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POLÍTICAS DE DROGAS E DIREITOS HUMANOS Para a construção de um memorandum dos juízes dos países e territórios de língua oficial portuguesa (UIJLP) no âmbito da 1ª Conferência Internacional sobre Políticas de Drogas nos PALOP Dever-se-á tomar como pontos centrais de discussão tanto o texto de introdução da conferên- cia como a arrumação sistemática dos assuntos do programa da conferência. Voltam-se a re- meter em anexo os ficheiros correspondentes. Para preparar a reunião preliminar à conferência e para adiantar dados para a elaboração do memorando, tal como foi referido nas reuniões que tivemos em Florianópolis, precisávamos que nos fossem enviados elementos informativos e documentais sobre cada uma das realida- des nacionais tanto ao nível do fenómeno do tráfico e do consumo como ao nível da legislação, da casuística dos tribunais e da litigância em matéria de tráfico e de consumo de estupefacien- tes. Do mesmo modo precisaríamos de elementos informativos e documentais sobre a realidade problemática da droga nas diversas experiências nacionais, incluindo aqui os novos desenvol- vimentos dos fenómenos de tráfico e de consumo das drogas, bem como das políticas públicas de prevenção e combate ao tráfico de droga / estupefacientes e também de prevenção e trata- mento do fenómeno do consumo do álcool e dos estupefacientes. Não esquecendo, também, a dimensão internacional e da globalização do problema das drogas, encarando aqui a cooperação no combate ao tráfico mas também o reforço de políticas de pro- tecção dos direitos humanos. Com tais elementos pretende-se retratar aquele que é o desenho actual sobre as políticas da droga nas diversas realidades nacionais dos países de língua oficial portuguesa. Desenho esse que se evidencia pela sua dimensão jurídica e de aplicação judiciária. Pretende-se, ainda, que seja dada relevância à questão do tratamento do utilizador de drogas

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POLÍTICAS DE DROGAS E

DIREITOS HUMANOS

Para a construção de um memorandum dos juízes dos países e territórios de língua oficial

portuguesa (UIJLP) no âmbito da 1ª Conferência Internacional sobre Políticas de Drogas

nos PALOP

Dever-se-á tomar como pontos centrais de discussão tanto o texto de introdução da conferên-

cia como a arrumação sistemática dos assuntos do programa da conferência. Voltam-se a re-

meter em anexo os ficheiros correspondentes.

Para preparar a reunião preliminar à conferência e para adiantar dados para a elaboração do

memorando, tal como foi referido nas reuniões que tivemos em Florianópolis, precisávamos

que nos fossem enviados elementos informativos e documentais sobre cada uma das realida-

des nacionais tanto ao nível do fenómeno do tráfico e do consumo como ao nível da legislação,

da casuística dos tribunais e da litigância em matéria de tráfico e de consumo de estupefacien-

tes.

Do mesmo modo precisaríamos de elementos informativos e documentais sobre a realidade

problemática da droga nas diversas experiências nacionais, incluindo aqui os novos desenvol-

vimentos dos fenómenos de tráfico e de consumo das drogas, bem como das políticas públicas

de prevenção e combate ao tráfico de droga / estupefacientes e também de prevenção e trata-

mento do fenómeno do consumo do álcool e dos estupefacientes.

Não esquecendo, também, a dimensão internacional e da globalização do problema das drogas,

encarando aqui a cooperação no combate ao tráfico mas também o reforço de políticas de pro-

tecção dos direitos humanos.

Com tais elementos pretende-se retratar aquele que é o desenho actual sobre as políticas da

droga nas diversas realidades nacionais dos países de língua oficial portuguesa. Desenho esse

que se evidencia pela sua dimensão jurídica e de aplicação judiciária.

Pretende-se, ainda, que seja dada relevância à questão do tratamento do utilizador de drogas

/ do toxicodependente por parte dos tribunais e se as decisões judiciais estão a ter em conta

preocupações de salvaguarda dos direitos humanos.

Do mesmo modo, pretende-se que com os elementos recolhidos se consiga perceber como se

posicionam os juízes face à tutela e garantia das normas legais nos domínios da Justiça/Saúde

à luz dos direitos humanos.

Destina-se também, o memorandum, a ditar um compromisso com algumas metas e objectivos

em torno dos princípios que devem nortear a prevenção e o combate ao flagelo das drogas.

Para “orientar” ou facilitar o trabalho de recolha elaborámos a grelha de assuntos que se segue

(e de algumas sugestões de perguntas assinaladas a vermelho) onde se abordam algumas ma-

térias e questões pertinentes sobre estes assuntos. Muito nos ajudará se este questionário for

respondido e desenvolvido com conteúdos o mais depressa possível.

POLÍTICAS DE DROGAS E DIREITOS HUMANOS

A. Realidades nacionais (políticas de prevenção e combate do tráfico e do

consumo)

. Produção v. comercialização e distribuição das drogas

. As drogas e a questão económica. Os mercados associados à droga. Questões geográfi-

cas e de desenvolvimento económico.

. Conceitos e definições de droga, estupefaciente e de substâncias ilegais. Tráfico, con-

sumo, etc…

. Informação, pedagogia, educação e integração social. As questões ligadas ao fenómeno

das drogas.

. Problemas sociais e de saúde associados ao consumo: exclusão social, criminalidade

associada, empobrecimento, HIV/SIDA (AIDS), Tuberculose, Hepatites, doenças neurológicas…

. Dinâmicas do tráfico e do consumo: novas drogas

. Estruturas nacionais implementadas de cariz especializado

. Políticas de direitos humanos

- No país existe uma política articulada sobre drogas, designadamente, planos nacionais de

drogas? Em caso afirmativo, se possível, junte copia ou indique como aceder ao mesmo e indique qual o

papel atribuído no mesmo aos tribunais.

Sim.

Em vigor está o Plano estratégico 2013-2015 da responsabilidade do SICAD – Serviço

de Intervenção nos comportamentos Aditivos e nas Dependências

Disponível em :

http://www.idt.pt/PT/IDT/RelatoriosPlanos/Paginas/EstrategicosNacionais.aspx

Existe, ainda, o Plano Nacional para a redução dos problemas ligados ao álcool e o

European action plan to reduce the harmful use of alcohol.

Ver em:

http://www.diretorioalcool.pt/noticias/Paginas/default.aspx?IdRegisto=1&IdNoticia=3

1

http://www.euro.who.int/en/health-topics/disease-prevention/alcohol-

use/publications/2012/european-action-plan-to-reduce-the-harmful-use-of-alcohol-

20122021

Portugal começou por aderir, em 1984, a Programas de Cooperação Técnica Europeia

para a Prevenção dos PLA, o último dos quais em curso (European action plan to reduce the

harmful use of alcohol– 2012-2020) e adopta a Carta Europeia sobre o Consumo de Álcool,

aprovada na Conferência de Paris em 1995, valiosa “cartilha” de princípios éticos, objectivos e

estratégias de acção, cuja divulgação Portugal veio a integrar no Programa de Promoção e E-

ducação para a Saúde enquadrado no Plano Nacional Contra o Alcoolismo.

