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Pombal e a Companhia do Alto Douro 250 Anos de história Diário do Minho» 6, 13 e 20 de Setembro de 2006. «A organização da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro não é obra duma só diligência, duma só iniciativa, duma só cabeça, consoante se verifica em face do somatório de acções e reacções que se sucedem no decurso de anos, até à hora do seu nascimento. Um vasto conjunto de factores, próximos e remotos, concorreu para a constituição da Companhia, factores que actuaram sobre o ânimo de homens de boa vontade, uns estabelecidos no Porto, outros ligados ao Alto Douro pelo sangue ou pelos interesses; a maioria constituída por Lavradores da região dos vinhos generosos…» Sousa Costa – “Figuras e Factos Alto – Durienses” Anais do Instituto do Vinho do Porto – 1953 Antes e depois de Methwen. Praticamente, até pouco antes dos finais do século XVII, os negociantes ingleses do Porto não exportavam vinho. De Inglaterra vinha a maioria dos produtos manufacturados que se usavam no país e nas colónias, consistindo o seu comércio na importação de têxteis, ferragens e produtos alimentares, enviando para Inglaterra tabaco brasileiro e açúcar. Como o Porto, por esta época, absorvia cerca de um quarto de todas as exportações brasileiras, o negócio prosperava. Porém, começaram por ocorrer alguns factos que acabariam por provocar uma depressão no comércio português, nomeadamente a grande baixa no preço do tabaco. Com a colonização da Virgínia e a plantação de tabaco neste Estado, nos princípios do século XVII, os ingleses deixaram de importar tabaco brasileiro aos negociantes ingleses do Porto. Depois, nos meados do referido século, quando os ingleses começaram a cultivar açúcar nas suas colónias das Índias Ocidentais, o açúcar brasileiro teve a mesma sorte do tabaco e perdeu o seu maior cliente, a Grã-Bretanha, se bem que já antes não era novidade os ingleses aportarem, com frequência, à costa brasileira e comprarem os produtos directamente, desrespeitando a situação de monopólio que era nosso exclusivo. Carlos Jaca 1

Pombal e a Companhia do Alto Douro - esas.pt · Se os proprietários do Douro não quisessem dar um crédito de seis meses, ... Os viticultores retorquiram com uma outra carta aberta,

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Pombal e a Companhia do Alto Douro 250 Anos de história

Diário do Minho» 6, 13 e 20 de Setembro de 2006.

«A organização da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro não é

obra duma só diligência, duma só iniciativa, duma só cabeça, consoante se verifica em

face do somatório de acções e reacções que se sucedem no decurso de anos, até à hora

do seu nascimento. Um vasto conjunto de factores, próximos e remotos, concorreu para

a constituição da Companhia, factores que actuaram sobre o ânimo de homens de boa

vontade, uns estabelecidos no Porto, outros ligados ao Alto Douro pelo sangue ou pelos

interesses; a maioria constituída por Lavradores da região dos vinhos generosos…» Sousa Costa – “Figuras e Factos Alto – Durienses”

Anais do Instituto do Vinho do Porto – 1953

Antes e depois de Methwen. Praticamente, até pouco antes dos finais do século XVII, os negociantes ingleses

do Porto não exportavam vinho. De Inglaterra vinha a maioria dos produtos

manufacturados que se usavam no país e nas colónias, consistindo o seu comércio na

importação de têxteis, ferragens e produtos alimentares, enviando para Inglaterra tabaco

brasileiro e açúcar. Como o Porto, por esta época, absorvia cerca de um quarto de todas

as exportações brasileiras, o negócio prosperava.

Porém, começaram por ocorrer alguns factos que acabariam por provocar uma

depressão no comércio português, nomeadamente a grande baixa no preço do tabaco.

Com a colonização da Virgínia e a plantação de tabaco neste Estado, nos princípios do

século XVII, os ingleses deixaram de importar tabaco brasileiro aos negociantes

ingleses do Porto. Depois, nos meados do referido século, quando os ingleses

começaram a cultivar açúcar nas suas colónias das Índias Ocidentais, o açúcar brasileiro

teve a mesma sorte do tabaco e perdeu o seu maior cliente, a Grã-Bretanha, se bem que

já antes não era novidade os ingleses aportarem, com frequência, à costa brasileira e

comprarem os produtos directamente, desrespeitando a situação de monopólio que era

nosso exclusivo.

Carlos Jaca 1

O certo é que os negociantes do Porto, quando a Inglaterra deixou de comprar

açúcar brasileiro, ficaram sem um produto para troca, criando-se uma situação de tal

modo difícil, que levou ao declínio do negócio entre os dois países.

Em tal conjuntura reconheceu-se a necessidade de encontrar um novo produto

que tomasse o lugar do açúcar e do tabaco a fim de que o comércio anglo – português

pudesse voltar à prosperidade.

Assim, em 1677, o Adido Comercial inglês no Porto chamava a atenção para as

vantagens que resultavam do negócio com Portugal que, segundo afirmava, atingia uma

cifra de 400.000 Libras anuais de produtos ingleses. «Ultimamente, porém» – queixava-

se ele – «os negociantes que se dedicam a este negócio estão achando dificuldades que

lhes não permitem continuar como antigamente, pois o açúcar e outros produtos que

representam a produção deste país não são aí bem recebidos». Então, sugeriu que o

vinho do Porto poderia ser um poderoso substituto para o açúcar, porquanto aquele

produto tinha grandes vantagens: era um produto que Portugal poderia trocar

comercialmente por lanifícios ingleses; daria aos seus negociantes residentes em

Portugal um negócio nos dois sentidos e criaria postos de trabalho para os portugueses

que lhes permitiriam adquirir lanifícios ingleses; finalmente,

o vinho não faria concorrência às exportações inglesas.

Esclareça-se que o vinho do Porto dos princípios do

século XVIII não era o vinho que se conhece hoje. De início,

os exportadores e os negociantes, limitavam-se a adicionar

aguardente ao vinho, sem o deixarem envelhecer. No entanto,

os exportadores do Porto «aprenderam melhor a fortificar o

vinho e descobriram que deviam deixar envelhecer a mistura

do vinho e aguardente durante três anos, antes de o

embarcarem. Durante o envelhecimento, o vinho perdia o gosto a aguardente e voltava a

saber a vinho. O vinho do Porto “Vintage”, envelhecido na garrafa, que foi tão popular

nos fins do século XVIII, entre as classes superiores inglesas e que se tornou uma parte

integrante da vida social de Oxford e Cambridge, só se pôde fazer quando apareceram

as garrafas cilíndricas, à volta de 1770. Estas garrafas, ao contrário das garrafas largas e

de gargalo alto que se usavam no principio daquele século, podiam ser armazenadas na

posição horizontal, com o vinho em contacto com a rolha, o que era necessário para que

se desse o envelhecimento.

Carlos Jaca 2

O vinho do Porto, portanto, não se impôs no mercado apenas pela sua graduação

alcoólica, mas também porque o seu envelhecimento e a sua fortificação lhe

melhoraram as qualidades».

Efectivamente, o vinho, como importante produção nacional para exportação, foi

durante o último quartel do século XVII particularmente

incrementado. Quando chega Methwen, o «take off» já se

tinha verificado, pois os ingleses para incentivar a produção

no Douro começaram a jogar com o preço, «oferecendo

valores jamais vistos». A mira de mercados «fáceis e

lucrativos» levou os durienses a desbravar, a surribar (escavar a terra para que

melhorem as suas condições de fertilidade) e a eliminar outros produtos: tinha

começado a monocultura. Embora se verifique este fenómeno um pouco por todas as

regiões potencialmente vinícolas, foi sobretudo na região do Douro, que os trabalhos

árduos sobre as encostas do rio permitiram o surgimento em força do famoso vinho do

Porto, baptizado com o nome do porto que o exportava.

Com efeito, a partir de 1678, a Feitoria Inglesa do Porto (British Factory

House) inicia, deliberadamente, o negócio de vinho entre o Porto e a

Inglaterra, intensificando-se a radicação de súbditos britânicos

naquela cidade portuguesa desenvolvendo a sua actividade no

comércio do ramo vinícola, datando dessa época a instalação de

algumas firmas renomadas: C. N. Kopke & Co., Warres & Co.,

Croft & Co., Taylor, Fladgate & Yeatman, etc.

A Feitoria do Porto, tal como a de Lisboa, tinha alguns privilégios concedidos

pelo rei de Portugal: isenção de certos tributos, direito de andar

armado, de praticar a religião protestante e de ter o seu cemitério

próprio. Mais importante ainda, os ingleses tinham o seu tribunal

privativo por um juiz escolhido por eles, se bem que nominalmente

aprovado pelo rei de Portugal. Estes privilégios, certamente,

fizeram com que a comunidade inglesa tivesse crescido, pela vinda

de muitos compatriotas que estavam em países hostis – como França e Espanha – para

Portugal.

No entanto, durante a primeira década, de 1678 a 1688, as exportações de vinho

do Porto não tiveram grande expressão, cerca de 800 pipas anuais. Os vinhos

portugueses não conseguiram logo uma grande popularidade em Inglaterra, visto serem

Carlos Jaca 3

mais caros que os franceses. Deste modo, os negociantes ingleses de lanifícios e outros

fabricantes que exportavam produtos para Portugal, viram que os vinhos portugueses

precisavam de beneficiar de tarifas aduaneiras mais favoráveis, de forma a que

pudessem ficar mais baratos do que os vinhos franceses, preferidos pela maioria dos

ingleses.

Pressionado pelos negociantes, o Parlamento decidiu apoiar com firmeza o

negócio dos vinhos portugueses e, em 1697, baixou os direitos de importação para os

vinhos provenientes de Portugal.

Pouco depois, em 1703, os comerciantes ingleses conseguiram, como resultado

da nova situação, a assinatura do polémico Tratado de Methwen (do nome do seu

negociante inglês). Os termos em que este acordo foi estabelecido consistiam em

primeiro lugar nas facilidades de Portugal admitir «os panos de lã e mais fábricas de

lanifícios de Inglaterra como era costume até ao tempo que foram proibidos por lei

(…)» e em segundo lugar a Inglaterra importar «os vinhos de produto de Portugal de

sorte que em tempo algum (…) não se poderá exigir de direitos de Alfândega nestes

vinhos (…) mais que o que se costuma pedir para igual quantidade ou medida de vinho

de França, diminuindo ou abatendo uma terça parte do direito do costume (…)».

Depois da assinatura do Tratado de Methwen os vinhos portugueses tiveram

apenas a competição, no mercado inglês, dos vinhos espanhóis mas, com o desencadear

das hostilidades entre a Espanha e a Grã – Bretanha, os ingleses embargaram as

importações de Espanha, dando aos vinhos portugueses praticamente o monopólio nas

vendas para Inglaterra.

Por volta de 1715, dois terços de todo o vinho exportado por Portugal saía do

Porto e, em 1725, três quartas partes de todo o vinho exportado para Inglaterra saía

igualmente pela barra do Douro, representando cerca de 74,7% de todas as exportações

portuguesas de vinhos.

Durante a década de 1740 foram embarcadas para Inglaterra cerca de 19.304

pipas por ano – um máximo de todos os tempos, facto que levou a grande procura e

consequente aumento de preços, lucrando tanto os vinhateiros como os exportadores. Só

que… com o tempo as suas relações foram-se deteriorando. Os portugueses, sabendo

que o vinho do Porto se vendia em Inglaterra por um preço oito ou nove vezes superior

ao que eles recebiam, acusavam os ingleses de lhes estarem a pagar pouco. De facto,

esta exportação de vinho, a quem beneficiava, na verdade, permitindo-lhe «comer a dois

Carlos Jaca 4

carrinhos», era ao mercado inglês, comprando o produto mais barato e vendia em

quantidade superior os seus produtos têxteis.

… Ironicamente, a efígie de D. João V, nas moedas de ouro cunhadas em sua honra, era

mais familiar aos ingleses do que aos seus súbditos.

Por esta época 60% de todos os navios que entravam em Lisboa seriam ingleses,

o que dá uma ideia da importância do comércio entre Portugal e Inglaterra, não sendo de

estranhar que o Duque de Choiseul, primeiro ministro francês, dissesse que Portugal era

uma colónia inglesa.

A crise de 1750 – 1756. De repente, por volta de 1750, deu-se a crise do Douro: baixaram as

exportações e os preços.

Os grandes vinhateiros da região do Douro perderam a sua predominância no

negócio do vinho. Pelos meados do século, os donos das vinhas já tinham que conceder

crédito, o que mostra que estavam a perder influência. No principio do século, os

vinhateiros do Douro exigiam pagamento imediato pelos seus vinhos, obrigando os

ingleses a levar consigo grandes quantidades de dinheiro quando faziam as suas viagens

anuais, ao longo do rio, para as compras. O número de vinhas, no entanto, aumentou e,

com elas, apareceu uma quantidade de pequenos lavradores, até em áreas afastadas do

Douro. Tudo então mudou. Se os proprietários do Douro não quisessem dar um crédito

de seis meses, os ingleses podiam agora, nos meados do século, comprar os seus vinhos

a outros vinhateiros que estavam dispostos a dá-lo. Isto criou uma situação

desagradável, à medida que os donos das vinhas do Douro iam perdendo o monopólio

que, no início do século, lhes dava uma posição

invejável.

Entretanto, levanta-se uma acesa disputa

envolvendo os exportadores ingleses e os

produtores portugueses acusando-se mutuamente

de serem os causadores da chamada «crise de

1750 – 1756».

Em Setembro de 1754, a Feitoria Inglesa publica uma carta aberta referindo que

a ruína do comércio era proveniente da baixa qualidade provocada pelos vinhateiros

Carlos Jaca 5

portugueses, por um mau fabrico de vinho e pela mistura dos seus vinhos com vinhos de

qualidade inferior, de área fora do Douro, onde estes vinhos eram mais baratos.

Os viticultores retorquiram com uma outra carta aberta, negando todas as

acusações que lhes faziam os exportadores e acusando os negociantes de serem os

causadores da depressão. Segundo os vinhateiros portugueses, eram os ingleses que

prejudicavam o fabrico, adulterando o vinho com aguardente, especiarias e mesmo

açúcar. Provavelmente, a tramóia era praticada quer por uns quer por outros; e o certo é

que o produto chegava à Inglaterra em termos de levantar protestos. Em Londres, antes

de sair da alfândega, muitas pipas eram salgadas e postas fora de consumo.

