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Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Governador Valadares Conselho Municipal de Assistência Social de Governador Valadares Comissão Intersetorial para elaboração do Plano Municipal de Convivência Familiar e Comunitária PLANO MUNICIPAL DE PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E DEFESA DO DIREITO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES DE GOVERNADOR VALADARES À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA

PLANO MUNICIPAL DE PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E DEFESA … · Sociedade Missionária de Recuperação Humana ... Valquíria dos Santos Souza Lima Suplente: ... Maria das Dores dos Santos

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Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Governador ValadaresConselho Municipal de Assistência Social de Governador Valadares

Comissão Intersetorial para elaboração do Plano Municipal de Convivência Familiar e Comunitária

PLANO MUNICIPAL DE PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E DEFESA DO DIREITO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES DE GOVERNADOR VALADARES

À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA

Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Governador ValadaresConselho Municipal de Assistência Social de Governador Valadares

Comissão Intersetorial para elaboração do Plano Municipal de Convivência Familiar e Comunitária

PLANO MUNICIPAL DE PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E DEFESA DO DIREITO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES DE GOVERNADOR VALADARES À CONVIVÊNCIA

FAMILIAR E COMUNITÁRIA

Governador Valadares, agosto de 2012.

CRÉDITOS

Elisa Maria CostaPrefeita Municipal de Governador Valadares

Geremias Ferreira de BritoVice- Prefeito Municipal de Governador Valadares Jaime Luiz Rodrigues JúniorSecretário Municipal de Assistência Social

Maria da Penha Filipe da FonsecaPresidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente

Maria José VieiraPresidente do Conselho Municipal da Assistência Social

Adilene Casé do Nascimento Coordenadora da Comissão Intersetorial de Elaboração do Plano Municipal de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes de Governador Valadares à Convivência Familiar e Comunitária .

Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente

Representantes Governamentais

Secretaria Municipal de GovernoTitular: Silvano GomesSuplente: Cláudia Aparecida dos Santos Silva

Secretaria Municipal de Desenvolvimento EconômicoTitular: Paulo Marcos CostaSuplente: Renato de Oliveira Silva

Secretaria Municipal de EducaçãoTitular: Dalva Mendes Marcos RabeloSuplente: Cláudia Miffarreg Soares Câmara

Secretaria Municipal de SaúdeTitular: Renato Fraga ValentimSuplente: Solange Nunes Leite Batista Coelho

Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e LazerTitular: Fábio Fernandes BrasileiroSuplente: Adalmir Neres de Matos

Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Agricultura e AbastecimentoTitular: Vilmar Rios Dias JúniorSuplente: Milther Rodrigues Cunha

Secretaria Municipal de PlanejamentoTitular: Wellington Moreira AzevedoSuplente: Rogéria Cristina Silva Gomes

Secretaria Municipal de Assistência SocialTitular: Jaime Luiz Rodrigues JúniorSuplente: Darci Eloi dos Santos

Secretaria Municipal da FazendaTitular: Valter Luiz Machado da SilvaSuplente: Glécya Mara Lopes

Representantes Não GovernamentaisTitulares

Ordem Religiosa das Escolas Pias - OREP / Itaka Escolápios / GV Jemima Rodrigues Reis Gonçalves

Creche Manuela Domingas de CastroCreuza Germano Brito

Instituto Nosso LarPaulo Ribeiro

Lar Fabiano de CristoLuciane Rabello Barros

Fundação José LuccaAna Célia Gonçalves Santiago

Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais de Governador Valadares - APAE / GVRute Gonçalves do Nascimento

Sociedade Missionária de Recuperação Humana - SOMIREHU Maria da Penha Filipe da Fonseca

Associação de Proteção à Maternidade e Infância - APMIRosilda Campos Cardoso

Associação Comunitária Arte PlanaltoMarilson Fernandes de Oliveira

Suplentes

Ordem Religiosa das Escolas Pias - OREP / Itaka Escolápios / GVAmarildo Mafalda Oliveira

Fundação Percival FarquharTandrécia Cristina de Oliveira

Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais - APAE/GVLucimar Dias Cordeiro

Lar Hermes Antônio PintoMárcia Aparecida Oliveira Novaes

Creche Manuela Domingas de CastroRízia Renata de Oliveira

Creche Gente InocenteLucianno Pereira

Conselho Municipal de Assistência Social

Representantes Governamentais

Secretaria Municipal de Assistência SocialTitular: Edmarcius Carvalho NovaesSuplente: Tatiana Rodrigues Campos

Secretaria Municipal de EducaçãoTitular: Judith Irene da Silva RochaSuplente: Fernanda Góis de Brito Secretaria Municipal de SaúdeTitular: Valquíria dos Santos Souza LimaSuplente: Melina Esteves Vial

Secretaria Municipal da FazendaTitular: Ilma Seles da CostaSuplente: Maria Rosane Martins

Secretaria Municipal de GovernoTitular: Maria de Fátima de JesusSuplente: Eisenhower Soares da Mota

Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Agricultura e AbastecimentoTitular: Elvira Gusmão NetaSuplente: Rina Rodrigues da Silva

Secretaria Municipal de Desenvolvimento EconômicoTitular: Raimundo Carlos SantanaSuplente: Devani Tomaz Domingues

Coordenadoria de Apoio e Assistência ao Deficiente - CAADTitular: Camila Gomes de Oliveira FélixSuplente: Maria das Dores dos Santos

Coordenadoria de Apoio e Assistência ao Idoso - CAAITitular: Maricléia Keila Simões LourençoSuplente: Zeni Borges de Santana

Representantes Não Governamentais

Clubes e serviçosTitular: Maria Gorette Coelho

Suplente: Eunice Chaves

Instituições de Assistência ao ExcepcionalTitular: Gracy Dalmácea ChavesSuplente: Maria Helena Alves de Sousa

Associação de Moradores e Movimentos PopularesTitular: Sérgio Luiz LimaSuplente: Lícia Maria Paraíso Duarte

CrechesTitular: Deuzuíta Marcos MoreiraSuplente: Lucianno Pereira

Asilos e AlberguesTitular: Maria Madalena de Freitas PinheiroSuplente: Juliana Corrêa de Sousa

Associação de Idosos / GVTitular: Maria José VieiraSuplente: Margareth de Almeida e Silva Carvalhaes

Associação Deficientes / GVTitular: Cristina Abreu Soares CostaSuplente: Rivânia Andréa Perdigão

Profissional de Serviço Social e AfinsTitular: Maria Isabel de JesusSuplente: Regina Coeli Padilha de Carvalho

Entidades de Assistência e Atendimento à Criança.Titular: Heliana Regina PintoSuplente: Patrícia Bicalho Duarte

Membros da Comissão Intersetorial de Elaboração do Plano Municipal de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes de Governador Valadares à Convivência Familiar e Comunitária.

Secretaria Municipal de Educação (SMED) Elenilza Ingrácia da Silva Rosa Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer (SMCEL)Ivana Martins Lage

Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS)Marinalva Luciana da Silva

Secretaria Municipal de Planejamento (SEPLAN)Wellington Moreira Azevedo

Conselho Municipal de Educação (CME)Georgete Moufarreg Drumond Conselho Municipal de Saúde (CMS) Maria Aparecida Roque

Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência (CMPD) Valdivino Pereira de Araújo

Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) Maria da Penha Filipe da Fonseca

Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) Jemima Rodrigues Reis Gonçalves

Conselho Municipal de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos (CMPDDH) Luimara Victor de Carvalho Schenato

Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS)Ilma Seles da Costa

Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS)Heliana Regina Pinto

Fórum dos AbrigosMaria Perpétua Drumond Avelino Ministério Público Sônia Beatriz Raphael Pascoal

Vara da Infância e JuventudeAdilene Casé do Nascimento

8º Depto de Polícia Civil de Minas Gerais Dr. Marcos de Alencar Miranda

8ª Região da Polícia MilitarSgto Mateus Neiva Ferreira

Conselhos Tutelares de Governador ValadaresElane Benevides Simões Universidade Vale do Rio DoceRivânia Andréa Perdigão

Secretaria Executiva dos ConselhosAdriana Dornelas SantosZilá Raquel Pereira Costa

Grupo de Trabalho para Elaboração do Plano Municipal de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes de Governador Valadares à Convivência Familiar e Comunitária.

Alex Vilela OliveiraAndréa Costa Gualberto AlvesChirlem Flávia LopesElane Benevides SimõesEllen Cristina Rocha FonsecaGabriela Mara Corrêa SilvaGracy Dalmacea ChavesGustavo Rodrigues LeiteIlma Seles CostaJaqueline de Souza SilvaJemima R. Reis GonçalvesKássia F. GuimarãesMadalena de Souza SilvaMaria Aparecida da SilvaMaria Perpétua DrumondMarta Maria Aquino CamargosMichelle E. de CarvalhoSâmara NickSônia B. Raphael PascoalVanessa Luís CarvalhoVera Luci Soares Oliveira

ASSESSORIA TÉCNICA

UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE Assessoria de ExtensãoPolo de Promoção da Cidadania

Angelita Dolores Basilato MazegaMaira Alvarenga de SouzaMerly Gonçalves CorreiaMônia Tomaz SoaresRivânia Andréa PerdigãoTandrécia Cristina de Oliveira

Cristina Salles Caetano – Coordenadora do Polo de Promoção da Cidadania.

Capa, diagramação, ilustraçãoDanilo Guimarães Almeida

SUMÁRIO

Lista de Tabelas, Quadros e Gráficos Lista de Siglas

APRESENTAÇÃO I. SOBRE O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES II. MARCO LEGAL E CONCEITUAL

2.1. Serviços de acolhimento 2.2. A articulação entre o direito de crianças e adolescentes e o Sistema de Justiça2.2.1 Autoridade Judiciária2.2.2 Ministério Público2.2.3 Defensoria Pública2.2.4 Integração Operacional

2.3. As Delegacias da Polícia Civil

2.4. Conselho Tutelar2.4.1. Marco legal do Conselho Tutelar do Município de Governador Valadares

2.5. Assistência Social2.5.1. Política de Assistência Social e as configurações previstas no Sistema Único de Assistência Social: a implementação do CRAS e CREAS.2.5.2. O Centro de Referência da Assistência Social – CRAS como operacionalizador da Proteção Social Básica.2.5.3. O Centro de Referência Especializado da Assistência Social – CREAS como operacional da Proteção Social Especial

2.6. Educação 2.7. Saúde Mental

2.8. Geração de Emprego e Renda2.8.1. A importância dos projetos de Geração de Trabalho e Renda para a convivência familiar e comunitária.2.8.2. O que são políticas de geração de trabalho e renda?2.8.3. Política Pública de Geração de Emprego e Renda e Assistência Social2.8.4. Órgão Gestor da política de desenvolvimento econômico em Governador Valadares2.8.5. Conselho Municipal do Trabalho e Emprego e Geração deRenda de Governador Valadares 2.8.6. A política de geração de trabalho e renda no setor privado: “Sistema S”

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III. MARCO SITUACIONAL 3.1. Acolhimento de Crianças e Adolescentes em Governador Valadares3.1.1. Procedimentos Metodológicos3.1.2. Análise situacional dos Serviços de Acolhimento Institucional e Familiar em Governador Valadares 3.1.3. Caracterização das crianças e adolescentes acolhidos em Governador Valadares3.1.4. Caracterização das famílias de crianças e adolescentes acolhidos em Governador Valadares.3.1.5. Considerações Finais.

3.2. O Sistema De Justiça3.2.1. Análise situacional do Sistema de Justiça da Comarca de Governador Valadares

3.3. Delegacias de Polícia Civil

3.4. Conselho Tutelar3.4.1. Procedimento Metodológico 3.4.2 Principais resultados alcançados na pesquisa colegiada e individual dos Conselheiros sobre o funcionamento do Conselho Tutelar3.4.3. Principais resultados alcançados na avaliação dos Conselheiros sobre o funcionamento do Conselho Tutelar.3.4.4. Considerações finais

3.5. Assistência Social3.5.1. Gestão da Política de Assistência Social em Governador Valadares.3.5.1.1. Gestão do CRAS3.5.1.2. Gestão do CREAS3.5.2. A percepção dos técnicos do Centro de Referência de Assistência Social de Governador Valadares.3.5.3. A percepção dos técnicos do Centro de Referência Especializado de Assistência Social de Governador Valadares. 3.6. Educação 3.7. Saúde Mental 3.8. Geração de Emprego e Renda

IV. DIRETRIZES DO PLANO MUNICIPAL DE PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E DEFESA DO DIREITO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES À CONVI-VÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA

V. OBJETIVOS GERAIS

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VI. IMPLEMENTAÇÃO, MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO 6.1. Necessidades para a implementação do Plano Municipal6.2. Responsabilidades da Comissão de Monitoramento e Avaliação6.3. Indicadores Gerais de Monitoramento6.4. Indicadores de Avaliação

VII. PLANO DE AÇÃO

VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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LISTA DE TABELAS, QUADROS E GRÁFICOS.

Tabela 01 - Principal fonte de financiamento dos Serviços de Acolhimento - Governador Valadares/2011

Tabela 02 - Sustentabilidade financeira dos Serviços de Acolhimento em Governador Valadares, 2011

Tabela 03 - Distribuição do pessoal de apoio, por modalidade dos Serviços de Acolhimento - Governador Valadares/2011

Tabela 04 - Capacidade instalada, em número de atendimentos, por modalidade dos Serviços de Acolhimento- Governador Valadares / 2011

Tabela 05 - Atendimento, pelos Serviços de Acolhimento, aos princípios de manutenção e fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários de crianças e adolescentes - Governador Valadares/2011

Tabela 06 - Avaliação dos Serviços de Acolhimento, sobre a intensidade da articulação com o Sistema de Garantia de Direitos, para o atendimento das demandas de crianças e adolescentes acolhidos - Governador Valadares/2011

Tabela 07 - Avaliação dos Serviços de Acolhimento sobre a intensidade da sua articulação com o Sistema de Garantia de Direitos, visando à promoção das famílias de crianças e adolescentes acolhidos - Governador Va-ladares/2011

Tabela 08 - Número de crianças e adolescentes acolhidos, por modalidade dos serviços de acolhimento e sexo. Governador Valadares - Agosto a Outubro de 2011

Tabela 09- Quantidade de crianças e adolescentes acolhidos, com irmãos, no mesmo e/ou em outro Serviço de Acolhimento - Governador Valadares/2011

Tabela 10 - Caracterização da situação jurídica das crianças e adolescentes acolhidos em Governador Valadares – Novembro de 2011

Tabela 11 - Tempo de permanência de crianças e adolescentes acolhidos, por modalidade dos Serviços de Acolhimento - Governador Valadares/2011

Tabela 12 - Caracterização das famílias, segundo o(s) responsável (is) pelas crianças e adolescentes acolhidos. Governador Valadares, 2011

Tabela 13 - Municípios que compõem a comarca de Governador Valadares, segundo população residente e número de crianças e adolescentes - Censo 2010

Tabela 14 - Natureza e quantidade de processos em tramitação na Vara da Infância e Juventude de Governador Valadares, em 06 de dezembro de 2011

Tabela 15 - Nível de integração entre a Polícia Civil e órgãos do Sistema de Garantia de Direitos - Governador Valadares 2011.

Tabela 16 - Atendimentos de casos de violação de direitos realizados pelo Conselho Tutelar, entre os anos de 2008 e outubro de 2011, em Governador Valadares.

Tabela 17 - Motivação para os encaminhamentos do Conselho Tutelar para os Serviços de Acolhimento Institucional ou Familiar, nos anos 2009 a 2011.

Tabela 18 - Quantidade de trabalhadores atuando nos Centros de Referência da Assistência Social em Governador Valadares – 2011

Tabela 19 - Média mensal de usuários atendidos nos Centros de Referência da Assistência Social, por categoria de família, pessoa com deficiência ou faixa etária. Governador Valadares/2011.

Tabela 20 - Público atendido no CREAS, por natureza de atendimento, nos anos de 2008, 2009 e 2010 - Governador Valadares/2011.

Tabela 21 - Nível de acesso dos técnicos do CRAS, à listagem das Famílias inscritas no CadÚnico - Governador Valadares / 2011.

Tabela 22 - Adequação da infraestrutura nos Centros de Referência da Assistência Social de Governador Valadares – 2011

Tabela 23 - Opinião dos informantes sobre o funcionamento dos fluxos de referência e contra-referência entre a rede socioassistencial, políticas setoriais e órgãos de defesa de direitos. CREAS - Governador Valadares / 2011

Tabela 24 - Avaliação da infra-estrutura do CREAS de Governador Valadares, considerando-se a adequação dos ambientes às exigências legais.

Tabela 25 - Número de matrículas realizadas no ensino básico da educação pública em Governador Valadares/2011.

Tabela 26 - Inclusão escolar de alunos com deficiência na escola pública de Governador Valadares, por segmento educacional - 2011.

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 - Recursos Humanos do Centro de Referência da Assistência Social - CRAS

Quadro 02 - Recursos Humanos do Centro de Referência Especializado da Assistência Social - CREAS Quadro 03 - Critérios estabelecidos pelos serviços de acolhimento para o recebimento de crianças e adolescentes – Governador Valadares/2011

Quadro 04 - Normas de visitas para os familiares, nos Serviços de Acolhimento em Governador Valadares – 2011

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Quadro 05 - Vulnerabilidades e Riscos diagnosticados nos territórios dos CRAS de Governador Valadares, com respectivas estratégias de enfrentamento dos mesmos.

Quadro 06 - Demanda registrada e estimada de Educação Infantil, Ensino Fundamental e EJA na Rede Pública de Ensino em Governador Valadares/2011.

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 - Número de Crianças e Adolescentes acolhidos por ano em Governador Valadares, entre 2008 e 2010

Gráfico 02 - Percentual de crianças e adolescentes acolhidos que retornaram, por ano, para o convívio da família de origem - Governador Valadares/ 2008 a 2010

LISTA DE SIGLAS

ABMP Associação Brasileira de Magistrados, Promotores de Justiça e Defensores Públicos da Infância e da Juventude.

ADELESTE Agência de Desenvolvimento do Leste de Minas GeraisADQF Associação de Dependentes Químicos e FamiliaresAMAS Associação Mineira de Assistência SocialANEEL Agência Nacional de Energia ElétricaBPC Benefício de Prestação ContinuadaCAAD Coordenadoria de Apoio e Assistência a Pessoa com DeficiênciaCadÚnico Cadastro Único para Programas SociaisCAPS Centro de Atenção PsicossocialCAPS´ I Centro de Atenção Psicossocial InfantilCAPS-ad Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e DrogasCDL Clube dos Diretores LojistasCEAS Conselho Estadual de Assistência SocialCEDCA Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do AdolescenteCERSAM´s Centros de Referência em Saúde MentalCETER-MG Conselho Estadual do Trabalho, Emprego e Geração de Renda do Estado de

Minas Gerais CETRAN-MG Conselho Estadual de Trânsito de Minas GeraisCI Comissão IntersetorialCMDCA Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do AdolescenteCME Conselho Municipal de EducaçãoCMJ Conselho Municipal de JuventudeCMPD Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência CMPDDH Conselho Municipal de Promoção e Defesa dos Direitos HumanosCMS Conselho Municipal de SaúdeCNA Cadastro Nacional de AdoçãoCNAS Conselho Nacional de Assistência Social CNBB Conferência Nacional dos Bispos do BrasilCODEFAT Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador COMAD Conselho Municipal Anti-DrogasCOMTER Conselho Municipal do Trabalho, Emprego e Geração de Renda de Governador ValadaresCONANDA Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente CRAEDI Centro de Referência e Apoio a Educação InclusivaCRAS Centro de Referência de Assistência SocialCREAS Centros de Referência Especializados da Assistência SocialCT Conselho TutelarDETRAN-MG Departamento de Trânsito de Minas GeraisDOE Departamento de Organização EscolarDP Defensoria PúblicaECA Estatuto da Criança e do AdolescenteEJA Educação de Jovens e AdultosEJEF Escola Judicial Desembargador Edésio FernandesFAT Fundo de Amparo ao Trabalhador

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FIEMG Federação das Indústrias do Estado de Minas GeraisFMDCA Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do AdolescenteGT Grupo de TrabalhoIBGE Instituto Brasileiro de Geografia e EstatísticaIDH-R Índice de Desenvolvimento Humano da Dimensão RendaIEL Instituto Euvaldo LodiIES Instituição de Ensino SuperiorIML Instituto Médico LegalINSS Instituto Nacional do Seguro SocialLA Liberdade AssistidaLDBEN Lei de Diretrizes Básicas da Educação NacionalLDO Lei de Diretrizes OrçamentáriasLOA Lei Orçamentária AnualLOAS Lei Orgânica da Assistência SocialLOS Lei Orgânica da SaúdeLRF Lei de Responsabilidade FiscalMP Ministério PúblicoMTE Ministério do Trabalho e EmpregoNAPS Núcleo de Assistência PsicossocialNIS Número de Identificação Social NOB Normas Operacionais BásicasNOB-RH/SUAS Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do Sistema Único de Assistência SocialONG´s Organizações Não-GovernamentaisONU Organização das Nações UnidasPAC Programa de Aceleração do CrescimentoPAEFI Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e IndivíduosPSF Programa de Saúde da FamíliaPAIF Serviço de Proteção e Atenção Integral à FamíliaPETI Programa de Erradicação do Trabalho InfantilPIA Plano de Atendimento IndividualPNAS Política Nacional de Assistência SocialPNE Plano Nacional de EducaçãoPNUD Programa das Nações UnidasPQP Programa de Qualificação ProfissionalPROJOVEM Programa Nacional de Inclusão de JovensPSC Prestação de Serviços à ComunidadeRI Regimento InternoSDD Sistema de Defesa de DireitosSEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Médias EmpresasSECOM Secretaria Municipal de ComunicaçãoSEDESE Secretaria de Estado de Defesa SocialSEDH Secretaria Especial dos Direitos HumanosSEDS Secretaria de Estado de Defesa SocialSENAC Serviço Nacional de Aprendizagem ComercialSENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SENAR Serviço Nacional de Aprendizagem RuralSENAT Serviço Nacional de Aprendizagem em TransportesSEPLAN/GV Secretaria Municipal de Planejamento de Governador ValadaresSESC Serviço Social do Comércio SESCOOP Serviço Nacional de Aprendizagem do CooperativismoSESI Serviço Social da IndústriaSEST Serviço Social de TransportesSGD Sistema de Garantia de DireitoSIDA/AIDS Síndrome da Imuno Deficiência AdquiridaSIDS Sistema Integrado de Defesa Social SINE Sistema Nacional de EmpregoSIPIA Sistema de Informação para Infância e AdolescênciaSMAS Secretaria Municipal de SaúdeSMCEL Secretaria Municipal de Cultura Esporte e LazerSMDE Secretaria Municipal de Desenvolvimento EconômicoSMED Secretaria Municipal de EducaçãoSMS Secretaria Municipal de SaúdeSPEMG Segurança Pública no Estado de Minas GeraisSRE Superintendência Regional de EducaçãoSUAS Sistema Único da Assistência SocialSUS Sistema Único de SaúdeTJMG Tribunal de Justiça do Estado de Minas GeraisUNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância UNIVALE Universidade Vale do Rio Doce VIJ Vara Especializada da Infância e Juventude

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APRESENTAÇÃO

Após a publicação dos Planos Nacional e Estadual de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária, tornou--se imperativa a construção do Plano Municipal de Promoção, Proteção e Defesa do Direito à Convivência Familiar e Comunitária de Crianças e adolescentes do muni-cípio de Governador Valadares. O plano representa um instrumento formal de cum-primento de diretrizes nacionais visando: a) a política de prevenção à fragilização de vínculos familiares e comunitários; b) à intervenção qualificada quando os vínculos já foram rompidos; c) à garantia de vivência familiar se não na família de origem, na família extensa ou em família substituta, observando os dispositivos legais previstos na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Seguindo parâmetros da Resolução Conjunta do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente - CONANDA e Conselho Nacional de Assistência Social –CNAS, de nº 01 de 9 de junho de 2010, foi constituída em Governador Valadares, através da Portaria nº 4.127 de 06 de outubro de 2010, a Comissão Intersetorial de Convivência Familiar e Comunitária, com as atribuições de elaborar, implementar, acompanhar e avaliar o Plano Municipal de Convivência Familiar e Comunitária, destinado à promoção, proteção e defesa da criança e do adolescente. Para auxiliar o trabalho da Comissão, no campo técnico foi firmada uma parceria com a Univer-sidade Vale do Rio Doce – UNIVALE, através do Programa de Extensão Polo de Promoção da Cidadania, responsável por realizar um diagnóstico para subsidiar e assessorar na elaboração do Plano e assessorar e redigir o documento final.

A Comissão Intersetorial, primando pela participação e construção democrática desse importante documento que é norteador dos direitos de crianças e adolescentes em nível local, instituiu a abertura de espaços públicos para a Elaboração do Plano de Ação. Assim, incorporou diferentes atores sociais do Sistema de Garantia de Direi-tos - SGD. De forma colegiada, a Comissão e os atores do Sistema de Garantia de Direitos, com a assessoria dos técnicos e professores do Polo de Promoção da Cida-dania - formou o GRUPO de TRABALHO (GT) responsável por pensar e discutir, através de diversas oficinas de trabalho, a garantia do direito à convivência familiar e comunitária para as crianças e adolescentes do município de Governador Valadares.

Ressalta-se que os membros considerados efetivos no GT foram aqueles que alcançaram acima de 50% de frequencia, nas oficinas de elaboração do Plano.

O processo envolveu as seguintes etapas na elaboração das Ações do Plano Municipal de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes de Governador Valadares à Convivência Familiar e Comunitária.

1º PASSO – Proposição do Plano de Ação, com discussão sobre a realidade da convivên-cia familiar e comunitária no município.

1º e 2º Encontros – Dias 27 e 28 de Março de 2012 - Conhecendo a realidade e propondo ações. Esse encontro teve três objetivos específicos:1) Conhecer a realidade da infância e adolescência de Governador Valadares, a partir: a) dos diagnósticos realizados; b) do compartilhamento de experiências dos participantes; c) da identificação das políticas não alcançadas pelo diagnóstico.2) Distinguir pontos fortes e críticos da realidade local.3) Propor ações para compor o Plano Municipal visando superar as questões críticas e efe-tivar o direito à convivência familiar e comunitária para conjunto da população infanto - ju-venil do município.

3º Encontro – Dia 24 de abril de 2012 – Sistematização do Plano de Ação em eixos, defi-nindo o cronograma, os envolvidos e os responsáveis.Objetivo Específico: Dividir o Grupo de trabalho em cinco eixos - análise da situação e sistemas de informação; atendimento; marcos normativos e regulatórios; mobilização, articu-lação e participação; e sustentabilidade - visando sugerir alterações, acréscimos, supressões e propor o cronograma, atores envolvidos e responsáveis pela realização ou articulação das ações do Plano Municipal. As ações foram sistematizadas pelo Polo de Promoção da Cidada-nia a priori, e localizadas dentro dos eixos e objetivos do Plano de Ação.

Do 4º ao 9º Encontro – 02, 08, 15 e 22 de maio de 2012 - Socialização das idéias elaboradas nos subgrupos, por eixo.Objetivo Específico: Socializar as construções elaboradas nos subgrupos, por eixo, permi-tindo a participação de todos na compreensão, sugestão e finalização das ações propostas.

2º PASSO – Consulta PúblicaO documento final foi disponibilizado para consulta pública no site da UNIVALE, no período de 16/07/2012 a 31/07/2012.

3º PASSO – Decisões finaisA Comissão Intersetorial com a assessoria do Polo de Promoção da Cidadania avaliou e tomou a decisão sobre as alterações, acréscimos ou supressões que foram propostas ao documento na fase da consulta pública.

4º PASSO – Apresentação do Plano Municipal de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes de Governador Valadares à Convivência Familiar e Comunitária ao Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS) e Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), para aprovação e publicação de resolução de aprovação do Plano, pelos dois Conselhos.

5º PASSO – Elaboração do Plano de implementação e Monitoramento, conside-rando:a. O apoio ao município na implementação do Plano; b. O acompanhamento da implementação do Plano;c. O envio de informações de criação do Plano às Comissões Nacional e Estadual;d. A apresentação ao Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA) de relatórios de implementação e monitoramento do Plano Municipal.

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O processo de elaboração do Plano Municipal teve por base as diretrizes e objetivos dos Planos Nacional e Estadual, bem como as orientações da Resolução Conjunta do CONANDA e CNAS, de nº 01 de 9 de junho de 2010.

Os diagnósticos que subsidiaram a elaboração do Plano de Ação foram sintetizados no Marco Situacional, e suas referências teóricas resumidamente disponibilizadas no Marco Teórico e Conceitual que compõem esse Plano.

Foram objetos de estudo o Sistema de Justiça, os Serviços de Acolhimento, a Política de Assistência Social, as Delegacias da Polícia Civil, o Conselho Tutelar, a Educação Pública no Ensino Fundamental e Médio, a Política de Saúde Mental e os Programas de Geração de Emprego e Renda do município. Buscou-se correlacionar todos os temas pesquisados com os princípios do direito da criança e do adolescente à convi-vência familiar e comunitária.

I. SOBRE O DIREITO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA

“O vínculo é um aspecto tão fundamental na condição humana, e particularmente essencial ao desenvolvimento, que os direitos das crianças o levam em consideração na categoria CONVIVÊNCIA – viver junto. O que está em jogo não é uma questão moral, religiosa ou cultural, mas sim uma questão vital.” (VICENTE, 2000, P.51)

[...] realizar toda essência humana em toda a existência humana. [...] realizar o ser humano em todos os indivíduos humanos, nas condi-ções de dignidade verificáveis e exigíveis em cada época da história de sua civilização. Em verdade não só realizar, mas também garantir a humanidade assim realizada.

O sentido da humanidade, portanto, vai além dos cuidados necessários à sobrevivên-cia orgânica, uma vez que os seres humanos não sobrevivem em vida e dignidade se não encontram, ao nascer e por toda a vida, um ambiente de sociabilidade, acolhimen-to e afeto, pois é gregário por natureza.

As crianças nascem em uma família e comunidade e, a partir daí, já estão definidos o seu pertencimento, sua identidade e cidadania. Viver em família e comunidade, além de uma necessidade humana, é também uma relação em que kammerer (2000 apud HURTEL, 2006, p.171) reconhece que “o que os pais ensinam aos filhos é desejar segundo as leis humanas”. Sendo assim, os pais transmitem aos filhos as leis funda-mentais para que possam humanizar-se, subjetivar-se e socializar-se. Hustel (2006), por sua vez, afirma que na contemporaneidade essa tarefa é impossível de ser enfren-tada pelos pais sozinhos. É também na dimensão da vida social que se desenvolve o processo societário. É na relação com a comunidade e suas instituições que as crianças e adolescentes podem expressar sua individualidade e vivenciar valores sociais impor-tantes ao seu desenvolvimento.

1 A identidade simbólica diz respeito à apreensão e interpretação da realidade, uma vez que é um processo de representação simbólica, uma tentativa de compreensão de sua própria posição no mundo. VICENTE ( 2000, p. 47) ao se referir à vinculação simbólica, exempli-fica: “Toda criança tem família e rede de parentesco: o bebê, ao ser concebido, já pertence a uma rede familiar [...] ao pertencer a estes grupos, também já está estabelecido quem são os outros e o universo de escolhas amorosas e interdições às quais estará sujeito, de acordo com a cultura onde ele está inserido”.

Viver em família e Comunidade é reconhecido na constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente como um dos direitos humanos fundamentais. A pre-missa que motiva tal direito encontra reforço na idéia de que todo o Ser Humano, só poderá se realizar como pessoa estabelecendo vínculos com um outro, com quem construirá sua identidade simbólica 1, afetiva e social. A família é, nesse aspecto, o lócus privilegiado da realização de humanização.Para Barros (2003, p.145) os direitos humanos fundamentais têm como princípio,

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A maior expectativa é de que ela produza cuidados, proteção, aprendizado dos afe-tos, capazes de promover melhor qualidade de vida a seus membros e efetiva inclu-são social na comunidade e na sociedade em que vivem (CARVALHO, 2000, p. 15)

A família, portanto, tem um papel essencial no processo de desen-volvimento e socialização da criança e do adolescente, mediando sua relação com o mundo e/ou com a vida em sociedade.

No campo da proteção, a família constitui espaço importante no que se refere à segurança afetiva e à integridade física e psicossocial. Desta forma, torna-se ne-cessário um conjunto de cuidados que visam prevenir omissões e/ou carências que causam danos ao desenvolvimento pleno (cognitivo, físico, intelectual, moral, so-cial, e outros) da criança e do adolescente. Por isso, os maus-tratos infanto-juvenis alcançam algumas famílias sem condições de desenvolver todo o potencial de proteção, motivado ou por fatores estruturais relacionados à desigualdade social e econômica e suas diversas expressões, tais como pobreza, violência, miséria etc.; ou por fatores expressos interpessoais, como transgressão do poder disciplinador do adulto, negação do valor da liberdade (submissão ao poder do adulto), que cul-mina em vários tipos de violência intrafamiliar, como: a violência sexual, física, psicológica e a negligência. 2

Assim sendo, a família como núcleo da sociedade deve receber a proteção da so-ciedade e do Estado. Isto porque está sujeita a transformações, restrições e formas de organização do social, sendo impactada pelos modelos econômicos e conflitos gerados pelas desigualdades social e econômica em que se assenta a sociedade. Em nível privado reproduz-se as regras públicas de relação entre homens e mulhe-res, adultos e crianças, pobres e ricos etc. Portanto, o lugar privilegiado de conví-vio e afeto pode tornar-se também um lugar de conflitos e de violação de direitos que fragilizam os vínculos familiares.

As famílias também estão em constante mudança, por diversos fatores: cultu-rais, sociais e pessoais. Ao longo da história, e dentro de uma mesma época, ela promoveu uma diversidade de arranjos que fogem ao modelo idealizado da família nuclear, baseada na união matrimonial entre um homem e uma mulher e os filhos, frutos dessa união. Vários arranjos familiares se constituíram como forma de “dar respostas às possíveis dificuldades existenciais e de organização do cotidiano.” (AMAS, 1995, p.19).

2 Para aprofundar a discussão dos tipos e conceitos de violência de pais contra filhos GUERRA, Viviane Nogueira de Azevedo. A violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes. In.: “Violência de Pais contra Filhos: a tragédia revisitada. São Paulo, Cortez, 2005, p. 29 - 48.

Assim sendo, como toda e qualquer instituição social, a família deve ser compre-endida como lugar de contradições. Ter clareza disso requer o entendimento das transformações sociais que incidem sobre ela, relacionando-as com mudanças no processo de produção, trabalho e consumo.

Há de se considerar, ainda, que por muito tempo as famílias empobrecidas, e princi-palmente aquelas que fugiam do modelo idealizado de organização, ficaram sujeitas (e ainda o são) a avaliações preconceituosas por parte da sociedade, e intervenções arbitrárias por parte do Estado que as viam como incapazes3 de cuidar de seus filhos, Por isso, por décadas a institucionalização de crianças, como forma de separá-los dos perigos da família, foi “o principal instrumento de assistência à infância no país” (RIZZINI, 2004, p.22)

A visão das famílias como incapazes de criarem seus filhos pode ocasionar o desvir-tuamento de problemas sociais vinculados à violação de direitos por parte do Estado, creditando esses (problemas) à própria família. Conseqüentemente, tanto a família como a criança são punidas, sendo uma situação limite e grave a retirada de casa da criança ou do adolescente, e a sua institucionalização. Sendo que o problema

está ligado a circunstâncias macroeconômicas e políticas que pre-cisam ser paralelamente enfrentadas para que os internatos deixem de constituir uma opção atraente para crianças e para pais que não encontraram saída para as dificuldades em manter seus filhos. O desenvolvimento econômico, associado a políticas de distribuição de renda reduz a necessidade de instituições de assistência à infân-cia, pois geram alternativas que resultam em crescimento e recur-sos. (RIZZINI,2004, p. 82).

3 RIZZINI e RIZZINI(2004, p. 31- 39) afirmam que “a produção discursiva de todo o período da forte presença do Estado no internamento de menores é fascinante, pelo grau de certeza científica com que as famílias populares e seus filhos eram rotulados de incapazes, insensíveis, e uma infinidade de rótulos”. Mais a frente, as autoras continuam, informando que “as repre-sentações negativas sobre as famílias cujos filhos formavam a clientela da assistência social nasceram junto com a construção da assistência no Brasil. A idéia de proteção à infância era, antes de tudo, proteção contra a família. Foi, sobretudo, a partir da constituição de um aparato oficial de proteção e assistência à infância no Brasil, na década de 1920, que as famílias das classes populares se tornarem alvo de estudos e formulação de teorias a respeito da incapaci-dade de seus membros em educar e disciplinar os filhos.”

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Para a família desempenhar suas funções, ela precisa ter acesso aos direitos universais, tais como: saúde, educação, assistência social, dentre outros. Sendo assim, ela [a família] necessita contar com o apoio e a assistência no cuidado e desenvolvimento de seus membros, em especial a criança e o ado-lescente. Tendo acesso a serviços básicos na área da saúde, da educação e assistência social, terá melhores condições para desempenhar suas funções e responsabilidades, bem como para superar possíveis vulnerabilidades, di-vidindo responsabilidades com o Estado e a sociedade civil, na defesa dos direitos da criança e do adolescente.

Após a Constituição de 1988, com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA); com a Lei Orgânica da Assistência Social (LOA); e, mais recentemente, com a Política Nacional de Assistência Social (PNAS), reconheceu-se legal-mente a importância da família, as suas funções e a capacidade protetiva de todos os seus membros, atribuições fundamentais no subsidio das funções do Estado e da comunidade. A família entrou na agenda das políticas públicas, que passaram a distinguir a necessidade de proteção das famílias, independente de sua configuração, condição socioeconômica e cultural.

A partir de então, a percepção que passa a figurar no campo formal e político é a convivência familiar e comunitária como um direito humano fundamental, enunciado na Constituição Federal de 1988 e no ECA ( Brasil, 1990, p.15) que apregoa no artigo 19:

Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, asse-gurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes.

A Constituição Federal propõe que a família é a base da sociedade e juntamente com o Estado, tem o dever de “assegurar à criança e ao adolescente o exercício de seus direitos fundamentais” (BRASIL, 1988, art. 227). É, portanto, competência do Estado prestar assistência à família, na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para conter possíveis violências no âmbito de suas relações. A Carta Magna assegurou os direitos de cidadãos, incluindo crianças e adolescen-tes, mulheres, negros e índios. Isso representou um avanço expressivo na defesa da cidadania.

No caso do público infanto-juvenil, o ECA é emblemático ao reforçar a família como elemento indispensável no processo de proteção integral e garantia de direitos na vida da criança e do adolescente. Ela é o principal núcleo de socia-lização da criança e do adolescente.

O Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa de Criança e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (BRASIL, 2006a) é outro instrumento protetivo, e no campo político-formal, destaca a importância da convivência familiar e a condição de fragilidade e imaturidade da criança e do adolescente. Esta situação os coloca em relação de dependência dos pais ou responsáveis que delas cuidam, sendo estes de fundamental importância para sua constitui-ção enquanto sujeito 4.

Assim, cabe ao Estado hoje, prevenir, defender e garantir a vivência familiar e comunitária, não aceitando situações de reclusão e de perda das relações familiares e comunitárias.

4 Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa de Criança e Adolescentes à Convi-vência Familiar e Comunitária – MDS/CONANDA/UNICEF/CNAS. Item: Condição da Criança como Sujeitos de Direito, 2006, p.38.

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II. MARCO LEGAL E CONCEITUAL

2.1. SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO

A história demonstra que o Brasil estimulou a tradição de institucionalizar crianças e adolescentes, prática ainda enraizada em nossa cultura. O combate à institucionalização de crianças e adolescentes somente ganha destaque no Brasil a partir de normas legais internacionais e de movimentos internos5 que visam à proteção à infância.

Com o artigo 227 da Constituição Federal, inaugura-se o principio da Doutrina de Proteção Integral à infância e adolescência. Este artigo estabelece um novo olhar sobre crianças e adolescentes, garantindo-lhes o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá--los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Revoga a antiga visão tutelar, propondo que a criança e o adolescente sejam protagonistas da própria história.

Neste cenário ganha força a discussão sobre o direito à convivência familiar e comunitária e o acolhimento de crianças e adolescentes em situações de vulnera-bilidade social ocupa espaços importantes nas agendas de discussão das políticas públicas. Essas discussões se destacam entre as décadas de 1990 e 2010, buscan-do afiançar direitos já previstos em outros documentos internacionais.

Com o advento do ECA surgem novas concepções visando a não permitir a intervenção arbitrária do Estado na vida de crianças e adolescentes. O Estatuto estabelece a co-responsabilidade entre a Família, o Estado e a Sociedade na ga-rantia e defesa prioritária dos direitos de todas as crianças e adolescentes.

5 Em 1978 o governo da Polônia apresenta à comunidade Internacional uma proposta de Convenção Internacional dos Direitos das Crianças. Ela confere a esses direitos a força de lei internacional, não sendo, no entanto, soberana aos direitos nacionais. Em 1979 foi definido pela Organização das Nações Unidas – ONU, o ano internacional da criança. Já em 1983 foi criada a Pastoral da Criança pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB. Já na década de 1985 surge em São Bernardo do Campo o Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua, entidade sem fins lucrativos que nasce com o compromisso de garantir os direitos das crianças e dos adolescentes brasileiros e com especial atenção aos meninos e meninas de rua. Por fim, em 1987 foi instalada a Assem-bléia Constituinte, composta por 559 congressistas. Nela, um grupo de trabalho se reuniu para concretizar os direitos da criança e do adolescente na Constituição Brasileira. O re-sultado deste trabalho é o artigo 227, que foi a base para a elaboração do ECA. Em 1989 é aprovada a Convenção Internacional dos Direitos da Criança, ratificada por todos os países membros da ONU, com exceção dos Estados Unidos e da Somália. Fonte: www.promenino.org.br. Acesso em: 04 de agosto de 2011.

Em relação à convivência familiar e comunitária, o ECA deixa evidente em seu artigo 19 que, “toda criança ou adolescente tem o direito de ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária [...]”. (BRASIL, 1990). Desta forma, visa-se garantir a preservação dos vínculos familiares e a integração em família substituta quando esgotados os recursos de manutenção na família de origem.

O ECA define também as medidas de proteção que devem ser aplicadas às crian-ças e adolescentes, quando estes se encontrarem com seus direitos ameaçados ou violados, seja por atitudes ou situações advindas da sociedade ou do Estado, seja por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável, ou em razão de sua própria conduta.(BRASIL, 1990, art. 98)

O acolhimento institucional ou familiar de uma criança ou adolescente é uma medida de proteção e aplicada somente pela Justiça da Infância e, excepcional-mente, pelo Conselho Tutelar. A intervenção dos chamados órgãos de proteção e defesa é garantida a qualquer criança ou adolescente que tenha seus direitos violados (abandono, maus-tratos, violência física ou psicológica, etc.), afastan-do-os da família natural, quando necessário, e encaminhando-os para um local onde estejam seguros e até que sua situação seja legalmente definida. Para Costa e Ferreira (2006, p.6)

[...] implantar uma nova proposta de acolhimento para crianças e adolescentes cujos direitos são violados, que seja de qualidade e mais eficaz que a antiga institucionalização, exige tempo e mu-danças. Mudanças de ordem legal, de práticas institucionais, de paradigmas de família, de concepções de criança e adolescência, de práticas e políticas sociais.

O acolhimento familiar é sinalizado na Política Nacional de Assistência Social, (BRASIL, 2004a), como um serviço a ser implantado dentro da Proteção Social Especial de Alta Complexidade6, apontando para a reintegração familiar e, ao mesmo tempo, buscando evitar a institucionalização.

6. O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) é um sistema público que organiza, de forma descentralizada, os serviços socioassistenciais no Brasil. Implantado a partir da Norma Operacional Básica – NOB/SUAS, em 2005, objetiva organizar as ações da assistência social. Foi pensado em dois tipos de proteção social: a primeira é a Proteção Social Básica, destinada à prevenção de riscos sociais e pessoais, por meio da oferta de programas, projetos, serviços e benefícios a indivíduos e famílias em situação de vulne-rabilidade social; a segunda é a Proteção Social Especial, destinada a famílias e indiví-duos que já se encontram em situação de risco e que tiveram seus direitos violados por ocorrência de abandono, maus-tratos, abuso sexual, uso de drogas, entre outros aspectos. Fonte: www.mds.gov.br.Acesso em 19 de julho de 2011.

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Desta forma, amplia-se o debate acerca da medida de acolhimento, e, conseqüen-temente, ganha destaque a organização/gestão das instituições responsáveis por crianças e adolescentes sob essa medida. Os abrigos são as instituições responsa-bilizadas pelo cuidado de crianças e adolescentes, quando necessária a sua retirada do núcleo familiar, devendo primar pela excepcionalidade e provisoriedade desta medida.

As entidades que desenvolvem programas de acolhimento familiar ou institu-cional deverão adotar alguns princípios estabelecidos no artigo 92, incisos I a IX do ECA e que foram posteriormente ratificados e ampliados pela Lei 12010 de 03/08/09 e pelo Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária (BRASIL, 2006a): I - preservação dos vínculos familiares e promoção da rein-tegração familiar; II- integração em família substituta quando esgotados os re-cursos junto à família natural ou extensa; III - atendimento personalizado e em pequenos grupos; IV - desenvolvimento de atividades em regime de co-educa-ção; V- não desmembramento do grupo de irmãos; VI - evitar a transferência de acolhidos para outras entidades; VII - participação na vida da comunidade local; VIII - preparação gradativa para o desligamento e IX - participação de pessoas da comunidade no processo educativo.

O Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária (BRASIL,2006a), ela-borado em conjunto pelos Conselhos Nacionais da Assistência Social e dos Di-reitos da Criança e do Adolescente – CONANDA/CNAS, destaca que a família, mesmo quando vivenciando limitações e dificuldades sociais, tem condições e potencialidade para cuidar de seus filhos.