Existe, ainda, na DGPJ uma área de planeamento estratégico com a missão principal de

auxiliar o Ministro da Justiça na elaboração de documentos estratégicos, das Grandes Opções

do Plano na área da justiça e da monitorização do seu cumprimentos, com as competências e

objectivos melhor descritas em:

http://www.dgpj.mj.pt/sections/planeamento

http://www.dgpj.mj.pt/sections/planeamento/documentos-de

http://www.dgpj.mj.pt/sections/planeamento/programas-financeiros-

da6727/documentos/ponto-de-situacao-04-de/

- Existe qualquer plano estratégico que vise a realização de acções coordenadas dos diversos ór-

gãos envolvidos no problema, a fim de impedir a utilização do território nacional para o cultivo, a produ-

ção, a armazenagem, o trânsito e o tráfico de drogas ilícitas? Em caso afirmativo, qual o papel previsto

nesse plano para os tribunais?

Sim.

O anterior, articulado com os planos da união europeia disponíveis, entre outros sítios

em:

http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:C:2013:351:0001:0023:en:PDF

http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:C:2012:402:0001:0010:en:PDF

http://ec.europa.eu/justice/anti-drugs/law/index_en.htm

http://europa.eu/legislation_summaries/justice_freedom_security/combating_drugs/index_pt

.htm

http://ec.europa.eu/justice/anti-drugs/index_pt.htm

http://ec.europa.eu/justice/anti-drugs/international-cooperation/index_en.htm

- Existe algum organismo/instituição que garanta, incentive e articule estratégias de planeamen-

to, avaliação e controle nas políticas de educação, assistência social, saúde e segurança pública, no que

respeita ao uso de drogas? Em caso afirmativo que relação existe entre os tribunais e tal organismo.

Sim.

No âmbito do SICAD, ver em Portugal em:

http://www.tu-alinhas.pt/InfantoJuvenil/displayconteudo.do2?numero=18760

Ver, ainda, sitio:

http://www.diretorioalcool.pt/Paginas/HomePage.aspx

O referido gabinete de planeamento estratégico da DGPJ- Direcção Geral da Politica da

Justiça.

As Comissões para a dissuasão da toxicodependência, a que se refere a Lei 30/2000, de

29 de Novembro e o DL 130-A/2001, de 23 de Abril.

- Existe algum organismo de âmbito nacional destinado ao combate do uso e/ou tráfico de dro-

gas? Em caso afirmativo, qual; qual a sua composição; quais as suas competências; qual o seu objecto e

quais os seus objectivos; e que relação existe entre o mesmo e os tribunais?

Na Policia judiciária existe uma Unidade Nacional de Combate ao Trafico de Estupefacientes .

Sobre a sua actividade pode ver-se relatórios estatísticos em:

http://www.policiajudiciaria.pt/PortalWeb/page/{7AED160C-01F4-4A6E-9616-

D7C8381D1286}

- Existem registos relacionados com os fenómenos relacionados com o uso e tráfico de drogas? Em

caso afirmativo, se possível, junte cópia ou indique como aceder aos mesmos.

Para além das estatísticas da PJ antes referidos existem os relatórios europeus sobre drogas

disponíveis em:

http://www.emcdda.europa.eu/publications/searchresults?action=list&type=PUBLICATIONS&

SERIES_PUB=w203&country=w125

http://www.emcdda.europa.eu/edr2013

Existem, ainda estatísticas e relatórios realizados pelo SICAD, disponíveis em:

http://www.idt.pt/PT/Estatistica/Paginas/ReducaodaProcuraConsumos.aspx

http://www.idt.pt/PT/Estatistica/Paginas/ReducaodaOfertaMercados.aspx

http://www.idt.pt/PT/Estatistica/Paginas/TendenciasporDrogas.aspx

http://www.idt.pt/PT/IDT/RelatoriosPlanos/Paginas/SituacaodoPais.aspx

- Existindo estatísticas sobre os temas acima mencionados em A. pode juntar cópia de um quadro

desses dados das últimas décadas ou indicar como aceder aos mesmos?

Os antes referidos, nos locais indicados.

- Os agentes policiais, agentes dos serviços públicos, ONGs, responsáveis políticos e os magistrados

têm ao seu dispor acções de formação no âmbito dos fenómenos do uso e tráfico de drogas? No caso afir-

mativo esclareça, se possível: de que tipo, disponibilizadas por quem; e que tipo de adesão têm tido, desig-

nadamente por parte dos magistrados.

Em Portugal o Centro de Estudos Judiciários, o Centro de Estudos Sociais da Universi-

dade de Coimbra e a ASJP, entre outros, em colaboração com várias universidade e outros es-

tabelecimentos de ensino facultam formação em várias áreas, designadamente no âmbito do

Direito Penal e politica criminal, onde são abordados temas de interesse no que respeita aos

fenómenos em causa.

Tais cursos, conferencias e seminários têm normalmente boa adesão por parte dos des-

tinatários sejam estes magistrados, funcionários, policias ou outros profissionais relacionados

com o fenómeno.

B. Relações internacionais, cooperação e integração regional

. Terminologias, conceitos e traduções. Léxico e linguagem em torno do fenómeno das

drogas. Sua abordagem comparada.

. Geopolítica, globalização e realidades regionais

. Circuitos e rotas do tráfico internacional.

. Intervenção dos organismos e das agências internacionais.

. Plataformas de informação e cooperação.

C. Sistema legal e judicial

. Constituição e instrumentos internacionais.

. Qualificação e punição do tráfico e do consumo. Penal, criminal e contra-ordenação

(sanção administrativa). Distinções e conceitos. Tipologias, penas e medidas alternativas. San-

ções acessórias. Perdas de objectos e bens.

. Criminalidade associada ao tráfico e ao consumo. Sua distinção e tratamento pelos tri-

bunais.

. Tabelas de drogas ilegais/ilícitas e as novas drogas químicas. Novos sistemas de pre-

venção e repressão.

. Investigação criminal.

. Julgamento.

. Sistema de prevenção, tratamento, recuperação e reinserção social. Consumidor e tra-

ficante. A educação, a saúde e a repressão criminal. A reinserção social.

. Prática jurisprudencial. Diferenciação de casos e tipologias. Escolha e determinação

das penas / sanções. Prevenção v. repressão. E repressão v. reinserção social. A reincidência.

. Informação jurídica. Acesso ao direito e à justiça.

. Prisões, centros de recuperação e vias alternativas.

- O que é que a legislação e/ou a jurisprudência consideram “droga”?

As plantas, substâncias ou preparações incluídas nas tabelas I a VI anexas ao DL 15/93,

de 22 de Janeiro, regularmente actualizadas, tendo-o sido a ultima actualização feita através da

Lei 13/2012, de 26 de Março, que alterou as tabelas I-A e II-A e republicou as demais tabelas.

