POLÍTICA EDUCACIONAL E EDUCAÇÃO FÍSICA

Embed Size (px)

DESCRIPTION

om essa coletânea o autor, Lino Castellani Filho, busca dar organicidade a um conjunto de artigos por ele produzidos entre os anos de 1995 e 1997, os quais recentiam-se da ausência de um ordenamento que resgatasse a percepção da existência de um encadeamento entre eles ao mesmo tempo em que dá vasão ao movimento articulador das idéias e reflexões neles contidas, no intuito de expressar a lógica que os animava e os colocava em sintonia com sua produção

Citation preview

Trabalho realizado por: [email protected]

POLTICA EDUCACIONAL E EDUCAO FSICA Lino Castellani Filho

Trabalho realizado por: [email protected]

Conselho Editorial: Casemiro dos Reis Filho, Dermeval Saviani, Gilberta S. de M. Jannuzzi, Walter E. Garcia Diretor Executivo Flvio Baldy dos Reis

Diretora Editorial Gilberta S. de M. Jannuzzi

Diagramao e Composio Selene Nascimento de Camargo

Reviso Marcia da Costa Nunes Neto

Capa Criao Milton Jos de Almeida

Arte Final Selene Nascimento de Camargo

Copyright 1998 by Editora Autores Associados EDITORA AUTORES ASSOCIADOS Caixa Postal 6164 - CEP: 13081-970 - Campinas - SP Fone/Fax:(019) 289-5930 editora @ autoresassociados.com.br www.autorosassociados.com.br

Trabalho realizado por: [email protected]

POLTICA EDUCACIONAL E EDUCAO FSICA

Lino Castellani Filho

Coleo Polmicas do Nosso Tempo

Trabalho realizado por: [email protected]

SUMARIO APRESENTAO ............................................................................................. 5 CAPITULO: UM ................................................................................................. 6 Os Impactos da Reforma Educacional do Governo FHC na Educao Fsica Brasileira ................................................................................................ 6 Antecedentes .................................................................................................. 6 Novos Tempos, Velhas Concepes ............................................................ 10 A Educao Fsica no Ensino superior: o Fim da Obrigatoriedade Anacrnica ...................................................................................................................... 20 Em Concluso .............................................................................................. 26 Bibliografia .................................................................................................... 27 CAPTULO: DOIS ............................................................................................ 29 Educao Fsica Escolar: Temos o que Ensinar? Ou Consideraes acerca do Conhecimento (Re)Conhecido pela Educao Fsica Escolar . 29 Bibliografia .................................................................................................... 36 CAPTULO: TRS ........................................................................................... 37 Classes de Acelerao: uma Proposta Pedaggica para a Educao Fsica ......................................................................................................................... 37 Educao Fsica e a Cultura Corporal .......................................................... 37 Reflexes acerca da Metodologia de Ensino ................................................ 41 Refletindo sobre as Possibilidades de Avaliao.......................................... 43 Comentando as Referncias Bibliogrficas .................................................. 45 Bibliografia .................................................................................................... 47 CAPTULO: QUATRO ..................................................................................... 50 Do Nhenhenhm Teoria da Prtica ............................................................ 50 CAPTULO: CINCO ......................................................................................... 57 Teses acerca da Questo da Regulamentao da Profisso ..................... 57 Bibliografia .................................................................................................... 63 Sobre o Autor ................................................................................................. 64

Trabalho realizado por: [email protected]

APRESENTAO

Quando encaminhei Autores Associados o projeto do livro queora apresento, tinha em mente dar organicidade a um conjunto de artigos produzidos entre os anos de 1995 e 1997 que, por encontrarem-se dispersos nas diferentes revistas que os abrigavam, ressentiam-se da ausncia de um ordenamento que resgatasse a percepo da existncia de um encadeamento entre eles. Via, na oportunidade que me estava sendo concedida, a possibilidade de dar vazo ao movimento articulador das idias e reflexes neles contidas, no intuito de expressar a lgica que os animava e os colocava em sintonia com minha produo terica anterior. Movimento...Era ele que, no fundo, queria explicitar...O meu movimento na dinmica de elaborao dos textos, sintonizado com o movimento presente no contexto social no qual o movimento das mudanas na educao fsica brasileira era gerado, em sintonia com as mudanas nos movimentos fomentados em seu interior... POLTICA EDUCACIONAL E EDUCAO FSICA organiza-se em dois planos: No primeiro deles - o de reflexo em torno do movimento das mudanas havidas sobre o entendimento da educao fsica enquanto disciplina pedaggica e de sua normatizao e sistematizao no espao escolar - os Artigos Educao Fsica Escolar: Temos o que ensinar? Ou consideraes a respeito do conhecimento (re)conhecido pela Educao Fsica Escolar e Classes de Acelerao: Uma proposta pedaggica para a Educao Fsica orbitam ao redor do que lhes serve de satlite, qual seja, o Os impactos da Reforma Educacional do Governo FHC na Educao Fsica Brasileira. No segundo plano - o do movimento organizativo dos profissionais da rea articulam-se outros dois, Do Nhenhenhm Teoria da Prtica e Teses acerca da questo da Regulamentao da Profisso. Nas ocasies em que os utilizei - cursos, seminrios, encontros especiais - fomentaram acalorados debates, gerando e motivando a reflexo crtica. Por isso entendo que este livro no poderia estar em melhor coleo. Da a razo da minha satisfao em estar apresentando-o, momento que aproveito para agradecer Autores Associados por esta possibilidade. Campinas, janeiro de 1998

Trabalho realizado por: [email protected]

CAPITULO: UM Os Impactos da Reforma Educacional do Governo FHC na Educao Fsica Brasileira1 Antecedentes

H algum tempo, era comum ouvir-se, no interior dos fruns dedebate dos profissionais de Educao Fsica, a afirmao - expressa sob a forma da mais inquestionvel verdade - de que a Educao Fsica deveria ser contextualizada. Ouvia-se mais. Que a sua no contextualizao, somada dificuldade de alcanarmos um consenso em torno do seu significado, estava na raiz do seu no reconhecimento pela sociedade que, por causa disso tudo, no lhe atribua importncia. Pois bem. Anos se passaram e j em meados daquela dcada - estamos falando dos anos 80 - alcanou-se o entendimento de que no era a Educao Fsica que no estava contextualizada, mas sim ns que no a percebamos contextualizadamente! E mais, que a sua legitimao social estava intimamente ligada aos papis por ela representados no cenrio educacional armado no palco social brasileiro. Papis, cenrio e palco esses que mudavam de configurao em conformidade com as mudanas ocorridas no campo scio-poltico-econmico que se descortinavam nos mais distintos momentos histricos. Assim, j h quase uma dcada, pudemos nos deter na construo de uma leitura da Educao Fsica brasileira2 com a finalidade de - longe da1

Este texto parte integrante de estudos voltados para a elaborao de Tese de Doutorado a ser defendida junto ao Programa de Ps-Graduao da Faculdade de Educao da UNICAMP neste ano de 1998. Sua provisoriedade decorrente dessa situao, poder comprometer ou dificultar seu entendimento, pelo que pedimos escusas. Mesmo com as limitaes mencionadas, subsidiou - numa 2 verso - minha participao em simpsio organizado pela Faculdade de Educao Fsica da Universidade Estadual de Londrina, em agosto de 1997, quando proferi palestra sob o tema A EDUCAO FSICA NO CONTEXTO DA NOVA LDB ttulo sob o qual foi publicado nos anais daquele evento - como tambm, numa 1 verso, a palestra por mim proferida no X CONBRACE - Congresso Brasileiro de Cincias do Esporte promovido pelo Colgio Brasileiro de Cincias do Esporte e realizado em outubro daquele ano em Goinia, GO, tendo sido publicado s pginas 45 - 60 do volume I dos seus Anais. Este artigo caracteriza-se como sua 3 verso, semelhante, porm, no idntica, s anteriores.

2

Com efeito, em 1988, a Editora Papirus publicou em livro o resultado de meus estudos de mestrado. Sob o ttulo Educao Fsica no Brasil: A Histria que no Se Conta, o trabalho hoje em sua 4 edio, vem servindo de referncia para os profissionais e pesquisadores da rea. Recentemente (outubro/96), o Professor Amarlio Ferreira Neto organizou uma coletnea intitulada Pesquisa Histrica na Educao Fsica Brasileira, publicada pela editora da Universidade Federal do Esprito Santo, que traz um artigo de sua autoria (O Contexto de Produo de "Educao Fsica no Brasil: A Histria que no se conta") retratando ao me entrevistar o processo de elaborao/construo do livro em questo. Anteriormente, o Professor Vitor Marinho de Oliveira, em sua tese de Doutorado depois transformada em livro pela mesma Editora Papirus, j havia se detido na anlise de um Artigo de minha autoria denominado "A (Des)Caracterizao Profissional-Filosfica da Educao Fsica", por mim

Trabalho realizado por: [email protected]

inteno de nos colocarmos como historiadores da rea - nos instrumentalizarmos para a tarefa que desafiava a todos que no se conformavam com a maneira dela se vincular aos projetos polticos nacionais, de construir uma nova Educao Fsica, embora l, menos do que aqui, agora, no soubssemos exatamente como ela deveria ser. A frase "Caminhante! No h caminho. O caminho se faz ao andar embalava nossa ao numa poca em que ter utopia no era motivo de escrnio. Quando hoje nos deparamos com o consignado no pargrafo 3 do artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, recentemente aprovada, sentimos na pele o quanto se faz necessrio ler o texto no contexto e buscar saber das linhas aquilo dito nas entrelinhas. Isso porque o ali enunciado pouco elucida sobre a motivao dos legisladores como tambm no permite a compreenso dos interesses que estiveram em jogo ao longo do processo de sua elaborao, nem tampouco a forma como se traduziu a correlao de foras entre os setores existentes no interior da rea. Como sabemos, a Educao Fsica esteve contemplada na primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional - Lei n 4.024 de 20 de dezembro de 1961 em seu artigo 223. Os motivos justificadores do tratamento por ela recebido j estavam presentes h trs dcadas. Basicamente, centravam-se no processo de industrializao do modelo econmico brasileiro, em substituio ao agrrio de ndole comercial-exportadora implementado nos anos 30, e apoiavam-se na necessidade da capacitao fsica do trabalhador ao lado daquela de natureza tcnica. A necessidade do adestramento fsico era esse o termo utilizado pela Carta Magna do Estado Novo4 estava associada formatao de um corpo produtivo, portanto forte e saudvel, que fosse ao mesmo tempo dcil o bastante para submeter-se lgica do trabalho fabril sem question-la, portanto obediente e disciplinado nos padres hierrquicos da instituio militar. A extenso da obrigatoriedade de sua prtica sim, dela, pois no se cogitava de uma Educao Fsica que no se subordinasse ao eixo paradigmtico da aptido fsica e que no centrasse sua ao pedaggica, na atividade fsica at o limite de dezoito anos de idade

publicado, em 1983, na Revista do CBCE ( Vol.4(3), set/83), que mereceu sua ateno por ter sido um dos dez mais lidos conforme levantamento por ele efetuado , dos produzidos no decorrer dos anos 80 e que trazia os primeiros alinhavos de uma leitura da histria da Educao Fsica que se diferenciava daquelas at ento formuladas.3

