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Poesias e Matemáticas com o Uso da Neuroengenharia e da Biotecnologia 1 Paulo Victor de Oliveira MIGUEL 2 Samira Muhammad ISMAIL 3 Gilmar BARRETO 4 Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação - Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, SP Resumo O interesse e a motivação são fundamentais para assimilação e manutenção do conhecimento. Considerados requisitos em vários modelos pedagógicos e andragógicos, eles estão também presentes nas principais teorias sobre aprendizagem. Portanto, este artigo descreve uma técnica de aprendizagem que, com o uso da neuroengenharia e da biotecnologia, se propõe a acelerar o acesso dos alunos a níveis cognitivos de ativação, e assim sustentar estes requisitos fundamentais para a aprendizagem de formas mais complexas do conhecimento. Palavras-chave: condicionamento; modelagem; instrução educacional; ativação; sociointeracionismo Introdução Johann Friedrich Herbart acreditava que a instrução educativa possuía duas componentes principais, uma estética-literária e outra matemática-científica, ou seja, as Poesias e as Matemáticas. Esta visão foi um esforço na busca por uma teoria que pudesse descrever cientificamente, de forma estruturada, o processo de aprendizagem. Não obstante, as teorias mais conhecidas divergem, até hoje, em vários pontos de vista, mas oferecem técnicas, métodos e procedimentos que têm ajudado profissionais do ensino em diferentes situações, dentro e fora da sala de aula. Esta versatilidade tem exigido do educador uma visão consultiva, muita capacitação, tempo e flexibilidade. Mesmo assim, tem sido um conhecimento importante para gestores, pedagogos e outros profissionais 1 Trabalho apresentado no I Simpósio de Inovação Tecnológica na Educação, Campinas, SP. 2 Doutor em Engenharia Elétrica, Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação/Unicamp. e-mail: [email protected] 3 Mestre em Engenharia Elétrica, Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação/Unicamp. e-mail: [email protected] 4 Doutor em Engenharia Elétrica, Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação/Unicamp. e-mail: [email protected]

Poesias e Matemáticas com o Uso da Neuroengenharia e da ... · O que se observa na prática de muitos pedagogos modernos é a utilização dessas técnicas conforme a necessidade,

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Poesias e Matemáticas com o Uso da Neuroengenharia e da Biotecnologia1

Paulo Victor de Oliveira MIGUEL2

Samira Muhammad ISMAIL3

Gilmar BARRETO 4

Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação - Universidade Estadual de Campinas

(Unicamp), Campinas, SP

Resumo

O interesse e a motivação são fundamentais para assimilação e manutenção do

conhecimento. Considerados requisitos em vários modelos pedagógicos e andragógicos,

eles estão também presentes nas principais teorias sobre aprendizagem. Portanto, este

artigo descreve uma técnica de aprendizagem que, com o uso da neuroengenharia e da

biotecnologia, se propõe a acelerar o acesso dos alunos a níveis cognitivos de ativação, e

assim sustentar estes requisitos fundamentais para a aprendizagem de formas mais

complexas do conhecimento.

Palavras-chave: condicionamento; modelagem; instrução educacional; ativação;

sociointeracionismo

Introdução

Johann Friedrich Herbart acreditava que a instrução educativa possuía duas

componentes principais, uma estética-literária e outra matemática-científica, ou seja, as

Poesias e as Matemáticas. Esta visão foi um esforço na busca por uma teoria que pudesse

descrever cientificamente, de forma estruturada, o processo de aprendizagem. Não

obstante, as teorias mais conhecidas divergem, até hoje, em vários pontos de vista, mas

oferecem técnicas, métodos e procedimentos que têm ajudado profissionais do ensino em

diferentes situações, dentro e fora da sala de aula. Esta versatilidade tem exigido do

educador uma visão consultiva, muita capacitação, tempo e flexibilidade. Mesmo assim,

tem sido um conhecimento importante para gestores, pedagogos e outros profissionais

1 Trabalho apresentado no I Simpósio de Inovação Tecnológica na Educação, Campinas, SP. 2 Doutor em Engenharia Elétrica, Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação/Unicamp. e-mail:

[email protected] 3 Mestre em Engenharia Elétrica, Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação/Unicamp. e-mail:

[email protected] 4 Doutor em Engenharia Elétrica, Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação/Unicamp. e-mail:

[email protected]

ligados ao processo de ensino e aprendizagem. Eles conseguem extrair ideias e recursos

destas teorias e, assim, formular estratégias de sucesso em diferentes situações de

aprendizagem, tudo com muita criatividade, esforço e dedicação.