A tabela I está dividida em opiáceos; derivados da coca; cannabis e derivados. A tabela

II está dividida por alucinogénios; anfetaminas; barbitúricos. A tabela III contém preparações

com substâncias controladas, a tabela IV tranquilizantes e analgésicos e as tabelas V e VI con-

tém precursores.

As diferenças entre as listas têm um impacto na condenação de crimes relacionados

com a droga.

Novas substancias psicoativas:

O recurso a novas substâncias psicoativas conheceu nos últimos tempos um crescimen-

to acentuado, sobretudo por parte das camadas mais jovens da população, dando origem a

problemas graves na saúde dos seus consumidores e gerado em seu torno um negócio centra-

do nas denominadas “lojas smartshops“ que proliferaram rapidamente.

A facilidade do acesso às novas substâncias psicoativas e a sua venda legal, em estabe-

lecimentos comerciais, poderia induzir os seus consumidores numa falsa segurança sobre os

seus impactos na saúde, sem correspondência com a realidade . Regista-se a procura por es-

tes consumidores, de unidades públicas de tratamento de pessoas com consumos abusivos de

substâncias ilícitas e lícitas, assumindo que têm um problema.

Tornou-se, então, necessário enquadrar legalmente esta matéria, tendo, para o efeito

sido publicado o DL 54/2013, de 17 de Abril, o qual procede à definição do regime jurídico da

prevenção e protecção contra a publicidade e comércio das novas substâncias psicoativas, dis-

ponível em: http://www.dre.pt/pdf1s/2013/04/07500/0225402257.pdf

Consideram-se novas substâncias psicoativas: as substâncias não especificamente en-

quadradas e controladas ao abrigo de legislação própria que em estado puro ou numa prepa-

ração, podem constituir uma ameaça para a saúde pública comparável à das substâncias pre-

vistas naquela legislação, com perigo para a vida ou para a saúde e integridade física, devido

aos efeitos no sistema nervoso central, podendo induzir alterações significativas a nível: da

função motora, das funções mentais, designadamente do raciocínio, juízo crítico e comporta-

mento, muitas vezes com estados de delírio, alucinações ou extrema euforia, podendo causar

dependência e, em certos casos, produzir danos duradouros ou mesmo permanentes sobre a

saúde dos consumidores.

Assim, o primeiro traço identificativo é o facto de serem abrangidas substâncias que

não estão especificamente enquadradas e controladas ao abrigo de legislação própria, estabe-

lecendo-se assim um recorte em relação ao Decreto-Lei n.º 15/93, de 22 de Janeiro, onde se

define o regime jurídico aplicável ao tráfico e consumo de estupefacientes e substâncias psico-

trópicas.

As novas substâncias psicoativas abrangidas pelo novo regime jurídico estão elencadas

na Portaria n.º 154/2013, de 17 de Abril. Veja-se em:

http://dre.pt/pdf1sdip/2013/04/07500/0225402257.pdf

Da leitura do Dl 54/2013, de 17 de Abril constata-se que passaram a existir duas gran-

des categorias de substâncias psicoativas: as “novas” e as “velhas”.

“As velhas” substâncias psicoativas são reguladas pelo Decreto-Lei n.º 15/93, de 22 de

Janeiro, onde a generalidade dos ilícitos aí previstos são punidos com penas de prisão, à ex-

cepção do consumo ao qual é aplicado o regime contraordenacional, intervindo na dinâmica da

respectiva prevenção e investigação criminal a Polícia Judiciária, a Guarda Nacional Republi-

cana e a Polícia de Segurança Pública.

Relativamente às novas substâncias psicoativas optou-se pelo regime contraordenacio-

nal, o que se consubstancia na aplicação de coimas a um elenco de actividades (v.g. produção,

importação, exportação, detenção, publicidade distribuição, venda), as quais variam em função

de diversas variáveis, aparecendo como actor principal em toda este processo a ASAE- Autori-

dade de Segurança Alimentar e Económica.

O Diploma em causa tanto abarca as substâncias em estado puro, como as que estejam

presentes numa preparação (tenham sido alvo de transformação), desde que constituam uma

ameaça para a saúde pública comparável à das substâncias constantes do Decreto-Lei n.º

15/93, de 22 de Janeiro.

Essa ameaça para a saúde pública consubstancia-se no perigo para a vida, saúde e inte-

gridade física que o consumo destas novas substâncias (algumas delas ainda muito mal conhe-

cidas), por ingestão, por inalação, por aspiração, por aplicação sobre a pele ou por quaisquer

outras vias de absorção humana, representa.

Este diploma faz, desde logo, no preâmbulo, um apelo ao denominado princípio da pre-

caução, nos termos do qual as medidas destinadas a evitar o impacto negativo de uma acção

devem ser adoptadas, mesmo na ausência de certeza científica da existência de uma relação

causa – efeito entre eles, quando aí se refere que no mercado das novas substâncias psicoati-

vas “circulam substâncias cujos efeitos sobre a fisiologia humana são muitas vezes ainda mal

conhecidas na sua plenitude, o que torna muito difícil o tratamento das intoxicações agudas e

dos efeitos de longo prazo”, referindo-se depois no articulado à suspeita de grave risco para a

saúde humana.

Perante a suspeita de grave risco para a saúde humana imputado a um produto suscep-

tível de ser considerado uma nova substância psicoativa, deve a autoridade de saúde compe-

tente, pelo período necessário à confirmação da suspeita, retirar para análise: o produto; e os

equipamentos ou utensílios afectos ao uso específico do mesmo.

Se o Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD)

confirmar a suspeita de grave risco para a saúde humana, a autoridade de saúde: suspende

provisoriamente a produção, importação, exportação, publicitação, distribuição, venda ou dis-

ponibilização do produto retirado para análise; emite ordem de suspensão devidamente fun-

damentada (razões por que se considera o consumo do produto representativo de um grave

risco para a saúde pública) e procede à respectiva notificação.

A decisão de suspensão caduca no prazo de 30 dias, excepto se o produto for incluído

no elenco das novas substâncias psicoativas constante da Portaria n.º 154/2013, de 17 de A-

bril.

Os médicos que, ao prestarem cuidados de saúde ou ao realizarem perícias médico-

legais, encontrem indícios de um dano à saúde potencialmente imputável ao consumo de uma

substância, notificam, de imediato, a autoridade de saúde competente e o SICAD.

A intervenção do SICAD passa a ser extensível às novas substâncias psicoativas: em ca-

so de instauração de procedimentos contraordenacionais, adopção medidas de precaução sa-

nitária, determinado o encerramento ou a suspensão da actividade, cumpre à autoridade res-

ponsável notificar o SICAD.

O Diretor-Geral do SICAD transmite às autoridades de saúde a identificação de substân-

cias susceptíveis de serem consideradas novas substâncias psicoativas, para efeito de fiscaliza-

ção; e propõe ao membro do Governo responsável pela área da saúde a introdução de novas

substâncias psicoativas na lista da Portaria n.º 154/2013, de 17 de Abril.

