Plano de Manejo PNSC

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Parque Nacional da Serra da CanastraMMA/IBAMA

PlanoExecutivo Manejo de Resumo

PRESIDNCIA DA REPBLICA Luiz Incio Lula da Silva MINISTRIO DO MEIO AMBIENTE Marina Silva Ministra INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVVEIS Marcus Luiz Barroso Barros Presidente DIRETORIA DE ECOSSISTEMAS Ceclia Foloni Ferraz Diretora COORDENAO GERAL DE ECOSSISTEMAS Pedro Eymard Camelo Melo Coordenador Geral COORDENAO DE CONSERVAO DE ECOSSISTEMAS Dione Anglica de Arajo Corte Coordenadora GERNCIA EXECUTIVA DO IBAMA NO ESTADO DE MINAS GERAIS Roberto Messias Franco Gerente Executivo CHEFE DO PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CANASTRA Vicente de Paula Leite Chefe da Unidade de Conservao

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INSTITUTO TERRA BRASILIS DE DESENVOLVIMENTO SCIO-AMBIENTAL Snia Rigueira - Presidente_________________________________________________________________________________

EQUIPE TCNICA Coordenao Geral Augusta Rosa Gonalves IBAMA/DIREC Gerncia Geral Snia Rigueira Instituto Terra Brasilis Coordenao Tcnica Fbio de Jesus Equipe de Planejamento Augusta Rosa Gonalves IBAMA/DIREC Fbio de Jesus Instituto Terra Brasilis Joaquim Maia Neto - IBAMA/Parque Nacional da Serra da Canastra Luiz Artur Castanheira IBAMA/GEREX-MG Marisete Catapan IBAMA/PROECOS Paola Vieira Ribeiro Villas Boas - IBAMA/Parque Nacional da Serra da Canastra Rosilene Aparecida Ferreira - IBAMA/Parque Nacional da Serra da Canastra Snia Rigueira Instituto Terra Brasilis Valquria Gonalves IBAMA/PROECOS Wagner de Lima Moreira - IBAMA/Parque Nacional da Serra da Canastra Avaliao Ecolgica Rpida Roberto Antonelli Filho (Coordenador) Dante R. C. Buzzetti (Avifauna) Fbio Vieira (Ictiofauna) Leonardo Vianna da Costa e Silva (Vegetao Florestal) Lcio Cadaval Bed (Qualidade de gua e Macroinvertebrados Bentnicos) Renato Neves Feio (Herpetofauna) Rogrio Cunha de Paula (Mastofauna) Rosana Romero (Vegetao Campestre e Savnica) Uso de hbitat e histria natural do pato-mergulho (Mergus octosetaceus) Ivana Reis Lamas Geomorfologia e Solos Lus Beethoven Pil Caracterizao dos Sistemas Aqferos Superficiais e Subterrneos Paulo Fernando Pereira Pessoa Impactos Ambientais das reas de Minerao de Quartzito Cornlio Zampier Teixeira Programa de Preveno e Combate a Incndios Nilton Cesar Fiedler (Coordenador) Marcelo Brilhante de Medeiros

Avaliao Socioeconmica Ricardo Mrcio Martins Alves (Coordenador) Silvana Gladys Faria Soares Vanda Porto Tanajura Levantamento Histrico-Cultural Maria do Carmo Andrade Gomes Programa de Uso Pblico Denise Bocorny Messias (Coordenadora) Luis Antnio Lopes Pereira Muna Ahmad Yousef Andria Maria Roque Sskia Freire Cartografia Edmar Moretti IBAMA/DIREC Vitria Evangelista Monteiro IBAMA/DIREC Moderao das Oficinas de Planejamento Maria Alice Sales Moura Roberto Resende Apoio Logstico Patrcia Lopes Carneiro Tatiana Maschtakow Baresani Paes Formatao AD Estdio de Criao Ltda Agradecimentos CEMIG, Delmo Holier Alves, Haroldo Perin Coelho, Jlio Csar Duarte, Rosana Cupertino, Funcionrios do Parque Nacional da Serra da Canastra, Maria Renilda Soares Dupin, Participantes da Oficina de Planejamento, Prefeituras dos municpios de Capitlio, Delfinpolis, Sacramento, So Joo Batista do Glria, So Roque de Minas e Vargem Bonita. __________________________________________________________________________Este trabalho foi realizado com recursos da Compensao Ambiental do empreendimento UHE Igarapava, atendendo as condicionantes da Licena de Operao 25/98

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Empreendedor: Consrcio da Usina Hidreltrica de Igarapava (CEMIG CVRD Minerao AngloGold CSN CMM)

2005

SUMRIO APRESENTAO ................................................................................................ 1 CONTEXTO DA ELABORAO DO PLANO DE MANEJO ............................... 1 1 INTRODUO ................................................................................................... 3 2 ENFOQUE FEDERAL........................................................................................ 5 3 ENFOQUE ESTADUAL ..................................................................................... 6 4 ENFOQUE REGIONAL...................................................................................... 7 4.1 Caracterizao Ambiental.............................................................................................8 4.2 Aspectos Culturais e Histricos................................................................................12 4.3 Uso e Ocupao da Terra e Problemas Ambientais Decorrentes.....................13 4.4 Principais Tendncias Econmicas da Regio .....................................................16 4.5 Caractersticas da Populao....................................................................................16 4.6 Viso das Comunidades Sobre a Unidade de Conservao .............................18 4.7 Alternativas de Desenvolvimento Econmico Sustentvel................................18 5 PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CANASTRA ....................................... 19 5.1. Acesso Unidade........................................................................................................19 5.2 Origem do Nome e Histrico da Unidade................................................................19 5.3 Caracterizao dos Fatores Abiticos e Biticos .................................................24 5.4 Patrimnio Cultural Material e Imaterial...................................................................26 5.5 Situao Fundiria........................................................................................................26 5.6 Fogo.................................................................................................................................26 5.7 Atividades Apropriadas...............................................................................................27 5.8 Atividades ou Situaes Conflitantes......................................................................27 5.8.1 Problemas Ambientais Decorrentes ................................................ 28 5.9 Aspectos Institucionais da Unidade de Conservao .........................................28 5.9.1 Pessoal ............................................................................................... 28 5.9.2 Infra-estrutura, Equipamentos e Servios....................................... 28 5.9.3 Recursos Financeiros ....................................................................... 28 5.9.4 Cooperao Institucional ................................................................. 29 6 PLANEJAMENTO DA UNIDADE DE CONSERVAO ................................. 29 6.1 Histrico do Planejamento .........................................................................................29 6.2 Objetivos Especficos de Manejo do Parque..........................................................29 6.3 Zoneamento...................................................................................................................31 6.4 Normas Gerais do PNSC.............................................................................................34 6.4.1 Normas Gerais de Manejo do PNSC ................................................ 34 6.4.2 Normas Gerais de Manejo da ZA...................................................... 38

6.5 Planejamento por reas de Atuao........................................................................41 6.5.1 Aes Gerenciais Gerais................................................................... 43 6.5.1.1 Aes Gerenciais Gerais Internas - AGGI.............................. 43 6.5.1.2 Aes Gerenciais Gerais Externas - AGGE ........................... 64 6.5.1.3 reas Estratgicas Internas AEI .......................................... 71 6.5.1.4 reas Estratgicas Externas - AEE ........................................ 89 6.6 Custo Estimado ............................................................................................................94

LISTA DE SIGLAS AEE - rea Estratgica Externa AEI - rea Estratgica Interna AER - Avaliao Ecolgica Rpida AGGE - Aes Gerenciais Gerais Externas AGGI - Aes Gerenciais Gerais Internas ANA - Agncia Nacional de guas APA - rea de Proteo Ambiental APE - rea de Proteo Especial Cecav - Centro Nacional de Estudo, Proteo e Manejo de Cavernas Cemig - Companhia Energtica de Minas Gerais Cgeuc - Coordenao Geral de Unidades de Conservao Codema - Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente Conama - Conselho Nacional de Meio Ambiente Contur - Conselho Municipal de Turismo CV - Centro de Visitantes Denatran - Departamento Nacional de Trnsito DNIT - MG - Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes Minas Gerais DER-MG - Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Minas Gerais Direc - Diretoria de Ecossistemas DLIS - Desenvolvimento Local Integrado e Sustentvel DNPM - Departamento Nacional de Produo Mineral EE - Estao Ecolgica Emater/MG - Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural de Minas Gerais Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria FBCN - Fundao Brasileira para Conservao da Natureza FEAM - Fundao Estadual do Meio Ambiente FJP - Fundao Joo Pinheiro FNMA - Fundo Nacional de Meio Ambiente FPM - Fundo de Participao do Municpio Funbio - Fundo Brasileiro para a Biodiversidade Gerex MG - Gerncia Executiva do Ibama no Estado de Minas Gerais GTZ - Deutsche Gesellschaft fr Technische Zusammenarbeit Ibama - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis

IBDF - Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica ICMS - Imposto sob Circulao de Mercadoria e Servio ICV - ndice de Condies de Vida IDH-M - ndice Municipal de Desenvolvimento Humano IEF-MG - Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais IEPHA-MG - Instituto Estadual do Patrimnio Histrico e Artstico de Minas Gerais IGAM - Instituto Mineiro de Gesto das guas IMA - Instituto Mineiro de Agropecuria Incra - Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria INDI-MG - Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais Iphan - Instituto do Patrimnio Cultural e Artstico Nacional MMA - Ministrio do Meio Ambiente NEAMG - Ncleo de Educao Ambiental de Minas Gerais ONG - Organizao No Governamental ONU - Organizao das Naes Unidas PAE - Plano de Ao Emergencial PE - Parque Estadual PF - Parque Florestal PI - Postos de Informao PIB - Produto Interno Bruto PM - Plano de Manejo PNSC - Parque Nacional da Serra da Canastra Prevfogo - Programa Nacional de Preveno e Combate aos Incndios Florestais Pronabio - Programa Nacional da Diversidade Biolgica Pronaf - Programa Nacional de Agricultura Familiar RB - Reserva Biolgica RESA - Empresa Reflorestamento Sacramento ROI - Relatrio de Ocorrncia de Incndios RPPN - Reserva Particular do Patrimnio Natural Sebrae - Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas SIF - Servio de Inspeo Federal Simbio - Sistema de Monitoramento da Biodiversidade nas Unidades de Conservao SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza

TC - Termo de Compromisso TNC - The Nature Conservancy UC - Unidades de Conservao UHE - Usina Hidreltrica UICN - Unio Mundial para a Natureza ZA - Zona de Amortecimento

LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Diviso do Parque Nacional da Serra da Canastra em Dois Espaos, para Fins de Planejamento Figura 2 - Municpios Abrangidos pelo Parque e pela Zona de Amortecimento Figura 3 - Mapa de Zoneamento do Parque Nacional da Serra da Canastra Figura 4 - Mapa de Localizao das reas Estratgicas Internas (AEI) e reas Estratgicas Externas (AEE) LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Ficha Tcnica da Unidade Quadro 2 - Unidades de Conservao Federais no Bioma Cerrado Quadro 3 - Categorias de Manejo, Nmero e rea das Unidades de Conservao sob Administrao do Estado de Minas Gerais Quadro 4 - Resumo do Cronograma Fsico-financeiro do Plano de Manejo, Estimativo, por rea de Atuao

Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra da Canastra Resumo Executivo

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APRESENTAO Segundo a Unio Mundial para a Natureza (UICN), no ano 2000, 13.250.000 km2 da superfcie do planeta estavam protegidos em 30 mil reas preservadas. O estabelecimento de unidades de conservao (UCs) tem sido adotado por muitos pases como uma das estratgias mais eficazes de garantir o acesso dos nossos descendentes aos bens materiais e espirituais propiciados por esses espaos. Na regio sudoeste do Estado de Minas Gerais, essa estratgia foi concretizada com a criao do Parque Nacional da Serra da Canastra (PNSC). A fim de buscar uma maior efetividade para a proteo e conservao do Parque e estabelecer uma linha de atuao baseada nos conhecimentos cientficos, foi elaborada a reviso do Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra da Canastra, o qual, segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza (SNUC), o documento tcnico mediante o qual, com fundamentos nos objetivos gerais de uma Unidade de Conservao, se estabelece o seu zoneamento, as normas que devem presidir o uso da rea e o manejo dos recursos naturais. Este Resumo Executivo contm, de forma sumria, a descrio das caractersticas ambientais e socioeconmicas locais, bem como as aes prioritrias para a implementao da rea, apresentadas no Plano de Manejo do Parque. CONTEXTO DA ELABORAO DO PLANO DE MANEJO Para empreender a anlise apresentada neste documento, o PNSC foi dividido em dois grandes espaos, como pode ser observado na Figura 1. Chapado da Canastra - constitudo da rea consolidada, com 71.525 ha, onde a situao fundiria se encontra regularizada, ou seja, sob posse e domnio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis (Ibama), e da borda dessa chapada, ainda no regularizada; Chapado da Babilnia - constitudo de aproximadamente 130.000 ha da rea decretada, e ainda no regularizada.

FIGURA 1 - Diviso do PNSC em Dois Espaos, para Fins de Planejamento.

Zona de Amortecimento

Chapado da Canastra

Chapado da Babilnia

Fonte: Ibama, 2004. Nota: Figura meramente ilustrativa.

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Visando estabelecer estratgias e aes para o manejo do Parque, foi elaborado, em 1981, o Plano de Manejo (PM) do Parque e, posteriormente, em 1993, o Plano de Ao Emergencial (PAE), o qual se constituiu em um planejamento expedito. Esses dois instrumentos, no que concerne aos levantamentos e s propostas de manejo, contemplaram somente a rea do Chapado da Canastra. Como forma de reviso dos instrumentos de planejamento j existentes, luz das novas concepes de manejo e gesto de uma UC, procedeu-se reviso do Plano de Manejo da Unidade, o qual teve como base o Primeiro Roteiro Metodolgico para Elaborao de Planos de Manejo de Unidades de Conservao de Proteo Integral, elaborado pelo Ibama, em 1996, em parceria com o banco alemo Deutsche Gesellschaft fr Technische Zusammenarbeit (GTZ), e o Roteiro Metodolgico de Planejamento Parque Nacional, Reserva Biolgica e Estao Ecolgica (2002), tambm desenvolvido pelo Instituto. Para a elaborao da Reviso do Plano de Manejo, foram estudados os recursos ambientais e a situao poltica, econmica e social do Parque e seu entorno, por meio da realizao de uma Avaliao Ecolgica Rpida (AER), que abrangeu os seguintes temas: mamferos, aves, anfbios, rpteis, peixes, comunidade bentnica, vegetao campestre e florestal. No que diz respeito ao meio fsico, foram realizados estudos sobre os seguintes temas: geomorfologia, solos e hidrologia. Em relao aos aspectos sociais e econmicos, foi realizada uma avaliao socioeconmica. Os aspectos histrico e cultural da regio, bem como das reas de minerao dos municpios de So Joo Batista do Glria e Capitlio, foram abordados por meio de estudos especficos, assim como as atividades de visitao e os problemas relacionados com a preveno e o combate aos incndios florestais. As informaes tcnicas obtidas nos estudos realizados foram discutidas entre os profissionais envolvidos com a reviso do plano por meio da realizao de uma oficina de planejamento, na qual foram estabelecidas as indicaes de carter tcnico-cientfico para o estabelecimento do zoneamento, dos objetivos especficos e das propostas de manejo para a Unidade, bem como das reas estratgicas internas e externas. Duas outras oficinas foram realizadas, sendo uma dirigida aos servidores do Parque e a outra com diversos atores envolvidos, direta ou indiretamente, com a Unidade e sua Zona de Amortecimento (ZA). Essas oficinas, tambm com enfoque participativo, foram estruturadas em atividades pedaggicas, nas quais se buscou o intercmbio de saberes e fazeres dos participantes, o que contribuiu para enriquecer o diagnstico da Unidade. Foram propostas ainda estratgias de ao para superao dos problemas identificados e aproveitamento dos potenciais existentes. Posteriormente, foram realizadas reunies abertas em todos os municpios envolvidos com o Parque, para apresentar os objetivos da Unidade e sua ZA, esclarecer dvidas e colher sugestes para o Plano de Manejo. Foram realizadas tambm reunies com os prefeitos municipais, no intuito de buscar subsdios para definio dos limites da ZA. Esta etapa foi realizada por profissionais do IBAMA. Esses processos culminaram na elaborao do novo Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra da Canastra, por meio do qual se espera uma maior

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eficincia e eficcia no cumprimento dos objetivos de criao da UC, possibilitando aos seus gestores a inspirao necessria para o manejo de to importante espao. 1 INTRODUO O Parque Nacional da Serra da Canastra (PNSC), que compreende uma rea de aproximadamente 200 mil hectares, foi criado em 3 de abril de 1972, por meio do Decreto n 70.355 e est situado na regio sudoeste do Estado de Minas Gerais, abrangendo os municpios de So Roque de Minas, Sacramento, Delfinpolis, So Joo Batista do Glria, Capitlio e Vargem Bonita. Na criao do PNSC, a desapropriao de terras e a no-aceitao dos limites dessa Unidade de Conservao (UC) por parte da comunidade local foram motivos de conflito entre esta e o rgo gestor. Do total da rea decretada, 71.525 ha esto com a situao fundiria regularizada, ou seja, sob posse e domnio do Ibama, enquanto os outros 130.000 ha so constitudos por propriedades/posses, no estando ainda regularizados. O Quadro 1 apresenta a Ficha Tcnica da Unidade.QUADRO 1 - Ficha Tcnica da Unidade.

PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CANASTRA (PNSC) Gerncia Executiva: Avenida do Contorno, 8.121 Cidade Jardim CEP 30110-120 Belo Horizonte / MG Telefones: (31) 3299-0800 e 3299-0830 Unidade Gestora Responsvel: Gerncia Executiva do Ibama no Estado de Minas Gerais Endereo da sede do PNSC Av. Presidente Tancredo Neves, 498 Centro CEP 37928-000 So Roque de Minas / MG (37) 3433-1195 e 3433-1840 (37) 3433-1195 [email protected] www.ibama.gov.br Superfcie da UC (ha) Permetro da UC (km) Superfcie da ZA (ha) Permetro da ZA (km) 197.787 799.173 269.513 1.493

TelefonesFax E-mail Site

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Municpios abrangidos pela UC, com - So Roque de Minas 41,13% seu respectivo percentual - Sacramento 2,46% (limites obtidos por malha municipal digital do Instituto Brasileiro de Geografia e - Delfinpolis 40,30% Estatstica IBGE , de 1996) - So Joo Batista do Glria 46,51% - Capitlio 18,78% - Vargem Bonita 31,63%

Estado que abrange

Minas Gerais

Coordenadas geogrficas latitude e - 4635'56" Longitude WGr. longitude (coordenada central) - 2018'16" Latitude Sul

Data de criao e nmero do decreto

Criado em 3 de abril de 1972 pelo Decreto n 70.355

Marcos geogrficos referenciais dos Chapado da Canastra (Chapado do Diamante) e serras das Sete Voltas, limites Capo Alto, dos Canteiros, Santa Maria e Preta Bioma e ecossistema Includo nos domnios do bioma Cerrado, com influncia do bioma Floresta Atlntica

Atividades ocorrentes Educao ambiental

realizada somente no Chapado da Canastra e entorno, de forma espordica, sem um programa preestabelecido. realizada somente no Chapado da Canastra e pouco sistematizada; conta com brigada para preveno e combate a incndios. realizada de forma a atender demanda das instituies de pesquisa, sem a priorizao das necessidades da UC. Ocorre de forma controlada somente no Chapado da Canastra, onde se oferecem caminhadas, banho de rio e cachoeira, local para piquenique, contemplao da natureza e observao da vida silvestre. Chapado da Canastra - Estrada principal do Chapado da Canastra no pavimentada, perfazendo um total de aproximadamente 67 km, com trnsito livre de veculos, inclusive de carga; - Linhas de transmisso (Sistema Cemig) atravessando, no sentido longitudinal, a Serra da Canastra; - Atividades agropecurias, com uso de insumos agroqumicos sintticos e

Proteo/Fiscalizao

Pesquisa

Visitao

Atividades conflitantes

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manejo inadequado do solo, na rea no indenizada; - Atividades off road (jipe e motocicleta); - Invaso por gado; - Explorao de caulim; - Incndios criminosos e queima no controlada; - Supresso da vegetao nativa substituio por espcies exticas. e

Chapado da Babilnia (s podem ser paralisadas quando da indenizao das propriedades/posses) - Linhas de transmisso (Sistema Furnas e Cemig) atravessando a rea sul do Parque e linhas de distribuio para as propriedades/posses rurais; - Atividades agropecurias, com uso de insumos agroqumicos sintticos e manejo inadequado do solo; - Atividades silviculturais com espcies exticas; - Excesso de estradas e acesso livre s reas no indenizadas; - Atividades off road (jipe e motocicleta); - Explorao de quartzito (pedra mineira) e alvar de pesquisa para explorao de diamante; - Supresso da vegetao nativa substituio por espcies exticas; e

- Atividades tursticas sem planejamento e controle; - Queima no controlada.

2 ENFOQUE FEDERAL O bioma do cerrado brasileiro tem uma extenso de aproximadamente 200 milhes de hectares, o que representa 23,03% do territrio nacional. Para sua proteo, segundo dados do IBAMA de 2003, existem 143 UC federais, perfazendo um total de 5.227.063 ha, o que corresponde a 2,5% da rea ocupada originalmente por esse bioma. Dos 200 milhes de hectares de cerrado, 1,87% esto em unidades de proteo integral, como descrito no Quadro 2.

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QUADRO 2 - Unidades de Conservao Federais no Bioma Cerrado.

Grupo Proteo Integral

Categoria Parque Nacional Estao Ecolgica Reserva Biolgica Refgio de Vida Silvestre

Quantidade 11 07 01 01 20

rea (ha) 2.195.960,55 1.422.504,00 3.460,00 128.521,00 3.750.455,55 1.370.911,00 2.535,43 8.453,56 26.780,00 67.927,97 1.476.607,96 5.227.063,51

Subtotal Uso Sustentvel rea de Proteo Ambiental rea de Relevante Interesse Ecolgico Floresta Nacional Reserva Extrativista Reserva Particular do Patrimnio Natural Subtotal Total geralFonte: Ibama, 2003.