O uso de ferramentas tecnológicas e o conhecimento adquirido em outras áreas da

ciência, como a Neuroengenharia e a Biotecnologia, por exemplo, podem contribuir para

auxiliar diversos profissionais da educação e de outras áreas relacionadas com o ser

humano.

A técnica proposta neste trabalho considera pontos comuns às principais teorias de

grandes psicólogos, sociólogos e pedagogos, além de algumas estratégias específicas de

uma ou de outra, conforme o caso. Utiliza, ainda, soluções tecnológicas recentes, que

visam promover um ganho de qualidade e velocidade no aprendizado, sustentando a

motivação e o interesse do aluno pelo tempo necessário para que este alcance determinados

níveis de conhecimento, aqui denominados de “Nível de Ativação”. A ideia é fortalecer o

caminho que integra o “Saber-Fazer”, o “Saber-Aprender” e o “Saber-Ser”, favorecendo o

desenvolvimento de níveis mais complexos do conhecimento.

A utilização de interfaces neurais e trajes inteligentes, orientados por programas

especializados, oferecem uma oportunidade inovadora de se utilizar conceitos de

modelagem para ajudar os alunos a se prepararem para categorias do conhecimento com

maior complexidade.

Este modelo pode ser também uma ferramenta poderosa nas mãos de educadores e

gestores, que precisam acomodar metas e currículos cada vez maiores, em intervalos de

tempo cada vez menores. Além disso, pode ser uma ferramenta assistiva, que auxilie

pessoas com restrições físicas, oferecendo considerável contribuição para sua inclusão

social e cultural.

A principal expectativa é de poder ampliar e democratizar o acesso a determinados

conhecimentos e habilidades que, uma vez codificados e organizados em bibliotecas,

possam ser escolhidos e aprendidos pela grande maioria das pessoas que utilizem estes

recursos tecnológicos.

Compor uma música, pintar um quadro, criar uma poesia, desenvolver um estilo em

um esporte, são processos que requerem uma alta complexidade cognitiva e processos mais

sofisticados de aprendizagem. No entanto, dedilhar um violão, copiar um desenho, digitar,

falar outra língua, nadar, chutar uma bola, dirigir um carro e pilotar um avião, podem ser

automatizados e, portanto, podem ser aprendidos com treinamento e processos de

modelagem.

Há de se utilizar uma técnica que consiga ser efetiva, ou seja, que consiga alcançar

os melhores resultados com o menor esforço e menor tempo possível.

Como se sabe, o interesse e a motivação são primordiais para se iniciar um

aprendizado, entretanto, o maior desafio é sustentar estes requisitos durante um tempo

suficiente para que os resultados positivos possam realimentar um ciclo de aprendizagem

virtuoso. Muitos alunos desistem cedo, principalmente devido ao grande esforço necessário

para que se consolide o estágio inicial de um aprendizado.

No entanto, quanto maior for o volume de conhecimentos adquiridos, sejam eles de

menor ou maior complexidade, maior será a capacidade do aluno de desenvolver

conhecimentos mais complexos, que exijam maior poder de criação, maior visão sistêmica,

maior quantidade de interações e de relacionamentos sociais.

Além de uma rede neural mais rica em conexões, este aluno também possui mais

habilidades que favoreçam a ampliação de sua rede social, aumentando também as

interações e seus relacionamentos, o que pode ampliar o seu interesse e motivação para

outras áreas do conhecimento, o que pode ser considerado um ciclo virtuoso de

aprendizagem.

Para entender esta técnica, há de se considerar, a priori, sua relação com outras

contribuições feitas no âmbito das linguagens estruturadas, das metodologias de

programação mais recentes e com a teoria geral de sistemas (TGS).

O Legado das Metodologias Orientadas a Objetos e da TGS

A ideia de se estruturar a programação de computadores segundo uma concepção

orientada a objetos modificou consideravelmente o modo de se planejar, codificar e

principalmente reutilizar suas classes e métodos (KON; SILVA, 2006).