Ver legislação disponível sobre trafico e consumo de estupefacientes, entre outros, em:

http://www.dgpj.mj.pt/sections/citius/copy_of_livro-iv-leis-criminais/leis-

criminais/legislacao-penal-avulsa/consumo-e-trafico-de/

Jurisprudência disponível, entre outros, em

www.dgsi.pt

Sobre os vários tipos de droga ver, ainda, em:

http://www.idt.pt/PT/Substancias/Paginas/Introdu%C3%A7%C3%A3o.aspx

- O álcool é abrangido por essa definição e tratado como tal?

O álcool também é considerado uma droga psicotrópica, pois ele actua no sistema ner-

voso central, provocando uma mudança no comportamento de quem o consome, além de ter

potencial para desenvolver dependência.

O álcool é uma das poucas drogas psicotrópicas que tem seu consumo admitido e até

incentivado pela sociedade. Esse é um dos motivos pelo qual ele é encarado de forma diferen-

ciada, quando comparado com as demais drogas.

Apesar de sua ampla aceitação social, o consumo de bebidas alcoólicas, quando excessi-

vo, passa a ser um problema. Além dos inúmeros acidentes de trânsito e da violência associada

a episódios de embriaguez, o consumo de álcool a longo prazo, dependendo da dose, frequên-

cia e circunstâncias, pode provocar um quadro de dependência conhecido como alcoolismo.

Desta forma, o consumo inadequado do álcool é um importante problema de saúde pú-

blica, especialmente nas sociedades ocidentais, acarretando altos custos para sociedade e en-

volvendo questões, médicas, psicológicas, profissionais e familiares.

De acordo com a legislação portuguesa, o álcool só pode ser adquirido e consumido por

maiores de mais de 16 ou 18 anos, consoante se trate de bebida não espirituosa ou espirituosa.

O novo regime estabelece a diferenciação entre tipos de bebida – espirituosas e não

espirituosas (vinho e cerveja) - justificado com a diferença de teor alcoólico das bebidas espiri-

tuosas em relação às restantes bebidas alcoólicas.

O novo regime de disponibilização, venda e consumo de bebidas alcoólicas em locais

públicos e em locais abertos ao público, aprovado em Conselho de Ministros (CM) do dia 21

Fevereiro 2013, resulta da preocupação crescente face ao agravamento dos consumos nocivos

por parte dos mais jovens, observado nos mais recentes estudos nacionais, que acompanham

as tendências verificadas noutros países da Europa.

Este diploma saiu em conjunto com outro instrumento essencial para a Saúde Pública

que é a proposta de lei que introduz alterações ao Código da Estrada, entretanto já em vigor.

Foi introduzida uma redução do limite da taxa de álcool no sangue para condutores em

regime probatório e condutores de veículos de socorro ou de serviço urgente, de transporte

colectivo de crianças e jovens até aos 16 anos, táxis, automóveis pesados de passageiros ou de

mercadorias perigosas. Agora, todos estes condutores que apresentem uma taxa de álcool i-

gual ou superior a 0,2 g/l passarão a ser sancionados com coima

É importante destacar a inclusão, nesta medida legislativa, de um processo avaliativo

que permitirá compreender o impacto, a aceitação da mesma e a necessidade de novas adapta-

ções legislativas em função dos dados recolhidos, em 2015.

Pretende-se, até Janeiro de 2015, ter uma avaliação dos padrões do consumo do álcool,

por jovens em geral e adolescentes em particular. Esta monitorização e consequente estudo

estará a cargo do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências e

integrar-se-á no âmbito do Plano Estratégico do Serviço de Intervenção nos Comportamentos

Aditivos e nas Dependências (SICAD) 2013-2015.

Ver Lei do Álcool : DL 50/2013 de 16 de Abril, entre outros sitos, em:

http://www.diretorioalcool.pt/legislacao/Paginas/default.aspx

Ver, ainda, Novo Código da Estrada - Lei 72/2013, de 3 de Setembro ( que entrou em

vigor a 1 de Janeiro de 2014 pode ser consultado em:

http://dre.pt/pdf1s/2013/09/16900/0544605499.pdf

No caso do álcool, mantém-se o limite máximo de 0,49 gramas de álcool por litro de

sangue para a generalidade dos condutores, mas para quem tem carta há menos de três anos

(o chamado regime probatório), e para os condutores de veículos de socorro, de transporte

colectivo de crianças e jovens até 16 anos, de pesados de passageiros, mercadorias e matérias

perigosas, e taxistas, o limite é reduzido para 0,19 gr/l. Se forem apanhados com uma taxa en-

tre 0,2 e 0,49 g/l a multa é de 250 euros e inibição de guiar um mês para taxa, e sobe para os

500 euros e inibição de conduzir dois meses entre 0,5 e 1,19 g/l.

Sobre o álcool pode ver-se, ainda, com interesse:

http://www.idt.pt/PT/RevistaToxicodependencias/Paginas/TemaDetalhe.aspx?id=44

- A título repressivo, que tipo de legislação existe e como são punidos e abordados pelos tribunais e

pelos juízes em particular, o tráfico e, se for o caso, o consumo de estupefacientes?

Em Portugal, a principal lei em matéria de controlo, uso e tráfico de estupefacientes,

substâncias psicotrópicas e precursores é o Decreto-Lei n.º 15/93, de 22 de Janeiro, alterado

pelo Decreto-Lei n.º 81/95, de 22 de Abril, e o Decreto-Lei n.º 45/96, de 3 de Setembro, e par-

cialmente revogado pela Lei n.º 30/2000, de 29 de Novembro.

Pode ver-se uma sistematização da legislação sobre droga em Portugal, entre outros,

em:

http://www.portaldasaude.pt/portal/conteudos/enciclopedia+da+saude/ministeriosa

ude/toxicodependencias/d_22_2_legislacao.htm

http://www.dgpj.mj.pt/sections/leis-da-justica/livro-iv-leis-criminais/leis-criminais

http://www.dgpj.mj.pt/sections/leis-da-justica/livro-iv-leis-criminais/leis-

criminais/legislacao-penal-avulsa/consumo-e-trafico-de

http://www.idt.pt/PT/Legislacao/Paginas/LegislacaoTemaDetalhe.aspx?id=31

http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=181&tabela=leis

http://www.policiajudiciaria.pt/PortalWeb/page/%7BF550FC21-E2A6-468A-B1C6-

2FFF0F92F534%7D

Na jurisprudência consulte-se a base de dados da DGSI em

www.dgsi.pt

e, ainda, entre outros:

http://vlex.pt/libraries/46/search?q=consumo+de+droga

O consumo de drogas em Portugal sempre foi ilegal e, até há pouco tempo, considerado

um crime.

