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1 Análise Crítica Operação Urbana Lapa-Brás Planejamento Urbano III Faculdade de Arquitetura & Urbanismo Universidade Presbiteriana Mackenzie

Planurb 3 - Análise Critica

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1Análise Crítica Operação Urbana Lapa-Brás

Planejamento Urbano IIIFaculdade de Arquitetura & Urbanismo

Universidade Presbiteriana Mackenzie

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“O homem que cavalga longamente por terrenos se lváticos

sente o dese jo de uma cidade”

Ítalo Calvino – Cidades Invisíveis

“Moço, o Praça Ramos para aqui?”- Cidadão paulistano perdido na metrópole.

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Análise Crítica

Enterrar o trem? Como assim?

A Operação Urbana Lapa-Brás apresenta-se como proposta autoritária que pouco dialogou com a cidade e poucas vantagens trará. Usando argumentação inconcistente ela ameaça impor sobre os paulistanos uma obra farônica de riscos muito e custos altíssimo com retorno muito duvidoso.

Em momento algum a intervenção toca de modo sério e fundamentado nos assuntos prementes que angustiam os munícipes: fluidez do trânsito e segurança ante as enchentes.

Quando imagina aliviar o tráfego entre a zona oeste e o centro, isto é apenas um desejo, uma tentativa empírica, uma vez que não se apresentam dados cocretos sobre volume de tráfego, horários de pico, estimativa de número de automóveis nos anos à frente, potencialização do uso da malha ferroviária para desafogo do uso de automóvel, modos de somar esforços entre trem e metrô e assim por diante. Nada disso é considerado relevante neste termo de referência.

Relevante é apenas tentar justificar um investido de altíssimo custo que deve ser o sonho de várias empreiteiras.

Argumento frágil - 1

“O posicionamento das ferrovias separou dos núcleos centrais da cidade uma extensa faixa de largura variável, de 500 a 1000m, situada ao norte das linhas férreas, entre estas e o rio Tietê.”

Não foi o posicionamento das ferrovias que separou essa faixa da cidade dos núcleos centrais. Ao contrário. A ferrovia segue em direção ao centro da cidade, no sentido oeste-centro e não transversalmente, no sentido norte sul. Reconhece-se que a ferrovia é uma barreira considerável, mas dizer que ela separou estes bairros do centro é desconhecer a rosa dos ventos e os pontos cardeais. É ignorar também que as ferrovias posicionam-se como radiais, de modo que passam pelo centro, ligam os bairros ao centro.

Obviamente há problemas na região das ferrovias, mas a gravidade pretendida na afirmação acima ocorreria se, por exemplo, ela se situasse ligando Pirituba à Pinheiros, sem passar pelo centro. Neste caso sim, poderíamos dizer que a

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4linha isolou bairros na sua ligação com o centro da cidade. Portanto o argumento não apenas é falho, mas denota uma tentativa de convencimento suspeitosa. O autor aplicou os efeitos que o rio Tietê causa como barreira às ferrovias que, com todas as implicações que gera na cidade, não se iguala ao rio.

Submergir a linha férrea responde a um clamor insistente da parte de vários estudiosos e urbanistas de São Paulo que sonham com a eliminação do elevado Costa e Silva. A ansiedade que alguns lutam pelo fim do Minhocão parece ser incentivada pelo desejo de que o ex-deputado Paulo Salim Maluf esteja vivo para presenciar o evento. Há algo de passional nesta discussão e cumpre saber se a cidade deve pagar o preço desta peleja urbanística.

Argumentação frágil - 2

“Esta porção territorial apresenta certa homogeneidade no que toca aos problemas estruturais”

Esta frase, tirada do Termo de Referência da Operaçã Lapa-Brás é usada para justificar o caríssimo projeto desta Operação. Quando se diz “apresenta certa homogeneidade” coloca-se uma questão urbana de modo bem pouco científico. Se é válido considerar a Lapa e a Água Branca comparáveis com a Móoca e o Brás, então podemos encontrar certa homogeneidade em quase quaisquer bairros de São Paulo. Veja como o raciocíno prossegue:

“Esta porção territorial apresenta certa homogeneidade no que toca aos problemas estruturais,embora estes se apresentem com intensidade variável: a ferrovia cindiu esse espaço ocasionando padrões bastante distintos de desenvolvimento urbano de um lado e de outro; a situação geográfica – várzeas dos rios Tietê e Tamanduateí - se apresenta na forma de inundações constantes. Esse panorama indica que a melhor solução para o estabelecimentoda continuidade do tecido urbano e para a reocupação qualificada nesse trecho é o rebaixamento do sistema de transportes sobre trilhos.”

