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TATIANA DOS SANTOS DA SILVEIRA POLÍTICA DE INCLUSÃO NO ENSINO SUPERIOR NA MODALIDADE EAD NAS UNIVERSIDADES PRIVADAS ITAJAÍ (SC) 2015

POLÍTICA DE INCLUSÃO NO ENSINO SUPERIOR NA … dos... · Aviso Curricular nessa área. ... preocupação com o acesso e com o direito de todos à educação, ... FIC Faculdade Estácio

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TATIANA DOS SANTOS DA SILVEIRA

POLÍTICA DE INCLUSÃO NO ENSINO SUPERIOR NA MODALIDADE

EAD NAS UNIVERSIDADES PRIVADAS

ITAJAÍ (SC)

2015

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Tese de doutorado apresentada ao

Colegiado do Programa de Pós-

Graduação em Educação da

Universidade do Vale do Itajaí como

requisito parcial à obtenção do título de

Doutor em Educação – Área de

Concentração: Educação – Linha de

Pesquisa – Políticas para Educação

Básica e Superior.

Orientadora: Profª. Drª. Regina Célia

Linhares Hostins

UNIVALI

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

Vice-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Cultura

Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGE

Curso de Doutorado em Educação

POLÍTICA DE INCLUSÃO NO ENSINO SUPERIOR NA MODALIDADE

EAD NAS UNIVERSIDADES PRIVADAS

Subtítulo (Opcional)

ITAJAÍ (SC)

2015

TATIANA DOS SANTOS DA SILVEIRA

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AGRADECIMENTO

Quando um homem reconhece que sua obra é fruto de muitos braços e tem a humildade

de agradecer, ele demonstra maturidade em busca do que chamamos de conhecimento!

Este é o momento de agradecer a todos que fizeram parte desta trajetória e da

construção desta pesquisa, que certamente marca mais uma etapa da minha vida.

Agradeço a Deus, aos meus pais e a minha filha Emanuelly, minha base e meu alicerce.

Aos meus irmãos, cunhados e cunhada, pela força e incentivo.

A minha orientadora Regina Celia Linhares Hostins, pela paciência, compreensão e

carinho.

A minha amiga e companheira de estudos Suelen Garay Figueiredo Jordão, pelo apoio e

auxílio nas horas mais difíceis.

A minha amiga e revisora Cristiane Lisandra Danna, pelo cuidado, comigo e com o meu

trabalho.

A todos os amigos que acompanharam este processo e participaram deste contexto.

E, finalmente, ao amigo Mario Jungbeck, pelo apoio profissional desde o início da

pesquisa!

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RESUMO

O número de alunos caracterizados como público-alvo da educação especial no Ensino

Superior vem aumentando significativamente nas últimas décadas. Os dados do Censo

deste nível de ensino revelam mais de 126% de aumento entre 2005 e 2010 e 50% entre

2011 e 2013. A inclusão deste público, o atendimento educacional especializado (AEE)

e a implantação de núcleos de acessibilidade são temas dos documentos legais que

regulamentam a educação e também os processos avaliativos das Instituições de Ensino

Superior (IES) nos últimos anos. A presente pesquisa, vinculada à linha de pesquisa

sobre Políticas para a Educação Básica e Superior, do Programa de Pós-Graduação em

Educação da Universidade do Vale do Itajaí, tem como objetivo analisar a política de

inclusão no Ensino Superior na modalidade EAD e sua interpretação e tradução no

projeto pedagógico das maiores instituições privadas atuantes no Brasil, a saber: Kroton

Educacional, Anhanguera Educacional e Estácio Participações. De modo mais

específico, os objetivos de pesquisa são: identificar os princípios e as diretrizes de

inclusão de alunos caracterizados como público-alvo da educação especial nas políticas

de EAD em vigor no país e examinar as estratégias, as ações e os recursos utilizados

para a inclusão desse público no projeto pedagógico das instituições estudadas.

Caracterizada como de abordagem qualitativa, a pesquisa está baseada em análise

documental e entrevista de campo. Utiliza-se como fonte de dados os documentos

nacionais, os documentos institucionais das três universidades estudadas e entrevistas

semiestruturadas com os gestores responsáveis pela política no âmbito das instituições

estudadas. Os dados coletados são analisados segundo a abordagem teórico-

metodológica do ciclo de políticas de Stephen Ball (2009, 2011, 2012, 2013) e seus

colaboradores. A análise dos dados revelou a influência de grupos nacionais e

internacionais na elaboração das políticas, bem como de grupos que representam

interesses específicos de pessoas com deficiência, dando origem a uma série de

documentos fragmentados e nem sempre convergentes. Observou-se, ainda, fragilidades

no texto da política nacional no que se refere às diretrizes para a inclusão no Ensino

Superior, apesar da existência de um número expressivo de Leis, Decretos, Portarias e

Aviso Curricular nessa área. Embora o discurso predominante tenha revelado

preocupação com o acesso e com o direito de todos à educação, a política destina-se a

públicos específicos, prioritariamente, a alunos com deficiência física, sensorial e tem

como foco não a orientação, mas a regulação das IES em relação aos indicadores de

acessibilidade. Os referenciais para a inclusão no Ensino Superior são mínimos, buscam

garantir o acesso, mas nem sempre a permanência e o sucesso desse público nesse nível

de ensino. As instituições pesquisadas interpretam a política produzindo discursos e

imagens de instituição democrática, inclusiva e responsável; uma imagem, muitas

vezes, fabricada e organizada para atender às exigências legais e baseadas nos textos de

maior repercussão. Na prática, essas instituições traduzem a política por meio da

organização de iniciativas de atendimento educacional especializado, tal como a

produção de recursos pedagógicos adaptados, ainda que em pequena escala. Contudo,

poucas são as estratégias de acompanhamento da trajetória de formação e da

aprendizagem dos alunos com deficiências, transtorno global do desenvolvimento e

altas habilidades/superdotação matriculados nessas universidades

Palavras-chave: Políticas de inclusão. Ensino Superior. Educação a distância.

Instituições privadas.

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ABSTRACT

The number of students characterized as target audience of special education in Higher

Education has increased significantly in recent decades. Census data for this level of

education show an increase of more than 126% between 2005 and 2010, and of 50%

between 2011 and 2013. The inclusion of this public, the specialized educational service

(AEE) and the implementation of AccessCenters,are themes of legal documents that

regulate the education and also the evaluation processes of Higher Education

Institutions - HEIs, in recent years. The present research, which is linked to the line of

research Policies for Basic Education and Higher Education of the Graduate Program in

Education of the University of Vale do Itajaí, analyzes the policy of inclusion in the

Distance Learning modality of Higher Education, and its interpretation and translation

in the pedagogical project of the largest private institutions in Brazil, namely: Kroton

Educacional, Anhanguera Educacional and Estácio Participações. The specific study

objectives were: to identify the principles and the guidelines for inclusion of students

characterized as target audience of special education policies of Distance Learning in

force in the country, and to examine the strategies, actions and resources used for the

inclusion of this public in the educational project of the institutions studied.

Characterized as a qualitative approach, the research is based on documentary analysis

and interviews in the field. Data sources used also include national and institutional

documents of three universities studied, as well as semi-structured interviews with the

managers responsible for policy in the context of these institutions. The collected data

were analyzed according to the theoretical-methodological approach of the cycle of

policies of Stephen Ball (2009, 2011, 2012, 2013) and collaborators. Analysis of the

data revealed the influence of national and international groups in the formulation of

policies, as well as groups representing specific interests of people with disabilities,

giving rise to a series of fragmented, and not always convergent documents.

Weaknesseswere also found in the text of the National Policy, in relation to the

guidelines for inclusion in Higher Education, despite the existence of a significant

number of Laws, Decrees, ordinances and Curricular Notice in this area. Although the

predominant discourse revealed a concern with access and the right of all to education,

the policy is intended to specific audiences, primarily, students with physical and

sensory disabilities, and focuses not on orientation, but on the regulation of the HEIs in

terms of the accessibility indicators. The references to inclusion in Higher Education are

minimal; they seek to ensure access, but not always permanence,or the success of this

public at this level of education. The institutions investigated, in turn, interpret the

policy by producing discourses and images of a democratic, inclusive and responsible

institution; an image that is often constructed and arranged to meet the legal

requirements, and based on texts of greater impact. In practice, these institutions reflect

the policy by means of the organization of initiatives of educational expertise, such as

the production of adapted pedagogical resources, even on a small scale. However there

are few strategies for monitoring the trajectory of training and learning of students with

Disabilities and Global Developmental Disorder, or those with High Skills/gifted

students registered in these universities

Keywords: Inclusion Policies; Higher Education; Distance Learning; Private

Institutions.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ABRA Associação Brasileira de Autismo

AEE Atendimento Educacional Especializado

APABB Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Deficiências de Funcionários

do Banco do Brasil e da Comunidade

ASSESC Faculdades Integradas Associação de Ensino de Santa Catarina

CADE Conselho Administrativo de Defesa Econômica

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CONADE Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência

CPA Comissão Própria de Avaliação

EAD Educação a Distância

FAA Faculdade Atual da Amazônia

FACITEC Faculdade de Ciência e Tecnologia

FAES Faculdade de Sorriso

FAL Faculdade de Natal

FARGS Faculdades Riograndenses

FATERN Faculdade de Excelência Educacional do Rio Grande do Norte

FEBRAPEM Federação Brasileira de Associações Civis de Portadores de Esclerose

Múltipla

FENEIS Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos

FESBH Faculdade Estácio de Belo Horizonte

FESCG Faculdade Estácio de Campo Grande

FIC Faculdade Estácio do Ceará

FMI Fundo Monetário Internacional

IES Instituição de Ensino Superior

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

LDB Lei de Diretrizes e Bases

LIBRAS Língua Brasileira de Sinais

MEC Ministério da Educação

NAP Núcleo de Apoio Psicopedagógico

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OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento

ONCB Organização Nacional de Cegos do Brasil

ONEDEF Organização Nacional de Entidades de Deficientes Físicos

ONEESP Observatório Nacional de Educação Especial

ONG Organização Não Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

PDE Plano de Desenvolvimento da Educação

PDI Projeto de Desenvolvimento Institucional

PNE Plano Nacional de Educação

PPC Projeto Pedagógico do Curso

PPGEs Programas de Pós-Graduação em Educação

SAEB Sistema de Avaliação da Educação Básica

SEAMA Faculdade SEAMA

SINAES Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior

SRMS Salas de Recursos Multifuncionais

UAB Universidade Aberta do Brasil

UDESC Universidade Estadual de Santa Catarina

UFRRJ Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

UNESA Universidade Estácio de Sá

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

UNIASSELVI Centro Universitário Leonardo da Vinci

UNIC Universidade de Cuiabá

UNIDERP Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal

UNIMONTES Universidade Estadual de Montes Claros

UNISEB Centro Universitário UNISEB

UNISEB União dos Cursos Superiores SEB

UNIUOL Faculdade de Tecnologia do UNIUOL

UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí

UNOPAR Universidade do Norte do Paraná

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Mapa de localização dos Polos de Apoio Presencial ............................. 13

Figura 2: Evolução do número de matrículas de graduação por modalidade de

ensino e do número de matrículas a distância públicas e privadas – Brasil –

2001-2010 .............................................................................................................. 20

Figura 3: Acadêmicos com deficiência matriculados no Ensino Superior ............ 21

Figura 4: As maiores IES privadas de capital aberto ............................................ 25

Figura 5: Fusão Kroton e Anhanguera .................................................................. 26

Figura 6: Área de atuação da Anhanguera ............................................................ 30

Figura 7: Área de atuação da Kroton Educacional ................................................ 32

Figura 8: Área de atuação da Estácio Participações .............................................. 34

Figura 9: Número de fontes documentais analisadas ............................................ 36

Figura 10: Análise do ciclo de políticas ................................................................ 42

Figura 11: Políticas fortes e políticas fracas .......................................................... 55

Figura 12: Documentos Institucionais – Plano de Desenvolvimento

Institucional ........................................................................................................... 68

Figura 13: Inclusão para Booth e Mel ................................................................... 84

Figura 14: Dimensões para a inclusão ................................................................... 85

Figura 15: Fluxograma de AEE – Anhanguera ..................................................... 99

Figura 16: Fluxograma de AEE – Estácio ............................................................. 100

Figura 17: Fluxograma de AEE – Kroton ............................................................. 101

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Instituições e funções dos entrevistados .......................................................... 39 Quadro 2: Recorte da legislação nacional ....................................................................................... 46

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 12

CAPÍTULO I: ABORDAGEM METODOLÓGICA DA PESQUISA ........... 29

1 O CONTEXTO DA PESQUISA ..................................................................... 29

1.1 O PERFIL DAS INSTITUIÇÕES ESTUDADAS .......................................... 29

1.1.1 Anhanguera Educacional .............................................................................. 29

1.1.2 Kroton Educacional ...................................................................................... 31

1.1.3 Estácio Participações .................................................................................... 32

2 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA .......................................................... 34

2.1 FONTES DOCUMENTAIS ............................................................................ 35

2.2 ENTREVISTAS .............................................................................................. 38

3 REFERENCIAL ANALÍTICO NORTEADOR ............................................ 40

CAPÍTULO II: POLÍTICA NACIONAL PARA A INCLUSÃO NO

ENSINO SUPERIOR .......................................................................................... 45

CAPÍTULO III: POLÍTICAS DE INCLUSÃO NO ENSINO SUPERIOR:

A CONCEPÇÃO E A INTERPERTAÇÃO DAS IES ..................................... 65

1 CONCEPÇÃO DE INCLUSÃO NO ENSINO SUPERIOR NOS

DOCUMENTOS INSTITUCIONAIS E NOS DIZERES DOS GESTORES 66

CAPÍTULO IV: PRÁTICAS DE INCLUSÃO NO ENSINO SUPERIOR: A

TRADUÇÃO DA POLÍTICA PELAS IES E O ATENDIMENTO

EDUCACIONAL ESPECIALIZADO ............................................................... 87

1 O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO ........................ 87

1.1TIPOS DE APOIO E RECURSOS .................................................................. 97

1.1.1 Apoio e recursos para o aluno com deficiência visual ................................. 102

1.1.2 Apoio e recursos para o aluno com deficiência auditiva .............................. 109

1.1.3 Apoio e recursos para o aluno com deficiência física .................................. 114

1.1.4 Apoio e recursos para o aluno com deficiência intelectual .......................... 120

1.1.5 Apoio e recursos para alunos com transtorno global do desenvolvimento

e altas habilidades/superdotação ............................................................................ 121

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 125

REFERÊNCIAS .................................................................................................. 131

APÊNDICE .......................................................................................................... 138

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INTRODUÇÃO

O tempo troca a roupa do mundo.

Ele muda a história, desvia as águas, come estrelas,

mastiga reinos, amadurece frutos, apodrece sementes.

Nada fica fora do tempo.

(QUEIRÓS, 2010, p. 8).

Com inspiração na obra de Bartolomeu Campos de Queirós, inicia-se essa

pesquisa como mais uma etapa do “tempo de voo” da pesquisadora. Traça-se uma

história no tempo, buscando superar novos desafios, compreender novas realidades e, de

certa forma, contribuir com as investigações acerca da educação inclusiva.

O tempo de voo da pesquisadora permite dialogar sobre inclusão e exclusão

escolar desde os primeiros contatos que teve com uma pessoa com deficiência no

Ensino Fundamental. Tais contatos e amizades desenvolvidos auxiliam, hoje, a

compreender a importância das discussões em torno desta temática.

Durante o período em que desenvolveu a dissertação no Mestrado (2009), a

pesquisadora teve a oportunidade de ampliar o repertório a respeito da inclusão escolar

de crianças cegas na disciplina de Artes Visuais no Ensino Fundamental. Esse trabalho

enriqueceu a concepção construída sobre essa temática, bem como a compreensão das

dificuldades que os professores ainda apresentam para que a inclusão se concretize.

No mesmo ano, a pesquisadora iniciou a trajetória docente no Ensino Superior

como coordenadora do curso de Artes Visuais em uma modalidade que está em grande

expansão: a Educação a Distância (EAD). Essa nova realidade oportunizou conhecer,

além da modalidade de ensino, a dimensão e as diferenças culturais e territoriais, tendo

em vista que a oferta do curso acontece em todo o país.

O expressivo aumento da demanda de matrículas nesse nível de ensino gerou,

por consequência, a expansão de matrículas do público-alvo da educação especial1. Essa

nova realidade somada aos estudos realizados durante o Mestrado colocou à

pesquisadora um novo desafio: acompanhar a inclusão desses acadêmicos no Ensino

Superior na modalidade a distância.

Desse modo, hoje a pesquisadora acompanha a inclusão de aproximadamente

700 acadêmicos caracterizados como público-alvo da educação especial no ensino

1De acordo com a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva

(BRASIL, 2008a), caracterizam-se como público da educação especial pessoas com deficiência,

transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.

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superior, que estão distribuídos em mais de 400 polos de apoio presencial presentes nas

cinco regiões do país, conforme figura a seguir:

Figura 9: Mapa de localização dos Polos de Apoio Presencial

Fonte: UNOPAR. Como localizar um polo. Disponível em: <http://www.unoparEaD.com.br/polos/>.

Acesso em: 10 abr. 2014.

O acompanhamento desses acadêmicos inicia no momento da matrícula, quando

acontece o preenchimento dos dados pessoais, via questionário. Um dos itens solicitado

ao polo no momento de preenchimento do questionário é que seja sinalizada a

deficiência, o transtorno ou alta habilidade/superdotação e o atendimento educacional

especializado (AEE). Essas especificidades da educação especial são organizadas no

cadastro da Instituição de Ensino Superior (IES) segundo as orientações da Política

Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008a)

e o censo escolar. No Núcleo de Educação Especial Inclusiva (NUEEI), alocado na sede

da instituição, acompanha-se o acadêmico até a conclusão do curso. Esse núcleo

desenvolve as adaptações dos materiais necessários e a formação continuada sobre a

temática para os profissionais envolvidos com o processo de ensinar e aprender.

O novo desafio e a busca pela inclusão desses acadêmicos no Ensino Superior

motivaram a continuidade das pesquisas. A partir de então, como pesquisadora, inicia-

se a uma nova obra, em um novo tempo. A pesquisa sobre a inclusão dos acadêmicos

público-alvo da educação especial no Ensino Superior na modalidade EAD foi motivada

em grande parte pela experiência profissional que a pesquisadora possui nesse campo de

atuação e também pela participação no grupo de Pesquisa em Políticas Públicas de

Currículo e Avaliação, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade

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do Vale do Itajaí (UNIVALI), a partir do momento da aprovação no processo seletivo

do Doutorado. Nesse grupo, verificou-se a possibilidade de dividir as inquietações e

contribuir para a reflexão acerca desta temática, ainda considerada recente entre os

pesquisadores da área.

Esse grupo tem atuado junto a dois observatórios de educação especial

subsidiados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES) que têm como propósito desenvolver estudos em nível nacional a respeito da

temática da educação especial e da educação inclusiva. Um é o Observatório Nacional

de Educação Especial (ONEESP), coordenado pela professora Drª. Eniceia Mendes, da

Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), que investiga o programa de

implantação de “salas de recursos multifuncionais” (SRMs) do Ministério da Educação

(MEC) em municípios de 19 estados brasileiros, com a participação de representantes de 22

universidades e de 16 programas de pós-graduação. O segundo é o Observatório Nacional

de Educação Especial e Inclusão Educacional, coordenado pela professora Drª. Márcia

Denise Pletsch, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), que estuda o

processo de escolarização de alunos com deficiência intelectual nas classes regulares da

educação básica, no AEE e o desempenho desses alunos nas avaliações nacionais.

Trata-se de pesquisa desenvolvida em rede, abrangendo pesquisadores de três

programas de pós-graduação em educação das seguintes universidades: Universidade

Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Universidade Estadual de Santa Catarina

(UDESC) e Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), também de Santa Catarina. O

observatório busca investigar processos de ensino e aprendizagem desses sujeitos nas

redes municipais de ensino dos Estados do Rio de Janeiro e de Santa Catarina e também

utilizam as bases de dados disponíveis no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira (INEP) para analisar a participação e o aproveitamento,

em nível nacional, dos alunos com deficiência intelectual matriculados na rede comum

de ensino nas avaliações do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) e Prova

Brasil.

A inclusão escolar é um dos grandes e atuais desafios da educação em todo

Brasil, com repercussões e tentativas de acertos em todos os níveis de ensino, da

Educação Infantil ao Ensino Superior. É uma discussão social que iniciou com a

Declaração dos Direitos Humanos em 1948. No campo da educação, ganhou força a

partir das reformas educacionais, marcadas e influenciadas por grandes mudanças

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políticas, sociais e tecnológicas, voltadas para o capital financeiro no final do século

XX. As mudanças alavancaram a consolidação dos princípios do neoliberalismo no país

por meio de “políticas de liberalização, de privatização, de desregulamentação e de

desmantelamento de conquistas sociais e democráticas” (CHESNAIS, 1998, p. 196).

Esse novo cenário abre portas para a centralização do capital e para grandes relações de

interesse entre grupos nacionais e internacionais, que passam a conduzir os processos de

controle do mercado, do trabalho e da produção em todas as esferas sociais. Esses

grupos procuram se fortalecer por meio de aquisições, fusões e parcerias.

Com isso, as políticas educacionais sofrem a influência do neoliberalismo e o

Estado assume um novo papel.

Para ampliar o escopo de ofertas em relação a orientações e modelos

educacionais, e também para aliviar os setores da sociedade que contribuem

através de impostos para o sistema público de ensino sem utilizá-lo

necessariamente, as teorias neoliberais propõem que o Estado divida – ou

transfira – suas responsabilidades com o setor privado (HÖFLING, 2001, p.

38).

Essa configuração, que parte da concepção neoliberal, revela que o papel do

estado “consiste em assegurar as regras do jogo entre interesses setoriais”

(FONTOURA, 2008, p. 10). Tais interesses, oriundos de grandes grupos financeiros e

de grupos sociais organizados por minorias, influenciam a criação e o desenvolvimento

de uma grande demanda de documentos relativos à educação brasileira, entre eles os da

inclusão escolar. A sociedade, em tempos de neoliberalismo e globalização, passa por

uma reconfiguração que afeta diretamente os setores políticos, sociais e econômicos e

envolve todas as esferas, visto que “o processo resultante de uma nova fase de

reestruturação capitalista é marcado por políticas de centralização, de diferenciação e de

diversificação institucional e, especialmente, de privatização da esfera pública”

(DOURADO, 2002, p. 235). Essa reconfiguração, como já abordado, passou a

influenciar diretamente a elaboração das políticas que também revelam características

do capitalismo e das relações com o mercado.

Para Garcia (2010, p. 446), “as reformas atuais são práticas globais que visam à

mudança nos padrões de regulação social e nos regimes éticos que capacitam os sujeitos

para as relações sociais”. Essas reformas, que se acentuaram a partir da década de 1990,

acabam incorporando práticas de inclusão e exclusão, bem como, sistemas de

classificação entre os sujeitos sociais. Uma gestão de indivíduos, ou seja, uma nova

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gestão contemporânea para educar indivíduos por meio de diferentes interesses e

influências pautados no sistema capitalista.

Lingard (apud BALL, 2012) considera que a globalização neoliberal dos

últimos 30 anos se caracteriza por uma ideologia que promove o mercado sobre o

Estado, uma regulação individualista, em que o bem comum e os interesses

coletivos se tornam secundários e o foco passa a ser o envolvimento e o interesse

do setor privado no funcionamento do Estado. Há uma mudança nas formas de poder

do Estado de controlar os sistemas de ensino, uma desnacionalização e as políticas

educacionais são feitas em novos locais, em diferentes escalas, por novos atores e

organizações.

Um dos grandes marcos para o desenvolvimento de políticas neoliberais em toda

a América Latina foi o “Consenso de Washington2”. Segundo Fontoura (2008), esse

Consenso contribuiu para a regulação social do Estado e para as transformações que

deram origem a uma nova e forte configuração política a partir de redes de relações e

interesses locais, nacionais e globais. Por meio dessas relações, as políticas neoliberais

recebem respaldo de diferentes órgãos internacionais, que influenciam os mais variados

contextos. Assim, grandes organizações internacionais como o Fundo Monetário

Internacional (FMI), Organização para Cooperação e Desenvolvimento (OCDE),

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e o

Banco Mundial potencializam um discurso pautado na integração, ajuda e cooperação

econômica mundial. “São discursos que nem sempre convergem, mas têm em comum a

promessa de inclusão, progresso, desenvolvimento, riqueza, democracia, igualdade e

qualidade de vida para todos que se inserirem no mercado e na cultura globais”

(GARCIA, 2010, p. 447).

O Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e

agências da Organização das Nações Unidas (ONU) configuram-se como

importantes interlocutores multilaterais da agenda brasileira. No campo

educacional, esses interlocutores, particularmente o Banco Mundial,

revigoram a sua atuação no país a partir da década de 1980 (DOURADO,

2002, p. 238).

2 Reunião que ocorreu em 1989 e gerou um conjunto de medidas organizadas por economistas de

importantes e influentes instituições financeiras, como o FMI, o Banco Mundial e o Departamento do

Tesouro dos Estados Unidos. Essas medidas propostas se tornaram a Política Oficial do Fundo Monetário

Internacional para o ajuste macroeconômico dos países em desenvolvimento no ano de 1990.

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Na educação, muitas alterações no modo de regulação são postas em prática por

meio das reformas políticas e educacionais que, muitas vezes, “com recursos e

dispositivos de mercado” visam “legitimar a governabilidade educativa por meio da

participação de outros atores de governo da educação pública” (LUZ, 2011, p. 439).

Alguns desses atores que exercem influência nacional e internacional sobre o Estado no

desenvolvimento das políticas educacionais fortalecem a chamada economia do

conhecimento.

A partir da década de 1990, o Brasil participa de vários movimentos mundiais

em prol da educação para todos. Como país signatário, marca presença na Conferência

Mundial de Educação para Todos, em Jomtiem, na Tailândia, assumindo a

responsabilidade frente às reformas educacionais propostas naquele momento. Dez anos

depois, o país firma o acordo no Fórum Mundial de Educação, em Dakar, e acentuam-se

os movimentos de discussão sobre a reforma das políticas educacionais brasileiras, entre

elas a aprovação da nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB) em 1996 e do Plano Nacional

de Educação (PNE), “um passo decisivo nessas mudanças” (DOURADO, 2002, p. 241).

O jogo de interesses entre diferentes grupos influencia direta e indiretamente as

alterações na legislação nacional. Trata-se do contexto de influência, por vezes

composto por relações informais, trocas sociais, negociações que acontecem “nos

bastidores” (BALL, 2012). Ball (2012) enfatiza a mobilidade das políticas em vez das

suas transferências. Ele sugere que essas políticas se movem e são adaptadas por redes

de relações sociais, envolvem diversos participantes, com uma variedade de interesses,

compromissos, objetivos e influências, que são mantidas pela subscrição de um discurso

legitimado por essas redes de relações3.

A fim de atender ao compromisso firmado em Dakar, o Brasil instituiu uma

ampla reforma na educação. Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDB nº 9.394, de 1996), abriram-se tanto as possibilidades da

educação especial na perspectiva de uma educação inclusiva, reforçando o direito

constitucional de educação para todos, como as possibilidades de ampliação das

modalidades de oferta de educação, entre elas a modalidade de Educação a Distância,

como medida de democratização do ensino. Com essa medida, muito além de

3Tradução nossa do original: “Thus, here I want to emphasise the mobility of policies rather than their

transfer. That is to say, I suggest that policies move through, and are adapted by, networks of social

relations or assemblages (see below), involving diverse participants (see below), with a variety of

interests, commitments, purposes and influence, which are held together by subscription to a

discursive ensemble, which circulates within and is legitimated by these network relations” (BALL,

2012, p. 11).

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democratizar o ensino, a reforma passou a atender aos interesses de mercado de grandes

grupos financeiros, tornando a educação, principalmente o Ensino Superior, um grande

negócio para o setor privado.

A educação especial também foi contemplada na reforma da educação como

uma possibilidade de democratização do ensino. A LDB (BRASIL, 1996b), no Capítulo

V, passou a defini-la como uma modalidade de educação que perpassa todos os níveis

de ensino e deve ser oferecida preferencialmente na rede regular de ensino. Além disso,

os sistemas de ensino foram orientados a assegurar currículos, métodos e profissionais

para atender às necessidades desse público. Continuando a abordagem sobre essa

temática, essa mesma lei evidencia que o poder público deve:

[...] incentivar o desenvolvimento de programas de ensino a distância em

todos os níveis e modalidades e de educação continuada. [...] cada município,

e supletivamente o Estado e a União, deverá: realizar programas de

capacitação para todos os professores em exercício, utilizando também para

isto, os recursos da educação a distância (BRASIL, 1996b).

A educação a distância teve seu início com o ensino por correspondência e trata-

se de uma:

[...] modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos

processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização dos meios de

tecnologia de informação e comunicação, com estudantes e professores

desenvolvendo atividades educativas em lugares ou em tempos diversos

(BRASIL, 2005a).

As novas possibilidades de oferta de ensino por meio da educação a distância

movimentam o mercado financeiro, que investe em cursos de graduação em todo

território nacional a partir da década de 1990. O governo federal difunde a oferta dos

cursos em algumas instituições federais. Contudo, é o projeto da Universidade Aberta

do Brasil (UAB) que ganha grande repercussão nacional. Tal projeto envolve parcerias

que se configuram em uma “universidade dentro da universidade”. A democratização do

Ensino Superior movimenta a necessidade e os incentivos do próprio MEC para a

formação de professores, o que acaba alavancando a oferta dos cursos de licenciatura,

principalmente nas instituições privadas.

O aumento da oferta do Ensino Superior pela disseminação da EAD contribuiu

para o mercado e a economia, fortaleceu a sua privatização por parte de grandes grupos

nacionais e internacionais e veio ganhando destaque quanto ao número de alunos e

demandas reprimidas atendidos. A modalidade ganhou força, pois a metodologia

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empregada acolhe os acadêmicos dos mais variados contextos, tornando-se atrativa

também ao público da educação especial. E de que modo a educação a distância no

Ensino Superior e a educação especial na perspectiva de educação inclusiva convergem

nesse contexto de reformas educacionais? Quais as tratativas legais que disciplinam essa

atividade? Como ela vem se configurando no contexto de expansão da educação a

distância no país?

A regulamentação e a avaliação da educação a distância tiveram e continuam

tendo alterações na legislação, de modo a contemplar os diferenciados pontos de

interesse e também se adequar à realidade educacional brasileira. Entre as inúmeras

normativas publicadas na última década, destaca-se o Decreto nº 6.303/2007 (BRASIL,

2007c), que altera o Decreto nº 5.622/2005 (BRASIL, 2005a) e regulamenta os polos de

apoio presencial para as atividades práticas obrigatórias: “avaliação, estágios, defesa de

trabalhos ou prática em laboratório”. O referido decreto esclarece que os polos de apoio

presencial devem estar regularmente credenciados pelo MEC e passarão por visitas in

loco para o reconhecimento dos cursos.

Desse modo, as instituições devem observar as recomendações do Referencial

de Qualidade para a Educação a Distância (BRASIL, 2007b). Esse é o primeiro

documento específico para a educação a distância que aborda o atendimento da pessoa

com deficiência. Entre suas recomendações, destaca que as instituições devem prever e

“dispor de esquemas alternativos para atendimento de estudantes com deficiência”

(BRASIL, 2007b, p. 15) e para a:

[...] instalação de polos, dois outros requisitos necessitam ser atendidos. O

primeiro diz respeito às condições de acessibilidade e utilização dos

equipamentos por pessoas com deficiências, ou seja, deve-se atentar para

um projeto arquitetônico e pedagógico que garanta acesso, ingresso e

permanência dessas pessoas, acompanhadas de ajudantes ou animais que

eventualmente lhe servem de apoio, em todos os ambientes de uso coletivo

(BRASIL, 2007b, p. 28).

