Políticas culturais em conceição do coité um estudo do sistema municipal de cultura

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  • 1. UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIARAIANE LOPES CARNEIROPOLTICAS CULTURAIS EM CONCEIO DO COIT: UM ESTUDO DO SISTEMA MUNICIPAL DECULTURAConceio do Coit 2011

2. RAIANE LOPES CARNEIROPOLTICAS CULTURAIS EM CONCEIO DOCOIT:um estudo do Sistema Municipal de Cultura Trabalho de concluso apresentado ao curso de Comunicao Social - Habilitao em Radialismo, da Universidade do Estado da Bahia, como requisito parcial de obteno do grau de bacharel em Comunicao, sob a orientao da Professora Hanayana Brando Guimaraes Fontes Lima. Conceio do Coit 2011 3. RAIANE LOPES CARNEIROPOLTICAS CULTURAIS EM CONCEIO DO COIT:um estudo do Sistema Municipal de Cultura Trabalho de concluso apresentado ao curso de ComunicaoSocial Habilitao Radialismo, da Universidade do Estado da Bahia, sob a orientao da Professora Hanayana Brando Guimaraes Fontes Lima. Data:____________________________ Resultado:________________________ BANCA EXAMINADORA Prof.(orientador)__________________ Assinatura________________________ Prof._____________________________ Assinatura________________________ Prof._____________________________ Assinatura_________________________ 4. A meu mestre e amigo professor Jos Nildo, queaguou a minha sede por conhecimento. 5. AGRADECIMENTOSAgradeo ao Esprito Santo por me dar fora para vencer cada dificuldade chegando at essa conquista.Aos meus pais, Rilza e Joo e, meus dois irmos, Cassio e Cassiano que mesmo distante esto presente em minha vida. Ao companheirismo das colegas Bruna Bessa, Juara Oliveira e, Mevolandia Lima que setornaram irms do peito.Ao amigo Jos Carneiro, responsvel pelo inicio da minha atuao profissional no universocomunicacional.Aos primos Jussi e Lineu, pelo acolhimento quando tanto precisei. A professora Vilbgina Monteiro, profissional a qual me espelho e uma das responsveis pelo desejo de pesquisar na rea de cultura. A orientadora Hanayana Brando, pela amizade, compreenso e incentivo na orientao. Aos representantes territoriais de cultura, Cleber Souza Meneses e Izaias Junior dos ReisSilva, por todo o apoio a minha pesquisa.A superintendente municipal de cultura Marialva Carneiro, figura imprescindvel nessapesquisa, que sempre esteve solcita a me ajudar. E de modo geral a todos os amigos e familiares que fazem parte da minha vida e, emconsequncia dessa to sonhada conquista, meu muito obrigada! 6. Fazer poltica expandir sempre as fronteirasdo possvel. Fazer cultura combater semprenas fronteiras do impossvel! Jorge Furtado 7. RESUMOConceio do Coit encontra-se em uma posio de destaque no Territorial do Sisal e noestado da Bahia, sendo um dos primeiros municpios a construir um Sistema Municipal deCultura, elemento que institucionaliza e organiza o campo cultural, sendo significativo para odesenvolvimento das polticas culturais no municpio, por proporcionar uma organizao emum campo que por muito tempo esteve margem da agenda poltica do municpio e do pas.O presente trabalho busca apresentar e discutir a construo desse sistema e entender, atravsda pesquisa realizada em forma de entrevistas semiestruturada com os membros do ConselhoMunicipal de Cultura e, do referencial terico consultado, o pioneirismo e a posio dedestaque a qual o municpio se encontra.Palavras - chave: cultura, municpio, polticas culturais, sistema de cultura. 8. ABSTRACTConceio do Coit is in a prominent position in the Territorial and Sisal in the State of Bahia,one of the first municipalities to build a Municipal system of Culture, which institutionalisesand organizes the cultural field, being significant for the development of cultural policies in themunicipality, by providing an organization in a field that long was on the sidelines of thepolitical agenda of the city and country. This work seeks to present and discuss the constructionof this system and understand, through the research conducted in the form of semiestruturadainterviews with the members of the Municipal Council of culture and of theoretical referenceconsulted, the pioneering and prominent position which the municipality is located.Keywords: culture, cultural policies, municipality, culture system. 9. LISTA DE FIGURASFigura 1-Mapa dos Territrios de Identidade da Bahia...........................................................24Figura 2-Mapa do Territrio do Sisal.......................................................................................25Figura 3-Desenho do Sistema Nacional de Cultura.................................................................34Figura 4-Desenho do Sistema Estadual e Cultura....................................................................41Figura 5-Desenho do Sistema Municipal de Cultura...............................................................46 10. LISTA DE TABELASTabela 1: Eixo I Valorizao e Promoo das Expresses Culturais .....................................58Tabela 2: Eixo II Memria e Cultura.......................................................................................55Tabela 3: Eixo III Desenvolvimento da Gesto Cultural.........................................................60Tabela 4: Eixo IV Arte e Educao.........................................................................................60Tabela 5: Aes do programa estratgico I.............................................................................62Tabela 6: Aes do Programa II..............................................................................................63Tabela 7: Aes do programa estratgico III..........................................................................64Tabela 8: Aes do programa estratgico IV..........................................................................65 11. LISTA DE SIGLASANATEL - Agencia Nacional de TelecomunicaesCEC - Conferncia Estadual de CulturaCMC - Conferncia Municipal de CulturaCNC - Conselho Nacional de CulturaCNC - Conferncia Nacional de CulturaCNPC - Conselho Nacional de Poltica CulturalIBGE - Instituto Brasileiro de Geografia EstatsticaMINC - Ministrio de CulturaPEC - Plano Estadual de CulturaPDTC - Plano de Desenvolvimento Territorial de CulturaPMC - Plano Municipal de CulturaPNC - Plano Nacional de CulturaPTDS - Plano Territorial de Desenvolvimento Sustentvel do SisalSEC - Sistema Estadual de CulturaSECULT - Secretaria de CulturaSMC - Sistema Municipal de CulturaSNC - Sistema Nacional de CulturaUFBA - Universidade Federal do Estado da BahiaUNEB - Universidade do Estado da Bahia 12. SUMRIOINTRODUO .......................................................................................................................121. POLTICAS CULTURAIS................................................................................................141.1 CONCEITO DE POLTICAS CULTURAIS......................................................................141.2 DEMOCRACIA, PARTICIPAO E CIDADANIA........................................................151.3 POLTICAS CULTURAIS NO BRASIL ..........................................................................171.4 POLTICAS CULTURAIS NA BAHIA.............................................................................191.5 POLTICAS CULTURAIS PARA MUNICPIO................................................................211.6 TERRITRIO DO SISAL ..................................................................................................221.7 CONCEIO DO COIT..................................................................................................292. SISTEMA DE CULTURA................................................................................................. 312.1 CONCEITO DE CULTURA...............................................................................................312.1.1 SISTEMA NACIONAL DE CULTURA.........................................................................322.1.2 PLANO NACIONAL DE CULTURA.............................................................................352.1.3 CONSELHO NACIONAL DE POLTICA CULTURAL...............................................362.1.4 CONFERNCIA NACIONAL DE CULTURA..............................................................372.2 SISTEMA ESTADUAL DE CULTURA............................................................................392.2.1 CONFERNCIA ESTADUAL DE CULTURA..............................................................412.2.2 CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA.....................................................................432.2.3 PLANO ESTADUAL DE CULTURA.............................................................................443. SISTEMA MUNICIPAL DE CULTURA DE CONCEIO DO COIT...................453.1 CONSTRUO DO SISTEMA MUNICIPAL DE CULTURA......................................453.2 RGO OFICIAL DE CULTURA...................................................................................483.3 CONFERNCIA DE CULTURA......................................................................................493.4 CONSELHO MUNICIPAL DE CULTURA......................................................................513.5 PROGRAMA DE FORMAO E QUALIFICAO EM CULTURA..........................543.6 SISTEMAS DE INFORMAO E INDICADORES CULTURAIS ................................54 13. 3.7 INSTRUMENTO DE FOMENTO E FINANCIAMENTO................................................553.8 SISTEMA SETORIAL DE CULTURA. ...........................................................................563.9 PLANO DE CULTURA.....................................................................................................56CONSIDERAES FINAIS................................................................................................68REFERNCIAS.....................................................................................................................65ANEXOS ................................................................................................................................74 14. 11 15. 