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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro Órgão Especial 1 Órgão Especial Av. Erasmo Braga, nº 115, sala 910, Lâmina I Centro Rio de Janeiro/RJ CEP: 20010-010 Tel: + 55 21 3133-2501 Representação por inconstitucionalidade nº 0048177-73.2012.8.19.0000 Representante: Exmº. Sr. Procurador Geral de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Representado: Exmº. Sr. Prefeito do Município de Niterói Amicus Curiae: Associação dos Procuradores do Município de Niterói APMN Amicus Curiae: Ordem dos Advogados do Brasil Seção do Estado do Rio de Janeiro Amicus Curiae: Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil CFOAB Amicus Curiae: Associação Nacional dos Procuradores Municipais - ANPM Relator: Des. Jessé Torres ACÓRDÃO REPRESENTAÇÃO POR INCONSTITUCIONALIDADE. Lei de iniciativa do Legislativo municipal, que destinou aos Procuradores parcela dos honorários de sucumbência nas demandas judiciais de que o Município surtir vencedor. Preliminares de inépcia da inicial e de falta de interesse de agir que se rejeitam. Aditamento requerido que enseja mera adequação, em presença de superveniente normatização do objeto em lide. A jurisprudência do STJ orientava-se no sentido de que a titularidade dos honorários advocatícios da sucumbência, quando vencedora a Administração Pública ou suas entidades vinculadas (autarquias, fundações instituídas pelo poder público, empresas públicas e sociedades de economia mista), não constituía direito autônomo do procurador porque integravam o patrimônio público da entidade. Superveniência de norma (Lei nº 13.015, de 16 de março de 2015 novo CPC) que tratou da matéria e estabeleceu regra diametralmente inversa: os honorários de sucumbência são do advogado público (“Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor. § 19. Os advogados públicos perceberão honorários de sucumbência, nos termos da lei”). Nova ordem que inaugurou a destinação de honorários de sucumbência aos procuradores públicos aplicável ao caso em testilha, preservado o teto remuneratório (“Art. 5º, Parágrafo Único - Aos valores pagos aos beneficiários da presente Lei se aplicam as normas de teto remuneratório, respeitados os limites diferenciados de cada categoria”). Vício material inexistente. Orientação que se compadece com a que se extrai de precedentes do Supremo Tribunal Federal. Improcedência do pleito declaratório de inconstitucionalidade.

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Órgão Especial

Av. Erasmo Braga, nº 115, sala 910, Lâmina I

Centro – Rio de Janeiro/RJ – CEP: 20010-010 Tel: + 55 21 3133-2501

Representação por inconstitucionalidade nº 0048177-73.2012.8.19.0000

Representante: Exmº. Sr. Procurador Geral de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Representado: Exmº. Sr. Prefeito do Município de Niterói Amicus Curiae: Associação dos Procuradores do Município de Niterói – APMN Amicus Curiae: Ordem dos Advogados do Brasil Seção do Estado do Rio de Janeiro Amicus Curiae: Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – CFOAB Amicus Curiae: Associação Nacional dos Procuradores Municipais - ANPM Relator: Des. Jessé Torres

ACÓRDÃO

REPRESENTAÇÃO POR INCONSTITUCIONALIDADE. Lei de iniciativa do

Legislativo municipal, que destinou aos Procuradores parcela dos honorários de sucumbência nas demandas judiciais de que o Município surtir vencedor. Preliminares de inépcia da inicial e de falta de interesse de agir que se rejeitam. Aditamento requerido que enseja mera adequação, em presença de superveniente normatização do objeto em lide. A jurisprudência do STJ orientava-se no sentido de que a titularidade dos honorários advocatícios da sucumbência, quando vencedora a Administração Pública ou suas entidades vinculadas (autarquias, fundações instituídas pelo poder público, empresas públicas e sociedades de economia mista), não constituía direito autônomo do procurador porque integravam o patrimônio público da entidade. Superveniência de norma (Lei nº 13.015, de 16 de março de 2015 – novo CPC) que tratou da matéria e estabeleceu regra diametralmente inversa: os honorários de sucumbência são do advogado público (“Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor. § 19. Os advogados públicos perceberão honorários de sucumbência, nos termos da lei”). Nova ordem que

inaugurou a destinação de honorários de sucumbência aos procuradores públicos aplicável ao caso em testilha, preservado o teto remuneratório (“Art. 5º, Parágrafo Único - Aos valores pagos aos beneficiários da presente Lei se aplicam as normas de teto remuneratório, respeitados os limites diferenciados de cada categoria”). Vício material inexistente. Orientação

que se compadece com a que se extrai de precedentes do Supremo Tribunal Federal. Improcedência do pleito declaratório de inconstitucionalidade.

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Vistos, relatados e discutidos estes autos de Representação por Inconstitucionalidade nº 0048177-73.2012.8.19.0000, sendo Representante, o Exmº. Sr. Procurador Geral de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, e Representado, o Exmº. Sr. Prefeito do Município de Niterói, os Desembargadores que compõem o Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro ACORDAM, por unanimidade, julgar improcedente a representação de inconstitucionalidade dos artigos 3º, IV e V, 4º, I, “a”, “b” e “d”, 6º, 8º e 9º, da Lei municipal nº 3.047, de 07 de outubro de 2013, do Município de Niterói, nos termos do voto do relator.

Rio de Janeiro, 09 de maio de 2016.

Desembargador JESSÉ TORRES

Relator

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VOTO

Relatório nos autos. Trata-se de representação por inconstitucionalidade dos artigos 3º a 6º da Lei

municipal nº 2.569, de 02 de julho de 2008, do Município de Niterói, bem como dos artigos 3º, IV e V, 4º, I, “a”, “b” e “d”, 6º, 8º e 9º, da superveniente Lei municipal nº 3.047, de 07 de outubro de 2013, que instituiu e regulamentou o Fundo da Procuradoria Geral do Município de Niterói, negando-se a repristinação do art. 5º da Deliberação municipal nº 2.714/70 e do art. 16 da Lei municipal nº 487/84, que destinou aos Procuradores parte dos honorários de sucumbência nas demandas judiciais de que o Município surta vencedor (fls. 02-07 e 228-242). A inicial pondera, em resumo, que dita norma portaria vício material porque destoou dos princípios constitucionais orçamentários, na medida em que autorizou a distribuição aos procuradores de parte daquela receita auferida pelo ente público, burlando o teto remuneratório.

Rejeita-se a preliminar de inépcia da inicial. O conflito entre a lei municipal e os

preceitos da Constituição estadual resultou analiticamente articulado, descrita a causa de pedir e o pedido de modo a fixar os limites objetivos da ação e da pretensão. Há ordem lógica entre os argumentos deduzidos e a conclusão, de sorte a viabilizar o exercício do direito de defesa da constitucionalidade da norma impugnada.

