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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE SÃO PAULO Juízo Eleitoral do Foro Distrital de Paulínia Processo Civil – Ação de Impugnação de Mandato Eletivo nº 288/08 Vistos. COLIGAÇÃO PARTIDÁRIA “RENOVA PAULÍNIA”, DIRETÓRIO MUNICIPAL DO PARTIDO DOS TRABALHADORES – PT e DIRETÓRIO MUNICIPAL DO PARTIDO DA REPÚBLICA – PR, DIXON RONAN CARVALHO e LUCIANO BENTO RAMALHO, já qualificados nos autos, ajuizaram ação de impugnação de mandato eletivo contra JOSÉ PAVAN JÚNIOR, SIMONE MOURA e COLIGAÇÃO “CONHECENDO O PRESENTE, GARANTINDO O FUTURO”, aduzindo, resumidamente, que os impugnados praticaram condutas caracterizadoras de abuso de poder econômico e corrupção, consistentes em perseguições e ameaças de morte a Dixon Ronan Carvalho, candidato ao pleito majoritário; desapropriações de áreas públicas pelo então prefeito Edson Moura, apoiador da campanha dos impugnados; compra de votos; uso indevido dos meios de comunicação social.  Afirmaram que houve abuso de poder, eis que os réus exploraram a hierarquia e dependência econômica com relação a funcionários de uma empresa prestadora de serviços do município, com o fim de influenciar a vontade popular e incutir medo nos trabalhadores, caso não votassem nos 1

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Juízo Eleitoral do Foro Distrital de PaulíniaProcesso Civil – Ação de Impugnação de Mandato Eletivo nº 288/08

Vistos.

COLIGAÇÃO   PARTIDÁRIA   “RENOVA   PAULÍNIA”, 

DIRETÓRIO MUNICIPAL DO PARTIDO DOS TRABALHADORES – PT e 

DIRETÓRIO   MUNICIPAL   DO   PARTIDO   DA   REPÚBLICA   –   PR,   DIXON 

RONAN CARVALHO e LUCIANO BENTO RAMALHO,  já  qualificados nos 

autos,   ajuizaram   ação   de   impugnação   de   mandato   eletivo   contra   JOSÉ 

PAVAN   JÚNIOR,   SIMONE   MOURA   e   COLIGAÇÃO   “CONHECENDO   O 

PRESENTE, GARANTINDO O FUTURO”, aduzindo, resumidamente, que os 

impugnados   praticaram   condutas   caracterizadoras   de   abuso   de   poder 

econômico e corrupção, consistentes em perseguições e ameaças de morte 

a Dixon Ronan Carvalho, candidato ao pleito majoritário; desapropriações de 

áreas públicas pelo então prefeito Edson Moura, apoiador da campanha dos 

impugnados;  compra  de  votos;  uso   indevido  dos  meios  de  comunicação 

social.  Afirmaram que houve abuso de poder, eis que os réus exploraram a 

hierarquia e dependência econômica com relação a  funcionários de uma 

empresa prestadora de serviços do município, com o fim de  influenciar a 

vontade popular e incutir medo nos trabalhadores, caso não votassem nos 

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réus. Sustentaram a ocorrência de captação ilícita de recursos e gastos não 

declarados,   enumerando  nove   situações  específicas  em que   teriam sido 

sonegadas informações na prestação de contas. Por fim, alegaram que os 

réus   ofereceram   dinheiro   em   troca   dos   votos   de   diversos   eleitores. 

Pleitearam  a   concessão  de   liminar   para   cassação  do  mandato  de   José 

Pavan   Júnior.    Arrolaram seis   testemunhas.     Juntaram  documentos   (fls. 

34/434).

O   Ministério   Público   opinou   contrariamente   à 

concessão da liminar (fls. 437/440), que foi indeferida (fls. 442).

Os impugnantes juntaram cópia da ata de diplomação 

dos candidatos eleitos (fls. 445/446) e outros documentos (fls. 450/484).

A  petição   inicial   foi   emendada  para  excluir   do  pólo 

passivo  a  Coligação  “Conhecendo o Presente,  Garantindo o  Futuro”   (fls. 

489/490).

Em contestação (fls. 507/550), que veio acompanhada 

de documentos (fls.  551/810),  os  impugnados alegaram, preliminarmente, 

falta   de   documento   essencial   consistente   na   certidão   de   diplomação; 

ausência de interesse de agir e legitimidade para as questões referentes à 

prestação de contas, pois nenhum recurso foi interposto da decisão judicial 

que as aprovou; e petição inicial fundada em prova ilícita, já que a escuta 

telefônica   juntada  pelos   impugnantes   não   foi   realizada  por   um   de   seus 

interlocutores   nem   está   sendo  utilizada   por   qualquer   deles.     No   mérito, 

refutaram a alegação de que teria ocorrido abuso de autoridade mediante 

assédio   moral   e   constrangimento   dos   funcionários   da   empresa   Corpus, 

afirmando ainda que esta não é matéria objeto de ação de impugnação de 

mandato   eletivo;   negaram   captação   ilícita   de   recursos   e   gastos   não 

declarados; aduziram não haver captação ilícita de sufrágio; e inexistência 

de abuso de poder, por falta de potencialidade para afetar o resultado da 

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eleição.  Arrolaram cinco testemunhas.  Requereram perícia das gravações 

juntadas com a petição inicial.

O   Ministério   Público   ofereceu   seu   parecer   a   fls. 

812/817.

O   feito   foi   saneado   com   o   afastamento   das 

preliminares,  tendo sido deferida a produção de prova pericial  e oral   (fls. 

