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PONTÍFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS FUNDAÇÃO DOM CABRAL Mestrado Profissional em Administração CULTURA ORGANIZACIONAL E INOVAÇÃO: o caso da Drogaria Araujo. Diocélio Dornela Goulart Belo Horizonte 2010

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PONTÍFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

FUNDAÇÃO DOM CABRAL Mestrado Profissional em Administração

CULTURA ORGANIZACIONAL E INOVAÇÃO: o caso da Drogaria Araujo.

Diocélio Dornela Goulart

Belo Horizonte 2010

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Diocélio Dornela Goulart

CULTURA ORGANIZACIONAL E INOVAÇÃO: o caso da Drogaria Araujo

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Administração da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do grau

de Mestre. Área de concentração: Estratégia e Inovação

Orientadora: Profª Drª Liliane de Oliveira Guimarães

Belo Horizonte

2010

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FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Goulart, Diocélio Dornela G694c Cultura organizacional e inovação: o caso da Drogaria Araujo / Diocélio

Dornela Goulart. Belo Horizonte, 2010. 166f. : il. Orientadora: Liliane de Oliveira Guimarães Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,

Programa de Pós-Graduação em Administração 1. Cultura organizacional. 2. Cultura – Brasil. 3. Inovações. 4. Arquétipo.

Tipologia. 5. Farmácias, drogarias, etc. I. Guimarães, Liliane de Oliveira. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Administração. III. Título.

CDU: 658.01

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A meu filho, Gabriel,

a meu amor Renata,

a meu querido Yves e

minha mãe,

meus grandes incentivadores e inspiradores.

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer primeiramente a Deus por ter me iluminado e sempre

me mostrado a direção, de forma a conseguir vencer mais este desafio, em um

momento da minha vida de tantas mudanças e transformações.

Dedico um agradecimento especial à Professora Liliane, minha orientadora,

pelo seu carinho, empenho, paciência e dedicação, sem dúvida, inestimáveis e

fundamentais para que eu pudesse concluir esta empreitada.

Ao Prof. Afonso Cozzi, da Fundação Dom Cabral, pela grande ajuda para que

esta pesquisa fosse viabilizada junto à Drogaria Araujo.

Agradeço à Drogaria Araujo, em especial a seu Presidente, Modesto

Carvalho Araujo Neto, líder empresarial brilhante e carismático, que tive

oportunidade de conhecer com maior proximidade durante a nossa histórica

entrevista de mais de quatro horas. Ao Pedro Paulo, Janaina e Silvia, um especial

agradecimento por terem facilitado os meus contatos e acesso para a realização da

pesquisa junto à organização, A todos os entrevistados, Bruno, Antônio, Andre,

Jorge, Jarbas, Sr. Davi, Sr. Irineu e Sra. Maria Felix, o meu muito obrigado pelos

preciosos e valiosos momentos que me propiciaram.

Confesso que fiquei muito surpreendido e admirado com a grandiosidade da

Drogaria Araujo e também extremamente lisonjeado com a acolhida tão gentil e

agradável que tive.

Aos professores e funcionários da PUC e FDC, pelos valiosos ensinamentos

e pelo atendimento e disponibilidade sempre existente.

A Renata Livramento, minha amiga e psicóloga, que tanto me apoiou e me

incentivou para que esta empreitada se tornasse realidade.

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Aos colegas do Mestrado, sou grato pela oportunidade única que tivemos de

conviver e trocar experiências e lições de vida, em especial, ao Vinicius, que dividiu

e compartilhou comigo de perto todos os desafios para vencermos mais esta etapa.

Aos companheiros da NetService, meu agradecimento pela compreensão e

interesse demonstrados pela realização deste meu trabalho, em especial, à Roseane

e Stela.

O meu profundo agradecimento à minha Mãe, grande incentivadora e

admiradora dos meus passos, e também a meu Pai: hoje temos a oportunidade de

renovar o nosso encontro.

Agradeço ao meu amor, Renata, companheira, confidente, amiga e mulher.

Quantas vezes teve que me ver “viajando” nas minhas elucubrações, sempre

interessada, pronta a escutar e contribuir, e principalmente valorizar o meu empenho

e reconhecer o meu esforço. Eu amo você.

Minha gratidão ao meu querido Yves, que Deus concedeu a graça de surgir

em minha vida, pelo seu respeito e admiração, que é recíproco.

E ao meu filho amado, Gabriel, razão de ser e inspiração da minha vida, que

sempre me orgulha pelo grande homem que acredito que será.

Sinto-me realmente realizado por esta oportunidade de pesquisa. Para mim,

foi um grande aprendizado, tanto como pesquisador e principalmente como

empresário e consultor, pelas lições que tive oportunidade de receber e de valores

nos quais acredito e que estão tão presentes na organização pesquisada: ética,

seriedade, comprometimento, honestidade, atenção aos detalhes, pioneirismo,

inovação e valorização das pessoas. Espero de alguma forma prestar a minha

humilde contribuição para a comunidade acadêmica e empresarial, apresentando os

resultados desta pesquisa.

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“Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.”

Fernando Pessoa

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RESUMO

O presente estudo teve por objetivo analisar a relação entre cultura organizacional e inovação. Para tanto, foi realizado um estudo de caso, de natureza qualitativa, em uma empresa centenária, do setor de comércio farmacêutico, localizada em Belo Horizonte. Realizou-se, primeiramente, uma revisão da literatura da área, considerando os temas – cultura organizacional e inovação – e posteriormente acrescentou-se o tema cultura brasileira e sua influência na cultura organizacional. A partir da revisão da literatura, elaborou-se um modelo teórico para análise dos dados que contemplou os principais elementos discutidos por estudiosos de cultura e inovação. Tendo como referência este modelo teórico, buscou-se identificar a relação entre cultura e inovação, e o impacto que elementos da cultura – nacional e organizacional - podem produzir sobre os tipos de inovação desenvolvidos na organização. Assim, os elementos culturais da empresa foram identificados, bem como as inovações – incrementais e radicais - implementadas ao longo de sua trajetória. Foram estabelecidas as relações entre os elementos culturais e os tipos de inovação e analisadas as influências da cultura brasileira na cultura organizacional da empresa. Em linhas gerais, os resultados evidenciaram elementos da cultura nacional na cultura organizacional e que estas exercem influência no processo de inovação da empresa. Além disso, constatou-se que as inovações radicais ocorreram principalmente no estágio inicial da empresa. A partir da terceira geração no comando da empresa, prevalecem as inovações incrementais, com foco no sistema e ênfase na melhoria dos processos. Em suma, a consolidação e expansão da empresa são decorrentes de uma estratégia de ocupação de território bem sucedida e não propriamente de um modelo organizacional que estimula o desenvolvimento de inovações radicais. Palavras-chave: Cultura Organizacional. Cultura brasileira. Inovação. Modelo de gestão.

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ABSTRACT

This study aimed to examine the relationship between organizational culture and innovation. For that, we performed a case study of qualitative nature in a century-old company, of the sector of the pharmaceutical trade, located in Belo Horizonte. In a first moment, we did a review of the literature, considering the issues - organizational culture and innovation - and later added the theme Brazilian culture and its influence on organizational culture. From the literature review was conducted a theoretical model for analyzing the data which included the main elements discussed by researchers of culture and innovation. With reference this theoretical model, we sought to identify the relationship between culture and innovation, and the impact that elements of culture - national and organizational - can produce in the types of innovation developed in the organization. Thus, the cultural elements of the company were identified as well as innovations - incremental and radical - deployed along its trajectory. We defined the relations between cultural elements and the types of innovation and analyzed the influences of Brazilian culture in organizational culture. In general, the results showed elements of national culture on organizational culture and that these influence the innovation process the company. Moreover, it was found that radical innovations have occurred mainly in the initial stage of the company. From the third generation to run the company, the prevailing incremental innovations, focusing on system and emphasis on process improvement. In short, the consolidation and expansion of the company are the result of a strategy for successful occupation of territory and not exactly an organizational model that fosters the development of radical innovations.

Keywords: Organizational Culture. Brazilian culture. Innovation. Management model.

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Atividades de adaptação externa e integração interna............. 29

QUADRO 2 - Características da Inovação ..................................................... 47

QUADRO 3 - Arquétipos de inovação incremental e radical .......................... 54

QUADRO 4 – Resumo da estratégia de coleta de dados .............................. 70

QUADRO 5 - Relação de Diretores e Gerentes entrevistados....................... 73

QUADRO 6 - Atividades de adaptação externa ............................................. 96

QUADRO 7 - Atividades de adaptação externa e integração interna............. 97

QUADRO 8 - Relação das inovações, responsáveis e tipo.......................... 129

QUADRO 9 – Tendência da organização de acordo com os arquétipos

definidos .................................................................................................................. 136

LISTA DE GRÁFICOS

FIGURA 1 - Construto capacidade de inovação............................................. 14

FIGURA 2 - Modelo teórico dos estudos de cultura ....................................... 24

FIGURA 3 - Níveis de análise da cultura organizacional................................ 30

FIGURA 4: Manifestações da cultura ............................................................. 32

FIGURA 5: Sistema de ação cultural brasileiro .............................................. 34

FIGURA 6 - Tipos de Inovação: radical e incremental ................................... 40

FIGURA 7 - Inovação disruptiva ..................................................................... 41

FIGURA 8 - A série contínua da inovação...................................................... 42

FIGURA 9 - Mapa das relações entre temas, baseado no modelo de Schein

(2004) ........................................................................................................................ 53

FIGURA 10 - Mapa das relações entre temas incorporando as categorias de

adaptação externa e integração interna de Schein (2004)........................................ 56

FIGURA 11 - Mapa das relações entre temas com a influência do sistema

cultural brasileiro, conforme Tanure (2007)............................................................... 57

FIGURA 12 – Organograma atual da empresa .............................................. 79

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FIGURA 13: Questões de adaptação externa e integração interna da

organização pesquisada............................................................................................ 97

FIGURA 14: Artefatos visíveis, valores compartilhados e pressupostos

básicos da organização pesquisada ....................................................................... 109

FIGURA 15: Valores, heróis, rituais e símbolos da organização pesquisada

................................................................................................................................. 114

FIGURA 16: Sistema de ação cultural Brasileiro.......................................... 119

FIGURA 16 - Mapa das relações entre temas, baseado no modelo de Schein

................................................................................................................................. 137

FIGURA 17 - Mapa das relações entre temas, baseado no modelo de Schein

com a classificação de adaptação externa e integração interna............................. 140

FIGURA 18 - Mapa das relações entre temas, baseado no modelo de Schein

(2004), com a influência do sistema cultural brasileiro, conforme Tanure (2007)... 142

FIGURA 19 - Mapa das relações entre temas, baseado no modelo de Schein

(2004) com a classificação de adaptação externa e integração interna ................ 149

FIGURA 20 - Mapa das relações entre temas, baseado no modelo de Schein

(2004) com a influência do sistema cultural brasileiro, conforme Tanure (2007)... 150

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABRAFARMA Associação Brasileira de Redes de Farmácias e

Drogarias.

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento

DDR Discagem Direta ao Ramal

INDG Instituto Nacional de Desenvolvimento Gerencial

ISO International Organization for Standardization

NACDS National Association of Chain Drug Stores

OECD Organisation for Economic Co-operation and

Development

PDCA Plan Do Check Act

SPC Serviço de Proteção ao Crédito

SESC Serviço Social do Comércio

SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

TI Tecnologia da Informação

TV Televisão

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 13

1.1 O problema de pesquisa e a sua justificativa...................................... 13

1.2 Objetivos da pesquisa ......................................................................... 21

1.2.1 Objetivo geral ................................................................................ 21

1.2.2 Objetivos específicos .................................................................... 21

2 REFERENCIAL TEÓRICO........................................................................ 22

2.1 Cultura organizacional......................................................................... 22

2.2 A relação entre cultura organizacional e os tipos de inovação ........... 38

2.2.1 Tipos de inovação ......................................................................... 39

2.2.2 Cultura e inovação ........................................................................ 44

2.2.3 Um modelo conceitual para o entendimento da cultura organizacional e sua relação com os tipos de inovação..................................... 48

3 METODOLOGIA DE PESQUISA .............................................................. 60

3.1 Estratégia, tipo e método de pesquisa ................................................ 60

3.2 Unidade Empírica................................................................................ 64

3.3 Estratégia de coleta............................................................................. 68

3.4 Estratégia de análise........................................................................... 73

4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE DADOS: ESTUDO DE CASO ................... 77

4.1 Apresentação e caracterização da empresa....................................... 77

4.2 Descrição e análise da cultura organizacional da empresa estudada 85

4.2.1 A adaptação externa e integração interna: as atividades da Drogaria Araujo................................................................................................... 85

4.2.2 Cultura organizacional: análise dos artefatos ou símbolos, valores, pressupostos básicos, heróis e rituais da Drogaria Araujo................................. 98

4.2.3 Características da cultura brasileira presentes na organização.. 114

4.3 Descrição e análise dos tipos de inovação da empresa estudada ... 121

4.3.1 Inovações da organização: histórico e classificação por tipos.... 121

4.4 Elementos da cultura da organização e os tipos de inovação: análise dessa relação ....................................................................................................... 132

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4.4.1 Elementos que compõem a dinâmica organizacional e sua relação com os tipos de inovação ................................................................................. 132

4.4.2 Influências da cultura organizacional e nacional nesses elementos....... .................................................................................... ..............136

5 CONCLUSÕES ....................................................................................... 145

5.1 Introdução ......................................................................................... 145

5.2 Resultados da pesquisa .................................................................... 145

5.3 Modelo de pesquisa: proposta de melhoria ...................................... 148

5.4 Contribuições, limitações e pesquisas futuras .................................. 151

REFERÊNCIAS ............................................................................................ 153

APÊNDICE E ANEXO .................................................................................. 162

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1 INTRODUÇÃO

1.1 O problema de pesquisa e a sua justificativa

A existência de pesquisas internacionais que abordam a cultura

organizacional e a inovação, visando entender e elucidar a relação das variáveis ou

fatores que podem facilitar a capacidade de inovação de uma empresa tem sido

objeto de estudo de vários autores (AFSANEH, 1993; BASS; AVOLIO, 1993;

JAMROG; VICKERS; BEAR, 2006; KOTTER, 1998; KOTTER; HESKETT, 1992;

SCHEIN, 1985,1992, 2004).

Teóricos no campo da inovação sugerem que a cultura organizacional pode

afetar a disposição das empresas em serem inovativas, e discutem aspectos que

ajudam a compreender a longevidade de determinadas organizações (ANCONA;

CALDWELL, 1987; BEAR, 2006; BLUEDORN; LUNDGREN, 1993; CHRISTENSEN,

2003; JAMROG; VICKERS; KUCZMARSKI, 1998; KOTTER; HESKETT, 1992).

Schein (1985) é um dos autores que desenvolveram o conceito de cultura,

identificando-a como um conjunto de premissas que um grupo aprendeu a aceitar,

como resultado da solução de problemas de adaptação ao ambiente e de integração

interna. Ora, essas premissas, quando bem sucedidas e transmitidas ao longo da

existência do grupo, podem possuir uma relação estreita com a capacidade de

inovação de uma organização.

Esse conjunto de premissas possui natureza subjetiva e, com isto, supõe-se

que ainda não há uma resposta consensual sobre a dinâmica interna das variáveis

que compõem o próprio construto capacidade de inovação e a sua relação com os

elementos da cultura organizacional. E, muito menos, uma forma de mensurar seu

impacto no desempenho empresarial para a compreensão da extensão do

fenômeno.

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1 INTRODUÇÃO

1.1 O problema de pesquisa e a sua justificativa

A existência de pesquisas internacionais que abordam a cultura

organizacional e a inovação, visando entender e elucidar a relação das variáveis ou

fatores que podem facilitar a capacidade de inovação de uma empresa tem sido

objeto de estudo de vários autores (AFSANEH, 1993; BASS; AVOLIO, 1993;

JAMROG; VICKERS; BEAR, 2006; KOTTER, 1998; KOTTER; HESKETT, 1992;

SCHEIN, 1985,1992, 2004).

Teóricos no campo da inovação sugerem que a cultura organizacional pode

afetar a disposição das empresas em serem inovativas, e discutem aspectos que

ajudam a compreender a longevidade de determinadas organizações (ANCONA;

CALDWELL, 1987; BEAR, 2006; BLUEDORN; LUNDGREN, 1993; CHRISTENSEN,

2003; JAMROG; VICKERS; KUCZMARSKI, 1998; KOTTER; HESKETT, 1992).

Schein (1985) é um dos autores que desenvolveram o conceito de cultura,

identificando-a como um conjunto de premissas que um grupo aprendeu a aceitar,

como resultado da solução de problemas de adaptação ao ambiente e de integração

interna. Ora, essas premissas, quando bem sucedidas e transmitidas ao longo da

existência do grupo, podem possuir uma relação estreita com a capacidade de

inovação de uma organização.

Esse conjunto de premissas possui natureza subjetiva e, com isto, supõe-se

que ainda não há uma resposta consensual sobre a dinâmica interna das variáveis

que compõem o próprio construto capacidade de inovação e a sua relação com os

elementos da cultura organizacional. E, muito menos, uma forma de mensurar seu

impacto no desempenho empresarial para a compreensão da extensão do

fenômeno.

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Drucker (2006) afirmava que só por milagre as empresas ultrapassam 30

anos de vida. É um ciclo quase inelutável para cerca de 70% dessas entidades

econômicas. Ele usava a metáfora “empresas não crescem até o céu”. Queria dizer

que as organizações obedecem a um ciclo de vida, que vai da criação ao

crescimento, desenvolvimento, estabilidade, maturidade, declínio e morte.

Neely e Hii (1998) defendem que a capacidade de uma empresa conseguir

sustentar-se durante um longo período ou de agregar valor para ser adquirida no

futuro é um elemento característico da sua competitividade e está diretamente

relacionada à sua capacidade de inovação.

Para esses autores, a capacidade de inovação de uma empresa pode ser

definida como “[...] o potencial interno para gerar novas ideias, identificar novas

oportunidades no mercado e desenvolver uma inovação comercializável através dos

recursos existentes e competências” (NELLY; HII, 1998, p. 7).

A partir dessa definição, pode-se dizer que a capacidade de inovação de uma

empresa é um construto formado pela inter-relação sinérgica de sua cultura

organizacional, de seus processos internos e de suas relações inter-organizacionais.

A FIG. 1 apresenta o construto de Neely e Hii (1998) para explicar os fatores que

interferem na capacidade de inovação, dentre os quais a cultura da organização:

FIGURA 1 - Construto capacidade de inovação Fonte: Adaptado de Neely e Hii (1998, p. 7).

Numa economia baseada no conhecimento, a inovação desempenha um

papel preponderante, porém, o complexo processo de inovação não é, ainda,

suficientemente compreendido (NELLY; HII, 1998; OECD, 1997). Isto leva a uma

reflexão sobre a possibilidade de a capacidade bem desenvolvida, então, de uma

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organização de reter conhecimentos de forma tácita ou explícita e transmiti-los ao

grupo e às futuras gerações ajudar a determinar a longevidade empresarial.

A partir da análise de aspectos presentes numa organização, percebe-se a

existência dos elementos culturais e suas implicações. Como a cultura

organizacional pode influenciar nos processos de inovação de uma organização e

também nesse processo de transmissão e retenção do conhecimento? O que é

cultura e suas implicações? Schein (2004) fornece a definição abaixo:

A cultura organizacional é o conjunto de pressupostos básicos compartilhados que um grupo inventou e que demonstram como lidar com os seus problemas de adaptação externa e integração interna e que funcionou bem o suficiente para serem considerados válidos e, então, passam a ser ensinadas a novos participantes do grupo como o modo correto para perceber, pensar e sentir em relação a esses problemas. (SCHEIN, 2004, p. 37, tradução nossa)

Essa definição parece nos direcionar ao papel da cultura organizacional nos

processos de inovação. Ou seja, a cultura do grupo e suas concepções sobre

adaptação a mudanças e soluções de problemas podem facilitar ou restringir a sua

capacidade de inovação.

Em outras palavras, os processos de uma organização, sua cultura

organizacional e sua capacidade de adaptar-se e sobreviver frente às adversidades

e crises podem ter uma relação com a capacidade de inovação e consequente

adaptação às mudanças, seja assimilando o novo que surge, seja mudando suas

estruturas no sentido de flexibilizá-las, evitando as potenciais crises.

Este trabalho visou identificar elementos da cultura de uma organização do

setor de comércio farmacêutico, analisando a sua relação com os processos de

inovação da empresa investigada.

O tema da dissertação – cultura organizacional e inovação – foi definido a

partir da experiência do pesquisador como consultor no setor, da observação das

alterações competitivas radicais ocorridas no segmento nos últimos anos, bem como

do contato preliminar com a literatura da área.

A análise de elementos da cultura organizacional – artefatos, valores e

pressupostos -, segundo proposição de Schein (2004), ajudam na compreensão da

dinâmica da empresa, dos fatores que fundamentam o seu modelo de gestão e das

práticas que norteiam o comportamento organizacional. Outros autores, como

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Hofstede (1991), apresentam as manifestações da cultura a partir da análise dos

valores, heróis, rituais, símbolos e práticas da organização.

Considerando a inovação nas empresas, Christensen (2003) propõe dois

tipos básicos - a incremental, que diz respeito à melhoria de processos ou produtos

existentes, e a radical, que considera ideias novas de produtos e mercados,

reinventando o conceito do negócio e, em alguns casos, modificando a forma como

o mercado está constituído e operando.

Visando ao entendimento da relação entre os dois conceitos – cultura

organizacional e inovação -, por meio de uma perspectiva mais ampla e que integre

os dois elementos, foi explorado o conceito de arquétipos1 (GREENWOOD;

HININGS, 1993), que apresenta um esquema interpretativo através de um conjunto

de estruturas e sistemas. A perspectiva de cultura organizacional apresentada por

Schein (2004) tem conformidade com esse esquema interpretativo.

Autores como McLaughlin, Bessant e Smart (2005) propuseram um modelo

dinâmico para a análise das posições da cultura organizacional para cada tipo de

inovação – incremental ou radical –, conforme definição de Christensen (2003).

O modelo proposto parte do conceito dos arquétipos (GRENWOOD;

HININGS, 1993), definido em duas linhas gerais. Em primeiro lugar, a estrutura

organizacional e os sistemas de gestão são melhor compreendidos através da

análise dos padrões gerais, do que quando limitam a propriedades especificas da

organização. Em segundo lugar, os padrões são uma função associada às ideias,

crenças e valores que compõem, dessa forma, um esquema interpretativo que

sustenta e embasa as estruturas organizacionais e sistemas. Dessa maneira, os

arquétipos são um conjunto de estruturas e sistemas relacionados a um esquema

interpretativo.

Com base nessa definição, chega-se então aos dois tipos de arquétipos,

conforme modelo proposto por McLaughlin, Bessant e Smart (2005), que

apresentam posições ideais para a cultura organizacional de acordo com cada tipo

1 • substantivo masculino

1. modelo ou padrão passível de ser reproduzido em simulacros ou objetos semelhantes 2. ideia que serve de base para a classificação dos objetos sensíveis 3. derivação: por extensão de sentido.

a. qualquer modelo, tipo, paradigma (HOUAISS, 2008).

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de inovação. O arquétipo tipo I tem uma perspectiva incremental para inovação, ou

seja, tendência em manter ou introduzir aperfeiçoamentos, típico de uma

organização madura. Já o tipo II utiliza a perspectiva de inovação radical, ações de

explorar, atravessar fronteiras, típico de uma organização empreendedora.

Assim sendo, pode-se entender melhor os elementos de cultura inovadora,

através dos arquétipos propostos, analisando qual tipo de cultura caracteriza melhor

uma posição de inovação incremental para inovação radical.

Neste trabalho, foi realizada uma pesquisa qualitativa do tipo exploratória,

utilizando como método o estudo de caso, tendo como objeto empírico a Drogaria

Araujo, organização do setor de comércio farmacêutico, com mais de 100 anos de

existência.

A Drogaria Araujo, objeto do nosso estudo, é uma empresa do setor de

comércio farmacêutico, fundada em 1906, na cidade de Belo Horizonte,

originalmente com o nome de Pharmácia Mineira, de propriedade de Aberlardo

Alvim, depois adquirida por Modesto Araujo, vindo a denominar-se Drogaria Araujo.

Atualmente, continua uma organização familiar, dirigida pela terceira geração da

família Araujo. Como é uma organização que tem mais de 100 anos, supõe-se que

práticas de inovação subsidiadas e influenciadas por uma cultura organizacional

nutritiva podem ter contribuído para a sua sobrevivência durante todo este tempo

(DROGARIA ARAUJO, 2008).

Em função da própria história do Brasil e de suas sucessivas crises

econômicas e constantes mudanças no cenário político, supõe-se que a Drogaria

Araujo tenha desenvolvido uma capacidade de adaptação ao longo de todos os anos

e crises que enfrentou. Ademais,, dentro desse contexto histórico, por meio da

inovação, conseguiu lidar com as possíveis adversidades e não só manter-se no

mercado, mas também expandir-se. Internamente, supõe-se que a organização

soube lidar com a perda dos seus primeiros líderes e transferência do poder para as

gerações subsequentes (BRASIL; ARRUDA, 2006).

Para Schein (2004), os fundadores da organização têm um papel importante

no processo de moldar seus padrões culturais. Os primeiros líderes, ao

desenvolverem formas próprias de equacionar os problemas da organização,

imprimiriam não só a sua visão de mundo aos demais, como também a visão do

papel que a organização deve desempenhar no mundo.

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Desde o início de suas operações, a Drogaria Araujo, objeto desta pesquisa,

buscou diferenciais competitivos, que foram sendo mantidos e aprimorados ao longo

dos seus 100 anos de existência. São características que podem ter sido moldadas

pelo seu fundador e que, de certa forma, parecem coincidir com os seus valores e

princípios, desde os primeiros anos de funcionamento da empresa (BRASIL;

ARRUDA, 2006).

Analisando o setor de comercio farmacêutico, segundo dados do BNDES

(2001), as farmácias e drogarias constituem-se no principal canal de distribuição de

medicamentos para a população brasileira. Existe, no Brasil, um universo de pouco

mais de 50 mil farmácias (país com o maior número de farmácias em todo o mundo),

com uma proporção de 2,99 farmácias para cada 10 mil habitantes, considerando

uma população de, aproximadamente, 167 milhões de habitantes (SAAB, 2001).

Para efeito de comparação, os Estados Unidos possuem aproximadamente 39.000

farmácias (NACDS, 2006) para uma população de 304 milhões de habitantes, o que

equivale a uma proporção de 1,28 farmácias para cada dez mil habitantes.

O estudo do BNDES também demonstra que esse é um setor que passa por

um processo de aumento da concorrência, pois, além da competição entre as

farmácias independentes e as de grandes redes, há a disputa do varejo farmacêutico

com os supermercados, principal concorrente na disputa pelo mercado de

cosméticos e perfumaria. Isto se deve ao fato de que a comercialização de

medicamentos, por parte dos supermercados, é estritamente proibida pela legislação

vigente (SAAB, 2001).

Em relação aos produtos de cosméticos e perfumaria, as farmácias

concorrem em desvantagem, pois o tamanho de suas lojas é limitado, o que

restringe, por sua vez, o número de itens a serem comercializados, que podem

alcançar 40 mil nos supermercados (SAAB, 2001)

Grandes empresas do setor passam por dificuldades, como a Drogamed, do

Paraná, que entrou com pedido de falência no dia 5 de maio de 2008. Empresa

fundada em 1975, chegou a ter mais 100 lojas (STAVISKI, 2008).

Já a Drogaria Araujo teve seu faturamento crescente, de 2001 a 2006, que foi

de 136,4%, nesse período de 5 anos. Portanto, mais do que dobrou, a uma taxa

média anual de 18,74%, bem maior do que a inflação acumulada do mesmo período,

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conforme índice IGP-M da Fundação Getulio Vargas de 61,83% (BRASIL; ARRUDA,

2006).

A ABRAFARMA –Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias -,

que congrega as 30 maiores redes de farmácias do Brasil, nos seus balanços

consolidados de 2005, apresenta Lucro Líquido depois da provisão de Imposto de

Renda de 0,17%, ou seja, um valor bem menor do que aquele de 1,6% auferido pela

Drogaria Araujo no mesmo período (BRASIL; ARRUDA, 2006).

No ranking dessas redes, a Drogaria Araujo é a maior de Minas, a sétima

maior em faturamento e em número de lojas do Brasil, e a segunda maior do Brasil

de faturamento por número de lojas (ABRAFARMA, 2007).

A Drogaria Araujo completou 100 anos em 2006, com 85 lojas na grande BH,

sendo 27 lojas 24 horas, atendendo dois milhões de clientes por mês e com 3.500

funcionários. No seu plano de expansão, elaborado em 2006, pretendia abrir novas

lojas na capital e no interior de Minas, com o objetivo de ter 100 lojas em 2008

(DROGARIA ARAUJO, 2008).

Ainda há de se destacar a importância empresarial da Drogaria Araujo,

considerando o pequeno número de empresas centenárias do Brasil de capital

privado predominantemente nacional, segundo dissertação de Mestrado de Roso

(2004). De acordo com o autor, elas constituem um total de seis empresas – O

Estado de São Paulo, Hering, Guerdau, Dohler, Karsten e Eberle -, cuja identificação

para estudo foi retirada dos anuários 500 Melhores e Maiores (EXAME, 2003) e As

500 maiores Sociedades Anônimas do Brasil (FGV,2003), sendo que nenhuma

delas é do setor de comércio farmacêutico2.

Deparou-se, então, neste estudo, com um caso de uma empresa que

conseguiu sobreviver, crescer e se sustentar, possivelmente utilizando-se de

práticas inovadoras, ao longo de cem anos em cenários cada vez mais competitivos.

O autor desta dissertação considerou que a inovação poderia ter sido um fator

importante para a sua sobrevivência e que a cultura organizacional deveria ter

facilitado a criação de um ambiente propício à inovação.

2 O autor desta dissertação, através de pesquisas na Internet, constatou a existência de fontes que citam outras empresas centenárias, como o Grupo Ypioca – fundado em 1846 - e a Cedro Cachoeira – fundada em 1872 (ALMEIDA, 2008). A Drogaria Araujo não foi citada na dissertação de Roso (2004), pois completou 100 anos em 2006.

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A partir desses pressupostos, emergiram então algumas questões que foram

consideradas para a realização da pesquisa:

a) Quais os elementos organizacionais e gerenciais que

compõem a cultura da empresa pesquisada?

b) Quais as práticas que podem ser consideradas inovadoras no

modelo de gestão e prestação de serviços adotados na

empresa pesquisada?

c) Qual a relação entre a cultura organizacional e as inovações

no modelo de gestão e na prestação de serviços

implementados na empresa pesquisada?

d) Quais os elementos que compõem a cultura da organização a

ser pesquisada que possuem alguma relação com os tipos de

inovação – incremental e radical -, propostos por autores da

área?

Acredita-se então que a realização do trabalho sobre a cultura da organização

e suas relações com os tipos de inovação implementados na Drogaria Araujo,

identificando elementos que compõem essa cultura e as práticas que possam ser

consideradas inovadoras no seu modelo de gestão e prestação de serviços (dada a

singularidade da organização, por ter conseguido sobreviver e crescer durante todo

este período e neste setor competitivo) pode trazer mais subsídios para a

compreensão das relações entre cultura organizacional e inovação.

Pretendeu-se, em resumo, com esta dissertação, identificar os elementos da

cultura da organização a ser investigada, com base na perspectiva proposta por

Schein (2004) e Hofstede et al (1991), e também por meio de um esquema

interpretativo fundamentado no conceito dos arquétipos de Greenwood e Hinings

(1993). O modelo foi desenvolvido pelo autor da dissertação e adaptado de

McLaughlin, Bessant e Smart (2005). Este modelo apresenta também a relação com

os tipos de inovação propostos por Christensen (2003). Em complemento, foram

identificados os aspectos da cultura brasileira que podem ter exercido influência

nesse modelo, com base nas definições de Tanure (2007).

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1.2 Objetivos da pesquisa

1.2.1 Objetivo geral

O objetivo deste estudo foi identificar os elementos que compõem a cultura da

organização pesquisada e analisar a sua relação com os tipos de inovação

implementados na empresa, conforme modelo proposto por McLaughlin, Bessant e

Smart (2005).

1.2.2 Objetivos específicos

A partir do objetivo geral, depreende-se os seguintes objetivos específicos:

Identificar os elementos organizacionais e gerenciais que compõem a

cultura da empresa pesquisada.

Identificar as práticas que possam ser consideradas inovadoras – no

seu modelo de gestão e prestação de serviços –, adotadas na empresa

pesquisada.

Analisar a relação entre a cultura organizacional e as inovações no

modelo de gestão e na prestação de serviço, tendo como referência

teórica o modelo proposto por McLaughlin, Bessant e Smart (2005).

A dissertação foi estruturada da seguinte forma. Após esta introdução, onde

se estabelece o problema, a justificativa e os objetivos, discute-se, no Capítulo 2, o

referencial teórico do trabalho. O Capítulo 3 apresenta a metodologia utilizada. No

Capítulo 4, os dados são descritos e analisados. Por fim, no Capítulo 5, as

conclusões são apresentadas, bem como as limitações do trabalho e sugestões para

novos estudos.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Neste capítulo, serão apresentados os temas ou perspectivas teóricas que

embasaram a análise dos dados da pesquisa. Inicialmente, abordaremos o tema

cultura organizacional, buscando discutir alguns dos modelos desenvolvidos para a

análise dos elementos que caracterizam determinada organização. Em seguida, será

abordado o tema inovação, discutindo os tipos de inovação e suas implicações para

as organizações. Por fim, serão relacionados os dois temas, utilizando-se como base

o modelo teórico proposto por McLaughlin, Bessant e Smart (2005).

2.1 Cultura organizacional

O termo cultura não surgiu originalmente na teoria das organizações. Ele foi

utilizado por antropólogos como referência aos costumes e rituais que as sociedades

desenvolvem ao longo do curso de sua história. Entretanto, tem sido utilizado

também nas últimas décadas por determinados pesquisadores organizacionais para

se referenciar às práticas que as organizações utilizam para lidar com as pessoas ou

criar valores e normas para as organizações (SCHEIN, 1985, 1996, 1997, 2004).

Geertz (1989) é um dos antropólogos que estabeleceu a relação entre o

estudo da cultura e as ciências humanas e sociais em geral. Seu trabalho foi

elaborado dentro dos pressupostos da pesquisa etnográfica, não com o objetivo

empirista de reduzir e prever, mas de compreender de forma profunda, porém

inteligível e racional, o significado das especificidades das diferentes sociedades ou

comunidades. Em complemento, para Schein (2004), a cultura pode ser um conceito

abstrato, mas, suas consequências comportamentais e atitudinais podem ser

concretamente verificadas.

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A cultura organizacional tem sido objeto de um debate intenso nos últimos

anos com diferentes visões e definições (ASHKANASY; WILDEROM; PETERSON,

2000; BEYER, 1993; CAMERON; QUINN, 1999; DEAL; KENNEDY, 1999;

HOFSTEDE, 1991; MARTIN, 2002; TRICE; SHULTZ, 1995). Esses debates ratificam

a importância que o conceito de cultura adquiriu para a compreensão dos valores e

comportamentos de determinado grupo social, mas, ao mesmo tempo, causam

confusão e dificuldades dadas as suas inconsistências (SCHEIN, 2004). No entanto,

observa-se que, de maneira geral, os conceitos relacionam ou tratam a cultura como

algo que os membros de um grupo compartilham ou têm em comum.

O conceito de cultura foi introduzido nos estudos organizacionais no final da

década de 50. A expansão geográfica das empresas multinacionais justificou esse

interesse de pesquisa, pois as mesmas pretendiam reproduzir suas estruturas em

outros países, ao mesmo tempo em que obtinham vantagens competitivas, tais

como mão de obra barata, novos mercados, proximidade a matérias primas, entre

outras. Mesmo reproduzindo as estruturas e os principais programas da empresa

matriz, os resultados não foram os mesmos e os administradores se depararam com

problemas que não existiam em seus países de origem. Atribuíram esses problemas

às diferenças culturais entre países (HOFSTEDE, 1991; TANURE, 2007; ZANDER,

1997).

Dessa forma, uma das primeiras concepções de cultura empregada pelas

ciências administrativas é semelhante à concepção das culturas nacionais, segundo

a qual se procura identificar quais elementos culturais da sociedade foram

incorporados às organizações, influenciando nas crenças e valores dos empregados

(SCHEIN, 2004).

Smircich (1983) também representou essa linha de estudos da cultura nas

organizações conforme apresentado na FIG. 2. Nela, cada membro da organização

(representado por um círculo) é identificado como elemento de transmissão da

cultura adquirida em um contexto cultural externo - país ou região -, influenciando no

seu comportamento no ambiente organizacional e contribuindo para a constituição

dos valores que irão nortear a cultura da organização.

