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Políticas de C&T no Brasil contemporâneo e Inovação social Maíra Baumgarten FURG-ICHI/UFRGS-PPGS/CEDCIS 14 a 16 de junho de 2011

Políticas de C&T no Brasil contemporâneo e Inovação socialintervox.nce.ufrj.br/hcte-sbhc-2011/contribuiçoes/maíra... · Um dos principais avanços na 4ª Conferência Nacional

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Políticas de C&T no Brasil contemporâneo e Inovação social

Maíra Baumgarten

FURG-ICHI/UFRGS-PPGS/CEDCIS

14 a 16 de junho de 2011

Ciência, Tecnologia e Sustentabilidade

A partir de uma visão geral sobre as atuais formas de produzir ciência e tecnologia debater sobre as possibilidades de Inovação Social no desenvolvimento econômico e social brasileiro considerando os rumos das atuais políticas de C&T no Brasil.

Objetivo:

Especificamente:

Relação entre ciência, tecnologia e sustentabilidade;

escolhas dos gestores no setor de C&T no Brasil;

as atuais direções das políticas de C&T e suas possibilidadespara a inovação social

Nova ordem mundial, tecnociência e sustentabilidade

O debate sobre sustentabilidade e suas relações com a produção de conhecimentos remete à relação entre

produção de ciência, tecnologia, inovação e necessidades sociais.

Desenvolvimento e inclusão social:

Que tipo de conhecimentos produzimos?

Esses conhecimentos são apropriados pela sociedade?

Nova ordem mundial, tecnociência e sustentabilidade

Produção de conhecimentos

necessidades e interesses das coletividades humanas

importante ferramenta de gestão da CT&I elemento central de legitimação junto à sociedade relativamente à alocação

de recursos para as atividades de pesquisa científica e tecnológica.

relação não necessariamente causal nem unidirecional.

Há muitos atores, nexos, políticas e recursosimbricados nessa relação, dificultando a sua visibilidade.

A avaliação dos efeitos sociais da pesquisa

Gestão e organização de C&T

No Brasil, as políticas formuladas e, principalmente, implementadas, no setor deC&T, não foram na direção de resolver as questões ligadas às disparidadesregionais ou aos graves problemas sociais relacionados à exclusão social.

Pelo contrário

a tendência, na última década, de copiar “modelos” e aplicarpolíticas e estratégias de análise e de ação, moldados na realidadedos países centrais (Maciel, 2003) levou ao domínio de umaperspectiva produtivista nas direções dos órgãos de C&T

o que aliado à posição autonomista e centrada em uma certamitificação da idéia de excelência, por parte de parcela dacoletividade científica acadêmica que participa da gestão do setor,acabou resultando em políticas e ações que tenderam a agravar asdistorções da base técnico-científica, reforçando a oligopolização deoportunidades e recursos por parte de alguns grupos e instituições.

Gestão e organização de C&T

Uma perspectiva privatista e produtivista passou a permear as instituições de pesquisa (e toda a sociedade) e infiltrou-se no próprio discurso da coletividade científica, que o incorporou com base na perspectiva autonomista de uma excelência abstrata e descolada da realidade concreta do país.

implementação de novas formas de controle das universidades, da educação e da produção científica, sintetizadas na avaliação de cunho quantitativista, na idéia da eficiência (em substituição à eficácia), no controle do desempenho (resultados), bem como, na noção de falência das estruturas públicas estatais

Anos 1990descontinuidades nas políticas para formação e ampliação da

base científico-tecnológica nacional;

certa despreocupação com demandas sociais (educação, saúde).

Essa linha de

condução das

políticas

crescente

importância

conferida ao

mercado

Gestão e organização de C&T

Com base nessa visão os formuladores de políticas de CTI tenderam a

assumir acriticamente o modelo da cadeia linear da inovação tecnológica convencional, que supõe o desenvolvimento social como um resultado (produto) automático do desenvolvimento tecnológico.

O modelo que se construiu a partir daí teve como base a idéia que o

investimento público em ciência retornaria para a sociedade, sempre

que fosse apoiada a “ciência de qualidade”, identificada apenas pelos

próprios cientistas, passando, as coletividades de cientistas a terem

grande autonomia na distribuição interna dos recursos.

Essa perspectiva desconsidera que as tecnologias são construções

sociais e, como produtos humanos, refletem os valores e

contradições das sociedades que as engendram.

