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POLIMINÓ COMO RECURSO DIDÁTICO NO ENSINO DE MATEMÁTICA NO 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL Joselia Belinovski 1 Leoni Malinoski Fillos 2 RESUMO O ingresso dos estudantes no 6° ano do ensino fundamental é marcado, muitas vezes, pela dificuldade de absorção das ideias, mas também de integração às novas exigências, nem sempre explícitas pela escola, que acabam interferindo no desempenho escolar dos alunos. O lúdico deixa de se fazer presente nas aulas e as atividades de ensino são, em geral, mais abstratas, metódicas e padronizadas, gerando desinteresse e desconforto para alunos e professores. Nessa perspectiva, este projeto teve por objetivo investigar o potencial educativo dos jogos que envolvem poliminós nas aulas de Matemática do 6º ano do ensino fundamental, propiciando aos estudantes atividades lúdicas e dinâmicas a partir das quais eles pudessem participar mais ativamente das aulas, investigando, construindo e discutindo com seus colegas. O projeto foi implementado no segundo semestre de 2015, em uma turma do 6º ano, do Colégio Estadual do Campo Guaraúna, no município de Teixeira Soares (PR). Os resultados indicam que os poliminós representam uma eficiente forma de promover a aprendizagem dos conteúdos matemáticos, tendo em vista que o aluno se envolve mais nas tarefas, desenvolvendo a percepção espacial, a coordenação motora, o raciocínio lógico e o processo de generalização. Palavras-chave: Jogos; lúdico; Poliminó; Recurso Didático INTRODUÇÃO 1 Professora da Rede Pública do Estado do Paraná. Licenciada em Ciências/Matemática, pela Universidade Iguaçu, com pós graduação em Especialização em Instrumentalização para o Ensino de Ciências-Biologia, pela Universidade Estadual do Centro-Oeste; Especialização em Gestão da Educação no Campo, pela Faculdade de Administração, Ciências, Educação e Letras - FACEL. Email: [email protected] 2 Professora do Departamento de Matemática da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO. Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná. Orientadora do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/Matemática.

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POLIMINÓ COMO RECURSO DIDÁTICO NO ENSINO DE MATEMÁTICA NO 6º

ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

Joselia Belinovski1

Leoni Malinoski Fillos2

RESUMO

O ingresso dos estudantes no 6° ano do ensino fundamental é marcado, muitas vezes, pela dificuldade de absorção das ideias, mas também de integração às novas exigências, nem sempre explícitas pela escola, que acabam interferindo no desempenho escolar dos alunos. O lúdico deixa de se fazer presente nas aulas e as atividades de ensino são, em geral, mais abstratas, metódicas e padronizadas, gerando desinteresse e desconforto para alunos e professores. Nessa perspectiva, este projeto teve por objetivo investigar o potencial educativo dos jogos que envolvem poliminós nas aulas de Matemática do 6º ano do ensino fundamental, propiciando aos estudantes atividades lúdicas e dinâmicas a partir das quais eles pudessem participar mais ativamente das aulas, investigando, construindo e discutindo com seus colegas. O projeto foi implementado no segundo semestre de 2015, em uma turma do 6º ano, do Colégio Estadual do Campo Guaraúna, no município de Teixeira Soares (PR). Os resultados indicam que os poliminós representam uma eficiente forma de promover a aprendizagem dos conteúdos matemáticos, tendo em vista que o aluno se envolve mais nas tarefas, desenvolvendo a percepção espacial, a coordenação motora, o raciocínio lógico e o processo de generalização.

Palavras-chave: Jogos; lúdico; Poliminó; Recurso Didático

INTRODUÇÃO

1 Professora da Rede Pública do Estado do Paraná. Licenciada em Ciências/Matemática, pela

Universidade Iguaçu, com pós graduação em Especialização em Instrumentalização para o Ensino de Ciências-Biologia, pela Universidade Estadual do Centro-Oeste; Especialização em Gestão da

Educação no Campo, pela Faculdade de Administração, Ciências, Educação e Letras -

FACEL. Email: [email protected] 2 Professora do Departamento de Matemática da Universidade Estadual do Centro-Oeste –

UNICENTRO. Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná. Orientadora do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/Matemática.

O presente artigo apresenta os resultados de um estudo, inserido no

Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE–2014), cujo objeto de

investigação foi o recurso didático Poliminó e suas potencialidades na abordagem de

conteúdos matemáticos do 6º ano do ensino fundamental.

