Dessa forma, o conceito de sistema pode ser definido e desenvolvido de diferentes formas

    como requerido pelos objetivos da pesquisa, e como refletindo diferentes

    aspectos da noo central (Bertalanffy, 2009[1968], p. 11). Com essa acepo de sistema, Bertalanffy coloca que possvel a insero no campo de

    duas maneiras: 1) aceitar qualquer modelo/ definio e, a partir dele/a,

    desenvolver sistematicamente a teoria que governa o/a modelo/ definio

    escolhido/a; 2) focar em problemas como eles comearam a surgir nas vrias cincias, mostrar a necessidade do ponto de vista sistmico e desenvolv-lo

    em mais ou menos detalhes numa seleo de exemplos ilustrativos (p. 12). Sendo essa segunda (que no exige um desenvolvimento rigoroso da teoria),

    em minha percepo, a forma como a Lingustica Aplicada fez a sua insero

    no campo dos sistemas complexos; optando, ainda, na minha viso, pela

    inteno da discusso sob a perspectiva da filosofia dos sistemas7, ou seja, de

    uma reorientao do pensamento e da concepo de mundo decorrente da introduo do sistema como novo paradigma cientfico (em contraste com o

    paradigma analtico, mecanicista, causal numa s direo da cincia clssica)

    7 Outras formas de insero na viso sistmica, segundo Bertalanffy (2009[1968]: 13-14), so

    sob a perspectiva da cincia dos sistemas (pesquisa cientfica como doutrina dos princpios

    aplicveis) e da tecnologia dos sistemas (problemas emergentes da tecnologia).

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    (p. 15).

    3. Planejamento semitico-ecolgico de ensino de lnguas

    A proposio de um tipo de planejamento que v alm (englobando

    partes) dos j classicamente conhecidos gramatical, situacional, nocional-funcional e procedimental (tratados acima) e tanto outros no uma discusso nova e tentativas nessa direo vem sendo feitas h algum tempo e

    este artigo, tambm, objetiva promover uma dessas tentativas.

    Allen (1984), por exemplo, props um planejamento de foco varivel,

    cujos componentes constituem-se de estruturas e funes da linguagem, bem

    como de questes que emergem nas situaes de aplicao desse

    planejamento, como as experincias, desejos e motivaes dos aprendizes no

    processo de ensino-aprendizagem. Yalden (1987), da mesma forma, sugeriu

    um planejamento proporcional com uma organizao semntico-gramatical que prev, no ensino de lngua, um equilbrio entre as estruturas gramaticais, as funes comunicativas da linguagem e os interesses e

    necessidades dos alunos. Finney (2010), compartilhando do esquema traado

    nos trabalhos de Allen (1984) e Yalden (1987), enfatiza a importncia de

    fundamentar, de forma harmnica, a produo de um planejamento nas trs

    grandes tradies filosficas educacionais (humanismo clssico,

    reconstrucionismo e progressismo), ou seja, focar em um planejamento

    realstico (mixed-focus curriculum) que visa integrar contedos, objetivos e

    processos/ procedimentos; j que, segunda a autora, a realidade provvel que seja uma mistura dos trs (p. 77). Larsen-Freeman & Cameron (2008), por outro lado j no contexto da teoria da complexidade , entendem um currculo nacional de ensino de lngua (nos locais que ele existir

    8) como um sistema adaptativo complexo

    (SAC), bem como so tambm SACs todos os elementos desse currculo que

    irradiam para dentro e para fora das aes de sala de aula (p. 200). As autoras enfatizam que, no panorama da teoria da complexidade,

    (...) um planejamento analtico como o planejamento

    baseado em processos/ procedimentos [procedimental],

    em que a nfase colocada em ajudar os alunos no

    desenvolvimento de suas capacidades para a

    comunicao, ao invs da acumulao de itens, seria

    8 No Brasil temos, por exemplo, os Parmetros Curriculares Nacionais PCN (1998); e, no estado do Paran, temos as Diretrizes Curriculares do Ensino Bsico DCE (2008).

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    prefervel. O papel do professor enquanto um gerenciador

    da aprendizagem para impulsionar o sistema de

    desenvolvimento dos alunos em uma trajetria atravs do

    espao de fase que consonante com os objetivos dos

    alunos e da instruo. Isso no uma proposio de um

    tempo s, claro, mas acontece momento a momento. No

    tambm como se o professor colocasse todos os alunos

    movendo-se na mesma direo (...). Ao contrrio dos

    degraus em uma escada, os fios de uma rede9 no so

    fixos em uma determinada ordem, mas o conjunto do

    produto da atividade criativa de seu construtor e do

    contexto favorvel em que ela construda. Isso sugere

    que qualquer planejamento nico, emergente da

    interao e decises de professores e alunos. (p. 202;

    negrito meu).

