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POLÍTICA DE INCLUSÃO SOCIAL DA UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO  SOB O OLHAR DOS ALUNOS COTISTAS Bruno de Oliveira Jardim Pedrosa Catarina Laíse da Costa Braz Mayara de Alencar Alunos da Escola Superior de Educação Física - ESEF Maria Bernadete Leal Campo Professora da Escola Superior de Educação Física - ESEF RESUMO Este estudo tem como escopo conhecer as condições nas quais se encontram os alunos beneficiados pelo sistema de cotas da Universidade de Pernambuco (UPE), pioneira na adoção desta política no Estado. O trabalho consiste em uma comparação entre os primeiros cotistas, ingressantes em 2005.1 e os novos estudantes de 2008.1. do campus Santo Amaro em Recife; com uma amostra formada por 71 universitários cotistas. Pretendeu-se identificar o perfil socioeconômico; nível de satisfação com a universidade, curso, componentes do âmbito universitário, e com o próprio veículo promotor do ingresso na academia, bem como seu percentual oferecido; identificar seu vínculo com o mercado de trabalho e anseios profissionais. Encontrou-se, apesar da diferença entre os períodos, uma realidade bastante semelhante entre os estudantes. Uma verossimilhança no perfil de ambas as amostras já era esperada, visto que as origens socioeconômicas são equivalentes; 94,4% dos entrevistados têm renda entre um e sete salários mínimos e, devido ao maior vínculo com o mercado de trabalho, 35,7% dos alunos do sétimo período contribuem com a renda mensal, ao passo que 90,7% dos alunos do segundo período não exercem nenhuma atividade. Entretanto, constataram-se as mesmas dificuldades e visões sobre o sistema de cotas. Houve ainda, no decorrer do curso, uma diminuição no nível de satisfação com os itens avaliados – poucos são os alunos do sétimo período muito satisfeitos -, embora este decréscimo não tenha interferido, consideravelmente, no reconhecimento das cotas como fundamental para ingresso ao ensino superior gratuito e de qualidade. Verificou-se, na trajetória dos estudantes do sétimo período, uma participação de 57,1% em pesquisas. Não obstante, este envolvimento ocorre um tanto tardiamente, pois 81,4% dos novos cotistas declararam não ter participado de pesquisa. A escolha do curso deu-se majoritariamente por afinidade (88,7%), uma provável explicação para o fato de muitos estarem satisfeitos com as notas, além de não encontrarem maiores dificuldades com o conteúdo programático. Entre os alunos do sétimo período, 75% declararam que o curso atende suas expectativas. Os alunos, no entanto, permanecem sem auxílio para custear os gastos diários e comuns no meio acadêmico, impedindo a conclusão do curso por grande parte deles. INTRODUÇÃO A Universidade de Pernambuco, antes denominada FESP – Fundação do Ensino Superior de Pernambuco, instituição de direito público responsável pelas faculdades estaduais desde 1965 - completou 18 anos de existência como universidade. Reconhecida a partir de 1991, através da Lei Estadual nº. 10.518, de 29 de novembro de 1990, atualmente oferece 3.480 (três mil, 

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POLÍTICA DE INCLUSÃO SOCIAL DA UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO SOB O OLHAR DOS ALUNOS COTISTAS

Bruno de Oliveira Jardim PedrosaCatarina Laíse da Costa BrazMayara de Alencar Alunos da Escola Superior de Educação Física ­ ESEF Maria Bernadete Leal Campo Professora da Escola Superior de Educação Física ­ ESEF

RESUMOEste   estudo   tem   como  escopo   conhecer   as   condições   nas   quais   se   encontram  os   alunos beneficiados pelo sistema de cotas da Universidade de Pernambuco (UPE), pioneira na adoção desta política no Estado. O trabalho consiste em uma comparação entre os primeiros cotistas, ingressantes em 2005.1 e os novos estudantes de 2008.1. do campus Santo Amaro em Recife; com uma amostra   formada por  71 universitários  cotistas.  Pretendeu­se  identificar  o  perfil socioeconômico;   nível   de   satisfação   com   a   universidade,   curso,   componentes   do   âmbito universitário,  e  com o próprio veículo  promotor  do ingresso na academia,  bem como seu percentual   oferecido;   identificar   seu   vínculo   com   o   mercado   de   trabalho   e   anseios profissionais.  Encontrou­se,  apesar  da  diferença  entre  os  períodos,  uma realidade  bastante semelhante entre os estudantes. Uma verossimilhança no perfil de ambas as amostras já era esperada, visto que as origens socioeconômicas são equivalentes; 94,4% dos entrevistados têm renda entre um e sete salários mínimos e, devido ao maior vínculo com o mercado de trabalho, 35,7% dos alunos do sétimo período contribuem com a renda mensal, ao passo que 90,7% dos alunos do segundo período não exercem nenhuma atividade.  Entretanto,  constataram­se as mesmas dificuldades e visões sobre o sistema de cotas. Houve ainda, no decorrer do curso, uma diminuição no nível de satisfação com os itens avaliados – poucos são os alunos do sétimo   período   muito   satisfeitos   ­,   embora   este   decréscimo   não   tenha   interferido, consideravelmente, no reconhecimento das cotas como fundamental para ingresso ao ensino superior gratuito e de qualidade. Verificou­se, na trajetória dos estudantes do sétimo período, uma participação de 57,1% em pesquisas. Não obstante, este envolvimento ocorre um tanto tardiamente,  pois  81,4% dos novos cotistas  declararam não ter  participado de pesquisa.  A escolha do curso deu­se majoritariamente por afinidade (88,7%), uma provável  explicação para o fato de muitos estarem satisfeitos com as notas,  além de não encontrarem maiores dificuldades   com   o   conteúdo   programático.   Entre   os   alunos   do   sétimo   período,   75% declararam que o curso atende suas expectativas.  Os alunos, no entanto,  permanecem sem auxílio para custear os gastos diários e comuns no meio acadêmico, impedindo a conclusão do curso por grande parte deles. 