"Ser obrigatria a prtica da Educao Fsica nos cursos primrios e mdio at a idade de 18 anos". A Lei Constitucional n 01 da Constituio dos Estados Unidos de Brasil, promulgada em 10 de novembro de 1937, trazia em seus artigos 131 e 132, respectivamente, que 'A Educao Fsica, o Ensino Cvico e os Trabalhos Manuais, sero obrigatrios em todas as escolas primrias, normais e secundrias, no podendo nenhuma escola de qualquer desses graus ser autorizada ou reconhecida sem que satisfaa quela exigncia" e "O Estado fundar instituies ou dar o seu auxlio e proteo s fundadas por associaes civis, tendo umas e outras por fim, organizar para a juventude, perodos de trabalho anual nos campos e oficinas, assim como promover-lhes a disciplina moral e o adestramento fsico, de maneira a prepar-la ao cumprimento dos seus deveres para com a economia e a defesa da nao"

4

Trabalho realizado por: [email protected]

trs a menos do que o estabelecido pela Reforma Capanema5 nos anos 40 , justificava-se pela compreenso de ser essa a idade na qual se dava o trmino do processo de instruo escolar e o subseqente ingresso no mercado de trabalho, cabendo a esse ltimo os cuidados com a manuteno da capacitao fsica do no mais educando e sim trabalhador. Dez anos depois, a reforma educacional do ensino de 1 e 2 graus traduzida na Lei n 5.692 de 11 de agosto de 1971 , ao reportar-se Educao Fsica em seu artigo 76, deixava de fazer referncia ao limite de idade de obrigatoriedade de sua prtica sim, dela, pois, mais do que nunca, ela continuava presa ao seu velho paradigma , optando por regulamentar a questo atravs de outro mecanismo. Com efeito, naquele mesmo ano de 1971 (1 de novembro), a promulgao do Decreto n 69.450, regulamentador da Educao Fsica nos trs nveis de ensino7, aludia nos quatro incisos de seu artigo 6 s condies outras que facultavam ao aluno a prtica da Educao Fsica8. A sua lgica interna mostrava-se coerente com o raciocnio descrito, seno vejamos: a) Facult-la quele aluno que comprovadamente trabalhasse mais de seis horas/dia e estudasse noite condio logo estendida a todos que atestassem o vnculo empregatcio, independentemente do turno em que viessem a estudar , reforava a lgica de que, estando o aluno j integrado ao mercado de trabalho, caberia a esse e no escola a responsabilidade pela capacitao, manuteno e reproduo de sua fora de trabalho. Tanto verdade que, alguns meses antes da promulgao desse Decreto (1 de junho de 1971), o Presidente da Repblica fez publicar a Lei n5.664 que, nos termos abaixo descritos, acrescenta pargrafo nico ao Decreto-lei n705 de 25 de julho de 1969: "Os cursos noturnos podem ser dispensados da prtica da Educao Fsica". Primeiro, ento, faculta-se aos estabelecimentos de ensino a possibilidade da oferta da Educao Fsica em seus cursos noturnos subentendendo-se que neles estudam5

Denominou-se de Reforma Capanema a um conjunto de Decretos-lei que, a partir de 1942 e at 1946, objetivaram a regulamentao do preceituado no Artigo 129 da Constituio estadonovista.

6

"Ser obrigatria a incluso de Educao Moral e Cvica, Educao Fsica, Educao Artstica e Programas de Sade nos currculos plenos dos estabelecimentos de 1 e 2 graus, observado, quanto primeira, o disposto no Decreto-lei n 869, de 12 de setembro de 1969". Em 25 de julho de 1969, o Decreto-lei n 705 alterava a redao do artigo 22 da Lei n 4.024/61, dando-lhe a seguinte redao: Artigo I - "Ser obrigatria a prtica da Educao Fsica em todos os nveis e ramos de escolarizao, com predominncia desportiva no ensino superior". As possveis razes para tal normatizao so por mim analisadas no livro j mencionado (pp. 117 - 122), e sero retomadas mais adiante, quando da reflexo acerca da educao fsica no 3 grau.

7

8

Decreto n69.450, Artigo 6 - "Em qualquer nvel de todos os sistemas de ensino, facultativa a participao nas atividades fsicas programadas: a) aos alunos do curso noturno que comprovarem, mediante carteira profissional ou funcional, devidamente assinada, exercer emprego remunerado em jornada igual ou superior a seis horas: b) aos alunos maiores de trinta anos de idade; c) aos alunos que estiverem prestando servio militar na tropa, d) aos alunos amparados pelo Decreto-lei n 1.044 de 21 de outubro de 1969, mediante laudo do mdico assistente do estabelecimento".

Trabalho realizado por: [email protected]

alunos/trabalhadores; depois estende-se a possibilidade de optar por curs-la, aos prprios alunos/ trabalhadores desses (e, como vimos, dos demais) cursos! Nesse particular, nos parece equivocada a compreenso manifestada pelos professores Estquia Salvadora de Sousa e Tarcsio Mauro Vago no Artigo O Ensino de Educao Fsica em face da Nova LDB (1997), por eles assinado. Ao afirmarem, em uma passagem do texto, que a Educao Fsica "sem a obrigatoriedade que a antiga lei determinava tambm para esses cursos... "(p. 127), "passa a ser facultativa nos cursos noturnos" (p. 125), nos levam a supor que desconheciam a existncia da lei acima aventada9; b) Facult-la ao aluno com mais de 30 anos de idade, expressava a compreenso de que, a essa altura da vida, ele (sim, ele, homem e no a mulher, pelos motivos que veremos logo adiante) j estaria, na condio de arrimo de famlia ou prestes a s-lo, vinculado ao mercado de trabalho, cabendo a esse, como j dissemos, tomar as devidas providncias para a manuteno e, quando necessrio, recuperao da aptido fsica de seu funcionrio; c) Facult-la ao aluno que estivesse prestando servio militar na tropa, correspondia ao entendimento da similitude existente entre o trabalho corporal levado a efeito nas Foras Armadas e aquele outro das aulas escolares de Educao Fsica; d) Facult-la, por fim, ao aluno que estivesse fisicamente incapacitado, confirmava a tese de que ela s se justificava pela centralizao exclusiva de sua ao pedaggica, na atividade fsica isenta da necessidade de ser pensada, refletida, teorizada. 10 Seis anos mais tarde, a essas quatro alneas se juntaram outras duas, atravs da Lein6.503 de 13 de dezembro de 1977. A primeira (e) a facultava ao aluno de ps-graduao. Tambm aqui o raciocnio no deixava dvidas: estudos de ps-graduao tinham ntima relao com trabalho intelectual, o que afastava a necessidade da capacitao fsica para o exerccio profissional. A segunda e ltima (f), dizia respeito a tornar facultativo a prtica da Educao Fsica mulher com prole, numa clara aluso compreenso de que a ela e to somente a ela cabia o cuidar dos filhos, j que ao esposo era destinado a responsabilidade de prover o sustento do lar.

9

Em outra passagem do Artigo (p. 133), Eustquia e Tarcsio constroem um entendimento de que o artigo 6 do Decreto n 69.450/71 exclua alunos das aulas de educao fsica, ao prever que determinados alunos "fossem dispensados das aulas...". Chamo a ateno para o fato de que a dispensa da aula era prerrogativa do aluno e no da escola o que, a meu ver, desautoriza a leitura feita pelos autores.

A exarcebao da relao da educao fsica com a questo da aptido fsica ou no dizer de Alcir Lenharo em seu Sacralizao da Poltica (1986), com o "aprimoramento eugnico incorporado raa pode ser percebido pelo teor do artigo 27, letra b do Decreto n 21.241 e no item 10 da Portaria n 13, de 16 de fevereiro de 1938, do Ministrio da Educao e da Sade, que estabeleciam a proibio de matrcula nos estabelecimentos de ensino secundrio "de alunos cujo estado patolgico os impeam permanentemente da freqncia s aulas de educao fsica".

10

Trabalho realizado por: [email protected]

Novos Tempos, Velhas ConcepesNo obstante as mudanas ocorridas no interior da Educao Fsica brasileira processadas em concomitncia com as presentes no tecido social brasileiro e obviamente por elas determinadas , assinaladas em vrios textos acadmicos e registradas na configurao de distintas concepes pedaggicas dotadas de fortes elementos superadores do eixo paradigmtico que a caracterizava, no foram elas consideradas pelos parlamentares ao final do processo de tramitao, no Congresso Nacional, da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional que. viria substituir a de n 4.024/61 e as que lhe reformaram (Leis nOs5.540/68 e 5.692/71) por fora da necessidade da regulamentao do Captulo sobre Educao da Carta Magna de 5 de outubro de 1988, batizada pelo ento Deputado Federal pelo PMDB, Ulisses Guimares, de Constituio Cidad. Em sua primeira verso aquela apresentada Cmara dos Deputados, em dezembro de 1988, pelo Deputado Octvio Elsio , no havia meno obrigatoriedade da Educao Fsica, trazendo seus artigos 33, 37 e 46 (pertinentes, respectivamente, educao escolar de 1 , 2 e 3 Graus), a explicitao de que os currculos das escolas de 1 grau abrangeriam "obrigatoriamente, o estudo da lngua nacional, matemtica, cincias naturais e cincias sociais"; os de 2 grau abrangeriam obrigatoriamente, alm da lngua nacional, o estudo terico-prtico das cincias e da matemtica, em ntima vinculao com o trabalho produtivo e que, quanto ao 3Grau, caberia ao Conselho Federal de Educao "fixar o currculo mnimo e a durao mnima dos cursos superiores correspondentes a profisses reguladas em lei". Em sua segunda formatao Substitutivo Jorge Hage, aprovado em junho/90 , a primeira j reflexo da correlao de foras que se instaura no Congresso em torno do tema11, ela mencionada textualmente no artigo 36, trazendo em si resqucios da influncia bio-psicologizante que a marcou notadamente a partir da segunda metade dos anos 70: "A Educao Fsica, integrada proposta pedaggica da escola, componente curricular obrigatrio na Educao Bsica, ajustando-se s faixas etrias e s condies da populao escolar, de modo a contribuir para o desenvolvimento do organismo e da personalidade do educando".

11

Segundo o Deputado Jorge Hage, iniciou-se em maro de 1989 o que talvez tenha sido o mais democrtico e aberto mtodo de elaborao de uma lei de que se tem noticia no Congresso Nacional. De acordo com Saviani (p.57) de onde extramos a passagem acima "importa considerar que diferentemente da tradio brasileira em que as reformas educacionais resultam de projetos invariavelmente de iniciativa do Poder Executivo, neste caso a iniciativa se deu no mbito do Legislativo e atravs de um projeto gestado no interior da comunidade educacional (que) manteve-se mobilizada atravs do Frum em Defesa da Escola Pblica na LDB", o qual reunia aproximadamente 30 entidades de mbito nacional, dentre as quais vamos encontrar o Colgio Brasileiro de Cincias do Esporte, CBCE, e a Federao Brasileira de Associaes de Profissionais de Educao Fsica, FBAPEF. Os volumes 10(3) e I 1(1) da Revista Brasileira de Cincias do Esporte trazem, por sua vez, os relatrios elaborados pela professora Carmen Lcia Soares, ento assessora do CBCE para assuntos da LDB acerca do envolvimento do CBCE com a questo.