Ao longo dos anos lecionando nesse nível de ensino, percebo que o ingresso

dos estudantes na segunda fase do ensino fundamental é marcado pela dificuldade

de absorção das ideias e de integração às novas exigências, nem sempre explícitas

pela escola e que interferem no desempenho escolar dos alunos. Em geral, são

estudantes passando por um conflito entre o ser criança e ser adolescente, vivendo

transformações inerentes a este estágio de desenvolvimento.

Esses estudantes ingressam no 6º ano cheios de expectativas, mas também

receosos devidos às mudanças estruturais de ensino. Passam de uma fase escolar

em que tinham apenas um professor e se deparam com uma situação em que ocorre

“rodízio” de professores, por vezes até cinco no período, com um menor tempo de

aula. O lúdico deixa de se fazer presente nas aulas e as atividades de ensino, em

geral, são abstratas, metódicas e padronizadas, gerando desinteresse e desconforto

para alunos e professores.

Pesquisadoras como Araújo (2003), Lopes (2006) e Grando (2000) enfatizam

que nesta fase escolar é preciso que o professor busque incessantemente

alternativas pedagógicas que contemplem um ensino mais dinâmico, atraente e

instigante, resgatando o lúdico e trazendo mais alegria e descontração à sala de

aula. As atividades lúdicas, segundo Grando (2000), são próprias ao ser humano e

as diferentes brincadeiras e jogos representam o que chamamos de cultura lúdica,

que precisa fazer parte do cotidiano escolar (GRANDO, 2000).

Nessa perspectiva, esse projeto buscou inserir diversificadas possibilidades

de aprendizagem nas aulas de Matemática no 6º ano do ensino fundamental, com

abordagem dos conteúdos por meio de atividades lúdicas e dinâmicas, nas quais os

alunos pudessem participar ativamente, investigando, construindo e interagindo com

seus colegas. Elegeu-se para tanto investigar as potencialidades dos jogos

conhecidos como poliminós.

O projeto foi desenvolvido com estudantes do 6º ano do ensino fundamental,

do Colégio Estadual do Campo Guaraúna, localizado em Teixeira Soares (PR), a

partir de ações que possibilitaram a construção, manipulação e investigação de

diferentes tipos de poliminós e a abordagem de diversos conteúdos matemáticos,

como tabuada, geometria e medidas.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

De acordo com Lei de Diretrizes e Bases, Lei n° 9694/96, a Educação

Básica tem por finalidades o desenvolvimento integral do estudante, assegurando-

lhe formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecendo-lhe

meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores (BRASIL, 1996).

Os conhecimentos escolares, nessa perspectiva, devem ser compreendidos

como um conjunto de saberes que a escola seleciona e transforma no sentido de

tornarem passíveis de serem ensinados, ao mesmo tempo que servem de elementos

para a formação ética e política do aluno. Tais conhecimentos devem contribuir para

a formação crítica do estudante e propiciar a compreensão da produção científica,

da reflexão filosófica e da criação artística, oportunizando a formação necessária

para o enfrentamento dos desafios contemporâneos “com vistas à transformação da

realidade social, econômica e política de seu tempo” (PARANÁ, 2008, p. 20).

Sendo assim, a prática pedagógica na escola deve estar fundamentada em

diferentes metodologias, valorizando concepções de ensino, de aprendizagem e de

avaliação que possibilitem aos professores e estudantes conscientizarem-se da

necessidade de uma transformação emancipadora, entendo a escola como o espaço

do confronto e diálogo entre os conhecimentos sistematizados e os conhecimentos

do cotidiano popular (PARANÁ, 2008).

Em relação à Matemática, as Diretrizes Curriculares Estaduais (DCEs)

preconizam que é de fundamental importância que a disciplina seja considerada

como um saber dinâmico, prático e reflexivo e que o estudante se aproprie do

conhecimento de forma que “compreenda os conceitos e princípios matemáticos,

raciocine claramente e comunique ideias matemáticas” (p. 47), reconhecendo suas

aplicações e abordando problemas matemáticos com segurança, a partir de uma

relação dialógica com o professor.

