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BARRA FUNDA TRANSFORMAÇÕES URBANAS E PLANOS ECONÔMICOS PLANEJAMENTO URBANO III – FAU- MACKENZIE - RELATÓRIO DE ANÁLISE

Planurb 3 - Análise e propostas Barra Funda

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BARRA FUNDA

TRANSFORMAÇÕES URBANAS

E

PLANOS ECONÔMICOS

PLANEJAMENTO URBANO III – FAU- MACKENZIE - RELATÓRIO DE ANÁLISE

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“O que existiu, sempre existe,

mesmo que seja nos seus fragmentos ”

Odete Carvalho de Lima Seabra em Memória , Cidade e Paisagem.

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E A BARRA FUNDA, O QUE É?

A Barra Funda, esta herança erma da rápida industrialização da cidade. Este bairro sem vilas, sem moradores antigos, sem alma. Estes galpões enormes clamando por novos inquilinos que não os reformam. Estas largas avenidas que são apenas um corredor na paisagem ampla. Este bairro que deve à Água Branca grande parte de sua história, mas hoje se isola até mesmo da sua velha vizinha arborizada.

Céu – O seu melhor patrimônio

O céu da Barra Funda é diferente. Um dos poucos espaços planos na capital, onde não se está cercado por morros. Esta planície diferente, de grande escala, onde tudo remete ao automóvel e ao transporte de grande porte. Trem, metrô, caminhões, ônibus. Aqui é seu lugar. O pedestre é um detalhe. Um detalhe irritante, que insiste em caminhar, em usar o corredor de ônibus, em lotar o Terminal. Pedestre que teima em andar a pé pela Marginal Tietê, imagine!

Mas a ausência dos paredões, tais como os encontramos na Paulista ou no centro, apresentam algo raro ao paulistano: o horizonte. A esplanada que se abre numa escala sobre-humana une-se ao céu, talvez um dos poucos espaços centrais que respiram livre e contemplam o firmamento com mais liberalidade. Mas o paulistano não se lembra do firmamento. Desaprendeu mirar à noite, pois que sua noite é embaçada e sem o espetáculo das estrelas que se vêem noutras paragens. Ali, zona da grande escala, sem largos, praças ou alamedas, não é lugar para se parar à noite. Nem se contemplar o espaço. Mas, registre-se: a Barra Funda oferece à cidade um horizonte. Cumpre-nos valoriza-lo!

Nossa pequena Brasília

Esta nossa miniatura de planalto central também existe sob um eixo monumental. A Marquês de São Vicente, que nasce Ermano Marcheti, é o eixo que o vazio aos bairros vizinhos. Assim a Barra Funda, dos antigos galpões industriais do começo do século XX, prensada entre o rio e a linha férrea, é uma passagem. Pouco mais que isso. O que poderia ser instalado ali que a livrasse daquilo que Jane Jacobs diagnosticou como a praga da Grande Monotonia? Escolas? Universidades? Grandes terminais? Depósitos de distribuição? Gigantescos home-centers da construção? Motéis de luxo?

Sim, eles já estão ali. Mas chegaram também os meretíssimos juízes, com seu fórum, seu afamado prédio da Justiça do Trabalho. Achegando-se ao núcleo jurídico já se vêem rebanhos de advogados voando aos seus pombais, para se alimentarem dos frutos dos litígios. Mas também chegam os prédios residenciais, trazendo filhos da classe média que não se importam de morar junto à linha de trem. Não que o desejem, mas estar junto ao metrô – que é mais do que uma simples estação: é um intermodal de ótima qualidade – e a poucos minutos das grandes vias lhes parece vantajoso. Aos nascidos na cidade dos milhões de automóveis é vital já ser vizinho das grandes artérias.

