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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS XIV COLEGIADO DE HISTÓRIA BIANCA CARNEIRO DE ALMEIDA PARTIDO DOS TRABALHADORES: RUPTURAS E PERMANÊNCIAS DE UM PROJETO POLÍTICO EM COITÉ (1986-2008) Conceição do Coité 2009

Partido dos trabalhadores rupturas e permanências de um projeto político em coité (1986 2008)

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Page 1: Partido dos trabalhadores rupturas e permanências de um projeto político em coité (1986 2008)

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS XIV

COLEGIADO DE HISTÓRIA

BIANCA CARNEIRO DE ALMEIDA

PARTIDO DOS TRABALHADORES: RUPTURAS E PERMANÊNCIAS DE UM PROJETO POLÍTICO EM COITÉ (1986-2008)

Conceição do Coité 2009

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BIANCA CARNEIRO DE ALMEIDA

PARTIDO DOS TRABALHADORES: RUPTURAS E PERMANÊNCIAS DE UM PROJETO POLÍTICO EM COITÉ (1986-2000)

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Educação da UNEB, Campus XIV, Conceição do Coité, como requisito parcial para obtenção do grau de Graduação em Licenciatura em História.

Orientador: Prof. Ms. Eduardo Borges

Conceição do Coité 2009

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RESUMO

O trabalho aqui apresentado é resultado de uma pesquisa para o Trabalho de Conclusão de Curso de Licenciatura em História da UNEB e visa perceber as rupturas e permanências do PT coiteense, de suas origens aos dias atuais, como também se sua trajetória está em consonância com a do PT nacional. O trabalho situa-se na linha da Nova História Política que tem dentre os seus principais teóricos o historiador René Remond. Ao longo do trabalho, observando as práticas do PT local e do PT nacional percebe-se que no momento do nascimento do primeiro este estava em conformidade com o PT nacional, a não ser em aspectos que diziam respeito ao contexto no qual ele estava inserido, já que era impossível manter um discurso idêntico em um centro industrial e desenvolvido e numa cidade agrícola e interiorana como é o caso de Conceição do Coité. Com o passar do tempo e as transformações ocorridas a nível nacional o PT coiteense foi acompanhando a evolução do PT nacional, no entanto um pouco mais próximo ainda de suas origens. Isso se deve, em grande parte, ao fato de que em Conceição do Coité o PT não conseguiu chegar ao poder municipal, nem ser maioria na Câmara de Vereadores, permanecendo assim afastado do poder local.

Palavras-chave: Partido dos Trabalhadores, política, transformações.

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ABSTRACT

The work presented here is the result of a search for the Conclusion of the Degree in History UNEB and aims to realize the breaks and continuities of the PT coiteense, from its origins to the present day, but if his career is in line with the PT national. The work falls in line with the new political history that has among its main theoretical historian René Rémond. Throughout the work, observing the practices of local and EN EN national realize that at the time of birth of the first was in line with the national PT, except in matters which related to the context in which it was inserted, since it was impossible to maintain a similar speech in an industrial center and a town developed and agricultural and inland areas as is the case of the Conception Coité. With the passage of time and the changes occurring at national level PT coiteense was monitoring developments in national PT, but a little closer still to its origins. This is due in large part to the fact that in the Conception Coité the PT failed to reach the municipal government and is not majority in the House of Councilors, staying well away from local governments. Keywords: Worker’s Party, political, transformations.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................... 06

01. O NASCIMENTO DE UM PARTIDO...................................... 12

- 1.1 O COMEÇO DE TUDO.............................................................. 12

- 1.2 ANOS 80: A CONSOLIDAÇÃO DE UM PARTIDO.................. 15

- 1.3 ANOS 90: AS TRANSFORMAÇÕES......................................... 18

- 1.4 2002: LULA E O PT DE HOJE................................................................ 22

02. PT E COITÉ: O PRIMEIRO ENCONTRO.............................. 24

- 2.1 ANOS 80: A BUSCA DE REFERÊNCIA............................................. 24

- 2.2 ANOS 90: MOMENTOS DE CRISE.......................................... 31

- 2.3 ANOS 2000: UM NOVO CENÁRIO...................................................... 34

03. O NACIONAL E O LOCAL: A AÇÃO PARTIDARIA........ 40

CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................... 49

REFERÊNCIAS............................................................................... 51

FONTES........................................................................................... 54

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INTRODUÇÃO

A História Política vista como algo retrógrado e factual tem nas últimas décadas,

tomado uma posição cada vez mais inovadora e analítica, sofrendo grande influência da

Escola dos Annales. No entanto, desde o “nascimento” da História com Heródoto e Tucídides

na Grécia Antiga que esta focaliza como objeto de estudo os reinados dos “grandes homens”,

dos heróis, das guerras e de toda uma vida pública em que só constava a classe dominante.

Na Idade Média a maior parte dessas características persistem, no entanto, entra em

cena agora o monopólio da Igreja Católica sobre o conhecimento, onde há “a inclusão do

devir humano numa teleologia divina.”1 segundo Rafael Sêga em artigo intitulado História e

Política. Já Francisco Falcon defende que incluiu a crítica das fontes e a supressão das lendas.

Ainda segundo este autor a História Política da era Moderna trouxe algumas

novidades:

Neste período, correspondendo à chamada Idade Moderna, a História, como história política, apresenta ainda três peculiaridades interessantes: (1) ela continua a ter sua velha função de mestra da vida, mas os humanistas a utilizam também no ensino da retórica: (2) a sombra de Maquiavel faz pairar sobre ela uma desconfiança terrível: talvez, na verdade, a história não seja capaz de ensinar senão política e nada tenha a ver com a moral e a ética; (3) trata-se de ‘‘histórias’’ que se referem cada vez mais aos Estados territoriais ou dinásticos, as conhecidas monarquias nacionais dos Estados absolutistas dos tempos modernos, constituindo-se em precursoras das futuras histórias nacionais centradas na idéia de Estado-nação.2

Depois deste período, a Revolução Francesa veio trazer um racionalismo para a

História Política, assim como uma maior atenção às demais classes além da classe dominante,

até então praticamente a única estudada. No século XIX, mais especificamente na segunda

metade deste século, o vigor técnico-industrial da sociedade causado pelas grandes inovações

tecnológicas que foram desembocar na Revolução Industrial, trouxe valores que acentuaram o

1 SÊGA, Rafael. História e Política. História: Questões & Debates, Curitiba, n. 37, p. 183-195, 2002. Editora

UFPR. p. 187.

2 FALCON, F. História e Poder. In: CARDOSO, C.; VAINFAS, R. (Org.). Domínios da História: ensaios de

teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997. p. 63.

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racionalismo das Luzes e conduziram a uma nova ânsia para a historiografia de um

cientificismo positivista. Até então a História Política continuava tradicional, factual e elitista.

Segundo Rafael Sêga essas características persistiram porque a História é produzida de

acordo com o contexto social, político, econômico e cultural e atende aos propósitos

ideológicos de cada período:

Não é a toa que a narrativa linear e sequencial dos feitos políticos-militares predominou na historiografia por mais de dois mil anos, pois a história é “filha de seu tempo” e como tal atendeu continuamente a suas intenções ideológicas: à noção de pertencimento à pólis ou à grandeza de Roma, à índole guerreira da nobreza feudal ou ao sentimento religioso dos fiéis da Santa Igreja, ao temperamento empreendedor da modernidade ou aos enlevos nacionalistas contemporâneos, etc.3

Com a ascensão da Escola dos Annales no início do século XX essa situação começou

a mudar. Essa Escola ampliou o leque de campos e objetos a serem estudados, incluiu-se

agora a História Cultural, História Social, dentre outras, e todas estas traziam agora uma

abordagem “vinda de baixo” na tentativa de priorizar as classes subalternizadas, os chamados

“excluídos da História".4

Nesse período a História Política foi deixada de lado em certo sentido, pois era sempre

identificada com a História Política tradicional e factual. A partir dos anos 1950 e 1960 a

situação começou a se modificar, pois surgiram novas abordagens dessa área agora

identificada como Nova História Política. José D’Assunção Barros analisando essas

transformações, afirma que:

Assim, enquanto a História Política do século XIX mostrava uma preocupação praticamente exclusiva com a política dos grandes Estados (conduzida ou interferida pelos “grandes homens”), já a Nova História Política que começa a se consolidar a partir dos anos 1980 passa a se interessar também pelo “poder” nas suas outras modalidades (que

3 SÊGA, Op. Cit., p. 190.

4 Sobre a Escola dos Annales, ver BURKE, Peter. A Escola dos Annales (1929-1989): a revolução francesa da

historiografia. 2. Ed. São Paulo: Editora UNESP, 1992.

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incluem também os micropoderes presentes na vida cotidiana, o uso político dos sistemas de representações, e assim por diante). 5

Essa renovação historiográfica teve seu pontapé inicial em 1954 com o lançamento da

obra La droite fraçaise de René Remond, no entanto só veio a se consolidar a partir dos anos

de 1980, onde a História Política está cada vez mais ligada a análises inovadoras de inúmeras

esferas do poder político, não somente do Parlamento ou Executivo, mas também, dos

processos políticos, das relações políticas entre grupos sociais, das relações inter-individuais,

das representações políticas, organização das unidades políticas e relação entre as unidades

políticas. 6

A Nova História Política trouxe inúmeras inovações nesse campo de estudo e agora

está revitalizada para voltar cada vez mais atuante nos estudos históricos, cumprindo agora

todas as condições para ser reconhecida dentro do contexto da Nova História. Essa idéia é

analisada por Marieta de Moraes Ferreira que defende as posições de Rene Rémond:

A nova história política, segundo Remond, preenche todos os requisitos necessários para ser reabilitada. Ao se ocupar do estudo da participação na vida política e dos processos eleitorais, integra todos os atores, mesmo os mais modestos, no jogo político, perdendo assim seu caráter elitista e individualista e elegendo as massas como seu objeto central. Seu interesse não está voltado para a curta duração, mas para uma pluralidade de ritmos que combina o instantâneo e o extremamente lento. Para Remond, há um conjunto de fatos que se sucedem em um ritmo rápido aos quais correspondem datas precisas, mas outros fatos se inscrevem em uma duração mais longa – é a história das formações políticas e das ideologias, em que o estudo da cultura política ocupa um lugar importante para a reflexão e explicação dos fenômenos políticos, permitindo detectar as continuidades no tempo de longa duração. Finalmente, segundo o autor, a história política também pode dispor de grandes massas documentais passíveis de quantificação, tais como dados eleitorais e partidários, para citar os mais expressivos. 7

Dentro desse âmbito da Nova História Política um dos objetos bastante estudados e

que será também analisado nesse trabalho são os partidos políticos. Estes são alvos de

5 BARROS, José D’Assunção. O Campo da História: especialidades e abordagens. 4. Ed. São Paulo: Vozes, 2004. p. 107.

6 Idem. p. 101.

7 FERREIRA, M. De M. A Nova “Velha História”: o retorno da história política. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10, 1992, p. 267.

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inúmeras obras, e muitas vezes antes do advento dessa nova forma de analisar a história, se

limitavam a narrar o ciclo de vida de um partido e descrever seus feitos. No entanto, hoje é

dado um novo enfoque ao estudo dos partidos políticos, como revela Serge Berstein,

defendendo o que mais a história de um partido tem a oferecer aos estudiosos:

[...] a importância e a riqueza de um domínio que se situa no cruzamento da longa duração e do acontecimento singular e que recorre, para explicar as ações dos homens, a dados múltiplos e complexos cuja combinação desemboca na existência e na ação dos partidos: o peso da tradição e o jogo das mentalidades, a cultura e o discurso, os grupos sociais e a ideologia, a psicologia social, o jogo dos mecanismos organizacionais e a importância das representações coletivas. 8

Dessa forma, estudar partidos políticos se torna algo de extrema importância para

entender não só as relações políticas dessas instituições, mas também todo um processo social

que essa agremiação traz intrínseca e que se torna principalmente um local de mediação

política, um local onde se dá a ligação entre a realidade e o discurso político, as necessidades

individuais e as lutas coletivas.

Para o desenvolvimento desse trabalho iremos analisar um partido político, o Partido

dos Trabalhadores na cidade Conceição do Coité, uma pequena cidade do interior baiano

localizada na região do semi-árido a 220 km de Salvador, capital do estado. A população gira

em torno de 60 mil habitantes9, sendo que a maioria vive na zona urbana. No âmbito

econômico a cidade tem o segundo maior PIB da região (209,92 milhões) que está distribuído

nos setores da seguinte forma: serviços (127,94), indústria (46,61) e agropecuária (18,28).10

Segundo Vanilson Lopes, memorialista da cidade, o arraial de Conceição do Coité tem

origem num grupo de tropeiros que, fazendo a viagem de Feira de Sanatana à Jacobina,

paravam para descansar em um local onde existia uma fonte de água utilizada por eles e uma

árvore que dava uma fruta em que a cabaça era utilizada como cuia e chamada de Cuite no

idioma indígena. Para o arraial se tornar freguesia o Sr. João Benevides doou um terreno para

8 BERSTEIN, Serge. Os Partidos. In. REMOND, René (org.). Por uma História Política. 2. Ed. São Paulo: Editora FGV, 2003. p. 58.

