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8/18/2019 PME 66 - EU CONSEGUI.pdf http://slidepdf.com/reader/full/pme-66-eu-conseguipdf 1/2 74 | Exame PME | Outubro 2013 Setembro 2010 | Exame PME | 75 Agosto 2010 EXAME PME | 75 O empreendedor dos gadgets Em uma década, o administrador Alexandre Ostrowiecki, ao lado do sócio, Renato Feder, transformou uma empresa de reciclagem de cartuchos numa fabricante de smartphones, tablets e GPS que faturou 770 milhões de reais em 2012 E m 2003, o empreendedor Alexandre Ostrowie- cki estava com 24 anos quando herdou inesperada- mente o comando da Multilaser, uma pequena empresa que a- zia reciclagem de cartuchos de impressoras. O negócio havia si- do undado em 1987 por seu pai, que desapareceu durante uma atividade de mergulho no oceano Pacífico. Na época da tragédia, suas irmãs eram adolescentes e não se interessaram pela empresa. Ostrowiecki, então, comprou a parte delas e chamou um amigo de inância, o administrador Renato Feder, para ser seu sócio. Neste depoimento a Exame PME, Ostrowiecki, hoje com 35 anos, conta como os dois transormaram a Multilaser numa abricante de eletrônicos com 2 700 uncionários e quase 2 000 produtos no catálogo. Meus avós eram judeus polo- neses que passaram a Segunda Guerra em campos de concentração. Depois da guerra, eles se casaram na Alema- nha, tiveram meu pai e em seguida vieram para o Brasil. Posso dizer que minha amília veio do nada mesmo. Eles chegaram aqui em 1950 sem um centavo no bolso, sem alar português, sem parentes vivos. O primeiro negócio do meu avô oi um comércio, depois ele montou uma casa de câmbio e, por fim, uma agência de turismo. Meu pai, Israel Ostrowiecki, ormou-se em enge- nharia e trabalhou um tempo em construtoras, mas seu sonho era ter o próprio negócio. Assim, em 1987, ele undou a Multilaser. No início, a empresa importava copiadoras da Xerox, que eram novi- dade no mercado. As vendas iam bem, o problema eram os cartuchos de ton- ner, que custavam quase o preço da própria máquina. Meu pai, então, co- meçou a pesquisar opções mais bara- tas, até que descobriu que nos Estados Unidos estava nascendo uma tecnolo- gia de reciclagem de cartuchos. Uma das pessoas com quem ele entrou em contato se mostrou dispos- ta a ensiná-lo, só que ela morava numa cidadezinha na ronteira com o Cana- dá. Quando chegou lá, a primeira coi- sa que meu pai ez oi comprar casacos e uma caneca de caé. Assim que aprendeu a tecnologia, voltou para o Brasil e transormou a Multilaser na primeira empresa de reciclagem de cartuchos da América Latina. Conser-  vo essa caneca até hoje. Para mim, é o “marco zero” da Multilaser. A empresa  prestava  um serviço no começo: recolhia o cartucho do cliente, reciclava, e depois devolvia pa- ra o mesmo cliente. Com o tempo, a empresa echou parcerias com papela- rias e lojas de inormática para reven- der os cartuchos já reciclados. Em 2002, meu pai me chamou para trabalhar com ele. A Multilaser  já estava com 15 anos, ainda era rela- tivamente pequena, mas não era mais uma microempresa. Tinha uns 200 uncionários e aturava em torno de 30 milhões de reais. Eu estava com 23 anos, era ormado em administração e trabalhavanuma grandeconsultoria, mas aceitei o desafio. Nos primeiros meses, fiquei totalmente perdido. Nem sequer sabia preencher uma nota fis- cal! Ao longo do ano, ui conhecendo a empresa e pegando o serviço. Tive a sorte de ter um pai que me delegava muita coisa. Tanto é que fiz a primeira missão internacional da empresa. Mal tinha entrado e já ui para Ostrowiecki, na fábrica da Multilaser: “Fomos ao mesmo tempo ousados e cautelosos”    F    A    B    I    A    N    O     A    C    C    O    R    S    I EU CONSEGUI ALEXANDRE OSTROWIECKI MULTILASER — SãoPaulo,SP O que faz Fabrica e vende eletrônicos e acessórios de informática Faturamento 770 milhões de reais (1) 1. Em 2012 10/15/13

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74 | Exame PME |Outubro 2013 Setembro 2010 | Exame PME |75 Agosto 2010 | EXAME PME | 75

