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Introdução da aula: Uma reflexão a respeito das sociedades que ainda mantém um sistema de castas ou uma estagnação social. Com isso a frase “Pobre de quem não é Cacique, nem nunca vai ser Pajé” tenta mostrar que aquele que não nasceu em uma casta ou estrato social naturalmente beneficiado não terá a oportunidade de ser tão bem promovido como alguém de um estrato mais alto ou mais beneficiado. A música que introduz a aula é “Minha tribo sou eu” do Zeca Baleiro cuja letra segue abaixo: MINHA TRIBO SOU EU eu não sou cristão eu não sou ateu não sou japa não sou chicano não sou europeu eu não sou negão eu não sou judeu não sou do samba nem sou do rock minha tribo sou eu eu não sou playboy eu não sou plebeu não sou hippie hype skinhead nazi fariseu a terra se move falou Galileu não sou maluco nem sou careta minha tribo sou eu ai ai ai ai ai ié ié ié ié ié pobre de quem não é cacique nem nunca vai ser pajé Pobre de quem não é Cacique, Nem nunca vai ser Pajé.

Pobre de quem não é Cacique, Nem nunca vai ser Pajé....de castas ou uma estagnação social. Com isso a frase “Pobre de quem não é Cacique, nem nunca vai ser Pajé” tenta

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Introdução da aula: Uma reflexão a respeito das sociedades que ainda mantém um sistema de castas ou uma estagnação social. Com isso a frase “Pobre de quem não é Cacique, nem nunca vai ser Pajé” tenta mostrar que aquele que não nasceu em uma casta ou estrato social naturalmente beneficiado não terá a oportunidade de ser tão bem promovido como alguém de um estrato mais alto ou mais beneficiado.

A música que introduz a aula é “Minha tribo sou eu” do Zeca Baleiro cuja letra segue abaixo:

MINHA TRIBO SOU EU

eu não sou cristão eu não sou ateu não sou japa não sou chicano não sou europeu eu não sou negão eu não sou judeu não sou do samba nem sou do rock minha tribo sou eu

eu não sou playboy eu não sou plebeu não sou hippie hype skinhead nazi fariseu a terra se move falou Galileu não sou maluco nem sou careta minha tribo sou eu

ai ai ai ai ai ié ié ié ié ié pobre de quem não é cacique nem nunca vai ser pajé

Pobre de quem não é Cacique,Nem nunca vai ser Pajé.

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Billie Holiday é uma cantora representante de uma geração de negros que, uma vez livres das obrigações servis da escravidão, buscam obter dinheiro de maneira honesta. O trabalho é muito difícil de encontrar porque ainda há um forte preconceito contra os negros – herança das políticas eugênicas e das leis de segregação racial. Por causa disso muitos negros acabam virando músicos, principalmente de blues, e assim ganham a vida no meio dos brancos.

Mesmo quando o governo retira a legalidade da segregação o povo não aceita o negro como participante dos mesmos direitos que eles pelo simples fato de serem negros. Um exemplo da expressão desse racismo são os grupos skinheads e a Klu Klux Klan que agridem fisicamente os negros, os perseguem e matam. Um ódio racial é gerado e pode ter fundamento na eugênica noção de que os negros são inferiores que os brancos.

Alguns negros faziam letras com tom mais satânico para assustar os brancos e afugentar aqueles que se arriscavam nos bairros tipicamente de negros. Um exemplo disso é o Robert Johnson que canta em Cross Roads uma vez em que fez um pacto com o próprio demônio:

Cross Road Blues

I went down to the crossroads

Fell down on my knees

I went down to the crossroads

Fell down on my knees

Asked the Lord above for mercy

"Save me if you please"

I went down to the crossroads

Tried to flag a ride

I went down to the crossroads

Tried to flag a ride

Nobody seemed to know me

Everybody passed me by

I'm going down to Rosedale

Take my rider by my side

I'm going down to Rosedale

Take my rider by my side

You can still barrelhouse

Baby, on the riverside

You can run, you can run

Tell my friend-boy Willie Brown

You can run, you can run

Tell my friend-boy Willie Brown

And I'm standing at the crossroads

Believe I'm sinking down

Cross Road Blues

Eu desci para a encruzilhada

Caí sob os meus joelhos

Eu desci para a encruzilhada

Caí sob os meus joelhos

Clamei ao Senhor por misericórdia

"Salve-me por favor"