Após o Tratado de Methwen a terra duriense ver-se-ia seriamente ameaçada

como zona vinícola por excelência. Outras e extensas regiões, mais propícias e férteis

ao cultivo de cereais, foram ocupadas «por desordenada cobiça» pela expansão

incontrolada do bacelo, prejudicando a zona de vinho já consagrada.

Pode, talvez, dizer-se que o Tratado de Methwen actuou como um pau de dois

bicos sobre o comércio do vinho do Porto: intensificando as exportações ajudou o

referido comércio mas, ao mesmo tempo, aumentou as exportações de vinhos de outras

regiões do país. Depois do Tratado, a viticultura, que dava um lucro três ou quatro vezes

superior ao do cultivo de trigo, espalhou-se em Portugal.

Os lavradores passaram a plantar vinha por tudo quanto era sítio. Houve um

francês que se referiu ao «desejo idiota» de plantar

vinha que varreu as províncias do Norte e os próprios

ingleses faziam referência à proliferação das vinhas por

todo o país. A fúria pelo plantio da vinha estendeu-se,

sobretudo, pela província da Beira, ao sul do Douro, nas

áreas de Anadia e Coimbra.

Mais tarde, dois alvarás de 1765 ordenaram o

arranque de vinhas nos campos do Tejo, do Mondego

e do Vouga; um alvará do ano seguinte determinou

providência idêntica para as cepas de certas zonas das

regiões de Torres Vedras, Anadia, Mogofores, Avelãs do Caminho e Fermentelos,

procedendo-se ao arranque com a maior violência, sem se poupar sequer a colheita

desse ano, que estava em curso, ordenando Pombal a plantação de trigo que Portugal

importava desde a Idade Média.

Carlos Jaca 6

O lavrador, na crença de que, quanto mais vinho colhesse, maiores abastanças

conquistava, desenvolveu «as lavranças das vinhas» lançando-se ao plantio em larga

escala. Adubando as terras, obtinham uma quantidade superior, em prejuízo da categoria

e, fazendo mixórdias, inventaram toda a espécie de processos industriosos para fabricar

alguma coisa que pudesse ser vendida como Porto excelente. Os preços «animavam» à

plantação. Inicialmente, o preço normal, elevadíssimo em relação ao valor da moeda

corrente, era de 60.000 réis a pipa. Na mira de desdobrar os lucros, o lavrador «plantava

a esmo, vestia à grande, banqueteava-se à farta,

recreava-se à doida».

Acontece que dos vinhos exportados pela

barra do Douro para Inglaterra apenas uma

pequena proporção era genuinamente vinho do

Porto. A transformação do Norte de Portugal

numa «vinha contínua» teve como consequência que os exportadores ingleses já não

precisassem de se apoiar nos vinhateiros do Douro, podendo comprar nas áreas à volta

da região, a preços mais baratos, vinhos que eram, também, de qualidade inferior aos do

Douro.

Estes vinhos de fora da região do Douro custavam menos porque os pequenos

vinhateiros daquelas áreas

estavam dispostos a vender com

um lucro inferior ao dos

proprietários do Douro que, por

vezes, tinham investido grandes

capitais nas suas terras e

equipamento. Além disso, o custo

da produção nessas zonas

afastadas, era inferior ao do

Douro, onde o terreno rochoso e

as montanhas implicavam grandes custos. O terreno era de difícil cultivo, e a terra só se

segurava pela construção de muralhas de xisto que apoiassem a massa de barro «pronta

a desfazer-se em lama na época das chuvas». Para se ser produtor de vinho era

necessário dispor de capitais avultados; os proprietários tinham de construir e manter

instalações, prensas, cascos e barcos que levassem o vinho pelo Douro abaixo, até ao

Porto.

Carlos Jaca 7

De repente, surge a “crise da abundância”, os preços baixam e as quebras

multiplicam-se.

A esta baixa súbita dos preços sobreveio, imediatamente, a fome, a miséria, a

ruína dos lavradores e suas quintas. A paga do vinho não lhes dava sequer para metade

da lavoura, despesa proporcional à dificuldade do plantio e da colheita… A tal ponto,

tão desgraçadamente desceu o preço do vinho, que a Feitoria Inglesa se alarmou com a

queda e procurou travá-la – acudindo, simultaneamente aos exportadores de lanifícios

britânicos, atingidos pela quebra do poder de compra na região vinhateira: «… os

Comissários Ingleses chegaram a comprar, pelos anos de 1750 até ao de 1755, vinhos

dos mais finos do Douro a 10.000 réis, e a menos, cada pipa, chegando a tal estado o

barateio, que os mesmos negociantes da Feitoria Inglesa, receosos de que uma tal

decadência fosse ruinosa ao seu próprio comércio, se juntaram na casa da mesma

Feitoria do Porto para se ajustarem entre si a aumentar os preços do vinho, por

conhecerem que aquele nem bastava para a despesa da cultura…»

A situação de angustiosa e aflitiva miséria está bem patente no depoimento

escrito por um dos principais proprietários da área, Luis Beleza de Andrade, que iria,

pouco depois, desempenhar notável papel na reorganização financeira da Companhia

Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro: «Nos anos de 1753 e 1754, indo eu

assistir às vindimas de meu pai na Vila de Valdigem, aí vira, que a gente geralmente ia

morrendo, e com tanto excesso, que se iam diminuindo muitas famílias; e indagando o

motivo daquela mortandade alcancei, que quase tudo procedia da pobreza, que por ser

geral, nem tinham com que se curassem, nem quem os pudesse socorrer, sendo a

doença, de que morriam, umas maleitas das quais escapavam todos aqueles que tinham

dez ou doze tostões com que comprassem quinino, e ter alguns dias de dieta…»

A pobreza na região do Douro devia ter sido terrível e, em 1756, os principais

vinhateiros, os Beleza de Andrade, os Leite Pereira, os Sá e Meneses, os Pacheco

Pereira, os Magalhães Coutinho e os Sousa de Mateus (hoje célebre pelo seu vinho

rosé) que formavam a aristocracia do vinho do Porto e governavam a cidade e os

arredores, fizeram uma petição à Corte, pedindo auxílio.

A ruína do Douro era manifesta. Foi então que chegou ao conhecimento de

Pombal o projecto de uma Companhia monopolizadora do comércio vinícola,

organizado com o critério governativo já anteriormente posto em obra quanto a outras

actividades comerciais. De facto, este seria o único remédio eficaz ao alcance dos

produtores da região duriense «para proteger o seu valor económico, abalado pela

Carlos Jaca 8

concorrência dos novos vinhos das novas regiões produtoras criadas pelo

desenvolvimento da produção vinícola que o Tratado provocou, juntamente com o largo

consumo das colónias».

D. Bartolomeu Pancorbo – «Padre y hijo». Foi nesta época de grande crise na economia duriense que surgiu, no Porto, D.

Bartolomeu Pancorbo de Ayala y Guerra, um biscaínho estabelecido na cidade

trabalhando à consignação no negócio de vinhos (D. Bartolomeu Pancorbo e António

Pancorbo, «Padre y hijo») que denunciando a asfixiante estrangulação da terra

duriense, provocada pelo monopólio do mercado inglês, decidira propor a abertura de

novos horizontes ao «statu quo» da região.

Até meados do século XX, era atribuído, indevidamente, ao fidalgo espanhol,

um papel de extraordinário relevo na fundação da Companhia Geral das Vinhas do Alto

Douro. No dizer de Jácome Ratton (aliás Jacques), mercador francês, naturalizado

português, profundamente enraizado no nosso País por laços de sangue, teria sido o

biscaínho o responsável pelo plano da Companhia:

«devendo se este estabelecimento a hum Hespanhol

biscainho, negociante de vinhos na Cidade do Porto,

chamado D. Bartholomeo de Pancorbo, o qual se

correspondia, por via de meu tio Jacome Bellon, com

meu Pai, a quem consignou 200 pipas de vinho, para

se venderem por sua conta. Ouvi naquelle tempo que,

o dito Pancorbo traçara o plano da companhia, e o

conferira com o Padre Frey Jozé (João) de Mansilha,

Dominico conventual naquella Cidade, cujo Padre o

viera propor a Sebastião Jozé de Carvalho, o qual

depois de o examinar cuidadosamente, e conhecer a

sua utilidade, formalisou sobre elle a lei da creação,

e estatutos da companhia, por cujo motivo ficou o

dito Padre em Lisboa, feito Procurador da companhia em quanto vivo. Era homem

vivo, e ambicioso de representação; e por aquelle seu cargo teve sempre entrada franca

em casa do Ministro…»

Carlos Jaca 9

Idêntica opinião é corroborada por Luz Soriano ao afirmar que, achando-se a

cultura dos vinhos daqueles distritos em estado deplorável, «um espanhol biscaínho,

negociante deste género, e residente no Porto, chamado D. Bartholomeu Pancorbo, se

lembrou da instituição de uma Companhia, cujo plano traçara de acordo e

intelligencia, não só com Frei José (aliás, João) de Mansilha, religioso da ordem

dominicana, e conventual na mesma cidade do Porto, mas egualmente de acordo e

intelligencia com alguns lavradores do Douro e homens bons da sobredita cidade.»

Outros grandes escritores persistiram no erro, por mal documentados, como foi o

caso de Camilo Castelo Branco no seu «Perfil do Marquês de Pombal»:

«Um tal Pancorvo, hespanhol, negociante de vinhos, conversando com um frade

dominicano, chamado José (João) de Mansilha… lembrou-lhe crear-se uma Companhia

para contra minar a collusão ardilosa dos inglezes. O frade foi ao Douro de onde era

natural, conversou com alguns

lavradores afflictos, e partiu para

Lisboa em procura de Sebastião

José de Carvalho.

O ministro ouviu o frade e

achou tão acertada a ideia da

Companhia que nem mais largou o

frade nem a ideia…»

Ainda a este propósito, e há

pouco mais de vinte anos, a escritora

Agustina Bessa Luis, em «Sebastião

José», afirmava, peremptoriamente,

que «Quem teve a ideia da

Companhia do Porto e Alto Douro

foi Pancorbo, apoiado pelo seu

formidável espírito biscaínho,

obstinado para o sucesso»

Como se verificará,

posteriormente, o plano primitivo da

Companhia foi traçado pelo Dr.

Beleza de Andrade coadjuvado pelos principais «Lavradores de Cima do Douro» e

por Frei João de Mansilha, conforme documentação extraída dos arquivos da

Carlos Jaca 10

Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro, Instituto do Vinho do Porto

e manuscritos existentes na Torre do Tombo relacionados com a criação da referida

Instituição.

Pancorbo não colaborou em tal plano o que, de modo nenhum, invalida os

evidentes bons serviços e favores prestados à Companhia, nomeadamente nos

requerimentos da Corte, manifestando-lhe Beleza de Andrade, o primeiro provedor, o

desejo de o ver integrado na referida instituição «…conforme merecimento, porém para

este nenhum prémio é suficiente.» O que os documentos comprovam é o seguinte:

É inegável que D. Bartolomeu Pancorbo se lembrou de constituir não uma

Companhia, mas, sim, Companhias… Porém, estas nada tinham de comum com a que

Beleza de Andrade em colaboração com os principais lavradores do Douro, Homens

Bons da cidade do Porto e Frei João de Mansilha idealizaram.

Os propósitos de Pancorbo apontavam para a organização de um «comércio de

exportação que funcionasse de contrapeso ao inglês», pretendendo atrair o maior

número possível de associados, comerciantes e produtores, a fim de abrir canais

comerciais para outros países que não a Inglaterra, pensando em particular nos países do

Báltico, e eventualmente, no Brasil.

D. Bartolomeu procurava, como

comerciante que era, obter novos clientes para

fazer o seu negócio. Relacionado com Joseph

Dumont, gentil – homem do Ducado da

Lorena, tentava formar com ele uma

Companhia ou Companhias, cujo objectivo

seria activar o comércio de Portugal e

Espanha, e, estabelecer relações comerciais com outros países da Europa, incluindo os

do Mediterrâneo Oriental. A essas Companhias associar-se-iam portugueses e

espanhóis, os naturais de Dantzig e Konisberg (porto da Lituânia) e de qualquer outro

país do Norte, desde que obtivessem a protecção dos seus soberanos.

D. Bartolomeu entendia que só poderia salvar os vinhos do Douro da penúria a

que desceram, emancipando-os do monopólio inglês. Assim, seria obrigatório forçar o

cerco do monopólio, transportando os vinhos aos mercados de Hamburgo, Viena,

Moscovo, Hungria, Polónia, Trieste, Friume, podendo «ampliar su comercio a los

Puertos del Mar Negro». Dispõe de «um milhão de cruzados» para o seu “giro”

mercantil – quinhentos mil cruzados em vinho, «que ya estan prontos», e quinhentos

Carlos Jaca 11

mil em dinheiro, «que três pessoas subministram». A Companhia, em cujos planos

Pancorbo andou absorvido, nos anos que decorreram de 1753 a 1756, era uma empresa

de carácter particular e internacional, e embora de grande dimensão, em nada se

assemelhava à que se fundou em Setembro de 1756.

Ao fim e ao cabo estes grandiosos projectos acabaram por malograr-se e o

mercado do vinho do Porto não se alargou por toda a Europa e pelo Mediterrâneo

Oriental, como então se sonhava e o biscainho…arruinou-se.

Não se conhecem ao certo as causas que fizeram desmoronar tão vastos

projectos. Que os ingleses da Feitoria o

vissem com maus olhos, não é mais que

natural, e empenhassem os seus esforços

para o prejudicar, é «coisa para

conjecturar». Numa «Memória» da

Academia, de autor anónimo, há referência a

Diogo Stuart, «negociante inglês, muito

astuto e caviloso», em que este avança para

o campo do biscaínho com o fito de o derrotar, «convencendo a Feitoria Inglesa e

alguns lavradores portugueses» a prestarem-lhe apoio. Pancorbo, «rico de ideias e

pobre de cabedais», falhou os objectivos «por não poder suster já o empate de muitos

vinhos que para este fim tinha comprado, sobrevivendo pouco à ruína que lhe motivou

a astúcia britânica e a desconfiança portuguesa». Ao certo, apenas se sabe que

Pancorbo morreu pobre. No entanto, a Companhia, em virtude dos serviços que o

biscaínho lhe prestara e da falta de recursos com que este lutava, entendeu, após a sua

morte pagar à família a viagem de regresso a Espanha.