Ora, é inegável que toda ferrovia age como barreira urbana. Mas contraditoriamente, o texto reconhece que os bairros separados não são tão homogêneos como se imaginava, pela ação da própria separação:

“a ferrovia cindiu esse espaço ocasionando padrões bastante distintos de desenvolvimento urbano de um lado e de outro...”

Ficamos sem entender se os bairros da região são “bastante distintos” ou “apresentam certa homogeneidade”. Jogando com os paradoxos torna-se fácil apoiar qualquer argumento, mas certamente o objetivo é justificar o rebaixamento da calha ferroviária.

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5A prevalecer a lógica dos autores, então a solução seria enterrar todas as linhas férreas da cidade. Avançando ainda mais neste sentido, seria aproriado propor dezenas de túneis e avenidas subterrâneas nas áreas próximas do rio Tietê e Pinheiros, já que eles também causam impactos urbanos consideráveis.

Por que a solução subterrânea só se aplica na região Lapa-Brás? Porque se deseja demolir o elevado Costa e Silva, e uma vez concluído esse rebaixamento estaria aberto o campo para isso.

Argumentação frágil - 3

“a situação geográfica – várzeas dos rios Tietê e Tamanduateí - se apresenta na forma de inundações constantes. Esse panorama indica que a melhor solução para o estabelecimentoda continuidade do tecido urbano e para a reocupação qualificada nesse trecho é o rebaixamento do sistema de transportes sobre trilhos”.

Ora, se a região sofre constantes enchentes qual a lógica de se propor um túnel gigantesco numa área de várzea? Além do gasto com bombas para se manter este túnel seco, quando sob intensas chuvas, quem garante a segurança dos passageiros e motoneiros, em caso de paradas sob a terra?

A lógica mais elementar parece sugerir o contrário: em se tratatando de uma zona sujeita à inundações o ideal seria elevar o leito carroçável e os trilhos! O oposto do que sugere o plano.

Argumentação frágil – 4

Trecho retirado do Termo de Referência da O. Urbana Lapa-Brás

“Estatuto da Cidade regulamentou os artigos 182 e 183 da Constituição Federal, estabelecendo as diretrizes a serem observadas no desenvolvimento da política urbana municipal dando instrumentos para se alcançar essas finalidades. garantindo os direitos:

a cidades ustentáveisà terra urbana, à moradiaao saneamento ambiental

à infraestrutura urbana ao transporte aos serviços públicos

ao trabalho ao lazer

a gestão democrática:participação da população na formulação, execução e acompanhamento de programas de desenvolvimento urbano. Cooperação entre os governos, a iniciativa privada e setores dasociedade.

Essas diretrizes devem estar presentes na formulação das Operações Urbanas Consorciadas.”

A Operação Urbana Lapa-Brás não atende a nenhum dos requisitos exigidos no estatuto das cidades.

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6Não tornará a cidade mais sustentável; não aumenta o acesso à terra urbana; não aumenta a oferta de moradia; não melhora a questão ambiental (podemos pensar em como ficará o ar dentro dos túneis e como os usuários do trem serão afetados); não avança grandemente na questão da infra-estrutura urbana, pois a história da cidade já comprovou que simplesmente ofertar mais avenidas causam benefícios de curto prazo, em virtude do rápido crescimento da frota circulante; não se compromete a melhorar a fluidez e qualidade do transporte; não afetará em nada a qualidade do lazer e dos serviços públicos, pois não inaugurará nenhuma novo destino, simplesmente alterando o como se chegar ao mesmo destino central; não se demonstrou como aumentará a oferta de trabalho e sua qualidade, o mesmo se referindo ao lazer.

Um ponto, todavia, ela contempla favoravelmente:

“Cooperação entre os governos, a iniciativa privada e setores dasociedade.”

É isto que assusta.

Enchentes? Onde? Em que proporções?

Há um viés autoritário assustador nessa proposta. Não fica claro o que a sociedade pensa. Não se dá espaço ao contraditório. Não se apresentam estatístcas sobre trânsito ou sobre o efeito das enchentes e as áreas afetadas. Colocada de modo sumário, um leitor desavidado imaginaria que toda a região entre a Barra Funda e a Luz, inunda costumeiramente, o que não é fato.