819/822).

Durante a audiência de instrução (fls. 841/843), foram 

ouvidas   cinco   testemunhas  arroladas  pelos  autores   (fls.   849/885)   e   três 

pelos réus (886/913).

O laudo pericial foi juntado aos autos (fls.919/1011).

Os   autores   se   manifestaram   a   fls.   1019/1023   e 

juntaram documento (fls. 1024/1038).

Os réus se insurgiram contra a realização da perícia 

(fls. 1039/1040).

Seguiu­se manifestação do Ministério Público, em que 

requereu a oitiva de uma testemunha (fls. 1041).

Por meio da decisão de fls.  1043/1044, deferiu­se a 

oitiva da testemunha e afastou­se a nulidade da perícia.

Constam do processo as decisões proferidas em sede 

de mandado de segurança impetrado perante o E. TRE, referente a esses 

autos (fls. 1048/1050 e 1055/1062).

Realizou­se audiência para a oitiva de testemunha, a 

qual foi presa em flagrante (fls. 1064/1065 e 1069/1086).  Houve pedido de 

arbitramento de fiança em seu favor (fls. 1091/1102), a respeito do qual se 

manifestou o Ministério Público (fls. 1103), não tendo sido ele apreciado em 

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razão da incompetência deste juízo (fls. 1105).  Posteriormente, foi noticiado 

o   deferimento   da   liberdade   provisória,   pelo   juízo   competente   (fls. 

1139/1144).

As   partes   apresentaram   suas   alegações   finais, 

realizando a análise  da prova produzida e  reiterando os  termos de suas 

manifestações   anteriores   (fls.   1109/1135   e   1155/1195),   tendo   os   réus 

juntado aos autos documentos (fls. 1196/1248).

O   Ministério   Público   ofereceu   parecer   pela 

procedência do pedido e consequente cassação dos diplomas conferidos 

aos réus (fls. 1252/1278).

É o relatório.

DECIDO.

Dispõe o artigo 14, § 10, da Constituição Federal:

“O   mandato   eletivo   poderá   ser   impugnado   ante   a   Justiça  

Eleitoral   no  prazo  de  quinze  dias   contados  da  diplomação,  

instruída a ação com provas de abuso do poder econômico,  

corrupção ou fraude.”

Esmiuçando   a   natureza   jurídica   da   ação   de 

impugnação de mandato eletivo, Marcos Ramayana (Direito Eleitoral  – 2ª 

ed., Rio de Janeiro: Impetus, 2004), ensina:

“É   portanto,   uma   ação   de   direito   constitucional  

eleitoral,   cuja   tutela   reside   na   defesa   dos   direitos   públicos   políticos  

subjetivos ativos,  protegendo­se as eleições contra a  influência direta  ou 

indireta dos abusos econômicos, políticos, corrupção e fraudes.

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A   principal   finalidade   dessa   ação,   ao   nosso   sentir,  

reside na defesa dos interesses difusos do eleitor, que foram manipulados 

no exercício do voto, votando num processo eleitoral impregnado por fraude,  

corrupção e abusos, onde o mandamento nuclear do voto, como princípio  

fundamental da soberania popular e político­constitucional, é nulo de pleno  

direito,  conforme dispõe o  art.  175,  §  3º,  do  Código  Eleitoral,  porque,  o  

responsável   pelas   práticas   ilícitas   é   considerado   inelegível,   e   os   votos  

atribuídos aos candidatos   inelegíveis  são essencialmente  nulos de  pleno 

direito.”

Extrai­se dessa lição que o objetivo da presente ação 

é impedir que o candidato que se sagrou vitorioso nas eleições, valendo­se 

de expedientes que viciaram a vontade popular, possa exercer o mandato e 

continuar elegível.  Isto porque o resultado obtido nas eleições não reflete a 

verdadeira intenção de voto da maioria do eleitorado e, consequentemente, 

impede que se reconheça a legitimidade do candidato eleito para exercer o 

mandato, este ilicitamente conquistado.

Importante destacar, no entanto, que o objeto da ação 

de   impugnação   de   mandato   eletivo   é   restrito,   ou   seja,   o   dispositivo 

constitucional retro mencionado o limita à  cassação do mandato eletivo e 

declaração de inelegibilidade, especificamente, em caso de abuso do poder 

econômico, corrupção ou fraude.  Dessa maneira, os fundamentos contidos 

na petição  inicial   referentes à  ocorrência de perseguições e ameaças ao 

autor Dixon Ronan Carvalho, abuso de autoridade e uso indevido dos meios 

de   comunicação   social,   mencionados   pelos   autores   para   embasar   a 

presente ação, não podem ensejar o resultado pretendido.

A via eleita (ação de impugnação de mandato eletivo) 

seria   inadequada   para   o   alcance   do   resultado   pretendido,   caso   ela   se 

fundamentasse exclusivamente nas alegações acima mencionadas, o que 

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ensejaria  a extinção do processo,  com base no artigo 267,   inciso VI,  do 

Código de Processo Civil, por falta de interesse de agir que, traduzido no 

binômio necessidade­adequação, careceria deste último aspecto.

Ocorre   que,   mesmo   excluindo   tais   argumentos   da 

apreciação judicial da presente demanda, remanesce, ainda, o fundamento 

concernente ao abuso do poder econômico, relacionado à captação ilícita de 

recursos e despesas não declaradas e à compra de votos, este sim passível 

de embasar a cassação do mandato eletivo pela via da ação de impugnação 

de   mandato   eletivo.     Serão   estes   os   aspectos   analisados   na   presente 

decisão.