Este documento reconhece, ainda, que a família é o melhor ambiente para o de-senvolvimento da criança e do adolescente. As diretrizes do Plano apontam para a centralidade na família; a primazia da responsabilidade do Estado no fomento de políticas integradas de apoio à família; o reconhecimento das competências da fa-mília, na sua organização interna e na superação de suas dificuldades; o respeito à diversidade étnico-cultural, à identidade e orientação sexual, à equidade de gênero e às particularidades das condições físicas, sensoriais e mentais; o fortalecimento da autonomia do adolescente e do jovem na elaboração do seu projeto de vida; a garantia dos princípios de excepcionalidade e provisoriedade dos Programas de Famílias Acolhedoras e de Acolhimento Institucional de crianças e adolescentes, e o reordenamento dos Programas de Acolhimento Institucional (BRASIL, 2006a).

O Plano adotou o termo Acolhimento Institucional para “designar os programas de abrigo em entidade, definidos no Art. 90, Inciso IV, do ECA, como aqueles que atendem crianças e adolescentes que se encontram sob medida protetiva de abrigo”(BRASIL, 1990). Desta maneira, o Plano ainda aponta que o Acolhimen-to Institucional para crianças e adolescentes pode ser oferecido em diferentes modalidades, como Abrigo Institucional para pequenos grupos, Casa Lar e Casa de Passagem. De acordo com o mesmo documento os serviços de acolhimento devem: estar localizados em áreas residenciais, sem distanciar-se, do ponto de vista geográfico, da realidade de origem das crianças e adolescentes acolhidos; atender a ambos os sexos e diferentes idades; e manter comunicação com a Jus-tiça da Infância e da Juventude. (BRASIL, 2006a, p.41)

O Plano Nacional apresenta, também, o programa Família Acolhedora que se constitui numa modalidade de atendimento que deve ser priorizada. É um serviço de acolhimento que acontece na residência de famílias que acolhem na forma de guarda crianças e adolescentes, até que as mesmas possam retornar ao convívio familiar. Para funcionamento deste programa, o Plano indica uma metodologia de funcionamento que contemple a mobilização, o cadastramento, a seleção, a formação, o acompanhamento, e a supervisão das famílias acolhedoras por uma equipe multiprofissional; ofertando acompanhamento psicossocial às famílias de origem visando à reintegração familiar e ainda promovendo uma articulação com a rede de serviços, com a Justiça da Infância e da Juventude e com todo o sistema de garantia de direitos.

Em termos conceituais, o programa de Família Acolhedora é uma modalidade diferenciada que visa à manutenção provisória de crianças e adolescentes em um ambiente familiar mais próximo da sua realidade. Este programa deve observar tanto os princípios e diretrizes prescritos nos artigos 92 e 93 do ECA (BRASIL, 1990) como a questão da equipe técnica do serviço de acolhimento e da Justiça da Infância e da Juventude, estes responsáveis pelo fornecimento de informa-ções que subsidia a reintegração familiar ou a destituição do poder familiar. (BRASIL, 2006a, p. 42-44)

Outra modalidade de acolhimento é a Casa de Passagem. Porém, o Plano não des-creve como esse serviço deve se estruturar. Cabe mencionar que as Orientações Técnicas para os Serviços de Acolhimento publicadas em 2009, também não con-templam esta modalidade de serviço. A definição é encontrada somente na primei-ra versão das Orientações Técnicas, editada em 2008 (BRASIL, 2008, p.31-32)

[... ] serviço que tem como objetivo oferecer acolhimento de caráter emergencial, com espaço adequado e profissionais preparados para receber a criança/adolescente em qualquer horário do dia ou da noi-te, diante de uma necessidade de acolhimento imediato e emergen-cial - como nos casos de internação hospitalar do único responsável pela criança, crianças perdidas, dentre outros - enquanto se realiza um estudo diagnóstico detalhado da situação de cada criança e ado-lescente com a finalidade de: i. avaliar as condições de manutenção do convívio familiar ou necessidade de afastamento do mesmo; ii. identificar qual solução é mais adequada naquele momento: retorno imediato ao convívio com a família de origem (nuclear ou exten-sa) ou pessoas da comunidade que lhe sejam significativas; ou iii. Encaminhamento para outros serviços de acolhimento, no caso de impossibilidade imediata de reintegração familiar.

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No entanto, por se tratar também de um serviço que apresenta demandas comple-xas, o Plano Nacional o define como:

Acolhimento Institucional de curtíssima duração, no qual se realiza diagnóstico eficiente, com vista à reintegração à família de origem ou encaminhamento para Acolhimento Institucional ou Familiar, que são medidas provisórias e excepcionais. (BRASIL, 2006a, p.128)

A partir do SUAS, os serviços ofertados pelas instituições de acolhimento estão inseridos na Proteção Social Especial de Alta Complexidade, pois esses visam a proteção integral a indivíduos ou famílias em situação de risco pessoal e social, com vínculos familiares rompidos ou extremamente fragilizados. Os serviços devem garantir acolhimento em ambiente com estrutura física adequada, ofere-cendo condições de moradia, higiene, salubridade, segurança, acessibilidade e privacidade. Estes serviços atuam diretamente ligados com o sistema de garan-tia de direito, exigindo uma gestão mais complexa e compartilhada com o Poder Judiciário, o Ministério Público (MP) e com outros órgãos e ações do poder Executivo (BRASIL, 2004a).

Ainda, de acordo com a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais8, (BRASIL, 2009c) os gestores que implantam o Serviço de Acolhimento em Fa-mília Acolhedora devem observar o cumprimento de uma série de provisões que determinam os espaços e materiais necessários para a implantação destes. Deve--se priorizar que crianças e adolescentes sejam protegidos por suas famílias e tenham seus direitos garantidos, além da redução das violações dos direitos so-cioassistenciais e reincidência de acolhimento.

8 A Resolução nº 109, de 11 de Novembro de 2009 publicada pelo Conselho Nacional de Assistência Social aprova a Tipificação dos Serviços Socioassistenciais que denomina os serviços a serem ofertados no Sistema Único da Assistência Social- SUAS, por níveis de complexidade: Proteção Social Básica e Proteção Social Especial de Média e Alta Com-plexidade, e ainda evidencia as principais funções e resultados a serem alcançados por esses serviços assim como define seus usuários.

Neste contexto, onde já vigoravam documentos legais de grande relevância para a política da infância e juventude, em 2009 entram em vigor as alterações no ECA, promovidas pela Lei 12.010/09. Tais alterações buscam afiançar que todo o Siste-ma de Garantia de Direitos funcione de forma eficaz, obedecendo aos princípios da excepcionalidade e provisoriedade, considerando aspectos que anteriormente não estavam contemplados no ECA. De acordo com Digiácomo (s.d)

[...] esta Lei procura aperfeiçoar a sistemática prevista no ECA para garantia do direito à convivência familiar, em suas mais variadas formas, a todas as crianças e adolescentes. [...] Incorporou mecanis-mos capazes de assegurar sua efetiva implementação, estabelecendo regras destinadas, antes e acima de tudo, a fortalecer e preservar a integridade da família de origem, além de evitar ou abreviar ao má-ximo o abrigamento de crianças e adolescentes.

Os novos parâmetros legais incorporados ao ECA fomentam mudanças na política de atendimento a crianças e adolescentes institucionalizados. A partir deste cená-rio, as instituições devem cumprir as novas determinações para o reordenamento institucional, que prevêem que:

a) toda criança ou adolescente que estiver inserido em programa de acolhimento familiar ou institucional terá sua situação reavaliada, no máximo, a cada 06 (seis) meses.

b) a permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento insti-tucional não se prolongará por mais de 02 anos;

c) a família extensa ou ampliada é aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade.

As novas regras prevêem ainda procedimentos e conceitos que requerem mu-danças de paradigma por parte dos órgãos envolvidos na defesa do direito à convivência familiar e comunitária de crianças e adolescentes:

a) Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma família substituta, salvo em situação que apresente risco para os mesmos;

b) A institucionalização não impede direito de visitas pelos pais e o dever de prestar alimentos, salvo determinação contrária;

c) Será priorizada a inclusão da criança ou adolescente em programas de acolhi-mento familiar em relação ao de acolhimento institucional;

d) O estágio de convivência entre a criança, o adolescente e a família substituta deve ser acompanhado pela equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política de garantia do direito à convivência familiar, que apresentarão relatório minucioso acerca da conveniência do deferimento da medida;

e) O Termo “abrigamento” substituído por “acolhimento institucional”;

f) Os recursos destinados à implementação e manutenção dos programas rela-cionados serão previstos nas dotações orçamentárias dos órgãos públicos en-carregados das áreas de Educação, Saúde e Assistência Social, dentre outros, observando-se o princípio da prioridade absoluta à criança e ao adolescente;

9 O objetivo do Sistema de Garantia dos Direitos de Crianças e Adolescentes é definido como aquele responsável por articular e integrar instâncias governamentais e da socie-dade civil que atuam na promoção, no controle e na defesa dos direitos infanto-juvenis. (BRASIL, 2009) Desafios para o sistema de garantia de direitos da criança e do adoles-cente: perspectivas dos conselhos tutelares e de direitos. São Paulo, Janeiro de 2009.

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g) Crianças e adolescentes somente poderão ser encaminhados às instituições que executam programas de acolhimento institucional, governamentais ou não, por meio de uma Guia de Acolhimento, expedida pela autoridade judiciária. Se, no exercício de suas atribuições, o Conselho Tutelar entender necessário o afastamen-to do convívio familiar, comunicará, incontinenti, o fato ao Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal entendimento e as providências tomadas para a orientação, o apoio e a promoção social da família;

h) É assegurada, sob pena de responsabilidade, prioridade absoluta na tramitação dos processos e procedimentos previstos na Lei 12.010/09, assim como na execu-ção dos atos e diligências judiciais a eles referentes.

Este arcabouço legal traduziu a preocupação do legislador de garantir profundas alterações na aplicação da medida de proteção que garanta o direito à convivência familiar e comunitária. Para Costa e Ferreira (2006, p.02)

Do ponto vista legal, já ocorreram transformações que possibilitam ao acolhimento familiar ancorar-se em leis e normativas. A Consti-tuição da República Federativa do Brasil (1988), o ECA (1990), a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS, 1993), somados à Políti-ca Nacional de Assistência Social (MDS, 2004) e ao Plano Nacional (MDS & SEDH, 2006), deram base e constituíram o marco legal para a argumentação, justificativa e inclusão do acolhimento fami-liar como uma política pública nacional.

Em 2009, num esforço conjunto do CNAS e do CONANDA foram publicadas as “Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para crianças e adolescentes”. Prevista como ação no Plano Nacional de Convivência Família e Comunitária, o referido documento tem a

[...] finalidade de regulamentar, no território nacional a organização e oferta de Serviços de Acolhimento para crianças e adolescentes no âmbito da política de assistência social. [...] Visa estabelecer pa-râmetros de funcionamento e oferecer orientações metodológicas para que os serviços de acolhimento de crianças e adolescentes pos-sam cumprir sua função protetiva e de restabelecimento de direitos, compondo uma rede de proteção que favoreça o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, o desenvolvimento de potencia-lidades das crianças e adolescentes atendidos e o empoderamento de suas famílias (BRASIL, 2009g, p.16 e 23).

Ainda em consonância com as determinações das Orientações Técnicas, no reor-denamento dos processos de acolhimento de crianças e adolescentes os serviços devem estruturar-se a partir dos seguintes princípios: excepcionalidade do afasta-mento do convívio familiar; provisoriedade do afastamento do convívio familiar,

preservação dos vínculos familiares e comunitários; garantia de acesso e respeito à diversidade e não-discriminação; oferta de atendimento personalizado e indi-vidualizado; garantia de liberdade de crença e religião e respeito à autonomia da criança, do adolescente e do jovem. (BRASIL, 2009g)

No que diz respeito às orientações metodológicas apresentadas nesse documento e, em consonância com outras legislações, está previsto que o acolhimento insti-tucional e familiar realize:

a) Diagnóstico: composto por informações detalhadas que possam conhecer a fa-mílias, valores e crenças, história e dinâmica, composição familiar, intensidade dos vínculos, possibilidade de intervenção profissional, condições de acesso da família a serviços, programas, dentre outros. Deve subsidiar a decisão acerca do afastamento da criança e do adolescente do convívio familiar.

b) Plano de Atendimento Individual e Familiar: realizado pela equipe técnica do serviço de acolhimento, deve apresentar objetivos, estratégias e ações a serem desenvolvidos para a superação dos motivos do afastamento do convívio fami-liar. A partir desse levantamento deve-se garantir: o desenvolvimento saudável da criança ou do adolescente durante o acolhimento; as possibilidades de reintegra-ção familiar; o acesso da família, criança e adolescente aos serviços necessários; o investimento de vínculos afetivos com a família extensa e a comunidade; e o encaminhamento para adoção, quando não for possível o retorno à família.

c) Acompanhamento da família de origem: de forma sistemática, avaliando cui-dadosamente se crianças e adolescentes foram acolhidos por motivo de pobreza; se há membro com direito a beneficio de prestação continuada; se não existem possibilidades de reintegração familiar (nuclear ou extensa); e esgotadas todas as possibilidades de reintegração familiar, encaminhamento para adoção. Algu-mas técnicas para acompanhamento às famílias podem ser utilizadas como: estudo de caso, entrevista individual ou familiar, grupo com famílias, visita domiciliar, orientação, etc.

d) Articulação Intersetorial: implementação da interface com outros serviços da rede socioassistencial (SUAS, SUS, Sistema Educacional)e demais órgãos do sis-tema de garantia de direitos (Conselho Tutelar, Defensoria Pública, Conselhos de Direitos).

e) Projeto Político-Pedagógico: elaboração de um projeto de funcionamento do serviço, como um todo.

f) Gestão do trabalho e educação permanente: os profissionais que atuam nos serviços de acolhimento desempenham papel de educador. Daí a necessidade de seleção, capacitação e acompanhamento de todos os profissionais que são respon-sáveis pelo cuidado direto e cotidiano das crianças e adolescentes.

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A Norma Operacional Básica de Recursos Humanos -NOB/RH do SUAS (BRA-SIL, 2006) somente indica a necessidade dos profissionais para os serviços de acolhimento, recomendando sua escolaridade e perfil. Já as Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes (2009) indica a função de cada membro, na equipe.

Os parâmetros para o funcionamento dos serviços de acolhimento devem consi-derar o que está previsto no ECA, NOB/SUAS, Orientações Técnicas, Projeto de Diretrizes das Nações Unidas sobre Emprego e Condições Adequadas de Cuida-dos Alternativos com Crianças10 além do Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária. Estes documentos visam a uma adequação gradativa, sem que haja comprometimento da qualidade dos serviços de acolhimento destinados às crian-ças e adolescentes, visando prioritariamente seu retorno à família de origem e, quando não for possível essa opção, a busca de uma família substituta.

Quanto à localização, aspectos físicos e infraestrutura dos serviços de acolhimento, estes podem ser resumidos por modalidade do serviço, conforme o que preconizam as Orientações Técnicas dos Serviços de Acolhimento (BRASIL, 2009g)

a) Estar localizados em áreas residenciais, sem distanciar-se excessivamente, do ponto de vista geográfico, da realidade de origem de crianças e adolescentes aco-lhidos;

b) Ter aspecto semelhante ao de uma moradia, com padrões próximos das demais residências da comunidade. Com relação às casas-lares devem ser evitadas estru-turas com diversas casas-lares no mesmo terreno;

c) Não devem apresentar placas indicativas da natureza institucional;

d) As repúblicas devem ser organizadas em unidades femininas e unidades mas-culinas, observando aspectos de acessibilidade.

Quanto à infra-estrutura dos serviços de acolhimento, as Orientações Técnicas indicam a necessidade de respeitar a preservação da privacidade de crianças e ado-lescentes, adotando medidas para que o período de institucionalização não cause outras violações de direitos. Desta forma, o serviço estará garantindo os cuidados necessários, enquanto a criança ou adolescente estiver sob a sua responsabilidade. Há algumas recomendações para o espaço físico (BRASIL, 2009g):

10. Estas Diretrizes se destinam a reforçar a implementação das normas internacionais de direitos humanos e especialmente dos dispositivos da Convenção sobre os Direitos da Criança, referentes à proteção e ao bem-estar de crianças necessitadas de cuidados alter-nativos ou que correm o risco de vir a deles necessitar. Disponível em http://www.conde-ca.sp.gov.br/legislacao/diretrizes_nacoes_unidas.pdf acesso em 02 de setembro de 2011.

a) Quartos com dimensões que possam acomodar as camas/berços/beliches e ar-mários/guarda-roupas, visando atender de forma individual;

b) Em quarto com metragem de 2,25 m² para cada ocupante, manter até 04 crian-ças ou adolescentes por quarto. Caso seja também um ambiente de estudos a me-tragem deve ser ampliada para 3,25m²;

c) Deve contemplar uma sala de estar ou similar, sala de jantar ou copa, ambiente de estudo, um banheiro para até seis crianças e adolescentes – sendo que pelo me-nos um banheiro deverá ser adaptado para pessoas com deficiência. O serviço deve ainda ter um banheiro para funcionários e a cozinha contemplar espaço suficiente para seu funcionamento regular. As áreas externas devem ter lugar para acomodar utensílios e mobiliário, sendo que é necessário garantir espaços que possibilitem o convívio e brincadeiras. Ressalta-se que os serviços que já tiverem espaços, como, por exemplo quadra poliesportiva, devem gradativamente possibilitar o uso, pela comunidade. Estas indicações são comuns aos serviços de abrigo institucional e casa-lar;

d) Os serviços de Casa Lar devem contemplar, também, um quarto para educa-dor residente. Além disto, as salas para equipe técnica, coordenação e reuniões deverão funcionar fora da casa-lar, em áreas específicas para atividades técnico--administrativas;

e) No caso de repúblicas, indica-se o mesmo formato físico acima citado, sendo dispensável espaço para atividades externas, salas para técnicos e coordenação e banheiro para funcionários;

f) Para o abrigo institucional, a sala da equipe técnica e sala da coordenação de-vem ter espaço para desenvolvimento de atividades de natureza técnica, separada da moradia de crianças e adolescentes. Deve ter ainda uma sala para realização de reuniões com as famílias (atividades de grupos). Recomenda-se que este espaço funcione em localização específica da área administrativa/técnica da instituição;

g) Em relação ao Programa Família Acolhedora, deve-se garantir espaços para atividades técnico-administrativas: salas para equipe técnica, coordenação, aten-dimento, espaço para reuniões de equipe e atividades grupais.

As Orientações Técnicas dos Serviços de Acolhimento (BRASIL, 2009g) ressalta ainda que os serviços de acolhimento devem funcionar em residências inseridas na comunidade, observando os padrões do bairro. O ambiente acolhedor e estru-tura física adequada reproduzem condições próximas do ambiente familiar. As edificações devem atender à legislação vigente e às necessidades de crianças e adolescentes, oferecendo condições de higiene, segurança, privacidade e acesso a outros serviços necessários a este público.

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2.2. A ARTICULAÇÃO ENTRE O DIREITO DE CRIANÇAS E ADOLES-CENTES E O SISTEMA DE JUSTIÇA.

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu como objetivos fundamentais da Re-pública Federativa do Brasil: construir uma sociedade livre, justa e solidária; ga-rantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização; reduzir as desigualdades sociais e regionais; e promover o bem de todos, sem preconcei-tos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

A partir desses objetivos, organizou os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciá-rio e as outras instituições essenciais à Justiça, como o Ministério Público, a De-fensoria Pública e a Advocacia Pública, concedendo-lhes funções específicas. É através do Sistema de Justiça que o Estado garante os direitos a todos os cidadãos. De acordo com Araújo (2011, p.28) “ao longo da história foi criado o Sistema de Justiça, enquanto local para recebimento, processamento e solução de demandas, sejam elas individuais, coletivas, políticas, financeiras ou outras”.

No que se refere à infância e à adolescência, a Associação Brasileira de Magis-trados, Promotores de Justiça e Defensores Públicos da Infância e da Juventude (ABMP, 2008, p. 83) afirmou que

Nas mãos do Sistema de Justiça está a defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes, caracterizada de forma ampla pela garan-tia do acesso à justiça, ou seja, pelo recurso às instâncias públicas e mecanismos jurídicos de proteção legal dos direitos humanos, gerais e especiais, da infância e da adolescência, para assegurar a impositi-vidade deles e sua exigibilidade, em concreto.

Em relação à proteção e garantia de direitos da criança e do adolescente, o ECA (Brasil, 1990) apresentou avanços, ao incorporar mecanismos que determinam que o Sistema de Justiça tenha ações e instrumentos que priorizem o acesso deste público a serviços e benefícios. Desta forma, traz em seu escopo as diretrizes para que todo sistema seja organizado a fim de garantir o principio da prioridade abso-luta na proteção à infância e à adolescência.

Também referenciais da legislação internacional, atribuiram ao Sistema de Justiça importante papel na defesa de direitos consagrados em legislações e normativas que visam à justiça social, cita-se o artigo 14 das Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça da Infância e da Juventude (Regras de Beijing, 1984)11 que reconhece:

11 Foram aprovadas em Pequim num Congresso Internacional de Criminologia e Justiça da ONU, e adotadas em Assembléia Geral das Nações Unidas, no dia 20 de novembro de 1984.

Considerando que o acesso aos direitos fundamentais é vital para o desenvolvi-mento saudável de crianças e adolescentes e que a violação dos mesmos requer uma resposta rápida para o seu restabelecimento. O ECA preconiza, no artigo 152, parágrafo único, a prerrogativa da prioridade absoluta também nos procedi-mentos judiciários. Segundo o documento:

É assegurada, sob pena de responsabilidade, prioridade absoluta na tramitação dos processos e procedimentos previstos nesta Lei, assim como na execução dos atos e diligências judiciais a eles referentes. (BRASIL, 1990, Art. 152. parágrafo único).

Com base no ECA, foram estabelecidas as atribuições de cada órgão judicial – Autoridade Judiciária, Ministério Público e Defensoria Pública – para a infância e adolescência. A seguir, essas atribuições serão apresentadas considerando-se concepções teóricas ou doutrinárias que apontam para as competências e proce-dimentos a serem observados para a garantia da prioridade absoluta de crianças e adolescentes.

2.2.1 Autoridade Judiciária

À autoridade judiciária cabe apreciar as demandas por direitos individuais, cole-tivos e difusos de crianças e adolescentes, procedendo, ainda, o controle de enti-dades de atendimento por seu dever de fiscalização e normatização e levando em conta as peculiaridades institucionais12. Para Bordallo (2010, p. 413), um Juiz da Vara da Infância e Juventude, se diferencia dos demais, pois,

O Sistema de Justiça tem potencial para se apresentar como capaz para defender, proteger e promover os direitos previstos nas norma-tivas pertinentes, devendo assumir-se, de acordo com a comunidade internacional, como parte integrante do processo de desenvolvimen-to nacional de cada país e ser administrada no marco geral da justiça social de modo não apenas a contribuir para a sua proteção, mas também para a manutenção da paz e ordem na sociedade.

[...] não possui apenas competência para conhecer e julgar todos os conflitos de interesses que chegam às portas do Poder Judiciário, possuindo atribuições que fogem da esfera judicial de atuação[...] fazendo dele uma figura democrática, muito diferente daquela figura autoritária existente no revogado Código de Menores.

12 Consultar o ECA/1990, artigos 146 a 149 e respectivos parágrafos e incisos, que trata da competência da Autoridade Judiciária da Infância e Juventude.

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A Lei nº 12.010 (BRASIL, 2009), chamada da “convivência familiar e comuni-tária” complementou 54 (cinqüenta e quatro) artigos do ECA e estabeleceu inú-meras inovações legislativas para assegurar o direito à convivência familiar para todas as crianças e adolescentes. Nessa normativa são enfatizados e criados ins-trumentos que garantem a brevidade e excepcionalidade da aplicação da medida de proteção de acolhimento institucional ou familiar.

Em relação ao Poder Judiciário, a Lei nº 12.010/2009 diz que este órgão tem competência exclusiva para determinar o afastamento da criança e do adolescen-te do convívio familiar. Com sua homologação o Poder Judiciário passa a ter a obrigação de manter um rigoroso controle sobre o acolhimento institucional de crianças e adolescentes e de reavaliar, no máximo a cada seis meses, a situação de cada criança ou adolescente que se encontre afastado do convívio familiar. Os Programas de acolhimento, por sua vez, devem empregar esforços na tentativa de fortalecer os vínculos das crianças e adolescentes com suas famílias de ori-gem, visando sua reintegração familiar. Caso esgotem todas as possibilidades de reintegração, cabe ao Poder Judiciário providenciar a colocação dessa criança em família substituta, em qualquer de suas modalidades (guarda, tutela ou adoção), ou seu encaminhamento a programas de acolhimento familiar, no prazo máximo de 02 (dois) anos.

Ainda cabe à Autoridade Judiciária a manutenção de cadastros de crianças e adolescentes em condições de serem adotadas e outro de pessoas interessadas na adoção. A legislação ainda prevê que é competência da equipe técnica do judiciário desenvolver cursos ou programas de orientação jurídica e preparação psicossocial para pessoas ou casais interessados em adotar, evitando-se, assim, as possíveis rejeições no processo de adoção.

O objetivo da Lei 12.010/2009 é contribuir para a redução da violação do di-reito de crianças e adolescentes à convivência familiar e comunitária evitando os acolhimentos institucionais injustificados ou motivados por pobreza. Com ela também se tem uma melhor regulação do funcionamento dos programas de acolhimento institucional, integrando-os na rede de proteção às famílias em situação de vulnerabilidade social e de garantia dos direitos de crianças e ado-lescentes. Nesse aspecto, o Poder Judiciário, integrado ao Sistema de Garantia de Direitos de crianças e adolescentes13 exerce de maneira mais ampla, funções articuladas e orientadas por prazos e procedimentos condizentes com a doutrina da proteção integral.

13 Segundo Kayano e Sicoli (2009, p.10) O Objetivo do Sistema de Garantia dos Direitos de Crianças e Adolescentes é articular e integrar instâncias governamentais e da socie-dade civil que atuam na promoção, no controle e na defesa dos direitos infanto-juvenis.

No nível estadual, a Justiça para a Infância e Adolescência deve criar e instalar Varas Especializadas ou indicar outras Varas que terão como competência julgar ações que tratem do Direito da Criança e do Adolescente. A despeito das Varas Especializadas o ECA (BRASIL, 1990, art.145) prevê que:

Os Estados e o Distrito Federal poderão criar varas especiali-zadas e exclusivas da infância e juventude, cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionalidade por número de ha-bitantes, dotá-las de infra-estrutura e dispor sobre o atendimento, inclusive em plantões.

Na contemporaneidade o Poder Judiciário, como ferramenta do Estado Democrá-tico de Direito, enfrenta o grande desafio de lidar com realidades complexas, entre elas, as mudanças ocorridas na família, as relações de classe, de gênero, geração e etnia e as políticas públicas. Essa complexidade exige atuação interdisciplinar, pois os problemas que afetam a infância e adolescência estão intimamente rela-cionados com questões de ordem psicossocial e econômica e não podem ser resol-vidos senão por uma articulação do judiciário com as políticas públicas, demais poderes e diversas áreas do conhecimento. É com esse entendimento que o ECA, no seu artigo 150, prevê a estruturação das equipes interprofissionais:

Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta orçamentá-ria, prever recursos para a manutenção de equipes interprofissionais, destinada a assessorar a Justiça da Infância e da Juventude. (BRA-SIL,1990, art. 150)

O ECA também define a competência das equipes interprofissionais, conforme o art. 151:

Compete à equipe interprofissional, dentre outras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou verbalmente, na audiência, bem assim desenvolver trabalhos de aconselhamento, orientação, encaminha-mento, prevenção e outros, tudo sob a imediata subordinação ju-diciária assegurada a livre manifestação do ponto de vista técnico. (BRASIL, 1990, Art. 151)

Com a Lei 12.010/2009 a equipe interprofissional, a serviço da Justiça da Infância e Juventude, passou a ter outras atribuições que contribuem para defesa do direito à convivência familiar de crianças e adolescentes. Essa equipe aparece no artigo 28 parágrafos 1º e 5º do ECA, como responsável por ouvir e preparar as crianças ou adolescentes em caso de colocação em família substituta e acompanhamento posterior desta família. Também no artigo 50 parágrafos 3º e 4º do mesmo docu-mento, os postulantes a adoção deverão passar por um período de preparação psi-cossocial e jurídica, orientados pela equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Adolescência.

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Para além do atendimento individual de caso a caso, as equipes interprofissio-nais têm o importante papel de articular a rede de serviços e políticas públicas, para prevenir a ocorrência de violação de direitos de crianças, adolescentes e suas famílias. A legislação não define quais profissionais devem integrar a equipe técnica e nem fixa o número de técnicos suficientes para o assessora-mento dos magistrados. Essa indefinição denota completa falta de parâmetros para a criação de equipes técnicas nas Varas da Infância e Juventude em todos os estados brasileiros.

2.2.2 O Ministério Público

De acordo com o Artigo 127 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), “o Minis-tério Público é uma instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incubindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”. O mesmo artigo, parágrafos 1º e 2º, afirma que o Ministério Público possui como princípios institucionais a unida-de, a indivisibilidade e independência profissional, tendo assegurada a autonomia funcional e administrativa.

De modo geral, o Ministério Público atua na defesa dos direitos humanos, que devem ser garantidos a todos os cidadãos, inclusive crianças e adolescentes. Cabe--lhe zelar pelo cumprimento da Constituição Federal e outras leis que resguardem os direitos dos cidadãos. O ECA apresenta a competência do Ministério Público através dos artigos 200 a 205. Bordallo (2010, p. 420), por sua vez, explicita que: “no artigo 201 são elencadas atribuições judiciais e extrajudiciais para a defesa de todos os direitos das crianças e adolescentes, qualquer que seja sua natureza”.

No que se refere à violação dos direitos da criança e do adolescente à convivência familiar e comunitária a Lei 12010/2009 amplia as atribuições do Promotor de Justiça definindo que:

1) é atribuição do MP, junto com o Conselho Tutelar, atestar a qualidade e efi-ciência do trabalho desenvolvido por instituições de acolhimento e outros;

2) cabe ao MP fiscalizar as entidades governamentais e não-governamentais re-feridas no artigo 90, junto com o Poder Judiciário e Conselhos Tutelares.

3) compete ao MP, em caso de acolhimento institucional ou familiar, manifestar--se em 05 dias após o recebimento de relatório detalhado, que permita avaliar a possibilidade ou não de reintegração familiar. Este órgão tem 30 dias para o ingresso com a ação de destituição do poder familiar, salvo se entender necessá-ria a realização de estudos complementares ou outras providências que entender indispensáveis ao ajuizamento da demanda.

4) o procedimento para a perda ou a suspensão do poder familiar terá início por provocação do MP ou de quem tenha legítimo interesse. Cabe ao Conse-lho Tutelar representar ao MP para efeito das ações de perda ou suspensão do poder familiar, após esgotadas as possibilidades de manutenção da criança ou do adolescente junto à família natural. Em caso de acolhimento de crianças e adolescentes em medida excepcional, pelo Conselho Tutelar, cabe ao mesmo comunicar o fato imediatamente ao MP. Além das providencias tomadas.

5) promover e acompanhar as ações de alimentos e os procedimentos de suspen-são e destituição do poder familiar, nomeação e remoção de tutores, curadores e guardiães, bem como oficiar em todos os demais procedimentos da competência da Justiça da Infância e da Juventude;

6) fiscalizar a alimentação do cadastro judicial e a convocação criteriosa dos postulantes à adoção.

O Ministério Público passou a ser projetado para lidar com a diversidade de con-flitos ligados à área da infância e da adolescência respondendo a essas demandas, onde nem sempre a rede e as políticas públicas respondem de forma imediata à complexidade das mesmas. Para Ferreira (2002, p.05),

o promotor de justiça deixou de ser um mero fiscalizador da apli-cabilidade da lei para atuar como um verdadeiro agente político. Deixou de ser o defensor do Estado para ser o defensor de crianças e adolescentes.

Estas novas atribuições do MP, ampliou a sua visibilidade no sistema de garantia de direitos de crianças e adolescentes, pois

Com o novo regime constitucional o Ministério Público passou a ter uma fisionomia muito mais voltada para a solução dos problemas sociais, deixando de lado a antiga postura de instituição direcionada unicamente para a persecução criminal. Hoje, podemos seguramente falar do Ministério Público social, voltado para a solução dos diver-sos problemas. (BORDALLO,2010, p.419).

Ainda de acordo com o autor, com uma gama de atribuições conferidas pelo ECA, o Ministério Público foi eleito o grande ator na defesa de crianças e adolescentes. Isto porque as atribuições do MP ampliaram-se de forma significativa e atualmen-te ele é considerado o defensor dos interesses sociais.

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A revisão da lei orgânica nacional da Defensoria Pública traduziu, com rara precisão, a vocação da Defensoria Pública como instituição voltada à defesa dos direitos humanos da população desprovida de recursos, introduzindo mecanismos de controle e participação social na sua gestão e clarificando os direitos dos usuários do serviço de prestação da assistência jurídica integral gratuita. Inovou também ao expressar de forma inequívoca a necessidade de atuação extra-judicial, com adoção de políticas de prevenção e de solução alter-nativa de conflito, e coletiva, de forma a garantir racionalidade na judicialização das novas demandas que devem ser absorvidas pela Defensoria.

A Constituição do Estado de Minas Gerais em seu artigo 129 reafirma os preceitos da Carta Magna de nosso país ao prever que

A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, a que incumbe a orientação jurídica, a representação judicial e a defesa gratuitas, em todos os graus, dos necessitados (MINAS GERAIS,1989)

Já no artigo 130 § 2º destaca que é obrigatória a criação de órgão da Defensoria Pública em todas as comarcas. Cabe ainda à Defensoria Pública defender, de ma-neira individual e coletiva, os interesses da população em relação aos seus direitos de acesso às políticas públicas de saúde, educação, moradia, assistência e previ-dência social, infância e juventude, etc.

2.2.3 A Defensoria Pública

A Defensoria Pública Estadual configura-se como parte do sistema de garantia de direitos de crianças e adolescentes. De acordo com a Constituição Federal (BRA-SIL, 1988) todo indivíduo possui o direito fundamental de ter acesso à justiça, quando dela necessitar e mesmo que não tenha condições financeiras de arcar com as despesas de um advogado particular. Neste caso, o Estado deverá garantir--lhes assistência jurídica, através da Defensoria Pública. A autonomia funcional e administrativa da Defensoria Pública está prevista no artigo 134, parágrafo 2º da Constituição Federal (BRASIL, 1988), bem como no artigo 97-A da Lei Com-plementar 80/1994 (BRASIL, 1994). Às Defensorias Públicas Estaduais são as-seguradas autonomia funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias.

O artigo 134 da Constituição Federal( BRASIL, 1988) prevê ainda que “a De-fensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incum-bindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados”. O recente documento publicado pelo Ministério da Justiça (BRASIL, 2009e p. 13-14), intitulado III Diagnóstico da Defensoria do Brasil, aponta que

De acordo com a Lei Orgânica da Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais (MINAS GERAIS, 2003) as competências do Defensor Público são bem extensas e, entre elas, está previsto no artigos 5º, inciso IX: exercer a defesa da criança e do adolescente; e o artigo 45, inciso IX complementa: em especial nas hipóteses pre-vistas no art. 227 da Constituição da República; cabe-lhe segundo o mesmo artigo inciso XVIII, diligenciar as medidas necessárias ao assentamento de registro civil de nascimento de criança ou adolescente.

2.2.4 Integração Operacional do Sistema de Justiça

O ECA (BRASIL,1990) sabiamente e prevendo a incompletude das instituições no seu objetivo de garantir direitos à população infanto-juvenil, prevê no artigo 86 que a Política de Atendimento à criança e ao adolescente “far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não governamentais” Em relação à defesa do direito à convivência familiar e comunitária no Sistema de Justiça e considerando a necessidade de agilizar o atendimento de crianças e adolescentes em acolhimento, visando o seu retorno às suas famílias de origem ou integração em família substituta, estabelece o Artigo 88, Inciso VI a “integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, Conselho Tutelar e encarregados das políticas sociais básicas e de assistência social” (BRASIL, 1990). Dessa maneira, os órgãos do Sistema de Justiça, preservadas as singulari-dades na atribuição de cada um, devem estabelecer relação política e intra-institu-cional se quiserem promover, efetivamente, o direito das crianças, adolescentes e das famílias à convivência familiar e comunitária.

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2.3. AS DELEGACIAS DA POLÍCIA CIVIL

O sistema de defesa dos direitos de criança e adolescentes é composto por di-versos órgãos, e entre eles está o Sistema de Justiça: Poder judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública e da Segurança Pública compostas pela Polícia Civil, e Militar. Neste segmento, a delegacia é um órgão prestador de serviços da Polícia Civil que em quase todos os Estados brasileiros está diretamente subordinada à Secretaria de Segurança Pública do Estado. À polícia civil compete a função judi-ciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares, realizando serviços de investigação criminal equivalentes aos da Polícia Federal, diferenciando apenas no âmbito estadual de atuação (MINAS GERAIS, s.d).

Em Minas Gerais, desde 2003, quando foi criado o Sistema Integrado de Defesa Social (SIDS), a Polícia Civil está estruturada como um órgão autônomo da admi-nistração direta. O SIDS reúne as organizações atuantes no campo da segurança pública e defesa do cidadão que sob a orientação da Secretaria de Defesa Social é formada pela Subsecretaria de Administração Penitenciária, a Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros, a Defensoria Pública e a própria Polícia Civil. Tem como finalidade a articulação das instituições de segurança, visando o trabalho inte-grado, inclusive com outras organizações públicas e representações da sociedade (MINAS GERAIS, s.d).

A Polícia Civil de Minas Gerais é responsável pelas atividades de medicina legal e criminalística, bem como pelo processamento e arquivo de identificação civil e criminal. A instituição é integrada pelo Conselho Superior de Polícia Civil, presi-dido pelo Chefe da Polícia Civil; o Conselho Estadual de Trânsito de Minas Ge-rais (CETRAN-MG); e o Departamento de Trânsito (DETRAN-MG), que exer-ce as funções de registro e licenciamento de veículo automotor e habilitação de condutores, além do planejamento, execução e fiscalização dos demais serviços relativos ao trânsito. (MINAS GERAIS, s.d)

Na execução dos serviços prestados pelas delegacias, a Polícia Civil conta com um quadro de servidores que contempla as carreiras administrativas, bem como as carreiras dos servidores policiais. Os servidores policiais são organizados em cinco carreiras: Delegado de Polícia, Médico-Legista, Perito Criminal, Agente de Polícia – (antiga carreira de Carcereiro), Detetive, Identificador e Vistoriador de Veículos e Escrivão de Polícia. Algumas funções são de nível superior e outras de nível médio de conhecimento. Com exceção do Médico-Legista, todos estes profissionais atuam nas Delegacias de Polícia (MINAS GERAIS, 2005).

O Delegado de Polícia é responsável pela instauração e condução do inquérito policial e pela coordenação das atividades tático-operacionais e administrativas da sua unidade policial; o Médico-Legista tem a seu cargo a realização de exames médico-legais, bem como a realização de exames em pessoas vivas e mortas, para elaboração de laudos periciais; o Perito Criminal atua na interpretação dos indícios materiais e elementos subjetivos das infrações penais, e na elaboração de laudo pericial; o Escrivão de Polícia realiza o trabalho de elaboração e formaliza-ção dos atos em procedimentos legais, além de zelar pela guarda de documentos

da sua unidade policial; e o Agente de Polícia tem a seu cargo a coleta de elemen-tos objetivos e subjetivos reunidos para o esclarecimento das infrações penais, administrativas e disciplinares, além do cumprimento de diligências policiais e determinações judiciais (MINAS GERAIS, 2005).

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, no art. 227, contem-plou a Doutrina da Proteção Integral, e o Estatuto da Criança e do Adolescente fez o mesmo, em seu art. 1º. A proteção integral tem como pressuposto a concepção de que crianças e adolescentes são sujeitos de direitos, frente à família, à socieda-de e ao Estado, colocando-os como titulares de direitos comuns a toda e qualquer pessoa e, principalmente, de direitos especiais decorrentes da condição peculiar de pessoas em desenvolvimento. A partir da adoção da Doutrina da Proteção Inte-gral, foi expressamente assegurado, no art. 5º do Estatuto, que: “Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, ex-ploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer aten-tado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.” Para adequar a estas leis, se faz necessário cada vez mais assegurar a proteção especialmente por parte do Estado adequando seus serviços para que verdadeiramente crianças e adoles-centes possam ser juridicialmente considerados sujeitos de direitos. Portanto, a construção de novas relações profissionais e a criação de serviços especializados são de fundamental importância para o alcance desses direitos que baseada em ações de proteção e de socialização, implica em mudanças significativas na estru-tura e organização e acesso aos serviços dentro de um sistema efetivo de proteção.

Dessa forma, a análise das delegacias não visa somente o entendimento de sua estruturação, mas também a avaliação de sua eficácia na execução de uma política de atendimento à infância e à adolescência. Portanto, na atenção especial e prote-ção à criança e ao adolescente deve haver uma integralidade nas ações, sobretudo na prestação dos serviços de Segurança Pública no Estado de Minas Gerais (SPE-MG) - Polícia Militar e Polícia Civil -, o Ministério Público e o Poder Judiciário.

Nesta perspectiva as delegacias especializadas no atendimento à infância e adolescência têm um papel fundamental e se propõem a atender e apurar todas as formas de violência cometidas por e/ou praticadas contra crianças e ado-lescentes de modo prioritário, buscando minimizar o impacto da violação dos seus direitos. Esse atendimento tende a complementar a rede de interligações para a atuação conjunta e ordenada dos órgãos que compõem o Sistema de Defesa de Direitos (SDD).

Neste segmento as delegacias especializadas de atendimento a crianças e adoles-centes corroboram com o processo de proteção e responsabilização, na medida que seus serviços contribuem para o trabalho da Justiça e efetivação dos direi-tos de crianças e adolescentes. Contudo percebe-se que o número de delegacias desse gênero no país, e também em Minas Gerais, é irrisório. Em contrapartida é de responsabilidade do Estado implantar um número maior de Delegacias Es-pecializadas. A delegacia especializada é uma forma de priorizar a infância e a adolescência no campo de atuação da polícia judiciária e ainda de atender com especificidade técnica um público que está em desenvolvimento e até então não detém todos os recursos necessários à sua proteção.

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2.4. CONSELHO TUTELAR

O princípio da convivência familiar e comunitária, além de devidamente reconhe-cido no texto constitucional (BRASIL, 1988) e no ECA (BRASIL, 1990), é re-forçado em outras legislações e normativas internacionais14 e nacional, nas quais se destacam a Política Nacional de Assistência Social – PNAS (BRASIL, 2004a), que prioriza em suas ações a centralidade na família, e, o Plano Nacional de Pro-moção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (2006).

Neste cenário o Conselho Tutelar (CT), como órgão integrante do Sistema de Ga-rantia e Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente é considerado um espaço fundamental para a garantia não só das condições de sobrevivência mas, sobre-tudo, de uma verdadeira proteção cidadã, integral e irrestrita a esse público. Isso significa eleger princípios relacionados à defesa de uma vida digna, de respeito à liberdade, ao direito à saúde, à educação, ao lazer, bem como ao direito de parti-cipar ativamente da vida comunitária e familiar.

Cabe considerar que convencionalmente as literaturas atuais na área da crian-ça e do adolescente vêm considerando como Sistema de Garantia do Direito da Criança e Adolescente (SGDCA) o conjunto de órgãos e entidades prestadoras de serviços, ações, programas ou projetos na área da criança e do adolescente. Nos termos de Wanderlino Nogueira, o CT no SGDCA faz dele um dos órgãos pertencentes ao sistema “da rede de proteção/responsabilização dos direitos da criança e do adolescente”, autêntico e reconhecido como instrumento de defesa, cuja funcionalidade se dá na relação direta com outros órgãos de direito (Vara da Infância, Conselho de Direito da Criança e Adolescente, e outros)

As condições de promoção, proteção e defesa do direito da criança e do adoles-cente exigem um esforço co-partilhado entre o CT e toda a sociedade, incluindo os prestadores de serviço e outros órgãos de direito (Ministério Público, Defen-soria Pública e outras). Esta é a condição para a sistematização de estratégias po-lítico-administrativas e orçamentárias, consolidada numa prática cuja concepção fundamente-se na idéia da cidadania de crianças, adolescentes e suas famílias.

São estes os fundamentos que auxiliaram o estudo sobre a realidade do atendimen-to do Conselho Tutelar de Governador Valadares, tendo por base seus aspectos formais, estrutura organizacional e a percepção dos Conselheiros Tutelares sobre o funcionamento interno desse órgão, visando dimensionar a existência (ou não) de estratégias eficazes e viáveis à convivência familiar junto ao público atendido.

14 Declaração Universal dos Direitos da Criança, tratado que definiu as bases para pro-teção e integridade dos direitos dos meninos e meninas de todo o mundo; adotada pela Assembléia das Nações Unidas de 20 de novembro de 1959 e ratificada pelo Brasil. Outro documento, Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança é um tratado que visa à proteção de crianças e adolescentes de todo o mundo, aprovada na Resolução 44/25 da Assembléia Geral das Nações Unidas, em 20 de novembro de 1989.

Em termos conceituais, o surgimento do Conselho Tutelar representou um ganho político e inovador na defesa do direito da criança e adolescente. A sua instaura-ção é resultado de lutas e manifestações de grupos sociais, a favor da criação de um espaço de natureza popular e de gestão participativo-democrática.

Foi no bojo das discussões e manifestações populares, desenvolvidas no contexto de construção do anteprojeto de lei que deu origem ao ECA, que surgiu o Conse-lho Tutelar. A principal preocupação, à época, era criar um órgão menos formal que o judiciário e célere na resolução das diversas situações e problemas sociais relacionados à infância e à juventude (pobreza, negligência, violência, exploração infanto-juvenil, e outros). Além disso, ele deveria facilitar a aproximação com a população – condição articulada ao processo de municipalização15.