Até Julho de 2001, o consumo de droga era considerado um crime punível com pena de

prisão até 3 meses ou com pena de multa até 30 dias. Caso a quantidade de drogas ilícitas por

posse excedesse as três doses diárias, a pena podia ir até um ano de prisão ou podia levar a

uma pena de multa até 120 dias. A lei visava a suspensão da execução das penas de prisão para

os consumidores ocasionais. A posse de droga também era considerada um crime punível de

acordo com a motivação da infracção: consoante a droga se destinasse ao consumo próprio,

distribuição ou tráfico.

O quadro jurídico sofreu uma alteração depois da adopção da estratégia portuguesa em

matéria de drogas em 1999 e consequentemente a Lei n.º 30/2000 descriminaliza o consumo

e posse de drogas ilícitas.

A nova lei, que entrou em vigor em Julho de 2001, mantém o estatuto de ilicitude para

todas as drogas e para o seu consumo sem autorização. Contudo, o regime jurídico aplicável ao

consumo de drogas ilícitas sofreu alterações, deixando de ser considerado crime.

Mas, a Lei nº 30/2000 também proíbe e penaliza o consumo de drogas, seja ele ocasio-

nal ou dependente.

Descriminalização significa apenas que o consumo de substâncias ilícitas não é um cri-

me punível com pena de prisão. O consumidor de drogas não é encarado como um criminoso e

não está sujeito a ir para a prisão apenas pelo acto de consumir.

São objectivos da lei a dissuasão dos consumos, a prevenção e redução do uso e abuso

de drogas e a protecção sanitária dos consumidores e da comunidade.

O consumidor toxicodependente é visto como um doente que carece de apoio e como

tal deve ser encaminhado para tratamento e/ou para outros cuidados sócio-sanitários, de for-

ma a promover a saúde e a integração social.

Mas a lei é mais abrangente e não se aplica apenas aos consumidores toxicodependen-

tes.

Os consumidores não toxicodependentes mas com consumos considerados de maior

risco e problemáticos são encaminhados para acompanhamento específico.

A abordagem junto destes consumidores ocasionais ou regulares incide na dissuasão

dos consumos e dos comportamentos de risco, actuando preventivamente numa fase precoce,

em que ainda não existe dependência.

Ou seja, os comportamentos de consumo continuam a ser ilegais mas passaram a ser

considerados ilícitos de "mera ordenação social" e são tratados fora dos tribunais, pelas Co-

missões para a Dissuasão da Toxicodependência (CDT).

As CDT são as entidades competentes para apreciar, decidir e punir o consumo de subs-

tâncias ilícitas.

Quando as autoridades policiais identificam um indivíduo, maior de 16 anos, consumi-

dor de drogas determinam a sua apresentação na CDT da área de residência, onde vai ser a-

preciado o comportamento ilícito e avaliado o tipo de consumo em causa.

Após o diagnóstico da situação face ao consumo do indiciado e analisado o enquadra-

mento sócio-familiar, o consumidor pode ser encaminhado para apoio psicológico, por exem-

plo, ou para tratamento num CAT ou outra estrutura de saúde adequada ou, ainda, pode ser-

lhe aplicada uma das sanções previstas na lei.

As Comissões para a Dissuasão da Toxicodependência funcionam nas capitais de distri-

to e têm como missão principal apoiar e encaminhar os consumidores para acompanhamento

ou tratamento, informar e sensibilizar os consumidores para os riscos do seu comportamento,

tendo em vista a dissuasão do uso e abuso de drogas.

De notar que a lei em causa só é aplicável a maiores de 16 anos. Para menores, a lei

mantém-se inalterável, ou seja, qualquer menor que seja encontrado na posse de droga ou a

consumir, continua a ser julgado e considerado como menor em perigo. Esta situação é enca-

minhada para as Comissões de Protecção de Menores, sendo necessário envolver os pais ou

quem os substitui legalmente.

As situações consideradas como tráfico e cultivo para consumo continuam a pertencer

ao foro judicial/criminal e como tal são penalizadas com penas de prisão, aplicadas pelos Tri-

bunais.

- Que tipo de acções repressivas / sancionatórias estão previstas contra os responsáveis pela

produção e tráfico de substâncias proibidas pela legislação e como é que na jurisprudência têm sido

tratadas essas questões?

O tráfico de droga é definido no artigo 21.º do capítulo III do Decreto-Lei n.º 15/93

('tráfico e outras actividades ilícitas'). Produzir, oferecer, vender, preparar ou cultivar drogas

ilícitas são, entre outras, as infracções mais frequentes que consubstanciam o tráfico de droga.

A lei portuguesa diferencia a punição do tráfico de droga segundo vários critérios. A

natureza da substância é um dos principais critérios. O tráfico de substâncias incluídas nas

tabelas I a III é punido com uma pena de prisão de 4 a 12 anos, enquanto que o tráfico de

substâncias da tabela IV (tranquilizantes e analgésicos) é punido com a penas de prisão entre

1 a 5 anos.

O artigo 26.º do Decreto-Lei n.º 15/93 também tem em conta a dependência de droga

do traficante. Caso o traficante venda drogas para financiar o seu próprio consumo ('trafican-

te-consumidor') é reduzida a pena: tabelas I, II, III até 3 anos de prisão (em vez de 4-12 anos

de prisão) ou mesmo pena de multa; tabela IV até 1 ano (em vez de 1-5 anos de prisão) ou

mesmo pena de multa até 120 dias.

O 'tráfico de menor gravidade' também é tido em consideração para efeitos de punição

nos termos do artigo 25.º. Nos casos em que o crime pode ser definido como sendo de menor

gravidade, tendo em conta nomeadamente os meios utilizados ou a modalidade da acção,

quantidade e natureza das substâncias, as penas são substancialmente reduzidas: entre 1 e 5

anos de prisão (tabelas I a III, V e VI) e até 2 anos de prisão ou multa até 240 dias (tabela IV).

A lei prevê igualmente circunstâncias agravantes para o tráfico pelas quais os limites

mínimo e máximo da pena são, em todos os casos, aumentados em ¼ da pena (artigo 24.º).

Para as associações criminosas (artigo 28.º) estão previstas penas de prisão entre 5 e 25 anos.

Para o tráfico de precursores (artigo 22.º) as penas de prisão podem ascender a 12 anos e o

abandono de seringas (artigo 32.º) é punido com pena de prisão até um ano ou pena de multa

até 120 dias.

Mediante a noticia de factos que possam indiciar a prática de qualquer crime subsumí-

vel ao dispostos nos referidos preceitos serão instauração processos criminais para a sua ave-

riguação e subsequente julgamento e punição, no caso da prova de tais factos.

Ver jurisprudência na base de dados acima citada:

www.dgsi.pt

e ainda em:

http://vlex.pt/libraries/46/search?q=trafico+de+droga

Vários acórdãos do Tribunal da Relação do Porto, em:

http://www.trp.pt/ficheiros/colectaneas/jurisprudenciatematica_traficoestupefaciente

s.pdf

Com interesse também, o Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 397/2012, de 13 de

Setembro, em:

http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/20120397.html

E Acórdão do STJ 8/2008, de 25 de Junho de 2008, em:

http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/ec744d4ae06d530

c8025747a00526c07?OpenDocument&Highlight=0,07P1008%20

- No que respeita ao consumo, a legislação e/ou a jurisprudência fazem distinção e/ou qualquer

discriminação entre o uso de drogas ilícitas e o uso indevido de drogas lícitas? Em caso afirmativo, especi-

fique indicando como são tratados os respectivos consumidores.

