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OrganizadoraCássia Damiani
Comitê EditorialCássia Damiani - SEGianna Lepre Perim SNEEDLeila Mirtes Santos de Magalhães Pinto - SNDELMarco Aurélio Ravanelli Klein - SNEAR
ColaboradoresAna Cristina Gonçalves dos SantosAndréa Nascimento EwertonBianca Alves SilveiraCláudia Marins de SouzaCyro ViegasFernando Marinho MezzadriJuliana de Oliveira FreireMicheli Ortega Escobar
Fotógrafos do Ministério do Esporte:Aldo DiasBruno CarvalhoFrancisco Medeiros
Coletânea Esporte e Lazer: Políticas de Estado (2.: 2009: Ministério do Esporte DF): Caderno II: Construindo o Sistema Nacional de Esporte e Lazer.Brasília: Ministério do Esporte, 2009.
104 p.
1. Esportes Congresso. 2. Conferência Nacional de Esporte . 3. Política Pública. Título.
CDU 796 (042,3)
Sumário
Palavra do Ministro ................................................................................................................................7
Apresentação ...........................................................................................................................................9
Documentos preparatórios da II Conferência Nacional do Esporte ....................................................11
Orientações para o debate dos Eixos do Sistema Nacional de Esporte e Lazer .............................................13
Fundamentação sobre o Sistema Nacional de Esporte e Lazer ....................................................................19
I Fórum do Sistema Nacional de Esporte e Lazer ........................................................................................24
Considerações sobre o Sistema Nacional do Esporte proposto pelo Estatuto do Esporte ............................33
Documento Final II Conferência Nacional do Esporte .........................................................................39
Participação da sociedade na construção de políticas públicas para o esporte ............................................41
Balanço da II Conferência Nacional do Esporte ..........................................................................................43
Carta de Brasília .......................................................................................................................................51
Propostas aprovadas na plenária final .......................................................................................................53
Reunião dos Especialistas sobre o Sistema Nacional de Esporte e Lazer / Relatório ........................63
Apresentação ...........................................................................................................................................65
Eixo I - Estrutura: Organização, Agente e Competências ............................................................................71
Eixo II - Formação e Recursos Humanos .....................................................................................................73
Eixo III - Gestão e Controle Social ..............................................................................................................77
Eixo IV - Financiamento ............................................................................................................................79
Aspectos referentes à Legislação do Esporte ..............................................................................................85
Dimensões Esportivas ...............................................................................................................................89
Fórum virtual / Debate sobre a concepção do Sistema Nacional de Esporte e Lazer ........................99
Considerações Finais ...........................................................................................................................104
Palavra do Ministro
O Brasil vive o momento em que o desenvolvimento social e a redução das desigualdades se concretizam em consonância com o crescimento econômico e com ampliação de liberdades democráticas. Assim, o país conquistou definitivamente o reconhecimento e a confiança internacional. Isso eleva a qualidade de vida e a esperança do povo brasileiro.
Nos últimos anos, tivemos também avanços e conquistas no esporte nacional. Os resultados, antes de serem espontâneos, espelham a determinação política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, em 2003, pela primeira vez na nossa história, criou um ministério exclusivo para o setor e com isso, o esporte e o lazer firmaram-se como direitos de cidadania. O Brasil definiu como centro da política de esporte a inclusão social e o desenvolvimento humano, e criou programas esportivos e sociais que o projetaram no cenário internacional.
A vitória do Rio de Janeiro como cidade sede para as Olimpíadas e Para-olimpíadas de 2016, concretiza os esforços do governo federal para colocar o país no centro dos grandes eventos esportivos mundiais. Um marco decisivo foi a realização, em 2007, no Rio, dos melhores Jogos Pan-Americanos da história. Trouxemos a Copa de 2014 e agora as Olimpíadas 2016, um feito inédito. A conquista de sediar os maiores eventos esportivo do mundo se sustenta no paradigma dos legados que contribui com o crescimento do Brasil, a transformação urbana das cidades e o desenvolvimento social sustentável por meio do esporte.
Isso significa impulso às ações da Política Nacional do Esporte, maior acesso das crianças e da juventude ao esporte e ao lazer, ampliação da formação esportiva e do desenvolvimento da carreira de atletas, elevação dos resultados esportivos e da qualidade dos programas sociais, como o Segundo Tempo e o Esporte e Lazer da Cidade.
O Ministério do Esporte quer consolidar o esporte e o lazer como políticas de estado que, além de fomentar a cadeia produtiva do esporte, possibilitarão novas oportunidades de trabalho e renda, e aumentarão a capacidade administrativa e tecnológica do país para realizar grandes eventos esportivos.
Esse conjunto de fatores torna a política do esporte estratégica para o desenvolvimento do país que pretende ser a quinta potência econômica em 2016 e, figurar entre as dez maiores potências olímpicas do mundo.
Fazer o esporte participar do desenvolvimento do Brasil implica na estruturação do Sistema Nacional de Esporte e Lazer, tema que merece nossa atenção porque representa mais órgãos próprios de gestão nos estados e municípios, mais orçamento para o esporte e lazer e o aperfeiçoamento dos mecanismos democráticos e de instâncias como a Conferência Nacional do Esporte e o Conselho Nacional do Esporte, que contribuem com o controle social das políticas públicas.
Amadurecemos e tornamos pujante o Ministério do Esporte, agora apresentamos ao debate sua trajetória no campo institucional. A coletânea “Esporte e Lazer: Políticas de Estado” é um convite para o leitor conhecer o espaço de materialização da Política Nacional do Esporte.
9 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
Apresentação
O Ministério do Esporte criado em 2003 com a missão de “Formular e implementar políticas públicas inclusivas e de afirmação do esporte e do lazer como direitos sociais dos cidadãos, colaborando para o desenvolvimento nacional e humano”, apresenta esta coletânea, que objetiva sistematizar as experiências do Governo Federal na gestão de políticas públicas de esporte e lazer.
Nesse sentido, para qualificar e aperfeiçoar o trato com conhecimento e a execução dos programas e ações, considerando a evolução conceitual, a formação, os instrumentos administrativos e os mecanismos de participação social, bem como fazer resgate histórico e democratizar o acesso à informação e documentação dessas Políticas Públicas, a presente coletânea está organizada em três volumes. Dois volumes tratam dos debates ocorridos na Conferência Nacional do Esporte - CNE, instituída por Decreto Presidencial em 2004, um marco histórico para área do esporte e lazer no Brasil, e o terceiro volume apresentará os programas e ações do Ministério do Esporte.
O Caderno I - Esporte, Lazer e Desenvolvimento Humano, traz as produções da I CNE, desde a Carta de Brasília, que sintetiza o conteúdo debatido e aprovado por milhares de pessoas em todo Brasil, indica subsídios para construção da Política Nacional do Esporte e a resolução de Criação do Sistema Nacional de Esporte e Lazer e finaliza esse volume com a apresentação da Política Nacional do Esporte, aprovada pelo Conselho Nacional do Esporte no ano de 2005.
O Caderno II - Construindo o Sistema Nacional de Esporte e Lazer apresenta três textos preparatórios da II CNE, elaborados para orientar os debates nas conferências municipais e estaduais, culminando nas deliberações da Etapa Nacional, sendo eles: Fundamentação sobre o Sistema Nacional de Esporte e Lazer, Relatório do I Fórum do Sistema Nacional de Esporte e Lazer, Considerações sobre o Projeto de Lei do Estatuto do Esporte, ainda nesse volume serão apresentados: Documento final com as resoluções da II CNE, como também o documento síntese de elaborações teóricas de Especialistas (Pesquisadores de IES e institutos, dirigentes esportivos, professores, gestores, e outros), após os debates da Reunião sobre o Sistema Nacional de Esporte e Lazer, promovida pelo Ministério do Esporte, de 03 a 07 de dezembro de 2007. Esta reunião deliberou a criação de um Fórum Virtual para problematizar o tema, que deu origem ao último texto desse volume: Subsídios para concepção do Sistema Nacional de Esporte e Lazer.
O Caderno III - Programas e Ações do Ministério do Esporte é um espaço de socialização das ações das Secretarias Finalísticas do Ministério, apresentando as diretrizes, os principais programas e projetos, seus conceitos, funcionamento, formas de acesso e abrangência. Neste Caderno preparando o debate para a III Conferência, será apresentado um diálogo com outras áreas que construíram e/ou estão construindo seus respectivos sistemas. E por fim apresenta as linhas para um debate em torno da construção de um Plano Decenal do Esporte e do Lazer.
Espera-se que essa coletânea seja uma contribuição aos gestores de esporte e lazer municipais e estaduais, bem como a todos que direta ou indiretamente formulam, implementam, pesquisam ou participam de políticas públicas de esporte e lazer para atender com qualidade os anseios da população brasileira.
Comitê Editorial
Foto: Aldo Dias
Documentos preparatórios da
II Conferência Nacional do Esporte
12Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
Comissão de Elaboração de Texto da II Conferência Nacional do Esporte:
Coordenação: Orlando Silva - Secretário Executivo (na época)
Secretaria-Executiva: Gianna Lepre PerimSecretaria Nacional de Esporte Educacional: Cássia DamianiSecretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento: Silvio Humberto Viana DinizSecretaria Nacional de Desenvolvimento de Esporte e de Lazer: Lino Castellani Filho e Luiz Fernando Camargo Veronez
Colaboração: Micheli Ortega Escobar
13 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
O presente texto pretende orientar a reflexão dos participantes da II Conferência Nacional do Esporte apresentando questões que incidem na constituição de cada um dos eixos do sistema indicados na Resolução de criação do Sistema Nacional do Esporte e Lazer aprovada na I Conferência Nacional do Esporte em 2004: estrutura, recursos humanos e formação, gestão e controle social, e o financiamento.
A (re)construção do Sistema Nacional deve visar um amplo desenvolvimento da prática do esporte no país a partir do atendimento de diversos interesses e suas inter relações. Algumas das questões apresentadas buscam iniciar o debate, porém é fundamental ampliá-las e não tratá las isoladamente.
A II Conferência Nacional do Esporte deve refletir sobre a (re)construção do Sistema Nacional de Esporte e Lazer reconhecendo os graves problemas que impedem o desenvolvimento do esporte no país, tais como: a) o enorme número de brasileiros excluídos da prática do esporte, a qual, potencialmente, representa uma forma privilegiada de promoção do desenvolvimento humano, b) a falta de condições materiais objetivas para que a população brasileira em geral pratique esportes, c) o reduzido número de atletas de alto rendimento e de modalidades esportivas praticadas no país, d) a falta de aproveitamento das condições naturais para a prática esportiva que o país apresenta - montanhas, rios e lagos, mata atlântica, quase nove mil quilômetros de praias e outras, e) a falta ou o precário estado das instalações esportivas escolares entre outros.
As sugestões aqui apresentadas são questões "geradoras", ou problematizações, que podem estimular os delegados participantes da II Conferência Nacional do Esporte a examinar o Sistema Esportivo Nacional existente a partir da sua realidade - município ou estado - e apontar os problemas para
os quais este sistema atual não possibilita soluções adequadas.
Os princípios defendidos pela Política Nacional do Esporte* e contemplados na Resolução do Sistema Nacional de Esporte e Lazer devem ser referência essencial para um novo sistema, promover a inclusão social visando a reversão do quadro atual de injustiça, exclusão e vulnerabilidade social, garantir a universalização do esporte e lazer como um direito de cada um e dever do Estado, promover a democratização da gestão e da participação no esporte e lazer.
O Sistema Nacional de Esporte e Lazer deve ser entendido como a articulação de agentes - entidades, organizações sociais, instituições e seus sujeitos - que têm como finalidade e responsabilidade, o oferecimento das condições para a prática do esporte nos municípios, estados e União, bem como a democratização do acesso às crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos e pessoas com deficiência ou com necessidades especiais, seja para conhecimento, lazer e fruição e, ou, para o alto rendimento, valorizando seus aspectos educativos, lúdicos, de qualidade de vida, de performance e de recordes buscando a elevação da participação esportiva e social da população.
EIxo I - ESTRUTURA: oRGANIZAÇÃo, AGENTES E CoMPETÊNCIAS
É a organização que dinamiza e materializa os princípios e finalidades do sistema em suas bases concretas - as entidades que o compõem, a infra estrutura oferecida, os materiais disponíveis e os sujeitos que o efetivam. Essa organização expressa a relação entre as entidades e sujeitos pelo papel que cada um assume no sistema, em determinado momento, para atender a uma determinada condição posta pela realidade do município, estado
Orientações para o debate dos Eixos do Sistema Nacional de Esporte e Lazer
*Resolução nº 05, de 15 de Junho de 2005 publicada do D.O.U. em 16 de Agosto de 2005
14Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
ou união. Portanto, é dinâmica. Seu movimento
exprime as relações de poder estabelecidas nesse
campo social. É resultante da correlação de forças
entre os agentes: gestores de políticas públicas,
dirigentes de entidades públicas e privadas e
participantes e, ou, usuários do esporte e do lazer.
Por isso o sistema deve ser permeável à entrada
de outras entidades e organizações, à ampliação
ou alteração qualitativa do papel que exercem na
sua construção e consolidação. É fundamental
que se estabeleça uma relação descentralizada
na organização do sistema, onde se respeite a
autonomia e interesses dos envolvidos, mas que
haja vínculos que viabilizem a correlação horizontal
e vertical na tomada de decisão respeitando os
preceitos políticos, normativos e constitucionais
existentes com a possibilidade de se apontar,
quando necessário, a ampliação ou revisão dos
mesmos como resultado de estudos e debates da
comunidade esportiva e da sociedade.
Participam do sistema aqueles que têm relação
direta e indireta com o esporte em todas as suas
dimensões, tanto os que o promovem como os
usuários que recebem seus produtos: serviços,
infra estrutura e outros. Cada participante
tem determinada responsabilidade no sistema,
dependendo da natureza dessa participação
e do tipo de relação que tenha com o esporte
- por exemplo, o participante tem vínculos e
compromissos, relativamente, mais significativos
com o sistema quando desempenha papel ativo,
seja na organização, no financiamento, na
elaboração de políticas públicas, na formação
profissional e ou no controle social. Na medida
em que se afasta do protagonismo, sua
responsabilidade no sistema é reduzida.
Quando se fala em estrutura do sistema de esporte
e lazer refere se ao conjunto de instituições,
organizações sociais e entidades esportivas com
seu aparato de normas, funções e finalidades,
sua infra-estrutura, sua capacidade financeira, os
produtos que geram e os sujeitos que as compõem
- dirigentes, trabalhadores, usuários que acatam
seus princípios, diretrizes e objetivos e, mantendo
sua autonomia, aproximam as finalidades e ações
próprias de cada um às do Sistema Nacional.
É fundamental refletir sobre quais entidades,
instituições e organizações sociais devem compor
o sistema de esporte e lazer e o papel que deverão
exercer para que os princípios e os objetivos do
sistema sejam concretizados - agentes do âmbito
público, órgãos federais, estaduais, municipais,
da administração direta e indireta. No âmbito
privado as confederações, federações, sistema S,
clubes sociais e esportivos, empresas, associações.
No âmbito do terceiro setor as Organizações
Não governamentais - ONG's, Organizações de
Sociedade Civil de Interesse Público - OSCIPs, e
entidades representativas dos movimentos sociais
como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-
terra - MST e outros.
A competência dessas entidades, instituições ou
organizações sociais de esporte e lazer, diz respeito
às características próprias de cada entidade e a
responsabilidade que cabe a cada uma, respeitando
sua autonomia e pertinência, a relação de poder
nas tomadas de decisão referentes às questões
gerais e particulares do sistema.
A definição das competências deve promover a
otimização de recursos e ações para enfrentar o
grande desafio que se apresenta no atual quadro
do esporte e do lazer que é a inclusão social.
Questões Relevantes sobre estrutura do
sistema
• Como deve ser concebido o Sistema Nacional
de Esporte e Lazer? Como deve ser sua estrutura,
organização com quais competências?
15 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
• Quais as instituições, órgãos públicos e ou
entidades privadas - associações, ligas, federações,
confederações, comitês e Conselhos, organizações
não-governamentais - que devem compô-lo?
• Quais as finalidades de cada uma delas e como
elas se articulam com os princípios, diretrizes e
objetivos do Sistema Nacional?
• Como elas devem se relacionar para partilharem
responsabilidades no processo de tomada de
decisão e na operacionalização do sistema?
• Como comprometer o conjunto das instituições,
entidades esportivas e de lazer com a premissa da
inclusão social?
• Em que termos deve se pautar a pactuação que
promova a adesão dos agentes com interesses
diversos, mas que promova a inclusão social?
• Como convencer as entidades e instituições
públicas e privadas a corroborarem com o
desenvolvimento do esporte e lazer de forma mais
ampla, em que os resultados não são imediatos?
• Quais os protocolos de adesão para incorporar
e ajustar a participação da União, Estados e
Municípios?
• Quais seriam os ajustes necessários à legislação
esportiva brasileira para garantir a execução da
Política Nacional do Esporte (2005) através do novo
sistema?
• Quais as implicações do Pacto Federativo para a
concepção do sistema?
• O que asseguraria o trabalho intersetorial das
instituições e entidades componentes do sistema?
• Como deve estar organizado o esporte de lazer
na estrutura do sistema?
• Qual a relação entre esporte e educação?
• Qual a relação entre esporte e lazer?
• Como o sistema deve tratar a abrangência do
esporte de alto rendimento?
• Haverá mecanismos de regulação do esporte de
alto rendimento?
• Quais as estruturas encarregadas da produção e
difusão do conhecimento sobre o esporte o lazer
bem como da documentação e informação?
EIxo II - RECURSoS HUMANoS E FoRMAÇÃo
Compreendendo a importância da estrutura, da
organização dos agentes e de suas competências
no Sistema Nacional do Esporte e Lazer é
fundamental, no processo de sua consolidação,
tratar do conjunto de pessoas que nele atuam.
O Sistema Nacional é uma articulação das
entidades, instituições e organizações sociais e
seus sujeitos que se organiza a partir de pactos e
adesões, se materializa com a ação de cada uma
delas e, não, como uma estrutura concreta, com
sede própria, foro e corpo funcional, sejam esses
funcionários contratados, cedidos ou concursados.
Os recursos humanos desse sistema são as pessoas
que atuam nos seus diversos âmbitos. De acordo
com a competência de cada entidade, instituição
ou organização social do esporte e lazer, variam os
papéis e a formação das pessoas que compõem o
sistema.
O debate sobre os recursos humanos vinculados
ao sistema deve ser aprofundado durante a II
Conferência. Vale mencionar a discussão feita no I
Fórum do Sistema, em que participantes de grupos
de trabalho apresentaram a demanda tratar esses
recursos humanos como Agentes Sociais de Esporte
e Lazer. A adoção desse termo foi justificada
pela ampliação da abrangência que permite o
entendimento e a inclusão de vários trabalhadores
que ocupam atividades diferentes na estrutura do
sistema.
16Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
A elevação geral da qualificação dos trabalhadores
deve ser uma das referências do sistema. Uma
ação coordenada entre as instituições formadoras
deve avaliar as reais exigências do sistema para
organizar amplas ações de formação das pessoas
envolvidas nele. É fundamental a elevação da
qualidade dos serviços prestados pelo Sistema
Nacional de Esporte e Lazer à comunidade, bem
como é imprescindível que a formação leve em
consideração seus princípios e diretrizes. Portanto,
deve ser considerada a necessidade de expandir
tanto a formação inicial para novos quadros,
quanto à formação em serviço de quadros
ainda não formados e que já atuam no sistema,
inclusive em regiões desprovidas de escolas de
formação, como também estabelecer uma política
permanente de qualificação e aperfeiçoamento
dos sujeitos envolvidos com o Sistema Nacional.
Uma questão fundamental a ser observada é
que num movimento amplo de universalização
e democratização do acesso ao esporte e lazer é
necessário o envolvimento de muitos agentes que
possam auxiliar a população a praticar as atividades
de esporte, pelo qual é necessário pensar em
programas especiais de formação sob orientação
de órgãos governamentais de educação que
possibilitem a expansão da qualificação nas áreas
do esporte e do lazer.
Podem ser definidas como características principais
de uma política de Recursos Humanos:
• Caráter multiprofissional
• Caráter multidisciplinar - e interdisciplinar
• Formação inicial e formação continuada
Questões relevantes sobre recursos humanos
e formação
Quem pode ser considerado “Agente” do
sistema?
• Qual o perfil dos sujeitos encarregados do
ensino, do treinamento e do gerenciamento da
prática esportiva nas diferentes instituições da
comunidade?
• Qual seria a participação das instituições de
ensino superior?
• Como descentralizar a formação dos sujeitos
integrantes do sistema?
• Que programas de formação seriam necessários
para atender às necessidades do sistema?
• Haveria uma estrutura própria ou paralela ao
Sistema Nacional de Educação para formação
inicial e continuada de agentes do sistema?
EIxo III - GESTÃo E CoNTRoLE SoCIAL
O Sistema Nacional de Esporte e Lazer deve ser
pensado como um todo. A conquista da cidadania,
reconhecendo o esporte e o lazer como um
direito a toda população, é um esforço que deve
ser conjugado à busca da elevação da cultura do
povo brasileiro, assim como ocorre com a busca da
excelência esportiva, do desenvolvimento científico
e tecnológico do esporte. Portanto, o sistema
se desenvolverá se avançar na universalização
do acesso ao esporte e lazer, em todas as suas
dimensões, democratizando as relações de gestão
com participação e controle social, descentralizando
as estruturas físicas e a utilização de materiais
e ampliando a qualificação dos trabalhadores
envolvidos no sistema. Em que pese o dever do
Estado de fomentar o esporte e o lazer, o sistema
deve contemplar outras iniciativas e parcerias,
inclusive financeira, para sua viabilização.
Deve se partir da avaliação do existente, para
superar os limites atuais e buscar avanços,
observando o atual sistema esportivo organizado
para a consolidação do esporte de alto
17 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
rendimento, com sua estrutura, recursos humanos
e financiamento - público e privado - voltados para
elevação qualitativa dos resultados e medalhas do
país, mesmo com as condições mais favoráveis do
que as outras dimensões do esporte, não consegue
um desempenho satisfatório. Isoladamente, esses
resultados têm um significado relativo frente às
demandas e potencialidades esportivas do país.
Entretanto, não há condições objetivas para que
todos os brasileiros que o desejem possam ser
atletas de alto rendimento, mas, o sistema de
esporte e lazer deve criar condições para que todos
os que queiram possam praticá-lo, independente
do trabalho específico com seleções.
O sistema deve identificar demandas sociais
esportivas, através de mecanismos de participação
popular, que possam ser convertidas em produtos
aos usuários, incluindo as práticas corporais
que não são consideradas esporte formal, mas
que são demandas reais da população. Essas
demandas emergentes que representam anseios
populares, quando atendidas, vão materializando,
legitimando e consolidando o Sistema Nacional de
Esporte e Lazer.
Programas e projetos esportivos e de lazer de cunho
social desenvolvidos pela esfera pública devem ser
avaliados para identificar experiências importantes
que balizam a construção do Sistema Nacional,
inclusive para apontar novos elementos que devem
ser incorporados, ou outros que devem ser revistos
e reconsiderados. Esse é um espaço de debate fértil
que mobiliza os agentes envolvidos com o esporte
e o lazer para potencializá-los, redimensioná-los,
desenvolvê-los e que pode consolidar políticas
públicas do esporte e do lazer bem sucedidas e,
ou, apontar alterações àquelas que apresentam
limitações, ou condenar outras que não atendem
aos interesses públicos.
A participação popular no âmbito da formulação
de políticas públicas deve ser pautada no
esporte e no lazer, pois essa é uma forma de
partilhar responsabilidades no estabelecimento
de prioridades para o esporte e lazer nas esferas
públicas de poder. Porém, para se consolidar essa
prática é fundamental a constituição de espaços
específicos de debate como grupos temáticos e
conselhos municipais, estaduais e nacional de
esporte e lazer a fim de qualificar as políticas
públicas, para melhor avaliá-las e fiscalizá-las.
O controle sobre as políticas de esporte e lazer
deve ser garantido na definição do Sistema
Nacional. Esse controle deve ser realizado de
forma organizada, com participação de entidades
representativas do esporte e do lazer no âmbito
municipal, estadual e nacional e da sociedade civil
organizada. Essa representação deve expressar
interesses públicos, coletivos e comunitários
evitando se o corporativismo ou a privatização
de espaços de participação popular. Observa-se
que a gestão democrática do sistema não deve
referir se apenas a processos eletivos, ou definição
coletiva de políticas de esporte e lazer, mas criar
instrumentos que dêem transparência às ações
dos órgãos, entidades, instituições que recebem
financiamento público, ou que utilizam espaços e
materiais públicos envolvidos no sistema.
Faz-se necessário analisar o tipo de gestão que
prevalece no sistema atual e identificar se é de
caráter popular, participativo, democrático e
transparente, e apontar elementos que aprofundem
a gestão democrática a partir da estrutura atual
e com a implementação de novos mecanismos
que venham a consolidar um sistema com gestão
democrática.
Para efetivação de uma gestão democrática, é de
fundamental importância a construção de uma
política de relação e articulação entre os diversos
setores afins - educação, cultura, desenvolvimento
18Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
econômico, saúde e outros - e a realização de planejamentos estratégicos e participativos que partam do princípio da inter setorialidade.
Questões relevantes sobre qualificação da Gestão e Controle Social
• Quais os processos de controle social que devem ser desenvolvidos e ou aperfeiçoados para as políticas públicas de esporte e lazer?
• Quais as formas e estruturas de gestão esportiva e de lazer mais adequadas aos objetivos do novo sistema?
• Quais os mecanismos democráticos e de participação popular que possibilitariam transparência e controle social?
• Como seriam implementados e, ou, reestruturados os conselhos, as conferências, câmaras setoriais e outros?
• Quais as estratégias para efetivação da intersetorialidade?
• Como um sistema de documentação e informação contribui com a qualificação de uma gestão democrática?
• Qual seria a estrutura de um sistema de monitoramento e avaliação das políticas públicas?
EIxo IV - FINANCIAMENTo
É importante identificar as formas de financiamento e a possibilidade efetiva de funcionamento com equilíbrio suficiente para prover a prática esportiva em todas as dimensões para os setores desprovidos de condições de acesso aos direitos fundamentais. Deve se observar se o sistema consegue prover o esporte e o lazer com eqüidade, se o financiamento contempla os segmentos historicamente marginalizados pelo gênero, etnia, idade ou por necessidades especiais e deficiências.
Diante das limitações apresentadas pelo atual sistema deve se apresentar ao debate instrumentos que apontem para a diversificação e redimensionamento das fontes de financiamento para além dos recursos oriundos dos orçamentos da União, vez que não se deve incorrer numa visão paternalista em que toda a responsabilidade de prover a viabilização do esporte e do lazer seja do estado, embora esse seja um dever constitucional, suas possibilidades não poderão satisfazer a universalização, amplitude democrática e diversificação na participação que se pretende empreender com a criação do Sistema Nacional. Essa responsabilidade deve ser co partilhada com um conjunto de instituições, entidades públicas e privadas com redes de cooperação, parcerias e outros meios que devem ser elencados para o debate.
Questões relevantes sobre Financiamento:
• Quais as fontes de financiamento público e privado do esporte e do lazer?
• Em se tratando de financiamento, como deve ser a relação entre o público e o privado?
• As fontes de financiamentos atuais são suficientes para o desenvolvimento do esporte e do lazer?
• Como ampliar e diversificar as fontes de financiamento do esporte fazendo prevalecer a equidade?
• Quais as fontes possíveis de serem criadas?
• Quais os limites e possibilidades dos Fundos para o esporte e o lazer?
• Como avaliar a destinação dos recursos, sua execução e efetividade?
• Como tratar a geração de recursos do esporte de alto rendimento na perspectiva da sustentabilidade?
19 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
Temos aqui alguns subsídios para as discussões da
II Conferência Nacional do Esporte, com o objetivo
de permitir que os participantes, nas diversas
etapas, tenham informações elementares acerca
dos temas que serão objeto de debate e decisão.
A elaboração desse texto se inspirou na resolução
do Conselho Nacional do Esporte, que instituiu
a Política Nacional do Esporte (2005), e que se
constitui em documento básico para orientar a (re)
construção de um Sistema Nacional de Esporte e
Lazer, construção essa que é o objeto principal da
II Conferência.
Outra referência importante na preparação desse
texto foram a resolução de criação do Sistema
Nacional de Esporte e Lazer, aprovada na I
Conferência Nacional do Esporte em junho de 2004
e as discussões do I Fórum do Sistema Nacional
de Esporte e Lazer realizado pelo Ministério do
Esporte em outubro de 2005, onde foram reunidos
representantes do esporte e do lazer nacional com
experiências diferenciadas, procurando contemplar
o esporte em todas as suas dimensões.
Esse documento, além de uma provocação inicial
para os debates da II Conferência é um convite para
aqueles que reconhecem o esporte e o lazer como
direitos de todos, a se juntarem ao movimento que
quer tornar esse preceito legal uma realidade na
vida do povo brasileiro.
o SISTEMA NACIoNAL DE ESPoRTE
Sistema é um conjunto de elementos que guardam
relação entre si, possui determinada organização e
atende a certos objetivos.
Um sistema articula uma variedade de partes que se
integram, mantendo cada uma, simultaneamente,
as características do que lhe são inerentes como
formação particular e as características próprias
desse todo em que se inserem e que se configura
como sistema porque se organiza sob diretrizes,
bases e propósitos comuns, produzindo resultados
que não se obtém com a ação de cada uma das
partes isoladamente.
Parte se, aqui, de uma concepção de “sistema”
não funcionalista, isto é, de uma concepção que
não se limita a definir a “função” de cada um
dos agentes e que considere bom funcionamento
a atividade regular de cada um de seus agentes,
que perseguem individualmente seus interesses,
como um conjunto harmônico. Mas, compreende
o sistema repleto de contradições, característica
própria da ordem social a qual está imerso.
O Sistema que se pretende viabilizar busca a
universalização do acesso ao esporte e ao lazer em
todas as suas dimensões e desenvolvimento dos
múltiplos potenciais que têm o fazer esportivo. O
Sistema deve estabelecer um conjunto de relações
entre os agentes. Tais relações são articuladas para
atender àquelas finalidades. Desse modo, o Sistema
só pode ser entendido a partir dessas finalidades,
que justificam sua própria existência.
Um novo Sistema de Esporte e Lazer, constituído
por diversas instituições, entidades e organizações
esportivas, públicas e privadas, deve ser permeável
à adesão de muitas outras que tenham afinidade
e, ou, ligação com o esporte e o lazer, refletindo
desse modo a concepção de um sistema aberto e
descentralizado.