Essa normativa atenta para as condições de acessibilidade arquitetônica e

pedagógica para a garantia de ingresso e permanência das pessoas com deficiência nos

polos de apoio presencial. Todavia, cabe indagar como vem se comportando a matrícula

desse público na educação a distância no país?

A educação a distância alavancou o Ensino Superior no país, levando a

possibilidade de graduação aos lugares mais distantes, contribuindo com a

democratização do ensino no Brasil. Da mesma forma, movimentou o mercado

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financeiro, atraindo investimentos de grandes potências mundiais no setor privado, hoje

responsáveis por grande número dos egressos dessa modalidade.

Pode-se perceber que essa modalidade de ensino tem tomado grandes

dimensões, haja vista os resultados apresentados pelo Censo da Educação Superior de

2010 (BRASIL, 2010) representados no gráfico a seguir:

Figura 10: Evolução do número de matrículas de graduação por modalidade de ensino e do número de

matrículas a distância públicas e privadas – Brasil – 2001-2010

Fonte: Brasil (2010).

Esses dados comprovam a grande expansão da educação a distância nas

instituições privadas atuantes no país. Esse aumento se torna ainda mais significativo

quando são analisados os números relacionados aos acadêmicos com deficiência no

Ensino Superior. “Em 2003 registrou-se 1.373 alunos nas IES públicas (27,04%) e

3.705 alunos nas IES privadas (72,96%). Em 2011 esses números aumentam

significativamente para 6.531 alunos em IES públicas (28,09%) e 16.719 alunos nas IES

privadas (71,90%), ou seja, uma diferença de 10.188 alunos” (BRASIL, 2013).

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Figura 11: Acadêmicos com deficiência matriculados no Ensino Superior

Fonte: Brasil (2010).

Pela análise do gráfico, observa-se que em 2011 houve um aumento no número

de acadêmicos público-alvo da educação especial matriculados nas IES privadas e a

grande diferença no número de matrículas desse alunado nas IES privadas e públicas

evidenciam a expansão desse setor. Esses dados evidenciam não somente o maciço

crescimento e a expansão da educação a distância no país, notadamente no âmbito das

instituições privadas, como também a democratização do acesso a todos os públicos,

inclusive ao público-alvo da educação especial.

Pinto (2004) sugere que a forma menos rígida e concorrida dos processos de

seleção das IES privadas favorece a procura e o ingresso de classes menos favorecidas

ao Ensino Superior. Alunos de classe média, negros, pessoas com deficiência e alunos

oriundos de escolas públicas, que por algum motivo não apresentam as mesmas

oportunidades e condições que os alunos de classes financeiras mais altas, encontram

nas instituições privadas oportunidades que nas IES públicas se tornam, muitas vezes,

inacessíveis.

Cabe indagar, no entanto, as reais condições de acesso e também as de

permanência e aprendizagem desse público em face dessa realidade, pois a educação

inclusiva vai além da eliminação de barreiras arquitetônicas que visam a acessibilidade

física. Compreende-se que a permanência também depende de fatores relacionados a

concepções pessoais e institucionais de caráter social, cultural e pedagógico, que

oportunizem matrícula, permanência e conclusão da graduação, ou seja, ações e

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políticas institucionais que garantam esse direito e a transição para o mercado de

trabalho.

A expansão da educação a distância pelas instituições privadas abarca a oferta

em todo território nacional, caracterizando-se como um verdadeiro monopólio do

Ensino Superior brasileiro e um vetor de inclusão social por “abrir as portas” para a

oferta dos cursos de graduação com preços acessíveis e metodologias diferenciadas.

Rezende (2009) afirma que a EAD é uma oportunidade para que as pessoas com

necessidades especiais procurem uma formação específica, motivadas pelas diferentes

estratégias pedagógicas e tecnológicas que essa modalidade pode oferecer.

Mattei e Haiduke (2010, p. 9), em estudos realizados acerca da inclusão no

Ensino Superior, constataram que “não existe um único responsável maior pelo sucesso

ou fracasso do processo de inclusão acadêmica”, todos os atores pedagógicos estão

envolvidos nesse processo. Contudo, entende-se que há uma necessidade de “maior

conscientização do processo de inclusão pela comunidade acadêmica, além de que

precisam ser motivadas outras pesquisas que possibilitem encontrar soluções para o

problema da inserção acadêmica justa e eficaz” (MATTEI; HAIDUKE, 2010, p. 1).

Menezes (2010, p. 8), ao refletir sobre a inclusão na educação a distância,

sugere que “a EAD pode ser uma grande oportunidade para a educação das pessoas

com deficiência, ao possibilitar a superação de barreiras de comunicação, linguagem

oral, informação, barreiras dos centros urbanos, facilitando para esses sujeitos a

acessibilidade”. No entanto, atenta que “é de vital importância que as instituições de

EAD se conscientizem da necessidade de além de ensino de qualidade, oferecer

também acessibilidade para cada tipo de deficiência” (MENEZES, 2010, p. 10).

Pereira (2008, p. 8) cita em sua pesquisa que o sistema de cotas se constitui de

uma ação de acesso e democratização, contudo não é suficiente para “assegurar a

permanência desses alunos na Universidade. Os resultados evidenciam a ocorrência de

dificuldades que se concentram no processo de ensino e aprendizagem e a necessidade

de ações específicas, voltadas para essa parcela da população acadêmica”.

Oliveira (2011, p. 7), em sua tese sobre a inclusão no Ensino Superior da

Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), constatou a necessidade de

ampliação dos “escassos estudos” para identificar os acadêmicos com deficiência nesse

nível de ensino, a fim de oferecer-lhes condições dignas de permanência, por meio de

ações institucionais que buscam garantir a educação para todos.

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Silva e Frota (2011, p. 423), ao pesquisarem as políticas de inclusão na

Universidade do Estado do Pará, concluíram que “somente os aparatos legais não

garantem a inserção de alunos com NEEs4 nas universidades, pois eles precisam ser

apoiados e amparados por políticas públicas de educação as quais contribuam para que

o espaço da academia se torne realmente inclusivo”.

Cabral (2013) abordou em sua tese as orientações acadêmicas e profissionais

para os alunos com deficiência das instituições de Ensino Superior em âmbito

internacional e constatou boas práticas desenvolvidas nesses espaços.

Diante dessas reflexões, identifica-se, nos estudos dos autores citados, a

necessidade de discutir e analisar as políticas de inclusão para o Ensino Superior na

modalidade EAD, tendo em vista o crescimento expressivo de matrícula desse público

nessa modalidade e a inexpressiva produção científica que indague as condições em que

essa realidade tem se efetivado. Para tanto, o presente estudo se insere nesse contexto de

investigação e busca discutir a política de inclusão de acadêmicos caracterizados como

público-alvo da educação especial no Ensino Superior na modalidade a distância. De

modo mais aproximado, busca-se investigar essa temática no contexto das maiores

instituições privadas atuantes no país nessa modalidade.

Diante de uma legislação que prevê garantia de acesso e permanência e

atendimento educacional especializado na perspectiva da educação inclusiva em todos

os níveis de ensino, pergunta-se: como se configura a política de inclusão para o Ensino

Superior e como essa se organiza na modalidade EAD? Como essa é interpretada e

traduzida no projeto pedagógico das instituições privadas que oferecem essa modalidade

de ensino no Brasil? Quais têm sido os mecanismos de garantia de acesso, permanência

e aprendizagem dos acadêmicos público-alvo da educação especial no Ensino Superior

na EAD nessas instituições?

No Brasil, a vasta legislação para a inclusão escolar e os incentivos dos

programas de educação para todos parecem não garantir, ou pelo menos garantem

precariamente, o acesso, a permanência e o sucesso do público da educação especial no

Ensino Superior. Percebem-se iniciativas isoladas e atendimento educacional

especializado organizado por demanda nesse nível de ensino.

Tendo por base essas questões, o presente estudo tem por objetivo analisar a

política de inclusão no Ensino Superior na modalidade EAD e sua interpretação e

4 Necessidades Educacionais Especiais.

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tradução5 no projeto pedagógico das maiores instituições privadas atuantes no Brasil, a

saber: Kroton Educacional, Anhanguera Educacional e Estácio Participações6. De modo

mais específico, são objetivos do estudo: identificar os princípios e as diretrizes de

inclusão de alunos caracterizados como público-alvo da educação especial nas políticas

de EAD em vigor no país e examinar as estratégias, as ações e os recursos utilizados

para a inclusão desse público no projeto pedagógico das instituições estudadas.

As questões e os objetivos da pesquisa estão fundados na tese de que a política

de inclusão no Ensino Superior privilegia o acesso em detrimento da permanência e do

sucesso dos alunos público-alvo da educação especial nesse nível de ensino. Na

modalidade EAD, a política amplia potencialmente as possibilidades de acesso e,

inversamente, reduz as possibilidades de acompanhamento do desempenho e do sucesso

desse público. As IES privadas, porque absorvem o maior número de alunos na

modalidade a distância, recebem o maior número de alunos da educação especial e,

consequentemente, respondem à política de maneira pontual, de acordo com a demanda,

privilegiando também o acesso, de modo a atender aos requisitos legais.

A definição por essas três instituições se deve pelo fato de serem elas as que

evidenciaram, na última década, o maior crescimento na oferta da educação a distância

no país. O grande número de oferta e matrículas no Ensino Superior na modalidade

EAD no Brasil está atrelado à privatização e incorporação de grupos financeiros que

corroboraram para esse mercado no país. No ano de 2013, destacaram-se entre os

maiores grupos educacionais de capital aberto: a Kroton Educacional, a Anhanguera

Educacional e a Estácio Participações.

A Kroton Educacional, inicialmente Rede Pitágoras, foi fundada em Belo

Horizonte no ano de 1966, é administrada pela Advent International e conta com

aproximadamente 412 mil alunos matriculados. A Anhanguera Educacional, fundada no

interior de São Paulo no ano de 1994, é administrada pelo Banco Pátria e possui

5Nesta tese, utilizou-se o sentido de interpretação e tradução definido por Ball, Maguire e Braun (2013, p.

45): “a interpretação é uma leitura inicial, a busca do significado e do que faz sentido na política – o que

esse texto significa para nós? O que temos que fazer? […] Essa decodificação se dá em relação à cultura e

à história da instituição e da política biográfica dos principais atores. Já a tradução, por sua vez, está mais

próxima da linguagem da prática. É como um terceiro espaço entre a política e a prática. É um processo

interativo de produção textual institucional e de colocação desses textos em ação, literalmente significa

representar a política utilizando táticas que incluem falas, encontros, planos, eventos e “aprendizagens na

caminhada” [...]”.

6 Essa pesquisa iniciou 2012 e na data da definição da amostra a Anhanguera ainda não fazia parte do

grupo Kroton. A fusão entre as instituições aconteceu em maio de 2014. Como os processos ainda não

foram integrados, nesta tese, analisa-se as instituições de forma distinta.

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aproximadamente 419 mil alunos matriculados. Já a Estácio Participações, fundada no

Rio de Janeiro no ano de 1970, é administrada pelo fundo GP e conta com

aproximadamente 260 mil alunos matriculados7. Essas três instituições privadas lideram

o mercado educacional por meio da oferta de cursos de graduação e pós-graduação

presenciais e a distância.

Figura 12: As maiores IES privadas de capital aberto

Fonte: BARBOZA, Mariana Queiroz. Um negócio nota 10. Impulsionadas pela classe C, empresas do

setor de educação batem recordes de lucros e veem o preço de suas ações disparar na bolsa de valores.

Revista IstoÉ, edição 2236, 14 set. 2012. Disponível em:

<http://www.istoe.com.br/reportagens/237975_UM+NEGOCIO+NOTA+10>. Acesso em: 10 abr. 2014.

Consideradas as “gigantes” do mercado financeiro na área educacional, essas

três empresas movimentam o mercado tanto de oferta do Ensino Superior, como

também das negociações em torno de parcerias, aquisições e fusões que propiciam a

ampliação de ações no territorial financeiro-educacional.

Ball (2012) sinaliza que essa nova geração de empresas atua diretamente na

organização das políticas em parceria com o Estado. As empresas privadas ganham

espaço por meio de assessorias e consultorias que atuam dentro das comunidades de

criação de políticas. Dessa forma, o setor privado é o modelo a ser seguido pelo setor

público.

As três grandes potências do setor privado da educação superior brasileira,

Kroton Educacional, Anhanguera e Estácio, movimentam o mercado financeiro

7 Os números relativos à quantidade de alunos matriculados nessas IES foram os divulgados até o início

do ano de 2013.

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nacional por meio de negócios que envolvem aquisições de várias instituições privadas

de menor porte. No final do ano de 2012, a Kroton Educacional chegou ao patamar de

maior empresa de educação de capital aberto do Brasil, após as aquisições da

Universidade do Norte do Paraná (UNOPAR) e do Centro Universitário Leonardo da

Vinci (UNIASSELVI) e, em 2013, obteve grande valorização na bolsa de valores por

meio do anúncio da fusão com a Anhanguera, negócio sinalizado pela imprensa, no ano

anterior, entre Anhanguera e Estácio.

A fusão8 entre Kroton Educacional e Anhanguera gerou ruídos em todo setor

financeiro nacional e internacional, pois as instituições estavam formando o maior

grupo educacional de capital aberto do mundo, com aproximadamente 1 milhão de

alunos. Um verdadeiro negócio que movimenta a economia do setor educacional

brasileiro e que foi aprovado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica

(CADE) no ano de 2014.

Figura 13: Fusão Kroton e Anhanguera

Fonte: Disponível em:

<http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/117790_FUSAO+KROTON+E+ANHANGUERA+LICAO+

DE+NEGOCIOS>. Acesso em: 20 maio 2014.

Esse movimento potencializou o sistema de captação de alunos e o aumento no

número de matrículas nas duas instituições como também alavancou o seu valor de

mercado na bolsa de valores. Já na história de negociações da Estácio Participações, o

último negócio concretizado foi no mês de setembro de 2013 com a compra da União

dos Cursos Superiores SEB (UNISEB) por R$ 615,3 milhões.

8 Mesmo com a fusão aprovada pelo CADE em 2014, nesta tese abordam-se os dados das duas

instituições separadamente, por conta do tempo necessário para a integração dos processos em ambas.

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Esse cenário de privatização e expansão das três instituições alavancou o

aumento do número de oferta de cursos de bacharelado, licenciatura e curso superiores

de tecnologia na modalidade a distância em todo território brasileiro. Isso propicia

facilidade para que as pessoas possam cursar o Ensino Superior com um custo mais

acessível, metodologias com encontros presenciais para a realização das avaliações e

processos seletivos mais flexíveis, que garantem a entrada e a matrícula com pouca

concorrência, atendendo a todas as demandas.

Em face desse cenário, a presente pesquisa busca analisar como essas

instituições articulam e traduzem em seus projetos pedagógicos as orientações das

políticas para EAD e inclusão no Ensino Superior. Diante do exposto, esta tese está

organizada em quatro capítulos.

No primeiro, intitulado Abordagem Metodológica da Pesquisa, descreve-se o

contexto de investigação: as instituições, os sujeitos selecionados e as razões para

escolha do contexto. São apresentados também os referenciais teórico-metodológicos

adotados para análise da política pautados na abordagem do ciclo de políticas proposto

por Stephen Ball e colaboradores. Tratam-se de pesquisadores ingleses, do campo da

Sociologia da Educação, que propõem um método de análise de políticas educacionais

tendo como foco tanto a formação do discurso da política como a interpretação ativa

dessa pelos profissionais que atuam no contexto da prática. A abordagem destaca a

natureza complexa e controversa da política educacional, os processos micropolíticos no

nível local e a articulação entre os processos macro e micro de construção da política.

O Capítulo II, intitulado Política Nacional para a Inclusão no Ensino Superior,

apresenta um trabalho de análise de conteúdo dos documentos nacionais que norteiam a

inclusão no Ensino Superior. Realiza-se também a análise dos dados coligidos nos

documentos assim como nas entrevistas com os gestores das instituições selecionadas

para este estudo, agrupando-os em quatro categorias: Concepção de Inclusão no Ensino

Superior; Atendimento Educacional Especializado (AEE); Suporte aos Docentes e

Avaliação da Aprendizagem.

No Capítulo III, analisam-se as Políticas de Inclusão no Ensino Superior na

Modalidade EAD nas IES privadas (Anhanguera Educacional, Estácio Participações e

Kroton Educacional) com destaque para a análise dos documentos institucionais.

Já o Capítulo IV discute a tradução da política pelas IES, evidenciando a

concepção e o nível de conhecimento do gestor sobre a política de inclusão para o

Ensino Superior e as políticas adotadas, bem como as estratégias adotadas para o

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acesso, o atendimento e acompanhamento do desempenho dos alunos público-alvo da

educação especial na instituição. Realiza-se a análise do atendimento educacional

especializado (AEE) e os recursos disponibilizados para alunos com deficiência visual,

auditiva, física e intelectual.

Na sequência, para finalizar a tese, mas não as reflexões sobre este tema,

apresentam-se as considerações finais, as referências que auxiliaram a construção deste

trabalho e o apêndice com o roteiro de entrevista realizado com os sujeitos da pesquisa.

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CAPÍTULO I

ABORDAGEM METODOLÓGICA DA PESQUISA

O trabalho do tempo é amadurecer o mundo.

Se o tempo não tem tamanho, para que o relógio?

O relógio arruma as coisas.

Ele nos aproxima, nos reúne, cria nosso ritmo.

Põe ordem na liberdade exagerada do tempo.

(QUEIRÓS, 2010, p. 42)

Assim como o relógio põe ordem na liberdade do tempo ao criar o ritmo,

medindo-o e organizando-o, os procedimentos metodológicos em uma pesquisa também

organizam o trajeto, a caminhada do pesquisador. Essa caminhada inicia com a busca

pelos dados referentes à legislação nacional para a inclusão no Ensino Superior e dados

das instituições de ensino objeto de estudo desta tese.

1 O CONTEXTO DA PESQUISA

Sendo o objetivo da pesquisa: analisar a política de inclusão no Ensino Superior na

modalidade EAD e sua interpretação e tradução no projeto pedagógico das maiores

instituições privadas atuantes no Brasil, a saber: Kroton Educacional, Anhanguera

Educacional e Estácio Participações, considera-se necessário situar o perfil dessas

instituições.

1.1 O PERFIL DAS INSTITUIÇÕES ESTUDADAS

1.1.1 Anhanguera Educacional

A Anhanguera Educacional9 originou-se da fusão de várias instituições de

ensino, sendo a primeira realizada entre a Sociedade Educacional de Leme, Sociedade

Educacional de Jundiaí e Sociedade Educacional de Matão. A fusão entre essas três

9 Informações retiradas do site institucional e dos documentos institucionais analisados.

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sociedades deu origem à Anhanguera Educacional mantenedora de várias unidades

educacionais, faculdades, universidades e centros universitários que hoje compõem uma

das maiores instituições de Ensino Superior privado de capital aberto do país.

No ano de 2007, a Anhanguera comprou a Universidade para o

Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (UNIDERP), que passou a se

chamar Universidade Anhanguera-Uniderp. Essa aquisição contribuiu para alavancar os

negócios da instituição em todo o território brasileiro por meio da educação a distância.

Segundo o seu site institucional, hoje a IES possui 70 campi, mais de 500 polos

de apoio presencial distribuídos por todo o país, 400 mil alunos e 13 mil profissionais e

professores, especialistas, mestres e doutores. Entre os profissionais que fazem a gestão

da educação a distância da Anhanguera, destacamos o Diretor de EAD, os

coordenadores de curso e o coordenador acadêmico EAD no polo de apoio presencial.

No ano de 2012, a Anhanguera Educacional atuou em 9 estados brasileiros

distribuídos conforme a imagem a seguir:

Figura 14: Área de atuação da Anhanguera

Fonte: ANHANGUERA. Relatório de Responsabilidade Social Anhanguera. 2012. Disponível

em:<http://rsocial.unianhanguera.edu.br/assets/img/img-conteudo/pag19_brasil.jpg>. Acesso em: 20

mai. 2014.

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Analisando a imagem, pode-se verificar o contexto de atuação da IES e sua

expansão nos estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país, tendo maior

representatividade no Estado de São Paulo.

1.1.2 Kroton Educacional

A história da Kroton Educacional10

iniciou com a Rede Pitágoras de Belo

Horizonte (MG) em 1966, ao criar um curso de pré-vestibular. A ideia expandiu os

negócios e em 1972 deu origem ao primeiro Colégio Pitágoras. Posteriormente, na

década de 1990, a Rede Pitágoras passou a atuar, e atua até hoje, na educação básica.

No ano 2000, a rede ampliou seus negócios e criou a primeira Faculdade

Pitágoras, com metodologias em parceria com a Apollo International. Essa parceria

durou até 2005, quando a Apollo International resolveu vender sua parte aos fundadores

da Pitágoras. Em 2007, a Rede Pitágoras abriu o capital na BM&FBovespa com o nome

Kroton Educacional e, em 2009, recebeu um forte aporte financeiro da Advent

International, que administra a empresa junto com seus fundadores até hoje.

Com isso, iniciou-se um crescimento significativo da empresa por meio de

aquisições. No ano de 2010, a Kroton compra a IUNI Educacional, com as marcas

UNIC, UNIME e FAMA. No ano de 2011, adquire a Faculdade Athenas Maranhense, a

Faculdade União, a Faculdade de Sorriso (FAES) e marca os negócios no setor

educacional brasileiro com a sua maior aquisição: a Universidade do Norte do Paraná

(UNOPAR), passando assim a ser líder no setor de educação a distância no Brasil. De

acordo com o site institucional, em 2012 a Kroton adquire a UNIRONDON e para

reforçar a liderança e os negócios na educação a distância compra o Centro

Universitário Leonardo da Vinci (UNIASSELVI). No ano de 2014, o CADE aprova a

fusão das instituições Kroton e Anhanguera e a Kroton Educacional passa a ser a maior

instituição de ensino superior privado de capital aberto do mundo.

A Kroton Educacional conta com 53 campi, 447 polos de educação a distância e

400 mil alunos no ensino superior. Entre os profissionais que fazem a gestão da

educação a distância da Kroton, destacam-se as Diretorias Acadêmicas de EAD, os

10

Informações retiradas do site institucional e dos documentos institucionais analisados.

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32

coordenadores acadêmicos, os coordenadores de curso e o coordenador de polo de apoio

presencial.

A Kroton Educacional atua no país conforme imagem a seguir:

Figura 15: Área de atuação da Kroton Educacional

Fonte: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/-

JefhY39o0fY/T8U/s1600/M&A+Kroton+Uniasselvi+4.png>. Acesso em: 10 maio 2014.

É possível perceber, por meio da imagem, a expansão da Kroton Educacional

após a aquisição das duas instituições de educação a distância: UNOPAR e

UNIASSELVI. A UNOPAR, maior instituição de EAD da Kroton, conta com 399

polos de apoio presencial distribuídos por todo o país, com maior representatividade

nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. A UNIASSELVI possui 48 polos

distribuídos em todo o país e tem maior representatividade na região Sul.

1.1.3 Estácio Participações

A Estácio Participações11

foi fundada no ano de 1970, quando abriu o seu

primeiro curso de Direito na cidade do Rio de Janeiro. No ano de 1972, a IES passou a

oferecer novos cursos e, em 1988, tornou-se Universidade.

Entre os anos de 1988 e 1998, ampliou seus cursos e expandiu o número de

campi no Rio de Janeiro. Foi no ano de 1998 que iniciou sua expansão nacional nos

Estados de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Santa

Catarina, Bahia, Pernambuco, Pará e Ceará.

De acordo com o site institucional, em 2005 a instituição iniciou um processo de

migração de sociedade sem fins lucrativos para sociedade com fins lucrativos,

11

Informações retiradas do site institucional e dos documentos analisados.

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33

adentrando no mercado financeiro educacional na IPO na BM&FBovespa no ano de

2007. Já em 2008, contou com a entrada da GP Investments, que passou a assumir 20%

da companhia, alavancando os negócios nos anos seguintes.

Em 2009, criou um novo modelo de ensino e iniciou as aquisições e fusões com

instituições em todo território nacional. No mesmo ano, a IES marcou sua entrada no

mercado da educação a distância. Os anos de 2011, 2012 e 2013 foram marcados por

grandes negócios, com a aquisição de várias instituições, entre elas: Faculdade Atual da

Amazônia (FAA), Faculdade de Natal (FAL), Faculdade de Excelência Educacional do

Rio Grande do Norte (FATERN) em 2011; SEAMA, em Macapá, Faculdade São Luis,

em São Luis do Maranhão, Faculdade iDEZ, em João Pessoa, FARGS, em Porto Alegre

e UNIUOL, em João Pessoa no ano de 2012; e FACITEC, ASSESC e UniSeb em 2013.

A Estácio Participações está presente em mais de 19 estados brasileiros, atuando

nos cursos de graduação presencial e a distância. Segundo o site institucional, são mais

de 340 mil alunos matriculados em 79 campi divididos entre centros universitários,

faculdades e 52 polos de ensino a distância. A sua estrutura organizacional divide-se em

Direção Geral, Gerência Administrativo-Financeira, Gerência Acadêmica, Gerência

Comercial, Gestão &Qualidade, Coordenação de Cursos, Coordenação de Ensino à

Distância, Coordenação de Recursos Pedagógicos, Supervisão do Campus e TI,

Regulatório, Comissão Própria de Avaliação – CPA e Núcleo de Apoio

Psicopedagógico – NAP.

A Estácio Participações atua no país conforme imagem a seguir:

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34

Figura 16: Área de atuação da Estácio Participações

Fonte: Disponível em:

<http://www.estacioparticipacoes.com.br/estacio2010/web/mobile/conteudo_mobile.asp?idioma=0&tip2

8>. Acesso em: 10 abr. 2014.

A Estácio Participações vem ampliando sua oferta e verificou-se que há

representatividade em todas as regiões, contudo, de forma mais discreta na região

Norte.

2 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Esta pesquisa se caracteriza como de abordagem qualitativa, baseada em análise

documental e entrevista de campo. Utiliza-se como fonte de dados: documentos

nacionais e institucionais e a entrevista semiestruturada com gestores das três

instituições caracterizadas como objeto de estudo.

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35

2.1 FONTES DOCUMENTAIS

A análise documental toma como fonte de dados os documentos relativos à

legislação nacional e os documentos institucionais disponibilizados nas páginas de

internet oficiais das instituições, bem como os disponibilizados pelos gestores. Foi

utilizada como base documental nacional: leis, decretos, portarias, aviso curricular e a

Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva,

publicadas no período de 1996-2013 e disponíveis no site do Ministério da Educação

(MEC). A definição por esse período, marcado por três décadas, deve-se ao fato de na

década de 1990 ter sido promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

decorrente das orientações advindas da Conferência de Educação para Todos, ocorrida

em Jomtien, em 1994, na qual os estados nacionais foram convocados a definir políticas

assegurando a educação como um direito fundamental de todos, mulheres e homens, de

todas as idades, no mundo inteiro. Os documentos publicados a partir de então se

pautaram nesse compromisso, notadamente aqueles relacionados à educação inclusiva

de pessoas com necessidades especiais assim como os documentos orientadores da

educação a distância. A década seguinte (2000) foi profícua na definição de documentos

referentes as duas políticas: política de inclusão escolar e de educação a distância no

Ensino Superior, assim como a década atual (2010).

Como base documental institucional, foram analisados os Planos de

Desenvolvimento Institucional (PDI) e demais documentos orientadores das políticas de

ensino, pesquisa, extensão e gestão das universidades estudadas. Os documentos

disponibilizados pelas instituições e que foram julgados relevantes para a análise das

políticas institucionais de inclusão também foram base de dados, a saber: relatório de

responsabilidade social da Anhanguera Educacional, orientações sobre inclusão de

estudantes com deficiência no Ensino Superior da Anhanguera, manual do acadêmico

da Estácio Participações, Resolução 12/2010 da UNIASSELVI e Resolução VP

Acadêmica nº 001/2014 da Kroton Educacional. Selecionaram-se esses documentos

porque complementam as informações do PDI das instituições citadas.

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36

Figura 9: Número de fontes documentais analisadas

Fonte: Dados coligidos e organizados pela autora

Na análise desses documentos, buscou-se identificar as políticas de inclusão para

o Ensino Superior na modalidade EAD a partir da análise de conteúdo. Segundo Bardin

(2011), a análise de conteúdo pode ser utilizada para descrever e interpretar documentos

ou dados coletados durante a pesquisa. “O propósito a atingir é o armazenamento sob

uma forma variável e a facilitação do acesso ao observador, de tal forma que esse

obtenha o máximo de informação com o máximo de pertinência” (BARDIN, 2011, p.

51). Para a análise documental, segue-se a proposta dessa autora, que preconiza três

fases principais: a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados.

Na primeira fase, foram analisados os documentos norteadores da educação

inclusiva, os que fundamentam a educação a distância no país e também os

institucionais. Com isso, teve-se contato com os textos desses documentos por meio do

que Bardin (2011, p. 126) chama de leitura flutuante, ou seja, “estabelecer contato com

os documentos a analisar e conhecer o texto deixando-se invadir por impressões e

orientações”.

Em seguida, realizou-se a escolha dos documentos seguindo a regra de

homogeneidade e pertinência. Assim, entre os documentos da legislação nacional,

foram selecionados todas as portarias, leis, decretos, declarações, avisos e políticas

voltados para a inclusão escolar e para a regulamentação da educação a distância. Foram

selecionados os documentos da educação especial que faziam menção ao Ensino

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37

Superior, desde 1996 até 2013, bem como os documentos específicos para a avaliação e

regulamentação do Ensino Superior e da modalidade EAD.

Para a seleção dos documentos institucionais, a homogeneidade também foi

considerada. Com isso, o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) de cada uma

das três IES partícipes desta pesquisa foi elegido para análise. Esse documento foi

escolhido por ser o mais importante e por apresentar um texto obrigatório para a

regulamentação da IES. Além disso, a regra de pertinência também foi levada em

consideração quando se optou por documentos institucionais que, no momento da

leitura flutuante, complementavam as informações do PDI. Dessa forma, além do PDI,

informações em relatórios de responsabilidade social, manual do acadêmico e resolução

institucional, todos em vigor nas instituições, foram analisados. A exploração do

material foi organizada de duas formas:

● os documentos da legislação nacional foram organizados e analisados por temática,

ou seja, foram privilegiados os textos e nesses as diretrizes e orientações direcionadas

para a inclusão do público-alvo da educação especial no Ensino Superior e também na

modalidade EAD;

● os documentos institucionais foram organizados e analisados por categorias pré-

definidas.

Essa forma de organização foi adotada tendo em vista os objetivos da pesquisa e

a abordagem analítica escolhida. O ponto de partida foi a análise da legislação nacional

por revelar o contexto de influência em que essa foi criada e o contexto de produção do

texto no qual seu discurso foi constituído. Nesse caso, as categorias foram emergindo da

leitura dos documentos e essas foram, posteriormente, consideradas na definição prévia

das categorias de análise dos documentos institucionais e das entrevistas. Assim, as

categorias de análise dos documentos nacionais foram definidas à posteriori e as

categorias de análise dos documentos institucionais e das entrevistas foram definidas à

priori, tendo em vista as categorias levantadas quando do exame dos documentos da

política nacional, os objetivos da pesquisa e os eixos organizadores do roteiro da

entrevista.

O tratamento dos dados iniciou por meio da exploração dos documentos da

legislação nacional, procurando compreender quais as exigências legais para que as IES

viabilizem a inclusão dos alunos público-alvo da educação especial no Ensino Superior

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38

na modalidade EAD. A análise, organizada por temática, seguiu a ordem cronológica

dos documentos encontrados no site do MEC entre os anos de 1996 e 2013, conforme

anteriormente explicitado.