Há interesse de agir, dado que a tutela jurisdicional pretendida é útil e

necessária, mostrando-se adequada a via processual eleita, seguindo-se a compatibilidade da pretensão com o direito material em tese assegurado pela ordem jurídica, daí não se haver de cogitar de carência da ação, por impossibilidade jurídica do pedido.

A Lei municipal nº 2.569/2008 destinou aos procuradores e servidores locais

60% dos honorários advocatícios de sucumbência nas demandas judiciais de que o Município surtisse vencedor. No curso da representação, a superveniente Lei municipal nº 3.047/2013 revogou aquela norma primitiva e instituiu o Fundo da Procuradoria Geral do Município de Niterói, fixando a distribuição daquela mesma verba honorária aos procuradores. Acolheu-se o aditamento à inicial.

A representação de inconstitucionalidade deflagra perante o Órgão Especial

relações processuais objetivas, cuja disciplina formal está definida no Regimento Interno desta Corte, a que se aplicam, subsidiariamente, as normas inscritas no Código de Processo Civil. Nítida a distinção existente na ritualização das ações e das formas procedimentais do código de ritos e à aplicável à espécie, por tratar-se de fiscalização abstrata de ato normativo.

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Não se desconhecem os precedentes da Corte Excelsa (RE 397.354, Relatora

Min. Ellen Gracie, julgado em 18.04.2005; ADI-QO 1907, Relator Min. Octavio Gallotti, julgado em 18.02.1999, publicado em 26/03/1999, Tribunal Pleno) que, via de regra, orientam descaber o aditamento à petição inicial.

Aplicada a técnica do distinguishing, de tradição anglo-saxônica e acolhida pelo

art. 489, § 1º, V, do CPC/2015, fica claro que àqueles precedentes não se acomoda o caso de que se ocupa esta Representação, que comporta peculiaridades que devem ser consideradas. O postulado aditamento à inicial enseja mera adequação ao pedido exordial, em presença de superveniente normatização do objeto em lide – distribuição de verba honorária de sucumbência a procuradores públicos. Este é o objeto que a lei nova não alterou, se havendo limitado a criar o Fundo da Procuradoria do Município, para recolher a verba honorária devida.

Ademais, a nova ordem processual inaugurou princípio fundamental para o

sistema processual brasileiro, vale dizer, o da primazia da resolução do mérito, aplicável ao caso vertente, por analogia.

Recorde-se a lição doutrinária, verbis:

“Atribui a lei ao juiz (art. 139, IX) o dever de determinar o suprimento dos pressupostos processuais e o saneamento de outros vícios do processo. Extrai-se daí a inegável existência de uma preferência do sistema pela resolução do mérito (podendo-se falar em um princípio da primazia da resolução do mérito), só sendo possível a extinção do processo sem sua resolução nos casos em que haja vício insanável ou em que o vício sanável não tenha sido sanado não obstante isto tenha sido possibilitado” (“O novo processo civil brasileiro”, Alexandre Freitas Câmara, São Paulo. Ed. Atlas, 2015, pág. 110).

A questão albergada pela representação, seja na lei anterior ou na que a

revogou, é a destinação de verba honorária aos procuradores municipais, a desafiar exame e resolução de mérito.

Superam-se, destarte, as questões preliminares e se passa ao julgamento

meritório, sob pena de violação ao princípio da inafastabilidade da tutela jurisdicional (CF/88, art.5º, XXXV), respeitando-se os princípios da segurança jurídica, da moralidade e da confiança legítima.

Nesse sentido o parecer ministerial, verbis:

“(...) 11. Em se tratando de processo objetivo de controle de constitucionalidade, é certo que as suas peculiaridades em muito o afastam do modelo tradicional dos feitos cujo objeto seja uma controvérsia intersubjetiva. Assim é que, por exemplo, não incidem nas

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ações diretas de inconstitucionalidade, como cediço, os rigores impostos pelo princípio da estabilização da lide (art. 264, CPC). Quer isto dizer que, sendo o fundamento da pretensão declaratória de inconstitucionalidade o próprio confronto, em abstrato, entre a norma constitucional e a norma infraconstitucional a que se imputa o vício de ofensa àquela, não se vislumbra no sistema processual pátrio nenhum óbice a que, v.g., se conheça de uma causa de pedir não explicitamente narrada na inicial, sem que tal importe em risco de julgamento extra petita. 12- Ora, essa mesma linha de raciocínio, amparada na ampla valorização da jurisdição constitucional - sempre a apontar, como visto, para a necessidade de se proceder a uma cognição meritória exauriente das ações diretas de inconstitucionalidade justifica, também, o permanente esforço de se aproveitar o processo, velando-se, tanto quanto possível, pela resolução de seu mérito (mormente se o fator aparentemente impeditivo da cognição meritória se prende a uma manobra injurídica do ente federativo que editou a lei inconstitucional, tal como restou sobejamente caracterizado no caso em foco). 13- Não ignora o Ministério Público que o entendimento tradicional formado sobre o tema ora sub examine se orientava no sentido de que, uma vez revogada, no curso da ação direta de inconstitucionalidade, a lei nela alvejada, o desdobramento daí decorrente seria, em princípio, a extinção do feito sem resolução de seu mérito. 14- Não obstante, releva notar que, em sede de Questão de Ordem suscitada pelo Ministro Gilmar Mendes, nos autos da Ação Direta de Inconstitucionalidade n° 1.244-4 São Paulo, ponderou-se que tal exegese não mais deveria prevalecer, impondo-se, ao revés, o julgamento do meritum causae da ação declaratória, com a pacificação definitiva da questão constitucional. Dada a extrema juridicidade de seus argumentos, e a sua própria pertinência na hipótese de que se ocupa o presente feito, convém transcrever a íntegra do voto proferido pelo supracitado Ministro: (...) 15- Como facilmente se observa, todos os fundamentos invocados no brilhante voto - prestígio à jurisdição constitucional no contexto da valorização do método do controle concentrado, pacificação social e eliminação das incertezas jurídicas, repressão a fraudes processuais e preservação da credibilidade e dignidade do Poder Judiciário se fazem presentes na hipótese objeto do presente feito” (fls. 185-201).

O representante inquina de inconstitucionais os artigos 3º a 6º da Lei municipal nº 2.569, de 02 de julho de 2008, do Município de Niterói, bem como os artigos 3º, IV e V, 4º, I, “a”, “b” e “d”, 6º, 8º e 9º, da superveniente Lei municipal nº 3.047, de 07 de outubro de 2013, que instituiu e regulamentou o Fundo da Procuradoria Geral do Município de Niterói, na medida em que destinou aos procuradores parcela dos

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honorários de sucumbência nas demandas judiciais de que o Município resulte vencedor.