Cabe ao professor, portanto, ser o facilitador da aprendizagem, buscando um

processo de formação em que o estudante desenvolva potencialidades como

argumentação, atitude e análise crítica, fornecendo bagagem para o enfrentamento

das mais diversas situações matemáticas de seu dia a dia. Para tanto,

É necessário que o processo pedagógico em matemática contribua para que o estudante tenha condições de constatar regularidades e generalizações e apropriação de linguagem adequada para descrever e interpretar fenômenos matemáticos e de outras áreas do conhecimento (PARANÁ, 2008, p.49).

Na busca de alternativas que visem à obtenção de melhores resultados na

aprendizagem matemática dos estudantes, têm-se discutido nas últimas décadas,

especialmente a partir de 1988 (ano de fundação da Sociedade Brasileira de

Educação Matemática – SBEM), sobre a inserção de novos métodos de ensino na

disciplina. Em essência, essas novas abordagens têm por objetivo uma

aprendizagem baseada em análises, discussões, investigações e reflexões acerca

dos conteúdos matemáticos, caracterizando um ensino mais instigante e inovador,

não mais centrado apenas na figura do professor, mas no desenvolvimento da

autonomia e do espírito crítico do aluno.

Quando se busca tornar as aulas de Matemática mais atrativas e dinâmicas,

com mais significado para os alunos, surgem práticas inovadoras que se destacam

atualmente como tendências em Educação Matemática.

A pesquisa na Educação Matemática ao longo de sua história apontou

caminhos que podem ser seguidos quando se pretende alcançar mudanças

efetivas no processo ensino-aprendizagem. Estes caminhos passam a se

consolidar como uma tendência, a partir do momento em que sua prática

produz resultados positivos em sala de aula (FLEMMING; LUZ; MELLO,

2005, p. 13).

Assim, as tendências que surgem, tanto no âmbito da educação como na

Educação Matemática, envolvem diferentes abordagens consideradas importantes

quando aplicadas ao processo de ensino. Uma dessas abordagens, que emergiu no

Brasil como tendência a partir das discussões da SBEM, é a metodologia dos jogos,

caracterizada por diversos pesquisadores da área como um recurso pedagógico

relevante nas aulas de Matemática.

A principal finalidade da utilização de jogos é fazer com que os alunos gostem

de estudar a Matemática, despertando o interesse e transformando a rotina da

classe em momentos de alegria e descontração. Também tem a finalidade de

possibilitar que os conteúdos sejam apropriados de uma forma lúdica e prazerosa,

pois, conforme Smole, Diniz e Milani (2007),

Todo jogo por natureza desafia, encanta, traz movimento, barulho e uma certa alegria para o espaço no qual normalmente entram apenas o livro, o caderno e o lápis. Essa dimensão não pode ser perdida apenas porque os jogos envolvem conceitos de matemática. Ao contrário, ela é determinante para que os alunos sintam-se chamados a participar das atividades com interesse (p. 10).

Para a autora, o trabalho com jogos, desde que bem planejado e orientado,

auxilia no desenvolvimento de habilidades como observação, análise, levantamento

de hipóteses, busca de suposições, reflexão, tomada de decisão, argumentação e

organização, as quais estão estreitamente relacionadas ao raciocínio lógico.

Por isso, durante os jogos os alunos são mais atuantes em sala de aula, não

demonstram medo de cometer erros, se tornam mais criativos, demonstram

interesse e autonomia, existindo também uma maior interação entre eles. Sentem-se

também desafiados a superar obstáculos e esforçam-se para obter melhores

resultados (GRANDO, 2000).

Além de ser um objeto sociocultural em que a Matemática está presente, o jogo é uma atividade natural no desenvolvimento dos processos psicológicos básicos; supõe um “fazer sem obrigação externa a imposta”, embora demande exigências, normas e controle No jogo, mediante a articulação entre o conhecido e o imaginado, desenvolve-se o autoconhecimento – até onde se pode chegar – e o conhecimento dos outros – o que se pode esperar e em que circunstâncias. Além disso, os estudantes passam a compreender e utilizar convenções e regras que serão empregadas no processo de ensino e aprendizagem, o que favorece sua integração num mundo social bastante complexo e proporciona as primeiras aproximações com futuras teorizações (BRASIL, 1997, p. 35).