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FIGURA 2 - Modelo teórico dos estudos de cultura Fonte: Smircich (1983).

Duas grandes linhas de pesquisa ou perspectivas para analisar cultura

organizacional foram definidas por Smircich (1983). Na visão do autor, a primeira

abordagem considera a cultura como uma variável (algo que a organização tem)

dependente ou interna, e a segunda como uma metáfora, independente ou externa.

A perspectiva de cultura como uma variável defende que os valores e crenças da

sociedade na qual a organização está inserida são trazidas pelos seus membros

para o ambiente da empresa. Já a perspectiva de metáfora compreende que as

organizações produzem bens, serviços e também elementos culturais como lendas,

ritos, símbolos. No primeiro caso, a cultura é parte do ambiente, e, no segundo, ela é

concebida como fruto da atuação e das representações dos indivíduos nas

organizações (SMIRCICH, 1983).

A perspectiva de análise da cultura como variável interna a considera como

um elemento de coesão. As discussões por essa via tendem a visualizar o fenômeno

cultural como um amálgama, um elemento que favorece a união, deixando de lado

as diferenças entre os indivíduos. Na avaliação crítica de Smircich (1983), tenta-se,

nessa perspectiva, compreender a cultura organizacional sem, no entanto, se

conseguir atingir a real complexidade de que se reveste a dinâmica das

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organizações, em função das interações e das adaptações que existem nas mesmas

em decorrência da influência do ambiente em que organização está inserida.

A cultura organizacional como uma variável considera a cultura como

característica da organização. Nesse contexto, enfatiza-se a eficácia, tendo em vista

a aceitação, por parte dos indivíduos, dos objetivos organizacionais, ressaltando a

tentativa de homogeneização de valores a partir dos rituais, histórias e linguagem

que caracterizam a cultura (SMIRCICH, 1983).

A perspectiva de análise da cultura como uma metáfora defende que a

formação desta se dá dentro de um processo histórico, no qual as pessoas, em

interação entre si, com o ambiente e o trabalho, vão absorvendo valores, princípios e

desenvolvendo interpretações sobre pessoas e situações que vão permear o

pensamento, os sentimentos e ações específicas em uma determinada organização

(SMIRCICH, 1983).

Morgan (l996) é outro autor que discute as diversas formas de refletir sobre o

universo das organizações, e propõe um tipo de análise também baseado em

metáforas para identificar ou ressaltar aspectos-chave da situação em diferentes

lentes. Uma delas é a metáfora da cultura, que vê a organização como um conjunto

de valores, ideias, crenças, ritos e mitos, que sustentam a organização a partir de

uma realidade social construída.

Morgan (1996) observa que o significado, sentido e compreensão dos

indivíduos sobre a empresa representam uma forma de se identificar a cultura da

organização, porque, ao se falar da cultura, ocorre um processo de organização de

elementos, ou seja, um processo de construção da realidade. Na visão do autor,

pode-se afirmar que a natureza da cultura encontra-se nas suas normas sociais e

costumes e que, quando há a adesão por parte de um indivíduo a essas regras de

comportamento, ele constrói uma realidade social adequada ao seu equilíbrio

psicológico.

Nas palavras de Morgan (1996, p. 125), “as crenças e valores compartilhados,

fragmentados ou integrados, e suportados pelas normas sociais e costumes podem

exercer uma influência decisiva na capacidade da organização de lidar com os

desafios que surgem”.

Para Smircich (l983), a corrente que concebe a cultura como uma metáfora

analisam-na em seus aspectos simbólicos, ideais e expressivos. Esses estudos

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analisam a cultura como uma forma de expressão humana, visando à compreensão

dos significados e dos processos que proporcionam a existência da organização.

Dessa forma, destaca-se uma congruência de pontos de vista de diversos

autores sobre a dimensão simbólica como uma categoria privilegiada para o estudo

da cultura das organizações, que privilegia os valores e pressupostos básicos que

carregam um significado particular, o que é reconhecido por aqueles que

compartilham determinado espaço.

O fato é que, para Aktouf (1993), o estudo da cultura, seja como uma variável

ou metáfora, pressupõe analisar os elementos que favorecem a união entre os

membros da organização, buscando sustentação e o alcance dos objetivos

organizacionais. Nesse sentido, a cultura apresenta-se como instrumento adequado

para possibilitar a harmonia entre dirigentes e empregados, num processo de

interação.

Diversos autores definem então cultura organizacional como padrões de

comportamento quando as pessoas interagem: a linguagem que utilizam, os

costumes e tradições envolvidos e os rituais que norteiam as diferentes situações

(GOFFMAN, 1967; JONES; MOORE; SNYDER, 1988; TRICE; BEYER, 1993; VAN

MAANEN, 1979), também como normas do grupo, que são os padrões e valores

implícitos existentes em determinados grupo de trabalho (HOMANS, 1950;

KILMANN; SAXTON, 1983), ou como pressupostos básicos, que são os princípios e

valores articulados, anunciados e difundidos pelo grupo e que são disseminados

(DEAL; KENNEDY, 1982).

A cultura também pode ser reconhecida por meios formais como as políticas e

princípios que norteiam as ações do grupo e stakeholders3 (OUCHI, 1981;

PASCALE; ATHOS, 1981; PACKARD, 1995).

Por outro lado, cultura pode ser compreendida como as regras do jogo, ou

seja, as regras não escritas ou implícitas existentes na organização, e as quais os

novatos devem aprender para serem aceitos como membros (RITTI E

FUNKHOUSER, 1987; SCHEIN, 1978; VAN MAANEN, 1979).

3 Alguém que tem uma participação ou interesse em um determinado empreendimento ou

organização. Podem ser os acionistas, diretores, gerentes, empregados, fornecedores, governo e a comunidade (DICTIONARY, 2009, tradução nossa).

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Neste sentido, destaca-se a compreensão da cultura através dos ritos, rituais

e celebrações da vida corporativa: a maneira através da qual o grupo celebra os

eventos-chave e que refletem valores ou momentos importantes, como datas

significativas, promoções, a finalização de projetos marcantes, dentre outros (DEAL;

KENNEDY, 1982; TRICE; BEYER, 1993).

Segundo Schein (2004), ao se analisarem os diversos elementos formais e

informais que caracterizam a cultura organizacional - normas, valores, padrões de

comportamento, rituais, tradições e demais -, existem características que podem ser

observadas, tais como a estabilidade estrutural, profundidade, extensão e

padronização ou integração.

Sobre a primeira característica, Schein (2004) defende que a cultura implica

na existência de determinado nível de estabilidade estrutural no grupo. Quando há

a referência de que algo é cultural, não significa que este algo é somente

compartilhado, mas, também, estável, porque define a identidade do grupo. Nesse

sentido, a cultura é algo difícil de mudar, pois os membros do grupo valorizam a

estabilidade que promove previsibilidade e tranquilidade às pessoas (SCHEIN, 2004,

grifo nosso).

Nas palavras de Schein (2004, p. 14, grifo nosso), “a cultura é a parte de

maior profundidade e muitas vezes inconsciente de um grupo, sendo assim, menos

tangível e visível do que as outras partes”. O autor comenta que é perceptível em

um grupo a característica de que seus membros têm uma história em comum, e

qualquer grupo que compartilha uma história desenvolve valores e pressupostos que

se traduzem na cultura. Todos temos uma noção clara da existência deste

fenômeno, mas, defini-lo com clareza nem sempre é tarefa fácil.

Outra característica da cultura, segundo SCHEIN (2004), é que, na medida

em que é desenvolvida e consolidada, ela se dissemina por todo o grupo, com alto

grau de extensão. Já a característica de padronização ou integração está

relacionada à organização dos elementos culturais – rituais, clima, valores e

comportamentos – em um conjunto coerente, e advêm da necessidade humana de

tornar o seu ambiente o mais sensato, organizado e previsível (WEICK, 1995, grifo

nosso).

E como a cultura se forma? Basicamente, a cultura se forma de duas

maneiras. Segundo Schein (2004), a cultura é construída através das interações

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espontâneas num grupo não estruturado, e gradualmente conduzem a padrões e

normas de comportamento que acabam se constituindo na cultura do grupo.

Para Schein (2004), em grupos mais formais, como nas organizações, a

cultura se forma a partir do fundador. Este indivíduo fundador, através de suas

visões, objetivos, crenças, valores e concepções pessoais, acaba influenciando a

maneira pela qual os processos devem ocorrer. Ele ou ela inicialmente irá impor, ao

grupo, as suas ideias e valores, e iniciar o processo de se criar estabilidade

estrutural para a organização. Na medida em que o comportamento resultante das

crenças iniciais leva a resultados positivos, os padrões e valores do fundador são

confirmados e reforçados, e passam a ser reconhecidos como adequados (SCHEIN,

2004).

O processo contínuo de reforçar crenças e valores, que se mostraram

essenciais para o funcionamento do grupo ou organização, leva o grupo a considerá-

los como elementos inegociáveis, dotados de características inquestionáveis. Esses

elementos que fundamentam a cultura organizacional são denominados por Schein

(2004) de pressupostos básicos.

O processo dinâmico de criação, consolidação e gerenciamento da cultura

pode ser considerado como a essência do trabalho da liderança. Segundo Schein

(2004), a construção da cultura se inicia com líderes que são capazes de impor seus

valores, crenças e percepções para o grupo. A habilidade de perceber as limitações

de uma determinada cultura e adaptá-la ao ambiente é a essência e maior desafio

da liderança, segundo ele. Percebe-se, então, que a cultura é resultado de um

complexo aprendizado em grupo, mas fortemente influenciado pelo comportamento

do líder/fundador.

A partir do momento que um grupo compartilha uma cultura, passa a existir

um processo de socialização, que significa transmitir elementos dessa cultura para

as novas gerações de membros do grupo (LOUIS, 1980; SCHEIN, 1968; VAN

MAANEN, 1979).

A cultura pode então ser definida como uma internalização de concepções

básicas e compartilhadas que são aprendidas por um grupo, de forma a resolver os

problemas relacionados à adaptação externa ou integração interna. O Quadro 1

sintetiza os elementos que compõem os processos de adaptação de determinada

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organização ao ambiente – adaptação externa -, bem como os fatores utilizados

para se obter a integração interna (SCHEIN, 2004, grifo nosso).

Adaptação externa Integração interna

A missão, funções e tarefas primordiais

da organização perante o seu ambiente.

A linguagem comum, incluindo conceitos

básicos de tempo e espaço.

Os objetivos específicos a serem

atingidos pela organização.

As fronteiras do grupo e critérios para

inclusão de novos membros.

Os métodos a serem utilizados para

acompanhar a consecução dos objetivos.

As estratégias para alocação de status,

poder e autoridade.

Os critérios utilizados para medir

resultados.

As ações para promover a intimidade,

amizade e relacionamentos no trabalho.

As estratégias emergenciais ou

corretivas a serem adotadas caso os

objetivos não estejam sendo alcançados.

Os critérios para recompensa e punição.

As estratégias para gerenciar, por

exemplo, as diferenças interpessoais no

âmbito ideológico e religioso.

QUADRO 1 - Atividades de adaptação externa e integração interna Fonte: Adaptado de Schein (1985).

As concepções básicas, quando funcionam bem no sentido de promover a

adaptação externa e a integração interna, são transmitidas para os novos membros

como a forma correta de perceber, pensar e sentir com relação aos problemas

(SCHEIN, 2004). Na verdade, o autor elaborou um conceito de cultura

organizacional, concebendo-o como um modelo dinâmico, que possa ser aprendido,

transmitido e adaptado, quando necessário.

Segundo Schein (2004), há três diferentes níveis através dos quais a cultura

de uma organização pode ser identificada, como se pode ver na FIG. 3.

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FIGURA 3 - Níveis de análise da cultura organizacional

Fonte: SCHEIN (2004).

O primeiro nível, o dos artefatos visíveis, como o próprio nome sugere,

representa o Layout da organização, o comportamento e vestuário das pessoas, os

rituais, os mitos organizacionais, assim como as crenças expressas em documentos

– fáceis de serem percebidos, mas difíceis de serem interpretados, pois fazem parte

do cotidiano, mas ninguém reflete sobre eles (SCHEIN, 2004, grifo nosso).

Já o segundo nível - valores compartilhados - aponta o problema da

diferença existente entre os valores aparentes e os valores em uso. Para identificar

esses valores, é difícil fazê-lo apenas através de uma observação direta, é preciso

entrevistar os membros-chave da organização, ou realizar a análise de conteúdo de

seus documentos formais. Entretanto, ao identificar esses valores, verifica-se que

eles expressam o que as pessoas reportam ser a razão do seu comportamento, o

que, na maioria das vezes, são idealizações ou racionalizações. As razões

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subjacentes ao seu comportamento permanecem, entretanto, escondidas ou

inconscientes (SCHEIN, 2004, grifo nosso).

Por fim, o terceiro nível, o dos pressupostos básicos, são normalmente

inconscientes, mas, na realidade, determinam como os membros do grupo

percebem, pensam e sentem. À medida que certos valores compartilhados pelo

grupo conduzem a determinados comportamentos, e esses comportamentos se

mostram adequados para solucionar problemas, o valor é gradualmente

transformado em um pressuposto inconsciente de como as coisas realmente devem

ser (SCHEIN, 2004, grifo nosso).

Schein (2004) ainda esclarece que o modelo da FIG. 3 não é apenas uma

forma de se obterem informações sobre a cultura organizacional. Os níveis nela

apresentados interagem entre si, ou seja, a compreensão dos níveis “inferiores” é

fundamental para se entenderem e interpretarem os artefatos visíveis.

O autor exemplifica que os empregados de uma empresa formal e

burocratizada podem compartilhar valores e pressupostos básicos semelhantes aos

de uma empresa menos rígida e horizontalizada. Por essa razão, para o autor, os

estudos de cultura organizacional não podem restringir-se à observação dos

artefatos visíveis. É necessário dialogar com os membros de uma organização para

melhor compreensão do significado que atribuem aos elementos que constituem a

cultura da empresa.

Mesmo assim, as explicações dos membros da organização para os aspectos

visíveis ainda não são suficientes, porque existem pressupostos subjacentes

considerados tão óbvios para o grupo que nunca são enunciados. Esses

pressupostos influenciam todo o processo de interação dos membros da empresa,

bem como o seu comportamento, sem que eles se percebam disto a maior parte do

tempo (SCHEIN, 1992).

Dada a natureza subjacente e internalizada da cultura, os membros de uma

organização podem não conseguir de forma imediata refletir sobre a sua cultura e

descrevê-la. Daí, a dificuldade de se mensurar ou avaliar a cultura, como também de

se identificarem valores e principalmente pressupostos básicos.

Schein (1996) ainda comenta sobre a dificuldade de se identificarem

elementos culturais:

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Eu penso que este é um processo muito difícil e nossas teorias são ainda incipientes, porque não temos praticado o suficiente. Especialmente em relação à cultura, quando eu vejo meus colegas inventando questionários para "mensurar” a cultura, penso que eles não irão, simplesmente, ver o que está ali, e isto é particularmente perigoso quando se está lidando com uma força social invisível e tão poderosa (SCHEIN, 1996, p. 11).

Hofstede (l99l) também fornece alguns dos principais elementos que estão na

base de muitos estudos atuais sobre esse tema. Para ele, a palavra cultura tem

diversos significados, todos derivados de sua origem latina, que se refere ao cultivo

do solo. Na maioria das línguas ocidentais, cultura significa civilização ou

refinamento da mente.

Nesse caso, o autor considera limitado o sentido de tal definição, e aceita o

conceito preconizado pela antropologia social de que a cultura é uma palavra-chave

para todos os padrões de pensamento, sentimento e ação dos grupos e categorias

humanas diferentes.

Em um estudo de âmbito organizacional, Hofstede et al (1990) comparam a

cultura de 20 empresas que operavam na Dinamarca e na Holanda e que possuíam

características culturais semelhantes. Nessa pesquisa, são analisadas as

manifestações da cultura em quatro categorias (símbolos, heróis, rituais e valores),

segundo o modelo a seguir:

FIGURA 4: Manifestações da cultura Fonte: Hofstede et al (1990).

De acordo com Hofstede et al (1990), os símbolos são palavras, gestos,

figuras ou objetos que trazem um significado específico sobre a cultura. Os heróis

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são pessoas, vivas ou mortas, reais ou imaginárias, que possuem características

admiradas pelo grupo e servem como modelos de comportamento. Os rituais são

atividades coletivas socialmente desenvolvidas dentro da cultura. Ritos, rituais e

cerimônias são exemplos de atividades planejadas que reforçam a cultura.

Os símbolos, heróis e rituais podem ser resumidos, para o autor, pelo termo

práticas, porque eles são visíveis para um observador, ao passo que o significado da

cultura reside na forma que ela é percebida pelos seus membros. O núcleo da

cultura, de acordo com a FIG. 4, é formado pelos valores, que são normalmente

inconscientes e raramente discutidos, não podem ser observados, mas,

interpretados a partir dos comportamentos.

Esses quatro termos são encontrados na literatura de cultura (DEAL;

KENNEDY, 1982) e de maneira geral têm definições próprias, mas similares entre

diferentes autores (HOFSTEDE et al, 1990).

Tanure (2007, p. 1) ampliou os estudos de Hofstede (1990), tendo em vista a

realidade brasileira. A autora defende a hipótese de que “a cultura brasileira, com

suas características e especificidades, impacta o modelo de gestão das empresas”.

A autora analisa as quatro dimensões identificadas por Hofstede (1980 apud

TANURE, 2007), que são: (1) a distância do poder; (2) a necessidade de controlar as

incertezas; (3) a forma como os indivíduos interagem nos grupos; e (4) a

masculinidade versus a feminilidade. Posteriormente, há uma quinta dimensão,

modelada a partir de valores orientais, que é a orientação de longo prazo versus

orientação de curto prazo.

Na pesquisa realizada, Tanure (2007) constata que as organizações

brasileiras são influenciadas pelas características de concentração de poder e

personalismo, e tendem a assumir posições mais coletivistas do que individualistas.

Para a autora, há uma predominância também, na cultura brasileira, de

valores masculinos, como competição e interesse pelo sucesso material, em

contraposição aos femininos, como ternura, generosidade e cooperação, o que se

reflete também na gestão organizacional

A postura organizacional brasileira, de maneira geral, é também de uma

tendência à orientação de longo prazo, ou seja, ainda não adota metas e objetivos a

serem cumpridos rigorosamente em curto espaço de tempo, e os executivos

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acreditam que a construção das relações sociais internas e empresariais demanda

período maior de tempo para se consolidarem (TANURE, 2007).

Por fim, a autora apresenta o que denomina sistema de ação cultural

brasileiro, e considera que a flexibilidade é o seu fator fundamental, sendo esta

característica é um traço que permite a articulação entre os subsistemas

“institucional e pessoal” e “Líder e liderados”, conforme a FIG. 5. Ou seja, a partir

dos resultados de sua pesquisa, a autora desenvolve uma matriz – sistema de ação

cultural brasileiro – com os elementos que, na sua visão, caracterizam o padrão de

comportamento nas organizações brasileiras.

FIGURA 5: Sistema de ação cultural brasileiro Fonte: Tanure (2007).

Segundo a autora, o modelo proposto de ação cultural brasileira pode ser

caracterizado como um sistema composto de quatro subsistemas – o institucional,

pessoal, dos líderes e dos liderados.

O subsistema institucional está relacionado com os traços culturais que

encontramos na “rua”, como conceituado por Da Matta (1987 apud TANURE, 2007).

O subsistema pessoal diz respeito ao espaço da “casa” ou organização, sendo que o

subsistema de líderes e o de liderados correspondem aos grupos dos que detêm o

poder e aos grupos dos subordinados ao poder, respectivamente.

Esses subsistemas apresentam interseções entre si, encontrando-se nessas

interseções traços culturais comuns, que são: a concentração de poder – na

interseção dos subsistemas líderes e formal; a postura de espectador – na

interseção dos subsistemas liderados e informal; o personalismo – na interseção dos

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subsistemas líderes e pessoal, e o evitar conflitos – na interseção dos subsistemas

liderados e pessoal.

Esses subsistemas, ademais, estão articulados por meio de traços culturais

especiais que são responsáveis pelo equilíbrio/manutenção do sistema cultural e, ao

mesmo tempo, são também os elementos que podem ser alterados para tornar

possível uma significativa mudança cultural. Os traços culturais especiais são o

paternalismo, a lealdade a pessoas, o formalismo e a flexibilidade.

A combinação desses dois conjuntos – formal ou institucional e pessoal ou

informal - compõe a estrutura do modelo representativo do sistema de ação cultural

brasileiro, que apresenta, segundo Tanure (2007), no seu epicentro, o traço da

impunidade. Isto significa que, para a autora, tais elementos culturais tendem a

favorecer a característica de impunidade através de uma sociedade tolerante e

permissiva com os delitos, prevalecendo uma sensação compartilhada entre seus

membros de que a punição é rara ou insuficiente.

Utilizando de outra terminologia, Freitas (l991), baseada em Deal e Kennedy

(1982), define a cultura organizacional a partir de elementos que fornecem

significados para os membros da organização. Os mais importantes desses

elementos são representados por:

a) valores, que são os princípios básicos na organização; estes estabelecem

os padrões que devem ser perseguidos na organização e representam a essência

de sua filosofia, uma vez que fornecem um senso de direção comum para todos os

empregados e um guia do comportamento diário;

b) crenças e pressupostos, que caracterizam aquilo que é tido como verdade

na organização, são conceitos internalizados nas organizações e inquestionáveis.

Este elemento é condizente com a perspectiva apresentada por Schein (1992), que

destaca que a chave para a compreensão da cultura está em decifrar o conjunto de

pressupostos compartilhados e descobrir como os mesmos se encaixam num

modelo cultural;

c) ritos, rituais e cerimônias, que são exemplos de atividades planejadas que

têm consequências práticas e expressivas, na valorização e explicitação dos valores

e crenças, tornando a cultura organizacional mais visível e coesa;

d) histórias e mitos, sendo as primeiras narrativas baseadas em eventos

ocorridos que informam sobre a organização, reforçam o comportamento existente e

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enfatizam como esse comportamento se ajusta ao ambiente organizacional. Já os

mitos se referem a histórias construídas e enriquecidas de forma consistente com os

valores da organização;

e) tabus, que também orientam o comportamento, demarcando áreas de

proibições, e colocam em evidência o aspecto disciplinar da cultura, com ênfase no

não-permitido;

f) heróis, pessoas que personificam os valores e condensam a força da

organização;

g) norma, que é o comportamento sancionado, através do qual as pessoas

são recompensadas ou punidas, confrontadas ou encorajadas;

h) comunicação, processo fundamental na formação da cultura, sustentando-

a, transmitindo-a e promovendo alterações, quando necessário;

i) símbolos são os objetos, atos, eventos, que servem de veículo para

transmissão dos valores.

Já Fleury (l997) apresenta um conceito de cultura, acrescentando as

dimensões ideológicas e de poder:

Cultura é um conjunto de valores e pressupostos básicos expressos em

elementos simbólicos que em sua capacidade de ordenar, atribuir

significações, construir a identidade organizacional, tanto agem como

elemento de comunicação e consenso, como ocultam e instrumentalizam as

relações de dominação (FLEURY, 1997, p. 22).

Essa inserção do dimensionamento político sugere a dificuldade de

integração interna proposta por Schein (2004), e defende que relações de poder e

arenas de conflito são uma constante nas relações de trabalho. Nessa perspectiva,

os elementos simbólicos, que constituem os valores e pressupostos básicos de uma

organização, agem como elemento que oculta e instrumentaliza o polo dominante da

relação.

Assim, Fleury (1997) desenvolveu uma proposta metodológica para

desvendar a cultura de uma organização a partir das seguintes dimensões:

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a) o histórico das organizações: consiste na recuperação do momento de

criação e inserção da organização no contexto político e econômico da época. Tem-

se como propósito compreender a sua natureza, suas metas e objetivos;

b) o processo de socialização de novos membros, ou seja, a análise das

estratégias de integração do indivíduo à organização. Os rituais de socialização

delimitam a área de inclusão dos indivíduos aos grupos, bem como a sua exclusão;

c) as políticas de recursos humanos, que revelam os elementos culturais que

são valorizados e objetos de premiação e os comportamentos considerados

indesejáveis;

d) o processo de comunicação, que transmite e cristaliza o universo simbólico

de uma organização;

e) a organização do processo de trabalho no seu componente social e

tecnológico possibilita identificar as características presentes na relação de trabalho,

bem como o mapeamento das relações de poder entre as categorias de empregado

e entre áreas da organização.

Martin (l992) faz uma análise das diferentes concepções sobre cultura, e as

categoriza em três modelos: integração, fragmentação e diferenciação. No

paradigma da integração, a cultura é considerada como um mecanismo aglutinador,

sendo a chave para o controle gerencial, para obter o compromisso do trabalhador e

para a eficácia organizacional. Para o autor, esse modelo pode ser visualizado na

proposta de Schein (2004), que considera a cultura na perspectiva de grupo e a

concebe como mecanismo de controle.

O modelo de fragmentação questiona a perspectiva da integração proposta

por Schein (2004), e defende que o consenso e a clareza são conceitos que não

existem nas relações de trabalho. No modelo identificado como diferenciação,

admite-se a existência de múltiplas culturas e enfoca-se que os grupos não são

homogêneos. As subculturas coexistem algumas vezes em harmonia, algumas

vezes em conflitos, e algumas vezes são indiferentes umas com as outras.

A principal referência teórica dessa pesquisa para análise da cultura

organizacional foi o modelo proposto por Schein (2004), entendendo a cultura como

elemento integrador e não enfocando as questões relacionadas por Fleury (1997),

sob as relações de poder, dominação e fragmentação e diferenciação propostas por

Martin (1992). A pesquisa considera ainda o sistema de ação cultural brasileiro,

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conforme modelo proposto por Tanure (2007) e a sua possível influência na cultura

organizacional da empresa a ser pesquisada. O modelo proposto pela autora foi

concebido a partir dos estudos e pesquisa realizados por Hofstede et al (1990).

A pesquisa identificou os elementos que compõem a cultura da organização

pesquisada e analisou a sua relação com os tipos de inovação implementados na

empresa. No próximo item apresentamos a relação entre cultura e tipos de inovação.

2.2 A relação entre cultura organizacional e os tipos de inovação

Schumpeter (1985) foi um dos precursores da discussão da importância da

inovação para o desenvolvimento econômico. O autor considerava que mudanças

geradoras de desenvolvimento econômico eram decorrência, em certa medida, de

casualidades, tais como a mudança de hábito e comportamento dos indivíduos

empreendedores.

Ainda nesta linha de raciocínio, o autor destaca uma questão: o processo de

inovação, ou nas palavras dele, novas combinações, que geram desenvolvimento, é

objeto de um tipo especial de função, a empreendedora.

Para ele, novas combinações representam a introdução de um novo bem ou

produtos com o qual os consumidores ainda não estão familiarizados; a introdução

de um novo método de produção; a abertura de um novo mercado; a conquista de

uma nova fonte de matérias-primas ou insumos e o estabelecimento de um novo

modelo de organização através de uma posição de monopólio ou fragmentação.

Essas inovações, quando materializadas ou implantadas pelo empresário ou

empreendedor, alteram as estruturas vigentes e desencadeiam um processo de

mudança no mercado com consequências econômicas positivas.

Percebe-se, então, nesse raciocínio, que Schumpeter (1985), um dos

precursores da discussão sobre a importância da inovação para o desenvolvimento

econômico, apresenta, nos seus textos iniciais, uma relação de casualidade de

origem não econômica. Para ele, o fator motivador para as mudanças (inovações)

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está associado ao comportamento e conduta dos indivíduos, sendo estes os

principais promotores de novas combinações ou inovações.

Finalmente, o autor aproxima-se da definição de cultura quando destaca que:

[...] todo conhecimento e todo hábito, uma vez adquirido, incorporam-se tão firmemente em nós como um terrapleno ferroviário na terra. Não requerem ser continuamente renovados e conscientemente reproduzidos, mas, afundam nos extratos do subconsciente. São transmitidos normalmente quase sem conflituoso, pela herança, pelo ensino, pela educação, pela pressão do ambiente (SCHUMPETER, 1985, p. 60).

2.2.1 Tipos de inovação

Inovação é o termo que define como as organizações criam valor

desenvolvendo conhecimento novo ou usando conhecimento existente de novas

maneiras. O termo é usado frequentemente para significar o desenvolvimento de

produtos novos ou serviços dentro de uma organização (GARTNER, 1990), mas as

organizações também podem inovar de outros modos, pela adoção de novos

processos, por novos modelos de negócio, técnicas de administração e estruturas

organizacionais (BEAR, 2006; JAMROG; VICKERS; SCHUMPETER, 1985)

Kuczmarski (1998, p. 63) define inovação como uma “atitude que permite às

empresas enxergar o presente pelo olhar do futuro”. Segundo ele, inovar não se

resume em lançar novos produtos, nem somente dar vida nova aos antigos. A

inovação representa, para ele, uma maneira de vencer a concorrência, diferenciar-se

das empresas de um setor, e apresentar novidades para o mercado, aumentando a

competitividade da empresa.

Para Kuczmarski (1998), as organizações já esgotaram seus recursos

possíveis para reduzir mão de obra, cortar custos unitários e simplificar processos. O

desafio das organizações agora é maximizar os lucros, aumentar a produtividade e

garantir a satisfação de funcionários e acionistas. Para isso, é preciso que a

organização desenvolva mentalidade voltada para inovação. O autor defende que a

adoção de mentalidade e práticas inovadoras é o que permite que organizações

transformem seus negócios e apresentem crescimento. Nesse sentido, a inovação é

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importante para a manutenção da competitividade das organizações ou mesmo

como origem ou fonte de desenvolvimento econômico (SCHUMPETER, 1985).

March (1991) usa uma perspectiva de aprendizagem organizacional para

distinguir entre inovações que exploram um conhecimento novo e inovações que

acham novas formas inteligentes para explorar um conhecimento existente.

Empresas que exploram um conhecimento podem buscar melhorias incrementais

para servir mercados existentes ou podem, no caso de conhecimento novo, encerrar

o ciclo de vida de produtos, implementando ideias arrojadas para serviços ou

produtos.

A despeito do reconhecimento de que inovação representa um elemento

essencial de competitividade (CHRISTENSEN, 1997; SCHUMPETER, 1985;

UTTERBACK, 1954), Christensen (2003) alerta que as empresas privilegiam

normalmente incrementar tecnologicamente seus produtos para atender aos clientes

da carteira e com isto não ficam atentas às oportunidades de inovação para ampliar

mercado.

Por outro lado, ele acredita que determinados clientes podem demandar

produtos que eventualmente podem ser tecnologicamente menos sofisticados do

que os produtos atuais dessas empresas, representando outro nicho que não pode

ser menosprezado.

Nesse sentido, Cyrino (2007) desenvolveu uma matriz, representada pela

FIG. 6, que reproduz os diferentes níveis e tipos de inovação propostos por

Christensen (2003) e sua abrangência:

FIGURA 6 - Tipos de Inovação: radical e incremental Fonte: Cyrino (2007).

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Nas palavras de Christensen (2003), a inovação incremental com foco no

componente representa um processo de melhoria contínua dentro da organização,

buscando otimizar determinadas atividades, normalmente em busca de melhor

desempenho do produto ou redução de custos.

Já a inovação incremental com a abrangência do sistema visa reformular

e promover uma melhoria nos processos da organização como um todo. Ambas as

estratégias de inovação incremental têm por objetivo melhorar um produto ou

processo existente ou lançar um produto melhor em um mercado tradicional ou

otimizar processos de negócios, mas não se preocupando em desenvolver novos

mercados ou promover mudanças mais significativas (CHRISTENSEN, 2003, grifo

nosso).

A inovação radical ou disruptiva, da mesma forma que a incremental, possui

dois focos de atuação, no componente ou no sistema. Quando se foca no

componente, a estratégia é buscar clientes que queiram um produto ou negócio de

baixo custo, daí a denominação de disrupção de baixo mercado. Com a

abrangência no sistema, a inovação radical visa trabalhar no conceito do negócio e

com isto buscar um novo mercado e novos consumidores. Este tipo de inovação

denomina-se disrupção de novo mercado (CHRISTENSEN, 2003, grifo nosso).

A FIG. 7 apresenta o conceito de inovação disruptiva no eixo

tempo/desempenho:

FIGURA 7 - Inovação disruptiva Fonte: Christensen (2003, p. 58).

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Analisando-se a FIG. 7, identificam-se os três modelos de inovação –

sustentação, baixo mercado e novo mercado. Na estratégia de sustentação,

buscam-se melhorar continuamente os produtos para se manter competitivo no

mercado tradicional.

Já na disrupção de baixo mercado, as organizações atuam com modelos de

negócios de baixo custo, identificando clientes dispostos a adquirir um produto com

desempenho inferior e, em contrapartida, com menor custo. Na disrupção em novo

mercado, as empresas visam criar novos hábitos de consumo ou atrair, com novos

produtos, aquele cliente que não é consumidor.

Observa-se que o posicionamento não é permanente. Pode-se perceber o

processo de inovação de uma organização como uma força contínua, indo da

inovação radical para a incremental, ou seja, as empresas que hoje criam novos

mercados ou padrões de consumo ou criam modelos de negócios com baixo custo

poderão, no futuro, ser alvo de disrupção, quando estiverem privilegiando suas

estratégias de sustentação.

Quanto à possibilidade de se gerenciarem os processos de inovação, a FIG. 8

demonstra a ideia de série contínua dos tipos de inovação, conforme proposta de

MClaughlin, Bessant e Smart (2005), que se baseia na tipologia de Christensen

(2003), demonstrando as especificidades de cada modelo.

FIGURA 8 - A série contínua da inovação Fonte: MClaughlin, Bessant e Smart (2005, p. 2).

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Para os autores, o gerenciamento do processo de inovação é mais utilizado

no tipo incremental do que no tipo radical, pois é baseado em rotinas, sistematizado

e pode ser modelado de forma relativamente simples. As organizações, durante

períodos de inovações incrementais, podem se basear em unidades com papéis e

responsabilidades formalizados, procedimentos centralizados, estruturas funcionais,

culturas orientadas para a eficiência, homogeneidade nas capacidades de produção

e de vendas, e equipes mais experientes e antigas.

Já no tipo radical, o processo é pouco definido e sua modelagem mais

complexa, pois as organizações necessitam de times empreendedores, com

unidades pequenas, procedimentos descentralizados e pouco definidos, culturas

baseadas na experimentação, alta competência técnica e empregados relativamente

mais jovens e heterogêneos (MCLAUGHLIN; BESSANT; SMART, 2005).

As organizações podem também inovar em termos de suas estruturas, ou

quando elas buscam mercados novos, ou estabelecem metas estratégicas mais

ousadas. Esse processo pode envolver fusões e aquisições, e está frequentemente

associado ao objetivo de incorporação das inovações de alguma outra companhia.

Para organizações maiores, pode significar também uma reestruturação para tentar

obter algumas das vantagens de organizações menores ou mesmo criando

estruturas que não existiam anteriormente (HAMEL, 2006).

Outros tipos de inovação organizacional também são apontadas na literatura

da área. A inovação de cultura empresarial é aquela na qual uma empresa tenta

desenvolver sistematicamente uma cultura corporativa inovadora, ou seja, dotar o

sistema de capacidade de adaptação a mudanças (JAMROG; VICKERS; BEAR,

2006).

Observa-se, entretanto, que qualquer sistema de classificação, como, por

exemplo, por tipos incremental e radical, tem limitações, em função da evolução e

mudanças presentes nas organizações, conforme aponta Greenwood e Hinings

(1993). Segundo eles, um assunto complexo como a inovação tende a desafiar um

sistema de categorização, tornando-se um dificultador para as organizações que

buscam adotar um modelo que estimule a inovação.

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2.2.2 Cultura e inovação

A visão da cultura como facilitadora para a inovação é mais facilmente

percebida quando se trata de analisar culturas de nações ou regiões, pois a

proximidade geográfica, bem como as características de uma determinada região,

parecem facilitar a geração e transferência de conhecimento tácito (RYCROFT;

KASH, 2002).

Schumpeter (1985), quando no início do século XX, discutindo os

mecanismos que propiciavam desenvolvimento econômico, enfatizou muito o papel

das novas combinações ou inovações desencadeadas pelo empreendedor. A

palavra cultura não é utilizada na discussão apresentada pelo autor, no entanto,

percebe-se a existência da relação de casualidade entre mudança econômica e

situação total precedente, ou elementos do contexto que servem como propulsores,

o que nos remete a pensar na relação de inovação e cultura respectivamente.