O CT é considerado pelos estudiosos do assunto (NOGUEIRA NETO, 2002; PAULA, 1993) como órgão público institucional de natureza independente, que estabelece relação intermediária da Sociedade Civil e o Estado. Sua função prin-cipal é contrapor a qualquer forma de violação de direitos e de exigibilidade des-tes mesmos direitos. Constitui-se num importante espaço estratégico de busca pela primazia do direito da criança e do adolescente, o que inclui suas famílias. Para tanto, esse órgão deve ser reconhecido como instrumento representativo da comunidade e autêntico na defesa e proteção de direitos, cuja funcionalidade se dá na relação direta com outros órgãos de direito - Vara da Infância, Conselho de Direito da Criança e do Adolescente, políticas públicas governamentais e outros.

No campo da convivência familiar e comunitária de crianças e adolescentes, o CT representa um instrumento de fortalecimento dos vínculos, o que impõe uma perspectiva participativa e ativa nos lugares políticos de discussões e reflexões sobre a temática em questão. Assim como, a maneira como foi projetado o desen-volvimento de ações próprias e co-partilhadas com os órgãos que atuam na defesa dos direitos de criança e do adolescente.

Nos casos de violação de direito, cabe ao CT: funcionar como um canal políti-co, articulador e efetivo junto aos serviços, programas e projetos voltados para o atendimento às necessidades do seu público (crianças, adolescentes e famílias), priorizando as políticas públicas garantidoras de direitos sociais (educação, saú-de, assistência social, habitação, e outras); assim como atuar, reconhecendo ab-soluta prioridade de crianças e adolescentes, colocando-as no patamar de sujeitos de direito. Isso significa fazer prevalecer, de maneira diferenciada, os interesses e demandas desses sujeitos em relação a qualquer circunstância, o que inclui o direito à convivência familiar e comunitária.

15 O ECA (BRASIL, 1990), art.88, incisos I e II, estabelece como diretrizes da política de atendimento da criança e do adolescente a municipalização do atendimento e a criação de conselhos municipais.

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Em termos formais, este Órgão é previsto na Constituição de 1988 no artigo 227 que regulamenta o ECA. Conforme estabele o Artigo 131 do Estatuto, o CT têm natureza autônoma, caráter permanente, não jurisdicional, sendo encarregado de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e adolescente o que inclui as suas famílias (BRASIL, 1990).

Cabe ao CT, no exercício diário de sua função, acolher denúncias de qualquer fato que transgrida ou ameace os direitos de crianças e adolescentes. É de sua respon-sabilidade atuar, por meio de providências concretas e imediatas, na solução da situação que deu origem à queixa/denúncia, ou melhor, às demandas concretas e diversas, tais como reclamações, solicitações, etc.

Reconhecendo a responsabilidade da família, da comunidade e do Estado na pro-teção da criança ou do adolescente, o Art. 98 do ECA (BRASIL, 1990) afirma que, reconhecidos casos de ameaça ou violação de direitos “por ação ou omissão do Estado e Sociedade; por falta, omissão ou abuso de pais e responsáveis, ou mesmo em razão de sua conduta”, deverá a autoridade competente aplicar as medidas previstas nos art. 101, I a VII do ECA (BRASIL, 1990).

O CT não é somente instrumento auxiliar do Poder judiciário. Desta maneira, e conforme atribuído no inciso IX do Art. 136, o Órgão tem caráter eminentemen-te político-social. Por isso devem ser buscados mecanismos de participação nos espaços de luta e reivindicação de direitos, tais como a participação na esfera governamental, assessorando o Poder Executivo local na elaboração de propostas administrativas ou financeiro-orçamentária que viabilizem planos e programas de atendimento aos direitos da criança e do adolescente. Outro aspecto relaciona-se ao proposto no Artigo 137, que informa não serem definitivas as decisões do CT, abrindo possibilidades de revisão das mesmas pela autoridade judiciária, a pedido de quem tenha legítimo interesse (BRASIL, 1990).

O CT deve ser equipado politicamente e estruturar-se com base no conhecimento técnico, que deve fundamentar os procedimentos e decisões a serem tomadas. Um CT frágil diante dos desafios a serem enfrentados na sua cotidianidade pode ocasionar, entre outras coisas, baixa representatividade social, ações meramente técnicas e burocráticas, perda da qualidade dos serviços prestados. Nesta condi-ção não é capaz de cobrar de quem deve atender as omissões e irregularidades. Tais prerrogativas devem ser consideradas a partir de uma visão crítica, relacio-nada com a efetivação de direitos, para não perpetuar uma visão da criança e do adolescente como objetos da vontade social e dos Governos.

2.4.1 Marco legal do Conselho Tutelar do Município de Governador Valadares

O CT de Governador Valadares é regulamentado pela Lei Municipal nº 5939 de 17 novembro de 2008 (GOVERNADOR VALADARES, 2008), que estabelece parâmetros para a política Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, e regulamenta a implantação do CT no município. Além da Lei supracitada, o Regimento Interno (GOVERNADOR VALDARES, 2008), o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de. Crianças e Adolescentes à Convivên-cia Familiar e Comunitária (BRASIL, 2006a), o ECA (BRASIL,1990) , e, a Lei Orgânica da Assistência Social (BRASIL, 1993).

O Regimento Interno (GOVERNADOR VALADARES, 2009) discrimina como os deveres dos Conselheiros Tutelares: o acompanhamento de todo o processo de atendimento; o registro de casos recebidos por diferentes fontes (anônima, via postal ou telefônica, constatação pessoal, vinda de autoridade ou de funcioná-rio púbica, etc); as discussões e decisões colegiadas; o registro das providências tomadas e respectivas alterações; e, o cumprimento de medidas relacionadas à infração penal.

O Regimento define como atendimento toda atividade cuja efetividade dependa da capacidade de articulação e de cumprimento de ações pelo CT. São: requi-sição de serviços públicos de natureza diversa (saúde, previdência, segurança, assistência social); requisição de documentos junto aos cartórios competentes (se-gundas vias de certidões de nascimento, óbito, etc); suprimento de informações ao CMDCA, destacando as demandas de atendimento e deficiências estruturais no município; proposição de ações adequadas dos órgãos públicos locais para a prestação de atendimento à população infanto-juvenil; acompanhamento das propostas orçamentárias para a criança e o adolescente; produção de leis, planos e programas de atendimento aos direitos desse público, dentre outras (GOVERNA-DOR VALADARES, 2009).

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No campo da convivência familiar o RI deixa evidente que o CT se constitui como órgão estratégico de articulação e de proteção desse direito, ao informar que cabe ao mesmo realizar atendimentos que incorporem a população infanto-juvenil e os demais membros familiares que tenham direito a especial proteção por parte do Estado. Estes devem ser encaminhados a programas específicos de orientação e de apoio e promoção social16. Ainda enfatiza que a aplicação de medidas de pro-teção deve ter como foco a manutenção e fortalecimento dos vínculos familiares. No campo da aplicação de medidas que constituem rompimento temporário do vínculo de crianças e adolescentes com suas famílias de origem, através do aco-lhimento institucional e familiar, o RI aponta a importância da observância das condições prescritas no Art. 92 do ECA. Neste sentido, deve-se garantir o caráter excepcional e provisório do afastamento, a que deve ter duração não superior ao estritamente necessário à reintegração à família natural ou colocação em família substituta, devendo esta última medida ficar a cargo da autoridade judiciária com-petente (GOVERNADOR VALADARES, 2009).

No que se refere a ações de proposição da suspensão ou destituição do poder fa-miliar, o RI informa sobre a necessidade de se observar o esgotamento de todas as tentativas de manutenção dos vínculos familiares, em virtude de práticas abusivas por parte dos pais e responsável. Neste caso deve ser considerada a existência de grave violação dos deveres inerentes ao poder familiar, inclusive de tutela ou guarda. Deve ser observada nesse caso suspeita ou confirmação de maus tratos ou abuso sexual impostos pelos pais e responsáveis, sendo em qualquer destas hipóteses aplicado o art. 130 do ECA, que determina o afastamento cautelar do agressor da companhia da criança ou do adolescente (BRASIL, 1990).

Cabe observar que a medida de afastamento de crianças e adolescentes dos pais ou responsável, no caso de encaminhando ao MP para estudo de viabilidade de envio a instituição de acolhimento e impossibilidade de retorno a família de ori-gem, deve incluir medidas de acompanhamento de todo o procedimento judicial específico destinado à suspensão ou destituição do poder familiar ou colocação em família substituta, prevendo o menor tempo de permanência desses sujeitos na instituição de acolhimento.

16 Atendendo aos dispositivos do art. 226 caput e parágrafo 8º da CF; do art. 101 e 129 do ECA/90 e da Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS (LEI Nº8.742/93).

2.5. A ASSISTÊNCIA SOCIAL

2.5.1 Política de Assistência Social e as configurações previstas no Sistema Único de Assistência Social: a implementação do CRAS e CREAS

A partir da Constituição Federal de 1988, a Assistência Social passou a ser con-cebida como política pública no campo da proteção social. É direito do cidadão e dever do Estado e compõe o tripé da Seguridade Social, juntamente com a Saúde e a Previdência Social. Regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS em 1993, tem como objetivos a prestação de serviços àqueles que dela necessitarem e a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice, aos deficientes e a reintegração ao mercado de trabalho daqueles que necessitarem. (BRASIL, 1993)

A trajetória desta política é marcada por sucessivas alterações. A partir de 2004, a assistência social ajustando-se à nova situação no país, toma como referência três vertentes de proteção social: as pessoas, as suas circunstâncias e a família.

De acordo com a Política Nacional de Assistência Social - PNAS (BRASIL, 2004a, p.33) são considerados público da política de assistência social,

cidadãos e grupos que se encontram em situações de vulnerabilida-de e riscos, tais como famílias e indivíduos com perda ou fragilida-de de vínculos de afetividade, pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida; identidades estigmatizadas em termos étnico, cultural e sexual; desvantagem pessoal resultante de deficiências; exclusão pela pobreza e ou no acesso às demais políticas públicas; uso de substâncias psicoativas; diferentes formas de violência advinda do núcleo familiar, grupos e indivíduos; inserção precária ou não inserção no mercado de trabalho formal e informal; estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco pessoal e social.

Para atender a esse público, a política de Assistência Social foi organizada através de proteções afiançadas, devidamente estabelecidas no Sistema Único da Assis-tência Social - SUAS. Conforme apresentado pelo Ministério de Desenvolvimen-to Social e Combate à Fome – MDS, o SUAS é considerado um modelo para a articulação e o provimento de serviços continuados de Proteção Social Básica e Proteção Social Especial, estabelecendo a co-responsabilidade entre União, Es-tados, DF e Municípios para implementar, regular, co-financiar e ofertar servi-ços, programas, projetos e benefícios de assistência social, em todo o território nacional, como dever do Estado e direito do cidadão. Inova ainda ao considerar

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o território17 como espaço de inclusão, respeitando as diversidades regionais e municipais e a realidade urbana e rural. (BRASIL, 2004a)

Em termos conceituais, O SUAS define-se como um sistema público não-con-tributivo e descentralizado, considerado um modelo para a articulação e o pro-vimento de serviços continuados de Proteção Social. Entende-se como Proteção Social a garantia de inclusão de todos os cidadãos que se encontram em situação de vulnerabilidade e/ou em situação de risco na rede de Proteção Social. Na Po-lítica de Assistência Social a matricialidade sociofamiliar é adotada como eixo estruturante das ações de assistência social, articulando a oferta público-estatal e não-estatal de serviços socioassistenciais, esta última, operacionalizada por meio de organizações e entidades de assistência social reconhecidas pelo SUAS.

A proteção social se estrutura por níveis: proteção social básica, proteção social especial de média complexidade e proteção social especial de alta complexidade. A Política Nacional de Assistência Social (BRASIL, 2004a, p.33) assegura que a proteção social básica

tem como objetivos prevenir situações de risco por meio do desen-volvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Destina-se à população que vive em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, priva-ção (ausência de renda, precário ou nulo acesso aos serviços públi-cos, dentre outros) e, ou, fragilização de vínculos afetivos – relacio-nais e de pertencimento social (discriminações etárias, étnicas, de gênero ou por deficiências, dentre outras).

2.5.2. O Centro de Referência da Assistência Social - CRAS como operacio-nalizador da Proteção Social Básica

No campo da proteção social básica foi criado o Centro de Referência da As-sistência Social (CRAS), objetivando garantir as condições para a proteção da população que vive em situações de risco, que vai desde a sobrevivência até a necessidade de fortalecer as relações familiares e comunitárias. De acordo com o Ministério de Desenvolvimento Social (BRASIL, 2009b), o CRAS é a principal porta de entrada do SUAS, dada sua capilaridade nos territórios. Além de ofertar serviços e ações de proteção básica, possui a função de gestão territorial da rede de assistência social básica, promovendo a organização e a articulação das unida-des a ele referenciadas e o gerenciamento dos processos nele envolvidos.

17 A noção de território incorporada pela política de assistência social referencia-se na idéia de ‘território vivido’ difundida pelo geógrafo Milton Santos. Nesses termos, inte-gra, de maneira indissociável, materialidade e ação; ou seja, remete a um espaço, mas ao espaço usado pelos homens, o território que não apenas espelha, mas que tem em si, no sentido constitutivo, o caráter da inclusão ou da exclusão sócio-espacial, os elementos que aprofundam esse fenômeno ou favorecem sua superação, que marginalizam ou res-gatam. (BRASIL, 2009a, p. 10)

A implantação deste serviço é um dos requisitos para a gestão plena18, do SUAS

Além do CRAS, a proteção social básica é operacionalizada por meio da rede de serviços socioeducativos direcionados para grupos geracionais, intergeracionais e de interesses. A eles são ofertados benefícios eventuais, o beneficio de presta-ção continuada (BPC) e serviços e projetos de capacitação e inserção produtiva. O principal serviço ofertado pelo CRAS é o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF), cuja execução é obrigatória e exclusiva. Este consiste em um trabalho de caráter continuado, que visa fortalecer a função protetiva das famílias, prevenindo a ruptura de vínculos, promovendo o acesso e usufruto de direitos e contribuindo para a melhoria da qualidade de vida (BRASIL, 2004a). A implantação das unidades CRAS deve ser definida através do Plano Municipal de Assistência Social19, sendo que nos municípios de médio e grande porte, estas unidades devem situar-se nos territórios de maior vulnerabilidade social. Cada unidade do CRAS é responsável pelo diagnóstico da situação familiar e da orga-nização e coordenação da rede de serviços socioassistenciais, integrando-as com outras políticas sociais (BRASIL, 2004a).

Havendo necessidades especificas, o CRAS poderá utilizar-se de equipes volantes ou de unidades itinerantes, responsáveis pelo deslocamento dos serviços.

A correta compreensão de território e o bom diagnóstico da rede ou das redes é que, na verdade, devem dimensionar o CRAS. A popu-lação em situação de vulnerabilidade e risco social do território é que deve mensurar o número de famílias referenciadas e, por sua vez, a capacidade de atendimento que o CRAS deve ter. A menor ou maior extensão da rede é que deve definir quais serviços, além do PAIF, precisam ser executados diretamente no CRAS, pela ausência de entidades prestadoras no território. E, naturalmente, esse elenco de serviços a ser ofertado é que deve determinar qual o programa de espaços o CRAS deve prover. (BRASIL, 2009a, p.15)

18 Nível em que o município tem a gestão total das ações de Assistência Social. O gestor deve assumir a responsabilidade de organizar a proteção social básica e especial de seu município, cumprindo alguns requisitos. Ver em NOB/SUAS, Brasília, 2006.19 Recomenda-se que o Plano Municipal de Assistência Social apresente o mapa do mu-nicípio, dividido em territórios de vulnerabilidade e com a indicação de quantas famílias vivem em cada território e que serão, consequentemente referenciados no CRAS. (Orien-tações Técnicas para CRAS, 2009b p.36).

Ainda de acordo com o MDS o Cadastro Único para Programas Sociais compõe um instrumento que identifica e caracteriza as famílias com renda mensal de até meio salário mínimo por pessoa ou de três salários mínimos no total. O Cadastro Único, regulamentado pelo Decreto nº 6.135/07 e coordenado pelo MDS, deve ser obrigatoriamente utilizado para seleção de beneficiários e integração de pro-gramas sociais do Governo Federal. (BRASIL, 2012)

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Quadro 01- Recursos Humanos do Centro de Referência da Assistência Social – CRAS.Pequeno Porte I Pequeno Porte II Médio, Grande, Metrópole e DF

Até 2.500 famílias referenciadas Até 3.500 famílias referenciadas A cada 5.000 famílias referenciadas02 técnicos de nível superior, sendo um profissional assistente social e outro preferencialmente psicólogo.

03 técnicos de nível superior, sendo dois profissionais assistentes sociais e

preferencialmente um psicólogo

04 técnicos de nível superior, sendo dois profissionais assistentes sociais, um psicólogo e um profissional que

compõe o SUAS.02 técnicos de nível médio 03 técnicos de nível médio 04 técnicos de nível médio

Fonte: NOB/RH_SUAS, 2006, p.14

Conforme afirmam as Orientações Técnicas para o CRAS a equipe profissional de referência é interdisciplinar, pois este é adotado

[...] como processo de trabalho no âmbito do SUAS, a partir da com-preensão de que o principal objeto de ação da política de assistência social - as vulnerabilidades e riscos sociais - não são fatos homogê-neos e simples, mas complexos e multifacetados, que exigem res-postas diversificadas alcançadas por meio de ações contextualizadas e para as quais concorrem contribuições construídas coletivamente e não apenas por intermédio do envolvimento individualizado de téc-nicos com diferentes formações (BRASIL, 2009b, p.64).

Outra orientação do MDS é de que toda a equipe de referência do CRAS seja composta por servidores públicos efetivos (concursados). Esta exigência fun-damenta-se na necessidade de que o corpo profissional tenha uma baixa rotati-vidade, garantindo assim a continuidade, a eficácia e a efetividade dos progra-mas, serviços e projetos ofertados e a capacitação continuada dos profissionais. (BRASIL, 2006)

Quanto à infraestrutura física do CRAS, as Orientações Técnicas reforçam o que já está previsto na Resolução da Comissão Intergestores Tripartite Nº 06 de 01/07/2008: não é permitido que a unidade, que é pública estatal, seja implanta-da em associações comunitárias e Organizações Não Governamentais (ONG´s). Também não é admitido o compartilhamento de espaço físico do CRAS com estruturas administrativas, tais como secretarias municipais de assistência social ou outras secretarias municipais e/ou estaduais, prefeituras, subprefeituras, entre outras. Assim,

No que diz respeito aos recursos humanos, a implantação do CRAS deve con-siderar, além da Norma Operacional Básica de Recursos Humanos de 2006, as Orientações Técnicas para CRAS (2009b), que prevêem um quadro de trabalha-dores qualificados para o exercício das atividades no CRAS. Para tanto, indicam o número de trabalhadores nos CRAS segundo o porte do município e o número de famílias referenciadas. O quadro 01 apresenta a composição do CRAS, to-mando como referência o porte populacional do município.

O espaço físico constitui fator determinante para o reconhecimento do CRAS como lócus no qual os direitos socioassistenciais são as-segurados. É imprescindível que a infra-estrutura e os ambientes do CRAS respondam a requisitos mínimos para a adequada oferta dos serviços socioassistenciais de proteção social básica nele ofertados. Todos os CRAS são obrigados a dispor dos espaços necessários à oferta do principal serviço, o Programa de Atenção Integral à Famí-lia – PAIF, bem como para a função de gestão territorial da proteção básica (BRASIL, 2009b, p.48).

As unidades do CRAS devem oferecer espaço adequado, que garanta a acessibi-lidade de idosos e pessoas com deficiência. Por ser referência para as famílias em determinado território, prioriza-se a estabilidade física do serviço, ou seja, que evitem mudanças de prédio. Além dos ambientes físicos adequados, as unidades dos CRAS devem ter o suporte necessário para realização de suas atividades e atribuições técnicas: livros, aparelho de som, microfone, brinquedos, jogos, máquina fotográfica, internet e veículo para visitas, além de linha telefônica que favoreça a agilidade na solução de problemas da população usuária dos serviços. As unidades devem contar com placa de identificação do serviço, e deverão fun-cionar cinco dias por semana e oito horas por dia, totalizando 40 horas semanais de funcionamento.

2.5.3. O Centro de Referência Especializado da Assistência Social - CREAS como operacionalizador da Proteção Social Especial

A Proteção Especial de Média Complexidade é realizada pelos Centros de Re-ferência Especializados da Assistência Social (CREAS). De acordo com a PNAS/2004a são considerados serviços de média complexidade aqueles que ofe-recem atendimentos a famílias e indivíduos com seus direitos violados, mas cujo vínculo familiar e comunitário não foi rompido. Neste sentido, requerem maior estruturação técnico-operacional e atenção especializada e individualizada, e/ou, acompanhamento sistemático e monitorado, tais como: Serviço de orientação e apoio sócio-familiar; Plantão Social; Abordagem de Rua; Cuidado no Domi-cílio; Serviço de Habilitação e Reabilitação na comunidade das pessoas com deficiência; Medidas sócio-educativas em meio-aberto - Prestação de Serviços à Comunidade (PSC) e Liberdade Assistida (LA). (BRASIL, 2004a) A Proteção especial de média complexidade difere-se da proteção básica por se tratar de um atendimento dirigido às situações de violação de direitos e porque a sua abran-gência não se vincula à base territorial dos casos.

Dentre os principais objetivos do CREAS estão: contribuir para a proteção ime-diata e para o atendimento interdisciplinar às pessoas em situação de violência, visando a preservação de sua integridade física e psicológica; fortalecer víncu-los familiares e a capacidade protetiva da família; fortalecer as redes sociais de

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Quadro 02- Centro de Referência Especializado da Assistência Social - CREAS

Capacidade de Atendimento de 50 famílias/ indivíduos

Capacidade de Atendimento de 80 famílias/ indivíduos

01 coordenador 01 Assistente Social 01 Psicólogo 01 Advogado 02 profissionais de nível superior ou médio01 auxiliar administrativo

01 coordenador02 Assistentes Sociais02 Psicólogos01 Advogado04 profissionais de nível superior ou médio02 auxiliares administrativos

Fonte: NOB/RH_SUAS, 2006, p.14

apoio da família; propiciar a inclusão das famílias no sistema de proteção social e nos serviços públicos, conforme necessidades; favorecer o acesso a direitos socioassistenciais e a reparação de danos; prevenir agravamentos; reduzir a inci-dência de violação de direitos; e prevenir a reincidência de violações de direitos (BRASIL, s.d).

Para o exercício de suas atividades, os serviços ofertados no CREAS devem ser desenvolvidos de modo articulado com a rede de serviços da assistência social, e órgãos de defesa de direitos tais como o Poder Judiciário, o Ministério Público, os Órgãos do Executivo, os Conselhos de Direitos, a Promotoria do Idoso e da Pessoa com Deficiência e as demais políticas públicas (BRASIL, s.d). Conforme previsto na Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (BRASIL, 2009c) o CREAS pode ofertar os seguintes serviços:

1) Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos – PAEFI.

2) Serviço de Proteção Social a adolescentes em cumprimento de Medida Socio-educativa de liberdade assistida e de prestação de serviços à Comunidade.3) Serviço Especializado em Abordagem Social.

4) Serviço de Proteção Social Especial para pessoas com deficiência e idosas e suas famílias.

Quanto aos recursos humanos do CREAS, a NOB/RH (BRASIL, 2006) indi-ca o número e diversidade da equipe de acordo com o número de famílias e indivíduos atendidos.

Quanto à infraestrutura física, o prédio do CREAS deve possuir sala para recepção; sala de coordenação e atividades administrativas; salas de atendi-mento individual, familiar e em grupo, em quantitativo condizente com os serviços ofertados e capacidade de atendimento da unidade; 02 banheiros coletivos, com adaptação para pessoas com deficiência e/ou mobilidade re-duzida; 01 copa e/ou cozinha. São essenciais para realização dos trabalhos previstos na unidade CREAS: Mobiliário, computadores, telefone, material de expediente e material para desenvolvimento de atividades, além de veí-culo (uso exclusivo ou compartilhado) e arquivo para prontuários. O prédio deve ter uma placa padrão, com identificação do serviço, facilitando o acesso do usuário do serviço (BRASIL, s.d).

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2.6. EDUCAÇÃO

Este texto apresenta os marcos conceitual e legal que referenciam este Plano em relação à educação. Do ponto de vista teórico, compreende a educação como um direito humano que somente se efetiva no conjunto dos demais direitos funda-mentais. Identifica a diferencialidade dos espaços onde se realizam os processos educativos, mas assume a perspectiva da educação social, em que tais processos se identificam como possibilidades de construção de conhecimento social.

A educação, como um direito humano, é uma conquista das populações que luta-ram e lutam por uma sociedade democrática e fraterna. A educação está reconhe-cida nas normativas nacionais estabelecidas a partir de final dos anos 1980, fruto das lutas históricas dos movimentos sociais.

O parágrafo 5º da Declaração de Direitos Humanos de Viena (1993) afirma o caráter universal, indivisível, interdependente e interrelacionado de todos os di-reitos do Homem, e a competência dos Estados em promover e proteger todos os direitos e liberdades humanas. Nesta perspectiva os direitos fundamentais, não podem ser efetivados separadamente. É nesse aspecto que se estabelece a ligação entre o direito à educação e o direito à convivência familiar e comunitária da criança e do adolescente (além dos demais direitos).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996) toma, em seu parágrafo 1º a educação em sentido amplo, traduzindo-a em “processos formativos” que se desenvolvem nos mais diferentes espaços sociais: família, trabalho, instituições de ensino, movimentos sociais, entre outros. Em uma perspectiva teórico - crítica, tais processos formativos constituem, em conjun-to, o que é denominada Educação Social, educação que acontece na, pela e para a sociedade, e que

tem por base a luta coletiva contra as injustiças sociais [...] o compromisso com a emancipação das camadas populares [...] é a busca pedagógica pelo direito à vida, à cidadania plena, à realiza-ção de cada um de nós como sujeitos históricos livres e solidários (NEVES, 2001, p. 01)

Segundo Paula (2005), a amplitude da educação se afirma na sua identificação como política pública que promove a efetivação dos direitos da infância, na arti-culação com os demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos (SGD). Neste sentido, a escola é identificada como uma instituição de educação social, que trabalha na perspectiva da garantia de direitos.

Conforme os artigos 19 e 16 do ECA, a família e o Estado devem efetivar o direito à convivência familiar e comunitária e a liberdade da família de parti-cipar ativamente de espaços educativos (BRASIL, 1990). Entretanto, o que se observa é que

até mesmo a participação dos familiares dos alunos encontra resis-tências, tanto entre os que dirigem e ministram o ensino, que en-tendem que a presença dos pais deva se dar apenas quando forem por eles chamados; quanto dos próprios pais, quando muitos deles, entendem que compete à escola a educação e os rumos e processos educativos (SOUZA, 2002, p. 52)

Em relação à participação nos processos educativos escolares, a LDBEN (BRASIL, 1996) cita no artigo 6º o dever dos pais de fazer a matrícula dos filhos e no artigo 12, incisos VII e VIII , o dever das instituições de ensino de

[...] informar[em] pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica da escola [...] notificar[em] ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz competente da Comarca e ao respectivo representante do Ministério Público a relação dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de cinqüenta por cento do percentual permitido em lei.

Nesse mesmo documento, o inciso VI do artigo 12, indica mais claramente a questão da integração entre as instituições de ensino e as famílias, deixando a cargo dos estabelecimentos de ensino promovê-la, baseando-se no dever de “ar-ticular-se com as famílias e com a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola” (BRASIL, 1996, p.5).

Quanto aos sistemas de ensino, destaca-se como um dos objetivos do ensino fundamental a formação básica do cidadão, compondo este objetivo, de modo específico: “o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social” (BRASIL, 1996, p. 11, grifo nosso).

O Plano Nacional de Educação (PNE) versa sobre a

intervenção na infância, através de programas de desenvolvimento infantil, que englobem ações integradas de educação, saúde, nutrição e apoio familiar [...] [bem como] uma articulação com a família [que] visa [...] ao mútuo conhecimento de processos de educação, valores, expectativas, de tal maneira que a educação familiar e a escolar se complementem e se enriqueçam, produzindo aprendizagens coeren-tes, mais amplas e profundas (BRASIL, 2001, p. 12 e 14)

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Observa-se que, apesar da legislação educacional prever a articulação entre família e escola e destacar esta articulação como objetivo do ensino funda-mental, o foco das políticas públicas de educação tem sido o atendimento ao indivíduo, deslocado do contexto familiar e comunitário. Esta realidade dis-tancia a educação das políticas de assistência social, que afirmam que:

Por reconhecer as fortes pressões que os processos de exclusão sócio--cultural geram sobre as famílias brasileiras, acentuando suas fragi-lidades e contradições, faz-se primordial sua centralidade no âmbito das ações da política de assistência social, como espaço privilegiado e insubstituível de proteção e socialização primárias, provedora de cuidados aos seus membros, mas que precisa também ser cuidada e protegida. Essa correta percepção é condizente com a tradução da família na condição de sujeito de direitos (BRASIL, 2004a, p. 40-41)

2.7. SAÚDE MENTAL

A atenção do sistema de saúde pública às pessoas com sofrimento mental vem passando por mudanças no Estado de Minas e em todo o país, desde os anos 90. Desde então vivencia-se o processo de transição da hegemonia do modelo asilar, progressivamente substituído por uma rede de cuidados que tem, em sua proposta interventiva, uma metodologia diversificada, comple-xa, comunitária, dinâmica, integrada à vida diária dos pacientes e da cidade. (MINAS GERAIS, 2006)

Neste sentido, um dos avanços obtidos em Minas Gerais consiste na aprovação das leis estaduais nºs 11.802, de 1995 e 12.684, de 1997, que preconizam a ex-tinção progressiva dos hospitais psiquiátricos e sua substituição por uma rede de serviços e de cuidados pautados pelo respeito à dignidade e à liberdade dos portadores de sofrimento mental. Posteriormente, a lei nacional nº 10.216, em 2001, veio fortalecer o que preconiza a legislação estadual.

Essas legislações encontram sustentação na Constituição Federal de 1988, que elenca, em seu Título II, Capítulo I, o rol dos direitos e garantias fundamentais de todos os residentes no país, conforme dispõe o art. 5º

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros, e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segu-rança e à propriedade [...] (BRASIL, 1988)

No que diz respeito à Saúde, o direito do cidadão é garantido pelo poder público nas esferas federal, estadual e municipal, por meio de políticas voltadas para diminuir o risco de doenças e que possibilitem as ações e serviços de promoção, proteção e recuperação da saúde. Para efetivá-lo foi constituído o Sistema Único de Saúde (SUS), também criado pela Constituição Federal de 1988.

A criação da nova rede de serviços de saúde mental prevê o seu acompanhamento pelos municípios e redireciona o modelo assistencial, possibilitando a ampliação da rede em saúde mental (BRASIL, 2004). Nesta perspectiva foram criados ofi-cialmente, a partir da Portaria GM 224/92 os Núcleos de Assistência Psicossocial (NAPS) e Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Estes são definidos como

unidades de saúde locais/regionalizadas que contam com uma popu-lação adscrita definida pelo nível local e que oferecem atendimento de cuidados intermediários entre o regime ambulatorial e a interna-ção hospitalar, em um ou dois turnos de quatro horas, por equipe multiprofissional. (MINAS GERAIS, 2006, p.12)

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Os direcionamentos atuais da Política de Saúde Mental para os CAPS assumem um papel estratégico na organização da rede comunitária de cuidados. Isso faz com que o direcionamento local das políticas e programas de Saúde Mental de-senvolva projetos terapêuticos e comunitários, dispense medicamentos, encami-nhe e acompanhe os usuários que moram em residências terapêuticas, assesso-rando e sendo retaguarda para o trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde e Equipes de Saúde da Família no cuidado domiciliar. (MINAS GERAIS, 2006)

Os CAPS, assim como os NAPS, tendem a substituir os Centros de Referência em Saúde Mental (CERSAMs). Esses e outros tipos de serviços substitutivos são regulamentados pela Portaria nº 336/GM, de 19 de fevereiro de 2002, e integram a rede do Sistema Único de Saúde – SUS, que estabeleceu a tipologia dos CAPS, distinguindo-os pelo porte do município (I, II, III) e pela finalidade (atendimento a transtornos mentais graves e persistentes em clientela adulta, infanto-juvenil e usuários de álcool e outras drogas). Essa portaria reconheceu e ampliou o funcio-namento e a complexidade dos CAPS, que têm a missão de dar um atendimento diuturno às pessoas que sofrem com transtornos mentais severos e persistentes, num dado território, oferecendo cuidados clínicos e de reabilitação psicossocial, com o objetivo de substituir o modelo hospitalar, evitando as internações e fa-vorecendo o exercício da cidadania e da inclusão social dos usuários e de suas famílias (MINAS GERAIS, 2006).

As modalidades de serviços estabelecidas pelo Artigo 1º da Portaria nº 336/GM, que estabelece os Centros de Atenção Psicossocial e especializados CAPS I; II e III, e CAPS´I – II (infantil) e CAPS-ad – II (álcool e drogas), correspondem às características e finalidades dos serviços, e no artigo 4º alínea 4.4 descreve espe-cificamente sobre o serviço destinado ao atendimento à criança e ao adolescente, os chamados Centros de Atenção Psicossocial Infantil - II (CAPS´i):

4.4 – CAPS i II – Serviço de atenção psicossocial para atendimen-tos a crianças e adolescentes, constituindo-se na referência para uma população de cerca de 200.000 habitantes, ou outro parâmetro popu-lacional a ser definido pelo gestor local, atendendo a critérios epide-miológicos, com as seguintes características:

a - constituir-se em serviço ambulatorial de atenção diária destinado a crianças e adolescentes com transtornos mentais;

b - possuir capacidade técnica para desempenhar o papel de regula-dor da porta de entrada da rede assistencial no âmbito do seu terri-tório e/ou do módulo assistencial, definido na Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS), de acordo com a determinação do gestor local;

c - responsabilizar-se, sob coordenação do gestor local, pela organi-zação da demanda e da rede de cuidados em saúde mental de crian-ças e adolescentes no âmbito do seu território;

d - coordenar, por delegação do gestor local, as atividades de super-visão de unidades de atendimento psiquiátrico a crianças e adoles-centes no âmbito do seu território

e - supervisionar e capacitar as equipes de atenção básica, serviços e programas de saúde mental no âmbito do seu território e/ou do mó-dulo assistencial, na atenção à infância e adolescência;

f - realizar, e manter atualizado, o cadastramento dos pacientes que utilizam medicamentos essenciais para a área de saúde mental regu-lamentados pela Portaria/GM/MS nº 1077 de 24 de agosto de 1999 e medicamentos excepcionais, regulamentados pela Portaria/SAS/MS nº 341 de 22 de agosto de 2001, dentro de sua área assistencial;

g - funcionar de 8h às 18horas, em 02 (dois) turnos, durante os cinco dias úteis da semana, podendo comportar um terceiro turno que fun-cione até às 21:00 horas. (BRASIL,2002).

Dada a apresentação do marco conceitual e legal da política e dos serviços para o atendimento em saúde mental,especificamente aqueles destinados à criança e ao adolescente, prossegue-se confrontando tais condições com as informações apuradas no diagnóstico realizado pelo Polo de Promoção da Ci-dadania Univale descritas no marco situacional destes serviços no município de Governador Valadares.

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2.8. GERAÇÃO DE EMPREGO E RENDA

Como parte das diretrizes do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (2006 p.77) observa-se a “Primazia da responsabilidade do Estado no fomento de po-líticas integradas de apoio à família”.

O Plano acima citado aborda o princípio da prioridade absoluta dos direitos da criança e do adolescente, onde o Estado deve se responsabilizar por oferecer bens e serviços adequados e suficientes à prevenção e superação das situações de violação dos direitos, que podem fragilizar os vínculos familiares e sócio--comunitários. Esses bens e serviços devem ser ofertados por meio da articulação eficiente da rede de atendimento das diferentes políticas públicas, garantindo o acesso a serviços de educação, saúde, geração de emprego e renda, cultura, es-porte, assistência, entre outros, promovendo assim, a concretização do apoio às famílias e seus membros.

As situações de risco social e vulnerabilidades, vividas pelas famílias brasi-leiras principalmente por pressões geradas pelos processos de exclusão social e cultural, fazem com que as mesmas necessitem do apoio do Estado e da sociedade, para que possam cumprir suas responsabilidades. Esse apoio visa favorecer e ampliar os recursos socioculturais, materiais, simbólicos e afetivos que contribuam para o fortalecimento dessas famílias. Portanto, a efetivação da promoção, da defesa e da garantia do direito de crianças e adolescentes à convivência familiar e comunitária requer um conjunto articulado de ações que envolve a corresponsabilidade do Estado, da família e da sociedade, conforme disposto no ECA e na Constituição Federal Brasileira/1988.

A partir da LOAS (1993) e da Constituição Federal de 1988, foi criada, em 2004, a PNAS, que instituiu o seu novo modelo de gestão, o SUAS. Este se organiza para a concretização das chamadas “seguranças básicas” de cidadania, quais se-jam: sobrevivência (renda e autonomia); acolhida (inserção na rede de serviços e provisão das necessidades humanas); convívio familiar, comunitário e social; desenvolvimento da autonomia individual, familiar e social; e sobrevivência a riscos circunstanciais. (BRASIL, 2004a) No que diz respeito à garantia de sobre-vivência (renda e autonomia) a preocupação com políticas voltadas para a Gera-ção de Emprego e Renda como estratégia de enfrentamento da pobreza, não se restringe somente à Política de Assistência Social, mas deve mobilizar políticas públicas econômicas e sociais.

2.8.1. A importância dos projetos de Geração de Emprego e Renda para a garantia da convivência familiar e comunitária.

Observa-se que as grandes desigualdades sociais vêm provocando discussões en-tre estudiosos e políticos, sobre as possíveis estratégias de minimização do abis-mo social entre pobres e ricos no Brasil. Para alcançar a referida minimização, são criados vários programas de transferência direta de renda, com diferentes de-

nominações critérios de inserção diversificados objetivando em última instância, desencadear o processo de inclusão social de famílias que vivem abaixo de um patamar mínimo de renda aceitável garantindo, assim, a sua sobrevivência e dig-nidade. Os resultados já são observados, pois estudos recentes apontam que onde tais programas foram implantados houve a diminuição dos índices de violência e do trabalho infantil e ocorreu o aumento significativo de crianças matriculadas e regulares no ensino fundamental. (RAMOS, 2003)

Também pode-se observar que, após o desligamento de tais programas, as famí-lias se mostram incapazes de manter os mesmos padrões de qualidade de vida adquiridos com o repasse financeiro, bem como muitas das crianças e adolescen-tes beneficiados abandonam os estudos e retornam ao trabalho (RAMOS, 2003). Por isso conclui-se que se os programas de transferência direta de renda são a porta de entrada para a inclusão social, o simples repasse financeiro não é capaz de garantir a permanência da família beneficiada num patamar de mínimo social, mais adequado e justo.

A família necessita que, juntamente com a transferência monetária, haja uma orientação pontual sobre as formas de utilização da transferência de renda, suas dificuldades e potencialidades, orientação esta, pertinente e adequada e que respeite as diferentes necessidades que se apresentam para a mesma. Esta orientação se constrói passo a passo, e através de estratégias diversas, baseada em uma teia de relações pessoais, interpessoais e comunitárias que vão gra-dativamente conduzindo as famílias à incorporação de direitos e ao resgate e progressivo exercício da cidadania. (RAMOS, 2003)

2.8.2. O que são políticas de geração de emprego e renda?

A política de geração de emprego e renda é uma estratégia de criação de emprego e de efetiva qualificação e colocação de trabalhadores no mercado formal. A evo-lução das políticas públicas de emprego objetiva assegurar a um número maior de trabalhadores desempregados, não apenas uma renda que lhes permitam en-frentar o período de busca de ocupação, mas a possibilidade de desenvolvimento de novas competências bem como recursos financeiros para estabelecimento de atividades produtivas. (RAMOS, 2003)

Ramos (2003, p.15) entende a Política de Emprego como

aquele conjunto de medidas que atua sobre a oferta de trabalho, re-duzindo-a ou alterando seu bem-estar, ou sobre o nível de emprego alterando a demanda de forma direta (criação de emprego públicos, por exemplo) ou indireta (formação profissional).

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As políticas de emprego e renda se dividem em políticas passivas e ativas. As políticas de emprego denominadas passivas englobam aquelas ações que tendem a tornar mais “tolerável” a condição de desempregado, mediante transferência monetária a todo trabalhador desempregado, por exemplo, ou a reduzir a oferta de trabalho (mediante aposentadoria precoce). As políticas ativas englobam uma série de ações que tendem a elevar o nível de emprego, geralmente atuando sobre o contingente de trabalhadores. (RAMOS, 2003)

2.8.3. Política Pública de Geração de Emprego e Renda e Assistência Social

A Política de Geração de Emprego e Renda é desenvolvida e compartilhada pelas três esferas do governo, sendo que fica a cargo Federal, por meio do MDS, a mis-são de promover a inclusão social, a segurança alimentar, a assistência integral e uma renda mínima às famílias que vivem em situação de pobreza e extrema pobreza. As ações propostas pelo MDS são realizadas nos níveis Federal, Esta-dual e Municipal e em parceria com a sociedade civil, organismos internacionais e instituições de financiamento. Essa articulação estabelece uma sólida rede de proteção e promoção social, que busca quebrar o ciclo de pobreza e promover a conquista da cidadania, nas comunidades brasileiras20.

Na consolidação dessa rede de proteção e promoção social, o CadÚnico tem papel fundamental na demonstração de quem são, onde estão e quais são as necessidades das famílias vulneráveis. É o CadÚnico que possibilita a iden-tificação e caracterização socioecônomica das famílias brasileiras de baixa renda, entendidas como aquelas com renda per capita mensal igual ou infe-rior a ½ salário mínimo, ou renda familiar mensal de até três salários míni-mos. As famílias que tenham renda superior ao estabelecido anteriormente, poderão ser cadastradas no CadÚnico, desde que a inclusão esteja vinculada à seleção ou ao acompanhamento de programas sociais implementados em nível Federal, Estadual ou Municipal. O Município é o principal responsável pelo processo de gestão do CadÚnico21.

Em Governador Valadares os seguintes Programas Governamentais Assistenciais fazem parte do CadÚnico: Bolsa família, Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), Benefício de Prestação Continuada - BPC, Isenção de Concurso, Isenção da taxa de Luz e o Programa de Aceleração de Crescimento – PAC

20 Dados obtidos em: http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/beneficiosassistenciais/bpc Acesso em: 13 dez. 2011.21 Dados obtidos em: http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/beneficiosassistenciais/bpc Acesso em 13 dez. 2011.

O Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda com condicio-nalidades, que beneficia famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza. O Programa integra o Programa Fome Zero, que tem como objetivo assegurar o direito humano à alimentação adequada, promovendo a segurança alimentar e nutricional, e contribuindo para a conquista da cidadania pela população mais vulnerável à fome. Atende mais de 13 milhões de famílias, em todo território nacional22. Dependendo da renda familiar por pessoa (limitada a R$ 140,00), do número e da idade dos filhos o valor do benefício recebido pela família pode variar entre R$ 32,00 a R$ 306,00. O 4º Relatório Nacional de Acom-panhamento dos Objetivos do Milênio aponta queda da pobreza extrema de 12% em 2003, para 4,8% em 2008. (BRASIL, 2010 a) O Programa possui três eixos principais: transferência de renda, condicionalidades e programas com-plementares. A transferência de renda promove o alívio imediato da pobreza. As condicionalidades reforçam o acesso a direitos sociais básicos nas áreas de educação, saúde e assistência social. Já os programas complementares objeti-vam o desenvolvimento das famílias, de modo que os beneficiários consigam superar a situação de vulnerabilidade23.

Também faz parte do CadÚnico no Município de Governador Valadares o Pro-grama PETI que articula um conjunto de ações visando a retirada de crianças e adolescentes das práticas de trabalho infantil, respeitando as condição previstas em legislação específica e no ECA.

O PETI tem três eixos básicos: transferência direta de renda às famílias com crianças ou adolescentes em situação de trabalho; serviços de convivência e for-talecimento de vínculos, para crianças/adolescentes até 16 anos; e acompanha-mento familiar, através do CRAS e do CREAS.

O Benefício de Prestação Continuada - BPC compõe os programs cadastrados no CadÚnico. É um benefício de proteção básica da Política de Assistência Social, pago pelo Governo Federal e operacionalizado no Instituto Nacional de Serviço Social (INSS). Para acessá-lo não é necessário o beneficiário ter contribuído com a Previdência Social. É um benefício individual, não vitalício e intransferível, garantido pela Constituição Federal Brasileira. Esta Lei assegura a transferência mensal de um (1) salário mínimo ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais, e à pessoa com deficiência, de qualquer idade, com impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na socie-dade, em igualdade de condições com as demais pessoas. Em ambos os casos os beneficiários tem que comprovar não possuir meios de garantir o próprio susten-to, nem tê-lo provido por sua família24.

22 Ibidem23 Ibidem24 Dados obtidos em: http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/beneficiosassistenciais/bpc Acesso em 17 nov. 2011.

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É garantida a isenção do Pagamento de Taxa de Inscrição em concursos públi-cos, prevista no Decreto 6.593/08 (BRASIL, 2008a) e regulamentado pela Lei 8.112/90 (BRASIL,1990a), para indivíduos inscritos no CadÚnico, o mesmo é garantido ao candidato que for membro de família de baixa renda (renda mensal per capita de até ½ salário mínimo ou renda familiar mensal de até três salários mínimos).

A Tarifa Social de Energia Elétrica é direito dos consumidores de energia elétrica inscritos no CadÚnico no Município de Governador Valadares , que possuam o Número de Identificação Social (NIS) e renda familiar per capta menor ou igual até ½ salário mínimo. Consumidores que tenham o BPC, indígenas e quilombo-las também podem usufruir da Tarifa Social, tendo direito ao desconto de 100% até o limite de consumo de 50 kWh/mês. A medida é uma determinação da Lei 12.212/2010 regulamentada pela Resolução 414/2010 da Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel25.