INTRODUÇÃOA Universidade de Pernambuco, antes denominada FESP – Fundação do Ensino Superior de Pernambuco, instituição de direito público responsável pelas faculdades estaduais desde 1965 ­ completou 18 anos de existência como universidade. Reconhecida a partir de 1991, através da Lei Estadual nº. 10.518, de 29 de novembro de 1990, atualmente oferece 3.480 (três mil, 

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quatrocentos e oitenta) vagas distribuídas por vinte e quatro cursos de graduação difundidos por diversas regiões do estado. Sabe­se que  a  universidade  está  voltada  para  a  produção de  conhecimentos,  discussões  e debates. Além disso, compete à instituição, formar novos profissionais, técnicos e intelectuais de nível  superior,  para atender  as  crescentes  demandas  sociais;  e  fornecer  condições  para efetivação de transformações, no âmbito econômico, político, tecnológico e cultural. Deverá, por conseguinte, contribuir para a erradicação das desigualdades sociais através de progressos nas diferentes áreas, as quais serão apropriadas pela sociedade, quer para sua manutenção, quer para sua modificação. O   presente   estudo   tem   como   alvo   os   alunos   beneficiados   pelo   sistema   de   cotas   da Universidade de Pernambuco. Aprovada pelo Conselho Universitário (CONSUN) em reunião realizada  no dia  27 de   julho de 2004,  e  alterada  pela  Resolução Nº.  006/2007,  a  medida determina que 20% das vagas de todos os cursos de graduação serão destinadas aos alunos oriundos de escolas públicas da rede municipal e estadual, de Pernambuco, onde deverão ter cursado o ensino médio inteiramente e em regime regular. A declaração para concorrer ao percentual   reservado   às   cotas   deverá   ser   efetuada  no   ato   da   inscrição,   não   sendo   aceita posteriormente.  O candidato deverá  comprovar as condições exigidas em locais  e horários descritos no Manual do Vestibular. Para abordar o sistema de cotas é necessário fazer referência às políticas de ação afirmativa visando   à   igualdade   dos   desiguais.   Ação   afirmativa,   também   denominada   Política Compensatória de Discriminação, é aquela que favorece minorias socialmente inferiorizadas e excluídas da eqüidade no acesso às oportunidades, para alcançar a igualdade. Pode ser tanto de ordem pública como privada, de caráter temporário ou compulsório, que visa combater a discriminação   racial,  de  gênero,  de  classe   social,  de   credo  e  de  origem nacional.  É  uma questão bastante delicada, pois não convém excluir os demais, em função da inclusão de uns. O liberalismo clássico afirmava que a Igualdade de oportunidade é possível mediante a igual atribuição   dos   direitos   fundamentais   ‘à   vida,   à   liberdade   e   à   propriedade’.   Abolidos   os privilégios e estabelecida a igualdade de direitos, não haverá tropeços no caminho de ninguém para a busca da felicidade, isto é, para que cada um, com sua habilidade, alcance a posição apropriada à sua máxima capacidade. (BELLONI, 2003, p.456). Com aparato destes estudos de políticas compensatórias, especialmente no sistema de cotas, o projeto   aponta   para   uma   avaliação   sobre   a   realidade   acadêmica   dos   alunos   cotistas   da Universidade  de Pernambuco;  sua  integração com os  demais  agentes  do meio acadêmico; nível de satisfação e  expectativas em relação à  universidade,  bem como suas perspectivas profissionais e vínculo com mercado de trabalho. De acordo com dados coletados entre os primeiros   alunos   cotistas   inseridos   no   quadro   discente   em   2005.1,   pretende­se   uma comparação com os novos alunos, ingressantes em 2008.1.O interesse  em abordar  a  questão deve­se ao fato de ser  um acontecimento  recente  nesta instituição, na qual ainda não há cotistas graduados; assim como no nosso Estado, visto que é a   primeira   universidade   em   Pernambuco   a   adotá­lo   –   daí   seu   caráter   inovador.   Carece, portanto,   de   estudos   sobre   a   situação   desses   alunos   provenientes   de   uma   realidade socioeconômica  distinta  da  grande  maioria  que   integra  o  quadro  discente  da  UPE,  e  que conseguiram chegar  à   universidade   através   de  uma  medida   também  diferenciada.  Assim, espera­se contribuir para o entendimento da situação desses estudantes em seus respectivos cursos.  A problemática central do estudo possibilitará uma análise sobre as reais condições do sistema de cotas sob a visão dos próprios beneficiados, permitindo uma leitura crítica­reflexiva sobre 

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as mudanças ocorridas em benefício dos estudantes, constatando o que precisa ser modificado e/ou acrescentado para que eles consigam concluir o ensino superior. Tem como finalidade compreender   a   validade,   impacto   sócio­educacional   e   representatividade  do   tão  polêmico sistema de cotas. De modo específico, a pesquisa objetivou analisar a integração desses alunos na universidade; sua   satisfação   com o   curso;   desempenho   acadêmico;   perspectiva  profissional,   bem como identificar vínculo com o mercado de trabalho. Quanto maior o conhecimento acerca destes alunos, maior a capacidade de aprimoramento funcional do sistema de cotas da Universidade de Pernambuco. Entretanto,  falar em políticas de ação afirmativa, sobretudo em relação ao sistema de cotas universitárias, requer uma abordagem também sobre a universidade como um todo.