9 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em:

http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1. Acesso em: 02/11/09.

10 Estatísticas dos Territórios Baianos. Obra em nove fascículos encartados na revista Bahia de Todos os

Cantos. Fascículo nº 1, 2009.

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a construção da igreja de Nossa Senhora da Conceição, sendo considerado o fundador da

cidade, assim em 09 de maio de 1855 nasce a freguesia de Conceição do Coité. 11

Assim a freguesia prossegue crescendo até que é elevada a categoria de Vila em

1878 e, mais tarde em 1890 o município é criado, no entanto passa por uma fase de

instabilidade e é reintegrado ao município de Riachão do Jacuípe em 1931. Em 07 de julho de

1933 é emancipado e se torna uma cidade autônoma, tendo como primeiro prefeito João Paulo

Fragoso, considerado responsável pela independência da cidade. Nesse período um dos líderes

políticos mais fortes foi Wercelêncio Calixto da Mota, um comerciante local que tinha o título

de coronel e agia como tal em suas práticas políticas tradicionais.

O domínio do conhecido “Seu Mota” e seu grupo durou até o ano de 1972, quando

entrou em cena um novo líder político, seu antigo correligionário, Hamilton Rios de Araújo,

que se utilizou de práticas políticas clientelísticas, como doação de água na zona rural,

material de construção e todo tipo de “ajuda” à população pobre, conseguindo assim se eleger

em 1972 e continuar reelegendo a si mesmo e aos seus protegidos.

Nesse momento o Brasil estava sob o regime militar iniciado em 1964. Só existiam

dois partidos a Aliança Renovadora Nacional (ARENA) governista e o Movimento

Democrático Brasileiro (MDB) na oposição, ambos criados pelo próprio regime. Como nesse

período muitos líderes políticos, principalmente os tradicionalistas, almejavam a proteção do

governo, existia a chamada sublegenda, ou seja, o partido do governo se dividia em ARENA

1 e ARENA 2. Esse foi o caso de Conceição do Coité, onde não existia o MDB e todas as

disputas se davam dentro de um mesmo campo ideológico, só havendo uma separação dos

candidatos em seu âmbito pessoal, persistindo assim o personalismo característico das formas

políticas tradicionais.

Criando essa diferenciação entre os candidatos surgiu a simbologia das cores vermelho

e azul. O vermelho simbolizava o grupo de Hamilton Rios e os azuis simbolizavam o grupo

de oposição, tendo como principal personagem Misael Ferreira. A origem dessa simbologia é

um tanto controversa, no entanto, a versão mais verossímil é a de Roberto Lopes, registrada

num livro de memórias, onde conta que:

11 LOPES, Vanilson. Conceição do Coité: a capital do sisal. Salvador: Universidade do Estado da Bahia, 1993.

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Evódio Resedá era Maçom, e Maçom na época era coisa do demônio, bode preto, vermelho, comunista. Começava aí a divisão de águas coloridas. A situação da qual Evódio era opositor passou a chamá-lo de bode preto, maçom, demônio, vermelho, comunista “Ele é vermelho, cor do diabo. Nós somos azuis, cor do céu” – diziam os futuros “azuis”. Na campanha de Hamilton Rios (Mitinho), uma reunião de mulheres (a ala feminina do grupo), aprovou a cor vermelha [...] surgindo nos comícios bandeiras vermelhas[... ]12

Surgiram também em Coité, ao longo dos anos de 1980 o Partido do Movimento

Democrático Brasileiro (PMDB), o Partido Democrático Trabalhista (PDT), o Partido da

Frente Liberal (PFL) e o Partido dos Trabalhadores (PT). O grupo de Hamilton Rios

continuou do PDS entrando posteriormente no Partido Progressista (PP) que surgiu de uma

dissidência do PDS, Misael Ferreira ficou inicialmente no PMDB, passando depois também

pelo PL e PSDB.

Foi nesse contexto que surgiu o Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores em

Conceição do Coité, o qual será o nosso objeto de estudo. Num primeiro momento,

estudaremos o PT a nível nacional, toda a sua trajetória e transformações sofridas, num

segundo momento faremos uma análise similar com o PT de Conceição do Coité

identificando as semelhanças e diferenças entre esses dois âmbitos de uma mesma instituição

e num terceiro momento analisaremos a atuação parlamentar dos vereadores petistas em

Conceição do Coité, fazendo uma analogia com o primeiros petistas eleitos em 1982,

enfatizando a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, visto como o centro de atuação

do PT.

12 LOPES, Roberto. Vitórias de Amor e Paixão por Coité. Conceição do Coité: Nossa Gráfica, 2007, p. 103.

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CAPÍTULO 01

O NASCIMENTO DE UM PARTIDO

1.1 O Começo de Tudo

O surgimento do PT foi um fenômeno um tanto atípico, pois ia em certa medida à

contramão das outras agremiações partidárias. Para entendermos esse fenômeno, é necessário

compreender o momento no qual esse fato ocorreu, o período de redemocratização brasileira,

principalmente entre o final da década de 1970 e início da década de 1980.

Esse período foi bem peculiar em comparação a outros países que passaram por

situações um tanto quanto parecidas, até porque o próprio regime autoritário foi diferenciado.

Nas ditaduras que ocorreram em outras regiões da América Latina, a ruptura com as estruturas

democráticas foi quase absoluta, enquanto que no Brasil persistiu alguns instrumentos de um

governo constitucional, como o funcionamento de um Congresso, eleições para o Legislativo

e um sistema bipartidário. Mesmo de forma limitada, essas continuidades fizeram com que no

Brasil, segundo Juan Linz13, existisse mais uma “situação autoritária” do que um regime

autoritário propriamente dito.

A redemocratização “lenta e gradual” foi realmente lenta, pois ocorreu sob o controle do

próprio regime e dos grupos políticos conservadores. Todo esse processo chegou a durar uma

década.

Segundo Margaret Keck, em países como a Argentina, Chile e Uruguai houve

oficialmente uma total extinção de organizações partidárias, isso provocou na realidade um

congelamento das identidades partidárias pré-existentes, portanto o período de transição seria

utilizado para ocupar esses espaços que já tinham legitimidade entre os eleitores. No Brasil,

com a manutenção do sistema bipartidário, a transição deveria ser um momento de criação de

novas identidades partidárias. E é justamente nesse ponto que o PT apresenta uma pequena

singularidade, pois ele tentou criar de fato uma identidade que não fosse ligada às

organizações existentes durante o período autoritário e nem às tradições históricas.

13 Linz, J. J. Apud. KECK, Margaret. PT, a lógica da diferença: o Partido dos Trabalhadores na construção da

democracia brasileira. São Paulo: Ática, 1991.

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Fatores importantes para se analisar as origens do Partido dos Trabalhadores foram as

greves de 1978 e 1979. A primeira teve como reivindicação os salários, mas teve um resultado

mais amplo, enveredando para a política, pois deu aos trabalhadores uma noção da força que

eles tinham, já que era a primeira greve em mais de 14 anos. O resultado disso foi que nas

greves de 1979 a luta já era por autonomia, direitos a uma cidadania plena, ou seja, objetivos

mais amplos e de longo prazo.

A atenção dada, principalmente pela mídia, a essas greves, demonstrou aos trabalhadores

que eles também tinham um importante papel como agentes políticos como também provou a

alguns líderes sindicais que era de suma importância a participação política, pois a greve

sozinha de nada adiantaria se todo o aparelho do Estado estivesse contra eles e ao lado dos

patrões. A partir disso, a idéia de formar um partido próprio começou a ser discutida.

A proposta inicial do PT expressa na Carta de Princípios, publicada em 1979

conclamando os trabalhadores a se organizarem e participarem da formação deste partido, era

formar um organização partidária cujo objetivo maior seria organizar toda a classe

trabalhadora, a atividade parlamentar na verdade estaria subordinada a esse princípio

norteador.14

Os dois principais valores são a democracia e o socialismo. A democracia, segundo eles,

só seria constituída com a participação dos trabalhadores, pois estes eram os reais agentes da

democracia. Para possibilitar essa participação o PT deveria proporcionar uma real

democracia interna, com o direito de minorias se expressarem e se organizarem em

tendências.

A principal característica do PT que o diferencia dos demais partidos em formação,

principalmente o PMDB, é a fuga da dicotomia governo e oposição. Para ele os verdadeiros

“inimigos” eram as elites, independentes de estas estarem ao lado ou contra o regime

autoritário. O PT pregava na verdade uma luta de classes, uma oposição entre patrões e

empregados, entre elite e classe trabalhadora. Esta posição fica explícita em várias passagens

da Carta de Princípios de 1979, quando, por exemplo, diz que “O Partido dos Trabalhadores

entende que a emancipação dos trabalhadores é obra dos próprios trabalhadores, que sabem

que a democracia é participação organizada e consciente e que, como classe explorada, jamais

deverá esperar da atuação das elites privilegiadas a solução de seus problemas.”15 ou quando

14 Carta de Princípios. In. Partido dos Trabalhadores: Resoluções de Encontros e Congressos & Programas de

Governo (1979-2002). Fundação Perseu Abramo, 2005. CD-ROM.

15 Idem. p. 04.

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afirma que “o Partido dos Trabalhadores é um partido sem patrões!”16. E é nesse ponto da

formação inicial do PT que reside sua maior peculiaridade.

Em 1979 foi promulgada a lei da reforma partidária, na realidade ela tinha como objetivo

dividir a oposição, até então unida dentro do MDB, para frear o espantoso crescimento deste.

Nas palavras de Thomas Skidmore:

Dada a recente história brasileira, a “oposição” levava uma natural vantagem no sistema bipartidário em vigor em sua luta contra o governo, especialmente nas cidades e no Centro-Sul mais economicamente desenvolvido. Os estrategistas políticos do presidente, à frente o general Golbery, imaginaram uma solução parcial: dissolver o sistema bipartidário e promover a criação de múltiplos partidos com elementos da oposição, mas preservando as forças do governo em um único partido (presumivelmente com outro nome). O governo manteria assim o seu controle seja pela divisão dos votos da oposição ou pela formação de uma coalizão com os elementos mais conservadores do partido adversário. Acima de tudo, o governo tinha que romper a unidade oposicionista. 17

Desde a promulgação dessa lei até 1982, todas as forças foram canalizadas para o

cumprimento das exigências da legislação, que permitissem a legalização do PT, assim em 11

de fevereiro deste mesmo ano o Partido dos Trabalhadores teve sua licença provisória

concedida. As conseqüências imediatas desse processo foram: a pouca atenção dada a

definição da identidade política ideológica partidária, ocasionada pela concentração de

esforços nos aspectos organizacionais, como também a falta de preocupação com a qualidade

dos membros, causada pela busca desenfreada de quantidade. Assim como afirma Margaret

Keck

[...] a decisão de legalizar o partido apesar das dificuldades criadas pela legislação inviabilizou o tipo de processo orgânico que o projeto inicial tinha em vista, qual seja, a conscientização gradual dos trabalhadores, juntamente com o crescimento dos movimentos da sociedade civil e a constituição do partido com base na participação em massa dos seus membros. 18

16 Ibidem. p. 05.

17 SKIMORE, Thomas E. Brasil: de Castelo a Tancredo, 1964-1985. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. p. 427.

18 KECK, Margaret. Op. Cit. p. 123.

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1.2 Anos 80: a consolidação de um partido

A proposta inicial do partido foi inviabilizada desde o começo, já que a própria legislação

impossibilitou o tipo de processo que o PT pretendia implementar, que era uma organização

pautada nas movimentos sociais de base, na conscientização gradual dos trabalhadores, e na

participação em massa dos seus membros, como pode ser observado em seu manifesto de

lançamento quando diz que “O PT afirma seu compromisso com a democracia plena e

exercida diretamente pelas massas. Neste sentido proclama que sua participação em eleições e

suas atividades parlamentares se subordinarão ao objetivo de organizar as massas exploradas

e suas lutas.”19 No entanto o curto espaço de tempo destinado a organização fez com que a

filiação ocorresse em massa sem a preocupação de que os membros participassem de núcleos

de base.

Esses núcleos eram o cerne da estratégia da democracia interna petista, pois eram eles que

promoveriam a educação política dos seus membros, como também seria o local primordial

da ação política e das deliberações partidárias, como pode ser observada na resolução do I

Encontro Nacional em 1981: “A ampliação da organização da base através da nucleação em

massa deve ser tomada como tarefa fundamental, para que nossa atuação no processo eleitoral

possa significar uma efetiva organização dos trabalhadores.”20. No entanto, a vaga noção do

papel desses órgãos, somados a precariedade do aparelho de comunicação intrapartidária,

acabou desgastando esse processo e fez com que esses núcleos fossem, em grande parte,

engolidos pelos comitês e não mais se reestruturassem. A medida de formação desses núcleos

foi algo não muito bem construído dentro do PT, durante toda a década de 1980 não houve

uma estruturação sólida.