Não se lhe deve o plano da Companhia, mas a sua colaboração foi de grande

utilidade no desenvolvimento da bicentenária instituição: existem documentos muito

significativos que não só comprovam a colaboração que Pancorbo prestou na Corte, mas

esclarecem, claramente, o papel por ele desempenhado no estabelecimento da futura

Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro. Será, certamente, justo,

considerar este comerciante como que «uma guarda avançada, um emissário dos

Lavradores do Douro na Corte, com o propósito de desbravar terreno e angariar

simpatias.»

Terminando este capítulo, saliente-se, ainda, o facto de D. Bartolomeu possuir

excelentes relações em Lisboa, ao mais alto nível, como foi ocaso de ter dirigido uma

Carlos Jaca 12

carta, datada de 11 de Fevereiro de 1756, a Paulo de Carvalho, irmão de Sebastião José,

em que pedia a sua valiosa protecção para Companhia:

«…Suplico a V. S. en tal conjuntura se digne aplicar a la Compañia, todo su

labor para que por este médio se consiga el fin, que se dexa para alivio de aquellos

afligidos Pueblos…No dudo de la Bondade de V. Sª. Que se dignara favoreser a la

Compañia de que todos viveremos muy agradecidos a V. Sª. Y en su reconpensa pido a

nuestro Sr. dellante la Digníssima Persona de V. Sª. los muchos años que puede…»

O «cérebro» e o «motor» da Companhia. Em 1753, ano em que a crise do Douro atingira o seu ponto culminante, o Dr.

Beleza de Andrade, filho de José Vicente Andrade Beleza, grande proprietário em

Valdigem, Gouvães, Ventozelo, e dono de vastos armazéns em Vila Nova de Gaia,

procurava todos os meios para dar saída aos vinhos do Douro.

Com esse objectivo pediu e obteve, em 1755, Provisão para vender o vinho da

sua casa em tabernas do Porto e persuadiu o Procurador da mesma cidade, António

Bernardo Álvares de Brito, a informar Sua Majestade da ruína causada pela decadência

dos preços a que chegara o negócio dos vinhos.

As providências oficiais em nada alteraram o «statu quo» dos lavradores. Como

o «negócio dos vinhos continua arruinado pela decadência dos preços», Beleza de

Andrade delibera constituir uma exportadora e despacha a caminho da Rússia, «na

esperança de abrir novos mercados» aos vinhos generosos, emancipando-os da tutela

opressiva do inglês, o negociante Manuel Pinto de Paiva, funcionando como

“prospector”, para “in loco” estudar as possibilidades de mercado. Este seguiu de rumo

à Rússia em Setembro de 1755, «concorrendo para a despesa quatro companheiros, na

esperança de fazermos sociedade no negócio para lá» – como consta de carta arquivada

na Torre do Tombo.

Foi por esta época que Beleza de Andrade se encontrou, no Porto, e travou

relações com Mansilha.

Frei João de Mansilha, dominicano, graduado em Teologia por Coimbra,

Mestre Doutor no Convento do Porto e em S. Domingos de Lisboa, inquisidor,

deputado do Santo Ofício, visitador provincial (com o apoio do Marquês) e conselheiro

do Rei, nascera (18 / 5 / 1711) em S. Miguel de Lobrigos, Régua; filho da terra

Carlos Jaca 13

duriense conhece, como poucos, o «estado de ruína da agricultura, a miséria geral, o

abandono das glebas, tudo obra das usuras e opressão dos ingleses».

Beleza de Andrade sabendo que o dominicano era da região duriense, e que a

sua família era proprietária de vinhas no Douro, transmite-lhe as suas ideias que logo ali

«abraçou e louvou», perfilhando-as. Daí por diante, passa consultá-lo em tudo quanto

se relaciona com os seus planos comerciais e promete-lhe até parte na sociedade da

Rússia, ainda que para a jornada de Manuel Pinto Paiva não houvesse contribuído

monetariamente.

Ambos de acordo, «entraram a procurar mais caminhos», caminhos que lhes

permitam a libertação da penúria e do descalabro, de modo a vencer a crise que

avassalava o Douro. Nesse sentido, Beleza de Andrade, convoca para uma reunião em

sua casa, alguns dos principais Lavradores do Douro, reunião a que, obviamente,

assistiu o Padre Mestre Doutor. Aqui, o religioso de S. Domingos, «dita a lavradores e

familiares do Douro» os fundamentos que iriam «subtrair as ribas do mundo vinhateiro

ao flagelo da fome e do

aviltamento».

Mansilha propõe a

organização de uma Companhia que

tome sobre si o pesado encargo de

governar e administrar o comércio

dos vinhos e anuncia que o melhor

sistema de valorização dos vinhas e

das vinhos do Alto Douro, é o

estabelecimento de uma área ou zona oficial demarcada, para a produção do Vinho do

Porto.

Segundo o plano apresentado por Mansilha nesta reunião, todos os vinhos do

Porto, ou seja os vinhos de alto preço para exportação, teriam que ser produzidos

naquela área. Os vinhos produzidos fora dela deviam ser vendidos como vinhos de

mesa, para consumo interno, a preços muito inferiores.

Esta ideia «agradou a todos», tanto aos membros da reunião, como aos

«principais viticultores e outras pessoas ricas do Alto Douro». Deste modo, Beleza de

Andrade «roga ao dito Padre Doutor que lhe faça a súplica a El – Rei (representação

a favor do Alto Douro), em nome das comunidades» (lavradores e comerciantes), e de

Carlos Jaca 14

acordo com os princípios e regras assentes na reunião – representação que todos os

presentes se prontificam a assinar, a fim de ser enviada ao soberano».

Entretanto, em fins do ano de 1755, Beleza de Andrade sabendo que D.

Bartolomeu Pancorbo ia a Lisboa, para aguardar as frotas do Brasil a fim de receber os

dinheiros que elas lhe trariam, e coincidindo com o desejo dos Lavradores do Douro

apresentarem na capital os seus projectos, encarregou o biscaínho de defender na Corte

as vantagens da instituição de uma Companhia

Em virtude desta intervenção, Pancorbo expedira para os lavradores do Douro

«huns arttigos» para estes assinarem e devolverem a Lisboa. Afirmava ainda que o

«negócio» se concluiria em breve, e que o pai de Beleza de Andrade «não alugasse os

seus, armazéns (que possuía em Gaia), para estarem prontos», certamente a receberem

os vinhos comprados à sombra do mesmo organismo.

Os lavradores tornam a reunir. Vêem os «arttigos» de Pancorvo e modificam-

nos, por certo, de harmonia com o que ficara estipulado na assembleia. Só assim,

modificados, os lavradores se prestam a assiná-los, devolvendo a Pancorbo os

«arttigos» recebidos. O biscaínho, sentindo a sua «insuficiência realizadora nas altas

esferas cortesanescas», ou «a insuficiência patrocinal» de Monsenhor Paulo de

Carvalho, propõe a Beleza que vá à Corte «e leve consigo o dito Padre Doutor». Beleza

de Andrade, reconhecendo «a sua curta inteligência», para tal empresa, pediu a Frei

João de Mansilha que o substituísse, e deu-lhe para esse efeito sessenta moedas da sua

bolsa.

Pouco depois, Beleza de Andrade enviava-lhe «uma pauta» com o nome dos

vogais da Companhia em gestação. Nessa «pauta» nomeia o Padre Doutor para

consultor da mesma Companhia, no desejo de que «receba o prémio do seu trabalho no

rendimento do lugar». Mansilha «acha a pauta boa», excepto «no que lhe toca a ele,

por ser eclesiástico e não haver exemplo» de monge em cargo de negócios mercantis.

Mas promete a Beleza «fazer-lhe maior ordenado, e que depois se haverá com ele».

Porta – voz alto duriense faz o ponto da situação. De facto, em Fevereiro de 1756, o dominicano duriense empreendia jornada até

Lisboa, levando na bagagem o «quantum satis» de elementos necessariamente decisivos

e capazes de impressionar a Corte. Confiava o Padre Mestre na «Súplica» redigida por

seu próprio punho e assinada pelos lavradores e homens bons da cidade presentes em

Carlos Jaca 15

anterior assembleia, no paternal acolhimento que lhe dispensava o primeiro – ministro

e, sobretudo, «estribado no conhecimento directo das agonias da região e nas forças

naturais da sua dialéctica filosófica e da sua grande consternação». Além disso, Mansilha estava em correspondência epistolar com Manuel Roiz

Braga, seu amigo e abalizado Provador de vinhos licorosos. Roiz, do Porto, observa ao

Padre Mestre, em carta arquivada na Torre do Tombo:

«…haverá coisa de 20 anos os ingleses desta cidade faziam as suas misturas de

vinhos inferiores com os bons para avançarem maior lucro…os vinhos perderam a

reputação em Inglaterra, causada pelos compradores daqui, não pelos de Inglaterra

que lhes dão ordens, que pedem sempre o melhor, sem limitação de preço». Esses

mercadores «vão ao Douro comprar vinhos onde nunca serviram para Feitoria, como é

Cumieira, Fornelos, Fontes, Lamego e outros sítios… e também os mandam vir da

Serra da Estrela, Anadia e Viana, para fazerem misturas nos seus armazéns, por este

modo pondo um negocio tão feliz reduzido ao miserável estado em que se acha».

Frei João de Mansilha, filho das terras do Douro, estava farto de saber tudo o

que Roiz Braga lhe comunica relativamente à fraude da liga barata dos vinhos de

«ramo» com o «ouro de lei dos vinhos de Feitoria». E tanto assim é que, na assembleia

dos lavradores do Porto, apontou como prioridade a demarcação da zona, «fronteira

intransponível aos vinhos de quaisquer outros territórios». Mas a carta de Roiz Braga

constituía mais um argumento, perante El – Rei e

o seu Secretário de Estado, da necessidade de

protecção ao Alto Douro.

Sobejamente a par dos problemas e

obstáculos que emperravam a engrenagem

económica da região e dos altos interesses que se

iriam jogar, Mansilha consciente da natureza e

valor dos trunfos de que dispunha, estava plenamente convicto de ganhar a partida à

velha “Albion”, quando, ao expor perante o Senhor Rei D. José e o seu poderoso

ministro um bem elaborado e circunstanciado relato, fizesse o ponto da situação.

Sem rodeios, atingindo imediata e directamente o alvo, a exposição do Padre

Mestre constitui a mais declarada denúncia e golpe profundo à presença e privilégios da

colónia inglesa na região duriense. Demonstrando enorme desapontamento, põe na mesa

o jogo subterrâneo dos ingleses do Porto, os quais haviam arruinado completamente as

vinhas do Douro e seus produtos, reduzindo a seu interesse e bel – prazer o vinho a

Carlos Jaca 16

preços de tal modo irrisórios, que nem compensavam a cava das vinhas, pelo que estas

iam sendo todas abandonadas.

Apesar de assoberbado com as enorme dificuldades do terramoto que,

certamente, lhe absorviam as atenções e energias, o Ministro não deixou de se ocupar do

grave problema dos vinhos, que exigia reflexão e longas horas de trabalho, estudando-o

em todos os seus aspectos essenciais.

O teor da exposição que o Padre Mestre levou a Lisboa é atestado pelo próprio

Carvalho e Melo na «Apologia 3ª», incluída na Pasta de Manuscritos nº 477, «Tudo

fielmente copiado do seu Original que possuhia Manoel Coelho de Lima Official da

Secretaria», existente na Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Braga:

«Ainda continuavam com grande força as sucessivas, e urgentes fadigas, que a

calamidade do Terramoto do 1º de Novembro de 1755 fazia indispensáveis; quando no

ano próximo seguinte de 1756 apareceu nas Barracas da quinta de Belém, (na

emergência, por via do desmoronamento e incêndio do Palácio do Terreiro do Paço,

instalara-se a Família Real em Belém na quinta adquirida, ainda no tempo de D. João V,

ao Conde de Aveiras) o Mestre Frei João de Mansilha, como Procurador dos

principais Lavradores de cima do Douro e homens bons da cidade do Porto, cheio de

uma consternação tal, que seria necessária uma longa escritura para a explicar, como

a presenciei naquele tempo.

No meio dela representou ao Senhor Rei D. José, em nome de todos os

sobreditos, que os ingleses do Porto haviam acabado de arruinar inteiramente as

importantes vinhas do Douro e os produtos delas. Que não havia meios com que se

fabricassem. Que tinham reduzido o preço do vinho a 6.800 e 7.800 réis por cada

pipa. Que ainda assim o não queriam comprar senão a crédito de um e dois anos; que o

dito ínfimo preço não dava de nenhuma sorte o necessário para a cava das vinhas, que

por isso iam todas caindo abandonadas por seus donos; que o Abade de Lobrigos já

tinha largado a sua Igreja, por não ter com que pagar a pensão dela. Que todas as

casas principais daquele território se achavam reduzidas à última pobreza, tendo

vendido e empenhado até as colheres e os garfos com que comiam. Que a gente da

plebe, por não terem já com que comprassem uma gota de azeite, comiam na Quaresma

e dias de jejum as suas couves temperadas com toucinho dos seus porcos que criavam;

que aquela geral e extrema pobreza tinha causado também quase geral prostituição das

filhas dos lavradores e senhores das vinhas, porque os ditos ingleses só compravam aos

Carlos Jaca 17

que lhes facilitavam as mesmas filhas para coabitarem com elas, seguindo-se daquelas

facilidades grandes ofensas a Deus e escândalos públicos».

(O significativo termo «cohabitar» é substituído em alguns autores, e até no

Manuscrito nº 916, pág. 57 v., pela forma menos licenciosa «bailar». No entanto,

Agustina Bessa Luis considera o facto de os lavradores cederem as suas filhas aos

ingleses para a seguir vender o vinho, de bastante folhetinesco).

Pombal, Mansilha e… Companhia. Panorama tão sombriamente carregado, não podia deixar de causar a mais

profunda impressão no espírito de Sua Majestade que, segundo Carvalho e Melo, de

imediato lhe ordenou qualificar por correctas as informações relativas aos factos

narrados. Concluindo serem as ditas informações inteiramente certas, falou-se, na presença

do monarca, acerca do remédio mais adequado, rápido e eficaz para ultrapassar tão

grave situação. Estabeleceu-se, por fim, que não podia haver outro que não fosse o da

instituição de «huma Companhia forte que com o pezo da união do seu Cabedal, e

Credito desconcertasse a colluzão (coligação) nociva, em que se achavam

mancommunados os Ingleses».

Conseguido o favorável e real parecer,

logo Sebastião José dá deferimento ao apelo do

Padre Mestre Doutor, imprimindo à projectada

Companhia o arranque decisivo com vista a uma

acelerada progressão.