Compor uma nova estrutura, com outra perspectiva,
significa incorporar novas instituições e entidades,
ao mesmo tempo em que deverão ser atribuídas
novas funções e finalidades àquelas já componentes
do atual sistema. Também é necessário que se
defina, na organização, as relações entre essas
entidades e instituições, seus nexos internos, a
hierarquização e seus elos horizontais e verticais,
a preponderância de papéis e responsabilidades,
Fundamentação sobre o Sistema Nacional de Esporte e Lazer
20Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
a autonomia de cada uma e sua pertinência nas
tomadas de decisão referentes a questões gerais
ou particulares do sistema.
A (re)construção de um Sistema de Esporte e Lazer
no Brasil deve considerar as experiências vividas
no país, que se desenvolveram em diferentes
momentos da vida nacional e sob distintas leis. Em
nossos dias, o esporte é regido pela Constituição
Federal e pela Lei nº 9.615 de 24 de março de 1998
- e suas modificações posteriores.
O artigo 217 da Constituição Federal é genérico e
merecem atenção as propostas de ajustes na sua
forma e conteúdo.
A Lei nº 9.615/98 avançou no desenvolvimento da
norma constitucional e define em seu artigo 3º,
três manifestações do esporte:
- Esporte de Rendimento seria o que segue “regras
de prática esportiva, nacionais e internacionais,
com a finalidade de obter resultados e integrar
pessoas e comunidades do País e estas com outras
nações”.
- O Esporte de Participação se desenvolve “de
modo voluntário, compreendendo as modalidades
esportivas praticadas com a finalidade de contribuir
para a integração dos praticantes na plenitude da
vida social, na promoção da saúde e da educação e
na preservação do meio ambiente”.
- O Esporte Educacional seria aquele “praticado
nos sistemas de ensino e em formas assistemáticas
de educação, evitando-se a seletividade, a
hipercompetitividade de seus praticantes, com a
finalidade de alcançar o desenvolvimento integral
do indivíduo e a sua formação para o exercício da
cidadania e a prática do lazer”.
A definição do Esporte de Rendimento contempla
o setor e corresponde à realidade nacional e
internacional. O Esporte de Participação seria
melhor caracterizado como manifestação cultural
esportiva, despojada de sentido performático,
com possibilidade de ser vivenciada por todos que
o acessem. O Esporte Educacional necessita de
melhor definição legal e dimensionamento mais
adequado estabelecendo mais claramente sua
relevância e abrangência.
A elaboração da Política Nacional do Esporte
(2005) revelou a necessidade de buscar o real
significado do Esporte Educacional. Tal como
é posto hoje, o sentido educacional perpassa
inclusive as demais dimensões esportivas, às quais
pode ser atribuído sentido educativo. Essa é uma
questão chave, porque diz respeito não apenas à
legislação esportiva, mas, sobretudo impacta na
estruturação da gestão pública e no financiamento
do esporte brasileiro. A reflexão em torno do
esporte educacional exige revisitar a relação entre
esporte e educação.
Com o “objetivo de garantir a prática esportiva
regular e melhorar lhe o padrão de qualidade”,
nossa Lei criou o Sistema Brasileiro de Esporte
compreendendo: o Ministério do Esporte, o
Conselho Nacional do Esporte e o Sistema Nacional
do Esporte - que articula o esporte de rendimento.
Permeável, a Lei previu a hipótese de incorporar
no Sistema Brasileiro, entidades que “desenvolvam
práticas não formais, promovam a cultura e
as ciências do esporte e formem e aprimorem
especialistas”.
DESAFIoS PARA A CoNSTRUÇÃo DE UM NoVo SISTEMA
O Sistema previsto na Lei é restrito, na prática,
envolve apenas o Governo Federal e o esporte de
rendimento. Um novo Sistema deve articular todos
os agentes relevantes para o desenvolvimento das
atividades de esporte e lazer no país, que inclui
agentes públicos - nos diversos níveis da federação,
21 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
e privados, das diversas manifestações e dimensões
do esporte.
Esse novo Sistema deve considerar que o Brasil é
uma Federação, onde União, estados e municípios
têm atribuições específicas. No campo do esporte,
a Constituição estabeleceu competência normativa
concorrente aos entes da federação. A atual Lei do
esporte sugere a constituição de sistemas estaduais
e municipais, entretanto apenas para o campo do
rendimento. Importa a um novo Sistema, atuar
para fazer pactos entre os entes da federação,
com a construção de mecanismos de adesão a esse
renovado Sistema Nacional de Esporte e Lazer.
O financiamento é a questão crucial do esporte.
Na prática, a principal fonte do esporte brasileiro
resulta de concursos de prognósticos, de loterias.
Além de viabilizar os esportes olímpicos, essa
é a fonte principal dos recursos disponíveis do
Ministério do Esporte e das Secretárias Estaduais de
Esporte (ou órgãos equivalentes). Parte das receitas
das loterias (4,5%) é repassada ao Ministério, que
distribui um terço desse montante para os Estados,
que deveriam partilhar com os seus municípios.
Em números absolutos, falamos de valores pouco
significativos para um país do porte do Brasil. Falta
convicção ao setor público quanto à relevância
do esporte e do lazer, que pode ser medido pela
quantidade de recursos investidos.
A ampliação dos recursos para o esporte
exige, de um lado, aumentar os investimentos
governamentais diretos, nos três níveis de governo;
de outro lado, precisamos mobilizar o apoio
privado para desenvolver o esporte nacional, o
que requer, numa fase de transição, a concessão
de benefícios fiscais aos investidores, contribuindo
para a formação de uma nova cultura no meio
empresarial.
Considerando que a atração do setor privado se
daria em função do retorno de imagem que essa
ação propiciará, e que esse retorno se viabiliza
principalmente através do esporte de rendimento,
a estratégia de estímulo ao financiamento privado
poderia reduzir o gasto público na área do esporte
de rendimento, permitindo a concentração de seus
investimentos no esporte educacional, conforme
preceito constitucional.
A Lei nº 9.615/98 dá autonomia às entidades
de administração e de prática do esporte de
rendimento, entretanto, uma perspectiva sistêmica
exige refletir sobre a relação entre o poder público
e as entidades privadas, principalmente levando em
conta que o caráter provedor do Estado inaugurado
em 1941, está presente até os nossos dias.
Autonomia não é independência, importa vínculos
e compromissos, qualificá-los pode servir ao
desenvolvimento do esporte brasileiro. Não se trata
da velha tutela estatal, superada nas últimas leis,
mas, sendo o esporte objeto de políticas públicas e
tema de interesse público difuso, o Estado, além de
provedor, deve normatizar e fiscalizar a aplicação
das leis nesse campo da vida social.
No cotidiano, são múltiplas as motivações que
ligam as pessoas às atividades esportivas, a ação das
políticas públicas deve considerar o fenômeno em
sua totalidade, o que só se viabiliza na medida em
que essas ações tenham caráter intersetorial quanto
à ocupação do espaço das cidades, a viabilidade
da existência de tempo disponível, a possibilidade
de apropriação de cultura, a promoção da saúde,
a relação equilibrada com o meio ambiente, uma
vivência em comunidade mais harmônica, apenas
com referência a algumas dimensões possíveis, que
uma abordagem ampliada, intersetorial, poderia
permitir.
Mas o que vem a ser a intersetorialidade? É a
articulação entre sujeitos de setores diversos e,
22Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
portanto, de saberes, poderes e vontades distintas, para enfrentar problemas complexos. É uma nova forma de trabalhar, de governar e de construir políticas públicas em que se pretende a superação da fragmentação dos conhecimentos e das estruturas sociais para produzir efeitos significativos na população.
Ações intersetoriais não são espontâneas. Depende de uma ação deliberada, pressupõe o respeito à diversidade e às particularidades de cada agente. Envolve a criação de espaços comunicativos, a capacidade de negociação e também trabalhar os conflitos para que se possa chegar, com eficiência às ações concretas.
A intersetorialidade envolve a expectativa de resolução de situações, pois, em todas as experiências reconhece-se que ela se constrói sobre a necessidade dos agentes e setores enfrentarem problemas concretos. São as questões concretas que mobilizam as pessoas; são elas que criam o espaço possível de interação e de ação. É a temática que define a possibilidade de ação intersetorial de fato. O acesso ao esporte e ao lazer, com a exploração de suas múltiplas possibilidades é exemplo típico de temas que poderão ser trabalhados de maneira intersetorial.
Nas administrações modernas, a gestão da “res pública” deve ser ancorada em princípios pautados pelo controle social, pela transparência administrativa, pela participação popular, pela descentralização e dos programas e ações públicas.
O estabelecimento de uma gestão democrática no setor esportivo pressupõe a participação da população na definição e no controle social das políticas públicas elaboradas e implementadas.
A ciência e a tecnologia produzida e acumulada no setor do esporte e do lazer deverá qualificar o Sistema Nacional de Esporte e Lazer.
O fomento à produção e à difusão do conhecimento, voltado para a gestão de políticas de esporte e de lazer e para aprimorar o esporte de rendimento, é relevante para subsidiar o processo de elaboração e implementação de ações, na medida em que permite acesso aos dados sobre a situação do esporte no País. Além disso, ajuda na formação continuada dos gestores, técnicos e outros agentes do esporte e do lazer, responsáveis, cada qual em sua área de atuação, pela transformação do resultado da produção científica, em serviços cada vez mais eficientes.
O Brasil tem hoje, uma enorme carência de um sistema eficiente para a gestão de documentação e informação do esporte. Com exceção de raras iniciativas em universidades públicas e portais de internet, há uma desarticulação na organização de registros escritos, virtuais, sonoros e de imagens sobre a cultura corporal, em especial, no tocante às dimensões do esporte e lazer, superar essa lacuna é desafio estratégico para um novo Sistema.
Ao fim, acreditamos que a II Conferência Nacional do Esporte, para colaborar com a (re)construção do Sistema Nacional de Esporte e Lazer, deve assumir alguns desafios:
• Propor ajustes para a legislação esportiva brasileira, aproximando-a de conceitos mais precisos e contemporâneos;
• Revisar e desenvolver a relação entre esporte e educação;
• Ampliar e diversificar as fontes de financiamento do esporte, considerando as múltiplas dimensões, baseando-se na equidade;
23 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
• Definir mecanismos de regulação do esporte de rendimento;
• Fixar protocolos de adesão para incorporar ajustar a participação da União, Estados e Municípios;
• Estabelecer temáticas e procedimentos para ações intersetoriais no plano da ação governamental;
• Desenvolver processos de controle social para as políticas públicas de esporte e lazer;
• Apoiar a produção e difusão das ciências do esporte;
• Viabilizar a organização e divulgação da informação e da documentação esportivas.
• Fixar uma matriz de competências de cada agente que compõe o Sistema.
A superação desses desafios significará passos firmes para estruturar um Sistema Nacional, e mais que isso, pode efetivar o preceito legal do esporte e lazer como direitos, tornando-os realidade no cotidiano de nosso povo.
Foto: Acervo ME
24Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
O presente texto reúne resultados das discussões
do I Fórum do Sistema Nacional de Esporte e Lazer,
realizado por iniciativa do Ministério do Esporte de
19 a 21 de outubro de 2005, em Brasília e que reuniu
membros do Conselho Nacional do Esporte - CNE,
representantes de várias entidades do esporte e do
lazer e de núcleos e laboratórios de pesquisas da
área do esporte e do lazer e outras personalidades
da área com os objetivos de (1) promover o debate
sobre a criação do Sistema Nacional de Esporte e
Lazer construindo uma proposta preliminar para
sua estruturação em parceria com os agentes em
potencial, (2) reunindo lideranças nacionais da área
do esporte para debater as propostas para o sistema
e (3) promovendo a troca de experiência com outras
áreas de governo que possuem Sistemas Nacionais
estruturados e (4) democratizando a participação
na elaboração da proposta que subsidiará o Texto
Básico da II Conferência que terá como tema o
Sistema Nacional de Esporte e Lazer.
A metodologia de trabalho empregada foi o
trabalho em grupo após uma mesa de debates
que expôs um balanço do atual sistema esportivo
brasileiro, apresentou o Sistema Nacional de
Educação, o Sistema Único de Saúde e a proposta
de criação do Sistema Nacional de Cultura.
As discussões do I Fórum traduzem o pensamento
de que a (re) construção do Sistema Nacional de
Esporte e Lazer pressupõe a responsabilidade
de fomentar e qualificar de forma integrada,
sistemática e articulada as diferentes práticas sociais
relacionadas ao esporte e ao lazer, considerando
as contradições advindas de sua origem numa
sociedade de classes. Por isso, para estabelecer
políticas públicas, assentadas na realidade objetiva,
torna-se necessário o reconhecimento e resgate
das reivindicações já formuladas pela população e
não captadas pelos mecanismos oficiais e formais
do Sistema atual que privilegia o esporte de alto
rendimento.
Os grupos de trabalho abordaram a questão da base do rendimento esportivo em relação ao papel da escola e dos clubes esportivos sociais e recomendaram que essa temática deve ser aprofundada, na tentativa de ruptura com a teoria da pirâmide esportiva, em que a escola e os clubes esportivos sociais sejam base da massificação esportiva e não de uma elite esportiva.
Nesse sentido, a (re)construção do Sistema Nacional de Esporte e Lazer deve pautar o papel da escola e dos clubes esportivos neste sistema e, de forma mais ampla, a relação entre o esporte e o sistema educacional - Ministério de Educação e Ministério do Esporte - no tocante à Educação Física e ao esporte escolar.
Para alterar as relações com o esporte, o I Fórum asseverou que o Sistema deve ser propício à inclusão social, principalmente, na superação da dinâmica excludente do Sistema Esportivo atual que cria contradições com a perspectiva coletivista de vida em sociedade e reforça a visão individualista e seletiva do esporte, em que cabe aos sujeitos a condição de meros consumidores da indústria cultural esportiva de massa.
Houve indicações de um dos grupos que o Sistema deve proporcionar amplos espaços apropriados para a prática criativa do esporte e do lazer que sejam afeitos ao surgimento da cultura corporal como expressão das múltiplas possibilidades de práticas corporais, esportivas, de lazer edificadas pelo homem ao longo de sua história. Expressão mais elevada do desenvolvimento da humanidade liberta das relações reduzidas de compra e venda, que forje uma nova mentalidade que priorize os valores próprios do lúdico e da solidariedade em detrimento da competição exacerbada e segregacionista.
O I Fórum foi unânime na indicação de que o atual Sistema Nacional de Esporte e suas estruturas,
I Fórum do Sistema Nacional de Esporte e Lazer
25 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
entidades, instituições Leis, Projetos e Programas
devem ser, exaustivamente, avaliados considerando
que a análise do contexto histórico revela o não
rompimento com as políticas que aprofundam
os ajustes e as reformas do Estado e inviabilizam
a efetivação de políticas sociais universais para
atender as reivindicações expressas em eventos
e momentos políticos, como, por exemplo, a
Conferência Nacional do Esporte.
Quanto a isso reiterou que as reivindicações dos
setores incluídos, organizados e reconhecidos
no esporte e lazer e outras tantas demandas
“silenciadas” vindas dos diferentes setores excluídos,
cidadãos e cidadãs anônimos, localizados tanto
na cidade como no campo, não pertencentes ao
sistema educacional, desempregados, presidiários
e outros, devem ser abordadas como indicadores
de um sistema de avaliação do Sistema Nacional de
Esporte atual.
O grupo de trabalho específico para o tema
“Lazer” discutiu a pertinência da construção de
um Sistema Nacional de Lazer ou de contemplar as
diversas dimensões do Lazer dentro de um Sistema
Nacional de Esporte e Lazer.
A defesa de um Sistema próprio de Lazer sustentou-
se nos seguintes argumentos:
1) A evidência que a maior valorização e visibilidade
dada ao esporte coloca o lazer na categoria de
tema adjacente ou como apêndice de um Sistema
de Esporte.
2) O reconhecimento da grande dificuldade que
têm os órgãos gestores de esporte e lazer para
valorizar e criar ações voltadas aos demais tipos
diferentes de manifestação de Lazer que não o
“esporte de lazer”.
3) Identificação da tendência predominante de
mercantilização do lazer que o vincula ao consumo.
4) Evidência da intersetorialidade e multidisciplinarie-
dade do fenômeno Lazer.
Ponderou-se, ainda, que a incorporação
do lazer no Sistema Nacional de Esporte,
pode relativizar seu conceito e reduzir seu
espaço de ação nas suas demais dimensões,
o qual implicaria em, involuntariamente,
“abrir mão” do capital teórico acumulado
favorecendo, desse modo, o processo de
“esportivização” do lazer. Todavia, a criação
de um Sistema Nacional de Lazer, que
significaria o rompimento com o Sistema de
Esporte, poderia enfraquecer a importância
e o espaço já conquistado pelo fenômeno,
vez que, na conjuntura atual, o Lazer tem
no campo do Esporte sua principal fonte de
financiamento.
Por outro lado, o grupo entendeu que a
criação de um Sistema Nacional de Lazer
poderia, inicialmente, trazer prejuízos à
estrutura já conquistada, mas, em seguida,
poderia prover a legitimação das ações
e garantir o acesso ao “direito ao lazer”
contemplando suas mais diversas dimensões
e manifestações. Porém, o grupo considerou
que a criação de um Sistema Nacional de
Lazer deverá ocorrer, apenas, quando o
cenário político e as discussões conceituais
sobre o tema, estiverem esgotadas e suas
bases teóricas amadurecidas, além do que
se faria necessário incorporar e articular o
debate do Lazer com outros Ministérios e
instituições de outras áreas.
Contudo, o grupo concluiu que a situação
mais adequada para o lazer, no momento,
seria compor o Sistema Nacional de Esporte
e Lazer, conforme consta na Política Nacional
do Esporte (2005), opinião que foi avalizada
pelo I Fórum.
26Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
AGENTES E CoMPETÊNCIAS
O I Fórum avaliou as concepções do sistema
que se pretende, com possibilidades de se optar
por uma nova estrutura aberta, descentralizada,
constituída por diversas instituições, entidades e
organizações esportivas, permeável à adesão de
muitas outras que tenham afinidade ou ligação
com o esporte e o lazer e também permeável às
várias dimensões do esporte, ou uma estrutura
fechada com uma organização assentada numa
estrutura hierárquica e centralizada, na qual seus
componentes se voltam de forma unidimensional
ao esporte de alto rendimento. Houve uma
tendência acentuada por uma nova estrutura,
embora sem uma caracterização mais delineada.
Ponderou se que, para compor uma nova estrutura
com outra perspectiva, propícia à inclusão social,
significa incorporar novas instituições e entidades,
ao mesmo tempo em que deverão ser atribuídas
novas funções e finalidades àquelas já componentes
do sistema.
Um dos grupos de trabalho aludiu à necessidade
de se definir, na organização do Sistema, as
relações entre essas entidades e instituições,
seus nexos internos, a preponderância de papéis
e responsabilidades, a hierarquização e seus elos
horizontais e verticais, ou sua superação. Além da
autonomia de cada componente e sua pertinência
e poder nas tomadas de decisão referentes
a questões gerais ou particulares do sistema.
Enfim, no I Fórum evidenciou se que deve ser
feita uma avaliação de cada entidade, instituição
ou organização, qualificando-as, discriminando
requisitos para cumprirem suas funções tendo em
vista os objetivos comuns que deverão alcançar,
reconhecendo suas características em relação aos
princípios e finalidades do sistema que se pretende
construir e que se encontram delineados na Política
Nacional do Esporte (2005).
O I Fórum propôs uma possível estrutura de sistema
indicando as instituições, entidades e organizações
que as comporiam bem como suas atribuições
e responsabilidades sem, entretanto, avaliar as
características das instituições, das entidades e das
organizações em função dos princípios e finalidades
do Sistema projetado para aferir a validade e a
consistência da proposta.
Alguns participantes do Fórum opinaram que a
discussão sobre o Sistema Esportivo Nacional não
poderia estar dissociada do Estatuto do Esporte
que está em tramitação no Congresso Nacional.
Convêm ressaltar que o mencionado Estatuto
apresenta uma proposta concreta de um Sistema
Nacional de Esporte.
Os participantes do Fórum indicaram os possíveis
componentes de um novo sistema definindo as
instituições, entidades e organizações e suas
responsabilidades porém, não descreveram a
estrutura e organização do sistema pretendido,
nem trataram dos princípios, diretrizes e objetivos
já aprovados na I Conferência Nacional do Esporte,
de modo a permitir uma avaliação dos avanços
ou recuos em relação ao atual sistema. Contudo,
cabe ressaltar a importância dessas indicações
como elementos teóricos para reflexão sobre esta
relevante questão.
GESTÃo E CoNTRoLE SoCIAL
As diretrizes da Resolução sobre o Sistema Nacional
do Esporte e Lazer, advinda da I Conferência
Nacional do Esporte, foram analisadas, incorporadas
e acrescidas de outras no I Fórum. Delineiam
um tipo de gestão que admite a existência de
mecanismos democráticos e de participação popular
e que possibilitam a transparência e o controle
social, características que podem se contrapor à
centralização, à falta de transparência e controle
social próprios da estrutura do atual sistema.
27 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
O I Fórum propôs que, o novo sistema, deve ter
mecanismos de participação social na elaboração
de políticas públicas que ampliem o número
de interlocutores do Estado com segmentos
da sociedade civil organizada e que permitam
as políticas intersetoriais. Destacou, ainda, a
necessidade de se assegurar acesso universal -
integração racial, intergeracional, socioeconômica,
de gênero e de pessoas com deficiências - sem,
entretanto, explicitar qual seria o mecanismo que
permitiria a universalização do acesso ao esporte
e lazer.
Quanto à possibilidade do exercício do controle
social considerou-se plausível a manutenção de
um fórum permanente de discussão nos níveis
municipal e estadual. Conselhos específicos para o
esporte e o lazer, ou câmaras temáticas de lazer
nos Conselhos já existentes.
Um dos grupos especificou a criação de câmaras
técnicas, organizadas pelo Ministério do Esporte
com o apoio de convênios com entidades de
“notório saber” consultivas em temas específicos.
Essas câmaras produziriam materiais técnico
informativos a respeito de temáticas do esporte
e lazer, sobre as legislações existentes, formas
de financiamento e de parcerias que podem ser
executadas, visando o aprimoramento constante
dos mecanismos de controle social. Inclusive com a
exigência da presença da instância de controle social
no momento da realização de convênios e parcerias
a partir de planos de trabalho formalizados.
Os mecanismos de controle do Sistema seriam os
Conselhos de Esporte e Lazer e as Conferências
de Esporte nas instâncias nacional, estadual e
municipal.
Os Conselhos de Esporte e Lazer seriam órgãos
consultivos das políticas públicas de lazer e esporte
e desempenhariam as seguintes funções:
• Deliberar sobre a política de esporte e lazer.
• Avaliar e acompanhar a execução da política de
esporte e lazer.
• Propor alterações na política de esporte e lazer a
partir de propostas aprovadas nas conferências.
• Acatar, discutir e encaminhar para instâncias
competentes, responsáveis por sua formulação
e execução, demandas populares por políticas
públicas de esporte e lazer.
• Apoiar os conselhos de outras instâncias na
formulação de suas políticas.
• Editar resoluções pertinentes ao esporte e lazer.
• Fiscalizar, coletar e sistematizar informações
concernentes ao exercício do controle social.
• Encaminhar proposta de demarcação de locais
destinados ao esporte e lazer.
• Propor mudanças em legislações que regulem as
políticas públicas de esporte e lazer e encaminhar
aos órgãos legislativos propostas consensuais no
Conselho.
Ao tratar das atribuições dos Conselhos o I Fórum
não explicitou a função específica de fiscalização
dos recursos financeiros, o que deve ser feito para
que se realize o controle social. Vale ressaltar que
a responsabilidade pela coleta e sistematização de
informações estaria nas mãos dos órgãos gestores,
não obstante, na proposta do Fórum, não há
indicação de funções específicas de controle
por órgãos externos, a não ser no âmbito de
discussão dos dados atribuídos aos Conselhos.
A esse respeito deve-se considerar que, ater se a
requerer a informação dos gestores sobre os dados
de financiamento não garante a fidedignidade dos
dados informados, pois é o acesso direto aos dados
reais o que garante o controle público.
A proposta de composição dos Conselhos
incluiria:
28Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
• Representantes de Ministérios que desenvolvam
políticas de esporte e lazer ou políticas intersetoriais
com a área.
• Representante de entidades profissionais.
• Representantes de entidades científicas.
• Representante de clubes.
• Representante de entidades sindicais que desen-
volvem ações de esporte e lazer.
• Representante da mídia.
• Representante dos Agentes Sociais de esporte e
lazer.
• Representante do Sistema S.
• Representante dos usuários de ações públicas de
esporte e lazer.
• Representante das Instituições de Ensino Superior
- IES.
• Representante das Confederações.
• Representante do Comitê Olímpico Brasileiro.
• Representante do Comitê Para Olímpico Brasilei-
ro.
• Representante dos Esportes Não Olímpicos.
• Representante do Terceiro Setor.
Os Conselheiros seriam eleitos através de indicação
direta ou eleição organizada pelas entidades
representadas. Pautou se, ainda, a esse respeito
como atribuição da Conferência Nacional do
Esporte, tirar um indicativo para alterar a forma de
escolha dos componentes do Conselho Nacional
do Esporte, no qual sua composição seria de, no
máximo, 50% (cinqüenta por cento) indicados pelo
Ministro do Esporte e os outros 50% (cinqüenta
por cento) seriam preenchidos, paritariamente,
por indicação dos setores interessados e não pelo
Ministro do Esporte.
À Conferência Nacional do Esporte, reconhecida
como uma estrutura fundamental para o Sistema
Nacional do Esporte e Lazer coube, ademais, por
incumbência do I Fórum as seguintes atribuições:
• Devem ser instâncias para os debates e discussões
a respeito do Sistema Esportivo bem como das
políticas públicas de esporte desenvolvendo
funções avaliativas, propositivas e deliberativas.
• Atentar para a qualificação dos delegados; meca-
nismos utilizados na eleição dos delegados; partici-
pação paritária entre entes públicos e privados.
• Garantir a participação de todos os setores do
esporte e ligados ao Sistema.
• Assumir o caráter de maior instância deliberativa
na área do esporte.
• Garantir a participação de, pelo menos, um
participante por município.
• As etapas municipais e estaduais deveriam ter
autonomia para discutir e avaliar seus sistemas e
não apenas para eleger os delegados participantes
da etapa nacional.
• Elaborar políticas públicas e estabelecer priorida-
des.
• A etapa municipal deverá ter um peso destacado
no processo da Conferência debatendo o
conjunto de questões advindas das discussões
feitas em momentos anteriores dentro do próprio
município.
• Garantir a participação das IES formadoras da
área de Educação Física.
• Garantir que todo material de referência chegue
aos municípios com tempo de serem discutidos em
grupos de interesse.
• Buscar mecanismos para garantir que os partici-
pantes sejam qualificados a participarem dos de-
29 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
bates, seja na fase municipal, estadual ou federal
(nacional).
• Viabilizar a participação de outros Ministérios na
Conferência para debaterem assuntos relativos à
sua alçada.
• A Conferência deveria partir de uma avaliação da
aplicação dos resultados da Conferência anterior.
Seria uma prestação de contas da última.
• A Conferência deveria ser obrigatória nos três
níveis para garantir a sua realização em pelo menos
um nível.
• Participação, na fase municipal, de todos os
segmentos da sociedade ligados ao esporte ou
não.
• Que tenha periodicidade bienal.
• As Conferências Nacionais devem ter uma função
avaliativa e propositiva: ordenamento legal do
Esporte e Lazer, organização do Sistema Nacional
de Esporte e Lazer, definições da Política Nacional
de Esporte e Lazer.
• Fórum para debates e discussões sobre políticas
públicas e sobre o Sistema Nacional de Esporte e
Lazer.
• Conferências Municipais, Estaduais e a Nacional
devem ter a função de debater, avaliar e propor
políticas de esporte e lazer, no âmbito do
ordenamento legal, dos programas e projetos e do
próprio Sistema Nacional de Esporte e Lazer.
Todas as questões postas pelo I Fórum como
atribuições e responsabilidades dos Conselhos e
da Conferência Nacional do Esporte devem ser
avaliadas com vistas à nova estrutura, às relações
de poder e competências que o sistema deverá
assumir.
FINANCIAMENTo
Os participantes do I Fórum fizeram considerações
sobre a realidade econômica nacional e
assinalaram a necessidade de um marco legal
que defina os objetivos e metas e a previsão do
orçamento adequado à gestão social, democrática
e pública do esporte. Ademais, entenderam que
para se estabelecer o dimensionamento preciso
de alíquotas e metas para captação de recursos
e os mecanismos para definição das dotações
orçamentárias, em cada instância de um Sistema,
são necessários estudos detalhados que considerem
a realidade econômica nacional, que explicitem
as condições reais em que o conjunto das ações
de financiamento poderá tornar exeqüíveis as
propostas de ações estratégicas e o cumprimento
das finalidades do Sistema.
Um dos grupos aprofundou essa temática e
indicou para que o esporte e o lazer sejam políticas
prioritárias, de fato, deve estar fixada em lei maior
e em leis complementares e ordinárias, a partir
da definição de objetivos e metas, a previsão do
orçamento necessário para a adequada gestão
social, democrática e pública do esporte. A partir
da constituição, que garante a todos os cidadãos o
direito ao esporte e lazer, deve ser fixada, no Plano
Plurianual e previstos na legislação complementar,
na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e na Lei
do Orçamento Anual (LOA), a utilização de um
percentual crescente do Orçamento da União, dos
atuais 0,2% a 1,5% nos próximos cinco anos.
Estas indicações decorrem de três fontes de
dados:
a) As reivindicações da população brasileira,
organizada ou não.
b) O montante gerado e acumulado no Produto
Interno Bruto da parcela da produção dos
30Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
trabalhadores relacionados no âmbito do esporte
e lazer.
c) Das indicações da I Conferência Nacional do
Esporte que aponta no mínimo 1,5% do Orçamento
da União, Estados e Municípios a ser aplicado nas
ações de esporte e lazer e na criação do Sistema
Nacional de Esporte, com dotação orçamentária
de no mínimo 1%, garantindo-se gestão pública
democrática e controle social.
Em relação à Política Nacional de Financiamento,
os participantes do I Fórum, concordaram com as
indicações da Resolução sobre o Sistema Nacional
de Esporte e Lazer que considera como fontes de
financiamento desse Sistema:
- Recursos públicos diretos da União, dos estados e
dos municípios.
- Recursos públicos de órgãos e instituições da
administração indireta nas três esferas: municípios,
estados e União.
- Recursos provenientes da vinculação de parte
das receitas de impostos e taxas nas três esferas:
municípios, estados e União.
- Recursos provenientes de medidas de incentivo
fiscal.
- Recursos provenientes da vinculação de parte das
receitas de concursos de prognósticos, loterias e
outras modalidades de apostas.
- Recursos provenientes de fundos e outras medidas
de fomento ao esporte e ao lazer.
- Recursos provenientes de linhas de crédito e
incentivos a toda a cadeia produtiva vinculada ao
segmento.