Outra tentativa de alcançar uma democracia interna satisfatória, foi a realização de pré-

convenções das quais participariam um número maior de pessoas, eram nessas reuniões que

as decisões eram tomadas, as reuniões posteriores apenas ratificavam e oficializavam essas

decisões, como está expressa na Carta Eleitoral de 1982 “Antes das convenções que indicarão

oficialmente os candidatos, o Partido deve apoiar todo o processo de seleção em encontros

19 Manifesto de Lançamento do PT. 1980. p. 02. In. PT. Disponível em: < http://www.pt.org.br/portalpt/>.

Acesso em: 25/08/2008.

20 Eleições. I Encontro Nacional. In. Partido dos Trabalhadores: Resoluções de Encontros e Congressos &

Programas de Governo (1979-2002). Fundação Perseu Abramo, 2005. CD-ROM. p. 01.

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democráticos distritais, municipais e estaduais, garantindo participação ampla dos núcleos nas

indicações.”21.

No entanto nenhuma dessas medidas possibilitou uma total democracia interna, já que se

formou uma classe burocrática no interior deste partido, expressa pela tendência hegemônica

em praticamente toda a história do PT: a Articulação. Analisando os nomes dos presidentes do

Diretório nacional desde sua criação, pode-se notar que apenas alguns nomes se repetem

como o de Lula (com seis mandatos – 1980/1986, 1990/1994), Olívio Dutra (1987-1989),

José Dirceu (quatro mandatos – 1995/2002), José Genoino (2002/2003) e hoje Ricardo

Berzoini.22

A estruturação regional do Partido dos Trabalhadores se caracterizou por uma grande

diversidade. No Rio de Janeiro, por exemplo, não houve um apoio dos partidos, pois grupos

tradicionais de esquerda (MR-8 e Partido Comunista), que detinham grande influência nos

sindicatos, apoiavam o PMDB. Assim, nessa área os porta-vozes da proposta petista foram

estudantes, intelectuais, grupos comunitários, mas não uma classe coesa. Já em Feira de

Santana-BA, apesar de ser uma cidade com um nível de industrialização significativa, o PT

foi formado basicamente por membros do movimento estudantil ou organizações dissidentes

do MDB e PCdoB.23

No Acre, a formação do PT se deu de forma bastante propícia, já que foram formados por

classes coesas: basicamente as comunidades eclesiais de base da Igreja Católica e os

sindicatos rurais. Essas classes eram bem engajadas politicamente mesmo sem pertencerem

ou apoiarem um partido político propriamente dito, pois como afirma Margaret Keck

Em 1978, os militantes da Igreja e sindicatos, trabalhando em conjunto com intelectuais locais, haviam organizado uma frente popular das forças progressistas para influenciar as eleições. Em vez de concorrer com candidatos próprios, a frente apresentara aos candidatos do MDB um programa a ser endossado por aqueles que apoiassem os pontos ali contidos. 24

21 Carta Eleitoral: II Encontro Nacional. In. Partido dos Trabalhadores: Resoluções de Encontros e Congressos

& Programas de Governo (1979-2002). Fundação Perseu Abramo, 2005. CD-ROM. p. 06.

22 Direções Eleitas. Idem.

23 SANTOS, I. G. Na contramão do sentido: Origens e trajetória do PT de Feira de Santana (BA) – 1979-2000. 2007. 252 f. Dissertação (Mestrado em História). Universidade federal Fluminense. Niterói, 2007.

24 Keck, Margaret. Op. Cit. p. 119.

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17

Os líderes das primeiras eram bem mais politizados do que no restante do país, antes

mesmo da criação do PT já haviam reivindicado a formulação de um partido que promovesse

a participação das bases, que tivesse um viés socialista e lutasse contra o governo autoritário.

Enquanto aos sindicatos, estes gozavam de grande prestígio perante a população e apoiaram

maciçamente o PT.

Os resultados dessa estruturação tanto interna quanto regional, foram percebidos nas

eleições que ocorreram na década de 1980. O ambiente eleitoral se caracterizava pelas

tentativas de convencer a população sobre o caráter da eleição de 1982, primeira eleição

pluripartidária depois de 1965. O Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB)

procurava dar a essa eleição uma feição plebiscitária, entre governo e oposição (representada

por ele). Já o Partido dos Trabalhadores, lutava contra esse discurso pemedebista e tentava

programar uma disputa eleitoral horizontal entre os partidos, enfatizando a importância de

“trabalhador votar em trabalhador”, como defende na sua Carta Eleitoral de 1982:

[...] desta vez, não estaremos mais submetidos à obrigatoriedade de optar entre dois partidos criados pelo Regime Militar e controlados, ambos, por segmentos das elites dominantes. Desta vez, contaremos com as possibilidades de votar em um partido criado por nossas próprias mãos: o Partido dos Trabalhadores. 25

Diferente do decepcionante resultado da eleição de 1982, a de 1985 teve um êxito

significativo, sendo o desempenho do partido notícia de destaque na Veja26, com manchete “A

estrela do partido: de braços dados com sindicatos o PT torna-se cada vez mais encorpado nas

cidades e no campo e faz barulho por toda parte”. Isso se deve em parte pelas mudanças na

campanha, que passava de um tom sectário, fechado, seco, para algo mais alegre, até mesmo

bem humorado, fazendo com que sua mensagem fosse entendida e aceita por um maior

número de pessoas, chegando até, em Vitória, recorrer à classe média e às esferas liberais, até

porque seu candidato era de classe média, o médico Vitor Buaiz27.

É interessante também notar o impacto dessas eleições na estruturação do PT. Em

primeiro lugar, os petistas perceberam que direcionando sua campanha eleitoral apenas a

25 Carta Eleitoral. II Encontro Nacional. In. Partido dos Trabalhadores: Resoluções de Encontros e Congressos

& Programas de Governo (1979-2002). Fundação Perseu Abramo, 2005. CD-ROM. p. 02.

26 Veja, nº 903, 25 de dezembro de 1985.

27 Mais informações ver KECK, Margaret E. Op. Cit.

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classe trabalhadora não conseguiria grandes vitórias nas urnas, caindo por terra então o viés

classista de seu discurso, que agora tentava abarcar outras classes sociais, principalmente a

classe média. Em segundo lugar, também se notou uma tentativa de criar uma identidade mais

sólida para o partido, que se manifestou na formação de uma coalizão dominante, a

Articulação, no entanto, a busca pelo meio termo entre uma esquerda revolucionária, um

partido como movimento, e uma instituição mais sólida e com maiores bases eleitorais,

provocou uma formação ambígua dentro do PT.

A modificação e ampliação das bases eleitorais, resultantes desse processo, foi o início

de uma transformação da proposta inicial do PT, que durante os anos de 1990 já começou a

aceitar alianças com outros partidos de centro, mais distantes de sua “ideologia original”, mas

que pudessem angariar votos de uma faixa que o PT por si só não conseguiria. Até mesmo as

campanhas petistas também se modificaram significativamente, com o objetivo de ampliar e

diversificar suas bases eleitorais.

1.3 Anos 90: as transformações

O Partido dos Trabalhadores pode ser caracterizado nos anos de 1990 pelas grandes

modificações que sofreu, modificações estas que o encaminharam para o centro do espectro

ideológico. Esse processo foi estudado por Paulo Gabriel Martins de Mour em seu trabalho

“PT: a mutação de um partido”, no qual defende que no PT se aplica a Lei de Ferro da

Oligarquia formulada por Robert Michels (1983), Mour, embasado em Michels, afirma que

[...] à medida que as organizações partidárias crescem e se tornam mais complexas, desenvolve-se um processo de declínio de sua democracia interna, em detrimento do qual cresce o poder de decisão dos dirigentes, ainda que esses, em tese, estejam subordinados àqueles que os escolheram.28

Podem-se perceber essas idéias de Mour no crescimento e hegemonia de uma camada

burocrática dentro do PT, formada geralmente pela Articulação, tendência interna

28 MOUR, P. G. PT: a mutação de um partido. Logos, Canoas, v. 12, n.1, p. 43-52, maio 2000. p. 49.

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predominante, na qual Lula, o membro mais conhecido do PT, é ligado. O poderio

hegemônico desta facção foi percebido com maior ênfase quando em 1998 o Diretório

Nacional (formado basicamente pela Articulação) interferiu arbitrariamente na decisão da

convenção do PT do Rio de Janeiro que havia escolhido Vladmir Pereira para se candidatar a

governador, formando uma chapa unicamente petista, para impor uma aliança com o PDT de

Anthony Garotinho. 29 Demonstrou-se assim que o poder de decisão estava na mão desse

grupo que agia independente da militância de base dos quais eram representantes.

Essa estrutura inadequada com a proposta inicial do partido é admitida pelo próprio na

resolução do I Congresso nacional de 1990.

Nossa estrutura orgânica não apresenta mais correspondência com a nossa força real e representatividade social. Embora nosso Partido continue sendo, entre os partidos brasileiros, aquele que possui a maior militância, a vida interna mais efetiva e a maior dose de democracia interna, a verdade é que é preciso superar a nossa atual política de organização. A atual forma de organização do Partido está inadequada e até mesmo caduca. Temos uma estrutura verticalizada, que engloba as instâncias atuais (DN, DR, DM, Núcleos e Zonais), mas que não dá conta de um Partido como o nosso. Possuímos, de fato, uma estrutura de elite, que não oferece canais de participação para uma camada mais ampla de petistas, quanto mais para uma participação maciça.30

Outras transformações foram de suas bases eleitorais, assim, por exemplo, em meados

da década de 1990 o PT contava com um eleitorado em sua maioria de classe média, com alta

escolaridade, alocado no setor terciário, muito diferente dos tradicionais partidos classistas.

Mais um fator que influiu na estruturação do PT foi a gradual eliminação dos núcleos de base,

já citados anteriormente, organizações pelas quais o partido tentava organizar suas bases e

promover a democracia interna. Também a campanha eleitoral intensificou as mudanças já

ocorridas nas eleições de 1985, como mostra uma das resoluções do 6º Encontro Nacional, “A

produção dos programas de televisão e rádio, que vão ao ar a partir de setembro, deve

combinar o conteúdo político geral da campanha com formas estéticas, criativas e originais,

que não descaracterizem aquele conteúdo.”31

29 Mais informações em KECK, Margaret. Op. Cit.

30 Partido. I Congresso Nacional. 1991. In. Partido dos Trabalhadores: Resoluções de Encontros e Congressos

& Programas de Governo (1979-2002). Fundação Perseu Abramo, 2005. CD-ROM. p. 01.

31 As Eleições Presidenciais e a Candidatura de Lula. VI Encontro Nacional. Idem. p. 15.

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Outro fator importante para se analisar essa mudança petista, são as próprias

coligações que estes fizeram nas campanhas eleitorais. Em 1989 a coligação foi com o Partido

Comunista do Brasil (PCdoB) e o Partido Socialista Brasileiro (PSB)32; em 1994 se somou a

esses o Partido Comunista Brasileiro (PCB) o Partido Popular socialista (PPS) e o Partido

Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), esse último inclusive, formado por

dissidentes do PT33; em 1998 não se coligaram o PPS, nem o PSTU, e adicionou-se o Partido

Democrático Trabalhista (PDT)34; em 2002, houve a grande mudança com a incorporação na

coligação do Partido Liberal, somou-se também o Partido da Mobilização Nacional (PMN)35.

A partir da observação dessas coligações pode-se notar uma abertura maior a partidos

diferentes do PT, como o PDT em 1998, representante das tradições trabalhistas varguistas

das quais o PT era crítico, mas principalmente na aliança com o PL, partido tradicionalmente

de direita, com uma ideologia bastante divergente da do PT. No entanto, os petistas afirmam

que não seria prejudicial ao programa do PT, já que o PL não tinha uma ideologia sólida, e

não iriam por em risco os princípios petistas, somente ajudariam na atração de um número

maior de eleitores.

Outro elemento preponderante para se analisar esse processo foi a crise da até então

inabalável ética petista. No primeiro Congresso Nacional do PT em 1990, predominou a idéia

de que a missão do PT era formar e defender uma “nova ética política”, como fica claro na

passagem da resolução sobre o partido “Temos um dever no PT, um partido diferente, de

desenvolver uma nova ética partidária, também diferente, e expressá-la claramente em nossos

estatutos” 36. Antes mesmo disso já existia uma defesa muito grande do princípio ético, mas

depois desse encontro foi corroborado esse valor petista como um dos, se não o mais

importante.