Nove são as irregularidades apontadas pelos autores, 

no tocante aos recursos empregados na campanha política dos réus.

O primeiro  dos argumentos  dos autores consiste  na 

não   contabilização   de   despesas   realizadas   com   a   doação   de   material 

impresso ao candidato a vereador Bonavita.

De  fato, referidos  impressos,  juntados a fls.  454/481 

(cópia) e 1024/1037 dos autos, levam o CNPJ de número 09.827.862/0001­

07,   cadastro   este   atinente   a   “ELEIÇÃO   2008   JOSE   PAVAN   JUNIOR 

PREFEITO” (fls. 482).

Os réus não negam que tal despesa não tenha sido 

declarada na prestação de contas de José Pavan Júnior.  Afirmam, sim, que 

ela   constou   da   prestação   de   contas   do   próprio   candidato   a   vereador 

Bonavita, pessoa em destaque no impresso.

Os documentos de fls. 551/554, quais sejam:  i)  nota 

fiscal emitida pela gráfica em favor do vereador Bonavita; ii) comunicação de 

irregularidade em documento  fiscal;  iii)  cheque emitido no mesmo dia da 

nota fiscal e com o mesmo valor, tendo como beneficiária a gráfica; e  iv) 

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uma   parte   do   que   aparenta   ser   a   prestação   de   contas   do   candidato   a 

vereador,  fazendo menção a tais gastos, são suficientes para demonstrar 

que houve equívoco da gráfica ao inserir o CNPJ do réu José Pavan Júnior 

no impresso eleitoral.

Portanto,  este   fundamento  não  seria   suficiente  para 

ensejar o resultado pretendido na presente ação.

Quanto à não contabilização de serviços prestados por 

cabos eleitorais, também não houve comprovação de tal irregularidade.

As fotos juntadas pelos autores a fls. 290 revelam o 

réu José Pavan Júnior, em um evento público, na companhia de Adair de 

Oliveira.   Por outro lado, segundo os documentos de fls. 555/577, Adair de 

Oliveira   é   vice­presidente   do   Diretório   Municipal   do   Partido  Democrático 

Trabalhista  –  PDT de Paulínia,  partido  coligado ao partido dos  réus nas 

eleições municipais.

Assim, como bem aventado pelos réus, é natural que 

um   dos   mais   graduados   membros   de   um   partido   político   coligado 

acompanhasse   o   candidato   a   eventos   da   campanha   eleitoral,   como 

militante,   e   mesmo   que   prestasse   sua   colaboração   sem   que   fosse 

contratado ou recebesse qualquer numerário para tanto.

No   tocante   a   Ivair   de   Oliveira,   não   há   nos   autos 

qualquer elemento que possa inferir que tenha contribuído para a campanha 

política dos réus, quer circulando com seu veículo como carro de som, quer 

exercendo   função   de   motorista,   tendo,   no   mais,   sido   impugnada   essa 

afirmação pelos réus.

Já   em   relação   à   não   contabilização   dos   serviços 

prestados por João Araújo da Cruz e outros motociclistas, são necessárias 

algumas considerações.

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Em outros feitos envolvendo o depoimento da mesma 

testemunha,  havia  me manifestado pela  fragilidade de seu conteúdo,  em 

parte   tomando   como   fundamento   o   depoimento   da   testemunha   Thiago 

Gomes dos Santos (fls. 886/903), que foi ouvido também na contradita de 

João Araújo da Cruz (fls. 857/859).

Consigno,   no   entanto,   que   em   recente   audiência, 

Thiago Gomes dos Santos se retratou do depoimento que prestara nesses 

autos, remanescendo, assim, a versão de João Araújo da Cruz, a qual, no 

entanto, é questionável.

Explico:    João aduziu   ter   trabalhado durante   toda a 

campanha eleitoral para o réu, porém sequer expressou corretamente seu 

nome nas vezes em que fez menção a ele em seu depoimento, chamando­o 

de José Júnior Pavan, ao invés de José Pavan Júnior.  Disse que o réu lhe 

prometera oitocentos reais, para que “estivesse junto com ele” nas eleições, 

além da oferta de um cargo público, e que os pagamentos em seu favor 

foram feitos por fora.  Relatou que o réu deu dinheiro para várias pessoas, 

durante as visitas que fez nas casas dos eleitores, e que o próprio depoente 

entregou cestas básicas a moradores da Granja Coave.   No mais, contou 

que foram feitas rondas noturnas de motocicletas para fins de intimidação 

dos demais candidatos, mediante o pagamento de cem reais por noite a 

cada motoqueiro.  Informou que sofreu ameaças por parte de Thiago Gomes 

de Souza, para que não viesse depor em juízo.

Não   há   nos   autos,   no   entanto,   qualquer   outro 

elemento, que não o próprio depoimento da testemunha, a comprovar que 

João Araújo da Cruz trabalhou durante a campanha política do réu.

Portanto, ainda que seja plausível a contratação, por 

fora, de motoqueiros para fazer a ronda noturna, mediante pagamento de 

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cem reais por noite, não se tem a certeza necessária para o acolhimento do 

pedido formulado pelos autores.

Além   disso,   impossível   se   extrair   qual   seria   a 

influência desses motoqueiros e da atuação deles para influir no resultado 

do pleito.  

Da mesma  forma a  alegação  de  não contabilização 

dos pagamentos feitos a Gilberto Inez dos Santos e a locação de caminhão 

não foi suficientemente comprovada.