A juridicidade, ou não, de repasse dos honorários advocatícios de sucumbência

a procuradores públicos é tema controvertido, conhecendo-se precedentes favoráveis e antagônicos à sua admissão.

A vexata quaestio reapresenta-se nestes autos. Transcrevam-se as normas impugnadas, verbis:

(a) “Lei nº 2.569, de 02.07.2008 A CÂMARA MUNICIPAL DE NITERÓI DECRETA E EU SANCIONO A SEGUINTE LEI: (...). Art. 3º Em virtude do disposto no art. 1º, 40% (quarenta por cento) dos honorários advocatícios, na forma prevista na Deliberação nº 2.714/1970 e na Lei nº 487/1984, devidos nos processos em que for parte o Município de Niterói, será destinado ao orçamento do Município. Art. 4º Aos Procuradores e aos servidores ocupantes de cargos de provimento efetivo e/ou em comissão lotados ou à disposição da Procuradoria Geral do Município poderá ser destinado o percentual de até 60% (sessenta por cento) dos honorários advocatícios. Parágrafo Único - O disposto no caput aplica-se aos estagiários da Administração Pública Direta e Indireta em exercício na Procuradoria Geral do Município. Art. 5º Para fins de aplicação das disposições contidas no artigo anterior, fica estabelecido que 60% (sessenta por cento) dos honorários será depositado em conta bancária específica e poderá ser destinado da seguinte forma: I - até 10% (dez por cento) do valor total poderá ser destinado aos Procuradores e Diretores de Departamento; II - até 50% (cinquenta por cento) do valor total poderá ser destinado aos servidores ocupantes de cargos de provimento efetivo e/ou em comissão e estagiários lotados ou à disposição da Procuradoria Geral do Município. Parágrafo Único - Aos valores pagos aos beneficiários da presente Lei se aplica as normas de teto remuneratório, respeitados os limites diferenciados de cada categoria. Art. 6º O percentual destinado aos servidores, ocupantes de cargos de provimento efetivo ou de provimento em comissão, e aos estagiários, correspondente a até 50% (cinquenta porcento) dos honorários advocatícios arrecadados, será distribuído em 3 (três) faixas de valores, sendo a segunda correspondente a duas vezes o valor da primeira e a terceira correspondente a três vezes o valor da primeira. § 1º O valor da primeira faixa não poderá ser superior a R$ 1.000,00 (hum mil reais) por mês e será corrigido, anualmente, no mês de janeiro, pelo mesmo índice de correção utilizado para a revisão geral do funcionalismo. § 2º O enquadramento dos beneficiários nas faixas de valores será realizado através de decisão de um colegiado formado pelo Procurador Geral, Subprocurador Geral, Procuradores Chefes das Procuradorias Especializadas e Diretores de Departamento, que avaliará a assiduidade, o grau de responsabilidade e a produtividade dos servidores. § 3º O colegiado de que trata o parágrafo anterior deliberará, também, sobre a aquisição de equipamentos, material permanente e de consumo, bem como contratação de serviços para a Procuradoria Geral do Município, destinando, para tanto, recursos do percentual de que trata o art. 5º para o orçamento da Procuradoria Geral do Município.

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(b) “Lei nº 3.047, de 07.10.2013 REVOGA OS ARTIGOS 3º, 4º, 5º E 6º DA LEI MUNICIPAL Nº 2.569, DE 02 DE JULHO DE 2008, INSTITUI E REGULAMENTA O FUNDO DA PROCURADORIA GERAL DO MUNICÍPIO DE NITERÓI (FEPGM/NIT) E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCUAS. A CÂMARA MUNICIPAL DE NITERÓI DECRETA E EU SANCIONO A SEGUINTE LEI: (...). Art. 3º O Fundo da Procuradoria Geral do Município de Niterói (FEPGM/Nit) tem por objetivos: (...) IV - o incentivo ao desempenho dos Procuradores do Município efetivos e servidores técnico-administrativos lotados na Procuradoria Geral do Município; V - o recebimento, na qualidade de depositário, o rateio e o repasse de honorários advocatícios devidos aos Procuradores do Município, na forma do art. 6º desta Lei. Art. 4º Constituem-se receitas do Fundo Especial da Procuradoria Geral do Município de Niterói (FEPGM/NIT): I - 50% (cinquenta por cento) do total das seguintes receitas: a) honorários advocatícios de sucumbência concedidos em qualquer processo judicial em que vitorioso o Município de Niterói; b) honorários advocatícios decorrentes da cobrança judicial e extrajudicial da dívida ativa do Município de Niterói realizada pela Procuradoria Geral do Município; c) VETADO; d) honorários advocatícios concedidos em razão de lei, sentença ou convenção. (...) Art. 6º A parcela dos honorários advocatícios nos termos do art. 3º, inciso V, será distribuída, em periodicidade mensal, aos Procuradores do Município em efetivo exercício. § 1º VETADO. § 2º A quantia a que se refere o caput não será considerada para efeito de cálculo dos proventos da inatividade e de pensões, nem computadas como base de cálculo de contribuição previdenciária. (...) Art. 8º Consideram-se em efetivo exercício, para efeito de direito ao rateio mensal dos honorários a que se refere o art. 6º, os Procuradores do Município que, na data da distribuição, estejam: I - em gozo de férias regulamentares; II - em gozo de licença prêmio; III - em gozo de licença: a) para tratamento de saúde e acidente em serviço; b) por motivo de gestação, lactação ou adoção; c) em razão de paternidade; d) por motivo de doença em pessoa da família até o limite de 30 dias; e) para aperfeiçoamento profissional, desde que do interesse da Administração. IV - afastados em razão de: a) doação de sangue; b) convocação judicial, júri e outras consideradas obrigatórias por lei; c) casamento; d) falecimento de cônjuge, companheiro, pais, filhos ou irmãos; V - ocupando cargo de provimento em comissão na Procuradoria Geral do Município ou em órgão da Administração Pública Municipal, desde que desenvolvendo atividades típicas da Procuradoria Geral do Município; VI - exercendo atividades típicas do cargo de Procurador do Município, cumulativamente com as de outro cargo da Administração Pública Municipal. Parágrafo Único - O Procurador do Município, quando estiver afastado das suas funções por motivo de licença médica para tratamento de saúde por período superior