Sobre as fontes de financiamento, I Fórum se ocupou
de emitir sugestões para análise do Orçamento da
União e o investimento público no esporte e lazer
levando em consideração a necessidade de:
1. Identificar o Orçamento Público da União para as
Políticas Públicas de esporte e lazer.
2. Especificar a evolução do Orçamento da União
para o esporte e lazer nos últimos cinco anos.
3. Discriminar o orçamento destinado a cada Secre-
taria Nacional.
4. Distribuição do orçamento para projetos, pro-
gramas e eventos esportivos e científicos entre os
segmentos, nas diferentes manifestações esporti-
vas, nos estados, municípios e regiões.
5. Especificar as prioridades orçamentárias - programas,
projetos, ações e outros.
6. Especificar o que está previsto nas Leis comple-
mentares como a Lei de Responsabilidade Fiscal,
na Legislação Ordinária que atende às leis com-
plementares, no Plano Plurianual, Lei de Diretrizes
Orçamentárias, Lei do Orçamento Anual e na Des-
vinculação de Recursos da União - Contingencia-
mento.
O I Fórum analisou as seguintes diretrizes de
aplicação dos recursos destinados ao financiamento
do Sistema Nacional de Esporte e Lazer propostos
na Resolução da I Conferência Nacional e as
referendou:
• Assegurar a permanência e continuidade do fi-
nanciamento.
• Atender às três esferas: União, estados e municí-
pios a partir das competências de cada uma.
• Atender ao conjunto das entidades do esporte
nacionais, estaduais e municipais, os atletas e a po-
pulação atendida no âmbito do Sistema Nacional
de Esporte e Lazer.
31 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
• Assegurar a implementação das políticas que vi-
sem à inclusão social e o atendimento das pessoas
com deficiências e necessidades especiais.
• Atender a infra-estrutura e aos equipamentos ne-
cessários à implementação das políticas e progra-
mas.
• Atender à capacitação dos recursos humanos já
inseridos no segmento e à formação de novos recur-
sos humanos qualificados.
• Atender ao fomento e desenvolvimento científico
e tecnológico.
• Contemplar a multiplicidade de experiências e es-
pecificidades regionais de todo o território nacional
e a equidade na aplicação dos recursos.
Sobre essas diretrizes não houve avaliação mais
precisa pelos participantes do I Fórum, porém,
houve a preocupação em viabilizá-las e ampliá-las
desde que decididas por mecanismos democráticos
e com transparência.
A esse respeito, no âmbito da política econômica,
o I Fórum avaliou que o Sistema Nacional de
Esporte e Lazer deverá estar pautado em preceitos
que assegurem recursos públicos para interesses
públicos, sob gestão democrática e com controle
social dos recursos, garantindo o esporte e o lazer
como direitos sociais, tal qual educação, saúde, meio
ambiente. Para tanto, indicou, que faz se necessário
que o Sistema assuma “políticas econômicas contra
hegemônicas” que assegurem a adequada gestão
financeira e atendam as suas finalidades.
Alguns aspectos relevantes tratados no I Fórum
devem ser desenvolvidos, assim como a necessidade
de se definir melhor as relações das parcerias público
e privado para financiamento do esporte. Ressaltou-
se que, dificilmente, um sistema funcionará sem
a confirmação de interesses entre o público e
o privado, vez que não existe nenhuma política
voltada para a base que seja executada (alimentada)
pelo setor privado. Constatou-se que, pelo modelo
atual do sistema, o alto rendimento está criando
identidade própria, inclusive no financiamento.
Os debates nesse eixo trouxeram os grupos a um
consenso quanto a não colocação do incentivo fiscal
como uma fonte de financiamento do Sistema.
Apontaram também para a proposta de criação de
um Fundo Nacional de Desenvolvimento de Esporte
e Lazer.
O Fundo Nacional de Desenvolvimento de Esporte e
Lazer terá como destinatários/beneficiários o Esporte
de Participação e Lazer e o Esporte Educacional e
teriam como fontes de financiamento:
• O percentual sobre contratos (de trabalho) realiza-
dos no esporte profissional.
• O percentual sobre o Borderô nos espetáculos es-
portivos.
• O imposto específico sobre a indústria esportiva.
• O percentual dos contratos de transmissão de es-
petáculos esportivos.
• O percentual dos contratos firmados entre entida-
des de prática e entidades de administração esporti-
va, que envolvam esporte profissional.
• O percentual de contratos firmados entre entida-
des de administração esportiva e sociedade civil e
comercial, instituições financeiras ou fundos de in-
vestimentos.
• O percentual sobre aplicações financeiras de enti-
dades de prática e administração do esporte.
• O percentual - superior ao atual - da vinculação de
parte das receitas de concursos prognósticos.
Entretanto, definir, com maior precisão, as fontes
financiadoras do Sistema deve se considerar que
a sua estrutura já esteja composta com relações
e funções determinadas, antes disso, é abstrato e
inconsistente anunciar e descrever o conjunto das
32Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
fontes e dos órgãos financiadores. O que pode ser tratado, nesse âmbito, são os princípios e diretrizes para o financiamento. Por isso, houve indicações no Fórum que o trabalho aprofundado sobre o montante de recursos, as fontes de financiamento e as prioridades a partir da estrutura determinada deve ser realizado por especialistas.
RECURSoS HUMANoS E FoRMAÇÃo
A Política Nacional de Recursos Humanos, apresentada na Resolução sobre o Sistema Nacional do Esporte e Lazer foi motivo de discussão no I Fórum por caracterizar aspectos da formação tais como o caráter multiprofissional - professores e profissionais de educação física, agentes sociais de esporte e lazer e outros - e multidisciplinar - diversas áreas do conhecimento - desses recursos, a necessidade de capacitar aqueles já inseridos no segmento, bem como a necessidade de formação de novos recursos qualificados.
Para o grupo específico do lazer, a denominação “recursos humanos” e “grupos de ocupação” foi criticada e considerada de abrangência insuficiente para o debate em torno do esporte e do lazer, decidindo se pela utilização do termo “Agentes Sociais de Esporte e Lazer”, visto como mais adequado por permitir a compreensão dos diversos tipos de agentes. Também, o termo “formação permanente” foi considerado mais ilustrativo da idéia do grupo sobre o processo de formação e capacitação.
Na proposta de formação permanente, além de constar a indicação dos envolvidos no Sistema foram apresentadas Diretrizes reconhecendo o esporte e o lazer (a) como práticas sociais e (b) como dimensões da cultura humana que devem (c) valorizar a construção social do conhecimento e (d) o diálogo ampliado entre as diferentes áreas das ciências sociais e humanas, (e) na perspectiva inclusiva
da prática do esporte e do lazer. Reconheceu se, também, (f) o caráter multidisciplinar do setor e (g) a necessidade de incentivo ao respeito e ao atendimento à diversidade humana. Porém, o grupo rejeitou a proposta de “capacitação de recursos humanos que estão presentes no sistema atual”, apresentada na Resolução, por discordar da sua forma e conteúdo.
Como resultado da reflexão de outros grupos o I Fórum apresentou, também, diretrizes para formação continuada do Sistema Nacional de Esporte e Lazer que orientam (a) o estabelecimento de acordos de cooperação com IES, (b) a qualificação e instrumentalização dos profissionais do Esporte e do Lazer, (c) a descentralização da capacitação de quadros e profissionais, (d) a atenção às demandas de formação oriundas da Conferência Nacional e (f) a criação de programas voltados às necessidades do Sistema.
O Fórum indicou como responsabilidades que caberiam ao Sistema quanto à formação dos envolvidos, o fomento, a execução, a manutenção, a avaliação e o controle social do processo. Além do financiamento da formação e a capacitação de quadros ligados ao esporte e lazer. A responsabilidade da formação continuada dos quadros especializados em Esporte e Lazer foi atribuída a União, Estado, Município, iniciativa privada e terceiro setor.
Contudo, as diretrizes formuladas, a definição dos envolvidos no processo e suas responsabilidades, que configurariam as bases de uma Política de Formação, propostas pelo I Fórum, só podem ser definidas tendo clara a estrutura do Sistema Nacional de Esporte e Lazer que se pretende, condição, também fundamental para enfrentar problemáticas como a formação inicial e continuada dos Recursos Humanos de esporte e lazer vinculados ao sistema, definindo o papel das Universidades nesta formação.
33 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
O Projeto de Lei do Estatuto do Esporte, em tramitação no Congresso Nacional, tem por objetivo reunir em uma única Lei toda a legislação esportiva em vigor, a saber: Lei nº 6.354, de 02 de setembro de 1976, Lei nº 8.650, de 22 de abril de 1993; Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998 e todas as leis que a alteraram; Lei nº 9.981, de 14 de julho de 2000; Lei nº 10.264, de 16 de julho de 2001; Lei nº 10.671, de 15 de maio de 2003, Lei nº 10.672, de 15 de maio de 2003 e Lei nº 10.891, de 9 de julho de 2004. Sendo aprovado, as leis acima são revogadas e o Esporte Nacional passa a ser regido pelo Estatuto do Esporte.
Considerando a proposição de estruturação do Sistema Nacional de Esporte e Lazer pelo Ministério do Esporte, ouvindo a sociedade durante as etapas municipais, estaduais e nacional da II Conferência Nacional do Esporte - II CNE, entende-se necessário examinar não só a legislação em vigor, mas o que está sendo proposto pelo Legislativo.
No Projeto de Lei aborda-se o Sistema Nacional indicando seus componentes e propondo inclusive a sua divisão em subsistemas:
Do Sistema Nacional do Esporte
Art. 4º O Sistema Nacional do Esporte, organizado de forma descentralizada e participativa, compreende:
I - o Ministério do Esporte;
II - o Conselho Nacional do Esporte;
III - as entidades públicas e privadas, as organizações governamentais civis e militares e não-governamentais e as pessoas físicas que atuam na coordenação, administração ou prática das diversas manifestações esportivas;
IV - as instituições que regulam o exercício profissional e as que promovem o desenvolvimento da prática esportiva, da educação física e das ciências do esporte,
bem como as que formam professores, instrutores e técnicos;
V - os sistemas de esporte dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, organizados de forma autônoma e em regime de colaboração, integrados por vínculos de natureza técnica específicos de cada modalidade esportiva.
Parágrafo único. Integram o Sistema Nacional do Esporte:
I - o Subsistema do Esporte de Rendimento;
II - o Subsistema do Esporte de Participação e de Lazer;
III - o Subsistema do Esporte Educacional;
IV - o Subsistema do Esporte Militar.
Embora no artigo 4º apenas estes componentes sejam citados, no decorrer do texto outros agentes aparecem, alguns sendo definidos como entes esportivos indiretos, levando ao entendimento que integram o Sistema, à medida que possuem responsabilidades no desenvolvimento do esporte nacional.
O Sistema Nacional proposto pelo Estatuto caracteriza-se pela ênfase no Esporte de Rendimento, considerando que absorve o previsto na Lei 9.615/98, com pequenas alterações. Ainda que considere as manifestações esportivas previstas na Lei em vigor (esporte educacional, de participação e de rendimento), e proponha a divisão em Subsistemas (Rendimento, Participação e Lazer, Educacional e Militar), na prática, o que aparece mais estruturado é o Sistema de Esporte de Rendimento, chegando a ser confundido no texto com o próprio Sistema Nacional. Há ainda um esboço do que seria o
Considerações sobre o Sistema Nacional do Esporte proposto pelo Estatuto do Esporte*
*Comissão especial destinada a oferecer parecer às emendas de plenário recebidas pelo Projeto de Lei nº 4874, de 2001, que "Institui o Estatuto do Desporto”. Projeto de Lei nº 4.874, de 2001 (apensados os PLs nºs 4.932/01 , 5.342/01 , 7.157/02, 259/03 e 1.482/03)
34Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
Subsistema de Esporte Educacional, no que diz
respeito ao Esporte Escolar.
Para estes são estabelecidas as competências de
alguns agentes e de que forma atuam no Esporte
Nacional. Para os demais, essas questões não
são detalhadas. Para o próprio Sistema Nacional,
inclusive, são propostas as competências de apenas
parte de seus componentes.
No que diz respeito ao financiamento, o Estatuto
propõe que os recursos públicos sejam destinados
prioritariamente à promoção do esporte educacional
e de base, e em casos específicos, para o esporte de
rendimento. A inclusão do esporte de base pode ser
entendida como uma ampliação do investimento
para o esporte de rendimento, se considerarmos
o esporte de base como sendo a base para o
rendimento e não a iniciação esportiva que poderia
estar presente no esporte de participação.
O Estatuto cria o Fundo de Promoção do Esporte
Educacional e de Base - FUNDESPORTE - e propõe
o estabelecimento de Incentivos Fiscais para
pessoas físicas e jurídicas para apoio direto a
projetos esportivos aprovados pelo Ministério do
Esporte, como também para a contribuição ao
FUNDESPORTE. Constituem receitas do Fundo
as dotações eventualmente destinadas na lei
orçamentária anual da União e seus créditos
adicionais; rendimentos decorrentes da aplicação
financeira dos seus recursos; treze por cento da
arrecadação obtida em cada teste dos concursos
de prognósticos com objeto esportivo, na forma
do inciso VI do art. 129 desta Lei; contribuições na
forma do art. 134 desta Lei;dez por cento incidente
sobre o valor dos projetos aprovados para captação
de recursos incentivados, na forma do art. 143 desta
Lei; adicional de quatro e meio por cento incidente
sobre cada bilhete de concursos de prognósticos
previstos em lei, à exceção daqueles com objeto
esportivo, sendo um terço deste montante repassado
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, na
forma da regulamentação; doações, patrocínios e
legados; e outras que lhe vierem a ser destinadas.
O Fundo será administrado por um Conselho
constituído especialmente para este fim, presidido
pelo Ministério do Esporte, e tendo como integrantes
além de representantes do Sistema Nacional do
Esporte, representantes do Conselho de Secretários
de Estado da Educação - CONSED, da União de
Dirigentes Municipais de Educação - UNDIME, do
Conselho Federal de Educação Física- CONFEF e da
Confederação Brasileira de Clubes - CBC.
Os recursos do FUNDESPORTE deverão ser
aplicados exclusivamente em programas, projetos e
atividades de fomento ao esporte educacional e de
base e ser repassados aos Estados, Distrito Federal
e Municípios para o financiamento de atividades,
programas e projetos destinados ao fomento de
práticas esportivas não-profissionais, na forma da
regulamentação.
Além da questão do financiamento, não é
feita nenhuma referência à gestão do Sistema
Nacional, no que diz respeito ao planejamento,
monitoramento e avaliação, nem tampouco às
questões relativas a Recursos Humanos, Sistemas
de Informação e Controle Social. A única referência
à participação da sociedade está vinculada aos
recursos do FUNDESPORTE, cabendo à União
incentivar a constituição de Conselhos Estaduais
e Municipais de Administração do Fundo de
Promoção do Esporte Educacional e de Base no
Distrito Federal, nos Estados e nos Municípios.
Alguns dos elementos que deveriam ser explicitados
em relação ao Sistema Nacional, aparecem nos
artigos que tratam da Política Nacional do Esporte
(2005).
Para subsidiar as discussões, apresenta-se a seguir
os elementos que dizem respeito ao Sistema
35 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
Nacional do Esporte, extraídos do Projeto de Lei do Estatuto do Esporte:
AGENTES QUE PoSSUEM SUAS CoMPETÊNCIAS CLARAMENTE DEFINIDAS PELo ESTATUTo:
Cabe ao Estado:
I - democratizar o acesso à prática esportiva, à ati-vidade física e ao lazer;
II - harmonizar os diferentes interesses envolvidos na organização do esporte profissional;
III - proteger os direitos dos torcedores partícipes de espetáculo esportivo;
IV - disciplinar as relações de trabalho entre as entidades de prática do esporte empregadoras e atletas;
V - assegurar transparência e credibilidade aos re-sultados esportivos;
VI - reprimir o doping e a dopagem;
VII - propor e implantar políticas e programas de qualificação técnico-profissional para o desenvolvi-mento do esporte;
VIII - combater, junto aos entes esportivos, os ga-nhos ilícitos, a evasão de divisas, a sonegação fis-cal, a lavagem de dinheiro, a apropriação indébita contra a previdência social e a fraude nas demons-trações contábeis e nos balanços patrimoniais;
IX - estimular a gestão profissional das entidades de administração e de prática esportiva e preservar os aspectos éticos e morais do esporte-negócio;
X - regulamentar o tratamento diferenciado para o esporte de rendimento praticado de modo profis-sional e não profissional;
XI - preservar a ordem pública;
XII - incentivar a modernização e dinamização das estruturas esportivas;
XIII - promover a proteção, a valorização, a disse-
minação e a integração nacional das manifestações
esportivas de criação nacional, inclusive as mani-
festações do esporte indígena;
XIV - implementar política de requalificação pro-
fissional, por período de até cinco anos, para os
atletas que não possam mais exercer a prática des-
portiva.
Cabe ao Estado, em regime de cooperação
com as entidades de prática e administração
do esporte, com as entidades representativas
das diversas categorias de agentes esportivos
e com os clubes esportivos sociais e similares:
I - zelar pela qualidade da formação técnica e do
desempenho profissional dos agentes esportivos;
II - contribuir para conciliar a necessidade do
condicionamento físico e de aprimoramento
técnico do atleta com a preservação dos valores
esportivos;
III - estimular a pesquisa, o intercâmbio e a realização
de cursos de capacitação técnico-profissional na
área do esporte;
IV - prevenir ingerências que possam comprometer
a observância dos princípios fundamentais do
esporte e a qualidade das competições;
V - promover a transparência na administração das
entidades esportivas;
VI - incentivar a implementação de programas
de modernização das estruturas do esporte e de
gestão empresarial das entidades de administração
e de prática esportiva;
VII - concorrer para a implementação da Política
Nacional do Esporte (2005);
VIII - estimular a participação da sociedade na
formulação de políticas e no controle das ações de
governo em todos os níveis da estrutura esportiva;
36Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
IX - assegurar a aplicação prioritária de recursos
públicos na implementação de projetos de desen-
volvimento do esporte educacional;
X - concorrer para que a prática esportiva seja tec-
nicamente orientada por profissionais devidamente
qualificados.
Cabe ao Conselho Nacional de Esporte - CNE
I - zelar pela aplicação dos princípios e preceitos
desta Lei;
II - aprovar a Política Nacional do Esporte (2005);
III - emitir pareceres e recomendações sobre ques-
tões esportivas nacionais;
IV - aprovar e modificar o Código Brasileiro de Jus-
tiça Esportiva;
V - expedir diretrizes para o controle de substâncias
e métodos proibidos na prática esportiva;
VI - exercer outras atribuições previstas em lei
Cabe às entidades de administração do esporte:
I - ampliar e difundir a prática esportiva;
II - representar perante o Poder Público os interes-
ses das respectivas modalidades esportivas;
III - manter a ordem esportiva;
IV - promover e supervisionar, no âmbito de sua
competência, as competições esportivas de suas
modalidades;
V - manter registros das entidades esportivas filia-
das, dos atletas profissionais e não profissionais
filiados e dos demais integrantes das comissões
técnicas esportivas;
VI - observar e fazer observar as normas e regras
nacionais e internacionais esportivas de cada mo-
dalidade;
VII - constituir as instâncias da justiça esportiva de
cada modalidade;
VIII - zelar pela preservação da lisura dos resultados
esportivos
IX - adotar os regulamentos de sua modalidade e
farão com que sejam observados pelas entidades
que lhes estejam filiadas;
X - promover e dirigirão sua modalidade esportiva
em eventos municipais, estaduais, regionais, nacio-
nais e internacionais, com poderes para celebrar
convênios e acordos e para supervisionar, coorde-
nar e orientar as atividades das entidades esporti-
vas filiadas;
XI - velar para que o esporte praticado de modo
não profissional receba tratamento diferenciado do
esporte praticado de modo profissional;
XII - assegurar autonomia às Comissões de Arbitra-
gem e aos Conselhos Fiscais;
XIII - assegurar nos órgãos e conselhos técnicos in-
cumbidos da aprovação de regulamentos das com-
petições, a representação da categoria de atletas
da modalidade;
XIV - estabelecer regras explícitas de gestão demo-
crática, controle social interno, fiscalização finan-
ceira e alternância no poder.
Cabe ao Comitê Olímpico Brasileiro - COB:
I - organizar e dirigir, com a colaboração das en-
tidades nacionais de administração do esporte, a
participação do Brasil nos Jogos Olímpicos, Pan-
americanos e Sul-americanos;
II - promover torneios no âmbito nacional e inter-
nacional;
III - adotar as providências cabíveis para a orga-
nização e realização dos Jogos Olímpicos, Pan-
americanos e Sul-americanos, quando sediados em
território nacional;
37 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
IV - promover e organizar todas as manifestações
capazes de orientar o esporte nacional em relação
ao olimpismo;
V - difundir e propagar o ideal olímpico no territó-
rio brasileiro;
VI - cumprir e fazer cumprir, no território nacional,
os estatutos, regulamentos e decisões do Comitê
Olímpico Internacional, bem como os de organiza-
ções esportivas internacionais e continentais a que
esteja vinculado;
VII - representar o olimpismo brasileiro junto aos
poderes públicos.
Cabe ao Comitê Paraolímpico Brasileiro - CPB:
I - organizar e dirigir, com a colaboração das en-
tidades nacionais de administração do esporte, a
participação do Brasil nos Jogos Paraolímpicos, Pa-
rapan-americanos, Parasul-americanos, Mundiais e
outros de igual natureza;
II - promover torneios no âmbito nacional e inter-
nacional;
III - adotar as providências cabíveis para a organiza-
ção e realização dos Jogos Paraolímpicos, Parapan-
americanos e outros de igual natureza, quando
sediados em território nacional;
IV - promover e organizar todas as manifestações
capazes de orientar o esporte nacional em relação
ao paraolimpismo;
V - difundir e propagar o ideal paraolímpico no ter-
ritório brasileiro;
VI - cumprir e fazer cumprir, no território nacional,
os estatutos, regulamentos e decisões do Comitê
Paraolímpico Internacional e os das organizações
esportivas internacionais e continentais a que es-
teja vinculado;
VII - representar o paraolimpismo brasileiro junto
aos poderes públicos.
Cabe à Comissão Desportiva Militar do Brasil - CDMB:
I - elaborar propostas de diretrizes gerais, normas
e procedimentos para as atividades relativas ao es-
porte militar comum às Forças Armadas e Auxilia-
res;
II - organizar e dirigir, com a colaboração das For-
ças, as competições esportivas entre a Marinha, o
Exército, a Aeronáutica e as Forças Auxiliares;
III - constituir as representações nacionais nas com-
petições esportivas militares internacionais com
componentes das Forças Armadas e Forças Auxi-
liares;
IV - representar as Forças em congressos esportivos
militares nacionais e internacionais;
V - estudar e emitir pareceres e relatórios sobre os
assuntos relacionados ao esporte militar;
VI - firmar parcerias e convênios com entidades pú-
blicas e privadas no âmbito do esporte militar;
VII - propor legislação referente ao esporte militar;
VIII - elaborar o calendário esportivo militar anual;
Cabe à Confederação Brasileira de Clubes - CBC :
I - representar o esporte de base em todo o terri-
tório nacional;
II - congregar pessoas para a aprendizagem pro-
fissional e aperfeiçoamento dos que já atuam no
segmento;
III - difundir e incentivar, no segmento clubístico, a
prática dos esportes;
IV - promover e dirigir eventos nacionais ou regio-
nais para incentivar a formação esportiva.
38Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
SUBSISTEMAS PRoPoSToS PELo ESTATUTo
I - Subsistema do Esporte de Rendimento:
O Subsistema do Esporte de Rendimento apenas é citado no Título V, que trata do esporte de rendimento, mas em nenhum momento são apresentados seus componentes e funções. Analisando os integrantes e competências do próprio Sistema Nacional, citados a partir do Art. 13, e considerando a omissão do Subsistema de Rendimento e a apresentação explícita dos demais subsistemas, pode-se entender que quando se trata do Sistema Nacional propriamente dito, está se falando do Subsistema do Esporte de Rendimento.
II - Subsistema de Esporte de Participação e de Lazer:
O Subsistema Nacional de Esporte de Participação compreende os órgãos das diversas instâncias da administração pública e as entidades privadas que atuam em programas, projetos e serviços do esporte comunitário e de lazer e tem por finalidade melhorar os índices de desenvolvimento humano do conjunto da população, mediante a oferta continuada e organizada de atividades esportivas e lúdicas.
III - Subsistema do Esporte Educacional:
O Subsistema do Esporte Educacional tem por finalidade zelar pela preservação dos elementos de desenvolvimento pleno do educando. Evitando-se a competitividade e a seletividade. Propõe-se como Subsistema apenas o que diz respeito ao Esporte Escolar:
ESPoRTE ESCoLAR
Cabe à Confederação Brasileira de Desporto Escolar - CBDE:
I - representar o esporte escolar brasileiro em todo o território nacional e no exterior;
II - difundir e incentivar, no meio escolar, a prática de esportes ;
III - promover e dirigir competições nacionais e re-gionais e preparar representações escolares para eventos esportivos escolares realizados no exterior.
Cabe à Confederação Brasileira de Desporto Universitário - CBDU:
I - representar o esporte universitário brasileiro em todo o território nacional e no exterior;
II - difundir e incentivar, no meio universitário, a prá-tica dos esportes;
III - promover e dirigir competições nacionais e re-gionais e preparar representações universitárias para eventos esportivos universitários realizados no exte-rior.
SUBSISTEMA Do ESPoRTE MILITAR
O Subsistema do Esporte Militar tem por finalidade a preparação do profissional militar, a integração das Forças Armadas e Auxiliares nacionais e internacionais e o congraçamento dessas com a comunidade, entendendo por Esporte Militar as atividades esportivas desenvolvidas no âmbito das Forças Armadas e Auxiliares em todas as suas manifestações e, subsidiariamente, na preparação profissional, compondo o Subsistema do Esporte Militar.
Documento Final
II Conferência Nacional do Esporte
40Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
Foto: Francisco Medeiros
41 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
É com grande satisfação que apresento, para conhecimento de todos, as resoluções finais da II Conferência Nacional do Esporte. Este documento é resultado de um intenso processo de discussão, que mobilizou milhares de pessoas em todo o Brasil em torno da construção de políticas públicas para o esporte, em especial a criação de um Sistema Nacional de Esporte e Lazer.
Apostar no diálogo franco e aberto não é o caminho mais fácil. Mas é, certamente, o mais representativo e democrático. O Ministério do Esporte faz esta escolha de forma consciente, colocando-se à disposição da sociedade para debater e construir as políticas públicas que nortearão as ações do governo federal para o setor nos próximos anos.
Nesta II Conferência lançamos as bases do Sistema Nacional de Esporte e Lazer, de acordo com a Política Nacional aprovada pelo Conselho Nacional de Esporte. No processo de discussão do novo Sistema, pretendemos revisar a legislação e definir melhor as competências dos agentes públicos e privados nas políticas de esporte e lazer, atuando pela ampliação e diversificação das fontes de financiamento do setor.
Sobre este tema tivemos, durante a solenidade de abertura de nossa Conferência, um belo exemplo de como a participação da sociedade é importante na construção de políticas públicas, com o envio ao Congresso Nacional, pelo presidente Lula, do projeto da Lei de Incentivo ao Esporte que permitirá doações e patrocínios de pessoas físicas e jurídicas a projetos esportivos.
Estou certo de que o vitorioso processo da II Conferência Nacional do Esporte é mais um importante passo no sentido de concretizar o nosso objetivo maior: garantir que a prática do esporte e do lazer seja, efetivamente, um direito de todos os cidadãos brasileiros.
Nossa grande tarefa, porém, é levar para o dia-a-dia de todos o resultado deste rico processo de discussão, colocando em prática as resoluções aqui apresentadas. Fica aqui, portanto, o convite para que cada um abrace, junto com o Ministério do Esporte, o desafio de continuar traduzindo, em ações e políticas públicas, os anseios da população brasileira.
orlando Silva Jr.Ministro de Estado do Esporte
Participação da sociedade na construção de políticas públicas para o esporte
Foto: Francisco Medeiros
43 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
A II Conferência Nacional do Esporte - II CNE foi instituída pelo decreto presidencial de 21 de janeiro de 2004 e regulamentada pela Portaria nº 133 de 20 de outubro de 2005. Este regulamento define os procedimentos de realização, participantes, temário, metodologia, comissão organizadora, atribuições e disposições gerais. A II Conferência Nacional do Esporte (CNE), ocorrida entre 04 a 07 de maio de 2006, representa a continuidade de um processo iniciado em 2004 com a realização da I CNE, onde a participação popular e a discussão do esporte e lazer são o principal foco. A segunda edição da Conferência Nacional do Esporte teve por objetivos consolidar o espaço de diálogo entre o estado e a sociedade, mobilizar estados e municípios para aperfeiçoar a estruturação institucional e a política de esporte e lazer, promover ampla mobilização, articulação e participação popular, avançar na construção do Sistema Nacional de Esporte e Lazer e consolidar a Política Nacional do Esporte (2005).
O evento que teve como temática a Construção do Sistema Nacional de Esporte e Lazer, foi precedido de 26 conferências estaduais e uma no Distrito Federal, além de 326 encontros municipais e regionais que envolveram representantes de diversos setores, entre eles, os movimentos sociais, as entidades de classe, as universidades, o movimento estudantil e as diversas entidades esportivas brasileiras. Foram 2242 municípios envolvidos nas etapas municipais, regionais e estaduais, representando mais da metade dos municípios brasileiros. As etapas municipais e regionais aconteceram entre 02 de janeiro a 19 de março de 2006, as etapas estaduais foram realizadas entre 02 de março e 02 de abril de 2006, com exceção dos estados do Espírito Santo e Mato Grosso do Sul.
As datas em que foram realizadas as conferências estaduais e do Distrital Federal estão apresentadas no quadro a seguir:
Unidades da Federação Data estadual
PA (Belém) 19 de março
AM (Manaus) 21 e 22 de março
MG (Belo Horizonte) 21 a 23 de março
PR (Curitiba) 23 a 25 de março
RR (Boa Vista) 23 e 24 de março
SP (Guarulhos) 24 e 25 de março
PI (Teresina) 24 e 25 de março
SE (Aracajú) 24 a 26 de março
AL (Maceió) 25 de março
RJ (Niterói) 25 de março
RS (Porto Alegre) 25 de março
AM (Macapá) 25 e 26 de março
RO (Porto Velho) 29 a 31 de março
SC (Balneário Camboriú) 30 e 31 de março
AM (São Luis) 30 e 31 de março
MT (Cuiabá) 30 de março a 1° de abril
RN(Natal) 30 e 31 de março
BA (Salvador) 31 de março e 1° de abril
PB (João Pessoa) 31 de março e 1 de abril
TO (Palmas) 31 de março
AC (Rio Branco) 1° de abril
PE (Recife) 1° e 2 de abril
GO (Goiânia) 1° e 2 de abril
CE (Fortaleza) 02 de abril
DF (Brasília) 02 de abril
ES (Vitória) 04 de abril
MS (Campo Grande) 07 de abril
Balanço da II Conferência Nacional do Esporte
44Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
PARTICIPANTES DA II CNE
Para a organização e desenvolvimento de suas atividades, a II CNE contou com o apoio da Comissão Organizadora Nacional, Comissão Executiva, Comissão Operacional, Comissão de Mobilização, Comissão de Sistematização e Comissão de Informática, em nível nacional e das Comissões Organizadoras estaduais, regionais e municipais. A Comissão Organizadora, presidida pelo Ministro do Esporte, tinha entre suas atribuições, discutir e aprovar as linhas gerais da Conferência.