09 04 05 03 102 123 143

A rea decretada do PNSC, que contribui com aproximadamente 3,8% da rea protegida de cerrado sob as UCs federais, foi considerada, segundo a publicao Aes Prioritrias para a Conservao da Biodiversidade do Cerrado e do Pantanal, elaborada pela Conservation International, em 1999, uma rea cuja prioridade para a conservao extremamente alta. Nesse documento acima, foi recomendada como ao prioritria a efetivao da rea completa constante no decreto de criao do Parque, enfatizando-se a necessidade de se priorizar sua implementao Dos 5,2 milhes de hectares protegidos sob Ucs federais localizadas no Cerrado, a rea decretada do PNSC contribui com aproximadamente 3,9% 3 ENFOQUE ESTADUAL O Estado de Minas Gerais possui cerca de 375.393 km (64%) de seu territrio ocupado por cerrados; 158.369 km (27%), por floresta latifoliada tropical; 41.058 km (7%), por caatinga; e 11.731 km (2%), por campos limpos, apresentando, ainda, a maior rea reflorestada do Pas, segundo dados do Instituto de Desenvolvimento Industrial (INDI), 2002. No entanto, o processo de desenvolvimento econmico estabelecido em Minas Gerais vem contribuindo fortemente para a destruio dos biomas existentes no Estado. As principais atividades socioeconmicas geradoras desse impacto so: criao extensiva

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de gado; lavra de ouro, diamantes e pedras semipreciosas; utilizao de agricultura mecanizada, incluindo as tcnicas agrcolas para fertilizao e correo da acidez de solo; expanso dos centros urbanos; e uso do carvo vegetal na indstria siderrgica. As unidades de conservao estaduais existentes em Minas Gerais so administradas pelo Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF-MG) e, segundo levantamentos realizados em 2002, esto agrupadas em seis categorias: rea de Proteo Ambiental (APA); rea de Proteo Especial (APE); Estao Ecolgica (EE); Parque Estadual (PE); Parque Florestal (PF); e Reserva Biolgica (RB), perfazendo um total de 83 unidades de conservao, que abrangem uma rea de mais de 3.500.000 ha. A lista das distintas categorias, com seus respectivos nmeros de unidades e rea, apresentada no Quadro 3.QUADRO 3 - Categorias de Manejo, Nmero e rea das Unidades de Conservao sob

Administrao do Estado de Minas Gerais. Unidade de Conservao rea de Proteo Ambiental (APA) rea de Proteo Especial (APE) Estao Ecolgica (EE) Parque Estadual (PE) Parque Florestal (PF) Reserva Biolgica (RB) Total N. de Unidades de Conservao 05 36 05 17 02 18 83 rea Total por Categoria (ha) 263.118,00 3.061.062,00 1.727,08 196.292,00 123,78 18.963,44 3.541.286,30

Minas Gerais conta com vrios rgos governamentais estaduais e uma significativa rede de organizaes no-governamentais (ONGs), com possibilidades de contribuir para o manejo do Parque e sua ZA, tendo em vista as caractersticas ambientais e socioeconmicas da regio. O Ministrio da Integrao Nacional, em conjunto com o Ministrio do Meio Ambiente (MMA), vem desenvolvendo o Projeto de Revitalizao do Rio So Francisco, com o objetivo recuperar esse rio, que apresenta problemas para o abastecimento humano, a dessedentao animal, a navegao, a pesca e a agricultura em suas margens. Essa ao conjunta envolver a Unio, estados, municpios, entidades civis e no-governamentais que atuam na regio da bacia do rio So Francisco. Ainda no mbito desse projeto, a Agncia Nacional de guas (ANA) estabeleceu o Programa de Gerenciamento Integrado das Atividades Desenvolvidas em Terras na Bacia do So Francisco, com o objetivo de integrar as bacias hidrogrficas. 4 ENFOQUE REGIONAL O cumprimento dos objetivos primrios de conservao e proteo da biodiversidade de uma UC depende, em grande parte, do uso da terra e das atividades exercidas na regio onde esta se encontra inserida.

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No sentido de garantir uma maior eficcia na proteo dos recursos naturais e culturais das UCs, atravs da minimizao dos impactos negativos ocorridos no entorno das mesmas, o SNUC estabelece a determinao da ZA, onde as atividades humanas esto sujeitas s normas e restries especficas. A ZA do PNSC foi definida visando proteo de remanescentes de fragmentos florestais; reas de risco em funo da expanso urbana; reas contguas UC onde so realizadas atividades que possam comprometer a integridade do Parque; reas que necessitam de regulamentao do uso da terra e de outros recursos, com vistas proteo da Unidade e microbacias; regies de habitat do pato-mergulho (Mergus octosetaceus). Na Figura 2, apresentada a localizao do PNSC em relao aos municpios por ele abrangido, bem como a ZA.FIGURA 2 Municpios Abrangidos pelo Parque e pela Zona de Amortecimento.Tapira

Sacramento

Zona de Amortecimento

So Roque de Minas

P.N. da Serra da Canastra

Ibiraci

Delfinpolis Vargem Bonita

Piu Cssia Passos So Joo Batista do Glria Capitlio

Alpinpolis So Jos da Barra

Fonte: Ibama, 2004.

4.1 CARACTERIZAO AMBIENTAL A regio onde o Parque est inserido se localiza no domnio fitogeogrfico do cerrado, o qual abrange toda a poro centro-oeste e noroeste do Estado de Minas Gerais, alm de Gois, Distrito Federal, oeste da Bahia, partes dos Estados de Tocantins, Mato Grosso, So Paulo e Mato Grosso do Sul, bem como reas disjuntas na regio Amaznica e Nordeste, perfazendo cerca de 25% do territrio brasileiro. O clima predominante no domnio do cerrado o tropical sazonal, de inverno seco. A temperatura mdia anual fica em torno de 22-23 C, sendo que as mdias mensais apresentam pequena estacionalidade. Em geral, a precipitao mdia anual fica entre 1.200 e 1.800 mm. A precipitao mdia mensal apresenta uma grande estacionalidade, concentrando-se nos meses de primavera e vero (outubro a maro), que correspondem estao chuvosa. Curtos perodos de seca, chamados de veranicos, podem ocorrer em meio a essa estao, criando srios problemas para a agricultura e aumentando o risco de incndios. No perodo de maio a

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setembro, os ndices pluviomtricos mensais reduzem-se bastante, podendo chegar a zero. A radiao solar no domnio do cerrado geralmente bastante intensa, podendo reduzir-se devido alta nebulosidade, nos meses excessivamente chuvosos do vero. A regio, denominada de planaltos da Canastra, constituda por cristas, barras e vales adaptados s estruturas de direo NO-SE. As rochas na rea so componentes do grupo Canastra, com filitos sericita-xistos, quartzitos, micaxistos e xistos calcferos, segundo o levantamento do Projeto Radambrasil (1983), que tambm assinalou, nessa rea, falhas indiscriminadas e falhas de empurro, alm de sinclinais e anticlinais. O relevo da regio do Parque pode ser compartimentado em cinco unidades, cada qual apresentando caractersticas topogrficas, morfolgicas e pedolgicas distintas e sujeitas s mesmas condicionantes climticas: compartimento das chapadas; compartimento das depresses intermontanas; compartimento dos morros alongados elevados; compartimento dos morros alongados e colinas com vertentes convexas; e compartimento das colinas amplas, suavemente onduladas. A tipologia litolgica da regio constitui-se em um dos mais importantes atributos para a avaliao do comportamento dos fluxos de gua. As condies geolgicas locais respondem pela estruturao das formas de relevo, pelo padro da rede de drenagem, pela qualidade natural das guas e pela dinmica de fluxos subterrneos, alm de serem o fator regulador preponderante das potencialidades aqferas em determinada bacia. As implicaes no balano hdrico decorrentes da conformao litolgica do ambiente podem ser consideradas como as que apresentam o maior grau de interferncia no potencial aqfero em sua contabilizao final, pois a qualidade natural das guas, a quantidade armazenada e a disponibilidade hdrica so fatores determinados, predominantemente, pelos atributos litolgicos. Nesse contexto, salientam-se as caractersticas estruturais das rochas, tais como as feies materializadas pelos planos de fraturamento e de acamamento rochoso, cujos padres, intensidade e penetratividade podem implicar a elaborao de um maior controle das direes e dos sentidos dos escoamentos superficial e subterrneo. O sistema hidrogeolgico regional constitudo pelas zonas de recarga e de descarga das guas metericas, zonas de circulao de fluxos locais e intermedirios e zonas de descarga regional e local. As zonas de recarga so determinadas pelas pores mais elevadas topograficamente e se definem pelos topos de colinas, serras e chapadas. As principais zonas de recarga em nvel regional so as chapadas do Diamante, da Zagaia e da Babilnia. As zonas de recarga locais constituem-se pelas elevaes de exposies rochosas e podem ser atribudas s serras de Sete Voltas, Cemitrio, Preta, Furna, Bateinha, Santa Maria, Canteiros, Ciganos, Prata, Ba e Capo Alto. A zona de descarga regional pode ser atribuda calha de drenagem do rio Grande e represa da Usina Hidreltrica (UHE) Mascarenhas de Morais, anteriormente denominada Peixoto, pois devem receber a maior contribuio dos aportes de fluxos de base provenientes das diversas zonas elevadas do PNSC, uma vez posicionadas nas cotas mais baixas do relevo regional.