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a 30 dias, deverá apresentar ao Procurador-Geral atestado médico que justifique o seu afastamento, solicitando a continuidade da sua participação no rateio de honorários. Art. 9º Será excluído automaticamente do rateio dos honorários o Procurador que se encontrar nas seguintes condições: I - em licença para tratar de interesses particulares; II - em licença por motivo de doença em pessoa da família, após os primeiros 30 dias; III - em licença para acompanhar cônjuge ou companheiro; IV - em afastamento preliminar à aposentadoria; V - em licença para campanha eleitoral; VI - no exercício de mandado eletivo; VII - em afastamento para realização de curso de aperfeiçoamento profissional, com ou sem vencimentos, salvo quando declarado o interesse da Administração na forma do Regulamento da Procuradoria Geral; VIII - quando suspenso em cumprimento de penalidade disciplinar; IX - afastado em virtude de aposentadoria; X - quando cedido ou colocado à disposição de outro órgão ou entidade para exercer atividades não previstas no art. 7º desta Lei; XI - cedido à Administração Direta ou Indireta de outro Ente. Parágrafo Único - A reinclusão do Procurador do Município no rateio, após os afastamentos previstos nesta Lei, dará direito ao recebimento de honorários proporcionalmente aos dias de efetivo exercício das suas funções”.

Na estrutura federativa brasileira, os estados-membros e os municípios não dispõem de autonomia ilimitada para organizarem-se. Aos entes federados, por simetria, impõe-se a observância dos princípios e regras gerais de organização adotados pela União. Os estados-membros e os municípios obrigam-se a reproduzir, em suas Leis Maiores, os princípios constitucionais orçamentários, bem como os de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (CF/88, art. 37, caput, e CE/89, art. 6º).

Na via concentrada de controle da constitucionalidade das leis municipais, o

paradigma de contraste é a Constituição do respectivo estado-membro. No caso, os artigos 3º, IV e V, 4º, I, “a”, “b” e “d”, 6º, 8º e 9º, da indigitada Lei municipal nº 3.047/2013, estariam em aparente confronto com as normas dos artigos 5º, 9º, § 3º, 77, caput e XIII, 213, § 1º, todos da Constituição fluminense, segundo os quais: (a) “o Estado do Rio de Janeiro, integrante, com seus Municípios, da República Federativa do Brasil, proclama e se compromete a assegurar em seu território os valores que fundamentam a existência e a organização do Estado Brasileiro, quais sejam: além da soberania da Nação e de seu povo, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, o pluralismo político, tudo em prol do regime democrático, de uma sociedade livre, justa e solidária, isenta do arbítrio e de preconceitos de qualquer espécie”; (b) “serão proibidas as diferenças salariais para trabalho igual, assim como critérios de admissão e estabilidade profissional discriminatórios por quaisquer dos motivos previstos no § 1º e atendidas as qualificações das profissões estabelecidas em lei”; (c) “a administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes do Estado e dos Municípios, obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, interesse coletivo”; (d) “a lei fixará o limite máximo e a relação de valores entre a maior

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e a menor remuneração dos servidores públicos, observados, como limites máximos e no âmbito dos respectivos poderes, os valores percebidos como remuneração, em espécie, a qualquer título, por Deputados Estaduais, Secretários de Estado e Desembargadores, e, nos Municípios, os valores percebidos como remuneração, em espécie, pelo Prefeito”; (e) “a despesa com pessoal ativo e inativo do Estado não poderá exceder os limites estabelecidos em Lei Complementar. A concessão de qualquer vantagem ou aumento de remuneração, a criação de cargos ou alteração de estrutura de carreiras, bem como a admissão de pessoal, a qualquer título, pelos órgãos e entidades da administração direta ou indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, só poderão ser feitas: I - se houver prévia dotação orçamentária suficiente para atender às projeções de despesa de pessoal e aos acréscimos dela decorrentes; II - se houver autorização específica na lei de diretrizes orçamentárias, ressalvadas as empresas públicas e as sociedades de economia mista”.

O destinatário dessas normas é o Executivo do governo estadual, porém o art. 343 da CE/89, fundado no princípio da simetria, manda aplicá-las às administrações municipais. É a hipótese do caso vertente.

Recordem-se as lições doutrinárias:

(a) “Princípio da legalidade O art. 5º, II, da Constituição Federal, preceitua que ninguém será obrigado a

fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Tal princípio visa combater o poder arbitrário do Estado. Só por meio de espécies normativas devidamente elaboradas conforme regras de processo legislativo constitucional podem-se criar obrigações para o indivíduo, pois são expressão da vontade geral.” (“Direito Constitucional”, 22ª edição, Alexandre de Moraes, Editora Atlas, 2007, pág. 36).

Princípio da igualdade A Constituição Federal de 1988 adotou o princípio da igualdade de direitos,

prevendo a igualdade de aptidão, uma igualdade de possibilidades virtuais, ou seja, todos os cidadãos têm o direito de tratamento idêntico pela lei, em consonância com os critérios albergados pelo ordenamento jurídico. (...) O princípio da igualdade consagrado pela constituição opera em dois planos distintos. De uma parte, frente ao legislador ou ao próprio executivo, na edição, respectivamente, de leis, atos normativos e medidas provisórias, impendindo que possam criar tratamentos abusivamente diferenciados a pessoas que encontram-se em situações idênticas. Em outro plano, na obrigatoriedade ao intérprete, basicamente, a autoridade pública, de aplicar a lei atos normativos de maneira igualitária, sem estabelecimento de diferenciações em razão de sexo, religião, convicções filosóficas ou políticas, raça, classe social.

Princípio da moralidade Pelo princípio da moralidade administrativa, não bastará ao administrador o

estrito cumprimento da estrita legalidade, devendo sele, no exercício de sua função pública, respeitar os princípios éticos de razoabilidade e justiça, pois a moralidade constitui, a partir da Constituição de 1988, pressuposto de validade de todo ato da administração pública.

Princípio da eficiência A atividade estatal produz de modo direto ou indireto consequências jurídicas

que instituem, reciprocamente, direito ou prerrogativas, deveres ou obrigações para a

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população, traduzindo uma relação jurídica entre a Administração e os administrados. Portanto, existirão direitos e obrigações recíprocos entre o Estado-administração e o indivíduo-administrado e, consequentemente, esse, no exercício de seus direitos subjetivos, poderá exigir da Administração Pública o cumprimento de suas obrigações de forma mais eficiente possível. (...) O administrador público precisa ser eficiente, ou seja, deve ser aquele que produz o efeito desejado, que dá bom resultado, exercendo suas atividades sob o manto da igualdade de todos perante a lei, velando pela objetividade e imparcialidade.