Nesse sentido, as atividades com jogos representam uma forma interessante

de propor problemas ao aluno, pelo seu modo atrativo e pelo favorecimento da

criatividade na elaboração de estratégias do jogo. O jogo tem o potencial de

estimular a aprendizagem de maneira contextualizada e dinâmica, levando em

consideração aspectos como a manipulação e a experimentação. (GRANDO, 2000).

Dentre os jogos destacam-se os poliminós, que são figuras planas formadas

pela justaposição de um número n de quadrados iguais, de maneira que um lado de

um quadrado fica em contato com todo o lado de outro quadrado. Por construção

geométrica, existem poliminós de um quadrado (chamado monominó), poliminó de

dois quadrados (dominó), poliminó de três quadrados (triminós), de quatro

quadrados (tetraminós), cinco quadrados (pentaminós), seis quadrados (hexaminós)

e assim sucessivamente, como os exemplos a seguir:

Monominó Dominó Treminó Tetraminó Pentaminó

Segundo Barbosa e Gandulfo (2013), os poliminós são importantes

ferramentas no ensino da Matemática, especialmente pelo seu caráter motivador.

Seu uso como recurso pedagógico é muito amplo na abordagem de conceitos

geométricos, favorecendo o desenvolvimento do raciocínio lógico, do pensamento

estratégico e da criatividade, bem como da interdisciplinaridade e do trabalho

coletivo e colaborativo em sala de aula.

Por meio dos jogos de poliminós o professor terá oportunidade de

desenvolver uma prática mais ativa e instigante e o aluno novas formas de aprender,

manipulando peças, discutindo com seus colegas, constatando regularidades, enfim

criando e recriando situações matemáticas.

METODOLOGIA

O presente projeto foi realizado no Colégio Estadual do Campo de Guaraúna,

com 22 alunos do 6º Ano A do ensino fundamental, turma da manhã. Os alunos, na

maior parte, são filhos de agricultores da área rural do munícipio de Teixeira Soares.

A metodologia utilizada fundamenta-se nos pressupostos da pesquisa

qualitativa, de caráter interpretativo, pois “engloba a ideia do subjetivo, passível de

expor sensações e opiniões" (BICUDO, 2006, p. 106). Além de registrar, analisar e

interpretar os fenômenos, a intenção foi identificar os fatores que determinaram ou

contribuíram para a ocorrência dos fenômenos, neste caso, os fatos e experiências

dos estudantes relacionados à exploração dos poliminós.

O material de apoio para a implementação do projeto foi a Unidade Didática,

produzida no segundo período da participação no Programa de Desenvolvimento

Educacional (PDE). Esta Unidade é constituída de cinco partes que buscam,

respectivamente, possibilitar o reconhecimento de poliminós, a compreensão do

processo da tabuada, a compreensão de conceitos geométricos, a comparação de

unidades de medidas e o desenvolvimento do raciocínio lógico por meio de jogos e

atividades online na internet.

Os dados foram coletados a partir da observação direta da turma

(comentários, atitudes e questionamentos dos alunos), anotações em diário,

registros das atividades escritas realizadas e questionário de avaliação da proposta,

realizado com os alunos.

Paralelamente à implementação na escola, houve o compartilhamento do

Projeto de Intervenção Pedagógica com um grupo de professores da rede pública

de ensino, o Grupo de Trabalho em Rede (GTR) que, de forma virtual, colaborou na

análise do projeto e do material didático, bem como de sua pertinência para a

Educação Básica, registrando comentários e analisando os resultados obtidos.

Participaram do GTR nove professores, de distintas regiões do Paraná. As

discussões ampliaram os conhecimentos teórico-metodológicos a respeito de

materiais didáticos no ensino de Matemática e, por consequência, oportunizaram

melhor direcionamento à implementação do projeto na escola.

A seguir são apresentados e discutidos os resultados referentes às atividades

desenvolvidas, à luz de referencial teórico e das contribuições dos professores

participantes do GTR.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Iniciei a implementação na escola apresentando o projeto de intervenção aos

alunos, motivando-os e dizendo que iriam fazer uma experiência diferente no

colégio, sendo privilegiados como primeira turma a utilizar um material

exclusivamente produzido durante o PDE.

Convidei-os, então, para irem até a biblioteca da escola para dar início às

atividades. Senti grande empolgação da turma, por se tratar de um ambiente em

geral pouco utilizado na disciplina de Matemática. Chegando lá, onde tudo já estava

preparado, com os slides e materiais expostos para serem visualizados, percebi a

expectativa nos olhares dos alunos e a ansiedade em querer visualizar, manipular e

saber de que material se tratava.