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Quanto ao sistema hidrogrfico, a regio abrange as pores de cabeceiras das bacias hidrogrficas dos rios So Francisco e Paran, estando esta representada pelas bacias do rio Grande, ao sul, e a do rio Paranaba, ao norte, a qual recebe os aportes das cabeceiras do rio Araguari. As caractersticas mais marcantes da regio so a densa rede de drenagem com inmeros tributrios e centenas de nascentes que alimentam os diversos cursos de gua. Para a regio, foram distinguidas seis bacias hidrogrficas mais importantes: rio Grande e ribeiro Santo Antnio, ao sul; e ribeiro Grande, rio So Francisco, rio Araguari e rio Santo Antnio, ao norte. No que se refere qualidade da gua, os estudos realizados indicam boa qualidade para a maioria dos pontos amostrados, apesar de apresentarem vrios sinais de contaminao provocada por aes antrpicas. Ainda compondo a paisagem, h dois lagos artificiais na regio: o lago reservatrio da UHE de Furnas e o lago reservatrio da UHE Mascarenhas de Morais. O lago de Furnas, construdo h mais de 40 anos, alimentado pelos rios Grande e Sapuca. Possuindo uma rea de 1.473 km2, estende-se por um permetro de 3,7 mil quilmetros e margeia 34 municpios, com um volume de gua sete vezes maior que a baa de Guanabara. O lago de Mascarenhas de Morais localiza-se entre as hidreltricas de Furnas (a montante) e de Estreito (a jusante). Em 1968, alcanou sua capacidade final de 476 MW, com 10 unidades geradoras e volume total de 4,04 bilhes de metros cbicos. A rea do PNSC e seu entorno situam-se no domnio fitogeogrfico do cerrado. De acordo com a nomenclatura fitogeogrfica internacional, adotada pelo IBGE (1991, 1993), a rea pertence s zonas da savana gramneo-lenhosa, apresentando praticamente todas as fitofisionomias que englobam formaes florestais, savnicas e campestres. De forma geral, o cerrado conceituado como uma vegetao xeromorfa, com rvores de aspecto tortuoso, preferencialmente de clima estacional, mas podendo tambm ser encontrado sob climas ombrfilos. Ocorre sobre solos lixiviados aluminizados, apresentando sinsias de hemicriptfitos, gefitos (plantas herbceas com rgos de crescimento no subsolo), camfitos (plantas sublenhosas ou ervas com gemas e brotos de crescimento acima do solo) e fanerfitos (plantas lenhosas com gemas e brotos com crescimento acima de 0,25 m do solo) de pequeno porte, com ocorrncia por toda a zona Neotropical (IBGE, 1991). Quanto s formaes florestais, alguns autores (ex: IBGE, 1989 e Heringer & Paula, 1989) sugerem uma ligao dessas florestais com a floresta Amaznica, outros com a Atlntica (Rizzini, 1979), ao passo que Cabrera & Willink (1973) e Oliveira-Filho & Ratter (1995) sugerem que tais formaes conectariam a floresta Amaznica s florestas Meridionais (bacia dos rios Paran-Paraguai). Esta influncia maior ou menor de um determinado bioma depende, muitas vezes, da regio do cerrado a que se est referindo, podendo tambm apresentar uma mistura de elementos desses trs biomas. Segundo a terminologia utilizada por Ribeiro & Walter (1998), a maior parte do PNSC coberta por formaes campestres. As florestas existentes na regio so subdivididas por Brando (1995) da seguinte forma: Formaes Savnicas: Cerrado Sentido Restrito, Cerrado Rupestre; Formaes Campestres: Campo Limpo, Campo-Sujo, Campo Rupestre;

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Formaes Florestais: Floresta Mesfila; Floresta Alagada (Mata Paludosa): Matas Ciliares, Mata de Encosta, Cerrado.

Em razo dos usos anteriores criao do PNSC e, principalmente, ao uso do fogo para manejo de pastagens, todas as formaes florestais existentes na regio, j sofreram, em graus diferentes, algum tipo de alterao. Algumas rvores remanescentes de condies primrias podem ser encontradas, mas em seu conjunto, a cobertura florestal encontra-se em estgio secundrio. Considerando-se a ictiofauna, encontrada uma maior riqueza de espcies na regio do entorno do que dentro do Parque. Essa caracterstica esperada, pois reflete um padro geral, em que a riqueza de espcies de peixes aumenta medida que nos afastamos das cabeceiras das drenagens. Apesar da maior riqueza de espcies de peixes, estas esto submetidas a diferentes graus de presso antrpica, e o seu valor para conservao tende a diminuir a mdio e longo prazos. Essa situao evidente para o rio do Peixe e crrego Capivara (bacia do So Francisco) e para o ribeiro Bateias (bacia do rio Grande). Segundo as informaes obtidas com moradores locais, no rio Santo Antnio (bacia do rio So Francisco), dentro da regio onde o Parque est inserido, so capturados grandes peixes migradores, como a curimat (Prochilodus spp.), piaparas (Leporinus spp.) e a tabarana (Salminus hilarii). No tocante avifauna, a regio do entorno, onde predominam as formaes abertas, principalmente reas de pastagens e culturas temporrias, apresenta aves quase que exclusivamente generalistas e bastante adaptadas ao entorno humano. interessante notar que a maioria dessas aves no comum no Chapado da Canastra, onde as aes antrpicas sobre a paisagem no so recentes. Nas reas mais baixas, ao longo dos vales dos rios e no entorno das fazendas e reas agrcolas, so comuns o cochicho (Anumbius annumbi), a fogo-apagou (Scardafella squammata), o suiriri-pequeno (Satrapa icterophrys), a lavadeira-mascarada (Fluvicola nengeta) e o chopim-do-brejo (Pseudoleistes guirahuro). O pato-mergulho (Mergus octosetaceus) foi observado em vrios crregos dentro e no entorno do Parque, o que torna a regio um local prioritrio para o desenvolvimento de aes para a conservao dessa espcie, a qual encontrase criticamente ameaada de extino. Vrias aves como o tucanuu (Ramphastos toco), o periquito-maracan (Aratinga leucophthalmus) e o sa-andorinha (Tersina viridis) foram registradas no interior de cidades e vilarejos situados no entorno do PNSC, como So Roque de Minas, Delfinpolis e So Joo Batista da Canastra. Outras espcies parecem ter encontrado nessas cidades locais adequados para sua reproduo, como o andorinho-do-temporal (Chaetura andrei) e a jandaiade-testa-vermelha (Aratinga auricapilla). No que se refere mastofauna, pode-se observar populaes mais estveis nos locais onde o ambiente se encontra em melhor estado de conservao que nas demais reas da regio. Nestas, principalmente onde a atividade agropecuria praticada, como j mencionado, vem-se observando um elevado grau de fragmentao de reas naturais, dificultando a presena da mastofauna. Essa situao, associada contaminao, por agrotxico, de pequenos mamferos

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no-volantes que utilizam as reas cultivveis, afeta toda a cadeia trfica local, levando ao desequilbrio da comunidade. A diferena no nmero de espcies explicada devido sensibilidade de alguns txons aos distrbios. De todas as espcies amostradas, a maior parte j vem apresentando certa adaptabilidade ocupao humana, como o caso de muitas espcies de carnvoros locais. Esse processo vem ocorrendo no somente na regio, mas em todo o Pas. Entretanto, espcies-chave adaptveis em outros locais perante uma realidade diferente e no adaptveis aos mesmos efeitos na regio em questo tm perdido seu espao. 4.2 ASPECTOS CULTURAIS E HISTRICOS Os primeiros momentos histricos relacionados com a regio onde o PNSC est inserido vinculam-se chegada da expedio comandada por Amrico Vespcio foz do rio So Francisco, em 1501, no dia de So Francisco, motivo pelo qual o rio recebeu esse nome. Entretanto, a explorao deu-se apenas com a vinda da comitiva de Tom de Souza, que trouxe o portugus Garcia dvila, um dos primeiros desbravadores a penetrar o interior do continente a partir do grande rio. Uma vasta regio do interior seria ento povoada pelo colono, tendo o vale do rio So Francisco, denominado o rio dos currais, como condutor natural dessa ocupao essencialmente fundada na atividade pecuria, que abastecia de carne todo o litoral canavieiro. Mas foi o sonho de riqueza e as crenas do homem europeu na existncia de um paraso material no novo continente que impulsionaram diversas expedies a buscarem cada vez mais longe as terras desconhecidas. Diferentes roteiros e relatos de viagem quinhentistas oriundos das diversas expedies que penetraram o serto falavam de serras resplandecentes de ouro e prata e uma grande lagoa, fabulosamente rica, existente no interior do continente. Entre as muitas expedies que, nos sculos XVI e XVII, buscaram as cabeceiras do rio So Francisco, destaca-se a de Francisco Bruza de Espinosa, que, guiado por ndios mansos, avanou pelo rio So Francisco at as proximidades do rio das Velhas, de onde retornou devido resistncia dos ndios hostis. Em 1581, Gabriel Soares de Sousa tentou itinerrio semelhante, vindo a falecer durante a expedio. Outras expedies se sucederam partindo de diferentes pontos da costa e de So Paulo, como a empreendida por Andr de Leo, em 1601. No que se refere s populaes indgenas presentes na regio do alto rio So Francisco, poucos so os estudos existentes, mas pode-se afirmar que, antes do processo de colonizao portuguesa, a regio foi habitada por diversas naes, podendo-se citar os acor, arax, araxau, bororo, cataguase, estes predominantes no sudeste do Estado, e os caiap, que se destacam entre os grupos que ocuparam o noroeste e o oeste mineiro. O crescente trnsito na regio, decorrente da abertura dos caminhos do ciclo minerador de Gois e Paracatu, favorecia a fuga dos escravos trazidos pelos colonizadores que aqui chegavam, que sumiam das comitivas nas viagens e iam juntar-se aos quilombos, os quais ocuparam a margem esquerda do rio So Francisco e suas nascentes. Outros povoados quilombolas tambm se estabeleceram ao sul e ao norte das serras da Canastra e Marcela e nas regies mais prximas dos municpios de

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Piumhi e Formiga, sendo dizimados pelas expedies de extermnio a mando das autoridades coloniais. No sculo XIX, a regio foi percorrida pelo mineralogista alemo W. von Eschwege e pelo botnico francs Auguste Saint-Hilaire, que registraram informaes sobre os locais por onde passaram. Seus relatos tiveram grande importncia no conhecimento da histria da regio. A maior parte dos ncleos de povoamento que hoje compem a rede urbana em torno da serra da Canastra, embora tenha origem no perodo setecentista, consolidou-se no sculo XIX. Essa rede surgiu de uma origem comum, assentada na aniquilao ou expulso dos ndios e quilombolas e na penetrao gradativa dos colonos brancos e mestios, que, devido crise da minerao nos grandes centros aurferos, buscaram novas terras e atividades econmicas. A princpio, empreendiam atividades de garimpo e pequenas faisqueiras e, aps esgotados os recursos aurferos, dedicaram-se agricultura e especialmente criao de gado. Ao longo do sculo XIX, podem ser apontados alguns eixos de ocupao e desenvolvimento que levaram diferenciao das localidades: o Tringulo Mineiro, o rio So Francisco e o rio Grande. No que se refere aos aspectos culturais, pode-se afirmar que a regio bastante rica, tendo sua cultura baseada no tear artesanal, na produo de farinha, doce caseiro e queijos, alm de festas tradicionais e populares e do patrimnio edificado. 4.3 USO E OCUPAO DA TERRA E PROBLEMAS AMBIENTAIS DECORRENTES Atividades Agropecurias nas Propriedades/Posses Rurais Limtrofes do Chapado da Canastra Com base nos levantamentos realizados para o Chapado da Canastra, pode-se concluir que muitos dos entrevistados moram nas propriedades/posses e so proprietrios/posseiros da terra. Quanto s atividades desenvolvidas nas propriedades/posses, apurou-se que, em 65% delas, a principal a criao de gado leiteiro; em 18%, o plantio de culturas temporrias, em 12%, a pecuria mista; e, em 5%, o turismo. Em quase todas as propriedades, foi observado o desenvolvimento de atividades secundrias, assim distribudas: 44% com culturas temporrias - destacando-se o milho e a cana-de-acar, principalmente para o trato animal; 25% com a fabricao de queijo; 13% com culturas permanentes; outros 13% com a criao de gado leiteiro; e 6% com a criao de gado de corte. Alm dessas, inquiriu-se a respeito da existncia de outras atividades desenvolvidas nas propriedades/posses, registrando-se ocorrncias em 71% delas, predominando as culturas temporrias (50%), a fabricao de queijo (42%) e o arrendamento de terras (8%). Quanto ao uso e ocupao da terra das propriedades/posses pesquisadas, os dados obtidos quanto utilizao tm a seguinte distribuio: 56% com pastagens (distribudos de forma equivalente entre as nativas e as formadas 28%, respectivamente), 22% com agricultura e 22% com matas/reservas/reas no utilizadas/reas no aproveitveis. Em relao atividade agropecuria desenvolvida na regio, pde-se perceber a aplicao de agroqumicos na poca do plantio do caf, os quais tm pouca