Da cidade que temos para a cidade que queremos

Esta é Barra Funda, este novo espaço cobiçado pelas grandes holdings. A Barra Funda da grande escala, do espaço monumental. Caberá ali uma calçada em que uma mãe passeie com seu bebê? Veremos algum dia um praça com idosos jogando truco? Uma

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padaria de um português normal? Uma lavanderia de um japonês? Esse é o nosso desafio. Criar uma inflexão, devolvendo ao cidadão paulistano assalariado, a condição de morar e viver ali.

Se um dia, no futuro, conhecermos um casal de noivos que nasceu, cresceu e se conheceu na Barra Funda, neste dia então teremos certeza: o planejamento urbano deu certo!

Método – andar e dar um google

Em mais de uma visita a área podemos constatar algumas características destacadas do local. Estivemos na visita monitorada e fomos uma noite, entre 21 e 23 horas, visitar a área, além de vê-la pela web.

Um Bairro que Corre Horizontalmente

Espremida pela Marginal do Rio Tietê, no seu lado norte, sendo cortada pela rede ferroviária da CPTM, a região possui uma circulação que segue linearmente, no sentido oeste-leste. Naturalmente que o sentido inverso também se faz presente, ou seja, há grande circulação de veículos no sentido leste-oeste, principalmente à noite, quando trabalhadores estudantes voltam para suas residências na periferia da cidade. Mesmo assim o fluxo da marginal não se altera, continua oeste-leste.

Se a Barra Funda pudesse ser comparada à uma laje, para se usar os termos de projetos, ela seria uma laje nervurada, não bi-direcionada (ou em grelha, como querem alguns). Alguém talvez argumente que isso é um exagero, visto que há diversas pontes e viadutos, permitindo o fluxo de pessoas no sentido norte-sul. Isto é verdade. Entretanto nunca teremos viadutos e passarelas num nível tal que permita uma circulação tão fluída e natural como a que se dá no sentido horizontal da planta, entre o oeste e o leste. Desnecessário lembrar que viadutos e pontes não têm comércio, não tem calçada convidativa e são mortos urbanisiticamente. Compreender essa característica da área e que ela é um bolsão urbano, quase um grande gueto, nos permitirá compreender alguma de suas demandas e vocações.

De Vila Rural, à Zona Industrial, passando por Desindustrialização

Sabemos que a Barra Funda, e seu entorno, o bairro da Água Branca, não eram regiões valorizadas da cidade, nos seus primórdios. Haja vista a ocupação da Lapa, que é muito mais consistente e antiga, ainda que mais longínqua do centro da cidade. Sua proximidade com o rio, sua qualidade de várzea e as suscetibilidade nas vazantes, não a colocaram como primeira escolha como centro de projetos de moradia.

Na industrialização do país, dá-se uma significativa ocupação da região, notadamente por industrias como a Vidraçaria Santa Marina e as Industrias Reunidas Matarazzo. À medida que a cidade cresceu e o custo do terreno afetou toda a parte central, a implantação de industrias ali foi tornando-se desinteressantes. A própria dinâmica industrial fez que se deslocasse a presença de industrias para além das fronteiras do município, de modo que hoje vê-se um crescente interesse pela ocupação do solo visando fins residenciais e de serviços.

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A av. Marquês de São Vicente, que nasce Hermano Marchetti, tem alguns centros de treinamento bem conhecidos, como o CT do São Paulo, do Palmeiras e a área do Nacional Esporte Clube, o que se harmoniza com a natureza hídrica do local. A presença de campos de esporte é uma resposta natural à uma área sujeita a enchentes e de várzea.

Tendo a Marginal Tietê como fronteira ao norte, a Barra Funda também interessa a industrias de porte médio ou pequenas empresas, notadamente distribuidoras de diversos segmentos, gráficos, alimentícios e outros. O escoamento e a entrega de produtos é facilitada pelo fácil acesso à marginal e às pontes próximas.