O autor não leva em conta o efeito dos piscinões, o rebaixamento do leito do rio, a colocação de muros laterais que protegem a Marginal Tietê e a região dos efeitos das enchentes. O impacto das chuvas ainda existe, mas é muito diferente do que ocorria há alguns anos, de modo que qualquer proposta que lide com essa questão obriga-se a conhecer e apresentar dados de medição precisos e atualizados.

Não podemos construir uma intervenção para a cidade dos anos oitenta.

Perguntas que não foram feitas

- O que pensa a população da cidade?

A resposta óbvia seria que ela foi ouvida nas audiências públicas. Foi mesmo? Curiosamente um membro de nosso grupo, aluno com mais de cinquenta anos e leitor costumaz de jornais, nunca ouviu falar deste projeto antes desse semestre. Quão pública foram essas audiências?

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7Estariam os proponentes dispostos a apresentar este tema num plesbicito? Pagariam horário no rádio e na TV para discutirem algo que afetará tão profundamente a cidade?

- Como ousam trabalhar nos bastidores elaborando leis que cortam e recortam a cidade de modo tão drástico?

- Que vereador encampou essa bandeira? Que entidades apóiam o projeto?

- Quem são as ONGs e grupos que pensam o oposto? Foi dado espaço para que se manifestassem?

- Que garantia há de que meramente construir novas avenidas aliviará a questão do trânsito em S. Paulo?

- Que outras opções existem para a requalificação da área?

- Quão degrada, de fato, está a região?

A afirmação de que a linha férrea afetou seu entorno é jogada de modo genérico, faltando medir com mais precisão quais os setores mais afetados e como foram afetados. É muito empírico lançar afirmações para grandes zonas, ignorando particularidades de cada sub-zona.

Qual o objetivo real?

Em nenhum momento os autores se referem à frota circulante, que todos sabemos, cresce exponencialmente. Ao fim de todos os anos de discussão e obras rebaixando o leito da linha, quantos automóveis terá a cidade? Que proposta embute o plano para facilitar a circulação de pessoas, além do conforto óbvio que novas avenidas prometem trazer aos motoristas de automóveis particulares.

- Que efeitos positivos essa operação trará ao transporte de massa?

- Que qualidade teremos quando diversas estações de trem (no padrão que podemos esperar da CPTM) estiverem longe da luz do sol e da ventilação natural?

Nenhuma palavra sobre custo – Por quê?

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8A grande pergunta foi completamente ignorada.

- Que custo se prevê para esse empreendimento? Em quantos esta dívida será amortizada? Quanto se pagará de juros? Como isso afetará a saúde financeira do município? Haverá retorno? De quanto e em quanto tempo?

A ausência de qualquer referência ao tema do custo torna fantasiosa a proposta. Mesmo um projeto que tem aspectos aparentemente bem-intencionado – não soa sério quando foge da questão do investimento. Sabemos que é muito difícil ter uma previsão clara das despesas, mas um estimativa é possível. A suspeita que fica no ar é que trata-se uma obra tão faraônica que se a previsão de custo vier à tona, boa parte do apoio se perderia. Todavia, analisarmos a situação da Grécia e de outros países que investiram valores acima do normal para objetivos olímpicos ou copa do mundo, deve nos servir de lição.

Os técnocratas falam em cifras de modo bastante banal, mas como lidam com dinheiro que não lhes pertence, deveriam ser mais cautelosos. Em termos financeiros as palavras podem ser parecidas, mas é preciso destacar que: Bilhão é diferente de milhão – mil vezes!

Convencer, não impor

É justo que a questão seja discutida de modo verdadeiramente democrático, e não por grupelhos a serviço de incorporadoras e construtoras que flertam com o poder de modo imoral.

Uma vez que o valor previsto de investimento venha à baila é lícito que o paulistano se pergunte:

- Tal montante não poderia ser usado de modo mais inteligente para solucionar outras questões urbanas?

Não temos a resposta pronta à essa pergunta, mas cremos ser não só desejável mas absolutamente honesto e respeitoso com o erário público levantar essa questão e permitir que a população decida.

Toda essa operação urbana parece gravitar em torno de outro tema maior, citado apenas ligeiramente no Termo de Referência: a ânsia em demolir o Minhocão.

Detruir ou não destruir – o dilema hamletiano do paulistano

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9Sem querer propor alternativas à derrubada do Minhocão – posto que não é este o nosso tema de estudo - devemos registrar que o leque de opções não possui apenas duas alternativas: derrubar ou não o elevado. Apenas para relembrar, temos o caso de Nova York e sua High Line que se transformou num jardim parque de ótima qualidade. Curiosamente, foram os moradores que se mobilizaram para reverter uma demolição que parecia quase certa. Citamos isso para que eliminar esse maniqueísmo urbanístico de que ou se derruba o elevado ou jamais a cidade avançará.