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absoro pelo solo e atingem o lenol fretico com relativa facilidade. Alm disso, constatou-se a declividade mxima recomendada para plantio de milho, feijo e arroz, pois, como so culturas anuais, todo ano h preparo do solo, o que um risco srio para a conservao desse recurso, uma vez que potencializa o risco de eroso. No que diz respeito produo animal, observou-se que a pecuria leiteira a principal atividade desenvolvida pelos produtores rurais; o rebanho suno chega a ser relativamente significativo, tanto para consumo interno quanto para fins de comercializao; a criao de outros animais, como cabras, cavalos e galinhas, praticamente residual como atividade econmica, sendo voltada, quase que exclusivamente, para consumo interno da propriedade/posse. Quanto ao emprego de tcnicas de uso e conservao do solo, todas as propriedades/posses pesquisadas indicaram o uso da correo de solo: 83% delas indicaram o uso de adubao (qumica e/ou orgnica); 77%, o uso de produtos agroqumicos; 59%, o uso de tcnicas de rotao de pastagens; e 70%, o uso de tcnicas de conservao do solo, como plantio em curvas de nvel, proteo de topos de morro e de nascentes, formao de pastagens e plantio direto. A prtica da irrigao no foi citada em nenhuma das propriedades/posses pesquisadas. Quanto assistncia tcnica, 76% das propriedades/posses pesquisadas tm acesso a esse servio, prestado, predominantemente, pela Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural (Emater) de Minas Gerais e, de forma complementar, pela Cooperativa dos Produtores Rurais de So Roque de Minas. As ltimas variveis consideradas conservao do solo e acesso assistncia tcnica indicam um grau relativamente modesto de tecnificao e de incorporao de novos mtodos na atividade agropecuria desenvolvida nas propriedades/posses pesquisadas. Encerrando a caracterizao das propriedades/posses pesquisadas, cabe observar que a atividade econmica nelas desenvolvida , de fato, relevante para os produtores rurais, j que 76% deles tm de 75% a 100% de sua renda delas derivada. Nesse contexto, o fato de haver outras propriedades/posses exploradas economicamente e tambm limtrofes do Chapado da Canastra s faz aumentar a importncia daquele espao rural como fonte geradora de renda. Quanto ao uso e ocupao da rea confrontante com o PNSC, so apresentados a seguir os resultados obtidos em cada municpio: So Roque de Minas Todos indicaram que essa rea ocupada de forma produtiva, predominantemente por atividade agropecuria, sendo mais recente a sua utilizao para o turismo, com pousadas e reas de camping. inequvoco, portanto, o uso econmico da regio. Foi indicada, ainda, a atividade minerria como outra forma de uso presente. J se pode notar tambm que produtores rurais do Estado de So Paulo comeam a investir nessa rea, comprando blocos de pequenas propriedades/posses. Eles vm mantendo a atividade leiteira, a princpio, mas esto redirecionando para gado de corte e introduzindo algumas alteraes, em carter experimental, na pauta produtiva agrcola.

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Vargem Bonita H unanimidade ao indicar que essa rea explorada economicamente, com atividade agropecuria tradicional, baseada na criao de gado leiteiro, na fabricao de queijo e no plantio de milho, feijo, arroz e caf. Estima-se que cerca de 80% dos produtores rurais l estabelecidos possam ser enquadrados nos padres da agricultura familiar. Em termos prospectivos, aponta-se para a ocupao da rea com a atividade turstica turismo rural/ecoturismo , mas ainda de forma muito incipiente. Delfinpolis Essa rea explorada economicamente com a atividade agropecuria agricultura de subsistncia pouco expressiva e pecuria extensiva com baixa produtividade. Em perodo recente, a partir de 1998/99, comearam a surgir as pousadas em funo do incremento do turismo. Registra-se, tambm, em reas prximas ao Chapado da Canastra, movimento de compra de propriedades/posses rurais por paulistas das regies de Franca, Ribeiro Preto e Batatais. Esses produtores estariam arrendando suas terras para as usinas de acar e comprando/arrendando outras, em Delfinpolis, nas quais investem e fazem melhorias, mas permanecem em suas cidades de origem, deixando-as sob a responsabilidade de administradores. Sacramento Verifica-se a explorao econmica dessa rea com a indicao de duas formas principais: ocupao predominante de pecuria leiteira extensiva, direcionada para a produo de queijo, registrando-se, ainda, alguma atividade agrcola de pequeno porte; e reflorestamento com Pinus, ocupando uma rea que teria de 21.000 a 28.000 ha, em um empreendimento da Empresa Reflorestamento Sacramento (RESA). Em termos prospectivos, foram citados o uso com o turismo ecolgico e um projeto especfico da prefeitura municipal, de incentivo ao reflorestamento com eucalipto. Capitlio A maior parte dos entrevistados (70%) indicou o uso econmico dessa rea, predominando a cultura cafeeira e a criao de gado para corte e leite. Foram citadas, pontualmente, a fabricao de queijo, a atividade minerria e a existncia de pousadas. Em termos prospectivos, apenas 20% dos entrevistados identificaram possveis alteraes nos atuais padres de uso e ocupao daquela rea, no sentido do incremento da atividade turstica. So Joo Batista do Glria A utilizao econmica daquele espao feita com culturas de milho, caf e cana-de-acar, com a pecuria de leite e corte, com a explorao de pedreiras e, mais recentemente, com a implementao de pousadas para a explorao do turismo rural. Extrao Vegetal e Silvilcultura Pde-se constatar que a produo de cada municpio da regio do Parque muito pouco desenvolvida. O destaque, no que se refere extrao vegetal, foi

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registrado no municpio de Sacramento, onde houve a maior explorao, com 18.304 m3 de lenha e 46.747 m3 de madeira em tora. 4.4 PRINCIPAIS TENDNCIAS ECONMICAS DA REGIO A regio apresenta grandes indcios de crescimento da atividade agropecuria, com especial nfase para a produo leiteira. Porm, a continuidade desse crescimento depende da modernizao do processo produtivo. Na produo queijeira, o queijo canastra figura como o produto de destaque, apresentando grandes possibilidades de tornar-se o principal produto da regio, desde que o processo produtivo seja adequado s exigncias legais e de mercado. O turismo, como j mencionado, cresce em toda a regio e poder consubstanciar-se em uma importante fonte de renda, desde que, em nvel regional, haja maior organizao e profissionalizao da atividade. 4.5 CARACTERSTICAS DA POPULAO Os dados apresentados para os aspectos demogrficos, referentes a este item, tm base no Censo Demogrfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) de 2000. No que se refere dinmica populacional dos municpios do entorno do PNSC, So Roque de Minas e Vargem Bonita foram os que apresentaram suas populaes diminudas em 11% e 15%, respectivamente, nos ltimos 30 anos. Os demais municpios apresentaram crescimento da populao, para o mesmo perodo, sendo que Capitlio foi o que obteve maior crescimento 33,9%; seguido por Delfinpolis 27%; So Joo Batista do Glria 25,9%; e Sacramento 11,59%. A densidade demogrfica da regio do Parque bastante baixa, 7,72 hab/Km2, se comparada com a do Estado de Minas Gerais, 30 hab/Km2. A taxa de crescimento demogrfico de todos os municpios da regio aponta para uma perda de populao das zonas rurais e um crescimento nas reas urbanas, acompanhando uma tendncia nacional de urbanizao. Quanto educao, todos os municpios do entorno do Parque tm escolas que atendem os alunos da pr-escola ao ensino mdio. Nos municpios de So Roque de Minas, Vargem Bonita e Delfinpolis, a rede municipal de ensino atende mais de 50% dos alunos matriculados; j para os municpios de Sacramento, So Joo Batista do Glria e Capitlio, a rede estadual que atende mais de 50% dos alunos. As instituies de ensino particular esto presentes em So Roque de Minas, Delfinpolis e Sacramento, porm atendem a uma pequena parcela da comunidade acadmica, em torno de 6,42%. No que se refere ao saneamento bsico, segundo os dados do Censo Demogrfico do IBGE 2000, os municpios de So Joo Batista do Glria e Sacramento possuam uma maior percentagem de domiclios particulares permanentes com abastecimento de gua realizado pela rede geral, correspondendo a 79,76% e 75,66%, respectivamente. Vargem Bonita possua a menor percentagem. J So Roque de Minas apresentou maior percentagem dos domiclios atendidos por poos ou nascentes 34,61%.

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Mais de 80% dos domiclios permanentes da regio do Parque, segundo o mesmo Censo, tm banheiro ou sanitrio. Os municpios que apresentam melhores ndices so Capitlio, com 98,29%, e So Joo Batista do Glria, com 98,71 %. No entanto, desses banheiros, os que esto ligadas rede geral de esgotamento sanitrio so em nmero muito menor, correspondendo a apenas 46,58%, em So Roque de Minas; e 55%, em Vargem Bonita. Os melhores ndices foram observados em Sacramento, com 73,37%, e So Joo Batista do Glria, com 75,62%. No que se refere ao abastecimento de gua, segundo os dados do Censo Demogrfico de 2000, do IBGE, o municpio de So Roque de Minas contava com 1.904 domiclios particulares permanentes. O abastecimento de gua, por rede geral, cobria 1.159 desses domiclios, enquanto outros 659 eram abastecidos por poos ou nascentes e os 86 restantes dispunham de outras formas de abastecimento. Quanto ao esgotamento sanitrio, 1.599 domiclios dispunham de banheiro ou sanitrios, dos quais 887 ligados rede geral. Os demais 305 domiclios no dispunham desses servios. Nos levantamentos realizados pelo Censo Demogrfico do IBGE 2000, verificouse que o municpio de Vargem Bonita obteve o menor ndice de domiclios com coleta regular de lixo, 51,21%, seguido por So Roque de Minas, com 56,83%. So Joo Batista do Glria foi o municpio que melhor prestou esse servio, atendendo a 81% dos domiclios. Segundo os dados da Emater para 2001, Delfinpolis era o nico municpio da regio do Parque que tinha a disposio final do lixo realizada de forma mais adequada, em aterro sanitrio, enquanto os demais municpios queimam seu lixo, lanam-no a cu aberto ou nos cursos de gua e, por vezes, em fossas. Quanto ao ndice de Condio de Vida (ICV) do municpio, segundo os dados de 1990, Capitlio apresentou maior ndice, sendo seguido por Sacramento e So Joo Batista do Glria, que apresentaram o mesmo valor, sendo esses nmeros superiores aos de Vargem Bonita, So Roque de Minas e Delfinpolis, respectivamente. Tambm foi analisado o ndice Municipal de Desenvolvimento Humano (IDH-M), o qual apresentou, no ano de 1990, valores em ordem decrescente, para os seguintes municpios: Capitlio, So Joo Batista do Glria, Sacramento, Delfinpolis, Vargem Bonita e So Roque de Minas. Quanto arrecadao municipal, constatou-se que, em todos os municpios da regio, a participao da receita tributria muito baixa, indicando a fraca capacidade dos municpios de gerarem receita prpria. Todos eles dependem enormemente dos repasses do Fundo de Participao do Municpio (FPM). Dos municpios da regio do Parque, trs recebem o Imposto sob Circulao de Mercadoria e Servio (ICMS) Ecolgico: So Roque de Minas, Delfinpolis e Sacramento, no sendo significativos, para este ltimo, os valores repassados. Verificou-se uma tendncia de consolidao do turismo na regio, o que poder acarretar uma diversificao da base tributria e um aumento da arrecadao e do Produto Interno Bruto (PIB) da regio, que ainda muito baixo.