Concebe-se uma relação de perguntas, em

que se continham as averiguações dos factores considerados indispensáveis para se

formar, com inteiro conhecimento, o plano da dita Companhia e «Logo que chegarão

estas noçoens, se minutou entre mim (Marquês) e o Mestre de Campo, General Manoel

da Maia, a Representação, que sendo approvada pelo mesmo Senhor e indo ao Porto

para se concordar com os interessados nella, voltou assignada por todos, e o foi logo

por Mim, e pelo Dezembargador Procurador da Coroa, assim como Corre impressa

com o Alvará de Confirmação dado em Bellem aos 10 de Setembro do dito ano de

1756».

Carlos Jaca 18

Logo que Pombal anunciou que adoptava a proposta dos proprietários, estes mal

puderam conter a sua alegria. Vinte e sete proprietários de vinhas propuseram

imediatamente comprar 300 acções da Companhia que ainda nem sequer existia, e que

representavam um quarto das acções que Pombal e Mansilha planeavam emitir. Muitos

outros proprietários da região vinícola anunciaram também a sua intenção de investirem

na Companhia, se bem que não tivessem declarado qual o número de acções que

pretendiam comprar. Um mês antes do estabelecimento formal da Companhia, as

povoações das margens do Douro celebraram o facto com foguetes e luminárias e

Mansilha escreveu a Carvalho e Melo dizendo que a notícia da criação da Companhia

tinha endoidecido de alegria toda a área.

Em Junho de 1756, já Beleza de Andrade e um notável grupo de homens bons da

cidade do Porto agradecia, em carta a Carvalho e Melo, «em palavras repassadas de

gratidão», a promessa da fundação da tão desejada Companhia:

«Illustrísimo e Excelentíssimo Senhor

Chegou a esta cidade o Padre Mestre Doutor Frei João de Mansilha, e nos

participou a alegre notícia de que era Vossa Excelência servido resgatar-nos da

extrema miséria em que estávamos, motivo, porque imediatamente se facilitou o

transporte dos nossos vinhos a este Porto. Não temos vozes com que agradecer a Vossa

Excelência favor tão grande, nem é fácil explicarem as nossas línguas o que apenas

podem nossos corações; nestes, como em padrões eternos ficará gravada uma perene

memória de benefício tão relevante, como o fazer felizes aos homens foi sempre o

carácter dos homens grandes; não podíamos esperar de Vossa Excelência senão este

auxílio do seu generoso ânimo, e poderoso braço. Desejamos em todo o tempo

satisfazer do modo possível a esta imponderável obrigação e intento, suplicando a Deus

pela conservação, e aumento de Vossa Excelência nos prostramos a seus pés com o

mais profundo respeito; Porto 1 de Junho de 1756.

De Vossa Excelência obrigadíssimos, e amantes servos. Luis Belleza de Andrade

– João Pacheco Pereyra – João de Faria de Gouveia – António Machado de Barros –

António de Freitas Faria – D. António de Roiz Gouveia – Manoel Bernardo Freire de

Andrade – Lourenso Huet Bacelar de Sotto Mayor – Francisco Manoel Correa de

Lacerda.

Efectivamente, o Padre Mestre havia viajado até ao Porto com os Estatutos da

Companhia, «naturalmente moldados ao sabor dos “artigos” concebidos e

“parturejados” por Pancorbo, excepto no acervo de privilégios conferidos ao novo

Carlos Jaca 19

organismo e na parte referente à “demarcação da zona licorosa”, obra prima de Frei

Mansilha». Com efeito, a Companhia do Douro iria criar uma zona de produção restrita,

«nom d’appellation», quase um século antes dos produtores franceses.

De novo em Lisboa, Mansilha vê-se, agora, a braços com as dificuldades

referentes à formação da Mesa da nova Companhia; se para alguns lugares, as pessoas

indigitadas não levantavam

qualquer polémica, para outras

posições a questão não era

pacífica. O caso era o seguinte:

O cargo da Intendência dos

armazéns da Companhia, embora

dos mais difíceis, trabalhosos e

complicados, «devia ser bem

preponderante e bem pingue para

causar tanta celeuma entre os elementos da primeira Mesa» - seria aquilo a que hoje

poderíamos chamar um bom “tacho”.

Roiz Braga desejava-o só para si, situação que era apoiada pelo Padre Mestre

com o “agrément” de Sebastião José de Carvalho e, de facto, Roiz era um dos melhores

especialistas na prova e na lota dos vinhos. Porém, os outros Deputados, «possivelmente

até aqueles que nada percebiam do assunto, cobiçavam-lho, ou pelo menos queriam

partilhar dele».

Frei Mansilha insiste com a Junta pela nomeação de Roiz Braga «como único

Intendente dos Armazéns da Companhia, Provador, Comprador e Aprovador dos

vinhos».

Beleza de Andrade, que viria a ser o primeiro Provedor da Junta em formação,

discorda, acentuando «ficar o Padre Mestre feito Senhor dispótico (sic) destas terras».

A ideia «é governar o Padre Doutor e executar o Braga, como istrumento (sic) da sua

vontade». Assim, Beleza recusa-se a aceitar Roiz Braga «por único Intendente» e Frei

Mansilha ameaça-o: «Se teima, perde-se»!

Mansilha, escrevendo ao futuro provedor, dava-lhe a entender a consideração

que Carvalho e Melo lhe dispensava: «falando esta manhã de espaço com Sua

Excelência… espero que faça Vossa Mercê as coisas de modo, que nem se mostre

ambição, nem se dê o mínimo motivo de dissabor a Sua Excelência, que com tão

Carlos Jaca 20

excessivo acerto está tratando esta Companhia nascente; que se o não desgostarem,

alcançará os maiores favores»

Frei Mansilha, «voluntarioso e astuto», redige a lista da Mesa da Companhia,

lista «da letra do dito Padre Mestre», de maneira a contentar gregos e troianos, sem

quebra da sua autoridade e predomínio no que dizia respeito à Instituição:

Provedor – Luis Beleza de Andrade. Don Bartolomeu Pancorbo de Ayala y

Guerra – «Intendente Geral», ou «Procurador», «para assistir na Corte». Em vez «dum

único», indica dois Intendentes dos Armazéns da Companhia, Roiz Braga e Custódio

dos Santos Alves. Mas põe Diogo de Mansilha Osório no cargo de Deputado e no de

Intendente Perpétuo da Província do Douro, Francisco Pereira Pinto de Mansilha,

ambos seus próximos parentes por linha materna.

Diga-se, ainda, em abono da verdade, que o Padre Mestre não deixou de

demonstrar algum nepotismo e «clara intenção de prepotência», ao incluir no rol da

Companhia Real dos Nobres do Alto Douro, além daqueles, os seguintes: José de

Mansilha Monteiro, D. Maria Engrácia Caetana Pereira, sua prima, Manuel Teixeira de

Mansilha e Francisco B. Pinto de Mansilha.

Frei João de Mansilha regressa ao Porto em Agosto, portador do plano articulado

da Constituição da Companhia, plano que tinha de ser aprovado pela futura Mesa da

Junta – Provedor, Deputados, Conselheiros – Mesa que seria definitivamente «eleita»

pelos grandes da Praça do Porto e da Nobreza duriense.

Aprovado e assinado o plano, Mansilha parte para a Corte onde, Carvalho e

Melo, depois de o estudar e achar em tudo harmónico com o seu pensar, depõe nas

mãos do Padre Mestre, a 10 de Setembro de 1756, o Alvará Régio que confirma as

Instituições da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, à qual

foram atribuídos poderes excepcionais.

Este Alvará era precedido da

Representação que Beleza de Andrade, na

reunião inicial, sugeriu e requereu a Frei

Mansilha. Ao fim e ao cabo, pode considerar-se

uma introdução que melhor ajudaria a

compreender o condicionalismo sócio –

económico em que foi criada a celebrada Companhia. Embora as razões da fundação já

tivessem sido, creio, suficientemente justificadas, dado o seu interesse, passo a

transcrever o referido documento:

Carlos Jaca 21

«Senhor. Representam a Vossa Majestade os Principais Lavradores de cima do

Douro e Homens Bons da Cidade do Porto que dependendo da Agricultura das vinhas

a subsistência de grande parte das Comunidades Religiosas, das casas distintas dos

Povos mais consideráveis das três Províncias da Beira, Minho e Trás – os Montes, se

acha esta Agricultura reduzida a tanta decadência e em tão grande atraso que, sobre

não darem os vinhos de si o que é necessário para se fabricarem as terras em que são

produzidos, acresce a esta jactura (perda, dano) a do cabedal e da saúde pública;

porque tendo crescido o número de Taberneiros da Cidade do Porto a um excesso

extraordinário e proibido pelas Leis de V.ª Majestade e Posturas da Câmara da mesma

Cidade, e não podendo reduzir-se à ordem aquela multidão, sucede que os ditos

Taberneiros, adulterando e corrompendo a pureza dos vinhos naturais, com muitas

confeições nocivas à compleição humana, arruínam, com a reputação dum tão

importante e considerável género, todo o comércio dele e até a natureza dos Vassalos

de V.ª Majestade.

E animados os suplicantes pela incomparável clemência com que V.ª Majestade

tem socorrido os seus Vassalos aflitos, ainda com vexações menores do que as

referidas, têm concordado entre si formarem, com o Real beneplácito de V.ª Majestade,

uma Companhia, que sustentando completamente a cultura das vinhas, conserve ao

mesmo tempo as produções delas na sua pureza natural, em beneficio do comércio

nacional e estrangeiro e da saúde dos Vassalos de V.ª Majestade.

Será esta Companhia denominada «Companhia Geral da Agricultura das

Vinhas do Alto Douro» …Os papeis do ofício que dela emanarem serão sempre

expedidos em nome do Provedor e Deputados da mesma Companhia, e selados com o

selo dela, o qual consistirá na Imagem de Santa Marta, Protectora das terras do

Douro, e por baixo uma latada, ou parreira, com esta inscrição: «Providentia Regitur»

No dia em que chega ao Porto o decreto da confirmação, os maiorais da

Companhia e homens bons promovem festas na cidade e Alto Douro, «em

demonstração e alegria por este Benefício». O Chanceler da Relação faz a entrega

solene do Régio Alvará ao Provedor, Luis Beleza de Andrade, na presença dos

Deputados, Conselheiros, Juízes e mais oficiais do «corpo político».

Carlos Jaca 22

Objectivos e orgânica da Companhia. O Alvará consta de 53 parágrafos, cuidadosamente elaborados, e que demonstram a

orientação mercantilista de Pombal na defesa de um produto da máxima importância

para a economia nacional. Os objectivos da Companhia estão compendiados no parágrafo 10º das

Instituições confirmadas e visavam, fundamentalmente, o seguinte: «sustentar, com a

reputação dos vinhos, a cultura das vinhas, e beneficiar ao mesmo tempo o comércio

que se faz neste género, estabelecendo para ele um preço regular, de que resulte

competente conveniência aos que o fabricam e respectivo lucro aos que nele

negoceiam, evitando por uma parte os preços excessivos, que, impossibilitando o

consumo, arruínam o género; e evitando, por outra parte, que estes se abatam com

tanta decadência, que aos lavradores não possam fazer conta sustentarem as despesas

anuais da sua agricultura. E sendo necessário para estes úteis fins estabelecer os

fundos competentes, será o capital desta Companhia de um milhão e duzentos mil

cruzados, para que a Companhia possa assim cumprir com as obrigações de ocorrer às

urgências da lavoura e comércio».

A gerência da Instituição cabia a um corpo político denominado Junta da

Administração da Companhia das Vinhas do Alto Douro, a qual se compunha de um

provedor, um vice – provedor, doze

deputados e um secretário, além de seis

conselheiros, que deviam ser «homens

inteligentes deste Comércio». Quanto

ao provedor e aos deputados,

impunha-se que fossem naturais do

Reino ou naturalizados, com

residência no Porto ou «em cima do

Douro», possuindo cada um na Companhia o mínimo de 10.000 cruzados em

acções. Haveria também um juiz conservador, com jurisdição privativa para julgar as

causas contenciosas do âmbito da Companhia.

Um despachador da Alfândega e um oficial conferiam e registavam as guias de

todos os vinhos e aguardentes que saiam da cidade, guias essas que eram passadas pela

Junta. A Companhia incluía, também dez feitores, «para tratarem dos géneros e

matérias do seu comércio nos armazéns da cidade e Arnelas, e nove comissários para

Carlos Jaca 23

lhe comprarem os vinhos de que necessita… tem mais de trinta fábricas de aguardente

administradas por outros tantos intendentes ou comissários». Trabalham, geralmente,

nos seus armazéns «em todos dias úteis do ano» de cem a cento e cinquenta homens, e

de cento e sessenta até duzentos, «nas quatro diferentes tanoarias, dirigidas cada uma

por seu mestre, nas quais se emendam e rebatem as pipas e barris em que a Companhia

faz a importação e exportação dos géneros do seu comércio».

Todos os oficiais da Companhia eram nomeados pela Junta da sua

Administração, e todos eram amovíveis ao arbítrio da mesma, exceptuando os dois

provadores – qualificadores que, embora ao seu serviço, eram «nomeados pela

Majestade». A estes dois provadores – qualificadores, em relação à Companhia, cabia-

lhes determinar todas as lotações dos vinhos e aguardentes de embarque e fazer no

Douro as compras dos vinhos para ela, dentro do terreno demarcado para os vinhos de

embarque.

Como já foi referido, o capital inicial da Companhia elevava-se a um milhão e

duzentos mil cruzados, sendo posteriormente aumentado para um milhão e oitocentos

mil. Para facilitar a realização de tão avultada quantia, determinava a Carta Régia de

27 de Setembro de 1756 que na Misericórdia ou em qualquer outra instituição, pia ou

profana, onde se emprestasse dinheiro a juro, fosse dada prioridade a todo aquele que

pretendesse levantar fundos para compra de acções da Companhia. Quem não tivesse

capital para a entrada, poderia obtê-lo com a garantia dos seus bens de raiz, «para tão

útil e louvável aplicação e para que tenha o seu devido efeito este benefício comum dos

moradores dessa cidade e das três províncias com ela adjuntas».

As pessoas receberiam o dinheiro à taxa corrente, podendo assim fazer as suas

entradas na Companhia, enquanto aquelas instituições ficavam com a hipoteca especial

sobre os bens de raiz dos devedores. Para sossego dos fiadores, a Coroa assegurava o

funcionamento da Companhia como «hum Banco público no qual não pode haver

naturalmente falência».