Entretanto, logo em 1993, surgiram denúncias sobre corrupção dentro PT, denúncias

estas feitas por Paulo de Tarso Venceslau, membro influente dentro do PT, amigo íntimo do

próprio Lula. Ele acusou a cúpula do PT de tentar coagi-lo para firmar um contrato com uma

empresa pertencente ao irmão de um compadre de Lula, compadre este que cedeu um

apartamento ao próprio Lula em São Bernardo do Campo. Uma comissão de sindicância

32 Plano de Governo. As bases do Plano Alternativo de Governo (síntese popular). 1989. Ibidem.

33 Plano de Governo. Os Compromissos da Frente Brasil Popular pela Cidadania. 1994. Idem.

34 Programa de Governo. União do Povo - Muda Brasil. 1998. Idem.

35 Programa de Governo. Coligação Lula Presidente. 2002. Idem.

36 Partido. I Congresso Nacional. 1991. Idem. p. 02.

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21

apontou irregularidades na relação do PT com esta empresa, no entanto, não houve nenhuma

atitude no sentido de punir os responsáveis, pelo contrário o denunciante que foi punido,

sendo expulso do partido. Logo depois, em 1994, na Carta Eleitoral, aprovada no IX Encontro

Nacional era expressa a radical proibição de qualquer aproveitamento ilícito dos recursos

públicos:

O parlamentar não pode utilizar e deve combater, rigorosamente, quaisquer privilégios ou regalias (como subvenções sociais, concessão de bolsas de estudo e outros auxílios) e demais subterfúgios que possam gerar, mesmo involuntariamente, desvio de recursos públicos para proveito pessoal ou de terceiros e ações de caráter eleitoreiro ou clientelístico.37

Assim, como afirma Francisco Carlos Palomanes Martinho,

[...] embora Lula tivesse afirmado repetidas vezes que procurava construir um ‘novo’ partido organizado por suas bases militantes, na prática, as tradições se faziam mais fortes. As virtudes e os defeitos dos grandes partidos eram cada vez mais evidentes no PT. 38

No entanto, não houveram somente mudanças negativas. O PT cresceu muito durante

essa década, conquistou muitas prefeituras e governos estaduais importantes, alargou

enormemente o número de parlamentares, e com isso, cresceu também o seu prestígio,

nacional e até internacionalmente. O grande trunfo do PT foi o seu orçamento participativo

aplicado com grande sucesso na capital gaúcha, o que possibilitou a implementação de

políticas públicas muito positivas para a população local, assim como uma maior

transparência na gestão. No entanto nem nessa experiência de sucesso foram totalmente

abolidas as práticas clientelísticas em Porto Alegre, ainda vistas como um canal mais rápido

para adquirir benefícios, como afirma Goetz Ottmann, se referindo ao bairro Chapéu do Sol

“[...] os membros de uma associação de bairro fragilmente integrada ao OP viam na

assistência dos vereadores um canal mais importante para as suas tentativas de encaminhar e

resolver os problemas do bairro junto à prefeitura” 39.

37 Carta Eleitoral. IX Encontro Nacional. Ibidem. p. 04.

38MARTINHO, F. C. P. FERREIRA (Org.) ; REIS FILHO, Danial Aarão (Org.) . As esquerdas no Brasil. Revolução e democracia (1964...). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. p. 533.

39 OTTMANN, G. Cidadania mediada: processos de democratização da política municipal do Brasil. Novos estudos – CEBRAP, São Paulo, n.74, mar. 2006. Disponível em:<www.scielo.com.br>. p. 172.

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22

1.4 2002: Lula e PT de hoje

A campanha das eleições de 2002 se deu num contexto favorável a vitória de Lula, pois

havia o desgaste das gestões de Fernando Henrique Cardoso, assim como os outros candidatos

que, além de não contarem com um carisma comparável ao do candidato petista,

subestimarem sua força e trocaram acusações entre eles, se enfraquecendo e abrindo espaço

para Lula.

Além dessa estrutura apropriada para vitória petista, a campanha executada de forma

extremamente profissional, com grandes recursos e feita pelo famoso publicitário Duda

Mendonça (que já havia feito campanhas para Paulo Maluf) ajudou bastante no curso das

eleições, como também a moderação no discurso político, e a posição de não atacar os

adversários, criando o lema “Lulinha paz e amor”. Nessa conjuntura, não foi difícil Lula

vencer as eleições, criando um marco na história da esquerda na América Latina.

Além das coligações feitas durante as campanhas houve alianças durante a gestão

petista, para se formar a chamada base governista. Foram incluídos nessa base o Partido

Trabalhista Brasileiro (PTB) e o Partido Progressista (PP). O primeiro foi duramente criticado

pelo PT em suas origens, na Carta de Princípios40, onde é acusado de ser elitista, um partido

de empresários que objetiva atrair os trabalhadores para ser sua “massa de manobra”. O

segundo tem suas raízes mais profundas no governo militar, pois surgiu de uma série de

fusões e desmembramentos entre o antigo Partido Democrático Social (PDS), partido que

representava os militares, e outros partidos conservadores. Todas essas alianças demonstraram

uma grande flexibilidade do governo petista.

Durante sua gestão, Lula teve uma postura conservadora no que diz respeito à política

econômica, surpreendendo até mesmo a oposição. Mantendo em boa parte, o que já vinha

sendo feito pelos governos anteriores. Essas idéias são reforçadas por Ricardo Carneiro em

artigo intitulado “A supremacia dos mercados e a política econômica do governo Lula”,

quando defende que:

40 Carta de Princípios. 1979. In. Partido dos Trabalhadores: Resoluções de Encontros e Congressos &

Programas de Governo (1979-2002). Fundação Perseu Abramo, 2005. CD-ROM.

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A tese do estabelecimento de um novo modelo de crescimento não encontra sustentação, nem no desempenho das variáveis econômicas cruciais, como a taxa de investimento, e nem no formato da política econômica. O crescimento recente não fugiu ao característico stop and go das últimas décadas. Isto fica patente na volatilidade do PIB, mas, sobretudo, na do investimento. Além de resultante de uma política macroeconômica deflacionária, exacerbada no governo Lula, esta ausência de um novo modelo de crescimento evidencia-se na insuficiência da política de desenvolvimento. O baixo valor dos investimentos em infra-estrutura, centrais para ampliação da competitividade sistêmica e definição de horizonte mais largo de crescimento não foi superado nesse governo. Também não se concretizou uma política industrial, ao mesmo tempo focalizada em determinados setores prioritários e, constituída dos vários instrumentos pertinentes (financeiros, fiscais e tarifários). Nesse contexto o crédito dirigido, embora preservado, assumiu uma feição defensiva observando-se sua maior democratização, mas também, a ausência de articulação com um projeto de desenvolvimento. 41

A grande mudança foi o estabelecimento e aperfeiçoamento de políticas públicas

sociais, o crescimento do emprego, a retomada do desenvolvimento econômico, o estímulo às

áreas de cultura, ciência e tecnologia. Esses pontos positivos ajudaram na recuperação de Lula

após os escândalos de corrupção em seu governo, principalmente o do mensalão. Segundo o

acusador Roberto Jefferson, líder do PTB e um dos maiores aliados do governo petista, o

governo pagava propinas mensais a vários deputados para que votassem a seu favor e o

apoiassem em suas medidas. Esse fato desencadeou um processo de moralismo por parte de

políticos conservadores, até então conhecido por práticas bastante semelhantes, que decidiram

levantar a bandeira da ética, até então “pertencente” ao PT.

A partir daí a oposição articulada com a grande mídia fez uma campanha feroz contra

o governo Lula que acreditavam não ser mais possível prosseguir na gestão 2007-2010. O

que, em outubro de 2006, provou ser falso diante da reeleição de Lula para presidente da

república o que demonstrou o grande contentamento de boa parte da população,

principalmente das classes mais baixas, com a política social do referido governo. No entanto

essa identificação com o governo petista por parte das massas não se refletiu em todo o país,

como é o caso do PT de Conceição do Coité que, mesmo após 20 anos de existência não

conseguiu chegar ao poder local.

41 CARNEIRO, Ricardo. A supremacia dos mercados e a política econômica do governo Lula. In.: Política

Econômica em Foco, n. 7 – nov. 2005/abr. 2006. p. 23

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CAPÍTULO 02

PT E COITÉ: O PRIMEIRO ENCONTRO

2.1 Anos 80: a busca de referências

O PT de Conceição do Coité nasceu num momento posterior ao do surgimento de

inúmeros partidos que foi o início da década de 80, pois foi fundado nesta cidade em 1986.

No contexto nacional esse período foi o início do primeiro governo civil depois de mais vinte

anos de militares no poder. O governo Sarney tinha em mãos uma enorme quantidade de

problemas a serem resolvidos, como o altíssimo índice de inflação, uma dívida externa e

interna gigantesca, recessão econômica, altíssima taxa de desemprego e uma desestruturação

política significativa. Assim como, segundo Skidmore, foi um período de grande mobilização

popular e participação política, pois:

Os brasileiros, ironicamente, reagiram aos últimos anos de regime autoritário aprendendo a proteger seus interesses através da mobilização política. Esta determinação explicava-se pela fé que depositavam no processo político,

embora suas reivindicações particulares merecessem ser avaliadas. 42

Ainda segundo o autor supracitado a partir de 1985 houve em grande medida na

população brasileira uma decepção com os novos políticos que foram acusados de inúmeras

fraudes.

Já no âmbito local, este não foi um momento de grandes novidades, já que se

permanecia na prefeitura o mesmo grupo que apoiava o governo militar desde 1972. Esses

eram os chamados “vermelhos”, na oposição outro grupo tradicional da política local os

“azuis”, que eram também de direita. Portanto, em Conceição do Coité nunca houve uma

42 SKIMORE, Thomas E. Brasil: de Castelo a Tancredo, 1964-1985. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. p. 503.

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tradição esquerdista forte, pois a política era polarizada entre esses dois grupos com

ideologias bastante semelhantes.

Analisar o PT em cidades do interior é tão imprescindível e interessante quanto estudar

o partido em nível nacional. Igor Gomes Santos, em sua dissertação de mestrado “Na

Contramão do Sentido: origens e trajetória do PT de Feira de Santana – Bahia (1979-2000)”,

analisa as “peculiaridades” do PT feirense, e também mostra a necessidade e a grande

importância dos outros PT’s, diferentes do paulista que é tido como o modelo original, na

formação do partido em âmbito nacional. Também defende que os petistas não são somente

aqueles que se auto-identificam como “autênticos” (sindicalistas, tendo a frente Lula), mas

também todos os outros grupos que trabalharam no sentido de fundar e fortalecer o PT, como

as esquerdas clandestinas, em todas as regiões do Brasil. Ele afirma que essa homogeneização

da memória faz parte da historiografia do que ele chama de “mito fundador”. Santos,

analisando essa memória homogênea e hegemônica, se questiona:

[...] para a fundação do PT, e dos demais partidos que se institucionalizavam nessa época, as novas leis eleitorais não previam a consolidação do partido em certa quantidade de estados, com certa margem de votos? Podia o PT se transformar em um partido nacional sem a participação da militância de outros estados e municípios? Como pôde, portanto, a formação do PT, com os aspectos peculiares aos acontecimentos da formação da classe operária paulista, ter ficado, para o imaginário social e historiografia sobre o PT, como modelo geral de formação do partido e, consequentemente, de formação das classes trabalhadoras? 43

Em Conceição do Coité, mais especificamente, o surgimento do partido não seguiu esse

padrão paulista, pois não nasceu principalmente a partir de sindicatos, mas majoritariamente

de pessoas ligadas a Igreja Católica e somente depois conseguiu apoio das organizações

sindicais.

Os então fundadores do PT de Coité, influenciados pela Teologia da Libertação e

observando algumas práticas impróprias dos poderosos locais (como transferir funcionários

43 SANTOS, I. G. Na contramão do sentido: Origens e trajetória do PT de Feira de Santana (BA) – 1979-2000. 2007. 252 f. Dissertação (Mestrado em História). Universidade federal Fluminense. Niterói, 2007.

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26

que apoiavam a oposição para locais distantes), decidiram então fundar o PT, como citou em

entrevista Arivaldo Mota, fundador e atual presidente do partido:

[...] a partir do momento que nós percebemos uma situação maior quando foram transferidos médicos e professores daqui de nossa cidade para outras cidades distantes como Doutor Pinheiro, Doutor Yedo, Acrísia, aí nós percebemos que mais ainda precisávamos participar do projeto político diferente desses de perseguições, para que a gente pudesse tentar mudar a política em Coité. 44

Segundo Joilson Araújo, um dos fundadores do partido, os então futuros petistas

buscavam um modo de atuar sobre o mundo seguindo um ideal cristão, em entrevista ele

afirma “Nós éramos todos do movimento do Cursilho de Cristandade, e ouvindo as exigências éticas

do evangelho, começamos a procurar um partido que representasse o ideário cristão e fosse

sintonizado com a busca da justiça” 45

, a partir daí então decidiram fundar um partido e depois de

analisar diversos estatutos escolheram o Partido dos Trabalhadores, pois segundo eles, era o

que mais se aproximava das “exigências do evangelho”.

O momento da fundação foi marcado por expressiva mobilização, havendo frequentes

reuniões, somente no ano de 1988 foram realizadas 14 reuniões46. Esse fenômeno

acompanhava o clima existente em todo o Brasil de mobilização e uma real vontade de

participar da vida pública, depois dos mais de 20 anos alheios a essa área, como demonstrou

Skidmore, já citado anteriormente.