O depoimento de fls. 265/284 evidencia que Gilberto 

foi contratado pelo réu, no período de agosto a 15 de outubro de 2008, para 

colocação   de   placas   na   cidade.     Segundo   consta   do   testemunho,   os 

pagamentos   eram   feitos,   em   dinheiro,   quinzenalmente,   no   diretório   do 

partido.   Os documentos de fls. 578/583, no mesmo sentido, comprovam a 

contratação   de   Gilberto   e   os   pagamentos   feitos   regularmente,   mediante 

cheques sacados da conta eleitoral do réu.  Já quanto a suposta locação de 

caminhão,   genericamente   lançada   pelos   autores,   sem   qualquer 

especificação, não permite sequer o exercício do contraditório e a análise 

judicial da questão.

Não   se   pode   reconhecer,   portanto,   a   não 

contabilização de despesas ou qualquer irregularidade na contratação.

Relativamente   à   contratação   de   serviços   de 

informática e eletrônica, sem que houvesse qualquer registro de aquisição 

ou utilização de computadores,  a defesa oferecida pelos réus esclareceu 

satisfatoriamente que tais máquinas foram alugadas, comprovando tal fato 

por meio dos documentos de fls. 718/720.

No tocante à ausência de registro de doação feita ao 

candidato a vereador Jurandir Matos por meio de instalação de placas em 

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seu comitê,   também não se acolhe o argumento dos autores, eis que os 

documentos de fls. 722/723, evidenciam que houve doação por parte do réu 

em   favor   de   Jurandir   Matos   e   que   essa   situação   foi   discriminada   na 

prestação de contas.

Quanto à falta informação sobre o modo de quitação 

do cheque nº 500009, no valor de R$ 6.100,25, que levaria à não conciliação 

bancária necessária à aprovação das contas dos réus, justificaram os réus 

que houve reapresentação do cheque e correspondente compensação,  o 

que merece ser  acatado por  estar comprovado pelos documentos de  fls. 

724/726.

Já em relação à nota de correção realizada pelo Jornal 

Tribuna de Paulínia Ltda (fls. 288), referente à nota fiscal de serviços de nº 

1127   (fls.   287),   de   fato,   não   aparenta   estar   em   consonância   com   a 

legislação   que   rege   a   alteração   e   correção   de   dados   fiscais.     Duas 

considerações, no entanto, merecem ser feitas.   A primeira no sentido de 

que a prestação de contas eleitoral é atividade de cunho meramente formal, 

em que se analisa se o candidato ou comitê efetuou despesas compatíveis 

com os recursos que  licitamente angariou.   Ainda que se discorde dessa 

proposição, é fato que não se analisa o conteúdo de cada uma das notas 

fiscais   apresentadas,   apenas   se   exige   a   compatibilidade   entre   recursos 

disponíveis   e   gastos   realizados.     Também   é   da   legislação   eleitoral   se 

permitir aos candidatos que retifiquem as contas em um primeiro momento 

apresentadas, o que leva, muitas vezes, a ajustes esdrúxulos.  Esta é a lei.

No presente  caso,  as  despesas  informadas na nota 

fiscal original diziam respeito a uma única inserção no jornal prestador de 

serviços, no valor de R$ 500,00.  Depois da retificação, passaram a constar 

diversas inserções em mais de um jornal e o valor unitário de R$ 300,00.  Ou 

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seja, manteve­se apenas o esqueleto da nota fiscal original e mudou­se todo 

o conteúdo da declaração.

Não cabe a este juízo analisar se houve atendimento 

ou não à legislação tributária, mas tão somente a ocorrência de abuso de 

poder  econômico  decorrente  de  uma declaração  eventualmente   falsa  de 

gastos  de  campanha  eleitoral.    E  neste  aspecto,  os  autores,   apesar  de 

cientes  das  datas  em que   teriam ocorrido  das  publicações   (já   que  elas 

passaram a constar da nota fiscal retificadora), não demonstraram que elas 

não tivessem sido feitas, deixando, portanto, de se desincumbir do ônus que 

lhes é imposto pelo artigo 333, inciso I, do Código de Processo Civil.

 Por isso, também não merece prevalecer o argumento 

acima.

Quanto   ao   fundamento   referente   a   placas   de 

propaganda eleitoral  não contabilizadas na prestação de contas, há  mera 

alusão a   isto  na  petição  inicial,  sem qualquer   indicação de quais  placas 

seriam essas,  em  favor  de quem, colocadas em que  lugares, etc,  sendo 

impossível a este juízo conhecer os fatos e aos réus exercer o direito de 

contraditório.

Ficam,   portanto,   afastados   todos   os   argumentos 

referentes ao abuso do poder econômico relativos à não contabilização de 

despesas na prestação de contas eleitoral.

Passa­se à análise da ocorrência de abuso do poder 

econômico vinculado à compra de votos.

Na   petição   inicial,   os   autores   imputam   aos   réus   a 

captação ilícita de votos, mediante oferecimento de dinheiro em espécie a 

diversos eleitores, entre os quais:  Tiago Soares da Costa, Carmem Lúcia de 

Souza  Abreu,  Vanessa  da  Silva  Paraíso,  Pedro  Elias  da  Silva,  Fabiana 

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Araújo   Carneiro,   Josivandira   Josina   Gonçalves,   Inocência   Ribeiro   Dutra, 

Maria   Santa   Pascoal   dos   Santos,   Sirlei   de   Almeida   da   Silva   Botrechio, 

Antônia Vera Lúcia de Assis.