Em seguida, foi realizada a organização e categorização para a análise dos dados

encontrados nos documentos institucionais. Esses documentos foram organizados por

categorias e agrupados de acordo com regularidade e coerência que apresentavam entre

si. Para Bardin (2011, p. 148), “classificar elementos em categorias impõe a

investigação do que cada um deles tem em comum com os outros. O que vai permitir o

seu agrupamento é a parte comum existente entre eles”.

Ao realizar a leitura flutuante dos documentos, percebeu-se que, inicialmente,

apresentavam uma breve concepção de educação inclusiva, seguida por algum texto

relativo a programas de inclusão ou apoio aos alunos com necessidades especiais.

Normalmente, estavam organizados por temática, por exemplo: apoio aos alunos com

deficiência visual, apoio ao aluno surdo. Dessa forma, organizou-se o processo de

análise em quatro categorias: Concepção de Inclusão no Ensino Superior, Atendimento

Educacional Especializado (AEE), Suporte aos Discentes e Avaliação da

Aprendizagem12

.

2.2 ENTREVISTAS

Após a análise dos documentos da legislação nacional e dos documentos

institucionais, as entrevistas com os gestores foram realizadas. Elas aconteceram após a

aprovação do Projeto de Tese pelo Conselho de Ética da UNIVALI, em setembro de

2014, sob código CAEE 35142114.9.0000.0120.

As entrevistas aconteceram entre os meses de outubro e dezembro de 2014, de

acordo com a disponibilidade dos gestores contatados. Esses foram selecionados com

base na estrutura organizacional de cada instituição e na disponibilidade apresentada.

Foi solicitado para as três instituições a indicação de um gestor da EAD com

conhecimento sobre os processos de inclusão e que se disponibilizasse a participar da

pesquisa. Dessa forma, foram entrevistados: um Pró-Reitor da Anhanguera

12

Nesta tese, o texto retirado dos documentos institucionais é apresentado em itálico, com recuo esquerdo

de 2cm.

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39

Educacional, um Diretor da Kroton Educacional e um Coordenador da Estácio

Participações, utilizando o seguinte tópico-guia:

● o conhecimento do gestor sobre a política de inclusão no Ensino Superior;

● as políticas adotadas na prática;

● o atendimento e a avaliação dos alunos público-alvo da educação especial.

A entrevista semiestruturada contou com um tópico-guia, que atuou como um

roteiro para a entrevista, como um eixo organizador, não significando que o

pesquisador devesse ficar preso somente a ele. Esse não serve como formulário de

perguntas e respostas, o que exige que o entrevistador use “sua imaginação social

científica para perceber quando temas considerados importantes e que não poderiam

estar presentes em um planejamento ou expectativa anterior, aparecem na discussão”

(BAUER; GASKELL, 2000, p. 67).

A análise das entrevistas foi realizada de acordo com a análise de conteúdo, com

base nas mesmas categorias citadas anteriormente e retiradas da análise dos documentos

institucionais. Os dados foram tratados de forma a verificar as convergências e/ou

divergências entre o conteúdo dos depoimentos dos gestores e os documentos

institucionais13

. Os gestores de cada instituição são identificados da seguinte maneira:

Quadro 1: Instituições e funções dos entrevistados

Gestor Função Instituição

Gestor A Pró-Reitor de graduação EAD Anhanguera Educacional

Gestor B Coordenador de EAD Estácio Participações

Gestor C Diretor de EAD Kroton Educacional

Fonte: Dados da pesquisa

Tratou-se de observar os modos próprios das instituições e seus gestores de

interpretar e traduzir a política nos seus depoimentos e suas práticas. Essa abordagem

toma como referência as contribuições de Stephen Ball e colaboradores em relação à

análise de políticas educacionais. Os referenciais desse autor e sua abordagem analítica

serão melhor explicitados a seguir.

13

Nesta tese, o texto de transcrição das entrevistas apresenta-se dentro de moldura, alinhado ao parágrafo,

a fim de diferenciá-lo do texto dos documentos institucionais.

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40

3 REFERENCIAL ANALÍTICO NORTEADOR

Os dados coletados foram analisados segundo a abordagem teórico-

metodológica da análise de políticas de Stephen Ball e seus colaboradores. Utilizou-se a

teoria de interpretação e tradução das políticas e a abordagem do ciclo de políticas:

Essa abordagem destaca a natureza complexa e controversa da política

educacional, enfatiza os processos micropolíticos e a ação dos profissionais

que lidam com as políticas no nível local e indica a necessidade de se

articularem os processos macro e micro na análise de políticas educacionais.

(MAINARDES, 2006, p. 49)

Ball (2011) propõe, nessa abordagem, um ciclo constituído por três contextos

principais: o contexto de influência, o contexto da produção de texto e o contexto da

prática. Essa abordagem, utilizada por diversos pesquisadores nacionais e

internacionais, é considerada referência para a análise crítica de políticas desde os

projetos até a tradução e interpretação dessas, no contexto da prática. Para o autor, o

ciclo de políticas é uma maneira para pensá-las e não descrevê-las. Uma maneira de se

pensar como as políticas são elaboradas e o modo como são traduzidas na prática

(BALL, 2011). Esse ciclo não apresenta etapas sequenciais ou lineares. Os três

contextos podem ser compreendidos como (BALL, 2011):

Contexto de influência: é marcado por fatores políticos, econômicos e sociais e

por uma relação de interesses variados. Especificamente nas políticas de inclusão

escolar, percebe-se influência de grandes grupos financeiros, que lutam por políticas e

ações que priorizem uma visão mercadológica, não gerem despesas e visem ao lucro das

instituições. Tratam-se de redes macro e micro. Macro no sentido das grandes potências

financeiras que brigam e influenciam as políticas em benefício próprio; e micro por

parte de pequenos grupos específicos, grupos que defendem o direito de igualdade e

inclusão social. Entidades com e sem fins lucrativos que buscam os direitos das pessoas

com necessidades especiais14

.

Contexto da produção de texto: certamente é consequência do contexto de

influência citado anteriormente. É na produção de texto que se encontra a primeira

relação e tradução do que é dito e do que é escrito. É possível perceber se o texto é mais

prescritivo ou interpretativo, flexível ou rígido e o modo como norteará o contexto da

14

Utilizou-se o termo necessidades especiais, pois esses pequenos grupos nem sempre se caracterizam

como específicos do público da educação especial.

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41

prática. Os textos políticos normalmente não são escritos pelas mesmas pessoas como

também nem sempre convergem. É perceptível nos textos das políticas para inclusão

escolar a falta de ligação e de coerência entre esses. Essa percepção está atrelada

também ao contexto da produção de textos que apresenta interesses políticos

diversificados. Além disso, os interesses e ideias dos próprios pesquisadores das áreas

nem sempre entram em comum acordo na trajetória de construção de políticas.

Contexto da prática: é nesse contexto que se traduz as políticas, ou seja, o que

foi dito e escrito. Contudo, o modo como se traduz também influencia as políticas com

as questões que surgem na escola, questões práticas no processo de ensinar e aprender.

Esse é o contexto que reflete as práticas pedagógicas, a concepção da escola, as

experiências docentes. Trata-se do modo como as políticas se concretizam na prática,

nos espaços locais, nas experiências individuais e coletivas. Ball, de acordo com

Mainardes (2006, p. 54-55), explica que:

[...] a análise de uma política deve envolver o exame (a) das várias facetas e

dimensões de uma política e suas implicações (por exemplo, a análise das

mudanças e do impacto em/sobre currículo, pedagogia, avaliação e

organização) e (b) das interfaces da política com outras políticas setoriais e

com o conjunto das políticas. Isso sugere ainda a necessidade de que as

políticas locais ou as amostras de pesquisas sejam tomadas apenas como

ponto de partida para a análise de questões mais amplas da política.

Tomando com referência o ciclo de políticas, a discussão e análise dos dados

coletados se estruturam a partir da seguinte configuração:

● Contexto de influência: documentos de grupos internacionais, UNESCO, Banco

Mundial, legislação nacional sobre o Ensino Superior e para a modalidade EAD,

legislação para a inclusão no Ensino Superior.

● Contexto da produção de texto: documentos institucionais (PDI, relatório de

responsabilidade social, manual do acadêmico, resoluções e documentos de orientação

institucional).

● Contexto da Prática: entrevista com gestores.

Entende-se, a partir de Ball e Mainardes (2011), que esses contextos estão

interligados e sofrem influências de grupos sociais com diferentes interesses, o que,

muitas vezes, envolvem disputas e embates.

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Em síntese, essa análise está estruturada da seguinte forma:

Figura 10: Análise do ciclo de políticas

Fonte: Desenvolvido pela pesquisadora com base em Ball (2011).

Mais recentemente, os estudos de Ball, Maguire e Braun (2013) aprofundam o

debate sobre os contextos envolvidos na análise das políticas, porém dão maior ênfase

aos sujeitos que atuam como atores no contexto da prática, que não apenas

implementam as políticas, mas agem de maneira ativa no sentido de interpretá-las,

traduzi-las e transformá-las. Por essa razão, esses últimos estudos interessam

sobremaneira aos propósitos dessa pesquisa, pois, acima da observância dos interesses

em jogo nos diferentes contextos e textos, há aqui uma especial preocupação em

conhecer como e com quais estratégias as instituições objeto de estudo lidam com a

política e que respostas encontram para suas orientações.

Ball, Maguire e Braun (2013) sinalizam que o significado das políticas está

atrelado a uma necessidade de resolver problemas de forma superficial. Para resolvê-

los, são criados textos e legislações com prescrições locais e nacionais. Os autores

atentam que os profissionais envolvidos com o processo de aprendizagem são sujeitos

diretamente envolvidos com as políticas, pois traduzem as políticas nas práticas

escolares. “Política é feita e feita para professores; eles são atores e temas, assunto para

e objetos da política. Política é escrita para corpos e produz a posição de determinado

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assunto”15

(BALL, MAGUIRE; BRAUN, 2013, p. 3). Como atores do processo de

ensino e aprendizagem, professores e gestores traduzem e interpretam as políticas

nesses espaços, contudo os autores questionam:

Como diferentes indivíduos e grupos de atores interpretam e promulgam

políticas em contextos específicos de várias demandas políticas, tendo em

conta os recursos disponíveis para eles?

Como e de que maneiras os fatores socioculturais, históricos e contextuais

afetam as maneiras em que as escolas implementam políticas?

Como é que as diferenças entre escolas nos decretos de políticas podem ser

explicadas? (BALL, MAGUIRE; BRAUN, 2013, p.11)16

Tais questionamentos estão relacionados ao que se pretende averiguar nas

instituições de ensino objeto de estudo desta tese, ou seja, a interpretação e a tradução

das políticas de inclusão para o processo de ensino e aprendizagem do público- alvo da

educação especial nos cursos de graduação na modalidade EAD.

Para Ball, Maguire e Braun (2012, p. 45)17

, existem dois processos para a análise

de políticas: a tradução e a interpretação:

A interpretação é uma leitura inicial, a busca do significado e do que faz

sentido na política – o que esse texto significa para nós? O que temos que

fazer? […] Essa decodificação se dá em relação à cultura e à história da

instituição e da bibliografia política dos principais atores. Já a tradução, por

sua vez, está mais próxima da linguagem da prática. É como um terceiro

espaço entre a política e a prática. É um processo interativo de produção

textual institucional e de colocação desses textos em ação, literalmente

significa representar a política utilizando táticas que incluem falas, encontros,

planos, eventos e “aprendizagens na caminhada” [...].

Embora em alguns momentos a tradução e a interpretação pareçam processos em

“arenas diferentes”, em outros momentos estão intimamente entrelaçados e sobrepostos,

envolvendo a produção de textos institucionais e mudanças nas estruturas e relações.

15

Tradução do original: “Policy is done by and done to teachers; they are actors and subjects, subject to

and objects of policy. Policy is written onto bodies and produces particular subject positions” (BALL,

MAGUIRE; BRAUN, 2013, p. 3).

16

Tradução do original: “How do different individual and groups of actors interpret and enact policy in

specific contexts of multiple policy demands given the resources available to them? How and what ways

do socio-cultural, historical and contextual factors affect the ways in which schools enact policies? How

can differences between schools in the enactments of policies be explained?” ((BALL, MAGUIRE;

BRAUN, 2013, p.11).

17

Tradução do original: “Interpretation is an initial rEaDing, a making sense of policy – what does this

text mean to us? What do we have to do? Do we have to do anything? […]. This decoding is done in

relation to the culture and history of the institution and the policy biographies of the key actors” (BALL;

MAGUIRE; BRAUN, 2012, p. 45).

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Esse aporte teórico se torna fundamental para a análise dos dados coletados

nesta pesquisa, auxiliando na compreensão das políticas e estratégias institucionais para

a inclusão do aluno público-alvo da educação especial nos cursos de graduação na

modalidade EAD.

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45

CAPÍTULO II

POLÍTICA NACIONAL PARA A INCLUSÃO NO ENSINO SUPERIOR

O tempo? Eu nunca vi o tempo!

Também não. Ninguém vê o tempo.

O tempo não para.

Passa ligeiro e ninguém consegue tocá-lo.

Ele tem medo de não atender aos nossos pedidos,

Por isso não nos escuta.

(QUEIRÓS, 2010, p.7).

Queirós (2010) remete à importância do tempo. Importância de conhecer o

tempo e compreender que nem sempre se consegue acompanhá-lo e que nem sempre ele

atende as nossas expectativas. Quando fala-se em política também se faz necessário

compreender esse tempo, esse contexto, esses interesses e essas influências. É preciso

analisar e averiguar quais pedidos foram atendidos pelo tempo. Ball em entrevista com

Mainardes e Marcondes (2009, p. 307) alerta que as políticas “desaparecem no decorrer

do tempo ou, algumas vezes, leva muito tempo para elas se tornarem integradas”. O

autor ainda frisa a necessidade de pensar sobre a velocidade da política e para a

dimensão do tempo.

A legislação para a inclusão escolar, como se relatou na introdução desta tese,

também foi sofrendo alterações com o passar do tempo. A década de 1990 foi marcada

por várias alterações no sistema educacional brasileiro, influenciadas pela reforma

educacional. As discussões acerca da inclusão escolar ganharam força nas políticas

educacionais internacionais e nacionais, no entanto, inicialmente, observou-se maior

ênfase na regulamentação da inclusão escolar na Educação Básica. Nesse período, as

diretrizes para inclusão no Ensino Superior eram ainda um tanto escassas. Segundo

Oliveira (2011, p. 31), “pouco se tem documentado sobre a inclusão da pessoa com

deficiência no ensino superior, indicando uma carência de reflexões, estudos e

estatísticas, o que dificulta a formulação de políticas públicas que contemplem ações

promotoras de educação inclusiva também no ensino superior”.

Em face aos estudos de autores como Mattei e Haiduke (2010), Menezes

(2010), Pereira (2008), Oliveira (2011), Silva (2011) e Cabral (2013), anteriormente

citados, percebeu-se a necessidade de haver pesquisas acerca das políticas de inclusão

para o Ensino Superior, um campo que ainda se pode considerar “minado” por

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apresentar interpretações e traduções dessas políticas de forma específica e em alguns

pontos divergentes. Silva (2011), ao atentar para os aparatos legais e para uma

universidade realmente inclusiva, leva aos seguintes questionamentos: que aparatos

legais norteiam a prática pedagógica inclusiva no Ensino Superior? Quais as

especificidades da modalidade EAD que necessitam de atenção nesse processo?

Quando teve início essa discussão para esse nível de ensino?

No que se refere à educação, principalmente a partir dos anos 90, o

compromisso com a inclusão vem sendo reafirmado em uma vasta produção

documental, tanto internacional como nacional. Esse conjunto de documentos

oficiais, além de subsidiar a formulação de políticas para a área, coloca a

educação inclusiva como um paradigma educacional que assume o princípio

da educação de qualidade como um direito de todos (NAUJORKS, 2011, p.

526).

Diante da gama de documentos sinalizados por Naujorks (2011) e

disponibilizados pelo MEC, optou-se nesta tese em realizar a análise da legislação

nacional a partir de 1996. Um recorte que se considera significativo por revelar o

primeiro documento específico para a inclusão no Ensino Superior, o Aviso Curricular

nº 277 (BRASIL, 1996a).

Quadro 2: Recorte da legislação nacional

LEGISLAÇÃO

NACIONAL

CONTEÚDO

LDB 9.394/96, cap. IV

Institui o processo de avaliação das instituições de

educação superior, assim como do rendimento escolar dos

alunos do ensino básico e superior.

Aviso Circular nº 277/96

Apresenta sugestões voltadas para o processo seletivo

para ingresso, recomendando que a instituição possibilite

a flexibilização dos serviços educacionais e da

infraestrutura, bem como a capacitação de recursos

humanos, de modo a permitir a permanência, com

sucesso, de estudantes com deficiência nos cursos.

Decreto nº 3.956/01

Promulga a Convenção Interamericana para a Eliminação

de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas

Portadoras de Deficiência.

Lei nº 10.436/02

Reconhece a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como

meio legal de comunicação e expressão e outros recursos

de expressão a ela associados.

Portaria nº 2.678/02

Aprova diretrizes e normas para o uso, o ensino, a

produção e a difusão do sistema Braille em todas as

modalidades de ensino, compreendendo o projeto da

Grafia Braille para a Língua Portuguesa e a recomendação

para o seu uso em todo o território nacional.

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LEGISLAÇÃO

NACIONAL

CONTEÚDO

Portaria nº 3.284/03

Substituiu a Portaria nº 1.679/1999, sendo ainda mais

específica na enumeração das condições de acessibilidade

que devem ser construídas nas IES para instruir o

processo de avaliação dessas.

Decreto nº 5.296/04

Regulamenta as Leis 10.048/2000 e 10.098/2000,

estabelecendo normas gerais e critérios básicos para o

atendimento prioritário à acessibilidade de pessoas com

deficiência ou com mobilidade reduzida. Em seu artigo 24

determina que os estabelecimentos de ensino de qualquer

nível, etapa ou modalidade, públicos e privados,

proporcionem condições de acesso e utilização de todos

os seus ambientes ou compartimentos para pessoas com

deficiência ou com mobilidade reduzida, inclusive salas

de aula, bibliotecas, auditórios, ginásios, instalações

desportivas, laboratórios, áreas de lazer e sanitários.

Decreto nº 5.626/05

Regulamenta a Lei 10.436/2002, que dispõe sobre o uso e

difusão da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS e

estabelece que os sistemas educacionais devem garantir,

obrigatoriamente, o ensino de LIBRAS em todos os

cursos de formação de professores e de fonoaudiologia e,

optativamente, nos demais cursos de educação superior.

Programa Acessibilidade

ao Ensino Superior.

Incluir/2005

Determina a estruturação de núcleos de acessibilidade nas

instituições federais de educação superior, que visam

eliminar barreiras físicas, de comunicação e de

informação que restringem a participação e o

desenvolvimento acadêmico e social de estudantes com

deficiência.

Plano de

Desenvolvimento da

Educação/2007

O Governo Federal, por meio do MEC, lançou em 2007 o

Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) com o

objetivo de melhorar substancialmente a educação

oferecida pelas escolas e IES brasileiras. Reafirmado pela

Agenda Social, o Plano propõe ações nos seguintes eixos,

entre outros: formação de professores para a educação

especial, acesso e permanência das pessoas com

deficiência na educação superior.

Política Nacional de

Educação Especial na

Perspectiva da Educação

Inclusiva (MEC, 2008)

Define a Educação Especial como modalidade transversal

a todos os níveis, etapas e modalidades, tendo como

função disponibilizar recursos e serviços de acessibilidade

e o atendimento educacional especializado, complementar

a formação dos estudantes com deficiência, transtornos

globais do desenvolvimento e altas

habilidades/superdotação.

Decreto nº 6.949/09

Ratifica, como Emenda Constitucional, a Convenção

sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU,

2006), que assegura o acesso a um sistema educacional

inclusivo em todos os níveis.

Decreto nº 7.234/10 Dispõe sobre o Programa Nacional de Assistência

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LEGISLAÇÃO

NACIONAL

CONTEÚDO

Estudantil – PNAES. O Programa tem como finalidade a

ampliação das condições de permanência dos jovens na

educação superior pública federal e, em seu Art. 2º,

expressa os seguintes objetivos: “democratizar as

condições de permanência dos jovens na educação

superior pública federal; minimizar os efeitos das

desigualdades sociais e regionais na permanência e

conclusão da educação superior; reduzir as taxas de

retenção e evasão; e contribuir para a promoção da

inclusão social pela educação”. Ainda, no art. 3º §1º

consta que as ações de assistência estudantil do PNAES

deverão ser desenvolvidas em diferentes áreas, entre elas:

“acesso, participação e aprendizagem de estudantes com

deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e

altas habilidades e superdotação”.

Conferências Nacionais

de Educação –

CONEB/2008 e

CONAE/2010

Referendaram a implementação de uma política de

educação inclusiva, o pleno acesso dos estudantes

público-alvo da educação especial no ensino regular, a

formação de profissionais da educação para a inclusão, o

fortalecimento da oferta do atendimento educacional

especializado (AEE) e a implantação de salas de recursos

multifuncionais, garantindo a transformação dos sistemas.

Decreto nº 7.611/11

Dispõe sobre o AEE, que prevê, no art. 5º, §2º a

estruturação de núcleos de acessibilidade nas instituições

federais de educação superior, com o objetivo de eliminar

barreiras físicas, de comunicação e de informação que

restringem a participação e o desenvolvimento acadêmico

e social de estudantes com deficiência.

Referenciais de

Acessibilidade na

Educação Superior e a

Avaliação in loco do

SINAES.

Objetiva servir de subsídio para a ação dos avaliadores

acerca de questões pertinentes à inclusão e à

acessibilidade em seus diferentes níveis de estudantes

com necessidades de atendimento diferenciado.

Fonte: Documentos coligidos pela pesquisadora e adaptado de Brasil (2013).

Na década de 1990, o MEC organizou o primeiro documento – Aviso Curricular

nº 277, de 8 de maio de 1996 – direcionado às pessoas com necessidades especiais no

Ensino Superior (BRASIL, 1996a). Esse orienta os reitores a se adequarem ao processo

de acesso e inclusão de pessoas com necessidades especiais nesse nível de ensino e

aponta procedimentos básicos requeridos tanto nos processos seletivos como na oferta

de materiais adaptados. O documento salienta a necessidade de profissionais

preparados para a orientação e acompanhamento dos alunos, bem como para as

adaptações físicas e flexibilidade pedagógica, garantindo acesso, permanência e

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sucesso do aluno nesse nível de ensino. Entre as adaptações de materiais recomendadas

se destacam:

Utilização de textos ampliados, lupas ou outros recursos ópticos especiais

para as pessoas com visão subnormal/reduzida; utilização de recursos e

equipamentos específicos para cegos: provas orais e/ou em Braille, sorobã,

máquina de datilografia comum ou Perkins/Braille, DOS VOX adaptado ao

computador. Colocação de intérprete no caso de Língua de Sinais no

processo de avaliação dos candidatos surdos; utilização de provas orais ou

uso de computadores e outros equipamentos pelo portador de deficiência

física com comprometimento dos membros superiores; ampliação do tempo

determinado para a execução das provas de acordo com o grau de

comprometimento do candidato (BRASIL, 1996a, p. 1).

O documento faz referência a vários mecanismos de acessibilidade para pessoas

com deficiência visual, auditiva e física. No entanto, observou-se que ele não aponta os

demais públicos-alvo da educação especial. Além disso, constatou-se a preocupação

com a acessibilidade no momento de provas e vestibulares, evidenciando uma ênfase na

garantia de condições para o acesso. Isso significa que, nesse momento histórico, a

política concebia a pessoa com deficiência como candidato e não como acadêmico em

formação. Essa apontava de modo subjetivo no final do texto a recomendação de ações

que possibilitem flexibilização de serviços, infraestrutura e capacitação de recursos

humanos a fim de possibilitar a permanência, com sucesso, em certos cursos.

Após dezessete anos da publicação desse aviso, indaga-se como a política veio

se configurando e quais os possíveis avanços observados em direção à permanência e ao

sucesso desses alunos no Ensino Superior.

No mesmo ano da publicação desse aviso, o governo brasileiro sancionou a Lei

de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9.394, de 20 de dezembro de

1996) (BRASIL, 1996b). Essa, porém, não revela de forma clara o modo como deve

ocorrer o processo de inclusão no Ensino Superior, proporcionando autonomia para as

instituições. De modo geral, discorre sobre a obrigatoriedade dos sistemas de ensino,

porém em nenhum momento discute o lugar da pessoa com necessidades especiais

nesses diferentes contextos.

Em 1999, foi publicado o Decreto nº 3.298 (BRASIL, 1999), que regulamenta a

Lei nº 7.853/89, ao dispor sobre a política nacional para a integração da pessoa

portadora de deficiência. Esse documento define a “educação especial como uma

modalidade transversal a todos os níveis e modalidades de ensino, enfatizando a

atuação complementar da educação especial ao ensino regular” (BRASIL, 1999, p. 1,

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grifos nossos). Esses dois documentos fazem menção à educação especial em todas as

modalidades e sistemas de ensino, no entanto, apresentam um texto superficial, que

possibilita diversas interpretações.

Em meio a discussões acerca da concepção de educação inclusiva e do acesso e

da permanência das pessoas público-alvo da educação especial no Ensino Superior,

algumas indagações surgem: se o aviso curricular de 1996 prevê permanência com

sucesso em “certos” cursos do Ensino Superior, por que essa discussão é tão discreta,

quase inexistente nos documentos seguintes? É necessário atentar para a análise dos

documentos oriundos dessas políticas, pois “o desenvolvimento epistemológico nas

ciências humanas, como a educação, funciona politicamente e é intimamente imbricado

no gerenciamento prático dos problemas sociais e políticos” (BALL; MAINARDES,

2011, p. 33).

Após o Decreto nº 3.298, foi publicada a Resolução CNE/CEB nº 2/2001

(BRASIL, 2001b), que determina, em seu artigo 2º, que: “Os sistemas de ensino devem

matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizarem-se para o atendimento aos

educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições

necessárias para uma educação de qualidade para todos”.

Essa resolução, que também faz menção aos sistemas de ensino, aponta a

educação de qualidade para todos. O texto da Declaração de Salamanca (1994),

reafirma o “[...] o compromisso para com a Educação para Todos, reconhecendo a

necessidade e urgência do providenciamento de educação para as crianças, jovens e

adultos com necessidades educacionais especiais dentro do sistema regular de ensino”.

Com isso, pode-se perceber a que público a política se destia, ou seja, ao defender a

“educação de qualidade para todos” a política refere-se à crianças, jovens e adultos com

necessidades educacionais especiais. Ao ampliar o contexto das diferenças, o

documento inclui a pessoa com necessidades especiais em uma nova condição mais

generalista e igualitária.

De forma mais ampla, porém ainda discreta e subjetiva, a Secretaria de

Educação Especial do MEC tratava da educação como algo destinado para todos e não

da educação especial em específico, embora o próprio MEC, nessa época, mantinha

uma secretaria específica. Com isso, inicia-se, então, uma sequência de documentos e

programas em prol da educação para todos, descritos a seguir.

O Plano Nacional de Educação, no ano de 2001, Lei nº 10.172/2001 (BRASIL,

2001a) apontou que “o grande avanço que a década da educação deveria produzir seria a

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construção de uma escola inclusiva que garanta o atendimento à diversidade humana”.

Nota-se que o texto desse plano traz a preocupação com a escola inclusiva e com o

atendimento à diversidade, porém não apresenta a concepção desses termos: qual o

sentido de diversidade para as políticas educacionais vigentes? Fala-se em educação

inclusiva, em diversidade, mas de forma difusa.

As políticas colocam problemas para os seus sujeitos, problemas que

precisam ser resolvidos no contexto. [...]. As políticas normalmente não

dizem o que fazer, elas criam circunstâncias nas quais o espectro de opções

disponíveis sobre o que fazer é reduzido ou modificado ou em que metas

particulares ou efeitos são estabelecidos (BALL; MAINARDES, 2011, p. 45-

46).

No mesmo ano da publicação do Plano Nacional de Educação (2001-2010),

aconteceu a Convenção de Guatemala, que deu origem ao Decreto nº 3.956/2001

(BRASIL, 2001c), que afirma:

[...] as pessoas com deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades

fundamentais que as demais pessoas, definindo como discriminação com

base na deficiência toda diferenciação ou exclusão que possa impedir ou

anular o exercício dos direitos humanos e de suas liberdades fundamentais.

A partir desse decreto, há uma reinterpretação da educação especial, que até

então era compreendida no contexto da diferenciação.

No ano de 2002, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de

Professores da Educação Básica (BRASIL, 2002a) destacam que as instituições de

Ensino Superior deveriam prever, em sua organização curricular, formação docente

voltada para a atenção à diversidade e que contemplasse conhecimentos sobre as

especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais.

A partir da publicação dessa diretriz, os cursos de graduação para formação de

professores passaram por uma reestruturação, já que pela primeira vez se orienta

atenção para a diversidade e aos alunos com necessidades especiais. Iniciou-se, então,

um processo de inclusão da disciplina de Educação Especial ou Educação Inclusiva na

matriz curricular. Cabe aqui atentar para o fato de que a LBD já citava no ano de 1996 a

Educação Especial, contudo apenas após seis anos um documento abordou a atenção a

esse público para a formação dos professores.

A Lei nº 10.436 (BRASIL, 2002b), no mesmo ano, reconhece a Língua

Brasileira de Sinais (LIBRAS) como meio legal de comunicação e expressão,

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determinando que sejam garantidas formas institucionalizadas de apoiar seu uso e

difusão, bem como a inclusão da disciplina de LIBRAS como parte integrante do

currículo nos cursos de formação de professores e de fonoaudiologia.

Assim como a LIBRAS, a grafia Braille também ganha espaço na legislação

através da Portaria nº 2.678 (BRASIL, 2002c), que aprova diretrizes e normas para o

uso, o ensino, a produção e a difusão em todas as modalidades de ensino,

compreendendo o projeto da grafia Braille para a Língua Portuguesa e a recomendação

para o seu uso em todo o território nacional.

Percebeu-se, por meio desses documentos, que a legislação para a educação

especial passa a ser desenhada sob a influência de grupos específicos18

e grupos

internacionais. Grupos específicos defendem os direitos do público-alvo da educação

especial, por meio de movimentos locais, regionais e nacionais e buscam força nos

movimentos internacionais, principalmente respaldo nos documentos provenientes das

reuniões em Jomtiem e Guatemala. A política para a educação especial ganha força por

meio das metas e prazos estabelecidos em comum acordo entre os países partícipes

dessas reuniões e com os compromissos firmados por países e órgãos internacionais.

Essas minorias se organizam por meio de encontros e reuniões, buscando

participar das discussões das políticas a fim de garantir seus direitos. No entanto, nem

sempre esses textos convergem, pois “há uma variedade de intenções e disputas que

influenciam o processo político” (MAINARDES, 2006, p. 49) e, dessa forma, as

políticas para a inclusão escolar vão ganhando força e uma diversidade de documentos.

No ano de 2003, o MEC implantou o Programa Educação Inclusiva: direito à

diversidade (BRASIL, 2003a) a fim de apoiar a transformação dos sistemas de ensino

em sistemas educacionais inclusivos. O programa incentiva a formação de gestores e

educadores voltados ao atendimento educacional especializado (AEE) e às garantias de

acessibilidade. Entre as ações desenvolvidas, estão:

Realizar Seminário Nacional de Formação dos coordenadores municipais e

dirigentes estaduais;

Prestar apoio técnico e financeiro e orientar a organização da formação de

gestores e educadores dos municípios polos e de abrangência;

Disponibilizar referenciais pedagógicos para a formação regional (BRASIL,

2003a).