12INTRODUO Seguindo a linha das polticas culturais nacionais desenvolvidas no pas a partir daprimeira gesto do governo do presidente Lus Incio Lula da Silva (2003), o municpio deConceio do Coit (BA) iniciou pioneiramente a construo do seu Sistema Municipal deCultura. O municpio foi o primeiro do Territrio do Sisal, conhecido pela forte mobilizaodos movimentos sociais e, um dos dez primeiros do estado da Bahia a desenvolver essa ao.As discusses e demandas da cultura em Conceio do Coit sempre fizeram parte darotina da cidade, visto que essa possuidora de uma ampla diversidade cultural, mas assimcomo acontece em outros municpios brasileiros, esbarravam na ausncia de polticasculturais e, tambm na escassez de recursos para a rea capazes de efetivar sua realizao. O sistema construdo pelos trs nveis de gesto, federal, estadual e municipal, emparceria com a sociedade civil, que possui um papel de destaque nessa construo, poismesmo o Brasil tendo recuperado seu sistema democrtico h 26 anos, ainda pequena aparticipao social na construo de polticas pblicas. Esse trabalho est estruturado em trs captulos e tem como objetivo compreender oprocesso de construo do Sistema Municipal de Cultura de Conceio do Coit,identificando o pioneirismo do municpio em implantar o sistema e construir o plano decultura, problematizando o porqu desse pioneirismo e o seu processo de construo. Esse estudo se justifica pela contribuio que pode trazer ao campo de pesquisas daspolticas culturais, ainda em fase de formao com poucas pesquisas, alm de ser um trabalhoque busca registrar como este importante passo dentro do cenrio de elaborao das polticasculturais vem se desenvolvendo no Brasil, na Bahia e, mais especificamente no municpio deConceio do Coit. O primeiro captulo dedica-se a apresentar um arcabouo terico e conceitual capazde alicerar as discusses que sero apresentadas nos captulos seguintes. discutido oconceito de polticas culturais, um breve histrico dessas polticas no Brasil e na Bahia,relatando as mudanas ocorridas a partir do governo de Lula (2003) e Jaques Wagner (2007),que resultaram na poltica de construo do sistema de cultura. feito um breve relato depolticas culturais para municpio, visto que o objeto de estudo se encontra na esferamunicipal. So abordados de forma breve os conceitos de democracia, participao ecidadania, pertinentes ao debate uma vez que a construo do sistema considerada uma 16. 13poltica pblica de cultura. Por fim, elabora-se uma contextualizao do Territrio do Sisal edo municpio de Conceio do Coit. No segundo captulo discutido o conceito de cultura a partir da sua importnciapara o sistema de cultura. Busca-se apresentar mais especificamente os elementos queintegram o sistema nacional e estadual de cultura, dando prioridade aos itens que soconstrudos com a participao direta da sociedade, a exemplo da conferncia, conselho eplano de cultura. O terceiro captulo dedica-se ao estudo de caso da elaborao do Sistema Municipalde Cultura de Conceio do Coit, apresentando a sua composio, o processo de construoque envolveu a sociedade civil e o poder pblico, abordando o pioneirismo do municpio noterritrio e no estado. Metodologicamente, optou-se por utilizar uma reviso bibliogrfica, pesquisas emjornais, revistas, documentos, sites. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, com oento representante territorial da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia-SECULT, CleberSouza Meneses; a superintendente municipal de cultura de Conceio do Coit, MarialvaCarneiro de Carvalho; seis conselheiros municipais de cultura, previamente selecionados, emconsulta a superintendente de cultura que tambm presidente do conselho, sendo trs dasociedade civil: Marcos Barreto dos Santos (Conselho de Desenvolvimento Municipal -CDM); Edmundo Cardoso e Silva (Centro de Promoo da Educao, da Cultura e daCidadania - CPECC); Gedson Sampaio Costa (Associao Desportiva Coiteense - ADEC), etrs do poder pblico: Joilma Guimares Santos (Secretaria Municipal de Agricultura, MeioAmbiente e Ao Comunitria); Paulo Roberto Pinheiro Lopes (Secretaria Municipal daSade); Anaildo Nascimento de Carvalho (Secretaria Municipal de Assuntos Estratgicos,Juventude, Economia e Renda). Para complementar alguns dados e realizar esclarecimentosutilizou-se de contato por e-mail e telefone com funcionrios da Secretaria de Cultura doEstado e do Ministrio da Cultura. 17. 141 - POLTICAS CULTURAIS1.1 - CONCEITO DE POLTICAS CULTURAISDiscutir polticas culturais bem como conceitu-las no um tarefa muito fcil.Considerada um campo de estudo multidisciplinar e no uma cincia, seus estudos sorecentes e possuem lacunas dentro dos perodos histricos analisados.Na tentativa de estipular o seu surgimento, os estudiosos consideram trs momentossignificativos: as iniciativas polticas-culturais da Segunda Repblica Espanhola nos anostrinta; a instituio do Artes Council na Inglaterra na dcada de quarenta e a criao doMinistrio dos Assuntos Culturais na Frana, em 1959 (RUBIM, 2009, p.2), sendo o ltimoconsiderado o momento fundacional das polticas culturais, por representar uma interfernciapoltica no campo da cultura, que at ento era inexistente. A criao desse Ministrio oprimeiro do mundo, vem a influenciar outras naes, a exemplo do Brasil.Com a fundao da poltica cultural, a Organizao das Naes Unidas paraEducao, Cincia e Cultura - UNESCO) responsvel por internacionalizar o tema,desenvolvendo aes que a coloca na agenda pblica internacional.A partir de maio de 1968 toda a conjuntura poltica e social do mundo foi alterada e omodelo francs de poltica culturais entrou em crise, por ser considerado elitizado, com focona preservao patrimonial e artstico, e na construo da identidade nacional. Um novomodelo foi proposto, denominado de democracia cultural que busca trabalhar a cultura em suadiversidade e reconhecer a cultura produzida pelo povo (Rubim 2009). Segundo Rubim (2007), para uma ao no campo da cultura ser considerada umapoltica cultural, necessrio que ela acontea de forma sistemtica, podendo ser realizadapelo Estado, ONGS, associaes e por instituies privadas, contando com a participao dasociedade. Los estdios recientestienden a incluir bajo este concepto de intervenciones realizadas por el estado, lasinstitucionesciviles y los grupos comunitrios organizados a fin de orientar eldesarrollo simblico, satisfacerlas necessidades culturales de lapoblacin y obtener consenso para un tipo de orden o transformacin social. Pero esta manera de caracterizar elmbito de las polticas culturalesnecesita ser ampliada teniendo em cuentalel carcter transnacional de los processos simblicos y materiales em laactualidad (CANCLIN apud RUBIM, 2007 p. 148).11O estdio recente tende a incluir sob este conceito de intervenes feitas pelo Estado, instituies civis e gruposcomunitrios organizado para orientar o desenvolvimento do simblico, satisfazer as necessidades culturais dapopulao e obter consenso para um tipo de ordem ou de transformao social. Mas esta forma de caracterizar ocampo das polticas culturais precisa ser tendo expandido em cuental a dimenso transnacional dos processossimblica e material em hoje (CANCLIN apud RUBIM, p. 148 2007) 18. 15 Esse conceito de poltica cultural se aplica ao cenrio contemporneo no qual a culturavem ganhado cada vez mais centralidade, e contando com iniciativas diversas. Nessa novaconjuntura o nacional que era o foco anterior das polticas culturais ganha uma novaroupagem, tendo o desafio do dilogo entre os fluxos globais, regionais e locais, quedesenvolve a cultura (Rubim, 2009). Esse desafio discutido pelo autor resulta da nova dinmica social vivida nacontemporaneidade e conta com a participao de novos agentes culturais, a sociedade civilorganizada que vem lutado por seus direitos atravs de polticas que favoream a maioria. A sociedade civil compe- se de movimentos, organizaes, e associaes os quais captam os ecos dos problemas sociais que ressoam nas esferas privadas, condensam- nos e os transmitem, a seguir, para a esfera pblica poltica. O ncleo da sociedade civil forma uma espcie de associao que institucionaliza os discursos capazes se solucionar problemas, transformando-os em questes de interesse geral no quadro de esferas pblicas (TEIXEIRA, 2008 p. 21).A participao, que ser discutida melhor a seguir, um quesito fundamental emuma sociedade democrtica. Como ressalta Canedo (2008), o envolvimento da sociedaderefora o compromisso que os governantes devem ter no campo da cultura, que nunca estevecomo prioridade na pauta da poltica brasileira. nesse cenrio de mobilizaes, discusses,luta por espao, reconhecimento, que vem se construindo a poltica cultural contempornea.1.2 - DEMOCRACIA, PARTICIPAO E CIDADANIANa discusso contempornea de polticas culturais, os conceitos de democracia,participao e cidadania se entrelaam e so fundamentais na construo dessas polticas. Deorigem remota, esses conceitos so complexos e muitas vezes compreendidos de formaequivocada. A democracia brasileira, como relata Canedo (2008), para uma maioria estrelacionada a direitos civis como a liberdade e, a direitos polticos como o voto, que classificado como o pice da execuo da cidadania, o que podemos considerar um tristeequvoco, pois o exerccio da cidadania compreende a atuao poltica e social, a exemplo doacompanhamento dos governantes durante a gesto, o que pouco acontece. Covre (2007)discute que s h cidadania se houver a prtica da reinvindicao e, o exerccio da cidadaniapode resultar na construo de uma sociedade melhor. 19. 16Canedo (2009) relata que a dificuldade da populao brasileira em lidar com ademocracia pode ser resultado da sua formao colonial e escravocrata, em que a sociedade notinha espao de participao e as decises polticas aconteciam sempre de forma hierrquica eautoritria. A stima constituio brasileira, elaborada em 1988 na redemocratizao do pas,inclui a participao como elemento democrtico. Peruzzo (1998) classifica a participaopopular em trs categorias: Participao passiva, participao controlada e participao-poder.O sistema de cultura, objeto de estudo desse trabalho, se enquadra na participao poder, aqual, implica o exerccio da deciso partilhada e requer a existncia de canais desobstrudos,informaes abundantes, autonomia, corresponsabilidade e representatividade (PERUZZO,1998, p. 87). A participao como afirmam Toro e Wernek (2004), uma aprendizagem, um ato deliberdade, que resulta no empoderamento. O indivduo deixa de ser um receptor muitas vezespassivo e assume a condio de emissor-receptor ativo, o que nem sempre soa bem ao sistemapoltico dominante que, por mais democrtico que possa ser, est embasado em relaes depoder que constitui toda esfera social, poltica, econmica etc.Numa sociedade regida mais pelos sistemas de interesses que pelos de solidariedade,com uma marca da estratificao socioeconmica, na qual umas classes extrapolamoutras, a participao ser sempre uma guerra a ser travada para vencer a resistnciados detentores de privilgios (TEIXEIRA apud, ROCHA, 2002 p. 42). As polticas culturais no Brasil em boa parte da sua historia foram construdas sem aparticipao da sociedade em decorrncia da estrutura de ausncia, autoritarismo einstabilidade que o Estado tratou o campo da cultura Rubim (2007). Realidade que comea ase alterar em 2003, quando o Ministrio da Cultura classifica o direito a cultura comoprincpio de cidadania, e a participao da sociedade na construo de polticas culturaiscomeam a ser uma realidade que sai da teoria colocada pela Constituio. A partir de ento,o governo federal reestrutura o Conselho Nacional de Polticas Culturais, realiza seminriospor vrias partes do pas, convoca conferncias de cultura, constri em parceria com asociedade o Plano Nacional de Cultura, aes que representam a participao da sociedade naconstruo de polticas culturais, que deixam de ser elaboradas apenas para o artista cultural, epassa a abranger a populao em geral, pois a participao a concretude da cidadania.A luta pela consolidao da democracia participativa em nosso pas, se torna umaestratgia, utilizada pelos movimentos sociais, ONGS, igrejas etc. para efetivao da 20. 