Os grandes galpões ainda abrigam diversas dessas firmas, ainda que aqui e acolá surjam empreendimentos do terceiro setor fazendo uso dos mesmos. A presença de escolas, como a Unip, a Unesp e a Uninove, fortalecem o uso da região por grandes empreendimentos que atraem grande quantidade de freqüentadores. O surgimento da Villa Country confirma o uso dos grandes espaços para finalidade outra que não a industrial.

As primeiras grandes industrias

A primeira industria da região foi a Companhia Antarctica Paulista, em 1885, fundada por Joaquim Salles, que vendia gelo e banha. A firma possuía um ramal ferroviário que a atendia

Em 1890 surge a Vidraçaria Santa Marina, que se acomoda ao lado da estação ferroviária, assim como outras pequenas empresas que vem depois. Fundada por Elias Fausto Pacheco Jordão e Antonio da Silva Prado, em 1896, pois viram que a areia do bairro era apropriada para se fazer vidro.

Em 1904 o Conde Francisco Matarazzo instala a sua primeira fábrica na região, a Fiação e Tecelagem Mariângela. A Ricci e Associados comprou a área das antigas Industrias Reunidas Matarazzo e construí quatro grandes torres de escritório.

O Curtume Franco Brasileiro, estava no local onde fica a Kalunga hoje.

A Serraria Água Branca, fundada pela família Isola, na rua Guaicurus, no final do século XiX tinha 11.000m2 com os fundos voltado para a linha Sorocabana.

A Ibesa, antiga Clímax, onde hoje é o Sesc Pompéia, tinha mais de 16.500 m2

Crescimento industrial se deu até 1950.

Escala Desumana

A região possui baixa qualidade como espaço para pedestres. As quadras são longas, a circulação entre elas é cansativa, havendo ausência tanto de praças, largos e calçadas acolhedoras, como do pequeno comércio onde se possa tomar uma pequena refeição ou circular entre lojas pequenas e interessantes.

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Naturalmente que há alguns pontos como exceção, mas no geral temos um espaço opressivo para a escala do pedestre, o que não é de estranhar, sabendo que se trata de um bairro com passado industrial e que se transforma rapidamente.

Ainda assim ficam resquícios do passado industrial nos grandes galpões, longas ruas e calçadas oprimidas pelos longos muros das antigas fábricas. Mesmo na parte mais dinâmica e de maior circulação de pessoas, como é o caso do Terminal Barra Funda, que é inter-modal, o gigantismo age contra o pedestre.

Quando se vai ao terminal à partir da Av. Francisco Matarazzo, ladeando o gigantesco prédio da Faculdade Nove de Julho (Uninove) tem-se que passar pelo também grande Memorial da América Latina, todo cercado por grades, até se subir a passarela que leva ao terminal. Essa passarela, também longa, faz 3 voltas até atingir a plataforma, obrigando o usuário a uma caminhada considerável.

Calçadas Minúsculas

Se saímos pelo lado norte do terminal, ou seja, em direção à Marginal Tietê, descendo as escadas e indo pela direitoa, sentido Record, encontramos uma longuíssima calçada de pequenas dimensões – medimo-la com 1,60m e 1,50m na em boa parte de seu trecho. É compreensível que se tenha uma longa calçada junto a um terminal rodoferroviário, uma vez que a linha do trem é, sabidamente, uma barreira inarredável. Todavia a largura da calçada age contra o conforto e a segurança do pedestre, amiúde um viajante carregado de malas e bolsas, que forçosamente circulará ali.

Atravessando-se a rua, nesta face norte do terminal, a paisagem é o enorme prédio da Unesp, cuja fachada principal se oculta do viajante. Assim, a Unesp oferece aos transeuntes apenas mais uma calçada estreita, sem vida, sem comércio, além de longa, como é praxe da região. As longas calçadas, sendo, simultaneamente estreitas, são óbvias relíquias das origens do bairro, e trabalham a favor do visitante motorizado. Na realidade o inteiro bairro parece ter sido concebido para os que tem carro ou se locomovem por transporte público. O andarilho sofrerá de vários modos: pela ausência de sombra, de pequenos comércios e de equipamentos públicos que lhe tenham sido destinados.