Trabalho realizado por: [email protected]

Tambm nesse Substitutivo que aparece, em seu artigo 37, inciso I, por conta da forte influncia de setores da Educao Fsica vinculados rbita do Conselho Nacional do Desporto, CND, e da Secretaria da Educao Fsica e do Desporto do Ministrio da Educao, SEED/MEC, nos tempos da Nova Repblica, presidido o primeiro pelo Professor Manoel Gomes Tubino, que tambm assumiu a Secretaria ao final do governo Sarney referncias ao esporte escolar e s prticas esportivas no formais, da maneira j consubstanciada em documento elaborado em 1985 por uma comisso especial, por ele coordenada, constituda pelo ento Ministro da Educao, Marco Maciel, com a finalidade de traar rumos para o Esporte Nacional12. Em plena consonncia com o indicado naquele Relatrio, o CND em maio de 1989 d publicidade Recomendao CND n 01, que "Recomenda a incluso de dispositivos que tratem da Educao Fsica e do Esporte Educacional nos termos relativos legislao da Educao". Aps 12 considerandos, recomenda aos Congressistas, na elaborao da Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educao, adotarem o seguinte conceito de Desporto Educacional:O Desporto Educacional, servio pblico assegurado pelo Estado, dentro e fora da Escola, tem como finalidade democratizar e gerar cultura, atravs de modalidades motrizes de expresso da personalidade do indivduo em ao, desenvolvendo este indivduo, numa estrutura de relaes sociais recprocas e com a natureza, a sua formao corporal e as prprias potencialidades, preparando-o para o lazer e o exerccio crtico da cidadania, evitando a seletividade, a segregao social e a hipercompetitividade, com vistas a uma sociedade livremente organizada, cooperativa e solidria.

Em seguida conceituao do desporto educacional, propem a incluso na LDB dos seguintes dispositivos, sob a forma de artigos:Art. 1) A Educao Fsica, como componente indissocivel da Educao, integrar o ncleo comum obrigatrio de mbito nacional, dos currculos do ensino fundamental e mdio. Pargrafo nico - Os sistemas de ensino fixaro os objetivos da Educao Fsica ajustados s necessidades biopsico-sociais de cada faixa etria da populao escolar, atravs da prescrio do desenvolvimento de condutas motrizes ligadas expresso da personalidade; 2) As prticas desportivas formais e no formais, direito de cada um e dever do Estado, sero ofertados no ensino fundamental, no ensino mdio e em todos os cursos superiores; 3) Ao desporto educacional sero destinados prioritariamente os recursos do Ministrio da Educao para o desporto. Pargrafo nico - O desporto educacional, ser entendido como aquela manifestao desportiva que evitando a seletividade e a hipercompetitividade de seus praticantes, ocorre na Escola e em outros ambientes, tendo como finalidade a formao para a cidadania". O artigo 37 do Substitutivo Jorge Hage diz, ento, que "os sistemas de ensino promovero, em todos os nveis, (I) o desporto Constituda em 1985 pelo ento Ministro da Educao, Marco Maciel, foi responsvel pela elaborao do documento Uma nova Poltica para o Desporto Brasileiro: Esporte Brasileiro Questo de Estado. Relatrio Conclusivo. Esse Documento, publicado pela SEED/MEC em dezembro daquele ano, traz em si os princpios conceituais sustentadores daquilo que ficou configurado na Constituio Brasileira de 1988, em seu artigo 217, no concernente ao Desporto.12

Trabalho realizado por: [email protected]

educacional e as prticas desportivas no formais, tendo como objetivo a formao integral para a cidadania e o lazer, evitadas as caractersticas de seletividade e competitividade de outras manifestaes desportivas"13.

Quanto presena da Educao Fsica no Ensino Superior, subentende-se que sua obrigatoriedade, definida por Decreto-lei em 1969, deixaria de existir, j que caberia s Instituies, de posse da autonomia didtico-cientfica estabelecida nos incisos I a IX do pargrafo primeiro do artigo 77, observado o caput do mesmo, "criar, organizar, alterar e extinguir cursos, habilitaes e programas de ensino, pesquisa e extenso"'(III) e "definir os currculos dos seus cursos, observadas as diretrizes gerais do Conselho Nacional de Educao" (IV). Na verso que sucedeu do Substitutivo Jorge Hage construda sob a relatoria, na Comisso de Educao, da Deputada Angela Amin (PDS/SC), j mediada por uma nova correlao de foras ainda mais desfavorvel que a anterior, dada a natureza conservadora tomada pelo Congresso Nacional a partir das eleies de 1990 para a legislatura iniciada em fevereiro de 199114 vamos encontrar, tambm no referente Educao Fsica, uma construo de texto que alterava para pior o presente at ento. Nessa verso, aprovada na Cmara dos Deputados em 13 de maio de 1993 sob o n 1.258B/88, estava presente uma redao que trazia implicitamente a idia da associao da Educao Fsica com a questo da capacitao fsica. Expressava o artigo 34 daquele Projeto de Lei que "AA Constituio brasileira de 05/10/88 trata, em seu artigo 217, do Desporto. Ento, a expresso Esporte errada? Possu outro significado? Joo Lyra Filho (mentor intelectual do decreto-lei n 3.199/ 41), logo aps o prefcio do Professor Gilberto de Macedo 3 edio (1974) de seu Livro Introduo Sociologia dos Desportos e antes do Prembulo, nos apresenta as seguintes consideraes sobre o assunto: "Desporto, Sport ou Esporte? Pedi uma resposta ao saudoso mestre Antenor Nascentes, que se manifestou assim: ' Nem desporto nem sport, esporte. Desporto um arcasmo que Coelho Neto procurou reviver quando se criou a respectiva Confederao. Coelho Neto era muito amante de neologismos. Haja vista o paredro. A palavra inglesa h muito tempo est aportuguesada e bem aportuguesada; usada por toda a gente. Devemos usar a linguagem de todos, para no nos singularizarmos. No est de acordo?' Respondi-lhe, com a vnia devida, que permaneo na dvida. No desconheo a influncia do gosto popular e estimo deveras as dominantes da literatura oral. Mas indo s origens do nosso vernculo, identifico o uso da palavra desporto nas letras e na boca de Portugal. No s os quinhentistas, inclusive S de Miranda, empregavam desporto. No tem havido outra opo no escrever e no falar dos portugueses. A palavra desport j era de uso no francs antigo, significando prazer, descanso, espairecimento, recreio; com este sentido, figura em poesias de Chaucer. Os ingleses a tomaram por emprstimo, convertendo-a, depois, no vocbulo sport. Uma nova razo faz-me permanecer adepto do vocbulo arcaico: ele foi atrado prpria Constituio desta nossa Repblica Federativa. O artigo 8 , sobre a competncia da Unio, dispe na alnea q do item XVII: 'legislar sobre diretrizes e bases da educao nacional; normas gerais sobre desportos No desejo ser denunciado como infrator da nossa Carta Magna...Mas a denncia pode prosperar, com mudana de acusado, pois no so raras, na legislao do pas, as vezes em que os autores dos respectivos textos oficializam o vocbulo esporte." Com todo respeito a Joo Lyra Filho, eu fico com Esporte!14 13

Saem de cena parlamentares que representaram papis centrais na pea entabulada: Jorge Hage (PTD/BA), Octvio Elsio (PSDB/ MG), Hermes Zanetti (PSDB/RS), Carlos SantAnna (PMDB/BA), Ldic da Mata (PCdoB/BA, poca), Gumercindo Milhomem (PT/SP).

Trabalho realizado por: [email protected]

Educao Fsica, integrada proposta pedaggica da Escola, componente curricular da Educao Bsica, ajustando-se s faixas etrias e s condies da populao escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos", reproduzindo dessa forma o preceituado na Lei n 5.664/71 que acrescenta pargrafo nico ao artigo I do Decreto-lei n 705/69, j aqui comentado. Ao ser encaminhado para o Senado, o Projeto de lei n 1.258B/88 passa a ser identificado como PLC n 101/ 93, tendo como seu relator, na Comisso de Educao, o Senador Cid Sabia (PMDB/CE) que, em 12 de dezembro de 1994, encaminha um novo Substitutivo consubstanciado no Parecer n250/94, previamente aprovado na Comisso de Educao, em 30 de novembro para votao em Plenrio, fato esse que acabou no ocorrendo, por conta de manobra regimental. No que tange Educao Fsica, o Senador Cid Sabia afasta-se da redao presente no texto originrio da Cmara dos Deputados como tambm daquela formulada pelo Senador Darcy Ribeiro, expressa da seguinte maneira no Projeto de Lei do Senado n67 por ele apresentado naquela Casa em 1992, quando de sua primeira e frustrada tentativa de atropelar o Projeto de lei originado na Cmara:Artigo 26 (...) Pargrafo primeiro - A Educao Fsica, integrada proposta pedaggica da escola, atividade obrigatria no ensino fundamental e mdio, sendo oferecidas progressivamente oportunidades apropriadas para alunos excepcionais.

Se tal redao prevalecesse, voltaria a Educao Fsica a ter a conotao de atividade curricular, certamente de acordo com o sentido dado ao termo pelo Conselho Federal de Educao em 1971, atravs do Parecer n 853 e da Resoluo n 815. Segundo expresso utilizada pelo Conselheiro Valnir Chagas, relator do Parecer em apreo, "nas atividades, as aprendizagens desenvolver-se-o antes sobre experincias colhidas em situaes concretas do que pela apresentao sistemtica dos conhecimentos", entendimento esse que me levou a dizer que:a compreenso da Educao Fsica, enquanto matria curricular incorporada aos currculos sob a forma de atividade ao no expressiva de uma reflexo terica, caracterizando-se dessa forma no 'fazer pelo fazer' , explica e acaba por justificar sua presena na instituio escolar (...) enquanto uma mera experincia limitada em si mesma, destituda do exerccio da sistematizao e compreenso do conhecimento, existente apenas empiricamente. Como tal, faz por reforar a percepo da Educao Fsica acoplada, mecanicamente, educao do fsico, pautada numa compreenso de sade de ndole bio-fisiolgica, distante daquela observada pela Organizao Mundial da Sade, compreenso essa sustentadora do preceituado no pargrafo primeiro do artigo 3 do Decreto n69.450/7l, que diz constituir a aptido fsica "a referncia fundamental para orientar o

Essa Resoluo traduz, no caput do artigo 4, a forma como as matrias curriculares deveriam ser escalonadas nos currculos plenos de 1 e 2 graus, tratando em seus pargrafos 1 , 2 e 3 de definir obtermos Atividades, reas de Estudo e Disciplinas.

15

Trabalho realizado por: [email protected]

planejamento, controle e avaliao da Educao fsica, desportiva e recreativa, no nvel dos estabelecimentos de ensino" 16.

Ao desvincular-se das redaes acima referidas, o Senador Cid Sabia, no pargrafo 1 , do artigo 30, de seu Substitutivo, restitui Educao Fsica sua condio de componente curricular, dando-nos a impresso de perceber a importncia de sua insero para alm de seus atributos de capacitadora fsica dos educandos:So tambm componentes curriculares obrigatrios do ensino fundamental e mdio o estudo da arte, a Educao Fsica e, a partir da 5 srie do ensino fundamental, o estudo de pelo menos uma lngua estrangeira moderna, cuja escolha ficar a cargo da comunidade escolar, dentro das possibilidades da instituio.