O urbanismo é uma disciplina para pessoas de alta especialização, criativos e ousados. Não se presta para soluções simplistas e rápidas. Devem ser afastadas das discussões dessa área pessoas com opiniões pré-concebidas, rancorosas e ressentidas. Do mesmo modo com os a serviço de interesses suspeitos.

Amo São Paulo – Mas não Amo o Maluf – ou vice-versa?

Os paulistanos não gostam do Minhocão. Muitos paulistanos não gostam do senhor Paulo Salim Maluf. Precisamos frisar que esse grupo de estudo não tem qualquer inclinação na segunda questão. Cremos, todavia, que alguns desafios são graves a um ponto tal que exigem respostas verdadeiramente inovadoras. A proposta de submergir a linha férrea tem essas qualidades. Mas aqui lembramos uma segunda solução, pequena é certo, mas extremamente feliz, que se deu na gestão Luíza Erundina: ante a reclamação de barulho excessivo dos moradores de apartamentos vizinhos ao elevado, ela propôs fechá-lo à circulação após às 22:00hs e nos domingos. Ora, o simples fechamento aos domingos o transformou na maior rua de lazer da cidade.

Quanto custou a efetivação da ideia da então prefeita? Nada, em termos de custos urbanos. Assim, nosso grupo compreende que ideias simples podem ter efeitos tremendamente positivos sem que isso obrigue a custos altos.

O Labirinto Jurídico

Notamos no Termo de Referência que há um complexo sistema legal em formação, sistema esse que possui um sentido positivo por objetivar a construção de novas soluções urbanas com participação popular e parcerias entre governo e agentes particulares.

Essa estrutra sofre lentidão em vista de que a cada operação urbana se faz necessário leis municipais complementares, o que demanda tempo. Outrossim, a própria legislação maior, que são as operações urbanas já instituidas, necessitam ser revisadas, de modo que há uma necessidade jurídica muito

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10ágil, competente e articulada, para que uma legislação local, não contradiga as normas mais amplas.

Este arcabouço jurídico nos parece vital, porém sua implantação prática só terá resultados favoráveis à população civil se esta também for um ator jurídico neste tabuleiro. Caso contrário, as grandes incorporadoras e grandes grupos com interesses de lucro no curto prazo, acabarão por ser os únicos com poder de propor e coordenar intervenções.

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11Comentários sobre o EIA – RIMA da Operação Urbana

Água Branca

Sobre o financiamento desta Operação, o texto comenta o seguinte:

“Os recursos financeiros para consecução do programa de obras previstos na Lei são obtidos por meio da concessão onerosa de exceções à Legislação de Parcelamento, Uso e Ocupação do solo e do Código de Obras e Edificações previstas no artigo 6º da Lei 11.774/95, dentre as quais destacam-se modificações de índices e características de parcelamento uso e ocupação do solo.”

É curioso como a prefeitura pensa ter achado na concessão onerosa uma fonte segura de recursos. Ora, se a lei municipal de zoneamento prevê um certo tipo de uso do solo e de licença construtiva, quando ela é alterada podemos imaginar que haverá alguma perda da qualidade urbana. De modo que entendemos que não se deve usar tais fontes de recursos com muito afã, pois isto significaria melhorar a qualidade de vida num setor, prejudicando outro.

Acima o diagrama da construção jurídica que visa dar às cidades brasileiras um planejamento mais racional.

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12Parágrafo preocupante

“Outro destaque importante refere-se à constituição de um Grupo de Gestão da Operação Urbana Consorciada Água Branca, incluindo a participação da Sociedade Civil, pois embora no §1º do artigo 18 da Lei 11.774/95 esteja prevista a instituição do Conselho Gestor do Fundo Especial da Operação Urbana Água Branca que deve deliberar sobre a aplicação dos recursos provenientes das contrapartidas financeiras originadas pelas propostas de participação, não há nesse Conselho representação da sociedade civil.”

O texto dá um alerta. Se não há representantes da sociedade civil, que é dona da verba ser usada, quem controla os interesses espúrios?

EIA rima com o quê?

O quadro demonstra as exigências de documentação ambiental em todos os níveis a que se submete uma proposta de Operação Urbana. Além do apresentado ainda há que se levar em conta outras normatizações municipais, de diversas secretarias.