    Citado na passagem acima, o espao de fase definido no campo de

    estudos da fsica moderna, segundo Gleick (1991, p. 135 e 137, itlico do

    autor; negrito meu), como segue:

    O atrator estranho vive no espao de fase, uma das

    invenes mais poderosas da cincia moderna. O espao

    de fase proporciona uma maneira de transformar nmeros

    em imagens, extraindo todas as informaes essenciais de

    um sistema de parte mveis, mecnicas ou fludas, e

    traando um flexvel mapa rodovirio de todas as suas

    possibilidades. Os fsicos j trabalhavam com dois tipos

    de atratores mais simples: pontos fixos e ciclos limites,

    representando o comportamento que chegava a um

    regime estacionrio ou se repetia continuamente. No

    espao de fase, o conhecimento total sobre um sistema

    dinmico num instante nico do tempo resume-se a um

    ponto: Esse ponto o sistema dinmico naquele instante. No instante seguinte, porm, o sistema se ter

    modificado, mesmo que seja levemente, e assim o ponto

    se move. [...] A curto prazo, qualquer ponto num espao

    de fase pode representar um comportamento possvel do

    sistema dinmico. A longo prazo, os nicos

    comportamentos possveis so os prprios atratores.

    9 De acordo com Fischer & Bidell (apud LARSEN-FREMAN & CAMERON, 2008, p. 159), a metfora da rede til para modelos dinmicos porque sustenta um pensamento sobre uma

    construo ativa de habilidade em uma variedade de contextos, bem como de tipos de

    variabilidade.

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    Outros tipos de movimento so transitrios.

    Na situao do currculo descrita por Larsen-Freman & Cameron

    (2008), o espao de fase seria o ambiente educacional imediato em sala de

    aula e o mapa rodovirio, mencionado na passagem acima de Gleick (1991),

    seria o planejamento semitico-ecolgico proposto neste artigo que emerge e

    se auto-organiza na interao professor-alunos j que, compactuando com a viso das autoras, qualquer planejamento nico, emergente da interao e decises de professores e alunos (p. 202). O atrator estranho no espao de fase, aqui discutido, a lngua que se quer ensinar e adquirir/ desenvolver,

    sendo que o professor e cada aluno na sala de aula um ponto (sistema

    dinmico) neste espao de fase, da a instabilidade e no-linearidade do

    sistema que se move e se modifica o tempo todo.

    Dessa forma, nesse panorama descrito por Larsen-Freman &

    Cameron (2008) e Gleick (1991) que, nesse artigo, proponho apresentar e

    detalhar, sem pretenses de esgotar a discusso, um planejamento semitico-

    ecolgico de ensino de lnguas baseado em van Lier (1997 e 2000) e sendo claramente um subconjunto do CAA Currculo proposto pelo autor. Tal

    planejamento j brevemente citado em outro trabalho (BORGES & PAIVA, 2011) como um dos componentes da abordagem complexa de ensino de

    lnguas emerge das interaes (professor-alunos), em contexto de ao, em sala de aula, e das possibilidades percebidas para o desenvolvimento da lngua

    a ser ensinada e adquirida. Dessa forma, o planejamento em questo

    concebido, igualmente, como um sistema adaptativo complexo (SAC), cujas

    caractersticas so: dinamicidade, no-linearidade, auto-organizvel,

    emergncia, vivo e aberto aos estmulos de seu ambiente imediato e

    interao com outros sistemas complexos (professor, aluno, sala de aula, livro

    didtico, currculo e/ou documentos oficiais, escola, etc.) com o qual tem

    contato, da tambm ser coadaptvel. claro que o professor precisa ter um

    ponto de partida condies iniciais pr-estipuladas para comear a movimentao do SAC planejamento em sala de aula verificando previamente as necessidades de seus alunos, bem como o contedo e objetivos

    que precisa cobrir/ atingir (pensando, aqui, no currculo no qual parte

    constitutiva). Feito isso, sero, no entanto, os procedimentos escolhidos a cada

    aula (com a emergncia de novas e diferentes condies iniciais das previstas

    inicialmente), que daro vida, dinamicidade e faro evoluir o planejamento

    dentro de um sistema de rede, no linear, coadaptvel (professor-alunos) que

    tende a seguir a natureza auto-organizacional e dinmica dos sistemas

    adaptativos complexos.