No pargrafo 3 daquele mesmo artigo, reporta-se ao desporto educacional prtica desportiva no formal, dizendo caber aos sistemas educacionais a promoo do primeiro e o apoio segunda. Todavia, tal impresso em parte se desfaz quando, no captulo XI Da Educao Bsica de Jovens e Adultos trabalhadores nos deparamos com o dispositivo da facultatividade da matrcula em Educao Fsica, no perodo noturno, expressa no inciso V do pargrafo nico do artigo 47. No entanto, antes mesmo que maiores gestes fossem entabuladas no intuito de alterar-se a redao dos pontos do PLCn 101/93 que tratava da Educao Fsica, os olhares foram dele retirados e voltados para a nova investida do Senador Darcy Ribeiro que, em 21 de maro de 1995, v aprovado na Comisso de Constituio, Justia e Cidadania seu Parecer (75/95), onde aponta vcios de inconstitucionalidade tanto no Projeto de lei, com origem na Cmara, como no elaborado pelo Senador Cid Sabia. Nesse Parecer, em seu artigo 25, pargrafo nico, Darcy Ribeiro retoma a redao sobre a Educao Fsica formulada em seu PLS 67/92. Dando continuidade estratgia da base parlamentar governista urdida em manobra regimental que contou com a importante participao do Senador Beni Veras, Darcy Ribeiro, d encaminhamento, a partir de seu Parecer, a um Substitutivo que, aps diversas modificaes realizadas com o propsito de diminuir as resistncias que pairavam sobre ele, aprovado pelo Senado, em 8 de fevereiro de 1996, configurando-se o espectro de uma vitria certamente obtida por conta do novo tom poltico delineado a partir da eleio de Fernando Henrique Cardoso, acirrador do perfil conservador do legislativo nacional francamente favorvel s iniciativas neoliberais privatistas do governo que se iniciava. Em seu Substitutivo, Darcy Ribeiro refere-se Educao Fsica no pargrafo primeiro do artigo 24. A maneira como o faz "Os currculos valorizaro as artes e a Educao Fsica de forma a promover o desenvolvimento fsico e cultural dos alunos" causou espcie entre os profissionais da rea. O Professor da Universidade Federal de Uberlndia,In Educao Fsica no Brasil: a histria que no se conta (1994, pp. 108 - 109). Tambm referi-me ao assunto no livro Educao Fsica: Diretrizes Gerais para o Ensino de 2 Grau: Ncleo Comum (1988,1 e no Artigo Pelos Meandros da Educao Fsica (1993).16

Trabalho realizado por: [email protected]

Apolnio Abadio do Carmo, manifesta veementemente sua contrariedade num artigo denominado Congresso Nacional e a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Brasileira: a arte da inflexo (1996)17. Nele, afirma que Darcy Ribeiro,ao colocar de forma descomprometida a exigncia curricular destes conhecimentos (...) desconsiderou toda a histria de como os currculos so organizados em nosso 'sistema' educacional, (onde) os curriculistas, pressionados pelos planejadores e economistas, trabalham sempre com propostas que possibilitem tanto aos Estados e Municpios, quanto aos dirigentes de instituies privadas, o mximo de economia possvel em cada grade curricular.

"Manter o texto como est o mesmo que decretar a extino desses contedos dos currculos do ensino fundamental e mdio", atesta ainda o mesmo professor, demostrando perplexidade pela contradio presente, em sua opinio, entre o previsto nesse pargrafo primeiro e o previsto no inciso IV do artigo 2518, que traduz, como uma das diretrizes dos contedos curriculares da Educao Bsica, "a promoo do desporto educacional e apoio s prticas desportivas no-formais". Essa questo, pois, a nosso ver, revela-se contraditria somente em sua aparncia, seno vejamos: a referncia Educao Fsica presente no Substitutivo Darcy Ribeiro estabelecia, de fato, a sua retirada da base nacional comum dos currculos do Ensino Fundamental e Mdio, vinculando sua permanncia no currculo pleno parte diversificada que, por sua vez, e ainda de conformidade com o caput do artigo 2419 seria composta pelas exigncias prprias s "caractersticas regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela". Tal enunciado, contudo, longe de opor-se quele contido no artigo 25, inciso IV, aqui j mencionado, revela-se parte indissocivel dele. Para que assim entendamos, faz-se necessrio nos referirmos existncia da Lei n 8.946 de 05 de dezembro de 1994, que cria o Sistema Educacional Desportivo Brasileiro integrado ao Sistema Brasileiro de Desporto. Tendo como objetivo propalado o "desenvolvimento integral do educando e a sua formao para a cidadania e o lazer" a ser alcanado atravs "do sistema de ensino e de formas assistemticas de educao" conforme dita o seu artigo 2, sua subordinao aos fins ltimos do Sistema Esportivo Nacional materializa-se, todavia, como seu objetivo real, praticamente em todo o corpo do texto legal,

O mencionado professor j havia se manifestado sobre a questo da LDB em Artigo denominado Educao Fsica e a nova Lei de Diretrizes e Bases: Subsdios para a Discusso (1988) 18 Artigo 25 - "Os contedos curriculares da educao bsica observaro, ainda, as seguintes diretrizes: IV - promoo do desporto educacional e apoio s prticas desportivas no-formais". 19 19 Artigo 24 - "Os currculos do ensino fundamental e mdio devem ter uma base nacional comum a ser complementada pelos demais contedos curriculares especificados nesta Lei e, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada exigida pelas caractersticas regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela".

17

Trabalho realizado por: [email protected]

configurando o que j foi denominado por estudiosos do assunto de Esporte na Escola e no da Escola20. Estruturada em 13 artigos e 2 pargrafos, a Lei n8.946/ 94, j no seu artigo 1obriga o Ministrio da Educao a incluir o Sistema Educacional Desportivo Brasileiro na elaborao do Plano Nacional do Desporto, na forma do pargrafo 3 do artigo 4 da Lei n 8.672/93, a lei Zico, que fixa Diretrizes e bases para a organizao do desporto nacional. Dentre os programas organizados preceitua o artigo 5 "ser obrigatria a realizao anual de Olimpadas estudantis em mbito nacional, nas diversas modalidades desportivas que compem o sistema federal", das quais segundo o artigo 6 - somente poder participar o aluno que "comprovar rendimento e freqncia escolar satisfatrios". As referidas olimpadas tero de acordo com o artigo 7 - "etapas classificatrias em mbito municipal e estadual", sendo que conforme seu pargrafo 1 "os resultados das olimpadas municipais serviro de base para a escolha das selees que disputaro as olimpadas estaduais, e o resultado destas, para a escolha das que concorrero em mbito nacional", e reza seu pargrafo 2 "os ganhadores da olimpada nacional credenciar-se-o para a formao das selees que representaro o Brasil em olimpadas estudantis internacionais. Em artigo denominado Esportes nas Escolas e Olimpadas, o ento Deputado Federal por Rio Grande do Sul, Victor Faccioni autor do Projeto de Lei n 1.377/91 depois transformado na lei acima citada eufrico com a sua aprovao no Senado e certo da sano presidencial a ele, comentando a importncia do que estaria prestes a se concretizar afirma:prtica de esportes exerce uma influncia muito forte no desenvolvimento fsico e psicolgico da criana e do jovem, alm de oportunizar alvio para frustraes e agressividade, afastar das drogas e estimular a participao e o desenvolvimento de hbitos de disciplina, camaradagem, esprito de equipe, fraternidade e solidariedade num ambiente positivamente competitivo, sendo inclusive, fator de orgulho cvico. Pelo meu projeto acrescenta as Olimpadas preparadas desde as escolas uma prtica largamente difundida nos Estados Unidos sero um meio de incentivarmos a prtica do esporte amador e o preparo de atletas com vistas s olimpadas internacionais.

Em ltima instncia, temos a possibilidade de entender que a excluso curricular da Educao Fsica, pela sua no obrigatoriedade, abriria a porta agora oficialmente, pois oficiosamente ela j se encontra escancarada h muito tempo para a promoo do esporte na escola que, por caracterizarse como atividade extra-curricular, permitiria a cobrana, por parte da instituio, de uma taxa/mensalidade daqueles alunos que dela desejassem participar, ou ento a busca de parceria para a sua concretizao na escola. Com os recursos da advindos o estabelecimento educacional poderia contratar20

Valter Bracht foi quem, pela primeira vez, fez uso da expresso, utilizando-a em artigo denominado Educao Fsica: A busca da autonomia pedaggica, publicado em 1989, e republicado numa coletnea de outros artigos seus, em 1992, chamada Educao Fsica e Aprendizagem Social. Tambm vali-me da expresso no Artigo Pelos meandros da Educao Fsica (1993) e no Projeto Reorganizao da Trajetria Escolar no Ensino Fundamental(1996).

Trabalho realizado por: [email protected]

no professores de Educao Fsica, mas tcnicos esportivos, com formao profissional ou no, e ainda auferir uma boa margem de lucro na ao comercial entabulada21. Tal possibilidade j se fazia presente no horizonte das intenes daquele deputado gacho, quando de sua iniciativa. Com efeito, no artigo mencionado, ele prope que "o esporte nas escolas e as olimpadas possam ser patrocinados por empresas privadas, que tambm podero custear os estudos dos estudantes atletas, atravs de bolsas de estudos". E a aponta a fonte de sua inspirao:Um sobrinho da lole e meu, Gustavo Zatti, foi bolsista nos Estados Unidos, jogando Tnis numa universidade, e Marcelo Mnica estudou naquele pas numa escola de 2 grau e ambos voltaram entusiasmados com a intensa atividade esportiva nas escolas. Eles me inspiraram para o projeto.

E conclu, enfaticamente, pautando-se no velho e hoje mais do que nunca atual aforisma de que o que bom para os EUA bom para o Brasil. "Se os Estados Unidos, um pas rico, valoriza o equipamento das escolas, por que no o Brasil?". A Lein 8.946/94, em seu artigo 9, estabelece que permitido s escolas de todos os graus buscar e receber patrocnio empresarial sob a forma de bolsas desportivas paralelas a bolsas de estudo, bem como convnios de mtuo fornecimento de informaes, pesquisas e projetos vinculados ao patrocnio de atividades desportivas.

J a regulamentao dessa Lei por mais que seu autor tenha se esmerado em viabiliz-la, envolvendo at o governador de seu Estado nesse intento no se processou at o presente momento. No entanto, o Substitutivo Darcy Ribeiro, em sua reta final na Cmara dos Deputados teve, no apagar das luzes como diramos ns, os esportistas , alterada a sua redao pelo seu Relator, Deputado Jos Jorge, que, por presses de Deputados acionados por setores da Educao Fsica ligados ao movimento sindical dos trabalhadores da Educao22, recuperou aTal dinmica j prtica corrente em muitos Estados brasileiros, notadamente os da regio norte/nordeste. Obter bons resultados esportivos nas competies escolares promovidas pelo Estado traz timos dividendos promocionais, melhores e mais baratos at do que aqueles obtidos com anncios veiculados nos meios de comunicao. 22 O Sindicato dos Professores do Municpio do Rio de Janeiro fez circular um documento endereado aos Professores de Educao Fsica e Educao Artstica, no qual sugere a partir da afirmao do Deputado Jos Jorge, estampada na Folha de So Paulo, de que iria "aproveitar o texto do Senado, que mais resumido, e incluir algumas coisas do Projeto da Cmara" o envio de cartas e telegramas aos deputados Federais do Rio de Janeiro e ao Relator do Projeto com o seguinte texto "Como professor de Educao Fsica e Artstica, solicito a manuteno do texto aprovado em 1993 pela Cmara dos Deputados". Em Juiz de Fora, MG, professores de Educao Fsica passaram abaixo-assinado endereado ao Relator no qual, a partir de alguns considerandos, reivindicavam "que o Parecer do ilustre Deputado seja favorvel manuteno da Educao Fsica como Componente Curricular Obrigatrio nas escolas de 1,2 e 3 Graus como hoje e historicamente sempre o foi, pelo seu importante papel e valor reconhecidos pela sociedade Brasileira". Em Minas Gerais, professores de educao fsica contataram o professor da Universidade Federal de Minas Gerais e presidente21

Trabalho realizado por: [email protected]

redao presente no Projeto original daquela Casa. Dessa forma, a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, aprovada em 17 de dezembro de 1996 e sancionada trs dias depois, 20 de dezembro, trouxe em seu corpo, no referente Educao Fsica, a seguinte redao estampada em seu artigo 26, pargrafo 3:A Educao Fsica, integrada proposta pedaggica da escola, componente curricular da Educao Bsica, ajustando-se s faixas etrias e s condies da populao escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos.