Pedi a eles, então, que buscassem no dicionário o significado das palavras

dominó, poliminó e pentaminó e socializassem com os colegas as definições

encontradas. Percebi que estavam curiosos e ansiosos para começar o trabalho e

conhecer o material ali exposto. Logo perceberam que se tratava de jogos e

associaram os diferentes tipos com o dominó tradicional, que todos já conheciam.

Em seguida, por meio de apresentação de slides, os alunos puderam

conhecer os poliminós, quando foram criados e suas diferentes variações. Durante a

apresentação, fizerem diversos questionamentos sobre como era feito, do que era

confeccionado e se cada um iria receber o seu material. Disse a eles que não iria dar

pronto, pois cada um iria confeccionar o seu próprio material.

Apresentei logo após as distintas variações dos poliminós, confeccionados

com diferentes materiais, como papel cartão, madeira, E.V.A e pastilhas de vidro

(usada em revestimento de paredes), explicando as particularidades de cada uma

das peças. Os alunos passaram a manusear os materiais e explorar suas diferenças,

usando a criatividade para montar e desmontar figuras planas.

Essas atividades iniciais tiveram a duração de duas aulas, porém, segundo os

alunos, “não vimos o tempo passar”, tamanho foi o envolvimento da turma. A alegria

estava estampada nos rostos dos alunos, que manipulavam as peças com interesse,

trocavam ideias com os colegas e ativamente buscavam sanar suas dúvidas com a

professora. Ao término da aula, os alunos pediram para que a outra professora

cedesse sua aula, pois queriam continuar com a aula de poliminós.

Percebeu-se claramente que o material concreto é uma forma de dinamizar o

ensino e mobilizar os alunos para a aprendizagem, sendo uma maneira mais fácil e

palpável de apresentar os conteúdos. Representa também “uma atividade lúdica

que promove o desenvolvimento cognitivo da criança” [...], bem como “o senso

crítico e investigador” (Profª.Maria Catarina – GTR 2015).

Para Fiorentini e Miorim (1990), os materiais concretos como recursos de

ensino promovem um aprender significativo no qual o aluno é estimulado a

raciocinar, incorporar soluções alternativas acerca dos conceitos envolvidos nas

situações e, consequentemente, aprender. A Matemática, a partir da utilização de

material concreto, torna as aulas mais interativas, assim como incentiva a busca, o

interesse, a curiosidade e o espírito de investigação, instigando os alunos na

elaboração de perguntas, desvelamento de relações, criação de hipóteses e a

descoberta das próprias soluções.

Na aula seguinte, os alunos construíram seus próprios pentaminós numa

malha quadriculada, depois recortaram e encaixaram as peças das mais variadas

formas, explorando assim as várias possibilidades de formação de figuras planas

com poliminós ou pentaminós, como mostra a figura a seguir:

Fig. 1: Atividade realizada pela Aluna Graziela (arquivo da autora)

Nas atividades seguintes, dispostos em dupla, individualmente ou em equipe,

os alunos desenvolveram atividades montando e desmontando os pentaminós com

as variações e rotações das peças, feitas em acrílico e em E.V.A. A empolgação dos

alunos, seus questionamentos e envolvimento na aula, foi estimulante para a

continuidade do projeto e permite afirmar que os poliminós são recursos potenciais

para o ensino e a aprendizagem de diversos conteúdos matemáticos. Conforme

salienta Lorenzato (1998),

Os poliminós possibilitam o estudo de questões relacionadas à Geometria, à Aritmética, e à Análise Combinatória. Também desenvolvem a percepção espacial, o raciocínio lógico, a generalização e o senso estético. Seu emprego é eficiente na compreensão e na exploração de conceitos de semelhança, simetria, perímetro e área. O material favorece ainda o desenvolvimento dos processos de classificação, ordenação e descoberta de padrões. A construção das diversas formas possíveis para cada tipo de poliminó conduz o aluno de um critério inicial de tentativas aleatórias para um critério (p.53).

Para o desenvolvimento da 2ª parte do projeto, inicialmente em equipes, os

alunos pesquisaram no dicionário o significado das palavras linha, coluna, horizontal

e vertical. Após a socialização dos significados, foram explorados exemplos do

cotidiano que estão dispostos nos formatos das palavras pesquisadas.