Mas, o que interessa aqui é destacar dois conceitos interessantes desta metodologia:

O Polimorfismo e a Herança. Esta última refere-se às instâncias criadas a partir de outro

conjunto de instâncias com características semelhantes, dos quais seus elementos herdam

todas as características do conjunto original. A ideia é poder definir novas classes de

objetos a partir de uma já existente. Portanto, essas novas classes herdam as propriedades e

métodos da classe-mãe, tornando o processo de construir, organizar e reutilizar códigos,

uma ferramenta poderosa na geração de novos sistemas.

Outro conceito que se quer utilizar refere-se ao polimorfismo, que dá ao código a

versatilidade de assumir vários comportamentos, ou seja, ele pode ser aplicado a várias

classes de objetos. Neste caso, uma operação mantém seu comportamento transparente

para quaisquer tipos de argumentos; isto é, a mesma mensagem é enviada a objetos de

classes distintas e eles poderão reagir de maneiras diferentes (KON; SILVA, 2006).

De fato, a utilização destes conceitos e da Teoria Geral de Sistemas (TGS), segundo

a concepção de Ludwig von Bertalanffy (BERTALANFFY, 1973), sugerem oportunidades

para se trabalhar o processo de ensino e aprendizagem de uma forma integral, com fortes

influências sobre a motivação e o interesse do aluno, como será descrito adiante.

Muitas teorias foram desenvolvidas para se tentar entender, explicar e parametrizar

o processo de aprendizagem, nos vários estágios de desenvolvimento do ser humano. Em

geral, trata-se de um sistema relacionado a outros, com níveis de complexidade elevados e

com características não muito fáceis de parametrizar. Apesar destas teorias apresentarem

algumas divergências do ponto de vista conceitual, várias técnicas foram desenvolvidas em

cada uma delas.

O que se observa na prática de muitos pedagogos modernos é a utilização dessas

técnicas conforme a necessidade, o contexto, o perfil da sala de aula e o objetivo do curso.

Este uso versátil das técnicas, no entanto, requer autonomia, maturidade, conhecimento,

flexibilidade e consequentemente muita responsabilidade do Professor. A necessidade de

se trabalhar com diferentes técnicas, diferentes níveis de complexidade e grande troca de

informação, até mesmo em diferentes formatos, sugere a adoção de uma estratégia que

divide a tarefa em níveis, focando a ação do professor nos níveis mais complexos e

automatizando as etapas no “Estado de Ativação”, tudo dentro de uma visão sistêmica.

Da abordagem sistêmica, a propósito, destacam-se algumas características

importantes, que serão exploradas com o uso da instrução educativa de Herbart

(ZANATTA, 2012), do condicionamento operante de Skinner (VARGAS, 2007) e do

princípio da modelagem de Bandura (BANDURA, 1969) como bases para aplicação de

conceitos mais elaborados, como nas visões Cognitivistas, Construtivistas e Humanistas,

por exemplo. Portanto, da abordagem sistêmica têm-se: as “configurações principais”, a

“complexidade” e a “hierarquia dos sistemas”, que serão apresentadas de maneira resumida

a seguir (BERTALLANFY, 1973).

As Configurações Principais referem-se às diferentes organizações dos sistemas:

macro ou microscópicos; biológicos ou mecânicos; sociais, ecológicos ou físicos; naturais

ou artificiais. A TGS vê o global, o complexo e as interações entre as partes, não as

causalidades lineares. O denominador comum dos sistemas é a complexidade, a interação

entre os elementos e a existência de um comportamento, de uma finalidade, de uma

conduta.

A Complexidade esta associada ao número de interações, articulações e

interdependência entre os elementos de um sistema.

A Hierarquia dos sistemas, por outro lado, parte das estruturas mais simples para as

mais complexas, conforme proposto por Kenneth Boulding (BOULDING, 2004), e neste

contexto destacam-se:

O sistema da vida animal, do desenvolvimento dos órgãos sensoriais,

recebendo informações do sistema nervoso, da aprendizagem, mobilidade,

comportamento e começo da consciência;

O sistema da vida do ser humano, com a reflexão, memória, fala,

desenvolvimento de habilidades, simbolismos, autoconsciência,

individualidade e mundo, passado e futuro, comunicação pela linguagem;

O sistema sociocultural ou da organização social, com populações de

organismos, organizações, indivíduos, comunidades determinadas por

símbolos ou culturas, indivíduos a desempenhar papéis, canais de

comunicação;

O sistema simbólico, com linguagem, lógica, matemática, ciências, arte,

moral, utilizando algoritmos, regras do jogo, o mundo virtual, com

diferenças de tempo, distância, interfaces, comunicação, localização.