ANALISANDO O TERMINAL

De modo geral o Terminal Intermodal é um projeto de sucesso. De forma pioneira se construiu ali um terminal de metrô, que é uma das pontas da linha laranja, donde se acessa por baldeação sem custo extra, as duas linhas de trem da CPTM. O Terminal também possui diversos pontos finais de ônibus na sua face sul, aquela que olha para o Memorial da América Latina e para a Uninove. Nesta lateral há duas ilhas, ou grandes calçadas, com diversas linhas de ônibus saindo e chegando ali. Na outra face, a face norte, que vê o enorme e inóspito prédio da Unesp, há um terminal de ônibus interestaduais, que vai para o Paraná e algumas cidades do interior de S. Paulo. Na calçada, já fora do terminal, nesta face norte, há diversas linhas de ônibus, ainda que em número menor do que se tem no lado oposto. São linhas, a maioria de micro-ônibus, que vão para a zona norte. Se

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considerássemos essa calçada como um pequeno terminal, poderíamos imaginar que o Terminal conjuga seis pontos de transporte coletivo. O que não é nada insignificante, e ressalta a qualidade deste gigantesco equipamento para a cidade e seus cidadãos.

Ponte Orca

Precisamos lembrar da Ponte Orca, que é um paliativo bem intencionado, em termos de fluxo e transporte. Ela leva usuários que saem do metrô, sem custos adicionais, para a estação Vila Madalena, da linha verde do metrô. A lógica deste serviço é que o usuário que desejasse fazer esta viagem pelo metrô, precisaria ir pela linha laranja até a estação Sé, tomar a linha azul até a estação Paraíso ou Ana Rosa, baldear para a linha verde, percorrer todo o trecho do Paraíso até a Vila Madalena, passando pelo metrô Brigadeiro, Trianon-Masp, Consolação, Clínicas, Sumaré e, por fim, chegando à estação Vila Madalena. Para auxiliar este usuário, nasceu a Ponte Orca.

Ausência de Escada Rolante na parte da Rodoviária

O próprio Terminal possui alguns detalhes estranhos, como por exemplo, ausência de escadas rolantes ascendentes, especialmente no lado norte, que é a parte do complexo onde se localiza a rodoviária. Ali os viajantes chegam pelo nível da rua, sobem escadas de concreto ou rampas, para comprar as passagens na parte de cima, descendo depois para embarcar. Neste sentido, descendo para a plataforma de ônibus interestaduais, há uma escada rolante. Os que desembarcam e precisam sair, precisarão subir e não contam com a ajuda de uma escada rolante ascendente, tendo que depois descer novamente em direção à rua. Esta ausência pareceu um tanto cruel, tendo em mente que é normal o viajante carregar bagagens, amiúde pesadas, ou se fazer acompanhar de filhos pequenos e parentes idosos, e por se dispor de escada rolante apenas ascendentes.

O mesmo padrão de atendimento que se tem na área interna do metrô, deveria se repetir no inteiro complexo intermodal, a fim de se fornecer atendimento de qualidade neste importante quesito que é a comodidade de subir e descer níveis.

Escadas Sub-dimensionadas

Outro aspecto que detectamos é o sub-dimensionamento das escadas, notadamente na face norte do Terminal, onde temos 1,65m de largura do degrau. Isto causa um congestionamento que se aproxima do perigoso, uma vez que o volume de pessoas aglomeradas neste pequeno trecho, seguindo nas duas direções é, amiúde, além do suportável. O motivo de nossa preocupação ocorre porque, em se tratando de um terminal multi-modal, há grande número de crianças, idosos, grávidas etc, e o fluxo humano ali adquire uma velocidade em que facilmente pode-se perder uma criança e, não há exagero dizer, o risco de pisoteamento é real.