Gestão e organização de C&T

A opção do Estado, no Brasil, de buscar legitimidade na coletividade científica e sua inclusão nas escolhas sobre as destinações do fomento, mantendo-a, entretanto, apartada da decisão sobre o montante de recursos e dependente das verbas das agências

esses passam a desempenhar uma participação decisiva nos rumos do fomento e na conformação da própria estrutura de C&T, não só executando a pesquisa, como também intervindo no planejamento e na gestão e coordenação do setor .

coletividade assuma uma face predominantemente acadêmica e busque formas de sobrevivência e de crescimento, a partir de uma progressiva atuação dentro das próprias

estruturas do Estado.

O modelo de relação entre Estado e

coletividade científica acadêmica

incorpora os cientistas na gestão do setor de C&T

Gestão e organização de C&T

O efeito da participação da coletividade científica no setor de C&T no Brasil tem sido inegavelmente benéfico,

compromissos com pares.

tênue ligação com os problemas e necessidades nacionais

mentalidade prevalente: regida pelo princípio da autonomia da ciência e idéia que o cientista preocupado com questões (tais como, significado e aplicabilidade social da ciência) é um cientista de segunda classe;

mas

essa atuação construiu-se no interior de uma política clientelista, fortemente associada a ações de grupos de interesses, cuja tendência é a auto-preservação, com base em esquemas apoiados na visão dos pares e em uma perspectiva excessivamente endógena e fragmentária da

realidade, baseada em áreas e disciplinas.

A coletividade

científica acadêmica

brasileira, presente nas

estruturas do setor de

C&T, lá está por mérito

científico e indicação

dos pares

A área de ciências humanas e sociais, capaz de refletir sobre temas relacionados à exclusão social

e propor soluções, visando a sustentabilidade social, tende a ser alijada (ou cooptada, como

alternativa à possível desqualificação) na nova perspectiva excelentista-produtivista imprimida ao

setor pelo domínio da lógica das áreas de ciências hard, mais internacionalizadas.

Gestão e organização de C&T

A ênfase das políticas de C&T no Brasil tem sido posta na “aparência” de acompanhar o modelo internacional.

As políticas de C&Tadotadas na AL obedecem a uma nova lógica, que se expressa nas chamadas agendas para a competitividade (LICHA, 1997).

precisamos de uma ciência com níveis de excelência internacional para, transferindo-a e imprimindo-a ao setor produtivo, ganhar condições de competitividade nos mercados internacionais.

O discurso é:

As necessidades do setor privado da economia requerem um novo papel da investigação acadêmica e das universidades. Um papel muito mais ativo e compromissado na obtenção da competitividade empresarial. Para tanto são promovidas mudanças legais e institucionais, financeiras e organizacionais da ciência acadêmica, ao mesmo tempo em que se fixam novos critérios de destinação de recursos para a investigação e a avaliação de desempenho dos investigadores.

O discurso é:

Gestão e organização de C&T

Por um lado, tais políticas trazem benefícios apenas a poucas empresas, àquelas mais dinâmicas, dotadas de capacidades próprias de pesquisa e desenvolvimento e que detém as funções mais rentáveis. Em termos de países e de regiões o mesmo ocorre, pois a competitividade global gera mais disparidades e aprofunda a brecha entre países centrais e periféricos.

desenvolveu-se uma relação nova entre produção científica e tecnológica e um outro ethos acadêmico – resultado do processo de comercialização do conhecimento impulsionado pela lógica da competitividade global.

Como principais conseqüências dessas políticas

Nos países semi-periféricos como o Brasil essas repercussões tendem a ser bastante sérias:

Gestão e organização de C&T

Incorporam ainda a

perspectiva excelentista

produtivista.

Apontam novas direções combase em uma mudança de perspectiva na relação estado sociedade.

PACTI 2007-2010

1- EXPANSÃO E CONSOLIDAÇÃO DO SISTEMA NACIONAL DE C,T&I2- PROMOÇÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NAS EMPRESAS3- P,D&I EM ÁREAS ESTRATÉGICAS4- C,T&I PARA O DESENVOLVIMENTO SOCIAL

Prioridades estratégicas

Gestão e organização de C&T

1- Consolidação Institucional do Sistema Nacional de C,T&I2- Formação de Recursos Humanos para C,T&I3- Infra-estrutura e Fomento da Pesquisa Científica e Tecnológica

Meta prioritária I

Ampliar e fortalecer a parceria com os estadosAumentar o número de doutores titulados por ano, incrementandoo número total de bolsas para as engenharias e para as áreasrelacionadas à PITCE e aos objetivos estratégicos nacionais

I - Expansão e consolidação do Sistema Nacional de CT&I

4- Apoio à Inovação Tecnológica nas Empresas5- Tecnologia para a Inovação nas Empresas6- Incentivos à Criação e Consolidação de Empresas Intensivas em Tecnologia

