39
PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO ACR Nº 13072 - PE RELATÓRIO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO (RELATOR): Trata-se de apelações interpostas pela DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO em prol de GLAUBERSON DAQUINO OLIVEIRA e ESDRAS MARINHO DA SILVA em face de sentença proferida pelo juízo da 13 Vara Federal de Pernambuco, que cuidou de condená-los pelo cometimento do delito previsto no art. 4º, parágrafo único, da Lei 7.492/86 (gestão temerária). Segundo a denúncia, entre setembro de 2004 e março de 2007, GLAUBERSON, na qualidade de gerente da agência da CEF/Marcos Freire, em Olinda/PE, teria praticado atos de gestão fraudulenta (art. 4º, caput, da Lei 7.492/86) de instituição financeira, com participação de seu amigo, e cliente da referida agência, ESDRAS MARINHO DA SILVA, o que havia gerado para a referida empresa pública um prejuízo no valor de R$ 230.370,38, atualizado em 21/05/2012, segundo o ofício nº 03-93/2012 enviado pela CEF. Em resumo, os atos havidos como de delituosos teriam consistido nos seguintes: 1) em 23.09.2004, GLAUBERSON, então gerente da referida agência da CEF, concedeu/retificou limite de crédito rotativo (CROT), no valor de R$ 100.000,00, à conta nº 12772-1, titulada por seu amigo, ESDRAS MARINHO, em desacordo com regras do Manual Normativo da empresa, que determinavam que tal operação fosse submetida ao Comitê de Crédito da agência, já que o referido limite não estava dentro da alçada que competia ao ex-gerente (até 15.000,00) (E - f. 26). 2) Em 07.03.06, o ex-gerente efetuou o desbloqueio da caução de aplicação (E - apenso III, v.1, f. 227) e, em 26 e 27.04.06, desbloqueou os valores do fundo de investimento (FIC PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou na conta de ESDRAS MARINHO, tendo feito a mesma operação em relação às demais aplicações pertencentes a este denunciado (FI AÇÕES VALE DO RIO DOCE e FIC PERSONAL RF LP) (E - apenso III, v.1, f. 168-182 e v.3 f. 681). Posteriormente, GLAUBERSON passou a transferir valores das contas nº 12772-1 e nº 684-3, pertencentes a ESDRAS, para a conta nº 13264-4, de sua titularidade (E - apenso III, v.1, f. 215-301). 3) Em 16.03.2007, ESDRAS MARINHO intentou a ação ordinária nº 2007.83.00.003751-0, contra a CEF, pleiteando a restituição da quantia de R$ 533.548,78, sob a alegação de que tais valores foram indevidamente retirados de suas contas correntes (E - apenso III). Tribunal Regional Federal Fls............ ...

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

  • Upload
    others

  • View
    5

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

ACR Nº 13072 - PE

RELATÓRIO

DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO(RELATOR):

Trata-se de apelações interpostas pela DEFENSORIAPÚBLICA DA UNIÃO em prol de GLAUBERSON D’AQUINO OLIVEIRA eESDRAS MARINHO DA SILVA em face de sentença proferida pelo juízo da 13 VaraFederal de Pernambuco, que cuidou de condená-los pelo cometimento do delito previstono art. 4º, parágrafo único, da Lei 7.492/86 (gestão temerária).

Segundo a denúncia, entre setembro de 2004 e março de 2007,GLAUBERSON, na qualidade de gerente da agência da CEF/Marcos Freire, emOlinda/PE, teria praticado atos de gestão fraudulenta (art. 4º, caput, da Lei 7.492/86) deinstituição financeira, com participação de seu amigo, e cliente da referida agência,ESDRAS MARINHO DA SILVA, o que havia gerado para a referida empresa públicaum prejuízo no valor de R$ 230.370,38, atualizado em 21/05/2012, segundo o ofício nº03-93/2012 enviado pela CEF.

Em resumo, os atos havidos como de delituosos teriamconsistido nos seguintes: 1) em 23.09.2004, GLAUBERSON, então gerente da referidaagência da CEF, concedeu/retificou limite de crédito rotativo (CROT), no valor de R$100.000,00, à conta nº 12772-1, titulada por seu amigo, ESDRAS MARINHO, emdesacordo com regras do Manual Normativo da empresa, que determinavam que taloperação fosse submetida ao Comitê de Crédito da agência, já que o referido limite nãoestava dentro da alçada que competia ao ex-gerente (até 15.000,00) (E - f. 26). 2) Em07.03.06, o ex-gerente efetuou o desbloqueio da caução de aplicação (E - apenso III,v.1, f. 227) e, em 26 e 27.04.06, desbloqueou os valores do fundo de investimento (FICPERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240),resgatou os referidos valores e os creditou na conta de ESDRAS MARINHO, tendofeito a mesma operação em relação às demais aplicações pertencentes a este denunciado(FI AÇÕES VALE DO RIO DOCE e FIC PERSONAL RF LP) (E - apenso III, v.1, f.168-182 e v.3 f. 681). Posteriormente, GLAUBERSON passou a transferir valores dascontas nº 12772-1 e nº 684-3, pertencentes a ESDRAS, para a conta nº 13264-4, de suatitularidade (E - apenso III, v.1, f. 215-301). 3) Em 16.03.2007, ESDRAS MARINHOintentou a ação ordinária nº 2007.83.00.003751-0, contra a CEF, pleiteando a restituiçãoda quantia de R$ 533.548,78, sob a alegação de que tais valores foram indevidamenteretirados de suas contas correntes (E - apenso III).

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 2: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

Após a instrução processual penal, o juízo, convencido datipicidade, antijuridicidade e culpabilidade, condenou ESDRAS e GLAUBERSON pelocometimento do delito previsto no art. 4º, parágrafo único, da Lei 7.496/86 – e nãocaput, como inicialmente capitulado –, aplicando ao primeiro pena privativa de liberdadede 03 anos de reclusão (ESDRAS) e ao segundo 04 anos de reclusão(GLAUBERSON), além de multa, isto em virtude de, na primeira fase, considerar aculpabilidade de ESDRAS mediana e a de GLAUBERSON, intensa; bem como asconsequências negativas, em virtude de o crime ter sido perpetrado em detrimento daCAIXA, que exerceria papel de suma importância na vida de muitos.

Inconformada, a DPU apresentou apelo em favor de ESDRAS(fls. 398/422). Na ocasião, aduziu, resumidamente, que: 1) o réu deveria ser absolvidoem face da atipicidade formal da conduta em virtude da ausência de dolo; 2)subsidiariamente, a conduta deveria ser desclassificada para o crime de estelionatomajorado; 3) em caso de manutenção da condenação, a pena deveria ser reduzida, com areforma da dosimetria.

No mesmo compasso, a DPU apresentou apelo em defesa deGLABERSON (fls. 423/446), sustentando, em resumo, a atipicidade formal da conduta,a declassificação para o delito de estelionato qualificado e/ou a revisão da dosimetria,com a redução de penalidade.

Contrarrazões às fls. 449/464.

Parecer da PRR às fls. 470/486.

É o relatório.

Ao revisor.

Ffmp.

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

2

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 3: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

ACR Nº 13072 - PE

VOTO

DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO(RELATOR):

Antes de adentrar às teses e antíteses erguidas em grau derecurso, cumpre rememorar o panorama jurídico e factual sobre o qual se apoiam.

Como visto, trata-se de apelações interpostas pelaDEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO em prol de GLAUBERSON D’AQUINOOLIVEIRA e ESDRAS MARINHO DA SILVA em face de sentença proferida pelojuízo da 13 Vara Federal de Pernambuco, que cuidou de condená-los pelo cometimentodo delito previsto no art. 4º, parágrafo único, da Lei 7.492/86 (gestão temerária).

Segundo a denúncia, entre setembro de 2004 e março de 2007,GLAUBERSON, na qualidade de gerente da agência da CEF/Marcos Freire, emOlinda/PE, teria praticado atos de gestão fraudulenta (art. 4º, caput, da Lei 7.492/86) deinstituição financeira, com participação de seu amigo, e cliente da referida agência,ESDRAS MARINHO DA SILVA, o que havia gerado para a referida empresa públicaum prejuízo no valor de R$ 230.370,38, atualizado em 21/05/2012, segundo o ofício nº03-93/2012 enviado pela CEF.

Em resumo, os atos havidos como de delituosos teriamconsistido nos seguintes: 1) em 23.09.2004, GLAUBERSON, então gerente da referidaagência da CEF, concedeu/retificou limite de crédito rotativo (CROT), no valor de R$100.000,00, à conta nº 12772-1, titulada por seu amigo, ESDRAS MARINHO, emdesacordo com regras do Manual Normativo da empresa, que determinavam que taloperação fosse submetida ao Comitê de Crédito da agência, já que o referido limite nãoestava dentro da alçada que competia ao ex-gerente (até 15.000,00) (E - f. 26). 2) Em07.03.06, o ex-gerente efetuou o desbloqueio da caução de aplicação (E - apenso III,v.1, f. 227) e, em 26 e 27.04.06, desbloqueou os valores do fundo de investimento (FICPERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240),resgatou os referidos valores e os creditou na conta de ESDRAS MARINHO, tendofeito a mesma operação em relação às demais aplicações pertencentes a este denunciado(FI AÇÕES VALE DO RIO DOCE e FIC PERSONAL RF LP) (E - apenso III, v.1, f.168-182 e v.3 f. 681). Posteriormente, GLAUBERSON passou a transferir valores dascontas nº 12772-1 e nº 684-3, pertencentes a ESDRAS, para a conta nº 13264-4, de suatitularidade (E - apenso III, v.1, f. 215-301). 3) Em 16.03.2007, ESDRAS MARINHOintentou a ação ordinária nº 2007.83.00.003751-0, contra a CEF, pleiteando a restituição

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

3

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 4: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

da quantia de R$ 533.548,78, sob a alegação de que tais valores foram indevidamenteretirados de suas contas correntes (E - apenso III).

Após a instrução processual penal, o juízo, convencido datipicidade, antijuridicidade e culpabilidade, condenou ESDRAS e GLAUBERSON pelocometimento do delito previsto no art. 4º, parágrafo único, da Lei 7.496/86 – e nãocaput, como inicialmente capitulado –, aplicando ao primeiro pena privativa de liberdadede 03 anos de reclusão (ESDRAS) e ao segundo 04 anos de reclusão(GLAUBERSON), além de multa, isto em virtude de, na primeira fase, considerar aculpabilidade de ESDRAS mediana e a de GLAUBERSON, intensa; bem como asconsequências negativas, em virtude de o crime ter sido perpetrado em detrimento daCAIXA, que exerceria papel de suma importância na vida de muitos.

Inconformada, a DPU apresentou apelo em favor de ESDRAS(fls. 398/422). Na ocasião, aduziu, resumidamente, que: 1) o réu deveria ser absolvidoem face da atipicidade formal da conduta em virtude da ausência de dolo; 2)subsidiariamente, a conduta deveria ser desclassificada para o crime de estelionatomajorado; 3) em caso de manutenção da condenação, a pena deveria ser reduzida, com areforma da dosimetria.

No mesmo compasso, a DPU apresentou apelo em defesa deGLABERSON (fls. 423/446), sustentando, em resumo, a atipicidade formal da conduta,a declassificação para o delito de estelionato qualificado e/ou a revisão da dosimetria,com a redução de penalidade.

Rememorado o imprescindível, passemos a analisar osargumentos dos recursos.

Sobre a presença de: 1) provas incontestes da materialidade eautoria delitivas; 2) da tipicidade – formal e material – da conduta; 3) bem como dodolo a macular o agir dos dois acusados – que amoldar-se-ia com precisão no tipo penalprevisto pelo art. 4º, parágrafo único, da Lei 7.492/86 –, bem andou o magistrado aoassim fundamentar (grifos nossos):

II. Fundamentação

O artigo 4º, caput, da Lei nº 7.492/86, tipifica a conduta degerir fraudulentamente instituição financeira, entendida esta como "apessoa jurídica de direito público ou privado, que tenha comoatividade principal ou acessória, cumulativamente ou não, acaptação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros deterceiros, em moeda nacional ou estrangeira, ou a custódia, emissão,distribuição, negociação, intermediação ou administração de valoresmobiliários", como é o caso da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL -CEF.

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

4

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 5: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

Nas palavras do autor Rodolfo Tigre Maia, "gerir é exercer asatividades de mando, é administrar, tomar decisões no âmbito daempresa, autorizado pelos poderes que são conferidos pela lei e peloestatuto societário", enquanto conduta fraudulenta, "elementodescritivo/normativo integrante de incontáveis tipos penais, équalquer ação ou omissão humana hábil a enganar, a ludibriarterceiros, levando-os a uma situação de erro, falsa representação darealidade ou ignorância desta" (Dos Crimes contra o SistemaFinanceiro Nacional, Malheiros Editores, 1996, p. 55).

Trata-se de um crime formal, uma vez que prescinde, para asua consumação, da causação de efetivo prejuízo às suas vítimas,empresa ou entidade e seus acionistas, investidores e ou segurados.

O tipo subjetivo é representado pelo dolo, ou seja, a vontadelivre e consciente de realizar a conduta típica, não se exigindoqualquer fim especial do agente.

A gestão fraudulenta, embora não exija a produção de umresultado naturalístico, traz, sem dúvida, riscos à saúde financeira daempresa ou entidade, e, por conseguinte, de todo o sistema do qualfaz parte, cuja credibilidade, uma vez abalada, refletirá de formanegativa sobre toda a economia nacional, razão pela qual mereceuespecial proteção do legislador.

Se os atos praticados pelo gestor, embora lícitos, trouxeramriscos à saúde financeira da empresa/entidade, então estaremosdiante do tipo descrito no parágrafo único do mesmo dispositivo,nominado de gestão temerária.

Sobre o assunto, Rodolfo Tigre Maia lembra que "aprodigabilidade, o desperdício de recursos por inobservânciaconsciente de recomendações e procedimentos técnicos cabíveis, acontratação de serviços, pessoas ou bens por valores superiores aosde mercado ou inobservando estudos avaliatórios prévios, oinvestimento de risco elevado sem as garantias de praxe no mercadoe o desvio das atividades que constituem a finalidade social daempresa (ultra vires), de particular relevância esta última no escopode atuação das instituições financeiras públicas, são facetasfrequentes da gestão temerária" (obra já citada, p. 61).

Nesse sentido, o autor cita os artigos 153 e 154, § 2º, "a", daLei das S.A. (Lei n.º 6.404/76), segundo os quais "o administrador dacompanhia deve empregar o cuidado e a diligência que todo homemativo e probo costuma empregar na administração dos seus própriosnegócios" sendo-lhe expressamente vedado "praticar ato deliberalidade à custa da companhia" (p. 61).