Já na década de 60, existia um pensamento corrente, principalmente nos

Estados Unidos e Europa, contrapondo-se à visão da cultura como facilitadora para

inovação, apregoando a existência de um modelo superior para a gestão das

organizações e que poderia ser aplicado de forma universal, independente das

particularidades e da cultura de cada nação, denominado de convergente (TANURE,

2007).

Alguns pesquisadores, como Parker e Savary (1994, 1997 apud TANURE,

2007), realizaram estudos em 11 diferentes países, onde destacam efeitos nulos ou

escassos da cultura na inovação, reforçando a teoria convergente. Naturalmente as

críticas a essa corrente estão no fato de que sua abordagem apresenta um aspecto

reducionista, descartando a força dos elementos culturais defendidos pela corrente

que se opõe à convergente.

No entanto, a partir da década de 70, a perspectiva denominada de

divergente adquiriu proeminência, destacando que diferenças culturais afetam a

forma de administrar e demonstrando as diferenças entre países e regiões nos

modelos de gestão. Nos anos 80, o tema foi colocado em intenso debate,

principalmente pelo sucesso do modelo japonês de administrar (TANURE, 2007).

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Tal discussão tem reflexos até os dias atuais, no entanto, a autora identifica

uma terceira corrente, que admite o convívio das duas dimensões - convergente e

divergente -, uma abordagem mais integradora, onde as diferenças entre países e

regiões são mais evidenciadas quando se trata de valores, e que outras dimensões,

como a estrutura organizacional, não sofrem impactos consideráveis do ambiente

cultural do país.

Tanure (2007, p. 23) destaca que a “a empresa é um espaço sociocultural. A

cultura nacional é um dos pilares da cultura organizacional”. Naturalmente não é o

único, há de se destacar também o papel dos líderes e fundadores, que, através das

suas ações, imprimem características peculiares a cada organização.

A autora ressalta a necessidade de se diferenciar entre mudança de

operacionalização de valores e a mudança de valores em si, que de fato representa

a mudança cultural. Na mudança de operacionalização de valores, há a

permanência dos valores centrais, base da cultura da organização; apenas os

comportamentos que correspondem a esses valores evoluem ou mudam e passam a

ser expressos de forma diferente (TANURE, 2007).

Tanure (2007, p. 24) destaca que “a mudança de cultura é um processo

longo, duro e nada fácil, porém possível. Na maioria das vezes, ela ocorre em

função de alguma mudança radical, do ponto de vista do negócio ou da gestão”.

Os temas flexibilidade, adaptabilidade e inovação passaram então a compor a

discussão sobre cultura organizacional, a partir do momento que características da

cultura foram consideradas essenciais para promover ou inibir iniciativas de

mudança efetivas e estratégias (BLUEDORN; LUNDGREN, 1993).

Segundo Kotter e Heskett (1992), as organizações que possuem culturas

flexíveis têm uma tendência a se adaptar às mudanças, turbulências e incertezas

dos ambientes externos. A visão desses autores é que organizações com cultura

flexíveis e adaptativas são mais eficazes, na medida em que estimulam e nutrem a

inovação, o que pode garantir desempenho superior por períodos longos de tempo.

Bass e Avolio (1993) também destacaram a importância da cultura

organizacional adaptável e flexível para facilitar processos de inovação. Esses

autores utilizam a distinção entre cultura organizacional transformacional e

transacional para identificar as organizações que encorajam a inovação,

transformação e mudança - cultura transformacional - e aquelas que buscam manter

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seu modus operandi, baseado em regras e estruturas preestabelecidas e que

inspiram níveis limitados de compromisso e motivação - cultura transacional.

As culturas transformacionais encorajam e apoiam a inovação e a discussão

aberta de assuntos e ideias de forma que os desafios se tornem oportunidades em

lugar de ameaças (BASS, 1998). Dessa forma, na visão do autor, este tipo de cultura

caracteriza-se pela flexibilidade e adaptabilidade.

Um fator essencial para que uma cultura organizacional possa ser identificada

como transformacional é o grau no qual ela apoia e promove a inovação e o

empreendedorismo, o que em contextos dinâmicos é considerado crucial para a

sobrevivência a longo prazo de uma organização (ANCONA; CALDWELL, 1987).

Da mesma forma, supõe-se que a cultura da empresa é um fator influente na

promoção do empreendedorismo (MOON, 1999; ZAHRA 1993), e investigações

empíricas identificaram os efeitos favoráveis de um clima organizacional satisfatório

na inovação (ABBEY; DICKSON, 1983). Os autores examinaram a relação entre

clima organizacional e inovação nos Departamentos de Pesquisa e Desenvolvimento

das indústrias de semicondutores dos Estados Unidos, considerando que estas

indústrias foram, durante o período de 1970-1980, os principais propulsores de

inovações tecnológicas.

O estudo apresentou uma correlação forte entre a quantidade de inovações

produzidas e o sistema de valorização e reconhecimento das equipes de pesquisa e

desenvolvimento, como também uma flexibilidade e disponibilidade do grupo para

assumir riscos com novas ideias e experimentos.

Outro fator destacado como significativo para o desenvolvimento de

inovações é a presença, nos grupos de lideranças, técnicas criativas e com

liberdade de atuação dentro da organização.

A inovação incremental usualmente enfatiza melhorias de custos ou

funcionalidades nos produtos existentes, baseada no conceito de utilização

intensiva. Em contraste, a inovação radical, por sua característica de

desenvolvimento de novos negócios ou linhas de produtos, baseada em novas

ideias ou tecnologias, utiliza o conceito de exploração intensiva (LEIFER et al, 2000).

O Quadro 2 resume as diferenças básicas, relacionadas a procedimentos,

estrutura, pessoa, cultura e foco de uma organização, entre um posicionamento que

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tende mais para inovações do tipo incremental e outro com foco em inovações do

tipo radical, na perspectiva de MClaughlin, Bessant e Smart (2005).

A análise do quadro dos autores mostra que uma organização com uma

cultura mais voltada para inovações incrementais pode não apresentar os mesmos

elementos facilitadores para permitir inovações radicais, mas que o movimento entre

uma posição e outra é possível.

INCREMENTAL RADICAL

Formalizados

Centralizados

Sistemáticos

Procedimentos Contingentes

Descentralizados

Pouco estruturados

Funcional

Orientada para a eficiência

Estrutura Tolerante aos riscos e experimentações

Orientada para o conhecimento

Homogêneas

Experientes

Pessoas Heterogêneas

Empreendedoras

Questionadoras

Maturidade

Alta inércia

Foco na eficiência

Foco no trabalho em equipe

Melhoria contínua do sistema

Cultura Organizacional Empreendedorismo

Foco na descoberta

Cooperação entre indivíduos

Quebra das fronteiras do sistema

Redução de custos

Funcionalidades adicionais

Eficiência

Foco Novos métodos e tecnologias

Experimentação

Novas ideias

Criação

Existentes Produtos/Tecnologia Novos

Utilização intensiva Gerenciamento Exploração intensiva

QUADRO 2 - Características da Inovação Fonte: MClaughlin, Bessant e Smart (2005, p. 5).

Em resumo, a literatura sugere que a cultura organizacional é um dos

elementos que facilitam ou inibem a propensão de uma organização para ser

inovadora, mas que há especificidades na cultura da empresa que favorecem

apenas a introdução de aperfeiçoamentos e pequenas melhorias, e outras

características que permitem mudanças e inovações mais vigorosas (AHMED, 1998;

KANTER, 1988; MARTINS; TERBLANCHE, 2003).

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No próximo item, apresentamos o modelo conceitual, elaborado a partir da

revisão da literatura que orientou a análise dos dados empíricos.

2.2.3 Um modelo conceitual para o entendimento da cultura organizacional e

sua relação com os tipos de inovação.

A base para a criação do modelo conceitual para a análise e compreensão da

cultura organizacional e sua relação com os tipos de inovação parte do conceito de

arquétipos4. Um arquétipo é definido em termos de duas declarações gerais.

Primeiro, estruturas organizacionais e sistemas de gestão são melhor entendidos por

análise de padrões gerais do que por análise de propriedades da organização. Isto é

o que Miller e Friesen (1984) denominam de perspectiva holística. Segundo, padrões

são uma função das ideias, crenças, e valores - os componentes de um "esquema

interpretativo" (RANSON; HININGS; GREENWOOD, 1980) - que estão embutidos

em estruturas organizacionais e sistemas. Um arquétipo é, assim, um conjunto de

estruturas e sistemas que reflete um único esquema interpretativo.

A definição de arquétipos como forma de classificar o ambiente

organizacional prosseguiu paralelamente ao estudo de mudança organizacional. De

fato, supõe-se que arquétipos são importantes para entender mudanças. As

dinâmicas desse processo, no entanto, são bastante complexas, principalmente

tratando-se de mudanças que envolvem toda a organização, quando há o

movimento de um arquétipo a outro (GREENWOOD; HININGS, 1993).

Segundo Lammers (1978), o desenvolvimento de interesse na definição de

arquétipos, subsidiado pelo interesse nos processos de mudança das organizações,

4Arquétipos: modelo ou padrão passível de ser reproduzido em simulacros ou objetos semelhantes;

ideia que serve de base para a classificação dos objetos sensíveis. Derivação: por extensão de sentido: qualquer modelo, tipo, paradigma. Rubrica: psicologia; para C. G. Jung (1875-1961), conteúdo imagístico e simbólico do inconsciente coletivo, compartilhado por toda a humanidade, evidenciável nos mitos e lendas de um povo ou no imaginário individual, esp. em sonhos, delírios, manifestações artísticas etc.; imagem primordial (HOUAISS, 2008).

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representa um retorno a um impulso central de teoria de organização, que é a

necessidade entender a diversidade de organizações por tipologias.

Nas palavras de Greenwood e Hinings (1993):

O conceito de um arquétipo encerra alguma forma de classificação. A ideia de coerência entre os elementos de arranjos organizacionais é central a tipologias, e a classificação de organizações é feita de acordo com diferenças e semelhanças em padrões gerais (GREENWOOD; HININGS, 1993, p. 1.053, tradução nossa).

Arquétipos são o que McKinney (1966) chamou de um "tipo construído", um

propósito, uma seleção planejada, a abstração, combinação, e (às vezes)

acentuação de um conjunto de critérios que serve como uma base para comparação

de casos empíricos.

Descobrir padrões de organização, no entanto, envolve duas tarefas: primeiro,

definição dos elementos que compõem a dinâmica organizacional; segundo,

resolução de como reconhecer e interpretar um padrão nesses elementos para

definir um arquétipo da organização (GREENWOOD; HININGS, 1993).

A ideia central do estudo dos autores é de que as combinações

organizacionais são melhor compreendidas como um conjunto completo, ou um

todo, do que coleções de elementos distintos. O conjunto de ideias, crenças e

valores formam os elementos que compõem esse conjunto completo ou os padrões

gerais da organização. Um conjunto de estruturas e sistemas congruente com um

esquema interpretativo constitui um arquétipo.

Nas palavras de Greenwood e Hinings (1993), delinear elementos de projeto

de organização vai de encontro ao conceito inicial de que:

“[..] estrutura e sistemas de gerência são melhor entendidos em termos de padrões gerais do que por análise de conjuntos isolados de propriedades de organização, pelo fato de que estes padrões permitem a comparação entre diferentes organizações, seja por similaridade ou divergências” GREENWOOD; HININGS, 1993, p. 1.055, tradução nossa). .

Mas, segundo os autores, um problema central dentro do conceito de arquétipo é

como descobrir padrões coerentes de se organizar.

Mintzberg (1979, 1983) é outro autor que cria uma tipologia para facilitar a

compreensão de padrões organizacionais. Ele definiu cinco tipos de organizações

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por uma combinação de dedução analítica e uma extensa, embora seletiva, síntese

de pesquisa existente – estrutura simples, burocracia mecanizada, burocracia

profissional, forma divisionalizada e adhocracia.

No entanto, segundo o autor, tais estruturas representam unicamente

modelos de orientação e explanação de características, pois muito dificilmente se

encontrará uma organização com uma estrutura “pura”. Isso se deve à complexidade

interna e externa que envolve as organizações.

Segundo Greenwood e Hinings (1993), para realizar a identificação e

classificação de arquétipos e elaborar uma tipologia, é necessária a identificação do

esquema interpretativo e a maneira como que este relaciona atributos estruturais e

processos.

Conforme mencionado anteriormente, o padrão de conduta e operação de

organização é função de um esquema interpretativo subjacente, ou um conjunto de

crenças e valores, embutido nas estruturas da organização e sistemas. “Um

arquétipo é assim um conjunto de estruturas e sistemas que coerentemente

abrangem um único esquema interpretativo” (GREENWOOD; HININGS, 1993, p.

1.053, tradução nossa).

Definir um arquétipo exige dois passos. Primeiro, os esquemas interpretativos

subjacentes dentro de um setor institucional têm que ser isolados, aqueles que não

condizem com o contexto central e que provocam divergências ao se discutir um

sistema de classificação geral, ou seja, buscam-se esquemas interpretativos que

permitem um forte consenso. Segundo, as estruturas e processos destes esquemas

interpretativos têm que ser descobertos (GREENWOOD; HININGS, 1993).

O modelo conceitual proposto por McLaughlin, Bessant e Smart (2005),

baseado no conceito de arquétipos de Greenwood e Hinings (1993), parte da

identificação e definição de nove temas centrais. Esses temas emergiram a partir de

um processo indutivo no qual os pesquisadores continuamente refinaram o seu

sentido, através de um processo de validação, com a realização de grupos de foco,

com equipes de desenvolvimento das empresas pesquisadas. Eles representam

aspectos relacionados à cultura organizacional, com base no modelo proposto por

Schein (2004), e estão diretamente associados como facilitadores para a inovação

radical.

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Para se chegar nos nove temas ou elementos centrais, os autores partiram de

metodologia baseada em pesquisa de campo com os equipes de desenvolvimento

de pequenas e médias organizações da indústria de tabaco do Reino Unido e

pesquisa-ação com foco em questões para verificar a presença e intensidade de

atributos culturais que podem facilitar ou inibir a inovação radical.

O método utilizado para se identificarem as características da cultura

organizacional foi estabelecer uma questão para atrair a atenção dos membros para

um determinado evento ou ação específica.

Conforme relatado anteriormente, as manifestações mais visíveis da cultura

são artefatos, mais fáceis de visualizar e difíceis de decifrar. Os valores e

pressupostos básicos tendem a permanecer escondidos (SCHEIN, 2004).

Segundo os autores, o foco numa questão permitiu emergir os componentes

ocultos da cultura. Isto foi obtido solicitando aos membros das equipes de

desenvolvimento que discutissem exemplos de mais ou menos sucesso em

inovações radicais.

Segundo os autores, dois softwares foram utilizados para se fazerem a

organização, classificação e análise dos dados. O Decision Explorer foi utilizado

para desenhar os mapas cognitivos. Ele apresenta os construtos e relações entre os

mesmos, representando um significado de explanação e consequência.

O outro software, o Nvivo, facilitou a análise dos dados qualitativos. Ele

permite a codificação e subsequente análise dos atributos de uma série de

documentos. Após a identificação dos aspectos culturais que exerciam influência nas

inovações radicais de produtos, foi realizada uma entrevista de acompanhamento

com cada participante.

A primeira análise produziu 58 categorias de dados que influenciavam nas

inovações radicais. Com o objetivo de validar e refinar esses dados, foi realizada

uma série de quatro grupos de foco, e com isto, através de um processo de

agregação de temas por similaridade, chegou-se nos nove temas ou elementos

centrais que representam aspectos da cultura organizacional, que, nas conclusões

dos autores, estão positivamente associados com as inovações radicais.

Os temas centrais definidos pelo autores, depois da agregação para definir os

arquétipos, foram: (1) a estrutura da organização; (2) a confiança externa; (3) a

clareza dos objetivos; (4) a constituição das equipes; (5) a perspectiva externa; (6) a

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liberdade de ação; (7) a atitude perante o risco; (8) a confiança interna; e (9) o

crescimento e desenvolvimento.

Vale ressaltar que o universo dos temas foi obtido através de entrevistas e

seminários com profissionais responsáveis pelo desenvolvimento de novos produtos

ou com pessoas de departamentos envolvidos nos processos de inovação da

pequena e média indústria de tabaco da Inglaterra.

O primeiro tema, estrutura da organização, está relacionado ao estilo de

gestão e recursos disponibilizados para o desenvolvimento de novos produtos. A

confiança externa, segundo dos nove temas, representa a percepção que outros

grupos da organização têm sobre o time de desenvolvimento, em particular a

percepção da alta gestão. O terceiro tema - clareza de objetivos - está vinculado à

existência de objetivos claros e bem definidos para o time de especialistas, e metas

rígidas durante o tempo de desenvolvimento de um projeto, normalmente

estabelecidos pela alta direção. A constituição das equipes representa, como

quarto tema, o arranjo interno de organização do grupos de trabalho. A perspectiva

externa, quinto tema, representa a ideia de como o grupo se relaciona com o

ambiente externo à organização. O sexto tema, liberdade de ação, está relacionado

à autonomia conferida ao grupo para o desenvolvimento de inovações. A atitude

perante o risco, como sétimo dos nove temas, refere-se à atitude do grupo ao

assumir riscos. A confiança interna representa o oitavo tema e está associada à

coesão do grupo e confiança nos pares para resolver os problemas. Por fim, o

crescimento e desenvolvimento refere-se à forma como o grupo adquire

conhecimentos e experiência e à exploração de potenciais soluções.

(MCLAUGHLIN; BESSANT; SMART, 2005, grifo nosso).

Os temas e suas relações foram mapeados pelos pesquisadores,

demonstrando que um tema posto na parte inferior exerce influência sobre outro na

parte superior, como por exemplo a atitude perante o risco é influenciada pela

confiança interna e externa, a liberdade de ação e o crescimento e desenvolvimento.

Este último, por sua vez, é influenciado pela constituição das equipes e perspectiva

externa.

Os temas também foram categorizados como artefatos ou valores, com base

no modelo de Schein (2004). O mapa é apresentado na FIG. 9, sendo que temas

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apresentados em elipse representam valores, e os temas postos em retângulo

representam artefatos.

FIGURA 9 - Mapa das relações entre temas, baseado no modelo de Schein (2004) Fonte: McLaughlin, Bessant e Smart (2005, p. 17).

Apesar dos autores não detalharem a classificação dos temas em valores e

artefatos, eles dão indicativos de que a constituição das equipes, por exemplo, que é

classificada como um artefato, pode ser identificada através de elementos visíveis,

como organograma, dados do grupo, como escolaridade e experiência, e padrões de

comportamento, da mesma forma que outros temas estão intrinsecamente ligados a

valores compartilhados pela organização, como a atitude do grupo perante o risco.

Dessa forma, McLaughlin, Bessant e Smart (2005), baseando-se nos nove

temas derivados de suas pesquisas sobre cultura organizacional e tipos de

inovação, bem como no conceito dos arquétipos de Grenwood e Hinings (1993),

propuseram o modelo do tipo I e tipo II de arquétipos. Eles descrevem uma posição

ideal para dois arquétipos organizacionais em conformidade com os nove temas, o

que é apresentado no Quadro 3.

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ARQUETIPOS

Tipo I Tipo II

Temas que compõem a dinâmica organizacional

Incremental “Fazer melhor”

Manter

Radical “Fazer diferente”

Explorar

Liberdade de Ação

Desnecessária, já que sistemas e procedimentos podem ser utilizados para controlar a melhoria contínua, em que a mesma é encorajada e recompensada.

Necessária para permitir o pensamento fluir para o além do habitual. Exploração e descoberta são parte de como as coisas são feitas.

Atitude perante o risco

O risco é minimizado ou evitado. Processos ou procedimentos subseqüentes asseguram a existência do mínimo de exposição à incerteza.

Assumir riscos é encorajado. A incerteza é considerada parte do ambiente e para as novas descobertas é aceitável arriscar.

Crescimento/ Desenvolvi-mento

Desnecessário para atividades de melhoria continua. Podem retardar os procedimentos que estão sendo seguidos.

Um desejo de crescimento e desenvolvimento das habilidades e conhecimento do grupo. Um apetite por saber mais e saber o porquê.

Confiança externa

As melhorias incrementais são geradas e controladas dentro do grupo e não são afetadas pela percepção externa.

A confiança externa suporta a habilidade do grupo em fazer diferente e perseguir inovações radicais.

Confiança interna

A confiança é baseada na crença de seguir o sistema ou trabalhar numa especificação definida levara a melhorias incrementais. Os membros do grupo são componentes do sistema.

A confiança entre os membros do grupo é o que os possibilita chegar a inovações radicais. Os membros do grupo são unidades autônomas que acreditam que podem fazer de forma diferente.

Perspectiva externa

Alguma relevância com a comparação externa, no entanto, a tendência do grupo é estabelecer um objetivo a ser atingido. Ela reforça a mentalidade de “fazer melhor” do grupo.

Essencial para promover perspectivas alternativas e a consciência de novas tecnologias. Impulsiona o “fazer diferente” que leva as inovações radicais.

Clareza dos objetivos

Necessários para fornecer uma meta de trabalho.

Objetivos muito específicos podem inibir a descoberta de alternativas. Objetivos não tão específicos e claramente definidos podem encorajar os questionamentos e permitir avanços no conhecimento.

Constituição das equipes

É parcialmente necessário para este grupo indivíduos que estejam dispostos a seguir os processos. A experiência tecnológica é somente necessária para aplicação de ferramentas e métodos conhecidos. Preferencialmente os membro do grupo devem ser indivíduos de mesma opinião que vão trabalhar bem em conjunto.

As equipes são constituídas por um mix de indivíduos criativos que tem experiência suficiente na área em questão e por outros capazes de pensar de forma diferente e com isto promover inovações radicais. O grupo precisa ser constituído de indivíduos capazes de lidar com um certo grau de incerteza e conflito como parte de suas atividades do dia-a-dia.

Estrutura da organização

Requer um estilo de gestão que encoraja a conformidade com regras e procedimentos. Recursos e tempo são necessários para completar as tarefas de melhoria incremental.

Requer um estilo de gestão que encoraja assumir riscos. Burocracia ou autocracia podem ser inibidores para esse grupo. Algumas restrições de recursos são necessárias para estimular a criatividade.

QUADRO 3 - Arquétipos de inovação incremental e radical Fonte: McLaughlin, Bessant e Smart (2005, p. 17).

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Os nove temas apresentados podem ser identificados tanto interna como

externamente ao grupo e podem ser visíveis (artefatos) ou percebidos (valores).

Vale ressaltar que os autores ponderam que os temas não são e nem têm a intenção

de representar uma visão completa da cultura organizacional do grupo e, sim,

elementos da cultura que influenciam na tendência da empresa em promover

inovações do tipo radical ou incremental (MCLAUGHLIN; BESSANT; SMART, 2005).

As relações entre os temas na área interna e percebida (valores) do modelo

refletem a influência que os artefatos têm nos valores e vice-versa. Desta forma,

agindo um sobre o outro é que a cultura organizacional se desenvolve (HATCH,

1993).

A utilização dos arquétipos é a base para a interpretação da cultura que apoia

a inovação e permite o desenvolvimento de duas posições básicas. O tipo I

representa uma cultura que possibilita a inovação incremental. O tipo II, a inovação

radical. Os autores ressaltam que estes são tipos ideais e isto não significa que uma

organização possua as características de um tipo exclusivamente. No entanto, a

análise com base nos arquétipos estabelece um ponto de referência no qual

qualquer processo ou atividade de mudança pode ser direcionado de forma a facilitar

a adoção de características desejadas para promover a inovação incremental ou

radical (MCLAUGHLIN; BESSANT; SMART, 2005).

A transição entre os arquétipos tem sua compreensão facilitada utilizando-se

o modelo de Schein (2004). A dinâmica do processo é diferente de

aperfeiçoamentos incrementais para a mudança em maior profundidade, ou seja,

radical (GREENWOOD; HININGS, 1993).

Atuando no nível dos artefatos e valores, é possível a transição entre

arquétipos, pois significa a adoção de novos valores. Na medida que um valor é

adotado como adequado, ele é introjetado pelo grupo e pode facilitar uma mudança

na cultura organizacional. Esta mudança significa a transição entre os arquétipos

(MCLAUGHLIN; BESSANT; SMART, 2005).

Em resumo, o modelo de Schein (2004) serve de guia para o gerenciamento e

monitoramento da transição entre arquétipos. Qualquer intervenção proposital com a

intenção de mudar a cultura de inovação pode ser baseada no nível dos artefatos e

valores.

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O modelo conceitual proposto por McLaughlin, Bessant e Smart (2005)

utilizando o conceito de arquétipos, conforme proposto por Greenwood e Hinnings

(1993), permite a compreensão da influência da cultura organizacional nos

processos de inovação e com isto identificar as características que compõem a

cultura da empresa e analisar a sua relação com os tipos de inovação

implementados na trajetória empresarial.

Considerando as questões relacionadas à adaptação externa e integração

interna, conforme proposto por Schein (2004), o pesquisador acrescentou ao modelo

a classificação de cada elemento, identificando se o mesmo está mais relacionado a

uma questão ligada a um processo de adaptação da organização ao ambiente –

adaptação externa - ou fatores utilizados para se obter a integração interna. O

pesquisador entendeu que essa classificação permite a melhor identificação desses

elementos dentro contexto organizacional e cultural. A FIG. 10 apresenta esta

representação.

FIGURA 10 - Mapa das relações entre temas incorporando as categorias de adaptação externa e integração interna de Schein (2004) Fonte: Elaborado pelo autor desta dissertação.

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Observa-se que os elementos - liberdade de ação, confiança interna,

crescimento e desenvolvimento e constituição de equipes - tem mais relação com os

fatores de integração interna, pois endereçam, segundo a definição de Schein

(2004), as fronteiras do grupo e critérios para inclusão de novos membros; as

estratégias para alocação de status, poder e autoridade; as ações para promover a

intimidade, amizade e relacionamentos no trabalho e os critérios para recompensa e

punição.

Já os elementos – atitude perante o risco, objetivos claros, confiança externa,

estrutura da organização e perspectiva externa – apresentam uma conexão maior

com questões da organização para promover a adaptação externa, endereçando,

conforme Schein (2004), a missão, funções e tarefas primordiais da organização

perante o seu ambiente; os objetivos específicos a serem atingidos pela

organização; os métodos a serem utilizados para acompanhar a realização dos

objetivos; os critérios definidos para medir resultados; as estratégias emergenciais

ou corretivas a serem adotadas caso os objetivos não estejam sendo alcançados.

Considerando ainda as questões relacionadas à influência da cultura

nacional, em especial a cultura brasileira para a cultura organizacional, o

pesquisador destaca os fatores, em complemento ao modelo conceitual de

McLaughlin, Bessant e Smart (2005), conforme sistema de ação cultural proposto

por Tanure (2007), que podem influenciar de forma positiva ou negativa nos

elementos que compõem a dinâmica organizacional, conforme FIG. 11.

FIGURA 11 - Mapa das relações entre temas com a influência do sistema cultural brasileiro, conforme Tanure (2007) Fonte: Elaborado pelo autor desta dissertação.

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A Concentração de poder – baseada numa estrutura fortemente hierarquizada

e de submissão – característicos da cultura brasileira (TANURE, 2007), pode exercer

influência de forma negativa nos elementos da estrutura da organização e liberdade

de ação, o que por sua vez inibe a capacidade de desenvolvimento de inovações do

tipo radical e cria uma dependência dos líderes para o seu desenvolvimento.

O Paternalismo (segundo a autora, é a combinação da concentração do poder

com o personalismo, através do qual o indivíduo se diferencia pela hierarquia e pelas

suas relações pessoais) leva a duas vertentes: o patriarcalismo, baseado na figura

do patriarca, aquele que tudo pode, e a quem os membros do grupo pedem e

obedecem, e o patrimonialismo, que é o lado hierárquico e absoluto do

paternalismo, não fazendo distinção entre o público e o privado (TANURE, 2007).

Supõe-se que tal característica da cultura brasileira também pode exercer

influência negativa sobre os elementos do modelo proposto – liberdade de ação,

estrutura da organização e constituição das equipes.

A contraparte do paternalismo é o medo de errar. Este traço também reforça a

postura de espectador e de evitar o conflito. A vontade de sempre acertar e de obter

reconhecimento pelo poder central é a origem desse traço. O medo de errar pode

estagnar a organização e ser negativo para o seu desempenho, como também pode

ser manejado pela liderança no sentido da busca do seu aperfeiçoamento e

superação (TANURE, 2007).

Com isto, essa característica pode exercer uma influência negativa nos

elementos liberdade de ação e atitude perante o risco, e positiva com relação ao

elemento crescimento e desenvolvimento do grupo. Quando bem manejada, supõe-

se que exerça influência positiva sobre a perspectiva externa da organização.

A concentração do poder e o paternalismo induzem a uma postura do

espectador, segundo Tanure (2007). São traços culturais típicos da postura do

espectador: o mutismo, a baixa consciência crítica, baixa iniciativa, pequena

capacidade de realização e tendência a transferir responsabilidades sobre

dificuldades para as lideranças. Com esses traços, acredita-se que a liberdade de

ação fique também comprometida.

A ambiguidade é apresentada no sentido de uma aceitação aparente das

normas e regras estabelecidas, mas com uma prática distorcida, apoiada em outros

procedimentos programados para burlar essas normas. Na realidade, existe um

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hiato entre a norma e o fato, que caracteriza a ambiguidade (TANURE, 2007).

Supõe-se que a ambiguidade pode afetar de forma negativa os elementos

relacionados à confiança externa e interna, como também os objetivos que deveriam

ser claros.

A lealdade contribui para sedimentar a coesão social no Brasil que, segunda a

autora, é muito marcada por esse traço cultural. O membro do grupo valoriza mais

sua lealdade ao líder e aos outros membros do grupo do que às causas, obrigações

e responsabilidades perante o próprio grupo (TANURE, 2007). Na perspectiva do

pesquisador, essa característica pode contribuir de forma positiva para a confiança

externa e interna.

Já a característica de evitar conflito – a relação entre pessoas, em situação de

desigualdade de poder que evitam o confronto e o debate direto -, segundo a autora,

tende a criar um certo grau de alienação, baixa motivação e consequente

passividade, e baixa capacidade de iniciativa. Essa mesma desigualdade de poder e

forte dependência podem representar uma fonte permanente de conflito, que, no

caso brasileiro, é tratado pelo recurso de relações pessoais de intermediação

(triangulação) entre líderes e liderados, buscando uma permanente conciliação de

conflitos. Com isto, supõe-se que a liberdade de ação fique comprometida.

A flexibilidade, segundo Tanure (2007), representa uma categoria que pode

ser analisada sob dois enfoques: Adaptabilidade e Criatividade. A Adaptabilidade é

uma capacidade criativa que se exercita dentro de limites pré-fixados. Este contorno

restritivo é o processo que decorre às regras e normas do subsistema institucional. A

Criatividade é essencial para a inovação. Ocorre, fundamentalmente, em ambientes

organizacionais onde há liberdade de expressão e com isto o pesquisador supõe

que a flexibilidade pode exercer uma influência positiva na atitude do grupo perante

os riscos.

Realizando-se a junção de todos esses elementos, traços e características da

cultura brasileira (TANURE, 2007) com o modelo conceitual proposto por

McLaughlin, Bessant e Smart (2005), acredita-se que este modelo possa orientar a

análise e compreensão das características culturais de uma determinada

organização brasileira e suas relações com a inovação.

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3 METODOLOGIA DE PESQUISA

Neste capítulo, será apresentada a metodologia de pesquisa utilizada para

elaboração do trabalho. A primeira seção apresenta a estratégia, tipo e método de

pesquisa utilizado. Em seguida, são caracterizados o objeto de pesquisa e os

critérios utilizados para a sua escolha. Por último, são explanados os instrumentos

que foram empregados para a coleta de dados, bem como a maneira como os dados

foram analisados.

3.1 Estratégia, tipo e método de pesquisa

A estratégia adotada para a realização da pesquisa foi a qualitativa, pois

entendeu-se que ser a mais adequada ao problema de pesquisa, que visa identificar

os elementos que compõem a cultura da organização pesquisada, analisando-se a

sua relação com os processos de inovação implementados na empresa. Vale

ressaltar que o pesquisador encontrou poucos estudos relacionando diretamente

com os dois temas – cultura organizacional e inovação -, e não encontrou nenhum

estudo realizado por outros pesquisadores brasileiros.

Dentre as pesquisas encontradas que discutem a relação entre os temas –

cultura organizacional e inovação -, destaca-se o estudo de Mclaughin, Bessant e

Smart (2005). Os autores utilizaram uma abordagem qualitativa, com participação

ativa dos pesquisadores, através da realização de grupos de foco, com as equipes

de pesquisa e desenvolvimento das indústrias de tabaco de médio e pequeno porte

do Reino Unido. Com o objetivo de refinar e agrupar os temas, através da

elaboração de mapas mentais, utilizaram-se os softwares Decision Explorer e Nvivo

para a análise qualitativa dos dados obtidos nas discussões em grupo, realizadas

com os representantes das empresas.

A partir dos dados, os autores destacaram a importância de se estabelecer

uma tipologia de organizações para que pudessem elaborar um esquema

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interpretativo, através de temas, e com isto caracterizar a tendência de uma

determinada organização para promover inovações do tipo incremental ou radical.

Para o estabelecimento de uma tipologia, utilizaram-se do conceito de arquétipos,

conforme proposição de Greenwood e Hinings (1993).

Estes autores, por sua vez, utilizaram-se de uma combinação de métodos

para a verificação de suas hipóteses de pesquisas relacionadas ao estabelecimento

de um esquema interpretativo de organizações baseado na definição de arquétipos.

A estratégia de pesquisa de Greenwood e Hinings (1993) resumiu-se em: (1) análise

documental para a identificação de esquemas interpretativos dentro de um setor

institucional; (2) entrevistas semi-estruturadas com gerentes seniores de

aproximadamente 100 organizações; (3) análise documental da população de

organizações do setor, produzindo amostra de 24 organizações; (4) questionário

estruturado dirigido para essa amostragem; (5) análise documental de organizações

específicas; (6) análise de pesquisa acadêmica; (7) análise longitudinal de

organizações específicas; (8) entrevistas semiestruturadas com acadêmicos e

diretores, que eram membros proeminentes da comunidade em estudo; (9)

questionário estruturado para validação final. Assim, através desta combinação de

métodos, a validação final foi obtida, e estabelecidos dois arquétipos, ou tipos, que

competem entre si.

Entende-se que, na pesquisa qualitativa, o pressuposto é obter dados sobre

pessoas, lugares e processos, o que inclui o contato direto do pesquisador com a

situação estudada, considerando sempre a perspectiva dos participantes da situação

em estudo (GODOY, 1995a).

Para Bonoma (1985), o uso da pesquisa qualitativa pode favorecer o estudo

de variáveis intangíveis, mas com possível relação ou conexão, com poucos dados

ou teorias disponíveis a respeito de um determinado fenômeno e que necessitam ser

identificadas dentro de um contexto social. A pesquisa qualitativa permite explorar

com profundidade o impacto das variáveis estudadas, considerando “[...] o principal

ou mesmo o único artifício de conhecimento válido aberto a cientistas cujos

interesses estão focados no comportamento humano” (BONOMA, 1985, p. 5).

Tal metodologia é considerada também a melhor estratégia para descobrir e

explorar novas áreas do conhecimento, como também possibilitar o desenvolvimento

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de hipóteses. Ademais, é uma forma indicada para permitir reinterpretar e ampliar

um estudo com base em informações quantitativas (MILLER, HUBERMAN, 1994).

Considerando, então, a existência de duas variáveis intangíveis e

potencialmente relacionadas - elementos culturais presentes na organização e os

tipos de inovação - e ainda possíveis elementos de cultura nacional influenciando

diretamente nesse contexto, entendeu-se que a pesquisa qualitativa melhor se

aplicaria a este estudo, pois os processos desse fenômeno, no caso, pareciam estar

diretamente condicionados.

Destacam-se as principais características que nortearam o estudo, a saber:

(a) compreensão dos significados que as pessoas têm do seu mundo e de suas

experiências; (b) o processo que foi basicamente indutivo; (c) a descrição dos relatos

de maneira detalhada; (d) o fato de ter sido o pesquisador o principal instrumento de

coleta e análise de dados (GODOY, 1995c).

Buscou-se, assim, explorar o objeto de estudo em profundidade, com base no

modelo conceitual proposto por McLaughlin, Bessant e Smart (2005) para o

entendimento da cultura de inovação, que é baseado nas definições de Schein

(2004) sobre cultura organizacional e considerando a influência da cultura brasileira,

conforme sistema de ação cultural desenvolvido por Tanure (2007).

Vale ressaltar que o pesquisador não seguiu os mesmos passos de pesquisa

propostos por McLaughlin, Bessant e Smart (2005), mas utilizou-se do modelo

teórico desenvolvido por esses autores. Conjugou-se a este modelo, o de

Christensen (2003), para identificação dos tipos de inovação.