17 cidadania e, consequentemente, a instalao de uma sociedade mais justa e igualitria (ROCHA, 2009, p.30).1.3 - POLTICAS CULTURAIS NO BRASIL Na dcada de 1930 o cenrio poltico, cultural e econmico brasileiro passa portransformaes que resultam no que considerado pelos estudiosos, momento fundacionaldas polticas culturais no pas.Dois experimentos marcam o surgimento dessa poltica: a implantao do Ministriode Educao e Sade, em 1930 que tem a frente Gustavo Capanema e, a passagem de Mariode Andrade pelo Departamento de Cultura do estado de So Paulo (Rubim 2007). Esse doisnomes vem a construir aes que mudam o rumo da at ento inexistente poltica culturalbrasileira. O novo Ministrio elabora aes sistemticas no campo da cultura. criado oConselho Nacional de Cultura, o Servio do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, oInstituto Nacional do Livro, o Instituto Nacional do Cinema Educativo e Cultural, aSuperintendncia de Educao Musical e Artstica, legislado o Servio de RadiodifusoEducativa. Nesse momento a cultura passa a ser vista pelo menos teoricamente como direitode todos. Mesmo estando em uma secretaria de cultura municipal, Mario de Andrade criainovaes que vem a influenciar o campo da poltica cultural nacional. Mario da Andrade inova em: Estabelecer uma interveno estatal sistemtica abrangendo diferentes reas da cultura; pensar a cultura como algo to vital como o po; propor uma definio ampla de cultura que extrapola as belas artes, sem desconsidera-la e que abarca, dentre outras, as culturas populares; assumir o patrimnio no s como material, tangvel e pertinente aos diferentes estratos da sociedade; patrocinar duas misses etnogrficas s regies amaznica e nordestina para pesquisar suas populaes, deslocadas do eixos dinmico do pas e da sua jurisdio administrativa, mas possuidoras de significativos acervos culturais (RUBIM, 2007, p. 15). importante salientar que essas aes e toda poltica criada na era Vargas (1930-1945) so significativas, mas no atendem as demandas da cultura, pois so construdas comodiscute Rubim (2007, p. 03), de forma instvel e autoritria, com inteno de submete-la ainteresses autoritrios; us-la como fator de legitimao de brasilidade e nacionalismo. O perodo democrtico de 1945 a 1964 considerado sem muita interveno doEstado no campo cultural. Nesse momento h um crescimento da radiodifuso com a chegada 21. 18da TV no pas, criado o Ministrio da Educao e Cultura em 1953, h uma expanso dasuniversidades pblicas, aes apenas pontuais. No perodo da Ditadura Militar (1964-1985), novas instituies so criadas paraatender as demandas do momento, como a Fundao Nacional de Artes FUNARTE,Empresa Brasileira de Filmes EMBRAFILME, Servio Nacional de Teatro, ConselhoFederal de Cultura (CFC). H um grande investimento no desenvolvimento da indstriacultural, passando a cultura condio de mercadoria, e o regime usa dos meios decomunicao para propagar seus ideais construindo uma ideia de cultura nacional, ondepredomina a forma elitizada de pensar a poltica cultural, com foco na preservaopatrimonial e na valorizao da cultura letrada. Na redemocratizao do pas, em 1985, criado o Ministrio da Cultura, que rebaixado condio de secretaria em 1990 e volta a ser Ministrio em 1993. A criao dorgo no alterou o quadro das trs tristes tradies apontadas por Rubim (2007), de ausncia,autoritarismo e instabilidade do Estado na rea da poltica cultural, pois o rgo no possuauma estrutura de funcionamento, como funcionrios e recursos, no foram desenvolvidosaes sistemticas do campo cultural, mantendo assim as tristes tradies. Em 1986 promulgada a Lei Sarney, transformada na Lei Rouanet na dcada de 90,mecanismo de renncia fiscal, que tira o poder de deciso do Estado colocando para omercado, mesmo o recurso econmico sendo pblico. Ela continua a reforar a ausncia doEstado na elaborao de polticas culturais. Desde a sua fundao em 1930 at 2003, quando Lula ganhou a eleio presidencial,as polticas culturais brasileiras eram construdas de forma hierrquica e elitista sem a partiosocial. A partir de 2003 o Brasil vive uma grande transformao poltica que influencia aforma de pensar a cultura no pas. O MINC na gesto do artista baiano Gilberto Gil, amplia oconceito de cultura para o sentido antropolgico e abre espao para culturas at entomarginalizadas como a popular, indgena, afro-brasileira, que passam a ter visibilidade, o queno acontecia nos governos anteriores, onde a cultura era vista como um estandarte artsticoelitizado.Comea a se discutir a atuao do Estado na rea da cultura. As aes do Ministriodeixam de ser apenas para os criadores e produtores culturais, estendendo-se a toda asociedade brasileira. Nesse novo contexto entra em cena a participao da sociedade civil, naconstruo das polticas pblicas de cultura, atravs das consultas pblicas que passam a serrealizadas em todo o pas. 22. 19 As aes ministeriais que sempre estiveram concentradas no eixo Rio So Paulo,nesse novo momento das polticas culturais, comeam a se preocupar em criar projetos quecontemplem todas as regies do pas de acordo com as suas realidades. Outro fator derelevncia a no aceitao da dicotomia cultura popular versus cultura erudita. Cancline(2008) utiliza o termo hibridizao cultural para falar da juno das concepes de cultura,onde no mundo contemporneo elas se entrelaam. Essa concepo uma forma de trabalharcom toda a diversidade, respeitando as suas particularidades, como prope o Ministrio. Nessa perspectiva o quadro de ausncia, autoritarismo e instabilidade, comea asofrer alteraes. A abertura conceitual, que rejeita a viso elitista uma das primeirasmodificaes. A criao de polticas pblicas para a cultura que viabilizam a formao depolticas de estado uma superao dessas tristes tradies, em que as decises aconteciamde forma vertical, e a populao no tinha o direito de opinar. Nessa perspectiva est sendo desenvolvida no pas a poltica de construo eimplantao de sistemas de cultura, ao construda pelo Estado em parceria com a sociedade,que visa institucionalizar a mdio e longo prazo o campo da cultura.1.4 - POLTICAS CULTURAIS NA BAHIA A histria das polticas culturais na Bahia caminha na mesma linha da nacional,marcada por ausncia, autoritarismo e instabilidade Rubim (2007). A primeira ao no estadona rea de polticas culturais acontece em 1947 com a criao do Departamento de Culturavinculado Secretaria de Educao e Sade. As aes que comeam a ser construdas a partir de ento, sofrem rompimento noperodo da Ditadura Militar, sendo retomadas aps a queda do regime com a criao daSecretaria de Cultura no governo de Waldir Pires (1987-1989), que logo depois foi fechada noterceiro governo de Antonio Carlos Magalhes (1991-1994), criada na gesto de Paulo Souto(1995-1998) como Secretaria de Cultura e Turismo, s vindo a ganhar autonomia no primeirogoverno de Jaques Wagner (2007-2010). Essa instabilidade no prprio rgo gestor representao descaso com o qual a cultura era tratada, nunca estando como prioridade nas discusses eprojetos polticos (Canedo 2008). Por ser a Bahia um estado com forte potencialidade turstica, enquanto a Secretariaesteve atrelada ao turismo, a cultura representou um grande potencial econmico, onde foitrabalhado seu aspecto fsico como a reforma de patrimnio histrico material a exemplo do 23. 20Pelourinho e do Teatro Castro Alves, que foi recuperado, sendo visto como fonte turstica, jque a ideia era transformar o estado em um dos principais pontos tursticos do pas. Nessa poltica a pluralidade baiana no era trabalhada, a Bahia era pensada enquantorecncavo, tentando criar uma identidade unificada como um estado de belas riquezas naturaise patrimnios histricos, sendo colocados a lado os diversos tipos e formas de culturaexistentes em seus 417 municpios. Nessa subordinao ao turismo, a cultura no era pensada como um fator detransformao e desenvolvimento social e todas as aes do estado se voltavam para odesenvolvimento turstico, sem espao para a participao da sociedade na construo depolticas culturais. Quando a oposio toma o poder no estado, em 2007, depois de 16 anos de lideranacarlista como conhecido o grupo poltico baiano que por muito tempo foi liderado porAntonio Carlos Magalhes, a Secretaria de Cultura separada do Turismo. A transio dePaulo Souto para Jaques Wagner representa uma ruptura na forma de pensar o campo dacultura no estado. Em articulao com o Governo Federal a nova gesto investe em polticaspblicas para a cultura, com a ideia de democratizar o acesso e a produo cultural edecentralizar as verbas do estado.A misso da Secretaria de Cultura consiste em: atuar de forma integrada e emarticulao com a sociedade na formulao e implementao de polticas pblicasque reconheam e valorizem a diversidade cultural da Bahia, nas dimensessimblicas, econmicae de cidadania. 2 Com esse objetivo, cinco linhas de aes foram criadas para guiar as atividades:Diversidade, Desenvolvimento, Descentralizao, Democratizao, Dilogo e Transparncia. Em um governo democrtico a populao deve participar da elaborao, execuo eavaliao das aes. O governo Jaques Wagner propondo uma administrao democrtica,tanto na sua primeira gesto (2007-2010), como na segunda (2011-2014), realiza diversasaes para a construo de polticas pblicas para a cultura. Nessa perspectiva o governoinicia a mobilizao para implantao de sistemas de cultura estadual e municipais, realizaConferncia de Cultura com forte participao da sociedade, cria o Frum de DirigentesMunicipais de Cultura, reformula o Conselho Estadual de Cultura. Essa forma de gerir aspolticas culturais j estava presente no discurso do secretario de Cultura Marcio Meireles, naprimeira gesto de Wagner.2www.cultura.ba.gov.br/secretaria 24. 21A atual gesto entende ser necessrio ampliar a ideia de cultura, incluindo a riquezados ritos e manifestaes populares; as etapas criativas dos processos de produo;os modos de fazer; os valores, comportamentos e prticas que constroem a nossaidentidade e diversidade cultural (CADERNO CULT I, 2008, p.11). Essas aes reformulam toda a poltica cultural do estado, que passa a experimentar ademocratizao cultural, dando centralidade a cultura e caminhando para o rompimento doquadro de ausncia, autoritarismo e instabilidade apontada por Rubim (2007), existentes nosnveis estadual e federal no campo das polticas culturais.1.5 - POLTICAS CULTURAIS PARA MUNICPIOS O processo de globalizao vivido nas ltimas dcadas influenciou a forma depensar, agir e se organizar da sociedade. No campo cultural as cidades passam a serentendidas como espao ideal na construo de polticas culturais que contemple adiversidade cultural.As cidades propiciam o convvio e o intercmbio entre os grupos e suas prticasculturais, permitem a elaborao de polticas culturais que devem ser capazes detrabalhar com a diversidade local de forma que produzam alternativas deenriquecimento do conjunto da populao (CALABRE, 2009, p. 82). Com a expanso dos municpios na dcada de 1980, cresce a necessidade deinformaes. O IBGE, em 1991, vai a campo pela primeira vez conhecer o perfil dosmunicpios brasileiros, pesquisa conhecida como MUNIC. O item cultura foi incluso nessapesquisa em 2005 por ser compreendida a carncia de informaes relacionada a rea. Apartir de ento o campo cientfico e poltico passa a contar com dados significativos para aconstruo de projetos que proporcionem o desenvolvimento cultural. Entre os dados coletados nos chama ateno o fato de 42,1% dos municpios nopossurem uma poltica cultural formulada, 58% dos municpios declaram ter poltica culturale, h uma compreenso de que o setor no se reduz promoo de eventos. Na esferaestadual, dos 417 municpios baianos, 192 declaram possuir polticas culturais o quecorresponde a 46% e, 225 que diz respeito a 54% diz no possuir (MUNIC, 2006). interessante observarmos que h casos em que o municpio no possui uma polticaformulada, mas isso no significa que no sejam realizadas polticas culturais. Nessaperspectiva essa porcentagem passaria de 42,1%. 