18

Nesta tese, utilizo a nomenclatura “grupos específicos” para referenciar as organizações e entidades que

buscam e defendem os direitos de grupos de pessoas cegas, surdas, autistas, deficientes físicos etc., ou

seja, grupos que defendem as especificidades da educação especial.

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Por meio desse programa, o MEC incentivou e apoiou as ações de inclusão para

a educação básica nos municípios e estados.

Especificamente para o Ensino Superior, em 2003, foi sancionada a Portaria nº

3.284 (BRASIL, 2003b), que dispunha sobre requisitos de acessibilidade de pessoas

portadoras de deficiências para instruir os processos de autorização e de reconhecimento

de cursos e de credenciamento de instituições. Assim, esse documento (BRASIL, 2003,

p. 1):

[...] considerando a necessidade de assegurar aos portadores de deficiência

física e sensorial, condições básicas de acesso ao ensino superior, de

mobilidade e de utilização de equipamentos e instalações das instituições de

ensino, resolve

Art. 1º Determinar que sejam incluídos nos instrumentos destinados a avaliar

as condições de oferta de cursos superiores, para fins de autorização e

reconhecimento e de credenciamento de instituições de ensino superior, bem

como para renovação, conforme as normas em vigor, requisitos de

acessibilidade de pessoas portadoras de necessidades especiais.

Art. 2º A Secretaria de Educação Superior, com apoio técnico da Secretaria

de Educação Especial, estabelecerá os requisitos de acessibilidade, tomando-

se como referência a Norma Brasil 9050, da Associação Brasileira de Normas

Técnicas, que trata da Acessibilidade de Pessoas Portadoras de Deficiências a

Edificações, Espaço, Mobiliário e Equipamentos Urbanos.

Verificou-se, por meio da redação do texto, que novamente se trata de um

público específico da educação especial, ou seja, as pessoas com deficiência física ou

sensorial. Diante de tantas discussões acerca da educação para a diversidade, do direito

de todos à educação, ainda nos deparamos com legislações voltadas para grupos de

interesse específicos.

É nesse contexto que grupos de interesse disputam para influenciar a

definição das finalidades sociais da educação e do que significa ser educado.

Atuam nesse contexto as redes sociais dentro e em torno de partidos

políticos, do governo e do processo legislativo. É também nesse contexto que

os conceitos adquirem legitimidade e formam um discurso de base para a

política. O discurso em formação algumas vezes recebe apoio e outras vezes

é desafiado por princípios e argumentos mais amplos que estão exercendo

influência nas arenas públicas de ação, particularmente pelos meios de

comunicação social. Além disso, há um conjunto de arenas públicas mais

formais, tais como comissões e grupos representativos, que podem ser

lugares de articulação de influência (MAINARDES, 2006, p. 51).

Ball (2012) aponta ainda para as redes de relações que interferem no contexto

das políticas, que nem sempre são locais ou regionais. É perceptível a influência dos

documentos internacionais provenientes das reuniões entre representantes de diferentes

países, como as de Salamanca, Jontiem e Dakar, apoiadas por potências como a

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Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e o

Banco Mundial.

Esses documentos que tratam da educação para todos e da educação inclusiva de

forma mais ampla influenciam a elaboração de textos da política nacional e regional.

Contudo, nesse contexto, há que se indagar sobre a ausência de um texto que trate das

condições da inclusão no Ensino Superior pelo viés pedagógico, ou seja, o modo como

o acadêmico com deficiência aprende ou sobre a formação de professores do Ensino

Superior e o atendimento educacional especializado para garantir a permanência e

sucesso desse grupo, previsto no Aviso Curricular nº 277 (BRASIL, 1996a) citado

anteriormente.

O que se verifica até aqui é uma preocupação com a acessibilidade por meio da

exigência de aquisição de materiais específicos e de acessibilidade arquitetônica, mas

sabe-se que somente as condições materiais e físicas não garantem a participação e

aprendizagem no Ensino Superior. Para Mainardes (2006, p. 52), os textos políticos são

representados de várias formas e “são resultado de disputas e acordos, pois os grupos

que atuam dentro dos diferentes lugares da produção de textos competem para controlar

as representações da política”.

Nessas formas de elaboração dos textos da política, no ano de 2004, o MEC

publicou o Decreto nº 5.296 (BRASIL, 2004), que regulamentou as Leis nº 10.048/00 e

nº 10.098/00, estabelecendo normas e critérios para a promoção da acessibilidade às

pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. Esse decreto determina que: “os

estabelecimentos de ensino de qualquer nível, etapa ou modalidade, públicos ou

privados, proporcionarão condições de acesso e utilização de todos os seus ambientes

ou compartimentos para pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida”

(BRASIL, 2004, art. 24). Nesse período, foi criado também mais um programa, o Brasil

Acessível, do Ministério das Cidades, que objetivava promover a acessibilidade urbana e

apoiar ações que garantissem o acesso universal aos espaços públicos. Tais ações,

organizadas em diferentes estados brasileiros, contavam com auxílio de financiamentos

para atingir o objetivo proposto pelo programa.

Em 2006, aconteceu, em Nova Iorque, a Convenção sobre os Direitos das

Pessoas com Deficiência, que estabeleceu que os Estados-Partes deveriam (BRASIL,

2006, art. 24):

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[...] assegurar um sistema de educação inclusiva em todos os níveis de

ensino, em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social

compatível com a meta da plena participação e inclusão, adotando medidas

para garantir que: a) As pessoas com deficiência não sejam excluídas do

sistema educacional geral sob alegação de deficiência e que as crianças com

deficiência não sejam excluídas do ensino fundamental gratuito e

compulsório, sob alegação de deficiência;

b) As pessoas com deficiência possam ter acesso ao ensino fundamental

inclusivo, de qualidade e gratuito, em igualdade de condições com as demais

pessoas na comunidade em que vivem.

Foi a partir da convenção que as metas de plena participação das pessoas

caracterizadas como público-alvo da educação especial no desenvolvimento educacional

e social foram estabelecidas e o compromisso com a inclusão foi evidenciado. O

discurso de diferentes governos firmam o compromisso com a educação de qualidade

para todos em todos os níveis de ensino.

Essa convenção se torna um marco na história das políticas de inclusão, visto

que dá origem a um documento macro que vem legitimar o que Stromquist (2007)

chama de “Política Forte”, apoiadas por instituições internacionais e governos federais.

Para a autora, as Políticas são divididas em duas categorias: as políticas fortes,

“apoiadas por instituições internacionais e por governos federais” e as políticas fracas,

“baseadas em reivindicações que emanam de grupos não governamentais”.

(STROMQUIST, 2007, p. 15). As políticas fortes geralmente representam decisões de

grandes potências como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de

Desenvolvimento e também acordos globais como o da Educação para Todos (EPT) e

os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs).

Figura 11: Políticas fortes e políticas fracas

Fonte: Stromquist (2007).

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Assim como a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, a

Declaração de Salamanca, também caracterizada como política forte, já apontava

indícios de uma política de inclusão social. No entanto, é com o documento proveniente

da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, organizado pela

Organização das Nações Unidas (ONU), que o Brasil começou a investir em programas

e projetos voltados para esse público. Cabe esclarecer que esse documento, inicialmente

facultativo, no ano de 2008, foi transformado em emenda constitucional no Brasil. Os

compromissos assumidos pelo país nessa convenção resultaram também na definição da

Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva

(BRASIL, 2008a), que buscava assegurar a inclusão do público-alvo da educação

especial em todos os níveis de ensino. Esse documento marcou a história da educação

especial na perspectiva da educação inclusiva no Brasil, uma vez que apresenta as

diretrizes para a inclusão organizadas por um grupo de respeitáveis pesquisadores da

área.

No mesmo ano da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, o

Brasil apresentava o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (BRASIL,

2008b, p. 41), que objetiva:

[...] desenvolver políticas estratégicas de ação afirmativa nas IES que

possibilitem a inclusão, o acesso e a permanência de pessoas com deficiência

e aquelas, alvo de discriminação por motivo de gênero, de orientação sexual e

religiosa, entre outros e segmentos geracionais e étnico-raciais.

Esse plano fazia menção ao acesso e à permanência no Ensino Superior, no

entanto, não o faz de forma específica. Apontava a necessidade de ações afirmativas,

porém não manifestava a preocupação com o processo de ensino e aprendizagem dessa

demanda. Esse material foi norteado por diversos documentos nacionais e internacionais

e apresentava em seu escopo dados que evidenciam a colaboração, nas discussões e

textos, de órgãos locais, regionais, nacionais e internacionais, como o Banco Mundial e

a UNESCO, por exemplo. Novamente, constatou-se a continuidade de uma política

forte, imbricada de interesses e influências de grupos de mobilização específicos e

também de grandes e influentes agências financeiras nacionais e internacionais.

Segundo Ball (2012), essas relações e a constituição desses programas

caracterizam o surgimento de um novo meio de governo, as políticas de educação

global, influenciadas pela relação entre Estado e mercado. Com isso, surgiram novos

atores políticos no contexto de influência e relações de interesse, a fim de criar soluções

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para os problemas sociais com estratégias e financiamentos que visam à dependência

mútua entre o Estado e mercado.

Ao citar e refletir sobre a legislação para a inclusão, constata-se que ainda se

transita em dois contextos: o de influência e o de elaboração do texto. Porém, é

justamente no texto que se detecta a “falha”, ou o que se chama de “brecha”, no

contexto da prática. Comumente, encontram-se pesquisas de educadores preocupados

com a prática pedagógica inclusiva adotada para a garantia de aprendizagem dos alunos

caracterizados como público-alvo da educação especial, no entanto, consideram-se as

políticas fracas nesse sentido. De acordo com Stromquist (2007, p. 16), “essas políticas

manifestam uma preocupação profunda com o crescimento da exclusão social no mundo

e consideram a qualidade do ensino uma forma de combater a negligência imposta a

grupos em situação de desvantagem [...]”. Stromquist (2007) ainda relaciona essas

políticas a grupos de professores e segmentos crescentes na sociedade civil que estão

fora do poder político e que pouco podem fazer além de organizar campanhas e

mobilizações para chamar a atenção do governo e de instituições financeiras.

Acredita-se, com isso, que as políticas de inclusão recebem influência de

políticas fortes e fracas, de grupos diversificados e movidos por interesses em alguns

pontos comuns, em outros díspares. Uma situação assim pode justificar o grande

número de programas, projetos e ações afirmativas voltadas para essa demanda nos

últimos anos. Um desses projetos é o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE)

(BRASIL, 2007a, p. 1), que tem como eixos:

a formação de professores para a educação especial, a implantação de salas

de recursos multifuncionais, a acessibilidade arquitetônica dos prédios

escolares, acesso e a permanência das pessoas com deficiência na educação

superior e o monitoramento do acesso à escola dos favorecidos pelo

Benefício de Prestação Continuada – BPC.

Esse documento trata da formação de professores para a educação especial, o

que caracteriza certa preocupação com a prática, principalmente para a implantação das

salas de recursos multifuncionais. A implementação dessas salas traz o AEE finalmente

para dentro da escola, o que acaba provocando novas discussões sobre os diferentes

interesses de órgãos não governamentais e instituições que até então prestavam o

atendimento.

No mesmo ano, com a propagação do Ensino Superior a distância no país, foi

criado o documento Referenciais de Qualidade para o Ensino Superior a Distância

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(BRASIL, 2007b), que prevê algo mais específico para a inclusão no Ensino Superior.

No item que trata sobre a previsão do atendimento de pessoa com deficiência, o

documento referencia que as IES devem (BRASIL, 2007b, p. 15-16, grifo nosso):

Dispor de esquemas alternativos para atendimento de estudantes com

deficiência;

Para a instalação de pólos, dois outros requisitos necessitam ser atendidos. O

primeiro diz respeito às condições de acessibilidade e utilização dos

equipamentos por pessoas com deficiências, ou seja, deve-se atentar para um

projeto arquitetônico e pedagógico que garanta acesso, ingresso e

permanência dessas pessoas, acompanhadas de ajudantes ou animais que

eventualmente lhe servem de apoio, em todos os ambientes de uso coletivo.

Mesmo com a menção ao atendimento da pessoa com deficiência no Ensino

Superior, o texto aponta fragilidades, pois, novamente, o foco para a permanência do

acadêmico está voltado para os equipamentos e para a acessibilidade arquitetônica. O

projeto cita que se deve garantir acesso, ingresso e permanência, porém destaca isso no

texto que trata especificamente do polo de apoio presencial. O documento omite ou

ignora os demais espaços constitutivos do processo de ensino e aprendizagem, que são

centrais para o processo de inclusão. Há que se indagar qual o papel do AEE no Ensino

Superior, assim como do docente e dos tutores frente à inclusão nessa modalidade de

ensino. Para Ball e Mainardes (2011, p. 46), “há um silêncio surdo no coração desses

textos diligentes, abstratos e metódicos. Tanto as pessoas que “fazem” as políticas

quanto as confrontadas com elas são deslocadas”.

O que se percebe, até 2007, são textos diversificados, que traduzem as

necessidades de grupos específicos e tentam relacioná-las com as políticas, no entanto,

ainda não há uma concepção de inclusão para o Ensino Superior, como também não há

preocupação com o atendimento educacional especializado (AEE) e com o processo de

ensino e aprendizagem. Os mecanismos de acessibilidade, como adaptações

arquitetônicas e acessibilidade de comunicação em LIBRAS e Braille, são evidenciados

como se apenas esses garantissem o sucesso de alunos nesse nível de ensino. Em

nenhum momento a legislação define quem é o público que será atendido, afinal, a

nomenclatura pessoas com necessidades especiais pode representar um grupo muito

mais amplo do que o descrito nos documentos específicos citados até aqui. Percebe-se,

também, que tais documentos não citam as pessoas com deficiência intelectual,

transtornos globais do desenvolvimento ou altas habilidades/superdotação.

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No ano de 2007, o governo brasileiro, tendo como norte os compromissos

assumidos na Convenção Internacional de Direitos das Pessoas com Deficiência (2006),

nomeou uma comissão de profissionais da área da educação especial para discutir e

elaborar a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva

(BRASIL, 2008a). A comissão, que realizou várias discussões, inclusive sobre a

nomenclatura e as diferenças conceituais entre educação especial e educação inclusiva,

entregou o texto em 2008. Esse documento:

objetiva o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com

deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas

habilidades/superdotação nas escolas regulares, orientando os sistemas de

ensino para promover respostas às necessidades educacionais especiais,

garantindo:

-Transversalidade da educação especial desde a educação infantil até a

educação superior;

- Continuidade da escolarização nos níveis mais elevados do ensino;

- Formação de professores para o atendimento educacional especializado e

demais profissionais da educação para a inclusão escolar;

- Participação da família e da comunidade;

- Acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários e equipamentos,

nos transportes, na comunicação e informação;

- Articulação intersetorial na implementação das políticas públicas. (BRASIL, 2008a, p. 8)

Essa política norteia hoje as ações de educação inclusiva em todos os níveis de

ensino e amplia o texto no que se refere ao Ensino Superior, afirmando que:

Na educação superior, a educação especial se efetiva por meio de ações que

promovam o acesso, a permanência e a participação dos alunos. Estas ações

envolvem o planejamento e a organização de recursos e serviços para a

promoção da acessibilidade arquitetônica, nas comunicações, nos sistemas de

informação, nos materiais didáticos e pedagógicos, que devem ser

disponibilizados nos processos seletivos e no desenvolvimento de todas as

atividades que envolvam o ensino, a pesquisa e a extensão (BRASIL, 2008a,

p. 11).

Com isso, verificou-se que essa política amplia o texto sobre a permanência no

Ensino Superior, destacando a importância de os materiais didáticos também

oferecerem acessibilidade, bem como as novas tecnologias e as atividades que

envolvem o ensino, a pesquisa e a extensão, características do Ensino Superior. O

documento também manifesta preocupação com a formação do professor responsável

pelo AEE e define o público da educação especial como pessoas com deficiência,

transtorno global do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação.

Mesmo com a publicação dessa política, percebe-se ainda certa fragilidade nas

especificidades voltadas para a inclusão no Ensino Superior, que ainda ficam evidentes

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mesmo com a publicação do Decreto nº 7.611 (BRASIL, 2011b), em 2011, que dispõe

sobre a educação especial, o atendimento educacional especializado e dá outras

providências. Segundo esse decreto (BRASIL, 2011b):

Art. 1º O dever do Estado com a educação das pessoas público-alvo da

educação especial será efetivado de acordo com as seguintes diretrizes:

I - garantia de um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, sem

discriminação e com base na igualdade de oportunidades;

II - aprendizado ao longo de toda a vida;

III - não exclusão do sistema educacional geral sob alegação de deficiência;

[...]

§ 2º O atendimento educacional especializado deve integrar a proposta

pedagógica da escola, envolver a participação da família para garantir pleno

acesso e participação dos estudantes, atender às necessidades específicas das

pessoas público-alvo da educação especial, e ser realizado em articulação

com as demais políticas públicas.

Art. 3º São objetivos do atendimento educacional especializado:

I - prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino

regular e garantir serviços de apoio especializados de acordo com as

necessidades individuais dos estudantes;

II - garantir a transversalidade das ações da educação especial no ensino

regular;

III - fomentar o desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos que

eliminem as barreiras no processo de ensino e aprendizagem; e

IV - assegurar condições para a continuidade de estudos nos demais níveis,

etapas e modalidades de ensino.

A partir dessa leitura, pode-se afirmar que esse documento, na perspectiva da

educação inclusiva, visa garantir e fortalecer o AEE como componente integrante das

propostas pedagógicas, bem como garantir um sistema educacional inclusivo em todos

os níveis através da igualdade de oportunidades. É o primeiro documento que aponta a

estruturação de núcleos de acessibilidade para o Ensino Superior, como apoio técnico

para o AEE. No entanto, o direcionamento dessa política para as IES federais chama a

atenção:

Art. 5o A União prestará apoio técnico e financeiro aos sistemas públicos de

ensino dos Estados, Municípios e Distrito Federal, e a instituições

comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, com a

finalidade de ampliar a oferta do atendimento educacional especializado aos

estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas

habilidades ou superdotação, matriculados na rede pública de ensino regular.

[...]

VII - estruturação de núcleos de acessibilidade nas instituições federais de

educação superior.

[...]

§ 5o Os núcleos de acessibilidade nas instituições federais de educação

superior visam eliminar barreiras físicas, de comunicação e de informação

que restringem a participação e o desenvolvimento acadêmico e social de

estudantes com deficiência (BRASIL, 2011).

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Cabe relembrar, como descrito na introdução desta tese, que o aumento do

número de matrículas de alunos público-alvo da educação especial no Ensino Superior,

segundo o Censo de 2011, é muito maior nas IES privadas do que nas públicas.

Todavia, o Decreto nº 7.611 (BRASIL, 2011b) enfatiza a instalação de núcleos de

acessibilidade nas instituições federais de educação. Paradoxalmente, as diretrizes para

aprovação e reconhecimento de cursos de graduação em todas a IES apresentam

critérios rigorosos exigindo esses quesitos.

A LDB 9394/96 (BRASIL, 1996b) exige que as IES passem por processos de

avaliação e regulação para aprovação e reconhecimento dos cursos de graduação. Dessa

forma, as políticas de inclusão para o Ensino Superior estão entrelaçadas com as demais

políticas voltadas para a inclusão social e escolar. Nesse sentido, cita-se a última versão

do Instrumento de Avaliação de Cursos de Graduação Presencial e a Distância

(BRASIL, 2012) que enfim traz a preocupação com as “condições de acesso para

pessoas com deficiência e/ou mobilidade reduzida (Dec. n° 5.296/2004, com prazo de

implantação das condições até dezembro de 2008)” (BRASIL, 2012, p. 27) e

compreende em seu glossário a acessibilidade como:

Condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos

espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços

de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e

informação, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida (art. 8°,

Decreto n° 5.296/04, Lei 10.098/00). Acessibilidade pressupõe a eliminação

de barreiras arquitetônicas e atitudinais e a promoção de tecnologia assistiva

para esses alunos (BRASIL, 2012, p.28).

Esse documento é norteador das comissões de avaliação do MEC para

autorização e reconhecimento dos cursos de graduação presencial ou a distância e seu

texto permite constatar que as políticas para inclusão no Ensino Superior ainda são

discretas e pouco específicas. O próprio instrumento, em meio a uma gama de

documentos relativos à inclusão escolar e à educação especial, cita apenas o Decreto n°

5.296/04 e a Lei 10.098/00. Com isso, surge uma inquietação: por que esse texto não faz

menção à Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação

Inclusiva? Não aponta, por exemplo, as recomendações iniciais do Aviso Curricular nº

277? Fica claro, mais uma vez, que os documentos são frágeis, não convergem, não

dialogam e as conquistas ainda transitam por um campo minado de interesses variados.

Como o texto do Instrumento de Avaliação de Cursos de Graduação Presencial e

a Distância (BRASIL, 2012) não é claro e aponta fragilidade no que tange as questões

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de avaliação de acessibilidade, o MEC criou um documento para orientar os avaliadores

para as visitas in loco nas IES. No ano de 2013, é apresentado o documento

Referenciais de acessibilidade na educação superior e a avaliação in loco do Sistema

Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), que objetiva “servir de

subsídio para a ação dos avaliadores acerca de questões pertinentes à inclusão e à

acessibilidade em seus diferentes níveis, de estudantes com necessidades de

atendimento diferenciado” (BRASIL, 2013, p. 4). Diante do objetivo proposto, o

documento alerta para a necessidade de ampliação do conhecimento sobre

acessibilidade na formação dos avaliadores do MEC.

Essa necessidade se justifica devido ao aumento no número de alunos público-

alvo da educação especial sinalizado no Censo da Educação Superior e com os intensos

debates e reflexões de profissionais da área da educação. Entende-se que a

acessibilidade deve ser considerada em seu aspecto amplo, muito além da dimensão

arquitetônica. Conforme o próprio documento descreve (BRASIL, 2013, p. 5), “dotar as

instituições de educação superior (IES) de condições de acessibilidade é materializar os

princípios da inclusão educacional que implicam em assegurar não só o acesso, mas

condições plenas de participação e aprendizagem a todos os estudantes”.

Esse documento retoma as discussões desde o Aviso Curricular nº 277,

afirmando que “na educação superior o debate sobre a inclusão se inscreve na discussão

mais ampla do direito de todos à educação e na igualdade de oportunidades de acesso e

permanência, com sucesso, nessa etapa de ensino” (BRASIL, 2013, p. 5). Entretanto,

ainda pretende-se averiguar em que consiste o acesso e a permanência com sucesso do

público-alvo da educação especial no Ensino Superior. Além desse, surgem outros

questionamentos muitas vezes não respondidos:

● Como os avaliadores do MEC deverão avaliar na IES uma “acessibilidade”

explicitada em um documento elaborado especificamente para nortear o olhar do

responsável pela avaliação?

● O que fez com que o SINAES desenvolvesse um documento para avaliar as IES sem

que o MEC ampliasse políticas específicas para esse nível de ensino?

Novamente, fica evidenciado que os textos das políticas são elaborados por

diferentes atores e permitem diferentes traduções no contexto da prática. Alguns dos

atores envolvidos nas discussões sobre as políticas de inclusão, desde o ano de 1999,

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quando foi publicada a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de

Deficiência, são os membros do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com

Deficiência (CONADE), formado por representantes governamentais e representantes

da sociedade civil.

Entre a relação de representantes eleitos para a gestão 2013-2015, cita-se a

representação governamental dos Ministérios das Comunicações, da Cultura, do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome, da Educação, do Esporte, da Justiça, dos

Transportes, do Trabalho e Emprego, do Turismo, da Previdência Social, da Saúde, da

Secretaria de Direitos Humanos e de Políticas para as Mulheres e também os Conselhos

Estaduais e Municipais. Para representar a sociedade civil, foram eleitos membros de

associações, confederações e conselhos, como, por exemplo, representantes da

Associação Brasileira de Autismo (ABRA), Associação de Pais, Amigos e Pessoas com

Deficiências de Funcionários do Banco do Brasil e da Comunidade (APABB),

Federação Brasileira de Associações Civis de Portadores de Esclerose Múltipla

(FEBRAPEM), Federação Nacional das Associações Pestalozzi, Federação Nacional

das APAEs, Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down, Federação

Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS), Organização Nacional de

Entidades de Deficientes Físicos (ONEDEF), Organização Nacional de Cegos do Brasil

(ONCB).

Diante dessa composição do CONADE, é possível perceber a influência de

diferentes grupos de interesses nas discussões e, consequentemente, na produção do

texto dos documentos legais relativos à inclusão. De um lado, grupos que defendem os

interesses específicos das minorias, como associações específicas voltadas para o

auxílio das pessoas com deficiências; de outro lado, os representantes governamentais,

defendendo e pensando a acessibilidade em diferentes ministérios, entre esses o MEC,

que ainda hoje apresenta um sistema de ensino dividido entre a inclusão das pessoas

com necessidades especiais nas escolas e o atendimento educacional especializado

ofertado por entidades sem fins lucrativos, organizações não governamentais (ONGs) e

filantropias. Essa discussão sobre o atendimento educacional especializado permanece

ainda nos dias atuais e influencia os programas relacionados à inclusão escolar em todos

os níveis de ensino.

Cabe questionar as influências no desenvolvimento dos textos das políticas,

procurando compreender como esses se traduzem no contexto da prática. Para tanto, no

próximo capítulo será abordado o modo como as maiores instituições privadas atuantes

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no Brasil, Anhanguera, Estácio e Kroton Educacional, interpretam e traduzem as

políticas de inclusão em seus documentos e práticas.

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CAPÍTULO III

POLÍTICAS DE INCLUSÃO NO ENSINO SUPERIOR: A CONCEPÇÃO E A

INTERPERTAÇÃO DAS IES

Que que é homem de negócios?

Ele apenas trabalha.

Só pensa em ganhar tempo e dinheiro.

Quer comprar o mundo inteiro?

E compra?

Quase tudo, menos o tempo.

O tempo não tem dono nem preço.

(QUEIROZ,2010, p.28)

Inicia-se este capítulo relacionando as palavras poéticas de Queirós (2010) com

o objeto de estudo desta pesquisa, ou seja, as três maiores instituições privadas que

oferecem Ensino Superior atuantes no Brasil: Anhanguera Educacional, Estácio

Participações e Kroton Educacional. Empresas que, por meio de fusões e aquisições,

lideram o mercado educacional financeiro.

As três maiores potências do sistema econômico educacional brasileiro

constantemente são citadas em pesquisas relativas ao Ensino Superior. Para Silveira e

Bianchetti (2013, p. 11-12):

São frações burguesas consideradas de relevante influência no curso das

transformações da política educativa, em níveis internacional, regional e

nacional. São eles: CNI, Fundação Bradesco, Fundação Gerdau, Fundação

Victor Civita, Instituto Ayrton Senna, Instituto Euvaldo Lodi, além de

grandes conglomerados educacionais, capitaneados por grupos econômicos

do porte das Redes Anhanguera e Kroton, Estácio Participações S.A, e Grupo

UNINTER, a maioria com aporte de capital estrangeiro e participação no

mercado financeiro.

As três instituições privadas, objeto de estudos desta pesquisa, são apontadas

como grandes potências que influenciam o mercado financeiro e também as políticas do

sistema educacional. Portanto, é importante nesse momento conhecer de modo mais

detalhado essas instituições e compreender como cada uma traduz as políticas de

inclusão para o Ensino Superior na modalidade EAD, buscando garantir a educação de

qualidade para todos e o acesso, a permanência e a aprendizagem dos alunos público-

alvo da educação especial nessa modalidade de ensino.

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Embora as três instituições apresentem políticas de inclusão previstas no PDI,

também possuem especificidades no momento de traduzir e interpretar essas políticas. É

possível identificar um movimento ainda “discreto” na escrita sobre a inclusão nos

documentos institucionais analisados, tanto pela extensão do texto, como por suas

características.

Conforme já apresentado no capítulo anterior, para a análise dos dados

documentais institucionais foram selecionadas quatro categorias: Concepção de

Inclusão no Ensino Superior das IES, Atendimento Educacional Especializado (AEE),

Suporte aos Discentes e Avaliação da Aprendizagem. A seguir, discutem-se cada uma

dessas categorias, com o intuito de aprofundar as aproximações e os distanciamentos

dos dados oriundos da documentação das IES objeto de estudo desta tese.

1 CONCEPÇÃO DE INCLUSÃO NO ENSINO SUPERIOR NOS

DOCUMENTOS INSTITUCIONAIS E NOS DIZERES DOS GESTORES

A inclusão no Ensino Superior é uma trilha recente. Atualmente, as instituições

estão recebendo alunos caracterizados como público-alvo da educação especial que

passaram por várias mudanças nos sistemas educacionais, nas práticas de educação

inclusiva e nos processos de escolarização. Embora pesquisadores nacionais e

internacionais venham acompanhando essa trajetória desde a Declaração de Salamanca

(1994), é notável a influência do tempo nas traduções e interpretações das políticas nas

práticas escolares. Ball, Maguire e Braun (2013) alertam para as diversas narrativas e

para a importância de se reconhecer que diferentes políticas e tipos de políticas

particulares podem influenciar a posição de professores e alunos dentro das escolas.

A partir da análise dos textos da legislação, pode-se afirmar que até hoje houve

maior preocupação com os processos de escolarização na educação básica. Entretanto,

esses alunos, que vivenciaram esses recortes históricos, hoje são aprovados nos

processos seletivos para o Ensino Superior e buscam a igualdade de direitos e a

acessibilidade também nesse nível de ensino. Com isso, surgem pontos a serem

refletidos no que tange a concepção acerca de inclusão que norteia os documentos e

práticas no Ensino Superior, o apoio disponibilizado a esse público nessas instituições,

os recursos de acessibilidade que são utilizados e o acompanhamento necessário para

garantir o ingresso, a permanência e a aprendizagem desses acadêmicos.

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Segundo Silva e Frota (2011), vivencia-se um novo contexto social que envolve

mudanças de paradigmas e aceitação da diversidade. Nesse contexto, a universidade

também está passando por mudanças, principalmente de concepção e atualização da sua

função social.

Discentes que apresentam limitações físicas oriundas de deficiências motoras

ou sensoriais requerem das instituições de ensino superior, assim como de

seus profissionais, uma visão diferente cujo princípio seja a transmissão de

conhecimentos a “todos”, mesmo que para atingir esse objetivo se

considerem despreparadas e desafiadas, ou inclusive não creiam totalmente

no sucesso desses alunos (SILVA; FROTA 2011, p. 344).

Esse novo contexto requer das universidades pensar sobre a concepção de

educação inclusiva por meio de políticas institucionais que realmente atentem para o

acolhimento à diversidade. A inclusão parte da “aceitação das diferenças e diversidades

de cada pessoa, a fim de garantir acesso igual às oportunidades, principalmente no

campo da educação. A inclusão vai além do acesso ao ensino superior, pois envolve a

permanência e o sucesso de ensino-aprendizagem” (SILVA; FROTA, 2011, p. 400).

Com o olhar voltado para o acesso, a permanência e a aprendizagem dos alunos

público-alvo da educação especial, delineou-se a leitura e a análise dos documentos

institucionais buscando compreender como cada uma dessas instituições primeiramente

interpretam e em seguida traduzem essas políticas. Para tanto, iniciou-se a análise pelo

principal documento institucional: o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI),

complementado, quando necessário, por documentos institucionais mais específicos.

A análise desses documentos apontou uma questão relevante quanto às

especificidades institucionais. Verifica-se que entre as IES pesquisadas, a Anhanguera

Educacional mantém um PDI padrão para as suas unidades, a Kroton Educacional está

em fase de implementação de documentos padrões, uma vez que está passando por um

processo de integração entre as unidades, e a Estácio Participações, embora mantenha a

estrutura organizacional padrão, apresenta um modelo de PDI para cada unidade. Foram

analisados cinco PDIs, disponíveis nas páginas oficiais da internet das seguintes

unidades de Ensino Superior da Estácio Participações: Faculdade de Excelência

Educacional do Rio Grande do Norte (FATERN), Universidade Estácio de Sá

(UNESA), Faculdade Estácio de Campo Grande (FESCG), Faculdade Estácio de Belo

Horizonte (FESBH) e Faculdade Estácio do Ceará (FIC).