A tipologia baseada nos arquétipos de Greenwood e Hinnings (1993) para

caracterização das organizações permitiu categorizar dois tipos de organização. A

primeira, com tendência para o desenvolvimento de inovações do tipo incremental; a

segunda, com tendência para o estabelecimento de inovações do tipo radical, o que

facilitou a análise e entendimento da organização e de suas características culturais,

e sua relação com os processos de inovação.

Com isto, entendeu-se que, utilizando-se a pesquisa qualitativa, obteve-se um

guia para ser validado em futuros projetos e estudos por meio da realização de

estudos quantitativos (BONOMA, 1985; GODOY, 1995b; EISENHARDT, 1989; YIN,

1994).

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O enfoque empregado foi do tipo exploratório, em que, por meio do referencial

teórico elaborado, fez-se a codificação, classificação e a categorização dos dados a

serem analisados, o que encontra-se detalhado nos itens estratégia de coleta e

análise. Neste movimento de teoria para os dados e vice-versa, as categorias foram

evidenciadas de maneira mais clara (BARDIN, 1977). O caráter exploratório da

pesquisa permitiu maior flexibilidade na pesquisa e na adoção do modelo aberto,

onde as categorias foram tomando forma no decorrer do processo de análise

(LAVILLE; DIONNE, 1999).

O método de pesquisa utilizado foi o estudo de caso, baseado no exame em

profundidade do objeto empírico, a fim de prover o seu mais amplo e completo

entendimento (EISENHARDT, 1989; GREENWOOD, 1973; GODOY, 1995b;

GOODE; HATT, 1973; SELLTIZ et al, 1963; SOY, 1998; YIN, 1994). Godoy (1995b),

ao apresentar a pesquisa qualitativa e seus tipos fundamentais, defende que o

estudo de caso – análise de uma unidade em profundidade - é o método adequado

para o entendimento de fenômenos sociais.

É preciso enfatizar que, em estudos de casos, o objetivo não é enumerar ou

quantificar, mas descrever, classificar (tipos), desenvolver uma teoria e verificar os

limites dessa teoria (BONOMA, 1985). Os estudos têm também o intento de explorar

e descobrir problemáticas novas, renovar visões existentes ou sugerir novas

hipóteses, preparando assim o caminho para outras pesquisas (BRUYNE; HERMAN;

SCHOUTHEETE, 1977). Essa dimensão de profundidade permitida pelo estudo de

caso possibilita hipóteses úteis para um completo estudo do caso a posteriori

(GOODE; HATT, 1973).

Quando o estudo de caso visa explicar um fenômeno, utiliza-se a técnica de

se construirem explanações, que consiste de: (a) uma visão acurada dos fatos do

caso; (b) algumas considerações ou explanações alternativas destes fatos; e (c) uma

conclusão baseada numa explicação que se mostre congruente com os fatos. Essa

técnica não possui uma receita fixa e pode ser comparada a um trabalho de um

detetive investigando um crime (YIN, 1994).

Yin (1994) enumera as justificativas para escolha do método do estudo de

caso ao ressaltar que essa é a estratégia adequada quando questões do tipo “como”

e “por que” são apresentadas, há pouco controle sobre os fatos e eventos, tratam-se

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de problemas contemporâneos, e a pesquisa é realizada no contexto dos eventos e

nas condições em que o fenômeno se apresenta.

3.2 Unidade Empírica

Um estudo de caso considera como objetos de análise pessoas, situações

específicas, programas ou organizações. As possibilidades a serem estudadas e a

complexidade do estudo estão relacionadas a questões políticas, sociais, históricas

e pessoais dos objetos de análise. Conforme mencionado, o estudo de caso com

análise qualitativa visa investigar em profundidade, utilizando-se de vários métodos

de coleta de dados, evidências que permitam a compreensão do caso e respostas

aos problemas de pesquisa (GODOY, 1995b; SOY, 1997).

O estudo de caso realizado neste trabalho foi de uma organização do setor de

comércio farmacêutico de Belo Horizonte - a Drogaria Araujo. Por se tratar de um

caso único, este estudo, conforme já mencionado, teve por objetivo geral analisar a

relação entre cultura organizacional e tipos de inovação (BRUYNE; HERMAN;

SCHOUTHEETE, 1977).

Desde a sua fundação em 1906, a Drogaria Araujo S.A. é uma empresa que

apresenta um crescimento tanto em lojas quanto em faturamento. No início, era

apenas uma loja localizada na Praça Rio Branco, centro de Belo Horizonte.

Atualmente está presente em quase todos os bairros, e ainda nas cidades de Betim,

Nova Lima, Contagem, Santa Luzia, Lagoa Santa e Sabará.

Com mais de 100 anos de existência, a Drogaria Araujo possui mais de 85

lojas na grande Belo Horizonte, 3.500 funcionários, 27 lojas 24 horas, e atende a

mais de dois milhões de clientes por mês. Atualmente, é administrada pela terceira e

quarta gerações de seu fundador (DROGARIA ARAUJO, 2008).

Em 1927, a Araujo iniciou o serviço de entrega em domicílio em automóveis.

Em 1933, sua loja-matriz passou a funcionar 24 horas, sendo o primeiro plantão

noturno da cidade. Em 1963, o serviço de entrega em domicílio Drogatel Araujo

funcionava 24 horas e foi o primeiro serviço de telemarketing do Brasil. E, no final da

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década de 90, inaugurada no bairro Cidade Nova, Região Nordeste da capital, a

primeira drogaria do país com serviço de atendimento Drive Thru5 (DROGARIA

ARAUJO, 2008).

Na falta de qualquer medicamento, a Central de Atendimento ao Cliente se

compromete a encontrá-lo em qualquer parte do Brasil ou até no exterior. O cliente

Araujo também tem, a sua disposição, a Farmácia de Manipulação Araujo, que

possui dois laboratórios (DROGARIA ARAUJO, 2008).

Além do comércio varejista de medicamentos, a Drogaria Araujo, desde a sua

fundação, comercializava produtos para a conveniência de seus clientes, como leite

condensado, coalho e soda cáustica, mostrando sua vocação para o conceito do

Drugstore6 (BRASIL; ARRUDA, 2006).

A Drogaria Araujo é hoje referência em medicamentos no Estado. A empresa

ganhou todos os sete prêmios Top of Mind7 realizados no seu segmento. Na edição

do último ano, foi a drogaria mais lembrada por 81% dos mineiros (DROGARIA

ARAUJO, 2008).

O ritmo acelerado de crescimento verificado nos últimos anos se manteve. A

empresa fechou o ano de 2007 com um aumento de 25% no faturamento em relação

ao ano de 2006, atingindo 490 milhões de reais. O ranking da Associação Brasileira

de Redes de Farmácias e Drogarias (ABRAFARMA) classificou a Araujo como a

primeira rede do Brasil em faturamento por loja em 2007, o que atesta a alta

produtividade da empresa (DROGARIA ARAUJO, 2008).

Os motivos da escolha da realização desta pesquisa, através do método do

estudo de caso, tendo como unidade empírica a Drogaria Araujo, remeteram à

definição da problemática e dos objetivos desta pesquisa. Supôs-se que,

primeiramente pelo propósito teórico da pesquisa, pela longevidade da organização,

pelos relatos disponíveis de suas ações e também pela familiaridade do pesquisador

com o objeto de pesquisa, a mesma oferecia terreno fértil para o entendimento em

profundidade da relação entre cultura organizacional e inovação. Assim, entendeu-

se que a definição do objeto de pesquisa “deve ser uma construção, definida em

5 Sistema de atendimento em que as vendas são realizadas por uma janela, enquanto os clientes

permanecem dentro do veiculo (DICTIONARY, 2004, tradução nossa). 6 Drogaria, farmácia, que vende ao mesmo tempo cosméticos, revistas, balas, sorvetes etc

(MICHAELIS, 2008). 7 Prêmio organizado e promovido pela Revista Mercado Comum.

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termos que são mais úteis para o problema de pesquisa” (GOODE; HATT, 1972, p.

423).

Desta forma, considerou-se oportuna a escolha da Drogaria Araujo como

unidade empírica de pesquisa, A possibilidade de coleta de uma variedade de

dados, em diferentes momentos, por meio de múltiplas fontes de informações e de

diferentes técnicas, pode-se analisar intensivamente esta unidade social. Os

resultados obtidos deverão permitir uma análise comparativa de caso futura com

maior efetividade (EISENHARDT, 1989; GODOY, 1995).

Pode-se considerar também a possibilidade futura de validação do modelo

conceitual proposto, com a realização de mais pesquisas em outras organizações

com realidades diferentes. Isto permitirá realizar, nas análises futuras, o processo de

triangulação de informações, identificando-se fatores culturais que facilitam ou

dificultam o desenvolvimento das inovações nas organizações.

Para a realização das entrevistas, o pesquisador primeiramente, fez contato,

em maio de 2008, com o Gerente de Tecnologia da Informação, pessoa de seu

relacionamento mais próximo, dentro da organização, com o intuito de obter a

aprovação para a realização da pesquisa na empresa.

Enquanto aguardava a autorização para a realização das entrevistas, buscou-

se coletar o máximo de informações sobre a organização, por meio de consulta a

sites na Internet e de um caso de ensino elaborado anteriormente sobre a

organização pelos pesquisadores Carlos Arruda e Haroldo Vinagre, da Fundação

Dom Cabral.

Após uma conversa com o pesquisador Carlos Arruda, soube-se da existência

de um projeto de um livro que estava sendo escrito pela pesquisadora Nísia

Werneck, também da Fundação Dom Cabral, com lançamento previsto por ocasião

do centenário da empresa. O pesquisador aguardou o momento oportuno para

solicitar a autorização de acesso a esse material, já que ele não havia sido publicado

ainda.

Esse primeiro momento foi fundamental para que o pesquisador coletasse

informações preliminares e fizesse uma preparação adequada para a realização da

fase das entrevistas.

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Em setembro de 2008, após a aprovação do seu projeto de pesquisa, foi

realizado o contato diretamente com a secretária do presidente da organização, com

explicações sobre o objetivo da pesquisa e o que seria demandado da empresa.

Em paralelo a esta ação, foi enviada, por e-mail, correspondência para o

presidente, explicando sucintamente os objetivos da pesquisa, solicitando

autorização para a sua realização, estabelecendo regras de confidencialidade e as

oportunidades para a organização decorrentes deste estudo.

Em outubro de 2008, o pesquisar fez contato com o gerente de Programas do

MBA da Fundação Dom Cabral, Sr. Afonso Cozzi, solicitando seu apoio e

intermediação ao presidente da Drogaria Araujo.

O gerente do MBA intercedeu então junto ao presidente, explicando os

objetivos para a realização da pesquisa de Mestrado e o que ela poderia trazer de

benefícios para a organização.

Em meados de outubro de 2008, o pesquisador recebeu a informação,

através da secretária da Presidência, de que a filha do presidente, sua assessora,

entraria em contato, após o término de suas férias, para fins de entendimento e

aprovação para a realização da pesquisa. Contudo, o presidente diretamente, em

meados de novembro, realizou uma ligação telefônica para o pesquisador.

Nesse contato, ele externou sua preocupação para a realização da pesquisa

de que determinadas informações, consideradas estratégicas para a organização,

pudessem, inadvertidamente, por meio dos resultados, facilitar a ação da

concorrência.

O pesquisador explicou que se tratava de um projeto acadêmico com

circulação predominantemente nesse meio e que as informações a serem coletadas

não iriam causar qualquer prejuízo concorrencial para a organização. Explicou que,

se caso a organização desejasse, poderia assinar termo de confidencialidade,

garantindo a omissão do nome da organização no estudo e como também de seus

dirigentes, hipótese que foi descartada e considerada desnecessária pelo

presidente.

Após este contato então, o presidente solicitou que fosse realizada uma

primeira entrevista com ele e que então, após a realização dessa entrevista, ele

indicaria quais áreas e gestores poderiam ser entrevistados, tomando como

referência as informações que fossem solicitadas pelo pesquisador.

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O pesquisador considerou oportuna a solicitação, tendo em mente que, antes

da utilização de qualquer instrumento de coleta, é desejável realizar um pré-teste ou

teste piloto para verificação da validade do instrumento, se o instrumento de coleta

consegue endereçar a problemática de pesquisa, se o entendimento do mesmo está

claro e também se o tempo é adequado para as entrevistas (SOY, 1998).

Foi elaborado, então, com base na revisão de literatura sobre cultura

organizacional e inovação, um roteiro de entrevistas semiestruturadas, direcionado

aos gestores da empresa em estudo. Esse roteiro está apresentado no APÊNDICE

A e possui 31 questões.

O roteiro de entrevista foi baseado também nos nove temas definidos no

referencial teórico, conforme modelo proposto por McLaughlin, Bessant e Smart

(2005), para o entendimento das características da cultura organizacional e sua

relação com os tipos de inovação, tendo por base os arquétipos tipo I e II.

3.3 Estratégia de coleta

A coleta de dados aconteceu durante o período de setembro/2008 a

fevereiro/2009, quando foi realizada entrevista em grupo com os três funcionários

mais antigos da organização8, última etapa da pesquisa.

Foram realizadas dez visitas na organização, sendo a primeira para explicar

os objetivos da pesquisa para o gerente de Tecnologia da Informação, oito para

realização de entrevistas, inclusive considerando a entrevista realizada com o

presidente, com duração de aproximadamente quatro horas. A última visita foi para a

realização da entrevista em grupo com os funcionários mais antigos.

O pesquisador realizou também vários contatos telefônicos e por e-mail para

fins de esclarecimento de dúvidas e validação de informações. Visitou algumas lojas

8 Por sugestão da empresa, a entrevista com os três funcionários mais antigos foi realizada no

formato “entrevista em grupo”, ou seja, numa reunião, onde o pesquisador atuou como moderador perante o grupo, direcionando as perguntas de forma que as respostas fossem livres e espontâneas, com base no roteiro de entrevistas elaborado, de forma a facilitar a participação dos funcionários, em função da disponibilidade para conseguir agendar com todos e da idade avançada dos entrevistados, o que, segundo a empresa, poderia causar um desgaste, se fosse realizada de forma individual.

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da empresa com o intuito de observar elementos e símbolos visuais presentes na

organização. Pôde contar ainda com a familiaridade conquistada por ter sido

prestador de serviços por mais de dez anos para a empresa.

Em resumo, as informações para a pesquisa foram obtidas através das

entrevistas e entrevista em grupo, observação, material documental e institucional

cedidos pela empresa e por meio de consulta a sites disponíveis na Internet.

Sendo assim, foram utilizadas quatro técnicas de coletas de dados: (a) a

entrevista em profundidade com os diretores e os gerentes seniores; (b) entrevista

em grupo com os funcionários mais antigos da organização; (c) a pesquisa

documental no acervo construído por ocasião das comemorações do centenário da

organização e disponível em sites na Internet; e (d) a observação direta das

instalações. A coleta de dados encerrou-se, após a realização da entrevista em

grupo, quando o pesquisador constatou que as respostas e esclarecimentos obtidos

eram suficientes para a análise do caso e dos objetivos de pesquisa, não se

justificando ampliar o número de entrevistas.

A observação direta não participante das instalações da empresa, lojas e

respectivos artefatos foi realizada ao longo de toda a coleta, procurando-se

acrescentar maiores subsídios à pesquisa.

Neste sentido, foram observados mobiliários, adornos, lay-out, sinalização,

eventos e/ou comportamentos, em que o pesquisador atuou como observador,

sempre atento aos objetivos da pesquisa, fazendo registros por meio de anotações

escritas, combinando com perguntas curtas e rápidas, em tom informal (GODOY,

1995c).

O estudo de caso gera uma grande quantidade de dados de fontes diversas -

entrevistas, entrevista em grupo e documentos. Desta forma, a sistematização do

processo de coleta foi importante para evitar que o sentido da pesquisa inicial se

perdesse. A categorização, classificação e armazenamento dos dados coletados

num banco de dados textual foram fundamentais para o processo de análise (SOY,

1998).

Nestes termos, as informações foram agrupadas em três categorias,

relacionando respectivos objetivos e questões relacionadas do roteiro de entrevista

elaborado, para facilitar o processo de análise de dados, conforme o Quadro 4:

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Categorias Centrais Objetivo Questões do roteiro de referência

Descrição e análise da cultura organizacional

Identificar as questões de adaptação externa e integração interna presentes na

organização, considerando também os artefatos, valores e pressupostos básicos existentes na empresa (SCHEIN,2004),

identificar os valores, heróis, rituais e símbolos, permeados pelas práticas, conforme

modelo proposto por Hofstede (1991) e por último, verificar característica da cultura

brasileira presente na organização, conforme modelo de sistema de ação cultural definido

por Tanure (2007).

1 a 23.

Descrição e análise dos processos de inovação

Identificar como seu deu o histórico das inovações da organização, identificando os

tipos de inovação predominantes no contexto atual e passado da organização

(CHRISTENSEN, 2003).

24 a 30.

Relacionamento entre os elementos da cultura

organizacional e os tipos de inovação

Identificar os temas, conforme modelo proposto por McLaughlin, Bessant e Smart

(2005) que compõem a dinâmica organizacional, oriundos dos fomentadores

dos processos de inovação e sua relação com os tipos de inovação e questões de adaptação

externa ou integração interna. Verificar a influência dos elementos da cultura brasileira

definidos por Tanure (2007), conforme modelo proposto pelo pesquisador.

9 a 20 e 24 a 30.

QUADRO 4 – Resumo da estratégia de coleta de dados Fonte: Elaborado pelo autor da dissertação.

A entrevista com o presidente teve a duração de aproximadamente quatro

horas, sendo uma hora e quarenta e quatro minutos gravada e transcrita

posteriormente. O presidente foi bastante receptivo durante a entrevista,

possibilitando ao pesquisador explicar detalhadamente os passos e objetivos da

pesquisa. Também não colocou nenhum empecilho para que a entrevista pudesse

ser gravada, permitindo ao pesquisador concentrar-se totalmente em sua condução.

Mesmo considerando o roteiro de entrevista elaborado previamente, o

pesquisador preferiu permitir que a entrevista transcorresse naturalmente, deixando

o entrevistado livre para expor as suas ideias na ordem que bem entendesse,

realizando intervenções para resgatar o roteiro original somente quando necessário.

Essa estratégia permitiu que a entrevista fluísse, como também possibilitou

um maior engajamento e entrosamento entre entrevistador e entrevistado. O

pesquisador considerou previamente esta abordagem para a execução da

entrevista.

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Após a realização da entrevista, o pesquisador e o presidente discorreram

sobre quais área e gestores seriam entrevistados. O presidente então indicou que

deveria ser entrevistada toda a diretoria, composta pela Assessoria da Presidência,

Diretoria Comercial e Superintendência Administrativa. Além disto, indicou os

representantes das áreas Administrativa, Tecnologia da Informação, Drogatel e

Marketing.

Os membros do Conselho de Administração, oriundos da família, foram

descartados, pois, segundo o presidente, não desempenham papel ativo na

organização.

O presidente disponibilizou-se em agendar as entrevistas, através de sua

secretária, para facilitar e agilizar o acesso aos gestores. Causou estranheza ao

pesquisador o presidente não ter incluído a Gerência de Vendas, Produtos e

Recursos Humanos.

Segundo o presidente, ele estava adotando como critério o tempo de casa.

Observou que estas pessoas recomendadas tinham grande comprometimento com a

organização, que o gerente de Vendas e Produtos era recente na empresa e o

gestor de Recursos Humanos estava em processo de contratação.

Quando questionado se não seria importante a entrevista com o gerente de

Produtos, já que o tema tratava de inovações e que esta área eventualmente poderia

ter uma participação ativa no processo, o presidente prontamente informou que a

inovação, na organização, estava centrada na pessoa dele, fato confirmado ao longo

das entrevistas. Acrescentou que a área de produtos basicamente realizava o

denominado gerenciamento de categorias dos produtos existentes e não o

desenvolvimento de novos produtos.

O pesquisador indagou ao presidente sobre um possível acesso aos

manuscritos do livro que estava sendo escrito em referência ao centenário da

organização. O presidente não considerou oportuno, pois não havia sido realizada

ainda uma revisão do texto e, desta forma, não permitiu o acesso ao livro.

Posteriormente, o pesquisador fez nova tentativa de obter uma cópia, sem sucesso.

Em função disto, a pesquisa documental ficou comprometida, pois o

pesquisador não conseguiu obter acesso ao acervo que foi construído por ocasião

do centenário da empresa, para maior compreensão dos artefatos e valores

compartilhados da organização ao longo da linha do tempo (SCHEIN, 2004).

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Por outro lado, pôde compensar esta lacuna, por meio da realização da

entrevista em grupo com os funcionários mais antigos, e com isto, conseguiu

identificar práticas adotadas ao longo dos anos, consideradas inovadoras no seu

modelo de gestão e prestação de serviços.

As pessoas escolhidas para as entrevistas foram baseadas num processo de

preferência pessoal do presidente, considerando o tempo de trabalho na

organização, mas o desenvolvimento da pesquisa não foi prejudicado, pois,

realmente, contribuíram para esclarecer os objetivos e problemas estabelecidos.

Após a realização das entrevistas, dada a recorrência da citação dos três

funcionários mais antigos por todos os entrevistados e tendo em vista a

oportunidade de enriquecimento do trabalho, o pesquisador considerou a

possibilidade de entrevistá-los. Devido à experiência de vida e vivência desses

funcionários dentro da organização, o pesquisador percebeu que eles poderiam

contribuir para o entendimento dos aspectos culturais e inovações ao longo dos

anos. Sendo assim, o pesquisador solicitou à Assessora do Presidente a

possibilidade de realização de uma entrevista em grupo com tais funcionários, o que

foi prontamente atendido.

O pesquisador seguiu para a realização da entrevista em grupo, com o

mesmo roteiro utilizado, buscando contextualizar os temas nos momentos históricos

e relevantes da organização, e com isto pôde concluir que o trabalho havia atingido

seu ponto de saturação, pois havia um grande número de respostas recorrentes

para as perguntas formuladas aos participantes da entrevista em grupo em

comparação com as respostas dos entrevistados anteriormente. A entrevista em

grupo propiciou ao pesquisador a certeza de que as informações fundamentais para

a pesquisa puderam ser coletadas através das fontes utilizadas.

As entrevistas individuais e a entrevista em grupo tiveram em média uma hora

e trinta minutos de duração, perfazendo um total de 116 páginas de texto transcritas.

Cada entrevista foi gravada, após esclarecer sobre sua destinação, e foi assumido,

com cada entrevistado, um compromisso de confidencialidade com relação às

informações prestadas.

O Quadro 5 apresenta a relação dos cargos das pessoas entrevistadas, bem

como a sua relação de parentesco com o fundador e tempo de empresa.

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Cargo do Entrevistado Parentesco Tempo de Empresa

Diretor Presidente Neto do fundador da empresa. 24 anos

Diretor Superintendente Bisneto do fundador da empresa e sobrinho do presidente atual.

25 anos

Diretor Comercial Bisneto do fundador da empresa e sobrinho do presidente atual.

15 anos

Assessora da Presidência Bisneta do fundador da empresa e filha do presidente atual.

3 anos

Gerente Administrativo - 20 anos

Gerente de Marketing - 7 anos

Gerente de Tecnologia da Informação

- 22 anos

Gerente do Drogatel - 15 anos QUADRO 5 - Relação de Diretores e Gerentes entrevistados Fonte: Elaborado pelo autor da dissertação.

A entrevista em grupo foi realizado com o Sr. Davi Oliveira, que atua hoje

como assessor da Diretoria, com 63 anos de empresa, Sra. Maria Felix, que atua no

departamento de tesouraria e Sr. Irineu Silveira, que atua no departamento de

compras, com 60 e 66 anos de casa respectivamente.

3.4 Estratégia de análise

O processo de análise constituiu-se em explorar os níveis através dos quais a

cultura da organização poderia ser aprendida, a partir dos elementos e categorias

culturais estabelecidas por autores como Schein (2004), Hofstede (1991) e Tanure

(2007). Compreendeu também entender quais deles poderiam contribuir em menor

ou maior grau para um tipo de inovação – incremental ou radical, conforme proposto

por Christensen (2003).

Visando ao entendimento da relação entre os dois conceitos – cultura

organizacional e inovação -, através de uma perspectiva mais ampla e que

integrasse os dois elementos, foi explorado o conceito de arquétipos

(GREENWOOD; HININGS, 1993), que apresenta um esquema interpretativo através

de um conjunto de estruturas e sistemas. A perspectiva de cultura organizacional

apresentada por Schein (2004) tem conformidade com esse esquema interpretativo.

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Foram utilizados dois tipos de arquétipos, conforme modelo proposto por

McLaughlin, Bessant e Smart (2005), que apresentam posições para a cultura

organizacional de acordo com cada tipo de inovação. O arquétipo tipo I tem uma

perspectiva incremental para inovação, e o tipo II utiliza a perspectiva radical.

Não houve o intuito, na pesquisa, de estabelecer comparações, o que levaria

a um estudo de caso múltiplo, mas, sim, de entender em profundidade um contexto,

bem como “a multiplicidade de dimensões presentes numa determinada situação,

uma vez que a realidade é sempre complexa” (GODOY, 1995c, p. 25).

O pesquisador realizou adaptações no modelo interpretativo de Mclaughlin,

Bessant e Smart (2005), de forma a facilitar o seu entendimento e análise dos dados

coletados, conforme mencionado no capítulo anterior. O pesquisador também não

utilizou os mesmos métodos e softwares de análise qualitativa utilizados por esses

autores, já que o conteúdo a ser analisado era menor, dispensando o uso de uma

ferramenta mais elaborada e complexa, como o Nvivo, adotado por eles.

Foi analisado o conteúdo das transcrições das entrevistas individuais e em

grupo, procurando identificar temas comuns e relacionados com as variáveis cultura

organizacional e inovação, procurando centrar-se na problemática de pesquisa.

A expectativa foi de que, a partir dos resultados, fosse possível desenvolver

algumas sugestões e recomendações para melhor entendimento da complexidade

do fenômeno e contribuir também para outras organizações que pretendam lidar

melhor com os aspectos culturais e as inter-relações com os tipos de inovação.

A técnica de análise de conteúdo foi empregada considerando os dados

obtidos, tendo em vista a complexidade que cerca os ambientes, em épocas

diferentes, buscando tornar mais perceptíveis as diferenças qualitativas que

envolvem tradições e símbolos da organização (GODOY, 1995c).

A organização e análise de todo o material obtido por meio dos documentos,

observações e entrevistas, utilizando a técnica de análise de conteúdo, possibilitou o

entendimento de que, por trás de todo discurso claro, oculta-se outro sentido, não

tão claro (LAVILLE; DIONNE, 1999). Isto permite o entendimento dos pressupostos

básicos, conforme o conceito de cultura de Schein (2004), nível não visível e não

claramente identificado.

Entende-se então a análise de conteúdo como uma ferramenta de

compreensão da construção do significado que os atores sociais imprimem nos seus

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discursos, ou seja, uma visão interpretativa da realidade sobre o ponto de vista dos

indivíduos em estudo (BERGER; LUKMAN, 1966).

Foram identificados, então, três níveis de análise para facilitar a compreensão

das relações existentes entre cultura organizacional e inovação. O pressuposto da

pesquisa é de que elementos da cultura organizacional, que podem ser influenciados

pela cultura nacional, exercem influência sobre o posicionamento da empresa com

relação aos tipos de inovação, indicando uma tendência para o desenvolvimento de

inovações do tipo incremental ou radical.

Nesses termos, o primeiro nível de análise considerado visou identificar e

caracterizar a cultura organizacional da empresa pesquisada, buscando o

entendimento de:

a) como a empresa lida atualmente e lidou no passado com as questões

de adaptação com relação ao ambiente externo, procurando identificar

como as metas e objetivos são estabelecidos e os resultados são

medidos; qual a forma de atuação da empresa frente às mudanças e

quando os objetivos não estão sendo alcançados (SCHEIN, 2004);

b) como a empresa lida atualmente e lidou no passado com as questões

relacionadas a promover a integração interna: linguagem comum,

critérios para inclusão de novos membros, alocação de status poder e

autoridade, ações para promover intimidade, amizade e

relacionamentos, critérios de recompensa e punição e estratégias

adotadas para gerenciar diferenças interpessoais (SCHEIN, 2004);

c) quais são os artefatos visíveis, valores compartilhados e pressupostos

básicos presentes na organização (SCHEIN, 2004);

d) quais são os valores, heróis, rituais e símbolos permeados pela

práticas cotidianas da organização (HOFSTEDE, 1991);

e) quais características da cultura brasileira encontram-se mais presente

no contexto da organização (TANURE, 2007).

O primeiro nível de análise permitiu identificar quais os elementos

organizacionais e gerenciais compõem a cultura da empresa pesquisada.

O segundo nível de análise visou descrever a analisar os processos de

inovação da empresa pesquisada, buscando identificar como seu deu o histórico das

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inovações da organização, identificando os tipos de inovação predominantes no

contexto atual e passado da organização (CHRISTENSEN, 2003).

Este nível de análise permitiu identificar quais as práticas podem ser

consideradas inovadoras no modelo de gestão e prestação de serviços adotados na

empresa pesquisada.

E por último, o terceiro nível de análise buscou identificar o relacionamento

entre os elementos da cultura organizacional e os tipos de inovação, através das

questões a seguir:

a) identificação dos temas presentes na organização pesquisada,

conforme modelo proposto por McLaughlin, Bessant e Smart (2005),

que compõem a dinâmica organizacional, oriundo dos fomentadores

dos processos de inovação e sua relação com os tipos de inovação e

questões de adaptação externa ou integração interna;

b) verificação da possibilidade de influência dos elementos da cultura

brasileira definidos por Tanure (2007), conforme modelo proposto pelo

pesquisador.

Este último nível de análise serviu para identificar qual a relação entre cultura

organizacional e as inovações no modelo de gestão e na prestação e serviços

implementados na empresa pesquisada. Pôde-se identificar também quais os

elementos que compõem a cultura da organização possuem alguma relação com os

tipos de inovação – incremental e radical - propostos pelos autores da área. No

próximo capítulo, será apresentada a análise de descrição dos dados.

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4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE DADOS: ESTUDO DE CASO

Neste capítulo, será apresentada e caracterizada a organização pesquisada,

a Drogaria Araujo.

Será descrita e analisada a cultura organizacional da empresa, analisando as

questões de adaptação externa e integração interna presentes na organização, bem

como os principais artefatos, valores e pressupostos básicos presentes, conforme

definições de Schein (2004). Serão analisados, além disso, os valores, heróis, rituais

e símbolos, considerando a perspectiva de Hosfstede (1991).

Serão também apresentados os principais elementos e traços característicos

da cultura brasileira identificados na organização, buscando avaliar a sua influência

no modelo de gestão da empresa.

Em seguida, serão apresentados e analisados os principais processos de

inovação da empresa, como também o histórico dessas inovações ao longo de sua

trajetória, caracterizando os tipos de inovação que foram adotados na organização.

Por último, será avaliado o relacionamento existente entre os elementos da

cultura da organização e os tipos de inovação, identificando os elementos que

compõem a cultura da organização e que apresentam alguma relação com os tipos

de inovação.

4.1 Apresentação e caracterização da empresa

Conforme apresentado na introdução e metodologia deste trabalho, a

Drogaria Araujo é uma empresa fundada em 1906, que sempre se destacou por sua

capacidade de inovação no seu segmento de atuação, o varejo farmacêutico. Em

todos os seus anos de história, aproveitou bem as oportunidades de mercado,

oferecendo serviços diferenciados para a cidade de Belo Horizonte, sendo pioneira

em vários deles, como o atendimento e venda por telefone, a entrega a domicílio, o

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plantão 24 horas e o serviço de conveniência drive-thru. Vale ressaltar também o

modelo de negócio baseado no conceito drugstore, onde a empresa procura

oferecer aos seus clientes, além de medicamentos, itens de conveniência,

oferecendo um mix de produtos amplo (BRASIL; ARRUDA, 2006; DROGARIA

ARAUJO, 2008).

Neste sentido, destaca-se a fala do presidente da Araujo sobre anúncio

publicado em 1927 (Anexo 1):

Eu estou falando desse anúncio de 27, a gente vê aqui que já tinha a parte de mix, de Drugstore, a gente já vendia procedência, que era falada que era importação direta, já vendia preço, já vendia serviço, dando consulta médica grátis e já vendia serviço com entrega a domicílio (Presidente).

Em 2009, a empresa completou 103 anos. Ela é hoje gerenciada pela terceira

geração. Durante todos estes anos, experimentou um processo de gestão

superposta de Modesto Carvalho de Araujo para seu filho Antônio Martins de Araujo

(em caráter informal), que transferiu para seu filho Eduardo Mauro Velloso Araujo,

até chegar em Modesto Carvalho de Araujo Neto, irmão de Eduardo. Este processo

de gestão superposta parece ter facilitado a transição entre gerações sem maiores

transtornos (BRASIL; ARRUDA, 2006).

Modesto, o fundador, trabalhou sempre em conjunto com Antônio Martins, até

1942. A partir daí, embora Modesto estivesse sempre presente nas decisões

importantes, coube a Antônio Martins ficar a cargo das principais operações da

empresa (BRASIL; ARRUDA, 2006). No ano de 1979, ambos vieram a falecer.

Quando Antônio já era o principal executivo da empresa, Eduardo estava por

perto, realizando tarefas a ele delegadas e participando ativamente da

administração. Quando Eduardo assumiu, trouxe para a organização o atual

presidente Modesto Neto, seu irmão, que trabalhava fora da firma, como seu

principal assessor. Em maio de 2004, Eduardo veio a falecer e, em junho do mesmo

ano, Modesto Neto assumiu a Presidência da empresa (BRASIL; ARRUDA, 2006).

E, na continuidade desse processo, hoje o Modesto Neto envolve na gestão

a sua filha Silvia e os sobrinhos Antônio e Bruno, que integram a Direção da

organização, em um processo educativo de desenvolvimento de acordo com as

vocações individuais, dando continuidade ao modelo de gestão superposta,

conforme apresentado por Brasil e Arruda (2006). A expectativa é de que o próximo

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líder surja naturalmente, sem crises ou abalos, dando continuidade e longevidade

aos negócios da organização.

O organograma atual da empresa é apresentado na FIG. 12 a seguir.

FIGURA 12 – Organograma atual da empresa Fonte: Elaborado pelo autor da dissertação.

A missão da empresa é destacada em quadro afixado na sala de espera da

Diretoria e afirma que é “encantar e satisfazer às necessidades dos nossos clientes,

criar valor para os acionistas, zelar pela realização de nossos colaboradores e pelo

bem-estar da sociedade”. A missão e as políticas de compromisso social, lucro e

crescimento com medida de desempenho são reforçadas também através de

palestras internas realizadas pela direção da organização (Presidente).

O compromisso social pode ser comprovado por fatos constantes na história

da empresa. Durante a epidemia de “gripe espanhola”, que atacou o país entre 1914

e 1918, a Araujo buscou financiamento em um banco para importar um importante

remédio da Alemanha, e o vendeu a preço de custo para a população, com o intuito

de ajudar no combate à epidemia (DROGARIA ARAUJO, 2009).

Atualmente, a empresa participa de ações sociais que promovem educação,

lazer, saúde e preservação do patrimônio histórico e cultural. Dentre os projetos,

destacam-se, como exemplos (DROGARIA ARAUJO, 2009):

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Hospital da Baleia - Criada em dezembro de 2004, a campanha “Adote o

Hospital da Baleia” incentiva os clientes da empresa a doarem o seu troco ou

parte dele para essa instituição.

Playground da Longevidade – A empresa doou para a cidade de Belo

Horizonte em 2006 aparelhos de ginástica e de alongamento, que foram

instalados na Praça JK e no Centro de Saúde Eduardo Araujo, no Bairro

Miramar.

Palestras de Saúde – A empresa promove, em suas lojas, palestras sobre

temas relacionados à saúde, tais como diabetes, hipertensão, asma e curso

para gestantes.

Curso para gestantes - A empresa promove,periodicamente, em parceria com

a clínica Leite Meu e a empresa Vacsim, um curso gratuito para gestantes. O

curso inclui: cuidados com a gravidez, pré-natal, aleitamento materno, teste

do pezinho, primeiros cuidados com o bebê, vacinação para gestantes e para

o bebê.

Patrimônio Histórico - A empresa patrocinou a restauração de duas casas que

ajudam a preservar a história e a cultura da capital, na Rua da Bahia, no

centro e na Avenida do Contorno, na Savassi.

Preservação de Praças - A empresa também ajuda a conservar e manter

praças públicas em Belo Horizonte, como a Praça da Rodoviária.

Valores de Minas – A empresa participa do programa do Governo de Minas

Gerais, contribuindo com a doação de kits de higiene pessoal.