Eu desci para a encruzilhada

Tentei pegar carona

Eu desci para a encruzilhada

Tentei pegar carona

Ninguém parecia me conhecer

Todo mundo passou por mim

Estou indo para Rosedale

Levo meu cavaleiro ao meu lado

Estou indo para Rosedale

Levo meu cavaleiro ao meu lado

Você ainda pode descer o nível

baby, a beira do rio

Você pode correr, você pode correr

Diga ao meu amigo Willie Brown

Você pode correr, você pode correr

Diga ao meu amigo Willie Brown

E eu estou parado na encruzilhada

Acredite, eu estou afundando

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Nesse momento surgem os movimentos pelos direitos civis dos negros. A maior vitória desse movimento foi a adoção de medidas positivas de integração social. Essas medidas facilitavam o acesso dos negros a ambientes tradicionalmente (e, até então, obrigatoriamente) de brancos.

Essas medidas tinham uma função compensatória já que compensavam a discriminação do branco pelo negro fornecendo vagas e espaços obrigatoriamente de negros nesses espaços. O convívio com os negros desmistifica a maioria dos argumentos que antes justificavam a segregação e serviam de pilares para o racismo.

No Brasil

No Brasil também tivemos um processo de abolição da escravidão que tornou livre todos os escravos do país. Mas de maneira diferente não criamos, nem deixamos que criassem medidas de inserção desse negro na sociedade brasileira. Assim o negro foi marginalizado e acabou sendo segregado “informalmente” já que as pessoas, mesmo sabendo que a escravidão não existia na legislação brasileira não se sentiam à vontade em conviver com ex-escravos e evitavam esse convívio.

Esse tipo de preconceito tornou o negro marginal em qualquer situação que envolvesse o público. Se as pessoas que compram produtos não gostam de ter esses negros por perto, os produtos que querem convencer seus clientes de que são bons produtos não colocam negros em suas propagandas, pelo menos não na parte feliz e central da propaganda. Até aí temos um problema da sociedade que ainda vive o resquício da tradição escravocrata brasileira, mas é também aí que cavamos o buraco do qual tentamos sair atualmente.

Uma criança que cresce nesse contexto – imaginemos a geração seguinte àquela que viu os

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escravos se tornando livres – vive vendo os pais evitando o contato dos negros e o convívio de crianças negras com ela. Imaginemos que essa criança questiona a proibição de envolvimento com os negros e duas justificativas são bem fortes: (1) são filhos de ex-escravos, não têm valores nem moral cristã, são um perigo para a sua formação e seu caráter; (2) são negros, não tem valores nem moral cristã, são um perigo para a sua formação e seu caráter. A primeira justificativa dada não tem duração ao longo de duas ou três gerações já que o caráter “filho de ex-escravos” não é mais pertinente, mas a segunda justificativa, que no fundo era somente uma forma de identificar o ex-escravo (negro, portanto ex-escravo ou filho dele) não só se mantém, mas também perde a lógica de reconhecimento de famílias de ex-escravos. Com gerações passando a justificativa reduz-se somente a “é negro, eles não são bons”.

Atualmente ser racista ou preconceituoso é “politicamente incorreto”. Com isso, muitas pessoas no seu lido “político”, ou seja, no seu comportamento diante de um público ou com determinadas pessoas das quais quer algum benefício ou certa admiração, as pessoas buscam evitar comportamentos e, principalmente, colocações que expressem o seu preconceito. É evidente, pois, que alguns comportamentos e escolhas lexicais (das palavras de uma frase) estão tão inseridas no nosso dia a dia que é muito difícil percebê-las e, por isso, estão presentes no discurso e no “momento político” dessa tal pessoa.

Alguns acham que esse tipo de preconceito não existe, mas há uma forma de comprovar a sua existência: olhe o comportamento de nossas crianças, eles são reproduções de

comportamentos paternos que geralmente ocorrem no íntimo de seus lares, onde ser preconceituoso é “permitido” já que não precisamos nos preocupar com o “politicamente correto” dentro de nosso lar.

“compreendemos que a criança, quando imita, apreende a atividade do outro e realiza aprendizagem. Não se trata de mera cópia, uma vez que para imitar alguem ela precisa compreender o comportamento do outro, envolver-se intelectualmente na atividade, o que implica representa-lo e avaliar a adequação de sua imitação.”

(Revista Criança do Professor de Educação Infantil, falando sobre o livro “As Trocas com o Adulto” de Vigotski.)

Original da publicação da Lei Áurea de 13 de maio de 1988

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Lembre-se sempre de que o racismo está presente em todo lugar, é preciso reconhecê-lo onde menos desconfiamos de sua presença, pois ali é mais destruidora a sua força.