    O planejamento aqui proposto semitico, pois est embasado em

    uma concepo de lingua(gem) como sistema semitico complexo, tendo

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    vrios nveis ou estratos (HALLIDAY, 2004, p. 24), bem como compreende processos bio-cognitivos, scio-histricos e polticos-culturais (PAIVA, 2005, p. 1), indo alm do domnio individual, passando pelos domnios social,

    fsico, fisiolgico e psquico (SAUSSURE, 1995[1916]). Dentro dessa

    perspectiva, a linguagem , igualmente, concebida como um SAC

    (BECKNER et al, 2009, p. 2), ou seja,

    O sistema consiste em mltiplos agentes (os falantes e a

    comunidade de fala) interagindo entre si. O sistema

    adaptvel, ou seja, o comportamento dos falantes

    baseado em suas interaes passadas, e, juntas, interaes

    passadas e correntes, alimentam o comportamento futuro.

    Um comportamento do falante a consequncia de

    fatores concorrentes que vo desde restries perceptivas

    at motivaes sociais. A estrutura da lngua emerge de

    padres interconectados de experincia, interao social e

    mecanismos cognitivos.

    Por outro lado, o planejamento ecolgico10

    pois segue a concepo

    de sistema ecolgico (perceptivo, emergente e baseado em ao) discutido em

    van Lier (2000, p. 245). Para o autor, no contexto da educao lingustica,

    uma abordagem ecolgica pode unir um nmero de vises bem estabelecidas sobre a aprendizagem da linguagem, especialmente quando est ancorada em

    uma viso de mundo ecolgica; sendo que as teorias de Vygotsky e Bakhtin, e de seus contemporneos (Peirce, Mead e Dewey), no que concerne a

    aprendizagem, a cognio, e a linguagem, ainda segundo o autor, compem a

    base dessa abordagem ecolgica. Ao englobar um nmero de teorias, a

    abordagem ecolgica de van Lier, tambm nos permite pensar a incluso de

    perspectivas historicamente incompatveis como, por exemplo, o nativismo, o

    behaviorismo e o interacionismo (presentes, separadamente, nos vrios tipos

    de planejamentos discutidos neste artigo) e, ao fazer isso, o que muda a

    forma como olhamos para o fenmeno cientfico, como j prope o autor:

    saindo do reducionismo e do antropocentrismo e adotando a noo de

    emergncia e ecocentrismo (em que os humanos so parte da grande ordem

    natural). van Lier (2000, p. 251) destaca ainda que desde a dcada de 1950

    estudiosos da linguagem j vem relacionando a ecologia linguagem, no que

    o autor classifica de lingustica ecolgica: estudo da linguagem enquanto relaes (pensamento, ao e poder) e no enquanto objetivos (palavras,

    10

    O termo ecologia, em van Lier (2000, p. 251), refere-se a totalidade de interconexo de um organismo com todos os outros organismos com que ele entra em contato.

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    sentenas e regras) [...] tambm relaciona expresses verbais a outros aspectos

    de produo de sentido, como gestos, desenhos, artefatos, etc. Em sentido mais amplo sendo o que mais interessa neste trabalho , Wendel (2005, p. 51) coloca que uma abordagem ecolgica da linguagem [metaforicamente falando] considerada a complexa rede de relaes que existe entre o ambiente,

    as lnguas e seus falantes. Dessa forma, os termos semitico e ecolgico, empregados aqui, vo

    ao encontro de uma viso ecolgica da linguagem dentro de uma perspectiva

    semitica complexa que coloca o ser humano scio-histrico e culturamente

    engajado em um sistema de percepo, (re)significao, (re)interpretao e

    (re)criao dos signos lingusticos e que, segundo van Lier (2000),

    essencialmente relacional e no material.

    E esse SAC linguagem que faz emergir o que Bakhtin (1981, p. 270)

    enfatizou como mundo verbal-ideolgico que, por sua vez, unificado e centralizado no embate de foras centrpeta e centrfuga da linguagem; ou

    seja, como se cada sistema individual da linguagem (tambm um SAC),

    cada lngua unitria, no grande grupo social (em que se faz existir, estando,

    destarte, scio-histrico e culturamente aninhada com outras), formasse um

    grande crculo concntrico: a heteroglossia11

    . Nesse contexto, a fora centrpeta aquela que puxa [a linguagem] para dentro, em direo

    homogeneidade, unificao, hbito, prescrio, etc. [sistema de linguagem no

    grande grupo social]; enquanto que a forma centrfuga aquela que puxa [a

    linguagem] para fora, em direo diversidade, criatividade, variedade, etc.