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

5

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 6: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

Como se vê, trata-se, da mesma forma que a gestãofraudulenta, de um crime formal, uma vez que prescinde, para a suaconsumação, da causação de efetivo prejuízo as suas vítimas,empresa ou entidade e seus acionistas, investidores e ou segurados.

O tipo subjetivo é representado pelo dolo, devendo o sujeitoativo ter consciência de que seus atos são temerários, ou seja, não serevestem do cuidado e da diligência que todo homem deve empregarna administração de seus próprios negócios, não se exigindoqualquer fim especial do agente.

Lembro, ainda, que é a reiteração de ações que constitui aconduta típica, a qual somente se considera inteiramente consumadacom o cometimento da última.

Como já dito, para que se possa falar em gestão fraudulenta(artigo 4º, caput, da Lei nº 7.492/86), necessária é a presença doanimus fraudandi, o que se verifica quando a conduta é praticada demaneira a encobrir a realidade dos fatos, levando alguém a umasituação de erro, o que não restou demonstrado nos autos.

Na verdade, o órgão acusador sequer mencionou o emprego deartifício pelos acusados, a exemplo da falsificação e do uso dedocumentos falsos, visando encobrir possíveis irregularidades deseus atos, inexistindo qualquer elemento nos autos nesse sentido.

Ao contrário, as declarações prestadas pelas testemunhas deixamtransparecer que os acusados não tinham a preocupação deesconder, "maquiar", as transações irregulares praticadas pelosmesmos, as quais eram conhecidas pelos próprios funcionários daagência, a exemplo de Antônio Enrique España. Senão vejamos:

(ANTÔNIO ENRIQUE ESPAÑA): [...] que confirma o depoimentoconstante às fls. 46/48 dos autos, prestado no processo disciplinar daCaixa [...]; que GLAUBERSON era muito amigo de um cliente que sedizia não cliente da Caixa, mas do GLAUBERSON; que isso ouviu dopróprio ESDRAS; que ESDRAS namorava uma menina que tinha sidoestagiária e prestadora de serviço da agência antes de ele chegar àagência, a MARÍLIA, e soube que depois eles casaram [...]; queESDRAS tinha volume de aplicações e renda declarada maior do queo segmento da testemunha, que era de até R$ 1.500,00, mas foiencarteirado no seu segmento para que pudesse continuar sendoatendido exclusivamente pelo GLAUBERSON, o que era demanda doESDRAS [...]; que havia muita amizade; havia uma relação não seide cumplicidade ou o que, onde o GLAUBERSON cedia o cartão desua conta pessoal para que o ESDRAS, ao viajar ou fazer algumnegócio, usasse a conta do GLAUBERSON e depois oGLAUBERSON tirava dinheiro das aplicações do ESDRAS e depois

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

6

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 7: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

repunha o valor que teria usado; que lembra de algumas situaçõestipo a compra de um apartamento em Manaus feita pelo ESDRAS, acompra de uma Kombi [...]; que a amizade entre eles era muitopróxima, de se frequentarem e dormirem na casa um do outro e apartir de um determinado momento muita viagem juntos, para SãoPaulo, passar final de semana [...]; que até um dia GLAUBERSONestava afastado, não sei se de férias, e ESDRAS o procurou, porquequeria fazer um saque, e não tinha mais valor disponível na contadele [...]; que pediu extrato da conta, ele inclusive estava junto com aMARÍLIA na agência, e passou o caso para a gerente, que demandoua abertura do IPL [...]; que soube de uma operação dedescaucionamento de um empréstimo feita por GLAUBERSON, mas oque lhe constava é que era feita com autorização do cliente, nessasituação de ele usar o dinheiro do GLAUBERSON e depois este reporsua conta com recursos do ESDRAS; que normativamente não épermitido a um gerente da Caixa descaucionar uma aplicação queserve como garantia de um empréstimo que o cliente pega na agência[...]; que o gerente não pode lançar débito em conta com saldo jánegativo, como ocorreu com as ordens de débito de 10 mil e 17 mil;que a concessão de crédito rotativo na Caixa segue o critério dealçada; que a concessão de limite de crédito em valor superior ao daalçada do cliente é proibida [...]; que os valores de alçada vãoascendendo de acordo com quem lança, se o gerente, o gerente-geral,o superintendente, etc; que o sistema não bloqueava se o gerentelançasse empréstimo com valor superior ao de alçada do cliente [...];que hoje foram criadas travas no sistema para inibir esse tipo deatitude por parte do gerente; que dentro do código de ética da Caixaesse comportamento é proibido; que a realização de operações porparte de um gerente, ao retirar dinheiro da conta de um cliente,ainda que com a concordância deste, para saldar débitos que elesmantinham entre si (em razão de comportamento pessoal) é atitudepessoal [...]; que lhe constam a compra de um apartamento emManaus, numa TED, de uma Kombi e muitas idas a São Paulo paracompras de utensílios que seriam vendidos na Kombi; que paraGLAUBERSON via uma vida com muita balada, indo para a balada[...]; que às vezes chegavam GLAUBERSON e ESDRAS com calçasnovas e cintos iguaizinhos, que tinham comprado juntos [...]; queconfirma a compra, por parte de ESDRAS, de uma casa em Pitimbu,um sítio em Timbaúba e um carro importado, este com umalembrança extremamente vaga; que quanto às Kombis e motos,ratifica o depoimento anterior [...]; que GLAUBER teria compradocarro importado; que é algo não corriqueiro essa exigência de umcliente de ser atendido por um gerente só, ainda que de outra carteira[...]; que em relação à operação de crédito o sistema libera o limiteque é informado; que se eu, de má-fé, processar alguma informaçãoinverídica, ele vai confiar em mim, que sou o operador, o gerente dacaixa; que o sistema não tem esse discernimento; que se você meapresenta um contracheque de R$ 10.000,00, eu posso lançar R$

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

7

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 8: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

50.000,00, e o sistema vai acreditar; que depois a retaguarda, emprincípio, vai conferir e verificar o erro; que o limite é definido pelosistema de acordo com as informações financeiro-monetáriasinseridas pelo funcionário [...]; que a casa de GLAUBERSON tinhapiscina e primeiro andar, numa área boa de Olinda, JardimAtlântico, seu pai era militar reformado, tinha uma boa renda, e maiso salário dele da Caixa [...]; que houve uma mistura muito grande davida financeira com a vida pessoal [...]".

Da mesma forma, no relatório conclusivo da comissão deauditoria realizada pela CEF, em nenhum momento forammencionados quaisquer procedimentos fraudulentos praticados pelosréus como meio de possibilitar ou ocultar as operações irregularesrealizadas, como se observa do trecho do mencionado relatório aseguir transcrito.

Os fatos apurados por essa Comissão, no que concerne aos atospraticados pelo empregado arrolado, as infringências normativaspraticadas voluntariamente e as denúncias do cliente, evidenciam queo empregado GLAUBERSON D'AQUINO OLIVEIRA, cometeu atolesivo à CAIXA e ao cliente, cujo modus operandi consistiu em:* Concessão/retificação do limite do CROT no valor de R$100.000,00 (cem mil reais) em nome de ESDRAS MARINHO DASILVA, sem a competente alçada;* desbloqueio e resgate da caução, deixando a CAIXA desprovida dagarantia da operação;* transferência de valores das contas do cliente ESDRAS MARINHODA SILVA para a sua própria conta. Esses três fatos irregulares foram preponderantes à avaliaçãodesta comissão quanto à decorrência de dolo ou culpa do empregado,os quais, por serem distintos careceram de ponderações diferentes, asaber:* A retificação do limite de crédito sem a alçada competentecaracteriza CULPA do empregado, decorrente de negligência;* o desbloqueio e o resgate da caução, sem a liquidação do contrato,caracterizam CULPA do empregado, decorrentes de imprudência;* a transferência eletrônica de valores sem autorização comprovada,da conta do cliente para a conta do empregado, caracteriza DOLOdo empregado.

No que concerne à irregularidade consistente na transferênciaeletrônica de valores sem autorização comprovada, foi constatadoposteriormente que tais transferências foram autorizadas pelo cliente(conforme restou demonstrado pelo laudo pericial de fls. 98/138),não tendo o gerente GLAUBERSON, por isso mesmo, se valido dequalquer manobra fraudulenta para a sua efetivação.

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

8

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 9: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

Sendo assim, entendo não configurado o tipo penal em comento,em face da ausência da elementar fraude, o que não impede asubsunção das condutas correspondentes ao tipo descrito noparágrafo único desse mesmo artigo (gestão temerária),considerando que o acusado, no processo penal, defende-se dosfatos, sendo irrelevante a classificação jurídica constante dadenúncia ou queixa.

Pois bem.

Conforme conclusão da auditoria interna da CEF, o empregadoGLAUBERSON D'AQUINO OLIVEIRA agiu com negligência eimprudência ao descumprir os itens normativos a saber:* Item 3.2.2.1 do MN AL 021 002 e itens 3.19.2, 3.23.4 e 4.1.15 doMN CO 012 031 por não observar o regime de alçadas e não liquidaro contrato quando desbloqueou a garantia;* item 6.1.1.8 do anexo I do MN CO 012 031, por não ter preservadoa garantia contratual de no mínimo 125% do valor da operação;* itens 3.16.1, 3.16.2, 3.16.2.1 e 3.16.4.2 do MN CO 020 036, itens3.6.3.1, 3.6.3.1.1, 4.3.10.1, 4.3.10.1.1 e 4.3.10.2 DO Mn co 020 038,pela movimentação irregular em conta de cliente.

O descumprimento de tais normas regulamentares peloempregado GLAUBERSON restou devidamente comprovado por meiode processo de apuração instaurado pela CEF, onde foi constatadoque:

Na análise da concessão/retificação do limite do Crédito Rotativono valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), implantado na conta0917.001.12772-1, em 23 SET 04, constatamos que, embora tivessehavido a caução de aplicação como garantia, houve descumprimentodos itens 3.19..2 e 4.1.1.5 do MN CO 012 031 e 3.2.2.1 do MN AL021 002, tendo em vista que a retificação do limite não foi submetidaao Comitê de Crédito do PV, detentor da alçada.

3.19.2 A concessão das operações está subordinada ao regime dealçada vigente, independentemente da garantia oferecida, inclusivecaução de depósitos/aplicações financeiras na CAIXA.4.1.1.5 O gerente concessor providencia a contratação, se o valorestiver enquadrado dentro de sua alçada.3.2.2.1 COM GARANTIA DE CAUÇÃO DEDEPÓSITO/APLICAÇÃO Gerente de Relacionamento até R$15.000,00.

O Gerente concessor foi GLAUBERSON D'AQUINO OLIVEIRA,matrícula 055936-8, que estava no exercício de função gerencialnaquela data.

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

9

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 10: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

A operação se tornou ainda mais fragilizada, no dia 07 MAR 06,quando o empregado GLAUBERSON D'AQUINO OLIVEIRA,usuário c055936, efetuou o desbloqueio da caução de aplicação,conforme relatório LTEA daquela data (fls. 094). Em 08 MAR 06, houve o resgate de R$ 20.000,00, efetuado com ologin c055936 e creditado na conta 12772-1 titulada por ESDRASMARINHO DA SILVA (fl. 095). Nos dias 26 e 27 ABR 06 (fls. 106 e 107), os valores do FICPERSONAL RF LP, que garantiam o CROT/PF foramdesbloqueados, resgatados e creditados na conta 12772-1, sem arespectiva liquidação da parte em aberto ou do contrato de CROT,descumprindo o item 3.23.4 do MN CO 012 031 e desqualificando agarantia conforme 6.1.1.8 do anexo I do MN CO 012 031.3.23.4 Nos casos de garantia de Caução de Depósitos e/ouaplicações financeiras, e não existindo saldo disponível suficiente naC/C para quitação da parcela, o Gerente do PV providencia atransferência do valor necessário, debitando a conta caucionada eliquidando a parcela em aberto ou o contrato, de acordo com ascláusulas contratuais de cada operação.6.1.1.8 CAUÇÃO DE DEPÓSITOS/APLICAÇÕES FINANCEIRAS[...] Os depósitos/aplicações financeiras, oferecidos em garantia deoperações de crédito, devem ser suficientes para cobrir o valor doempréstimo/financiamento acrescido dos encargos contratuaisprevistos até o vencimento do contrato, nunca inferior a 125% dovalor do contrato.

Os comandos de resgates foram efetuados pelo empregadoGLAUBERSON D'AQUINO OLIVEIRA, usuário C055936 (fls. 094,095, 106 e 107). As demais aplicações CAIXA FI AÇÕES VALE DO RIO DOCE eCAIXA FIC PERSONAL RF LP, em nome de ESDRAS MARINHO DASILVA, também foram resgatadas e os valores foram creditados nasua conta corrente 0917.001.12772-1, deduzidos o IRRF, na forma dalegislação tributária vigente, conforme extratos de aplicações àsfolhas 035 a 049 e extratos da conta corrente folhas 545 a 602. Na análise da conta corrente 0917.001.12772-1, foramconstatadas movimentações anômalas a saber: Transferências de valores, efetuadas em EO - EstaçãoOperacional, pelo empregado GLAUBERSON, debitando a conta0917.001.12772-1 de ESDRAS MARINHO DA SILVA e creditando aconta 0917.001..13.264-4, titulada pelo próprio empregadoGLAUBERSON D'AQUINO OLIVEIRA (fls. 082 a 166),descumprindo os itens 3.6.3.1, 3.6.3.1.1, 4.3.10.1, 4.3.10.1.1 e4.3.10.2 do MN CO 020 038;

3.6.3.1 A movimentação por meio de Débito autorizado utiliza oformulário Aviso de Débito MO 37017 e é precedida de autorizaçãoformal do titular ou de seu representante legal.

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

10

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 11: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

3.6.3.1.1 A autorização é fornecida por escrito ou com opreenchimento do MO 37040, com estipulação de prazo de validade,que pode ser indeterminado por meio de documento formal assinadopelo (s) titular (es) da conta.4.3.10.1 Para os lançamentos manuais, a débito ou crédito, éobrigatório o preenchimento de formulário próprio da transação,independentemente do canal utilizado ser a EO ou EF.4.3.10.1.1 Nas transações efetuadas na EO o empregado deve anotaro NSU no local destinado à autenticação mecânica.4.3.10.2 Os formulários utilizados para lançamentos manuais sem apresença do Cliente, a débito ou crédito, devem ser assinados pordois empregados CAIXA, sendo um obrigatoriamente detentor decargo em comissão de gerência.