Princípio da impessoalidade Importante inclusão feita pelo legislador constituinte, o priuncípio da

impessoalidade encontra-se, por vezes, no mesmo campo da incidência dos princípios da igualdade e da legalidade, e não raramente é chamado de princípio da finalidade administrativa. Conforme afirmado por Hely Lopes Meirelles, ‘o princípio da impessoalidade, referido na Constituição de 1988 (art. 37, caput), nada mais é que o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao administrador público que só pratique o ato para o seu fim legal. E o fim legal é unicamente aquele que a norma de direito indica expressa ou virtualmente como objetivo do ato, de forma impessoal.

(“Direito Constitucional”, 24ª edição, Alexandre de Moraes, Editora Atlas, 2009, pág. 36-37 e 325-330).

(b) “Aliomar Baleeiro ensina que a despesa pública, sob o enfoque orçamentário,

é ‘a aplicação de certa quantia em dinheiro, por parte da autoridade ou agente público competente, dentro de uma autorização legislativa, para execução de um fim a cargo do governo’ (...).

A despesa pública produz efeitos na esfera econômica do país, e para que se possa entender tal fenômeno deve-se partir da importância do volume das despesas em relação à renda nacional (...). Classificam-se despesa pública baseada nos seguintes critérios: (a) administrativo; (b) econômico; (c) despesas produtivas”

Não é preciso se chamar a atenção para a importância do orçamento na vida política e administrativa do país como o plano das suas necessidades monetárias, em um determinado período de tempo, aprovado e decretado pelo Poder Legislativo como seu órgão de representação popular. Assim, o orçamento exerce grande influência na vida do Estado, pois se for deficiente, ou mal elaborado, produzirá reflexos negativos na tarefa da consecução de suas finalidades.

Aliomar Baleeiro conceitua o orçamento, nos países democráticos, como sendo “o ato pelo qual o Poder Legislativo prevê e autoriza ao Poder Executivo, por certo período e em pormenor, as despesas destinadas ao funcionamento dos serviços públicos e outros afins adotados pela política econômica ou geral do país, assim como a arrecadação das receitas já criadas em lei”. (...).

O aspecto político [do orçamento] reside no fato de funcionar através do orçamento ‘o jogo de harmonia e interdependência dos Poderes, especialmente nos regimes presidenciais’. O Poder Legislativo autoriza recursos e despesas à administração, corporificada no Poder Executivo. Todavia, o Poder Legislativo fica com a capacidade de frear os exageros e excessos que o Poder Executivo possa realizar na efetivação das despesas públicas ou nas exigências fiscais. (...).

O aspecto econômico do orçamento revela-se de maior importância. Assim, o orçamento apresenta equilíbrio quando, durante sua vigência, despesas e receitas apresentam somas iguais, déficit quando as despesas excedem às receitas, e superávit quando as receitas sobrepujam as despesas” (“Manual de Direito Financeiro & Direito

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Tributário”, 17ª edição, Luiz Emygdio F. da Rosa Junior, Editora Renovar, 2003, pág. 25-38 e 77-81).

A razoabilidade é princípio conformador de direito material, relacionado à adequação dos meios aos fins, sopesadas a intensidade da medida e a finalidade da concepção da norma, respaldada nos princípios da legalidade e do devido processo legal.

Averbe-se a orientação doutrinária:

(a) “Princípio da razoabilidade Enuncia-se com este princípio que a Administração, ao atuar no exercício de

discrição, terá de obedecer a critérios aceitáveis do ponto de vista racional, em sintonia com o sendo normal de pessoas equilibradas e respeitosa das finalidades que presidiram a outorga da competência exercida. Vale dizer: pretende-se colocar em claro que não serão apenas inconvenientes, mas também ilegítimas – e, portanto, jurisdicionalmente invalidáveis -, as condutas desarrazoadas, bizarras, incoerentes ou praticadas com desconsideração às situações e circunstâncias que seriam atendidas por quem tivesse atributos normais de prudência, sensatez e disposição de acatamento à finalidades da lei atributiva da discrição manejada. (...).

Princípio da proporcionalidade Em rigor, o princípio da proporcionalidade não é senão faceta do princípio da

razoabilidade. Merece um destaque próprio, uma referência especial, para ter-se maior visibilidade da fisionomia específica de um vício que pode surdir e entremostrar-se sob esta feição de desproporcionalidade do ato, salientando-se, destarte, a possibilidade de correção judicial arrimada neste fundamento. Posto que se trata de um aspecto específico do princípio da razoabilidade, compreende-se que sua matriz constitucional seja a mesma. Isto é, assiste nos próprios dispositivos que consagram a submissão da Administração do cânone de legalidade. O conteúdo substancial desta, como visto, não predica a mera coincidência da conduta administrativa com a letra da lei, mas reclama adesão ao espírito dela, à finalidade que a anima. Assim, o respaldo do princípio da proporcionalidade não é outro senão o art. 37 da Lei Magna, conjuntamente com os artigos 5º, II e 84, IV. O fato de se ter que buscá-lo pela trilha assinalada não o faz menos amparado, nem menos certo ou verdadeiro, pois tudo aquilo que se encontra implicado em um princípio é tão certo e verdadeiro quanto ele.” (“Curso de Direito Administrativo”, Celso Antônio Bandeira de Mello, 21ª Edição, 2006, pág. 105-108).

(b) “Princípio da unidade da Constituição A ordem jurídica é um sistema, o que pressupõe unidade, equilíbrio e harmonia.

Em um sistema, suas diversas partes devem conviver sem confrontos inarredáveis. Para solucionar eventuais conflitos entre normas jurídicas infraconstitucionais utilizam-se, coo já visto, os critérios tradicionais da hierarquia, da norma posterior e o da especialização. Na colisão de normas constitucionais, especialmente de princípios – mas também, eventualmente, entre princípios e regras e entre regras e regras – emprega-se a técnica da ponderação. Por força do princípio da unidade, inexiste hierarquia entre normas da Constituição, cabendo ao intérprete a busca da harmonização possível, in concreto, entre comandos de ponderação e concordância prática são instrumentos de preservação do princípio da unidade, também conhecido como princípio da unidade hierárquico-normativa da Constituição.

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(...) O princípio da razoabilidade faz parte do processo intelectual lógico de aplicação

de outras normas, ou seja, de outros princípios e regras. (...). A ponderação de valores, interesses, bens ou normas consiste em uma técnica

de decisão jurídica utilizável nos casos difíceis, que envolvam a aplicação de princípios (ou, excepcionalmente, de regras) que se encontram em linha de colisão, apontando soluções diversas e contraditórias para a questão. O raciocínio ponderativo, que ainda busca parâmetros de maior objetividade, inclui a seleção das normas e dos fatos relevantes, com a atribuição de pesos aos diversos elementos em disputa, em um mecanismo de concessões recíprocas que procura preservar, na maior intensidade possível, os valores contrapostos”.

