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Plataforma de Transformação Social

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Espaço LALT na Revista Cargo News - Edição 136

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RCN | 3332 | RCN www.cargonews.com.br

Christiane Lima BarbosaEngenheira Civil pela UFPA, pós-graduado em Gestão da

Cadeia de Suprimentos pelo LALT-UNICAMP, mestre em Engenharia Civil pela UFPA, doutoranda em Engenharia dos Transportes pela FEC-

[email protected]

Orlando Fontes Lima Jr.Livre Docente e Professor Associado da FEC-UNICAMP. Coordenador do LALT – Laboratório de Aprendizagem em Logística e [email protected]

Plataforma de Transformação Social

Um desafio atual é identificar oportunidades de desenvolvimento que integrem o bem estar e a economia à preservação ambiental. Uma das possibilidades é a constituição de redes que ge-ram oportunidades de desenvolvimento local e o aproveitamento do potencial da região (Duar-te, 2004).

O foco é o produtor e sua rede. Os envolvidos criam competências e habilidades para promo-ver competitividade econômica, inclusão social e qualidade de vida. Esses fatores, quando alia-dos às atividades logísticas, podem criar uma vantagem e um diferencial, denominado Plata-forma de Transformação Social (PTS).

Os macros da PTS são governança e estru-tura. A governança refere-se às finalidades e às relações do empreendimento desenvolvido, fundamentadas na Economia Solidária. A es-trutura define os processos e a estrutura físi-ca com a participação do ator e com base na Tecnologia Social. Ambos embasam o princípio de colaboração entre os atores na concepção, desenvolvimento e gestão.

No Brasil, as iniciativas mais próximas de uma PTS são os Empreendimentos Econômi-cos Solidários (EES), que agregam valor aos produtos e podem oferecer participação nos lucros. Os produtos vêm de atividades agrope-

cuárias, extrativista e pesca (42%), alimentos e bebidas (18,3%) e artesanais (13,9%) (Sistema de Informação da Economia Solidária - SIES/SENAE, 2006).

A comercialização é a principal fonte de renda e envolve práticas que aproximam o produtor do comprador em feiras livres, lojas convencio-nais ou especializadas em produtos solidários, porém restritas ao comércio local ou comunitá-rio (52%) (SIES/SENAE, 2006).

Os atores das novas práticas são pequenos produtores, artesãos, criadores e aqueles sem fonte de renda, os quais veem oportunidades de negócios a partir do uso e/ou reuso de lixo ou resíduos, reintroduzindo-os na cadeia com uso de tecnologia.

O Uso de Resíduos e a Cons-trução Civil

No Brasil, a Resolução 307 (02/01/03) clas-sificou os resíduos da construção civil e esta-beleceu diretrizes para minimizar os impactos ambientais. A Lei 12.305 – Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) – de 02/08/10 deter-minou às administrações municipais a constru-ção de aterros sanitários e o encerramento das atividades dos lixões e aterros controlados.

Os instrumentos definidos na Lei são a coleta seletiva, a logística reversa, o incentivo à criação de cooperativas e outras associações de catado-res de materiais recicláveis e o Sistema Nacio-nal de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (SINIR).

Na França, a geração de entulhos na cons-trução/desconstrução alcança 360 milhões de ton/ano (Instituto Francês do Meio Ambiente - IFEN, 2010). O país criou planos para fiscalizar o entulho destinado ao centro de estocagem e prolongar a vida útil com a reciclagem.

O diferencial francês é o uso de resíduos por associações de artesãos que promovem a valori-zação de materiais recicláveis, geram empregos e se destacam no ecodesign, na realização de oficinas e no desenvolvimento local.

O Progresso Tecnológico e a Indústria da Pesca

Os produtos de origem animal ou vegetal são perecíveis e suscetíveis à deterioração. O pro-cesso de beneficiamento gera resíduo e o des-carte é como lixo comum (Raghiante, 2010). O uso de tecnologias valoriza os resíduos, e o termo Tecnologia Social surge para prover expe-riências inovadoras.

Em Itajaí e Navegantes (SC), as indústrias de beneficiamento de pescado geram quantias di-árias elevadas de resíduos, as quais podem ser exploradas no consumo animal (farinha de pei-xe e ensilagem das rações) e humano (óleo de pescado, ômega 3, cartilagem de tubarão etc.). As dificuldades são gerenciar e organizar o pro-cesso produtivo (separar, transportar e armaze-nar adequadamente).

Em Apicum-Açú (MA), a pesca artesanal tem finalidade comercial e de subsistência. Os pes-cadores são proprietários dos meios de produ-ção e o trabalho é familiar. Os intermediários facilitam a comercialização e se beneficiam de boa parte da renda gerada. Um grupo de 21 pescadores se reuniu para organizar a COO-PESLOM (Cooperativa dos Pescadores e Pisci-cultores do Litoral Ocidental Maranhense), mas

nunca funcionou por falta de envolvimento e de credibilidade.