A UNIVERSIDADEA   primeira   universidade   brasileira   foi   instituída   por   decreto   em   1920.   Era   meramente profissionalizante,  elitista  e  alheia  às  necessidades  da maioria  da população,  além de não incentivar o desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Até meados de 1960, suas funções eram de “transmissão da cultura; ensino de profissões; investigação científica e educação dos novos homens de ciência”,  caracterizando­se como Instituição Social.  A partir  do final da década de 60, os “três fins principais da universidade passaram a ser a investigação, o ensino e a prestação de serviços” (OLIVEIRA et al, 2006, p.9). Hodiernamente, as instituições de ensino superior têm diferentes finalidades, elas estimulam o pensamento cultural, reflexivo e científico; o desejo de expandir os conhecimentos por meio da prática  de pesquisas;  promove a extensão;  e oferece serviços à  comunidade através  de programas e projetos universitários. Inclui­se também, na sociedade capitalista, a função de formar profissionais para atender as necessidades do mercado de trabalho, assumindo assim, um papel pragmático e funcional.  Ao longo dos anos, sociedade e universidade sofreram várias transformações, e agora esta “tem não só o dever, mas também a responsabilidade social de reproduzir sua pesquisa, de forma   aberta,   a   toda   a   sociedade”.   (KUNSCH,   1992,   p.27).   A   universidade   pressupõe, portanto, qualificação profissional, investigação científica e tecnologias que o país necessita para um desenvolvimento favorável às mudanças sociais. Certamente, as instituições abrigam contradições geradas na sociedade, decorrentes de interesses dos distintos grupos sociais, em correlações de forças que geram crises, caracterizando os diferentes momentos históricos na qual se insere. Para Santos, há idéias­mestras que pautam o acesso à universidade, como: A universidade pública deve permanecer gratuita e aos estudantes das classes trabalhadoras devem   ser   concedidas   bolsas   de   manutenção   e   não   empréstimos.   [...]   Nas   sociedades multinacionais   e   pluri­culturais,   onde   o   racismo,   assumido   ou   não,   é   um   facto,   as discriminações raciais ou étnicas devem ser confrontadas enquanto tal como programas de acção afirmativa (cotas e outras medidas) que devem visar, não só o acesso, como também o acompanhamento, sobretudo durante os primeiros anos onde são por vezes altas as taxas de abandono (2005, p.68­69). Mesmo com todas as mudanças, a universidade permanece elitista. No intuito de torná­la mais acessível   foi   criado   o   Sistema   de   Cotas,   como   tentativa  de   transformar   essa   realidade excludente   na   universidade   brasileira.   Todavia,   não   é   modificando   somente  o   ápice   do problema que a educação brasileira progredirá. É preciso promover mudanças nas estruturas de   base   da   educação   nacional.   Sabe­se   que   as   condições   socioeconômicas   pesam negativamente   na   educação  brasileira,   o   que   contribui   para   que   cerca   de  21   milhões   de 

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pessoas, entre 25 e 64 anos de idade nunca tenham ido à  escola. A população de 15 anos representa  13,3% dos  analfabetos  nesta   faixa  etária   (IBGE,  2000).  No setor  de  educação básica, há uma evasão alta, provocada por alguns motivos, tais como necessidade de ajuda na renda   familiar,   localização   que   dificulta   o   acesso,   precariedade   das   instalações   e   dos equipamentos, assim como nível dos professores. Entretanto, para a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), há redução na taxa de analfabetismo e crescimento no acesso ao ensino superior. O número de estudantes nas universidades   e   faculdades  do  país  vem aumentando,   com a   inclusão  dos  estudantes  das camadas C e D; o acesso não mais se restringe as duas primeiras camadas sociais.  Belloni (2003), por sua vez, ainda considera baixo o percentual de universitários na faixa de 17 a 24 anos  no  Brasil.  A  sociedade  necessita  de  uma  reforma universitária  que  atenda  aos   seus interesses, com um novo acordo de clareza entre o papel e a missão do ensino superior diante dos seus objetivos e interesses para o desenvolvimento econômico e social.

SISTEMA DE COTASSão duas as origens das desigualdades socioeconômicas: herança e oportunidades sociais. Há fatores que levam à exclusão de indivíduos, dificultando ou impossibilitando a mobilidade social a partir de uma questão básica que é o acesso à escolaridade. Forma­se uma corrente que funciona como uma herança, ou seja, a escolaridade dos pais determina a escolaridade de seus filhos. No Brasil o acesso à universidade ainda é pequeno, já que “apenas cerca de 13% dos jovens entre 18 e 24 anos freqüentam cursos de nível superior”. (BELLONI, 2003, p. 461).É   evidente   que   o   Brasil   precisa   de   uma   política   de   educação   superior   voltada   para   o desenvolvimento   científico­tecnológico   e   comprometida   com   uma   sociedade democraticamente igualitária. Segundo Campos (2008), a política de cotas introduz ações que favoreçam a igualdade de oportunidades educacionais no acesso à universidade, devendo estar associado   a   um   programa   de   apoio   financeiro   e   acompanhamento   acadêmico,   o   que possibilitará a permanência do estudante até a conclusão do curso. Vale salientar que políticas compensatórias não resolvem todos os problemas sociais e raciais, mas poderão reverter  algumas tendências  injustas na estrutura social  e cultural  do país.  É preciso quebrar a “lógica” da igualdade quando de fato esta não há, e implementar o princípio da isonomia que é o fundamento jurídico e filosófico da ação afirmativa. O  Sistema  de   cotas   tem  origem na   Índia,   cujo  pioneirismo  na   adoção  dessa  política  foi instituído desde a sua Constituição de 1950, e até  hoje favorece a casta mais baixa – “os intocáveis”. Em 1960, de acordo com Frazão (2007), os Estados Unidos adotaram as ações afirmativas   (affirmative   actions   policies),   promovendo   a   diminuição   das   diferenças   entre negros   e   brancos   através   do   ingresso   dos   afro­descendentes   nas   instituições   de   ensino superior. Na sociedade norte americana, “o repúdio é total a tudo o que vem dos negros; aqui, quase todos, mesmo os racistas, encantam­se com o que se considera ter vindo da África” (KAMEL, 2006, p. 22). No Brasil, continua o jornalista e cientista social, há relacionamentos inter­raciais sem barreiras institucionais. A importação das políticas afirmativas étnicas traz a solução de um problema com formato alheio  à   nossa   sociedade.  É   inegável   a   existência  da  discriminação   racial  no  nosso  país; entretanto,   sua  presença  é  minoritária   e  não­declarada,  uma vez  que  a  própria   sociedade condena sua prática. A democracia racial, há tempo defendida por Freyre (2006), identifica o papel  fundamental  do negro na formação da identidade  nacional.  A mestiçagem do nosso povo remota ao período colonial, sobre o qual a sociedade brasileira consubstanciou­se. 