Retira-se, com essa redao, a camisa de fora que a aprisionava nos limites prprios ao famigerado eixo paradigmtico da aptido fsica, medida que a vinculava to somente busca do desenvolvimento fsico do aluno, como constava no texto do Senador Darcy Ribeiro, embora a permanncia do seu carter facultativo para os cursos noturnos revele que o perigo da estreiteza pedaggica ainda a espreita. A esse respeito, parece-nos que est incorporado em um s texto, aquilo que na legislao anterior estava normatizado em trs instrumentos legais, quais sejam, o Decreto n69.450/71 que, em conjunto com a Lei n6.503/77, regulamentava as condies da facultatividade da prtica da Educao Fsica pelos alunos, e a Lein5.664/71, que facultava aos cursos noturnos o seu oferecimento. O Parecer n5/97 do CNE no permite dvidas quanto ao sentido da facultatividade, possuindo ela, segundo seu entendimento, dupla mo, tanto podendo ser evocada pelo Instituio escolar quanto pelo aluno. Assim se manifesta a respeito, o referido Conselho:Certamente escola caber decidir se deseja oferecer Educao Fsica em cursos que funcionem no horrio noturno. E ainda que o faa, ao aluno ser facultado optar por no freqentar tais atividades, se esta for a sua vontade.

Ficamos com a compreenso de que, com esse Parecer, o CNE demonstra no ter se afastado o suficiente da tese da Educao Fsica percebida como atividade curricular e, por conseguinte, de tudo o que isso significa! Por outro lado, sua integrao proposta pedaggica da escola amplia-lhe os horizontes, abrindo a possibilidade para as distintas concepes que hoje granjeiam em seu interior se manifestarem objetivamente, na ao pedaggica concreta, embora o fantasma dos PCNs paire velada e sutilmente sobre ela, ameaando-a com uma outra espcie de limitao23.da Cmara de Educao Bsica do Conselho Nacional de Educao, Carlos Roberto Jamil Coury, solicitando sua interveno junto ao Deputado Jos Jorge no intuito de sensibiliz-lo para a reivindicao aludida. 23 Embora exista hoje, na Educao Fsica brasileira, uma considervel quantidade de concepes pedaggicas de distintos matizes tericos, a verso preliminar do PCN, elaborada para a rea e analisada por profissionais contratados pela Secretaria de Ensino Fundamental do MEC, limita em apenas um referencial o construtivismo piagetiano respingado de nuances scio-interacionistas vigotskianas que lhe reveste de um charmoso ecletismo a possibilidade de sua organizao pedaggica. Isso j bastante para que o PCN em Educao Fsica venha a merecer um captulo a parte que busque explicitar o processo de sua elaborao. O CBCE (1997) organizou e lanou no X CONBRACE, uma coletnea sob o titulo Educao Fsica Escolar frente LDB e aos PCNs: Profissionais analisam renovaes, modismos e interesses.

Trabalho realizado por: [email protected]

Por outro lado, a facultatividade que lhe atribuda nos cursos noturnos , ao mesmo tempo, a explicitao de sua obrigatoriedade nos cursos diurnos. No bastasse isso, o Conselho Nacional de Educao, em duas oportunidades, neste ano de 1997, manifestou-se ratificando o teor do pargrafo 3 do artigo 26 da Lei n 9.394/96. A primeira delas no Parecer da sua Cmara de Educao Bsica n5, de 7 de maio, no qual expressa a compreenso de devermos som-la aos componentes curriculares da base comum nacional. A segunda, em / / de junho, pelo Parecer n376, no qual refora sua condio de componente curricular da Educao Bsica. Tal obrigatoriedade ganha contornos distintos com as medidas sintonizadas com a inteno de regulamentao da LDB, no concernente ao aumento dos dias letivos, de 180 para 200 voltadas para a reorganizao curricular do Ensino Mdio, encaminhadas pelo Ministrio da Educao e do Desporto ao Conselho Nacional de Educao, no ms de Julho do corrente ano. Segundo elas, as 2.400 horas mnimas obrigatrias para aquele nvel de escolarizao seriam desmembradas entre uma Base Curricular Comum Nacional, com 1.800 horas distribudas em trs reas de conhecimento (Cdigo e Linguagem, Cincia e Tecnologia e Sociedade e Cultura), e uma Parte Diversificada com 600 horas abertas ao ensino dito propedutico, tcnico e de aprofundamento de conhecimento. A organizao em reas de conhecimento traz subentendida a superao da idia de currculo mnimo estruturado em torno de matrias curriculares tal e qual observamos na Resoluo n 003/87 do Conselho Federal de Educao, que trata da Reforma Curricular dos Cursos Superiores de Educao Fsica - definindo a afinao dos instrumentos voltados para o 2 Grau com o estabelecido para o Ensino Fundamental pelos Parmetros Curriculares Nacionais. Isso se depreende das palavras do Diretor do Departamento de Desenvolvimento da Educao Mdia e Tecnolgica, Ruy Berger Filho, em matria publicada em 8 de julho do corrente ano (p.A 16) pelo jornal O Estado de So Paulo, na qual afirma quenossa inteno no estabelecer quais disciplinas devem constar do currculo comum (e que) embora a gente reconhea que o conhecimento se organiza em disciplinas, ao estipularmos reas de conhecimento estamos dando uma viso mais globalizada e a oportunidade de que as matrias tradicionais possam ser aplicadas de forma interligada.

De acordo com o previsto para essas reas de conhecimento, devero estar nelas contempladas conhecimentos das formas contemporneas de Linguagem, alm da Filosofia, Sociologia, Informtica, Lngua Estrangeira e Educao Fsica, conforme nos informa a matria publicada pelo jornal campineiro Correio Popular24, que tambm d voz ao Diretor do Departamento de Desenvolvimento do Ensino Mdio e Tcnico do MEC. A rea denominada Cdigo e Linguagem abarcaria a verbal, icnica, sonora e corporal, a localizando-se a justificativa para a presena da Educao Fsica, seProjeto de Reforma do Segundo Grau aumenta a carga horria" o ttulo da matria publicada pelo jornal em sua edio de 5 de julho.24

Trabalho realizado por: [email protected]

compreendida como disciplina responsvel pelo trato do movimento humano enquanto forma de expresso e/ou linguagem. Podemos tambm aferir a pertinncia de v-la na rea de conhecimento Sociedade e Cultura se a percebermos como disciplina que trata pedagogicamente dos temas constitutivos da Cultura Corporal dimenso da Cultura do homem e da mulher brasileiros25.

A Educao Fsica no Ensino Obrigatoriedade Anacrnica

superior:

o

Fim

da

A obrigatoriedade da Educao Fsica na Educao Bsica, configurada na Lei n 9.394/96, contudo, no extensiva ao Ensino Superior. Pois se tal constatao fere de morte considerveis segmentos dos seus profissionais notadamente queles abnegados defensores de sua presena no 3grau por motivos nicos de mercado de trabalho responde s expectativas de outros tantos que, vacinados contra princpios corporativos, h muito vinham buscando mecanismos legais para a sua extino naquele nvel de ensino. Com efeito, data do incio dos anos 80 os primeiros sinais abonadores de medidas que viessem aboli-la da educao superior. Tais sinais, todavia, foram rapidamente sufocados, basicamente, pelos mesmos setores que aplaudiram o ingresso coercitivo da Educao Fsica naquele grau de ensino, no final dos anos 60, atentando apenas para o horizonte profissional que se delineava e nem de longe analisando os possveis motivos que a estariam levando para dentro do sistema universitrio. A anlise desses motivos, pois, passou a ser feita tambm naquela dcada, um pouco mais para o seu final, corroborando para o crescer do posicionamento favorvel alterao daquele quadro26. Mesmo assim a situao permaneceu quase que inalterada at meados da dcada seguinte, quando passamos a assistir o espocar de experincias voltadas para a modificao do quadro existente. Em 1996, aps tentativas frustradas da USP em elimin-la do rol das disciplinas obrigatrias, paralelamente a estudos que buscavam saber do estado de nimo dos profissionais da rea sobre o assunto, a Faculdade de Educao Fsica da UNICAMP delibera em Assemblia Geral de seus docentes, convocada pela sua Direo para essa finalidade a favor da busca de meios para suprimi-la do rol das disciplinas obrigatrias dos currculos de graduao da Universidade. Naquela ocasio, elaboramos um texto onde expnhamos nossa compreenso sobre o assunto.

A perspectiva crtico-superadora de Educao Fsica traduzida em livro (1992) e elaborada por um Coletivo de autores (Carmen Lcia Soares; Celi Taffarel; Elizabeth Varjal; Micheli Escobar; Valter Bracht e por mim) , uma das concepes que busca traduzir o referido entendimento em metodologia de ensino. 26 Particularmente, trato desse tema no livro Educao Fsica no Brasil: A Histria que no se conta, publicado pela Editora Papirus em 1988. J em 1983, a ele me reportei no artigo (des)caracterizao profissional-filosfica da Educao Fsica", publicado pela Revista brasileira de Cincias do Esporte, volume 4(3), de maio daquele ano.