A pesca é a principal atividade econômica do município. Porém, os aspectos logísticos não são favoráveis à conservação. O transporte do pro-duto até a capital é feito em caminhões conten-do recipientes de aproximadamente 1 m³, sob a responsabilidade do intermediário. Depois de 6 a 8 horas, o pescado chega ao mercado após passar por transporte terrestre e ferry-boat.

O Modelo de Gestão e o Se-tor Agropecuário em Carambeí (PR)

A Batavo Cooperativa Agroindustrial, locali-zada na cidade de Carambeí (PR), se destaca pelas práticas sustentáveis e por criar soluções rentáveis.

Figura 1: Porto de Apicum-Açú (MA).

Figura 2: Uso de resíduos na produçãode energia

Autores:Christiane Lima Barbosa | Orlando Fontes Lima Jr.

LALT – Laboratório de Aprendizagemem Logística e Transportes

Faculdade de Engenharia Civil – UNICAMP

RCN | 3332 | RCN www.cargonews.com.br

Christiane Lima BarbosaEngenheira Civil pela UFPA, pós-graduado em Gestão da

Cadeia de Suprimentos pelo LALT-UNICAMP, mestre em Engenharia Civil pela UFPA, doutoranda em Engenharia dos Transportes pela FEC-

[email protected]

Orlando Fontes Lima Jr.Livre Docente e Professor Associado da FEC-UNICAMP. Coordenador do LALT – Laboratório de Aprendizagem em Logística e [email protected]

Plataforma de Transformação Social

Um desafio atual é identificar oportunidades de desenvolvimento que integrem o bem estar e a economia à preservação ambiental. Uma das possibilidades é a constituição de redes que ge-ram oportunidades de desenvolvimento local e o aproveitamento do potencial da região (Duar-te, 2004).

O foco é o produtor e sua rede. Os envolvidos criam competências e habilidades para promo-ver competitividade econômica, inclusão social e qualidade de vida. Esses fatores, quando alia-dos às atividades logísticas, podem criar uma vantagem e um diferencial, denominado Plata-forma de Transformação Social (PTS).

Os macros da PTS são governança e estru-tura. A governança refere-se às finalidades e às relações do empreendimento desenvolvido, fundamentadas na Economia Solidária. A es-trutura define os processos e a estrutura físi-ca com a participação do ator e com base na Tecnologia Social. Ambos embasam o princípio de colaboração entre os atores na concepção, desenvolvimento e gestão.

No Brasil, as iniciativas mais próximas de uma PTS são os Empreendimentos Econômi-cos Solidários (EES), que agregam valor aos produtos e podem oferecer participação nos lucros. Os produtos vêm de atividades agrope-

cuárias, extrativista e pesca (42%), alimentos e bebidas (18,3%) e artesanais (13,9%) (Sistema de Informação da Economia Solidária - SIES/SENAE, 2006).

A comercialização é a principal fonte de renda e envolve práticas que aproximam o produtor do comprador em feiras livres, lojas convencio-nais ou especializadas em produtos solidários, porém restritas ao comércio local ou comunitá-rio (52%) (SIES/SENAE, 2006).

Os atores das novas práticas são pequenos produtores, artesãos, criadores e aqueles sem fonte de renda, os quais veem oportunidades de negócios a partir do uso e/ou reuso de lixo ou resíduos, reintroduzindo-os na cadeia com uso de tecnologia.

O Uso de Resíduos e a Cons-trução Civil

No Brasil, a Resolução 307 (02/01/03) clas-sificou os resíduos da construção civil e esta-beleceu diretrizes para minimizar os impactos ambientais. A Lei 12.305 – Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) – de 02/08/10 deter-minou às administrações municipais a constru-ção de aterros sanitários e o encerramento das atividades dos lixões e aterros controlados.

Os instrumentos definidos na Lei são a coleta seletiva, a logística reversa, o incentivo à criação de cooperativas e outras associações de catado-res de materiais recicláveis e o Sistema Nacio-nal de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (SINIR).

Na França, a geração de entulhos na cons-trução/desconstrução alcança 360 milhões de ton/ano (Instituto Francês do Meio Ambiente - IFEN, 2010). O país criou planos para fiscalizar o entulho destinado ao centro de estocagem e prolongar a vida útil com a reciclagem.

O diferencial francês é o uso de resíduos por associações de artesãos que promovem a valori-zação de materiais recicláveis, geram empregos e se destacam no ecodesign, na realização de oficinas e no desenvolvimento local.

O Progresso Tecnológico e a Indústria da Pesca

Os produtos de origem animal ou vegetal são perecíveis e suscetíveis à deterioração. O pro-cesso de beneficiamento gera resíduo e o des-carte é como lixo comum (Raghiante, 2010). O uso de tecnologias valoriza os resíduos, e o termo Tecnologia Social surge para prover expe-riências inovadoras.