Igualmente, se proibia a efectivação de quaisquer outros empréstimos, enquanto

o capital não estivesse completamente realizado.

Obrigava-se a Companhia a emprestar aos lavradores necessitados o que lhes

fosse preciso para o fabrico, amanho das vinhas e outras «despesas miúdas, que a

conservação da vida humana faz quotidianamente indispensáveis, sem que por estes

empréstimos lhes leve maior juro que o de 3% ano».

Carlos Jaca 24

Para encorajar a investir na Companhia, Pombal conferiu cartas de nobreza a

todos os funcionários da instituição e a todos os accionistas que tivessem mais de dez

acções, assegurando aos que já pertenciam à nobreza hereditária que não manchariam os

seus nomes pela associação com uma companhia comercial. Igualmente, permitiu, que

os negociantes criassem morgadios, o que era um privilégio anteriormente reservado à

nobreza.

Os parágrafos 12º e 13º concedem à Companhia os portos do Brasil para o seu

comércio, e mandam «estabelecer um fundo de dez mil pipas de vinho bom e capaz de

carregação para o provimento dos ditos portos».

È fixada uma comissão de 6% sobre a venda dos vinhos para beneficio do

Provedor, doze Deputados, seis Conselheiros, um Secretário, um Desembargador Juiz

Conservador, um Desembargador Fiscal, um Escrivão, um Meirinho, Caixeiros,

Feitores, Administradores, Comissários, Escrivães destes, «todo o corpo politico e

económico da Corporação Régia».

Concede-se à Companhia o privilégio exclusivo da venda de “vinhos de ramo”

«na cidade do Porto e terras circunvizinhas, em três léguas de distância», ninguém

podendo vender aquele vinho que não seja por conta da Companhia».

Decreta-se a demarcação nestes termos: «Que, com a maior brevidade se faça

um mapa e Tombo geral das duas Costas, setentrional e meridional do rio Douro, no

qual se demarque todo aquele território que produz os verdadeiros vinhos de

carregação, que são capazes de sair pela barra do mesmo rio…».

É determinado o preço por que a Companhia pagará o vinho aos lavradores,

preço que oscilará, conforme as

qualidades, entre 20 a 25 mi réis, para os

de segunda; para os de primeira qualidade

entre 25 a 30 mil réis, preços estes

posteriormente alterados, podendo subir

até ao limite máximo de 36$000 réis.

Nesta determinação estava um dever

implícito: «escoar o vinho dos lavradores

que, assim, deixavam de ficar na ânsia de não vender os seus vinhos ou de os vender ao

desbarato, com perda. Para os agricultores do Douro, esta medida, «que não se pode

chamar de política social, mas que quase implicava resultados equivalentes, era a luz

nas trevas, o fim dos pesadelos».

Carlos Jaca 25

O parágrafo 35 preceitua o seguinte: «Serão a dita Companhia e o governo dela

imediatos à Real Pessoa de S.ª Majestade, e independentes de todos os tribunais

maiores, e menores, de tal sorte que, em nenhum caso, ou incidente, se intrometa nela,

nem nas suas dependências, Ministro ou Tribunal algum de S.ª Majestade, nem lhe

possam impedir ou encontrar a administração do que a ela tocar, nem pedirem-se-lhe

contas do que obrarem, por que essas devem dar os Deputados que saírem aos que

entrarem».

Companhia majestática, Estado dentro do Estado, não há limitações para os seus

poderes, desde que eles não colidam com os poderes do Rei.

Seguem-se os parágrafos que estabelecem os privilégios pessoais de todos e cada

um dos membros da Companhia e a orgânica económica das acções dos respectivos

accionistas. E S.ª Majestade fecha o Alvará de confirmação nomeando-se «Protector

da Companhia», cuja «absoluta independência» declara e confirma.

Julgo que já não restariam dúvidas, mas, de qualquer modo, após a fundação e

organização da Companhia, pode afirmar-se, categoricamente, que o desenvolvimento

de todo este processo demonstra que Beleza de Andrade e Frei João de Mansilha

constituíram “ab initio”, os grandes “pivots” da Companhia, com o alto patrocínio (e

interesses) do já, então, poderoso ministro de D. José. Contudo, não deverá omitir-se o

notável “staff” de homens do Porto e região

duriense que os acompanhava, evidenciando

ainda, por relevante, a circunstância do

dominicano haver inspirado tal confiança ao

futuro Marquês que «desde haí apparece

como um dos favoritos e avisadores de

Carvalho» e, até à queda do «velho senhor»,

o Padre Mestre manter-se-á na situação de

«personna grata», inspirando toda a legislação promulgada durante o consulado

pombalino referente à Instituição promulgada em 1756.

Caindo nas boas graças do poderoso ministro, que o elevará a Frei Inquisidor,

Provincial dos Dominicanos, Conselheiro da Coroa, com bela aposentadoria, carruagens

e lacaios, o valimento junto de Carvalho e Melo cuja casa frequenta, «acrescenta-lhe de

hora a hora os poderes no seio da Companhia e nos pendores da Terra do Vinho»

Carlos Jaca 26

Apeado o Marquês, a desgraça abater-se-ia também sobre o seu conselheiro e

homem de confiança na Companhia. Logo depois, é encarcerado no Convento de S.

Domingos, em Lisboa e, pelo decreto de 10 de Setembro de 1778, D. Maria I, por via

dos «escandalosos e indignos procedimentos com que, em todo o tempo, se tinha

conduzido», era inabilitado, recluso, e por fim, desterrado por toda a vida, para o

Convento de Nossa Senhora da Luz, de Pedrógão Grande.

«…Fossem ou não fossem escandalosos e indignos os seus actos e costumes, do que nos

não resta dúvida, é de que foi Frei João de Mansilha a cabeça e o braço dirigentes que

arrancaram o Alto Douro ao abandono e à fome, na hora de uma das maiores crises da

sua história – sendo obra sua o Alvará de vida nova … que fez do Alto Douro a

ressurreição posterior a 1756».

Viva El – Rei! Viva o povo! Morra a Companhia! O ódio e protestos acumulados pelos gravames do monopólio teriam o seu

desfecho em 23 de Fevereiro de 1757, no célebre e «horrorozo Motim» do Porto, onde

o povo alvoroçado clamava pela extinção da Companhia, e cujas consequências «forão

manifestas a todo este Reyno pelo Processo e Sentença, Alçada que se guarda no Real

Archivo da Torre do Tombo para avizo dos Séculos futuros».

Como seria natural, as directrizes e restrições impostas pela Companhia cedo

provocariam protestos e oposições face aos vários interesses privados atingidos. De

facto, a novel Instituição iria colidir com inúmeros interesses criados, alterar velhos

hábitos, desmantelar certas negociatas a que a anterior desordem na produção tanto se

prestava, e, simultaneamente, atingir algumas classes mais humildes, como a dos

negociantes de retalho ao público, que ficavam de fora da empresa monopolizadora e já

não podiam beneficiar do baixo preço imposto ao agricultor.

O consumidor popular também sofreu, porque os vinhos encareceram demasiado

para as suas fracas possibilidades; por isso, sentia-se na cidade enorme

descontentamento entre as classes mais modestas que viam na Companhia, exploradora

das suas misérias, o alvo a abater.

Carlos Jaca 27

A Companhia constituía uma ameaça real para esta gente, visto que os seus

estatutos lhe davam o exclusivo da venda de vinho a retalho nas tabernas do Porto e

arredores. De repente, sem qualquer aviso prévio, algumas centenas de taberneiros, sem

contar com os seus empregados, perdiam o seu modo de vida e «nem sequer recebiam

qualquer compensação pela sua propriedade confiscada».

O Governo não permitia a concorrência e limitava a noventa e cinco o número

de tabernas concessionadas; aqueles que, por isto ou por aquilo, (escolhidos?) passaram

a explorar os referidos estabelecimentos tinham que pagar 400 réis de licença e, com o

compromisso, de só comprar vinhos à Companhia; quer dizer, a empresa tinha

estabelecido um monopólio da venda de vinhos a retalho, no Porto, e com o

encerramento das tabernas, não só arruinou os taberneiros e seus ajudantes mas também

os armazenistas. A legislação que diminuiu, drasticamente, o número de tabernas foi um

duro golpe para todos, excepto para aqueles que possuíam vinhos ou tinham parentes

vinhateiros.

Assim, não é de estranhar que, incitado por certos grupos, o povo do Porto se

mostrasse de tal modo hostil à Companhia ao ponto de assustar o seu provedor. Beleza

de Andrade, em 13 de Outubro, participava a Carvalho e Melo que «a plebe está cheia

de malignas intenções contra a Companhia e só o medo é que a impede de revoltar».

Estava, pois, criado um estado de irritação e um clima de tensão que uma

simples faúlha faria explodir, como um barril de pólvora. E explodiu… A faúlha foi o

Carnaval de 1757 e os taberneiros foram quem a provocou. A 23 de Fevereiro, a cólera

popular explodiu com violência, muito

provavelmente, no seguimento da “ressaca”

que as libações da véspera teriam

provocado.

Para o relato destes acontecimentos

recorri, fundamentalmente, a dois

testemunhos da época: «Informações ou

contas dadas pela Câmara do Porto a El –

Rei acerca do tumulto de 23 de Fevereiro de 1757» e à «Descrição topográfica e

histórica da cidade do Porto» (Cap. VIII), da autoria do Padre Agostinho Rebelo da

Costa.

Além destes, conhecem-se outros testemunhos igualmente importantes como os

de Jácome Ratton, «Recordaçoens» e a «Lembrança» de Inácio António Henckel.

Carlos Jaca 28

Logo pela manhã de 23 de Fevereiro, que era quarta – feira de Cinzas, ao

rebate dos sinos da Sé e da Misericórdia, e ao ruído de buzinas e tambores, começaram

a juntar-se grupos de homens e mulheres numa das principais praças da cidade, a

Cordoaria. O povo acorre dali, surge d’além, aflui de todos os pontos da cidade. Às

nove horas o Largo está a extravasar, a turbamulta põe-se em marcha capitaneada por

Baltazar Nogueira e outros taberneiros.

Os sinos continuam a dobrar, o rapazio reforça, de rua em rua, o ronco das

buzinas, arvora e agita bandeirolas de cores. Os taberneiros Domingos Batalha, Moreira

da Silva, António de Sousa, Manuel Cozido, o Tatebitate, incitados pelo Négres, pela

Quitéria, a Custódia, a Brejeira, a Estrelada e a Pinta, «mulheres de taberneiros e

sacerdotisas da taberna e do lupanar, dão o dó de peito no coral sinfónico – Viva El –

Rei! Viva o povo! Morra a Companhia! – Clamam, intervaladamente, em tom de

estribilho, milhares de vozes».

Em diferentes bandos, dirigem-se para a rua de S. Bento da Vitória com aqueles

vivas e alaridos, «agregando muitas pessoas de um e outro sexo e descendo pelas

escadinhas da Esnoga deram consigo na Praça de S. Domingos e daí se encaminharam

para a porta do Juiz do Povo que vive defronte do Chafariz da mesma Praça, onde já se

lhe tinham incorporado inumeráveis pessoas». O taberneiro que ocupava o posto de

cabeça do motim, devidamente escoltado por “adjuntos”, avançou direito à casa do

alfaiate José Fernandes da Silva, por alcunha o “Lisboa”, Juiz do Povo, a fim de que

ele se pusesse à testa do levantamento e tomasse as providências necessárias, «em nome

do seu povo», para que a Companhia fosse abolida. Convidando-o para que os

acompanhasse, «ele se lhe escusou com o pretexto de doente, e lhe mandaram buscar

uma cadeirinha, e metendo-o nela, continuaram com os maiores alaridos, e nos

repetidos Vivas pela Rua das Flores, Terreiro das Religiosas de S. Bento, Rua do

Loureiro e Rua Chã encaminhando-se para as Casas em que vive o Desembargador

Bernardo Duarte de Figueiredo, Corregedor do Crime, Chanceler interino da

Relação».

Por esta altura, estavam já incorporadas mais de cinco mil pessoas, «cujo

número constava de rapazes, galegos, marinheiros, mulheres, e alguns oficiais e

homens de Capote, que mostravam ser pessoas de baixa esfera, porém, a nenhum se viu

arma de qualidade alguma, e à porta do mesmo Chanceler que serve de Governador,

fizeram diligencia para lhe entrarem nas casas, a tempo que ele lhes apareceu à janela,

Carlos Jaca 29

e perguntando que queriam, repetiram os mesmos Vivas, e que tinham para fazer-lhe

seus requerimentos, e descendo ao fundo da escada para os receber, e sossegar com a

madura prudência que mostrou nessa ocasião, e nestas capitulações se gastou bastante

tempo, e ultimamente para evitar a maior ruína que ameaçava tão extraordinário

tumulto, tomou resolução de lhes deferir o que pediam, que era a liberdade de comprar

e vender vinhos assim, e da mesma sorte que se praticava antes da instituição da

mesma Companhia», ordenando por pregões e editais a sua suspensão, aguardando que

Sua Majestade confirmasse a abolição.

Então o povo, satisfeito e transbordando imensa alegria, acenava com lenços e

chapéus, clamando: «Viva, viva, temos liberdade».

Até então, a violência não excedera os limites da expressão verbal e a

reivindicação principal fora conseguida.

Entretanto, um grupo de amotinados dirigiu-se para a residência de Luís Beleza,

Provedor da Companhia, morador na mesma rua Chã, que era olhado certamente «como

a encarnação viva dos males da instituição odiada, e, nessa medida, constituía

facilmente o pólo para onde convergia a ira destruidora da multidão. Além disso, sobre

ele recaíam graves acusações de desonestidade e nepotismo».

Chegados à residência de Beleza de Andrade, que felizmente para ele se tinha

ausentado, possuídos do furor que os dominava, «romperam ao excesso de lhe atirarem

várias pedradas às janelas, fazendo força para lhe entrarem na mesma casa, e

disparando-se de dentro dois, ou três tiros, dos quais ficaram duas pessoas gravemente

feridas, mas sem perigo de vida…».