25

Trabalho realizado por: [email protected]

Sob o ttulo A Educao Fsica no Ensino Superior: A Obrigatoriedade Anacrnica assim nos reportamos matria: 26. Convivemos, nesta UNICAMP com uma situao criada ao final dos anos 60, perodo de amargas lembranas para aqueles que sabem de seu significado histrico, que absolutamente nada justifica continuar persistindo nestes anos 90. Refiro-me existncia da obrigatoriedade extensiva a todos os alunos desta Universidade, como ademais aos de todo o ensino superior brasileiro do cursar da disciplina curricular Educao Fsica. Como sabido, teve a Educao Fsica ratificada sua obrigatoriedade no ento denominado ensino primrio e mdio, na Lei n 4.024/61, em seu artigo 22. No se cogitava at ento, e importante frisar tal fato, torn-la obrigatria tambm no ensino superior. Anos mais tarde, em 1966, o Conselho Federal de Educao deixou transparecer sua posio a esse respeito quando, no Parecer n 424, assim se expressou. 'Todos reconhecemos a necessidade e o benefcio de exerccios fsicos em qualquer idade, desde que devidamente adaptados. Entretanto, a razo de ser da obrigatoriedade prescrita em lei, no tanto o benefcio, e sim o papel de fator formativo, que inclui atitudes fsicas, mentais e morais. Por isso, a obrigatoriedade da Educao Fsica se ajusta bem aos cursos de nvel mdio que, de conformidade com a lei de diretrizes e base, se destinam formao do adolescente. Ultrapassada essa faixa de formao, a prtica de exerccios fsicos j deve ser um hbito agradvel e saudvel, resultante de um processo formativo...' E conclu: 'Nada impede que nas escolas superiores, haja diversas modalidades de exerccios fsicos. O que parece no caber mais, a obrigatoriedade da Educao Fsica'. No poderia ser mais claro o ponto de vista defendido pelo CFE. Passados dois anos desse Parecer, a Lei n 5.540 de 28 de novembro lei da Reforma Universitria parecia concordar com tal pensamento quando, em seu artigo 40, letra C, incitava as instituies de ensino superior a estimularem as atividades esportivas, vindo por intermdio do Decreto-lei n 464, de 11 de fevereiro de 1969, dizer ser atravs de orientao adequada e instalaes especiais, a maneira pela qual deveria se dar tal estmulo. Entretanto, no demorou mais do que 5 meses para que a Educao Fsica por fora do Decreto-lei n705, de 25 de julho passasse a ter a sua obrigatoriedade estendida a todos os nveis e ramos de escolarizao, contrariando dessa maneira, tudo o que se configurava nos pronunciamentos do Conselho Federal de Educao. Fica-nos evidente que no atravs desses ou de outros documentos legais, vistos e analisados em si mesmos, que vamos entender o porqu da obrigatoriedade preceituada. Em nenhum momento eles deixaram transparecer tal inteno. A explicao, a nosso ver, encontra-se em outra instncia de entendimento. Se verdade que o movimento deflagrado em 10 de abril de 1964 teve respaldo em amplos setores da classe dominante, tambm o que encontrou desde os primeiros momentos que se seguiram ao golpe fortes resistncias em diversos outros segmentos sociais brasileiros.

Trabalho realizado por: [email protected]

sabido que os estudantes, notadamente os universitrios, localizavam-se entre aqueles que opunham ferrenha resistncia s intenes anti-democrticas dos que falavam em nome do Estado. A Unio Nacional dos Estudantes, UNE, extremamente combativa, incomodava por demais os militares, fazendo com que, j em 1964, tivessem eles que lanar mo de mecanismos legais ao lado da sempre presente e ativa represso fsica para tentar arrefecer o nimo daquela entidade estudantil. Em 9 de novembro daquele ano, foi ento promulgada a Lei n 4.464 a Lei Suplicy, como ento ficou conhecida em 'homenagem' ao seu idealizador, Deputado Suplicy de Lacerda que dispunha sobre os rgos de representao dos estudantes e criava, para substituir a UNE, afigurado Diretrio Nacional dos Estudantes. Isso, porm, no alterou substancialmente a combatividade da UNE, nem sua legitimidade junto aos estudantes e sociedade em seu conjunto, fazendo com que o Governo promulgasse, em 14 de janeiro de 1966, um outro documento legal, o Decreto n 57.634, que suspendia por 6 meses, a partir daquela data, as suas atividades. Mesmo assim, na clandestinidade a partir de ento (os '6 meses' tornaram-se para efeitos prticos, sinnimo de sua extino), a UNE continuou presente tanto nos debates acerca das questes nacionais manifestando sempre a inteno de ver implementado os planos polticos pr-64 como tambm nas questes propriamente educacionais, como aquelas que diziam respeito reforma universitria em gestao, colocando-se contrria aos convnios MEC-USAID ento ensaiados. As retaliaes sofridas pela UNE em 1966 dentre outras coisas fizeram com que sua presena, no plano nacional, ficasse abalada, guardando suas lutas propores mais regionalizadas daquela poca at incio de 68, quando, ento, teve sua fora recrudescida por contingncia de determinados fatos ligados morte de um estudante. Nesse ano de 1968 e incio de 69, veio a entidade sofrer, malgrado sua revitalizao, toda sorte de presses, sendo praticamente aniquilada afora a violncia dos aparelhos repressivos por fora da promulgao do Ato Institucional n 5, de 13 de dezembro de 1968, e dos Decretos-lei nos464 e 477 de fevereiro de 1969. Nesse cenrio, coube Educao Fsica o papel de entrando no ensino superior por fora do Decreto-lei n 705, de 25dejulhode 1969 colaborar, atravs de seu carter ldico-esportivo, com o esvaziamento de qualquer tentativa de rearticulao poltica do movimento estudantil. Mas no somente Educao Fsica foi destinado esse papel. Os passos dados por ela, nesse sentido, foram acompanhados pelos da educao moral e cvica, em uma demonstrao inconteste de que a incluso compulsria da Educao Fsica no ensino superior, veio atender a uma ao engendrada pelos 'arquitetos' da ordem poltica vigente, no intuito de aparar possveis arestas no campo educacional que pudessem vir a colocar em risco a consecuo do projeto de sociedade em construo. Assim, se a Lein5.540/68 referia-se Educao Fsica em sua letra 'C do artigo 40, a letra 'D' do mesmo artigo fazia referncia necessidade das instituies de ensino superior estimularem '...as atividades que (visassem) a formao cvica, considerada indispensvel criao de uma conscincia de

Trabalho realizado por: [email protected]

direitos e deveres do cidado e do profissional...'. Se o Decreto-lei n 705/69 tornou a Educao Fsica obrigatria em todos os nveis e ramos de escolarizao, coube ao Decreto-lei n 869, de 12 de setembro daquele mesmo ano, determinar medida idntica com relao Educao Morai e Cvica. Por sua vez, qualquer semelhana entre o disposto no artigo 32 do Decreto n 68.065/71 que criava a figura dos centros cvicos, os quais deveriam funcionar '...sob a assistncia de um orientador, elemento docente designado pela direo do estabelecimento...' com o previsto no pargrafo 1, do artigo 13, do Decreto n69.450/71 que dizia ser incumbncia dos clubes esportivos (escolares) desenvolverem '... atividades fsicas supervisionadas pelos professores de Educao Fsica...', no mera coincidncia! Colocavam-se ambas, pois, na direo de responder aos princpios de Desenvolvimento com Segurana, prprios famigerada Doutrina da Segurana Nacional. Assim, a excluso da Filosofia do rol das disciplinas obrigatrias dos currculos de 2 Grau e a incluso da Educao Moral e Cvica no 1 Grau, Organizao Social e Poltica do Brasil no 2 e Estudo dos Problemas Brasileiros no 3, paralelamente Educao Fsica com seu repertrio ldico-esportivo associado s implicaes decorrentes de sua presena na instituio escolar, entendida unicamente enquanto Atividade, vale dizer, fazer prtico destitudo de qualquer necessidade de ser refletido, teorizado, compreendido no pode ser visto como medidas dspares, como se tivessem sido tomadas aleatoriamente. Compem, isto sim, um conjunto de medidas que refletia a opo pela eliminao da disciplina Filosofia enquanto dotada de contedo potencialmente gerador de posturas constitudas de criticidade , optando por outras que, segundo imaginavam tal qual a Educao Fsica , estariam prenhas de atitudes e contedos potencialmente geradores de conscincias acrticas. Os anos 70 assistiram, assim, ao fortalecimento do sistema esportivo universitrio, associado a uma Educao Fsica no ensino superior extremamente competente no buscar dar conta de pelo menos uma de suas tarefas, qual seja, aquela de canalizar as atenes dos estudantes para assuntos mais amenos, deixando que os confrontos e conflitos, quando acontecessem, se circunscrevessem aos campos esportivos. Com relao outra, aquela que visava capacit-los fisicamente para o trabalho, pairam dvidas sobre o seu alcance, no obstante todos os esforos desenvolvidos no fomento de estudos e pesquisas centradas no eixo paradigmtico da aptido fsica. Os ventos democrticos que passaram a varrer a sociedade brasileira ao final dos 70, incio dos 80, alcanou a Educao Fsica, soprandolhe novas idias, abrindo-lhe novos horizontes. Hoje, j possvel identificarmos no sistema educacional brasileiro, experincias bem sucedidas que nos permitem visualizar propostas metodolgicas para o seu ensino que apontam para a sua compreenso de disciplina pedaggica responsvel pelo tratamento dos temas (Esporte, Dana, Ginstica, jogos...) da cultura corporal uma dimenso da cultura do homem e da mulher brasileiros. Seguramente, o avanar dessas concepes

Trabalho realizado por: [email protected]

pedaggicas coloca-a em sintonia com um projeto educacional voltado para o desenvolver da capacidade de apreenso (no sentido de constatao, demonstrao, compreenso e explicao), por parte dos alunos, da realidade social complexa na qual se inserem, de modo a autnoma, crtica e criativamente, nela poderem intervir. Isso posto, no ensino fundamental e mdio, torna injustificvel o carter obrigatrio que a acompanha a Educao Fsica no ensino superior. Assim sendo, defendemos continuar cabendo s instituies de ensino superior, o garantir das condies para o acesso, por parte de seus alunos, aos elementos da cultura corporal, permitindo-lhes vivenci-los de forma qualitativamente distinta daquela presente nas intenes governamentais de outrora, podendo, com eles, envolverem-se facultativamente. Os argumentos at agora utilizados por aqueles que teimam em defender a permanncia do carter de obrigatoriedade a ela vinculada, so tanto de natureza corporativa (o fim da obrigatoriedade implicaria em diminuio do campo de trabalho) quanto administrativa (a mdia de atividades de ensino da Faculdade de Educao Fsica seria bastante abalada para baixo com tal medida). Ambos os argumentos podem, contudo, ser facilmente refutados, mediante a constatao de que vagas em aulas de qualidade (aulas essas, em nmero significativo nesta nossa FEF) so disputadas por muitos interessados, os quais so em quantidade mais do que suficiente para no se ter abalada a to necessria(l) mdia. Procedimentos para que este anacronismo deixe de existir precisam ser adotados! Cabe Faculdade de Educao Fsica desta Universidade a iniciativa de desencadear o processo. O envolvimento de toda a UNICAMP pode ser articulado a partir do esforo conjunto de suas Coordenaes de Graduao, tendo no horizonte aes junto s outras instituies de ensino superior, ao Governo Federal e Congresso Nacional com vistas promulgao de norma legal que venha extinguir a obrigatoriedade em pauta, nos moldes daquela que, h cerca de 3 anos, decretou o fim da obrigatoriedade do ensino da disciplina 'Estudo dos Problemas Brasileiros', no 3o Grau (Lei. n8.663, de 14/06/93). A 'bola' est com a FEF. Vamos ao jogo!" Porm, as iniciativas desencadeadas visando a reverso da situao foram abortadas por conta da tramitao do Projeto de lei de Diretrizes e Bases da Educao que, quela altura, colocava em risco a sua presena no Ensino Bsico. O receio era que a inteno de suprimir sua obrigatoriedade no ensino superior, por parte da comunidade acadmica da rea, fosse usada como argumento para tambm retir-la nos outros nveis. Em carta encaminhada ao Coordenador do Ensino de Graduao da Faculdade, Professor Roberto Vilarta, em 4 de outubro de 1996, assim me pronunciei:Como de conhecimento dessa Coordenao, por deciso de Assemblia docente, realizada dia 8 de maio do ano em curso, foram constitudas duas comisses de trabalho com a incumbncia de definirem mecanismos polticos e pedaggico/administrativos, respectivamente com vistas viabilizao da deliberao dos

Trabalho realizado por: [email protected]

docentes, tomada naquela ocasio, de eliminao da obrigatoriedade da disciplina de servio Educao Fsica, as denominadas 'Efs'. A mim, coube a responsabilidade pela coordenao da Comisso mencionada no primeiro pargrafo deste documento. Para tanto, a Comisso constituda pelos professores Antnio Augusto de Pdua Bfero, Joo Batista freire da Silva e Paulo Ferreira de Arajo reuniu-se na semana subsequente da realizao da Assemblia mencionada (...) quando ento traou um plano de ao a ser desencadeado de imediato. Nesse nterim, contudo, fomos todos 'atropelados 'pelos acontecimentos vinculados aprovao no Senado, do Parecer n 30, de 1996, referente redao final do substitutivo do Senado ao Projeto de Lei da Cmara n 1.258/88 (...) Assim, ao tempo em que esclareo a V Sa. os motivos que levaram o Grupo de Trabalho, sob minha coordenao, a no avanar nos procedimentos com vistas viabilizao do fim da obrigatoriedade da disciplina de servio EF, venho solicitar o empenho dessa Coordenao de fazer chegar comunidade da FEF/UNICAMP nossa compreenso sobre a gravidade do momento pelo qual passa a educao brasileira em geral, e a Educao Fsica em particular, de modo a podermos, institucionalmente, envolver-nos seriamente na busca de solues para as questes neste documento arroladas....