25. 22 Calabre (2009) ressalta a necessidade de analisar a compreenso de polticasculturais para os municpios que declaram possui-las. Entre os objetivos principais dessapoltica, em 37,4% a dinamizao das atividades culturais do municpio est como prioridade,37,1%, a garantia da sobrevivncia das tradies culturais locais e, 36,7% a preservao dopatrimnio histrico, artstico e cultural. As polticas culturais quando construdas na esfera local em articulao com anacional e global, alm de desenvolver o campo cultural, empoderam os agente culturais, quepor muito tempo assistiram a projetos autoritrios, onde as decises aconteciam nos gabinetespolticos, muitas vezes desconhecendo os reais desejos e necessidades da rea. Leito (2009) ressalta que as polticas culturais na esfera municipal tem o objetivo deresgatar a diversidade cultural, valorizar os imaginrios locais, a capacidade de autodeterminao dessas comunidades, trabalhando a favor do desenvolvimento territorialsustentvel, local e regional. A existncia de poltica de cultura na esfera municipal est relacionada adescentralizao das atividades e recursos por parte do estado. Podemos usar como exemplo oestado do Cear, que criou uma poltica forte de descentralizao e em consequncia, 76, 6%dos municpios cearenses declararam a existncia de polticas culturais, nmero superior aonacional que de 57,9%. Todas as prefeituras do estado do Cear possuem um rgo gestorde cultura e todas as cidades aderiram ao sistema de cultura (MUNIC apud Leito, 2009, p.67).1.6 -TERRITRIO DO SISAL A Bahia por um longo perodo da sua histria esteve dividida em 15 regieseconmicas e, as aes das secretarias eram baseadas nessa diviso. Em 2003, seguindo apoltica de diviso territorial adotada pelo Ministrio de Desenvolvimento Agrrio (MDA), oestado foi dividido em 26 Territrios de Identidades. Diviso poltica, administrativa,geogrfica e cultural, idealizada pelo MDA a partir de reivindicao de setores pblicos e dasociedade civil organizada, que sentia a necessidade de articulao de polticas nacionais cominiciativas locais (Lima 2008). Essa diviso leva em considerao caractersticas econmicas, sociais, ambientais eculturais dos municpios que compem o territrio, que se se constitui de um espao fsico, 26. 23econmico, cultural e simblico. Essa poltica visa descentralizar a atuao do Estado eunificar o trabalho das secretarias.O territrio percebido como a unidade que melhor dimensiona os laos deproximidade entre pessoas, grupos sociais e instituies que pode ser mobilizadas econvertidas em um triunfo para o estabelecimento de iniciativas voltadas para odesenvolvimento (MDA apud LIMA, 2008, p. 6 e 7). Nessa perspectiva o municpio considerado pelo Ministrio uma medida restrita deplanejar as aes e o estado uma medida muito ampla, sendo o territrio a mais adequada(Lima, 2008). Para realizar essa diviso, que representa uma forma organizada e articulada detrabalhar as realidades regionais, a comunidade foi convidada a opinar sobre o seu sentimentode pertencimento. A Bahia foi dividida nos territrios de: Sisal, Irec, Velho Chico, ChapadaDiamantina, Piemonte do Paraguau, Litoral Sul, Baixo Sul, Extremo Sul, Itapetinga, Vale doJequiri, Oeste Baiano, Rio So Francisco, Bacia do Rio Corrente, Bacia do Paramirim,Serto Produtivo, Vitoria da Conquista, Mdio Rio de Contas, Bacia Jacupe, Piemonte daDiamantina, Semirido Nordeste II, Agreste de Alagoinhas/Litoral Norte, Portal do Serto,Recncavo Baiano, Itaparica e Regio Metropolitana de Salvador (RMS), como mostra omapa abaixo. No anexo (A) possvel visualizar quais municpios compem cada territrio.FIGURA 1- Mapa dos Territrios de Identidade da Bahia 27. 24Fonte: http://www.seplan.ba.gov.br/mapa.phpEm nosso trabalho abordaremos o Territorio do Sisal, representado no mapa acima pelonmero quatro. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatisticas - IBGE (2010) e, doPlano de Desenvolvimento Territorial de Cultura - PDTC (2011), o territorio est situado nosemiarido do estado, possui um ndice Desenvolvimento Humano - IDH mdio de 0,60, umapopulao de 579. 165 habitantes, dos quais 333. 149 fazem parte da zona rural (57, 52%). Abrangeuma rea de 21.256,50 Km, a renda mdia per capta de meio salrio mnimo mensal e constitudode 20 municpios3, como possvel localizar no mapa abaixo. Serrinha a cidade mais populosa doterritorio e, considerada uma potncia econmica com boa localizao geogrfica, sendo classificadacomo cidade plo do territrio (PDTC2011).FIGURA 2- Mapa do Territorio do Sisal3Araci, Barrocas, Biritinga, Candeal, Cansano, Conceio do Coit, Ichu, Itiba, Lamaro, Monte Santo,Nordestina, Queimadas, Quijingue, Retirolndia, Santaluz, So Domingos, Serrinha, Teofilndia, Tucano eValente. 28. 25Fonte: PDTCA denominao Territrio do Sisal est relacionada ao cultivo do agave-sisal, plantarstica que se adapta ao clima seco e ensolarado do serto nordestino. Chegou regio nofinal do sculo XIX, vinda do Mxico. A efervescncia do seu desenvolvimento s veioacontecer na dcada de 1930 e 1940 do sculo seguinte. Mesmo atualmente estando emmomento de crise pela desvalorizao econmica, o sisal representa uma das principaisfontes de renda do territrio, sendo Conceio do Coit o maior exportador mundial da fibra,recebendo a produo de todo o territrio e de outros municpios do estado que possuem ocultivo, a exemplo de Campo Formoso pertencente ao Territrio do Piemonte Norte doItapicuru, que o maior produtor mundial.Marcado por abuso de poder dos grandes latifundirios, que resultou em opresso,marginalizao e desigualdade social da populao, o Territrio do Sisal, vem ganhado famanas ltimas dcadas pela forte mobilizao dos movimentos sociais. A fibra do sisal tornou-se adjetivo para caracterizar o sertanejo, homem forte e lutador, homem de fibra. 29. 26Segundo dados do Plano Territorial de Desenvolvimento Sustentvel do Sisal -PTDS (2010), foi do territrio que partiu em 1979 a primeira mobilizao de camponeses doestado durante o Regime Militar, como objetivo de reivindicar do governo medidas contra ofisco, que castigava os agricultores no momento da comercializao dos seus produtos.Ainda de acordo com o PTDS, foi desse movimento que nasceu a Associao de PequenosAgricultores do Estado da Bahia (APAEB) 4.No final da dcada de 1980, surge o Movimento dos Mutilados do Sisal, formado poragricultores que tiveram seus dedos, mos e antebraos mutilados no processo dedesfibramento do sisal. Esse movimento reivindicava o amparo previdencirio. Nesse mesmoperodo houve mobilizao dos trabalhadores rurais em torno dos Sindicatos (STR), queeram controlados por polticos das elites locais. Na dcada de 1990 iniciou-se uma lutaimportante contra o trabalho infantil, sendo implantado em 2007, nas cidades de Valente,Conceio do Coit, Retirolndia, Riacho do Jacupe e Santaluz, maiores produtoras de sisaldo territrio, o Programa de Erradicao do Trabalho Infantil (PETI), posteriormenteampliado para todo o estado (PTDS 2010).A partir dessa conjuntura de organizado e mobilizao, a sociedade vem ganhadovoz ativa nas discusses, construdo polticas pblicas que favorecem a populao, tornandoo territrio referncia de transformao social.A comunicao um elemento de forte relevncia nessa discusso. Um territriomarcado pelo silncio opressor dos latifundirios, nas ltimas dcadas, atravs da j citadasociedade civil organizada, vem transformado o seu cenrio comunicacional.No diferente de outras regies do pas, no Territrio do Sisal os veculos decomunicao comercial esto vinculados a lideranas polticas que ganharam concesses derdio na dcada de 1980 como moeda de troca poltica e, por muito tempo esse foi o nicoveculo de informao disponvel a populao.Em contrapartida ao posicionamento poltico partidrio dessa mdia manipuladoraque resulta na ausncia de espao a populao, a comunicao comunitria surge no final dadcada de 1990 no cenrio poltico comunicacional do Territrio do Sisal.Em cada cidade foram sendo instaladas antenas responsveis por levar informaescom objetivo imparcial, a uma populao massacrada pela comunicao partidarista. Nodemorou a esses novos e significativos espaos comunicacionais, comearem a sofrerperseguies. A Agencia Nacional de Telecomunicaes (ANATEL), junto a Polcia Federal4Com sede na cidade de Valente, a APAEB uma entidade no governamental sem fins lucrativos, que vemtransformado atravs da organizao a vida de pequenos agricultores do semirido. 30. 27invadiam os estdios improvisados das rdios comunitrias e aprendiam os aparelhostransmissores, justificando ser ilegal o funcionamento das rdios. A partir de ento, o cenriomiditico do territrio nunca mais foi o mesmo.Uma sociedade que a cada dia aumenta a sua articulao e mobilizao entra na lutapor seus espaos de comunicao. Em 2001 criado a Associao Brasileira de RdioComunitria do Sisal (ABRAO-SISAL), entidade responsvel pela articulao erepresentao poltica das emissoras comunitrias do territrio. A partir de ento as aespara regulamentar das rdios consideradas piratasque derruba avies, passa a ser umagrande luta dos defensores de uma comunicao comunitria. Segundo Santos (2011),atualmente existem 17 rdios comunitrias reconhecidas pela ABRAO-SISAL. As que noso reconhecidas pelo Ministrio das Comunicaes/Governo Federal, so considerasclandestinas, sujeitas a apreenso dos equipamentos.Outro fator que vem mudando o cenrio comunicacional do territrio a apropriaodas novas tecnologias. Aos poucos o rdio de pilha vem sendo substitudo pelo computadorconectado a internet, que possibilita a criao de novos canais de comunicao, como websites, blogs, TVs, rdios online, uso das redes sociais, ferramentas de grande abrangncia queno precisam de licena para funcionar.No campo da cultura, o sisal assim como os demais territrios, ganhou em 2008 umrepresentante territorial da SECULT, figura responsvel pela articulao dos agentes culturaise pela disseminao da poltica cultural do Estado. Cleber Souza Meneses, economista, ps-graduado em Gesto de Produo Cultural, foi representante do territrio de dezembro de2008 a maro de 2011, quando deixou o cargo para ingressar no mestrado. Durante o perododa considerada pelos gestores municipais e pelos agentes culturais, significativa atuao deCleber, o territrio deu importantes passos na institucionalizao da cultura, com a criao desistemas de cultura, na participao de editais pblicos, formao e qualificao de gestoresculturais, reconhecimento e valorizao da diversidade cultural e, elaborao do Plano deDesenvolvimento Territorial da Cultura (PDTC), sendo um dos cinco primeiros territrios doestado a construir esse importante documento5. O plano territorial foi construdo em parceriada SECULT como Conselho Regional de Desenvolvimento Rural Sustentvel da RegioSisaleira do Estado da Bahia CODES SISAL e, com o apoio do Frum dos Pontos deCultura do Territrio, Frum de Dirigentes de Cultura do Territrio e, Grupo de Trabalho -5Os territrios que j possuem o PDTC so: Sisal, Bacia do Jacupe, Baixo Sul, Litoral Sul e Velho Chico. 31. 