Afora os documentos juntados pelos autores em que 

constam   declarações   particulares  e   unilaterais   prestadas  pelos   supostos 

eleitores   (fls.  291/299),  as  quais   foram  impugnadas  pelos   réus,  algumas 

pessoas prestaram depoimentos em  juízo,  ora confirmando suas versões 

anteriores, ora trazendo novos dadoos relativos à compra de votos.

Inocência Ribeiro  Dutra  (fls.  867/872)  afirmou que é 

filiada e militante política do Partido dos Trabalhadores, há muito tempo, e 

que recebeu, pessoalmente do réu José Pavan Júnior, a oferta de cinco mil 

reais   para   que   ela   e   seus   familiares   votassem   nele.     A   isenção   do 

depoimento   desta   testemunha,   no   entanto,   é   questionável,   eis   que 

expressou claramente predileção pelo partido em questão e não é crível que 

o candidato a prefeito, às vésperas das eleições, tenha se dirigido a uma 

conhecida militante do partido adversário para lhe comprar o voto.

José Carlos Moreira (fls. 882/885) não contribuiu para 

a elucidação da ocorrência de compra de votos, apenas narrou como teriam 

sido   as   negociações,   antes   do   período   eleitoral,   para   que   o   PPS   se 

coligasse com os partidos autores ou com o dos réus.

O   depoimento   de   Thiago   Gomes   de   Souza   (fls. 

886/903), por sua vez, é imprestável, já que desprovido de credibilidade.  A 

testemunha titubeou diversas vezes em resposta às perguntas que lhe foram 

formuladas e não soube explicar a origem dos gastos desproporcionais à 

sua condição econômica que fez na cidade de Campinas, como a lavratura 

de escrituras públicas em companhia de Antônio Petson Paes, presidente do 

PPS de Paulínia (partido coligado ao partido dos réus), e a hospedagem de 

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sua  família  em hotel,  mediante  pagamento  em dinheiro  de  R$ 1.500,00, 

sendo sua profissão de garçom e sua renda mensal em valor inferior a isso.

Alex dos Anjos (fls. 904/909), funcionário da empresa 

Corpus,  não  tinha conhecimento  acerca da compra  de votos,  apenas da 

reunião realizada pelos réus,  à  qual  os empregados de referida empresa 

foram convidados a participar.  Tais fatos, conforme já se expôs supra, não 

serão objeto de análise na presente ação, pois estão atrelados a abuso de 

poder de autoridade, que não serve de fundamento à ação de impugnação 

de mandato eletivo.

Ainda,  Aparecido   do  Carmo  Camargo   (fls.   910/913) 

disse   que   propôs   a   realização   de   um   churrasco   para   a   candidata   a 

vereadora   Ângela   Duarte,   porém   ela   não   aceitou   sua   sugestão,   e   tal 

proposta não foi feita ao candidato réu.

O único depoimento que acrescenta dados relativos à 

compra de votos e ao abuso do poder econômico é o de Sérgio Caetano 

Lopes (fls. 873/881), que presenciou o ex­prefeito Edson Moura, apoiador da 

campanha política dos réus, em uma casa,  no bairro Alto  dos Pinheiros, 

distribuindo dinheiro a diversas pessoas, nos valores de quinhentos a um mil 

reais.  A testemunha nominou a dona da casa de Brígida e uma das pessoas 

que aceitou o dinheiro de Ângela.   Além disso, contou que é membro da 

igreja Assembléia de Deus Ministério Madureira, a qual possui cerca de um 

mil pessoas, e que esta apoiou os candidatos a vereador Sandro Caprino e 

a prefeito José Pavan Júnior, tendo o presidente da igreja, Samuel Ferreira, 

ordenado aos pastores para que orientassem os fiéis a votarem em referidos 

candidatos, apresentando­os como “candidatos oficiais da igreja”.   Revelou 

que o   réu Pavan doou para  a   igreja  um  terreno ao  lado,  para servir  de 

estacionamento, o qual há anos a igreja tinha interesse em adquirir, tendo 

sido,   inclusive,   feito  na   igreja  o   “levantamento  de  dinheiro  para  pagar  a  

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documentação do terreno e papel”.    Acrescentou que o pastor Cleberson 

passou na casa das pessoas para anotar o número do título de eleitor delas, 

para depois das eleições conferir se elas haviam votado no candidato da 

igreja.   Disse também que soube de duas outras ocasiões em que o réu 

José Pavan Júnior e o ex­prefeito Edson Moura ofereceram dinheiro e bens 

em favor dos eleitores, as quais se deram na sede da igreja de Paulínia, na 

avenida Brasília, e no bairro Chácara Flora.

Conforme   se   verifica   do   depoimento   prestado   pela 

testemunha, os réus, apoiados pelo ex­prefeito Edson Moura, abusaram do 

poder   econômico,   oferecendo   vantagem pecuniária   aos  munícipes  e  um 

bem, o terreno, em favor de uma igreja, cuja comunidade congrega cerca de 

um mil pessoas.

Em acréscimo a tal situação, ou seja, corroborando a 

ocorrência de abuso de poder econômico durante as eleições, há nos autos 

a perícia técnica realizada sobre uma gravação em CD (fls. 919/1011).

Em primeiro lugar, afasto a alegação dos réus, quanto 

à imprestabilidade da prova obtida por meios ilícitos.

Não se olvida que a gravação em questão foi realizada 

por  um dos   interlocutores  e   trazida  aos  autos  por   terceiro.    Há   dúvidas 

acerca de como os autores tiveram acesso a ela, sendo crível que a própria 

testemunha   lhes   tenha   fornecido,   já   que   a   alegação   de   ela   teria   sido 

misteriosamente   furtada,   quando   pouquíssimas   pessoas   tinham 

conhecimento dela, não se mostra verossímel.