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13EIA NÃO É RIMA – MAS O RIMA É FEITO DO EIA

Relatório de Impacto Ambiental - RIMA O Relatório de Impacto Ambiental – RIMA caracteriza-se por ser a consolidação do Estudo de Impacto Ambiental – EIA, refletindo os estudos realizados e suas conclusões mais importantes para comunicação à população em geral. As abordagens técnicas deverão ser feitas de forma simplificada, traduzidas em linguagem acessível, ilustradas por imagens e desenhos em escala adequada, gráficos, tabelas, planilhas figuras e quadros que possibilitem a perfeita compreensão das conseqüências ambientais das obras, intervenções e empreendimentos relacionados às fases de planejamento, implantação e operacionalização da Operação Urbana Consorciada Água Branca.

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SUGESTÃO 1 – Sociedade Amigos da Cidade

Como se poderia dar espaço e ao mesmo tempo capacitar a sociedade de modo a participar deste jogo? É vital discutirmos isso para que não passemos de uma democracia incipiente para uma plutocracia, onde as grandes corporações manipulem o destino da cidade sem que o cidadão consiga expressar seu ponto de vista. Portanto, sugerimos:

- A criação em parceria com a prefeitura da cidade e a Câmara Municipal de uma Associação de Amigos da Cidade. Tomando decisão por colegiado ela poderia elaborar planos de longa duração que não sofressem interrupções nas altenâncias do executivo ou legislativo. Tal comissão teria participação dos vereadores em no máximo um quarto dos membros a fim de não ser dominada por partidos políticos, podendo tais partidos colaborar nas proposições e trâmites burocráticos da comissão.

Outras vagas seriam ocupadas na mesma proporção por associações de amigos de bairros estabelecidas há pelo menos cinco anos e de reconhecida atividade social na sua área. Representantes do Coseg de cada sub-prefeitura também estariam colaborando, visto que tais conselhos reúnem-se mensalmente e são ativamente envolvidos nas questões de seu bairro. As associações comerciais locais e certo número de urbanistas completariam o corpo desta comissão permanente.

Assim a prefeitura teria a colaboração desta Associação com um coordenador não vereador, cujo mandato não coincidisse com as eleições municipais, a fim de que não se perca o ritmo das decisões e implantações de projetos.

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Seria papel desta Associação coordenar duas vertentes principais: a questão jurídica e a questão urbanística. Quando em pleno funcionamento, os Amigos da Cidade estariam equipados de um instrumental que os colocasse a par de toda atualização jurídica envolvendo questões enfocadas pelas Operações Urbanas e o corpo de urbanistas avaliaria as propostas e faria novas a fim de que o interesse da iniciativa privada estivesse em consonância com os interesses dos munícipes.

O uso de tele-conferências e redes sociais permitiria encontros semanais entre os Amigos da Cidade, além de permitir que os cidadãos acompanhassem pela rede mundial de computadores as propostas dos diversos interessados, assim como pudessem enviar suas críticas e sugestões. Naturalmente, o estado democrático fará com que os votos vencidos se conformem quando suas posições forem minoria.

Tal estágio de participação popular coordenada exige alto grau de instrução de todos os participantes, podendo-se, num primeiro momento, abrir espaço para intervenções e propostas segmentos qualificados da população, como setores acadêmicos, político, comercial e industrial.

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16 Amigos da Cidade – Agindo na Barra Funda

Podemos imaginar que o amplo leque de participação fornecido pelos Amigos da Cidade dariam voz a muitos interessados na região analisada.

O que pensam os alunos das diversas universidades da região sobre os problemas locais?O que pensam os comerciantes e empresários? O que propõe a prefeitura, por meio da sub-prefeitura?O que tem a dizer as autarquias municipais, como a CET e a SPTrans?

As audiências públicas ocorreriam não apenas na Câmara Municipal, mas também na sede de corporações de bairro, tornando-se assim mais acessível aos que de fato serão afetados mais de perto pelas intervenções.

Tais audiências deverão ser anunciadas em jornais de grande circulação, tanto pela mídia impressa, como a televisiva e falada. Um cronograma anual das reuniões e seus temas serão de ajuda na informação aos interessados. O Jornal do Ônibus, cartaz periódico que encontramos em cada ônibus da cidade, será usado na disseminação destas informações. Sites de fácil acesso dos Amigos da Cidade e da Prefeitura colaborarão para a transparência de todo o processo.

