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POESIA APARECIDA
E
ALGUMA PROSA
ENCANTADA Por Marco Lima
6
Não acabarão com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente.
Vladimir Maiakóvski
7
ÍNDICE
APRESENTAÇÃO: A função sintática do amor ...........................09
POESIA APARECIDA
Dedicatória ...........................................................................12
A carta ...................................................................................13
Impressões tuas .....................................................................15
Solstício ................................................................................16
Meu jardim ...........................................................................18
Só vejo flores ........................................................................19
A rosa chorou estrelas ...........................................................21
Aleluiam-me teus olhos orvalhados ......................................23
Ao meu anjo da guarda ..........................................................24
Para sonhar novamente .........................................................26
Ando cismado de fechar os olhos e te ver .............................28
Quero me encostar no azul tua tarde ......................................29
Tua voz tem cor de mar .........................................................31
Se há luz em minhas letras ....................................................32
De qualquer jeito a primavera em teus olhos .........................33
Eu, brinco ..............................................................................34
Ode à Paciência .....................................................................35
Soneto da estrela cadente ......................................................36
De quando encontrei uma estrela ..........................................37
Poema noturno ......................................................................39
ALGUMA PROSA ENCANTADA
Apresentação ........................................................................42
Miniconto, nem te conto o amor ...........................................44
O porquê da barba .................................................................46
Crônica de aniversário ..........................................................48
Amor sempre esteve sempre .................................................50
Djed-medu ............................................................................52
Crônica para um “Eu te amo” ................................................54
8
Seis passos de nossa história que aprendi com Sagarana ......56
Bilhete beijado ......................................................................59
Hoje a madrugada se espraiou ...............................................60
Himeneu de terra e chuva ......................................................62
Sobre as pequenas guerras ....................................................64
Íntima idade com Deus ..........................................................66
Desejo ...................................................................................67
9
APRESENTAÇÃO
A Função Sintática do Amor
Nascemos para escrever. Cada um à sua maneira escreve e
está escrito. Cada ato e pensamento estão enchendo as páginas da
vida: livro pronto de caminhos previamente traçados. Na verdade
seguimos um tracejado, cobrimos os pontilhados, ligamos os pontos.
Mas diferente de uma anotação feita em uma agenda, sujeita
a ser apagada com borracha branca quando um erro é cometido, na
vida, as falhas são convertidas em aprendizado ou castigo. Também
nossos parágrafos e capítulos não só dependem de nós, mas também
de outros escritores de nosso cotidiano.
E assim vivemos: ora escrevendo linhas de caligrafia
perfeita, ora páginas encardidas e repletas de garranchos; ora
transcorrendo palavras no silêncio solitário da noite, ora com
pessoas queridas em derredor.
E se a vida é um livro com suas palavras cruzadas, destinos
cruzados, qual a função sintática e morfológica do amor? Será ele
um fenômeno social, climático, uma tendência dos corações ou um
deus mitológico? Será que o amor se reduz a impulsos cerebrais e
odores específicos? Será que carece de conhecimento científico?
Às vezes o amor é comum, outras vezes próprio…
Algumas vezes concreto, outras, abstrato, intangível…
Quando composto ocasiona muitos problemas! Mas na
maioria, é simples. Mesmo que, por vezes, solitário…
Este amor místico, misterioso nos faz compor as mais belas
passagens de nossas vidas. Com ele, por meio dele, nossos
manuscritos nascem, se renovam, se estendem e escrevem nas
estrelas. E se pudéssemos dar um local de destaque neste livro vital,
diríamos que o amor é rima! É rima que rima com teu nome e com
o meu, porque combina com a gente. Rima que procura outra para
fechar com chave de ouro, com felicidade…
Amor traz a poesia implícita. Nossos relacionamentos seriam,
então, poemas. Sonetos quando bons, réquiens quando ruins.
Viveríamos cada estrofe, cada sonoridade impregnada de perfume e
encanto.
10 Mas esta amorosa lírica, onde caligrafias escrevem as mesmas
linhas predestinadas, só é possível quando o verso tem dupla autoria,
o par como unidade. Amor não é feito de solidão. Amor não é auto
amor. Narciso morreu belamente de se amar! Amor requer morte nos
braços de outro amor. É completar as palavras de outra boca tão cara
a nossa. É ser telepata, sociopata é esgueirar-se pata a pata como
quem procura o tom tão parecido com nosso. Amar é rimar em outro
coração a soma do infinito.