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Figura 12: Documentos Institucionais – Plano de Desenvolvimento Institucional

Fonte: Dados da pesquisa

Com essa leitura, percebeu-se que todos apresentam um tópico destinado à

política de educação inclusiva. Com base na leitura dos documentos e da transcrição das

entrevistas, foram organizadas as categorias e a análise dos conteúdos.

Antes de qualquer reflexão sobre os processos de garantia de acesso e adaptação

de materiais, julga-se relevante compreender qual a concepção de inclusão que norteia a

política das IES. Apresentam-se, a seguir, recortes dos documentos institucionais e das

entrevistas com os gestores. Inicia-se essa discussão pelo PDI da Anhanguera

Educacional, que aponta que:

A responsabilidade social da Instituição enfatiza a inclusão social e o

desenvolvimento econômico, cultural e profissional daqueles que, direta ou

indiretamente, são sujeitos de suas ações. Logo, o seu papel é o de

fortalecer a democracia por meio de uma prática participativa, que

responde à demanda de sua comunidade interna, do seu entorno e da

sociedade. Para tanto, incorpora conceitos éticos, promove a cidadania

individual e coletiva e difunde valores e práticas ambientalistas por meio de

suas atividades de ensino, pesquisa e extensão. (PDI Anhanguera)

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É possível perceber que o texto referente à responsabilidade social da instituição

enfatiza a inclusão social e apresenta, mesmo que de forma sucinta, certa relação com as

exigências dos documentos legais para os cursos superiores. Verificou-se a preocupação

com as atividades de ensino, pesquisa e extensão, com a inclusão social, essa de forma

genérica, e também com as diretrizes para a educação ambiental.

Já o olhar do gestor da IES afirma que:

A concepção é aquela do atendimento global ao cidadão, ela é e principalmente na

nossa instituição, mesmo antes da Anhanguera, já tinha mas com a Anhanguera foi

muito aprimorado. A gente entende que todo cidadão tem direito a educação, ao ensino

superior e, portanto, não só para atender as normas do MEC, mas essa é uma Política

bem desenvolvida e depois com a Anhanguera melhorou um pouco. Então a concepção

é essa mesmo, é a, o entendimento de que todo cidadão independente da sua condição

física, mental, intelectual, enfim, ele tem que ter o direito ao ensino superior. Baseada

nessa concepção a gente tem toda uma fundamentação teórica. (Gestor A)

Os dizeres do gestor convergem com o texto dos documentos da IES e revelam

certa preocupação com o atendimento a todos. Revela também que essa não é uma

preocupação recente e que, mesmo antes da compra da IES, já pensavam em

atendimento “global”, ao direito a educação e ao Ensino Superior, independente da sua

condição.

Mais especificamente relativo ao atendimento ao público-alvo da educação

especial, o texto do PDI aponta:

A Instituição oferece às pessoas com necessidades educacionais especiais,

ou com mobilidade reduzida, as condições de acesso aos estudos e sua

permanência, conforme determinações do Capítulo V, da Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional (LDB) n° 9.394/96, que afirma os direitos

acadêmicos das pessoas com necessidades especiais ao conhecimento e às

oportunidades do ambiente, assim como as orientações da Portaria n°

3.284/2003 e da Recomendação n° 01/2006 (CONADE/SEDH/PR). Há a

preocupação em orientar os docentes e contratar profissionais para atender

esses estudantes sempre que necessário.

A universidade Anhanguera disponibiliza recursos para que os estudantes

com necessidades educacionais especiais possam acompanhar as aulas e

realizar as avaliações assegurando as condições necessárias para uma

educação de qualidade para todos. (PDI Anhanguera)

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Mais uma vez o texto institucional faz menção aos documentos norteadores da

educação no Brasil. Percebe-se que até a nomenclatura utilizada nos documentos

oficiais é mantida, assim falam de pessoas com mobilidade reduzida e pessoas com

necessidades especiais, nomenclaturas utilizadas, como a própria instituição informa, na

LDB 9.394/96. Ainda sobre os documentos, o gestor complementa:

A legislação utilizada pela IES, nós vamos desde a constituição, inclusive temos um

treinamento virtual para que todos os professores que por ventura tenham um portador

em sua sala e onde se esclarece, como que o Brasil vê esta questão hoje, então esses

dispositivos legais e normativos eu não vou falar de todos, mas depois posso mandar pra

você.

A constituição, depois a LDB no art. IV que inclusive a questão da avaliação que o

próprio MEC colocou a necessidade deste atendimento, os avisos curriculares o Decreto

3.956, todas as normas legais que está ou são alteradas ou modificadas, a gente

imediatamente por parte deste núcleo, que é o Núcleo central da mantenedora a

informação imediata e aí a gente corrige PDI, enfim todos os nossos documentos que

norteiam. O PDI na verdade é muito amplo, a gente tem é um Manual de Normas que a

gente chama de Orientações sobre estudantes com Deficiência no Ensino Superior.

(Gestor A)

Percebe-se que o gestor cita os principais documentos que norteiam a educação

como a LDB 9394/96, e o Decreto nº 3.956, que promulga a convenção interamericana

para a eliminação de todas as formas de discriminação contra as pessoas portadoras de

deficiência, contudo, verificou-se que a Política Nacional de Educação Especial na

Perspectiva da Educação Inclusiva não foi mencionada.

O relato também aponta a necessidade da IES em manifestar conhecimento das

leis e decretos que, para demonstrar esse conhecimento, replica os textos da política nos

próprios textos institucionais. Ao fazer essa conexão, a IES organiza sua concepção

baseada exatamente no que está escrito na política. Ball (2012) sinaliza que as

instituições de ensino podem prestar atenção na política e escrever a resposta

incorporando-a na documentação para atender auditorias. Mais precisamente no Ensino

Superior no Brasil, essas respostas são fabricadas e incorporadas aos documentos para

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atender às exigências da avaliação, ou seja, atender aos indicadores de qualidade

previstos nos instrumentos de avaliação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Anísio Teixeira (INEP), órgão do Ministério da Educação responsável por esse

processo, por meio do Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior (SINAES).

Um dos exemplos da discussão levantado consta nos dizeres do gestor da

Anhanguera quando cita informações constantes em outro documento institucional,

“Orientações sobre estudantes com Deficiência no Ensino Superior”. Este documento é

encaminhado aos gestores de polos e unidades presenciais e cita uma tabela com a

legislação para a inclusão. O texto toma como base os referenciais de acessibilidade na

educação superior e a avaliação in loco do SINAES (2013). Esse documento, que serve

de orientação para todas as unidades e polos da instituição, inicia a contextualização da

inclusão justamente citando na íntegra o texto da política.

É perceptível que em alguns pontos os documentos e os dizeres do gestor da

Anhanguera convergem, os textos institucionais revelam a preocupação acerca do

acesso e da permanência no Ensino Superior e também apontam preocupação com a

educação de qualidade.

Ball (2013) aborda em seus estudos sobre os textos institucionais performativos,

alertando que as instituições possuem certa necessidade em atender às exigências legais,

pautadas no cumprimento de obrigações que serão auditadas e avaliadas. Sob esse

aspecto, cabe analisar se os textos dos documentos institucionais e os dizeres dos

gestores revelam a prática de inclusão no Ensino Superior ou são criados para atender às

exigências da legislação na forma de apresentação apenas nos documentos como

também as reais preocupações das instituições ao redigir os textos dos documentos

oficiais e até que ponto esses textos revelam a prática pedagógica e a inclusão no Ensino

Superior.

A FATERN, faculdade mantida pelo Estácio de Sá, apresenta em seu PDI o

seguinte texto:

A FATERN tem como premissa criar na Instituição a cultura da educação

para a convivência, implicando na aceitação da diversidade e buscando a

quebra das barreiras arquitetônicas, educacionais e atitudinais.

Assim os portadores de necessidades especiais têm espaço nos seus corpos

discente, docente e técnico-administrativo. Neste sentido, a infraestrutura

da FATERN está convenientemente adaptada aos conceitos mais modernos

e seus recursos didáticos são adequados e suficientes, respeitando a

legislação vigente. (PDI FATERN)

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A partir desse excerto, é possível afirmar que, embora a IES manifeste

preocupação com a aceitação da diversidade e quebra de barreiras atitudinais,

arquitetônicas e educacionais, não aponta as ações que desenvolve para direcionar essa

política. Há a afirmação de que está adequada e respeitando a legislação vigente, mas

não identifica quais são os recursos e adaptações disponíveis. Dessa forma, a própria

instituição avalia-se, afirmando que sua infraestrutura está convenientemente adaptada e

seus recursos didáticos são adequados e suficientes. Não revela nem quantidades e nem

especificidades dos equipamentos. Interpreta a legislação e julga o modo como oferta os

recursos, de certa forma silenciando acerca de informações mais detalhadas que

permitam ao leitor compreender esse processo.

A própria nomenclatura portadores de necessidades especiais não atende à

legislação que atualmente segue as recomendações da Política Nacional de Educação

Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008a), que define como

público-alvo da educação especial as pessoas com deficiência, transtornos globais do

desenvolvimento e altas habilidades/superdotação.

Ball, Maguire e Braun (2013) salientam que as instituições podem analisar as

políticas e produzir respostas, incorporando-as à documentação da própria escola, a fim

de prestarem conta com exigências legais e não com efeitos pedagógicos. Os

documentos legais do Ensino Superior no Brasil revelam a necessidade de instituições

com o perfil voltado para a responsabilidade social, que levem em consideração as

necessidades locais, respeitem e valorizem as diferenças. São várias as campanhas que

buscam a educação para todos. Inclusive órgãos internacionais, de grande peso e

influência nos negócios educacionais, como o Banco Mundial e a UNESCO, ditam as

características que as instituições devem apresentar para garantir educação de qualidade.

Diante dessa demanda de influência, na busca pela garantia da qualidade, pelo

menos prevista nos documentos, as instituições, muitas vezes, acabam maquiando o

texto. A esse processo, Ball (2013) desenvolve o conceito de fabricação, explicando que

as instituições fabricam esse perfil para atender à política.

Crucialmente, atos de fabricação e fabricações são incorporados em e são

reproduzidos pelos sistemas de gravação e geração de relatórios na prática.

Eles também funcionam para excluir outras coisas que não “cabem” naquilo

que se intenciona representar ou englobar (BALL, 2013, p. 225)19

.

19

Tradução nossa de: “Crucially, acts of fabrication and the fabrications themselves become embedded in

and are reproduced by systems of recording and reporting on practice. They also work to exclude other

things which do not ‘fit’ into what is intended to be represented or conveyed” (BALL, 2013, p.225).

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O autor sinaliza que os textos são reveladores das melhores práticas e

preocupações. São representações muitas vezes sofisticadas, que servem para melhorar

os ambientes competitivos, uma fabricação da imagem da instituição por meio dos

textos que são desenvolvidos e apresentados tanto para atender às auditorias como para

conquistar o mercado.

Outro texto da Estácio Participações, agora do PDI da Faculdade Estácio de Belo

Horizonte (FESBH), justifica a importância de se pensar a inclusão na IES por meio da

legislação.

Vários documentos têm anunciado o direito de todos terem direito. No

plano internacional, a declaração Universal dos Direitos Humanos (1948),

no seu artigo 7°, preconiza: “Todos são iguais perante a Lei. Todos têm

direito à proteção igual contra qualquer discriminação que viole a presente

declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação...”. (grifo

nosso) Do ponto de vista nacional, a Constituição Federal Brasileira (1988)

e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96)

estabelecem que a educação é um direito público subjetivo, garantindo

atendimento especializado aos alunos com necessidades educacionais

especiais. (PDI FESBH)

O texto trata da inclusão a partir da legislação e com foco no direito de igualdade

e atendimento especializado para alunos com necessidades educacionais especiais.

Constatou-se no texto inicial do documento uma escrita ainda discreta envolvendo as

questões de inclusão. A instituição cita a Declaração dos Direitos Humanos e da LDB,

contudo, não aponta a concepção de inclusão da IES e também não especifica quais são

os alunos com necessidades especiais. Com a análise desses dois excertos pertencentes

aos PDIs de duas instituições da Estácio Participações, verificou-se que as

nomenclaturas utilizadas por ambas não convergem. É possível identificar também que

a legislação citada poderia estar respaldada pelos demais documentos oficiais existentes,

já citados e analisados no capítulo anterior desta tese.

É perceptível, nos textos institucionais, a falta de clareza das políticas e dos

documentos específicos que envolvem as políticas de inclusão. Estão pautados nos

principais documentos da política, mas dificilmente citam as especificidades. As

instituições buscam e fabricam uma imagem de acordo com as solicitações apontadas

nos principais documentos, uma imagem de instituição democrática, inclusiva e

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responsável. Uma imagem, segundo Ball (2013), muitas vezes, fabricada e organizada

para atender às exigências legais e baseadas nos textos de maior repercussão.

Segundo o PDI da Faculdade Estácio de Campo Grande (FESCG):

A tendência mundial é facilitar o deslocamento espacial dos indivíduos

portadores de necessidades físicas, o que em última análise é facilitar a

interação dessas pessoas na sociedade. (PDI FESCG)

Esse pequeno texto que se refere à política de educação inclusiva no documento

institucional manifesta preocupação com indivíduos portadores de necessidades físicas.

Novamente há equívocos com a nomenclatura, não há concepção de educação inclusiva

e o público fica evidentemente limitado.

Já a Faculdade Estácio do Ceará:

[...] entende que a educação para a cidadania diz respeito a uma proposta

educacional inserida em um projeto de transformação social.

Para tanto, a Instituição deverá estar organizada como um espaço

democrático onde deve prevalecer o diálogo e o questionamento crítico,

baseados no conceito de homem, educação, sociedade e mundo que

queremos construir. A possível diversidade do corpo discente exige pensar

esta aprendizagem de forma inclusiva. Cumpre destacar que na última

década foram inúmeras as modificações na produção de conhecimentos

científicos, das mais diferentes áreas, que dizem respeito a compreensão

das possibilidades humanas, as mudanças de legislação que foram sendo

produzidas a partir dos movimentos da cidadania para a conquista de

direitos sociais, dentre eles, o da educação para todos, referência para as

políticas de educação inclusiva.

Neste sentido, ganham destaque a Constituição Federal, o Estatuto da

Criança e do Adolescente, a Política Nacional para a Integração da Pessoa

Portadora de Deficiência, a LDB, que nos seus fundamentos, explicitam que

o acesso à educação deve ser um direito garantido a todos. (PDI FASE

CEARÁ)

O documento assinala uma reflexão acerca das transformações sociais e da busca

pelo direito de igualdade. Novamente, como no PDI da FESBH, relaciona essas

modificações com a Constituição Federal e com a LDB, acrescentando o Estatuto da

Criança e do Adolescente e a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de

Deficiência.

A reprodução dos textos dos documentos indica uma forma da instituição

demonstrar sua preocupação com os textos da política. No entanto, o que chama a

atenção nos documentos da Estácio Participações é a relação entre as datas dos

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documentos, ou seja, são PDIs atualizados e que estão em vigência, mas apresentam

textos relativos à política de educação inclusiva pautados em legislação que já foram

repensadas e aperfeiçoadas por meio de novos decretos e portarias do Ministério da

Educação. Nenhum dos documentos cita a Política Nacional de Educação Especial na

Perspectiva da Educação Inclusiva e nem o Decreto nº 7.611/11, muito menos as

especificidades dos documentos regulatórios para o Ensino Superior, como o

Instrumento de Avaliação dos Cursos de Graduação e o Referencial de Qualidade para a

EAD, por exemplo. O que se pode perceber também nos dizeres de um gestor da IES

que assim se manifesta:

A minha concepção vem ao encontro do que a IES também defende, e desempenha,

que é o respeito a todos os alunos, não somente aos portadores de necessidades

especiais, mas para eles um tratamento diferenciado, mais cuidadoso, ainda mais que

eles exigem certos atendimentos um pouco mais dedicados eu diria desta forma.

(Gestor B)

E complementa sobre os documentos:

Sim, tem inúmeras resoluções, a constituição de 88, o ECA, LDB, então são resoluções

e leis que a gente se apoia para escrever PDI, PPD então sempre tem que conhecer para

dar o atendimento e todo suporte que esses alunos necessitam desde a sinalização até o

atendimento especial. (Gestor B)

Os dizeres do gestor convergem com os pontos analisados nos documentos, ou

seja, também apontam documentos mais antigos e não mencionam os atuais, a

nomenclatura utilizada também não é atual e a concepção que parte do respeito a todos

fala de “tratamento diferenciado e cuidadoso”. Tais afirmações revelam uma concepção

ainda pautada na visão da educação especial como forma de diferenciação e cuidado.

Uma visão assistencialista pautada no modelo médico.

De acordo como o Referenciais de Acessibilidade na Educação Superior e a

Avaliação in loco do SINAES (BRASIL, 2013), faz-se necessário compreender a

inclusão no Ensino Superior como direito de todos, como garantia de acesso. Em

nenhum momento o documento revela a concepção de educação especial ou de

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atendimento diferenciado e sim dos meios de acessibilidade, quais sejam: acessibilidade

atitudinal, arquitetônica, metodológica, programática, instrumental, digital, nos

transportes e nas comunicações.

Em relação à Kroton Educacional, dois textos estão direcionados para as

políticas de inclusão para a EAD, um relativo ao PDI da UNASSELVI20

e outro ao PDI

da UNOPAR. Essas duas instituições, no momento da escrita desta tese, encontram-se

em período de integração, o que justifica a presença de documentos diferentes e

específicos.

Os princípios ético-políticos que embasam o planejamento e as ações

institucionais refletem-se nos valores e atitudes da comunidade acadêmica,

nas atividades de ensino, pesquisa e extensão, nas relações entre as pessoas

e destas com o conhecimento. Esses princípios, entre outros são:

o respeito ao ser humano, entendo-o como cidadão integrante da sociedade,

portador de direitos e deveres;

o respeito às diversidades de pensamento e ideologias, como possibilidades

de crescimento individual e social; (PDI UNOPAR, 2013)

O texto do PDI aborda de forma ampla o respeito ao ser humano, à diversidade e

ao aluno como cidadão de direitos e deveres. Neste contexto, observa-se uma concepção

que aceita a diversidade, contudo ainda não sinaliza de que diversidade está tratando.

Salienta-se com esse apontamento que a expressão diversidade vai muito além do

público-alvo da educação especial, assim entende-se que a IES foca seus princípios e

concepção pensando em todos os públicos. Parece um texto coerente que converge com

a concepção de inclusão de forma transversal. Revela a relação entre as pessoas da

comunidade acadêmica e dessas com o conhecimento. Percebe-se que não se trata de

uma repetição da política tão pouco mera preocupação com estrutura física.

Para o gestor da IES:

A minha concepção e também a da instituição é a do direito de igualdade, do direito ao

acesso e ao convívio com a diversidade. Acredito na capacidade das pessoas e que as

dificuldades podem ser superadas via adaptações e flexibilidade no momento de

oferecer os nossos produtos, neste caso, o ensino superior. (Gestor C)

20

Utilizou-se nesta tese os dados documentais da UNIASSELVI, contudo enfatizou-se os dados da

UNOPAR, tendo em vista a determinação do CADE da venda da UNIASSELVI para aprovação da fusão

da Kroton com a Anhanguera.

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Notadamente, percebe-se que o discurso acerca da diversidade se repete,

contudo o gestor sinaliza para o direito de igualdade, para a acessibilidade,

flexibilidade, para a capacidade das pessoas e a superação das dificuldades. Esse

discurso também revela conhecimento do processo de inclusão como direito de

igualdade ao citar a flexibilidade, as adaptações e o acesso, mesmo apontando uma

visão mercadológica, proeminente nas IES particulares.

A inclusão no Ensino Superior atende aos princípios constitucionais, valorizando

a diversidade sem excluir alguma pessoa, principalmente as que estão em situação de

vulnerabilidade (BRASIL, 2013). Ainda como princípio da inclusão, defende-se a

garantia de acesso e a igualdade de oportunidades, valorizando as potencialidades e não

enfatizando as dificuldades.

Sobre os documentos que norteiam a inclusão no Ensino Superior o gestor assim

se manifesta:

Embora seja uma área muito abrangente, sim, conheço as políticas que norteiam o

Ensino Superior e a educação a distância, por exemplo: a LDB, os Referenciais da

EAD, o instrumento de avaliação para os cursos de graduação, os decretos e portarias

específicos, a Política Nacional de Inclusão e os Referenciais de Acessibilidade na

Educação Superior do INEP. Sei que alguns dos documentos não são específicos para o

Ensino Superior, são mais abrangentes e outros também tratam do Ensino Superior

ofertado nas federais. (Gestor C)

Concorda-se com o gestor quando afirma que a área da educação especial possui

uma legislação/documentação abrangente, pois apenas os Referenciais de

Acessibilidade na Educação Superior e a Avaliação in loco do Sistema Nacional de

Avaliação da Educação Superior citam uma relação de dezenove dispositivos

normativos entre leis, portarias e decretos voltados para a inclusão nesse nível de

ensino. Tais dizeres também convergem com a análise realizada no capítulo anterior,

que revela as especificidades e “brechas” encontradas nos documentos nacionais. Ao

questionar o gestor sobre o conhecimento acerca dessas leis, ele assim se manifesta:

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Conheço porque constantemente passamos por processos avaliativos e porque quando o

NUEEI iniciou a discussão, foi apresentando toda a legislação que norteia a inclusão,

mas essa discussão não parou por aí. Constantemente, para cada processo e solicitação

encaminhados por professores e alunos, também buscamos a legislação para verificar

exatamente quais são os recursos previstos e qual a melhor estratégia para atender a esse

público. A discussão não fica restrita ao núcleo. O profissional responsável sempre

dialoga com os envolvidos e acho que assim vamos ampliando o conhecimento. (Gestor

C)

O gestor deixa claro que existe uma preocupação em atender às exigências nos

processos avaliativos, como também que o núcleo de acessibilidade da IES está

estruturado com base na legislação e não se caracteriza como um setor isolado, pois

dialoga com os envolvidos, o que me permite dizer que amplia o olhar e as ações para a

inclusão do público-alvo da educação especial nessa IES. Existe sim a preocupação com

os processos regulatórios, contudo, os dizeres do gestor revelam o modo de interpretar a

política. Essa “interpretação é instanciada e elaborada em reuniões, briefings pessoais,

grupos de funcionamento que identificam pessoas responsáveis (política de pessoas).

Em alguns casos, responsabilizar alguém por uma política é como a implementação da

política e é a personificação” (BALL, 2012, p. 44)21

. Com base em Ball (2012), afirma-

se que a interpretação é o compromisso com a linguagem da política. São momentos de

recontextualização, de articulação entre os textos que estão prescritos nas leis e decretos

e a produção dos textos institucionais que em seguida serão traduzidos e nortearão o

contexto da prática.

Notadamente, os documentos das instituições citadas não mencionam o

processo de aprendizagem desses acadêmicos nesse nível de ensino e suas necessidades.

O que se percebe é o início de uma trajetória que busca discutir a inclusão nesse nível

de ensino, mas que demonstra de forma discreta a concepção de educação inclusiva e de

forma clara a preocupação com os processos regulatórios.

Karagiannis, Stainback e Stainback (2006, p. 21) salientam que “o ensino

inclusivo é prática de inclusão de todos – independente de seu talento, deficiência,

origem socioeconômica ou origem cultural – em escolas e salas de aula provedoras,

21

Tradução nossa do original: “Interpretation are instantiated and elaborated in (SLT) meetings, staff

briefings, workings groups and by identifying responsible person (people policy). In some cases making

someone responsible for a policy is the enactment of policy and is embodiment” (BALL, 2012, p. 44).

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onde todas as necessidades dos alunos são satisfeitas”. Dessa forma e ainda em

consonância com os autores, entende-se que a inclusão é a oportunidade do convívio

com as diferenças e a oportunidade de preparação para a vida social e profissional. A

relação entre os dados dos documentos e os dizeres dos gestores revela inicialmente que

embora em alguns pontos se identifica certa convergência, em outros, os discursos

parecem estar desatualizados e além daquilo que está documentado nos textos

institucionais.

Ao questionar os gestores sobre o modo como se constroem as políticas e as

relações com os documentos da instituição, o gestor A revela:

É realmente o PDI é muito amplo, ele fala que vai atender às diferenças, mas não chega

nos detalhes absolutos que hoje a gente tem. Vou até te contar uma coisa que é muito

interessante você colocar, nós temos por exemplo como norma tanto na EAD como no

presencial o seguinte: identificado o menino no vestibular, ele se identifica se tem

alguma necessidade especial, já no vestibular ele pode ter um ledor, um intérprete de

libras, enfim o que ele tiver necessidade. A partir daí, se ele passar no vestibular e fizer

a matrícula, vai para este setor que providencia para aquela unidade ou para aquele polo

tudo que esse menino vai precisar. Para o deficiente visual os softwares que eles

utilizam que transformam todas as aulas, colocam libras, colocam na transmissão, se

tem num curso, não importa se o curso é lá no Rio Grande do Sul em um polo tem um

deficiente em Logística, as aulas são transmitidas com intérprete. Existe uma série de

documentos. (Gestor A)

Para o Gestor da Anhanguera, o PDI é um documento muito amplo e não

aprofunda as especificidades do atendimento oferecido a esse público. Ele cita e

inclusive relata casos de alunos para exemplificar dados que o documento não revela. A

fala deixa claro o modo como a IES traduz a política e que estratégias adota para

identificar o aluno caracterizado como público-alvo da educação especial desde o

processo seletivo, bem como os próximos passos caso seja aprovado. Assim, cita a

LIBRAS para os alunos surdos, os softwares leitores de tela e ledores para os alunos

cegos. Evidencia o processo de encaminhamento para que a equipe responsável garanta

os meios de acessibilidade necessários.

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Já o Gestor da Estácio menciona apenas alguns dos documentos que citam as

políticas:

Que citam? PDI e PPC, projeto Pedagógico do Curso. Que eu me lembro agora né. O

PPC. Eu sou gestora aqui no Polo, são muitos cursos e esses alunos que nós temos hoje

estão no presencial e fazem disciplinas on-line da EAD. (Gestor B)

Como gestor de uma unidade específica, apresenta pouco conhecimento acerca

dos documentos institucionais, cita o PPC e o PDI, contudo revela dúvida em sua fala,

“que eu me lembro agora ...”. Percebe-se que essa dúvida se concretiza nos momentos

de evidenciar a prática. Não fica claro nem o que está previsto nos documentos, nem o

modo como se traduz na prática. Ele justifica que são muitos cursos e que os alunos

caracterizados como público-alvo da educação especial matriculados na unidade

cursam a metodologia presencial e fazem disciplinas on-line. Cabe atentar que as

políticas de inclusão, assim como qualquer outra política institucional quando

implementada, deve fazer parte do discurso e da prática dos gestores indiferente de ter

ou não alunos matriculados naquele momento. Quando se fala em deficiência, entende-

se que pode ser uma deficiência de nascença ou adquirida, desenvolvida. Pode ocorrer

com alunos e também funcionários. Quando a concepção de inclusão revela

preocupação e atendimento diferenciado, como o gestor manifestou em seus dizeres

anteriormente, essa visão também deve estar nas relações entre a prática e os

documentos.

Para o Gestor da Kroton, foi importante citar que os documentos são atualizados

e que as políticas de inclusão são contempladas no item que trata do atendimento ao

estudante.

Os documentos institucionais são atualizados constantemente, essas políticas

normalmente são citadas nos itens que tratam da regulamentação e principalmente no

atendimento ao estudante. (Gestor C)

Entende-se que os documentos são atualizados tendo em vista os diversos

processos institucionais que ocorrem constantemente. O PDI é um documento

abrangente e entre um dos itens que deve ser contemplado se encontra o atendimento

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ao estudante. Esse item também se encontra como indicador nos processos de avaliação

de cursos, contudo o próprio instrumento sinaliza como indicador o “apoio ao discente”

(BRASIL, 2013). Nesse indicador sinaliza como atendimento de excelência:

Quando o apoio ao discente previsto/implantado contempla, de maneira

excelente, os programas de apoio extraclasse e psicopedagógico, de

atividades de nivelamento e extracurriculares não computadas como

atividades complementares e de participação em centros acadêmicos e em

intercâmbios (BRASIL, 2013, p. 6).

Percebe-se que o próprio instrumento de avaliação não contempla no item Apoio

ao Discente o atendimento ao público-alvo da educação especial. O indicador exige o

apoio extraclasse e psicopedagógico bem como as atividades de nivelamento, contudo,

o instrumento não prevê o atendimento educacional especializado e tampouco a

provisão de núcleos de acessibilidade. Pode-se entender que o público-alvo da educação

especial está contemplado no atendimento ao discente e que existem normativas

específicas que orientam esse atendimento, mas pode-se considerar que se trata de um

exemplo de texto que, de acordo com Ball (2012), oferece possibilidades para

interpretação, que envolve conclusões e coproduções de textos.

O que se avalia dentro desse instrumento e que converge com as políticas de

inclusão, é a oferta de LIBRAS e o cumprimento dos Decretos nº 5.296/2004, nº

5.626/2005, nº 6.949/2009, nº 7.611/2011 e da Portaria nº 3.284/2003 e mais

recentemente, a Lei nº 12.764/2012 que trata da proteção dos direitos da pessoa com

transtorno e espectro autista, como requisitos legais e normativos. O que se percebe é

que o próprio instrumento de avaliação dos cursos superiores não acompanha as

atualizações legais relacionadas aos processos de inclusão no Ensino Superior e que, de

certa forma, revela os interesses de grupos específicos ao tratar das exigências de forma

isolada, como na última Lei citada, nº 12.764/2012. As pessoas com transtorno global

do desenvolvimento já são consideradas como público-alvo da educação especial,

entretanto os instrumentos de avaliação deixam de focar a Política Nacional da

Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva e acabam revelando os grupos

de interesse que influenciam as políticas.

Ball (2012, p. 37) sinaliza para o fato de se focar políticas de forma analítica e

esquecer que outras estão em circulação e que “o estabelecimento de uma pode inibir,

contradizer ou influenciar a possibilidade de fixação de outras”. Esse é um risco que se

percebe ao analisar as políticas de inclusão, principalmente devido ao grande número de

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documentos específicos. Dessa forma, um documento relativo à educação especial pode

apresentar orientações que nem sempre convergem com os demais. Considera-se isso

um risco, principalmente quando a IES desconhece a gama de documentos que tratam

da educação especial.

Os decretos citados (nº 5.296/2004 e nº 5.626/2005), bases das avaliações do

SINAES, são documentos anteriores à Política Nacional de Educação Especial na

Perspectiva da Educação Inclusiva, assim apresentam nomenclaturas e especificidades

que foram discutidas e aprofundadas posteriormente. Os dois decretos tratam do público

com deficiência, enquanto a política inclui as pessoas com transtorno global do

desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Assim, a reflexão toma como base os

documentos institucionais que apresentam textos fiéis a esses decretos e acabam

revelando a falta de conhecimento das demais políticas que estão em circulação.