A conferência foi aberta ao público em geral em suas etapas municipais e estaduais. Da Etapa Nacional participaram delegados com direito a voz e voto, convidados com direito a voz e observadores que não tinham direito nem a voz nem a voto.
Foram delegados na etapa nacional:
I - os eleitos nas etapas estaduais;
II - os indicados, titular e suplente, pelos Ministérios e Secretarias Especiais do Governo Federal;
III - os membros titulares do Conselho Nacional do Esporte;
IV - um representante das comissões específicas da Câmara dos Deputados e Senado Federal;
V - os gestores estaduais de esporte e lazer;
VI - representantes das entidades nacionais de ad-ministração de esporte;
VII - representantes da sociedade civil organizada (os critérios foram definidos pela Comissão Organi-zadora da II Conferência).
O sistema on-line desenvolvido para a conferência possibilitou, além da inclusão das deliberações estaduais, o cadastramento antecipado de delegados e convidados, e ainda a inscrição dos delegados e convidados. No total foram eleitos 846 delegados em todas as conferências estaduais, dos quais compareceram na etapa nacional 835. O processo de construção da II CNE contou com a participação direta de 43.162 pessoas nas etapas municipais, regionais e estaduais. A distribuição dos delegados eleitos, por região do país, está assim configurada:
Região do
País
Número de
participantes nas
conferências dos
Estados
Número de
delegados eleitos
por região
N 1.704 141
NE 3.866 265
CO 1.353 86
SE 3.199 256
S 989 98
Brasil 11.111 846
DELEGADoS ELEIToS E PARTICIPANTES DAS CoNFERÊNCIAS ESTADUAIS
Com exceção do Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Amapá, todos os estados atingiram o limite estipulado para a delegação. O gráfico a seguir ilustra a quantidade de delegados permitidos e a quantidade de delegados eleitos em cada um dos Estados brasileiros e no Distrito Federal.
45 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MT MS MA MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110
120
68,52%
31,48%
HomensMulheres
Para a escolha dos delegados, deveria ser respeitado o percentual de 20% no mínimo para um dos gêneros, principalmente para garantir a presença feminina de acordo com o art. 17 §4 da portaria 133 de 20 de outubro de 2005 do Ministério do Esporte. Dos delegados eleitos, 592 são homens e 243 mulheres, com a distribuição percentual ilustrada no gráfico abaixo:
DELEGADoS PoR GÊNERo
Além dos delegados eleitos todos os Estados tiveram ainda o direito de trazer 10% de convidados. No quadro abaixo pode-se verificar o número máximo estabelecido por Estado e a quantidade real de participantes nesta categoria.
46Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
42,66%
15,51%
15,62%
3,04%2,62%
5,24%7,65%
ConvidadosDelegado natoObservadorPalestranteSistematizadorSegundo TempoRede CedesRede CenespMinistérios e SecretáriasCNACNEEsporte e Lazer na CidadeEntidades de Adm. DiretaOutras Entidades
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MT MS MA MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
N° de convidados limite N° de convidados inscritos
CoNVIDADoS DoS ESTADoS
Participaram como convidados com direito a voz, os partidos políticos e os parceiros do Ministério do Esporte, da Rede CEDES (Centro de Desenvolvimento do Esporte Recreativo e do Lazer), da Rede CENESP (Centro de Excelência Esportiva) e dos Programas Segundo Tempo e Esporte e Lazer da Cidade, e os aprovados para apresentação de pôsteres.
Os demais delegados, conforme previsto no art.18, da Portaria nº 13 de 03 de fevereiro de 2004, representavam as entidades de administração esportiva nacionais, gestores estaduais do esporte, ministérios e secretarias especiais do governo federal, Câmara, Senado e sociedade civil. Pelo cadastramento no sistema os participantes estiveram assim distribuídos:
DEMAIS PARTICIPANTES
Valores inferiores a 2% não constam apontados no gráfico
47 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
No total, a etapa nacional contou, de acordo
com as normas estabelecidas no regulamento
nacional, com a participação ativa de 1800 pessoas
distribuídas entre delegados eleitos nas etapas
estaduais, indicados pelos Ministérios e Secretarias
Especiais do Governo Federal, gestores estaduais
de esporte e lazer, membros titulares do Conselho
Nacional do Esporte, membros do Conselho
Nacional de Atletas, representantes das comissões
específicas da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal, representantes das entidades nacionais
de administração de esporte, representantes da
sociedade civil organizada e de partidos políticios,
convidados e observadores.
EIxoS TEMáTICoS
Para subsidiar e facilitar a organização dessas
etapas e para orientar as discussões, foi elaborada
uma coletânea de cinco textos , produzidos acerca
dos temas. O primeiro texto “Orientações para o
debate dos Eixos do Sistema”, pretende orientar o
debate de forma objetiva, com breves considerações
e questões geradoras sobre cada um dos eixos
que deverão compor o Sistema e que nortearam
as discussões durante as etapas da II Conferência
de acordo com a Resolução de criação do Sistema
Nacional de Esporte e Lazer, aprovada pela I CNE,
que indica seus princípios, diretrizes e objetivos e
dá outras orientações sobre o Sistema.
O segundo texto, “Fundamentação sobre o Sistema
Nacional do Esporte”, apresentou uma breve
análise a respeito do atual Sistema de Esporte
previsto em lei, buscando fundamentar a discussão
sobre a necessidade de reconstrução do modelo
atual. O terceiro texto, é o “Relatório do I Fórum
do Sistema Nacional de Esporte e Lazer” com a
síntese dos trabalhos desenvolvidos pelos grupos
e as propostas e/ou problemáticas apresentadas
pelos participantes. O quarto texto apresentou as
“Considerações sobre o Projeto de Lei do Estatuto
do Esporte”, em tramitação no Congresso Nacional,
que pretende reunir toda a legislação esportiva em
uma única lei. Foram selecionados apenas os artigos
que dizem respeito ao Sistema Nacional do Esporte
previsto na proposta. O quinto texto era a “Política
Nacional do Esporte”, documento básico para
orientar o Sistema Nacional de Esporte e Lazer. Já
apresentado no Caderno I desta coletânea também
foi disponibilizado o Manual de Orientações para
as comissões estaduais, para embasar a realização
das etapas municipais, regionais e estaduais. Este
material foi enviado aos estados e disponibilizado
no Portal do Ministério do Esporte, no link da
Conferência.
A Coletânea de textos constituiu-se em importante
referencial para orientar os debates sobre o Sistema
Nacional de Esporte e Lazer e os 4 eixos definidos
pelo Ministério do Esporte, que subsidiaram todas
as etapas da II CNE. A temática dos eixos ficou
assim dividida:
• Eixo I: Estrutura: Organização,
agentes e competências;
• Eixo II: Recursos Humanos e Formação
• Eixo III: Gestão e Controle Social
• Eixo IV: Financiamento
ETAPAS MUNICIPAIS, REGIoNAIS E ESTADUAIS
A organização da Conferência Nacional se deu a
partir da realização de Conferências Estaduais em
todos os Estados e no Distrito Federal, com os
seguintes objetivos:
1 - Promover ampla mobilização, articulação e
participação popular em torno das questões do Es-
porte e do Lazer, contando com a colaboração de
representantes de diversos setores;
48Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
2 - Contribuir para o Diagnóstico Situacional do
Esporte e do Lazer no Brasil, em todas as suas ma-
nifestações;
3 - Apresentar propostas para a reconstrução do
Sistema Nacional de Esporte e Lazer;
4 - Eleger delegados para representarem seus Esta-
dos e o Distrito Federal em Brasília.
Durante o período de preparação das etapas da
Conferência, a Comissão Operacional e a equipe
de mobilização deram todo o suporte necessário
às comissões estaduais, através da central "Fale
Conosco" que oferecia atendimento telefônico
e via internet em tempo integral. Além disso, no
Portal do Ministério, foi criado um link específico
para a Conferência Nacional, contendo todas as
informações relativas à Conferência. Alimentado
regularmente pela comissão operacional e
assessoria de imprensa esse link continha, inclusive,
informações dos Estados e municípios.
As conferências municipais, regionais e estaduais,
foram legítimos espaços de participação abertos
a toda a sociedade. Nestas etapas ocorreram a
discussão, elaboração e votação das propostas
dos 4 eixos, que foram enviadas para a comissão
estadual, que as utilizou nas conferências estaduais
onde foram eleitas as 10 propostas de cada eixo
do estado e então cadastradas pela comissão
estadual para servir como base para a Conferência
Nacional.
Alguns Estados realizaram conferências
municipais e/ou regionais, todas culminando
com a conferência estadual. Estas tiveram um
desenho muito semelhante: subgrupos de
discussão, grupos temáticos e plenária final, na
qual foram votadas todas as propostas e eleitos
os delegados na proporção de 1 delegado para
cada 10 credenciados presentes à assembléia final,
considerando 20% de gênero, e o número máximo
de delegados por Estado estipulado na portaria.
Todas as conferências estaduais contaram com a
participação de um representante do Ministério do
Esporte visando prestigiar e apoiar o evento.
O processo de sistematização do resultado das
conferências estaduais foi organizado a partir dos
4 eixos de discussão propostas. O sistema on-line desenvolvido agilizou o processo e garantiu a
segurança na transmissão dos dados em todos os
momentos das conferências estaduais.
A Comissão de Sistematização foi composta por
profissionais da área e de áreas afins, capacitados
para esse fim, supervisionados por especialistas
em relatoria. Além disso, houve a participação de
pessoas com formação na área de Educação Física
e Esportes, especializadas nas respectivas áreas dos
Eixos Temáticos, que coordenaram o trabalho.
O trabalho foi acompanhado por representantes
de entidades da Comissão Organizadora
Nacional, a saber: Colégio Brasileiro de Ciência
do Esporte - CBCE, Associação Nacional de
Secretários Municipais de Esporte e Lazer - ASMEL,
Conselho Federal de Educação Física - CONFEF
e Confederação Brasileira de Clubes - CBC. Essa
comissão foi indicada pela comissão organizadora,
com o objetivo de acompanhar e supervisionar a
sistematização dos resultados das conferências
estaduais e a preparação dos novos documentos.
A partir deste material foi elaborado o caderno
de resoluções, entregue a todos os participantes
no momento do credenciamento e utilizado como
base para todas as discussões.
ETAPA NACIoNAL
Credenciamento: o credenciamento ocorreu para
todos os participantes no dia 04 de maio das 9h
às 14h30, retornando das 18h até às 21h e no dia
05 de maio das 8h às 18h. O credenciamento de
49 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
suplentes foi feito somente das 12h às 18h do dia
05 de maio, após o término do credenciamento
dos titulares.
Metodologia: A II Conferência Nacional do Esporte
teve a seguinte metodologia: Mesas Redondas,
Grupos de Trabalho e Plenária. Cada eixo do Sistema
foi discutido em uma Mesa Redonda na plenária, que
contava com um coordenador e com palestrantes.
Os 12 grupos de trabalho foram compostos por
um número entre 100 e 150 participantes, com
delegados, convidados e observadores.
Cerimônia de Abertura: Realizada no Marina
Hall, das 16 às 19 horas do dia 04 de maio, a
cerimônia de abertura contou com a participação
de aproximadamente 1.500 pessoas. Também
contou com a ilustre presença do Presidente da
República Luiz Inácio Lula da Silva, do Ministro do
Esporte Orlando Silva, do deputado federal Agnelo
Queiroz, de gestores estaduais, de representantes
das entidades de administração esportiva, de
representantes da sociedade civil e de grandes
nomes do esporte nacional.
Aprovação do Regimento: A proposta de
Regimento Interno da I Conferência Nacional do
Esporte foi apresentada à plenária inicial. Após leitura
e destaque dos itens polêmicos, os participantes
apresentaram as propostas de alteração que
foram votadas na seqüência. O Regimento Interno
aprovado foi aos participantes para orientar e
regular o funcionamento da Conferência até a
plenária final.
Mesas Redondas: Para subsidiar as discussões dos
eixos do Sistema Nacional de Esporte e Lazer, foram
realizadas mesas redondas/palestras com o objetivo
de ampliar o debate a partir das exposições de
especialistas nas respectivas áreas. Cabe ressaltar que
a composição das mesas foi definida pela Comissão
Organizadora Nacional, após consulta às suas bases,
e aprovada em reunião. Alguns nomes tiveram que
ser substituídos em função da impossibilidade do
convidado, o que coube ao Ministério.
Trabalhos em Grupo: Após os debates, os
participantes encaminhavam-se para as 12 salas
de trabalho em grupo para discussão e deliberação
das propostas. Todos os participantes discutiam o
mesmo eixo nas diferentes salas, onde foi garantida
a pluralidade destes. Cabia a cada grupo: a) discutir
cada Eixo a partir dos destaques às Propostas de
Ação; b) votar as emendas às Propostas de Ação
do Eixo em questão e encaminhadas à plenária; c)
discutir e propor moções à plenária, no máximo
cinco por grupo. Os grupos estavam compostos
por um coordenador, um relator e um digitador
responsáveis pela organização dos trabalhos e pela
elaboração dos relatórios que foram encaminhados
à comissão de sistematização, para a preparação do
relatório final para a plenária.
Relatório Final: A Comissão de Sistematização,
com o auxílio dos relatores dos Grupos de Trabalho,
preparou o relatório final com as propostas aprovadas
na etapa anterior e encaminhou para apreciação
da Comissão Organizadora Nacional, Ministro do
Esporte e Secretários Nacionais do Ministério dos
Esportes, que além de supervisionar, contribuiu
com a organização das propostas sistematizadas,
facilitando a condução da Plenária Final. A plenária
final foi presidida pela Comissão Organizadora
Nacional. As discussões e votações se deram a partir
dos destaques, conforme aprovado no regimento
interno, e as deliberações constam nas resoluçõe
deste Documento Final.
AVALIAÇÃo Do TRABALHo DESENVoLVIDo
A II Conferência Nacional do Esporte foi marcada
pela ampla participação social, dos mais diversos
setores da sociedade brasileira, nos debates das
bases para a reconstrução do Sistema Nacional
do Esporte e Lazer. Neste sentido a II Conferência
50Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
atingiu sua missão, aperfeiçoando a estruturação
institucional e discutindo o novo Sistema. Desde a
realização da I Conferência, as discussões sobre o
esporte tornaram-se mais produtivas e ganharam
novo rumo, com demandas mais organizadas.
A II CNE mobilizou mais municípios (2242) e
teve maior número de conferências municipais
e regionais (326) do que a primeira edição,
garantindo desta forma, mais diversidade na etapa
nacional e maior qualidade nos debates.
A II CNE foi palco também do lançamento da
campanha nacional pela aprovação da Lei de
Incentivo do Esporte, lançada no primeiro dia do
evento pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O projeto de lei foi encaminhado ao Congresso
Nacional, com expectativa de ser votado ainda
no ano de 2006*. A campanha faz parte dos
compromissos da carta de Brasília - Lei de Incentivo:
uma conquista do esporte, uma vitória do Brasil,
divulgada na plenária final da Conferência. A lei
prevê investimentos privados em projetos esportivos
por meio de doações e patrocínios, os valores
poderão ser deduzidos do imposto de renda.
A sistematização final das teses e propostas
aprovadas na II Conferência Nacional do Esporte
propõe, sobretudo, a continuidade da mobilização
e do debate presentes nesse rico processo que
vivenciamos.
O documento final tem a finalidade de levar ao
conhecimento de todos, comunidade esportiva
e a sociedade em geral, o posicionamento e as
deliberações que, a partir de agora, passam a
orientar e subsidiar a reconstrução do Sistema
Nacional de Esporte e Lazer e assim consolidar a
Política Nacional do Esporte (2005) já implementada
pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, através do Ministério do Esporte.
* A Lei de Incentivo ao Esporte, nº 11438, foi aprovada em agosto de 2006 e o Decreto nº 6.180, que regulamenta, foi aprovada em Agosto de 2007.
51 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
Carta de Brasília
Envolver o setor esportivo na campanha pela rápida aprovação do projeto da Lei de Incentivo ao Esporte no Congresso Nacional e lançar as bases para a construção do Sistema Nacional de Esporte e Lazer no país. Estas foram as principais decisões tomadas por nós, delegados eleitos para a II Conferência Nacional do Esporte.
Reunidos em Brasília entre os dias 4 e 7 de maio de 2006, concluímos um processo iniciado meses antes, com a realização de conferências municipais, estaduais e regionais em todas as unidades da federação - envolvendo professores e profissionais de educação física, acadêmicos, técnicos, agentes comunitários de esporte e lazer e outros trabalhadores do sistema, atletas, treinadores, gestores, usuários, empresários e dirigentes esportivos de cerca de 2.200 municípios no grande debate sobre os rumos que o esporte e o lazer devem tomar nos próximos anos.
Nesta II Conferência tivemos, mais uma vez, a honra de receber o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em nossa solenidade de abertura - desta vez para encaminhar o projeto da Lei de Incentivo ao Esporte ao Congresso Nacional. Para nós, tal ato simboliza a importância com que o governo federal tem tratado o setor e, associado ao conjunto de ações realizadas pelo Ministério do Esporte, demonstra o compromisso do presidente Lula com o desenvolvimento do esporte nacional em todas as suas dimensões.
O envio do projeto da Lei de Incentivo ao Congresso Nacional é uma conquista histórica do esporte brasileiro e, ao ser aprovado e sancionado, colocará o setor em um novo patamar, colaborando para a ampliação e diversificação das fontes de financiamento e para a aplicação eqüitativa dos recursos nas três dimensões do esporte: educacional, de participação e de alto rendimento.
E, dando continuidade à decisão tomada pela I Conferência Nacional do Esporte, realizada em 2004, avançamos na elaboração do Sistema Nacional de Esporte e Lazer, aprofundando as discussões em torno de quatro eixos fundamentais: estrutura, com seus agentes e competências, recursos humanos e formação, gestão e controle social e financiamento. Merece destaque as propostas para a democratização da gestão do esporte nacional.
Identificamos, em cada um dos eixos, as principais necessidades do setor e apontamos, em nossas resoluções finais, diferentes ações para superá-las - colaborando, de forma objetiva, para a construção de um sistema que esteja à altura do grande desafio que temos pela frente: fazer com que o esporte seja, efetivamente, uma questão de Estado e um direito de todos os brasileiros.
Lei de Incentivo: Uma conquista do Esporte, Uma vitória do Brasil
52Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
Foto: Acervo ME
Foto: Francisco Medeiros
Foto: Aldo Dias
53 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
EIxo I - ESTRUTURA: oRGANIZAÇÃo, AGENTES, CoMPETÊNCIAS
O Sistema Nacional de Esporte e Lazer, tendo
por base o regime de colaboração entre a
união, os estados e municípios, com ênfase na
municipalização, consolidando o esporte e o lazer
como direitos sociais e guiando-se pelos princípios
da democratização e inclusão social, articula,
integra, promove e estabelece relações éticas de
parcerias entre as entidades da sociedade civil,
instituições publicas e privadas, em torno do esporte
educacional, de participação e de rendimento,
valorizando a acessibilidade, descentralização,
intersetorialidade e multidisciplinaridade das ações
esportivas e de lazer.
2. O Sistema Nacional de Esporte e Lazer tem por
objetivo consolidar a Política Nacional do Esporte
(2005) bem como criar mecanismos que garantam
a execução e acessibilidade da mesma em todas
as esferas da federação, e definir os papéis das
entidades dirigentes do esporte e lazer.
3. O Sistema Nacional de Esporte e Lazer
compreende o esporte educacional, o esporte
de participação e o esporte de alto rendimento,
não excludentes entre si, articulados de forma
equânime em uma estrutura aberta, democrática
e descentralizada que envolve os municípios, os
estados e a união, nos âmbitos públicos e privado,
primando pela participação de toda a sociedade.
4. o Sistema Nacional de Esporte e Lazer prevê a
criação de pastas específicas de Esporte e Lazer
nas esferas estaduais e municipais (Secretarias,
Fundações, Autarquias), com autonomia
administrativa e orçamentária, conselhos específicos
e planos de desenvolvimento para implementação
e continuidade de políticas de esporte e lazer em
todas as dimensões com vistas à inclusão social e
define prazo máximo para essa criação.
5. As competências de cada agente do Sistema
Nacional de Esporte e Lazer devem ser pautadas pela
colaboração e comprometimento, em respeito às
características próprias de cada uma, sua autonomia
e pertinência, priorizando a inclusão social, sendo
que, sem prejuízo de suas prerrogativas, são
ressaltadas as seguintes atribuições:
5.1 Aos órgãos gestores Estaduais e Municipais de Esporte e Lazer:
a) Promover a articulação entre as escolas públicas e particulares e comunidades com intuito de abranger várias classes sociais, junto às ligas, associações e federações escolares ou não e, sempre que possível, ONG's - Organizações não-Governamentais, e OSCIPs - Organizações de Sociedade Civil de Interesse Público ligadas ao segmento;
b) Criar comitês de inspeção cujos participantes sejam gestores de esporte e lazer, presidentes de entidades esportivas e profissionais de Educação Física de forma igualitária para fiscalizar empresas que declaram ter investido parte do seu orçamento no esporte;
c) Estimular a criação de programas similares ao bolsa atleta também no âmbito estadual e municipal e outros programas de apoio financeiro ao atleta;
d) Estruturar as áreas de esporte e lazer com um apoio multiprofissional (professores e profissionais de Educação Física, agentes comunitários, Médicos, Fisioterapeutas, Psicólogos e outros) que venham atender melhor a população na prática de todas as atividades físicas;
e) Intermediar e estabelecer programas esportivos e de lazer para, nas e com as comunidades, instituições de ensino públicas e particulares junto às ligas e federações, com o intuito de abranger várias classes sociais, favorecendo o acesso e a permanência do cidadão escolar e não escolar em espaços que oportunizem práticas sistematizadas e/ou não sistematizadas como elemento de convivência positiva; inclusive no uso dos equipamentos públicos e/ou privados de seu território (escolas, unidades de saúde, autarquias, empresas).
f) Criar três coordenações: de rendimento, educacional e de participação;
g) Criar núcleos regionais;
Propostas aprovadas na plenária final
54Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
h) Dar suporte técnico para as entidades esportivas, para-desportivas e de lazer;
i) Produzir e difundir os conhecimentos específicos de esporte e lazer junto aos segmentos organizados para a elaboração de políticas específicas;
j) Criar clube escolares ou estruturas similares, sempre vinculadas ao projeto político pedagógico da instituição de ensino.
k) Criar banco de dados de voluntários sua formação e habilitação e restringindo sua ação a apoio nos eventos;
l) Construir, reformar, implantar, ampliar, adaptar e modernizar a infra-estrutura esportiva pública existente no meio urbano e no meio rural dentre elas: escolas, ginásios, piscinas, campos, praças, pista de atletismo e outros agrupamentos, parques e jardins, em articulação entre as entidades privadas e as três esferas de governo, considerando a intersetorialidade;
m) Implementar programas, projetos e eventos esportivos nas diferentes modalidades, incluindo modalidades não populares e esportes radicais, de aventura e ligados à natureza, esporte adaptado, indígenas e tradicionais bem como programas de lazer para crianças, adolescentes, adultos e idosos, pessoas com deficiência, pessoas com necessidades especiais, comunidades quilombolas e indígenas;
n) Definir, regulamentar e desenvolver, de forma paritária nas três esferas, políticas públicas voltadas para o esporte de rendimento olímpico e para olímpico, não olímpico e não para olímpico, de participação, educacional e de lazer;
o) Criar áreas específicas dentro das Fundações, Secretarias e Autarquias, contemplando as pessoas com necessidades especiais;
p) Garantir a implantação e funcionamento dos conselhos de esporte e lazer;
q) Criar tribunais específicos nos estados, DF e municípios visando à democratização do acesso à justiça desportiva.
r) Criar em todos os municípios da União o Museu do Esporte, para que sejam evidenciados e lembrados os cidadãos que contribuíram para o desenvolvimento do esporte em suas localidades de origem.
s) Incentivar a criação, estruturação e manutenção de laboratórios de pesquisa que contribuam a orientação do esporte em qualquer nível.
5.2 Aos Conselhos de Esporte e Lazer:
a) Fiscalizar a aquisição e aplicação de verbas públicas das entidades esportivas, com a devida prestação de contas em prazo real de 90 dias conforme TCU - Tribunal de Contas da União;
b) Deliberar e fiscalizar a utilização de verbas destinadas ao esporte e lazer através da devida prestação de contas;
c) Gerir os fundos federal, estaduais e municipais de esporte e lazer;
d) Definir a política de investimento no esporte, indicando conceitos para o esporte educacional, de participação e rendimento, olímpico, para olímpico, não olímpico e não paraolímpico e de lazer.
5.3 - Aos conselhos profissionais das profissões envolvidas:
a) Criar mecanismo de fiscalização das ações dos profissionais de educação física, representados pelo CONFEF - Conselho Federal de Educação Física, em locais de práticas dos esportes, visando a qualidade das ações prestadas;
b) Promover encontros, fóruns, debates e capacitação profissional junto aos prestadores de serviços em atividades físicas.
5.4 - Ao Ministério do Esporte:
a) Apoiar as instituições, Clubes e Ligas através do monitoramento das atividades, da avaliação das ações realizadas e do tempo de mandato dos gestores;
b) Buscar parceria com o Ministério da Educação para o planejamento da formação profissional e garantir de forma efetiva e permanente da esfera estadual e federal as condições necessárias à produção e à disseminação do conhecimento técnico-científico relacionado ao esporte, ao lazer e a atividade física;
c) Dar suporte às Secretarias Estaduais e Municipais de Esporte e Lazer;
d) Ampliar parcerias que incentivem as pesquisas científicas na área da Educação Física/Ciências do Esporte.
5.5 - Ao COB - Comitê Olímpico Brasileiro, CPB - Comitê Paraolímpico Brasileiro, CBDE - Confederação Brasileira de Desporto Escolar, CBDU - Confederação Brasileira de Desporto Universitário, ONED - Organização Nacional das Entidades do Desporto, CBC - Confederação Brasileira de Clubes, Confederações e Federações esportivas, clubes esportivos e sociais, ligas e associações esportivas:
55 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
a) Criar escolas de base e realizar ações de interiorização;
b) Implementar em parceria com o poder público programas e eventos esportivos e de lazer para crianças, adolescentes, adultos e idosos e pessoas com deficiência, comunidades quilombolas e indígenas, incluindo modalidades não populares e esportes radicais contemplando não apenas os interesses esportivos, mas também os sociais, intelectuais, artísticos e turísticos do lazer;
c) Realizar projetos esportivos de base, alto rendimento e lazer em parceria com as três esferas de governo.
5.6 - As Entidades Científicas:
a) Contribuir e estimular o fomento e a difusão das pesquisas e a construção do conhecimento do esporte, do lazer e das atividades físicas.
5.7 - Aos profissionais:
a) Educação Física: desenvolver as atividades do âmbito de sua atuação privativa, conforme regulamentação dessa profissão.
b) Agentes comunitários de esporte e lazer: Interagir com as demais áreas sociais e profissionais, mobilizando, organizando, animando, arregimentando as atividades esportivas e de lazer junto à comunidade.
6 - Criar centros de referência de esporte e lazer nas
esferas estaduais e municipais para atendimento de
pessoas com deficiências, pessoas com necessidades
especiais, idosos e outros.
7 - Ampliar e revisar a política de criação de centros
de excelência, devendo ser organizados junto as
IES, implantados através de recursos de parcerias
público-privadas, que atendam a várias modalida-
des olímpicas e paraolímpicas, não-olímpicas e não
para olímpicas de alto rendimento bem como ati-
vidades de lazer, com a infra-estrutura necessária
e orientação de profissionais qualificados, conside-
rando os aspectos técnicos e de gestão esportiva
necessários para o desenvolvimento de talentos do
esporte nas categorias de base, podendo ser im-
plementados nas regiões, nos estados e nos mu-
nicípios.
8 - Criar centros de referência para formação con-
tinuada dos recursos humanos do sistema nas três
esferas governamentais.
9 - Definir os diferentes conceitos das dimensões
do Esporte que compõem o Sistema Nacional de
Esporte e Lazer, coerentes com as orientações da
Política Nacional do Esporte (2005), que indica os
limites dos conceitos em uso e com a concepção de
sistema que pretende construir - em encontro na-
cional próprio para essa finalidade, a ser realizado
pelo Ministério do Esporte até dezembro de 2006,
garantindo a representação e a participação popu-
lar e a representatividade de todos os estados da
federação. Essa definição deve considerar o apa-
rato legal existente, a Política Nacional do Esporte
(2005), o Relatório do I Fórum sobre o Sistema Na-
cional de Esporte e Lazer realizado pelo Ministério
do Esporte.
10 - O Sistema Nacional de Esporte e Lazer é uma
articulação entre diversos agentes de forma plural
e representativa contemplando todas as dimen-
sões do esporte e do lazer, categorizados a par-
tir de sua atuação no sistema, sejam entidades e
organizações de natureza diretamente relacionada
ao esporte e ao lazer ou entidades e organizações
de áreas afins, mas com participação no Sistema
através de pactos, parcerias e colaboração. Estes
agentes podem ser de caráter público, privado e do
terceiro setor, organizados entre:
10.1 - Gestores do Sistema: Ministério do Esporte, Secretarias Estaduais e Municipais de Esporte e Lazer, Conselhos de Esporte e Lazer, escolas, IES, tribunais de justiça desportiva, COB, CPB, CBDE, CBDU, ONED, CBC, CDMB, Serviços Sociais Autônomos, Confederações e Federações esportivas, entidades científicas, clubes esportivos sociais, ligas, associações esportivas, empresas privadas, ONG's, OSCIPS, cooperativas e consórcios públicos quando atuarem como promotoras da prática esportiva e de lazer.
10.2 - Trabalhadores do Sistema: profissionais da área de esporte e lazer, suas respectivas entidades
56Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
de representação (associações profissionais, sindicatos e federações) e conselhos profissionais das profissões regulamentadas.
10.3 - Usuários do Sistema: qualquer membro da sociedade (atletas, estudantes, idosos, crianças, jovens, adultos, pessoas com deficiência e pessoas com necessidades especiais), conselhos de direito e suas respectivas entidades de representação (estudantis, sindicatos, ONG's, associações de moradores, sociedades agrícolas, associações agro-extrativistas, assentados da reforma agrária, associações de jovens, povos indígenas e quilombolas).