O empreendedordos gadgetsEm uma década, o administrador Alexandre Ostrowiecki,

ao lado do sócio, Renato Feder, transformou uma empresade reciclagem de cartuchos numa fabricante de smartphones,tablets e GPS que faturou 770 milhões de reais em 2012

Em 2003, o empreendedor Alexandre Ostrowie-cki estava com 24 anos quando  herdou inesperada-mente o comando da Multilaser, uma pequena empresa que a-zia reciclagem de cartuchos de impressoras. O negócio havia si-do undado em 1987 por seu pai, que desapareceu durante uma

atividade de mergulho no oceano Pacífico. Na época da tragédia, suas irmãs eramadolescentes e não se interessaram pela empresa. Ostrowiecki, então, comprou aparte delas e chamou um amigo de inância, o administrador Renato Feder, paraser seu sócio. Neste depoimento a Exame PME, Ostrowiecki, hoje com 35 anos,conta como os dois transormaram a Multilaser numa abricante de eletrônicoscom 2 700 uncionários e quase 2 000 produtos no catálogo.

Meus avós eram judeus polo-neses que passaram a Segunda Guerraem campos de concentração. Depoisda guerra, eles se casaram na Alema-nha, tiveram meu pai e em seguidavieram para o Brasil. Posso dizer queminha amília veio do nada mesmo.

Eles chegaram aqui em 1950 sem umcentavo no bolso, sem alar português,sem parentes vivos.

O primeiro negócio do meu avôoi um comércio, depois ele montouuma casa de câmbio e, por fim, umaagência de turismo. Meu pai, IsraelOstrowiecki, ormou-se em enge-nharia e trabalhou um tempo emconstrutoras, mas seu sonho era tero próprio negócio. Assim, em 1987,ele undou a Multilaser.

No início, a empresa  importavacopiadoras da Xerox, que eram novi-dade no mercado. As vendas iam bem,o problema eram os cartuchos de ton-ner, que custavam quase o preço daprópria máquina. Meu pai, então, co-meçou a pesquisar opções mais bara-

tas, até que descobriu que nos EstadosUnidos estava nascendo uma tecnolo-gia de reciclagem de cartuchos.

Uma das pessoas com quem eleentrou em contato se mostrou dispos-ta a ensiná-lo, só que ela morava numacidadezinha na ronteira com o Cana-dá. Quando chegou lá, a primeira coi-sa que meu pai ez oi comprar casacose uma caneca de caé. Assim queaprendeu a tecnologia, voltou para oBrasil e transormou a Multilaser na

primeira empresa de reciclagem decartuchos da América Latina. Conser- vo essa caneca até hoje. Para mim, é o“marco zero” da Multilaser.

A empresa  prestava um serviçono começo: recolhia o cartucho docliente, reciclava, e depois devolvia pa-ra o mesmo cliente. Com o tempo, aempresa echou parcerias com papela-rias e lojas de inormática para reven-der os cartuchos já reciclados.

Em 2002, meu pai  me chamoupara trabalhar com ele. A Multilaser já estava com 15 anos, ainda era rela-tivamente pequena, mas não era maisuma microempresa. Tinha uns 200uncionários e aturava em torno de

30 milhões de reais. Eu estava com 23anos, era ormado em administração etrabalhava numa grande consultoria,mas aceitei o desafio. Nos primeirosmeses, fiquei totalmente perdido. Nemsequer sabia preencher uma nota fis-cal! Ao longo do ano, ui conhecendoa empresa e pegando o serviço.

Tive a sorte de ter um pai queme delegava muita coisa. Tanto é quefiz a primeira missão internacional daempresa. Mal tinha entrado e já ui para

Ostrowiecki,

na fábricada Multilaser:“Fomos ao

mesmo tempoousados

e cautelosos”   F   A   B   I   A   N   O    A

   C   C   O   R   S   I

EU CONSEGUIALEXANDRE OSTROWIECKIMULTILASER — SãoPaulo,SP 

O que faz Fabrica e vende eletrônicos e acessórios de informática

Faturamento 770 milhões de reais(1)

1. Em 2012

10/15/13

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EU CONSEGUI

76 | Exame PME | Outubro 2013

— Com reportagem de Ivana Traversim

pois continuamos lançando mais ele-trônicos, sempre algo interessante pa-ra nossos clientes venderem.