Meta prioritária II

Ampliar a razão entre gastos em P,D&I privado e PIB de 0,51% para 0,65% até 2010, por meio do sistema integrado de financiamento a investimentos em inovação tecnológica e de forteampliação de recursos para financiamento e para capital de risco

II- Promoção da Inovação Tecnológica nas Empresas

Gestão e organização de C&T

7. Áreas portadoras de futuro: Biotecnologia e Nanotecnologia8. Tecnologias da Informação e Comunicação9. Insumos para a Saúde10. Biocombustíveis11. Energia elétrica, hidrogênio e energias renováveis12. Petróleo, gás e carvão mineral 13. Agronegócio14. Biodiversidade e recursos naturais15. Amazônia e Semi-Árido16. Meteorologia e mudanças climáticas17. Programa Espacial18. Programa Nuclear19. Defesa Nacional e Segurança Pública

III- PD&I em áreas estratégicas

Gestão e organização de C&T

20- Popularização da C&T e Melhoria do Ensino de Ciências

21- Tecnologias para o Desenvolvimento Social

IV- CT&I para o desenvolvimento social

Metas prioritárias IV

Realizar a inclusão digital por meio da implantação de

600 telecentros até 2010, especialmente em municípios com o

menor IDH e em comunidades tradicionais; e

Implantar 400 CVTs (Centros Vocacionais Tecnológicos)

em articulação com o MEC

Gestão e organização de C&T

elege áreas estratégicas para P&D: tecnologias da informação e comunicação, biocombustíveis, agronegócio, insumos para a saúde e energia nuclear

dá relevância à divulgação de C&T, à melhoria do ensino de ciências e a atividades para inclusão social com ênfase no desenvolvimento regional.

O plano

prevê um vasto leque de instrumentos e iniciativas para incentivar:

a criação de empresas de tecnologia a inovação nas empresas a articulação e fortalecimento dos institutos tecnológicos de apoio às empresas

CORRESPONDE A UM VERDADEIRO PAC DA INOVAÇÃO NAS EMPRESAS

Nas palavras de com Luiz Antonio Elias (então secretário executivo do MCT)

Gestão e organização de C&T

O instrumento (no âmbito nacional) para buscar resolver as assimetrias regionais tem sido a reserva de 30% de investimentos em CT&I nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Um dos problemas identificados nos diagnósticos sobre CT&I a partir de indicadores diversos refere-se a fortes assimetrias regionais.

Estudos recentes demonstram limites desse instrumento:

Gestão e organização de C&T

Principais conclusões e recomendações do estudo:

O trabalho sugere promover este estudo com indicadores de CT&I do MCT e a partir de um novo diagnóstico, orientar as políticas estratégicas de redução de assimetrias. (Girolo, 2010).

As conferências de CT&I, por outro lado, são o maisimportante instrumento utilizado no que se refere àparticipação da sociedade na formulação daspolíticas para o setor. Sua influência nos PACTI ésignificativa.

Um dos principais avanços na 4ª Conferência Nacional de CT&I foi ainclusão nos debates de um eixo sobre a relação entre ciência, tecnologia,inovação e desenvolvimento social, acompanhado as linhas de ação doPACTI (2007-2010).

Participação social na gestão e organização de C&T

Antecedendo a Conferência Nacional e como etapapreparatória, ocorreram conferências estaduais eregionais de CT&I (5) que mobilizaram, de diferentesformas, em diferentes regiões, parcelas da sociedade civilno debate sobre CTI.

O principal problema que se pode apontar nas conferências (nacional, estaduais e regionais) relaciona-se à sua forma de tratar a participação da sociedade.

Baixa diversidade na representação da sociedade e forte

hegemonia do Estado (gestores) e da coletividade científica

(instâncias gestoras), baixa presença de membros da

sociedade, usuários, etc...

forte presença do discurso da neutralidade da ciência, da

competitividade e do empreendedorismo, pouco espaço

para perspectiva crítica nos debates.

Participação social na gestão e organização de C&T

Políticas de C&T no Brasil:

qual direção?

Políticas de C&T:em que direção?

Permanência e aprofundamento de algumas

políticas fundadas na perspectiva

excelentista produtivista, com base em

visões e interesses de alguns grupos (e áreas

e disciplinas) hegemônicos que permeiam

as estruturas de fomento e de gestão de

C&T e que representam a continuidade da

política anterior. O resultado dessas ações é

a permanência das disparidades regionais e

intra-regionais, a precariedade das

universidades públicas e aquilo que

podemos denominar de “excelência

fugidia” ou os “sem recursos”. Formamos

mais doutores mas não lhes possibilitamos

acesso aos recursos e/ou ao mercado de

trabalho. Mantemos o conhecimento dentro

das universidades e valorizamos a

publicação no exterior

(internacionalização).