Aprovada a LDB em dezembro de 1996 e estando nela assegurada a obrigatoriedade da Educao Fsica na educao bsica, voltou-se novamente a ateno para a problemtica da sua presena no ensino superior. A Cmara de Educao Superior do Conselho Nacional de Educao, dada a significativa gama de consultas formuladas por distintas instituies de ensino superior, instaura processo (n23001.000159/97-25 e outros) nomeando a Conselheira Silke Weber para a sua relatoria. Em seu Parecer de n376 de 11 de junho de 1997, mesma data de sua aprovao consubstanciado em Relatrio, diz caber " 'as instituies de Ensino Superior decidirem sobre a oferta ou no de Educao Fsica nos seus cursos de graduao". No Relatrio em que aglutina elementos justificadores de seu voto, a Conselheira Silke Weber, entretanto, incorre a nosso ver em erro, ao apoiar-se no teor do artigo 26, pargrafo 3o, da LDB, para justific-lo, dizendo que "nenhuma outra meno sobre o ensino de Educao Fsica feita na Lei, do que se depreende que a sua oferta passa a ser facultativa para o ensino superior". Ora, como vimos, a obrigatoriedade da Educao Fsica no ensino superior jamais se sustentou por fora de Lei Ordinria ou Complementar e sim por conta do Decreto lei n705 de 25 de Julho de 1969, o que nos induz a dizer no estar naquele artigo a base legal justificadora do fim de sua obrigatoriedade, mas sim e a a Conselheira acerta o alvo no pargrafo primeiro, do artigo 47 ("as instituies informaro aos interessados, antes de cada perodo letivo, os programas dos cursos e demais componentes curriculares, sua durao, requisitos, qualificao dos professores, recursos disponveis e critrios de avaliao, obrigando-se a cumprir as respectivas condies") e, no inciso II, do artigo 53, que diz ser asseguradas s universidades, no exerccio de sua autonomia e sem prejuzo de outras, a atribuio de "fixar os currculos dos seus cursos e programas, observadas as diretrizes gerais pertinentes". 'Alm disso continua ela dizendo tendo em vista ter lei superado a definio de currculo mnimo para os cursos de graduao, a oferta de Educao Fsica decorre de proposta institucional de ensino e no de norma oriunda de rgo superior."

Trabalho realizado por: [email protected]

Em ConclusoEm vrios momentos neste artigo, fizemos aluso ao estado da arte da Educao Fsica brasileira sem, contudo, adentrarmo-nos em sua anlise. Vrias foram as razes que nos levaram a assim proceder, todas apoiadas na idia de centrarmos nossas atenes na anlise dos impactos da reforma educacional sobre ela. Porm, ao aqui chegarmos, nos damos conta de que estamos diante de uma situao paradoxal: por um lado, temos uma Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional que ainda revela, no que diz respeito Educao Fsica, no ter superado o entendimento de v-la subordinada ao eixo paradigmtico da aptido fsica, compreenso essa corroborada pelo Conselho Nacional de Educao, especialmente nas ocasies em que foi chamado a manifestar-se sobre a forma de ela inserir-se na Educao Bsica. Por outro, encontramos em seu interior, uma gama de abordagens e concepes pedaggicas que, cada uma sua maneira, sinalizam umas mais, outras menos para a suplantao daquele parmetro, alargando o horizonte para prticas pedaggicas passveis de se ajustarem sem maiores dificuldades dinmica curricular pensada para a Educao Bsica. Ainda nessa direo, soa desafiador darmos sua insero no espao universitrio, como rea acadmica, um sentido realmente consonante com o carter crtico que nele deve prevalecer. Como podemos perceber, vrios so os desafios que nos espreitam, como tambm variadas so as suas caractersticas. Uns, de natureza predominantemente poltico-pedaggica, remetem-nos de pronto questo da socializao do conhecimento produzido em nossa rea. Torna-se imperioso faz-lo chegar tanto aos cursos responsveis pela formao dos profissionais de Educao Fsica aproximadamente 150 cursos superiores quanto queles professores j integrantes das redes de ensino, as quais, desatentas (para se falar o mnimo), quase nada investem na formao em servio de seus quadros. Nesse particular, urge chamarmos a ateno de nossa academia, muito mais preocupada com as formalidades do rigor cientfico, banalizando-o, do que com a imperiosa necessidade de interveno qualificada e consequente na nossa realidade educacional, abrindo e preservando espaos de debate e reflexo crtica em torno das questes nela presentes. Dentro desse quadro, ganha importncia o Colgio Brasileiro de Cincias do Esporte CBCE como espao vitalizador e explicitador da nossa capacidade de resistncia avalanche neoliberal que assola a sociedade brasileira em geral e nossa rea em particular. Entidade cientfica com 20 anos de existncia, reflete em sua histria a luta em seu interior, vitoriosa dos setores comprometidos com princpios balizadores de aes voltadas para a defesa da tese de que os recursos pblicos destinados ao financiamento da pesquisa em Educao Fsica sejam alocados com transparncia e eivados de sentido pblico, a partir da observncia de critrios

Trabalho realizado por: [email protected]

tcnicos ancorados no conceito de relevncia social e no os de ordem poltica privilegiadores de castas que de mos dadas aos poderosos de sempre apropriam-se da coisa pblica, dela fazendo uso privado. Seja no CBCE, no Partido Poltico ou no nosso local de trabalho faculdade, escola, clube, administrao pblica... enfim, seja l onde for, devemos estar cientes de que no nosso cotidiano que podemos e devemos construir as condies objetivas na extrapolao dos limites impostos pelas reformas educacional e poltica imperantes , tanto para a superao da forma atual de ser da Educao Fsica, quanto num alargar de horizonte da forma de organizao social brasileira o que, em ltima instncia, defendemos e almejamos.

BibliografiaBRACHT, V "Educao Fsica: a busca da autonomia pedaggica". In Revista da Fundao de Esporte e Turismo do Paran. Curitiba, PR, I (2), pp. 12-19, 1989. __________. Educao Fsica e Aprendizagem Social. Porto Alegre, RS, Editora Magister, 1992. CARMO, A. A. do. "Congresso Nacional e a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Brasileira: A arte da inflexo". Uberlndia, MG, Universidade Federal de Uberlndia, mimeo., 1996. __________. "Educao Fsica e a Nova Lei de Diretrizes e Bases: Subsdios para a Discusso". In Revista Brasileira de Cincias do Esporte, CBCE, 10 (I), pp. 10-18, set/ 1988. CASTELLANI FILHO, L. Educao Fsica no Brasil: A Histria que no se Conta. 4a Edio, Campinas, SR Editora Papirus, 1994. __________. "Pelos Meandros da Educao Fsica". In Revista Brasileira de Cincias do Esporte, CBCE, 14(3), pp. I 19-125, mai/1993. __________. Educao Fsica: Diretrizes Gerais para o ensino de 2o Grau Ncleo Comum. Braslia, DF Editora MEC, 1988 __________. "A (des)caracterizao profissional-filosfica da Educao Fsica". In Revista Brasileira de Cincias do Esporte, CBCE, 4 (3), pp. 95-101, mai/1983. COLGIO BRASILEIRO DE CINCIAS DO ESPORTE (org.). Educao Fsica Escolar Frente LDB e aos PCNs: Profissionais analisam renovaes, modismos e interesses. Iju, RS, Sedigraf, 1997. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educao Fsica. 3a Edio, So Paulo, SR Editora Cortez. 1996. FACCIONI, V. "Esportes nas Escolas e Olimpadas". In Jornal Correio do Povo, Porto Alegre, Rs, 4/1 2/1 994.

Trabalho realizado por: [email protected]

LENHARO, A. Sacralizao da Poltica. Campinas, SR Editora Papirus, 1986. LYRA FILHO, J. Introduo Sociologia dos Desportos. 3 Edio, Rio de Janeiro, RJ, Editora Bloch, 1974. SAVIANI, D. A nova lei da educao - LDB: Trajetria, Limites e Perspectivas. Campinas, SR Editora Autores Associados, 1997. SEED/MEC. Uma nova Poltica para o Desporto Brasileiro: Esporte Brasileiro Questo de Estado - Relatrio Conclusivo. Braslia, DF, Editora MEC, 1985. SOARES, C. L. "Educao Fsica Face a nova LDB". In Revista Brasileira de Cincias do Esporte, CBCE, II (I), pp. 25-28, set/89. __________. "Carta aos membros do CBCE". In Revista Brasileira de Cincias do Esporte, CBCE, 10(3), pp. 48-49, mai/1989. SOUSA, E. S.; VAGO, T. M.. "O Ensino de Educao Fsica em face da Nova LDB". In COLGIO BRASILEIRO DE CINCIAS DO ESPORTE (org). Educao Fsica Escolar Frente LDB e aos PCNs: Profissionais analisam renovaes, modismos e interesses. Iju, RS, Sedigraf, pp. 121-141, 1997.

Trabalho realizado por: [email protected]

CAPTULO: DOIS Educao Fsica Escolar: Temos o que Ensinar? Ou Consideraes acerca do Conhecimento (Re)Conhecido pela Educao Fsica Escolar1...Ao professor de Educao Fsica compete, pois (e no h exagero algum nesta afirmativa) dirigir e orientar os exerccios de modo que influam enrgica e eficazmente sobre cada organismo, orden-los em srie gradual, harmoniz-los com o perodo de evoluo orgnica, incutindo o prazer ou, ao menos, evitando o tdio, e constatar, enfim, pelos processos vrios de mensuraes corporais, os resultados de seu ensino, lazer, em uma palavra, o registro de benefcios que provieram dos exerccios e dos inconvenientes que determinaram... Fernando de Azevedo (1920)

Sim, temos o que ensinar. Embora seja velha conhecida entre ns a afirmao dita em tom de galhofa mas, como toda piada, com uma pitada de verdade de que a grande revoluo ainda por ocorrer na Educao Fsica escolar brasileira, traduzir-se-ia no simples fato de se dar aula, no receamos afirmar que no s temos o que ensinar como, ao longo desse sculo, vimos ensinando. Isso, porm, longe de dar por respondida questo que d ttulo a este II Seminrio, abre as portas para a reflexo acerca do debate que j, h alguns anos, vem, num crescendo, ocupando as atenes de parcela dos profissionais que tem, na Educao Fsica escolar, seu horizonte de estudo. Queremos encaminhar esta reflexo na perspectiva apontada pelo ttulo que contrapusemos ao enunciado pelo evento: Consideraes acerca do Conhecimento (Re)conhecido pela Educao Fsica Escolar sugere darmos trato s questes: O que a Educao Fsica e seus profissionais reconhecem como conhecimento a ser conhecido; O que a Educao Fsica e seus profissionais conhecem, e O que a Educao Fsica e seus profissionais precisam reconhecer como conhecimento a ser conhecido.