O processo de interpretação das políticas pelas IES depende, inicialmente, da

concepção de inclusão. A análise dos documentos citados permite afirmar que as

instituições possuem uma concepção colada ao texto da política, uma quase repetição de

conceitos que se vinculam à lei. Um ou outro depoimento revela uma abertura a uma

visão acadêmica, humanista, de garantia de direitos, mas, no geral, principalmente nos

textos do PDI, o processo de fabricação de uma instituição idealizada se mantém. Nota-

se um texto que parece estar organizado para atender às exigências legais documentais,

tornando-se uma vitrine, que está incompleta e converge parcialmente com os

documentos legais analisados no capítulo anterior. No entanto, atenta-se para a

importância da elaboração desses textos. Quando os gestores foram questionados sobre

quem são as pessoas responsáveis por essa elaboração, para o Gestor da Anhanguera, é

o núcleo de inclusão:

Existe um Núcleo que estabelece uma série de Diretrizes que facilitou a todos

nós. (Gestor A)

O Gestor da Kroton sinaliza:

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Hoje, as propostas de ações são pensadas pelo NUEEI e discutidas com as diretorias

envolvidas. Após as discussões e aprovação das ações o próprio núcleo organiza os

textos necessários para a inserção nos documentos e normalmente esses textos são

validados pela Diretoria de Desenvolvimento Institucional. Mas eu sei que o Núcleo

está nesta fase de elaboração dos textos e consolidação das ações.

Primeiro criamos o núcleo, colocamos as ações em prática e agora estamos elaborando

os textos para os documentos. Nosso PDI, por exemplo, ainda não cita o NUEEI.

(Gestor C)

Os dizeres do gestor convergem com a análise de que as práticas parecem

interpretadas antes de serem registradas e consolidadas nos documentos institucionais.

De acordo com esse gestor, o Núcleo de Educação Especial Inclusiva (NUEEI) é

responsável por pensar os textos oficiais da instituição, discutir com as diretorias e

encaminhar para aprovação da Diretoria de Desenvolvimento Institucional. Ele afirma

que as ações estão em fase de implementação e que o PDI ainda não contempla as

políticas desenvolvidas pelo núcleo.

Essa elaboração e discussão do texto, citada pelo Gestor da Kroton, permite

dialogar sobre a relação simbólica entre o contexto da prática e da produção de texto

sinalizado por Mainardes (2006). O autor, com base nos estudos de Ball e Bowe, chama

atenção para as disputas e acordos de grupos que atuam em lugares na produção dos

textos. Para Ball e Bowe (1992), é no contexto da prática que a política passa por

interpretações e recriações e onde se produz as transformações a partir das políticas.

O Gestor da Estácio afirma que a elaboração do texto da Política é organizada

pelo:

[...] grupo do núcleo, o NDE, composto pelos professores juntamente com a

coordenação. (Gestor B)

O Gestor da Estácio anteriormente revelou pouco conhecimento sobre a

formação dos profissionais do núcleo, citando, apenas, e ainda com certa dúvida, um

profissional da área da Psicologia. No entanto, seu discurso mostra que existe uma

preocupação em discutir os documentos entre os profissionais do núcleo, o NDE e a

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coordenação. É a primeira fala que atenta para a participação do NDE na interpretação

da política.

Entretanto, a análise dos documentos e dos dizeres dos gestores, verifica-se que

as duas instituições mantém núcleos de acessibilidade, no caso da Anhanguera e da

Kroton, e a Estácio mantém o núcleo de apoio pedagógico na Estácio. Percebe-se que

esses núcleos participam com voz ativa na elaboração dos textos das políticas que

envolvem a inclusão do público-alvo da educação especial no Ensino Superior. Cabe

atentar para o fato dos núcleos serem constituídos por profissionais da área da educação

especial e não apresentarem uma concepção de inclusão clara nos documentos e sim

uma concepção fabricada, tomando como base os documentos da legislação.

A importância da concepção de inclusão vai ao encontro da abordagem de Booth

e Mel (2002) quando defendem que as instituições devem criar uma cultura inclusiva.

Inclusão envolve mudanças. É um processo infindável de aumento da

aprendizagem e da participação de todos os estudantes. É um ideal a ser

aspirado pelas escolas, mas que nunca é totalmente alcançado. Mas a

inclusão começa tão logo o processo de aumento da participação seja

iniciado. Uma escola inclusiva é aquela que está em movimento (BOOTH;

MEL, 2002, p. 7).

Trata-se da construção da identidade inclusiva da instituição que está além de

aspectos individuais ou voltados para grupos específicos. Desenvolver uma cultura

inclusiva parte do princípio de igualdade e de oportunidades.

Figura 13: Inclusão para Booth e Mel

O capítulo IV, aborda o atendimento oferecido por esses Núcleos.

Fonte: Booth e Mel (2002, p. 7).

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A figura apresenta a concepção dos autores a respeito da inclusão. Alerta para a

importância de olhar para a diversidade, para a participação e para a aprendizagem. No

estudo apresentado no documento “Index para a Inclusão” (BOOTH; MEL, 2002), eles

sinalizam três dimensões necessárias para a o desenvolvimento da inclusão dentro das

escolas:

Produção de Políticas Inclusivas

Desenvolvimento de Práticas Inclusivas

Criação de Culturas Inclusivas

Nesse sentido, alertam que criar uma cultura inclusiva requer atenção, pois

embora normalmente essa dimensão receba pouca atenção, é a base para o

enriquecimento ou enfraquecimento dos processos de aprendizagem. “Elas são o

coração do aprimoramento da escola e o desenvolvimento de valores inclusivos

compartilhados e de relações de colaboração pode levar a mudanças nas outras

dimensões” (BOOTH; MEL, 2002, p. 11-12).

Figura 14: Dimensões para a inclusão

Fonte: Booth e Mel (2002, p. 11-12)

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As três dimensões que os autores defendem partem do princípio da igualdade e

da construção colaborativa de ambientes realmente inclusivos. Entende a construção de

valores com toda comunidade escolar, o que, consequentemente, contribui com o a

produção de políticas inclusivas. Considera-se fundamental a concepção de inclusão

para o desenvolvimento dessas políticas. A análise dos documentos e dos dizeres dos

gestores das IES pesquisadas nesta tese não deixou clara esta concepção.

Dessa forma, defende-se que as políticas e práticas de inclusão são pautadas na

cultura inclusiva das instituições e quando essa cultura não está concretizada, as

iniciativas refletem-se fragmentadas.

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CAPÍTULO IV

PRÁTICAS DE INCLUSÃO NO ENSINO SUPERIOR: A TRADUÇÃO DA

POLÍTICA PELAS IES E O ATENDIMENTO EDUCACIONAL

ESPECIALIZADO

1 O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO

O Atendimento Educacional Especializado (AEE) está devidamente

regulamentado pela Constituição Federal, artigo 208 (BRASIL, 1988, p. 42-43): “O

dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: [...] III -

atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente

na rede regular de ensino [...]”. Além da Constituição Federal, a LDB, em seu artigo 58,

aborda o AEE (BRASIL, 1996b, p. 21):

§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola

regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial e

§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços

especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos,

não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular.

O texto da Constituição Federal deixa margem para interpretações no momento

que usa a palavra preferencialmente. Tal discussão já foi apresentada no documento “O

acesso de alunos com deficiência às escolas e classes comuns da rede regular”

publicado pelo MEC em 2004, que explica que esse é um advérbio utilizado para

referenciar o atendimento educacional especializado (AEE) que deve ser diferente do

ensino regular para atender às especificidades dos alunos com deficiência. “O

atendimento educacional especializado deve estar disponível em todos os níveis de

ensino escolar, de preferência nas escolas comuns da rede regular22

” (BRASIL, 2004, p.

8).

22

O significado do termo regular é encontrado no Parecer CNE/CEB nº 11/00 (p. 132, das Diretrizes

Curriculares Nacionais da Educação de Jovens e Adultos): Vale lembrar que o conceito de regular é

polivalente e pode se prestar a ambiguidades. Regular é, em primeiro lugar, o que está sub lege, isto é,

sob o estabelecido em uma ordem jurídica e conforme a mesma. Mas a linguagem cotidiana o expressa no

sentido de caminho mais comum. Seu antônimo é irregular e pode ser compreendido como ilegal ou

também como descontínuo. Mas, em termos jurídico-educacionais, regular tem como oposto o termo

livre. Nesse caso, livres são os estabelecimentos que oferecem educação ou ensino fora da Lei de

Diretrizes e Bases. É o caso, por exemplo, de escolas de língua estrangeira (BRASIL, 2004, p. 8).

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Além desses, temos documentos mais recentes que abordam a temática do AEE

e a falta desse atendimento no Ensino Superior, como é o caso do documento

Referenciais de Acessibilidade na Educação Superior e a Avaliação in loco do Sistema

Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) (BRASIL, 2013, p. 13):

[...] no caso de pessoas que necessitam de atendimento especial na educação

superior, esse direito nem sempre tem sido respeitado. Esses estudantes, por

apresentarem uma maneira peculiar de lidar com o saber ou necessitarem de

recursos adicionais para viabilizar seus processos de participação e

aprendizagem nos espaços educacionais, desafiam o sistema de ensino em

todos os níveis e modalidades a rever profundamente suas práticas e as bases

conceituais que estão subjacentes às mesmas.

O AEE no Ensino Superior23

vai exigir das instituições novas posturas e

mudanças de paradigmas no modo de compreender as teorias educacionais. “As práticas

educacionais inclusivas revelam que a inclusão educacional não é do interesse apenas

dos estudantes que demandam atendimento educacional especializado” (BRASIL, 2013,

p. 13).

Para atender às novas exigências legais para a avalição dos cursos de graduação,

as instituições se organizam em busca da acessibilidade. Contudo, essa discussão ainda

se manifesta de forma discreta nos documentos das instituições, que, muitas vezes,

repetem as informações prescritas nos documentos legais de forma ampla e pouco

específica. Já nos discursos dos gestores, percebe-se que o contexto da prática vai além

do contexto da produção de texto. Arrisca-se dizer que as ações que serão descritas no

decorrer desta tese revelam uma prática que busca a inclusão do público-alvo da

educação especial no Ensino Superior, mas que ainda necessita de espaço e registros na

documentação apresentada.

A Anhanguera Educacional, ao mencionar no PDI a responsabilidade social da

instituição, aponta para um documento que complementa as informações citadas, o

Relatório de Responsabilidade Social, que descreve um núcleo de acessibilidade

(NAIA). Esse núcleo:

23

Sabe-se que os documentos que tratam do AEE, especificamente, não sinalizam de forma clara como

esse deve ser organizado no Ensino Superior. Contudo, cita-se e utiliza-se nesta tese a nomenclatura com

base nos Referenciais de Acessibilidade na Educação Superior e a Avaliação in loco do Sistema Nacional

de Educação Superior (BRASIL, 2013).

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[...] tem o objetivo de oferecer os recursos necessários para que os

estudantes, em suas singularidades, construam a sua formação acadêmica

com qualidade.

Em 2012, o NAIA desenvolveu mais ações voltadas à inclusão do estudante

com deficiência, na vida acadêmica, buscando assegurar o seu acesso e

permanência no ensino superior. (Relatório de Responsabilidade Social

Anhanguera, 2013)

O PDI da UNIDERP (Anhanguera Educacional), apesar de apresentar um texto

especificando os recursos disponibilizados para os alunos com necessidades especiais,

não menciona o AEE. Já o seu Manual do Acadêmico apresenta um texto relativo à

assessoria de inclusão:

[...] responsável pela articulação de serviços de atendimento aos alunos

com necessidades educacionais especiais e/ou sensorial do CEAD, visando

ao pleno desenvolvimento acadêmico desses discentes.

Como um aluno com Necessidades Educacionais Especiais deve proceder

para ter acesso a tais serviços?

São basicamente duas as providências a serem tomadas pelo aluno para

começar a receber o atendimento diferenciado:

• Informar, no ato da matrícula, se possui Necessidades Educacionais

Especiais ou Sensoriais por meio de formulário próprio, disponibilizado

pelo polo, que deve ser preenchido e encaminhado imediatamente ao

Coordenador Acadêmico EAD do polo;

• Entregar laudo médico aos cuidados do Coordenador Acadêmico EAD no

polo, no qual conste, de forma clara e legível, qual o tipo de Necessidade

Educacional Especial e/ou Sensorial, em no máximo sete dias úteis a partir

da matrícula. (ANHANGUERA)

Pode-se constatar, com a análise desse excerto, que existe um serviço de

acompanhamento do aluno com necessidades especiais, mas ainda não é especificado o

atendimento educacional especializado. Há a indicação do coordenador acadêmico EAD

no polo, mas não apresenta referência ao profissional do AEE. Assim, não fica claro no

documento como é realizado o acompanhamento e por quem é realizado. Contudo, o

manual descreve os procedimentos de solicitação do atendimento desde a matrícula.

Considera-se essa uma informação importante para que o público-alvo da educação

especial compreenda que existe um acompanhamento.

Sobre essa temática, o gestor da IES complementa:

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Então o Núcleo de estrutura, faz as adequações tranquilamente toda a questão física para

portadores de deficiência, físico, auditivo e aprimorando inclusive a própria exigência,

até os nossos corrimões tem o Braille para que o aluno possa se identificar para qual

bloco ele está indo, considerando que a nossa universidade é muito grande. (Gestor A)

Os dizeres do gestor da Anhanguera convergem com os documentos ao sinalizar

a existência de um núcleo de acessibilidade, contudo o discurso ainda manifesta

preocupação e especial importância para a acessibilidade física. Percebe-se divergência

entre a nomenclatura utilizada. O documento trata dos alunos com necessidades

educacionais especiais e o gestor se refere aos portadores de deficiência, o que permite

dizer que o conhecimento referente ao próprio público ao qual são destinadas as ações

de inclusão ainda está fragilizado. Percebe-se que o gestor enfatiza alguns pontos

específicos como a acessibilidade arquitetônica. Os dizeres revelam falta de

conhecimento de ações mais abrangentes que envolvem um núcleo de acessibilidade,

ações que revelam desde as adaptações mais simples até as mais complexas, técnicas e

pedagógicas.

Referente aos profissionais responsáveis pelo atendimento no núcleo de

inclusão, o gestor relata que:

Este núcleo é formado por várias pessoas, são todos professores de várias áreas, são

professores voltados para a regulação do Ensino Superior. Agora os que trabalham com

os portadores são todos assim, por exemplo o intérprete de Libras, tem que ter o curso.

Tem que ser um professor de qualquer área, licenciatura pelo menos e ele precisa ter o

curso de Libras que aqui, é dado pelo Centro de Atendimento ao Portador de

Deficiência. Eles têm um curso específico, então é essa a exigência. O cuidador, o tutor,

como neste caso do menino, a gente nem exigiu, por que foi a habilidade que ele teve

durante o ensino médio com o aluno, quer dizer que ele é apenas um intérprete, quer

dizer ele só transfere o que o menino diz pra ele. Então a qualificação é quase sempre

com licenciados e o Núcleo tem pessoas de várias áreas todas muito voltadas para a

questão da regulação. (Gestor A)

O gestor revela preocupação com o regulatório e também com a formação

específica para a atuação na tradução e interpretação em LIBRAS. Novamente o

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discurso reforça a ideia de que o atendimento está voltado para atender à legislação.

Revela também que a equipe do núcleo não é composta por profissionais da educação

especial, o que pode justificar os equívocos apresentados no uso das nomenclaturas, por

exemplo, e na ênfase da acessibilidade arquitetônica, já que a legislação por muito

tempo reforçou essa exigência como prioritária.

A formação do intérprete também não está clara. Ao afirmar que esse

profissional tem o curso e que quase sempre é licenciado, o gestor revela que não existe

uma exigência específica de formação para esse profissional além do conhecimento em

LIBRAS.

O discurso aponta fragilidade na formação das pessoas que prestam o

atendimento educacional especializado, o que também justifica a repetição dos textos da

política nos documentos da IES. Ball (apud MAINARDES, 2006, p. 54) explica, a partir

de Foucault, que “na prática, os atores estão imersos numa variedade de discursos, mas

alguns discursos são mais dominantes que outros. Política como texto e política como

discurso são conceituações complementares”.

O PDI da FATERN não apresenta texto sobre o atendimento educacional

especializado. Ele aponta apenas que os recursos são adequados e atendem à legislação.

Sobre a legislação, o documento cita a Lei nº 10.436, de 2002, e o Decreto nº 5.626, de

2005. Mais uma vez a legislação utilizada e abordada no documento institucional não

converge com a legislação vigente, além de faltar as explicações sobre as

especificidades da educação especial.

O Gestor da Estácio sinaliza para o núcleo de apoio pedagógico, que segundo

ele:

Tem, tem sim, não é resolução, mas são portarias internas deste núcleo de apoio

pedagógico que a gente chama de NAP. Então, tem uma coordenação e profissionais

que auxiliam ela. A formação dela é bem específica e ela consegue fazer um trabalho

bem bacana com esses alunos. (Gestor B)

Os dizeres do Gestor da Estácio mencionam o núcleo de apoio pedagógico, que

conta com uma coordenação com formação específica para o atendimento aos alunos.

Ao questionar sobre essa formação, o gestor assinala:

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É eu sei que tem da área da Psicologia também, é não lembro agora, sei que tem

diversos professores. (Gestor B)

O gestor não deixa claro qual é o profissional responsável pelo atendimento,

contudo, a área da Psicologia fica evidente.

As IES devem “articular com os gestores institucionais e professores para que o

Projeto Pedagógico dos Cursos (PPC) e o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI)

contemplem os pressupostos epistemológicos, filosóficos, legais e políticos da educação

inclusiva” (BRASIL, 2013, p. 20). Além disso, precisam garantir o AEE por meio dos

núcleos de acessibilidade e registrar as políticas nos documentos institucionais como o

PDI e o Plano Pedagógico dos Cursos (PPC) (BRASIL, 2013).

Das IES pesquisadas, a UNIDERP Anhanguera e a Kroton abordam em seus

registros documentais o núcleo de acessibilidade. As demais, referem-se a projetos de

inclusão, acompanhamento de alunos com deficiência ou projetos de apoio aos

discentes.

Segundo o texto do PDI da UNIASSELVI, a instituição conta com um:

Programa de Inclusão do Núcleo de Educação a Distância que tem como

objetivo garantir a acessibilidade a todos os acadêmicos com necessidades

especiais, respeitando o seu direito de matrícula e permanência no Ensino

Superior. (PDI UNIASSELVI)

O PDI da UNOPAR, por sua vez, atenta para:

[...] a necessidade de se estabelecerem políticas específicas para os

portadores de necessidades especiais, a Universidade criou e implantou o

Programa Permanente de Atendimento a Alunos com Necessidades

Educativas Especiais – PROPAE. (PDI UNOPAR)

A Universidade tem como política para a educação inclusiva garantir, por

meio dos seus segmentos e unidades, condições adequadas para que o

PROPAE possa desenvolver seus trabalhos com eficiência, possibilitando

aos alunos com necessidades educativas especiais o desempenho de suas

atividades acadêmicas, assegurando-lhes tranquilidade e a integração no

ambiente universitário. (PDI UNOPAR)

As duas instituições apresentam em seus PDIs projetos de implementação de

políticas institucionais de educação inclusiva para o atendimento ao público-alvo da

educação especial. Contudo, identificam-se divergências com a própria nomenclatura

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utilizada pelas duas instituições. Enquanto a UNIASSELVI utiliza a nomenclatura

acadêmicos com necessidades especiais, a UNOPAR utiliza no mesmo documento duas

nomenclaturas diferentes: portadores de necessidades especiais e alunos com

necessidades educativas especiais.

Vale ressaltar que, segundo a Política Nacional de Educação Especial na

Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008a), a nomenclatura utilizada é

público-alvo da educação especial. A expressão “portadores de necessidades especiais”

não é mais utilizada. Segundo Sassaki (2002, p. 1):

No Brasil, tornou-se bastante popular, acentuadamente entre 1986 e 1996, o

uso do termo portador de deficiência (e suas flexões no feminino e no plural).

Pessoas com deficiência vêm ponderando que elas não portam deficiência;

que a deficiência que elas têm não é como coisas que às vezes portamos e às

vezes não portamos (por exemplo, um documento de identidade, um guarda-

chuva). O termo preferido passou a ser pessoa com deficiência.

Tanto o termo “portadores de necessidades especiais” quanto a expressão

“necessidades educativas especiais” foram substituídos por:

[...] necessidades educacionais especiais. A palavra educativo significa algo

que educa. Ora, necessidades não educam; elas são educacionais, ou seja,

concernentes à educação. O termo necessidades educacionais especiais foi

adotado pelo Conselho Nacional de Educação / Câmara de Educação Básica

(Resolução nº 2, de 11-9-01, com base no Parecer CNE/CEB nº 17/2001,

homologado pelo MEC em 15-8-01) (SASSAKI, 2002, p. 1).

Independente dos equívocos na nomenclatura utilizada, é possível averiguar a

preocupação com o direito à matrícula, permanência, possibilidade de desenvolver as

atividades acadêmicas e integração dos alunos público-alvo da educação especial no

Ensino Superior, ou seja, as propostas apresentadas nos documentos das IES

demonstram coerência e revelam conhecimento das necessidades desses alunos. É

perceptível que a proposta de atendimento ao público-alvo da educação especial vai

além da superação da acessibilidade física e revela preocupação com acessibilidade nas

comunicações e atendimento ao aluno.

Em relação à contratação de profissionais da área da educação especial para o

AEE, a UNIASSELVI aponta em seu PDI:

Contratação de intérpretes educacionais, disponibilização de apoio

pedagógico com equipe especializada na adaptação de materiais e suporte

pedagógico. (PDI UNIASSELVI)

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Esse texto assinala a contratação de intérpretes educacionais. Tal contratação

está regulamentada pela a Resolução nº12/2010 da instituição e se refere ao profissional

do atendimento educacional especializado e não apenas ao intérprete de LIBRAS. O

documento descreve que é preciso contratar um profissional para o atendimento aos

alunos com necessidades especiais que apresente como requisito fluência em LIBRAS e

certificado de aprovação no Pró-LIBRAS. Com a leitura do documento, constata-se que

as atribuições desse profissional se misturam, uma vez que se trata do profissional do

AEE, mas que preferencialmente atenda ao público de alunos surdos.

Além da contratação do intérprete de LIBRAS, o texto, diferente das demais

instituições, revela ações de adaptação de materiais. Sabe-se que, para a oferta da

Educação a Distância, as instituições necessitam trabalhar com a elaboração e

distribuição de materiais, e esse texto revela preocupação com adaptação, dessa forma o

aluno também compreende que poderá contar com este recurso.

A Resolução da IES cita a importância do apoio pedagógico e da equipe

especializada, contudo há registro apenas da contratação dos intérpretes educacionais

nos polos de apoio presencial. Já os dizeres do gestor da IES entrevistado revelam:

A instituição até 2013 contava com um projeto chamado PROPAE (Programa

Permanente de Atendimento a Alunos com Necessidades Educativas Especiais). No

ano de 2014, foi criado o NUEEI (Núcleo de Educação Especial Inclusiva). Esse núcleo

é gerenciado por um profissional da área da inclusão e atende a todas as unidades e

polos da instituição. É um núcleo que iniciou o trabalho de acompanhamento dos

alunos da educação especial, estudando as suas necessidades, e auxiliando os demais

setores a garantirem o acesso para esses alunos. O atendimento é de responsabilidade

do núcleo, que é gerenciado por uma pessoa com formação em educação com pesquisas

e experiências na área da educação especial. (Gestor C)

O discurso do gestor revela conhecimento sobre o histórico e a composição do

núcleo ao discorrer sobre o modo como o projeto inicial de inclusão passou a núcleo de

acessibilidade. Fala sobre o atendimento e a formação do responsável com

conhecimento, o que revela participação nos processos ou uma comunicação alinhada.

Pode-se entender que a tradução e interpretação das políticas de inclusão por parte da

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IES são reveladas no discurso do gestor, nos documentos e no contexto da prática. Para

apontar a interpretação dessa política nos documentos e complementar as informações

prestadas, o Gestor da Kroton apresentou a Resolução VP Acadêmica nº 001/2014, que

regulamenta o atendimento ao público-alvo da educação especial por meio do Núcleo de

Educação Especial Inclusiva.

A análise dos documentos da UNOPAR e da UNIASSELVI, os dizeres do gestor

e a resolução apresentada permitem constatar que a instituição traduz e interpreta as

ações por meio de um núcleo de acessibilidade, mas que ainda não atualizou tais dados

no PDI.

Tal como a UNIASSELVI, a FESCG e a FASE do Ceará apresentam no PDI um

texto citando a contratação de profissionais especializados:

Contratar professores e pessoal técnico para atender especificidades da

inclusão escolar. (PDI FESCG)

Dispor de intérpretes que auxiliem os alunos com deficiência auditiva nos

seus trabalhos acadêmicos em sala de aula; [...]. (PDI FASE Ceará)

Os textos apontam a contratação de profissionais específicos para o

acompanhamento dos alunos caracterizados como público-alvo da educação especial,

mas a formação e as atribuições desses acabam ficando “camufladas”. Ora entende-se

que esse é um técnico para atender essas especificidades ora volta-se para a contratação

do intérprete de LIBRAS.

De acordo com a Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da

Educação Inclusiva (BRASIL, 2008a), esse profissional deve apresentar conhecimentos

específicos em LIBRAS, do sistema Braille e Sorobã, de orientação e mobilidade,

atividades da vida diária, comunicação alternativa, programas de enriquecimento

escolar, produção de materiais didáticos e pedagógicos, de recursos ópticos e não

ópticos e tecnologia assistiva.

Para atuar na educação especial, o professor deve ter como base da sua

formação, inicial e continuada, conhecimentos gerais para o exercício da

docência e conhecimentos específicos da área. Essa formação possibilita a

sua atuação no atendimento educacional especializado e deve aprofundar o

caráter interativo e interdisciplinar da atuação nas salas comuns do ensino

regular, nas salas de recursos, nos centros de atendimento educacional

especializado, nos núcleos de acessibilidade das instituições de educação

superior, nas classes hospitalares e nos ambientes domiciliares, para a oferta

dos serviços e recursos de educação especial (BRASIL, 2008a, p. 11).

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O perfil apresentado na política revela um profissional polivalente, com

conhecimento em todas as especificidades da educação especial. Atualmente, os

profissionais dessa área são formados nos cursos de Licenciatura em Educação Especial

e nos cursos de Licenciatura em Letras-LIBRAS ou, então, formados em cursos de

licenciaturas com pós-graduação na área da educação especial.

Mesmo com essas recomendações, constata-se que as IES deixam claro em seus

documentos e também nos discursos dos gestores quem é o profissional responsável

pela interpretação de Libras, contudo nem todas as IES deixam claro qual profissional

atenderá as demais especificidades da educação especial na realização do atendimento

educacional especializado (AEE) e nem qual a formação exigida e suas funções.

Como explicitado nos documentos e nos dizeres dos gestores da Anhanguera e

da Estácio, os profissionais que atuam nos núcleos apresentam formação diferenciada.

Na Anhanguera, formação voltada para o regulatório, e na Estácio, um profissional da

Pedagogia. As duas IES procuram atender à legislação nos documentos institucionais,

mas silenciam no momento de revelar qual profissional é responsável pelo atendimento

educacional especializado e quais as competências da equipe responsável por esse

atendimento. Os dados confirmam que a equipe não apresenta formação na área da

educação especial como previsto na política.

Na Kroton, os documentos e o relato do gestor sinalizam para uma equipe com

formação na área, que busca dialogar com os demais setores pedagógicos envolvidos no

processo de ensino e aprendizagem acerca dos recursos necessários para garantir o

acesso ao público-alvo da educação especial.

Conforme Resolução CNE/CEB nº. 4/2009, o profissional responsável pelo AEE

ofertado nas salas de recursos multifuncionais ou nos núcleos de acessibilidade deve ter

formação inicial para docência com formação complementar em educação especial.

Esse profissional é responsável por organizar o plano de AEE, as estratégias e recursos

necessários para garantir o acesso ao público-alvo da educação especial, acompanhar a

funcionalidade dos recursos, orientar professores, família e demais profissionais acerca

da inclusão desse público.

As três IES pesquisadas apresentaram preocupação com a formação do

intérprete de LIBRAS para desenvolver o AEE e apenas a Kroton manifestou atenção

com a formação específica dos profissionais do núcleo de acessibilidade.

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1.1TIPOS DE APOIO E RECURSOS

Vários são os apoios e recursos que devem ser disponibilizados para garantir a

acessibilidade ao público-alvo da educação especial no Ensino Superior. Contudo, antes

de citar e analisar os recursos disponibilizados pelas IES pesquisadas, parece importante

sinalizar o modo como é organizado o atendimento aos alunos desde o processo seletivo

até a solicitação dos recursos.

Essas informações surgiram nos discursos dos gestores e nos documentos

complementares disponibilizados. O Comunicado do Núcleo de Acessibilidade e

Inclusão da Anhanguera (NAIA) 001/2014 enviado aos polos de apoio presencial indica

que na matrícula de alunos caracterizados como público-alvo da educação especial os

polos devem preencher um formulário de solicitação de recursos e encaminharem esse

com o laudo do aluno para o NAIA (Comunicado NAIA 001/2014).

O gestor da Anhanguera não citou em seus dizeres esse processo. Já o gestor da

Kroton, sinalizou que:

O Núcleo trabalha sob demanda. O polo identifica os alunos da educação especial e

encaminha um questionário específico preenchido e assinado pelo aluno para o NUEEI.

Com esse questionário e com o laudo, o núcleo avalia as necessidades e os recursos

utilizados por cada aluno. Em seguida são enviadas orientações para o acompanhamento

dos alunos e solicitado às demais diretorias o material adaptado. (Gestor C)

Ainda complementando os dizeres do gestor, a resolução interna que

regulamenta as ações do NUEEI apresenta o mesmo processo citado, processo esse

também sinalizado pelo gestor da Estácio:

Na sala de ingresso já é sinalizado. Nosso sistema ele acusa o momento de

atendimento, ele já acusa que este aluno, já fica registrado no sistema que ele é portador

de necessidade especial. (Gestor B)

Observou-se que nas três instituições pesquisadas o processo de inclusão se

inicia no processo seletivo por meio de sistema ou formulários que identificam o

público-alvo da educação especial e a partir desses formulários o Atendimento

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Educacional Especializado ou os recursos de acessibilidade são solicitados aos núcleos

de acessibilidade, inclusão e apoio pedagógico. Esses formulários são caracterizados

como mecanismos de autodeclaração. Isso faz com que sejam questionados os números

apresentados nos indicadores nacionais da educação especial, pois nem sempre revelam

o cenário atual e verdadeiro da inclusão nesse nível de ensino.

Os gestores sinalizam para uma possibilidade de tradução da política de inclusão

ao relatarem o processo de identificação dos alunos caracterizados como público-alvo

da educação especial. O Gestor da Kroton fala do acompanhamento e as possibilidades

de recursos para a efetivação da política, demonstrando, assim, de forma mais clara, o

modo da IES interpretar e traduzir a política, nem sempre evidenciada pelos

documentos oficiais, mas estruturada de acordo com a lei, de modo que marca a

identidade da instituição e a diferencia das demais.

A análise permitiu sintetizar o atendimento educacional especializado desde o

momento em que os alunos caracterizados como público-alvo da educação especial

realizam a inscrição para os processos seletivos até os meios de acessibilidade

disponibilizados. Contudo, o que chama atenção até este momento da pesquisa é a

inexistência das especificidades da modalidade EAD. Os documentos e os dizeres dos

gestores permitem afirmar que as ações e concepções acerca da inclusão nas instituições

não diferenciam o aluno da modalidade presencial e o aluno da EAD. Os recursos

tecnológicos específicos da educação a distância não foram contemplados nos dados

coletados. Assim, é possível desenhar o fluxo de atendimento educacional especializado

das três instituições da seguinte forma:

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Figura 15: Fluxograma de AEE – ANHANGUERA

Fonte: Desenvolvido pela pesquisadora de acordo com dados da pesquisa

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Figura 16: Fluxograma de AEE – ESTÁCIO

Fonte: Desenvolvido pela pesquisadora de acordo com dados da pesquisa

Os dois fluxogramas apresentam características comuns para o Atendimento

Educacional Especializado (AEE). As instituições iniciam com a disponibilização de

recursos para as provas dos processos seletivos, fazem o cadastro e a caracterização do

público-alvo da educação especial via sistema e em seguida sugerem orientações para os

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atores envolvidos. Revelam atendimento similares aos alunos com deficiência visual,

física, auditiva e intelectual, contudo, a Anhanguera Educacional cita o Manual de

Orientação e o uso de Tecnologias Assistivas .