Porém, ainda que assim  fosse e  que se  concluísse 

que a prova juntada aos autos pelos autores teria origem ilícita (até por não 

estar sendo utilizada por um dos interlocutores), é de se aplicar ao caso o 

princípio da proporcionalidade.

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Com  efeito,   o   artigo  5º,   inciso  LVI,   da  Constituição 

Federal veda o emprego no processo de provas obtidas por meios ilícitos.  

Por outro lado, o artigo 1º prevê como fundamento de 

nosso estado republicano a cidadania e, em seu § 1º, esclarece que todo o 

poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou 

diretamente,  nos   termos  da  Constituição.    Mais  adiante,   como  forma de 

concretização  dessas  disposições,   o   artigo  14  disciplina  o  exercício   dos 

direitos   políticos,   prevendo   a   possibilidade   de   impugnação   do   mandato 

eletivo, em caso de abuso de poder econômico.

Verifica­se,  portanto,  que,  ao  direito  constitucional  a 

um   processo   livre   de   provas   produzidas   em   desacordo   com   nosso 

ordenamento jurídico, se contrapõe o direito de cada cidadão brasileiro de 

se   fazer   representar   por   alguém   que   foi   legitimamente   eleito,   que 

verdadeiramente simbolize a vontade do eleitorado. 

Nesse   embate   de   direitos   constitucionalmente 

previstos, deve ser aplicado o princípio da proporcionalidade, que impõe a 

prevalência do bem mais valioso entre aqueles igualmente protegidos.

No caso, o direito da população paulinense de poder 

eleger seu representante de maneira livre, sem a influência de um poderio 

econômico alheio às regras das eleições, se sobrepõe ao direito dos réus de 

serem   submetidos   a   um   processo   baseado   em   provas   produzidas 

exclusivamente  pelos  meios  admitidos  em direito,  bem como  a  eventual 

direito à intimidade que pudesse estar em jogo.

Em análise  às  provas   ilícitas,  Alexandre  de  Moraes 

(Direito Constitucional  – 24ª ed,  São Paulo: Atlas, 2009, pág.  111),  após 

explicar a garantia constitucional acerca da vedação de seu emprego em 

processos judiciais, ressalva:

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“Saliente­se,   porém,   que   a   doutrina   constitucional  

passou a atenuar a vedação das provas ilícitas, visando corrigir distorções a  

que a rigidez da exclusão poderia levar em casos de excepcional gravidade.  

Esta   atenuação   prevê,   com   base   no  Princípio   da   Proporcionalidade,  

hipóteses em que as provas  ilícitas,  em caráter  excepcional  e em casos 

extremamente   graves,   poderão   ser   utilizadas,   pois   nenhuma   liberdade  

pública é absoluta, havendo possibilidade, em casos delicados, em que se  

percebe que o direito tutelado é mais importante que o direito à intimidade,  

segredo,   liberdade   de   comunicação,   por   exemplo,   de   permitir­se   sua  

utilização.“

Na presente situação, mostra­se evidente que o direito 

a   prevalecer   é   o   do   cidadão   de   Paulínia,   titular   do   poder,   que   teve   o 

exercício   do   direito   de   voto   e   o   direito   de   se   fazer   legitimamente 

representado no exercício do poder violado.

Não há que se falar, portanto, em imprestabilidade da 

prova, cuja análise passa­se a fazer.

A   gravação   ambiental,   submetida   a   perícia   judicial, 

demonstra que o réu José Pavan Júnior, pessoalmente, prometeu a Realino 

Carlos Rosa, vulgo Papinha,  o valor de cem mil   reais em dinheiro  e um 

cargo na prefeitura, em troca de sua contribuição para que este o ajudasse 

durante o final da campanha eleitoral.

A conversa se dá entre Davi, Papinha e Pavan, com 

pouca   participação   da   esposa   de   Papinha.     Durante   o   diálogo   eles   se 

referem   à   forma   como   as   pessoas   carentes   da   cidade   merecem   ser 

atendidas, às eleições municipais e, finalmente, à promessa de cem mil reais 

e de um cargo na prefeitura, caso o réu se sagrasse vencedor, na área de 

atendimento ao público necessitado.

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A   fls.   932,   Papinha   oferece   sua   ajuda   a   Pavan   e 

menciona que conhece muita  gente,   tanto  nas avenidas principais,  onde 

possui muitos clientes, como nos bairros.   Em seguida, já em fls. 933, os 

interlocutores aduzem que estão na última semana e que há muitos eleitores 

indecisos.

Já a fls. 947 se inicia a primeira abordagem de Pavan, 

para que Papinha o ajude a ganhar as eleições municipais: “que que eu 

preciso fazer pra você me ajudar?”.

Em   seguida,   enquanto   Pavan   estabelece   uma 

conversa ao telefone com pessoa não identificada (fls. 948), Davi e Papinha 

começam a calcular  quantos são os membros da  igreja  e quantos votos 

poderiam ser conquistados em favor de Pavan, chegando ao consenso de 

dois mil (fls. 952).

Retomando a pergunta formulada por Pavan, Papinha 

responde que, para ajudá­lo, queria cem mil reais e um cargo na prefeitura, 

para servir de ligação entre o povo e o prefeito, caso o réu se elegesse.  Em 

um   primeiro   momento,   há   certa   dúvida,   em   razão   dos   risos   dos 

interlocutores, acerca do valor proposto, porém, posteriormente obtém­se a 

certeza da seriedade da proposta (fls. 956).