A empresa enfatiza para os seus clientes, através de anúncios publicitários, o

que denomina de “Padrão Araujo de Medicamentos”, que visa assegurar a atenção

da empresa em todas as etapas de comercialização dos seus produtos. A

organização procurar garantir a procedência do seus medicamentos, assegurada por

meio das compras, diretamente das indústrias farmacêuticas e dos grandes

distribuidores do país e por preços baixos, pela sua capacidade de aquisição de

maiores volumes do que a concorrência (DROGARIA ARAUJO, 2009).

O espaço físico da empresa é constituído pela matriz, localizada na Praça Rio

Branco, no centro de Belo Horizonte, e de aproximadamente 90 lojas espalhadas

pela Grande Belo Horizonte. A empresa possui um centro de distribuição localizado

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em Contagem, e ainda uma loja, localizada na Avenida Olegário Maciel, que é

especializada na comercialização de produtos agroveterinários.

Além de medicamentos, as lojas oferecem várias opções de serviços e

produtos, incluindo:

agroveterinária - completa linha de produtos para o campo e atendimento

de agrônomo;

Araujo Foto - revelação de filmes / imagens;

Araujo Cópias - serviço de fotocópias e envio de fax;

caixas eletrônicos;

Dr. Scholl - podologia e tratamento dos pés;

drive-thru;

Espaço Dermo-cosméticos - atendimento personalizado e marcas

mundialmente famosas;

Espaço Mais beleza - aplicação de coloração de cabelos;

Espaço Viver Diet - atendimento especializado a diabéticos;

pagamento de contas;

plantão 24 Horas;

Quiosque Araujo Foto - revelação foto digital em segundos e fotoprodutos;

Vacsim - aplicação de vacinas em adultos e crianças.

Localizada na Matriz, em um prédio de três andares, com uma construção de

expansão ao fundo, estão a Presidência, Assessoria da Presidência, Diretoria

Comercial, Superintendência Administrativa, Gerência Administrativa e Financeira,

Gerência de Recursos Humanos, Gerência de Tecnologia da Informação, Gerência

de Marketing, Gerência de Produtos, Gerência de Compras, Gerência de Vendas,

Gerência do Drogatel e Laboratório de Manipulação. Funciona, também, nesse

endereço, a primeira e principal loja da empresa.

As áreas físicas estão distribuídas entre os três andares, com exceção do

laboratório de manipulação e o Drogatel, que ocupam o prédio anexo ao prédio

principal. O layout é composto por ilhas de trabalho, não existindo divisórias entre os

departamentos, com cores predominantemente claras. Com exceção de algumas

salas, como a Presidência, Diretoria e salas de reuniões, o acesso é amplo e

irrestrito, oferecendo possibilidades de interação entre as pessoas. Existem ainda

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áreas de convivência, com jardins de inverno, fonte de água e televisão, para

permitir aos funcionários momentos de pausa e descanso durante suas atividades.

Segundo os entrevistados, a empresa possui um sistema estruturado de

gestão matricial de receitas e despesas, implantado e subsidiado através da

empresa de consultoria INDG (Instituto Nacional de Desenvolvimento Gerencial). A

metodologia é baseada no ciclo PDCA (plan, do, check, act), oriundo dos sistemas

de gestão da qualidade, sendo constituída por meio do estabelecimento de

indicadores e metas, elaboração de planos de ação, acompanhamento e

monitoramento, verificação do alcance das metas, revisão dos insucessos e

padronização e treinamento das ações de sucesso.

A Superintendência Administrativa, dentro do conceito implantado pelo INDG

de gerenciamento matricial de despesas e receitas, responde, no tocante ao

orçamento, pela gestão dos gastos – custos e despesas - da empresa. Ela

compreende as áreas administrativa e financeira, contabilidade, custos, compras,

recursos humanos, tecnologia da informação e o centro de distribuição, que gerencia

os estoques e logística da organização.

A Diretoria Comercial responde pelo gerenciamento matricial das receitas,

englobando as áreas de vendas - lojas e Drogatel, produtos e marketing. A

Gerência de Produtos realiza o planejamento do leque e distribuição dos produtos

nas gôndolas das drogarias, através do estudo de gerenciamento de categoria, que

é baseado tanto em dados de pesquisa de mercado e de preferências do

consumidor, realizada pela empresa norte-americana Nielsen, quanto nas demandas

identificadas internamente na Drogaria Araujo.

Com base nesses estudos, é planejada a disposição dos produtos nas

gôndolas das drogarias, organizando-os pela maior preferência do consumidor e

rentabilidade para a empresa, de forma que estejam diretamente no campo de visão

do consumidor. Os produtos com menor rentabilidade, em contrapartida, ficam

expostos em prateleiras inferiores. Desta forma, a empresa promove também uma

negociação mais efetiva junto aos fornecedores, de forma que, caso eles tenham

interesse em maior exposição e visibilidade do seu produto, necessariamente terão

que possibilitar uma rentabilidade maior para a Drogaria Araujo.

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A Diretoria encontra-se instalada no segundo andar, no prédio da matriz, em

uma área separada, com padrão de decoração e mobiliário distinto dos demais

setores, com acesso específico, que é controlado através de recepção própria.

O pesquisador observou que, apesar da aparente separação, os gestores e

alguns empregados, principalmente os mais antigos, têm acesso livre e irrestrito aos

diretores, mediante solicitação de agendamento, informação confirmada durante as

entrevistas.

Isso permite que determinadas áreas, como Marketing e Tecnologia da

Informação, por exemplo, tenham um contato bastante estreito com a Presidência,

deliberando e despachando diretamente com Modesto Neto. Mas vale ressaltar a

dificuldade também mencionada pelos entrevistados de conseguir agenda com o

presidente.

De maneira geral, a empresa possui uma estrutura organizacional

horizontalizada, com poucos níveis hierárquicos, considerando-se que possui

aproximadamente 3.500 funcionários, o que, de certa forma, parece possibilitar,

conforme mencionado pelos entrevistados, maior agilidade para a tomada de

decisões.

Não foi identificado um grupo na organização que trabalhe na pesquisa e

desenvolvimento de inovações, conforme citados pelos entrevistados e pelo próprio

presidente. As inovações e mudanças partem comumente da Diretoria, em especial

do presidente.

Não há também a evidência de existência de muitos procedimentos

documentados, tanto para processos produtivos quanto administrativos. Existem

manuais com normas e treinamentos introdutórios e periódicos. A comunicação

interna não ocorre também de forma sistemática e planejada.

Não foram observadas evidências de existência de quadros de gestão com

informações de metas e resultados. Os indicadores de desempenho estão baseados

no gerenciamento matricial de receitas, permitindo o desdobramento do resultado

por lojas ou por categoria de medicamentos e em custos, com base num modelo e

visão orçamentário proposto pela consultoria do INDG.

Não foi encontrada nenhuma evidência de indicadores de perspectivas de

clientes e mercado, como, por exemplo, satisfação e participação de mercado,

perspectivas de processos, com o intuito de determinar a qualidade dos processos

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internos, como também com relação à expectativa de pessoas, como satisfação dos

empregados ou índices de turn-over, por exemplo.

A empresa não possui nenhuma certificação relacionada a qualidade, como

ISO 9000, e também não participa de nenhum grupo ou comitê que trate sobre o

assunto, como também não concorre a premiações nesse sentido.

Neste contexto, destaca-se que a gestão considerada participativa com

envolvimento dos empregados é praticamente inexistente, mas sua política de

gestão de pessoas inclui a participação dos funcionários em lucros e resultados.

A empresa possui uma participação ativa como membro da ABRAFARMA e o

seu presidente faz parte do atual Conselho Diretivo da organização (2008–2010),

sendo Diretor de Relações Institucionais (ABRAFARMA, 2009).

Mesmo tendo uma posição e faturamento considerável no cenário nacional,

ainda é uma empresa de capital fechado, de controle totalmente familiar e não conta

com a presença, no seu Conselho de Administração, de representantes externos.

Normalmente financia o seu crescimento através de capital próprio, com

endividamento pequeno, mas o que hoje, na visão do seu diretor superintendente,

tem se tornado um obstáculo e um limitador para o seu desenvolvimento.

Apesar do ritmo considerado acelerado de expansão, também não define os

seus projetos de expansão através uma metodologia de gestão de projetos

estruturada. Possui uma experiência adquirida ao longo dos anos e uma

padronização relativa das suas lojas, o que permite rápida abertura de um ponto

comercial.

Na opinião do pesquisador, o planejamento estratégico privilegia o

crescimento, onde a visão da direção é baseada no aumento de lojas, objetivando

crescimento ocupacional de forma a minimizar e dificultar a entrada de novos

concorrentes no mercado de Belo Horizonte.

Por outro lado, apesar do sucesso desta estratégia, a sua atuação junto a

outros estados e mesmo outras cidades do estado de Minas Gerais é restrita ou

inexistente, representando uma dependência do mercado de Belo Horizonte.

Muitas lojas e o serviço Drogatel trabalham no regime de 24 horas, em que os

empregados revezam-se em turnos para garantir o atendimento aos clientes. Os

demais departamentos trabalham somente durante o horário comercial, de segunda-

feira a sexta-feira.

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A empresa possui aproximadamente 3.500 empregados, sendo que a

Presidência representa a maior instância de poder dentro da organização, seguida

pela Assessoria que apoia a Presidência e funciona como uma espécie de ouvidoria

da organização. Apesar de ter sido mencionada a existência de um conselho

administrativo, não percebeu-se a clareza ou efetividade de sua atuação. O nível

gerencial intermediário da empresa é composto por nove gerentes.

4.2 Descrição e análise da cultura organizacional da empresa estudada

Considerando os objetivos deste trabalho de avaliar os elementos da cultura

que possam ter facilitado a adoção de inovações na organização e a sua

sobrevivência em mercado tão competitivo, esta parte do trabalho visa caracterizar

os principais elementos da cultura organizacional.

4.2.1 A adaptação externa e integração interna: as atividades da Drogaria

Araujo

Schein (2004) considera, conforme apresentado no capítulo do referencial

teórico, como questões de adaptação externa, a missão e funções primordiais da

empresa perante o seu ambiente, os objetivos a serem atingidos pela organização,

os métodos a serem utilizados para atingir estes objetivos, os critérios para se

medirem os resultados e as estratégias emergenciais ou corretivas adotadas, caso

os objetivos não estejam sendo alcançados. Com base nisso, analisou-se cada um

desses aspectos presentes na organização.

Iniciando-se pela missão da empresa, observa-se primeiramente que ela é

explicitada e visível somente na parede da sala da Diretoria. Não se observaram

evidências de divulgação da missão nos setores e lojas, seja nas paredes dos

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estabelecimentos ou nos quadros de avisos existentes. O site da Internet de 2008

continha uma referência à missão, sem valorização mais expressiva. O novo site,

desenvolvido em 2009, não contém mais esta referência. Não foi identificado

também nenhum jornal ou comunicado interno que reforce ou divulgue a missão da

empresa. Não foi constatado também nenhum material institucional, cartilha de

empregados ou manual do colaborador que divulgue missão. Durante a entrevista, o

presidente afirmou que “a nossa missão é encantar e satisfazer a necessidade do

nosso cliente”, contudo, os demais entrevistados não fizeram menção a ela. O

presidente também mencionou que, através das palestras motivacionais que ele

realiza para os empregados, sem especificar com qual frequência, o tema da missão

é recorrentemente abordado. Rapidamente também afirmou que missão e valores

são reforçados no treinamento introdutório.

Todavia, observa-se um grau de alinhamento razoável entre os gestores, com

relação ao propósito da organização de encantar e satisfazer a necessidade dos

clientes. Apesar da missão não estar evidenciada como um artefato visível,

conforme definição de Schein (2004), ou símbolo para Hofstede (1991), e de não

terem sido encontradas provas de reforço do seu sentido por parte dos gestores

para os empregados, observa-se que a organização, considerando-se o que foi

verbalizado pelos seus gestores, tem uma orientação voltada para o atendimento e

satisfação da necessidade dos seus clientes.

Neste sentido, cabe destacar a atuação da Assessoria do Presidência, que

funciona como uma espécie de ouvidoria da organização, através do programa

intitulado “Fale com o Presidente”. Este programa consiste num serviço de

atendimento ao consumidor, acessado através de um canal telefônico ou pela

Internet, onde o consumidor tem a possibilidade de manifestar uma critica, sugestão

ou reclamação da organização.

Segundo a assessora do presidente, no momento em que o cliente demonstra

insatisfação com o serviço, é a oportunidade para a empresa conseguir fidelizar,

encantar e mostrar que a organização está preocupada com ele e que vai resolver o

problema. Nas palavras dela, “o negócio é encantar e fazer o cliente sair bem e

satisfeito”.

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Perspectiva semelhante demonstrou o gerente de Marketing quando explicou

que o foco está no cliente, pois, atendê-lo bem e ver o seu problema são os

principais valores da organização.

Ele ainda acrescentou que “a cultura da empresa é resolver logo, e é para o

vendedor resolver. Se ele não conseguir, passa para o gerente, e se ele não

conseguir, passa para o gestor, mas alguém tem que resolver”.

Já o diretor superintendente destaca que o que norteia o negócio é o produto

disponível para o cliente, garantindo a sua satisfação e encantamento ao assegurar

para o consumidor de que, na empresa, ele encontra medicamentos ou produtos de

conveniência de que necessita.

Historicamente, observa-se a preocupação com o atendimento ao cliente, no

depoimento de um dos funcionários mais antigos, quando ele ressalta que na

organização existe uma tradição de que “todo cliente é igual, bonitinho, gravatinha,

engraxate, todos têm que ter o mesmo atendimento, é um ser humano, é a

humildade”.

Desta forma, percebe-se que, mesmo não divulgando a missão por meio de

elementos visuais ou canais de comunicação, ela representa um pressuposto básico

da organização (DEAL; KENNEDY, 1982; SCHEIN, 2004), pois satisfazer o cliente

de qualquer maneira parece já se constituir elemento natural da cultura

organizacional. Isto parece facilitar a adaptação da organização com o seu ambiente

e norteia as ações do grupo (OUCHI, 1981; PASCALE; ATHOS, 1981; PACKARD,

1995; SCHEIN, 1985).

Considerando-se, então, as questões relacionadas aos objetivos a serem

atingidos pela organização, observa-se uma ênfase em aspectos econômico-

financeiros.

O presidente e o diretor superintendente destacaram a solidez financeira da

organização e apontaram o lucro como principal indicador de bom desempenho. O

presidente esclareceu que a organização é a segunda melhor em rentabilidade do

estado, segundo ranking publicado pela revista Mercado Comum e a primeira em

faturamento por rede e lojas, segundo ranking da ABRAFARMA.

O diretor superintendente acrescentou que a empresa possui baixo grau de

endividamento, que normalmente não se utiliza de financiamentos bancários e que

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pela primeira vez na sua história realizou um empréstimo de longo prazo com o

BNDES devido às condições favoráveis para obtenção desse crédito.

No entanto, não observou-se, por ocasião da pesquisa, a evidência de

elementos visíveis que demonstrem o bom desempenho da empresa. Durante a

visita às instalações, com exceção da área de vendas, nenhuma outra área

apresentava os seus resultados através de um quadro de acompanhamento.

Segundo os entrevistados, os objetivos de lucratividade são discutidos e

acompanhados nas reuniões de Diretoria, sem periodicidade definida. A equipe de

vendas trabalha com reuniões mensais para discutir seus resultados.

Segundo o presidente, existe um encontro anual da Diretoria para elaboração

de planejamento estratégico, tendo como principal objetivo estabelecer os seus

planos de expansão e abertura de lojas. Mas não se encontraram evidências da

realização de um acompanhamento sistemático da implementação deste

planejamento.

Nessa reunião, o presidente apresenta o que ele denomina de modelo de

estratégia ocupacional da organização, dando destaque para a abertura de lojas e

para a agilidade com a qual a empresa consegue abrir novos pontos comerciais,

intimidando a concorrência e ocupando pontos estratégicos na Grande Belo

Horizonte. Reforça ainda a necessidade de se estruturar para conseguir suprir

produtos com qualidade e em tempo hábil para as suas lojas, através do seu centro

de distribuição.

Percebe-se então a adoção de um modelo expansionista para atingir os seus

objetivos de receita e lucratividade. Esse modelo vem sendo aprimorado

recentemente com a introdução de novos canais de venda, como o comércio

eletrônico e os quiosques de vendas. A introdução de novos serviços, como o Araujo

Foto, que consiste em dispor equipamentos para ampliação de fotos digitais nas

lojas, foi apresentado pelo presidente como uma oportunidade para o

desenvolvimento de novos serviços, como também para permitir a participação de

membros da família no negócio.

Constata-se que a organização tem também o objetivo de prover

oportunidades para os membros da família, seja aproveitando o talento de alguns na

gestão e condução do negócio, como é o caso da assessora do presidente, que é

sua filha e potencial sucessora, e os dois diretores, que são sobrinhos, ou permitindo

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a existência de negócios de familiares complementares ao negócio principal. Neste

sentido, passa a existir um processo de compartilhamento da cultura do grupo,

transmitindo elementos culturais relacionados à gestão da organização para as

novas gerações (LOUIS, 1980; SCHEIN, 1968; VAN MAANEN, 1979).

Existe ainda a situação de dois familiares que não participam da gestão do

negócio, mas que são membros do Conselho de Administração da organização. Vale

ressaltar que o pesquisador não constatou a existência de um plano formal de

sucessão e sua respectiva divulgação para todos os membros, apesar da existência

de um consenso entre os gestores de que a assessora do presidente está sendo

preparada para sucedê-lo.

O planejamento da organização não prevê, conforme depoimento dos seus

gestores, um plano de profissionalização da gestão, com a contratação de

executivos de mercado ou mesmo a adoção de um modelo de governança

corporativa, tendo como premissa futura abertura de capital para capitalizar o seu

crescimento.

Percebe-se uma informalidade na condução dos projetos a serem

implementados e nos processos gerenciais com vistas a atingir os objetivos.

Segundo o gerente de TI – Tecnologia da Informação, o principal método que a

empresa utiliza para acompanhar e medir seus objetivos e resultados é a matriz de

gerenciamento de receitas e despesas, implementada através da consultoria do

INDG, mas sem acompanhamento sistemático dos planos de ação.

Nas palavras do gerente de TI, as estratégias que a empresa utiliza para

medir os seus resultados são:

Matriz de gerenciamento de despesas e matriz gerenciamento de receitas. São as duas estratégias utilizadas. Ou seja, nós temos metas de receitas e temos metas de despesas. Nós fazemos isso através da consultoria do INDG, são utilizadas algumas metodologias e a principal é o PDCA, se atingiu a meta do mês e se não atingiu você tem que ir lá fazer uma espinha de peixe e explicar por que não atingiu, quais são as causas de você não ter atingido e qual o plano de ação proposto. Existe também uma deficiência aí. Se propõe o plano de ação, mas depois nas reuniões você nunca vê se o plano de ação funcionou ou não. Logicamente o resultado é a receita. Conseguiu aumentar sua receita? Sim, fiz isso e deu resultado. Mas as vezes fica no ar. Porque você só vê as pessoas que não atingiram metas com o plano de ação. Aí você não sabe se esse plano de ação foi executado, que resultado que deu.

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Sendo assim, segundo os gestores, os indicadores econômico-financeiros,

que são os critérios utilizados para medir os resultados, são evidenciados através do

sistema de gerenciamento de receitas e despesas, que é o método que a empresa

utiliza para verificar se os seus objetivos estão sendo atingidos.

Vale ainda destacar a existência do Grande Prêmio Eduardo Araujo, que é um

programa desenvolvido para a equipe de vendas, onde se utiliza um quadro, com

uma pista de corrida, com o nome dos vendedores, que vão ganhando posições, na

medida que o seu desempenho vai evoluindo. Os resultados são comemorados pelo

grupo de vendas de maneira entusiástica, quando os objetivos são atingidos.

Quanto às estratégias emergenciais ou corretivas a serem adotadas, caso

objetivos não estejam sendo alcançados, os gestores, de maneira geral, fazem

pouca menção a situações de fracasso. Percebe-se que o grupo lida bem com as

situações adversas e adota a estratégia de analisar o que deu errado, reformular e

seguir em frente.

“Curtir o erro” é uma expressão recorrentemente utilizada pelo presidente,

demonstrando a predisposição da organização de aprender com os erros.

Nas palavras do diretor comercial:

O Modesto sempre fala: “erramos, mas o mais interessante do erro é aprender com ele.”. É uma coisa que a gente tem também na cultura nossa. O problema não é errar, o problema é persistir no erro e não aprender com ele. Então cada erro nosso, o Modesto fala que a gente tem que curtir muito, o que é curtir o erro? O que eu fiz errado que não deu certo. Onde foi, o que não deu certo? A gente faz isso muito junto. A gente fez, não deu certo a gente senta e curte o erro. A gente faz isso informalmente. Fazemos uma análise crítica do que aconteceu, então o erro na Araujo é muito curtido. A gente tem o direito de errar. A gente não é obrigado a acertar, mas, tem que aprender com o erro.

Referindo-se a situações de fracasso, o gerente de TI complementa:

Eu acho que aqui aconteceu pouquíssimas vezes. Nesses 102 anos nós abrimos várias lojas, mas e quantas nós fechamos? Acho que fechamos 2 lojas. É difícil fechar uma loja, as vezes a loja fica lá, não tem tanto retorno, uma hora vai, outra hora não vai. Foi difícil de lidar aqui, que é considerado um fracasso fechar uma loja. Uma loja foi fechada porque era uma loja extremamente antiga e ficava ali na Praça da Estação. E essa loja ficou num ponto muito ruim e sem mais movimento de pessoas. E a outra foi na Raja Gabáglia, fechou depois que mudamos pra nova que tem DriveThru. Fechamos mais duas, mas eram internas dentro da FIAT. As negociações foram um fracasso. Então são coisas que acontecem e são tratadas de uma

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maneira vamos pra frente, as pessoas não ficam remoendo, não deu, não deu, vamos pra frente.

Alguns casos de insucesso mencionados pelo presidente referem-se à

fiscalização da vigilância sanitária, que impediu o funcionamento dos salões de

beleza nas lojas e a parceria rompida unilateralmente com a empresa de telefonia

Vivo, que assim que assumiu as operações da Telemig Celular, retirou os quiosques

de venda de linhas e aparelhos que funcionavam dentro das lojas da Drogaria

Araujo. Em ambos os casos, a empresa utilizou-se dos recursos administrativos e

jurídicos para reinvidicar os seus direitos, conforme o entendimento do presidente,

demonstrando que a empresa reage quando confrontada em situações de litígio.

Outro aspecto a ser analisado com relação à cultura da organização

pesquisada são as questões de integração interna. Referindo-se então a estas

questões, Schein (2004), conforme mencionado no capítulo do referencial teórico,

defende que estão relacionadas à linguagem comum, incluindo conceitos básicos de

tempo e espaço; os critérios para inclusão de novos membros no grupo; as

estratégias para alocação de status, poder e autoridade; as ações para promover

intimidade, amizade e relacionamentos no ambiente de trabalho; os critérios para

recompensa e punição e as estratégias utilizadas para gerenciar as diferenças no

âmbito ideológico e religioso, por exemplo.

Quanto às questões relacionadas à linguagem comum utilizada pelo grupo,

observa-se a recorrência do uso de expressões como “encantar o cliente”, repetida

por praticamente todos os gestores, demonstrando o sentido e razão de ser da

organização.

Outra expressão comum, cunhada pelo presidente, é “curtir o erro”, conforme

mencionado anteriormente, demonstrando que a organização está sujeita a falhas,

mas sobretudo aprende com os erros, pois entende que eles são oportunidades para

o seu crescimento.

“Atenção ao detalhe” faz parte também do cotidiano e linguajar das pessoas.

Demonstra, na visão dos gestores, uma ideia de perfeccionismo naquilo que é feito,

em que, na própria fala do presidente, há a preocupação com a minúcia para o

funcionamento de uma loja. Se algo está fora do lugar, precisa ser arrumado.

Costumeiramente, o presidente visita as lojas, sem aviso prévio, para verificar como

está o funcionamento e a organização do espaço.

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Os gestores também utilizam de forma rotineira a expressão “tem que

resolver”, demonstrando o senso de imediatismo e pragmatismo da organização,

evidenciado pela agilidade que ela tem para a abertura de lojas.

O que fica claro é que o presidente, através do seu carisma pessoal, acaba

por influenciar o linguajar e expressões utilizadas pelo grupo e aquilo passa a fazer

parte do cotidiano da organização. Observa-se então que a organização é muito

voltada para as ações e posicionamento do presidente. De maneira geral, a

linguagem empregada pelas pessoas é simples, sem termos sofisticados ou

rebuscados, mas com repetições que indicam o comportamento esperado das

atitudes valorizadas.

Quanto ao processo de inclusão de novos membros no grupo, percebe-se

que a empresa funciona como uma grande família, ou uma extensão da própria

família do fundador, a começar pelo próprio nome da organização, Drogaria Araujo,

sobrenome do clã.

Critério como tempo de casa e lealdade e dedicação à família apresentam-se

como valores fundamentais e de destaque para os membros do grupo, que inclusive

são premiados com broche de brilhante, representando, cada diamante, dez anos de

serviços prestados à empresa. Ou seja, a cada dez anos de trabalho o broche ganha

um novo brilhante. Tal artefato é ostentado com orgulho pelos funcionários mais

antigos, entrevistados em conjunto, sendo todos com mais de 50 anos de tempo de

serviços na empresa.

Percebe-se, também, pelo discurso do presidente, uma preocupação com

determinados membros que ainda não introjetaram esses valores de forma mais

profunda. É o caso do gerente de Produtos e de Vendas, que não foram

entrevistados, pois, na visão do presidente, não estavam totalmente integrados e

familiarizados com a empresa e seus valores, podendo pouco contribuir sobre as

questões culturais do grupo.

Observa-se, na organização, a característica marcante de paternalismo,

conforme definição de Tanure (2007), e que será explorada com maiores detalhes

em item posterior, destacando-se o carisma e magnetismo exercido pelo presidente,

por meio de seu discurso e relacionamentos pessoais. Desta forma, percebe-se que

o líder é determinante no processo de inclusão e aceitação de novos membros ao

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grupo e ele determina os critérios para este processo. Aos seus seguidores cabe

adotar a postura de espectador, tendendo a acomodação em alguns aspectos.

Quanto às questões relacionadas às estratégias para alocação de status,

poder e autoridade, percebe-se, na organização, a concentração e centralização do

poder no presidente, constatado pelo pesquisador desde o início, quando solicitou a

autorização para a realização da pesquisa de mestrado. Apesar do pesquisador ser

conhecido há muitos anos na instituição, somente após exaustivas tentativas de

contato com o presidente conseguiu obter a autorização para a realização dos

trabalhos.

Com isto, identifica-se na empresa que os gestores adotam, em muitas

situações, uma postura de espectador, aguardando as decisões ou orientações do

presidente, com flexibilidade restrita para assumir determinadas posições, sempre

com o intuito de atender àquilo que o presidente espera. Percebe-se também que o

senso de lealdade dos gestores à figura do presidente também é grande, havendo

respeito e admiração por sua pessoa e administração.

Desta forma, os relacionamentos acabam tornando-se pessoais,

identificando-se característica do personalismo nas relações (TANURE, 2007). Os

liderados têm uma tendência também a evitar o conflito com o presidente, que é uma

pessoa com grande poder de argumentação, convencimento e persuasão.

O presidente comporta-se em muitas situações como um grande pai para os

funcionários, prestando apoio no caso de dificuldades financeiras e enfermidades,

atitudes estas que vêm sendo transmitidas através das gerações que se sucederam

na gestão da organização, conforme relatado pelos entrevistados.

Observa-se, assim, como prática gerencial, o cuidar dos interesses da família

e atender também às necessidades dos empregados, procurando valorizar e

preservar essas relações no longo prazo, fato evidenciado pelo tempo de serviço

dos gestores e funcionários entrevistados.

Outro fato digno de menção é a posição dos diretores quando um cliente

necessitado procura a loja precisando adquirir um medicamento e sem condições

para tal. O comportamento rotineiro é, após analisar a solicitação da pessoa e

acreditar que ela está sendo honesta, o diretor disponível paga do próprio bolso o

medicamento para o cliente, dando o exemplo pessoal de ajuda humanitária e

caridade, mas sem penalizar a organização.

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Na composição da Diretoria, não há a presença também de executivos

externos, todos são membros da família. A empresa é uma sociedade anônima, mas

de capital fechado, controlada hoje quase na sua totalidade pelo presidente, que

inclusive fez o movimento recente de adquirir a participação de outros membros da

família com a intenção deliberada de poder exercer maior controle e determinar, a

seu critério, o processo sucessório, dentro da organização. A única influência

externa admitida é da consultoria do INDG, que possui forte aceitação pelos

gestores, mas restrita ao controle do desempenho econômico-financeiro da

organização, através da metodologia implantada de gestão matricial de receitas e

despesas.

De maneira geral, o presidente exerce a autoridade, mas, ao que parece, sem

ter um comportamento autoritário, sendo tolerante com os erros e aberto ao

aprendizado. Tende a ser centralizador e confere a autonomia que julga necessária

para os gestores. Considera que a sua atuação é que é fundamental para o

desenvolvimento, crescimento e processos de inovação da empresa, o que de fato

vem ocorrendo, considerando os resultados alcançados pela organização.

Quanto às ações relacionadas para promover a intimidade, amizade e

relacionamentos no local de trabalho, observa-se que a organização, conforme

relato dos entrevistados, não impõe impedimentos para a contratação de casais,

mas a evita.

Não há ações para promover intimidade, amizade e relacionamentos no

ambiente de trabalho; os grupos se reúnem de forma informal. A empresa promove

somente o encontro anual, onde realiza sorteio de brindes para os funcionários,

inclusive carros.

Por outro lado, a empresa não admite pessoas que tenham relacionamentos

de casamento ou intimidade com outras que trabalhem em empresas concorrentes,

conforme o exemplo citado pelo presidente de um gerente de vendas que foi

trabalhar numa empresa concorrente e que era casado com a gerente de laboratório.

Em função disto, foi convidada a se desligar da empresa.

Segundo o presidente, a empresa prefere contratar, para determinadas

funções, como operadora de caixa, mulheres com filhos, acreditando haver maior

comprometimento deste grupo, em função da responsabilidade com um filho, do que

pessoas sem filhos e com faixa etária menor.

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Atualmente, a organização tem contratado, para o seu centro de distribuição,

pessoas portadoras de necessidades especiais, como, por exemplo, pessoas com

deficiência auditiva. Pretende iniciar um projeto para contratação de pessoas com

Síndrome de Down.

A empresa mostra-se tolerante aos erros dos empregados, e tem um

baixíssimo índice de turnover, segundo os entrevistados, procurando sempre

oportunidades para que o empregado possa se desenvolver. No entanto, não admite

desonestidade, punindo severamente com advertências e demissão.

Existem premiações para o desempenho de vendas. A empresa possui

também um programa de participação em lucros e resultados, que normalmente

remunera os empregados anualmente através de um 14o. salário. Através do

programa de melhorias, os empregados também têm a oportunidade de divulgar as

suas ideias e sugestões para a organização e com isto receberem algum tipo de

premiação, como, por exemplo, um certificado de honra ao mérito, conforme relatado

pelo gerente do Drogatel. Aparentemente, o programa encontra-se pouco

disseminado, ou ainda em fase embrionária, com opiniões controversas dentro do

grupo. O pesquisador não encontrou evidências de outros programas de premiação

para os gestores, como opções de ações, bonificações e distribuição de dividendos.

Não há discriminação de crença religiosa e nem preferência por contratação

de pessoas de determinada religião, mas não há evidência de estímulos ou

incentivos a práticas religiosas. Há presença de elemento do cristianismo,

predominante da igreja católica, como o crucifixo presente nas lojas.

Dentro do objetivo de caracterizar como a empresa lida e lidou no passado

com as questões de adaptação ao ambiente externo e quais ações emprega para

promover a integração interna, o pesquisador concluiu que, no que diz respeito às

práticas para promover a adaptação externa, aquelas encontradas na empresa

pesquisada são as especificadas no Quadro 6 a seguir.

Adaptação externa Encontrados na Empresa

A missão, funções e tarefas primordiais da organização perante o seu ambiente.

A missão formalizada da empresa exprime o seu foco de atuação, mas, é divulgada somente na parede da sala da Diretoria e no treinamento introdutório. Era divulgada no portal da empresa na versão de 2008.

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Os objetivos específicos a serem atingidos pela organização.

Há um alinhamento entre os gestores quanto aos objetivos da empresa com relação à satisfação da necessidade dos cliente e na busca dos resultados econômicos. A organização é voltada também para atender os interesses da família e promover oportunidades de negócios para os seus membros. O pesquisador não encontrou evidências de existência de um plano formal de sucessão para a 4

a. Geração. A empresa

promove ações de cunho social buscando atender às comunidades.

Os métodos a serem utilizados para acompanhar a consecução dos objetivos.

O planejamento estratégico privilegia ações de crescimento da rede e abertura de lojas e o método para a acompanhamento de resultados é a matriz de gerenciamento de receitas e despesas implantado pelo INDG. Há uma certa informalidade na condução dos projetos.

Os critérios utilizados para medir resultados. Os critérios são baseados em indicadores econômico financeiros.

As estratégias emergenciais ou corretivas a serem adotadas caso os objetivos não estejam sendo alcançados.

A empresa promove o aprendizado com os erros, corrige e dá continuidade aos projetos.

QUADRO 6 - Atividades de adaptação externa Fonte. Elaborado pelo autor com base em Schein (1985).

Já em relação às atividades e práticas gerenciais para promover a integração

interna, foram identificadas aquelas especificadas no Quadro 7 a seguir:

Integração interna Encontradas na empresa

A linguagem comum, incluindo conceitos básicos de tempo e espaço.

“Encantar o cliente”, “curtir o erro”, “atenção ao detalhe”, “tem que resolver” são expressões comuns utilizadas na empresa.

As fronteiras do grupo e critérios para inclusão de novos membros.

O grupo comporta-se como um grande família, valorizando os membros mais antigos. Dá-se preferência para a contratação de mulheres casadas com filhos para funções, como caixa.

As estratégias para alocação de status, poder e autoridade.

Percebe-se paternalismo e personalismo nas relações, com a centralização do poder no Presidente. Os gestores adotam uma postura de espectador. Não há a presença de executivos externos na Direção da empresa, somente familiares.

As ações para promover a intimidade, amizade e relacionamentos no trabalho.

A empresa convive com a presença de casais, mas se evita a contratação. Não se admite que o cônjuge trabalhe em empresa concorrente. Não há ações promovidas pela Direção para promover intimidade, amizade e relacionamentos no ambiente de trabalho, os contatos se dão de maneira informal. Há somente um encontro anual de confraternização promovido pela organização. Ela promove ações sociais envolvendo os empregados.

Os critérios para recompensa e punição. A organização promove premiações para as áreas de vendas. Possui um plano de participação em lucros anual para todos os

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empregados e um programa de melhorias, que busca premiar ideias e projetos dos funcionários. Há a premiação por tempo de casa. Não se admite desonestidade.

As estratégias para gerenciar as diferenças interpessoais no âmbito ideológico e religioso, por exemplo.

Admitem-se vários credos e religiões, mas, existe símbolo cristão nas lojas – o crucifixo.

QUADRO 7 - Atividades de adaptação externa e integração interna Fonte: Elaborado pelo autor com base em Schein (1985).

A FIG. 13, a seguir, resume como a empresa lida com as questões de

adaptação externa e integração interna, conforme apresentado neste item de análise

de cultura organizacional, demonstrando que o presidente centraliza o poder,

prevalece um modelo de gestão baseado no paternalismo e de personalismo nas

relações, busca melhores resultados e o crescimento da empresa, procura encantar

os clientes e atender aos interesses da família. Os gestores, por sua vez, ficam

passivos frente às decisões do presidente e buscam resolver logo as questões e

aprender com os erros. Assumem o objetivo do presidente – comportamento que

remete ao fundador - de buscar encantar os clientes e atender aos interesses da

família. Com isto, percebe-se a tendência da empresa, com relação às questões de

integração interna, de evitar o conflito nas suas relações, e com relação à adaptação

externa, de buscar o aprendizado e aprender com os erros.

FIGURA 13: Questões de adaptação externa e integração interna da organização pesquisada Fonte: Elaborado pelo autor a partir das definições de Schein (2004).

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4.2.2 Cultura organizacional: análise dos artefatos ou símbolos, valores,

pressupostos básicos, heróis e rituais da Drogaria Araujo

Este item de análise tem por objetivo identificar os artefatos visíveis ou

símbolos, mas de difícil interpretação. Têm-se como exemplos a tecnologia

empregada, os padrões de apresentação visual e de comportamento, como também

os valores compartilhados. Da mesma maneira, os pressupostos básicos, que são

tidos como verdadeiros, mas contidos nas entrelinhas, invisíveis e inconscientes,

frutos da relação com o ambiente, a realidade, natureza, atividade e relações

humanas, e por último, os heróis e rituais da Drogaria Araujo (DEAL; KENNEDY,

1982; FREITAS, 1991; HOFSTEDE et al, 1990; SCHEIN, 1985, 2004).