Figura 17: Fluxograma de AEE – KROTON

Fonte: Desenvolvido pela pesquisadora de acordo com dados da pesquisa

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Os fluxos apresentados revelam que o AEE inicia no momento de solicitação de

adaptação de provas nos processos seletivos, seguido da identificação por meio de

formulários específicos ou via sistema e comprovação da deficiência por laudo médico.

As três instituições apresentam recursos de acessibilidade nos materiais e provas.

Esses recursos são organizados para atender a alunos com deficiência visual, física e

auditiva. Tratam-se de recursos como provas e materiais ampliados, em formato

compatível com leitores de tela, disponibilização de intérprete de LIBRAS e ampliação

de tempo. Para os alunos com deficiência visual e física, as IES disponibilizam

adaptações nos espaços físicos. A Anhanguera e a Kroton também citam o uso de

tecnologias assistivas. Essas adaptações são realizadas por núcleos de acessibilidade nas

instituições Anhanguera e Kroton e pelo núcleo de apoio pedagógico na Estácio.

O que se percebe é a ênfase para as deficiências sensoriais (visual, auditiva) e

física e a inexistência de atendimento para os transtornos globais do desenvolvimento e

as altas habilidades/superdotação. As adaptações de materiais não contemplam os

ambientes virtuais de aprendizagem e as especificidades da modalidade EAD. Não

revelam preocupação com ambientes virtuais de aprendizagem pautados no design

universal acessível a todos os públicos, por exemplo.

Esses ambientes acessíveis e responsivos contribuem para o desenvolvimento da

aprendizagem de forma autônoma, uma das características da EAD. Ambientes

acessíveis com materiais didáticos como vídeos, slides, textos e objetos de

aprendizagem compatíveis com leitores e ampliadores de tela, que apresentam legenda,

janela de LIBRAS e audiodescrição, permitem ao aluno avançar em seus estudos de

forma independente, evita trabalhos manuais de adaptação de materiais e compreende os

alunos como iguais. Parte do princípio de igualdade, respeitando as individualidades.

1.1.1 Apoio e recursos para o aluno com deficiência visual

Nesta subseção, procurou-se identificar nos documentos institucionais e na fala

dos gestores quais são as ações previstas pela IES para o apoio ao aluno com deficiência

visual. De acordo com as orientações do Censo do Ensino Superior, essa especificidade

do público-alvo da educação especial pode ser dividida entre baixa visão e cegueira. Os

requisitos mínimos de acessibilidade para esse público são:

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103

Sistema Braille, Sorobã, orientação e mobilidade, utilização de recursos

ópticos e não ópticos, atividades de vida autônoma; software de ampliação de

tela e de leitura de texto, com ampliação flexível em vários tamanhos e sem

distorção, ajuste de cores, otimização de foco, ponteiro e cursos; entre outros

(BRASIL, 2013, p. 17).

Com base nesses requisitos, procurou-se identificar o modo como as IES

traduzem e interpretam essas recomendações. O PDI da Anhanguera Educacional

sinaliza que:

Para os estudantes com deficiência visual é disponibilizado livro-texto em

formato acessível (áudio livro), quando requisitado, além de arquivos de

aulas que os alunos têm acesso. As avaliações são realizadas com a ajuda

de um ledor. (PDI ANHANGUERA)

A presença de um ledor em sala de aula converge com a contratação de

profissionais para o atendimento educacional especializado prevista na Política

Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, que aponta como

possibilidades de profissionais o “instrutor, o tradutor, intérprete de LIBRAS e guia-

intérprete, bem como monitor ou cuidador [...]” (BRASIL, 2008a, p. 8).

A presença do ledor certamente auxiliará os alunos com deficiência visual a

terem acesso ao conteúdo das disciplinas, contudo, a sua presença implicará

disponibilidade de um espaço específico para a realização de provas, uma vez que a

turma desse aluno estará participando do mesmo processo avaliativo.

Ao aluno com baixa visão, a IES disponibiliza:

[...] arquivos das aulas para que, por meio do computador, esses possam

ampliar os textos para melhor visualização. As avaliações podem ser

realizadas com a ajuda de um ledor ou ampliadas as fontes dos textos.

O software Virtual Vision – leitor de telas que possibilita ao estudante com

deficiência visual, acesso às obras digitalizadas e ao ambiente virtual na

unidade. Este programa está instalado em um dos laboratórios de

informática e na biblioteca.

A bibliografia básica fundamental (PLT) que é disponibilizada ao estudante

com deficiência visual, em formato acessível (digital ou áudio-livro), pela

biblioteca que adquire as obras existentes no mercado, sendo outras

digitalizadas pela Central de Bibliotecas da Anhanguera Educacional. (PDI

ANHANGUERA)

Diante desses dados, pode-se afirmar que a instituição atende às recomendações

previstas nos documentos oficiais, mas ainda se pode indagar a permanência desse

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público nos cursos de graduação. A IES, do ponto de vista inicial, procura garantir o

acesso, mas não se manifesta sobre a permanência. Cabe lembrar que a educação a

distância surgiu e foi legalmente regularizada como uma proposta para levar o Ensino

Superior aos lugares mais distantes e isolados em busca da inclusão social e da

educação para todos. Assim surge uma pergunta reflexiva: os recursos tecnológicos

previstos como meio de acessibilidade para os acadêmicos chegam aos lugares mais

distantes?

Várias instituições utilizam a plataforma Moodle ou então plataformas

específicas desenvolvidas para o ambiente virtual de aprendizagem (AVA), um dos

principais recursos tecnológicos utilizados na EAD. Contudo, na maioria das vezes,

esses ambientes não apresentam acessibilidade. Alguns recursos ainda se apresentam

com um custo alto, o que acaba contribuindo para que a IES opte por adaptar materiais

manualmente, sem explorar os recursos que a metodologia propicia.

Silva, Bock, Beche e Goedert (2013) alertam para a necessidade de se pensar os

ambientes virtuais de aprendizagem a partir do desenho universal. Frisam também que

em alguns casos as plataformas são acessíveis e os conteúdos não. Sabe-se que as novas

tecnologias ampliaram o leque de possibilidades e de acessibilidade para as pessoas com

deficiência, principalmente as com deficiência visual. Entretanto, também fica a dúvida

de como é a formação dos professores e dos próprios alunos para lidar com essas

tecnologias. Todas essas inquietações remetem ao conceito de fabricação de Ball

(2012), questionando como o contexto de influência e produção de textos se traduz na

prática.

Ao afirmar que disponibiliza um software específico instalado nos laboratórios,

pode-se realizar a seguinte reflexão: o software utilizado pela instituição é pago, o que

dificulta ainda mais a compreensão do aluno, que normalmente faz uso de gratuitos,

assim se a IES disponibiliza em um laboratório específico, entende-se que ou o aluno

acessa os materiais no laboratório ou busca recurso por conta própria para o acesso fora

da instituição.

Para complementar as informações relativas aos recursos disponibilizados para o

aluno com deficiência visual, o Gestor da Anhanguera destaca:

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Os recursos que nós utilizamos para o Deficiente Visual, eu vou citar: não sei se você

conhece mas tem uma série de softwares, por exemplo temos um comunicado específico

do Deficiente Visual. Ele tem o Software leitor de tela, ele tem o Dosvox, free do

Núcleo de Computação da Federal do Rio de Janeiro. Ele tem o NVDA, é uma sigla é

um leitor de tela gratuito de fonte aberta ele vem sendo desenvolvido há alguns anos.

Ele tem o compartilhamento de arquivos sempre digitalizados e manipulados pelo

NAIA, que é o nosso Núcleo. É disponibilizado no google Drive, as provas e materiais,

slides, com fonte ampliada.

Temos os comunicados que a gente faz e que o NAIA passa a cada ano com as novas

informações para os diretores, bibliotecários, enfim, todos os envolvidos. (Gestor A)

Percebe-se nos dizeres do Gestor da Anhanguera que muitas informações

convergem com os documentos, principalmente as questões que tratam da

disponibilização de livro-texto e softwares leitores de tela. No entanto, enquanto os

documentos citam apenas um software pago, o gestor menciona os livres. Dessa forma,

entende-se que esse pode ser um exemplo de falta de atualização de documentos, tendo

em vista que no documento apresentado pelo próprio gestor, “orientações sobre inclusão

de estudantes com deficiência no ensino superior”, existe uma recomendação intitulada:

dicas para relacionar-se e dicas de recursos para estudante com deficiência visual.

Esse item do documento aborda desde a definição da deficiência até os recursos

disponibilizados pela IES, como também orientações para o acompanhamento nas

atividades acadêmicas aos profissionais que trabalham com esses alunos, sejam eles

professores, tutores ou coordenadores. Assim como na política, na IES também se

identifica uma diversidade de documentos, que nem sempre convergem, mas que se

complementam. O documento “orientações sobre inclusão de estudantes com

deficiência no ensino superior” apresenta especificidades que completam a política

proposta no PDI.

Assim como na Anhanguera, também o Gestor da Kroton discorre sobre os

recursos para os alunos com deficiência visual:

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Organizamos adaptação de material de acordo com a necessidade dos alunos, como por

exemplo a adaptação de material e provas para alunos cegos e com baixa visão, com

fonte ampliada ou em formato PDF para utilização com leitores de tela. Quando

acontece alguma necessidade no decorrer do semestre o polo entra em contato com o

núcleo e recebe orientações por e-mail ou telefone. Essas orientações iniciam já no

processo seletivo e continuam durante todo o curso. (Gestor C)

Percebe-se que existe uma preocupação em disponibilizar os materiais em

formato acessível, assim a IES organiza materiais e provas com fontes e formatos que

permitem o acesso a esse público.

Assim como o texto relativo aos requisitos de acessibilidade não deixa claro

como esses recursos são utilizados na prática, isso também acontece na IES FASE

Ceará, conforme apresentado a seguir:

Em Relação aos portadores de deficiência visual:

a) Caso seja solicitado manter sala de apoio equipado com computadores e

impressoras braille, sistemas de síntese de voz, gravador, bem como

assegurar ampliação de cópias de textos através de software e

equipamentos de ampliação de imagem.

b) Para o atendimento de alunos com visão subnormal se solicitado

disponibilizar lupas, régua de leitura e scanner acoplado ao computador;

c) Adotar um plano gradual de aquisição de acervo bibliográfico em braille

de fitas sonoras para uso didático. (PDI FASE CEARÁ)

Esses recursos são os previstos na Portaria nº 3.284 (BRASIL, 2003). Nesse

caso, tem-se uma cópia fiel do texto, que permite questionar, por exemplo, a atualização

dos recursos citados, como o acervo de fitas sonoras, uma vez que, com o uso das novas

tecnologias, as adaptações em áudio já ultrapassaram as fitas sonoras, substituídas por

áudio-livro, disponibilizados diretamente nos ambientes virtuais de aprendizagem.

Outro importante aspecto a se analisar no texto diz respeito à expressão quando

solicitado. Essa expressão converge com os textos da legislação que utilizam a palavra

preferencialmente. Quando solicitado implica dizer que as IES não estão preparadas

para receber o aluno com deficiência visual e que se esse solicitar o recurso será

providenciado. Com isso, pergunta-se: se a legislação prevê núcleos de acessibilidade,

como as IES podem se organizar quando solicitado? Já se tem conhecimento de que a

demanda de matrículas do público-alvo da educação especial vem aumentando,

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principalmente na Educação a Distância, e que os documentos apontam as políticas de

inclusão, contudo as IES esperam que os alunos solicitem os recursos. Percebe-se que

diante do contexto não há como ser diferente, pois, entre as três instituições

pesquisadas, nenhuma oferta a EAD pautada nos princípios do design universal.

Mesmo com a solicitação do aluno, pode-se questionar se a IES irá dispor de

salas com computadores e impressora Braille acoplada. A realidade para manter esse

tipo de equipamento vai além da disponibilidade de espaços físicos e recursos

específicos para esse fim. Normalmente, as impressões em Braille são solicitadas a

locais e fundações especializadas, pois é um equipamento que exige muitos recursos

financeiros custosos e profissionais especializados. Sabe-se que esse equipamento

auxilia e muito na adaptação de materiais para alunos cegos, contudo faz-se necessário

analisar o contexto educacional e as possibilidades de recursos viáveis à IES e aos

alunos. Esse pode ser um exemplo das armadilhas que surgem no momento em que os

textos são replicados.

Ball (2012) afirma que as instituições podem prestar atenção à política, fabricar

respostas e incorporá-las à documentação institucional ao invés de mudar os efeitos e

métodos pedagógicos, por exemplo. São os métodos pedagógicos que sugerem o modo

como essas políticas se traduzem na prática. Os dizeres do Gestor da Estácio elucidam:

Então assim, nosso campus é todo sinalizado e adequado para esses casos, assim nós

temos dois alunos que são cadeirantes, então nos laboratórios as fileiras são mais largas,

para que esse aluno possa transitar ali, e no caso do deficiente visual ele também

consegue, porque é tudo identificado ele não tem dificuldades porque a gente utiliza o

DOSVOX e braille. São tratamentos diferenciados, porque o deficiente visual, a gente

tem as provas em Braille, as on-line a gente já consegue rodar junto com o DosVox,

então são atendimento diferenciados. (Gestor B)

O discurso do gestor reforça a preocupação com a acessibilidade física e afirma

que o aluno não tem dificuldades, pois utilizam leitores de tela e Braille. Tal afirmação

faz refletir se a disponibilização desses recursos faz com que os alunos não tenham

dificuldades mesmo, pois o que acontece nos textos em que os leitores não dão conta,

como por exemplo, imagens, gráficos, quadros e tabelas? Silva, Bock, Becke e Goedert

(2003) orientam que todo conteúdo imagético seja descrito antes da inserção no

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ambiente virtual de aprendizagem, garantindo acesso e igualdade. Nesse momento, há a

necessidade de adaptação pedagógica e não apenas nas comunicações, na arquitetura e

nas tecnologias. Assim, o acesso ao conteúdo visual para os deficientes visuais é um

desafio em todos os níveis de ensino.

O apoio ao aluno com deficiência visual, principalmente no Ensino Superior na

EAD, requer uma série de adaptações que garantam a acessibilidade. Essa modalidade

trabalha diretamente com a produção de materiais didáticos e uso de novas tecnologias

por meio dos ambientes virtuais de aprendizagem, que exigem adaptações para propiciar

a inclusão de todos os alunos.

Não há como negar que a inclusão de pessoas cegas vem recebendo um

grande impulso com os avanços das tecnologias da informação e

comunicação - TIC. Como era o acesso a textos escritos há duas ou três

décadas? O leitor imagina o tamanho de uma biblioteca para pessoas cegas?

As obras escritas em Braille ocupam um volume aproximadamente três vezes

maior do que livros escritos em tinta, o que dificulta a distribuição aos

estudantes cegos. Pessoas cegas relatam que tiveram acesso a poucos livros e

lamentam a péssima condição de leitura, uma vez que os pontos desse

sistema tornam-se menos salientes com o uso prolongado (PIECZKOWSKI;

NAUJORKS, 2012, p. 954).

As orientações dos referenciais já citados apontam a importância das adaptações

para a garantia da acessibilidade aos materiais e recursos pedagógicos, bem como aos

espaços físicos das instituições. Na EAD, essas adaptações acontecem desde a

ampliação de fonte dos materiais didáticos e provas até a aquisição de softwares de

leitores e sintetizadores de voz. A descrição de imagens e audiodescrição nos vídeos das

disciplinas e em teleaulas também fazem parte das novas tecnologias utilizadas para

contribuir com o acesso aos conteúdos. Entretanto, esses recursos nem sempre são

utilizados pelas instituições.

Entre os documentos analisados, encontrou-se somente no Relatório de

Responsabilidade Social da Anhanguera um texto especificando os recursos

disponibilizados, conforme já apresentado. De modo geral, as IES disponibilizam

materiais ampliados para alunos com baixa visão e materiais em formato acessível aos

leitores de tela para alunos cegos, sendo que o Braille é pouco utilizado.

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1.1.2 Apoio e recursos para o aluno com deficiência auditiva

Inicialmente, todos os documentos analisados fazem alguma referência ao apoio

ou acompanhamento a esse público específico e também ao Decreto nº 5.526/2005

(BRASIL, 2005b), que regulamenta a Lei nº 10.436/2002, que dispõe sobre a Língua

Brasileira de Sinais – LIBRAS, e ao artigo 18 da Lei nº 10.098/2000. Dessa forma, o

PDI da UNIDERP – Anhanguera assinala que:

Para os estudantes com deficiência auditiva (surdez) são disponibilizados

intérpretes da Língua Brasileira de Sinais – Libras, quando solicitado pelo

estudante. Nas avaliações são considerados relevantes o conteúdo, a

coerência e a sequência lógica das ideias, podendo ser disponibilizado o

acesso ao dicionário e o intérprete, se necessário. (PDI ANHANGUERA)

Além das informações sobre a disponibilização de intérpretes de LIBRAS, o

texto do PDI também afirma que:

[...] a disciplina Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS constitui disciplina

optativa das matrizes curriculares dos cursos de graduação. (PDI

ANHANGUERA)

O gestor da IE ainda complementa:

Então tem Libras que é automático, pra quem é deficiente auditivo. (Gestor A)

Basicamente, os textos dos PDIs das IES apontam a contratação de intérpretes de

LIBRAS e a oferta da disciplina como componente curricular optativo ou obrigatório,

um texto que converge exatamente com o que preconiza o Decreto nº 5.526 (BRASIL,

2005b) já citado. O que não se percebe é a referência à formação dos profissionais

envolvidos nesse processo, quais sejam: o intérprete de LIBRAS e o professor da

disciplina de LIBRAS, ambos citados na legislação nacional.

Sobre o apoio aos alunos com deficiência auditiva, a FESBH assim se manifesta:

Dando continuidade às ações que favorecem a política para a educação

inclusiva, a FESBH em atendimento ao Decreto 5.626 de 22 de dezembro

de 2005 incorporou à matriz curricular dos cursos de Licenciatura a

disciplina LIBRAS.

Paulatinamente esta disciplina foi estendida a outros cursos da Instituição,

conforme previsto no Decreto acima citado.

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Os procedimentos ora recomendados fazem parte do conjunto de ações

necessárias à efetivação de uma Educação Inclusiva.

Uma das tarefas junto aos alunos com necessidades educacionais especiais

vem sendo a de criar um ambiente educacional que reconheça as suas

possibilidades e suas limitações, garantindo, assim, a sua plena inclusão no

ensino superior. (PDI FESBH)

O texto da instituição permite alguns questionamentos, como, por exemplo: o

que garante a plena inclusão no Ensino Superior? Por que a oferta da disciplina de

LIBRAS é importante para que a inclusão se concretize? Qual o entendimento da IES

sobre a importância de se ofertar tal disciplina?

De acordo com o Decreto nº 5.626 (BRASIL, 2005b), a disciplina de LIBRAS

deve ser inserida como obrigatória nos currículos dos cursos de formação de professores

e fonoaudiologia e como optativa nos demais cursos. Essa recomendação busca a

inclusão de alunos surdos, garantindo a LIBRAS como forma de comunicação e

expressão, amparada pela Lei nº 10.436 (BRASIL, 2002b).

O decreto ainda aponta dados sobre a formação do professor dessa disciplina,

como também apresenta as recomendações para a contratação do profissional que

atenderá aos alunos como intérprete. Assim, o professor de LIBRAS deve apresentar

formação em nível superior de Licenciatura em LIBRAS ou Licenciatura Letras/

LIBRAS, uma recomendação que pode preocupar as instituições, pois há a falta desses

profissionais no mercado de trabalho. O documento traz a recomendação do professor

com formação específica já no ano de 2005, mas são poucas as instituições que

oferecem esses cursos de graduação. Diante dessa situação, como as IES podem garantir

professores que atendam a essa recomendação?

Os documentos institucionais citam a importância da contratação desses

profissionais, contudo não mencionam a formação necessária para contratação de modo

a garantir o atendimento dessa demanda. O Decreto faz menção às IES federais no

capítulo IV, §1º, ao afirmar que (BRASIL, 2005b, p. 4):

Para garantir o atendimento educacional especializado e o acesso previsto no

caput, as instituições federais de ensino devem:

I – promover cursos de formação de professores para:

a) O ensino e uso de Libras;

b) A tradução e interpretação de Libras – Língua Portuguesa; e

c) O ensino de Língua Portuguesa como segunda língua para pessoas

surdas.

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Essa recomendação específica para as IES federais também permite questionar o

motivo pelo qual tal política diferencia a responsabilidade entre IES federais e privadas

se no momento de avaliação da regularização ambas são investigadas da mesma forma.

Se o Censo da Educação Superior revela maior concentração de matrículas do público-

alvo da educação especial nas IES privadas, as políticas nacionais não deveriam deixar

“brechas” nos textos, que, certamente, direcionam as práticas dentro das instituições.

Ao citar a formação do tradutor e intérprete de LIBRAS – Língua Portuguesa no

capítulo V, o Decreto 5.626 (BRASIL, 2005b) orienta que a formação desse profissional

pode ser realizada por meio de cursos de educação profissional, de extensão

universitária ou de formação continuada. No artigo 19, o texto revela preocupação com

a possível falta de profissionais na área nos dez anos seguintes a publicação do

documento, direcionando o perfil dos profissionais a serem contratados pelas IES

federais:

I - profissional ouvinte, de nível superior, com competência e fluência em

Libras para realizar a interpretação das duas línguas, de maneira simultânea e

consecutiva, e com aprovação em exame de proficiência, promovido pelo

Ministério da Educação, para atuação em instituições de ensino médio e de

educação superior;

II - profissional ouvinte, de nível médio, com competência e fluência em

Libras para realizar a interpretação das duas línguas, de maneira simultânea e

consecutiva, e com aprovação em exame de proficiência, promovido pelo

Ministério da Educação, para atuação no ensino fundamental;

III - profissional surdo, com competência para realizar a interpretação de

línguas de sinais de outros países para a Libras, para atuação em cursos e

eventos. (BRASIL, 2005b, p. 6)

O documento apresenta a orientação para as IES federais, mas logo em seguida

orienta, em parágrafo único, que também as IES privadas “buscarão implementar as

medidas referidas neste artigo como meio de assegurar aos alunos surdos ou com

deficiência auditiva acesso à comunicação, à informação e à educação” (BRASIL,

2005b, p. 6). Dessa forma, questiona-se a elaboração do texto da política, uma vez que

não está clara e revela direcionamentos diferentes, favorecendo para que haja as mais

diversas interpretações e traduções no contexto da prática. Assim, nesse contexto, as

IES desenvolvem o texto dos seus documentos.

A FESCG e a FASE do Ceará, revelam que:

Para alunos com deficiência auditiva, a FESCG proporciona intérprete de

Língua de Sinais/Língua Portuguesa disponível no período de aula,

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avaliações, revisão de prova; flexibilização na correção das provas escritas

e aprendizado da língua portuguesa na modalidade escrita. (PDI FESCG)

Contratação de intérpretes de LIBRAS para os alunos portadores de

deficiência auditiva.

Dispor de intérpretes que auxiliem os alunos com deficiência auditiva nos

seus trabalhos acadêmicos em sala de aula; (PDI FASE Ceará)

Em relação aos portadores de deficiência auditiva:

a) A FASE compromete-se se solicitado, de propiciar, sempre que

necessário, intérprete de língua de sinais – língua portuguesa;

b) Adotar flexibilidade nas correções das provas escritas, valorizando os

conteúdos semânticos;

c) Estimular o aprendizado da língua portuguesa principalmente na

modalidade escrita;

d) Proporcionar aos professores acesso à literatura e informações sobre a

especificidade linguística do portador de deficiência auditiva. (PDI FASE

Ceará)

Os documentos notadamente revelam a contratação do intérprete de LIBRAS e

também manifestam a flexibilidade nas correções de provas e as especificidades

linguísticas desse público. Alerta-se para a necessidade de formação para todos os

profissionais envolvidos no processo de ensinar e aprender, para que a inclusão no

Ensino Superior se concretize. Adotar flexibilidade na correção de provas, respeitando

as especificidades linguísticas e os conteúdos semânticos, requer conhecimento e

formação para evitar equívocos que a transforme em facilitação. É necessário garantir o

acesso e a permanência, trabalhando as especificidades por meio do AEE. No AEE para

o aluno com deficiência auditiva:

As atividades se desenvolvem em três momentos didático pedagógicos: AEE

em Libras (exploração em Libras do conteúdo trabalhado em sala); AEE de

Libras (ensino de Libras, incluindo a criação de sinais para termos científicos

conforme a necessidade, em analogia a conceitos já existentes), ensino da

Língua Portuguesa na modalidade escrita, como segunda língua (BRASIL,

2013, p.17).

No Ensino Superior, principalmente na modalidade a distância, que disponibiliza

materiais didáticos aos alunos, é importante também levar em consideração as

especificidades das disciplinas e os termos específicos, o que requer do profissional do

AEE constante aperfeiçoamento e pesquisa, bem como trabalho colaborativo com os

profissionais da área. Há que se considerar ainda técnicas específicas de cada área que

são constantemente utilizados nas aulas e materiais didáticos. Aqui não se trata de

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regionalismos e sim de termos técnicos muitas vezes inexistentes ou desconhecidos

pelos profissional intérprete da LIBRAS.

Ball (2012) questiona como diferentes indivíduos e grupos de atores interpretam

políticas em contextos específicos. Quais as influências socioculturais e históricas que

acabam permeando essa interpretação? O autor ainda coloca que muitas vezes as

políticas são interpretadas superficialmente para que um problema seja resolvido.

Pode-se verificar que o problema a ser resolvido para a inclusão no Ensino

Superior do aluno com deficiência auditiva está voltado para a avaliação. Os textos dos

PDIs deixam clara a preocupação em atender ao Decreto nº 5.626 (BRASIO, 2005b)

citado nos documentos que norteiam a avaliação de cursos e instituições. Percebe-se que

a repetição do texto, mesmo que de forma superficial, ainda acontece.

O PDI da UNIASSELVI apresenta, como uma das ações do projeto de inclusão,

a contratação do intérprete educacional e de equipe especializada. A função do

intérprete, segundo a Resolução Institucional nº 12/2010 (UNIASSELVI, 2010), é

acompanhar e prestar atendimento aos alunos portadores de necessidades especiais. De

acordo com o quarto artigo da mesma resolução:

Para se candidatar ao cargo de Intérprete Educacional, são necessários os

seguintes requisitos:

I - Ter formação mínima de graduação na área de educação;

II - Ter formação específica para a função de atendimento a portadores de

necessidades especiais;

III - Ter experiência profissional como acompanhante de portador de

necessidades especiais. (RESOLUÇÃO 12/2010 - UNIASSELVI)

Com a leitura desse documento, constatou-se que a nomenclatura utilizada ainda

é a antiga e que o profissional atende todas as demandas da educação especial. Fala-se

em formação na área de educação, e em seguida, em formação específica para a função

de atendimento a esse público.

Os textos revelam um profissional polivalente, bem como não deixam clara a

função e as especificidades do atendimento prestado aos alunos considerados público da

educação especial. Assim, questionam-se quais as especificidades do atendimento ao

aluno surdo que são trabalhadas na IES, tendo em vista que a fluência em LIBRAS não

é uma exigência.

Segundo o Gestor da Kroton:

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Garantimos o intérprete de LIBRAS e também a flexibilização na correção de provas. O

núcleo trabalha com as orientações para que os professores e tutores compreendam a

escrita dos alunos surdos e as especificidades. (Gestor C)

Em nenhum momento os textos dos PDIs analisados revelam como essas

orientações acontecem na prática. Os textos encerram-se no acesso e não há

manifestação de ações que buscam a permanência. De acordo com os textos

institucionais, parece que contratar o intérprete e ofertar a disciplina de LIBRAS atende

ao que preconiza a legislação e garante a inclusão do acadêmico. No entanto, os

gestores da Anhanguera e da Kroton sinalizaram para textos de orientação aos

profissionais envolvidos com o processo de ensinar e aprender. Tais textos citam a

existência de formação continuada para os processos de relacionamento com alunos

caracterizados como público-alvo da educação especial e para a flexibilidade na

correção das avaliações de alunos surdos.

1.1.3 Apoio e recursos para o aluno com deficiência física

A deficiência física, assim como a auditiva, é uma das especificidades mais

citadas nos documentos institucionais e também na própria legislação nacional. O

documento que traz os indicadores de avaliação para autorização e reconhecimento dos

cursos de graduação, o Instrumento de Avaliação de Cursos de Graduação Presencial e a

Distância (BRASIL, 2012), cita apenas dois dos documentos da legislação nacional: o

Decreto n° 5.296/2004, que regulamenta as Leis nº 10.048/2000, que dá prioridade de

atendimento às pessoas que especifica, e nº 10.098/2000, que estabelece normas gerais e

critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de

deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências; e o Decreto n°

5.626/2005, que regulamenta a Lei no 10.436/2002, que dispõe sobre a Língua

Brasileira de Sinais - LIBRAS, e o art. 18 da Lei no10.098/2000.

Com base nas recomendações e exigências destacadas na legislação nacional,

foram analisados os documentos institucionais a fim de verificar quais os recursos

disponibilizados para o atendimento aos alunos com deficiência física. Dessa forma, a

UNIDERP Anhanguera Educacional destaca que:

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Para os estudantes com deficiência motora são identificadas as

necessidades e adaptados os espaços físicos e materiais pedagógicos.

Foram realizadas adaptações nos projetos arquitetônicos e edifícios, de

forma a viabilizar o acesso a todas as dependências acadêmicas e

administrativas da instituição, incluindo: rampas, elevadores, sanitários,

bebedouros e telefone público para cadeirantes, bem como foram

disponibilizadas vagas exclusivas para pessoas com deficiência motora

localizadas em pontos estratégicos da Instituição, dentre outros. (PDI

ANHANGUERA)

Esse texto manifesta preocupação em adaptar os espaços físicos para garantir a

acessibilidade física dentro da instituição, contudo, não apresenta recurso para

acessibilidade metodológica desses alunos. Mobilidade reduzida abrange um número

diferente de especificidades e necessidades que podem ir desde a necessidade de rampa

e banheiros para cadeirantes, como também necessidade de mobília específica,

computadores adaptados e até mesmo de profissionais para transcrição de textos. O

documento da instituição não deixa claro quais as adaptações e que atendimento é

realizado para atender essa demanda. O Gestor da Anhanguera assim se manifesta:

Temos toda a estrutura para quem é deficiente físico e nós nos deparamos recentemente

com um caso sui generis. Deu até espaço na televisão. Um garoto passou no curso de

direito e ele é paralisado cerebral e ele tem uma inteligência rara, ele fez ensino médio

em uma cidade vizinha, sempre com um tutor, uma pessoa ao lado que, ele fala e o tutor

escreve na frente do professor. Esse tutor entende o que ele está falando.

Ele fala com uma certa dificuldade, e quando veio a gente não se adequava com as

questões que tínhamos como proposta, então ele nos explicou que no ensino médio já

era acompanhado por um tutor. A IES contratou o tutor pra ele.

Ele está se saindo muito bem no curso de direito, já está no terceiro semestre e o menino

é brilhante. Só que ele não escreve e ele lê tudo no material que passamos para virtual.

Quando o aluno faz a prova, tem que ser uma prova com a presença do professor, o

tutor dele e ele. O compromisso da Anhanguera é atender e possibilitar que o aluno

possa fazer o curso superior. (Gestor A)

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116

Os dizeres desse gestor permitem analisar alguns pontos: inicialmente ele

qualifica dizendo que a IES tem “toda estrutura para quem é deficiente físico”, em

seguida revela um caso específico de aluno com deficiência física do curso de Direito.