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4.6 VISO DAS COMUNIDADES SOBRE A UNIDADE DE CONSERVAO Por meio dos levantamentos realizados, constatou-se que a comunidade, em sua maioria, ainda possui muito pouco conhecimento sobre o Parque, seus objetivos de criao, a rotina institucional do Ibama, entre outros aspectos. Porm, importante ressaltar que, devido ao fato de os municpios de So Roque de Minas, Vargem Bonita e Delfinpolis localizarem-se no Chapado da Canastra, onde est localizada a sede administrativa do PNSC, sua populao possui uma relao mais estreita com o Parque, o que no ocorre com a populao dos municpios de Sacramento, Capitlio e So Joo Batista do Glria, localizados no Chapado da Babilnia. importante destacar tambm que, apesar do pouco conhecimento de alguns e da imagem institucional negativa herdada do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), foi possvel observar que a maioria dos entrevistados reconhece a importncia do Parque e a necessidade de conservao ambiental da rea. 4.7 ALTERNATIVAS DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO SUSTENTVEL Na regio onde o PNSC est inserido, no foi observada, atualmente, atividade de desenvolvimento econmico que vise sustentabilidade dos recursos naturais, sendo constatados alguns potenciais, desde que adaptaes, metodologias e tecnologias sejam introduzidas. Uma das atividades que se apresentam como alternativas de desenvolvimento econmico sustentvel para a regio o turismo. O advento do ecoturismo trouxe vrias alternativas de desenvolvimento para a populao local, com benefcios sociais e financeiros para a regio, como a gerao de empregos, diversificao das atividades econmicas, alm do atendimento demanda de visitantes da regio e do Parque, ainda que de forma incipiente. O desenvolvimento de produtos regionais, como o queijo canastra, tambm aparece como uma alternativa que j vem sendo desenvolvida na regio h mais de 150 anos. Porm, ainda se fazem necessrias algumas modificaes em seu processo de fabricao, uma vez que, atualmente, tem gerado sria polmica, no que diz respeito falta de higiene do processo e necessidade de enquadramento nos padres sanitrios oficiais, de forma a resguardar os consumidores de riscos de contaminao bacteriana. Alm do queijo, a fabricao de doces tambm se apresenta como uma alternativa, a exemplo do que vem ocorrendo no municpio de Vargem Bonita, onde uma Cooperativa de Mulheres, com o apoio da Emater-MG, est implantando a produo e comercializao de doces caseiros. Por fim, dadas as caractersticas agrcolas da regio do PNSC, os sistemas agroflorestais ou agrossilviculturais apresentam-se como alternativa de desenvolvimento econmico, podendo ser inseridos nas propriedades/posses rurais. So sistemas de produo consorciada, envolvendo um componente arbreo e um outro, que pode ser animal ou de cultivo agrcola, de forma a maximizar a ao compensatria e minimizar a competio entre as espcies, com o objetivo de conciliar o aumento de produtividade e rentabilidade econmica, com a proteo ambiental e a melhoria da qualidade de vida das populaes rurais, promovendo, assim, o desenvolvimento sustentado.

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5 PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CANASTRA Este item apresenta o diagnstico do PNSC e de sua ZA, a partir da caracterizao de seus aspectos abiticos, biticos, sociais e econmicos, visando orientar as proposies de metas, objetivos, programas e aes especficas de manejo. 5.1 ACESSO UNIDADE Para chegar ao Parque, necessrio transitar por estradas de terra, que se apresentam em precrias condies de manuteno no perodo de chuva, mas que, na seca, tm condies de uso. As sedes dos municpios localizados no entorno do Parque so acessveis por linhas regulares de nibus intermunicipal ou interestadual, a partir de Belo Horizonte, de cidades do Tringulo Mineiro e do interior do Estado de So Paulo. No que se refere aos servios de transporte areo, o principal aeroporto o de Belo Horizonte, de onde partem e chegam vos de diversas cidades do Pas. Na regio do Parque, existem pistas de pouso nas cidades de Piumhi, Sacramento e Passos, sem, porm, vos regulares. O Parque conta atualmente com quatro entradas regulares, todas localizadas na regio do Chapado da Canastra, as quais so usualmente conhecidas como Portaria I, II, III e IV e que, para fins do PM, esto assim denominadas: Portaria So Roque de Minas (Portaria I), Portaria So Joo Batista da Serra da Canastra (Portaria II), Portaria Sacramento (Portaria III) e Portaria Casca dAnta (Portaria IV). 5.2 ORIGEM DO NOME E HISTRICO DA UNIDADE A denominao da regio como Serra da Canastra prende-se tradio bandeirante de nomear os acidentes naturais como marcos sinalizadores dos seus roteiros. Canastra um antigo vocbulo portugus de origem grega, utilizado para denominar um tipo de arca mvel, rstica, de formato retangular, que muito provavelmente os prprios bandeirantes carregavam em suas tropas. A semelhana desse objeto com a forma da serra, vista a distncia, certamente foi o principal motivo de designao do local, o que em muito auxiliou vrios viajantes na travessia da regio. No que se refere histria de criao do PNSC, esta remonta ao ano de 1971, quando a seca assolou a regio, paralisando a navegao no rio So Francisco. Esse fato atraiu a ateno da imprensa e, em especial, do jornalista Lus Carlos Portillo, que, por meio de uma srie de reportagens, denunciou o desmatamento indiscriminado provocado pela construo da represa de Furnas e o corte de madeira praticado por outras empresas. Nessa mesma poca, as empresas privadas, com os incentivos fiscais, praticavam o reflorestamento, mas comprometiam grandes reas do cerrado, sendo a regio do alto So Francisco uma das mais atingidas. As imagens da seca associadas ao desmatamento, s polticas de reflorestamento e ao sentimento cvico de salvao do rio So Francisco impulsionaram uma campanha de preservao de suas nascentes, materializada por diversas iniciativas de pessoas

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como do j mencionado jornalista Portillo, do prefeito de So Roque de Minas e dos representantes dos Rotary Clube de Belo Horizonte - Oeste e Cidade Jardim. Todo esse movimento teve efeito positivo no IBDF, que, em carter de urgncia, realizou estudos para avaliao das condies tcnicas, financeiras e sociais de criao do Parque. Como resultado, foi encaminhada ao secretrio-geral da Presidncia da Repblica, no final de janeiro de 1972, uma proposta de criao da Unidade, com a definio dos seus limites, equipamentos e oramentos necessrios. Tendo sido a proposta bem acolhida pela Secretaria-Geral da Presidncia da Repblica, foi elaborada, a partir do documento do IBDF, uma exposio de motivos e uma minuta de decreto para a criao do Parque, os quais foram encaminhados ao Ministro da Agricultura. Por meio do Decreto n. 70.355, de 3 de abril de 1972, cujo texto reproduz fielmente a minuta encaminhada pelo IBDF, promulgado pelo presidente Emlio G. Mdici e pelo ministro da Agricultura Luiz Fernando Cisne, criado o Parque Nacional da Serra da Canastra. As primeiras medidas tomadas para a implementao da Unidade foram a disponibilizao de recursos para iniciar a efetivao do Parque e a contratao de funcionrios, os quais iniciariam uma aproximao com a comunidade a partir de um trabalho de arborizao da cidade de So Roque de Minas, o qual no surtiu efeito. Outra medida tomada pelo IBDF, em 29 de janeiro de 1973, foi a contratao da Fundao Joo Pinheiro (FJP) para realizar o estudo do levantamento dos recursos naturais e o cadastramento das propriedades na rea do PNSC. A rea a ser estudada era calculada em 200.000 ha, porm o levantamento foi realizado para apenas 106.185,50 ha. A iniciativa de se efetuar uma reduo a ser estudada decorreu de entendimentos havidos com o Sr. Delegado Regional do IBDF e a FJP. Faz-se importante ressaltar que, a partir desse momento da histria, foram feitos acordos para reduzir a rea de estudos e desapropriao do Parque e no dos seus limites. Para solucionar a questo fundiria existente em vrias UCs, o governo federal declarou as terras de algumas unidades como rea prioritria de interesse de reforma agrria, permitindo, assim, a desapropriao e o pagamento em ttulos da dvida agrria. Como tentativa de soluo dos problemas fundirios do PNSC, os mesmos procedimentos acima mencionados tambm foram adotados. Nesse sentido, foi necessria a promulgao de dois decretos: Decreto n. 74.446, de 21 de agosto de 1974, que dispe sobre a criao de rea prioritria de emergncia, para fins de reforma agrria, no Estado de Minas Gerais e d outras providncias, apresentando, em seu art. 1, o que se segue: fica declarada rea prioritria de emergncia, para fins de reforma agrria, a regio constituda pelos municpios de Sacramento, So Roque de Minas e Vargem Bonita, no Estado de Minas Gerais, com os limites e confrontaes definidos pela Fundao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE;

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Decreto n. 74.447, de 21 de agosto de 1974, que declara de interesse social, para fins de desapropriao, imveis rurais situados nos municpios de Vargem Bonita, Sacramento e So Roque de Minas, compreendidos na rea prioritria de emergncia, para fins de reforma agrria, de que trata o Decreto n. 74.446, de 21 de agosto de 1974. No art. 1, apresentado o que se segue: declarada de interesse social, para fins de desapropriao, nos termos do artigo 18, letra "h", artigo 20, inciso II e VI, e artigo 24, inciso V, da Lei n. 4.504, de 30 de novembro de 1964, uma rea de terras, medindo aproximadamente 106.185,50 ha (cento e seis mil, cento e oitenta e cinco hectares e cinqenta ares), de diversos proprietrios, situadas nos municpios de Vargem Bonita, Sacramento e So Roque de Minas, no Estado de Minas Gerais, localizada entre os meridionais de 4615 e 4700 a oeste de Greenwich e os paralelos de 2000 e 2030 de latitude sul. No pargrafo nico desse artigo, so apresentados os pontos do permetro da rea em questo. O art. 3 autoriza o Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria (Incra) a desapropriar os imveis rurais privados da referida rea.