Em seguida, construíram um quadro seguindo o passo a passo, conforme a figura a seguir:

Fig. 2: Atividade do Material Didático

Além dos conceitos de linha e coluna, foi retomada a multiplicação, mais

especificamente a ideia da tabuada, a partir do recorte e montagem de diversos

retângulos com as peças dos poliminós, tipo 6 x 5; 4 x 8, 9 x 7, etc. Os alunos

montaram retângulos com área de 60 quadrinhos, utilizando o material feito em

pastilhas de vidro, e realizaram operações com divisores de 60, conforme indicam as

figura 3 e 4:

Fig. 3: Atividade realizada pela Aluna Graziela (arquivo da autora)

Fig. 4: Atividade realizada pela Aluna Graziela (arquivo da autora)

Foi possível constatar que as dificuldades dos alunos do 6º ano em relação à

tabuada e às operações de multiplicação e divisão advém da falta de compreensão

da ideia que envolve tais conceitos. Segundo Nunes et. al. (2001, p. 171), “a

aprendizagem escolar da multiplicação e divisão está muito mais centrada sobre o

ensino dos algoritmos do que sobre o desenvolvimento conceitual.” Os alunos, em

geral, somente aplicam mecanicamente os algoritmos tradicionais, sem saber o

porquê de cada etapa realizada e sem realizar uma reflexão sobre os conceitos

envolvidos, o que gera dificuldade de assimilação e de generalização do processo.

Para as autoras, o essencial no ensino dessas operações “é trabalhar com situações

que promovam a compreensão e o uso da propriedade distributiva dessas

operações” (NUNES, 2001, p.168).

Nesse sentido, os poliminós representam importantes ferramentas

pedagógicas, uma vez que possibilitam a experimentação, a percepção visual e a

compreensão da ideia de distribuição entre os termos, também o desenvolvimento

do raciocínio lógico, a investigação e o processo de abstração dos conceitos.

Para a Professora Mariana, participante do GTR – 2015, ao se propor os

jogos de poliminós, “o professor tem a oportunidade de criar um ambiente na sala de

aula em que os recursos da comunicação estejam presentes, propiciando momentos

como: apresentações, trocas de experiências, discussões, interações entre alunos e

professor, com vistas a tornar as aulas mais interessantes e desafiadoras”.

Tais atitudes puderam ser observadas também ao se abordar o conteúdo

frações por meio dos poliminós. Em uma das aulas, ao manusear os materiais e

observar o retângulo formado pelas doze variações de pentaminós, Erick, um

menino bastante tímido da turma, me chamou em particular e fez o seguinte

questionamento: Do todo de 60 quadradinhos, formado por 12 cores, se eu quiser

tirar 3 cores, vou tirar 15 partes do todo? Como posso tirar mais do que tenho se

tenho só doze?

Fig. 5: imagem constante do material didático

Nesse momento, seu colega Jonas, entendendo suas dúvidas, interveio e

explicou: Você tem que ver que cada cor tem cinco quadradinhos, então são 15

quadradinhos e o todo, em quadradinhos, são sessenta. Já a colega Suelen, que se

juntou aos dois na discussão, disse que poderiam trabalhar apenas com as cores e

explicou o que Erik quis me dizer: “Ele quer dizer que as três cores são parte do todo

das doze cores”. Ou seja, o todo são 60/60; as doze cores são 12/12. Três cores

representam, portanto, 3/12, isto é, 15/60.

Pedi então os três alunos fossem até a carteira dos colegas e explicassem o

que tinham acabado de concluir, ou seja, que a unidade poderia ser tomada de duas

formas: como uma parte em sessenta (1/60) ou pela cor (5/60 = 1/12).

Houve, portanto, em sala de aula um processo dialógico, de troca de ideias e

de colaboração, que são atitudes bastante frutíferas para a construção de saberes.

Conforme salienta Grando (2008, p. 26),

No jogo, determinam-se regras, muitas vezes, definidas pelo grupo de jogadores, na busca de estabelecer uma “lógica de ação” e movimentação dos elementos do jogo. Esse elemento apresenta-se como uma atividade dinâmica e de prazer; desencadeada por um movimento próprio, desafiando e motivando os jogadores à ação. A socialização propiciada por tal atividade não pode ser negligenciada, na medida em que a criação e o cumprimento de regras envolvem o relacionar-se com o outro que pensa, age e cria estratégias diferenciadas (GRANDO, 2008, p. 26).