Não há dúvida, pois, de que GLAUBERSON D'AQUINOOLIVEIRA agiu com desídia no trato das finanças da CEF, aodesbloquear as aplicações do seu cliente sem a correspondenteliquidação do contrato de cheque especial respectivo, bem assim nãopreservar a garantia contratual de no mínimo 125% do valor daoperação, o que representou um efetivo risco de prejuízo para aquelainstituição financeira, e ainda ao efetivar débitos em conta sem aanuência formal do cliente, ou de seu representante legal, dandoensejo ao ajuizamento de ação de ressarcimento contra a CEF.

Em seu interrogatório, embora tenha reconhecido ter realizadoas operações em questão, GLAUBERSON negou a acusação,asseverando ter seguido o procedimento padrão para aumentar olimite do cheque especial de ESDRAS; que como não conseguiu que osistema aceitasse o aumento do limite do cheque especial, tendo emvista a existência de um histórico de atraso, entrou em contato, via e-mail, com a Superintendência da CEF para exclusão desseimpeditivo, considerando que se tratava de um cliente rentável para aagência; que só conseguiu aumentar o limite do cheque especial deESDRAS justamente porque a Superintendência excluiu aqueleimpeditivo, já que a senha do interrogando não dava acesso pararealizar tal operação; que todas as transferências de valores foramfeitas com a anuência de ESDRAS; que os valores creditados naconta do interrogando destinavam-se a pagar despesas feitas porESDRAS no cartão do interrogando; que ESDRAS não tinha cartãoporque o sistema não liberava em razão de algum impedimento quenão soube explicar no momento; que o interrogando não era ogerente da conta de ESDRAS, mas apenas uma pessoa de confiançadele; que todas as baixas nas aplicações eram solicitadas eautorizadas por ESDRAS; que não ia mexer na conta de uma pessoase não tivesse autorização dela; que não deu queixa, nem nuncaentrou com nenhuma ação contra ESDRAS; que ESDRAS é o únicoculpado pela sua inadimplência; que não se apropriou de nenhumvalor; que abandonou o emprego em razão do constrangimento

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

11

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 12: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

gerado pela situação; que prestava esse tipo de serviço(transferências sem autorização formal) para outros clientes; queperdeu pouco dinheiro; que ESDRAS não perdeu nada; que ele naverdade gastou tudo; que ESDRAS chegou a reclamar aointerrogando o sumiço do dinheiro; que o interrogando disse a eleque iria verificar; que não se arrepende de nada porque não achaque fez nada de errado; que, porém, não faria de novo; que pelarelação que tinha com ESDRAS não via nada de mais no que fez; queESDRAS nunca propôs a ele, interrogando, dar um golpe na CEF;que não houve nenhum tipo de fraude; que é impossível um contratoque passou dois anos ativo ter sido feito sem o conhecimento dacomissão de retaguarda da CEF; que era gerente eventual derelacionamento; que não lembra de ter feito o desbloqueio deaplicações que estavam servindo de caução do crédito rotativoconcedido a ESDRAS; que se fez foi atendendo à solicitação docliente; que não tinha conhecimento das finanças de ESDRAS; queapenas fazia o que ele pedia; que ESDRAS não chegava a serdescontrolado; que pelo que sabe o dinheiro movimentado porESDRAS pertencia ao tio dele; que ESDRAS tinha uma conta pessoale depois abriu uma outra conta pessoa física utilizada paramovimentar a conta da sua empresa; que mesmo sabendo queESDRAS estava gastando muito não passou pela sua cabeça cortar ocrédito do mesmo; que não lembra de valores, mas realmenteaconteceu de ESDRAS gastar uma alta quantia numa festa num sítiorecém comprado em Timbaúba/PE; que a questão de ESDRAS eramuita ostentação; que confirma seu depoimento em sedeadministrativa no sentido de que ESDRAS viajou para Manaus paramontar uma empresa de reboque, mas gastou muito e não fez essenegócio; que gastou com cavalo, gado, cobertura e piso no sítio deTimbaúba, e caseiro na casa de Pitimbú; que todas essas despesassaíram da conta dele na CEF; que além do sítio e da casa de praia,ESDRAS também adquiriu duas kombis e três imóveis; que nãolembra qual foi a época que esses bens foram adquiridos; que sóficou sabendo do "rombo" na conta de ESDRAS quando a sua senhafoi bloqueada; que quando verificava a conta de ESDRAS a pedidodele mesmo não atentava sobre o excesso do limite; que assolicitações de baixa das aplicações eram feitas por telefone; que abaixa da aplicação foi feita aos poucos; que o dinheiro não foitransferido de uma vez só; que não houve a autorização formal deESDRAS para todas as transferências, mas apenas para algumas;que não existia nenhum gatilho no sistema que avisava quando ascauções eram desbloqueadas; que as liberações das aplicações nãoprecisavam passar por nenhum setor de retaguarda; que bastava umtelefonema do cliente autorizando; que entende que não deve nada aninguém.

Inicialmente, observo que a alegação de GLAUBERSON nosentido de que teria implantado o cheque especial de ESDRAS com o

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

12

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 13: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

conhecimento da Superintendência da CEF, além de não ter restadocomprovada, já que os supostos emails trocados pelo réu com aSuperintendência da CEF não foram apresentados, foi rechaçadapelo depoimento prestado pelo também funcionário da CEF à época,Antônio Enrique España, segundo o qual o sistema não bloqueava seo gerente lançasse empréstimo com valor superior ao de alçada docliente [...]; que hoje foram criadas travas no sistema para inibiresse tipo de atitude por parte do gerente; que em relação à operaçãode crédito o sistema libera o limite que é informado; [...] que se eu,de má-fé, processar alguma informação inverídica, ele vai confiar emmim, que sou o operador, o gerente da caixa; que o sistema não temesse discernimento; que se você me apresenta um contracheque de R$10.000,00, eu posso lançar R$ 50.000,00, e o sistema vai acreditar;que depois a retaguarda, em princípio, vai conferir e verificar o erro;que o limite é definido pelo sistema de acordo com as informaçõesfinanceiro-monetárias inseridas pelo funcionário.

Por outro lado, as declarações do acusado no sentido de que nãoera o gerente da conta do réu ESDRAS, e que apenas liberava asaplicações e fazia as transferências e pagamentos a pedido domesmo, sem se preocupar em verificar o saldo da sua conta, nãocorrespondem à realidade dos fatos.

Como restou comprovado pela apuração realizada pela CEF,todas as operações envolvendo a conta de ESDRAS, inclusive aconcessão de crédito rotativo, foram feitas com a matrícula deGLAUBERSON, não havendo dúvida, portanto, da atuação desseacusado como gerente da conta do corréu ESDRAS.

Portanto, como gerente da conta, era praticamente impossívelque GLAUBERSON D'AQUINO OLIVEIRA não tivesse ciência dasituação de inadimplência do corréu ESDRAS, não havendo dúvida,pois, de que o mesmo agiu com desídia no trato das finanças da CEF,praticando, assim, o crime descrito no art. 4º, parágrafo único, daLei nº 7.492/86.

Passo à análise da conduta imputada ao réu ESDRAS MARINHODA SILVA.

Conforme restou comprovado por meio de apuração levada aefeito pela CEF (fls. 30/41), o acusado GLAUBERSON, na qualidadede gerente da CEF, concedeu indevidamente, ao corréu ESDRAS, umcrédito rotativo de R$ 100.000,00 (cem mil reais), e, além disso,baixou aplicações que serviam de garantia a esse contrato, cujosvalores foram indevidamente sacados, transferidos para contasdiversas ou utilizados para pagamentos em benefício de ESDRASMARINHO DA SILVA, com a utilização, inclusive, do limite docheque especial. Tudo com o conhecimento desse último acusado.

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

13

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 14: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

Ao ser interrogado, ESDRAS negou a acusação, asseverando queconfiou demais em GLAUBERSON e na CEF; que tinhaGLAUBERSON como irmão; que foi ele quem o orientou a fazer asaplicações; que foi GLAUBERSON quem o orientou a usar odinheiro do cheque especial e não da aplicação; que nunca teve talãode cheque e cartão; que sempre usou dinheiro já que não gostava deter cartão; que por isso usava o cartão de GLAUBERSON; que nãohouve essa história de comprar vários imóveis e viagens; queconfiava tanto em GLAUBERSON que nem tirava extrato da contapara conferência; que o interrogando nem senha tinha; que a suaconta era movimentada com a senha de GLAUBERSON; que usou ocartão de GLAUBERSON como uma segurança, porque quandoviajava não sabia o que ia gastar; que usou o cartão deGLAUBERSON algumas vezes, durante mais ou menos um ano; quenunca existiu acordo para GLAUBERSON sacar ou transferirdinheiro da sua conta quando quisesse; que nunca desconfiou denada porque dentro da CEF ele tinha conduta ilibada; que um diachegou no banco e ESPANÃ lhe alertou sobre o saldo devedor da suaconta e de que suas aplicações tinham sido resgatadas, foi quando ointerrogando começou a tentar entrar em contato comGLAUBERSON e ele não respondia mais; que foi o próprio ESPANÃque o orientou a procurar a polícia; que apresentou uma queixacontra a CEF na Polícia Federal, no Banco Central e na Delegacia;que não chegou a acusar GLAUBERSON, mas disse na Polícia queele era o seu gerente; que ficou muito abalado com tudo isso; quechegou a entrar em depressão e a tomar remédio controlado; quesuas três aplicações foram resgatadas sem a sua autorização; quenem sabia que elas tinham sido resgatadas; que não entende tambémcomo GLAUBERSON movimentava suas contas; que não entendeporque GLAUBERSON nunca lhe disse que sua conta estavaestourada; que a última vez que falou com GLAUBERSON foi em2007, na casa da sua sogra, quando ele lhe pediu cinquenta reais;que o seu advogado entrou com uma ação cível contra a CEF, que foiarquivada por perda de prazo; que veio ver o processo na JustiçaFederal e constatou que o mesmo foi arquivado por perda de prazo;que não quis entrar com representação na OAB contra o advogado;que preferiu colocar uma pedra no assunto; que não entrou comnenhuma ação contra GLAUBERSON individualmente; que o valorcobrado nessa ação, correspondente a R$ 533.000,00 (quinhentos etrinta e três mil reais), se refere aos saques/transferências que nãoforam autorizados pelo interrogando, ou seja que não tinham guiasassinadas; que nunca deu autorização escrita ou verbal paraGLAUBERSON movimentar sua conta; que o que foi autorizado teveguias assinadas pelo interrogando; que o interrogando não tinhasenha para movimentar a sua conta; que a sua conta eramovimentada sempre com a senha do gerente GLAUBERSON; que oseu patrimônio era maior do que o de GLAUBERSON; que

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

14

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 15: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

GLAUBERSON passou a ter uma vida não condizente com a suasituação financeira; que só veio saber disso depois; que nãoparticipava de festas pessoais dele; que nas festas que frequentavacom GLAUBERSON não via ele gastando tanto; que o dinheiromovimentado pelo interrogando na CEF era seu; que dividiu comGLAUBERSON o aluguel de um apartamento em Olinda/PE parafazer festas e outras coisas mais; que só o interrogando morava lá;que os bens que adquiriu foi antes de ficar com o saldo devedor; queestá no SPC e SERASA; que não teve condições de pagar o débito àCEF; que se desfez de todo o seu patrimônio; que não tinhaconhecimento de transferências da conta de GLAUBERSON para asua; que só soube do desbloqueio de suas aplicações quando foi nobanco e falou com ESPANÃ.

As declarações prestadas por ESDRAS, porém, não se coadunamcom as demais provas colacionadas aos autos.

Tanto que a comissão de auditoria da CEF conclui pelaresponsabilização não só do funcionário GLAUBERSON D'AQUINOOLIVEIRA, como do seu cliente, ESDRAS MARINHO DA SILVA, oqual restou comprovado ter se locupletado do dinheiro pertencente àCEF, como ficou patente no julgamento da ação cível nº2007.83.00.003751-0 ajuizada por ESDRAS contra àquela instituiçãofinanceira, em que esse réu pleiteia o ressarcimento dos valores desuas aplicações, supostamente desviados. Senão vejamos.

[...] O mérito da ação reside em definir-se se há obrigação deindenizar imputável à Caixa pelos valores que se diz terem sidoindevidamente subtraídos do autor, enquanto correntista dainstituição. Ao requerer o "ressarcimento" ou a "restituição" devalores, deduz o autor, substancialmente, um pedido de indenizaçãopor dano material, pois alega abalo sem eu patrimônio e pretendeque a Caixa recomponha tal prejuízo. [...] Aduziu o autor haver depositado quantias em duas contascorrentes da Caixa (nºs 12.772-1 e 684-3), além de ter feitoaplicações em fundos de investimentos disponibilizados pelo referidobanco. Em relação aos valores que estavam aplicados em fundos, aCaixa afirmou (f. 129), e o perito ratificou (f. 822-823), que toda essacifra (dos fundos de investimento) retornou à conta nº 12772-1, razãopela qual o exame do juízo poderá cingir-se à movimentação dascontas correntes, pois aí estavam os numerários efetivamentedisponibilizados ao cliente. No que tange propriamente às contas correntes, os documentosconstantes dos autos demonstram que a relação entre o autor e ogerente de suas contas não estava restrita ao campo profissional,mas se prolongava através de laços de estreita amizade. O autor

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

15

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 16: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

confiava a administração dos valores ao gerente e se valia da contadeste último para intermediar o saque das quantias de quenecessitava ou mesmo para pagamento de despesas pessoais. Essacircunstância, além de reconhecida pelo próprio ex-gerente, Sr.Glauberson, em sede de apuração administrativa da Caixa (f.416/423), foi constatada pelo perito do juízo. [...] Em relação à migração de valores da conta do autor para a contado Sr. Glauberson, todo o contexto dos autos leva a crer que asoperações não se desgarraram da chancela do correntista. Bastaatentar para os documentos de f. 307-311. Aí estão comprovantes dedepósito em favor do ex-gerente, figurando como depositário opróprio autor. Além disso, há avisos de débito (f. 311 e 716), tambémassinados pelo autor, figurando como favorecida a conta corrente doex-gerente. O próprio demandante, inclusive, reconheceuexpressamente, em sua réplica, a lisura dos documentos de f. 302-311. Observem-se, ainda, a documentação de f. 327-377 e de f. 707-715. Trata-se de guias de retiradas, assinadas pelo demandante ecom carimbo do Sr. Glauberson, na condição de gerente, relativas aoano de 2006 e início do ano de 2007. As guias, por sinal, referiram-se às duas contas correntes (nºs 12.772-1 e 684-3) do autor. A Caixa,no âmbito administrativo, promoveu exame grafotécnico e concluiupela autenticidade das assinaturas ali apostas (f. 718-720),conclusão não refutada pelo autor, que, em réplica, reconheceu comosuas as assinaturas. Tais documentos demonstram, de modoinequívoco, que o autor, recorrentemente, durante todo o ano de2006 e início de 2007, valeu-se ele próprio, da dedução de suascontas correntes, tudo com o aval do ex-gerente, que o auxiliava emtodas essas operações. Ademais, as numerosas retiradas da conta nº 684-3, reveladas poraquelas guias, induzem à convicção de que o correntista tinha totaldisponibilidade dos valores ali depositados, apesar de não possuirtalões de cheques dessa conta ou mesmo cartão de débito, consoanteafirmado na exordial (f. 9). Por outro lado, a Caixa, na contestação (f. 120), indicou diversastransferências eletrônicas de disponíveis (TED's), de valoressignificativos, enviadas pelo autor para diversos favorecidos. Odemandante confirmou as operações (f. 778) e o perito concluiu (f.836) haver prova nos autos dessas movimentações financeiras. Comefeito, às f. 192-205 deste caderno processual, está demonstrado queo autor, no ano de 2006, efetuou transferências de valoresexpressivos para terceiros (R$ 5.500,00; R$ 87.000,00; R$27.540,00; R$ 22.320,00; R$ 18.500,00; R$ 46.750,00; R$ 5.000,00)e, quanto ao referido valor de R$ 87.000,00, apesar de, na inicial,afirmar o demandante desconhecer a destinação da respectivatransferência, terminou assumindo que foi ele próprio quem aefetuou, ao reconhecer todos os TED's mencionados na contestação.