A multidão exaspera-se, o sargento Manuel da Costa arromba as portas a

machado, a turba invade as casas de roldão, escaqueira móveis, queima papéis, «até as

leis formadas pela Real Mão de Sua Majestade Fidelíssima». Entrando na casa do

escritório da Companhia, que ficava unida à de Luis Beleza, fizeram o mesmo estrago

lançando à rua vários papéis e livros da referida Instituição, «e não passou adiante o

dito estrago por acudir a guarda com o capitão dela a requerimento do Juiz de Fora

que vive defronte do Corpo da Guarda, e fazendo-o o dito Capitão com a guarda

senhor das casas rebateu prudencialmente as pessoas que achou nelas impedindo-lhe a

resolução de deitarem à rua o dinheiro da mesma Companhia que nela se achava com

a voz de ser o mesmo dinheiro pertencente a V. Majestade, com o que suspenderam

logo esta acção».

Carlos Jaca 30

Ao princípio da tarde a revolta começou a acalmar «e se mandou aviso à Ordem

Terceira para que pusesse a sua procissão na rua em ordem a distrair o povo para esta

parte, cuja ideia produziu o desejado efeito, e se tomaram as cautelas necessárias tanto

pelos Ministros da Justiça, como pelos militares rondando uns e outros toda a Cidade

para evitarem ajuntamentos, ficando sempre todo o regimento em armas até ao

presente em que o povo se acha quieto…»

Dois dias depois, o Senado da Câmara do Porto enviava uma longa carta a El –

Rei, D. José, da qual já foram transcritas algumas passagens, e que terminava:

«… Examinando nós a causa que houve para este extraordinário excesso, não

achamos outra mais do que queixar-se o povo de que a Mesa da administração da

Companhia, usava dos Capítulos dela para a sua utilidade, e que desprezava, e não

cumpria os que eram em utilidade do público, tanto no preço do vinho, como na má

qualidade dos que se vendiam ao povo pelo miúdo.

O que tudo pomos na real presença de V. Majestade a cujos pés prostrados com

o mais profundo respeito ratificam a nossa fidelidade e obediência.

Porto em Câmara, 25 de Fevereiro de 1757».

Situando-se cronologicamente nos inícios do consulado pombalino, o motim do

Porto não deixou de funcionar como um “teste” ao poder do ministro e da própria

monarquia. Os amotinados de 23 de Fevereiro, ao pretender abolir a Companhia

instituída por decreto real, esqueceram-se, talvez, que estavam a desafiar a autoridade

régia.

Alçada e sentença do «execrando delicto». Quando a notícia chegou a Lisboa, tudo se processou em termos de revolta, o

que levou a Coroa a definir o caso como de lesa – majestade. O proprio Padre Mestre,

João de Mansilha, transfigura a «assuada» carnavalesca do Porto em «abominável

delito de Alta Traição», ou delito triplo de lesa – majestade – «insulto à Companhia da

imediata e Régia protecção d’El – Rei»; «queima das Leis que a mão de El – Rei

firmara»; «desprezo pelo preço do vinho que o Privilégio d’El – Rei havia taxado».

A 28 de Fevereiro, o Desembargador João Pacheco Pereira de Vasconcelos era

nomeado Juiz da Alçada para averiguação e castigo dos tumultos, concedendo-lhe,

Pombal, todos os poderes discricionários, sem qualquer restrição. O Presidente da

Carlos Jaca 31

Alçada, deveria, pois, «usar de máxima severidade e prender imediatamente os cabeças

do motim, mesmo antes da culpa formada».

Como escrivão ia o próprio filho do Desembargador, João Mascarenhas Pacheco

Pereira Coelho de Melo, que segundo as fontes da época – e nenhuma o absolve – teve

um comportamento indigno na audição das testemunhas, a quem por ameaça ou tortura

arrancou falsos depoimentos.

A este propósito veja-se o que diz Jácome Ratton, homem de grande peso no comércio

nacional e internacional, contemporâneo dos acontecimentos e afecto a Carvalho e

Melo:

«… segundo me informaram pessoas de crédito, quando estive naquela cidade

no fim do ano de 1757, cuja agitação, a que deram o nome de levantamento do

Porto…logo se mandaram tropas, e os dois Magistrados Mascarenhas pai, e filho, com

todos os poderes sobre o civil e o militar. O Desembargador filho, homem ambicioso de

poder, e de carácter perverso, assumiu a si toda a autoridade, não obstante ter ido em

qualidade de ajudante de seu pai, que tinha reputação de douto, e bom; mas de idade

avançada, e doente. Encheu o tal filho de medo e aflição a todos os moradores do

Porto; andava com uma guarda de cavalaria atrás de si; abriu uma devassa, na qual

mostrava todo o empenho de envolver pessoas graúdas, para persuadir ao Governo que

tinha aplacado uma rebelião formal; mas se implicou algumas, era opinião geral ser

com falsidade». E mais: «…durante o julgamento o Mascarenhas levava mulheres para

casa para satisfazer o seu apetite e, se as mulheres lhe agradavam, prometia amnistiar

os seus parentes». As interpretações tradicionais da revolta acusam-no pela forma

selvagem como o Tribunal conduziu o processo.

Não foram unânimes os

desembargadores da Relação em

considerar o «motim» como tal, pois

alguns defenderam tratar-se de uma

«assuada» a que devia corresponder

uma pena insignificante.

A Coroa exprimiu a sua

estranheza por «huma opinião tão

errónea e de tão perniciosas

consequências». Carvalho e Melo ordenou enviar uma nota de censura aos magistrados

da Relação, confirmando que quaisquer tumultos impeditivos da execução das ordens

Carlos Jaca 32

régias deviam considerar-se delitos de lesa – majestade. Os desembargadores

apavorados submeteram-se.

Registe-se uma breve passagem do douto Padre Agostinho Rebelo da Costa, que

apresentou a melhor descrição geográfica e histórica do Porto, em 1787,testemunha

ocular do levantamento também chamado “Revolta dos Borrachos”. Depois de

descrever o desenrolar dos acontecimentos, coincidentes no essencial com a

documentação oficial, Rebelo da Costa, conclui: «…Às três horas da tarde achava-se a

cidade em tal sossego que, saindo a esta hora a procissão dos terceiros franciscanos,

nem sinais viu do que se tinha passado. Este foi na verdade todo o sucesso do referido

tumulto, que eu vi, e do qual são ainda vivas milhares de testemunhas. Os chefes que o

excitaram foram quatro miseráveis taberneiros, um pobre alfaiate, que era juiz do

povo, e um desgraçado sargento supra. À vista destes chefes, que tais seriam os

sequazes? Julgue-o o leitor. Para confirmação da ideia que este deve formar e do

quanto este motim em nada manchou a glória dos portugueses, leia o prefácio da

sentença proferida contra os réus, e verá que somente a plebe foi a agressora…Porém,

como das informações péssimas ou benignas resultam os pequenos ou os grandes

castigos, sucedeu que pintaram a el – rei este sucesso com tintas e cores tão

denegridas que o constrangeram a mandar sobre esta cidade uma Alçada…»

Quando o Padre Rebelo da Costa escrevia estas últimas e judiciosas palavras,

não seria estranho que estivesse a pensar no ânimo violento de Frei João de Mansilha

tão explicitamente demonstrado nas cartas ao Juiz da Alçada, «durante o período de

preparação da matança grande da Cordoaria», porquanto está patente em vários e

expressivos documentos, quer nos do

arquivo da Torre do Tombo, quer nos do

arquivo da «Companhia Velha».

A Alçada entra em funções nos

primeiros dias de Abril, determinando o

ministro Presidente afixar editais, desde

a Sé a Miragaia, intimando «todas as

pessoas, de qualquer qualidade e

condição que sejam, que tiverem notícia dos Maquinadores do Tumulto, ou formado o

primeiro plano para o concitar, a que venham delatar perante mim, tudo o que

souberem aos ditos respeitos, sem diminuição ou restrição alguma, no termo de cinco

Carlos Jaca 33

dias peremptórios, até ao dia de 6ª feira, 13, do corrente». Os que não o fizerem,

«ficarão pelos sobreditos factos incursos nas mesmas penas daqueles cujos delitos

houverem ocultado, como Réus de Lesa – Majestade…como também sabendo onde está

algum dos ditos réus o declararem e os não recolham em suas casas; antes denunciem

igualmente os bens dos mesmos réus que passarem na sua mão e quem são as pessoas

que o sabem e os ocultam…»

Enquanto durou a devassa, Pombal colocou o Porto em “estado de sítio”: as

pessoas foram proibidas de estar paradas nas ruas, de usar capas, de andar armadas, não

podiam fazer reuniões depois do anoitecer e havia espiões por toda a parte. Para impor a

ordem foram destacados «todos os regimentos das províncias do norte, mesmo os

regimentos de Viana e de Bragança, os atiradores especiais, os dragões de Aveiro e a

cavalaria ligeira, ou seja, 2000 homens de tropa adicional a juntar à guarnição regular de

2400 homens». Efectivamente, a cidade do Porto foi acusada formalmente de culpa de

omissão, sendo os moradores submetidos ao vexame de uma devassa «minuciosa e

amedrontadora», obrigados a sofrer uma ocupação militar de sete meses e a ter que

pagar os seus custos.

Antes de começar a condenar os culpados, Pacheco Pereira assegurou a Pombal

e ao Rei que os castigos seriam tão severos que evitariam outras rebeliões em Portugal

«durante muitos séculos».

Para Carvalho e Melo o que ocorreu no Porto assumia proporções de um

sacrilégio. Desrespeitara-se a lei, ofendera-se o soberano, porque este e seus decretos,

no conceito absolutista de Pombal, confundiam-se. Escrevendo ao Juiz da Alçada, que

se ocupou do caso, dizia: «…a majestade não consiste somente na pessoa de el – rei,

mas também nas suas leis». Se o rei absoluto era intangível, também o tinham de ser os

seus códigos. Era a concepção do tempo quanto a actos de desobediência às leis. Assim,

a Coroa podia justificar o severo castigo imposto aos réus e coniventes, com as

seguintes razões:

«A Rebelião de grande parte da Plebe de huma Cidade, que depois da Corte he

sem disputa a mais oppulenta desta Monarchia, foi hum dos Cazos mais estranhos do

presente século; especialmente porque a toda a Nação Portugueza cauza horror o

menor movimento, que possa parecer infidelidade ao seu Soberano, a quem os súbditos

respeitão mais com amor de filhos que de Vassalos».

Carvalho e Melo, demonstrando enorme impaciência, dirigindo-se ao já referido

Juiz da Alçada, exigia que se fizesse justiça rápida e severa: «Acabe depressa com essa

Carlos Jaca 34

tragédia!». Pode concluir-se facilmente que, no decurso de todo o processo, nunca

deixou de influir no espírito dos magistrados, intimidando-os e, estes, assim

pressionados, exageraram os delitos proferindo monstruosas sentenças.

Em tempo oportuno, quando já se vislumbrava e pressentia um severo e, até,

desumano castigo, os Cónegos da Sé do Porto enviaram oito cartas, datadas todas do

mesmo dia, endereçadas respectivamente ao Rei, ao Cardeal Patriarca, ao Núncio

Apostólico, ao Bispo Eleito do Porto Frei António de Távora (após o atentado contra o

Rei, Frei António de Sousa), ao confessor do rei, aos irmãos do monarca, D. António,

Gaspar e D. José (meninos de Palhavã), ao Duque de Lafões (primo do Rei e Regedor

das Justiças) e ao próprio Sebastião José de Carvalho e Melo.

O teor dos textos é muito semelhante, afirmando-se genericamente que a autoria

do levantamento era da responsabilidade, ou irresponsabilidade, de «uma pequena parte

do povo da mais ínfima nota, que os factos haviam sido transmitidos à Corte com

«cores mais vivas do que pedia a realidade do sucesso», que os culpados dada a sua

ignorância de leis, jamais quiseram ofender a real majestade, que a cidade inteira

sofria por causa da irreflexão de uns poucos, que se o Rei é grande ao fazer justiça,

assemelha-se à divindade ao conceder o perdão».

De nada valeram os apelos à clemência e os

repetidos pedidos de intercessão dirigidos pelo Cabido

do Porto às mais altas individualidades do Reino.

O motim do Porto de 1757 foi reprimido da

maneira mais violenta que se possa imaginar,

execuções, espancamentos e deportações.

Depois de terem lido milhares de páginas de

testemunhos, doze juízes passaram quinze dias a

escrever as sentenças. Pacheco Pereira considerava que

noventa dos implicados mereciam a pena de morte.

Porém, recomendava que se matassem apenas trinta e quatro, não por caridade, mas

porque «não seria boa ideia matar tantos vassalos (do Rei)». Em todo o caso, ia

dizendo que a decisão última seria tomada por Pombal. Isto, talvez, ou certamente,

queira significar que os verdadeiros juízes não estiveram presentes no julgamento,

mas… a partir de Lisboa “ditaram” a sentença: Carvalho e Melo e Frei João de

Mansilha.

Carlos Jaca 35

A 12 de Outubro é lida a pavorosa sentença da Alçada que condenou à morte

vinte e um réus sumariamente julgados, «ficando para sempre infame a sua

memória, e de seus filhos e seus netos».

Foram sentenciadas cerca de 442 pessoas por terem tomado parte no motim:

375 homens, 50 mulheres e 17 jovens, absolvendo apenas trinta e seis. Trezentas e

cinquenta e sete das vítimas receberam sentenças de açoites, condenações às galés,

desterro na província e confiscação de bens. Dez mulheres e quarenta e nove homens

foram exilados para África e para a Índia. Vinte e um homens e cinco mulheres tiveram

sentença de morte.

Na manhã de 14 de Outubro de 1757 foram executadas as sentenças de morte. O

número de enforcados foi inferior ao número de condenados (8 conseguiram fugir do

Reino) e uma mulher, a “Estrelada”, nesse dia escapou «pelo motivo da gravidez, mas

que foi efectivamente enforcada quatro meses depois». E as famílias, os filhos das

vítimas, os órfãos daqueles a quem cortaram as cabeças e aqueles cujos pais foram

exilados não deixaram de sofrer privações económicas e humilhações.

Mesmo assim, os que fugiram ou não estavam presentes foram enforcados em

efígie e as cabeças de alguns decapitados foram espetadas em chuços e expostas nas

ruas da cidade durante quinze dias, a fim de que a lição não fosse facilmente esquecida.