EIxo II - RECURSoS HUMANoS E FoRMAÇÃo
1 - Os recursos humanos do Sistema Nacional de Esporte e Lazer, com caráter multiprofissional e mul-tidisciplinar, constituem-se de todas as pessoas que atuam na pesquisa, no planejamento, organização, coordenação, fomento, incentivo, mobilização, di-namização, promoção, divulgação, implementação e animação das atividades físicas, esportivas e de lazer, inclusive as oferecidas pelos esportes de aven-tura, respeitando-se as características específicas de cada área de atuação e as diferenças regionais, seja na cidade ou no campo.
2 - Devem ser definidas as diversas esferas de atuação dos profissionais de esporte e lazer (com formação superior em Educação Física, agentes comunitários de esporte e lazer, profissionais da saúde, comunicação, entre outros), indicando para cada área profissional as suas atribuições específicas e compartilhadas, o nível de formação e qualificação profissional exigi-da e a necessidade ou não de registro profissional, observando-se as legislações vigentes.
3 - Constituem âmbito de atuação da educação física as seguintes competências: coordenar, pla-nejar, programar, supervisionar, dinamizar, dirigir, organizar, prescrever, avaliar e executar trabalhos, programas, planos e projetos, bem como prestar serviços de auditoria, consultoria e assessoria, reali-zar treinamentos especializados, participar de equi-
pes multidisciplinares e interdisciplinares e elaborar
informes técnicos, científicos e pedagógicos, todos
nas áreas de atividades físicas e do esporte, exerci-
das por profissionais habilitados.
4 - No Sistema Nacional de Esporte e Lazer, cons-
titui-se Agente Comunitário de Esporte e Lazer,
todo aquele que atua como mobilizador, aglutina-
dor, organizador, animador, mediador, motivador
e arregimentador das atividades físicas, esportivas
e de lazer junto à comunidade, devendo estar qua-
lificado para interagir com as demais áreas sociais
e profissionais e com a cultura local.
5 - O Sistema Nacional de Esporte e Lazer, com
base em diagnóstico de recursos humanos, deverá
elaborar uma política de formação inicial e continu-
ada, nos níveis básico, superior e pós-graduação, à
distância, respeitando critérios econômicos e geo-
gráficos, e presencial, sob a orientação das Institui-
ções de Ensino Superior e envolvendo instituições
gestoras, formadoras, científicas e comunitárias,
ampliando e garantindo o acesso e a permanência
ao ensino público, gratuito e de qualidade.
6 - A política de formação dos recursos humanos
do Sistema Nacional de Esporte e Lazer deverá pre-
servar o caráter multiprofissional e multidisciplinar
necessário para a universalização da prática do
esporte e do lazer como direito de todos desde a
aprendizagem das práticas esportivas e recreativas
até as de alto-rendimento nos aspectos do planeja-
mento, execução e avaliação dando atenção espe-
cial ao esporte para pessoas com deficiência e com
necessidades especiais, ao idoso e às práticas de
identidade cultural brasileiras e de outras naciona-
lidades, em consonância com a Política Nacional de
Esporte observando os princípios éticos de inclu-
são, democratização e desenvolvimento humano e
visando o projeto histórico de sociedade compro-
metido com a reversão do quadro de injustiça, ex-
clusão e vulnerabilidade social.
57 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
7 - A política de formação dos recursos humanos, observando o que prevê o Conselho Nacional de Educação, deverá promover a formação perma-nente e continuada, garantindo:
a) a descentralização do processo com a participação de todos os municípios, estados e União, respeitando suas esferas de atuação;
b) a qualificação da formação com currículos ampliados, que atendam às realidades locais, e estágios curriculares;
c) a qualidade da infra-estrutura necessária à produção e difusão de conhecimento, como laboratórios, bibliotecas, material instrucional, centros de pesquisa, ginásios, quadras esportivas e outros implementos necessários ao funcionamento do Sistema;
d) programas de incentivo à capacitação profissional de todos os envolvidos no sistema.
EIxo III: GESTÃo E CoNTRoLE SoCIAL
1 - O Sistema Nacional de Esporte e Lazer tem por princípio a gestão democrática da esfera pública, objetivando o exercício pleno da cidadania, por meio da participação e da inclusão social, valorizando:
a) A transparência na gestão dos recursos financeiros e a priorização de sua utilização em políticas sociais e inclusivas.
b) A promoção do esporte educacional, de alto rendimento e de participação objetivando a formação integral do cidadão;
c) As gestões que se dão por meio de Conselhos, Conferências, Fóruns e Câmaras Setoriais, entre outros, garantindo, assim, a participação popular;
d) A gestão descentralizada, inclusive das estruturas físicas, materiais e de serviços, promovendo, dessa maneira, a diversificação do atendimento e a adequação desses às diversas situações concretas e aos interesses no âmbito da prática do esporte e do lazer;
e) A colaboração e comprometimento entre Municípios, Estados, Distrito Federal e a União;
f) Estabelecimento de parcerias técnicas e financeiras, convênios, consórcios e cooperações
entre as três esferas governamentais, com a iniciativa privada e com o terceiro setor, a fim de viabilizar ações que estimulem e promovam o esporte e o lazer. Tais parcerias, convênios e cooperações deverão apontar para políticas intersetoriais, integrando o trabalho de equipes multidisciplinares e interdisciplinares, com as áreas da educação, saúde, cultura, turismo, meio ambiente, assistência social, entre outras. Devem promover a elaboração e gestão de programas e projetos de esporte e lazer, bem como para a construção, revitalização e manutenção de espaços e equipamentos, além de subsidiar a formulação dos planos diretores municipais, adequando-os ao Sistema Nacional de Esporte e Lazer, na perspectiva do exercício pleno da cidadania e da inclusão social;
g) A qualificação e a atualização permanente dos gestores, profissionais e agentes do sistema, levando-se em conta as diversas manifestações culturais esportivas e de lazer de nosso povo, bem como suas modificações históricas;
h) A coleta, organização, sistematização e socialização da documentação sobre a informação esportiva e de lazer, com especial atenção para a divulgação do calendário de eventos que abordam o caráter multicultural e diversidade étnica e geográfica brasileira;
i) O caráter multiprofissional, multidisciplinar e interdisciplinar do esporte e do lazer;
j) A participação e a criatividade popular nas manifestações esportivas e de lazer.
2 - Estruturar uma política de implementação e co-gestão de infra-estrutura esportiva e de lazer, com a participação do poder público - nas suas três esferas -, da iniciativa privada e do terceiro setor, com preocupação, principalmente, na preservação de espaços físicos nos municípios brasileiros para a construção de equipamentos e instalações esportivas, de lazer e parques; levando-se em conta as proporcionalidades demográficas e as potencialidades regionais, visando:
a) identificação, democratização, otimização e modernização do uso dos espaços existentes;
b) a descentralização na construção de novos espaços, corrigindo desigualdades históricas entre as regiões;
58Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
c) a garantia do acesso à prática esportiva e de lazer em todas as suas dimensões, em especial às pessoas com deficiência, pessoas com necessidades especiais e outros, independentemente de gênero e etnias, com apoio/suporte de profissionais especializados quando se fizer necessário.
3 - A gestão das entidades de administração e
prática esportiva (confederações, federações, li-
gas, clubes e associações) deve ser pautada em
mecanismos democráticos e transparentes que ga-
rantam a participação. Para a garantia da gestão
democrática e transparente, tais entidades devem
estabelecer eleições diretas de seus dirigentes, com
tempo de gestão definida, garantindo a possibili-
dade de voto aos presidentes de clubes e atletas
federados (com, pelo menos, um ano de filiação),
assim como prestar contas, em audiências públicas
anuais, dos recursos públicos recebidos, adminis-
trados e utilizados por estas entidades.
4 - Prever e garantir legalmente, nos âmbitos Muni-
cipal, Estadual e Federal, a realização de Fóruns pe-
riódicos e Conferências bienais realizadas em anos
ímpares que abordem as temáticas do Esporte e do
Lazer para analisar e discutir as Políticas Públicas do
setor, ampliar o controle social sobre elas e apon-
tar diretrizes que as orientem. Tais conferências
deverão ser viabilizadas com recursos financeiros
das três esferas acima mencionadas e a participa-
ção dos delegados nas etapas Estadual e Nacional
ficará condicionada a eleição dos mesmos na etapa
municipal e/ou regional.
5 - As Secretarias - e/ou outros órgãos vinculados ao
campo do esporte e do lazer - implantadas, nas três
esferas de governo, quanto à gestão, deverão:
a) Garantir, por meio de concursos públicos, espaço para profissionais de educação física e demais trabalhadores do esporte e do lazer, em suas respectivas áreas de atuação, com plano de carreira definido;
b) desenvolver o esporte e o lazer em todas as suas dimensões, garantindo o acesso às pessoas com deficiência e idosos;
c) planejar e realizar eventos de esporte e lazer baseado em calendário aprovado junto aos respectivos conselhos, com a elaboração de relatórios que possam subsidiar e difundir futuros avanços, bem como a produção do conhecimento na área;
d) garantir a interface setorial e transversal com outras áreas afins (saúde, educação, meio ambiente, turismo, cultura, segurança, entre outras);
e) descentralizar o poder garantindo a representatividade dos segmentos comunitários e sociais, prioritariamente àqueles envolvidos com o esporte e com o lazer;
f) utilizar-se do planejamento participativo e fundar-se no controle social caracterizados pelo trabalho em conjunto com os conselhos de esporte, tanto no repasse de recursos quanto na construção da política, pautando-se no planejamento estratégico;
g) participar na construção e consolidação dos Planos Diretores Municipais.
6 - Criar e implementar os Conselhos Nacional, Es-
tadual e Municipal de Esporte e de Lazer que serão
órgãos de caráter, consultivo, deliberativo, norma-
tivo, propositivo, fiscalizador, controlador, orienta-
dor, gestor, e formulador de políticas públicas de
esporte e lazer.
7 - Quanto à natureza da composição, os Conselhos
Nacional, Estadual e Municipal de Esporte e de
Lazer serão compostos por agentes de todos os
segmentos que compõem o Sistema Nacional de
Esporte e Lazer com maioria de representantes da
sociedade civil.
8 - As atribuições dos Conselhos Nacional, Estadual
e Municipal de Esportes e Lazer são aquelas em
torno de:
a) Participação na elaboração do Plano Plurianual para a destinação orçamentária de verbas, fiscalizando sua utilização para o esporte e lazer;
b) Definição de metas e desafios relacionados à construção de uma política pública de esporte e lazer, pautada no princípio da inclusão;
59 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
c) Avaliação de projetos e programas de esporte e de lazer que compõem as políticas públicas de esporte e lazer;
d) Identificação das demandas sociais esportivas e de lazer;
e) Identificação das demandas sociais da atuação dos agentes do Esporte e Lazer;
f) Acompanhamento e assessoramento da imple-mentação dos projetos de esporte e lazer no espa-ço público e privado;
g) Monitoramento, acompanhamento e prestação de contas na política de esporte e lazer;
h) Realização das audiências públicas semestral-mente;
i) Estímulo à pesquisa sobre projetos e programas sociais do esporte e lazer;
j) Atendimento ao princípio da promoção de polí-ticas e ações intersetoriais;
k) Realização de pesquisas diagnósticas sobre a viabilização de programas de metas físicas (cons-trução de equipamentos).
l) Promoção, capacitação e qualificação dos profis-sionais e agentes do sistema, levando em conta as diferenças regionais e culturais.
9 - Criar Fóruns permanentes, Encontros, Seminá-rios e/ou Câmaras Setoriais, todas de caráter públi-co e indicativo (inclusive ouvidorias públicas), com subsídios nas esferas municipal, estadual e federal, em articulação direta com Conselhos de Esporte e Lazer e com o Sistema Nacional de Esporte e Lazer, garantindo a participação de todos os agentes que compõem o Sistema Nacional de Esporte e Lazer, com interface setorial e regional. Tais Fóruns terão como atribuições:
a) Elaboração, apresentação, acompanhamento e avaliação de políticas públicas de esporte e lazer;
b) O mapeamento das ações e estruturas;
c) A criação de banco de dados, documentação e informatização;
d) A formação e pesquisa em caráter multiprofis-sional e interdisciplinar (Assistência Social, Saúde, Educação, Trabalho e renda, Cultura, Transporte, entre outros),
e) Audiências públicas com o envolvimento de to-dos os segmentos sociais, inclusive as pessoas com deficiência e pessoas com necessidades especiais.
10 - Elaborar e implementar, nas três esfe-
ras de governo, de processos de diagnóstico
- que deverão ser permanentemente atualiza-
dos - instituindo mecanismos - tais como as
Câmaras Setoriais e as Audiências Públicas - a
fim de garantir o aperfeiçoamento contínuo
da gestão do esporte e do lazer. Tais Câma-
ras e Audiências Públicas deverão contar com
a participação dos agentes que compõem o
Sistema Nacional de Esporte e Lazer a fim de,
por um lado, propiciar a interação de suas di-
versas instâncias e, por outro lado, avaliar o
perfil dos municípios, seus programas e pro-
jetos, identificando os principais problemas
e suas potencialidades quanto à legislação,
estrutura, recursos humanos, dotações orça-
mentárias, calendário e eventos.
11 - Elaborar e institucionalizar instrumentos que
agilizem e aprimorem as diversas ações de acom-
panhamento, análise e avaliação dos investimen-
tos financeiros na implementação de programas
e projetos de esporte e de lazer (sítios, ouvidorias
e disque-denúncia, entre outros mecanismos), a
fim de garantir a transparência na elaboração e
na execução dos programas que visam a atender
as demandas sociais por esporte e lazer, princi-
palmente, àqueles programas geridos por órgãos
públicos e/ou entidades privadas que utilizam re-
cursos públicos.
12 - Criar, implementar e manter um Sistema
Nacional de Informação e Documentação em
Esporte e Lazer a fim de fazer interagir organismos
e redes nacionais e internacionais, governamentais
e não governamentais (sítios, portais, bibliotecas
virtuais, bancos de dados, museus, centros e
institutos de pesquisa, universidades, secretarias
estaduais e municipais, entre outras) visando
60Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
subsidiar a pesquisa e a formulação de programas
e projetos, e o aperfeiçoamento contínuo da
gestão em todas as instâncias do Sistema Nacional
de Esporte e Lazer
13 - Realizar campanhas, a partir do Ministério do
Esporte, que divulguem às empresas os benefícios
das políticas de isenção fiscal por meio de cartilhas
simplificadas de orientação a serem distribuídas
junto as entidades governamentais e não governa-
mentais, clubes, escolas, associações e outras que
atuarão na captação de recursos para o financia-
mento de ações de esporte e lazer.
EIxo IV: FINANCIAMENTo
1 - A autonomia orçamentária e financeira da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-
nicípios para o desenvolvimento das Políticas de
Esporte e Lazer deverá ser garantida através da
criação de Emenda Constitucional que institua a
vinculação e destinação de um percentual mínimo
da receita tributária (conforme dispõe a Constitui-
ção Federal, no caso da Educação)
2 - A vinculação e destinação do percentual míni-
mo serão de 1% e isonômicas nos três níveis de
governo (Federal, Estadual, Distrital e Municipal)
3 - A Lei que institui a vinculação e destinação do
percentual mínimo da receita resultante de impos-
tos deverá prever a aplicação imediata dos percen-
tuais estabelecidos.
4 - As iniciativas de Incentivo Fiscal deverão ser
fomentadas na perspectiva de atender, de forma
eqüitativa, as demandas das diferentes dimensões
de esporte e lazer.
5 - Criar e manter fundos para financiar o desen-
volvimento de políticas de esporte e lazer no âmbi-
to da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios.
6 - Criar, ampliar e revisar os percentuais de distri-
buição e destinação de recursos provenientes de
prognósticos, loterias e sorteios, oriundos das três
esferas governamentais, a fim de garantir a equi-
dade no atendimento das demandas das diferentes
dimensões do esporte e lazer.
7 - Criar leis de incentivos fiscais para o esporte e
o lazer nos três níveis de governo, considerando
como alternativas para elaboração destas Leis as
seguintes fontes:
a) percentual de Impostos IR - IRPF e IRPJ, ICMS, ISS, CIDE, Imposto de Telefonia, IPI, IPTU, CPMF, seguro obrigatório de veículos.
61 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
8 - Regularizar e incentivar a captação de recur-
sos de empresas (privadas e estatais) e organismos
internacionais, estabelecendo parcerias público-
privadas para o financiamento de políticas de
esporte e lazer, patrocínio de federações, ligas e
outras entidades esportivas e eventos, nos âmbitos
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios.
9 - A utilização dos recursos federais, estaduais e
municipais para implementação de políticas pú-
blicas deverá levar em conta a eqüidade entre as
diferentes dimensões do esporte e lazer e na dis-
tribuição geográfica, contemplando as diferentes
regiões do País, com prioridade para as regiões
norte, nordeste e centro-oeste.
10 - A utilização dos recursos federais, estaduais e
municipais para a implementação de políticas públi-
cas deverá priorizar Programas e Ações nas diferen-
tes dimensões de esporte e lazer, tais como:
a) Programas de Inclusão Social;
b) Programa de promoção da Saúde;
c) Construção, reforma e adaptação (manutenção) de Infra-estrutura esportiva e de lazer (espaço físico e equipamentos)
d) Capacitação, atualização e especialização de Gestores e profissionais que atuam na área do Esporte e do Lazer;
e) Jogos Escolares e comunitários, em suas etapas Municipais, Estaduais, Regionais e Nacional
f) Construção do conhecimento, ciência e tecnologia do Esporte e Lazer, com o apoio na implantação, estruturação e manutenção de laboratórios de pesquisa científica;
g) Bolsa Atleta;
h) Paradesporto;
i) Programas de esporte e lazer voltados para grupos sociais historicamente marginalizados (indigenas, idosos, pessoas com deficiência e com necessidades especiais, quilombolas, ribeirinhos, assentados da reforma agrária e outros) oportunizem as manifestações particulares desses grupos;
j) Esporte não-profisisional;
k) Esporte universitário;
l) Promoção e Fomento de Conferências, Fóruns, Seminários, Encontros Setoriais e outros;
m) Formação de Equipes representativas municipais, estaduais e nacionais;
n) Esporte de Criação Nacional e Identidade Cultural.
o) Bolsa Técnico/Treinador Esportivo.
11 - Buscar a participação mais efetiva e direta dos municípios no desenvolvimento de políticas públi-cas de Esporte e Lazer, por meio de:
a) Descentralização de recursos dos Programas e Ações Federais e Estaduais para os Municípios;
b) Criação de Lei que permita o repasse de percentuais dos recursos do esporte, da União e
Fotos (da esquerda para a direita) : Francisco Medeiros
62Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
do Estado, direto ao município, proporcionalmente ao número de habitantes;
c) Democratização do acesso as verbas federais para construção de espaços físicos de esporte e lazer nos municípios, obedecendo a Lei de Acessibilidade;
d) Criação de programas e fundos municipais.
e) Orientação de verbas diretamente aos municípios, proporcionalmente ao índice de FPM (Fundo de Participação Municipal) e ICMS;
f) Ampliação de percentual de repasse aos municípios das apostas de loteria esportiva e prognósticos, apontando o percentual de 1% do arrecadado no próprio município.
g) Estimular a proposição de instrumento legal para regular a remessa diretamente aos municípios, dos recursos provenientes da Lei 10.264/01 - Agnelo Piva.
12 - A Comissão Organizadora indica que os
percentuais e agentes apresentados nas propostas
sejam definidos no processo de revisão da Lei
10.264/01 - Agnelo Piva.
13 - A Comissão Organizadora registra a necessidade
de revisão da Loteria Esportiva, de forma que 50%
do percentual previsto para o esporte e lazer, sejam
destinados aos Municípios.
Reunião dos Especialistas sobre o Sistema Nacional de Esporte e Lazer
Relatório
64Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
Coordenação da Reunião: Cássia Damiani e Micheli Ortega Escobar
Sistematização e Revisão dos Textos:
Andrea Nascimento Ewerton, Cássia Damiani, Juliana de Oliveira Freire e Micheli Ortega Escobar.
Especialistas Participantes dos Grupos
Eixo I - Estrutura: Organização, Agentes e Competências
Alberto Puga, Ana Moser, Antônio Dmeterko, Eidilamar Ribeiro, Felipe Gonçalves, Fernando Mezzadri, Manoel Tubino, Nádia Campeão, Nelson Prudêncio, Paulo Schmitt, Roberto Libardi, Rodrigo Terra, Tarcísio Mauro Vago
Eixo II - Formação e Recursos Humanos
Amauri Bassoli Oliveira, Andréa Nascimento Ewerton, Débora Alice Machado da Silva, Elza Margarida de Mendonça Peixoto, Hélder Ferreira Isayama, João Paulo Medina, Jorge Steinhilber, Juarez Sampaio, Kátia Rubio, Leila Mirtes Magalhães Pinto, Micheli Ortega Escobar, Nelson Carvalho Marcellino, Pedro Osmar, Reginaldo Teixeira.
Eixo III - Gestão e Controle Social
Alaor Gaspar Pinto Azevedo; Dina Maria Lopes Feijó; Edson Marcelo Húngaro; George Braga; Gilmar Tondin; José Antônio Martins Fernandes (Toninho); Lamartine P. da Costa; Marcelo C. Cavichiolo; Maria Luiza Souza Dias; Rejane Penna Rodrigues; Silvio Ricardo da Silva;Sirineu Moleta; Ulisses.
Eixo IV - Financiamento
Alberto Saraiva, Alexandre Pagnani, André Malina, Ednaldo Pereira Filho, Edson Garcia, Fernando Mascarenhas, Gabriel Muñoz Palafox, Herval Barros, João Ghizoni.z
65 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
Apresentação
O presente documento é a síntese das elaborações teóricas de Especialistas que participaram, voluntariamente, da Reunião de Especialistas sobre o Sistema Nacional de Esporte e Lazer, promovida pelo Ministério do Esporte e pela Comissão de Acompanhamento da Conferência Nacional do Esporte - CACNE1, em Brasília, de 03 a 07 de dezembro de 2007.
Essa Reunião teve como objetivo utilizar as valiosas experiências de renomados profissionais da Educação Física, do Esporte e do Lazer, da área acadêmica e de gestão, para a elaboração de um diagnóstico dos diferentes aspectos da estrutura e funcionamento do atual Sistema Nacional de Esporte, tendo como parâmetro os objetivos e diretrizes indicados pela Política Nacional do Esporte (2005) e os subsídios emergentes da II Conferência Nacional do Esporte - II CNE, realizada em 2006.
Os quatro grupos se organizaram livremente em torno de um eixo para debater as questões subjacentes do sistema à luz da realidade do esporte brasileiro, sendo orientados quanto à metodologia dos trabalhos e aos seguintes resultados esperados: a) Elaborar um Diagnóstico do atual Sistema descrevendo cada problema detectado em relação ao Eixo em exame. b) Descrever a relação do problema com as resoluções da II CNE explicitando: aspectos não tratados nas resoluções, novas soluções, contestação ou superação das propostas vindas das resoluções verificando se as mesmas constituem um problema inédito não tratado nas resoluções. c) Indicar ações que possam ser realizadas pelo Ministério do Esporte visando à superação dos problemas levantados, tendo em vista a implementação do novo Sistema e destacando as relações da ação indicada com as ações propostas nas Resoluções da II CNE. d) Reconhecer questões ou aspectos que
demandam pesquisa abordando-as de forma mais completa para vir a compor o Diagnóstico Nacional do Esporte e, e) Indicar o tratamento dos chamados “Temas Transversais”.
Este último refere-se a três questões:
1. As dimensões esportivas em que os Especialistas deveriam elaborar crítica à atual conceituação de Esporte Educacional, Esporte Participação e Esporte de Rendimento - da Lei Pelé2, - conforme indicação da II CNE. E propor os novos conceitos explicitando os argumentos com a maior clareza possível.
2. A relação esporte-escola que deveria fundamentar o tipo de relação que deve existir entre o sistema esportivo e a escola.
3. Questão do lazer que deveriam fundamentar como o Lazer deve ser inserido no novo Sistema, usando as indicações do I Fórum do Sistema Nacional de Esporte e Lazer3 e as resoluções da II CNE como parâmetros.
Seguindo a estrutura proposta, será apresentado o relatório com a análise dos trabalhos produzidos pelos especialistas em cada Eixo do Sistema, com os aspectos referentes à legislação do Esporte e a questão das Dimensões Esportivas4 precedido de um breve histórico da construção do novo Sistema Nacional de Esporte e Lazer.
1 Instituída com o objetivo de acompanhar a aplicação das resoluções da Conferência Nacional do Esporte e preparar as edições seguintes - Resolução do Conselho Nacional do Esporte nº 16, de 19/09/06, Portaria ME nº 202, de 13/11/06, composta pelo Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, Associação Nacional dos Secretários Municipais de Esporte e Lazer, Fórum Nacional de Gestores Estaduais de Esporte e Lazer, Conselho Federal de Educação Física, Confederação de Brasileira de Clubes e dois representantes do Ministério do Esporte.2 Lei 9.615 de 24/03/1998.3 Evento realizado por iniciativa do Ministério do Esporte de 19 a 21 de outubro de 2005.4 Análise extraída dos documentos produzidos pela profª Doutora Micheli Ortega Escobar, consultora do Ministério do Esporte no Projeto BRA 01/028 - PNUD - 2007/000229.
66Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
Contexto histórico da construção do Sistema
Tendo em vista a natureza do presente Relatório,
e para melhor situar e valorizar as contribuições
dos Especialistas participantes da Reunião
sobre o Sistema Nacional de Esporte e Lazer,
faz se necessário recuperar a memória do
desenvolvimento histórico do Novo Sistema e
dos fundamentos teórico-filosóficos que definem
seu desenho no limite de quatro eixos de ação:
Estrutura: organização, agentes e competências,
Formação e Recursos Humanos, Gestão e Controle
Social e Financiamento.
As bases da reconstrução do Sistema Nacional
de Esporte e Lazer no Brasil foram estabelecidas
pela Resolução da Criação do Sistema Nacional
do Esporte e do Lazer nos documentos finais da I
Conferência Nacional de Esporte - 2004, “a partir
de princípios, diretrizes e objetivos estruturantes
que visam unificar a ação do conjunto dos atores
compreendidos no segmento do esporte e do
lazer em todo o território nacional”.
Historicamente, a formulação e implementação
de políticas do esporte no Brasil têm tido
como objeto um modelo de sistema esportivo
impregnado pela dinâmica do movimento
olímpico moderno e desenvolvido sob o caráter
político e comercial dado ao esporte pelo
capitalismo. A universalidade, a gratuidade
e a eqüidade para a mesma situação de
necessidade da prática esportiva por todos é um
princípio básico, mas, nessa direção, podem ser
apontadas duas grandes contradições do atual
sistema, a primeira é sua oferta de padrões de
alta qualidade para a preparação de atletas de
alto rendimento paralela à absoluta falta de
atenção para a formação inicial dos mesmos.
Uma das razões pelas quais o país apresenta um
número reduzidíssimo de atletas de alto nível é
exatamente a falta da universalização da iniciação
esportiva, base do sistema, especialmente no
âmbito escolar.
A segunda contradição de fundo é a destinação
reduzida de recursos para essa formação inicial,
vez que tem se constatado que a maior parte
do orçamento público é voltada ao esporte de
alto rendimento, em que pese a tendência de
investimentos nos programas esportivos sociais,
como o Programa Segundo Tempo que já atendeu
mais de um milhão de crianças e adolescentes em
todo o Brasil. Todavia, a transformação do jogo
de futebol em espetáculo e, especialmente, o
desenvolvimento da estratégia de comercialização
esportiva, decididamente guiada pelos avanços
tecnológicos, têm sido determinantes da
construção de um sistema esportivo fechado em
torno do poder e dos interesses de federações
e confederações nacionais e de organismos
internacionais que, mais do que promover o
esporte, dedicam-se a fortalecer os vínculos
entre o jogo, o comércio de atletas e de
materiais esportivos e os meios de comunicação,
principalmente as redes de televisão.
Desse modo, o esporte se há desenvolvido
buscando mais resultados econômicos e políticos
diversos dos que preceitua o atual governo.
Nesse quadro percebe-se a correlação de forças
existente entre interesses privatistas e interesses
do estado nacional cravados na ampliação dos
direitos sociais em detrimento de ganhos que
favoreçam a educação, a recreação, a cultura, a
saúde e a participação social do povo esquecendo
essas grandes questões sociais que, mesmo
assim, permanecem apregoadas como principais
objetivos do sistema atual.
O Sistema Nacional de Esporte e Lazer em
construção propõe-se a ser composto pelo
conjunto de ações e serviços de esporte e lazer sob
responsabilidade de órgãos e instituições públicas
67 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
federais, estaduais e municipais, da Administração
direta e indireta e de outras entidades mantidas
pelo Poder Público, direcionadas a organizar
e equilibrar coerentemente a exigência da
realização do mandato constitucional do Esporte
como direito de todos, considerando a ação
conjunta da União, Estados e Municípios no
limite das desigualdades estaduais e regionais.
O instrumento para tratar o Esporte como uma
questão de Estado é a Política Nacional do Esporte
(2005), com traços bem definidos em favor da
inclusão social, da democratização do acesso ao
esporte, da formação de uma rede de cooperação
com outras esferas do governo e da sociedade e
da diversificação do financiamento para o esporte
em todas as suas dimensões. Nesse sentido, é
necessário que nas contribuições dos Especialistas,
transpareçam intenções políticas, de diagnóstico,
de estratégias, de prioridades e de metas
claramente relacionadas com dados concretos
que não tenham sido tratadas nas Resoluções da
II Conferência, para alçar a construção do Sistema
a um patamar de concretude mais elevado.
Indicações para concretizar o novo Sistema
Nacional de Esporte precisam demonstrar de
forma relevante a compreensão de que essa
construção, ou “reconstrução”, deverá nascer
da estrutura do velho, vez que a destruição da
antiga forma, “fechada”, somente ocorrerá pelo
processo de transformação qualitativa radical do
conteúdo do atual Sistema em um novo conteúdo
cujas bases estão claramente assinaladas nos
princípios, diretrizes e objetivos com expressivo
conteúdo social advindos das Resoluções.
Precisam, ainda, transparecer o entendimento
de que as propriedades dos componentes do
sistema dependem da estrutura do todo que eles
constituem e, ao mesmo tempo, da sua natureza
e quantidade.
No esteio desses pressupostos, por exemplo, as
propostas de novas estruturas para atender à
prática esportiva escolar carecem superar a atual
base pedagógica que orienta a prática escolar
da Educação Física e da formação esportiva
fundamentadas no “treinamento esportivo” e
seus métodos inspirados no mundo do trabalho
explorado e na “administração científica”
tayloriana, a qual buscava diminuir o tempo
empregado por cada operário na realização do seu
trabalho através de um cuidadoso planejamento
das ações e de um rígido controle para suprimir
os gestos desnecessários e os comportamentos
supérfluos. Na perspectiva de um novo Sistema,
essa teoria, que recebe o nome de “teoria da
pirâmide”, é fortemente limitada para fornecer um
corpo teórico explicativo da realidade da prática
pedagógica da Educação Física e do Esporte na
escola, pois, impede analisar, compreender e
esclarecer, em sua totalidade, a especificidade
qualitativa dos componentes, relações e
generalidades do processo educativo do esporte
no mundo capitalista afastando, portanto, de
forma radical, a possibilidade da inclusão social e
da universalização da prática esportiva.