Em setembro de 1974, Incra e IBDF firmaram convnio para a desapropriao da rea, cabendo ao primeiro executar as desapropriaes, mediante repasse de recursos pelo IBDF. Em um segundo momento, o Incra repassaria a este as terras desapropriadas. Todo o processo de desapropriao arrastou-se por muito tempo e gerou conflitos entre os expropriados e o Incra. A base desses conflitos estava fundamentada, principalmente, no preo das terras e benfeitorias estipuladas pelo rgo, que, segundo os fazendeiros, no correspondia ao valor real. Um grupo de proprietrios de terras atingidas pelo decreto de desapropriao encaminhou ao ento ministro da Agricultura, Alisson Paulinelli, uma proposta de acordo. Faz-se importante ressaltar que o ministro Paulinelli, natural de Piumhi e muito ligado s bases rurais da regio, era bastante favorvel reivindicao dos proprietrios. Sentindo-se prejudicados, os proprietrios encomendaram um estudo que resultou na proposta que tratava essencialmente dos valores das indenizaes, mas abordava tambm a questo de limites, quando propunha a excluso da rea denominada Vo, que se referia ao vale dos Cndidos, e justificava que, por ser uma rea agricultvel, sua retirada do projeto teria apoio no Decreto n 70.355, de 3 de abril de 1972, que criou o Parque, pois o seu artigo 4 autorizava a excluso de reas agricultveis. O ofcio anexava uma srie de requerimentos de proprietrios sugerindo ainda a reviso do trabalho feito pela Fundao Joo Pinheiro, em funo das dvidas e dos erros levantados. Segundo ofcio do delegado do IBDF em Minas Gerais, Ivens Pinto Franqueira (1975), encaminhado ao Dr. Celso Soares de Castro, diretor do Departamento de Parques Nacionais e Reservas Equivalentes, do IBDF, e aps reunio do presidente do IBDF com o Ministro da Agricultura, ficou acordada a excluso dos imveis situados no local denominado Vo. No mesmo ofcio, o delegado justificava essa nova reduo da rea a ser desapropriada. Com a retirada da rea do Vo, no nosso entender, tornou-se necessrio excluir tambm as reas do Chapado da Babilnia e propriedades/posses adjacentes, pelas dificuldades de acesso, fiscalizao e administrao, bem como os imveis de propriedade da Empresa Reflorestadora Sacramento Ltda., onde se acham implantados projetos de reflorestamento aprovados pelo IBDF,

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reduzindo-se assim a rea inicialmente levantada, de 106.185,50 ha, para 61.929,00 ha, como primeira etapa de desapropriao. Mesmo com a excluso temporria de grande parte da rea original a ser desapropriada, os conflitos com os proprietrios continuaram, uma vez que o impasse persistia na fixao do valor da terra nua e das benfeitorias e na forma de pagamento, pois os proprietrios queriam receber tudo em moeda corrente, e o poder pblico, por meio do Incra, persistia no valor declarado pelos proprietrios no Cadastro de Propriedades Rurais e no pagamento dos ttulos da dvida agrria. Reunies entre proprietrios e tcnicos do IBDF, em Braslia, nesse perodo, no solucionaram o problema. Apesar das reivindicaes dos proprietrios, os valores definidos pelo Incra foram aprovados pelo Ministrio da Agricultura, e a ao desapropriatria foi iniciada na Justia Federal em 3 de maio de 1976, abrangendo uma rea de 60.748,69 ha. O depsito judicial das indenizaes atingiu 116 glebas e 174 expropriados, com os valores da terra nua a serem pagos pelo Incra em ttulos da dvida agrria, resgatveis em cinco anos, e as benfeitorias, pagas pelo IBDF, em moeda corrente. A incessante presso dos expropriados e a resistncia em desocupar as terras levaram o IBDF a nomear comisso para reviso dos valores. Em relatrio datado de dezembro de 1977, aps visita ao local e consulta aos cartrios, prefeituras e tcnicos, a comisso determina um preo mais alto para a terra, tambm no aceito pelos proprietrios. importante ressaltar que, segundo informaes colhidas em entrevistas com desapropriados, a resistncia organizada reuniu principalmente os proprietrios de maior posse, que tinham condies de aguardar na justia a soluo de seus processos. J os pequenos proprietrios, em sua maioria, aceitaram os acordos propostos. Como os documentos disponveis no esclarecem sobre os passos seguidos no processo de desapropriao, presume-se que a ao judicial prosseguiu no sentido de julgar os casos individuais apresentados, sendo que, at o momento, ainda existem processos em tramitao. A questo dos limites para fins de desapropriao permanecia como um grande desafio para a implementao da Unidade. Em 1977, foi contratada a empresa Znite para o levantamento e a demarcao da rea. O levantamento topogrfico estabeleceu uma rea de 71.525 ha, com permetro de 173,4 km e anel de entorno de 10 km de largura, excluindo toda a parte sul da rea proposta em 1972, aqui denominada de Chapado da Babilnia. Acredita-se que, a partir desse momento, um grande equvoco foi instalado, pois assumiu-se para o Parque Nacional da Serra da Canastra uma rea de 71.525 ha e no os aproximadamente 200.000 ha, como estabelecido no decreto que criou a Unidade, o que acarreta atualmente grandes conflitos para a gesto do Parque. A adoo dos limites para a desapropriao no foi suficiente para solucionar os conflitos existentes, sendo o perodo de 1976 e 1980 o de maior turbulncia da histria do Parque, quando ocorreram incndios de grandes propores e os pecuaristas do entorno foram autorizados a queimar e soltar o gado no Chapado da Canastra, em virtude da perda da pastagem de suas propriedades em decorrncia de geadas, segundo Souto, 1999/2000. Ainda segundo Souto, essas situaes provocaram enorme repercusso entre polticos e conservacionistas, acarretando a abertura de inquritos, aumento em

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100% do preo do hectare desapropriado oferecido aos produtores em litgio, ameaas de morte aos funcionrios do IBDF e interveno da Polcia Federal. Em 1977, Oliveiro de Almeida Soares foi oficialmente nomeado como primeiro diretor do Parque e, juntamente com alguns funcionrios, criou a primeira estrutura de gesto da Unidade, tendo como principal misso o cercamento da rea e a retirada dos ocupantes e do gado. Em entrevista com Oliveiro de Almeida Soares, registrou-se que havia aproximadamente 20 mil cabeas de gado dentro da rea do Parque naquele momento e que se mantinha o mesmo sistema tradicional das queimadas e das pastagens da seca no alto do chapado. Originrio da regio, Oliveiro buscou estabelecer uma poltica de aproximao com os fazendeiros, no sentido de convenc-los a deixar as terras do Parque, no que obteve relativo xito entre 1978 e 1979. O cercamento foi realizado englobando a rea oficialmente delimitada [grifo nosso], com alguns desvios nas reas de resistncia dos proprietrios. Procedeu-se tambm ao desmonte das cercas e muros de pedras, assim como das casas e outras benfeitorias existentes na rea cercada, muitas vezes realizadas pelos prprios fazendeiros. Faz-se importante ressaltar, nas palavras de Oliveiro, a utilizao do termo rea oficialmente delimitada, que nos faz observar a cristalizao da idia de que o Parque abrange somente o Chapado da Canastra. Todo o empenho do diretor da Unidade no diminuiu a revolta dos desapropriados, que continuaram a fazer queimadas na rea do Parque. Segundo Oliveira, 1992, as grandes queimadas que se abateram sobre o PNSC nos ltimos anos da dcada de 1970 mobilizaram a opinio pblica nacional sobre a situao fundiria desse Parque. Segundo artigo publicado no jornal Estado de Minas, em 1/8/79, um alto funcionrio militar, Oswaldo Matos, do IBDF de Braslia, reuniu-se em So Roque de Minas com fazendeiros que reclamavam a perda de suas pastagens na parte baixa, pela geada. A partir de ento, esse funcionrio autorizou-os a fazer queimadas e, depois, a soltar o gado no chapado. Da em diante, os fazendeiros passaram a atear fogo livremente no chapado. De 24 de julho a 1o de agosto, o fogo destruiu 90% do Parque, uma vez que as dificuldades de acesso serra da Canastra impossibilitaram o combate dos incndios. Esse episdio repercutiu negativamente na imprensa e junto aos conservacionistas, que acusavam o IBDF de responsvel pelas constantes invases e incndios no local. Um novo acordo foi tentado, mas, diante da resistncia dos fazendeiros na desocupao das reas e na falta de uma poltica de comunicao e negociao eficientes por parte do IBDF, a situao na regio deteriorou-se, com os funcionrios isolados e sentindo-se ameaados. A soluo adotada pelo IBDF para a retomada do domnio da terra foi a interveno da Polcia Federal, a pedido do delegado regional do rgo, Ivens Pinto Franqueira. Em setembro de 1980, o diretor da Unidade afastou-se de So Roque de Minas, e a Polcia Federal forou a sada de todos aqueles que ainda se encontravam dentro do Parque, atingindo especialmente os retireiros e suas famlias, que permaneciam na rea a mando dos fazendeiros mais poderosos. Os relatos orais sobre esse episdio revelam um grande trauma vivido pela populao, diante de atos violentos e arbitrrios cometidos pelos policiais. Mesmo para os funcionrios do Parque que residiam em So Roque de Minas, a interveno policial foi recebida como um ato de violncia.

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Reflexos desses momentos ainda so relatados, servindo como ferramenta poltica para atravancar a implementao do Parque e dificultar o estabelecimento de uma relao mais amena com a populao do entorno. Desde a criao do Parque, at os dias de hoje, a chefia do PNSC enfrenta problemas referentes situao fundiria da Unidade, o que dificulta a implementao da mesma em sua totalidade. 5.3 CARACTERIZAO DOS FATORES ABITICOS E BITICOS O clima regional caracterizado pela sazonalidade, com chuvas no vero e inverno seco. A temperatura mdia do ms mais frio inferior a 18 C, e a do ms mais quente no ultrapassa 22 C. Segundo estudos de Souza (1993), a rea apresenta caractersticas de pluviosidade anual entre 1.000 e 1.500 mm. O trimestre de dezembro a fevereiro, alm de mais chuvoso, o de maior excedente hdrico e o de escoamento superficial mais ativo. No que se refere geologia, a regio da serra da Canastra, segundo Ab Saber, encontra-se na faixa de transio entre o Domnio dos Chapades, recoberta por cerrados e penetrada por florestas-galerias, ao norte, e o Domnio dos Mares de Morros Florestados, ao sul, compreendendo uma regio de macios planlticos de estrutura complexa e planaltos sedimentares compartimentados. J nas unidades morfoestruturais de Minas Gerais definidas por Barbosa (1978), a regio em anlise encontra-se inserida no compartimento dos geossinclneos do pr-cambriano inferior e pr-cambriano indiviso, em que se destacam chapadas, relevos dissecados e escarpamentos tectnicos, cuja morfognese est associada aos processos qumicos e mecnicos, de forma acentuada. Quanto geomorfologia, a gua constitui um dos principais elementos fsicos na composio da paisagem do PNSC, ligando fluxos da atmosfera inferior e da litosfera. Nesse trajeto, a gua se envolve em vrios tipos de processos como intemperismo, eroso, transporte e deposio, configurando os fluxos morfodinmicos. Assim, o ciclo hidrolgico o ponto de partida dos processos geomorfolgicos exgenos. A paisagem do PNSC apresenta, basicamente, uma alternncia de plats, encostas escarpadas e vales encaixados. Pode-se distinguir a presena de dois grandes segmentos. No primeiro, o amplo plat do macio da Canastra constitui a fisionomia predominante, coberta por formaes campestres. No segundo, de relevo mais movimentado e correspondendo regio da chapada da Babilnia, nota-se a alternncia de faixas mais estreitas dessa feio a encostas escarpadas e vales alongados, sempre com orientao NW-SE, seguindo o controle dos macios de quartzito. Sob o ponto de vista geomorfolgico, foram identificadas duas unidades: as serras da Canastra e os patamares da Canastra, que correspondem a dois nveis topogrficos distintos. O mais elevado dado pelos topos dos chapades, barras e cristas geralmente mantidas pelos quartzitos, com altitudes em torno dos 1.300 m. Referente ao solo do PNSC, foram identificados vrios tipos, geralmente em associao, onde predominam os latossolos vermelho-amarelo distrficos de textura argilosa, atualmente denominado latossolo. Cambissolos distrficos e litlicos tambm foram identificados.