Em Itajaí e Navegantes (SC), as indústrias de beneficiamento de pescado geram quantias di-árias elevadas de resíduos, as quais podem ser exploradas no consumo animal (farinha de pei-xe e ensilagem das rações) e humano (óleo de pescado, ômega 3, cartilagem de tubarão etc.). As dificuldades são gerenciar e organizar o pro-cesso produtivo (separar, transportar e armaze-nar adequadamente).

Em Apicum-Açú (MA), a pesca artesanal tem finalidade comercial e de subsistência. Os pes-cadores são proprietários dos meios de produ-ção e o trabalho é familiar. Os intermediários facilitam a comercialização e se beneficiam de boa parte da renda gerada. Um grupo de 21 pescadores se reuniu para organizar a COO-PESLOM (Cooperativa dos Pescadores e Pisci-cultores do Litoral Ocidental Maranhense), mas

nunca funcionou por falta de envolvimento e de credibilidade.

A pesca é a principal atividade econômica do município. Porém, os aspectos logísticos não são favoráveis à conservação. O transporte do pro-duto até a capital é feito em caminhões conten-do recipientes de aproximadamente 1 m³, sob a responsabilidade do intermediário. Depois de 6 a 8 horas, o pescado chega ao mercado após passar por transporte terrestre e ferry-boat.

O Modelo de Gestão e o Se-tor Agropecuário em Carambeí (PR)

A Batavo Cooperativa Agroindustrial, locali-zada na cidade de Carambeí (PR), se destaca pelas práticas sustentáveis e por criar soluções rentáveis.

Figura 1: Porto de Apicum-Açú (MA).

Figura 2: Uso de resíduos na produçãode energia

Autores:Christiane Lima Barbosa | Orlando Fontes Lima Jr.

LALT – Laboratório de Aprendizagemem Logística e Transportes

Faculdade de Engenharia Civil – UNICAMP

RCN | 3934 | RCN www.cargonews.com.br

O cooperativismo e a fidelidade são os respon-sáveis pelo sucesso. A estrutura compreende to-das as necessidades do produtor e permite foco na produção. As estratégias de comercialização orientam a venda de 100% da produção com a negociação direta dos produtores.

Isso é possível a partir da diversificação da produção pecuária e o desenvolvimento de no-vas tecnologias na produção como o sistema rotativo. Os principais produtos são rações e de origem pecuária (leite e suíno) e agrícolas (soja, milho e trigo).

Os ganhos da cooperativa vêm da diversi-ficação da produção, do foco no produtor e do cooperativismo. A pecuária de leite e su-inocultura tem o mesmo nível tecnológico de padrões genéticos nacionais e internacionais.

Considerações FinaisOs exemplos descrevem a conscientização de

um desenvolvimento sustentável que defende e preserva o meio ambiente em atividades produ-tivas. A constituição de uma PTS que beneficie os aspectos logísticos e o processo de industria-lização se destaca pelo domínio da atividade de marketing, técnicas mercadológicas variadas, produtos diferenciados, estratégia de precifica-ção, inovação tecnológica e sistema de informa-ção de produção integrado ao mercado.

Os EES são práticas que auxiliam o pequeno produtor e sua rede de influência. O desafio é a comercialização, o acesso a créditos e a as-sistência técnica. O atual fator competitivo é a

busca por matéria prima e destaca a falta de uma visão sistêmica. A passividade e o interesse pelo novo ou por fontes alternativas de renda são os grandes entraves.

Aplicar os elementos de uma plataforma lo-gística em localidades menores apresenta de-safios quanto à governança, por estabelecer melhor articulação social, econômica e políti-ca entre o setor público, privado, sociedade e demais organizações; financiamento, que pro-vê formas de tornar o valor dos bens e serviços solidários atrativos aos investidores; criação de canais alternativos de comercialização e ma-rketing; criação de direitos de propriedade; e apropriação de novas tecnologias desenvolvidas pelos atores.

Em tempos de busca por eficiência, alterna-tivas que combatem o desperdício são diferen-ciais de modernização ao processo de produção. A união de pessoas, a estrutura de governança e uma estrutura adequada são os pilares da PTS, cujo lema é “nenhum é tão bom quanto todos juntos”.

ReferênciasDuarte, P. C. (2004) Desenvolvimento de pla-

taformas logísticas: visão estratégica e políticas públicas. XI SIMPEP. São Paulo, Bauru, 2004.

Raghiante, F. (2010) Processamento e apro-veitamento integral de pescado. Ministério da Educação. Minas Gerais, Uberlândia, 2010.

SIES/SENAES. Atlas da Economia Solidária (2007). Plataforma online. 2007. Disponível em <http://www.sies.mte.gov.br>. Acesso em 29/06/2011.

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