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Aglomeração às 11 da noite!

Tentamos compreender o motivo de o projeto dirigir tamanho volume de pessoas para uma única escada e vimos que na realidade há uma opção menos usada, ainda que próxima: é a rampa que faz o mesmo caminho da escada e que se encontra diante desta mesma escada. Olhando com atenção verificamos que a rampa é pouquíssimo usada, apesar de bem dimensionada. Fomos levados a concluir que é o fato da rampa ser muito longa e fazer o usuário gastar alguns minutos a mais até chegar a calçada que a faz ser preterida. Ao contrário do que ocorre no lado sul (rampas que ligam pessoas vindas do Memorial e da Uninove) onde não há outra opção, exceto rampas, o lado norte dá a escolha: escada ou rampa, e as pessoas escolhem a escada.

Fica evidente, ao se chegar à calçada desta face norte, frente à Unesp, que a meia dúzia de pontos terminais de ônibus municipais ali, não foram pensados originalmente no projeto, haja vista a reduzida dimensão da calçada. Para que se tenha idéia do volume de pessoas, basta dizer que em nossa visita, às 23:00hs o ponto inicial da linha Eliza Maria estava tão congestionado que simplesmente fomos obrigados a transitar pela rua.

O Fator UNINOVE

A informação acima, dando conta do gigantesco volume de pessoas circulando no Terminal tão tarde quanto às 23:00hs, pode ser compreendido por vários motivos, um dos principais, a saída dos alunos dos dois prédios da Uninove que se encontram no lado sul do Terminal. Segundo informações de funcionários, o prédio maior, aquele que tem face para duas ruas, uma delas sendo a Av. Francisco Matarazzo, possui aproximadamente 20.000 alunos no horário noturno. O segundo prédio, cuja entrada olha para a praça que dá entrada para o Memorial da América Latina e para as rampas de acesso ao Terminal, possui 17.000 alunos.

Quando desce de ônibus na av. Francisco Matarazzo, precisa-se aguardar a liberação do semáforo para sair-se da ilha, onde está o ponto de ônibus, para se chegar à calçada que nos leva à Uninove. Percebe-se rapidamente a grande incidência de estacionamentos junto com a grande presença de motocicletas neles. Causa certa estranheza tão grande presença de estacionamento numa avenida de alto valor de mercado, o que reflete o forte impacto que a presença da escola trouxe ao entorno.

Viemos aqui para Beber ou para Estudar?

Quando se caminha em direção à entrada principal da faculdade, saindo da av. Francisco Matarazzo, vê-se alguns sobrados, sem vida, provavelmente de uso comercial, que compõe junto com a calçada mal iluminada, uma impressão erma, diferente do que se vê normalmente próximo às universidades, que são aquela seqüência de bares com muitas mesas na calçada, gerando balbúrdia e barulho típico dessa juventude afeita aos prazeres etílicos. Os poucos bares encontram-se do outro lado da rua, o que obriga o ébrio – ou candidato a tal – a atravessar a rua para saciar-se.

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Passando pela entrada principal da universidade, entendemos que o fluxo normal dos alunos segue me direção ao metrô, daí não se configurando ali a tradicional calçada dos cervejeiros, mas sim a longa seqüência dos quiosques de bebida e comida.

Há que se dizer que a grande quantidade de alunos estimula dezenas de pequenas barracas, quiosques e pequenos pontos de alimentação onde se encontra de quase tudo. Desde um hot-dog, passando por um espetinho, até uma porção de batatas fritas, tipo caseiro, que se pode consumir com maionese, catchup e queijo a fartar. Notamos que no piso desta praça há barracas legalizadas, com iluminação e letreiros regulares, mas o grande movimento de pessoas leva a um número igualmente grande de pequenos camelôs, cada um a seu modo, apresentarem petiscos e bebidas à multidão de alunos e viajantes.

Memorial para Quem?