Já foi respondido antes.

Apenas os consumidores de drogas ilícitas são sancionados por esse consumo, nos

termos acima referidos.

- Na legislação e/ou na jurisprudência é reconhecida qualquer diferença entre: consumidor ocasi-

onal, consumidor habitual e traficante de drogas, tratando-os de forma diferenciada? Em caso afirmativo

especifique.

Sim.

Nos termos antes referidos a Lei 30/2000, de 29 de Novembro, distingue o consumo e a

posse para consumo do tráfico, sendo o consumo penalizado através de coimas e outras

medidas, desde que se reporte a substancias ilegais, incluídas nas tabelas anexas ao DL 15/93,

e o tráfico sancionado com penas criminais, designadamente com prisão.

Nos casos de consumo, o tipo de sanção a aplicar será diferente conforme o consumidor

seja toxicodependente ou consumidor ocasional.

Nos casos de consumo ocasional se não houver registo prévio o processo é suspenso

provisoriamente. Se se tratar de reincidência pode ser aplicada uma sanção como

admoestação, coima prestação de trabalho a favor da comunidade, imposição de medida de

acompanhamento; proibição de exercer uma certa actividade ou profissão; interdição de

frequência de certos lugares, apresentação periódica em local a designar pela CDT.

Já nos casos de toxicodependência: se não houver registo prévio e houver aceitar para

submissão a tratamento, há suspensão provisória do processo; se não houver autorização para

tratamento: haverá lugar a aplicação de uma sanção ou de prestação de trabalho a favor da

comunidade.

Se houver registo prévio: com aceitação do tratamento, o processo suspende-se

provisoriamente; se não houver aceitação o consumidor terá de se apresentar nos serviços de

saúde, com o fim de melhorar as condições sanitárias ou poderá ser alvo de uma medida de

acompanhamento; proibição de exercer uma certa actividade ou profissão; interdição de

frequência de certos lugares; proibição de acompanhar, alojar ou receber certas pessoas;

interdição de ausência para o estrangeiro sem autorização.

Determinante para fazer a distinção entre as situações que configura mera contra-

ordenação das que configuram crime é a quantidade de substância ilícita encontrada na posse

do individuo.

A lei refere que a aquisição e detenção para consumo próprio das substâncias em causa

não poderão exceder a quantidade necessária para o consumo médio individual durante o

período de 10 dias.

Acima destas quantidades aumenta a possibilidade de os factos integrarem a pratica de

crime de tráfico de estupefacientes e não mera contra-ordenação, principalmente se existirem

outros indícios como a posse de elevadas quantias em dinheiro, a posse da substancia

repartida em pequenas doses, a existência de antecedentes, entre muitos outros, que se

poderão consultar na jurisprudência abundante existente em www.dgsi.pt através de uma

simples pesquisa por termos.

Sobre o que são consideradas doses diárias, a Lei 30/2000 remete para a Portaria

94/96 (artº 9º) sendo a quantidade de referencia ( para distinguir tráfico e consumo) 10 vezes

as quantidades que constam da tabela.

- A corrupção, a lavagem de dinheiro e o crime organizado são tratadas pela legislação relativa ao

tráfico de droga e alvo de qualquer acção repressiva por parte dos tribunais? Em caso afirmativo indique

designadamente que tipo de medidas já existem ou estão previstas no sentido de assegurar o combate à

corrupção e à lavagem de dinheiro e que aplicação tem sido feita pelos tribunais dessa legislação.

O Decreto-Lei n.º 15/93 e o Decreto-Lei n.º 313/93, de 15 de Setembro, transpõem para

a ordem jurídica portuguesa a Directiva Comunitária n.º91/308/CEE sobre branqueamento de

capitais prevendo a incriminação da actividade de branqueamento de capitais ou de bens de

origem ilícita.

Este decreto-lei foi revogado pela Lei n.º 5/2002, de 11 de Janeiro.

Esta lei estabelece medidas de combate à criminalidade organizada e económico-

financeira e procede à alteração à Lei n.º 36/94, de 29 de Setembro, alterada pela Lei n.º

90/99, de 10 de Julho, e alteração ao Decreto-Lei n.º 325/95, de 2 de Setembro (alterado pela

Lei n.º 65/98, de 2 de Setembro, pelo Decreto-Lei n.º 275-A/2000, de 9 de Novembro e pela

Lei n.º 104/2001, de 25 de Agosto).

A considerar, ainda:

Lei 19/2008, de 21/4- Medidas de combate à corrupção;

Lei 5/2002, de 11/1- Estabelece medidas de combate à criminalidade organizada e económico-

financeira

Lei 20/2008, de 21 de Abril – Cria novo regime penal de corrupção no comercio

internacional e no sector privado, dando cumprimento à Decisão Quadro n.º 2003/568/JAI,

do Conselho, de 22 de Julho;

Lei 38/2009, de 20 de Julho - Lei de Política Criminal para o biénio 2010/2011 – que,

para além do mais, define como crimes de prevenção e de investigação prioritária os crimes de

tráfico de influência, de branqueamento, de corrupção, de peculato e de participação

económica em negócio;

Convenção das Nações Unidas contra a Criminalidade Organizada Transnacional

(adoptada em 15-11-2000 - entrada em vigor a 29-09-2003 e seus Protocolos - Protocolo

adicional - Protocolo adicional - Protocolo adicional);

Convenção relativa ao Branqueamento, Detenção, Apreensão e Perda dos Produtos do

Crime – Conselho da Europa (aberta à assinatura em 08-11-1990 - entrada em vigor a 01-09-

1993;

Convenção do Conselho da Europa Relativa ao Branqueamento, Detecção, Apreensão e

Perda dos Produtos do Crime e ao Financiamento do Terrorismo (STE n.º 198), adoptada em

Varsóvia em 16 de Maio de 2005

Com interesse sobre esta matéria veja-se, ainda:

Relatório da OCDE de Junho de 2013 em:

http://www.oecd.org/daf/anti-bribery/Portugalphase3reportEN.pdf

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) considera que

Portugal não tem accionado, de forma suficiente, medidas contra a corrupção internacional,

nem aplicado a legislação para tal na maioria dos casos que envolvem este tipo de delito.

O relatório identifica ainda outras áreas que devem ser melhoradas como o “alarmante

baixo nível interesse e consciência” das empresas e dos media nacionais no combate à corrup-

ção internacional. A entidade nota ainda que tem de ser desenvolvidos “grandes esforços” no

que toca à detecção, prevenção e execução dos crimes de lavagem de dinheiro.