A função do amor é ser infinito!
11
POESIA APARECIDA
12
DEDICATÓRIA
Pelo raio de sol em teu sorriso
Por uma prece a ser feita
Pelo desejo das águas
Pela minha trêmula fala
Pela noite que se deita
Pela alma que cala
Pelas estrelas mortas
Pela música das horas
Pelo beijo de luz
Pela lua inteira tua
Pelo silêncio dessas linhas
Pelas tardes meninas
Pelas milhas
Distancias ladrilhas
Pela cintura
Pela candura
E um pouco de loucura.
Por um grão de areia
Pelos teus braços em teia
Derredor de mim.
Por um chão giz
Pelo que tua boca não diz
Pelo coração, sangue
E por não estar tão vivo assim.
Pelas crianças em ciranda
Por teus olhos de manhã
Pela galáxia que te canta
Por ser minha amiga, irmã
Por sermos falhos
Por clamar atalhos.
Colcha de retalhos
Tecido no sorriso da manhã.
Pela saudade do teu lado
Um muito obrigado.
13 A CARTA
Escrevo nestas linhas não com fingimento
nem para dizer ou prometer inverdades.
Escrevo para transportar nestas frases
todo este brando e confuso sentimento.
Espero não ser adocicado demais neste momento
ou ser, em excesso, um romântico desesperado
que estas linhas mostrem um eu apaixonado
e fale-te de meus receios e estremecimentos.
Escrevo para dizer-te que te sinto acordar
quando não durmo em meu catre escuro
dizer-te que, em tão pouco tempo, o futuro
não importa sem teu presente sorriso grená.
Estas letras não descreverão planos incertos
nem promessas de beijos eternos...
Convido-te para que neste poema terno
comigo possas cruzar o mais tenebroso deserto.
Tu deves te perguntar a razão das flores
que junto dessa carta versada
enche de cor tua correspondência presenteada
e tua leitura de doces sabores.
Digo-te que elas são parte de ti,
pois quando as vi, assim te vislumbrei.
Tão alheia me dominaste. É, eu sei
também aos teus pés me deixei cair.
Há lá fora uma chance para nós
não importando o que mundo diz.
Importa que a vida é feliz
em cada instante que passamos a sóis.
Esqueça os devaneios do tempo
14 e tantas outras diárias dificuldades
vivamos nosso amor de liberdade
deixai os outros jogar palavras ao vento.
E por derradeiro, peço singelo perdão
se de pétalas manchei teus pertences
é que por vezes sou diferentes
como forma de me expressar de coração.
De seu vassalo, não mais que um escravo
contigo acima das consequências
enamorado de tua essência
subentendido entre cartas: Marco.
02 de dezembro de 2012
...................................................................................................
15 IMPRESSÕES TUAS
Suspiro quando andas,
pois danças cirandas
e se danças com teus pés pequeninos
ouve-se até sacros sinos
a dizer o que não diz.
Suspiro quando olhas
pois se olhas, rogas,
e se rogas com teu olhar de noite fechada
até reis prostram-se, ante minha amada,
a prometer as mais ricas safiras anis.
Suspiro quando falas
pois não falas, cantas
e se cantas com os lábios em rosa
tornas garranchos, lírica prosa
das declarações mais sutis.
Suspiro quando abraças
pois acolhes com carinho
e se acolhes tudo é dia de sol,
de primavera a canto rouxinol
alivias as nuvens mais gris!
Suspiro quando beijas
pois não, arrebata-me
e se mergulho em teu paraíso
tomo-te sem prévio aviso
vou contigo como sempre quis.
29 de dezembro de 2013
............................................................................................................
16 SOLSTÍCIO
I
Quando teu coração cair, diga o que precisa ser dito.
Olhe na pele do infinito e mesmo que as promessas sejam distantes
para serem feitas, olhe na pele do infinito e diga com um saudoso
grito: te amo estrelas cortantes do céu bonito!
Quando a lágrima teimar, diga o que precisa ser dito.
Lance rosas em teu caminho e mesmo que a dureza do gelo seja
difícil de derreter,
lance rosas em teu caminho e diga em tom segredo: segure minha
mão, não tenha medo.
Quando as luzes se deitarem em meus olhos, diga o que precisa ser
dito.
Beije as janelas de minha casa mesmo que faltem asas e perfumes
do paraíso,
beije as janelas de minha casa e diga de improviso: teus lábios é o
fim de todo e qualquer juízo.