28GT de Cultura do CODES SISAL. O plano que teve a organizao do representante territorialCleber Menezes, est organizado em doze captulos:1.Apresentao; 2. Metodologia; 3.Diretrizes; 4. Aspectos Histricos; 5.Diagnsticodo Territrio do Sisal;6. Patrimnio Material e Imaterial do Territrio; 7.Atuao daSECULT no Territrio do Sisal; 8. Resultados da oficina de sistematizao dosdados; 9.Programas e Projetos; 10. Consideraes Finais; 11.RefernciasBibliogrficas; 12. Fotos (PDTC, 2011). O documento que se encontra na Superintendncia de Cultura do Estado, e que deveser executado, j que um plano de ao, tem cinco programas e projetos priorizados:PROGRAMA - Arte e Educao: PROJETO tempo de aprender; PROGRAMA -Preservao do Patrimnio Material e Imaterial: PROJETO - Nossa Histria, nossamemria; PROGRAMA - Revitalizao da Cultura Popular: PROJETO - Minhacomunidade, meu pedacinho do Brasil; PROGRAMA - Capacitao e fomento daCultura: PROJETO - Faa voc mesmo; PROGRAMA - Gesto eInstitucionalizao Cultural: PROJETO - Municpios Culturais (PDTC, 2011). Segundo dados do PDTC (2011), o territorio contemplado em editais pblicos daSECULT em parceria com o MINC, com dez Pontos de Cultura6, dois situado em Conceiodo Coit, cidade foco desse trabalho. Dezessete Microprojetos Culturais7, cinco Cine MaisCultura8, dois Culturas e Direitos Humanos9, trs Culturas Populares10, um Portas6 Sociedade Recreativa e Cultural Filarmnica 30 de junho (Serrinha); Associao Comunitria de Pedra Bonita -ASCOPEB (So Domingos); Liga Desportiva e Cultural dos Assentamentos da Regio do Sisal LIDER(Santaluz); Associao de moradores e produtores de Alecrim - AMOPA (Queimadas); Associao Regional daEscola Famlia Agrcola do Serto (Monte Santo); Unio das Associaes de Monte Santo (Monte Santo);Associao dos Moradores dos Bairro Joo Durval Carneiro e Ruas Circunvizinhas ( Monte Santo); Sociedadede Radiodifuso Comunitria de Ichu (Ichu); Assoc. de Rdio Comunitria de Juazeirinho (Conceio do Coit);Centro de Promoo da Educao, da Cultura e da Cidadania- CPECC (Conceio do Coit).7 Festival de Pfanos 2010 (Araci);I Festival de Cultura de Raiz de Barrocas (Barrocas); Leitura para Todos(Biritinga); Cidadania atravs das notas de um violo (Cansano); 1 de Maio canta Coit (Conceio do Coit);Semirido: a rdio musical do territrio do Sisal (Conceio do Coit); Lutar para Vencer (Ichu); Ciclo deOficinas "Arte no rido"( Itiba); Grupo de Samba de Roda: arte de fazer martelo, chula e batuque (Lamaro);Paixo e Morte no Serto de Canudos (Monte Santo); Vamos roubar um boi ( Retirolndia); Centro de Msica eCultura (So Domingos); Caravana Leiturarte (So Domingos); Circuito de Oficinas Culturais ( Serrinha); Foliasde Reisado: revitalizando a cultura na cidade de Teofilndia (Teofilndia); Cinema Rural - o mundo dalibertao (Tucano); Sala de Cultura de Valente ( Valente).8 Sindicato dos trabalhadores dos Servidores Pblicos de Biritinga (Biritinga); Associao Humana Povo para oPovo do Brasil (Cansano); Centro de Promoo da Educao, Cultura e da Cidadania (Conceio do Coit);Associao Regional da Escola Famlia Agrcola do Serto (Monte Santo); Associao Comunitria de PedraBonita (So Domingos).9Grafite (Serrinha); Msica (Conceio do Coit).10 Artes integradas, Serrinha, Lamaro e Birirtinga. 32. 29Abertas para as Artes Visuais11, um Sales Regionais12. Quatro Programas de Fomento sFilarmnicas, com recursos entre vinte e quatro a trinta e dois mil reais13. Quatro projetos deBibliotecas Comunitrios classificados e, um contemplado14 e treze Pontos de Leitura15.Alguns projetos so de curto perodo a exemplo do Microprojetos Culturais que tem duraode um ano.Das bibliotecas pblicas existentes em cada um dos vinte municipios do territorio,desessete foram contempladas com implantao e trs indicadas para modernizao. Osmunicpios de Barrocas e Lamaro receberam 11 agentes de leitura, que sero capacitados eposteriormente cada agente atender no mnimo a 20 famlias no perodo de um ano.O territrio possui uma representativa cultura popular, com destaque para o Sambade Roda, Reisado, Boi Roubado, Mulinha, Aboio, Quixabeira, Artesanato, Literatura deCordel, Semana de Cultura, Festas Religiosas, Festas Juninas, Cavalgadas, Vaquejadas, etc.Essas antigas tradies se entrelaam com as modernas e, interessante observar que mesmosendo um territrio rural devido a seu baixo grau de urbanizao crescente o nmero deculturas urbanas que se desenvolvem como o reggae, hip hop, grafite, capoeira entre outras. Segundo dados da SECULT (2009), em nenhum municpio do territrio a secretaria oufundao de cultura especfica. Em doze cidades ela est em conjunto com outras polticas eem oito, o setor est subordinado a outras instncias de governo. Em equipamentos culturais o territrio possui 21 bibliotecas, cinco museus, seteteatros e salas de espetculo, 14 estdios ou quadras poliesportivas, um cinema e seis centrosde cultura (Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, 2009).1.7 - CONCEIO DO COIT11 Teofilndia.12 Valente.13Sociedade Recreativa e Cultural Filarmnica 30 de Junho (Serrinha) 32.000,00; Filarmnica CoiteenseGensio Boaventura (Conceio do Coit ) 26.000,00; Sociedade Filarmnica Recreio Clube de Queimadas(Queimadas) 24.000,00; Sociedade Ltero Musical 21 de Maro (Tucano) 24.000,00.14 Classificados: Associao de Desenvolvimento Comunitrio, Sustentvel e Solidrio do Municpio deBarrocas(Barrocas); Sindicato dos Trabalhadores no Servio Publico do Municpio de Biritinga (Biritinga);Associao Comunitria dos moradores do Bairro do Campo e Adjacncias (Lamaro); Contemplado:Associao dos Produtores Rurais Santa Rita de Cssia (Itiba).15 Um em Serrinha, Queimadas, Biritinga e Lamaro. Dois em Cansano, Barrocas e Itibae trs em Valente. 33. 30 Localizada no Nordeste da Bahia, regio semirida, distante 210 km da capital doestado, Conceio do Coit possui uma rea territorial de,1.016 km2 e uma populao de62.040 mil habitantes IBGE (2010). Municpio destaque no territrio por sua pluralidadecultural e articulao junta a SECULT, o segundo mais populoso do territrio. Formadopelo repouso dos tropeiros viajantes16 que passavam com destino a Jacobina, pertenceu aosmunicpios de Riacho do Jacupe, gua Fria, Cachoeira, Feira de Santana e Irar, ganhandosua emancipao em 1938. uma das cidades do territrio mais organizada no campo dacultura, sendo a primeira a criar o Sistema Municipal de Cultura, servindo de referncia paraas demais. O campo da cultura no municpio est sobe a responsabilidade da Superintendnciade Cultura e Cidadania. Criada em 2009 vem trabalhando em parceria com a sociedade civilorganizada na construo de polticas culturais para subsidiar as demandas do municpio. A cultura de Conceio do Coit se caracteriza por festas juninas realizadas em suamaioria nos povoados, cavalgadas sertanejas, festas de padroeiros nas comunidades catlicas,Semana dos Evanglicos, realizada atravs de lei municipal, festas privadas como Baio deDois e Arena Show, CoitFolia - carnaval fora de poca, ExpoCoit - exposio de caprinos eovinos, Pascoelinha do distrito de Juazerinho, Forr Jegue do distrito de Aroeira, Reisado dopovoado de Italmar, aniversrio da cidade em sete de julho, Jornada Esportiva, FilarmnicaGensio Boaventura, Orquestra Santo Antnio de Msica, entre vrias outras manifestaes(Plano Municipal de Cultura). Em espao fsico o municpio possui um Centro Cultural construdo com recursosprprios, que abriga um anfiteatro com capacidade para 250 pessoas, uma biblioteca pblicaque foi contemplada em 2008 com o kit de modernizao do Programa Livro Aberto e umsalo de exposio. Possui clubes particulares e de instituies religiosas, ginsio, estdio,quadras de esportes e, praas pblicas usadas para eventos. Na rea da educao, o municpiopossui um Campus da Universidade do Estado da Bahia-UNEB (Plano Municipal de Cultura).16 Homens a cavalo que saia em bandos levando cargas de uma regio a outra, sendo o cavalo um dos poucosmeios de locomoo existente na poca. 34. 312 - SISTEMA DE CULTURA2.1.1 - CONCEITO DE CULTURA A cultura considerada por Eagleton (2005), uma das duas ou trs palavras maiscomplexas da nossa lngua. Podendo ser entendida como o conjunto de atividades e modos deagir de um povo, suas manifestaes, crenas, valores, smbolos, arte, moral, leis, todo o fazerhumano pode ser compreendido como cultura, sendo ela o que distingue o homem dos outrosanimais. Um dos significados originais do termo est relacionado ao cultivo, vindo do latimcolere, que significa cultivar, estreitamente ligado noo de natureza, do cultivo da terra, doque cresce naturalmente. Evoluindo em seus conceitos, a cultura tornou-se uma palavrapopular no mundo moderno. A cultura, em outras palavras, chega intelectualmente a umaposio de destaque quando passa a ser uma fora poltica relevante (EAGLETON, 2005, p.42). Hoje, encontra se em pautas de discusses polticas, sociais e acadmicas, sendoentendida como fator de desenvolvimento humano. Falar de cultura nos remete a um universo, e toda amplitude para ser trabalhadaprecisa ser delimitada. A cultura definida por Botelho (2001), em duas dimenses: aantropolgica e a sociolgica. A distino entre essas dimenses importante para adeterminao do tipo de investimento governamental. A dimenso antropolgica se relaciona a todo fazer humano, sua interao social e asconstrues simblicas e materiais. Essa dimenso considerada a mais democrtica e, privilegiada pelo discurso poltico, principalmente nos pases de terceiro mundo, onde hproblemas como m distribuio de renda, tornando o acesso aos bens culturais privilgiode poucos. Na dimenso sociolgica a cultura refere-se a um conjunto diversificado dedemandas profissionais, institucionais, polticas e econmicas (BOTELHO, 2001, p.5). Essadimenso no est no plano do cotidiano do individuo, consiste em uma produo elaborada,com a inteno de construir sentido. uma forma mais institucionalizada e organizada depensar a cultura, enquanto que, no modo antropolgico a cultura tudo. Como fica claranas palavras de (CHAU, 2007, p. 20), A cultura um direito do cidado, direito de acessoaos bens culturais, direito de fazer cultura e de participar das decises sobre a polticacultural. 35. 32 Esse conceito antropolgico da cultura foi incorporado na construo das polticasculturais no Brasil a partir de 2003, quando Gilberto Gil assume o Ministrio da Cultura. Apartir de ento, as aes desenvolvidas pelo MINC, passaram a ser norteados em trsdimenses: a simblica, cidad e econmica. Incorporando assim, vises distintas ecomplementares sobre a atuao do Estado na rea cultural e buscando responder aos novosdesafios da cultura no mundo contemporneo (MINC, 2009). Segundo o Ministrio (2009), a dimenso simblica da cultura compreende todo ofazer humano como uma ao cultural, incluindo a produo erudita e popular. Levando emconsiderao que todo o viver humano construdo por simbolismo que se expressa por meiodas lnguas, crenas, rituais, prticas, relaes de parentesco, trabalho, poder e o conjunto desmbolos que forma os significados. Na dimenso cidad a cultura compreendida como um direito humano, direito deproduzir e consumir, no pensando em sua superficialidade, entretenimento ou padres demercado, mas em sua amplitude. Essa concepo s possvel em um sistema democrtico(MINC, 2009). No processo de globalizao, a cultura tornou-se fator de grande relevnciaeconmica, podendo ser compreendida como sistema de produo, materializada em cadeiasprodutivas, onde o bem cultural uma mercadoria como outra qualquer, sujeita s regras domercado de competitividade e lucratividade, como elemento estratgico da nova economia oueconomia do conhecimento. Os bens culturais podem ser compreendidos tambm como sendoportadores de ideias, valores e sentidos destinando-se a ampliar a conscincia sobre o ser e oestar no mundo. Assim considerados, inadmissvel submet-los unicamente ao jogo domercado, pois os valores que eles carregam envolvem a identidade e a diversidade culturaldos povos, e pode ser compreendido como um conjunto de valores e prticas que tm comoreferncia a identidade e a diversidade cultural dos povos, possibilitando compatibilizarmodernizao e desenvolvimento humano (MINC, 2009). Nesse trabalho utilizamos o conceito antropolgico, adotado pelo Ministrio, levandoem considerao que o objeto de estudo, o Sistema de Cultura, tem o intuito deinstitucionalizar e gerir a cultura em todos os seus aspectos.2.1.2 - SISTEMA NACIONAL DE CULTURA 36. 