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Dentro dos limites do Chapado da Canastra, foi realizado um levantamento semidetalhado de solos na rea do PNSC, no qual foram identificadas seis classes de solos: solos latosslicos; solos medianamente profundos; solos cambislicos medianamente profundos com ou sem cascalho; solos poucos profundos cambislicos; solos pouco profundos litosslicos (classificao atual neossolos); e afloramentos rochosos. Caracterizados por grandes altitudes (de 700 a mais de 1.400 m), os dois macios, o da Canastra e o da Babilnia, formam o bero de uma rede hidrogrfica que representada por cursos de gua que drenam para os rios So Francisco, Grande e Araguari. Na bacia do rio So Francisco, as principais drenagens so constitudas pelo rio Santo Antnio e o prprio So Francisco. A drenagem do rio Grande mais extensa e tem como principais representantes o ribeiro Grande e o rio Santo Antnio. O rio Araguari tambm tem sua nascente dentro da rea do Parque. Esses rios recebem um nmero muito grande de afluentes menores, uma boa parcela dos quais com nascentes dentro do PNSC. No que se refere vegetao, a rea do PNSC e seu entorno situam-se no domnio fitogeogrfico do cerrado. De forma geral, o cerrado conceituado como uma vegetao xeromorfa, com rvores de aspecto tortuoso, preferencialmente de clima estacional, mas podendo tambm ser encontrado sob climas ombrfilos. As caractersticas de tortuosidade, as folhas coriceas e a pouca estatura de seus indivduos derivam da natureza edfica, estando relacionadas ao alto teor de alumnio de seus solos. A estrutura e a biomassa da cobertura vegetal aumentam em uma razo direta com a fertilidade e profundidade do solo, desde o campo limpo at o cerrado. At o momento, foram identificadas aproximadamente 1.000 espcies, descobertas 43 espcies novas e vrias espcies endmicas no Chapado da Canastra e regies oeste e sudoeste do Estado de Minas Gerais, revelando, assim, uma grande riqueza e diversidade de espcies. Quanto fauna, o PNSC est localizado na provncia zoogeogrfica Caririboror, abrigando espcies tpicas do bioma do cerrado e demais formaes abertas do Brasil Central, sendo muitas delas ameaadas de extino. No que se refere aos anfbios anuros, algumas espcies com distribuio quase que restrita ao cerrado foram diagnosticadas no Chapado da Canastra. Quanto ao endemismo, estudos registram para a regio do PNSC as seguintes espcies como potencialmente endmicas: Hyla ibitiguara, Scinax canastrensis e Odontophrynus. sp. (aff. moratoi). J foram registradas, no Parque e rea de entorno, 354 espcies de aves. No que se refere s espcies da avifauna ameaadas de extino, raras ou vulnerveis, o pato-mergulho (Mergus octosetaceus) merece especial destaque por ser uma espcie rara, citada pelos especialistas como globalmente ameaada. Para a mastofauna, nota-se a significativa diversidade de mamferos no Parque, ao ser registrada a ocorrncia de 38 espcies terrestres, quando comparado com o nmero de espcies (em equivalente biomassa) para todo o cerrado 46 txons, retratando a importncia do PNSC como local de alimentao, refgio e reproduo.

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Diante de uma viso panormica dos fatores abiticos e biticos do Parque, pode-se afirmar que o PNSC de grande significncia para a proteo e conservao dos recursos naturais e culturais ali existentes e apresenta significativas fragilidades para o cumprimento dos seus objetivos de criao, necessitando de uma maior ateno poltico-administrativa, principalmente para o Chapado da Babilnia. 5.4 PATRIMNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL No que se refere ao patrimnio cultural material da Unidade, destacam-se diversos stios histricos, como a Fazenda Zagaia, Fazenda dos Cndidos, Retiro de Pedras, Curral de Pedras e a Fazenda Santo Antnio, alm de alguns stios arqueolgicos, ainda pouco estudados, como o Samambaia, onde h ocorrncia de inscries e pinturas rupestres em paredo localizado em uma gruta de difcil acesso, e o do Letreiro, estando este na rea do Chapado da Babilnia. Quanto ao patrimnio imaterial, pode-se citar o espao simbolicamente decretado pela populao local como rea da nascente do rio So Francisco, lugar utilizado para prticas religiosas e manifestaes culturais. 5.5 SITUAO FUNDIRIA O Decreto no 70.355, de 1972, que cria o Parque, define que essa UC tem aproximadamente 200.000 ha, com um permetro de 173,4 km. Da rea total, foram regularizados at o momento 71.525 ha, em uma rea contnua na regio, conhecida como Chapado da Canastra, como j apresentado. A desapropriao foi realizada pelo Incra, tendo como base o Decreto no 74.447, de 1974, mas muitos dos processos ainda no foram concludos. Para efetivar a rea total do Parque, falta regularizar aproximadamente 130.000 ha. Para essa rea, ainda no foram realizados os estudos requeridos. 5.6 FOGO Os registros sobre a ocorrncia de incndios na regio de serra da Canastra so bastante antigos. Atualmente, esses registros tm sido feitos de forma continuada, apenas na rea do Chapado da Canastra, permitindo uma anlise de dados satisfatria de caractersticas dos incndios na regio. A anlise desse material permite concluir que a maior parte das causas de incndios naquela regio do PNSC, desde 1987, seja de origem antrpica, apesar da ocorrncia de grande nmero de incndios causados por raios. O combate aos incndios no Parque, desde sua criao, tem sido executado principalmente pelos funcionrios da Unidade. Eventualmente, eles so auxiliados por alguns soldados do corpo de bombeiros e policiais florestais, no caso de grandes incndios. H grupamentos de corpo de bombeiros nas cidades de Uberaba e Passos, porm, no aparelhados para a atividade. Desde 1999, o PNSC vem contando ainda com brigadistas de incndio.

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5.7 ATIVIDADES APROPRIADAS So entendidas como atividades apropriadas as que se referem fiscalizao, educao ambiental, pesquisa, divulgao e visitao desenvolvidas no PNSC. No que se refere atividade de fiscalizao, o esquema adotado para o PNSC, at o presente, realizado sistematicamente no Chapado da Canastra e regio do entorno e com menor freqncia no Chapado da Babilnia. Para o desenvolvimento dessa atividade, a Unidade conta com um total de nove servidores. As pesquisas cientficas desenvolvidas dentro da Unidade, no perodo de 1978 a 2002, totalizam 45, abordando, principalmente, aspectos da fauna e flora local. Vale ressaltar que grande parte das instituies que desenvolvem pesquisas no Parque so universidades, especialmente as localizadas no Estado de Minas Gerais. Quanto aos trabalhos de educao e conscientizao ambiental, os levantamentos realizados demonstram no haver programas especficos sobre esse tema desenvolvidos pela Unidade, sendo um trabalho realizado de forma no sistemtica, apenas quando h alguma demanda de escolas ou demais instituies dos municpios situados no entorno do Parque. Quadro semelhante ao acima apresentado pode ser observado nas atividades de divulgao do Parque e de suas atividades de visitao. O controle das atividades de visitao realizado nas portarias e em rondas peridicas, sendo, nos perodos crticos de incndio, feito permanentemente na rea das nascentes do rio So Francisco. De acordo com dados levantados, pde-se observar que houve um incremento bastante significativo na visitao a partir de 1996, sendo os meses que correspondem s frias escolares (janeiro, junho, julho e dezembro) os que apresentam maior nmero de visitantes. Apenas na rea do Chapado da Canastra so desenvolvidas atividades de uso pblico, por esta encontrar-se sob gesto do Ibama. Todas essas atividades desenvolvidas so geridas e operacionalizadas pelo prprio Ibama, no havendo nenhum servio terceirizado. 5.8 ATIVIDADES OU SITUAES CONFLITANTES As atividades e situaes conflitantes com a categoria de manejo do PNSC existentes hoje so mais significativas na rea do Chapado da Babilnia, devido existncia de diversas propriedades/posses, embora tambm sejam observadas algumas inadequaes no Chapado da Canastra. De modo geral, essas atividades ou situaes conflitantes dizem respeito ao desenvolvimento da agricultura, pecuria, minerao (quartzito, caulim e diamante), incndios, utilizao da Estrada Principal do Chapado da Canastra para transporte de cargas e passagem de moradores locais, existncia de linha de transmisso de energia, desenvolvimento de atividades tursticas de forma desordenada, presena de espcies de animais e plantas exticas, atividades de apicultura e criao de peixes exticos, animais domsticos e reflorestamento de Pinus.

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5.8.1 PROBLEMAS AMBIENTAIS DECORRENTES So muitos os fatores externos e internos que podem comprometer a integridade ambiental do PNSC, conforme apresentado. Parte de seus ambientes foram explorados no passado e se encontram, atualmente, em estado de recuperao natural. Outros espaos continuam sendo explorados. Os processos de recuperao so mais complicados, quando a interveno humana chega ao nvel de algumas espcies deixarem de existir em certos locais, pois acabam faltando condies mnimas para a manuteno de populaes geneticamente viveis. De modo geral, as atividades agropastoris ali desenvolvidas, associadas falta de fiscalizao, so responsveis pela grande maioria dos problemas ambientais, como incndios, presena de gado, gramneas invasoras, poluio, minerao, descaracterizao de cursos de gua e da vegetao ciliar. 5.9 ASPECTOS INSTITUCIONAIS DA UNIDADE DE CONSERVAO 5.9.1 PESSOAL O PNSC possui hoje 23 servidores do Ibama lotados na Unidade. Alm desse pessoal, o Parque conta com 15 funcionrios contratados pela empresa Minas Servios Gerais para prestao de servios de conservao e manuteno e com uma Brigada de Incndio, formada por 26 brigadistas contratados temporariamente pelo Ibama. 5.9.2 INFRA-ESTRUTURA, EQUIPAMENTOS E SERVIOS Embora o PNSC conte atualmente com infra-estrutura e equipamentos que vm ate