Quando teu peito arfar, diga o que precisa ser dito.
Morda meu pescoço, afagues meu rosto e mesmo que nunca tenhas
me visto,
morda meu pescoço, afagues meu rosto e digas com um sorriso: és
meu poema nunca antes lido!
Quando tua língua falar com os anjos, diga o que precisa ser dito.
Peças em tuas preces breves um vento, mesmo que distantes
estejam distantes,
peças em tuas preces breves e diga ou cante: meu amor, eu respiro
teu sorriso infante.
II
Despeje as luzes da manhã em mim,
me conte segredos profanos,
coisas que os querubins conversam
em sonhos de asas nos corações abertos.
Diga-me o início da estrada.
Diga-me se ela nasce em teus dedos lânguidos
17 ou nos olhos sorrateiros
ou nos cabelos doces e praieiros
ou se esse mundo brota todo teu
aos dedos meus que passeiam em tua pele.
Diga-me essa promessa presa em minhas mãos
onde teus sonhos aos meus unidos
desde a primeira palavra vivida.
Desde que fiz teus olhos minha janela
tua boca inadvertidamente sonda-me,
peregrina em minha alma.
Derreto-me pelo simples relance
de teu sorriso que assim me doado
cantam as flores
salpicadas
uma a uma em meus pelos.
E sinto-me pelos Deuses coroado
com a mais complexa das criaturas.
E desejo a matemática de teus seios,
o suicídio implícito.
Desejo a aleia sinuosa que conduz ao segredo tão meu em teu
íntimo.
Deixa o sabor de tuas luzes cantarem em meus ouvidos
com a certeza do respirar
do teu olhar posto em mim
teu ventre pulsante
e um mundo feito nosso
para descobrir
em suspiros e sorrisos
no suor e na saliva
que purifica o pra sempre
feito sempre puro.
18 MEU JARDIM
Num jardim passei
Na primavera um dia
E perplexo fiquei
Toda flor te parecias.
Margarida, cravo, camélia
Os lírios e até o jasmim!
Petúnia, tulipa, bromélia
E nas pétalas da flor carmim.
Flor de maracujá
Flor de Liz
Nos brotos do saguar
Um crisântemo se sorris.
Lótus do Japão
Uma orquídea, hibisco!
A malva para a mansidão
A ave-do-paraíso!
Beladona, bela cena!
És o jardim! Olha!
Da prímula a açucena
A copa da magnólia!
Perfume de begônia!
Senhora do bem e do mal
E das noites de insônia
Serrana edelval!
És flor trigueira.
As flores em teus cabelos
A carda-das-fiandeiras,
Em ti, teu carpelo.
As vezes as flores
Eram parte de teu ser
Numa chuva de cores
Mais bonita que o viver.
Violeta, lilás, rosa:
Uma natureza bonina!
Nenúfar em poesia e prosa,
Distante cana-da-índia!
E em tua essência
Uma dália para bailar
Com azaleias e hortênsias
E gerânios a formar:
A música para cantar
Um amor preciso
Canto de amor
De Iris e Narciso.
És com certeza
Em botões-de-ouro
E brincos-de-princesa
A força do floral coro.
As onze horas
Jacinto girassol;
Flor da aurora
Sou teu arrebol.
Há boas-noites espero.
Olhos fitos no céu, deito
Feliz, pois quero
Este amor perfeito.
19
SÓ VEJO FLORES
Ah! Que sensação é esta que estremece
que me tira os ares e o chão
que diz para crer no coração
pois o que é divino enobrece?
E o céu tem todas as cores
e por onde passas só vejo flores.
Ah! Que ânsia é esta de te ver sorrir
de sentir teus olhos cintilantes
de tocar tua pele tão tocante
até mesmo quando penso em partir?
Quando aqui ressoam louvores,
e onde passas só vejo flores.
Ele, tudo criou em uma semana,
mas quando moldou o amor?
De todas as lutas em seu favor,
que luz é esta que emana
e provoca cardíacas dores
quando tu passa por entre as flores?
E sinto a ausência tua quando o dia descansa
e nas manhãs quando desperto.
Peço que tempo te faça perto
para a selvagem saudade se tornar mansa
pois de todos os amores,
só quando passa, eu vejo flores.
E por vezes me perco em turvos pensamentos
tendo tua voz como melodia
esperando por mais um dia
para com um abraço aprisionar o momento.
E a paz virá aos meus temores
quando tu chegares entre as flores.
Com versos te celebro, conversas assim