Portanto, a potencialidade de um sistema vem das interconexões e das interfaces

entre os elementos, e não do número de elementos. De forma análoga às redes neurais

biológicas, não se trata de um simples agregado ou soma das partes. Um sistema

compreende um arranjo em interações e transformações com grande potencial.

Outra característica importante refere-se ao ciclo de vida do sistema, para que ele

dure, precisa ser reformulado, dentro de um comportamento criativo, inovador e produtivo.

Como consequência, não existe por muito tempo na forma simplificada, o que neste caso

tem fortes relações com os efeitos e causas da motivação e do interesse sobre a

aprendizagem.

Em síntese, o que se quer é analisar a aquisição do conhecimento segundo a TGS e,

assim, poder orientar o processo de ensino e aprendizagem para alcançar determinados

níveis cognitivos, aqui chamados “de ativação”. Isto pode contribuir para acelerar o

aprendizado de formas mais complexas do conhecimento. Para isso, pretende-se aproveitar

ideias e conceitos da instrução educativa de Herbart, do condicionamento operante de

Skinner e das técnicas de modelagem de Bandura, além da hereditariedade e do

polimorfismo, descritos anteriormente, preservando-se durante todo o processo, o interesse

e a motivação que mantêm o ciclo de vida da “Técnica de Aprendizagem por Ativação”,

que será mostrado adiante. Mas, como situar esta técnica à luz das principais Teorias de

Aprendizagem?

A Aprendizagem e o Estado de Ativação

De maneira simplificada pode-se definir a aprendizagem como um processo

cognitivo pelo qual se constroem vários conhecimentos, conceitos e competências que

resultam numa alteração de comportamento.

Nesta definição, as mudanças de comportamento precisam ser efetivas, o que está

associado a um caráter permanente das mesmas. Estas alterações são, portanto, reflexos de

formações/expansões consistentes de redes neurais biológicas, o que demanda muito

esforço, gasto de energia e principalmente muita persistência e dedicação do aluno e do

Professor. Muito embora, estas mudanças de comportamento, decorrentes da

aprendizagem, possam vir de experiências práticas e/ou de interações com o meio.

As diversas teorias podem divergir no modo como este conhecimento é adquirido,

na gênese de suas conexões, na concepção dos modelos de espaços internos e/ou externos à

mente humana e suas consequentes relações, e também quanto à interpretação que se dá ao

agente aluno, principalmente quanto ao seu papel ativo ou passivo nestes processos. No

entanto, eles não contestam três condições básicas

para que a aprendizagem ocorra: O Interesse, a

Motivação e a Capacidade de estabelecer as

conexões neurais necessárias ao processo de

aprendizagem (Figura 1). Uma base consistente na

busca pelo “Nível de Ativação”, ou seja, uma

situação física onde existam as conexões em

quantidade e qualidade que favoreçam o processo

de utilização/expansão das redes neurais

biológicas. Em analogia a determinados tipos de

Figura 1. O campo de ativação

reação química, poderia ser comparado com ao nível de energia de ativação da reação,

neste caso, a que favorece o aprendizado de formas mais complexas do conhecimento. A

“Técnica de Aprendizagem por Ativação” pretende então agir como catalizador,

acelerando e facilitando o alcance destes níveis de ativação.

Outras características da aprendizagem são a Intencionalidade, a Subjetividade, o

Dinamismo, a Continuidade, além da evolução Gradativa e Cumulativa, relacionadas a

seguir.

A Intencionalidade advém do fato de que é necessária a vontade do indivíduo para

aprender. Já a Subjetividade, ou caráter pessoal, decorre de que o aprendizado depende do

perfil de quem aprende e de seus conhecimentos anteriores. A aprendizagem também é

Dinâmica, já que ela ocorre através da interação e da comunicação. Não obstante, se a

aprendizagem é um processo, é também Contínua, ou seja, ocorre ao longo de toda a vida.

Ela ocorre também de forma Gradativa e Cumulativa, à medida que o organismo se

modifica, visando alcançar o grau de desenvolvimento adequado para que as mudanças de

comportamento ocorram e que novos conhecimentos sejam adicionados aos já existentes.

De maneira simplificada, pode-se dizer que a aprendizagem ocorre em três domínios de

aquisição (Figura 2).

O domínio Psico-Motor (Saber-Fazer) está relacionado com os movimentos, com a

manipulação de objetos, com a destreza motora e de movimentos especializados.