(“Interpretação e aplicação da Constituição”, 6ª edição, Luís Roberto Barroso, Editora Saraiva, 2006, pág. 372 e 382-386).

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça – com a qual este Relator se alinhava – sempre orientou no sentido de que a titularidade dos honorários advocatícios de sucumbência, quando vencedora a Administração Pública direta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, ou qualquer de suas entidades vinculadas (autarquias, fundações instituídas pelo poder público, empresas públicas e sociedades de economia mista), não constituíam direito autônomo do procurador porque integravam o patrimônio público da entidade: (a) REsp nº 1.213.051/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe 08/02/2011; (b) AgRg no AgRg no REsp nº 1.251.563/RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe 14/10/2011; (c) Primeira Turma, Informativo nº 0175, período: 2 a 6 de junho de 2003; (d) Apelação 0129926-66.1999.8.19.0001 (2001.001.10106) – DES. JESSE TORRES - Julgamento: 13/11/2001 - Primeira Câmara Cível.

Sobreveio a Lei nº 13.015, de 16 de março de 2015 (novo CPC), que tratou da

matéria, estabelecendo pertencerem ao advogado público os honorários de sucumbência, verbis:

“Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor. § 19. Os advogados públicos perceberão honorários de sucumbência, nos termos da lei”.

O Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (Lei nº 8.906, de 04 de julho de 1994) dispõe sobre três formas de honorários: os convencionados, os fixados por arbitramento judicial e os de sucumbência; esses últimos decorrentes de êxito no trabalho realizado, cuja satisfação cabe ao vencido. Assim:

“Art. 21. Nas causas em que for parte o empregador, ou pessoa por este representada, os honorários de sucumbência são devidos aos advogados empregados.

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Parágrafo único. Os honorários de sucumbência, percebidos por advogado empregado de sociedade de advogados são partilhados entre ele e a empregadora, na forma estabelecida em acordo. Art. 22. A prestação de serviço profissional assegura aos inscritos na OAB o direito aos honorários convencionados, aos fixados por arbitramento judicial e aos de sucumbência. Art. 23. Os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência, pertencem ao advogado, tendo este direito autônomo para executar a sentença nesta parte, podendo requerer que o precatório, quando necessário, seja expedido em seu favor”.

Aos 1º, 02 e 03 de maio de 2015, realizou-se o V Encontro do Fórum Permanente de Processualistas Civis – V FPPC, que resultou na edição de inúmeros enunciados sobre o NCPC. Confira-se o enunciado 384, acerca do art. 85, § 19, do novo código de ritos:

“A lei regulamentadora não poderá suprimir a titularidade e o direito à percepção dos honorários de sucumbência dos advogados públicos. (Grupo: Impacto do novo CPC e os processos da Fazenda Pública)”.

Em presença da nova ordem e em homenagem à interpretação sistemática, embasada nos princípios constitucionais, notadamente o da unidade da Constituição, extrai-se que tal nova ordem inaugurou a destinação dos honorários de sucumbência aos procuradores públicos. Cuida-se de inovação legislativa aplicável ao caso em testilha.

A lei em lide mereceu aprovação da Procuradoria Geral do Estado (fls. 58-73),

verbis:

“A natureza dos honorários de sucumbência quanto à sua finalidade. Como é sabido, os honorários sucumbenciais têm como sede legal o artigo 20, do Código de Processo Civil: (...) De acordo com a Lei Nacional n°. 8.906, de 1994, os advogados, incluindo os advogados públicos, são titulares dos honorários advocatícios de sucumbência, podendo cobrá-los autonomamente. (...). O ordenamento jurídico pátrio, como se vê, grosso modo, divide os honorários advocatícios em dois grupos, independentes e acumuláveis entre si, distinguindo os honorários sucumbenciais dos honorários contratuais e demais formas de remuneração avençada dos advogados, levando em conta a sua finalidade. 1°. Honorários contratuais, salário ou vencimentos: pagos pelo contratante, empregador etc. pró labore, ou seja, independentemente do resultado da demanda, com a finalidade de remunerar o trabalho realizado pelo advogado. As espécies de pagamentos deste grupo, evidentemente, consistem em verbas remuneratórias. Assim, remuneram o trabalho dos advogados autônomos os honorários contratuais; dos advogados empregados o salário; e dos advogados públicos os vencimentos. São verbas pagas sempre pelo "contratante" e que têm sempre a mesma

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finalidade, repita-se: remunerar o trabalho do advogado. São devidas, portanto, pela simples prestação dos serviços, como efetiva contraprestação por estes serviços. 2°. Honorários sucumbenciais: pagos pela parte contrária pro sucumbência, ou seja, em razão de eventual êxito da parte representada pelo advogado credor, com a finalidade de premiá-lo pelo êxito obtido (onerando a parte contrária pela sucumbência). Sem relação com a prestação do serviço em si, são, evidentemente, verbas sem natureza remuneratória. De existência eventual, consistem os honorários de sucumbência em prêmio pelo resultado desejado obtido, prêmio este pago, apenas: a) quando e se a vitória ocorrer; b) se a parte contrária não gozar do benefício da gratuidade de justiça; e c) se houver êxito na sua cobrança (que, registre-se, que fica a cargo do próprio advogado). Justamente em decorrência de sua eventualidade, os honorários sucumbenciais não consistem em remuneração, muito menos podem ser incorporados aos vencimentos ou proventos. Consistem, repita-se, em um plus eventual e não incorporável a que fazem jus os advogados que levam seus representados à vitória e que efetivamente conseguem recebê-los da parte vencida. Sua finalidade, frise-se à exaustão, é justamente conceder um plus, um prêmio extra, estranho à remuneração paga pela prestação dos serviços em si. Em síntese, os "honorários remuneratórios", sejam contratuais ou salariais não se confundem com os sucumbenciais. (...). (os grifos não constam do original).

Quanto à debatida observância do limite do teto remuneratório, o art. 37, XI, da CF/88, com a redação dada pela EC nº 41, de 19.12.03, estatui que:

“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsidio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)”.

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A finalidade da norma homenageia o princípio da isonomia, para estabelecer limite específico de um “teto geral” em todas as esferas da federação, seja para a União, seja no âmbito dos Estados e Municípios – os chamados “subtetos constitucionais”.

