6
Todos os direitos reservados ao Master Juris. www.masterjuris.com.br Página1 Curso/Disciplina: Direito Eleitoral Aula: Ação de Impugnação de Mandato Eletivo AIME Professor: Bruno Gaspar Monitora: Gabriela Paula Aula 32 AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO AIME A legislação infraconstitucional não trata dessa ação, ela vem tratada exclusivamente na CF/88. O escopo desta ação é simplesmente a desconstituição do mandato eletivo, ela não tem nenhum aspecto criminal. A finalidade aqui é de garantia da legitimidade das eleições, da lisura das eleições, do equilíbrio do pleito, a legitimidade das representações políticas, etc. O fundamento desta ação está no art. 14, §10, da CF/88: Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular. (...) § 10. O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude. A ação pode, portanto, ser instruída com provas de: Abuso de poder econômico Corrupção Fraude. A ação terá por objeto, assim, o mandato eletivo obtido por um desses meios. O objetivo, aqui, é tão somente a desconstituição deste mandato, não há constituição de inelegibilidade, tampouco aplicação de multa. AIME Abuso de Poder Econômico Corrupção Fraude

AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO AIME · inicial da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo - AIME protocolizada neste prazo, opera-se a decadência do direito de ação

  • Upload
    others

  • View
    6

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO AIME · inicial da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo - AIME protocolizada neste prazo, opera-se a decadência do direito de ação

Todos os direitos reservados ao Master Juris. www.masterjuris.com.br

Pág

ina1

Curso/Disciplina: Direito Eleitoral

Aula: Ação de Impugnação de Mandato Eletivo – AIME

Professor: Bruno Gaspar

Monitora: Gabriela Paula

Aula 32

AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO – AIME

A legislação infraconstitucional não trata dessa ação, ela vem tratada exclusivamente na CF/88.

O escopo desta ação é simplesmente a desconstituição do mandato eletivo, ela não tem nenhum

aspecto criminal. A finalidade aqui é de garantia da legitimidade das eleições, da lisura das eleições, do

equilíbrio do pleito, a legitimidade das representações políticas, etc.

O fundamento desta ação está no art. 14, §10, da CF/88:

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto

direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

I - plebiscito;

II - referendo;

III - iniciativa popular.

(...)

§ 10. O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no

prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de

abuso do poder econômico, corrupção ou fraude.

A ação pode, portanto, ser instruída com provas de:

Abuso de poder econômico

Corrupção

Fraude.

A ação terá por objeto, assim, o mandato eletivo obtido por um desses meios. O objetivo, aqui, é

tão somente a desconstituição deste mandato, não há constituição de inelegibilidade, tampouco aplicação

de multa.

AIME

Abuso de Poder Econômico

Corrupção Fraude

Page 2: AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO AIME · inicial da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo - AIME protocolizada neste prazo, opera-se a decadência do direito de ação

Todos os direitos reservados ao Master Juris. www.masterjuris.com.br

Pág

ina2

O prazo para o ajuizamento é de 15 (quinze) dias a contar da diplomação dos eleitos. Não sendo a

inicial da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo - AIME protocolizada neste prazo, opera-se a decadência

do direito de ação.

Como dito, é uma ação que pode ter como causa de pedir: abuso de poder econômico, corrupção

ou fraude. Nela, também é necessária a prova potencialidade da conduta para lesar a legitimidade ou a

normalidade das eleições.

O ABUSO DE PODER ECONÔMICOé o mesmo da AIJE, a diferença desta ação para a AIME é que o

pedido não será a constituição de inelegibilidade nem a cassação do registro, mas a desconstituição do

diploma do eleito através de abuso do poder econômico.

Com relação a este abuso, a doutrina majoritária defende a interpretação ampliativa do termo, de

modo a abranger todas as formas de abuso de poder, tais como o abuso dos meios de comunicação social e

o abuso de poder político. O TSE, todavia, só admite o ajuizamento de uma AIME por abuso de poder

político se houver conexão com o abuso econômico propriamente dito.

Como exemplo de CORRUPÇÃO, podemos citar o crime de corrupção eleitoralprevisto no art. 299,

do Código Eleitoral.