O domínio Cognitivo (Saber-Aprender) está

relacionado ao pensamento lógico e intelectual.

E por último, o domínio Sócio-Afetivo (Saber-

Ser/Saber-Estar) que está relacionado com as questões

sociais e afetivas, sentimentos, atitudes, comportamentos,

com a capacidade de adaptação às mudanças, de

estabelecer novas relações pessoais e de enfrentar desafios.

O amadurecimento de um signo perpassa estes

saberes e evolui para formas mais complexas, o que pode

ser interpretado de forma diferente em cada uma das teorias conhecidas.

Para os Behavioristas (Comportamentalistas), o comportamento dos indivíduos é

observável, mensurável e pode ser controlado cientificamente, tal como acontece com os

fatos estudados pelas ciências naturais e exatas. Utilizando o condicionamento clássico de

Ivan Pavlov, John Broadus Watson (STRAPASSON; CARRARA, 2008) defendeu que a

Figura 2. A relação virtuosa dos

saberes

aprendizagem é uma modificação do comportamento provocada por um estímulo

proveniente do meio. A aprendizagem implica em uma conexão necessária entre estímulos

e respostas. Ainda que polêmica, sua teoria foi importante para que Skinner pudesse

elaborar sua linha de raciocínio.

A partir da Lei do Efeito desenvolvida por Thorndike, onde mudanças de

comportamento causam consequências, Skinner desenvolveu a técnica do

Condicionamento Operante, segundo a qual o comportamento que produz efeitos

agradáveis tende a tornar-se mais frequente, enquanto que o comportamento que produz

efeitos adversos tende a tornar-se menos frequente (VARGAS, 2007).

Em síntese, se uma resposta for compensada ela é fortalecida e tende a manter-se, o

que significa que a aprendizagem depende de consequências. Portanto, se for possível

conduzir o aluno por caminhos virtuosos, com resultados positivos, pode-se acelerar a

assimilação de um conhecimento através do reforço positivo.

Neste trabalho, no entanto, o reforço é representado pelos próprios resultados

alcançados, ou seja, considera-se que o próprio acerto é uma consequência (feedback)

agradável de um determinado comportamento do aluno, funcionando como um mecanismo

capaz de manter e fortalecer o próprio comportamento, algo mais relacionado com a teoria

de Albert Bandura, como será apresentado adiante.

Portanto, a técnica de ativação busca fazer certo na primeira vez e repetir o certo,

fortalece o aprendizado e concentra as energias em resultados positivos. O que se constitui

uma ferramenta importante para a manutenção do interesse e da motivação. Assim, não

serão abordados aqui o reforço negativo e a punição, que são também descritos na teoria do

condicionamento operante de Skinner.

Albert Bandura, por sua vez, sugere a “Aprendizagem por Modelagem” ou

“Aprendizagem Social” (BANDURA, 1969). Bandura defende que é através das interações

sociais que se aprendem os comportamentos. Muitos são adquiridos de uma forma mais

rápida do que seria possível se fossem adquiridos por sucessivas aproximações e reforços.

Bandura acredita que o ser humano é capaz de aprender comportamentos sem

qualquer tipo de reforço. Um ponto polêmico em sua teoria, já que alguns consideram que

reforço permanece, só que implícito no processo. Para ele, no entanto, o indivíduo é capaz

de aprender através da observação do comportamento dos outros e das suas consequências.

Um aprendizado orientado, através de um traje inteligente e uma interface neural,

pode oferecer a oportunidade do aluno se observar executando uma tarefa, quantas vezes

forem necessárias. Como se fosse ele o seu próprio “avatar” em uma realidade virtual.

Esta situação pode representar uma interseção das teorias de Skinner e Bandura já

que, para o primeiro, o reforço está presente na repetição do sucesso e para o segundo a

observação do comportamento a ser seguido está na execução codificada do próprio

modelo em que está inserindo. Conforme proposto por Bandura, os comportamentos são

aprendidos através da observação e imitação de um modelo que é selecionado previamente.

Seu programa de treinamento é carregado no traje inteligente e o aluno é o observador do

seu próprio corpo sendo conduzido ao aprendizado desejado, em princípio, sem erros. No

entanto, o indivíduo intervém ativamente, na medida em que não se limita a observar ou a

reproduzir de forma exata o modelo que observa, mas age mediante a interpretação pessoal

que faz desse comportamento através da Interface Neural.