    [sistema de linguagem individual] (van LIER, 2000, p. 259). Na fsica clssica, explicando de forma bem simplificada, a fora

    centrpeta definida como aquela que age sobre um objeto em movimento em

    torno de um ponto central, movendo e mantendo esse objeto em uma

    velocidade constante ao longo de um caminho circular; j a fora centrfuga

    classificada como aquela que lana para fora do centro de uma curvatura um

    objeto que segue um caminho circular, todavia, esse objeto s lanado para

    fora do crculo na falta de fora centrpeta, o que o retira do sistema do qual

    fazia parte.

    A ideia de Bakhtin de ligar essas foras ao princpio de energizao

    da vida lingustica mostra, metaforicamente, que a linguagem unitria,

    individual, luta (fora centrfuga) para superar a heteroglossia que, por sua

    vez, age (fora centrpeta) como centralizadora do pensamento verbal-

    ideolgico, como um ncleo lingustico estvel sendo assim que o fenmeno complexo da linguagem se manifesta cientificamente dentro da perspectiva

    bakhtiniana, da teoria da complexidade (no contexto dos estudos da

    11

    A heteroglossia definida como um conjunto mltiplo e heterogneo de vozes ou lngua sociais, isto , um conjunto de formaes verbo-axiolgicas (FARACO, 2011).

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    linguagem) e do qual compartilho neste trabalho. Com isso, um planejamento

    de ensino de lngua que compactue com esse princpio deve considerar a

    luta dessas duas foras como um processo natural (dado pelo sistema do qual faz parte) que faz emergir a linguagem e que, consequentemente, faz

    emergir tambm a aquisio de uma lngua materna e/ou estrangeira.

    Dessa forma, como j discutido acima, o planejamento tambm um

    sistema adaptativo complexo cuja dinamicidade e evoluo emerge da

    dialogicidade da lingua(gem) entre os pares envolvidos em contexto de ensino

    e aquisio/ desenvolvimento, sendo sustentado como ocorre com a linguagem pelo embate das duas foras (centrpeta e centrfuga) que movimentam simultaneamente dois eixos do planejamento: forma-

    significado-uso e conscincia-autonomia-autenticidade; sendo o primeiro eixo

    o da normatividade lingustica (ordem) e o segundo o da criatividade

    lingustica (movimento). Conforme a Figura 2.

    Figura 2 O SAC planejamento semitico-ecolgico de ensino de lnguas

    Todavia, como j salientado, esse modelo de planejamento foi

    inspirado nos trabalhos de van Lier (1996 e 2000) que cunhou o termo

    arcabouo semitico-ecolgico [para fundamentar sua abordagem ecolgica], se baseando nos trabalhos de Bakhtin, Bronfenbrenner, Gibson,

    Peirce, entre outros (van LIER, 2000, p. 257); e focou em trs princpios

    fora

    centrfuga

    eixoconscincia-autonomia-autenticidade

    eixo forma-significado-uso

    fora

    centrpeta

    normatividade lingustica(ordem)

    dinamicidade / dialogicidade nodesenvolvimento da lngua(gem)

    HETEROGLOSSIA

    criatividade lingustica(movimento)

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    fundadores do currculo na educao lingustica, a saber: conscincia,

    autonomia e autenticidade o CAA currculo (van LIER, 1996). Sendo que esses princpios esto relacionados a algumas argumentaes epistemolgicas

    e axiolgicas, como dispe o autor no Quadro 1.

    A conscincia da linguagem est relacionada noo de affordance

    que, no contexto aqui discutido, o que oferecido pelo ambiente lingustico

    e percebido pelo aluno, favorecendo a aprendizagem e/ou a aquisio/

    desenvolvimento da linguagem; sendo que o ambiente educacional, na figura

    do professor e de todas as instncias da escola, tambm precisa estar em

    constante estado de conscincia das estratgias de aprendizagem que emergem

    no processo de ensino. Considerando, para tanto, que para aprender algo novo deve-se not-lo primeiro e o fato de se notar algo ter conscincia de sua existncia, obtida e aumentada pelo foco de ateno (...) centralizando o

    poder de percepo na direo correta e provendo energia mental para o

    processamento das informaes (van LIER, 1997, p. 11).