Também está cadastrado no CadÚnico o Programa de Aceleração do Cresci-mento –PAC que tem como objetivos: reduzir o déficit habitacional, garantir o acesso à casa própria; e melhorar a qualidade de vida da população, por meio de obras de urbanização25.

O Programa Minha Casa, Minha Vida faz parte de um dos eixos do PAC. Os critérios de acesso do cidadão a este programa são: renda familiar de 1 a 3 sa-lários mínimos; residência no município por pelo menos 4 anos; renda mínima per capita de 1 salário mínimo(formal ou informal); não possuir nenhum imóvel e de acordo com exigências do Município de Governador Valadares o usuário deve freqüentar os grupos do movimento por moradia ou participar do grupo de moradores de área de risco.

O PAC é executado com recursos do Governo Federal, com contrapartida do Município.

2.8.4. Órgão gestor da política de desenvolvimento econômico em Governa-dor Valadares

A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (SMDE) é o órgão res-ponsável pela proposição das linhas gerais de desenvolvimento do Município. Considerando a realidade econômica, social, cultural e ambiental, compete-lhe especialmente promover o desenvolvimento de estudos, pesquisas e programas, visando: a) identificar os recursos e as potencialidades econômicas do Município;

25 Dados obtidos em: http://www.brasil.gov.br/pac/p-pac/pac-minha-casa-minha-vida/print. Acesso em 18 nov. 2011.

b) fomentar as atividades econômicas, no Município; c) favorecer o incremento do trabalho, a melhoria da renda per capita e a atividade produtiva; d) qualificar e reciclar a força de trabalho, no Município; e) aproveitar e fomentar o potencial turístico do Município; e, ainda, viabilizar a articulação entre o Poder Público Municipal e o setor produtivo, com vistas à promoção do desenvolvimento eco-nômico do mesmo. (GOVERNADOR VALADARES s.d. a)

2.8.5. Conselho Municipal do Trabalho e Emprego e Geração de Renda de Governador Valadares

Na área do desenvolvimento econômico, o Controle Social em nível munici-pal fica a cargo do Conselho Municipal do Trabalho, Emprego e Geração de Renda de Governador Valadares (COMTER) (GOVERNADOR VALADARES, 2004a), instituído pela Lei Complementar nº 064 de 03 de novembro de 2004. De acordo com seu Regimento Interno o COMTER é um órgão colegiado, for-mado por representantes de trabalhadores, empregadores e governo, de forma tripartite e paritária, tendo caráter permanente e deliberativo. É vinculado à Se-cretaria Municipal de Desenvolvimento (SMDE). Ao COMTER incumbe deli-berar, em caráter permanente, sobre as políticas públicas municipais de fomento e apoio à geração de trabalho, emprego e renda e à qualificação profissional. É reconhecido como instância superior, pelo Município, no que se refere à aplica-ção dos recursos públicos na geração de trabalho, emprego, renda e qualificação profissional. E ainda, pelo Conselho Estadual do Trabalho, Emprego e Geração de Renda do Estado de Minas Gerais (CETER-MG), Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (CODEFAT), vinculado ao Ministério de Tra-balho e Emprego (MTE) como encarregado do papel social de acompanhar a alocação de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), o Programa de Geração de Emprego e Renda e o Programa de Qualificação Profissional (PQP), no âmbito municipal. (GOVERNADOR VALADARES, 2004a).

2.8.6. A política de geração de trabalho e renda no setor privado: “Sistema S”

Um importante colaborador e executor na Política de Geração de Trabalho e Renda no Setor Privado é o chamado “Sistema S” composto por entidades que compõem os Serviços Sociais Autônomos no campo de capacitação e apri-moramento do Trabalho, Emprego e Renda. O “Sistema S” tem a finalidade de qualificar e promover o bem-estar social dos trabalhadores. Ele é formado por organizações criadas pelos setores produtivos (indústria, comércio, agricultura, transportes e cooperativas). As organizações do Sistema S subordinadas à Confe-deração Nacional da Indústria são: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), a quem cabe a educação profissional e a prestação de serviços de as-sistência técnica e tecnológica às empresas do setor; Serviço Social da Indústria (SESI), que promove a melhoria da qualidade de vida do trabalhador e de seus

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dependentes, por meio de ações em educação, saúde e lazer; Instituto Euvaldo Lodi (IEL), que promove o desenvolvimento da indústria através da capacitação empresarial e do apoio à pesquisa e à inovação tecnológica. Também fazem par-te do Sistema “S”: Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), que promove educação profissional para trabalhadores do setor de comércio e servi-ços; Serviço Social do Comércio (SESC), que atua na promoção da qualidade de vida dos trabalhadores do setor de comércio e serviços; Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), responsável pela educação profissional para tra-balhadores rurais; Serviço Nacional de Aprendizagem em Transportes (SENAT), que atua na educação profissional de trabalhadores do setor de transportes; Ser-viço Social de Transportes – (SEST), responsável pela promoção da qualidade de vida dos trabalhadores do setor dos transportes; Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Médias Empresas (SEBRAE), que atua com programas de apoio ao desenvolvimento de pequenas e médias empresas; e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (SESCOOP), que executa o aprimoramento e desenvolvimento das cooperativas e a capacitação profissional dos cooperados, para o exercício de funções técnicas e administrativas. (SENAI, s.d.)

III. MARCO SITUACIONAL

3.1. ACOLHIMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM GOVERNADOR VALADARES.

3.1.1. Procedimentos Metodológicos

Visando caracterizar os serviços de acolhimento para crianças e adolescentes existentes no município de Governador Valadares, bem como o público atendido – crianças, adolescentes e suas famílias, foi realizado o diagnóstico dos Serviços de Acolhimento. A sua realização justifica-se: pela importância de conhecer a realidade do acolhimento familiar e institucional de crianças e adolescentes no município; para elaborar estratégias de ações que visem à preservação/restabele-cimento dos vínculos familiares e comunitários; para a intervenção institucional qualificada, nos casos de violações de direitos, quando essa requer a aplicação da medida de proteção de acolhimento; bem como para o atendimento dos princí-pios de excepcionalidade e brevidade dessa medida de proteção.

O Diagnóstico teve como parâmetro a realização de pesquisa junto aos serviços de acolhimento institucional e familiar de Governador Valadares. Complemen-tam as informações dados do Cadastro Nacional de Adoção (CNA) e Cadastro de Crianças e Adolescentes em regime de Acolhimento Institucional ou Familiar, fornecidos pela Vara da Infância e Juventude da Comarca.

No campo teórico-formal as questões aqui colocadas tem por base as legislações vigentes: Estatuto da Criança e do Adolescente, Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária, Lei 12.010 de 03/08/2009 e Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para crianças e adolescentes.

3.1.2. Análise situacional dos Serviços de Acolhimento Institucional e Fami-liar, em Governador Valadares

De acordo com informações adquiridas, em Governador Valadares existem nove serviços de acolhimento institucional e um serviço de acolhimento familiar para crianças e adolescentes, sendo 02 instituições mantenedoras de casas lares (cada uma mantém 02 casas lares), 02 casas de passagem (uma feminina e outra mas-culina), 4 abrigos institucionais tradicionais26 e Programa Família Acolhedora.

26 Uma dessas instituições tradicionais, não se destina exclusivamente ao atendimento de crianças e adolescentes, mas foi pesquisada por acolher também o público infanto-juvenil

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Destes serviços, três são de iniciativa governamental e os outros cinco são privados, dirigidos por instituições não governamentais de origem confessio-nal. Três desses serviços são mantidos com recursos exclusivamente públicos. Os demais, de origem confessional, subsistem com a conjugação de recursos próprios, públicos e doações, sem que haja garantia de sustentabilidade perma-nente, pois para a maioria dos dirigentes os recursos mostram-se insuficientes para a manutenção dos serviços (Tabela 02).

Tabela 01- Principal fonte de financiamento dos Serviços de Acolhimento - Governador Vala-

dares/2011 Fontes de Financiamento Frequencia %

Pública 3 33,3Privada 3 33,3Doações 2 22,2Privada e Doações 1 11,1Total 9 100,00

Tabela 02 - Sustentabilidade financeira dos Serviços de Acolhimento em Governador Valadares, 2011

Situação Frequencia %É sustentável 4 44,4Não é sustentável 4 44,4Não respondeu 1 11,1Total 9 100,00Total 9 100,00

Fonte: Polo de Promoção da Cidadania / UNIVALE.

Todos os serviços de acolhimento, com exceção de um, localizam-se na zona urbana da cidade, mantendo proximidade razoável com o contexto social dos acolhidos. Quanto à infraestrutura física desses serviços, a maioria é dotada de ambientes necessários às diversas modalidades e em conformidade com as Orien-tações Técnicas: Serviços de Acolhimento para crianças e adolescentes (BRA-SIL, 2009g). A maior dificuldade de adequação está relacionada aos ambientes para a atuação de técnicos de Serviço Social e Psicologia. Eles estão localizados dentro dos serviços de acolhimento, contrariando as Orientações Técnicas, e em três instituições os ambientes são inadequados para a realização de atendimen-tos. Não há, no município, padronização do número de crianças por quarto, e em três serviços o número ultrapassa o recomendado pelas Orientações Técnicas.

Em relação aos recursos humanos, os trabalhadores dos serviços de acolhimento variam, segundo modalidade do serviço, sendo que instituições de acolhimento tradicionais comportam o maior número deles, entre pessoal de apoio e técnicos. Nem todos os trabalhadores receberam capacitação específica para atuarem na área. No campo técnico especializado, em todos os serviços há a presença de um Psicólogo, em apenas um falta o Assistente Social; e o Pedagogo só se fazia presente em dois desses serviços.

Tabela 03 - Distribuição do pessoal de apoio, por modalidade dos Serviços de Acolhimento - Governador Valadares/2011

Modalidade dos serviços de acolhimento

Quantidade de pessoal de apoio.Freqüência %

Casa Lar 14 14,1Abrigo 68 68,7Fam. Acolhedora 0 0,0Casa de Passagem 17 17,2Total 99 100,0

Fonte: Polo de Promoção da Cidadania/UNIVALE

Pode-se concluir que embora os serviços de acolhimento tenham avançado rumo à profissionalização e adequação às normas vigentes, ainda não se tem um pa-drão estabelecido para os serviços, que leve em conta o número de acolhidos e a complexidade da demanda.

Governador Valadares dispõe, segundo os estatutos e regimentos internos dos serviços de acolhimento, de 195 vagas para o acolhimento, divididas nas diversas modalidades. As instituições de acolhimento tradicionais disponibilizam 58,6% dessas vagas. Em um caso de acolhimento institucional não foi definido o nú-mero de crianças e adolescentes que podem ser atendidos, isso porque o critério principal de acesso é de 120 pessoas com deficiência, independente da idade, incluindo jovens, adultos e idosos. Estes não foram contabilizados na tabela 04. É importante esclarecer, ainda, que o Programa família acolhedora permite o ca-dastramento de até 20 famílias. Cada uma delas poderá receber até duas crianças/adolescentes, irmãos. Portanto, a capacidade instalada de atendimento do Progra-ma está condicionada ao número de famílias em adesão no mesmo. Desta forma, a capacidade instalada do acolhimento de crianças e adolescentes no município é estimada.

Tabela 04 - Capacidade instalada, em número de atendimentos, por modalidade dos Serviços de Acolhimento - Governador Valadares / 2011

Modalidade do Serviço Nº de vagas %Casa Lar 35 22,58Casa de Passagem 30 19,35Instituição de Acolhimento Tradicional (Abrigo)

90 58,06

Programa de Família Acolhedora 40 25,81Total 195 100,00

Fonte: Polo de Promoção da Cidadania/UNIVALE

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Os critérios de acesso de cada serviço atende a fatores de natureza segregadora como gênero, faixa etária, deficiência e outros. Uma tendência histórica de difícil superação na atualidade. Apenas um serviço não define nenhuma prerrogativa. Evidencia-se nesse ponto a ausência de serviço que atenda adolescentes grávidas e/ou com seus filhos, pois essas são acolhidas a título de exceção.

Gênero Serviço Faixa etária Outros critérios01 07- 12 anos -02 5 - 18 anos -03 7 - 17 anos e 11 meses -

Feminino 04 7 - 17 anos e 11 meses -05 0 – 18 anos Não atende a adolescentes usuárias

de drogas ou ameaçadas de morte.Ambos os Gêneros 06 4 – 10 anos -

07 2 – 8 anos -08 Não define critério de idade Portadores de necessidades especiais

Não impõe critérios 09 Não impõe critérios Não impõe critérios

Observa-se que é expressivo o número de acolhidos em Governador Valadares. Tomando-se como referência os anos de 2008, 2009 e 2010, o acolhimento apre-sentou um pico em 2009, atingindo 271 acolhidos e uma redução no ano seguin-te. Observa-se ainda, que é grande a movimentação de crianças e adolescentes, dentro de um mesmo ano, nos serviços de acolhimento, se considerar o número daqueles que dão entrada e saída no mesmo ano. Esse fato é demonstrado no grá-fico 01. Do universo de acolhidos, em média 28,8% permanecem na instituição de um ano para o outro, indicando a existência daqueles com alta permanência.

Segundo os serviços de acolhimento, em média, por ano, apenas 33,62% dos acolhidos desligados retornam para o convívio da família de origem, questão que necessita ser aprofundada, tendo como base, de preferência, os processos judiciais. Pode-se, assim, elaborar indicadores municipais de sucesso ou in-sucesso de reintegração familiar e de adoção de crianças e adolescentes em situação de acolhimento.

Quadro 03 - Critérios estabelecidos pelos Serviços de Acolhimento para o recebimento de crianças e adolescentes – Governador Valadares/2011

Fonte: Polo de Promoção da Cidadania/UNIVALE

Gráfico 01

Fonte: Polo de Promoção da Cidadania/ UNIVALE.

O número de acolhidos oriundos de outros municípios representava 19,37% do universo de acolhidos em 2010, contrariando a necessidade de manutenção das crianças e adolescentes o mais próximo possível de sua comunidade e família e ainda a municipalização desse serviço.

Quanto à adequação dos serviços de acolhimento aos princípios elencados no ECA, através da adoção de procedimentos que visam ao fortalecimento dos vín-culos familiares e comunitários; abreviação do tempo de acolhimento e o respeito à condição de sujeito das crianças e adolescentes, percebe-se que:

a) todos os serviços realizam a reavaliação, semestralmente, das condições de vínculos da família com os filhos acolhidos e da superação dos fatores que mo-tivaram o acolhimento. Apenas um não conta com profissionais para executarem esta tarefa;

b) todos os serviços buscam promover o direito de visita dos pais aos filhos aco-lhidos. Alguns definem uma rotina de visita mais flexível às necessidades das famílias; outras impõem condições mais restritivas de dia e horário. No geral não há um padrão nesse tipo de procedimento como pode ser observado no quadro 04.

2008 2009 20100

50

100

150

200

250

300

34%

Atendidas

Deram entrada

Saída

Número de crianças e adolescentes acolhidos, por ano em Governador Valadares/ 2008-2010

Percentual de crianças e adolescentes acolhidos que retornara, por ano, para o convívio da família de origem – Governador Valadares/ 2008 a 2010

34% 32% 2008

2009

2010

Gráfico 02

75 76

Quadro 04 - Normas de visitas para os familiares, nos Serviços de Acolhimento em Governador Valadares - 2011

Serviço Periodicidade Horário1 Quinzenal ou sempre que se fizer

necessário2 hs

2 Diário Das 15 às 17hs3 Sábado e Domingo e durante a sema-

na desde que agendado.Não respondeu

4 Quinzenal Não respondeu5 Quando solicitado pela equipe técnica Não respondeu6 Sempre De acordo com a disponibilidade da família7 Domingos A partir das 14hs8 Finais de Semana e quando solicitado

pela equipe técnica15 às 16hs

9 Todos os dias ou a critério dos pais Não respondeu

Fonte: Polo de Promoção da Cidadania/ UNIVALE

c) na promoção da aproximação entre os postulantes a adoção e as crianças e adolescentes aptas à adoção, percebe-se que não há integração entre os técnicos do judiciário e dos serviços de acolhimento, deixando de ser esse um momento privilegiado e partilhado, no processo de adoção; d) por outro lado, observam-se avanços na compreensão dos serviços de acolhi-mento sobre o estágio de convivência entre pretensos adotantes e adotados, no que se refere a sua valorização no processo de adoção; e) outro procedimento importante para proporcionar um atendimento personali-zado a cada criança ou adolescente acolhido, bem como às suas famílias é a ela-boração do Plano de Atendimento Individualizado (PIA). Apenas uma instituição não realiza esse procedimento, e, para aquelas que o fazem há a necessidade de aprofundar o entendimento sobre o protagonismo dos acolhidos e suas famílias nesse processo.

Quanto ao cumprimento dos princípios elencados no artigo 92 do ECA, a serem adotados pelos serviços de acolhimento, observa-se na tabela 05, que os serviços de acolhimento têm dificuldades de garantir: a) a preservação dos vínculos entre os acolhidos e suas famílias de origem;b) a garantia da liberdade de crença e religião; c) o respeito à autonomia da criança e do adolescentes.

O não cumprimento dessas prerrogativas do art. 92 do ECA estão relacionadas com: a dificuldade de se priorizar a família como integrante dos serviços de acolhi-mento e a ausência de experiência e metodologias para lidarem com tal situação; a insuficiência de metodologias que priorize as práticas educativas e emancipadoras de crianças e adolescentes e que rompam com as perspectivas assistencialistas que historicamente marcaram a institucionalização de crianças e adolescentes, con-forme discorrido por Rizzini e Rizzini (2004); a impossibilidade de promover o atendimento personalizado e em pequenos grupos dado o grande número de aten-didos na modalidade de abrigos tradicionais.

Tabela 05 - Cumprimento, pelos Serviços de Acolhimento, dos princípios de manutenção e fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários de crianças e adolescentes - Governador Valadares/2011

Princípios a serem adotados pelos serviços de acolhimento

Condições de CumprimentoCumpre Não cumpre Cumpre Par-

cialmenteNão respondeu Outro

Freq. % Freq. % Freq. % Freq. % Freq. %Preservação dos víncu-los entre acolhidos e suas famílias de origem

5 55,6 1 11,1 3 33,3 0 0,0 0 0,0

Promoção de ações de reintegração familiar

7 77,8 1 11,1 1 11,1 0 0,0 0 0,0

Atendimento persona-lizado e em pequenos grupos

7 77,8 2 22,2 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Participação na vida da comunidade local

8 88,9 1 11,1 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Preparação gradativa para o desligamento

8 88,9 1 11,1 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Participação das pessoas da comunidade no pro-cesso educativo

6 66,7 1 11,1 1 11,1 1 11,1 0 0,0

Garantia de acesso e respeito à diversidade e não discriminação

7 77,8 0 0,0 1 11,1 0 0,0 1 11,1

Garantia de liberdade de crença e religião

6 66,7 0 0,0 3 33,3 0 0,0 0 0,0

Respeito à autonomia da criança e do adolescente

3 33,3 0 0,0 3 33,3 2 22,2 1 11,1

Fonte: Polo de Promoção da Cidadania/ UNIVALE

Outro aspecto analisado foi a articulação dos serviços de acolhimento de crianças e adolescentes com os demais órgãos que compõem o Sistema de Garantia de Direitos (SGD). Os serviços que integram os eixos promoção, defesa e controle social foram avaliados considerando-se que esses necessitam atuar em comple-mentaridade com os serviços de acolhimento para garantir os direitos das crianças e adolescentes em situação de acolhimento, e também de suas famílias.

77 78

No atendimento às demandas dos acolhidos, a articulação dos serviços de acol-himento é mais forte com o eixo de defesa: Promotoria da Infância e Juventude, Vara da Infância e Juventude e Conselho Tutelar. No eixo da promoção a articu-lação é forte com o Sistema de Saúde e Educação e fraco na articulação com os serviços de Assistência Social CRAS e CREAS. Fraca também é a articulação desses serviços com os Conselhos Municipais. A articulação é inexistente, em grande número, com a política de habitação e Defensoria Pública. Tabela 06.

Tabela 06 - Avaliação, dos Serviços de Acolhimento, sobre a intensidade da sua articulação com o Sistema de Garantia de Direitos, para o atendimento das demandas de crianças e adolescentes acolhidos - Governador

Valadares/2011

Serviços públicos Intensidade da articulação com o serviço de acolhimento TotalMuito Forte Fraca Conflitu-

osaI n e x -

istenteNão re-

spondeuFreq. Freq. Freq. Freq. Freq.

CRAS 0 9 5 0 2 0 9CREAS 0 9 5 0 1 0 9PSF/Posto de Saúde/ Hospital 5 9 2 0 0 0 9Conselho Tutelar 1 9 1 2 1 0 9Vara da Infância e Juventude 0 9 4 0 0 1 9Promotoria da Infância e Ado-lescência

2 9 2 0 0 0 9

Sistema Educacional/SMED 1 9 3 0 0 0 9Superintendência de Ensino 1 9 3 0 0 1 9Defensoria Pública 0 9 2 0 4 2 9Conselhos Municipais 1 9 5 0 0 1 9Política de Habitação 0 9 1 0 8 0 9Política pública de trabalho e renda.

0 9 2 0 7 0 9

Total 11 108 35 2 23 5 108% 10,19 100,00 32,41 1,85 21,30 4,63 100,00

Fonte: Polo de Promoção da Cidadania/ UNIVALE

A articulação dos serviços de acolhimento com os órgãos que compõem o SGD para a promoção das famílias dos acolhidos é ainda mais frágil, já que ela é inexistente ou fraca em todos os eixos como está demonstrado na tabela 07.

Tabela 07 - Avaliação, dos Serviços de Acolhimento, sobre a intensidade da sua articulação com o Sistema de Garantia de Direitos, para a promoção das famílias de crianças e adolescentes acolhidos -

Governador Valadares/2011Serviços públicos Intensidade da articulação com o serviço de acolhimento Total

Muito Forte

Forte Fraca Conflituosa Inexistente Não respondeu

Freq. Freq. Freq. Freq. Freq. Freq.CRAS 0 3 4 0 2 0 9CREAS 0 1 6 0 2 0 9PSF/Posto de Saúde/ Hospital

0 3 3 0 3 0 9

Conselho Tutelar 0 3 4 0 2 0 9Vara da Infância e Juventude

0 3 2 0 4 0 9

Promotoria da Infância e Adolescência

2 2 1 0 4 0 9

Sistema Educacional/SMED

0 1 2 0 6 0 9

Superintendência de Ensino

0 1 1 0 6 1 9

Defensoria Pública 0 1 0 0 6 2 9Conselhos Municipais 0 3 0 0 5 1 9Política de Habitação 0 0 1 0 8 0 9Política pública de trabalho e renda.

0 0 1 0 8 0 9

Total 2 21 25 0 56 4 108% 1,85 19,44 23,15 0,00 51,85 3,70 100,00

Fonte: Polo de Promoção da Cidadania/ UNIVALE

3.1.3. Caracterização das crianças e adolescentes acolhidos em Governador Valadares

Entre agosto e outubro de 2011 havia 129 crianças e/ou adolescentes acolhidos em Governador Valadares. As instituições de acolhimento tradicionais atendiam 59,7% desses, seguidos dos serviços de modalidade Casa Lar, que atendia outros 25,6%. Esse público é caracterizado abaixo. - A maioria dos acolhidos, 56,6% era do sexo masculino, conforme indica a tabela 08.

79 80

Tabela 08 - Número de crianças e adolescentes acolhidos, por modalidade dos serviços de acolhimento e sexo. Governador Valadares - Agosto a Outubro de 2011

Modalidade dos Serviços de Acolhimento Sexo TotalFeminino Masculino

Freq. % Freq. % Freq. %Casa Lar 12 21,4 21 28,8 33 25,6Casa de Passagem 10 17,9 6 8,2 16 12,4Instituição de Acolhimento Tradicional (Abrigos)

32 57,1 45 61,6 77 59,7

Família Acolhedora 2 3,6 1 1,4 3 2,3Total 56 43,4 73 56,6 129 100,0

Fonte: Polo de Promoção da Cidadania/ UNIVALE

- Quanto à faixa etária dos acolhidos, 58% eram crianças e 42% adolescentes. Crianças de 0 até 6 anos representavam 22,% dos acolhidos, acima 6 até 12 anos, eram 35,6% e acima de 12 anos até os 18, representavam 41,9% dos acolhidos. Verifica-se assim a concentração de adolescentes nos serviços de acolhimento. A idade média é de 10,5 anos e a idade de maior prevalência é dos adolescentes com 14 anos. Essas crianças e adolescentes compõem a faixa etária menos procurada no momento das adoções. - A maioria das crianças e adolescentes acolhidos é de cor parda, 49,6%. No que se refere às crianças e adolescentes da cor branca, esse número cai quase pela metade, 27,9%. Os de cor negra representam 22,5% do total.- Do universo de acolhidos, 10,1% tinham alguma deficiência.

Observa-se que em Governador Valadares, o princípio descrito no inciso V do art. 92 do ECA que define pelo “não desmembramento de grupo de irmãos”, não é atendido na totalidade. Mais da metade dos acolhidos, 56,6%, pertencem a grupos de irmãos. Desses, 69,86% vivem no mesmo serviço e 28,77% em serviços de aco-lhimento distintos, conforme informa a tabela 09. A separação de grupos de irmãos é motivada pelos critérios da maioria dos serviços, que como já foi descrito, são segregadores, não comportando no mesmo serviço, meninos e meninas e faixas etárias distintas.

Tabela 09 – Quantidade de crianças e adolescentes acolhidos, com irmãos, no mesmo e/ou em outro Serviço de Acolhimento - Governador Valadares/2011

Tem irmãos acolhidos nesse ou em outro

serviço?

Frequencia % Se sim, em qual serviço?Na mesma instituição

Em outra instituição

Na mesma e em outra instituição

Sim 73 56,59 51 21 1Não 56 43,41 0 0 0

Total 129 100,00 51 21 1% 69,86 28,77 1,37

Fonte: Polo de Promoção da Cidadania/ UNIVALE

Diante desse quadro percebe-se que a movimentação de crianças e adolescentes nos serviços de acolhimento é grande, mas os que lá permanecem por mais tem-po, possuem o perfil menos desejado pelos adotantes: cor parda, meninos, com idade acima dos 3 anos de idade, pertencentes a grupos de irmãos e 10% com deficiência. Realidade parecida com a maioria dos serviços de acolhimento do país que apontam para a maior dificuldade de garantir convivência familiar para esse público, através de adoção.

Os fatores que motivaram o acolhimento são múltiplos, destacando-se: a negligên-cia dos pais/ responsáveis com seus filhos (38,3% dos casos); a drogadição dos pais ou responsáveis (14%); abandono (13,6%) e situações ligadas à pobreza (12,3%); violência doméstica (5,1%); abuso sexual (4,7%); orfandade (4,3%); exploração sexual (0,3%), e outros motivos, (6,8%). Embora, segundo o ECA, a pobreza, por si só não seja motivo para acolhimento, esta situação é apontada pelos serviços de acolhimento como causa de separação dos filhos de suas famílias de origem, expli-cação que merece estudo aprofundado, já que pode-se estar diante da omissão ou negligência não das famílias, mas do Estado, pois esse deve através da política de Assistência Social, afiançar mínimos necessários para a sobrevivência da família e prevenção da não fragilização de vínculos familiares e/ou comunitários.

Quanto à situação jurídica dos acolhidos em 2011, apenas 23,33% estavam aptos para adoção, portanto, inscritos no Cadastro Nacional de Adoção; 5% em processo de destituição do poder familiar; os demais atendiam a outras situações jurídicas de pedido de providência, que permitiam o trabalho com suas famílias de origem e a possibilidade de reintegração familiar.

Tabela 10 – Caracterização da situação jurídica das crianças e adolescentes acolhidos em Governador Valadares - Nov/2011Situação Jurídica Frequencia %

Pedido de Providência 77 64,17Cautelar Inominada 4 3,33Medidas de Proteção 5 4,17Inscritos no CEJA* e CNA** 28 23,33Destituição do Poder Familiar 6 5,00Total 120 100,00

Fonte: Vara da Infância e Juventude da Comarca de Governador Valadares *CEJA: Comissão Estadual Judiciária de Adoção **CNA: Cadastro Nacional de Adoção

Na tabela 11 observa-se que 31,8% das crianças e adolescentes acolhidos lá per-maneciam por mais de 2 anos. A longa permanência de crianças e adolescentes nos serviços de acolhimento, na opinião dos serviços, tem como principais causas: a morosidade da justiça; as dificuldades no trabalho com as famílias tanto por parte dos serviços de acolhimento, quanto de adesão das famílias aos encaminhamentos propostos e também pela ausência de investimento do poder púbico na promoção

81 82

das famílias em situação de risco social; e a não realização da adoção de crianças maiores e adolescentes, já que são preferidos para a adoção os bebês e crianças com até 3 anos de idade.

Tabela 11 - Tempo de permanência de crianças e adolescentes acolhidos, por modalidade dos Serviços de Acolhimento - Governador Valadares/2011

Modalidade Tempo de permanência no acolhimentoTotal0 a 1 ano 1 ano a 2

anos2 anos a 3 anos

3 anos a 4 anos

4 anos a 5 anos

Acima de 5 anos

Casa Lar 10 9 3 6 4 1 33Casa de Passagem 15 1 0 0 0 0 16Abrigo Institucional 29 21 9 2 2 14 77Prog. Famílias Acolhedoras

3 0 0 0 0 0 3

Total 57 31 12 8 6 15 129% 44,2 24,0 9,3 6,2 4,7 11,6 100,0

Fonte: Polo de Promoção da Cidadania/ UNIVALE

Quanto às dificuldades encontradas para o retorno dos acolhidos às suas famílias de origem, os serviços apontam como causas: a não superação dos fatores que motivaram o afastamento; a postura negligente das famílias; a ausência de servi-ços para tratamento da dependência química; escassez de bens e políticas públicas quando as famílias não reúnem condições dignas de cuidado dos filhos, por insufi-ciência de renda e moradias precárias.

3.1.4. Caracterização das famílias de crianças e adolescentes acolhidos em Governador Valadares.

Os serviços de acolhimento acompanhavam, na época da pesquisa, o total de 91 famílias, e detinham poucas informações sobre as mesmas. Sabe-se que a maioria das famílias, 59,4%, são monoparentais femininas, tendo a mãe, avó ou tia como a chefe da família, e conforme demonstrado na tabela 12.

Tabela 12 – Caracterização das famílias, segundo o(s) responsável (is) pelas crianças e adolescentes acolhidos. Governador Valadares, 2011

Responsável(is) Número de famíliasFreqüência %

Pai e Mãe 14 15,4Só Pai 2 2,2Só Mãe 42 46,2Avô e avó 4 4,4Só Avó 8 8,8Tio e Tia 1 1,1Só Tia 4 4,4Outros 16 17,6Total 91 100,0

Fonte: Polo de Promoção da Cidadania/ UNIVALE

Quanto ao nível de escolaridade dos(as) chefes de família, 19,78% foram classi-ficados como analfabetos e, 30,77% como tendo ensino fundamental incompleto. Os serviços de acolhimento não souberam informar a escolaridade de 47,25% dos chefes de família.

A ausência de renda, ou renda insuficiente é outro fator que vulnerabiliza as famílias. Quando solicitados a informar sobre a renda das famílias atendidas, os serviços de acolhimento informaram que 30,34% delas sobrevivem com até 01 (um) salário mínimo; outros 7,87% têm renda entre um a dois salários mínimos. Os serviços não detinham informações sobre a renda de 61,80% das famílias acompanhadas.

Perguntados sobre a situação de empregabilidade das 91 famílias de crianças e adolescentes acolhidos, observa-se que em 23,08% delas os responsáveis traba-lham, contra 29,67% que se encontravam, na época da pesquisa, desempregados. Quanto aos aproximadamente 47% restantes, não foi possível obter informação. No que diz respeito à saúde, 41,76% dos responsáveis apresentam dependência química e 19,78% apresentam algum tipo de transtorno mental.

Indagados sobre as condições de habitação das famílias, os informantes consi-deram que 12,09% das residências são boas; 8,99% são regulares e 25,27% são péssimas. Não há informação para a situação de moradia de 53,85% das famílias.

A falta de informações acerca das famílias com condições de serem trabalhados os vínculos familiares, sugere que essa prerrogativa ainda não é cumprida por todos os serviços de acolhimento. Portanto, necessita-se de um aprofundamento sobre suas causas, além da análise das metodologias de atuação dos serviços de acolhimento, nesse campo.

83 84

3.1.5. Considerações Finais

Governador Valadares conta com quase 60 anos de experiência no acolhimento de crianças e adolescentes. A Adoção dos processos e procedimentos que visam abreviar o tempo de acolhimento é de conhecimento de todos os trabalhadores dos serviços de acolhimento, e estes vem sendo implantados mesmo frente às dificul-dades metodológicas ou aos entraves inter- institucionais28. A situação jurídica da maioria dos acolhidos favorece o trabalho de fortalecimento de vínculos. Assim a existência de equipe técnica nos serviços de acolhimento tem sido fundamental para qualificar o atendimento e promover o reordenamento necessário à defesa do direito à convivência familiar e comunitária.

Evidencia-se também que os serviços de acolhimentos ainda não foram incorpora-dos como política pública do município, com normatização, financiamento, con-troles e avaliação pública. Com isso, não existem parâmetros definidores de indi-cadores de eficiência e eficácia dessa política. Por outro lado, a inexistência de uma política também indica a desarticulação da rede de proteção capaz de priorizar as crianças acolhidas e suas famílias. Famílias essas desprivilegiadas, invisíveis, não participantes das possibilidades de reconstrução dos laços familiares com os filhos e vítimas da omissão do Estado, em todas as políticas. Na outra ponta, encontram--se crianças e adolescentes, filhos dessa parcela de excluídos, que por isso mesmo podem permanecer anos sem que a sociedade se dê conta de sua existência e de seu direito de ter uma vivência em família.

Para as crianças e adolescentes que passam rapidamente pelo processo de acolhi-mento, a medida de proteção do Estado deixa marcas profundas, causadas pelo rompimento familiar. Para aquelas que ficaram mais tempo, talvez até chegar à idade adulta, vê-se passar diante de si o tempo em que receber o afeto de uma família, ser livre e fazer parte de uma comunidade é tão vital como alimentar-se. Por isso mesmo, não poderão ficar à mercê do tempo das instituições públicas ou privadas na sua indecisão se privilegiam ou não crianças e adolescentes nas suas atribuições diárias.

29 Entraves inter-institucionais são entendidos aqui como a falta ou dificuldade de articu-lação entre todas as instituições que tem por dever promover ou defender os direitos in-fanto-juvenis. As dificuldades referem-se desde à falta de comunicação entre esses órgãos até a manutenção de relações hierarquizadas entre elas, passando pelo descumprimento de suas atribuições no campo da garantia do direito de crianças e adolescentes à convivência familiar e comunitária.

3.2. O SISTEMA DE JUSTIÇA

No que se refere ao Sistema de Justiça este diagnóstico objetiva conhecer como se estruturam e articulam, em Governador Valadares, o Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública para atenderem as prerrogativas do ECA, e da Lei 12.010 de 2009, no conhecimento e julgamento dos conflitos relativos à convivência familiar.

Esta pesquisa foi realizada utilizando-se como procedimento metodológico um questionário semi-estruturado que foi respondido por dezessete representantes do Sistema de Justiça da Infância e Adolescência em Governador Valadares. Es-tavam aptos a responder a pesquisa: Juízes, Promotores, Defensores Públicos e Técnicos da equipe interprofissional com atuação na justiça da infância e adoles-cência. Foram fornecidas informações qualitativas e quantitativas que possibili-taram compreender em que medida a população infanto-juvenil e suas famílias, principalmente aqueles com vínculos fragilizados ou rompidos, têm prioridade no aparato Judicial.

3.2.1. Análise situacional do Sistema de Justiça da Comarca de Governador Valadares

A Comarca de Governador Valadares atende, atualmente, seis municípios, totali-zando uma população de 294.406 habitantes, sendo que 86.318 desses são crian-ças ou adolescentes, 88% localizados em Governador Valadares conforme indica a tabela 13. A Comarca mantém Vara Especializada da Infância e Adolescência (VIJ), sendo que o juiz responsável também atende precatórios29.

29 Carta Precatória: É a forma de comunicação realizada entre um juiz de uma comarca competente e um juiz de uma outra comarca, ambas brasileiras, a fim de que este último, chamado deprecado, cumpra ou execute os atos necessários ao andamento judicial do feito. É uma forma de colaboração entre juízes, visando o cumprimento dos atos judiciais. Fonte: http://www.direitonet.com.br/dicionario. Acesso em 18 de julho de 2012.

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Tabela 13 - Municípios que compõem a comarca de Governador Valadares, segundo população residente e número de crianças e adolescentes - Censo 2010

Municípios População Residente Crianças e adolescentesNº Abs %

Alpercata 7.172 2.256 2,6Frei Inocêncio 8.920 2.976 3,5Governador Valadares 263.689 75.972 88,0Marilac 4.219 1.427 1,7Mathias Lobato 3.370 1.225 1,4Periquito 7.036 2.462 2,8Total 294.406 86.318 100

Fonte: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?ibge/cnv/popmg.def

A Comarca de Governador Valadares apresentou um decréscimo no número de processos protocolados na VIJ no período compreendido entre 2008 e 2010. Em 2008 foram protocolados 1.774 processos, em 2009, 1.422 e em 2010, 1.377. Já no ano de 2011, até o dia 06 de dezembro, tramitavam na VIJ da comarca, 1.756 processos. É importante notar na tabela 14, que 742 destes processos eram de ações cautelares inominadas30. As demandas da infância e adolescência para o judiciário estão relacionadas primeiramente aos pedidos de providência, que correspondem a 22,47% das ações nominadas, seguido pelas ações relativas à apuração de ato infracional, 24,47%. Juntas, essas duas demandas correspondem a 44,25% do universo de processos que tramitavam na VIJ durante o ano, até a referida data.

30 Ação cautelar inominada ou atípica - ação cautelar exige o atendimento de pressupostos como perigo da demora é a fumaça do direito, a urgência é característica dessa ação que pode ser requerida em caso de constatação danos ou riscos irreparáveis, ainda nos proce-dimentos em curso do processo e antes de uma sentença judicial. No caso da ação cautelar inominada está prevista no art. 798 do CPC, o juiz poderá determinar as medidas provisórias que julgar adequadas, quando houver fundado receio de que uma parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito da outra lesão grave e de difícil reparação, ou previstas no art. 798 e 799 do CPC).)

Tabela 14 - Natureza e quantidade de processos em tramitação na Vara da Infância e Juventude de Governador Valadares, em 06 de dezembro de 2011Natureza dos processos Quantidade de processos

Abs %Ações inominadas 742 42,26Pedidos de Providência 400 22,78Apuração de ato infracional atribuído a adolescente 377 21,47Infrações Administrativas 57 3,25Carta Precatória 49 2,79Perda, suspensão, restituição do poder familiar 34 1,94Adoção/ destituição do Poder Familiar 32 1,82Ação de Adoção 24 1,37Pedidos de Guarda 16 0,91Ação Civil Pública 8 0,46Habilitação para adoção 8 0,46Medida de Proteção – ECA 4 0,23Pedidos de Tutela 3 0,17Ações de alimentos 1 0,06Ações decorrentes de irregularidades em entidade de atendimento

1 0,06

Total 1756 100,00

Fonte: Vara da Infância e Juventude da Comarca de Governador Valadares/MG

Com relação à equipe interprofissional, destinada a assessorar a Justiça da Infân-cia e Juventude, existe em número de doze técnicos na VIJ da Comarca de GV, sendo oito Assistentes Sociais e quatro psicólogos. A VIJ conta ainda com dez Comissários da Infância e Juventude efetivos e outros quarenta voluntários, 05 (cinco) Servidores e um estagiário. O Juiz dessa Vara conta com o apoio de dois servidores, um assessor e um estagiário.

O Ministério Público da Infância e Juventude atua no município com um órgão de execução e outro de apoio, pois a Macrorregião do Rio Doce foi contemplada com a criação da Coordenadoria Regional das Promotorias de Justiça da Infân-cia e da Juventude, com sede em Governador Valadares. O objetivo principal das Coordenadorias é “articular e multiplicar as ações do Ministério Público na região de abrangência, sejam elas judiciais ou extrajudiciais, visando à plena re-alização dos direitos das crianças e dos adolescentes” (MINAS GERAIS, 2008). Excepcionalmente, a Coordenadoria exerce trabalhos afetos aos órgãos de exe-cução, conjuntamente com os Promotores de Justiça da Infância e Adolescência. A estrutura desse órgão promove suporte técnico e administrativo a vinte e três Comarcas da região, incluindo Governador Valadares. No Ministério Público da Infância e Juventude da Comarca somente a Coordenadoria Regional conta com equipe técnica interprofissional.

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Na Defensoria Pública dois defensores atuavam, na época da pesquisa, com as causas cíveis da infância e adolescência, e um especificamente com ato infracional praticado por adolescentes. Também neste órgão não existia equipe interprofissio-nal de apoio.

A pesquisa revelou que o Sistema de Justiça da Comarca de Governador Valadares enfrenta dificuldades na priorização do acesso da infância e adolescência no acesso à justiça e na tramitação dos processos afetos a esse público. Foi solicitado aos entrevistados que avaliassem em que medida o Sistema de Justiça esta suficiente-mente organizado para assegurar a prioridade absoluta na tramitação dos processos e procedimentos envolvendo crianças e adolescentes, conforme apregoa os artigos 93 e 152, parágrafo Único, do ECA. Dos 15 informantes que responderam a essa questão, todos concordam que o Sistema de Justiça ainda está tentando se organi-zar para atender ao dispositivo. Porém, encontram dificuldades que se relacionam com: o grande número de processos e com a complexidade dos mesmos; a falta de recursos humanos, bem como o rodízio de juízes e promotores; a deficiência do espaço físico onde funcionam a Vara Especializada da Infância e Juventude e o Ministério Público; a ausência de integração operacional entre os diversos órgãos que compõem o Sistema de Justiça; e a ausência de políticas públicas que atendam às demandas da infância e adolescência e suas famílias. Somam-se a esses fatores a ausência de publicização dos plantões de juízes e promotores, para atendimento das situações emergenciais; bem como a inexistência de plantão na Defensoria Pública.

Os espaços físicos são inadequados ao atendimento às crianças, adolescentes e suas famílias. Esses se revelam hostis e não oferecem privacidade adequada e condições de trabalho aos operadores do direito, tanto no Ministério Público quanto no Judiciário. A principal fragilidade refere-se às condições de reali-zação de atendimentos pela equipe técnica interprofissional, conforme pode ser verificado na citação abaixo:

Falta no judiciário sala de atendimento, a saber, é uma sala de entrevista para 09 técnicos . São 4 setores funcionando no mesmo espaço (adoção/ setor cível/ crimi-nal e Rec. Externo. ( Informante 06) Em todos os órgãos do Sistema de Justiça do município é apontada a insuficiência de trabalhadores de apoio ou de órgãos auxiliares. No Judiciário, faltam especifi-camente servidores para a secretaria, mais técnicos interdisciplinares que atuem exclusivamente na Vara da Infância e adolescência, motoristas e oficiais de apoio judicial. No Ministério Público, além de serventuários, reivindica-se a equipe téc-nica interdisciplinar, composta por psicólogos, assistentes sociais, pedagogos e advogados. Na Defensoria Pública também é apontada a necessidade do Assistente Social, além de assessores. Outra fragilidade apontada é a insuficiência do número de juízes, promotores e defensores públicos para atenderem o número de habitan-tes da comarca e a demanda existente.

Somam-se à insuficiência de profissionais para atenderem as demandas próprias da infância, o fato de que a Vara da Infância e Juventude acumula processos cíveis, criminais e precatórios. No caso específico da equipe interprofissional, esta atende também as demandas de sete Varas Cíveis, ocorrendo uma sobrecarga de trabalho e déficit de profissionais para o atendimento das demandas próprias da VIJ.

Outro fator que contribui para a demora na tramitação dos processos relacionados a crianças e adolescentes em acolhimento familiar ou institucional, é a ausência de integração operacional entre o Judiciário, o Ministério Público, a Defensoria Pública e o Conselho Tutelar. Diante da inexistência de integração operacional ou de qualquer outra forma sistematizada para dar agilidade a esses processos, restam iniciativas individuais e centradas no esforço pessoal de cada profissional. A integração do Sistema de Justiça ao Sistema mais amplo de Garantia de Direitos é necessária, para garantir, promover e defender o direito à convivência familiar e comunitária de crianças e adolescentes do município, visando superar as relações hierarquizadas que historicamente marcaram a relação entre os agentes públicos do Sistema de Justiça e os demais setores da sociedade, incluindo os trabalhadores das políticas públicas sociais básicas e a sociedade civil organizada.

Esta pesquisa interessa-se, em particular, pela integração das entidades que pres-tam serviços de acolhimento, os Conselhos Tutelares e os Conselhos de Direitos. As ações integrativas indicam a participação de membros do Judiciário em eventos e reuniões que visam discutir a temática infância e adolescência, sobretudo, da equipe técnica, que busca uma aproximação com as equipes multidisciplinares das instituições de acolhimento e outros órgãos do Sistema de Promoção, Defesa e Controle Social. Esta equipe tem sido o elo entre o Judiciário e demais órgãos. Já o Ministério Público promove uma articulação mais próxima com a rede de polí-ticas básicas e órgãos de controle social, principalmente através da Coordenadoria Regional da Infância e Adolescência, que também promove capacitações e outras ações de mobilização da Sociedade Civil. Na Defensoria Pública não foram veri-ficadas ações de articulação.

Quando solicitados a avaliar os programas e serviços de acolhimento institucional e familiar do município, os membros do Sistema de Justiça demonstram níveis elevados de desconhecimento, 35,1% não souberam informar sobre os serviços de acolhimento familiar e 11,8% sobre o institucional. Aqueles que conseguiram ava-liar os serviços de acolhimento institucional, o fazem considerando-os em 76,4%, parcialmente adequados à preservação do direito à convivência familiar e comuni-tária. O acolhimento familiar é avaliado em 47,1% como parcialmente adequados e em 17,6% como inadequado à preservação do direito à convivência familiar e comunitária. É reduzido o número de famílias cadastradas no programa de Família Acolhedora, motivo pelo qual na Comarca o acolhimento familiar não é priori-zado, em detrimento do institucional e em atendimento às orientações do art. 34, parágrafo 1º do ECA.