A OCDE estima que entre 2008 e 2011, aproximadamente 8,5 pessoas eram condenadas

anualmente por lavagem de dinheiro em Portugal. A entidade aponta que este número “parece

pequeno”, uma vez que no mesmo período houve 61,5 condenações por ano por corrupção a

nível doméstico.

Não obstante às recomendações, o relatório aponta “avanços positivos” no combate à

corrupção, como a não diminuição dos recursos disponíveis para o combate a esta prática ape-

sar das medidas de austeridade implementadas pelo Governo português. Os avanços na legis-

lação relativa ao acesso de informação bancária são também destacados pela positiva, bem

como a criação de uma base de dados dos condenados judicialmente.

Quanto à lavagem de dinheiro:

Ver Lei 25/2008 de 5 de Junho em:

http://www.bportugal.pt/pt-PT/Legislacaoenormas/Documents/Lei25ano2008c.pdf

A criminalização da lavagem de dinheiro foi exigida por vários instrumentos de Direito

Internacional, com destaque para a Convenção de Viena de 1988, a Convenção Contra o Crime

Organizado Transnacional de 2000, e a Convenção Contra a Corrupção de 2003.

Em Portugal, a criminalização foi introduzida por lei de 1993, sob a influência da pri-

meira Directiva comunitária. Em 2004, o crime foi introduzido no Código Penal (Lei n.

11/2004, de 27 de Março, que aditou o artigo 368-A).

As regras e recomendações internacionais apontam no sentido da criação de mecanis-

mos específicos de prevenção e detecção da lavagem de dinheiro, a instituir por bancos, segu-

radoras, casinos, advogados, notários e outras entidades. Tais mecanismos giram à volta de

três aspectos centrais: identificação dos clientes; conservação de registos das operações e de

documentos de identificação; e informação sobre indícios de transacções suspeitas às autori-

dades competentes para a investigação.

- Que tipo de abordagem é feita pelos tribunais e que legislação e jurisprudência existem no pais

no que respeita às politicas e questões de intervenção nas áreas de assistência social, de saúde e segurança

pública, politicas de educação e de redução de riscos relacionados com o uso de drogas?

O Decreto-Lei n.º 15/93 prevê, em especial, a intervenção dos serviços de saúde nas

medidas de aplicação da lei (capítulo IV).

Como já antes foi referido, o toxicodependente passou a ser considerado pela lei como

uma pessoa doente em vez de um criminoso.

A legislação portuguesa inclui um sistema jurídico compreensivo de apoio aos toxico-

dependentes.

Apesar de a legislação prever vários tratamentos alternativos à prisão, a disponibilida-

de limitada das possibilidades criou, no passado, listas de espera consideravelmente longas,

registando-se uma tendência para a aplicação de outras medidas punitivas em detrimento do

encaminhamento para os tratamentos.

Não obstante, a nova estratégia recentemente adoptada, dá prioridade ao tratamento e

à reabilitação dos toxicodependentes como pilar fundamental da política portuguesa em maté-

ria de droga e, a alteração recente na legislação é um sinal muito forte e concreto na direcção

do tratamento em vez da condenação.

O Ministério Público foi substituído pela Comissão para a Dissuasão da Toxicodepen-

dência, já acima referida, cujo objectivo consiste em encaminhar toxicodependentes não vio-

lentos carentes de tratamento e de plena reabilitação (Decreto-Lei n.º 130-A/2001 de 23 de

Abril).

Vejam-se mais informações sobre estas Comissões em:

http://www.idt.pt/PT/Dissuasao/Paginas/ComissoesDissuacaoToxicodependencia.asp

x

Por outro lado, o Estado desenvolve actividade de redução de riscos e danos através de

uma unidade do SICAD.

Antes da descriminalização do uso de drogas, o Governo Português levava a cabo algu-

mas actividade de intervenção de pequena escala baseadas na redução de riscos, estes esfor-

ços entravam em conflito com a lei e apenas providenciavam alguma assistência de curta du-

ração.

Os primeiros centros de apoio, que eram usados por um pequeno número de pessoas,

procuravam passar informação relativa ao tratamento (apesar de o tratamento não ser acessí-

vel a muitos consumidores).

O Governo também ajudou a estabelecer os primeiros albergues para consumidores

sem-abrigo.

Quando o novo modelo entrou em vigor em 2001, as actividade de redução de riscos e

danos tornaram-se sistémicas.

Actualmente o SICAD financia mais de meia centena de projectos em todo o país, assim

como dezenas de equipas de técnicos especializados que trabalham nas ruas e em centros,

providenciando metadona a dependentes de heroína e albergues para consumidores sem-

abrigo.

Cerca de 90% destes projectos são assegurados por ONG’s financiadas pelo Estado, a-

pós concurso lançado pelo IDT, dado que as ONG’s são mais flexíveis que as agências governa-

mentais, tem um melhor acesso às pessoas na rua e conseguem estabelecer uma melhor rela-

ção de confiança entre os prestadores de serviços e os consumidores.

- Existe ou está prevista qualquer rede de assistência integrada, pública e/ou privada destinada a

pessoas com problemas decorrentes do consumo de drogas? Em caso afirmativo especifique e indique que

articulação existe com os tribunais.

Para além do que já foi referido na resposta anterior os doentes toxicodependentes po-

dem receber tratamento em vários centros especializados.

A titulo de exemplo cita-se, pela sua importância, a Unidade de Desabituação – Centro

das Taipas, que providencia cuidados abrangentes em diferentes fases e níveis de tratamento.

Trata-se de um centro multidisciplinar com funções na área das dependências patoló-

gicas onde o trabalho é quase todo dedicado à dependência de substâncias, tanto ilícitas como

lícitas.

Para além da tradicional vertente do Tratamento também exerce actividade nas áreas

da Reinserção, da Prevenção e da Redução de Riscos e Minimização de Danos, em articulação

com outras estruturas e recursos sociais existentes no terreno.

Para melhores informações sobre este centro veja-se:

http://www.portaldastaipas.com

Na área da saúde e da reinserção social o SICAD dispõe, ainda, de várias equipas res-

ponsáveis pela reintegração social que trabalham geralmente em cooperação com os centros

de tratamento.

As equipas de reinserção social preparam previamente um diagnóstico das condições do toxi-

codependente em tratamento e depois, em conjunto com a pessoa, desenham um plano de ac-

ção que estabelece objectivos concretos como a melhoria das habilitações, o regresso ao traba-

lho ou ambos. Os membros das equipas de reintegração também ajudam os indivíduos a en-

contrar trabalho ou aconselham como procurar um trabalho.

Mantendo a confidencialidade do indivíduo, as equipas procuram estimular a conscien-

cialização de escolas, empregos e zonas residenciais das áreas do toxicodependente em ques-

tão.

O objectivo é ultrapassar o preconceito contra os toxicodependentes e preparar o ter-

reno para o regresso do indivíduo . comunidade onde outrora viveu e trabalhou.