Ao tratar do direito ao Esporte e ao Lazer,
conforme a perspectiva constitucional como um
direito fundamental, não se trata de defender
o direito à prática do esporte e do lazer na
totalidade de caracteres abrangidos numa idéia
geral, mas, de entender a prática esportiva e de
lazer como um direito qualificado de apreensão da
cultura como fator de desenvolvimento humano.
Direito às condições mínimas necessárias para
uma existência digna. Assim sendo, o Estado não
pode mais constranger-se à função de formação
de uma elite necessária à defesa de uma ideologia
de poder e superioridade esportiva em detrimento
da participação maciça da população e, portanto,
da possibilidade da universalização da prática e da
concretização da inclusão social.
68Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
A mudança da forma do Sistema Esportivo atual
para uma nova forma é um processo lento de
transformação qualitativa do seu conteúdo. A
este respeito é elucidativa a experiência vinda do
Sistema de Saúde, cujo processo de transformação
é explicado nos seguintes termos: “No Brasil,
pensar outros caminhos para garantir a saúde da
população significou pensar a redemocratização
do país e a constituição de um sistema de saúde
inclusivo”5. A transformação qualitativa procurada
pelo Sistema pode ser percebida nos Princípios,
Diretrizes e Objetivos apontados na Resolução
de Criação do Sistema Nacional do Esporte e
do Lazer que fazem sentir a busca da coerência
entre a forma e o conteúdo, entre a estrutura e
a função:
Das considerações precedentes se inferem
elementos teóricos para validar os parâmetros
de análise das contribuições dos Especialistas
fundamentados, principalmente, nos Princípios,
Diretrizes e Objetivos advindos da Resolução
citada. Um primeiro parâmetro de análise das
proposições é a explicitação de que todos os
elementos, partes ou entidades que venham
compor o novo Sistema terão as qualidades que
lhes serão conferidas pelo seu lugar na estrutura
do mesmo e de que, a unidade dessa estrutura,
forma e conteúdo, dependerá do modo da ligação
e da interdependência necessária de todos esses
elementos, partes ou entidades. Vê-se, de tal forma,
que o exame da estrutura do sistema separado em
“eixos” tem mais um caráter didático, pois, todos
eles - estrutura, financiamento, gestão e recursos
humanos e recursos humanos e formação - são
componentes da estrutura que se interpenetram
em conteúdo e forma.
Assim sendo, contribuições necessárias e
significativas são aquelas que delineiam uma
estrutura inter-setorial integrada e assentada em
políticas sociais, públicas da União, dos Estados
Foto: Francisco Medeiros
69 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
5 BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Política Nacional de Promoção da Saúde (2007)6 Este tema é aprofundado em TOJAL, S B de B. A Constituição Dirigente e o Direito Regulatório do estado social: o direito sanitário (1999), in http://www.saudepublica.bvs.br/itd/legis/curso/pdf/a05.pdf .
e dos Municípios, que asseguram a participação de todos, efetivamente, agindo sobre os determinantes sociais relacionados à condição econômica, educação, saúde, alimentação, habitação e outros que se constituem em obstáculos à participação massiva da população ao acentuar as desigualdades de ordem étnica, racial, social, de gênero, entre outras, presentes na nossa sociedade. Portanto, o novo Sistema concretizar-se-á quando a prática esportiva da população esteja na agenda, e seja compromisso dos vários setores de governo nas diversas esferas de gestão ligadas ao Sistema por pactos, acordos, parcerias, colaboração ou outros criativos mecanismos de adesão, sem deixar de considerar a legislação que lhes outorgue legitimidade.
Nessa perspectiva, a legislação é considerada “fator implementador das transformações sociais que veicula, inclusive, prestações públicas e, por conseqüência, opera a materialização da racionalidade legal"6. Esse fato demanda que a reconstrução do Sistema nacional de Esporte se faça sob uma abordagem de totalidade, num planejamento integrado que contemple, simultaneamente, as relações intrínsecas da estrutura, financiamento, gestão e formação de recursos humanos em função da atividade e ou serviço que será prestado por cada uma das entidades que virão a compor o Sistema, naturalmente à luz dos princípios, diretrizes e objetivos previamente determinados.
70Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
71 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
Eixo I - Estrutura: Organização, Agente e Competências
Os integrantes deste Grupo propuseram uma estrutura indicando órgãos e entidades que o comporiam, apresentados na tabela a seguir. Também destacaram como problemas a falta de definições claras das competências dos Governos, Federal, Estaduais e Municipais e de planos e políticas Municipais e Estaduais de Esporte e Lazer, além da ausência de alinhamentos entre os planos de ação dos Governos Federal, Estaduais e Municipais e do número reduzido de Conselhos Estaduais e Municipais de Esporte e Lazer.
Entretanto, pelo nível de detalhamento que a concretização da proposta exige, faz-se necessário, posteriormente, explicitar um conceito do Sistema com suporte político-filosófico, além de detalhar os critérios de seleção das entidades e instituições sugeridas e as competências e atribuições ou tipos de relação entre elas, como pactos, convênios
e outras formas de compromisso necessárias à
compreensão do caráter do Sistema proposto.
Ao apontar como competências do Ministério do
Esporte: “Garantir a manutenção da Estrutura do
Sistema Nacional de Esporte e Lazer” e “Garantir
a continuidade das Conferências Nacionais do
Esporte promovendo o debate democrático entre os
diversos setores”, o Grupo abre a porta à discussão
de dois temas de alta relevância: a inexistência de
um Decreto Regulamentador da Lei nº. 9.615, de
24 de março de 1998 e suas alterações, no que diz
respeito ao Sistema Brasileiro de Desporto, uma vez
que o decreto 2.574/98 foi revogado pelo Decreto
nº 5.000 de 01 de março de 2004.
As demais questões tratadas no grupo serão
explicitadas ao tratar especificamente da Legislação
do Esporte.
Foto: Francisco Medeiros
72Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
ESTADO ÓRGÃOS DA JUSTIÇA DESPORTIVA
ENTIDADES JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO ENTIDADES
CIENTÍFICAS E
DO ESPORTE
E DO LAZER
INSTITUIÇÕES
DE EDUCAÇÃO
BÁSICA E
EDUCAÇÃO
SUPERIOR
ENTIDADES DE PROFISSIONAIS DO ESPORTE E LAZER
ENTIDADES DE FINALIDADE ESPORTIVA E DE LAZER
ENTIDADES QUE SE RELACIONAM COM O ESPORTE
Ministério do Esporte e Conselho Nacional de Esporte e Lazer
Comissão Desportiva Militar do Brasil - CDMB
Criação do conselho nacional antidoping - CNAD
Superiores Tribunais de justiça desportiva
Comissões Disciplinares Nacionais
Tribunais de Justiça Desportiva
Comissões Disciplinares Regionais
Outros órgãos judicantes previstos pela codificação esportiva
COB e CPB
Entidades Nacionais de Administração do Desporto - ENADEs (CBDE, CBDU, etc)
Ligas Nacionais
CBC
ONED
Entidades Regionais de Administração do Desporto - ERADEs (Federações)
Entidades de práticas esportivas (filiadas às respectivas entidades dirigentes e não filiadas)
ONG's, OSCIPS, Sistema S, Redes Sociais e Associações
Instituições de Ensino Superior - IES
Institutos e Colégios Científicos
Laboratórios de Ciências do Esporte
Escolas e Instituições de Ensino Superior
Entidades de
representação
(associações
profissionais,
sindicatos e
federações)
e conselhos
profissionais
das profissões
regulamentadas
e vinculadas
ao esporte.Órgãos Estaduais de Esporte e Lazer e Conselhos Estaduais de Esporte e Lazer
Órgãos Municipais de Esporte e Lazer e Conselhos Municipais de Esporte e Lazer
73 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
Foto: Francisco Medeiros
Eixo II - Formação e Recursos Humanos
Para o sucesso do funcionamento do Sistema
Nacional de Esporte e Lazer é fundamental a
existência de um corpo de profissionais qualificados
e salarialmente valorizados. No estágio atual de
desenvolvimento do Sistema, e na perspectiva
de atendimento às exigências de manutenção do
caráter multiprofissional e multidisciplinar desses
recursos humanos, às exigências de capacitação dos
recursos já inseridos no segmento e às necessidades
de formação de novos quadros qualificados, faz-se
urgente comprovar: 1) A disponibilidade da estrutura
de recursos humanos para supervisão e auditoria
das estruturas que atualmente compõem o Sistema
e das que irão se somar, através de diversos tipos de
relação, no nível Municipal, Estadual e Federal. 2)
Tipo e quantidade dos profissionais atuantes e das
ações, projetos ou programas já realizados ou em
andamento, dados que também deverão subsidiar
o Diagnóstico Nacional do Esporte.
Por conseguinte, é de importância que as proposições
para o Eixo Formação e Recursos Humanos
apontem à concretização das “redes de formação
de recursos humanos” integrando Ensino Básico,
Superior e Pós-graduação, à distância e presencial,
indicando para cada um suas atribuições específicas
e compartilhadas. Além de propor diretrizes e
formas de apoio técnico à preparação e gestão de
Recursos Humanos para o Sistema ordenando a
formação com as Instituições de Ensino Superior
- IES e outras entidades profissionais, articuladas
de diversos modos - pactos, acordos, parcerias,
convênios, colaboração ou outros mecanismos de
adesão devidamente legalizados.
74Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
Os Especialistas entenderam que a Lei Pelé não
contempla a discussão sobre formação, bem como
as questões relacionadas ao lazer de forma direta,
problema para o qual recomendaram atender às
resoluções do documento final da II CNE no que se
refere à execução dos planos de ação.
Detectaram aspectos da problemática do trato
com o conhecimento como a dificuldade de
apropriação e articulação do conhecimento
acadêmico para as ações cotidianas dos
agentes sociais. Afirmaram que a produção do
conhecimento é a base constituinte dos aportes
legais relacionados ao esporte e lazer pelo qual
se deve estimular uma produção acadêmica que
consiga atender aos limites impostos pela realidade
do cotidiano do esporte e do lazer fomentando
pesquisas induzidas e semi-induzidas. A respeito
desta última indicação não houve referências que
a situasse como tipo de pesquisa ou como padrão
de levantamento de dados.
Como solução a esses problemas atribuíram ao
Sistema a tarefa de garantir que o conhecimento
produzido na Universidade chegue às ações
cotidianas dos agentes sociais, por meio da
formação em serviço, produção de documentos
(livros, cartilhas, CDs e outros materiais didático-
pedagógicos) e capacitação de multiplicadores
destinados a repassar esse conhecimento entre as
comunidades alvo, utilizando preferencialmente
os recursos do ensino à distância. Também
assinalaram como importante a consolidação e
fortalecimento das redes de pesquisa do Ministério
do Esporte (CEDES, CENESP e CEDIME) de modo
a assegurar o acesso do conhecimento acadêmico
para gestores, trabalhadores e usuários do Sistema
Nacional de Esporte e Lazer.
Como verificaram que as resoluções do documento
da II CNE não indicam os princípios e competências
para implantação de ações de formação
continuada, recomendaram a necessidade
de estabelecer princípios e competências do
Sistema para implantação de ações de formação
continuada e contemplar os vários espaços de
formação possíveis, principalmente aqueles ligados
à formação em serviço, focando a formação inicial
nas Instituições de Ensino Superior.
Os termos “formação em serviço” e “formação
inicial e continuada” provocaram no Grupo a
manifestação de uma posição divergente que
afirmou que os mesmos podem ser olhados sob
perspectivas teóricas diferentes, especialmente o
conceito formação em serviço, expressivo de uma
prática que dá respaldo a relações de trabalho
prejudiciais aos profissionais em formação e aos
formados, também com evidentes repercussões
nos usuários.
Detectada a inadequação dos currículos à dinâmica
social contemporânea, em especial a discussão
sobre políticas públicas, o esporte e o lazer de uma
maneira geral, o Sistema Nacional de Esporte e Lazer
deve fazer gestão junto aos órgãos competentes
visando o estímulo às discussões sobre o processo
formativo e a inclusão das temáticas relacionadas às
políticas públicas de esporte e lazer nos currículos.
Outro problema percebido pelo Grupo Formação
se dá pelo fato de o documento da II CNE
não apresentar a possibilidade do trabalho do
voluntariado explicitando seu tipo e buscando dar
limites aos profissionais que o integram segundo a
Lei do Voluntariado. Frente à questão, uma parte
do Grupo indicou como solução que o Sistema
apresentasse a possibilidade do trabalho do
voluntário local, como elemento de ligação entre
a cultura da comunidade e a competência dos
profissionais mantendo-se no marco daquela lei.
Em decorrência dessa proposição, outra parte
do Grupo expressou que as Resoluções prevêem
uma política de formação inicial e continuada
75 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
nos níveis básico, superior e pós-graduação, à
distância e presencial para atender à elevação
geral de qualificação dos trabalhadores. Que a
estrutura do Sistema Nacional de Esportes e Lazer
traduzida nas resoluções da II Conferência, prevê
o envolvimento dos agentes sociais do esporte e
lazer, incluindo entre estes os animadores sócio-
culturais em diferentes níveis e âmbitos. Assim,
propõe-se uma estrutura de serviços apoiada
numa formação qualificada a ser continuamente
ampliada. Entretanto, advertiram os Especialistas
em questão, não se pode desconsiderar que a
proposta de inclusão do animador sociocultural
voluntário local abre possibilidades extremamente
contraditórias:
1. De ampliação dos processos de precarização do trabalho e o seu respaldo
2. De contradição com o eixo de melhoria da qualificação na medida em que profissionaliza o voluntariado, ou seja, o que devia ser provisório torna-se permanente
3. Ao preconizar o trabalho não pago, a Lei do Voluntariado propõe uma estrutura de Sistema Nacional de Esporte e Lazer com base no amadorismo. Evidencia-se que ao realizar trabalho não pago o agente fica impedido de investir em sua própria formação e qualificação.
O grupo questionou que as I e II CNE não fizeram
indicações a respeito do profissional de lazer nem
de suas competências. Em decorrência desse fato
sugeriram como perfil do profissional do lazer
reconhecido como animador sociocultural:
• Animador sociocultural de competência
geral: qualificado como planejador, gestor e
administrador. Sua formação contempla itens
específicos de planejamento e gestão (tempo,
espaço, equipamentos, recursos, formação e
desenvolvimento de pessoal e atividades) e animação
e sua ação engloba uma visão de conjunto da
problemática do lazer.
• Animador sociocultural de competência específica:
domina pelo menos um dos conteúdos culturais do
lazer no qual tem formação formal ou informal.
• Animador sociocultural voluntário local: necessário
para vinculação da cultura local a ação profissional
cumprindo a possibilidade de escolha no lazer.
São supervisionados por animadores socioculturais
profissionais e devem receber formação para o
desempenho das suas atividades.
• Pessoal de apoio: necessário para a infra-
estrutura para o desenvolvimento das atividades.
Necessitam de capacitação inicial e continuada para
o desenvolvimento das atividades. Assim a estrutura
de animação é multiprofissional com enfoque
interdisciplinar. Os quatro níveis da estrutura se
articulam para o desenvolvimento de todas as suas
atividades juntamente com a comunidade onde
estão inseridos.
Os especialistas destacaram a complexidade a que
remete a pretensão de proposição de “resoluções
legais” sobre o profissional do lazer tendo em
vista a diversidade de profissionais que podem ser
identificadas como tal.
Indicaram como competências do profissional do
lazer, reconhecido como animador sociocultural:
coordenar, planejar, programar, supervisionar,
dinamizar, dirigir, organizar, prescrever, avaliar,
animar e executar trabalhos, programas, planos e
projetos, bem como prestar serviços de auditoria,
consultoria e assessoria; realizar formação
continuada especializada; participar de equipes
multiprofissional com enfoque interdisciplinar;
elaborar informes técnicos, científicos e
pedagógicos exercidos por profissionais habilitados
nos diferentes conteúdos culturais do lazer e nas
áreas que lhe são correlatas.
Os especialistas, em relação ao item 3, do Eixo II, das
Resoluções da II CNE, observaram que o profissional
76Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
de Educação Física é tomado como o principal sujeito
da área, isso indica mais limites do que possibilidades
de amplitude na abrangência. A competência para
o ensino não está explicitada neste item, isso requer
que, nos próximos passos para a concretização do
Sistema Nacional de Esporte e Lazer sejam incluídas,
dentre as competências, a atividade de ensinar.
Face à proposta deste Grupo em relação à questão
“ensino”, deve-se chamar a atenção para o fato dos
itens 5 a 7 do Eixo II, das Resoluções da II CNE não
contemplarem, além das citações sobre formação
inicial e continuada, o problema da formação de
professores que deve ter como princípio central
a docência e vincular-se a diretrizes gerais de
qualificação docente através de uma política de
profissionalização que foge da competência e
atribuições do Ministério de Esporte.
O centro da discussão da formação docente deve
ter uma perspectiva de qualificação para a prática
profissional nas escolas públicas, incluir uma
mudança nas condições de trabalho e tomar a
escola como unidade de referência teórico-prática
do processo de trabalho pedagógico considerando
que ele se configura em torno de categorias da
prática - a organização do trabalho pedagógico, o
trato com o conhecimento, a avaliação e os objetivos
escolares. No exercício da docência o debate
envolve as condições objetivas para tal, assim como
o processo de qualificação e desqualificação do
trabalho docente - carreira, salários, infra-estrutura,
direitos e outros.
Para não perpetuar o dualismo corpo-mente como
base científico-teórica da Educação Física na escola,
a qual mantém a cisão teoria-prática e dá origem
a um aparelho conceitual desprovido de conteúdo
real, entre eles o conceito a-histórico de esporte
e das suas classificações, o Sistema Nacional de
Esporte não deve minimizar a importância da
formação de um profissional da Educação Física
que tenha como atributos a competência científica,
técnica e política necessária para orientar sua prática
pelo princípio da indissolubilidade teoria/prática,
da interdisciplinaridade, da gestão democrática e
do trabalho coletivo essenciais à concretização da
inclusão e da universalização do esporte.
Na opinião do Grupo, nem todos os merecedores
de atenção especial estão contemplados no item
6, do Eixo II, das Resoluções da II CNE, portanto foi
sugerido que nos próximos documentos seja utilizada
uma terminologia abrangente que contemple todos
aqueles que de alguma maneira vivem e enfrentam
a discriminação e a exclusão.
Enfim, como questão relevante, os Especialistas
destacaram a ausência de tratamento das questões
trabalhistas relacionadas ao profissional de esporte
e lazer e sugeriram o aprofundamento de estudos
e a busca de alternativas para que as mesmas
constem no Sistema Nacional de Esporte e Lazer.
77 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
Eixo III - Gestão e Controle Social
O grupo debateu sobre a possibilidade definir um
público-alvo, um foco, na promoção do esporte
e do lazer considerando o caráter de inclusão
social da política. Essa tese foi contestada, pois, a
implementação de políticas focais é contraditória
com o princípio da universalização do acesso aos
direitos e a uma concepção neoliberal de Estado.
Concluiu-se que a política deve manter o caráter
universal visando metas e ações que tenham
como referência o atendimento das necessidades
da parcela menos favorecida da sociedade e que,
talvez, a solução para a questão esteja no que
consta no item 10.3 do Eixo I, das Resoluções da
II CNE, quando discrimina os usuários do sistema.
A indicação do grupo foi que, em referência a
esse item seja especificado o alvo fundamental da
política - trabalhando com indicadores regionais,
Índice de Desenvolvimento Humano - IDH ou outros
que possam superar este problema.
Em virtude da polêmica gerada, o grupo
indicou que a questão deve ser tratada na III
Conferência Nacional do Esporte, ressalvando-se
o uso da identificação dos destinatários, grupo
alvo, para efeito de levantamentos estatísticos,
operacionalização de projetos e especificação de
grupos sociais para inclusão.
Quanto ao item 2 do Eixo III, das Resoluções da II
CNE, o grupo sugeriu que no aprofundamento do
tema, seja incluída a “gestão” ao lado do termo “co-
gestão”, tendo em vista a preocupação com os custos
para o poder público na construção e manutenção
das estruturas de esporte e lazer. Porém, a posição do
grupo foi remetida à plenária onde foi contestada sob
o argumento de que entregar as estruturas esportivas
e de lazer para a iniciativa privada, tende a dilapidação
do patrimônio público, podendo, inclusive, trazer
dificuldade de acesso à população em geral.
O grupo manteve sua atenção nos custos para o
poder público na construção e manutenção das
estruturas de esporte e lazer com a recomendação de que a democratização do acesso seja resguardada. Além de sugerir que se reveja o encaminhamento para a construção de equipamentos através de contratos de manutenção que não onerem o poder público, sendo necessário, posteriormente, explicitar as formas de fazê-lo.
Os Especialistas do Grupo questionaram, nas Resoluções, a ausência de referências a um Plano Nacional de Esporte e Lazer e à estudos quantitativos e qualitativos capazes de dar suporte a gestão de projetos e elaboração de planos, assim como dos termos “pessoas com necessidades especiais” ao item 5b e “idosos” item 9e do Eixo II, das Resoluções da II CNE. A plenária aprovou a inclusão de tais referências.
O Grupo apontou a necessidade de que no aprofundamento dos debates sobre as Resoluções na próxima conferência, seja suprimido o termo “gestor” no texto do item 6 deste Eixo, das Resoluções da II CNE e sugeriram substituir o termo “formulador de políticas públicas de esporte e lazer” pelo de “partícipe na formulação de políticas públicas de esporte e lazer”. Com a ratificação da plenária, recomendaram a busca de maiores referenciais sobre o tema em outros sistemas, como os de saúde e educação.
Em relação aos subsídios para o Diagnóstico proposto no item 10, do Eixo II das Resoluções, o Grupo considerou que os mecanismos aqui cogitados darão prioridade ao estabelecimento de estatísticas nacionais dentro da sistemática do IBGE e como tal compartilhadas com esta entidade. Para este objetivo propõe-se às seguintes diretrizes preliminares:
1) Que se leve em conta os padrões internacio-nais de levantamento de dados estatísticos para a área de esporte e lazer - por exemplo: COMPASS e IPAQ.
2) Os diagnósticos serão pontuais e não deve-rão substituir as estatísticas nacionais, sendo, por-
78Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
tanto, originados por iniciativas locais e institucio-nais, de acordo com as necessidades singulares.
3) A instalação de estatísticas nacionais deverá ser progressiva de modo a constituir no futuro uma das bases de controle social.
Em relação à comunicação os especialistas indicaram
a ausência de mecanismos contratuais, alinhados
ao Plano Nacional de Esporte e Lazer, visando à
definição de metas e à divulgação integral dos
resultados através dos meios oficiais de comunicação.
A plenária não contestou tal posição.
Os Especialistas deste Grupo fizeram as seguintes
indicações na perspectiva de implementação do
Sistema:
a) Nas conferências nacionais futuras e outros eventos coletivos do Ministério do Esporte reco-menda-se consultas aos participantes a fim de ela-borar um estudo sobre perspectivas para o setor em âmbito nacional, levando em consideração po-tencialidades atuais e metas para as próximas duas décadas.
b) A contribuição de visões em longo prazo po-derá fundamentar a Política Nacional de Esporte e Lazer como também os procedimentos de interse-torialidade com os demais órgãos de governo fede-ral relacionados ao esporte e lazer.
c) Para fortalecimento da gestão estadual/muni-cipal, toda e qualquer promoção de esporte e lazer que se realize em espaços e equipamentos públi-cos, deverá ser de conhecimento do órgão gestor, observada a legislação federal pertinente.
d) Necessidade de estudos sobre a separação de funções dos órgãos responsáveis pelo planejamen-to, políticas e normas dos órgãos de financiamento, controle e avaliação.
e) Que, até 2010, os municípios, os estados e o terceiro setor construam, com mecanismos demo-cráticos, seus planos e conselhos de controle social. E que isso seja pré-condição para a solicitação de apoio financeiro.
f) Que o Ministério do Esporte construa diretri-zes para a qualificação e formação de gestores para o campo do esporte e do lazer nos âmbitos fede-ral, estadual e municipal buscando parceria com as universidades e levando em conta a existência de agentes formadores na própria região.
Foto: Francisco Medeiros
79 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
Eixo IV - Financiamento
A investigação sobre a temática do financiamento
do Esporte e do Lazer é praticamente inexistente.
Havendo raríssimos pesquisadores nessa área,
o grupo considerou que o Governo Federal
precisa incentivar estudos a fim de se aprofundar
descrições, análises e conclusões sobre tão
importante assunto.
Abordar financiamento não significa pensar
isoladamente em recursos para atender demandas
específicas, e muitas vezes localizadas. No
entendimento do grupo, o Financiamento deve
ser pensado como fio condutor e articulador dos
eixos que devem nortear a construção do Sistema
Nacional de Esporte e Lazer.
Nessa direção é adequado olhar para a Política
Nacional de Esporte que atribui ao Ministério
do Esporte a responsabilidade de “formular e
implementar políticas públicas inclusivas e de
afirmação do esporte e do lazer como direitos sociais
dos cidadãos, colaborando para o desenvolvimento
humano e para o desenvolvimento nacional”.
A questão central dessa Política é assumir o
esporte “com vista ao desenvolvimento da nação,
ao fortalecimento da identidade cultural, da
cidadania, da autodeterminação de seu povo e
com vista à defesa da soberania do país”. Portanto,
não se deve pensar que qualquer política de
pretensa inclusão promove cidadania, é necessário
que guarde estreita relação com os princípios e
diretrizes da Política Nacional de Esporte. É visto que
o “desenvolvimento humano sustentável” requer
atitudes governamentais comprometidas com a
integralidade e intersetorialidade de suas políticas
públicas, além da radicalidade com os princípios
contra-hegemônicos, tais como diversidade,
eqüidade, inclusão social, descentralização, entre
outros que exigem condições objetivas e específicas
diante da sociedade.
No que se refere diretamente ao financiamento, a
Política Nacional de Esporte demanda, ainda, como
uma das ações estratégicas: “A estruturação de
uma política de financiamento que esteja vinculada
ao Sistema Nacional do Esporte e do Lazer que
mobilize, articule, diversifique, amplie e dinamize
recursos para essa área, coordenando as iniciativas
do setor público em todas as esferas, assim como
do setor privado, assentadas sobre princípios
sólidos de controle público e de transparência”.
Deve-se resgatar, ainda, como base para o debate, as
questões tratadas na I CNE e no I Fórum do Sistema
Nacional de Esporte e Lazer que apontaram as
seguintes fontes de financiamento para o esporte:
1) Recursos públicos diretos da União, dos Estados
e dos Municípios; 2) Recursos públicos de órgãos
e instituições da administração indireta nas três
esferas: Municípios, Estados e União; 3) Recursos
provenientes da vinculação de parte das receitas
de impostos e taxas nas três esferas: Municípios,
Estados e União; 4) Recursos provenientes de
medidas de incentivo fiscal; 5) Recursos provenientes
da vinculação de parte das receitas de concursos
de prognósticos, loterias e outras modalidades
de apostas; 6) Recursos provenientes de Fundos e
outras medidas de fomento ao esporte e ao lazer;
7) Recursos provenientes de linhas de crédito e
incentivos a toda a cadeia produtiva vinculada ao
segmento.
Enfim, para a análise mais consistente desse Eixo,
vale considerar o que consta nas diretrizes de
aplicação dos recursos destinados ao financiamento
do Sistema Nacional do Esporte e do Lazer, que
prevêem:
1) Assegurar a permanência e continuidade do
financiamento
2) Atender às três esferas: Municípios, Estados e
União a partir das competências de cada uma
80Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
3) Atender ao conjunto das entidades do esporte,
nacionais, estaduais e municipais, os atletas e
a população no âmbito do Sistema Nacional de
Esporte e Lazer
4) Assegurar a implementação das políticas que
visem à inclusão social e o atendimento das pessoas
com deficiências e com necessidades especiais
5) Atender à infra-estrutura e aos equipamentos
necessários à implementação das políticas e
programas
6) Atender à capacitação dos recursos humanos
já inseridos no segmento e à formação de novos
recursos humanos qualificados
7) Atender ao fomento e desenvolvimento científico
e tecnológico
8) Contemplar a multiplicidade de experiências
e especificidades regionais de todo o território
nacional e a eqüidade na aplicação dos recursos.
Tais elementos de reflexão sobre o assunto têm o
objetivo de reencontrar o fio condutor da discussão
unificada dos quatro eixos visando afirmar uma
legislação que estabeleça: a) os critérios de
distribuição dos recursos da União, vinculados
ao esporte e ao lazer, destinados ao Distrito
Federal, aos Estados e aos Municípios, assim como
os dos Estados destinados a seus respectivos
Municípios, objetivando uma progressiva redução
das disparidades regionais e, b) que determine,
entre outras, as normas de fiscalização, avaliação
e controle das despesas com esporte e lazer nos
níveis federal, estadual e municipal.
Considerando as resoluções da II Conferência
Nacional de Esporte, o grupo elencou vários
problemas e as possíveis ações para superá-
los. Avaliaram a necessidade de se fazer uma
revisão do que se tem hoje sobre financiamento
do esporte no Brasil, constatando as fontes de
captação de recursos para a esfera do esporte e
lazer nos âmbitos federal, estadual e municipal,
para que fique claro quais sujeitos devem receber,
organizar e distribuir tais recursos. Sobre os
mecanismos legais deve-se definir a destinação
dos recursos, tais como: Lei Pelê, Lei Agnelo/ Piva,
emendas parlamentares, orçamento da União,
Estados e Municípios, e incentivo fiscal, dentre
outros. Deve-se fazer um estudo apontanto as
dificuldades que impedem que cada uma dessas
leis seja implementada em todos os entes da
federação, além de identificar o que limita que os
recursos recebidos sejam utilizados para atender
todas as dimensões do esporte.
PRoBLEMAS
• Inexistência de Recursos Vinculados nos
orçamentos da união, DF, Estados e Municípios
para a política do esporte.
• O requisito de lucro real que habilita as empresas
a participar Lei nº 11.438, de 29 de dezembro de
2006, a Lei de Incentivo ao Esporte, dificulta que
os Estados mais pobres possam contar com uma
maior dotação de recursos financeiros provenientes
dessa lei, pois apenas os Estados brasileiros com
alto índice de concentração de riqueza seguem os
requisitos necessários.
• As políticas de financiamento das empresas
estatais que se destinam a patrocinar confederações,
associações, outras entidades esportivas e eventos,
bem como para participar em parcerias de incentivo
ao esporte e o lazer, são instituídas nas próprias
empresas seguindo critérios políticos e sem
mecanismos adequados de fiscalização e controle
social.