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Ainda que as cotas raciais não sejam consideradas inconstitucionais, as cotas sociais são mais apropriadas no caso do Brasil. É notória e indubitável a defasagem educacional da população negra; bem como coerente as suas reivindicações em defesa das cotas raciais, entretanto, para Bello “há de se reconhecer que o critério mais preciso para delinear as minorias discriminadas e sem acesso ao ensino superior gratuito é o sócio­econômico”. (2005, p. 47).A   nossa   sociedade,   na   verdade,   tem   preconceito   contra   os   pobres   –   “classismo”.   A discriminação decorre da classe social  a qual  o sujeito  pertence,  esta  é  a nossa realidade. Embora ocorra universalmente, o Brasil possui características bastante peculiares. A pobreza brasileira reveste­se da ignorância, falta de acesso à educação e informação; tornando­se mais ostensiva do que em outros países, pela ausência de instrução e conhecimento dos direitos.A   preocupação   é   que   as   políticas   de   cotas   raciais   jamais   eliminarão   as   bases   de   um preconceito que não é racial, mas social. Ao contrário, as cotas poderão criar no Brasil um racismo  que   até   aqui   não   conhecíamos.  Entre   os   pobres,   cor   não  é   nem  privilégio  nem demérito de ninguém (KAMEL, 2006, p.104).Ademais,   caberia  às   cotas   raciais  o  preenchimento  das  vagas   reservadas  “pelos  negros   e pardos   privilegiados   economicamente   advindos   da   rede   particular   de   ensino   médio   e fundamental,  na  qual   receberam maior  grau  de  conhecimento”   (BELLO,  2005,  p.  46).  A Universidade de Pernambuco não contempla diretamente a questão racial. A origem étnica é utilizada apenas como critério de desempate. Os defensores do sistema alegam que as cotasSão   um   instrumento   para   inclusão   social   a   ser   inserido   em   um   planejamento   de   ações integradas que unam as possibilidades de universalidade e diversidade, a partir do princípio de que a educação é um direito de todos (FRAZÃO, 2007, p. 45­46).O ideal seria uma renovação no ensino público que garanta condições para uma concorrência igualitária  com os estudantes  egressos da rede de ensino privada.  Todavia,   isto  implicaria numa   modificação   da   sociedade   brasileira,   essencialmente   excludente   e   injusta   com   as minorias sócio­econômicas, conclui a autora. Seu caráter temporário, como solução imediata para antigos problemas, deverá estar paralelamente acompanhada de uma transformação de natureza ôntica na sociedade. Caso contrário, o Brasil estará fadado ao destino dos demais países que também adotaram as políticas. Para Kamel, o país não será exceção, porquanto Livrar­se  das  cotas   será  uma  tarefa  praticamente   impossível  numa democracia  de  massas como   a   nossa,   em   que   a   pressão   de   grupos   organizados   é   decisiva   na   eleição   de   um parlamentar ou mesmo um presidente (2006, p. 90).O  sistema educacional  brasileiro   reproduz  a  dominação   socioeconômica  de  uma pequena parcela  da  população,  detentora  de   todo  poder,   em detrimento  da  maioria,   cujo  acesso  à educação   básica   e   superior   é   negado.   O   ensino   público   de   nível   fundamental   e   médio, portanto, é precário tanto quantitativa quanto qualitativamente em relação à rede particular, o que   reflete  na   inacessibilidade  dos  alunos  de  pouco poder   aquisitivo  ao  nível   superior  – tornando­o restrito às classes dominantes. O Brasil vem utilizando­se das cotas para ingresso no ensino universitário como alternativa emergencial, impedindo uma reprodução, no âmbito acadêmico, das diferenças existentes na sociedade enquanto se procuram outros meios para promover a  igualdade ­  inclusive uma reforma no sistema educacional.  Diversos países   introduziram o sistema de cotas  desde a segunda metade do século XX; encontramo­nos, destarte,  com certo atrasado. Um aspecto relevante deste retardo é a agregação dos acertos e combate aos erros da experiência alheia. É importante  salientar,  não obstante,  a  necessária  adaptação à   realidade  brasileira,  visto  que nosso povo constitui uma nação cujas peculiaridades não se registram nas demais. 

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PROCEDIMENTOS METODÓLOGICOSA   pesquisa   é   de   caráter   qualitativo,   partindo   da   análise   dos   resultados   quantitativos.   O instrumento utilizado para obtenção dos dados foi um questionário semi­fechado. O trabalho visou  conhecer  os  novos  cotistas,   ingressantes  em 2008.1,   cursando,  portanto,  o   segundo período, a fim de realizar um estudo comparativo com a amostra de 2005.1 (os primeiros alunos beneficiados com o sistema de cotas pela UPE, os quais se encontravam no sétimo período),  para  posterior  análise  das   suas  condições  e  expectativas  em relação à   realidade acadêmica. A amostra é não­probabilística intencional, formada por 71 cotistas. Para a coleta de dados foram   selecionados   os   sujeitos/alunos   os   quais   concordaram   em   participar   da   pesquisa; respondendo o questionário. No segundo momento foram discutidos os dados documentais, bibliográficos e os elementos dos questionários, possibilitando a análise e quantificação dos resultados, através do Programa SPSS for Windows, versão 13.0 e Microsoft Excel 2003. Utilizou­se para o tratamento dos resultados o método descritivo,  uma vez que não foram utilizados instrumentos da estatística inferencial, e sim análise das freqüências diretas e das relações entre as variáveis do estudo. O procedimento para seleção da amostra consistiu de entrevista com todos os alunos cotistas que ingressaram na UPE através do vestibular de 2005.1 e 2008.1, localizados no Campus Santo Amaro. O escopo principal  da pesquisa consistiu  em avaliar  a   trajetória  dos  alunos cotistas da Universidade de Pernambuco para análise das suas condições gerais de vida, e expectativas em relação ao mundo acadêmico. A entrevista foi realizada com a permissão por escrito dos indivíduos, através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, não apresentando nenhum risco ao indivíduo participante. O estudo tem o aval do Comitê de Ética em Pesquisa, sob o número 147/07 e será assegurada confidencialidade   ao   indivíduo   participante   sobre   as   informações   obtidas   através   do questionário.