Com o crescimento do número de faculdades e universidades em São Paulo, não deve ser difícil estabelecer parceria com algumas delas a fim de que alunos estagiários auxiliem na compreensão e no trâmite da parte legal envolvida.

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17Sugestão 2 – PÓLO DE ALTA TECNOLOGIA E CONECTIVIDADE

Criar uma identidade e um fator diferencial para o bairro a fim de atrair não só moradores, mas visitantes. Assim propomos o programa Cidade Plugada.

Este programa colocaria facilitaria a conexão do paulistano com a web e atrairia empresas de tecnologia para a Barra Funda. Incentivos fiscais, parcerias de serviço com órgãos municipais, tendo em contrapartida serviços à população e a implantação de empresas de alta tecnologia e seus centros de pesquisa – até onde o limite do espaço da região suportasse. Um pequeno vale do silíco paulistano –este é o conceito. Assim a Barra Funda teria a imagem de uma região de modernidade, de conectividade, de serviços, de estudo e pesquisa.

Uma parte deste programa trata de equipar a região com uma gigantesca rede wireless, de modo que estudantes, profissionais, moradores e visitantes possam dispor de redes de banda larga sem fio. Isto envolve:

- Parceria da prefeitura ou Estado com operadores de banda larga.- Criação de espaços seguros para se usar note-book em público

Grandes espaços cobertos, com segurança e serviços de alimentação e e higiene disponíveis.

Espaços cedidos pelas grandes universidades locais que receberiam também não alunos em seus cibers do programa Cidade Plugada.

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18 Construção e manutênção pela prefeitura de telecentros para os que não dispõe de note-book. Tais unidades deveriam aumentar a velocidade de conexão, que atualmente é sofrível nos tele-centros municipais.

A direção no sentido da pesquisa tecnológica envolveria ouvir as universidades da região sobre como poderiam participar desta criação de uma identidade avançada para o bairro.

Provavelmente parcerias diversas surgiriam a fim de levar para o entorno diversos cursos de capacitação nos diversos níveis – secundário, de graduação e tecnólogos. O governo do Estado já tem ali a Unesp e o governo Federal também poderia ser convidado a oferecer uma Faculdade de Alta Tecnologia.

No âmbito estadual vemos ênfase na implantação de Etec’s e Fatec’s, o que seria bem-vindo dentro do programa. Unidades da Fapesp, CNPq e FINEP, presentes fisicamente, poderiam ser o elo dos alunos com o mundo da pesquisa, uma vez que é gritante o desconhecimento dos brasileiros sobre o universo da pesquisa científica. Tal criação de um pólo avançado, com arquitetura inovadora, faria muito em trazer o olhar dos novos profissionais e estudantes para a grande demanda que se tem no país em gerar inovação e mentalidade científica.

A Barra Funda passaria a ser um lugar inusitado, diferente, instigante. Já que não podemos criar um bucólico bairro residencial sobre a herança da indústria que abandonou esta ampla região, cremos ser mais fácil criar um espaço que converse com as peculiaridades de nosso século: internet, ciência e interação social.

Sugestão 3 - Praça Cidade Plugada

Uma grande praça com um prédio de seis pavimentos: com o seguinte programa:

Primeiro pavimento, no térreo: área de estacionamento de automóveis, bicicletas, ponto de táxi, ponto de ônibus (inclusive da linha circulante interna da Barra Funda, servindo a alunos e trabalhadores da região que precisam se deslocar na área).

Segundo pavimento – estacionamento e 20% da área para prestadores de serviços como: oficinas de note-book, xerox, oficinas de celulares e desk tops, lavanderias, chaveiro, costuras e consertos de roupas, lotérica, sapataria etc.

Terceiro pavimento – estacionamento e 20% do espaço para pequeno comércio: lojas de presentes, papelaria, livrarias, bombonieres, venda de aparelhos eletrônicos, máquinas fotográficas etc

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19Quarto pavimento – ciber livre e área de rede sem fio, ocupando 80% do espaço, com o restante do espaço ocupado por lanchonete e café.

Quinto pavimento – ciber livre e área de rede sem fio ocupando 50% do espaço, 25% restante ocupado por empresas interessadas em promover novos produtos e sistemas, e o espaço final cedido para alimentação.