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

16

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 17: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

Diante de toda essa atuação do correntista, não é crível que omesmo, ao movimentar constantemente suas contas, não verificasse ohistórico das mesmas e o quanto tinha à sua disposição. Se assim nãoo fez, é porque se pautava por total descontrole financeiro, havendode assumir os ônus de sua incúria. Os elementos do processo firmama convicção de que o demandante teve, a todo o tempo,disponibilidade sobre os saldos de suas contas, cabendo-lhe, então,velar pela manutenção do seu dinheiro. Ocorre que o autor, seguidamente, efetuava uma deduçãoexpressiva das contas, seja mediante transferência eletrônica, guiasde retiradas ou ordens de débitos preenchidas de próprio punho. E,quanto à migração de valores de suas contas para a do ex-gerente, amovimentação revelou-se um procedimento corriqueiro entre ambos,haja vista a relação ultrapassar o campo profissional. Osdocumentos evidenciam que era o Sr. Glauberson pessoa de inteiraconfiança do requerente, estando por este autorizado a auxiliar naadministração dos créditos. Atente-se, inclusive, que não poderia oex-gerente realizar as transferências entre as contas se desconhecessea senha do respectivo titular, circunstãncia que somente reforça olaço de proximidade existente entre os mesmos.

Nessa ação, ficou patente que todas as operações realizadas porGLAUBERSON na conta de ESDRAS MARINHO tinham o aval desseúltimo, que, muitas vezes, sequer se dava ao trabalho de comparecerà agência para assinar as correspondentes guias de retirada, o que émuito comum na relação entre gerentes e alguns clientes, ou seja, aautorização de saques/transferências por telefone. No caso de ESDRAS e GLAUBERSON, porém, restou patente quea relação de confiança existente entre eles ia muito além daautorização de saques/transferências por telefone.

Embora as declarações prestadas por ambos tenham se chocadoem alguns pontos, os réus em nenhum momento negaram que tinhamuma relação de amizade íntima, chegando ao ponto de serGLAUBERSON quem utilizava a senha da conta de ESDRAS, que,por sua vez, usava o cartão de crédito de GLAUBERSON.

Além disso, a perícia realizada na ação ajuizada por ESDRASconstatou a existência de operações casadas relacionadas aopagamento de diversas despesas de ESDRAS com dinheiro saído daconta de GLAUBERSON, e, logo em seguida, a transferência dosmesmos valores da conta de ESDRAS para a de GLAUBERSON.

Portanto, pelo que se pôde perceber dos autos, GLAUBERSONagia, na verdade, como um administrador das finanças de ESDRAS,com total autonomia para movimentar suas contas.

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

17

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 18: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

A alegação de ESDRAS de que GLAUBERSON agiu sem a suaautorização, portanto, não tem qualquer respaldo nas provascolacionadas aos autos.

De qualquer forma, como bem ressaltou a MM Juíza prolatora dasentença acima transcrita, diante de toda essa atuação docorrentista, não é crível que o mesmo, ao movimentar constantementesuas contas, não verificasse o histórico das mesmas e o quanto tinhaà sua disposição. Se assim não o fez, é porque se pautava por totaldescontrole financeiro, havendo de assumir os ônus de sua incúria.

Em outras palavras, se o réu ESDRAS MARINHO DA SILVA nãoteve o cuidado de controlar as movimentações de suas contas, nãopode agora se valer de sua própria torpeza para se eximir daresponsabilidade pelo dano causado à CEF, não havendo dúvida,pois, de que o mesmo agiu com desídia no trato das finanças da CEF,praticando, assim, o crime descrito no art. 4º, parágrafo único, daLei nº 7.492/86, em coautoria com o réu GLAUBERSON D'AQUINOOLIVEIRA.

Por fim, a alegação de atipicidade da conduta imputada àESDRAS MARINHO, em razão da impossibilidade de suaparticipação no crime de gestão fraudulenta, visto não ter agido naqualidade de administrador (diretor, gerente, etc) de instituiçãofinanceira, nos termos do art. 25 da Lei nº 7.492/86, esbarra nasdisposições contidas nos artigos 29 e 30 do Código Penal acerca dacoautoria, nos seguintes termos:

Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide naspenas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode serdiminuída de um sexto a um terço.§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menosgrave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada atémetade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições decaráter pessoal, salvo quando elementares do crime.

No caso, a qualidade do agente de administrador de instituiçãofinanceira, assim considerados os diretores e gerentes, constituielementar do crime em questão (gestão temerária), não havendodúvida, pois, quanto à possibilidade de que tal circunstância secomunique àquele que concorreu para a prática do crime naqualidade de terceiro beneficiado.

Nesse sentido, vale transcrever o seguinte precedentejurisprudencial:

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

18

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 19: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

PENAL. ART. 4º, PARÁGRAFO ÚNICO, LEI 7.492/86. GESTÃOTEMERÁRIA. GERENTE GERAL DE AGÊNCIA DA CAIXAECONÔMICA FEDERAL. DESCONTO DE CHEQUES SEMLASTRO. AUSÊNCIA DE CAUTELA. EMPRÉSTIMOS POR VIATRANSVERSAL A PARENTE. VEDAÇÃO LEGAL. CO-AUTORIA.TEORIA MONISTA. 1. Incide no tipo penal descrito no art. 4º,parágrafo único, da Lei 7.492/86, o agente que, na condição degerente geral de agência da Caixa Econômica Federal, desconta maisde uma centena de cheques de valores elevados e variados, semlastro, provenientes de parentes. 2. A ausência de cautela, com riscodesmedido na atuação, caracterizam o crime de gestão temerária,mormente quando o prejuízo experimentado pela empresa públicaaproxima-se de um milhão de reais. 3. A CEF veda aos seus gerentesa concessão de empréstimos a parentes até o quarto grau, devendotais operações ser realizadas pelo superior hierárquico do preposto.4. A par da Lei 7.492/86 tratar-se de norma especial, nada mais fezque seguir a orientação disposta no Código Penal, por meio do art.29, que adota a teoria monista no concurso de agentes, segundo aqual: quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide naspenas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. 5.Apelações de José Henrique Murad e Carlos Augusto D'Aguiar SilvaPalácio parcialmente providas e apelação do Ministério PúblicoFederal não provida.(TRF1/ TERCEIRA TURMA , ACR - APELAÇÃO CRIMINAL -00011642220024013700, decisão unânime, Fonte e-DJF1DATA:12/11/2010 PAGINA:208 Data da Decisão 18/10/2010)

Voltando à análise da adequação da conduta dos acusadoscomo criminosa, não há dúvidas de que é ela típica, e, também,antijurídica, uma vez que ausente qualquer causa justificante.

Quanto à reprovabilidade da conduta, restou comprovado nosautos que os agentes são capazes e podiam ter se determinado deforma diversa daquela praticada, não estando acobertados porqualquer causa de exclusão da culpabilidade.

Por todas essas razões, conclui-se que a conduta imputada aosacusados GLAUBERSON D'AQUINO OLIVEIRA e ESDRASMARINHO DA SILVA é típica, antijurídica e culpável.

Por fim, entendo totalmente descabida a alegação da defesa nosentido de que a conduta do réu GLAUBERSON seria atípica, tendoem vista a ausência de dolo, caracterizado pela intenção de causardano ao banco ou ao Sistema Financeiro Nacional.

Isto porque, no crime de gestão temerária, a conduta écaracterizada pelo dolo eventual, na medida em que o agente, tendo aprevisão do resultado, assume o risco realizando a conduta

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

19

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 20: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

indiferente aos danos à instituição financeira, e, por conseguinte, aoSistema Financeiro Nacional. Por outro lado, como exaustivamentedemonstrado nos autos, o réu, ao contrário do que alega a defesa,tinha consciência da ilicitude (dolo) das operações financeiras porele realizadas.

Nesse sentido, vale conferir os seguintes precedentesjurisprudenciais:

PENAL. PROCESSUAL PENAL. CRIME CONTRA O SISTEMAFINANCEIRO. COOPERATIVA DE CRÉDITO. GESTÃOTEMERÁRIA. EMPRÉSTIMO VEDADO. APLICAÇÃO INDEVIDADE FINANCIAMENTO. ARTIGOS 4º, PARÁGRAFO ÚNICO, 17 E20. LEI 7.492/1986. APELO. INTEMPESTIVIDADE.CERCEAMENTO DE DEFESA. INEXISTÊNCIA. EQUIVOCADACAPITULAÇÃO DO FATO. EMENDATIO LIBELLI. ARTIGO 383,CPP. POSSIBILIDADE. DENÚNCIA. INÉPCIA NÃOCARACTERIZADA. CRIME SOCIETÁRIO. MATERIALIDADE EAUTORIA DO DELITO DEVIDAMENTE COMPROVADAS.DOSIMETRIA. PENA-BASE. PENA DE MULTA. AGRAVANTE.CONTINUIDADE DELITIVA. PRESCRIÇÃO. [...] 2. Dispensável ademonstração de efetivo prejuízo ao sistema financeiro nacional (ouao erário público), posto que tal prejuízo não é elemento necessário àconfiguração do delito de gestão temerária. O bem jurídico tuteladopelo tipo em questão é o correto funcionamento e a credibilidade doSistema Financeiro Nacional, sendo, pois, delito formal. [...]. 9.Tendo o réu Evandro Assis Amaral deferido os empréstimos, mesmosabendo estarem em desacordo com as técnicas bancárias a seremobservadas nesse tipo de operação, bem como dos prováveisprejuízos que daí poderiam advir, comprovado restou o seu dolo empraticar o crime de gestão temerária, não merecendo qualquerreparo a r. sentença de 1º grau em relação ao ponto em que ocondenou pela prática desse delito. [...]. 13. Ao preferir atender asnecessidades dos clientes a zelar pelo patrimônio da cooperativa,agiu o acusado Hugo Rodrigues da Cunha com o chamado doloeventual, aceitando o resultado danoso que sua conduta poderia eacabou por gerar, não havendo que se falar em ausência desseelemento subjetivo do crime de gestão temerária. [...].(TRF1/ QUARTA TURMA Processo ACR - APELAÇÃO CRIMINAL -00017992220014013802 Fonte e-DJF1 DATA:15/03/2010PAGINA:178 Data da Decisão09/02/2010 Data da Publicação 15/03/2010).

PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME CONTRA O SISTEMAFINANCEIRO NACIONAL. GESTÃO TEMERÁRIA. ART. 4º,PARÁGRAFO ÚNICO DA LEI 7.492/86.INCONSTITUCIONALIDADE. INEXISTÊNCIA. AUTORIA E

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

20

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 21: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

MATERIALIDADE COMPROVADAS. CONDENAÇÃO MANTIDA.PENA DE MULTA. PROPORCIONALIDADE. 1. Inexiste a alegadainconstitucionalidade do parágrafo único do art. 4º da Lei 7.492/86,uma vez que referido dispositivo descreve perfeitamente a condutaincriminada se valendo de elemento normativo traduzido no adjetivotemerária. 2. A r. sentença de 1º grau encontra-se devidamentefundamentada nas provas dos autos, as quais apontam no sentido daprática de gestão temerária por parte do apelante na condução daagência do Banco do Brasil de Tamandaré/GO. 3. A reiteradaconcessão de empréstimos às empresas DIREÇÃO e OFF SIDE,sempre para que uma quitasse o débito da outra, demonstraclaramente a intenção do acusado em beneficiar tais empresas,mesmo diante da clara possibilidade de inadimplemento por partedas mesmas, que se comprovou mais tarde quando da liquidação dasdívidas. 4. O acusado agiu com dolo eventual, no qual o agente,mesmo prevendo o resultado, o aceita, persistindo na condutadelituosa. Sua conduta em relação às empresas tomadoras dosempréstimos e os financiamentos efetivados foram questionados poroutros funcionários da agência bancária, mantendo o réu sempre apostura de corroborar com as irregularidades praticadas. 5. Merecedestaque o estreito relacionamento do acusado com os proprietáriosdas empresas DIREÇÃO e OFF SIDE, comprovado pelo fato domesmo, segundo suas próprias declarações, ter tomado empréstimoem seu nome para saldar dívidas da empresa Direção Comércio deVeículos Ltda, do que se aufere que as mesmas tinham tratamentodiferenciado dos demais correntistas por parte do réu. 6. O próprioapelante, quando de seu interrogatório judicial, afirmou que asnormas e procedimentos para o funcionamento do Comitê de Créditonão eram seguidas na agência Tamandaré, não podendo assim seesquivar da responsabilidade pelo delito praticado sob a alegação deque os empréstimos não eram autorizados somente por ele. 7.Comprovadas materialidade e autoria delitivas, não merece reformaa r. sentença de 1º grau que condenou o réu pela prática do crimeprevisto no parágrafo único do art. 4º da Lei 7.492/86. 8. Aquantidade de dias-multa fixada na sentença deve guardar proporçãocom o quantum da pena privativa de liberdade estabelecida para odelito, devendo a situação financeira do acusado ser levada emconsideração na fixação do valor do dia-multa. 9. Não há que sereduzir a sanção pecuniária aplicada em substituição à penaprivativa de liberdade, uma vez que não trouxe aos autos o apelanteprova efetiva da impossibilidade de seu cumprimento. 10. Recurso deapelação parcialmente provido, tão-somente para reduzir aquantidade de dias-multa fixada na dosimetria da pena.(TRF1/ QUARTA TURMA Processo ACR - APELAÇÃO CRIMINAL -00059977719974013500 Fonte e-DJF1 DATA:05/02/2010PAGINA:135 Data da Decisão15/12/2009 Data da Publicação 05/02/2010).