33A implantao do Sistema e do Plano Nacional de Cultura estava como prioridade nodocumento de campanha elaborado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) para a disputapresidencial de 2002. Vencendo a eleio, o PT coloca Gilberto Gil frente do Ministrio deCultura, que declara ser o sistema e o plano prioridades da pasta do Ministrio (MINC, 2009).Inspirado no Sistema nico de Sade (SUS), mas com diferenas entre si, pois oSUS um sistema nico, enquanto a cultura no pode ser pensada de forma unificada, e simde maneira plural, o SNC foi esquematizado com o objetivo de dar centralidade einstitucionalidade poltica cultural, proporcionando estabilidade e desenvolvimento aocampo da cultura. O Sistema Nacional integrado pelos sistemas setoriais, distritais,municipais e estaduais (MINC, 2009).Segundo dados do MINC (2009), a estruturao e implantao do SNC foramdefinidos como prioridades na 1 Conferncia Nacional de Cultura, realizada em dezembro de2005, que teve como tema: Estado e Sociedade Construindo as Polticas Pblicas. Essaconsulta pblica representa um marco da participao social na elaborao de polticasculturais no Brasil. A plenria nacional que teve a participao de 1276 pessoas foi procedidadas conferncias setoriais, municipais, territoriais e estaduais, que construram propostas ediretrizes que foram debatidas na Conferncia Nacional, tornando-se subsdios para aconstruo do Plano Nacional de Cultura.A importncia do sistema no est apenas em sua concretude, e nas transformaesque vem a proporcionar, mas em todo o processo de construo. Leito (2009) classifica oSNC como sendo produto e processo de institucionalizao da cultura, sendo um momentompa na histria das polticas culturais do pas. E pensando a cultura como constanteincorporao do novo, como nos prope Botelho (2007), o sistema no uma ao estvel,estando sempre em adaptao ao momento cultural.Edgar Morin (1969) define sistema como: Conjunto de partes interligadas queinteragem entre si. O sistema sempre maior ou menor que a soma de suas partes, poistem certas qualidades que no se encontram nos elementos concebidos de forma isolada(MORIN Apud MINC, 2009 p. 15).O SNC constitudo de rgo Gestor da Cultura, Conselho de Poltica Cultural,Conferncia de Cultura, Plano de Cultura, Sistema de Financiamento Cultura, SistemaSetorial de Cultura (quando pertinente), Comisso Intergestora Tripartites e Bipartites,Sistema de Informao e Indicadores Culturais, Programa Nacional de Formao na rea daCultura, MINC (2009), como pode ser visualizado na imagem abaixo: 37. 34FIGURA 3- Desenho do Sistema Nacional de CulturaFonte: MINC (2009) p. 19.O estado do Cear possui um destaque nacional na poltica de institucionalizao dacultura. Antes do governo federal dar os primeiros passos para a construo do SistemaNacional de Cultura, o estado j estava se mobilizando, realizando consultas pblicas queresultaram na elaborao do primeiro plano estadual de cultura do pas, que veio a servi demodelo.A secretaria de cultura do estado do Cear teve a frente, no perodo de 2003 a 2006, aacadmica Claudia Leito, que ao assumir, realizou o Seminrio Cultura XXI, contando coma presena do recm-empossado ministro Gilberto Gil. Esse encontro considerado a primeiraao na construo do Sistema Estadual de Cultura do Cear (Leito 2009).O pioneirismo da gesto de Leito e a reforma que essa proporcionou a secretaria doestado lhes rendera o primeiro lugar do Premio Cultura Viva do Ministrio, na categoria 38. 35gesto pblica, e em 2011, Leito assumiu a secretria de Economia Criativa do Ministrio daCultura17.2.1.3 - PLANO NACIONAL DE CULTURA O Plano Nacional de Cultura (PNC) elaborado pelo governo federal junto asociedade foi iniciativa do deputado federal Gilmar Machado (PT-MG), apresentada aCmara dos Deputados no dia 29 de novembro de 2000, atravs da Proposta de Emenda Constituio (PEC) n 306, de sua autoria, Reis (2008). A ideia de elaborar uma polticaespecfica para a cultura como assinala (Reis, 2008), surgiu a partir das discusses realizadasem Braslia durante a 1 Conferncia Nacional de Educao, Cultura e Desporto, realizadapela Comisso de Educao e Cultura da Cmara Federal em novembro de 2000. O PlanoNacional tm por finalidade o planejamento e implementao de polticas pblicas de longoprazo para a proteo e promoo da diversidade cultural brasileira (MINC, 2009, p.22). Na Ditadura Militar j era discutido a necessidade de criar uma poltica nacional decultura, e o Conselho Federal de Cultura, formula em 1975 durante o Regime, um PlanoNacional de Cultura, que no chega a ser aprovado. O plano de 1975 e o atual possuem semelhanas entre si, a exemplo da preocupaocom projetos regionalizados, apoia as linguagens artsticas, proteo e valorizao dopatrimnio, uso dos meios de comunicao para a difuso cultural, incentivo a formao deprofissionais e, reconhecimento da cultura para o desenvolvimento social. Nas inmeras diferenas contidas nos dois planos, podemos citar a definio doconceito de cultura e, o processo de construo, sendo o primeiro elaborado pelo MINC, e osegundo atravs de consulta pblica, na parceria entre sociedade civil e poder pblico. Aps quatro anos de discusso, o Plano Nacional de Cultura foi aprovado peloSenado em 09 de novembro de 2010, sancionado pelo presidente Lula em 02 de dezembro de2010 e publicado no Dirio Oficial da Unio em 03 de dezembro, na forma de Lei12.343/2010. O plano enumera 13 itens que norteiam as polticas pblicas. Entre os quais, adiversidade cultural e a valorizao da cultura como fator de desenvolvimento. Esses itensforam debatidos na Conferncia de Cultura18.17 http://www.producaocultural.org.br/slider/claudia-leitao/18No anexo B possvel visualizar tabela com a estrutura geral do Plano Nacional de Cultura. 39. 36 As metas estabelecidas no documento, que tem validade decenal, de 2010 at 2020,sero reavaliadas periodicamente estando a primeira avaliao prevista para 2014, quatro anosaps a sua aprovao. 2.1.4 - CONSELHO NACIONAL DE POLTICA CULTURAL A criao dos conselhos de cultura no Brasil acontece na dcada de 1930 no contextode criao de uma srie de conselhos tcnicos de diversas reas. Em 1937 criado o ConselhoConsultivo do Servio de Patrimnio Histrico e Artstico (SPHAN), o primeiro no campo dacultura e em 1 de julho de 1938, atravs do Decreto-Lei n 526, criado o Conselho Nacionalde Cultura. No h registro da atuao efetiva desse conselho, sendo criado em 23 defevereiro de 1961, sobe o Decreto n 50.293 um novo Conselho de Cultura, que foireformulado em 23 de maro de 1962, atravs do Decreto n 771, vindo a ser substitudo em24 de novembro de 1966 a partir do Decreto n 74 pelo Conselho Federal de Cultura,justificando que o CNC realizava apenas aes pontuais sem grande abrangncia. Em 1991 criado o Conselho Nacional de Poltica Cultural (CNPC), que reestruturado a partir do Decreto 5.520, de 24 de agosto de 2005 e est em operao desde2007. Esse conselho formado em sua maioria por representantes da sociedade civil umrgo colegiado que integra o Ministrio da Cultura. composto de plenria, colegiado,setoriais, comisses temticas, grupo de trabalho e conferncia nacional de cultura. Afinalidade do CNPC formular polticas pblicas para o campo da cultura que inclua os trsnveis federativos e tambm a sociedade civil organizada. Ele o responsvel pela aprovaodas diretrizes gerais do Plano Nacional de Cultura19. Os conselhos que antecedem a Constituio de 1988 no tinham a participaopopular, eram constitudos por especialistas da rea e funcionavam como assessoramentotcnico. A partir dessa constituio, os conselhos a exemplo do CNPC tornaram-seimportantes espaos de participao da sociedade na construo de polticas pblicas. Segundo dados da MUNIC 2009, no Brasil existem 1399 conselhos de cultura.Sendo 1372 municipais, vinte e seis estaduais, sendo quatro no Centro Oeste, nove noNordeste, quatro no Norte, quatro no Sudoeste, dois no Sul, trs desativados, um no Par,outro no Paran e outro em Tocantins e um conselho federal (Secretaria de Cultura do Estadoda Bahia, 2010, p.19).19 http://www.cultura.gov.br/cnpc/sobre-o-cnpc/ 40. 37 A natureza do conselho importante para o seu papel de instncia de participao.Os conselhos de cultura podem ser consultivos, onde os seus integrantes tem o papel apenasde estudar e indicar aes polticas sobre sua rea de atuao. Normativos, que estabelecemnormas e diretrizes para as polticas ou a administrao de recursos relativos rea,deliberativos, os que efetivamente tm poder de decidir sobre a implantao de polticas e aadministrao de recursos da rea e, fiscalizador que tem o papel de fiscalizar aimplementao e funcionamento das polticas e a administrao dos recursos destinados aocampo (SECULT, 2010). A forma como o conselho organiza suas atividades tambm relevante. Segundo aMUNIC 2009 dos 1.372 conselhos municipais de cultura existente no pas, 1.159 soconsiderados paritrios, ou seja, h igualdade de participao entre sociedade civil e poderpblico. Nos conselhos estaduais dos 23 em atividade, oito so paritrios, nove no soparitrios, mas a presena da sociedade civil predominante. Em cinco estados os conselhosso governamentais. Podemos concluir que a maioria dos conselhos existentes no pas soparitrios, possibilitando uma representao democrtica, j que os conselheiros sorepresentantes da sociedade (Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, 2010). Mesmo o surgimento de conselhos de cultura no Brasil sendo da dcada de 1930,eles s vem a ser um mecanismo de participao da sociedade a partir de 2003, com a novapoltica de cultura implantada no Ministrio. relevante ressaltar que esse instrumento departicipao poltica possui desafios e limites, no representando assim, a soluo exclusivapara os problemas do campo cultural (SECULT, 2010).O desafio dos conselhos de cultura na contemporaneidade est noaprofundamento e ampliao dos espaos pblicos de participao,articulando-se com outras ferramentas de participao cidad, como os frunse conferncias de cultura (CARTILHA, 2010, p.19).2.1.5 - CONFERNCIA NACIONAL DE CULTURA A conferncia um dos elementos de consulta pblica que integra o sistema decultura. A nacional realizada a cada quatro anos e as setoriais, municipais, territoriais eestaduais a cada dois anos. nesse espao de ampla discusso entre sociedade civil e poderpblico que so construdas as diretrizes dos planos de cultura. A conferncia acontece aps publicao de decreto assinado pelo governo, isso se dde forma independente nos nveis municipais, estaduais e federais. 