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Outra importante avaliação, diz respeito à oferta de serviços de acolhimento nos demais municípios da Comarca. Embora os processos sejam julgados em Gover-nador Valadares, o ideal é que a execução da Medida de Proteção de Acolhimento esteja mais próximo possível da família e da comunidade da criança ou adolescen-te, visando assim, à manutenção dos vínculos e quando forem indicados nos estu-dos técnicos e por determinação judicial. Percebe-se um desconhecimento por par-te de 41,2% dos informantes da realidade do acolhimento nos demais municípios. Na mesma proporção, 41,2% dizem que eles não existem, e 5,9% de que existem e são adequados. Cabe explicar que os informantes que responderam outros, ou seja, 11,8%, justificam que nos poucos municípios da Comarca que implantaram esse serviço eles se mostram inadequados à preservação do direito à convivên-cia familiar e comunitária. A inexistência de serviços de acolhimento nos outros municípios da comarca sugere a não municipalização desse tipo de atendimento, conforme aponta o art. 88, inciso I do ECA.

Quanto à fiscalização, pelo Judiciário e Ministério Público, dos serviços de acolhi-mento conforme dispõe o ECA, observa-se que a mesma acontece, porém aponta--se para a necessidade dessa fiscalização ser mais efetiva e menos formalística e que possa contar inclusive com a participação de técnicos do judiciário, além do Juiz e Promotor.

A pesquisa explorou o conjunto de ações previstas na legislação para atender ao princípio de brevidade da medida de proteção de acolhimento, a ser implantado por todos os envolvidos na aplicação e acompanhamento dessa medida.

Os informantes declaram que o princípio da brevidade ainda não é observado a contento pelo Sistema de Justiça. Indicam que a iniciativa de tarjar os processos de crianças e adolescentes acolhidos com uma fita adesiva e colorida, para indicar urgência, é considerada insuficiente, pois esbarra na burocracia do trâmite judicial. Para eles, outra iniciativa mais eficaz tem sido a aproximação do judiciário com as equipes técnicas das instituições de acolhimento, o que tem permitido maior interlocução entre esses atores.

Quanto ao procedimento de reavaliar a situação das crianças e adolescentes e suas famílias a cada seis meses, foi perguntado se esse prazo é cumprido. Percebeu-se pelas respostas dos informantes que vários membros do sistema de justiça desco-nhecem tal orientação, e aqueles que a conhecem e provavelmente lidam direta-mente com a situação, afirmam que o cumprimento desse prazo não tem seguido um rigor no plano decisório. Reconhecem, também, a falta de uniformidade dos relatórios fornecidos pelas equipes técnicas dos serviços de acolhimento.

Verificando as providências tomadas pela Comarca para garantir que o acolhimen-to não exceda há dois anos, salvo necessidade comprovada pelo judiciário e con-forme preconiza o ECA, constata-se que tanto no Judiciário como no Ministério Público há maior atenção para com os processos dos acolhidos e suas famílias. Esta situação é fortalecida com o preenchimento dos dados dos cadastros de acolhidos

e adotantes, a fiscalização nos serviços de acolhimento e as avaliações semestrais.Outra iniciativa fundamental para abreviar o acolhimento de crianças e adoles-centes, avaliada nesse trabalho, é a política disponível no município, visando ao fortalecimento e restabelecimento dos vínculos familiares. Essa foi avaliada, pela maioria dos entrevistados, como sendo pouco efetiva. Justificam que essa política enfrenta entraves econômicos, políticos e sociais, e que tanto nas políticas setoriais quanto nos serviços de acolhimento há um déficit no número e na capacitação dos profissionais, para a promoção das famílias.

A reintegração familiar de crianças e adolescentes, quando verificada a sua viabili-dade, contempla na legislação pertinente, prazos e ritos bem definidos, envolvendo os serviços de acolhimento, o Judiciário e o Ministério Público. Sobre o cumpri-mento desses prazos ele é desconhecido pela maioria dos informantes da pesquisa e outra parte, significativa, afirma que esses não são cumpridos.

Em relação à colocação de crianças e adolescentes em família substituta, sabe--se que sempre que possível e respeitada sua condição de desenvolvimento, eles devem ser ouvidos pela equipe interprofissional do Judiciário, procedimento reco-nhecidamente realizado na Comarca pela maioria dos informantes, principalmente durante o processo de elaboração dos estudos psicossociais. Na mesma medida a legislação vigente orienta o Judiciário a colher, em audiência, a opinião dos ado-lescentes maiores de 12 anos em casos de sua colocação em família substituta. Nesse aspecto, foi perguntado se essa é uma prática do Judiciário em Governador Valadares e as respostas informam em 50,82% que sim; 5,88% informaram que não e 35,29% souberam ou não responderam.

O ECA prevê a participação obrigatória dos postulantes a adotantes em programa oferecido pela Justiça da Infância e da Juventude visando à preparação psicosso-cial e jurídica dos candidatos. Na Comarca de Governador Valadares a habilitação dos candidatos é feita através de processos de seleção, participação no curso de preparação e orientação aos candidatos, ofertados pela equipe interprofissional da Vara da Infância e Juventude. São apontadas pelos informantes necessidades de aperfeiçoamento das ações de atendimento aos postulantes a adotantes, como meio preventivo para diminuição dos índices de insucesso na adoção. O fortalecimento dessas ações exige: uma equipe interprofissional com dedicação exclusiva para adoção; a criação do grupo de apoio à adoção; e o acompanhamento em grupo e individual dos adotantes, durante todo o processo de adoção.

Outro procedimento de qualidade e proteção do direito à convivência familiar e comunitária é o acompanhamento, pela equipe técnica do judiciário, das famílias substitutas nos casos de guarda, tutela ou adoção. A realização desse procedi-mento é desconhecida para a maioria dos membros do Sistema de Justiça in-formantes, e, aqueles que afirmam a sua existência indicam o estudo técnico do estágio de convivência e da adaptação familiar como uma ação decorrente desse tipo de acompanhamento.

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No Município não foi criado um protocolo interinstitucional entre os serviços de atendimento à saúde e o Poder Judiciário, disciplinando o atendimento a mães gestantes com interesse de entregar o filho para adoção. A iniciativa existente é informal, baseada na proposta de trabalho dos técnicos da Vara da Infância, com a colaboração do Serviço Social do Hospital Municipal. Porém, tal atitude ocorre de forma espontânea, como pode ser observado na fala desses informantes:

A equipe interprofissional do judiciário, por iniciativa própria, atende à gestante. Com esse atendimento abre-se o processo de acompanhamento. A gestante fica com encaminhamento para entregar no Hospital, esclarecendo que já está acom-panhada pela justiça. Mas um protocolo interinstitucional com definição de pa-peis, ações e retroalimentação destas ainda não foi criado.” ( Informante 6)

Em alguns casos, o Serviço Social do Hospital Municipal tem encaminhado al-gumas gestantes à equipe técnica da Vara da Infância e Juventude para serem orientadas, mas não existe atendimento sistematizado. (Informante 15)

A capacitação dos profissionais para atuarem frente à defesa do direito de crianças e adolescentes à convivência familiar e comunitária, quando os vínculos familiares já estão fragilizados e rompidos, incorpora conhecimentos diversos, não apenas da legislação ou dos fluxos operacionais do Judiciário. Demanda conhecimentos sobre: a rede de proteção; a importância dos vínculos para a formação humana das crianças e adolescentes; as famílias e seu papel protetivo; o ordenamento dos serviços de acolhimento; entre outros. Baseando-se nesse entendimento, buscou-se saber se o Judiciário investe em qualificação continuada dos profissionais que atu-am, direta ou indiretamente, em programas de acolhimento institucional e familiar, conforme prevê o art. 92 §3º do ECA. As respostas, em sua maioria, são de desco-nhecimento de tal ação ou de afirmação negativa de sua existência. Solicitados a informar se receberam qualificação específica para assumirem os trabalhos frente à justiça da infância e adolescência a grande maioria de informantes, 64,7% afirma que não e outros 23,5% dizem que sim.

Foram apontados pelos informantes os avanços alcançados pela Comarca de Governador Valadares no que se refere à promoção e proteção do direito à con-vivência familiar e comunitária após a Lei 12.010/2009. Esses avanços dizem respeito: à implantação dos cadastros de acolhidos, cadastro de adotantes e de crianças e adolescentes aptas à adoção; maior fiscalização dos serviços de aco-lhimento; proximidade das equipes técnicas desses serviços com o Sistema de Justiça; implantação de instrumentos de atendimento individualizado e reavalia-ções das crianças e adolescentes a cada seis meses; fortalecimento das instâncias de controle social; além de uma mudança na visão de que é preciso preservar, ao máximo, os laços familiares.

Para os informantes, os desafios colocados à Comarca na promoção do direito à Convivência Familiar e Comunitária apontam para a necessidade de: inte-gração dos órgãos do Sistema de Garantia de Direitos em rede; integração do Sistema de Justiça, para garantir celeridade aos processos de acolhidos e me-lhor entendimento dos casos; promoção de capacitação para os operadores do direito; fortalecimento das políticas sociais básicas, dando atenção especial ao atendimento e prevenção do uso de drogas, e política de planejamento familiar e da sexualidade da população infanto-juvenil; fortalecimento dos Conselhos de Direitos; financiamento público da política de acolhimento e reordenamento dos mesmos; fortalecimento do programa família acolhedora; criação da rede de atendimento, nos demais municípios da Comarca, e, por fim, maior número de juízes e promotores, para atuarem na área.

As perspectivas do Sistema de Justiça, em relação ao atendimento das exigências legais de garantia do direito à convivência familiar e comunitária de crianças e adolescentes, estão relacionadas com a necessidade dos órgãos que compõem o Sistema de Justiça se implicarem com o princípio da prioridade absoluta. Isso vale tanto para a alta hierarquia do sistema de justiça, como para os operadores do direito, no âmbito local.

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3.3. DELEGACIAS DE POLÍCIA CIVIL

Esta parte do diagnóstico apresenta a dinâmica e a estruturação dos serviços ofe-recidos nas delegacias que compõem o sistema de defesa de direitos a crianças e adolescentes no município.

As políticas públicas de proteção social à criança e ao adolescente são de grande relevância na promoção da qualidade de vida destes junto a suas famílias. Foi intuito deste diagnóstico retratar como os serviços prestados pela delegacia na pro-teção a esse público é disponibilizada e sua interação com os demais órgãos do sistema de defesa. Constituíram objeto dessa pesquisa sete delegacias que aten-dem crianças e adolescentes no município. Procedida a investigação, por meio de entrevista estruturada aos participantes, estabeleceram-se as análises qualitativa e quantitativa que compõem este relatório.

O município de Governador Valadares não possui uma delegacia especializada no atendimento a crianças e adolescentes. Portanto, todas as delegacias recebem casos que envolvem os mesmos. Desta forma, crianças e adolescentes chegam às delega-cias tanto na condição de vítima quanto na condição de autor de infração ( no caso de adolescentes). O que determina que estes sejam atendidos por uma delegacia ou outra é a região de ocorrência ou a natureza da mesma.

Identificada a estrutura e os serviços existentes nas delegacias, verifica-se que o número de profissionais para realizar o atendimento é reduzido, se considerada a demanda do município e da região de abrangência.

A delegacia atende 44 bairros e 10 distritos. São mais ou menos 40 mil habitantes e o número de funcionário é insuficiente para a demanda. (informante 04)

Outro fato constatado é a ausência de infraestrutura física para atender especifica-mente ao público infanto-juvenil, fato esse que interfere no bom andamento dos trabalhos.

Quanto à qualificação do efetivo profissional ativo, dados dessa pesquisa indicam que este serviço possui profissionais habilitados para o atendimento, contudo não qualificados para atuar frente a crianças e adolescentes, uma vez que 85,7% dos participantes informam que não passaram por um processo de capacitação para este trabalho,

Não Temos profissionais qualificados (informante 02).

Não temos profissionais qualificados para isso e nem tempo para tal. E muito me-nos um local apropriado para esse tipo de trabalho. (informante 04)

Outra análise procedente é que a natureza do trabalho em uma delegacia está cada vez mais complexa e requer um conhecimento por parte de profissionais de outras áreas, ainda não contempladas no quadro de profissionais que compõem os servi-ços da polícia civil.

É necessário profissional da psicologia, da pedagogia, do serviço social... (infor-mante 05)

Porque na apuração de um crime nós lidamos com aspectos emocionais e outros que esses profissionais nos ajudariam a compreender.(informante 03)

Quanto à dinâmica de atendimento adotado no trato com crianças e adolescentes foi possível verificar que não há, por parte dos profissionais, uma distinção ou di-ferença entre os casos que envolvem crianças e adolescentes em relação aos outros casos atendidos.

Por serem adolescentes a lei determina que o procedimento tem que ser diferen-ciado, mas o número de atendimentos é grande e os profissionais são poucos, a estrutura é precária. (informante 07).

Ou seja, não há um consenso entre os profissionais e tão pouco, um preparo para a realização do atendimento. Nos procedimentos adotados para o trabalho foi possí-vel identificar, inclusive, uma parcela pequena de informantes 14,3%, que declara receber na delegacia apenas o adolescente infrator, e não a vítima. E justificam que esse fato se deve à especificidade do próprio ato infracional. (Informante 07)

Os dados apontados nesta pesquisa possibilitam considerar reduzido o número de profissionais frente ao número de habitantes da região atendida; e inexis-tente a qualificação para a atuação em casos que envolvam crianças e adoles-centes. Essa situação impede uma ação mais ponderada e apoiada na lei, o que dificulta ou inviabiliza o cumprimento do que é previsto no ECA, de forma a garantir a prioridade absoluta e tratamento condizentes com a condição de su-jeitos em desenvolvimento.

Às considerações apontadas anteriormente soma-se a situação em que crianças e adolescentes se encontram, ao ficarem apreendidas nas delegacias. Durante a es-cuta e inquérito, identifica-se que não há possibilidade física de separar a vítima do agressor.

Ficam apreendidos, aguardando a formalização do expediente, para serem enca-minhados para o juiz. A delegacia não tem infraestrutura para tal. (informante 04)

Sendo assim prevalece a linha do constrangimento e da exposição dos envolvidos.Quanto aos procedimentos adotados para a oitiva de crianças e adolescentes, ve-rifica-se que esta é realizada, em sua maioria, pelos profissionais: delegado e es-crivão, quando o envolvido é adolescente. Mas, quando o envolvido é criança,

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nem todos afirmam fazê-lo, 42,9% dos informantes justificam que não se sentem preparados para este procedimento. A natureza da ocorrência é apontada como critério para os informantes que declaram atenderem crianças e adolescentes em suas delegacias. Tais evidências apontam para a necessidade de se inserir outros campos profissionais nas delegacias.

Portanto, é correto afirmar, que as delegacias civis de Governador Valadares não têm possibilidade de garantir às crianças e adolescentes do município um atendi-mento prioritário e de acordo com sua condição especial de sujeito em desenvolvi-mento, conforme esclarece um informante:

de acordo com a lei tem que ser apaziguado, mas devido ao grande número de flagrantes fica difícil cumprir a lei. (Informante 05)

Por essa razão, há uma grande dificuldade no cumprimento dos prazos de con-clusão dos inquéritos que envolvem crianças e adolescentes, salvo alguns casos referentes ao flagrante de ato infracional. Isso acontece apesar de prevalecer, nos inquéritos de crimes cometidos contra crianças e adolescentes, uma preocupação manifesta por parte dos profissionais em priorizar o atendimento.

Quando se trata especificamente de crimes sexuais contra crianças e adolescentes, este procedimento é prioritariamente atendido pela Delegacia de Atendimento à Mulher. Por este motivo 57,2% dos informantes não puderam fazer uma avaliação precisa sobre a efetividade do mesmo. Dos que responderam à avaliação, 14,3%, classificam os procedimentos relativos aos crimes sexuais como sendo “ruins”. Quanto aos indicadores de responsabilização dos agressores nestes casos, 28,5% dos participantes dessa pesquisa responderam que esses indicadores são bons so-mente em casos onde há o flagrante, caso contrário:

Não se consegue culpabilizar o responsável. (informante 07)

Solicitados a avaliar a organização geral dos serviços prestados a crianças e adoles-centes, nas delegacias, foi possível identificar, junto aos participantes uma avalia-ção muito ruim, pois segundo eles a procura pelas delegacias é consideravelmente alta, e em contrapartida a resolutividade de casos que não é boa. Os resultados revelam uma avaliação ruim também dos recursos humanos, devido à inexistência de capacitação específica para o trabalho com crianças e adolescentes. Quando se capacitam é por um interesse pessoal.

Outro fato averiguado nesta pesquisa é a péssima avaliação da infraestrutura, o que reflete nas condições específicas do trabalho. Isso advém da ausência de investi-mento, por parte do Estado, neste segmento de proteção e garantia de direitos de crianças e adolescentes. Já na avaliação de outros serviços da própria polícia como o Instituto Médico Legal (IML), este também não é bem avaliado no que se refere à efetividade dos serviços prestados, principalmente pela falta de infraestrutura física e de profissional, frente à demanda.

Ao avaliarem a relação da polícia civil com os outros órgãos do sistema de defe-sa de direitos, verifica-se que não há da parte do Ministério Publico, Judiciário e Polícia Civil, uma integração para agilizar os casos. A integração da polícia civil é classificada, pelos entrevistados, da seguinte maneira: o sistema judiciário oscila entre o bom e o ruim; com o Ministério Publico é considerada boa; com a Defen-soria Pública, é segundo a maioria, ruim; com o Conselho Tutelar a relação oscila entre bom e ótimo; a integração com a assistência social é considerada ruim, assim como com a saúde e a educação. Há ainda aqueles que justificam que não se inte-gram com essas políticas, pois não as utiliza e esses responderam, outros.

Tabela 15 – Nível de integração entre a Polícia Civil e os órgãos do Sistema de Garantia Direitos - Governador Valadares - 2011.

Sistema de Garantia

de Direitos

AvaliaçãoÓtimo Bom Regular Ruim Outros Não

RespondeuTotal

Abs % Abs % Abs % Abs % Abs % Abs % Abs %Judiciário 0 0 3 42,9 1 14,3 3 42,9 0 0 0 0 7 100Ministério Público

1 14,3 3 42,9 1 14,3 2 28,6 0 0 0 0 7 100

Defensoria Pública

0 0 2 28,6 1 14,3 3 42,9 1 14,3 0 0 7 100

Conselho Tutelar

2 28,6 3 42,9 0 0 2 28,6 0 0 0 0 7 100

Assistência Social

0 0 2 28,6 0 0 3 42,9 2 28,6 0 0 7 100

Saúde 0 0 2 28,6 1 14,3 1 14,3 2 28,6 1 14,3 7 100Educação 0 0 3 42,9 0 0 1 14,3 3 42,9 0 0 7 100

Fonte: Polo de Promoção da Cidadania/ UNIVALE

Conclui-se então, que pela ausência de uma Delegacia Especializada no mu-nicípio, crianças e adolescentes são submetidos a condições inapropriadas de estrutura física e atendimento. A falta de profissionais e qualificação interfere na execução dos serviços, causando um impacto negativo, direto no atendimento desse público. Este fato é confirmado pelos investigados, em sua avaliação dos serviços e atendimentos prestados a crianças e adolescentes.

As necessidades nesta área apontam para um investimento maior, por parte do Estado, na política de segurança pública direcionada à criança e ao adolescente, uma vez que os principais dificultadores são reflexo das fragilidades da infra-estrutura; do número reduzido de profissionais; da inexistência de qualificação; da pouca integração entre o sistema de defesa de direitos; e da desarticulação da rede municipal, para um bom atendimento. Portanto, em desacordo com os princípios previsto no ECA, o que reflete em maus indicadores para uma política efetiva de Convivência Familiar e Comunitária.

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3.4. CONSELHO TUTELAR

3.4.1. Procedimento Metodológico

Para uma melhor compreensão da dinâmica de funcionamento do CT de Gover-nador Valadares, buscou-se identificar o grau de integração desse órgão com o Sistema de Proteção do Direito da Criança e do Adolescente e contribuições no campo da defesa do direito à convivência familiar.

Os procedimentos metodológicos utilizados foram: a pesquisa documental, tendo por base a consulta à legislação pertinente - Lei de criação do Conselho Tutelar e Regimento Interno, visando compreender os procedimentos histórico-normativos do Conselho Tutelar do muncípio, sua estruturação e seu funcionamento; e ques-tionários semi-estruturados, aplicados de forma individualizada e Colegiada. Na investigação junto aos conselheiros, o interesse consistiu em conhecer a dinâmica geral de funcionamento do Conselho Tutelar e a percepção individual sobre o tra-balho desenvolvido.

O questionário foi respondido por 05 conselheiros. Embora atualmente existam ins-talados dois Conselhos Tutelares em Governador Valadares, no período da entrevis-ta, os membros do segundo Conselho Tutelar ainda não tinham tomado posse. Por este motivo os conselheiros recém-empossados não foram entrevistados.

3.4.2 Principais resultados alcançados na pesquisa colegiada e individual dos Conselheiros, sobre o funcionamento do Conselho Tutelar

O Colegiado avaliou particularidades relacionadas às práticas diárias, considerando aspectos favoráveis ou de fragilidade à dinâmica do CT. No campo da organização interna valorizaram, sobretudo, a dinâmica das decisões colegiadas, a freqüência regular das reuniões e o estudo de Casos e pareceres emitidos, com o subsídio da Equipe Técnica. Pontuaram que os recursos humanos atendem às normativas estabelecidas no Regimento Interno. Em relação à suficiência no atendimento da demanda, avaliam positivamente o corpo profissional composto por equipe técnica (advogado, assistente social, pedagogo, psicólogo), e os funcionários administra-tivos (02 motoristas, 03 auxiliares administrativo, 01 serviço geral, 02 oficce boys e 01 porteiro). Ressaltando, apenas, a necessidade de um profissional da área das ciências sociais para auxiliar nas análises dos dados produzidos no CT.Na entrevista colegiada procurou-se conhecer como é realizado o registro de ocor-rências no CT e o uso que fazem das informações levantadas no processo de aten-dimento, dando-se ênfase à forma de utilização do Sistema de Informação para Infância e Adolescência (SIPIA). Foi respondido que este sistema não é utilizado

para registro de ocorrências, justificando que a Secretaria do Desenvolvimento Social (SEDESE) não disponibiliza manutenção necessária ao seu funcionamento. O Colegiado informou, ainda, o número de atendimentos realizados entre 2009 e 2011 de casos de violação de direitos. Conforme a tabela 16, observa-se o aumento gradativo de atendimento, ao longo do período, pois há o crescimento do número de casos entre o ano de 2009 (25.48%) e 2010 (41.63%). Mesmo não tendo finali-zado o ano de 2011 (32.80%) os dados demonstram a tendência à superação dos anos anteriores, pois o percentual já é maior do que o que foi realizado em 2009, se aproximando do realizado em 2010.

Tabela 16. Atendimento de casos de violação de direitos realizados pelo Conselho Tutelar, entre anos de 2008 a outubro de 2011, em Governador Valadares.Ano Número de Atendimento do Conselho Tutelar

Abs %2009 2.063 25.482010 3.371 41.632011* 2.662 32.80Total 8. 096 100

* Dados referentes aos meses janeiro a outubro do ano de 2011. Fonte: Registro dos atendimentos realizados pelo Conselho Tutelar, Ano – 2009 até o período de outubro de 2011.

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No que se refere à convivência familiar foram apresentados dados relacionados aos registros dos motivos de violação de direitos, e que levam ao encaminhamento de crianças e adolescentes aos serviços de acolhimento institucional ou familiar. Observa-se que no período de 2009 a 2011 ocorreram, na totalidade, (248) duzen-tos e quarenta e oito encaminhamentos, sendo os motivos de natureza variada. Os mais representativos, em termos de quantitativos, são abandono de incapaz e a evasão de uma instituição de acolhimento para outra (Tabela 17).

Em relação ao abandono de incapaz, cabe notar que houve uma redução nas ocor-rências feitas pelo CT, durante o período analisado. Tal informação torna-se im-portante, tendo em vista as possibilidades de mudança de postura privilegiando a alternativa de permanência da criança ou adolescente na família de origem.

Verifica-se, ainda, que os casos relacionados à ausência da Guarda em famílias vulneráveis31 também tiveram uma queda do ano de 2009 para 2010, sendo esta uma tendência para o ano de 2011. Alguns fatores podem ter contribuído para esta queda, dentre outros, os relacionados ao fomento de programas ou serviços assis-tenciais públicos cujo foco são as famílias, tais como: inserção da família em pro-gramas como Bolsa Família e o acompanhamento familiar, realizado pelo CRAS. As mudanças na conduta interventiva do CT, baseanda no entendimento do que está preconizado no ECA sobre convivência familiar é um fator positivo, que inci-de diretamente na diminuição da institucionalização. O fortalecimento dos víncu-los familiares é um avanço, significando alcançar, de fato, a excepcionalidade da medida de proteção e de acolhimento.

31 Aqui importa ressaltar que os motivos que culminam na vulnerabilidade social da família devem ser pensados não de forma isolada, para não incorrer no erro de imputar a respon-sabilidade das causas de rompimento de vínculos familiares somente à família. Outros fa-tores devem ser considerados, dentre eles a necessidade de constituição de serviços e polí-ticas públicas capazes de atender às demandas familiares, identificando suas fragilidades e transformando-as em potencialidades, para que este público assuma o seu espaço no campo protetivo de criança e adolescente.

Tabela 17. Motivação para os encaminhamentos do Conselho Tutelar para os Serviços de Acolhimento Institucional ou Familiar, nos anos 2009 a 2011

Motivos Anos Total %2009 2010 2011*

Abandono de incapaz 22 9 9 40 16.12Evasão de uma instituição para outra 15 21 19 55 22.17Criança e Adolescente fora do domicílio / em trânsito 7 8 6 21 8.46Criança e Adolescente em situação de risco devido a transtorno mental

2 5 1 08 3.22

Criança e Adolescente em situação de risco devido à dependência química de pais/responsáveis

7 5 7 19 22.17

Conflitos familiares 1 4 5 10 4.03Criança e Adolescente . sob suspeita de adoção irregular 0 2 2 04 1.61Criança e Adolescente em vias de encaminhamento à comunidade terapêutica

1 0 1 02 0.80

Criança e Adolescente em risco, recusando-se a per-manecer em sua casa, ou sendo recusada em sua casa.

4 9 6 19 22.17

Criança e Adolescente em casa de terceiros que não querem continuar exercendo sua guarda

2 0 1 03 1.20

Criança e Adolescente em família extensa que não quer continuar exercendo sua guarda

6 6 2 14 5.64

Criança e Adolescente sem ter quem se responsabilize por elas, no momento em que seus pais/responsáveis são presos.

5 1 1 07 2.82

Criança e Adolescente ameaçado de morte 9 3 1 13 5.24Conflito com cônjuge ou companheiro 1 0 0 01 0.48Criança e Adolescente em vulnerabilidade sem ter quem tenha interesse ou reúna condições para assumir a guarda

12 5 3 20 8.06

Criança e Adolescente apreendido, residente em outro domicílio.

4 8 0 12 4.80

Total Geral / Ano 98 86 64 248 100* Os dados são referentes aos meses janeiro a setembro do ano de 2011.Fonte: Registros de denúncias feitas no Conselho Tutelar, 2010-2011.

O resultado da entrevista colegiada demonstrou haver possibilidades de desenvol-vimento de ações mais fortalecidas, conjuntas e coordenadas com os serviços de promoção e proteção dos direitos da Criança e Adolescentes, destacando a Promo-toria da Infância e Adolescência, o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e o Sistema Municipal de Educação (SMED). Os informantes pontuam a importância da parceria com esses órgãos na constituição de políticas públicas condizentes com as demandas apresentadas na realidade.

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No campo socioassistencial, onde os serviços incidem diretamente na promoção das famílias em situação de vulnerabilidade e risco social, o Colegiado percebe uma maior articulação no âmbito das políticas públicas sociais das áreas de saúde (serviços hospitalares e Postos de Saúde); educação, assistência social, habitação e política de transferência de renda.

3.4.3. Principais resultados alcançados na avaliação dos Conselheiros sobre o funcionamento do Conselho Tutelar

Os conselheiros também avaliaram, de forma individualizada, a dinâmica de fun-cionamento do CT. Nestas avaliações, pontuaram que a relação existente com a rede de serviços socioassistenciais local para atendimento das requisições feitas pelo CT, atende parcialmente, tanto no âmbito governamental como não-governa-mental (Ong’s, empresas privadas e filantrópicas). No campo da Proteção Fami-liar, na opinião do entrevistado “E”

são poucos os serviços ofertados nesta área, além disso, esses apresentam ca-racterísticas burocráticas, possuem difícil acesso, sendo exemplo o programa de Proteção à Criança e Adolescente Ameaçado de Morte e a pouca efetividade do Núcleo de Atendimento a Vítimas de Crimes Violentos.

Em relação à oferta de cursos ou programas específicos de orientação familiar, proposto como direito no Art. 129, inciso I do ECA (BRASIL, 1990), os informan-tes fazem uma avaliação negativa, uma vez que 02 entrevistados consideram ruim e 03, regular, a relação com esses serviços, quando da necessidade de aplicação dessa medida de proteção. Conforme a justificativa de um dos entrevistados, os programas de orientação familiar carecem de maior investimento na família. Já o entrevistado “A” expôs que as políticas públicas municipais ainda são “tímidas” no atendimento às famílias. Vale recorrer à justificativa de um dos entrevistados:

São poucas as ofertas de cursos, nem sempre estruturado de forma a possibilitar a participação de todos, como é o caso da dificuldade das mães participarem do Projovem Urbano, por não terem com quem deixar os filhos. Houve desativação do programa de orientação familiar da UNIVALE por indisponibilização de re-cursos. Um importante programa dessa natureza em funcionamento no município é a Pastoral da Criança. (Conselheiro Tutelar E - Entrevista realizada em 18 de Setembro de 2011).

No campo da efetivação das políticas públicas esta pesquisa destacou a educação, a saúde, a previdência, a assistência social e a habitação. Na educação, a ação do CT está mais comumente relacionada a vagas em escolas ou creches, até mesmo para cumprir a medida de matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental (Art. 101, III do ECA). Segundo os informantes, na área da educação a requisição destes serviços respon-

de de forma regular às demandas do CT. Destacam como problemas a serem en-frentados os seguintes: a escassez de vagas na educação infantil, especificamente creches; a dificuldades no acesso, devido à insuficiência de vagas por número de alunos; a dificuldade do órgão administrativo estadual da educação – Superinten-dência Regional de Ensino – em entender qual a competência e âmbito de atuação do CT nos casos de reclamações de pais envolvendo a insuficiência de vagas nas escolas, sendo esses casos encaminhados para o CT.

Na área da saúde o CT pode requisitar o atendimento urgente de uma criança, cuja consulta ou exames necessários estejam sendo protelados por alegada “falta de vaga”, conforme autoriza o art. 101, inciso V do ECA “requisição de tratamen-to médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial”. Para mais da metade dos Conselheiros, o cumprimento da requisição por esses serviços pelo CT é regular. De acordo com a opinião de três entrevistados, o mu-nicípio é dependente da implantação de um programa especializado, conhecido como Centro de Atenção Psicossocial Infantil (CAPS’ i). Um deles justificou que a necessidade desse serviço tem a ver com o fato de existir, no município, uma de-manda significativa de criança e adolescente com deficiência mental e dependência química. Outro esclareceu que a inexistência desse serviço especializado obriga a realização de atendimentos eventuais, em caráter de exceção e situações extremas, tais como casos de surtos ou crises.

Ainda no campo da saúde, foram avaliados os serviços de saúde de orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos. De acordo com a opinião de três entre-vistados, a requisição desses serviços pode ser considerada boa. Já para dois deles, esta relação é classificada como regular, ressaltando fatores como a inexistência de local para internação de mulheres/adolescentes dependentes químicas. A única alternativa de tratamento para adolescentes homens em regime de internação res-tringe aos serviços ofertados pela Associação de Dependentes Químicos e Familia-res (ADQF), que estabelece critérios de acesso e permanência muitos rígidos, onde poucos conseguem atendimento.

Na Previdência Social a maioria (04 entrevistados) ponderou que inexiste relação com este serviço, tais como os relacionados a orientações sobre benefícios previ-denciários, pensão, aposentadoria, e outros, demandados pela família. Reconhece--se a importância da atuação do CT junto ao INSS, principalmente no auxílio às possibilidades de acesso, e concessão de benefícios diversos, tais como o assisten-cial à criança deficiente.

No que se refere aos serviços da área da política de Assistência Social, três entre-vistados classificam como regular a requisição do CT por serviços compreendidos nesta área. A justificativa apresentada por um dos entrevistados diz respeito à in-suficiência de CRAS, pois os que existem no município não são satisfatórios para atender às demandas na área urbana. No campo do trabalho e segurança pode o CT exigir do Ministério do Trabalho que fiscalize empresas que submetem adolescentes a trabalhos penosos, insalubres

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ou de reconhecida periculosidade, ou ainda, em desacordo com a idade mínima fixada pelo Art. 7º, inciso XXXIII da Constituição Federal (BRASIL, 1988). A avaliação da articulação do CT com a política de trabalho e renda não é satis-fatória, uma vez que a grande maioria dos entrevistados – quatro (04) - afirmou inexistir este tipo de serviço no município. Somente um (01) avalia positivamente. Na entrevista não foi possível identificar ações realizadas pelo CT relacionadas ao acesso de famílias ao trabalho em decorrencia de contingências como o desem-prego e o informalismo. Também, ações de fiscalização das condições de trabalho do adolescente (penoso, insalubre, periculosidade) ou em desacordo com a idade mínima fixada (Art. 7° CF/1988).

Na área da habitação, três (03) entrevistados consideram que o CT tem uma boa relação na requisição desses serviços, mas dois (02) dizem possuir uma articulação regular, justificando um (01) informante que ainda existe um

alto déficit habitacional, mesmo com as melhorias implantadas (Informante A).

No campo socioassistencial, onde os serviços incidem diretamente na promoção das famílias em situação de vulnerabilidade e risco social, o Colegiado percebe uma maior articulação no âmbito das políticas públicas sociais das áreas de saúde (serviços hospitalares e Postos de Saúde); educação, assistência social, habitação e política de transferência de renda.

Todos os entrevistados ressaltam que algumas famílias tiveram êxito no acesso à política de moradia, quando de requisições feitas pelo CT, aos órgãos responsáveis.Quanto à requisição do CT aos serviços da área de Segurança Pública, um (01) en-trevistado avalia como boa a relação com esses serviços. Contudo, dois (02) entre-vistados classificam como regular a integração, em especial nos casos de aplicação de medidas protetivas. Dois (02) entrevistados não se manifestaram a respeito. Os dois (02) entrevistados que avaliam a relação como regular, apontam como dificul-dades a não compreensão por parte dos órgãos de Segurança Pública, da atribuição do CT, bem como a ausência de uma estrutura especializada, na Delegacia de Po-lícia Civil, para a atenção prioritária à criança e ao adolescente.

As entrevistas consideraram, ainda, a relação com outros órgãos intermediários de efetivação de direitos, tais como o Cartório de Registro Civil, Ministério Público, Autoridade Judiciária, Conselho Municipal da Criança e do Adolescente. No caso do Cartório de Registro Civil a relação com este órgão é importante, se avaliada a existência de crianças e adolescentes inviabilizadas de exercer os direitos básicos, apenas porque não possuem a certidão de nascimento, sendo

32 Em termos formais, serão consideradas atividades penosas, insalubres ou perigosas, aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os emprega-dos a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixada em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos. Fundamentos legais: Lei nº 6.514 de 1977; Portaria nº 3.214 de 1978 (quadro e limite); Consolidação das Leis do Trabalho, Artigos 189 a 201 (BRASIL, 1943); Constituição Federal, Artigo 7º, inciso XXIII (BRASIL, 1988).

que, na maioria das vezes, seus responsáveis não têm condições de pagar pela segunda via ou de ir até o cartório de origem. A atuação do Conselho Tutelar, nesse ponto, é primordial na garantia do acesso a documentos para crianças e adolescentes pertencentes a famílias desprovidas tanto de informação, como de recursos econômicos. Os entrevistados consideram favorável o atendimento às requisições feitas pelo CT, nas mais diversas solicitações (certidões de nasci-mento e óbito de criança e adolescente, e outros).

O Ministério Público (MP) foi avaliado como um órgão que tem uma boa ar-ticulação com o CT (opinião de três conselheiros). Somente um (01) conse-lheiro apontou, de maneira justificada, a insuficiência no número de Promotores Públicos para atender à demanda do município, o que segundo ele ocasiona o acúmulo de serviços e pouca agilidade nas repostas demandadas pelo CT. A importância da relação entre esses dois órgãos é mais contundente nos casos de abusos cometidos pelos pais, contra seus filhos (crianças e adolescentes). Isto porque, no campo da convivência familiar, a intervenção desses pode implicar na ruptura (temporária ou não) dos vínculos familiares. Cabe ao CT tomar medidas de caráter protetivo e ao MP, com base em instrumentos, como relatório cir-cunstanciados encaminhado pelo Conselho e outros, avaliar ao juízo; a decisão judicial pode ser a perda ou suspensão do Poder Familiar, conforme proposto nos Arts. 155 e 201, inciso III do ECA (BRASIL, 1990)33,.

Em relação ao CMDCA, 04 entrevistados consideraram a comunicação com esse órgão adequada, quando da necessidade de levar informações de ameaça ou vio-lações dos direitos da criança e adolescentes. Contudo, não foi explicado o que seria uma “comunicação adequada”. Ressalte-se ao depoimento dos conselheiros sobre a relação facilitada entre esses dois órgãos, tendo em vista a possibilidade de participação ativa do CT nos processos de discussão e na agenda do CMDCA.

Em relação à atribuição do CT nos processos de assessoramento da política orça-mentária, evidencia-se a sua relevância no que concerne às políticas públicas vol-tadas aos interesses de crianças e adolescentes. Além disso, os Conselheiros Tute-lares, pelo fato de estarem mais próximos da comunidade, podem não só conhecer melhor as necessidades locais, como reúnem condições para sugerir as prioridades e definir os programas que melhor atendam às demandas do seu público, seja ele criança, adolescente e/ou respectivas famílias.

Na entrevista, os Conselheiros Tutelares informam que a única participação deles ocorre nas reuniões realizadas no CMDCA, cuja dinâmica consiste em contribuir no levantamento de demandas, identificação de prioridades e proposição de inves-timentos na área da infância. No Poder Executivo não foi identificado um espaço

33 Ver, ainda, normas vigentes que declaram sobre situações de criança e o adolescente sujeitos ao poder familiar (art. 1630, Código Civil), e suspensão desse poder pelo pai ou mãe, se identificado casos de abuso de autoridade (art. 1637, 1637, par. ún., 1638 do Có-digo Civil de 2002), ou descumprimento injustificado dos deveres de sustento, guarda e educação dos filhos menores (art. 24, ECA/1990).

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institucionalizado para a participação do CT no assessoramento da política orça-mentária, conforme determina a legislação específica.

Foi avaliada a relação do CT com os serviços de acolhimento institucional e fami-liar local. Os resultados das entrevistas apontam, com maior ênfase, para a neces-sidade de constituição de ações efetivas voltadas para o fortalecimento dos víncu-los familiares. Em relação ao Programa Família Acolhedora os informantes dizem existir uma insuficiência de famílias cadastradas neste programa, dificultando a alternativa de requisição desse serviço e obrigando o encaminhamento de crian-ças e/ou adolescentes para instituições de acolhimento tradicionais, os conhecidos “abrigos”. Foi identificada ainda a carência de famílias com perfil para receberem crianças e adolescentes em situação de suspensão ou destituição do poder familiar.

Quanto à Casa de Passagem (masculina e feminina), todos os entrevistados dizem que ela obteve melhorias nos últimos anos (não foi especificado o período). Porém, foram ressaltadas algumas dificuldades relacionadas à sua estrutura organizacio-nal, tais como os baixos investimentos em recursos físicos e humanos; as freqüen-tes fugas dos adolescentes acolhidos; pouco investimento em ações de convívio familiar e comunitário; recebimento de adolescentes de outros municípios; longo tempo de permanência nesse espaço.

Em relação ao acolhimento institucional (tradicional), excetuando a experiência de uma instituição local, que é considerada exitosa no campo da convivência familiar, as demais, conforme avaliações dos Conselheiros, não possuem ações efetivas no que se refere ao processo de desestitucionalização de crianças e adolescentes, ou mesmo ações que visem à redução do tempo de permanência nas entidades. Neste ponto, cabe avaliar que, o CT para além da atribuição de fiscalizar os serviços de acolhimento, e os programas por eles executados, deve fomentar práticas sócio--políticas que garantam a proteção integral da criança e do adolescente, por meio da priorização do direito fundamental à convivência familiar. É preciso ainda com-bater estigmas que defendam a judicialização e a institucionalização de crianças e adolescentes pertencentes às famílias pobres e vulneráveis.

A pesquisa abordou, ao final, aspectos relacionados com a percepção dos Con-selheiros sobre as normativas trazidas pela Lei 12.010/09, que dispõe sobre o aperfeiçoamento da sistemática prevista para a garantia do direito à convivência familiar e comunitária de criança e adolescente (BRASIL, 2009). Para os infor-mantes o principal avanço da referida Lei foi a transferência da função do estudo de viabilidade do acolhimento institucional de crianças e adolescentes, do CT para o Poder Judiciário. Contudo, dois entrevistados ressaltam que ainda persis-tem práticas de acolhimento institucional no CT; assim como são demoradas as decisões sobre o retorno da criança ou do adolescente à sua família de origem ou sua colocação em família substituta.

Quanto às contribuições da Lei 12.010/09 para os processos de preservação dos vínculos familiares e comunitários, no município, dois (02) entrevistados destacam a instituição da Comissão Intersetorial responsável pela elaboração do Plano Municipal de Convivência Familiar e Comunitária e o esforço da

autoridade judiciária em abreviar o tempo de permanência da criança e do adolescente nas instituições de acolhimento, em atendimento ao princípio da excepcionalidade e da temporalidade.

Em relação aos desafios para a efetivação da Lei 12.010/09 no município, no que se refere à promoção e defesa do direito à convivência familiar e comunitária de crianças e adolescentes, os entrevistados consideram que são eles: o reorde-namento das instituições de acolhimento, visando à adequação, de acordo com a estrutura das chamadas Casa-Lares; a instituição de mecanismos formais de con-trole e fiscalização das instituições de acolhimento, pelos órgãos responsáveis; a adequação do município às normas legais; a introdução de mudanças na postura de algumas entidades, no sentido de aceitarem acolhidos adolescentes; a neces-sidade de qualificação dos trabalhadores das entidades, para que possam estar mais preparados para atuarem conforme a concepção e princípios estabelecidos na política da criança e do adolescente.

3.4.4. Considerações finais

Os estudos e informações adquiridas sobre o funcionamento do CT, em Gover-nador Valadares, demonstram que são muitos os desafios a serem enfrentados para instituição da primazia da convivência familiar e comunitária, quando do atendimento da criança e do adolescente. Estes desafios baseiam-se em situações diversas, tais como:

a) o não uso do Sistema de Informação para a Infância e Adolescência – SIPIA;

b) a pouca qualificação de profissionais do Poder Executivo, CMDCA e Poder Judiciário para fomentar atividades na área da convivência familiar e comunitária;

c) crescentes demandas internas de atendimento, levando à instalação de mais um CT. Conforme opinião dos entrevistados o ideal seria a não necessidade de criação de mais um órgão, pois a demanda é aumentada devido à insuficiência das políticas públicas e a não constituição de uma rede de serviços efetiva, para o atendimento da demanda de crianças e adolescentes e suas famílias;

d) a persistência de práticas de não atendimento das requisições feitas pelo CT, exigindo representação contra alguns órgãos (escolas e Secretaria Municipal de Saúde), para que se efetive o direito da criança e do adolescente;

e) a estrutura atual do acolhimento institucional, que na opinião dos entrevistados é considerada como parcialmente adequada à preservação do direito de crianças e adolescentes à convivência familiar e comunitária;

f) as dificuldades no atendimento da requisição do CT para o acolhimento de ado-lescentes, e, principalmente, de mãe adolescente com filho recém-nascido;

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g) a inexistência de mecanismos, suprimir a vírgula formalizados pelo CT, que atestem a eficiência e a qualidade dos casos de reintegração familiar realizados pelas instituições de acolhimento. Também, não existem registros de informações que comprovem a qualidade do trabalho prestado pelas entidades de acolhimento por meio de programas, ações ou projetos de fortalecimento das relações familia-res;

h) a insuficiência de famílias cadastradas no Programa Família Acolhedora, difi-cultando as alternativas de requisição por esse serviço e obrigando ao encaminha-mento para instituição de acolhimento tradicional. Também, observa-se a insufici-ência de famílias com perfil para acolher crianças e adolescentes;

i) a permanência da criança ou adolescente sob a guarda das famílias acolhedoras, descaracterizando a proposta de brevidade do afastamento dos acolhidos de suas famílias, em especial a de origem;j) Nas Casas de Passagem Feminina e Masculina: as freqüentes fugas dos adoles-centes acolhidos; o pouco investimento em ações de convívio familiar e comunitá-rio; e recebimento de adolescentes de outros municípios; além do longo tempo de permanência nesse espaço;

k) a tímida participação do CT no Orçamento para Criança e Adolescente, reduzin-do-se às propostas encaminhadas ao CMDCA;

l) a inexistência de institucionalização de um espaço criado pelo Poder Público para o CT participar dos processos de construção da política orçamentária;

m) a demora nas decisões para o retorno da criança ou adolescente à sua família de origem ou sua colocação em família substituta, e o desafio de investimento no reordenamento das instituições de acolhimento nos moldes da estrutura das Casa--Lares.