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

21

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 22: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

APELAÇÃO CRIMINAL. PENAL. CRIME CONTRA O SISTEMAFINANCEIRO NACIONAL. GESTÃO TEMERÁRIA. PRELIMINARESDE ILICITUDE DA PROVA, INÉPCIA DA DENÚNCIA, NÃORECEPÇÃO DO CRIME PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL EPRESCRIÇÃO. REJEIÇÃO. MATERIALIDADE E AUTORIACOMPROVADAS. DOLO. INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DAINSIGNIFICÂNCIA. CARACTERIZAÇÃO DO NEXO DECAUSALDIADE. AUSÊNCIA DA EXCLUDENTE DE ILICITUDEDO EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO. DOSIMETRIA DA PENA.CIRCUNSTÂNCIA DESFAVORÁVEL. REGIME INICIAL ABERTO.SUBSTITUIÇÃO DA PENA. PERDA DO EMPREGO PÚBLICO. [...]3. O elemento normativo ("gestão temerária") do crime previsto noart. 4º, parágrafo único, da Lei 7.492/86 é suficiente como parâmetropara delimitar quais condutas, em casos concretos, poderiamamoldar-se à descrição típica. Trata-se de tipo penal aberto,plenamente admitido no ordenamento jurídico brasileiro. 4. Uma vezque a decisão do Juízo a quo que condenou o acusado foi alvo derecurso por parte da acusação, apenas a prescrição com base napena em abstrato pode ser avaliada. À luz do prazo prescricionalfixado e dos intervalos entre os marcos interruptivos, não ocorreu aprescrição da pretensão punitiva estatal. 5. A materialidade delitivaestá devidamente comprovada pelo Relatório da Auditoria, peloRelatório de Apuração Sumária e pelos documentos que os instruem,bem como pela prova testemunhal. Não é necessária a multiplicidadede ações para caracterizar o crime de gestão temerária. A autoria,por sua vez, encontra-se igualmente comprovada pelos documentosjuntados aos autos e pelos depoimentos das testemunhas colhidosjudicialmente. 6. O elemento subjetivo do delito restou comprovado,vez que não é crível que o réu, funcionário descrito pelas testemunhascomo diligente e conhecedor das normas da CEF, tenha agido commera negligência ou imperícia, restando caracterizada, ao menos, aexistência de dolo eventual. 7. O princípio da insignificância não seaplica ao caso, tendo em vista a comprovação do prejuízo da CEF,cujo valor não é irrisório, em razão da conduta do réu. 8. A gestãotemerária é crime formal, que não exige a efetivação de resultadonaturalístico para a sua configuração. Dessa forma, mesmo que adívida não tivesse o condão de influenciar na decisão do órgãoresponsável pela autorização da operação, a omissão de dados peloréu, que era o gerente responsável pela análise inicial, constitui atoque, por si só, caracteriza o crime. Dessa forma, presente o nexo decausalidade entre sua conduta e a gestão temerária da operação dainstituição bancária. 9. O réu, como gerente da CEF, não tinha odireito de agir conforme as normas da instituição bancária, mas simo dever funcional de observá-las. De acordo com as provas presentesnos autos, o acusado deixou de proceder como determinado pelasregras da CEF, violando tal dever. Assim, não merece guarida a tesede absolvição em razão da excludente de ilicitude do exercício

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

22

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 23: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

regular de direito. 10. Dosimetria. A pena-base deve ser fixada acimado mínimo legal, pois as consequências do crime ultrapassam anormalidade esperada para o tipo penal. No caso concreto, a gestãotemerária trouxe efetivo dano à CEF. 11. Fixado o regime abertopara cumprimento da pena. Substituição das penas privativas deliberdade por restritivas de direito. 12. Aplicação do art. 92, I, "a",do Código Penal ao caso. Perda do emprego público do acusado naCEF. 13. Apelação da defesa desprovida e apelação do MinistérioPúblico Federal parcialmente provida.(TRF3/DÉCIMA PRIMEIRA TURMA, ACR - APELAÇÃO CRIMINAL- 55656 ProcessoACR 00086782720044036181 Fonte e-DJF3 Judicial 1DATA:15/06/2015 Data da Decisão09/06/2015 Data da Publicação 15/06/2015).

PENAL E PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. GESTÃOTEMERÁRIA. ART. 4º, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI Nº 7.492/86.EMPRÉSTIMOS VULTOSOS CONCEDIDOS A PESSOASJURÍDICAS EM SITUAÇÃO RECONHECIDAMENTEDEFICITÁRIA. EX-GESTORES DO BANCO BANORTE S/A.SUPOSTA COAUTORIA DOS REPRESENTANTES DE EMPRESASBENEFICIÁRIAS. FAVORECIMENTO DECORRENTE DEOPERAÇÕES IRREGULARES. ABSOLVIÇÃO. MATERIALIDADE EAUTORIA DOS GESTORES COMPROVADAS. MANUTENÇÃO DASPENAS FIXADAS NA SENTENÇA. PROPORCIONALIDADE ERAZOABILIDADE. [...]13. O delito de gestão temerária pressupõe aocorrência de dolo eventual, ou seja, que o agente, agindo ao arrepiodas cautelas exigidas, assuma o risco da produção do resultado. 14.No que pertine à dosimetria da pena, conclui-se pela regularidade dasentença, que dosou com razoabilidade e proporcionalidade as penasimpostas, observadas as diretrizes do art. 59 do CP e o que dispõe oart. 33, da Lei 7.492/86. 15. A pena pecuniária, estipulada em 20(vinte) dias-multa, sendo o mesmo equivalente a 20 (vinte) saláriosmínimos vigentes à época dos fatos, é compatível com a condiçãoeconômica dos acusados e a gravidade do crime. 16. Não prospera oargumento de que o elevado prejuízo deveria importar em majoraçãoda pena, que, afinal, ficou próxima do mínimo legal, visto que deveser considerado o fato de que o BANCO BANORTE S/A liquidoutodas as suas dívidas, conforme termo de pagamento lavrado emmarço de 2012. Em tal contexto, o prejuízo em tela, constatado emoutro momento histórico, não justificaria o pretendido aumento dasanção. 17. Por outro lado, o "Parquet" também faz alusão àculpabilidade e às circunstâncias do crime, chamando a atenção paraos fatos de que os acusados possuíam vasto conhecimento acerca dofuncionamento do SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL e asempresas tinham passivo elevado, não podendo liquidar osempréstimos obtidos. 18. Ora, estes aspectos são inerentes à própria

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

23

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 24: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

estrutura do tipo penal tido como violado. Se o crime é cometido pordirigentes de instituição financeira, resta evidente que se cuida deprofissionais com experiência e conhecimento a respeito do SISTEMAFINANCEIRO NACIONAL. A gestão foi tida como temerária,justamente, porque houve a concessão de empréstimo a empresasendividadas, sem a pertinente garantia. De qualquer modo, nestesegundo ponto, também não se deve olvidar a quitação das dívidas,reconhecida pelo BANCO CENTRAL DO BRASIL S/A, ao levantar aliquidação extrajudicial. 19. Apelações de BENVENUTO BEZERRADE ALBUQUERQUE, RODRIGO SOARES COELHO, IVANMACHADO DE SOUZA, JOSÉ GUILHERME DE AZEVEDOQUEIROZ, JOÃO ROGÉRIO REYNALDO MAIA ALVES FILHO eELISA MARIA GRADVOHL BEZERRA providas. Apelações doMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL e dos acusados SÉRGIOSILVEIRA CLEMENTE, CESAR FREDERICO BEZERRA DEALENCAR, ANTÔNIO MACHADO GUIMARÃES, PAULOGILBERTO PEREIRA ALBUQUERQUE e ÁLVARO ANTÔNIOCAVALCANTE CALADO improvidas.(TRF5/Terceira Turma ACR - Apelação Criminal - 8434 ProcessoACR 200083000181705Fonte DJE - Data::08/01/2015 - Página::128 Decisão UNÂNIMEData da Decisão 18/12/2014Data da Publicação 08/01/2015).

III. Dispositivo

Por essas razões, julgo PROCEDENTE, em parte, a acusação,para CONDENAR os acusados GLAUBERSON D'AQUINOOLIVEIRA e ESDRAS MARINHO DA SILVA pela prática do crimeprevisto no art. 4º, parágrafo único, da Lei nº 7.492/86 (gestãotemerária).

Em suma, portanto, desmerecem acato os apelos no que toca àsteses de atipicidade formal por ausência de dolo, bem como no que se refere ao pedidode desclassificação do crime para o de estelionato majorado.

Quanto à dosimetria, porém, a sentença merece reparos.

Nesse sentido, rememoremos que o juízo considerou aculpabilidade de GLABERSON como intensa e a de ESDRAS como mediana.

Para fundamentar os graus de culpabilidade em relação a ambosos acusados, todavia, o juízo não teceu maiores considerações, limitando-se a aduzir que“os réus agiram de modo temerário na condução dos negócios da CEF”, o que, de formaevidente, é conduta inerente ao próprio tipo penal.

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

24

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 25: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

Bem por isto, entendemos ser necessário afastar a valoraçãonegativa da culpabilidade em relação a ambos os acusados, já que não existefundamentação apta a demonstrar que, em seu agir, extrapolaram as medidas do ilícito.

Na mesma lógica, verificamos que o juízo considerou comoconsequências negativas o fato de o crime ter sido perpetrado em desfavor da CAIXA,ao argumento de que tal instituição financeira seria muito importante para a economia eseus clientes.

Ora, com a devida vênia, entendemos que toda instituiçãofinanceira exerce papel relevante não apenas na mola propulsora da econômica do país,mas na vida de seus clientes, não sendo possível, ainda mais em se tratando de crimecontra o sistema financeiro, pontuar que os clientes da CAIXA são mais ou menosimportantes do que os demais, tampouco os recursos temerariamente geridos.

Pelos motivos expostos, afastamos as duas circunstânciasjudiciais sopesadas pelo juízo originário como negativas.

Com tal alteração, fixamos a pena-base em relação aos doisacusados no mínimo legal, ou seja, em 02 anos de reclusão.

Inexistentes agravantes/atenuantes, causas deaumento/diminuição de pena, tem-se que as penas privativas de liberdade finaiscominadas a cada uma das rés é de 02 anos de reclusão que, por seu turno, prescreveem 04 anos, consoante previsto no art. 109, V, do CPB.

Feita esta alteração, vê-se que, entre os fatos (27/04/2006) e orecebimento da denúncia (16/04/2013) passaram mais de 04 anos. Logo, as penascominadas aos réus restaram extintas pelo advento da prescrição.

Ante o exposto, dou parcial provimento aos apelosapresentados pela DPU para, diminuindo as penalidades, declarar de ofício a ocorrênciada prescrição.

É como voto.

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

25

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 26: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

ACR Nº 13072 - PE (0019904-15.2007.4.05.8300)APELANTE : GLAUBERSON D’AQUINO OLIVEIRAAPELANTE : ESDRAS MARINHO DA SILVAREPTE. : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃOAPELADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALORIGEM : JUÍZO DA 13º VARA FEDERAL DA PERNAMBUCORELATOR : DES. FEDERAL PAULO CORDEIRO

EMENTA

PENAL. PROCESSUAL PENAL. CRIME DE GESTÃO TEMERÁRIA.TIPICIDADE, ANTIJURIDICIDADE E CULPABILIDADE COMPROVADAS.DOSIMETRIA. PENALIDADES EXARCEBADAS. REDUÇÃO. PENA INFERIOR A02 ANOS. TRANSCURSO DE MAIS DE 04 ANOS ENTRE OS FATOS ERECEBIMENTO DA DENÚNCIA. DECLARAÇÃO DA PRESCRIÇÃO.

Trata-se de apelações interpostas pela DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO em1.prol de GLAUBERSON D’AQUINO OLIVEIRA e ESDRAS MARINHO DA SILVAem face de sentença proferida pelo juízo da 13 Vara Federal de Pernambuco, que cuidoude condená-los pelo cometimento do delito previsto no art. 4º, parágrafo único, da Lei7.492/86 (gestão temerária).

Segundo a denúncia, entre setembro de 2004 e março de 2007, GLAUBERSON,2.na qualidade de gerente da agência da CEF/Marcos Freire, em Olinda/PE, teria praticadoatos de gestão fraudulenta (art. 4º, caput, da Lei 7.492/86) de instituição financeira, comparticipação de seu amigo, e cliente da referida agência, ESDRAS MARINHO DASILVA, o que havia gerado para a referida empresa pública um prejuízo no valor de R$230.370,38, atualizado em 21/05/2012, segundo o ofício nº 03-93/2012 enviado pelaCEF.

Em resumo, os atos havidos como de delituosos teriam consistido nos seguintes:3.1) em 23.09.2004, GLAUBERSON, então gerente da referida agência da CEF,concedeu/retificou limite de crédito rotativo (CROT), no valor de R$ 100.000,00, àconta nº 12772-1, titulada por seu amigo, ESDRAS MARINHO, em desacordo comregras do Manual Normativo da empresa, que determinavam que tal operação fossesubmetida ao Comitê de Crédito da agência, já que o referido limite não estava dentro daalçada que competia ao ex-gerente (até 15.000,00) (E - f. 26). 2) Em 07.03.06, o ex-gerente efetuou o desbloqueio da caução de aplicação (E - apenso III, v.1, f. 227) e, em26 e 27.04.06, desbloqueou os valores do fundo de investimento (FIC PERSONAL RFLP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidosvalores e os creditou na conta de ESDRAS MARINHO, tendo feito a mesma operação

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

26

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 27: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

em relação às demais aplicações pertencentes a este denunciado (FI AÇÕES VALE DORIO DOCE e FIC PERSONAL RF LP) (E - apenso III, v.1, f. 168-182 e v.3 f. 681).Posteriormente, GLAUBERSON passou a transferir valores das contas nº 12772-1 e nº684-3, pertencentes a ESDRAS, para a conta nº 13264-4, de sua titularidade (E - apensoIII, v.1, f. 215-301). 3) Em 16.03.2007, ESDRAS MARINHO intentou a ação ordinárianº 2007.83.00.003751-0, contra a CEF, pleiteando a restituição da quantia de R$533.548,78, sob a alegação de que tais valores foram indevidamente retirados de suascontas correntes (E - apenso III).