De acordo com Hofstede et al (1990) e apresentado no capítulo do referencial

teórico, os símbolos são palavras, gestos, figuras ou objetos que trazem um

significado específico sobre a cultura. Os heróis são pessoas, vivas ou mortas, reais

ou imaginárias, que possuem características admiradas pelo grupo e servem como

modelos de comportamento. Os rituais são atividades coletivas socialmente

desenvolvidas dentro da cultura. Ritos, rituais e cerimônias são exemplos de

atividades planejadas que reforçam a cultura.

Os símbolos, heróis e rituais podem ser resumidos, para o autor, pelo termo

práticas, porque eles são visíveis para um observador, ao passo que o significado da

cultura reside na forma que ela é percebida pelos seus membros. O núcleo da

cultura, de acordo com a FIG. 4, é formado pelos valores, que são normalmente

inconscientes e raramente discutidos, não podem ser observados, mas, sim,

interpretados a partir dos comportamentos.

O primeiro nível, o dos artefatos visíveis ou símbolos para Freitas (1991) e

Hofstede (1990), conforme mencionado anteriormente no referencial teórico,

representa o layout da organização, o comportamento e vestuário das pessoas, os

rituais, os mitos organizacionais, assim como as crenças expressas em documentos

– fáceis de serem percebidos, mas nem sempre fáceis de serem interpretados

(SCHEIN, 2004, grifo nosso). Neste sentido, o processo de funcionamento das lojas

será descrito de forma a permitir identificar melhor os elementos que têm significado

simbólico.

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Com relação, então, aos artefatos visíveis, a primeira impressão que fica

evidenciada ao se visitarem as lojas é a padronização do seu layout, todas com uma

identidade bem próxima, com exceção de algumas lojas temáticas, como a

Centenário, que foi especialmente construída por ocasião dos 100 anos da

organização. Essa loja, em específico, apresenta um visual mais limpo e conta com

a presença da “vaquinha gripada”, escultura arrematada pelo Presidente em um

leilão beneficente.

As lojas, de maneira geral, possuem um estacionamento para veículos na sua

frente, estão localizadas nas vias à direita, que fazem o fluxo de retorno do local de

trabalho para as residências nos bairros, permitindo, desta forma, uma fácil parada e

estacionamento para o consumidor. Segundo as pesquisas realizadas pela

organização, o momento de maior concentração de compras é quando as pessoas

estão voltando para a casa, após o expediente de trabalho.

Desta forma, a localização das lojas é sempre um fator considerado

estratégico para a organização e existe um trabalho intensivo de ocupação das

principais vias de acesso de Belo Horizonte, através de estudos de

geoprocessamento e também de busca intensiva da própria Diretoria. Com esta

atuação, a empresa busca inibir a atuação da concorrência no setor.

Normalmente, os imóveis são próprios, não são alugados, salvo algumas

exceções. A empresa preferencialmente instala-se fora de grandes shopping

centers, a não ser quando esta presença faz-se necessária.

As lojas possuem, na entrada, um sistema para detecção de furtos, piso claro,

gôndolas com predominância na cor azul, o balcão para atendimento localizado nos

fundos da loja e os caixas logo à frente ou na lateral, próximo à saída.

Geralmente, ao se adentrar na loja, um atendente dirige-se ao cliente e

oferece ajuda para localizar os produtos necessários. Se é algum medicamento

contido em algum receituário, o cliente é conduzido até os fundos da loja e atendido

no balcão. Os medicamentos ficam armazenados em gavetas fechadas, com um

sistema de identificação para facilitar a localização. Os medicamentos de uso

controlado estão em ambiente protegido e trancado e, quando necessário, sob

refrigeração ou condições específicas de armazenamento. Os atendentes não

vendem, em hipótese alguma, medicamentos de uso controlado sem o respectivo

receituário e evitam fazer qualquer prescrição para os clientes, sempre sugerindo

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consultar um médico. Normalmente um farmacêutico de plantão fica presente nas

maiores lojas e atendendo por telefone as lojas menores, para tirar dúvidas ou

prestar esclarecimentos. Alguns atendentes são treinados para aplicar injeções e as

lojas possuem local reservado para que o cliente possa receber este tipo de

atendimento.

As gôndolas possuem um sistema de classificação e organização dos

produtos, tanto os medicamentos, quanto os artigos de conveniência, cosméticos e

produtos agroveterinários. A empresa possui um sistema que permite organizar os

produtos nas gôndolas, garantindo maior visibilidade para aqueles produtos que

trazem maior rentabilidade para a organização. Com base nestas definições, os

produtos são dispostos nas gôndolas. Com isto, produtos com menor rentabilidade

ficam menos visíveis para os consumidores. Isto acaba causando, entre os

fornecedores, uma disputa pelo locais mais visíveis de forma obterem maior giro dos

seus produtos.

As lojas, de maneira geral, não possuem um sistema de climatização, mas

são construídas de forma a garantir uma boa ventilação, normalmente com pé direito

mais alto e uma ampla fachada. A empresa não instala teto de gesso para esconder

a tubulação utilizada para cabos, sistemas de iluminação e hidráulico, pintando todo

o teto e respectiva tubulação na cor preta. Segundo os entrevistados, pintando

nessa cor, o cliente não percebe o fato de que o teto está descoberto.

Todos os caixas são automatizados, permitindo o pagamento através de

diferentes tipos de cartões de débito e crédito, consultas ao SPC – serviços de

proteção ao crédito -, emissão de cupom fiscal e leitura do código de barras da

etiquetas dos produtos, possuindo todos os dispositivos eletrônicos para garantir o

seu funcionamento. As lojas possuem uma área pequena para a embalagem dos

produtos, e na frente e atrás dos caixas são oferecidos produtos adicionais, como

pilhas, lanternas, pen drives e CDs. Em frente ao caixa, na maior parte das lojas,

existe uma área demarcada para se formar uma fila de atendimento e onde o cliente

tem também acesso a revistas e periódicos. O pagamento é normalmente rápido e

não há longas filas. O cliente pode optar, ao pagar, em doar o troco para o Hospital

da Baleia.

Algumas lojas possuem serviços adicionais, como cópias, ampliação de fotos,

salão de beleza, e também produtos específicos para pessoas com restrições

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alimentares, como diabetes, e um espaço destinado a produtos cosméticos

importados.

A retaguarda da loja, que funciona nos fundos, abriga os computadores,

servidores e equipamentos de comunicação de dados que centralizam o controle e

interligação com a matriz. Todas as lojas possuem enlaces de comunicação de

dados com a matriz e a maioria delas, um enlace redundante. A empresa possui um

sistema DDR – discagem direta a ramal -, integrando todas as lojas, para facilitar a

comunicação por voz. O correio eletrônico é utilizado somente no computador que

funciona na retaguarda e tem seu acesso restrito ao gerente da loja, que encarrega-

se de divulgar as informações da matriz para os empregados.

Conforme mencionado, há uma predominância de mulheres na função de

caixa, com idade acima de 25 anos e com filhos. Os funcionários normalmente têm o

ensino médio completo.

Toda loja possui um gerente responsável pelo acompanhamento de todos os

processos administrativos e de vendas do estabelecimento. Ele é o ponto de

comunicação com a matriz e está subordinado ao gerente de Vendas e à Diretoria

Comercial.

As lojas possuem banheiros reservados para os empregados, separando o

feminino do masculino, segundo o Presidente, sempre com itens de conforto de

forma a garantir o bem-estar dos empregados. Nas lojas 24 horas, é adotado o

sistema de turno para garantir o seu pleno funcionamento.

As lojas exibem também o retrato dos fundadores – Modesto Carvalho Araujo

e Antônio Araujo – e do último presidente, antecessor ao Modesto Neto, Eduardo

Araujo, que faleceu em 2004. Ostentam também um crucifixo na parede e há a

predominância, nas paredes e mobiliários, das cores azul e vermelha, que compõem

o logotipo da organização.

Os funcionários das lojas usam uniforme de cor clara, com as cores azul e

vermelho em destaque. A funcionária que faz o atendimento dos dermo-cosméticos

possui uniforme diferenciado.

A sede está localizada na área central de Belo Horizonte, na Rua Curitiba,

próximo à rodoviária. Situa-se em prédio antigo, que passou por uma modernização

e reforma recentes. Prédios vizinhos também foram adquiridos, de forma a garantir

um espaço maior para a empresa. Avistando-se do lado de fora, não se tem uma

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ideia precisa do tamanho da organização, mas, no seu interior, percebe-se que ela

ocupa praticamente um quarteirão.

De maneira geral, as instalações são confortáveis, bem organizadas e

ergonomicamente distribuídas, mas sem nenhuma sofisticação ou ostentação. Não

utilizam ar condicionado e, sim, climatizador de ar, de forma a garantir uma

temperatura adequada para o ambiente de trabalho.

O retrato dos fundadores e do último presidente, como também o crucifixo,

podem ser vistos em alguns ambientes da matriz. O prédio não possui muitas salas

de reunião, e os gerentes não possuem salas reservadas e compartilham a mesma

área do seu grupo de trabalho. Somente os diretores possuem salas reservadas,

mas também com mobiliário simples e o acesso a eles é controlado por um grupo de

secretárias. Mas são, aparentemente, receptivos aos gestores e colaboradores.

Percebem-se algumas dificuldades de integração e comunicação de todo o

grupo, pelo fato da empresa não possuir muitas salas de reunião e nenhum auditório

no prédio. Não se visualizaram elementos de divulgação de desempenho à vista, e

os quadros de aviso apresentam basicamente algumas informações de cunho

administrativo, tal como agenda de férias, data de distribuição de benefícios, entre

outros.

Apesar da ênfase dos gestores no sistema de gerenciamento matricial de

receitas e despesas, não se percebeu a evidência de que estes resultados sejam

compartilhados com todo o grupo de colaboradores. Aparentemente também as

reuniões gerenciais têm um caráter mais informal ou são agendadas de acordo com

a demanda, não possuindo, desta maneira, um calendário específico e um sistema

mais robusto de acompanhamento. A Diretoria está em contato permanente, até pelo

fato de serem todos da mesma família.

De maneira geral, os funcionários possuem computadores interligados em

rede para realizar os trabalhos, mas possuem o acesso à Internet e correio

eletrônico restrito somente aos níveis gerenciais, compras ou de algum setor que

possua a necessidade justificada de contato com clientes, parceiros ou fornecedores

externos.

Os funcionários da sede não utilizam uniformes como vestuário, com exceção

daqueles que trabalham na loja e nos laboratórios de manipulação. Adotam um estilo

mais informal de vestir, mas com tons mais sóbrios, sem ostentação. Os diretores

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também não adotam o terno como vestimenta. Não se observam pessoas utilizando

roupas mais extravagantes ou curtas, e os homens utilizam cabelo curto e as

mulheres, o cabelo preso. Não se identificou nenhuma recomendação específica de

como as pessoas deveriam se vestir, mas o estilo de todos é bem parecido, ou seja,

um estilo simples, o que poderia ser classificado de profissional, em harmonia com o

ambiente de trabalho e as instalações.

A organização não utiliza meios mais sofisticados para disseminar

informações, diretrizes e valores, como TV Corporativa, sistemas de telefonia e voz

integrados com a rede de dados e sistemas de áudio e vídeo conferência.

A rede de dados e telefonia percorre toda a extensão do prédio central e a

empresa possui também um sistema de rede wireless, permitindo o acesso de

dispositivos móveis aos gestores e empregados, como notebooks e palmtops.

Utiliza-se um sistema de gestão empresarial desenvolvido internamente,

porém ainda se convive com algumas funções de um sistema antigo. O sistema de

vendas, através do Drogatel, permite a venda de forma ágil pelo telefone e a

identificação do cliente, através da digitação do seu telefone, que aparece no

sistema de identificação de chamadas. Entretanto, ainda não tem algumas funções

mais avançadas de grandes call centers, como um controle ativo de filas e a

integração automática do sistema de vendas com a telefonia que permite o

reconhecimento instantâneo do cliente pelo atendente. O sistema atual permite

consultar o estoque de qualquer loja em tempo real e com isto realizar uma

programação adequada de entrega. Observa-se, contudo, que o processo de

entrega tem levado mais tempo do que ocorria anteriormente, provavelmente pelo

aumento do número de pedidos por telefone, sem a ampliação da rede de

motoqueiros que fazem a entrega.

O sistema de estoques mostra-se eficiente, conseguindo suprir a lojas de

todos os produtos, permitindo que o cliente encontre aquilo que precisa, com um giro

adequado dos estoques. Ainda não se utiliza um sistema de identificação digital,

baseado na tecnologia de leitura através de radiofrequência (RFID), devido ao alto

custo das etiquetas que permite o uso de tal tecnologia.

No entanto, observa-se que algumas lojas, talvez pela gestão local e por falta

de fiscalização da matriz mais intensiva, apresentam uma atuação mais precária em

termos de atendimento ao cliente e disponibilidade de produtos em estoque. Apesar

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de existirem mecanismos para reportar à matriz o fato de um cliente ir até a loja e

não encontrar o produto que precisa, como também de procurar identificar em outra

loja o produto, algumas lojas não adotam este tipo de procedimento, prejudicando a

qualidade de atendimento esperada, e desta forma comprometendo a missão da

empresa e as atividades para permitir a adaptação externa (SCHEIN, 2004).

O site de comércio eletrônico entrou em funcionamento recentemente e

pretende expandir as vendas para locais que antes não eram atendidos. Em função

do estágio inicial da nova modalidade de vendas, o pesquisador não tem

informações sobre o sucesso ou não deste empreendimento.

A empresa possui um centro de dados, que abriga todos servidores,

dispositivos de armazenamento e back-up de dados e equipamentos de

comunicação, organizado e protegido, com sistemas de controle de acesso,

climatização, proteção contra incêndio e disponibilidade de energia de forma

ininterrupta através de sistemas de no-breaks. O cabeamento de dados e voz é

organizado e concentrado nesse centro de dados, através de armários

especialmente projetados para essa acomodação.

Ainda assim, a proteção aos dados e os sistemas de redundância podem ser

melhorados, pois não se encontraram evidências de um plano de contingenciamento

e recuperação de falhas, como também a empresa não possui um back-up externo

dos seus dados para permitir o seu funcionamento caso ocorra uma falha ou dano

nas suas instalações.

Percebe-se então, com relação aos artefatos visíveis, que a empresa procura

atender a um padrão estético, demonstrando organização e funcionalidade, mas

sem sofisticação, transmitindo valores de frugalidade e humildade, empregando a

tecnologia, mas não de maneira intensiva, com padrões de comportamento

orientados para uma rotina, sem um controle mais rigoroso e planejado, o que tem,

aparentemente, funcionado para a manutenção dos negócios da organização.

Já o segundo nível - valores compartilhados –, conforme mencionado no

referencial teórico, aponta o problema da diferença existente entre os valores

aparentes e os valores em uso. Para identificar esses valores, é difícil fazê-lo apenas

utilizando-se de uma observação direta, é preciso entrevistar os membros-chave da

organização, ou realizar a análise de conteúdo de seus documentos formais.

Entretanto, ao identificar esses valores, eles expressam o que as pessoas reportam

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ser a razão do seu comportamento, o que na maioria das vezes são idealizações ou

racionalizações. As razões subjacentes ao seu comportamento permanecem,

entretanto, escondidas ou inconscientes (SCHEIN, 2004, grifo nosso).

Quanto aos valores compartilhados, vale destacar a fala do presidente:

Fazer bem feito, colocar o cliente em primeiro lugar, ética, responsabilidade, seriedade, honestidade, pioneirismo, inovação, qualidade e detalhe em tudo o que faz, transparência e comprometimento em suas relações. Compromisso social, lucro e crescimento como medida de desempenho.

Realmente, os gestores evocam continuamente estes valores e parecem

orientados a agir tomando-os como referência. Constata-se um grande alinhamento

neste sentido entre os gestores.

Observa-se que “fazer bem feito” e “qualidade e detalhe em tudo o que faz”

são valores similares. Há realmente uma preocupação com a ordem e organização

dos ambientes de trabalho, incluindo as lojas, que estão sempre com os produtos

dispostos de forma adequada, conforme mencionado na análise dos artefatos

visíveis, atendendo a um padrão estético e demonstrando funcionalidade. Contudo,

a empresa não adota sistemas de gestão da qualidade e, consequentemente, não

possui um processo sistematizado de implementação de melhorias contínuas e nem

mesmo se submete a auditorias externas para validar se o seu modelo de qualidade

está adequado ou se precisa ser aperfeiçoado.

Inovação e pioneirismo parecem também conceitos similares. Na história da

empresa, percebem-se movimentos da organização no sentido de introduzir

inovações no seu modelo de negócios e prestação de serviços, como, por exemplo,

a adoção do plantão 24 horas, farmácias com médico ou farmacêutico responsável,

loja de conveniências e o atendimento pelo sistema de drive-thru, que serão

analisados no item posterior. Entretanto, a empresa não possui atualmente um

departamento ou área voltada para o desenvolvimento de novos negócios, produtos

e serviços, e muito menos processos sistematizados para garantir o

desenvolvimento ou aperfeiçoamento das inovações. As inovações nasceram a

partir da iniciativa dos presidentes, de suas ideias e decisões. Apesar de existir um

programa de melhorias para incentivar a participação dos funcionários, a

participação e resultados são pequenos.

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Já ética, honestidade, responsabilidade, comprometimento, seriedade e

transparência são valores complementares. Quanto às questões éticas, percebe-se

que este valor é mencionado principalmente ao se referir à preocupação da empresa

com a garantia de procedência dos medicamentos e também por não se adotar a

postura, comum em muitas farmácias, de fazer prescrições de medicamentos e

vender sem receituário médico. Observa-se, no entanto, que a empresa, apesar de

não ter um código de ética formal, é transparente nas suas relações, com

funcionários, clientes, fornecedores, comunidade e governo. Não há evidências de

envolvimento ou participação da empresa e de seus gestores em atos ilícitos, o que

indica seriedade, comprometimento, honestidade e responsabilidade nas suas

relações, conforme verbalizado pelos gestores. Foi citado, inclusive, pela grande

maioria, que o que não é admitido na organização é a desonestidade.

Há realmente uma visão disseminada entre os gestores de “colocar o cliente

em primeiro lugar”, inclusive destaca-se a atuação da assessoria da Presidência,

conforme mencionado anteriormente, que realiza um papel de ouvidoria da

organização. No entanto, não se perceberam evidências de que há treinamentos

frequentes para os colaboradores, no sentido de aprimoramento do atendimento aos

clientes. Foi mencionada, pelos entrevistados, a existência somente do treinamento

introdutório. Neste sentido, tal valor parece ser reforçado na prática e no cotidiano da

organização, mas sem uma sistematização, o que acaba gerando distorções, como

as evidenciadas pelas lojas, como mencionado anteriormente, que não procuram

identificar em outras locais o produto que o cliente necessita, deixando o cliente sem

o atendimento. Isto não condiz com a missão da empresa de sempre “encantar o

cliente”.

Quanto ao compromisso social, percebem-se algumas ações de cidadania

empresarial realizadas pela empresa, com maior destaque para a campanha de

doação do troco para o Hospital da Baleia. Palestras e cursos são também

oferecidos para a comunidade e a empresa atua ainda na recuperação de praças e

do patrimônio histórico. Este valor é identificado também como um objetivo

específico da organização no que diz respeito à adaptação externa.

No entanto, percebe-se que a disseminação dos valores encontra limitação

através dos processos de comunicação interna existentes atualmente na

organização, pois não há uma sistematização para divulgação e reforço dos mesmos

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com palestras, treinamentos, reuniões, e não se encontraram evidências da

existência de materiais de apoio a divulgação, como um código formal de ética e

conduta ou o manual do colaborador. A Intranet existe, mas tem seu conteúdo e

acesso restritos. Na visão dos gestores, a área de recursos humanos é quem

deveria tomar a frente dessas ações e não tem uma atuação eficiente. Por ocasião

das entrevistas, a empresa estava buscando a contratação de um novo gestor para

a área.

E, finalizando a discussão sobre os valores compartilhados, existe, na prática

e cotidiano dos gestores, a busca da qualidade nas suas ações, a inovação partindo

principalmente da visão da Presidência, a ética, honestidade, comprometimento,

seriedade e transparência, o compromisso social e, por último, a visão compartilhada

de se ter o lucro e o crescimento como medidas de desempenho. O sistema de

gerenciamento matricial de receitas e despesas é a ferramenta utilizada para o

monitoramento desses resultados, e percebe-se de fato a sua utilização como

instrumento de medida. Há um certo informalismo para tratar dos objetivos, quando

estes não estão sendo alcançados, conforme mencionado pelo gerente de TI, pois

os planos de ação são elaborados, mas não são adequadamente acompanhados e

monitorados.

Por fim, o terceiro nível, o dos pressupostos básicos, são normalmente

inconscientes, mas, na realidade, determinam como os membros do grupo

percebem, pensam e sentem. À medida que certos valores compartilhados pelo

grupo conduzem a determinados comportamentos, e esses comportamentos se

mostram adequados para solucionar problemas, o valor é gradualmente

transformado em um pressuposto inconsciente de como as coisas realmente devem

ser (SCHEIN, 2004, grifo nosso).

Quanto aos pressupostos básicos, percebem-se algumas características, que

não são explicitadas, mas as pessoas tender a agir desta forma dentro da

organização. A primeira delas é a humildade. As pessoas realmente não procuram

ostentar e apresentar uma imagem superior, característica que vem sendo

transmitida através das gerações, o que ficou evidenciado no discurso dos

funcionários mais antigos. Esta característica fica também evidente na apresentação

das instalações, na linguagem e no jeito de falar dos entrevistados, como também na

forma de se vestir e de se comportar.

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Por outro lado, tem-se a impressão que a empresa, por sua característica

mais fechada e pouco aberta às opiniões externas, pode cair na armadilha do

sucesso, perdendo oportunidades de desenvolver novos produtos ou serviços e

inovar de forma radical, pelo fato de, nos dias atuais, priorizar a exploração intensa

dos produtos e serviços desenvolvidos no passado e que, até então, têm um

histórico de sucesso (CHRISTENSEN, 2003).

Desta forma, a empresa fica presa às ideias concebidas no passado e

percebe-se que a inovação fica centralizada na pessoa do presidente. Com isto, há

pouco estimulo à criatividade, o que pode limitar em algum momento o seu

crescimento.

A busca por encantar o cliente realmente parece um valor bastante introjetado

na cultura da organização e se percebe tanto os gestores, quanto os colaboradores,

de maneira geral, compromissados, a ponto de que se pode considerar que tal valor

seja um pressuposto básico da organização. Há de se ressaltar, no entanto, a

existência de lojas que não se preocupam em atender aos clientes da melhor forma,

conforme já mencionado, não buscando identificar os produtos em outros locais,

quando não encontrado no estoque próprio.

Contudo, de forma subjacente, percebe-se o pressuposto básico da

organização de atender às necessidades e expectativas da família e mais, de criar e

manter uma grande família, juntos aos seus gestores e colaboradores mais

próximos, como se fossem um grande clã, protegidos por uma sociedade patriarcal.

É uma organização com características familiares bem presentes e que não cogita

possibilidades de crescimento através da profissionalização de sua gestão ou

abertura do seu capital. Tem-se a impressão, pela fala do presidente, que ações

como estas representam uma ameaça a esse núcleo familiar constituído e coeso.

Agindo como uma grande família, a organização procura suprir também

necessidades dos seus colaboradores, provendo apoio no caso de enfermidades ou

dificuldades financeiras, como também oferecendo oportunidades de emprego para

as pessoas próximas, como parentes e filhos.

Com o objetivo de se identificar quais são os artefatos visíveis, valores

compartilhados e pressupostos básicos presentes na organização, constituiu-se,

então, neste item, a explanação de elementos que permitem caracterizar melhor os

aspectos culturais da organização pesquisada, conforme resumido na FIG. 14 a

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seguir, e desta forma permitir o avanço na análise para o entendimento do

relacionamento desses aspectos culturais com os tipos de inovações encontradas na

empresa.

FIGURA 14: Artefatos visíveis, valores compartilhados e pressupostos básicos da organização pesquisada Fonte: Elaborado pelo autor a partir das definições de Schein (2004).

Hofstede et al (1990) não fazem a distinção entre o conceito valores e

pressupostos básicos, conforme a definição de Schein (2004). O conceito de valores

dos autores aproxima-se mais do conceito de pressupostos básicos de Schein

(2004). Neste sentido, destacam-se então os aspectos subjacentes apontados no

item anterior, que se pode observar com relação à humildade das pessoas,

denotada através do linguagem, vestuário e comportamentos, a orientação da

organização e de seus colaboradores, no sentido de atender ao cliente, encantando

e satisfazendo as suas necessidades. O direcionamento em atender às expectativas

da família é outro pressuposto básico da organização, tanto do ponto de vista do

crescimento do negócio, como da possibilidade de desenvolvimento de uma carreira

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profissional, tanto diretamente na empresa ou por meio de negócios em torno do

negócio principal.

Os símbolos, palavras, gestos, figuras ou objetos que trazem alguma

representação sobre a cultura são também os que foram explorados nos itens

anteriores. As expressões comumente utilizadas, como “encantar o cliente”, “curtir o

erro” e “atenção ao detalhe”, a foto dos fundadores presente nas instalações, o

crucifixo, que é colocado em lugar de destaque, são exemplos destes símbolos da

cultura da organização.

Os heróis, pessoas vivas ou falecidas, admiradas pelo grupo e que servem

como modelo de comportamento, que foram evidenciados pelos entrevistados, são o

Modesto Carvalho Araujo, conhecido como Modesto Fundador, já falecido, avó do

Modesto Carvalho Araujo Neto, atual presidente, e que é sempre lembrado pelos

mais antigos. As histórias a seu respeito giram em torno principalmente da

disponibilidade para o atendimento dos “fregueses”, quando ele instalou uma

campainha do lado da cama do seu quarto, que ficava nos fundos da loja, assim

qualquer cliente poderia tocar a campainha, mesmo com a loja fechada e durante à

noite teria atendimento. Foi um dos pioneiros também na implantação dos serviços

de conveniência, trazendo artigos, como coalho e soda cáustica, para o mix de

produtos da farmácia (BRASIL, ARRUDA, 2006). Foi visionário ao adquirir e assumir

as operações da antiga Pharmácia Mineira e então transformá-la em Drogaria

Araujo, nos idos tempos de início de Belo Horizonte. Soube realizar a sua sucessão

com relativa tranquilidade, atuando em parceria com as gerações subsequentes e

desta forma assegurar a continuidade dos negócios da empresa.

Antonio Araujo, pai de Modesto Neto, foi atuante dentro e fora da

organização. Foi diretor da Federação do Comércio, e é considerado pelos

entrevistados uma pessoa com visão de futuro. Ele buscou treinamentos e

capacitação externa para os empregados, inclusive no exterior, para melhoria e

aprimoramento dos serviços. Isto, há 30 anos atrás. Nas palavras da entrevistada D.

Maria Felix, “o senhor Antonio tinha uma coisa muito bonita. Ele chamava a atenção

das pessoas conversando. E não alterava a voz, não maltratava. A pessoa que ele

estava chamando a atenção é que ficava com vergonha pelo forma que ele lidava

com as pessoas‟‟.

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Outra pessoa também já falecida e que é recorrentemente lembrada é o

presidente anterior e irmão de Modesto Neto, Eduardo Araujo. A criação, ampliação,

modernização e aprimoramento dos serviços de entrega Drogatel têm o mérito

creditado a ele. Era uma pessoa que se destacava pelo seu carisma, como também

pelo bom humor; boa parte dos entrevistados têm recordações afetivas do convívio

com ele. Era uma pessoa, segundo relato dos entrevistados, contagiante e que tinha

aptidão para motivar e ajudar seus colaboradores. Sua perda, de forma inesperada,

vítima de uma doença grave, causou abalo na organização, mas não chegou a

causar uma crise de sucessão, pois Modesto Neto soube administrar e conduzir o

processo sucessório, principalmente por ter trabalhado por anos junto com o irmão.

Modesto Neto é o grande herói dos tempos atuais e a referência dentro da

instituição, influenciando o linguajar, a forma de se comportar e agir das pessoas. É

a figura principal da empresa em termos de inovação e o grande responsável pelo

crescimento que a empresa atingiu nos últimos anos. Modesto atuou fora da

empresa no mercado financeiro durante 13 anos, como superintendente

administrativo de um grupo empresarial, mas salienta que sempre teve como meta

atuar na organização, pois isto “estava no seu sangue”. Quando entrou na

organização, por convite do seu irmão, Eduardo, assumiu a Diretoria Administrativa

e Comercial e o grupo tinha apenas oito lojas. Foi o responsável pela estruturação

do conceito Drugstore, buscando referências nos Estados Unidos e principalmente

convencendo os gestores de que este era o caminho a seguir. Criou os serviços

drive-thru e foi ele quem trouxe a consultoria e metodologia do INDG para dentro da

instituição.

Sua filha, Silvia, parece estar trilhando os caminhos do pai. Acompanha o pai

em todos os assuntos, tem o respeito e consideração dos gestores e é apontada por

todos como referência, pelo seu carisma e suas atividades. Está à frente dos

serviços de ouvidoria da organização, envolvendo todas as áreas quando há a

necessidade de prover uma resposta em tempo hábil para os clientes, sobre uma

solicitação, sugestão, reclamação ou crítica.

Bruno, que é o diretor comercial, privilegia a área de Vendas e vem

demonstrando a habilidade necessária para o desenvolvimento deste setor. Antônio,

que é o superintendente administrativo, atua de perto na gestão da empresa, com

uma postura compromissada e rigorosa na visão dos gestores.

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Os funcionários mais antigos, Davi, Irineu e Maria Felix, são recorrentemente

citados como exemplos vivos de dedicação e comprometimento com a organização.

São tratados de forma carinhosa e respeitosa, não só pelos diretores, como também

pelos demais gestores.

O Sr. Irineu está na empresa desde 1948, entrou com 16 anos e demonstra

grande apreço pela organização. Trabalhou como entregador para todos os setores

da empresa. Começou suas atividades profissionais em 46, e em 48, um diretor da

organizou o convidou para trabalhar em compras, onde permaneceu por

praticamente toda a sua carreira. Quando chegou à empresa, trabalhava

diretamente com o pai do Modesto Neto, e com isto, teve várias oportunidades para

participar de treinamentos, ampliando os seus horizontes de conhecimentos. É

chamado carinhosamente por todos de „tio‟ e é tido como um exemplo de

honestidade. Hoje, apesar de não exercer nenhuma atividade na organização, sua

presença é sempre requerida e, nas palavras dele, “eu venho aqui mais pra passear,

porque eles não querem que eu vá embora. Então, estou aqui”.

A Sra. Maria Felix iniciou suas atividades na empresa em 1948. Trabalhou

anteriormente na Padaria Brasileira, que ainda existe na Rua Goitacases, e os

diretores da Drogaria passavam todo dia na padaria onde ela trabalhava para

comprar pão. Recebeu um convite, através de um sócio, na ocasião, o Sr. Duarte,

para trabalhar na empresa. Trabalhou como caixa numa filial que existia na Rua

Tupinambás e depois foi transferida para o prédio central, quando ele foi adquirido.

Ficou no caixa por um certo tempo, e depois foi transferida para a tesouraria, local

onde trabalha até os dias atuais. Ela demonstra um grande afeto pela empresa e

relata que tem um tratamento especial da parte de todos. E pretende continuar

trabalhando na empresa “até quando der”.

O Sr. Davi iniciou suas atividades na empresa em 1945. Começou com 13

anos de idade, como entregador. Naquele tempo, usava boi ou bicicleta. Nas suas

palavras, foi campeão de entrega e ganhava um centavo por cada entrega para a

matinê do domingo. Ficou bastante tempo como entregador, depois foi para o

laboratório, ajudando na limpeza, lavando vidro e ajudando os farmacêuticos. Depois

foi para o atacado, fazia despacho, assumiu a chefia de atacado, depois passou

para a gerência, trabalhando ali durante 20 anos, de meio-dia as duas da

madrugada. Foi gerente de balcão geral, saiu e assumiu a função de atendimento à

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criança, atendimento a empresas, coleta de preço, e negociação de empresas.

Durante o tempo que ficou no plantão, o método de vendas empregado na época, no

balcão, era manter as mercadorias escondidas. Embaixo do balcão. Propôs colocar

a mercadoria na mão e na visão do cliente para facilitar o seu acesso. Foi criticado

por muitos ao adotar este procedimento, com o receio do aumento de furtos, em

função da facilidade de acesso às mercadorias. O faturamento dobrou, mesmo com

a existência de alguns furtos, e com isto a ideia caiu no apreço da Diretoria e é

mantida até hoje, com os refinamentos atuais.

Além destes três funcionários, o gerente de TI e o gerente administrativo são

funcionários com mais de 20 anos de casa e também possuem toda uma história

dentro da empresa, sendo frequentemente citados como exemplos de conduta.

Quanto aos rituais que existem na organização, o que pode reforçar a sua

cultura, destaca-se a tradicional festa de final de ano. Pelo grande número de

funcionários, ela é realizada num espaço amplo. Tradicionalmente, nesta

celebração, os funcionários que atingem dez anos de casa recebem um broche com

diamante comemorativo. O presidente faz questão de cumprimentar pessoalmente a

todos, e é feita uma fila, para que todos tenham essa oportunidade. São realizados

sorteios, inclusive de automóveis, com apoio e patrocínio dos fornecedores. A festa

é restrita aos funcionários e não é extensiva aos familiares. A empresa organiza

esse momento de confraternização e comemoração pelos resultados alcançados ao

longo do ano.

As reuniões do grupo de vendas são também tradicionais e acontecem com

certa frequência, no sentido de avaliar estratégias e formas de incrementar os

resultados. Periodicamente acontecem também visitas e encontros nas lojas,

promovidos pelo presidente, quando ele realiza uma palestra ou um discurso em tom

mais informal e descontraído, que é a sua característica. Estes são os principais

rituais mencionados pelos entrevistados e que fazem parte do cotidiano da

organização.

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Assim, ficam caracterizados os aspectos da cultura da organização

relacionados aos valores, heróis, símbolos e rituais presentes, conforme

apresentado na FIG. 15 a seguir.

FIGURA 15: Valores, heróis, rituais e símbolos da organização pesquisada Fonte: Elaborado pelo autor a partir das definições de Hofstede et al (1990).

4.2.3 Características da cultura brasileira presentes na organização

Conforme descrito no referencial teórico, Tanure (2007, p. 1) ampliou os

estudos de Hofstede (1980), tendo em vista a realidade brasileira. A autora defende

a hipótese de que “a cultura brasileira, com suas características e especificidades,

impacta o modelo de gestão das empresas”.

Esta afirmação parece ter sentido quando se observa e se analisa a

organização, objeto desta pesquisa, que apresenta muitas das características e

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dimensões propostas pela autora e que influenciam diretamente o seu modelo de

gestão.

A autora, conforme descrito no referencial, analisa as quatro dimensões

identificadas por Hofstede (1980 apud TANURE, 2007), que são: (1) a distância do

poder; (2) a necessidade controlar as incertezas; (3) a forma como os indivíduos

interagem nos grupos; (4) masculinidade versus feminilidade. Posteriormente, há

uma quinta dimensão, modelada a partir de valores orientais, que é a orientação de

longo prazo versus orientação de curto prazo.

Com relação à distância do poder, observa-se que, na organização em

estudo, conforme a visão dos entrevistados, a concentração do poder é notória, na

figura do presidente. Os próprios gestores têm autonomia reduzida. Ninguém tem

dúvidas sobre quem é responsável por tomar as decisões e quem deve implantar o

que foi decidido. A estrutura é hierárquica, com as decisões centralizadas no topo da

pirâmide, sendo que os gestores aparentemente não consideram trabalhar com base

em estruturas mais flexíveis, no estilo matricial, por exemplo. Têm internalizado

realizar as tarefas com base nos princípios hierárquicos – quem tem o poder – e

funcional – quem conhece da função. Não há um sistema participativo de

administração e os gerentes não reclamaram da submissão a hierarquia e falta de

autonomia, característica que pode ser constatada pela entrevista com os

funcionários mais antigos, que afirmaram que a empresa é o melhor lugar para se

trabalhar. Apesar do poder estar concentrado na figura do presidente, o acesso aos

diretores e ao presidente não é difícil, conforme afirmado anteriormente.

Em sua pesquisa, Tanure (2007) constata que as organizações brasileiras

são influenciadas pelas características de concentração de poder e personalismo e

tendem a assumir posições mais coletivistas do que individualistas.