Ainda segundo Bandura, existe uma interação recíproca entre fatores internos,

externos e o comportamento do sujeito que se influenciam mutuamente. O organismo

responde a estímulos do modelo, mas também reflete sobre estes estímulos, devido à sua

capacidade de autorreflexão, de aprender pela experiência dirigida e da capacidade de se

antecipar a determinada situação.

A informação é então codificada, traduzida e armazenada no cérebro, onde é

organizada em padrões sob diversas formas. Estes alunos transformam a atividade

experimentada em signos semióticos, onde a reprodução é uma tradução das concepções

simbólicas do comportamento armazenadas na memória, em ações correspondentes. A

motivação e o interesse são sustentados pela efetividade do processo.

Uma vez atingido o nível de

ativação (Figura 3), este modelo

pode oferecer uma base privilegiada

de motivação, interesse e estrutura

cognitiva para que outras

aprendizagens mais complexas

possam ser trabalhadas pelos

educadores, visando, por exemplo, a

construções sociointeracionista,

experimentais e intuitivas.

Figura 3. O estado de ativação como base para processos mais

complexos

Os Estados do Conhecimento

Esta técnica considera que um

conhecimento específico pode estar

situado em um dos três estados

progressivos: o de Ativação, da Arte e da

Excelência (Figura 4).

Será tratado aqui apenas Estado

de Ativação.

A Técnica de Ativação e o Próton

A Técnica de Ativação é a aplicação de um conjunto de instruções-educativas

organizadas em programas que, carregados em unidades de controle, conseguem orientar

um aprendizado através de um traje inteligente utilizado pelo aluno. Estes programas

utilizam conceitos e práticas de vários modelos pedagógicos e das principais teorias sobre

a aprendizagem. Portanto, organizam as ações de modo interativo entre as partes biológicas

e artificiais, preservando o comando central, as interpretações, conclusões e mudanças de

comportamento sendo orientadas pelo e para o aluno.

As ações estão divididas em três categorias: de instrução-educativa, de controle e

de interação. Elas iniciam com a definição de um programa de aprendizagem e vão até a

execução do mesmo através de um sistema que inclui as partes lógicas e físicas do sistema.

Organizado em três módulos principais, o sistema é composto de uma unidade de

CONTROLE, que é responsável pelo acionamento, estabilidade e movimentos

provenientes da atividade neural, além do dispositivo de realidade aumentada (ISMAIL et

al., 2011); a unidade de ENERGIA, que é responsável pela autonomia, acionamento

eletroeletrônico, sensores, controle e armazenamento de recursos; e do módulo de

ESTRUTURA que é responsável pelas partes a serem vestidas e manipuladas pelos

usuários, bem como pela interação e adequação à fisiologia humana.

Esta técnica tem o objetivo de levar o aluno ao nível de ativação de uma forma

orientada, ou seja, o aluno escolhe o treinamento que deseja executar e carrega o programa

no módulo de Instrução. Portanto, o Cérebro do aluno utiliza a Interface Neural para

comandar o módulo de instrução-educativa que, por sua vez, executa os programas que

controlam a estrutura do traje inteligente (Figura 5).

Figura 4. Os estados do conhecimento

A realimentação é de causa-efeito, ou seja, o aluno

interpreta os resultados das ordens e as ações que

conduziram o seu próprio corpo e decide as próximas

ações a serem executadas. Considerando-se os conceitos de

programação orientada a objetos, os programas carregados

no módulo de instrução funcionam como programas

auxiliares do cérebro.

A interação do aluno com o sistema ocorre durante

todo o tempo, através dos sistemas biológicos do corpo e das partes artificiais do traje

(MIGUEL et al., 2011). Por exemplo, o aluno dispara o programa que ensina a dedilhar o

violão e observa sua execução, ao mesmo tempo em que captura, interpreta e retém as

ações e sensações, executadas e percebidas com o seu próprio corpo sobre o instrumento.

Trata-se de um instrumento singular em um conceito transhumanista, ou seja,

integra soluções cibernéticas (não invasivas) às partes biológicas, rompendo com a

dicotomia homem-máquina.

A ideia transhumanista, comumente associada ao símbolo “H+”, busca ampliar as

capacidades humanas com o uso da ciência e da tecnologia para aumentar a inteligência, a

longevidade e o bem-estar dos seres humanos. Também busca eliminar o sofrimento

decorrente de deficiências físicas e mentais, da doença, do envelhecimento e da morte

involuntária.