Duas direções de política para o setor de CT&I

Estruturação de Políticas com

potencial para contemplar a idéia

de investimento nas competências

educacionais, científicas e

tecnológicas próprias do país a

partir de um olhar adequado às

especificidades nacionais e que

leve em conta a identidade

histórico-cultural para definir as

estratégias a serem adotadas. Há

alguns esboços de políticas e ações

com essas características:

As ações voltadas ao apoio ao

desenvolvimento de tecnologias

sociais, divulgação de C&T, editais

por temas que trabalham com

problemas locais e potencialidades

regionais

Políticas de C&T:em que direção?

Algumas da políticas apresentam uma perspectiva confusa sobre as relações entre tecnologias sociais, tecnologias simples, assistência a populações carentes e produção de conhecimento voltado a necessidades locais.

O Ministério de C&T, tem uma Secretaria de Inclusão Social (SECIS), criada para promover a inclusão social por meio de ações que melhorem a qualidade de vida e estimulem a geração de ocupação e renda. A SECIS apresenta as tecnologias sociais como: “Essas tecnologias caracterizam-se pela simplicidade, baixo custo e fácil aplicação, que potencializam a utilização de insumos locais e mão de obra disponível, protegem o meio ambiente, têm impacto positivo e capacidade de resolução de problemas sociais”(www.mct.gov.br/index.php/content/view/9917.html acesso em abril de 2008).

Esse apoio se dá por mecanismos contraditórios, que seguem lógicas antagônicas e que de certa forma, reiteram o distanciamento entre academia e a sociedade

Essa perspectiva, no nosso ponto de vista, corre o risco de restringir o conceito de

tecnologias sociais a tecnologias de segunda classe e em instrumento assistencialista.

Problemas a contornar:

As escolhas (forma de e lógica) para a composição dos comitês

que seguem a lógica que permeia gestores e coletividade científica:

excelência e competitividade com base em parâmetros das áreas

hard e em perspectiva econômica;

Dificuldades em compor comitês gestores realmente

transdisciplinares, possibilitando a adequada avaliação de projetos

que integrem saberes e viabilizem soluções para as complexas

questões sociais do Brasil;

Dificuldades de inclusão das ciências sociais e humanas nos

projetos atendidos pelos editais.

Políticas de C&T:em que direção?

Editais por temas

Políticas de C&T:em que direção?

a lógica excelentista autonomista (dos grupos hegemônicos na coletividade científica);

a lógica da competitividade (empresários e gestores públicos que buscam atender aos requerimentos do mercado);

a lógica assistencial (gestores públicos que buscam resolver carências e demandas de inclusão social de forma simples e rápida sem mudanças significativas nas estruturas de educação e, mesmo, na lógica da produção e divulgação de C&T).

Há grande dificuldade para ultrapassar as três lógicas

constitutivas do perfil dos comitês gestores:

Políticas de C&T:em que direção?

Apesar importância das redes que envolvem

pesquisadores e demais atores relacionados à

produção de conhecimento para o

aprofundamento das relações entre coletividade

científica e sociedade no Brasil sua existência

não parece ser condição suficiente para a

promover a articulação entre instâncias

produtoras do conhecimento e sociedade.

A falta de mediações entre

universidade e sociedade pode

trazer sérios prejuízos à

sustentabilidade econômica e social

do país e à sua capacidade de auto-

reflexão e resolução de problemas,

aumentando os níveis de

dependência em relação aos países

produtores de conhecimento.

Aprofundar o debate sobre as

formas que vêm assumindo as

relações entre Estado, coletividade

científica e sociedade e ampliar os

estudos e discussões sobre as

tecnologias sociais e seu potencial

para gerar inovação social parece

ser um caminho promissor.

Políticas de C&T:em que direção?

Abertura de linhas específicas de fomento a tecnologias sociais e ampliação de recursos para o estudo e o desenvolvimento de tecnologias sociais e inovação social;

Ampliação de recursos para a divulgação de CT&I e para o desenvolvimento de estudos e do debate CTS;

Inclusão de recursos para avaliação sobre repercussões sociais do conhecimento/tecnologia produzidos e de instrumentos para a divulgação dos resultados da pesquisa nos projetos e nos processos de avaliação dos projetos nas agências de fomento;

Ampliar e diversificar os comitês transdisciplinares nas agências de fomento em todos os âmbitos, incluindo pesquisadores das ciências sociais e humanidades;

Criar fundo setorial para as ciências humanas e educação com recursos provenientes do setor financieiro;

Desenvolver ações de incentivo à participação de empresas em projetos sociais e culturais.

Algumas propostas que surgiram em conferências regionais

podem servir de base para esse debate:

[email protected]

http://www.ufrgs.br/ladcis/