Após a instrução processual penal, o juízo, convencido da tipicidade,4.antijuridicidade e culpabilidade, condenou ESDRAS e GLAUBERSON pelocometimento do delito previsto no art. 4º, parágrafo único, da Lei 7.496/86 – e nãocaput, como inicialmente capitulado –, aplicando ao primeiro pena privativa de liberdadede 03 anos de reclusão (ESDRAS) e ao segundo 04 anos de reclusão(GLAUBERSON), além de multa, isto em virtude de, na primeira fase, considerar aculpabilidade de ESDRAS mediana e a de GLAUBERSON, intensa; bem como asconsequências negativas, em virtude de o crime ter sido perpetrado em detrimento daCAIXA, que exerceria papel de suma importância na vida de muitos.

Inconformada, a DPU apresentou apelo em favor de ESDRAS (fls. 398/422). Na5.ocasião, aduziu, resumidamente, que: 1) o réu deveria ser absolvido em face daatipicidade formal da conduta em virtude da ausência de dolo; 2) subsidiariamente, aconduta deveria ser desclassificada para o crime de estelionato majorado; 3) em caso demanutenção da condenação, a pena deveria ser reduzida, com a reforma da dosimetria.

No mesmo compasso, a DPU apresentou apelo em defesa de GLABERSON (fls.6.423/446), sustentando, em resumo, a atipicidade formal da conduta, a declassificaçãopara o delito de estelionato qualificado e/ou a revisão da dosimetria, com a redução depenalidade.

Sobre a presença de: 1) provas incontestes da materialidade e autoria delitivas;7.2) da tipicidade – formal e material – da conduta; 3) bem como do dolo a macular oagir dos dois acusados – que amoldar-se-ia com precisão no tipo penal previsto pelo art.4º, parágrafo único, da Lei 7.492/86 –, bem andou o magistrado ao assim fundamentar(grifos nossos): II. Fundamentação. O artigo 4º, caput, da Lei nº 7.492/86, tipifica a condutade gerir fraudulentamente instituição financeira, entendida esta como "a pessoa jurídica dedireito público ou privado, que tenha como atividade principal ou acessória, cumulativamenteou não, a captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros de terceiros, emmoeda nacional ou estrangeira, ou a custódia, emissão, distribuição, negociação,intermediação ou administração de valores mobiliários", como é o caso da CAIXAECONÔMICA FEDERAL - CEF. Nas palavras do autor Rodolfo Tigre Maia, "gerir é exerceras atividades de mando, é administrar, tomar decisões no âmbito da empresa, autorizado pelospoderes que são conferidos pela lei e pelo estatuto societário", enquanto conduta fraudulenta,"elemento descritivo/normativo integrante de incontáveis tipos penais, é qualquer ação ouomissão humana hábil a enganar, a ludibriar terceiros, levando-os a uma situação de erro,falsa representação da realidade ou ignorância desta" (Dos Crimes contra o SistemaFinanceiro Nacional, Malheiros Editores, 1996, p. 55). Trata-se de um crime formal, uma vezque prescinde, para a sua consumação, da causação de efetivo prejuízo às suas vítimas,empresa ou entidade e seus acionistas, investidores e ou segurados. O tipo subjetivo é

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

27

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 28: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

representado pelo dolo, ou seja, a vontade livre e consciente de realizar a conduta típica, nãose exigindo qualquer fim especial do agente. A gestão fraudulenta, embora não exija aprodução de um resultado naturalístico, traz, sem dúvida, riscos à saúde financeira daempresa ou entidade, e, por conseguinte, de todo o sistema do qual faz parte, cujacredibilidade, uma vez abalada, refletirá de forma negativa sobre toda a economia nacional,razão pela qual mereceu especial proteção do legislador. Se os atos praticados pelo gestor,embora lícitos, trouxeram riscos à saúde financeira da empresa/entidade, então estaremosdiante do tipo descrito no parágrafo único do mesmo dispositivo, nominado de gestãotemerária. Sobre o assunto, Rodolfo Tigre Maia lembra que "a prodigabilidade, o desperdíciode recursos por inobservância consciente de recomendações e procedimentos técnicos cabíveis,a contratação de serviços, pessoas ou bens por valores superiores aos de mercado ouinobservando estudos avaliatórios prévios, o investimento de risco elevado sem as garantias depraxe no mercado e o desvio das atividades que constituem a finalidade social da empresa(ultra vires), de particular relevância esta última no escopo de atuação das instituiçõesfinanceiras públicas, são facetas frequentes da gestão temerária" (obra já citada, p. 61). Nessesentido, o autor cita os artigos 153 e 154, § 2º, "a", da Lei das S.A. (Lei n.º 6.404/76), segundoos quais "o administrador da companhia deve empregar o cuidado e a diligência que todohomem ativo e probo costuma empregar na administração dos seus próprios negócios" sendo-lhe expressamente vedado "praticar ato de liberalidade à custa da companhia" (p. 61). Comose vê, trata-se, da mesma forma que a gestão fraudulenta, de um crime formal, uma vez queprescinde, para a sua consumação, da causação de efetivo prejuízo as suas vítimas, empresaou entidade e seus acionistas, investidores e ou segurados. O tipo subjetivo é representado pelodolo, devendo o sujeito ativo ter consciência de que seus atos são temerários, ou seja, não serevestem do cuidado e da diligência que todo homem deve empregar na administração de seuspróprios negócios, não se exigindo qualquer fim especial do agente. Lembro, ainda, que é areiteração de ações que constitui a conduta típica, a qual somente se considera inteiramenteconsumada com o cometimento da última. Como já dito, para que se possa falar emgestão fraudulenta (artigo 4º, caput, da Lei nº 7.492/86), necessária é a presença do animusfraudandi, o que se verifica quando a conduta é praticada de maneira a encobrir a realidadedos fatos, levando alguém a uma situação de erro, o que não restou demonstrado nos autos.Na verdade, o órgão acusador sequer mencionou o emprego de artifício pelos acusados, aexemplo da falsificação e do uso de documentos falsos, visando encobrir possíveisirregularidades de seus atos, inexistindo qualquer elemento nos autos nesse sentido. Aocontrário, as declarações prestadas pelas testemunhas deixam transparecer que os acusadosnão tinham a preocupação de esconder, "maquiar", as transações irregulares praticadas pelosmesmos, as quais eram conhecidas pelos próprios funcionários da agência, a exemplo deAntônio Enrique España. Senão vejamos: (ANTÔNIO ENRIQUE ESPAÑA): [...] que confirmao depoimento constante às fls. 46/48 dos autos, prestado no processo disciplinar da Caixa[...]; que GLAUBERSON era muito amigo de um cliente que se dizia não cliente da Caixa, masdo GLAUBERSON; que isso ouviu do próprio ESDRAS; que ESDRAS namorava uma meninaque tinha sido estagiária e prestadora de serviço da agência antes de ele chegar à agência, aMARÍLIA, e soube que depois eles casaram [...]; que ESDRAS tinha volume de aplicações erenda declarada maior do que o segmento da testemunha, que era de até R$ 1.500,00, mas foiencarteirado no seu segmento para que pudesse continuar sendo atendido exclusivamente peloGLAUBERSON, o que era demanda do ESDRAS [...]; que havia muita amizade; havia umarelação não sei de cumplicidade ou o que, onde o GLAUBERSON cedia o cartão de sua contapessoal para que o ESDRAS, ao viajar ou fazer algum negócio, usasse a conta doGLAUBERSON e depois o GLAUBERSON tirava dinheiro das aplicações do ESDRAS e depois

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

28

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 29: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

repunha o valor que teria usado; que lembra de algumas situações tipo a compra de umapartamento em Manaus feita pelo ESDRAS, a compra de uma Kombi [...]; que a amizadeentre eles era muito próxima, de se frequentarem e dormirem na casa um do outro e a partir deum determinado momento muita viagem juntos, para São Paulo, passar final de semana [...];que até um dia GLAUBERSON estava afastado, não sei se de férias, e ESDRAS o procurou,porque queria fazer um saque, e não tinha mais valor disponível na conta dele [...]; que pediuextrato da conta, ele inclusive estava junto com a MARÍLIA na agência, e passou o caso para agerente, que demandou a abertura do IPL [...]; que soube de uma operação dedescaucionamento de um empréstimo feita por GLAUBERSON, mas o que lhe constava é queera feita com autorização do cliente, nessa situação de ele usar o dinheiro do GLAUBERSON edepois este repor sua conta com recursos do ESDRAS; que normativamente não é permitido aum gerente da Caixa descaucionar uma aplicação que serve como garantia de um empréstimoque o cliente pega na agência [...]; que o gerente não pode lançar débito em conta com saldojá negativo, como ocorreu com as ordens de débito de 10 mil e 17 mil; que a concessão decrédito rotativo na Caixa segue o critério de alçada; que a concessão de limite de crédito emvalor superior ao da alçada do cliente é proibida [...]; que os valores de alçada vãoascendendo de acordo com quem lança, se o gerente, o gerente-geral, o superintendente, etc;que o sistema não bloqueava se o gerente lançasse empréstimo com valor superior ao dealçada do cliente [...]; que hoje foram criadas travas no sistema para inibir esse tipo deatitude por parte do gerente; que dentro do código de ética da Caixa esse comportamento éproibido; que a realização de operações por parte de um gerente, ao retirar dinheiro da contade um cliente, ainda que com a concordância deste, para saldar débitos que eles mantinhamentre si (em razão de comportamento pessoal) é atitude pessoal [...]; que lhe constam acompra de um apartamento em Manaus, numa TED, de uma Kombi e muitas idas a São Paulopara compras de utensílios que seriam vendidos na Kombi; que para GLAUBERSON via umavida com muita balada, indo para a balada [...]; que às vezes chegavam GLAUBERSON eESDRAS com calças novas e cintos iguaizinhos, que tinham comprado juntos [...]; queconfirma a compra, por parte de ESDRAS, de uma casa em Pitimbu, um sítio em Timbaúba eum carro importado, este com uma lembrança extremamente vaga; que quanto às Kombis emotos, ratifica o depoimento anterior [...]; que GLAUBER teria comprado carro importado;que é algo não corriqueiro essa exigência de um cliente de ser atendido por um gerente só,ainda que de outra carteira [...]; que em relação à operação de crédito o sistema libera olimite que é informado; que se eu, de má-fé, processar alguma informação inverídica, ele vaiconfiar em mim, que sou o operador, o gerente da caixa; que o sistema não tem essediscernimento; que se você me apresenta um contracheque de R$ 10.000,00, eu posso lançarR$ 50.000,00, e o sistema vai acreditar; que depois a retaguarda, em princípio, vai conferir everificar o erro; que o limite é definido pelo sistema de acordo com as informações financeiro-monetárias inseridas pelo funcionário [...]; que a casa de GLAUBERSON tinha piscina eprimeiro andar, numa área boa de Olinda, Jardim Atlântico, seu pai era militar reformado,tinha uma boa renda, e mais o salário dele da Caixa [...]; que houve uma mistura muitogrande da vida financeira com a vida pessoal [...]". Da mesma forma, no relatório conclusivoda comissão de auditoria realizada pela CEF, em nenhum momento foram mencionadosquaisquer procedimentos fraudulentos praticados pelos réus como meio de possibilitar ouocultar as operações irregulares realizadas, como se observa do trecho do mencionadorelatório a seguir transcrito. Os fatos apurados por essa Comissão, no que concerne aos atospraticados pelo empregado arrolado, as infringências normativas praticadas voluntariamentee as denúncias do cliente, evidenciam que o empregado GLAUBERSON D'AQUINOOLIVEIRA, cometeu ato lesivo à CAIXA e ao cliente, cujo modus operandi consistiu em:*

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

29

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 30: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

Concessão/retificação do limite do CROT no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais) em nomede ESDRAS MARINHO DA SILVA, sem a competente alçada; * desbloqueio e resgate dacaução, deixando a CAIXA desprovida da garantia da operação; * transferência de valoresdas contas do cliente ESDRAS MARINHO DA SILVA para a sua própria conta. Esses três fatosirregulares foram preponderantes à avaliação desta comissão quanto à decorrência de dolo ouculpa do empregado, os quais, por serem distintos careceram de ponderações diferentes, asaber:* A retificação do limite de crédito sem a alçada competente caracteriza CULPA doempregado, decorrente de negligência;* o desbloqueio e o resgate da caução, sem a liquidaçãodo contrato, caracterizam CULPA do empregado, decorrentes de imprudência;* atransferência eletrônica de valores sem autorização comprovada, da conta do cliente para aconta do empregado, caracteriza DOLO do empregado. No que concerne à irregularidadeconsistente na transferência eletrônica de valores sem autorização comprovada, foi constatadoposteriormente que tais transferências foram autorizadas pelo cliente (conforme restoudemonstrado pelo laudo pericial de fls. 98/138), não tendo o gerente GLAUBERSON, por issomesmo, se valido de qualquer manobra fraudulenta para a sua efetivação. Sendo assim,entendo não configurado o tipo penal em comento, em face da ausência da elementar fraude,o que não impede a subsunção das condutas correspondentes ao tipo descrito no parágrafoúnico desse mesmo artigo (gestão temerária), considerando que o acusado, no processopenal, defende-se dos fatos, sendo irrelevante a classificação jurídica constante da denúnciaou queixa. Pois bem. Conforme conclusão da auditoria interna da CEF, o empregadoGLAUBERSON D'AQUINO OLIVEIRA agiu com negligência e imprudência ao descumprir ositens normativos a saber:* Item 3.2.2.1 do MN AL 021 002 e itens 3.19.2, 3.23.4 e 4.1.15 doMN CO 012 031 por não observar o regime de alçadas e não liquidar o contrato quandodesbloqueou a garantia; item 6.1.1.8 do anexo I do MN CO 012 031, por não ter preservado agarantia contratual de no mínimo 125% do valor da operação;* itens 3.16.1, 3.16.2, 3.16.2.1 e3.16.4.2 do MN CO 020 036, itens 3.6.3.1, 3.6.3.1.1, 4.3.10.1, 4.3.10.1.1 e 4.3.10.2 DO Mn co020 038, pela movimentação irregular em conta de cliente. O descumprimento de tais normasregulamentares pelo empregado GLAUBERSON restou devidamente comprovado por meio deprocesso de apuração instaurado pela CEF, onde foi constatado que: Na análise daconcessão/retificação do limite do Crédito Rotativo no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais),implantado na conta 0917.001.12772-1, em 23 SET 04, constatamos que, embora tivessehavido a caução de aplicação como garantia, houve descumprimento dos itens 3.19..2 e 4.1.1.5do MN CO 012 031 e 3.2.2.1 do MN AL 021 002, tendo em vista que a retificação do limitenão foi submetida ao Comitê de Crédito do PV, detentor da alçada. 3.19.2 A concessão dasoperações está subordinada ao regime de alçada vigente, independentemente da garantiaoferecida, inclusive caução de depósitos/aplicações financeiras na CAIXA. 4.1.1.5 O gerenteconcessor providencia a contratação, se o valor estiver enquadrado dentro de sua alçada.3.2.2.1 COM GARANTIA DE CAUÇÃO DE DEPÓSITO/APLICAÇÃO Gerente deRelacionamento até R$ 15.000,00. O Gerente concessor foi GLAUBERSON D'AQUINOOLIVEIRA, matrícula 055936-8, que estava no exercício de função gerencial naquela data. Aoperação se tornou ainda mais fragilizada, no dia 07 MAR 06, quando o empregadoGLAUBERSON D'AQUINO OLIVEIRA, usuário c055936, efetuou o desbloqueio da caução deaplicação, conforme relatório LTEA daquela data (fls. 094). Em 08 MAR 06, houve o resgatede R$ 20.000,00, efetuado com o login c055936 e creditado na conta 12772-1 titulada porESDRAS MARINHO DA SILVA (fl. 095). Nos dias 26 e 27 ABR 06 (fls. 106 e 107), osvalores do FIC PERSONAL RF LP, que garantiam o CROT/PF foram desbloqueados,resgatados e creditados na conta 12772-1, sem a respectiva liquidação da parte em aberto oudo contrato de CROT, descumprindo o item 3.23.4 do MN CO 012 031 e desqualificando a