Nas pautas das reuniões do diretório, é possível notar uma preocupação com o social,

com a transparência dos órgãos públicos municipais, como também um apoio ao

associativismo. No entanto, é interessante perceber certa dissonância entre o discurso nacional

e local, ocasionado pelas diferentes realidades (o nacional em um contexto industrial e

operário e o local, numa cidade sertaneja e agrícola) quando se percebe a utilização excessiva

de termos como “mais carentes” e praticamente nenhum emprego da palavra “trabalhador” ou

44 Entrevista com Arivaldo Ferreira Mota. 03/12/2008.

45 Entrevista com Joilson Marcos Cunha Araújo. 22/06/2009

46 Ata das reuniões do diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores em Conceição do Coité.

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“operário”, mais comum em outras instâncias de debates petistas e esquerdistas de forma mais

geral.47

O discurso tão propagado de que o Partido dos Trabalhadores é o legítimo representante

de todas as classes, onde todos (de intelectuais a analfabetos) têm direito a ampla

participação, é em certa medida, ratificada pelo PT Coiteense onde há a participação

(inclusive na lavratura de atas) de pessoas com pouco nível de escolaridade, isso é notado nos

inúmeros erros de português existentes nas atas de algumas reuniões, essa característica

também pode ser notada nas fichas de inscrições de filiados onde pode-se perceber a

freqüente incidência de pedreiros, agricultores, donas de casa e trabalhadores manuais de

forma geral. Essa característica do PT coiteense diverge portanto, do PT de Feira de Santana

que surgiu principalmente do movimento estudantil e tentou, durante toda a década de 1980,

se aproximar dos trabalhadores propriamente ditos, chegando a se questionarem se o Partido

dos Trabalhadores feirense representava de fato os interesses dos trabalhadores.48

Em 1987, o governo de Waldir Pires é duramente criticado pelos petistas coiteenses,

como pode ser percebido na ata da reunião do diretório de 14 de fevereiro de 1987: “Arivaldo

Ferreira Mota, denunciando algumas coisas erradas que vem e virá pela frente na gestão do

futuro governador Waldir Pires.” 49. Esta chapa, apesar de ser oposição à Antonio Carlos

Magalhães, principal adversário do PT da Bahia, não foi apoiado por este, já que foi tido

como chapa representante da Nova República e, portanto, adversária do PT. Assim, o PT

coiteense segue as exigências do Diretório Nacional que negou o apoio à candidatura de

Waldir Pires na Bahia, considerando os seguintes elementos:

1) Que o Partido definiu um critério político para estabelecer coligações e alianças eleitorais que estabelece a centralidade do acordo sobre a oposição ao Governo Sarney, à Nova República e a transição conservadora; representada tanto pela candidatura de Josaphat Marinho (PDS-PFL-PTB) quanto pela de Waldir Pires (PMDB- PC do B – PCB); 2) Que o candidato a governador do PMDB da Bahia, Waldir Pires, deve ser caracterizado como figura integrada à Nova República e à transição conservadora. 3) Que um objetivo fundamental do PT no processo eleitoral aprofundar a organização independente dos trabalhadores e uma política de apoio a Waldir Pires contraria este objetivo;50

47 Ata das reuniões do diretório. 27 de novembro de 1986. fl. 02.

48 SANTOS, I. G. Op. Cit.

49 Op. Cit. 14 de fevereiro de 1987. p. 04.

50 Recursos Eleitorais. 4º Encontro Nacional. Op. Cit. 1986

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Outro aspecto relevante do PT de Conceição do Coité que pode ser análogo ao partido

em âmbito nacional, e peculiar em comparação aos outros partidos, é a constante falta de

recursos, já que não recebiam apoio de empresas, e precisavam sempre estar vendendo objetos

para arrecadar recursos.

Percebe-se também no discurso dos petistas coiteenses que seu principal objetivo era o

trabalho de “conscientização” da população, com a instauração de uma nova cultura política

em sua cidade, que eles diziam estar até o momento baseada em uma lógica assistencialista

característica da política local. O PT promoveu em Conceição do Coité um curso de

conscientização política, como também encontros na zona rural, na periferia urbana e também

no centro, para divulgar o partido. Na memória do petista Joilson Araújo, ele conta:

[...] nós éramos até ridicularizados, eles diziam, nos anos 80, que o PT cabia dentro de um fusca, eu me lembro que no centro da cidade, nós parávamos com um fusquinha com alguns auto-falantes, pra ser preciso dois auto-falantes em cima de um fusquinha; de um lado um grupo chamado de vermelhos, de outro um grupo chamado de azul e a gente ali naquele fogo cruzado, sendo ridicularizados e a gente não desistia, persistíamos mesmo. 51

Outro aspecto do PT de Conceição do Coité dos anos 80, era a comissão de ética que

funcionava, havendo processos de cancelamento de candidatura que, em 1988, chegou a se

concretizar devido ao mau comportamento do candidato. Segundo a ata da reunião que

decidiu sua expulsão

[...] por motivo da falta de interesse do candidato Carlos Silva em participar de nossas reuniões, por motivo do mesmo não ter interesse de seguir as normas do partido, por motivo do mesmo não ter interesse de participar do trabalho em conjunto com os demais vereadores, o referido candidato deve ser procurado para assinar a sua carta de renúncia até o dia 08 do corrente,

51 Entrevista com Joilson Araújo. 22/06/2009.

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29

caso o mesmo não assine a carta de renúncia, fica automaticamente suspensa a sua candidatura52

Segundo David Samuels essa é uma característica do PT, o baixo índice de migração que ele

chama de “estrutura de recrutamento impermeável”, ou seja: “Quanto menos aberto é o acesso a um

partido, maior é a probabilidade de que existam regras internas desestimulando tanto a migração para

dentro quanto para fora, e o mais provável é que a sigla do partido seja valorizada pelos eleitores e

pelos membros do partido.”53. Para que essa estrutura de recrutamento impermeável persista é

necessário um conselho de ética eficiente e que controle essa migração partidária impedindo algumas

filiações, como também impugnando certas candidaturas que não visem os objetivos do partido em

primeiro lugar, portanto essa era uma característica do PT coiteense que era semelhante a proposta

inicial do PT nacional.

No artigo, intitulado “Determinantes do Voto Partidário em Sistemas Eleitorais Centrados

no Candidato: evidências sobre o Brasil”54 Samuels estuda a questão do individualismo e/ou

voto de legenda no Brasil. Para ele o predominante neste país é o individualismo nas

campanhas e gestões de políticos, esta atitude é estimulada pela própria legislação eleitoral

que determina o sistema de representação proporcional com listas abertas, onde os candidatos

concorrem não só com os candidatos de outros partidos, mas também com seus próprios

correligionários, fomentando assim o individualismo.

Samuels chama atenção para o fato de que o Partido dos Trabalhadores (nacional) era

uma exceção dentro desse contexto, pois tentava consolidar uma legenda forte, não só por ser

um partido programático e de esquerda, mas principalmente, por não ter recursos financeiros

para bancar campanhas individualistas (que requerem dinheiro ou acesso a patronagem

política para “comprar” votos). Concluiu que o PT realmente é um partido que se diferencia

dos demais “partidos de aluguel” por ter se estruturado de maneira a criar laços

organizacionais com os eleitores e ter institucionalizado essa diferença. No entanto, vale

lembrar que este trabalho foi publicado em 1996 quando o PT ainda não estava tão presente

no poder, agora estando a frente do governo federal, de cinco estados e de centenas de

52 Ata da reunião do diretório. 07 de setembro de 1988. fl. 19.

53 SAMUELS, D. As bases do petismo. Opinião Pública, vol. 10, n. 2. 2004. Disponível em: <

www.scielo.com.br>. P. 15.

54 SAMUELS, D. Determinantes do Voto Partidário em Sistemas Eleitorais Centrados no Candidato: evidências sobre o Brasil. Dados, Rio de Janeiro, v. 40, n. 3, 1997. Disponível em:< www.scielo.com.br>.

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30

prefeituras por todo o país, ele acaba tendo um acesso maior a patronagem política como

também um poder aquisitivo mais amplo, portanto os argumentos que Samuels lança para

identificar este partido como singular tornam-se fracos para analisar tal agremiação partidária

na atualidade.

Entretanto, em Conceição do Coité de 1988, com o PT ainda recém-formado,

minúsculo e sem nenhum membro eleito, este ainda pode ser caracterizado segundo a análise

de Samuels, no entanto há que se lembrar que o mesmo atualmente está situado num contexto

em que seu partido está a frente do governo federal e estadual, assim como de prefeituras

vizinhas aumentando claramente sua influência em Conceição do Coité.

Com relação às coligações, estas não ocorreram já que não haviam em Conceição do

Coité partidos tradicionais de esquerda que se coligavam com o PT a nível nacional nessa fase

(como o Partido Comunista do Brasil e o Partido Socialista Brasileiro). Cogitaram a idéia de

se coligarem com o PDT em 1988, mas este não se interessou pela aliança. Segundo os

petistas, essas coligações não ocorriam pelo motivo da inexistência de partidos de esquerda

em Conceição do Coité, como pode se perceber na ata de uma reunião quando afirmam que

“[...] nos encontramos com o PFL e o PMDB, partidos burgueses que tem pensamentos e

ideais totalmente contrários ao PT.”55 A rejeição ao PMDB, tão comum no âmbito nacional,

ou em outras cidades como Feira de Santana, também foi estabelecida aqui.

As eleições de 1988, na qual o PT lançou candidato a prefeito: Arivaldo Ferreira Mota e

08 candidatos a vereador tiveram um resultado longe de ser animador56. Para prefeito foram

angariados 285 votos (que mal conseguiria eleger um vereador) e um total de 517 votos para

os vereadores, sendo que destes 87 foram somente para a legenda, reforçando a validade da

análise de Samuels para o PT de Conceição do Coité, pois este defendia, além da

impermeabilidade partidária, a significativa votação na legenda para o Partido dos

Trabalhadores, quando afirma que “[...] o cultivo do voto de legenda como estratégia eleitoral

é compatível com a estratégia política geral do PT, a de tornar o governo mais representativo

e mais responsável.”57

55 Ata das reuniões do diretório. 15 de maio de 1988. Fl. 14

56 Resultados descritos na ata das reuniões do diretório. 20 de novembro de 1988. p. 21.

57 SAMUELS, Op. Cit. p. 17

Page 31: Partido dos trabalhadores rupturas e permanências de um projeto político em coité (1986 2008)

31

Do total de votos, somente 83 vieram da zona rural e 141 da sede. Na zona rural,

percebe-se que quanto maior a localidade, maior a quantidade de votos para o PT, e na zona

urbana compreende-se que nos colégios eleitorais mais centrais o PT tem uma quantidade de

votos maior, já nos colégios periféricos o montante de votos cai significativamente. Diante

disso, percebe-se que o discurso petista não conseguiu surtir muito efeito nas áreas mais

pobres tendo maior ressonância onde provavelmente há pessoas com um nível de escolaridade

maior, podendo fazer parte da classe média; isso pode ser devido também às práticas

clientelísticas dos outros grupos, que se infiltravam melhor nas zonas mais carentes já que as

classes mais baixas dependiam mais da sua assistência.

Só em fins da década de 80 que começa a haver uma maior aproximação com os

sindicatos, chegando em 1989 a comemorar o 1º de maio junto ao Sindicato dos

Trabalhadores Rurais, o mais importante sindicato da cidade até pouco tempo comandado

pelos chamados “pelegos”, que mantinha uma relação com os sindicalizados que muitas vezes

se restringia a um assistencialismo, e também era ligado a prefeitura.