No enfatizaremos a discusso sobre a seleo, organizao e sistematizao do conhecimento da Educao Fsica escolar, no que tange questo da metodologia do ensino propriamente dita, no porque a consideramos de menor importncia , mas sim porque nos limites prprios aEste Artigo foi escrito com vista minha participao, como conferencista, em Seminrio promovido pela Escola Superior de Educao Fsica da Universidade de So Paulo, USP em dezembro de 1994. O tema central do evento, Educao Fsica Escolar: Temos o que ensinar? me levou a elaborar o subttulo acima, construindo o texto a partir do dilogo entre eles. No entanto, os promotores do Seminrio, ao publicarem-no em Suplemento da Revista Paulista de Educao Fsica (1995), houveram por bem nomin-lo a partir do subttulo proposto, subtraindo-lhe a expresso que deu ttulo ao acontecimento.1

Trabalho realizado por: [email protected]

este Artigo desejamos ser fiis ao tema orientador do seminrio, que nos questiona sobre se temos ou no o que ensinar. Extraindo-se algumas expresses que caram em desuso, a citao que acima reproduzimos de um artigo dos anos 20, de Fernando de Azevedo, traz em si semelhanas com o entendimento, ainda hoje presente em nosso meio, que extrapolam quaisquer possibilidades de serem vistas como meras coincidncias. Isso porque como j tivemos oportunidade de frisar em algumas outras oportunidades a Educao Fsica brasileira v-se hegemonicamente vinculada ao eixo paradigmtico da aptido fsica2 . Recentemente, no artigo Pelos Meandros da Educao Fsica (1993), assim nos referimos ao assunto:....Vinculada, portanto, a polticas governamentais elaboradas sob a tica funcionalista, a Educao Fsica primou por enfatizar sua ao pedaggica em procedimentos que buscavam garantir-lhe eficcia no alcance de seus objetivos. Com efeito, se a melhoria da aptido fsica era o que, em ltima instncia, justificava a sua presena na escola, nada mais coerente do que buscar estabelecer parmetros para a sua ao pedaggica a partir de critrios oriundos da fisiologia do exerccio. Foi nela apoiado que se definiu os padres de referncia para as aulas de Educao Fsica: trs sesses semanais, distribudas em dias intercalados, com cinqenta minutos de durao, compostas por turmas de alunos do mesmo sexo e constitudas a partir de dados das suas idades biolgicas, encontram-se implcita ou explicitamente citadas no Decreto n 69.450/71, que a regulamenta nos trs nveis de escolarizao...

Fica-nos evidente denotarmos dessas normatizaes ratificadas 4 anos mais tarde pela Lei de Diretrizes e Base do Esporte Nacional(Lei n 6.251) que, em seu artigo 3, ao tratar dos objetivos da Educao Fsica e do esporte no Brasil, refere-se em seu inciso /ao "aprimoramento da aptido fsica da populao brasileira" as inferncias de tal compreenso naquilo que deveria ser conhecido pelos seus profissionais, como tambm do como tal conhecimento deveria ser por eles reconhecido. Sim, porque se a aptido fsica que deveria ser buscada pela Educao Fsica em sua ao pedaggica, os contedos a ela pertinentes Dana, Esporte, Ginstica, Jogo... deveriam ser compreendidos e assimilados de forma que fosse garantido o alcance do seu objetivo ltimo....So as atribuies que todos os entendidos lhes demarcam ( a eles, professores de Educao Physica). Mas como realizar estas atribuies amplssimas que lhes so impostas, sem conhecer os rgos do movimento, a fisiologia do trabalho muscular, os seus efeitos sobre a circulao, respirao e sistema nervoso, e a necessidade de um mtodo progressivo que possa evitar o mais

2

Desde o Educao Fsica no Brasil: A histria que no se conta (1988), at o Pelos Meandros da Educao Fsica (1993), passando pelo Educao Fsica: Diretrizes Gerais para o Ensino de 2 Grau - Ncleo Comum (1988) e pela produo em 6 mos do Metodologia do Ensino de Educao Fsica (1992), vimos desenvolvendo estudos que tratam da problemtica da educao fsica escolar relacionada com a questo da aptido fsica enquanto eixo paradigmtico balizador das suas aes.

Trabalho realizado por: [email protected]

possvel a fadiga e fornecer-lhes a base para a apreciao dos diferentes sistemas de educao individual e coletiva?... Fernando de Azevedo (1920)

De novo, a contemporaneidade das palavras de Fernando de Azevedo nos toma de assalto. E no universo por ele mencionado, h mais de meio sculo a traz, que vem se localizando o conhecimento reconhecido pela Educao Fsica e seus profissionais, como aquele necessrio de ser apropriado de forma a garantir-lhes a consecuo de seus propsitos. Em outras palavras, no mbito das cincias biolgicas que os profissionais da rea vm buscando o saber necessrio s suas aes pedaggicas. Pois assim que, ainda hoje, os especialistas em Educao Fsica so informados e formados sobre o rol de conhecimentos orientadores de suas prticas. Se a aptido fsica que a justifica na escola, o conhecimento que possa vir garantir a sua consecuo que, pri-vilegiadamente no exclusivamente vem ocupando lugar no processo de formao profissional, porque o que vem orientando a formao de seus especialistas, nos mais de uma centena de centros de ensino superior dispersos por este pas, a viso hegemnica de uma Educao Fsica que fundamenta sua prtica na tica do eixo paradigmtico to enfaticamente aqui mencionado, vinculando-a a caracteres inerentes que entende ser sua funo higinica e eugnica, acoplada idia do rendimento fsico/esportivo, malgrado as mudanas havidas na organizao social do trabalho em nossa sociedade, motivadas dentre outras razes pelo processo de automao da fora de trabalho que levou secundarizao da busca do corpo produtivo e ao deslocamento do foco das atenes sobre o corpo, do momento de produo para o de consumo, matizando, dessa forma, os corpos mercador/mercadoria e consumidor (CASTELLANl FILHO, 1993). Muitas e variadas seriam as maneiras pelas quais poderamos exemplificar para trocarmos em midos o at aqui aludido. No entanto, optamos por faz-lo atravs do esporte e, em particular, do futebol, enquanto manifestao cultural corporal de natureza esportiva. Por que um exemplo via esporte? Porque a constatada esportivizao3 da Educao Fsica escolar tem trazido como conseqncia, o fortalecimento de posturas equivocadas, que acabam por desconsider-lo como contedo dela. No atentam os responsveis por tais posturas para o fato de que a sua dessportivizao tem que ser compreendida como uma crtica mentalidade esportiva prevalecente na escola, responsvel por conceb-la como uma instituio privilegiada para servir de locus aos objetivos prprios instituio esportiva (em ltima instncia, a otimizao do rendimento fsico-esportivo), e no como uma crtica ao esporte, prtica social portanto construo histrica que, dada a significncia com que marca a sua presena no mundo contemporneo, caracteriza-se como um dos seus mais relevantes fenmenos socioculturais.

3

Reporto-me detalhadamente questo da esportivizao da educao fsica no artigo Pelos Meandros da Educao Fsica, j mencionado.

Trabalho realizado por: [email protected]

E porque o futebol? Porque em nome do combate pseudo monocultura esportiva do brasileiro nele centrada vem-se sonegando na escola o acesso do aluno ao conhecimento afeto a ele, desconsiderando-o em sua qualidade de responsvel pela afirmao da identidade cultural corporal esportiva do brasileiro. Notem que nos referimos ao esporte em geral e ao futebol em particular, enquanto conhecimentos. Mas de que forma os profissionais da Educao Fsica e a sociedade brasileira em seu conjunto vm caracterizando aquilo que poderamos nominar de conhecimento esportivo e futebolstico! Vejamos... Passa agora diante de meus olhos, a experincia que vivenciei na disciplina futebol nesta mesma casa onde nos encontramos. Recordo-me da dedicao com que nos debruvamos sobre o conduzira bola em batimentos alternados sem deix-la fugir ao nosso controle, o mesmo repetindo-se com a cabea, coxa... percorrendo distncias estimadas em 25/30 metros. Lembro-me, ainda, das tantas e quantas vezes executamos o ato de lanara bola para o alto com os ps, partindo dela descansada no cho, com o intuito de abaf-la com o peito do p, buscando impedi-la de quicar...E em quantas outras ocasies no conduzimos a bola, no realizamos tintas, dribles, arremates ao gol, chutando das mais distintas formas possveis? Sim. Durante 2 dos 3 anos que terminalizavam o curso naquela poca, essas foram prticas rotineiras, mesmo porque ramos, ao final, avaliados predominantemente no nosso saber fazer. Quanto s avaliaes tericas, circunscreviam-se s perguntas relacionadas s regras do jogo, s suas formulaes tcnicas e tticas, extrapolando, s vezes, para outras que nos argam sobre seqncias pedaggicas para o desenvolver do aprendizado do jogar futebol. Tudo isso era-me enormemente prazeroso, pois, tanto quanto hoje, tinha pelo futebol um fascnio apaixonado! Porm, por mais gostosamente que me envolvesse com aquelas aulas, sentia-me incomodado com o fato de passados 2 anos estudando futebol no saber explicar os motivos que levavam os pais a pendurarem uma chuteirinha, nos quartos na maternidade das mes que tivessem parido meninos! Sim, meninos, pois as meninas no tinham acesso ao mundo do futebol! De outra forma, queramos saber e no tnhamos apreendido conhecimento que nos levasse a conhecer como se constitua a identidade cultural corporal esportiva de um povo. Por que era o Brasil, na expresso do dramaturgo Nelson Rodrigues, a ptria das chuteirase no a ptria das raquetes de tnis, das bolas de vlei, de basquete, dos psde-pato?... Por que nunca nos tinham chamado a ateno para a plasticidade e o sentido esttico do gesto esportivo no futebol? ... J repararam na beleza de uma matada de bola no peito, de uma bicicleta, de um peixinho'. Por que ainda no nos tinham levado a conhecer a caracterstica mpar do jogador de futebol que, por conta da lei do passe, configura-se ainda hoje, mesmo com a lei Zico em vigor, como trabalhador que no possui a propriedade sobre sua prpria fora de trabalho, sendo talvez mais pertinente referirmo-nos a ele como escravo da bola?

Trabalho realizado por: [email protected]

Em 1985, em um artigo denominado O Fenmeno Cultural chamado Futebol: Uma proposta de Estudo, levantei algumas perguntas cujas respostas vo ao encontro do entendimento de que, para nos dizermos possuidores de conhecimento sobre determinada modalidade esportiva, no suficiente dominarmos apenas o saber prtico de seus gestos tcnicos, ou a lgica do jogo em si mesma, pois temos claro que essas so apenas dois de seus elementos constitutivos. Perguntava, ento, certa altura daquele estudo:...Que segredo esse do futebol que faz com que 130 milhes de brasileiros uns, vtimas da seca do nordeste, outros, das enchentes do sul, a maioria vtima de u