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

30

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 31: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

garantia conforme 6.1.1.8 do anexo I do MN CO 012 031.3.23.4 Nos casos de garantia deCaução de Depósitos e/ou aplicações financeiras, e não existindo saldo disponível suficientena C/C para quitação da parcela, o Gerente do PV providencia a transferência do valornecessário, debitando a conta caucionada e liquidando a parcela em aberto ou o contrato, deacordo com as cláusulas contratuais de cada operação.6.1.1.8 CAUÇÃO DEDEPÓSITOS/APLICAÇÕES FINANCEIRAS [...] Os depósitos/aplicações financeiras,oferecidos em garantia de operações de crédito, devem ser suficientes para cobrir o valor doempréstimo/financiamento acrescido dos encargos contratuais previstos até o vencimento docontrato, nunca inferior a 125% do valor do contrato. Os comandos de resgates foramefetuados pelo empregado GLAUBERSON D'AQUINO OLIVEIRA, usuário C055936 (fls. 094,095, 106 e 107). As demais aplicações CAIXA FI AÇÕES VALE DO RIO DOCE e CAIXA FICPERSONAL RF LP, em nome de ESDRAS MARINHO DA SILVA, também foram resgatadas eos valores foram creditados na sua conta corrente 0917.001.12772-1, deduzidos o IRRF, naforma da legislação tributária vigente, conforme extratos de aplicações às folhas 035 a 049 eextratos da conta corrente folhas 545 a 602. Na análise da conta corrente 0917.001.12772-1,foram constatadas movimentações anômalas a saber: Transferências de valores, efetuadas emEO - Estação Operacional, pelo empregado GLAUBERSON, debitando a conta0917.001.12772-1 de ESDRAS MARINHO DA SILVA e creditando a conta 0917.001..13.264-4,titulada pelo próprio empregado GLAUBERSON D'AQUINO OLIVEIRA (fls. 082 a 166),descumprindo os itens 3.6.3.1, 3.6.3.1.1, 4.3.10.1, 4.3.10.1.1 e 4.3.10.2 do MN CO 020 038;3.6.3.1 A movimentação por meio de Débito autorizado utiliza o formulário Aviso de DébitoMO 37017 e é precedida de autorização formal do titular ou de seu representante legal.3.6.3.1.1 A autorização é fornecida por escrito ou com o preenchimento do MO 37040, comestipulação de prazo de validade, que pode ser indeterminado por meio de documento formalassinado pelo (s) titular (es) da conta. 4.3.10.1 Para os lançamentos manuais, a débito oucrédito, é obrigatório o preenchimento de formulário próprio da transação, independentementedo canal utilizado ser a EO ou EF. 4.3.10.1.1 Nas transações efetuadas na EO o empregadodeve anotar o NSU no local destinado à autenticação mecânica. 4.3.10.2 Os formuláriosutilizados para lançamentos manuais sem a presença do Cliente, a débito ou crédito, devem serassinados por dois empregados CAIXA, sendo um obrigatoriamente detentor de cargo emcomissão de gerência. Não há dúvida, pois, de que GLAUBERSON D'AQUINO OLIVEIRAagiu com desídia no trato das finanças da CEF, ao desbloquear as aplicações do seu clientesem a correspondente liquidação do contrato de cheque especial respectivo, bem assim nãopreservar a garantia contratual de no mínimo 125% do valor da operação, o que representouum efetivo risco de prejuízo para aquela instituição financeira, e ainda ao efetivar débitos emconta sem a anuência formal do cliente, ou de seu representante legal, dando ensejo aoajuizamento de ação de ressarcimento contra a CEF. Em seu interrogatório, embora tenhareconhecido ter realizado as operações em questão, GLAUBERSON negou a acusação,asseverando ter seguido o procedimento padrão para aumentar o limite do cheque especial deESDRAS; que como não conseguiu que o sistema aceitasse o aumento do limite do chequeespecial, tendo em vista a existência de um histórico de atraso, entrou em contato, via e-mail,com a Superintendência da CEF para exclusão desse impeditivo, considerando que se tratavade um cliente rentável para a agência; que só conseguiu aumentar o limite do cheque especialde ESDRAS justamente porque a Superintendência excluiu aquele impeditivo, já que a senhado interrogando não dava acesso para realizar tal operação; que todas as transferências devalores foram feitas com a anuência de ESDRAS; que os valores creditados na conta dointerrogando destinavam-se a pagar despesas feitas por ESDRAS no cartão do interrogando;que ESDRAS não tinha cartão porque o sistema não liberava em razão de algum impedimento

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

31

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 32: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

que não soube explicar no momento; que o interrogando não era o gerente da conta deESDRAS, mas apenas uma pessoa de confiança dele; que todas as baixas nas aplicações eramsolicitadas e autorizadas por ESDRAS; que não ia mexer na conta de uma pessoa se nãotivesse autorização dela; que não deu queixa, nem nunca entrou com nenhuma ação contraESDRAS; que ESDRAS é o único culpado pela sua inadimplência; que não se apropriou denenhum valor; que abandonou o emprego em razão do constrangimento gerado pela situação;que prestava esse tipo de serviço (transferências sem autorização formal) para outros clientes;que perdeu pouco dinheiro; que ESDRAS não perdeu nada; que ele na verdade gastou tudo;que ESDRAS chegou a reclamar ao interrogando o sumiço do dinheiro; que o interrogandodisse a ele que iria verificar; que não se arrepende de nada porque não acha que fez nada deerrado; que, porém, não faria de novo; que pela relação que tinha com ESDRAS não via nadade mais no que fez; que ESDRAS nunca propôs a ele, interrogando, dar um golpe na CEF; quenão houve nenhum tipo de fraude; que é impossível um contrato que passou dois anos ativo tersido feito sem o conhecimento da comissão de retaguarda da CEF; que era gerente eventual derelacionamento; que não lembra de ter feito o desbloqueio de aplicações que estavam servindode caução do crédito rotativo concedido a ESDRAS; que se fez foi atendendo à solicitação docliente; que não tinha conhecimento das finanças de ESDRAS; que apenas fazia o que elepedia; que ESDRAS não chegava a ser descontrolado; que pelo que sabe o dinheiromovimentado por ESDRAS pertencia ao tio dele; que ESDRAS tinha uma conta pessoal edepois abriu uma outra conta pessoa física utilizada para movimentar a conta da sua empresa;que mesmo sabendo que ESDRAS estava gastando muito não passou pela sua cabeça cortar ocrédito do mesmo; que não lembra de valores, mas realmente aconteceu de ESDRAS gastaruma alta quantia numa festa num sítio recém comprado em Timbaúba/PE; que a questão deESDRAS era muita ostentação; que confirma seu depoimento em sede administrativa nosentido de que ESDRAS viajou para Manaus para montar uma empresa de reboque, masgastou muito e não fez esse negócio; que gastou com cavalo, gado, cobertura e piso no sítio deTimbaúba, e caseiro na casa de Pitimbú; que todas essas despesas saíram da conta dele naCEF; que além do sítio e da casa de praia, ESDRAS também adquiriu duas kombis e trêsimóveis; que não lembra qual foi a época que esses bens foram adquiridos; que só ficousabendo do "rombo" na conta de ESDRAS quando a sua senha foi bloqueada; que quandoverificava a conta de ESDRAS a pedido dele mesmo não atentava sobre o excesso do limite;que as solicitações de baixa das aplicações eram feitas por telefone; que a baixa da aplicaçãofoi feita aos poucos; que o dinheiro não foi transferido de uma vez só; que não houve aautorização formal de ESDRAS para todas as transferências, mas apenas para algumas; quenão existia nenhum gatilho no sistema que avisava quando as cauções eram desbloqueadas;que as liberações das aplicações não precisavam passar por nenhum setor de retaguarda; quebastava um telefonema do cliente autorizando; que entende que não deve nada a ninguém.Inicialmente, observo que a alegação de GLAUBERSON no sentido de que teria implantado ocheque especial de ESDRAS com o conhecimento da Superintendência da CEF, além de não terrestado comprovada, já que os supostos emails trocados pelo réu com a Superintendência daCEF não foram apresentados, foi rechaçada pelo depoimento prestado pelo tambémfuncionário da CEF à época, Antônio Enrique España, segundo o qual o sistema nãobloqueava se o gerente lançasse empréstimo com valor superior ao de alçada do cliente [...];que hoje foram criadas travas no sistema para inibir esse tipo de atitude por parte do gerente;que em relação à operação de crédito o sistema libera o limite que é informado; [...] que se eu,de má-fé, processar alguma informação inverídica, ele vai confiar em mim, que sou ooperador, o gerente da caixa; que o sistema não tem esse discernimento; que se você meapresenta um contracheque de R$ 10.000,00, eu posso lançar R$ 50.000,00, e o sistema vai

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

32

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 33: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

acreditar; que depois a retaguarda, em princípio, vai conferir e verificar o erro; que o limite édefinido pelo sistema de acordo com as informações financeiro-monetárias inseridas pelofuncionário. Por outro lado, as declarações do acusado no sentido de que não era o gerente daconta do réu ESDRAS, e que apenas liberava as aplicações e fazia as transferências epagamentos a pedido do mesmo, sem se preocupar em verificar o saldo da sua conta, nãocorrespondem à realidade dos fatos. Como restou comprovado pela apuração realizada pelaCEF, todas as operações envolvendo a conta de ESDRAS, inclusive a concessão de créditorotativo, foram feitas com a matrícula de GLAUBERSON, não havendo dúvida, portanto, daatuação desse acusado como gerente da conta do corréu ESDRAS. Portanto, como gerente daconta, era praticamente impossível que GLAUBERSON D'AQUINO OLIVEIRA não tivesseciência da situação de inadimplência do corréu ESDRAS, não havendo dúvida, pois, de que omesmo agiu com desídia no trato das finanças da CEF, praticando, assim, o crime descrito noart. 4º, parágrafo único, da Lei nº 7.492/86. Passo à análise da conduta imputada ao réuESDRAS MARINHO DA SILVA. Conforme restou comprovado por meio de apuração levada aefeito pela CEF (fls. 30/41), o acusado GLAUBERSON, na qualidade de gerente da CEF,concedeu indevidamente, ao corréu ESDRAS, um crédito rotativo de R$ 100.000,00 (cem milreais), e, além disso, baixou aplicações que serviam de garantia a esse contrato, cujos valoresforam indevidamente sacados, transferidos para contas diversas ou utilizados parapagamentos em benefício de ESDRAS MARINHO DA SILVA, com a utilização, inclusive, dolimite do cheque especial. Tudo com o conhecimento desse último acusado. Ao ser interrogado,ESDRAS negou a acusação, asseverando que confiou demais em GLAUBERSON e na CEF;que tinha GLAUBERSON como irmão; que foi ele quem o orientou a fazer as aplicações; quefoi GLAUBERSON quem o orientou a usar o dinheiro do cheque especial e não da aplicação;que nunca teve talão de cheque e cartão; que sempre usou dinheiro já que não gostava de tercartão; que por isso usava o cartão de GLAUBERSON; que não houve essa história decomprar vários imóveis e viagens; que confiava tanto em GLAUBERSON que nem tiravaextrato da conta para conferência; que o interrogando nem senha tinha; que a sua conta eramovimentada com a senha de GLAUBERSON; que usou o cartão de GLAUBERSON como umasegurança, porque quando viajava não sabia o que ia gastar; que usou o cartão deGLAUBERSON algumas vezes, durante mais ou menos um ano; que nunca existiu acordo paraGLAUBERSON sacar ou transferir dinheiro da sua conta quando quisesse; que nuncadesconfiou de nada porque dentro da CEF ele tinha conduta ilibada; que um dia chegou nobanco e ESPANÃ lhe alertou sobre o saldo devedor da sua conta e de que suas aplicaçõestinham sido resgatadas, foi quando o interrogando começou a tentar entrar em contato comGLAUBERSON e ele não respondia mais; que foi o próprio ESPANÃ que o orientou aprocurar a polícia; que apresentou uma queixa contra a CEF na Polícia Federal, no BancoCentral e na Delegacia; que não chegou a acusar GLAUBERSON, mas disse na Polícia que eleera o seu gerente; que ficou muito abalado com tudo isso; que chegou a entrar em depressão ea tomar remédio controlado; que suas três aplicações foram resgatadas sem a suaautorização; que nem sabia que elas tinham sido resgatadas; que não entende também comoGLAUBERSON movimentava suas contas; que não entende porque GLAUBERSON nunca lhedisse que sua conta estava estourada; que a última vez que falou com GLAUBERSON foi em2007, na casa da sua sogra, quando ele lhe pediu cinquenta reais; que o seu advogado entroucom uma ação cível contra a CEF, que foi arquivada por perda de prazo; que veio ver oprocesso na Justiça Federal e constatou que o mesmo foi arquivado por perda de prazo; quenão quis entrar com representação na OAB contra o advogado; que preferiu colocar umapedra no assunto; que não entrou com nenhuma ação contra GLAUBERSON individualmente;que o valor cobrado nessa ação, correspondente a R$ 533.000,00 (quinhentos e trinta e três