RESULTADOSA análise foi realizada com 71 (setenta e um) cotistas do campus Santo Amaro, sendo 43 (quarenta   e   três)   estudantes   do   segundo   período,   enquanto   os   demais   (vinte   e   oito) correspondem aos alunos do sétimo ­ primeiros beneficiados pela implantação das cotas nesta universidade. Foram entrevistados estudantes da Escola Superior de Educação Física (ESEF), Faculdade   de   Enfermagem   Nossa   Senhora   das   Graças   (FENSG),   Faculdade   de   Ciências Médicas (FCM), e do Instituto de Ciências Biológicas (ICB). A Faculdade de Odontologia de Pernambuco (FOP) não participou da amostra, uma vez que somente no primeiro ano do curso encontram­se no campus de Santo Amaro; sendo, posteriormente transferidos para a unidade de Camaragibe. Em   ambas   as   amostras   predominaram   estudantes   de   Educação   física   (Bacharelado   e Licenciatura) e Medicina,  visto que são os cursos com maior número de vagas oferecidas (duzentas   e   cento  e   cinqüenta,   respectivamente).  Além da  diferença  quantitativa  entre  os cursos, alguns alunos não devolveram o questionário enquanto muitos outros, principalmente do sétimo período, não mais mantém vínculo com a instituição.

Gráficos nº. 1 e 2 ­ Unidade de ensino

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 2º período

30,2%

20,9%

30,2%

18,6% 7º período

28,6%

25,0%

28,6%

17,9%

A crescente presença feminina no âmbito acadêmico é evidente na amostragem estudada, na qual 70,4% pertencem a este gênero. Quando analisados por períodos verifica­se tal aumento no decorrer do tempo, pois entre os estudantes do sétimo período as mulheres correspondem a 60,7% ; já com os novos cotistas o percentual sobe para 76,7%. 

Tabela n.º 1 ­ Gênero                       2º Período     7º Período

F(a) F(%) F (a) F (%)

Feminino 33 76,7 17 60,7Masculino

10 23,3 11 39,3

Total 43 100,0

28 100,0

Em ambos os períodos, verificou­se a importância do sistema de cotas na garantia do ingresso imediato à universidade. Cerca de 70% dos alunos do segundo período entraram na UPE com idade entre 17 e 20 anos. A maioria dos alunos do sétimo período (60,7%) possui entre 21 e 24 anos, o que demonstra um ingresso também antecipado quando comparados aos demais alunos oriundos de escolas públicas. Dos setenta e um alunos entrevistados, apenas quatro são casados – dois em cada período. Ou seja, 94,4% são solteiros e apenas 5,6% já constituem família. A  renda   familiar   encontra­se,  majoritariamente,   entre  um e   sete   salários  mínimos  –  com importantes diferenças percentuais.  Os alunos de segundo período, no geral,  possuem uma renda mais baixa, pois 30,2% têm renda de até um S.M. enquanto 48,8% estão na faixa de dois a quatro. Já entre os alunos do sétimo período, a renda de 78,6% é entre dois e quatro S. M., e 14,3% de cinco a sete. O aumento da renda mensal no decorrer do curso ocorre em virtude do vínculo com o mercado de trabalho por parte de alguns alunos. Dos cotistas do sétimo período, 35,7% possuem fonte de renda que varia de um a quatro salários mínimos; contra 90,7% do segundo período que não possuem renda própria e, portanto, não contribuem com a renda familiar. Ainda   que   possuam   participação   na   renda,   isto   é,   maior   integração   com   o   mercado   de trabalho, o salário não é suficiente para promover transformações profundas no lar, visto que tal  contribuição   não   ultrapassa   quatro   salários   mínimos   –   provavelmente   utilizados   para custear   as  despesas   com  transporte   (81,7% utilizam  ônibus  como meio  de   locomoção)   e alimentação.   Quando   indagados   acerca   dos   eletrodomésticos   que   possuem   em   suas residências,   obteve­se   equivalência   percentual.   Apenas   um   aluno   não   possuía   televisão, enquanto 53,5% possuem uma e 38% possuem duas. Quanto ao aparelho de DVD, somente 

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11,3% não o possuem. Alguns bens, cuja função não é prioritária e/ou podem ser substituídos, bem como aparelhos com alto custo, quando encontrados nas residências, não ultrapassam uma unidade. São eles: 

Tabela n.º 2 – Bens menos encontrados

Bens Sim NãoCâmera digital 39,4% 60,6%Máquina de lavar roupas 38,0% 62,0%Microondas 29,6% 69,0%Motocicleta 5,6% 93,0%

O   computador,   equipamento   fundamental   no   cotidiano   universitário,   encontra­se   nas residências   da   grande   maioria;   76%   dos   estudantes   entrevistados   o   possuem.   A   sua significativa presença na casa dos alunos torna­se um instrumento ainda mais eficaz quando dispõe   de   acesso   à   internet.   Dentre   os   locais   de   acesso   mais   freqüentados,   57,1%   dos estudantes  do sétimo período declararam utilizar  a  internet  para  fins de pesquisa em suas próprias casas; enquanto os do segundo período somam 44,1%. Dispor desta ferramenta de pesquisa em casa possibilita uma maior constância aos seus conteúdos e serviços. É o que se verifica na tabela abaixo, na qual o acesso é mais freqüente que outrora. As bibliotecas da universidade contribuem para a utilização deste recurso do mesmo modo, pois é o local de acesso de 32,1% e 29,6% dos alunos, do 7º e 2º períodos, respectivamente.

Gráfico n.º 3 – Acesso à internet

, %1 8 3

24,0%

16,9%

40,8%

Diariamente

2 a 4 vezes por semana

1 vez por semana

Fim de semana

Ao contrário do que ocorre com o acesso à rede mundial de computadores, são poucos os cotistas que têm oportunidade de freqüentar outros veículos culturais. Sabe­se do alto custo para obtenção de outras fontes de informação e lazer além da televisão. É devido a este e outros possíveis motivos, que a maior parte dos entrevistados declarou raramente ir ao cinema e ler revistas informativas. Há ainda aqueles que nunca assistiram a filmes em cinemas. 