Em sede doutrinária:

“Fixação do teto salarial do funcionalismo Conforme a Emenda Constitucional nº 41/03, a remuneração e subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos (CF, art. 37, XI). Em respeito, porém, ao autogoverno dos entes federativos, a EC nº 47/05 permitiu a fixação de específico subteto salarial estadual/distrital, desde que com edição de emendas às respectivas Constituições estaduais ou à Lei Orgânica do Distrito Federal (CF, § 12, art. 37). Assim, os estados-membros e o Distrito Federal poderão alterar suas respectivas legislações, no sentido de estabelecer um limite único para todos os servidores estaduais ou distritais, exceptuando-se os parlamentares. Esse limite será o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça (90,25% do subsídio dos Ministros do STF). Trata-se de discricionariedade do estado-membro/Distrito Federal, que analisará politicamente a conveniência e a oportunidade de realizar alterações em suas Cartas locais, para estender a outras carreiras públicas o que o art. 37, XI, excepcionou somente aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e Defensores Públicos. Não há obrigatoriedade de tratamento uniforme por todos os estados-membros, pois, na ausência de previsão específica nas respectivas Constituições estaduais/Lei Orgânica, permanecerá como subteto salarial estadual/distrital, no âmbito do Poder Executivo, os subsídios do Governador (CF, art. 37, XI).

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O texto do inciso XI, do art. 37 é auto-aplicável, pois conforme o art. 8º, da referida EC nº 41/03, até que seja fixado o teto remuneratório geral, correspondente ao valor do subsídio dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, será considerado, para os fins de limite remuneratório, o valor da maior remuneração atribuída por lei na data da publicação da emenda constitucional a Ministro do Supremo Tribunal Federal, a título de vencimento, de representação mensal e da parcela recebida em razão de tempo de serviço. (...). A EC nº 41/03, portanto, afastou o entendimento da necessidade de edição de lei ordinária, de iniciativa conjunta do Presidente da República, dos Presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal e do Presidente do Supremo Tribunal Federal, para a fixação do teto salarial, e, consequentemente, para concessão de aplicabilidade ao texto constitucional. A citada emenda constitucional afastou, também, a própria iniciativa conjunta para fixação do subsídio de Ministro do Supremo Tribunal Federal, dando nova redação ao inciso XV do art. 48 da Constituição Federal”. (“Direito Constitucional”, 22ª edição, Alexandre de Moraes, Editora Atlas, 2007, pág. 328-329).

Consoante o disposto no art. 103-B, § 4º, da Constituição Federal, introduzido pela Emenda Constitucional nº 45, de 30 de dezembro de 2004, o CNJ editou as Resoluções de nº 13 e 14, de 21/03/2006, que dispõem, respectivamente, sobre a aplicação do teto remuneratório constitucional e do subsídio mensal dos membros da magistratura, bem como sobre a aplicação do teto remuneratório constitucional para os servidores do Poder Judiciário e para a magistratura dos Estados que não adotam o subsídio. Compulse-se o normativo a título de ilustração comparativa.

Dispõe a Resolução nº 14/2006, verbis:

“Art. 1º O teto remuneratório para os servidores do Poder Judiciário da União, nos termos do inciso XI do art. 37 da Constituição Federal, é o subsídio de Ministro do Supremo Tribunal Federal e corresponde a R$ 24.500,00 (vinte e quatro mil e quinhentos reais). Parágrafo único. Enquanto não editadas as leis estaduais referidas no art. 93, inciso V, da Constituição Federal, o limite remuneratório dos magistrados e servidores dos Tribunais de Justiça corresponde a 90,25% (noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento) do teto remuneratório constitucional referido no caput, nos termos do disposto no art. 8º da Emenda Constitucional nº 41/2003. (Eficácia suspensa – vide ADI/3854). Art. 2º Estão sujeitas aos tetos remuneratórios previstos no art. 1º as seguintes verbas: I - de caráter permanente: a) vencimentos fixados nas tabelas respectivas; b) verbas de representação; c) parcelas de equivalência ou isonomia; d) abonos;

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e) prêmios; f) adicionais, inclusive anuênios, biênios, triênios, qüinqüênios, sexta-parte, "cascatinha", 15% e 25%, trintenário e quaisquer outros referentes a tempo de serviço; g) gratificações; h) vantagens de qualquer natureza, tais como: 1. gratificação por exercício de mandato (Presidente, Vice-Presidente, Corregedor, Diretor de Foro e outros encargos de direção e confiança); 2. diferenças individuais para compensar decréscimo remuneratório; 3. verba de permanência em serviço mantida nos proventos e nas pensões estatutárias; 4. quintos; 5. vantagens pessoais e as nominalmente identificadas - VPNI; 6. ajuda de custo para capacitação profissional. i) retribuição pelo exercício, enquanto este perdurar, em comarca de difícil provimento; j) proventos e pensões estatutárias; k) percepção cumulativa de remuneração, proventos e pensões, de qualquer origem, nos termos do art. 37, inciso XI da Constituição Federal, ressalvado o disposto no art. 4º desta Resolução. (Revogada pela Resolução nº 42, de 11.09.07) l - outras verbas remuneratórias, de qualquer origem; II - de caráter eventual ou temporário: a) gratificação pelo exercício de encargos de direção: Presidente de Tribunal e de Conselho, Vice-Presidente, Corregedor e Vice-Corregedor , Conselheiro, Presidente de Câmara, Seção ou Turma, Diretor de Foro, Coordenador de Juizados Especiais, Diretor e Vice-Diretor de Escola e outros; b) exercício cumulativo de atribuições, como nos casos de atuação em comarcas integradas, varas distintas na mesma Comarca ou circunscrição, distintas jurisdições e juizados especiais; c) substituições; d) diferença de entrância; e) gratificação por outros encargos na magistratura, tais como: Juiz Auxiliar na Presidência, na Vice-Presidência, na Corregedoria, e no segundo grau de jurisdição, Ouvidor, Grupos de Trabalho e Comissões, Plantão, Juiz Regional de Menores, Juizado Especial Adjunto, Juiz Orientador do Disque Judiciário, e Turma Recursal; f) remuneração pelo exercício de função comissionada ou cargo em comissão; g) abono, verba de representação e qualquer outra espécie remuneratória referente à remuneração do cargo e à de seu ocupante; h) valores pagos em atraso, sujeitos ao cotejo com o teto junto com a remuneração do mês de competência; III - outras verbas, de qualquer origem, que não estejam explicitamente excluídas pelo art. 4º”.

Compete ao Município, destarte, cumprir o disposto na EC nº 41/03, de modo a ajustar a remuneração de seus servidores ao teto fixado, com a implementação dos respectivos requisitos.