41. 38A 1 Conferncia Nacional de Cultura, importante momento na histria das polticasculturais, foi realizada de 13 a 16 de dezembro de 2005 em Braslia, com a participao de1.276 pessoas, sendo 640 delegados da sociedade civil, 217 delegados do poder pblico e, 417convidados/observadores. Esse pblico de diversas regies do pas e vrios seguimentosculturais que se dividiram em cinco eixos temticos20, tiveram como objetivo construir asdiretrizes do Plano Nacional de Cultura e discutir polticas pblicas para a o campo cultural(Calabre, 2010).A conferncia nacional a ltima etapa a ser realizada, sendo antecedida dasconferncias setoriais, municipais, territoriais e estaduais. Em cada instncia so construdaspropostas e eleitos delegados que seguem para a etapa seguinte. A nacional representa afiltragem dos 5.565 municpios e dos 24 estados existentes no pas.Na I Conferncia Nacional, o eixo que recebeu o maior nmero de propostas (240),foi Gesto Pblica e Cultura, suas reinvindicaes foram situadas na institucionalizao dacultura e nos novos marcos para a gesto cultural. O segundo eixo Cultura Direito eCidadania tivera 183 propostas, com foco para reforma curricular, qualificao profissional,e aes multiplicadoras. O eixo Economia da Cultura teve 150 propostas voltadas para asquestes de financiamento e mapeamento cultural. As 220 propostas do eixo PatrimnioCultural, estiveram centradas na necessidade de implantar aes no campo da educaopatrimonial. Dos cinco eixos, o deComunicao e Cultura foi o que teve menos propostas,apenas 105, que estiveram centradas na democratizao, regionalizao e descentralizaodos meios de comunicao de massa. Na viso de Calabre (2010), o conjunto dessaspropostas, forma um tipo de cartografia dos desejos nacionais para o campo cultural.A 2 Conferncia Nacional de Cultura deveria ter acontecido em 2009, mas porquestes polticas, s veio acontecer em 2010. Com o tema: Cultura, Diversidade, Cidadania eDesenvolvimento, e com os eixos temticos: Produo Simblica e Diversidade Cultural;Cultura, Cidade e Cidadania; Cultura e Desenvolvimento Sustentvel; Cultura e EconomiaCriativa; Gesto e Institucionalidade da Cultura, foi realizada de 11 a 14 de maro emBraslia, onde foram definidas 32 propostas prioritrias para o setor, sendo duas propostaspara cada sub eixo temtico 21.No foi definida ainda a data da III Conferncia Nacional de Cultura, mas o previsto que acontea at 2013.20 Eixo 1- Gesto Pblica da Cultura; 2-Cultura Direito e Cidadania; 3-Economia da Cultura; 4- PatrimnioCultural; 5- Comunicao Cultura.21 Fonte: http://blogs.cultura.gov.br/cnc/ 42. 392.2 - SISTEMA ESTADUAL DE CULTURA O Sistema Estadual de Cultura da Bahia que est em fase de construo, com o pr-projeto da sua lei orgnica j pronta22, mas ainda no votado e aprovado pela AssembleiaLegislativa, construdo:De um conjunto articulado e integrado de normas, instituies, mecanismos einstrumentos de planejamento, fomento, financiamento, informao, formao,participao e controle social que tem como finalidade a garantia da gestodemocrtica e permanente da Poltica Estadual de Cultura (LEI ORGNICAESTADUAL, p. 4). A primeira iniciativa para o estado aderir poltica nacional de construo deSistema de Cultura, a assinatura do protocolo de inteno, documento assinado junto aUnio, que sinaliza o desejo em integrar o Sistema Nacional de Cultura, construdo o seusistema estadual e incentivando os municpios a criarem os seus sistemas municipais. O estado da Bahia na gesto de Paulo Souto (2003-2007) assinou um protocolo deinteno, mas, no criou a lei e os componentes do sistema. Com a tomada de poder em 2007,pelo petista Jaques Wagner, o estado assinou um novo protocolo de inteno. O sistema de cultura uma das principais diretrizes dessa atual gesto de JaquesWagner. O fato do estado ainda no ter aprovado a lei orgnica, no o impede de criar oselementos constituintes do sistema e incentivar os municpios a criarem seus respectivossistemas municipais, pois esses so criados atravs de leis orgnicas municipais. A primeira ao da Bahia na construo do sistema de cultura foi a criao do Frumde Dirigentes Municipais de Cultura, em 2007. O Frum constitudo de um colegiadopermanente que rene os dirigentes culturais de todos os municpios do estado. umainstncia consultiva e opinativa e, atua sobre as polticas estaduais e territoriais da cultura,possibilitando a participao dos municpios na formulao de diretrizes bsicas comuns,respeitando-se as caractersticas que lhe so prprias no contexto da diversidade cultural daBahia23. O Frum um elemento importante no processo de aproximao e dilogo entre osmunicpios e o Governo do Estado na construo de polticas culturais. Ele organizado por:22No anexo C possvel visualizar o projeto de lei do Sistema Estadual de Cultura.23 http://www.cultura.ba.gov.br/sistema-estadual-de-cultura/forum-de-dirigentes-municipais-de-cultura/ 43. 40Colegiado do Frum composto por todos os representantes dos municpios baianos;Conselho Territorial composto por 26 representantes dos Territrios de Identidade, eleitospelos representantes dos municpios que integram cada territrio; Coordenao Executiva eleito pelo Colegiado entre os membros do Conselho Territorial e composto de: Coordenador,Vice-Coordenador, Secretrio Executivo, Cmaras Tcnicas (04) de: Articulao eIntegrao; Poltica Sociocultural; Produo Cultural; e Patrimnio Histrico, Artstico eCultural24. O Sistema Estadual de Cultura composto por: I Organismos de Gesto Cultural:Conselho Estadual de Cultura; Secretaria de Cultura, seus rgos e entidades; sistemassetoriais de cultura do Estado; sistemas municipais de cultura ou rgos municipais decultura; instituies de cooperao intermunicipal; e instituies de cooperao interestadual,nacional e internacional. Mecanismos de Gesto Cultural: II Plano Estadual de Cultura,Planos de Desenvolvimento Territoriais e Setoriais de Cultura; Sistema de Fomento eFinanciamento Cultura; Sistema de Informaes e Indicadores Culturais; e Sistema deFormao Cultural. III Instncias de Consulta, Participao e Controle Social: ConfernciaEstadual de Cultura; Colegiados Setoriais, Temticos ou Territoriais de Cultura; Frum deDirigentes Municipais de Cultura; Ouvidoria do Sistema Estadual de Cultura; e outras formasorganizativas, inclusive fruns e coletivos especficos da rea cultural de iniciativa dasociedade (Lei Orgnica Estadual).FIGURA 4 - Desenho do Sistema Estadual de Cultura24 http://www.cultura.ba.gov.br/sistema-estadual-de-cultura/forum-de-dirigentes-municipais-de-cultura/ 44. 41Fonte: MINC (2009) p. 192.2.1 - CONFERNCIA ESTADUAL DE CULTURA Com a assinatura do protocolo de inteno junto ao governo federal, que tem comopactuao a realizao de conferncia, o governo do estado da Bahia convocou em 2005 a IConferncia Estadual de Cultura. Nessa I Conferncia da Bahia, apenas 21 municpios participaram de confernciasmunicipais e intermunicipais, o que representa 5% das 417 cidades, totalizando um pblico de1.951. No foram realizadas territoriais (Canedo, 2008). A etapa estadual foi realizada nos dias 28 e 29 de novembro de 2005, em Salvador,com um pblico de 248 pessoas, sendo 168 representantes da sociedade civil, 80 do poderpblico do governo estadual e 54 dos governos municipais (Canedo, 2008). O governo estadual no se empenhou na realizao dessa I Conferncia, o queresultou em baixa participao e as propostas discutidas no entrou no plano de ao dogoverno. Essa falta de interesse est relacionada ao fato do governo federal, o grandeincentivador das conferncias serem de partido da oposio. 45. 42 Como discute Canedo (2008), na gesto de Jaques Wagner, em 2007, os baianos soconvocados para a II Conferncia Estadual de Cultura. Para essa realizao a Secretaria deCultura do Estado que foi criada no ento governo, selecionou mobilizadores culturais parasubsidiar a realizao das conferncias em cada territrio. Com apresenta Canedo (2008), o tema geral da conferncia foi: Cultura,Diversidade, Cidadania e Desenvolvimento, divididos em sete eixos de trabalho: PatrimnioMaterial; Patrimnio Imaterial; Pensamento e Memria; Audiovisual e Radiodifuso;Expresses Artsticas; Polticas e Gesto Cultural e Culturas Digitais. Foram realizados noperodo de 20 de agosto a 13 de outubro, 390 encontros municipais, o que representa 94% dosmunicpios baianos, totalizando um pblico de 36.554 pessoas. Em cidades estratgicas, foram realizadas entre 17 de setembro a 17 de outubro de2007 as etapas territoriais da conferncia. Diferente da municipal em que as atividades foramrealizadas em um dia de trabalho, na territorial foram em dois dias, contando com a presenade 3.833 pessoas de 387 municpios, o que representa 84% do total dos municpios do estado.O tema com maior nmero de participantes nos grupos de trabalho foi Expresses Artsticas,com 1.547, o equivalente a 41% dos inscritos. Na sequncia esto Patrimnio Imaterial(22%), Polticas e Gesto Cultural (17%), Patrimnio Material (8%), Audiovisual eRadiodifuso (6%), Pensamento e Memria (5%) e Cultura Digital (1%) (Canedo, 2008). A etapa estadual da II CEC-BA foi realizada em Feira de Santana, de 25 a 28 deoutubro de 2007, com a participao de 2.042 pessoas, sendo 1.465 participantes inscritos e577 artistas baianos de grupos convidados que se apresentaram nas celebraes culturais.36% do pblico eram delegados que estavam representando 227 municpios. 63% no eramdelegados, mesmo estando previsto que essa etapa era destinada a delegados eleitos nasmunicipais. Participaram tambm 30 representantes de comunidades indgenas e 30quilombolas convidados pela Secretaria Estadual de Cultura. Foram produzidas 394 propostaspara as polticas setoriais e 169 propostas sobre os temas transversais (Canedo, 2008). Essa segunda II Conferncia de Cultura da Bahia pode ser considera o primeiromomento de ampla discusso do Estado com a sociedade, na construo e avaliao depolticas culturais. Com a equipe da Secretaria mais amadurecida e com o apoio dos representantesterritoriais que a Secretaria contratou para cada territrio, em 2009, foi realizada a terceiraedio da Conferncia Estadual de Cultura. Com o tem geral Cultura o que? e, dividida emcinco eixos temticos: Produo Simblica e Diversidade Cultural; Cultura, Cidade e Cidadania;Cultura e Desenvolvimento Sustentvel; Cultura e Economia Criativa; Gesto e Institucionalidade da 46. 