Tabela n.º 3 e 4 – Freqüência ler revistas  e  Freqüência vai ao cinema                                                                                                                2º Período   7º Período      2º Período     7º Período 

F(a) F(%) F(a) F(%) F(a) F(%) F(a) F(%)

Uma   vez   por semana

10 23,3 4 14,3 4 9,3 1 3,6

Uma vez por mês 5 11,6 7 25,0 10 23,3 9 32,1Raramente 25 58,1 15 53,6 23 53,5 18 64,3

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Nunca 2 4,7 2 7,1 5 11,6 0,0 0,0Sem resposta 1 2,3 0 0,0 1 2,3 0,0 0,0

   Total 43 100,0 28 100,

0 43 100,0 28 100,0

Já em relação à leitura de jornais, é mais freqüente na rotina dos entrevistados. Os que lêem de uma a quatro vezes por semana correspondem a 76,6% no segundo período; e no sétimo a 71,4%. Mesmo com um grande percentual de leitores, 27,9% dos alunos do segundo período e 25% do sétimo nunca lêem jornais. A   satisfação   com   a   universidade   –   seus   componentes   (funcionários,   professores,   demais alunos), estrutura e o curso – reflete­se no futuro profissional destes estudantes. O grau de interesse,   de   dedicação,   afinidade   com  o   curso   e   a   carreira   escolhida   estão   intimamente vinculados   não   somente   à   predisposição   ao   curso,   mas   também   a   serviços   e   condições oferecidos pela universidade,  assim como o meio pelo qual os alunos egressos de escolas públicas entraram na universidade. De maneira geral, o nível de satisfação com a universidade é bastante elevado. Embora muitos alunos  estejam satisfeitos   com a   instituição,  houve  uma queda  no  percentual  dos   “muito satisfeito” entre o segundo e o sétimo períodos, como mostra o gráfico. 

Gráfico n.º 4 – Nível de satisfação com a universidade

, %25 6

, %7 1

65,1% 64,3%

4,7%

25%

2,3% 3,6%

Muito satisfeito  Satisfeito Pouco satisfeito Insatisfeito

2º Período 7º Período

O mesmo ocorre com o nível de satisfação com o curso. Entre os alunos do sétimo período, apenas 7,1% encontram­se muito satisfeitos com o curso, estando a maioria, 71,4%, satisfeita. Já   no   segundo  período,   55,8%  declararam  estar  muito   satisfeito   com  o   curso,   elevando, portanto, para mais da metade o percentual dos alunos bastante contentes com o curso. 

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Gráfico n.º 5 – Nível de satisfação com o curso

, %55 8

7,1%

32,6%

71,4%

4,7%14,3%

4,7%7,1%

Muito satisfeito  Satisfeito Pouco satisfeito Insatisfeito

2º Período 7º Período

A satisfação com o curso está vinculada ao motivo de sua escolha. É quase unânime (93%) a afinidade como razão pela escolha do curso entre os alunos do sétimo período. Este mesmo percentual declarou serem estes os cursos que realmente gostariam de ter feito. O reflexo disto encontra­se   na   satisfação   de   75%   com   as   notas   obtidas,   contra   21,4%   que   reconhecem necessitar de maior dedicação. Entretanto, os níveis de dificuldade com o conteúdo variam basicamente entre os níveis “nenhum”, “baixo” e “muito baixo”.Entre os alunos do segundo período, a afinidade corresponde a 86% das respostas. No entanto, esta pequena queda percentual, quando comparada ao sétimo período diz respeito à influência dos pais e retorno financeiro dentre os motivos que levaram 9,4% dos estudantes a escolherem o curso.  Por  isto,  25,6% afirmaram não serem estes os cursos que gostariam de ter  feito. Mesmo   assim,   71,4%   estão   satisfeitos   com   as   notas   e   julgam   não   encontrar   muitas dificuldades com o conteúdo programático. 

Tabela n.º 4 – Nível de dificuldade do conteúdo

                           2º Período     7º Período

F(a) F(%) F(a) F(%)

Nenhum 8 18,6 11 39,3Muito baixo

7 16,3 8 28,6

Baixo 24 55,8 8 28,6Alto 4 9,3 1 3,6

Total 43 100,0

28 100,0

As dificuldades em relação ao conteúdo são menos preocupantes quando comparadas a outros tipos de impedimentos que os cotistas deparam­se ao longo do curso. Dentre os 32,1% dos estudantes do sétimo período que afirmaram ter outras dificuldades, 18% a relacionam com a questão financeira; eles não recebem ajuda de custo para manutenção na universidade. Dos 34,9% do segundo período, 16,3% confessam do mesmo modo a dificuldade de custear os 

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gastos diários na universidade, enquanto outros, em equivalência percentual,  relacionam as dificuldades com a infra­estrutura da instituição. A  amostra  dos  primeiros   cotistas   da  Universidade  de  Pernambuco   já   foi   alvo  de  nossos estudos.   Quando   pertenciam   ao   segundo   período,   no   ano   de   2006,   também   foram entrevistados a fim de nos fornecer um perfil de suas origens socioeconômica e educacional. Portanto,   na   execução   deste   acompanhamento   até   a   conclusão   do   curso,   mantiveram­se presentes algumas informações, dentre as quais se destaca a expectativa em relação ao curso. Ao compará­los nestas duas etapas, obteve­se o seguinte resultado:

Gráfico n.º 6 – Expectativas em relação ao curso

%75

%25

%0

77,8%

11,1% 11,1%

7º Período 7º quando era 2º período

Sim Não Sem resposta

A   estrutura   oferecida   pela   universidade   constitui   um   dos   principais   pontos   de   pouca satisfação. Apesar de 50,0% dos cotistas do sétimo período estarem satisfeitos, uma parcela considerável, quase quarenta por cento, encontra­se pouco satisfeita. No segundo período a pouca satisfação é ainda maior: 46,5%. Os alunos insatisfeitos apresentam­se numericamente equiparados em ambas as amostras (dois por período). Gráfico n.º 7 – Nível de satisfação com a estrutura da universidade

, %1 4 0

, %3 6

32,6%

50,0% 46,5%39,3%

4,7%7,1%

Muito satisfeito  Satisfeito Pouco satisfeito Insatisfeito

2º Período 7º Período

No   concernente   ao   nível   de   satisfação   com   os   professores,   os   dados   coletados   também demonstram maior percentual  de alunos satisfeitos,  65,1% no segundo e 67,9% no sétimo período. A quantidade de alunos do segundo período que afirmaram estar muito satisfeitos representa 30,2%, o que não ocorre com o 7º período, onde um único estudante encontra­se satisfeito   com os  professores.  A  insatisfação,  neste   item,  não   foi   citada  por  nenhum dos períodos. 