O CT também aponta potencialidades do serviço, resultantes de práticas sociais que auxiliam a valorização de uma política de atendimento que prioriza o direi-to fundamental de crianças e adolescentes à convivência familiar. Dentre outras, destaca-se:

a) freqüência regular das reuniões colegiadas, bem como as decisões conjuntas, realizadas na prática diária do CT. Estas indicam atitude democrática na tomada de decisão;

b) estudos de casos e emissão de pareceres com o subsídio da Equipe Técnica;

c) atendimento das normativas no que se refere aos Recursos Humanos;

d) localização estratégica, o que facilita o acesso ao serviço;

e) redução dos registros de denúncias de infrequencia escolar, tendo em vista o controle vinculado aos programas socioassistenciais, tal como o programa Bolsa Família. Isso exige uma articulação entre as unidades de ensino e outros serviços ou órgãos de direito específicos, no acompanhamento da vida escolar do aluno, sendo um desses órgãos o Conselho Tutelar;

f) redução do registro de denúncias que levam ao acolhimento institucional, tendo como motivo a perda de guarda em famílias vulneráveis, consideradas nessa con-dição a partir de critérios socioeconômicos. Tal condição vincula-se: à implantação de programas sociais governamentais de atendimento às famílias; às normativas vigentes, que valorizam o fortalecimento dos vínculos familiares;

g) mudanças na conduta interventiva do CT, na análise de casos relacionados ao convívio familiar, tratando de fato a excepcionalidade da medida de proteção de acolhimento, a partir do entendimento do que está preconizado no ECA. Fato este que incide na diminuição da institucionalização;

h) melhoria na articulação com os serviços de promoção e proteção dos direitos da Criança e Adolescentes: em especial a Promotoria da Infância e Adolescência, o Conselho Municipal da Criança e do Adolescente e a SMED;

i) qualificação profissional dos Conselheiros Tutelares segundo as normativas vi-gentes. Destaca-se a experiência de grupos de estudos, tendo como foco o Plano de Promoção, Proteção e Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente à Convi-vência Familiar e Comunitária e à Lei 12.010/2009, esta última com o apoio da Promotoria da Infância e Juventude de GV;

j) ampliação do reconhecimento do CT, por outros serviços, facilitando o atendi-mento às suas requisições;

k) êxito do CT no atendimento às suas requisições de acesso à política de moradia;

l) melhoria da articulação com o Cartório de Registro Civil, facilitando o atendi-mento da requisição desses serviços;

m) acesso facilitado às reuniões do CMDCA, o que permite a participação do CT nas discussões e proposições de políticas orçamentárias;

n) transferência da função do CT para o Poder Judiciário do estudo de viabilidade no acolhimento institucional de crianças e adolescentes;

o) a instituição da Comissão Intersetorial responsável pela elaboração do Plano Municipal de Convivência Familiar e Comunitária.

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3.5. ASSISTÊNCIA SOCIAL

A intenção deste estudo é conhecer como está estruturada a Política de Assistência Social implantada no município de Governador Valadares. A importância da com-preensão da Política de Assistência Social reside no fato de ela trazer em seu bojo a centralidade na família tendo como pressuposto o princípio de que os vínculos entre os seus membros e a comunidade devem ser protegidos pelo Estado. Tal prer-rogativa justifica a investigação desta política, dada a evidência do atendimento às famílias de crianças e adolescentes em situação de risco e vulnerabilidades social, e com vínculos familiares rompidos.

Para o alcance do objetivo foi realizado o mapeamento dos principais serviços, programas e projetos executados na Assistência Social; a verificação das condi-ções estruturais e gerenciais de funcionamento desses; a análise do nível de arti-culação dos mesmos com os serviços de acolhimento de crianças e adolescentes e com os demais órgãos que compõem o Sistema de Garantia de Direitos.

Três categorias de informantes contribuíram para a composição desse relatório: o Gestor da Política de Assistência Social, 17 técnicos do CRAS e 13 do CREAS. As informações foram colhidas no ano de 2011. Ambos responderam a um questioná-rio estruturado com questões pertinentes a cada uma das áreas.

Embora seja essa uma política só recentemente estruturada e legalizada através do SUAS, apresenta avanços importantes, uma vez que se legitima como direito social e responsabilidade do Estado, com arquitetura própria e campo de atuação na proteção social e delineamento a partir dos riscos e vulnerabilidades societários e pessoais.

3.5.1. Gestão da Política de Assistência Social em Governador Valadares

A coordenação e gestão da Política de Assistência Social de Governador Valada-res orienta-se pelo Plano Municipal de Assistência Social. Conforme informações colhidas na Secretaria Municipal de Assistência Social, segundo informações do Gestor, o Plano Municipal foi elaborado de forma democrática e participativa, ten-do como finalidade nortear as ações da Assistência Social no período compreendi-do entre 2009 e 2012. Até 2011 o foco do plano foi o fortalecimento do Programa Família Acolhedora, CRAS e CREAS. Em 2012 será a avaliação e monitoramento de suas ações, com proposição de objetivos para o próximo quadriênio.

A Gestão identifica, ainda, que não foram criados fluxos dentro da mesma política, que visem garantir a inclusão do cidadão que necessita de proteção da Assistência

Social nos serviços e benefícios básicos e de média e alta complexidade. Conclui que essa articulação é difícil também entre as políticas setoriais, dada a inexistên-cia de um planejamento intersetorial que garanta o atendimento integral às famílias de crianças e adolescentes acolhidos.

Em relação à implantação de ferramentas gerenciais importantes na operacionali-zação, monitoramento e avaliação da política, o Gestor informa que estas foram implantadas em nível nacional, como o Sistema SUAS WEB. Entretanto, apesar da padronização de prontuários de usuários e dos relatórios gerenciais constituírem fontes de informação, o município ainda não conta com um Sistema de Informa-ções informatizado. Este, se alimentado poderia fornecer, com eficácia, relatórios gerenciais e medidores de produtividade e resultados.

Uma ferramenta de informação utilizada em nível local é o Cadastro Único, que pode constituir-se numa importante fonte de localização de famílias com necessidades de proteção nos territórios do CRAS ou do município. Entretanto, segundo a Gestão da Política de Assistência Social de Governador Valadares, as informações desse cadastro não são utilizadas como meio de promover a vigilân-cia social34 no território, conforme referência de organização do SUAS.

3.5.1.1. Gestão do CRAS

Em Governador Valadares existem instalados quatro (04) CRAS instalados que referenciam uma população de 20.000 famílias, o que corresponde a 24,48% dos domicílios do município. A Gestão da política admite que esse número de CRAS é insuficiente, indicando planos para sua expansão em dois (02) novos territórios de vulnerabilidade.

Do total dos CRAS, (dois) 02 ocupam, de forma exclusiva, imóveis alugados, e os outros dois, ocupam imóveis próprios. Todos têm funcionamento de segun-da à sexta-feira, por 10 horas/dia.

34. Segundo a Política Nacional de Assistência Social (2004: 39-40) a vigilância social refere-se à produção, sistematização de informações, indicadores e índices territorializa-dos das situações de vulnerabilidade e risco pessoal e social que incidem sobre famílias / pessoas nos diferentes ciclos da vida [... ] vigilância sobre os padrões de serviços de assistência social [...]. Os indicadores a serem construídos devem mensurar no território as situações de riscos sociais e violação de direitos.

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Na tabela 18, observa-se que o quadro de profissionais atuando nos CRAS segue uma regularidade na sua composição: Assistentes Sociais, Psicólogos, Educadores Sociais, Serviços Gerais e Pessoal de Apoio Administrativo. Le-vando-se em conta que cada CRAS referencia 5.000 famílias em seu território, observa-se que o número de profissionais em cada unidade está em conformi-dade com a NOB/RH SUAS (2006).

Entretanto, em todas as unidades o número de técnicos de nível superior está aci-ma do mínimo pretendido pela NOB/RH, que são de 4 técnicos. Já o número de técnicos de nível médio, no exercício das funções de auxiliar administrativo ou orientador social, não atende ao número mínimo pretendido pela norma, em todas as unidades faltam um ou dois profissionais nessa categoria. Para o Gestor da po-lítica, na composição da equipe faltam, ainda, educadores físicos, professores de música e pedagogos, para atender às demandas e aos projetos do CRAS.

Já em relação à vinculação trabalhista, 55,6% dos trabalhadores da área são contratados, contrariando a recomendação de que sejam efetivos.

Tabela 18 – Quantidade de trabalhadores atuando nos Centros de Referência da Assistência Social em Governador Valadares - 2011

Composição Profissional Unidades do CRAS TotalCRAS 01 CRAS 02 CRAS 03 CRAS 04

Profissionais Freq. Freq. Freq. Freq. Freq. %Assistente Social 4 3 3 2 12 33,33Psicólogo 2 3 2 3 10 27,78Educador Social 2 1 2 1 6 16,67Apoio Administrativo 1 1 0 1 3 8,33Serviços Gerais 1 1 1 2 5 13,89Total 10 9 8 9 36 100,00

Fonte: Secretaria Municipal de Assistência Social de Governador Valadares (SMAS/GV)

O Gestor relaciona os indicadores de vulnerabilidades e riscos sociais identificados nos territórios dos CRAS de Governador Valadares, evidenciando a heterogeneida-de dos mesmos de um território para o outro. Porém, na maioria das vezes crianças e adolescentes são identificadas como alvos de violações de direitos e vitimização. Observa-se, entretanto, que as situações de risco e vulnerabilidade não são acom-panhadas de estratégias de enfrentamento, pela comunidade, das relações desi-guais de gênero e geracionais. Os esforços e estratégias de enfrentamento a esses indicadores se dão com base na inclusão produtiva da população atendida, o que se revela fundamental face à pobreza e miserabilidade das famílias, mas insuficiente para o enfrentamento das questões complexas, como “uso de drogas” e “violência contra crianças e adolescentes” (Quadro 05)

Quando perguntado ao Gestor, quais as estratégias implantadas para prevenir si-tuações de risco, em decorrência da pobreza, privação e falta de acesso a serviços públicos, é apontado que o município conta com os Benefícios eventuais35; com a inclusão das famílias no Cadastro Único; e com as atividades socioeducativas promovidas no CRAS (não foram identificados pelo entrevistado os tipos de ativi-dades socioeducativas).

35 Benefícios eventuais: São benefícios da Política Nacional de Assistência Social, de caráter su-plementar e provisório, prestados aos cidadãos e às famílias em virtude de morte, nascimento, calamidade pública e situações de vulnerabilidade temporária.

Os Benefícios Eventuais são assegurados pelo art. 22 da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, Lei Orgânica de Assistência Social (Loas), alterada pela Lei nº 12.435, de 6 de julho de 2011. Jun-tamente com os serviços socioassistencias, integram organicamente as garantias do Sistema Único de Assistência Social(Suas) com fundamentação nos princípios de cidadania e dos direitos sociais e humanos.

A oferta de Benefícios Eventuais pode ocorrer mediante apresentação de demandas de indivíduos e familiares em situação de vulnerabilidade, ou por identificação dessas situações no atendimento dos usuários, nos serviços socioassistenciais e do acompanhamento sociofamiliar no âmbito da Proteção Social Básica e Proteção Social Especial.

Os Benefícios Eventuais configuram-se como elementos potencializadores da proteção ofertada pelos serviços de natureza básica ou especial, contribuindo, dessa forma, para o fortalecimento das potencialidades de indivíduos e familiares. O Protocolo de Gestão Integrada de Serviços, Be-nefícios e Transferências de Renda no âmbito do Suas trata dessa articulação entre a prestação dos Benefícios Eventuais e os serviços socioassistenciais. Dados obtidos em http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/beneficiosassistenciais/beneficioseventuais. Acesso em junho de 2012:.

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UNIDADES DO CRAS Vulnerabilidades e Riscos diagnosticados no território

Estratégias da SMAS para o enfrentamento dos indicado-res de risco e vulnerabilidade

CRAS 01 - Situações de negligência em relação a crianças e adolescentes.- Exploração ou abuso sexual de crianças e adolescentes.- Uso de drogas.

- Organização ou assessora-mento para a promoção de coo-perativa ou associações (unida-des produtivas)- Busca ativa nos territórios de abrangência.- Visitas domiciliares.- Encaminhamento para colo-cação no mercado de trabalho.

CRAS 02 - Crianças e adolescentes fora da escola.- Indivíduos sem documenta-ção civil.- Jovens em situação de vulne-rabilidade e risco social.

CRAS 03 - Uso de drogas.- Famílias em descumprimento das condicionalidades do pro-grama Bolsa Família.- Crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil.

CRAS 04 - Situação de negligência em re-lação a crianças e adolescentes.- Famílias elegíveis não inseri-das nos programas ou benefí-cios de transferência de renda.- Jovens em situação de vulne-rabilidade e risco social.

Fonte: Secretaria Municipal de Assistência Social de Governador Valadares (SMAS/GV)

Os impactos na família usuária dos serviços do CRAS são informados de for-ma generalizada, sem uma referência a indicadores que possibilitem mensurar, quantitativamente, os benefícios e beneficiados.

Já em relação aos atendimentos, conclui-se que adolescentes e idosos são os usuários mais freqüentes nas ações socioeducativas propostas pelo CRAS, con-forme informa a tabela 19. O município possui vinte mil famílias referenciadas, contudo, o público atendido nos CRAS corresponde a aproximadamente 2,7% destas, com um ou mais membros sendo atendidos.

Quadro 05 – Vulnerabilidades e Riscos diagnosticados nos territórios dos CRAS de Governador Valadares, com as respectivas estratégias de enfrentamento dos mesmos.

Tabela 19 - Média mensal de usuários atendidos nos Centros de Referência da Assistência Social, por categoria de família, pessoa com deficiência ou faixa etária. Governador Valadares/2011.Público atendido, por categoria

Unidades do CRAS TotalCRAS 01 CRAS 02 CRAS 03 CRAS 04Média % Média % Média % Média % Média %

Famílias 22 4,10 24 4,48 21 3,92 25 4,66 92 17,16Crianças 18 3,36 12 2,24 21 3,92 14 2,61 65 12,13Adolescentes 75 13,99 40 7,46 12 2,24 120 22,39 247 46,08Idosos 40 7,46 16 2,99 40 7,46 20 3,73 116 21,64Pessoas com deficiência

5 0,93 3 0,56 4 0,75 4 0,75 16 2,99

Total 160 29,85 95 17,72 98 18,28 183 34,14 536 100,00Fonte: Secretaria Municipal de Assistência Social de Governador Valadares

3.5.1.2. Gestão do CREAS

O CREAS atende 8 horas diárias, de segunda a sexta-feira, e conta com a atu-ação de 27 trabalhadores. Tendo como referência a NOB/RH SUAS, o número e diversidade de profissionais encontrados em Governador Valadares supera o recomendado para o atendimento de até 80 indivíduos.

No CREAS, o registro de atendimentos a indivíduos submetidos a alguma priva-ção ou violação de direitos, entre os anos 2008 e 2010, revela a ausência de infor-mações em várias situações, e em todo ano de 2008, como pode ser observado na tabela 20. Entre os anos de 2009 e 2010 percebe-se uma redução nos atendimentos a mulheres, crianças e adolescentes vítimas de violência, bem como de adoles-centes em cumprimento de medida socioeducativa em meio aberto. Já em relação ao idoso vítima de violência há um aumento no número de atendidos. No que diz respeito ao Trabalho infantil, deve-se ressaltar que este direito violado representa o primeiro no ranking de atendimentos do CREAS. Entretanto, verifica-se que em 2010 houve uma queda significativa no atendimento a crianças e adolescentes em situação de trabalho, correspondente a 50% em relação ao ano de 2009, o que merece ser aprofundado para melhor compreensão da situação de crianças e ado-lescentes inseridos no trabalho informal/ilegal, e o desenvolvimento de medidas de combate a essa situação, no município.

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Tabela 20 - Público atendido no CREAS, por natureza de atendimento, nos anos de 2008, 2009 e 2010 - Governador Valadares/2011.Tipo de Público

Natureza do Atendimen-to

ANO2008 2009 2010 Total

Freq. % Freq. % Freq. % Freq. %Crianças e Adolescentes

Violência Física, Psicológica, Negligência, Abandono e abuso Sexual

77 28,10 110 40,15 87 31,75 274 16,89

Exploração Sexual 5 33,33 6 40,00 4 26,67 15 0,92Trabalho Infantil SI٭ 0 300 64,24 167 35,76 467 28,79

Mulheres Violência Doméstica SI٭ 0 156 56,12 122 43,88 278 17,14Idoso Violência contra o Idoso NA٭٭ 0 107 38,91 168 61,09 275 16,95Adolescentes Cumprimento de Medida

Socioeducativa em meio aberto

SI٭ 0 168 65,88 87 34,12 255 15,72

População em geral

Discriminação por orienta-ção sexual/raça/etnia

SI٭ 0 SI٭ 0 SI٭ 0 SI٭ SI٭

Famílias Descumprimento das condicionalidades do Bolsa Família/PETI

SI٭ 0 35 60,34 23 39,66 58 3,58

Famílias com crianças e adolescentes acolhidos para trabalhar a promoção da família e reintegração familiar

SI٭ 0 SI٭ 0 SI٭ 0 SI٭ SI٭

Total 82 5,06 882 54,38 658 40,57 1622 100,00* Sem informação ** Não atendia

Fonte: Secretaria Municipal de Assistência Social de Governador Valadares

Importante notar que não existe registro, pelo menos informado, do acompanha-mento de famílias com crianças e adolescentes acolhidos. Mesmo assim, a Gestão da Política de Assistência Social enumera as causas do afastamento de crianças e adolescentes de suas famílias, indicando a negligência/abandono como o principal fator, seguido de maus-tratos.

Nas demais situações de risco e vulnerabilidade social que demandam proteção básica e especial da Assistência Social para resgate e manutenção da dignidade hu-mana, sobretudo das famílias, observa-se o avanço conquistado pelo município em estruturar o SUAS, principalmente através dos dois equipamentos focados nessa pesquisa - CRAS e CREAS.

Ainda compõem a Proteção Básica o Benefício de Prestação Continuada e o Pro-grama Bolsa Família, em regular funcionamento. Na Proteção Especial de Média Complexidade, além do CREAS, outros projetos e programas atuam no fortale-cimento dos vínculos enfraquecidos por situação de trabalho infantil, vivência de rua ou vitimização por Crimes Violentos. Na Proteção Social Especial de Alta Complexidade o acolhimento institucional na modalidade “Casa de Passagem

de meninos e meninas”, bem como o acolhimento em família acolhedora, são os principais serviços destinados a crianças e adolescentes. Integra essa proteção o Serviço de Apoio ao Imigrante.

Do ponto de vista estratégico evidencia-se a ausência de indicadores mais asserti-vos de vulnerabilidade e risco social dos territórios locais, bem como de metas a serem alcançadas na superação desses. O planejamento Intersetorial entre as diver-sas políticas setoriais, e a definição de fluxos entre os serviços socioassistenciais, envolvendo, sobretudo, os serviços de acolhimento, ainda não se efetivaram de forma a garantir o fortalecimento dos vínculos familiares, a promoção das famílias e a reintegração dos filhos em situação de acolhimento, com a brevidade prevista no ECA.

Sendo o Estado o responsável primário por gerir todas as políticas públicas, não foi identificada a implantação de uma coordenação pública da política de convivência familiar e comunitária, que funcione para além do repasse de recursos financeiros e coordenação das casas de passagem masculina, feminina e Programa Família Aco-lhedora. É importante que se efetive a gestão da política de convivência familiar e comunitária no município em todas as suas fases: prevenção do rompimento de vínculos; ordenamento do acolhimento familiar e institucional; reestabelecimento dos vínculos; promoção das famílias dos acolhidos; e em último caso, inserção em família substituta. Essa coordenação tem o importante papel de articular a rede de atendimento pública e privada, bem como os setores responsáveis pela promoção, defesa e controle social, responsáveis por efetivar essa política no município.

Essa pesquisa apontou ainda a necessidade de expansão da Assistência Social para outros territórios locais, que vivem situações de risco e vulnerabilidade social, de acordo com indicadores de pobreza apontados pelo Instituto Brasileiro de Geogra-fia e Estatística (IBGE, 2010) em Governador Valadares.

Sugere-se o aprofundamento da avaliação do impacto da política de assistência so-cial, a partir das famílias atendidas, já que essas ainda não participam da avaliação e do monitoramento dos serviços dos quais usufruem. Isso efetivaria a participação democrática e ativa de quem pode contribuir com a construção dessa política, a partir de interesses e demandas próprias.

3.5.2. A percepção dos técnicos do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de Governador Valadares

Segundo as Orientações Técnicas dos Centros de Referência de Assistência Social (Brasil, 2009b), esses equipamentos são responsáveis pelo diagnóstico da situação das famílias atendidas e pela organização e coordenação da rede de serviços so-cioassistenciais locais. Integram-se a outras políticas sociais, e realizam, ainda, a busca ativa de vulnerabilidades e potencialidades na realidade social onde atuam. Devem estar localizados em áreas com maiores índices de vulnerabilidade e ris-co social, devendo constituir-se em espaço de concretização dos direitos socioas-

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sistenciais, nos territórios onde estão implantados. São amplamente reconhecidas como a “porta de entrada” para todas as ações da política de assistência social.

Em Governador Valadares a articulação das unidades dos CRAS com os serviços socioassistencias e políticas públicas municipais ainda apresenta dificuldades que impedem a execução dos serviços de acordo com as orientações e legislações pre-vistas. Estas dificuldades referem-se, segundo os técnicos do CRAS, à comunica-ção ruim e à ausência de interlocução interna.

Quanto à articulação com os serviços de acolhimento, percebe-se a que a relação de integração é tênue, pois ainda prevalece o desconhecimento, por parte da equipe dos CRAS, de quais são os serviços de acolhimento presentes no município e que atendem a crianças e adolescentes. Quando solicitado aos técnicos que relacionem com que serviços de acolhimento os mesmos mantém interlocução, alguns eviden-ciam desconhecimento ao confundir serviços de acolhimento com medida socioe-ducativa de semiliberdade e Vara da Infância e Juventude. Ao mesmo tempo, não relacionam todos os serviços de acolhimento familiar e institucional disponíveis no município para crianças e adolescentes.

Casa de Passagem. (Informante 10)Entramos em contato com o Futuro Feliz, Casa de Passagem Feminina ou Masculina, semiliberdade. (Informante 01)Futuro Feliz, Casa de passagem. (Informante 12)Casa de passagem feminina e masculina. (Informante 14)Casa da Menina, Casa de Passagem Feminina e Masculina, Juizado da Infância e Adolescência. ((Informante 03)

Segundo os informantes a articulação entre o CRAS e serviços de acolhimento acontece por meio de:

Encaminhamentos, contra referência, relatórios, contato pessoal/telefônico e e-mail. (Informante 06) Contatos telefônicos, ofícios, relatórios.... (Informante 10)

Os informantes declaram que as unidades dos CRAS têm alcançado êxito na ar-ticulação com outros serviços da rede, destacando a Polícia Militar, a Secretaria Municipal de Educação, escolas e universidades. Por outro lado, esclarecem que as dificuldades de integração mais preponderantes encontram-se na área da saúde.

No campo do trabalho com as famílias dos acolhidos, não foi identificada nenhu-ma ação que se constitui como um diferencial, construída a partir de um plane-jamento, estabelecimento de estratégia ou mesmo atuação especificamente dire-cionada. As famílias integram-se aos grupos existentes nas unidades dos CRAS e participam das atividades, de acordo com a oferta da unidade. As equipes des-tas unidades enfrentam dificuldades no acompanhamento das famílias. Estas são ocasionadas pela ausência de comunicação das instituições de acolhimento com a unidade CRAS, no momento da reintegração da criança/adolescente à família, e pela deficiência da rede em relação a determinadas demandas, como é o caso da

terapia familiar. Quanto ao desenvolvimento de ações preventivas do afastamen-to do convívio familiar, os informantes afirmam que elas se baseiam em ações e orientações tanto para grupos quanto individuais, sem, no entanto, apresentar detalhamento destas atividades.

A avaliação dos serviços ofertados pelo CRAS à população deve ter como objetivo identificar as deficiências e erradicá-las, transformando a realidade de pobreza e exclusão social e apontando caminhos para superação de equívocos e dificulda-des. A avaliação não é somente desejável, mas necessária à construção de todo o planejamento. A avaliação e o monitoramento devem ser uma função da equipe técnica das unidades dos CRAS. Segundo os técnicos entrevistados a avaliação dos trabalhos realizados pelas unidades dos CRAS local é feita com a participa-ção das famílias atendidas, sendo, na maioria das vezes utilizados questionários e avaliação verbal. Neste aspecto é importante dizer que para que as equipes possam ter elementos e registro destas informações, e estas possam ser consideradas na construção do planejamento, é preciso que sejam aplicadas metodologias capazes de coletar informações de todo o público atendido: idosos, crianças, adultos, ado-lescentes, pessoas alfabetizadas ou não.

Segundo as informações adquiridas a maioria dos técnicos das unidades do CRAS não possuem acesso à listagem das famílias inscritas no CadÚnico, (tabela 21). Além disso, algumas das unidades dos CRAS não possuem diagnóstico de sua área de abrangência, o que dificulta a atuação técnica das equipes e, consequen-temente implica em morosidade na identificação da população mais vulnerável, e que deve ser atendida no referido território. O não ao acesso às informações do CadÚnico reflete na ausência de dados para a vigilância social.

Tabela 21 – Nível de acesso dos técnicos do CRAS, à listagem das Famílias inscritas no CadÚnico - Governador Valadares / 2011

Possui acesso? Frequencia %Sim 7 41,18Não 10 58,82Total 17 100,00

Fonte: Polo de Promoção da Cidadania / UNIVALE

Um avanço constatado nas unidades do CRAS de Governador Valadares é o pla-nejamento e prontuário construídos, de forma padronizada, o que consolida infor-mações para as equipes. No entanto, ainda percebe-se a necessidade de um sistema informatizado para registro das informações levantadas, o que pode traduzir-se em agilidade e segurança para as equipes.

No que diz respeito à infraestrutura, destaca-se que todas as unidades dos CRAS possuem sala de atendimento individual, o que garante a preservação dos usuários. Por outro lado, nem todas as unidades possuem espaços adequados para outras ati-vidades, como sala para atividades em grupo, banheiros que atendam à diversidade

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Tabela 22 - Adequação da infraestrutura nos Centros de Referência da Assistência Social de Governador Valadares - 2011

Infraestrutura dos CRAS / adequação

Opinião dos informantesAtende

totalmenteAtende

parcialmenteNão atende Não

respondeuNão se aplica

Freq. % Freq. % Freq. % Freq. % Freq. %Recepção 5 29,41 7 41,18 0 0,00 5 29,41 0 0,00Sala de atendimento que garanta sigilo

4 23,53 8 47,06 0 0,00 5 29,41 0 0,00

Sala para realização de atividades em grupo

3 17,65 3 17,65 4 23,53 0 0,00 7 41,18

Sala administrativa 3 17,65 7 41,18 0 0,00 3 17,65 4 23,53Copa ou cozinha 8 47,06 5 29,41 0 0,00 4 23,53 0 0,00Banheiros que atendam à diversidade do público

3 17,65 3 17,65 5 29,41 0 0,00 6 35,29

Fonte: Polo de Promoção da Cidadania / UNIVALE

Quanto à diversidade de profissionais para atuarem nas unidades dos CRAS e atender às demandas do território, verifica-se que apesar do cumprimento do que está previsto na lei, as dificuldades persistem. Indicam-se a incorporação de outras categorias profissionais, para um atendimento mais qualificado, tais como: terapeuta ocupacional, educador social, recepcionista, oficineiros, peda-gogo e advogado; além de maior número de psicólogos e assistentes sociais. Estes profissionais podem contribuir não só no atendimento direto ao público, mas também na análise de fenômenos que ocorrem no território, considerando-se a complexidade das famílias atendidas e a quantidade de informações que são geradas nestes espaços. O atendimento qualificado exige capacitação profissional. Desta forma, há uma demanda por parte dos técnicos, de capacitação e de melhores condições para o desenvolvimento das atividades profissionais, ampliando, assim, condições de qualificação do trabalho. Apesar de a maioria ter recebido capacitação para exer-cer suas atividades, é imprescindível que esta seja continuada, principalmente nas temáticas rede, família, proteção social entre outras. Esses temas incidem nas questões da convivência familiar e do fortalecimento dos vínculos, principal-mente de famílias que mais necessitam de apoio e que tenham laços fragilizados no campo sociofamiliar e econômico.

do público e sala administrativa. Desta forma, há necessidade de realizar os ajustes necessários para um melhor funcionamento.

Em relação aos recursos necessários ao funcionamento das unidades dos CRAS, (veículo para visitas domiciliares, iluminação/ventilação/conservação/salubrida-de/limpeza e segurança) observa-se que eles necessitam ser revistos, para a ga-rantia das ações das equipes. Quanto às condições do imóvel onde funcionam as unidades dos CRAS, também se observa que não atende totalmente às demandas da equipe, conforme revela a tabela 22.

Qualificação é sempre importante para o crescimento de um profissional, sendo sempre necessário, mas acredito que há necessidade de melhoria no conhecimento na área da saúde. (Informante 01)

Escuta, entrevista e o conhecimento detalhado de toda a rede. Eu o tenho e conhe-ço, mas não detalhadamente. (Informante 02).

Penso que a qualificação deve ser continuada para toda a equipe e sempre que houver capacitação de outros serviços da rede possibilitar a participação da equi-pe do CRAS. (Informante 03)

É sempre bom a qualificação e aprofundamento dentro da própria área de atua-ção, por isso busco conhecimento dentro da Política de Assistência Social, con-tudo não “descarto” conhecimentos relativos à outras áreas (saúde, educação...) uma vez que devem se relacionar. (Informante 04).

Quanto às atividades realizadas pelas equipes dos CRAS, estas são diversificadas e nem sempre a equipe tem os meios necessários para sua execução. Dentre as dificuldades apontadas para realização destas atividades sobressaem a ausência de veículo para visita domiciliar; a falta de um espaço para realização de ativida-des internas; a ausência do material pedagógico para as oficinas; as dificuldades relacionadas com a realização de trabalho, motivadas por questões externas, como por exemplo, o acesso às famílias que residem em áreas onde a presença do tráfico é ostensiva.

Os desafios apontados nas entrevistas para o enfrentamento das vulnerabilidades nos territórios onde estão inseridas as unidades dos CRAS, são considerados com-plexos. Os informantes sinalizam como sendo o principal deles a necessidade de priorização de veículos para visitas domiciliares em virtude da grande demanda de famílias a serem acompanhadas. As localidades onde os CRAS funcionam são comunidades com cobertura de grande extensão territorial, a ser coberta, o que dificulta o trabalho dos técnicos, se não há veiculo para deslocamento. Não temos um veículo para atender uma proporção maior de famílias vulnerabi-lizadas no território do CRAS. Outro desafio é a área de abrangência do CRAS, 4 ou 5 vezes maior que a do território do CRAS, trabalhamos nos limites humanos e materiais. (Informante 02)

Veículo próprio permanente; equipe reduzida de profissionais; agilização nos pro-cessos de licitação e a falta de disponibilização dos dados do cadastro único. (Informante 13)

Falta do veículo permanente para realização de visitas, equipe reduzida de pro-fissional, a falta de agilização nos processos de licitação e a falta de disponibi-lização dos dados contidos no CAD Único. A falta de acesso à internet e falta de espaço adequado na realização dos grupos. (Informante 15)

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Falta de veículo permanente; equipe reduzida de profissionais; a falta de disponi-bilidade de dados contidos no CAD Único. (Informante 16)

Foram apontados, ainda, um conjunto de outros desafios, que se constituem meios necessários para execução do trabalho, tais como: recursos humanos, espaço físi-co adequado, recursos materiais, equipamentos, autonomia profissional, falta de articulação com a rede, dentre outros, nem sempre favoráveis e disponíveis para alcançar os objetivos propostos por estas equipes. Há de se considerar, ainda, aque-les desafios que se relacionam à burocracia do poder público, à falta de disponibi-lização dos dados do Cadastro Único, à dificuldade na agilização dos processos de licitação e a implantação de novas unidades dos CRAS.

Quando solicitado aos técnicos que relacionassem as ações realizadas para preven-ção das situações de risco familiar, em decorrência da pobreza, privação e acesso a serviços públicos fundamentais os informantes não trouxeram elementos para além das atribuições próprias da equipe técnica. Percebe-se, portanto, que elas não se configuram uma estratégia planejada e articulada com as demandas locais.

Quando perguntados sobre os impactos positivos observados na população usuá-ria, desde a implantação do CRAS no território, não foram apresentados resultados quantitativos/ qualitativos compartilhados e com base em relatórios gerenciais de avaliação e monitoramento. Foram apenas indicadas opiniões pessoais.

Os serviços de proteção social executados pelas unidades do CRAS têm grande re-levância dentro da Política Municipal de Assistência Social, e suas ações devem manter-se centradas na família, oferecendo à mesma o desenvolvimento humano necessário. Assim cumpre-se o papel primordial de prevenção de situações de riscos. O trabalho central deve partir de equipes coesas e dispostas a investir no potencial destas famílias, daí a necessidade da equipe ser composta por profissionais concur-sados que desenvolvam um trabalho qualificado e continuado.

3.5.3. A percepção dos técnicos do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) de Governador Valadares.

O SUAS prevê a criação do CREAS, considerado uma unidade pública estatal, que tem como papel constituir-se como um lugar de referência da oferta de traba-lho social especializado e voltado para o atendimento de famílias e indivíduos em situação de risco pessoal e social, causado por violação de direitos. Para alcançar este objetivo o CREAS deve estabelecer uma articulação intensa com o Sistema de Garantia de Direitos, e, da mesma forma, uma articulação com a rede socioassis-tencial e com as demais políticas públicas municipais.

Conforme aponta a pesquisa realizada com os técnicos do CREAS de Governador Valadares, há uma considerável fragilidade entre esse serviço e o Sistema de Ga-rantia de Direitos, as políticas públicas e a rede socioassistencial. Embora dez (10) informantes indiquem a existência de fluxos de referência e contra-referência entre esses serviços as políticas setoriais e os órgão de defesa de direitos, observa-se na tabela abaixo uma avaliação regular do seu funcionamento.

Tabela 23 - Opinião dos informantes sobre o funcionamento dos fluxos de referência e contra-referência entre a rede socioassistencial, políticas setoriais e órgãos de defesa de direitos. CREAS - Governador Valadares / 2011

Avaliação RespostasFrequencia %

Ótimo 0 0,0Bom 1 10,0Regular 7 70,0Ruim 1 10,0Péssimo 1 10,0Total 10 100,0

Fonte: Polo de Promoção da Cidadania / UNIVALE

O funcionamento da rede de defesa e proteção pode resultar em atendimento mais qualificado e no fortalecimento do CREAS. Através dele pode-se alcançar a iden-tificação das funções dos envolvidos na rede, o estreitamento das relações insti-tucionais e a maior proximidade com as políticas públicas. No que diz respeito à interlocução especifica com os serviços de acolhimento, observa-se o desconheci-mento de alguns destes serviços, que não chegaram nem mesmo a ser citados pelos informantes. Tal situação traduz o distanciamento entre estes serviços e o CREAS.

O trabalho com as famílias é considerado o principio matricial e ordenador das ações desenvolvidas pela política de assistência social. Observa-se que a inovação da PNAS (Brasil, 2004 a) consiste justamente numa mudança na abordagem fa-miliar, visando romper, de forma definitiva, com as tendências conservadoras que permearam as políticas públicas até então. Tal princípio torna-se mais imperativo quando se tratam de famílias em situação de rompimento dos vínculos familiares, como as famílias que tem filhos acolhidos.

Os técnicos do CREAS declaram a existência de trabalhos com as famílias que tem filhos acolhidos, sendo as principais atividades desenvolvidas com as mesmas a vi-sita domiciliar, os atendimentos individuais e em grupo (reflexão, socioeducativos, convivência, de adolescentes, de pais), cursos, os encaminhamentos para a rede e o estudo de caso. No entanto, as informações não apresentam associação entre estas atividades e o atendimento do princípio de brevidade da medida de acolhimento. É possível detectar, ainda, um considerável desconhecimento, por parte dos técnicos de quais são os serviços de acolhimento institucional e familiar em funcionamento nesta cidade.

Contatos com instituições, Albergue, Missão Vida, ADQF, Casa de Abrigo, Dejord etc. (Informante 06)

Centro de Internação (CIA), Abrigos, Casas de Passagem... (Informante 05)

Casa de Passagem masculina e feminina, Casa Abrigo, Casa das Meninas, Cidade dos Meninos. (Informante 02)

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Em termos do funcionamento interno do CREAS, existe um planejamento das ati-vidades, que são registradas em instrumento próprio e num sistema informatizado. Quanto à infraestrutura, verificou-se que esta não atende totalmente à diversidade de serviços que são ofertados em suas instalações. Este é o caso da inadequação da sala para atendimento em grupo, que é pouco iluminada e problemas relacionados com a ventilação, conservação, salubridade, limpeza e acessibilidade para idosos. O CREAS possui alguns equipamentos e materiais de apoio, como impressora, computadores e veículos com motorista. No entanto equipamento multimídia e os materiais pedagógicos, culturais e esportivos são considerados deficientes.

A localização geográfica e a estrutura física são pontos importantes para os ser-viços prestados pelo CREAS, conforme está previsto em leis vigentes. Desta ma-neira, é imprescindível que o espaço físico do CREAS tenha condições de ofertar atividades e que as mesmas possam alcançar seus objetivos e metas. Em Governa-dor Valadares, a dificuldade de acessibilidade e a ausência placa informativa dos serviços são aspectos que devem ser revistos. (Tabela 24)

Tabela 24 – Avaliação da infra-estrutura do CREAS de Governador Valadares, considerando-se a ad-equação dos ambientes às exigências legais.Espaços Físicos Avaliação

Atende totalmente

Atende parcialmente

Não atende Não respondeu

Freq. % Freq. % Freq. % Freq. %Recepção 8 61,54 4 30,77 1 7,69 0 0Sala de atendimento que garanta sigilo

5 38,46 5 38,46 1 7,69 2 15,38

Sala para atendimento em grupo 3 23,08 9 69,23 0 0,00 1 7,69Sala de coordenação 1 7,69 5 38,46 2 15,38 5 38,46Copa ou cozinha 8 61,54 4 30,77 0 0,00 1 7,69Banheiros para funcionários 7 53,85 5 38,46 0 0,00 1 7,69Banheiros para usuários 6 46,15 5 38,46 0 0,00 2 15,38Arquivos para prontuários com acesso restrito

2 15,38 5 38,46 1 7,69 5 38,46

Local disponível para informações sobre o serviço

2 15,38 4 30,77 0 0,00 7 53,85

Acessibilidade para deficientes 2 15,38 2 15,38 2 15,38 7 53,85Acessibilidade para idosos 1 7,69 8 61,54 1 7,69 3 23,08Iluminação, ventilação, conservação, salubridade e limpeza

3 23,08 8 61,54 0 0,00 2 15,38

Segurança aos funcionários e público atendido

4 30,77 2 15,38 0 0,00 7 53,85

Fonte: Polo de Promoção da Cidadania / UNIVALE

Os dados referentes ao quadro técnico sinalizam que o número de assistentes sociais e advogados existentes no CREAS de Governador Valadares atende às demandas apresentadas. Ainda percebe-se a necessidade de ampliação do núme-ro de psicólogos, vigia e auxiliares administrativos.

Em relação às atividades desenvolvidas pelo CREAS com as famílias e institui-ções, observa-se que muitos desafios são enfrentados. Entretanto, a dependência química merece destaque, indicando a necessidade de uma maior incidência sobre a formulação, implementação e avaliação da política sobre drogas no município e no Estado, levantando-se as condições dos serviços voltados para este público, de forma a não ignorar esta demanda. Entendendo a família como espaço de proteção e cuidado, mas também como um lugar que pode ser permeado por conflitos e vio-lação de direitos, deve-se considerar a necessidade de intervenções neste ambien-te. Porém, para que isso ocorra, é necessário o rompimento com o paradigma de responsabilização da família como única responsável por suas dificuldades. Outros investimentos na família devem ser propostos, mudando-se as estratégias constru-ídas até o momento, o que pode ocasionar reações positivas da família frente às dificuldades externas que enfrentam e suas próprias limitações. O trabalho com famílias depende não só da equipe técnica que atua direta-mente com elas, que deve ter uma atitude proativa e colocar seu conhecimento teórico-metológico na execução de seu trabalho, mas também do gestor, que oferece as condições necessárias para o desenvolvimento das atividades no CREAS e no CRAS.

No que se refere à aplicação das medidas sócio-educativas de Liberdade As-sistida e de Prestação de Serviços à Comunidade, não foram apontadas nesse levantamento, as ações para atingir a redução da reincidência do ato infracional, fato que sinaliza o desconhecimento da equipe técnica em relação as ações de-senvolvidas com este público, indicando ainda que possivelmente cada equipe faça o planejamento de suas ações de forma isolada e que o planejamento e as informações construídas não sejam socializadas.

Não se observou informações acerca da articulação dos diversos órgãos para enfrentamento da situação infracional de adolescentes. A ausência de estratégias desta natureza fere o Princípio da Integração Operacional, previsto no ECA, onde se afirma a necessidade da atuação convergente e intercomplementar dos órgãos do Judiciário, Ministério Público, Segurança Pública e Assistência So-cial, no atendimento ao adolescente a que se atribua autoria de ato infracional.

Para os técnicos do CREAS muitas dificuldades são encontradas entre as famí-lias de adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa em meio aberto, são apontados a não adesão à proposta de trabalho, e a negligência ou fragilidade dos vínculos familiares. Neste contexto, observa-se que outras demandas são impeditivas à adesão da família ao programa, mas elas não foram mencionadas na entrevista realizada. São elas: como a presença de doenças crônicas; o so-frimento mental; a dependência química; as condições precárias de trabalho e habitação; e o não acesso a serviços básicos. Isso pode repercutir no abandono das atividades desenvolvidas pelo CREAS. Assim como no CRAS, a qualificação profissional da equipe técnica aparece como um fator de relevância, para os informantes do CREAS, já que as dife-rentes frentes de trabalho neste espaço demandam conhecimentos aprofunda-dos. Daí justifica-se que o CREAS deve contar com profissionais capacitados

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e em número suficiente para prestar atendimento de qualidade aos usuários. Neste aspecto, considera-se há uma demanda expressiva dos profissionais que reconhecem a importância de permanente atualização. A capacitação deve en-volver diversas etapas, temas e aspectos, que permitam: a compreensão e o mapeamento das situações de vulnerabilidades e riscos sociais do território; os fundamentos éticos, legais, teóricos e metodológicos do trabalho social com famílias, seus membros e indivíduos; o trabalho em rede; o trabalho com gru-pos de indivíduos e famílias; a utilização de metodologias participativas no trabalho social com famílias, grupos e indivíduos; a caracterização e o mapea-mento da rede prestadora de serviços do município e da região; a identificação das atribuições dos órgãos de defesa de direitos (Varas do Poder Judiciário; Defensoria Pública, Ministério Público; etc); o conhecimento da legislação e das normativas vigentes. (Guia de Orientação CREAS).

O público atendido no CREAS caracteriza-se por ter os seus direitos violados, embo-ra, em algumas situações, com permanência dos vínculos familiares e comunitários. Desta forma exigem um atendimento particularizado, de acordo com a especificida-de de cada demanda. Contudo, na entrevista não foi possível identificar a existência de atividades que se definam como uma atenção diferenciada, considerando parti-cularidades como a questão sociocultural ou comunitária de cada uma das famílias.

A pesquisa indagou sobre os impactos sociais favoráveis para os usuários, com a implantação do CREAS no município. Segundo os técnicos, o CREAS se afirmou, junto à população, como um Serviço de Proteção Social, tendo reconhecimento e clareza de suas funções. Por outro lado, os técnicos se ressentem da extinção de serviços e projetos específicos, principalmente daqueles voltados para a mulher vítima de violência. Vale recorrer às falas dos entrevistados:

Uma maior clareza no papel do CREAS. (Informante 03)

Vínculo construído com a população de rua, minimização da reincidência do-méstica para mulheres, vínculos familiares de idosos fortalecidos, trabalho com crianças e adolescentes vítimas de violência sexual no sentido de minimizar o im-pacto e danos do ato, adolescentes rompendo com a violência sofrida, famílias de crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil. (Informante 05)

Hoje percebe-se um aumento da demanda pelos serviços ofertados no CREAS.(Informante 06)

Em geral os impactos provocados são positivos. (Informante 08)

De uma forma geral, o impacto foi positivo para a população usuária, porem, para a mulher vitima de violência domestica o impacto foi negativo, pois não exis-te mais o centro de referencia especifico de atendimento à mulher. (Informante 11)

Crescimento e qualificação de serviços nos equipamentos existentes no CREAS. Finalmente a presença do CREAS enquanto política publica é muito positiva em Governador Valadares. (Informante 12)

Não foram elencados os impactos para a população atendida, ou mesmo infor-mações que demonstrem se ocorreu a reparação da situação de violência vivi-da e a reconstrução de suas relações familiares como preconizam as diretrizes do SUAS/CREAS. Isso apesar do Manual de Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistencial (Resolução nº109/2009) orientar para o alcance dos seguintes resultados esperados: redução das violações dos direitos socioassistenciais, seus agravamentos ou reincidência; orientação e proteção social a famílias e indi-víduos; acesso a serviços socioassistenciais e das políticas públicas setoriais; identificação de situações de violação de direitos socioassistenciais; melhoria da qualidade de vida das famílias.

Não é apenas uma política pública que conseguirá atender as famílias, nas suas complexas necessidades, mas, o conjunto destas. Torna-se imprescindível que a família seja atendida nas suas diferentes demandas: habitação, saúde, trabalho, segurança, educação, assistência social e renda reforçando-se assim, a necessidade de outras políticas setoriais atuarem junto ao CREAS.