Depois de nova conversa de Pavan ao telefone, o trato 

continua a ser feito (fls. 961, ao final), tendo em seguida o réu concordado 

com os termos da proposta, nos seguintes termos (1 – Davi; 2 – Papinha; 3 

– Pavan): 

“3 vamos... o ... o cargo tá certo, e o dinheiro agora eu  

preciso ver... não, vamos fechar...

1 vamos fechar se fechar a gente consegue tudo...

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3 vamos fechar eu consigo... eu ... eu consigo o... não 

sei, até quarta, quinta­feira eu venho aqui e trago pra você...

2 tudo bem.”

Deste ponto até o final da gravação, os interlocutores 

insistem nos aspectos do acordo e na necessidade de ele ser cumprido.

Quando   ouvido   em   juízo,   Realino   Carlos  Rosa   (fls. 

1069/1086), contou que conhecia diversas pessoas na Granja Coave e, por 

isso, havia sido contatado pelo candidato Dixon Ronan Carvalho, para que o 

auxiliasse na campanha política dele junto aos moradores desse local.  Com 

relação à gravação da reunião realizada com o réu e Davi, esclareceu que 

ela  se deu em seu escritório e que Davi  é  Davi  Cruz,  membro do PTN, 

partido coligado ao dos réus, Democratas.   Negou que tivesse ocorrido a 

promessa de cem mil reais e que a única alusão a este valor foi em tom de 

brincadeira,   já  que sua verdadeira   intenção era  a  de obter  um cargo na 

prefeitura, e que o único montante recebido dos réus seria cinco mil reais, 

em pagamento  por  adesivos   feitos  pela  Finart,   empresa  da   testemunha. 

Revelou que é membro da Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério 

Belém, da qual não ocupa nenhum cargo de direção.   Quanto à gravação 

em si,  disse que  foi  ele próprio quem a realizou,  mas que o arquivo em 

questão havia sido subtraído da bolsa de sua esposa.   Disse não serem 

verdadeiras   as   informações   segundo   as   quais   ele   teria   dado 

espontaneamente o arquivo com a gravação para o autor Dixon.   Apontou 

uma   pessoa   com   quem   teria,   vagamente,   comentado   a   respeito   da 

gravação.  Ao final, falou que cerca de sessenta famílias moram na Granja 

Coave e que conhece bastantes pessoas na cidade, pois mora em Paulínia 

desde 1971.

Conforme   expressado   em   audiência,   quando 

determinada   a   prisão   em   flagrante   da   testemunha   acima   mencionada, 

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alguns aspectos de seu depoimento não aparentam ser verdadeiros, já que, 

com relação ao valor mencionado na gravação, em nenhuma oportunidade 

há referência a cinco mil reais ou prestação de serviços de fornecimento de 

adesivos,  por  parte  de Realino a Pavan.    Em uma única passagem, em 

momento anterior ao início das negociações sobre arregimentação de votos, 

Realino aduz que não fez adesivos para a campanha política de Pavan, mas 

que não estaria chateado com essa situação (fls. 940/941).

Observa­se, com clareza, da prova pericial produzida 

que o réu José Pavan Júnior prometeu o valor de cem mil reais, cuja origem 

se desconhece e não foi declarada, e um cargo público, em favor de Realino 

Carlos Rosa, para que ele trabalhasse no final de sua campanha eleitoral, 

angariando votos junto a eleitores membros de sua igreja, comerciantes da 

cidade e demais conhecidos seus.   Tal fato não foi desconstituído pelo frágil 

depoimento   de   Realino,   que   faltou   com   a   verdade   quanto   ao   teor   da 

gravação.

Esse fato demonstra a ocorrência de abuso de poder 

econômico praticado por  José  Pavan  Júnior,  que,  no   final  da  campanha 

eleitoral   e   ciente   de   que   a   diferença   entre   os   candidatos   era 

intranqüilizadora,  acabou  por   se  valer  do  poderio  econômico  que  possui 

para,   burlando   a   legislação   eleitoral,   estabelecer   um   trato   com   Realino 

Carlos Rosa (apelidado de Papinha), mediante contraprestação de cem mil 

reais.

Para a configuração do abuso de poder econômico, a 

ensejar  a  cassação  do  mandato  eletivo  e  a   inelegibilidade  dos   réus,  no 

entanto, não basta a demonstração de compra de votos em benefício dos 

réus   nem   a   prática   de   atos   de   arregimentação   de   votos   com   recursos 

escusos.   Faz­se necessária  também a prova de que os atos praticados 

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Juízo Eleitoral do Foro Distrital de PaulíniaProcesso Civil – Ação de Impugnação de Mandato Eletivo nº 288/08

seriam suficientes para influenciar no resultado do pleito, desequilibrando a 

disputa eleitoral e favorecendo a vitória dos réus.

Neste   sentido,   posicionou­se   a   jurisprudência 

majoritária,  conforme as seguintes ementas  de   julgados do C.  TSE e E. 

TRE­SP, ambas extraídas do site oficial e sem destaques na versão original: 

ACÓRDÃO CAATIBA - BA 02/09/2008

Relator(a) MARCELO HENRIQUES RIBEIRO DE OLIVEIRA

Publicação DJE – Diário da Justiça Eletrônico, Data 17/9/2008, Página 22

Ementa AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO. CF, ART. 14, § 10. ABUSO DO PODER POLÍTICO STRICTO SENSU. DESCABIMENTO. CAPTAÇÃO DE SUFRÁGIO. POTENCIALIDADE. AUSÊNCIA.