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Os cotistas, tanto veteranos como os novatos, não sofrem discriminação por parte dos colegas de sala nem da universidade. A maioria, em ambos os períodos, está satisfeita com os demais alunos.  

Gráfico n.º 8 – Nível de satisfação com os colegas de sala

, %30 2, %35 7

53,5%

42,9%

14% 14,3%

0%7,1%

Muito Satisfeito  Satisfeito Pouco Satisfeito Insatisfeito

2º Período 7º Período

Quando indagados sobre o meio pelo qual ingressaram no ensino superior público, e sobre o percentual destinados a essa política inclusiva, a pergunta foi acrescida de um complemento: o porquê deste nível de satisfação. A investigação sobre o olhar que os próprios beneficiados têm   pelo   sistema,   constitui   um   dos   objetivos   deste   estudo.   Os   percentuais   de   satisfação permaneceram elevados em ambas as amostras, todavia apenas 7,1% dos alunos do sétimo período encontraram­se muito satisfeitos, enquanto no segundo período sobe para 30,2% dos estudantes. 

Gráfico n° 9 ­ Nível de satisfação com o sistema de cotas

30,2%

7,1%

44,2%

67,9%

18,6% 17,9%

2,3% 3,6%

Muito satisfeito  Satisfeito Pouco satisfeito Insatisfeito

2º Período 7º Período

Dentre os principais motivos pelos quais os alunos encontram­se satisfeitos com o sistema de cotas,  44,2% do   segundo período  afirmaram ser   a   “oportunidade  de  acesso  a  um ensino superior de qualidade”, embora 16,3% dos alunos não responderam. Já no sétimo período, esta oportunidade de ingresso à universidade foi declarada por 21,4% dos estudantes; enquanto 25,0%, respondeu pela “falta de condições para se manter na universidade”. Ainda no sétimo 

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período,   32,1% preferiu   não  opinar.  Tanto  o   sétimo   como  o   segundo  período   citaram  a necessidade de investimentos no ensino fundamental. Quanto ao nível de satisfação com os 20% de vagas oferecidas para alunos de escola pública, 67,9% dos universitários do sétimo período estão satisfeitos com esta quantidade oferecida, enquanto no segundo período o percentual de respostas cai para 46,5%, conforme gráfico nº 10. Os estudantes pouco satisfeitos defendem a idéia de que a quantidade de alunos oriunda de escolas públicas é consideravelmente maior que os alunos egressos da rede privada, por isso a porcentagem destinada  a  essa  política  de  ação afirmativa  deveria   ser  maior.  Estes  alunos correspondem a 18% no sétimo período e 28% no segundo. Muitos   alunos,   entretanto,   reconhecem   ser   um   percentual   adequado   pra   promover   a diminuição das disparidades. Ademais, alegam que os 20% são capazes de permitir a entrada daqueles   alunos   que   estudam,   e   apenas   não   ingressam   pelo   sistema   universal   devido   às deficiências do ensino público. Portanto, é uma quantidade suficientemente justa para 35,7% dos cotistas do sétimo e 25,6% do segundo período. Vale salientar que os universitários que não expressaram os motivos pelos quais estão ou não satisfeitos, somam 42,9% no sétimo, e 32,6% no segundo período. 

Gráfico n.º 10 – Nível de satisfação com os 20% oferecidos

, %1 1 6, %3 6

46,5%

67,9%

27,9% 25%

2,3% 0%

Muito satisfeito  Satisfeito Pouco satisfeito Insatisfeito

2º Período 7º Período

Foram apresentados  alguns  possíveis  projetos  profissionais  para após  conclusão do curso. Quando pedido para responderem em ordem de prioridade, os resultados que se destacaram foi da continuidade aos estudos, e fazer outra graduação, para os alunos do segundo período. Enquanto   os   do   sétimo   período   querem,   preferencialmente   ingressarem   no   mercado   de trabalho, e estudarem para concurso público. Um percentual elevado deste mesmo período preferiu não responder. A comparação entre os planos profissionais pode se acompanhada nos gráficos seguintes. 