• Em função da prerrogativa do Governo Federal
para legislar sobre prognósticos e loterias e sorteios,
estados e municípios ficaram impedidos de criar
81 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
novas propostas associadas a essa legislação.
Nesse sentido a viabilidade do item 6, do Eixo IV,
das Resoluções da II CNE ficou restrita a alterações
propostas, exclusivamente, no âmbito federal.
• Aplicação e destinação dos recursos - equidade.
Os critérios de distribuição de recursos financeiros
utilizados para destinar recursos de forma eqüitativa
entre as diferentes regiões geográficas do país
não são suficientes para promover a eliminação
de distorções econômico-sociais necessárias para
elevar o nível de participação nas políticas de
esporte e lazer e, consequentemente, o padrão
cultural da população.
• Descentralização e Controle Social. A municipalização
das políticas públicas de esporte e lazer pode tornar-
se ineficaz caso a descentralização e o controle social
não se efetivem como mecanismos necessários à
democratização e ampliação das práticas esportivas
e de lazer no país.
AÇõES
• Aperfeiçoar e aprovar Projeto de emenda
constitucional para vinculação de recursos
orçamentários para a política de esporte atualizando
conceitos à proposta do Sistema Nacional de
Esporte e Lazer.
• Elaborar um plano de mobilização em todos os
campos (social e legislativo) para que o projeto
avance e seja implementado.
• Aprovar a PEC no sistema legislativo no prazo de
6 meses após finalização da proposta.
• Propor uma avaliação da Lei de Incentivo ao
Esporte, cujos resultados sejam apresentados na III
Conferência Nacional, visando a sua atualização,
caso seja necessário.
• Recomendar à comissão de acompanhamento
que sejam observados os critérios, o princípio da
equidade e procedimentos da lei de modo a serem
aplicados rigorosamente.
• Elaborar e implementar um plano de ação
destinado a estimular a elaboração de leis estaduais
de incentivo ao esporte mediante a isenção de
ICMS, utilizando-se como referências as leis já
implementadas e consideradas bem sucedidas, por
Foto: Francisco Medeiros
82Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
meio do Fórum de Gestores Estaduais (RJ, BA, SC,
PB, MT, AC, MS, GO, DF, MG).
• Elaborar uma política pública que regule e fiscalize
efetivamente o uso dos recursos de Empresas
Estatais destinados a patrocinar confederações,
associações e outras entidades esportivas e eventos,
considerando a eqüidade entre as diferentes
dimensões do esporte e lazer e a distribuição
econômica das diferentes regiões do País.
• Convidar a Associação Brasileira da Indústria
de Esporte - ABRIESP e entidades similares para
debater as questões relativas a financiamento de
políticas públicas de esporte/Lazer.
• Remeter ao Eixo I - Organização, agentes e
competências - a discussão a respeito da inclusão
da participação de entidades de trabalhadores da
indústria do Esporte, na qualidade de trabalhadores
do Sistema Nacional do Esporte
• Retirar o veto contido atualmente na Lei nº
11.439/2006, artigo 31 - Inciso VII, na próxima
legislação sobre orçamento (LDO) para garantir
a condição isonômica dos clubes e associações
dos servidores, ou quaisquer outras entidades
congêneres de empresas estatais, e o direito
de concorrerem em igualdade de condições na
obtenção de recursos de patrocínio, desde que seja
preservada a sua autonomia e garantido o controle
social sobre o uso de tais recursos.
• Destinar na Lei Piva um novo percentual para
as modalidades não olímpicas geridas pela
Organização Nacional do Desporto - ONED e
Federações.
• Apontar como prazo para revisão da Lei Piva, o
final do mandato do atual governo, de acordo com
a sugestão apresentada no item 12, do Eixo IV, das
Resoluções da II CNE.
• Definir, no processo de revisão da Lei Agnelo
Piva, diretrizes e critérios obrigatórios de repasse
dos recursos alocados às Confederações, de acordo
com os princípios de gestão apontados na item 3,
do Eixo III, das Resoluções da II CNE.
• Adotar no processo de revisão da Lei Agnelo Piva,
critérios obrigatórios e procedimentos que garantam
que os recursos alocados nas Confederações sejam
repassados, também para as suas respectivas
filiadas, de acordo com os princípios de gestão
apontados no item 3 do Eixo III, das Resoluções da
II CNE.
• Adotar no processo de revisão da Lei Agnelo
Piva, critérios obrigatórios e procedimentos que
garantam que os recursos destinados ao COB para
atender o desporto escolar e universitário, sejam
transformados num Fundo Nacional de Desporte
Escolar (educação básica e universitária) gerenciado
pelo Ministério do Esporte.
• Prever no processo de revisão da Lei Piva, a
abertura de um percentual de recursos financeiros
destinados à criação de um fundo setorial do
esporte vinculado ao CNPq para investimentos
em pesquisa aplicada ao esporte em todas as suas
dimensões.
• Prever no processo de revisão da Lei Piva, ou
por outro dispositivo legal, a definição de um
percentual de recursos financeiros destinados ao
controle, prevenção e combate ao doping.
• Propor e estimular a proposição de instrumento
legal para regular a remessa diretamente aos
municípios, dos recursos provenientes da Lei
10.264/01 - Agnelo Piva.
• Elaborar e implementar um plano de ação
com objetivo de ampliar o percentual de repasse
das apostas de loteria esportiva e prognósticos
destinados aos municípios, apontando o percentual
83 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
de 1% do arrecadado no próprio município, com
a finalidade de incentivar a participação direta
dos municípios no desenvolvimento de políticas
públicas do Esporte e Lazer, item 11 do Eixo IV, das
Resoluções da II CNE.
• Elaborar e implementar um plano de ação com
objetivo de ampliar o benefício da renegociação de
dívidas (refis) às entidades não contempladas na lei
que regula a referida loteria, tal como previsto na
legislação da loteria Timemania.
• Repassar diretamente aos municípios os recursos
do Fundo Nacional do Esporte, tal como ocorre
com o repasse dos fundos destinados às áreas de
educação e saúde.
• Alterar o artigo 9 da Lei 10.451, de 10/05/2002
para a seguinte redação: “conceder aos agentes
responsáveis (clubes) pela formação dos atletas de
base os mesmos benefícios dos órgãos dos poderes
públicos e outros como COB, CPB, CBC, UNED e
outras entidades nacionais de administração do
esporte”.
• Propor ao Ministério da Fazenda a criação de
um dispositivo legal para que os Clubes Esportivos
Sociais possam optar pelo “Super-simples”
mediante a apresentação de uma contrapartida de
fomento esportivo de base na comunidade de seu
entorno
• Descentralizar recursos dos programas e ações
federais e estaduais para os municípios.
• Criar lei que permita o repasse de percentuais dos
recursos do esporte, da União e do estado, direto
ao município, proporcionalmente ao número de
habitantes.
• Democratizar o acesso às verbas federais para a
construção de espaços físicos de esporte e lazer nos
municípios, obedecendo a Lei de Acessibilidade.
• Criar programas e fundos municipais.
• Destinar as verbas diretamente aos municípios,
proporcionalmente ao índice de FPM (Fundo de
Participação Municipal) e ICMS.
• Orientar ao legislativo federal para que a
LDO, contemple com um dos seus princípios a
intersetorialidade nos processos de designação de
recursos orçamentários, como forma de contribuir
para evitar a sobreposição de aplicações desses
recursos em ações semelhantes.
O exame do trabalho deste Grupo conduz à
conclusão de que as contribuições elaboradas
ultrapassam em questões pontuais o conteúdo das
Resoluções da II Conferência e do Plano Nacional
de Desenvolvimento do Esporte 2007-2010, mas
é necessário que se aprofundem as indicações
para um desenho mais definido das bases do novo
Sistema.
As grandes questões filosóficas que permeiam a
Política Nacional do Esporte (2005) devem refletir
nesta estrutura de cada um e “do todo” dos
eixos. Se não for assim, continuaremos a ter um
Sistema fechado nas modalidades individuais e
coletivas reconhecidas como esportes na estrutura
do rendimento e, práticas essenciais para o
desenvolvimento cultural e esportivo do nosso
povo, não farão parte do projeto de expansão do
acesso ao esporte.
O acesso universal ao esporte, como direito
inerente à cidadania - e, portanto, concretização
da inclusão social - só se fará realidade quando
esteja assentado num financiamento para os
setores Federal, Estadual e Municipal que atenda
as necessidades decorrentes do novo modelo de
Sistema e das suas diretrizes e objetivos.
O Ministro do Esporte, Orlando Silva, na abertura
dos Jogos Pan-americanos, no dia 15 de julho de
84Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
2007, também assinalou aspectos que requerem avanços na configuração de totalidade da estrutura do Sistema, considerando a integração dos quatro eixos, ao manifestar que: “Para que o esporte possa contribuir significativamente com o desenvolvimento nacional, temos de enfrentar e vencer os desafios de ampliar a infra-estrutura esportiva, incrementar programas de inclusão social, como o Segundo Tempo, que pode chegar a atender mais de um milhão de crianças em todo o país. Potencializar o esporte de alto rendimento com ampliação significativa do programa Bolsa Atleta. Apoiar o desenvolvimento da cadeia produtiva do esporte nacional, estimular a formação de recursos humanos e a pesquisa científica aplicada ao esporte e ao lazer, modernizar a legislação da prática esportiva e captar e realizar grandes eventos esportivos internacionais. A diversificação e ampliação das fontes de financiamento do setor são necessárias, mas, exigem a colaboração da iniciativa privada. É básica a conquista de uma fatia maior do orçamento para materializar este objetivo, seja compondo programas unificados ou apresentando nosso próprio projeto de desenvolvimento do esporte, já concluído. Precisamos estreitar relações com o Congresso Nacional, através das Comissões de Esporte e Turismo e do Senado que sempre contribuíram com a agenda do esporte. Esse será um passo firme para conquistar emendas específicas para os nossos programas. O Brasil deve ser conhecido, para além dos seus resultados nas competições, pelos seus programas esportivos sociais que, inseparavelmente do esporte de rendimento, têm o esporte como fator de desenvolvimento humano, quer dizer, como atividade fundamental para que as novas gerações, especialmente dentro do âmbito escolar, se apropriem da cultura esportiva gerada pelos seus antecessores e possam desenvolver suas aptidões”.
Sobre as fontes de financiamento, é importante que sejam tomadas as decisões políticas necessárias para viabilizar a implementação imediata das
estruturas básicas do novo Sistema Nacional de Esporte e Lazer - Federal e dos Sistemas Estaduais e Municipais - assentado no Plano Nacional de Desenvolvimento do Esporte e que ressalte a responsabilidade do Estado no financiamento, organização e gestão da universalização da prática do esporte e do lazer como direito de todos, desde as esportivas e recreativas até as de alto rendimento, dando atenção às pessoas com deficiência, aos idosos e em especial às ações com populações de outras etnias, de cultura e línguas diferenciadas como indica a Política Nacional de Esporte.definição das primeiras ações geradas no interior da nova estrutura do Sistema que está sendo reconstruído.
A mudança na estrutura do Sistema - de fechada para aberta - não deve ser restrita a experiências isoladas de alguns poucos estados e raros municípios, por isso há necessidade de se montar um sistema de avaliação do desempenho dos recursos descentralizados não apenas em cima do quantitativo de atendimentos - programas regulares ou eventos federais, estaduais ou municipais - mas, com indicadores de resultados qualitativos que indiquem, em curto prazo, a tendência de consolidação da nova estrutura.
O orçamento deve estabelecer um montante básico de recursos financeiros destinado ao custeio de programas e ações característicos da responsabilidade municipal, estadual e federal, bem como pormenorizar aspectos do financiamento - tetos e outras condições. Para fundamentar essas definições são necessários diagnósticos dos projetos, programas e ações em execução que possam evidenciar o perfil da organização da prática esportiva no país nesses três níveis.
85 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
Os quatro grupos, em algum momento dos debates,
abordaram a questão da Legislação Esportiva. O
estudo do marco regulatório do esporte brasileiro
envolve o artigo 217 da Carta Magna , que
repercute o fato do esporte ser elevado a tema
constitucional, e a Lei 9.615/98, chamada Lei Pelé,
e os seus dispositivos.
O Grupo I contribuiu com mais duas propostas
importantes para o estudo da legislação pertinente
ao Sistema Nacional de Esporte. A primeira, sobre
a possibilidade de uma “Alteração Legislativa” e, a
segunda, uma Minuta de Projeto de Lei para o Sistema
Estadual de Esporte e Lazer do Estado do Paraná.
As disposições do artigo 217 da Constituição
Federal, na perspectiva da construção de
um novo Sistema, merecem reflexão sobre
a adequação da sua forma e conteúdo aos
requerimentos que apresenta a concepção do
novo Sistema emergente da I Conferência e com
bases definidas na II Conferência. Indica o artigo:
“É dever do Estado fomentar práticas desportivas
formais e não-formais; como direito de cada um,
observados:
I - A autonomia das entidades desportivas
dirigentes e associações, quanto a sua organização
e funcionamento. (A proposta que trata o novo
Sistema indica regime para as entidades que se
incorporam - escola, universidade, Ong’s e outras).
II - A destinação de recursos públicos para a
promoção prioritária do desporto educacional e,
em casos específicos, para a do desporto de alto
rendimento. (O novo Sistema requer um aparelho
conceitual coerente com as novas diretrizes e
objetivos. Novas demandas como a da ampliação
do esporte de alto rendimento visando à projeção
internacional, como as Olimpíadas de 2016).
III - O tratamento diferenciado para o desporto
profissional e o não-profissional. (A proposta
apresentada para o Novo Sistema: Novo aparelho
conceitual e novas demandas de financiamento).
IV - A proteção e o incentivo às manifestações
desportivas de criação nacional. (Novo Sistema:
Novo aparelho conceitual e novas demandas de
financiamento).
§ 1º - O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, reguladas em lei. (Novo Sistema: Adequação às novas hierarquias que surgem das novas inter-relações entre antigas entidades do esporte de alto rendimento e as que serão criadas para atender às novas responsabilidades do Sistema).
§ 2º - A Justiça Desportiva terá o prazo máximo de 60 (sessenta dias), contados da instauração do processo, para proferir decisão final.
§ 3º - O Poder Público incentivará o lazer, como forma de promoção social. (Novo Sistema: Definições político-filosóficas que se expressam no aparelho conceitual).”
Quanto à Lei 9.615/98, objetivamente, se coloca
a necessidade de uma profunda e rigorosa análise
que exponha o seu reflexo no Sistema atual e que
justifique a proposta de alteração dos parágrafos
2º e 3º do Artigo 4 tendo em conta a explicitação
das suas reais conseqüências no funcionamento do
novo Sistema.
Ponto central da revisão da lei 9.615/98 é sua
propriedade e abrangência para permitir que
o novo Sistema atenda às diretrizes e objetivos
colocados pela Política Nacional de Esporte que
requerem, junto a um marco conceitual inovador,
novas dimensões estruturais para atender às novas
responsabilidades - inclusão social, universalização
do esporte e incremento do esporte escolar e de
alto rendimento.
O Grupo I - Estrutura: Organização, Agentes e
Competências entendeu que para implementar/
operacionalizar o Sistema Nacional de Esporte e
Lazer, são possíveis dois caminhos:
Aspectos referentes à Legislação do Esporte
86Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
• O Poder Executivo apresentá-lo sob a forma
de um Projeto de Lei (PL) que será submetido
às Casas Legislativas Câmara e Senado Federal.
Este caminho apresenta maiores dificuldades e
entraves temporais, seja na Comissão de Turismo e
Desporto (CTD) na Câmara Federal, ou na Comissão
homóloga no Senado Federal. Os especialistas
entenderam que essa opção é para se realizar em
médio e longo prazo.
• O Poder Executivo editar um Decreto
Regulamentador da Lei nº. 9.615, de 24 de março
de 1998 e suas alterações. Tal fato não será
inédito, pois o próprio Poder Executivo já fez editar
Decreto para regulamentar dispositivos da Lei nº.
9.615/98 a exemplo do Decreto n. 3.944, de 28 de
setembro de 2001 - que regulamentou o art. 20 da
Lei n. 9.615/98, dispondo sobre ligas profissionais
nacionais e regionais - assim como editou o Decreto
nº 5.000, de 1º de março de 2004, que revogou o
Decreto nº 2.574, de 29 de abril de 1998, este último
regulamentava a Lei nº 9.615/98. Esse caminho seria
de repercussão de curto prazo.
Houve sinalização de integrantes deste Grupo
em relação ao Estatuto do Esporte, Projeto de Lei
que se arrasta desde 2001 e está imobilizado. Ao
respeito, também o Grupo III - Gestão e Controle
Social recomendou que o Ministério do Esporte
empreendesse esforços para a retirada deste PL que
tramita no Congresso, já que a indicação do Sistema
Nacional do Esporte e do Lazer supera, incorporando
certos aspectos, o conteúdo do referido Estatuto.
Apesar de plausível preocupação com os aspectos
legais do Sistema em construção, pode-se afirmar
que os debates do Grupo I - Estrutura: Organização,
Agentes e Competências necessitam de um
aprofundamento e apresentação de uma aparato
conceitual que explique o movimento concreto do
desenvolvimento desse conhecimento. A análise
realizada não ultrapassa as aparências da estrutura
do atual Sistema pela inadequação dos parâmetros
teóricos utilizados. A persistência desses aspectos,
legitimados, em especial, pela Lei Pelé, não
permitiria avanços sobre o Sistema atual por não
serem plausíveis de alteração apenas pela ação de
um Decreto Regulamentador. Isso explica por que
numa abordagem de totalidade, cada elemento
que faz parte de uma estrutura, quando isolado e
considerado fora das ligações internas que existem
nela, fica privado das qualidades que lhe são
conferidas por seu lugar nessa estrutura dada, e é
por isso que seu estudo isolado não fornece uma
justa representação de sua natureza real.
A construção do novo Sistema demanda, todavia,
estabelecer mecanismos de cooperação com os
outros entes da federação, com entidades de
administração e prática de esporte, entre outras,
priorizando a ação inter-setorial com outros órgãos
da administração federal, para o qual deve romper
com a ação fragmentada do Estado e desenvolver
uma ação transversal. Seria isto possível modificando
apenas partes da Lei atual? Outras interrogações
como esta, indispensáveis à formulação de um
diagnóstico, complementam a discussão:
• Qual seria a nova organização do sistema federativo
institucionalizado - confederações, federações, ligas
e associações esportivas, o esporte militar, o esporte
universitário e o esporte escolar?
• De que forma a União, Estados e Municípios se
responsabilizariam pela construção de instalações
esportivas, quando o apoio da iniciativa privada não
for suficiente para tal objetivo?
• Continuaria o sistema de subvenção às entidades
esportivas no desenvolvimento de suas atividades?
• Como a escola pública e sua estrutura física,
minimamente apropriada para a prática esportiva
infanto-juvenil, poderia ser a base do novo Sistema
87 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
Nacional de Esporte e Lazer idealizado pelo Ministério
do Esporte?
• De que forma se estabeleceria a parceria com o
Ministério da Educação para elaborar novos currículos
para a Educação Física Escolar tanto para apreensão
da cultura corporal quanto para democratização do
acesso à prática visando ao alargamento da base
para formação esportiva?
• Como se financiaria o Esporte Escolar e como
avaliar quantitativa e qualitativamente a condição
real da infra-estrutura das escolas do país?
O desenvolvimento das ações do Ministério do
Esporte tende a manifestar a perspectiva de um
sistema coeso e coordenado, na medida em que
estabelece mecanismos de cooperação com as
outras entidades da federação de administração
e prática de esporte, além da ação inter-setorial
com outras instituições da administração federal. A
coesão deve se instaurar a partir de pactuação.
O pacto federativo estabelecido pela Constituição
Federal, que redefiniu os papéis de Estados e
Municípios, inclusive estabelecendo competência
normativa concorrente às entidades da federação
é um aspecto relevante para se tratar da estrutura,
porém que não aparece na avaliação do Sistema
atual realizada pelo Grupo, considerando que a
autonomia dos Estados e Municípios difere da de
outras épocas. A Constituição de 1988 avançou
na estruturação da Federação brasileira, redefiniu
competências e papéis da União, Estados e
Municípios, com o objetivo de dar maior efetividade
às políticas públicas. A descentralização passou
a ser imperiosa para qualificar a ação, sobretudo,
da União. No campo do esporte, a Constituição
estabeleceu competência normativa concorrente
aos entes da federação. Deve-se ter em conta,
reconhecendo a singularidade dos tempos de hoje,
que a atual Lei do esporte sugere a constituição de
sistemas estaduais e municipais, com contornos
próprios para o campo do rendimento. Importa
que o novo Sistema atue para a pactuação entre
os entes da federação com a construção de novos
mecanismos de adesão. A mesma lógica valeria para
o setor privado que goza de autonomia equivalente.
São aspectos que deverão ser aprofundados.
88Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
89 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
As denominadas “dimensões esportivas” referidas
na atual Política Nacional do Esporte (2005) são
tratadas à luz do que está posto na Lei Pelé,
quando descreve as manifestações desportivas. Os
grupos fizeram considerações sobre as Dimensões
Esportivas, a partir do material acumulado pelo
Ministério do Esporte acerca desta temática.
A importância do estudo teórico, filosófico e
político desses conceitos adotados no âmbito
esportivo nacional não deve ser minimizada, por
que eles expressam referências que dão forma
e conteúdo às políticas públicas do esporte, ao
mesmo tempo em que ocultam princípios e
valores que, na prática, podem até justificar falsas
prioridades na alocação dos recursos públicos para
determinados setores do esporte - educacional, de
lazer ou de alto rendimento - portanto, impõe-se
uma avaliação rigorosa da sua adequação como
suporte de políticas públicas do novo Sistema
Nacional de Esporte e Lazer em construção que
tem como princípios centrais a universalização do
esporte e a inclusão social.
A incorporação do esporte como direito social
na Constituição de 1988 tem origem na Carta
Internacional da Educação Física e do Esporte,
publicada dez anos antes pela UNESCO, mas
também é fruto do ambiente de redemocratização
do país refletido na “Constituição Cidadã” - assim
chamada em função do conjunto de direitos que
ela passou a reconhecer.
O artigo 217 da Constituição Federal é
substancialmente genérico, por isso requer
mudanças na sua forma e conteúdo, porém
é incisivo quando estabelece a prioridade dos
recursos públicos para o esporte educacional e
quando versa sobre a autonomia das entidades
esportivas. A separação entre esporte profissional
e não-profissional traz implicitamente a visão de
uma abordagem diferenciada para o futebol em
função do peso que a modalidade assumiu no esporte brasileiro.
Os especialistas consideraram unanimemente que, o reconhecimento do esporte como “direito de cada um”, é o aspecto fundamental da Lei Pelé, embora careça da re-conceituação do esporte e das redefinições do financiamento e estrutura necessários para o novo Sistema de Esporte e Lazer atender a esse direito.
A Lei atual avançou no desenvolvimento do preceito constitucional e, em suas disposições iniciais, define o universo do esporte brasileiro em “práticas formais e não-formais”. O modo como a Lei tipifica a “prática formal” permite concluir que se trata do esporte de rendimento. A prática “não-formal”, caracterizada pela liberdade lúdica, seria o terreno do chamado esporte educacional e do lazer, fazendo supor que se trata do “lazer esportivo” o qual passou a ser denominado “esporte de participação”.
No artigo 1o desta Lei é utilizado o conceito “prática formal” e “prática não formal”, conceito que, no capítulo III, torna-se “manifestações” - educacional, de participação e de rendimento. Se não examinarmos essa denominação “dimensões” no contexto da sociedade em que vivemos, permanecerá como denominação vazia de contradições o que impede distinguir o pensado do real, pois, que as explicações criadas abstratamente disfarçam a realidade.
Os graves problemas que impedem o desenvolvimento do esporte, tais como o enorme número de brasileiros excluídos dessa prática, o número reduzido de atletas de alto rendimento e de modalidades esportivas praticadas no país, a inexistência e, ou, o reduzido número de instalações esportivas e de materiais específicos oferecido à população em geral, o estado lamentável das instalações esportivas escolares e o
Dimensões Esportivas
90Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
descaso quanto ao aproveitamento das condições
naturais para a prática esportiva expõem uma
marcada incapacidade de, o atual Sistema, cumprir
as tarefas para as quais foi criado.
A Política Nacional do Esporte (2005) reconhece que
a prática esportiva é, potencialmente, uma forma
privilegiada de promoção do desenvolvimento
humano, mas, que exige condições específicas
para que seja atendida a diversidade presente
na sociedade, por isso indica a necessidade de
observar detidamente os conceitos empregados
na Lei 9615/98 - “desporto educacional”,
“desporto de participação” e “desporto de
rendimento” –, principalmente, porque legitimam
uma hierarquização que pode obstaculizar a
atenção de prioridades. Esses conceitos, talvez por
refletirem determinações históricas e a correlação
de forças presente na época da sua elaboração,
apresentam limites explicativos que precisam ser
superados.
Ir além das dimensões esportivas de rendimento
e participação requer revisar a relação “esporte-
cultura” e “esporte-educação”. O ambiente
das instituições de ensino pode ser espaço para
a realização de ambas, sem desconhecer que
competições estudantis - escolar e universitária
- quando componentes do projeto pedagógico
de cada instituição funcionam na perspectiva
do esporte de rendimento. De outro ângulo, a
recreação e o acesso ao conhecimento compõem
os elementos principais do esporte como conteúdo
curricular da Educação Física, o que, aliás, sugere
que devem ser estabelecidas melhores fronteiras
entre as “manifestações esportivas” precisando
a relação entre esporte e educação, o que
repercutirá na estruturação do Sistema de Esporte
e Lazer.
Cabe perguntar, como, do ponto de vista
institucional, de gestão, serão considerados
os programas e projetos de governo que são
desenvolvidos nas diversas esferas e instituições
não governamentais que fazem do esporte uma
ferramenta para a inclusão social? Como essas
iniciativas poderão dialogar com o esporte de
rendimento e com o esporte de participação?
Especialistas do Grupo Financiamento expressaram
que “a caracterização oficial/formal das três
dimensões do esporte, baseada nos elementos
constitutivos do termo, confunde, mistura e,
inclusive, camufla ideologicamente as visões
sociais, os interesses e as demandas politicamente
determinadas como fundamentais atendidas
socialmente na esfera do esporte, na medida em
que dissemina valores e normas sociais necessárias
ao ajustamento da população a determinados
modos dominantes de vida”. Também afirmaram
que “as dimensões esportivas não refletem
a realidade do esporte e do lazer no Sistema
atual, elas foram criadas fundamentalmente
para atender demandas burocrático-financeiras
fragmentadas, deterministas e hierarquizadas
do esporte, que tem como finalidade principal,
em última instância, a inserção do sujeito no
mundo do esporte-mercadoria ultra competitivo”.
Contudo, apesar das críticas feitas, no debate do
grupo, não foram estabelecidas relações com o
projeto histórico subjacente à Política Nacional do
Esporte (2005) ou à estrutura do novo Sistema
Nacional de Esporte e Lazer em construção.
A legislação vigente conceitua o “desporto
educacional” como aquele “... praticado nos
sistemas de ensino e em formas assistemáticas
de educação, evitando-se a seletividade e a
hiper-competitividade de seus praticantes, com a
finalidade de alcançar o desenvolvimento integral
do indivíduo e a sua formação para o exercício
da cidadania e a prática do lazer”, explicação
que impede reconhecer o esporte como atividade
humana historicamente criada, socialmente
91 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
construída e produto da cultura humana e,
portanto, compreender as diferentes formas e
objetivos em que ele se dá na vida real.
A denominação “esporte educacional” é ambígua.
“Educacional” se refere a um determinado
caráter outorgado à formação das faculdades
intelectuais ou à instrução em geral que os
próprios interessados adjetivam, subjetivamente,
de “educativo” e que pode impregnar quaisquer
práticas esportivas, sejam as de tipo competitivo
ou recreativo, que acontecem na escola ou fora
dela. Paradoxalmente, o teor da Lei permite
interpretar, de um lado, que a “seletividade” e
a “hiper-competitividade” seriam empecilho
para alcançar o desenvolvimento integral do
indivíduo e a sua formação para o exercício da
cidadania e a prática do lazer e, do outro, que
o esporte de alto rendimento seria uma prática
não educacional por privilegiar a “seletividade” e
a “hiper-competitividade”.
Na verdade, o que se deve ter presente, como
preceitua a Política Nacional do Esporte (2005),
é que o esporte não possui nenhuma virtude
mágica, ele é, apenas, o que se faz dele. Se
tratando do esporte desenvolvido na escola, é
mais adequada a denominação “esporte escolar”,
sob a referência da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional - LDB, 9.394/96, quanto à
organização escolar presente no Sistema Nacional
de Educação. Obviamente, a natureza política da
escola constrói um caráter “educacional” que é
atribuído a todas as práticas que se desenvolvem
no seu interior. Para o Ministério do Esporte, o
esporte escolar é aquele praticado na escola,
no âmbito da educação básica e superior, seja
como conteúdo curricular da Educação Física ou
atividade extracurricular conforme a LDB, o qual
deve atender os objetivos do projeto político
pedagógico de cada uma delas.
Atribuir um sentido educativo ao esporte
significa refletir os objetivos educacionais nos
princípios de cidadania, de diversidade, de
inclusão social e de democracia que perpassam
a Política Nacional, porque eles representam
valores, hábitos e atitudes desejáveis e possíveis
de serem formados por meio da prática do
esporte. Nessa ótica, o esporte é educacional
quando efetiva a participação voluntária e
responsável da população concretizando a auto-
organização e a autodeterminação com práticas
que não comprometam o caráter genuinamente
nacional e popular. É educacional se promove
o desenvolvimento da cultura corporal, cultiva
e incrementa atividades que satisfaçam às
necessidades lúdicas, estéticas, artísticas,
combativas e competitivas do povo tendo como
prioridade educá-lo em níveis mais elevados de
conhecimento e de ação que se reflitam na criação
de possibilidades de solução dos problemas sociais
que, no momento, impedem o progresso social.
Todavia, é educacional quando pode ser usufruído
como um bem cultural, tanto na ótica do gosto
pessoal, como na busca da maximização do
rendimento garantido o direito de, todo cidadão,
ao uso das instalações e materiais adequados para
ambos os fins.
A perspectiva de um novo Sistema Nacional de
Esporte e Lazer exige que se explicitem seus nexos
e relações com a escola. Seria a escola a base para
apreensão do conhecimento do esporte e da sua
democratização, da possibilidade da ampliação e
solidificação da cultura corporal e, portanto, da
afirmação do esporte como direito de todos? Se
a resposta for sim, estar-se-ia afirmando que na
escola devem ser criadas as condições de acesso à
prática do esporte e ao conhecimento da cultura
corporal para todos os alunos. Mas, estar-se-ia
afirmando também, implicitamente, que cabe
à escola oferecer a prática do esporte de alto
rendimento e, conseqüentemente, que ela seria
92Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
responsável pelo desenvolvimento da aptidão
física. Deve se observar que a interpretação do
que seja a “aptidão física” é um dos principais
problemas enfrentados pela escola e, que até
hoje, permanece sem solução.