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

33

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 34: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

mil reais), se refere aos saques/transferências que não foram autorizados pelo interrogando,ou seja que não tinham guias assinadas; que nunca deu autorização escrita ou verbal paraGLAUBERSON movimentar sua conta; que o que foi autorizado teve guias assinadas pelointerrogando; que o interrogando não tinha senha para movimentar a sua conta; que a suaconta era movimentada sempre com a senha do gerente GLAUBERSON; que o seu patrimônioera maior do que o de GLAUBERSON; que GLAUBERSON passou a ter uma vida nãocondizente com a sua situação financeira; que só veio saber disso depois; que não participavade festas pessoais dele; que nas festas que frequentava com GLAUBERSON não via elegastando tanto; que o dinheiro movimentado pelo interrogando na CEF era seu; que dividiucom GLAUBERSON o aluguel de um apartamento em Olinda/PE para fazer festas e outrascoisas mais; que só o interrogando morava lá; que os bens que adquiriu foi antes de ficar como saldo devedor; que está no SPC e SERASA; que não teve condições de pagar o débito à CEF;que se desfez de todo o seu patrimônio; que não tinha conhecimento de transferências da contade GLAUBERSON para a sua; que só soube do desbloqueio de suas aplicações quando foi nobanco e falou com ESPANÃ. As declarações prestadas por ESDRAS, porém, não se coadunamcom as demais provas colacionadas aos autos. Tanto que a comissão de auditoria da CEFconclui pela responsabilização não só do funcionário GLAUBERSON D'AQUINO OLIVEIRA,como do seu cliente, ESDRAS MARINHO DA SILVA, o qual restou comprovado ter selocupletado do dinheiro pertencente à CEF, como ficou patente no julgamento da ação cível nº2007.83.00.003751-0 ajuizada por ESDRAS contra àquela instituição financeira, em que esseréu pleiteia o ressarcimento dos valores de suas aplicações, supostamente desviados. Senãovejamos [...]O mérito da ação reside em definir-se se há obrigação de indenizar imputável àCaixa pelos valores que se diz terem sido indevidamente subtraídos do autor, enquantocorrentista da instituição. Ao requerer o "ressarcimento" ou a "restituição" de valores, deduz oautor, substancialmente, um pedido de indenização por dano material, pois alega abalo sem eupatrimônio e pretende que a Caixa recomponha tal prejuízo. [...]Aduziu o autor haverdepositado quantias em duas contas correntes da Caixa (nºs 12.772-1 e 684-3), além de terfeito aplicações em fundos de investimentos disponibilizados pelo referido banco. Em relaçãoaos valores que estavam aplicados em fundos, a Caixa afirmou (f. 129), e o perito ratificou (f.822-823), que toda essa cifra (dos fundos de investimento) retornou à conta nº 12772-1, razãopela qual o exame do juízo poderá cingir-se à movimentação das contas correntes, pois aíestavam os numerários efetivamente disponibilizados ao cliente. No que tange propriamente àscontas correntes, os documentos constantes dos autos demonstram que a relação entre o autore o gerente de suas contas não estava restrita ao campo profissional, mas se prolongavaatravés de laços de estreita amizade. O autor confiava a administração dos valores ao gerentee se valia da conta deste último para intermediar o saque das quantias de que necessitava oumesmo para pagamento de despesas pessoais. Essa circunstância, além de reconhecida pelopróprio ex-gerente, Sr. Glauberson, em sede de apuração administrativa da Caixa (f. 416/423),foi constatada pelo perito do juízo. [...] Em relação à migração de valores da conta do autorpara a conta do Sr. Glauberson, todo o contexto dos autos leva a crer que as operações não sedesgarraram da chancela do correntista. Basta atentar para os documentos de f. 307-311. Aíestão comprovantes de depósito em favor do ex-gerente, figurando como depositário o próprioautor. Além disso, há avisos de débito (f. 311 e 716), também assinados pelo autor, figurandocomo favorecida a conta corrente do ex-gerente. O próprio demandante, inclusive, reconheceuexpressamente, em sua réplica, a lisura dos documentos de f. 302-311. Observem-se, ainda, adocumentação de f. 327-377 e de f. 707-715. Trata-se de guias de retiradas, assinadas pelodemandante e com carimbo do Sr. Glauberson, na condição de gerente, relativas ao ano de2006 e início do ano de 2007. As guias, por sinal, referiram-se às duas contas correntes (nºs

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

34

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 35: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

12.772-1 e 684-3) do autor. A Caixa, no âmbito administrativo, promoveu exame grafotécnicoe concluiu pela autenticidade das assinaturas ali apostas (f. 718-720), conclusão não refutadapelo autor, que, em réplica, reconheceu como suas as assinaturas. Tais documentosdemonstram, de modo inequívoco, que o autor, recorrentemente, durante todo o ano de 2006 einício de 2007, valeu-se ele próprio, da dedução de suas contas correntes, tudo com o aval doex-gerente, que o auxiliava em todas essas operações. Ademais, as numerosas retiradas daconta nº 684-3, reveladas por aquelas guias, induzem à convicção de que o correntista tinhatotal disponibilidade dos valores ali depositados, apesar de não possuir talões de chequesdessa conta ou mesmo cartão de débito, consoante afirmado na exordial (f. 9).Por outro lado,a Caixa, na contestação (f. 120), indicou diversas transferências eletrônicas de disponíveis(TED's), de valores significativos, enviadas pelo autor para diversos favorecidos. Odemandante confirmou as operações (f. 778) e o perito concluiu (f. 836) haver prova nos autosdessas movimentações financeiras. Com efeito, às f. 192-205 deste caderno processual, estádemonstrado que o autor, no ano de 2006, efetuou transferências de valores expressivos paraterceiros (R$ 5.500,00; R$ 87.000,00; R$ 27.540,00; R$ 22.320,00; R$ 18.500,00; R$46.750,00; R$ 5.000,00) e, quanto ao referido valor de R$ 87.000,00, apesar de, na inicial,afirmar o demandante desconhecer a destinação da respectiva transferência, terminouassumindo que foi ele próprio quem a efetuou, ao reconhecer todos os TED's mencionados nacontestação. Diante de toda essa atuação do correntista, não é crível que o mesmo, aomovimentar constantemente suas contas, não verificasse o histórico das mesmas e o quantotinha à sua disposição. Se assim não o fez, é porque se pautava por total descontrolefinanceiro, havendo de assumir os ônus de sua incúria. Os elementos do processo firmam aconvicção de que o demandante teve, a todo o tempo, disponibilidade sobre os saldos de suascontas, cabendo-lhe, então, velar pela manutenção do seu dinheiro. Ocorre que o autor,seguidamente, efetuava uma dedução expressiva das contas, seja mediante transferênciaeletrônica, guias de retiradas ou ordens de débitos preenchidas de próprio punho. E, quanto àmigração de valores de suas contas para a do ex-gerente, a movimentação revelou-se umprocedimento corriqueiro entre ambos, haja vista a relação ultrapassar o campo profissional.Os documentos evidenciam que era o Sr. Glauberson pessoa de inteira confiança dorequerente, estando por este autorizado a auxiliar na administração dos créditos. Atente-se,inclusive, que não poderia o ex-gerente realizar as transferências entre as contas sedesconhecesse a senha do respectivo titular, circunstãncia que somente reforça o laço deproximidade existente entre os mesmos. Nessa ação, ficou patente que todas as operaçõesrealizadas por GLAUBERSON na conta de ESDRAS MARINHO tinham o aval desse último,que, muitas vezes, sequer se dava ao trabalho de comparecer à agência para assinar ascorrespondentes guias de retirada, o que é muito comum na relação entre gerentes e algunsclientes, ou seja, a autorização de saques/transferências por telefone. No caso de ESDRAS eGLAUBERSON, porém, restou patente que a relação de confiança existente entre eles ia muitoalém da autorização de saques/transferências por telefone. Embora as declarações prestadaspor ambos tenham se chocado em alguns pontos, os réus em nenhum momento negaram quetinham uma relação de amizade íntima, chegando ao ponto de ser GLAUBERSON quemutilizava a senha da conta de ESDRAS, que, por sua vez, usava o cartão de crédito deGLAUBERSON. Além disso, a perícia realizada na ação ajuizada por ESDRAS constatou aexistência de operações casadas relacionadas ao pagamento de diversas despesas de ESDRAScom dinheiro saído da conta de GLAUBERSON, e, logo em seguida, a transferência dosmesmos valores da conta de ESDRAS para a de GLAUBERSON. Portanto, pelo que se pôdeperceber dos autos, GLAUBERSON agia, na verdade, como um administrador das finanças deESDRAS, com total autonomia para movimentar suas contas. A alegação de ESDRAS de que

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

35

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 36: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

GLAUBERSON agiu sem a sua autorização, portanto, não tem qualquer respaldo nas provascolacionadas aos autos. De qualquer forma, como bem ressaltou a MM Juíza prolatora dasentença acima transcrita, diante de toda essa atuação do correntista, não é crível que omesmo, ao movimentar constantemente suas contas, não verificasse o histórico das mesmas e oquanto tinha à sua disposição. Se assim não o fez, é porque se pautava por total descontrolefinanceiro, havendo de assumir os ônus de sua incúria. Em outras palavras, se o réu ESDRASMARINHO DA SILVA não teve o cuidado de controlar as movimentações de suas contas, nãopode agora se valer de sua própria torpeza para se eximir da responsabilidade pelo danocausado à CEF, não havendo dúvida, pois, de que o mesmo agiu com desídia no trato dasfinanças da CEF, praticando, assim, o crime descrito no art. 4º, parágrafo único, da Lei nº7.492/86, em coautoria com o réu GLAUBERSON D'AQUINO OLIVEIRA. Por fim, a alegaçãode atipicidade da conduta imputada à ESDRAS MARINHO, em razão da impossibilidade desua participação no crime de gestão fraudulenta, visto não ter agido na qualidade deadministrador (diretor, gerente, etc) de instituição financeira, nos termos do art. 25 da Lei nº7.492/86, esbarra nas disposições contidas nos artigos 29 e 30 do Código Penal acerca dacoautoria, nos seguintes termos: Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crimeincide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. § 1º - Se a participaçãofor de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço.§ 2º - Se algumdos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essapena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. Art.30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quandoelementares do crime. No caso, a qualidade do agente de administrador de instituiçãofinanceira, assim considerados os diretores e gerentes, constitui elementar do crime emquestão (gestão temerária), não havendo dúvida, pois, quanto à possibilidade de que talcircunstância se comunique àquele que concorreu para a prática do crime na qualidade deterceiro beneficiado. (...) Quanto à reprovabilidade da conduta, restou comprovado nos autosque os agentes são capazes e podiam ter se determinado de forma diversa daquela praticada,não estando acobertados por qualquer causa de exclusão da culpabilidade. Por todas essasrazões, conclui-se que a conduta imputada aos acusados GLAUBERSON D'AQUINOOLIVEIRA e ESDRAS MARINHO DA SILVA é típica, antijurídica e culpável. Por fim, entendototalmente descabida a alegação da defesa no sentido de que a conduta do réu GLAUBERSONseria atípica, tendo em vista a ausência de dolo, caracterizado pela intenção de causar danoao banco ou ao Sistema Financeiro Nacional. Isto porque, no crime de gestão temerária, aconduta é caracterizada pelo dolo eventual, na medida em que o agente, tendo a previsão doresultado, assume o risco realizando a conduta indiferente aos danos à instituição financeira,e, por conseguinte, ao Sistema Financeiro Nacional. Por outro lado, como exaustivamentedemonstrado nos autos, o réu, ao contrário do que alega a defesa, tinha consciência dailicitude (dolo) das operações financeiras por ele realizadas. (...) III. Dispositivo. Por essasrazões, julgo PROCEDENTE, em parte, a acusação, para CONDENAR os acusadosGLAUBERSON D'AQUINO OLIVEIRA e ESDRAS MARINHO DA SILVA pela prática do crimeprevisto no art. 4º, parágrafo único, da Lei nº 7.492/86 (gestão temerária).

Em suma, portanto, desmerecem acato os apelos no que toca às teses de8.atipicidade formal por ausência de dolo, bem como no que se refere ao pedido dedesclassificação do crime para o de estelionato majorado.

Quanto à dosimetria, porém, a sentença merece reparos.9.Nesse sentido, rememoremos que o juízo considerou a culpabilidade de10.

GLABERSON como intensa e a de ESDRAS como mediana.

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

36

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 37: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

Para fundamentar os graus de culpabilidade em relação a ambos os acusados,11.todavia, o juízo não teceu maiores considerações, limitando-se a aduzir que “os réusagiram de modo temerário na condução dos negócios da CEF”, o que, de formaevidente, é conduta inerente ao próprio tipo penal.

Bem por isto, entendemos ser necessário afastar a valoração negativa da12.culpabilidade em relação a ambos os acusados, já que não existe fundamentação apta ademonstrar que, em seu agir, extrapolaram as medidas do ilícito.

Na mesma lógica, verificamos que o juízo considerou como consequências13.negativas o fato de o crime ter sido perpetrado em desfavor da CAIXA, ao argumentode que tal instituição financeira seria muito importante para a economia e seus clientes.

Entendemos que toda instituição financeira exerce papel relevante não apenas na14.mola propulsora da econômica do país, mas na vida de seus clientes, não sendo possível,ainda mais em se tratando de crime contra o sistema financeiro, pontuar que os clientesda CAIXA são mais ou menos importantes do que os demais, tampouco os recursostemerariamente geridos.

Pelos motivos expostos, afastamos as duas circunstâncias judiciais sopesadas pelo15.juízo originário como negativas.

Com tal alteração, fixamos a pena-base em relação aos dois acusados no mínimo16.legal, ou seja, em 02 anos de reclusão.

Inexistentes agravantes/atenuantes, causas de aumento/diminuição de pena, tem-se17.que as penas privativas de liberdade finais cominadas a cada uma das rés é de 02 anos dereclusão que, por seu turno, prescreve em 04 anos, consoante previsto no art. 109, V,do CPB.

Feita esta alteração, vê-se que, entre os fatos (27/04/2006) e o recebimento da18.denúncia (16/04/2013) passaram mais de 04 anos. Logo, as penas cominadas aos réusrestaram extintas pelo advento da prescrição.

Apelos parcialmente providos para, diminuindo as penalidades, declarar de ofício19.a ocorrência da prescrição.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que figuram comopartes as acima identificadas,

DECIDE a Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5ªRegião, por unanimidade, dar provimento parcial às apelações para, reduzindo aspenalidades, declarar extinta a punibilidade em face da prescrição, nos termos doRelatório, do Voto do Relator e das Notas Taquigráficas constantes dos autos, quepassam a integrar o presente julgado.

Recife, 03 de dezembro de 2019 (data do julgamento).

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

37

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 38: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

PAULO CORDEIRODesembargador Federal Relator

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

38

TribunalRegionalFederal

Fls...............

Page 39: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª …€¦ · PERSONAL RF LP) que garantiam o CROT/PF (E - apenso III, v.1, f. 239-240), resgatou os referidos valores e os creditou

ACR Nº 13072

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO CORDEIRO

39

TribunalRegionalFederal

Fls...............