    Quadro 1 Princpios do CAA Currculo em van Lier (1997: 11)

    Segundo van Lier (1997) dois expedientes so centrais para a

    autonomia: escolha e responsabilidade; j que so dois traos que guiam o

    sujeito para o foco de ateno necessrio para a conscincia da linguagem e

    dos recursos e estratgias que esto envolvidos no processo de ensino e de

    aprendizagem. Dessa forma, a autor salienta que o ensino no causa ou fora a aprendizagem, na melhor das hipteses pode encoraj-la e gui-la (p. 12), sendo o aprendiz autnomo responsvel pela aprendizagem tanto quanto pela falta dela, contanto que oportunidades adequadas estejam disponveis no

    cenrio (p.13) da tambm a necessidade das escolhas corretas e da responsabilidade tambm do ambiente educacional em que o aprendiz

    autnomo encontra-se inserido.

    Epistemologia Axiologia

    Conscincia foco de ateno papel da percepo

    saber o que se est fazendo e porque engajamento consciente reflexo

    Autonomia

    autoregulao motivao profundidade de processamento

    responsabilidade livre escolha educao democrtica

    Autenticidade

    uso da linguagem na vida relevncia comunicao

    compromisso com a aprendizagem integridade respeito

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    Geralmente, no contexto de ensino de lnguas, a autenticidade est

    relacionada aos materiais (textos) usados como unidade de ensino de lnguas;

    ou seja, textos autnticos so aqueles que no so especialmente escritos ou preparados para o aprendiz de lngua, mas retirado do mundo em geral (van LIER, 1997, p. 13). No entanto, a autenticidade como um dos princpios do

    CAA Currculo de van Lier (1997) vai alm, e identificada como uma ao

    realizada por escolha livre aqui se aproxima muito da concepo de autonomia e conscincia e pode, tambm, ser entendida como um produto

    dessas duas concepes e uma expresso do que uma pessoa genuinamente sente e acredita (p. 13). Nesse sentindo, a autenticidade uma ao intrinsecamente motivada, sendo o seu oposto (ao inautntica) aquela

    que se faz porque todo mundo est fazendo ou por motivaes externas (van

    Lier, 1997).

    No panorama apresentado, a perspectiva ecolgica de van LIER (2000

    e 1997) busca evitar uma interpretao estreita da linguagem como palavras que so transmitidas pelo ar, papel, ou por fios de um emissor para um

    receptor e da aprendizagem como algo que acontece exclusivamente dentro da cabea de uma pessoa; com isso destaca que educadores ecolgicos veem a linguagem e a aprendizagem como uma interelao entre aprendizes e

    entre aprendizes e o ambiente, tendo esse tipo de abordagem uma forte nfase na contextualizao da linguagem em outros sistemas semiticos e no

    mundo contextual como um todo (van LIER, 2000, p. 258-9). Com isso, o CAA Currculo tem o foco no conhecimento, bem como nos valores humanos,

    sendo essencialmente baseado nas experincias de sala de aula e pode

    subsidiar uma variedade de planejamentos de ensino de lnguas (materna ou

    estrangeira); cujo propsito guiar (e no ditar, como acontece em outros

    currculos) o processo emergente de ensino e de aprendizagem nos moldes propostos pelo planejamento semitico-ecolgico (Figura 2) aqui apresentado.

    Tradicionalmente, conforme van Lier (1996), o ensino de lngua tido

    como uma atividade de resoluo de problemas, um tipo de pesquisa operacional que encontra solues para os seus prprios problemas locais (WIDDOWON, 1990 apud van LIER, 1996, p. 7). No entanto, essa soluo

    de problemas, implcita ou explicitamente, pode ser controlada pela limitao

    e pelos meios/ recursos impostos pela prpria natureza do currculo no qual

    um planejamento de ensino subconjunto. Um currculo de base processual/

    procedimental, que consiste em explorar, articular, verificar e desenvolver os limites e meios/ recursos no ambiente educacional (pag. 8) vai alm da tentativa de solucionar problemas. A nfase em solucionar problemas acaba

    encontrando respaldo to somente na ordem que foca a normatividade lingustica (eixo forma-significado-uso). Ir alm focar na problematizao

    (Paulo Freire) e reflexo crtica da situao que se apresenta, e isso conduz a

    situao de ensino a um movimento que privilegia a criatividade lingustica

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    (autonomia-autenticidade-conscincia). Assim, ainda de acordo com o autor, o

    CAA Currculo foi projetado para ser uma fora libertadora, encorajando cada professor a criar sua prpria teoria sobre a prtica (p. 9) o que se assemelha a concepo de senso de plausibilidade ou pedagogia intuitiva em