O sistema que auxilia o aluno foi chamado de Próton e inclui os módulos de

Controle, Energia e Estrutura. O nome PRÓTON é uma analogia ao símbolo H+, o

catiônico do átomo de Hidrogênio, designando que esta é uma solução alinhada com as

ideias transhumanistas.

Este projeto utiliza interfaces neurais, polímeros especiais (KUMAR et al., 2007) e

dispositivos óticos para oferecer novas ferramentas de aprendizagem, com benefícios para

a inclusão e melhoria da qualidade de vida dos seres humanos.

Com o apoio da neuroengenharia e da biotecnologia, além de outras tecnologias

emergentes, propõe-se a oferecer uma forma de orientar os movimentos de seres humanos,

visando à instrução educativa para que, assim, o aluno possa reproduzi-la como técnica de

modelagem. Executando os programas de treinamento, o aluno pode alcançar os níveis

cognitivos de ativação nas áreas de interesse, com maior efetividade, conforme descrito

anteriormente.

Instrução

Energia

Estrutura

InterfaceNeural

Figura 5. O fluxo de comando

Trata-se de um traje inteligente, integrado a um sistema de articulação especial, que

pode ser vestido por um ser humano e que permite assim, que ele controle os movimentos

daquelas articulações somente com o pensamento, acionando estruturas eletroquímicas

conectadas a peças leves e resistentes, adaptadas à fisiologia humana (KUMAR et al.,

2007).

Os movimentos do traje também podem responder a programas de treinamento

específicos com o objetivo de oferecer técnicas de modelagem comportamental, segundo

as teorias de aprendizagem inerentes.

O Próton deve proporcionar através do controle mental (MIGUEL, 2010) e da

instrução-educativa, flexibilidade, versatilidade, baixo consumo de energia e leveza. O que

pode ser conseguido com a utilização de materiais com características especiais, como os

polímeros eletro ativos (PEA) para a movimentação dos membros (BAR-COHEN, 2001),

além de tramas resistentes de microfibras de carbono (Figura 6).

O projeto prevê a utilização do protocolo ECOLIG (MIGUEL, 2010), como

linguagem de controle através da interface neural. O desenho mecânico considera

requisitos de mobilidade, durabilidade e flexibilidade. A unidade central de processamento

interpreta códigos de modo a executar instruções educativas de diferentes níveis de

complexidade. Além disso, a solução prevê a utilização de dispositivos óticos e/ou

auditivos, equipados com recursos de realidade aumentada que ampliam as possibilidades

de conectividade e interação com o meio e com outras pessoas, possibilitando até um

treinamento coletivo.

Figura 6. O Próton é um traje inteligente orientado por instruções educativas

O circuito eletrônico é composto de módulos de potência, acionadores, controles,

sensores e recursos para recuperação e redução de consumo de energia. O projeto inclui o

desenvolvimento das partes e sistemas além dos suportes necessários à execução dos

testes.

Conclusões

Na educação são depositadas as esperanças de crescimento da dignidade humana,

além da formação do caráter, da cidadania, do respeito pelos valores e até pelo

desenvolvimento das poesias e das matemáticas, como dizia Herbart. Apesar da história do

ensino e da aprendizagem apresentar um conteúdo considerável, a cada dia percebe-se que

há ainda muito a aprender. O conhecimento tecnológico volta à sua casa, a escola, agora

para ajudar a fortalecer o que deve ser a razão de sua existência, o bem estar da

humanidade. O advento da singularidade, que muitos acreditam, traz uma perspectiva

nova, onde a dicotomia homem-máquina é trocada pela união destes em prol da qualidade

de vida e da prosperidade do ser humano. A técnica de ativação pode ser uma alternativa

interessante de uso destas novas tecnologias em prol do ser humano. A estrutura de ensino

e aprendizagem deve se valer de suas contribuições para uma realimentação virtuosa, para

que as novas demandas possam ser atendidas, para que as eventuais correções sociais e

culturais possam ser efetuadas. A humanidade possui muitas alternativas hoje para atender

às necessidades de vários cientistas do passado que, já sabiam o que precisavam, mas não

tiveram tempo para saber como fazê-lo. Portanto, trabalhar o ensino e a aprendizagem em

etapas, parece ser uma forma inteligente e responsável de se encarar um desafio tão

complexo e importante. O estado de ativação parece ser um bom começo.

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