Gráfico n.º 11 – Primeiro projeto profissional

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21,4%

28,6%

20,9%21,4%

25%

3,6%

23,3%

39,5%

11,6%

4,7%

Fazer outra graduação

Dar continuidade aos estudos

Ingressar de imediato no mercado de trabalho

Estudar para concurso público

Sem resposta

7º Período 2º Período

Gráfico n.º 12 – Segundo projeto profissional

7,1%

28,6%

27,9%

27,9%14,3%

21,4%

28,6%

18,6%

25,6%

0%Fazer outra graduação

Dar continuidade aos estudos

Ingressar de imediato no mercado de trabalho

Estudar para concurso público

Sem resposta

7º Período 2º Período

Gráfico n.º 13 – Terceiro projeto profissional

, %1 7 9

28,6%

17,9%

10,7%

25%37,2%

20,9%

18,6%

9,3%

14%

Fazer outra graduação

Dar continuidade aos estudos

Ingressar de imediato no mercado de trabalho

Estudar para concurso público

Sem resposta

7º Período 2º Período

Gráfico n.º 14 – Quarto projeto profissional

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35,7%

9,3%3,6%

7,1%

10,7%

42,9%48,8%

20,9%

11,6%

9,3%

Fazer outra graduação

Dar continuidade aos estudos

Ingressar de imediato no mercado de trabalho

Estudar para concurso público

Sem resposta

7º Período 2º Período

DISCUSSÃOO   conhecimento   acerca   da   realidade   dos   universitários,   provenientes   da   rede   pública   de ensino, é essencialmente significante para repensar o modelo da política inclusiva adotado pela   Universidade   de   Pernambuco.   Para   participação   do   sistema   de   cotas,   a   condição indispensável consiste na comprovação de curso do “ensino médio, integralmente, em regime regular e exclusivamente, em escolas públicas estaduais ou municipais, localizadas no Estado de Pernambuco” (MANUAL DO VESTIBULAR). Tal prerrogativa reafirma o compromisso desta instituição com a modificação da realidade social na qual está inserida. Ao   contrário   das   demais   redes   de   ensino   superior,   a   Universidade   de   Pernambuco   visa combater   as   desigualdades   socioeconômicas   existentes   em   nosso   estado,   através   da verificação  deste  critério,  viavelmente  apurado.  Em sentido  oposto,  a  diferenciação   racial encontra­se carregada de valores subjetivos, visto que sua mensuração através da cor da pele, da textura capilar, do formato do crânio, do nariz e dos olhos (traços étnicos), está fadada a classificações   imprecisas,   injustas e excludentes  que ferem princípios  fundamentais  de um Estado Democrático de Direito. De tal modo, promove mais desigualdade e discriminação.Os resultados obtidos esclarecem, portanto, algumas das principais dificuldades enfrentadas pelos  cotistas  para sua manutenção  até  o   término do curso.  Não obstante  a   facilidade  no ingresso, estes estudantes necessitam de ajuda para custear a permanência no curso uma vez que   a   dedicação   aos   estudos,   bem   como   as   exigências   do   mercado   impedem   maiores vinculações com empregos e ocupações. Não foram constatados relatos de discriminação por parte dos demais colegas de sala e de universidade. Muitas vezes, não há nem conhecimento de quem e quantos são os cotistas em cada   turma.   Os   alunos,   em   geral,   demonstraram­se   satisfeitos   com   a   nova   realidade   e reconheceram,  no   sistema  de  cotas,   a  única  oportunidade  de   ingresso  ao  ensino   superior gratuito   e   de   qualidade;   devido   tanto   à   falta   de   recursos   para   estudar   numa   instituição particular, como pela facilidade proporcionada por esta política. No que concerne aos serviços oferecidos pela universidade, o acesso à internet para fins de pesquisa,  através  dos  laboratórios   localizados  nas bibliotecas,  merece  destaque.  Tendo em vista   o   considerável   número   de   alunos   usuários   deste   serviço,   é   importante   rever   os investimentos nesta área a fim de melhor atender essa demanda. Outros benefícios oferecidos pelas bibliotecas, entretanto, não fazem parte do cotidiano desses universitários. A leitura de revistas  é   seriamente  defasada entre  os entrevistados;  assim como os  jornais,  que embora sejam frequentemente mais lidos, também são pouco utilizados, visto que estão disponíveis nas bibliotecas do campus Santo Amaro. 

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 A ida aos cinemas da cidade é raríssima. Entende­se que, do mesmo modo, poderia ser tarefa da universidade a promoção de eventos culturais fora do conteúdo normal dos cursos. Ainda que   seja   mais   dificultoso   intervir   em   eventos   alheios   à   instituição,   a   experiência interdisciplinar com recursos não tão comuns é sempre proveitosa, ainda que numa instituição de nível superior, visando a melhoria na formação dos futuros profissionais que atuarão na sociedade. 

CONCLUSÃOA aprovação social é primordial na legitimação dos processos de formulação e implantação do sistema de cotas. Estudos que versam as ações afirmativas no acesso à educação possuem, portanto, inquestionável relevância, uma vez que representam os meios pelos quais os órgãos competentes   e   a   própria   sociedade   captam   sua   realidade;   permitindo   a   reflexão   de   tais políticas, cujo modelo encontra­se distante do ideal. De acordo com outros estudos acerca do sistema de cotas em instituições de ensino superior brasileiras,   os   críticos   apontam   possíveis   conseqüências   negativas,   as   quais   não   foram encontradas   neste   trabalho.   Jamais   houve   registro   oficial   de   ocorrência   fraudatória   no processo de identificação dos beneficiados, o que favorece a integridade e legitimidade do sistema.  Ao contrário  do critério   racial,  cuja  classificação étnica  através  de características físicas   encontra­se   sujeita   a   equívocos   irremediáveis;   promovendo   mais   desigualdade   e preconceito.   Também   não   foram   identificados   indícios   de   discriminação   com   os   alunos cotistas, ainda que sua realidade socioeconômica seja atípica no âmbito universitário e suas notas   de   ingresso   inferiores   quando   comparadas   às   do   vestibular   universal.   Outro   ponto sempre questionado em relação aos alunos cotistas e que não foi registrado, diz respeito a possível   queda  do  nível  de  aprendizagem devido  à   carência   intelectual   e  dificuldade   em acompanhar o conteúdo programático por parte dos cotistas.  O   problema   central   do   sistema   de   cotas   implementado   na   Universidade   de   Pernambuco consiste na carência de auxílio financeiro a todos os alunos cotistas. Ainda que isentos de pagamento das taxas cobradas na instituição, não possuem recursos suficientes para custear transporte, alimentação, xérox, aquisição de livros e práticas de lazer. Boa parte dos cotistas relatou possuir dificuldade financeira para manter­se no curso. A UPE oferece a BIA ­ bolsa de iniciação científica para alunos cotistas ­,  que representa um importante incentivo para envolvimento   em   pesquisas.   No   entanto,   sua   divulgação   é   insipiente   e   reflete   a   pouca participação e conhecimento dos cotistas sobre a existência desta oportunidade.A política de cotas da UPE consiste na mais importante solução, a curto prazo, cujo objetivo é incentivar a mobilização social de setores antes nunca favorecidos com o acesso ao ensino superior.   Seu   compromisso,   embora   bastante   significativo,   necessita   ainda   de   profundas modificações a fim de contribuir para manutenção destes alunos na instituição; uma vez que alguns alunos que abandonam o curso,  comprometendo,  assim,  o motivo de existência da medida adotada com o programa: o combate às disparidades sociais. 

REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICASBELLO,  Enzo.  Políticas  de  ação afirmativa  no  Brasil:  uma análise  da  viabilidade  de  um sistema de cotas raciais para ingresso nas universidades. Direito, Estado e Sociedade, nº 26 p.   32­53.   jan/jun,   2005.   Disponível   em:   <http://www.puc­rio.br/direito/pdf/revista_vol_26. Acesso em: 26 de Dezembro de 2008.

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