2.2 Anos 90: momentos de crise

A década de 1990 foi marcada por uma profunda recessão no Partido dos

Trabalhadores, quando as reuniões eram escassas (chegando a se passar quase dois anos entre

uma e outra) e com uma participação ínfima que variava de quatro a seis membros por

reunião registrada em ata. Talvez o motivo tenha sido o desencorajador resultado eleitoral de

1988, ou a própria conjuntura neoliberal na qual o Brasil (e o mundo) foi envolto a partir

principalmente do governo Collor. Igor Santos, na obra já citada, defende que foi nesse

momento:

[...] que a burguesia encontrou finalmente seu momento de unificação nacional. A oposição à Lula, a necessidade de desmantelar os direitos instituídos em 1988 e o funcionalismo público, transformado em novo ‘inimigo público’ e, contraditoriamente, a própria deposição de Collor é que permitiu à burguesia brasileira, enfim, tomar como identidade de fato

Page 32: Partido dos trabalhadores rupturas e permanências de um projeto político em coité (1986 2008)

32

nacional e, a partir daí, consolidar sua hegemonia no Governo Fernando Henrique Cardoso.”58

Talvez também tenha sido pela crise ideológica instituída no fim da década de 1980

com o desmantelamento da URSS e do Leste Europeu socialista, que teve influência em,

praticamente, todas as esquerdas do mundo, e “[...] fez com que diversos partidos

influenciados pelo marxismo ou com presença de marxistas renegassem sua tradição

socialista”59

Esse processo desencadeou uma longa e profunda crise do marxismo, analisada por Coelho em

sua tese de doutorado onde defende que os petistas têm abandonado o marxismo numa mudança

quase que completa de seu projeto político, e diz que isso ocorre dentro de uma tendência

mundial de abandono dessa corrente.60 A crise do marxismo ao qual o autor se refere não é

uma crise paradigmática como afirma Lúcio Colletti, André Gorz ou Claus Offe, entre outros

intelectuais que anunciaram o declínio do marxismo, mas uma crise dos marxistas/ex-

marxistas que vem abandonando essas idéias e temas pertinentes a elas. Para ele essas

organizações, que deixaram de lado as referências marxistas anteriormente vigentes, passaram

adotar posições mais pós-modernas e (neo)liberais. Como afirma Santos, este foi o caso do PT

que em 1991 passou por um processo de transformação:

[...] cresceu mais o conteúdo anti-marxista e anti-comunista no Partido dos Trabalhadores. Coincidência ou não, esse foi o ano do início dos processos de expulsão do Partido dos Trabalhadores das correntes Convergência Socialista e Causa Operária, de caráter trotskista [...] Coincidência ou não, neste mesmo ano, José Genoíno, [...] ex-militante de uma corrente marxista-leninista dentro do PT [...] deu uma longa entrevista para o jornal Folha de São Paulo na qual o seu principal mote era a revisão de sua posição ‘marxista’, ‘stalinista’, etc., e a descoberta de um novo tipo de socialismo, ainda indefinido, que ele chamou, e ainda chama, de Socialismo Democrático.”61

58 SANTOS, I. G. Na contramão do sentido: Origens e trajetória do PT de Feira de Santana (BA) – 1979-2000. 2007. 252 f. Dissertação (Mestrado em História). Universidade federal Fluminense. Niterói, 2007. p. 256.

59 Idem. P. 257.

60 COELHO, E. Uma Esquerda para o Capital: crise do marxismo e mudanças nos projetos políticos dos

grupos dirigentes do PT (1979-1998). 2005. 549 f. Tese (Doutorado em História). Universidade Federal

Fluminense, Niterói. 2005.

61 SANTOS, Op. Cit. p. 262.

Page 33: Partido dos trabalhadores rupturas e permanências de um projeto político em coité (1986 2008)

33

A partir desse momento há um refluxo nos discursos petistas que pregavam a luta de

classes ou a inviabilidade de coligações com partidos “burgueses”, ou até mesmo a filiação de

empresários no partido, que hoje é largamente aceita. Neste momento tanto o PT nacional

quanto o local perdem algumas características originais e se encaminham para o centro do

espectro ideológico.

Nas eleições de 1992 o PT não lançou candidato a prefeito próprio nem apoiou

oficialmente nenhum candidato de outro partido, lançando ao cargo de vereador apenas cinco

candidatos, dos quais nenhum se elegeu. Apesar de não haver nenhuma aliança oficial, os

petistas votaram maciçamente em Diovando Carneiro, candidato da oposição que acabou

vencendo as eleições e quebrando com 20 anos da hegemonia do grupo que até então estava a

frente do poder executivo de Conceição do Coité. No entanto, o governo de Diovando foi

marcado por inúmeras acusações de fraudes e escândalos que acabaram levando-o ao suicídio

já no fim do seu mandato e como ele era considerado pela maioria da população coiteense

como do grupo “azul”, a tradicional oposição de Coité, o seu governo considerado mal

sucedido ajudou a fortalecer o grupo dos “vermelhos” que continua no poder até a atualidade.

Essa visão, perpetuada na memória coletiva dos coiteenses, de governo desastroso de

Diovando e a ligação deste com toda oposição foi fortemente engrandecida pela imprensa

local, como o próprio Jornal Coiteense que no momento da posse do prefeito Ewerton Rios

em 1997, gestão que sucedeu a de Diovando Carneiro, trouxe como manchete: “Coité Voltou

a Sorrir”, sendo que a matéria tinha um caráter quase que panfletário, dizendo:

Desde as primeiras horas do dia 1º de janeiro de 1997, os fogos alertavam a população para o dia festivo. O dia amanheceu com um clima diferente, notava-se no semblante de cada cidadão um sorriso de felicidade, o renascer de um ano novo, um prefeito novo, é Vertinho que está chegando. As faixas colocadas nas principais ruas da cidade revelaram esperança de que dias melhores virão para Coité. ‘Agora temos prefeito em Coité’ foi a grande

notícia comentada na cidade. 62

62 Jornal Coiteense, nº 13, Conceição do Coité, 03 de janeiro de 1997, p. 05.

Page 34: Partido dos trabalhadores rupturas e permanências de um projeto político em coité (1986 2008)

34

Nas eleições de 1996, novamente os petistas não lançaram candidato a prefeito nem

apoiaram oficialmente o candidato da oposição. Depois do governo, considerado por grande

parte da população, desastroso de Diovando Carneiro o retorno do antigo grupo do poder foi

quase que inevitável. O PT lançou doze candidatos a vereador obtendo uma votação bem

maior que a última, tendo no total 1466 votos, no entanto nem assim conseguiu eleger um

destes.63

Apesar das mudanças supracitadas, ainda persistem muitas características do PT dos

anos 80, como a já citada valorização do partido/conjunto acima do candidato/indivíduo. Isso

é notado em artigo escrito pelo candidato Joilson e publicado no Jornal local, na qual diz: “No

resultado do pleito de 1996, (1466 votos), a parte que me coube, eu continuo agradecendo,

porque votar no PT é sinal de liberdade e inteligência, é não aceitar a mesmice que reduz as

pessoas à condição de mercadorias.”64 Ou seja, o importante é o voto dado ao PT, ele nem

sequer cita a sua quantidade de votos, mas somente o resultado total do partido.

Durante toda essa década houve um esforço para revitalizar o partido que, como já foi

dito sofreu um declínio muito grande, chegando a ser registrada apenas uma reunião no ano

de 1994, e nenhuma no ano de 1995. O partido só começou a se reestruturar e a retomar

plenamente suas atividades em 1999, quando houve votação de nova comissão executiva,

houve também a criação de novas secretarias (juventude, formação e organização, sindical e

movimento social e finanças), assim como foi estabelecida uma sede fixa com um funcionário

efetivo65. Nesse mesmo ano se iniciaram os trabalhos para as eleições de 2000 na qual, depois

de mais de uma década sem lançar candidato a prefeito, o PT apresenta uma chapa majoritária

sem coligações.

2.3 Anos 2000: um novo cenário

As eleições do ano 2000 trouxeram uma novidade na política coiteense. Pela primeira

vez esta não foi polarizada entre dois grupos tradicionais, os vermelhos e azuis, pois o

63 Jornal Coiteense, nº07, Conceição do Coité, 12 de outubro de 1996, p. 05.

64 Jornal Coiteense, nº14, Conceição do Coité, 24 de janeiro de 1997, p. 02. (grifo meu)

65 Ata das reuniões do diretório. 07 de setembro de 1999. Fl. 31.

Page 35: Partido dos trabalhadores rupturas e permanências de um projeto político em coité (1986 2008)

35

candidato de oposição era um tradicional aliado político do grupo que estava no poder (os

“vermelhos”) e recém-dissidente deste. Enquanto que o tradicional opositor, Misael Ferreira,

representante dos “azuis” se aliou ao grupo da situação.

Nesse contexto o PT resolveu lançar um candidato a prefeito, pois segundo eles, não

viram alternativa entre os dois candidatos, que eram vinculados a Antonio Carlos Magalhães e

a partidos de direita. Segundo o candidato da época, Francisco de Assis:

Então o PT vinha frágil até 99, ou se falarmos apenas anos eleitorais até 96, em 2000 aconteceu um fato decisivo pra que o PT passasse a ser mais respeitado enquanto partido no município que foi a decisão do PT de lançar candidatura própria a prefeito no ano 2000 e isso era inevitável porque havia dois candidatos concorrentes ambos vinculados ao PFL, um PFL outro PP, e esses dois partidos eram vinculados a Antonio Carlos Magalhães e novamente iguais. Foi então que o PT lançou candidato a prefeito, eu fui o candidato a prefeito do PT.66

Com essa candidatura o PT se fortaleceu em Conceição do Coité chegando a eleger,

pela primeira vez, dois vereadores. No entanto, parece que o PT ainda (ou já) não estava

coeso o suficiente para encaminhar seus projetos, já que na primeira votação da câmara da

gestão 2001-2004 os vereadores petistas tiveram posições diferentes, porém isso é assunto a

ser tratado melhor no próximo capítulo.

Nos anos 2000 o PT nacional sofreu grandes modificações, como já foi tratado no

capítulo anterior, pois esse partido foi se adequando as práticas políticas vigentes na

sociedade brasileira, se encaminhando em direção a direita do espectro ideológico chegando a

não ser mais reconhecido como um partido de esquerda, mas sim de centro. Dentro desse

contexto, o PT coiteense foi se adequando a essa nova face do PT nacional, no entanto

permanece ainda um pouco mais à esquerda deste, idéia compartilhada por Arivaldo Mota,

fundador e atual presidente do partido: “[...] a gente vê o partido hoje mais realmente de

centro do que de esquerda, no geral. Em Coité a gente ainda tem segurado essa situação, a

gente vê que ele fica mais pra centro-esquerda do que pra centro propriamente dito”67.

66 Entrevista com Francisco de Assis Alves Santos. 24/07/2008.

67 Entrevista com Arivaldo Mota. Op. Cit. 03/12/2008.

Page 36: Partido dos trabalhadores rupturas e permanências de um projeto político em coité (1986 2008)

36

Pode-se perceber isso no discurso petista das eleições de 2000, ainda considerado

radical até pelo próprio partido, em reunião que discutia os resultados das eleições municipais

deste ano, apontando os pontos negativos eles citam as “[...] falações agressivas por parte de

algum companheiro”68. O que era bastante divergente da prática do PT nacional nesse

período, já que em 2002 o discurso petista estava longe de parecer radical, e esses foi um dos

motivos que fez o candidato a presidência Lula conseguir se eleger.

Assim como, outro resquício do “PT histórico” no PT coiteense é a idéia ainda

defendida por alguns membros de fazer política a longo prazo, não para ganhar as próximas

eleições, mas para ir se fortalecendo gradualmente . Pode-se perceber essa idéia na ata da

reunião do dia 01 de abril de 2001: “[...] o PT não precisa ter pressa em obter resultados

porque ‘não estamos fazendo política pra hoje’, mas para o futuro.”69

O que também se pode perceber no PT mais atual é a constante participação nas esferas

estadual e nacional do partido, o que não era tão visível nos anos de 1980 e 1990. Isso é

perceptível na grande participação nos encontros estaduais e nacionais, inclusive na promoção

de encontros com lideranças estaduais no próprio município, como as que ocorreram com

Walter Pinheiro, Zé Neto, Cecíclia, Luis Caetano, Zezeu Ribeiro, dentre outros nos dias 24 de

fevereiro de 2002 e dias 02 e 06 de junho do mesmo ano.

Outro fator do PT das origens que continua a ser visto no PT coiteense é o conselho de

ética que funciona e de forma mais freqüente do que nos anos de 1980 e 1990. Os processos

de investigação e tomada de posição são levados mais a sério, como no caso do vereador

Adalberto Neres Pinto Gordiano, que passou por um processo que se arrastou por quase um

ano, devido ao fato de ter votado pela aprovação das contas do prefeito e do presidente da

câmara. Como é relatado na ata da reunião do diretório com a comissão de ética, realizado no

dia quinze de junho de 2002:

[o presidente] Citou uma série de atitudes do vereador Adalberto que estariam merecendo profunda apuração, pelo bem do PT e da sociedade coiteense. Pediu que Arivaldo Mota confirmasse a informação de que o referido Adalberto, vereador petista, votou pela aprovação das contas do ex-gestor Ewerton Rios Filho. Arivaldo confirmou que “infelizmente” o

68 Ata das reuniões do diretório. 20 de outubro de 2000. p. 33.

69 Idem. 01 de abril de 2001. Fl. 38.

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37

companheiro Betão (Adalberto) votara contra sua orientação, e, mesmo o PT tendo recorrido, digo acorrido ao TCM contra as tais contas do ex-gestor, o parlamentar Betão contrariou o PT e o líder da bancada e votou pela aprovação das tais contas. De pronto, foram lembrados diversos casos em que o referido vereador petista tomou atitudes indesejáveis para o Partido e algumas delas ferindo a ética, a disciplina e os deveres partidários.70

A resolução desse conflito se deu com uma advertência pública ao referido vereador.

Houve também outros casos de menor repercussão como o de Hildebrando, membro que foi

desligado do partido, devido à “[...] prática de atos que infringiu as normas estatutárias e

éticas do partido, o presidente submeteu aos membros do diretório presentes que, fosse

acolhido o pedido de desfiliação” 71.

Mais um elemento de continuidade presente nesse processo histórico é a constante

ligação com a igreja percebida pelas inúmeras reuniões realizadas na casa paroquial deste

município, o que leva a crer que as relações desencadeadas da origem deste partido em 1986

não se apagaram até a atualidade.