Revolta planeada? Se bem que a documentação tivesse sido abundante até certa altura, hoje não

existem elementos que possam garantir concretamente quem planeou, ou mesmo se

existiu algum plano, referente ao motim de 1757, e nem sequer são conhecidos os

nomes de todos os condenados. Inclusivamente, as listas enviadas para Lisboa por

Pacheco Pereira, Juiz Presidente, que registavam os nomes, profissões, idades e bens

confiscados dos prisioneiros, desapareceram. Tudo o que existe, creio, são provas

limitadas que, apenas, podem levar a conjecturas, como é o caso de que alguns

negociantes ricos do Porto, anti – Companhia, tivessem financiado a revolta mas, se o

fizeram, nunca se conseguiu provar a sua cumplicidade. De facto, apareceram alguns

pasquins dirigidos à Companhia e redigidos em latim, o que pressupõe a implicação de

pessoas mais cultas do que qualquer dos condenados, estes quase todos das classes

baixas. Sabe-se que «apenas quatro negociantes – e nenhum deles de categoria –

receberam diversas sentenças de prisão mas, no entanto, não escapou à atenção do

Carlos Jaca 36

Tribunal que muitos dos condenados eram criados de negociantes ricos. O escravo

condenado pertencia a um dos negociantes principais do Porto e o tribunal notou que ele

tinha em seu poder, ilegalmente, uma espada».

Não foram condenados quaisquer membros de profissões liberais e o único

suspeito que pertencia a este grupo era o advogado, Nicolau da Costa Araújo, «que não

tomou parte nas desordens, que as não aconselhou, culpado somente de não denunciar

uns desconhecidos, a quem negara a minuta de uma representação contra a Companhia,

verificando-se depois de serem eles dos amotinados».

Uma possível participação de alguns ingleses na conspiração é incerta, embora

Carvalho e Melo tenha escrito uma carta em que acusa os negociantes ingleses de terem

ajudado os rebeldes. Há uma petição sem data e sem assinatura da Feitoria Inglesa do

Porto, em que «os negociantes ingleses do vinho do Porto acusavam os grandes

proprietários de terem lançado a ideia de uma zona demarcada com o fim de

monopolizarem a venda de vinhos para exportação e afastarem os pequenos viticultores

do negócio». Também Pacheco Pereira não rejeita a possibilidade de haver ingleses

envolvidos na revolta, mas… «logo diz que recebeu ordens régias para não discutir o

assunto por escrito». Provável ou não que os ingleses tivessem ajudado a revolta, quer

com apoio moral quer financeiro, não será descabido ponderar que o tribunal não tivesse

investigado o caso por razões de ordem política e implicitamente…económica.

Obviamente, «… o Enviado Inglês em Lisboa assegurou ao Foreign Office de Londres

que nenhum inglês, escocês ou irlandês residente em Portugal tinha tido qualquer

relação com a revolta».

Já agora, acrescente-se, anos mais tarde (cerca de vinte), Pombal também acusou

os Jesuítas de terem incitado à revolta, afirmando que os padres da Companhia do

Colégio do Porto sugeriram «pelos exercícios e confessionários, que os vinhos da nova

companhia não eram capazes (por serem de tão má qualidade) do sacrifício da missa»,

levantando, no dia 23 de Fevereiro de 1757, «o horroroso motim com que toda a plebe

da mesma cidade foi assaltar as casas do chanceler, cabeça daquela relação e das

sessões, cartório e depósito da mesma companhia, clamando que fosse abolida…». E

isto, quando o tribunal já chegara à conclusão de que os eclesiásticos da zona tinham

recusado participar na revolta apesar de lhes terem pedido apoio, «pelo que nenhum

membro da Igreja sofreu qualquer castigo». E mais: a acusação não deixa de ser

gratuita, não só porque não há vestígios da sua culpabilidade como existem testemunhos

de que, na altura da instituição da empresa, «os Padres da Companhia (Jesuítas) fizeram

Carlos Jaca 37

tão copioso fogo que parece quererem queimar o Convento … e os repiques são iguais

às luminárias, que nem se sabe como não quebram os sinos».

Suponho que já foi dito, e parece não haver dúvida, a revolta ter sido chefiada

por quatro taberneiros. Um sargento era o mais graduado dos cabeças do motim e,

também como se referiu, os amotinados forçaram o Juiz do Povo a participar nela,

contra sua vontade, talvez temendo as consequências do papel saliente de cabecilha.

Todas estas pessoas foram condenadas à morte e, provavelmente, conclusivo, é o facto

de o tribunal acusar cerca de noventa pessoas, na sua maioria taberneiros de terem sido

os dirigentes da revolta. Como quer que seja, a desproporção entre o excesso da pena e a

insignificância do delito chocou os contemporâneos, alguns deles bem relacionados com

Pombal, que consideraram a sentença «uma das mais ominosas monstruosidades

jurídicas, que até hoje tem saído dos tribunais portugueses e uma das páginas mais

negras e mais desairosas da administração do grande ministro de el – rei D. José. Do

espírito de injustiça e do propósito sanguinário que a inspiraram, encontram-se provas

claríssimas em cada linha, para assim dizer, de cada um dos parágrafos. Entre todos

torna-se notável o que diz respeito a Marcos Varela, um galego casado com

portuguesa, (cuja presença física no motim ficou por provar). Este homem, suposto –

diz a sentença na sua algaravia – se não pudesse averiguar, se foi ou não ao dito

Motim, ou concorreu para ele, foi condenado a ser enforcado e esquartejado, porque

era vendeiro e mercador de vinhos, e como tal era natural que andasse no tumulto;

porque comprou oito pipas no armazém da Companhia, e depois mais dezasseis no

Douro; porque lá deu a notícia da revolta do Porto mesmo diante do provedor da

comarca de Lamego; porque era galego e, porque nunca quisera vender os seus

cascos das pipas!

Para honra da humanidade, da justiça e do bom senso, é preciso acreditar que

esta foi a primeira e última vez que por tais crimes se condenou um homem à morte».

Não houve nada, de facto, que justificasse a forma como as sentenças foram

executadas. O próprio Pacheco Pereira admitiu que «os açoites públicos foram tão

brutais que muitos espectadores voltaram para casa horrorizados».

Quando, já afastado do cargo, por morte de D. José, submetido a um

interrogatório na vila de Pombal, sendo instado a revelar a verdade a respeito das

prisões, execuções e daqueles que morreram no cadafalso de Belém e sucumbido nas

prisões, bem como dos castigos infligidos aos arruaceiros do Porto, Carvalho e Melo

Carlos Jaca 38

alegou «tratar-se de ordens de El – Rei, ciente de que alguns deles conspiravam contra

os interesses da Coroa… acusam-me principalmente de ter sido cruel, mas obrigaram-

me a ser rigoroso. Quando anunciava as ordens de El – Rei e não faziam caso delas,

era indispensável recorrer à força: as prisões, os cárceres, foram os únicos meios que

encontrei para dominar este povo cego e ignorante».

Vinte anos depois: Pombal faz a «Apologia» da Companhia e… de si

próprio. Já no seu retiro, ou residência fixa, de Pombal, afadigava-se o antigo valido do

monarca Reformador a refutar as

«vannissimas Calumnias que desde o dia do

fallescimento do Senhor Rei Dom Jozé», se

tinham contra ele «gratuita e ingratamente»

propagado por todo o povo de Lisboa.

Procurando desagravar uma reputação

abalada e acusada por um sem número de

culpas, desde «conspiração, ateísmo,

concussão (desvio de dinheiros públicos),

latrocínio, de querer fazer rei o Príncipe da

Beira, com a ajuda de tropas que passavam

por ser precaução contra a invasão

espanhola», o antigo Conde de Oeiras redigia,

obstinadamente, a sua defesa em forma de

«Apologia ou Compêndio».

Precisamente numa dessas Apologias, a 3ª, pretende Carvalho e Melo justificar

(e justificar-se) a fundação e progressos da Companhia Geral da Agricultura das

Vinhas do Alto Douro.

Logo no início da sua «Apologia», Carvalho e Melo parece mostrar-se

surpreendido por via dos ataques e oposição ao novo organismo, o que poderá

depreender-se pelo facto de o antigo estadista referir que a instituição da Companhia e o

Alvará confirmativo terem proporcionado aos senhorios e lavradores do Alto Douro, «a

redenção do cativeiro em que se achavam, quando este era o reconhecido sentimento

Carlos Jaca 39

de todos os interessados e homens instruídos e prudentes das três províncias da Beira,

Trás – os Montes e Minho…»

Dia a dia – prossegue – «a experiência ia mostrando cada vez maiores

progressos, não só nos lucros da dita companhia, em que consiste a sua segurança, mas

também a mesma proporção no consumo dos vinhos, na restituição do valor deles a

preços racionáveis, no aumento da cultura das vinhas e na liberdade dos colonos e

senhorios». Em contrapartida, o Gabinete via-se constantemente assoberbado para fazer

face à forte oposição em que estavam empenhados os ingleses, aos quais «lhes tinham

arrancado das mãos aquele importantíssimo ramo de comércio, e que se achavam no

Alto Douro dependentes dos mesmos lavradores que antes tratavam como escravos,

dispondo dos bens alheios como se fossem próprios».

Desbloqueado o comércio monopolista da feitoria inglesa pela instituição da

Companhia, cujos Estatutos eram portadores de uma grande carga antibritânica, o

proprio governo de Londres por intermédio de sucessivos representantes em Lisboa

(Hay, Kinnoul, Lyttelleton e Walpole), não deixava de pressionar o Gabinete

Português, com toda a espécie de pretextos e sofismas expressos em «capciosos e

arrogantes ofícios».

Atento a todas estas subtis manobras, o Gabinete de Carvalho e Melo esforçava-

se por demonstrar com razões superiores a toda a contestação, a existência de um

estabelecimento de tamanha utilidade pública, «refutando constante e firmemente as

arrogâncias dos sobreditos quatro ministros de Inglaterra».

Carvalho denunciava os processos fraudulentos utilizados pelos colonos, que

introduziam às ocultas na zona demarcada de embarque, vinhos inferiores das regiões

adjacentes: conluiados com os ingleses do Porto, os colonos simulavam que adquiriam

para si próprios os vinhos que, na realidade, compravam para os ingleses. E, dando

largas à sua fértil e maliciosa imaginação outras fraudes e coligações eram praticadas,

necessitando o Gabinete de recorrer a tantas e oportunas providências, que nos «registos

da Secretaria de Estado dos Negócios do Reino, não cabendo em dois grandes livros,

fizeram preciso passar a terceiro».

Não dando tréguas, actuava o Ministério Pombalino no sentido de proceder ao

desbloqueamento de fraudes e transgressões que prejudicavam e arruinavam a reputação

dos vinhos, bem como na correcção de irregularidades provenientes da má

administração e negligência de provedores e deputados, providenciando para uma bem

melhor moralização da progressiva Companhia.

Carlos Jaca 40

Efectivamente, também o corpo político que constituía a Companhia não

deixaria de causar as mais sérias apreensões ao Ministério de Carvalho e Melo, uma vez

que a sua orientação se desviava de alguns dos primaciais princípios inicialmente

propostos. Muitos dos seus responsáveis nem sempre navegariam em águas

transparentes.

Na Apologia que faz da fundação da Companhia, Pombal refere o facto de

provedores e deputados haverem sido eleitos e aprovados, para os primeiros triénios,

«entre os homens que naquele tempo tinham feito ver maior zelo, maior crédito e mais

inteligência; contudo, veio a descobrir-se, pelas suas más gestões, que não

correspondiam nem à confiança que neles se tinha posto, nem ao desinteresse que era

indispensavelmente necessário na administração de cabedais alheios».

Em 1758, dois representantes da Junta do Comércio comunicavam para Lisboa

que a administração da Companhia estava dividida em duas facções opostas e,

suspeitando, que o Provedor poderia estar envolvido em negócios financeiros

prejudiciais à Instituição. Pombal ordena, de imediato, uma sindicância à administração

da Companhia e depois de examinados os livros e inquiridos todos os funcionários e

administradores, a investigação averiguou que o Provedor, Beleza de Andrade, e muitos

outros deputados estavam implicados em certos negócios pouco claros com os fundos

da recém fundada empresa.

Beleza de Andrade não

seria, certamente, mais culpado

do que os outros membros da

administração que se opunham a

ele, «mas tinha-se indisposto com

Mansilha sobre a divisão dos

ganhos da Companhia e o Padre

Mestre fez de Beleza de Andrade

o bode expiatório, virando

Pombal e a Companhia contra ele». Beleza acabou por ser destituído, o que provocou

uma reorganização da Companhia.

Para Sebastião José, a remodelação que se impunha para os lugares de provedor

e vice – provedor passava, agora, pelas pessoas mais distintas da cidade do Porto, na

esperança de que pela sua autoridade e exemplo se garantisse a maior observância e

Carlos Jaca 41

regularidade na administração da Companhia. Porém… mais uma vez, a remodelação

parece não ter resultado: ou por impreparação no sector comercial e agrícola, ou por

negligência, as ditas pessoas distintas não conseguiram alterar a imagem negativa de

que eram arguidas as anteriores Juntas, embora Pombal tivesse determinado

«numerosas providências que nos

sobreditos Livros de Registo se acham

manifestas».

No dizer de Carvalho e Melo todas

as medidas aplicadas em relação à

Companhia demonstravam, de forma

inequívoca, que no seu Gabinete jamais

houvera a menor condescendência

susceptível de poder esconder quaisquer intuitos de carácter pessoal. Pelo contrário, diz,

da parte do Governo houve sempre «…uma e evidente demonstração de que no

ministério não houve jamais a menor condescendência lucrosa, nem com os ingleses do

Porto, nem com os senhores e colonos das vinhas do Douro, nem com as referidas

Juntas, mas sim uma constante e perpétua vontade, sempre inalterável de rebater as

oposições dos primeiros, e de coibir as fraudes dos segundos, e de reduzir aos termos

de seus deveres a terceira, sustentando-lhe a autoridade enquanto se fazia precisa para

a conservação de um estabelecimento que tem produzido em utilidade pública do reino,

um tão grande número de milhões de cruzados.».

Que as directrizes emanadas do Gabinete Lisbonense (onde Mansilha,

possivelmente, funcionava como “eminência parda”) se pautavam exclusivamente pela

conservação e progressos da Companhia, é o que Pombal pretende reforçar,

evidenciando que «nem os ingleses para não serem tão fortemente combatidos, nem os

colonos do Douro, para não serem presos e castigados, nem os provedores e deputados

da referida Junta para não serem coibidos e removidos dos lugares, logo que na

distância de Lisboa, chegou a constar que não cumpriam com as suas obrigações, dos

ditos lugares, haviam de fazer ao dito Gabinete, donativos de grande importância».

Oeiras e a «Marca». Interrompendo o tom apologético que Carvalho vem demonstrando na sua

exposição talvez caiba, aqui e agora, referir que no rol dos mais fortes accionistas da

Carlos Jaca 42

Companhia figuravam membros da família Pombal, bem como alguns parentes mais

chegados de Frei Mansilha, e que… das vinhas de Oeiras (próximo a Lisboa), Pombal

«vendia o produto, a bom preço à privilegiada Companhia».