O fluxo entre o prédio maior da Uninove e a rampa do Terminal passa ao lado do Memorial da América Latina, que se apresenta então, como um elefante branco urbano. Sem iluminação, todo gradeado, sem qualquer função pública no horário noturno, o Memorial é uma barreira que em nada contribui para a qualidade do espaço onde está inserido. Sua lateral é tomada de camelôs oferecendo pricipalmente comida aos exaustos alunos que anseiam voltar para casa. Iluminar o Memorial, retirar todas as suas grades e implementar bancos ou outros equipamentos urbanos é algo a se pensar seriamente. Desejamos longa vida ao nosso Arquiteto Paraninfo Nacional, mas provavelmente poderemos, em breve, fazer com que o Memorial da América Latina dialogue com a cidade sem temer represarias do seu mentor. Na realidade, o espaço do Memorial pode e deve ser utilizado como grande equipamento urbano a valorizar toda a área, uma vez que seja bem remodelado, sem precisarmos afetar sua intenção primeira, que é de ser um espaço cultural e diplomático a serviço dos povos latinos.

Gente, muita gente!

Isto ajuda a entender a grande multidão com a qual nos deparamos em nossa visita noturna. Todavia deve-se considerar também que, sendo um Terminal intermodal, é natural que empregados de escritórios na própria av. Francisco Matarazzo e entorno, além dos que trabalham no lado sul do terminal, nas diversas empresas, escolas (Unesp sendo uma delas), também fazem uso do espaço.

Outrossim, inferimos que há um significativo número de transeuntes que usam o Terminal, meramente como ligação entre os dois lados do bairro. Em outras palavras, se houvessem passarelas ladeando o Terminal, boa parte do congestionamento interno se reduziria. Não temos como quantificar esse volume, mas foi-nos evidente que muitos funcionários da parte industrial da Barra Funda, e das empresas próximas da Marquês de São Vicente e até da Marginal Tietê, recorrem ao Terminal, para simplesmente chegarem até a Av. Francisco Matarazzo e, vice-versa.

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Conclusão

Como uma veterana atriz, já longe de seus belos dias, a Barra Funda se apresenta como uma terra de ninguém. Seus filhos não a procuram, pois que não os tem. Seus amores fugiram para o interior – a industria da globalização. Mas novos cavalheiros a cobiçam. Sua herança atrai os que especulam, já que há um bom espaço para ser vendido, construído, revendido, alugado... até se exaurirem os lucros dos corretores. Mas até lá teremos um bom tempo ainda. Tudo vai depender de como lidarem com suas características – suas qualidades e seus defeitos. Falemos de ambos.

Características – O bairro é enclausurado, no sentido de haver um fluxo dominante no sentido horizontal do mapa. O rio e a rede ferroviária são seus grandes paredões, e neste corredor transparente (sem fechamento vertical) segue a maior parte da Barra Funda, tendo a Av. Marquês de São Vicente como coluna principal.

Vocação – É o espaço do carro, do transporte de massa, da fluidez. Afeita aos grandes galpões, aos grandes prédios, às mega-lojas, aos grandes empreendimentos. Pensar nisto, ali, é quase intuitivo.

Potencialidades - Sua singularidade geográfica, morfológica (como vimos acima) e sua exclusão da cidade normal (ainda que centrada na urbe) permitem criar-se novos espaços de grande qualidade. Ali há um cenário para que o urbanista use de criatividade. Assim como os arquitetos inclinados a grandes intervenções. Esta é a generosidade da Barra Funda. E nisto reside seu maior perigo.

Bibliografia

Aloísio Whellichan Ramos

A QUEM CULPAR POR ESTA TEXTO

Carlos Elson Lucas da Cunha – 408 8273 1

Disciplina – Planejamento Urbano III Prof. Luiz GuilhermeProf. Dirce

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade Presbiteriana MackenzieSetembro – inverno de 2010, a. d.