Esta característica coletivista, que representa a terceira dimensão proposta

por Hofstede (1980 apud TANURE, 2007) - a forma como os indivíduos interagem

nos grupos - é valorizada na organização, que se comporta como uma grande

família, provendo ajuda mútua e proteção, tanto para os familiares quanto para os

colaboradores. As relações entre os indivíduos são fortes, a coesão do grupo é

grande e observa-se que ela representa uma fonte de identidade e segurança para

todos. Com isto, as pessoas que se integram ao grupo passam a ter confiança na

organização. Por outro lado, percebe-se que não há muita competição entre os

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gestores, o que, segundo Tanure (2007, p. 53), poderia “gerar uma fonte vantajosa

de ideias para mudanças inovadoras”.

Quanto à necessidade de controlar as incertezas, “essa dimensão está

presente, em maior ou menor grau, em qualquer parte do planeta, pois o futuro é

incerto e temos que conviver com essa realidade” (TANURE, 2007, p. 65).

De acordo com pesquisa realizada por Hofstede (1980, 1991, 1993, 2001

apud TANURE, 2007), o estudo da necessidade de controlar incertezas deve

começar com o estresse no trabalho. Quanto maior o nível de estresse dos

colaboradores, decorrente das incertezas do ambiente, eles tendem a ficar mais

tempo na empresa, procurar mais estabilidade e ter mais disposição para cumprir

regras.

No entanto, Tanure (2007), em pesquisa recente, apontou mudança

significativa no índice de necessidade de controle de incertezas, elaborado por

Hofstede (1991), mostrando que ele estava em 76 e caiu para 36 nas últimas três

décadas. Isto demonstra que a sociedade brasileira promoveu uma mudança

cultural nos seus valores centrais, convivendo melhor com a incerteza e

ambiguidade, mas está ainda muita presa a regras e normas sociais.

Apesar de não se ter notado nível alto de estresse na organização, observa-

se que os seus colaboradores tendem a ficar muito tempo na empresa, procuram

estabilidade e têm grande disposição para a aceitação das regras. Pode-se perceber

também que os entrevistados não demonstram muita ambição em avançar na

carreira, talvez pelo fato de que as oportunidades dentro da organização são

limitadas ou que considerem a estabilidade como ponto fundamental. De maneira

geral, conferem um alto grau de lealdade para a organização e também têm o

sentimento de que os gestores mais antigos são os melhores. Há pouca competição

entre os gestores, talvez em decorrência da centralização de poder do presidente.

Apesar disso, seu estilo gerencial não é considerado autoritário e o grupo é ouvido

no processo decisório. Os entrevistados verbalizaram que não imaginam trabalhar

com um gestor externo. Não têm uma visão clara sobre os rumos da empresa e o

que a orienta, aonde pretendem chegar, mesmo que todos nutram por ela um

sentimento de grande admiração, respeito e lealdade.

Com relação à dimensão masculinidade versus feminilidade, para Tanure

(2007), conforme apresentado no referencial teórico, há uma predominância,

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também, na cultura brasileira, de valores masculinos, como competição e interesse

pelo sucesso material em contraposição aos femininos, como ternura, generosidade

e cooperação, o que, na sua visão, se reflete também na gestão organizacional.

Neste sentido, há uma posição intermediária entre tais valores dentro da

organização, em consonância com a realidade nacional, de acordo pesquisa

realizada por Tanure (2007).

Dentre os valores masculinos, alguns ficam evidenciados na organização,

conforme definição de Tanure (2007), como “herói é quem executa”, demonstrado

pelo culto e valorização das pessoas vivas ou falecidas e que foram ou são

influenciadoras dos padrões de comportamento, conforme apresentado no item

anterior. A valorização de que “o grandioso é bonito” é recorrentemente enaltecida

na organização pelos seus mais de 100 anos de existência, uma rede de comércio

farmacêutico com maior número de lojas em Belo Horizonte e pela sua posição de

destaque no ranking da associação ABRAFARAMA. O valor masculino de “realizar é

mais importante do que estar” também aparece na fala dos entrevistados, quando

afirmam que “tem que resolver”, ao se depararem, por exemplo, com um problema

relacionado ao atendimento de um cliente. Já o valor de “ser agressivo” aparece na

própria estratégia da empresa de ocupação de espaço e crescimento, ofuscando a

ação da concorrência do setor. Por outro lado, o valor masculino de que

“relacionamento é secundário” apresenta-se de forma contraditória na organização.

Não há ações no sentido de promover os relacionamentos, conforme apresentado

nas práticas para promover a integração interna, com exceção da confraternização

de final de ano. Por outro lado, as pessoas que têm tempo maior de casa são

valorizadas e têm um relacionamento mais próximo com a direção da empresa.

Considerando-se, então, os valores femininos, conforme definição de Tanure

(2007), observa-se, na empresa pesquisada, a “ternura, cooperação, boas relações

com os superiores, o viver num ambiente agradável para si mesmo e a família, e

preocupação com a qualidade de vida”, identificados na organização pelo

depoimento dos entrevistados. Sendo assim, percebe-se que a realidade da cultura

organizacional da empresa incorporou características da cultura nacional, mas com

algumas adaptações.

Quanto à quinta e última dimensão - orientação de longo prazo versus

orientação de curto prazo -, a postura organizacional brasileira, de maneira geral, é

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de tendência à orientação de longo prazo, conforme apresentado no referencial

teórico, ou seja, ainda não adota metas e objetivos a serem cumpridos

rigorosamente em curto espaço de tempo, sendo que os executivos acreditam que a

construção das relações sociais internas e empresariais demandam período maior

de tempo para se consolidarem (TANURE, 2007).

Esta postura é evidenciada na organização em estudo, considerando-se que

os entrevistados manifestaram valorizar os relacionamentos existentes e a utilização

do tempo como forma de construir as relações sociais, conforme definição de Tanure

(2007). A austeridade, persistência e perseverança são valores muito importantes

para a organização, segundo o depoimento dos entrevistados, em conformidade

com a realidade de Minas Gerais, estado que apresenta posição destacada neste

quesito, conforme pesquisa de Tanure (2007).

Há, no entanto, características presentes na organização, de orientação de

curto prazo, como ter o lucro como medida de desempenho e adotar metas e

objetivos mais imediatistas para a empresa, monitoradas de forma sistemática

através do sistema de gerenciamento matricial de receitas e despesas. Por outro

lado, observa-se que a organização tende a ser mais tolerante, quando não

acompanha os planos de ação elaborados para corrigir os desvios nas metas e

objetivos e também pelo seu baixo índice de turnover, pois, normalmente, não pune

com demissões a falta de desempenho, somente as faltas graves com relação à

conduta dos seus gestores e empregados.

Por fim, Tanure (2007) apresenta, conforme mencionado no referencial

teórico, o que denomina sistema de ação cultural brasileiro e considera que a

flexibilidade é o seu fator fundamental, sendo um traço que permite a articulação

entre os subsistemas “institucional e pessoal” e “líder e liderados”. Ou seja, a partir

dos seus resultados de pesquisa, a autora desenvolve uma matriz – sistema de ação

cultural brasileiro – com os elementos que, na sua visão, caracterizam o padrão de

comportamento nas organizações brasileiras, representado na FIG. 16.

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FIGURA 16: Sistema de ação cultural Brasileiro Fonte: Tanure (2007).

O líder da organização pesquisada apresenta, de forma evidente, as

características de concentração de poder, mesmo quando propõe ações mais

inclusivas, como também o paternalismo e personalismo nas suas relações com os

liderados. Por outro lado, percebe-se que os gestores entrevistados adotam postura

de espectador, demonstrando baixa iniciativa, principalmente para propor mudanças

e inovações no modelo do negócio e gestão da empresa e, assim, evitam o conflito

com o presidente.

O medo de errar é amenizado em função da posição adotada pelo presidente

de aprender com os erros e lidar com os fracassos. O traço de lealdade das pessoas

é bastante evidenciado pelos entrevistados e valorizado pela fala dos funcionários

mais antigos. Já a ambiguidade fica caracterizada pela falta de clareza e regras,

como, por exemplo, a ausência de um código de ética e conduta, o que permite

manobra para os que ocupam posição de poder e diferentes interpretações por parte

dos liderados. Por exemplo, para alguns entrevistados, não há restrições para a

existência de casais na empresa, enquanto que, para outros, casais não são

admitidos.

Quanto à flexibilidade, que representa, segundo Tanure (2007, p. 110), “uma

categoria com duas faces – adaptabilidade e criatividade –, observa-se de forma

mais evidente a característica de adaptabilidade da organização, que lida bem com

os fracassos e aprende com os erros, refaz e continua, após o aprendizado. O fato é

que a empresa sobreviveu e cresceu, num setor bastante competitivo, por mais de

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100 anos, o que leva a crer que esta característica de adaptabilidade facilitou todo

este processo.

Já a criatividade, parece estar centralizada nos presidentes, que trouxeram

diversas ideias e conceitos para o modelo de negócios da organização, conforme

será descrito no próximo item. Os gestores não apresentaram evidências de

exercitarem sua autonomia e criatividade, como também não há processos

suficientemente sistematizados para dar sustentação a ações neste sentido. No

entanto, os gestores verbalizaram comprometimento com os objetivos determinados

pelo presidente.

Portanto, de forma a permitir ao grupo crescer em termos de participação e

desempenho, considera-se importante, segundo visão de Tanure (2007), “refletir

sobre estes traços relacionados ao poder, de maneira a transformar a relação de

dependência numa relação de interdependência entre líderes e liderados”. Neste

sentido, seria importante que os gestores assumissem um papel mais ativo dentro

da organização e o presidente, em contrapartida, precisaria acreditar na capacidade

deles, dando-lhes maior liberdade de ação.

Em suma, se tomarmos como referência o sistema de ação cultural brasileiro,

desenvolvido por Tanure (2007), perceberemos que a cultura nacional influencia no

modelo de gestão da empresa, comprometendo, em alguns aspectos, o seu

potencial criativo, limitando, desta forma, a sua capacidade de inovar.

A análise dos tipos de inovação da empresa estudada é o tema do próximo

item. Com isto, encerra-se o primeiro nível de análise, que permitiu identificar quais

os elementos organizacionais e gerenciais que compõem a cultura da empresa

pesquisada, considerando as questões de adaptação externa e integração interna;

artefatos visíveis, valores compartilhados, pressupostos básicos; valores, heróis,

rituais e símbolos permeados pelas práticas cotidianas da organização, e elementos

da cultura brasileira que influenciam o modelo de gestão da empresa.

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4.3 Descrição e análise dos tipos de inovação da empresa estudada

Este segundo nível de análise tem por objetivos descrever e analisar os

processos de inovação da empresa pesquisada, identificando a maneira pela qual se

deu a trajetória das inovações na organização e os tipos de inovação

predominantes.

Neste item, serão identificadas as práticas que podem ser consideradas

inovadoras no modelo de gestão e prestação de serviços adotados na empresa

pesquisada.

4.3.1 Inovações da organização: histórico e classificação por tipos

O histórico das inovações da organização inicia-se com a atuação do seu

fundador, Modesto Carvalho de Araujo, que, segundo o relato dos entrevistados, era

uma pessoa muito preocupada com o atendimento e serviço aos clientes, buscando

de forma recorrente alternativas para melhorar a prestação dos serviços da

organização. Percebe-se que o seu comportamento empreendedor provocou o

desenvolvimento de mudanças com consequências positivas para a organização

(SCHUMPETER, 1985).

O fundador, conforme relatado, morava nos fundos da primeira loja, localizada

na Praça Rio Branco, no centro de Belo Horizonte. Com o intuito de atender melhor

a seus clientes, contam os entrevistados, instalou uma campainha do lado de sua

cama. Desta forma, qualquer horário da noite ou madrugada, mesmo com a Loja já

fechada, ele abria para fazer uma venda ou atendimento. Mais tarde criou o primeiro

plantão noturno da cidade e atendimento 24 horas, que existe até os dias atuais

(BRASIL, ARRUDA, 2006).

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Ele desenvolveu também o conceito de loja de conveniência, ainda que de

forma incipiente, ressaltava a garantia de procedência dos produtos, oferecia

serviços médicos à população e sempre empregava farmacêuticos responsáveis.

Brasil e Arruda (2006) comentam, sobre anúncio de 1927 publicado e assinado por

Modesto Carvalho Araujo, onde estes diferenciais eram destacados, formando o que

se pode considerar seus pressupostos básicos (SCHEIN, 2004).

Já no início do empreendimento, ele introduziu a entrega em domicílio.

Desenvolveu também uma política de melhores preços através de compras diretas

dos fornecedores nacionais ou estrangeiros. Segundo os entrevistados, Modesto, o

fundador, fazia questão de assinar a propaganda dos anúncios, desta forma, visando

garantir credibilidade para as informações. Dentro do seu objetivo de sempre

atender aos clientes, afixou placa nas lojas com os dizeres: “Se não encontrar o

produto, fale com o gerente” (BRASIL, ARRUDA, 2006).

A garantia de procedência dos seus medicamentos era evidenciada também

desde o início de suas operações. Para tratar, em 1914, da sífilis, doença venérea

transmissível, era utilizado um medicamento denominado Neosalvasan, que estava

em falta em Belo Horizonte, e quando encontrado, custava muito caro. Modesto, o

fundador, conseguiu trazer o medicamento do Rio de Janeiro a um custo inferior, o

que acabou sendo motivo de contestação pelos concorrentes, que espalharam

boatos que o medicamento vendido pela Drogaria Araujo era falso. A empresa

publicou na imprensa um atestado de comprovação de procedência do produto e fez

contatos junto aos médicos, apresentando os documentos de importação (BRASIL,

ARRUDA, 2006).

Outro episódio, que demonstra o espírito de cidadania empresarial e

responsabilidade social da organização, ocorreu durante a epidemia de gripe

espanhola, no final da Primeira Guerra Mundial, em 1914. Modesto, o fundador,

ofereceu quinino de graça à população, que era o medicamento preventivo, e ao

mesmo tempo, vendia os medicamentos para cura a preços módicos (BRASIL,

ARRUDA, 2006).

Já Antonio Martins de Araujo, filho de Modesto Araujo, tinha o perfil daquela

pessoa que segue os passos do pai, mas também cria e inova. Sistematizou os

serviços de entrega a domicílio - o Drogatel Araujo –, que é símbolo da empresa,

procurando ocupar espaços em Belo Horizonte e bloqueando a entrada de

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concorrentes e ao mesmo tempo reduzindo os investimentos com abertura de

pontos comerciais e custos com estoques (BRASIL, ARRUDA, 2006). Desta

maneira, Antônio, com a introdução deste serviço, diferenciou-se das empresas do

setor, aumentando a competitividade da empresa (KUCZMARKSI, 1998).

Antônio, com o apoio do pai Modesto, criou também, em 1977, a loja para

venda de produtos agroveterinários, adotando o mesmo padrão da Araujo, com

médico veterinário, agrônomos e técnicos agrícolas para atendimento aos clientes.

Mantendo o histórico das inovações da empresa, Eduardo Araujo – filho de

Antônio -,foi o responsável por profissionalizar os serviços Drogatel em um

verdadeiro telemarketing e entrega em domicílio. Durante a sua gestão, foi o

responsável pela instalação de duas drogarias drive thru, as primeiras que foram

instaladas no Brasil. Em 1996, por iniciativa de Eduardo e de Modesto Neto, o qual

já estava na empresa atuando em conjunto com o irmão, um grupo de 59

funcionários foi aos Estados Unidos para estudar os padrões americanos de

Drugstore, em parceria com a Universidade da Flórida. Visitaram redes de drogarias,

assistiram a palestras e tiveram oportunidade de observar como este modelo de

negócios funcionava na prática. Realizaram, com essa viagem, o que March (1991)

denominou encontrar novas formas inteligentes para explorar um conhecimento

existente. Eduardo, que tinha um perfil inventivo, segundo Brasil e Arruda (2006),

desenvolveu também um carrinho com trilhos que permitia o transporte de

medicamentos diretamente do estoque para o balcão da loja matriz, desta forma,

evitando o deslocamento dos atendentes até o estoque e diminuindo o tempo de

atendimento ao cliente, de acordo com o relato dos entrevistados.

O presidente atual, Modesto Neto, entrou para a Drogaria Araujo em 1984,

após trabalhar 15 anos no mercado financeiro. Atuou como diretor administrativo até

o falecimento de Eduardo em 2004, quando assumiu a Presidência da empresa. Ele

promoveu os ajustes acionários necessários, dando condições adequadas de saída

para aqueles membros da família que não desejavam atuar na organização.

Implantou o sistema de gerenciamento por categorias, realizou a informatização do

grupo, implantou o sistema de gestão de estoques, determinou os critérios de

precificação, intensificou o processo de padronização das lojas, facilitou a

aposentadoria de acionistas através de aluguéis provenientes de imóveis utilizados

pela organização e viabilizou a criação de empresas satélites para os membros da

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família, em especial os mais jovens, que tinham perfil mais empreendedor.

Aprofundou também as ações de responsabilidade social da organização com

campanhas como “Doe o seu troco” para o Hospital da Baleia e implantou a política

de participação nos lucros e resultados para os empregados.

Um dos diferenciais da organização foi a implantação do gerenciamento por

categorias, sistema comercial que faz integração entre compras, vendas, estocagem

de produtos e exposição nas prateleiras das lojas. O software permite projetar o

layout das prateleiras de acordo com as necessidades dos clientes, obedecendo a

níveis de rentabilidade e afinidades de famílias de produtos. Dessa forma, conforme

anteriormente mencionado, induz a uma concorrência entre os fornecedores, que

disputam posição dos seus produtos nos mostruários e espaço promocional nas

lojas e veículos da empresa, através da oferta de melhores margens de

comercialização para a organização (BRASIL, ARRUDA, 2006).

Outra inovação que Modesto Neto trouxe para a gestão da empresa foi o

sistema de gerenciamento matricial de receitas e despesas, implantado pelo INDG,

que, através de um painel de metas e indicadores, orienta quais resultados devem

ser atingidos pela organização, e permite a elaboração de planos de ação para

reverter uma situação onde o resultado esperado não está sendo atingido.

Modesto também inovou na criação de espaços e serviços exclusivos nas

lojas, como o Espaço Viver Diet, com produtos destinados ao público que tem

restrições ao consumo de açúcar, os serviços Araujo Foto de ampliação e revelação

de fotos digitais e os serviços de cópias e fax. Lançou, no final de 2008, o site de

comércio eletrônico, disponibilizando os seus produtos para venda em todo Brasil.

Eles estudam novas iniciativas, como quiosques de vendas em municípios fora da

Grande BH.

Neste sentido, destaca-se o depoimento do diretor comercial:

Eu acho que o grande propulsor disso aí é o Modesto. Ele pesca essas coisas no ar. Nos ensina a sempre buscar esse diferencial. Mas ele sempre fala: “busca coisa diferente, vamos fazer algo mais.”. Então acho que a grande figura disso aí de inovar chama-se Modesto. Nós temos que aprender com ele como se faz isso.

No entanto, percebe-se que a inovação, mesmo nos dias atuais, não é tratada

de forma sistematizada ou orientada através de processos. Percebe-se que

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predominam elementos e ações informais na cultura da empresa no que se refere a

inovações. Isto se confirma quando o diretor comercial afirma que não há nada

estruturado para orientar o desenvolvimento de produtos e serviços, e quando surge

uma ideia, a empresa procura desenvolvê-la e ver o que acontece.

Conclui-se então que as inovações surgiram, na empresa, ao longo destes

mais de cem anos, principalmente pelo empenho e visão do fundador e seus

sucessores, não por meio de processos sistematizados.

Com intuito de classificar as inovações da organização com base numa

tipologia, Cyrino (2007), a partir da classificação desenvolvida por Christensen

(2003), conforme descrito na referencial teórico, elaborou matriz que apresenta os

diferentes níveis e tipos de inovação. Os tipos de inovação, de acordo com a

definição de Christensen (2003), são o tipo incremental e radical, com foco no

componente ou no sistema.

De acordo com Christensen (2003), a inovação incremental com foco no

componente é percebida como um processo de melhoria contínua dentro da

organização, buscando otimizar determinadas atividades, normalmente em busca de

melhor desempenho do produto ou redução de custos. Neste sentido, observa-se

que o sistema de gestão de estoques, implantado por Modesto Neto, que permitiu

reduzir os custos da operação e de produtos estocados, encaixa-se nesta

classificação.

Já a inovação incremental com a abrangência do sistema visa reformular

e promover uma melhoria nos processos da organização como um todo

(CHRISTENSEN, 2003, grifo nosso). Neste sentido, quando Antônio Araujo criou os

serviços de entrega em domicílio - Drogatel, que depois foi aperfeiçoado por

Eduardo Araujo, estavam justamente aperfeiçoando um processo existente – de

entrega em domicílio – e fazendo uma transformação na empresa como um todo,

pois eles criaram um canal de venda estruturado para atendimento aos clientes por

telefone. Este canal precisava ter acesso em tempo real à posição de estoque das

lojas, como também do depósito. A comunicação dos pedidos precisava fluir de

forma eficiente para atender ao cliente, através da loja mais próxima, e no menor

tempo. Mecanismos de cobrança dos clientes foram criados, de forma a garantir o

recebimento pelo fornecimento dos produtos e tecnologia da informação, segundo a

opinião do gerente da área, precisou dar suporte adequado a todas estas operações.

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Percebe-se, então, que diversas áreas precisaram ser envolvidas para garantir o

sucesso dessa empreitada, como também essas áreas foram diretamente afetadas,

desta forma, caracterizando-se como uma inovação, abrangendo todo a

organização.

Da mesma maneira, quando Eduardo Araujo e Modesto Neto investiram no

conceito do Drugstore, patrocinando a ida dos seus funcionários para estudar e

melhor entender o modelo americano, eles estavam realizando uma inovação

incremental com foco no sistema, se considerarmos o contexto americano, onde

lojas atuando com este conceito já existiam há mais tempo. No entanto,

considerando o contexto brasileiro, pode-se pensar nesta inovação como radical,

pois tratava-se de um modelo de negócios até então não adotado pelas farmácias da

época, segundo o relato dos entrevistados. Esta inovação afetou a organização

como um todo, porque implicou em rever layout e funcionalidade das lojas para a

adequação aos novos produtos, treinar funcionários para comprar e vender outros

produtos além de medicamentos, desenvolver novos fornecedores e principalmente

mudar toda a estratégia mercadológica da organização, conforme a fala do

presidente abaixo, que procura demonstrar como esta estratégia é fundamental

para a competitividade da empresa.

É um mix de produtos diferenciado, se você for analisar o conceito de Drugstore foi a Araujo que trouxe pro Brasil. E isso é um diferencial grande, porque os concorrentes de fora não tem isso. A Droga Raia por exemplo, ela não tem as coisas que a Araujo tem. Então isso é um grande diferencial. Tem uma filosofia de não ter quantidades, e sim lojas com qualidade. Você pode olhar que os pontos que a Araujo se encontra são pontos extremamente selecionados. São geralmente no retorno pra casa. É um diferencial, você está voltando pra casa é ali que você vai comprar uma coisa. Quando você quer o produto, toda empresa se esforça pra ter o produto, você sempre vai ter motivos pra voltar a Araujo, então a Araujo tem o que mantém a competitividade da empresa. E bom atendimento qualquer um pode ter, você vai num concorrente você é muito bem recebido, muito bem tratado, mas não tem o que você quer, você vai voltar de lá pra cá. Então ter o que o cliente está procurando é realmente uma das coisas que é um diferencial. Outro mecanismo que está relacionado a isso aí, é um processo que a gente internamente tem que chama “Araujo tem”. Se você for em uma loja e não achar esse produto você pode pedir para que entregue em sua casa sem custo se você tiver na hora de entrega do Drogatel. Eu não conheço nenhuma outra empresa no mundo desse negócio que tenha isso.

Os processos de informatização e a adoção do sistema de gerenciamento

matricial de receitas e despesas implantados por Modesto Neto também são

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exemplos deste tipo de inovação – incremental com foco no sistema - e demonstram

a visão da empresa em otimizar os seus processos de negócios.

Recentemente, a adoção do modelo de vendas através do comércio

eletrônico, ainda que tardiamente, pois os concorrentes da empresa já utilizavam

este modelo, representa uma inovação incremental com foco em sistema, porque

envolve repensar toda a logística do processo, coleta, entrega e recebimento de

pedidos.

Pode-se dizer também que os esforços de Modesto Neto em organizar o

controle acionário da empresa, promover a política de participação em resultados e

desenvolver ações de responsabilidade social são exemplos de inovação

incremental com foco no sistema, visando melhorar a eficiência dos processos como

um todo da organização, de planejamento sucessório, passando pela remuneração e

incentivo aos colaboradores e promovendo ações voltadas para a comunidade,

desta forma, atendendo de forma sistêmica a todos os stakeholders da organização.

A inovação radical ou disruptiva, da mesma forma que a incremental, possui

dois focos de atuação, no componente ou no sistema. Quando se foca no

componente a estratégia, é buscar clientes que queiram um produto ou negócio de

baixo custo, daí a denominação de disrupção de baixo mercado.

Antônio Araujo fornece-nos um exemplo deste tipo de inovação quando criou

a Agroveterinária, possibilitando acesso a clientes que necessitavam deste tipo de

produto. Realizou o que Hamel (2006) denominou criar uma estrutura que não

existia anteriormente com a finalidade de se buscar um mercado novo.

Eduardo Araujo também inovou neste sentido quando criou as vendas através

do sistema de drive thru. Segundo Modesto Neto, este é o canal de vendas desejado

por aquele cliente, que por algum motivo, não quer se expor ou se identificar dentro

da farmácia, aquele que compra, segundo exemplo dele, preservativos ou

medicamentos para tratar da disfunção erétil. A adoção do sistema drive-thru não é

comum no segmento de farmácias.

Já Modesto Neto inovou de forma radical com foco no componente, quando

implantou o sistema de gerenciamento por categorias, permitindo gerenciar a

visibilidade e rentabilidade dos produtos nas prateleiras e estimulando a

concorrência entre os fornecedores. Quando criou os serviços satélites ao negócio,

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como ampliação de fotos digitais, cópias e envio de fax, Modesto Neto também

inovou nesse sentido.

Com a abrangência no sistema, a inovação radical visa trabalhar no conceito

do negócio e com isto buscar um novo mercado e novos consumidores; este tipo de

inovação denomina-se disrupção de novo mercado (CHRISTENSEN, 2003, grifo

nosso).

Considerando então o momento histórico – primeira metade do século XX – e

ainda a questão de que a cidade Belo Horizonte ainda estava na sua infância,

considera-se que Modesto, o fundador, inovou de forma radical com foco no sistema,

mudando o conceito do negócio, quando criou o plantão 24 horas, morando nos

fundos da loja para poder atender aos clientes em qualquer horário e instalando a

campainha do lado da sua cama; criou o conceito de loja de conveniências,

adotando um portfólio de produtos mais abrangente que somente medicamentos;

promoveu o sistema de entrega em domicílio, ainda que de forma incipiente e

difundiu o conceito de qualidade ao garantir procedência dos produtos, fazendo

divulgação através dos meios de comunicação da época.

Percebe-se que as inovações radicais com foco no sistema podem ser

principalmente atribuídas a Modesto, o fundador, pessoa visionária e à frente do seu

tempo, por antecipar várias tendências que depois viriam a ser adotadas pela

concorrência. Suas ações vão ao encontro do que Christensen (2003) denominou

disrupção em novo mercado, quando as empresas visam criar novos hábitos de

consumo ou atrair, com novos produtos, aquele cliente que não é consumidor.

Já Modesto Neto também é responsável por várias inovações dentro da

empresa, mas no sentido de aperfeiçoamento, procurando promover melhorias

contínuas ou em processos de forma a assegurar resultados melhores para a

organização. É o que Christensen (2003) denomina estratégia de sustentação, onde

se busca melhorar continuamente os produtos ou processos para concorrer no

mercado tradicional

O Quadro 8 a seguir resume todas as inovações citadas, identificando os

responsáveis e estabelecendo tipo, foco e categoria, conforme definido por

Christensen (2003).

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Inovação Responsável Tipo Foco Categoria

Plantão 24 horas Modesto Fundador

Radical Sistema Inovação no conceito do negócio

Loja de conveniência

Modesto Fundador

Radical Sistema Inovação no conceito do negócio

Entrega em domicílio

Modesto Fundador

Radical Sistema Inovação no conceito do negócio

Garantia de procedência

Modesto Fundador

Radical Sistema Inovação no conceito do negócio

Drogatel Antônio Araujo Incremental Sistema Melhoria de processos

Agro-veterinária Antônio Araujo Radical Componente Inovação descontínua

Drive thru Eduardo Araujo Radical Componente Inovação descontínua

Drugstore Eduardo Araujo e Modesto Neto

Incremental (contexto americano). Radical (contexto brasileiro)

Sistema Melhoria de processos (contexto americano). Inovação no conceito do negócio (contexto brasileiro

Informatização Modesto Neto Incremental Sistema Melhoria de processos

Gestão de estoque Modesto Neto Incremental Componente Melhoria contínua

Gerenciamento de categorias

Modesto Neto Radical Componente Inovação descontínua

Gerenciamento matricial de receitas e despesas

Modesto Neto Incremental Sistema Melhoria de processos

Serviços satélites Modesto Neto Radical Componente Inovação descontínua

Organização controle acionário

Modesto Neto Incremental Sistema Melhoria de processos

Política de participação em resultados

Modesto Neto Incremental Sistema Melhoria de processos

Ações de responsabilidade social

Modesto Neto Incremental Sistema Melhoria de processos

Comércio eletrônico Modesto Neto Incremental Sistema Melhoria de processos QUADRO 8 - Relação das inovações, responsáveis e tipo Fonte: Elaborado pelo autor da dissertação.

Este quadro demonstra que o posicionamento de uma empresa, em termos

de ações inovadoras, não é permanente. Conforme mencionado no referencial

teórico, pode-se perceber o processo de inovação de uma organização como um

processo, podendo caminhar da inovação radical para a incremental, ou seja, as

empresas que hoje criam novos mercados ou padrões de consumo ou criam

modelos de negócios com baixo custo, poderão, no futuro, ser alvo de disrupção,

quando estiverem privilegiando suas estratégias de sustentação (CHRISTENSEN,

2003; MCLAUGHLIN; BESSANT; SMART, 2005).

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Observa-se que, quanto à possibilidade de se gerenciarem os processos de

inovação, conforme a ideia de série contínua dos tipos de inovação, proposta de

MClaughlin, Bessant e Smart (2005), que se baseia na tipologia de Christensen

(2003), a organização em análise também tende para o tipo incremental, a partir da

gestão de Modesto Neto, em função de sua estratégia deliberada de sustentação e

aperfeiçoamento dos negócios existentes, privilegiando incrementar

tecnologicamente seus produtos para atender aos clientes da carteira. Das dez

inovações listadas, onde Modesto tem responsabilidade, somente duas são

inovações do tipo radical, mesmo a empresa reconhecendo que pioneirismo e

inovação representam elementos essenciais de competitividade (CHRISTENSEN,

1997; SCHUMPETER, 1985; UTTERBACK, 1954).

Para MClaughlin, Bessant e Smart (2005), o gerenciamento do processo de

inovação é mais utilizado no tipo incremental do que no tipo radical, pois é baseada

em rotinas, sistematização de processos e pode ser modelado de forma

relativamente simples.

De maneira geral, outros elementos, tomando como referência o modelo de

MClaughlin, Bessant e Smart (2005), apontam para a tendência da organização de

produzir, no contexto atual, mais inovações do tipo incremental. Os procedimentos

tendem a ser formalizados, centralizados e sistemáticos. A estrutura é funcional e

orientada para a eficiência, baseada no sistema matricial de gerenciamento de

receitas e despesas, que controla os resultados da empresa. Organizações com

procedimentos estabelecidos desta forma e com orientação para a eficiência, na

visão dos autores, são mais voltadas para produzir inovações do tipo incremental.

Os gestores apresentam alinhamento com relação à missão e propósitos da

empresa e os entrevistados têm em média mais de 16 anos de casa, sem considerar

os funcionários mais antigos. Pelo linguajar comum empregado, padrões de

vestuário observados e visões gerenciais compartilhadas, os gestores formam um

grupo mais homogêneo, o que, segundo MClaughlin, Bessant e Smart (2005), é

típico de organizações que tendem a desenvolver mais inovações do tipo

incremental.

A cultura organizacional, com seus artefatos, valores e pressupostos básicos,

conforme apresentado por Schein (2004), é madura, pois foi sendo construída ao

longo de mais de cem anos de história. Percebe-se então que, conforme definição

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131

de Schein (2004), possivelmente em função dos pressupostos básicos que

funcionaram bem no passado e, portanto, são considerados válidos, a direção

demonstra resistência em promover mudanças, como profissionalizar a gestão,

através da contratação de executivos que não sejam familiares, não querer buscar

opções para abrir o capital ou considerar outras formas para financiar o seu

crescimento. Nas palavras do diretor superintendente, até então, nesses 102 anos, a

Araujo utilizou uma linha de financiamento do BNDES no ano passado. “Tudo era

recurso próprio, não estava no nosso script essa questão do financiamento, nunca

nos endividamos pra crescer”. O foco é então na busca da eficiência, redução de

custos e no aperfeiçoamento do sistema existente. Utilizam-se intensivamente os

produtos e tecnologia existentes, que é a base do seu gerenciamento. Estas

características da organização, na visão de MClaughlin, Bessant e Smart (2005),

reforçam a tendência da empresa em produzir inovações do tipo incremental.

Observa-se, entretanto, que, conforme mencionado no referencial teórico,

qualquer sistema de classificação, como, por exemplo, por tipos incremental e

radical, tem limitações, em função da evolução e mudanças presentes nas

organizações, conforme aponta Greenwood e Hinings (1993). Segundo eles, um

assunto complexo como a inovação tende a desafiar um sistema de categorização,

tornando-se um dificultador para as organizações que buscam adotar um modelo

que estimule a inovação.

Finda-se, desta forma, o segundo nível de análise da pesquisa que visou

descrever e analisar os processos de inovação da empresa pesquisada,

identificando como se deu o histórico das inovações da organização e os tipos de

inovação ocorridos na sua trajetória. Com isto, identificou-se quais as práticas que

podem ser consideradas inovadoras no modelo de gestão e prestação de serviços

da empresa.

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132

4.4 Elementos da cultura da organização e os tipos de inovação: análise

dessa relação

Neste item, será analisada a relação entre os elementos da cultura

organizacional e os tipos de inovação. O primeiro item – elementos que compõem a

dinâmica organizacional e sua relação com os tipos de inovação – visa à

identificação dos temas presentes na organização pesquisada, conforme modelo

proposto por MClaughlin, Bessant e Smart (2005).

O segundo item – influência da cultura organizacional e nacional nesses

elementos – visa verificar a relação dos temas anteriores com as questões de

adaptação externa ou integração interna, conforme definição de Schein (2004), e a

influência dos elementos de cultura brasileira, conforme definido por Tanure (2007),

de acordo com modelo elaborado para a análise dos dados.

4.4.1 Elementos que compõem a dinâmica organizacional e sua relação com

os tipos de inovação

A análise deste item é baseada no modelo de MClaughlin, Bessant e Smart

(2005) acerca dos nove temas que compõem a dinâmica organizacional e que, por

sua vez, demonstram a predisposição da empresa, de acordo com a tipologia

baseada nos arquétipos de Greenwood e Hinings (1993) de tender para tipo I –

produzir mais inovação do tipo incremental -, ou tipo II – gerar inovação do tipo

radical.

O primeiro aspecto a ser considerado é que a empresa não possui um

departamento ou área voltada para a criação e desenvolvimento de produtos e

serviços. Todo o desenvolvimento de novas soluções é centralizado na Diretoria e,

em especial, na figura do presidente da empresa.

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Desta forma, esta análise, nesta organização, fica prejudicada, de certa

forma, já que se centra nas características pessoais do indivíduo e em suas

decisões, como também no grupo de gerentes, do que propriamente de um grupo

de pesquisa e desenvolvimento, como foi o universo pesquisado pelos autores do

modelo conceitual adotado.

Contudo, o modelo serve como referência para se identificar o

posicionamento atual da organização, no que se refere à adoção de inovações e à

gestão da cultura organizacional.