Como um último fator representativo das continuidades do PT coiteense é a agremiação

partidária como uma instituição forte, que controla a migração partidária e está acima das

individualidades eleitorais. Esses elementos podem ser percebidos tanto num certo receio em

aceitar a filiação da vereadora peemedebista Eliana Cirino, registrada na ata da reunião do

diretório municipal em 04 de abril de 2003, quando entra como ponto de pauta este assunto:

“Decidiu-se que a direção petista deverá ter uma conversa franca com a vereadora

peemedebista sobre o estatuto partidário do PT ao qual ela, para integrar o quadro de filiados

do PT, teria que se adaptar.”72 Como também a postura do candidato a deputado estadual

Urbano de Carvalho que coloca a sua candidatura para o partido acima da sua

individualidade: “Urbano [...] pediu que sua candidatura fosse encarada como sendo do

Partido dos Trabalhadores e não uma candidatura individual.”73

70 Ibidem. 15 de junho de 2002. Fl. 49 e 50.

71Ata das reuniões do diretório. Livro de atas 2. 22 de fevereiro de 2005. Fl. 01.

72 Idem. 04 de abril de 2003. Fl. 61.

73 Idem. 04 de abril de 2006. Fl. 10

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38

No entanto, como já foi mostrado anteriormente o PT coiteense também sofreu muitas

alterações e a prática ficava cada vez mais distante do discurso pregado na década de 1980.

Era crescente a preocupação com as atividades eleitorais do partido, que se mostrava mais

atento aos ganhos que cada atitude sua teria, como é perceptível na reunião onde se deliberou

sobre o caso COTESI do Brasil74 onde “[...] seguiu-se discussão sobre a melhor estratégia de

dar-se publicidade ao fato e auferir dividendos políticos do fato.”75(grifo nosso). Também é

notada essa precaução nas discussões sobre a vinda do Banco do Nordeste para a cidade, onde

ficou decidido que

Também deve-se prevenir o superintendente do BNB da Bahia, que deve ser contactado pelo gerente de Feira de Santana ou por nós dos movimentos sociais de Coité e região para não partidarizar a questão da vinda da agência do banco do Nordeste para Coité, isto é, não dizer que é uma conquista com o dedo de deputados carlistas com representação em nossa cidade. Primeiro porque isso não é verdade. Mas o temor se justifica, daí a precaução nossa, porque o superintendente foi indicado por deputados ligados ao PL\PP.76

Outra preocupação cada vez mais presente, principalmente depois da eleição de Lula e

Wagner, é com relação a distribuição dos cargos em Conceição do Coité e o temor que

Emério Resedá, deputado estadual e um antigo adversário político, continuasse a ter esses

cargos na cidade mesmo no governo Wagner, ao qual ele aderiu em fins de 2006.77

Nos anos 2000 é cada vez maior a integração entre a esfera local e a esfera estadual e

nacional, sendo que na grande maioria das reuniões existe um debate sobre o contexto

nacional, principalmente depois da eleição de Lula para presidente e, mais tarde, de Jacques

Wagner para governador. As coligações também eram constantemente mais aceitas sendo

que na reunião onde se deliberou sobre as eleições 200478 todos se mostraram a favor de

coligações, desde que o PT mantivesse a cabeça na chapa, ressalva esta que foi abandonada

74 Empresa portuguesa instalada em Conceição do Coité com apoio da prefeitura e acusada de ter ligações com a família do prefeito Wellington Passos de Araújo.

75 Op. Cit.. 18 de agosto de 2003. Fl. 66, v.

76 Idem. 15 de março de 2004. Fl. 71 v.

77 Idem. 16 de janeiro de 2007. Fl. 14.

78 Idem. 18 de agosto de 2003. Fl. 67.

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39

meses depois quando se decidiram por uma coligação com o PMDB o qual ficaria com o

cargo majoritário.

Essas eleições mostraram claramente a maior flexibilidade do PT coiteense no que diz

respeito a coligação, já que o candidato do PMDB disputou com o cargo de prefeito, assim

como demonstrou também um crescimento desse partido, quando se nota que os resultados

eleitorais do cargo legislativo foram bem mais favoráveis ao PT do que ao próprio PMDB já

que o PT elegeu dois candidatos a vereador tendo os outros uma votação significativa, no total

esse partido recebeu 7107 votos, enquanto o PMDB recebeu 1694 votos.79 Percebe-se assim

que a militância e a importância eleitoral do PT nesse momento eram mais fortes que do

PMDB, apesar deste ser responsável pelo cargo majoritário na chapa eleitoral.

Os resultados eleitorais demonstram o crescimento do PT e sua maior receptividade na

população coiteense, no entanto esse crescimento ainda não é suficiente para que este partido

chegue ao poder, só conseguindo eleger dois vereadores a cada eleição (a partir dos anos

2000) e três vereadores em 2008. A atuação parlamentar destes eleitos e sua relação com o

partido dizem muito a respeito das rupturas e continuidades do Partido dos Trabalhadores.

79 Relatório de Votação dos Candidatos. Cartório Eleitoral de Conceição do Coité.

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40

CAPÍTULO 03

O NACIONAL E O LOCAL: A AÇÃO PARTIDÁRIA

Para o trabalho aqui desenvolvido, torna-se de extrema importância analisar as ações

de membros de partido em sua vida pública, ou seja, depois de inseridos nas instituições que

comandam o Estado brasileiro. Para isso será analisado nesse capítulo as ações dos primeiros

eleitos petistas para cargos legislativos, tanto dos membros do Diretório Nacional, enfocando

a Assembleia Legislativa do estado de São Paulo, quanto membros do Diretório Municipal de

Conceição do Coité, eleitos em 2000 para a Câmara Municipal. A ênfase será dada a

comparação entre estes pioneiros que tentaram, pela primeira vez em cada ambiente, por em

prática a ideologia petista.

A escolha da Assembléia Legislativa de São Paulo para “personificar” a atuação

parlamentar do PT Nacional é feita tendo como pressuposto que é nesse ambiente que o PT

central se desenvolve, é onde estão situados os “maiores” nomes do partido que formam o

campo majoritário da Articulação, dentre eles o próprio Lula, e é também o local onde se

desenvolveu o modelo de ação petista.

O PT iniciou sua trajetória eleitoral em 1982, no sufrágio para os cargos legislativos

(Câmara municipal, estadual, federal e o Senado) e executivos (municipal e estadual). Nessas

eleições o PT não obteve resultados favoráveis, o que acabou resultando num desânimo geral

com relação ao partido. Algo semelhante inclusive, com o que ocorreu no PT coiteense depois

das eleições de 1989 (primeira que o partido concorreu na cidade) em que o resultado não foi

nada satisfatório, o que contribuiu para que ocorresse a “decadência” dos anos de 1990 já

relatados no capítulo anterior.

Os candidatos que conseguiram se eleger no pleito de 1982 refletiam uma diversidade

enorme com relação as suas origens que ia desde os grupos católicos militantes (Irma

Passoni), a membros de famílias abastadas (Eduardo Matarazzo Suplicy), passando por

parlamentares dissidentes do MDB (Aírton Soares), base sindical (Djalma Bom), artistas

(Bete Mendes) e líderes esquerdistas (José Genoíno Neto). 80

80 KECK, Op. Cit. p. 175.

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41

Essa primeira experiência de petistas dentro da coisa pública trouxe a tona variados

problemas, o principal deles foi a inexistência de uma estratégia parlamentar do partido, como

demonstra Keck:

Após as eleições de 1982, os conflitos sobre os papéis adequados à organização partidária e aos representantes eleitos caracterizaram a esfera legislativa, assim como a executiva, e em ambas as instâncias a falta de uma estratégia partidária clara para a utilização dos espaços institucionais foi um problema.81

As discussões sobre os posicionamentos dos parlamentares, suas atitudes, deveres e

obrigações eram feitas, geralmente, depois que algum parlamentar tomava uma atitude e esta

era avaliada pelo partido como positiva ou negativa. Essa falta de estrutura e de regras

partidárias fez com que surgissem inúmeros conflitos entre partido e parlamentares como, por

exemplo, referente as suas contribuições obrigatórias, que giravam em torno de 40% do seu

salário, o que diferia enormemente dos outros partidos em que a contribuição era em torno

dos 3%.82

Os conflitos foram constantes, onde sempre o partido alegava sua participação na

eleição do representante, a importância de seu apoio e toda a estrutura que forneceu para este

o que, portanto, legitimava seus poderes de conduzir, supervisionar e avaliar as atitudes dos

membros eleitos, enquanto estes pleiteavam uma maior liberdade na sua vida legislativa,

argumentando que sua base eleitoral era bem mais ampla que somente a do partido.

Em Conceição do Coité os primeiros petistas foram eleitos em 2000, quando

conseguiram levar a Câmara Municipal dois vereadores, feito este que se repetiu na eleição de

2004. Em 2000 foram eleitos Arivaldo Ferreira Mota e Adalberto Neres Pinto Gordiano

(Betão), ambos ligados a Igreja Católica. Em 2004 Betão se reelegeu, também foi eleito

Francisco de Assis Alves dos Santos que em 2000 havia sido candidato a prefeito pelo PT,

Arivaldo disputou essas eleições para o cargo de vice-prefeito, em coligação com o PMDB, e

acabou não se elegendo.

81 Ibidem. p. 246.

82 Idem. p. 248.

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42

Nessas duas gestões (2001/2004 e 2005/2008) os vereadores petistas apresentaram

inúmeros projetos (cerca de cinqüenta)83, dos quais a maioria eram de cunho social (cerca de

37,5%), em menor escala, mas em quantidade significativa vinham as leis de caráter

simbólico (em torno de 31,2%), em seguida vinham os projetos de ordem administrativas

internas da Câmara e os que visavam a organização física da cidade (cerca de 12,5% cada).

Esses números demonstram um aspecto importante da política coiteense que vem a

diferir do posicionamento dos primeiros petistas eleitos em grandes centros urbanos como em

São Paulo, pois aí eles tentaram se diferenciar dos demais políticos que empreendiam

políticas eleitoreiras e lançavam inúmeros projetos de caráter simbólico, como afirma Keck

[...] os deputados petistas de São Paulo introduziram muito menos leis do que seus colegas de outros partidos. Essa desproporção reflete o quanto o PT rejeita a relação tradicional entre o parlamentar e o eleitorado no Brasil. A imensa maioria de moções e projetos de lei apresentados ao plenário eram, especificamente, trocas de favores políticos ou, com mais freqüência, questões simbólicas – por exemplo, mudar o nome de uma rua ou de uma escola em honra de alguém, ou conceder o status de organização não-lucrativa para uma determinada entidade. Esse tipo de medida destina-se a aumentar a notoriedade de um representante perante seu eleitorado. Na sessão legislativa analisada, os deputados estaduais petistas não apresentaram nenhum projeto de lei desse tipo.84

Já em Conceição do Coité, como é possível perceber a partir da análise dos números

acima citados, os projetos de ordem simbólica eram bastante usuais, só sendo mais

apresentados que estes os de ordem social. Os projetos de caráter simbólico se centram em

nomeações de ruas, no reconhecimento como de utilidade pública de alguma instituição de

caráter comunitário como associações de bairro (ou povoados no caso da zona rural) e por

último na concessão de título de cidadão coiteense a algum membro destacado da sociedade.

Essa diferença se deve em grande parte ao contexto diferenciado em que esses parlamentares

atuam, pois numa cidade interiorana como Conceição do Coité, práticas políticas tradicionais

estão bem mais enraizadas do que em grandes centros urbanos, fazendo com que leis

simbólicas tenham muito mais valor na sociedade e dêem mais prestígio aos seus autores.

83 Com exceção das propostas de Indicação, as quais podem ser feitas por cada vereador cerca de 03 por sessão.

84 KECK, Op. Cit. p. 247

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Dos projetos de caráter social, o que teve maior ressonância, afinal foi um dos poucos

que foram aprovados, foi o de Renda Mínima para as famílias da comunidade do Açude

Itaurandi que tinham grandes dificuldades financeiras, pois não podiam praticar agricultura

utilizando a água do açude que está totalmente poluído pelo esgoto da cidade.

Os petistas de São Paulo se centravam muito na confecção de projetos que atenuassem

os males do desemprego que assolava a sociedade brasileira do início da década de 1980, este

que foi trazido pelos inúmeros problemas econômicos que reinavam nesse período em todo o

Brasil.

Outra característica forte dos parlamentares petistas desse período era o uso quase que

total do direito da fala durante as sessões para expressar anseios seus e do partido. Isso ocorria

muito fortemente na Assembleia Estadual de São Paulo, e foi detectado por Keck.