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3.6. EDUCAÇÃO

A fim de obter informações a respeito de como as redes de ensino municipal e estadual vem promovendo as famílias - cujos membros são atendidos direta ou indiretamente pelos respectivos sistemas de educação – buscou-se conhe-cer o cenário da educação formal da criança e do adolescente, no município de Governador Valadares. Para tal, foi realizado levantamento de dados e in-formações, junto aos gestores centrais da 13ª Superintendência Regional de Ensino (13ª SRE) e da Secretaria Municipal de Educação (SMED) e dos técni-cos responsáveis pelos diferentes segmentos do ensino36. Foram analisados os seguintes eixos: atendimento educacional; avaliação da política de educação; a promoção da família pela educação escolar.

No tocante à educação escolar, a partir da leitura dos dados da Tabela 25, quanto ao número de matrículas por segmento de ensino, observa-se que a maior parte das matrículas da Educação Básica (60%) é referente ao Ensino Fundamental. Este percentual se justifica pelo fato do Ensino Fundamental ser o único segmento de ensino obrigatório até novembro de 200937.

A menor parte das matrículas concentra-se na Educação Infantil (10,9%) e na EJA (12%). Observa-se que, apesar de haver 24.751 crianças de 0 a 5 anos no município, segundo Cadastro do Departamento de Organização Escolar (DOE/ SMED), apenas 6.499 estão matriculadas na educação infantil.

Destaca-se, que não há, no âmbito da gestão municipal e estadual de ensino, informações relativas à EJA não formal/ salas de alfabetização, onde estaria um quantitativo de jovens e adultos interessados em continuar os estudos no ensino fundamental.

36 Para a obtenção das informações, foi realizado levantamento de dados quantitativos com base no Educacenso e de informações qualitativas, a partir de uma entrevista estruturada a ser realizada junto a 5 gestores da SMED. Pretendia-se realizar entrevista com 4 gestores da 13ª SRE, entretanto esses não responderam a este instrumental. Somente obtivemos, portanto, dados quantitativos.

37 A Emenda Constitucional nº 59, de 11 de novembro de 2009 ampliou a educação básica obrigatória, que passou a cobrir dos 4 aos 17 anos. Observa-se, entretanto, que os Estados e Municípios terão até 2016 para se adequarem integralmente ao que determina a emenda.

Segmentos Educacionais Número de MatrículasABS %

Educação Infantil 6499 10,9Anos Iniciais do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano)

24045 40,3

Anos Finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano)

11755 19,7

EJA Anos Iniciais 3599 6,0EJA Anos Finais 739 1,2EJA Ensino Médio 2852 4,8Ensino Médio 10197 17,1Total 59686 100

Fonte: Cadastro do Departamento de Organização Escolar – DOE/SMED e EDUCACENSO38

Tabela 25 – Número de matrículas, por segmento educacional do sistema público de Governador Valadares/2011.

No que se refere à demanda por vagas, o quadro 06 indica uma demanda estima-da para a educação infantil de 16.809 crianças, ou seja, a maior parte das crianças aptas a frequentarem este segmento, (67,9%) estão fora da escola. Para a EJA, anos iniciais, encontramos uma demanda estimada (18.000 pessoas) bem maior do que a registrada (800 pessoas).

Destaca-se que o município já estabeleceu metas para atender a estas demandas, mas se torna fundamental promover um levantamento preciso de demanda repri-mida por segmento de ensino. Sugere-se que este levantamento deve ter um as-pecto qualitativo e incorpore informações socioeconômicas e culturais a respeito das famílias, bem como de suas necessidades de atendimento. Este levantamento de dados, na educação infantil, traria informações mais precisas que possibili-tariam conhecer melhor as famílias e suas demandas e cumprir efetivamente as metas para este segmento indicadas pelo PNE 2011-2020, que está sendo votado no Congresso Nacional.

Na presente investigação, não foi possível obter informações em relação à deman-da registrada e estimada39 para os anos finais da EJA, como também para o Ensino Médio e a EJA Ensino Médio, pois a 13ª Superintendência de Ensino não forneceu estes dados.

38 Educacenso - O Educacenso é uma radiografia detalhada do sistema educacional brasilei-ro. A ferramenta permite obter dados individualizados de cada estudante, professor, turma e escola do país, tanto das redes públicas (federal, estaduais e municipais) quanto da rede privada. Todo o levantamento é feito pela internet (BRASIL, 2012)

39 O registro dos dados do sistema educacenso traz os termos demanda registrada e demanda estimada, a fim de indicar, respectivamente, o quantitativo relativo ao número de vagas de matrícula demandadas pela população e registrado pelo município e o quantitativo relativo ao número estimado de vagas pela SMED para atender a população

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Quadro 06- Demanda registrada e demanda estimada da Educação Infantil, Ensino Fundamental e EJA, na Rede Pública de Ensino em Governador Valadares/2011.

Segmentos Educacionais Demanda registrada Demanda estimadaEducação Infantil ---- 16809Ensino Fundamental ---- 740EJA Anos Iniciais 800 18000

Fonte: Cadastro do Departamento de Organização Escolar – DOE/ SMED

Quando perguntado sobre o percentual de evasão escolar na rede pública estadu-al, não foram obtidas informações. Segundo o gestor da 13ª SRE, responsável por estas informações, a evasão nas escolas estaduais é calculada pelas escolas e não estavam acessíveis pelo sistema do Educacenso. Já a SMED informou, um percentual de 12% de evasão no Ensino Fundamental na rede pública municipal, percentual maior do que a média nacional que é de 3,1% (SINDICATO DOS PROFESSORES E SERVIDORES DO ESTADO DO CEARÁ, 2012).

A SMED informou, ainda, que a evasão dos anos iniciais da EJA é de 50%. Este alto índice de evasão na EJA é comum, devido a diversos fatores, já indi-cados por pesquisas na área, tais como, a dificuldade dos alunos trabalharem e estudarem e, por vezes, o fato de que as escolas reproduzem normas, práticas e currículos voltados para crianças sem atender às especificidades geracionais dos sujeitos que participam deste segmento (jovens, adultos e idosos) (OLIVEI-RA,2001; ALVARENGA, CORREA e SOUZA,2006; CORREA, BICALHO e SOUZA,2003). Quanto à educação infantil, os informantes da SMED disseram que não há dados relativos à evasão.

De acordo com a Tabela 26, que apresenta dados relativos aos alunos com defici-ência, o maior percentual de inclusão escolar se encontra no Ensino Fundamental (64,4%). Os anos iniciais da EJA abrigam 23,9%.

Com surpresa, nota-se o baixo percentual de crianças com deficiência na educação infantil, visto que este segmento de ensino, por não trabalhar com conteúdos e ava-liação pré-determinados, bem como, não submeter-se a tempos e espaços rígidos, permite experiências que respeitam o ritmo e a aprendizagem da criança. Uma possível hipótese para esta situação é o fato de os pais de crianças com deficiência desconhecerem o potencial de inclusão oferecido por este segmento, em especial no tocante à estimulação precoce, para que estas crianças consigam alcançar con-dições de desenvolvimento de habilidades fundamentais, para a vida escolar e para a vida social. Esta questão merece ser melhor aprofundada, por meio da realização de pesquisas específicas sobre o assunto.

Tabela 26 – Inclusão escolar de alunos com deficiência na Escola Pública de Governador Valadares, por segmento Educacional.

Segmentos Educacionais Número de AlunosABS %

Educação Infantil 38 8,4Anos Iniciais Ensino Fundamental 255 56Anos Finais Ensino Fundamental 38 8,4EJA, Anos Iniciais Ensino Fundamental 109 23,9EJA Anos Finais Ensino Fundamental 4 0,9EJA Ens. Médio 3 0,6Ensino Médio 8 1,8Total 455 100

Fonte: Cadastro do Departamento de Organização Escolar – DOE/ SMED e EDUCACENSO 2011

No desenvolvimento das ações da política educacional observa-se por meio das entrevistas, que não há efetivamente uma parceria entre a Educação e de-mais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos (Polícia, CT, Serviços de Aco-lhimento Institucional ou Familiar, dentre outros). Uma informação bastante relevante é o desconhecimento sobre se é realizado o atendimento às crianças em acolhimento institucional.

Governador Valadares implementou a Escola de Tempo Integral, mas observa-se nas entrevistas que há uma visão errônea sobre os objetivos do aumento do tempo escolar no sentido de que o aumento do tempo deve visar o afastamento da criança de sua família se a avaliação da situação familiar for negativa.

Ainda há visão preconceituosa em relação à organização familiar, com uso das denominações “famílias estruturadas” e “famílias desestruturadas”. Esta visão é identificada, nesta pesquisa, por nós como uma dificuldade para a promoção da família, acentuada por não haver uma concepção de convivência familiar e comunitária compartilhada institucionalmente pela gestão do sistema municipal de ensino. Cada informante compreende a convivência familiar e comunitária de modo diferente.

Assim, apesar do Centro de Referência e Apoio à Educação Inclusiva (CRAEDI) informar que realiza apoio e orientação aos pais de crianças com deficiência, os informantes não conseguem identificar ações de promoção da família pelo sistema, ou pelas escolas. Desenvolvem, sim, serviços e propostas que atendem o indivíduo e são próprias da educação escolar. Portanto, não se consegue identificar, para constituição de projetos, as necessidades educacionais mais específicas das famí-lias/ comunidades, no tocante à convivência familiar e comunitária.

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O Município tem trabalhado no sentido de alcançar metas importantes para o de-senvolvimento de um trabalho de efetiva atenção à população no tocante à edu-cação escolar. De acordo com o Portal da Prefeitura Municipal40, dentre as metas a serem alcançadas pela Secretaria Municipal de Educação está a criação de 800 novas vagas na Educação Infantil a cada ano (já foram criadas 2 mil vagas) e a redução do analfabetismo da população acima de 15 anos em 3%, inclusive com a implantação do Programa Nacional de Inclusão de Jovens (PROJOVEM).

A implantação da Escola de Tempo Integral é um avanço, avaliado positivamente por todos os informantes e reconhecido como resposta a problemas relacionados ao atendimento escolar. Mas observa-se que não basta o tempo integral. É neces-sário estabelecer progressivamente, concepções e práticas de educação integral, compreendida como: [...] uma educação que englobe formação e informação; que compreenda outras atividades – não apenas as pedagógicas – para a construção da cidadania partícipe e responsável (COELHO, 20004, p. 04)

Por outro lado, observa-se que, apesar da legislação educacional prever a articula-ção entre família e escola e destacar esta articulação como objetivo do ensino fun-damental, portanto, responsabilidade dos sistemas e instituições de ensino, o forta-lecimento dos vínculos familiares como o foco das políticas públicas de educação é no atendimento ao indivíduo, descolado do contexto familiar e comunitário.

Entretanto, pelas mudanças ocorridas no âmbito das políticas de educação e da infância a partir dos anos 1980, podemos vislumbrar a possibilidade da educação escolar ampliar o seu olhar, do sujeito para a família, a fim de cumprir o papel social de atender este sujeito nas suas necessidades básicas de aprendizagem, promovendo a integração dos processos formativos. Neste sentido, é necessário conhecer e incluir as famílias na escola e promover o direito à convivência fa-miliar e comunitária como condição sem a qual não se efetiva o direito humano à educação.

A Escola Democrática é uma instituição ainda em construção, que trabalha na perspectiva da efetivação dos direitos da infância a partir das orientações da política pública de educação e que tem o dever de promovê-los ao compor o Sistema de Garantia de Direitos.

40 Disponível em http://www.valadares.mg.gov.br/current/portal/planos_e_metas e consultado em 08 de março de 2012

[...] é preciso não apenas que ela se fortaleça, mas todo o Sistema de Garantia de Direitos do qual a escola faz parte. O problema é que ainda hoje as instituições de ensino tem dificuldade de se assumir como parte dessa grande rede. E o próprio Sistema de Garantia de Direitos por sua vez, em geral, não a reconhece como tal (UNICEF, 2009, p. 120)

Um primeiro passo na superação deste problema é a articulação entre a política de educação e a política de assistência, articulação que proporcione aos sistemas públicos de ensino o conhecimento e a ampliação de um trabalho voltado para as necessidades das famílias, cujos membros, direta ou indiretamente, são atendidos por estes sistemas.

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3.7. SAÚDE MENTAL

Esta pesquisa teve por objetivo conhecer a política de atendimento e os servi-ços especializados em saúde mental disponibilizados às crianças e adolescen-tes no município de Governador Valadares. Para tal foi investigado apenas o campo da saúde mental seguindo as orientações da Resolução Conjunta CNAS e CONANDA de nº 01, de 09 de junho de 2010.

Com a finalidade de indicar as principais potencialidades e dificuldades no campo da política e dos serviços em saúde mental do município de Governador Valada-res, algumas variáveis foram verificadas, como: a política e os serviços de atendi-mento, em saúde mental, disponibilizados a crianças e adolescentes no município; os serviços especializados em saúde mental disponíveis no mesmo; a adequação destes com à lei 10.216 de 06/04/2001 e a legislação vigente; e a observância da existência de política ou serviços de fortalecimento dos laços familiares e/ou pre-venção do afastamento de crianças e adolescentes do convívio familiar e comuni-tário por situações relacionadas à saúde mental.

Constituíram objeto dessa pesquisa: a Secretaria Municipal de Saúde de Gover-nador Valadares; Centros de Atenção Psicossocial II (CERSAM); e o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Droga (CAPS ad). Não foram investigados o Am-bulatório de Saúde Mental e o Centro de Convivência, uma vez que esses serviços não trabalham diretamente com o atendimento a crianças e adolescentes. A meto-dologia utilizada foi pesquisa de campo, com entrevistas estruturadas. Participa-ram como informantes o Gestor e os Coordenadores dos serviços. Os dados foram analisados de forma qualitativa, com base no referencial teórico relacionado com a política de saúde mental e a legislação vigente.

Os dados apurados revelam que, atualmente, Governador Valadares possui os se-guintes serviços para o atendimento em saúde mental: um Centro de Atenção Psi-cossocial (CERSAM); um Centro de Atenção Psicossocial Álcool o Drogas (CAPS ad); um Ambulatório de Saúde Mental; e um Centro de Convivência. Contudo, a política de atendimento em saúde mental, no município não dispõe de um serviço especializado para o atendimento especializado para crianças e adolescentes.

Tais serviços são realizados pelo CERSAM, que acolhe e encaminha os usuários para o Centro de Referência e Apoio a Educação Inclusiva (CRAEDI), para o Serviço de Psicologia Aplicada (UNIVALE), e para a Neurologia. Já no CAPS ad o serviço oferecido às crianças e adolescentes é o mesmo ofertado para o adulto. Estes são de atenção semi-intensiva.

Governador Valadares, conforme orientações da Portaria nº 336/GM, de 19 de fe-vereiro de 2002, possui um contingente populacional suficiente para requisitar o CAPS’i. Acrescenta-se o fato de que o município é referência em serviços de saúde mental para outros 24 municípios da micro região, fator que eleva o número da população assistida e sobrecarrega a estrutura e serviços humanos disponíveis.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde os serviços prestados pelos CAPS, no município, estão de acordo com a lei 10216 e portaria GM 336/2002. São apon-tados como potencialidades dos serviços o corpo profissional, caracterizado por ser composto por equipes completas, qualificadas, em sua maioria efetiva, com es-pecialização e experiência na área. A informante ressalta que as atividades propos-tas nos serviços estão de acordo com a política de saúde mental, que tais serviços contam com estrutura física de fácil acesso e os usuários recebem quase todos os medicamentos prescritos e ajuda para custearem o transporte. Porém, afirma que há dificuldades na manutenção dos serviços, principalmente os referentes à infra-estrutura física e aos recursos não reajustados às necessidades internas.

Conclui-se assim que a efetivação de uma política de fortalecimento dos laços familiares e comunitários e de prevenção do afastamento do convívio familiar dos usuários dos serviços de saúde mental, ainda não avançou para além dos procedi-mentos e das ações dos serviços oferecidos nos próprios CAPS.

Questionados sobre a estratégia utilizada para a promoção da adesão de usuários e familiares ao tratamento, são citadas pelos entrevistados iniciativas como: cam-panhas publicitárias na mídia local, além das atividades próprias dos serviços de atenção à saúde mental para com a comunidade.

A articulação com outras políticas públicas setoriais do município, para a promo-ção do usuário e de suas famílias são citadas destacando-se as atividades ofereci-das nos diversos serviços, em parceria com a assistência social e o judiciário.

Nos CAPS pesquisados são oferecidos os serviços de atenção à saúde mental nas modalidades intensivas, semi intensivas e não intensivas, com atividades de acom-panhamento em clínica médica e psiquiátrica, psicoterapia, terapia ocupacional, assistência social, orientação de familiares e atividades de inserção social. Ne-nhum desses é especializado para crianças e adolescentes. Neles a modalidade mais acessada é a não intensiva (de 1 a três vezes ao mês) para atendimento mé-dico psiquiátrico, psicológico e assistencial, onde são recebidos em sua maioria, pacientes em surtos ou com quadros de desestabilização psíquica.

Não há hoje, no município, um serviço ambulatorial de atenção contínua - 24 ho-ras. Os usuários que necessitam desse serviço são levados ao Hospital Municipal onde pernoitam ou são encaminhados para a internação integral, em Hospital psi-quiátrico, em Belo Horizonte. Usuários de menor gravidade são acolhidos no Al-bergue municipal ou na Comunidade Terapêutica – ADQF, onde há um convênio para 20 leitos.

Um dado importante é o desconhecimento, por parte da política e dos serviços de saúde mental, do município, da demanda e perfil dos usuários, pois até o momento dessa pesquisa não existia um levantamento do número de pessoas portadoras de transtorno mental grave e moderado, e dos portadores de trans-torno mental grave e moderado resultante do uso indevido de álcool e drogas. Essa situação dificulta a identificação da real necessidade da população local no campo da política de saúde mental.

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Conclui-se que cabe à política e aos serviços de saúde mental, neste município, promover o acolhimento e a atenção às pessoas com transtornos mentais graves e persistentes e preservar e fortalecer os laços sociais do usuário, em seu território. Ou seja, realizar uma nova clínica produtora de autonomia, responsabilização e protagonismo do usuário. Durante o seu tratamento devem também disponibilizar aos usuários um serviço de saúde mental aberto, comunitário, diário, promoven-do a reinserção social dos assistidos, através do trabalho, do lazer, exercício dos direitos civis e do fortalecimento dos laços familiares e comunitários. Tudo isso é negligenciado por esta política e pelos seus serviços, uma vez que este não possibi-lita a uma parcela significativa dos usuários infanto-juvenis o acesso e tratamento especializado. E por se tratarem de crianças e adolescentes deveriam ser priorita-riamente assistidos e garantidos, em seus direitos.

41 Considerando-se pobreza as pessoas que vivem com rendimento mensal de até 1/2 salário mínimo familiar per capita (IBGE,2011)42 Considerando-se extrema pobreza as pessoas que vivem com 1/4 do salário mínimo familiar per capita (IBGE, 2011),

3.8. GERAÇÃO DE EMPREGO E RENDA

Segundo dados do IBGE (2010) Governador Valadares possui uma população de 263.689 habitantes, e um Índice de Desenvolvimento Humano da Dimensão Renda (IDH-R) de 0,699. Apesar de estar próximo do índice considerado médio, quando associado à desigualdade social verificada pelo coeficiente de Gini, que no muni-cípio é de 0,41, segundo o IBGE (2010), sugere-se que a população do município tem renda per capita relativamente baixa e com um grande índice de desigualdade.

Daí a importância de se pesquisar sobre as iniciativas da Política de Geração de Emprego e Renda no município, com o objetivo de identificar os programas, pro-jetos e ações desenvolvidos no campo da política de geração de trabalho e renda e oferecidos à população em Governador Valadares. Neste caso, deve-se analisar a sua suficiência em relação ao número de famílias que vivem abaixo da linha de pobreza41 e em extrema pobreza42. O objeto da pesquisa, no setor privado, foi o Sistema S - Entidades que compõem os Serviços Sociais Autônomos no campo de capacitação e aprimoramento do Trabalho, Emprego e Renda. No setor público foram pesquisados os Programas Governamentais que fazem parte do Cadastro Único para Programas Sociais – CadÚnico e a Secretaria Municipal de Desenvol-vimento Econômico- SMDE. Com relação ao Controle Social foi pesquisado o Conselho Municipal do Trabalho, Emprego e Renda - COMTER.

Em relação à política de Geração de Emprego e Renda desenvolvida pelo setor privado, em Governador Valadares, foi observado que no Sistema S três entidades não apresentam projetos e ações voltados para Geração de Trabalho e Renda e/ou qualificação profissional, porque tem como objetivo: a) desenvolver ações que fomentam a gestão de empresas, pequenos empreendedores e empreendimentos diversos em diferentes níveis; b) promover a melhoria da qualidade de vida do tra-balhador do ramo industrial e de seus dependentes, por meio de ações educativas, esporte, cultura e lazer; c) e promover a qualidade de vida dos trabalhadores do setor de transporte, seus dependentes e comunidade.

Outras cinco entidades do Sistema S apresentam projetos e ações voltadas para a Geração de Trabalho e Renda e/ou qualificação profissional. Essas oferecem cur-sos com o intuito de qualificar seu público em áreas específicas de sua atuação como o comércio, a indústria, a atividade rural, o transporte, os serviços de higiene e estética, afirmando contribuir para elevar o nível de trabalho e renda do público atendido. Os cursos oferecidos, como será visto adiante, não absorvem a popula-ção em situação de pobreza e extrema pobreza.

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Os critérios de acesso a esses cursos, são quase sempre, limitadores, uma vez que exigem escolaridade mínima, idade, situação funcional, ou que o candidato esteja atuando na área na qual pretende se qualificar, além da não gratuidade da maioria deles.

Só em alguns cursos são ofertadas bolsas, a um público específico: egressos do sistema prisional, adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa, jovem aprendiz, beneficiários do seguro desemprego. Esses cursos contam com a contrapartida governamental, seja ela municipal ou estadual.

As entidades que informam possuir uma política de benefício para a população em situação de pobreza ou extrema pobreza correlacionam este fato ao oferecimento de algumas vagas, de forma gratuita. Este fato não pode ser considerado verdadei-ramente uma política de inclusão, dado o número restrito dessas vagas. Outra enti-dade afirma trabalhar em parceria com programas de ressocialização do egresso do sistema prisional e em cumprimento de medidas socioeducativas.

Em relação à Política de Geração de Trabalho, Emprego e Renda desenvolvida pelo Setor Público destaca-se o CadÚnico, onde até o momento da entrevista (agosto de 2011) estavam cadastradas 34.132 famílias, que potencialmente podem ser incluidas e vinculadas à seleção de benefício ou acompanhamento de progra-ms sociais implementados em nível Federal, Estadual ou Municipal. Dentre estas, 27.826 famílias recebem algum tipo de benefício, ou seja, são consideradas públi-co da Política de Assistência Social, pois, possuem renda percapta mensal igual ou inferior a ½ salário mínimo e estão em situação de pobreza ou extrema pobreza.

Nem todos os programas de Assistência Social ofertados às famílias de Gover-nador Valadares e Distritos estão, atualmente, cadastrados no CadÚnico. Tal fato pode ser considerado um dificultador para a visibilidade e a funcionabilidade des-sa Política. Apesar dos informantes afirmarem que a divulgação do CadÚnico é acessível à população, isso não é suficiente, pois esta tem dúvidas ou informações errôneas sobre os programas que fazem parte do cadastro. Por isso, até o momento da realização desta pesquisa não foi possível obter informações específicas a res-peito dos serviços oferecidos às famílias registadas no CadÚnico, no Município de Governador Valadares: número de famílias benecificadas por outros programas; número de famílias em situação de pobreza ou extrema pobreza; número de fa-mílias que foram cadastradas nos anos de 2008 a 2010; e número de famílias que são atendidas por mais de um programa. Segundo informações dos responsáveis, o banco de dados estava sendo atualizado e modificado, em sua versão. Já quanto aos dados dos anos anteriores esses são sobrepostos na sua atualização do banco de dados.

Ainda, segundo os informantes, anualmente é realizado o recadastramento de fa-mílias, e essas são informadas por meio de correspondência ou aviso no extrato bancário daquelas que recebem recursos de transferência de renda. Segundo as informações, esse processo é satisfatório mas não eficaz, uma vez que não se con-segue atingir todas as famílias cadastradas.

A transferência de renda para a família cadastrada nos programas que compõem o CadÚnico ocorre, de forma direta, do MDS para o beneficiário. Vale ressaltar que atualmente não fazem parte do CadÚnico os programas criados pelo Governo Estadual e em funcionamento em Governador Valadares.

Para as famílias cadastradas no CadÚnico no Município de Governador Valada-res, são disponibilizados encaminhamento e ou acompanhamento, realizado pelos CRAS, CREAS e escolas.

O Bolsa Família é um dos programas cadastrados no CadÚnico em Governador Valadares. O público cadastrado atualmente no programa é de 22.845 famílias. Entretanto, são efetivados, apenas 16.105 benefícios, o que indica a insuficiência frente à demanda reprimida dessa população.

O PETI é outro programa que constitui o CadÚnico e que tem cadastrado de 2002 até o momento, 500 famílias. Atualmente são atendidas pelo programa 138 crian-ças e adolescentes, perfazendo um total de 93 famílias beneficiadas. Algumas delas não aderem aos serviços, sendo apontadas duas principais causas para esse com-portamento: a) o fato de que uma vez beneficiada pelo “Bolsa Criança Cidadã” a família terá diminuido o valor da transferência de recursos do Bolsa Família, b) a resistência cultural de retirar suas criaças e adolescentes do trabalho. As principais formas de trabalho exercídos pelas crianças e adolescentes são: reciclagem, tráfi-co de drogas, comércio ilegal de CD, flanelinha, vendedor ambulante, engraxate, babá, lavador de carro, exploração sexual, pedinte e carregador, na feira. Essas informações são constatadas por meio das intervenção dos técnicos que realizam estudos sociais; visitas domiciliares; controle da frequência escolar e da participa-ção no núcleo do programa, com vistas a fortalecer os vínculos familires e superar a violação de direitos da criança e do adolescente.

Obteve-se a informação que o programa PETI atende a toda a demanda do muni-cípio. Contudo, não foi fornecido nenhum dado ou estudo informativo acerca da incidência da situação de crianças e adolescentes no trabalho infantil, e que pudes-se dar a dimensão exata ou aproximada da demanda, fato que dificulta a correlação entre a oferta deste serviço e a sua suficiência. Outra dificuldade verificada neste programa é o reduzido número de técnicos para execução dos trabalhos.

Também faz parte do CadÚnico o BPC, que beneficia atualmente 6.826 pessoas, caracterizadas por um perfil não só de extrema pobreza, caracterizadas pela defici-ência, incapacitadde para a vida independente e para ao trabalho, bem como pes-soas acima de 65 anos, que também possuem dificuldade de se inserir no mercado de trabalho.

A População de idosos ( acima de 65 anos) de Governador Valadares, é de 21.505, representando 8,2% da população do Município (IBGE 2010). Entre estes, apenas 3.461 recebem o BPC, o que corresponde a 16,9% da população de idosos, fato que revela que grande parte deles encontrava-se em situação de pobreza ou extre-ma pobreza, antes de acessar o benefício. Os outros 3.365 beneficiários do BPC são de pessoas com deficiência. (MDS, 2011)

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Atualmente 190 solicitações de BPC encontram-se em processo de análise. É ne-cessário aguardar a visita domiciliar da equipe técnica responsável, para concluir o processo de obtenção do benefício. Tais fatores dificultam o acesso da população ao BPC, pois falta estrutura para locomoção e realização das visitas, tornando este processso moroso. As famílias beneficiadas são encaminhadas para os respectivos CRAS de referência, e podem ser beneficiadas por outros programas, desde que se enquadrem nos critérios de adesão.

O PAC (outro programa pertencente ao CadÚnico) beneficia atualmente 371 famí-lias, nos bairros Asteca e Atalaia, 594 famílias no Carapina, 192 famílias no Jardim Primavera e Vila Ricardo, 500 famílias no Palmeiras e Ozanã, 99 famílias na Vila União e Ipê, 229 famílias nos bairros Penha e União. Estas foram selecionadas de acordo com a região mapeada e atendida pelo programa.

Estão inseridos no PAC em Governador Valadares cinco eixos: Avaliação e moni-toramento, Mobilização e ação comunitária, Educação ambiental e sanitária, Re-gularização fundiária e Geração de trabalho e renda. Ao público beneficiado pelo Eixo Geração de Emprego e Renda são oferecidas oficinas monitoradas, voltadas para a preservação da natureza (atividades de reciclagem, produção de sabão) e curso técnico em vendas. São assistidas pelo PAC 1.985 famílias. Contudo, obser-va-se que o número de pessoas beneficiadas pelo Eixo Geração de Trabalho e Ren-da é bastante reduzido, quando contrastado com de outras ações do Programa, pois o foco do PAC no Município não é a geração de emprego e renda. Assim, devido ao recurso mínimo direcionado pelo Governo Federal para este eixo, é feita uma seleção dos moradores do território a serem beneficiados, tendo como critérios a faixa etária e a aptidão do usuário. As oficinas, bem como os recursos necessários para sua execução, são apontadas pela demanda local e pela comunidade. São realizadas na comunidade, com o intuito de buscar parceiros para a execução e possível absorção do profissional, nas vagas de emprego. Entre o 2º semestre de 2010 e o ano de 2011 foram beneficiadas aproximadamente 70 pessoas nas oficinas e 45 nos cursos técnicos.

Outro Setor Público pesquisado, de fundamental importância para a Política de Geração de Emprego e Renda, é a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Eco-nômico, onde as ações de fomento à Política de Geração de trabalho e Renda se mostram fragmentadas. No município, algumas ações acontecem em Programas e atividades das Secretarias de Desenvolvimento, Assistência Social, Saúde e Plane-jamento. Estas ações são:

- Projeto Desenvolvimento Solidário: apoio à formação profissional e constitui-ção de grupos de geração de renda nas atividades de Padaria, Costura, Lapidação. Incentiva-se a realização de Feiras Locais e Regionais de Economia Solidária

- Projeto Geração de Trabalho e Qualificação Profissional: Cursos de Inclusão Digi-tal e levantamento de demandas e elaboração de projetos para a Secretaria Estadual de Trabalho e Emprego de Minas Gerais e para o Ministério do Trabalho e Emprego

- Projeto Desenvolvimento Sustentável: oferece incentivo às Cadeias e Arranjos Produtivos Locais nas áreas de Gemas, Jóias e Vestuário. Tem como objetivo es-tabelecer parcerias para a organização dos setores produtivos do Município de Governador Valadares e Região, na criação da Agência de Desenvolvimento do Leste de Minas Gerais (ADELESTE) e articulação de incentivo à implantação de novas empresas.

- Programa Emigrante Cidadão: propõe cursos e eventos relacionados aos emi-grantes retornados ao Município de Governador Valadares. Atua em parceria como SEBRAE e a Caixa Econômica Federal.

- Participação como secretaria Executiva do Fórum Regional de Economia Soli-dária do Vale do Rio Doce, bem como no Programa de Turismo, que tem como objetivo a realização de cursos e eventos em parceria com outras instituições na área do turismo, por meio do Centro Vocacional de Turismo.

O que se observa, em relação aos Projetos, Programas e Ações aqui citados é que faltam articulação e um aprofundamento de como esta política esta sendo execu-tada no Município de Governador Valadares, o que nesta pesquisa não foi possível examinar.

Constatou-se que o Conselho Municipal do Trabalho, Emprego e Renda – COMTER está inativo desde 2007. A inatividade do COMTER compromete sobremaneira sua missão de deliberar, em caráter permanente, sobre as políticas públicas munici-pais de fomento e apoio à Geração de Trabalho, Emprego e Renda e à qualificação profissional, deixando desta forma, a população sem parâmetros para a implemen-tação do Sistema Público de Emprego, que contribua para possível articulação de novas ofertas de postos de trabalho. Essa ausência limita a participação direta e democrática daqueles que deveriam compor o Conselho, portanto, da sociedade civil juntamente com representantes do mercado produtivo e do governo. Outro prejuízo relevante ocorre pela impossibilidade de acompanhamento e fiscalização da correta aplicação dos recursos públicos, nos programas e projetos em execução no Município, por aquele que têm a missão de fazê-lo, conforme determina o Re-gimento Interno do Conselho.

As áreas do município identificadas como prioritárias para receber programas e projetos de Geração de Emprego e Renda são identificadas, pela SMDE, por meio de coleta de informações no Sistema Nacional de Emprego (SINE), no Clube de Diretores Lojistas (CDL), na Associação Comercial de Governador Valadares, nos Sindicatos, da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG.).

Das ações observadas, nesta pesquisa, nos diversos Projetos e Programas desen-volvidos pela Política de Geração de Emprego e Renda no Município de Governa-dor Valadares, conclui-se que para atender efetivamente às famílias que vivem em situação de pobreza e extrema pobreza, é necessário um planejamento articulado entre as políticas públicas, que priorize esse público e conte com a efetiva atuação dos órgãos de controle social e setores produtivos da economia local e regional.

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IV. DIRETRIZES DO PLANO MUNICIPAL DE PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E DEFESA DO DIREITO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES DE GOVER-NADOR VALADARES À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA

Este Plano apresenta, de forma operacional, uma nova proposta de atendimento à criança e ao adolescente de Governador Valadares. Centrado na efetivação do di-reito à convivência familiar e comunitária, fundamenta-se em diretrizes do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (BRASIL, 2006 a, pág. 69-74)

Centralidade da família nas políticas públicas.

O direito de crianças e adolescentes à convivência familiar e comunitária está re-lacionado à inclusão social de suas famílias. O reconhecimento da importância da família no contexto da vida social está explícito no artigo 226 da Constituição Fe-deral do Brasil, na Convenção sobre os Direitos da Criança, no Estatuto da Criança e do Adolescente, na Lei Orgânica da Assistência Social e na Declaração dos Di-reitos Humanos. A família é compreendida como um grupo de pessoas com laços de consangüinidade,de aliança, de afinidade, de afetividade ou de solidariedade, cujos vínculos circunscrevem obrigações recíprocas, organizadas em torno de re-lações de geração e de gênero. Arranjos familiares diversos devem ser respeitados e reconhecidos como potencialmente capazes de realizar as funções de proteção e de socialização de suas crianças e adolescentes. Sendo assim, “a família, indepen-dente de seu formato, é a mediadora das relações entre os sujeitos e a coletividade e geradora de modalidades comunitárias de vida”[...]. Portanto, diante de situações de risco social e vulnerabilidades vividas pelas famílias brasileiras, principalmente por pressões geradas pelos processos de exclusão social e cultural, essas famílias precisam ser apoiadas pelo Estado e pela sociedade, para que possam cumprir suas responsabilidades. Esse apoio visa à superação de vulnerabilidades e riscos vividos por cada família, favorecendo e ampliando os recursos sócio-culturais, materiais, simbólicos e afetivos que contribuem para o fortalecimento desses vín-culos. Diante disso, a centralidade da família no âmbito das políticas públicas se constitui em importante mecanismo para a efetiva garantia do direito de crianças e adolescentes à convivência familiar e comunitária.

Primazia da responsabilidade do Estado no fomento de políticas integradas de apoio à família.

No respeito ao princípio da prioridade absoluta à garantia dos direitos da criança e do adolescente, o Estado deve se responsabilizar por oferecer serviços adequados e suficientes à prevenção e superação das situações de violação de direitos, possi-bilitando o fortalecimento dos vínculos familiares e sócio-comunitários. O apoio às famílias e seus membros deve ser concretizado na articulação eficiente da rede

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de atendimento das diferentes políticas públicas, garantindo o acesso a serviços de educação, de saúde, de geração de trabalho e renda, de cultura, de esporte, de assistência social, dentre outros.

Nas situações de risco e enfraquecimento dos vínculos familiares, as estratégias de atendimento deverão favorecer a reconstrução das relações no grupo familiar e a elaboração de novas referências. Estas estratégias visam potencializar a família para o exercício de suas funções de proteção e socialização e o desenvolvimento de sua autonomia, incluindo as ações que possam levar à constituição de novos vín-culos familiares e comunitários em caso de ruptura dos vínculos originais. Apoio adequado deve ser garantido, ainda, às famílias em situação de vulnerabilidades específicas – com pessoas com deficiência, com necessidades específicas de saúde (como por exemplo, com pessoas vivendo e convivendo com a Síndrome da Imu-no Deficiência Adquirida (SIDA/AIDS - HIV/AIDS/DST), com doenças crônicas, transtorno mental, uso, abuso ou dependência de álcool e outras drogas), com res-trita rede social de apoio, em situação de desemprego, pobreza ou miséria e que vivem em contextos de extrema violência, dentre outras. Para garantir a qualidade das políticas de apoio às famílias, o Estado – nos níveis municipal, estadual e fe-deral – tem a responsabilidade de capacitar seus agentes e de fiscalizar, monitorar e avaliar esses serviços.

Reconhecimento das competências da família na sua organização interna e na superação de suas dificuldades

As políticas especiais para promoção, proteção e defesa do direito de crianças e adolescentes à convivência familiar e comunitária devem reconhecer a família como um grupo social capaz de se organizar e reorganizar dentro de seu contexto e a partir de suas demandas e necessidades, bem como rever e reconstruir seus vínculos ameaçados, a partir do apoio recebido das políticas sociais.É fundamen-tal potencializar as competências da família para o enfrentamento de situações de suas vulnerabilidades, como por exemplo, a presença de um filho com deficiên-cia, transtorno mental e/ou outros agravos.O foco deve ser o empoderamento e o protagonismo das famílias, a autonomia e a vida independente da pessoa com deficiência e, finalmente, a superação do mito de que o atendimento especializado em instituições de abrigo e reabilitação é superior ao cuidado que a própria família pode ofertar, quando devidamente apoiada pelas políticas públicas. Reconhecen-do a complexidade desse processo, é preciso escutar e respeitar as famílias, seus valores e crenças, criando com elas soluções que possam ser adequadas ao con-texto, coerentes com os direitos dos seus membros e consistentes com as políticas sociais. É preciso reconhecer que a família apresenta capacidade de criar soluções para seus problemas, em sua relação com a sociedade e em sua rede de relações in-ternas e de rever e reconstruir seus vínculos ameaçados, a partir do apoio recebido das políticas sociais.

Respeito à diversidade étnico-cultural, à identidade e orientação sexuais, à eqüidade de gênero e às particularidades das condições físicas, sensoriais e mentais.

O apoio às famílias deve se pautar pelo respeito à diversidade dos arranjos fa-miliares, às diferenças étnico-raciais e socioculturais bem como à equidade de gênero, de acordo com a Constituição Federal. A defesa dos direitos de cidadania deve ter cunho universalista, considerando todos os atores sociais envolvidos no complexo das relações familiares e sociais e tendo impacto emancipatório nas desigualdades sociais. Associado à reflexão das famílias sobre suas bases cul-turais, ao combate aos estigmas sociais, à promoção dos direitos humanos e ao incentivo aos laços de solidariedade social, o respeito à diversidade deve estar em consonância com uma ética capaz de ir além de padrões culturais arraigados que violam direitos, incentivando mudanças nesse sentido e a construção partici-pativa de novas práticas. Nesse sentido, o Estado deve dedicar atenção especial e assegurar que crianças e adolescentes de comunidades e povos tradicionais, como as comunidades remanescentes de quilombos e os povos indígenas, rece-bam apoio e atendimento culturalmente fundamentados, e que os profissionais e operadores do direito tenham o devido preparo para lidar com as suas peculiari-dades. Da mesma forma, deve ser dada atenção especial às crianças e aos adoles-centes com necessidades específicas, como aqueles com deficiência, transtorno mental e/ou outros agravos, vivendo e convivendo com o HIV/AIDS/AIDS/DST, dentre outras situações. Finalmente, todas as ações abrangidas nesse Plano de-vem observar o princípio da não-discriminação e levar em conta as perspectivas de orientação sexual e de gênero.

Fortalecimento da autonomia da criança, do adolescente e do jovem adulto na elaboração do seu projeto de vida

Sendo a criança e o adolescente sujeitos de direitos, é necessário reconhecer suas habilidades, competências, interesses e necessidades específicas, ouvindo-os e incentivando-os - inclusive por meio de espaços de participação nas políticas públicas – à busca compartilhada de soluções para as questões que lhes são pró-prias. Nesse sentido, é importante que, nos programas de Acolhimento Institu-cional, sejam proporcionados espaços para a participação coletiva de crianças e adolescentes na busca conjunta de alternativas de melhoria do atendimento, con-tribuindo, assim, para que sejam sujeitos ativos nesse processo. Atenção especial deve ser dada aos adolescentes nos programas de Acolhimento Institucional, so-bretudo àqueles cujas possibilidades de reintegração à família de origem foram esgotadas e têm reduzidas possibilidades de colocação em família substituta, face às dificuldades de se encontrar famílias para os mesmos. O atendimento, nestes casos, deve perseverar no apoio ao fortalecimento dos vínculos comunitá-rios, na qualificação profissional e na construção do projeto de vida, bem como estar fundamentado em metodologia participativa que favoreça o exercício de

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seu protagonismo. Os espaços públicos freqüentados por crianças e adolescen-tes e as instâncias de formulação de políticas públicas constituem importantes instrumentos para o exercício dos direitos de cidadania, sob a perspectiva tanto de incentivar a criatividade no campo das ciências, das artes, da cultura e dos esportes, quanto na formação de lideranças infanto-juvenis.

Garantia dos princípios de excepcionalidade e provisoriedade dos Progra-mas de Famílias Acolhedoras e de Acolhimento Institucional de crianças e de adolescentes

Toda medida de proteção que indique o afastamento da criança e do adolescente de seu contexto familiar, podendo ocasionar suspensão temporária ou ruptura dos vínculos atuais, deve ser uma medida rara, excepcional. Apenas em casos onde a situação de risco e de desproteção afeta a integridade do desenvolvimento da criança e do adolescente é que se deve pensar no seu afastamento da família de origem. A decisão sobre a separação é de grande responsabilidade e deve estar baseada em uma recomendação técnica, a partir de um estudo diagnóstico, caso a caso, realizado por equipe interdisciplinar, com a devida fundamentação teórica – desenvolvimento infantil, etapas do ciclo de vida individual e familiar, teoria dos vínculos e estratégias de sobrevivência de famílias em situação de extrema vulne-rabilidade. A realização deste estudo diagnóstico deve ser realizada em estreita ar-ticulação com a Justiça da Infância e da Juventude e o Ministério Público, de forma a subsidiar tal decisão. A análise da situação evita danos ao desenvolvimento da criança e do adolescente causados por separações bruscas, longas e desnecessárias e deve considerar a qualidade das relações familiares e a atitude pró-ativa de seus membros para a reconstrução das mesmas. Quando necessário o afastamento, to-dos os esforços devem ser realizados no sentido de reintegrar a criança ou adoles-cente ao convívio da família de origem, garantindo, assim, a provisoriedade de tal afastamento. A decisão pela destituição do poder familiar, só deve ocorrer após um investimento eficiente na busca de recursos na família de origem, nuclear ou ex-tensa, com acompanhamento profissional sistemático e aprofundado de cada caso, que considere o tempo de afastamento, a idade da criança e do adolescente e a qua-lidade das relações. É importante destacar, que a situação de pobreza não constitui motivo suficiente para o afastamento do convívio familiar e institucionalização da criança e do adolescente – Art. 23 do ECA – nem a presença de uma deficiência, transtorno mental ou outros agravos. Nas situações de pobreza, conforme previsto na legislação, a família deverá obrigatoriamente ser inserida em programas sociais de auxílio. Nos demais casos aqui destacados, os atendimentos necessários devem ser oferecidos o mais próximo possível da residência, em caráter ambulatorial, ou até mesmo no próprio domicílio, contribuindo, assim, para a preservação e fortale-cimento dos vínculos familiares.

Reordenamento dos programas de Acolhimento Institucional

O reordenamento institucional se constitui em um novo paradigma na política so-cial que deve ser incorporado por toda a rede de atendimento do país. Reordenar o atendimento significa reorientar as redes pública e privada, que historicamente praticaram o regime de abrigamento, para se alinharem à mudança de paradigma proposto. Este novo paradigma elege a família como a unidade básica da ação so-cial e não mais concebe a criança e o adolescente isolados de seu contexto familiar e comunitário.Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e de Assistência Social e órgãos financiadores podem sugerir adequações, tanto nos estatutos quanto nos projetos pedagógicos das entidades, como estabelecer condi-ções para o registro, para aprovação de projetos e/ou para liberação de recursos. O reordenamento dos programas de Acolhimento Institucional requer ações como:

1) mudança na sistemática de financiamento das entidades de abrigo, eliminando--se formas que incentivem a manutenção desnecessária das crianças e adolescentes nas instituições – como o financiamento por criança e adolescente atendido – e incluindo-se recursos para o trabalho com a reintegração à família de origem; 2) qualificação dos profissionais que trabalham nos programas de Acolhimento Insti-tucional; 3) estabelecimento de indicadores qualitativos e quantitativos de avalia-ção dos programas; 4) desenvolvimento ou incorporação de metodologias para o trabalho com famílias; 5) ênfase na prevenção do abandono e na potencialização das competências da família, baseados no reconhecimento da autonomia e dos recursos da mesma para cuidar e educar seus filhos; 6) adequação do espaço físico e do número de crianças e adolescentes atendidos em cada unidade, de forma a garantir o atendimento individualizado e em pequenos grupos; 7) adequação do espaço físico às normas de acessibilidade; e 8) articulação das entidades de progra-mas de abrigo com a rede de serviços, considerando todo o SGD.

No processo de reordenamento dos serviços de acolhimento institucional, em es-treita articulação com a rede se serviços, deverão ser perseguidos os seguintes objetivos:

1) prevenção à ruptura de vínculos, por meio do trabalho com famílias em situação de vulnerabilidade social e/ou com vínculos fragilizados; 2) fortalecimento dos vínculos, apoio e acompanhamento necessário às famílias das crianças e dos ado-lescentes abrigados para a mudança de práticas de violação e para a reconstrução das relações familiares; 3) acompanhamento das famílias das crianças e adoles-centes, durante a fase de adaptação, no processo de reintegração familiar; 4) arti-culação permanente entre os serviços de Acolhimento Institucional e a Justiça da Infância e da Juventude, para o acompanhamento adequado de cada caso, evitan-do-se o prolongamento desnecessário da permanência da criança e do adolescente na instituição; e 5) excepcionalmente, nos casos de encaminhamento à autoridade judiciária para processo de adoção, intervenção qualificada para a aproximação gradativa e a preparação prévia da criança, do adolescente e dos pretendentes, bem como acompanhamento no período de adaptação.