    Prabhu (1987); e ao que Borges (2010) discute sobre a noo do termo

    metodologia no contexto de ensino de lngua (em contraposio concepo

    de abordagem). O CAA Currculo visa, ento, prover uma abertura para que

    as escolhas de professores e alunos (nos contextos imediatos de interao)

    sejam consideradas como contribuindo para a proposio de estratgias e

    formulao explcita de princpios educacionais colocando-os e testando-os na

    prtica o que eleva esse currculo, em minha concepo, a um sistema adaptativo complexo, fortalecendo a escolha de um planejamento semitico-

    ecolgico, nos moldes proposto aqui.

    Consideraes finais

    No panorama da teoria da complexidade e, consequentemente, da

    viso sistmica, o contexto de ensino de lnguas toma novas dimenses em

    suas reflexes. Indo ao encontro dessa demanda, este artigo visou ampliar

    essa reflexo (sem esgot-la) em termos da proposio de um planejamento

    semitico-ecolgico de ensino de lnguas. Tal planejamento um subconjunto

    do CAA Currculo de van Lier (1997); ainda, um dos componentes

    constitutivo da denominada abordagem complexa de ensino de lnguas

    (BORGES & PAIVA, 2011) que, por sua vez, s emerge das interaes em

    sala de aula, e cuja natureza de orientao pedaggica e no prescritiva.

    Como foi discutido neste artigo, planejamentos amplamente

    constitudos e comumente utilizados no contexto de ensino de lnguas so os

    gramatical, situacional, nocional-funcional e procedimental, tento como

    subsdios metodolgicos as seguintes abordagem de ensino de lnguas,

    respectivamente: gramatical (audiolingual), instrumental (para fins

    especficos), comunicativa (para fins gerais) e comunicacional (baseada em

    tarefas).

    No caso do planejamento aqui proposto, a abordagem de ensino de

    lngua utilizada deve ser, necessariamente, a abordagem complexa (BORGES

    & PAIVA, 2011). Essa abordagem tem como componentes, alm do

    planejamento proposto aqui: a linguagem e aquisio de lnguas como

    sistemas adaptativos complexos; a natureza do ensino e da aprendizagem

    como multifacetada e orientada pela dimenso dinmica reconstrutiva;

    concebe o professor como um dos elementos que d dinamicidade ao sistema

    de ensino e aprendizagem; foca no desempenho (e no mais nas

  • Revista Contexturas, n. 23, p. 39 - 61, 2014. ISSN: 0104-7485

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    competncias, como acontece nas outras abordagens de ensino de lngua);

    entende as prticas sociais da linguagem como elementos essenciais no

    processo de aquisio; toma a identidade como fractalizada (mltiplas

    identidades do sujeito); considera que a interao professor-aluno constri e

    restringe as affordances e que cada sujeito dessa interao caracteriza-se pela

    organizao autopoitica.

    Dentro da dimenso da abordagem complexa, o planejamento

    semitico-ecolgico (tendo em vista o contexto imediato de ao em que est

    inserido) visa dar conta de diferentes aspectos emergentes na aquisio de

    lnguas focados nas outras abordagens (ora em uma ora em outra), como:

    processos inatos e bio-cognitivos, criao de hbitos automticos, aculturao,

    interao, input e output compreensvel e questes identitrias e scio-

    histrico-culturais, entre outros aspectos presentes nas diferentes hipteses

    e/ou teorias de aquisio de lnguas. O que enfatiza a natureza ecolgica e

    semitica desse planejamento.

    Ainda, o planejamento proposto aqui subconjunto do CAA

    Currculo sugerido por van Lier (1997), cuja fundamentao est vinculada

    aos significados epistemolgicos e axiolgicos dos termos conscincia,

    autonomia e autenticidade (tanto do ponto de vista do aprendiz quanto do

    professor). No planejamento semitico-ecolgico a compreenso desses

    termos configura-se no eixo da criatividade lingustica (fora centrfuga) que movimenta o sistema, tirando-o da normatividade. Em contraposio,

    tem-se o eixo da normatividade lingustica, forma-significado-uso, (fora

    centrpeta) que tenta imprimir ordem ao sistema, trazendo-a a normatividade. Sendo no embate dessas duas foras que surge o que Bakhtin

    classificou de energizao da vida lingustica e que, consequentemente,

    emerge a aquisio de uma lngua foco central de qualquer planejamento de ensino de lnguas.

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