A apropriação das práticas corporais como
processo de apreensão da cultura esportiva
historicamente construída e, portanto, como
atividade básica para o desenvolvimento
humano, tem sido banalizada por um suposto
desenvolvimento de aptidões físicas que não são
mais do que a aprendizagem de técnicas esportivas
esvaziadas do seu conteúdo cultural, processo
que alimenta a contradição de entender “acesso
ao conhecimento” como a apropriação dos
conteúdos do chamado “esporte de resultado”.
É possível afirmar que essa contradição também
legitima a escola como “celeiro de atletas”, ou de
outra forma “lócus privilegiado para captação de
atletas”. Essa ideia desenvolve-se, também, em
falsos pressupostos, pois, atribuir fontes internas
ao desenvolvimento intelectual do homem é
considerar o desenvolvimento de “cabeça para
baixo”, como ensina Leontiev (1977). Não seria
a assimilação das aquisições da ciência que
constituiria a condição de formação de aptidões
científicas, mas, antes, as aptidões científicas
que condicionariam esta assimilação. Não seria a
assimilação da arte condição do talento artístico,
mas o talento artístico condicionante da aquisição
da arte e, no caso do esporte: “Não seria a
assimilação do esporte que constituiria a condição
de formação de aptidões esportivas, mas, antes,
as aptidões esportivas que condicionariam esta
assimilação”. A questão é que nunca se procura
a fonte de tais aptidões e se considera o caráter
espontâneo da sua aparição como algo inato.
A separação entre a teoria e a prática precisa ser
superada, pois esse tipo de cisão, impede, também
no esporte, a emancipação social, em particular,
a emancipação humana. O que é o esporte?
É uma pergunta impossível de ser respondida
separadamente de “o que o esporte deve ser”,
pois, o ideal, contido no conhecimento, é uma
forma especial de atividade do sujeito. Nexo
que se deveria constatar, e não se constata, nas
explicações sobre o que é o esporte educacional, o
esporte participação e o esporte de rendimento.
Na Lei geral do esporte, Lei Pelé, o conteúdo do
esporte educacional se aproxima do que inspira o
esporte de participação e seu objetivo deve estar
presente na base do esporte de rendimento. Nessa
visão, vale refletir sobre a singularidade do esporte
educacional como manifestação típica, específica.
A elaboração da Política Nacional do Esporte
(2005) já revelou a necessidade de buscar o real
significado dessa manifestação. Tal como é posto
hoje, o sentido educacional perpassa inclusive as
demais manifestações esportivas às quais pode ser
atribuído sentido educativo. Essa é uma questão
chave, porque diz respeito não apenas à legislação,
mas, sobretudo impacta na estruturação da gestão
pública e no financiamento do esporte brasileiro.
Essa reflexão sugere revisar a relação entre
esporte e educação. O ambiente das instituições
de ensino pode ser espaço para a atividade
esportiva nas duas dimensões citadas. Os torneios
estudantis - escolar e universitário - de natureza
essencialmente competitiva, quando compõem
o projeto pedagógico de cada instituição, com
caráter extracurricular podem funcionar como
base para o esporte de rendimento. De outro
lado, a recreação e o acesso ao conhecimento
compõem os elementos principais do esporte
como conteúdo curricular da Educação Física, o
que, aliás, já está assim definido nos Parâmetros
Curriculares Nacionais. É fundamental estabelecer
fronteiras mais claras entre as manifestações
esportivas e precisar a relação entre esporte e
educação, o que repercute na estruturação do
93 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
8 ESCOBAR, Micheli O. Transformação da Didática: Construção da Teoria Pedagógica como Categorias da Prática Pedagógica - Tese de Doutoramento. UNICAMP, Campinas, 1997.9 TAFFAREL, Celi. Desporto Educacional: Realidade e Possibilidades das Políticas Governamentais e das Práticas Pedagógicas nas Escolas Públicas. 1º Conferência Nacional de Educação Cultura e Desporto. Brasília, 22 a 23 de novembro de 2000.
Sistema Nacional de Esporte e Lazer. Até aqui,
apresentam-se dois desafios a serem superados
no esforço de construção de um novo Sistema.
Primeiro, revisar e ajustar a legislação esportiva
para adequá-la a conceitos mais precisos e
contemporâneos e, segundo, explicitar a forma de
materialização da relação esporte-educação.
No plano das políticas públicas, como ação de
governos populares, deve-se inicialmente superar
a ideia da pirâmide esportiva e a perspectiva de
que a finalidade do sistema esportivo é produzir
os atletas campeões e os consumidores de
produtos.
Algumas considerações sobre a relação esporte-
educação podem contribuir com o debate. O
trato diferenciado e crítico do esporte não deve
afastar os alunos do esporte criticado, mas, dirigir
esse contato através de uma “transformação”
que garanta a preservação do significado, a
vivência de sucesso nas atividades e a alteração
de sentidos através da reflexão pedagógica. Tudo
isso dentro de um programa que dê conta do
percurso do aluno no processo de apreensão do
conhecimento, ou seja, de um currículo para a
Educação Física8.
O esporte traz consigo, na sua origem, a
cultura do povo, modificada e transformada em
produto de consumo, portanto, traz também
possibilidades contraditórias estabelecidas em
sua própria dinâmica, de forma que é possível
enfatizar situações que privilegiam a solidariedade
sobre a rivalidade, o coletivo sobre o individual, a
autonomia sobre a submissão, a cooperação sobre
a disputa, a distribuição sobre a apropriação, a
abundância sobre a escassez, a confiança mútua
sobre a suspeita, a descontração sobre a tensão, a
perseverança sobre a desistência e, além de tudo,
a vontade de continuar jogando em contraposição
à pressa para terminar o jogo e configurar
resultados. A Educação Física, disciplina que trata
da cultura corporal no interior da escola, tem aí
um papel fundamental.9
Faz-se imprescindível a realização de análises
mais rigorosas e radicais da realidade social
atual, especialmente no interior da escola, e
a elaboração de uma teoria pedagógica mais
avançada que reconheça a cultura corporal como
objeto de estudo da disciplina Educação Física,
sem perder de vista os objetivos relacionados
com a formação corporal, física, dos alunos,
mas situando-os no âmbito da vida real de uma
sociedade de classes. Entende-se por avançada
uma teoria que defenda a historicidade da cultura
e a necessidade da sua preservação através da
participação coletiva do povo na sua produção
e evolução no marco de um projeto histórico
anticapitalista, no qual “cultura” recupere o seu
significado real de resultado da vida e da atividade
do homem em busca da sua superação. Uma
teoria que reconheça a participação da classe
trabalhadora na produção da cultura de modo
que se preserve a memória nacional e se tenha
como perspectiva o desenvolvimento omnilateral.
Desta forma, a Educação Física estará cumprindo
sua responsabilidade social e justificando sua
razão de ser e de estar na escola.
A construção de alicerces teóricos para a Educação
Física é um empreendimento coletivo e de grande
esforço, especialmente quando as dificuldades
têm se avolumado sob o peso da paralisação,
quase generalizada, das ações em relação à área.
94Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
Essa realidade impõe o resgate do significado
pedagógico das aulas de Educação Física cuja
perda ficou demonstrada na exclusão, no próprio
interior da escola, de milhares de crianças que
foram afastadas, e continuam sendo, da prática
das atividades corporais, jogos e esportes e que
vêem desqualificadas suas aptidões antes mesmo
de terem a chance de se apropriar do conhecimento
necessário ao seu desenvolvimento.
Os Especialistas do Grupo Financiamento também
reconhecem que quaisquer conceituações sobre
as dimensões esportivas devem ser elaboradas
com base na natureza histórica das atividades
corporais e do esporte, assim afirmam “o esporte
pode ser compreendido como uma manifestação
da cultura humana que, ontologicamente,
contem como elementos constitutivos da ação
do ser humano dotado de uma concepção social
de indivíduo, mundo e sociedade, uma práxis
sócio-educativa (formal e informal) e participativa
(devido à natureza normativa que regula o binômio
cooperação-competição). Além disso, o esporte
implica a busca do alcance de níveis diferenciados
de desempenho e rendimento seja qual for o tipo
de envolvimento e engajamento corporal.
Como fenômeno e prática social, o esporte é
construído e situado em circunstâncias históricas
determinadas e portanto, sujeito, de um lado, a
refletir manifestações hegemônicas do sistema
sócio-político e econômico vigente e, do outro,
expressar manifestações contraditórias ao
sistema.
Em todo momento, reflexões sobre possíveis
classificações e conceituações do esporte devem
ter como pressuposto que o esporte é uma
atividade humana, historicamente criada e
socialmente construída. A criação das atividades
da cultura corporal e esportiva se relaciona ao
caráter dos processos de produção, por exemplo,
os temas que inspiravam os jogos lúdicos na
antiguidade grega eram a caça, a guerra, a vida,
os hábitos dos animais, o trabalho de semear,
cultivar e colher. Também os jogos expressivos,
nos quais se originou a arte cênica - a mímica e
a pantomima - modelavam-se nos atos da vida
cotidiana cuja execução era necessária na luta
pela existência. A infinita variedade de jogos,
entre os quais os de cunho competitivo que mais
freqüentemente recebem o nome de esportes,
nasceram das imagens lúdicas, estéticas, artísticas,
combativas, competitivas e de outros âmbitos
de ação, provocadas na consciência do homem
pelas relações ideológicas, políticas e filosóficas
originadas nos processos de produção da sua
existência.
O homem, como único ser que realiza a atividade
reflexiva, modifica as imagens ideais, o projeto das
coisas sem modificar a coisa mesma, por isso ele
foi capaz de transformar em jogos as atividades de
trabalho, essencialmente criadas como objetos de
necessidade e de ação e é, por isso, que o esporte
deve ser tratado na escola como um importante
conteúdo da cultura corporal e abordado como uma
atividade histórica, culturalmente desenvolvida,
que pode ser realizada com diversas perspectivas,
recreativa, lúdica, terapêutica, estética e outras
que, não apenas, aquela meramente competitiva
excludente.
A abordagem histórica permite ver, sob o
emaranhado das explicações sobre o esporte, que
ele é uma atividade corporal historicamente criada
e socialmente desenvolvida em torno de uma das
expressões da subjetividade do homem, o jogo
lúdico, que não objetiva resultados materiais. O
traço primordial do esporte, jogos ou atividades
esportivas e inseparável do lúdico é o caráter
competitivo que tem se convertido na força mais
motivadora para a afirmação e disseminação
da sua prática. Essa segunda peculiaridade tem
95 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
atraído e concentrado os interesses de consumo,
exploração e lucro próprios do modo de produção
capitalista que investe, maciçamente, nas práticas
de maior competitividade e espetaculosidade.
A competitividade e a espetaculosidade são a
alavanca da transformação do lúdico em trabalho.
No jogo praticado pela satisfação de interesses
subjetivos - lúdicos - o produto da atividade é
o prazer dado pela própria satisfação desses
interesses. No jogo de espetáculo, quem joga o
faz por dinheiro, portanto, o produto da prática
é separado do processo de produção. O lúdico se
extingue sob o peso dos salários astronômicos, dos
mega patrocínios comerciais e da competitividade
elevada ao mais alto grau.
Um dos graves problemas gerados por essa
transformação, e que exige uma cuidadosa
abordagem pedagógica, é o da violência levada ao
extremo, a violência do atleta contra si mesmo e
que é exercida, especialmente, por meio de drogas
que alargam artificialmente os limites do próprio
corpo na busca da performance que assegura
medalhas e somas consideráveis de dinheiro.
As atividades da cultura corporal preenchem
uma função indispensável para a formação
ampla do indivíduo. Sua presença no currículo
escolar da Educação Básica é de importância
extraordinária, pois desempenham uma função
social de resposta à necessidade humana de
equilíbrio do desenvolvimento da personalidade e
das condições de saúde. É por isso que, na escola,
o esporte deve ser defendido das deformações
impostas pelo seu uso, apenas, como instrumento
de exploração e lucro.
A competição precisa ser conceituada e qualificada
pela teoria educacional e pela teoria pedagógica. A
primeira explicando o tipo de homem que precisa
ser formado e, a segunda, determinando a base
pedagógica comum às metodologias específicas,
entre elas a Educação Física. A prática pedagógica
do esporte na escola deve preservar a natureza
lúdica do jogo colocando como aspecto central
da intenção pedagógica o jogo que não objetiva
resultados materiais. Mas, as contradições não
podem ser ignoradas. O caráter competitivo é uma
força motivadora para a divulgação e afirmação
da prática do esporte, sendo assim, é necessário
desenvolver o ensino por meio de práticas
criativas, solidárias, nas quais o fundamental não
seja o sobrepujar e sim, o aprender e participar.
Não há jogo sem competição, por isso, essas
práticas devem concretizar experiências de efetiva
solidariedade, por exemplo, em que o coletivo
se sobreponha ao individual; se defenda a
solidariedade, a tolerância e o respeito humanos;
se promova a compreensão de que jogo se faz
"a dois", de que é diferente "jogar com" o
companheiro do que jogar "contra" ele.
Cabe ao Ministério do Esporte intervir com
fundamentos científicos sobre o mundo do
esporte e ser uma referência obrigatória nos temas
relacionados à questão esportiva em todos os seus
âmbitos, dessa forma evitando que as políticas
sejam contraditórias e conflitantes do ponto de
vista do cumprimento das metas. É evidente a
impossibilidade de conceituar possíveis dimensões
esportivas por simples especulação. Um conceito
só poderá emergir a partir da estruturação real das
práticas que serão consideradas enquanto projeto
de expansão do acesso e da universalização do
esporte.
Questão do lazer
Nos debates entre os especialistas foi apontado
ao lazer em seu sentido amplo. De acordo com
essa posição e, reconhecendo a amplitude das
manifestações do lazer, o lazer incorporado ao
Sistema Nacional de Esporte e Lazer seria o lazer
96Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
esportivo. Todavia, os Especialistas ressaltaram a
importância de ter muito claro a abrangência do
conceito de lazer para não rivalizar com outros
ministérios.
A questão do lazer num Sistema cuja estrutura
é direta e objetivamente para o esporte, foi
claramente evidenciada nas discussões do Grupo I -
Estrutura: Organização, Agentes e Competências.
O lazer extrapola a prática esportiva e esse
limite deve ser considerado prioritariamente.
Um Sistema de Esporte necessariamente deve
incorporar com destaque a dimensão esportiva do
lazer, entretanto, um Sistema de Lazer vai muito
além da prática esportiva. Exige a mobilização
de agentes públicos e privados de vários outros
setores como cultura, educação, saúde, meio
ambiente, desenvolvimento urbano, trabalho,
entre outros que, pelas suas particularidades
estruturais - conteúdo e forma do lazer - exigem
compor um Sistema institucional próprio.
O Grupo II afirmou que “partindo da compreensão
do lazer como a cultura entendida em sentido
amplo, praticada, assistida ou conhecida no
tempo-espaço disponível, com característica de
atitude de escolha desinteressada, prazer e livre
adesão, o lazer deve fazer parte do sistema, da
mesma forma que o esporte, uma vez que a
aproximação lazer - esporte - Educação Física é
histórica. Como campo de intervenção, tanto no
setor público como no setor privado, remonta
ao início do século XX, observando-se assim,
historicamente, tanto no Brasil quanto no exterior
o início de um processo mais sistematizado na
área a partir dos segmentos da Educação Física.
Na Constituição de 1988, o lazer consta do título
2, cap. 2, artigo 6º como um dos direitos sociais.
Mas, só é tratado, quanto a formulação de ações
no título 8º cap. 3 sessão 3, do desporto, no
artigo 217, no 3º e último parágrafo do item 4: “o
poder público incentivará o lazer como forma de
promoção social”. Grande parte das constituições
estaduais e das leis orgânicas dos municípios
acompanharam a constituição federal, portanto,
disse o Grupo, o Ministério do Esporte deveria
assumir o protagonismo de ações inter-setoriais
com os demais órgãos do Governo Federal”.
O Grupo III - Gestão e Controle Social estendeu
ao Lazer o que chamou de “preocupação
conceitual” afirmando que, sobre este, sequer
há uma diferenciação que possa dar diretrizes
às políticas públicas. Sugeriu que as discussões
sobre conceitos fossem remetidas a um Encontro
Nacional, que tenha por pauta, exclusivamente,
o debate conceitual das dimensões esportivas e
de lazer. Ressaltou que, antes da realização desse
Encontro, seria necessário que o Ministério do
Esporte efetuasse um levantamento prévio com
autores que estudem as temáticas acima aludidas.
“Dessa forma, teríamos, por ocasião da realização
do Encontro, um acúmulo inicial disponível para
os debatedores”, manifestaram.
E o debate continua...
É explícita a dificuldade de pensar o Sistema
como um todo, de compreender que a visão
de totalidade implica formas diferentes de
abordagem dos problemas de gestão da prática
esportiva para o atendimento universal. Não
são apenas os recursos financeiros os que
asseguram a mobilização do Sistema para resolver
problemas como o esporte da escola, o esporte
de portadores de necessidades especiais e pessoas
deficientes, o esporte de alto rendimento ou
outros. Os problemas serão resolvidos somente
quando mobilizarem simultaneamente os recursos
financeiros, políticos e humanos numa forma de
ação interdisciplinar e inter-setorial, desse modo
otimizando o esforço de todos.
97 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
Cabe ao Ministério do Esporte intervir com fundamentos científicos sobre o mundo do esporte e ser uma referência obrigatória nos temas relacionados à questão esportiva em todos os seus âmbitos, dessa forma evitando que as políticas sejam contraditórias e conflitantes do ponto de vista do cumprimento das metas. É evidente a impossibilidade de conceituar possíveis dimensões esportivas por simples especulação. Como foi dito, um conceito deve emergir da estruturação real das práticas que serão consideradas enquanto projeto
de expansão do acesso e da universalização do
esporte.
Assim, os especialistas concluíram seus
apontamentos e reflexões referentes a análise das
Resoluções da II CNE, no tocante às condições
necessárias para a estruturação do novo Sistema
Nacional de Esporte e Lazer.
Sem pretensão de ter esgotado esse tema, o grupo
propõe que o debate seja aprofundado.
Fotos de Francisco Medeiros
Fórum virtual
Debate sobre a concepção do Sistema Nacional de Esporte e Lazer
100Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
Organização:
Cássia Damiani, Micheli Ortega Escobar e Juliana de Oliveira Freire.
Elaboração:
Cássia Damiani, Gianna Lepri Perim, Leila Mirtes Santos de Magalhães Pinto, Micheli Ortega Escobar e Ricardo Nascimento de Avellar Fonseca.
101 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
PRESSUPoSToS DA CoNCEPÇÃo Do SISTEMA NACIoNAL DE ESPoRTE E LAZER
O Fórum Virtual foi criado para ser um espaço
de produção sobre as discussões dos grandes
problemas elaborados sobre as concepções do
novo Sistema Nacional de Esporte e Lazer, em
relação aos eixos estrutura: organização, agentes
e competências, recursos humanos e formação,
gestão e control social, e financiamento.
Teve como objetivo a aprofundamento teóricos
sobre os problemas e discussões da II Conferência
Nacional do Esporte e da Reunião de Especialistas
sobre o Sistema Nacional de Esporte e Lazer, de
onde surgiram propostas de divulgar e aprofundar,
de forma participativa e organizada, as discussões
sobre os óbices do atual Sistema, que são imprecisos
e insuficientes, dessa reunião surgiu a motivação
para criar o Fórum Virtual sob coordenação do
Ministério do Esporte.
Os pressupostos teóricos e os problemas
apresentados a seguir, expressam a síntese do
debate acumulado até o momento sobre o
conceito “esporte” no novo Sistema, devem
orientar os participantes do Fórum Virtual sobre o
seu conteúdo e preparar o debate para o Encontro
Nacional.
O Fórum Virtual promoveu, sobre um patamar
teórico qualitativamente mais avançado, a
discussão sobre as limitações que o atual Sistema
Esportivo Nacional impõe ao desenvolvimento do
esporte no país, em especial, à formação de atletas
e à obtenção de resultados mais expressivos no
esporte de alto rendimento e à participação massiva
e constante da população na prática esportiva.
A reconstrução do atual Sistema demanda
uma abordagem de totalidade que contemple,
simultaneamente, as relações intrínsecas entre
a estrutura, a organização, o financiamento, a
gestão, o controle social, a formação e os recursos
humanos em função da atividade que será
desenvolvida e dos serviços que serão prestados
por cada uma das entidades que comporão o
Sistema à luz dos princípios, diretrizes e objetivos
traçados nos parâmetros da Política Nacional de
Esporte (Brasília, 2005), nos subsídios emergentes
da II Conferência Nacional do Esporte (Brasília,
2006) e no Plano Nacional de Desenvolvimento do
Esporte (Brasília, 2007), que indicam como desafio
para o novo Sistema a democratização do acesso,
o desenvolvimento humano e a inclusão social, o
fomento da ciência e tecnologia e a qualificação do
esporte de alto rendimento no país.
Entre os obstáculos ao desenvolvimento esportivo,
é preponderante a inadequação da legislação
esportiva (Lei 9615/98) que trata o esporte de
forma fragmentada, em partes denominadas
“manifestações esportivas”, e o classifica
arbitrariamente como: “desporto educacional”,
“desporto de participação” e “desporto de
rendimento”. Objetivamente, esses são apenas
nomes atribuídos para atender as questões legais e
administrativas, pois determinam regras e objetivos
para uma dada forma de prática esportiva descolada
do movimento real do esporte. O “esporte” como
objeto do Sistema, não pode ser tratado como um
simples conceito esvaziado de contradições, mas
como categoria que explica a prática esportiva
como atividade humana historicamente criada e
socialmente desenvolvida em torno de uma das
expressões da subjetividade do homem, o jogo
lúdico, que não objetiva resultados materiais. Desde
suas origens, essa prática se dá no movimento
do jogo lúdico ao jogo competitivo, vez que,
quanto mais aguda a competição, mais se afasta
do lúdico. Esses pólos foram antagonizados em
razão da incompreensão de que, a competição,
é intrínseca ao lúdico e que, se ambos não co-
existem, é em razão dos interesses e necessidades
dos participantes, das instituições em que a prática
se realiza ou das políticas que as orientam.
102Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
Se há necessidade de se conceituar determinadas características que a prática esportiva assume, esse conceito deve emergir da própria prática, seja de formação, lazer ou alto rendimento. Sendo assim, deve se entender “formação esportiva” como o processo de apropriação do conhecimento de diversos conteúdos da cultura corporal, entre eles os do esporte, seguindo sempre, metodologicamente, o caminho do lúdico ao competitivo que permita o acesso, tanto ao esporte de lazer, prática em que deve prevalecer o sentido lúdico-esportivo caracterizado pela livre escolha (PNE, 2005), quanto ao de “alto rendimento” e seus treinamentos especializados.
Abordar a atividade esportiva no movimento do lúdico ao lúdico competitivo aumenta a oportunidade da aprendizagem e da prática do esporte e, portanto, da formação de futuros atletas em muitas instituições que hoje não fazem parte da estrutura do alto rendimento, entre as quais a escola. Mas, ao se inserir no Sistema - por algum tipo de vínculo a ser determinado - a escola deve assumir uma nova teoria pedagógica do esporte que recupere a unidade teoria-prática e devolva ao aparelho conceitual do esporte o seu conteúdo real, de modo que não se banalize o conhecimento da cultura corporal, especialmente o dos jogos e de outras atividades esportivas, pela repetição mecânica de técnicas esvaziadas da valorização subjetiva que deu origem a sua criação e que não restrinja o conhecimento oferecido aos alunos para que as atividades e modalidades esportivas que mais atraem às crianças e jovens possam ser apreendidas na escola por todos, independente de condições físicas, de raça, etnia, gênero ou condição social, condição básica para a ampliação da participação esportiva no país.
Portanto, o desafio de desenvolver o esporte em sua plenitude implica aprofundar suas relações intersetoriais, em especial, com o lazer. Isso exige reconhecer o lazer como direito, como dimensão
da cultura demarcada pela apropriação, por
livre escolha, de determinado tempo e espaço
disponíveis, para realizar práticas culturais com
diversos sentidos e significados - lúdicos, estéticos,
artísticos, agonísticos ou outros - considerando, em
especial, as práticas esportivas formativas, criativas,
construtivas e o acesso aos espetáculos culturais
e esportivos de diferentes níveis. Tais práticas
comprometidas com a elevação da qualidade de
vida e da consciência social da população, devem
superar a visão compensatória e funcionalista das
políticas públicas de esporte e de lazer e buscar a
perspectiva da emancipação humana.
Problemas
1. Um novo Sistema de Esporte e Lazer exige
a explicitação dos seus nexos e relações com a
escola. Seria a escola a base para apreensão do
conhecimento do esporte, para a formação esportiva,
para a democratização do esporte e a possibilidade
de solidificação da cultura corporal, portanto, da
afirmação do esporte como direito? Se a resposta
for sim, na escola devem ser criadas as condições
de acesso à prática do esporte e ao conhecimento
da cultura corporal para todos os alunos. Mas,
também se afirmaria, implicitamente, que cabe à
escola responsabilizar-se pelo desenvolvimento da
aptidão física e, conseqüentemente, assumir como
objeto de estudo o esporte em suas características
de alto rendimento e de lazer. A interpretação
do que seja a “aptidão física” - sem a qual não
se realiza nenhuma atividade humana - é um dos
principais problemas enfrentados pela escola e que,
até hoje, permanece sem solução devido à confusão
conceitual sobre a matéria. Qual o conceito de
“aptidão física” que deve orientar a prática do
esporte escolar? O desenvolvimento da aptidão
física esportiva é uma tarefa da escola? A reflexão
sobre a cultura corporal é oposta e contraditória à
aptidão física? É fundamental que o debate resulte
103 Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
em indicações sobre a forma que devem assumir a estrutura e a organização, a gestão, a formação, o financiamento e seu aparato legal e normativo, para expressar as perspectivas aqui abordadas para o novo Sistema Nacional de Esporte e Lazer.
2. A questão do lazer num Sistema cujo objeto central é o esporte, merece uma reflexão sobre a relação esporte-lazer presente na articulação das práticas existentes, tanto no sistema esportivo, como no sistema de lazer que, informalmente, existe no País. O lazer no novo Sistema deve ser pautado pela relação direta com o esporte e uma forte transversalidade que perpasse diversos setores das políticas públicas o que, ao mesmo tempo, requer centralidade na gestão. Isso significa que o lazer, no sistema, deve desenvolver e incentivar políticas intersetoriais - pois podem mobilizar vários outros setores como cultura, educação, saúde, turismo, meio ambiente, desenvolvimento urbano, trabalho, entre outros - não podendo, portanto, assumir as ações correlatas ao tema de maneira exclusiva e isolada. Mas, como uma prática que possibilita a formação, o acesso ao conhecimento, produção e usufruto de bens culturais lúdicos e esportivos diversificados, deve-se explicar: Qual a forma de dimensionar o papel do lazer neste Sistema, considerando que o mesmo ultrapassa a fronteira de um sistema específico? Que marcos legais e ações podem ser implementados no novo Sistema que consolidem a relação esporte e lazer com qualidade? e, Quais devem ser as características da estrutura e organização, da gestão, formação e do financiamento que expressem as perspectivas aqui abordadas para o Sistema Nacional de Esporte e Lazer?
3. O atual Sistema aborda o esporte em manifestações, o que condiciona o movimento do financiamento do esporte numa forma fracionada e diferenciada que, tradicionalmente, tem privilegiado o alto rendimento em atenção a interesses políticos e ideológicos. Embora considere o esporte
educacional como prática diferenciada dos moldes do alto rendimento, financia com predominância os jogos escolares que assumem, atualmente, características olímpicas de alto-rendimento. Quando se pretende um novo Sistema em que o financiamento contemple de forma equânime as diferentes práticas esportivas, que democratize o acesso, possibilite a massificação esportiva e que, ao mesmo tempo, qualifique o alto rendimento, necessário se faz a substituição da legislação vigente que o condiciona e não mudanças parciais. É a nova prática que se impõe ao Sistema a que vai determinar a necessidade de uma nova lei que regule novas normas de financiamento com vistas à ampliação da participação esportiva - tendência observada atualmente na destinação orçamentária do Governo Federal, que amplia o financiamento para a inclusão social pelo esporte, a exemplo dos Programas Segundo Tempo, Esporte e Lazer da Cidade e Pintando a Cidadania e, ao mesmo tempo, implementa o Programa Bolsa Atleta e realiza grandes eventos esportivos de alto rendimento. Como abordar, portanto, o novo Sistema no aparato legal e normativo? Que características devem ter a estrutura e a organização, como deve ser a gestão, a formação e o financiamento que expressem as perspectivas aqui abordadas para o Sistema Nacional de Esporte e Lazer?
104Ministério do Esporte ••• Esporte e Lazer - Políticas de Estado ••• Caderno II
O Ministério do Esporte executou duas bem sucedidas edições da Conferência Nacional do Esporte, em 2004 e 2006, o que conferiu resultados importantes, como a definição da Política Nacional do Esporte (2005), as bases do Sistema Nacional de Esporte e Lazer e a conquista da Lei de Incentivo ao Esporte. Além disso, ampliou a sua capacidade administrativa e operacional para fortalecer as ações institucionais.
Muitas ações foram materializadas a partir das indicações feitas nas conferências como a Lei de Incentivo, as medidas para o cumprimento do Estatuto do Torcedor, a reestruturação do Conselho Nacional do Esporte, o aperfeiçoamento da gestão dos programas Segundo Tempo, Esporte e Lazer da Cidade e o Bolsa Atleta, além da ampliação do acesso e a qualificação desses programas, o fomento a produção e divulgação do conhecimento do esporte e do lazer, a deflagração do processo do Diagnóstico Nacional de Esporte, o fortalecimento do campo institucional do esporte com a criação de órgãos próprios de gestão do esporte e lazer, a revisão de quesitos importantes da legislação do esporte, o impulso ao esporte olímpico e paraolímpico com a realização dos Jogos Pan-americanos, a conquista da sede da Copa do Mundo 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, dentre outras iniciativas, são resultados diretos desse debate nacional.
A II Conferência deixou como desafio para edição seguinte, a necessidade de se definir o projeto do Sistema Nacional de Esporte e Lazer e, ao mesmo tempo, um horizonte estratégico para as políticas de esporte e lazer. Para tal desafio, lançou-se a idéia de um plano decenal que defina as prioridades, as metas, os papéis, os compromissos de cada segmento e as tarefas necessárias para a conquista de um novo Sistema. Que promova a inclusão social, garanta a democratização do acesso ao esporte e ao lazer rumo a sua universalização e que assegure, assim, um novo patamar para o esporte brasileiro.
Demonstrar os caminhos trilhados pelo Ministério do Esporte, no processo de construção participativa da agenda política do esporte e lazer no Brasil, é a intenção desse Caderno.
Considerações Finais