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Adoção centrada no interesse da criança e do adolescente.

De acordo com o ECA, a colocação em família substituta, concebida nas formas de guarda, tutela e adoção, é uma medida de proteção que visa garantir o direito fundamental das crianças e adolescentes à convivência familiar e comunitária. É preciso mudar o paradigma tradicional segundo o qual a adoção tem a finalidade precípua de dar filhos a quem não os tem, estando, portanto, centrada no interes-se dos adultos. Toda criança e adolescente cujos pais são falecidos, desconheci-dos ou foram destituídos do poder familiar têm o direito a crescer e se desenvol-ver em uma família substituta e, para estes casos, deve ser priorizada a adoção que lhes atribui a condição de filho e a integração a uma família definitiva. Este é o sentido da proposta de uma nova cultura para a adoção, que visa estimular, sobretudo, as adoções de crianças e adolescentes que, por circunstâncias diver-sas, têm sido preteridos pelos adotantes, especialmente os grupos de irmãos, as crianças maiores e adolescentes, aqueles com deficiência ou com necessidades específicas de saúde, os afrodescendentes ou pertencentes a minorias étnicas, como forma de assegurar-lhes o direito à convivência familiar e comunitária. Não se trata mais de procurar “crianças” para preencher o perfil desejado pelos pretendentes, mas sim de buscar famílias para crianças e adolescentes que se encontram privados da convivência familiar. Isso pressupõe o investimento na conscientização e sensibilização da sociedade acerca desse direito das crianças e adolescentes e no desenvolvimento de metodologias adequadas para a busca ati-va de famílias adotantes. Trata-se, portanto, de investir para que a adoção seja o encontro dos desejos e prioridades da criança e do adolescente com os desejos e prioridades dos adotantes e ocorra em consonância com os procedimentos legais previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Controle social das políticas públicas

Efetivada nas normativas constitucional e infraconstitucionais (Constituição Fede-ral, Convenção sobre os Direitos da Criança, ECA, LOAS, LDB e LOS) a parti-cipação popular, com caráter democrático e descentralizado, se dá em cada esfera do governo, abrangendo o processo de gestão político administrativa-financeira e técnico-operativa. O controle do Estado deve ser exercido pela sociedade na busca de garantir os direitos fundamentais e os princípios democráticos. Os Con-selhos Setoriais de políticas públicas e dos Direitos da Criança e do Adolescente e suas respectivas Conferências são espaços privilegiados para esta participação, além de outros também importantes, como a mídia e os conselhos profissionais. As Conferências avaliam a situação das políticas públicas e da garantia de direitos, definem diretrizes e avaliam os seus avanços. Os Conselhos têm, dentre outras, a responsabilidade de formular, deliberar e fiscalizar a política de atendimento e normatizar, disciplinar, acompanhar e avaliar os serviços prestados pelos órgãos e entidades encarregados de sua execução. Avanços na organização e fortalecimento da participação da população são necessários, buscando a integração das políticas

sociais nos níveis federal, estadual e municipal. A consolidação de novas repre-sentações e práticas das famílias e da sociedade acerca dos direitos das crianças e dos adolescentes deve estar baseada numa mudança cultural, fundamentada em processos participativos, no exercício do controle social das políticas públicas e na ética da defesa e promoção de direitos. Evidente é que esse processo de fortaleci-mento da cidadania e da democracia é longo e demorado, cabendo aos Conselhos Setoriais e dos Direitos da Criança e do Adolescente, num primeiro momento, se apresentarem à sociedade e incentivarem a participação desta nos debates relativos às políticas públicas a serem implementadas em prol da população infanto-juvenil, inclusive no que diz respeito à inclusão, nas propostas de leis orçamentárias, dos recursos que para tanto se fizerem necessários. Vale lembrar que a “mobilização da opinião pública, no sentido da indispensável participação dos diversos segmentos da sociedade” no processo de discussão e solução dos problemas que afligem a po-pulação infantojuvenil se constitui numa das diretrizes da política de atendimento traçada pelo ECA (cf. Art.88, inciso VI, deste Diploma Legal) e que a participação popular no processo de elaboração das propostas de leis orçamentárias pelo Exe-cutivo, assim como de discussão e aprovação pelo Legislativo, é expressamente prevista na Lei Complementar nº. 101/00 (Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF) e Lei nº. 10.257/00 (Estatuto das Cidades), bastando apenas que os espaços de-mocráticos já assegurados pelo ordenamento jurídico Pátrio sejam efetivamente ocupados pela sociedade organizada.

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V. OBJETIVOS GERAIS

Os objetivos traçados neste Plano seguem os estabelecidos no Plano Nacional (BRASIL, 2006 a, p. 75), adequando-os à cidade de Governador Valadares.

1) Ampliar, articular e integrar as diversas políticas, programas, projetos, serviços e ações de apoio sócio-familiar para a promoção, proteção e defesa do direito de crianças e adolescentes à convivência familiar e comunitária;

2) Difundir uma cultura de promoção, proteção e defesa do direito à convivência familiar e comunitária, em suas mais variadas formas, extensiva a todas as crian-ças e adolescentes, com ênfase no fortalecimento ou resgate de vínculos com suas famílias de origem;

3) Proporcionar, por meio de apoio psicossocial adequado, a manutenção da crian-ça ou adolescente em seu ambiente familiar e comunitário, considerando os re-cursos e potencialidades da família natural, da família extensa e da rede social de apoio;

4) Fomentar a implementação de Programas de Famílias Acolhedoras, como al-ternativa de acolhimento a crianças e adolescentes que necessitam ser temporaria-mente afastados da família de origem, atendendo aos princípios de excepcionali-dade e de provisoriedade, estabelecidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, bem como assegurando parâmetros técnicos de qualidade no atendimento e acom-panhamento às famílias acolhedoras, às famílias de origem, às crianças e aos ado-lescentes;

5) Assegurar que o Acolhimento Institucional seja efetivamente utilizado como medida de caráter excepcional e provisório, proporcionando atendimento indivi-dualizado, de qualidade e em pequenos grupos, bem como proceder ao reordena-mento institucional das entidades para que sejam adequadas aos princípios, diretri-zes e procedimentos estabelecidos no ECA;

6) Fomentar a implementação de programas para promoção da autonomia do ado-lescente e/ou jovem egressos de programas de acolhimento, desenvolvendo parâ-metros para a sua organização, monitoramento e avaliação;

7) Aprimorar os procedimentos de adoção, visando: a) estimular, as adoções de crianças e adolescentes que, por circunstâncias diversas, têm sido preteridos pelos adotantes – crianças maiores e adolescentes, com deficiência, com necessidades específicas de saúde, afrodescendentes ou pertencentes a minorias étnicas, dentre outros; b) investir para que todos os processos de adoção ocorram em consonância com os procedimentos legais previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente; e c) garantir que a adoção internacional ocorra somente quando esgotadas todas as tentativas de adoção em território nacional, sendo, nestes casos, priorizados os países que ratificaram a Convenção de Haia;

8) Assegurar estratégias e ações que favoreçam os mecanismos de controle social e a mobilização da opinião pública na perspectiva da implementação do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária;

9) Aprimorar e integrar mecanismos para o co-financiamento, pela União, Esta-dos, Distrito Federal e Municípios, das ações previstas no Plano Nacional de Pro-moção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária, tendo como referência a absoluta prioridade definida no artigo 227 da Constituição Federal de 1988 e no artigo 4° do Estatuto da Criança e do Adolescente.

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VI. IMPLEMENTAÇÃO, MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO

O processo de implementação, monitoramento e avaliação do Plano tem relevân-cia, pois contribui para efetivar os meios de garantia do direito da criança e adoles-cente, no âmbito de suas relações familiares e comunitárias, principalmente para público que se encontra com vínculos fragilizados ou rompidos. O fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários é dependente, no entanto, da implemen-tação integral do Plano, uma vez que esta é a condição para que sejam possíveis mudanças concretas na realidade da criança e do adolescente. Para alcançá-las faz-se necessário atender algumas prerrogativas gerais de implementação, monito-ramento e avaliação, abaixo detalhadas.

6.1. Necessidades para a implementação do Plano Municipal

a) Compromisso do CMDCA e do CMAS em assumirem o Plano como priori-dade, a partir de 2013. Isso inclui viabilizar recursos nos orçamentos públicos de um modo Geral, e em particular no Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente;

b) Participação e integração do CMDCA, do CMAS e demais Conselhos setoriais citados no Plano;

c) Articulação intersetorial das políticas sociais do município e do Sistema de Garantia de Direitos, para implementação do Plano;

d) Criação de uma Comissão de Monitoramento e Avaliação, formada por conse-lheiros do CMDCA e CMAS.

6.2. Responsabilidades da Comissão de Monitoramento e Avaliação

a) Dialogar permanentemente com a Comissão Nacional e Estadual;

b) Produzir informações consolidadas sobre a implementação do Plano;

c) Socializar as informações consolidadas;

d) Encaminhar informações à Comissão Nacional, sobre o monitoramento e as avaliações referentes à implementação do Plano, na esfera Municipal, em períodos previamente acordados.

6.3 Indicadores de Monitoramento

a) Cumprimento das ações no tempo previsto no Plano – permanente, curto, médio e longo prazo;

b) Incidência da temática do Plano na pauta do CMDCA e do CMAS;

c) Nº de deliberações conjuntas e isoladas referente às ações do Plano, no CMDCA e no CMAS;

d) Incidência anual de prioridades e recursos destinados à implementação do Plano na LDO e LOA;

e) Nº de resoluções relativas à política de convivência familiar e comunitária no município, publicadas pelo CMDCA e CMAS, sobretudo, ações de normatização do Plano.

6.4. Indicadores de Avaliação

As ações propostas neste Plano serão submetidas à Consulta Pública e posterior-mente à aprovação do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adoles-cente e Conselho Municipal de Assistência Social. Estabelecido o formato final, serão elaborados os indicadores de avaliação. Estes deverão ser construídos em conformidade com o prescrito nos Planos Nacional e Estadual, contextualizados e adequados à realidade do município.

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VII. PLANO DE AÇÃO

As ações deste plano são organizadas em cinco eixos estratégicos, articulados entre si:

1) Análise da situação e dos sistemas de informação;

2) Atendimento;

3) Marcos normativos e regulatórios;

4) Mobilização, articulação e participação; e

5) Sustentabilidade.

Os quadros a seguir são resultantes de discussões e reflexões realizadas em reu-niões colegiadas, tendo como participantes o Grupo de Trabalho, a Comissão Intersetorial e a Equipe de Assessoria Técnica da UNIVALE. Foram propostas ações permanentes e de curto, médio e longo prazos, almejando caminhar na direção de uma sociedade que de fato respeite o direito à convivência familiar e comunitária.

Prazo para a Execução do Plano Municipal de Proteção, Defesa e Garantia do Direito da Criança e do Adolescente de Governador Valadares à Convivência Familiar e Comunitária.

Ano de Início: 2013 Ano de Finalização: 2018 (Total: 06 anos)

Curto Prazo: 2013 a 2014Médio Prazo: 2014 a 2016Longo Prazo: 2016 a 2018Ações Permanentes: 2013 a 2018

PLANO DE AÇÃO

EIXO 01 - Análise da situação e Sistema de Informação

Objetivos Ações Cronograma Atores envolvidos Responsáveis pela ação e/ou sua articulação

1) Identificar, analisar, articular e disponibilizar estudos e pesqui-sas no município, sobre fatores que favoreçam ou ameaçam a convi-vência familiar e comunitária.

1.1) Aplicar metodologia de levan-tamento da demanda da educação infantil, visando ao atendimento de 50% da população da creche – meta do PNE para 2010, e de universali-zação gradativa do atendimento da população da pré-escola, até 2016.(EC 59/09)

Permanente SMED, Famílias, CME, CMDCA

SMED, CME

1.2) Criar mecanismos de identi-ficação, precisa, do indicador de evasão escolar na rede pública Municipal e Estadual local.

Curto prazo SMED, SRE, Escolas

SMED, SRE

1.3) Coletar e sistematizar, junto aos órgãos do SGD, informações referentes aos fatores que favore-cem ou ameaçam a convivência familiar e comunitária de crianças e adolescentes, no município.

Permanente Sistema de Garantia de Direitos eInstituições de Ensino Superior

CMDCA, CMAS

1.4) Garantir que os dados do Cadastro de Adoção sejam sis-tematicamente apropriados pelo CMDCA, CMAS, CT e Gestor da Política de A. Social, visando à elaboração de Políticas Públi-cas, com o objetivo de reduzir o número de crianças e adolescen-tes acolhidos e abreviar o tempo de acolhimento.

Curto prazo VIJ, CT, MP, SMAS, CMDCA, CMAS.

VIJ

1.5) Realizar pesquisa quantita-tiva e qualitativa acerca do perfil das famílias de crianças e adoles-centes acolhidos e egressos do acolhimento.

Curto prazo Serviços deAcolhimento,IES , CT, VIJ, Fórum dos Abrigos, CMDCA, CMAS

Fórum de abrigos, CMDCA, CMAS

155 156

1.6) Realizar pesquisa sobre o destino de crianças e adoles-centes, após o desacolhimento, visando identificar os índices de adoção, de retorno à família de origem ou de inserção em família extensa.

Curto prazo Serviços deAcolhimento, Fórum de abrigos, VIJ,IES, CT.

CMDCA, CMAS, VIJ.

1.7) Realizar pesquisa sobre crianças e adolescentes em situa-ção de rua.

Curto prazo SMAS e IES, CREAS

SMAS, CMAS

1.8) Realizar diagnóstico sobre o Serviço Família acolhedora, no município, identificando os fato-res que dificultam a adesão das famílias e os aspectos relevantes à reformulação do programa.

Curto prazo CMAS.CMDCA,Serviço Família Acolhedora, IES.

SMAS

1.9) Realizar estudo sobre a moti-vação do acolhimento, buscando identificar aquelas famílias em que a causa principal da fragi-lização do vínculo tenha sido a pobreza e visando ao atendimento adequado às mesmas.

Médio prazo SMAS, CREAS, IES, CMDCA, CMAS.

SMAS

2) Mapear e ana-lisar no município os programas e instituições de apoio sociofami-liar na proteção social básica e na proteção social es-pecial, acolhimen-to institucional, acolhimento em família acolhe-dora, repúblicas, apoio ao vínculo comunitário, apoio à autonomia dos jovens e ainda das iniciativas de apoio à adoção, verificando sua adequação legal.

2.1) Elaborar indicadores mu-nicipais de monitoramento e avaliação das iniciativas de apoio sociofamiliar, proteção ao víncu-lo comunitário, acolhimento em família acolhedora e institucional, república, apoio à autonomia dos jovens e de adoção nos âmbitos nacional e internacional.

Médio prazo Instituições\Progra-mas Socioassisten-ciais, SMAS, VIJ, CMJ

CMAS

2.2) Ampliar e atualizar os estu-dos sobre os serviços de apoio sociofamiliar, de proteção ao vín-culo comunitário, de acolhimento em família acolhedora e institu-cional, de república, de apoio à autonomia dos jovens e de adoção no âmbitos nacional e internacional.

Permanente Serviços de Acolhimento, IES, CMDCA, CMJ, SEDESE.

SEDESE

3) Aprimorar e valorizar a co-municação entre os Sistemas de Informação sobre crianças, adoles-centes e família, com ênfase no Apoio Sociofa-miliar, Famílias Acolhedoras, Acolhimento Ins-titucional e Adoção.

3.1) Garantir a apropriação dos dados produzidos no Cad’único pelos CRAS e CREAS, visando: qualificar a intervenção no terri-tório de abrangência; facilitar a busca ativa; e proporcionar ações de fortalecimento de vínculos familiares.

Permanente CRAS, CREAS, Gestores do Cadas-tro Único, CMAS

SMAS

3.2) Criar e implementar um Sistema de Gestão informatizado da Política de Assistência So-cial, permitindo o planejamento, o monitoramento e a avaliação da política, com base em dados produzidos nos serviços.

Curto prazo Departamento de Informática da Prefeitura Munici-pal e SMAS

SMAS

3.3) Estruturar, capacitar, contro-lar e criar autonomia na manuten-ção do SIPIA de forma a garantir o seu uso pelos Conselhos Tute-lares de Governador Valadares.

Curto prazo SEDESE CTPrefeitura Municipal (SEPLAN)

SEDESECMDCA

157 158

EIXO 02 – Atendimento

Objetivos Ações Cronograma Atores envolvidos Responsáveis pela ação e/ou sua articulação

1) Articular e integrar as polí-ticas públicas de atenção às crian-ças, aos adoles-centes e às famí-lias considerando e respeitando as especificidades e diferentes caracte-rísticas municipais (porte, geografia, densidade demo-gráfica, renda, cultura, entre ou-tros), garantindo, primordialmente, o direito a convi-vência familiar e comunitária.

1.1) Articular a Política de Assistência Social, a Superin-tendência Regional de Ensino de Governador Valadares e a SMED, visando atuar, de forma integrada, nas ações de fortaleci-mento de vínculos familiares.

Permanente SMAS; SMED; SRE; CMDCA; CME; Fórum de Abrigos.

SMAS, SMED e SRE

1.2) Articular os Serviços de Acolhimento com a SRE de Go-vernador Valadares e a SMED, para aprimorar o atendimento das especificidades das crianças e adolescentes acolhidos.

Permanente SRE, SMED; CM-DCA, CT, Fórum de Abrigos.

Fórum de Abrigos.

1.3) Estabelecer fluxo e métodos de integração entre os Serviços do CRAS e CREAS e Serviços de Acolhimento de crianças e adolescentes, visando ao acom-panhamento e à promoção das famílias dos acolhidos.

Curto prazo Fórum de abrigos, IES,CRAS, CREAS, SMAS

SMAS

1.4) Favorecer a inclusão das famílias com vínculos fragiliza-dos nos programas de inclusão produtiva do município.

Permanente CMAS, CMDCA, CT, Sistema S, Entidades de Classe, SMAS, SMDE.

SMAS, SMDE

1.5) Garantir o atendimento es-pecializado a todas as crianças e adolescentes com dificuldade de aprendizagem, preferencialmente na rede regular de ensino públi-co, privado ou em serviço a ser criado para isso.

Médio Prazo SMED, SRE, Rede de Ensino privada, MP, CT,CME, CMS, CMDCA.

SMED, SRE., CME.

1.6) Promover o registro sistemá-tico de toda a demanda, por vaga, na educação infantil pública.

Curto prazo Escolas de Educa-ção infantil.

SMED, CME, CMDCA.

1.7. Implantar o CAPS III e CAPS’ i.

Curto prazo SMS SMS

1.8) Criar serviço especializado para tratamento do dependente químico, no âmbito da política pública de saúde (SUS), pos-sibilitando, assim, atender às famílias de crianças e adolescen-tes acolhidos por motivação de dependência química dos respon-sáveis e/ou familiares.

Curto prazo COMAD, SMAS, SMS CMDCA, Serviços de Acolhimento.

SMS

1.9) Criar novos serviços púbicos de acolhimento, nas modalidades Casa Lares e Família Acolhedo-ra, com a finalidade de atender à demanda excedente, atualmente atendidas indevidamente pelas entidades governamentais e não governamentais.

Médio Prazo SMAS CMDCA CMAS

SMAS

1.10) Criar serviço público de acolhimento, na modalidade “re-pública”, para atender a jovens em processo de desligamento dos serviços de acolhimento por completarem maioridade.

Médio Prazo SMAS, CMDCA CMAS

SMAS

1.11) Garantir a subsistência das famílias, em casos de violência em que é determinado o afasta-mento do agressor/provedor.

Curto prazo Famílias vitimadas,Programas de Proteção a pessoas ameaçadas,CMDCA, CMAS, SMAS, Programas de Transferência de Renda.

SMAS

1.12) Promover formação conti-nuada e assessoria aos trabalha-dores do Sistema de Garantia e de Direitos sobre atendimento a pessoas com deficiência.

Permanente SGD, CAAD, IES, SMED, CMDCA

CAAD e CMDCA

1.13) Implantar, no âmbito da Política Municipal da Assistência Social, o Plantão Social, durante 24 horas por dia, todos os dias da semana, inclusive feriados, visando atender crianças e ado-lescentes em situação de violação de direitos

Médio Prazo SMASCMASDefensoria PúblicaJudiciárioMPDelegacias de Polícia Civil

SMAS

159 160

1.14) Estruturar adequadamente o BPC para facilitar o atendimen-to e evitar acúmulo de processos em análise.

Curto prazo SMASCMAS

SMAS

1.15) Garantir a ampliação do número de CRAS no município, implantação prioritária desse equipamento nas seguintes regiões: SIR, Turmalina e Penha.

Curto prazo CMAS, SMAS SMAS

2.1) Fortalecer as metodologias de trabalho dos CRAS, promo-vendo fóruns temáticos comu-nitários, realizando eventos de convivência entre famílias, e aproveitando espaços públicos de lazer e cultura dos territórios onde estão instalados, visando à mobi-lização da comunidade em torno da proteção e defesa dos direitos de crianças e adolescentes.

Curto prazo CRAS, Equipa-mentos Públicos instalados nos territórios, Asso-ciações de Bairro, SEMCEL, Insti-tuições Socioassis-tenciais.

SMAS, CM-DCA, CMAS.

2) Sistematizar e difundir metodo-logias participa-tivas de trabalho com famílias ecomunidades.

2.2) Realizar seminários para a difusão de experiências exitosas, no trabalho social com famílias.

Permanente CREAS, CRAS, Instituições Socio-assistenciaisIES, CMAS, CMDCA

CREASCMDCACMAS.

3) Ampliar a ofer-ta deServiços de Apoio Sociofamiliar.

3.1) Inserir no CRAS ações de orientação ao adolescente sobre preparação e inserção no mercado de trabalho.

Permanente CRAS, CREASEmpresas, Enti-dades de Clas-se; Instituições socioassistenciais. SINE.

SMAS, CRASSMDE Ministé-rio do Trabalho.

3.2) Realizar diagnóstico para identificar as demandas e poten-cialidades de cada território e usuários dos CRAS, e elaborar planejamentos contextualizados, visando desenvolver atividades mais coerentes com a realidade da população atendida.

Curto prazo SMAS e CRAS SMAS

4) Empoderar as famílias para que melhor orientem e cuidem de seus fi-lhos possibilitando às mesmas mais acesso àinformação,a espaços de refle-xão, visando maior conscientização sobre os direitos de cidadania, o fortalecimento dos vínculos familia-res e comunitários e a participação social.

4.1) Criar a escola da família dentro das unidades do CRAS, visando ao trabalho preventivo dos profissionais das políticas públicas integradas.

Curto prazo SMAS, SMS, IES, CRAS, Institui-ções Socioassistenciais

CRAS

5) Reordenar os serviços de Aco-lhimento Institucional.

5.1. Criar Coordenadoria de Po-lítica Municipal de Garantia da Convivência Familiar e Comuni-tária no âmbito da Política de As-sistência Social, com o objetivo de coordenar e ordenar a Política de Acolhimento e de garantia do direito à convivência familiar e comunitária.

Curto prazo Instituições de acolhimento, CT, VIJ, MP, IES, SMAS, CMDCA, CMAS.

SMAS, CM-DCA, CMAS.

6) Ampliar os mecanismos de garantia e defe-sa dos vínculos comunitários nos Programas de Acolhimento Insti-tucional.

6.1. Elaborar os Projetos Políti-co- Pedagógicos dos Serviços de Acolhimento, de forma a atender aos princípios elencados no art. 92 do ECA, submetendo-os à aprovação do CMDCA.

Permanente CRAS,CT, IES,VIJComunidade, Famílias Assisti-das, Serviços de Acolhimento.

SMAS, Coordenadoria da Juventude, Serviços de Acolhimento.

7) Implantar, ampliar e imple-mentar programas e serviços de preparação de ado-lescentes e jovens, em Acolhimento Institucional, para a autonomia.

7.1) Articular a rede socioas-sistencial, para promover a implementação de programas e serviços de preparação de adoles-centes e jovens em acolhimento institucional para o exercício da autonomia.

Permanente Instituições sociais, CRAS, Sistema S, Coordenadoria da Juventude, SMAS.

SMAS, Co-ordenadoria da Juventude, Serviços de Acolhimento.

161 162

8) Fortalecer o Programa de Fa-mílias Acolhedoras.

8.1) Reformular o Programa Fa-mília Acolhedora, visando suprir as deficiências existentes em relação à: legislação; nº de técni-cos; incentivos às famílias aco-lhedoras; formas de divulgação e inserção na rede de Proteção à convivência familiar de crianças e adolescentes com vínculos rompidos ou fragilizados.

Curto prazo Mídia, Programa Família Acolhe-dora, Judiciário, SMAS, CMDCA, MP

SMASCMASCMDCA

9) Estimular o contato dos filhos com seus pais que se encontram privados de liber-dade e garantir o contato dos pais com seus filhos adolescentes sub-metidos à medida socioeducativa, principalmente, privativa de liberdade.

9.1) Facilitar a visita dos fami-liares às crianças e adolescentes acolhidos.

Curto prazo. Famílias, Serviços de Acolhimento, CMDCA.

CMDCA

9.2) Facilitar a visita dos familia-res aos adolescentes em cumpri-mento de Medida socioeducativa de internação e semi-liberdade.

Curto prazo. Famílias, Con-selho de Direitos Humanos, Semili-berdade, Sistema de Internação. CMDCA.

CMDCA

9.3) Facilitar a visita dos filhos aos pais privados de liberdade.

Curto prazo. Famílias, Con-selho de Direitos Humanos, Sistema Prisional,CMDCA.

CMDCA

10) Aprimorar e consolidar os procedimentos de Adoção nacional e internacional de crianças e adolescentes.

10.1) Estabelecer fluxo de comu-nicação entre a VIJ e Serviços de Acolhimento, visando à prepa-ração de crianças e adolescentes para a adoção.

Curto prazo. Fórum de Abrigos, CMDCA, técnicos da Vara da Infância, técni-cos dos Serviços de Acolhimento.

JudiciárioInstituições de acolhimento.

11) Promover a Formação conti-nuada dos opera-dores do Sistema de Garantia de Direitos para a promoção do di-reito à convivência familiar e comuni-tária noMunicípio de acordo com a le-gislação vigente e as diretrizes deste Plano.

11.1) Promover formação con-tinuada dos profissionais de Se-gurança Pública, na temática dos direitos humanos, principalmente de crianças e adolescentes.

Permanente MP, Polícia Civil, Policia Militar,Atores da Defesa Social, SEDS.

Conselho de Direitos Huma-nos; CMDCA

11.2) Ofertar, a partir de um cro-nograma anual pré-estabelecido, cursos e seminários sobre con-vivência familiar e comunitária, com a colaboração dos diversos órgãos do SGD, para atuarem como multiplicadores.

Permanente IES, CMDCA, CT, Judiciário, VIJ, Conselho de Direi-tos Humanos.

SMAS e SEDESE

12) Implementar em nível local ações de identifi-cação e localiza-ção de crianças e adolescentes desa-parecidos e de pais e responsáveis.

12.1) Criar uma pauta de discus-são municipal, sobre o desapare-cimento de crianças e adolescentes.

Curto Prazo Instituições socio-assistenciais, Órgãos de Segu-rança Pública, IES, Mídia, CT, CMDCA, CMAS, MP, VIJ.

CMDCA.

163 164

EIXO 03 - Marcos Normativos e Regulatórios

Objetivos Ações Cronograma Atores envolvidos Responsáveis pela ação e/ou sua articulação

1) Aperfeiçoar os Marcos Normativos e Regulatórios para a efetivação da promoção, proteção e defesa do direito à convivência familiar e comunitária no âmbito do Sistema Único de Assistên-cia Social (SUAS) e do Sistema de Garantia de Direitos (SGD).

1.1) Elaborar fluxos de atendimento para as diversas situações de acolhimento de crianças e adolescentes.

Curto prazo Conselho Tutelar, Ministério Público, VIJ, Fórum de Abrigos, Serviços de Acolhimento, CMDCA.

CMDCA

1.2) Definir papel da equipe técnica das instituições de acolhimento e da rede socio-assistencial, no trabalho com famílias de crianças e adolescentes acolhidos.

Curto prazo MP, SMAS, Fórum de Abrigos, CMAS e CMDCA.

SMAS, CMAS.

1.3) Normatizar o acolhimen-to institucional e familiar, tendo como referência as diretrizes da política de convi-vência familiar e comunitária de crianças e adolescentes. Devem ser considerados: o reordenamento dos serviços de acolhimento; a realidade da adoção; as modalidades dos serviços de acolhimento pretendidas; a municipaliza-ção do acolhimento; o aten-dimento de crianças e adoles-centes com deficiência; a não separação de grupo de irmãos; o atendimento de adolescen-tes dependentes químicos e autores de ato infracional nos quais tenha sido aplicada a medida de proteção de acolhimento, entre outros.

Curto prazo Fórum de abrigos, CT, CMDCA, MP, VIJ, CMAS, SMAS.

CMDCA, CMAS.

1.4) Reordenar os regimen-tos internos e estatutos das entidades de acolhimento, para comportar a inclusão de crianças e adolescentes com deficiência, bem como evitar a ruptura dos vínculos, entre irmãos.

Médio prazo CMDCA,CT,CMAS, MP, VIJ.

MP, VIJ

1.5) Criar resolução e adequar o número de técnicos, por: modalidade dos serviços de acolhimento; carga horária; capacidade de acompanha-mento por número de aco-lhidos; e de acordo com as orientações técnicas.

Curto prazo CMAS, CMDCA, SMAS, Fórum de Abrigos.

CMDCA e CMAS.

1.6) Padronizar os registros de casos de fugas e de reacolhi-mento de criança adolescentes nos serviços de acolhimento.

Curto prazo MP, Judiciário,Entidades de acolhi-mento, CT.

Serviços de Acolhimento, Vara da Infância e Juventude.

1.7) Criar e implementar parâmetros de avaliação e monitoramento das inter-venções do MP, Judiciário, Serviços de Acolhimento e de apoio sociofamiliar referentes à Convivência Familiar e Comunitária.

Médio Prazo CMAS, CMDCA, IES.

CMDCA

1.8) Realizar fórum anual de análise das intervenções do SGD na políticas de atendi-mento à crianças e adoles-centes Acolhidos. Iniciar em 2013, tendo como 1º tema a avaliação da situação jurídica e famíliar dos acolhidos.

Permanente Serviços de Acol-himento, CT, VIJ, CMDCA, CMAS, SEDESE, SMS.

SEDESE, CMAS, CM-DCA.

1.9) Normatizar a política de apadrinhamento afetivo, nos Serviços de Acolhimento.

Curto prazo Fórum dos Abrigos, Serviços de Acolhi-mento, CMDCA.

CMDCA.

1.10) Elaborar uma política de geração de emprego e renda para adolescentes, no município.

Médio prazo Ministério Público do Trabalho, Justiça do Trabalho,SMDE, SEPLAM, SMAS, CDL, CMDCA.

SMAS.

165 166

1.11) Definir indicadores de eficiência dos Serviços de Acolhimento, considerando os índices de sucesso na reintegração familiar e na adaptação à família substituta, conforme determina o art. 90, parágrafo 3º, inciso III do ECA.

Curto prazo CMDCA, CT,MP,VIJ, Fórum de abrigos.

CMDCA

2) Aprimorar os procedimentos de comunicação às autoridades com-petentes dos casos de violação de direitos de crianças e adolescentes nos estabelecimentos de educação básica e saúde, conforme previsto no ECA.

2.1) Tornar efetivo o proto-colo de ações relacionadas com a violência sexual sofrida por crianças e adolescentes, visando à responsabilização do agressor, proteção e atendi-mento da vítima e família.

Curto Prazo SMS, CREAS,Polícia Militar,CT, SMAS

SMS

3) Garantir a apli-cação dos conceitos de provisoriedade e excepcionalidade dos programas de acolhimento institu-cional previstos no ECA.

3.1) Publicizar os resultados da avaliação de inspeção do MP, Juiz da Infância e Ado-lescência e CT aos Serviços de Acolhimento, visando implementar a melhoria do atendimento às crianças e adolescentes acolhidos, principalmente nas ações que garantam a provisoriedade e excepcionalidade da Medida de Proteção de Acolhimento.

PermanenteVara da Infância, MP, CT, CMDCA, Serviços de Acolhimento.

CMDCA

4) Aprimorar os instrumentos legais de proteção contra a suspensão ou destituição do poder familiar.

4.1) Garantir que antes da sus-pensão e destituição do poder familiar a família seja efetiva-mente promovida, através da inserção nos serviços socioas-sistenciais, e do direito à defe-sa pela Defensoria Pública.

Médio prazo SMAS, CRAS,CREAS, DP, VIJ, MP, CT

MP, DP, SMAS

4.2) Garantir que nos casos de suspensão e destituição do poder familiar, a Defensoria Pública atue verificando se ocorreu a promoção efetiva da família, em cumprimento do Art. 23 do ECA.

Permanente DP, SMAS, Fórum DCA, Fórum abrigos, CMDCA, CT.

DP

5) Garantir a apli-cação da legislação existente referente à Adoção, tornando eficaz sua aplicação.

5.1) Normatizar as ações de preparação de candidatos à adoção, observando-se a legis-lação vigente e incrementan-do-se as ações já existentes.

Curto prazo VIJ e Coordenado-ria de Convivência Familiar e Comunitária.

VIJ

5.2) Realizar encontros entre as equipes dos Serviços de Acolhimento e da Vara da Infância e Juventude, com a finalidade de discutir propos-tas de aproximação e formas de atendimento, nos casos de adoção.

Permanente VIJ, técnicos dos serviços de Acolhi-mento.

VIJ, MP

6) Garantir a igual-dade e eqüidade de direitos e inclusão da diversidade nos Programas de Famílias Acolhedo-ras, Acolhimento In-stitucional, Progra-mas de emancipação para adolescentes e jovens, e Adoção

6.1) Definir o número de crianças e adolescentes a serem atendidos, por modali-dade de serviço de acolhimen-to, no município, seguindo as normas técnicas do CONANDA, CNAS e Art. 92 do ECA.

Curto prazo Fórum de abrigos, CT, CMDCA, MP, Vara da Infância e Juventude, CMAS, SMAS.

CMDCA, CMAS.

167 168

EIXO 04 - Mobilização, Articulação e Participação.Objetivos Ações Cronograma Atores

envolvidosResponsáveis pela ação e/ou sua articulação

1) Desenvolver e implementar es-tratégias que mo-bilizem a socieda-de e contribuam na qualificação da mídia para o tema do direito à convi-vência familiar e comunitária

1.1) Mapear e dar visibilidade aos serviços, projetos e programas de qualificação geração de emprego e renda existentes no município, favorecendo o acesso de todas as famílias a eles.

Curto Prazo Instituições de Atendimento, Gestores Muni-cipais, SECOM e Mídia, SMDE, SMAS.

SMDE, SECOM

1.2) Mapear e dar visibilidade aos serviços públicos existentes no município na área de saúde, educação, assistência social, segurança, esporte, cultura e lazer e emprego e renda.

Médio Prazo SMAS, SMS, SMED, Polícia Militar e Civil, SMCEL, SECOM, Conselhos de direito e setoriais, SRE, Igrejas, Associações de Moradores, Sin-dicatos, ONG´s, SEDESE, SINE, IES.

SECOM

1.3) Divulgar a escala de plantão do Judiciário, do Ministério Pú-blico e da Defensoria Pública, em todos os dias da semana, incluin-do finais de semana e feriados.

Curto Prazo VIJ, MP, CT, CMDCA, DP.

Assessorias de Comunicação destes órgãos

1.4) Desenvolver campanhas de divulgação dos direitos de crianças e adolescentes.

Permanente CMDCA, CT, MP, VIJ e SMAS.

SMAS

1.5) Realizar campanha de incen-tivo à adoção, desmitificando as resistências à adoção de crianças e adolescentes cujos critérios de ele-gibilidade tenham sido preteridos, ao longo da história.

Permanente MP, VIJ, CMDCA E Serviços de Acolhimento.

MP e TJMG.

1.6) Mobilizar a comunidade para a defesa e a proteção aos di-reitos de crianças e adolescentes, prevenção e combate à violência infanto-juvenil.

Permanente CMDCA, CMAS, SMED, SRE.

CMDCA,CMAS

1.7) Mobilizar a comunidade para a prática do apadrinhamento afetivo.

Curto Prazo Fórum dos Abrigos, Serviços de Acolhimento, CMDCA, CRAS, CREAS, Igrejas.

CMDCA e Serviços de Acolhimento.

2) Articular e integrar os pro-gramas e as ações governamentais e não governamen-tais considerando a Promoção, a Proteção e a De-fesa do Direito de Crianças e Ado-lescentes à Convi-vência Familiar e Comunitária

2.1) Articular os Programas de Habitação do município para a inclusão e beneficiamento de fa-mílias de crianças e adolescentes acolhidos, cujas condições de mo-radia sejam precárias, e dos egres-sos dos serviços de acolhimento que completarem maioridade.

Médio Prazo Equipes técnicas dos Serviços de Acolhimento, SMAS, SEPLAN, CMAS, CMDCA, AssociaçãoHabitacional Nova Terra/GV

SEPLAN, SMAS.

2.2) Articular o reordenamento das Varas Cíveis na Comarca de Governador, Valadares viabili-zando a criação de mais uma Vara da Infância e da Juventude e, pelo menos de uma Vara de Família, de modo que as Varas da Infância possam ser divididas em Cível e Criminal, e garantindo assim, a agilidade na tramitação dos pro-cessos relativos aos acolhidos e a prioridade absoluta de crianças e adolescentes, no judiciário.

Médio Prazo TJMG, MP, CMDCA, CMAS, Fórum dos Abrigos.

CMDCA E CMAS

2.3) Articular para garantir nú-mero de técnicos suficientes para auxiliar o Juiz da infância, com exclusividade na Vara da Infância e Juventude, e nos moldes pro-postos pela ABMP.

Médio Prazo TJMG, CMDCA, CEDCA

CMDCA

2.4) Articular com a SMED e a SRE o aumento do número de monitores para o atendimento, nas escolas municipais e esta-duais, de crianças e adolescen-tes com deficiência, conforme normativas vigentes.

Curto Prazo CMDCA, CMPD, CME, CT, SMED E SRE.

CMDCA, CME E CMPD.

169 170

2.5) Articular a criação da Dele-gacia Especializada de Atendi-mento à Criança e ao Adolescen-te, com espaço físico adequado e equipe técnica especializada.

Médio Prazo Secretaria de Es-tado de Segurança Pública, CMDCA, CMAS, CMPDH, CT, CREAS, Sociedade civil organizada, MP.

CMDCA, CMPDH

3) Mobilizar e articular entre os Conselhos do Município da Assistência Social e dos Direitos da Criança e do Adolescente e demais Conselhos Setoriais para implantação e implementação deste Plano.

3.1) Propor a reativação do COMTER, visando articular os programas de geração de em-prego e renda e privilegiando as famílias de crianças e adoles-centes com vínculos fragilizados ou rompidos.

Curto Prazo SMAS, SMDE,CMAS.

SMDE

3.2) Realizar reuniões e publicar resoluções conjuntas do CMDCA / CMAS e demais Conselhos, visando à construção de ações integradas para implantação e implementação deste Plano.

Permanente CMDCA e todos os Conselhos setoriais.

CMDCA E CMAS

4) Mobilizar junto às Instituições de Ensino Superior (IES) e demais centros de forma-ção do SGD para a capacitação de recursos humanos especializados no atendimento de crianças, adoles-centes e famílias, com foco no fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.

4.1) Articular com as IES e outros Centros de ensino e pesquisa a promoção de formação continu-ada e programada para os atores do SGD, na temática da convi-vência familiar e comunitária.

Permanente SEDESE, CEAF, IES, CMDCA, CMAS, Centro de Estudo e Aperfeiçoamento Funcional do MP.

CMDCA E CMAS

5) Articular com a Superintendên-cia de Ensino e SMED e Ensino Superior visando a mobilização das redes estaduaise municipais de ensino para formação de recursos humanos no direito à convi-vência familiar e comunitária.

5.1) Articular o investimento em qualificação dos professores da rede privada e pública, municipal e estadual, para atendimento às crianças, adolescentes e família em situação de vulnerabilidade e risco social.

Curto Prazo SMED, SRE, CME, CMDCA.

CMDCA E CME.

5.2) Articular para que a SMED e SRE normatizem o atendimento dos casos de indisciplina e infra-ção e o tratamento a ser dado a cada uma das situações, conforme legislação vigente, qualificando a comunidade escolar, com vistas a fortalecer os vínculos da família e comunidade.

Curto Prazo CMDCA, MP, SMED, CT, SRE., CME.

SMED, SRE E CME

6) Mobilizar e ar-ticular diferentes atores do Siste-ma de Garantia de Direitos e da Proteção Social, para o fortaleci-mento da família, a garantia da provisoriedadee excepcionalida-de do Acolhimen-to Institucional, o reordenamento dos programas de Acolhimento Institucional e a divulgação de alternativas à Ins-titucionalização.

6.1) Promover reuniões conjuntas entre os Serviços de Acolhimento, gestores e técnicos do CRAS e do CREAS, e demais atores do SGD, para garantir a provisoriedade do Acolhimento Institucional.

Permanente Fórum de abrigos, SMAS, Serviço de acolhimento, técni-co Judiciário e MP, CRAS e CREAS, Coordenadoria de Convivência Familiar e Comunitária, CT.

CREAS, Fórum dos Abrigos, VI.J.

6.2) Articular o melhor entrosa-mento entre o CT e técnicos dos Serviços de Acolhimento, visando o acesso rápido aos processos administrativos e a participação dos técnicos dos serviços de acolhimento em estudo de casos específicos a cada entidade, con-forme necessidade.

Permanente Fórum dos abrigos, CT, Serviços de Acolhimento.

CT.

171 172

6.3) Articular a integração dos órgãos do Judiciário, MP, DP, CT e encarregados da execução das políticas sociais básicas e de Assistência Social, para a agili-dade efetiva do atendimento de crianças e adolescentes inseridos em programas de acolhimento familiar e institucional. (Em atendimento ao art. 88 inc. VI do ECA)

Curto prazo VIJ, MP, DP, CT e SMAS

VIJ e MP

7) Ampliar e fortalecer a participação da sociedade civil organizada na de-fesa dos direitos da criança e do adolescente e no controle social da garantia do direito à convivência familiar e comunitária.

7.1. Realizar reuniões itinerantes do CMDCA e CMAS, possibili-tando a participação, nelas, dos usuários da política de assistência social e de crianças/adolescentes.

Permanente CRAS, Institu-ições Socioassist-enciais. CMDCA, CMAS.

CMDCA, CMAS

EIXO 05 - Sustentabilidade

Objetivos Ações Cronograma Atores envolvidos Responsáveis pela ação e/ou sua articulação

1) Garantir recur-sos financeiros e orçamentários para realização do Plano Municipal de Promoção, Pro-teção e Defesa do Direito de Crian-ças e Adolescen-tes à Convivência Familiar e Comunitária.

1.1) Incluir as ações deste Plano Municipal no Plano Plurianual (PPAG), na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e na Lei Orçamentária Anual (LOA), res-peitando os prazos de efetivação das ações nele propostas.

Curto Prazo CMDCA, CMAS, SMAS, SEPLAN

SMAS, CMDCA e CMAS.

1.2) Deliberar sobre a aplicação de percentual do Fundo Muni-cipal dos Direitos da Criança e do Adolescente no incentivo ao acolhimento, conforme Art. 260, parágrafo 1º e 2º do ECA.

Curto Prazo CMDCA, CMAS e Fórum dos Abrigos

CMDCA

1.3) Garantir recursos financeiros no ciclo orçamentário municipal, com a finalidade de executar a política de proteção social especial de alta complexidade – acolhimento familiar e institu-cional de crianças e adolescentes – via equipamentos próprios e conveniados

Curto Prazo SEPLAN, SMAS, CMAS e CMDCA.

SMAS

1.4) Garantir recursos financeiros no ciclo orçamentário municipal, com a finalidade de executar a política de proteção social básica e especial de média complexida-de – serviços de apoio sociofami-liar continuados.

Permanente SEPLAN, SMAS, CMAS e CMDCA

SMAS

1.5) Garantir a participação do Colegiado do CT, com ativa inte-gração dos Conselhos de Direitos (CMDCA, CMAS, CME, CMS etc) na elaboração do orçamento público, e monitoramento dos projetos de Lei junto ao Poder Legislativo, para cumprimento do artigo 136, inciso IX do ECA.

Curto Prazo CT, CMDCA, CMAS, CME, CMS.

Secretaria Executiva dos Conselhos

173 174

1.6) Desenvolver campanhas para arrecadação de recursos para o FMDCA, utilizando-se para isso os próprios recursos do fundo.

Permanente SECOM, CMDCA, SMAS

CMDCA

2) Cumprir esse Plano Municipal nos prazos defini-dos, garantidos o seu monitoramen-to e avaliação pela Comissão Interse-torial, CMDCA, CMAS e demais órgãos de controle e fiscalização.

2.1) Realizar o monitoramento do Plano, as ações executadas/ cumpridas e as ações não executadas/descumpridas.

Permanente Comissão de Monitoramento formada por conselheiros do CMAS e CMDCA, COFAC.

CMDCA, CMAS, COFAC.

2.2) Realizar avaliação do Plano, de forma participativa, democrá-tica e pública, com freqüência anual, sempre no mês de março.

Permanente Atores do SGD.Comissão de Monitoramen-to formada por conselheiros do CMAS e CMDCA, Comissão Intersetorial.

CMDCA, CMAS,Comissão Intersetorial

2.3) Divulgar, durante as con-ferências da Assistência Social e da Criança e do Adolescente, balancete da avaliação do Plano.

PermanenteComissão de Monitoramen-to formada por conselheiros do CMAS, CMDCA e Comissão Inter-setorial.

Comissão de Monitoramento, Comissão Intersetorial

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