A FRAUDE, por sua vez, poderia ser considerada uma manipulação no resultado das eleições ou na

totalização de votos feita pelo sistema eletrônico de votação.

Tal como na AIJE, a procedência da AIME por abuso de poder econômico implica a anulação dos

votos dados ao candidato que teve seu mandato desconstituído e, consequentemente, na realização de

novas eleições. Aplica-se o art. 224, §3º, do Código Eleitoral:

Art. 224. Se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do país nas

eleições presidenciais, do Estado nas eleições federais e estaduais ou do município

nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações e o Tribunal

marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 (vinte) a 40 (quarenta) dias.

§ 1º Se o Tribunal Regional na área de sua competência, deixar de cumprir o

disposto neste artigo, o Procurador Regional levará o fato ao conhecimento do

Procurador Geral, que providenciará junto ao Tribunal Superior para que seja

marcada imediatamente nova eleição.

§ 2º Ocorrendo qualquer dos casos previstos neste capítulo o Ministério

Público promoverá, imediatamente a punição dos culpados.

§ 3o A decisão da Justiça Eleitoral que importe o indeferimento do registro,

a cassação do diploma ou a perda do mandato de candidato eleito em pleito

majoritário acarreta, após o trânsito em julgado, a realização de novas eleições,

independentemente do número de votos anulados.

Page 3: AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO AIME · inicial da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo - AIME protocolizada neste prazo, opera-se a decadência do direito de ação

Todos os direitos reservados ao Master Juris. www.masterjuris.com.br

Pág

ina3

LEGITIMADOS ATIVOS

Importante fazer algumas observações acerca dos legitimados ativos:

Como se trata de uma ação ajuizada depois da diplomação, no prazo de até quinze dias, pode

ser proposta mesmo por candidatoque tenha sido derrotado nas urnas ou que tenha

concorrido para outro cargo, segundo o entendimento do TSE.

Embora a AIME só possa ser ajuizada no prazo de 15 dias após a diplomação, o TSE tem

admitido a legitimidade das coligações para a propositura da AIME. Assim, mesmo que a

coligação seja extinta com o fim das eleições, tanto a AIME quanto no Recurso Contra a

Expedição de Diploma - RCED1, podem ser propostos pelas coligações, segundo entendimento

assente no TSE. No caso do RCED, o prazo para ajuizamento é de 3 (três) dias contados da

diplomação.

LEGITIMADOS PASSIVOS

O polo passivo somente pode ser ocupado pelos CANDIDATOS DIPLOMADOS, incluídos aí os

SUPLENTES nas eleições majoritárias. Saliente-se, aqui também é preciso que o vice seja citado para compor

o polo passivo, sob pena de nulidade da relação processual, porque o vício aproveita a todos que integram a

chapa.

COMPETÊNCIA

Segue a regra ada circunscrição, disposta art. 96 da Lei 9.504/97:

Art. 96. Salvo disposições específicas em contrário desta Lei, as reclamações

ou representações relativas ao seu descumprimento podem ser feitas por qualquer

partido político, coligação ou candidato, e devem dirigir-se:

I - aos Juízes Eleitorais, nas eleições municipais;

II - aos Tribunais Regionais Eleitorais, nas eleições federais, estaduais e

distritais;

III - ao Tribunal Superior Eleitoral, na eleição presidencial.

(...)

1 Duas ações cujos prazos para o ajuizamento começama contar após a expedição do diploma.

Legitimados Ativos

Partido Político ColigaçãoQualquer Candidato

Ministério Público Eleitoral

Page 4: AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO AIME · inicial da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo - AIME protocolizada neste prazo, opera-se a decadência do direito de ação

Todos os direitos reservados ao Master Juris. www.masterjuris.com.br

Pág

ina4

A REGRA DA CIRCUNSCRIÇÃOpode ser sintetizada da seguinte maneira:

Logo, teremos que:

PROCEDIMENTO

A jurisprudência, a doutrina e até as resoluções temporárias do TSE já fixaram um rito

procedimental para a AIME, ela vai obedecer a ritos de duas legislações distintas:

ATÉ A SENTENÇA: aplica-se rito da Ação de Impugnação do Registro de Candidatura – AIRC

Art. 3º e seguintes da LC 64/90:

1. Inicial até 1 (um) dias da diplomação;

2. Notificação do impugnado;

3. Contestação;

4. Pode haver ou não haver julgamento antecipado da lide;

5. Fase probatória com diligências, inclusive oitiva de testemunha

6. Alegações finais;

• Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

Eleições Presidenciais

• Tribunais Regionais Eleitorais (TRE's)

Eleições Federais e Estaduais

• Juízes Eleitorias

Eleições Municipais

TSE

Pesidente

vice-Presidente

TRE

Senador

Deputado Federal

Deputado Estadual

Governador

vice-Governador

Juiz Eleitoral

Prefeito

vice-Prefeito

Vereador

Page 5: AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO AIME · inicial da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo - AIME protocolizada neste prazo, opera-se a decadência do direito de ação

Todos os direitos reservados ao Master Juris. www.masterjuris.com.br

Pág

ina5

7. Manifestação do MPE;

8. Decisão;

DEPOIS DA SENTENÇA: aplica-se o rito disciplinado no Código Eleitoral, subsidiado pelo CPC.

Assim, o prazo para interposição de recurso contra a sentença será de3(três) dias, prazo em que

também deverá ser apresentadas as contrarrazões. Essesprazos estão previstos nos artigos 258

e 276, §1º, e 281 do Código Eleitoral, dependendo da eleição a que se refira – porque pode se

tratar de uma eleição presidencial, federal ou estadual, ou municipal.

A decisão que julga procedente o pedido inicial é do tipo desconstitutiva, ou constitutiva negativa,

uma vez que implica na perda do mandato. Na AIME, não se decreta a inelegibilidade, mas a inelegibilidade

é um efeito secundário desta ação, por força do art. 1º, I, alíneas "d", "h" e "j", da LC 64/90 que dizem que a

sentença de procedência da AIME é uma causa de inelegibilidade.

Logo, o reconhecimento da inelegibilidade decorrente da procedência da AIME, o que deverá ser

suscitado futuramente, nas eleições seguintes, através de uma Ação de Impugnação do Registro de

Candidatura – AIRE. Conclui-se, então, que a sentença da AIME não decreta a inelegibilidade, mas, como a

pessoa terá contra si a procedência de uma AIME, incidirá em uma das causas de inelegibilidade previstas na

LC 64/90.

No que concerne ao efeito dos recursos, aplica-se também o art. 257, §2º, do Código Eleitoral,

segundo o qual os recursos eleitorais contra a decisão que resulta em perda do mandato têm efeito

suspensivo:

Art. 257, §2º do Código Eleitoral:

Art. 257. Os recursos eleitorais não terão efeito suspensivo.

§ 2º O recurso ordinário interposto contra decisão proferida por juiz

eleitoral ou por Tribunal Regional Eleitoral que resulte em cassação de registro,

afastamento do titular ou perda de mandato eletivo será recebido pelo Tribunal

competente com efeito suspensivo.

SEGREDO DE JUSTIÇA

Art. 14, §11, da CF/88:

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto

e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

I - plebiscito;

II - referendo;

III - iniciativa popular.

(...)

§ 11. A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo de justiça,

respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé.

Page 6: AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO AIME · inicial da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo - AIME protocolizada neste prazo, opera-se a decadência do direito de ação

Todos os direitos reservados ao Master Juris. www.masterjuris.com.br

Pág

ina6

O objetivo do segredo de justiça é preservar o nome e a imagem do candidato impugnado. A

doutrina critica muito essa regra, porque nas demais ações não há esse sigilo. A AIJE pode se fundamentar

em fato idêntico aos da AIME, por exemplo, o abuso de poder econômico, e não revestida de segredo de

justiça.

No TSE já restou decidido que o trâmite da AIME deve ser realizada em segredo de justiça, mas o

seu julgamento pode e deve ser público em respeito princípio da publicidade disposto no art. 93, IX, da

CF/88.

Há um acórdão do TSE que diz que a mera divulgação da propositura da AIME e de sua inicial em

sites de notícia na internet, por si só, não acarreta nulidade processual se não houver a demonstração de

prejuízo2.

2AgR-REspe 872384929 RO. Julgamento 23/05/2011. Relator Min. Aldir Guimarães Passarinho Junior.