O primeiro tema, estrutura da organização, está relacionado ao estilo de

gestão e recursos disponibilizados para o desenvolvimento de novos produtos. O

estilo de gestão da Drogaria Araujo é baseado no desenvolvimento e envolvimento

do núcleo familiar nas decisões e administração da organização. Os familiares

foram, ao longos dos anos, os responsáveis pela gestão da empresa e

desenvolvimento de novos serviços. Hoje, apesar de Modesto Neto conferir mais

liberdade de atuação, ela é assegurada aos membros da Diretoria. São alocados

recursos e tempo necessários para completar as tarefas de melhoria incremental,

como aprimorar o sistema de estoque, conforme citado pelo presidente. Não há

orçamento para o desenvolvimento de novos produtos ou serviços, cabe ao

presidente definir onde e como inovar, conforme mencionado por ele e pelos

entrevistados. As novas ideias são assimiladas pela Diretoria e conduzidas de

maneira informal. Sendo assim, comparando com o modelo proposto por

MClaughlin, Bessant e Smart (2005), a estrutura da organização tende a facilitar o

desenvolvimento de inovação do tipo incremental, já que não há estímulos para a

criatividade do grupo e a prevalência de parentes nos cargos diretivos pode ser um

inibidor para o grupo propor e desenvolver novas ideias.

A confiança externa, segundo dos nove temas, representa a percepção que

outros grupos da organização têm sobre o time de desenvolvimento, em particular a

percepção da alta gestão, conforme a definição de MClaughlin, Bessant e Smart

(2005). No caso específico da organização estudada, considerando que o

desenvolvimento de novos serviços fica a cargo do presidente, a visão dos gerentes,

em função do seu carisma, é positiva, e todos o consideram uma pessoa criativa e

inovadora. No entanto, o histórico das inovações recentes demonstra que o

presidente tende a privilegiar o melhoramento e aprimoramento dos produtos e

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serviços existentes do que propriamente criar produtos novos ou explorar novos

mercados, fora das fronteiras da Grande Belo Horizonte

O terceiro tema – objetivos claros - está vinculado à existência de objetivos

bem definidos para o time de especialistas e a metas rígidas durante o tempo de

desenvolvimento de um projeto, normalmente estabelecidos pela alta direção. O

presidente, responsável pelas inovações na organização, é orientado, conforme por

ele relatado, a resultados e à busca contínua de desafios, como aumentar o

faturamento e o número de lojas, tendo como comparação as outras redes de

drogarias que compõem a associação ABRAFARMA. Ele fala repetidamente sobre a

necessidade de se criar e inovar, mas percebe-se que não o faz de forma

estruturada e, sim, de acordo com a sua visão e intuição pessoal. Ele não

apresentou, durante a entrevista, metas específicas para o desenvolvimento de

novos serviços. Este posicionamento pessoal, no modelo de MClaughlin, Bessant e

Smart (2005), pode estimular inovações do tipo radical. No entanto, não é o que tem

ocorrido na empresa ao longo da gestão atual, onde a maior parte das inovações

identificadas são do tipo incremental. Talvez porque o modelo de gestão adotado

pelo presidente estabeleça objetivos claros, como ampliação do número de lojas e

resolução das necessidades do cliente, sem, contudo, acompanhar os resultados do

planejamento ou mesmo estabelecer metas rígidas de desempenho.

Isto comprova a argumentação de Mintzberg (1979,1983) de que estruturas e

tipologias representam unicamente modelos de orientação e explanação de

características e dificilmente encontra-se uma organização totalmente aderente a um

modelo, em função da complexidade interna e externa que permeia as organizações.

A constituição das equipes representa, como quarto tema, o arranjo interno

de organização do grupos de trabalho designado para pensar novos produtos ou

serviços. No caso estudado, como não há equipe de pesquisa e desenvolvimento de

produtos, considera-se então o grupo de gestores e a direção como fomentadores

da inovação, o que, conforme o modelo de MClaughlin, Bessant e Smart (2005),

favorece inovações do tipo incremental.

A perspectiva externa, quinto tema, representa a forma como o grupo se

relaciona com o ambiente externo à organização. Considerando também a pessoa

do presidente como fomentador das inovações, ele tem uma tendência a estabelecer

os objetivos a serem atingidos e reforçar a mentalidade de “fazer melhor” do grupo.

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O presidente tem, através de um trabalho de promoção e publicidade, visibilidade

externa de empreendedor e inovador. Além disto, as ações sociais, o crescimento

superior e rentabilidade da empresa, quando comparadas com outras do setor,

conforme relatado pelo presidente, reforçam este posicionamento. A percepção é de

que organização procurar fazer o melhor e não fazer diferente, o que também gera

inovações do tipo incremental, conforme o modelo de MClaughlin, Bessant e Smart

(2005).

O sexto tema, liberdade de ação, está relacionado à autonomia conferida ao

grupo para agir. Observa-se que este aspecto inexiste na organização, já que toda

criação e desenvolvimento de produtos e serviços é realizada pela Diretoria. Há

iniciativas isoladas, através do programa de melhorias, que visa encorajar os

funcionários a desenvolver ideias, mas que mostram-se, na prática, incipientes.

Mesmo assim, como o próprio nome do programa diz, o objetivo é promover

melhorias e recompensar o proponente, e não existe expectativa de que sugestões

muito criativas ocorram. Mais uma vez, a análise permite dizer que a organização

tende a produzir, desta forma, inovações do tipo incremental.

A atitude perante o risco, como sétimo dos nove temas, refere-se à atitude

do grupo ao assumir riscos. Considerando-se a atuação do presidente e da Diretoria,

não se percebe, mais uma vez, nenhuma ação estruturada no sentido de minimizar

ou mitigar riscos e lidar com incertezas do mercado. Apesar dos erros serem

tolerados, não se identificou, na organização, uma postura de encorajar os diretores

e gerentes a assumirem riscos para promoverem grandes mudanças. A ênfase em é

em desenvolver ou aprimorar aquele produto ou serviço que é conhecido, com isto,

conforme o modelo de MClaughlin, Bessant e Smart (2005), reduzir a exposição da

organização à incerteza. Esta característica também conduz a organização para o

desenvolvimento de inovações do tipo incremental.

A confiança interna representa o oitavo tema e está associada à coesão do

grupo e confiança nos pares para resolver os problemas. Como o presidente

caracteriza-se por adotar ações paternalistas, pelo menos o grupo gerencial

entrevistado e os funcionários mais antigos demonstraram coesão e confiança na

empresa, ao reproduzirem sistematicamente as palavras e bordões do presidente,

como “atenção ao detalhe” e “curtir os erros”. Esta confiança e coesão interna geram

melhorias incrementais, na visão de MClaughlin, Bessant e Smart (2005).

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Por fim, o crescimento e desenvolvimento refere-se à forma de como o

grupo adquire conhecimentos e experiência e a exploração de potenciais soluções.

Como não há política de treinamento e desenvolvimento que incentive o aumento de

habilidades e aquisição de novas habilidades e conhecimento do grupo, a tendência

é de seguir o que está estabelecido, o que, na visão de MClaughlin, Bessant e Smart

(2005), não representa política para promoção de inovações radicais.

O Quadro 9 resume a tendência da organização em produzir inovações do

tipo incremental, de acordo com o modelo conceitual de MClaughlin, Bessant e

Smart (2005).

ARQUETIPOS

Tipo I Tipo II

Temas Incremental

Radical

Estrutura da organização

Confiança externa

Objetivos claros

Constituição das equipes

Perspectiva externa

Liberdade de Ação

Atitude perante o risco

Confiança interna

Crescimento/ Desenvolvimento QUADRO 9 – Tendência da organização de acordo com os arquétipos definidos Fonte: Elaborado pelo autor da dissertação com base no modelo de MClaughlin, Bessant e Smart (2005).

4.4.1.1 Influências da cultura organizacional e nacional nesses

elementos

O modelo conceitual proposto por McLaughlin, Bessant e Smart (2005)

utilizando o conceito de arquétipos, conforme proposto por Greenwood e Hinnings

(1993), permite a compreensão da influência da cultura organizacional nos

processos de inovação e com isto identificar as características que compõem a

cultura da empresa e analisar a sua relação com os tipos de inovação

implementados na trajetória empresarial.

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Essa compreensão é facilitada identificando-se cada um dos temas como um

valor compartilhado ou artefato visível, desta forma, permitindo observar na

empresa, através do conjunto de valores e artefatos, qual deles pode eventualmente

possuir alguma relação com os temas, conforme a FIG. 17, onde os artefatos são

representados por retângulos e os valores, por elipses.

FIGURA 17 - Mapa das relações entre temas, baseado no modelo de Schein Fonte: McLaughlin, Bessant e Smart (2005, p. 17).

McLaughlin, Bessant e Smart (2005) definem como artefatos visíveis os

objetivos claros, a estrutura da organização, a perspectiva externa e a constituição

das equipes de desenvolvimento.

Os principais artefatos visíveis que foram identificados com a pesquisa foram

a apresentação visual e layout das lojas e da sede, o padrão de vestuário, tanto de

uniformes, quanto de vestimentas adotadas pelos funcionários, a linguagem comum

empregada e símbolos, como a foto dos fundadores e o crucifixo. Estes elementos

de padronização adotados pela organização ressaltam a admiração, o respeito e

lealdade aos líderes e fundadores e também à hierarquia e à ordem das coisas

(DEAL; KENNEDY, 1982; FLEURY, 1997; FREITAS, 1991; SCHEIN, 2004).

Percebe-se, pela padronização, uma visão de “atenção ao detalhe”, conforme a fala

do presidente, de fazer melhor, com qualidade.

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A missão e objetivos da organização são norteados pelo bom atendimento ao

cliente, pela busca dos resultados e atendimento às necessidades da família, ou

como consta na placa da missão, “zelar pelo interesse dos acionistas”. Com isto, a

estrutura da organização é voltada para o atendimento a esses objetivos. Tem-se a

perspectiva do grupo de que o presidente é o fomentador das inovações, mas ele

inova principalmente aprimorando e melhorando os produtos e serviços existentes.

Percebe-se que os artefatos contribuem para opção da empresa de desenvolver

inovações incrementais, na medida em que há um reforço subliminar para as

decisões que deram certo e que portanto devem ser repetidas.

Já atitude perante o risco, confiança externa, confiança interna, liberdade de

ação, crescimento e desenvolvimento são considerados por McLaughlin, Bessant e

Smart (2005) como elementos relacionados aos valores compartilhados da

organização.

Dentro deste contexto, foi verbalizados, pelos entrevistados, os valores de

atendimento ao cliente, pioneirismo e inovação, seriedade, transparência,

comprometimento, ética e honestidade, humildade e a orientação para as

necessidade da família. Alguns desses elementos realmente podem ser observados

nas instalações simples da alta administração.

A atitude perante o risco não é encorajada pela direção e, sim, procura-se

minimizá-los, aprimorando os produtos que são conhecidos e que têm sucesso. Os

erros são tolerados, mas não se percebeu que assumir riscos é encorajado. E, em

complemento, só ao presidente cabe criar novas ideias. O pioneirismo e a inovação

pertencem aos fundadores e líderes, não aos gestores, que adotam uma postura de

espectador frente aos acontecimentos.

A organização é voltada para atender ao cliente e, neste sentido gestores e

colaboradores têm certa liberdade de ação para encontrar soluções que atendam

aos interesses do cliente ou propor sugestões ou melhorias para o atendimento.

Fato é que existe uma área de ouvidoria voltada para o serviço de atendimento ao

cliente e, a partir das ações desta área melhorias são implementadas na

organização. No entanto, depara-se, de maneira contraditória, com lojas que não

preenchem este padrão de atendimento, conforme mencionado anteriormente, o que

significa que, em parte, o discurso não está condizente com a prática.

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A confiança externa e interna pode ser analisada pela atuação do presidente,

como fomentador das inovações. O presidente realmente transmite os valores de

seriedade, transparência, comprometimento, ética e honestidade, que por sua vez

fortalecem a ideia da confiança dos gestores com a capacidade do presidente para

inovar.

O crescimento e desenvolvimento praticamente inexistem dentro da

organização, como já foi comentado, o pioneirismo e inovação são valores que estão

na fala do presidente e não no dia-a-dia da organização, sendo que ela não é

voltada para o aprendizado e, sim, para a melhoria incremental.

Valores, como o foco no atendimento ao cliente, também contribuem para o

posicionamento da empresa em desenvolver inovações do tipo incremental. Atender

ao cliente existente e mercados conhecidos, promovendo aperfeiçoamento

constantes, é, segundo visão de Christensen (2003), um posicionamento de

empresas que produzem inovações incrementais. Não há preocupação clara em

desenvolver novos mercados - para além das fronteiras da Região Metropolitana de

Belo Horizonte - e não há um posicionamento no sentido de encorajar os gestores a

assumir riscos em novas descobertas. Neste sentido, o valor de pioneirismo hoje

não é condizente com a prática da organização, fato que as vendas através de

comércio eletrônico, por exemplo, foram lançadas somente no ano de 2008, não

havendo pioneirismo por parte da organização no lançamento desta modalidade, já

realizada por seus concorrentes.

Considerando as questões relacionadas à adaptação externa e integração

externa, conforme proposto por Schein (2004), o pesquisador acrescentou, ao

modelo, conforme apresentado no referencial teórico, a classificação de cada

elemento, identificando se o mesmo está mais relacionado a uma questão ligada a

um processo de adaptação da organização ao ambiente – adaptação externa - ou a

fatores utilizados para se obter a integração interna. O pesquisador entendeu que

esta inclusão permite a melhor identificação destes elementos dentro contexto

organizacional e cultural. A FIG. 18 apresenta essa representação.

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FIGURA 18 - Mapa das relações entre temas, baseado no modelo de Schein com a classificação de adaptação externa e integração interna Fonte: Elaborado pelo autor da dissertação.

Observa-se que os elementos: liberdade de ação, confiança interna,

crescimento e desenvolvimento e constituição de equipes têm mais relação com os

fatores de integração interna, pois dizem respeito, segundo a definição de Schein

(2004), às fronteiras do grupo e critérios para inclusão de novos membros; às

estratégias para alocação de status, poder e autoridade; às ações para promover a

intimidade, amizade e relacionamentos no trabalho; e aos critérios para recompensa

e punição.

Neste aspecto, destaca-se, mais uma vez, o comportamento do grupo através

do presidente, que tende a centralizar o poder, utilizando-se de um posicionamento

paternalista e personalista, e dos gestores, que tendem a evitar o conflito e adotar

uma postura de espectador. Com isto, a liberdade de ação e o crescimento e

desenvolvimento do grupo ficam comprometidos, não dando margem para a

criatividade e autonomia.

Já os elementos: atitude perante o risco, objetivos claros, confiança externa,

estrutura da organização e perspectiva externa apresentam uma relação maior com

questões para promover a adaptação externa, tais como a missão, funções e tarefas

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primordiais da organização perante o seu ambiente; os objetivos estabelecidos pela

organização; os métodos utilizados para acompanhar a realização dos objetivos; os

critérios definidos para medir resultados e as estratégias emergenciais ou corretivas

a serem adotadas caso os objetivos não estejam sendo alcançados (SCHEIN, 2004).

Considerando-se tais aspectos, percebe-se que a gestão se pauta por

resultados e crescimento, adotando objetivos claros, através do sistema de matricial

de gerenciamento de receitas e despesas e procurando se comparar com as

grandes redes do setor de comércio farmacêutico. Os gestores adotam uma postura

de resolver logo os problemas e aprender com os erros e o presidente reforça o

posicionamento de aprendizado com o fracasso, demonstrado por sua fala de “curtir

os erros”. Os gestores verbalizaram confiança nas ações do presidente enquanto

fomentador das inovações, ressaltando a confiança externa. O presidente é visto

fora da organização como pessoa empreendedora e inovadora, conforme estudo

realizado por Brasil e Arruda (2006), destacando a perspectiva externa.

Após a análise, percebeu-se que o elemento estrutura da organização

identifica-se mais como uma questão de integração interna do que de adaptação

externa, porque está relacionado ao estilo de gestão da organização, que, por sua

vez, remete aos critérios de alocação de status e poder, o que, dentro do conceito de

Schein (2004), está relacionado com questões de integração interna.

Considerando-se ainda as questões relacionadas à influência da cultura

nacional, em especial à cultura brasileira para a cultura organizacional, o

pesquisador destaca os fatores que podem influenciar de forma positiva ou negativa

nos elementos que compõem a dinâmica organizacional, conforme apresentado no

referencial teórico e em complemento ao modelo conceitual de McLaughlin, Bessant

e Smart (2005), de acordo com sistema de ação cultural proposto por Tanure (2007),

o que está demonstrado na FIG. 19.

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FIGURA 19 - Mapa das relações entre temas, baseado no modelo de Schein (2004), com a influência do sistema cultural brasileiro, conforme Tanure (2007) Fonte: Elaborado pelo autor da dissertação.

A Concentração de poder – baseada numa estrutura fortemente hierarquizada

e de submissão –, característica da cultura brasileira (TANURE, 2007), realmente

parece exercer influência negativa nos elementos de estrutura da organização e

liberdade de ação, o que, por sua vez, inibe a capacidade de desenvolvimento de

inovações do tipo radical e cria uma dependência dos líderes para o seu

desenvolvimento, fato que é destacado na organização pesquisada.

O Paternalismo – segundo Tanure (2007) -, que é a combinação da

concentração do poder com o personalismo, através do qual o indivíduo se

diferencia pela hierarquia e pelas suas relações pessoais – também exerce

influência negativa sobre os elementos do modelo proposto – liberdade de ação e

estrutura da organização – da mesma forma existindo uma dependência do líder

para inovar. A influência sobre a constituição das equipes também é encontrada de

forma negativa, pois a equipe com liberdade para desenvolver novos serviços é

basicamente composta por familiares.

A contraparte do Paternalismo é o Medo de errar (TANURE, 2007). Esta

característica também reforça a postura de espectador na gerência média, que evita

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o conflito com a alta administração. Estas características da organização podem

exercer uma influência negativa nos elementos liberdade de ação e atitude perante o

risco. Podem também ser negativas com relação ao elemento de crescimento e

desenvolvimento do grupo, diferentemente do apresentado no referencial teórico.

Não se identificou que o medo de errar exerça influência sobre a perspectiva externa

da organização.

A Ambiguidade é apresentada no sentido de uma aceitação aparente das

normas e regras estabelecidas, mas com uma prática distorcida, apoiada em outros

procedimentos programados para burlar essas normas (TANURE, 2007). Supõe-se

que a Ambiguidade pode afetar de forma negativa os elementos relacionados à

confiança externa e interna, podendo afetar também os objetivos claros. Não foram

identificadas características de Ambiguidade no grupo de gestores, o que poderia

afetar estes elementos do modelo de McLaughlin, Bessant e Smart (2005). Mas,

através da observação direta, identificou-se, em algumas lojas, uma postura

diferente daquela estabelecida na missão de procurar atender à necessidade do

cliente, em que o atendente não recorreu a outras lojas para encontrar produto não

disponível na sua prateleira e estoque.

A Lealdade contribui para sedimentar a coesão social no Brasil, a qual é muito

marcada por este traço cultural (TANURE, 2007). Na avaliação do pesquisador, esta

característica pode contribuir de forma positiva para gerar a confiança externa e

interna, o que de fato parece ocorrer na organização no que diz respeito à confiança

do grupo gerencial nas decisões e competência do presidente.

Já a característica de Evitar conflito – relação entre pessoas, em situação de

desigualdade de poder -, segundo Tanure (2007), tende a criar um certo grau de

alienação, baixa motivação e capacidade de iniciativa e consequente passividade.

No caso analisado, percebe-se, pelo relato dos gerentes, uma aceitação do modelo

de gestão exercido pelo presidente, com isto, eles evitam apresentar mudança e

sugestões, desta forma, não entrando em conflito com o ponto de vista do

presidente.

A Flexibilidade, segundo Tanure (2007), representa uma categoria que pode

ser analisada sob dois enfoques: adaptabilidade e criatividade. A adaptabilidade é

uma capacidade criativa que se exercita dentro de limites pré-fixados. Este contorno

restritivo é consequência das regras e normas do subsistema institucional. Percebe-

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se, na organização, a característica de adaptabilidade, reforçada pelo

posicionamento de aprendizado com os erros, refazendo e continuando em frente.

Por outro lado, a criatividade é essencial para a inovação. Ocorre,

fundamentalmente, em ambientes organizacionais onde há liberdade de expressão,

que não é o caso da organização. Analisando-se a organização, observa-se que a

adaptabilidade pode exercer influência de forma positiva na atitude do grupo perante

os riscos, já que, pelo processo de aprendizado com os erros, os riscos acabam por

ser minimizados. No entanto, como não se encontram traços de criatividade no

grupo de gerentes, pressupõe-se que, para ser criativo, de acordo com o modelo de

McLaughlin, Bessant e Smart (2005), é necessário um encorajamento por parte da

direção para que os gestores assumam riscos ao propor novas ideias, o que, na

prática, não ocorre.

Observa-se, então, que elementos da cultura brasileira, conforme definição de

Tanure (2007), exercem influência de forma positiva ou negativa nos temas, de

acordo com modelo proposto por McLaughlin, Bessant e Smart (2005) para

identificação dos tipos de inovação com base em Christensen (2003), segundo a

tipologia baseada nos arquétipos de Greenwood e Hinnings (1993) e baseado no

modelo de Schein (2004) sobre cultura organizacional.

Com isto, encerra-se o último nível de análise da pesquisa, que buscou

analisar a relação entre os elementos da cultura organizacional e os tipos de

inovação, permitindo a identificação dos temas presentes na organização

pesquisada, conforme o modelo proposto por McLaughlin, Bessant e Smart (2005),

como também a influência da cultura nacional nesses elementos.

Desta forma, pode-se identificar a relação entre cultura organizacional e as

inovações no modelo de gestão e prestação de serviços implementados na empresa

pesquisada e os elementos da cultura nacional que possuem alguma relação com os

tipos de inovação – incremental e radical – propostos pelos autores da área.

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5 CONCLUSÕES

5.1 Introdução

Este capítulo tem por objetivos apresentar as conclusões desta dissertação,

com base na visão do pesquisador, e discutir suas implicações. Ele foi dividido em

partes, de forma a facilitar o entendimento e compreensão. A primeira apresenta os

principais resultados sobre a influência da cultura organizacional no processo de

inovação. Em seguida, discute-se o modelo de pesquisa utilizado para a análise do

caso e são feitas sugestões de melhoria do modelo com base na pesquisa realizada

na empresa. Por fim, são apresentadas as contribuições deste trabalho e sua

limitações, como também algumas sugestões que podem contribuir para pesquisas

futuras sobre os temas.

5.2 Resultados da pesquisa

Os objetivos desta dissertação foram identificar os elementos que compõem a

cultura da organização pesquisada e analisar a sua relação com os tipos de

inovação implementados na empresa, conforme modelo proposto por McLaughlin,

Bessant e Smart (2005).

Neste sentido, primeiramente, a empresa foi caracterizada e foram

identificados os elementos organizacionais e gerenciais que compõem a cultura da

mesma no item 4.2 - Descrição e análise da cultura organizacional da empresa

estudada.

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Em seguida, as práticas que possam ser consideradas inovadoras – no seu

modelo de gestão e prestação de serviços – adotadas na empresa, foram

identificadas no item 4.3 - Descrição e análise dos tipos de inovação da empresa

estudada.

E, por último, a análise da relação entre a cultura organizacional e as

inovações no modelo de gestão e na prestação de serviços, tendo como referência

teórica o modelo proposto por McLaughlin, Bessant e Smart (2005), foi realizada no

item 4.4 - Elementos da cultura da organização e os tipos de inovação: análise desta

relação.

Esta pesquisa trouxe seis principais constatações sobre os temas cultura e

inovação. A primeira é que a cultura organizacional parece exercer realmente

influência no processo de inovação da empresa. Observa-se que características da

organização visualizadas através do padrão de apresentação visual de suas lojas,

vestuário e uniforme de seus colaboradores, e padrões de comportamento e

linguagem, remetem a esforços maiores no sentido de aperfeiçoamento e melhorias

nos produtos e serviços existentes, representando inovações do tipo incremental.

Da mesma forma, os valores fortemente presentes de encantar o cliente,

fazer bem feito e ter humildade também reforçam este posicionamento de constante

aperfeiçoamento, dando pouca liberdade para a criação de inovações do tipo radical.

A segunda constatação é de que a cultura brasileira também exerce alguma

influência na cultura da empresa e, consequentemente, também no processo de

inovação. Características como centralização do poder, paternalismo, medo de errar,

evitar conflitos, postura de espectador, típicas da cultura brasileira, segundo Tanure

(2007), influenciam de forma negativa no ambiente propício para o desenvolvimento

de inovações do tipo radical e estão presentes dentro da organização pesquisada.

Outra constatação importante, a terceira, é que as inovações não são

fomentadas por uma equipe de desenvolvimento na empresa, mas, sim, pelos

líderes e fundadores da organização, e têm sido assim ao longo de todos os anos de

sua existência. A empresa tem conseguido transpor gerações e passar por

processos de sucessão de maneira tranquila, que inovam de forma radical ou

incremental, e com isto dão continuidade e longevidade ao negócio, mas não

conseguiu, ao longo destes anos, disseminar uma cultura de inovação para os seus

colaboradores e gestores, e desta forma, criar uma equipe de desenvolvimento.

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Como contribuições para pesquisa futura, poder-se-ia averiguar se esta

característica das inovações fomentadas pelo líderes e fundadores é comum em

outras organizações familiares e se ela influencia de forma negativa ou positiva nas

inovações.

A quarta constatação aponta para o fato de que a organização não tem e

nunca teve um processo sistematizado para lidar com as inovações; elas ocorrem de

forma intuitiva, através de características pessoais de seus líderes. Não há um fórum

para discussão de novas ideias e as ações adotadas para participação dos

colaboradores são incipientes. Mesmo assim, por meio de seu fundador e

sucessores, a empresa tem inovado ao longo dos anos e, na última gestão,

predominantemente de forma incremental. Ela tem obtido sucesso nas sua ações e

no seu posicionamento mercadológico, o que, de certa forma, contradiz os

resultados da pesquisa realizada por McLaughlin, Bessant e Smart (2005), que

destaca a importância das inovações do tipo radical para o sucesso e longevidade

das organizações.

Outra constatação importante, a quinta, demonstra que a empresa é voltada

para atender aos interesses da família, seja através da ação dos membros em

posições executivas, ou da criação de empresas satélites para atender aos

interesses deles. A empresa ainda proporciona, para aqueles que não têm

capacidade empreendedora, uma forma de subsistência através do aluguel de lojas

para a organização.

E a sexta e última constatação é de que o posicionamento da organização

não é estático. Ele se modificou ao longo dos anos, tendo características

diferenciadas nos seus estágios iniciais por meio de inovações radicais e foi se

consolidando ao longo dos anos através de processos de melhorias incrementais. O

crescimento hoje da organização parece ocorrer por meio de uma estratégia de

ocupação de territórios bem sucedida, que dificulta as ações da concorrência no

setor, e não propriamente de um modelo organizacional que fomenta e cria

constantemente inovações do tipo radical.

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5.3 Modelo de pesquisa: proposta de melhoria

Considerando-se a pesquisa realizada e relacionando os temas cultura

organizacional e inovação, propõe-se uma revisão do modelo, acrescentando a

análise do papel do fundador ou líder, já que inegavelmente os líderes têm

importância na formação da cultura organizacional e nas inovações iniciais da

empresa (SCHEIN, 2004).

É importante analisar os elementos da cultura como artefatos, valores e

pressupostos básicos como questões de adaptação externa e integração interna, e

os tipos de inovação incremental e radical, para depois, através dos nove temas

propostos por McLaughlin, Bessant e Smart (2005), identificar a tendência da

organização em produzir inovações.

No entanto, em organizações familiares, onde a equipe de desenvolvimento

inexiste e são os líderes que inovam o modelo, é preciso suprimir, de sua análise,

temas como confiança interna do grupo de desenvolvimento em seus membros e

constituição das respectivas equipes, pois esses aspectos não serão identificados

neste tipo de empresa.

Outra proposta de melhoria do modelo é que o tema estrutura da

organização, proposto por McLaughlin, Bessant e Smart (2005) e adaptado pelo

pesquisador tem relação com a integração interna e não adaptação externa, porque

está relacionado ao estilo de gestão e recursos disponibilizados para o

desenvolvimento de novos produtos e serviços, que são características internas da

organização.

Desta forma, o modelo conceitual adaptado pelo pesquisador, considerando

questões de adaptação externa e integração interna, fica melhor representado

considerando-se a estrutura da organização como uma questão de integração

interna, conforme apresentado na FIG. 20 a seguir.

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FIGURA 20 - Mapa das relações entre temas, baseado no modelo de Schein (2004) com a classificação de adaptação externa e integração interna Fonte: Elaborado pelo autor da dissertação.

Analisando-se os aspectos relacionados à cultura nacional, observa-se que a

flexibilidade talvez possa ser melhor analisada separando-se a criatividade e

adaptabilidade – duas de suas características -, pois a organização em questão

possui evidência de adaptabilidade, mas, poucos traços de criatividade, o primeiro

aspecto contribuindo positivamente para a sua atitude perante o risco e outro

negativamente. Já a ambiguidade não foi evidenciada na organização nas

entrevistas com os gestores e antigos funcionários, não tendo influência na análise e

nos elementos do modelo.

Outra consideração importante é que o tema crescimento e desenvolvimento

é influenciado de forma negativa pelo medo de errar, evitar conflito e postura de

espectador, cabendo, desta forma, também, uma revisão do modelo, a fim de

demonstrar a influência destas características culturais, conforme apresentado na

FIG. 21 a seguir.

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FIGURA 21 - Mapa das relações entre temas, baseado no modelo de Schein (2004) com a influência do sistema cultural brasileiro, conforme Tanure (2007) Fonte: Elaborado pelo autor da dissertação.

Outro aspecto importante está relacionado com o fato de a empresa

desenvolver, de forma predominante, inovações do tipo incremental, na gestão de

Modesto Neto, e ter apresentado, durante este período, o maior crescimento e

resultados de toda a sua história. Isto não está de acordo com a visão de

McLaughlin, Bessant e Smart (2005), que preconizam a importância das inovações

do tipo radical para assegurar o crescimento e resultados das organizações. Esse

crescimento pode estar relacionado a especificidades do mercado brasileiro e suas

características de competitividade e expansão, que são bem diferentes do Reino

Unido, onde a pesquisa desses autores foi realizada.

Destaca-se, então, que a principal contribuição para o modelo está

relacionada com a dificuldade encontrada de pesquisar os temas propostos em

empresas familiares brasileiras que têm características inovadoras, mas não têm

equipes de desenvolvimento e, sim, são os fundadores e sucessores que inovam.

Assim, este elemento é crucial para o entendimento dos processos de inovação e

deve ser considerado na análise.

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5.4 Contribuições, limitações e pesquisas futuras

Considera-se como a principal contribuição desta pesquisa a possibilidade de

que os resultados obtidos e o modelo conceitual desenvolvido possam contribuir

para o aprimoramento do conhecimento e para a compreensão das relações entre

os temas cultura organizacional e inovação, principalmente considerando os

aspectos relacionados à cultura brasileira e suas especificidades que impactam no

modelo de gestão das organizações nacionais.

Este estudo apresentou evidências de que a cultura organizacional influencia

no processo de inovação e que as características culturais apontam para a

tendência da organização em produzir determinado tipo de inovação. Demonstra-se

aqui que este posicionamento não é estático e pode ser manejado pelos líderes de

forma a influenciar no comportamento e mudança de atitudes das pessoas e, com

isto, obter os resultados desejados para a organização em termos de produção de

inovações, necessárias para a sua competitividade e longevidade.

Considera-se também que este estudo contribui para os pesquisadores dos

temas aprimorarem suas visões, principalmente relacionando os dois assuntos. Para

os profissionais e líderes da área de gestão e também envolvidos nos processos de

inovação, este trabalho permite a compreensão de que elementos culturais são

facilitadores ou dificultadores para o desenvolvimento das inovações, mas, quando

corretamente conhecidos e entendidos, podem ser gerenciados de forma a permitir

uma possível mudança cultural e os consequentes resultados almejados pela

organização.

Naturalmente, além das contribuições, a pesquisa também apresenta as suas

limitações. A principal delas está relacionada ao fato de ter sido realizado um estudo

de caso único, o que não permite generalização dos resultados. Outra limitação se

refere às pessoas entrevistas, indicadas pela alta administração, o que sem sombra

de dúvida, pode caracterizar apenas uma visão da organização e do seu modelo de

gestão.

Este caso permitiu um estudo em profundidade, principalmente considerando-

se o contexto histórico da organização, mas a organização possui limitações, pela

inexistência de uma equipe de pesquisa e desenvolvimento, e o contexto brasileiro

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pode ter especificidades, conforme mencionado anteriormente, que merecem uma

investigação específica.

Um estudo de caso múltiplo permitiria comparações de hipóteses. Analisar

organizações em diferentes estágios de desenvolvimento, com outros tipos de

cultura e com presença ou não de equipes de desenvolvimento, poderia contribuir

para maior compreensão da relação entre cultura e inovação.

Seria também interessante a realização de um estudo quantitativo, com a

visão dos colaboradores da organização sobre os temas, estabelecendo indicadores

para os elementos do modelo conceitual, o que permitiria o entendimento, em maior

extensão, de características culturais e processos de inovação.

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APÊNDICE E ANEXO

Apêndice A – PESQUISA DE CAMPO – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADO Pesquisa de Opinião Prezado(a) Senhor(a), O presente questionário tem por objetivo obter informações para uma pesquisa acadêmica. Sua participação é muito importante para o êxito desse trabalho. Cabe ressaltar que o sigilo das informações será plenamente preservado. Por sua especial colaboração, antecipo o mais sincero agradecimento! Nome do entrevistado: 1. Me fale um pouco da sua história com a Drogaria Araujo: a) Por que você optou por trabalhar na empresa? b) Como você via a empresa antes? E hoje? c) Você está satisfeito em trabalhar na Drogaria Araujo? Por quê? d) Pretende continuar na empresa por mais tempo? Por quê? 2. Na sua avaliação, quais são os valores que norteiam/predominam o comportamento e a cultura organizacional da Drogaria Araujo? 3. Como esses valores são difundidos? E como eles são reforçados? 4. Na sua opinião, esses valores sofreram alterações ao longo dos anos? a. Se sim, como? 5. Quais são os comportamentos profissionais exigidos dos empregados (conduta)? 6. No processo de seleção de funcionários, quais os critérios são mais valorizados? a) Há algum critério que valorize ou discrimine a crença religiosa? b) Vocês contratam parentes? 7. Como a empresa avalia os encontros informais (happy hour) e os relacionamentos de amizade e intimidade no local de trabalho? 8. Vocês admitem casais no ambiente de trabalho? 9. Quando há oportunidades de promoção, o que é levado em consideração?

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10. Quais são as políticas de recursos humanos que você considera diferenciadoras da empresa? 11. Existe valorização e premiação para ideias inovadoras e criativas dos empregados? Se sim, como? 12. Como são tomadas as decisões na empresa? a) Os gerentes participam nas tomadas de decisão? Se sim, como? b) E existe alguma forma de participação dos empregados no processo decisório da empresa? 13. Quais são as estratégias que a empresa utiliza para avaliar seus resultados? 14. E quais instrumentos utiliza para monitorar a concorrência? 15. Quando ocorre um problema na loja com um cliente, como isso é solucionado? (dê exemplos). E com o fornecedor? 16. Quais são os mecanismos e instrumentos que a empresa utiliza para se manter competitiva? 17. Gostaria que você me falasse sobre os eventos, as comemorações e cerimônias que acontecem na empresa. 18. Quais são as formas de premiação da empresa? Em que situações elas ocorrem? Como você gostaria que fossem? 19. Quais são as formas de punição da empresa? Em que situações elas ocorrem? Como você sugeriria que fosse? 20. O que realmente não é admitido na organização? Já aconteceu algum fato assim? 21. Existem histórias ou casos sobre a origem da empresa e seus fundadores e sucessores e que são sempre contadas? Se sim, quais? 22. Para você, quais são os símbolos visuais que a empresa utiliza para firmar a sua identidade e cultura? 23. Existem pessoas (vivas ou falecidas) que são valorizadas e admiradas dentro da organização e servem como modelo de comportamento? 24. Quais são as práticas da organização que você considera inovadoras? (explore incrementais e radicais) a) Como estas práticas foram e são desenvolvidas? b) Como elas são implementadas?

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c) Na sua avaliação, quem ou qual o setor incentiva o desenvolvimento dessas práticas? d) Fale como isso ocorreu ao longo da história da empresa. 25. Como é o processo de desenvolvimento de novos produtos e serviços? 26. E como é feito o planejamento para o lançamento de novos produtos? 27. Como é feito o planejamento de expansão da empresa? 28. Existem inovações que você classifica como organizacionais (ex. Estrutura, política de recursos humanos, processos internos)? 29. Existe algum tipo de acompanhamento de satisfação ou necessidades de cientes? 30. Você teria algum exemplo de ação adotada que resultou em fracasso? Como a empresa lidou com isso? 31. Gostaria de fazer mais algum comentário sobre o assunto abordado?

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Anexo 1 – REPRODUÇÃO DO ANÚNCIO DE 1927.