Em cada sessão da Câmara, há um período dedicado a pronunciamentos, primeiro breves e depois longos, sobre qualquer tema que um deputado queira abordar – em geral denúncias, assuntos nacionais e internacionais e questões políticas diversas. Especialmente na Assembleia Estadual, os deputados petistas utilizaram este fórum aberto proporcionalmente muito mais do que os dos outros partidos. 85

Essa característica também é notada nos vereadores petistas de Conceição do Coité que

utilizavam todas as sessões para fazer denúncias, tanto de corrupção quanto de problemas da

cidade, como também abordavam temas referentes à política nacional (e em menor escala, a

política internacional) e tratavam de temas internos do partido. O tema mais abordado eram

denúncias de possíveis fraudes do Executivo Municipal, como está registrado na ata da sessão

ordinária de 01 de junho de 2001: “Vereador Arivaldo relatou ter feito visitas a algumas

escolas do Município, e pôde constatar que alguns itens destinados à merenda escolar para as

escolas não estão chegando em sua totalidade ao destino declinado.”86 Esses aspectos

demonstram a fase denuncista do PT, tanto nacional quanto local, fase esta que persiste até a

atualidade no PT local, no entanto é bem mais amena no PT nacional.

85 KECK, ibidem. p. 247.

86 Atas da Câmara Municipal de Conceição do Coité. 01 de junho de 2001. Fl. 278.

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Com relação às denúncias de problemas da cidade, estas podem ser percebidas na

quantidade relevante de pedidos de audiência pública para se discutir principalmente os

problemas referentes à educação e à saúde, essa última está expressa na ata da sessão

ordinária da Câmara de Vereadores do dia 19 de março de 2002:

Vereador Arivaldo, pelo PT, disse entender e reconhecer que o sistema de saúde pública do Município obteve uma considerável melhora com a implantação do Programa Saúde, entretanto tem muito ainda no que melhorar, pois ainda se constata casos de mau atendimento como também a demora em obter consultas. Requereu a realização de Audiência Pública para se discutir o sistema de saúde no Município, com os diretores de clínicas e hospitais do município.87

Os vereadores petistas têm também uma postura contra “vantagens para os legisladores”

já que votaram contra o aumento de salários para vereadores assim como se manifestaram

contra a fixação de diárias para os mesmos, como é visto na ata da sessão ordinária do dia 11

de junho de 2002:

Em primeira discussão o Projeto de Lei Nº 005/2002, de autoria da Mesa Diretora, “que fixa o valor de diária no âmbito do Poder Legislativo”. Vereador Arivaldo discorreu dizendo que vários funcionários continuam sem o aumento salarial, inclusive os do Legislativo, razão pela qual não pode ser favorável a um valor tão alto para uma diária, pois é necessário primeiramente valorizar o funcionário público. 88

Essa postura reflete uma das características marcantes do PT idealizado: a “ética

petista”. Os petistas coiteenses tentam internalizar e pôr em prática essa ética petista, que por

muito tempo foi a principal bandeira do partido, mas na atualidade é um discurso que vem

sendo deixado de lado pelos petistas nacionais, mas que ainda persiste (com menos força) nos

petistas coiteenses.

Os comentários acerca dos acontecimentos do país estavam quase sempre relacionados

ao PT, como pode ser visto na ata de 11 de novembro de 2005, onde

87 Ibidem. 19 de março de 2002. Fl. 017.

88 Idem. 11 de junho de 2002. Fl. 068.

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Vereador Assis, em seu discurso, apresentou reportagens em que se comprova a falsidade da matéria publicada em primeira página pela Revista Veja, sobre a suposta destinação de recursos de Cuba para o PT. Segundo o Vereador, a Veja foi desmoralizada mais uma vez por ter-se tornado um panfleto do PSDB-PFL e uma ferramenta das oligarquias nacionais e do governo dos EUA contra os interesses da população brasileira. 89

Outra postura comum era a ênfase dada a importância do Partido dos Trabalhadores na

formação deles como políticos, pois o viam como única referência ética dentre todos os

partidos, como o mais centrado e equilibrado de todos, assim como é mostrado mais uma vez

por Arivaldo na sessão ordinária do dia 22 de junho de 2001:

Vereador Arivaldo Mota discursou relatando sua origem política como sendo de um partido pautado pelo diálogo e pela discussão, e que mesmo assim há divergências, pois por mais que se queira fazer as coisas sozinho elas não saem com a mesma perfeição do que quando são feitas por um grupo de pessoas; disse ter ingressado no Partido dos Trabalhadores não pensando em sua própria pessoa, mas sim pelo bem da coletividade, pois como cristão está assumindo seu papel de denunciador das desigualdades sociais90

Os legisladores petistas de São Paulo de 1982 faziam um esforço no sentido de recusar a

prática das políticas tradicionais clientelísticas que insistem em prevalecer na maior parte do

Brasil. No entanto quando se deram conta da magnitude dessa cultura, que eles com uma

simples recusa não poderiam deter, tentaram de certa forma se adaptar a esse contexto nem o

aceitando totalmente, nem o recusando de forma completa. O que tentavam fazer era uma

espécie de adaptação do contexto em que viviam e da “ideologia petista” que pregava contra

essas atitudes, como é exemplificado mais uma vez por Keck:

No gabinete de Luiza Erundina, eleita vereadora pelo PT de São Paulo em 1982, os pedidos individuais acabavam sendo enviados ao órgão burocrático estadual capaz de lidar com o problema, o que em geral envolvia um telefonema de Erundina ou de um de seus assessores.

89 Ibidem. 11 de novembro de 2005. Fl. 152.

90 Idem. 22 de junho de 2001. Fl. 087.

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Quando vinham indivíduos para levantar problemas comunitários, a equipe de Erundina tentava incentivar a organização da população local acerca da questão, em vez de oferecer uma solução imediata, como apresentar uma proposta de lei ou tentar conseguir, através dos canais burocráticos, o financiamento necessário para o projeto.91

Como se pode perceber, eles não mais apenas negavam o “apoio clientelístico”

alegando não fazer parte de suas atribuições, mas também não davam simplesmente o auxílio

financeiro ou utilizavam de seu conhecimento e “facilidades” burocráticas. Havia uma

tentativa de auxiliar esses indivíduos que, a luz do que conheciam como política no Brasil,

procuravam o gabinete dos políticos que eles ajudaram a eleger para pedir todo tipo de ajuda e

então, no caso dos petistas e especificamente Erundina, eram ajudados por alguns

telefonemas, como é demonstrado na citação acima, ou até mesmo com o incentivo para a

elaboração de projetos para que conseguissem o financiamento necessário.

Os petistas coiteenses também tentaram fazer essa adaptação, no entanto ela ficou muito

mais próxima da cultura política tradicional do que o que ocorreu com os petistas paulistas.

Essa divergência se deve em grande parte ao contexto histórico diferenciado no qual estão

inseridos, já que os petistas de 1982 estão no momento em que a “ideologia petista original”

ainda é muito forte dentro do partido. Os petistas coiteenses quase duas décadas depois estão

numa conjuntura bem diferenciada, em que há certa hegemonia do neoliberalismo, uma

grande desvalorização dos ideais socialistas e, principalmente, num momento em que o

discurso do PT histórico, já está bastante desvalorizado.

Essas diferenças também se devem ao fato de que as práticas políticas de cidades do

interior e, principalmente do interior baiano, resguardaram de forma mais forte traços da

política tradicional coronelística típica do período da República Velha. Isto se dá, dentre

outros motivos, pela situação socioeconômica da população e diz respeito diretamente a sua

condição de submissão aos poderosos locais, como defende Goetz Ottmann em trabalho sobre

os processos de democratização no Brasil:

[...] o fato que muitas pessoas pobres buscam obter alguma forma de patronagem política tem menos a ver com um ‘familismo amoral’

91 Keck. Op. Cit. p. 248.

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banfieldiano ou com alguma incapacidade de raciocínio dos pobres (como suporiam muitos autores inspirados no liberalismo do século XIX) do que com a própria pobreza em que vivem. Noutras palavras, em países como o Brasil a democratização das práticas políticas ‘tradicionais’ está inextricavelmente vinculada à eliminação da pobreza em massa e da desigualdade crônica, ainda que pobreza e desigualdade permaneçam como elementos da realidade em qualquer futuro que se divise. 92

Nesse artigo “Cidadania mediada: processos de democratização da política municipal do

Brasil”, Ottmann tenta entender essa lógica petista no contexto da “cidadania mediada”. Ele

mostra que não há uma oposição dicotômica entre o “tradicional”, ligado às práticas

clientelistas, e o “moderno”, identificado como métodos democráticos, mas que essas duas

posições podem “dialogar” e, segundo o autor é essa a postura do PT: adotar uma política

democratizante se utilizando de práticas tradicionais modificadas e adaptadas a nova fase

moderna da política brasileira.

Essa tese de Ottmann ajuda a entender a atuação dos petistas coiteenses, pois estes

tentam justamente adaptar a proposta democratizante da ideologia petista com a realidade da

política tradicional ainda em voga no Brasil e, como já foi dito, ainda mais fortemente na

Bahia, assim como afirma Israel Pinheiro em artigo intitulado “A Política na Bahia: atraso e

personalismos”:

[...] a Bahia não se desenvolveu o suficiente para estabelecer novas relações sociais de poder. Relações sociais mais horizontais, mais abertas, mais modernas, onde os antigos ‘chefes’ dêem lugar aos personagens modernos da política, resultantes não das necessidades materiais do eleitor, mas de sua liberdade de escolher, de votar. 93

Dessa forma os petistas puseram em prática uma postura híbrida que contem

características tradicionais - o político como alguém que ajuda a população com dinheiro,

patrocínio pra eventos, auxílio jurídico, etc. - e características modernas – “[...]

92 OTTMANN, G. Cidadania mediada: processos de democratização da política municipal do Brasil. Novos

estudos – CEBRAP, São Paulo, n.74, mar. 2006. Disponível em:<www.scielo.com.br>.

93PINHEIRO, Israel de O. A Política na Bahia: atraso e personalismos. Ideação. Feira de Santaa, n. 4, p. 49-78, jul/dez. 1999. p. 74.

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48

predominância de procedimentos legal-racionais na administração pública, um autêntico

espírito representativo nas instituições políticas e uma efetiva preocupação com o

universalismo e o ‘bem comum’ na cultura política” 94.

Portanto a atuação parlamentar petista local e nacional é algo que apesar das diferenças,

com relação ao tema dos projetos e a postura diante da influência de formas de políticas

tradicionais, muitos fatores existentes em 1982, bastante escassos hoje em âmbito nacional,

persistem ainda no PT local de forma a manter este mais próximo do “jeito petista de

governar” do que os próprios que criaram esse “jeito” e hoje se afastaram dele de forma

substancial.

94 OTTMAN, G. Op. Cit. p.156.

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Considerações Finais

Diante do exposto, percebe-se que o PT da fundação no início dos anos de 1980 é

bastante diferente do PT que chegou ao poder em 2002. O primeiro era mais restrito às

periferias industriais de São Paulo, um conglomerado de tendências, formado por militantes

amadores que priorizavam os movimentos sociais à atuação parlamentar e eleitoral. Este novo

PT é nacional, um dos maiores partidos do país, com uma tendência hegemônica, formado em

grande parte por funcionários profissionais e está tomado por compromissos político-

eleitorais. No entanto, elementos do PT ‘de raiz’ ainda persistem nessa nova fase, como afirma

Daniel Aarão Reis,

Não se quer afirmar que essas metamorfoses tivessem se realizado de forma integral; que as características presentes na gênese do PT tivessem se dissolvido no ar. Mas é como se as novas referências [...] estivessem agora predominando, conferindo à dinâmica do partido um rumo distinto, diferentes e imprevistos horizontes. Eram elas, de fato, que davam o tom e a cor do partido. 95

Não se quer dar aqui um juízo de valor a essas transformações do PT, pois a instituição

partidária, assim como todos os outros elementos constituintes de uma sociedade, sofre o

efeito do tempo e das mutações que ele traz em todo o mundo. Portanto, seria improvável o

congelamento dos princípios e dos objetivos petistas no decorrer do tempo.

Observando as práticas do PT local e do PT nacional percebe-se que no momento do

nascimento do primeiro este estava em consonância com o PT nacional, a não ser em aspectos

que diziam respeito ao contexto no qual ele estava inserido, já que era impossível manter um

discurso idêntico em um centro industrial e desenvolvido e numa cidade agrícola e interiorana

como é o caso de Conceição do Coité.

95 AARÃO REIS, Daniel. In. FERREIRA (Org.); AARÃO REIS, Daniel (Org.). As esquerdas no Brasil.

Revolução e democracia (1964...). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. p. 522.

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Com o passar do tempo e as transformações ocorridas a nível nacional o PT coiteense

acompanhou a evolução do PT nacional, no entanto um pouco mais próximo ainda de suas

origens. Isso se deve, em grande parte, ao fato de que em Conceição do Coité o PT não

conseguiu chegar ao poder municipal, nem ser maioria na Câmara de Vereadores,

permanecendo assim afastado do poder local.

A tímida participação petista no poder, como minoria na Câmara, demonstra em parte o

seu apego às “tradições petistas” mantendo características do chamado PT histórico, no

entanto com algumas peculiaridades referentes a sua relação com a população eleitoral que

revela a manutenção de formas políticas tradicionais que estão de acordo com o ambiente no

qual está inserido, local de fortes tradições políticas clientelísticas. Portanto, percebe-se que o

PT de Conceição do Coité mantém-se entre práticas políticas tradicionais e práticas políticas

modernas.

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