Sexto pavimento – ciber livro e área de rede sem fio ocupando 50% do espaço. Em 25% da área órgãos de governo nas três esferas fazem promoção de suas agências de pesquisa e desenvolvimento atraindo pesquisadores tanto do mundo acadêmico como do mundo empresarial. Espaço restante: alimentação e banheiros

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Sugestão 4 – PASSARELAS MIRANTES

Passarelas-Mirantes. É óbvia a necessidade de se facilitar a circulação de pedestres na área de estudo. Mesmo junto ao terminal da Barra Funda a colocação de passarelas seria bem-vinda, uma vez que o terminal está sobrecarregado, especialmente no horário de entrada e saída de alunos da Uninove.

Nosso grupo propõe passarelas amplas, com duas vias paralelas, unidas por um boulevard. A intenção é que o transeunte possa parar, se quizer, tomar um café ou um lanche e ver o horizonte. A área do boulevard pode se situar sobre a linha do trem. Isto traria a linha férrea para a atenção das pessoas, deixando de ser apenas uma barreira, de modo que quando alguém chegasse tarde em casa, poderia simplesmente dizer: “Querida, fiquei vendo o trem passar, por isso me atrasei”. Além de fornecer um excelente ponto aos suicidas.

As passarelas mirantes precisariam se adequar, naturalmente, aos pontos de sua implantação, porém quando o espaço do boulevar permitir, ali poderia se instalar pontos da Cidade Plugada – ou com rede sem fio ou com máquinas à disposição da população. À medida que aumenta nossa dependência da internet para trabalho, estudo e contatos, certamente essas plataformas da passarela mirante seriam constantemente ocupadas, o que incrementaria o prazer de parar, tomar um café, conversar e navegar.

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Sugestão 5

O trem como opção para reduzir afluxo de caminhões na cidade.

A crescente restrição de caminhões nas regiões centrais pode ser incrementeada se o município agir em parceria com o governo do Estado numa estratégia metropolitana de aumentar o uso das linhas ferroviárias que cortam a capital no transporte de cargas.

É necessário fazer um estudo sobre viabilidade desta proposta. Cargas destinadas ao porto de Santos, ao sul do País e às regiões norte e centro oeste poderiam trafegar sobre os trilhos, de modo a diminuir o esforço exigido sobre nossa malha rodoviária.

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22Sabemos que a CPTM lida principalmente com o transporte de passageiros, mas o uso desta infra-estrutura em horários alternativos ou com linhas complementares, poderia ser uma opção para redução da poluição na cidade oriunda da combustão de CO2 e redução dos congestionamentos.

Assim poderíamos ver a linha férrea como algo além de uma simples barreira urbana.

Sugestão 6 – O uso do trem como elemento turístico

Tal uso já tem sido aumentado com a recente opção de se chegar à Vila de Paranapiacaba por trem. Nada mais justo, uma vez que a história dessa Vila está ligada à própria origem do trem paulista.

Cremos que novos estudos e projetos poderima mostrar a viabilidade do retorno das viagens de trem para o interior do estado e para o Rio de Janeiro.

Além das vantagens no mercado do turismo, o bairro da Barra Funda ganharia mais importância uma vez que possui um grande terminal intermodal. O afluxo de pessoas nos fins de semana para passeio daria ainda mais qualidade urbana à região.

A otimização do uso da malha ferroviária poderia dar ao paulistano e paulistas mais conforto e qualidade de vida e, quiçá, melhorar a relação da cidade com suas linhas de trem. Esta mudança conceitual poderia fazer a própria administração pública encarar esta opção de transporte como digna e útil em mais do que apenas transporte de massa. A consequência desta visão mais favorável seria aprimorar a qualidade das estações, dos trens (como aconteceu na linha Jurubatuba-Osasco).

Se passarmos a ver o trem como elemento contributivo, e somarmos forças na melhora deste meio de transporte, certamente teremos ganhos ambientais tremendos e pararemos de, com vergonha de nossas linhas feitas para pobres, querermos soterrar o sistema.

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23Discussão de aspectos da área

Base física

A situação de várzea deve tornar cautelosa toda intervenção feita ali. Evitaremos garagens sub-terrâneas e excessiva impermeabilização do solo, propondo

- calçada com piso hidráulico- aumento da área com gramas e arborização- implantação de praças verdes

Mobilidade

- Propomos mais escadas rolantes nas duas laterais do terminal da intermodal- passarelas facilitando a circulação de pedestres sobre a linha, mesmo ao lado do terminal, pois a circulação ali já está saturada.

As passarelas mirantes, propostas pelo grupo, devem conter as três formas de acesso:

- escadas rolantes- escadas fixas- rampas

Também prevê-se duas vias de circulação a fim de dar opções aos transeuntes, sendo que sobre a linha férrea estes vias paralelas se unem em um boulevard com quiosques de alimentação e área avarandada com mesas e cadeiras com tomadas próprias para note-book, de modo que o pedestre possa descansar e contemplar o céu da Barra Funda.