Nossos clientes aceitaram bem aampliação do catálogo e deixamos dedepender de apenas um produto. Em2007, para ganhar escala, desativamos

a unidade de cartuchos de São Paulo einauguramos uma ábrica no municí-pio de Extrema, em Minas Gerais.Uma semana antes da abertura da á-brica, um grupo armado roubou todoo nosso estoque. Como ainda não tí-nhamos contratado seguro, tivemosde recomprar a mercadoria. Apesar doprejuízo, superamos o baque. Ainda importamos componen-tes da Ásia, mas azemos uma série deprocessos na ábrica, como inserção

FUNCIONÁRIOS

2700Fonte Empresa

OS NÚMEROS DAMULTILASER

a China. Depois assumi mais respon-sabilidades e passei a cuidar das impor-tações e da parte financeira.

Um dos hobbies de meu pai era aprática de mergulho. Em 2003, ele oi

para a Costa Rica participar de ummergulho em alta correnteza no ocea-no Pacífico. Dos 12 mergulhadores,dois não voltaram. Meu pai era umdeles. Eu estava no escritório quandorecebi a notícia e ui imediatamentepara lá. Depois de uma semana, aGuarda Costeira encerrou as buscas eeu voltei ao Brasil com o dilema doque azer com a empresa.

Não sei se agi certo, mas a pri-meira coisa que fiz quando voltei oi

 jogar ora a mesa do meu pai e colocara minha no lugar. Com esse gesto, ten-tei passar aos uncionários a ideia deque não haveria um vácuo na gestãoda empresa. Depois, chamei os res-ponsáveis de cada área, peguei o com-promisso de cada um deles e conseguique a transição não osse traumática.

Minhas irmãs não quiseram sa-ber do negócio — uma estava com 21anos e morava nos Estados Unidos; aoutra, tinha 12. Então, juntei minhas

economias e comprei a parte delas.Três meses depois, resolvi que nãoqueria tocar a empresa sozinho econvidei um amigo de inância, o Re-nato Feder, para ser meu sócio. Eletopou e estamos juntos até hoje. ORenato também é ormado em admi-nistração e na época trabalhava nu-ma grande empresa.

Em 2004, as vendas de cartu-chos haviam estagnado e começavama cair. Foi quando resolvemos traba-

lhar com outros produtos de inormá-tica. Os notebooks e os computadorespessoais estavam se popularizando, etodo esse público precisaria de acessó-rios. Fomos para a Ásia em busca deornecedores e lançamos uma linha desuprimentos, como caixas de som,mouses, microones, CDs e DVDs.

Além dos artigos de inormática,passamos a investir em eletrônicos. Osprimeiros produtos oram uma câme-ra digital e um tocador de MP3. De-

automática de componentes, monta-gem, testes, gravação dos sofwares.Até aprendi a alar mandarim para ne-gociar a importação da China e esco-lher melhor os ornecedores. Tambémapereiçoamos constantemente a lo-

gística e o pós-venda. Temos cerca de20 000 clientes em todo o país.

É muito dinâmico o mercado de eletrônicos e acessórios de inormáti-ca. Temos de buscar novidades o tem-po todo para dar conta da evolução datecnologia. Hoje, a Multilaser é umamáquina de lançamentos. Não vende-mos bens duráveis e ocamos produ-tos compactos voltados para um gran-de público. Costumo brincar que umproduto só pode azer parte do catálo-

go da Multilaser se puder cair no pésem machucar. Foi com essa filosofiaque ampliamos a linha de produtospara quase 2 000 itens, como pen dri- ves, roteadores, aparelhos de som paracarro, GPS, tablets, smartphones.

A história da Multilaser é umahistória conjunta minha e do Renato.Não tenho mérito sozinho pelo suces-so da empresa. Nos últimos dez anos, aúnica coisa que fiz sem a ajuda dele oi jogar ora a mesa de meu pai. No geral,

eu cuido de compras e processo; e oRenato, de vendas e abricação. Mastodos os gestores respondem paramim e para ele. Se um der uma ordem,o outro sabe que essa ordem está dada.Por outro lado, um projeto não sai dopapel sem que os dois concordem.

O negócio deu certo porque nos-sa sociedade está baseada em absolutaconfiança e porque omos ousados ecautelosos ao mesmo tempo. Nenhumprojeto colocou a empresa em risco.

Acabamos de lançar a marca Multikidspara testar o mercado de brinquedos.A meta é levar a Multilaser a aturarcerca de 1 bilhão de reais neste ano.

Decidimos que parentes nãotrabalham na empresa. Futuramentequeremos deixar uma política de su-cessão para nossos filhos. É bomquando um filho assume a empresa,desde que esteja preparado para isso eseja algo que ele queira.

PRODUTOS NO CATÁLOGO

2006

2004

 150

2007

2010

2011

2013

 450

700

900

 1400

 1800

220

FATURAMENTO (em milhões de reais)

304

770

1155424

2002 2004 2006 2008 20122010

10/15/13 2:57