Na 3ª parte do projeto, Geometria dos Poliminós, foram trabalhados conceitos

de ponto, reta, plano, segmento de reta, semirreta, vértices, perímetro e área de

polígonos.

Inicialmente, os alunos elaboraram um desenho para localização de sua

residência, ou um ponto de referência qualquer, com o objetivo de obter

representações de retas paralelas, concorrentes, oblíquas e perpendiculares.

Fig.6: Atividade realizada pela Aluna Graziela (arquivo da autora)

Em seguida, foi proposto que trabalhassem na manipulação do material

concreto feito pastilhas de acrílico, E.V.A, madeira e papel cartão e comparassem

com as lajotas de uma das parede do colégio e do piso da sala de aula, formando

diferentes variações de poliminós e explorando conceitos matemáticos,

principalmente perímetro e área.

Fig. 7: Desenvolvimento de atividades pelos alunos (arquivo da autora)

Para finalizar, foi trabalhado ainda o conceito de unidade de medida, depois

as medidas padronizadas - metro e seus múltiplos e submúltiplos. Os alunos fizeram

ainda a montagem de uma peça de pentaminó escolhida por eles e demonstraram a

mesma peça contornando na parede, no piso e no caderno, obtendo, em seguida o

perímetro e a área. Cada aluno pode perceber quantas vezes cada peça aumentou

de tamanho, em proporção.

Fig. 8: Desenvolvimento de atividades pelos alunos (arquivo da autora)

Todas as atividades foram realizadas com muito interesse e empenho dos

estudantes, que interagiram entre si, discutindo, trocando ideias e ajudando-se

mutuamente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando o professor percebe que está nele a responsabilidade maior de

mobilizar e instigar a aprendizagem, em fazer com que o aluno busque novos

saberes, ele próprio passa a ser mais valorizado no processo de ensino e

aprendizagem e torna-se muitas vezes marcante na vida de um aluno.

Comumente os alunos veem a Matemática como uma disciplina difícil, pronta

e acabada, sem espaço para ser criada. Esta visão distorcida tende a gerar aversão

ao estudo dos conteúdos e a percepção de que é uma disciplina sem utilidade,

destinada para poucos considerados inteligentes.

Este projeto teve a intenção de desmistificar o ensino da Matemática,

mostrando a importância da aprendizagem dos conteúdos e que todos, sem

exceção, podem aprender e aprender de maneira instigante e prazerosa, com a

exploração do lúdico e da experimentação.

Todas as atividades propostas na implementação do projeto foram muito bem

aceitas pela turma, que demonstrou interesse, envolvimento e empenho na

resolução das atividades. Os alunos estabeleceram entre si um processo dialógico

de busca de saberes, com destaque nas aulas para a discussão, ajuda mútua e

participação, sejam nas atividades individuais, em duplas ou equipes. A

organização do trabalho se deu de maneira harmoniosa, pois aqueles que tinham

facilidade de compreensão das tarefas ajudavam prontamente aos que

necessitavam.

Constatou-se que os poliminós, além de possibilitarem o estudo de uma

diversidade de conteúdos envolvendo a Geometria e a Aritmética, desenvolvem a

percepção espacial dos estudantes, coordenação motora, raciocínio lógico e

generalização. Representam, assim, uma eficiente forma de promover a

aprendizagem dos conteúdos matemáticos do 6° ano, tendo em vista que o aluno se

envolve mais nas tarefas e resolve as atividades com satisfação, tornando a sala de

aula um ambiente dinâmico e investigativo.

Concluo este estudo com a certeza de que precisamos sempre inovar em

nossa prática docente e proporcionar aos alunos novas formas de aprender. Espero

que esse trabalho sirva de inspiração para outros professores e abra perspectivas

para novas pesquisas sobre as potencialidades dos jogos, particularmente dos

poliminós.

REFERÊNCIAS

BICUDO, M. A. V. Pesquisa Qualitativa e pesquisa qualitativa segundo a abordagem fenomenológica. In: BORBA, M. C.; ARAÚJO, J. L. Pesquisa Qualitativa em Educação Matemática. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. (Coleção tendências em Educação Matemática), p. 101-114. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em 20/08/ 2015.

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