43Cultura, A III CEC-BA iniciou com as conferncias municipais, que acontecera entre agosto eoutubro, em 367 cidades, com a participao de 43.957 pessoas.Mais uma vez as territoriais que aconteceram entre 4 de outubro e 8 de novembro,foram realizadas em cidades estratgicas de cada um dos territrios, mobilizando 4.794pessoas de 340 municpios.A etapa estadual aconteceu no perodo de 26 a 29 de novembro de 2009, em Ilhus,com a participao de 1.566 pessoas de 238 municpios (Secretaria de Cultura do Estado2007/2009).2.2.2 - CONSELHO ESTADUAL DE CULTURAO Conselho Estadual de Cultura da Bahia (CEC-BA), um rgo colegiado daSecretaria de Cultura, e o mais importante do Sistema Estadual. O CEC est ligadodiretamente ao Gabinete do Secretrio do Estado, tem carter normativo e consultivo, e afinalidade de contribuir para a formulao da poltica estadual de cultura. composto por 30conselheiros (20 titulares e 10 suplentes), representantes da diversidade cultural baiana, queforam indicados pelo Governador, aps consulta a entidades culturais. Esses conselheirosesto distribudos em quatro cmaras temticas25, que compem o conselho. Tambm fazemparte da sua composio, comisses espordicas que atuam em matrias ou assuntosespecficos.O Conselho foi criado em 13 de setembro de 1967, atravs da Lei 2.464, mas scomeou a funcionar a partir de 09 de maro de 1968. Nessas quatro dcadas de existncia jpassou por quatro alteraes regimentais26.No anteprojeto da Lei Orgnica do Sistema Estadual de Cultura, esto contidasalgumas alteraes no conselho como o nmero de seus membros que passar para cinquentae um, com igual nmero de titulares, sendo dois teros da sociedade civil e um tero derepresentantes do poder pblico.25 Cmara de Produo Cultural Contempornea; Cmara de Patrimnio Histrico, Artstico, Arqueolgico eNatural; Cmara de Articulao e Integrao e Cmara de Poltica Scio-Cultural.26 As alteraes regimentais sofridas pelo Conselho Estadual de Cultura da Bahia ocorreram em: 1976, atravsdo Decreto Estadual 5.264/76; 1983, mediante Lei Delegada n 051/83; 1995, atravs do Decreto 32.400/85;1996, mediante a Lei n 10.950/96; e 2004, atravs do Decreto 9.073 de 23 de abril de 2004. Canedo (2008). 47. 442.2.3 - PLANO ESTADUAL DE CULTURA O plano de cultura o ltimo elemento do sistema a ser construdo, ele tem validadedecenal e elaborado pelo estado junto a sociedade civil organizada, tendo com base asdiretrizes da conferncia de cultura. A Bahia vai realizar em dezembro de 2011 a IV Conferncia Estadual de Cultura,onde sero construdas as diretrizes do seu Plano Estadual de Cultura. O plano estadual, junto aos territoriais e municipais que j existem e os que seroconstrudos a partir da conferncia de 2011, aps torna-se lei devem ser executados peloEstado junto a sociedade no perodo de dez anos. 48. 453 - SISTEMA MUNICIPAL DE CULTURA DE CONCEIO DO COIT3.1 - CONSTRUO DO SISTEMA MUNICIPAL DE CULTURA Com a redemocratizao do pas e criao da Constituio de 1988, o sistemapoltico brasileiro passa por amplas modificaes, dando espao a populao a participarativamente da vida poltica brasileira. Essa nova Carta Magna que considera uma constituio cidad, vem a mudar aforma de se construir polticas culturais no pas. Anteriormente elas eram elaboradas para opovo, ou seja, eram construdas de forma hierrquica pelo Estado. Nessa nova conjunturaessas polticas comeam a ser construdas pelo prprio povo, atravs das consultas pblicas. Com a autonomia poltica, financeira e administrativa a qual os municpiosbrasileiros ganharam a partir de 1988, podendo elaborar Leis Orgnicas Municipais e,seguindo a linha da poltica nacional de cultura, implantada do pas, a partir de 2003, nagesto Lula, Conceio do Coit inicia em 2009 a construo do seu Sistema Municipal deCultura. Os sistemas municipais, estaduais e federal, formam uma rede de atuao e tm opapel de formular, fomentar, executar e avaliar as polticas culturais. Eles so construdos naparceria Estado e sociedade civil organizada. Os sistemas possuem ligao entre si, a diferena consiste nos elementos queatendam as demandas da realidade governamental, sendo nove elementos que compem osistema estadual e federal27. No caso do sistema municipal, foco de anlise desse captulo, abase so oito elementos: rgo Oficial, Conferncia, Conselho Municipal, Programa deFormao e Qualificao, Sistema de Informao e Indicadores Culturais, Instrumento deFomento e Financiamento, Sistema Setorial de Cultura e Plano de Cultura, como pode servisualizado na figura abaixo.FIGURA 5 - Desenho do Sistema Municipal de Cultura27No estadual a base de elementos pensados so nove: Secretaria de Cultura, Conselho de Polticas Culturais,Sistema de Financiamento, Comisso IntergestoresBipartite, Programa de Formao, Sistema de Informaes eIndicadores Culturais, Sistema Setorial de Cultura, Plano e Conferncia. Na esfera Federal so: rgos Gestoresda Cultura, Conselhos de Poltica Cultural, Conferncias de Cultura, Planos de Cultura, Sistemas deFinanciamento Cultura, Sistemas Setoriais de Cultura (quando pertinente), Comisses Intergestores Tripartite eBipartites, Sistemas de Informaes e Indicadores Culturais, Programa Nacional de Formao na rea daCultura (SNC). 49. 46Fonte: SNC (2009 p.19) Com a criao do Sistema Nacional de Cultura, os estados federativos foramsensibilizados a integrar o sistema, construindo seus sistemas estaduais e incentivando osmunicpios a criarem seus respectivos sistemas. Essa adeso voluntaria e acontece pelasensibilizao do gestor. Na Bahia, no governo de Paulo Souto (2003-2006), foi assinado um protocolo deinteno junto a Unio, porm a gesto no chegou a criar a lei para implantao do SistemaEstadual de Cultura. Na gesto seguinte (2007-2010), Jaques Wagner (PT), do mesmo partidopoltico do governo federal, assina um novo Protocolo de Inteno, cria uma secretariaexclusiva da cultura e comea a incentivar os 417 municpios a criarem os seus sistemasmunicipais. Para apoiar essa construo, a Secretaria contratou uma equipe tcnica da Escolade Administrao da Universidade Federal da Bahia (UFBA), para subsidiar o estado emunicpios a elaborarem os seus sistemas de cultura que, por ser uma ao nova, encontrauma srie de dificuldades em virtude da burocracia e da inexperincia dos agentes e gestoresculturais na elaborao de polticas dessa categoria. 50. 47O primeiro contato que a recm-criada gesto cultural de Conceio do Coit tevecom a equipe tcnica da UFBA, aconteceu em 2009, na cidade de Barrocas, no primeiroencontro dos dirigentes municipais de cultura do Territrio do Sisal, que contou com apresena do ento secretario estadual de cultura, Mrcio Meirelles. Esse encontro teve comoobjetivo sensibilizar os gestores para adeso ao sistema.A Superintendncia de Cultura de Conceio Coit, participando do evento e seinteressando pela proposta de criao do sistema, convidou a equipe a visitar a cidade paraconversar com o gestor. Nessa visita foi apresentada a proposta do sistema ao ento prefeitoRenato Souza (PP), que assinou um novo Protocolo de Intenes.28 Essa assinatura pode serconsiderada o primeiro passa na construo do Sistema Municipal de Cultura de Conceio doCoit.Aps a assinatura do documento, a prxima ao foi criar a lei do sistema, aprovadana Cmara de Vereadores do dia 08 de setembro de 2009, sobre a lei municipal n 535,publicada no Dirio Oficial do municpio dia 14 de setembro. Ela sofreu alteraes em 15 demaro de 2010 e foi publicada sobre o nmero n 546, em 16 de maro29. Nessa lei estcontida a criao do Fundo Municipal de Cultura e do Conselho Municipal de Cultura,elementos que integram o sistema.Conceio do Coit foi o primeiro municpio entre os 20 do Territrio do Sisal,seguido de So Domingos, Nordestina e Lamaro e, um dos dez primeiros do estado a criar alei do sistema30. Esse pioneirismo fruto do perfil de compromisso da gesto cultural que temcomo coordenadora da pasta Marialva Carneiro de Carvalho, pedagoga, ps-graduada emgesto da educao, professora do estado que foi remanejada para a funo. A gestora foiresponsvel pela iniciativa em aderir ao sistema.A qualificao terica e o perfil de compromisso em que foi classificada asuperintendente nas entrevistas realizadas pela a autora, no comum na realidade brasileiraque, em muitos casos a pasta de cultura destinada as pessoas menos influente do grupopoltico e consideradas menos capacitadas.28 O prefeito anterior, Everton Rios de Arajo (2005-2008) assinou um Protocolo de Inteno em 26 de maro de2007 em um encontro de dirigentes municipais da cultura realizado em Vitria da Conquista, mas era final degesto e no foi dado nenhum outro passo para a construo do sistema. Em 12 de maro de 2009 o entoprefeito Renato Souza, assinou um novo Protocolo de Intenes. No anexo D possvel verificar o Protocolo deInteno assinado por Renato Souza.29 No anexo E possvel verificar a lei de criao e modificao do Sistema Municipal de Cultura.30 No possvel saber quais municpios exatos, antecederam Conceio do Coit na criao do sistema decultura, pois a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, declarou est tendo dificuldades em acompanhar acriao dos SMC. Mas o municpio de Conceio do Coit est entre os dez primeiros do estado 51. 48 Antes da assinatura do Protocolo, o municpio j possua alguns dos elementos quecompem o sistema, como o rgo Oficial de Cultura, Sistema de Informao e IndicadoresCulturais, Programa de Formao e Qualificao e Sistema Setorial de Cultura. AConferncia, Conselho, Plano e o Instrumento de Fomento e Financiamento, so posteriores alei do sistema. Os elementos que j existiam vem passando por reformulaes e adequaes.3.2 - RGO OFICIAL DE CULTURA O rgo Oficial de Cultura pode ser uma secretaria ou uma superintendncia. EmConceio do Coit, foi criada, no inicio da gesto de Renato Souza (2009-2012), umaSuperintendncia de Cultura e Cidadania, que vinculada a Secretaria de Educao e Cultura.A Superintendncia tem autonomia para criar projetos, organizar eventos, responder pelasdemandas da rea, porm, alguns quesitos como financeiros e burocrticos, passam pelaSecretaria, sendo dessa o parecer final. A falta de rgos oficiais ou a diviso da pasta uma triste realidade a nvelnacional, como analisa Barros (2009), a partir de dados da MUNIC (2006), apenas 6,8% dosmunicpios brasileiros possuem uma secretaria prpria para a gesto da cultura, em 86,6%, acultura subordinada ou integra outras secretarias, com a seguinte diviso: Norte (7,1%),Nordeste (5,7%), 116 Sudeste (8,6%), Sul (6,5%) e Centro-Oeste (5,8%). Na esfera estadual,a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia informa que apenas 24 municpios, o quecorresponde 5,8%, possuem secretaria ou fundao exclusiva, 320 que corresponde 76,7 dosmunicpios a secretaria em conjunto com outras polticas, 72 municpios correspondente a17,3% o setor subordinada a outras instancia de governo e, 1 que corresponde a 0,2, nopossuem secretaria especfica (SECULT, 2010)31. A gesto cultural de Conceio do Coit est na reponsabilidade de MarialvaCarneiro de Carvalho desde a criao da superintendncia em 2009. Os cargos de gesto noBrasil na maioria das vezes so de confiana poltica sendo rara a existncia de concursospblicos para a rea, trocando-se de gestores a cada governo o que gera uma instabilidade nasaes. Cunha (2009), ao analisar dados da MUNIC (2006), nos diz que 25,12% dos cargos degesto cultural so ocupados por pedagogos, como o caso de Conceio do Coit, e apenas0,8%, so ocupados por profissionais de produo cultural.31 No anexo F possvel visualizar quais so os muncipios que possuem secretaria ou fundao exclusiva. 52. 49 importante ressaltarmos que em termos acadmicos a formao em cultura recente no pas. E como aponta Calabre (2007), um campo ainda recente de trabalho, eencontra uma srie de dificuldades como a prpria formao e qualificao de gestor, o quetorna comum o remanejamento de profissionais de reas como educao, que dialoga comfacilidade com a cultura, estando muitas vezes dividindo a mesma pasta administrativa. Ferreira (2009) coloca que a figura do gestor cultural, e a tentativa de configurar agesto cultural como profisso, apontada como um caminho que