E é essa referência marcadamente pela cor branca que influência a nossa forma de pensar e que cria nas nossas crianças e adolescentes um ideal de beleza que também é branco, ou moreninho – para dizer que não somos racistas.

Após observar que não encontramos tantos negros nos meios de comunicação (ou publicação) de massa quanto as estatísticas dizem existir em nosso país somos levados a perguntar: “Onde estão os negros de nosso país?”. A resposta pode vir rápido: “nos esportes!”, ou ainda “na música” (samba, pagode, rap etc), mas após uma análise mais detalhada percebemos que os negros estão nos coletivos, indo e vindo de seus trabalhos (assim como boa parte dos brancos) e, agora diferentemente do branco, grande parte se encontra nas penitenciárias de todo o país.

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Partindo do princípio de que os seres humanos, independente da raça, são iguais em capacidade e na habilidade de incorporar princípios sociais que regem a vida em sociedade somos levados, novamente, a uma outra pergunta: “Por que essa diferença, se somos todos capazes e estamos todos aptos a conseguir as mesmas coisas, galgar os mesmos postos dentro das mesmas empresas e até nos permitem frequentar os mesmos lugares da mesma forma?”. A princípio essa pergunta segue sem uma resposta muito clara, mas há quem diga e muita gente que concorde que boa parte dessa diferença se justifica pela maneira preconceituosa com que os negros são tratados ao longo de toda a sua história.

Esse preconceito “à brasileira” (mistificado dentro de uma falsa democracia racial como uma forma branda de preconceito ou dizendo que a miscigenação tão marcante no povo brasileiro tenha diluído o racismo da pós-escravidão) cria uma forma mais cruel de preconceito que é o preconceito inconsciente. Uma forma de pensar preconceituosa gera, mesmo que não percebamos, uma forma de agir diferente para brancos e negros.

As consequências dessa forma “informal” de racismo estão expressas nos gráficos abaixo:

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Para ler e aprofundar mais o seu conhecimento. Mas cuidado, as escolhas que fazemos são reflexo de nossas crenças e pensamentos, não adianta escolher somente os textos que fundamentam a sua posição – é preciso ler tudo o que lhes é fornecido! Mas cuidado de novo, aquilo que lhes é fornecido às vezes é escolhido a dedo e os textos são confrontados de forma tendenciosa. Escolha os seus próprios textos, vá atrás dos nomes que as pessoas falam, saiba de quem estão falando e mais, saiba o que falam. Só conhecendo bem ambos os lados de uma discussão é que você pode assumir uma posição – se não for assim você acabará se tornando mais um replicador de clichês. É isso o que você quer?

Reflexões sobre a constitucionalidade das cotas raciais em Universidades Públicas no Brasil: referências internacionais e os desafios pós-julgamento das cotas (Fátima Bayma)Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-40362012000200006

"We have a dream" – cientistas sociais e a controvérsia sobre as cotas raciais na imprensa (Luiz Augusto Campos)Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-44782012000100005

O subproduto social advindo das cotas raciais na educação superior do Brasil (Hélio Santos; Marcilene Garcia de Souza; Karen Sasaki)Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S2176-66812013000200010

Normatividade, políticas públicas educacionais e a questão racial no Brasil (Sidney Reinaldo Silva; Mário Negrão)Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S2176-66812012000400016

Política de cotas raciais, os "olhos da sociedade" e os usos da antropologia: o caso do vestibular da Universidade de Brasília (UnB) (Marcos Chor Maio; Ricardo Ventura Santos)Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832005000100011

Racismo e anti-racismo: preconceito, discriminação e os jovens estudantes nas escolas cariocas (Yvonne Maggie)Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0101-73302006000300006

Os “amigos do povo” contra o mérito (Demétrio Magnoli)Disponível em: ESTADÃO de 16 de agosto ou http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/feira-livre/os-amigos-do-povo-contra-o-merito-por-demetrio-magnoli/

Monstros Tristonhos (Demétrio Magnoli)Disponível em: http://www.imil.org.br/artigos/monstros-tristonhos/

Resposta de Kabenguele Munanga a Demétrio MagnoliDisponívelem:http://www.idelberavelar.com/archives/2009/07/resposta_de_kabenguele_munanga_a_demetrio_magnoli.php

Um breve texto a favor das cotas raciaisDisponível em: http://ensaiosdegenero.wordpress.com/2012/11/21/um-breve-texto-a-favor-das-cotas-raciais-no-ensino-superior/

As cotas para negros: por que mudei de opiniãoDisponívelem:http://www.pciconcursos.com.br/comopassar/as-cotas-para-negros-por-que-mudei-de-opiniao