No caso de que se ocupam estes autos, a superveniente Lei municipal nº 3.047,

de 07 de outubro de 2013, aqui impugnada, limitou os honorários de sucumbência recebidos pelos procuradores às regras do teto remuneratório constitucional, verbis:

“Art. 5º (...) Parágrafo Único - Aos valores pagos aos beneficiários da presente Lei se

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aplicam as normas de teto remuneratório, respeitados os limites diferenciados de cada categoria”.

O parágrafo único do art. 5º da lei verberada alinha-se à orientação do STF, que, ao tratar da matéria, firmou orientação no sentido de que os honorários advocatícios incluem-se no teto remuneratório, previsto no art. 37, XI, da Carta Constitucional. Assim, v.g.:

(a) “AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONSTITUCIONAL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE PROCURADOR DO ESTADO. CARÁTER GERAL: INCLUSÃO NO TETO REMUNERATÓRIO. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO”. (AI 500054 AgR, Relatora Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 15/12/2009); (b) “Agravo regimental no recurso extraordinário. Procuradores do Município de São Paulo. Os honorários advocatícios não foram equiparados, para efeito de exclusão do teto previsto no art. 37, XI da CF, às vantagens pessoais. Entendimento do Plenário do Supremo Tribunal Federal (RE 220.397/SP) que persiste em face da EC 19/98, tendo em vista o decidido na ADIMC 2.116. Agravo regimental desprovido”. (RE 225263 AgR, Relatora Min. ELLEN GRACIE, Primeira Turma, julgado em 26/03/2002); (c) “Agravo regimental em recurso extraordinário. 2. Recurso que não demonstra o desacerto da decisão agravada. 3. Viúva de ex-servidor público do Município de São Paulo. Procurador. 4. Constitucionalidade do art. 42 da Lei Municipal no 10.430, de 1988. Teto. Inclusão da verba honorária. Possibilidade. Precedente. 5. Irredutibilidade de vencimentos. Não ocorrência. Precedente. 6. Agravo Regimental a que se nega provimento”. (RE 282524 AgR, Relator Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 28/03/2006); (d) “I. Procuradores do Município de São Paulo: teto de remuneração: inclusão, no cálculo, das parcelas referentes a honorários de advogado, adicional de função, regime de dedicação exclusiva e gratificação de nível superior conferidos a todos os integrantes da categoria: precedentes (RE 312.026, Galvão, DJ 14.12.2001; RE 220.397, Pleno, Galvão, DJ 18.6.99). II. Agravo regimental: motivação da decisão agravada: necessidade de impugnação: inviabilidade para discutir a aplicação de lei superveniente ao caso concreto”. (AI 352349 ED, Relator Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira Turma, julgado em 28/10/2003).

Dessa resenha legislativa, jurisprudencial e principiológica extrai-se, em síntese, que: 1º – ao ver do decisório da Corte uniformizadora da interpretação da legislação federal, os honorários de sucumbência, quando vencedor da demanda ente público ou entidade a ele vinculada, integram o patrimônio público, por isto que não podem ser destinados aos procuradores e advogados públicos;

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2º – a Corte Guardiã da Constituição jamais inadmitiu a destinação dos honorários de sucumbência aos procuradores e advogados públicos, embora tampouco se encontre em seus precedentes confirmação expressa de que procuradores e advogados a eles façam jus, quer portem esses honorários índole remuneratória ou indenizatória;

3º – o que o STF tem examinado e definido, reiteradamente, refere-se à submissão dos honorários de sucumbência ao teto remuneratório, do que se pode razoavelmente deduzir que a Corte lhes atribui natureza remuneratória, passível de ser percebida pelos procuradores e advogados públicos, desde que não ultrapasse o teto remuneratório; 4º – não se percebe, assim balizado o tema, que a lei municipal em testilha exorbite do teto constitucional, cujo respeito expressamente ressalva em seu art. 5º, nem que viole princípios e normas constitucionais de natureza financeira, orçamentária ou fiscal, tanto que honorários de sucumbência não se equipara a receita ou a despesa pública de qualquer teor ou forma, já que não resulta de incidência tributária ou parafiscal, e configuram, ao contrário, verba estranha ao orçamento público, dado que se origina do vencido com o fim de pagar os serviços do advogado da parte vencedora, pagamento esse que não gera qualquer oneração orçamentária ou fiscal do ente público ou de suas entidades vinculadas; 5ª - por último, o novo Código de Processo Civil, em seu art. 89, § 19, não poderia ser mais explícito e induvidoso ao dispor que os advogados públicos perceberão os honorários de sucumbência, alinhando-se, destarte, ao que dos precedentes do STF resulta, no sentido de que verba honorária devida aos advogados públicos pelo vencido há de conter-se no teto remuneratório, como destacado em aresto da relatoria do Min. Gilmar Mendes (RE nº 282524), proferido aos 28.03.2006.

Pode-se, então, rebater, uma a uma, as teses de inconstitucionalidade suscitadas pelo Representante, a saber:

1ª - dita lei teria destoado dos princípios constitucionais orçamentários, uma vez que as despesas de pessoal não podem levitar no limbo; 2ª - a lei, nos termos em que editada, autoriza que 60% da receita auferida seja transferida diretamente aos Procuradores; 3ª - a Carta da República e a Carta Estatual conhecem apenas duas espécies de vencimentos, quais sejam, a remuneração e o subsídio, daí que a norma em lide burla o teto remuneratório. Os artigos 3º, IV e V, 4º, I, “a”, “b” e “d”, 6º, 8º e 9º, da indigitada Lei municipal nº 3.047/2013, estariam em aparente confronto com as normas dos artigos 5º, 9º, § 3º, 77, caput e XIII, 213, § 1º, todos da Constituição fluminense. O destinatário dessas normas

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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro Órgão Especial

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Órgão Especial

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é o Executivo do governo estadual, porém o art. 343 da CE/89, fundado no princípio da simetria, manda aplicá-las às administrações municipais. A Lei nº 13.015, de 16 de março de 2015 (novo CPC) tratou da matéria, estabelecendo pertencerem ao advogado público os honorários de sucumbência. A superveniente Lei municipal nº 3.047, de 07 de outubro de 2013, aqui impugnada, limitou os honorários de sucumbência recebidos pelos procuradores às regras do teto remuneratório constitucional. Tal remuneração não advém do erário, mas da parte vencida, por isto que não se incorpora às dotações orçamentárias como receita a parcela que a lei destina aos procuradores, seguindo-se que nenhuma violação impõe às leis orçamentárias e de responsabilidade fiscal dos entes públicos.

Eis os motivos de votar por que se julgue improcedente a representação. Rio de Janeiro, 09 de maio de 2016.

Desembargador JESSÉ TORRES

Relator