Ao revelar o caso desse aluno, o gestor aponta a importância do apoio de um tutor que o

conheça e o respeito pelo histórico escolar dele. Esse respeito é sinalizado no momento

em que a IES contrata o profissional que já acompanhava o aluno e revela consciência

no momento em que admite que a IES não estava preparada para atender às

necessidades dele. Quando afirma que tem “toda estrutura necessária”, pode-se concluir

que a visão inicial que possuem em relação às necessidades do aluno com deficiência

física está na adaptação arquitetônica.

Cabe aqui relembrar que os Referenciais de Acessibilidade na Educação

Superior e Avaliação in loco do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior

(SINAES) (BRASIL, 2013) apontam oito meios de acessibilidade. O caso do aluno de

Direito revela a preocupação com a acessibilidade metodológica e de comunicação e

ultrapassa a necessidade de acessibilidade física.

Ao mesmo tempo em que se percebe a preocupação da instituição com a

acessibilidade metodológica, ainda assim pode-se ler no discurso do gestor um olhar

voltado para a incapacidade. “Ele é paralisado cerebral e ele tem uma inteligência rara”

e “ele está se saindo muito bem no curso de direito, já está no terceiro semestre e o

menino é brilhante”. O contexto do discurso não permite afirmar e nem cabe julgar se

essa seria uma atitude de reconhecimento das dificuldades da IES em atender às

necessidades do aluno ou uma barreira atitudinal expressa no elogio. Ora, um aluno

paralisado cerebral não pode ser inteligente e nem conseguir acompanhar o curso? Seu

sucesso somente se explicaria por sua rara inteligência? O espanto no discurso pode

manifestar uma forma de preconceito!

Para Tardif (2002), educadores trazem consigo saberes diferenciados, estando

entre eles os saberes individuais, construídos na experiência de vida e história de cada

um, saberes que poderão influenciar e diferenciar as práticas pedagógicas. Assim, em

consonância com Tardif (2002), educadores transportam para a sua prática em sala de

aula toda a bagagem histórica e social desenvolvida ao longo de seus anos de vida.

Como cada pessoa é única e influenciada pelo seu contexto, sua cultura, as práticas

pedagógicas e as relações dos educadores com seus educandos, com e sem deficiências,

são tão diversificadas.

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Entende-se que esse saber diferenciado dos envolvidos com o processo de

ensinar e aprender se manifesta no momento de traduzir e interpretar as políticas. Desse

modo, o contexto da prática revela saberes e interesses de diferentes pessoas e grupos

que nem sempre convergem com a proposta inicial das políticas.

Assim como a Anhanguera, a FESCG manifesta-se:

Em observância ao Decreto nº 5.296/2004 que estabelece os requisitos para

atendimento aos acadêmicos com deficiências física, visual e auditiva a

FESCG conta com rampas de acesso, adaptação de portas e banheiros,

colocação de barras de apoio nas paredes dos mesmos e rampas com

corrimão o que é conveniente para alunos portadores de necessidades

físicas especiais.

As instalações da FESCG do Bloco I possuem dois (02) banheiros para uso

dos alunos portadores de necessidades físicas especiais. No Bloco II

também há um (01) sanitário para portador de necessidades físicas. (PDI

FESCG)

Eliminar barreiras arquitetônicas permitindo o acesso aos espaços de uso

coletivo. (PDI FESCG)

Novamente cabe indagar se acessibilidade para garantir a inclusão de alunos

com deficiência física se restringe à construção de rampas e adaptação de banheiros. A

acessibilidade física é muito importante para que a pessoa com deficiência física possa

se locomover com autonomia nos espaços, contudo quando se fala de inclusão não se

está falando apenas desse tipo restrito de acessibilidade.

De acordo com o PDI da FASE Ceará:

A FASE ao desenvolver seu projeto arquitetônico visando a edificação dos

5 (cinco) novos prédios procurou garantir as condições mínimas de

acessibilidade e demais condições, visando assegurar aos portadores de

deficiência física e sensorial condições básica de acesso ao ensino superior,

de mobilidade e de utilização de equipamentos e instalações da instituição,

tudo em estreita observância à portaria n.º 3284 de 7 de novembro de 2003.

Em relação aos deficientes físicos:

a) Eliminação de barreiras arquitetônicas;

b) Reserva de vagas em estacionamentos;

c) Construção de rampas com corrimãos e elevadores;

d) Adaptação de portas de banheiros e espaço compatível para o acesso

com cadeira de rodas;

e) Colocação de barras para as paredes dos banheiros;

f) Instalação de telefones públicos, lavabos e bebedouros em altura

acessível para usuários de cadeiras de rodas. (PDI FASE CEARÁ)

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É comum ouvir discursos e encontrar textos que tratam de inclusão de forma

genérica, em que as pessoas acreditam que prédios adaptados atendem às demandas

desses alunos. O texto do PDI da FASE Ceará permite questionar se essa estrutura

também é disponibilizada para os alunos da EAD nos polos de apoio presencial. O texto

não revela quais são esses espaços, como também não faz distinção entre a arquitetura

da sede da unidade e dos próprios polos. É possível perceber que embora a pesquisa

apresente objetivos claros de investigação da EAD, os documentos e os dizeres dos

gestores não revelam diferenciação entre as modalidades.

Propiciamos o acesso. Nesse sentido que a gente toma mais cuidado para que o aluno

tenha todas as condições de transitar pela faculdade, poder adentrar na sala.

Não temos muitos alunos, temos dois cadeirantes. (Gestor B)

Os discursos dos gestores sobre alunos com deficiência física acabam

sinalizando a necessidade de adaptação dos espaços para propiciar a locomoção. A fala

do Gestor da Anhanguera revela preocupação e atenção para os casos de paralisia

cerebral e a necessidade da comunicação.

O exemplo da Anhanguera revela necessidade de outra pessoa para o

acompanhamento do aluno. Com essa observação, ressalta-se a exigência de formação

específica do profissional que atua nos núcleos de acessibilidade, com conhecimento

para realizar a orientação, descrever sobre e mobilidade e realizar o desenvolvimento de

atividades de comunicação alternativa, por exemplo, mesmo se tratando de adultos que

deveriam apresentar perfil de autonomia e superação dessas questões.

Na Kroton Educacional:

Para os alunos com deficiência física, o núcleo procura orientar as adaptações

necessárias que vão desde a orientação da acessibilidade arquitetônica até a

disponibilização de um auxiliar para transcrever as provas, no caso de

comprometimento dos membros superiores.

Temos alunos que necessitam de ampliação de tempo para realizar as avaliações e

alunos que necessitam de formatos específicos, pois também utilizam o computador

para os seus estudos.

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As coordenações dos cursos acompanham o desempenho dos alunos junto com o

Núcleo e discutem as possibilidades. Algumas vezes acontecem orientações de

acompanhamento de outros profissionais como psicólogos, fisioterapeutas e fonos, em

parceria com as famílias. (Gestor C)

O Gestor da Kroton revela em seus dizeres alguns pontos ainda não identificados

nos documentos e relatos. Primeiro, ele fala da necessidade de alguns alunos terem

acompanhamento de uma pessoa para transcrever os textos e em seguida cita que alguns

alunos necessitam de formatos específicos para realizar as atividades no computador.

Também cita a ampliação de tempo para a realização de provas. Essa orientação acerca

da ampliação de tempo para a realização de provas foi sinalizada para o Ensino Superior

pela primeira vez no Aviso Curricular nº 277 (BRASIL, 1996a).

Além das informações citadas, o gestor também sinaliza para o

acompanhamento do coordenador do curso e, quando necessário, o atendimento

especializado com profissionais das demais áreas.

Para Booth e Mel (2002, p. 8)

Inclusão tem a ver com tornar as escolas lugares estimulantes e apoiadores

para o Pessoal e para os estudantes. Tem a ver com a construção de

comunidades que encorajam e celebram seus sucessos. Mas a inclusão

também tem a ver com a construção de comunidades em um sentido mais

amplo. As escolas podem trabalhar com outras agências e com as

comunidades para promover as oportunidades educacionais e as condições

sociais dentro de suas localidades.

O conteúdo da fala do gestor permite apontar que nas estratégias de inclusão

dos alunos com deficiência física, a IES vai além da acessibilidade arquitetônica, por

manifestar a relação entre os demais profissionais envolvidos e a acessibilidade

metodológica.

Nenhum dos documentos analisados foi além da estrutura física quando apontou

os recursos disponibilizados para os alunos com deficiência física, ainda deixando

dúvidas e um silêncio referente aos recursos disponibilizados para incluir os alunos com

paralisia cerebral, por exemplo, sobre o modo como é realizado o AEE para esses

alunos e se há uma equipe especializada no desenvolvimento de pranchas de

comunicação alternativa e para trabalhar com as tecnologias assistivas.

Os Referenciais de Acessibilidade na Educação Superior e Avaliação in loco do

Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) (BRASIL, 2013)

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assinalam que, para os alunos com deficiência física, deve-se seguir as orientações do

Decreto n° 5.296/2004, que em seu quinto artigo, caracteriza esse público como pessoas

com (BRASIL, 2004, p. 1):

[...] alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo

humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se

sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia,

tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia,

ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo,

membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades

estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções.

Com base nesse Decreto, pode-se perceber que esse público é variado e

apresenta especificidades que, muitas vezes, vão além da adaptação de espaços com

rampas, banheiros e elevadores. O documento direciona para o cumprimento das

Normas da ABNT NBR9050, bem como evidencia o atendimento prioritário.

As demais instituições pesquisadas não apresentaram no texto do PDI as

especificidades para o atendimento aos alunos com deficiência física. De modo geral,

citaram apenas as adaptações na estrutura física da instituição.

1.1.4 Apoio e recursos para o aluno com deficiência intelectual

A deficiência intelectual, objeto de estudo de vários pesquisadores da área da

educação especial, caracteriza-se por “[...] alterações significativas, tanto no

desenvolvimento intelectual como na conduta adaptativa, na forma expressa em

habilidades práticas, sociais e conceituais” (BRASIL, 2013, p. 59). O termo deficiência

intelectual substituiu a nomenclatura deficiência mental a partir de 2004, por

recomendação da Declaração de Montreal.

O aluno com deficiência intelectual é caracterizado como público-alvo da

educação especial. Entretanto, nos documentos institucionais analisados nesta pesquisa,

identificou-se apenas uma instituição que abordou a acessibilidade para esses alunos,

que foi a Anhanguera Educacional:

Para os estudantes com deficiência intelectual são disponibilizados

materiais de apoio como resumos, sínteses de aulas, além da atuação do

professor como facilitador ou tutor presencial e disponibilização de tele-

aulas no ambiente virtual. (PDI ANHANGUERA)

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Mesmo apresentando texto relacionado à acessibilidade do aluno com

deficiência intelectual, a instituição cita os recursos disponibilizados, menciona o

professor como “facilitador”, mas não manifesta como acontece o acompanhamento e a

avaliação desses alunos.

Os Referenciais de Acessibilidade na Educação Superior e a Avaliação in loco

do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) (BRASIL, 2013, p.

17) orienta que para o acadêmico com deficiência intelectual os núcleos de

acessibilidade devem prever “atividades para desenvolvimento dos processos mentais

superiores (controle consciente do comportamento, atenção e lembrança voluntária,

memorização ativa, pensamento abstrato, raciocínio dedutivo, capacidade de

planejamento, entre outros)”. O mesmo documento também revela o aumento no

número de matrículas desses alunos no Ensino Superior, principalmente nas instituições

privadas.

Assim como os alunos com deficiência intelectual, os estudantes com transtorno

global do desenvolvimento ou altas habilidades/superdotação também não são

mencionados. Cabe indagar então se as instituições pesquisadas apresentam políticas de

inclusão para o Ensino Superior na Modalidade EAD e “se” e “como” essas políticas

são traduzidas na prática. Também se questiona a leitura que essas IES fazem da

legislação e como se apropriam dos documentos oficiais para “fabricar” os documentos

institucionais e atender aos requisitos para a aprovação e reconhecimento dos cursos de

graduação. O que se percebe no decorrer da pesquisa é que tanto nos documentos como

nos dizeres dos gestores existe uma maior preocupação com acessibilidade para os

alunos com deficiência física, visual e auditiva, o que converge com as exigências por

parte dos requisitos legais e normativos apresentados na avaliação do SINAES e com a

maior parte dos documentos da política nacional.

1.1.5 Apoio e recursos para alunos com transtorno global do desenvolvimento e altas

habilidades/superdotação

De acordo com a Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da

Educação Inclusiva (BRASIL, 2008ª) “os alunos com transtornos globais do

desenvolvimento são aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações

sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses e atividades restrito,

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estereotipado e repetitivo”. Fazem parte desse grupo os alunos com autismo, síndromes

do espectro do autismo e psicose infantil. Os dados coletados nos documentos e nos

dizeres dos gestores das três IES pesquisadas não revelaram provisão de atendimento

educacional especializa para esse público.

Segundo os Referenciais de Acessibilidade na Educação Superior e a Avaliação

in loco do SINAES (BRASIL, 2013, p. 14), os recursos de AEE que devem ser

disponibilizados para alunos com transtorno global do desenvolvimento são o “uso do

computador como auxílio à aprendizagem; PECS (sistema de comunicação através da

troca de figuras); Método TEACCH (tratamento e educação para crianças autistas e com

distúrbios correlatos da comunicação), entre outros”.

Percebe-se, com a análise desse documento, que as atividades propostas estão

voltadas para o ensino e aprendizagem de crianças da educação básica e que o próprio

documento não deixa claro os recursos para esse público no Ensino Superior. De acordo

com a Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012, “a pessoa com transtorno do espectro

autista é considerada pessoa com deficiência, para todos os efeitos legais”, bem como

tem direito ao “acesso à educação e ao ensino profissionalizante”. Assim, as IES

pesquisadas ainda precisam ampliar as discussões para o desenvolvimento de medidas

de inclusão que atendam essa demanda, como também a demanda dos alunos com altas

habilidades/superdotação.

Das IES pesquisadas, o relato do Gestor da Anhnaguera manifesta um caso de

altas habilidades/superdotação:

Então eu acho que a Anhanguera tem um avanço, o que ela faz com a questão do

portador. Uma coisa nova e que pintou este ano é o superdotado. Esse nós ainda não

tínhamos uma política definida e durante toda a minha carreira eu não tinha recebido um

laudo de alguém. Esse menino tem grau de Superdotado, mas ela não consegue

trabalhar coletivamente, o que é uma pena. Mas, enfim nós estamos verificando como

que nós vamos normatizar isso. De imediato a gente fez com que ela só fizesse as

tarefas sozinhas por enquanto, mas a gente acha que deve colaborar no sentido de que

ela venha a fazer parte de grupos, porque ela, foi inflado pela psicóloga o fato de ela ser

superdotada, ela acha que os outros são muito inferiores a ela. (Gestor A)

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Os dizeres do gestor sinalizam para um caso de altas habilidades/superdotação,

revelam a fragilidade da IES em não dispor de políticas para a inclusão da aluna,

manifesta a dificuldade da aluna em realizar trabalhos em grupo e o papel do psicólogo

no momento de mediar o diagnóstico. A falta de conhecimento da política e das

especificidades da educação especial parecem interferir na fala e nas ações do gestor.

Mas nós não temos nenhuma política para o superdotado. Pra dizer que nós não temos

nada pro superdotado, se é que isso pode ser considerado como superdotado, nós temos

uma norma dentro do nosso regimento que o aluno o aluno como a LDB permite, o

aluno antecipar os seus estudos, e a gente tem uma prova de proficiência. Então

digamos assim, não tem uma política definida, mais ainda há espaços também para esse

que eventualmente tem um conhecimento superior e requeira por exemplo, antecipar

seus estudos. (Gestor A)

O gestor ainda revela conhecimento da legislação no que tange a aceleração dos

estudos, embora não revele conhecimento sobre os direitos do aluno com superdotação

frente a essa normativa, traduzindo a legislação de forma genérica.

Alunos com altas habilidades/superdotação demonstram potencial elevado

em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual,

acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes, além de apresentar grande

criatividade, envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas

de seu interesse (BRASIL, 2008a, p. 9).

Ao demonstrar potencial elevado nas áreas isoladas ou combinadas, esses alunos

necessitam de enriquecimento curricular, algo que ainda demanda muita pesquisa na

área da educação especial, principalmente para o Ensino Superior. Algumas

possibilidades que podem ser desenvolvidas nos núcleos de acessibilidade são os

“Programas de enriquecimento curricular, (intracurricular e extracurricular); aceleração

de estudos; compactação curricular; PIBIC, Programa Intensivo de Treinamento, bolsas

de pesquisa, estágios em salas de recursos multifuncionais, projetos de pesquisa, entre

outros” (BRASIL, 2013, p. 18).

Nenhuma das instituições pesquisadas apresentou ações e políticas para esse

atendimento. O que parece é que os casos são tratados sob demanda de matrícula e

aqueles em que a IES não apresenta políticas específicas são estudados a partir das

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necessidades. Nesses momentos, as informações do contexto dos alunos auxiliam na

interpretação e tradução das políticas.

Diante da diferença, tomamos ciência de que as metodologias didáticas, os

recursos pedagógicos, as técnicas de ensino só serão eficientes se antes

conseguirmos enxergar os sujeitos da aprendizagem. As adaptações poderão

ser necessárias, desde as mais simples como a opção pela cor de um pincel ao

fazer registros no quadro, até o uso de recursos tecnológicos que estão hoje à

disposição da humanidade (mas não de todos). Os discursos dos estudantes

nos auxiliam a entender que a proposta de inclusão não é um pacote que

adotamos ou não, mas a somatória de muitos elementos, sendo que alguns

podem ser obviedades que nunca nos “tocaram” (PIECZKOWSKI;

NAUJORKS, 2012, p. 956).

As autoras sinalizam para a necessidade de enxergar os alunos como sujeitos de

aprendizagem e como parceiros nos momentos de busca de informações para a

elaboração de ações de inclusão. Assim, alunos e professores tornam-se vozes dentro da

interpretação e tradução das políticas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação inclusiva do público-alvo da educação especial é recente. Os dados

do Censo do Ensino Superior (2013) revelam um aumento significativo no número de

matrículas desse público nesse nível de ensino. Os documentos das políticas nacionais

para a inclusão analisados nesta tese, quando citam o Ensino Superior, o fazem ainda de

forma discreta. Pode-se perceber que a política apresentada nos documentos nacionais

também está em fase de aprimoramento, desde o encaminhamento do Aviso Curricular

em 1996 para os reitores das instituições de Ensino Superior. Esse foi o primeiro

documento que orientou sobre os processos de atendimento e acessibilidade e, a partir

de então, a legislação vem apresentando alterações e novos documentos que buscam

garantir a inclusão educacional em todos os níveis de ensino.

A legislação para a inclusão escolar sofreu alterações influenciadas por várias

frentes, principalmente por movimentos sociais de grupos representativos dos interesses

das pessoas com deficiências (entre esses, inúmeras associações de surdos, cegos,

deficientes físicos e múltiplos), desencadeando uma série de documentos específicos e

que não tratam da inclusão escolar para todo o público da educação especial, mas se

restringem às necessidades específicas de cada público. Assim, percebeu-se ênfase nas

especificidades relativas às pessoas com deficiência auditiva, visual, física e mais

recentemente à pessoa com espectro de autismo por meio de decretos específicos.

Dentre todos os documentos, é possível afirmar que os movimentos de grupos

específicos como as associações de surdos, por exemplo, ganharam força efetivando

suas reivindicações por meio de Decretos, especificamente o Decreto nº 5.626, de 22 de

dezembro de 2005. Mesmo se tratando de políticas fracas, como defende Stromquist

(2007), essas reivindicações ganharam força de lei. As instituições pesquisadas citam o

decreto de forma mandatória e acabam por direcionar as políticas institucionais para

esse público em resposta à lei. A força do Decreto manifesta-se também nos

instrumentos de avaliação quando citam o documento como item dos “Requisitos

Legais e Normativos”.

A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva

apresentou uma reorganização da educação especial, delimitando o público-alvo,

discutindo e orientando o atendimento educacional especializado na perspectiva da

educação inclusiva, fruto das discussões dos profissionais da área e das orientações e

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diretrizes decorrentes de documentos e conferências mundiais organizadas por

organismos internacionais como o Banco Mundial e a UNESCO.

O texto, todavia, apresenta-se discreto ao citar a inclusão no Ensino Superior. As

análises permitiram concluir que a legislação nacional apresenta várias brechas e,

muitas vezes, um documento não conversa com o outro. A gama de textos, decretos e

portarias relativos à educação especial revelam a delicadeza da discussão e as

influências de grupos de interesse diversos. Revelam também a influência de órgãos

nacionais e internacionais que prezam pela política de educação para todos, uma política

forte, que por meio de movimento mundial direciona as políticas de inclusão nacionais.

Os documentos relacionados ao Ensino Superior ora apresentam um texto

prescritivo, regulatório e normativo dos processos de avaliação ora apresentam

recomendações operacionais. Os únicos documentos que tratam com maior ênfase as

obrigatoriedades das IES frente aos processos de acessibilidade são os Decretos nº

5296/2004 e nº 5626/2005, citados em todos os documentos direcionados à aprovação,

reconhecimento e renovação de reconhecimento de cursos de graduação, o que por sua

vez acabou influenciando as IES no momento de elaborar seus próprios documentos.

Os Planos de Desenvolvimento Institucionais (PDIs) analisados revelaram

exatamente essa preocupação: atender às exigências dos decretos anteriormente citados.

Nenhum dos documentos institucionais citou a Política Nacional de Educação Especial

na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008) nem tampouco as recomendações sobre a

organização de núcleos de acessibilidade. Os referenciais para a inclusão no Ensino

Superior são mínimos, assim, não orientam, não determinam e não garantem acesso,

permanência e sucesso desse público nesse nível de ensino.O público-alvo da educação

especial recebe várias denominações nos documentos, entre essas: alunos com

necessidades especiais e portadores de necessidades especiais, que convergem com os

decretos utilizados como base para o texto institucional.

Ao analisar os documentos institucionais percebeu-se preocupação das IES em

garantir um ambiente inclusivo, contudo a concepção do que vem a ser a inclusão no

Ensino Superior não fica clara. As três instituições pesquisadas não manifestam uma

cultura inclusiva. Há preocupação com acesso, mas se fala pouco em permanência e

avaliação. Os documentos citam alguns recursos de adaptação de materiais para os

alunos com deficiência, mas novamente acontece em pequena escala, e pouco citam o

acompanhamento do desenvolvimento desses alunos. O que se percebe são iniciativas

para atender à regulamentação.

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Todos os documentos institucionais abordam a acessibilidade para os alunos

com deficiência física, visual e auditiva, mas apenas um revela atenção para com o

aluno com deficiência intelectual. Nenhum dos documentos institucionais analisados

apresentou texto sobre acesso e acompanhamento de alunos com transtorno global do

desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. O que se percebeu foram iniciativas

que aparentemente buscam cumprir as exigências da legislação específica para a

inclusão dos alunos caracterizados como público-alvo da educação especial no Ensino

Superior, mas são frágeis e inconsistentes.

Os dizeres dos gestores da três IES pesquisadas somaram informações referentes

às estratégias de inclusão e a interpretação e tradução das políticas nesses ambientes. No

momento das entrevistas, surgiram novos documentos institucionais que revelaram

especificidades do atendimento educacional especializado prestado pelos núcleos de

Acessibilidade, esses constatados na Anhanguera e na Kroton Educacional. Já na

Estácio, esse atendimento é de responsabilidade do núcleo de apoio pedagógico. A

formação dos profissionais que atuam nesses núcleos não ficou clara. Salvo os

documentos e os dizeres do Gestor da Kroton que sinalizam para profissionais da área

da educação especial, as demais instituições e os demais gestores manifestaram falta de

conhecimento sobre o assunto. Na Anhanguera Educacional, o gestor sinaliza

profissionais com formação para acompanhar o processo de avaliação interna e externa

e na Estácio um profissional da área da psicologia, contudo o gestor manifesta dúvida

acerca da informação.

Tal como nos documentos, evidencia-se que muitas das falas dos gestores

também reproduziam as orientações e prescrições dos documentos legais. A

preocupação em atender aos indicadores de avaliação do SINAES também se fez

presente, contudo os discursos manifestaram preocupação com o compromisso de

responsabilidade social das instituições.

Discutir a interpretação e a tradução das políticas de inclusão das instituições

privadas tornou-se um desafio, uma vez que se constatou que os documentos legais

apresentam uma política fragmentada e pouco consistente no que tange a inclusão no

Ensino Superior. Muitos documentos estavam direcionados para as instituições públicas

federais, entretanto, o instrumento de avalição do próprio SINAES revela a exigência

também para as instituições privadas. Há uma divergência significativa entre o que a lei

prevê e o que os indicadores exigem, assim, a partir dos dados parece que cada

instituição procura atender aos SINAES, interpretando os diversos documentos

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existentes por meio de um discurso colado à política, um discurso que utiliza os

próprios termos da lei para responder aos processos avaliativos.

Os estudos de Ball (2013, 2012, 2011) permitem compreender principalmente

que as políticas não são implementadas e sim interpretadas e traduzidas nas práticas. Os

jogos de interesse e influência permeiam as relações e a construção dos documentos,

bem como a própria intepretação e tradução dessa. Do mesmo modo que grupos

internacionais, nacionais e regionais influenciam a construção dessas políticas, também

os atores envolvidos com os processos de ensinar e aprender dentro das instituições

contribuem para traduzi-las na prática.

Os dados levantados permitem afirmar que o atendimento ao público-alvo da

educação especial nas três IES inicialmente acontece sob demanda, principalmente

voltado aos alunos com deficiência física, visual e auditiva.

Sobre o Atendimento Educacional Especializado (AEE) das instituições

pesquisadas, a partir da análise dos documentos institucionais e da entrevista com os

gestores, percebeu-se que as orientações iniciam no processo seletivo e continuam no

decorrer do curso por meio das adaptações que as instituições julgam necessárias para

garantir o acesso do público-alvo da educação especial ao Ensino Superior. Contudo,

percebeu-se que se trata da trajetória de cada instituição na interpretação e na tradução

das políticas de inclusão internacionais e nacionais, cada uma de certa forma buscando

atender às questões regulatórias e à demanda que cresce a cada dia.

Impossível não observar que essas políticas necessitam de ampliação em busca

da inclusão e da garantia da educação de qualidade para esse público, não apenas nas

IES privadas, como também nos próprios documentos e orientações do MEC. Além da

educação de qualidade, entende-se que o sucesso de alunos nesse nível de ensino

também converge com as relações com o mercado de trabalho, tendo em vista a

formação do profissional proposta nesta etapa. Cabral (2013) analisou o processo das

orientações acadêmicas e a transição dos alunos com deficiência para o mercado de

trabalho em instituições da Itália, Inglaterra, França, Dinamarca e Irlanda e constatou

boas práticas para esse processo. A pesquisa demonstra que instituições internacionais

além de mostrarem preocupação com a inclusão e acesso também organizam estratégias

para garantir a permanência e o sucesso dos alunos com deficiência no Ensino Superior.

No Brasil, esse processo ainda caminha a passos lentos. Nas instituições pesquisadas, a

atenção está voltada para a acessibilidade física e adaptação de recursos pedagógicos.

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Pouco se explora da acessibilidade tecnológica, fundamental para o desenvolvimento e a

participação na metodologia EAD, foco desta tese.

É possível questionar se as políticas de inclusão das instituições apresentam

diferença entre as modalidades presencial e EAD e, diante dos dados apresentados,

também é possível responder que não. Ainda se faz necessário explorar essas diferentes

metodologias e compreender que na EAD o aluno necessita desenvolver um perfil de

estudo autônomo e, para tanto, o público-alvo da educação especial necessita de acesso

aos ambientes virtuais de aprendizagem e aos conteúdos possibilitando sua plena e não

fragmentada participação.

Os objetivos da pesquisa e os resultados alcançados consolidam a tese de que a

política de inclusão no Ensino Superior privilegia o acesso em detrimento da

permanência e do sucesso dos alunos público-alvo da educação especial nesse nível de

ensino. O discurso da política, por enfatizar as diretrizes por meio de atos regulatórios e

por privilegiar instruções no âmbito da acessibilidade, induzem as IES a responderem

aos atos normativos também de forma restrita, pontual e direcionada para as estratégias

de acesso. Essa situação se tornou mais evidente por se tratar de IES dedicadas à EAD,

cujas especificidades – acesso facilitado e disponível em todo território nacional –

contribuíram para ampliar não somente o número de acadêmicos em geral como

também o público-alvo da educação especial. Por ampliar potencialmente as

possibilidades de acesso, inversamente, reduziu as possibilidades de acompanhamento

do desempenho e do sucesso desse público.

Como no Ensino Regular, a inclusão no Ensino Superior ainda apresenta um

vasto campo para ampliação de pesquisas. Este estudo pôde contribuir com o campo das

políticas de educação especial e educação inclusiva ao revelar as fragilidades

encontradas nos textos oficiais da Política Nacional, como Decretos, Leis e Portarias e

reveladas na interpretação e tradução das IES pesquisadas.

Os dados revelados nesta tese poderão contribuir com outras investigações

acerca da interpretação e tradução das políticas nas IES públicas que apresentam outra

realidade e outros direcionamentos em relação à EAD. Da mesma forma, este estudo

poderá ter continuidade a partir da análise da tradução da política na perspectiva dos

estudantes e dos professores que vivenciam essa realidade no cotidiano e certamente

têm experiências relevantes para socializarem.

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Enfim, acredita-se que os dados revelados nesta tese se caracterizam como

proposições para futuros estudos relacionados a área da educação especial e educação a

distância, que está em constante crescimento.

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APÊNDICE

ROTEIRO DE ENTREVISTA

POLÍTICA DE INCLUSÃO NO ENSINO SUPERIOR NA MODALIDADE EAD

NAS UNIVERSIDADES PRIVADAS

ÁREA DE CONHECIMENTO

Grande Área: Ciências Humanas

Subárea: Educação/Ensino Superior

Linha de pesquisa: Políticas Públicas de Currículo e Avaliação

TÓPICO-GUIA PARA ENTREVISTA COM GESTORES DAS INSTITUIÇÕES

O conhecimento do Gestor sobre a Política de Inclusão no Ensino Superior:

1. Qual a sua concepção sobre inclusão de pessoas com deficiência, transtorno

global do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação no Ensino

Superior? E qual a concepção da instituição?

2. Você conhece as políticas que norteiam a inclusão de alunos caracterizados

como público da educação especial no Ensino Superior? Você pode citar quais?

3. Como essas políticas estão citadas e relacionadas com os documentos da

instituição? Quais documentos citam?

4. Como funciona a política de inclusão na instituição? A instituição conta com

um setor ou equipe específica?

5. Quem participa da definição de elaboração das ações de inclusão e como ocorre

a escrita na elaboração dos documentos da IES?

As políticas adotadas na prática:

1. Quais as principais estratégias para atender este público na EAD?

2. Quais as adaptações organizadas (ações e recursos que são utilizados pela

instituição)?

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3. Como ocorre o acompanhamento e a avaliação desses alunos? E como são

desenvolvidas essas ações no âmbito do PPI e PDI para a autoavaliação e

avaliação externa da IES?

O atendimento e a avaliação dos alunos caracterizados como público da

educação especial:

1. Existe atendimento educacional especializado (AEE) na instituição? Como

está organizado?

2. Quem é responsável por esse atendimento? Qual o perfil de formação desse

profissional?

3. Como os atores pedagógicos (professores, coordenadores, tutores) são

envolvidos? Existe formação específica? Como acontece?

4. Como é realizado o acompanhamento desses alunos? Os resultados? As

necessidades e dificuldades?