Equipamentos publicos

- Sugerimos duplicação do espaço das escadas, no terminal intermodal, especialmente na sua face norte, junto à Unesp. - Sugerimos o concerto de todos os equipamentos de ponto de ônibus, recuperando o que foi feito na gestão da prefeita Marta Suplicy, de modo que em todos os pontos haja:- banco para descanso- placas informativas sobre as linhas que ali param

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24Acreditamos que os pontos feitos na gestão da então prefeita significam um grande avanço e que não só devem ser recuperados como também aprimorados. Por isso sugerimos que:

- Nas placas de informação, além do número e do intinerário do ônibus haja informação sobre seu percurso: cada linha pode informar em letras um pouco menores, os locais onde aquela linha passa.

- Cada ponto deve trazer informações sobre seu entorno, como acontece nas estações de metrô. Um mapa com a informação: você está aqui. E informações interessantes sobre as quadras ao redor: empresas maiores, hospitais, museus, restaurantes antigos, praças, parques etc.

- Cada ponto de ônibus deve conter um orelhão (terminal de telefone público)- Cada placa informativa nos pontos de ônibus deve conter todas as informações em mais duas línguas: inglês e uma segunda língua, preferencialmente o espanhnol ou a língua da colônia predominante no entorno. Tais informações em outras línguas ocupariam um espaço de 30% do cartaz principal em português.

- As placas devem disponibilizar contatos para que o cidadão se manifestes. Além do malfadado número geral da prefeitura, 156, o site da sub-prefeitura da região, o telefone do escritório do sub-prefeito, número da polícia – 191 e o site das agências municipais ou secretarias que podem ser de ajuda ao cidadão ali.

- Não serão vendidos espaços nos pontos de ônibus para empresas fazerem publicidade, mas serão afixados cartazes da secretaria municipal de cultura informando sobre eventos na cidade e na região. Também serão cedidos espaços para grupos culturais, bandas, e outros agentes artísticos, a fim de poderem propagar seus eventos temporários. O ponto de ônibus deve ser um mural, um quadro de aviso da comunidade local para difundir informações de seu interesse. Uma opção interessante é usar o verso da parede do ponto de ônibus para tal comunicação autorizada.

- Banheiros públicos Ao invés de se construir banheiros públicos, sugerimos parceria entre a prefeitura e os bares, restaurantes e comércio local, de modo que aqueles que disponibilizarem banheiros aos não clientes sejam contemplados com alguma forma de contrapartida oficial: ou abatimento nos encargos, ou facildade na compra de material sanitário ou desconto no iss em algumas de suas operações. Assim os comerciantes locais se tornariam não apenas fornecedores de produtos e serviços, mas parceiros da comunidade, o que deve criar um ambiente de conviência e socialização mais sadio para o bairro e a cidade.

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25Uso do solo

- À medida que se vê o crescimento de grandes redes no varejo: materiais de construção, supermercados etc. o uso do solo deve contemplar os pequenos comerciantes, que não são redes.

- As grandes corporações que dominam lotes gigantescos devem negociar o uso de suas laterais para a implantação de pequeno comércio, como quiosques de lanches, pequenas oficinas, etc. Isto livraria a Barra Funda das imensas calçadas vazias e assustadoras.

Espaços públicos e abertos

- Criação da Praça-BarPraças com bares e lanchonetes instaladas contendo calçadas de

largura triplicada, de modo que mesas na área externa ocorram generosamente sem afetar a circulação dos transeuntes. Cremos que estimular o conforto dos comensais e amantes do copo é um modo eficaz de criar um ambiente agradável e sadio em termos urbanos.

Infraestrutura

Arborização da av. Marquês de São Vicente e Ermano Marchetti.- Seringueiras no canteiro central.

Aumento das calçadas especialmente próximo ao terminal Barra Funda.

Programa de divisão das quadras gigantes. - Negociação com os proprietários de imóveis a fim de, gradualmente, elimininarem-se as superquadras, fazendo com que sejam cortadas por ruas de dimensão razoável, sendo que tais novas ruas já nasçam com pequenos lotes para implantação de comércio e prestação de serviços.

Mobilidade

Implantação de linhas circulares percorrendo a região da Barra Funda, servindo assim a muitos trabalhadores que precisam circular entre a marginal Tietê e o terminal e a av. Francisco Matarazzo.