O SICAD coopera, ainda, com empresas que empregam toxicodependentes em trata-

mento.

O SICAD disponibiliza, ainda, apartamentos, por um período de 6 a 12 meses destinados

aos toxicodependentes em processo de reabilitação, que não dispõem de habitação . Estes

apartamentos são geralmente partilhados com outra pessoa que se encontra em tratamento.

Durante este período, os indivíduos que procuram reinserir-se na sociedade têm que procurar

um emprego que lhes permita assegurar uma habitação com os seus próprios recursos.

Para além do que já foi antes referido existe:

1 - Linha Vida- SOS Droga- Ministério da Saúde 24 Ver

2- Site Tu-Alinhas em

http://www.tu-alinhas.pt/InfantoJuvenil/homepage.do2

3- Fórum Álcool e saúde;

4- Federação Portuguesa de Instituições Sociais afectas à Prevenção de

Toxicodependências

Para mais informação ver:

www.diretorioalcool.pt/forum/Paginas/listacompromissos.aspx?p=98

- Que abordagem tem sido feita pelos tribunais e qual a posição dos juízes, em face da legislação

existente, sobre o uso de drogas lícitas, sua publicidade, comercialização e acessibilidade por parte de

populações vulneráveis, tais como crianças e adolescentes?

Não existe informação suficiente sobre esta questão.

- Existem organismos e/ou entidades, nacionais ou internacionais, que tratem os fenómenos de ex-

clusão social gerada pelo uso das drogas e de reinserção e tratamento dos condenados pela pratica de

crimes relacionados com o uso de drogas? Em caso afirmativo como é que os tribunais se relacionam com

esses organismos/ entidades?

1- SICAD – Serviço de Intervenção nos comportamentos Aditivos e nas Dependências (que tem

por missão promover a redução do consumo de substâncias psico-activas, a prevenção dos

comportamentos aditivos e a diminuição das dependências.

Trabalha em cooperação com Ministério da Educação, Policia e com ONG’s financiadas

pelo Estado

Ver em : http://www.idt.pt/PT/Documents/index.html

E em: http://www.idt.pt/PT/Paginas/HomePage.aspx

1-a-) Coordenação Nacional para os problemas da Droga, das Toxicodependências e do

Uso Nocivo do álcool

A Coordenação Nacional para os Problemas da Droga, das Toxicodependências e do Uso

Nocivo do Álcool tem como propósito garantir uma eficaz coordenação e articulação entre os

vários departamentos governamentais envolvidos nos problemas relacionados com a droga, as

toxicodependências e o uso nocivo do álcool.

Ver mais em :

http://www.idt.pt/PT/IDT/Paginas/Coordenacao_Nacional.aspx

1-b)- Conselho Nacional para os problemas da droga, das toxicodependências o do uso

nocivo do álcool.

O Conselho Nacional para os Problemas da Droga, das Toxicodependências e do Uso

Nocivo do Álcool é o órgão de consulta do Primeiro-Ministro e do Governo sobre as políticas

relacionadas com a droga, as toxicodependências e o uso nocivo do álcool, competindo-lhe

pronunciar-se sobre a definição e execução dos principais instrumentos programáticos nestas

matérias, bem como sobre todos os assuntos que sobre as mesmas lhe sejam submetidos pelo

Primeiro-Ministro e pelo membro do Governo responsável pela coordenação das políticas re-

lacionadas com a droga, as toxicodependências e o uso nocivo do álcool.

2- Comissões de Dissuasão da Toxicodependência, já acima referidas.

3- O Ponto Focal Português (PFN) junto do Observatório Europeu da Droga e da

Toxicodependência (OEDT), está localizado no IDT, I.P., mais concretamente no Núcleo de

Relações Internacionais (NRI) /Departamento de Monitorização, Formação e Relações

Internacionais.

Na UE, os Pontos Focais Nacionais foram criados como partes/elementos da rede REI-

TOX (Rede de Informação Europeia sobre Drogas e Toxicodependências) no início dos anos 90.

Esta rede, denominada Rede Reitox (Rede de Informação Europeia sobre Drogas e To-

xicodependências), é responsável pela recolha de informação sobre drogas e toxicodependên-

cia.

Os Pontos Focais Nacionais são as principais interfaces de informação entre os Estados-

Membros (EM) e o OEDT.

A nível nacional, cada NFP é o principal organismo que trabalha em estreita colabora-

ção com todos os parceiros relevantes que recolhem, produzem / ou analisam dados na área

da droga. Os PFNs trabalham em estreita colaboração com os cientistas, decisores políticos e

especialistas que trabalham nesta área. Eles seguem de perto e analisam os desenvolvimentos

científicos, jurídicos e políticos nos seus países.

4- Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência.

Ver:

http://www.emcdda.europa.eu/countries/portugal e

http://europa.eu/legislation_summaries/justice_freedom_security/combating_drugs/c

11518_pt.htm

- Existem compilações de jurisprudência e/ ou de outros estudos relacionados com o uso e tráfico

de droga e crimes conexos? Em caso afirmativo, indique por quem são feitos e como e onde é possível

aceder aos mesmos.

Para além de várias publicações temáticas em revistas e livros, existem bases de juris-

prudência junto de cada tribunal superior, da DGSI, acima identificada, entre outras.

- Os programas e políticas dirigidos à redução de procura (prevenção, tratamento e reinserção

psicossocial), redução de danos e de oferta de drogas tem quaisquer medidas que previnam e resguardem

o sigilo, a confidencialidade e a prática de procedimentos éticos de pesquisa e armazenamento de dados?

Como é que nos tribunais têm sido tratadas essas questões.

Para além do que acima foi dito a propósito do sigilo, no que respeita aos processos de

reintegração dos toxicodependentes, não foi encontrada informação suficientes sobre esta

questão.

- Existe qualquer política ou programa concreto destinados a reduzir as consequências sociais e de

saúde decorrentes do uso indevido de drogas para a pessoa, a família, a comunidade e a sociedade? Em

caso afirmativo, que aplicação tem sido feita pelos tribunais desses programas?

Existem os programas e planos nacionais cima citados, cuja aplicação, em Portugal, não

passa pelos tribunais.

D. Constituição do Comité de Juízes no âmbito da UIJLP para análise e

discussão dos problemas das drogas / Plataforma de diálogo entre os

PALOPS na área das drogas

. Quais os maiores problemas e preocupações?

. Que procedimentos e boas práticas poderiam ser uniformizados ou homogeneizados?

. Qual a viabilidade de um sistema de registo e de monitorização ao nível dos tribunais

de cada Estado desta matéria das drogas?

. Qual o melhor formato e natureza para o Comité acima referido? Integração ou auto-

nomização relativamente à plataforma? Qual a sua integração na UIJLP?

. Que acções ou projectos podem ser desenvolvidos por cada um dos representantes da

UIJLP? Qual a coordenação possível com as instituições nacionais?

. Instituição de uma agenda UIJLP em matéria de políticas de drogas e direitos humanos