1. A alegação de que, in casu, o abuso de autoridade teria o caráter de corrupção foi inaugurada no agravo regimental, sendo vedado o seu conhecimento nesta fase processual, conforme remansosa jurisprudência deste Tribunal.

2. O acórdão regional baseou a procedência da AIME em fatos que constituem abuso do poder político strictu sensu, consubstanciado na intimidação exercida pelo prefeito, candidato à reeleição à época, contra os servidores municipais, aos quais dirigia ameaças de perdas de cargos, rompimentos de contratos, redução e supressão de salários, dentre outras represálias.

3. A declaração de procedência da AIME com fundamento em captação ilícita de sufrágio requer a demonstração da potencialidade lesiva.

4. Agravo regimental a que se nega provimento.

ACÓRDÃO 147504 SÃO PAULO - SP 15/06/2004

Relator(a) FERNANDO ANTONIO MAIA DA CUNHA

Publicação DOE – Diário Oficial do Estado, Data 24/06/2004

Ementa AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO. DOAÇÃO VEDADA FEITA POR ENTIDADE DE CLASSE QUE FOI DEVOLVIDA TÃO LOGO VERIFICOU O REPRESENTADO A SUA ORIGEM ILEGAL. ABUSO DO PODER ECONÔMICO QUE, MESMO ABSTRAÍDA A DEVOLUÇÃO,

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NÃO TERIA POTENCIALIDADE PARA INFLUENCIAR NO RESULTADO DAS ELEIÇÕES E NA VOTAÇÃO DO REPRESENTADO. ENTENDIMENTO PREDOMINANTE NO SENTIDO DE QUE É NECESSÁRIO VISLUMBRAR PELO MENOS A POSSIBILIDADE DE INFLUÊNCIA NO RESULTADO OBTIDO PELO CANDIDATO NO PLEITO DISPUTADO. HIPÓTESE EM QUE O REPRESENTADO POSSUI INTENSA E EXTENSA CARREIRA POLÍTICA, DE MAIS DE 25 ANOS, ESTÁ NO TERCEIRO MANDATO COMO DEPUTADO ESTADUAL, COM MAIS DE 80.000 VOTOS, E OCUPA A PRESIDÊNCIA DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO. AÇÃO IMPROCEDENTE.

No   presente   caso,   a   prova   produzida   nos   autos 

também   foi   suficiente   para   demonstrar   este   requisito   referente   à 

potencialidade lesiva.

De fato, a diferença de votos entre os dois candidatos 

mais   bem   votados   nas   eleições   municipais,   concorrentes   ao   cargo   de 

prefeito, foi de cerca de um mil e quinhentos votos.

As   duas   situações   que   revelam   abuso   do   poder 

econômico,   quais   sejam   a   compra   de   votos   de   eleitores   narrada   pela 

testemunha Sérgio Caetano Lopes e a contratação de Realino Carlos Rosa, 

tinham potencialidade para influenciar no resultado da eleição.

Na primeira situação, houve compra de votos e pedido 

expresso   para   que   as   pessoas   membros   (cerca   de   um   mil)   da   igreja 

Assembléia de Deus Ministério Madureira votassem em José Pavan Júnior, 

em   troca   de   um   terreno   ao   lado   da   igreja,   onde   foi   montado   um 

estacionamento.

Na   segunda,   Realino   Carlos   Rosa,   vulgo   Papinha, 

disse que a igreja onde poderia angariar votos tinha dois mil membros e que 

ainda   poderia   exercer   sua   influência   junto   a   comerciantes   e   outros 

indivíduos conhecidos seus na cidade.

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Extrai­se desse panorama a comprovação de todos os 

requisitos   para   a   configuração   do   abuso   de   poder   econômico,   com 

potencialidade a alterar o resultado das eleições municipais.

Vale ressaltar, por fim, como bem consignado pelo d. 

Promotor de Justiça Eleitoral, que houve configuração do abuso de poder 

econômico e de sua potencialidade lesiva, vício este diferente da captação 

ilícita de votos, prevista no artigo 41 – A, da Lei nº 9.504/97, cujo processo 

segue o rito previsto para a ação de investigação judicial eleitoral e possui 

requisitos diversos.

Ante o exposto, julgo procedente o pedido formulado 

pelos autores para cassar o mandato eletivo conferido aos réus José Pavan 

Júnior e Simone Moura, bem como para declarar­lhes a inelegibilidade pelo 

prazo de 3 anos.

Nos   termos  do  artigo  257  do  Código  Eleitoral  e  do 

artigo 162, § 2º, da Resolução 22.712/08 do E. Tribunal Superior Eleitoral, 

cumpra­se a decisão referente à cassação do mandato imediatamente.

Considerando que os réus não obtiveram mais de 50% 

dos   votos   válidos   (artigo   224   do   Código   Eleitoral),   não   é   o   caso   de 

realização  de  novas  eleições,   impondo­se  a  conferência  de  diploma aos 

segundos  colocados,  Dixon  Ronan  de  Carvalho,  ao  cargo  de  prefeito,  e 

Luciano   Bento   Ramalho,   ao   cargo   de   vice­prefeito.     A   diplomação   será 

realizada às 14h do dia 24 de julho de 2009, nas dependências do Cartório 

Eleitoral.

No  período  de  vacância,   ou  seja,  desde  a  data  da 

publicação   desta   sentença   até   a   data   da   nova   diplomação,   exercerá   a 

função de prefeito municipal o presidente da Câmara dos Vereadores.

P.R.I.C.

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Paulínia, 16 de julho de 2009

Maria Raquel Campos Pinto Tilkian

Juíza de Direito

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