Efectivamente, não deixa de ser

significativo o facto do principal fornecedor

individual de vinhos à Companhia, residir «a

mais de 200 milhas do Douro». E, ainda,

como as propriedades de Pombal produziam

apenas 150 pipas por ano, certamente

comprava uvas ou vinhos não fermentados,

aos pequenos proprietários vizinhos de Oeiras, misturando-os com os seus. Houve um

inglês (Major William Dalrymple) que, em 1774, visitando as vinhas do Marquês «fez

reparo no excelente equipamento e na esplêndida adega com capacidade para 900 pipas,

ou seja, seis vezes mais do que a produção do vinho produzido nas propriedades de

Pombal».

A “transferência” dos vinhos de Carvalho e Melo era uma das incumbências de

Mansilha, na qualidade de representante em Lisboa da Companhia (ou delegado de

Pombal na Companhia?): anualmente, depois das vindimas, o dominicano deslocava-se

a Oeiras, para provar os vinhos, supervisando a sua fortificação com aguardente e

proceder ao seu embarque para o Porto.

Ora, atendendo ao estatuído, incorria em crime punível com graves sanções todo

aquele que lotasse os vinhos da «Marca» (“nom d’appellation”) com produção

proveniente de outras zonas. Como poderia Pombal argumentar, apresentar razões de

peso, para chamar vinhos do Porto autênticos àqueles que provinham de uma terra tão

afastada da zona demarcada? A «operação Oeiras» justifica-o o ex – ministro

contestando a legitimidade das queixas contra a infracção do Estatuto.

Para Sebastião José, a compra que a Junta lhe fizera dos vinhos de Oeiras nunca

poderia ser interpretada como uma situação de favor. Pelo contrário, «foram sempre

umas claríssimas provas de que nelas, por uma parte procurou a referida Junta as

maiores vantagens da Companhia, e pela outra parte preferiu sempre o dono dos ditos

vinhos os interesses públicos da Companhia aos seus próprios interesses

particulares…Os negociantes ingleses e nacionais do Porto (como os outros da sua

profissão), revolvem e especulam tudo o que lhes pode trazer conveniência».

Carlos Jaca 43

Tendo alguns negociantes portugueses e ingleses do Porto descoberto através de

registos alfandegários, que antes do nocivo invento da baga de sabugueiro, (com que

corromperam os vinhos com o intento de os tingir), «se costumavam transportar para a

mesma cidade os vinhos de Oeiras por 50 mil réis cada pipa para darem aos do Alto

Douro a cor fechada, e firme que eles não têm por sua natureza própria», logo se

propuseram os ingleses fazer concorrência à Companhia nos referidos vinhos.

Informando-se, e concluindo ser verdade o que se dizia acerca das propriedades

e excelente qualidade da sua produção, Carvalho e Melo ordena ao feitor que no fabrico

da lavra de Oeiras, fossem aplicados idênticos processos aos utilizados pelos ingleses do

Douro; para tal, requisitar-se-iam os necessários homens peritos, e que todo vinho de

Oeiras fosse vendido à Companhia sem exceder o preço de 36 mil réis, estipulado no

parágrafo 4º da lei de 30 de Agosto de 1757.

Após esta primeira experiência, o

feitor de Oeiras informava Sebastião José que

a prática de tal sistema acarretava excessiva

despesa, além de baixar a produção.

Acrescentava, ainda, que o paragrafo 4º era

restrito aos vinhos do Alto Douro, não sendo

aplicável aos de Oeiras, superiores na sua

qualidade. Face à circunstância resolve a Junta oferecer 50 mil réis, uma vez constar-lhe

ser esse o preço que, anteriormente, se pagava pelos vinhos de Oeiras.

Interessados os ingleses na aquisição exclusiva da produção, logo tentaram

consegui-lo elevando a proposta da Junta, respondendo Carvalho e Melo «que se eu

estivesse na vida particular de minha casa mandaria vender os meus vinhos a quem

mos pagasse melhor, que porém reputava a Companhia, como filha do meu ministério,

que lhe queria fazer a vantagem de serem os vinhos sempre superiores aos dos ingleses

e que ainda que a referida taxa não compreendesse os de Oeiras, neles não se

excederia nunca o dito preço de 36 mil réis, estabelecido para os do Douro, posto que

inferiores».

Pombal faz questão de nunca ter aceitado pelos seus vinhos um preço superior

ao tabelado, ainda que a Companhia e os ingleses lhe tivessem oferecido muito mais. Só

que…era notório o facto de Carvalho e Melo pretender fazer passar uma imagem de

integridade e, assim, lançou a “confusão”:

Carlos Jaca 44

Embora o preço tabelado para o melhor vinho de qualidade fosse de 36 mil réis

por pipa, a Companhia só excepcionalmente terá pago essa quantia, porquanto, segundo

«a Compra e pagamento dos vinhos, 1761 – 1769», a média nunca ultrapassou os

vinte e cinco mil réis por pipa. Repare-se: mesmo a sobrinha de Mansilha, que vendeu à

Companhia mais vinho do que qualquer outro fornecedor, excepto Carvalho e Melo,

«nunca recebeu mais do que vinte e cinco mil réis por pipa» e o Provedor da

Companhia, Vicente Leme Cernache, vendia os seus vinhos ainda por menos, como se

infere dos livros chamados «Corrente de Embarque, RC. Livro 3169», onde se

registavam os preços pagos pela Companhia pelos vinhos comprados.

O certo é que Pombal vendia todos os anos à Companhia cerca de 250 pipas de

vinho de Carcavelos (nome por que era conhecido o vinho de Oeiras), recebendo

sempre o preço máximo, 36 mil réis, auferindo deste negócio, pelo menos 22.000

cruzados anuais. Nada mau, se o acrescentarmos aos seus vencimentos oficiais de

20.000 cruzados por ano, como Primeiro Ministro, fora o que “chovia” e lhe ia ter às

mãos por outros canais.

Apesar destes rendimentos, o que me parece estranho é o facto de, em 3 de

Setembro de 1776, meses antes de ser obrigado a abandonar o Poder, por morte de D.

José, Frei João de Mansilha pedir à Companhia um empréstimo, em nome de Pombal,

quando este necessitou de dinheiro para pagar as festas de casamento do seu filho e,

parece, que noutras ocasiões, a Instituição, lhe terá feito adiantamentos.

Rematando a sua «Apologia», Sebastião José dirá que, quanto aos vinhos de

Oeiras, foi sempre a Companhia que «ganhou dinheiro e crédito e fui eu o que em

benefício dela perdi tudo o que podia avançar nas maiorias dos referidos preços, que se

me ofereceram e podia muito bem levar, além dos ditos 36 mil réis, que ficaram sempre

inalteráveis».

Convém acrescentar que, nas diversas apologias dirigidas à Rainha, Pombal

pretendia justificar os actos mais salientes da sua administração e, como juiz em causa

própria, não poderia ter deixado de incorrer em algumas inexactidões. Este… foi um

dos casos.

A demarcação da zona do Alto Douro iria ser a medida mais importante que

resultou da criação da Companhia, atingindo cerca de 25 quilómetros na parte mais

larga, enquanto na mais estreita pouco ultrapassava os mil e quinhentos metros.

Carlos Jaca 45

Essa demarcação, denominada “nom d’appellation”, implicava, como se sabe,

que apenas os vinhos produzidos dentro dos seus limites fossem considerados genuínos,

todavia… a maneira como a zona foi demarcada mostrava bem a arbitrariedade das

comissões.

Algumas pessoas, por via do seu maior poder, viram as suas propriedades

incluídas na «Marca» ainda que não produzissem vinhos merecedores daquela

classificação.

Refira-se o caso, ou os casos, de Frei Mansilha que, a seu bel – prazer delimitou

a zona para que esta incluísse as propriedades de um seu primo, embora estivessem

situadas numa área produtora de «vinhos fracos e pouco encorpados». Uma outra

grande vinha incluída na área pelo dominicano, segundo ele próprio justifica a Beleza

de Andrade (carta de 20 de Outubro de 1756), foi o facto de «não só o vinho é

excelente, como por haver um grande interesse nesta inclusão».

Mansilha, que vinha logo a seguir a Pombal na sua influência politica sobre a

Companhia, simpatizava abertamente com os produtores e só tolerava os negociantes

que compravam os vinhos da sua numerosa família. Na sua maneira livre de falar,

Mansilha não poupava os negociantes do Porto, chamando-lhes «vilões vis e pérfidos» e

«monstros de patifaria, vingança e inveja». Ressabiado pela revolta de 1757, escreveu

que «os do Porto tinham a natureza dos chineses de Pequim, cuja virtude estava na sua

habilidade em intrujar todos com as suas manobras astutas». E, aos negociantes

portugueses que se atreviam a competir com a Companhia chamava «vis intriguistas».

Vicente Leme Cernache, presidente da segunda comissão administrativa,

conseguiu uma autorização especial de Carvalho e Melo para que os seus vinhos fossem

classificados na categoria de exportação, «apesar de provirem de uma terra a muitas

milhas de distância da região do Douro» e cercada por áreas de vinhos de mesa.

Também um primo de Pombal, João de Almada, Governador do Porto entre

1757 e 1779, vendeu à Companhia, quase todos os anos, mais de cem pipas

provenientes das suas propriedades junto à fronteira espanhola (em Monção), «a

cerca de 100 milhas do Douro, e apesar de o vinho daquela região ser do tipo dos

vinhos de Borgonha, a Companhia exportava-os como vinho do Porto». Igualmente,

estas transacções aparecem registadas nos já citados livros «Corrente de Embarque».

Todos os anos a Companhia passava por cima dos Estatutos com a compra de

centenas de pipas de vinhos provenientes de outra regiões, vendendo-os como genuíno

vinho do Porto.

Carlos Jaca 46

Fosse como fosse, acima de tudo, o vinho do Porto conquistou o mercado inglês

de tal forma que, em 1798, o «Times» trazia uma anedota de uma senhora pedindo a um

sábio doutor para a aconselhar sobre a Universidade para que havia de mandar o filho:

Oxford, Cambridge ou Edimburgo. «Minha Senhora», respondeu ele, «em qualquer

uma delas bebem, segundo creio, a mesma quantidade de vinho do Porto».

A Região Demarcada do Douro tem os seus limites actuais definidos por lei de

1921, diploma que foi alterado diversas vezes por via de mudanças administrativas na

sequência da criação de novas freguesias incluídas no perímetro demarcado, fazendo

parte da região os seguintes concelhos dos distritos de Bragança, Guarda, Vila Real e

Viseu:

Distrito de Bragança: Alfândega da Fé, Carrazeda de Ansiães, Freixo de

Espada à Cinta, Torre de Moncorvo, Vila Flor e Mirandela.

Distrito da Guarda: Vila Nova de Foz Côa, Meda e Figueira de Castelo

Rodrigo.

Distrito de Vila Real: Mesão Frio, Peso da Régua, Santa Marta de Penaguião,

Alijó, Murça, Sabrosa e Vila Real.

Distrito de Viseu: Armamar, Lamego, Resende, São João da Pesqueira e

Tabuaço.

Carlos Jaca 47

Bibliografia consultada.

A – Manuscritos:

Pasta de Manuscritos nº 477 – «Collecção recondita de Algumas Obras Políticas do

Ilmo. e Ex.mo Marquez de Pombal, Sebastião Jozé de Carvalho e Mello.Tudo fielmente

copiado do seu Original que posshuia Manoel Coelho de Lima, Official da Secretaria».

Apologia 3ª ou Compêndio da Fundação e Progressos da Companhia Geral da

Agricultura das Vinhas do Alto Douro, Obra da sábia e magistral Mão do Ilmo. e Ex.mo

Marquez de Pombal, Sebastião Jozé de Carvalho e Melo». Arquivo Distrital de Braga.

Manuscrito nº 916 – «Collecção de Algumas Apologias precedidas das Súplicas que o

Marquez de Pombal dirigiu à Rainha D. Maria I e da cópia do Decreto da sua demissão

seguidas de uma carta familiar e das observações secretíssimas». Arquivo Distrital de

Braga.

B – Obras Impressas:

Azevedo, J. Lúcio de – «Épocas de Portugal Económico» – Esboços de História.

Clássica Editora. Lisboa, 1947.

Barreto, António – «Douro» – Edições Inapa, S. A., 1993.

Bessa, Agustina Bessa – «Sebastião José». Biblioteca de Autores Portugueses.

Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1981.

Castro, Armando de – «Dicionário de História de Portugal», dirigido por Joel

Serrão. Vol. IV.

Costa, A. De Sousa – «Figuras e Factos Alto Durienses». «Anais do Instituto do

Vinho do Porto». Edição do Instituto do Vinho do Porto, 1953.

Costa, Padre Agostinho Rebelo da – «Descrição topográfica e histórica da

cidade do Porto. Editada por A. Magalhães Basto. 2ª Edição, 1945.

Fonseca, Álvaro Moreira da – «A Ideação da Companhia Geral da Agricultura

das Vinhas do Alto Douro» – «Anais do Instituto do Vinho do Porto» (1955 – 1956).

Edição do Instituto do Vinho do Porto.

Gama, Arnaldo – «Um Motim há cem anos». Livraria Tavares Martins. Porto,

1950.

Jaca, Carlos – «Pombal e a Companhia do Alto Douro». Revista «História», nº

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Macedo, Jorge Borges de – «A situação económica no tempo de Pombal».

Livraria Portugália. Porto, 1951.

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Editorial Presença.

«O Marquês de Pombal e a Companhia da Agricultura das Vinhas do Alto

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«O Vinho do Porto». Fotografias de Domingos Alvão, Emílio Biel, Guedes de

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Ratton, Jácome – «Recordaçoens». Londres, 1813. (livro raro). Biblioteca

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Serrão, Joaquim Veríssimo – «O Marquês de Pombal». O Homem, o Diplomata

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Silva, Francisco Ribeiro da – «Os Motins do Porto de 1757» – «Pombal

Revisitado». – Comunicações ao Colóquio Internacional organizado pela Comissão das

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Vol. I. Coordenação de Maria Helena Carvalho dos Santos. Editorial Estampa. Lisboa,

1984.

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História. A Regra do Jogo. Lisboa, 1980.

Carlos Jaca

«Diário do Minho» 6, 13 e 20 de Setembro de 2006.

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